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ADINETE SOUSA DA COSTA
DESENVOLVIMENTO DA CRIAA NA EDUCAÇÃO
INFANTIL: UMA PROPOSTA DE ACOMPANHAMENTO
PUC-CAMPINAS
2010
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ADINETE SOUSA DA COSTA
DESENVOLVIMENTO DA CRIAA NA EDUCAÇÃO
INFANTIL: UMA PROPOSTA DE ACOMPANHAMENTO
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação
Stricto Sensu em Psicologia do Centro de Ciências
da Vida da PUC-Campinas, como requisito para a
obtenção do título de Doutor em Psicologia como
Profissão e Ciência.
Orientadora: Profa. Dra. Raquel Souza Lobo Guzzo
PUC-CAMPINAS
2010
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Ficha Catalográfica
Elaborada pelo Sistema de Bibliotecas e
Informação - SBI - PUC-Campinas
t370.15 Costa, Adinete Sousa da.
C837d Desenvolvimento da criança na educação infantil: uma
proposta
de acompanhamento / Adinete Sousa da Costa . - Campinas: PUC-
Campinas, 2010.
194p.
Orientadora: Raquel Souza Lobo Guzzo.
Tese (doutorado) – Pontifícia Universidade Católica de Campinas,
Centro de Ciências da Vida, Pós-Graduação em Psicologia.
Inclui bibliografia.
1. Psicologia escolar. 2. Educação de crianças. 3. Psicologia do
Dedico este trabalho aos meus amados pais,
Airton e Arlinete.
Ao meu amor e companheiro,
Gustavo.
AGRADECIMENTOS
Por ser uma cristã, agradeço primeiramente à Deus, por estar sempre ao
meu lado, dando-me força e esperança para alcançar os objetivos de minha vida.
A minha querida amiga e orientadora Profª. Drª. Raquel Guzzo, por ter
acreditado que eu seria capaz de contribuir para a psicologia escolar em nosso
país e por ter me amparado nos momentos de desânimos.
Aos meus pais, Airton e Arlinete, com quem aprende preciosos
ensinamentos que serviram de alicerce para a construção do meu pensamento e
da minha ação.
Ao meu amado marido, Gustavo, que por acreditar e incentivar o meu
crescimento profissional ajudou-me a superar momentos de fraquezas e de
incertezas.
Aos meus irmãos, Airton e Andréa, e às minhas sobrinhas, Ana Letícia,
Maria Luiza, Ana Beatriz, Samira e Luana, que sempre me receberam na minha
terra natal com muitos beijos e abraços.
À Profª. Drª. Vera Trevisan e à Profª. Drª. Cristina Pinho, pelas
contribuições oferecidas no momento do exame de qualificação.
Aos meus amigos do grupo de pesquisa Mara, Izabella, Ana Paula,
Toninho, Luís, Carmem, que no decorrer do nosso percurso acadêmico nos
tornarmos mais amigos do que meros companheiros de turma.
Em especial, quero agradecer as minhas queridas amigas Mara, Izabella e
Ana Paula pela ajuda e pelas palavras de conforto, bem como pelas risadas.
Á escola CEMEI onde desenvolve a minha pesquisa desde o mestrado.
Quero agradecer a todos os agentes educativos e pais pela confiança em
compartilhar as suas vidas pessoais e profissionais. E às crianças pela alegria
com que me recebiam.
Aos funcionários da PUC, em especial, Maria Amélia, Eliane, Elaine e
Dareide, pela gentileza e colaboração.
Ao CNPq, pela concessão da bolsa de doutorado, fundamental para a
minha estadia nesta cidade e consequentemente pelo desenvolvimento dessa
tese.
Costa, A. S. (2010). Desenvolvimento da criança na Educação Infantil: uma
proposta de acompanhamento. Tese de Doutorado. Centro de Ciências da Vida.
Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Campinas, SP, 261 p.
Resumo
Este trabalho buscou compreender como educadores da Educação Infantil
acompanham o desenvolvimento das crianças, utilizando como referência um
“Prontuário de Observação da Criança – P.O.C.”. O embasamento teórico da
pesquisa está delineado em três eixos de discussão: o primeiro considera
aspectos importantes sobre Educação Infantil no Brasil; o segundo faz uma breve
explanação sobre a Psicologia do Desenvolvimento; e, por último, o terceiro
considera alguns elementos importantes sobre a Psicologia na Educação e o seu
papel na promoção do desenvolvimento. Essa pesquisa foi desenvolvida em uma
escola pública de Educação Infantil localizada em um município do Estado de São
Paulo. O trabalho adota como metodologia o materialismo histórico e dialético,
tendo, no caso, duas fontes de informação: os diários de campo da pesquisadora
e as entrevistas com as professoras. Por meio da análise dos resultados, foi
constatada a urgência em focalizar ações direcionadas à Educação Infantil que
promovam o desenvolvimento, tendo em vista que a precariedade nos serviços
oferecidos nesse segmento tem atingido diretamente o bem-estar físico, social e
psicológico das crianças. Outro aspecto constatado nesta pesquisa foi a
necessidade do Psicólogo Escolar de participar do planejamento de atividades
pedagógicas direcionadas às necessidades das crianças, contribuindo com os
seus conhecimentos sobre o desenvolvimento infantil.
Palavras-chave: Educação Infantil, Psicologia do Desenvolvimento, Psicólogo
Escolar, Psicologia Escolar.
Costa, A. S. (2010). Child development in early child education: a monitoring
proposal . Doctoral thesis. Life Sciences Center. Pontifical Catholic University of
Campinas, Campinas, SP, 261 p.
Abstract
This study sought to understand how preschool educators accompany the
development of children, using as reference a “Prontuário de Observação da
Criança P.O.C.”. The research’s theoretical basis has been delineated on three
axes: the first considered some important aspects of the early childhood education
in Brazil; the second explained briefly the developmental psychology; and, the
third considered some important elements of the Psychologist in Educational
context and it´s role in promoting development. This research was developed in a
public preschool located in a municipality of São Paulo. The analisys adopts a
methodology of the historical and dialectical materialism that contained two
sources of informations: the researcher's field dairy and the interviews with the
educators. Through the analysis of results was found the urgency to focus on
actions directed to early child education on promoting the development, given that
the weakness of services offered at this school segment has directly affected the
physical well-being, social and children's psychological. Another aspect observed
in this study was the need of the school psychologist to participate on the planning
of educational activities targeting the needs of children, contributing their
knowledge of child development.
Keywords: preschool, developmental psychology, school psychologist, school
psychology.
Costa, A. S. (2010). El desarrollo del niño en la educación de la primera infancia:
una propuesta de seguimiento. Tese de Doutorado. Centro de Ciências da Vida.
Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Campinas, SP, 261 p.
Resumem
Este estudio trató de comprender cómo los educadores de la enseñanza
preescolar acompañan el desarrollo de los niños, utilizando como referencia un
“Prontuário de Observação da Criança – P.O.C.”. La investigación teórica se
resumio en tres áreas de discusión: el primero consideró los aspectos importantes
de la educación de la primera infancia en Brasil; y la segunda fue una breve
explicación sobre el campo de la psicología del desarrollo; y, la tercera se exami
algunos elementos de la Psicología en la educación y su papel en la promoción
del desarrollo. Este estudio se realizó en una escuela pública de educación infantil
situada en un municipio de São Paulo. En este estudió se adoptó la metodología
como el materialismo histórico y dialéctico, y en este caso, dos fuentes de
información: los diarios del campo de la investigadora y las entrevistas con los
educadores. En la análisis de los resultados se constató la urgencia de centrarse
en las acciones dirigidas a la educación de la primera infancia para promover el
desarrollo, ya que debilidad de los servicios que se ofrecen en este segmento han
afectado directamente el bienestar físico, social y psicológico de los niños. Hay
una necesidad del psicólogo de la escuela participar en la planificación de
actividades educativas dirigidas a las necesidades de los niños, contribuyendo con
sus conocimientos del desarrollo infantil.
Palabras clave: educación preescolar, psicología del desarrollo, psicólogo escolar.
SUMÁRIO
ÍNDICE DE ANEXOS
ÍNDICE DE QUADRO
LISTA DE ABREVIATURAS
APRESENTAÇÃO .....................................................................................
01
CONSIDERAÇÕES INICIAIS ......................................................................
03
Capítulo 1 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................
12
1.1. Educação Infantil ..................................................................................
13
1.1.2. A história e o modelo institucional de Educação Infantil na
conjuntura nacional .............................................................................
13
1.1.2. Educação Infantil no contexto das políticas neoliberais ............
17
1.1.3. A educação pública infantil e o desenvolvimento ......................
20
1.2. Psicologia do Desenvolvimento ...........................................................
26
1.2.1. Principais temas e teorias estudadas na Psicologia do
Desenvolvimento .................................................................................
26
1.2.2. Produção científica da Psicologia do Desenvolvimento no
Brasil ...................................................................................................
29
1.2.3. Pensando o desenvolvimento a partir das idéias de Vigotski ...
32
1.3. O psicólogo escolar e a promoção do desenvolvimento infantil ..........
34
1.3.1. Breve história da inserção da Psicologia na Educação ...........
34
1.3.1. A ação do psicólogo escolar na promoção do
desenvolvimento infantil ......................................................................
39
1.3.2. O Prontuário de Observação da Criança (P.O.C.): um roteiro
norteador .............................................................................................
42
1.4. Tese e Objetivos .................................................................................
46
Capítulo 2 – MÉTODO ...............................................................................
48
2.1. Contexto e cenário de pesquisa ..........................................................
50
2.1.1. Contexto da pesquisa: município do estado de São Paulo .......
50
2.1.2. Cenário da pesquisa: Centro Municipal Integrado de
Educação Infantil .................................................................................
51
2.2. Participantes ........................................................................................
59
2.3. Fontes de Informação ..........................................................................
60
2.4. Material de coleta de dados ................................................................
62
2.5. Procedimentos .....................................................................................
64
Capítulo 3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................
68
3.1. Introdução ............................................................................................
69
3.2. Identificar situações cotidianas da escola e/ou elementos da
realidade que dificultam o acompanhamento e a promoção do
desenvolvimento infantil ..............................................................................
70
3.2.1. Na visão da pesquisadora .......................................................
73
3.2.2. Na visão das professoras ........................................................
113
3.2.3. Na visão das monitoras ...........................................................
126
3.2.4. Síntese e reflexão da análise dos resultados ...........................
131
3.3. Avaliar uma proposta de acompanhamento do desenvolvimento no
contexto da Educação Infantil .....................................................................
140
3.3.1. Identificar as dimensões e os indicadores do desenvolvimento
infantil que os professores apresentaram de seus alunos, comparando
com o P.O.C ...............................................................................................
141
3.3.2. Analisar as informações das professoras sobre o
desenvolvimento das crianças, integrando aos resultados do P.O.C. .......
150
3.3.3. Conhecer a opinião das professoras sobre a utilização de uma
metodologia para acompanhar as crianças na educação infantil e o
impacto dessa metodologia na construção de atividades realizadas pelas
professoras ..................................................................................................
158
3.3.3.1. Visão das professoras sobre a utilização de uma
metodologia de acompanhamento do desenvolvimento infantil .
159
3.3.3.2. O impacto da utilização do P.O.C. na construção de
atividades das professoras em sala de aula com as crianças ....
168
3.3.4. Síntese e reflexão da análise dos resultados ............................
172
Capítulo 4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................
179
Referências .................................................................................................
185
Anexos .......................................................................................................
194
ÍNDICE DE ANEXOS
Anexo 1
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ao Diretor da
Escola .....................................................................................
194
Anexo 2
Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido para
Professores .............................................................................
195
Anexo 3
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para Pais e
Responsáveis ..........................................................................
196
Anexo 4 Roteiro de Entrevista Inicial para as Professoras ...................
197
Anexo 5 Roteiro de Entrevista Final para as Professoras .....................
198
Anexo 6 Prontuário de Observação da Criança – P.O.C. .....................
200
Anexo 7
Modelo do Protocolo de Análise da Entrevista Inicial com as
Professoras .............................................................................
213
Anexo 8
Modelo do Protocolo de Análise da Entrevista Final com as
Professoras ............................................................................
215
Anexo 9 Modelo do Protocolo de Análise dos Diários de Campo .........
216
Anexo 10
Modelo do Protocolo de Análise do P.O.C. .............................
217
Anexo 11
Legenda dos Diários de Campo ..............................................
218
Anexo 12
Protocolo de Análise dos Diários de Campo
Situações do
cotidiano e/ou elementos da realidade que dificultam a
promoção do desenvolvimento das crian
ças na visão da
pesquisadora ..........................................................................
221
Anexo 13
Protocolo de Análise dos Diários de Campo
Situações do
cotidiano e/ou elementos da realidade que dificultam a
promoção do desenvolvimento das crianças na visão das
professoras .............................................................................
239
Anexo 14
Protocolo de Análise dos Diários de Campo
Situações do
cotidiano e/ou elementos da realidade que dificultam a
promoção do desenvolvimento das cri
anças na visão das
monitoras ................................................................................
245
Anexo 15
Protocolo de Análise da Entrevista Final com as professoras
248
Anexo 16
Protocolo de Análise dos Diários de Campo Registros
de
observações e relatos referentes ao P.O.C. ...........................
251
Anexo 17
Protocolo de Análise da Entrevista Inicial com as professoras
255
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1
Síntese das trajetórias profissionais e de formação das
participantes ........................................................................
59
Quadro 2 Registro da quantidade de diários de campo ......................
70
Quadro 3
Situações cotidianas e/ou elementos da realidade que
dificultam o acompanhamento e a promoção do
desenvolvimento das crianças, na visão da pesquisadora .
71
Quadro 4
Situações cotidianas e/ou elementos da realidade que
dificultam o acompanhamento e a promoção do
desenvolvimento das crianças, na visão das professoras ..
72
Quadro 5
Situações cotidianas e/ou elementos da realidade que
dificultam o acompanhamento e a promoção do
desenvolvimento das crianças, na visão das monitoras .....
73
LISTA DE ABREVIATURA
BM: Banco Mundial.
COR: Child Observation Record.
CIMEI: Centro Integrado Municipal de Educação Infantil
CEMEI: Centro Municipal de Educação Infantil.
ECA: Estatuto da Criança e do Adolescente.
EMEI: Escola Municipal de Educação Infantil.
FUNDEB: Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação
FUNDEF: Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de
Valorização do Magistério.
GEM: Grupo de Estudo de Monitores
INEP: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
NAED: Núcleo de Ação Educativa Descentralizada
LAMP: Laboratório de Avaliação e Medidas em Psicologia.
LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação
ONU: Organização das Nações Unidas.
P.O.C.: Prontuário de Observação da Criança.
SME: Secretaria Municipal de Educação
TDC: Trabalho Docente Coletivo
TDI: Trabalho Docente Individual
UNESCO: Organização das Ações Unidas para Educação, Ciência e Cultura.
UNICEF: Fundo das Nações Unidas para a Infância.
1
APRESENTAÇÃO
O presente trabalho se propõe a discutir uma proposta de intervenção que
visa acompanhar o desenvolvimento das crianças na Educação Infantil, nos seus
aspectos sociais, emocionais e cognitivos. Neste sentido, a pesquisa está
estruturada em quatro capítulos.
O capítulo I, referente à fundamentação teórica, está dividido em três eixos
de discussões. O primeiro eixo considera alguns aspectos importantes sobre a
Educação Infantil na conjuntura nacional, trazendo informações sobre a história da
Educação Infantil e a formação do educador associada à situação econômica e
política.
O segundo eixo apresenta alguns dos principais temas e teorias
pesquisados na Psicologia do Desenvolvimento, bem como a produção cientifica
da Psicologia do Desenvolvimento no Brasil. Além disso, será apresentada,
brevemente, uma reflexão acerca do desenvolvimento a partir das idéias de
Vigotski.
O terceiro eixo se propõe a discutir questões relativas à atuação do
psicólogo escolar, discutindo primeiramente a inserção da Psicologia na
Educação, seguida pela ação desse profissional na promoção do desenvolvimento
infantil. Também será apresentado um roteiro norteador de acompanhamento do
desenvolvimento, no caso, o Prontuário de Observação da Criança – POC.
O capítulo II, método, consiste em uma introdução sobre a metodologia
escolhida, seguida pela caracterização do contexto e cenário de pesquisa, no caso
a escola, os participantes, o material de coleta de dados, as fontes de informação
2
e o procedimento empregado, juntamente com as questões éticas concernentes à
realização de pesquisa envolvendo seres humanos.
No capítulo III são apresentados os resultados e a discussão, bem como
uma síntese de cada um dos resultados obtidos em cada objetivo da pesquisa.
Nesse momento, é explicado o procedimento utilizado para analisar os dados que
foram coletados.
No capítulo IV, são expostas as considerações finais. E, por último, são
apresentadas as referências bibliográficas e os anexos utilizados.
3
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
4
A minha inserção, no início de 2004, em uma instituição municipal de
Educação Infantil se deu por meio do projeto de extensão denominado “Vôo da
Águia prevenindo problemas sócio - emocionais e promovendo saúde”
1
, cujo
objetivo é promover o desenvolvimento emocional e social de crianças por meio
da intervenção preventiva, a qual discute com familiares e professores processos
educativos em diferentes contextos e situações do cotidiano.
Essa inserção possibilitou-me a vivência de uma infinidade de situações
com pais, crianças e educadores, que contribuíram para uma reflexão acerca da
dinâmica escolar de uma Educação Infantil. Ao fazer uma análise dialética das
políticas educacionais em nosso país com a realidade que vivenciei nessa
instituição, pude obter uma visão mais totalizadora desse contexto.
No entanto, antes de adentrar nesta questão, há a necessidade de se
contextualizar, mesmo que brevemente, a trajetória profissional da pesquisadora.
O meu primeiro contato com uma instituição escolar ocorreu no meu segundo ano
do curso de psicologia, quando trabalhava como voluntária em uma creche
localizada na periferia da cidade de São Luís. E, posteriormente, tive, também, a
experiência em trabalhar em uma instituição educacional particular que atendia
educandos da pré-escola até o ensino médio.
Durante essa minha experiência na graduação, senti a necessidade de
realizar um projeto de pesquisa acadêmica, no âmbito Stricto Sensu que
possibilitasse um maior aprofundamento sobre a formação e atuação do psicólogo
1
Essa proposta de intervenção nos contextos educativos encontra-se dentro de um projeto maior
conhecido como “Do Risco à Proteção: busca de indicadores para uma intervenção preventiva”,
desenvolvida pelo Laboratório de Avaliação e Medidas em Psicologia (LAMP) da PUC-Campinas,
coordenado pela Profª.Drª. Raquel Souza Lobo Guzzo.
5
escolar e o seu papel nas instituições educacionais e na sociedade. Assim, ao sair
da cidade de São Luís, escolhi a PUC-Campinas para dar início a essa
empreitada.
Ao adentrar na instituição PUC-Campinas, como aluna de mestrado, tive
contato com o projeto de extensão “Do Risco à Proteção: busca de indicadores
para uma intervenção preventiva”, desenvolvido pelo Laboratório de Avaliação e
Medidas em Psicologia (LAMP) e coordenado pela minha orientadora Profa. Dra.
Raquel Guzzo. Esse projeto contribuiu, significativamente, para entender que o
compromisso social, político e ético do psicólogo escolar na sociedade perpassa
por uma perspectiva preventiva de atuação.
Assim, na busca pela compreensão do papel do psicólogo escolar,
desenvolvi uma pesquisa de mestrado que visava a avaliar uma proposta de
intervenção preventiva em Psicologia no contexto educativo, denominado projeto
“Vôo da águia”, bem como a descrever as atividades realizadas pelo Psicólogo
Escolar que atua sob uma perspectiva preventiva.
Analisando os resultados encontrados na dissertação de mestrado percebi
que a perspectiva preventiva configura-se como uma das formas mais apropriadas
para se trabalhar em contextos marcados pela violência e pela desigualdade
social. Isso porque esta proposta teórica, ao considerar os aspectos sociais e
políticos que influem no comportamento do indivíduo, defende uma intervenção
direcionada aos grupos sociais, às instituições sociais, entre outros, visualizando
uma mudança social.
Entretanto, é importante considerar, conforme elucida Costa e Guzzo
(2006) que:
6
“promover a prevenção de situações de negligência e exclusão em
uma sociedade marcada pela desigualdade social, torna-se algo
desafiante para o psicólogo escolar e está além de suas ações dentro
da escola. É preciso uma mudança social e política no país para que
essa perspectiva possa ser concretizada em sua plenitude” (p. 11).
Dando continuidade à análise dos resultados considerados na pesquisa de
mestrado, ficou evidente que o psicólogo escolar que atua com um enfoque
preventivo precisa direcionar as suas intervenções ao grupo de educadores,
principalmente, quando se deseja promover o bem-estar e o desenvolvimento das
crianças.
Pensando nessa direção, de promoção do desenvolvimento infantil no
contexto escolar, ao iniciar o meu doutorado, visualizei duas linhas de frente na
escola, sendo elas: investigação e análise do contexto escolar – instituição e
comunidade; e participação nos espaços coletivos de formação dos educadores.
No que se refere à investigação e análise do contexto escolar, busquei
informações acerca da instituição e da comunidade escolar. De acordo com
Marinho-Araújo e Almeida (2005a), o mapeamento institucional serve como
subsídio para a compreensão do contexto de intervenção, na qual o psicólogo
escolar precisa investigar as propostas e as práticas pedagógicas, bem como
promover espaços de escuta clínica para conhecer as relações interpessoais
existentes na escola. E, além desse conhecimento institucional, conforme aponta
Martín-Baró (1997), a atuação do psicólogo deve ser definida de acordo com as
especificidades sociais e culturais da população com quem vai trabalhar, por isto,
7
a necessidade de se conhecer a comunidade escolar, no caso o contexto familiar
das crianças.
A respeito da segunda linha de frente, no caso a participação nos espaços
coletivos de formação dos educadores, se deu em virtude da necessidade de
acompanhar e discutir no coletivo os trabalhos desenvolvidos com as crianças,
revendo os procedimentos e realizando os encaminhamentos necessários (Costa,
2005).
Atuando, então, nessas duas linhas de frente, observei a partir de um
mapeamento institucional que, nessa escola, as propostas pedagógicas eram
divergentes das práticas utilizadas pelas educadoras. E, tendo como base,
conversa com pais e educadoras, observei que o contexto familiar das crianças
era marcado, em sua maioria, por situações de negligência, violência, ameaças,
entre outros fatores, que impediam seu bem-estar físico, psicológico e social.
Participando dos espaços coletivos dos educadores, ainda constatei, a
partir dos seus relatos, uma ausência de suporte pedagógico para a elaboração de
atividades direcionadas ao desenvolvimento das crianças. Verifiquei, também, que
os professores e ou monitores, ao serem questionados pelos pais ou pela
pesquisadora a respeito das crianças, focalizavam o seu discurso em idéias
generalizadas, sem propriedade para elucidar aspectos ou dimensões do
desenvolvimento em si.
As crianças eram caracterizadas de acordo com as educadoras como:
calmo, hiperativo, agressivo, “uma paixão”, “um amor”, “um terror”, mimado,
impulsivo, tímido, entre outros adjetivos, que pouco falava sobre a criança e, sim,
8
apenas sobre o comportamento da criança em sala de aula: o aluno que segue as
normas da educadora é “um amor”, o que não segue é ”um terror”.
Enfim, diante desse contexto, senti a necessidade de discutir uma proposta
metodológica de promoção e de acompanhamento do desenvolvimento infantil,
buscando um espaço de conversa com os educadores acerca do
desenvolvimento. Assim, optei por trabalhar com um “Prontuário de Observação
da Criança” P.O.C.
2
, que enfoca as seguintes dimensões do desenvolvimento:
iniciativa, relação social, representação criativa, música e movimento, linguagem e
literatura, e lógica e matemática.
No entanto, conforme havia considerado anteriormente, o psicólogo precisa
conhecer a população que irá atender para pensar nas estratégias de intervenção.
Portanto, utilizar esse prontuário como um meio para discutir uma proposta de
intervenção exige alguns cuidados como considerar o impacto do contexto familiar
da criança no seu desenvolvimento.
Além desse aspecto, o psicólogo deve possuir uma análise crítica sobre o
segmento educacional público do país e conhecer os Referenciais Curriculares
que norteiam a proposta pedagógica da Educação.
Ao discutir sobre a escola pública no Brasil, deparamo-nos com um serviço
educacional precário, que não atende a todas as demandas sociais, apesar de o
Estado ter a obrigação de oferecê-lo de forma gratuita e com qualidade. Segundo
Gentili & Alencar (2003), a escola pública encontra-se ameaçada em razão de
alguns fatores, tais como: políticas de ajuste e privatização promovidas pelos
2
Instrumento traduzido e adaptado pelo LAMP PUC Campinas do Original COR “Child
Observation Record”
9
governos neoliberais e a redução do gasto público nas áreas sociais dificultando a
qualidade do ensino.
As políticas do governo neoliberal caracterizam-se, entre outras
particularidades, pela redução dos gastos públicos e isso têm provocado uma
baixa qualidade no atendimento ao serviço prestado nas instituições públicas. De
acordo com Drewinski (2001), Füllgraf (2001) e Rosemberg (2002) a política
neoliberal nas instituições infantis acarretou várias consequências, dentre elas, a
baixa qualidade no serviço prestado profissionais sem formação específica e
materiais precarizados; falta de vagas; municipalização dessas instituições, e, por
fim, uma política de privatização para atender à demanda da população.
Pensando a respeito dos profissionais de Educação Infantil, dados
apresentados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais –
INEP (2007) revelam que a formação dos docentes da Educação Infantil encontra-
se distribuída da seguinte forma:
Na creche, 13% possuem o nível fundamental, 54,9% o ensino médio e
42,1% o ensino superior.
Na pré-escola, 1,3% possuem o nível fundamental, 47,5% o ensino médio e
51,1% o ensino superior.
Com base nesses dados fica comprovada que a maioria dos professores
não possui o ensino superior e, portanto, são carentes de uma formação
específica para trabalhar com crianças da Educação Infantil.
Em acréscimo a tal situação, de acordo com Tessaro e Guzzo (2004), os
professores têm dificuldade para atender, principalmente, os alunos da escola
pública, por não receberem uma preparação devida para enfrentar a realidade
10
escolar. Muitos professores continuam sendo formados para atuar com uma
população homogênea, desconsiderando as diferenças individuais, sociais,
culturais e econômicas.
Constatando a dificuldade das educadoras nessa escola em acompanhar e
em discutir o processo de desenvolvimento de crianças pré-escolares, pensei em
desenvolver uma estratégia de intervenção que possibilitasse ao educador
acompanhar o desenvolvimento de seu aluno e discutir com pais e responsáveis
sobre o progresso da criança na escola, baseando-se em fundamentos científicos
e saindo do âmbito do senso comum.
Além disso, almejava que as educadoras pudessem perceber a importância
dessa ação, e com isso, modificar e/ou construir atividades pedagógicas
direcionadas às necessidades das crianças.
Com base no que foi exposto, o presente trabalho
3
busca compreender
como educadores da Educação Infantil acompanham o desenvolvimento das
crianças. E mais do que isso, discutir com os educadores a importância de
desenvolver uma metodologia de trabalho que busca acompanhar o
desenvolvimento das crianças, utilizando como referência um prontuário de
acompanhamento
3
Este trabalho encontra-se dentro do grupo de pesquisa intitulado Avaliação e Intervenção
Psicossocial: prevenção, comunidade e libertação” liderado pela Prof.ªDr.ª Raquel Guzzo, mais
precisamente nas linhas de pesquisa “Instrumentos e Processos em Avaliação Psicológica e
prevenção” e “Prevenção e Intervenção Psicológica”, que buscam, respectivamente, pesquisar
aspectos teóricos e práticos que visam à construção, à adaptação e ao uso de instrumentos e
procedimentos de avaliação psicológica, bem como ao estudo
dos processos psicossociais, do
desenvolvimento, do acompanhamento e da avaliação de programas preventivos e de intervenção
em contextos comunitários e educativos.
11
Em síntese, acredito que esta pesquisa é uma continuidade das ideias e
sugestões propostas na minha dissertação de mestrado que evidencia a
necessidade do psicólogo escolar buscar uma atuação mais consistente com a
equipe docente, sendo capaz de aplicar e compartilhar os conhecimentos da
Psicologia e discutir o desenvolvimento das crianças atrelando-o ao seu contexto
de vida.
Assim, a elaboração deste trabalho possui sua importância por propor uma
estratégia de intervenção do psicólogo escolar que possa vir a auxiliar a formação
dos professores no que tange ao processo de desenvolvimento infantil. Além
disso, pode contribuir para a elaboração de ações que visam à promoção e ao
acompanhamento do desenvolvimento das crianças no contexto educativo de
forma objetiva e sistematizada.
Decorrente de tais considerações, a pesquisa será estruturada em três
eixos de discussão: Educação Infantil, Psicologia do Desenvolvimento e o
Psicólogo Escolar na Educação Infantil.
12
CAPÍTULO 1
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
13
1.1. Educação Infantil
Este eixo teórico procura apresentar um panorama a respeito da Educação
Infantil na conjuntura nacional. Para isso, serão indicadas, primeiramente, as
influências da UNESCO, do UNICEF e do Banco Mundial na Educação Infantil no
Brasil, bem como os debates acerca das deliberações legais feitas pela
Constituição de 1988 e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996. No
segundo momento, serão apresentadas algumas particularidades presentes nas
instituições blicas de Educação Infantil inseridas no contexto neoliberal. E, por
fim, no terceiro momento, será discutido o papel da Educação Infantil na promoção
do desenvolvimento das crianças.
1.1.2. A história e o modelo institucional de Educação Infantil na conjuntura
nacional
Ao fazer um estudo histórico sobre as instituições de Educação Infantil,
Rosemberg (2002) considera que, até o final da década de 60, os países
desenvolvidos e subdesenvolvidos adotavam, cada um com suas particularidades,
dois modelos de instituição: creche e jardim-de-infância.
Kuhlmann Jr. (2004), ao estudar sobre as creches e jardins-de-infância,
assinala algumas diferenciações e, dentre elas, pode-se citar, amplamente, que as
creches tinham uma vertente assistencialista direcionada à população pobre e os
jardins-de-infância utilizavam-se de uma vertente pedagógica para atrair as
famílias abastadas.
14
O modelo de instituição de Educação Infantil creche e pré-escola era
relativamente comum nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos até o final da
década de 60. Com a entrada das políticas de desenvolvimento econômico e
social na Educação Infantil, preconizada pelos organismos vinculados à ONU,
como o UNICEF e a UNESCO, ocorre uma diferença desse modelo entre os
países. Isso porque, nos países desenvolvidos, de modo geral, a expansão da
Educação Infantil se deu com qualidade em decorrência de diferentes orientações
econômicas, políticas e culturais. Nos países subdesenvolvidos, a ampliação dos
atendimentos deu-se com baixo custo, acarretando uma “educação para a
subalternidade”
4
(Rosemberg, 2002).
Ainda segundo essa autora, as razões para essa diferença se deram
porque as propostas de modelos elaborados e divulgados pela Unesco e Unicef
para os países subdesenvolvidos possuíam as seguintes características:
A expansão da Educação Infantil é vista como instrumento de
combate à pobreza (principalmente à desnutrição) e como
preparação para a entrada no ensino fundamental;
Essa expansão deve ser realizada por meio de modelos que
minimizem investimentos públicos, dada a prioridade no ensino
fundamental;
Para reduzir os investimentos públicos, os programas devem buscar
recursos humanos e locais disponíveis junto à comunidade, criando
programas denominados “não formais”, “alternativos” e “não
institucionais”.
4
As aspas foram utilizadas para identificar a escrita da autora Rosemberg (2002).
15
No governo de Fernando Henrique Cardoso, em 1994, aconteceu a
implantação definitiva do modelo neoliberal, tendo como uma de suas medidas a
incorporação das diretrizes do Banco Mundial (BM) no plano das políticas
educacionais. As influências do BM na Educação Infantil brasileira atingiram dois
eixos complementares: o da reforma educacional geral, que prioriza o Ensino
Fundamental
5
e a retomada da proposta de programas “não formais” com baixo
investimento público na Educação Infantil para crianças pobres
6
. Nesse sentido, a
reforma educacional no governo FHC procurou adequar as políticas educacionais
às políticas de desenvolvimento econômico mundial (Rosemberg, 2002).
De acordo com Guzzo e Euzébios Filho (2005), a lógica da mercantilização
do ensino favorece o fortalecimento do sistema privado e a desvalorização do
ensino público, o que contribui para aprofundar a desigualdade social e a crise no
sistema educacional brasileiro.
Dando continuidade a essa linha de pensamento, o baixo financiamento
público na Educação Infantil, que segue a lógica do mercado defendida pelo BM,
contribui para a exclusão e a desigualdade social, pois impede a concretização
dos direitos das crianças atribuídos na Constituição de 88, no Estatuto da Criança
e do Adolescente – ECA de 90 e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB
de 96. Isso acontece apesar de:
5
De acordo com uma análise economicista, o BM estabeleceu a prioridade no Ensino
Fundamental, porque as taxas de retorno do investimento público nesse segmento educacional
seriam maiores que em outros níveis de ensino. A criação do FUNDEF, em dezembro de 1996, é a
tradução mais direta e concreta da priorização do Ensino Fundamental (Rosemberg, 2002).
6
O BM recupera os objetivos propostos pela UNESCO e UNICEF nos anos 70, que defendem
programas de baixo custo para as EIs direcionadas às populações pobres (Rosemberg, 2002).
16
a Constituição de 1988 atribui a toda criança de 0 a 6 anos o direito a
creche e a pré-escola. Entretanto, não existem vagas suficientes
para atender a toda essa demanda, tornando-se um sistema
excludente;
o ECA foi criado em 1990 para defender os direitos da criança e do
adolescente, porém não pode ser implantado na prática pela
desigualdade social que deixa marcas de violência e exclusão;
a LDB de 1996 considera a Educação Infantil como parte da
Educação Básica, no entanto a EI não recebe recursos financeiros
necessários para sua viabilização, o que induz à privatização e a um
modelo público de baixa qualidade, desrespeitando o direito da
criança de ter uma educação gratuita de qualidade.
Com base nisso, observa-se que os direitos das crianças encontram-se
apenas no papel, pois, apesar de instituídos e legalizados não são garantidos na
prática. O governo reconhece a criança como sujeito de direito, mas não viabiliza
recursos financeiros necessários para o setor da educação responsável pelo
atendimento de crianças de 0 a 6 anos. Isso é concretamente confirmado com a
emenda 14/96 que instituiu ao município a responsabilidade com a Educação
Infantil sem, contudo, prover recursos para mantê-las.
Após essa breve exposição acerca da influência das políticas neoliberais na
Educação Infantil no Brasil, serão discutidos os efeitos dessa política no cotidiano
desse segmento educacional.
17
1.1.2. Educação Infantil no contexto das políticas neoliberais
A situação das instituições de Educação Infantil no Brasil é um reflexo da
política econômica que se desenvolve no país, que prevê a redução de gastos
públicos para o setor educacional. Diante do pouco investimento financeiro
destinado à Educação Infantil brasileira, depararamo-nos com uma instituição
educacional caracterizada, entre outras particularidades, por apresentar
professores e monitores, em sua maioria, sem formação específica para trabalhar
nesse segmento; e por não oferecer vagas suficientes para atender a todas as
crianças (Drewinski, 2001; Füllgraf, 2001; Rosemberg, 2002).
No que se refere à formação deficitária dos educadores, isso é confirmado
quando analisamos as exigências mínimas nos primeiros concursos públicos
destinados à contratação de profissionais para esse segmento educacional. De
acordo com Kishimoto (1999), os concursos públicos iniciais direcionados aos
profissionais de Educação Infantil, exigiam para os professores da pré-escola o
antigo magistério e, para o monitor de creche, apenas o ensino fundamental
7
.
Essa situação teve uma grande mudança quando foi aprovado, nas novas
diretrizes da LDB em 1996, que somente seriam admitidos professores habilitados
em nível superior ou formados por treinamentos em serviço. Além disso, as
instituições de ensino passaram a ser responsáveis pela formação dos
professores que já trabalhavam na Educação Infantil sem a formação exigida,
7
No município de Campinas, a lei 6.767, de 20 de novembro de 1991, instituiu como requisito
mínimo para exercer o cargo de monitor o 1º grau completo e para o professor o ensino médio com
habilitação para o magistério.
18
estipulando-se um prazo de até 10 anos, a partir da promulgação dessa lei, para
que essa exigência fosse cumprida.
Percebe-se a presença de uma preocupação em formar os professores da
Educação Infantil, mas não houve um movimento que exigisse dos monitores ou
auxiliares de sala uma formação qualificada para trabalhar com as crianças dessa
instituição. E isso é expresso concretamente nos concursos públicos em que as
exigências de formação para os dois cargos são diferentes. Em geral, exige-se
apenas o ensino médio para o monitor ou auxiliar de classe.
Atualmente, devido à falta de emprego, houve uma mudança na
configuração com relação à entrada de monitores. De acordo com Alvares (2009)
o processo seletivo para contratação de monitores de Educação Infantil de
Campinas, ocorrido no ano de 2007, aprovou um número elevado de pessoas com
curso superior em áreas de conhecimento diferentes daquelas de pedagogia,
que estas não eram requisitos obrigatórios para a aprovação.
E mesmo com a entrada de pessoas formadas ou fazendo o curso superior
a qualidade no atendimento destinado às crianças de zero a seis anos não foi
modificada, tendo em vista que esses novos funcionários não tinham experiência
na área.
A respeito da falta de vagas, o município por não dispor de vagas
suficientes para atender à população, utiliza-se de um critério de seleção para a
entrada de crianças nessas instituições. Füllgraf (2001), ao analisar os critérios de
seleção utilizados para matrículas pelas Secretarias Municipais de Educação
(SMEs), considera-os seletivos e excludentes, pois colocam ordem de prioridades.
Em geral, é selecionada a criança cuja família tenha a menor renda e cujos pais
19
tenham vínculo de trabalho, violando o direito universal das crianças à Educação
Infantil.
Manter esse critério de seleção em um país onde um grande índice de
desemprego vem a piorar o problema social. Os pais desempregados e
empobrecidos, por não terem com quem deixar os seus filhos, levam-nos consigo
para a rua, tornando-os vulneráveis ao trabalho precoce, à prostituição e à
violência (Drewinski, 2001).
A lista de espera na Educação Infantil denuncia esse sistema excludente.
Füllgraf (2001), com o objetivo de dar voz às famílias na lista de espera, reforça
em sua pesquisa que são as crianças de famílias mais pobres as que têm menos
chance de acesso à Educação Infantil na rede pública. Além disso, considera que
os mecanismos e alternativas encontradas pelas famílias excluídas do
atendimento público têm sido as instituições não regulamentadas, como “creches
domiciliares” ou a busca do direito por meio de “mecanismos legais em ação”, que
se dá pela luta individual ou coletiva.
Essa busca por mecanismos legais pelas famílias é confirmada na pesquisa
realizada por Souza, Teixeira e Silva (2003). Ao analisarem 374 prontuários em
um dos 42 conselhos tutelares da capital paulista, as autoras constataram que
dentre as demandas escolares, a que se destaca é a solicitação de matrícula no
ensino fundamental e na creche, feita pelos usuários da escola.
A baixa qualidade no atendimento prestado ás crianças de 0 a 6 anos nas
instituições públicas de Educação Infantil configura-se como uma violência
institucional. Segundo Santos e Ferriani (2009), a falta de acesso aos serviços
necessários, a falta de qualidade ou inadequação do atendimento representam
20
mais uma agressão à pessoa que busca assistência para os diversos tipos de
necessidades, e esse tipo de situação é tão perversa, quanto qualquer outra
modalidade de violência. Nesse caso, deve-se ficar atento à violência
institucional, porque as pessoas estão vulneráveis aos seus efeitos.
As autoras ainda enfatizam que a violência institucional em uma escola que
cuida de crianças de zero a seis anos é ainda mais preocupante e, nesse caso, é
inaceitável, criminosa e passível de punição, pois, esse tipo de instituição agrega
um grande número de crianças em faixa etária de grande dependência dos
adultos.
Enfim, a deficiência no atendimento e na organização das creches e pré-
escolas é algo que merece uma atenção especial, principalmente, por se
configurar como uma situação de risco para a promoção do bem-estar físico,
psicológico e social das crianças.
1.1.3. A Educação Pública Infantil e o Desenvolvimento.
A escolha em discutir neste tópico, exclusivamente, a responsabilidade das
instituições públicas de Educação Infantil com a promoção do desenvolvimento,
deve-se ao fato de que, segundo os dados do IBGE (2003), a Pesquisa Nacional
de Amostra Domiciliar (PNDA) afirma que dos 37,7% do total de crianças que
frequentam a Educação Infantil no Brasil, 72% deste atendimento se na rede
pública. Essa informação justifica a necessidade de focalizarmos as nossas
intervenções onde se encontra o maior número de crianças.
21
Diante da análise, mesmo que brevemente, sobre o impacto das políticas
neoliberais nesse segmento educacional, percebe-se que promover ações
direcionadas às necessidades das crianças é um grande desafio ao profissional de
escola pública. Isso porque fica evidente que essa ação exige, além de um
planejamento de atividades pedagógicas, uma mudança política.
Os governos, com o objetivo de tentar modificar o quadro decadente que
vem se configurando a Educação Infantil, tem elaborado políticas educacionais
que visam a modificar a situação. No entanto, segundo Drewinski (2001), as
políticas instituídas pelo Governo Federal nem sempre correspondem às reais
necessidades da população, atendendo-as apenas parcialmente, o que contribui
para o aumento da desigualdade, exclusão e marginalidade.
É importante ter claro que o papel das políticas educacionais na atual
conjuntura tem um discurso de melhorias na qualidade do atendimento que visam
ao bem-estar físico, psicológico e social das crianças, mas que não podem ser
efetivas por razões concretas. Para exemplificar o que vem sendo afirmado, será
demonstrado como as Leis, em sua maioria, não alteram a configuração da
Educação Infantil, apenas tentam camuflar a realidade.
A LDB de 96, tendo como base a Constituição de 1988 e o ECA de 1990
reconhece como direito da criança o acesso à Educação Infantil e proclama que
as instituições de educação infantil farão parte da Educação Básica. Esses
objetivos trouxeram consigo várias implicações, entre elas, pode-se citar a
passagem dessas instituições da Secretaria de Assistência Social para a
Secretaria da Educação, trazendo, assim, a preocupação em integrar o cuidar e o
22
educar nesse sistema educacional, bem como a reformulação a respeito da
formação do profissional de educação infantil.
A Educação Infantil, de acordo com a LDB de 96, “tem como finalidade o
desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos
físicos, psicológico, intelectual e social, complementando o papel da família e da
comunidade” (art. 29). Para efetivar o que é expresso nessa Lei, há a necessidade
de se contratar profissionais qualificados para atenderem a esse objetivo. No
entanto, é sabido que nas instituições de Educação Infantil, os profissionais,
principalmente monitores, não possuem uma formação qualificada e específica
para trabalhar com essas crianças
8
. Além disso, uma carência de profissionais
especializados, como psicólogos, assistentes sociais, entre outros, que poderiam
contribuir para a efetivação dessa proposta elucidada na LDB
9
.
Dando continuidade ao aspecto referente à formação dos professores e dos
monitores, segundo Cerisara, (1999) a diferenciação legitimada nos concursos
públicos contribui para a dicotomia de papéis entre esses profissionais. A
exigência de uma formação específica para o professor e outra para o monitor
ocasiona, respectivamente, a divisão do educar e do cuidar. Essa divisão impede
a elaboração de atividades em conjunto que busquem o desenvolvimento integral
da criança, comprometendo o seu progresso dentro da escola.
8
De acordo com o Censo Escolar do MEC (2005) a formação dos docentes na Educação Infantil
encontra-se distribuída da seguinte forma: Na Creche 1,5% possuem o Fundamental incompleto,
4,5% o Fundamental completo, 65% o Ensino Médio e 29% o Superior completo; Na Pré-escola
0,4% possuem o Fundamental incompleto, 2% o Fundamental completo, 57,6% o Ensino Médio e
40% o Superior completo.
9
Foi elaborado em 2007 um projeto de Lei de Inserção do Psicólogo e do Assistente na rede de
ensino.
23
Enquanto a Educação Infantil tiver uma concepção fragmentada sobre o
desenvolvimento infantil e uma relação conflituosa entre os profissionais
(professores e monitores), será difícil romper com a separação, ainda existente,
entre o cuidar e o educar, nas instituições que atendem crianças de zero a seis
anos
10
.
Ainda pensando sobre o desenvolvimento na Educação Infantil, é de
fundamental importância elucidar a questão do número de crianças por educador.
Segundo Santos & Ferriani (2009), a relação número de criança por educador tem
sido apontada, em vários estudos, como um problema que dificulta o alcance do
objetivo concreto da Educação Infantil.
O fato de não existir um número suficiente de instituições públicas para
atenderem crianças de zero a seis faz com que esse segmento educacional tenha
que trabalhar com uma demanda acima de sua capacidade, isto é, aumenta-se o
número de funcionários, no caso monitores, para receber mais crianças
11
.
Observa-se que uma das medidas tomadas pelo governo para diminuir a lista de
espera na Educação Infantil ocorre por meio da precarização do serviço prestado,
contratando o maior número de profissionais sem formação específica para
trabalhar com esta faixa etária.
É importante considerar que outra medida adotada pelo governo para
diminuir a lista de espera foi a implantação da política de “agrupamento ou salas
10
Alguns trabalhos que discutem o cuidar e o educar na Educação Infantil: Cerisara (1999),
Kulhmann Jr. (2004), Azevedo e Schnetzler (2005), entre outros.
11
De acordo com o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (Volume I) há um
número X de criança para cada adulto: até os 12 meses, é aconselhável não ter mais de 6 crianças
por adulto; do primeiro ao segundo ano de vida, aconselha-se não mais do que 8 crianças para
cada adulto; entre 3 e 6 anos, não pode ultrapassar 25 crianças por professor. A exigência de um
24
multietárias infantis”
12
, em 2003, reunindo crianças de várias idades em uma
mesma turma, dividindo a Educação Infantil por agrupamentos: Agrupamento I,
Agrupamento II e Agrupamento III.
Pensado acerca do desenvolvimento infantil no contexto escolar, o
agrupamento possibilita a interação de pares com diferentes idades, e isso
oportuniza a criança vivenciar diferentes tipos de interações, bem como se
deparar com diversos desafios. Esse tipo de situação é importante para o
desenvolvimento da criança quando a analisamos sob o enfoque da Zona de
Desenvolvimento Proximal de Vigotski, entendida por Rego (2003), como:
“A distância entre aquilo que a criança é capaz de fazer de forma autônoma
(nível de desenvolvimento real) e aquilo que a criança é capaz de realizar em
colaboração com os outros elementos de seu grupo social (nível de
desenvolvimento potencial)” (p. 73)
Percebe-se, diante do exposto, que a criança, ao interagir com pares de
diferentes faixas etárias, aprenderá e se desenvolverá. Para Vigotski, de acordo
com Rego (2003), o aprendizado é considerado um aspecto fundamental para o
processo do desenvolvimento.
Apesar dos benefícios que o agrupamento pode possibilitar às crianças,
essa proposta política na Educação Pública Infantil no Brasil precisa ser analisada
criticamente, já que, essas instituições são caracterizadas por possuírem um
elevado número de crianças por educador; precárias condições físicas e falta de
adulto, nas idades iniciais e não, necessariamente, de um professor, possibilita que se contratem
monitores para aumentar o
número de crianças em salas de aula sem muito custo.
12
Resolução nº. 23/2002.
25
materiais adequados; e um grande número de profissionais sem preparo para
trabalhar nestas condições.
Enfim, essas particularidades consideradas anteriormente dificultam a
utilização do agrupamento como espaço de aprendizagem e de desenvolvimento,
porque as salas de aula sem uma boa estrutura física e com um elevado número
de crianças tornam-se ambientes estressores.
Finalizo este tópico ressaltando que, em vez de apresentar uma revisão da
literatura que discuta a relação da escola com o desenvolvimento das crianças,
escolhi pontuar algumas questões que nortearam a minha compreensão sobre
esse assunto. Dessa forma, organizei uma linha de pensamento que me serviu de
sustentação para pensar a prática em contextos públicos educativos.
