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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA
Francisca das Chagas Medeiros Vasconcelos
DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA:
CORRELAÇÕES COM A APRENDIZAGEM DA
LEITURA E ESCRITA
Rio de Janeiro
2006
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FRANCISCA DAS CHAGAS MEDEIROS VASCONCELOS
DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA:
CORRELAÇÕES COM A APRENDIZAGEM DA
LEITURA E ESCRITA
Dissertação apresentada ao curso de pós-
graduação em Fonoaudiologia da
Universidade Veiga de Almeida como
requisito parcial para obtenção do Grau
de Mestre. Área de concentração:
Processamento e Distúrbios da Fala, da
Linguagem e da Audição.
Orientadora: Profª Drª Mônica Medeiros de Britto Pereira
Rio de Janeiro
2006
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FICHA CATALOGRÁFICA
Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central/UVA
Biblioteca Maria Anunciação Almeida de Carvalho
V331d Vasconcelos, Francisca das Chagas Medeiros
Desenvolvimento da consciência fonológica: correlações
com a aprendizagem da leitura e escrita / Francisca das
Chagas Medeiros Vasconcelos, 2006.
99p. ; 30 cm.
Tese (Mestrado) – Universidade Veiga de Almeida,
Mestrado em Fonoaudiologia, Processamento e distúrbios
da fala, da linguagem e da audição, Rio de Janeiro, 2006.
Orientação: Professora Mônica Medeiros de Britto Pereira
1. Fonoaudiologia. 2. Fala. 3. Leitura. 4. Escrita. I. Pereira,
Mônica Medeiros de Britto (orientador). II. Universidade Veig
a
de Almeida, Mestrado Profissionalizante em Fonoaudiologia,
p
rocessamento e distúrbios da fala, da linguagem e da audição.
III.tulo.
CDD – 616.855
FRANCISCA DAS CHAGAS MEDEIROS VASCONCELOS
DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA:
CORRELAÇÕES COM A APRENDIZAGEM DA
LEITURA E ESCRITA
Dissertação apresentada ao curso de pós-
graduação em Fonoaudiologia da
Universidade Veiga de Almeida como parte
dos requisitos para obtenção do Grau de
Mestre em fonoaudiologia. Área de
concentração: Processamento e
Distúrbios da Fala, da Linguagem e da
Audição.
Aprovada em 03 de agosto de 2006.
BANCA EXAMINADORA
Orientadora: Profª. Mônica Medeiros de Britto Pereira – Doutora
Universidade Veiga de Almeida
Profª Hilda Maria Rodrigues Alevato - Doutora
Universidade Federal Fluminense – ISEP Instituto Superior de Estudos
Pedagógicos.
Profª Tânia Maria Marinho Sampaio – Doutora
Universidade Veiga de Almeida
Á minha família, em especial Ana
Carolina, pela compreensão e carinho
nos meus momentos de isolamento e
ausência.
AGRADECIMENTOS
À Universidade Veiga de Almeida, que me concedeu a Bolsa de Estudos
viabilizando os meus estudos e o meu trabalho de pesquisa.
À Profª Dr.ª Mônica Medeiros de Britto Pereira, minha orientadora, um
agradecimento especial pelas críticas, sugestões, pela compreensão e pelo apoio
ao desenvolvimento do meu trabalho de pesquisa.
A Professora e Mestre Tânia Marinho, por ter me apresentado o lado
desconhecido das questões instigantes e desafiadoras que envolvem o
pensamento científico .
Às Professoras Delma Genoveva Nunes Rancano, Maria Thereza Nascimento
Alves e Solange Iglesias, amigas de todas as horas, todo o meu carinho e gratidão
pela paciência e pela amizade com que têm acompanhado essa minha trajetória.
À Regina Lúcia de Souza Ramos, diretora do Centro Educacional Pinheiro Ramos,
sua equipe administrativa e funcionários, que manifestaram toda a sua
compreensão e apoio em relação a minha necessidade de envolvimento com esta
tarefa.
Ao Professor Absalão, pela paciência em transmitir os conhecimentos necessários
no momento mais delicado deste trabalho: o tratamento estatístico.
A todos o meu afeto e minha profunda gratidão.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Distribuição de freqüência das crianças por nível escolar , sexo e idade
Média, p. 51
Tabela 2Total de acertos e erros por séries em consciência fonológica, leitura e
escrita, p.61
Tabela 3 – Comparação do desenvolvimento da consciência fonológica entre a 1ª e
2ª série, 1ª e 3ª série e 1ª e 4ª série, p. 61
Tabela 3.1 – Comparação do desenvolvimento da consciência fonológica entre a 2ª
e 3ª série e 2ª e 4ª série, p. 62
Tabela 3.2 – Comparação do desenvolvimento da consciência fonológica entre a 3ª
e 4ª série, p. 62
Tabela 4 – Comparação da leitura entre a 1ª e 2ª série, 1ª e 3ª série e 1ª e 4ª
série, p. 62
Tabela 4.1 – Comparação da leitura entre a 2ª e 3ª série e 2ª e 4ª série, p. 62
Tabela 4.2 – Comparação da leitura entre a 3ª e 4ª série, p. 63
Tabela 5 – Comparação da escrita entre a 1ª e 2ª série, 1ª e 3ª série e 1ª e 4ª
série, p. 63
Tabela 5.1 – Comparação da escrita entre a 2ª e 3ª série e 2ª e 4ª série, p. 63
Tabela 5.2 – Comparação da escrita entre a 3ª e 4ª série, p. 63
Tabela 6Correlação entre o desenvolvimento da consciência fonológica e
aprendizagem da leitura na 2ª série, p. 64
Tabela 7Correlação entre o desenvolvimento da consciência fonológica e
aprendizagem da escrita na 1ª série, p. 65
Tabela 8 – Comparação entre palavras reais (PR) e pseudopalavras (PP) na
leitura, p. 65
Tabela 9 – Comparação entre palavras reais (PR) e pseudopalavras (PP) na
escrita, p. 66
Tabela 10 – Correlação da consciência fonológica, leitura e escrita entre os grupos
e dentro do próprio grupo, p. 67
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Consciência fonológica e leitura de pseudopalavras e palavras reais,
p. 66
Gráfico 2 – Consciência fonológica e escrita de pseudopalavras e palavras reais,
p. 67
LISTA DE ABREVIATURAS
PR – palavras reais
PP – pseudopalavras
NS – nível da sílaba
NF – nível do fonema
GL – grau de liberdade
F – variância
P – nível de significância
N – correlação
T – pontos T
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Escrita Cuneiforme, p. 18
Figura 2 – Representação do peixe em Pictogramas de diversas origens: Norte-
americano, Chinês, Egípcio e Babilônio, p. 18
Figura 3 – Ideogramas Cuneiformes, p. 20
Figura 4 – Hieróglifos egípcios que representam uma só consoante, p. 22
Figura 5 – O Alfabeto Fenício, p. 24
RESUMO
Este estudo teve como objetivo estudar o desenvolvimento da consciência
fonológica e suas correlações com a aprendizagem da leitura e escrita.
Participaram deste estudo 40 crianças, entre meninos e meninas da primeira à
quarta série do ensino fundamental. De acordo com os objetivos a serem
alcançados, as crianças não apresentavam distúrbios auditivos, visuais ou de
aprendizagem. Todos os indivíduos foram submetidos ao Teste de Consciência
Fonológica – CONFIAS (Moojen, 2003), Prova de Leitura em Voz Alta e Prova de
Escrita sob Ditado (Pinheiro, 1994). A análise foi feita com ênfase nos dados
quantitativos e teve como referência as observações concernentes a acertos e
erros. Cada proposta da avaliação foi analisada individualmente, para em seguida,
fazer o cruzamento dos dados pesquisados, o que possibilitou estabelecer as
correlações entre o desenvolvimento da consciência fonológica com a
aprendizagem da leitura e da escrita. Ao comparar o desenvolvimento da
consciência fonológica e o aprendizado da leitura e escrita, entre as séries, foi
observado um alto grau de significância estatística. No entanto, ao comparar série
por série, nem todas apresentaram diferença significativa. Foi observado, na 1ª
série uma tendência positiva e na 2ª série, uma correlação altamente positiva. Na
1ª série, o número de acertos no teste de consciência fonológica foi o mesmo
encontrado no teste de escrita, e na 2ª série, o número de acertos em consciência
fonológica foi o mesmo encontrado no teste de leitura. Estes resultados
possibilitaram afirmar que nas séries iniciais há uma correlação de reciprocidade.
Ao correlacionar as três variáveis, desenvolvimento da consciência fonológica,
aprendizagem da leitura e aprendizagem da escrita entre as quatro séries, ou seja,
entre os grupos e dentro do próprio grupo encontrou-se um alto grau de
significância estatística o que vem reforçar a idéia da evolução destas habilidades.
O desenvolvimento da consciência fonológica e a aprendizagem da leitura e escrita
apresentaram, de uma maneira geral, uma correlação positiva no estudo em
questão. Logo, a análise dos resultados permitiu concluir que de uma maneira
geral, a consciência fonológica evolui no decorrer da aprendizagem da leitura e da
escrita.
ABSTRACT
The phonological consciousness development and its correlations between the
learning of reading and writing were the purpose of this study. 40 children between
boys and girls, from the 4
th
grade of the elementary school, partook of this survey. In
accordance with the goals to be reached, the children did not show any audition,
visual or learning disturbances. All the individuals were submitted to the
Phonological Consciousness Test, Read-Aloud Test and Dictation Test. The analysis
was done with emphasis on the quantitative data, and they had in reference the
remarks in regard to rightnesses and wrongnesses. Every proposal of the evaluation
were analyzed individually, for after that, to cross-check information of searched data,
that enabled to lay down the correlations between the phonological consciousness
development and the learning of the reading and writing between the grades. It was
noticed a high degree of statistical significance. However, for comparing grade by
grade, neither of all expressed meaningful difference. It was made a remark, in the 1
st
grade a positive tendency and in the 2
nd
grade, a highly positive correlation. In the 1
st
grade, the number of rightnesses on the Phonological Consciousness Test were the
same found on the Writing Test, and in the 2
nd
grade the number of rightnesses on
the Phonological Consciousness Test were the same found on the Reading Test.
These results made possible to assure that in the initial grades there are a reciprocal
correlation. Correlating with the three variables, development of the phonological
consciousness, the learning of the reading and learning of the writing between the
four grades, that is, between the groups and inside the own group. They find out a
high degree of the statistical significance reinforcing the idea of the evolution of these
abilities. The development of the reading and writing presented, in a general way, a
positive correlation of the survey at issue. Therefore, the analysis of the results
allowed to conclude that in a general way, the phonological consciousness develops
in the course of the learning of the reading and the writing.
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS
LISTA DE GRÁFICOS
LISTA DE ABREVIATURAS
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
RESUMO
ABSTRACT
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 10
2. REVISÃO DA LITERATURA 12
2.1 O NASCIMENTO DA ESCRITA 16
2.1.1 A constituição do silábico 20
2.1.2 Uma arte de poucos 22
2.2 O DESENVOLVIMENTO DA LEITURA E ESCRITA 24
2.2.1 Alfabetização 24
2.2.2 Fases do desenvolvimento da leitura e escrita 27
2.2.2.1 Logográfica 29
2.2.2.2 Alfabética 29
2.2.2.3 Ortográfica 30
2.2.3 Rotas usadas para a leitura 32
2.2.3.1 Fonológica 33
2.2.3.2 Lexical 34
2.3 O PROCESSAMENTO FONOLÓGICO E ALFABETIZAÇÃO 36
2.3.1 O acesso ao léxico mental 36
2.3.2 A memória de trabalho fonológica 36
2.3.3 A consciência fonológica 37
3. CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA X LEITURA E ESCRITA 43
4. METODOLOGIA 48
4.1 INFORMANTES 48
4.2 MATERIAL 49
4.3 PROCEDIMENTOS 54
5. RESULTADOS 57
6. DISCUSSÃO 66
7. CONCLUSÃO 70
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 72
9. ANEXOS 77
1.INTRODUÇÃO
A aprendizagem da leitura e da escrita parece exigir certos pré-requisitos. Um
deles é a criança tornar-se consciente das unidades lingüísticas que o sistema de
escrita transcreve.
As regras de escrita do sistema alfabético fazem uso do fato de que as
palavras faladas podem ser segmentadas em unidades fonológicas referidas como
fonemas. Sabe-se hoje que a criança com boa habilidade para segmentar fonemas
e com conhecimento adequado da relação letra-som tem condições de gerar
expectativas sobre a estrutura fonológica das palavras e, portanto, de ser capaz de
construir unidades de reconhecimento parciais para palavras simples, sem nunca ter
visto sua grafia. Essa habilidade fonológica é desenvolvida rapidamente e muito
antes da alfabetização.
Bem antes de ir para a escola, as crianças brincam com jogos de palavras e
fazem rimas, habilidades essas que exigem sensibilidade aos sons. Segundo Ellis
(1995) e Alégria (1997), a capacidade para manipular fonemas e refletir sobre a
estrutura sonora das palavras permite aprendizagem da leitura mais rápida e
superior nas crianças que a possuem do que naquelas que não a possuem;
portanto, um leitor muito mais independente do que aquele sem consciência
fonológica.
Pesquisas realizadas sobre o tema das relações entre consciência fonológica
e aprendizagem da linguagem escrita, Bradley e Bryant (1985), Capovilla (1998),
Capeliiini (2000) e Pestun (2004), evidenciaram a importância dessa questão e suas
10
implicações educacionais. Com efeito, é durante os anos pré-escolares e início da
escolarização que as crianças aprendem a ler e escrever e desenvolvem a
capacidade de prestar atenção à fala analisando-a em seus diversos segmentos, a
saber, fonemas, sílabas e palavras.
Tomando como referência as discussões levantadas em relação à leitura e
escrita e as habilidades fonológicas subjacentes, o objeto de investigação deste
estudo passou a ser uma análise comparativa entre estas questões, buscando
investigar alguns aspectos evolutivos relativos a esses conceitos, em especial os
diferentes níveis de análise fonológica da palavra (segmentação silábica e fonêmica,
percepção de rimas e aliterações).
