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1
Márcia Maria Bignotto
A EFICÁCIA DO TREINO DE CONTROLE DO
STRESS INFANTIL
PUC - Campinas
2010
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2
Márcia Maria Bignotto
A EFICÁCIA DO TREINO DE CONTROLE DO
STRESS INFANTIL
Tese apresentada ao Programa de
Pós-
Graduação Stricto Sensu em
Psicologia do Centro de Ciências da
Vida – PUC – Campinas, como
requisito para obtenção do título de
Doutor em Psicologia como Profissão e
Ciência.
Orientadora: Profa. Dra Marilda E.
Novaes Lipp
PUC - Campinas
2010
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3
t155.412 Bignotto, Márcia Maria.
B593e A eficácia do treino de controle do stress infantil / Márcia Maria
Bignotto. - Campinas: PUC-Campinas, 2010 .
98p.
Orientadora: Marilda Emmanuel Novaes Lipp.
Tese (doutorado) – Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Centro de Ciências
da Vida, Pós-Graduação em Psicologia.
Inclui anexos e bibliografia.
1. Stress em crianças. 2. Psicologia infantil. 3. Crianças - Condu-
ta. 4. Psicologia educacional. I. Lipp, Marilda E. Novaes. II. Pontifícia
Universidade Católica de Campinas. Centro de Ciências da Vida.
Pós-Graduação em Psicologia. III. Título.
22.ed.CDD – t155.412
4
5
Dedico este trabalho ao meu filho
Gabriel, que mesmo pequeno soube
compreender a importância da realização
deste estudo em minha vida profissional e pessoal.
6
AGRADECIMENTOS
Agradeço em especial à Profa. Dra. Marilda Lipp, que me despertou interesse
pela pesquisa e direcionou o meu saber, sempre com muita competência e
ética em suas atitudes.
Minha gratidão e carinho a todos que me apoiaram neste caminho. O
título que agora recebo, representa a certeza de que estou lutando pelos
meus ideais, mantendo a dignidade da profissão que abracei.
À psicóloga Tatiana Regina de Oliveira Moraes que tão gentilmente atuou
como co-terapeuta neste trabalho.
À Profa. Dra. Edwiges Silvares, que sendo uma referência na área da
psicologia infantil, aceitou contribuir com suas valiosas sugestões para o
aperfeiçoamento desse trabalho, além da sua presença no exame de
qualificação.
À Profa. Dra. Dayse Borges, por ser um modelo de profissionalismo enquanto
docente e ter contribuído com competência para o melhor desenvolvimento
desse estudo, por meio de suas idéias no exame de qualificação.
À Profa. Dra. Elisabeth Pacheco, que contribuiu com seu conhecimento para a
minha formação desde a graduação, sendo uma pessoa pela qual tenho um
carinho especial.
Aos professores, coordenadores escolares, médicos e outros profissionais que
divulgaram o trabalho e colaboraram no encaminhamento dos participantes
deste estudo.
Aos meus prestimosos pais Dirce e Gercel que sempre incentivaram o meu
crescimento profissional.
7
Aos meus queridos primos Eduardo Cavalcante e Edson Souza, que com a
alegria e o bom humor que possuem perante à vida, acompanharam-me nesta
jornada.
À Jéssica Bessão, que mesmo jovem, cooperou muito durante a realização
deste estudo, conseguindo administrar adequadamente a rotina de minha casa.
Agradeço também a minha amiga Isolina Proença, pela nossa longa amizade e
por sempre estar presente em momentos importantes de minha vida.
Gostaria de reconhecer a bolsa outorgada pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) que possibilitou a
realização de meu doutorado.
8
Aos participantes...
Agradeço a todos os participantes, em especial às crianças, que se
dispuseram a participar deste estudo, sem os quais este trabalho não poderia
ser realizado.
“Crescer emocionalmente é complicado e difícil em qualquer
circunstâncias, mas pode ser especialmente difícil quando o
comportamento e a aparência da criança falam “adulto”e seus
sentimentos choram”crianças”.(Elkind)
9
Índice Geral
Dedicatória..................................................................... iv
Agradecimentos............................................................. v
Índice Geral.................................................................... viii
Índice de Tabelas........................................................... x
Índice de Figuras............................................................ xi
Resumo.......................................................................... xii
Abstract.......................................................................... ix
Résumé.......................................................................... xvi
Apresentação................................................................. xviii
Introdução...................................................................... 01
Objetivos........................................................................ 15
Método........................................................................... 16
Participantes...................................................... 16
Material.............................................................. 18
Local.................................................................. 31
Pessoal.............................................................. 31
Procedimento ................................................... 31
Resultados..................................................................... 36
Discussão...................................................................... 66
Conclusão..................................................................... 73
Referências Bibliográficas............................................ 74
Anexos......................................................................... 79
Anexo A
10
Termo de consentimento..................................................... 80
Anexo B
Ficha de identificação do participante.................................. 82
Anexo C
Escala de reajustamento Social........................................... 84
Anexo D
Roteiro de levantamento de fontes internas de stress.......... 86
Anexo E
Levantamento de estratégias de enfrentamento do stress
para as crianças................................................................... 89
Anexo F
Vivências.............................................................................. 91
Anexo G
Caracterização detalhada da amostra................................. 98
11
Índice de Tabelas
Tabela 1. Os cinco sintomas de stress psicológicos mais mencionados
pelas crianças............................................................................................. 40
Tabela 2. Distribuição dos cinco sintomas psicológicos com
componentes depressivos.......................................................................... 41
Tabela 3. Percentual de participantes que apresentaram sintomas
Físicos....................................................................................................... 41
Tabela 4. Percentual de crianças quanto a menção dos sintomas
psicofisiológicos.......................................................................................... 42
Tabela 5. Fontes internas de stress mais mencionados pelas crianças..... 44
Tabela 6. Distribuição das categorias das fontes internas de stress por
Grupos nos dois momentos de avaliação................................................... 49
Tabela 7. Freqüência das estratégias de enfrentamento para o grupo
GTCSI no 1º e 2º momento de avaliações................................................. 49
12
Índice de Figuras
Gráfico 1. Presença de stress nos grupos GTCSI e GC
Pós intervenção.................................................................... 46
Gráfico 2. Fases de stress nos grupos GTCSI e GC pós
Intervenção........................................................................... 47
Gráfico 3. Total de fontes internas do stress para os
Grupos GTCSI e GC pós intervenção.................................. 48
13
Resumo
Bignotto, M.M. (2010). A eficácia do treino de controle do stress infantil. Tese
de Doutorado em Psicologia, CCV - Pontifícia Universidade Católica de
Campinas, PUC Campinas. XVIII: 98..
Este estudo objetivou testar a eficácia de um método novo de tratamento do
stress, designado treino psicológico de stress infantil (TCS-I) na redução da
sintomatologia do stress em crianças de 08 anos a 09 anos anos de idade. O
TCS-I se constituiu de 16 encontros semanais de 90 minutos de duração, em
grupo, e se baseou na teoria cognitivo-comportamental. Os participantes foram
20 crianças distribuídas igualmente em dois grupos: GTCSI que recebeu o
TCS-I e outro (grupo comparativo GC) que teve 16 encontros semanais com a
psicóloga, não direcionados ao controle do stress. A testagem inicial avaliou a
sintomatologia de stress, os estressores com os quais as crianças se
deparavam no dia a dia e quais estratégias de enfrentamento elas utilizavam.
Considerando-se como referencial teórico o modelo quadrifásico que enfatiza
quatro fases no processo do stress: alerta, resistência, quase exaustão e
exaustão, os resultados indicam que 60% das crianças encontravam-se na fase
de quase exaustão, com prevalência de reações psicológicas. Os estressores
mais mencionados por elas eram de natureza interna e se referiam a
sentimentos de ansiedade e situações referentes a uma autoestima
prejudicada. Verificou-se ainda que faziam uso de um número e tipo de
estratégias que se mostrou insuficiente no controle de seus níveis de tensão.
Os dois grupos foram comparados antes e após a intervenção do GTCSI. No
inicio, os grupos não mostraram diferenças significativas quanto ao nível e fase
do stress na qual se encontravam. Após a intervenção, observou-se, que o
GTCSI apresentou uma redução significativa no seu nível de stress quando
comparado ao GC. Concluiu-se que as crianças estressadas quando
submetidas a um treino de controle de stress específico às suas necessidades,
são capazes de desenvolver habilidades de enfrentamento obtendo redução
nos níveis de stress. Concluiu-se também que o TCS-I é muito eficaz na
redução do stress infantil e das fontes internas de stress.
14
xiii
Palavras-chaves: stress infantil, treino de controle, teoria cognitivo-
comportamental
15
Abstract
Bignotto, M.M. (2010). The effectiveness of stress control training in young
children. Psychology Doctorate Thesis, CCV Pontifical Catholic University of
Campinas, (PUC Campinas). XVIII: 98.
The aim of this study was to test the effectiveness of a new method for treating
stress, designated stress control training for children (known locally as TCS-I) in
the reduction of the symptomatology of stress in children between 8 and 9 years
of age. The TCS-I was composed of 16 weekly meetings lasting 90 minutes
each, in group session, and was based on cognitive behavior theory. The
participants consisted of 20 children equally divided into two groups: the GTCSI
which received the TCS-I training and the GC (control group) who had 16
weekly sessions with a psychologist, which did not involve stress control. Initial
testing evaluated the symptomatology of stress, the stressors which the children
would normally encounter in their everyday lives and what were the
confrontation strategies they used. Using the quadriphase model as a
theoretical benchmark which emphasizes four phases in the stress process,
namely alert, resistance, near-exhaustion and exhaustion, results show that
60% of children were in the near-exhaustion phase, with a prevalence of
psychological reactions. The stressors most mentioned by the children were
internal in nature, and related to feelings of anxiety and situations related to
impaired self-esteem. It was also found that they made use of numbers and
types of strategies that were not sufficient to control their levels of tension. The
two groups were compared before and after the GTCSI sessions. Initially, the
groups showed no significant differences in terms of the level and phase of
stress they were facing. After intervention, it was noted that the GTCSI showed
a significant reduction in their level of stress when compared to the control
group. It was concluded that stressed children, when subjected to stress control
training specific to their needs, are capable of developing confrontation skills
and achieving a reduction in levels of stress. It was also concluded that TCS-I is
very effective in reducing stress in children and the internal sources of this
stress.
16
Keywords: stress in children, control training, cognitive behavior theory
17
Résumé
Bignotto, M.M. (2010). L'efficacité de l'entraînement de contrôle du stress
infantile. Thèse de Doctorat en psychologie, CCV - Université Catholique
Pontificale de Campinas, PUC Campinas. XVIII: 98.
L'objectif de cette étude était de tester l'efficacité d'une nouvelle méthode de
traitement du stress, désigné entraînement psychologique du stress infantile
(TCS-l) dans la réduction de la symptomatologie du stress chez les enfants de
8 a 9 ans.Le TCS-l était composé de 16 séances hebdomadaires de 90
minutes, en groupes, et était basé sur la théorie cognitive-comportementale.
Les participants étaient 20 enfants partagés également en deux groupes:
GTCSI qui a reçu le TCS-I et l'autre (groupe comparatif CG) qui a eu 16
séances hebdomadaires avec une psychologue qui n’a pas soumis au contrôle
de stress.L'essai initial a évalué la symptomatologie du stress, les types de
stress auxquels les enfants se confrontaient quotidiennement et quelles
stratégies d'affrontement ils utilisaient. En considérant comme référentiel
théorique le modèle quadripartite qui souligne les quatre étapes dans le
processus du stress: alarme, résistance, près de l'épuisement et l'épuisement,
les résultats indiquent que 60% des enfants étaient dans la phase du près de
l'épuisement, avec une prévalence de actions psychologiques.Les types de
stress plus souvent cités par le groupe étaient de nature interne auquel
faisaient référence à des sentiments d'anxiété et des situations d'une estime de
soi endommagée. Nous avons constaté que les enfants faisaient également
l'usage d'un nombre et type de stratégie qui se révélait insuffisant dans le
contrôle de leur niveau de stress.Les deux groupes ont écomparés avant et
après l'intervention du GTCSI.Au début, les groupes n'ont pas manifesté
aucune différence significative dans le niveau et la phase du stress desquels ils
se trouvaient.Après l'intervention, il a été observé que le GTCSI a montré une
réduction significative de leur niveau de stress par rapport au GC. Il a été
conclu que les enfants stressés lorsqu'ils sont soumis à l'entraînement de
contrôle du stress spécifique à leurs besoins, sont capables de développer
des habiletés d'affrontements en obtenant ainsi une réduction dans les niveaux
du stress. Il a été conclu également que le TCS-I est très efficace pour réduire
le stress chez les enfants ainsi que leurs sources internes de stress.
18
xvii
Mots-clés: stress infantile, entraînement de contrôle, la théorie cognitive-
comportementale
19
Apresentação
O presente trabalho teve como objetivo avaliar a eficácia de um
tratamento psicológico adaptado do Treino de Controle do Stress Infantil de
Lipp – TCS - I (2000) para o tratamento do stress em crianças.
Os resultados obtidos por meio deste estudo demonstraram que as
crianças conviviam com uma enorme gama de estressores em função da
demanda de exigências que enfrentam na sociedade atual. Demonstrou ainda
a eficácia do Treino de Controle do Stress Infantil no tratamento da
sintomatologia de stress.
Na introdução deste estudo foram abordados os temas stress, fases e
sintomas dando-se enfoque ao stress infantil. A seguir apresentou-se um treino
de controle de stress específico para crianças.
A sessão de método incluiu a avaliação de 20 crianças. Esta parte
apresentou a descrição dos critérios de seleção dos participantes: o material
utilizado; o local e pessoal. Demonstrou ainda o procedimento utilizado para a
execução deste estudo.
A parte de resultados apresentou a descrição do método de análise dos
dados utilizados, que visou correlações, comparações intra e inter grupos. As
análises realizadas incluem tabelas, gráficos e percentuais de ocorrência das
variáveis em estudo. A fim de ter uma melhor compreensão e organização dos
dados, os resultados foram apresentados em quatro partes, sendo estas:
dados biográficos; a avaliação do stress e suas características na amostra total
e na comparação dos grupos experimental e controle; relato das sessões que
compõem o Treino de Controle do Stress Infantil e finalizando o Perfil das
crianças elaborado em função dos resultados obtidos. A discussão e a
conclusão explanaram os resultados significativos obtidos pelas avaliações e
do Treino de Controle do Stress Infantil. Finalizando as referências
bibliográficas foram apresentadas, seguida pelos anexos utilizados neste
estudo.
20
Introdução
Segundo a literatura internacional Elkind (1981) foi um dos primeiros
pesquisadores a se dedicar ao estudo sobre o stress infantil. No Brasil a
maioria dos estudos nessa área foram realizados na PUC Campinas, a partir
da década de 90, sob a orientação de Lipp.
Lipp (2000) define o stress como um desgaste geral do organismo
causado por alterações psicofisiológicas que ocorrem devido a pessoa ver-se
forçada a enfrentar situações que a irrite,amedronte,excite ou confunda, ou a
faça muito feliz. Assim o stress pode ocorrer quando a quebra da
homeostase do organismo.
Durante o desenvolvimento infantil, que abrange o físico, o cognitivo, o
emocional, o afetivo e o social, a criança pode ser obrigada a enfrentar
momentos em que a tensão de sua vida atinge níveis muito elevados, que
podem ultrapassar a sua capacidade de amadurecimento para lidar com as
situações conflitantes ocorridas (Lipp, 2000). Como consequência dessas
situações associadas ao limitado repertório de enfrentamento para esses
momentos pode ser desencadeado um processo de stress nesse ser ainda em
desenvolvimento.
Franca e Leal (2003) acreditam que as transformações ocorrem em
grande quantidade e numa velocidade bem maior para a criança do que na
fase adulta, sendo esses períodos propícios ao surgimento de um nível de
stress elevado. Townsend (2002) postula que o estilo de vida da criança na
sociedade contemporânea favorece o desencadeamento de um quadro de
stress.
Na criança, o stress é semelhante ao presenciado no adulto. Os
sintomas podem acontecer no campo psicológico, físico ou em ambos. Lipp e
Romano (1987) apresentam como sintomas psicológicos: ansiedade, terror
noturno, pesadelos, dificuldades interpessoais, introversão súbita, desânimo,
21
insegurança, agressividade, choro excessivo e depressão. Como sintomas
físicos podem ser encontrados: dores de barriga, diarréia, tiques nervosos,
dores de cabeça, náusea, hiperatividade, enurese noturna, gagueira, tensão
muscular e ranger de dentes.
A Síndrome de Adaptação Geral foi definida como a reação de stress,
por Selye (1965) que a dividiu em três estágios: alarme, resistência e exaustão.
Fase de Alarme: durante a qual as defesas foram mobilizadas e o sistema
simpático, a hipófise e as glândulas supra-renais foram acionados para agir. As
reações da fase de Alerta (Alarme) incluem:
Aumento da freqüência cardíaca e da pressão arterial possibilitando que
o sangue circule mais rapidamente com o propósito de fornecer mais nutrientes
ao rebro, sculos e órgãos. A contração do baço aumenta a quantidade
dos glóbulos vermelhos na corrente sanguínea levando mais oxigênio ao
cérebro. A liberação de reservas de energia (açúcar e gorduras) na corrente
sanguínea produz mais iniciativa. O aumento da produção de hormônios
principalmente a adrenalina, o aumento da freqüência respiratória a fim de
fornecer oxigênio adicional e a tensão dos sculos preparam o organismo
para a ação. O organismo fica preparado para a luta ou fuga.
Por meio do córtex cerebral o organismo busca saídas na intenção de
restabelecer o equilíbrio interno, a homeostase. No entanto, uma vez que o
estressor não tenha sido eliminado, o organismo passa para uma segunda
fase, denominada fase de Defesa ou Resistência.Fase de Resistência: Na
tentativa do organismo alcançar a homeostase, ocorre uma hiperatividade
corticossupra-renal, consequentemente um gasto exagerado de energia.
Quando ocorre o equilíbrio, os sintomas iniciais, ou seja, os sintomas da fase
de Alerta desaparecem sendo que dois sintomas surgem de forma bastante
acentuada: sensação de desgaste físico generalizado e dificuldades com a
memória.
No entanto, quando a situação estressante é mantida por um período de
tempo muito prolongado, ou quando o organismo não pode lutar nem fugir, o
organismo esgota suas reservas de energia adaptativa e entra num terceiro
22
estágio ou fase, o de Exaustão. Fase de Exaustão: nas quais as defesas foram
exauridas. Este estágio ocorre como decorrência da falha dos mecanismos
adaptativos frente aos estímulos estressantes que permanecem excessivos. O
organismo torna-se então suscetível a doenças.
Lipp (2000) apresentou um modelo quadrifásico do stress baseado no
modelo trifásico de Selye (1974), segundo a autora existe uma quarta fase do
stress nomeada quase exaustão, que se encontra entre a fase de resistência
e a da exaustão. Esta fase, caracteriza-se pelo enfraquecimento da pessoa que
não mais é capaz de adaptar-se ou resistir ao stress, e assim, as doenças
começam a surgir mas ainda de maneira não tão grave quanto na fase de
exaustão propriamente dita.