26
1.2. Psicologia do Desenvolvimento
A proposta deste eixo teórico é apresentar um panorama a respeito da
Psicologia do Desenvolvimento. Para isso, serão apresentados, primeiramente, os
principais temas estudados na Psicologia do Desenvolvimento. No segundo
momento alguns aspectos importantes com relação à Psicologia do
Desenvolvimento no Brasil e, por fim, num terceiro pico, será discutido,
brevemente, o desenvolvimento a partir das ideias de Vigotski.
1.2.1. Principais temas e teorias estudadas na Psicologia do Desenvolvimento.
Com o objetivo de elucidar os principais temas, teorias e tipo de pesquisa
estudada na Psicologia do Desenvolvimento, este item será baseado no primeiro
capítulo
13
da obra “A Century of Developmental Psychology” de Parke, Ornstein,
Rieser e Zahn-Waxler (1994). Esses autores fizeram uma revisão aprofundada
sobre a trajetória da Psicologia do Desenvolvimento em âmbito internacional num
período de um século. Com base em suas investigações, eles defendem a ideia
de que a Psicologia do Desenvolvimento contemporânea tem mais em comum
com os temas pesquisados na virada do século do que com o passado mais
recente, no caso, a década de 50 e 60.
Os referidos autores, com o intuito de sustentar essa ideia, dividem o tempo
em três períodos cem anos atrás (1890), década de 50 e 60 e período
13
O tulo do capítulo é “The past as prologue: an overview of a century of developmntal
psychology” (Parke e colaboradores, 1994).
27
contemporâneo (1990) e, em seguida, fazem uma investigação e uma análise dos
principais temas estudados em cada um desses períodos na Psicologia do
Desenvolvimento.
Com relação aos principais temas estudados cem anos atrás (1890), a
Psicologia do Desenvolvimento preocupava-se com os seguintes estudos:
desenvolvimento emocional, tendo como principais teóricos Darwin e Freud; bases
biológicas do comportamento focalizado em duas áreas de interesse: relação
entre evolução e desenvolvimento e a relação entre inato e aprendido;
desenvolvimento cognitivo tendo como principais teóricos Baldwin e Binet;
diferença entre processos conscientes e inconscientes, com Binet e Freud; e papel
do self no desenvolvimento com as idéias de Baldwin e dos sociólogos Cooley e
Mead.
Nas décadas de 50 e 60, Parke e colaboradores (1994) constataram uma
mudança de interesse nos temas estudados. Nesse período com a forte presença
da teoria da aprendizagem na Psicologia, os estudos cognitivos, como linguagem,
comportamento, percepção e sensação tornaram-se focos na Psicologia do
Desenvolvimento. Os estudos dessa época foram confinados e contraídos pela
orientação de aprendizagem tradicional S – R (estímulo e resposta) da época.
Na época contemporânea (1990) os principais temas mais estudados são:
as bases biológicas do comportamento; o desenvolvimento emocional; o
relacionamento social; o desenvolvimento cognitivo e a descoberta do precoce
(crianças pequenas).
Para melhor visualizar os temas estudados nesses três períodos observe a
tabela 1 a seguir:
28
Tabela 1
Temas principais em Psicologia do Desenvolvimento
14
Há cem anos atrás Período de 1950/1960 Período contemporâneo (1990)
Desenvolvimento emocional Desenvolvimento emocional
Comportamento
Base biológica do comportamento Base biológica do comportamento
Linguagem
Desenvolvimento cognitivo Desenvolvimento cognitivo
Percepção
Diferença entre processos
conscientes e inconscientes
Sensação
O papel do self no desenvolvimento
humano
Relacionamento social
Descoberta do precoce (criança)
Fonte: Parke et al (1994)
Após essa breve exposição sobre os temas mais estudados na Psicologia
do Desenvolvimento nos três períodos investigados nas obras de Parker e
colaboradores (1994), será exposto, no tópico a seguir, a produção da Psicologia
do Desenvolvimento no Brasil, com base em alguns trabalhados de pesquisadores
na área.
14
Pensada a partir da tabela elaborada por Biaggio e Monteiro (1998).
29
1.2.2. A produção científica da Psicologia do Desenvolvimento no Brasil.
No Brasil, alguns marcos históricos visualizam o crescimento da Psicologia
do Desenvolvimento. O Primeiro Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia
do Desenvolvimento em 1996 e a criação da Sociedade Brasileira de Psicologia
do Desenvolvimento (ABPD), em 1996, foram acontecimentos que demonstraram
a existência de uma quantidade significativa de pesquisadores na área, o que
revela a preocupação desses estudiosos em construir um conhecimento nessa
área a partir da realidade brasileira.
Com a finalidade de conhecer as produções científicas na área da
Psicologia do Desenvolvimento no Brasil, foram analisados alguns trabalhos
15
que
buscaram analisar, entre outros aspectos, os principais temas estudados, as
teorias mais utilizadas, os tipos de pesquisa, os setores de aplicação, autoria dos
artigos, produções bibliográficas dos líderes e a relevância social.
Com relação aos temas mais pesquisados, Biaggio e Monteiro (1998),
consideram que na década de 80, a Psicologia do Desenvolvimento no Brasil tem
sido marcada, em termos gerais, pelos seguintes estudos: desenvolvimento
emocional, bases biológicas do comportamento, desenvolvimento cognitivo e
relações sociais. Esse último tem sido um dos tópicos de grande interesse.
A respeito das teorias mais utilizadas para se estudar o desenvolvimento,
destacam-se as obras de L. S. Vigotski (Biaggio e Monteiro, 1998) e o modelo de
Rede de Significações de Maria Clotilde T. Rosseti-Ferreira (Seidl, Fernandes e
Pessoa, 2005).
15
As produções analisadas foram: Biaggio e Monteiro (1998); Souza, Gauer e Hutz (2004); Seidl
de Moura, Fernandes e Pessôa (2005), Marturano (2006) e Costa e Guzzo (2009).
30
No que se refere aos tipos de pesquisa, prevalece as pesquisas empíricas
em detrimento dos textos teóricos, e a análise dos dados é feita, em sua maioria,
por meio de técnicas inferenciais e descritivas. Analisando as referências
utilizadas, foi constatado um número significativo de bibliografias recentes,
prevalecendo os artigos e depois os livros e teses (Souza, Gauer e Hutz, 2004). É
importante mencionar, nesse item, que apesar de existir publicações
internacionais, a psicologia do desenvolvimento realizada no Brasil ainda o tem
uma visibilidade internacional compatível com a qualidade do que é produzido por
muitos de seus grupos de pesquisa (Seidl, Fernandes e Pessôa, 2005).
Acerca dos setores de aplicação, verificou-se uma atenção especial à área
da educação e da saúde (Costa e Guzzo, 2009). Na área da saúde prevalece o
interesse pela prevenção e promoção (Seidl, Fernandes e Pessôa, 2005). Os
contextos de desenvolvimento como a escola, a família e a rua têm sido temas de
destaque (Costa e Guzzo, 2009).
A respeito da autoria dos artigos, a maioria das produções é coletiva,
predominando as parcerias locais com relação às parcerias nacionais ou
internacionais (Souza, Gauer e Hutz, 2004). É importante considerar uma
tendência positiva de maior articulação dos pesquisadores de diferentes
Instituições de Educação Superior e regiões do país (Seidl, Fernandes e Pessôa,
2005).
A relevância social tem sido uma das preocupações nessa área. Tem-se
preocupado com a aplicação, a relevância e a contribuição para os problemas
sociais (Biaggio e Monteiro, 1998). É notória a inclinação dos pesquisadores do
desenvolvimento para os estudos referentes às questões sociais, aos grupos de
31
risco e prevenção, visualizando uma aplicação prática (Marturano, 2006). Essa
tendência pode ser observada ao analisarmos alguns grupos de pesquisa no
Brasil
16
, que têm promovido ações e debates sobre os problemas sociais e
desenvolvido projetos com a população menos favorecida.
Sobre a produção bibliografia dos líderes, a prevalência de resumos
publicados em anais (39%) e trabalhos apresentados (31%), seguida de trabalhos
em anais de congresso (6,4%) e resumo expandidos em anais de congresso
(3,3%). Os artigos publicados correspondem a 11%; capítulo de livros a 5,4%; e
livros publicados/organizados ou edições, a 2,5% (Costa e Guzzo, 2009).
As contribuições aqui apresentadas por esses pesquisadores ajudaram a
entender o processo de construção da Psicologia do Desenvolvimento no nosso
país. Após esse breve panorama, no próximo tópico será discutido, brevemente, o
desenvolvimento a partir das teorias de Vigotski, com o intuito de oferecer
contribuições à prática do psicólogo que pretende implantar metodologias de
acompanhamento do desenvolvimento no contexto escolar.
16
Desenvolvimento Social da UFRGS (Cláudio Hutz); Desenvolvimento Humano em Situações de
Risco Social e Pessoal da UFRGS (Silvia Koller); Risco à Proteção: intervenção preventiva na
comunidade da PUC-CAMP (Raquel Guzzo); Núcleo de Pesquisa sobre Infância e Contextos
Culturais da UFBA (Eulina Lordelo e Ana Cecília Bastos); Educação e Desenvolvimento
Psicológico de Populações em Situação de Risco da FURG (Maria Ângela Yunes); Centro de
Investigação sobre Desenvolvimento Humano e Educação Infantil - CINDEDI da USP (Maria
Rossetti Ferreira e Mara Carvalho); Avaliação e Intervenção Psicossocial: prevenção, comunidade
e Libertação da PUC-CAMP (Raquel Guzzo) e Contextos Sociais de Desenvolvimento: aspectos
evolutivos e culturais da USP (Maria Silva Leme e Lívia Simão).
32
1.2.3. Pensando o desenvolvimento a partir das ideias de Vigotski.
O conceito de desenvolvimento será entendido sob uma perspectiva social
com base nas ideias de Vigotski. Deve-se mencionar que não se tem a pretensão
de analisar, profundamente, os conceitos desse teórico, mas trazer alguns
elementos que possam subsidiar uma reflexão sobre o tema proposto. Assim,
diante da diversidade de conceitos trabalhados por Vigotski, a discussão será
centrada na teoria de Zona de Desenvolvimento Proximal, conceituada como:
“É a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar
através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento
potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um
adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes” (Vigotski
1934/2007, p. 97).
Rego (2003) explica essa definição da seguinte forma. O desenvolvimento
real seria todas as conquistas consolidadas pela criança, isto é, todas as funções
ou capacidades que aprendeu e domina, como por exemplo: andar de bicicleta,
cortar com a tesoura, amarrar o sapato, resolver alguns problemas matemáticos,
entre outros. O desenvolvimento potencial refere-se àquilo que a criança é capaz
de fazer, mas com a ajuda de outra pessoa. Nesse caso, a criança resolve algo
por meio do diálogo, da colaboração, da imitação e de experiências
compartilhadas, como por exemplo: a criança, no primeiro momento, pode precisar
da ajuda de outro para montar um quebra-cabeça.
33
Nessa perspectiva, pode-se observar o papel que o Vigotski direciona à
aprendizagem no processo de desenvolvimento. De acordo com Newman e
Holzman (2002), Vigotski “não via a aprendizagem e o desenvolvimento nem
como um processo único e nem como processos independentes, mas em
complexa inter-relação” (p.76).
Para Vigotski a aprendizagem é um aspecto necessário e fundamental para
o processo de desenvolvimento, pois é o aprendizado o responsável pela Zona de
Desenvolvimento Proximal. É a aprendizagem que irá orientar e estimular o
processo de desenvolvimento (Rego, 2003).
Trabalhando essa definição, percebe-se a importância das relações
interpessoais das crianças com seus pares e adultos no contexto escolar. Nesse
sentido, para acompanhar o desenvolvimento humano, faz-se necessário
conhecer o contexto em que a criança está inserida e compreender as mútuas
relações estabelecidas nesse contexto, com o intuito de promover condições
favoráveis para o desenvolvimento (Costa, 2005).
Além disso, ao acompanhar e avaliar o desenvolvimento, não se deve fixar
somente no desenvolvimento real, naquilo que a criança é capaz de fazer sem a
ajuda do outro, mas também no desenvolvimento potencial ou, como o nome
diz, considerar o que a criança tem de potencialidade. Por isso, a utilização de
estratégias de intervenções que possibilitem a visualização do progresso da
criança é o mais indicado do que aqueles que buscam resultados permanentes.
34
1.3. O Psicólogo Escolar e a promoção do desenvolvimento infantil.
Este eixo teórico se propõe a discutir questões relativas à atuação do
psicólogo escolar, o qual utiliza algumas estratégias de intervenção para
acompanhar o desenvolvimento de crianças nas instituições de educação. Assim,
são apresentados, primeiramente, um pouco da história de inserção da Psicologia
na Educação, bem como os limites e desafios que estão colocados para o
psicólogo escolar. No segundo momento são apresentadas algumas reflexões que
podem auxiliar o psicólogo escolar na elaboração de ações que promovam o
desenvolvimento infantil no contexto escolar e, por fim, um terceiro tópico é
destinado à apresentação de um Prontuário de Observação da Criança P.O.C.
que visa o acompanhamento das crianças.
1.3.1. Breve história da inserção da Psicologia na Educação
Traçar um panorama histórico sobre a Psicologia na Educação é uma tarefa
bastante complexa, e, por conta disso, optou-se por dividir a história dessa
inserção em três fases. A primeira fase refere-se aos anos de 1930 a 1962, a
segunda fase diz respeito ao período de 1962 a 1990 e, por último, a terceira fase
começaria de 1990 até os dias atuais.
Na primeira fase de 1830 a 1962, a Psicologia entra na Educação como
disciplina para formar professores nas escolas normais (antigo magistério) e,
posteriormente, entra nos currículos universitários do curso de pedagogia. Nessa
fase houve um grande desenvolvimento de estudos e pesquisas nas grandes
35
áreas de conhecimento ligadas ao ensino, ao desenvolvimento infantil e à
Psicologia (Pfromm Netto, 1996).
Com relação à segunda fase, que corresponde ao período de 1962 a 1990,
ocorre a regulamentação da profissão do Psicólogo e a introdução da Psicologia
Escolar no currículo de graduação em Psicologia (1962). Nessa fase a atuação do
psicólogo na educação é marcada por uma atuação fundamentada na psicometria.
De acordo com Guzzo e Wechsler (2001), os serviços de psicologia
caracterizavam-se pela avaliação de prontidão escolar, organização de classes
especiais, diagnósticos e encaminhamentos para serviços especializados. Diante
desse quadro, conforme considera Cruces (2003), na década de 70 e início da de
80, foram feitas severas críticas à ação clínica, individualista e remediativa, que
vinha se configurando na atuação do Psicólogo Escolar.
A terceira fase, de 1990 até os dias atuais, aponta para alguns marcos
históricos que visualizam o crescimento da Psicologia Escolar/Educacional no
país, como: a criação da Associação Brasileira de Psicologia Escolar (ABRAPEE)
e o Primeiro Congresso Nacional de Psicologia Escolar e Educacional que
aconteceu no ano de 1991. Nesse período, com base nas produções anteriores
que criticavam a atuação reducionista do Psicólogo Escolar e/ou Educacional por
não responder às demandas da sociedade, iniciaram-se as discussões sobre a
importância de uma ação preventiva, contextualizada e compromissada com as
mudanças sociais. Assim, foram discutidas nessa fase uma reformulação na
proposta curricular do curso de psicologia (Guzzo, 1996, 2003; Gomes, 2002) e a
inclusão de novas formas de intervenção, no caso, a preventiva e a comunitária
(Guzzo, Martínez e Campos, 2006).
36
No entanto, apesar desse avanço, ainda se pode observar, na literatura
científica referente ao psicólogo escolar, uma crise em sua identidade profissional,
conforme aponta as pesquisas de Almeida (2002), Novaes (2003), Marinho-Araujo
e Almeida (2005b). Todos esses trabalhos, em geral, fazem um alerta à falta de
um embasamento teórico, político e ético claramente definido em sua prática.
Com o objetivo de enfatizar a importante contribuição da Psicologia, como
ciência e profissão, na luta pela consolidação de uma educação para todos, o
Conselho Federal de Psicologia decidiu que o ano de 2008 seria dedicado à
Educação. Com base nisso, foram realizados vários eventos regionais e nacionais
durante o ano de 2008 para se discutirem, coletivamente, as políticas
educacionais brasileiras e a inserção e participação dos psicólogos na construção
dessas políticas. Participaram desses eventos 4.692 psicólogos (CFP, 2008).
Para subsidiar essas discussões foram elaborados quatro textos
geradores
17
que contemplam os conteúdos dos eixos temáticos definidos como
norteadores do debate: 1) Psicologia, políticas públicas intersetoriais e educação
inclusiva (Cristina Maria Carvalho Delou); 2) Políticas educacionais: legislação,
formação profissional e participação democrática (Marilene Proença Rebello de
Souza e Marisa Lopes da Rocha); 3) Psicologia e instituições escolares e
educacionais (Raquel Guzzo); 4) Psicologia no ensino médio (Ângela Fátima
Soligo e Roberta Gurgel Azzi). Com o intuito de se discutirem algumas
dificuldades e perspectivas nessa área de atuação, serão considerados os
17
É importante considerar que esses textos geradores podem ser encontrados no site do CFP em
forma de cartilha, www.pol.org.br.
37
resultados produzidos nesses debates, oferecidos pelo Conselho Federal de
Psicologia (2009).
No primeiro eixo, “Psicologia, Políticas públicas intersetoriais e educação
inclusiva”, foram debatidas algumas dificuldades e perspectivas, tais como:
Rever os currículos dos cursos de psicologia. Solicitar a inclusão de
disciplinas que discutam a Educação Inclusiva e as Políticas públicas.
Evitar que a política de inclusão venha a reforçar a racionalidade médica,
sustentada pelo olhar clínico, incorrendo na medicalização (Naturalização
do problema).
Ampliar o conceito de inclusão para além da deficiência: incluir a discussão
de todos os grupos marginalizados socialmente.
No segundo eixo, “Políticas educacionais: legislação, formação profissional
e participação democrática”, foram debatidas questões como:
Pouca articulação, mobilização, inserção dos profissionais de psicologia
escolar/educacional em fóruns, conselhos, redes sociais, entre outros.
Busca de uma interlocução entre a escola/educação e o psicólogo para a
sua participação na elaboração de projeto de lei na educação.
Participação dos processos de revisão da LDB junto a entidades da
educação e inserção do psicólogo na rede de ensino;
No terceiro eixo, “Psicologia e instituições escolares e educacionais”,
discutiram questões como:
Falta de um entendimento claro da função do psicólogo escolar/educacional
pelos membros das instituições e sociedade em geral.
38
Indefinição do papel do psicólogo escolar/educacional no ambiente das
políticas públicas. A indefinição da área de atuação nos concursos públicos
acaba gerando situações nas quais o psicólogo contratado para a área da
saúde é “emprestado” para a área da educação e vice-versa.
Falta do psicólogo no âmbito escolar/educacional, compondo a equipe
interdisciplinar ou multidisciplinar. a necessidade de reivindicar a
entrada do psicólogo nas redes de ensino por meio das políticas públicas.
No último eixo, “Psicologia no Ensino Médio”, foram debatidas algumas
dificuldades e perspectivas, tais como:
Divergências de opiniões: presença do psicólogo na escola, mas não da
psicologia como disciplina.
Necessidade de maior esclarecimento sobre as possibilidades, vantagens e
desvantagens da inclusão da psicologia como disciplina obrigatória.
Capacitação do psicólogo para trabalhar no Ensino dio. Para isso, é
necessário fomentar a licenciatura no curso de psicologia dentro de uma
perspectiva crítica.
Enfim, esses debates trouxeram grandes contribuições para entendermos
como vem sendo consolidada a profissão do psicólogo escolar/educacional em
nosso país. Atualmente, diante da possibilidade de inclusão do psicólogo na rede
de ensino em todo o país, em 2007 foi elaborado um Projeto de Lei que reivindica
a inserção do Psicólogo e do Assistente Social na rede de ensino.
39
1.3.2. A ação do psicólogo escolar na promoção do desenvolvimento infantil.
As severas críticas destinadas à ão reducionista e individualista do
psicólogo escolar nos últimos anos têm provocado confusões quanto ao
entendimento do papel desse profissional. Alguns psicólogos, por se sentirem
confusos em como atuar nas escolas, têm excluído de suas ações as intervenções
direcionadas ao acompanhamento individual. De acordo com Almeida (2002), os
psicólogos têm se eximido de uma intervenção individual com receio de serem
julgados como profissionais que focam apenas no indivíduo.
Para esta autora “cabe à psicologia, dentre outras funções, ocupar-se do
sujeito individual, ainda que esta ajuda se dê, no âmbito da escola, apenas em
caráter emergencial e não psicoterápico” (p. 86). O psicólogo escolar pode
trabalhar com o indivíduo, desde que a sua atuação seja sustentada por teorias
psicológicas que contemplem o homem em suas múltiplas determinações e
relações históricas e sociais.
A função de diagnóstico e avaliação psicológica é uma atividade essencial
para o psicólogo escolar traçar estratégias de intervenção e para definir
indicadores que colaborem para o acompanhamento e a avaliação dos resultados
da sua execução, conforme considera Martínez (2003). No entanto, de acordo
com a autora, a insuficiente formação teórica e metodológica de muitos psicólogos
tem ocasionado a utilização de instrumentos questionáveis ou de estratégias de
intervenção fragmentada e incompleta, que não respondem à complexidade do
objeto.
40
Percebe-se que uma crítica à utilização de teorias que focalizam ações
fragmentadas e remediativas no acompanhamento do individuo, as quais devem
ser excluídas das práticas psicológicas. No entanto, as estratégias de
intervenções direcionadas ao indivíduo, como o acompanhamento do
desenvolvimento infantil, podem acontecer desde que se contemplem os aspectos
sociais, culturais e políticos influenciando no comportamento e desenvolvimento
da criança.
Uma proposta de intervenção preventiva do psicólogo escolar não exclui o
indivíduo de sua intervenção, mas acrescenta uma nova concepção de
desenvolvimento. De acordo com Guzzo (2003), uma intervenção preventiva
rompe com as concepções cristalizadas acerca do desenvolvimento humano,
saindo do paradigma da doença (tratamento) para o da saúde (prevenção), sendo
este um dos grandes desafios à atuação do psicólogo escolar.
Ainda, segundo esta autora, o acompanhamento do desenvolvimento
infantil deve fazer parte da atuação do psicólogo escolar e, para isso, é necessária
a construção de espaços e de estratégias de acompanhamento que enfatizem a
totalidade e não aspectos particulares. Uma intervenção direcionada à criança na
escola não deve ser entendida e tratada como um problema apenas da criança,
mas também da família e de seu contexto de aprendizagem.
Portanto, conforme considera Giannetti, Tizzei e Guzzo (2004), uma ação
que promova o desenvolvimento da criança no contexto escolar exige algumas
ações, tais como:
Conhecer o ambiente em que a criança está inserida (escola, família
e comunidade) e promover uma melhor integração entre eles.
41
Acompanhar a criança ao longo de seu desenvolvimento.
Possibilitar que as crianças desenvolvam suas potencialidades,
sendo capaz de estabelecer vínculos e expressar seus sentimentos.
Identificar a presença de indicadores de risco e procurar trabalhar
com estes por meio das redes de apoio.
Outro aspecto a ser comentado, quando pensamos em ações que
promovam o desenvolvimento das crianças no contexto educativo, é a
participação do psicólogo na construção do projeto pedagógico escolar. Segundo
Martínez (2003), é na proposta pedagógica que se encontram os direcionamentos,
as estratégias e as ações para que seja possível alcançar os objetivos educativos
da escola. O psicólogo escolar, ao contribuir para a construção da proposta
pedagógica, poderá consolidar a sua atuação nesse contexto, bem como auxiliar
no aprimoramento do trabalho educativo da instituição escolar.
Diante disso, fica clara a importância do psicólogo escolar em articular,
junto ao educador, propostas pedagógicas que favoreçam o desenvolvimento das
crianças no contexto educativo. O psicólogo pode ser muito útil ao dispor os seus
conhecimentos teóricos e técnicos para a elaboração desse projeto.
42
1.3.3. O Prontuário de Observação da Criança (P.O.C.): um roteiro norteador
Com o objetivo de conhecer este prontuário de acompanhamento, essa
parte será destinada a apresentar um resumo do manual Child Observation
Record C.O.R.
18
(1992). De acordo com o manual, o Prontuário de Observação
da Criança POC é um instrumento de avaliação que acompanha crianças de
dois anos e meio a seis anos no seu ambiente educativo. Portanto, a avaliação é
baseada na observação dos comportamentos das crianças durante a realização
das atividades pedagógicas.
Esse instrumento é composto por seis categorias de acordo com dimensões
do desenvolvimento infantil, sendo elas: Iniciativa; Relações Sociais;
Representação Criativa; Música e Movimento; Linguagem e Literatura; e, Lógica e
Matemática. Cada uma dessas categorias contém cerca de três a oito itens,
totalizando 32 itens e envolvendo atividades a serem observadas em diferentes
estágios que descrevem o nível de comportamento no qual a criança se encontra.
Assim, baseado nas observações feitas da criança, o observador escolhe o
estágio que melhor representa o seu comportamento (Child Observation Record,
1992).
Segundo o manual, as vantagens de se avaliar o desenvolvimento infantil
por meio de registros de observação são as seguintes:
18
O C.O.R. foi semanticamente interpretado como Prontuário de Observação da Criança POC
pelo Laboratório de Avaliação e Medidas Psicológicas - LAMP. Assim, o COR durante toda a
escrita deste capítulo será identificado como P.O.C.
43
Um instrumento de observação que registra, durante um período
prolongado de tempo, a criança participando de várias atividades possibilita
uma avaliação mais detalhada de seu desenvolvimento. Diferentemente
das situações de teste que, em geral, são artificiais e limitadas, pois nestas
as crianças são solicitadas a responderem perguntas ou terminarem tarefas
específicas.
Uma ferramenta de observação considera os fatores culturais e étnicos,
porque registra os comportamentos das crianças nos espaços fornecidos
para as informações adicionais. Com isso, o registro por observação
permite identificar quando as crianças estão envolvidas em atividades e
materiais pessoalmente significativos.
A avaliação por meio da observação auxilia o educador a perceber se o seu
programa é um facilitador de oportunidades de desenvolvimento para todas
as crianças.
O processo de preencher uma avaliação por meio da observação da
criança a oportunidade de perceber se o programa realmente
desenvolve e oferece uma escala ampla de oportunidades de
aprendizagem nas diversas áreas do crescimento cognitivo, social e
emocional. Quando determinados tipos de comportamentos em sala de
aula não podem ser observados, que se adicionar materiais ou
atividades que contemplem as várias dimensões do desenvolvimento.
A avaliação da observação permite traçar o desenvolvimento da criança e o
seu tempo utilizado para alcançar o progresso. As informações coletadas
44
sobre cada criança, durante o ano escolar, possibilitam ver o seu
desenvolvimento em todas as áreas. A informação registrada pode servir
como suporte nas reuniões de planejamento escolar e nas reuniões com os
pais.
O P.O.C. pode ser utilizado para avaliar o progresso educacional da criança
ou do grupo, bem como observar as mudanças e/ou o tempo utilizado para
alcançá-lo, visto que o formulário é projetado para ser usado três vezes durante o
ano com cada criança. Além disto, o P.O.C. pode auxiliar na avaliação do projeto
pedagógico, identificando se o projeto contempla todas as categorias do
desenvolvimento, ou pode também avaliar apenas determinadas categorias (Child
Observation Record, 1992).
O P.O.C. pode ser utilizado como suporte para discutir com os pais sobre o
desenvolvimento de seus filhos na escola (como um modelo de entrevista com os
pais) ou nas oficinas, como base para discutir o desenvolvimento da criança,
relacionando-o ao planejamento pedagógico e às suas atividades diárias. (Child
Observation Record, 1992).
Os resultados do P.O.C. podem ser apresentados à equipe escolar como
uma forma de avaliar o programa comparando os progressos de cada ano ou
entre turmas e decidir quais categorias do desenvolvimento que devem ser
fortalecidas ou melhoradas (Child Observation Record, 1992).
O P.O.C. é uma ferramenta de avaliação que pode ser usada com outros
instrumentos com o objetivo de olhar detalhadamente o indivíduo e/ou o grupo.
Podem-se incluir, juntamente com o P.O.C., amostras do desenho, da pintura e da
45
escrita da criança; assim também como suas fotografias; gravações de áudio e de
vídeo (Child Observation Record, 1992).
Em síntese, essa ferramenta pode ser utilizada na Educação Infantil, com o
objetivo de identificar as habilidades e as potencialidades de cada criança, bem
como permitir um planejamento de atividades direcionadas às necessidades de
desenvolvimento das crianças.
Para finalizar, um aspecto que merece atenção é que o P.O.C. por ser uma
ferramenta sistemática de avaliação. Pode ser útil àqueles que estudam o
desenvolvimento da criança, a evolução dos programas e a sua aproximação com
o planejamento pedagógico.
46
OBJETIVO
O contexto escolar da instituição onde foi realizada a pesquisa é
caracterizado em sua rotina pedagógica, pela ausência de uma metodologia de
acompanhamento do desenvolvimento infantil. Nos discursos dos educadores é
presente a utilização de referencial do desenvolvimento baseado no senso
comum, sem propriedade para discutir com pais e outros profissionais acerca de
indicadores do desenvolvimento dos alunos.
Com base nessa afirmação, questionamo-nos se um prontuário de
acompanhamento pode possibilitar ao educador acompanhar o desenvolvimento
de seus alunos e , por meio disso, promover ações que contribuam para o
desenvolvimento saudável das crianças no contexto escolar.
Refletindo sobre essa situação, defendemos uma tese de que o
acompanhamento dessas crianças, por meio de um referencial do
desenvolvimento, auxilia na elaboração de ações pedagógicas, que vêm contribuir
para o seu desenvolvimento no contexto educativo de forma objetiva e
sistematizada.
Objetivo Geral:
Compreender como educadores da Educação Infantil acompanham o
desenvolvimento das crianças, utilizando como referência um prontuário de
acompanhamento e avaliar o cotidiano desse processo de desenvolvimento a
partir das relações dentro da escola.
47
Objetivos Específicos:
1. Identificar situações cotidianas da escola e/ou elementos da realidade que
dificultam o acompanhamento e a promoção do desenvolvimento das
crianças:
1.1. Na visão da pesquisadora;
1.2. Na visão das professoras
1.3. Na visão das monitoras.
2. Avaliar uma proposta de acompanhamento do desenvolvimento no contexto
da Educação Infantil:
2.1. Identificar as dimensões e os indicadores do desenvolvimento infantil
que as professoras apresentaram de seus alunos, comparando com os
resultados e as dimensões do desenvolvimento consideradas no P.O.C..
2.2. Analisar as informações das professoras sobre o desenvolvimento das
crianças, integrando-os aos resultados do P.O.C.
2.3. Conhecer a opinião das professoras sobre a utilização de uma
metodologia para acompanhar as crianças na Educação Infantil e o impacto
dessa metodologia na construção de atividades realizadas pelas
professoras;
48
CAPÍTULO 2
MÉTODO
49
A pesquisadora, por estar imersa quase seis anos no contexto de
pesquisa, vivenciando cotidianamente a exclusão social, a negação dos direitos às
crianças, o medo da denúncia, o desrespeito à opinião dos pais, o despreparo dos
profissionais da educação, entre outros fatores, buscou um tipo de investigação
que propusesse compreender essa realidade.
Frente às questões anteriormente esboçadas, optou-se pela utilização de
uma abordagem Materialista Histórico Dialética. Essa proposta busca uma análise
dialética do fenômeno a ser estudado, bem como se propõe a construir
conhecimentos que possam servir para a mudança social.
Conforme considera Antunes (2005), a pesquisa Materialista Histórica e
Dialética parte do pressuposto que, para compreender um fenômeno, é necessário
apreendê-lo no bojo das relações que estabelece com múltiplos fatores, dentre
eles, os sociais, os políticos, os econômicos e os culturais.
Com base nesses princípios básicos, o pesquisador que se alicerça em
uma concepção marxista da realidade para realizar uma investigação, precisa
partir do empírico (real aparente), fazer uma interpretação analítica (mediações
abstratas) e retornar ao concreto (Martins, 2006). Isto é, de acordo com Oliveira
(2005), deve-se utilizar a dialética do singular – particular – universal.
Portanto, a pesquisa, com o objetivo de compreender como os professores
acompanham e promovem o desenvolvimento no contexto infantil, irá analisar os
seguintes aspectos: as relações interpessoais na escola, as políticas
educacionais, a visão de desenvolvimento adotada e o contexto de pesquisa.
50
2.1. Contexto e cenário da pesquisa
2.1.1. Contexto da pesquisa: município do estado de São Paulo
A pesquisa foi realizada em um município do estado de São Paulo. A escola
encontra-se localizada em uma região caracterizada por apresentar um alto índice
de discrepância social e econômica.
2.1.2. Cenário da Pesquisa: Centro Municipal Integrado de Educação
Infantil
a) Espaço físico, estrutura e funcionamento
A unidade escolar onde foi realizada a pesquisa é denominada de CIMEI
Centro Integrado Municipal de Educação Infantil. O CIMEI é composto por uma
EMEI, que atende crianças de dois a cinco anos, e por uma CEMEI, que atende
crianças de três meses a dois anos. Esse centro é composto por 72 profissionais e
atende, aproximadamente, 400 crianças nos turnos da manhã e da tarde.
A EMEI conta com três turmas de alunos em meio período no turno da
manhã e quatro turmas de meio período no turno da tarde. Com relação ao
período integral, a instituição possui quatro turmas. A CEMEI conta com quatro
turmas de alunos em período integral. Tanto na EMEI quanto na CEMEI as turmas
de período integral ficam sob a responsabilidade da professora e das monitoras,
enquanto que no turno da manhã e no turno da tarde fica sob a responsabilidade
apenas dos monitores.
Referente às salas de aula na EMEI, houve o fechamento de duas turmas
no ano de 2006, porque, supostamente, não havia na comunidade escolar uma
51
demanda de crianças entre três e cinco anos. Além desse agravante, a escola
concorria com as ONGs e as instituições privadas que atendiam essa demanda.
Com o número “reduzido” de crianças entre três e cinco anos, a EMEI, com o
intuito de não fechar mais salas, teve que atender as crianças de dois e três anos
em turno integral, o que exigia a entrada de mais monitores para ajudar no
trabalho em sala de aula. Assim, no ano de 2007, houve uma mudança
significativa no quadro dos profissionais. Entraram mais 12 monitores em regime
temporário por meio de concurso público que ocorreu no município.
A EMEI, ao se propor a atender crianças entre dois e três anos de idade em
período integral, encaixou-se na política educacional
19
que prevê um professor por
sala nas turmas integrais. Assim, não poderia ter dois professores em diferentes
turnos manhã e tarde que atendesse uma mesma turma de integral. Isso
acabou por ocasionar, no fim do ano de 2007, a saída de quatro professoras.
Atualmente, no ano de 2009, a escola abriu duas turmas: uma de período
integral na CEMEI e outra de meio período na EMEI no turno da tarde. Houve a
entrada de novos integrantes na equipe gestora: diretora, vice-diretora e
orientadora pedagógica. E a aposentadoria de três professoras de classes de
meio período da EMEI do turno da manhã. Com a falta de professor para substituir
uma professora, houve um revezamento de professoras para atender uma turma,
assim cada dia é um professor diferente na mesma turma.
19
O Núcleo de ão Educativa Descentralizada (Naed) explicou à escola que eles não teriam
como argumentar ao Tribunal de Contas a existência de duas professoras em uma mesma turma.
52
b) Equipe educacional e contexto familiar da criança
O CIMEI tem 17 professoras, 32 monitores, uma orientadora pedagógica e
uma professora de educação especial. Com o objetivo de conhecer alguns
aspectos da vida pessoal, profissional e social de todos os funcionários da escola,
no ano de 2006, a pedido da escola, foi elaborado um questionário composto de
duas partes: a primeira buscou dados de identificação pessoal e a segunda visou
a obter informações sobre a profissão.
Com relação aos aspectos referentes ao estado civil, quantidade de filhos,
formação escolar e tempo de serviço na escola, foram obtidos os seguintes
resultados expressos na tabela a seguir:
Tabela 2.
Caracterização dos profissionais da CIMEI
Solteiro Casado Divorciado Viúvo
Estado Civil
13% 55% 25% 6%
Um Dois Três Quadro Sete Não tem
Quantidade de
filhos
31% 38% 14% 3% 3% 11%
Formação
escolar
Monitor Professor Equipe Gestora
Fundamental I
36% 0% 0%
Fundamental II
7% 0% 0%
Ensino Médio
50% 0% 0%
Ensino Superior
7% 44% 66%
Pós-graduação
0% 56% 34%
Até 5 anos 5 a 10 anos
10 a 15
anos
15 a 20
anos
20 em
diante
Tempo de
trabalho na
escola
43% 22% 8% 8% 19%
Fonte: Dados coletados na escola no ano de 2006 (Costa, Weber e Guzzo, 2009)
53
Com relação à experiência com essa profissão, com base nos resultados
obtidos por meio do questionário, a maioria dos funcionários respondeu que
possuíam experiências na área que atuam dentro da escola. Além da educação
infantil, algumas relatam as suas experiências com o ensino fundamental I e II,
com a educação de adultos e em dar aula de inglês. Além disso, existem
educadoras que possuíram a experiência de trabalhar em vários setores dentro
da escola.
A respeito da motivação pelo trabalho realizado na escola, as educadoras
relataram que sentem prazer em exercer a profissão, vendo esta experiência
como um aprendizado rico e dinâmico. No entanto, houve relatos em que elas
falam de seu desânimo em exercer a profissão, da falta de estrutura para
desempenhar um ensino de qualidade, mas têm consciência de que essa
problemática está além da escola, fazendo, assim, uma crítica ao sistema.
As educadoras, ao refletirem sobre o relacionamento com as crianças,
consideram que por meio dessa relação aprenderam a conviver com as
diferenças, tornaram-se mais solidárias e dedicadas ao trabalho.
Ao questioná-las de como gostariam de serem reconhecidas na escola, as
educadoras, quase em sua totalidade, responderam que gostariam de ser vistas
como uma profissional que deve ser respeitada e reconhecida por sua
competência em sua atuação como educadora, pois são responsáveis, dedicadas
e buscam se atualizar. Algumas relatam a necessidade de serem ouvidas e
respeitadas em suas opiniões dentro da escola.
54
Os resultados obtidos nesse questionário foram considerados nessa
pesquisa de doutorado, com o intuito de revelar alguns aspectos importantes com
relação ao contexto profissional dos educadores que atuam nessa instituição
20
.
Com relação a conhecer o contexto familiar das crianças, é realizado,
anualmente, um mapeamento por meio de pesquisa nos prontuários escolar. Esse
procedimento visa a conhecer o trabalho dos pais, local onde moram e a
distribuição por gênero das crianças na escola, além de identificar as crianças que
estão notificadas no Conselho Tutelar.
c) Organização do trabalho de formação dos educadores
Essa instituição desenvolve um trabalho de formação profissional
21
, que
segundo o Projeto Pedagógico de 2007, tem como objetivo “fazer com que o
profissional reflita sobre seus afazeres e incorpore alternativa diferenciada para
sua prática”. A formação de profissional é realizada por meio de reuniões de
Formação Continuada (FC), Planejamento Pedagógico, Trabalho Docente Coletivo
(TDC), Trabalho Docente Individual (TDI) e Grupo de Estudo de Monitores (GEM),
realizados da seguinte forma:
- Formação continuada (FC) e Planejamento Pedagógico: A Formação
Continuada e o Planejamento Pedagógico ocorrem uma vez ao mês,
20
É importante considerar que foi realizada uma análise fundamentada destes resultados que se
encontram no manuscrito intitulado “O professor na Educação Infantil: vida e profissão” (Costa,
Weber e Guzzo, 2009) encaminhado para publicação.
21
De acordo com o Projeto Pedagógico de 2007 da escola, a formação profissional repercute na
organização do trabalho pedagógico, na socialização, na mobilização e comprometimento do
coletivo, nas práticas inovadoras e nos processos de ensino-aprendizagem.
55
realizados alternadamente, no turno da manhã, com a participação de
todos os profissionais da escola.
- Trabalho Docente Coletivo (TDC): O TDC acontece uma vez na semana
com a participação da orientadora pedagógica, educadora especial,
professoras e, quando possível, contava com a equipe de psicologia.
- Trabalho Docente Individual (TDI): O TDI ocorre uma vez na semana e é
o espaço onde as professoras se reúnem por agrupamentos de acordo
com a faixa etária das crianças com as quais trabalham.
- Grupo de Estudo de Monitores (GEM): O GEM é um trabalho
direcionado aos monitores, ocorre quinzenalmente e coordenado pela
O.P. e, às vezes, conta com a participação de equipe de psicologia
22
.
No Projeto Pedagógico da escola, no item avaliação acerca da formação
profissional, encontra-se a seguinte avaliação:
“Alguns profissionais criticam todas as estratégias de
apresentação dos temas tratados, assim como os próprios
temas, não entendendo o valor de tais espaços enquanto
formação e reflexão da prática pedagógica. Os únicos
momentos elogiados foram as F.C., pois seguiam as sugestões
do coletivo relativo à temática – qualidade de vida”.
Esse espaço de formação não é bem aproveitado pelos profissionais, em
geral, eles estão sempre desmotivados e desmobilizados a participar de qualquer
discussão nesses lugares. No ano de 2007 houve a proposta de integrar o GEM
monitores – com o TDI professores, mas essa dinâmica não deu certo, pois nos
22
A equipe de psicologia não participava de todos os GEMs por questão de incompatibilidade de
horário.
56
encontros os dois grupos ficavam separados sem uma interação ou trocas de
ideias. Assim, ficou decidido por parte dos professores que houvesse, novamente,
a divisão dos espaços, para os monitores sentirem-se mais à vontade para discutir
com a Orientadora Pedagógica sobre o seu papel na escola ou sobre as crianças,
sem a presença de professores.
d) Equipe de psicologia na escola
A equipe de psicologia está presente na escola, por meio do projeto “Voo
da Águia”, desde 2003, geralmente uma ou duas vezes por semana. A equipe é
composta por profissionais de pós-graduação e por estagiários de psicologia. As
ações da equipe de psicologia na escola se dão por meio de três eixos de
intervenção: criança, família e educador.
Com as crianças é realizado um acompanhamento de forma detalhada e
sistemática, apontando aspectos importantes do seu desenvolvimento. Esses
aspectos são registrados ao longo do ano em uma pasta individual para cada
criança e as informações provenientes desses materiais podem servir como
subsídio para o acompanhamento e/ou elaboração de documentos futuros.
Todas as crianças que possuem uma pasta individual de acompanhamento
foram apontadas pela escola ou pela equipe de psicologia. As devolutivas de cada
uma eram discutidas com os educadores e entregues à direção da escola, e,
geralmente, a Orientadora Pedagógica ficava responsável por receber e guardar
essa devolutiva.
No ano de 2004 a 2008 foram acompanhadas, sistematicamente, 143
crianças, sendo 89 meninos e 54 meninas. As principais preocupações dos
57
educadores e da equipe de psicologia centravam-se nas seguintes questões:
agressividade, falta de limite, mordida, dificuldade de interação e adaptação, conflito
ou risco familiar, violência doméstica, entre outros.
Na intervenção com os educadores a equipe de psicologia buscava
ouvir suas dúvidas, angústias e experiências, para, a partir disso, construir em
conjunto ações que possibilitassem o bem-estar de todos os envolvidos no
processo educativo. Durante os primeiros anos, a equipe participava ativamente
do TDC e no GEM. Nestes espaços eram discutidos temas sugeridos pelos
educadores, tais como: desenvolvimento infantil (Prontuário de Observação da
Criança – POC); violência doméstica; trilogia do ECA: Liberdade, Respeito e
Dignidade; como entender as relações sociais da criança; alimentação infantil na
visão psicológica e biológica; o impacto das histórias infantis no desenvolvimento
das crianças; a descoberta da sexualidade; compreendendo o objeto de apego da
criança. Além de abrigar a discussão desses temas, esses espaços eram
utilizados para a apresentação de projetos desenvolvidos ou a serem
desenvolvidos na escola pela equipe de psicologia.
Com os pais, além de um suporte individual, trabalhávamos no coletivo,
realizando encontros temáticos e buscando propiciar aos pais momentos de troca
de experiências e de ampliação de conhecimentos sobre o desenvolvimento
infantil. Alguns dos temas discutidos nesses encontros foram: relações sociais;
limites e regras; amamentação e alimentação; a descoberta do corpo; a criança e
o outro; aprendendo na brincadeira; política educacional na Educação Infantil,
entre outros assuntos relacionados, mais precisamente, à questão do
desenvolvimento infantil.
58
O projeto Voo da Águia na escola já passou por duas avaliações, que partiu
da iniciativa da equipe de psicologia, uma em 2005
23
e outra em 2007
24
. Essas
avaliações tinham como objetivo receber uma devolutiva da equipe escolar sobre
as nossas intervenções na escola. Nessa avaliação eles respondiam a um
questionário contendo as seguintes questões: quais são os pontos fortes e fracos
do projeto e se gostariam que o projeto continuasse na escola.
Nas duas avaliações tivemos um retorno positivo dos nossos serviços. Em
geral, eles apontam como ponto positivo: o suporte ao educador e o
acompanhamento das crianças e famílias. Como pontos fracos, eles indicam: o
pouco tempo na escola, o despreparo dos estagiários e poucas devolutivas dos
trabalhos realizados com as crianças. A respeito da permanência do projeto na
escola, uma minoria optou pela não continuidade.
No ano de 2009 houve uma mudança na equipe de gestão, entrando uma
nova diretora, uma vice-diretora e uma orientadora pedagógica. Essa nova gestão
mostrou-se resistente à equipe de psicologia na escola. Apesar de termos
realizado algumas reuniões, fomos impedidos de desenvolver grande parte das
nossas intervenções, no caso, conversar com crianças e pais sem a presença do
professor. Assim, tivemos que nos sujeitar a algumas regras estabelecidas pela
nova equipe de gestão da escola.
23
Esta avaliação fez parte da dissertação de mestrado intitulado “Psicólogo na escola: avaliação
do Projeto ‘Voo da Águia’” de Adinete Costa sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Raquel Guzzo.
24
O processo de avaliação do projeto foi realizado pelos psicólogos Adinete Costa e Antônio
Euzébios Filho, sob a coordenação da Prof.ª Dr.ª Raquel Guzzo.
59
2.2. Participantes
Participaram da pesquisa duas professoras da EMEI, que desenvolvem os
seus trabalhos nas turmas de agrupamento III, referente a crianças de 3 a 5 anos
de idade. Essa escolha dos participantes se deu em razão do P.O.C. ser
estruturado para essa faixa etária.
Com o objetivo de conhecer as participantes da pesquisa, foi elaborado um
quadro contendo uma síntese da trajetória profissional e de formação das
professoras, com base em entrevista.
Quadro 1.
Síntese das trajetórias profissionais e de formação das participantes
Professora
Tempo de serviço Trajetória de formação Trajetória Profissional
P01
Leciona trinta e dois
anos, sendo que
durante vinte e quatro
anos trabalhou nessa
escola municipal e oito
anos em uma particular.
É pedagoga e fez uma
especialização em
Administração escolar e
orientação educacional.
Iniciou sua carreira em uma
instituição particular de
educação infantil após passar
no concurso público da
Prefeitura para atuar como
professora abandonou a
escola particular.
P02
Leciona mais de
trinta anos, sendo que
em vinte e sete anos
trabalhou nessa escola
municipal e quatro anos
em uma escola
estadual.
Fez magistério e uma
especialização em
Educação Infantil.
Iniciou sua carreira em uma
escola pública estadual,
trabalhando com crianças da
terceira e quarta série, depois
foi para a escola municipal de
educação infantil.
60
2.3. Fontes de informação
As fontes de informação utilizadas para a realização desta pesquisa foram:
as entrevistas e os diários de campo. A escolha destas duas fontes de
informações se deu em virtude da pesquisadora buscar analisar dados mais
próximos do cenário de pesquisa, no caso a escola.
Por estar inserida no contexto escolar, a pesquisadora utilizou os seus
diários de campo como fonte de informação, pois documentava episódios e ou
situações ocorridas na escola, opiniões das educadoras sobre determinados
assuntos, registrava as formas de interações sociais estabelecidas entre os
educadores e entre os educadores e família, bem como a forma do educador
intervir com as crianças. Enfim, era possível documentar nos diários de campo
uma diversidade de informações e, mais do que isso, conforme considera
Reboredo (1992):
“O diário de campo tem-se mostrado um instrumento
importante para o registro de dados, principalmente, em
situações onde o pesquisador conjuga a investigação e
intervenção. Na elaboração dos diários de campo, o
pesquisador deve superar a mera descrição do empírico e
constituir-se no narrador que descreve o empírico e faz ensaios
de interpretação, tentando desvelar o concreto, ou seja,
conhecer o movimento de transformação do objeto de
investigação” (p. 25).
