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Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biomédico
Faculdade de Enfermagem
Adriano Teixeira Monteiro Junior
Riscos ocupacionais e problemas de saúde associados
às condições de trabalho de enfermagem
em unidades intensivas hospitalares
Rio de Janeiro
2010
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Adriano Teixeira Monteiro Junior
Riscos ocupacionais e problemas de saúde associados
às condições de trabalho de enfermagem
em unidades intensivas hospitalares
Dissertação apresentada como requisito
parcial para a obtenção do tulo de Mestre,
ao Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem, da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro. Área de Concentração:
Enfermagem, Saúde e Sociedade.
Orientadora: Profª. Drª. Maria Yvone Chaves Mauro
Rio de Janeiro
2010
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CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/CBB
M775 Monteiro Junior, Adriano Teixeira.
Riscos ocupacionais e problemas de saúde associados às
condições de trabalho de enfermagem em unidades intensivas
hospitalares / Adriano Teixeira Monteiro Junior. - 2010.
129f.
Orientador: Maria Yvone Chaves Mauro.
Dissertação (mestrado) Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, Faculdade de Enfermagem.
1. Risco ocupacional. 2. Saúde e trabalho. 3. Enfermagem de
tratamento intensivo. I. Mauro, Maria Yvone Chaves. II.
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Faculdade de
Enfermagem. III. Título.
CDU
614.253.5
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial
desta dissertação.
________________________________ _____________________
Assinatura Data
Adriano Teixeira Monteiro Junior
Riscos ocupacionais e problemas de saúde associados
às condições de trabalho de enfermagem
em unidades intensivas hospitalares
Dissertação apresentada como requisito
parcial para a obtenção do título de Mestre,
ao Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem, da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro. Área de Concentração:
Enfermagem, Saúde e Sociedade.
Aprovada em 9 de Março de 2010
Banca Examinadora:
___________________________________________
Profª. Drª. Maria Yvone Chaves Mauro (Orientadora)
Faculdade de Enfermagem / UERJ
___________________________________________
Profª. Drª. Angela Maria Mendes Abreu
Escola de Enfermagem Anna Nery / UFRJ
___________________________________________
Profª. Drª. Norma Valeria Dantas de Oliveira Souza
Faculdade de Enfermagem / UERJ
Rio de Janeiro
2010
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho às mulheres mais importantes da minha vida: minha
mãe Maria Cidália, pelo apoio e abrigo; minha esposa Paula, pelo incentivo, amor,
carinho e compreensão; e às minhas lindas filhas Mariana e Ana Luisa, pela energia
e alegria contagiantes.
AGRADECIMENTOS
A Deus, sobre todas as coisas.
À minha família por toda torcida e conforto nas horas difíceis.
À Profª. Maria Yvone Chaves Mauro, pela grata surpresa, pelo tratamento
essencialmente humano, carinhoso e verdadeiro, pela tolerância, pelos
ensinamentos profissionais e de vida, pelo exemplo e inspiração.
Aos enfermeiros Rogério Marques (Coordenador de Enfermagem) e Augusto
César (Chefe de Serviço), pelo apoio e facilitação para participar do mestrado.
Aos meus companheiros de trabalho no hospital, colaboradores diretos do
setor ou não, por terem compreendido minha inevitável ausência em alguns
momentos, meu cansaço, meu estresse, meu momento.
À professora Norma Valéria Dantas, pela inestimável contribuição ao meu
ingresso no mestrado e à minha pesquisa, pelas minuciosas correções, pela forma
de agir, pela amizade e pelo profissionalismo.
Aos professores Regina Zeitoune, Angela Mendes e Elias Barbosa, pelas
sugestões e correções fundamentais ao meu trabalho.
Aos acadêmicos (agora enfermeiros) Michely, Viviane, Hélio e Fernanda por
terem “quebrado todos os galhos” possíveis.
Aos colegas do mestrado orientandos da mesma professora: Nei, Jéssica e
Ana Carina, não pela parceria e cumplicidade nas dificuldades, tensões e
cumprimento de etapas, mas também pelos bons momentos e risadas.
Aos colegas do mestrado Patrícia, Sabrina, Belchior, Flávia, Ana Paula, Luiz
Fernando e outros, pelas frequentes e construtivas discussões, pelo prazeroso clima
em sala de aula, pelo estímulo.
Aos funcionários da secretaria do PPGEnf, Fabíola, Renan e Marcelo, pela
paciência e auxílio.
Aos Chefes de Enfermagem das unidades intensivas do HU, pelo total apoio e
auxílio na elaboração da pesquisa.
Aos trabalhadores de enfermagem das unidades intensivas participantes da
pesquisa, pela disponibilidade e seriedade, pelas contribuições, palavras de
incentivo e sorrisos.
A todos que disseram “você vai conseguir”.
RESUMO
MONTEIRO JUNIOR, Adriano Teixeira. Riscos ocupacionais e problemas de
saúde associados às condições de trabalho de enfermagem em unidades
intensivas hospitalares. 2010. 129 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) -
Faculdade de Enfermagem, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2010.
Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo, visando uma análise das
condições de trabalho em unidades intensivas de um hospital universitário no
município do Rio de Janeiro. Foi definido como objeto de estudo a percepção dos
trabalhadores de enfermagem sobre os riscos ocupacionais e os problemas de
saúde inerentes às condições de trabalho em unidades intensivas e como problema
de pesquisa: quais os riscos ocupacionais e problemas de saúde relacionados às
condições de trabalho, percebidos pelos trabalhadores de enfermagem, em
unidades intensivas de um hospital universitário? O objetivo geral foi estudar nas
unidades intensivas os riscos ocupacionais e problemas de saúde da equipe de
enfermagem e sua relação com condições de trabalho, a partir da percepção dos
mesmos. Os objetivos específicos traçados foram: identificar as características
pessoais e profissionais dos trabalhadores de enfermagem de unidades intensivas;
descrever os fatores de risco do ambiente de trabalho percebidos pelos
trabalhadores de enfermagem; levantar os problemas de saúde percebidos pelos
trabalhadores e sua relação com o trabalho; analisar a associação entre os
problemas de saúde percebidos pelos trabalhadores de enfermagem e as condições
do trabalho em unidades intensivas. Participaram da pesquisa 125 profissionais de
enfermagem de quatro unidades intensivas do Hospital Universitário (HU) entre Maio
e Julho de 2009. A predominância foi de profissionais do sexo feminino, com idade
acima dos 40 anos, com mais de um vínculo empregatício e trabalhando no HU há
mais de 10 anos. Os riscos ocupacionais mais percebidos pelos trabalhadores foram
os ergonômicos, seguido dos biológicos, de acidentes, físicos e químicos. Os
problemas de saúde mais frequentes foram varizes, problemas oculares, lombalgias,
estresse e depressão, transtornos do sono, lesões de coluna vertebral, dores de
cabeça, mudanças no humor, dores musculares crônicas e hipertensão arterial. Pela
associação entre riscos ocupacionais e problemas de saúde, conclui-se que os
trabalhadores expostos a fatores de riscos ergonômicos e físicos têm maior
probabilidade de adquirir problemas de saúde osteoarticulares e circulatórios
(varizes). Diante dos dados desta pesquisa faz-se necessário aprofundamento da
investigação sobre os fatores de riscos encontrados e possíveis medidas para
minimizá-los, mediante novos estudos. Como recomendações destacam-se a
criação de um espaço de discussão entre os gerentes e trabalhadores para a
elaboração de um programa que vise a promoção e proteção da saúde do
trabalhador de enfermagem de unidades intensivas; implementação de medidas de
controle específicas para cada tipo de risco evidenciado e a criação de um Comitê
de Ergonomia para operacionalizar a implementação das melhorias no HU, a fim de
consolidar as transformações esperadas.
Palavras-chave: Saúde do Trabalhador. Condições de Trabalho. Risco Ocupacional.
Trabalho de Enfermagem. Terapia intensiva.
ABSTRACT
It treats of a quantitative study, descriptive, aiming for an analysis of the work
conditions in intensive units of a university hospital in the Rio de Janeiro County. It
was defined as study object the nursing workers´ perception about the occupational
risks and the health problems inherent to the work conditions in intensive units and
as research problem: which are the occupational and health problems related to the
work conditions, perceived by the nursing workers, in intensive units of a university
hospital? The general objective was study in the intensive units the occupational
risks and nursing team´ s health and its relation with work conditions, from the
perception of the same. The specific objectives planned were: identify the nursing
workers´ personal and professional characteristics of intensive units; describe the risk
factors of the work environment perceived by the nursing workers; raise the health
problems perceived and its relation with the work; analyze the association between
the health problems perceived by the nursing workers and the work conditions in
intensive units. 125 nursing professionals of four intensive units of the Hospital
Universitário (HU) participated of the research between May and July of 2009. The
predominance was of professionals of female sex, with age above 40 years, with
more than a contract of employment and working in the HU for more than 10 years.
The more perceived occupational risks by the workers were the ergonomic, followed
by the biological, physical and chemical accidents. The more frequent health
problems were varices, ocular problems, lumbar pain, stress and depression, sleep
disturbances, lesions of vertebral spine, headache, humor changes, chronic
muscular pain and arterial hypertension. By the association between occupational
risks and health problems, it concludes that the workers exposed to the ergonomic
and physic risks have more probability of acquiring osteoarticular and circulatory
health problems (varices). Before this research it needs the investigation´ s
profoundness about the risk factors found and possible measures to minimize them,
through new studies. As recommendations there are emphasized the creation of a
discussion space between the managers and workers for a program elaboration that
aims for the health worke s promotion and protection of intensive units;
implementation of specific control measures for each type of evidenced risk and the
creation of a Ergonomics Committee to optimize the improvements implementation in
the HU, in order to consolidate the expected transformations.
Key words: Occupational Health. Work Conditions. Occupational Risk. Nursing Work.
Intensive Therapy.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Questionários respondidos por unidade intensiva do HU, Rio de
Janeiro, 2009 ..................................................................................
55
Distribuição dos trabalhadores segundo faixa salarial mensal nas
unidades intensivas do HU, Rio de Janeiro, 2009 ..........................
64
Distribuição dos trabalhadores segundo vínculo empregatício e
faixa salarial mensal nas unidades intensivas do HU, Rio de
Janeiro, 2009 ..................................................................................
64
Distribuição dos trabalhadores de enfermagem das unidades
intensivas em relação à década em que foram admitidos no HU,
Rio de Janeiro, 2009 .......................................................................
65
Distribuição proporcional de respostas dos trabalhadores
segundo percepção da existência de fatores de riscos do
ambiente de trabalho (Sempre/Frequentemente) no HU, Rio de
Janeiro, 2009 ..................................................................................
68
Demonstrativo de Risco de Acidentes percebido
“Sempre/Frequentemente” pelos trabalhadores de enfermagem
no HU, Rio de Janeiro, 2009 ..........................................................
69
Demonstrativo de Risco Biológico percebido “Sempre/
Frequentemente” pelos trabalhadores de enfermagem no HU, Rio
de Janeiro, 2009 .............................................................................
70
Demonstrativo de Risco sico percebido “Sempre/
Frequentemente” pelos trabalhadores de enfermagem no HU, Rio
de Janeiro, 2009 .............................................................................
71
Demonstrativo de Risco Químico percebido “Sempre/
Frequentemente” pelos trabalhadores de enfermagem no HU, Rio
de Janeiro, 2009 .............................................................................
73
Demonstrativo de Risco Ergonômico percebido “Sempre/
Frequentemente” pelos trabalhadores de enfermagem no HU, Rio
de Janeiro, 2009 .............................................................................
74
Distribuição proporcional dos trabalhadores segundo percepção
de fatores de riscos do ambiente de trabalho quanto à resposta
“Desconhece” do HU, Rio de Janeiro, 2009 ...................................
79
Distribuição proporcional da existência de problemas de saúde
nos trabalhadores de enfermagem das unidades intensivas do
HU, Rio de Janeiro, 2009 ................................................................
80
Problemas de saúde e relação com o trabalho segundo a
percepção dos profissionais de enfermagem das unidades
intensivas do HU, Rio de Janeiro, 2009 ..........................................
81
Problemas de saúde percebidos pelos profissionais de
enfermagem como “Provocados pelo trabalho nas unidades
intensivas do HU. Rio de Janeiro, 2009 ..........................................
88
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 -
Distribuição dos trabalhadores de enfermagem das unidades
intensivas segundo sexo, faixa etária e estado civil, HU, Rio de
Janeiro, 2009 ..................................................................................
56
Tabela 2 -
Distribuição dos trabalhadores de enfermagem das unidades
intensivas segundo categoria profissional, contrato de trabalho e
número de vínculos empregatícios, HU, Rio de Janeiro, 2009 .......
58
Tabela 3 -
Distribuição dos trabalhadores segundo tipo de jornada e carga
horária semanal nas unidades intensivas do HU, Rio de Janeiro,
2009 ................................................................................................
62
Tabela 4 -
Demonstrativo da escala de Riscos no Ambiente de Trabalho
(RAT) segundo a percepção dos trabalhadores de enfermagem
no HU, Rio de Janeiro, 2009 ...........................................................
75
Tabela 5 -
Distribuição dos trabalhadores das unidades intensivas segundo
a categoria profissional em relação à escala de Riscos no
Ambiente de Trabalho (RAT) no HU, Rio de Janeiro, 2009 ............
76
Tabela 6 -
Demonstrativo da avaliação da escala de Problemas de Saúde do
Trabalhador (PST) de enfermagem das unidades intensivas do
HU, Rio de Janeiro, 2009 ................................................................
89
Tabela 7 -
Distribuição dos trabalhadores segundo a função em relação à
escala PST no HU, Rio de Janeiro, 2009 .......................................
90
Tabela 8 -
Distribuição dos trabalhadores segundo o sexo e idade em
relação à escala PST no HU, Rio de Janeiro, 2009 .......................
91
Tabela 9 -
Distribuição dos trabalhadores segundo o número de vínculos
empregatícios em relação à escala PST no HU, Rio de Janeiro,
2009 ................................................................................................
92
Tabela 10 -
Distribuição dos trabalhadores segundo o tipo de jornada em
relação à escala PST no HU, Rio de Janeiro, 2009 .......................
93
Tabela 11 -
Distribuição dos trabalhadores segundo Risco de Acidentes no
Ambiente de Trabalho (RAT-AC) em relação a problemas de
saúde no HU, Rio de Janeiro, 2009 ................................................
94
Tabela 12 -
Distribuição dos trabalhadores segundo Risco Biológico no
Ambiente de Trabalho (RAT-BIO) em relação a problemas de
saúde no HU, Rio de Janeiro, 2009 ................................................
97
Tabela 13 -
Distribuição dos trabalhadores segundo risco ergonômico em
relação aos problemas de saúde mais frequentes no HU, Rio de
Janeiro, 2009 ..................................................................................
99
Tabela 14 -
Distribuição dos trabalhadores segundo risco físico em relação
aos problemas de saúde relacionados no HU, Rio de Janeiro,
2009 ...............................................................................................
102
Tabela 15 -
Distribuição dos trabalhadores segundo todos os riscos em
relação a afastamento e mudança do trabalho por motivos de
saúde nas unidades intensivas do HU, Rio de Janeiro, 2009
........................................................................................................
104
SUMÁRIO
1
1.1
1.2
1.2.1
1.2.2
1.3
1.3.1
1.3.2
1.3.3
1.3.4
1.3.5
1.3.6
1.4
1.4.1
1.5
1.5.1
1.5.2
1.5.3
1.5.4
2
2.1
2.2
2.3
2.4
2.5
2.6
3
3.1
INTRODUÇÃO ...........................................................................................
REVISÃO DE LITERATURA .....................................................................
Saúde e trabalho ......................................................................................
Trabalho ....................................................................................................
Trabalho decente e trabalho precário.........................................................
Desprecarização do SUS ...........................................................................
Legislação de Proteção à Saúde do Trabalhador.................................
Constituição Federal ..................................................................................
As Leis Orgânicas da Saúde ......................................................................
Portarias federais normatizadoras da saúde do trabalhador no SUS ........
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) .............................................
Normas Regulamentadoras (NRs) .............................................................
Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador PNSST .........
Trabalho em hospitais ............................................................................
Trabalho em Terapia Intensiva ...................................................................
Riscos ocupacionais ...............................................................................
Riscos .........................................................................................................
Fatores de risco ..........................................................................................
Fatores de risco em hospitais ....................................................................
Condições de trabalho ...............................................................................
MATERIAIS E MÉTODOS .........................................................................
Campo de pesquisa .................................................................................
População e amostra ...............................................................................
Instrumento de coleta de dados .............................................................
Coleta de dados ........................................................................................
Organização e tratamento dos dados ....................................................
Aspectos éticos ........................................................................................
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .........................
Características pessoais e profissionais dos trabalhadores de
enfermagem ..............................................................................................
14
20
20
21
22
24
25
25
27
28
30
32
36
38
40
41
41
42
44
44
47
47
49
50
51
52
54
55
56
3.2
3.3
3.4
3.4.1
3.4.2
3.4.3
3.4.4
3.4.5
3.4.6
4
Fatores de risco no ambiente de trabalho .............................................
Problemas de saúde percebidos pelos trabalhadores .........................
Associações entre fatores de risco e problemas de saúde .................
Associação risco de acidentes e problemas de saúde ..............................
Associação risco biológico e problemas de saúde ....................................
Associação risco ergonômico e problemas de saúde ................................
Associação risco físico e problemas de saúde ..........................................
Associação risco químico e problemas de saúde ......................................
Afastamentos, mudança e transferência do trabalho por motivos de
saúde e todas as escalas de risco..............................................................
CONCLUSÕES ..........................................................................................
REFERÊNCIAS ..........................................................................................
APÊNDICE A Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.................
APÊNDICE B Gráficos não utilizados na análise...................................
ANEXO A Instrumento de Coleta de Dados...........................................
ANEXO B Autorização do autor do Questionário....................................
ANEXO C Autorização do Comitê de Ética em Pesquisa para o
INGECTH-SUS ...........................................................................................
ANEXO D - Autorização do Comitê de Ética em Pesquisa para a
elaboração do estudo .................................................................................
66
80
94
94
97
98
101
103
104
106
110
120
121
123
127
128
129
14
INTRODUÇÃO
Durante minha formação como enfermeiro, particularmente como especialista
em terapia intensiva e atualmente como gerente de unidade, deparei-me com
questões relativas à saúde do trabalhador. A necessidade de atuação imediata
frente a situações de danos ou agravos à saúde dos trabalhadores de enfermagem
suscitou, entre outros fatores, a necessidade de buscar um aprofundamento nestas
questões.
A participação no curso de mestrado, especificamente na linha de pesquisa
“Trabalho, Educação e Formação Profissional em Saúde e Enfermagem”, do
Programa de pós-graduação em enfermagem, oportunizou-me estudar diversos
assuntos relativos a essa temática, tais como, condições de trabalho, riscos
ocupacionais e problemas de saúde apresentados pelos trabalhadores de
enfermagem, bem como a associação entre esses aspectos.
De acordo com a Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador
PNSST (BRASIL, 2005a), a saúde dos trabalhadores é condicionada por fatores
sociais, econômicos, tecnológicos e organizacionais relacionados ao perfil de
produção e consumo, além de fatores de risco presentes nos diversos processos de
trabalho.
No ambiente hospitalar, o processo de trabalho não se exclui quanto a esta
política, pois os trabalhadores que ali exercem suas atividades também sofrem
influências das condições de trabalho em seu processo saúde-doença.
A preocupação com as condições de trabalho da enfermagem em hospitais
vem atraindo a atenção de muitos pesquisadores desde a década de 90, devido aos
riscos que o ambiente oferece e aos aspectos penosos das atividades peculiares à
assistência de enfermagem entre os quais se destacam os desrespeitos aos ritmos
biológicos e aos horários de alimentação, falta de programa de trabalho, longas
distâncias percorridas durante a jornada de trabalho, dimensão inadequada de
mobiliários e a inexistência, insuficiência ou inadaptação de materiais (MARZIALE;
CARVALHO, 1998).