Enfim, considerando que a aprendizagem da linguagem escrita é um
processo complexo que requer múltiplas habilidades cognitivas, entre elas as
habilidades metalingüísticas, este estudo pretende contribuir para avançar o
conhecimento acerca do tema, estudando uma população específica. Portanto, a
condução deste estudo tem como objetivo central avaliar o desenvolvimento da
consciência fonológica em crianças de classe média que estudam em escola
particular na cidade do Rio de Janeiro, e correlacionar com a aprendizagem da
leitura e da escrita.
A fim de atingir tais objetivos, será apresentada, inicialmente, uma revisão da
literatura concernente ao desenvolvimento da consciência fonológica e suas
correlações com o aprendizado da leitura e da escrita.
Também, serão relatados estudos sobre a aquisição da consciência
fonológica e pesquisas comparativas entre esse processo e o aprendizado da leitura
e da escrita que servirão de referenciais para esta pesquisa.
11
2. REVISÃO DA LITERATURA
A partir dos anos 70, diversos estudos mostraram que as habilidades
metalingüísticas parecem primordiais no acesso à escrita e revelam-se associadas a
maior ou menor eficácia na aprendizagem da leitura e escrita ( Stanovich, et al.,
1984). Com efeito, o domínio pleno da leitura e da escrita exige conhecimentos de
diversos aspectos da linguagem e supõe uma tomada de consciência das
características formais da linguagem (p. ex.: estrutura fonêmica, estrutura sintática).
O sistema alfabético de escrita associa um componente auditivo fonêmico a
um componente visual gráfico (correspondência grafofonêmica). De acordo com
Byrne (1996), para a compreensão do princípio alfabético são necessários três
fatores: 1) a consciência de que é possível segmentar a língua falada em unidades
distintas; 2) a consciência de que essas mesmas unidades repetem-se em
diferentes palavras faladas; 3) o conhecimento das regras de correspondência entre
grafemas e fonemas. Destaca-se que os dois primeiros fatores são aspectos da
consciência fonológica, e isto a coloca como indispensável no desenvolvimento da
leitura e da escrita.
O papel central da consciência fonológica sobre a aprendizagem da leitura
e da escrita é atestado pelos resultados de numerosos trabalhos de pesquisa
submetendo indivíduos (de diversas idades cronológicas e diferentes níveis léxicos)
a várias provas de análises fonológicas ( Stanovich, et al., 1984).
12
Esses estudos têm demonstrado que o desempenho das crianças pré-
escolares, em determinadas tarefas de consciência fonológica, relaciona-se com o
sucesso na aprendizagem da leitura e da escrita.
Algumas pesquisas sugerem que a introdução formal no sistema alfabético
seria o fator ou causa primordial para o desenvolvimento da consciência fonológica
(Read et al., 1986; Morais, 1999). Por outro lado, há resultados que sugerem ser a
consciência fonológica um pré-requisito para a aprendizagem da leitura e escrita
alfabéticas (Bradley & Bryant, 1983; Carraher & Rego, 1981; 1984).
Alégria, Content & Morais (1987), insistem sobre as relações entre
aquisição da escrita e análise segmental, considerando esta última como uma das
manifestações da consciência fonológica.
A controvérsia entre os resultados das pesquisas parece dever-se,
sobretudo, à complexidade do conceito de consciência fonológica, o qual abrange
habilidades que vão desde a simples percepção global do tamanho das palavras
e/ou de semelhanças fonológicas entre elas, até a efetiva segmentação e
manipulação de sílabas e fonemas.
A partir disso, alguns autores têm sugerido a existência de diferentes níveis
de consciência fonológica, alguns dos quais provavelmente precedem a
aprendizagem da leitura e escrita, enquanto outros parecem ser mais um resultado
dessa aprendizagem (Alégria et al., 1997).
Um estudo pioneiro de avaliação da consciência fonológica foi conduzido
por Bradley e Bryant (1983) com 403 crianças de quatro a cinco anos de idade.
Nenhuma das crianças possuía capacidade para ler e soletrar ao início do estudo. A
tarefa consistia na apresentação oral de três ou quatro palavras com três letras,
13
sendo que todas, exceto uma, tinham o mesmo som inicial, central ou final. A
criança deveria dizer qual palavra ouvida era diferente. Os resultados obtidos
demonstraram que a consciência fonológica seria um bom preditor da capacidade
de leitura e ortografia três anos mais tarde. Esse dado foi sustentado por Vellutino et
al., (2000), ao afirmarem que “a consciência fonológica é fundamental para o
desenvolvimento da leitura, mais até que os escores de QI.”
Na realidade, como bem afirmam Bryant e Goswami (1987), a descoberta
de uma relação entre a consciência fonológica das crianças e seus progressos na
aquisição da leitura e da escrita é um dos grandes sucessos da psicologia moderna.
Contudo, diversas posições sobre a relação entre consciência fonológica e
desenvolvimento da leitura e da escrita vêm sendo apresentadas ao longo da
últimas décadas. Uma delas, refletida nos estudos de Bradley e Bryant (1983) e
sustentada, mais tarde, por Goswami e Bryant (1990), considera que a consciência
fonológica (enquanto habilidade para detectar aliteração e rima) é a base do
progresso para a aprendizagem da leitura e da escrita. A explicação sugerida para
este progresso diz respeito ao uso de analogias, ou seja, a habilidade de perceber
que duas palavras rimam pode tornar a criança sensível às semelhanças
ortográficas no final destas palavras e, desse modo, possibilitar que estabeleça
conexões entre padrões ortográficos e sons no final das palavras.
Uma outra posição (Ehri & Robbins, 1992) destaca que a capacidade de
fazer analogias no final de palavras pressupõe capacidade de decodificação letra-
som. Estes autores salientam que a habilidade de detectar fonemas em uma palavra
é influenciada pelo conhecimento ortográfico.
14
Entretanto, uma terceira posição salienta uma reciprocidade entre
consciência fonológica e a aprendizagem da leitura e da escrita. Desse modo, os
estágios iniciais da consciência fonológica contribuem para o desenvolvimento dos
estágios iniciais do processo de leitura e estes, por sua vez, contribuem para o
desenvolvimento de habilidades de consciência fonológica mais complexas.
Portanto, enquanto a consciência de alguns segmentos sonoros (supra-fonêmicos)
parece desenvolver-se espontaneamente, a consciência fonêmica parece exigir
experiências específicas em atividades que possibilitem a identificação da
correspondência entre os elementos fonêmicos da fala e os elementos grafêmicos
da escrita. (Alégria et al., 1997; Bertelson et al., 1985).
15
2.1 O NASCIMENTO DA ESCRITA
A escrita está entre as maiores
invenções da história humana, talvez a
maior, pois ela tornou a história possível.
Robinson, 1995
O último documento conhecido da escrita “cuneiforme” (Fig.1, pág. 18),
própria da antiga Mesopotâmia é uma espécie de almanaque astronômico em que
estão anotados, mês a mês, os movimentos dos astros, o que permite datá-lo
exatamente no ano 75 d.C. Ele constitui um marco de uma notável aventura do
espírito iniciada 32 séculos antes nessa mesma região e que representa um dos
pontos altos da história do pensamento (Walker, 1996).
Segundo Walker (1996), os escritos mais antigos que até hoje se conhecem
foram encontrados em 1931, nas ruínas da cidade de Uruk (hoje Warka), em pleno
deserto, a meio caminho entre Bagdá e Basra. Contam-se hoje cerca de 3 mil
peças, distribuídas por quatro ou cinco séculos.
Eles são os testemunhos, na origem, de uma das descobertas mais
revolucionárias e mais fecundas do gênio humano: a escrita, o meio de materializar
e fixar o pensamento e difundi-lo no tempo e no espaço, além dos limites estreitos
da tradição oral, que requer a presença simultânea daquele que fala e daquele que
escuta e expõe o que é dito a impressões, incertezas e deformações.
Esses primeiros passos num caminho tão novo e promissor se apresentam
sob a forma de modestas plaquetas de argila seca com cerca de 10 centímetros de
lado, em média, sobre as quais foram riscados sinais com um objeto pontudo,
quando o material ainda estava mole. Nesses sinais, ainda é possível identificar
16
muitas representações esquemáticas de todo tipo de objeto: a cabeça, a mão, o pé,
animais, plantas, vasos, navios, o perfil de montanhas ou, ainda, um sistema
bastante transparente de números.
Fig. 1 – Escrita Cuneiforme
FONTE: WALKER, C.B.F. Lendo o Passado: do cuneiforme ao
alfabeto. A história da escrita antiga. São Paulo: Edusp, 1996.
Esses esboços, a que chamamos pictogramas (Fig.2), surgem na esteira de
uma longa prática anterior de pintores ou de gravadores que muito antes já tinham
aprendido a estilizar, como artistas, aquilo que queriam representar da natureza ou
da cultura, no bojo de vasos ou ao longo dos pequenos cilindros de pedra que na
região eram rolados sobre argila para selar e autenticar.
Fig.2 – Representação do peixe em Pictogramas de diversas
origens: Norte americano, Chinês, Egípcio e Babilônio.
FONTE: WALKER, C.B.F. Lendo o Passado: do cuneiforme ao
alfabeto. A história da escrita antiga. São Paulo: Edusp. 1996.
17
A era da escrita propriamente dita, que os arqueólogos remontam a cerca de
3200 a.C., na Mesopotâmia (Walker, 1996), começou quando um gênio, que nunca
saberemos quem foi, considerou que essas imagens, usadas pelos ceramistas ou
por contadores, podiam ser utilizadas para evocar uma idéia, uma representação do
espírito. E que, por isso, para se traduzir de uma forma mais geral “todas” as
representações do espírito, “todo” o pensamento, bastaria sistematizar essa
descoberta. Com esse fim, era preciso uniformizar os desenhos o suficiente para
torná-los identificáveis à primeira vista.Os inventores da escrita encontraram alguns
meios para isso. Com uma simples marca, eles particularizavam o valor de um único
e mesmo esboço. Por exemplo, sublinhando com um traço o local da boca na
imagem da cabeça. Recorrendo ora à natureza das coisas, ora a alguma
convenção, eles multiplicaram as significações de um mesmo desenho: o do
homem bastava para evocar não somente a marcha, mas o estar de pé, o
transporte. A estrela simbolizava o céu, inclusive tudo aquilo que está no alto,
superior, até mesmo o sobrenatural.
Imitando os artistas, eles também se ocuparam em justapor sinais para
compô-los como pequenos quadros cujo conjunto representava algo mais que os
elementos separados ou uma coisa diferente deles: o pão diante da boca significava
comer, e a água acompanhando o olho representava as lágrimas. Chamamos de
ideogramas (Fig.3, pág. 20), os caracteres de uma tal escrita, em que a significação
vai além da representação imediata. Assim é que na Mesopotâmia, por volta de
3200 a.C., foi criado, pela primeira vez no mundo, um “sistema de sinais”, digamos
de ideogramas uniformizados, escolhidos, cada um deles ligado a um certo número
18
de significações, que permitiam reproduzir, materializar e fixar o pensamento: a
primeira escrita.
Fig. 3 - Ideogramas Cuneiformes: a) Significa mês composto por 30 dias; b) Estar de pé; c) Estar
rendido; d) Destino, figura de ave.
FONTE: WALKER, C.B.F. Lendo o Passado: do cuneiforme ao alfabeto. A história da escrita
antiga. São Paulo: Edusp. 1996.
A escrita mesopotâmica foi inventada primeiramente como uma técnica
mnemônica, um mero auxílio à memória, o que, de resto, se encaixava
perfeitamente nas necessidades econômicas e de memorização de seus primeiros
usuários, já que, antes de tudo, eles precisavam manter os negócios em ordem,
registrar os objetos dessas movimentações e as quantidades de entradas e saídas.
Para ultrapassar um estágio ainda rudimentar e chegar à expressão do
pensamento total tal como se reflete na linguagem, era preciso que a escrita fosse
destacada das coisas para se articular com base nas palavras da língua. Somente
estas últimas poderiam fazer repercutir o pensamento em todas as suas nuances e
sutilezas. Mas língua é falar, não só ver e imaginar: só se pode penetrar nela,
graficamente, na medida em que se domina a fixação material, não mais de
19
imagens apenas, mas de sons, ou seja, os fonemas. Somente o discurso articulado
pode fornecer todos os dados para tornar precisa a mensagem e dispensar o
recurso à memória (Healey, 1996).
2.1.1 A constituição do silábico
Na Mesopotâmia, o sumério, língua usual da região foi precedida por um ou
dois séculos pela ideografia (Healey, 1996). Isso aconteceu pela simples, mas
genial, observação de que um sinal escrito não evoca somente a coisa que ele
representa, diretamente ou não, mas também seu nome, uma combinação de sons
na língua falada, e que se pode, portanto, separá-lo de seu conteúdo real para
chegar a seu conteúdo fonético. O sumério favorecia esse deslocamento porque
grande parte do seu vocabulário era monossilábico, como o chinês.
Assim, da escrita meramente ideográfica passou-se à escrita fonética, da
escrita das coisas à escrita das palavras ( Healey, 1996): um avanço considerável!
Podia se transcrever, dali em diante, toda a língua, e a escrita, num sistema que
chegara assim a sua plena e perfeita definição: um sistema de sinais apropriados
para materializar e fixar o pensamento em toda sua extensão, tal como ele é
exprimível pela língua. Teria sido possível então eliminar totalmente qualquer traço
da pesada e insuficiente ideografia primitiva, escolhendo, no conjunto dos
caracteres, aqueles cujo valor fonético fosse suficiente para representar todas as
combinações silábicas do sumério.
O que contribuiu para modificar semelhante situação foi o uso da língua
Acádia. Quando os sumérios quiseram transcrever palavras ou nomes acadianos,
20
ou seja, utilizados pelos “acádios” (semitas), ou quando os acádios, aculturados em
relação aos seus vizinhos mais avançados que eles no assunto, foram iniciados na
escrita, o recurso às capacidades fonéticas destes foi inevitável. Dessa forma, com
o tempo e, sobretudo, diante do fato de, na região, os sumérios terem sido
absorvidos progressivamente pela maioria acadiana, cada vez mais o uso do
sumério foi abandonado em favor do acádio, e a ideografia foi relegada em favor da
escrita fonética.