Os diários de campo ajudam o investigador a acompanhar o
desenvolvimento da pesquisa e a visualizar os efeitos das informações tanto no
plano de investigação, como para si próprio (Bogdan e Biklen, 1994). Além disso,
esse tipo de procedimento possibilitará uma análise longitudinal da pesquisa, visto
61
que serão registrados, durante todo o período da pesquisa, aspectos referentes ao
objetivo da pesquisa que se sobressaíram no cotidiano da escola.
Com o objetivo de conhecer a opinião das educadoras sobre o tema
pesquisado foi realizado um diálogo com as professoras por meio de uma
entrevista que possibilitasse uma conversa aberta. Assim, primeiramente, houve
uma conversa sobre os seus alunos, sugerindo que elas evidenciassem algumas
dimensões do desenvolvimento da criança e, em seguida, houve um diálogo a
respeito da utilização de uma metodologia de acompanhamento do
desenvolvimento infantil.
A utilização da entrevista individual como fonte de informação se deu
porque, de acordo com Gonzalez Rey (2002), “o sujeito faz mais do que responder
ante um instrumento, ele se expressa por meio dele, elabora e constrói sua
experiência e a expressa de forma diferenciada mediante o do indutor” (p. 82).
Assim, apesar de ter sido seguido um roteiro de perguntas durante a entrevista,
essas conversas não ocorreram de forma diretiva, fixando-se nas questões, mas,
sim, foram conduzidas de uma forma que permitisse o discurso livre das
participantes.
Portanto, durante a investigação foram ouvidas as opiniões das professoras
acerca do desenvolvimento de seus alunos e de uma metodologia de
acompanhamento do desenvolvimento infantil e, concomitantemente, foram
registradas nos diários de campo situações e elementos do cotidiano escolar, bem
como a opinião da pesquisadora com relação a essa vivência na escola.
62
2.4. Material de Coleta de dados
Para a realização dessa pesquisa foram utilizados os seguintes materiais
de coleta de dados: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ao Diretor da
Escola (Anexo 1), Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para Professores
(Anexo 2), Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para Pais e Responsáveis
(Anexo 3), Roteiro de Entrevista Inicial com as Professoras (Anexo 4), Roteiro de
Entrevista Final com as Professoras (Anexo 5) e o Protocolo de Observação da
Criança – P.O.C. (Anexo 6).
Os três Termos de Consentimentos que foram entregues ao diretor da
escola, ao professor e aos pais e responsáveis tinham como objetivo esclarecer a
finalidade e o procedimento da pesquisa e, a partir disso, solicitar a permissão
para a participação. Os termos seguiram a orientação considerada no digo de
Ética do Conselho Federal de Psicologia (2005), o qual informava que a
participação é voluntária e o uso que será feito das informações obedecerá ao Art.
16º, respeitando a autonomia, a liberdade e a privacidade do participante e
garantindo a efetiva proteção dos participantes.
O Roteiro de Entrevista Inicial com as Professoras (anexo 4) teve como
objetivo escutar a opinião das educadoras sobre os assuntos referentes ao
desenvolvimento de seus alunos. Esse instrumento é composto por duas
questões: a primeira solicita às professoras que identifique três alunos de acordo
com o seu desenvolvimento e, a segunda pergunta busca os indicadores de
desenvolvimento que mais se destacam ou não na criança.
O Roteiro de Entrevista Final com as Professoras (anexo 5) foi elaborado
visando a obter informações que contemplassem os objetivos propostos pela
63
pesquisa, por isso foi composto de três partes. A parte I buscou dados de
identificação da profissão e moradia dos professores. A parte II visou a obter
informações sobre a opinião das educadoras a respeito da utilização de uma
metodologia específica para acompanhar o desenvolvimento individual de crianças
na Educação Infantil e, finalmente, a parte III buscou a opinião do entrevistado
sobre os fatores que contribuem ou dificultam o acompanhamento das crianças na
escola.
O Prontuário de Observação da Criança P.O.C. (anexo 6) avalia o
desenvolvimento de crianças entre dois anos e meio e seis anos. A avaliação é
baseada na observação dos comportamentos e atividades das crianças em
contextos educativos. É composto por seis categorias do desenvolvimento, sendo
elas: Iniciativa; Relações Sociais; Representação Criativa; Música e Movimento;
Linguagem e Literatura; Lógica e Matemática. Cada uma dessas dimensões é
descrita por vários itens que envolvem atividades a serem observadas. Cada item
possui cinco estágios que descrevem o nível do comportamento no qual a criança
se encontra e quanto maior a pontuação em cada item, mais elevado o nível de
desenvolvimento na dimensão estudada.
Para a análise do material coletado, foram elaborados e utilizados os
seguintes protocolos: Protocolo de Análise da Entrevista Inicial com as
Professoras (Anexo 7), Protocolo de Análise da Entrevista Final com as
Professoras (Anexo 8), Protocolo de Análise dos Diários de Campo (Anexo 9), e o
Protocolo de Análise do P.O.C. (Anexo 10).
O Protocolo de Análise da Entrevista Inicial com as Professoras (Anexo 7)
buscou analisar a entrevista inicial feita com as participantes. Nessa investigação,
64
o instrumento procurou identificar os indicadores e as dimensões do
desenvolvimento da criança.
O Protocolo de Análise da Entrevista Final com as Professoras (Anexo 8) foi
um instrumento elaborado com o propósito de registrar as respostas emitidas
pelas educadoras em cada uma das questões presentes no roteiro de entrevista
final.
O Protocolo de Análise dos Diários de Campo (Anexo 9) buscou
sistematizar o diário de campo da profissional e foi dividido em três fases. Na
primeira fase foi identificada a quantidade de diários de campos e o período. Na
segunda fase foi elaborada uma legenda dos diários de campo, registrando-se no
protocolo o ano, o número, a data e a sigla. E, por fim, na terceira fase foram
organizados os trechos retirados dos diários de campo condizentes com o objetivo
da pesquisa e, em seguida, interpretados.
O Protocolo de Análise do P.O.C. (Anexo 10) foi elaborado para analisar os
resultados preenchidos no P.O.C. e dividido em duas fases. Na primeira fase foi
preenchida uma tabela com as identificações das crianças: sexo, data de
nascimento, idade da criança e professora. Na segunda fase foi elaborada uma
tabela para cada categoria do desenvolvimento, contento a dimensão, os sujeitos
e as fases do desenvolvimento.
2.5. Procedimentos
Para a realização deste trabalho foi apresentado, primeiramente, o
Protocolo de Observação da Criança em uma das reuniões de TDC na escola.
Nesse momento, entregamos o instrumento para que elas o visualizassem,
65
juntamente com um texto que discutia as dimensões do P.O.C.. Assim, foi
cogitada a possibilidade de que a proposta pudesse ser inserida como forma de
acompanhamento, desenvolvendo-se um trabalho em conjunto com o educador.
Depois dessa apresentação no TDC, foi acordado com a equipe gestora a
utilização do espaço da Formação Continuada para discutir sobre o
Desenvolvimento Infantil com base nas dimensões do P.O.C. e com todos os
funcionários da escola. Nesse dia dividiram-se os funcionários em três grupos com
o objetivo de promover uma discussão mais aprofundada sobre o assunto e,
assim, cada profissional da equipe de psicologia ficou responsável em coordenar
um grupo. Em geral, houve uma grande participação dos funcionários, que se
mostraram interessados e envolvidos com a questão do desenvolvimento da
criança. Vale ressaltar que os monitores foram os que mais participaram, trazendo
exemplos do cotidiano escolar e expondo suas dúvidas.
Em seguida, foi realizado um estudo piloto de utilização desse instrumento
com a participação das estagiárias de psicologia. Essas estudantes durante as
supervisões de estágio receberam uma capacitação específica para o
preenchimento do P.O.C. sendo orientadas quanto ao conteúdo do instrumento e
ao seu correto preenchimento.
Nesse estudo piloto, as estagiárias preencheram o P.O.C. sem a
participação do educador. A escolha das crianças se deu por meio de três
critérios: a idade, as que eram acompanhadas pelas estagiárias e indicação do
professor. Cada estagiária ficou responsável em preencher o P.O.C. de cinco
crianças, em um total de 25 crianças. Com base nos resultados do P.O.C.
constatou-se que apenas algumas dimensões do desenvolvimento são exploradas
66
no projeto pedagógico da escola, no entanto, não se pode descartar que essa
conclusão possa ter ocorrido em virtude de algumas estagiárias não terem acesso
à sala de aula por decisão do educador e também por observarem as crianças
apenas uma vez na semana.
Após o estudo piloto, para dar continuidade à pesquisa, o projeto foi
submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa, com base no digo de
Ética, estabelecido pelo Conselho Federal de Psicologia (2005). Com a
aprovação do Comitê de ética, foi feita uma conversa individual com cada
professora convidando-a a participar da pesquisa.
No primeiro encontro com as professoras, expliquei a pesquisa,
apresentando o P.O.C. e as etapas da pesquisa. Elas ficaram com uma cópia de
cada um desses documentos, e em seguida entreguei o termo de consentimento
explicando os objetivos e procedimentos, ressaltando que a participação é
voluntária e que será mantido o anonimato de sua identidade. Com a aprovação
da educadora, começou o processo de coleta de dados.
Primeiramente, solicitei que a professora pensasse sobre as suas crianças
e escolhesse, livremente, de acordo com a sua percepção, três crianças de sua
sala de aula que estivessem se mostravam mais desenvolvidas, regulares no
desenvolvimento e menos desenvolvidas. Expliquei que na próxima reunião iria
pedir que elas me falassem de cada uma dessas crianças escolhidas.
Na reunião seguinte, conforme havia combinado, pedi à professora que
falasse das três crianças destacando aspectos do seu desenvolvimento. Essa
entrevista foi gravada e posteriormente transcrita.
67
Após a escolha das crianças pelas professoras, os respectivos pais foram
chamados para serem elucidados a respeito da pesquisa e para darem permissão
para desenvolvê-la com os seus filhos. É importante considerar que as
professoras ajudaram nesse processo, pois sempre que podiam, conversavam
com os pais explicando a relevância da pesquisa.
Com o consentimento dos pais, deu-se início ao preenchimento do
Prontuário de Observação da Criança com as professoras. Terminado esse
momento de preenchimento do P.O.C. foi agendada uma entrevista final com cada
uma das professoras para conversar a respeito de uma metodologia do
acompanhamento do desenvolvimento infantil, com base no P.O.C..
É importante considerar que, durante todo o período de inserção da
pesquisadora na escola, foram registrados nos diários de campo situações e ou
elementos do cotidiano escolar que estariam dificultando a promoção e o
acompanhamento do desenvolvimento infantil. Do mesmo modo, foram
registrados todos os relatos e observações das professoras no que se referia ao
P.O.C.
68
CAPÍTULO 3
RESULTADOS E DISCUSSÃO
69
3.1. INTRODUÇÃO
Considerando que o objetivo geral da pesquisa é compreender como
educadores da Educação Infantil, utilizando como referência um prontuário de
acompanhamento, acompanham e promovem o desenvolvimento das crianças, a
análise dos resultados será apresentada em duas partes, seguindo os objetivos
propostos da pesquisa.
O primeira item refere-se ao objetivo de identificar situações cotidianas da
escola e/ou elementos da realidade que dificultam o acompanhamento e a
promoção do desenvolvimento das crianças, na visão da pesquisadora, das
professoras e da monitoras.
No segundo item buscou-se conhecer a opinião das professoras a respeito
de uma proposta de acompanhamento do desenvolvimento no contexto da
Educação Infantil. Essa parte foi estruturada em três sub-itens. No primeiro, foram
identificadas as dimensões e os indicadores do desenvolvimento infantil que
professores apresentaram de suas crianças, comparando com os resultados e as
dimensões do desenvolvimento consideradas no P.O.C. No segundo, foram
analisadas as informações das professoras sobre o desenvolvimento das crianças,
integrando aos resultados do P.O.C.. No terceiro, foi analisada a opinião das
professoras sobre a utilização de uma metodologia para o acompanhamento das
crianças, bem como o impacto dessa metodologia na construção de atividades
realizadas pelas professoras. Ao final de cada um dos itens, foi apresentada uma
síntese geral dos resultados, juntamente com uma breve discussão desses dados
obtidos, que acabaram por deflagrar questões que merecem destaque.
70
3.2. IDENTIFICAR SITUAÇÕES COTIDIANAS DA ESCOLA E/OU
ELEMENTOS DA REALIDADE QUE DIFICULTAM O
ACOMPANHAMENTO E A PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DAS
CRIANÇAS, NA VISÃO DA PESQUISADORA, DAS PROFESSORAS E
DAS MONITORAS.
Neste item são apresentadas as informações obtidas por meio dos diários
de campo e o processo de análise foi realizado da seguinte forma: Primeiramente,
foi feita uma sistematização dos diários de campo por ano, no período de 2004 a
2008, totalizando 209 diários de campo, que se encontram expressos no Quadro
2. Em seguida, foi feita a legenda dos diários de campo (Anexo 11).
Quadro 2
Registro da Quantidade de Diários de Campo
Ano Período
Quantidade de D.C.
Relator
2004
20-05-2004 a 17-12-2004 23
2005
04-02-2005 a 30-11-2005 34
2006
01-02-2006 a 19-12-2006 48
2007
01-02-2007 a 04-12-2007 37
2008
08-02-2008 a 11-12-2008 67
Pesquisadora
TOTAL 209
Feita a legenda dos diários de campo, cada um desses registros foram
lidos, relidos e foram grifados os trechos que continham situações do cotidiano
escolar condizentes com o objetivo da pesquisa, no caso: as anotações da
pesquisadora sobre o relato de professores e monitores referentes às dificuldades
encontradas em promover e acompanhar o desenvolvimento das crianças na
escola e as anotações das observações, experiência e sentimentos da
pesquisadora com relação a esse objetivo.
71
Enquanto grifava-se o trecho, fazia-se uma identificação ao lado do
fragmento escolhido, especificando-o como relato da professora, da monitora ou
da pesquisadora. Após essa fase, foram extraídos todos os trechos e inseridos no
Protocolo de Análise dos Diários de Campo (Anexo 9), totalizando a construção de
três protocolos, um referente à visão da pesquisadora (Anexo 12), outro
relacionado à visão das professoras (Anexo 13) e, por fim, à visão das monitoras
(Anexo 14).
Finalizada essa fase de preenchimento do protocolo com os trechos
extraídos, a pesquisadora fez uma interpretação de cada um destes trechos. Feita
a interpretação, agruparam-se as que possuíam aspectos de proximidade, o que
possibilitou a visualização e a identificação das categorias, seguindo a proposta
apresentada por González Rey (2002; 2005). Para esse autor, as categorias
seriam uma concretização e organização do processo construtivo-interpretativo
em constante movimento, em que os núcleos de significações teóricas ou as
unidades de sentido se articulam entre si, dando visibilidade a uma produção
teórica. Portanto, as categorias construídas a partir da interpretação dos
resultados estão expressas nos Quadros 3, 4 e 5.
Quadro 3. Situações cotidianas e/ou elementos da realidade que dificultam o
acompanhamento e a promoção do desenvolvimento das crianças,
na visão da Pesquisadora
1.1.
Dificuldade em desenvolver atividades pedagógicas em conjunto
1.2.
Decisões da equipe gestora sem a participação das educadoras
1.3.
Crítica destrutiva e/ou descrédito ao trabalho do educador
1.4.
Espaço de TDG pouco aproveitado pela escola
1.5.
Relação conflituosa entre a escola e a família
1.6.
Contexto de violência da criança
72
Quadro 4. Situações cotidianas e/ou elementos da realidade que dificultam o
acompanhamento e a promoção do desenvolvimento das crianças,
na visão das Professoras
2.1.
Dificuldade em desenvolver atividades pedagógicas em conjunto
2.2.
Decisões da equipe gestora sem a participação das professoras
2.3.
Não existe suporte pedagógico da equipe gestora
2.4.
A implantação da política de agrupamento na Educação Infantil
Quadro 5. Situações cotidianas e/ou elementos da realidade que dificultam o
acompanhamento e a promoção do desenvolvimento das crianças,
na visão das Monitoras
3.1.
Quantidade de criança por educador
3.2.
Contexto de violência da criança
Durante a exposição dos resultados, essas categorias foram conceituadas e
exemplificadas, norteando a discussão das informações. Os resultados do
primeiro objetivo da pesquisa, no caso, identificar situações cotidianas da escola
e/ou elementos da realidade que dificultam o acompanhamento e a promoção do
desenvolvimento, o divididos em três sub-itens. A primeira refere-se à visão da
pesquisadora, a segunda à visão das professoras e a terceira à visão das
monitoras.
Ao fim da análise, foi apresentada uma síntese geral dos resultados,
seguida de uma breve discussão sobre alguns aspectos que o Psicólogo Escolar
precisa se ater ao planejar propostas de intervenções que vise à promoção e ao
acompanhamento do desenvolvimento. E, por fim, ressaltou-se a importância da
pesquisa intervenção para o planejamento de intervenções contextualizadas,
numa perspectiva preventiva.
73
3.2.1. NA VISÃO DA PESQUISADORA
a) Dificuldade em desenvolver atividades e/ou propostas pedagógicas em
conjunto
Essa categoria engloba as situações de resistência e/ou dificuldade dos
educadores professores e monitores em desenvolverem atividades
pedagógicas em conjunto. Durante a vivência na escola, a pesquisadora registrou
várias situações e atitudes dos educadores que sinalizavam o desinteresse em
conhecer as atividades desenvolvidas pelos outros profissionais no contexto
escolar. Isso era visível quando a escola promovia reuniões em que as
educadoras teriam que expor as suas experiências:
“Em uma reunião de Formação Continuada sentimos que o grupo não estava
coeso, com conversas paralelas, o que demonstrava o descaso frente à
apresentação que estava sendo feita pelos professores. Durante o discurso das
professoras, observamos que elas adotavam uma fala informal, inconsistente,
sem sentimento. Relatando apenas as atividades que desenvolviam sem colocar
nenhuma dificuldade que poderiam estar sentindo com a sala de aula. Ao final
da apresentação a direção teve que pedir encarecidamente que o grupo
permanecesse até a última apresentação, que à medida que apresentavam,
os educadores saíam discretamente, o que demonstrava o desinteresse em
ouvir as atividades que estavam sendo desenvolvidas nas outras turmas
(DC002).
Além do agravante do desinteresse dos educadores em conhecer o
trabalho do outro, também o desinteresse em construir e discutir coletivamente
propostas pedagógicas. Na Educação Infantil, a divisão de funções existentes
entre os monitores e professores torna-se um empecilho para a concretização de
um trabalho pedagógico coletivizado.
74
Em geral, as professoras não compartilham com os monitores as atividades
que pretendem desenvolver com as crianças, e isso é constatado quando um
professor falta e as monitoras assumem a sala de aula. Observe o trecho a seguir:
“Quando a professora falta e a sala fica sob a responsabilidade apenas das
monitoras, elas ficam perdidas. Em geral, elas colocam as crianças na sala de
vídeo e as deixam assistindo ao filme por um longo tempo ou as colocam em
sala de aula e espalham os brinquedos. As monitoras nos dois contextos ficavam
observando e tentando ter o controle da situação” (DC074).
Os monitores, quando ficam com a responsabilidade de uma turma
assumem o papel de manter a segurança das crianças, observando e intervindo
quando alguma criança briga ou está em uma situação de risco. Geralmente, os
monitores nessa situação organizam as rotinas como: hora de brincar, de tomar
banho, de trocar, de alimentar, focando as atividades, exclusivamente, no cuidar.
Isso revela que, na ausência do professor, as atividades desenvolvidas com
as crianças ficam interrompidas, não continuidade. Esse tipo de situação
deflagra a inexistência de um trabalho integrado, bem como revela a divisão de
tarefas existentes entre o professor e o monitor, ficando ao cargo de cada um
desses agentes, respectivamente, o papel de educar e o de cuidar.
A dificuldade em desenvolver atividades em conjunto deve-se à posição
que o professor ocupa dentro da escola, revelando uma hierarquia do saber.
Portanto, são de responsabilidades exclusivas do professor planejar as atividades
e conversar com os pais. Em várias situações verifica-se a exclusão dos monitores
nestes momentos, conforme o relato de uma delas:
75
“A monitora comentou o fato de não aceitar que somente a professora saiba o
que está ocorrendo com as crianças, pois nas reuniões de pais participa o
professor e as monitoras ficam sem saber o que foi conversado. De acordo com
a monitora, as professoras alegam que é confidencial. Isso deixa as monitoras
muitos chateadas, porque querem saber sobre as crianças em virtude de ficarem
mais tempo com elas do que as próprias professoras” (DC021).
Pelos depoimentos e observações de campo, pode-se perceber que
uma relação conflituosa entre professores e monitores, mas que é permeada pela
própria institucionalização das tarefas no contexto escolar. Ao conversar com um
dos integrantes da equipe gestora da escola a respeito da exclusão dos monitores,
presencio uma postura de resistência ao trabalho desse profissional:
“Uma das integrantes da equipe gestora enfatiza que somente as professoras
terão acesso a informações sobre o contexto de vida das crianças. Além disso,
criticou o trabalho das monitoras, pois, por várias vezes ela teve que ir até a
CEMEI por escutar gritos constantes” (DC023).
Outro episódio que evidência essa divisão institucionalizada ocorreu
durante uma conversa realizada com a equipe gestora a respeito dos cadernos de
registros, pois em cada sala possuía dois, um para o monitor e outro para o
professor.
“Nessa reunião fui informada que não pode ter apenas um caderno de registro,
porque as atividades são diferentes. o trabalho do monitor e o do professor
(DC128)
76
Esta distinção institucionalizada entre o trabalho do monitor e do professor
provoca hierarquias nas relações de trabalho. Durante o Grupo de Estudo dos
Monitores (GEM), ao se discutir sobre a importância de integrar o cuidar e o
educar, os monitores fizeram o seguinte comentário:
“As monitoras explicam que a sugestão da Orientadora Pedagógica em integrar
o TDI e o GEM jamais seria aceito pelos professores, alegam que esta proposta
de juntar o cuidar e o educar é uma demagogia, porque nunca foram vistas como
educadoras e portanto, jamais seriam reconhecidas. Ressaltam que ao
conversar com as professoras sobre as crianças, elas não gostam, sentem-se
afrontadas, além de desconsiderarem as suas opiniões. As monitoras afirmam
que não são reconhecidas como educadoras e sim como trocadoras de fraldas.”
(DC141)
Imagina-se o quanto é incoerente para os monitores escutarem uma
proposta de inclusão na participação das atividades pedagógicas, quando as
ações da escola vão de encontro a essa proposta. De fato, é difícil adotar uma
proposta de integrar o cuidar e o educar na Educação Infantil quando duas
categorias de profissionais com atividades, formação e salários discrepantes
dentro de uma mesma área.
Um fator novo que adentrou nas relações de trabalho nesse contexto
escolar, foi a entrada de novos monitores com curso superior por meio de
processo seletivo na rede municipal de educação no ano de 2007. A relação de
poder se estendeu entre os próprios monitores, tendo em vista que os monitores
mais antigos possuíam ensino médio ou apenas o fundamental. Os monitores
mais antigos comentavam que alguns monitores novos se utilizavam de termos
77
técnicos durante as conversas para se mostrarem superiores, levando ao seguinte
desabafo de uma monitora:
“Ele pode pegar este diploma dele e jogar no lixo, porque aqui na escola ele é
monitor, um trocador de fraldas e este diploma não vai mudar nada’”. (Diário de
Campo, 12-03-2009)
As monitoras que estão mais tempo na rede sentem-se afrontadas com
a entrada desses novos monitores com curso superior, desencadeando uma
relação conflituosa. Essa situação é confirmada na pesquisa de Alvares (2009) ao
refletir a sua entrada na educação infantil como monitora com curso superior. De
acordo com essa pesquisadora, as novas monitoras foram compreendidas por
algumas das monitoras efetivas como mais uma pessoa com diploma (além da
professora) que tentaria ficar acima delas nas relações de poder.
Dando continuidade à discussão acerca da dificuldade dos educadores em
desenvolverem atividades em conjunto, outro agravante, além do conflito entre
monitor e professor, é a relação de disputa e competição entre os próprios
professores. Durante uma conversa no parque, uma professora compartilha
comigo a situação que vem enfrentando com outra professora na escola devido
transferência de seu aluno:
“A criança foi transferida da sala da professora DDD para a sala da professora
CCC. Isto deixou a professora DDD bastante chateada porque desde quando a
professora CCC recebeu o aluno, tem tentado mostrar para a escola e para a
mãe que ela é mais competente e saberá lidar com a criança”. (DC170).
78
Nessa escola a disputa e a competição para quem é a melhor professora é
algo corriqueiro. Uma tenta mostrar que faz mais do que a outra, ou então,
algumas professoras tentam impedir a concretização de atividades propostas por
um agrupamento. Durante uma atividade de pintura no parque, uma professora
mostrou-se extremamente incomodada com a atividade desenvolvida com as
outras crianças pelas professoras, observe o trecho a seguir:
“Durante o parque as professoras BBB e DDD estavam desenvolvendo
atividades de pintura com as crianças, com exceção da professora CCC. De
acordo com a professora DDD ela não comunicou nada para a professora CCC
porque teve um dia que elas iam fazer uma atividade diferente com as crianças e
ao levar o material para a professora CCC ela foi extremamente mal recebida e
criticada pela sugestão. Além disso, a professora CCC disse que as professoras
BBB e DDD sabiam dar trabalho para ela, não conseguiam ficar sem fazer
algo”. (DC184).
Esse tipo de situação conflituosa, com base no confronto, enfraquece a
construção de uma parceria mais sólida entre as educadoras. É comum a
construção de grupinhos na escola, onde cada grupo tenta impor as suas ideias e
objetivos. Era comum presenciar ou escutar relatos direcionados a essa questão
de disputa. Durante o parque, numa manhã, conversando com uma monitora, ela
comenta:
“A monitora diz: ‘as relações sociais na escola são construídas com base na
inveja, na desconfiança, desejando o mal do outro’. Disse-me que sente um
clima muito carregado e sempre ora antes de ir à escola. Ressaltou que sempre
79
foi uma profissional que a escola podia contar, sempre que era solicitada ela
substituía algum professor ou monitor e isso deixava os outros profissionais
enciumados” (DC191)
Além disso, quando um conflito de opiniões ou de propostas de
intervenção entre as professoras, elas cortam a relação e não trabalham mais
juntas, interrompem o processo da atividade que estavam desenvolvendo,
prejudicando as crianças.
“Conversei com a professora BBB sobre o rompimento de sua relação com a
educadora especial, disse que não conseguia entender como duas profissionais
que desenvolviam um trabalho integrado, sintonizado, um facilitador para a
promoção do desenvolvimento das crianças, decidiram do dia para o outro parar
de se falar e, consequentemente, de trabalharem juntas na sala de aula.
Segundo a professora BBB, isso aconteceu desde o dia em que a educadora
especial destratou a mãe de seu aluno por causa de um relatório dizendo que
não o faria e a professora esperava outra atitude da educadora especial, como
buscar informações sobre esse relatório” (DC 195).
Ao conversar com uma monitora sobre a relação conflituosa entre a
professora e a educadora especial e o impacto desse conflito no desenvolvimento
da criança, escuto o seguinte depoimento:
“De acordo com a monitora, a ausência da educadora especial na sala fez a
criança regredir. Ela acha que isso aconteceu porque a professora não sabe
colocar limites na criança, diferente da intervenção da educadora especial. De
acordo com a monitora, as duas possuem uma forma de intervir diferente com a
criança e isso vem gerando prejuízos em seu desenvolvimento”. (DC192)
80
Diante desse relato da monitora fica constatado que a divergência de
opiniões e de propostas de intervenções entre os educadores traz prejuízos ao
desenvolvimento das crianças. E isso era algo recorrente na escola, além da
ausência de planejamento pedagógico para desenvolver atividades com as
crianças, segundo as monitoras:
“Durante as leituras e debates, as monitoras refletiram sobre a necessidade de
existir um trabalho pedagógico mais eficiente, em que houvesse um
planejamento que possibilitasse o desenvolvimento das crianças em todos os
seus aspectos. Elucidaram várias situações como o caso da alimentação no
refeitório, em que as crianças já são ‘obrigadas a saber comer com os talheres’,
apesar de não haver uma preparação inicial para a entrada dessas crianças no
refeitório, tipo uma oficina”. (DC138)
Durante a minha vivência na escola foi possível observar que, além das
relações conflituosas entre as educadoras, aparecia outro agravante que
dificultava a elaboração de propostas de intervenção em conjunto, no caso, a
resistência de algumas professoras em compartilhar informações acerca da
criança e traçar encaminhamentos com a equipe gestora e até mesmo com a
equipe de psicologia. No trecho a seguir trago uma conversa realizada com a
professora a respeito de seu aluno:
“Sugeri à professora CCC que conversássemos com a Orientadora Pedagógica
sobre a criança com o objetivo de encontrarmos uma solução em conjunto. A
professora CCC ficou meio temerosa, dizendo que teria muitas pessoas como
referência para a criança. Expliquei que ela seria a única a trabalhar com a
criança e nós iríamos discutir sobre o desenvolvimento dele em grupo, nos
horários de TDI. Tentei convencê-la da importância de compartilharmos
informações com a Orientadora Pedagógica com o objetivo de traçarmos
81
intervenções que promovessem o desenvolvimento da criança, com a
participação de vários profissionais. Ela me disse que irá pensar” (DC171)
Ao retornar à escola e perguntar a professora se ela aceitaria a proposta de
intervirmos com a participação de uma equipe interdisciplinar professora,
orientadora pedagógica e psicóloga – deparei-me com a seguinte resposta:
“Conversei, novamente, com a professora CCC sobre a possibilidade de
trabalharmos em equipe visando a um acompanhamento mais sistemático da
criança e escutei um NÃO categórico, sem explicação” (DC174)
No caso citado anteriormente, a professora tem resistência em trabalhar
com a Orientadora Pedagógica, mas mostra-se muito solícita em trabalhar com a
psicóloga, compartilha informações e busca opiniões. No entanto, professoras
que têm resistência ao serviço de psicologia. Alguns educadores deixam de
partilhar informações com a equipe de psicologia para impedir o acompanhamento
das crianças. Esse tipo de situação era comumente compartilhado com a equipe
gestora e o trecho a seguir elucida uma conversa realizada com a Orientadora
Pedagógica:
“Conversamos com a Orientadora Pedagógica a respeito da resistência das
professoras. Explicamos que as crianças da CEMEI são acompanhadas, mas,
quando elas vão para a EMEI, esse acompanhamento deixa de existir por causa
de algumas professoras. A profissional de campo da EMEI tem uma lista com os
nomes das crianças acompanhadas na CEMEI, mas da forma como as coisas
estavam acontecendo, era impossível acompanhá-las e isso traria prejuízos
às crianças. A Orientadora Pedagógica disse que as educadoras solicitam um
retorno mais frequente sobre as crianças, por isso a resistência. Ressaltamos
82
que a equipe o teria como dar esse retorno, se não tivéssemos como
acompanhar as crianças” (DC032)
Diante desse impasse, a equipe de psicologia preocupada com algumas
crianças que precisariam, urgentemente, de um acompanhamento decidiu
conversar com a direção da escola para encaminhar algumas diretrizes.
“Hoje conversei com a direção sobre algumas professoras que vinham
prejudicando a nossa intervenção na escola. Em nossa reunião, relatei que as
estagiárias estavam tendo dificuldade para acompanhar duas salas porque as
professoras estavam impedindo nossa entrada e sempre diziam que não a
necessidade de chamar as mães, porque estava tudo bem com os seus alunos.
Citei alguns exemplos de crianças dessa turma que precisariam de
acompanhamento e a direção ficou preocupada” (DC115).
Pelos depoimentos e observações de campo, pode-se perceber que as
relações de trabalho na escola são permeadas pelo poder, pela disputa e pela
desconfiança, e isso dificulta a concretização de trabalhos pedagógicos
construídos coletivamente. E, por isso, era aparente a dissonância de atividades
desenvolvidas em um mesmo agrupamento e os prejuízos para as crianças ficam
evidentes pela ausência de uma política pedagógica coletiva e consistente.
83
b) Decisões da equipe gestora sem a participação das educadoras
São todas as decisões provenientes da equipe gestora sem a participação
das educadoras e, portanto, sem os seus consentimentos. Dentre os aspectos
referentes a essa categoria encontrava-se, com frequência, a mudança de aluno
de sala de aula sem um diálogo com o educador.
“A professora HHH, no refeitório, veio conversar comigo a respeito da mudança
de sala de aula de sua aluna e se eu estava sabendo de alguma coisa. Eu disse
que não. A professora queixou-se de que não foi comunicada, Simplesmente
tiraram a criança de sua sala sem uma conversa prévia” (DC147).
Levar em consideração a opinião dos professores acerca da transferência
de alunos é algo que, dificilmente, presenciei durante o tempo que estive na
escola. Eram decisões que provinham da equipe gestora.
A equipe de psicologia sempre se mostrou contrária a essa postura e
reafirmávamos a todo instante a importância do professor participar do processo,
tendo em vista que ele fica a maior parte do tempo com a criança e tem mais
elementos para discutir a respeito da transferência. Além disso, a postura de
excluir os professores das decisões retira a sua função de pensar/agir sobre o
processo pedagógico.
No entanto, o que se percebia era que a exclusão dos professores nessa
tomada de decisão ocorria, principalmente, porque os pais procuravam a equipe
gestora solicitando a mudança de sala do filho independentemente da opinião dos
professores. Vários pais requeriam a transferência acompanhada da ameaça de
84
mudar a criança de escola caso não fosse atendido. Observe o desabafo da
professora durante o TDC:
“No TDC a professora JJJ estava compartilhando com o grupo a sua indignação
acerca da atitude da direção de mudar a criança de sua sala para colocá-la em
outra sala sem o seu consentimento. De acordo com a professora, a criança
estava em estado de desnutrição e, como reclamava isso à mãe, ela (a mãe)
ficava incomodada e foi se queixar à direção, exigindo a mudança de sala do
filho, caso contrário, iria tirá-lo da escola” (DC039).
Diante da situação, em vez de a equipe gestora conversar com a
professora, acatava o pedido da mãe e não comunicava à educadora. Ainda
analisando essa questão da transferência de aluno, além de tirarem a criança da
sala sem o consentimento do professor, a equipe gestora não comunicava a
entrada do aluno para a professora que iria recebê-lo. Em vários momentos
escutei relatos de professoras comentando a surpresa de encontrarem o aluno de
outra sala na sua turma. Essa falta de comunicação pode ser ilustrada no trecho a
seguir:
“Fui à sala da professora BBB para conversar a respeito da transferência do
aluno para sua turma e ela mostrou-se pouco chateada, pois estava
conformada com esse tipo de postura da escola. Ressaltou que isso nunca vai
mudar. Além disso, relatou que soube da transferência da criança para sua sala
por meio da perueira da escola ao levar a neta para a turma” (DC129).
Nessa situação, também se pôde constatar um desânimo da professora em
reivindicar ou exigir a sua participação nos processos decisórios que envolviam os
seus alunos. É importante considerar que essa postura apática e conformista
85
diante das decisões da equipe gestora era percebida em muitos profissionais da
escola que se sentiam desestimulados a reivindicar já que tinham a certeza de
que não conseguiriam mudar a situação.
Outro ponto que gostaria de destacar, também nessa categoria, é que além
de não ter uma comunicação entre a equipe gestora e as educadoras, isso
também não acontecia entre as próprias educadoras. As professoras envolvidas
nesse processo de transferência não dialogavam para saber a respeito do
desenvolvimento da criança.
O que se percebia era que a professora que teve o aluno transferido sentia-
se desvalorizada e, como represália, ausentava-se desse processo e direcionava
à equipe gestora a responsabilidade de trabalhar a mudança com a criança e o
mesmo ocorria com a professora que o recebia.
“A professora DDD comentou comigo que a professora CCC, que recebeu o seu
aluno, reclamou da criança e disse: ‘quero devolvê-lo a você’. Diante disso, a
professora DDD respondeu que nada poderia fazer, porque tiraram a criança da
sua turma a pedido da mãe sem o seu consentimento. Segundo a professora
DDD, a professora CCC não a procurou para conversar sobre os motivos dessa
transferência e nem se interessou em buscar informações de como a criança
estava em sala de aula, deixando-a muito chateada” (DC179).
Com o objetivo de conhecer os sentimentos da professora que recebia a
criança, deparei-me com o seguinte desabafo:
“A professora AAA estava muito chateada, porque ninguém comunicou a entrada
desse aluno e percebia que todas as crianças que davam problemas na escola
eram encaminhadas para a sua sala. Ela mostra-se muito indignada sobre a
86
visão que a escola possuía dela, como a dominadora e isso vem mexendo com o
seu estado emocional, pois se sente a ‘megera da escola’” (DC129).
Diante dessa situação em vez de as educadoras se unirem, se
fortalecerem, elas se fechavam em grupinhos ou individualmente, desmoronando
as relações sociais, porque ninguém ajudava o outro: cada um cuidava do seu
problema. Essa falta de diálogo entre os membros da escola é confirmada por
outra professora:
“A professora BBB me explica que na escola não existem trocas de informações
sobre as crianças, dizendo: ‘nesta escola você recebe uma criança e não sabe
como ela estava na outra sala’” (DC183).
Analisando esses trechos, constata-se que não um trabalho integrado
entre as professoras e a equipe gestora, no intuito de traçar atividades
pedagógicas que ajudem a saída e a acolhida da criança, que simplesmente é
“jogada” de uma sala para outra. Esse tipo de situação, por abalar o estado
emocional das professoras, impediam-nas de buscar a construção de um trabalho
coletivo. No entanto, é importante considerar que nesse processo são as crianças
que mais sofrem com a mudança e, por isso, deveriam ser vistas como
prioridades.
Outro agravante é o fato de a escola não preparar os educadores para a
realização das atividades provindas da nova decisão. O episódio a seguir retrata a
insegurança das educadoras em trabalhar com as crianças em uma sala de
informática por não terem sido consultadas e preparadas:
87
“Na reunião de Planejamento Pedagógico, a equipe gestora avisou aos
funcionários a inauguração da sala de informática, deixando as professoras
bastante indignadas, pois construíram uma sala de informática e nem pediram a
opinião dos educadores. Após o comunicado da inauguração, a equipe gestora
avisou que naquele dia seria realizada uma oficina para ensinar as professoras a
trabalharem com os jogos infantis implantados nos computadores. Era evidente
a resistência das educadoras com esses jogos, pois achavam que seria
impossível ficar com todas as crianças nessa sala de informática mexendo ao
mesmo tempo nos computadores, bem como poderia acontecer situações em
que elas não iriam conseguir destravar o computador ou coisa assim” (DC100).
Os professores por não participaram no processo de implantação da sala
de informática, tiveram resistência para aceitá-la esta nova sala. Ocorreram
críticas, inquietações e dúvidas sobre a viabilidade e propriedade desse novo
trabalho. Esses comportamentos são esperados, tendo em vista que os
professores não se reconheciam no produto desse trabalho e, portanto, deixavam
de assumir a proposta por não se sentirem parte dela.
A postura centralizadora da equipe gestora deixava as educadoras
desmotivadas a tentarem mudar a situação. Ficavam submissas às ordens da
equipe gestora e, sem forças para questioná-las, acreditavam que nada seria
mudado:
“A professora AAA trouxe alguns exemplos da postura autoritária da direção e
eu a instruí a buscar nos planos de cargos e nas leis educacionais quais são os
direitos e deveres de cada um dentro da escola, pois sentia que o seu espaço
estava sendo invadido, precisaria reivindicar legalmente e não apenas reclamar.
Ela disse que não tinha jeito, tudo já tinha sido feito e nada foi melhorado
(DC113).
88
No entanto, deve-se mencionar que essa imobilidade também era em
decorrência do pouco conhecimento sobre as leis que regem a educação infantil
no país. Algumas das mudanças estruturais na escola, como o agrupamento,
vieram como formas de novas políticas da prefeitura, mas algumas professoras
verbalizavam como sendo algo vindo da equipe gestora:
“Fui conversar com a professora sobre as suas crianças e ela estava bastante
insatisfeita com essa mudança na faixa etária, no caso o agrupamento.
Reclamou que não aguenta mais essa situação e que a direção é louca, mas
elas (professoras) não’” (DC108)
Acredita-se que se a equipe gestora possibilitasse, frequentemente, um
espaço de discussão com os educadores sobre as políticas educacionais
brasileiras, poderia evitar ou diminuir os conflitos existentes.
Enfim, para acompanhar e promover o desenvolvimento infantil no contexto
escolar faz-se necessário a participação e o envolvimento de todos os
profissionais responsáveis pelo processo pedagógico, cada qual contribuindo e
desempenhando o seu papel como agentes promotores do desenvolvimento
físico, psicológico, intelectual e social das crianças.
89
c) Crítica destrutiva e/ou descrédito ao trabalho dos educadores
Nesta categoria foram englobadas todas as críticas da equipe gestora
dirigidas às atividades desenvolvidas pelos professores e monitores. Essa
situação tem ocasionado a desmotivação dos educadores em desenvolver
atividades com as crianças.
“As professoras estavam desestimuladas e não tinham mais força de vontade
para ir à escola em razão da equipe gestora sempre criticar e questionar tudo o
que elas faziam, como se elas não fizessem nada certo” (DC089).
Esse tipo de desabafo era recorrente nas leituras dos diários de campo, nos
quais os educadores, frequentemente, relatavam atitudes e palavras da equipe
gestora, em especial da direção, desvalorizando os seus trabalhos. Os dois
trechos a seguir ilustram o descontentamento de uma professora e de uma
monitora:
“Ao perguntar à professora AAA se ela estava bem, ela desabafa dizendo que
não aguentava mais ficar na escola, sentia-se desrespeitada e tinha a impressão
de que é uma péssima profissional em virtude de sempre criticarem o seu
trabalho. Relatou que está nesta escola mais de 23 anos e pensa em pedir a
remoção no próximo ano, pois conviver com a direção tem sido insuportável
(DC113).
“A monitora comenta durante o GEM que naquela escola não respeito pelo
outro e as pessoas são sempre desvalorizadas no que fazem. Todos
concordaram com as colocações dessa monitora” (DC141)
90
A auto-imagem que as professoras vão construindo de si, como péssimas
profissionais, estão atreladas à desvalorização dada ao seu trabalho no contexto
escolar. É possível identificar o processo de desqualificação e desvalorização
sofrido pelos educadores e essa baixa auto-estima vem a interferir, diretamente,
na elaboração de propostas pedagógicas, conforme expressa o trecho a seguir:
“Durante as apresentações de cada comissão, uma das professoras queixou-se
de que o adiantava entregar a proposta, porque tudo o que era entregue à
equipe gestora “nunca prestava” sempre precisava mudar algo no projeto. Esse
assunto demandou um bom tempo da reunião, porque cada professora começou
a citar exemplos e a expressar os seus descontentamentos” (DC089)
As professoras estavam cansadas, estressadas, desmotivadas e perdidas,
sem saber o que fazer para modificar aquela situação insuportável. Além disso,
elas não podiam contar com a participação da Orientadora Pedagógica, pois se
colocava na mesma situação das professoras. Observe o trecho a seguir:
“Durante o TDC, a Orientadora Pedagógica verbalizava que a atitude das
professoras a prejudicaria, porque poderia ser vista como incompetente e que a
escola não anda por causa dela, entre outras coisas. As professoras
responderam que qualquer reclamação era para ser dirigida a elas e não à
Orientadora Pedagógica” (DC130).
Diante de uma série de atos e comentários sobre como a equipe gestora
desestabilizava os profissionais da escola, surgiu na escola a abertura de um
processo de assédio moral.
91
“A professora GGG durante o TDC citou vários casos de desrespeito da direção
com os funcionários da escola e deixou claro que estava juntando documentos
para “incriminar” a direção e abrir um processo de assédio moral” (DC099).
A rotina exaustiva dos educadores, cercada de cobranças e ameaças,
gerava um cansaço físico e mental prejudicando o andamento das atividades com
as crianças. Houve um momento no qual as crianças foram até abandonadas no
refeitório diante de uma situação de estresse da educadora:
“A monitora, ao saber da crítica à sua companheira de trabalho, abandonou as
crianças no refeitório dizendo que não ficaria mais naquela escola, foi para a
sala de aula e arrumou as suas coisas. Ela gritava muito e batia na mesa
dizendo que não tinha o trabalho reconhecido, que as pessoas só reclamavam...
A monitora explicava que não tinha uma boa saúde e que iria acabar morrendo
naquela escola” (DC146).
Muitas eram as reclamações de desânimo e indignação das educadoras
diante das críticas da equipe gestora. Estabelecer um diálogo entre esses dois
grupos parecia impossível naquela escola e essa situação virou um cabo de
guerra, atingindo diretamente as crianças, que ficavam à mercê das decisões
advindas desses conflitos.
Preciso mencionar que a desmotivação atingia, também, a direção da
escola, conforme o seguinte desabafo:
“A direção desabafou falando do seu desânimo em continuar na escola. Disse-
me que esperava muito da escola, mas percebia que as coisas não andavam e
sentia-se desestimulada. Falou-me de sua relação conflituosa com as
professoras e que, a todo momento, precisava se defender dos ataques”
(DC064).
92
Diante desse desabafo expliquei que essa relação conflituosa entre a
direção e as professoras estava angustiante para ambas as partes. Coloquei o
desânimo que também tenho percebido nas educadoras e ponderei que, se não
resolvêssemos isso o mais rápido possível as crianças ficariam prejudicadas.
O que percebo nessa escola é uma desmobilização dos educadores em
questionar ou exigir a sua participação na escola. Muitos profissionais em virtude
das críticas e dos conflitos interpessoais, adoeceram e por isso começaram a se
abster dos problemas da escola para garantir a saúde física e psicológica.
“A professora AAA disse-me que a partir de agora iria se preocupar mais com
ela e menos com a escola. Para ela, as crianças continuariam a ser o centro de
sua atenção, mas iria abdicar dos problemas mais gerais da escola, visto que
percebeu que aquela escola não era mais dos professores muito tempo, pois
eles deixaram de ter voz ativa na escola. Falou-me que iria utilizar a filosofia da
vaca: ‘cagando e andando para os problemas da escola’” (DC185).
Analisando os trechos apresentados percebe-se que as professoras
queriam ser escutadas e respeitadas, mas com o decorrer do tempo começaram a
perder forças e cada uma, aos poucos, foi se retirando para as suas salas e
começaram a contar os dias para se aposentar. Diante desse turbilhão, estão as
nossas crianças vivendo um dia de cada vez, sem saber ao certo o que estão
fazendo na escola e qual o papel da escola em suas vidas.
93
d) Espaços de reuniões coletivas na escola pouco aproveitados.
Nesta categoria estão incluídos todos os momentos em que as professoras
relatam a falta de planejamento e organização, bem como a fragilidade com que
são debatidos os temas nos espaços de TDC.
O que se vem percebendo é uma reclamação das professoras com relação
à ausência de programação nas reuniões semanais de TDC na escola, conforme
comenta uma professora a seguir:
“A professora EEE disse-me que a Orientadora Pedagógica o tem uma
programação das atividades que irá realizar no TDC com as professoras
revelando um total desinteresse e falta de compromisso profissional. Para a
professora EEE essa postura da Orientadora Pedagógica faz com que as
educadoras não levem a sério o momento de TDC na escola” (DC095)
Esse tipo de situação ocasiona, de acordo com professora, a apatia ou o
desinteresse das professoras em participarem desses espaços que deveriam ser
organizados para pensar a respeito de propostas pedagógicas. Essa falta de
planejamento da Orientadora Pedagógica foi sentida pela equipe de psicologia:
“Expliquei a direção que o TDC era um espaço que não estava servindo para
promover o desenvolvimento das crianças, ressaltei que eu havia sugerido a
utilização do POC três semanas para ser trabalhado e até agora o tivemos
espaço para isso. Falei da urgência em acompanharmos as nossas crianças,
pois o tempo estava passando e nada estava sendo feito” (DC063).
