espaços importantes na sociedade brasileira. Sua trajetória de vida mereceu atenção de
diversos escritores e ainda foi cognominada ―Mãe dos Brasileiros‖ e ―Enfermeira Leiga‖.
Desse modo, partimos da premissa que estes eventos demarcaram o início do
processo de mitificação de Anna Nery. Ademais, a Coroa
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de Louros
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que Anna Nery
recebeu, das famílias ilustres de sua cidade natal, por ocasião do seu regresso, em 5 de
junho de 1870 se constitui um exemplo emblemático desse processo, pois a atuação de
Anna Nery, na Guerra do Paraguai, foi reconhecida pela sociedade como um ato de
coragem, patriotismo e humanidade.
Essa homenagem pode ser justificada à luz do entendimento de que o capital
social de Anna Nery tenha contribuído para a capitalização de lucros simbólicos advindos
da sua participação na Guerra do Paraguai, pois, segundo Bourdieu (1998, p.67), o capital
social consiste de recursos baseados em contatos e participação em grupos. Vale, ainda,
ressaltar que outras mulheres participaram do conflito, no entanto, apenas Anna Nery
ganhou notoriedade.
O recorte espacial é o Rio de Janeiro, à época, Capital Federal, cidade onde
Anna Nery morou até o seu falecimento (1880), e onde, também, foram instaladas as
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Esta coroa, medindo 0,35 mm de diâmetro, era confeccionada com palhetas de ouro de 18 quilates, tendo em
volta larga fita verde gorgorão, onde se lia a dedicatória: ―À Heroína da Caridade, as baianas reconhecidas‖.
Até 1904, a coroa pertenceu a seu filho, então coronel Pedro Antonio Néri, que, depois dos funerais de sua
mãe, a guardou carinhosamente até sua morte. Depois a coroa passou a pertencer ao filho deste ilustre militar,
o Senhor Azarias Heráclito Néri que, ao fixar residência no Rio Grande do Sul, levou a referida coroa. Este
documento histórico foi levado várias vezes ao Rio de Janeiro (por solicitação), entretanto, seu neto sempre
recusou que a coroa não pertencesse à Bahia. Assim, a 24 de maio de 1933, o Sr Azarias Néri, acompanhado
de seus filhos Antonio Carlos Néri e Gilberto Xavier Néri, fez a entrega da preciosa relíquia à Pinacoteca do
Estado da Bahia, onde, desde então, ficou exposta à visitação pública (LIMA, 1977, p. 205–206).
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O Loureiro era a planta predileta de Apolo (Deus do canto, da Lira e da Medicina, conhecedor de todas as
plantas medicinais). Ele instituiu os jogos píticos, nos quais o vencedor nas provas de força e rapidez era
coroado com uma grinalda de folhas de louro, representando a honra e a glória dos vencedores. A predileção
de Apolo pelo Loureiro representa o seu amor não correspondido pela belíssima Dafne. Neste caso, as folhas
dos loureiros ornamentariam as frontes dos guerreiros vencedores dos jogos, em sinônimo de devoção à sua
amada (BULFINCH, 2000).