O stress de longa duração também pode produzir uma progressão de
efeitos colaterais. A síndrome geral de adaptação, por exemplo, desvia o fluxo
sanguíneo para os grandes músculos esqueléticos, diminuindo-o no trato
gastrointestinal e na pele. Os primeiros sinais podem ser s e mãos frios,
depois, gradativamente, uma tez pálida ou amarelada, e, por fim, enxaqueca ou
pressão sanguínea elevada. Também as glândulas endócrinas, submetidas a
um stress de longa duração, provocam a liberação de açúcares a fim de que
sejam usadas. Se for produzida insulina em demasia, os níveis de açúcares do
sangue tornar-se-ão baixos demais (condição a que se o nome de
hipoglicemia). A pessoa se sente cansada. Uma produção ainda maior de
insulina é então estimulada, e o ciclo de baixo teor de açúcar no sangue
continua. Às vezes o stress de longa duração agrava uma condição ou
tendência preexistente.
Segundo Selye (1965), o G.A.S. (Síndrome de Adaptação Geral) é uma
tentativa de definir o processo de stress aa doença. É um modelo trifásico
pelo qual o choque agudo ou a excitação crônica poderia ao final esgotar os
constituintes fisiológicos que normalmente permitem que os órgãos alvos
continuem a funcionar em face da estimulação de stress. A conseqüência seria
a exaustão do órgão – alvo..
23
A vulnerabilidade ao stress é explicada em função dos fatores
endógenos e ambientais. O que determina qual resposta uma pessoa vai ter
ao stress é a forma como ela percebe os estímulos, os estressores, isto é suas
cognições. Cognições são o que a pessoa pensa, sente, seus valores, crenças
e atitudes que influenciam na sua resposta comportamental ao estressor
(Range, 1995).
As abordagens cognitivas, ao stress dão ênfase ao papel das diferenças
individuais na avaliação de situações e das reações de enfrentamento, na
determinação das respostas comportamentais e emocionais, às situações
causadoras de stress (Beck, 1984). As avaliações da importância de um
acontecimento a disponibilidade e eficácia das reações de enfrentamento
interagem na determinação da natureza das reações ao stress.
Kobasa et al (1979) sugerem que existe um fator ao qual denominam de
resistência, para explicar o porque de algumas pessoas adoecerem e outras
não em face ao mesmo grau elevado de stress. Um conjunto específico de
atitudes frente à vida como, abertura para mudanças, sentimento de
envolvimento com a família e quaisquer empreendimentos que a pessoa realiza
assim como uma sensação de controle sobre os eventos.
A reação do indivíduo resistente ao stress parece ser diferente daqueles
indivíduos sensíveis ao stress. Quando expostos a mesma ameaça severa o
resistente responde ao desafio de maneira controlada sem ser vencido por ele
(Lazarus, 1991).
Os estímulos que eliciam a resposta de stress que tanto pode ser um
evento positivo quanto negativo é denominado de estressor, sendo que o
estímulo que desencadeia a reação de stress torna-se um estressor em função
da interpretação cognitiva, ou significado, que a pessoa passa a dar a ele.
Everly (1989) relata que os estressores podem ser eventos bons ou ruins, mas
o organismo reage independentemente de sua qualidade. Segundo o mesmo o
que interfere na magnitude da resposta do stress é a interpretação dada ao
estímulo pelo organismo. Em função da presença do estressor, da
24
interpretação que o organismo a este estressor pode ocorrer a estimulação
de um órgão-alvo no organismo promovendo doenças relacionadas ao stress.
Os estímulos que iniciam a resposta de stress, os estressores, segundo
Girdano e Everly (1989) podem ser divididos em três classes:
1) Causas psicossociais decorrentes da interação direta entre
comportamento social e a interpretação deste comportamento com
base em experiências passadas e outros processos de
aprendizagem.
2) Causas biológicas decorrentes da interação do indivíduo com
estímulos do ambiente, que geralmente são estressantes pela sua
própria natureza
3) Causas relacionadas à personalidade - a percepção negativa de si
próprio pode constituir um estressor em potencial.
Folkman e Lazarus (1980) mencionam que o indivíduo dispõe de cinco
recursos básicos, do ambiente ou da própria pessoa, para enfrentar e lidar com
o stress.
1) Saúde, energia e moral: indivíduos com boa saúde tem mais energia
e força de ânimo para enfrentar situações estressantes.
2) Habilidades para resolver problemas: as habilidades para procurar
informações, analisar as situações para identificar o problema,
verificar as possíveis alternativas e selecionar um curso de ação
constituem pré-requisitos para uma intervenção prática em situação –
problema.
3) Apoio social: indivíduos com relacionamento social positivo,
geralmente, tem uma saúde melhor e mais força para enfrentar as
crises que surgem na vida.
25
4) Recursos utilitários: recursos monetários, treinamentos para
enfrentar o stress, etc., aumentam as opções e o acesso à
assistência médica e profissional em geral.
5) Crenças gerais e específicas: o aspecto cognitivo da crença na sua
própria capacidade favorecerá resultados mais positivos na
resolução de problemas em situações estressantes.
Muitas vezes, o evento em si não torna o indivíduo irritável ou tenso,
mas é seu pensamento sobre o acontecido que causa o problema, e os
indivíduos podem mudar a maneira de como pensar e agir. Portanto, o nível de
stress experimentado pelo indivíduo depende, em grande parte, da
interpretação que é dada ao evento, isto é, as crenças que se tem quanto
àquela situação (Lipp et al, 1990). A interpretação racional dos eventos
favorecerá resultados positivos.
Também, Lazarus (1966) propõe que estímulos que vem sendo
avaliados ou interpretados como ameaçadores podem passar a ser percebidos
como inofensivos. Esta reavaliação do evento ansiógeno pode ocorrer em
função de uma nova evidência que atribua ao estímulo características menos
capazes de gerar ansiedade ou que faça a pessoa compreender que ela pode
ser capaz de lidar com ele.
Na criança o stress pode ser originado por fontes externas(Elkind, 1981)
ou fontes internas, assim como no adulto (Ellis,1973 e Lazarus, 1966).
Lipp et al (1991) definiram como fontes externas qualquer evento do mundo
externo que exija uma nova adaptação por parte da criança, exigindo para isso
muita energia.
Algumas fontes externas de stress são as mudanças que ocorrem no
desenvolvimento da criança, tais como mudar de residência, de escola, de
professores, de amigos, a morte de um ente querido, o divórcio ou separação
dos pais, o excesso de responsabilidades, atividades em excesso, a escola,
hospitalização e doenças, entre outras.
26
Holmes e Rahe (1967); e Elkind (1981) afirmam que as mudanças que
ocorrem na vida da criança exigem, em alguns casos, o uso de muita energia
para conseguir superá-las, e que isto possibilita um desgaste no organismo que
pode causar sérias doenças, pois o organismo é dotado de uma quantidade
necessária de energia para manter-se em homeostase. Toda vez que o
indivíduo passa por uma situação de mudança ele utiliza certa quantidade
dessa energia para adaptar- se. De acordo com esses autores, quanto maior o
número de mudanças ocorridas no período de doze meses, maior é a
probabilidade dessa reserva de energia ficar deficitária e em decorrência disso
haver um aumento da probabilidade de um problema de saúde ocorrer.
Baseado nesse conceito Holmes e Rahe (1967) elaboraram uma escala de
verificação dessa probabilidade de ocorrer doenças em virtude do número de
acontecimentos ocorridos.
Para avaliar o nível de fontes externas em crianças Elkind (1981) com
base no conceito de Holmes e Rahe, elaborou uma escala denominada Escala
de Reajustamento Social, com o objetivo de verificar esses aspectos de
mudanças na criança, e com isso detectar quais o as fontes externas e a
probabilidade de ocorrer doenças, como consequência de um stress excessivo.
Além das fontes externas, existem aquelas criadas pela própria criança,
chamadas de fontes internas, que estariam relacionadas ao modo como
enfrenta situações cotidianas, aos seus pensamentos e atitudes e as crenças
que possui. Assim, a partir do tipo de pensamento que a criança tem sobre si
mesma, sobre os outros e sobre o mundo, os seus sentimentos serão afetados.
Como consequência a qualidade da interpretação dos acontecimentos ou
seja,os pensamentos automáticos, iniciam a cadeia de comportamentos
funcionais e não funcionais(Rangé, 2003).
Em decorrência da ação das fontes de stress (estressores) que a
criança possa conviver, ela pode apresentar uma enorme quantidade de
sintomas de stress.Lucarelli (1998) elaborou um trabalho de pesquisa cujo
objetivo foi verificar a existência ou não de stress em crianças, pela medida da
freqüência com que experimentam sintomas associados ao stress, o que
27
possibilita a determinação do tipo de reação apresentada pela criança. Esta
escala possibilita a identificação do stress infantil para populações de 6 a 14
anos em quatro dimensões: reações físicas, reações psicológicas, reações
psicológicas com componentes depressivos, reações psicofisiológicas. A
autora afirma que identificar o stress nas crianças torna-se de extrema
importância no sentido de que os profissionais da saúde possam agir evitando
a ação do stress excessivo sobre elas e também levá-las a reconhecerem os
seus sinais de stress e dessa maneira desenvolver habilidades para enfrentar
as situações estressantes inevitáveis em sua vida.
Em relação à prevalência de sintomas alguns estudos apontam para um
maior índice de sintomas psicológicos em crianças (Bignotto, 1997). Em seu
estudo, Bignotto (1997) que investigou a relação entre stress e a ontogênese e
manutenção da obesidade infantil, obteve uma presença de 54% quanto aos
sintomas psicológicos.
O stress psicossocial pode estar presente na vida das crianças. Eventos
e transições específicas que fazem parte da experiência normal na cultura,
podem ser estressantes como por exemplo o nascimento de um irmão, as
mudanças na família e outras. Algumas crianças podem experimentar essas
transições como estressantes enquanto outras o fazem tranquilamente e
adaptam-se.
Segundo a literatura na área, o impacto final de um evento estressante
ou do stress persistente depende da gravidade do estressor, do nível de
desenvolvimento da criança e da disponibilidade e capacidade dos adultos no
ambiente de servir como um amortecedor protetor e de ajudar a criança a
entender e lidar com o estressor. Segundo Santos (2003), a família
desempenha um papel central no desenvolvimento da criança, pois são os pais
que iniciam o processo de socialização, por meio dos ensinamentos básicos
acerca do contexto social. Assim, a influência familiar torna-se inegável, e o
valor dos primeiros relacionamentos estabelecidos entre pais e filhos sobre a
capacidade que a criança possui, poderá permanecer por toda a sua vida,
28
especialmente no que se refere a maneira de como lidar com os seus
sentimentos.
Lipp et al (1991) sugerem que o nível de ansiedade e timidez, uma auto-
estima rebaixada e um medo excessivo do poder de Deus também podem
servir como fontes internas desencadeadoras de intenso stress na criança.
Assim, muitas vezes é a própria criança que o cria por meio de algumas
características de sua personalidade.
A ansiedade infantil com base no DSM IV R (1995) é diagnosticada por
meio de três categorias descritas, a ansiedade de separação, comportamentos
de evitação e a ansiedade em excesso. A ansiedade de separação está
vinculada à situações que envolvem afastamento de pessoas da família ou
situações muito familiares à criança. Os comportamentos de evitação podem
ser considerados como esquivas de situações específicas que são aversivas à
criança. Na ansiedade em excesso a criança apresenta preocupações irreais
quanto a eventos futuros, autoestima rebaixada e sensação de incompetência
em várias áreas como a acadêmica, a esportiva e a social.
Lipp et al (1991) postulam que nas situações de ansiedade a criança
pode vivenciar um sentimento de antecipação, de expectativa de um perigo que
possa ocorrer a qualquer momento, às vezes até quando existe uma ausência
da causa para isso. Os sintomas da ansiedade o agitação, irritabilidade
generalizada, medo e crises de agressividade.
A timidez faz com que a criança torne-se mais dependente, devido às
constantes respostas de evitação e fuga em decorrência da dificuldade que tem
à adaptação de novas situações, o que proporciona freqüentes situações de
stress ( Lipp et al, 1991). Os sintomas apresentados pela timidez são a
evitação de contatos com o ambiente, com amigos, a apatia, o interesse por
colegas mais velhos como uma maneira de sentir-se protegida, entre outros.
A autoestima rebaixada é descrita como um repertório deficitário de
29
comportamentos de reforçamento e valorização pessoal. E a última fonte
interna apresentada, o medo excessivo do poder de Deus é entendida como
uma forma de punição.
Tricoli e Bignotto(1998) observaram a importância das mensagens de
socialização que as crianças recebem de seus pais e do meio ambiente ao
longo de seu desenvolvimento, podendo essas contribuírem para a formação
das fontes internas causadoras de stress. Assim, o stress pode ser criado pela
própria criança, de acordo com a sua aprendizagem social, seus pensamentos,
tipo de personalidade e atitudes; levando a a desenvolver alguns dos
seguintes comportamentos: timidez, ansiedade, medo de castigos divinos, auto
estima e auto imagem negativas. Além de específicas crenças irracionais
sobre si mesma e o mundo ao seu redor.
Mondardo, (2000) realizou um levantamento das condições sócio –
familiares da criança em idade escolar em Porto Alegre, a fim de investigar
suas relações com o estresse infantil. Como conclusões ela percebeu que as
crianças de seu estudo não estavam vivenciando eventos potencialmente
estressores ao seu desenvolvimento e que possuíam uma estrutura familiar
estável e saudável que estava funcionando como apoio sócio afetivo para a
criança, bem como também poder estar sendo um fator de proteção ao
estresse do dia – a – dia.
Quanto ao cuidado sobre a fase do desenvolvimento da criança para
lidar com situações estressantes foi recomendado por Tricoli (2000) a
orientação de que as crianças da primeira etapa do Ensino Fundamental ( entre
6 e 10 anos de idade) devem ser tratadas de forma acolhedora e afetuosa,
porém de maneira clara e objetiva quanto a colocação das regras que devem
seguir. Além do cuidado com a etapa do desenvolvimento, na qual a criança
encontra-se é importante lembrar que as fontes geradoras do stress podem ser
amenizadas ou eliminadas, de acordo com a atitude dos pais na educação de
seus filhos.
30
Moreno Manso,( 2004) em seu estudo realizado na Espanha que teve
como objetivo estabelecer uma relação entre o stress familiar, o desemprego e
a precariedade econômica com a violência contra à criança, observou em
uma amostra composta de 107 famílias e 256 crianças que quanto mais
intenso o nível de stress familiar maior era a ocorrência de violência contra à
criança. O que demonstra uma das maneiras de como o stress de um dos
familiares pode ter conseqüências nos outros membros desse mesmo grupo.
Noriega,J.; Morales e Noriega,C. (2005) em uma pesquisa realizada no
México, cujo objetivo foi avaliar as diferenças significativas entre tipos de
famílias quanto ao clima familiar (disciplinada, coesa e sem orientação) e o
stress da criança, em uma amostra que foi composta de 120 famílias em
condições de pobreza extrema nas zonas periféricas de Hermosillo, Sonora
México; encontraram relações interessantes entre os tipos de família e a
presença ou não de stress em suas crianças. Nas famílias sem orientação as
mães apresentaram uma percepção negativa da criança e acreditavam sofrer
restrições em decorrência da maternidade, sendo que nessa categoria de
família, encontrou-se maiores prevalências de stress em suas crianças. Nas
famílias coesas houve o menor número de crianças estressadas, e como
características dessas , foram observadas condutas de expressividade,
independência, crescimento pessoal e organização, onde os conflitos eram
resolvidos de maneira positiva.
O stress infantil torna-se de extrema importância quando são analisadas
suas consequências para a criança. Lipp e Malagris (1995) acreditam que o
stress infantil possa estar associado na patogênese de distúrbios físicos e
psicológicos. Os distúrbios psicológicos são: a depressão, a enurese,
dificuldades de relacionamento, comportamentos agressivos, desobediência
inusitada, ansiedade, choro excessivo, gagueira, dificuldades escolares,
pesadelos, birras e insônia. Os físicos relacionados ao stress são a obesidade,
doenças dermatológicas, cáries, a asma, entre outros.
Berenchtein (2004) em sua dissertação de mestrado investigou a
influência do stress na expressão clínica da asma e sua associação com as
31
crises em crianças. Nesse estudo a autora observou que as crianças com
asma estavam mais estressadas que as crianças do grupo controle ( crianças
não asmáticas),principalmente aquelas com maior gravidade da doença. Os
resultados indicaram que a presença de stress pode intensificar a freqüência
de sintomas da asma, à limitação à atividade física, o absenteísmo escolar e as
interrupções do sono. Concluiu-se que o stress é um fator importante no
desencadeamento e agravamento das crises de asma nas crianças.
Lipp,MEN; Arantes, JP; Buriti, MS e Witzig, T. (2002) realizaram um
estudo que objetivou pesquisar a prevalência do stress infantil no contexto
escolar, averiguar a diferença no número de crianças estressadas de três tipos
de escolas e nas várias séries do curso fundamental e estudar a diferença
entre os gêneros no que se refere ao stress. A amostra total se constituiu de
255 escolares, com idades variando de 7 a 14 anos, oriundos de três escolas.
No total, foram testados 113 meninos e 142 meninas. A prevalência de stress
na amostra total foi de 12,5%, com 32 crianças com sintomas de stress grave.
A primeira série foi identificada como a mais estressante. A prova do qui
quadrado revelou uma associação entre ries freqüentada e ter ou não stress
com um qui-quadrado = 5,9121 e p=0,01. O que se refere à diferença entre os
sexos, a análise estatística, por meio da prova do qui-quadrado, revelou uma
associação significativa entre gênero e a prevalência de stress (qui-quadrado=
3,88, p= 0,04), sendo que a percentagem de meninas com stress era 9,02% e
a de meninos 3,53%. Portanto, o stress era duas vezes mais comum nas
meninas do que nos meninos.
Lipp (2000) também aponta a ocorrência de consequências sociais, por
acreditar que uma criança vulnerável ao stress e sofrendo suas consequências,
sem o tratamento adequado, certamente se tornará um adulto frágil, sem
resistência às dificuldades da vida. Após essas apresentações sobre o stress
infantil e suas consequências para a criança, percebe se a importância da
elaboração e implementação de programas específicos para ensinar às
crianças, a lidarem com o stress de modo mais adequado,por meio do
aprendizado de estratégias de coping para o enfrentamento de situações
estressantes em sua vida.
32
O termo coping ou enfrentamento é utilizado na literatura para
denominar o processo de lidar com demandas; internas ou externas, avaliadas
pela criança como estando além de seus recursos ou possibilidades. A
definição mais conhecida de coping é provavelmente a proposta por Lazarus e
Folkman (1984). Para esses autores, enfrentamento refere-se a esforços
comportamentais e cognitivos realizados por uma pessoa para lidar com as
demandas ambientais ou internas, ou com um conflito existente entre ambas.
Estes esforços influenciam, mas são também influenciados pelo ambiente.