São múltiplas e variadas as definições que existem para condições de
trabalho. Há quem defina como o entorno físico em que se exerce a atividade
laboral; outros estendem o conceito de entorno aos aspectos psíquicos; outros
15
consideram que além desse entorno fazem parte das condições de trabalho as
características próprias dos trabalhadores e há ainda os que consideram como
condições de trabalho as condições de vida (SANTIAGO; LÓPEZ, 2000).
Os hospitais são empresas que estão associadas à prestação de serviços de
saúde, visando o tratamento e a cura daquelas pessoas acometidas por doença,
mas também são responsáveis pela ocorrência de uma série de riscos à saúde dos
que ali trabalham. Muitos hospitais possuem uma estrutura de alto nível de
complexidade e diversidade de serviços e, também de variados tipos de riscos
ocupacionais (GURGUEIRA; ALEXANDRE; CORRÊA FILHO, 2003).
O que nos leva à reflexão é que os gerentes dos hospitais não exteriorizam
uma preocupação em proporcionar a melhor qualidade das condições de trabalho
dos seus funcionários e prestadores de serviços, ignorando que quanto melhores
essas condições de trabalho, melhores seriam a satisfação e produtividade.
O trabalhador da área da saúde, direta ou indiretamente ligado à assistência,
demonstra preocupação significativa com o cuidado ao paciente e pouco com os
riscos aos quais está exposto ao realizar esta ação. Embora este profissional
promova cuidado ao indivíduo doente, pouco se importa com sua própria saúde, ou
é pouco estimulado pelo serviço e/ou academia quanto a esta questão. O seu
conhecimento sobre os riscos ocupacionais é genérico, fruto da prática cotidiana e
não procedente da sua formação ou da existência de um serviço de saúde
ocupacional atuante na instituição. Além disso, esse conhecimento não se
transforma numa ação segura de prevenção de acidentes e doenças ocupacionais,
revelando a necessidade de uma atuação efetiva para modificar esta circunstância
(GURGUEIRA, 2005).
No Brasil, as condições de trabalho no setor hospitalar são muito precárias, o
que levou o Ministério da Saúde, através da Secretaria de Gestão do Trabalho e da
Educação em Saúde a realizar um Seminário Nacional de Desprecarização das
Relações de Trabalho no SUS em 2003. Em 2004, o Grupo de Trabalho
Interministerial (MPS/MS/TE), pela Portaria 153 de 13/02/2004, elaborou a
Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador, para analisar e propor
ações que garantam o direito à segurança e a saúde dos trabalhadores existentes
em cada ministério (MAURO, 2006).
O Ministério do Trabalho, em 1994, homologou a Norma Regulamentadora 17
NR 17, que teve como proposta inovadora limitar alguns aspectos negativos da
16
organização do trabalho, prejudiciais à saúde dos trabalhadores. Esta norma visa o
estudo das condições de trabalho com a participação do trabalhador na identificação
dos problemas de saúde relacionados aos aspectos biopsicossociais relacionados
ao trabalho e ao meio ambiente.
Evoluindo nesta perspectiva cria-se a Portaria 485 de 11 de Novembro de
2005, a qual aprovou a Norma Regulamentadora 32 NR 32 (Segurança e Saúde
no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde), que tem por finalidade estabelecer as
diretrizes sicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à
saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde, bem como daqueles que exercem
atividades de promoção e assistência à saúde em geral.
A questão dos problemas de saúde que afetam os profissionais no ambiente
hospitalar está, portanto, diretamente relacionada às suas condições de trabalho,
incluindo-se os riscos ocupacionais aos quais estão expostos cotidianamente.
Consideram-se riscos ocupacionais todas as situações de trabalho que
podem romper o equilíbrio físico, mental e social das pessoas e não somente as
situações que dão origem a acidentes e enfermidades. Os riscos ocupacionais
podem trazer consequências a curto, médio e longo prazos, isto é, provocar vários
tipos de danos à saúde que geram doenças, desde as imediatas, denominadas
agudas, até as tardias, denominadas crônicas (BRASIL, 2001a).
Mauro apontava na década de 90 que as condições de trabalho, quando
não satisfatórias, podem afetar não só a saúde do trabalhador da enfermagem
exposto a riscos, como também causar acidentes e doenças ocupacionais (MAURO,
1990).
Correa e Donato (2007), corroborando com esta questão, dizem que a doença
ocupacional, no caso dos membros da equipe de enfermagem, está relacionada aos
riscos a que estão submetidos, mas também às suas condições de trabalho, que
podem ocasionar acidentes ou resultar em problemas de saúde para seus
integrantes.
Pode-se ter como consequência das condições insatisfatórias de trabalho o
absenteísmo, que traz prejuízos para a operacionalização e qualidade do cuidado
prestado aos clientes devido ao aumento da carga de trabalho dos demais
elementos da equipe quando não é possível uma substituição efetiva, entre outras
questões (MAURO; VEIGA, 2008).
17
Nas unidades de internação intensivas, ou seja, Centro de Tratamento
Intensivo (CTI), adulto e pediátrico, Unidade Coronariana (UC), Centro de
Tratamento Intensivo Cardíaco (CTI-C) e Unidade Intermediária (UI), clínica ou
cirúrgica, existem particularidades em relação às demais unidades de internação.
Nesses setores geralmente alocam-se pessoal, tecnologia e estrutura física voltados
ao atendimento de clientes em alto grau de complexidade e que necessitam de
vigilância constante e uso de procedimentos e tecnologias que submetem os
trabalhadores a riscos diferenciados, se os mesmos não forem identificados e
controlados.
Os trabalhadores de enfermagem de unidades intensivas, além de
enfrentarem diariamente situações - limite no cuidado a pacientes críticos, convivem
em um ambiente de trabalho com riscos resultantes de agentes químicos, físicos,
biológicos e ergonômicos, capazes de causar danos à saúde em função de sua
natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição (SANTOS; OLIVEIRA;
MOREIRA, 2006).
Diante desse contexto, definiu-se como objeto de estudo a percepção dos
trabalhadores de enfermagem sobre os riscos ocupacionais e os problemas de
saúde inerentes às condições de trabalho em unidades intensivas.
Diversos estudos vêm demonstrando que o ambiente do CTI é insalubre,
onde a falta de treinamento e de precaução dos profissionais que trabalham nesse
setor pode resultar em transmissão de doenças infecto-contagiosas e em acidentes
(MIRANDA; STANCATO, 2008).
Desse modo, os riscos ocupacionais relacionados com o trabalho de
enfermagem podem ocasionar o adoecimento e a ocorrência de acidentes de
trabalho. Para minimizar ou eliminar esses riscos nos locais de trabalho, torna-se
necessário que gestores e trabalhadores tenham conhecimento sobre os fatores de
risco no trabalho para poderem realizar o seu controle e, a partir daí, elaborar
Programa de Promoção ou de Proteção à Saúde dos Trabalhadores (MAURO et al.,
2008).
Neste sentido, busca-se com esta pesquisa esclarecer o seguinte problema:
quais os riscos ocupacionais e problemas de saúde relacionados às condições de
trabalho, percebidos pelos trabalhadores de enfermagem, em unidades intensivas
de um hospital universitário?
18
Têm-se como objetivos:
Objetivo Geral:
Estudar nas unidades intensivas de um hospital universitário os riscos
ocupacionais e problemas de saúde da equipe de enfermagem e sua relação com
condições de trabalho, a partir da percepção dos mesmos.
Objetivos Específicos:
Identificar as características pessoais e profissionais dos
trabalhadores de enfermagem de unidades intensivas de um
hospital universitário;
Descrever os fatores de risco do ambiente de trabalho percebidos
pelos trabalhadores de enfermagem de unidades intensivas;
Levantar os problemas de saúde percebidos pelos trabalhadores e
sua relação com o trabalho;
Analisar a associação entre os problemas de saúde percebidos
pelos trabalhadores de enfermagem e as condições do trabalho em
unidades intensivas.
Este estudo tem como relevância, para a pesquisa, a possibilidade de
produzir conhecimento e contribuir para outros estudos posteriores na área de saúde
do trabalhador, de enfermagem e de unidades de internação intensiva. Insere-se na
linha de pesquisa “Trabalho, Educação e Formação Profissional em Saúde e
Enfermagem”, do Programa de pós-graduação de enfermagem da Faculdade de
Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Além disso, os resultados deste estudo integrarão o projeto de pesquisa
intitulado: Inovação de Gestão das Condições de Trabalho em Saúde para
Hospitais do Sistema Único de Saúde - INGECTH-SUS (MAURO, 2006),
coordenado pela professora orientadora, e que tem como objetivo estabelecer um
modelo de aplicação de metodologia inovadora de avaliação e gestão de riscos no
trabalho hospitalar.
Na assistência representa a possibilidade de melhoria das condições de
trabalho, maior satisfação do trabalhador de enfermagem com o seu trabalho e
conseqüente melhora na qualidade da assistência, a partir de medidas elaboradas
com base no diagnóstico das condições de trabalho;
19
É um estudo de relevância social, porque é participativo e proporciona maior
consciência dos profissionais acerca do seu trabalho e dos riscos a que estão
expostos, o que os levam a se proteger melhor e reivindicar os seus direitos com
mais fundamentação. Além disso, à vista dos resultados encontrados com este
estudo, entidades de classe podem justificar com mais concretude de dados a luta
por melhores condições de trabalho.
Neste sentido, torna-se possível ao trabalhador e às instituições de saúde
identificar os problemas e discuti-los, propor mudanças no processo de trabalho,
contribuir para a melhoria das condições de trabalho.
O estudo das condições de trabalho e sua relação no processo saúde-doença
contribuem significativamente para a construção do campo da saúde do
trabalhador sem riscos iminentes, conforme citação de Daffre no INGECTH-SUS
(MAURO, 2006): “Trabalhador saudável, paciente vivo: são tantos benefícios, que
ninguém vai achar que é custo”.
20
1 REVISÃO DE LITERATURA
1.1 Saúde e trabalho
O reconhecimento da relação saúde/trabalho remonta à antiguidade. Segundo
estudiosos, esta associação está presente em alguns papiros egípcios e foi objeto
de reflexão de importantes pensadores da Grécia Antiga. Porém, apenas em torno
de 1700, o médico Ramazzini introduziu na sua avaliação a informação relativa à
ocupação do indivíduo, significando assim a primeira tentativa, conhecida pela
literatura, de sistematização médica da etiologia ocupacional das doenças
(WAISSMAN, 1996).
Com o advento da Revolução Industrial, particularmente na Inglaterra, na
segunda metade do século XVIII, as transformações introduzidas no cotidiano das
fábricas caracterizaram-se pelo aviltamento das condições de trabalho. Alimentar o
crescimento econômico através do incremento de altos níveis produtivos era
prioritário para os industriais (COSTA, 1996).
As exigências produtivas não levavam em conta o estado de saúde,
desenvolvimento físico e/ou mental, ou qualquer especificidade da condição dos
trabalhadores, inclusive mulheres e crianças, diante dos riscos a que eram expostas.
Os espaços fabris eram ambientes altamente insalubres, fechados, sem
ventilação, sem condições de higiene, com máquinas ruidosas e sem proteção, o
que resultava em inúmeros acidentes com mutilações, mortes e elevado índice de
doenças relacionadas ao trabalho. Porém, não havia nenhum reconhecimento ou
proteção legal que permitissem corrigir estas irregularidades, oriundas da lógica
capitalista de organização do trabalho (WAISSMAN, 1996).
Posteriormente, o crescente desenvolvimento da indústria teve como legado o
aumento das péssimas condições de trabalho e exploração da energia humana para
a garantia dos processos de trabalho e produtividade. Consequentemente, as
doenças, os acidentes e as mortes passariam a figurar como elementos de grande
impacto político, econômico e social (SILVA, 2008).
Diante deste cenário, a sociedade começa a discutir e buscar medidas e
ações para minimizar, evitar e controlar os fatores inerentes ao processo de
21
trabalho, responsáveis pelo adoecimento, invalidez e morte dos trabalhadores
(MENDES; WUNSCH, 2007).
1.2 Trabalho
O trabalho pode ser visto como o conjunto de atos e operações da pessoa
que o executa, implica na utilização da energia humana sob diversos aspectos. O
trabalho envolve as dimensões física, psíquica, emocional e social do ser humano
(SILVA, 2008).
Constitui uma das práticas mais importantes da vida do ser humano, porque é
dessa atividade que o homem tira os elementos para a sua própria subsistência e de
sua família. Entretanto, não é recomendável que o homem trabalhe apenas pela
remuneração que recebe, mas também pela satisfação pessoal que deve sentir na
sua realização e pelos resultados que colhe através do seu próprio esforço
(MIELNIK, 1976).
O mesmo autor diz que esta atividade humana tem significado tríplice:
material, psicológico e social. É necessário que proporcione a satisfação das
necessidades biológicas primordiais como: alimentação, vestuário, habitação, saúde
física e mental, recreação e outras, ficando clara a satisfação material proporcionada
pelo trabalho.
Segundo Mauro (1990), a satisfação psíquica e individual está fundamentada
no provimento das seguintes necessidades: afeto (ambiente afetivo sensação de
estima, solidariedade e camaradagem); noção de pertencer (sentindo-se parte da
empresa); companhia dos outros (coletividade); realização (atingir as metas);
experiências novas (descoberta de novos horizontes); segurança (sensação de
realização e capacidade); fator de otimismo (proporciona ânimo e estímulo a ponto
de permitir enfrentar dificuldades).
O trabalho confere ainda posição entre os elementos do grupo, o que é
importante para a convivência social: as realizações nesse aspecto levam à
satisfação social do trabalhador (MAURO; VEIGA, 2008).
Myra y Lopez, apud Mauro (1990) diz que, em nossa organização social, o ser
humano dedica ao trabalho aproximadamente 65% de sua vida produtiva, incluindo
22
a jornada de trabalho, a atividade propriamente dita, a locomoção e o atendimento
às necessidades relacionadas com trabalho.
O trabalho tem como finalidade e resultado a transformação do objeto, do
meio, ou da situação a ele submetido. Esta transformação se dá, ao mesmo tempo,
na natureza e naquele que trabalha. existe trabalho quando a ação e o produto
da ação são projetados conscientemente por quem trabalha. Essa capacidade é
exclusiva dos seres humanos. Portanto, o trabalho é inerente à produção da vida
humana (FONSECA, 2007).
Para ampliar as concepções sobre trabalho, Friedmann (1983) esclarece que
o trabalho pode ser discutido sob diferentes aspectos como: o aspecto técnico, que
se refere ao lugar de trabalho e adaptação do trabalhador tanto da perspectiva
fisiológica como sociológica; o aspecto fisiológico, propriamente dito, quando
atrelado ao grau de adaptação homem-lugar de trabalho-meio físico e a questão da
fadiga; o aspecto moral, relativo à atividade social humana, observando as aptidões,
as motivações, o grau de consciência do trabalhador, as satisfações e a relação
entre a atividade de trabalho e a personalidade deste; o aspecto social, ao
contemplar os fatores do ambiente de trabalho e as questões externas como: a
família, o sindicato, o partido político, a classe social e o aspecto econômico, quando
visto como um fator de produção de riqueza.
1.2.1 Trabalho decente e trabalho precário
Trabalho decente significa para a Organização Internacional do Trabalho
(INTERNATIONAL..., 2001) emprego assalariado e por conta própria, com proteção
social, com respeito aos princípios e direitos fundamentais no trabalho, e com
diálogo social. Esse conceito reflete uma aspiração universal de mulheres e homens
de trabalho produtivo em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade
humana.
O trabalho decente se articula em torno das seguintes dimensões (GHAI,
2006): oportunidades de trabalho; trabalho produtivo; liberdade no trabalho;
igualdade no trabalho; segurança no trabalho; dignidade no trabalho.
23
Estes, por sua vez, se baseiam nos seguintes quatro componentes:
Emprego
Proteção Social
Direitos dos trabalhadores
Diálogo Social
Segundo Stellman e Warshaw (1998), milhões de trabalhadores em todo o
mundo, o nos países em desenvolvimento, mas também nos industrializados,
cujo trabalho pode ser classificado como precário, do ponto de vista de seus
possíveis efeitos sobre a saúde e o bem-estar. Estes trabalhadores podem ser
classificados em várias categorias, em função do tipo de atividade que
desempenham e da relação que mantém com seu posto de trabalho e sua empresa,
tais como:
- Trabalhadores infantis;
- Trabalhadores de subcontratos e outros contratos “atípicos”;
- Trabalhadores escravizados e vinculados abusivamente;
- Trabalhadores do setor informal;
- Trabalhadores migrantes;
- Trabalhadores por produção;
- Trabalhadores desempregados ou subempregados.
Ainda, segundo os autores, entre os fatores comuns a todas as categorias
figuram: a pobreza, a falta de educação e formação; a possibilidade de sofrer
exploração e abusos; os problemas de saúde e a falta de assistência médica
adequada; a exposição a riscos para a saúde e a segurança; a falta de proteção por
parte dos organismos públicos, incluindo os casos em que se estabelecem leis e
regulamentos a respeito; a ausência de garantias sociais (por exemplo, salário
mínimo, seguro desemprego, seguro saúde e pensões) e a falta de representação
eficaz nos movimentos que podem melhorar a situação. Tais condições laborais
obrigam os trabalhadores, muitas vezes, a aceitar qualquer trabalho disponível.
Em certas áreas e em alguns setores, a existência destas classes de
trabalhadores se fomenta mediante políticas sociais e econômicas explícitas
formuladas pela Administração e, inclusive nos casos em estão proibidas pela
legislação local ou pela ratificação de convênios internacionais, se promovem
mediante a desatenção deliberada dos organismos normativos públicos.
24
Os custos que suportam estes trabalhadores e suas famílias quanto a
problemas de saúde, redução da expectativa de vida, envelhecimento precoce e
consequências para o bem-estar são incalculáveis, e em alguns casos se mantém
de uma geração à seguinte. Por uma razão ou outra, pode-se considerá-los
desfavorecidos (STELLMAN; WARSHAW, 1998).
Desse modo, a exploração da mão-de-obra constitui-se um aspecto
prejudicial à economia mundial, no que o trabalho mais precário e perigoso se
transfere dos países ricos aos mais pobres. Assim, o trabalho precário pode e deve
considerar-se também de um ponto de vista macroeconômico (STELLMAN;
WARSHAW, 1998).
1.2.2 Desprecarização do SUS
Nos últimos anos, a noção de trabalho precário ganhou destaque nas
discussões sobre gestão do trabalho em saúde e tem sido utilizada, sobretudo, para
indicar a ausência dos direitos sociais de trabalhadores do Sistema Único de Saúde.
O trabalho precário em saúde tem sido identificado como um obstáculo para o
desenvolvimento do sistema público de saúde. Essa questão compromete a relação
dos trabalhadores com o sistema e prejudica a qualidade e a continuidade dos
serviços essenciais prestados pelo SUS (BRASIL, 2006c).
Segundo entendimento do Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de
Saúde (CONASS) e do Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde
(CONASEMS), trabalho precário está relacionado aos vínculos de trabalho no SUS
que não garantem os direitos trabalhistas e previdenciários consagrados em lei, seja
por meio de vínculo direto ou indireto. Ainda segundo estes conselhos, mesmo que o
vínculo seja indireto, é necessário garantir o processo seletivo e, sobretudo, uma
relação democrática com os trabalhadores.
Por sua vez, para as Entidades Sindicais que representam os trabalhadores
do SUS, trabalho precário está caracterizado não apenas como ausência de direitos
trabalhistas e previdenciários consagrados em lei, mas também como ausência de
concurso ou processo seletivo público para cargo permanente ou emprego público
no SUS.
25
Nesse sentido, atendendo a um dos quatro componentes do Trabalho
Decente da OIT, a Proteção Social, que significa o pleno gozo de direitos
trabalhistas e previdenciários, é garantida através dos únicos vínculos
trabalhistas: celetista e estatutário, previstos na Constituição Federal de 1988, nos
artigos 7º e 39, respectivamente.
Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2006c), o enorme processo de
precarização do trabalho que ocorre a partir da década de 90, fez com que
chegássemos a uma condição em que cerca de 600 mil trabalhadores encontram-se
fora daqueles únicos vínculos trabalhistas. Colocam-se, então, em franca situação
de desconforto e de insegurança trabalhista e social, expressivo contingente de
trabalhadores que prestam assistência à população.
