DOMENICO DE MASI E O ÓCIO CRIATIVO - 114
Houve uma série de consultas populares, e chegamos, no final, a certos
pontos seguros sobre os quais a cidadania se comprometia a criar o progresso
de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul. Depois, fiquei muito surpreso em outra
ocasião, em Fortaleza pela organização da opinião pública, através do jornal
local O Povo, pelos fascículos que este jornal distribui cada dia à população
para aumentar a formação, inclusive a formação executiva da população, e
para a organização da economia da região. Desta vez, estive em Belo
Horizonte e agora aqui. Duas coisas me surpreenderam. Em Belo Horizonte
fiquei impressionado com a instituição em que se formam garçons, artesãos,
técnicos e que reúne, no mesmo edifício, desde a escola primária até
laboratório e restaurante.
A outra coisa que me surpreendeu foi a participação na palestra sobre o
tempo livre. Nossos avós viviam 300 mil horas e trabalhavam 120. Nós vivemos
700 mil horas e trabalhamos no máximo 70 mil horas.
Enquanto nossos avós trabalhavam metade da vida, nós trabalhamos um
décimo. Mas escola e família nos preparam para o trabalho. Ninguém nos prepara
para o tempo livre. Muito menos a empresa. Por isso, o executivo de quem falei
que fica 10 ou 12 horas por dia no escritório, quando sai, no fim de semana, leva
trabalho para casa, pois não sabe fazer mais nada. Muitas vezes, no verão, na
praia, liga para o escritório para ter notícias do trabalho. É obcecado pelo trabalho.
E depois, aos 55 ou 60 anos, ele é mandado embora. Por prevenção, nesta idade,
se é mandado embora e, para ele, não há a morte imediata, como acontecia com
o avô. Por 20 ou 30 anos de vida, ele não sabe o que fazer.
Essa distinção entre tempo de estudo quando jovem, tempo de trabalho,
quando maduro, e aposentadoria, quando velho, é uma loucura. A velhice não
se calcula em relação ao nascimento, mas em relação à morte. Somos velhos
nos últimos dois anos de vida. Quando o homem vivia 50 anos, ficava velho
aos 48. Mas hoje, quando ele vive 80 anos, fica velho aos 78 anos. Ou seja, ao
se aposentar aos 60 anos, até os 80, há uma vida fisicamente forte e
psiquicamente desequilibrada, perdida. Perdemos inteligência por não
identificarmos talentos e, ao identificá-los, não os formamos como devíamos.
E depois os perdemos porque os usamos apenas 20 ou 30 anos,
quando podemos usar até uma criança, desde que trabalhe bem e pouco, faça