105
com a modernização e avanço tecnológico, não esperavam passar por novos
constrangimentos de ordem ambiental.
Desta forma se ergue o discurso do desenvolvimento sustentável que visa
unir a idéia de desenvolvimento, ou melhor, de crescimento econômico, com a
sustentabilidade e melhoria da qualidade ambiental. Apesar de conter em si a
possibilidade de maior regramento e controle sobre empresas poluidoras, o discurso
do desenvolvimento sustentável traz consigo dois perversos pressupostos: o de que
não é possível manter os níveis de consumo e crescimento econômico, e que,
portanto, países periféricos devem buscar novas formas de produção “sustentável” e
o de que por atingir indistintamente a todos os habitantes do planeta terra, está em
cada indivíduo, em suas atitudes, a saída para um ambiente mais “equilibrado”.
Partindo desta perspectiva, os problemas ambientais são analisados a partir
da concepção de impactos ambientais. Desta forma, se destitui o caráter de classe
dos problemas ambientais que passam a ser entendidos como efeitos da
produção/transformação do “espaço social” a partir do “espaço natural”.
Apesar de importante na ampliação do controle social sobre os sistemas
produtivos e na ampliação da qualidade de vida, esta concepção não apreende a
dimensão social da natureza, visto que a produção do espaço, ou a transformação
do “espaço natural” em “espaço social” sempre acarreta impactos ambientais.
Sendo assim, os problemas ambientais urbanos estarão, neste trabalho,
definidos em termos de degradação da qualidade de vida devido a constrangimentos
de ordem natural ou social, como destaca Souza (2005, p.116-117):
É necessário, também, expandir a própria compreensão do que seja os
problemas ambientais. Se considera o ambiente como irredutível “ao meio
ambiente”, englobando, por extensão, também o ambiente socialmente
construído, problemas como a falta de saneamento básico nos espaços
urbanos pobres e segregados são, indiscutivelmente, problemas urbanos
primários, e, ao mesmo tempo, problemas ambientais. Aliás, em metrópoles
do Terceiro Mundo, este tipo de problema ambiental, diretamente vinculado
a esses subprodutos da urbanização capitalista periférica que são a
pobreza e a segregação em larga escala, é um dos mais importantes. Os
problemas ambientais são todos aqueles que afetam negativamente a
qualidade de vida dos indivíduos no contexto de sua interação com o
espaço, seja o espaço natural (estrato natural originário, fatores
geoecológicos), seja, diretamente, o espaço social.
A partir desta concepção, parte dos problemas ambientais urbanos está
diretamente ligada ao processo de segregação espacial e à ocupação, muitas vezes
irregulares, de áreas de risco e de grande degradação ambiental. Da mesma forma