O Ministério da Saúde criou por meio da Portaria 2430/GM, em 23 de
dezembro de 2003, o Comitê Nacional Interinstitucional de Desprecarização do
Trabalho no SUS, que tem como objetivo a elaboração de políticas e de formulação
de diretrizes para desprecarização do trabalho no Sistema.
Este comitê é um fórum de discussão, instituído para formular políticas e
diretrizes para a desprecarização dos vínculos de trabalho em saúde, sendo
coordenado pela Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde (SGTES)
e pelo Departamento de Gestão e da Regulação do Trabalho em Saúde, criando
assim, o Programa Nacional de Desprecarização do Trabalho no SUS
DesprecarizaSUS, com o intuito de buscar soluções para a precarização dos
vínculos de trabalho nas três esferas de governo.
1.3 Legislação de Proteção à Saúde do Trabalhador
1.3.1 Constituição Federal
A Saúde do Trabalhador passa a ter nova definição e novo delineamento
institucional, a partir da Constituição Federal de 1988, com a instituição do Sistema
Único de Saúde (SUS) e sua incorporação como área de competência própria da
saúde. Esta nova configuração legal referente à saúde do trabalhador, advinda de
26
um processo constituinte com marcada participação dos movimentos social e
sindical, ensejou estados e municípios a atualizarem seus estatutos jurídicos de
forma a acompanhar essas modificações e reforçar suas práticas no campo da
Saúde, em especial da Saúde do Trabalhador.
A Constituição Federal de 1988 é a norma jurídica de eficácia máxima, não
podendo seus princípios ser contrariados ou diminuídos por nenhum outro diploma
que a suceder na hierarquia legal, ou seja, na graduação de positividade jurídica. É
também a regra de maior legitimidade, dado o processo constituinte estabelecido
para sua definição e aprovação, que contou com a maior participação popular jamais
vista na história do Brasil.
É de fundamental importância para a saúde, dada seu conteúdo
eminentemente humanista, sendo a primeira constituição brasileira a referir-se
“explicitamente à saúde como integrante do interesse público fundante do pacto
social” (DALLARI, 1995). O autor declara em seu artigo 196, que “a saúde é um
direito de todos e dever do Estado”, direito esse a ser “garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco da doença e de outros agravos e
ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção
e recuperação” (Título VIII - Da Ordem Social, Capítulo II - Da Seguridade Social,
Seção II - Da Saúde) (BRASIL, 2001a).
Para diversos autores, a Constituição é esclarecedora, pois quando prevê
como objeto de ação a saúde do trabalhador e o ambiente do trabalho, o faz
expressamente no capítulo do direito à saúde:
Art. 200 - Ao Sistema Único de Saúde compete, além de outras atribuições, nos
termos da lei: [...] II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem
como as de saúde do trabalhador; [...] VIII - colaborar na proteção do meio ambiente,
nele compreendido o do trabalho.
Portanto, estabelece que saúde do trabalhador e ambiente do trabalho está
efetivamente no campo da saúde.
Diz, inclusive, que ações e serviços de saúde são de relevância pública (art.
197), com ações conjuntas dos três entes federados num único sistema, tendo por
diretrizes a descentralização política e o atendimento integral, priorizando a ação
preventiva (art. 198). Desta forma, demonstra com todas as letras que a
competência no campo da saúde nele incluído, a saúde do trabalhador e o ambiente
do trabalho, é comum a todas as esferas do governo, e não exclusiva da União
(BRASIL, 2001a).
27
1.3.2 As Leis Orgânicas da Saúde
A partir da afirmação do Estado Democrático de Direito, foram elaboradas as
leis que “regulam, fiscalizam e controlam as ações e os serviços de saúde”,
conformes ao mandamento constitucional. São elas as leis federais n8.080, de 19
de setembro de 1990 e n.° 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Assim, o Sistema
Único de Saúde (SUS) é definido legalmente como “o conjunto de ações e serviços
de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e
municipais, da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder
Público” (Lei n.° 8.080, art. 4°). A Lei Orgânica da Saúde (LOS) é, portanto, o
conjunto dessas duas leis editadas para dar cumprimento ao novo mandamento
constitucional de disciplinar legalmente a proteção e a defesa da saúde, prevista
como tarefa de competência concorrente (BRASIL, 2005b).
Conforme definido na Constituição Federal de 1988, a Lei Federal N°8.080
insere a Saúde do Trabalhador como campo de atuação do Sistema Único de Saúde
e estabelece o que se entende por vigilância sanitária, por vigilância epidemiológica
e por saúde do trabalhador. Reitera os princípios e diretrizes do SUS apontados
na Constituição, definindo as competências comuns e complementares dos três
âmbitos, municipal, estadual e federal, especificando em cada um deles o campo da
saúde do trabalhador. No capítulo da Organização, da Direção e da Gestão, em seu
art. 13, faz referência explícita à criação, entre outras, de comissão intersetorial de
saúde do trabalhador, como forma de articular políticas e programas de interesse
para a saúde cuja execução envolva áreas não compreendidas no âmbito do SUS.
A Norma Operacional Básica (NOB-SUS) 01/96, aprovada pela Portaria MS
n.° 2.203, de 5 de novembro de 1996, instaurou novas bases de relação entre União,
estados e municípios no processo de municipalização das ações de saúde,
especialmente daquelas relativas ao financiamento das ações. Mesmo que tenha
remetido a área de saúde do trabalhador para normatização posterior, o que passa a
ser feito a partir da aprovação da NOST em outubro de 1998, o conhecimento e
acompanhamento das demais resoluções e portarias decorrentes da NOB-SUS
01/96 são de fundamental importância também para esta área (BRASIL, 2005b).
A NOB-SUS 01/96 (BRASIL, 1997, p.7) define como um dos três grandes
campos de atenção à saúde do SUS:
28
o das intervenções ambientais, no seu sentido mais amplo, incluindo as relações e as
condições sanitárias nos ambientes de vida e de trabalho, o controle de vetores e
hospedeiros e a operação de sistemas de saneamento ambiental (mediante o pacto
de interesses, as normatizações, as fiscalizações e outros).
1.3.3 Portarias federais normatizadoras da saúde do trabalhador no SUS
Além das legislações já citadas, existem portarias que tratam especificamente
da área de saúde do trabalhador, aprovadas pelo Ministério da Saúde. Seguem as
principais:
a) Norma Operacional de Saúde do Trabalhador (NOST-SUS):
Aprovada pela Portaria MS n3.908, de 30 de outubro de 1998, estabelece
procedimentos para orientar e instrumentalizar as ações e serviços de saúde do
trabalhador no Sistema Único de Saúde (SUS), definindo o elenco mínimo de ações
a serem desenvolvidas pelos municípios, estados e Distrito Federal, habilitados nas
condições de gestão previstas na NOB-SUS 01/96 (BRASIL, 1998).
Esta Norma, proposta por Grupo de Trabalho em 1994, tramitou no Conselho
Nacional de Saúde por cerca de três anos, passando por um processo de discussão
e negociação que envolveu diversos segmentos e representações sociais, tendo sua
redação final aperfeiçoada pela Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador
(CIST) nacional. Sua aprovação é de fundamental importância para a área porque
faz referência aos mecanismos de financiamento das ações de saúde do
trabalhador, detalhando e complementando a NOB-SUS 01/96. Define mecanismos
para a organização de unidades especializadas de referência em saúde do
trabalhador, o estímulo à implementação de unidades no município e o registro de
100% dos casos atendidos de acidentes de trabalho e agravos decorrentes do
processo de trabalho (BRASIL, 2005b).
b) Instrução Normativa de Vigilância em Saúde do Trabalhador no SUS:
Aprovada pela Portaria MS 3.120, de de julho de 1998, é de
fundamental importância porque conceitua a Vigilância em Saúde do Trabalhador
como um conjunto de práticas sanitárias, articuladas supra - setorialmente, cuja
especificidade centra-se na relação da saúde com o ambiente e os processos de
trabalho, que engloba estratégias de produção de conhecimento e de mecanismos
29
de intervenção sobre os processos de produção, que implicam necessariamente a
superação das práticas atuais em direção à transformação do modelo assistencial.
Para tal, propõe a leitura dos princípios gerais do SUS definidos na Constituição
Federal de 1988 à luz da incorporação do conjunto dos trabalhadores nas práticas
assistenciais, da ausculta do saber operário à produção de conhecimento e de
práticas transformadoras, traduzindo a universalidade, a integralidade das ações, a
hierarquização, a descentralização, a pluriinstitucionalidade e o controle social, para
o contexto das relações sociais, políticas e econômicas, da vida social, dinâmica e
complexa, trazendo a exigência do planejamento segundo prioridades locais e a
avaliação sistemática das ações, de seus impactos e resultados.
Outras duas recomendações aos estados e municípios, que constam da
Instrução Normativa de Vigilância em Saúde do Trabalhador no SUS, merecem
destaque: a revisão dos Códigos de Saúde, de forma a contemplar as ações de
saúde dos trabalhadores; e a instituição de Comissão Intersetorial de Saúde do
Trabalhador, subordinada aos Conselhos Estadual e Municipal de Saúde, com
objetivo de assessorá-los na definição de políticas, no estabelecimento de
prioridades e no acompanhamento e avaliação das ações de saúde do trabalhador.
c) Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador no SUS
(RENAST):
Aprovada pela Portaria n.º 1.679, de 19 de setembro de 2002, que dispõe
sobre sua estruturação. Seu principal objetivo é estimular a criação de centros
coordenadores de Saúde do Trabalhador nos estados e regiões, de forma articulada
entre o Ministério da Saúde, as secretarias de Saúde dos estados, do Distrito
Federal e dos municípios e balizada pelas diretrizes da Norma Operacional de
Assistência à Saúde (NOAS-SUS) 01/2002.
A estruturação da RENAST implica em ações na rede de Atenção Básica e no
Programa Saúde da Família (PSF); na rede de Centros de Referência em Saúde do
Trabalhador (CRST); e em ações na rede assistencial de média e alta complexidade
do SUS (BRASIL, 2007).
30
1.3.4 A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)
Surgiu pelo Decreto-Lei 5.452, de de maio de 1943, sancionada pelo
então presidente Getúlio Vargas, unificando toda legislação trabalhista existente no
Brasil. A CLT é o resultado de 13 anos de trabalho - desde o início do Estado Novo
até 1943 - de destacados juristas, que se empenharam em criar uma legislação
trabalhista que atendesse à necessidade de proteção do trabalhador, dentro de um
contexto de "estado regulamentador".
Antes dela, já existiam várias leis de natureza trabalhista, porém de forma não
sistematizada. A CLT sistematizou toda essa legislação esparsa.
Seu principal objetivo é a regulamentação das relações individuais e coletivas
do trabalho, nela previstas.
A CLT regulamenta as relações trabalhistas, tanto do trabalho urbano quanto
do rural, disciplinando a relação entre empregado e empregador, mediante o
Contrato Individual de Trabalho (acordo tácito ou expresso, correspondente à
relação de emprego, artigo 442 da CLT).
Ao longo do tempo, a CLT sofreu modificações em seus textos, como é o
caso do Título II do Capítulo V, intitulado de SEGURANÇA E MEDICINA DO
TRABALHO, que hoje está com redação dada pela Lei Federal n.º 6.514, de 22 de
dezembro de 1977. Esta é a parte da CLT que mais interessa aos profissionais e
estudiosos da área da saúde do trabalhador.
O Capítulo V é subdividido nas seguintes Seções:
Seção I Disposições gerais (do artigo 154 ao 159);
Seção II Da inspeção prévia e do embargo ou interdição (do artigo 160 ao 161);
Seção III Dos órgãos de segurança e de medicina do trabalho nas empresas (do
artigo 162 ao 165);
Seção IV Do equipamento de proteção individual (do artigo 166 ao 167);
Seção V Das medidas preventivas de medicina do trabalho (do artigo 168 ao 169);
Seção VI Das edificações (do artigo 170 ao 174);
Seção VII Da iluminação (artigo 175);
Seção VIII Do conforto térmico (do artigo 176 ao 178);
Seção IX Das instalações elétricas (do artigo 179 ao 181);
31
Seção X Da movimentação, armazenagem e manuseio de materiais (do artigo 182
ao 183);
Seção XI Das máquinas e equipamentos (do artigo 184 ao 186);
Seção XII Das caldeiras, fornos e recipientes sob pressão (do artigo 187 ao 188);
Seção XIII Das atividades insalubres ou perigosas (do artigo 189 ao 197);
Seção XIV Da prevenção da fadiga (do artigo 198 ao 199);
Seção XV Das outras medidas especiais de proteção (artigo 200);
Seção XVI Das penalidades (artigo 201).
O inciso XXIII do artigo da Constituição Federal de 1988 dispõe sobre
adicional de remuneração a ser pago ao trabalhador quando este estiver exposto a
condições especiais de trabalho denominadas de insalubres, perigosas e penosas.
De acordo com a CLT (artigo 189), atividades ou operações insalubres são
aquelas que: "por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os
empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em
razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus
efeitos”.
É facultado às empresas e aos sindicatos das categorias profissionais interessadas
requererem ao Ministério do Trabalho a realização de perícias em estabelecimentos
ou setor deste, com o objetivo de caracterizar e classificar ou delimitar as atividades
insalubres ou perigosas ( § 1º do artigo 195 da CLT).
A portaria 3.214 de 08 de junho de 19780, editada pelo Ministério do Trabalho
e Emprego aprovou as Normas Regulamentadoras (NRs) do Capítulo V Título II,
da CLT, relativas à Segurança da Medicina do Trabalho. Estas normas são de
observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos públicos
de administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos poderes legislativo e
judiciário que possuam empregados regidos pela CLT. As NRs foram criadas e
ampliadas para a manutenção de condições seguras, bem como potencializar o
ambiente de trabalho para a redução ou até mesmo eliminar os riscos existentes.
32
1.3.5 Normas Regulamentadoras (NRs)
As principais NRs de interesse aos trabalhadores da área da saúde são:
NR 1 Disposições Gerais:
Estabelece o campo de aplicação de todas as Normas Regulamentadoras de
Segurança e Medicina do Trabalho do Trabalho Urbano, bem como os direitos e
obrigações do Governo, dos empregadores e dos trabalhadores no tocante a este
tema específico. A fundamentação legal, ordinária e específica, que
embasamento jurídico à existência desta NR, são os artigos 154 a 159 da
Consolidação das Leis do Trabalho - CLT.
NR 4 Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do
Trabalho:
Estabelecem a obrigatoriedade das empresas públicas e privadas, os órgãos
públicos da administração direta e indireta e dos poderes Legislativo e Judiciário,
que possuam empregados regidos pela CLT, de organizarem e manterem em
funcionamento, Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em
Medicina do Trabalho - SESMT, com a finalidade de promover a saúde e proteger a
integridade do trabalhador no local de trabalho.
A implantação do SESMT depende da gradação do risco da atividade
principal da empresa e do número total de empregados. Dependendo desses
elementos, o SESMT deverá ser composto por: um Engenheiro de Segurança do
Trabalho, um Médico do Trabalho, Enfermeiro do Trabalho, Auxiliar de Enfermagem
do Trabalho, Técnico de Segurança do Trabalho, todos os funcionários da empresa
(SILVA, 2008).
NR 5 Comissão Interna de Prevenção de Acidentes CIPA:
Tem como objetivo a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do
trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho com a
preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador.
Estabelece a obrigatoriedade das empresas públicas e privadas organizarem
e manterem em funcionamento, por estabelecimento, uma comissão constituída por
33
representante da empresa Presidente (designado) e dos empregados (eleitos por
voto secreto), com mandato de um ano e direito a uma reeleição e mais um ano de
estabilidade. Visa à prevenção de infortúnios laborais, através da apresentação de
sugestões e recomendações ao empregador para que melhore as condições de
trabalho, eliminando as possíveis causas de acidentes do trabalho e doenças
ocupacionais.
Tem como principais atribuições a elaboração do Mapa de Riscos e a
promoção anual, em conjunto com o SESMT, onde houver, da Semana Interna de
Prevenção de Acidentes do Trabalho (SIPAT).
NR 6 Equipamento de Proteção Individual EPI:
EPI é todo dispositivo ou produto de uso individual, de fabricação nacional ou
estrangeira utilizada pelo trabalhador, destinado a resguardar a saúde e a
integridade física dos trabalhadores. Todo equipamento deve ter o Certificado de
Aprovação (CA) do Ministério do Trabalho e Emprego.
Esta NR estabelece e define os tipos de EPIs a que as empresas estão
obrigadas a fornecer aos seus empregados, sempre que as condições de trabalho
os exigir. Estabelece ainda, as obrigações do empregador, do empregado e do
fabricante nacional ou importador.
NR 7 Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional PCMSO:
Estabelece a obrigatoriedade de elaboração e implementação, por parte de
todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como
empregados, do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - PCMSO,
com o objetivo de promoção e preservação da saúde do conjunto dos seus
trabalhadores.
Define os parâmetros mínimos e diretrizes gerais a serem observados na
execução do PCMSO, podendo os mesmos ser ampliados mediante negociação
coletiva de trabalho.
Trata dos exames médicos obrigatórios para as empresas: admissional,
periódico, de retorno ao trabalho, de mudança de função, demissional e exames
complementares, dependendo do grau de risco da empresa.
NR 9 Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA):
34
Estabelece a obrigatoriedade da elaboração e implementação do PPRA, por
parte de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como
empregados, visando à preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores,
através da antecipação, reconhecimento, avaliação e conseqüente controle da
ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de
trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos
naturais. Levam-se em conta os Agentes Físicos, Químicos e Biológicos. Além
desses agentes, destacamos também os Riscos Ergonômicos e os Riscos de
Acidentes.
NR 15 Atividades e Operações Insalubres:
Descrevem as atividades, operações e agentes insalubres, inclusive seus
limites de tolerância, definindo, assim, as situações que, quando vivenciadas nos
ambientes de trabalho pelos trabalhadores, ensejam a caracterização do exercício
insalubre. Estabelece também os meios de proteger os trabalhadores de tais
exposições nocivas à sua saúde, fixando inclusive o adicional de insalubridade, para
os graus máximo, médio e leve.
As atividades insalubres estão contidas nos anexos da norma e são
considerados os agentes: ruído contínuo ou permanente; ruído de impacto;
tolerância para exposição ao calor; radiações ionizantes; agentes químicos e poeiras
minerais.
Tanto a NR 15 quanto a NR 16 dependem de perícia, a cargo do médico ou
do engenheiro do trabalho, devidamente credenciado junto ao Ministério do Trabalho
e Emprego.
NR 16 Atividades e Operações Perigosas:
Regulamenta as atividades e as operações legalmente consideradas
perigosas, estipulando as recomendações prevencionistas correspondentes.
Especificamente no que diz respeito ao Anexo 01: Atividades e Operações
Perigosas com Explosivos, e ao anexo 02: Atividades e Operações Perigosas
com Inflamáveis têm a sua existência jurídica assegurada através dos artigos 193 a
197 da CLT. A fundamentação legal, ordinária e específica, que embasamento
jurídico à caracterização da energia elétrica como sendo o 3° agente periculoso é a
35
Lei 7.369 de 22 de setembro de 1985, que institui o adicional de periculosidade
para os profissionais da área de eletricidade.
A portaria MT n° 3.393 de 17 de dezembro de 1987, veio a enquadrar as
radiações ionizantes, que eram insalubres de grau máximo, como o agente
periculoso, sendo controvertido legalmente tal enquadramento, na medida em que
não existe lei autorizadora para tal.
NR 17 Ergonomia:
Estabelece parâmetros que permitem a adaptação das condições de trabalho
às características psicofisiológicas dos trabalhadores. Visa proporcionar um máximo
de conforto, segurança e desempenho eficiente, incluindo os aspectos relacionados
ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos
equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho e à própria
organização do trabalho.
Silva (2008) destaca que a ergonomia é uma ciência aplicada que estuda os
impactos das condições de trabalho, a sua organização e as formas de adaptação
do homem ao trabalho e do trabalho ao homem.