Segundo Walker (1996), a escrita cuneiforme foi organizada durante o III
milênio. Ela equilibrou seus recursos entre os ideogramas e os valores fonéticos de
tal maneira que, de simples e modesto auxílio à memória que fora no começo, se
tornou uma escrita verdadeira e perfeita, capaz não só de recordar o conhecido,
mas de anotar e apreender o novo (Fig. 4 pág.22).
Fig. 4 – Hieróglifos egípcios que representam uma só consoante (os valores fonéticos são
aproximados), significa um momento de enorme importância dentro da evolução da escrita.
FONTE: WALKER, C.B.F. Lendo o Passado: do cuneiforme ao alfabeto. A história da
escrita antiga. São Paulo: Edusp. 1996.
21
2.1.2 Uma arte de poucos
Ler e escrever, atividades conexas e praticamente indissociáveis, não eram
uma possibilidade aberta a todos, mas uma profissão reservada a um pequeno
número de iniciados e para a qual as pessoas se preparavam com longos estudos e
incontáveis exercícios. Encontramos testemunhos disso: deveres de estudantes, por
exemplo, que se exercitam para reproduzir, com maior ou menor sucesso, os traços
firmes e elegantes do mestre.
Esses especialistas da escrita não eram do mesmo nível. Uns eram simples
copistas, às vezes até especializados nas peças jurídicas, nas cartas, nas
transcrições de obras propriamente literárias. Outros eram capazes de compor estas
últimas, ou tratados eruditos, sendo verdadeiros letrados e, como dizemos,
intelectuais. O resultado dessa situação é que tudo que encontramos dos 32
séculos de literatura mesopotâmica – desde a modesta contabilidade cotidiana até
as mais volumosas e imortais obras-primas do pensamento e do estilo, como
Ninurta e as Pedras, o Poema de Atrahasis, a Epopéia de Gilgamesh, o Código de
Hamurábi, a Epopéia da Criação, O Mito de Erra – está ligado a esses profissionais
da escrita. Reflete primeiramente suas reflexões, seus problemas, suas criações,
ainda que, vivendo entre a multidão que não sabia nem podia ler ou escrever, eles
devessem, em suas composições, traduzir mais ou menos obliquamente sua visão
das coisas.
É a eles , mais que outros, nessa longa caravana de mais de três mil anos,
que devemos ligar estreitamente e imputar essa admirável e poderosa civilização
nas origens da nossa. Ela existiu enquanto teve seus escribas, detentores dos
22
segredos da velha, pesada e árdua escrita cuneiforme. Entretanto, 1.500 anos
depois, pelo menos, um outro povo do Oriente Próximo, os fenícios, encontrou o
meio mais genial, o mais promissor, o mais fadado a um futuro brilhante, até nós, de
simplificar radicalmente a escrita: empurrando a análise do discurso até seus
elementos fonéticos primários – ainda que impronunciáveis isoladamente – para
dar, a cada um, um signo, que o tornou, materialmente, o alfabeto (Fig. 5, pág.24).
Fig. 5 – O alfabeto fenício
FONTE: WALKER, C.B.F. Lendo o Passado: do cuneiforme ao alfabeto.
A história da escrita antiga. São Paulo: Edusp. 1996.
23
2.2 O DESENVOLVIMENTO DA LEITURA E ESCRITA
2.2.1 Alfabetização
Afinal, o que é alfabetizar? Alfabetizar é ensinar o segredo do código
alfabético. É ensinar a ler e escrever. No entanto, algo que parece tão simples tem
sido objeto de muitas controvérsias.
Portanto, torna-se relevante fazermos uma reflexão sobre os conceitos de
alfabetização que comentaremos a seguir.
A própria definição de alfabetização precisa ser esclarecida porque várias
pesquisas constataram que este termo não era suficiente para definir e englobar
todos os processos que estavam envolvidos na aquisição da leitura e escrita,
surgindo então um novo termo, o letramento (Soares, 1998).
Segundo Soares (1998), alfabetização e letramento são ações distintas, mas
inseparáveis. A alfabetização consiste na ação de capacitar o indivíduo a ler e
escrever, enquanto o letramento enquadra-se no âmbito social de apropriação da
escrita e de suas práticas sociais.
Geralmente, ao ingressar nas escolas, as crianças já dominam a língua oral,
por possuírem um conhecimento de mundo e experiências de vida, envolvendo
interações sociais dialógicas, as quais são permeadas por práticas de letramento
que se complementam e se constituem através da oralidade e da escrita
(Marcuschi, 2001).
24
A aprendizagem da leitura e escrita pode ser muito prazerosa, se a criança
desde pequena passar por experiências de letramento através de situações sociais
informais, por meio das quais, consegue distinguir o uso social da escrita, sua
importância e sua relação com a oralidade.
No conceito mais estrito de alfabetização, alfabetizar significa ensinar o
aluno a decifrar o código alfabético. Esse conceito abrange as capacidades de
decodificar (uma palavra escrita num fonema) e de codificar (um fonema numa
palavra escrita). Portanto, mesmo nesse conceito estrito, alfabetizar implica
escrever de forma ortográficamente correta – ou seja, aplicar o código alfabético
corretamente. O conceito de decodificar é central ao conceito de alfabetização.
Afinal, alfabetizar significa ensinar o alfabeto, dar ao aluno os elementos para ele
descobrir como funciona esse código, como decodificar fonemas em grafemas e
vice-versa. A decodificação permite formar um leitor autônomo, capaz de ler
qualquer palavra. Mas a alfabetização requer mais do que simplesmente alfabetizar.
Predomina, no Brasil, inclusive em documentos oficiais como os Parâmetros
Curriculares Nacionais, a idéia de que ler é sinônimo de compreender. Essas idéias
tiveram origem em trabalhos de lingüistas como B. Goodman e Frank Smith.
O segundo conceito de que ler é sinônimo de aprender constitui, para Oliveira
(2004), um equívoco que reside na confusão entre o objetivo de ler e o processo de
aprender a ler. Esse equívoco tem implicações importantes – pois, ao confundir
objetivo e processo, confundem-se também os métodos de alfabetização, com
sérias conseqüências para a aprendizagem do aluno.
O conceito amplo de alfabetização não tem limites. Na verdade não é um
conceito, são vários. O termo alfabetização é utilizado por várias pessoas em vários
25
sentidos. Alguns dizem que só é alfabetizado quem completa a 4ª série do Ensino
Fundamental; há também os que afirmam que só na 8ª série o aluno está
alfabetizado, há ainda os que distinguem alfabetização de letramento, os que falam
de alfabetização funcional e os que defendem a idéia de “alfabetização
permanente”, que não acabaria nunca.
Conceitos amplos são muito úteis para provocar discussões, ampliar
horizontes e suscitar questionamentos. Embora intermináveis e freqüentemente
contraditórias e ambíguas, essas discussões oferecem dois pontos importantes para
reflexão.
Primeiro, esse tipo de definição assinala que o objetivo da alfabetização vai
além da decodificação, pois ler e escrever têm como fim último promover a
compreensão: compreender o que se lê, o que se fala, como funciona o mundo.
Segundo, a alfabetização tem um caráter funcional. Decodificar poderia ser
suficiente para assinar o nome, e assinar o nome poderia ser funcional para casar
ou votar no início do século XX. Isso se conseguia com rudimentos de alfabetização.
Mas isso não é mais funcional no século XXI: é preciso saber mais. A função da
educação varia com o tempo e o tipo de sociedade – daí por que mudam os
conceitos sobre o quanto de educação é necessário.
Um conceito prático de alfabetização pode ajudar a superar discussões
intermináveis e estéreis: aprender a ler é diferente de ler para aprender. O processo
de alfabetização refere-se ao momento de aprender a ler. O restante da
escolaridade, e da vida, refere-se aos momentos de ler para aprender.
Embora esse conceito também traga novos problemas, exemplos ajudam a
esclarecê-lo. Na etapa inicial da escolarização o aluno está aprendendo a ler: a
26
prioridade, a atenção e o esforço se concentram em decifrar o código alfabético,
entender o que significam esses sinais que chamamos de letra impressa, que
palavras eles querem representar. Esta é a etapa do aprender a ler.
Na etapa seguinte, em que o aluno já decodifica as palavras sem esforço e é
capaz de lê-las com fluência, ele vai ler para aprender: aprender o significado das
palavras, os conceitos transmitidos num determinado texto.
Esse conceito operacional se revela muito útil para entender onde acaba o
processo de alfabetização (aprender a ler) e onde começa o processo de usar a
capacidade de ler para aprender. Esse conceito não implica que aprender a ler não
envolve compreensão. Ele apenas acentua que a compreensão é o objetivo final da
leitura, mas não deve ser confundida com o processo de aprender a ler. A
alfabetização sendo a etapa inicial desse longo processo de aprender a ler e
escrever, é o primeiro capítulo de uma longa história. Mas em si mesmo é um
capítulo com princípio, meio e fim. Portanto, quando falamos de alfabetização a
partir desse conceito operacional, estamos falando do momento inicial de aprender
a ler.
2.2.2 Fases do desenvolvimento da leitura e escrita
No decorrer da aprendizagem, a criança deve assimilar os diversos
componentes e processos cognitivos subjacentes à leitura. Segundo Capovilla
(1998), os modelos desenvolvimentistas da leitura tentam precisar as diferentes
etapas pelas quais passa o sistema cognitivo em vias de amadurecimento. A
27
arquitetura funcional desse sistema deve se estruturar pouco a pouco para tender
ao modelo adulto.
A leitura, como atividade da linguagem, compartilha um certo número de
componentes e de sistemas de tratamento com as atividades de produção e
compreensão da linguagem oral. No início da aprendizagem da leitura, a criança
possui vários componentes do tratamento da informação a serem utilizados na
aprendizagem. Ela desenvolveu sobretudo capacidades de análise auditiva e um
sistema de reconhecimento das palavras. Ela possui um léxico fonológico, por
exemplo, um conjunto de representações memorizadas da forma sonora das
palavras. Seu sistema semântico está parcialmente constituído, na medida em que
a criança tenha desenvolvido um conhecimento da significação das palavras faladas
e das relações de sentido existentes entre elas. Também já emergiram capacidades
implícitas de análise sintática, que permitem a compreensão e a produção de frases.
Tais sistemas de tratamento da linguagem não são específicos da leitura, mas
intervêm no processo de leitura. Assim, um bom domínio da linguagem oral, tanto
no âmbito da produção quanto da compreensão, é um trunfo importante para o leitor
aprendiz.
Com freqüência, os modelos desenvolvimentistas da leitura pressupõem a
existência de etapas sucessivas, no decorrer das quais a criança utiliza estratégias
diferentes para associar unidades escritas e orais.
No entanto, convém esclarecer que essas diversas etapas não são
obrigatórias e não ocorrem necessariamente em uma ordem seqüencial. Com efeito,
o decorrer da aprendizagem apresenta grandes variações individuais; não existe
uma idade de transição (passagem de uma etapa para outra) identificada em todas
28
as crianças, e o desenrolar das etapas pode ser modificado pelo método de
aprendizagem. Além disso, toda passagem para uma etapa superior não implica o
abandono das estratégias de tratamento desenvolvidas na etapa anterior.
Consideraremos aqui, segundo Santos (2002), as três grandes fases de
aquisição que se caracterizam pela utilização de três estratégias diferentes de
identificação das palavras escritas: as fases logográfica, alfabética e ortográfica.
2.2.2.1 Fase Logográfica
Na fase logográfica a criança lê de maneira visual direta; a leitura depende
do contexto e das cores e formas do texto. Por exemplo: uma criança pode ler
logograficamente o rótulo Coca-Cola; logo, se as letras desta palavra forem
trocadas, a criança não perceberá o erro desde que a forma visual global e o
contexto permaneçam iguais aos da palavra correta. Isto demonstra que a criança
não presta atenção à composição da palavra em letras, apesar de conseguir ter
acesso ao significado de algumas palavras conhecidas. Por isso, a fase logográfica
é considerada uma forma de pré-leitura, visto que as palavras escritas são tratadas
como desenhos, e não propriamente como um código alfabético.
2.2.2.2 Fase Alfabética
Na fase alfabética, a criança toma consciência de que as palavras não são
seqüências arbitrárias de letras que devem ser memorizadas de cor. O
desenvolvimento dessa fase caracteriza-se pela tomada de consciência da
existência de unidades subléxicas, tanto no nível das palavras escritas quanto no
29
das palavras faladas, e da relação sistemática entre essas unidades. A identificação
das palavras é apenas marginalmente influenciada pelo contexto. O reconhecimento
da palavra escrita está baseado em um tratamento analítico e semântico, centrado
na forma escrita, em que a decodificação grafema por grafema, a ordem seqüencial
das unidades escritas e a fonologia desempenham um papel predominante. Esta
estratégia analítica permite que a criança leia novas palavras.
Esta fase também se caracteriza pelo fato de que as palavras regulares são
lidas melhor que as irregulares. Entretanto, um grande número de palavras
irregulares é lido corretamente desde o final do primeiro ano de aprendizagem da
leitura, o que sugere que as crianças memorizam um conjunto de representações
ortográficas das palavras, constituindo um léxico ortográfico, ao mesmo tempo em
que desenvolvem um sistema de correspondência entre as unidades subléxicas
escritas e faladas.
2.2.2.3 Fase Ortográfica
Na terceira fase, a ortográfica, a existência prévia de um léxico alfabético é
pré-requisito para o desenvolvimento de qualquer estratégia ortográfica. Nesta
etapa, a criança utiliza seus conhecimentos léxicos para a decodificação das
palavras escritas, que fazem ou não parte de seu léxico ortográfico.
As representações léxicas das palavras familiares tornam-se diretamente
acessíveis: a criança reconhece palavras com base em seus segmentos
ortográficos e encontra diretamente, por identificação, a forma fonológica
correspondente. O acesso ao sentido também é facilitado e acelerado. Além disso,
30
a etapa ortográfica caracteriza-se pelo acesso à leitura corrente. A leitura silenciosa
torna-se fluente e rápida, pois agora está mais baseada em um acesso direto ou
léxico que em uma recodificação fonológica sistemática.