Pelas análises e observações feitas, notamos uma ausência de objetivos e
de planejamento. As atividades eram desenvolvidas aleatoriamente. Outro
94
agravante trazido pelas professoras era a fragilidade e a superficialidade com que
eram discutidos os textos nessas reuniões, como retrata o trecho a seguir:
“A Orientadora Pedagógica iniciou o TDC explicando a respeito da pedagogia
de projetos, socializando o que seria planejado para este ano com as crianças
na escola. Uma professora questionou a O.P. sobre o tema, dizendo que a
complexidade do assunto não poderia ser debatida em uma hora. E pela
discussão ficou claro que a professora tinha razão, uma hora do dia seria
insuficiente” (DC089).
De fato, em vários momentos, pudemos presenciar atitudes
descontextualizadas e/ou dinâmicas inapropriadas da Orientadora Pedagógica
para discutir os textos nesses espaços de formação do professor, conforme
expresso no trecho a seguir:
“A Orientadora Pedagógica fez a leitura do texto “Apenas brincando”, durante o
TDC, para as professoras e essa dinâmica não prendeu a atenção das
educadoras, ficaram dispersas. Após o término da leitura do texto, a O.P.
entregou outro texto denominado “Linguagem infantil: outras formas de leitura”.
Nesse momento solicitou que as professoras formassem grupos para lerem o
texto e, posteriormente, abriria para discussão. Cada grupo recebeu um texto e
isso levou as professoras a reclamarem, porque ficava inviável a leitura do texto
por ser muito extenso para o pouco tempo dedicado a essa atividade. Enquanto
as professoras ficavam conversando em vez de fazerem a leitura, a O.P. tirava
xérox de outro material e ao retornar ao grupo falou a respeito das inscrições de
um curso sobre educação infantil e não debateram o texto entregue às
professoras” (DC098).
Diante dessas atitudes da Orientadora Pedagógica em não demonstrar
interesse em discutir os textos levados ao grupo, faz com que as professoras
95
sintam que estão perdendo tempo nesse espaço. Além disso, as professoras ao
perceberem a fragilidade teórica da Orientadora Pedagógica não a escutavam e
nem demonstravam interesse em debater os textos entregues.
“A Orientadora Pedagógica iniciou a reunião lendo um texto para as educadoras
que, geralmente, não são aproveitados. Durante a leitura ficava visível o
desinteresse das educadoras, surgindo algumas piadas a respeito do texto”
(DC086)
No entanto, não se deve culpabilizar apenas a Orientadora Pedagógica pelo
pouco aproveitamento dado a esse espaço, pois, geralmente, quando se discutia
questões pedagógicas, o grupo, em sua maioria, se distanciava desse debate e,
por consequente, de sua construção, e quando chegava o material pronto
reclamavam, dizendo que não iriam seguir a proposta sugerida.
“No horário do TDC a Orientadora Pedagógica entregou um material que
continha a rotina de cada professora e isso ocasionou uma grande discussão. As
professoras eram enfáticas ao afirmarem que não iriam seguir aquela rotina
proposta, deixando a Orientadora Pedagógica irritada, pois ela argumentava que
havia marcado dois TDi com as professoras para a discussão daquela rotina e
elas nunca davam sugestões e, por isso, teve que elaborá-lo sozinha e agora se
deparava com a resistência das professoras em não seguir a proposta” (DC130).
É visível que as professoras possuíam uma parcela de responsabilidade
para a não concretização dos objetivos propostos: elas também demonstravam
desinteresse em participar da elaboração das propostas pedagógicas da escola. O
trecho a seguir exemplifica essa situação:
96
“Em razão das conversas paralelas durante a reunião a Orientadora Pedagógica
se alterou e pediu a participação de todas. Percebi que ela estava muito
chateada com todo aquele descaso, pois estavam decidindo questões sérias que
demandavam a atenção de todos os educadores” (DC088).
De fato, a Orientadora Pedagógica não era a única responsável pelo pouco
aproveitamento dos espaços coletivos e sentia-se desrespeitada por não ter a
atenção das professoras.
A reunião a seguir ilustra a ausência de articulação entre as professoras e
Orientadora Pedagógica, revelando a falta de um trabalho coletivo organizado:
“Durante o TDC a Orientadora Pedagógica entregou um questionário às
professoras, o qual ajudaria a elaborar a pedagogia de projetos. Enfatizou que a
escola tinha um prazo para a entrega do projeto e, caso não conseguisse
entregar, iria solicitar às professoras que assinassem um documento se
responsabilizando pela não entrega, tendo em vista que havia comunicado o
prazo para o grupo e elas não deram muita importância. Isso gerou um maior
atrito na reunião. As professoras começaram a culpar a O.P., dizendo que ela
deveria saber priorizar as coisas e, se tivesse falado da urgência elas não iriam
relutar em responder” (DC090).
Em vários momentos, após participar desses encontros, saía muito
desestimulada e às vezes revoltada com toda essa desorganização em
planejarem algo que beneficiasse as crianças. Tudo era feito em última hora.
Diante de várias participações no TDC, constatei que este espaço era utilizado
apenas para discutir questões pessoais, ou melhor, de interesses pessoais, ao
97
invés de ser utilizado para buscar estratégias e decisões que promovessem o
desenvolvimento das crianças. Esta percepção era compartilhada pela direção:
“A direção queria mudar toda a estrutura do TDC, mas sentia muita resistência
das professoras que não entendiam os objetivos deste espaço e ficavam
indignadas quando não se discutia no TDC questões como abonada, calendário,
feriado, entre outras coisas que só dizem interesses a elas” (DC064).
Na escola, o que se constatava é que neste espaço as discussões ficavam
atreladas a questões pessoais e isto atingia diretamente a organização e o
funcionamento dos TDC. As relações interpessoais na escola estavam tão
desgastadas que as professoras aproveitaram vários momentos do TDC para
desabafarem o seu descontentamento com o desrespeito aos seus trabalhos pela
equipe gestora, e isto prejudicava no andamento das atividades direcionadas a
este espaço. Por mais que as pautas levassem a discussões de planejamentos
pedagógicos, bastava um professor fazer uma crítica com relação à escola e tudo
caminhava para essa direção, virando um tumulto.
“A equipe de psicologia foi apresentar a devolutiva do projeto para os
professores no TDC e durante a apresentação, algumas professoras entravam
com assuntos que não estavam relacionados, diretamente, ao que discutíamos.
Elas verbalizavam a sua insatisfação, desmotivação e baixa auto-estima em
decorrência de passar o ano todo recebendo críticas da equipe educacional
(DC142).
Sentia que as professoras utilizavam aquele espaço para desabafar e
buscar soluções em conjunto que melhorassem as condições das relações sociais
98
na escola. Às vezes sentia como um pedido de socorro: as professoras queriam
ser escutadas e ansiavam por uma atitude da Orientadora Pedagógica para
contornar a situação.
No entanto, não pode ser deixado de mencionar que, em alguns encontros,
as educadoras mostravam-se interessadas em discutir questões referentes à
criança, mas isso acontecia quando elas participavam do processo de decisão do
que gostariam de debater no TDC.
“No TDC a equipe de psicologia discutiu acerca da violência doméstica e o
debate foi bastante proveitoso, as educadoras participaram e mostraram-se
interessadas no tema. Muitas trouxeram casos que vivenciaram em sala de aula
com o intuito de partilhar e/ou trocar experiências além de trazerem questões
que elas próprias vivenciaram na infância” (DC103).
Diante desse fato, fica evidente que quanto maior a participação dos
educadores na elaboração do TDC maior a adesão e interesse em participar. De
modo geral, o TDC não era bem aproveitado pela equipe escolar com o objetivo
de buscar melhorias para a educação infantil e assim promover o desenvolvimento
das crianças. Era um espaço que discutia, frequentemente, orientações
burocráticas ou pessoais e, dificilmente, algumas políticas educacionais que
estavam em vigor. Perdia-se muito tempo com conversas paralelas ou com
questões sem muita importância. Além disso, dificilmente o grupo chegava a um
consenso e, então, poucos encaminhamentos eram elaborados.
99
e) Relação conflituosa entre escola e família
Nessa categoria foram consideradas as situações que apontam algumas
dificuldades encontradas na relação família e escola, utilizando como base os
relatos trazidos pelos educadores, pelos pais e pela observação da pesquisadora.
A inserção da pesquisadora na instituição de educação infantil possibilitou
conhecer qual o nível de participação da família no processo escolar dos seus
filhos. Foi constatado que, na maioria das vezes, as famílias são apenas
informadas das decisões da escola. O trecho a seguir elucida uma reunião em que
a professora solicita aos pais que não trabalham para deixarem os filhos alguns
dias em casa, em virtude de terem poucos educadores por causa da licença
prêmio.
“A professora conversou comigo a respeito de uma mãe que chamou as
educadoras de “vagabundas”. Isso aconteceu porque teve um dia em que a
professora convocou todas as mães em particular e explicou que teriam poucos
monitores durante o mês, por causa da licença prêmio, e estava sugerindo às
mães que o trabalhavam que deixassem o filho alguns dias em casa. A mãe
saiu da conversa chamando o pessoal de vagabundo pelo corredor. A
professora, ao saber disso, foi pedir satisfação à mãe no outro dia. De acordo
com a professora, assim que a mãe chegou foi logo perguntando: ‘Quem é
vagabundo aqui?’. A mãe ficou constrangida e a professora disse que ela não
poderia desmerecer o trabalho das educadoras e questionou a mãe como ela
poderia deixar o filho com vagabundas, visto que não acreditava no seu trabalho.
A professora falou que a mãe voltou quieta para a casa e, desde então, nunca
mais a desrespeitou” (DC175).
Essa solicitação da professora às mães sem uma conversa prévia para a
resolução do problema de ter poucos educadores por criança ocasionou
100
desentendimento e, consequentemente, a resistência das mães em acatar os
pedidos das professoras. Acredita-se que se houvesse uma conversa
esclarecedora, sugerindo a participação das mães na resolução dos problemas
poder-se-iam evitar alguns conflitos.
Ainda percebe-se nesse trecho que a resolução do problema encontrado
pela professora foi direcionada aos pais em vez de ser para a Secretária Municipal
de Educação. É fato que o número desproporcional de educador/criança traz
prejuízo ao desenvolvimento infantil, mas isso não deve ser resolvido deixando as
crianças em casa e, sim, reivindicando a entrada de um profissional substituto
durante o período necessário.
Infelizmente, a mãe por não ter ciência dos problemas da escola, ofende as
educadoras, ao invés de questioná-las se a ausência da criança na escola não
traria prejuízos ao seu desenvolvimento. A decisão tomada pela professora
fortalece ainda mais a visão que a comunidade possui da educação infantil como
um espaço sem grande importância para a formação da criança.
Diante dessa situação, a criança é sempre a maior prejudicada, pois o seu
afastamento da escola a exclui de atividades que possibilitam a promoção do seu
desenvolvimento emocional, social e cognitivo. Além disso, o seu retorno à escola
se dará como uma nova adaptação, deixando-a mais confusa e insegura.
Na escola era comum ouvir dos educadores os seus incômodos com
relação aos pais que gostariam de receber, com mais frequência, informações de
como estava o filho na escola:
101
“A monitora comentou comigo sobre uma criança dizendo que a mãe liga,
constantemente, à escola para saber como está o seu filho e que isso estava
deixava-a muito irritada. Essa mãe quando vai buscar um parente na EMEI ao
meio-dia sempre uma passadinha na CEMEI para saber da criança. A
monitora estava, realmente, muito chateada com a atitude da mãe” (DC061)
Os educadores preferem que os pais fiquem longe da escola,
principalmente, de sua sala de aula, mesmo que essa presença seja importante
para a criança:
“As professoras, nas reuniões de pais, explicam que durante o período de
adaptação as crianças ficam na primeira semana apenas duas horas na escola
sem a presença dos pais. De acordo com as professoras, se os pais ficarem com
as crianças nesse período, vai atrapalhar o processo de adaptação: ‘as crianças
precisam se acostumar a ficar na escola sem a presença dos pais’”. (DC023).
Defendemos a necessidade de se estabelecer uma relação mais estreita
entre a família e a escola nos processos de resoluções de problemas que
envolvem diretamente o bem-estar físico, social e psicológico das crianças. Os
pais precisam ter ciência das atividades pedagógicas desenvolvidas na escola e,
com base nisso, argumentar com os educadores se a resolução encontrada é a
mais adequada.
A falta de diálogo entre a família e a escola impossibilita o educador de
conhecer o contexto de vida social e econômico da criança ocasionando, entre
outras coisas, a exigência de solicitações inviáveis aos pais, como por exemplo, a
entrega dos materiais higiênicos requeridos pela escola. Alguns educadores não
recebem as crianças que não levam esses materiais e isso desrespeita o direito
102
da criança à educação, pois não se pode obrigar a família a levar os materiais
para assegurar a permanência da criança na escola. O trecho a seguir exemplifica
a situação de uma mãe perante a falta desses materiais:
“A mãe me contou que transferiu a sua filha de sala porque a professora anterior
reclamava constantemente da falta de material e um dia solicitou que ela
voltasse com a filha para casa e retornasse com o lenço umedecido. Isso
deixou a mãe muito constrangida e foi à direção denunciar a postura
intimidadora da professora e solicitou a saída da criança da escola. Diante disso,
a direção conseguiu convencer a mãe a transferir a criança de sala e não a tirá-
la da escola” (DC121).
Diante desse desabafo da mãe, expliquei que ela agiu corretamente,
porque a criança não poderia ser impedida de frequentar a escola por falta de
materiais, pois é um direito da criança o acesso à Educação Infantil. Essa
conversa foi repassada à direção que se mostrou muito indignada com a ação da
professora:
“De acordo com a direção, que presenciou a discussão entre a professora e a
mãe, ambas se insultaram e quase partiram para a briga. A direção ressaltou
que não irá tomar partido na briga e iria intermediar a conversa. Ela tem
consciência de que a e está certa e que tem todo o direito de fazer uma
denúncia e gostaria que isso acontecesse para mostrar às professoras que as
atitudes impensadas têm consequências graves” (DC121)
Com o desentendimento entre a professora e a mãe, a criança foi a maior
prejudicada, pois teve que ser mudada de sala no meio do ano e passou
novamente pelo processo de adaptação. Uma relação saudável entre família-
103
escola impediria ou dificultaria ações que trouxessem danos ao desenvolvimento
social e emocional da criança.
A percepção de que os pais e professores constroem um do outro com
base em impressões pessoais, impossibilita a construção de uma interação sólida
entre esses dois agentes educativos. Alguns professores não dão crédito aos
relatos trazidos pelos pais por acreditarem que essas informações são carregadas
de fantasias, o que pode ser muito perigoso como em um caso de suspeita de
abuso sexual do qual a professora fez o seguinte comentário:
“De acordo com a professora, a criança em sala de aula é bastante participativa
e alegre e, mesmo depois desse suposto abuso sexual, não percebeu nenhuma
alteração na criança. A professora acha que talvez isso não tenha acontecido,
pois considera a mãe bastante imaginativa e muito criativa” (DC003).
Pode-se inferir que esse tipo de percepção construída pelos professores
acerca dos relatos dos pais, contribui para o afastamento da família. Os pais
temem expor as situações familiares com medo de serem desacreditados pela
escola. É nítido que essa situação conflituosa entre a família e a escola só
ocasiona prejuízos à criança que deveria ser protegida. A família e a escola
devem juntas garantir a segurança, o bem-estar e o direito das crianças.
O estreitamente na relação escola-família pode auxiliar os educadores a
construírem propostas ou atividades pedagógicas mais próximas do contexto de
vida da criança, das suas necessidades, bem como ajudá-los a compreender o
seu aluno através do acesso a elementos da sua vida família.
104
A comunicação entre as professoras e os pais ocorria, geralmente, via
bilhete ou caderno da criança e isso prejudicava uma interação mais próxima. Por
vários momentos presenciei professoras extremamente chateadas com bilhetes de
mães insinuando que a criança não estava sendo bem cuidada na escola por se
machucar, frequentemente, nesse espaço. Essa comunicação via bilhete,
impossibilitava uma conversa mais próxima com os pais e afastava ainda mais
a possibilidade de relação entre eles.
Essa observação é confirmada na pesquisa de Pacheco e Dupret (2004)
quando entrevistaram famílias que possuíam crianças na educação infantil e
constataram que a relação família-escola se dá, geralmente, no nível da
informação, isto é, não há uma interação ou uma conversa, e sim informes.
Dificilmente a escola abre espaços para trocas com o intuito de amenizar as
dúvidas, inquietações e insatisfações dos pais.
A escola precisa oferecer espaços e informações às famílias para que se
sintam mais seguras para se aproximar. No entanto, o que se percebe é uma falta
de espaços para conhecer a opinião dos pais sobre a escola e os filhos.
“Fui a EMEI para participar da palestra sobre doenças sexualmente
transmissíveis que seria dada aos pais, e me informaram que a atividade tinha
sido cancelada em razão do pequeno número de pais. Isto é péssimo, porque a
escola não considerou os pais que vieram e tiveram interesse no assunto. Eles
poderiam pelo menos dar uma assistência aos pais que sentiram a necessidade
de escutar sobre o tema. Essa postura da escola vem a agravar o
afastamento da família e escola, porque os pais ficam desestimulados a
participar de qualquer evento na escola visto que o tem a certeza se haverá
realmente a atividade proposta” (DC049).
105
Além disso, a escola tem dificuldade para abrir espaços para os pais
discutirem questões políticas, como a situação da educação infantil no país. A
família tem espaço na escola desde que seja para discutir questões pontuais
relacionadas ao desenvolvimento das crianças.
“Conversei com um dos integrantes da equipe gestora escolar sobre o interesse
do representante de pais em discutir nas reuniões de pais algumas propostas
políticas. A Orientadora Pedagógica pediu que eu tivesse cuidado com esse pai,
porque aconteceu uma briga no NAED em virtude das reivindicações desse
pai. O NAED tentou explicar ao pai que as reformas não acontecem da forma
como ele quer. Expliquei à Orientadora Pedagógica que o encontro de pais era
um espaço aberto e ele tinha o direito de participar e de se manifestar. A
Orientadora Pedagógica concordou, desde que mantivéssemos um controle
nessas reuniões, depois que ficou sabendo que havia um político por trás desse
pai ” (DC182).
A escola deve estabelecer uma rede de apoio com a família para favorecer
a proteção e o desenvolvimento da criança. E para isso é fundamental abrir
espaços de discussões políticas visando à garantia dos direitos da criança a uma
educação de qualidade e gratuita.
Dentro dessa linha de pensamento, o psicólogo escolar tem muito a
contribuir nesses espaços e para isso precisa romper com o modelo clínico de
orientação a pais, educadores e criança e promover espaços de debates que
visualizem uma mudança estrutural na instituição. Isso pode acontecer por meio
de discussões e encaminhamentos que reivindiquem a melhoria na Educação
Infantil, com vista à promoção do desenvolvimento social e emocional das
crianças.
106
f) O contexto de violência da criança
Nesta categoria são consideradas as situações de violência e negligência
às quais as crianças da escola estão submetidas e como essa situação
impossibilita a realização de estratégias que promovam o desenvolvimento das
crianças.
A presença do tráfico de drogas na comunidade escolar influencia
diretamente na tomada de decisões referentes a denúncias como, por exemplo, o
caso de abuso sexual. Os traficantes diante do abuso sexual infantil no bairro
tomam as próprias medidas para impedir a entrada de policiais e conselheiros
tutelares e uma delas é impedir a família de fazer qualquer denúncia. O trecho a
seguir exemplifica a situação de uma mãe impedida pelos traficantes de fazer a
denúncia de abuso sexual da filha:
“Conversei com a equipe gestora sobre o caso da criança que sofreu violência
sexual e relatei a situação delicada da e com relação à denúncia, pois foi
orientada pelos traficantes a não comentar nada para evitar a entrada de
policiamento no bairro, caso contrário sofreria represálias. Esta situação foi
resolvida com a intervenção dos traficantes que deram uma surra no agressor e
o expulsaram do bairro” (DC111).
A escola como um dos agentes de proteção da criança sente-se na
obrigação de fazer uma denúncia, no entanto, tal atitude pode ocasionar danos
maiores à família vitimizada. Os agentes, diante dessa situação, sentem-se
imobilizados, inicialmente, a tomar alguma atitude. Nesse tipo de contexto a
denúncia passa a ser pensada de forma responsável e contextualizada,
considerando-se a segurança física da família.
107
Sabe-se que algumas das instruções dadas à escola ou a comunidade
diante de situações de violência física, sexual, institucional ou psicológica é a
denúncia e a busca de apoio nos setores da saúde, educação, assistência social e
judiciária para traçar estratégias de intervenção. No entanto, quando nos
deparamos com esse tipo de comunidade onde o tráfico de drogas é quem
comanda e dita as regras fica impossível a busca desses recursos, quando a
escola ou a comunidade é ameaçada e/ou instruída a não fazê-la.
A criança, diante desse contexto fica com o seu desenvolvimento emocional
e social prejudicado em virtude da denúncia ser algo que dificilmente acontece e,
com isso, a criança fica sem o acompanhamento de uma equipe especializada e
sem proteção.
Para agravar a situação, alguns professores tendem a omitir a violência
doméstica das crianças, não comentam, e, às vezes, a equipe gestora tem que
ficar atenta a todas as crianças, pois nem sempre quando a criança aparece com
alguma marca no corpo isso é comunicado. Essa omissão é presente na situação
relatada pela Orientadora Pedagógica:
“Em conversa com a Orientadora Pedagógica ela me relata o caso de uma
criança da professora EEE, dizendo que essa criança precisa de uma atenção
especial porque tem vindo à escola com marcas no corpo. Segundo a professora
a criança está bem e que o problema é com a família e, quanto às marcas, ela
justifica dizendo que o menino tem muita alergia e por isso fica sempre
vermelho. No entanto, quando a Orientadora Pedagógica a questionou sobre
uma marca no pescoço em formato de um triângulo a professora não soube
responder” (DC132).
108
A postura da professora revelou a falta de envolvimento com a situação de
violência doméstica à qual está sendo exposta a sua criança, traduzida pelo medo
da professora em denunciar essa situação e ser obrigada a tomar as devidas
providências, no caso a denúncia.
De fato, a denúncia naquela comunidade é uma atitude perigosa a ser
tomada, embora isso não justifique a indiferença dada à criança violentada. De
acordo com a legislação sobre maus-tratos no Brasil, os profissionais são
obrigados a denunciar e, caso isso não seja cumprido o profissional pode ser
punido. Ao mesmo tempo, porém, a rede de proteção aos profissionais que
denunciam está aquém do necessário.
Uma das hipóteses que levanto diante da indiferença dos educadores em
não querer conhecer o contexto de vida da criança é: os educadores encontram-
se em uma situação delicada, pois se denunciam podem sofrer represálias da
comunidade e se não denunciam vão responder legalmente por isso. Assim, os
educadores preferem se omitir a se envolver com o contexto de vida da criança.
A esse respeito, Guzzo (2005) já trazia reflexões sobre a postura dos
educadores diante da história de vida das crianças. Considerava que existia o
temor dos educadores em conhecer essa realidade, pois não queriam se
comprometer e não sabiam lidar com a situação. Existe o sentimento de
impotência e ausência de proteção também aos professores.
Diante disso, uma das medidas que poderia ser estabelecida pelo psicólogo
escolar seria abrir espaços de discussão com os educadores e com os pais sobre
o impacto da violência no desenvolvimento de seus alunos e de seus filhos,
mostrando os benefícios da denúncia, no caso, o acompanhamento da criança por
109
profissionais especializados, que apenas a expulsão do agressor não é o
suficiente. Enfim, buscar em conjunto caminhos que viabilizem o
acompanhamento das crianças vitimizadas, sem trazer prejuízo à integridade
física da família e dos educadores.
De fato, é uma realidade muito difícil de ser trabalhada pelo psicólogo
escolar. O combate às situações de negligência e violência sob todas as formas
está muito além de sua ão. É preciso uma mudança social e política no país
que contemple e/ou assegure os direitos da população.
A situação de violência é tão presente na escola, que a ex-diretora precisou
abandonar o cargo por ter sido ameaçada, que sua postura incisiva de
denunciar todos os tipos de violência e de cobrar dos educadores esse mesmo
tipo de atitude, deixou a comunidade escolar temerosa quanto a essa profissional.
O seu envolvimento com o contexto de vida das crianças era algo marcante na
sua atuação, enfrentando o que fosse preciso para garantir a integridade
psicológica, emocional e física das crianças.
A violência repercute diretamente no trabalho pedagógico dos professores,
que são impedidos de tomar algumas providências por causa das ameaças de
alguns pais. Durante o horário de parque, a professora conversou comigo sobre
uma situação que ocorreu em sua sala de aula e que vem deixando-a muito
preocupada:
“De acordo com a professora a mãe do seu aluno A veio solicitar a transferência
para outra sala, porque o pai da sua aluna B ameaçou a família do aluno A caso
ele viesse a bater novamente em sua filha. A mãe do aluno A, com o objetivo de
evitar alguma tragédiaqueria mudar o filho de sala e, caso não fosso possível
iria tirar a criança da escola. A professora expressa a sua preocupação dizendo
‘sinto que estou trabalhando com a faca no pescoço, pois dentro de uma sala de
110
aula com crianças pequenas fica impossível evitar que alguns acabem brigando
(DC145).
A professora comenta que a solução encontrada diante da situação foi
deixar as crianças longe da criança B, com receio até de alguém simplesmente
encostar nela e ela comentar com o pai. O medo sentido pela professora interfere
na forma de agir e de propor atividades com as crianças. Além disso, a professora
teme que essa ameaça dada à família possa vir a ela por não conseguir evitar que
as crianças briguem entre si. Esse tipo de situação proporciona uma vivência
escolar baseada no medo e na ansiedade.
A escola, diante desse contexto de violência, tenta garantir a sua segurança
por meio do silêncio. Esse comportamento de escola amordaçada
25
foi
presenciado durante uma reunião de TDC com os professores:
“Durante o TDC a equipe gestora comenta sobre o tiroteio na padaria e afirma
que os envolvidos são pais das crianças da escola. A professora relata nessa
reunião a conversa que teve com a criança do pai que atirou e a outra professora
fica bastante surpresa com isso, querendo saber quem é a criança da sua sala
que teve o pai baleado e a professora ficou com medo. A equipe gestora
aconselha as professoras a não ficarem comentando sobre o assunto, porque
uma funcionária da escola tinha ido até a padaria no dia seguinte e o pai que
atirou estava para saber se tinha câmera. Além disso, a polícia veio à
escola para saber se estava tudo bem. As professoras concordam em não
comentar nada sobre o assunto, porque na comunidade a melhor postura é
sempre o silêncio” (DC131).
25
Expressão utilizada pela professora Raquel Guzzo, em 2005, na sua pesquisa intitulada “Escola
amordaçada: compromisso do psicólogo com este contexto”.
111
Examinou-se que as vivências familiares das crianças que convivem com
situações de violência invadem o cotidiano escolar por meio de atitudes,
comportamentos e brincadeiras das crianças. O trecho a seguir retrata esta
situação:
“Durante o parque uma criança estava brincando de apontar o dedo para o
cavalo como se estivesse atirando, levando a professora e a monitora a fazerem
comentários. Segundo a monitora, a criança brinca até de Roleta Russa com a
arma e comentou que isso é aprendido na família. Relatou que a família da
criança vem de gerações com precedência na polícia: os tios foram mortos por
policiais e o pai estava seguindo o mesmo caminho” (DC114).
As monitoras eram muito próximas da realidade de vida das crianças por
serem moradoras do bairro, assim, muitas das crianças eram suas vizinhas ou
parentes e isso facilitava na obtenção de informações sobre o contexto familiar
dos alunos.
“Fui conversar com a monitora para saber se a criança estava indo à escola. De
acordo com a monitora, ela só veio dois dias e a monitora disse que conhece a
família da criança. A mãe é viciada mais de 23 anos e já deu vários filhos, um
deles foi adotado por uma monitora que trabalhou na escola. Para a monitora, a
mãe não tem mais jeito, pois está no vício muito tempo e quando tinha um
filho estudando na escola, vinha pedir muitas coisas para as educadoras, depois
ficaram sabendo que ela vendia o que ganhava para comprar drogas” (DC055)
Ao que parece, o educador, ao se envolver com o contexto de vida das
crianças e de seus familiares, debruça-se em um turbilhão de sentimentos e de
mobilizações, no caso, até na adoção de uma criança pela educadora. Além disso,
112
é percebida, no relato anterior, a descrença da monitora de que algo possa ser
feito, tendo em vista que a “mãe não tem mais jeito”.
Quero manifestar que, sem a confiança das educadoras na pesquisadora
seria impossível desvelar essa realidade. Graças aos relatos trazidos por elas e
pelos familiares foi possível desvelar a realidade de violência nas quais as
crianças da escola estavam submetidas. Diante dessas informações era possível
pensar e agir de forma responsável, contextualizada e consciente das
consequências de cada ação.
113
3.2.2. NA VISÃO DAS PROFESSORAS
a) Dificuldade em desenvolver trabalhos pedagógicos em conjunto
Esta categoria refere-se a todos os relatos considerados pelas professoras
em que elas elucidam as dificuldades encontradas para desenvolver as atividades
pedagógicas com os outros integrantes da equipe escolar. Dentre as dificuldades
apresentadas, consideram a ausência de um trabalho integrado entre o professor
e o monitor.
“A professora EEE durante o TDC alega que o trabalho desenvolvido por ela em
sala de aula é destruído à tarde pelas monitoras e que não sabe mais o que
fazer para resolver esta questão. Solicitou que desenvolvessem um trabalho com
as monitoras. Outra professora confirmou essa fala e citou como exemplo o
período da alimentação, em que a forma como ela alimenta as crianças pela
manhã é totalmente diferente do procedimento da tarde. Acha as monitoras
muito frias e mecânicas nesse horário tão especial para as crianças” (DC091).
A dificuldade em desenvolver um trabalho integrado entre o professor e
monitor deve-se também à postura de superioridade do professor diante do
monitor. A discriminação ou a desvalorização do trabalho dos monitores parece
estar associada à própria condição social desses profissionais e à sua formação.
Isso ocorre porque alguns professores não acreditam na capacidade de
intervenção pedagógica dos monitores, exatamente porque eles não apresentam,
em sua grande maioria, uma formação direcionada ao trabalho com crianças
dessa faixa etária (Costa, Euzébios Filho e Guzzo, 2009).
114
Alguns professores acreditam e defendem a divisão do cuidar (monitor) e
do educar (professor) e isso tem impedido a participação dos monitores nas
atividades desenvolvidas em sala de aula. Observe o trecho a seguir:
“A professora GGG veio se queixar da professora EEE, pois ela sempre tenta
separar o trabalho do monitor e do professor. De acordo com a professora GGG,
a professora EEE não troca a fralda de nenhuma criança porque acredita que
esse serviço é do monitor. A professora AAA disse-me que essa postura é
discriminatória e por isso fica, realmente, difícil trabalhar em conjunto” (DC091)
Analisando o trecho anterior percebe-se que nem todas as professoras são
adeptas dessa dissociação: algumas defendem a posição de integrar cuidar e
educar. No entanto, há uma conformação ideológica do modelo pré-existente
nessas instituições, onde existe uma clara delimitação nas funções do cuidar e do
educar entre as profissionais. Essa situação é confirmada no episódio a seguir:
“Durante o TDC os grupos foram divididos por agrupamentos. O agrupamento I
discutiu basicamente a questão do Brincar, do Respeito e da Relação Cuidar e
Educar. A professora EEE manifesta a sua opinião defendendo a idéia de que o
cuidar e o educar são questões dissociadas, cada um tem um papel para
assumir na sala de aula” (DC091)
A diferenciação entre professoras e monitores inicia-se no próprio
processo seletivo e de formação desses profissionais, uma vez que para a
contratação dos monitores não se exige uma formação específica para trabalhar
com crianças, como ocorre com os professores. Essa situação contribui para a
115
legitimação de uma relação de subordinação e dominação. Os professores, por
terem uma formação mais qualificada para trabalhar com as crianças, são os
responsáveis pelas decisões das atividades que serão desenvolvidas em sala de
aula, cabendo ao monitor segui-las sem nenhuma contestação (Costa, Euzébios
Filho e Guzzo, 2009).
b) Decisões da equipe gestora sem a participação da professora
São todas as decisões provenientes da equipe gestora sem a participação
das professoras e, portanto, sem o seu consentimento. A exclusão das
professoras na participação das decisões tem provocado prejuízo no
desenvolvimento das crianças, porque não são preparadas anteriormente para as
mudanças. Esse fato pode ser ilustrado por uma conversa registrada em diário de
campo:
“Fui conversar com a professora a respeito do remanejamento de crianças para
saber a sua opinião sobre este assunto. A professora NNN mostrou-se muito
indignada com esta atitude, disse que a escola não pensou nas professoras e
nem nas crianças, tendo em vista que elas estavam sofrendo com esta mudança
de sala, pois se tornou uma nova adaptação. Disse-me que não preparou as
suas crianças para a entrada em outra sala e, consequentemente, para outra
rotina e percebia que elas estavam sofrendo muito para acompanhar as outras
crianças que já estavam na sala” (DC071)
Sobre a transferência de crianças outra professora comentou:
116
“A professora FFF acha que esse tipo de atitude prejudica no andamento das
atividades pedagógicas com as crianças, pois existem projetos que elas
começaram a desenvolver com as crianças desde sua chegada e que as novas
não passaram por isso. Além disso, a professora FFF enfatizou que não vai
repetir tudo de novo com essas novas crianças e vai continuar de onde parou.
Ela se sentia desmotivada e desrespeitada por não ter sido avisada pela equipe
gestora dessa atitude. Tentei explicar que juntas poderíamos encontrar uma
forma de trabalhar essas questões que estavam diretamente atingindo as
crianças, conversando com a gestão da escola e procurando soluções para isso.
A professora FFF disse-me que não adiantaria porque a gestão não escuta
ninguém” (DC071).
Essa situação de excluir os professores da decisão provoca desmotivação,
bem como a resistência. Uma das formas encontradas para revidar essa atitude é
não desenvolvendo atividades com as crianças.
Além da transferência de aluno, a mudança de monitor em sala de aula
também tem deixado as professoras bastante chateadas. Isso porque a decisão
de tirar e colocar monitor na sala prejudica o andamento das atividades
desenvolvidas com as crianças. Além desse aspecto, as professoras reclamam
que a equipe gestora da escola não consegue perceber a necessidade do
professor e da criança. Podemos ilustrar a situação com o seguinte episódio:
“A professora estava muito chateada em virtude da vice-diretora tirar a monitora
da sua sala de aula para substituir outra monitora que faltou. Ela falou-me que a
escola entrega e tira monitor da turma dela, atrapalhando toda a sua atividade
com os alunos. Diante disso, a vice-diretora colocou outro monitor na sala da
professora deixando-a mais irritada, pois queria a monitora da sua sala que
estava mais acostumada com a rotina das crianças. De acordo com a professora
a vice-diretora atrapalhava muito na escola, não conseguia entender a
necessidade do aluno e nem do professor”. (DC173).
117
Ao final dessa conversa a professora acrescentou:
“(...) ‘na cabeça da vice-diretora basta ter alguém para ficar cuidando das
crianças na escola, pois não conhece as atividades que são desenvolvidas em
sala de aula’” (DC173).
Diante dos relatos das educadoras, percebe-se que nessa instituição não
um trabalho coletivizado, as decisões provêm de cima para baixo, sem uma
participação dos educadores e as crianças sofrem com essas decisões, tendo em
vista que os educadores que possuem um contato direto com elas não são
preparados para a mudança e, com isso, não conseguem desenvolver uma
atividade apropriada, visando ao bem-estar dos seus alunos.
c) Não existe suporte pedagógico da equipe gestora
São todos os momentos trazidos pelas professoras em que elas não
puderam contar com a participação e/ou auxílio da equipe gestora no trabalho com
as crianças. Esta categoria elucida a necessidade do professor em ter um suporte
para desenvolver atividades com as crianças.
“A professora falou-me da dificuldade em trabalhar com a criança em sala de
aula. Perguntei se ela estava tendo algum suporte da Orientadora Pedagógica
para traçar um planejamento pedagógico que possibilitasse a inclusão dessa
criança na sala e ela me disse que nunca tiveram um suporte de ninguém, a
escola simplesmente coloca as crianças em suas salas e elas que se virem”
(DC148).
118
Além disso, os professores novos e/ou substitutos são encaminhados para
a sala de aula sem um preparo para lidar com a turma. Observe o trecho a seguir:
“A professora DDD falou-me que este ano é a sua primeira experiência com o
agrupamento e não foi preparada para lidar com esta dinâmica de sala,
prejudicando a criança” (DC174).
Diante dessa ausência de suporte alguns professores aproveitavam a
atividade pedagógica da sua colega de trabalho, utilizando-a em sua sala sem ter
participado do processo de construção de atividade.
“A professora veio me informar que como ontem teve o dia das crianças na
escola, ela não iria desenvolver nenhuma atividade na sala. Sugeri à professora
que fizesse pelo menos uma atividade de desenho, solicitando que as crianças
desenhassem a sua vivência do dia, mas antes as crianças deveriam contar aos
colegas que não participaram como foi o dia. Essa professora é extremamente
perdida, não tem um planejamento das atividades a serem desenvolvidas, ela
improvisa, além disso, não consegue aproveitar as experiências das crianças.
Essa professora sempre copiava as atividades desenvolvidas pela professora
BBB da outra turma, perguntava o que ela iria fazer e repetia a mesma coisa na
sua turma. Os pais têm razão ao se queixarem tanto dessa professora” (DC184).
Alguns educadores diante dessa ausência de suporte mostravam-se
despreparados para lidar de forma adequada, quando se deparavam com
situações de mordida, sexualidade e brigas entre as crianças. Alguns educadores,
diante dessa incapacidade, tentavam garantir o controle da turma por meio da
intimidação, através de gritos, olhares repressores ou da exclusão da criança da
turma.
119
“No horário do refeitório uma criança estava comendo sozinha em uma mesa e,
segundo o relato da estagiária a professora fez isso porque a criança bagunçou
muito em sala de aula e por isso a deixou separada da turma. A professora vem
tentando colocar limites na criança se utilizando da punição, ela tem perdido a
paciência com essa criança” (DC155).
Alguns educadores quando percebiam que a postura intimidadora não era o
suficiente para controlar a criança, sugeriam a utilização de medicamentos.
“A professora disse novamente que o seu aluno continua muito agressivo e não
para um só instante, acha que ele precisa tomar algum medicamento para
acalmar e solicitou minha ajuda para orientar a mãe nesse sentido” (DC112).
Em vários momentos tive que intervir conversando com as educadoras que
a resolução dos problemas não se encontrava na criança, mas no seu contexto
imediato, e, por isso, o uso de medicamentos não era a solução mais apropriada.
É importante mencionar que, às vezes, as educadoras não buscavam ajuda
da equipe gestora por não acreditarem que seriam capazes de intervir de forma
adequada perante uma comunidade marcada pela violência. A professora, diante
de uma situação delicada, que envolvia a ameaça entre dois pais de sua turma,
relata o seguinte:
“A professora comenta que quer a minha ajuda para conversar com o pai da
criança, porque não confia na vice e nem na Orientadora Pedagógica, pois sabe
que essas gestoras não conhecem a realidade daquela comunidade e poderiam
agir de forma inadequada durante a conversa e isso ela não queria que
acontecesse” (DC142).
120
Esse temor das educadoras em compartilhar informações com a equipe
gestora era em decorrência da mudança constante de profissionais na equipe. Os
novos funcionários por não conheceram a escola e o contexto de violência da
comunidade escolar, eram excluídos dos problemas que aconteciam na escola.
A mudança constante de profissionais na equipe gestora deixava os
professores e monitores receosos em comunicarem as dificuldades que estavam
tendo com algumas crianças e isso, de certa forma, acentuava a minha
participação, como psicóloga, na elaboração e discussão de atividades que
promovessem o desenvolvimento das crianças.
“Discutimos a respeito das mudanças constantes de diretores e Orientadoras
Pedagógica na escola e as consequências dessas mudanças na dinâmica
escolar. Segundo a professora eu fui muito mais orientadora do que todas as
O.P. que passaram na escola, elas puderam contar comigo e discutir questões
referentes à criança, tendo um suporte para trabalhar e, com isso, desenvolver
atividades com as crianças” (DC202).
Esse relato da professora revela que a pesquisadora, durante todo o
processo da pesquisa nessa instituição, não era vista como uma profissional que
estava indo à escola apenas para coletar dados, mas como uma integrante da
equipe e profissional de apoio com quem poderiam contar para se pensar em
estratégias de intervenções que promovessem o desenvolvimento infantil das
crianças desse contexto.
121
d) A implantação da política de agrupamento na Educação Infantil
Nessa categoria foram selecionados os trechos em que as professoras
relatavam as suas dificuldades em desenvolver atividades com as crianças, em
virtude da diferença na faixa etária, bem como a existência de grande número de
crianças na sala de aula. Isso é evidente quando observamos a fala da professora
a seguir:
“A professora desabafou: ‘tem muita criança na sala, cada uma com uma idade
diferente, eu peguei um monte de crianças pequenas e preciso fazer várias
atividades para cada faixa etária, falar a mesma atividade de forma diferente
para que todos compreendam, enfim, eu faço tudo em dobro nesta sala. Isto aqui
não é uma escola rural que não tem professor e nem sala de aula suficiente para
ficar agrupando crianças’’’ (DC171).
Ao fim do desabafo, a professora acrescentou:
“Estou cansada e depois é tudo culpa do professor se ele não consegue
desenvolver um bom trabalho na escola” (DC171).
De acordo com Santos & Ferriani (2009), diante de uma violência
institucional, em que não uma qualidade estrutural no atendimento às crianças,
os professores se sentem injustiçados por receberem a culpa da qualidade do
serviço prestado às crianças. São expostos diariamente ao estresse e obrigados a
exercerem um trabalho de qualidade dentro de uma instituição com deficiências
estruturais.
A implantação da política de agrupamento, cujo objetivo primordial foi a
diminuição da lista de espera, retrata um pouco essa situação de desamparo e
122
injustiça sentida pelos educadores. Os professores, diante de salas cheias e sem
um preparo sólido para lidar com o agrupamento, sentem-se incapazes de
desenvolver atividades favorecedoras do desenvolvimento infantil.
“A professora considera que o problema do agrupamento é o mero de
crianças, se tivesse menos e com uma quantidade igual para cada faixa etária,
daria para desenvolver um trabalho legal” (DC172)
A problemática do grande número de crianças por sala é agravado quando
existe uma criança com necessidades especiais na sala. Diante desse contexto, o
professor precisa, necessariamente, da presença de mais um profissional em sala
para ajudá-lo a desenvolver as atividades com as crianças. Isso é confirmado na
fala da professora:
“A professora ressaltou que consegue desenvolver atividades com as
crianças porque tem a ajuda da monitora no cuidado de seu aluno especial, pois
sem ela não conseguiria realizar atividades na sala de aula devido à diferença de
faixa etária” (DC179).
O trabalho de Prado (2006), ao discutir acerca de agrupamento, considera
em uma de suas conclusões que uma das preocupações elucidadas pelas
professoras estava relacionada à imposição da proposta sem um preparo
específico de formação do profissional. Isso revelava, segundo a autora, que a
política de agrupamento surgiu na tentativa de solucionar o problema de vagas
nas instituições de educação infantil do município, questão fundamental, mas não
única.
123
A Secretaria Municipal de Educação, apesar de ter oferecido cursos para
preparar os professores a lidarem com essa nova dinâmica, não conseguiu
preparar o suficiente, como esclarece a professora:
“A professora explica que os cursos existiram, mas foram poucos e muito
teóricos, não dava um suporte prático à professora, eram discutidas teorias de
alguns pesquisadores, mas não traziam vivências práticas. Por isso a dificuldade
dos professores em trabalhar e desenvolver atividades que abarquem todas as
idades” (DC179)
As educadoras assumem que não estão preparadas para lidar com o
agrupamento e reconhece o prejuízo que isso traz para as crianças. Diante desse
despreparo não conseguem realizar atividades que contemplem o
desenvolvimento de todas as crianças, independentemente da faixa etária. O que
se observa é a exclusão de algumas crianças nas realizações das atividades. Ao
discutir com algumas professoras sobre o desenvolvimento das crianças de sala
de agrupamento, obtive respostas diferentes. Uma professora elucida o prejuízo
às crianças maiores; e a outra considera o prejuízo às crianças menores:
“Na conversa com a professora AAA ela considera que fica difícil desenvolver a
atividade, porque para cada faixa etária tem que realizar um tipo e isso inclui a
escolha da história, do filme, entre outras coisas. Ela sente que as crianças
menores se desenvolvem com o convívio das maiores, no entanto o inverso não
é verdadeiro. As crianças maiores se prejudicam, ficam querendo sempre fazer a
atividade mais fácil realizada para os alunos menores, perdem o interesse de
realizar atividades mais desafiadoras, ficam acomodadas” (DC172).
124
“A professora LLL explicou que o problema do agrupamento encontra-se no
momento de realizar as atividades. Ela considera que quando entrega o mesmo
dever às crianças, os menores ficam chateados e tímidos ao perceberam que o
coleguinha do lado, maior que ele, consegue fazer a atividade direitinho. Isto
vem ocasionando baixa auto-estima, perda do interesse na aprendizagem das
crianças menores. Sentem-se inibidas em se colocarem e isso acaba
prejudicando o menor em seu desenvolvimento” (DC172).
diferentes opiniões sobre o impacto negativo do agrupamento no
desenvolvimento das crianças maiores e menores, no entanto, essa proposta de
agrupar crianças de diferentes idades pode ser um facilitador do desenvolvimento
infantil se for bem trabalhado por profissionais preparados para lidar com essa
realidade. Uma professora elucida a experiência positiva que teve ao trabalhar
com classes multietárias:
“A professora MMM acha muito interessante trabalhar com o agrupamento.
Disse-me que este ano a sua turma não chega a ser de um agrupamento, mas
no ano anterior teve uma experiência de um semestre com o agrupamento III em
outra escola. Falou-me que não tem dificuldade para realizar as atividades com a
turma e que é mais fácil trabalhar, porque pode contar com a ajuda dos maiores
no cuidar dos outros alunos e percebe realmente que eles se desenvolvem.
Revelou também que prefere trabalhar com agrupamento, porque neste ano,
apesar de ser agrupamento a sua turma, ela é homogênea com crianças
pequenas e ela sente falta dos maiores para ajudar. Citou o exemplo de ir ao
banheiro, como ela fica sozinha não pode deixar a turma para levar uma criança
ao banheiro, se tivesse os maiores poderia contar com a ajuda deles” (DC172).
Percebe-se que alguns professores assumem que essa proposta de
agrupamento é interessante, mas as críticas se acentuam quanto ao número de
125
crianças na sala de aula, porque prejudica a viabilização dessa proposta. Assim,
benefícios no agrupamento por proporcionar a interação de crianças de
diferentes faixas etárias, no entanto, o elevado número de crianças por adulto
dentro dos agrupamentos dificulta o trabalho pedagógico de qualidade na
educação infantil.
Algumas pesquisas como as de Prado (2006), Abreu (2006) e Coladetti
(2006), entre outras, têm se preocupado em discutir o impacto da política de
agrupamento na Educação Infantil. Em geral, essas pesquisas consideram que
essa proposta, por ter sido imposta e não trabalhada coletivamente, foi
prejudicada em sua realização. Os professores não foram preparados para lidar
com a nova dinâmica, bem como o houve uma mudança nas condições
estruturais, físicas e materiais da escola.
126
3.2.3. NA VISÃO DAS MONITORAS
a) Quantidade de criança por educador
Nessa categoria estão todos os trechos relacionados à preocupação das
monitoras com relação ao número de crianças em sala de aula. Algumas
manifestações das monitoras ilustram a opinião da maioria:
“Observei que as monitoras estavam muito atarefadas e cansadas, então tentei
provocar um desabafo, perguntando à monitora como estavam as crianças.
Segundo ela, o berçário estava ‘virando um depósito de criançase isso estava
as preocupando, pois precisavam de ajuda para cuidar das crianças e apenas
duas monitoras era impossível” (DC036)
Essa situação provoca cansaço, desânimo, desespero, impaciência, entre
outros fatores que interferem diretamente na relação do monitor com as crianças.
Isso compromete o desenvolvimento da criança, por conviver o dia todo em um
ambiente estressante para o seu cuidador.