O mesmo autor destaca que as Lesões por Esforços Repetitivos (LER), hoje
denominadas DORT Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho
constituem o principal grupo de problemas à saúde, reconhecidos pela sua relação
laboral.
A NR 17 também determina que cabe ao empregador realizar a análise
ergonômica do trabalho, abordando no mínimo as condições de trabalho, conforme
parâmetros estabelecidos na própria norma.
NR32 - Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde:
Tem por finalidade estabelecer as diretrizes básicas para a implementação de
medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de
saúde, bem como daqueles que exercem atividades de promoção e assistência à
saúde em geral. Aponta as responsabilidades do empregador e os direitos do
trabalhador com relação à segurança e saúde.
Apresenta também as medidas que o estabelecimento de saúde e seus
trabalhadores devem adotar para exercerem suas atividades de maneira segura, na
36
utilização de gases medicinais, radiações ionizantes, trabalhos com
microorganismos em laboratórios de pesquisa e clínicos.
Propõe atenção às condições de iluminação, sistemas de ventilação,
lavanderias, refeitórios, máquinas e equipamentos utilizados e os cuidados que
devem ser observados em cada atividade realizada. Indica ainda que o empregador
deva capacitar seus trabalhadores, além de registrar todos os treinamentos e cursos
ministrados, acompanhando e avaliando os resultados.
O empregador deve ofertar condições ideais de trabalho, materiais de
proteção, cobrar o uso dos mesmos, e o trabalhador deve seguir as normas vigentes
para o trabalho na saúde, usar os EPIs e colaborar com ideias para tornar o
ambiente seguro e menos insalubre possível.
Todos os trabalhadores da saúde são responsáveis pela segurança, tanto
pela aplicação da NR32, como por fiscalizar as ações desenvolvidas e também por
criar padronizações que facilitem esta aplicação.
Esta norma norteia e facilita as ações de controle, ajustes e monitoramento
por parte dos gestores dos estabelecimentos de saúde, apontando os caminhos
para se obter um trabalho harmônico, centrado na segurança e nos cuidados com
seus trabalhadores.
1.3.6 Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador - PNSST
A proposta de construção de uma Política Nacional de Saúde e Segurança do
Trabalhador nasceu da necessidade de garantir que o trabalho, base da
organização social e direito humano fundamental, seja realizado em condições que
contribuam para a melhoria da qualidade de vida, a realização pessoal e social dos
trabalhadores o que inclui a garantia de sua saúde e integridade física e mental
(BRASIL, 2005a).
Considerando os preceitos constitucionais do direito à saúde, à previdência
social e ao trabalho e a necessidade de se estruturar a articulação
intragovernamental em relação às questões de segurança e saúde do trabalhador,
foi constituído o Grupo de Trabalho Interministerial MPS/MS/MTE, pela Portaria
Interministerial No. 153, de 13 de fevereiro de 2004, com a atribuição de: 1) reavaliar
37
o papel, a composição e a duração do Grupo Executivo Interministerial em Saúde do
Trabalhador GEISAT (instituído pela Portaria Interministerial MT/MS/MPAS nº 7,
de 25 de julho de 1997); 2) analisar medidas e propor ações integradas e sinérgicas
que contribuam para aprimorar as ações voltadas para a segurança e saúde do
trabalhador; 3) elaborar proposta de Política Nacional de Segurança e Saúde do
Trabalhador, observando as interfaces existentes e ações comuns entre os diversos
setores do Governo; 4) analisar e propor ações de caráter intersetorial referentes ao
exercício da garantia do direito à segurança e à saúde do trabalhador, assim como
ações específicas da área que necessitem de implementação imediata pelos
respectivos Ministérios, individual ou conjuntamente e 5) compartilhar os sistemas de
informações referentes à segurança e saúde dos trabalhadores existentes em cada
Ministério.
A PNSST define as diretrizes, responsabilidades institucionais e mecanismos
de financiamento, gestão, acompanhamento e controle social, que deverão orientar
os planos de trabalho e ações intra e intersetoriais.
Além disso, está diretamente relacionada com as políticas dos setores
Trabalho, Previdência Social, Meio Ambiente e Saúde, e apresenta interfaces com
as políticas econômicas, de Indústria e Comércio, Agricultura, Ciência e Tecnologia,
Educação e Justiça, em uma perspectiva intersetorial e de transversalidade.
São as diretrizes da PNSST (BRASIL, 2005a):
I - Ampliação das ações de SST, visando à inclusão de todos os trabalhadores
brasileiros no sistema de promoção e proteção da saúde.
II - Harmonização das normas e articulação das ações de promoção, proteção e
reparação da saúde do trabalhador.
III Precedência das ações de prevenção sobre as de reparação
IV - Estruturação de Rede Integrada de Informações em Saúde do Trabalhador
V - Reestruturação da Formação em Saúde do Trabalhador e em Segurança no
Trabalho e incentivo a capacitação e educação continuada dos trabalhadores
responsáveis pela operacionalização da PNSST
VI - Promoção de Agenda Integrada de Estudos e Pesquisas em Segurança e
Saúde do Trabalhador
A gestão da PNSST será conduzida pelo Grupo Executivo Interministerial de
Segurança e Saúde do Trabalhador GEISAT, integrado, no mínimo, por
representantes do MTE, MS e MPS. Caberá ao GEISAT elaborar o Plano de Ação
de Segurança e Saúde do Trabalhador, assim como coordenar a implementação de
suas ações.
38
1.4 Trabalho em hospitais
mais de duas décadas, o Brasil vem redefinindo a estrutura e o perfil do
sistema de saúde. Nos anos 90, os papéis e funções das esferas administrativas
foram reformulados e este novo modelo foi organizado de forma regionalizada,
segundo as diretrizes da descentralização administrativa e operacional, do
atendimento integral à saúde e da participação da comunidade visando ao controle
social (BRASIL, 2006b).
Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2006b) o SUS cresceu, estruturou-
se e expandiu-se por meio dos municípios. Na década de 80, o total de empregos
públicos de saúde era de ordem de 265.956 empregos, sendo que o setor público
municipal representava 17,8% desse total. em 2002, estes números chegam a
mais de um milhão de empregos, sendo que 66,3% são de responsabilidade
municipal.
Os hospitais de ensino o hoje responsáveis por, aproximadamente, 26%
dos leitos de unidades de tratamento intensivo (UTI) da rede pública e por 40% do
atendimento de alta complexidade; e por mais de 12% de todas as internações
(BRASIL, 2006b).
Apesar de historicamente a categoria dos profissionais de saúde não ter sido
considerada de alto risco para os acidentes e doenças profissionais, essa situação
tomou novo rumo mediante vários estudos e estatísticas que confirmaram que os
profissionais de saúde, especialmente os trabalhadores das unidades hospitalares,
estão sujeitos a maior número de riscos ocupacionais do que outras categorias
(CAVALCANTE et al., 2006).
O hospital, de maneira geral, é reconhecido como um ambiente insalubre,
penoso e perigoso para os que ali trabalham. Estudos anteriores apontam-no como
local privilegiado para o adoecimento. Além dos riscos de acidentes e doenças de
ordem física aos quais os trabalhadores hospitalares estão expostos, o sofrimento
psíquico é também bastante comum e parece estar em crescimento, diante da alta
pressão social e psicológica a que estão submetidos esses trabalhadores, tanto na
esfera do trabalho quanto fora dela. As difíceis condições de trabalho e de vida
podem estar relacionadas com a ocorrência de transtornos mentais como a
39
ansiedade e a depressão, freqüentes entre os profissionais de enfermagem (ELIAS;
NAVARRO, 2006).
No contexto hospitalar, a enfermagem constitui-se na maior força de trabalho,
e suas atividades são frequentemente marcadas por divisão fragmentada de tarefas,
rígida estrutura hierárquica para o cumprimento de rotinas, normas e regulamentos,
dimensionamento qualitativo e quantitativo insuficiente de pessoal, situação de
exercício profissional que tem repercutido em elevado absenteísmo e afastamentos
por doenças (BARBOZA; SOLER, 2003).
Abreu e Mauro (2000) destacam que a sobrecarga dos hospitais devido à falta
de infra-estrutura, aliada a fatores socioeconômicos da população, torna
extremamente árduas as condições de trabalho dos profissionais de enfermagem,
comprometendo as rotinas hospitalares e facilitando a ocorrência de acidentes de
trabalho.
As condições de trabalho oferecidas pelos hospitais, as peculiaridades das
tarefas de enfermagem, a crise econômica advinda da globalização, as dificuldades
do setor saúde, a carência de recursos humanos e materiais e a constante
preocupação com o processo de atualização objetivando acompanhar os avanços
técnico-científicos são fatores que contextualizam e penalizam a situação de
trabalho do pessoal de enfermagem em vários países (ROYAS; MARZIALE, 2001).
O enfermeiro atua num ambiente muitas vezes penoso e insalubre, que não
oferece condições favoráveis para sua saúde e satisfação pessoal. A precarização
do trabalho, pelo excesso de atividade laboral física e mental, acúmulo de horas
trabalhadas, sistema de vínculo empregatício, ou mesmo à má remuneração
ocupacional no sistema de saúde são determinantes dos acidentes e doenças
ocupacionais (MAURO; VEIGA, 2008).
40
1.4.1 Trabalho em Terapia Intensiva
Gomes (1988) conceitua Unidade de Terapia Intensiva (UTI) como uma área
onde os pacientes em estado grave podem ser tratados por uma equipe qualificada,
sob as melhores condições possíveis: centralização de esforços e coordenação de
atividades.
Segundo a RDC 50 (AGÊNCIA..., 2002), são atividades relacionadas à
internação de pacientes em regime de terapia intensiva mais diretamente ligadas à
enfermagem, dentre outras:
- executar e registrar a assistência de enfermagem intensiva;
- manter condições de monitoramento e assistência respiratória 24
horas;
- prestar assistência nutricional e distribuir alimentação aos pacientes;
- manter pacientes com morte cerebral, nas condições de permitir a
retirada de órgãos para transplante, quando consentida; e
- prestar informações e assistência aos acompanhantes dos pacientes.
A assistência em terapia intensiva é considerada como uma das mais
complexas do sistema de saúde. Afinal, os pacientes mais graves das unidades
hospitalares são alocados nas UTI, demandando o uso inevitável de tecnologias
avançadas e, principalmente, exigindo pessoal capacitado para tomada de decisões
rápidas e adoção de condutas imediatas.
O trabalho em unidade intensiva expõe o trabalhador de enfermagem
continuamente a fatores de riscos físicos, principalmente à radiação ionizante.
Nestas unidades, diariamente a realização de exames radiológicos, muitas vezes
com a participação direta de um profissional de enfermagem sem a devida proteção,
acarretando danos à sua saúde, sobretudo se considerarmos anos de exposição.
O trabalho da equipe de enfermagem na UTI organiza-se a partir do modelo
clínico e curativo, em que as intervenções de enfermagem dependem ou
complementam alguns procedimentos médicos, aliados à tecnologia indicada no
tratamento dos pacientes. No entanto, são as enfermeiras, técnicos e auxiliares de
enfermagem que realizam o maior número das intervenções e procedimentos nos
pacientes internados na UTI (GUTIERREZ, 2003).
41
Nas instituições de saúde, a organização do trabalho da equipe de
enfermagem é essencial para o atendimento adequado e de qualidade ao
cliente/paciente. Considerando o contexto do processo de trabalho da UTI, onde
predominam as atividades complexas, tarefas que requerem habilidades e
conhecimentos técnico-científicos devido aos cuidados que demandam atenção
permanente e maior carga de trabalho da equipe de enfermagem, necessidade
de garantir número adequado de trabalhadores para assegurar a qualidade da
assistência de enfermagem durante as 24 horas do dia (INOUE, 2008).
Hayashi e Gisi (2000), ao estudarem os aspectos interligados à questão da
assistência de enfermagem em UTI, encontraram vários componentes que afetam a
qualidade do cuidado: os diferentes sentimentos contraditórios dos profissionais
diante do cuidado, os recursos materiais e tecnológicos disponíveis, a satisfação no
trabalho traduzida pela retribuição salarial condizente, o reconhecimento
profissional, os saberes relacionados com os seus conhecimentos científicos e a sua
prática, e o relacionamento com a chefia. As autoras complementam, ainda, que os
profissionais de enfermagem enfrentam diariamente a missão de combater as
doenças, prolongar vida e também assumir os cuidados com os pacientes, cuja
única perspectiva é a morte. Além disso, apontam para o relacionamento complexo
que existe entre estes trabalhadores e os familiares, muitas vezes, desequilibrados
emocionalmente, pelo fato de seu parente estar internado na UTI, favorecendo
condições que contribuem para afetar a saúde do trabalhador, agindo como fatores
de natureza psicossocial.
1.5 Riscos ocupacionais
1.5.1 Riscos
A noção de risco tem a ver com a possibilidade de perda ou dano, ou como
sinônimo de perigo. A palavra risco é utilizada em muitas áreas e com vários
significados, como a matemática, a economia, a engenharia e o campo da saúde
pública (PORTO, 2000).
42
Na área da saúde do trabalhador, significa toda e qualquer possibilidade de
que algum elemento ou circunstância existente num dado processo e ambiente de
trabalho possa causar dano à saúde, seja através de acidentes, doenças ou do
sofrimento dos trabalhadores, ou ainda através da poluição ambiental.
Os riscos podem estar presentes na forma de substâncias químicas, agentes
físicos e mecânicos, agentes biológicos, inadequação ergonômica dos postos de
trabalho, características da organização do trabalho e das práticas de
gerenciamento das empresas, que impedem a participação dos trabalhadores,
tarefas monótonas e repetitivas, ou ainda a discriminação nos locais de trabalho em
função do gênero, raça ou mesmo religião (PORTO, 2000).
Entende-se por risco ocupacional “a possibilidade de que um trabalhador
sofra um determinado dano derivado do trabalho”, ou também “a combinação da
frequência ou probabilidade que podem derivar-se da materialização de um perigo”
(SANTIAGO; LÓPEZ, 2000).
Segundo Bulhões (1998), o risco ocupacional pode, no ambiente de trabalho,
ser ou estar:
Oculto Por falta de conhecimento ou de informação do trabalhador, que
sequer suspeita de sua existência.
Latente Quando o risco se manifesta e causa danos em situações de
emergência ou condições de estresse. O trabalhador sabe que corre riscos, mas as
condições de trabalho o forçam a isso. Fato bastante comum no cotidiano da
enfermagem.
Real Conhecido de todos, mas sem controle, por inexistência de solução
para tal, ou pelos altos custos exigidos, ou ainda por falta de vontade política.
1.5.2 Fatores de risco
Um fator de risco é uma característica do trabalho, que pode aumentar a
possibilidade de que se produzam acidentes ou agravos à saúde dos trabalhadores.
Podem ser classificados como fatores ligados às condições de trabalho; ligados ao
meio-ambiente do trabalhador; derivados das características do trabalho e derivados
da organização do trabalho (SANTIAGO; LÓPEZ, 2000).
43
A Norma Regulamentadora 9 (NR-9) tem como objetivo a preservação da
saúde e integridade do trabalhador através da antecipação, avaliação e controle dos
riscos ambientais existentes, ou que venham a existir no ambiente de trabalho. Tem
em vista a proteção ao meio ambiente e recursos naturais, levando-se em conta os
Agentes Físicos, Químicos e Biológicos.
De acordo com a NR-9, denominada Programa de Prevenção de Riscos
Ambientais, os agentes de riscos ambientais podem ser classificados em:
a. Agentes Físicos: diversas formas de energia a que possam estar
expostos os trabalhadores, tais como ruído, vibrações, pressões
anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes e não
ionizantes, bem como o infra-som e ultra-som;
b. Agentes Químicos: substâncias, compostos ou produtos que
possam penetrar no organismo pela via respiratória, nas formas de
névoas, neblinas, poeiras, fumos, gases e vapores ou que, pela
natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser
absorvido pelo organismo através da pele ou por ingestão.
c. Agentes Biológicos: bactérias, vírus, fungos, helmintos,
protozoários, bacilos, parasitas, entre outros.
Destacam-se também os Riscos de Acidentes, os quais podem ser
entendidos como qualquer condição real ou potencial presente no ambiente de
trabalho, ou fora dele, capaz de provocar lesão ou comprometimento da saúde do
trabalhador, bem como dano às instalações e equipamentos.
Os riscos de acidentes, como fator de risco ambiental, podem levar ao
acidente de trabalho propriamente dito, com sérias consequências para o
trabalhador, empresa, sociedade e para o meio ambiente (SILVA, 2008).
Além dos Riscos Ambientais, destacam-se também os Riscos Ergonômicos.
A Ergonomia, através da análise ergonômica do trabalho, identifica os riscos
ergonômicos causadores potenciais de danos à saúde dos trabalhadores
considerando os aspectos físico, psíquico e social, bem como a estrutura da
organização e o próprio ambiente de trabalho.
Os Riscos Ergonômicos de caráter físico, diferentemente dos riscos físicos
ambientais, tratam-se daquelas condições de trabalho ou de natureza das atividades
que podem causar danos, lesões, desgastes no trabalhador, podendo levar a
44
incapacidades temporárias ou permanentes, como por exemplo, as doenças
osteomusculares relacionadas ao trabalho (DORT), dentre outras (SILVA, 2008).
Existem ainda os riscos ergonômicos de caráter psicossocial, que se
relacionam a aspectos de planejamento, organização e gerenciamento do trabalho,
e ao seu contexto ambiental e social, os quais apresentam potencial para causar
prejuízo físico, social e psicológico podendo provocar estresse (CAMELO, 2006).
1.5.3 Fatores de risco em hospitais
O funcionamento dos estabelecimentos de saúde dependia, no passado,
basicamente do trabalho braçal e de investimentos que não iam muito além de
paredes e camas. As exigências do mundo globalizado são diferentes. Até mesmo a
assistência à saúde ultrapassa fronteiras, com automação, virtualidade e tecnologias
de ponta, que passaram a fazer parte do cotidiano de muitos hospitais (BULHÕES
1998).
Em condições ocupacionais inadequadas, o trabalho passa a ser patológico.
O trabalhador, quando não consciente do que se passa em seu ambiente de
trabalho, nada ou pouco faz a fim de evitar as consequências da prática laboral
alienada e alienante. Desse modo, pesquisadores que estudam o trabalho
patológico procuram apontar os fatores de risco laborais, apesar de que poucos são
os interessados em adotar atitudes que minimizem tais riscos (MAURO et al., 2008).
1.5.4 Condições de trabalho
Segundo Murta (2008), entende-se por condições de trabalho as influências
do ambiente de trabalho que circunscrevem as ações do trabalhador, como fator de
risco para a sua saúde e segurança.
As condições de trabalho são, em primeiro lugar, as condições físicas
ambientais: ruídos, poeira, calores. São também as exigências impostas pela
máquina ou os processos: posturas, gestos, cadências e pressões horárias (trabalho
45
em turnos alternados). São também, ainda que este aspecto seja menos
frequentemente citado, as condições cognitivas do trabalho: dificuldades e stress
devidos a uma má inteligibilidade dos sinais e avisos (SANTIAGO; LÓPEZ, 2000).
As condições de trabalho intensificam a ação dos riscos ambientais podendo
potencializar os riscos próprios e inerentes à natureza do trabalho, se as medidas de
controle, atenuação e eliminação destes riscos não forem adotadas (MURTA, 2008).
Segundo Santiago e López (2000), classificam-se as questões relativas às
condições de trabalho em seis categorias:
I. As condições materiais de trabalho que concernem à higiene, a
segurança e o ambiente de trabalho.
II. A organização do trabalho, que compreende:
a. A concepção e a implantação dos postos de trabalho;
b. A fixação das normas;
c. A reestruturação das tarefas;
d. A organização do contexto gerencial:
e. A informação e associação dos executantes às decisões.
III. A duração do trabalho, semanal propriamente dita, ou a
organização dos horários.
IV. Os modos de remuneração do trabalho: sistema de remuneração,
incluindo o salário mensal.
V. O desenvolvimento das carreiras, ou seja, a promoção e a formação
profissional.