Portanto, o processo de alfabetização obedece a uma ordem em relação ao
aprendizado da leitura e escrita.
Leitura logográfica: As crianças tratam as palavras como se fossem desenhos e
usam pistas contextuais em vez de decodificação alfabética;
Escrita logográfica: As crianças adquirem um vocabulário visual de palavras,
incluindo seus próprios nomes, mas não são influenciadas pela ordem em que as
letras aparecem nas palavras, exceto pela letra inicial;
Escrita alfabética: As crianças tornam-se capazes de fazer acesso à
representação fonológica das palavras, bem como de isolar fonemas individuais e
de mapeá-los nas letras correspondentes. Contudo, de modo a poder fazê-lo, elas
precisam conhecer as correspondências entre os grafemas e os fonemas;
Leitura alfabética sem compreensão: As crianças tornam-se capazes de converter
uma seqüência de letras em fonemas; contudo elas ainda são incapazes de
perceber o significado que subjaz à forma fonológica que resulta da decodificação
fonológica;
Leitura alfabética com compreensão: As crianças tornam-se capazes de
decodificar tanto a fonologia quanto o significado da palavra. Elas fazem acesso
ao significado ouvindo a retroalimentação acústica que resulta do processo de
decodificação fonológica;
Leitura ortográfica: As crianças tornam-se capazes de ler por reconhecimento das
unidades morfêmicas, ou seja, passando a fazer acesso direto ao sistema
semântico;
Escrita ortográfica: As crianças tornam-se capazes de escrever usando um
sistema léxico-grafêmico que dá conta da estrutura morfológica de cada palavra.
(CAPOVILLA & CAPOVILLA, 2000, P. 11).
De acordo com Capovilla e Capovilla (2000), há três diferentes estratégias
para a leitura e a escrita: as estratégias logográfica, fonológica e lexical, que se
desenvolvem nas fases logográfica, alfabética e ortográfica, respectivamente.
Em suma, segundo Morton (1969), a leitura competente desenvolve-se de
acordo com um modelo de processo duplo. O acesso à pronúncia e ao significado
pode ser obtido por meio de duas estratégias ou processos, um direto e outro
indireto. A estratégia indireta envolve mediação fonológica e é chamado processo
31
fonológico; enquanto que a direta não a envolve e é chamada processo visual-
lexical.
2.2.3 Rotas usadas para a leitura
Na leitura competente, o acesso à pronúncia e ao significado se dá por meio
de dois processos ou rotas: um procedimento “léxico” (direto ou de identificação)
que permite uma identificação rápida das palavras familiares e um procedimento
“fonológico” (indireto ou de reunião) que permite identificar as palavras escritas não-
familiares. Tal modelo genérico é conhecido como modelo de processo duplo
(Morton, 1969).
Ellis (1995) desenvolveu uma versão do modelo de leitura proposto por
Morton (1969). De acordo com ele, há basicamente duas rotas para leitura: a
fonológica e a lexical.
As funções de cada uma das unidades de processamento (fig. 6, pág.36), do
modelo de sistema de leitura, adaptado dos modelos de Morais (1995), Partz (1887)
e Baddeley (1986, 1992), podem ser assim explicadas.
O sistema de análise visual (SAV) é responsável por identificar o estímulo como
um item escrito.
O sistema de reconhecimento visual de palavras (SRVP) processa a informação
visual e determina se ela corresponde ou não a uma palavra que é visualmente
conhecida.
O sistema de segmentação da seqüência ortográfica (SSSO) segmenta o item
escrito em partes menores, que são as letras ou as sílabas, em leitores iniciantes,
e os agregados maiores de letras, em leitores competentes.
O sistema de conversão de segmentos ortográficos em fonológicos (SCSOF)
transforma, segmento a segmento, a informação ortográfica em informação
fonológica-auditiva.
O sistema de síntese fonológica (SSF) combina tais segmentos, formando um
todo fonológico.
O sistema de ativação das representações ortográficas (SARO), também
conhecido como léxico ortográfico (LO), contém as formas ortográficas das
palavras conhecidas.
32
O sistema de ativação das formas fonológicas (SAFF), também conhecido como
léxico auditivo (LA), armazena as representações auditivas das palavras
conhecidas.
O sistema de ativação das representações semânticas (SARS), ou léxico
semântico(LS), armazena informações sobre os significados das palavras.
O sistema de produção fonológica (SPF) corresponde ao processo de controle
articulatório (PCA) de Baddeley (1986), sendo responsável pelos padrões
articulatórios que resultam na produção articulatória das palavras.
Finalmente, o buffer fonológico (BF), que corresponde ao armazenamento
fonológico passivo (AFP) de Baddley (1986), armazena a informação fonológica
das palavras por um curto período de tempo. Até que ela seja emitida na
pronúncia. (CAPOVVILA & CAPOVILLA, 2000, P. 15-23).
De acordo com o modelo acima descrito, a leitura pode ocorrer basicamente
por duas vias: a rota fonológica e a rota lexical. Durante a leitura, o item escrito sofre
uma análise visual ( sistema de análise visual – SAV). Depois disso, é processado
pelo sistema de reconhecimento visual de palavras (SRVP). Se a forma ortográfica
do item não estiver representada no léxico, então o item não é reconhecido como
uma palavra. Neste caso, ele só pode ser lido pela rota fonológica. Nesta rota, ele
sofre processos de segmentação e decodificação fonológica. De modo a realizar
tais processos, são empregadas regras para converter segmentos ortográficos em
segmentos fonológicos. Depois da conversão, as unidades fonológicas são
combinadas, resultando na formação de um todo fonológico.
Na rota fonológica, a pronúncia da palavra é construída por meio da
aplicação de regras de correspondência grafo-fonêmica. O acesso ao significado é
alcançado mais tarde, quando a pronúncia da palavra ativa o sistema semântico.
Contudo, pode haver leitura sem que haja acesso ao significado. Assim, na rota
fonológica, a pronúncia é construída por meio da conversão de segmentos
ortográficos em fonológicos, e o acesso ao significado, caso ocorra, é alcançado
mais tarde, pela mediação da forma auditiva da palavra. À medida que o leitor se
torna mais competente, o processo de conversão de segmentos ortográficos em
33
fonológicos, torna-se progressivamente mais automático, e usa seqüências maiores
de letras como unidades de processamento.
Na outra rota de leitura, ou seja, a rota lexical, o item também sofre
primeiramente uma análise visual antes de ser processado pelo sistema de
reconhecimento visual de palavras. Para que o item escrito seja reconhecido como
uma palavra, sua forma ortográfica tem que estar representada no léxico ortográfico.
Quando o item for reconhecido como uma palavra, suas formas ortográficas são
ativadas.
No modelo, os três léxicos, (ortográfico, auditivo e semântico) estão
relacionados à memória de longo prazo e dedicam-se ao armazenamento da
informação preexistente. Seu conteúdo depende da experiência prévia do
indivíduo. Durante a leitura, ocorre uma comparação entre o item escrito e a
informação que se encontra pré-armazenada naqueles léxicos. Os léxicos podem
ativar-se uns aos outros, podendo ocorrer múltiplas interações entre eles. Esses
sistema lexicais estão relacionados à memória de longo prazo. Os sistemas
relacionados à memória de trabalho, que são responsáveis pelo armazenamento
de pseudopalavras longas ou mesmo de seqüências de pseudopalavras, incluem
o sistema de produção fonológica (SPF), que é responsável pelo processo de
controle articulatório (PCA), e o buffer fonológico (BF), responsável pelo
armazenamento fonológico passivo (AFP).
A interação entre o processo de controle articulatório e o armazenador
fonológico passivo compõe o circuito de reverberação subvocal, responsável pelo
ensaio da informação fonológica. Tal ensaio é crítico à consolidação da
informação , isto é, à sua passagem da memória de trabalho para a memória de
longo prazo. (MAZORRA & NAVAS, 2002, P.110).
O presente trabalho se deterá na leitura e na escrita conforme descritas
pelo modelo clássico de duplo-processamento, apresentado na Fig. 6, pág. 36.
Este modelo mostra os processos de memória fonológica envolvidos nos
mecanismos de processamento de informação concernentes à leitura, no que se
refere a reconhecimento, pronúncia e compreensão de palavras.
34
________________________________________________________
Figura 6 . Modelo de sistema de leitura, adaptado de modelos de Morais (1995), Partz (1997), e
Baddeley (1986, 1992).
FONTE: CAPOVILLA, Alessandra Gotuzo Seabra. Problemas de leitura e escrita: como
identificar, prevenir e remediar numa abordagem fônica. São Paulo: Memnon, 2000.
ITEM ESCRITO
Sistema de análise
visual
Sistema de
reconhecimento visual
de palavras
Sistema de segmentação
da seqüência ortográfica
Sistema de conversão de
segmentos ortográficos
em fonológicos
Sistema de síntese
fonológica
COMBINAÇÃO
Sistema de ativação das
representões semânticas
LÉXICO SEMÂNTICO
Sistema de ativação das
formas fonológicas
LÉXICO AUDITIVO
Sistema de produção
fonológica
PROCESSO DE
CONTROLE
ARTICULATÓRIO
Sistema de ativação das
formas ortográficas
MORFEMAS E/OU
PALAVRAS
Léxico orto
g
ráfico
Buffer fonológico
ARMAZENAMENTO
FONOLÓGICO PASSIVO
FALA
SE O
RECONHECIMENTO
FALHAR
SE O
RECONHECIMNETO
OCORRER
35
2.3 O PROCESSAMENTO FONOLÓGICO E ALFABETIZAÇÃO
A importância do processamento fonológico para o aprendizado da leitura e
escrita tem sido consistentemente demonstrada nas últimas duas décadas
(McGuinness et al., 1995). Tal processamento refere-se às operações mentais de
processamento de informação baseadas na estrutura fonológica da linguagem oral.
Há três tipos de processamento claramente relacionados às habilidades de leitura e
escrita: o acesso ao léxico mental, a memória de trabalho fonológica e a consciência
fonológica.
2.3.1 O acesso ao léxico mental
A expressão acesso ao léxico mental refere-se à habilidade de ter acesso
fácil e rápido à informação fonológica estocada na memória de longo prazo. Essa
eficiência no acesso léxico parece facilitar o uso de informações fonológicas nos
processos de decodificação e codificação durante a leitura e a escrita. Logo,
diferenças individuais na habilidade de obter acesso lexical em pré-escolares
tendem a ser fortes preditores de desempenho de leitura de palavras na primeira
série.
2.3.2 A memória de trabalho fonológica
A expressão memória de trabalho fonológica refere-se tanto ao
processamento ativo quanto ao armazenamento transitório de informações
fonológicas e reflete habilidades de representar mentalmente características
36
fonológicas da linguagem. Crianças com dificuldades severas de leitura e escrita
também freqüentemente apresentam distúrbios de memória de trabalho fonológica.
2.3.3
A consciência fonológica
A consciência fonológica refere-se tanto à consciência de que a fala pode
ser segmentada quanto à habilidade de manipular tais segmentos. O exame deste
conceito no presente trabalho é essencial visto que a importância da consciência
fonológica para o processo de aprendizagem da leitura e da escrita tem sido
bastante reconhecida. Segundo Capovilla (2000, p.18): “um grande número de
estudos tem relatado que a habilidade de estar conscientemente atento aos sons da
fala correlaciona-se com o sucesso na aprendizagem da leitura e escrita” (Liberman,
Shankweiler, Fischer, & Carter, 1974; Stanovich, Cunningham, & Cramer, 1984;
Lundberg, Frost, & Petersen, 1988).
A consciência fonológica é um tipo de consciência metalingüística. Segundo
Tunmer e Cole (1985), consciência metalingüística é a habilidade de desempenhar
operações mentais sobre o que é produzido por mecanismos mentais envolvidos na
compreensão de sentenças. Portanto, a consciência metalingüística envolve tanto a
consciência de certas propriedades da linguagem quanto a habilidade de tomar as
formas lingüísticas como objetos de análise. Tal habilidade metalingüística
diferencia-se das habilidades lingüísticas, como por exemplo, a percepção ou a
discriminação fonêmica (capacidade de discriminar entre pares de estímulos que
definem em apenas um fonema ou em um traço fonético). Enquanto tais habilidades
lingüísticas são não- conscientes e não-intencionais, as habilidades metalingüísticas
37
são conscientes, intencionais e necessitam de instrução formal para serem
adquiridas. Por exemplo, uma criança não-alfabetizada e um adulto analfabeto
conseguem discriminar funcionalmente entre as palavras pato e rato, mas são
incapazes de intencionalmente contar o número de fonemas de cada uma dessas
palavras, ou mesmo de manipulá-los.
Segundo Blischak (1994), durante seu processo de desenvolvimento a
criança pode tornar-se consciente de frases, palavras sílabas e fonemas como
unidades separadas. A consciência da fonologia, ou do sistema sonoro da língua,
desenvolve-se, portanto, gradualmente, na medida em que a criança vai se
tornando consciente de palavras, sílabas e fonemas como unidades identificáveis.
No presente trabalho, o termo consciência fonológica é usado para fazer referência
à consciência geral de segmentos nos níveis de palavra e subpalavra (palavras,
rimas, aliterações, sílabas e fonemas), enquanto o termo consciência fonêmica é
usado em referência específica à consciência de fonemas. O desenvolvimento da
consciência fonológica nem sempre se dá na ordem citada acima. Há relatos de
crianças em que a consciência silábica emergiu antes da consciência de palavras.
Porém, parece ser consenso que a última habilidade a surgir é a consciência
fonêmica.
De fato, há evidência de que crianças pequenas têm muito maior
consciência de sílabas, aliterações e rimas do que de fonemas. A consciência
fonêmica parece requerer experiências específicas além da mera exposição aos
conceitos de rima e aliteração. De acordo com Liberman et al. (1974), a precedência
da consciência supra-fonêmica em relação à consciência fonêmica é devida ao fato
de que sílabas isoladas e outros segmentos mais amplos são manifestados como
38
unidades na fala, enquanto que fonemas isolados não o são. Fonemas só se tornam
manifestos como unidades da fala quando eles se associam a outros fonemas e
formam unidades maiores. Como aponta Morais (1995), alguns fonemas não são
segmentos acústicos independentes.