Em seu estudo Raimundo e Pinto (2006) analisaram a relação entre
eventos estressantes entre pares e as estratégias de coping em 443 crianças e
adolescentes portuguesas. Os objetivos deste estudo foram, por um lado,
analisar a prevalência da freqüência e intensidade percebida dos eventos
estressantes entre pares e da freqüência e eficácia percebida das estratégias
de coping utilizadas para lidar com esse estressor e, por outro lado, investigar o
valor que prediz as variáveis sócio-demográficas (sexo, idade e situação sócio-
econômica) relativamente às duas variáveis em estudo (eventos estressantes
entre pares e estratégias de coping). A análise da estatística descritiva das
variáveis em estudo revelou a existência de níveis moderados de stress,
proveniente do conflito entre pares, quer para a intensidade (M=2.49; DP= .11),
quer para o resultado global de stress (M=2.15; DP= 1.24) e níveis modestos
para a sua freqüência (M=1.83; DP=.15). As estratégias de coping ativas foram
as mais utilizadas (M=1.75; DP=2.51) e consideradas mais eficazes (M=2.20;
DP = 2.27), pelos alunos, sendo as únicas a situarem-se acima do ponto
médio, além da eficácia percebida das estratégias de distração cognitivo-
comportamental (M=1.69; DP= 5.17). O teste T de diferenças entre médias
permitiu encontrar diferenças significativas de gênero, no sentido de as
meninas evidenciarem níveis elevados dos eventos estressantes entre pares
(t= - 3.463; p<.001). Verificou-se que os alunos provenientes do grupo etário
dos 9 aos 12 anos utilizam menos frequentemente estratégias de acting out (F
(2,427)= 7.805; p<.000) e consideram-nas menos eficazes. No final as autoras
consideraram que apesar de moderada a incidência do evento estressante
entre pares obtida na amostra estudada, justifica-se a preocupação com as
33
conseqüências potenciais deste estressor, nas crianças e adolescentes em
geral, e em particular nas meninas, que o experienciam mais intensamente; e
assim sugerem para a necessidade de elaboração e implementação de
programas de prevenção e intervenção escolar em nível da utilização, por parte
das crianças e adolescentes, de estratégias de coping mais adequadas à
situações percebidas como ameaçadoras.
Pincus, DB e Friedman, AG (2004) realizaram um estudo com o objetivo
de averiguar e identificar quais eram as estratégias que as crianças de algumas
escolas em Boston utilizavam para lidar com o stress cotidiano. Eles
constataram que muitas das crianças não apresentavam um repertório de
estratégias que fossem adequadas para o enfrentamento das situações
vivenciadas, No final eles sugeriram que fossem realizados programas de
intervenção específicos ao ensino de estratégias (reestruturação cognitiva,
autocontrole emocional) adequadas ao enfrentamento de stress em seus
ambientes escolares.
Outro estudo encontrado em relação ao ensino de um programa que
ensinasse crianças a gerenciarem adequadamente situações estressantes foi
realizado por Kraag,G; Van Breukelen,GJ; Kok,G e Hosman,C (2009) em
escolas.
Com essa finalidade Lipp (2000) apresentou um programa brasileiro de
tratamento específico ao controle do stress para crianças, que tem sua base
teórica na Terapia Comportamental Cognitiva aplicada à criança, seguindo o
pressuposto teórico de Ellis (1973).
34
OBJETIVOS
Objetivo Geral
O objetivo geral do presente estudo foi verificar a eficácia do
treino de controle do stress infantil proposto por Lipp ( 2000 ) adaptado
para o presente trabalho, na redução dos sintomas de stress.
Objetivos Específicos
Como objetivos específicos a pesquisa buscou:
1- Avaliar a sintomatologia do stress de uma amostra de crianças
de ambos os sexos antes e após o tratamento e compará-la com a
de crianças de um grupo controle que não recebeu o treino de controle do
stress.
2- Levantar as fontes estressoras externas e internas na vida
dessas crianças;
3 - Conhecer as estratégias que essas crianças utilizam para lidar
com o stress;
4 - Avaliar o nível e a fase de stress dos pais das crianças por meio do
Inventário de Sintomas de Stress.
5- Elaborar um perfil da criança estressada da amostra estudada.
35
MÉTODO
Participantes
A amostra foi composta por 20 crianças que concordaram em participar
voluntariamente do estudo e que tiveram o consentimento de seus
responsáveis para isso.
Os critérios para inclusão da amostra foram os seguintes: estar na faixa
etária de 8 anos 0 meses a 9 anos e 11 meses de idade; de ambos os sexos;
não apresentar retardo mental; estar matriculada e freqüentando o ensino
fundamental; e ser diagnosticada previamente como estressada, por meio do
instrumento psicológico adequado.
Fundamentação para os Critérios de inclusão das crianças na amostra:
a) Critério idade: crianças de 8a.0 m. a 9a.11m. de idade. Por compreender
esta faixa etária ao Estágio Operatório Concreto, segundo a teoria
epistemológica do desenvolvimento humano de Jean Piaget (1896-
1980). Nesse período a criança começa a construir conceitos, por meio
de estruturas lógicas. Ela desenvolve a capacidade de lidar com alguns
conceitos abstratos como os relacionamentos. Possui lógica consistente
e habilidade de solucionar problemas concretos. Além de ser capaz de
estabelecer relações e coordenar pontos de vista diferentes e de integrá-
los de modo lógico e coerente. Este critério é importante para a
realização do estudo em virtude de o seu referencial teórico ser a
comportamental – cognitiva. Esse critério também foi escolhido pela
questão de alterações psiconeurofisiológicas que ocorrem em crianças
acima dessa faixa etária em decorrência do início da puberdade, o que
seria uma variável de difícil controle, por provocar alterações no
organismo da criança que poderiam ser confundidas com algumas
reações semelhantes às encontradas em um processo de stress.
36
b) Critério educacional: a criança deve estar matriculada e freqüentar o
ensino fundamental, com o objetivo de estar inserida no processo
educacional de seu contexto cultural, e com isso estar em pleno
desenvolvimento de suas habilidades cognitivas e sociais.
c) Critério diagnóstico: apresentar nível de stress significativo. Somente
foram incluídas no estudo as crianças que após serem avaliadas foram
diagnosticadas como estressadas, para garantir um maior controle na
eficácia ou não do treino de controle do stress, quando comparado o
tratamento aplicado ao grupo experimental e controle, de modo que
todos os participantes fossem semelhantes quanto à variável estudada.
De um total de 97 crianças avaliadas no início deste estudo,
encontrou-se 34 crianças que não apresentavam nenhum nível de stress, 43
que estavam na fase de alerta do stress e 20 crianças que se encontravam
entre as fases de resistência e quase-exaustão de stress. A partir do
preenchimento do número pré-determinado para a composição da amostra dos
participantes, duas amostras foram sorteadas aleatoriamente, com a finalidade
da composição de dois grupos.
Os grupos foram denominados Grupo de treino de controle do stress
(GTCS) e Grupo comparativo (GC).
O GTCS foi composto com o objetivo de oferecer aos participantes um
possível treino terapêutico especializado no controle do stress infantil (TCSI).
Este grupo foi formado por dez crianças que participaram do começo ao final
da intervenção terapêutica, tendo sido reavaliadas ao final da mesma.
O GC foi composto por dez crianças que não receberam intervenção
programada pela pesquisa e que foram reavaliadas após a realização do
mesmo número de encontros do GTCS. O objetivo deste grupo foi controlar
apenas a passagem do tempo, para servir como diâmetro de comparação ao
grupo experimental.
A opção por dois grupos teve como finalidade testar a eficácia de um
treino de controle de stress específico à infância. Dessa forma trabalhou-se
com um grupo experimental (GTCS) e um grupo comparativo (GC). O grupo
GTCS recebeu orientações para lidar com o stress, enquanto que o grupo GC,
não contou com o tratamento para lidar com o stress. Dessa maneira o grupo
37
GC teve a função de controle para o grupo GTCS, sendo que o objetivo foi
averiguar se um treino em controle do stress infantil seria capaz de modificar os
níveis de stress no grupo GTCS de maneira significativa em comparação com o
grupo GC.
Material
Além do termo de consentimento para os responsáveis pelos
partcipantes (Anexo A) foram utilizados os seguintes instrumentos: 1) ficha de
identificação do participante (Anexo B); 2) Escala de Stress Infantil – ESI – Lipp
e Lucarelli, 2005; 3) Escala de Reajustamento Social – Elkind, 1981 (Anexo C);
4) Roteiro de levantamento de fontes internas de stress (Anexo D); 5)
Levantamento de estratégias de enfrentamento do stress para as crianças
(Anexo E); 6) Inventário de Comportamento da Infância e Adolescência (Child
Behavior Checklist CBCL); 7) Inventário de Sintomas de Stress – ISS – Lipp,
2000. Adicionalmente fez-se uso do Manual do treino de controle do stress
infantil (Anexo I) – Este manual foi elaborado a partir dos quatro pilares do
treino de controle do stress de Lipp (1984) com base no referencial teórico da
área proposto por Lipp (2004) e nos dados obtidos durante as avaliações
realizadas com os participantes deste estudo. Deste modo o processo de
intervenção psicológica, foi realizado utilizando-se o “Manual do Treino de
Controle do Stress Infantil”.
A descrição dos instrumentos de avaliação utilizados na pesquisa é feita
a seguir.
Ficha de identificação do participante (Anexo B)
Instrumento constituído de perguntas abertas elaborado para o presente
estudo com o objetivo de coletar dados gerais dos participantes: iniciais do
nome, sexo, data de nascimento, idade e dados de escolaridade. Nessa ficha,
38
também constam os dados de identificação dos pais e irmãos, além da fonte e
motivos de encaminhamentos.
Escala de Stress Infantil – ESI (Lipp e Lucarelli, 2005 ).
A Escala de Stress Infantil ESI elaborada em 2005 por Lipp e
Lucarelli, validada e publicada pela Casa do Psicólogo visou identificar a
sintomatologia apresentada pela criança, avaliando, assim, o nível de stress e
descriminando as suas reações. O instrumento tem por objetivo verificar a
presença de stress em crianças de 6 à 14 anos de idade , de ambos os sexos.
A ESI é composta de 35 itens relacionados a sintomas físicos, psicológicos,
psicológicos com componentes depressivos e psicofisiológicos de stress. Cada
item apresenta um círculo dividido em quatro partes. A criança submetida ao
teste deve preencher os desenhos indicando a freqüência com a qual sente o
que está descrito.
A graduação do sintoma é: círculo em branco se nunca acontece; uma
parte do círculo pintada se acontece um pouco; duas partes pintadas se
acontece às vezes; quase sempre três partes pintadas e todas as partes do
círculo pintadas se sempre acontece.
A Escala de Stress Infantil foi totalmente revisada e apresenta na segunda
edição dados normativos atualizados, além dos estudos de Precisão e
Validade. A edição atual foi aprovada pelo Conselho Federal de Psicologia na
23ª Reunião Plenária, realizada em 25 de outubro de 2003.
A ESI surgiu do interesse em validar o Inventário de Sintomas de Stress
Infantil (Lipp e Romano, 1987) pela sua aplicabilidade nas diferentes áreas de
atuação do psicólogo e por estar sendo, amplamente utilizada em pesquisas
nesta área. As diversas modificações sofridas pela ISS-I original, a partir dos
resultados apresentados na dissertação de mestrado de Maria Diva Monteiro
Lucarelli, intitulada “Inventário de Sintomas de Stress Infantil ISS I: Um
estudo de Validação”, defendida no Departamento de Pós-graduação da PUC
Campinas, em 1997, sob orientação de Marilda E. Novaes Lipp, sugeriram que
sua versão final fosse considerada um novo instrumento, que foi denominado
de Escala de Stress Infantil – ESI.
39
As alterações realizadas, no decorrer deste estudo, referem-se a
construção, sequência e a acréscimo de itens, a forma de apresentação e
instruções. Também, passou por uma revisão em 2004, objetivando completar
os estudos psicométricos, a fim de enquadrar a escala nas especificações da
resolução CPF n 002/2003, que caracteriza as condições necessárias para a
publicação de testes psicológicos.
Os coeficientes de Precisão e de Consistência Interna da ESI foram
calculados e mostraram-se satisfatórios: Ceficiente Alpha de Cronbach = 0,89;
Coeficiente de Precisão pela técnica Duas Metades = 0,95 e Correlação de
Sperman-Brown = 0,97. O coeficiente de correlação de Spearman obtido nas
duas formas de aplicação foi de 0,73%, o que é uma boa correlação.
Escala de Reajustamento Social ( Elkind, 1981 ). (Anexo C).
O objetivo desta escala foi verificar a presença de fontes externas de
stress na vida da criança, ou seja, acontecimentos bons ou maus ocorridos em
sua vida no período dos últimos doze meses. A escala é composta por 43
situações nas quais a criança passa por uma mudança em sua vida que exige
uma nova adaptação de seu organismo. A cada mudança citada na escala é
atribuído um índice correspondente ao quanto de energia adaptativa foi
necessário para que a criança pudesse adaptar-se ao acontecimento ocorrido.
Para detectar quanto de energia foi utilizada pela criança soma-se o total
correspondente aos pontos de todos os itens assinalados. Ao encontrar uma
soma de até 150 pontos significa que a energia gasta atingiu um nível médio. A
soma de 150 a 300 pontos conclui que a criança possui uma probabilidade
acima da média para a ocorrência de problemas de saúde. Os pontos
correspondentes a cada item são encontrados no instrumento no anexo C..
Roteiro de levantamento de fontes internas de stress (Anexo D).
Esse instrumento é uma adaptação do Inventário de fontes internas de
stress utilizado na Dissertação de mestrado de Bignotto (1997).
O objetivo deste instrumento foi verificar se o stress apresentado é
decorrente da maneira como a criança enfrenta as situações cotidianas, dos
seus pensamentos e do tipo de personalidade. Como fontes internas de stress
foram considerados os seguintes itens: ansiedade, auto-estima, timidez e o
40
medo de Deus; citados no livro O stress infantil de autoria de Lipp et al (1987),
sendo que, para cada categoria correspondem três questões, distribuídas
aleatoriamente.
O Roteiro é constituído de afirmações por meio das quais a criança
marca a freqüência de ocorrência relativa a ela. Para responder é
necessário preencher os círculos indicando a freqüência, se nunca acontece,
nenhum círculo é pintado; se acontece raramente, apenas um círculo é pintado;
se acontece às vezes, dois círculos são pintados; se acontece com freqüência,
três círculos são pintados; e se sempre acontece, todos os círculos são
pintados. Para a avaliação as questões estão separadas em dimensões:
ansiedade = questões 1, 4 e 12; auto estima = questões 5, 6 e 9; timidez =
questões = 3, 7 e 10; e medo de Deus = questões 2, 8 e11.
A resposta é considerada pertinente quando acontece com freqüência (3
círculos pintados) ou acontece sempre (4 círculos pintados) .; e para ser
considerada presença de fontes internas de stress na criança é necessário
haver 2 respostas pertinentes em qualquer das dimensões ou 3 respostas
pertinentes sendo uma em cada dimensão.
Levantamento de estratégias de enfrentamento do stress para as
Crianças (Anexo E).
Esse instrumento foi elaborado por Dell Aglio e Hutz (2002) em um estudo
que realizaram quanto às estratégias de coping e estilo atribucional de crianças
em eventos estressantes. O objetivo desse instrumento é verificar como a
criança reage perante situações estressantes.
Para poder ser atingida essa finalidade, três questões são feitas para a
criança. A primeira com o intuito de constatar qual a ação efetiva da criança
frente a eventos estressantes ( O que você fez?”). A segunda questão refere-
se à resposta de uma solução alternativa apresentada pela criança ( Você
poderia ter feito alguma outra coisa? “). E a terceira e última questão refere-se
à forma como a criança lidou com a emoção resultante do evento ( O que
você fez para sentir- se melhor? “ ).
Após as questões serem respondidas, elas são classificadas em 7
categorias apresentadas pelos autores ( ações agressivas, evitação, distração,
apoio social, ação direta, inação e outras ). .
41
Inventário de Comportamentos da Infância e Adolescência (Child
Behavior Checklist CBCL, Achenbach, 1991).
O Child Behavior Checklist (CBCL) é um questionário que avalia
competência social e problemas de comportamento em indivíduos de 4 a 18
anos, a partir de informações fornecidas pelos pais. A versão brasileira do
CBCL é denominada Inventário de Comportamentos da Infância e
Adolescência”.
Inventário de Sintomas de Stress – ISS-L ( Lipp, 1989).
Este instrumento foi elaborado por Lipp (1989) baseado nos conceitos de
Selye, validado por Lipp e Guevara (1994) e modificado recentemente (Lipp,
2000). A diferença entre as duas versões consiste no fato de que no ISS
adulto recentemente publicado, aparece a fase de stress adicional chamada
de quase exaustão, que se instala após a fase de resistência e antes da
exaustão. O novo modelo de stress é quadrifásico no que se refere ao
diagnóstico do stress mas não difere quanto aos itens incluídos.
O instrumento permite avaliar os sintomas de stress que mais comumente
acometem os indivíduos quando estes vivenciam situações de tensão e stress,
tanto a nível cognitivo (psicológico) como a nível somático (físico). Possibilita
ainda identificar a fase de stress em que o indivíduo se encontra,
compreendendo quatro fases:
Fase de Alerta, Fase de Resistência, Fase de Quase Exaustão e Fase de
Exaustão.
Os sintomas obedecem a uma hierarquia de intensidade, uma vez que é
comum o sintoma aparecer na fase de alerta com menor intensidade ou
freqüência entre eles, podendo desaparecer na fase de resistência, uma vez
que o organismo resistiu ou se adaptou ao estressor do momento, e reaparecer
na fase de exaustão com uma intensidade maior.
42
Manual do Treino de Controle do Stress Infantil
O Manual do Treino de Controle do Stress Infantil (TCSI) teve por
objetivo, fornecer diretrizes para o tratamento do stress junto a essa população.
As orientações contidas no manual baseiam-se nos resultados obtidos
por meio das avaliações a que se submeteram os participantes deste estudo e
no protocolo de tratamento do controle de stress para crianças de Lipp (2000).
Em 1984 Lipp sugeriu o Treino de Controle do Stress de Lipp para adultos
como um método de tratamento elaborado com base nos princípios do treino
de inoculação de stress de Meichenbaum (1985), na terapia racional emotiva
de Ellis (1973) e de técnicas e procedimentos comportamentais – cognitivos
consideradas relevantes. Os objetivos visam a redução dos níveis de stress por
meio do aprendizado de estratégias de enfrentamento. A análise funcional
adequada das fontes de stress, internas e externas identificadas pelo
participante no momento atual e a avaliação criteriosa dos seus níveis de
stress antes e após a aplicação do TCS está relacionada a eficácia do
tratamento (Lipp & Malagris, 1995). Esse treino objetivou levar o participante a:
a) compreender o conceito de stress; b) aprender a identificar e reconhecer em
si os sintomas de stress; c) reconhecer as suas fontes internas e externas de
stress; d) aprender a lidar com a ansiedade; e) reestruturar a maneira de
pensar; f) desenvolver a assertividade; g) aprender a manejar técnicas de
resolução de problemas; h)reconhecer e respeitar os próprios limites; i)
aprender a utilizar o stress inevitável a seu favor; j) ser capaz de desenvolver
um plano pessoal de técnicas de manejo do stress (Lipp
& Malagris, 1995). Os métodos de trabalhos elaborados fundamentam-se na
abordagem comportamental – cognitiva.