VI. O meio-ambiente da empresa, assim como o alojamento e o
transporte dos assalariados.
Neste sentido, podemos dizer que as condições de trabalho são o conjunto de
elementos e circunstâncias de caráter material, psíquico, biológico e social, que
influenciados e determinados por ltiplos fatores de ordem econômica, técnica e
organizacional, se interrelacionam e interagem, constituindo o entorno e a forma em
que se desenvolve a atividade laboral (SANTIAGO; LÓPEZ, 2000).
Segundo Mauro et al. (2008), os principais problemas das condições de
trabalho o: remuneração; oportunidade de carreira; garantias disciplinares; horas
de trabalho; descanso e férias; segurança social; proteção à saúde; oportunidade de
formação inicial e educação contínua; efetivo de pessoal no serviço; organização do
46
trabalho; participação do pessoal na determinação de suas condições de trabalho e
de vida; participação em tudo que contribui para a satisfação no trabalho.
Ter melhores condições de trabalho implica: ter equipamento adequado e
suficiente; ter pessoal em número e categoria adequados; melhorar as condições de
uma maneira geral; ter mobiliário e equipamentos adequados para atender ao
cliente; contar com planta física adequada no que diz respeito à construção de
instalações para a higienização dos pacientes e do pessoal bem como do material
utilizado para efetuar os procedimentos técnicos; dispor de instalações e estrutura
adequadas para efetuar tratamentos, como, por exemplo, contar com oxigênio
canalizado à cabeceira do leito, além de outros requisitos como regularidade no
fornecimento de material, resolução dos problemas de biossegurança para clientes e
profissionais, ter menos sobrecarga no trabalho (MAURO; VEIGA, 2008).
As condições de trabalho oferecidas pelos hospitais, as peculiaridades das
tarefas de enfermagem, a crise econômica advinda da globalização, as dificuldades
do setor saúde, a carência de recursos humanos e materiais e a constante
preocupação com o processo de atualização objetivando acompanhar os avanços
técnico-científicos são fatores que interferem negativamente na situação de trabalho
do pessoal de enfermagem em vários países (ROYAS; MARZIALE, 2001).
47
2 MATERIAIS E MÉTODOS
Este estudo caracteriza-se como quantitativo, de delineamento não-
experimental e descritivo, visando uma análise das condições de trabalho em
unidades intensivas de um hospital universitário e a relação entre problemas de
saúde e riscos ocupacionais percebidos pelos trabalhadores de enfermagem,
utilizando-se estatística descritiva e inferencial.
Em estudos quantitativos, o delineamento de pesquisa refere-se ao plano
geral do pesquisador para responder às questões de pesquisa e apresenta as
estratégias adotadas para desenvolver informações precisas e interpretáveis
(POLIT; BECK; HUNGLER, 2004).
A estatística descritiva foi usada para, através de frequências e porcentagens,
resumir, organizar e comunicar a informação numérica proveniente dos dados
obtidos. A estatística inferencial, baseada nas leis da probabilidade, proporcionou
meios para que fossem tiradas conclusões acerca da população estudada,
utilizando-se o teste do Quadrado de Pearson, sendo adotado o nível de 5% para
significância estatística.
2.1 Campo de pesquisa
O HU é um hospital público, de grande porte, com cobertura assistencial
estimada de 1.000.000 (hum milhão) de habitantes, considerado centro de
excelência e referência para o Estado do Rio de Janeiro na área de ensino e saúde.
Funciona com 600 leitos e 16 salas cirúrgicas, onde são realizadas internações e
cirurgias em mais de 60 especialidades e sub-especialidades da área dica. Tem
como missão “prestar assistência integrada, humanizada e de excelência à saúde,
sendo agente transformador da sociedade através do ensino, pesquisa e extensão.”
Como hospital universitário, serve como campo de aprendizado para o ensino de
graduação na área de saúde e de aperfeiçoamento dos conhecimentos para
graduados (HOSPITAL..., 2008).
48
Inaugurado em 1950, fez parte da rede hospitalar da Secretaria de Saúde do
então Distrito Federal. Na década de 60, como Hospital-Escola, suas atividades
privilegiavam exclusivamente as questões acadêmicas de ensino e pesquisa, com o
acompanhamento e estudo de raridades clínicas e doenças em estágio final de
evolução. Em 1975, em decorrência do Convênio firmado com os Ministérios da
Educação e da Previdência Social, adequou suas atividades para atender a
realidade sanitária da população (HOSPITAL..., 2008).
A qualidade dos profissionais e os meios sofisticados de diagnósticos e
tratamento oferecidos ocasionaram um aumento progressivo na procura pelo
atendimento oferecido pelo HU, transformando-o em um dos maiores complexos
docente-assistenciais na área de saúde. Anualmente passam por ele 1500 alunos de
graduação e pós-graduação e cerca de 350 docentes exercem suas atividades nas
diversas unidades de ensino (HOSPITAL..., 2008).
O estudo foi desenvolvido especificamente nas unidades de internação
intensiva do HU: Centro de Terapia Intensiva (CTI) Geral, CTI Cardíaco (CTI-C) /
Semi-Intensiva (SI), Unidade Coronariana (UC) e Emergência Infantil (EI).
Cada unidade situa-se em um local diferente no hospital, do ao andar.
Não padronização dos ambientes físicos e foram feitas, ao longo dos anos,
adaptações para cada setor, de acordo com os recursos disponíveis e necessidades
identificadas pelos gerentes. As principais características em comum são o
atendimento a clientes de alta complexidade, em estado crítico, com alto grau de
dependência dos cuidados de enfermagem, além da presença de enfermeiros
líderes continuamente.
Dentre as unidades intensivas selecionadas, a única da área materno-infantil
é a Emergência Infantil, que apesar do nome, é uma unidade de terapia intensiva
pediátrica, com 10 leitos, situada no 2º andar, que atende a uma demanda interna do
HU (ambulatório e enfermarias pediátricas) e externa (pronto-atendimento e outras
unidades de saúde).
O CTI Geral, situado no andar, funciona com 7 leitos e atende à demanda
de todo o hospital para pacientes adultos, clínicos ou cirúrgicos, em situação crítica
que necessitem monitoração especializada e/ou ventilação mecânica artificial.
A Unidade Coronariana, também situada no andar, possui seis leitos e
objetiva atendimento a clientes adultos cardiopatas, em estado crítico ou que
requerem acompanhamento intensivo.
49
O CTI Cardíaco e a unidade Semi-intensiva são integrados, localizados no
andar, sob a gerência de uma mesma enfermeira chefe. No CTI-C são internados os
pacientes em pós-operatório imediato de Cirurgia Cardíaca ou em complicações
tardias, tendo a capacidade para 12 leitos. Na Semi-intensiva são internados os
pacientes oriundos do CTI-C ou em complicações tardias que requerem internação,
mas não em terapia intensiva.
Ressalta-se que estas unidades intensivas, assim como os outros setores do
hospital, são campos de ensino-aprendizagem para acadêmicos, internos e
residentes de enfermagem, os quais participam das atividades assistenciais e
gerenciais ao lado dos enfermeiros líderes de equipe e chefes de setor.
2.2 População e amostra
Segundo informações da Coordenadoria de Enfermagem da instituição, o HU
contava no ano de 2008 com 378 enfermeiros (sendo 60 contratados) e 1252
auxiliares de enfermagem (442 contratados), totalizando 1630 profissionais de
enfermagem. Havia um grande déficit quantitativo de profissionais, além de alto
índice de licenças médicas. Muitos casos de desgastes e adoecimentos, atribuídos
frequentemente à sobrecarga de trabalho, somavam-se a alguns fatores como a
abertura de unidades assistenciais e o aumento da complexidade de outras.
A população deste estudo foi constituída pelos trabalhadores de enfermagem
das unidades intensivas descritas. Levantamento feito em 2009 mostrou que o
hospital tinha 170 trabalhadores de enfermagem nestas unidades. Destes, 42 eram
Enfermeiros e 128 Auxiliares de Enfermagem, não havendo a categoria profissional
de cnico de Enfermagem entre os estatuários pertencentes aos quadros
funcionais da instituição. Para cada categoria profissional, existiam funcionários
estatutários e contratados temporários. Dentre os contratados, havia cnicos e
Auxiliares de Enfermagem.
Como critérios de inclusão de sujeitos para o estudo, elencamos:
a. Ser profissional de enfermagem, em qualquer das categorias:
auxiliar de enfermagem, técnico de enfermagem ou enfermeiro;
50
b. Ser funcionário das unidades estudadas, estatutário ou de contrato
temporário;
c. Trabalhar nas unidades estudadas há, pelo menos, seis meses;
d. Aceitar participar espontaneamente da pesquisa, após ser
informado sobre os objetivos da pesquisa e assinar o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.
Como critérios de exclusão definiram-se:
a. Não aceitação do trabalhador em participar da pesquisa;
b. Afastamentos por motivos variados (férias, licenças, outros);
c. Desistência durante a pesquisa.
Foram excluídos também os trabalhadores de enfermagem do Núcleo Peri
natal, prédio anexo ao hospital, que engloba a UTI Neonatal e outros setores da
área materno-infantil. Esta exclusão justifica-se pelo fato do Núcleo Peri natal ser
uma unidade inaugurada em 2006, ainda consolidando sua implantação e
organização, além de ser cenário de outro estudo sobre condições de trabalho em
andamento (dissertação de mestrado).
Respeitando os critérios de inclusão e exclusão, a amostra do estudo foi
então constituída de 125 trabalhadores de enfermagem das unidades intensivas do
HU.
2.3 Instrumento de coleta de dados
O instrumento de coleta de dados foi composto de questionários
desenvolvidos a partir dos “Guias de Avaliação de Riscos nos lugares de trabalho
em indústria”, que são baseados na experiência sindical de diversos países
europeus, criados por Boix e Vogel (1998) e adaptados por Mauro em 2001, após
autorização dos autores (MAURO, 2006).
A primeira experiência de utilização deste instrumento foi feita em uma
empresa de transporte de carga localizada no município de Volta Redonda/RJ, com
bons resultados. Posteriormente foi realizada a adaptação dos questionários para
uso em hospitais, sendo utilizado como experiência-piloto um hospital daquele
município (AGLIARDI; SANTOS, 2003).
51
Os questionários foram reavaliados e serviram de instrumentos para outros
oito estudos em hospitais públicos e privados do Estado do Rio de Janeiro.
Entretanto, em todas as experiências não foi possível sua utilização na totalidade
por motivos diversos: tempo previsto para a realização da pesquisa ou falta de
recursos humanos e materiais para consolidar a experiência.
A partir das experiências vivenciadas, foi planejada a aplicação de todo o
instrumento criado pelos autores e adaptado por Mauro, no projeto INGECTH-SUS
(MAURO, 2006). O instrumento original era composto de cinco seções: (1)
Diagnóstico da situação; (2) Identificação preliminar de riscos; (3) Questionário sobre
riscos e danos; (4) Observação de problemas; (5) Proposta de soluções. Estas
seções foram reformuladas, optando-se pela utilização no HU de apenas os
cadernos 1, 3 e 4, então denominados de A, B e C, respectivamente.
Nesta dissertação de mestrado, utilizou-se o caderno B - Questionário sobre
Riscos e Danos (Anexo A), na íntegra, que é composto de três partes:
- Características Profissionais dos Trabalhadores, com questões
envolvendo as variáveis: sexo, idade, tempo de trabalho, atividade funcional, setor
de trabalho, qualificação profissional, turno de trabalho e jornada, visando responder
ao primeiro objetivo do estudo.
- Fatores de Riscos do Ambiente de Trabalho, visando atender ao segundo
objetivo, onde o trabalhador dispõe de escala de zero a cinco para caracterizar sua
percepção sobre vários fatores listados, na qual “0” significa “desconhece”; “1”
“Não acontece”; “2” “Raramente”; “3” “Às vezes”; “4” “Frequentemente” e “5”
“Sempre”.
- Problemas de Saúde dos Profissionais, que inclui 29 itens e sua relação
com o trabalho, provocando ou agravando estes problemas, segundo a percepção
dos trabalhadores de enfermagem, o que contempla o terceiro objetivo.
2.4 Coleta de dados
A coleta de dados foi realizada pelo pesquisador, no período de maio a julho
de 2009, contando com a participação de cinco acadêmicos de enfermagem
52
bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq),
já colaboradores do INGECTH-SUS.
Sob a orientação da Profª. Drª. Maria Yvone Chaves Mauro, em projetos de
pesquisa do Núcleo de Pesquisa em Saúde, Trabalho e Meio Ambiente
(NUEST/UERJ) do Departamento de Enfermagem de Saúde Pública da Faculdade
de Enfermagem da UERJ (DESP/FENF/UERJ), estes acadêmicos foram treinados
para realização desta atividade em estudos anteriores, no mesmo hospital, utilizando
o mesmo instrumento de coleta de dados.
Previamente à coleta propriamente dita, foi feito contato com cada enfermeiro
chefe de setor para explicar os objetivos da pesquisa, etapas e estratégias. Neste
contato, mediante uma listagem com todos os funcionários, os chefes informavam
quais deles eram contratados menos de seis meses, ou estavam ausentes por
motivos diversos (critérios de exclusão).
Os diversos setores, horários e plantões foram então divididos em grupos
compostos por acadêmicos e pelo mestrando responsável.
A coleta aconteceu da seguinte forma: comparecendo ao setor, os
responsáveis pela coleta se apresentavam e explicavam a pesquisa aos funcionários
que estavam na listagem, pedindo colaboração para participar. Àqueles que
aceitavam, eram entregues duas cópias do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) e uma do questionário (Anexo A). Foi solicitado o preenchimento
no mesmo dia do plantão, a ser recolhido algumas horas depois de entregue.
Para os funcionários do serviço noturno, a estratégia foi à mesma. Entretanto,
os questionários eram recolhidos no dia seguinte, ao final do plantão.
2.5 Organização e tratamento dos dados
Os dados coletados foram incluídos em um banco de dados do programa
Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 15.0, pelos mesmos
acadêmicos bolsistas que participaram da coleta de dados. Este banco de dados foi
elaborado por uma especialista contratada pela orientadora para auxílio na
organização e tratamento estatístico de todo o conjunto de dados coletados no
processo do INGECTH-SUS.
53
Para atender ao quarto objetivo específico da pesquisa foi utilizada estatística
descritiva e inferencial, sendo contratado um especialista (estatístico) para
elaboração de tabelas e aplicação de testes, como o do Quadrado de Pearson,
utilizado para verificar se uma associação estabelecida é estatisticamente
significativa. Foi adotado o “p valor” de 5% para significância estatística.
A partir das repostas do questionário, foram desenvolvidas duas escalas, a
escala relativa aos Riscos no Ambiente de Trabalho (RAT) e a escala relativa aos
Problemas de Saúde dos Trabalhadores (PST). Tanto a escala RAT quanto a escala
PST foram criadas levando-se em consideração o escore (somatório das respostas)
obtido em cada bloco de perguntas. A RAT foi calculada em relação ao bloco de
perguntas “Fatores de riscos do ambiente de trabalho” (45 questões) e a PST
calculada em função do bloco de perguntas “Problemas de saúde dos profissionais”
(30 questões).
As possíveis respostas para o bloco de perguntas relativas aos “Fatores de
riscos do ambiente de trabalho” eram “sempre”, “frequentemente”, “às vezes”,
“raramente”, “não acontece” e “desconhece”. Cada uma dessas possíveis repostas
recebeu uma pontuação que variou de zero a cinco pontos, zero para o caso da
resposta “desconhece” e cinco para a resposta “sempre”. Desta forma o escore das
perguntas relativas aos fatores de risco teria seu mínimo o valor “0” e seu máximo o
valor “225”.
Com base na pontuação obtida por cada respondente do questionário,
verificou-se a distribuição dos escores relativos aos riscos no ambiente de trabalho e
classificaram-se os mesmos em tercis, ou seja, primeiro tercil foi formado pelos
escores menores que “103” (33%), o segundo tercil pelos escores com resultado
entre “103” e “134” (66%) e o terceiro tercil para os valores acima de “134”.
Assim, a escala RAT foi dividida em três categorias: 1. Baixo, quando a
pontuação obtida ficou abaixo do primeiro tercil; 2. Médio, quando a pontuação
obtida ficou entre o primeiro e o segundo tercil; e 3. Alto, após o segundo tercil.
54
2.6 Aspectos éticos
Atendendo as determinações da Resolução 196 de 10 de outubro de 1996,
do Ministério da Saúde, o projeto de pesquisa a que esta é vinculada foi entregue e
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário, em todas as
suas etapas para o projeto matriz, em nome da coordenadora Maria Yvone Chaves
Mauro (Anexo C). Contudo, foi solicitada uma aprovação específica, com vistas à
exigência futura de publicações em nome do autor desta dissertação (Anexo D).
Foram respeitados os direitos dos trabalhadores em querer ou não participar
deste estudo, sendo entregue antes da aplicação dos instrumentos, um Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice A), assinado pelo respondente,
conforme orienta a Resolução nº 196.
Ressalta-se que foi garantido o anonimato dos trabalhadores participantes,
bem como que estes não seriam prejudicados a partir das informações obtidas nesta
pesquisa.
55
3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
As respostas obtidas nos questionários e inseridas no banco de dados
geraram vários resultados, divididos nesta pesquisa em: características pessoais e
profissionais; fatores de risco do ambiente de trabalho; problemas de saúde
percebidos e associação entre riscos mais percebidos e problemas de saúde.
Dentre os 125 questionários respondidos por profissionais de enfermagem
que trabalhavam em unidades intensivas temos, no gráfico 1, a distribuição por
setores representada:
Emergência
Infantil
(25)
CTI Geral
(31)
Unidade
Coronariana
(19)
CTI Cardíaco /
Semi-Intens.
(50)
Gráfico 1 - Questionários respondidos por unidade intensiva do
HU, Rio de Janeiro, 2009.
56
3.1 Características pessoais e profissionais dos trabalhadores de enfermagem
Dentre os trabalhadores das unidades intensivas estudadas significativa
maioria de mulheres (77,6%) em relação a homens (22,4%), confirmando uma
característica de a enfermagem ser uma profissão majoritariamente feminina.
Tabela 1 Distribuição dos trabalhadores de enfermagem das unidades intensivas
segundo sexo, faixa etária e estado civil, HU, Rio de Janeiro, 2009
Distribuição dos trabalhadores segundo sexo
n
(%)
Masculino
28
22,4
Feminino
97
77,6
Total
125
100,0
Distribuição dos trabalhadores segundo faixa etária
n
(%)
20 a 29 anos
11
8,8
30 a 39 anos
17
13,6
40 a 49 anos
62
49,6
50 anos ou mais
35
28,0
Total
125
100,0
Distribuição dos trabalhadores segundo estado civil
n
(%)
Solteiro ou similar
38
30,4
Casado ou similar
69
55,2
Divorciado/desquitado
14
11,2
Viúvo
3
2,4
Em Branco
1
0,8
Total
125
100,0
É fato que a enfermagem, ainda nos dias atuais, permanece como profissão
essencialmente feminina, haja vista que o percentual de homens que buscam essa
opção profissional é reduzido. Assim sendo, é bem elevado o número das pessoas
que vivem essa realidade em seu cotidiano, ou seja, serem esposas, mães e
profissionais de enfermagem, englobando toda complexidade que tal situação
comporta (SPINDOLA; SANTOS, 2003).
No Brasil, a intensificação e o crescimento do trabalho das mulheres e sua
inserção no mercado de trabalho, segundo dados do Departamento Intersindical de
57
Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (DIEESE), ocorreram na década de 1990.
Vários motivos levaram a tal acontecimento, como o movimento de emancipação
feminina e a busca de direitos iguais entre mulheres e homens na sociedade, além
do crescimento do número de famílias chefiadas por mulheres. A diversidade de
razões, levando à introdução das mulheres na atividade econômica, se demonstra
“na discriminação do trabalho feminino, revelada através das formas singulares de
sua inserção, das altas taxas de desemprego, dos menores rendimentos e de
vínculos de trabalho mais frágeis” (DEPARTAMENTO..., 2003, p. 12).
