A história da cidadania está ligada à história das lutas pelos direitos
humanos
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, e acaba por ser um referencial de conquista para a humanidade, inspirando
os que lutam por mais direitos, maior liberdade, melhores garantias individuais e
coletivas, e não se curvam frente às dominações, oferta de privilégios, de opressão e de
injustiças.
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A cidadania, portanto, é uma construção, uma conquista no sentido de
levar a ampliação dos direitos, de se fazer ouvir enquanto cidadão. Faz parte desta
história a superação da visão teocrática do Estado e da relação subserviente entre
dominadores e dominados, como destacado por Marilena Chauí
251
.
A cidadania deve ser perpassada por temáticas como a solidariedade, a
democracia, os direitos humanos, a ecologia, a ética. Segundo Schaper
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, a utopia
moderna em crise vem trazendo também o totalitarismo como o fundamentalismo, que é
cada vez mais aprofundado com a fome, miséria, guerras, a falta de liberdade, a
existência de dominador versus autonomia e emancipação. Assim, trata-se de uma crise
em termos éticos, em que uma sociedade cada vez mais exalta o desejo de busca da
felicidade pessoal, sem o ideal do sacrifício, advindo então um esvaziamento da noção
de dever e de uma moral sem obrigações nem sanções.
Nesse mesmo sentido, se reafirma ainda a importância da cidadania como
universalização de direitos, e também como um ideal de sociedade emancipadora,
ressaltando o pensamento de Boaventura Santos
253
, para quem um único modelo de
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O autor cita o pensamento da filósofa e pensadora política Hannah Arentd que trata da questão da
dominação, do totalitarismo, como oposição a construção cotidiana do exercício da cidadania,, muitas
vezes pelo terror. Mostra seu trabalho sobre o conceito de amor em Santo Agostinho em que reflete sobre
três atividades mentais fundamentais: o pensar, o querer e o julgar. Cf. CASTRO, Clóvis P. 2000.p.27 e
33-39.
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O autor, tratando de cidadania, coloca a questão de matriz mítico-teocrática da política brasileira, que
se reflete na constituição da esfera pública. Menciona ainda a filósofa Marilena Chauí, que em seu livro
Brasil: mito fundador e sociedade autoritária, fala da fragilidade do processo democrático brasileiro,
recorrendo à noção de mito fundador aplicando ao populismo, dos dominantes e o messianismo dos
dominados Por ai se pode notar como se mantém uma forte subordinação ao passado, ao poder teocrático,
já que Deus é fonte e origem do poder político. Nosso governante seria nesta ótica o representante de
Deus na terra. E assim seria concretizado o plano divino, de providência em todas as esferas do humano.
Nesta visão política, o processo eleitoral deixa de ser um ato de soberania popular, pois representa a
vontade de Deus, numa relação entre governantes e governados que se pauta pela prática de doação de
favores e clientelismo. Assim o populismo ganha força impedindo a formação de uma consciência cidadã,
além de impedir também o surgimento de instituições democráticas, num enxugamento do Estado e
ampliação do espaço privado, como queria o neoliberalismo.Cf. CASTRO, Clóvis P. de. 2000. p.57 -63.
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Marilena. Brasil. Mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo,
2000.p.80.
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Em seu artigo, o autor coloca a importância da liberdade, da participação de todos numa construção
coletiva que é a cidadania, utilizando a linguagem simbólica do muro que separa uma cidade do resto do
mundo, deixando o povo ansiando por se conectar ao mundo, por participar. Cf. SCHAPER, Valério. G.
O muro. São Leopoldo: EST, 2006.
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SANTOS, Boaventura Souza. Um discurso sobre as ciências.São Paulo:Cortez. 2003.