O Treino de Controle do Stress de Lipp foi adaptado e utilizado com
eficácia em pacientes com hipertensão arterial essencial (Lipp et al, 1991 e
Lipp, Bignotto & Alcino, 1997); em pacientes com psoríase (Lipp & Malagris,
43
1995); em gestantes estressadas (Torrezan, 1999); em pacientes com
retoculite inespecífica (Brasio, 2000) e em mulheres chefes de família
(Tanganelli, 2000).
Em 2000, Lipp publicou um protocolo de tratamento do stress infantil
para atender as especificidades da infância, o treino de controle de stress
elaborado especificamente para esta população tem como objetivo beneficiar
crianças proporcionando-lhe meios, pelos quais, possam aprender a identificar,
manejar e reduzir os seus níveis de stress. Para o presente estudo o TCS-I foi
adaptado de acordo com as necessidades específicas dos participantes, de
forma que as sessões abrangessem além da parte teórica que transmite os
conceitos necessários, também a parte prática, por meio da utilização de
estratégias comportamentais e cognitivas.
As sessões no total de 16, com duração de 90 minutos abordaram
aspectos relacionados sobre stress, reconhecimento e a magnitude dos
estressores com os quais as crianças estavam convivendo. O treino visou o
desenvolvimento de estratégias para lidar com os estressores presentes em
suas vidas, e de habilidades, para que estas possam suprir as suas
necessidades. Apresenta ainda orientação quanto ao uso de técnicas de
relaxamento, respiração profunda, a prática de exercícios físicos, cuidados com
a alimentação e reestruturação cognitiva denominados por Lipp (1984) como os
quatro pilares de controle do stress. Além de, 4 encontros com os pais dos
participantes, cujo objetivo foi o de informá-los quanto aos aspectos do stress
na infância.
O manual contou com material informativo impresso, entregue e
discutido com os participantes durante algumas sessões, o objetivo foi informá-
los quanto ao stress e suas características, além de possibilitar futuras
consultas.
Apresenta-se a seguir a descrição do protocolo realizado, sendo descrito
o conteúdo trabalhado em cada encontro realizado.
Protocolo do Treino de Controle do Stress Infantil (TCSI):
O protocolo de tratamento do treino de controle do stress infantil foi
elaborado em duas etapas, a primeira referente ao Eixo I e a segunda ao Eixo
II. O Eixo I consistiu na redução sintomatológica, com o objetivo de promover
44
uma melhora no bem estar da criança. O Eixo II visou abordar a redução das
causas do stress. O conteúdo desses dois eixos foram divididos ao longo das
sessões.
As sessões incluíam:
1ª Sessão:
Tema central: Explicar os objetivos da realização do grupo e
promover a integração das crianças participantes.
Inicialmente é feita a apresentação dos membros do grupo, da terapeuta
e da co-terapêuta. Reserva-se um tempo para que os participantes troquem
idéias entre si.
Para auxiliar o conhecimento dos participantes, utiliza-se uma dinâmica,
onde cada criança fala o seu nome, a sua idade e um animal que gosta e
depois faz um desenho desse animal e escolhe um nome para ele.No final
todos apresentam o seu animal para o grupo.
Coloca-se os objetivos do Treino de Controle do Stress infantil (TCSI) e
entrega um caderninho para cada criança, que será utilizado na realização da
tarefa de casa.
Em um segundo momento a terapeuta faz explanação sobre o stress e
suas características.
Tarefa de casa: Pede-se que cada criança anote em seu caderno uma
situação de stress que ela acredita ter acontecido com ela.
2ª. Sessão:
Tema central: Fontes externas de stress.
Reserva-se um tempo para que os participantes apresentem a tarefa de
casa.
A terapeuta retoma o assunto sobre o stress, tomando como base as
situações trazidas pelas crianças.
Aborda-se o conceito de fontes externas de stress e exemplifica as mais
comuns.
Vivência: Descobrir o outro (Desenho – Presente)
Tarefa de casa: Solicita-se que cada criança registre em seu caderno
alguns sentimentos que identificar em si mesma durante a semana.
45
Encerra-se a sessão com um exercício de relaxamento: A nuvem – Lipp
e colaboradoras (1991), Como enfrentar o stress infantil. o Paulo: Ícone
Editora.
3ª Sessão:
Tema central: Identificar pensamentos.
Inicia-se com a apresentação da tarefa de casa.
Revê-se os assuntos da sessão anterior.
A terapeuta com base no tema sobre os sentimentos, introduz o tópico
identificar pensamentos.
Vivência: Descobrir emoções e sentimentos (Saco das emoções).
Tarefa de casa: No caderno anotar uma situação de stress que
vivenciou e registrar os pensamentos que teve quanto à situação e quais os
sentimentos que percebeu ter.
Encerra-se a sessão com o exercício de respiração profunda - Lipp e
colaboradoras, 1991. Como enfrentar o stress infantil. São Paulo: Ícone
Editora..
4ª Sessão:
Tema central: Associação situação – pensamento – sentimentos.
Apresentação da tarefa de casa.
Explicação do tema central: Como a maneira inadequada de pensar
sobre os eventos da vida influenciam a severidade do stress.
Vivência: Jogo dos Sentimentos.
Tarefa de casa: Fazer o exercício “Jardim de Flor de Pensamento
(Bernard e Joyce, 1984) no caderno, escolhendo uma situação vivenciada.
Realiza-se o Relaxamento: Nuvem.
5ª Sessão:
Tema central: Fontes internas de Stress (Ansiedade; Autoestima
prejudicada, Timidez e Medo da punição divina).
Momento para discussão da tarefa de casa.
Explicar o conceito de fontes internas.
Discutir a ansiedade como uma fonte interna de stress.
46
Vivência: Descobrir-se (Lixo mental).
Tarefa de casa: Escrever no caderno 3 situações que são geradoras de
ansiedade.
Ao término realiza-se o exercício de relaxamento de Jacobson..
6ª Sessão:
Tema central: O controle da ansiedade.
Apresentação da tarefa de casa.
Explicar o conceito de ansiedade e os sintomas.
Enfocar como a ansiedade pode ser desencadeada pelo fator cognitivo.
A técnica de parada de pensamento.
A técnica do controle de ansiedade.
Tarefa de casa: Treinar as duas técnicas ensinadas.
Relaxamento de Jacobson integrado ao exercício de respiração
profunda (Lipp et al, 1991).
7ª Sessão:
Tema central: Estratégias de enfrentamento para lidar com as
fontes externas de stress.
Retomada da tarefa de casa.
Atividade: o jogo “Guerra ao stress”- Casa do Psicólogo.
Discutir as estratégias de enfrentamento em relação às fontes externas
de stress apresentadas no jogo.
Tarefa de casa: No caderno fazer uma lista de quais dificuldades
encontra no relacionamento com seus amigos.
A sessão é finalizada com a prática de um exercício de visualização.
8ª Sessão:
Tema central: Relacionamento com os amigos.
Momento para discussão da tarefa de casa.
O relacionamento interpessoal como uma fonte de stress.
Assertividade, Expressão de sentimentos, Empatia.
Vivência: Aprendendo a olhar e a dizer o positivo ( O que eu mais gosto
em meu colega).
47
Tarefa de casa: No caderno a criança registra uma situação em que
procurou realizar algo para agradar um amigo ou uma amiga.
Exercício de relaxamento : Nuvem.
9ª Sessão:
Tema central: Lidando com a pressão do grupo.
Apresentação da tarefa de casa.
Explicação do tópico: Como lidar com as pressões do grupo ( Os meus
amigos querem....mas eu não! ).
Tarefa de casa: Registrar no caderno uma situação que ocorrer na
semana que a criança consiga agir conforme a sua vontade.
Relaxamento da luz Lipp, MN (2008). Crianças estressadas, causas,
sintomas e soluções. 5ª edição. Campinas,S.P.: Papirus.
10ª Sessão:
Tema central: Lidando com as diferenças.
Comentários sobre a tarefa de casa.
Explanação do tema: Lidando com as diferenças.
Vivência: Sementes.
Tarefa de casa: No caderno fazer um desenho que represente o
sentimento de tristeza.
Relaxamento: Nuvem.
11ª Sessão:
Tema central: O sentimento de rejeição.
Momento para que as crianças comentem a tarefa de casa.
Explicação do tópico: O sentimento de rejeição.
Apresentação em DVD de alguns desenhos que trabalham o tema da
rejeição por ser diferente.
Discussão sobre os desenhos apresentados.
Tarefa de casa: Fazer uma lista, no caderno, de apelidos que conhece.
Exercício de Relaxamento: O barquinho. Lipp, M.N. (2008). Crianças
estressadas, causas, sintomas e soluções. 5ª. Edição. Campinas S.P.: Papirus.
48
12ª Sessão:
Tema central: Bullying ( O quanto esse comportamento prejudica o
outro ).
Discussão do conteúdo da tarefa de casa.
Explicação do termo bullying e a responsabilidade que cada criança tem
no praticar esse comportamento.
Vivência: Descobrir o outro: Olhos.
Tarefa de casa: Fazer um desenho no caderno de uma situação em que
a criança fez algo que não queria, mas fez para agradar um amiguinho, ou para
não se sentir diferente.
Relaxamento: O tapete mágico. Lipp, M.N. (2008). Crianças
estressadas, causas, sintomas e soluções. 5ª edição. Campinas S.P.: Papirus.
13ª Sessão:
Tema central: A pressão do grupo para atos específicos que a
criança não queira fazer.
Apresentação do tópico: Quando a pressão do grupo é prejudicial para a
criança, por exemplo: fazer esportes de que não gosta, usar roupas que estão
na moda, mas que não gosta, e outras situações.
Tarefa de casa: No caderno anotar 2 atividades que a criança costuma
fazer com a sua família.
Relaxamento da luz..
14ª Sessão:
Tema central: A família (Hábitos de vida ).
Momento para apresentação da tarefa de casa.
Explicação dos picos: Hábitos de vida. Como a família influencia na
formação de nossos hábitos de vida.
Apresentação do desenho: “Os sete monstrinhos ( exibido na TV
Cultura)”.
Após a apresentação do episódio do desenho, discussão com as
crianças com relação a cada personagem.
Tarefa de casa: Registrar no caderno os medos que cada criança tem.
49
Relaxamento: A grama. - Lipp, M.N. (2000). Crianças estressadas,
causas, sintomas e soluções. 5ª edição. Campinas, S.P. Papirus.
15ª Sessão:
Tema central: Medos.
Apresentação da tarefa de casa.
Discutir como a maneira de pensar pode desencadear o sentimento de
medo.
Vivência: Medos, Medinhos e Medões.
Tarefa de casa: A criança deve pensar em tudo o que foi aprendido no
grupo e anotar no caderno, o que mais gostou.
Relaxamento: da luz..
16ª Sessão:
Fechamento.
Momento para as crianças apresentarem suas dúvidas.
Breve revisão quanto ao termo stress e suas características.
Exercício de relaxamento: Nuvem.
O Treino de Controle do Stress Infantil, além das 16 sessões com as
crianças, também constou de 4 encontros de 90 minutos de duração cada um,
realizados com os pais das crianças. Esses encontros ocorreram
respectivamentente: o primeiro, após a quarta sessão do grupo infantil, o
segundo após a nona sessão, o terceiro após décima terceira sessão e o
quarto e último encontro após a décima sexta sessão. A escolha da época
dessas sessões baseou-se na experiência clínica da autora.
Os objetivos desses encontros foram informar os pais sobre o stress e
suas características, além de instrumentalizá-los com técnicas específicas para
o manejo do stress de seus filhos, e com isso estarem aptos à auxiliarem seus
filhos no tratamento do stress infantil.
Os encontros com os pais incluíam:
1º Encontro com os pais:
50
Temas abordados: Stress infantil, as fontes de stress (internas e
externas).Os quatro pilares do controle do stress (relaxamento, exercício físico,
alimentação e reestruturação cognitiva).
2º Encontro com os pais:
Temas abordados: O modelo teórico da Terapia Comportamental
Cognitiva (o sistema ABC / situação – pensamento – sentimentos).
3º Encontro com os pais:
Tema abordado: O papel dos pais na prevenção do stress infantil.
4º Encontro com os pais:
Tema abordado: Breve revisão tos temas abordados.
Local
O local para a realização das entrevistas iniciais foi as instalações de
um consultório próprio para atendimento. Para a realização da intervenção
terapêutica, treino de controle do stress, utilizou-se uma sala confortável com
iluminação e ventilação, possuindo todos os recursos. Fazia parte das
instalações mesa, cadeiras confortáveis, retroprojetor, lousa, som e ar
condicionado.
Pessoal
A pesquisadora contou com o auxílio de profissionais de saúde,
educadores que entravam em contato informando o interesse de crianças, que
se enquadravam nos critérios da amostra, em participar da pesquisa.
A realização do Treino de Controle do Stress Infantil contou com a
colaboração de uma psicóloga com 11 anos de experiência na área clínica,que
atua na mesma clínica psicológica que a pesquisadora, que atuou como co-
terapeuta.
Procedimento
51
Avaliação das crianças
A pesquisadora por meio de contatos com profissionais das áreas de
saúde e educacional, além de outros segmentos da sociedade buscou
informar-se da existência de crianças que se enquadrassem nas características
da amostra. Das crianças que participaram deste estudo, 4 foram
encaminhadas por médicos, 9 pela equipe escolar de suas escolas e 7 crianças
os próprios pais tiveram interesse que participassem.
Tendo obtido os dados que possibilitassem os contatos com os pais das
crianças, a pesquisadora comunicava-se por telefone ou pessoalmente,
convidando-os a participarem da pesquisa. Informava-os então que a pesquisa
fazia parte do Curso de Doutorado em Psicologia da Pontifícia Universidade
Católica de Campinas, que o objetivo do trabalho era verificar a eficácia de um
tratamento específico ao stress na infância. Ressaltou que para que fosse
realizada a pesquisa seriam necessários alguns encontros com as crianças e
com os pais. Informou-se que todas as crianças receberiam o TCS-I, embora
um grupo o recebesse um pouco mais tarde.
Foi enfocada a questão do sigilo quanto a identificação, e mencionou-se
que os dados coletados seriam divulgados sem que os participantes pudessem
ser identificados. Quando havia interesse em participar, a pesquisadora
marcava um horário e local para dar início aos trabalhos.
Do total de crianças avaliadas inicialmente, 77 delas não preencheram
os critérios de inclusão. Das 20 crianças que preencheram os critérios, todas
foram autorizadas por seus responsáveis em participarem do trabalho.
Nesse primeiro encontro compareceram os pais e a criança. Os pais que
concordaram em que seu filho participasse voluntariamente do estudo e
também tendo o consentimento da criança, assinaram um termo de
consentimento (Anexo A). Após a assinatura que consentia à participação da
criança, os pais preenchiam os seguintes instrumentos: Ficha de identificação
do participante, a Escala de Reajustamento Social de Elkind e o Inventário de
comportamentos da Infância e Adolescência (CBCL). Após a realização dos
dois grupos, um novo encontro foi marcado individualmente com os pais de
cada participante, para que a Escala de Reajustamento Social e o CBCL
fossem novamente preenchidos.
52
A coleta de dados com a criança foi realizada em duas fases, antes e
após o Treino de Controle do Stress e da Passagem do tempo.
Na primeira fase, todos os participantes responderam a avaliação
individual. Esta avaliação constou da aplicação dos seguintes instrumentos na
ordem mencionada: Escala de Stress Infantil – ESI, Roteiro de levantamento de
fontes internas de stress, Levantamento de estratégias de enfrentamento do
stress para as crianças. Os instrumentos foram lidos e explicados pela
pesquisadora. Os participantes responderam e questionaram quando surgiam
dúvidas.
Avaliação dos pais.
Para a avaliação dos pais foram realizados dois encontros, o primeiro
antes do início dos grupos e o segundo, após o término. Os encontros foram
agendados individualmente para cada par de progenitores das crianças. O
instrumento aplicado foi o Inventário de Sintomas de Stress ISSL. A
pesquisadora leu as instruções e os pais preenchiam cada um o seu
instrumento.
Em todas as avaliações (crianças e pais) a pesquisadora esteve
presente para garantir a compreensão dos instrumentos. A coleta de dados foi
realizada em 10 meses.
Composição dos Grupos: GTCSI e GC.
Após o término da primeira avaliação com as crianças, houve a
realização de um sorteio para a composição dos dois grupos, denominados
Grupo de Treino de Controle do Stress Infantil (grupo experimental) e o Grupo
Comparativo (grupo controle).
Para os participantes do GTCSI mencionou-se que os mesmos
receberiam um treino de controle do stress. Para os membros do GC colocou-
se somente que iriam participar de encontros semanais.
53
Os encontros de ambos os grupos foram realizados uma vez a cada
semana, com a duração de 90 minutos para cada reunião, sendo que os dois
tiveram um total de 16 sessões, realizado em um período de 4 meses
aproximadamente.
Grupo Comparativo (GC):
Nas 16 sessões realizadas no GC os temas abordados foram livres e
que partiam do interesse das próprias crianças.
Grupo Treino de Controle do Stress Infantil (GTCSI):
No GTCSI houve a realização de um tratamento específico para o stress que
seguiu o protocolo apresentado no Manual de Treino de Controle do Stress
Infantil. O treino foi ministrado pela pesquisadora e contou com a ajuda de uma
co-terapêuta, também psicóloga, que observou o desenvolver de cada sessão
e prestou auxílio nas técnicas de Relaxamento, Respiração profunda e nas
demais vivências.
A terapeuta no Treino de Controle do Stress Infantil teve como função
ensinar novos comportamentos, ser um agente que auxilia e orienta
favorecendo que se formasse no grupo uma unidade coesa, com uma
reciprocidade contínua no dar e receber informações. A co terapeuta teve a
função de anotar as sessões e ajudar na aplicação de técnicas como por
exemplo o relaxamento e a respiração profunda.
Foram realizadas 16 sessões, sendo uma por semana, com duração de
90 minutos, na sala de um consultório que acomodou confortavelmente o
número de pessoas que formava o grupo. O tratamento foi ministrado em
grupo, uma vez que a participação grupal possibilita aos seus membros
perceber que a sua dificuldade o é algo exclusivo, que ocorre consigo.
Também favorece que seus membros percebam sua similaridade com os
outros e dividam seus conflitos, beneficiando-se muito pela observação de suas
próprias evoluções e pela aceitação de seus problemas por parte de outros
membros.
Reavaliações.
54
Para a reavaliação dos participantes de ambos os grupos, foram
utilizados os mesmos instrumentos aplicados na primeira avaliação. Para
todas as crianças a reavaliação efetuou-se na mesma época.
Para as crianças que participaram do GC, após a reavaliação houve a
realização do mesmo tratamento aplicado ao GTCSI, porém os dados não
foram analisados para a realização do presente estudo.
Ganho para os participantes:
Na ocasião orientações foram fornecidas sobre como lidar com o stress.
Também houve a entrega de uma apostila com essas orientações para cada
participante do estudo. Todas as crianças dos dois grupos receberam o
tratamento do stress, sendo que o GC o recebeu após a conclusão da coleta
de dados.