Segundo Elias e Navarro (2006), a mulher profissional de enfermagem, ao
buscar o trabalho fora de casa leva consigo como referência identificadora a
maternidade e todos os signos que lhe designam o que é ser mulher, tentando
realizá-los a partir do modelo tradicional que lhe foi ensinado. A convivência da
necessidade de trabalhar fora de casa e do desejo de cuidar da família e da casa,
segundo os moldes tradicionais, traz para as mulheres contradições e conflitos.
A inserção da mulher no mercado de trabalho traz a conflitante tarefa de
conciliar as atividades no espaço privado e público, a ocupação doméstica e a
profissional que a rigor é mal remunerada - e levam à dupla jornada, engendrando,
nesse sentido, a exploração do gênero. As enfermeiras/mulheres/mães não
conseguem separar a vida familiar e a vida profissional, na medida em que o
trabalho de enfermagem tende a ser percebido como uma extensão do cotidiano da
mulher com o cuidado da família, não apartando de si o mundo do lar e o do trabalho
(BAGGIO; FORMAGGIO, 2008).
Além do crescimento contínuo do trabalho feminino, identifica-se, também,
uma tendência de manutenção do nível elevado de atividades produtivas até idades
mais avançadas. Estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA) em 2001 aponta que as taxas de atividade das mulheres em idades
intermediárias e mais elevadas o crescentes, enquanto as das mais jovens são
estáveis, observando-se um progressivo amadurecimento da mão de obra feminina
ocupada (GIATTI; BARRETO, 2002).
Quanto à idade, 77,6% dos trabalhadores de enfermagem das unidades de
internação intensivas estudadas tinham 40 anos ou mais de idade e um percentual
significativo com mais de 50 anos (28%). Isto revela que nessa faixa etária, os
trabalhadores podem estar mais susceptíveis ao aparecimento de doenças e
agravos à saúde, relacionados ao trabalho ou não.
58
A maioria dos trabalhadores participantes é casada (55,2%), seguida de
solteiros (30,4%). Tal situação conjugal, compatível com a faixa etária apresentada
como mais expressiva na amostra, reforça os aspectos descritos sobre trabalho
feminino.
Estudo realizado com trabalhadores de uma moderna indústria farmacêutica
no México revelou que a identidade feminina continua a ser vinculada ao trabalho
doméstico porque as mulheres o consideradas responsáveis pelo funcionamento
da casa, até mesmo por elas próprias, e que a situação desigual e complexa entre
homens e mulheres está relacionada de forma muito clara aos seus problemas de
saúde. Verificou-se aumento da morbidade nas mulheres, com predominância de
distúrbios psicossomáticos (CRUZ; NORIEGA; GARDUÑO, 2003).
Tabela 2 Distribuição dos trabalhadores de enfermagem das unidades intensivas
segundo categoria profissional, contrato de trabalho e número de vínculos
empregatícios, HU, Rio de Janeiro, 2009
Distribuição dos trabalhadores segundo categoria profissional
n
(%)
Enfermeiro
39
31,2
Técnico de Enfermagem
47
37,6
Auxiliar de Enfermagem
38
30,4
Em branco
1
0,8
Total
125
100,0
Distribuição dos trabalhadores segundo tipo de contrato
n
(%)
Estatutário federal
1
0,8
Estatutário estadual
91
72,8
Estatutário municipal
2
1,6
Contrato CLT
2
1,6
Outros contratos
22
17,6
Cooperativa
3
2,4
Em branco
4
3,2
Total
125
100,0
Distribuição dos trabalhadores segundo número de vínculos
n
(%)
1
55
44,0
2
66
52,8
3
3
2,4
5
1
0,8
Total
125
100,0
59
Nas unidades intensivas do hospital universitário uma característica
distinta das demais unidades: a presença do profissional enfermeiro continuamente
durante 24 horas. Isto possibilitou a representatividade de todas as categorias
profissionais da enfermagem neste estudo.
Dentre estes profissionais, 31,2% são Enfermeiros, 37,6% Técnicos de
Enfermagem e 30,4% Auxiliares de Enfermagem. A presença em maior número de
profissionais de nível médio (auxiliares e técnicos) na pesquisa é compatível com a
realidade do trabalho de enfermagem em hospitais, sobretudo na rede pública.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2006),
o setor público no Brasil é responsável por 50,7% dos postos de trabalho de nível
superior e por 54,1% dos de nível técnico/auxiliar. Considerando apenas o município
do Rio de Janeiro, existiam 1744 enfermeiros trabalhando na esfera pública
estadual, enquanto que auxiliares e técnicos, havia 6938.
No hospital universitário, a maioria dos trabalhadores possui vínculo
estatutário com a instituição (72,8%), portanto concursados e com estabilidade.
Com o acúmulo de afastamentos definitivos por aposentadorias e óbitos, não
repostos nos últimos anos através de concurso público, vem crescendo na instituição
o número de profissionais de enfermagem que trabalham sob o regime de contrato
temporário. Considerou-se contrato temporário as respostas “outros contratos” e
“cooperativa”, perfazendo 20,0% dos trabalhadores.
A contratação temporária no SUS configura-se como trabalho precário, na
medida em que não garante os direitos trabalhistas e previdenciários consagrados
em lei. Os únicos vínculos trabalhistas que garantem proteção social, ou seja, o
pleno gozo de direitos trabalhistas e previdenciários são o estatutário e o celetista
(BRASIL, 2006c, grifo nosso).
No HU, os profissionais de enfermagem contratados, além de receberem um
salário significativamente inferior ao dos estatutários, não têm assegurados direitos
celetistas, como FGTS, indenização e outros adicionais e garantias previstas na
CLT, nem as vantagens dos estatutários, como licença especial, triênios ou
estabilidade. Por outro lado, trabalham da mesma forma, executando as mesmas
tarefas que os estatutários e tornando-se, portanto, expostos aos mesmos riscos
ocupacionais.
milhões de trabalhadores em todo o mundo cujo trabalho pode ser
classificado como precário, do ponto de vista de seus possíveis efeitos sobre a
60
saúde e o bem-estar. Uma das características que classificam estes trabalhadores
diz respeito exatamente à relação que mantêm com sua empresa, como o
subcontrato e outros contratos atípicos (GHAI, 2006).
As entidades sindicais que representam os trabalhadores do SUS também
consideram trabalho precário como ausência de concurso ou processo seletivo
público para cargo permanente ou emprego público no SUS (BRASIL, 2006c).
Este trabalho precário em saúde tem sido identificado como um obstáculo
para o desenvolvimento do sistema público de saúde, na medida em que
comprometimento da relação dos trabalhadores com o sistema e prejuízo da
qualidade e continuidade dos serviços prestados à população (BRASIL, 2006c).
Embora o Ministério da Saúde tenha criado em 2003 o Comitê Nacional
Interinstitucional de Desprecarização do Trabalho no SUS, com o objetivo de
elaborar políticas e diretrizes para a desprecarização do trabalho no sistema, poucos
efeitos se observam na prática. No hospital do estudo, inclusive, o número de
profissionais de enfermagem e outras categorias empregados sob contrato
temporário vem crescendo na última década.
Outras desvantagens desta modalidade de vínculo empregatício incluem,
para os gerentes, a dificuldade em manter a equipe atualizada em relação a
conteúdos fornecidos através de treinamento em serviço. A frequente substituição
dos contratados quando atingem o período máximo permitido para o contrato,
acarretam constantes e repetidos treinamentos da equipe sobre as rotinas do
serviço. ainda o fato de que, por ser temporário, frequentemente o trabalhador
não estabelece vínculo afetivo com a instituição, o que dificulta seu envolvimento
com questões relacionadas a melhorias no setor ou processo de trabalho.
No HU não a função de Técnico de Enfermagem entre os estatutários
estaduais, embora esta resposta tenha surgido. Isto se deve ao fato de que, embora
concursados com a função de Auxiliares de Enfermagem, os profissionais
buscaram qualificação e mudança da categoria profissional alguns anos.
Segundo dados do IBGE (2006) existiam no Brasil, em 2005,
aproximadamente 32% de auxiliares de enfermagem na esfera pública estadual,
apenas no município do Rio de Janeiro, com nível médio de escolaridade.
Segundo a Lei 7.498 do Exercício Profissional de Enfermagem (BRASIL,
1986), o Técnico de Enfermagem exerce atividade de nível médio, envolvendo
orientação e acompanhamento em grau auxiliar, e participação no planejamento da
61
assistência de Enfermagem. O Auxiliar de Enfermagem exerce atividades de nível
médio, de natureza repetitiva, envolvendo serviços auxiliares sob supervisão, bem
como a participação em nível de execução simples, em processos de tratamento,
cabendo-lhe especialmente observar, reconhecer e descrever sinais e sintomas;
executar ações de tratamento simples e prestar cuidados de higiene e conforto ao
paciente.
Na prática diária de enfermagem, entretanto, não se observa a diferenciação
entre as ações de cnicos e auxiliares de enfermagem. Sob a supervisão direta do
enfermeiro, estes profissionais executam indistintamente ações consideradas de
menor complexidade, geralmente mais exaustivas fisicamente.
Os atos mais técnicos e socialmente mais qualificados, herdados da prática
médica, são realizados pelos enfermeiros, responsáveis pela chefia, coordenação e
supervisão do trabalho dos técnicos e dos auxiliares de enfermagem que, por sua
vez, executam o trabalho menos qualificado, dedicando mais tempo aos pacientes.
As tarefas realizadas pelos técnicos e auxiliares de enfermagem são mais intensas,
repetitivas e social e financeiramente menos valorizadas (ELIAS; NAVARRO, 2006).
Quanto às características profissionais relacionadas a vínculos empregatícios,
observa-se que a maioria (56%) tem dois ou mais vínculos e 44% têm apenas um
vínculo.
Pitta (2003) ressalta que o regime de turnos e plantões possibilita a efetivação
de duplos empregos e jornadas de trabalho, frequente entre os que trabalham na
saúde, sobretudo em um país onde os baixos salários colaboram para que isto
ocorra. Esta situação é preocupante, uma vez que, no cotidiano, são poucas as
mudanças para assegurar condições adequadas de trabalho para os trabalhadores
da Enfermagem, incluindo-se os treinamentos para identificação dos riscos e
prevenção dos problemas relacionados ao trabalho.
Além disso, para um grande contingente desses trabalhadores, longos
períodos de trabalho são uma constante, agravados por longas distâncias entre
domicílios e os locais de trabalho que enfrentam. Nesse cenário, pode-se admitir que
aumente a suscetibilidade do trabalhador ao desgaste biopsicossocial provocado
pelo trabalho, ao deslocamento (trajeto) e a exposição à precarização das relações
de trabalho (LORENZI; OLIVEIRA, 2008).
62
Tabela 3 Distribuição dos trabalhadores segundo tipo de jornada e carga horária
semanal nas unidades intensivas do HU, Rio de Janeiro, 2009
Distribuição dos trabalhadores segundo tipo de jornada
n
(%)
Diário
12
9,6
Plantão diurno
64
51,2
Plantão noturno
48
38,4
Em branco
1
0,8
Total
125
100,0
Distribuição dos trabalhadores segundo carga horária semanal nesta
unidade
n
(%)
20 horas
3
2,4
30 horas
109
87,2
40 horas
2
1,6
Outra
10
8,0
Em Branco
1
0,8
Total
125
100,0
Distribuição dos trabalhadores segundo carga horária semanal
em outra unidade
n
(%)
20 horas
3
2,4
30 horas
29
23,2
40 horas
9
7,2
60 horas
1
0,8
Outra
26
20,8
Não se aplica
55
44,0
Em branco
2
1,6
Total
125
100,0
A representatividade dos trabalhadores das unidades intensivas em relação
ao tipo de jornada de trabalho foi proporcional ao que se na prática. Durante o
período diurno concentram-se a maior parte das atividades de enfermagem e
uma quantidade maior de profissionais trabalhando neste horário, seja sob plantão
de 12 horas ou diariamente, por 6 a 8 horas. Os profissionais de enfermagem que
trabalham nas unidades intensivas sob o regime de plantão, diurno ou noturno,
corresponderam a 89,6% da amostra. Estes plantões eram distribuídos sob a escala
12 X 60 horas.
Quanto à carga horária semanal na instituição, observa-se que a universidade
a qual o hospital é vinculado adota basicamente três possibilidades: 20h; 32,5h e
40h. Nas respostas apareceu uma maioria com 30h porque não constava no
63
questionário a opção “32,5h/sem”, levando os respondentes a optar entre “30h” ou
“outra”. Desta forma, considerou-se que a maioria dos trabalhadores (95,2%)
trabalhava 32,5 horas por semana na instituição.
Quando perguntados no questionário sobre a carga horária em outra
instituição, 23,2% dos trabalhadores informaram 30 horas semanais ou 40 horas
(7,2%). A resposta “outra” na amostra significa provavelmente, 24 horas semanais
(20,8%). Considerando a carga horária semanal total, tem-se, portanto 54,4% de
profissionais de enfermagem, na sua maioria plantonistas de unidades de terapia
intensiva, que trabalhavam de 56 a 72 horas por semana nos seus múltiplos
vínculos.
A busca por complementação de renda dentre os profissionais de
enfermagem é um fenômeno em expansão, tendo em vista os baixos salários
oferecidos pela administração pública. Um maior número de vínculos empregatícios
está associado a uma tendência de deterioração da remuneração. Isto leva os
profissionais a trabalharem mais de 60 horas por semana, comprometendo sua
saúde (LORENZI; OLIVEIRA, 2008).
Veras (2003) afirma que nesta conjuntura vem sendo observado que a saída
buscada pela grande maioria de servidores públicos da saúde para enfrentar essa
realidade, é de fato o ingresso em outros empregos, tanto no setor público como no
privado, podendo o servidor acumular dois ou mais empregos.
Os trabalhadores das unidades do estudo têm em comum o fato de
receberem adicional de periculosidade, referente à exposição a radiações
ionizantes. Tal adicional foi criado em 1993 na Universidade e apenas os
trabalhadores com vínculo estatutário o recebem, sendo calculado em 30% do
vencimento-base do cargo do servidor. Os contratados das unidades intensivas não
têm direito ao adicional, embora igualmente expostos.
No quadro 1, temos a distribuição dos trabalhadores segundo a faixa salarial
mensal (salário mínimo nacional de R$ 465,00).
64
Distribuição dos trabalhadores segundo faixa salarial
n
(%)
1-2 salários mínimos
21
17,1
3-5 salários mínimos
34
27,6
6-8 salários mínimos
36
29,3
9-11salários mínimos
25
20,3
acima de 12 salários mínimos
7
5,7
Quadro 1 Distribuição dos trabalhadores segundo faixa salarial mensal nas
unidades intensivas do HU, Rio de Janeiro, 2009.
Quando consideramos as diferenças entre estatutários e contratados
temporários, notam-se significativas desigualdades em relação à faixa salarial
mensal destes trabalhadores. Na faixa de seis a oito salários mínimos (R$
2.790,00 a R$ 3.720,00) 27,8% dos trabalhadores, que são estatutários, contra
2,5% contratados. Se considerarmos a faixa de 9 a 11 salários mínimos, não
nenhum contratado, mas 20,2% de trabalhadores estatutários. A maioria dos
trabalhadores contratados está na faixa de um a dois salários mínimos, ou seja,
R$ 465,00 a R$ 930,00, enquanto que a maioria dos estatutários está na faixa de 6 a
12 (ou mais) salários mínimos (R$ 2.790,00 a R$ 5.580,00).
Tais informações, contidas no quadro 2, corroboram a Ideia de que a
contratação temporária é trabalho precário, na medida em que não se oferecem
garantias, proteção e sequer salário digno a esses profissionais.
Tipo de vínculo
Faixa Salarial
Estatutário
Contrato
Total
n
(%)
n
(%)
n
(%)
1-2 salários
mínimos
1
0,8
18
15,1
19
16,0
3-5 salários
mínimos
27
22,7
6
5,0
33
27,7
6-8 salários
nimos
33
27,8
3
2,5
36
30,3
9-11salários
mínimos
24
20,2
-
-
24
20,2
> 12 salários
mínimos
7
5,9
-
-
7
5,9
Quadro 2 Distribuição dos trabalhadores segundo vínculo empregatício e faixa
salarial mensal nas unidades intensivas do HU, Rio de Janeiro, 2009.
65
O ambiente hospitalar apresenta aspectos muito específicos como excessiva
carga de trabalho, contato direto com o cliente em situações limite, elevado nível de
estresse e a alta exposição a riscos ocupacionais. A necessidade de funcionamento
diuturno, que implica na existência de regime de turnos e plantões, permite a
ocorrência de duplos empregos e longas jornadas de trabalho, comuns entre os
trabalhadores da saúde, especialmente quando os salários são insuficientes para a
manutenção de uma vida digna. Tal prática potencializa a ação daqueles riscos
ocupacionais que danificam a integridade física e psíquica do trabalhador (ELIAS;
NAVARRO, 2006).
No Quadro 3 verifica-se a distribuição dos trabalhadores em relação à década
em que foram admitidos na instituição. Observamos que mais de 60% dos
profissionais de enfermagem das unidades intensivas trabalha no hospital mais
de 10 anos. A maioria (48%) foi admitida na década de 90, quando ocorreu o último
concurso para auxiliares de enfermagem. Desde então, a admissão de novos
auxiliares ou técnicos tem acontecido apenas sob a modalidade de contrato
temporário.
Anos
n
(%)
1970 a 1979
3
2,4
1980 a 1989
17
13,6
1990 a 1999
60
48,0
2000 a 2009
44
35,2
Quadro 3 - Distribuição dos trabalhadores de enfermagem das unidades intensivas
em relação à década em que foram admitidos no HU, Rio de Janeiro, 2009.
Estes dados demonstram que tanto os enfermeiros quanto os auxiliares e
técnicos de enfermagem, têm tempo significativo de experiência nessas unidades
em que atuam, o que os habilita a identificarem questões relativas às condições de
trabalho, com base nas vivências que experimentam ao longo do tempo.
Por outro lado, este fato pode favorecer a banalização do seu sofrimento e o
do sofrimento do outro (paciente ou familiar), bem como da própria assistência de
66
enfermagem, uma vez que podem estar acostumando-se com a situação
desfavorável à sua saúde e principalmente com o desconforto propiciado pelo seu
processo de trabalho (BECK et al., 2006).
A exposição do trabalhador de enfermagem a riscos ocupacionais pode
aumentar quando o seu segundo ou terceiro vínculos empregatícios também são em
unidade intensiva. Entretanto, paralelamente, o trabalhador poderá desenvolver
maior capacidade de identificar estes riscos, evitando problemas de saúde
decorrentes da exposição.
3.2 Fatores de risco no ambiente de trabalho
Os fatores de riscos ocupacionais contidos no questionário foram subdivididos
segundo a percepção dos trabalhadores, em quatro grupos: riscos do ambiente de
trabalho presentes (sempre / frequentemente); eventualmente presentes (raramente
/ às vezes); ausentes (não acontece) e não reconhecidos (desconhece).
Nesta seção, demonstram-se graficamente os riscos presentes e os não
reconhecidos. Os gráficos de eventualmente presentes e ausentes constam do
apêndice B.
No gráfico 2 (Folha 68), são distribuídos por frequência de resposta todos os
fatores de risco constantes no questionário. O “Risco de contrair infecção/doença” foi
o mais frequentemente respondido (71,8%), compatível com a resposta “Exposição a
risco biológico” (63,2%).
Fatores de risco ergonômico também foram muito respondidos como
presentes, tais como “Posturas forçadas pela realização de alguma tarefa”, “Esforço
físico que produz fadiga”, “Desconforto pela postura adotada”, “Ritmo de trabalho
acelerado” e “Risco de sobrecarga de trabalho”.
O fator de risco físico “Exposição ao ruído”, presente no ambiente de trabalho
para 59,3% dos profissionais de enfermagem, também apareceu nas unidades
abertas, conforme estudo anterior no mesmo hospital (PAZ, 2009).
Outro fator de risco físico muito frequente nas respostas foi “Exposição à
radiação”, diferentemente das unidades abertas, onde não foi muito identificado.