A preocupação demonstrada pela monitora de visualizar a Educação Infantil
como um depósito de crianças’ é algo que vem sendo discutido, constantemente,
nesse espaço. As monitoras temem não conseguir dar conta de cuidar de todas as
crianças por não contarem, em sua maioria, com a ajuda do professor,
exemplificado no trecho a seguir:
“Em minha conversa com as monitoras, elas mostraram-se bastante receptivas e
colocaram algumas questões que estavam incomodando-as como o fato de
aumentar o número de crianças para 20. As monitoras acreditam que não vão
dar conta de todas essas crianças, pois não contam com a participação da
professora” (DC005)
127
As preocupações sobre o número de crianças no CEMEI devem-se ao fato
de as monitoras serem as responsáveis por desenvolver atividades de
alimentação, trocas e banho quando necessário. O pouco número de monitoras
por criança impossibilita a concretização de um trabalho responsável no cuidar e,
assim, temem pela segurança das crianças.
“De acordo com a monitora a escola deveria priorizar as crianças. Falou bastante
indignada sobre a possibilidade de a escola querer aumentar o número de
crianças, alegou que elas não dariam conta de cuidar de todas essas crianças, a
não ser que se aumentasse o número de funcionários” (DC006).
Entende-se, de acordo com Santos & Ferriani (2009), que essa situação
pode ser classificada como violência institucional ou estrutural, que atinge
aspectos éticos do cuidar da criança. As creches têm atendido uma demanda
acima de sua capacidade, desfavorecendo a promoção de um ambiente saudável
para as crianças.
As salas lotadas comprometem atividades importantes como o momento do
banho das crianças, que deveria ser planejado e organizado com vista à
promoção do cuidar e educar, mas o número expressivo de crianças por educador
dificulta a concretização dessa proposta:
“A monitora é responsável por uma sala de 24 crianças de no máximo dois anos,
contando apenas com a ajuda da professora substituta que fica meio período da
manhã e que falta frequentemente. O desespero da monitora tem solicitado a
participação da estagiária de psicologia no cuidar com a criança, principalmente,
no horário do banho, que tem sido um momento de terror, pois enquanto a
128
monitora banho em uma criança, as outras crianças ficam chorando e
sentadas no banquinho para evitar acidentes” (DC032).
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998)
recomenda que o momento do banho precisa:
“(...) ser planejado, preparado e realizado com um procedimento que tanto
promove o bem-estar quanto um momento no qual a criança experimenta
sensações, entra em contato com a água e com objetos, interage com o adulto e
com as outras crianças” (V.II, p. 57)
No entanto, como concretizar essa proposta se a Educação Infantil em
nosso país é caracterizada por apresentar baixa qualidade no atendimento, no
qual o elevado número de crianças por educador tem sido uma preocupação e
alvo constante de críticas nesses espaços. O momento do banho foi apenas uma
das várias atividades que são desenvolvidas na escola e que comprometem o
desenvolvimento das crianças.
Diante da realidade em que se situa a Educação Infantil no Brasil fica
inviável ao educador seguir as normas e recomendações consideradas no
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil e às crianças
participarem de um contexto acolhedor e estimulador. a necessidade de uma
mudança no governo que priorize a educação, disponibilizando verbas suficientes
para o andamento de um serviço de qualidade.
Enfim, vale insistir no fato de que o elevado número de crianças por
educador em sala impossibilita o desenvolvimento de qualquer tipo de atividade
que venha a promover o desenvolvimento emocional, cognitivo, social e motor das
129
crianças e isso pode ser caracterizado com uma violência institucional. Conforme
aponta Santos e Ferriani (2009), a violência institucional em ambientes como a
creche que cuida de crianças de zero a seis anos de idade é inaceitável, criminosa
e passível de punição.
b) Contexto de violência da criança
Neste item foram englobadas todas as situações em que as monitoras
sentem-se despreparadas e com medo de desenvolver intervenções com as
crianças em virtude do contexto de violência.
A pesquisadora ao ministrar o GEM para discutir com os monitores acerca
do desenvolvimento infantil, obteve relatos importantes sobre a opinião das
monitoras.
“As monitoras mostram-se muito preocupadas com as crianças pelo fato de
viverem em uma comunidade comandada pelo tráfico de drogas e que várias
vezes elas observam seus alunos reproduzindo os comportamentos vivenciados
em casa, como: pegar cigarro, ser sempre o ladrão nas brincadeiras, ter raiva da
polícia, se agachar quando passa um helicóptero tentando se esconder, entre
outros. Segundo as monitoras essas crianças são filhos de traficantes. Relatam
o seu medo de se envolver, querem ajudar as crianças, mas sentem medo de
serem mortas. Falam que na comunidade reina a “lei do silêncio”, se não quiser
“acordar com terra na boca”. (DC138).
A “Lei do silêncio” instituída nessas comunidades prejudica
consideravelmente o acompanhamento e a promoção do desenvolvimento das
crianças, porque os profissionais da escola acreditam que nada podem fazer para
130
mudar a situação, apenas escutam e tentam aconselhar a família na medida do
possível, mas sem muito envolvimento. O medo presente em seus relatos é algo
que precisa ser considerado ao nos questionarmos sobre o suposto envolvimento
do educador com as crianças.
“Elas falam claramente que sabem de tudo o que acontece, porém, não podem
fazer nada. Ficam escutando os seus alunos, mas não podem perguntar muito
ou explorar a situação com medo das crianças comentarem em casa e os
“meninos” virem pedir satisfação.” (DC138).
É nítido que os educadores conhecem o contexto de vida das crianças, mas
não compartilham para não sofrer represálias, sentem medo de explorar a
situação de vida da criança e ficarem no dilema sobre o que fazer.
As monitoras apontam que o contexto de violência da criança não é um
meio adequado para promover o desenvolvimento infantil:
“As monitoras falam do terror e do medo instalados em suas vidas cotidianas e
suas crianças vivenciando como algo rotineiro. Afirmam que essa dinâmica
prejudica o desenvolvimento das crianças, porque elas não podem fazer nada,
apenas escutar e tentar aconselhar na medida do possível, mas sem muito
envolvimento. Explicam que, em alguns casos, quando têm intimidade com a
família, ainda conseguem fazer algum trabalho, tentando conscientizar a família
sobre o futuro de seus filhos, aconselhando-as a não deixarem seus filhos
vivenciarem a violência e o tráfico dentro de casa, mas em alguns casos elas
não podem falar nada, porque existem traficantes que elas passam pela rua e
nem podem olhar na cara”. (DC138).
131
O fato dos monitores terem um contato próximo com as famílias, ajudava a
equipe de psicologia a pensar em estratégias de intervenções que possibilitassem
o acompanhamento e a promoção do desenvolvimento das crianças que se
encontravam expostas a situações de risco. Os monitores eram grandes aliados
na intermediação entre família e equipe de psicologia.
Diante desses registros tivemos acesso a um pequeno recorte da vida das
crianças que vivem em comunidades marcadas pela exclusão e violência. Os
psicólogos escolares, ao adentrarem nas instituições públicas de ensino,
deparam-se com uma realidade muito sofrida e desumana. Atuar nesses
contextos pressupõe a utilização de estratégias de intervenção diferenciada do
modelo remediativo e individualista, para evitar julgamentos reducionistas e
preconceituosos.
3.2.4. SÍNTESE E REFLEXÃO DA ANÁLISE DOS RESULTADOS
Nesse tópico será apresentada a síntese dos resultados obtida por meio
dos diários de campo, com relação à visão da pesquisadora, das professoras e
das monitoras sobre os fatores que dificultam o acompanhamento e a promoção
do desenvolvimento das crianças nesse contexto escolar.
No que concerne a opinião das professoras e monitoras, esse dado foi
obtido por meio das conversas informais e formais da pesquisadora com essas
educadoras, em que elas destacavam os problemas da escola. Em nenhum
momento foi feito, uma roda de conversa para obter esses dados. Portanto, as
132
categorias foram construídas a partir da interpretação da pesquisadora diante dos
relatos das educadoras durante a sua inserção no campo de pesquisa.
A respeito das categorias construídas com base na visão da pesquisadora,
podem ser feitas as seguintes sínteses:
Dificuldade em desenvolver atividades pedagógicas em conjunto: Para a
pesquisadora, a relação conflituosa com base no confronto entre os
educadores: professor/monitor, professor/professor e monitor/monitor; a
resistência de alguns professores em compartilhar informações sobre as
crianças e, a ausência de um trabalho pedagógico coletivizado são
situações que impedem a concretização de atividades direcionadas à
promoção do desenvolvimento no contexto escolar.
Decisões da equipe gestora sem a participação das educadoras: Observou-
se o desânimo das professoras em reivindicar ou exigir a sua participação
nos processos decisórios e com isso sentiam-se desestimuladas em
desenvolver atividades com as crianças por não se perceberem parte do
processo.
Críticas destrutivas e/ou descrédito ao trabalho do educador: Constatou-se
que, em virtude das críticas, as educadoras sentiam-se descontentes por
terem os seus trabalhos desvalorizados e isso interferia, diretamente, na
elaboração de propostas pedagógicas.
Espaço de TDC pouco aproveitados pela escola: Percebeu-se uma falta de
planejamento e organização nos espaços coletivos da escola, bem como
uma ausência de trabalhos em conjunto. Além disso, foi constatado que
133
nesses espaços as discussões ficavam atreladas a questões burocráticas
ou problemas pessoais, impedindo a concretização de trabalhos
pedagógicos direcionados às necessidades das crianças.
Relação conflituosa entre a escola e a família: Foi percebida a ausência dos
pais na participação do processo escolar dos filhos, sendo apenas
informados das decisões da escola. Essa exclusão distanciava a família da
escola e com isso impedia o planejamento de propostas pedagógicas mais
próximas do contexto de vida da criança, por não terem informações sobre
o contexto familiar por meio dos pais e/ou responsáveis.
Contexto de violência da criança: A pesquisadora percebeu que a situação
de violência e negligência que acomete as crianças impossibilita o
planejamento de ações direcionadas ao bem-estar físico, psicológico e
social das crianças, pelo fato de a família estar inserida em uma
comunidade onde reina a lei do silêncio e essa lei atinge, também, o
educador. Por isso, eram reincidentes as situações em que se percebia a
omissão familiar e, às vezes, do próprio educador em denunciar casos de
violência por temor a represálias.
No que se refere às categorias construídas com base na visão das
professoras, pode-se fazer as seguintes sínteses:
Dificuldade em desenvolver trabalhos pedagógicos em conjunto: De acordo
com os relatos das professoras, uma dificuldade em se desenvolver um
trabalho em conjunto com os monitores, o que dificulta a concretização dos
134
objetivos da educação infantil que preconiza a junção do cuidar e do
educar.
Decisões da equipe gestora sem a participação da professora: A exclusão
das professoras nas decisões da escola prejudica a realização de
atividades com as crianças. As professoras, por não terem sido preparadas
para a nova decisão, não conseguem desenvolver um trabalho apropriado.
Não existe suporte pedagógico da equipe gestora: As professoras
verbalizaram que, na maioria das vezes, não puderam contar com a
participação de membros da equipe gestora para resolver assuntos
referentes ao planejamento de atividades direcionadas às dificuldades
encontradas em sala de aula.
A implantação da política de agrupamento na Educação Infantil: As
professoras relatam que não foram preparadas para lidar com uma turma
composta por crianças de diferentes idades e que, apesar da prefeitura ter
propiciado alguns cursos direcionados a essa nova dinâmica, eles não
foram o suficiente. Em razão disso, as professoras verbalizam que as
crianças são as maiores prejudicadas.
A respeito das categorias construídas com base na visão das monitoras,
podem ser feitas as seguintes sínteses:
Quantidade de criança por educador: As monitoras verbalizam a dificuldade
em trabalhar com uma turma que possui um número elevado de criança,
por não terem a ajuda dos professores no que se refere às atividades de
135
trocas e/ou banhos. Isso compromete a concretização de atividades
planejadas e organizadas com vista à promoção do cuidar e educar.
Contexto de violência da criança: As monitoras conhecem o contexto de
vida das crianças por serem moradoras do bairro e, com isso, tem
consciência das diversas situações de violência nas quais os seus alunos
estão submetidos. Enfatizam que esse contexto não é um meio adequado
para promover o desenvolvimento e tem ciência das limitações de suas
ações diante dessa realidade.
Em geral, a construção dessas categorias foi importante porque, num
primeiro momento, possibilitou conhecer, a partir dos registros dos diários de
campo, os fatores que impedem o acompanhamento e a promoção do
desenvolvimento infantil na escola estudada, segundo o ponto de vista da
pesquisadora, das professoras e das monitoras.
Num segundo momento, contribuiu, com base na análise das categorias,
para o psicólogo escolar pensar, discutir e traçar propostas de intervenções que
servirão à promoção e ao acompanhamento do desenvolvimento infantil. Portanto,
seria interessante o psicólogo nesse contexto ficar atento às seguintes questões:
à relação de dominação e subordinação institucionalizada entre os
professores e os monitores, bem como a relação de poder entre a
equipe gestora e os educadores professores e monitores. Tal
situação dificulta a participação de todos os envolvidos no processo
educativo na construção de ações pedagógicas que promovam o
desenvolvimento das crianças;
136
ao contexto de violência, marcado pela “lei do silêncio”, no qual a
criança encontra-se inserida. Essa condição dificulta e/ou impede a
concretização de um trabalho que viabilize a proteção da integridade
física, emocional e social da criança, por meio das redes de apoio à
criança e ao adolescente;
à ausência de um suporte pedagógico ao professor que necessita de
algumas orientações em como proceder em determinadas situações,
por exemplo: o agrupamento, a violência, a adaptação, a
sexualidade, a alimentação, as relações sociais, entre outros,
aspectos muito presentes na Educação Infantil;
ao pouco aproveitamento dado aos espaços coletivos. Os
educadores precisam participar, acompanhar, planejar e avaliar o
que será debatido, pois tudo isso, não pode ficar ao cargo apenas da
equipe gestora. a necessidade de se ouvir a demanda dos
professores e monitores, e, com isso, torná-los partícipes de todas
as decisões;
as críticas destrutivas dirigidas ao trabalho do educador
desmobilizam a busca de estratégias pedagógicas que visem ao
desenvolvimento dos alunos. O educador quando se sente cercado
de cobranças, ameaças e descrédito ao trabalho realizado, fica
desestimulado a planejar ações e atividades com as crianças. Diante
das reclamações os educadores tendem a se omitir de todos os
137
processos pedagógicos, até mesmo, a se alienar do contexto familiar
da criança;
à relação conflituosa entre família e a escola, a qual dificulta a
participação dos pais no processo escolar dos filhos. Uma relação
saudável entre a família e a escola contribui para a promoção de
ações que possibilitem o bem-estar físico, emocional e social da
criança no contexto escolar. Diante de um conflito, a criança torna-se
a única prejudicada;
ao número elevado de crianças por educador. É difícil para o
educador promover o desenvolvimento de qualquer atividade que
venha a promover o desenvolvimento integral da criança se ele atua
em uma sala onde a demanda encontra-se acima de sua
capacidade. Nesse sentido, cabe ao psicólogo escolar promover
espaços de debates políticos, com os pais e educadores, visando à
garantia dos direitos da criança a uma educação de qualidade e
gratuita.
Em geral, no espaço da Educação Infantil as crianças se deparam com a
precariedade no atendimento e na estrutura física da escola, bem como com os
conflitos interpessoais entre os educadores. O ambiente escolar tem sido
constantemente um espaço de desequilíbrio entre os educadores e, com isso, a
criança deixa de ser prioridade e as ações são direcionadas à resolução de
conflitos e interesses pessoais dos educadores. Assim, pode-se afirmar que as
crianças estão com o seu desenvolvimento comprometido.
138
Os resultados comprovam, entre outros aspectos, que a situação da
Educação Infantil no nosso país encontra-se distante das propostas elucidadas na
LDB de 96 ao atribuir à Educação Infantil o dever de promover o desenvolvimento
integral da criança de 0 a 6 anos, em seus aspectos físicos, psicológico, intelectual
e social.
Ao se pensar no papel do Psicólogo Escolar nesse contexto fica evidente a
necessidade de ter uma ação preventiva, incluindo uma postura de pesquisador.
De acordo com Marinho-Araujo e Almeida (2005), uma intervenção preventiva
requer um mapeamento institucional, um espaço de escuta, assessoria ao
trabalho coletivo e acompanhamento ao processo de ensino-aprendizagem.
O psicólogo escolar ao assumir a característica de um pesquisador
participante, consegue conhecer o contexto escolar e, a partir disso, traçar
estratégias de intervenção. Torna-se impossível atuar na escola pautando-se
apenas em uma situação problema manifestada no caso, a necessidade de
acompanhar o desenvolvimento infantil de crianças pré-escolares. a
necessidade de se conhecer com clareza quais os fatores que interferem nesse
acompanhamento. Agir sem conhecer profundamente a questão-problema
ocasiona uma ação remediativa de curta duração do psicólogo escolar.
A compreensão dos fatores e/ou situações que impedem o
acompanhamento e a promoção do desenvolvimento infantil na escola só foi
possível devido à participação da pesquisadora no cotidiano escolar. Diante dessa
inserção, pôde-se registrar nos diários de campo as dificuldades enfrentadas pelos
educadores, o cotidiano de trabalho dos educadores, as tarefas e os ritmos
impostos aos educadores, as relações entre os educadores, entre os educadores
139
e as crianças e entre a escola e a família. Além disso, a partir dessa inserção
houve a construção da representação do psicólogo escolar pelos educadores,
como mais um profissional de apoio disposto a trabalhar em conjunto pela busca
de estratégias de intervenções que visam à promoção do desenvolvimento.
140
3.3. AVALIAR UMA PROPOSTA DE ACOMPANHAMENTO DO
DESENVOLVIMENTO NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Neste item, buscou-se conhecer a opinião das professoras a respeito de
uma proposta de acompanhamento do desenvolvimento no contexto da Educação
Infantil. Este item foi estruturado em três sub-itens:
No primeiro, buscou-se identificar as dimensões e os indicadores do
desenvolvimento infantil que professores apresentaram de seus alunos,
comparando com os resultados e as dimensões do desenvolvimento consideradas
no P.O.C.. Utilizaram-se, como fontes de informação, as entrevistas realizadas
com as professoras.
No segundo, foram analisadas as informações das professoras sobre o
desenvolvimento das crianças, integrando aos resultados do P.O.C. Serviu como
fonte de dados o roteiro de entrevista com as professoras e o Prontuário de
Observação da Criança.
No terceiro, foi avaliada a opinião das professoras sobre a utilização de
uma metodologia para o acompanhamento das crianças e o impacto dessa
metodologia na construção de atividades realizadas pelas professoras. Foram
utilizados como fontes de informações os registros das conversas com as
professoras sobre o Protocolo de Acompanhamento da Criança – P.O.C. e a
entrevista final com as professoras.
E, por fim, será apresentada uma síntese geral dos resultados obtidos no
capítulo, com vista a fazer uma reflexão crítica sobre uma proposta de
acompanhamento do desenvolvimento infantil no contexto escolar.
141
3.3.1. IDENTIFICAR AS DIMENSÕES E OS INDICADORES DO
DESENVOLVIMENTO INFANTIL QUE OS PROFESSORES
APRESENTARAM DE SEUS ALUNOS, COMPARANDO AS DIMENSÕES
DO DESENVOLVIMENTO CONSIDERADAS NO P.O.C.
Neste momento são apresentadas as informações obtidas por meio da
entrevista inicial com as professoras (Anexo 4). A entrevista foi gravada e,
posteriormente, transcrita.
Em geral, a análise das informações registradas no Protocolo de Análise da
Entrevista Inicial com as Professoras (Anexo 7) ocorreu da seguinte forma:
primeiramente, foi realizada uma leitura detalhada da entrevista para identificar as
dimensões ou indicadores do desenvolvimento que as professoras apresentaram
de seus alunos e, no segundo momento, os trechos escolhidos foram colocados
no protocolo. Todos os trechos selecionados encontram-se no Anexo 17.
Em seguida, a pesquisadora fez uma relação dos indicadores considerados
pelas professoras de cada uma das crianças com base nas dimensões do P.O.C.
Assim, com o objetivo de melhor visualizar e discutir as respostas das professoras,
os resultados foram divididos em seis dimensões: iniciativa, relações sociais,
representação criativa, música e movimento, linguagem e literatura e, por fim,
lógica e matemática.
Dimensão Iniciativa: Esta dimensão refere-se à capacidade da criança em
começar e continuar o desenvolvimento de atividades, bem como ter o poder de
escolher e decidir.
142
As professoras elucidaram alguns comportamentos que indicavam a
expressão ou não de escolha das crianças com relação aos brinquedos ou
atividades.
“[...] ele não muda de mesa prá mudar de brinquedo, ele sabe que se cansar do
brinquedo pode ir pra outra mesa. Isso não acontece, ele vira de lado e continua
no mesmo lugar, apático. Essa é a sensação que eu tenho, de uma apatia”
(PC06)
A dificuldade de algumas crianças em participar da rotina do programa,
como guardar o material após a sua utilização, foi um aspecto percebido pelas
professoras nos seus alunos.
“[...] na hora de guardar os brinquedos ele continua sentado na cadeira, está
todo mundo se mexendo p cima e prá baixo, enfiando na caixa e ele fica
parado como se nem tivesse percebido“ (PC06)
As professoras também identificaram a capacidade das crianças em
solucionar problemas referentes às atividades desenvolvidas em sala de aula.
“É uma menina muito inteligente, raciocínio rapidíssimo (...) ela é esperta,
ela pesca as coisas no ar” (PC04)
Foi destacada a falta de iniciativa de algumas crianças pelas professoras,
citando exemplo do cotidiano escolar:
143
“Ele não vai ao banheiro sozinho. A mãe entra com ele para levá-lo ao banheiro,
prá fazer xixi aqui, prá depois ele ir prá classe. Ela manda na mochila uma calça,
cueca, toalhinha, porque ele não sabe usar o banheiro. Então ele faz cocô na
calça prá ele não ter que limpar, porque isso quem faz é a mãe. Ele, em casa,
usa o banheiro, senta e chama a mãe prá limpar. Como aqui ele que tem que se
limpar e ele não sabe, quando chega ao banheiro faz cocô na calça e começa a
berrar, berrar, berrar” (PC06)
“não tem iniciativa” (PC03)
Apesar de as professoras, em alguns momentos, não identificarem o
comportamento das crianças como tendo ou não iniciativa, estão atentas a essa
dimensão, citando exemplos de como a criança se comporta na escola.
Em geral, observa-se que nessa dimensão apenas alguns itens
considerados no P.O.C. foram apreciados pelas professoras, como: expressando
escolhas, solucionando problemas e cooperando em rotinas do programas. No
entanto, aspectos acerca do empenho das crianças com brincadeiras complexas
não foi mencionado em nenhum dos seus relatos.
Dimensão Relações Sociais: Esta dimensão contempla os aspectos
referentes aos tipos de relações que a criança constrói com seus pares e adultos.
As professoras durante a entrevista evidenciaram mais as relações sociais
das crianças com seus pares do que com os adultos. A respeito do
relacionamento com os seus pares foi identificada a capacidade de a criança
manter uma boa relação social.
144
“Ele brinca muito bem com todos, não é uma criança agressiva (...) se relaciona
bem com as crianças. É aquela criança, assim, normal. É aquela criança boa em
tudo, não ótima e nem péssima em nada”. (PC05)
Ainda falando acerca do relacionamento com outras crianças, de acordo
com o relato da professora, existem algumas crianças que têm dificuldades para
se sentirem incluídas no grupo.
“É como se ele não fizesse parte do grupo, ele não consegue achar que ele faz
parte do grupo. Quando eu falo ‘vamos’, ele não se sente incluído, ele não
entende assim”. (PC03)
É importante mencionar que algumas crianças não se sentem incluídas no
grupo em geral, mas possuem a preferência por algum grupinho e, nesse caso,
fazem parte da turminha de colegas. Isso revela a capacidade de a criança fazer
amizade com outras crianças.
“Ele faz parte do grupinho da turma da idade dele, o resto da classe não existe
para ele”. (PC01)
Outro aspecto a ser destacado é a interferência da professora em orientar
os alunos a fazer parte do grupo de meninos ou de meninas. Isso interfere no
processo de vinculação das crianças com seus pares. É importante deixar a
criança livre na escolha de suas amizades, mesmo que ela não seja bem recebida
ou aceita no grupo.
“Eu tive que ir afastando ele, ele brinca muito com as meninas, só quer ficar com
as meninas e eu fui afastando um pouco: ‘Aqui a brincadeira agora é pra
145
menina e você vai brincar com os meninos’. Ele vai e volta. As meninas não o
querem por perto, aí cria atrito”. (PC03)
É destacado, também, o ciúme de algumas crianças com os seus pares
mais próximos, não permitindo dividir a amizade.
“Eu não sei se é ciúme que ele tem, se ele é muito ciumento, muito possessivo,
o que é dele é dele mesmo. Tanto que ele não quer dividir a amiguinha com
outra criança” (PC03).
Foi percebido que as professoras, ao analisarem a interação dos alunos,
preocuparam-se em identificar as crianças que não se comunicavam ou
interagiam com os outros colegas.
“Fala muito pouco, em sala de aula é aquela criança quieta que não conversa”
(PC06)
Com relação à capacidade da criança em empenhar-se para solucionar
problemas sociais, um dos aspectos mencionados foi a dificuldade em dividir
brinquedos ou em saber administrar o sentimento de perda.
“Ele é meio assim, isto aqui é ‘meu e eu não vou dividir (...). Ele tenta brincar,
mas é aquela coisa, na disputa (...) ele está muito naquela fase do egocentrismo,
‘é meu eu não vou dar, é meu e acabou’. E briga e disputa”. (PC03)
“Ele é uma criança assim emburrado, mas é um emburrado gostoso, quando ele
emburra, ele emburra feio, de não querer olhar na tua cara. (...). Precisa
146
trabalhar o lance do perder mesmo, sabe? O saber perder, ? Que ai ele
emburra mesmo, ele fica bravo”. (PC01)
As crianças, quando tem dificuldades para solucionar problemas sociais,
tendem a utilizar a força ou fogem diante do conflito.
“Então é assim, o problema dele é a convivência, conviver com ele ali é meio
complicado. Porque ele não aceita muito o quê os outros falam para ele, na
brincadeira. Ele não concorda e sai na porrada mesmo, dar briga. (...) O que
se destaca nele, que chama a atenção é esta habilidade que ele tem de arrumar
confusão onde ele está. (...). O grupinho que fica na mesa que ele senta,
trabalha tranqüilo, sossegado, não tem encrenca. Então é aquela coisa que, no
dia ele não vem, o grupo trabalha de outra forma e quando ele estar é encrenca
na certa”. (PC03)
Algumas características como liderança foram consideradas pelas
professoras:
“Estava acostumada a liderar, não só as crianças, mas a sala toda. E isso eu tive
que dar uma cortada” (PC04)
“Ela que coordena e manda nas brincadeiras” (PC02)
Com relação a entender e expressar sentimentos as professoras
identificaram este aspecto.
“É a esperteza dele, é a esperteza, você es falando com ele, você chega
assim e, de repente, ele sacou que aquilo é uma brincadeira, ele sacou que
você está falando sério, ele enxerga um pouquinho, ele entende, o seu tom
de voz, você fala e ele já percebe.” (PC01).
147
As professoras consideraram a dimensão das relações sociais na maioria
dos seus alunos, com exceção de uma criança que a professora não mencionou.
Enfim, observa-se que nessa dimensão quase todas as categorias consideradas
no P.O.C. foram apreciadas pelas professoras, como: relacionando-se com outras
crianças, fazendo amizade com outras crianças, empenhando-se em solucionar
problemas sociais e entendendo e expressando sentimentos. Apenas o item
relacionando-se com adultos não foi mencionado.
Dimensão Representação Criativa: visualiza o processo de representação
criativa da criança, analisando a forma como retrata objetos e experiências por
meio da imitação, imaginação, construção, arte ou linguagem escrita.
As professoras não fizeram nenhuma menção aos comportamentos dos
alunos que contemplam essa dimensão. Aspectos referentes a: fazendo e
construindo; desenhando e pintando; e fazendo de conta não foram considerados
pelas educadoras como aspectos que mais se destacam ou não em relação ao
desenvolvimento dos seus alunos.
Dimensão Música e Movimento: corresponde aos movimentos corporais
da criança, mais precisamente a coordenação motora, observando o pular, o
dançar, o correr, o saltar, entre outros movimentos.
Essa dimensão foi pouco explorada pelas professoras, em apenas um
aluno foi discutida a coordenação manual na realização de atividades.
“A parte motora precisa trabalhar (...) a coordenação pode melhorar” (PC05)
148
Percebe-se que as categorias expressas no P.O.C. como: coordenação
motora, imitando movimento no ritmo e seguindo instruções de música e
movimento não foram mencionadas.
Dimensão Linguagem e Literatura: Esta dimensão contempla os aspectos
referentes à comunicação da criança, identificando algumas habilidades de
linguagem como: ouvir, falar, ler e escrever.
Esse tópico foi algo destacado pelas professoras na entrevista,
mencionavam alguns aspectos referentes à capacidade da criança em entender e
participar de uma conversa, destacando a boa comunicação e argumentação do
aluno:
“Ele fala, argumenta bem, ele conversa muito bem”. (PC01)
“Está tudo certo na linguagem, na comunicação”. (PC02)
Em geral as professoras elucidaram que os seus alunos possuem uma boa
linguagem, conseguem falar e ser compreendidos.
“A linguagem dele está normal”. (PC03)
“Fala muito bem, a linguagem bem desenvolvida (...) ele fala muito bem (...).
Dentro da normalidade, a linguagem está boa”. (PC05)
“Tem linguagem muito bem desenvolvida”. (PC04)
Destacaram o comportamento de alguns alunos durante a atividade de
leitura.
149
“Ela é muito inquieta. Na história ela não consegue ouvir a história, por mais
rápida que seja até o final. Ela se distrai com outra coisa, ela mexe, conversa
com alguém, aquela coisa que eles fazem. Porque tem criança que fica atenta
até o final da história, que nem pisca os olhos e ela, não. Então, não sei se é
tempo de atenção ou realmente de concentração”. (PC04)
Enfim, observa-se que nessa dimensão quase todas as categorias
considerados no P.O.C. foram apreciados pelas professoras, como: entendendo
conversas, falando, demonstrando interesse em atividades de leitura, no entanto,
os itens demonstrando conhecimento sobre livros, começando a ler e começando
a escrever não foram destacados, talvez em virtude do projeto pedagógico da
educação infantil não exigir que a criança aprenda a ler e a escrever nessa fase
escolar e, portanto, o máximo exigido na escola é saber ler e escrever o próprio
nome.
Dimensão gica e Matemática: Esta dimensão corresponde ao
desenvolvimento da criança nas áreas de classificação, seriações, números,
espaço e tempo.
Esse item não foi destacado pelas professoras, não fizeram nenhuma
menção aos comportamentos dos alunos que contemplam essa dimensão. Assim,
aspectos como: classificando; usando as palavras não, alguns e todos;
organizando materiais em ordem gradual; usando palavras comparativas;
comparando números de objetos; contando objetos; descrevendo relações
espaciais; e, descrevendo sequência e tempo, não foram considerados pelas
educadoras.
150
3.3.2. ANALISAR AS INFORMAÇÕES DAS PROFESSORAS SOBRE O
DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS, INTEGRANDO AOS
RESULTADOS DO P.O.C.
Nessa parte são apresentadas as informações obtidas por meio da
entrevista inicial com as professoras (Anexo 4) e do preenchimento do P.O.C.
(Anexo 6) feito por elas, juntamente com a pesquisadora.
Na entrevista inicial, as professoras identificaram as crianças da sua turma
como mais desenvolvidas, regulares no desenvolvimento e com menos
desenvolvimento
26
. Nesse processo as professoras escolheram as crianças
baseadas em suas percepções, sem a utilização do P.O.C. Essa entrevista foi
gravada e transcrita.
Em geral, a análise das entrevistas ocorreu da seguinte forma:
primeiramente foram selecionados os trechos em que as professoras identificaram
nos seus alunos elementos ou indicadores do desenvolvimento. Após essa fase,
todos os trechos selecionados foram inseridos no Protocolo de Análise da
Entrevista Inicial (Anexo 7).
Em seguida, foram preenchidos os P.O.C. das crianças escolhidas pelas
professoras, totalizando três crianças por professora. Os resultados obtidos por
meio desse preenchimento foram inseridos no Protocolo de Análise do P.O.C.
(Anexo 10). Finalizada essa fase, foram elaborados os gráficos com a síntese do
26
A utilização dos termos “mais”, “regulares” e menos” foram usados para tentar verificar as
potencialidades e as fragilidades das crianças, de acordo com o seu desenvolvimento na visão das
professoras e também para verificar quais as dimensões que as professoras estão atentas ao
observarem as suas crianças.
151
perfil de desenvolvimento de cada criança, construídos a partir das respostas das
professoras
27
.
Assim, com o objetivo de facilitar a análise das informações, os resultados
foram divididos em três itens de acordo com o nível de desenvolvimento da
criança na visão das professoras: o primeiro focalizou a avaliação das crianças
consideradas mais desenvolvidas; o segundo avaliou as crianças identificadas
como regulares em seu desenvolvimento; e o terceiro ficou direcionado às
crianças consideradas menos desenvolvidas.
Crianças mais desenvolvidas na visão das professoras
As professoras indicaram um menino de seis anos e uma menina de cinco
anos como as que apresentam um melhor desenvolvimento em sala de aula.
Observando os relatos das professoras sobre cada uma dessas crianças,
constatou-se o seguinte:
A criança C01, no caso o menino, de acordo com a professora P02 o que
mais se destaca em seu desenvolvimento é a esperteza. No que se refere ao que
menos se destaca é a dificuldade de perder:
“É a esperteza dele, é a esperteza, você está falando com ele, você chega assim
e, de repente, ele sacou que aquilo é uma brincadeira, ele sacou que você
está falando sério, ele enxerga um pouquinho, ele entende, o seu dom de
voz. Você fala e ele já percebe.” (PC01).
27
Os gráficos não foram elaborados com o objetivo de quantificar os comportamentos das crianças
em níveis, mas permitir uma visualização de como está o seu desenvolvimento em cada uma das
dimensões, considerando-se sempre que o desenvolvimento é um processo contínuo e não
estático.
152
“É o lance do perder mesmo, sabe? O saber perder, né? Que ai ele emburra
mesmo, ele fica bravo”. (PC01).
A criança C04, no caso menina, de acordo com a professora P01 o que
mais se destaca em seu desenvolvimento é o raciocínio. A respeito do que menos
se destaca é a concentração:
“É o raciocínio. E uma menina muito inteligente, raciocínio rapidíssimo. (...) é
uma criança de raciocínio rápido, ela é esperta, ela pesca as coisas no ar”.
(PC04)
“Acho que tempo de concentração. (...) Na história, ela não consegue ouvir a
história, por mais rápida que seja até o final. Ela para, ela distrai com outra coisa,
ela mexa, ela conversa com alguém... Aquelas coisas que eles fazem”. (PC04)
De acordo com os resultados obtidos por meio do preenchimento do P.O.C.
pelas professoras, o nível de desenvolvimento das crianças C01 e CO4
encontram-se da seguinte forma:
Gráfico 1
Perfil do desempenho da criança C01 de acordo com o P.O.C.
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
Dimensões do Desenvolvimento
Média
dia
5,00 5,00 5,00 4,75 3,83 4,75
Iniciativa
Relações
Sociais
Representaçã
o Criativa
Música e
Movimento
Linguagem e
Literatura
Lógica e
Matemática
153
Gráfico 2
Perfil do desempenho da criança C04 de acordo com o P.O.C.
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
Dimensões do Desenvolvimento
Média
dia
4,75 4,60 4,00 5,00 4,00 4,75
Iniciativa
Relações
Sociais
Representaçã
o Criativa
Música e
Movimento
Linguagem e
Literatura
Lógica e
Matemática
Analisando os dois gráficos das crianças C01 e C04, percebe-se que elas
estão com um alto nível de desenvolvimento em quase todas as dimensões. Os
resultados confirmam a escolha das professoras ao identificarem que essas
crianças estão melhores desenvolvidas com relação ao restante da turma.
Crianças regulares em seu desenvolvimento na visão das professoras:
As professoras indicaram uma menina de cinco anos (CO2) e um menino
de cinco anos (C05) como as crianças consideradas regulares com relação ao seu
desenvolvimento. Observando os relatos das professoras sobre cada uma dessas
crianças, constatou-se o seguinte:
Na criança C02, de acordo com a professora P02, o que mais se destaca
em seu desenvolvimento é a iniciativa e a liderança, e o que menos se destaca no
desenvolvimento a professora não deu nenhum indicador, para não deixar a
criança em evidência. Essa postura da professora talvez tenha tido a intenção de
evitar futuras rotulações à criança.
154
“A menina está boa, tem iniciativa, é líder, (...). Ela que coordena, ela manda”.
(PC02)
“Eu acho que não, para não dar muita evidência. Deixar ela na dela, quietinha
que eu acho bom. Ela está caminhando direitinho, tem os entreveros dela e ela
trabalha bem com isso. (PC02)
Na criança C05, de acordo com a professora P01, o que mais se destaca
em seu desenvolvimento é a iniciativa e a linguagem. A respeito do que se
destaca como fragilidade no seu desenvolvimento é a coordenação motora:
“Linguagem, ele fala muito bem”. (PC05)
“Menos, menos, eu acho que é a parte motora. O que precisaria dar uma ...”
(PC05)
De acordo com os resultados obtidos por meio do preenchimento do P.O.C.
pelas professoras, o nível de desenvolvimento das crianças C02 e CO5
encontram-se da seguinte forma:
Gráfico 3
Perfil do desempenho da criança C02 de acordo com o P.O.C.
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
Dimensões do Desenvolvimento
Média
dia
4,50 4,60 5,00 4,75 3,50 4,62
Iniciativa
Relações
Sociais
Representaçã
o Criativa
Música e
Movimento
Linguagem e
Literatura
Lógica e
Matemática
155
Gráfico 4
Perfil do desempenho da criança C05 de acordo com o P.O.C.
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
Dimensões do Desenvolvimento
Média
dia
4,00 4,60 4,33 4,75 3,33 3,37
Iniciativa
Relações
Sociais
Representaçã
o Criativa
Música e
Movimento
Linguagem e
Literatura
Lógica e
Matemática
Analisando os resultados do P.O.C. das crianças C02 e C05, percebe-se
que as crianças estão com um excelente desenvolvimento. Isso vai de encontro à
opinião das professoras que identificam essas crianças como regulares em seu
desenvolvimento.
Crianças abaixo da média na visão das professoras:
As professoras indicaram dois meninos de quatro anos (CO3 e C06) como
as crianças que estão mais atrasadas no desenvolvimento.
A professora P02, ao relatar sobre a sua criança C03 e tentar destacar os
elementos do desenvolvimento que mais se destacam, identifica as relações
sociais como algo negativo. Não foi capaz de mencionar uma potencialidade da
criança com relação ao seu desenvolvimento:
“Eu acho que justamente esta parte que não é legal. O que se destaca nele, que
chama a atenção é essa habilidade que ele tem de arrumar confusão onde ele
estar. (...) Por exemplo, hoje ele o veio. O grupinho que fica na mesa que ele
senta, trabalhou tranqüilo, sossegado, não teve encrenca. Então é aquela coisa
156
que no dia ele não vem o grupo trabalha de outra forma e quando ele estar é
encrenca na certa” (PC03).
“Então, justamente isso, a parte social. Ele entender, aceitar, ficar numa boa com
as crianças. Entender que é o é tudo para ele (...), a parte social dele que
precisa ser mais trabalhada”. (PC03).
A criança C06, de acordo com a professora P01, não tem nenhuma
dimensão do desenvolvimento que se mostra como potencialidade. A respeito do
que menos se destaca no desenvolvimento, a professora identifica a iniciativa e
interação:
“Eu não vejo nada, em termos assim: isso está bom. Tem que trabalhar tudo”.
(PC06)
“Ele não vai ao banheiro sozinho (...) quando ele faz cocô, ele faz na calça (...). É
aquela criança quieta que não conversa, que não muda de mesa prá mudar de
brinquedo (...) continua no mesmo lugar apático. Essa é a sensação que eu
tenho: de uma apatia”. (PC06)
De acordo com os resultados obtidos por meio do preenchimento do P.O.C.
pelas professoras, o nível de desenvolvimento das crianças C03 e CO6
encontram-se da seguinte forma:
157
Gráfico 5
Perfil do desempenho da criança C03 de acordo com o P.O.C.
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
Dimensões do Desenvolvimento
Média
dia
2,75 3,20 3,66 3,50 3,00 2,12
Iniciativa
Relações
Sociais
Representaçã
o Criativa
Música e
Movimento
Linguagem e
Literatura
Lógica e
Matemática
Gráfico 6
Perfil do desempenho da criança C06 de acordo com o P.O.C.
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
Dimensões do Desenvolvimento
Média
dia
2,25 2,00 3,33 3,50 2,83 1,75
Iniciativa
Relações
Sociais
Representaçã
o Criativa
Música e
Movimento
Linguagem e
Literatura
Lógica e
Matemática
Analisando os resultados do P.O.C. percebe-se que as crianças C03 e C06
estão com um bom nível no desenvolvimento no que se refere à representação
criativa, música e movimento do desenvolvimento. No entanto, nas dimensões
iniciativa, relações sociais, linguagem e literatura, além de lógica e matemática,
mostram-se vulneráveis, revelando a necessidade de desenvolver atividades
direcionadas à essa fragilidade do desenvolvimento.
158
3.3.3. CONHECER A OPINIÃO DAS PROFESSORAS SOBRE A UTILIZAÇÃO
DE UMA METODOLOGIA PARA ACOMPANHAR AS CRIANÇAS NA
EDUCAÇÃO INFANTIL E O IMPACTO DESSA METODOLOGIA NA
CONSTRUÇÃO DE ATIVIDADES REALIZADAS PELAS PROFESSORAS
Considerando que o objetivo deste trabalho é conhecer a visão das
professoras sobre a utilização de uma metodologia de acompanhamento do
desenvolvimento infantil, bem como analisar o impacto dessa metodologia na
construção de atividades pedagógicas realizadas pelas professoras, seus
resultados foram estruturados em duas partes.
No primeiro momento foi investigada a visão das professoras sobre a
utilização de uma metodologia de acompanhamento do desenvolvimento infantil,
no caso o P.O.C., por meio da entrevista individual com as professoras e dos
registros, referentes à opinião das educadoras durante o processo de
preenchimento do protocolo, nos diários de campo da pesquisadora
No segundo momento, foram analisadas as observações e os relatos
anotados nos diários de campo, que serviram como exemplos para elucidar o
impacto dessa metodologia de acompanhamento na construção de atividades
realizadas pelas professoras.
E, no fim, foi apresentada uma síntese geral dos resultados obtidos bem
como a ênfase ao modelo de investigação da pesquisadora, que destaca a
importância da inserção no contexto de pesquisa.
159
3.3.3.1. Visão das professoras sobre a utilização de uma metodologia de
acompanhamento do desenvolvimento infantil, no caso o P.O.C.
A visão das professoras sobre o P.O.C. foi obtida por meio de um roteiro de
entrevista semi-estruturada (Anexo 5) e dos diários de campo da pesquisadora. A
entrevista não foi conduzida de forma diretiva, fixando-se nas perguntas, mas
orientada ou direcionada à questão a ser pesquisada. Isso porque, de acordo com
Jacques (1993), as entrevistas devem se centrar nas questões e permitir um
discurso livre que possibilite a manifestação de interesse, de trocas de
experiências e de informações, longe do discurso de neutralidade.
As duas entrevistas foram gravadas e, posteriormente, transcritas no
Protocolo de Análise da Entrevista Final com as Professoras (Anexo 16) para
serem analisadas e discutidas. Em geral, a análise das informações registradas
nos protocolos ocorreu da seguinte forma: primeiramente, foi realizada uma leitura
detalhada da entrevista para identificar os trechos que contemplavam as
perguntas consideradas no roteiro de entrevista semi-estruturado e, no segundo
momento, os trechos foram transcritos no protocolo e interpretados. Todos os
trechos selecionados e interpretados encontram-se no Anexo 17.
Assim, com o objetivo de melhor visualizar e discutir as respostas das
professoras, os resultados foram divididos em três dimensões com base nas
perguntas consideradas no roteiro de entrevista:
O papel do P.O.C. na compreensão do desenvolvimento da criança;
Os pontos fortes do P.O.C. na visão da professora;
Os pontos fracos do P.O.C. na visão da professora.
160
a) Papel do P.O.C. na compreensão do desenvolvimento da criança
Esta questão buscou-se analisar a opinião que as professoras possuíam a
respeito do P.O.C., considerando a sua importância na compreensão do
desenvolvimento infantil. Segundo a professora P01, esse prontuário auxiliou no
acompanhamento de todas as dimensões do desenvolvimento da criança, pois
podia visualizar o seu aluno de forma integral. Com esse prontuário não tinha
como esquecer algumas dimensões do desenvolvimento que precisariam ser
trabalhadas.
“Ajudou porque ele compartimentalizou, visualizou a criança nos seus aspectos e
a gente consegue pensar nesta criança em tudo, sem esquecer-se de nada, sem
esquecer-se das coisas. Você vai olhando um todo. Às vezes você avalia a
criança por dois ou três aspectos e está se esquecendo de outros dois, não que
você não percebeu, mas você deixa passar um pouco.” (Professora P01).
A professora continua expressando a sua opinião dizendo:
“(...) ajuda no desenvolvimento e na avaliação geral da criança. (Professora
P01).
Com relação à opinião da outra professora, ela evidencia que o P.O.C.
ajudou-a a compreender o desenvolvimento de sua criança, porque:
“(...) gostei da maneira como são colocadas as perguntas, como são feitas, eu
achei super legal.” (Professora P02)
161
Além disso, a professora P02 acrescenta que o fato de ter tido uma
devolutiva da entrevista realizada com os pais, pela pesquisadora para conhecer o
contexto de vida das crianças, auxiliou-a em sua compreensão acerca de alguns
comportamentos dos alunos:
“Aquilo que eu pensava da criança bateu com aquilo que a mãe também falou.
Algumas coisas que a mãe falou acrescentaram para eu entender determinadas
atitudes que a criança tomava diante das diversas situações em sala de aula.”
(Professora P02).
A escola tem uma ficha que é entregue aos pais cujo objetivo é conhecer o
contexto de vida das crianças, mas, de acordo com a professora, essa ficha não
diz nada e nem acrescenta algo ao professor. Precisaria de uma proposta de
entrevista mais eficiente que possibilitasse conhecer a situação de vida da criança.
“Aquela entrevista que você fez diretamente eu achei super, as perguntas como
foram colocadas, o jeito como a mãe se colocou, ficou à vontade para colocar as
coisas. Mostrou que a ficha da escola, aquela e nada é a mesma coisa, aquilo
não diz nada. Se pegar a ficha e lê,o resolve nada. Tem que fazer entrevistas
mais reservadas e melhor direcionadas, não só dar a ficha.” (Professora P02).
Pensando em uma metodologia de acompanhamento do desenvolvimento
infantil, a professora relata que um dos fatores que dificultam o acompanhamento
da criança na escola é a ausência de um instrumento:
“O que me dificulta é o ter um instrumento deste (P.O.C.) ou qualquer outro
instrumento mais especifico e que eu acho que deveria ser para a escola toda,
isto não existe em nenhum lugar, em lugar nenhum da escola.” (Professora P01).
162
Diante desse desabafo da professora, fica constatado que, além da
ausência de um suporte pedagógico da equipe gestora conforme elucidado
anteriormente, existe uma ausência de instrumentos ou de metodologias de
acompanhamento de atividades direcionadas à promoção do desenvolvimento no
contexto escolar. Ao discutir a respeito da possibilidade de se utilizar esse
prontuário na escola, a professora fez o seguinte comentário:
“Eu faria, desde que me fosse entregue no primeiro dia de aula, porque precisa
chegar no primeiro dia para que haja uma avaliação correta. Porque tem três
momentos, definir estes momentos, começo do ano, meio do ano e fim do ano,
porque sim você vai ter, realmente, uma visão daquilo de como a criança se
desenvolveu e como realizou seu trabalho na escola, se foi legal, se você
conseguiu alcançar as coisas com aquela criança ou não” (Professora P02).
Esta proposta de acompanhamento do desenvolvimento infantil foi
apropriada pelas professoras, perceberam a necessidade de acompanhar o
desenvolvimento visando o bem-estar das crianças. De acordo a professora esta
pesquisa contribuiu para conhecer o contexto de vida de seu aluno.