55
RESULTADOS
Método de Análise dos Dados
Para descrever o perfil da amostra segundo as variáveis em estudo, foram
feitas tabelas de frequência das variáveis categóricas (sexo, stress,...), com
valores de frequência absoluta (n) e percentual (%), e estatísticas descritivas
das variáveis contínuas (idade, escores das escalas, ...), com valores de
média, desvio padrão, valores mínimo e máximo, mediana e quartis. Para a
análise de consistência interna das escalas foi calculado o coeficiente alfa de
Cronbach. Valores de alfa maiores que 0.70 indicam alta consistência.
Para comparação das variáveis categóricas foi utilizado o teste Qui-
Quadrado de Pearson, ou o teste exato de Fisher, na presença de valores
esperados menores que 5. Para comparar as variáveis contínuas entre os 2
grupos foi utilizado o teste de Mann-Whitney, devido à ausência de distribuição
Normal das variáveis. Para analisar a relação entre as variáveis numéricas foi
utilizado o coeficiente de correlação de Spearman, devido à ausência de
distribuição Normal das variáveis que foi verificado pelo teste Shapiro-Wilk.
Para comparar as variáveis categóricas entre as avaliações pré e pós-
treino foi utilizado o teste de McNemar (para 2 categorias) e o teste de simetria
de Bowker (para 3 ou mais categorias), e para comparar as variáveis
numéricas entre as 2 avaliações e os 2 grupos foi utilizada, a análise de
variância para medidas repetidas (Repeated Measures ANOVA), com as
variáveis transformadas em postos (ranks) devido à ausência de distribuição
Normal.
O nível de significância adotado para os testes estatísticos foi de 5%, ou
seja, p<0.05.
56
Quanto ao modelo de pesquisa utilizado o Journal Consulting and
Clinical Psychology indica que existem dois tipos de pesquisas, a saber,
pesquisa de processo que se responsabiliza pela avaliação do processo
psicoterápico e o de resultados (out-come) que visa o resultado final. Neste
estudo fez-se a opção por uma integração dos dois modelos, apresentando-se
dados não só referentes aos resultados do tratamento, mas também quanto à
evolução do processo terapêutico.
Análise de Consistência Interna das Escalas.
A análise de consistência interna (alfa de Cronbach) para medir a
confiabilidade das escalas de Stress Infantil (ESI), Escala de Reajustamento
Social (ERS) e o Inventário de fontes internas de stress infantil (IFISI),
demonstrou uma alta consistência interna para os instrumentos e domínios.
57
Parte I
Dados de identificação:
Nesta parte do estudo apresentam-se os dados da amostra geral
constituída por 20 crianças. Os itens avaliados referem-se ao sexo, idade,
escolaridade, tipo de escola, quantidade de irmãos, posição entre os filhos e
fonte de encaminhamento.
A caracterização detalhada da amostra estudada pode ser vista no
Anexo G.
Para melhor compreensão dos dados a apresentação é feita por itens.
Sexo e Idade.
A amostra geral do presente estudo foi composta de 65% de meninas e
35% de meninos. A faixa etária abrangeu as idades de 8 a 9 anos, sendo 60%
crianças de 8 anos e 40% de 9 anos; o que proporcionou uma amostra capaz
de englobar as idades propostas. A média de idade foi 8,77 com desvio padrão
0,43.
Tipo de escola e Escolaridade.
Quanto ao tipo de escola 75% das crianças freqüentavam escolas
particulares e 25% escolas públicas. Em relação ao ano escolar, 55% dos
participantes cursavam o ano do ensino fundamental de 9 anos (antiga
série) e 45% o 4º ano (antiga 3ª série).
Quantidade de irmãos e Posição entre eles.
Quanto ao número de irmãos, a amostra foi composta por 25% de filhos
únicos, 65% de crianças que possuíam um único irmão e apenas uma criança
que tinha dois irmãos e outra com três irmãos. Na amostra, 55% das crianças
eram primogênitas e o restante, 45%, eram o segundo filho.
Fontes de encaminhamento.
A fonte de encaminhamento para a composição da amostra constituiu-
se de 45% de crianças enviadas por escolas, 35% teve a procura pela própria
família e 20% foram encaminhadas por médicos.
58
Parte II
A criança sob tensão pode desenvolver um grande mero de
conseqüências físicas, psicológicas e sociais.
Dessa maneira torna-se importante levantar qual é a sintomatologia de
stress das crianças. Nos participantes deste estudo foram investigados os
dados quanto à incidência do stress, a sintomatologia e a prevalência dos
sintomas. A avaliação realizada pela ESI identificou os níveis de stress, a fase
do processo em que a amostra se encontrava e o tipo de sintomatologia
apresentada.
A apresentação dos resultados sefeita em todos os itens, primeiro no
que se refere à amostra total e em seguida de acordo com a formação dos
grupos GTCSI (Grupo Treino de Controle do Stress Infantil) e GC (Grupo
Comparativo).
No início do estudo todas as crianças pertencentes à amostra total
apresentaram presença de stress. Após o término da segunda avaliação foi
observado que 45% das crianças não apresentavam mais stress.
As fases do stress indicam a seriedade do quadro presente. Ao
permanecer por tempo prolongado em uma determinada fase o organismo
pode sofrer sérias conseqüências em função da perda de energia vital para
outras funções e das implicações que um estado de constante tensão acarreta.
Quanto à fase de stress foi observado que 40% encontrava-se em resistência e
60% em quase-exaustão. No final do estudo, entre as crianças que
permaneceram estressadas, 45% estava na fase de alerta, 40% em resistência
e 15% em quase exaustão.
O stress pode tanto sobrecarregar o corpo como a mente. O nível de
comprometimento que resulta em inúmeros sintomas físicos, psicológicos ou
psicofisiológicos é proporcional a intensidade de stress e a vulnerabilidade da
criança. Os níveis de stress são determinados em função do número e da
seriedade dos sintomas que são mencionados. È a freqüência elevada e a
magnitude dos sintomas que determinam a incidência do stress.
A amostra total (n=20) deste estudo tinha em média, 16 sintomas. A
seriedade destes resultados se deve ao fato que a maioria dos sintomas mais
59
mencionados pertence à fase de quase exaustão do stress. Nesta fase, a
tensão excede o limite de controle do organismo e a resistência física e
emocional começa a se romper.
Sintomas psicológicos.
Os sintomas psicológicos foram os prevalecentes na amostra global,
independente dos níveis de stress.
A Tabela 01 apresenta o percentual de participantes que assinalaram os
sintomas psicológicos mais freqüentes.
Tabela 1: Os 5 sintomas de stress psicológicos mais mencionados pelas
crianças.
Sintomas Amostra geral
Sinto aflição por dentro 90%
Fico nervoso com tudo 85%
Fico preocupado com coisas ruins que podem acontecer 85%
Eu me sinto assustado na hora de dormir 60%
Tenho medo 55%
Observa-se na Tabela 1 que os sintomas “Sinto aflição por dentro”, “Fico
nervoso com tudo” e “Fico preocupado com coisas ruins que podem acontecer”
foram mencionados pela maioria das crianças.
No que se refere à incidência de sintomas psicológicos, a análise
estatística realizada mostrou uma média de 22,10 sintomas com desvio padrão
de 4,79.
Em segundo lugar, quanto à prevalência de sintomas encontrou-se os
sintomas psicológicos com componentes depressivos.
A Tabela 2 apresenta a distribuição dos sintomas psicológicos com
componentes depressivos para a amostra geral.
60
Tabela 2: Distribuição dos 5 sintomas psicológicos com componentes
depressivos da amostra total.
Sintomas Amostra geral
Tenho andado muito esquecido 60%
Brigo com minha família em casa 60%
Penso que sou feio, ruim, que não consigo aprender as coisas 55%
Não tenho vontade nenhuma de me arrumar 45%
De repente, passei a não gostar mais de estudar 40%
Conforme pode ser observado na Tabela 2 os sintomas psicológicos
com componentes depressivos mais mencionados foram “Tenho andado muito
esquecido”, “Brigo com minha família em casae “Penso que sou feio, ruim,
que não consigo aprender as coisas”.
Quanto à incidência de sintomas psicológicos com componentes
depressivos, a análise estatística realizada constatou uma média de 17
sintomas com desvio padrão de 7,27.
Os sintomas físicos, quanto a sua prevalência, ocuparam o terceiro
lugar.
A Tabela 3 mostra o percentual de participantes que apresentaram
sintomas físicos.
Tabela 3: Percentual de participantes que apresentaram sintomas físicos.
Sintomas Amostra geral
Tenho dor de barriga 70%
Tenho vontade de chorar 50%
Minhas pernas e braços doem 50%
Raspo um dente no outro fazendo barulho 45%
Sinto muito sono 30%
61
Observa-se que na Tabela 3 os sintomas “Tenho dor de barriga”, “Tenho
vontade de chorar” e Minhas pernas e braços doem” foram mencionados
como os sintomas físicos mais prevalentes.
Quanto à incidência de sintomas físicos, a análise estatística revelou
uma média de 13,35 sintomas com desvio padrão de 5,67.
Os sintomas psicofisiológicos foram os menos mencionados pela
amostra total.
A Tabela 4 apresenta o percentual de crianças quanto a menção dos
sintomas psicofisiológicos.
Tabela 4: Percentual de crianças quanto a menção dos sintomas
psicofisiológicos.
Sintomas Amostra geral
Tenho dificuldade de prestar atenção 60%
Estou o tempo todo me mexendo e fazendo coisas diferentes 50%
Tenho ficado tímido, envergonhado 50%
Tenho dificuldade para respirar 45%
Meu coração bate depressa, mesmo quando não corro ou pulo 20%
Estou sempre resfriado, com dor de garganta 20%
Conforme pode ser observado na Tabela 4 os sintomas psicofisiológicos
mais mencionados foram “Tenho dificuldade de prestar atenção”, “Estou o
tempo todo me mexendo e fazendo coisas diferentes” e “Tenho ficado tímido,
envergonhado”.
Quanto à incidência de sintomas psicofisiológicos, a análise estatística
realizada constatou uma média de 11,25 sintomas com desvio padrão de 3,24.
De maneira geral, os sintomas mais prevalentes da amostra foram:
“Sinto aflição por dentro”, “Fico nervoso com tudo”, “Fico preocupado com
coisas ruins que podem acontecer” e “Tenho dor de barriga”.
62
Fases de stress
A fase de stress prevalente na totalidade das crianças que participaram
deste estudo foi a quase-exaustão, uma vez que 60% estavam em quase-
exaustão e 40% em resistência.
Fontes de stress
Efetuou-se a análise das fontes internas de stress quanto ao número
com que elas foram mencionadas e ao tipo conforme a categoria a que
pertencem. Dessa forma a amostra geral apontou uma média de 2,50 fontes,
com uma dispersão de 1 a 4 fontes com a mediana de 3,00. Quanto a sua
prevalência, observou-se que toda a amostra apresentou nível significativo de
fontes internas de stress. Em relação às fontes mais mencionadas, quanto a
sua categoria, encontrou-se: a ansiedade presente em 45% das crianças, a
autoestima rebaixada em 35%, a presença da timidez em 15% e o medo da
punição divina em 5%.
Conforme pode ser visto na Tabela 5 as fontes internas mais
prevalentes mencionadas pelas crianças foram “Algumas vezes eu
experimento um sentimento de perigo, em que alguma coisa ruim irá
acontecer”, “Quando estou em uma festa fico triste por pensar que não sou
bonito como as outras crianças” e “Quando tenho uma prova, fico agitado e não
consigo ficar no mesmo lugar”.
63
Tabela 5: Fontes internas de stress mais mencionadas pelas crianças.
Fontes internas de Stress Amostra geral
Algumas vezes eu experimento um sentimento de perigo, em 85%
que alguma coisa ruim irá acontecer.
Quando estou em uma festa fico triste por pensar que não sou 85%
bonito como as outras crianças.
Quando tenho uma prova, fico agitado e não consigo ficar no 80%
mesmo lugar.
Sinto que não sou uma criança tão legal quanto as outras 75%
crianças que conheço.
Quando penso em alguma coisa ruim, penso que Deus vai me 65%
castigar.
Minhas mãos ficam suadas e meu coração bate mais rápido 60%
enquanto espero o início da festa do meu aniversário.
Ao falar uma mentira fico pensando que deus está ouvindo e 60%
ficará muito bravo comigo.
Para a avaliação das fontes externas de stress foi utilizada a
Escala de Reajustamento Social de Elkind, que verificou quais foram as
situações que ocorreram na vida de cada participante nos últimos doze meses,
com o objetivo de constatar se a criança apresentava probabilidade de adoecer
ou não. Como resultados encontrou-se que 30% dos participantes apresentou
uma probabilidade menor que 37% de adoecer, 15% apresentou 37% de
probabilidade de adoecer, 35% apresentou 51% de probabilidade e 20%
demonstrou 79% de probabilidade de adoecer, em decorrência de
acontecimentos vivenciados. Observou-se que as situações mais citadas
foram: “Ser ridicularizado na sala de aula, ser rejeitado por alguém importante e
ter atividades extracurriculares em excesso, que em média eram 3 atividades
além da escola”.
Estratégias de enfrentamento de stress
A totalidade da amostra total mencionou estar fazendo uso de todas as
estratégias verificadas. Quanto a incidência de cada estratégia em específico
64
observou-se que a mais utilizada era a inação, a qual foi utilizada por 85% dos
participantes, procurar apoio social e o comportamento de evitação por 70%,
ações agressivas por 45%, ações diretas por 30%, a distração por 5%.
Dados referentes à avaliação do stress dos pais.
Quanto ao nível de stress dos pais das crianças, verificou-se que 60%
das mães apresentaram stress e encontravam-se na fase de resistência,
enquanto que 69% dos pais também tinham stress, sendo que 31% estava em
alerta, 44% em resistência e 25% em quase-exaustão.
Nos dados obtidos pelo CBCL verificou-se que as meninas eram
percebidas por seus pais como não clínica e possuidoras de problemas de
comportamentos internalizantes, enquanto que os meninos eram
caracterizados como clínicos e apresentando comportamentos externalizantes.
Análise Comparativa entre Grupos (Controle e Experimental).
A comparação das variáveis numéricas entre os grupos GTCSI (experimental)
e o GC(controle), demonstrou que quanto ao fator gênero o GTCSI se
constituiu de 60% de meninas e 40% de meninos, enquanto que o GC possuía
70% de meninas e 30% de meninos. Em relação à comparação desta variável,
o Teste Exato de Fisher obteve um p=1000, indicando não haver diferença
significativa.
Para a variável faixa etária, o GTCSI teve uma média de idade de 8,83
com desvio padrão de 0,45; enquanto que o GC apresentou uma média de
idade de 8,70 com desvio padrão de 0,42; sem diferença significativa.
Em relação as outras variáveis, tipo de escola, escolaridade, quantidade
de irmãos, posição entre irmãos e fonte de encaminhamento, os grupos foram
semelhantes em suas constituições.
65
Stress e suas características.
Quanto ao nível de stress, os dois grupos apresentaram incidência
significativa em sua totalidade, na primeira avaliação. Após a segunda
avaliação o GTCSI apresentou presença de stress em 20% de seus
participantes, enquanto que no GC encontrou-se uma prevalência de 90% de
crianças com stress. A análise estatística realizada pelo Teste Exato de Fisher
demonstrou um p = 0,006, o que demonstra uma diferença significativa quanto
a essa variável.
A figura 1 apresenta a presença de stress nos grupos GTCS e GC pós
intervenção.
0
20
40
60
80
Experimental
Comparativo
Stress infantil no Pós (%)
Grupo
Sim
Não
Figura 1:
Presença de Stress nos grupos GTCSI e GC pós intervenção.
66
Em relação a fase do stress, foi observada na primeira avaliação que o
GTCSI era constituído de 50% das crianças em resistência e 50% de crianças
em quase-exaustão. Após a intervenção, entre as crianças que apresentavam
stress 20% estavam em resistência e 60% em alerta. Para o GC, na primeira
avaliação 30% das crianças estavam em resistência e 70% em quase-
exaustão. Após a intervenção no GC, entre as crianças com stress encontrou-
se 10% em alerta, 60% em resistência e 30% em quase-exaustão.
A figura 2 demonstra as fases de stress nos grupos GTCSI e GC pós
intervenção.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
ExperimentalComparativo
Fase do stress infantil no Pós (%)
Grupo
Alerta
Resistência
Quase exaustão
Figura 2:
Fases de stress nos grupos GTCSI e GC pós intervenção.
67
Fontes de stress
Na avaliação quanto às fontes de stress, quando comparados os grupos
nos momentos antes e após intervenção quanto as fontes externas, avaliadas
pelas Escala de Reajustamento Social, a diferença não foi significativa
(p=0,546), quando testada pelo Teste Exato de Fisher.
Em relação às fontes internas de stress a análise estatística demonstrou
haver uma diferença significativa (p=0,002) quando comparado os grupos
experimental e controle, após a intervenção (Teste Exato de Fisher).
0
10
20
30
40
50
60
Experimental
Comparativo
Total de fontes internas de stress no Pós (%)
Grupo
0
1
2
3 a 4
Figura 3
Total de fontes internas do stress para os grupos GTCSI e GC pós intervenção.
68
Observando-se a Tabela 6 constata-se que no 2º momento de avaliação
o Grupo GTCSI teve uma diminuição total na categoria ansiedade e 10 % na
categoria autoestima rebaixada.
Tabela 6: Distribuição das Categorias das Fontes internas de stress por grupos
nos dois momentos de avaliação.
GTCSI GTCSI GC GC
1ª aval. 2ª aval. 1ª aval. 2ª aval.
Ansiedade 50% 0 40% 20%
Autoestima rebaixada 30% 20% 40% 20%
Timidez 20% 20% 10% 10%
Medo de punição divina 0 0 10% 10%
Estratégias de enfrentamento
Conforme pode ser visto na Tabela 7, há uma diminuição nos índices
percentuais referentes às estratégias negativas quanto ao manejo do stress
(ações agressivas, evitação, inação), e um aumento das estratégias positivas
(distração, apoio social, ações diretas).
Tabela 7: Freqüência das estratégias de enfrentamento para o grupo GTCSI
no 1º e 2º momento de avaliações.
1º momento 2º momento
Ações agressivas 50% 10%
Evitação 70% 40%
Distração 0 80%
Apoio social 70% 80%
Ações diretas 20% 90%
Inação 80% 40%
Outras estratégias 90% 60%
69
De uma maneira geral, pelos resultados, verifica-se diferença
significativa entre os grupos para as seguintes variáveis: stress infantil no pós
intervenção (maior freqüência no GC), fase do stress infantil no pós (maior
frequência de resistência e quase exaustão no GC), total de fontes internas de
stress no pós (maior freqüência de 3 ou 4 fontes no GC), escore total da ESI no
pré e no pós (maiores valores no GC).
70
Parte III
Descrição das sessões do Treino de Controle do Stress Infantil.
O grupo que recebeu o Treino de Controle do Stress Infantil (GTCSI) foi
composto por dez crianças que concordaram em participar voluntariamente e
tiveram a autorização de seus pais.
Os participantes que compareceram as sessões tiveram lanche após as
sessões Nestes momentos as crianças demonstravam descontração e
entrosamento entre elas.