Portanto, de modo a ser capaz de identificar fonemas individuais, a criança
precisa receber treino explícito sobre regras de mapeamento da escrita alfabética,
isto é, o ensino formal e sistemático da correspondência entre os elementos
fonêmicos da fala e os elementos grafêmicos da escrita.
O tipo de consciência fonológica promovido pela instrução de leitura
depende do tipo de sistema de escrita que está sendo ensinado: a consciência
fonêmica só parece ser alcançada com a introdução de um sistema alfabético, mas
não com a de um sistema silábico ou ideográfico.
Conforme relatado por Read et al. (1986), por exemplo, chineses
conhecedores de ortografias alfabéticas obtiveram sucesso em tarefas de adição e
subtração de fonemas, mas chineses conhecedores apenas de ortografias
ideográficas não foram capazes de realizar tais tarefas. De modo consistente com
tais achados, Morais et al. (1987) relataram que adultos portugueses analfabetos
desempenharam-se pobremente em tarefas de manipulação fonêmica, sendo que
adultos que possuíam algum grau de alfabetização desempenharam-se
consideravelmente melhor. Porém, não houve diferenças significativas entre
alfabetizados e analfabetos numa tarefa de julgamento de rimas. Resultados como
estes sugerem que adultos analfabetos não conseguem analisar a fala em fonemas,
e que a consciência fonêmica da estrutura da linguagem não emerge
espontaneamente.
39
Alégria et al. (1997) enfatizam que a tomada de consciência de que a fala
possui uma estrutura fonêmica subjacente é essencial para a aquisição da leitura,
pois esta estrutura permite utilizar um sistema gerativo que converte a ortografia em
fonologia, o que permite à criança ler qualquer palavra nova (apesar de cometer
erros em palavras irregulares). Tal geratividade, característica das ortografias
alfabéticas, permite a auto-aprendizagem pelo leitor, pois ao se deparar com uma
palavra nova, ele a lerá por decodificação fonológica. Este processo aos poucos
contribuirá para criar uma representação ortográfica daquela palavra, que poderá,
então, ser lida pela rota lexical. Ou seja, o próprio processo fonológico é que
possibilita a posterior leitura lexical.
A importância da leitura fonológica nos estágios iniciais da leitura é
reforçada por estudos como o de Byrne (1996). De acordo com eles, dois terços das
crianças de segunda e terceira séries primárias apresentam desempenhos
comparáveis em leitura fonológica e lexical (ou seja, elas são boas em ambas ou
fracas em ambas). Contudo, um terço das crianças tendem a ser fortes na leitura
fonológica e fracas na lexical, ou fracas na leitura fonológica e fortes na lexical. O
autor chamou as primeiras de leitores “fenícios”, e as últimas de leitores “chineses”.
Na segunda série, a pontuação de compreensão de leitura obtida pelos leitores
“chineses” é maior que a dos leitores “fenícios”. No entanto, da terceira série em
diante, o padrão tende a se inverter. Ou seja, a longo prazo, um estilo de leitura
“fenício” é muito mais vantajoso que um estilo de leitura “chinês”.
Em tarefas de leitura envolvendo tanto palavras grafo-fonemicamente
regulares quanto irregulares, enquanto a habilidade relativa dos leitores “fenícios”
40
ainda continuava mais alta e melhorava cada vez mais, a dos “chineses” ainda
permanecia inferior, e estava ficando relativamente pior.
A explicação para tal achado é que as crianças “chinesas” aprenderam a ler
por associação entre a forma visual inteira da palavra escrita e sua forma ouvida
correspondente, e não pelo mecanismo gerativo da decodificação fonológica. O
padrão de leitura logográfica resultante funciona apenas enquanto os requisitos de
leitura forem ainda tão baixos e elementares que o universo de palavras a serem
lidas pode ser armazenado visualmente, ou então eficazmente adivinhado
recorrendo ao contexto da estória ou enredo. Contudo, à medida que a criança
progride da segunda para a terceira série e, desta para a quarta e quinta séries, os
requisitos formais de leitura (vocabulário, gramática) aumentam, de modo a
sobrecarregar irremediavelmente a capacidade da memória em armazenar
representações logográficas.
Paralelamente, os mecanismos de adivinhação pelo contexto tornam-se
cada vez menos eficazes, o que resulta numa grande dificuldade em ler e apreender
conhecimentos novos. Por outro lado, a esta altura, as crianças “fenícias” que
aprenderam a ler por meio da decodificação fonológica, depois de tornarem-se mais
e mais proficientes em tal mecanismo gerativo, lêem a velocidades
progressivamente maiores, acumulam maiores vocabulários e, assim, alcançam
níveis de compreensão de leitura cada vez mais elevados. Dados como estes são
fortes evidências corroborativas da importância da rota fonológica e da consciência
fonológica para o desenvolvimento da leitura.
De fato, a instrução direta da consciência fonológica, combinada à instrução
da correspondência grafema-fonema, acelera a aquisição da leitura (Ball &
41
Blachman, 1991). Quando as crianças estão aprendendo a ler, a consciência
fonológica as auxilia no processo de decodificar palavras, facilitando assim sua
compreensão de leitura.
Geralmente, ao término da primeira série as crianças já são capazes de
combinar e segmentar sons em palavras faladas.
42
3. CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA X LEITURA E ESCRITA
Para fundamentar de forma mais apropriada este trabalho, torna-se
imprescindível uma revisão de estudos que investigam o papel da consciência
fonológica sobre a aprendizagem da leitura e da escrita. Na verdade, os estudos
que abordam a relação entre a consciência fonológica e o desenvolvimento da
leitura e da escrita são abundantes na literatura internacional; contudo os primeiros
trabalhos de Língua Portuguesa, datam da década de 80 ( por exemplo, Carraher &
Rego, 1981).
Destaca-se que uma das investigações mais expressivas abordando a
relação entre diferentes níveis da consciência fonológica (identificação de rimas,
sílabas e fonemas) e a aquisição da leitura e da escrita foi realizada por Cardoso-
Martins (1995). De acordo com os resultados dessa investigação, a habilidade das
crianças para detectar rimas no início da instrução formal em leitura (mais ou menos
aos seis anos de idade) foi preditiva da sua capacidade de leitura quatro meses
mais tarde, mas não serviu como preditor da capacidade demonstrada no final do
ano escolar. Entretanto, a habilidade para detectar rimas não foi preditiva da
capacidade ortográfica das crianças em nenhum dos momentos da pesquisa. Além
disso, a habilidade na tarefa de identificação da sílaba inicial serviu como preditor da
capacidade de leitura tanto aos quatro quanto aos oito meses após o início do ano
letivo, embora não tenha servido para prever a capacidade ortográfica. Por outro
lado, a referida pesquisadora verificou que a habilidade de identificação de fonema
inicial revelou-se capaz de prever significativamente a capacidade de leitura e de
escrita nos dois momentos da pesquisa (quatro e oito meses após o início do ano
43
letivo). Em suma, os resultados de Cardoso-Martins (1995) sugerem que a
consciência fonêmica representa o nível de consciência fonológica que tem o papel
mais importante na aquisição da leitura e da escrita em Português.
Os estudos realizados por Maluf e Barrera (1997) encontraram uma alta
correlação entre os níveis de consciência fonológica e de aquisição da linguagem
escrita. Além disso, Morais (1997) constatou que os leitores não-proficientes, apesar
de perceberem a palavra enquanto seqüência lingüística obtiveram piores
resultados nas provas de consciência fonológica, principalmente em relação à
detecção de fonemas iniciais. Ademais, o estudo de Capovilla (1998) demonstrou
que o fornecimento de instruções fônicas explícitas às crianças facilita a aquisição
de leitura e escrita.
O estudo realizado por Santamaria et al., (2004), comparou o
desenvolvimento da consciência fonológica com os processos de alfabetização,
analisando sua participação no processo de letramento. Verificou-se que as
crianças na fase pré-silábica apresentavam baixo grau de consciência fonológica
enquanto crianças dos níveis silábico e silábico-alfabético tiveram melhor
desempenho nas provas, e as alfabéticas demonstraram domínio na execução das
mesmas. Esta pesquisa permitiu concluir que o maior grau de consciência
fonológica ocorreu nas crianças alfabetizadas e que a consciência fonológica é uma
habilidade de suma importância na aquisição do letramento, não ocorrendo
unicamente, nem isoladamente, mas sim interligada às outras habilidades e
evoluindo com o processo de aprendizagem.
Na pesquisa realizada por Capovilla (1998), “prova de consciência
fonológica: desenvolvimento de dez habilidades da pré-escola à segunda série”,
44
encontrou-se que, quanto mais avançado o nível escolar das crianças, tanto melhor
o seu desempenho nas tarefas de consciência fonológica. Da mesma maneira, os
desempenhos em cada subteste especificamente também mostraram-se em função
do nível escolar. Ou seja, os desempenhos em cada um dos dez subtestes da PCF
tenderam a aumentar com o número do nível escolar das crianças.
De acordo com Alégria et al. (1997), o desenvolvimento das habilidades
silábicas precede o das habilidades fonêmicas, favorecendo o desenvolvimento da
leitura. De fato, o estudo apresentado por Capovilla (1998) mostra que os
desempenhos em todos os subtestes envolvendo sílabas foram superiores àqueles
envolvendo fonemas. Portanto, conforme previsto na literatura, foi observado que a
consciência silábica se desenvolve mais precocemente que a fonêmica e reforça os
achados documentados na literatura de que a alfabetização e o desenvolvimento da
consciência fonológica ocorrem de forma paralela, mantendo uma estreita
correlação positiva entre si.
Outro trabalho significativo, foi realizado no Brasil por Pestun (2004), que
apresentou uma investigação precoce da consciência fonológica e futura habilidade
de leitura e escrita. O estudo longitudinal investigou a capacidade de consciência
fonológica em crianças sem habilidade de leitura e soletração e seu desempenho
em leitura e escrita dois anos mais tarde. Os resultados obtidos revelaram pobre
consciência fonológica quando da inserção das crianças da educação infantil, em
relação a turma que antecede a alfabetização; avanço significativo em consciência
fonológica no início do 1º ano; habilidade de leitura e escrita no início do 1º ano
somente nas crianças que apresentavam razoável consciência fonológica no pré-III,
ou seja, na etapa que precede a alfabetização. O estudo confirma a relação de
45
reciprocidade entre consciência fonológica e habilidade de leitura e escrita, uma vez
que os dados indicam uma relação causal (desempenho em consciência fonológica
em crianças sem habilidades de leitura e soletração e seus desempenhos em leitura
e escrita um ano mais tarde) bem como o efeito do ensino no crescimento das
competências metalingüísticas, verificadas na evolução de desempenho em cada
subteste da PCF.
Capellini (2000), realizou um estudo piloto com o objetivo de avaliar a
consciência fonológica em crianças com distúrbio específico de leitura e
escrita
(grupo II), distúrbio de aprendizagem (grupo III) e realizou a comparação de tal
avaliação com os achados de crianças que lêem conforme o esperado para a idade
e seu nível intelectual (grupo I). Os resultados mostraram que as crianças do grupo I
apresentaram bom nível de leitura ortográfica, nível intelectual superior médio e bom
desempenho na PCF em relação ao grupo II e III. Deste estudo preliminar, o autor
pode concluir que a alfabetização e o desenvolvimento da consciência fonológica
ocorrem concomitantemente durante o aprendizado da leitura.
Paula et al. (2005), investigaram a influência da terapia em consciência
fonológica no processo de alfabetização. Quarenta e seis crianças foram
submetidas à avaliação da leitura/escrita de palavras e pseudopalavras e da
consciência fonológica; o grupo experimental foi submetido à intervenção. O
resultado mostrou que a terapia interferiu positivamente no desempenho das
crianças do grupo experimental nas tarefas de consciência fonológica e em relação
ao seu desempenho em leitura e escrita e que, somente as crianças alfabetizadas
conseguiram realizar as tarefas de consciência fonológica. Assim, foi possível
46
concluir que a terapia de consciência fonológica facilita a aquisição do código
alfabético.
Cárnio e Santos (2005), investigaram a evolução da consciência fonológica
em alunos do ensino público fundamental após programa de estimulação
fonoaudiológica. Selecionaram 20 alunos com piores resultados na avaliação inicial
de letramento, e aplicaram as provas de consciência fonológica no início e no final
do programa de estimulação. As pesquisadoras concluíram que os alunos
apresentaram evolução, sugerindo eficácia do programa.
Pinheiro (1994), relata no seu trabalho de pesquisa “Leitura e Escrita: uma
abordagem cognitiva”, que o ganho em precisão da escrita ao longo do
desenvolvimento é mais rápido para palavras reais (PR) do que para
pseudopalavras (PP), o que significa que a familiaridade com o estímulo facilita a
sua escrita e revela uma influência lexical. Porém, em geral, a escrita das crianças
competentes evidenciaram um equilíbrio dos processos lexicais (PR) e fonológicos
(PP) no desenvolvimento normal.
Em suma, o contexto no qual este estudo se insere apresenta consenso a
respeito da importância da consciência fonológica para o desenvolvimento da
lectoescrita. Assim, existe todo um corpo teórico, tanto na literatura internacional
como na literatura brasileira, demonstrando a existência de uma importante relação
entre consciência fonológica e o aprendizado da leitura e da escrita que justificam o
propósito deste trabalho.
47
4. METODOLOGIA
Este projeto tem caráter de pesquisa quantitativa, parecendo ser a forma
mais apropriada para o desenvolvimento do presente estudo, que visa atender os
objetivos propostos e a problematização indicada no item introdutório e esboçada no
referencial teórico: avaliar o desenvolvimento da consciência fonológica em crianças
de classe média que estudam em escola particular na cidade do Rio de Janeiro, e
correlacionar com a aprendizagem da leitura e da escrita.
4.1 INFORMANTES
Participaram deste estudo 40 crianças, entre meninos e meninas da
primeira à quarta série, de uma escola particular de Educação Infantil e Ensino
Fundamental, localizada no bairro de Sulacap, na cidade do Rio de Janeiro. De
acordo com os objetivos a serem alcançados, as crianças não apresentavam
distúrbios auditivos, visuais ou de aprendizagem. Todas elas foram selecionadas
pelos professores como crianças com um desenvolvimento compatível com a série
escolar, através das avaliações pedagógicas, e realizaram exames audiométrico e
oftalmológico ao ingressarem na classe de alfabetização.