“A professora P02 elogia a pesquisa explicando que ficou sabendo de muitas
coisas a respeito de seus alunos e que são importantíssimas para o educador ter
conhecimento”. (DC199)
Enfim, é fato que as professoras necessitam de uma metodologia de
trabalho que propicie a avaliação do progresso educacional no âmbito individual e
coletivo, para planejar atividades direcionadas às necessidades de
desenvolvimento da criança.
163
b) Pontos fortes do P.O.C. na visão da professora
Esta pergunta teve como objetivo investigar a opinião das professoras a
respeito dos pontos positivos do P.O.C., com base nas entrevistas com as
professoras e nos relatos e observações registrados nos diários de campo. De
acordo com a experiência que as professoras tiveram ao preencher o P.O.C., elas
consideraram como um dos indicadores positivos o fato do protocolo abarcar uma
variedade de aspectos relacionados ao desenvolvimento, de forma objetiva.
“Eu achei que ele foi bem pontual, que assim, se pudesse dar uma enxugada
nas questões, mas eu acho que as questões abrangiam bastante coisa, elas
são bem pontuais, bem abrangentes.” (Professora P02)
Outro aspecto considerado diz respeito a sua praticidade. Apesar de ser
extenso, o P.O.C. possibilita uma visão abrangente, bem como uma discussão
detalhada sobre o desenvolvimento infantil. É um instrumento rápido de ser
preenchido e, portanto, não demanda um tempo exorbitante ao ser utilizado, uma
das preocupações consideradas pelas educadoras ao conhecer o P.O.C.
“O ponto positivo achei ele rápido, a partir do momento que você conhece o
instrumento é uma coisa rápida de você fazer. (...). É um instrumento longo, mas
é rápido e é uma avaliação bem geral, bem ampla do aluno” (Professora P01).
Essa fala da professora durante a entrevista também foi encontrada nos
relatos registrados nos diários de campo no momento em que a professora
preenchia o P.O.C. do seu aluno:
164
“A professora P02 acha o instrumento muito simples e direto e gostou muito da
linguagem, explicou que se fossem realizadas atividades direcionadas para
observar as dimensões do P.O.C. facilitaria na sua utilização, não ficaria difícil
fazer com todas as crianças, apesar de ser extenso, é rápido.” (DC183).
“A professa P02 expressa que o instrumento é bom, pois é bem objetivo e de
fácil compreensão.” (DC177).
Essa constatação de praticidade do prontuário era observada e verificada,
frequentemente, quando terminávamos de preencher o P.O.C. de uma criança. As
falas das professoras registradas nos diários de campo ilustram essa situação:
“Finalizamos o preenchimento e a professora P01 ficou surpresa que não foi
demorado, disse ‘Nossa foi rápido, né!’.” (DC202).
“Ao fim do preenchimento a professora P02 mais uma vez, elogiou o
instrumento, ela o acha bastante prático e direto, de fácil compreensão”.
(DC198)
A familiaridade com a escala tem facilitado as professoras a preenchê-lo
sem tanta dificuldade, e isso é um aspecto positivo, pois diminuiu a resistência por
considerarem-no muito extenso para ser utilizado com todas as crianças.
A pesquisa possibilitou um contato mais próximo com as professoras para
discutir sobre o desenvolvimento de seus alunos, bem como sobre as atividades
que estavam sendo realizadas em salas de aula. A professora expressa a sua
satisfação em participar dessa pesquisa, pois tinha um retorno frequente da sua
ação pedagógica com os alunos.
165
“A professora P02 relata que vem gostando muito de fazer esta pesquisa, porque
está recebendo uma devolutiva constante do trabalho que vem realizando em
sala de aula com as crianças.” (DC177).
As professoras expressam a necessidade de ter um profissional
acompanhando-as em suas atividades de modo que possam ter uma devolutiva
do que vêm desenvolvendo com os seus alunos. Isso foi confirmado nesta
pesquisa, anteriormente, ao evidenciar como um dos fatores que prejudicam o
acompanhamento e a promoção do desenvolvimento infantil na escola é a
ausência de um suporte pedagógico ao professor.
Durante a pesquisa tive a preocupação de estar sempre dando uma
devolutiva das atividades que as professoras realizavam em sala, elogiava quando
necessário e dava algumas sugestões de mudança quando sentia a necessidade.
“Elogiei o trabalho da professora P02, enfatizando que ela vem desenvolvendo
em sala de aula atividades que saem do tradicional e tentam satisfazer as
necessidades das crianças. Possui a preocupação de utilizar os jogos, o quebra-
cabeça, as histórias, deixando de lado as cópias que visam apenas à
alfabetização das crianças, focadas em letras e números.” (DC177).
Essa parceira foi fundamental para a realização da pesquisa, pois as
professoras se envolveram e mostraram entusiasmo em participar de um processo
no qual teria a presença de um profissional acompanhando-as em suas atividades
e fazendo-as refletir sobre o desenvolvimento de seus alunos e o papel das
propostas pedagógicas nessa promoção.
166
c) Pontos fracos do P.O.C. na visão da professora
Nesta questão buscou-se a opinião das professoras sobre os aspectos
considerados frágeis na utilização do P.O.C. para acompanhar o desenvolvimento
das crianças em contextos escolares.
De acordo com a realidade do sistema educacional público do país, a
Educação Infantil é caracterizada por possuir um número elevado de crianças por
educador e, em razão disso, as professoras mostraram-se preocupadas em utilizar
essa escala com todas as crianças. Com base nessa preocupação, as professoras
elucidaram a necessidade de resumir os níveis apresentados na escala – e não as
dimensões –, pois perceberam, durante a aplicação, que havia uma sutil diferença
entre os níveis:
“Às vezes você fica imaginando uma classe com 30 alunos, nossa senhora,
então se ele for um pouquinho mais assim, não diria resumir, enxugar alguma
coisa, não ter tantas alternativas. Por que uma coisa que a gente observou é que
às vezes duas alternativas quase que queriam dizer a mesma coisa.”
(Professora P02).
Ainda considerando a fragilidade encontrada nos níveis do P.O.C. pela
professora P02, a professora P01 considera que a linguagem da escala precisaria
ser revisada, pois dava a impressão de repetição nos níveis, mas ressalta que isso
acontece em alguns níveis e não na maioria.
“De negativo, algumas coisas repetitivas, na linguagem mesmo acabava sendo
repetitivo. (...). O problema está na linguagem dele, às vezes em uma questão,
uma está muito parecida com a outra, mas em poucas. O problema da repetição
167
está nos veis e não nas questões mais gerais, mas assim em duas ou três
questões, não mais que isto.” (Professora P01).
Essa fragilidade apontada pelas professoras foi constatada durante o
preenchimento do P.O.C. ao demonstrarem em alguns momentos indecisão com
relação à escolha dos níveis no qual a criança se encontrava, pela impressão que
causava de repetição dos níveis. Além disso, essa indecisão era em decorrência,
também, da criança apresentar comportamentos que estavam em dois níveis,
sendo que no maior nível ela ainda não apresentava todos os comportamentos
elucidados como exemplos.
“A gente começava a avaliar e chegava no ponto que começávamos a falar: “ai
meu Deus, será que ele es aqui ou ali”, porque nesta ele está usando tal
palavra e nesta está usando tal palavra. Então esta criança tem isto aqui, mas
não tem esta palavra aqui e ele tem esta palavra, mas tem isto aqui debaixo,
então: ‘onde ele esexatamente?Seria uma coisa para distinguir bem o nível
um, o dois e o três” (Professora P01).
Diante desses relatos das professoras, constata-se a necessidade de fazer
uma revisão do material, no que diz respeito à construção das frases, pois a
tradução literal do inglês para o português pode prejudicar no entendimento de
qual nível a criança se encontra. Há a necessidade de elaborar as frases de forma
mais objetiva, concisa e contextualizada para evitar indecisões ao utilizá-lo.
No entanto, deve-se considerar a importância de o psicólogo ter um
conhecimento apurado sobre a escala para poder discuti-la e utilizá-la com o
educador, porque essa impressão de repetição pode prejudicar no preenchimento
do protocolo.
168
3.3.1.2. O impacto da utilização do P.O.C. na construção de atividades das
professoras em sala de aula com as crianças.
Verificar o impacto da utilização do P.O.C. na construção de atividades
desenvolvidas pelas professoras em sala de aula foi obtido por meio dos diários
de campo. Nos diários de campo foram registrados as observações e relatos
trazidos pelas professoras durante a utilização do P.O.C. no ano de 2008,
totalizando 62 diários de campo.
Os diários de campo foram relidos e deles extraídos os trechos em que as
professoras elaboraram atividades a serem desenvolvidas com as crianças com
base no P.O.C.. Finalizada essa fase, a pesquisadora fez uma interpretação de
cada um desses trechos e a discussão dos resultados foi iniciada. Todos os
trechos selecionados e interpretados encontram-se no Anexo 16.
Diante da análise dos resultados encontrados, foi possível visualizar as
mudanças de comportamentos das professoras no que se refere à construção de
atividades pedagógicas. Em vários momentos as professoras verbalizavam que
haviam pensado em desenvolver uma atividade com as crianças de acordo com
as dimensões do desenvolvimento consideradas no P.O.C.
“Fui à sala da professora P02 e ela me disse que tinha uma atividade bem legal
para desenvolver com as crianças. Tinha pensado nessa atividade com o
objetivo de observar algumas dimensões do desenvolvimento da criança para
ajudar no preenchimento do POC.” (DC174)
169
Outro episódio que demonstra a professora utilizando o P.O.C. para
desenvolver as suas atividades pedagógicas foi na construção de uma apostila,
feita pela professora, para ser trabalhada com as crianças que iriam para o
fundamental no ano seguinte:
“(...) a professora P02 me mostrou uma apostila que elaborou apenas para as
crianças que irão para o fundamental no próximo ano. Disse-me que as
atividades consideradas na apostila serão úteis para observar as dimensões do
desenvolvimento da criança. Essa professora, por ter o protocolo em mãos, tem
desenvolvido as atividades pensando no P.O.C.”. (DC177).
Em outros momentos, as professoras discutiam as atividades que
gostariam de desenvolver com as crianças para saber a minha opinião. Assim, a
pesquisadora tinha conhecimento do que seria realizado com as crianças antes de
serem desenvolvidas em sala de aula.
“A professora P02 me disse que na próxima semana iria trabalhar uma atividade
com as crianças estimulando o raciocínio, explicou a atividade e perguntou o que
eu achava. Enfatizei que esse tipo de proposta era interessante, pois iria
trabalhar uma dimensão do desenvolvimento infantil. Após esta conversa ficou
acertado que seria trabalhada a atividade com as crianças.” (DC177).
Essa iniciativa da professora em buscar a minha opinião sobre as
atividades que pretendia desenvolver em sala de aula demonstrava que houve um
trabalho integrado e sintonizado entre a pesquisadora e a professora.
170
É importante considerar que a professora P02 foi uma das que não nos
queria na escola, chegou a alguns momentos a gritar no refeitório pedindo a nossa
saída:
“(...) hoje estou eu aqui na sua frente gravando todas as suas informações sobre
as suas crianças. Isso me deixa extremamente comovida e alegre, vejo que
estamos conquistando o nosso espaço e confiança na escola. O nculo se
estabeleceu e vem ficando mais forte a cada dia. Hoje posso dizer que consigo
desenvolver um trabalho em conjunto com as educadoras e sinto que elas
confiam no nosso trabalho”. (DC167)
A pesquisa propiciou aos professores pensarem sobre as suas crianças
quando eram questionadas sobre cada uma delas e solicitadas que
caracterizassem o nível de desenvolvimento de seus alunos. A professora P01, ao
conversar comigo sobre as três crianças escolhidas para preencher o P.O.C.,
trouxe-me um caderno em que fez três colunas, considerando cada uma de suas
crianças de acordo com o nível do seu desenvolvimento.
“Diante de minha solicitação de escolher três crianças para preencher o POC, a
professora P01, na sua casa, escreveu no seu caderno onde se encontrava cada
uma de suas crianças com relação ao nível de desenvolvimento, dividindo a
turma em três níveis: abaixo, na média e acima da expectativa. Assim, identificou
todas as crianças, considerando a faixa etária, colocando-as cada uma em seu
nível correspondente. A atitude da professora foi importante, porque ela se
preocupou em pensar nas suas crianças e falar onde cada uma se encontrava.”
(DC191)
É visível que durante o processo de utilização do P.O.C. com as
professoras foi observada uma mudança nas atividades desenvolvidas com as
crianças em sala de aula, bem como com os pais nas reuniões. Após ter acesso
171
ao prontuário, a professora P01 elaborou um texto escrevendo sobre cada um dos
seus alunos de acordo com o seu desenvolvimento na escola e conversou,
individualmente, com os pais sobre as crianças.
“Fui participar da reunião de pais da turma da professora P01 e ela preparou um
material, no qual escreveu um texto que explicava como estava cada um dos
seus alunos em sala de aula, ressaltando aspectos do desenvolvimento.
Entregou o material escrito de cada criança para os pais e em seguida
conversou com cada um individualmente sobre as suas impressões a respeito da
criança. Após discutir com os pais, a professora entregou esse material à
pesquisadora, acreditando que poderia auxiliar no momento de preenchimento
do P.O.C.” (DC158)
Ficou clara a participação ativa das professoras durante todo o processo da
pesquisa, pois mostraram-se interessadas em discutir e acompanhar as crianças.
Essa pesquisa, de certa forma, tem levado as professoras a pensarem sobre os
seus alunos e a promoverem atividades direcionadas a observar determinados
comportamentos. Sinto que a pesquisa fez o seu papel primordial. O interesse
das professoras em participar da pesquisa está sendo gratificante para todos
pesquisadora, professora e criança
As duas professoras mostraram-se envolvidas com todo o processo da
pesquisa, conversavam abertamente sobre as crianças e não se sentiam
intimidadas ou preocupadas de como seriam analisadas as informações trazidas
por elas. Sentiam-se seguras para conversar e pedir opiniões e essa situação era
constatada cotidianamente em suas ações e contatos comigo no contexto escolar.
É nítido o quanto essas professoras precisam de um profissional de apoio
para ajudá-las no acompanhamento de seus alunos e a escola é muito carente
172
desse processo. Elas se sentem perdidas sem saber como fazer. Essa
metodologia de acompanhamento abriu a mente das professoras, que se
envolveram em todas as fases da pesquisa e não se sentiram ameaçadas,
achando que ficariam recebendo críticas. Ao contrário, enxergaram-me como uma
profissional de apoio.
3.3.4. SÍNTESE E REFLEXÃO DA ANÁLISE DOS RESULTADOS
Neste tópico será apresentada a síntese dos resultados, obtida por meio da
entrevista com as professoras, dos diários de campo e do preenchimento do
P.O.C., sobre uma proposta de acompanhamento do desenvolvimento infantil.
Diante dos indicadores e/ou elementos do desenvolvimento apresentados
pelas professoras acerca dos seus alunos, foi possível visualizar quais são as
dimensões do desenvolvimento que as professoras estão atentas ao observar as
crianças. De acordo com os resultados, dentre as seis dimensões do P.O.C.,
quatro foram exploradas, sendo que as dimensões “relações sociais” e “linguagem
e literatura” foram os elementos que as professoras mais observaram nos seus
alunos. Em todas as crianças foi destacada pelo menos uma ou, às vezes, foram
destacadas as duas dimensões, conforme tabela a seguir:
173
Tabela 3
Identificação das dimensões do P.O.C. exploradas pelas professoras
A hipótese que se levanta é que as professoras, apesar de trabalharem em
um contexto marcado pela precariedade física e material, bem como pela
ausência de um instrumento de acompanhamento do desenvolvimento infantil,
ainda conseguem observar algumas dimensões do desenvolvimento da criança.
No entanto, essa observação parcial da criança não é o suficiente para promover
na Educação Infantil o desenvolvimento integral, como preconiza a LBD de 96.
As professoras, quando têm um instrumento que as orientem nos
indicadores do desenvolvimento que precisam ser acompanhados e observados,
possibilita a visualização e planejamento de ações que promovam o
desenvolvimento da criança em todos os aspectos, de uma forma integral. Esse
tipo de intervenção evita que as crianças não tenham alguma dimensão do seu
desenvolvimento que não seja acompanhada.
Dimensão Crianças
Iniciativa
C02; C05; C06
Relações Sociais C01; C02; C03; C04; C05
Representação Criativa
Nenhum
Música e Movimento
CO5
Linguagem e Literatura
C01; C03; C04; C05; C06
Lógica e Matemática
Nenhum
174
Além de verificar quais eram as dimensões do desenvolvimento que as
professoras estavam atentas ao observar as crianças, percebeu-se a dificuldade
delas em nomear a dimensão. Os discursos das professoras eram, em sua
maioria, acompanhados de exemplos, e assim foi necessário que a pesquisadora,
após a fala das professoras, expusesse a interpretação dessa fala acompanhada
da dimensão. Essa dinâmica foi fundamental para as professoras começarem a
identificar nos alunos as dimensões do desenvolvimento.
É fato que as professoras estão atentas aos seus alunos e isso foi
confirmado durante o preenchimento do P.O.C. quando se observou segurança
por parte das professoras ao preencherem alguns itens, citando exemplos da
criança no contexto escolar, principalmente, nas dimensões “iniciativa”, “relações
sociais”, “música e movimento” e “linguagem e literatura”. Essa facilidade em
preencher as dimensões citadas é em decorrência da dinâmica de sala de aula
que contempla atividades que possibilitavam a sua observação. É comum nesse
contexto ter atividades como: historinhas, filmes, músicas, desenhos, brincadeiras,
enfim, é possível perceber como as crianças se relacionam e como se expressam.
No entanto, na dimensão Lógica e Matemática”, as professoras ficaram na
dúvida em qual item preencher em várias categorias, e, às vezes, marcavam por
acreditar que a criança era capaz ou não de fazer e não porque observaram esse
comportamento.
Outro ponto que merece destaque foi a postura das professoras em não
conseguir identificar, nas crianças apresentadas por elas com atraso no
desenvolvimento, indicadores do desenvolvimento que mais se sobressaíam na
175
criança, no aspecto positivo, alegando que tudo na criança precisava ser
trabalhado.
Ao analisar se os resultados do P.O.C. de cada criança eram compatíveis
com a opinião inicial das professoras sobre o seu desenvolvimento, constatou-se
que as crianças consideradas regulares com relação ao seu desenvolvimento
foram percebidas, conforme o gráfico, com um nível alto na maioria das
dimensões. A hipótese que se levanta é que a entrevista inicial ocorreu no
primeiro semestre e o preenchimento do P.O.C. no segundo, e, diante dessa
distância de tempo, houve mudanças no comportamento da criança, tendo em
vista que se defende a ideia de que o desenvolvimento é um processo contínuo e
não estático, por isso é importante acompanhar esse desenvolvimento durante
todo o ano escolar, para verificar como a criança vem se desenvolvendo em todos
os principais indicadores do desenvolvimento.
Cabe lembrar que o entendimento de como ocorre o processo de
desenvolvimento é complexo e exige uma investigação árdua para analisar todos
os processos que interferem nesse processo. Assim, essa análise pretendeu dar
uma pequena contribuição diante da complexidade do assunto.
Analisando os resultados obtidos por meio das entrevistas com as
professoras e dos registros nos diários de campo sobre a utilização de uma
metodologia de acompanhamento do desenvolvimento infantil, pôde-se fazer as
seguintes sínteses:
O papel do P.O.C. na compreensão do desenvolvimento da criança:
Para as professoras essa proposta favorece a visualização de todas
176
as dimensões do desenvolvimento infantil que precisam ser
trabalhadas e acompanhadas. A ausência desse tipo de instrumento
na escola dificulta o planejamento de ações direcionadas às
necessidades das crianças e da turma.
Os pontos fortes do P.O.C. na visão das professoras: De acordo com
as professoras, o protocolo possui uma linguagem de fácil
compreensão que consegue abarcar uma diversidade de aspectos
relacionados ao desenvolvimento de forma objetiva, tornando-se
prático e direto durante o seu preenchimento. Isso é de fundamental
importância para as participantes, tendo em vista o número elevado
de crianças por educador em sala de aula.
Os pontos fracos do P.O.C. na visão das professoras: De modo
geral, as participantes identificaram como pontos frágeis desse
protocolo a necessidade de resumir alguns níveis que se mostravam
parecidos, pois essa sutil diferença dificultava na escolha do nível a
ser preenchido, o que poderia prejudicar a avaliação da criança.
O impacto do P.O.C. na construção de atividades pedagógicas: Com
base nas observações e relatos dos professores registrados nos
diários de campo pela pesquisadora, observou-se uma mudança de
comportamento das professoras com relação à construção de
atividades pedagógicas. Diante do protocolo as educadoras
começaram a pensar e a desenvolver atividades que pudessem
177
facilitar na observação das dimensões do desenvolvimento
consideradas no P.O.C..
Diante desses resultados, fica comprovado que as professoras necessitam
de um instrumento que as auxiliem no acompanhamento e na promoção do
desenvolvimento dos seus alunos no contexto escolar.
É importante mencionar também dois pontos de grande importância para o
desenvolvimento da investigação: a inserção da pesquisadora no contexto de
pesquisa e a relação existente entre a pesquisadora e as participantes.
Com relação à inserção da pesquisadora na escola, a sua ação não se
dava apenas no nível da pesquisa, mas também contribuía com os seus
conhecimentos no que tange a psicologia dentro da escola, portanto, não houve
uma divisão entre pesquisadora e psicóloga escolar. Na escola tinha o propósito
de discutir a respeito de uma metodologia de acompanhamento do
desenvolvimento infantil com as professoras, bem como desenvolver um trabalho
em conjunto que provocasse mudanças na construção de atividades pedagógicas
direcionadas ao desenvolvimento das crianças. Esse trabalho em conjunto foi
percebido quando as professoras elaboravam atividades com base no P.O.C. e
solicitavam a opinião da pesquisadora.
Durante a pesquisa tive a preocupação em dar a devolutiva dos trabalhos
que as professoras vinham realizando com as crianças, pois não era o meu
objetivo apenas identificar as fragilidades das professoras no que se referia ao
trabalho pedagógico, mas sim buscar um trabalho integrado.
Quanto à relação entre a pesquisadora e as participantes isso foi um
grande colaborador para o envolvimento das professoras com todo o processo de
178
pesquisa. Como era uma profissional conhecida na escola, as professoras se
sentiram à vontade para destacar aspectos relacionados às crianças e para
desabafar sobre as dificuldades que vinham encontrando na escola, no caso, a
ausência de um suporte pedagógico.
179
CAPÍTULO 4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
180
Essa pesquisa identificou alguns elementos ou situações do cotidiano
escolar que podem interferir na elaboração de propostas pedagógicas com vista à
promoção do desenvolvimento das crianças. Além disso, buscou a opinião dos
professores sobre a utilização de uma metodologia de acompanhamento do
desenvolvimento infantil.
De posse dos dados coletados, analisados e discutidos, serão destacados,
assim, os dois grandes assuntos desta tese:
1) Políticas da Educação Infantil e as dinâmicas do cotidiano escolar.
Os registros nos diários de campo da pesquisadora, escritos durante a sua
inserção no contexto escolar, serviram como fontes de informação para analisar
as situações cotidianas que, na sua interpretação, estavam impedindo a
realização de atividades pedagógicas direcionadas à promoção do
desenvolvimento das crianças.
Diante dos resultados, percebe-se a existência de um grande conflito
interpessoal entre as educadoras. Essa relação conflituosa é marcada de forma
geral pela competição, pela desconfiança, pelo descrédito ao trabalho do outro e
pelas decisões sem a participação de todos os envolvidos no processo educativo.
Todos esses fatores interferem diretamente no não aproveitamento dos espaços
coletivos de discussão na escola e na ausência de um suporte pedagógico.
Esse desequilíbrio influencia na elaboração de propostas pedagógicas
coletivas. As ações e os discursos são direcionados, principalmente, à resolução
de conflitos pessoais das educadoras e, com isso, a criança deixa de ser a
prioridade. O Psicólogo Escolar precisa estar atento a essa problemática, porque
se não houver uma intervenção direcionada ao bem estar de todos os envolvidos
181
no processo educativo, fica inviável, e quase impossível, discutir planejamentos
e/ou intervenções que visem à promoção de um ambiente potencializador do
desenvolvimento.
Em acréscimo a essa problemática, a implantação de políticas educacionais
sem uma participação ativa dos educadores em sua construção tem prejudicado a
viabilização de propostas que poderiam servir como facilitadores do
desenvolvimento, como o caso da política de agrupamentos multietários na
Educação Infantil. Os professores, por não se sentirem parte dessa nova proposta
e também por não terem sido preparados para lidar com essa nova dinâmica em
sala de aula, sentem-se sobrecarregados e com os seus direitos de opinar quanto
às novas intervenções pedagógicas desrespeitados, tornando-se resistentes à sua
aceitação. Além desse agravante, o governo tende a implantar novas políticas
educacionais desarticuladas de uma mudança nas condições estruturais, físicas e
materiais da escola, agravando ainda mais a sua concretização.
O que se pode observar é que o governo vem construindo políticas
educacionais com o discurso focalizado no bem-estar físico, psicológico e social
das crianças com pouco investimento financeiro. Por essa e outras razões,
enfatizamos que os direitos das crianças encontram-se apenas no papel, porque
na prática estão muito distante de serem garantidos. Isso é confirmado ao
pesquisarmos o número de crianças que estão na lista de espera e a precariedade
nos serviços oferecidos a essa população.
Por essas considerações, a hipótese que se levanta é que o pouco
investimento destinado à educação de criança de zero a seis anos tem provocado
um desequilíbrio nas relações interpessoais no contexto escolar. Os educadores,
182
diante de um número elevado de crianças e da precariedade estrutural e material
da escola, sentem-se sobrecarregados, desvalorizados e injustiçados, pelo fato de
serem cobrados como os únicos responsáveis pela promoção de um ambiente
potencializador do desenvolvimento. Cabe lembrar que a cada ano aumenta a
contratação de profissionais não especializados, no caso os monitores, para
atender a demanda da Educação Infantil.
Com base nas reflexões desses resultados, defende-se a ideia de que o
Psicólogo Escolar precisa assumir também o papel de um pesquisador disposto a
conhecer e analisar a situação da educação pública em nosso país e a dinâmica
escolar onde atua, pois sem esses elementos correrá o risco de assumir uma
postura preconceituosa a respeito do educador, bem como traçar estratégias de
intervenção descontextualizadas e ineficazes.
2) Uma proposta de acompanhamento do desenvolvimento infantil
A participação ativa das professoras durante o processo investigativo foi de
fundamental importância para se obter informações sobre a inserção de uma
proposta de acompanhamento do desenvolvimento. Com base nos resultados fica
constato que as professoras estão preocupadas com o desenvolvimento das
crianças, mas sem um suporte pedagógico sentem-se perdidas em como realizar
atividades direcionadas as necessidades das crianças.
As professoras diante da ausência de um referencial teórico do
desenvolvimento compartilhado pela escola, ao serem questionadas inicialmente
sobre alguns aspectos do desenvolvimento dos seus alunos, pautavam-se em
suas percepções ou em ideias generalizadas, focalizando principalmente nas
relações sociais e na linguagem das crianças, elementos essenciais, mas não
183
suficientes para se pensar em atividades que promovam o desenvolvimento
integral.
Com o P.O.C. em mãos, as professoras começaram a pensar nas crianças
baseadas nas dimensões do prontuário. Isso foi constatado quando uma
professora escreveu um material explicando como está o desenvolvimento de
suas crianças no contexto escolar e o discutiu com os respectivos pais em uma
reunião de pais/responsáveis. Além disso, foi percebida a realização de atividades
pedagógicas que poderiam contribuir para observar, nas crianças, as dimensões
propostas no prontuário.
Nesse sentido, fica evidente que as professoras estão dispostas a
desenvolver atividades direcionadas às necessidades das crianças, mas, para
isso, precisam do suporte de uma equipe profissional, além de algumas mudanças
estruturais para a viabilização das atividades.
A necessidade do educador ter um profissional de apoio para trabalhar com
as crianças foi confirmado em minha pesquisa de mestrado, quando elas
relataram que a troca de informações entre a equipe de psicologia e os
educadores a respeito das crianças ajudou-as a esclarecer dúvidas em como
trabalhar com elas (Costa, 2005).
Em linhas gerais, a tese foi confirmada, ou seja, o acompanhamento das
crianças, por meio de um referencial do desenvolvimento, auxilia na elaboração de
ações pedagógicas e isso pode contribuir para o seu desenvolvimento no contexto
educativo de forma objetiva e sistematizada.
No entanto, é preciso enfatizar que há limites para a concretização da
promoção do desenvolvimento infantil por meio de uma proposta de
184
acompanhamento, enquanto não houver uma mudança estrutural e política na
Educação Infantil. O acompanhamento das crianças no contexto escolar, de forma
objetiva e sistematizada se faz necessário, mas não é o suficiente.
Enfim, esse trabalho abre perspectivas para continuidade dos estudos na
direção de focalizar os processos de desenvolvimento das crianças na educação
infantil, sistematizando seus principais indicadores. Bem como, promover uma
reflexão sobre a necessidade da inserção do psicólogo na escola e, assim,
contribuir com os seus conhecimentos para a construção de planejamentos de
atividades direcionadas à promoção do desenvolvimento infantil.
185
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194
Anexo 1
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO AO DIRETOR DA ESCOLA
Prezado Diretor
Venho solicitar sua colaboração para realizar na instituição escolar EMEI Hilton
Federici uma pesquisa intitulada DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA EDUCAÇÃO
INFANTIL: UMA PROPOSTA DE ACOMPANHAMENTO conduzida por Adinete Sousa da
Costa, sob orientação da Profa. Dra. Raquel Souza Lobo Guzzo. Essa pesquisa tem por
objetivo buscar informações e discutir com os educadores a respeito do desenvolvimento
infantil, utilizando um protocolo de acompanhamento. Para isso realizaremos reuniões
voluntárias com os educadores e o acompanhamento sistemático de suas crianças na
sala de aula, parque e refeitório pela pesquisadora. Com este trabalho buscaremos
informações bem como discutir com os educadores a respeito do desenvolvimento de
crianças na Educação Infantil por meio do protocolo de acompanhamento.
Para a realização das entrevistas com os educadores e o acompanhamento das
crianças existirá um prévio acordo de horário com o educador para esta atividade, não
havendo, portanto, nenhum prejuízo em suas atividades em sala de aula. Caso concorde
com a realização desta pesquisa será, também, solicitado o consentimento dos
educadores para participar da pesquisa. Asseguro que será guardado o anonimato sobre
a identidade da escola e dos participantes. Comprometo-me a esclarecer qualquer dúvida
que venha a ter antes, durante ou depois da realização da pesquisa, bem como, após a
análise dos dados, a dar um retorno com discussão dos resultados. Sendo assim,
solicitamos seu posicionamento sobre a autorização desta pesquisa na escola assinando
o termo abaixo.
Eu, __________________________________________________________, RG
n
o
_________________________, diretor da escola EMEI – Hilton Federici, por meio
deste termo permito a realização da pesquisa nesta instituição intitulada
DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PROPOSTA DE
ACOMPANHAMENTO” desenvolvida por Adinete Sousa da Costa e sua orientadora,
Profa. Dra. Raquel Souza Lobo Guzzo, conforme objetivos já explicitados acima.
Estou ciente de que a autorização desta pesquisa na escola é voluntária e sem
ônus, podendo ser rompida a qualquer tempo, sem qualquer prejuízo para a escola.
Declaro que recebi as instruções necessárias da pesquisadora, inclusive a do uso estrito
para fins acadêmicos e científicos e a de que a pesquisa não causará nenhum
constrangimento ou riscos à escola ou aos participantes. E por tudo que foi declarado, em
nome da verdade, assino o termo abaixo.
___________________________ _____________________________
Assinatura diretor: José Santos Filho Assinatura Pesquisadora: Adinete S. da Costa
Campinas, ___ de ______________________ de 2008.
195
Anexo 2
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA PROFESSORES
Estamos realizando uma pesquisa intitulada DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PROPOSTA DE ACOMPANHAMENTO conduzida por
Adinete Sousa da Costa, sob orientação da Profa. Dra. Raquel Souza Lobo Guzzo. Essa
pesquisa tem por objetivo buscar informações e discutir com os educadores a respeito do
desenvolvimento infantil, utilizando um protocolo de acompanhamento. Para isso
realizaremos reuniões voluntárias com os educadores e o acompanhamento sistemático
de suas crianças na sala de aula, parque e refeitório pela pesquisadora. Com este
trabalho buscaremos informações bem como discutir com os educadores a respeito do
desenvolvimento de crianças na Educação Infantil por meio do protocolo de
acompanhamento.
Assim sendo gostaríamos de convidá-lo (a) a participar dessa pesquisa e para isso
necessitamos do seu consentimento. A sua participação é voluntária e você poderá
retirar o consentimento no momento em que desejar, caso considere que a pesquisa
possa lhe trazer algum tipo de risco ou incômodo, sem que isso acarrete em qualquer
prejuízo pessoal. As informações obtidas nesta pesquisa permanecerão em sigilo bem
como a sua identidade será preservada. Comprometemo-nos a esclarecer qualquer
dúvida que você venha a ter antes, durante ou depois da participação na pesquisa, bem
como, após a análise dos dados, a dar um retorno com discussão dos resultados e
planejamento de formas de atuação. Sendo assim, solicitamos seu posicionamento sobre
a participação neste trabalho assinando o termo abaixo.
Eu, __________________________________________________________, RG
n
o
_________________________, por meio deste termo declaro que aceito participar
voluntariamente da pesquisa DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA EDUCAÇÃO
INFANTIL: UMA PROPOSTA DE ACOMPANHAMENTO” desenvolvida por Adinete
Sousa da Costa e sua orientadora, Profa. Dra. Raquel Souza Lobo Guzzo, conforme
objetivos explicitados acima. Também por este termo, estou consentindo o uso de
todas as informações por mim fornecidas para a análise dos dados, bem como sua
divulgação, sob a garantia de que os dados que tratam sobre a minha vida privada serão
mantidos em sigilo.
Estou ciente de que a minha participação é livre e sem ônus, podendo ser rompida
a qualquer tempo, sem qualquer prejuízo para mim. Declaro que recebi as instruções
necessárias da pesquisadora, inclusive a do uso estrito para fins acadêmicos e científicos
e que a de que pesquisa não me causará constrangimento ou riscos à minha vida. E por
tudo que foi declarado, em nome da verdade, assino o termo abaixo.
_______________________________ __________________________________
Assinatura do(a) participante Assinatura da Pesquisadora: Adinete S. da Costa
Campinas, ___ de ______________________ de 2008.
Telefones para contato: (19) 33436777 – Comitê de Ética – PUC-Campus 1
(19) 3729-6867 – Lammp – PUC-Campus 2 – Hospital Celso Pierro
Quaisquer dúvidas sobre o termo de consentimento favor ligar para os números acima. O termo terá
duas vias das quais uma permanecerá com você.
196
Anexo 3
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA PAIS E RESPONSÁVEIS
Estamos realizando uma pesquisa intitulada DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PROPOSTA DE ACOMPANHAMENTO conduzida por
Adinete Sousa da Costa, sob orientação da Profa. Dra. Raquel Souza Lobo Guzzo. Essa
pesquisa tem por objetivo buscar informações e discutir com os educadores a respeito do
desenvolvimento infantil, utilizando um protocolo de acompanhamento. Para isso será
discutido com os educadores sobre o desenvolvimento de sua criança no ambiente
escolar e em seguida será realizado um acompanhamento individual desta criança,
durante o ano letivo, utilizando um Protocolo de Observação da Criança – POC. Com este
trabalho buscaremos informações bem como discutir com os educadores a respeito do
desenvolvimento da criança na Educação Infantil por meio de um protocolo de
acompanhamento.
Assim sendo gostaríamos de solicitar o seu consentimento para desenvolver esta
pesquisa com a sua criança. A sua participação é voluntária e você poderá retirar o
consentimento no momento em que desejar, caso considere que a pesquisa possa lhe
trazer algum tipo de risco ou incômodo, sem que isso acarrete em qualquer prejuízo
pessoal. As informações obtidas nesta pesquisa permanecerão em sigilo bem como a
identidade da criança e dos pais/responsáveis será preservada. Comprometemo-nos a
esclarecer qualquer dúvida que você venha a ter antes, durante ou depois da participação
na pesquisa. Sendo assim, solicitamos seu posicionamento sobre a participação neste
trabalho assinando o termo abaixo.
Eu, __________________________________________________________, RG
n
o
_________________________, responsável pela criança
__________________________________________ por meio deste termo declaro que
aceito participar voluntariamente da pesquisa DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA
EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PROPOSTA DE ACOMPANHAMENTO” desenvolvida
por Adinete Sousa da Costa e sua orientadora, Profa. Dra. Raquel Souza Lobo Guzzo,
conforme objetivos já explicitados acima. Também por este termo, estou consentindo o
uso de todas as informações fornecidas para a análise dos dados, bem como sua
divulgação, sob a garantia de que os dados que tratam sobre a minha vida privada serão
mantidos em sigilo.
Estou ciente de que a minha participação é livre e sem ônus, podendo ser rompida
a qualquer tempo, sem qualquer prejuízo para mim. Declaro que recebi as instruções
necessárias da pesquisadora, inclusive a do uso estrito para fins acadêmicos e científicos
e que a de que pesquisa não me causará constrangimento ou riscos à minha vida. E por
tudo que foi declarado, em nome da verdade, assino o termo abaixo.
_______________________________ ___________________________________
Assinatura dos pais/responsáveis Assinatura da Pesquisadora: Adinete S. da Costa
Campinas, ___ de ______________________ de 2008.
Telefones para contato: (19) 33436777 – Comitê de Ética – PUC-Campus 1
(19) 3729-6867 – Lammp – PUC-Campus 2 – Hospital Celso Pierro
Quaisquer dúvidas sobre o termo de consentimento favor ligar para os números acima. O termo terá
duas vias das quais uma permanecerá com você.
197
Anexo 4
Roteiro de Entrevista Inicial para as Professoras
Nome do Professor: _____________________________ Data: ___ / ___ / ___
1. Professor gostaria que você identificasse três alunos que segundo a
sua percepção encontram-se acima da média, na média e abaixo da
média de acordo com o seu desenvolvimento.
a) Criança mais desenvolvida: _____________________ Idade: _________
b) Criança regular no desenvolvimento: _______________ Idade: ________
c) Criança menos desenvolvida: _____________________ Idade: _________
2. Professor gostaria que você me falasse sobre cada uma dessas
crianças tentando identificar o que mais se destaca ou não em relação
ao seu desenvolvimento.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
198
Anexo 5
Roteiro de Entrevista Final para as Educadoras
ESCOLA: ____________________________ Data: ____ / ____ / _____
I. Dados profissionais:
a) Tempo que exerce a função:
( ) Até 05 ano ( ) de 06 a 15 anos ( )de 15 a 25 anos ( ) mais de 26 anos
b) Tempo que exerce a função nesta instituição:
( ) Até 05 ano ( ) de 06 a 10 anos ( )de 11 a 15 anos ( ) mais de 16 anos
c) Residência (Bairro): _____________________________
d) Formação: ( ) Fundamental I completo ou incompleto
( ) Fundamental II completo ou incompleto
( ) Ensino Médio completo ou incompleto
( ) Antigo Magistério
( ) Ensino Superior
( ) Especialização
( ) Mestrado Outros: _____________
II. Opinião do entrevistado sobre a utilização de uma metodologia
específica para acompanhar o desenvolvimento individual de
crianças pré-escolares:
a) O P.O.C. a ajudou a compreender o desenvolvimento de sua
criança? Por quê?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
199
b) Na sua opinião quais foram os pontos fortes e fracos na utilização do
P.O.C.?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
c) Você teria alguma sugestão para mudar algo no P.O.C.?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
III. Opinião do entrevistado sobre os elementos/situações que podem
impactar no desenvolvimento das crianças.
a) Na sua opinião quais são os fatores que contribuem para o
acompanhamento do desenvolvimento das crianças nesta escola?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
b) Na sua opinião quais são os fatores que dificultam para o
acompanhamento do desenvolvimento das crianças nesta escola?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
200
Anexo 6
P.O.C. Protocolo de Observação da Criança
Nome da Criança:
Sexo: Data de nascimento: / /
Professor ou cuidador:
Classe:
Centro ou Escola:
Agência ou Distrito:
Necessidades especiais da criança, se houver alguma:
Data da Avaliação: / /
Observador:
Início da Observação COR Completo
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
Anotações:
201
I. Iniciativa
A. Expressando escolhas
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança não expressa escolhas para os outros. 1
A criança indica uma atividade desejada ou um lugar de atividade através de
uma palavra, apontando, ou alguma outra ação.
2
A criança indica a atividade desejada, lugar da atividade, materiais ou
companheiros de brincadeira com uma sentença curta.
3
A criança indica com uma sentença curta como os planos serão conduzidos
(“Eu quero dirigir o caminhão na estrada”)
4
A criança dá uma descrição detalhada da ação que pretende executar (“Eu quero
fazer uma estrada de blocos com Sara e dirigir o caminhão nela”).
5
Anotações:
B. Solucionando problemas
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança ainda não identifica problemas. 1
A criança identifica problemas, mas não tenta resolve-
los, ao invés, muda de
atividade.
2
A criança usa um método para tentar resolver um problema, mas se não obtém
sucesso, desiste após a primeira ou segunda tentativa.
3
A criança demonstra alguma persistência, tentando diversos métodos
alternativos para solucionar um problema.
4
A criança tenta métodos alternativos para solucionar um problema e apresenta-
se altamente envolvida e persistente.
5
Anotações:
C. Empenhando-se em brincadeiras complexas
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança ainda não toma a iniciativa de escolher materiais ou atividades. 1
A criança demonstra interesse no simples uso de materiais ou na simples
participação em atividades.
2
A criança, agindo sozinha, usa materiais
e organiza atividades envolvendo 2 ou
mais passos.
3
A criança, agindo sozinha, conduz seqüências complexas e variadas de
atividades.
4
A criança junta-se a outros na condução de seqüê
ncias complexas e variadas de
atividades.
5
Anotações:
202
D. Cooperando em rotinas do programa
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança ainda não segue rotinas do programa. 1
A criança algumas vezes segue rotinas dos programas. 2
A criança participa das rotinas do programa quando dirigida para fazê-lo. 3
A criança participa da rotina do programa sem que a peçam. 4
A criança continua as rotinas do programa mesmo quando não há um adulto por
perto.
5
Anotações:
II. Relações Sociais
E. Relacionando-se com adultos
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança ainda não interage com adultos no programa. 1
A criança responde quando adultos familiares iniciam interações. 2
A criança inicia interações com adultos familiares. 3
A criança sustenta interação com adultos familiares. 4
A criança trabalha em projetos complexos com adultos familiares (divide
trabalho, segue regras).
5
Anotações:
F. Relacionando-se com outras crianças
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança ainda não brinca com outras crianças. 1
A criança responde quando outras crianças iniciam interações. 2
A criança inicia interações com outras crianças. 3
A criança sustenta interação com outras crianças. 4
A criança trabalha em projetos complexos co
m outras crianças (divide trabalho,
segue regras).
5
Anotações:
203
G.
Fazendo amizade com outras crianças
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança ainda não identifica os colegas de classe pelo nome. 1
A criança identifica algumas crianças pelo nome e ocasionalmente fala delas. 2
A criança identifica um colega de classe como amigo. 3
A criança é identificada por um colega de classe como amiga. 4
A criança aparenta receber suporte social de um amigo e demonstra lealdade a
esse amigo.
5
Anotações:
H. Empenhando-
se em solucionar problemas
sociais
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança ainda não trabalha com outros para solucionar um conflito, ao invés
foge ou usa de força.
1
A criança encontra formas aceitáveis de conseguir que outr
os prestem atenção
aos problemas (não bate ou chuta para conseguir atenção).
2
A criança pede ajuda de adultos para solucionar problemas com outras crianças.
3
A criança algumas vezes tenta solucionar problemas com outras crianças de
forma independ
ente, através de negociação ou outros meios socialmente
aceitos.
4
A criança usualmente soluciona problemas com outras crianças
independentemente (divide materiais, espera sua vez).
5
Anotações:
I. Entendendo e expressando sentimentos
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança ainda não expressa ou verbaliza sentimentos. 1
A criança expressa e verbaliza sentimentos mas, algumas vezes, de formas
inaceitáveis.
2
A criança demonstra estar atenta/consciente dos sentimentos dos outros. 3
A criança usualmente expressa seus sentimentos de formas aceitáveis. 4
A criança responde apropriadamente aos sentimentos dos outros. 5
Anotações:
204
III. Representação Criativa
J. Fazendo e construindo
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança ainda não explora ou usa materiais como argila, areia ou blocos. 1
A criança explora esses materiais. 2
A criança usa materiais para construir alguma coisa (uma pilha de blocos, um
monte de areia) mas não diz se representa alguma coisa (uma torre, praia).
3
A cr
iança usa materiais para fazer representações simples e diz ou demonstra o
que é (diz que uma pilha de blocos é uma torre; que uma pilha de bolas é um
boneco de neve).
4
A criança usa materiais para fazer ou construir coisas com pelo menos três
detalhes (uma casa com porta, janelas e chaminé).
5
Anotações:
K. Desenhando e pintando
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança ainda não explora desenho ou pintura. 1
A criança explora materiais de desenho e pintura. 2
A criança desenha ou pinta representações simples (uma bola, uma casa). 3
A criança desenha ou pinta representações com alguns detalhes. 4
A criança desenha ou pinta representações com muitos detalhes. 5
Anotações:
L. Fazendo de conta
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança ainda não faz de conta. 1
A criança usa um objeto por outro ou faz uso de ações ou sons para fazer de
conta (segura um bloco próximo à orelha e diz “Alô”).
2
A criança assume o papel de alguém ou de alguma coisa, ou fala em linguagem
apropriada para assumir tal papel.
3
A criança envolve-se em brincadeiras de faz-de-
conta cooperativas com outras
crianças.
4
A criança sai da brincadeira de faz-de-
conta para dirigir outros (“Quando você é
o bebê urso deve falar com uma voz assim”).
5
Anotações:
205
IV. Musica e Movimento
M. Exibindo coordenação motora
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
Os movimentos da criança não são ainda coordenados. 1
A criança demonstra coordenação par subir degraus e andar e raramente
esbarra em objetos ou outras crianças.
2
A criança alterna os pés quando sobe uma escada sem segurar no
corrimão; arremessa ou pega uma bola ou um saco de feijão.
3
A criança se movimenta enquanto manipula um objeto. 4
A criança se envolve em movimentos complexos (driblar uma bola). 5
Anotações:
N. Exibindo coordenação manual
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança usa a mão toda para segurar e pegar objetos pequenos. 1
A criança usa dedos apropriados e movimentos da mão para segurar ou
pegar objetos pequenos.
2
A criança junta materiais e os separa (porcas e parafusos). 3
A criança manipula objetos pequenos com precisão (coloca linha em uma
agulha larga, contas em uma linha).
4
A criança executa ações precisas envolvendo a mão oposta (abotoa
roupas, sobe e desce um zíper).
5
Anotações:
O. Imitando movimentos no ritmo
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança ainda não imita ações executadas em ritmo. 1
A criança imita movimentos singulares apresentados um por vez (coloca
a mão nos joelhos).
2
A criança
responde ao ritmo de canções ou músicas instrumentais com
movimentos simples (flexionando os joelhos no ritmo).
3
A criança responde ao ritmo de canções ou músicas instrumentais com
movimentos mais complexos (andando ou pulando no ritmo).
4
A cria
nça canta enquanto executa uma seqüência de movimentos no
ritmo.
5
Anotações:
206
P. Seguindo instruções de música e movimento
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança não segue instruções verbais para música ou movimento. 1
A criança segue instruções
verbais para um único movimento (“Levante as
mãos”).
2
A criança segue instruções verbais para um movimento de duas partes ou duas
etapas (“Coloque suas mãos na sua cabeça; agora coloque suas mãos nos
ombros”).
3
A criança segue instruções verbais
para seqüências mais complexas de
movimentos (“Coloque suas mãos no topo da sua cabeça; agora coloque uma
mão na sua orelha e a outra no seu nariz”).
4
A criança descreve e conduz seqüências de movimentos (Sapateando e dizendo
o nome de duas partes do
corpo duas vezes cada: “cabeça, cabeça, ombros,
ombros, joelhos, joelhos, dedos, dedos”).