Foram realizadas o total de 16 sessões sendo que cada sessão teve a
duração de 90 minutos. O treino de controle do stress infantil contou com a
presença da pesquisadora que liderou o grupo, de uma co-terapêuta. A função
desta foi anotar as verbalizações e ajudar nas vivências.
No início de cada sessão propiciava-se um tempo livre para as crianças
expressarem sobre o que tinha ocorrido durante toda a semana sendo que o
grupo opinava livremente sobre as colocações de cada uma. A seguir eram
apresentados os temas das sessões do TCSI conforme programados.
Apresentam-se a seguir as descrições das sessões.
1ª Sessão:
Tema central:
Objetivos da realização do grupo e integração das crianças.
Por ser a primeira sessão deu-se as boas vindas aos participantes e fez-
se agradecimentos. Em seguida foi explicado o objetivo do TCSI, assim como a
importância da participação dos mesmos no grupo, colocaram-se sobre a
duração do curso, os temas a serem abordados, sobre a confidencialidade e
fez-se a apresentação da co-terapêuta, justificando a presença da mesma. Em
seguida houve a realização da dinâmica para apresentação e a explanação
sobre o tema stress na infância.
O grupo estava composto pelas dez crianças participantes aqui
identificadas por letras.
71
MGS menino - 8 anos; MCSA menina 8 anos; JB menina 9
anos; LMSV menino 9 anos; BRDP menina 9 anos; ALS menina 8
anos; KRB menina 9 anos; PLPN menino 8 anos; GPL menina 8
anos e CEGK – menino – 8 anos.
Inicialmente, solicitou-se que as crianças participassem da dinâmica
realizada. Os animais escolhidos por cada criança foram os seguintes: MGC
desenhou um macaco, pois relatou gostar muito de macacos porque são
espertos e pulam o dia todo sem ninguém reclamar. MCSA escolheu um
jacaré, pois todos respeitam um jacaré por ele poder comer as pessoas. JB
apresentou a borboleta, pois ela é bonita e pode voar. LMSV escolheu um leão,
pois o leão é o rei da selva, o mais bravo de todos na selva. BRDP também
desenhou uma borboleta, pois para ela a borboleta pode voar nas flores e ela
gosta muito de flores. ALS desenhou uma cachorrinha branca, pois tem uma
cachorrinha como a que fez. KRB desenhou um peixe vermelho porque tem um
em casa. PLPN desenhou uma formiga e relatou que gostaria de ser uma, pois
assim poderia morder sua irmã que era muito chata. GPL desenhou uma
gatinho e disse ser o animal que acha mais bonito. CEGK fez o desenho de um
leão, pois também disse gostar desse animal por esse ser o rei da selva.
Após a realização da dinâmica houve a explanação do tema stress na
infância. Algumas das verbalizações demonstraram que as crianças
conseguiram entender o que seria uma situação estressante: “...Então eu
acho que sou um super estressado, porque sempre estou irritado e de
mau humor” (LMSV). “Então o stress é quando a criança fica como o
carrinho de controle remoto com a pilha fraca, porque fica difícil de
funcionar e falhando” (MGS). Ah...eu tenho certeza que o meu
computador es como eu, com stress....computador também tem
stress?” (MCSA). “Quando eu estou muito nervosa eu sempre vomito,
acho que o meu stress é assim” (BRDP).
Realizou-se em seguida as orientações quanto a tarefa de casa.
2ª Sessão.
Tema central: Fontes externas de stress.
72
Iniciou-se a sessão com a apresentação das crianças quanto a tarefa de
casa realizada. Nesse momento observou-se que todas as crianças estavam
interessadas em colocarem as situações estressantes que anotaram. O
objetivo desta atividade consistiu em verificar se os participantes
compreenderam as explicações quanto ao stress e se conseguiram identificar
situações estressantes ocorridas em suas vidas. Notou-se por meio das
verbalizações das crianças que o objetivo deste momento foi atingido. “..eu
anotei que o meu maior stress foi quando meu pai e minha mãe se
separaram...mas o meu stress ainda continua porque a minha mãe e o
meu pai brigam...”(BRDP). Pra mim o stress acontece sempre quando
tem bandido por perto, porque o meu pai é investigador e bandido tem
raiva do meu pai então quer matar eu e a minha mãe...(MGS)”. “...o meu
stress é ser gorda...todo dia eu sou chamada na minha classe de a baleia
da escola”...(ALS). “ Eu escrevi que eu não lembro muito, mas tenho
certeza que foi quando o meu pai morreu que foi um grande stress,
porque eu tinha só 3 anos e ele morreu do coração quando a gente estava
almoçando” (JB). Eu já todo dia tenho a coisa que mais me dá stress, é ter
3 irmãos mais novos, porque sou sempre o esquecido, até na escola um
dia a minha mãe me esqueceu” (CEGK).
A partir das colocações apresentadas pela criança, a pesquisadora(P)
colocou o conceito de fontes de stress, especificando as externas mais
comuns.
Ainda com o objetivo de melhorar a integração das crianças foi realizada
a vivência: Desenho – Presente.
Realizou-se a técnica de relaxamento. Por ter sido a primeira vez que as
crianças a realizaram, P. se estendeu na explicação da técnica, certificando-se
que todas a executaram de maneira eficaz. Neste momento houve a
colaboração da co-terapêuta. Também foi informado que o exercício de
relaxamento será realizado ao final de todas as sessões durante todo o treino.
3ª Sessão
Tema central: Identificar sentimentos.
73
Este encontro teve inicio com a apresentação da tarefa de casa, em que
as crianças registraram alguns sentimentos que perceberam ter durante a
semana. Quanto a esta atividade é importante relatar que se observou que a
maioria dos participantes estiveram atentos apenas aos seus sentimentos
negativos (raiva, tristeza, ciúmes,...). Essa questão foi levantada por P., que
realçou a importância de prestar-se atenção também aos sentimentos positivos
(alegria, esperança, amor,...) que todos vivenciam. Assim, foi solicitado que
cada criança relatasse um sentimento dessa natureza vivenciado durante a
semana e construiu-se uma lista de sentimentos positivos e negativos.
Em seguida a P. introduziu o tema identificar pensamentos, com o
objetivo de que os participantes fossem introduzidos no conhecimento das
bases do funcionamento mental da teoria proposta por Albert Ellis. Pelas
verbalizações de algumas crianças percebeu-se que houve um entendimento
por parte delas, de que o sentimento está relacionado com o pensamento. “...é
verdade quando penso coisas ruins, eu me sinto mal...” (PLPN). A minha
mãe que é professora, também me falou, que se eu na prova pensar
que irei errar tudo, eu erro mesmo” (GPL).
Outro ponto importante nessa sessão foi o momento após a realização
da vivência (Descobrir emoções e sentimentos saco das emoções), em que
algumas crianças perceberam a importância de identificarem os seus próprios
sentimentos. “....então eu acho que é assim, quanto mais eu sei o que
sinto, mais eu me conheço...” (KRB). O bom de saber que sinto raiva é
que eu arrumo alguma coisa para fazer, para mandar a raiva embora
(LMSV). “Eu gostei de conhecer o que eu sinto porque eu não sabia se eu
estava com raiva ou triste, na escola quando os meninos me chamavam
de baleia” (ALS).
No final do encontro a P, com o auxílio da co-terapeuta, ensinou para às
crianças o exercício de respiração profunda.
4ª. Sessão.
Tema central: Associação situação – pensamentos – sentimentos.
74
Essa sessão iniciou-se com a apresentação da tarefa de casa. Nesse
momento foi percebido que as crianças estavam interessadas nos conteúdos
que estavam aprendendo, pois a maioria delas pediu para poder falar para
todos no grupo a situação de stress que escreveu, o que pensou e como se
sentiu. Como eu sofro de raiva, eu escrevi para falar aqui a pior coisa
que eu fiz esse ano na minha escola...foi assim: eu enforquei o pescoço
de um menino na minha escola, pensei para escrever aqui o porque fiz
isso. A minha mãe falou no dia que eu fiz porque sou um animal, mas
esses dias eu pensei que não sou um animal. Eu fiz isso porque o menino
falou que eu era uma marica, porque uso o cabelo assim compridinho,
eu senti muita raiva e fui e esganei ele. Eu sei que o pode fazer isso,
e sei que fiquei danado de raiva, mas agora que aprendi que eu sinto
porque penso, eu descobri que pensei que se alguém escutar que eu sou
marica, vai acreditar e fico muito bravo com isso. Mas eu quero aprender
a não esganar os amigos” (LMSV). O meu stress é ter muitos irmãos, eu
acho que a minha mãe gosta deles e não de mim e por isso é que fico
triste”(CEGK). “Eu escrevi que eu sofro com o meu pai e a minha mãe que
brigam, acho que eu penso que pai e mãe não podem brigar tanto
porque isso faz eu ficar irritada” (BRDP). “O que foi uma situação de
stress foi quando a minha prima morreu, eu sofri também, mas fiquei com
muita raiva, porque minha e chorava e eu até pensei que ela
gostava mais da minha prima do que de mim e tem dia que a minha mãe
fica chorando e eu ainda penso isso (MCSA). “O meu stress aconteceu
nessa semana, na quarta o meu cachorro morreu porque comeu veneno
que alguém jogou, mas eu além de ficar triste fiquei com muito medo,
porque pensei que o veneno foi algum bandido que jogou e eu tenho
medo de bandido” (MGS). Essa semana o que aconteceu que eu acho que
foi um stress, foi a prova de matemática, mas o stress foi eu ficar
pensando que não ia acertar as contas porque não ia lembrar as
tabuadas, fiquei nervosa e fiquei com dor de cabeça” (KRB). “O que
aconteceu que foi um grande stress pra mim foi a minha irmã ter comido
a minha bolacha favorita, aí eu fiquei bravo que dei uma mordida no braço
dela....mas agora eu pensei que não devia ter mordido a minha irmã eu
podia ter feito a respiração que aprendi aqui para ficar mais
75
calmo”(PLPN). “Ah, eu consegui fazer a respiração e ficar mais calma, foi
assim: eu fiquei triste e brava quando os meninos me chamaram de a
gorda da escola, respirei quatro vezes, igual a que treinamos aqui,
me acalmei e a minha braveza passou, esse foi o meu stress” (ALS).
Aproveitando as colocações feitas pela criança, foi explicado o tema
central: a associação entre o pensar e o sentir mediante a uma situação. Ah
então eu posso pensar que eu não sou marica e minha raiva não fica
grande” (LMSV). “E eu posso pensar que o veneno que deram para o meu
cachorro não foi dado por um bandido” (MGS).
Nessa sessão foi trabalhado um ponto fundamental do treino de controle
do stress, que consiste na reestruturação cognitiva, que foi explanada de
maneira que as crianças fossem capazes de compreendê-la adequadamente.
5ª. Sessão
Tema central: Fontes internas de stress (Ansiedade, Autoestima
prejudicada, Timidez e Medo da punição divina).
Nestas sessões apresentaram-se os conceitos relacionados às fontes
internos de stress. Estimulou-se que os participantes treinassem a habilidade
para identificarem os seus estressores internos. Quanto aos estressores
apontados pelo grupo notou-se similaridade com aqueles apontados pela
maioria das crianças da amostra geral deste estudo. Sendo eles: a ansiedade e
a autoestima prejudicada. Algumas verbalizações foram: “Minha mãe fala que
eu um dia ainda vou explodir por causa da minha ansiedade” (PLPN). “Eu
quando fico ansiosa como toda a minha unha” (ALS). “Minha mãe fala que
eu sou bonita mas eu acho que eu não sou” (JB). “Eu também não acho
que eu sou bonita” (KRB). “Eu penso é que sou burro” (MGS).
Após as colocações das crianças P. explicou as implicações para o bem
estar físico e mental ao terem que conviver com estressores internos e sugeriu
formas de minimizar seus efeitos. O objetivo foi levá-las a perceberem que as
dificuldades não eram somente delas e o quanto elas poderiam serem
ajudadas se procurassem apoio. E no final enfocou-se um pouco a ansiedade,
por esta ter sido a fonte interna de maior prevalência na avaliação inicial.
6ª. Sessão.
76
Tema central: O controle da ansiedade.
O tema central dessa sessão iniciou-se com a explicação dos conceitos
de ansiedade e seus sintomas. Foram citados exemplos de acontecimentos
que podem gerar ansiedade e a seguir permitiu-se que o grupo se colocasse.
Os participantes citaram um grande número de situações em que se percebiam
ansiosos e como se sentiam nessas ocasiões. Algumas eram comuns ao grupo
– provas na escola, acontecimentos prazerosos como uma festa de aniversário,
um passeio escolar ou familiar, ficar doente e no relacionamento com outras
crianças. Em seguida foi realizado o exercício de registro de pensamento
(Jardim de Flor de Pensamento de Bernard e Joyce, 1984), visando identificar
os pensamentos relacionados a ansiedade e a reestruturação cognitiva. As
crianças demonstraram interesse e os realizaram com facilidade. Ensinou-se a
técnica de parada de pensamento, e enfocou-se a importância da respiração
profunda e do relaxamento no controle da ansiedade. Realizou-se as cnicas
descritas acima e encerrou-se a sessão com o relaxamento.
7ª Sessão.
Tema central: Estratégias de enfrentamento para lidar com as fontes
externas de stress.
Antes de iniciar as atividades da sessão os participantes relataram a
experiência da prática das técnicas para o controle da ansiedade realizadas
durante a semana. “...sabe essa semana eu consegui treinar a técnica de
respirar e a da pare de pensar, foi assim: o meu irmão rabiscou no meu
caderno de matemática, na hora eu bufei de brava, mas respirei três
vezes, e pensei ele é muito pequeno e não fez de maldade, chamei
minha mãe e mostrei para ela, sabe que ela ficou contente comigo por eu
ter feito isso, eu até ganhei um caderno novo.” (KRB). Eu também
consegui, eu queria que a minha mãe fosse brincar um jogo no
computador comigo, mas ela não podia porque tinha que dar almoço para
o meu irmão e a minha irmã, na hora eu fiquei triste e pensei :elagosta
dos meus irmãos, mas aí parei e pensei :não....pare de pensar isso....você
está errado...ela gosta muito de você, ela tem que cuidar deles porque
eles são pequenos, aí a minha tristeza passou e eu arrumei um outro jogo
no computador e continuei brincando” (CEGK). “Eu acho que consegui
77
também, lá na escola quando me chamaram de gorda ontem, eu não
fiquei triste e foi porque pensei: eu sou gorda, mas sou muito bonita
(ALS).
Em seguida entregou-se o Jogo Guerra ao Stress para os participantes
brincarem. O objetivo desta atividade foi por meio de um instrumento lúdico
ensinar às crianças os quatro pilares do treino de controle do stress, sendo eles
a reestruturação cognitiva, o exercício de relaxamento e a respiração profunda,
a prática de atividades físicas e o hábito de uma alimentação adequada.
8ª Sessão
Tema central: Relacionamento com os amigos.
P. iniciou o tema central colocando quanto a necessidade da criança ter
amigos, e como a maneira de pensar e agir de cada uma pode aproximar ou
afastar as pessoas. As crianças fizeram comentários de situações em que se
sentiram em conflito com outras crianças e o quanto isso era ruim. “O
problema é que a minha amiga não gosta que eu tenha amizade com mais
ninguém, quando eu fico com outra menina, ela não conversa comigo,
mas eu gosto das outras meninas” (JB). “Ih, na minha escola ninguém
gosta de mim porque eu sou muito bravo, mas eu já acho que estou
melhorando, olha faz cinco semanas que eu não bati em ninguém”
(LMSV). “Eu tenho uma amiga que é interesseira todo dia ela come
metade do meu lanche, um dia quando ela pedir eu irei falar o, porque
pra mim ela é folgada” (MCSA). “Essa coisa de amiga é duro tem uma
muito fofoqueira na minha classe, ela foi contar para um menino que a
minha outra amiga gostava dele, coitada da minha outra amiga ela até
chorou” (ALS). “Eu tenho uma amiga que vai na minha casa e brinca com
a minha irmã e não liga para mim” (GPL). Eu então tenho uma amiga
muito traíra, outro dia ela dedou para a minha professora que eu não tinha
feito a lição de casa, acha que amiga” (BRDP). Quanto a situações de
conflitos com amigos apresentadas pelas crianças foi observado que esse era
um aspecto mais presente para as meninas do que para os meninos no grupo.
Após as colocações das crianças discutiu-se os temas da assertividade,
a expressão de sentimentos e a empatia.
78
9ª Sessão
Tema central: Lidando com a pressão do grupo.
Iniciou-se a sessão com a apresentação da tarefa de casa, onde cada
criança colocou uma situação em que procurou realizar algo para agradar um
amigo. Diante das verbalizações percebeu-se que essa foi uma situação mais
vivenciada pelos meninos do grupo, do que pelas meninas. Eu tinha um
amigo que não gostava de outro e pedia para eu bater nesse menino, ai
como eu gostava do meu amigo, eu vivia batendo nesse outro, mas agora
com o que estamos estudando aqui eu tenho parado de bater” (LMSV).
Como eu sou esperto e tem umas meninas chatas na minha classe, os
meninos pedem para eu provocar elas e eu provoco e sabe como, eu
escondo a bolsa delas” (MGS). Eu peço pro meu irmão judiar da minha
irmã e para eu ficar feliz ele faz” (CEGK). “Eu mando todos os meninos da
minha classe bater nos pequenos e eles batem” (PLPN).
Após as apresentações das crianças a P. introduziu o tema central e
realizou a vivência: Qual é o animal. Depois da vivência discutiu-se a situação:
os meus amigos querem....mas eu não.
10ª Sessão.
Tema central: Lidando com as diferenças.
Nessa sessão discutiu-se com as crianças, ainda dentro do tema
relacionamentos com amigos a questão das diferenças. Esse foi um momento
de sensibilização do grupo em que algumas crianças conseguiram expressar
os sentimentos que tinham quanto a serem diferentes de outras crianças. Eu
sempre sofri muito de ser gorda e sempre me senti diferente das outras
meninas, se pudesse mudar eu queria ser igual as outras meninas” (ALS).
“É duro ser diferente,eu sou diferente porque meu pai morreu e eu na
minha classe não tenho pai” (JB). “Eu não sou da sua escola, mas
também não tenho pai, a minha mãe é assim mãe solteira, então eu
também sou diferente, quando eu era pequeno eu achava que o meu pai
era o meu avô, mas o meu avô também foi embora e eu fiquei duas
vezes diferente então” (LMSV). “Mas uma criança não é diferente porque
não tem pai, criança é igual em todo lugar e eu ouvi na tv que criança tem
79
o direito de ser amada sempre” (KRDP). “Eu também o meu pai não mora
em casa e eu não sou diferente. Então criança o é diferente por causa
de ter ou não pai e nem por ser bonito ou não, olha eu gosto de todos
aqui e acho todos iguais” (BRDP).
11ª Sessão.
Tema central: O sentimento de rejeição.
Nesse encontro trabalhou-se o tema da rejeição, com base em materiais
lúdicos. Este tema criou bastante mobilização no grupo que se expressou
sobre experiências pessoais em que vivenciou sentimentos de rejeição. “Eu
acho ser rejeitado é a maior tristeza da vida de uma criança (KRB). “Se o
meu pai não quis ser o meu pai ele me rejeitou” (LMSV). Mas você não é
rejeitado, porque a sua mãe te ama e você contou que o seu tio sempre
brinca com você” (GPL). Eu sou rejeitada para dançar na minha escola
porque eu sou gorda e ser rejeitada é triste” (ALS). “Eu sempre achei que
minha mãe gostava dos meus irmãos e ficava triste, mas agora eu não
acho mais então eu não fico triste” (CEGK).
