RESUMO
O presente estudo investigou a influência da vila Dique o do Aterro Sanitário
da Zona Norte, na qualidade das águas superficiais e subterrâneas, das bacias
hidrográficas do arroio da Areia e Passo das Pedras, no município de Porto Alegre,
Rio Grande do Sul, Brasil. A metodologia deste estudo envolveu duas estratégias de
abordagem: teórico-conceitual e operacional. A teórica orientou-se pelos eixos de
abordagem: qualidade das águas; processo de urbanização mundial, brasileiro e da
cidade de Porto Alegre; problemas ambientais, espaço urbano; legislação e
instrumentos de políticas públicas; e caracterização da área de estudo. Do ponto de
vista operacional, foram analisados dados mensais de qualidade das águas
superficiais, subterrâneas e do líquido percolado de parâmetros químicos,
bacteriológicos e metais pesados coletados pelo Departamento Municipal de
Limpeza Urbana, do período de 1991 a 2008. Os resultados revelaram uma grande
contribuição da malha urbana, na concentração de poluentes de origem orgânica no
arroio da Areia, principalmente no segmento da vila Dique, visto que a mesma não
apresenta saneamento básico. O monitoramento nas células e no entorno do aterro
apresentou, tanto nos pontos de água superficial quanto nos poços de água
subterrânea e do líquido percolado, elevados índices de poluição, evidenciando uma
ineficácia no sistema de controle de suas lixívias. A etapa final dessa análise
resultou na elaboração da cartografia de qualidade das águas, cujo objetivo foi
proporcionar uma série de dados espacializados, úteis à realização da classificação
das águas, quanto ao grau de poluição, utilizando, para isso, as Resoluções n°
357/2005 e 396/2008, do Conselho Nacional do Meio Ambiente e Resolução n°
128/2006 do Conselho Estadual de Meio Ambiente. Realizou-se, também, um
monitoramento geofísico, dentro dos limites do aterro e nas suas áreas adjacentes,
com o objetivo de identificar as alterações nos corpos de água subterrânea, em
função das lixívias produzidas pelo aterro. Foram elaborados mapas de
condutividade elétrica do aterro e de suas áreas adjacentes, em três profundidades
7,5, 15 e 30m, que permitiram identificar a presença e mapear o fluxo da pluma,
destacando seus principais pontos de poluição, revelados pelos elevados picos de
condutividade. Em síntese, a vila Dique apresentou, no que diz respeito à ocupação,
as seguintes irregularidades, que contrariam o planejamento urbanístico: o acesso
às redes de água e energia elétrica é feito, quase exclusivamente, através de
ligações clandestinas; não possui uma rede de esgoto; e muitas unidades
habitacionais sofrem frequentes inundações. Já a área onde se situa o ASZN
também apresenta irregularidades, quanto ao uso da terra. Essas contrariam as
legislações ambientais atuais, no que se refere a poluição dos recursos hídricos e à
deposição e ao gerenciamento dos resíduos sólidos. A área de estudo, portanto, é
classificada como de risco, pois apresenta forte presença de poluição, em virtude da
vila Dique não possuir saneamento básico e do aterro sanitário não apresentar um
sistema de lixívias controlado. Conclui-se que é necessária a remoção da vila e o
contínuo monitoramento das águas, por 20 anos, tempo necessário para a
estabilização da matéria orgânica ali depositada.
Palavras-chave: urbanização, vila Dique, aterro sanitário, qualidade das águas e
geofísica