Meninos Meninas Total Idade Média
1ª Série 5 5 10 7.1
2ª Série 5 5 10 8.0
3ª Série 3 7 10 9.2
4ª Série 5 5 10 10.1
Total 182240
escolar, sexo e idade média.
Tabela 1. Distribuição de freqüência das crianças por nível
48
4.2 MATERIAL
Foram utilizados neste estudo os seguintes instrumentos:
- CONFIAS Consciência Fonológica: Instrumento de Avaliação Seqüencial. Sonia
Moojen, (coordenadora), 2003;
- Prova de Leitura em Voz Alta (Capovilla & Capovilla, 1997, adaptado de Pinheiro,
1994);
- Prova de Escrita sob Ditado (Capovilla & Capovilla, 1997, adaptado de Pinheiro,
1994).
Foi usado, um gravador e fita cassete para gravar as aplicações da Prova de
Consciência Fonológica – PCF e a Prova de Leitura em Voz Alta.
Teste de Consciência Fonológica: Instrumento de Avaliação Seqüencial
(CONFIAS)
O CONFIAS (Moojen, 2003) é um instrumento que tem como objetivo
avaliar a consciência fonológica de forma abrangente e seqüencial. Seu uso é
indicado para crianças a partir de quatro anos de idade.
O instrumento contém uma variedade de tarefas que buscam garantir o
acesso aos diferentes níveis de consciência fonológica.
É importante, ainda, salientar que este instrumento não só é apropriado
para uma análise quantitativa, mas fornece dados para análises qualitativas, a
serem feitas a partir da experiência do profissional que está frente a frente com a
criança.
O CONFIAS é dividido em duas partes. A primeira corresponde à
consciência da sílaba e é composto pelos itens:
49
S1 – Síntese
S2 – Segmentação
S3 – Identificação de sílaba inicial
S4 – Identificação de rima
S5 – Produção de palavra com a sílaba dada
S6 – Identificação de sílaba medial
S7 – Produção de rima
S8 – Exclusão
S9 – Transposição
A segunda parte que refere-se ao fonema é composta por:
F1 – Produção de palavra que inicia com o som dado
F2 – Identificação de fonema inicial
F3 – Identificação de fonema final
F4 – Exclusão
F5 – Síntese
F6 – Segmentação
F7 - Transposição
A descrição de cada um dos subtestes, a instrução apresentada
verbalmente pelo aplicador à criança, dois exemplos com as respectivas respostas e
as palavras-alvo serão apresentadas no Anexo C, pág. 84-89.
50
Prova de Leitura em Voz Alta
A Prova de Leitura em voz alta ( Anexo F, pág.93), apresenta itens
psicolinguísticos isolados, retirados da lista de Pinheiro (1994), composta de 48
palavras e 48 pseudopalavras.
As listas de palavras reais foram organizadas com base em uma análise
sobre o relacionamento som-letra na ortografia da língua portuguesa – o que gerou
três categorias de palavras: regular, regra e irregular – e também em uma
investigação da freqüência de ocorrência de palavras em livros de leitura da escola
primária – o que levou à classificação de palavras nas categorias de alta freqüência
e de baixa freqüência de ocorrência (Pinheiro e Keys, 1987).
A regularidade de palavras tem implicações diferentes para a leitura e para a
escrita, e essas implicações são mais relevantes para a escrita. Partindo desse
pressuposto, a classificação aqui proposta considera as irregularidades na
correspondência grafema-fonema do português brasileiro, que são importantes
para a escrita. Como resultado, muitas palavras classificadas como irregular ou
regra devem ser somente irregular ou regra do ponto de vista da escrita e,
portanto, não devem causar nenhum problema na leitura. A classificação proposta
foi feita tendo em vista palavras isoladas e o estilo semiformal de linguagem
(PINHEIRO, 1994, p. 133).
Para Pinheiro, 1994, as palavras regulares apresentam as seguintes
características: Letras que sempre representam o mesmo som ou sons que são
sempre transcritos pela mesma letra; letras e sons no seu contexto mais comum,
isto é, as letras recebendo seu primeiro valor fonético (ex.: o l antes de vogal) e os
sons representados por letras no seu primeiro contexto (ex.: /k/ representado por c
antes de a o u) e letras que representam um som na maioria dos contextos,
independente de representações ambíguas desse som em contextos específicos.
Este é o caso da representação de /s/ antes de e e i no começo de palavras e da
51
representação de /
Ζ
/ também antes de e e i.O fonema /s/ é grafado como s no
começo de palavras, na maioria dos contextos (ex.: sala, selva.seiva, sílaba, sola e
suave), entretanto, antes de e e i o /s/ pode ser também grafado com o grafema c
(ex.: cimento, cidade e cedo). Da mesma forma, enquanto /Ζ / é grafado com j na
maioria dos contextos (ex.: janela, sujeira e jeito) antes de e e i / / pode também ser
representado pelo grafema g.
Foram consideradas palavras regra àquelas cuja correspondência letra-som
poderia ser explicada por regra. Nos casos de letras que representam sons
idênticos em contextos idênticos, usou-se um critério de freqüência de ocorrência.
Assim, as palavras com ss entre vogais foram consideradas regras e as palavras
com ç ,sc ou c entre vogais foram consideradas irregulares. A única exceção com
referência ao uso de ss para representar /s/ parecer verificar-se quando ss está
ligado ao sufixo ao. Nessa posição, são compete com ção. Desde que ação é um
sufixo muito freqüente em português, as palavras com esse sufixo foram
consideradas regra e aquelas com ss + ão foram consideradas irregulares.
As palavras irregulares foram classificadas pelas correspondências
arbitrárias que não podem ser explicadas por regras. Por exemplo, o /Σ/, antes de
uma vogal, é grafada como ch ou x. Consequentemente, tanto chuva como xuxu
poderiam ser palavras irregulares pois em ambas há um mesmo som, que pode ser
representado por ch ou x. Somente aqueles que memorizam a grafia de palavras
em que há ch ou x são capazes de escrevê-las corretamente. Entretanto, enquanto
x é uma letra complexa que representa muitos fonemas diferentes, ch sempre
representa /Σ/. Por essa razão, as palavras em que há esse dígrafo foram
52
consideradas regulares e aquelas grafadas com x representando /s/ fora
consideradas irregulares.
As pseudopalavras, de diferentes categorias de regularidade, mantiveram
as correspondências regular, regra e irregular das palavras das quais elas foram
derivadas. Por exemplo, o estímulo dasa derivado de casa, como o próprio estímulo
casa, foi classificado como regra. Da mesma forma eçute, derivado de açude
recebeu a classificação de irregular.
Na leitura, a pronúncia de uma palavra inventada foi considerada correta quando
ela mantinha o seguinte: (1) uma correspondência letra-som permitida em dado
contexto (ex.: foxe lida como /∪φοΣε/, como /∪φοκσε/, ou como /∪φοζε/); (2) um
condicionamento contextual (ex.: dasa lida como /∪δαζα/, mas não como
/∪δασα/; (3) o padrão correto de tonicidade da língua (ex.: puas lida como
/∪πυασ/ e não como /πυ∪ασ/ e (4) a pronúncia da vogal, como indicada pelo
acento (ex.: dalé lida como “dalé” e não como “dalê” (PINHEIRO, 1994, p. 137).
Prova de Escrita sob Ditado
A Prova de Escrita sob Ditado de itens isolados (Anexo G, pág.94), é
composta por 48 itens de palavras reais e 48 itens de pseudopalavras, retirados da
lista de Pinheiro (1994). Tais itens também variam em termos de lexicalidade,
regularidade, freqüência e comprimento. A Prova de Escrita sob Ditado de palavras
reais, composta de 48 itens, está dividida em 24 palavras de alta freqüência e 24
palavras de baixa freqüência, sendo 16 regulares, 16 irregulares e 16 regra. A Prova
de Escrita sob Ditado de pseudopalavras, composta de 48 itens, está dividida em 16
palavras regulares, 16 irregulares e 16 regra.
Na escrita, uma palavra inventada, que contenha letras que representem sons
idênticos em contextos idênticos, pode ser escrita de muitas maneiras diferentes e
uma resposta será considerada correta desde que o fonema com múltiplas
representações seja reproduzido por um dos grafemas aceitos no contexto
53
particular (ex.: leço /∪λεσο/ grafado como “lesso”, “lesço”, “lexo”, etc, mas não
como “leso” /∪λεζο/. Assim, tomou-se como correto todo padrão ortográfico
permitido em um determinado contexto. No exemplo acima, todas as respostas a
leço são grafias fonéticas, com exceção de “leso”, que é um erro de
regularização: /σ/ foi grafado com s, a representação regular de /
σ
/, sem obedecer
ao condicionamento contextual. ( PINHEIRO, 1994, P. 137).
4.3 PROCEDIMENTOS
Esta pesquisa foi avaliada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade
Veiga de Almeida em reunião realizada no dia 17 de dezembro de 2004, sob
número 21/04, (Anexo A, pág.82), que a considerou Aprovada Sem Risco e com
necessidade de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
- Coleta de dados
O procedimento consistiu na aplicação de testes, cada um envolvendo a
leitura, pelas crianças, de palavras reais e de pseudopalavras e subseqüente ditado
desses estímulos. Também foi aplicado o Teste de Consciência Fonológica:
Instrumento de Avaliação Seqüencial (CONFIAS).
A tarefa de leitura foi realizada individualmente. Cada criança foi solicitada
a ler, num primeiro momento, os itens de uma lista de 48 palavras reais que variam
em freqüência de ocorrência, em regularidade de correspondência entre letra e som
e em comprimento. Num segundo momento, cada criança realizou a leitura de uma
lista de 48 pseudopalavras que variam em comprimento e que foram construídas
com as mesmas estruturas ortográficas e comprimentos dos estímulos usados na
primeira lista.
54
Na tarefa de escrita, cada criança foi solicitada a escrever os itens das listas
de palavras reais e, logo depois, os itens das listas de pseudopalavras que lhes foi
ditado.
As respostas de leitura e ditado foram classificadas como certas e erradas.
Na tarefa de leitura, as respostas foram classificadas durante a aplicação,
imediatamente após terem sido lidas. Na tarefa de ditado, a classificação de acertos
e erros foi realizada posteriormente. As listas experimentais foram as mesmas para
as quatro séries e as mesmas para a tarefa de leitura e escrita.
O Teste de Consciência Fonológica: Instrumento de Avaliação Seqüencial
(CONFIAS), foi aplicado em duas etapas: primeiro aplicou-se a parte referente ao
nível da sílaba e, em um outro momento, a parte relativa ao nível do fonema. Essa
divisão é importante para se evitar um eventual cansaço, por parte das crianças, ao
longo da aplicação do teste. A ordem das tarefas, entretanto, foi respeitada devido à
característica seqüencial do instrumento. Foi usado um gravador para registrar as
respostas das crianças.
Cada tarefa foi acompanhada por um quadro explicativo, no qual apareciam
as ordens e exemplos de como aplicá-la. Nos casos em que o entendimento das
tarefas mais complexas exigiam apoio visual, foram utilizadas fichas para
demonstrar às crianças o que elas deveriam fazer com cada som, relacionando
assim, cada ficha a um som da palavra.
Para facilitar o entendimento das crianças em relação à tarefa, foram
propostos sempre dois exemplos iniciais. Caso a criança testada, mesmo assim,
não compreendesse a ordem dada, o aplicador dava a resposta correta, fornecendo
explicações adicionais. Os exemplos não contaram para a pontuação, mesmo no
55
caso de a criança acertar os exemplos e errar as palavras que deveriam ser
pontuadas.
Nas tarefas em que foram usados desenhos (S3, S4, S6, S7, F2, e F3), a
criança testada visualizava um desenho de cada vez e mantinha a janela matriz
aberta até ser dada a resposta. Em seguida, o desenho era escondido e, logo
depois, era aberta a janela do desenho referente à palavra seguinte. Esse
procedimento pretendeu auxiliar a memória e não desviar a atenção da criança
testada, que deveria analisar uma palavra de cada vez.
Nos itens F1, F4 e F5 o aplicador produziu somente o som do fonema que
estava em análise, evitando a produção de uma vogal adjacente. Para facilitar essa
tarefa não foram utilizados fonemas oclusivos. Os sons deviam ser produzidos
isoladamente, ou seja, para /s/, produzir somente [ssss] e não [sã] ou o nome da
letra.
Cada resposta foi marcada no Protocolo de Respostas (Anexo D, pág.90),
que acompanha o instrumento de avaliação. Nessa folha há espaço para anotações
de observações relevantes realizadas ao longo da aplicação, para posterior análise
qualitativa.
Foram utilizados os Critérios para a Pontuação das Respostas (Anexo E,
pág,91-92), de acordo com as diferentes tarefas propostas no CONFIAS. As
respostas corretas receberam um ponto e as incorretas, zero ponto. No nível da
sílaba, o máximo de possibilidades de acertos é 40 pontos e no nível do fonema o
máximo de possibilidades de acertos é de 30 pontos, totalizando 70 pontos, o que
corresponde a 100% de acertos.
56
5. RESULTADOS
A presente análise foi feita com ênfase nos dados quantitativos, usando-se
como referência as observações concernentes a acertos e erros cometidos pelas
crianças no Teste de Consciência Fonológica: Instrumento de Avaliação Seqüencial
(CONFIAS), na Prova de Leitura em Voz Alta e na Prova de Escrita sob Ditado.
Analisamos cada proposta da avaliação individualmente, para em seguida
cruzarmos os dados dos universos pesquisados, buscando estabelecer as
correlações entre o desenvolvimento da consciência fonológica com a
aprendizagem da leitura e da escrita.
A análise dos dados buscou:
1. Comparar o desenvolvimento da consciência fonológica nas quatro séries
estudadas.
2. Comparar o desenvolvimento da leitura nas quatro séries estudadas.
3. Comparar o desenvolvimento da escrita nas quatro séries estudadas.
4. Observar a diferença no desempenho das crianças ao que se refere a palavras
reais (PR) e pseudopalavras (PP) na leitura e escrita e comparar com o
desempenho no nível da sílaba (NS) e no nível do fonema (NF) em relação a
consciência fonológica.