Nesta etapa do processo de tratamento, por meio das verbalizações e
diálogo dos participantes,foi possível observar que a reestruturação cognitiva
estava sendo utlizada como uma estratégia pelas crianças para lidarem com
seus pensamentos disfuncionais.
12ª Sessão.
Tema central: Bullying (O quanto esse comportamento prejudica o outro).
Iniciou-se essa sessão com as crianças colocando a tarefa de casa, que
consistia em cada criança apresentar alguns apelidos que tiveram. Neste
momento, apesar de ser percebido um momento de descontração observou-se
o sofrimento psicológico que as crianças apresentaram em decorrência dos
apelidos designados a elas.” O meu apelido pior de todos foi o canibal sem
pai, sabe eu fazia que nem ligava, mas lá no fundo o meu coração chorava
muito” (LMSV). “O meu não é novidade pra ninguém baleia, gorda. Todos
esses” (ALS). Sabe eu também tive apelido, era Cocadinha, eu acho que
a criança pode falar que não liga, mas na verdade ela sofre de ter
apelido”(KRB). “Eu odeio o meu apelido, na minha escola se você falar
80
quem é o P. ninguém sabe, agora se você falar quem é o bicho de goiaba,
todo mundo sabe que sou eu, e esse apelido é porque falam que eu sou
feio igual um bicho de goiaba”(PLPN). “Duro sou eu, na minha casa a
minha mãe e o meu pai me chamam de Pateta e o meu irmão de Príncipe,
porque ele é bonito e eu de Pateta porque sou
desengonçada...”(MCSA).
A seguir introduziu-se o tema quanto ao termo bullying e a
responsabilidade que cada criança tem no praticar esse comportamento.
13ª Sessão
Tema central: A pressão do grupo para atos específicos que a criança não
queira fazer.
Antes de iniciar as atividades da sessão as crianças relataram assuntos
relacionados aos temas que foram abordados quanto ao relacionamento
interpessoal, em especial aos apelidos.
O objetivo desta sessão foi recapitular o tema da nona sessão, lidando
com a pressão do grupo, e introduzir o tema quanto a pressão do grupo é
prejudicial para a criança em algumas situações em que não gostaria de
realizar algumas atividades, fazer esportes de que não gosta, usar roupas que
estão na moda, mas que não gosta, entre outras.
Nesse encontro as crianças colocaram algumas atividades que não
realizavam por prazer, mas sim por outros motivos. Também explorou-se com
elas quais as possíveis soluções para essas situações.
14ª. Sessão.
Tema central: A família (Hábitos de vida).
O objetivo dessa sessão foi apresentar para as crianças como que a
família influencia na formação dos hábitos de vida que elas possuem. Iniciou-se
com cada criança apresentando tarefas que realizava com a família. A partir
disto o assunto foi sendo abordado. “Lá na minha casa o meu pai tem o
hábito de pescar, ele fala que é para tirar o stress” (MCDA). “ Já o meu pai
gosta é de dormir muito, minha mãe fala assim: esse não é um bom
hábito, mas ele é dorminhoco, então não resolve” (ALS). “Eu acho que
hábito é o que a gente faz, por exemplo: fazer exercício, dormir muito,
81
comer bem, essas coisas” (KRB). “Eu acho que o hábito o filho não
aprende com a e e o pai, aprende com o atambém, porque eu
faço coisa igual o meu avô faz”(MGS).
Nessa sessão também abordou-se a questão de que cada membro da
família é um ser único e que por isso deve ser respeitado em sua maneira de
ser. Tema este que as crianças demonstraram interesse.
15ª Sessão
Tema central: Medos.
O encontro iniciou com as crianças colocando alguns medos que
tinham.”Meu pior medo é a minha mãe morrer que o meu pai
morreu”(JB).”O meu é de algum bandido matar a minha mãe e eu, porque
bandido não mata o policial, ele mata a família,assim o policial
sofre”(MGS). “Eu tenho medo é de tirar nota ruim na prova”(KRB). “O
meu medo é de ficar doente como o meu tio”(LMSV). “O meu é não passar
de ano”(MCSA).”Mas muito medo o ter amigos”(CEGK). “Mas
criança também tem medo de não ter amigos”(ALS). De maneira geral
observou-se que a maioria delas apresentaram medo de perder os pais, de não
irem bem na escola e não serem aceitos por seus pares. P. utilizou a
reestruturação cognitiva para ensinar às crianças como lidarem com esses
medos. Sugeriu-se estratégias para a busca de soluções destes medos, sendo
algumas sugeridas pelas próprias crianças, como conversar com a mãe ou o
pai, fazer o relaxamento do ET que coragem. A P. reforçou a busca de
auxílio na resolução de problemas, por meio da conversa com os pais.
16ª Sessão.
Sessão de finalização do tratamento.
Inicialmente estimulou-se o grupo a colocar possíveis dúvidas sobre os
temas abordados durante o treino. Algumas dúvidas levantadas referiam-se a
situações com os pais e amigos. Solicitou-se que o grupo interferisse sugerindo
estratégias, o que foi feito de maneira positiva.
Enfocou-se a importância dos quatro pilares do controle do stress,
fundamentais para evitar o stress excessivo. Os participantes relataram o
82
quanto sentiam-se melhor por realizarem exercícios físicos, relaxamentos e os
cuidados com a alimentação.
Repassou-se a síntese das estratégias que adotaram para lidar com o
stress, enfocando-se a relação das mesmas no alívio do stress e no
desenvolvimento da qualidade de vida. Deu-se atenção ao progresso dos
objetivos do grupo e cada participante relatou as mudanças observadas em si.
Sugeriu-se a importância dos participantes continuarem a fazer o uso de
técnicas aprendidas durante o treino. No final realizou-se o relaxamento.
Em seguida a pesquisadora fez os agradecimentos por terem
participado e convidou o grupo para o encerramento com um lanche especial.
Seguiu-se um lanche de confraternização.
Conclusão:
O trabalho com este grupo apresentou a orientação teórica e o emprego
de técnicas específicas para crianças visando a redução do stress.
Quanto ao aproveitamento; algumas verbalizações dos participantes
demonstraram as mudanças alcançadas: Eu aprendi não deixar a raiva
mais me dominar e não ficar mais estressado, assim também eu não serei
mais chamado de canibal sem pai” (LMSV). “Eu sei agora que o meu mau
humor era do stress e agora tenho um humor melhor” (MCSA). “Eu
aprendi que pensar uma coisa ruim é ruim, e que tenho que pensar certo
para não sofrer”(CEGK). Eu acho que ficar ansiosa me deixava com
stress então faço relaxamento, respiro fundo e não penso mais que não
irei conseguir fazer a prova, então acho que não estou mais com o stress”
(KRB). “Eu aprendi não pensar coisas ruins de mim para o ficar
triste”(ALS). “Eu aprendi a conversar com minha mãe e meu pai quando
tenho problemas (GPL). “Desde um tempão que eu não vomitei mais
quando fico nervosa e foi pelo que aprendi aqui”(BRDP).
A avaliação do processo grupal junto a este grupo de TCSI possibilitou a
análise de que o grupo evoluiu na aquisição do conteúdo proposto. As falas,
questionamentos, dúvidas e a freqüência dos participantes durante todas as
sessões demonstraram grande envolvimento e motivação entre eles. A
83
percepção de que tinham questões em comum favoreceu o entrosamento e a
colaboração fazendo com que se sentissem aceitos, o que possibilitou
desenvolver a sensação de que podem contar com o outro. Mostraram por
meio de relatos e desempenho nas vivências utilizadas no grupo comunicação
mais adequada e identificação interpessoal.
Os resultados positivos alcançados com o grupo que se submeteu ao
Treino de Controle do Stress apontam que embora crianças convivam com
níveis de stress em suas vidas, se bem orientadas, elas podem encontrar
meios eficazes de gerenciamento dos seus estressores.
84
Perfil da Criança Estressada
O objetivo na elaboração de um perfil da criança estressada foi sintetizar
as informações de maneira que fosse possível conhecer quem era essa criança
e também possibilitar uma melhor compreensão das suas características
psicológicas.
A criança estressada da amostra estudada era do sexo feminino, se
situava na faixa etária compreendida entre os 8 e 9 anos, sendo a dia de
idade de 8,77 anos. Era aluna de escola particular e freqüentava o ano do
ensino fundamental de 9 anos de duração. Quanto a sua composição familiar
ela possuía um irmão e era o filho primogênito. Um dos seus progenitores tinha
sintomas significativos de stress.
Em relação aos aspectos do stress essa criança encontrava-se na fase
de quase exaustão e em média tinha um total de 16 sintomas. Os sintomas
psicológicos eram os mais prevalentes, entre eles relatava sentir uma aflição
por dentro, ficar nervosa com tudo e ficar preocupada com coisas ruins que
pudessem acontecer. Quanto à origem de seu stress, era produzido por
fontes internas. Entre elas estavam um alto nível de ansiedade e uma
autoestima prejudicada. Quanto aos meios e recursos que utilizava para lidar
com o stress estavam o comportamento de inação, o comportamento de
evitação e a procura por apoio social. Mesmo possuindo algumas estratégias
para o enfrentamento do stress, era uma criança que apresentava dificuldades
em lidar com a maioria dos fatores estressantes que vivenciava.
Com base no perfil acima descrito é que foi adaptado o Treino de
Controle do Stress Infantil. O objetivo do treino foi ensinar a criança como lidar
com os estressores e reduzir o stress que sentia..
85
DISCUSSÃO
A criança atual, para se adaptar às pressões e demandas de uma
sociedade dinâmica está assumindo novos papéis, sem ainda estar
emocionalmente pronta. A sua identidade está sendo construída em uma
cultura caracterizada pela existência de uma indústria da informação, de bens
culturais, de lazer e de consumo, onde a ênfase está no presente, na
velocidade, no cotidiano, no aqui e agora, e na busca do prazer imediato.
As tecnologias da comunicação estão possibilitando às crianças que o
acesso às informações se dê sem o controle de seus progenitores. Assim, elas
entram desde cedo em contato com a violência, com a exploração de conflitos
íntimos, com o sexo; sem ainda possuírem estrutura emocional para
administrarem essas situações. Estudos com crianças devem dessa maneira,
enfocar as fontes de stress com as quais essa população possa estar lidando,
e ao mesmo tempo devem averiguar em função dessa demanda os seus
quadros de stress.
Os resultados encontrados neste estudo revelaram que a grande
maioria dos participantes apontou para altos níveis de stress, o que está de
acordo com estudos que avaliaram o stress em crianças (Franca & Leal, 2003).
Townsend (2002) coloca que a maneira como a criança vive, aliada aos
estressores psicossociais da sociedade contemporânea favorece o surgimento
de problemas físicos, psicológicos e sociais relacionados ao stress.
As crianças avaliadas neste estudo encontram-se em situação delicada,
em função da grande quantidade de sintomas de stress psicológicos típicos da
fase de quase-exaustão. Neste caso elas podem, se o seu organismo não
retornar ao equilíbrio, chegar a fase de exaustão, favorecendo o aparecimento
de doenças. Os sintomas mais mencionados indicam que elas se sentem
aflitas, nervosas e preocupadas com possíveis acontecimentos ruins. Em
concordância com esses resultados, Lipp & Malagris (1995) acreditam que o
86
stress infantil possa estar associado na patogênese de distúrbios físicos e
psicológicos.
Segundo Lazarus (1984) as avaliações da importância de um
acontecimento (avaliação primária) e da disponibilidade e eficácia das reações
de enfrentamento (avaliação secundária) interagem na determinação da
natureza das reações de stress. O stress é o resultado das avaliações que
constituem uma superestimulação da ameaça e uma subestimação da eficácia
dos recursos de enfrentamento. Podem ainda existir ficits de habilidades em
que as reações adequadas para o manejo das situações não estão disponíveis
ou não foram aprendidas.
Partindo deste princípio este estudo buscou inicialmente detectar quais
eram os estressores mais potencialmente significativos presentes na vida
destas crianças. A seguir examinou-se os recursos dos quais estavam se
utilizando no enfrentamento do stress e sua eficiência. Por último realizou-se
um Treino de Controle do Stress Infantil, que se mostrou eficaz no
desenvolvimento de habilidades de enfrentamento dos estressores existentes.
Um exame das questões que possam estar contribuindo para os altos
índices de stress apontados pelos participantes deste estudo tornou-se crucial
e de extrema importância, visando uma melhor compreensão dos seus
problemas, e dessa maneira indicar trabalhos futuros, na área de prevenção
visando a qualidade de vida da criança brasileira. Os estressores mencionados
pelos participantes deste estudo como sendo de maior magnitude estão em
concordância com os mencionados por Medeiros & Nóbrega (2005); Franca &
Leal (2003) ou seja, ser rejeitada por pessoas importantes, ser ridicularizada no
ambiente escolar e ter um número excessivo de atividades extracurriculares;
além da maneira como interpretam aspectos peculiares de suas vidas que
segundo os autores levam essas crianças a desenvolverem níveis de stress
consideráveis.
Um dado de grande importância foi a constatação de que as fontes
internas de stress, em especial a ansiedade e a autoestima prejudicada, foram
87
muito predominantes . Estes dados vem ao encontro aos postulados por Lipp et
al (1991) que enfatizaram que um elevado nível de ansiedade e uma
autoestima rebaixada, entre outras também podem servir como fontes internas
desencadeadoras de intenso stress na criança.
A grande maioria das crianças sentia-se ansiosa frente às situações
escolares e interpessoais, pois temia não ser aceita por seus pares ou que não
fosse capaz de um adequado desempenho acadêmico. Vários fatores podem
ter contribuído para potencializar esse tipo de estressor, entre eles uma
elevada exigência quanto ao desempenho escolar e a questão da popularidade
como uma maneira de sucesso interpessoal. Esses fatores podem colaborar
na interpretação que dão às suas dificuldades e conseqüentemente na maneira
como as crianças direcionam suas vidas.
O excesso de atividades que são obrigadas a cumprir e a elevada
exigência quanto ao seu desempenho propiciam a essas crianças
desenvolverem cognições nem sempre positivas a cerca de suas capacidades.
Muitos dos participantes mostraram dúvidas quanto a sua potencialidade,
culpando-se pelo desempenho que acreditavam não estar adequado com as
expectativas de seus pais e professores. Neste caso, os pensamentos
elaborados por elas podem se converter em um padrão inadequado pré-
estabelecido sobre a maneira de pensar ocasionando stress. Conforme postula
Ellis (1973) provavelmente não são os eventos em si que provocam as
emoções relatadas mas a maneira como pensam a respeito deles. A maneira
de pensar destas crianças em relação aos eventos do seu dia a dia em função
das crenças que elas assimilaram durante o seu desenvolvimento, determinam
a suas reações emocionais e comportamentais aos eventos do seu dia a dia.
Segundo Shaevitz (1986) pais perfeccionistas tendem a ter altos níveis de
exigências em relação ao desempenho dos filhos.
Neste estudo encontrou-se que grande número de crianças apresentava
uma maneira de pensar perfeccionista o que era extremamente estressante,
pois como lhes faltava tempo e tinham um número de atividades excessivas, se
o padrão de exigências sobre elas for grande elas nunca vão se satisfazer
88
tornando-se frustradas com o seu desempenho e podendo apresentar
distorções em relação ao seu seu autoconceito
Levando-se em consideração a avaliação dos indicativos de um
elevado nível de ansiedade apresentado pelas crianças é importante relatar o
duplo papel que esta pode exercer dentro de um quadro de stress. Nas
avaliações realizadas com os participantes observou-se que ao mesmo tempo
em que a ansiedade era uma das causas de stress em outros momentos
apresentava-se como um sintoma de um quadro de stress. Esse dado está de
acordo com os estudos de Lipp (2005) que coloca que a ansiedade pode
causar o stress emocional, uma vez que aqueles que tem a propensão a
responder ao mundo pela ansiedade criam seu próprio stress. Mas ela pode
igualmente ser um sintoma de stress excessivo Nesse caso, não é necessário
ser predisposto: a ansiedade aparece em meio a muitos outros sintomas.
Dessa forma, a ansiedade pode ser uma fonte de stress na vida da criança ou
um sintoma do stress. No primeiro caso ela ocorre antes de o stress surgir, e
pode ser causada por vários fatores, entre eles: uma predisposição genética
que se manifesta, às vezes, sem causa aparente; um padrão de reação
aprendido que leva a criança a ver o mundo como algo amedrontador e uma
antecipação de fracasso ante algo com o que talvez não consiga lidar.
Um dado importante observado na maneira de expressão do stress das
crianças foi o fato de este ocorrer em maioria por sintomas psicológicos. Em
relação a essa constatação levanta-se a hipótese de que pela criança ainda
estar no início do desenvolvimento humano o stress ainda não atinge o
organismo físico de maneira mais intensa como ocorrem em um adulto., pois
outros estudos realizados com crianças também demonstraram uma maior
prevalência de sintomas psicológicos em comparação aos físicos( Tricolli,
1997; Bignotto, 1997).
Outro fator importante de ser relatado está na estrutura da composição
familiar da criança estressada encontrada neste estudo. Em relação aos seus
progenitores, foi observado que um deles apresentava também um quadro de
stress. Os pais tornam-se importantes determinantes na aquisição de
89
características que podem no futuro colaborar para que os filhos venham a
desenvolver vulnerabilidade ou resistência ao stress. Eles podem interferir na
formação dos filhos ao pressioná-los à realizações e não focar a sua maneira
de ser. Características identificadas como fontes internas de stress dos pais
também podem estar ligadas a maneira como os filhos possam vir a se
comportar. Além da questão de que pais estressados provavelmente
respondam de maneira inadequada aos seus filhos, pelas próprias limitações
que um quadro de stress impõem ao ser humano.
Um outro ponto importante a ser discutido quanto ao relacionamento
pais e filhos deste estudo refere-se ao fato de que na percepção que esses
apresentam em relação aos seus filhos, os meninos são caracterizados como
crianças com problemas, ao passo que as meninas não. Essa situação pode
ocorrer pela situação de que os meninos apresentaram problemas mais
externalizantes, como comportamentos de agressividade, enquanto que as
meninas, por apresentarem problemas mais internalizantes, tristeza e
isolamento, e esses não desorganizarem o ambiente familiar como
comportamentos agressivos não sejam considerados problemas pelos adultos.
Em relação a posição familiar das crianças os dados encontrados neste
estudo estão de acordo com a literatura que observa que os filhos
primogênitos em média apresentam maior nível de stress (Lipp, 2004). Esta
constatação pode ser explicada quando verfica-se que de maneira geral existe
uma maior expectativa e com isso maiores cobranças dos pais quanto ao
primeiro filho.
Um último aspecto a ser abordado refere-se às estratégias de
enfrentamento para lidar com o stress. Estudos de Kobasa e Folkman (1979)
apontam a importância dos recursos básicos presentes no ser humano para
enfrentar e lidar com o stress como a saúde, energia e moral; habilidade para
resolver problemas; apoio social; recursos utilitários e crenças gerais e
específicas.