5
Anotações:
V. Linguagem e Literatura
Q. Entendendo conversas
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança raramente responde quando outros falam com ela. 1
A criança segue instruções simples (“Venha para a roda”). 2
A criança responde a sentenças simples, diretas. 3
A criança participa de conversas ordinárias da sala de aula. 4
A criança segue instruções compostas por vários passos ou complexas. 5
Anotações:
R. Falando
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança ainda não fala ou usa apenas algumas frases de uma ou duas palavras.
1
A criança usa sentenças simples de mais de duas palavras. 2
A criança usa sentenças que incluem duas ou mais idéias separadas. 3
A criança usa sentenças que incluem duas ou mais idéias com detalhes
descritivos (“Eu empilhei os blocos vermelhos muito alto e eles caíram”).
4
A criança elabora e conta estórias, poesias ou canções bem desenvolvidas e
detalhadas.
5
Anotações:
207
S.
Demonstrando Interesse em Atividades de
Leitura
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança ainda não demonstra interesse em atividades de leitura. 1
A criança demonstra interesse quando estórias são lidas. 2
A criança pede às pessoas que leiam estórias, placas ou bilhetes. 3
A criança responde perguntas sobre uma estória que lhe foi lida ou repete
parte desta estória.
4
A criança freqüentemente um livro ou conta uma estória enquanto vira
a página.
5
Anotações:
T. Demonstrando conhecimento sobre livros
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança ainda não pega livros e os segura de forma convencional. 1
A criança pega livros e os segura de forma convencional, olhando as
páginas e virando
-as.
2
A criança lê figuras, contando a estória pelas figuras da capa ou do livro. 3
A criança segue o escrito na página, movendo seus olhos na direção
correta (geralmente da esquerda para a direita e de cima para baixo).
4
A criança aparenta ler ou realmente um livro, apo
ntando as palavras e
contando a estória.
5
Anotações:
U. Começando a ler
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança ainda não identifica letras ou números. 1
A criança identifica algumas letras ou números. 2
A criança diversas palavras, ou algu
mas frases ou sentenças simples
(“Eu amo a Mamãe”).
3
A criança lê uma variedade de sentenças. 4
A criança lê estórias simples ou livros. 5
Anotações:
208
V. Começando a escrever
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança ainda não tenta escrever. 1
A criança escreve usando rabiscos, símbolos e sinais no lugar de letras. 2
A criança copia ou escreve letras identificáveis, talvez incluindo o próprio
nome.
3
A criança escreve algumas palavras ou frases curtas, além do próprio nome. 4
A criança escreve uma variedade de frases ou sentenças. 5
Anotações:
VI. Lógica e Matemática
W. Classificando
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança ainda não classifica objetos em grupos. 1
A criança agrupa objetos idênticos. 2
Ao classificar, a
criança agrupa objetos que são iguais em alguns aspectos e
diferentes em outros (combina estrelas vermelhas com círculos vermelhos).
3
Ao classificar, a criança agrupa objetos que são iguais em alguns aspectos e
ocasionalmente descreve o que foi feito.
4
Ao classificar, a criança agrupa objetos levando em consideração duas ou mais
características (inclui todos os círculos vermelhos grandes mas não as estrelas
vermelhas grandes ou os círculos azuis grandes).
5
Anotações:
X. Usando as palavras não, alguns e todos
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança ainda não usa as palavras não, alguns ou todos
ou as usa de forma
incorreta.
1
A criança usa as palavras não, alguns ou todos
em conversas, mas algumas
vezes as usa de forma incorreta.
2
A o usa corretamente as palavras não, alguns ou todos em conversas. 3
A criança usa a palavra não
para identificar características que excluem um
objeto de uma categoria (“Este bloco não é vermelho como os outros, por isso
não vai naquele grupo”).
4
A criança distingue entre alguns e todos
e usa esses termos para categorizar
(“Nós somos todos crianças, mas alguns de nós são meninos”).
5
Anotações:
209
Y. Organizando materiais em ordem gradual
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança ainda não organiza itens em seqüência gradual. 1
A criança organiza dois ou três itens em seqüência gradual, baseada em uma
característica como tamanho, tom ou cor, ou textura.
2
A criança organiza quatro ou mais itens em seqüência gradual, baseada em uma
característica.
3
A criança coloca novos itens no lugar certo numa seqüência já existente e
graduada de objetos e não no começo ou fim desta seqüência.
4
A criança combina uma seqüência graduada de itens com outra seqüência
existente e graduada de iten
s (organiza uma fila de bolas por tamanho próxima a
uma fila de blocos organizada por tamanho).
5
Anotações:
Z. Usando palavras comparativas
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança ainda não usa ou responde a palavras de comparação (
maior, maior
de todos).
1
A criança segue instruções que envolvem palavras de comparação (“Pegue o
maior bloco”).
2
A criança usa palavras de comparação, mas nem sempre de forma correta. 3
A criança usa palavras de comparação corretamente (“Este é maior do que
aquele”).
4
A criança compara três ou mais coisas usando algumas palavras de comparação
corretamente (menor, menor de todos).
5
Anotações:
AA. Comparando números de objetos
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança ainda não compara corretamente o número de objetos em dois grupos.
1
A criança compara as quantidades de pequenos grupos de objetos, usando
corretamente palavras como mais ou menos.
2
A criança julga corretamente quando dois grupos de até 5 objetos cada (blocos,
carros, crianças) contêm o mesmo número de objetos.
3
A criança usa combinações de um pra um para dizer quando um grupo de até 5
objetos tem mais, menos ou o mesmo número de objetos que outro grupo.
4
A criança compara corretamente os tamanhos de grupos de mais de 5 objetos. 5
Anotações:
210
BB. Contando objetos
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança não relaciona números-palavras e objetos. 1
A criança toca objetos e nomeia um número para cada um, embora os
números possam não estar na ordem correta.
2
A criança conta corretamente até três objetos. 3
A criança conta corretamente de 4 a 10 objetos. 4
A criança conta corretamente mais de 10 objetos. 5
Anotações:
CC. Descrevendo relações espaciais
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança ainda não segue
instruções que descrevem posições relativas de
pessoas ou coisas (
sobre, acima, embaixo, atrás
) ou a direção do
movimento de coisas (para cima, para baixo, para frente, para trás,
para
dentro, para fora).
1
A criança segue instruções incluindo tais pal
avras, mas não as usa
corretamente quando fala.
2
A criança usa palavras que descrevem posições relativas de coisas (sobre,
embaixo, atrás, na frente).
3
A criança usa corretamente palavras que descrevem a direção do
movimento de coisas (para cima, para baixo, para frente, para trás,
para
dentro, para fora).
4
A criança usa palavras que descrevem distâncias relativas entre coisas
(mais perto, mais longe).
5
Anotações:
DD. Descrevendo seqüência e tempo
Nota
1
a
Obs.
2
a
Obs.
3
a
Obs.
A criança
ainda não descreve ou demonstra um entendimento do tempo
ou da seqüência da rotina de eventos.
1
A criança planeja ou antecipa o próximo evento em uma seqüência. 2
A criança descreve ou representa uma série de eventos na seqüência
correta.
3
A criança compara períodos de tempo corretamente (um tempo curto
é
mais curto do que um tempo longo).
4
Quando descrevendo ou representando uma série de eventos na seqüência
correta, a criança usa palavras para períodos convencionais de tempo
(manhã, ontem).
5
Anotações:
211
Folha de Respostas
Primeiro Nome Sobrenome
Escola Professor
Data de Hoje / /
NÃO ESCREVA NESTES ESPAÇOS
Sexo
Idade
Série
M
1
Creche
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
F 2 Maternal 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
3 Infantil 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2
4 Pre 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3
5 1ª Série 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4
6 2ª Série 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5
7 3ª Série 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6
8 4ª Série 7 7 7 7 7 7 7 7 7 7 7 7 7 7
9 Ed. Especial
8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8
10 Outra 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9
IMPORTANTE – LEIA POR FAVOR
EXEMPLO
Errado
Certo
Use lápis nº 2
Apague qualquer mudança completamente
Pinte o quadrado por inteiro
X
1 2 4 5
Baseado nas anotações da sua observação complete os quadrados dos números
equivalentes ao nível mais alto do comportamento típico da criança (1, 2, 3, 4 ou 5) de
acordo com as instruções do POC – Prontuário de Observação da Criança.
Sabendo que as crianças variam em seus níveis de desenvolvimento, não esperem que
elas alcancem uma pontuação igual a 5 em todos os itens. Tente observar os
comportamentos descritos nas questões durante o decorrer das atividades normais do
programa. Se o comportamento que você deseja observar não surge espontaneamente, crie
situações ou faça perguntas que incitem o comportamento. Na maioria dos casos, os
comportamentos a serem avaliados deveriam ser iniciados pelas próprias crianças, exceto
em itens que envolvem a capacidade da criança para seguir instruções ou responder aos
adultos. Por favor, não faça do POC um teste pedindo às crianças que respondam aos itens
não conectados às suas atividades. Se vofoi incapaz de observar o comportamento da
criança em um certo item, deixe-o em branco.
212
Para cada uma das áreas de comportamento listadas abaixo, por favor, marque o
número equivalente ao nível mais alto do comportamento típico da criança (1, 2, 3, 4 ou 5)
de acordo com as instruções do POC – Prontuário de Observação da Criança.
A. Expressando escolhas 1 2 3 4 5
B. Solucionando problemas 1 2 3 4 5
C. Empenhando-se em brincadeiras complexas 1 2 3 4 5
D. Cooperando em rotinas do programa 1 2 3 4 5
E. Relacionando-se com adultos 1 2 3 4 5
F. Relacionando-se com outras crianças 1 2 3 4 5
G. Fazendo amizade com outras crianças 1 2 3 4 5
H. Empenhando-se em resolver problemas sociais 1 2 3 4 5
I. Entendendo e expressando sentimentos 1 2 3 4 5
J. Fazendo e construindo 1 2 3 4 5
K. Desenhando e pintando 1 2 3 4 5
L. Fazendo de conta 1 2 3 4 5
M. Exibindo coordenação corporal 1 2 3 4 5
N. Exibindo coordenação manual 1 2 3 4 5
O. Imitando movimentos em um ritmo 1 2 3 4 5
P. Seguindo instruções de música e movimento 1 2 3 4 5
Q. Entendendo conversas 1 2 3 4 5
R. Falando 1 2 3 4 5
S. Demonstrando interesse em atividades de leitura 1 2 3 4 5
T. Demonstrando conhecimento sobre livros 1 2 3 4 5
U. Começando a ler 1 2 3 4 5
V. Começando a escrever 1 2 3 4 5
W. Classificando 1 2 3 4 5
X. Usando as palavras não, alguns e todos 1 2 3 4 5
Y. Organizando materiais em ordem gradual 1 2 3 4 5
Z. Usando palavras comparativas 1 2 3 4 5
AA. Comparando números de objetos 1 2 3 4 5
BB. Contando objetos 1 2 3 4 5
CC. Descrevendo relações espaciais 1 2 3 4 5
DD. Descrevendo seqüência e tempo 1 2 3 4 5
213
Anexo 7
Modelo de Protocolo de Análise da Entrevista Inicial com as Professoras
1ª Fase. Elaborar a tabela de identificação das crianças escolhidas.
Criança Sexo Idade Nível de desenvolvimento
C01
C02
C03
C04
C05
C06
Fase. Selecionar os trechos que correspondem a dimensão ou
indicadores de desenvolvimento de cada criança.
Criança Dimensão ou indicadores do desenvolvimento trazidos pela
professora
CO1
C02
C03
C04
C05
C06
Fase. Identificar cada um dos trechos escolhidos de acordo com as
dimensões do P.O.C.
Dimensão do P.O.C. Trechos das dimensões ou indicadores do
desenvolvimento trazidos pela professora
Iniciativa
Relações Sociais
Representação
Criativa
Música e Movimento
Linguagem e
Literatura
Lógica e Matemática
214
4ª Fase. Identificar os aspectos que mais se destacam ou não em relação ao
desenvolvimento da criança na visão da professora
Criança Mais se destaca Menos se destaca Síntese
C01
C02
C03
C04
C05
C06
215
Anexo 8
Modelo de Protocolo de Análise da Entrevista Final com as Professoras
1. Papel do P.O.C. na compreensão do desenvolvimento da criança
Participante Resposta Síntese
2. Pontos fortes do P.O.C. na visão das professoras
Participante Resposta Síntese
3. Pontos fracos do P.O.C. na visão das professoras
Participante Resposta Síntese
216
Anexo 9
Modelo de Protocolo de Análise dos Diários de Campo
Fase. Identificação da Quantidade de diários de campo no período
estudado
Quantidade de Diários de Campo
Período
Total
2ª Fase. Legenda dos Diários de Campo
ANO
Data Sigla
3ª Fase. Análise dos trechos condizente com a proposta de pesquisa
Sigla Trecho escolhido Interpretação
217
Anexo 10
Modelo de Protocolo de Análise do P.O.C.
1ª Fase. Identificar as crianças por meio de siglas
Sigla Data de Nascimento Idade da Criança Nível do
desenvolvimento
C01
C02
C03
Fase. Preencher a tabela referente à ntese do desempenho da criança
nas dimensões do P.O.C.
Dimensões do
Desenvolvimento
Máximo Esperado Resultado
Total
Z
Iniciativa
4 (itens) x 5 (níveis) =20 Soma dos
níveis
Soma dos
níveis ÷ itens=
Relações Sociais
5 (itens) x 5 (níveis) =25
Representação Criativa
3 (itens) x 5 (níveis) =15
Música e Movimento
4 (itens) x 5 (níveis) =20
Linguagem e Literatura
6 (itens) x 5 (níveis) =30
Lógica e Matemática
8 (itens) x 5 (níveis) =40
Fase. Elaborar o gráfico da Média do Desempenho da criança em cada
Dimensão
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
Dimensões do Desenvolvimento
Média
Média
Iniciativa
Relações
Sociais
Representaçã
o Criativa
Música e
Movimento
Linguagem e
Literatura
Lógica e
Matemática
218
Anexo 11
Legenda dos Diários de Campo
2004
Data Sigla Data Sigla
01 20-05-2004
DC001 13 01-10-2004
DC013
02 04-06-2004
DC002 14 08-10-2004
DC014
03 16-06-2004
DC003 15 22-10-2004
DC015
04 24-06-2004
DC004 16 29-10-2004
DC016
05 13-08-2004
DC005 17 12-11-2004
DC017
06 19-08-2004
DC006 18 19-11-2004
DC018
07 27-08-2004
DC007 19 24-11-2004
DC019
08 01-09-2004
DC008 20 26-11-2004
DC020
09 10-09-2004
DC009 21 30-11-2004
DC021
10 16-09-2004
DC010 22 03-12-2004
DC022
11 24-09-2004
DC011 23 17-12-2004
DC023
12 29-09-2004
DC012
2005
Data Sigla Data Sigla
01 04-02-2005
DC024 18 24-06-2005
DC041
02 11-02-2005
DC025 19 05-07-2005
DC042
03 17-02-2005
DC026 20 06-07-2005
DC043
04 18-02-2005
DC027 21 08-07-2005
DC044
05 25-02-2005
DC028 22 12-08-2005
DC045
06 11-03-2005
DC029 23 19-08-2005
DC046
07 18-03-2005
DC030 24 26-08-2005
DC047
08 01-04-2005
DC031 25 02-09-2005
DC048
09 08-04-2005
DC032 26 09-09-2005
DC049
10 15-04-2005
DC033 27 16-09-2005
DC050
11 29-04-2005
DC034 28 23-09-2005
DC051
12 06-05-2005
DC035 29 30-09-2005
DC052
13 13-05-2005
DC036 30 07-10-2005
DC053
14 20-05-2005
DC037 31 04-11-2005
DC054
15 03-06-2005
DC038 32 18-11-2005
DC055
16 10-06-2005
DC039 33 25-11-2005
DC056
17 17-06-2005
DC040 34 30-11-2005
DC057
2006
Data Sigla Data Sigla
01 16-02-2006
DC058 25 07-12-2006
DC082
02 02-03-2006
DC059 26 14-12-2006
DC083
03 09-03-2006
DC060 27 19-12-2006
DC084
219
04 16-03-2006
DC061 01 01-02-2006
DC085
05 23-03-2006
DC062 02 02-02-2006
DC086
06 06-04-2006
DC063 03 16-02-2006
DC087
07 27-04-2006
DC064 04 23-02-2006
DC088
08 04-05-2006
DC065 05 02-03-2006
DC089
09 11-05-2006
DC066 06 09-03-2006
DC090
10 25-05-2006
DC067 07 16-03-2006
DC091
11 01-06-2006
DC068 08 30-03-2006
DC092
12 08-06-2006
DC069 09 06-04-2006
DC093
13 10-08-2006
DC070 10 20-04-2006
DC094
14 17-08-2006
DC071 11 27-04-2006
DC095
15 24-08-2006
DC072 12 11-05-2006
DC096
16 14-09-2006
DC073 13 25-05-2006
DC097
17 21-09-2006
DC074 14 01-06-2006
DC098
18 31-09-2006
DC075 15 08-06-2006
DC099
19 19-10-2006
DC076 16 22-06-2006
DC100
20 26-10-2006
DC077 17 29-06-2006
DC101
21 09-11-2006
DC078 18 06-07-2006
DC102
22 16-11-2006
DC079 19 10-08-2006
DC103
23 23-11-2006
DC080 20 17-08-2006
DC104
24 30-11-2006
DC081 21 31-08-2006
DC105
2007
Data Sigla Data Sigla
01 27-02-2007
DC106 20 28-08-2007
DC125
02 06-03-2007
DC107 21 04-09-2007
DC126
03 13-03-2007
DC108 22 06-09-2007
DC127
04 20-03-2007
DC109 23 11-09-2007
DC128
05 27-03-2007
DC110 24 18-09-2007
DC129
06 03-04-2007
DC111 25 25-09-2007
DC130
07 10-04-2007
DC112 26 09-10-2007
DC131
08 17-04-2007
DC113 27 23-10-2007
DC132
09 24-04-2007
DC114 28 30-10-2007
DC133
10 08-05-2007
DC115 29 06-11-2007
DC134
11 15-05-2007
DC116 01 01-02-2007
DC135
12 29-05-2007
DC117 02 13-02-2007
DC136
13 05-06-2007
DC118 03 03-04-2007
DC137
14 12-06-2007
DC119 04 10-05-2007
DC138
15 19-06-2007
DC120 05 03-07-2007
DC139
16 26-06-2007
DC121 06 20-09-2007
DC140
17 07-08-2007
DC122 07 28-10-2007
DC141
18 14-08-2007
DC123 08 04-12-2007
DC142
19 21-08-2007
DC124
220
2008
Data Sigla Data Sigla
01 08-02-2008
DC143 35 25-09-2008
DC177
02 26-02-2008
DC144 36 26-09-2008
DC178
03 27-02-2008
DC145 37 30-09-2008
DC179
04 04-03-2008
DC146 38 03-10-2008
DC180
05 07-03-2008
DC147 39 08-10-2008
DC181
06 11-03-2008
DC148 40 09-10-2008
DC182
07 18-03-2008
DC149 41 09-10-2008
DC183
08 28-03-2008
DC150 42 10-10-2008
DC184
09 31-03-2008
DC151 43 23-10-2008
DC185
10 07-04-2008
DC152 44 24-10-2008
DC186
11 08-04-2008
DC153 45 29-10-2008
DC187
12 18-04-2008
DC154 46 30-10-2008
DC188
13 09-05-2008
DC155 47 31-10-2008
DC189
14 30-05-2008
DC156 48 05-11-2008
DC190
15 03-06-2008
DC157 49 06-11-2008
DC191
16 06-06-2008
DC158 50 07-11-2008
DC192
17 10-06-2008
DC159 51 14-11-2008
DC193
18 13-06-2008
DC160 52 17-11-2008
DC194
19 20-06-2008
DC161 53 18-11-2008
DC195
20 27-06-2008
DC162 54 19-11-2008
DC196
21 08-08-2008
DC163 55 26-11-2008
DC197
22 15-08-2008
DC164 56 26-11-2008
DC198
23 20-08-2008
DC165 57 27-11-2008
DC199
24 22-08-2008
DC166 58 28-11-2008
DC200
25 25-08-2008
DC167 59 05-12-2008
DC201
26 29-08-2008
DC168 60 09-12-2008
DC202
27 04-09-2008
DC169 61 10-12-1008
DC203
28 05-09-2008
DC170 62 11-12-2008
DC204
29 11-09-2008
DC171 01 24-06-2008
DC205
30 12-09-2008
DC172 02 26-06-2008
DC206
31 17-09-2008
DC173 03 25-08-2008
DC207
32 18-09-2008
DC174 04 08-10-2008
DC208
33 19-09-2008
DC175 05 10-10-2008
DC209
34 25-09-2008
DC176
221
Anexo 12
Situações do cotidiano e/ou elementos da realidade que dificultam a
promoção do desenvolvimento das crianças
Visão da Pesquisadora
1. Dificuldade em desenvolver atividades pedagógicas em conjunto
Sigla Dificuldade em desenvolver atividades pedagógicas em conjunto Interpretação
DC002
“Em uma reunião de Formação Continuada sentimos que o
grupo não estava coeso, com conversas paralelas, o que
demonstrava o descaso frente à apresentação que estava sendo
feita pelos professores. Durante o discurso das professoras,
observamos que elas adotavam uma fala informal, inconsistente,
sem sentimento. Relatando apenas as atividades que
desenvolviam sem colocar nenhuma dificuldade que poderiam
está sentindo com a sala de aula. Ao final da apresentação a
direção teve que pedir encarecidamente que o grupo
permanecesse até a última apresentação, que à medida que
apresentavam, os educadores saíam discretamente, o que
demonstrava o desinteresse em ouvir as atividades que estavam
sendo desenvolvidas nas outras turmas”
Desinteresse em
conhecer e compartilhar
as atividades
desenvolvidas em sala
de aula.
DC021
“A monitora comentou o fato de não aceitar que somente a
professora saiba o que está ocorrendo com as crianças, pois nas
reuniões de pais participa o professor e as monitoras ficam
sem saber o que foi conversado. De acordo com a monitora, as
professoras alegam que é confidencial. Isso deixa as monitoras
muitos chateadas, porque querem saber sobre as crianças em
virtude de ficarem mais tempo com elas do que as próprias
professoras”
Ausência de um
trabalho integrado entre
professor e monitor;
DC023
“Uma das integrantes da equipe gestora enfatiza que somente
as professoras terão acesso a informações sobre o contexto de
vida das crianças. Além disso, criticou o trabalho das monitoras,
pois, por várias vezes ela teve que ir até a CEMEI por escutar
Divisão entre monitor e
professor.
222
gritos constantes”
DC032
“Conversamos com a Orientadora Pedagógica a respeito da
resistência das professoras. Explicamos que as crianças da
CEMEI são acompanhadas, mas, quando elas vão para a EMEI,
esse acompanhamento deixa de existir por causa de algumas
professoras. A profissional de campo da EMEI tem uma lista com
os nomes das crianças acompanhadas na CEMEI, mas da forma
como as coisas estavam acontecendo, era impossível
acompanhá-las e isso traria prejuízos às crianças. A
Orientadora Pedagógica disse que as educadoras solicitam um
retorno mais frequente sobre as crianças, por isso a resistência.
Ressaltamos que a equipe não teria como dar esse retorno, se
não tivéssemos como acompanhar as crianças”
Dificuldade em
continuar o
acompanhamento da
criança no ano seguinte
DC096
“No TD a professora falou de suas dificuldades na escola,
ressaltou o descaso da escola frente ao professor. Citou
situações em que elas perguntavam as coisas para a O.P., mas
nunca tinham nenhum retorno, ninguém comunicava nada as
professoras. A professora comentou que um dia entregaram um
bilhete para as mães avisando de um passeio e neste bilhete
estava escrito que esta atividade seria realizada no período
normal de aula, mas quando chegou o dia elas receberam uma
“bronca” da direção porque estava combinado que seria as 7:30
só que ninguém avisou, todo mundo chegou as 8:00 horas.
Então, para a professora fica a questão: de quem é a culpa?”.
O.P. Despreparada
DC074
“Quando a professora falta e a sala fica sob a responsabilidade
apenas das monitoras, elas ficam perdidas. Em geral, elas
colocam as crianças na sala de vídeo e as deixam assistindo ao
filme por um longo tempo ou as colocam em sala de aula e
espalham os brinquedos. As monitoras nos dois contextos
ficavam observando e tentando ter o controle da situação”
Ausência de um
trabalho integrado entre
professor e monitor
DC113
“A estagiária relatou que a professora não permiti que ela chame
a mãe do seu aluno, porque ele morava com a tia e não havia a
necessidade de mexer no passado familiar da criança, visto que
Descompromisso com a
vida da criança
223
estava muito bem e era o melhor aluno da sala. Conversei com a
professora e expliquei a necessidade de falar com os pais das
criança, a professora ficou extremamente irritada e disse que
tinha crianças que precisam muito mais de um
acompanhamento. Solicitei que me desse os nomes destas
crianças e falei da nossa ação preventiva”.
DC115
“Hoje conversei com a direção sobre algumas professoras que
vinham prejudicando a nossa intervenção na escola. Em nossa
reunião, relatei que as estagiárias estavam tendo dificuldade
para acompanhar duas salas porque as professoras estavam
impedindo nossa entrada e sempre diziam que não a
necessidade de chamar as mães, porque estava tudo bem com
os seus alunos. Citei alguns exemplos de crianças dessa turma
que precisariam de acompanhamento e a direção ficou
preocupada”
Resistência ao serviço
de psicologia
DC128
“Nessa reunião fui informada que não pode ter apenas um
caderno de registro, porque as atividades são diferentes. o
trabalho do monitor e o do professor”
Divisão do trabalho do
monitor e professor.
DC138
“Durante as leituras e debates, os monitores refletiram sobre a
necessidade de existir um trabalho pedagógico mais eficiente,
em que houvesse um planejamento que possibilitasse o
desenvolvimento das crianças em todos os seus aspectos.
Elucidaram várias situações como o caso da alimentação no
refeitório, em que as crianças são ‘obrigadas a saber comer
com os talheres’, apesar de não haver uma preparação inicial
para a entrada dessas crianças no refeitório, tipo uma oficina”.
Falta de planejamento
pedagógico
DC141
“As monitoras explicam que a sugestão da Orientadora
Pedagógica em integrar o TDI e o GEM jamais seria aceito pelos
professores, alegam que esta proposta de juntar o cuidar e o
educar é uma demagogia, porque nunca foram vistos como
educadoras e portanto, jamais seriam reconhecidas. Ressaltam
que ao conversar com as professoras sobre as crianças, elas
não gostam, sentem-se afrontadas, além de desconsiderarem as
suas opiniões. Os monitores afirma que não são reconhecidos
Divisão do trabalho do
monitor e professor.
224
como educadores e sim como trocadores de fraldas.”
DC160
“A educadora especial propôs que tivéssemos um trabalho
integrado que possibilitasse a inclusão da criança no grupo, pois
ele é autista e tem dificuldades. A educadora especial falou isto
porque há quatro adultos na sala de aula duas vezes na semana
e ela vem percebendo que a professora substituta não vem
possibilitando esta inclusão e sim a exclusão. Comentou que
esta professora substituta propõe atividades individualizadas
para a criança, quando o grupo está realizando alguma atividade
para não prejudicar a turma”.
Propostas diferentes de
intervenção entre as
professoras
DC170
“A criança foi transferida da sala da professora DDD para a sala
da professora CCC. Isto deixou a professora DDD bastante
chateada porque desde quando a professora CCC recebeu o
aluno, tem tentado mostrar para a escola e para a mãe que ela é
mais competente e saberá lidar com a criança”.
Disputa e competição
entre os educadores
DC171
“Sugeri à professora CCC que conversássemos com a
Orientadora Pedagógica sobre a criança com o objetivo de
encontrarmos uma solução em conjunto. A professora CCC ficou
meio temerosa, dizendo que teria muitas pessoas como
referência para a criança. Expliquei que ela seria a única a
trabalhar com a criança e nós iríamos discutir sobre o
desenvolvimento dele em grupo, nos horários de TDI. Tentei
convencê-la da importância de compartilharmos informações
com a Orientadora Pedagógica com o objetivo de traçarmos
intervenções que promovessem o desenvolvimento da criança,
com a participação de vários profissionais. Ela me disse que irá
pensar”
Resistência em
trabalhar em conjunto
DC174
“Conversei, novamente, com a professora CCC sobre a
possibilidade de trabalharmos em equipe visando a um
acompanhamento mais sistemático da criança e escutei um NÃO
categórico, sem explicação”
Resistência em
trabalhar em conjunto
DC184
“Durante o parque as professoras BBB e DDD estavam
desenvolvendo atividades de pintura com as crianças, com
exceção da professora CCC. De acordo com a professora DDD
Conflito entre
professoras.
225
ela não comunicou nada para a professora CCC porque teve um
dia que elas iam fazer uma atividade diferente com as crianças e
ao levar o material para a professora CCC ela foi extremamente
mal recebida e criticada pela sugestão. Além disso, a professora
CCC disse que as professoras BBB e DDD sabiam dar
trabalho para ela, não conseguiam ficar sem fazer algo”.
DC191
“A monitora diz: as relações sociais na escola são construídas
com base na inveja, na desconfiança, desejando o mal do outro’.
Disse-me que sente um clima muito carregado e sempre ora
antes de ir à escola. Ressaltou que sempre foi uma profissional
que a escola podia contar, sempre que era solicitada ela
substituía algum professor ou monitor e isso deixava os outros
profissionais enciumados”
Disputa e competição
entre os educadores
DC192
“De acordo com a monitora, a ausência da educadora especial
na sala fez a criança regredir. Ela acha que isso aconteceu
porque a professora não sabe colocar limites na criança,
diferente da intervenção da educadora especial. De acordo com
a monitora, as duas possuem uma forma de intervir diferente
com a criança e isso vem gerando prejuízos em seu
desenvolvimento”.
Divergências de
opiniões e/ou propostas
de intervenção entre os
educadores
DC195
“Conversei com a professora BBB sobre o rompimento de sua
relação com a educadora especial, disse que não conseguia
entender como duas profissionais que desenvolviam um trabalho
integrado, sintonizado, um facilitador para a promoção do
desenvolvimento das crianças, decidiram do dia para o outro
parar de se falar e, consequentemente, de trabalharem juntas na
sala de aula. Segundo a professora BBB, isso aconteceu desde
o dia em que a educadora especial destratou a mãe de seu
aluno por causa de um relatório dizendo que não o faria e a
professora esperava outra atitude da educadora especial, como
buscar informações sobre esse relatório”
Divergências de
opiniões e/ou propostas
de intervenção entre os
educadores
226
2. Decisões da equipe gestora sem a participação das educadoras
Sigla Decisões da equipe gestora sem a participação das educadoras
Interpretação
DC039 “No TDC a professora JJJ estava compartilhando com o grupo
a sua indignação acerca da atitude da direção de mudar a
criança de sua sala para colocá-la em outra sala sem o seu
consentimento. De acordo com a professora, a criança estava
em estado de desnutrição e, como reclamava isso à mãe, ela (a
mãe) ficava incomodada e foi se queixar à direção, exigindo a
mudança de sala do filho, caso contrário, iria tirá-lo da escola”
Transferência de
criança da sala sem
conversa com o
professor
DC100 “Na reunião de Planejamento Pedagógico, a equipe gestora
avisou aos funcionários a inauguração da sala de informática,
deixando as professoras bastante indignadas, pois construíram
uma sala de informática e nem pediram a opinião dos
educadores. Após o comunicado da inauguração, a equipe
gestora avisou que naquele dia seria realizada uma oficina para
ensinar as professoras a trabalharem com os jogos infantis
implantados nos computadores. Era evidente a resistência das
educadoras com esses jogos, pois achavam que seria
impossível ficar com todas as crianças nessa sala de
informática mexendo ao mesmo tempo nos computadores, bem
como poderia acontecer situações em que elas não iriam
conseguir destravar o computador ou coisa assim”
Decisões sem preparar
o professor;
Descrédito a opinião
dos professores
Intensifica o conflito
entre professor e
direção.
DC108 “Fui conversar com a professora sobre as suas crianças e ela
estava bastante insatisfeita com essa mudança na faixa etária,
no caso o agrupamento. Reclamou que não aguenta mais essa
situação e que a ‘direção é louca, mas elas (professoras) não
Visão reducionista das
políticas, colocando a
culpa sempre da
direção.
DC113 “A professora AAA trouxe alguns exemplos da postura
autoritária da direção e eu a instruí a buscar nos planos de
cargos e nas leis educacionais quais são os direitos e deveres
de cada um dentro da escola, pois sentia que o seu espaço
estava sendo invadido, precisaria reivindicar legalmente e não
apenas reclamar. Ela disse que não tinha jeito, tudo tinha
Desânimo e
desmobilização para
reivindicar os seus
direitos.
227
sido feito e nada foi melhorado”
DC129 “Fui à sala da professora BBB para conversar a respeito da
transferência do aluno para sua turma e ela mostrou-se pouco
chateada, pois já estava conformada com esse tipo de postura
da escola. Ressaltou que isso nunca vai mudar. Além disso,
relatou que soube da transferência da criança para sua sala por
meio da perueira da escola ao levar a neta para a turma”
Transferência de
criança da sala sem
conversa com o
professor
DC129 “A professora AAA estava muito chateada, porque ninguém
comunicou a entrada desse aluno e percebia que todas as
crianças que davam problemas na escola eram encaminhadas
para a sua sala. Ela mostra-se muito indignada sobre a visão
que a escola possuía dela, como a dominadora e isso vem
mexendo com o seu estado emocional, pois se sente a ‘megera
da escola’”
Transferência de aluno
sem o consentimento
do professor;
Educador sente-se mal
visto pela escola
DC147 “A professora HHH, no refeitório, veio conversar comigo a
respeito da mudança de sala de aula de sua aluna e se eu
estava sabendo de alguma coisa. Eu disse que não. A
professora queixou-se de que não foi comunicada,
Simplesmente tiraram a criança de sua sala sem uma conversa
prévia”
Transferência de
criança da sala sem
conversa com o
professor
DC179 “A professora DDD comentou comigo que a professora CCC,
que recebeu o seu aluno, reclamou da criança e disse: quero
devolvê-lo a você’. Diante disso, a professora DDD respondeu
que nada poderia fazer, porque tiraram a criança da sua turma
a pedido da mãe sem o seu consentimento. Segundo a
professora DDD, a professora CCC não a procurou para
conversar sobre os motivos dessa transferência e nem se
interessou em buscar informações de como a criança estava
em sala de aula, deixando-a muito chateada
Transferência de
criança da sala sem
conversa com o
professor;
Não existe um trabalho
de acompanhamento
longitudinal das
crianças na escola;
DC183 “A professora BBB me explica que na escola não existem trocas
de informações sobre as crianças, dizendo: ‘nesta escola vo
recebe uma criança e não sabe como ela estava na outra sala’”
Não existe um trabalho
de acompanhamento
longitudinal das
crianças na escola;
228
3. Crítica destrutiva e/ou descrédito ao trabalho dos educadores
Sigla Crítica destrutiva e/ou descrédito ao trabalho dos educadores Interpretação
DC064 “A direção desabafou falando do seu desânimo em continuar na
escola. Disse-me que esperava muito da escola, mas percebia
que as coisas não andavam e sentia-se desestimulada. Falou-
me de sua relação conflituosa com as professoras e que, a todo
momento, precisava se defender dos ataques
Desmotivação impede
o desenvolvimento de
atividades
DC089 “As professoras estavam desestimuladas e não tinham mais
força de vontade para ir à escola em razão da equipe gestora
sempre criticar e questionar tudo o que elas faziam, como se
elas não fizessem nada certo”
Desmotivação das
educadoras
DC089 “Durante as apresentações de cada comissão, uma das
professoras queixou-se de que não adiantava entregar a
proposta, porque tudo o que era entregue à equipe gestora
“nunca prestava” sempre precisava mudar algo no projeto. Esse
assunto demandou um bom tempo da reunião, porque cada
professora começou a citar exemplos e a expressar os seus
descontentamentos”
Críticas impedem o
desenvolvimento de
atividades
DC099 “A professora GGG durante o TDC citou vários casos de
desrespeito da direção com os funcionários da escola e deixou
claro que estava juntando documentos para “incriminar” a
direção e abrir um processo de assédio moral”
Processos
administrativos /
assédio moral
DC113 “Ao perguntar à professora AAA se ela estava bem, ela
desabafa dizendo que não aguentava mais ficar na escola,
sentia-se desrespeitada e tinha a impressão de que é uma
péssima profissional em virtude de sempre criticarem o seu
trabalho. Relatou que está nesta escola mais de 23 anos e
pensa em pedir a remoção no próximo ano, pois conviver com a
direção tem sido insuportável”
Desmotivação impede
o desenvolvimento de
atividades;
DC130 “Durante o TDC, a Orientadora Pedagógica verbalizava que a
atitude das professoras a prejudicaria, porque poderia ser vista
como incompetente e que a escola não anda por causa dela,
Temor as críticas da
direção
229
entre outras coisas. As professoras responderam que qualquer
reclamação era para ser dirigida a elas e não à Orientadora
Pedagógica”
DC141 “A monitora comenta durante o GEM que naquela escola não
respeito pelo outro e as pessoas são sempre desvalorizadas
no que fazem. Todos concordaram com as colocações dessa
monitora”
Profissionais sentem-
se desvalorizados pela
escola
DC146 “A monitora, ao saber da crítica à sua companheira de trabalho,
abandonou as crianças no refeitório dizendo que não ficaria
mais naquela escola, foi para a sala de aula e arrumou as suas
coisas. Ela gritava muito e batia na mesa dizendo que não tinha
o trabalho reconhecido, que as pessoas reclamavam... A
monitora explicava que não tinha uma boa saúde e que iria
acabar morrendo naquela escola”
Descontrole emocional
da monitora
DC147 “De acordo com a O.P. a gestão anterior deixou muitas marcas
na escola e que estava dificultando no seu trabalho com as
educadoras. Ela relata que muitas estão desestimuladas e
desconfiadas com relação a qualquer tipo de proposta, muitas
não tem envolvimento com a escola. As críticas são sempre
levadas para o lado pessoal e não profissional”.
Dificuldade para
trabalhar com as
professoras;
Desmotivação das
professoras.
DC185 “A professora AAA disse-me que a partir de agora iria se
preocupar mais com ela e menos com a escola. Para ela, as
crianças continuariam a ser o centro de sua atenção, mas iria
abdicar dos problemas mais gerais da escola, visto que
percebeu que aquela escola não era mais dos professores
muito tempo, pois eles deixaram de ter voz ativa na escola.
Falou-me que iria utilizar a filosofia da vaca: ‘cagando e
andando para os problemas da escola’”
Omissão frente aos
problemas da escola
230
4. Espaços de reuniões coletivas na escola pouco aproveitados
Sigla Espaços de reuniões coletivas na escola pouco aproveitados Interpretação
DC063 “Expliquei a direção que o TDC era um espaço que não estava
servindo para promover o desenvolvimento das crianças,
ressaltei que eu havia sugerido a utilização do POC três
semanas para ser trabalhado e até agora não tivemos espaço
para isso. Falei da urgência em acompanharmos as nossas
crianças, pois o tempo estava passando e nada estava sendo
feito”
TD sem planejamento
ou objetivo definido.
DC064 “A direção queria mudar toda a estrutura do TDC, mas sentia
muita resistência das professoras que não entendiam os
objetivos deste espaço e ficavam indignadas quando não se
discutia no TDC questões como abonada, calendário, feriado,
entre outras coisas que só dizem interesses a elas”
Discussões de
interesse pessoais dos
educadores no TDC
DC086 “A Orientadora Pedagógica iniciou a reunião lendo um texto
para as educadoras que, geralmente, não são aproveitados.
Durante a leitura ficava visível o desinteresse das educadoras,
surgindo algumas piadas a respeito do texto”
Utilização de textos
inapropriados.
DC088 “Os integrantes responsáveis pela comissão de educação
infantil de 0 a 6 anos, explicaram que não tinham nenhuma
proposta a ser apresentada ao grupo, pois a O.P. deveria
participar dessa comissão para coordenar e explicar o que seria
discutido, dando encaminhamentos. De acordo com os
integrantes essa é a função do orientador pedagógico e
enfatizaram que esse tipo de comissão precisaria da
participação de todos, não poderia ser dividido”.
Falta de planejamento
DC088 “Em razão das conversas paralelas durante a reunião a
Orientadora Pedagógica se alterou e pediu a participação de
todas. Percebi que ela estava muito chateada com todo aquele
descaso, pois estavam decidindo questões sérias que
demandavam a atenção de todos os educadores”
Desinteresse das
educadoras em
participar dos espaços
coletivos da escola.
DC089 “A Orientadora Pedagógica iniciou o TDC explicando a respeito O.P. sem preparo
231
da pedagogia de projetos, socializando o que seria planejado
para este ano com as crianças na escola. Uma professora
questionou a O.P. sobre o tema, dizendo que a complexidade
do assunto não poderia ser debatida em uma hora. E pela
discussão ficou claro que a professora tinha razão, uma hora do
dia seria insuficiente”
teórico para coordenar
TD
DC089 “As professoras reclamam no TD a necessidade da O.P. instruí-
las em como proceder no planejamento das comissões que
seriam utilizados no Projeto Pedagógico da escola. As
professoras solicitavam pelo menos um direcionamento da linha
pedagógica que deveriam seguir, pois cada comissão poderia
seguir linhas diferentes. Esta reclamação deixou a O.P. muito
irritada porque quando ela diz como deve ser feito, as
professoras reclamam, pois querem mais autonomia e quando
ela não fala nada, elas reclamam dizendo que querem
instruções”.
Atividades sem
planejamento;
Despreparo da O.P.
DC090 “Durante o TDC a Orientadora Pedagógica entregou um
questionário às professoras, o qual ajudaria a elaborar a
pedagogia de projetos. Enfatizou que a escola tinha um prazo
para a entrega do projeto e, caso não conseguisse entregar, iria
solicitar às professoras que assinassem um documento se
responsabilizando pela não entrega, tendo em vista que
havia comunicado o prazo para o grupo e elas não deram muita
importância. Isso gerou um maior atrito na reunião. As
professoras começaram a culpar a O.P., dizendo que ela
deveria saber priorizar as coisas e, se tivesse falado da
urgência elas não iriam relutar em responder”
Ausência de
planejamento conjunto
DC095 “A O.P. não compareceu ao TD, pois foi comprar brinquedos
para a escola. Isto deixou as professoras irritadas, pois não
foram avisadas deste atraso e /ou ausência da O.P., muitas
saíram cedo de casa para participar do TD e consideraram isto
uma falta de respeito. Concordo com as reclamações das
professoras, a O.P. deveria priorizar o TD e não a compra de
brinquedo, isto poderia ser feito em outro momento”.
Descompromisso da
O.P. com o TD
232
DC095 “A professora EEE disse-me que a Orientadora Pedagógica não
tem uma programação das atividades que irá realizar no TDC
com as professoras revelando um total desinteresse e falta de
compromisso profissional. Para a professora EEE essa postura
da Orientadora Pedagógica faz com que as educadoras não
levem a sério o momento de TDC na escola”
Descompromisso da
O.P. com os espaços
de TD
DC098 “A Orientadora Pedagógica fez a leitura do texto Apenas
brincando”, durante o TDC, para as professoras e esta dinâmica
não prendeu a atenção das educadoras, ficaram dispersas.
Após o término da leitura do texto, a O.P. entregou outro texto
denominado Linguagem infantil: outras formas de leitura”.
Nesse momento solicitou que as professoras formassem grupos
para lerem o texto e, posteriormente, abriria para discussão.
Cada grupo recebeu um texto e isso levou as professoras a
reclamarem, porque ficava inviável a leitura do texto por ser
muito extenso para o pouco tempo dedicado a essa atividade.
Enquanto as professoras ficavam conversando ao invés de
fazerem a leitura, a O.P. tirava xérox de outro material e ao
retornar ao grupo falou a respeito das inscrições de um curso
sobre a educação infantil e não debateram o texto entregue às
professoras”
O.P. desenvolve
atividades sem
propósitos no TD
DC103 “No TDC a equipe de psicologia discutiu acerca da violência
doméstica e o debate foi bastante proveitoso, as educadoras
participaram e mostraram-se interessadas no tema. Muitas
trouxeram casos que vivenciaram em sala de aula com o intuito
de partilhar e/ou trocar experiências além de trazerem questões
que elas próprias vivenciaram na infância”
Professores participam
das discussões quando
são solicitados a
sugerir temas para
debater.
DC130 “No horário do TDC a Orientadora Pedagógica entregou um
material que continha a rotina de cada professora e isso
ocasionou uma grande discussão. As professoras eram
enfáticas ao afirmarem que não iriam seguir aquela rotina
proposta, deixando a Orientadora Pedagógica irritada, pois ela
argumentava que havia marcado dois TDi com as professoras
para a discussão daquela rotina e elas nunca davam sugestões
Ausência de
planejamento conjunto
233
e, por isso, teve que elaborá-lo sozinha e agora se deparava
com a resistência das professoras em não seguir a proposta”
DC142 “A equipe de psicologia foi apresentar a devolutiva do projeto
para os professores no TDC e durante a apresentação,
algumas professoras entravam com assuntos que não estavam
relacionados, diretamente, ao que discutíamos. Elas
verbalizavam a sua insatisfação, desmotivação e baixa auto-
estima em decorrência de passar o ano todo recebendo críticas
da equipe educacional”
TDC utilizado pelos
professores para
desabafos
5. Relação conflituosa entre a escola e a família
Sigla Relação conflituosa entre a escola e a família Interpretação
DC003 “De acordo com a professora, a criança em sala de aula é
bastante participativa e alegre e, mesmo depois desse suposto
abuso sexual, não percebeu nenhuma alteração na criança. A
professora acha que talvez isso não tenha acontecido, pois
considera a mãe bastante imaginativa e muito criativa”
A professora não
acredita na família
DC007
“A outra criança relatada pela educadora especial, apresenta
como “queixa” a agressividade. Possui um primo que estuda em
outra classe, os dois demonstram as mesmas preocupações,
falta de limite. A escola sugeriu que a criança ficasse apenas
meio período na escola, mas a mãe não aceitou. Ele esna
escola desde o berçário”.
A escola tenta resolver
o problema entregando
a criança à família.
DC023 “As professoras, nas reuniões de pais, explicam que durante o
período de adaptação as crianças ficam na primeira semana
apenas duas horas na escola sem a presença dos pais. De
acordo com as professoras, se os pais ficarem com as crianças
nesse período, vai atrapalhar o processo de adaptação: as
crianças precisam se acostumar a ficar na escola sem a
presença dos pais
Período de adaptação
sem a presença dos
pais
DC049 “Fui a EMEI para participar da palestra sobre doenças
sexualmente transmissíveis que seria dada aos pais, e me
Descaso da escola
frente as reuniões com
234
informaram que a atividade tinha sido cancelada em razão do
pequeno número de pais. Isso é péssimo, porque a escola não
considerou os pais que vieram e tiveram interesse no assunto.
Eles poderiam pelo menos dar uma assistência aos pais que
sentiram a necessidade de escutar sobre o tema. Essa postura
da escola vem a agravar o afastamento da família e escola,
porque os pais ficam desestimulados a participar de qualquer
evento na escola visto que não tem a certeza se haverá
realmente a atividade proposta”
os pais
DC061 “A monitora comentou comigo sobre uma criança dizendo que a
mãe liga, constantemente, à escola para saber como está o seu
filho e que isso estava deixava-a muito irritada. Essa mãe
quando vai buscar um parente na EMEI ao meio-dia sempre
uma passadinha na CEMEI para saber da criança. A monitora
estava, realmente, muito chateada com a atitude da mãe”
Impaciência das
educadoras frente a
preocupação dos pais
no período de
adaptação.
