Profa. Sandra - Nossa! Caiu, morreu, desmoronou, não existe mais a escola, os alunos
morreram todos ....
– E você atribui isso a...
Profa. Sandra - Eu atribuo primeiramente a casa, a família é tudo, se a família não te
impulsiona para lugar nenhum, eles [os alunos de hoje] não tem nem um discurso, eles não
trazem nada, „nem minha mãe falou que eu tenho que estudar para ser ladrão‟, não existe nada,
„eu tenho que ser doutor, eu tenho que ser alguma coisa‟, nada, quando muito falam „eu tenho
que ser honesto‟, sabe, isso todo mundo sabe, isso já nasce pronto, não é a mãe que tem que
falar que tem que ser, tem que ser e pronto, tem que estar, embutido...eles nunca falam meu pai,
minha mãe falou que eu tenho que estudar, o pai não existe, a mãe não fala nada, sabe, eles não
tem história de cotidiano familiar, não existe isso, aí a mãe quando vem ela fala „eu trabalho,
não tenho tempo‟, a minha mãe sempre trabalhou, o meu pai sempre trabalhou, então pra mim
esse discurso não existe, é complicado, a criança...
Quando eu comecei a dar aula, eu comecei em caráter excepcional, eu comecei dando
aula de biologia num 2º colegial a noite e dava aula a tarde em Franco da Rocha, num lugar
onde era tipo interior, onde as pessoas eram educadas, onde os pais vinham e chamavam de
senhora, eu achava lindo, uma série de coisas... que hoje não tem mais, o pai vem com uma
agressividade falar com você, o filho dele tem tanta razão que isso já está desmoronando...tudo
bem eu já não sou a professora de 20 anos atrás, eu não sou porque a pessoa já não me respeita,
o pai vem tendo razão ou não, é o filho dele, ele não ouve o que você tem pra dizer, sabe, este
ano mesmo uma mãe chegou aqui e falou „eu não gostei do jeito que você falou com ele‟, mas
eu também não gostei do jeito que ele se pendurou no ventilador e a sala de 40 pessoas está
passando calor por causa dele, eu também não gostei, „a senhora já mandou arrumar o
ventilador‟, „foi seu filho que quebrou‟, „a senhora tem dúvida disso?‟. Então se você dá
ouvidos pro seu filho você dá razão pra ele, e aí vem falar que não gostou, queria que eu o
chamasse à parte e falasse que ele não devia ter feito isso, pô isso é função da mãe. Eu já
cheguei a chamar mãe e perguntar pro aluno „quantos anos tem a sua mãe?‟, porque a grande
maioria dos nossos alunos adolescentes são frutos das primeiras gravidezes na adolescência, eu
não quero falar com mulher que tem 30 anos e com filho de 15, e que não tem nada pra passar
para mim, qual é conceito que a família tem. Eu já cheguei a fazer enquete na sala e perguntar,
„quantas pessoas aqui são frutos de gravidez na adolescência?‟, olha numa sala de 40, 28
levantaram a mão, você sabe o que é 28 numa sala de 40, então o que você tem pra falar...
Na minha 6ª A, a menina tem 13 anos e a mãe dela tem 26 anos, então eu vou discutir o
que com ela, a menina passou mal na escola, aí vem a mãe que na verdade é a avó e quando
chega a mãe, vem toda tatuada, pagando de gatinha, a menina nem sabe quem é mãe dela, então
o que você vai discutir, eles são todos perdidos, porque a mãe assumiu a criança, mas a mãe não