90
Comparando-se o postulado de Kobasa e Folkman (1979) com o tipo de
estratégias utilizadas pelas crianças participantes no enfrentamento dos seus
estressores observou-se que as crianças deste estudo não utilizaram em
freqüência suficientes as estratégias de que dispunham para modificar os
quadros de stress.
Estes achados ganham peso quando compara-se as modificações nos
níveis de stress dos participantes que se submeteram ao Treino de Controle do
Stress Infantil o que não ocorreu com o GC que supõem-se tenham continuado
a se valer do número e tipo de estratégias mencionados na primeira avaliação.
O TCSI visou modificar o enfoque que os participantes estavam dando a
suas vidas, e favorecer o aprendizado de habilidades necessárias para o
enfrentamento dos seus estressores. Eles se sentiram mais apoiados e
fortalecidos na medida em que a identificação interpessoal no grupo permitiu
que percebessem que tem algo em comum. Na medida em que passaram a
colocar em prática os assuntos abordados, eles desenvolviam a sensação de
competência e melhoravam a autoestima. Desenvolveram então novas
cognições a respeito de si.
No entanto, conforme citado pela literatura, os ganhos em treinamentos
como estes dependem de que os participantes continuem a implementar as
habilidades aprendidas no seu dia a dia.
Dessa forma sugere-se que:
1) Trabalhos de pesquisa com crianças estressadas sejam realizados
no Brasil, objetivando aprofundar o conhecimento das características
demográficas e psicossociais para essa população.
2) Trabalhos junto as escolas conscientizando-as das necessidades e
dificuldades da criança estressada, incentivando o desenvolvimento
de programas junto a essas crianças;
3) Estudos averiguando a influência dos níveis de stress de pais no
desenvolvimento dos filhos;
91
4) Formação de grupos de apoio às crianças com stress, nos mais
diversos setores da comunidade;
5) Treinamento em controle do stress, a nível de profilaxia e tratamento
para crianças.
92
CONCLUSÃO
O estudo das crianças estressadas realizado no presente trabalho,
possibilitou o conhecimento de suas principais características, de seus
potenciais estressores e da eficácia dos recursos que elas dispões para lidar
com as suas dificuldades.
Observou-se ainda que elas apresentavam semelhança quanto ao tipo
de estressores que mais as afligiam, assim como no que se refere a tipologia
das estratégias de enfrentamento que utilizaram. Notou-se porém
particularidades quanto a freqüência dos mesmos.
O trabalho demonstrou ainda que quando submetidas a um treino de
controle do stress infantil, que apresenta especificidades próprias para atender
as suas dificuldades, ocorrem mudanças significativas em seus níveis de
stress.
De maneira geral a realização da pesquisa mostrou a eficácia da
intervenção terapêutica no controle do stress com crianças.
93
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98
ANEXOS
99
Anexo A: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
O stress da criança pertencente aos anos iniciais do ensino fundamental
Eu,..............................................................................,RG,......................
residente a Rua
...............................................................................................abaixo assinado
dou meu consentimento livre e esclarecido para meu filho (a) participar como
voluntário da pesquisa supracitada, sob a responsabilidade da pesquisadora,
Psicóloga Márcia Maria Bignotto aluna do curso de doutorado em Psicologia, e
sua orientadora , Dra. Marilda Novaes Lipp do Centro de Ciências da Vida, da
PUC – Campinas.
Assinando este Termo de Consentimento estou ciente de que:
1 - O objetivo do presente estudo que é parte do curso de doutorado na PUC-
Campinas , será analisar o stress em crianças que freqüentam os cinco anos
iniciais do Ensino Fundamental, que envolve 1 encontro de 50 minutos da
pesquisadora com meu filho;
2 - Durante o estudo será feita a aplicação de um teste de stress. O local da
aplicação dos testes será em uma clínica psicológica, localizada a rua General
Osório 294, na cidade de Santa Bárbara d’Oeste no estado de São Paulo.
3 Declaro que obtive todas as informações necessárias para poder decidir
conscientemente sobre a minha participação na referida pesquisa;
4 - Estou livre para interromper a qualquer momento a participação do meu
filho(a) na pesquisa, sem qualquer prejuízo;
100
5 - Os dados pessoais do meu filho (a) serão mantidos em sigilo e os
resultados gerais obtidos através da pesquisa serão utilizados apenas para
alcançar os objetivos do trabalho, expostos acima, incluída sua publicação na
literatura científica especializada;
6 - Poderei contatar o Comitê de Ética em Pesquisa da PUC de Campinas
para apresentar recursos ou reclamações em relação à pesquisa através do
telefone: 19 3343-6777.
7 - Poderei entrar em contato com a responsável pelo estudo, Psicóloga
Márcia Maria Bignotto sempre que julgar necessário pelo telefone 19
34632039 ou 19 34551891.
8- Este Termo de Consentimento é feito em duas vias, sendo que uma
permanecerá em meu poder e outra com o pesquisador responsável.
Campinas,_______________ Assinatura do responsável legal.
101
Ficha de identificação do participante
In. da criança:_________________________________________________
Data de nascimento:_____/_____/______
Idade:______________
Série escolar:______________________
Escola: ( ) Pública ( ) Particular
Nome do pai:_____________________________
Idade:____________
Nome da mãe:_____________________________
Idade:____________
Irmãos:
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
102
Encaminhado(a) por:________________________________
Motivo:_________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
__________________
103
Escala de Reajustamento Social – Infantil (Elkind, 1981).
Iniciais da criança
01- (100) Morte de um dos pais
02- (080) Morte de um irmão
03- (065) Divórcio ou separação dos pais
04- (063) Morte de parente próximo
05- (063) Hospitalização da criança
06- (053) Doença ou acidente pessoal
07- (050) Novo casamento de um dos pais
08- (047) Perda de emprego de um dos pais
09- (045) Reconciliação dos pais
10- (040) Nascimento de irmão
11- (040) Início de trabalho da mãe
12- (039) Dificuldades com a professora
13-(038) Doença de amigo íntimo
14-(038) Mudança de situação financeira da família
15-(035) Ser roubado
16-(034) Ser ridicularizado na sala de aula
17-(034) Ser rejeitado por alguém emocionalmente importante
18-(033) Ameaça de violência na escola ou na rua
19-(032) Mudança para outra cidade
20- (031) Doença de parente próximo
21- (031) Colega começa a usar drogas
22- (031) Mudança de escola
23- (030) Gravidez da mãe
24- (029) Início de atividade extracurricular
25- (029) Aborrecimento com avós ou tios
26- (028) Briga com colegas da escola
27- (028) Prêmios ou realização pessoal extraordinária
28- (027) Mudança de responsabilidades em casa
29- (020) Morte ou perda de animal de estimação
30- (019) Viajar de férias com a família
31- (018) Mudança de babá ou empregada
104
32- (017) Mudança de amigos
33- (016) Freqüentar colônia de férias
34- (015) Brigas constantes com irmãos
35- (014) Ganhar videogame ou computador
36- (012) Festa de aniversário
37- (010) Não ser convidado para festa de colegas
38- (010) Punição injusta
39- (009) Mudança de hábitos alimentares
40- (008) Mudança de hábitos alimentares
Após somar o total de pontos, verifica-se o valor correspondente a seguir:
150 – 199 pontos: 37% de probabilidade de problemas de saúde ocorrerem;
200 – 299 pontos: 51% de probabilidade de problemas de saúde ocorrerem;
300 – ou mais: 79% de probabilidade de problemas de saúde ocorrerem.
105
Inventário de Fontes Internas de Stress Infantil (Bignotto,1997)
Iniciais da criança:
Idade:
Data:
Preencher os círculos abaixo indicando a freqüência com a qual acontece com
você o que é descrito. Por exemplo:
Nunca acontece O O O O ( não pintar bolinhas)
Acontece raramente O O O O ( pintar 1 bolinha)
Acontece às vezes O O O O (pintar 2 bolinhas)
Acontece com freqüência O O O O (pintar 3 bolinhas)
Acontece sempre O O O O (pintar 4 bolinhas)
Inventário de Fontes Internas de Stress
1- Minhas mãos ficam suadas e meu coração bate mais rápido enquanto
espero o início da festa do meu aniversário.
O O O O
2- Quando penso em alguma coisa ruim, penso que Deus vai me castigar.
O O O O
3- Eu prefiro brincar sozinho todos os dias.
O O O O
4- Quando tenho uma prova, fico agitado e não consigo ficar no mesmo lugar.
O O O O
106
5- Quando estou em uma festa fico triste por pensar que não sou bonito como
as outras crianças.
O O O O
6- Quando vou nadar sinto vergonha de estar de maio/sunga.
O O O O
7- Tenho dificuldade de procurar novos amigos para brincar.
O O O O
8- Ao falar uma mentira fico pensando que Deus está ouvindo e ficará muito
bravo comigo.
O O O O
9- Sinto que não sou uma criança o legal quanto as outras crianças que
conheço.
O O O O
10 Em uma festa de aniversário de um amigo prefiro brincar com crianças
mais velhas do que eu.
O O O O
11- Quando desobedeço minha mãe ou meu pai, fico com medo de ser
castigado por Deus.
O O O O
12- Algumas vezes eu experimento um sentimento de perigo, em que alguma
coisa ruim irá acontecer.
O O O O
107
Inventário de Fontes Internas de Stress – Correção.
DIMENSÕES QUESTÕES
SIGNIFICATIVA
Ansiedade 1, 4 e 12
Auto – estima 5, 6 e 9
Timidez 3, 7 e 10
Medo excessivo do poder de Deus 2, 8 e 11
Critérios para avaliação
1- A resposta será significativa quando :
Acontecer com freqüência ou acontecer sempre;
2- Marcar com um X em cada questão cuja resposta for significativa;
3- Considerar presença de fontes internas:
a- se houver 2 respostas significativas em qualquer das dimensões,
b- se houver 3 respostas significativas, sendo, sendo uma em cada
dimensão.
108
Levantamento de estratégias de enfrentamento do stress para as
crianças.
Iniciais da criança:
Evento
estressante:__________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
1- O que você fez?
2- Você poderia ter feito alguma outra coisa?
3- O que você fez para sentir-se melhor?
109
Levantamento de estratégias de enfrentamento do stress para as
crianças.
Classificação em Categorias
Ações agressivas:
Evitação
Distração:
Apoio social:
Ação direta:
Inação:
Outras:
110
Anexo F: Vivências
Jogo dos sentimentos
Este jogo tem sido utilizado por nós em diversas ocasiões, com jovens e
adultos,
Atingindo excelentes resultados, tanto do ponto de vista pessoal quanto
coletivo. Para jogar com crianças, é necessário apenas que se escolham
palavras que lhe sejam familiares.
Tipo de ATIVIDADE: Jogo
OBJETIVO: Perceber nossas forças e virtudes, descobrir como nos têm sido
importantes, compartilhar experiências positivas.
MATERIAL:
50 cartões de 10,5 x 7,5 cm, todos de mesma cor e tamanho, cada um
trazendo escrito o nome de uma força ou qualidade do espírito.
Energia Inteligência Entusiasmo Trabalho
Generosidade Alegria Doçura Respeito
Perdão Equilíbrio Criatividade Calma
Paciência Emoção Paz Compaixão
Imaginação Bom humor Carinho Coragem
Transformação Sensibilidade Responsabilidade Sinceridade
Harmonia Desapego Concentração Justiça
Confiança Determinação Fé, Compromisso.
Estudo Educação Humildade Curiosidade
Misericórdia, Inspiração Simplicidade. Amor
Bondade Lealdade Cooperação Verdade
Gratidão Beleza Organização
Entendimento Silencio Prece
111
COMO APLICAR:
1)Embaralhar os cartões arruma-los na mão e pedir a cada participante que tire
um, sem ver o que está escrito. Explicar que cada carta contém o nome de
uma força ou qualidade espiritual.
2)Pedir que cada participante descreva para o grupo sua primeira impressão ao
ler aquela palavra e como tem demonstrado ou vivenciado esta qualidade em
sua vida.
Jogado desta forma, ele é mais intimista.
VARIAÇÃO P/ O 2° PASSO:Se preferir uma forma mais dinâmica e menos
profunda de abordagem, peça a pessoa falar da força ou qualidade sem dizer
seu nome,enquanto os demais tentam adivinhar qual é.
112
Descobrir emoções e sentimentos
Tipo de ATIVIDADE: Oral
OBJETIVO: Perceber as próprias emoções, no contato consigo e com os
outras pessoas.
MATERIAL:
Saco de tecido ou plástico opaco, com tiras de questões que sempre
começam com O que você sente ao ver..., ou O que você sente ao ouvir..., ou
O que sente quando tem a chance de... (em quantidade maior que o numero de
pessoas.)
COMO APLICAR:
1)Formar um circulo de pessoas, que vá passando o saco, e cada um tira uma
questão.
2)Quando o saco retornar ao coordenador na mesma seqüência, cada um irá
responder.
113
Descobrir o outro
Desenho – Presente.
Tipo de atividade: Desenho
Objetivo: Aproximação afetiva, uso da intuição.
Material:
Folhas de sulfite ou cartolina tam. A4 e materiais de
Desenho ou pintura para todos.
COMO APLICAR:
1)Cada criança recebe uma folha e escreve seu nome no alto, bem bonito.
2)Recolher as folhas, embaralhar e distribuir com os nomes voltados para
baixo. Se alguém pegou sua própria folha, troque rapidamente, de modo que
todos tenham as folhas de um colega.
3)Cada um desenhará um presente para a criança cujo nome está na folha.
Peça que pensem com carinho em algo que gostaria de oferecer e que o outro
gostaria de receber.
4)Depois de pronto, uma a uma, todas entregarão seus desenhos, como se
entrega um presente.
114
LIXO MENTAL
Tipo de ATIVIDADE: mutirão de Limpeza/Dinâmica de Grupo
Objetivo: Melhorar a qualidade de nossos pensamentos.
MATERIAL:
Materiais de Limpeza (sacos de lixo, vassoura)
Cesto de Lixo escrito “LIXO”, Colocado no meio da sala ou local de
reunião.
Muitos pedaços de papel e lápis suficientes para todos, cartolina e pincel
atômico.
Quadro branco ou lousa e giz.
COMO APLICAR:
1) Mutirão de limpeza: leve a classe para limpar um pátio, parque ou
praia.
2) Sentados em circulo, e a partir do que cada um observou, vamos
definir bem o que é lixo. EX: Sujeira, que cheira mal, que cada um
observou, vamos definir bem o que é características serão anotadas na
lousa ou quadro branco.
O coordenador, então falará do lixo que temos “na cabeça”: pensamentos
que nos atrapalham, que nos fazem sentir mal, que não deixam espaço
pra coisas mais importantes, como idéias de inferioridade e inadequação,
complexos, temores, duvidas sobre apropria capacidade, magoas,
negatividade, perfeccionismo...
4 )Os alunos serão convidados a identificar alguns desses pensamentos
em si mesmo e escrevê-los (ninguém vai ler para os outros), cada um em
um papel.
5) A seguir, cada aluno irá do seu lugar até o LIXO, e jogará fora, um por
um. A proposta é que procuremos nos livrar do “LIXO MENTAL” a cada
dia.
6) Agora que temos espaço mental, que pensamentos legais podemos
colocar nele?
Pedir sugestões, transformando em frases para um mural (use as
cartolinas).
115
SEMENTES
TIPO DE ATIVIDADE: Dobradura / Recorte/ Colagem
OBJETIVO: Observar que nossas ações e palavras são sementes e que
colhemos seus efeitos.
MATERIAL:
Sementes diversas, bem diferentes umas das outras (ex: girassol,
abacate, Feijão, erva-doce, árvores locais).
Quadrados de papel dobradura marrom ou cor de cerâmica (15x15
cm).
Pedaços de cartolina grossa e materiais de pintura.
Tesoura cola e fita adesiva.
COMO APLICAR:
1)Leve para a aula vários tipos de sementes.
2)Pergunte ás crianças se elas as conhecem e no que elas se transformam,
quando são plantadas. (Se conseguir fotos ou gravuras destas plantas faça
junto com a turma a correspondência entre as sementes e as figuras).
3)Em nossas vidas, estamos sempre plantando. Estabeleça um diálogo sobre
isto.
Nossas palavras e ações são sementes, e os frutos são as conseqüências.
Será que podemos pensar em alguns exemplos?...
4)Peça a cada criança que escolha as sementes que deseja plantar em sua
vida.
Ensine a dobradura do vaso.
5)Agora, vamos fazer uma planta, usando a cartolina e os outros materiais.
As sementes podem ser usadas no miolo das flores. Fixe cada plantinha no
vaso, por dentro, usando fita adesiva. Use os vasinhos para enfeitar sua sala,
se possível, ou deixe que as crianças levem pra casa.
116
Olhos
Tipo de ATIVIDADE: Sensorial /intuitiva
Objetivo: Ler sentimentos na expressão do outro.
MATERIAL:
Musica bem suave.
Folhas de questões e lápis para todos.
COMO APLICAR:
1) Peça á classe para dividir-se em duplas que se sentem frente á frente.
Explique que vamos agora trabalhar com nossa intuição.
2) Entregue uma folha e um lápis a cada aluno, a qual conterá as seguintes
questões:
-Olhe nos olhos do seu colega e descreva-os. (cor, forma, tamanho, cílios,
sobrancelhas, e o que mais achar importante.)
-O que os olhos do seu colega dizem sobre você?
Coloque a musica e de tempo para que as questões sejam respondidas.
3)Quando todos houverem terminado, pedir que cada dupla troque suas
folhas e que cada um leia o que foi escrito sobre seus olhos.
4) Abrir oportunidade para comentários, tanto sobre o exercício em si,
quanto sobre as respostas.
117
Anexo G
Caracterização da amostra geral.
Partic.
Sexo
Idade
Tipo
de
escola
Ano
escolar
Número
de
irmãos
Posição
entre
irmãos
Encaminha-
mento.
SE01 M 8 Pa. 3 0 1 E
SE02 F 8 Pa. 3 1 2 F
SE03 F 9 Pu. 4 1 2 E
SE04 M 9 Pa. 4 0 1 E
SE05 F 9 Pa. 3 1 2 M
SE06 F 8 Pu. 4 1 1 F
SE07 F 9 Pu. 4 1 2 E
SE08 M 8 Pa. 3 1 2 M
SE09 F 8 Pa. 3 1 1 E
SE10 M 8 Pa. 4 3 1 E
SC01 F 8 Pa. 3 0 1 E
SC02 F 8 Pa. 3 1 1 F
SC03 M 8 Pa. 3 1 2 F
SC04 M 9 Pu. 4 1 2 E
SC05 F 8 Pa. 3 0 1 F
SC06 F 9 Pa. 4 1 1 F
SC07 F 9 Pu. 4 1 2 E
SC08 F 8 Pa. 3 2 2 M
SC09 F 9 Pa. 4 1 1 M
SC10 M 8 Pa. 3 0 1 F
Legenda:
SE = participante do GTCSI
SC = participante do GC.
M = masculino
F = feminino
Pa = escola particular
Pu = escola pública
E = encaminhado pela escola
M = encaminhado pelo médico
F = a própria família procurou.
118
119
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