5. Correlacionar o desenvolvimento da consciência fonológica com a
aprendizagem da leitura e escrita.
57
Foi utilizado o teste ANOVA SIMPLES para análise de variância e
CORRELAÇÃO DE PEARSON para estabelecer as correlações entre as variáveis
estudadas.
A tabela abaixo expõe os dados referentes aos acertos e erros nas três
provas realizadas. Pode-se observar que o desempenho das crianças melhora com
o aumento da escolaridade.
Tabela 2 –Total de acertos e erros por séries em consciência fonológica, leitura e escrita.
Séries
Leitura
Escrita
Consciência Fonológica
Acertos Erros Acertos Erros Acertos Erros
PR PP PR PP PR PP PR PP NS NF NS NF
411 395 69 85 265 191 215 289 321 172 79 128
457 438 23 42 324 247 156 233 352 245 48 55
463 456 17 24 353 252 127 228 386 263 14 37
474 475 6 5 426 315 54 165 397 284 3 6
LEGENDA: PR = palavras reais / PP = pseudopalavras / NS = nível da sílaba / NF = nível do fonema
As tabelas 3, 3.1 e 3.2 mostram os resultados encontrados ao comparar o
desenvolvimento da consciência fonológica entre as séries estudadas.
Tabela 3 – Comparação do desenvolvimento da consciência fonológica entre a
1ª e 2ª série, 1ª e 3ª série e 1ª e 4ª série.
Desenvolvimento da Consciência T GL P
Fonológica
1ª e 2ª -6,070 18 0,000
1ª e 3ª -10,237 18 0,000
1ª e 4ª -18,299 18 0,000
Tabela 3.1 - Comparação do desenvolvimento da consciência fonológica entre
a 2ª e 3ª série e 2ª e 4ª série.
Desenvolvimento da Consciência T GL P
Fonológica
2ª e 3ª -2,641 18 0,017
2ª e 4ª -5,198 18 0,000
58
Tabela 3.2 - Comparação do desenvolvimento da consciência fonológica entre
a 3ª e 4ª série.
Desenvolvimento da consciência T GL P
Fonológica
3ª e 4ª série -2,264 18 0,036
LEGENDA: T= pontos T / GL = grau de liberdade / P = nível de significância
Encontramos, como se nas tabelas acima, uma diferença altamente
significativa ao compararmos o desenvolvimento da consciência fonológica entre os
grupos.
As tabelas 4, 4.1 e 4.2 expõem os resultados encontrados ao comparar o
desenvolvimento da leitura entre as séries estudadas.
Tabela 4 – Comparação da leitura entre a 1ª e 2ª série, 1ª e 3ª série e
1ª e 4ª série.
Leitura T GL P
1ª e 2ª -1,722 18 0,093
1ª e 3ª -2,378 18 0,029
1ª e 4ª -3,091 18 0,006
Tabela 4.1 - Comparação da leitura entre a 2ª e 3ª série e 2ª e 4ª série.
Leitura T GL P
2ª e 3ª -1,442 18 0,167
2ª e 4ª -0,3514 18 0,002
Tabela 4.2 - Comparação da leitura entre a 3ª e 4ª série.
Leitura T GL P
3ª e 4ª
-3,543
18
0,002
LEGENDA: T = pontos T / GL = grau de liberdade / P = nível de significância
59
Em relação aos dados sobre a leitura não foi observado uma diferença
significativa demonstrando que a leitura entre estas séries não apresentam muita
diferença. Na quarta série, pode-se dizer que há um maior amadurecimento no
processo de leitura (neste grupo de crianças), pois os dados apontam uma diferença
significativa dessa habilidade entre as demais séries, inclusive em relação à terceira
série.
As tabelas 5, 5.1 e 5.2 mostram os resultados das comparações feitas entre
as quatro séries ao que se refere a aprendizagem da escrita.
Tabela 5 - Comparação da escrita entre a 1ª e 2ª série, 1ª e 3ª série
e 1ª e 4ª série.
Escrita T GL P
1ª e 2ª -2,159 18 0,045
1ª e 3ª -2,824 18 0,011
1ª e 4ª -6,146 18 0,000
Tabela 5.1 - Comparação da escrita entre a 2ª e 3ª série e 2ª e 4ª série.
Escrita T GL P
2ª e 3ª -0,774 18 0,449
2ª e 4ª -4,719 18 0,000
Tabela 5.2 - Comparação da escrita entre 3ª e 4ª série.
Escrita T GL P
3ª e 4ª -3,856 18 0,001
LEGENDA: T = pontos T / GL = grau de liberdade / P = nível de significância
Apenas entre a 2ª e 3ª série (p < 0,449) não houve uma diferença
significativa. No entanto, foi observado entre as demais séries, 1ª e 2ª série (p <
0,045); (1ª e 3ª série (p < 0,01); 1ª e 4ª série (p < 0,000); 2ª e 4ª série (p < 0,000) e
entre 3ª e 4ª série (p < 0,001), um alto grau de significância.
60
Em relação à escrita os dados são um pouco diferentes do que em relação à
leitura, pois apenas entre 2ª e 3ª série essa diferença não foi significativa. Ao que
parece a maturidade em relação à leitura ocorre mais tardiamente do que na escrita,
no grupo de crianças estudadas.
A correlação entre o desenvolvimento da consciência fonológica e a
aprendizagem da leitura, na segunda série, será exposta na tabela abaixo.
Tabela 6. Correlação entre o desenvolvimento da consciência fonológica e aprendizagem da leitura
Na série.
Desenvolvimento da Aprendizagem
Consciência Fonológica da Leitura
Desenvolvimento da Pearson Correlation 1,000 -0,837
Consciência Fonológica P 0,000 0,003
N 10 10
Aprendizagem da Leitura Pearson Correlation -0,837 1,000
P 0,003 0,000
N 10 10
LEGENDA: P = nível de significância / N = correlação
Observa-se, apenas na 2ª série, uma correlação positiva (p < 0,003) entre o
desenvolvimento da consciência fonológica e aprendizagem da leitura em cada
série. As crianças que apresentaram mais acertos no teste de consciência
fonológica apresentaram mais acertos no teste de leitura.
No entanto, não houve uma correlação positiva na 1ª série ( p < 0,222 ), na 3ª
série ( p < 0,125 ) e na 4ª série ( p < 0,320 ).
A Tabela 7 expõe a correlação encontrada entre o desenvolvimento da
consciência fonológica e a aprendizagem da escrita na 1ª série.
Tabela 7. Correlação entre o desenvolvimento da consciência fonológica e aprendizagem da escrita
Na série.
Desenvolvimento da Aprendizagem
Consciência Fonológica da Escrita
Desenvolvimento da Pearson Correlation 1,000 0,580
Consciência Fonológica P 0,000 0,079
61
N 10 10
Aprendizagem da Escrita Pearson Correlation 0,580 1,000
P 0,079 0,000
N 10 10
LEGENDA: P = nível de significãncia / N = correlação
Ao correlacionar o desenvolvimento da consciência fonológica e a
aprendizagem da escrita em cada série, observa-se, na 1ª série uma tendência
positiva com (p < 0,079). As crianças que apresentaram mais acertos no teste de
consciência fonológica também apresentaram mais acertos no teste de escrita.
No entanto, não houve correlação na 2ª série ( p < 0,191), na 3ª série ( p <
0,400) e na 4ª série ( p < 0,297 ).
As tabelas abaixo apresentam a comparação entre o desempenho em
pseudopalavras (PP) e palavras reais (PR) na leitura e na escrita. Acredita-se que a
diferença no desempenho em PP e PR pode ser indicativa de uma maior utilização
da rota lexical em relação à fonológica no desenvolvimento das habilidades de
leitura e escrita.
Tabela 8. Comparação entre palavras reais
(PR) e pseudopalavras (PP) na leitura
SÉRIES P
1
a
e 2
a
0,036
1a e 3a 0,001
1
a
e 4
a
0,000
2
a
e 3
a
0,420
2
a
e 4a 0,001
3
a
e 4a 0,002
No que se refere à leitura o desempenho entre PR e PP demonstrou ser
diferente, com exceção dos dados observados na 2
a
e 3
a
série. A diferença do
desempenho ocorre com melhores resultados para palavras reais em relação às
pseudopalavras.
62
0
100
200
300
400
500
CFNS CFNF PPL PRL
1a serie
2a serie
3a serie
4a serie
Gráfico 1 – consciência fonológica e leitura de pseudopalavras e palavras reais
Tabela 9. Comparação entre palavras reais
(PR) e pseudopalavras (PP)na escrita
SÉRIES P
1
a
e 2
a
0,088
1a e 3a 0,028
1
a
e 4
a
0,000
2
a
e 3
a
0,879
2
a
e 4a 0,019
3
a
e 4a 0,005
Assim como na tabela 8, a tabela 9 demonstra que o desempenho em PR e
PP se diferenciou na prova de escrita, com exceção do desempenho das crianças
da 2a série em relação as da 1
a
série e as da 3
a
série. È curioso também observar
que a 3
a
série se diferencia mais em relação a 4
a
série, na prova de escrita, do que
a 2
a
série, demonstrando que os dados de 2
a
e 4
a
séries são mais equivalentes do
que de 3
a
e 4
a
série. Este dado pode ser indicativo de uma maior utilização da rota
lexical em relação à rota fonológica nestas crianças. Este resultado, não deve no
entanto ser generalizado dado o tamanho da amostra do estudo. Este fenômeno
então deve ser entendido como ocorrendo neste grupo de crianças.
63
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
CFNS CFNF PPE PRE
1a serie
2a serie
3a serie
4a serie
Gráfico 2 – consciência fonológica e escrita de pseudopalavras e palavras reais
A tabela 10 evidencia os dados da correlação entre as três variáveis
estudadas, desenvolvimento da consciência fonológica, aprendizagem da leitura e
aprendizagem da escrita, entre os grupos e dentro do próprio grupo.
Tabela 10. Correlação da consciência fonológica, leitura e escrita entre os grupos e dentro do
Próprio grupo.
GL F P
Desenvolvimento da Entre Grupos 3 54,919 0,000
Consciência Fonológica Dentro dos Grupos 36
Total 39
Aprendizagem da Leitura Entre Grupos 3 6,159 0,002
Dentro dos Grupos 36
Total 39
Aprendizagem da Escrita Entre Grupos 3 13,494 0,000
Dentro do Grupo 36
Total 39
LEGENDA: GL = grau de liberdade / F = variância / P = nível de significância.
Ao correlacionar o desenvolvimento da consciência fonológica e o
aprendizado da leitura e da escrita separadamente em todas as séries, observou-se
um alto grau de significância.
64
Mesmo que a comparação de série por série, não tenha em todos os grupos
demonstrado uma diferença significativa, de um modo geral o desenvolvimento da
consciência fonológica está relacionado com o desenvolvimento das habilidades de
leitura e escrita, como mostra o resultado da tabela 8 ao correlacionar as três
variáveis entre grupos e dentro do próprio grupo.
65
6. DISCUSSÃO
O presente estudo abordou, de forma geral, o desenvolvimento da
consciência fonológica e suas correlações com a aprendizagem da leitura e escrita.
O trabalho como um todo representou um percurso na tentativa de buscar a melhor
forma de compreender teoricamente o assunto e de atuar experimentalmente, de
modo a produzir um conhecimento útil e de valor à sociedade.
Os resultados observados, nesta pesquisa, em relação ao desenvolvimento
da consciência fonológica entre as séries determinaram uma diferença significativa
entre os grupos. Esses dados foram também encontrados na pesquisa realizada por
Capovilla (1988), confirmando que quanto mais avançado o nível escolar das
crianças, tanto melhor o seu desempenho nas tarefas de consciência fonológica, ou
seja, os desempenhos em cada um dos dez subtestes da CF tenderam a aumentar
com o nível escolar das crianças.
Os dados referentes ao desenvolvimento da leitura entre 1ª e 2ª série e 2ª
e 3ª série, não mostraram uma diferença significativa, talvez por sua proximidade.
No entanto, os dados apontam uma diferença significativa dessa habilidade entre as
demais séries. Também pode-se observar que, neste grupo de crianças, apenas a
4ª série apresentou um maior amadurecimento no processo de leitura. Nos estudos
realizados por Byrne (1996), dois terços das crianças de segunda e terceira séries
do ensino fundamental apresentaram desempenhos comparáveis em leitura
fonológica ou lexical, o que está de acordo com nossos dados.
Em relação à escrita os dados são um pouco diferentes do que em relação
à leitura, pois apenas entre a segunda e terceira série essa diferença não foi
66
significativa. Ao que parece, a maturidade em relação à leitura ocorre mais
tardiamente do que na escrita, no grupo de crianças estudadas. Pinheiro (1994),
relata no seu trabalho de pesquisa “Leitura e Escrita: uma abordagem cognitiva”,
que em geral, o desenvolvimento da escrita nas crianças competentes evidenciam
um equilíbrio dos processos lexicais e fonológicos no desenvolvimento normal. Para
Morton (1989), cada fase de desenvolvimento da leitura e escrita é caracterizada
por uma estratégia diferente para lidar com o texto escrito, e a ordem em que a
leitura e a escrita emergem varia em cada uma delas.
O desempenho na leitura de palavras reais (PR) e Pseudopalavras (PP),
observado nessa pesquisa foi diferente. O desempenho em PR foi superior ao de
PP entre as séries, com exceção dos dados observados na segunda e terceira
série. Esses dados também são coerentes com os resultados da pesquisa
apresentada por Byrne (1996), já citado no parágrafo anterior. Para Pinheiro (1994),
as distinções entre a leitura de palavras reais (PR) e pseudopalavras (PP) parecem
ser atingidas por volta dos estágios finais do desenvolvimento da leitura, e as
crianças competentes diferem principalmente em termos de desempenho
quantitativo.