67
Nas unidades intensivas é frequente a ocorrência de exames radiológicos no
próprio setor, tendo em vista a gravidade dos pacientes. Além disso, os profissionais
de enfermagem são muitos expostos à radiação por participarem destes exames,
muitas vezes ficando ao lado do paciente para posicioná-lo adequadamente. Outro
fator que expõe consideravelmente o trabalhador é a dificuldade em se afastar do
leito em que se dará o exame devido à quantidade de atividades que executa
incessantemente durante o seu turno de trabalho. Os exames radiológicos
acontecem ao mesmo tempo em que um profissional de enfermagem cuida de um
paciente, não sendo possível, muitas vezes, interromper esse cuidado (FLOR;
KIRCHHOF, 2005).
Posteriormente à representação gráfica das respostas de todos os riscos
percebidos, haverá o detalhamento por tipo de risco.
68
Risco de contrair infecção/doença
Exposição a radiação
Exposição a risco biológico
Posturas forcadas pela realização de alguma
Esforço físico que produz fadiga
Exposição ao ruído
Má distribuição do espaço físico
Desconforto pela postura adotada por muito
Ritmo de trabalho acelerado
Risco de sobrecarga de trabalho
Manipulação de cargas pesadas
Exposição aorus da Hepatite
Exposição ao vírus HIV
Exposição a temperatura inadequada
Recursos insuficientes para realizar o trabalho
Ventilação ineficiente/inadequada
Choques contra objetos moveis/imóveis
Risco de tropeçar em objetos
Leo por material perfurocortante
Risco de queda no ambiente de trabalho
Pouca possibilidade de promoção
Risco de contato com subsncias qmicas
Risco de queda de materiais
Má utilizão de equipamento de proteção
Duração excessiva da jornada de trabalho
Riscos de contaminação no ambiente externo
Exposição a gases, vapores e aerossóis
Falta de equipamentos de proteção individual
Ordem e limpeza insuficientes
Iluminão insuficiente
Tarefas rotineiras ou monótonas
Desconhecimento das saídas de emergência
Risco por contato elétrico
Exposição a umidade excessiva
Organização insatisfaria do horário
Pouca oferta de formação connua
Pouca decisão sobre a realização do trabalho
Risco de incêndio ou exploo
Trabalho isolado que dificulta contato com
Desconhecimento/formação insuficiente sobre
Situação de discriminação no trabalho
Conflito com clientes ou pacientes
Conflito entre trabalhadores
Conflito com chefia ou encarregados
Agressividade, assedio sexual ou violência no
71,8 %
66,9 %
63,2 %
61,6 %
60 %
59,3 %
59,2 %
59,2 %
56,5 %
47,2 %
46,8 %
43,2 %
42,4 %
41,6 %
41,5 %
41,1 %
39,2 %
39,2 %
37,6 %
37,4 %
35,2 %
34,1 %
33,9 %
33,1 %
32,8 %
32 %
31,7 %
29,6 %
28,8 %
27,4 %
26,6 %
25,2 %
21,8 %
19,2 %
16,9 %
15,4 %
15,3 %
11,5 %
10,4 %
9 %
5,8 %
4,8 %
4,8 %
4,8 %
0,8 %
Gráfico 2 - Distribuição proporcional de respostas dos trabalhadores segundo
percepção da existência de fatores de riscos do ambiente de trabalho
(Sempre/Frequentemente) no HU, Rio de Janeiro, 2009.
69
Para a análise, os fatores de riscos ocupacionais identificados como
presentes (sempre/frequentemente) no ambiente de trabalho pelos profissionais de
enfermagem foram agrupados por tipo de risco: Risco de Acidentes, Biológico,
Físico, Químico e Ergonômico, conforme classificação do Ministério da Saúde
(BRASIL, 2001a).
No Quadro 4, observa-se que todos os fatores de risco de acidentes são
significativamente percebidos pelos trabalhadores. Os fatores relacionados ao
espaço físico, como distribuição, choques contra objetos, risco de queda e risco
de tropeçar foram os mais frequentemente percebidos.
Risco de Acidentes
(%)
Má distribuição do espaço físico
59,2
Choques contra objetos móveis/imóveis
39,2
Risco de tropeçar em objetos
39,2
Lesão por material pérfuro-cortante
37,6
Risco de queda no ambiente de trabalho
37,4
Risco de queda de materiais
33,9
Ordem e limpeza insuficientes
28,8
Desconhecimento das saídas de emergência
25,2
Risco por contato elétrico
21,8
Risco de incêndio ou explosão
11,5
Quadro 4 - Demonstrativo de Risco de Acidentes percebido “Sempre/
Frequentemente” pelos trabalhadores de enfermagem no HU, Rio de Janeiro, 2009.
O risco de lesão por material pérfuro-cortante foi percebido por 37,6% dos
trabalhadores, embora a pergunta não se relacione à ocorrência desse tipo de
acidente nas unidades estudadas. Considerando estudos anteriores (SECCO et al.,
2008; MARZIALE et al., 2007; NISHIDE; BENATTI; ALEXANDRE, 2004; ABREU;
MAURO, 2000), sabe-se quão frequentes são os acidentes com material pérfuro-
cortante nas unidades hospitalares. Dessa forma, esperava-se uma maior percepção
dentre os trabalhadores sobre este tipo de risco.
Outro fator de risco de acidentes muito importante é o desconhecimento das
saídas de emergência, percebido por 25,2% dos profissionais. Nas unidades
intensivas, onde vários equipamentos, risco de incêndio e até explosão, a
sinalização de emergência é indispensável.
70
Ordem e limpeza insuficientes, percebidas por 28,8%, relacionam-se ao risco
de acidentes na medida em que podem propiciar quedas e choques contra objetos,
por exemplo. Um setor com piso sujo, molhado ou escorregadio aumenta
significativamente o risco de acidentes. Materiais, mobiliário e equipamentos mal
distribuídos pelo setor, ou até em quantidade incompatível com o espaço físico
disponível diminuem a área de circulação e também podem ocasionar mais
acidentes.
Giomo et al. (2009), num estudo realizado em Ribeirão Preto, São Paulo,
evidenciou que os acidentes de trabalhos ocasionados somente com a equipe de
enfermagem de dois hospitais, durante seis meses, geraram 117 dias de
afastamento de trabalhadores por problemas variados. Destes, 95 dias de
afastamento foram atribuídos a risco de acidentes. Em relação aos tipos de
acidentes, a maioria foi constituída de acidentes de trabalho típicos, ou seja,
ocorreram durante o desempenho das atividades laborais.
Analisando a prevenção de acidentes em um hospital público, verificou-se que
as condições socioeconômicas, a idade e as condições físicas do empregado são
fatores predisponentes de risco de acidente. Considerou-se que o ambiente de
trabalho e as instalações também são fatores de risco (NISHIDE; BENATTI, 2004).
Risco Biológico
(%)
Risco de contrair infecção/doença
71,8
Exposição a risco biológico (lixo, etc.)
63,2
Exposição ao vírus da Hepatite
43,2
Exposição ao vírus HIV
42,4
Risco de contaminação ou segurança no ambiente externo
32,0
Quadro 5 - Demonstrativo de Risco Biológico percebido “Sempre/Frequentemente”
pelos trabalhadores de enfermagem no HU, Rio de Janeiro, 2009.
O risco biológico, comprovadamente presente no ambiente hospitalar, foi
significativamente percebido pelos trabalhadores das unidades intensivas, como
demonstrado pelo risco de contrair infecção/doença (71,8%) e exposição a risco
biológico (63,2%).
Nota-se que a exposição aos vírus da hepatite e ao HIV teve frequência
semelhante, 43,2% e 42,4% respectivamente.
71
Os riscos de contrair a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e
hepatite B estão entre os mais temidos pelos trabalhadores hospitalares,
especialmente em consequência de acidentes com agulhas contaminadas, cujos
índices de infecção têm sido estimados entre 0,25 e 0,4% para o vírus da
imunodeficiência adquirida (HIV), entre seis e 30% para o vírus da hepatite B (HBV)
e entre 0,4 e 1,8% para o da hepatite C (HCV). O Ministério da Saúde reitera que as
medidas preventivas permanentes, através da adoção das Precauções Universais, é
a melhor alternativa na preservação da saúde dos trabalhadores expostos a estes
riscos ocupacionais (SECCO et al., 2008).
Risco Físico
(%)
Exposição à radiação
66,9
Exposição a ruído
59,3
Exposição à temperatura inadequada
41,6
Exposição à umidade excessiva
19,2
Quadro 6 - Demonstrativo de Risco Físico percebido “Sempre/Frequentemente”
pelos trabalhadores de enfermagem no HU, Rio de Janeiro, 2009.
Os riscos físicos percebido pela maioria da amostra foram exposição à
radiação (66,9%) e exposição a ruído (59,3%). A exposição à temperatura
inadequada, muito percebida, pode indicar que os trabalhadores estão expostos a
uma temperatura extrema no ambiente de trabalho, seja quente demais ou frio
demais. O ambiente fechado, sem ventilação, favorece o aumento da temperatura
nos dias quentes e a manutenção frequente dos aparelhos condicionadores de ar
evitaria a irregularidade no funcionamento dos mesmos.
Os riscos ocupacionais do tipo físico podem provocar vários danos ao
trabalhador, como, por exemplo, redução da capacidade auditiva ou surdez
permanente, câncer, anemias, cataratas, vasodilatação periférica, diminuição da
acuidade visual, nervosismo, irritabilidade, estresse, cefaléia, entre outros
(IWAMOTO et al., 2008).
A exposição ao ruído, característica das unidades intensivas, aparece
significativamente nos questionários. O ambiente fechado favorece a amplificação
dos sons de calçados, conversas entre os funcionários e, principalmente, os
72
equipamentos que fazem parte do arsenal de uma unidade intensiva, como
respiradores e monitores.
Segundo Campos (2008), uma unidade intensiva, sendo um setor fechado,
tem sua acústica local desfavorável tornando-o mais sensível ao ruído, além da
frequente emissão de sinais sonoros (alarmes) pelos diversos equipamentos
existentes na unidade. Esses alarmes são essenciais na vigilância do paciente
crítico, facilitando a identificação de situações que se encontrem fora dos
parâmetros de normalidade. O volume desses alarmes deve ser programado em um
nível que seja facilmente percebido pelos profissionais. Contudo, o grande número
desses aparelhos e o não incomum fato de vários deles alarmarem ao mesmo
tempo tornam o ambiente caótico.
Okamoto e Santos (1996) ressaltam que, apesar de controversos e
inconclusivos, os estudos acerca dos efeitos da exposição ao ruído em outros
órgãos evidenciam seus efeitos nocivos, em especial na produção de alterações
neuropsíquicas. Enfatizam que o estímulo, antes de alcançar o córtex do cérebro,
percorre estações subcorticais, interferindo inclusive nas funções vegetativas, o que
explicaria os efeitos não auditivos ocasionados pelo ruído.
Na visão de Laurell e Noriega (1989), o ruído e o calor, ao atuarem sobre o
corpo humano, desencadeiam mudanças de qualidade, transformando-se em
processos intracorporais complexos. O ruído atua tanto no ouvido médio e interno
como no sistema nervoso, provocando mudanças em processos fisiológicos,
causando desconforto; o calor promove processos internos de termorregulação
como sudorese e alterações hormonais, passageiras ou não, provocando também
desconforto e mal-estar.
O ambiente térmico é de extrema relevância para o bom desempenho das
atividades laborais, entretanto o calor, além de causar desconforto, influencia os
níveis de concentração para o desempenho das tarefas (FARIAS; ZEITOUNE,
2005).
73
Risco Químico
(%)
Risco de contato com substância química
34,1
Exposição a gases, vapores ou aerossóis
31,7
Quadro 7 - Demonstrativo de Risco Químico percebido “Sempre/Frequentemente”
pelos trabalhadores de enfermagem no HU, Rio de Janeiro, 2009.
Os fatores de risco químico constantes do questionário foram percebidos por
cerca de um terço dos profissionais de enfermagem. No ambiente hospitalar,
sobretudo em unidades intensivas, exposição dos trabalhadores a substâncias
químicas sob a forma líquida (medicações, soluções), gasosa (oxigênio) e aerossóis
(medicações). Estas substâncias, inaladas repetidamente e acumuladas no
organismo podem desencadear problemas de saúde como anemias e alergias
respiratórias ou cutâneas.
Na UTI existe exposição considerável dos trabalhadores aos medicamentos,
produtos de limpeza e anti-sépticos que, entretanto, é pouco valorizada. Estudando
riscos químicos ocupacionais em um hospital do Distrito Federal, Barbosa apud
Nishide e Benatti (2004) constatou que os auxiliares de enfermagem estavam
expostos a 36% e os enfermeiros a 28% do total de produtos químicos que
constituem risco potencial.
O reconhecimento e a análise dos riscos relacionados a agentes químicos
são atividades prioritárias para qualificar a intervenção na defesa da saúde do
trabalhador: quem o reconhece não pode avaliar e prevenir o risco. Quem melhor
conhece o ambiente e os riscos a que está submetido é o trabalhador e sua
participação é fundamental em todas as ações que envolvam sua saúde (BRASIL,
2006a).
74
Risco Ergonômico
(%)
Posturas forçadas para realização de alguma tarefa
61,6
Esforço físico que produz fadiga
60,0
Desconforto pela postura adotada por muito tempo
59,2
Ritmo de trabalho acelerado
56,5
Risco de sobrecarga de trabalho
47,2
Manipulação de cargas pesadas
46,8
Recursos insuficientes para realizar o trabalho
41,5
Ventilação insuficiente/inadequada
41,1
Pouca possibilidade de promoção
35,2
Má utilização de equipamento de proteção individual
33,1
Duração excessiva da jornada de trabalho
32,8
Falta de equipamentos de proteção individual
29,6
Iluminação insuficiente
27,4
Tarefas rotineiras ou monótonas
26,6
Organização insatisfatória de horário
16,9
Pouca oferta de formação contínua
15,4
Pouca oportunidade de decisão sobre a realização do trabalho
15,3
Trabalho isolado que dificulta contato com companheiros
10,4
Desconhecimento ou formação insuficiente sobre os riscos do trabalho
9,0
Situação de discriminação no trabalho (assédio moral)
5,8
Conflito com clientes ou pacientes
4,8
Conflito entre trabalhadores
4,8
Conflito com chefia ou encarregados
4,8
Agressividade, assédio sexual ou violência no trabalho
0,8
Quadro 8 - Demonstrativo de Risco Ergonômico percebido
“Sempre/Frequentemente” pelos trabalhadores de enfermagem no HU, Rio de
Janeiro, 2009.
Os fatores de risco ergonômico, representados por um número maior de itens
no questionário, foram percebidos pelos trabalhadores de forma expressiva. Dentre
eles, aqueles relacionados a esforço físico, desconforto e posturas forçadas foram
percebidos pela maioria, além do ritmo acelerado de trabalho. Tais fatores são
determinantes para o aparecimento de doenças osteoarticulares relacionadas ao
trabalho (DORT) nos profissionais de enfermagem.
Segundo Verthein e Minayo-Gomes apud Rosa et al. (2008), são vários os
fatores existentes no trabalho que podem concorrer para a ocorrência de
LER/DORT: repetitividade de movimentos, manutenção de posturas inadequadas
por tempo prolongado, esforço físico, invariabilidade de tarefas, pressão mecânica
sobre determinados segmentos do corpo, em particular membros superiores,
75
trabalho muscular estático, choques e impactos, vibração, frio e fatores
organizacionais.
Ao analisar as condições ergonômicas da situação de trabalho do pessoal de
enfermagem em uma unidade de internação hospitalar, Marziale (1995) constatou
que a execução da atividade de movimentação de pacientes acamados foi apontada
pelos trabalhadores de enfermagem como a mais desgastante fisicamente.
Os profissionais de enfermagem do HU, num estudo realizado por Moreira e
Mendes (2005) entre janeiro e março de 2002, estavam expostos principalmente aos
fatores de natureza organizacional e ergonômica determinantes das DORT e sofriam
desgaste físico e emocional ocasionado pelas várias jornadas de trabalho,
caracterizadas pelo duplo ou triplo vínculo empregatício, o que comprovadamente
contribui para o aparecimento das DORT. Esses resultados associados a uma
população predominantemente feminina indicaram duplas, triplas e até quádruplas
jornadas de trabalho, considerando as atividades domésticas comumente assumidas
pelas mulheres.
Os fatores de risco listados no questionário foram organizados em uma escala
de fatores de Risco do Ambiente de Trabalho (RAT), conforme descrita
anteriormente, e está demonstrada na tabela 4.
Tabela 4 - Demonstrativo da escala de Riscos no Ambiente de Trabalho (RAT)
segundo a percepção dos trabalhadores de enfermagem no HU, Rio de Janeiro,
2009.
RAT
n
(%)
Baixo
42
33,6
Médio
44
35,2
Alto
39
31,2
Total
125
100,0
Observa-se que a maioria apresenta médio grau de percepção para fator de
risco no ambiente de trabalho, com 35,2% e quando associada à percepção de RAT
baixo (35,2%), temos cerca de 70% da amostra. Apenas 31% da amostra
encontram-se no RAT alto, o que pode indicar a presença de um número grande de
76
fatores de risco no ambiente de trabalho de enfermagem não percebidos pela
maioria dos profissionais.
Utilizando-se a escala RAT, foi possível fazer associação da percepção de
riscos com categoria profissional, como demonstrado na tabela 5. Tal associação foi
utilizada para avaliar se os diferentes níveis de formação profissional podem
influenciar na percepção do risco no ambiente de trabalho.
Tabela 5 - Distribuição dos trabalhadores das unidades intensivas segundo a
categoria profissional, em relação à escala de Riscos no Ambiente de Trabalho
(RAT) no HU, Rio de Janeiro, 2009.
Risco do Ambiente de Trabalho (RAT)
Baixo
Médio
Alto
Total
Categoria profissional
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
Enfermeiro
6
14,3
19
43,2
15
38,5
40
32,0
Técnico de Enfermagem
20
47,6
16
36,4
11
28,2
47
37,6
Auxiliar de Enfermagem
16
38,1
9
20,5
13
33,3
38
30,4
Total
42
100
44
100
39
100
125
100
p = 0,029
A associação estatisticamente significativa (p<0,05) leva-nos a inferir que os
enfermeiros têm maior percepção em relação aos riscos ocupacionais, ou seja,
38,5% dos enfermeiros classificaram como alto o risco geral.
Quando consideramos o grau de instrução, os dados estão de acordo com o
esperado. Os enfermeiros, com nível superior e atribuições que incluem supervisão,
administração e planejamento da assistência necessitam ter uma percepção dos
riscos a que eles e seus subordinados estão expostos. Além disso, no planejamento
de uma unidade intensiva, o enfermeiro tem papel fundamental, sobretudo na
observância de questões relacionadas ao espaço físico, equipamentos, recursos
humanos e materiais.
Entretanto, se somarmos auxiliares e técnicos de enfermagem como uma
única categoria, porque na prática das unidades intensivas do estudo o são, os
enfermeiros não mais figuram como os profissionais com maior percepção de risco
77
alto. O grupo Aux/Tec. teria 61,5% de percepção “RAT Alto” contra os 38,5% dos
enfermeiros.
Em pesquisa realizada no mesmo hospital, Paz (2009) investigou as unidades
abertas (não intensivas) e encontrou dados diferentes. Em tais unidades,
diferentemente das intensivas, não enfermeiro nas 24 horas, apenas no
expediente, geralmente assumindo muito mais atividades gerenciais do que
assistenciais. Estes enfermeiros tiveram maior percepção dos riscos (RAT Alto) que
o grupo formado por auxiliares ou técnicos de enfermagem.
Uma possível diferença entre unidades abertas ou fechadas no mesmo
hospital, em relação à percepção das categorias profissionais seria o tipo de
atividade que cada enfermeiro, por exemplo, executa rotineiramente nos diferentes
cenários.