DC121 “A mãe me contou que transferiu a sua filha de sala porque a
professora anterior reclamava constantemente da falta de
material e um dia solicitou que ela voltasse com a filha para
casa e retornasse com o lenço umedecido. Isso deixou a
mãe muito constrangida e foi à direção denunciar a postura
intimidadora da professora e solicitou a saída da criança da
escola. Diante disso, a direção conseguiu convencer a mãe a
transferir a criança de sala e não a tirá-la da escola”
Relação conflituosa e
desrespeitosa da
professora com a mãe
DC121 “De acordo com a direção, que presenciou a discussão entre a
professora e a mãe, ambas se insultaram e quase partiram para
a briga. A direção ressaltou que não irá tomar partido na briga e
iria intermediar a conversa. Ela tem consciência de que a
mãe está certa e que tem todo o direito de fazer uma denúncia
e gostaria que isso acontecesse para mostrar às professoras
que as atitudes impensadas têm consequências graves”
Relação conflituosa e
desrespeitosa da
professora com a mãe
DC175 “A professora conversou comigo a respeito de uma mãe que
chamou as educadoras de “vagabundas. Isso aconteceu
porque teve um dia em que a professora convocou todas as
mães em particular e explicou que teriam poucos monitores
Relação conflituosa e
desrespeitosa da
professora com a mãe
235
durante o mês, por causa da licença prêmio, e estava sugerindo
às mães que não trabalhavam que deixassem o filho alguns
dias em casa. A mãe saiu da conversa chamando o pessoal de
vagabundo pelo corredor. A professora, ao saber disso, foi pedir
satisfação à e no outro dia. De acordo com a professora,
assim que a mãe chegou foi logo perguntando: ‘Quem é
vagabundo aqui?’. A mãe ficou constrangida e a professora
disse que ela o poderia desmerecer o trabalho das
educadoras e questionou a mãe como ela poderia deixar o filho
com vagabundas, visto que não acreditava no seu trabalho. A
professora falou que a mãe voltou quieta para a casa e, desde
então, nunca mais a desrespeitou”
DC182 “Conversei com um dos integrantes da equipe gestora escolar
sobre o interesse do representante de pais em discutir nas
reuniões de pais algumas propostas políticas. A Orientadora
Pedagógica pediu que eu tivesse cuidado com esse pai, porque
aconteceu uma briga no NAED em virtude das reivindicações
desse pai. O NAED tentou explicar ao pai que as reformas não
acontecem da forma como ele quer. Expliquei à Orientadora
Pedagógica que o encontro de pais era um espaço aberto e ele
tinha o direito de participar e de se manifestar. A Orientadora
Pedagógica concordou, desde que mantivéssemos um controle
nessas reuniões, depois que ficou sabendo que havia um
político por trás desse pai ”
Dificuldade da escola
em permitir aos pais
um espaço de
discussão política.
DC192 “A direção veio me procurar para conversar sobre o 156 que a
escola recebeu em relação aos garotos que foram vistos no
parque se beijando e a professora não olhou. A mãe alega que
a falta de alambrado na escola facilita este tipo de práticas na
escola, mas não é isto, o que falta é a professora fazer uma
orientação dirigida às crianças sobre a sexualidade. Falei para
o diretor que no documento não poderíamos retirar da
professora a sua responsabilidade sobre esse caso”.
Falta de atividades
dirigidas para o horário
de parque
236
6. O contexto de violência da criança
Sigla O contexto de violência da criança Interpretação
DC055 “Fui conversar com a monitora para saber se a criança estava
indo à escola. De acordo com a monitora, ela veio dois dias
e a monitora disse que conhece a família da criança. A mãe é
viciada mais de 23 anos e já deu vários filhos, um deles foi
adotado por uma monitora que trabalhou na escola. Para a
monitora, a e não tem mais jeito, pois está no vício
muito tempo e quando tinha um filho estudando na escola,
vinha pedir muitas coisas para as educadoras, depois ficaram
sabendo que ela vendia o que ganhava para comprar drogas”
Realidade de violência
da criança
DC111 “Conversei com a equipe gestora sobre o caso da criança que
sofreu violência sexual e relatei a situação delicada da mãe
com relação à denúncia, pois foi orientada pelos traficantes a
não comentar nada para evitar a entrada de policiamento no
bairro, caso contrário sofreria represálias. Essa situação foi
resolvida com a intervenção dos traficantes que deram uma
surra no agressor e o expulsaram do bairro”
Despreparo dos
educadores.
DC114 “Durante o parque uma criança estava brincando de apontar o
dedo para o cavalo como se estivesse atirando, levando a
professora e a monitora a fazerem comentários. Segundo a
monitora, a criança brinca até de Roleta Russa com a arma e
comentou que isso é aprendido na família. Relatou que a
família da criança vem de gerações com precedência na polícia:
os tios foram mortos por policiais e o pai estava seguindo o
mesmo caminho”
Realidade de violência
da criança
DC131 “Durante o TDC a equipe gestora comenta sobre o tiroteio na
padaria e afirma que os envolvidos são pais das crianças da
escola. A professora relata nessa reunião a conversa que teve
com a criança do pai que atirou e a outra professora fica
bastante surpresa com isso, querendo saber quem é a criança
da sua sala que teve o pai baleado e a professora ficou com
Realidade das crianças
marcada pela
violência;
Comunidade marcada
pelo silêncio
237
medo. A equipe gestora aconselha as professoras a não
ficarem comentando sobre o assunto, porque uma funcionária
da escola tinha ido até a padaria no dia seguinte e o pai que
atirou estava lá para saber se tinha câmera. Além disso, a
polícia já veio à escola para saber se estava tudo bem. As
professoras concordam em não comentar nada sobre o
assunto, porque na comunidade a melhor postura é sempre o
silêncio”
DC132 “Perguntei a professora sobre a saída da diretora e solicitei que
ela me respondesse com toda franqueza o que estava
acontecendo. A professora me disse que a diretora saiu da
escola porque recebeu uma ameaça em sua casa. Ressaltou
que foi uma funcionária que disse isto e pediu para eu não
comentar”.
Ameaças a equipe
gestora da escola
DC132 “Em conversa com a Orientadora Pedagógica ela me relata o
caso de uma criança da professora EEE, dizendo que essa
criança precisa de uma atenção especial porque tem vindo à
escola com marcas no corpo. Segundo a professora a criança
está bem e que o problema é com a família e, quanto às
marcas, ela justifica dizendo que o menino tem muita alergia e
por isso fica sempre vermelho. No entanto, quando a
Orientadora Pedagógica a questionou sobre uma marca no
pescoço em formato de um triângulo a professora não soube
responder”
Descaso da professora
frente a violência
familiar
DC145 “De acordo com a professora a mãe do seu aluno A veio
solicitar a transferência para outra sala, porque o pai da sua
aluna B ameaçou a família do aluno A caso ele viesse a bater
novamente em sua filha. A mãe do aluno A, com o objetivo de
evitar alguma ‘tragédia’ queria mudar o filho de sala e, caso não
fosso possível iria tirar a criança da escola. A professora
expressa a sua preocupação dizendo ‘sinto que estou
trabalhando com a faca no pescoço’, pois dentro de uma sala
de aula com crianças pequenas fica impossível evitar que
alguns acabem brigando
Temor da professora
frente a postura dos
pais
238
DC185 “A professora veio me informar que o pai de seu aluno foi
atropelado na frente da escola após deixá-lo na escola. Disse-
me que atropelaram o pai, depois passaram por cima
novamente quebrando as pernas e em seguida
descarregaram a arma nele, foi “uma morte bem matada”, este
tipo de assassinado é um aviso para a comunidade. Sempre
matam desta forma quando alguém é devedor e metido a
valentão. A professora falou que recebeu a noticia na sala de
aula e imediatamente fez uma roda com as crianças e ficou
contando historinhas para elas não perceberem o movimento
dos carros de polícia e ambulância”.
Realidade de violência
das crianças
DC196 “Durante o parque a professora estava conversando comigo
sobre alguns episódios que aconteceram na escola. Falou-me
que um dia os traficantes estavam escondidos no fundo da
escola e a polícia entrou na escola e foi em sala em sala
explicar aos professores o que estava acontecendo e pediu que
as professoras não saíssem da turma e ficassem distraindo as
crianças. A professora relata que neste dia ficou tremendo de
medo sem poder fazer nada, com medo de ter tiroteiro”.
Contexto de violência
ao redor da escola
239
Anexo 13
Situações do cotidiano e/ou elementos da realidade que dificultam a
promoção do desenvolvimento das crianças
Visão das Professoras
1. Dificuldade em desenvolver trabalhos pedagógicas em conjunto
Sigla Dificuldade em desenvolver trabalhos pedagógicos em conjunto Interpretação
DC091 “A professora EEE durante o TDC alega que o trabalho
desenvolvido por ela em sala de aula é destruído à tarde pelas
monitoras e que não sabe mais o que fazer para resolver essa
questão. Solicitou que desenvolvessem um trabalho com as
monitoras. Outra professora confirmou essa fala e citou como
exemplo o período da alimentação, em que a forma como ela
alimenta as crianças pela manhã é totalmente diferente do
procedimento da tarde. Acha as monitoras muito frias e
mecânicas nesse horário tão especial para as crianças”
Ausência de um
trabalho integrado
entre professor e
monitor;
DC091 “A professora GGG veio se queixar da professora EEE, pois ela
sempre tenta separar o trabalho do monitor e do professor. De
acordo com a professora GGG, a professora EEE não troca a
fralda de nenhuma criança porque acredita que esse serviço é
do monitor. A professora AAA disse-me que esta postura é
discriminatória e por isso fica, realmente, difícil trabalhar em
conjunto”
Divergência de opinião
entre as
educadoras
DC091 “Durante o TDC os grupos foram divididos por agrupamentos. O
agrupamento I discutiu basicamente a questão do Brincar, do
Respeito e da Relação Cuidar e Educar. A professora EEE
manifesta a sua opinião defendendo a idéia de que o cuidar e o
educar são questões dissociadas, cada um tem um papel para
assumir na sala de aula”
Diferença no trabalho
do professor e do
monitor
240
2. Decisões da equipe gestora sem a participação da professora
Sigla Decisões da equipe gestora sem a participação da professora Interpretação
DC071 “Fui conversar com a professora a respeito do remanejamento
de crianças para saber a sua opinião sobre este assunto. A
professora NNN mostrou-se muito indignada com esta atitude,
disse que a escola não pensou nas professoras e nem nas
crianças, tendo em vista que elas estavam sofrendo com esta
mudança de sala, pois se tornou uma nova adaptação. Disse-
me que não preparou as suas crianças para a entrada em outra
sala e, consequentemente, para outra rotina e percebia que
elas estavam sofrendo muito para acompanhar as outras
crianças que já estavam na sala”
Decisões sem preparar
o professor e prejuízos
ao desenvolvimento da
criança;
DC071 “A professora FFF acha que esse tipo de atitude prejudica no
andamento das atividades pedagógicas com as crianças, pois
existem projetos que elas começaram a desenvolver com as
crianças desde sua chegada e que as novas o passaram por
isso. Além disso, a professora FFF enfatizou que não vai repetir
tudo de novo com essas novas crianças e vai continuar de onde
parou. Ela se sentia desmotivada e desrespeitada por não ter
sido avisada pela equipe gestora dessa atitude. Tentei explicar
que juntas poderíamos encontrar uma forma de trabalhar essas
questões que estavam diretamente atingindo as crianças,
conversando com a gestão da escola e procurando soluções
para isso. A professora FFF disse-me que não adiantaria
porque a gestão não escuta ninguém”
Decisões sem preparar
o professor e prejuízos
ao desenvolvimento da
criança;
DC104
“Durante o TD a professora falou a respeito do remanejamento
de crianças que ocorreu na CEMEI, uma atitude que visou
apenas colocar mais crianças na instituição. Ela falou sobre isto
muito emocionada e indignada, explicou que as suas crianças
não foram preparadas para esta troca de salas e foram
prejudicadas”.
Decisões tomadas sem
o consentimento do
professor e preparação
das crianças
DC173
“A professora estava muito chateada em virtude da vice-diretora
Mudança de monitor
241
tirar a monitora da sua sala de aula para substituir outra
monitora que faltou. Ela falou-me que a escola entrega e tira
monitor da turma dela, atrapalhando toda a sua atividade com
os alunos. Diante disso, a vice-diretora colocou outro monitor na
sala da professora deixando-a mais irritada, pois queria a
monitora da sua sala que estava mais acostumada com a rotina
das crianças. De acordo com a professora a vice-diretora
atrapalhava muito na escola, não conseguia entender a
necessidade do aluno e nem do professor: ‘na cabeça da vice-
diretora basta ter alguém para ficar cuidando das crianças na
escola, pois não conhece as atividades que são desenvolvidas
em sala de aula’”.
na sala sem conversar
com o professor
3. Não existe suporte pedagógico da equipe gestora
Sigla Não existe suporte pedagógico da equipe gestora Interpretação
DC112 “A professora disse novamente que o seu aluno continua muito
agressivo e não para um só instante, acha que ele precisa
tomar algum medicamento para acalmar e solicitou minha ajuda
para orientar a mãe nesse sentido”
Resolução de
problemas por meio da
medicalização
DC142 “A professora comenta que quer a minha ajuda para conversar
com o pai da criança, porque não confia na vice e nem na
Orientadora Pedagógica, pois sabe que essas gestoras não
conhecem a realidade daquela comunidade e poderiam agir de
forma inadequada durante a conversa e isso ela não queria que
acontecesse”
Não confia na equipe
gestora para conversar
sobre o seu aluno
DC148 “A professora falou-me da dificuldade em trabalhar com a
criança em sala de aula. Perguntei se ela estava tendo algum
suporte da Orientadora Pedagógica para traçar um
planejamento pedagógico que possibilitasse a inclusão dessa
criança na sala e ela me disse que nunca tiveram um suporte
de ninguém, a escola simplesmente coloca as crianças em suas
Professora não tem
suporte da O.P. para
trabalhar com as
crianças
242
salas e elas que se virem”
DC155 “No horário do refeitório uma criança estava comendo sozinha
em uma mesa e, segundo o relato da estagiária a professora
fez isso porque a criança bagunçou muito em sala de aula e por
isso o deixou separado da turma. A professora vem tentando
colocar limites na criança se utilizando da punição, ela tem
perdido a paciência com essa criança”
Postura inadequada
frente ao
comportamento da
criança
DC174 “A professora DDD falou-me que este ano é a sua primeira
experiência com o agrupamento e não foi preparada para lidar
com esta dinâmica de sala, prejudicando a criança”
Não foi preparada para
trabalhar em com
agrupamento
DC184 “A professora veio me informar que como ontem teve o dia das
crianças na escola, ela não iria desenvolver nenhuma atividade
na sala. Sugeri à professora que fizesse pelo menos uma
atividade de desenho, solicitando que as crianças
desenhassem a sua vivência do dia, mas antes as crianças
deveriam contar aos colegas que não participaram como foi o
dia. Essa professora é extremamente perdida, não tem um
planejamento das atividades a serem desenvolvidas, ela
improvisa, além disso, não consegue aproveitar as experiências
das crianças. Essa professora sempre copiava as atividades
desenvolvidas pela professora BBB da outra turma, perguntava
o que ela iria fazer e repetia a mesma coisa na sua turma. Os
pais têm razão ao se queixarem tanto dessa professora”
Falta de planejamento
DC202 “Discutimos a respeito das mudanças constantes de diretores e
Orientadoras Pedagógica na escola e as consequências dessas
mudanças na dinâmica escolar. Segundo a professora eu fui
muita mais orientadora do que todas as O.P. que passaram na
escola, elas puderam contar comigo e discutir questões
referentes à criança, tendo um suporte para trabalhar e, com
isso, desenvolver atividades com as crianças”
Suporte da
pesquisadora
243
4. A implantação da política de agrupamento na Educação Infantil
Sigla A implantação da política de agrupamento na Educação Infantil Interpretação
DC171 “A professora desabafou: ‘tem muita criança na sala, cada uma
com uma idade diferente, eu peguei um monte de crianças
pequenas e preciso fazer várias atividades para cada faixa
etária, falar a mesma atividade de forma diferente para que
todos compreendam, enfim eu faço tudo em dobro nesta sala.
Isto aqui não é uma escola rural que não tem professor e nem
sala de aula suficiente para ficar agrupando crianças. Estou
cansada e depois é tudo culpa do professor se ele não
consegue desenvolver um bom trabalho na escola”’’
Professora sente-se
injustiçada por ser
culpabilizada pela
qualidade no
atendimento
DC172 “A professora considera que o problema do agrupamento é o
número de crianças, se tivesse menos e com uma quantidade
igual para cada faixa etária, daria para desenvolver um trabalho
legal”
Número elevado de
crianças no
agrupamento
DC172 “Na conversa com a professora AAA ela considera que fica
difícil desenvolver a atividade, porque para cada faixa etária
tem que realizar um tipo e isso inclui a escolha da história, do
filme, entre outras coisas. Ela sente que as crianças menores
se desenvolvem com o convívio das maiores, no entanto o
inverso não é verdadeiro. As crianças maiores se prejudicam,
ficam querendo sempre fazer a atividade mais fácil realizada
para os alunos menores, perdem o interesse de realizar
atividades mais desafiadoras, ficam acomodadas
Dificuldade para
desenvolver atividades
no agrupamento;
Prejuízo ao
desenvolvimento das
crianças.
DC172 “A professora LLL explicou que o problema do agrupamento
encontra-se no momento de realizar as atividades. Ela
considera que quando entrega o mesmo dever às crianças, os
menores ficam chateados e tímidos ao perceberam que o
coleguinha do lado, maior que ele, consegue fazer a atividade
direitinho. Isso vem ocasionando baixa auto-estima, perda do
interesse na aprendizagem das crianças menores. Sentem-se
inibidas em se colocarem e isso acaba prejudicando o menor
Dificuldade para
desenvolver atividades
no agrupamento;
Prejuízo ao
desenvolvimento das
crianças.
244
em seu desenvolvimento”
DC172 “A professora MMM acha muito interessante trabalhar com o
agrupamento. Disse-me que este ano a sua turma não chega a
ser de um agrupamento, mas no ano anterior teve uma
experiência de um semestre com o agrupamento III em outra
escola. Falou-me que o tem dificuldade para realizar as
atividades com a turma e que é mais fácil trabalhar, porque
pode contar com a ajuda dos maiores no cuidar dos outros
alunos e percebe realmente que eles se desenvolvem. Revelou
também que prefere trabalhar com agrupamento, porque neste
ano apesar de ser agrupamento a sua turma, ela é homogênea
com crianças pequenas e ela sente falta dos maiores para
ajudar. Citou o exemplo de ir ao banheiro, como ela fica sozinha
não pode deixar a turma para levar uma criança ao banheiro, se
tivesse os maiores poderia contar com a ajuda deles”
O agrupamento é uma
proposta pedagógica
interessante
DC179 “A professora ressaltou que só consegue desenvolver
atividades com as crianças porque tem a ajuda da monitora no
cuidado de seu aluno especial, pois sem ela não conseguiria
realizar atividades na sala de aula devido à diferença de faixa
etária”
Turmas de
agrupamento precisam
de dois educadores
DC179 “A professora explica que os cursos existiram, mas foram
poucos e muito teóricos, não dava um suporte prático à
professora, eram discutidas teorias de alguns pesquisadores,
mas o traziam vivências práticas. Por isso a dificuldade dos
professores em trabalhar e desenvolver atividades que
abarquem todas as idades
Poucos cursos
preparatórios para
atuar no agrupamento
245
Anexo 14
Situações do cotidiano e/ou elementos da realidade que dificultam a
promoção do desenvolvimento das crianças
Visão das Monitoras
1. Quantidade de criança por educador
Sigla Quantidade de criança por educador Interpretação
DC005 “Em minha conversa com as monitoras, elas mostraram-se
bastante receptivas e colocaram algumas questões que
estavam incomodando-as como o fato de aumentar o número
de crianças para 20. As monitoras acreditam que não vão dar
conta de todas essas crianças, pois não contam com a
participação da professora”
Número elevado de
criança por monitor
DC006 “De acordo com a monitora a escola deveria priorizar as
crianças. Falou bastante indignada sobre a possibilidade de a
escola querer aumentar o número de crianças, alegou que elas
não dariam conta de cuidar de todas essas crianças, a não ser
que se aumentasse o número de funcionários
Número elevado de
criança por monitor
P028 “A monitora se queixava a todo o momento do número de
crianças, dizendo que na próxima semana ela estaria sozinha
no turno da tarde, visto que neste período de adaptação todas
as monitoras ficam pela manhã e por isto não estava tendo
muitos problemas, mas na próxima semana seria difícil”.
Grande número de
criança por sala
DC032 “A monitora é responsável por uma sala de 24 crianças de no
máximo dois anos, contando apenas com a ajuda da professora
substituta que fica meio período da manhã e que falta
frequentemente. O desespero da monitora tem solicitado a
participação da estagiária de psicologia no cuidar com a
criança, principalmente, no horário do banho, que tem sido um
momento de ‘terror’, pois enquanto a monitora banho em
uma criança, as outras crianças ficam chorando e sentadas no
banquinho para evitar acidentes”
Número elevado de
criança por monitor
246
DC036 “Observei que as monitoras estavam muito atarefadas e
cansadas, então tentei provocar um desabafo, perguntando à
monitora como estavam as crianças. Segundo ela, o berçário
estava ‘virando um depósito de crianças’ e isso estava as
preocupando, pois precisavam de ajuda para cuidar das
crianças e apenas duas monitoras era impossível”
Número elevado de
criança por monitor
2.
C
ontexto de violência da criança
Sigla Contexto de violência da criança Interpretação
DC138 “As monitoras mostram-se muito preocupadas com as crianças
pelo fato de viverem em uma comunidade comandada pelo
tráfico de drogas e que várias vezes elas observam seus alunos
reproduzindo os comportamentos vivenciados em casa, como:
pegar cigarro, ser sempre o ladrão nas brincadeiras, ter raiva da
polícia, se agachar quando passa um helicóptero tentando se
esconder, entre outros. Segundo as monitoras essas crianças
são filhos de traficantes. Relatam o seu medo de se envolver,
querem ajudar as crianças, mas sentem medo de serem
mortas. Falam que na comunidade reina a lei do silêncio”, se
não quiser “acordar com terra na boca”.
Contexto de violência
das crianças
DC138 “Elas falam claramente que sabem de tudo o que acontece,
porém, não podem fazer nada. Ficam escutando os seus
alunos, mas não podem perguntar muito ou explorar a situação
com medo das crianças comentarem em casa e os “meninos”
virem pedir satisfação.”
Contexto de violência
das crianças
DC138 “As monitoras falam do terror e do medo instalados em suas
vidas cotidianas e suas crianças vivenciando como algo
rotineiro. Afirmam que essa dinâmica prejudica o
desenvolvimento das crianças, porque elas não podem fazer
nada, apenas escutar e tentar aconselhar na medida do
possível, mas sem muito envolvimento. Explicam que, em
Contexto de violência
das crianças
247
alguns casos, quando têm intimidade com a família, ainda
conseguem fazer algum trabalho, tentando conscientizar a
família sobre o futuro de seus filhos, aconselhando-as a não
deixarem seus filhos vivenciarem a violência e o tráfico dentro
de casa, mas em alguns casos elas não podem falar nada,
porque existem traficantes que elas passam pela rua e nem
podem olhar na cara”.
248
Anexo 15
Protocolo de Análise da Entrevista Final com as Educadoras
1. Papel do P.O.C. na compreensão do desenvolvimento da criança
Participante
Resposta Interpretação
Professora
P01
“Ajudou porque ele compartimentalizou, visualizou a
criança nos seus aspectos e a gente consegue pensar
nesta criança em tudo, sem esquecer-se de nada, sem
esquecer-se das coisas. Você vai olhando um todo. Às
vezes você avalia a criança por dois ou três aspectos e
está se esquecendo de outros dois, não que você não
percebeu, mas você deixa passar um pouco. (...) ajuda no
desenvolvimento e na avaliação geral da criança”.
“O que me dificulta é não ter um instrumento deste
(P.O.C.) ou qualquer outro instrumento mais especifico e
que eu acho que deveria ser para a escola toda, isto não
existe em nenhum lugar, em lugar nenhum da escola.”
O P.O.C. permite
visualizar o aluno de
forma integral, sem
esquecer nenhuma
dimensão do
desenvolvimento;
Ausência de uma
escala de
acompanhamento do
desenvolvimento na
escola.
Professora
P02
“(...) gostei da maneira como são colocadas as perguntas,
como são feitas, eu achei super legal.”
“Aquilo que eu pensava da criança bateu com aquilo que
a mãe também falou. Algumas coisas que a mãe falou
acrescentaram para eu entender determinadas atitudes
que a criança tomava diante das diversas situações em
sala de aula.”
“Aquela entrevista que você fez diretamente eu achei
super, as perguntas como foram colocadas, o jeito como
a mãe se colocou, ficou à vontade para colocar as coisas.
Mostrou que a ficha da escola, aquela lá e nada é a
mesma coisa, aquilo não diz nada. Se pegar a ficha e ,
não resolve nada. Tem que fazer entrevistas mais
reservadas e melhor direcionadas, não só dar a ficha.”
“Eu faria, desde que me fosse entregue no primeiro dia
Informações dos
professores parecidos
com as dos pais;
As Informações dos
pais ajudaram a
professora a
compreender a
criança;
A ficha da escola não
diz nada sobre a
criança;
Utilizaria o P.O.C. com
todos os alunos da
sala, desde que fosse
entregue no inicio do
249
de aula, porque precisa chegar no primeiro dia para que
haja uma avaliação correta. Porque tem três momentos,
definir estes momentos, começo do ano, meio do ano e
fim do ano, porque sim você vai ter, realmente, uma
visão daquilo de como a criança se desenvolveu e como
realizou seu trabalho na escola, se foi legal, se você
conseguiu alcançar as coisas com aquela criança ou não”
ano.
2. Pontos fortes do P.O.C. na visão das professoras
Participante
Resposta Interpretação
Professora
P01
“O ponto positivo achei ele rápido, a partir do momento
que você conhece o instrumento é uma coisa rápida de
você fazer. (...). É um instrumento longo, mas é rápido e é
uma avaliação bem geral, bem ampla do aluno”
É uma escala rápida e
ampla;
Professora
P02
“Eu achei que ele foi bem pontual, só que assim, se
pudesse dar uma enxugada nas questões, mas eu
acho que as questões abrangiam bastante coisa, elas
são bem pontuais, bem abrangentes.”
Possui questões
pontuais e
abrangentes.
3. Pontos fracos do P.O.C. na visão das professoras
Participante
Resposta Interpretação
Professora
P01
“De negativo, algumas coisas repetitivas, na linguagem
mesmo acabava sendo repetitivo. (...). O problema está
na linguagem dele, às vezes em uma questão, uma está
muito parecida com a outra, mas em poucas. O problema
da repetição está nos níveis e não nas questões mais
gerais, mas assim em duas ou três questões, não mais
que isto.”
“A gente começava a avaliar e chegava no ponto que
começávamos a falar: “ai meu Deus, será que ele está
aqui ou ali”, porque nesta ele está usando tal palavra e
Níveis repetitivos,
questões parecidas;
Diferenciar melhor os
níveis.
250
nesta está usando tal palavra. Então esta criança tem isto
aqui, mas não tem esta palavra aqui e ele tem esta
palavra, mas tem isto aqui debaixo, então: ‘onde ele está
exatamente?’ Seria uma coisa para distinguir bem o nível
um, o dois e o três”
Professora
P02
“Às vezes você fica imaginando uma classe com 30
alunos, nossa senhora, então se ele for um pouquinho
mais assim, não diria resumir, enxugar alguma coisa, não
ter tantas alternativas. Por que uma coisa que a gente
observou é que às vezes duas alternativas quase que
queriam dizer a mesma coisa.”
Resumir alguns níveis
que possuem aspectos
parecidos.
251
Anexo 16
Protocolo de análise do Diário de Campo
Registro de observações e relatos referentes ao P.O.C.
1. Papel do P.O.C. na compreensão do desenvolvimento das crianças
Sigla Registro Interpretação
DC199
“A professora P02 elogia a pesquisa explicando que ficou
sabendo de muitas coisas a respeito de seus alunos e que
são importantíssimas para o educador ter conhecimento”.
Conheceu o contexto
da criança
2. Pontos fortes do P.O.C. na visão da professora
Sigla Registro Interpretação
DC177
“A professa P02 expressa que o instrumento é bom, pois é
bem objetivo e de fácil compreensão.”
O P.O.C. é objetivo de
fácil compreensão.
DC177
“A professora P02 relata que vem gostando muito de fazer
esta pesquisa, porque está recebendo uma devolutiva
constante do trabalho que vem realizando em sala de aula
com as crianças.”
Gostou de receber
devolutivas do
trabalho;
DC177 “Elogiei o trabalho da professora P02, enfatizando que ela
vem desenvolvendo em sala de aula atividades que saem do
tradicional e tentam satisfazer as necessidades das crianças.
Possui a preocupação de utilizar os jogos, o quebra-cabeça,
as histórias, deixando de lado as cópias que visam apenas à
alfabetização das crianças, focadas em letras e números.”
Elogiou ao trabalho
desenvolvido pela
professora;
DC183
“A professora P02 acha o instrumento muito simples e direto
e gostou muito da linguagem, explicou que se fossem
realizadas atividades direcionadas para observar as
dimensões do P.O.C. facilitaria na sua utilização, não ficaria
O P.O.C. é simples e
direto.
252
difícil fazer com todas as crianças, apesar de ser extenso é
rápido.”
DC198
“Ao fim do preenchimento a professora P02 mais uma vez,
elogiou o instrumento, ela o acha bastante prático e direto, de
fácil compreensão”.
O P.O.C. é prático e
direto.
DC202
“Finalizamos o preenchimento e a professora P01 ficou
surpresa que não foi demorado, disse ‘Nossa foi rápido, né!’.”
O preenchimento do
P.O.C. é rápido.
3. Impacto do P.O.C. na construção de atividades pedagógicas
Sigla
Registro de observações e relatos referentes ao P.O.C.
Interpretação
DC158
“Fui participar da reunião de pais da turma da professora P01
e ela preparou um material, no qual escreveu um texto que
explicava como estava cada um dos seus alunos em sala de
aula ressaltando aspectos do desenvolvimento. Entregou o
material escrito de cada criança para os pais e em seguida
conversou com cada um individualmente sobre as suas
impressões a respeito da criança. Após discutir com os pais a
professora entregou esse material à pesquisadora,
acreditando que poderia auxiliar no momento de
preenchimento do P.O.C.”
Professora elabora um
documento sobre o
desenvolvimento da
criança na escola e
discuti com os pais na
reunião, baseado no
P.O.C.
DC158
“A professora P01 me apresentou aos pais e fez vários
elogios ao nosso trabalho na escola, incentivando os pais a
permitirem a participação dos filhos na pesquisa.”
Professora orienta os
pais a permitirem a
participação dos filhos
na pesquisa.
DC 158
“Os pais adoraram a proposta e relataram que sentem falta
de uma devolutiva de como anda o desenvolvimento dos seus
filhos na escola e este instrumento possibilitaria ter esta
visão”
Os pais sentem falta
de uma devolutiva
acerca do
desenvolvimento dos
filhos na escola.
DC174
“Fui à sala da professora P02 e ela me disse que tinha uma
atividade bem legal para desenvolver com as crianças. Tinha
Professora desenvolve
atividade com base no
253
pensado nessa atividade com o objetivo de observar algumas
dimensões do desenvolvimento da criança para ajudar no
preenchimento do POC.”
P.O.C.
DC177
“(...) a professora P02 me mostrou uma apostila que elaborou
apenas para as crianças que irão para o fundamental no
próximo ano. Disse-me que as atividades consideradas na
apostila serão úteis para observar as dimensões do
desenvolvimento da criança. Essa professora, por ter o
protocolo em mãos, tem desenvolvido as atividades pensando
no P.O.C.”.
Professora elabora
apostila pensando em
observar as dimensões
do P.O.C.
DC177
“A professora P02 me disse que na próxima semana iria
trabalhar uma atividade com as crianças estimulando o
raciocínio, explicou a atividade e perguntou o que eu achava.
Enfatizei que esse tipo de proposta era interessante, pois iria
trabalhar uma dimensão do desenvolvimento infantil. Após
esta conversa ficou acertado que seria trabalhada a atividade
com as crianças.”
Professora desenvolve
atividade com base no
P.O.C.
DC179
“Voltamos a sala da professora P02 e ela realizou uma
atividade com as crianças, com o intuito de trabalhar o
raciocínio das crianças. Pegou uma caixa e colocou várias
gravuras de animais, a medida que pegava uma gravura ela
indo dando dicas até as crianças adivinharem. Por exemplo,
ela pegava a gravura de um passarinho e dizia: - ele tem
duas patas, ele tem penas, ele canta, e por ai vai. Até as
crianças acertarem”.
Professora desenvolve
atividade com base no
P.O.C.
DC183
“A professora P02 tem gostado muito deste instrumento,
mostrando-se interessada, perguntou onde eu o arrumei.
Expliquei que é uma escala americana e que foi apenas
traduzida para o português e que depois iria perguntar a sua
opinião sobre esta escala, como linguagem, contexto, entre
outras coisas, deixá-lo mais próximo de nossa realidade. Ela
acha o instrumento muito simples e direto e gostou muito da
linguagem, disse que se forem feitas atividades direcionadas
para observar estas dimensões não fica difícil fazer com
Professora mostra-se
interessada em saber
mais sobre o P.O.C.
254
todas as crianças, apesar de ser extenso é rápido. Falei que
este instrumento é de extrema importância para acompanhar
as crianças em razão de possibilitar três observações anuais,
além de ajudar na devolutiva para os pais sobre como anda o
desenvolvimento da criança. Falei que sentia falta disso na
escola e que era muito importante fazer este
acompanhamento, além disso, este instrumento poderia
ajudar o professor que iria receber a criança no ano seguinte
para saber em que nível se encontra. Ela concorda comigo,
disse que na escola esta relação entre os professores não
existe, você recebe uma criança e não sabe como ela estava
na outra sala. Enfatizei para ela estudar bem a escala, pois
iria perguntar sobre ela no fim do ano”.
DC191
“Diante de minha solicitação de escolher três crianças para
preencher o POC, a professora P01, na sua casa, escreveu
no seu caderno onde se encontrava cada uma de suas
crianças com relação ao nível de desenvolvimento, dividindo
a turma em três veis: abaixo, na média e acima da
expectativa. Assim, identificou todas as crianças,
considerando a faixa etária, colocando-as cada uma em seu
nível correspondente. A atitude da professora foi importante,
porque ela se preocupou em pensar nas suas crianças e falar
onde cada uma se encontrava.”
Professora identificar
em que nível do
desenvolvimento se
encontra todas as
crianças de sua sala
de aula.
255
Anexo 17
Protocolo de Análise da Entrevista Inicial com as Professoras
1ª Fase. Elaborar a tabela de identificação das crianças escolhidas.
Criança Sexo Idade Nível de desenvolvimento
C01 M 6 anos Acima da média
C02 F 5 anos Na média
C03 M 4 anos Abaixo da média
C04 F 5 anos Acima da média
C05 M 5 anos Na média
C06 M 4 anos Abaixo da média
Fase. Selecionar os trechos que correspondem às dimensões ou
indicadores de desenvolvimento de cada criança.
Criança Dimensão ou indicadores do desenvolvimento trazidos pela
professora
CO1 “Ele faz parte do grupinho da turma da idade dele o resto da classe não
existe para ele” (PC01).
“Ele é uma criança assim emburrado, mas é um emburrado gostoso, quando
ele emburra, ele emburra feio, de o querer olhar na tua cara. (...). Precisa
trabalhar o lance do perder mesmo, sabe? O saber perder, né? Que ai ele
emburra mesmo, ele fica bravo” (PC01).
“É a esperteza dele, é a esperteza, você está falando com ele, você chega
assim e, de repente, ele sacou que aquilo é uma brincadeira, ele sacou
que você está falando sério, ele enxerga um pouquinho, ele entende, o
seu tom de voz, você fala e ele já percebe” (PC01).
“Ele fala, argumenta bem, ele conversa muito bem” (PC01).
C02 “Ela que coordena e manda nas brincadeiras” (PC02).
“Está tudo certo na linguagem, na comunicação” (PC02).
“no ano passado deu problema na escola por que os pais não queriam
deixar ‘é raspa de tacho’” (PC02).
“Hoje a menina está boa, tem iniciativa, é líder, é tudo, é tudo de bom”.
“Ela está caminhando direitinho, tem os entreveros dela e ela trabalha bem
com isto. Eu acho que os pais que são inseguros e ela de insegura não tem
nada não” (PC02).
256
C03 “não tem iniciativa” (PC03).
“É como se ele não fizesse parte do grupo, ele não consegue achar que ele
faz parte do grupo. Quando eu falo ‘vamos’, ele não se sente incluído, ele
não entende assim” (PC03).
“Eu tive que ir afastando ele, ele brinca muito com as meninas, quer ficar
com as meninas eeu fui afastando um pouco: ‘Aqui a brincadeira agora é
pra menina e vo vai brincar com os meninos’. Ele vai e volta. As
meninas não o querem por perto, aí cria atrito” (PC03).
“Eu não sei se é ciúme que ele tem, se ele é muito ciumento, muito
possessivo, o que é dele é dele mesmo. Tanto que ele não quer dividir a
amiguinha com outra criança” (PC03).
“Ele é meio assim, isto aqui é ‘meu e eu não vou dividir (...). Ele tenta
brincar, mas é aquela coisa, na disputa (...) ele está muito naquela fase do
egocentrismo, ‘é meu eu não vou dar, é meu e acabou’. E briga e disputa”
(PC03).
“Então é assim, o problema dele é a convivência, conviver com ele ali é meio
complicado. Porque ele não aceita muito o quê os outros falam para ele, na
brincadeira. Ele não concorda e sai na porrada mesmo, dar briga. (...) O
que se destaca nele, que chama a atenção é esta habilidade que ele tem de
arrumar confusão onde ele está. (...). O grupinho que fica na mesa que ele
senta, trabalha tranqüilo, sossegado, não tem encrenca. Então é aquela
coisa que no dia ele não vem o grupo trabalha de outra forma e quando ele
estar é encrenca na certa” (PC03).
“A linguagem dele está normal” (PC03).
C04 “É uma menina muito inteligente, raciocínio rapidíssimo (...) ela é esperta,
ela pesca as coisas no ar” (PC04).
“Estava acostumada a liderar, não só as crianças, mas a sala toda. E isso eu
tive que dar uma cortada” (PC04).
“Tem linguagem muito bem desenvolvida” (PC04).
“Ela é muito inquieta. Na história ela não consegue ouvir a história, por mais
rápida que seja até o final. Ela se distrai com outra coisa, ela mexe,
conversa com alguém, aquela coisa que eles fazem. Porque tem criança que
fica atenta até o final da história, que nem pisca os olhos e ela, não. Então,
não sei se é tempo de atenção ou realmente de concentração” (PC04).
257
C05 “Ele brinca muito bem com todos, não é uma criança agressiva (...) se
relaciona bem com as crianças. É aquela criança, assim, normal. É aquela
criança boa em tudo, não ótima e nem péssimo em nada” (PC05).
“A parte motora precisa trabalhar (...) a coordenação pode melhorar” (PC05).
Fala muito bem, a linguagem bem desenvolvida (...) ele fala muito bem (...).
“Dentro da normalidade, a linguagem está boa” (PC05).
“Se defende, tem iniciativa” (PC05).
C06 “[...] ele não muda de mesa prá mudar de brinquedo, ele sabe que se cansar
do brinquedo pode ir pra outra mesa. Isso não acontece, ele vira de lado e
continua no mesmo lugar, apático. Essa é a sensação que eu tenho, de uma
apatia” (PC06).
“[...] na hora de guardar os brinquedos ele continua sentado na cadeira, está
todo mundo se mexendo prá cima e prá baixo, enfiando na caixa e ele fica
parado como se nem tivesse percebido“ (PC06).
“Ele não vai ao banheiro sozinho. A mãe entra com ele para levá-lo a
banheiro, prá fazer xixi aqui, prá depois ele ir prá classe. Ela manda na
mochila uma calça, cueca, toalhinha, porque ele não sabe usar o banheiro.
Então ele faz cocô na calça prá ele não ter que limpar, porque isso quem faz
é a e. Ele, em casa, usa o banheiro, senta e chama a mãe prá limpar.
Como aqui ele que tem que se limpar e ele não sabe, quando chega ao
banheiro faz cocô na calça e começa a berrar, berrar, berrar” (PC06).
“Fala muito pouco, em sala de aula é aquela criança quieta que não
conversa” (PC06).
Fase. Identificar cada um dos trechos escolhidos de acordo com as
dimensões do P.O.C.
Dimensão do P.O.C. Trechos das dimensões ou indicadores do
desenvolvimento trazidos pela professora
Iniciativa
“[...] ele não muda de mesa prá mudar de brinquedo, ele sabe
que se cansar do brinquedo pode ir pra outra mesa. Isso não
acontece, ele vira de lado e continua no mesmo lugar,
apático. Essa é a sensação que eu tenho, de uma apatia”
258
(PC06).
“[...] na hora de guardar os brinquedos ele continua sentado
na cadeira, está todo mundo se mexendo prá cima e prá
baixo, enfiando na caixa e ele fica parado como se nem
tivesse percebido“ (PC06).
“É uma menina muito inteligente, raciocínio rapidíssimo (...)
ela é esperta, ela pesca as coisas no ar” (PC04).
“Ele não vai ao banheiro sozinho. A mãe entra com ele para
levá-lo a banheiro, prá fazer xixi aqui, prá depois ele ir prá
classe. Ela manda na mochila uma calça, cueca, toalhinha,
porque ele não sabe usar o banheiro. Então ele faz cocô na
calça prá ele não ter que limpar, porque isso quem faz é a
mãe. Ele, em casa, usa o banheiro, senta e chama a mãe prá
limpar. Como aqui ele que tem que se limpar e ele não sabe,
quando chega ao banheiro faz cocô na calça e começa a
berrar, berrar, berrar” (PC06)
“não tem iniciativa” (PC03)
Relações Sociais
“Ele brinca muito bem com todos, não é uma criança
agressiva (...) se relaciona bem com as crianças. É aquela
criança, assim normal. E aquela criança boa em tudo, não
ótima e nem péssimo em nada”. (PC05)
“É como se ele não fizesse parte do grupo, ele não consegue
achar que ele faz parte do grupo. Quando eu falo vamos, ele
não se sente incluído, ele não entende assim”. (PC03)
“Ele faz parte do grupinho da turma da idade dele o resto da
classe não existe para ele”. (PC01)
“Eu tive que ir afastando ele, ele brinca muito com as
meninas, quer ficar com as meninas e eu fui afastando
um pouco: ‘Aqui a brincadeira agora é pra menina e você
vai brincar com os meninos’. Ele vai e volta. As meninas não
o querem por perto, aí cria atrito”. (PC03)
“Eu não sei se é ciúme que ele tem, se ele é muito ciumento,
muito possessivo, o que é dele é dele mesmo. Tanto que ele
não quer dividir a amiguinha com outra criança” (PC03).
259
“Fala muito pouco, em sala de aula é aquela criança quieta
que não conversa” (PC05)
“Ele é meio assim, isto aqui é ‘meu e eu não vou dividir (...).
Ele tenta brincar, mas é aquela coisa, na disputa (...) ele está
muito naquela fase do egocentrismo, ‘é meu eu não vou dar,
é meu e acabou’. E briga e disputa”. (PC03)
“Ele é uma criança assim emburrado, mas é um emburrado
gostoso, quando ele emburra, ele emburra feio, de não querer
olha na tua cara. (...). Precisa trabalhar o lance do perder
mesmo, sabe? O saber perder, né. Que ai ele emburra
mesmo, ele fica bravo”. (PC01)
“Então é assim, o problema dele é a convivência, conviver
com ele ali é meio complicado. Porque ele não aceita muito o
quê os outros falam para ele, na brincadeira. Ele não
concorda e sai na porrada mesmo, dar briga. (...) O que se
destaca nele, que chama a atenção é esta habilidade que ele
tem de arrumar confusão onde ele está. (...). A mesa
trabalhou tranqüila, sossegado, não teve encrenca. Então é
aquela coisa que no dia ele não vem o grupo trabalha de
outra forma e quando ele estar é encrenca na certa”. (PC03)
“Estava acostumada a liderar, não as crianças, mas a sala
toda. E isso eu tive que dar uma cortada” (PC04)
“Ela que coordena e manda nas brincadeiras” (PC02)
“É a esperteza dele, é a esperteza, você está falando com
ele, você chega assim e de repente ele sacou que aquilo é
uma brincadeira, ele já sacou que você está falando sério, ele
enxerga um pouquinho, ele entende, o seu dom de voz,
você fala e ele percebe. Sabe aquela coisa de já
perceber?”. (PC01)
Representação
Criativa
Não foi encontrado
Música e Movimento
“A parte motora precisa trabalhar (...) a coordenação pode
melhorar” (PC05)
Linguagem e
“Ele fala, argumenta bem, ele conversa muito bem”. (PC01)
260
Literatura
“Está tudo certo na linguagem, na comunicação”. (PC02)
“A linguagem dele está normal”. (PC03)
“Fala muito bem, a linguagem bem desenvolvida (...) ele fala
muito bem (...). Dentro da normalidade, a linguagem está
boa”. (PC05)
“Tem linguagem muito bem desenvolvimento”. (PC04)
“Ela é muito inquieta. Na história ela não consegue ouvir a
história, por mais pida que seja até o final. Ela se distrai
com outra coisa, ela mexe, ele conversa com alguém, aquela
coisa que eles fazem. Porque tem criança que fica atenta até
o final da história, que nem piscam os olhos e ela não. Então,
não sei se é tempo de atenção ou realmente de
concentração”. (PC04)
Lógica e Matemática
Não foi encontrado
4ª Fase. Identificar os aspectos que mais se destacam ou não em relação ao
desenvolvimento da criança na visão da professora
Criança Mais se destaca Menos se destaca Síntese
C01
“É a esperteza dele, é a
esperteza, você está
falando com ele, vo
chega assim e, de
repente, ele já sacou que
aquilo é uma brincadeira,
ele sacou que você
está falando sério, ele
enxerga um pouquinho,
ele entende, o seu
dom de voz. Você fala e
ele já percebe.”
“É o lance do perder
mesmo, sabe? O saber
perder, né? Que ai ele
emburra mesmo, ele fica
bravo”.
Mais se destaca:
Esperteza
Menos se destaca:
Aprender a perder
C02
“A menina está boa, tem
iniciativa, é líder, (...). Ela
que coordena, ela
manda”.
“Eu acho que não, para
não dar muita evidência.
Deixar ela na dela,
quietinha que eu acho
bom. Ela está caminhando
direitinho, tem os
entreveros dela e ela
trabalha bem com isso.”
Mais se destaca:
Iniciativa; liderança;
Menos se destaca:
Professora não
identifica a
fragilidade da criança
“Eu acho que justamente “Então, justamente isso, a
Mais se destaca:
261
C03
esta parte que não é
legal. O que se destaca
nele, que chama a
atenção é essa
habilidade que ele tem
de arrumar confusão
onde ele estar. (...) Por
exemplo, hoje ele não
veio. O grupinho que fica
na mesa que ele senta,
trabalhou tranqüilo,
sossegado, não teve
encrenca. Então é
aquela coisa que no dia
ele não vem o grupo
trabalha de outra forma e
quando ele estar é
encrenca na certa
parte social. Ele entender,
aceitar, ficar numa boa
com as crianças. Entender
que é não é tudo para ele
(...), a parte social dele
que precisa ser mais
trabalhada”
Relações sociais
Menos se destaca:
Relações sociais
C04
“É o raciocínio. E uma
menina muito inteligente,
raciocínio rapidíssimo.
(...) é uma criança de
raciocínio rápido, ela é
esperta, ela pesca as
coisas no ar”
“Acho que tempo de
concentração. (...) Na
história, ela não consegue
ouvir a história, por mais
rápida que seja ao final.
Ela para, ela distrai com
outra coisa, ela mexa, ela
conversa com alguém...
Aquelas coisas que eles
fazem”.
Mais se destaca:
Raciocínio;
inteligente; esperta
Menos se destaca:
Concentração
C05
“Linguagem, ele fala
muito bem”.
“Menos, menos, eu acho
que é a parte motora. O
que precisaria dar uma ...”
Mais se destaca:
Linguagem
Menos se destaca:
Coordenação motora
C06
“Eu não vejo nada, em
termos assim: isso está
bom. Tem que trabalhar
tudo”.
“Ele não vai ao banheiro
sozinho (...) quando ele faz
cocô, ele faz na calça (...).
É aquela criança quieta
que não conversa, que
não muda de mesa prá
mudar de brinquedo (...)
continua no mesmo lugar
apático. Essa é a
sensação que eu tenho: de
uma apatia”
Mais se destaca:
Nada se destaca,
tem que trabalhar
tudo.
Menos se destaca:
Iniciativa;
Linguagem;
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