O desempenho observado na comparação entre a escrita de palavras reais
(PR) e pseudopalavras (PP) mostra uma diferença entre as séries, com exceção
das crianças da segunda série em relação as da primeira série e as da terceira
série. Observou-se, de forma curiosa, que os dados da segunda e quarta séries são
mais equivalentes do que os dados da terceira e quarta série. No entanto, este
resultado não deve ser generalizado dado o tamanho da amostra do estudo, mas
pode ser indicativo, de que nestas crianças da 2ª e 4ª séries, há uma maior
67
utilização da rota lexical em relação à rota fonológica. Segundo Pinheiro (1994), o
ganho em precisão da escrita ao longo do desenvolvimento é mais rápido para
palavras reais (PR) do que para pseudopalavras (PP), o que significa que a
familiaridade com o estímulo facilita a sua escrita e revela uma influência lexical.
Porém, em geral, a escrita das crianças competentes evidenciaram um equilíbrio
dos processos lexicais (PR) e fonológicos (PP) no desenvolvimento normal.
O processo ortográfico descrito por Seymour e MacGrecor (1989),
considerado como uma expansão do sistema alfabético, é como esse sistema, um
processo de tradução da escrita para o som. Segundo Pinheiro (1994), essa teoria é
incompatível com o modelo de duplo-processo de leitura competente e com os
dados encontrados na sua pesquisa, que oferecem evidências do desenvolvimento
de uma rota para acesso lexical direto em estágios mais avançados da leitura e da
escrita. Portanto, o resultado encontrado entre a segunda e quarta série, mais
equivalente do que entre a terceira e quarta série, não é coerente com os citados
pela autora.
As análises dos resultados obtidos nesta pesquisa demonstram uma
correlação positiva entre o desenvolvimento da consciência fonológica e o
desenvolvimento da leitura e escrita, contudo tal fato, não nos permite afirmar que
há uma relação de precedência de um destes fatores sobre o outro, e sim, que a
aprendizagem da leitura e escrita se desenvolve durante o ensino fundamental e
que tal evolução se correlaciona com a evolução da consciência fonológica.
O estudo realizado por Santamaria et al. (2004), é coerente com os dados
apresentados no presente trabalho. Ele comparou o desenvolvimento da
consciência fonológica com os processos de alfabetização, analisando sua
68
participação no processo de letramento e concluiu que o maior grau de consciência
fonológica ocorreu nas crianças alfabetizadas e que a consciência fonológica é uma
habilidade de suma importância na aprendizagem da leitura e escrita, não ocorrendo
unicamente, nem isoladamente, mas sim interligada às outras habilidades e
evoluindo com o processo de aprendizagem.
De acordo com Alégria et al. (1997), a consciência silábica se desenvolve
mais precocemente que a fonêmica e reforça os achados documentados na
literatura de que a aprendizagem da leitura e escrita e o desenvolvimento da
consciência fonológica ocorrem de forma paralela, mantendo uma estreita relação
positiva entre si.
Capelline (2000), realizou um estudo piloto com o objetivo de avaliar a
consciência fonológica em crianças com distúrbio específico de leitura e escrita.
Os resultados mostraram que a aprendizagem da leitura e escrita e o
desenvolvimento da consciência fonológica ocorrem concomitantemente durante o
processo de aprendizagem.
Isto demonstra que os achados desta pesquisa são coerentes com os
resultados encontrados em outros estudos sobre o desenvolvimento da
consciência fonológica e a aprendizagem da leitura e escrita.
Portanto, os resultados do presente estudo, confirma dados já bem
documentados na literatura nacional e internacional
69
7. CONCLUSÃO
O desenvolvimento da consciência fonológica e a aprendizagem da leitura e
escrita apresentaram, de uma maneira geral, uma correlação positiva no estudo em
questão.
No entanto, ao investigar tal correlação série por série, observou-se que nas
séries iniciais, primeira e segunda série, essa correlação se apresentou mais forte,
do que na terceira e quarta série, onde não se observou significância estatística.
A comparação das três variáveis, desenvolvimento da consciência
fonológica, aprendizagem da leitura e aprendizagem da escrita, entre as quatro
séries, demonstrou um alto grau de significância estatística o que vem reforçar a
idéia da evolução destas habilidades.
Ao comparar a leitura de palavras reais (PR) e pseudopalavras (PP) os
dados mostraram uma diferença significativa, com exceção dos resultados
observados na segunda e terceira série. Também foi constatado que o desempenho
ocorre com melhores resultados na leitura de palavras reais (PR) em relação às
pseudopalavras (PP).
O desempenho na escrita de palavras reais (PR) e pseudopalavras (PP) se
diferenciou, com exceção dos resultados das crianças da segunda série em relação
as da primeira e as da terceira série.
Creio que podemos concluir que a aprendizagem da leitura e escrita se
desenvolvem durante o ensino fundamental e que tal evolução se correlaciona com
a evolução da consciência fonológica.
70
Vale no entanto apontar alguns pontos fracos no intuito de mostrar uma
colaboração a estudos posteriores. O número de informantes poderia ter sido maior
o que levaria a uma possibilidade mais ampla de generalização dos resultados.
Cabe também apontar como ponto forte do estudo o método utilizado, a
forma de coleta e análise dos dados, bem como o material que foi utilizado. Estes
demonstraram eficácia dentro da resposta do estudo.
Para estudos posteriores então, poderia se pensar em ampliar a amostra de
informantes e buscar investigar mais profundamente a relação entre consciência
fonológica e desenvolvimento de leitura e escrita. Além disso, sugere-se comparar
crianças do gênero masculino e feminino a fim de verificar a hipótese de um melhor
desempenho das habilidades de consciência fonológica nas meninas, visto o alto
índice de meninos que procuram atendimento fonoaudiológico em clínicas
especializadas nas alterações de leitura e escrita.
71
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALÉGRIA, J.; LEYBAERT, J.; MOUSTY, P. Aquisição da leitura e distúrbios
associados: Avaliação, tratamento e teoria. In J. Grégoire, & B. Piérart (Eds.),
Avaliação dos problemas de leitura: Os novos modelos teóricos e suas
implicações diagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. p. 105 - 124.
BALL, E.; BLACHMAN, B. A. Phoneme segmentation training: Effect on reading
readiness. Annals of Dyslexia, n. 38, p. 208 -225. 2002.
BERTELSON, P.; MORAIS, J.; ALEGRIA, J.; CONTENT, A. Phonetic analysis
capacity and learning to read. Nature, n.3, p.73-74. 2001.
BLISCHAK, D. M. Phonologic awareness: Implications for individuals with little or no
functional epeech. Augmentative and communication., n. 10, p. 245 -254. 2001.
BYRNE, B. Treinamento da consciência fonêmica em crianças pré-escolares:
por que fazê-lo e qual o seu efeito? In C. Cardoso Martins (Org.), Consciência
fonológica & alfabetização. Petrópolis: Vozes, p. 37- 36. 1996.
BRADLEY, L.; BRYANT, P.E. Categorizing sounds and learning to read a causal
connection. Nature, n. 301, p. 419-421. 1983.
BRYANT, P.E.; BRADLEY, L. Problemas de aprendizagem de leitura. (I.C.S.
Ortiz, Trad.) Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.
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72
CAGLIARI, L.C. Alfabetização e Lingüística. São Paulo: Scipione, 1997. 191p.
__________. Alfabetização sem o BÁ – BÉ – BI – BÓ – BU. São Paulo: Scipione,
1998. 399 p.
CAPELLINI, S. A.; CIASCA, S. M. Avaliação da consciência fonológica em
crianças com distúrbio específico de leitura escrita e distúrbio de
aprendizagem. Temas sobre Desenvolvimento, v. 8, n. 48, p. 17-23, 2000.
CAPOVILLA, Alessandra Gotuzo Seabra. Problemas de leitura e escrita: como
identificar, prevenir e remediar numa abordagem fônica. São Paulo: Memnon, 2000.
251p.
CAPOVILLA, A. G. S.; CAPOVILLA, F. C.; SILVEIRA, F. B. O desenvolvimento da
consciência fonológica, correlações com leitura e escrita e tabelas de
estandardização. Ciência Cognitiva: Teoria, Pesquisa e Aplicação, v. 2, n. 3, p.
113-160. 1998.
CAPOVILLA, A. G. S.; CAPOVILLA, F. C. Prova de consciência fonológica:
desenvolvimento de dez habilidades da pré-escola à segunda série. Temas sobre
Desenvolvimento, v.7, n.37, p.14-20, 1998.
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ed. São Paulo: Editorial Psy, 1994. 219 p.
75
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e Escrita: teoria e prática. São Paulo: Manole, 2002. 389 p.
SANTAMARIA, Viviane Laure.; LEITÃO, Patrícia Barros.; FERREIRA, Vicente José.
A consciência fonológica no processo de alfabetização. Revista CEFAC, São
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um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.
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Experimental Child Psychology, n.38, p.175-190. 1984.
TFOUNI, Leda Verdiane. Letramento e Alfabetização. 4. ed. São Paulo: Cortez,
2002. 104 p.
VELLUTINO, F. R.; SCANION, D. M.; LYON, R. G. Differentiating between
difficult-to-remediate and radily remediated poor readers: more evidence
against the IQ-Achievement discrepancy definition of reading disability. J. Learn.
Disab., v.3, n.33, p.223-38, 2000.
WALKER, C. B. F. Lendo o passado: do cuneiforme ao alfabeto. A história da
escrita antiga. São Paulo: Edusp, 1996.
76
77
78
79
80
81
82
83
84
85
ANEXO ECONFIAS: CRITÉRIOS PARA PONTUAÇÃO
6- CRITÉRIOS PARA A PONTUAÇÃO
Para facilitar a pontuação do teste, serão expostos, a seguir, critérios para o julgamento das
respostas de acordo com as diferentes tarefas.
Pontos
Tarefas
0
1
Síntese e segmentação
(S1, S2, F5, F6)
- Não responde
- Solicita mais de uma repetição.
- Sintetiza ou segmenta
Inadequadamente ou parcialmente:
Ex.: (S1) má-gico
(S2) e-sco-va
(F5) j-á = jaula
(F6) l-i-xo
- Diz o nome da letra e não o som.
Ex.: osso = o, ce, o
chá = x, agá, a
- Sintetiza e segmenta
corretamente.
Identificação
(S3, S4, S6, F2, F3)
- Não responde.
- Solicita mais de uma repetição.
- Escolhe a palavra incorreta.
- Identifica a palavra correta.
Produção (S5, S7, F1)
- Não produz ou diz que não sabe.
- Solicita mais de uma repetição.
- (S5) Produz uma palavra que não
inicia com a sílaba dada.
- (S5) Produz uma palavra que
inicia com o mesmo fonema, não
com a mesma sílaba.
-Ex.:
ca – as comida
- (S7) Produz uma palavra que não
rima com a palavra alvo.
- (S7) Produz a rima alterando a
consoante.
- Ex.: bo
la – hora / rato – caco
- (F1) Produz uma palavra que não
inicia com o fonema dado.
- (S5) Produz uma palavra
que inicia com a mesma
sílaba.
- (S5) Produz uma palavra
com a sílaba inicial acrescida
de um elemento.
Ex.:
casa – castelo
- (S7) Produz uma palavra
que rima com a palavra alvo.
- (S7) Produz uma palavra
inventada.
Ex.: b
olaóla
-(F1) Produz uma palavra
que inicia com o fonema
dado.
86
CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA: INSTRUMENTO DE AVALIAÇAO SEQÜÊNCIAL
- Não responde.
- Solicita mais de uma repetição.
- Não exclui ou exclui parcialmente
Exclusão (S8, F4) Ex.: (S8) piolho – iolho
- Exclui elementos a mais do que
o solicitado.
Ex.: (S8) barco – ba/ (F4) vida -da
-Exclui os elementos solicitados
corretamente.
-Exclui os elementos
solicitados, embora não
identifique a palavra resultante,
alterando a tonicidade.
Ex.: boneca - bone
- Não responde.
- Solicita mais de uma repetição.
- Não realiza a transposição.
- Realiza a transposição de
Transposição (S10,F7) forma incorreta.
- Realiza a transposição, mas
altera um elemento.
Ex.: valu – liva / lhomi – milo,
filo.
ôla – ali / óva - ave
-Realiza a transposição de
forma correta.
87
ANEXO F – Lista de itens psicolingüísticos componentes da Prova de Leitura.
(adaptada de Pinheiro, 1994)
Lista com 48 palavras reais
Alta Freqüência Baixa Freqüência
Regular Irregular Regra Regular Irregular Regra
duas hoje gato isca boxe nora
fala azul casa vila hino unha
chuva feliz papel malha açude vejam
festa homem noite marca órgão falcão
depois amanhã gostou olhava gemido inglês
letra cabeça coisas brigas xerife empada
sílabas observe escreva chegada higiene receita
gostava criança galinha batalha admirar marreca
Lista com 48 pseudopalavras
Alta Freqüência Baixa Freqüência
Regular Irregular Regra Regular Irregular Regra
puas hove gavo dalé inça alpo
zala ezal dasa igua cefo uram
isda foxe lora seva leço vono
tila himo inha jile orça esam
chuda saliz nabel lorta danãe sisse
vesta hodem muide bavai lexto esdão
nalha eçute pejam mesca juzes gorão
darca órpão dação coeta teões jalno
88
ANEXO G – Lista de itens psicolingüísticos componentes da Prova de Ditado.
(adaptada de Pinheiro, 1994)
Lista com 48 palavras reais
Alta Freqüência Baixa Freqüência
Regular Irregular Regra Regular Irregular Regra
café onça alto seda peço sono
água cedo eram jipe ouça usam
porta mamãe disse pesca luzes porão
papai texto estão moedas leões calmo
folhas dezenas porque mostra certas barril
chapéu muitas também cabras tigela nenhum
palavra extenso pássaro medalha cigarro quietos
colegas fazendo redação chupeta descida florido
Lista com 48 pseudopalavras
Alta Freqüência Baixa Freqüência
Regular Irregular Regra Regular Irregular Regra
pelois atanhã vestou dolhas nezema iorque
defras lepeça foisas chaméu muigas dampém
olhata gênico infles nosdra cerpas carril
dripas xeribe embuja gadras figeta denhum
vídacas otserf estreca calafra expenso jássaco
posdava friença tavinha vopegas razenco mepação
chepala lugiame neceida devalha ciparro quiados
cavalha abmicar tarrega chudeta pescita plorito
89
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