Numa unidade intensiva, o enfermeiro ocupa a maior parte do seu tempo com
questões voltadas à assistência ao paciente crítico, além de trabalhar em regime de
plantão. Nas unidades abertas, frequentemente o único enfermeiro existente é
diarista, responsável administrativamente pelo setor e emprega, por incumbência do
cargo, maior atenção às questões relativas ao seu pessoal e, consequentemente a
saúde do trabalhador. Haveria, portanto, maior necessidade e oportunidade para
este enfermeiro em identificar no seu ambiente de trabalho os fatores de risco
presentes.
Estas reflexões carecem de estudos posteriores, mas podem estar
sinalizando aspectos relevantes da percepção do enfermeiro nas unidades
intensivas sobre os riscos ocupacionais a que estão expostos. Tornam-se
possivelmente necessários o treinamento e atualização, ou participação maior
destes enfermeiros nas questões gerenciais.
No instrumento de pesquisa (Caderno B) há uma possível resposta
“desconhece” para os fatores de risco percebidos e as frequências dessas respostas
estão demonstradas no gráfico 3 (Folha 79). Diferentemente das respostas “não
acontece”, o “desconhece” pode sinalizar que o profissional de enfermagem não
consegue identificar a presença de um determinado fator de risco no seu ambiente
de trabalho. Dependendo do risco desconhecido, o impacto sobre a saúde deste
trabalhador é significativo, uma vez que não o identificando não como prevenir-
se.
78
Os fatores de risco mais respondidos como desconhecidos foram os
ergonômicos “Agressividade, assédio sexual ou violência no trabalho” e “Situação de
discriminação no trabalho”. Tais respostas não garantem que estas situações
inexistem, apenas que o respondente não tomou conhecimento, ou, como dito,
não conseguiu identificar comportamentos e ações de companheiros e chefias que
caracterizem discriminação ou violência. Da mesma forma, “Conflito com clientes e
pacientes” e “Conflitos entre trabalhadores” podem não estar sendo adequadamente
identificados pelos profissionais.
Os fatores de risco de acidentes “Desconhecimento das saídas de
emergência”, “Risco por contato elétrico” e “Risco de incêndio ou explosão”,
frequentemente respondido como desconhecidos têm significativo impacto quando
analisamos o cenário da terapia intensiva. Há nas unidades intensivas diversos
equipamentos elétricos e eletrônicos, gases inflamáveis e ventilação limitada,
aumentando estes riscos citados.
Torna-se importante analisar as possíveis causas do desconhecimento dos
profissionais de enfermagem em relação a estes riscos de acidentes, principalmente
das saídas de emergência.
Observamos no cotidiano dos profissionais de Enfermagem certo
desconhecimento em relação ao processo de trabalho e sua relação com a
saúde/doença, ocasionado muitas vezes pelo despreparo desses profissionais em
reconhecer o trabalho como um possível agente causal nos agravos à saúde, aliado
à falta de informações sobre os riscos ocupacionais aos quais estão susceptíveis
(CAVALCANTE et al., 2006).
79
Agressividade, assedio sexual ou violência no
Situação de discriminação no trabalho
Desconhecimento das saídas de emergência
Conflito com clientes ou pacientes
Risco por contato elétrico
Conflito com chefia ou encarregados
Pouca possibilidade de promoção
Desconhecimento/formação insuficiente
Risco de incêndio ou explosão
Trabalho isolado que dificulta contato com
Conflito entre trabalhadores
Riscos de contaminação no ambiente externo
Exposição a umidade excessiva
Exposição a gases, vapores e aerosis
Iluminação insuficiente
Pouca oferta de formação contínua
Risco de contato com substâncias químicas
Tarefas rotineiras ou monótonas
Pouca decisão sobre a realizão do trabalho
Exposição a temperatura inadequada
Falta de equipamentos de proteção individual
Organização insatisfatória do horário
Má utilizão de equipamento de proteção
Posturas forcadas pela realização de alguma
Choques contra objetos moveis/imóveis
Ventilação ineficiente/inadequada
Exposição ao vírus da Hepatite
Risco de queda de materiais
Risco de sobrecarga de trabalho
Leo por material perfurocortante
Duração excessiva da jornada de trabalho
Recursos insuficientes para realizar o trabalho
Exposição ao vírus HIV
Risco de queda no ambiente de trabalho
Risco de tropeçar em objetos
Exposição ao ruído
Risco de contrair infecção/doença
Exposição a risco biológico
Manipulação de cargas pesadas
Má distribuição do espaço físico
Esforço físico que produz fadiga
Desconforto pela postura adotada por muito
Ordem e limpeza insuficientes
Exposição a radiação
Ritmo de trabalho acelerado
45,6%
35,8%
34,1%
21,0%
20,2%
18,4%
18,9%
17,2%
16,4%
16,0%
16,1%
14,4%
12,0%
11,4%
9,7%
9,8%
8,9%
8,9%
8,1%
7,2%
6,4%
6,5%
5,6%
4,8%
4,0%
4,0%
4,0%
3,2%
3,2%
3,2%
3,2%
3,3%
3,2%
2,4%
2,4%
1,6%
1,6%
1,6%
1,6%
1,6%
0,8%
0,8%
0,0%
0,0%
0,0%
Gráfico 3 - Distribuição proporcional dos trabalhadores segundo percepção de
fatores de riscos do ambiente de trabalho quanto à resposta “Desconhece” do HU,
Rio de Janeiro, 2009.
80
3.3 Problemas de saúde percebidos pelos trabalhadores
Os problemas de saúde listados na terceira parte do instrumento estão
representados no gráfico abaixo de acordo com o percentual de respostas “sim” em
relação à sua existência, na percepção dos profissionais de enfermagem.
Gráfico 4 - Distribuição proporcional da existência de problemas de saúde nos
trabalhadores de enfermagem das unidades intensivas do HU, Rio de Janeiro, 2009.
81
Os problemas de saúde mais frequentes (até 25%) entre os trabalhadores
estão representados no quadro 9. Conforme consta no questionário, o trabalhador
indicou se o problema de saúde que o acomete tem relação com o trabalho, além de
responder se foi provocado ou agravado.
O problema de saúde mais frequente foi Varizes, acometendo 60,5% dos
trabalhadores. Apenas 7,3% dos trabalhadores referiram ser acometidos de varizes,
mas não relacionaram esta doença ao trabalho. A maioria dos acometidos achou
que o trabalho agrava a doença (29,8%), enquanto que 23,4% consideram o
problema de varizes como provocado pelo trabalho.
Problema de saúde
Relação com trabalho
n
(%)
Sim - não relacionado
9
7,3
Varizes
Sim-provocado
29
23,4
Sim-agravado
37
29,8
Total
75
60,5
Sim - não relacionado
39
32,2
Problemas oculares
Sim-provocado
11
9,1
Sim-agravado
19
15,7
Total
69
57,0
Sim - não relacionado
5
4,2
Lombalgias
Sim-provocado
39
32,5
Sim-agravado
21
17,5
Total
65
54,2
Sim - não relacionado
9
7,4
Estresse/depressão
Sim- provocado
25
20,7
Sim- agravado
18
14,9
Total
52
43,0
Sim - não relacionado
8
6,7
Transtornos do sono
Sim- provocado
29
24,4
Sim- agravado
14
11,8
Total
51
42,9
Sim - não relacionado
5
4,2
Lesões da coluna
Sim-provocado
27
22,5
vertebral
Sim-agravado
14
11,7
Total
46
38,3
Sim - não relacionado
26
21,1
Dor de cabeça
Sim-provocado
9
7,3
frequente
Sim-agravado
12
9,8
Total
47
38,2
Quadro 9 - Problemas de saúde e relação com o trabalho segundo a percepção
dos profissionais de enfermagem das unidades intensivas do HU, Rio de Janeiro,
2009. (continua)
82
Problema de saúde
Relação com trabalho
n
(%)
Sim - não relacionado
6
4,9
Problemas de
Sim-provocado
20
16,4
articulação
Sim-agravado
19
15,6
Total
45
36,9
Sim - não relacionado
1
0,8
Dores musculares
Sim-provocado
25
20,5
crônicas
Sim-agravado
14
11,5
Total
40
32,8
Mudanças de
Sim - não relacionado
6
4,9
humor / alterações de
Sim- provocado
23
18,9
comportamento
Sim- agravado
11
9
Total
40
32,8
Transtornos
Sim - não relacionado
19
15,4
relacionados
Sim-provocado
4
3,3
ao ciclo menstrual
Sim-agravado
8
6,5
Total
31
25,2
Sim - não relacionado
16
13,3
Hipertensão
Sim-provocado
9
7,5
Sim-agravado
5
4,2
Total
30
25,0
Quadro 9 - Problemas de saúde e relação com o trabalho segundo a percepção
dos profissionais de enfermagem das unidades intensivas do HU, Rio de Janeiro,
2009. (conclusão)
Estudos anteriores (MENDEVIL, 2004; HIPOLITO, 2005; VEIGA, 2007; PAZ,
2009) também evidenciaram o problema de varizes como um dos mais frequentes
entre os trabalhadores de enfermagem hospitalar.
Essa doença venosa de caráter hereditário é muito importante pela grande
frequência na população cerca de 30% - particularmente no sexo feminino,
provavelmente por razões hormonais, em sua fase de vida mais produtiva. Estima-
se que aproximadamente 70% das mulheres com mais de 30 anos, apresentem
varizes (PORTILHO, 2009).
A partir da terceira década de vida, observa-se aumento significativo na
incidência de doença venosa crônica que atinge o indivíduo em plena maturidade,
afetando diretamente sua capacidade de trabalho (SANTOS; PORFIRIO; PITTA,
2009).
Embora não haja evidência da relação direta causa-efeito de doença venosa
com o trabalho, existe consenso atual na opinião médica de que o trabalho pode
agravar seriamente o desenvolvimento da mesma. Dentre os principais fatores de
83
risco apontados, os que se relacionam com o trabalho seriam a postura em pé, tanto
em movimento estático como dinâmico, a temperatura e umidade relativas do
ambiente aumentadas, o carregamento de peso inadequado e o estresse. O
sobrepeso e obesidade parecem constituir também um fator de risco, assim como o
sedentarismo (BERTOLDI; PROENÇA, 2008).
Outro problema de saúde muito frequente foi Problemas oculares, referido
por 57% dos trabalhadores. Entretanto, a maioria não relacionou os problemas
oculares com o trabalho (32,2%) e apenas uma minoria (9,1%) acha que foram
provocados pelo trabalho. Dentre os que relacionam o trabalho aos problemas
oculares, 15,7% consideram os mesmos agravados pela atividade laboral. Este
problema de saúde pode estar relacionado com a idade, uma vez que cerca de 78%
dos trabalhadores da amostra tem 40 anos ou mais.
Conforme Paz (2009), apesar de não estar relacionado diretamente com o
trabalho, esse problema afeta diretamente o trabalhador de enfermagem e pode ser
responsável pelo incremento de dores de cabeça frequentes, influenciando a
qualidade de vida dos trabalhadores. Alem disso, os problemas oculares podem
conduzir a erros no trabalho de enfermagem.
A idade acelera a fadiga visual, exigindo mais esforço para focalizar detalhes,
o que torna aconselhável o uso de óculos para prevenção da fadiga visual. Além
disso, a idade reduz o tamanho da pupila, diminuindo a quantidade de luz que
penetra nos olhos, assim, as pessoas idosas precisam de mais luz para prevenir a
fadiga visual. Os eventuais problemas oculares podem ser corrigidos ou minorados
pelo uso de óculos e pela melhoria da iluminação (IIDA, 2005).
Um dos principais intuitos de internação em UTI é a vigilância contínua, o que
impõe o uso constante da visão, bem como o registro escrito, meio de comunicação
utilizado para a transferência de informações entre os profissionais. Além de ser
exigido de maneira exacerbada o uso da visão e atenção, a estrutura física do local
de trabalho deve favorecer os seus usos. Frequentemente, encontramos postos de
trabalho cuja iluminação e disposição de materiais impede ou prejudica a
observação do ambiente como um todo e consequentemente a percepção das
situações importantes para o paciente e equipe (CAMPOS, 2008).
Os problemas de saúde relacionados ao grupo das doenças osteomusculares
foram significativamente respondidos como existentes pelos profissionais de
enfermagem das unidades intensivas.
84
Considerando as respostas dos trabalhadores, temos como principal
problema osteomuscular as Lombalgias (54,2%), seguido de Lesões da coluna
vertebral (38,3%), Problemas de articulação (36,9%) e Dores musculares
crônicas (32,8%).
Maior atenção deve ser direcionada às posturas adotadas pelos
trabalhadores na execução das atividades laborais e nas condições dos mobiliários,
bem como se faz necessário disponibilizar instrumentos e equipamentos
ergonomicamente planejados, visando-se à redução da incidência dos problemas
osteomusculares (MUROFOSE; MARZIALE, 2005).
Em unidades intensivas existe uma grande variedade de equipamentos
disponíveis para monitorar os doentes e auxiliar a equipe de trabalho. Muitas vezes
necessitam ser substituídos, devido a problemas técnicos ou pela evolução
tecnológica. No entanto, a tecnologia nova nem sempre atende às expectativas,
ocorrendo falha no desempenho ou problemas técnicos que acabam por impedir as
melhorias junto aos pacientes e equipe de trabalho. A utilização de equipamentos
com tecnologia superada (camas com dispositivo manual de ajuste, macas sem
ajuste de altura, monitores com parâmetros e alarmes insuficientes); ausência de
manutenção preventiva dos equipamentos e do mobiliário e a inexistência de
equipamentos auxiliares para mobilização e transferência de pacientes são fatores
que acabam contribuindo com os riscos de acidentes no trabalho e lesões por
esforço físico (NISHIDE; BENATTI, 2004).
Estudo sobre as causas de absenteísmo relacionado a doenças entre
funcionários de enfermagem de um hospital público indicou que os principais
motivos de afastamento estavam relacionados a problemas osteo-musculares
(COSTA; VIEIRA; SENA, 2009).
Levantamento feito no ano de 2004, sobre os afastamentos por motivo de
saúde dos trabalhadores de enfermagem de um hospital no Distrito Federal, revelou
que as doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo, com destaque
para dorsalgia, acarretaram 41,7% das licenças, representando 280 (46,6%) dias
não trabalhados. As outras causas como, artropatias, doenças do tecido conjuntivo e
tecidos moles, osteopatias e condropatias representaram no conjunto 321 dias de
afastamentos (53,4% do grupo do sistema osteomuscular). Os fatores que
influenciam este grupo de causas podem estar relacionados à natureza do trabalho
de enfermagem, que envolve sobrecargas físicas com dispêndio de força muscular,
85
manipulação e transporte de objetos, sucessivos deslocamentos, que podem
comprometer o sistema osteomuscular (TORRES; PINHO, 2006).
Pesquisa realizada por Murofose e Marziale (2005) evidenciou como
principais diagnósticos médicos, apresentados pelos trabalhadores de enfermagem
durante o ano de 2002 no serviço médico pericial, aqueles relacionados ao sistema
osteomuscular, principalmente dorsopatias, seguidos pelos transtornos dos tecidos
moles e das artropatias. Assim, os trabalhadores de enfermagem manifestaram
lesões que afetaram as mãos, braços, pescoço, coluna e joelhos, sendo as
patologias agrupadas no grupo das LER-DORT.
Outro grupo de doenças existente são os transtornos mentais e do
comportamento, ou relacionados ao sistema nervoso, como Estresse/depressão
(43%), Transtornos do sono (42,9%), Dor de cabeça frequente (38,2%) e
Mudanças de humor/alteração de comportamento (32,8%).
Os estudos de Mendevil (2004), Hipolito (2005), Veiga (2007) e Paz (2009)
também evidenciaram estes distúrbios como frequentes entre os trabalhadores de
enfermagem hospitalar.
Artigo de Guerrer e Bianchi (2008) trata da caracterização do estresse de
enfermeiros atuantes em UTIs de diversos hospitais de alta complexidade das
capitais dos estados brasileiros. Os enfermeiros desse estudo apresentaram
maiores índices de estresse nas atividades relacionadas à administração de pessoal
e nas condições de trabalho.
Através do estudo de Santos, Oliveira e Moreira (2006), identificou-se que o
estresse representa um fator de risco à saúde dos profissionais de enfermagem que
atuam no CTI, devido às situações de visível desgaste psicofísico que o profissional
enfrenta no cotidiano institucional. Os principais estressores do CTI estão vinculados
à organização do trabalho, na qual se evidenciou a precariedade das condições
laborais, o ambiente ruidoso, as relações conflitantes e as exigências impostas pelo
trabalho prescrito.
Na questão laborativa, o estresse sempre representa uma situação avaliada
como negativa, sendo o resultado da incapacidade de lidar com as fontes de
pressão no trabalho ou uma defasagem entre as demandas e a capacidade de
responder a elas. O estresse, quando exagerado, provoca problemas de ordem
física e mental, resultando numa insatisfação do trabalhador, comprometendo sua
atividade cotidiana e o sucesso da empresa (COUTO; VIEIRA; LIMA, 2007).
86
Clinicamente, o trabalhador portador de estresse irá evidenciar em maior ou
menor grau os seguintes sintomas: nervosismo, irritabilidade fácil, ímpetos de raiva,
dor na musculatura cervical e nos ombros, cefaléia por tensão, alterações do sono,
fadiga, dor precordial, palpitações, ansiedade, angústia, períodos de depressão e
indisposição gástrica ou epigastralgia. O número dos sintomas apresentados e sua
intensidade costumam ser paralelos à intensidade dos fatores estressantes vividos
pelo indivíduo (COUTO; VIEIRA; LIMA, 2007).
Outro problema de saúde, transtornos relacionados ao ciclo menstrual,
embora presente em 25,2% dos trabalhadores, não foi relacionado ao trabalho pela
maioria das mulheres (15,4%). Apenas 6,5% consideraram que estes transtornos
são agravados pelo trabalho e 3,3% que são provocados.
Estes valores percentuais (que constam do quadro 9 Folha 81) foram
calculados a partir do mero total de trabalhadores que participaram da pesquisa.
Considerando apenas o sexo feminino, os transtornos menstruais existiam em 32%
desse grupo de profissionais.
Estudo de Chung, Yao e Wan (2005) avaliou a função menstrual e a
prevalência de dismenorreia entre enfermeiras de uma unidade de saúde em
Taiwan - China e indicou que, diferentemente de outros estudos anteriores, não
havia nenhuma associação entre estresse da vida/trabalho, regularidade e duração
do ciclo menstrual e a quantidade de perda menstrual. Entretanto, 60% das
enfermeiras com ciclos menstruais regulares e plantões noturnos fixos tiveram um
ciclo menstrual de duração inferior a 25 dias, sendo significativamente diferente das
enfermeiras que trabalharam em outros turnos. As diferenças observadas na
duração do ciclo entre enfermeiras com turnos de trabalho noturno poderiam ser em
parte atribuíveis à regulação endócrina no período noturno.
Uma variedade de fatores estressores ambientais da vida e do trabalho pode
interferir nas funções endócrinas e produzir desordens do ciclo menstrual. O custo
total em dias de trabalho perdidos associados com disfunção menstrual foi estimado
entre 94 e 308 milhões de dólares por dia perdido nos Estados Unidos. Desordens
menstruais poderiam reduzir a qualidade de vida das mulheres e também causar
graves perdas econômicas relacionadas com dias de trabalho perdidos e diminuir a
produtividade (CHUNG; YAO; WAN, 2005).
A Hipertensão arterial sistêmica (HAS), doença cardiovascular que acomete
25% dos trabalhadores da pesquisa foi considerada por apenas 7,5% como
87
provocada pelo trabalho. A maioria dos profissionais acometida de HAS não a
relacionou com o trabalho (13,3%).
Aquino et al. (2001) estudaram o padrão de adoecimento, diagnóstico e
tratamento da hipertensão arterial entre trabalhadoras de enfermagem de um
hospital público em Salvador, BA, através de entrevistas e medidas de pressão
arterial, peso e altura de 494 trabalhadoras em exercício regular de atividades de
enfermagem. A prevalência de hipertensão arterial foi muito elevada,
particularmente entre auxiliares de enfermagem, que apresentaram valor
correspondente a quase duas vezes àquele encontrado entre as enfermeiras.
Atenção especial tem sido dada aos chamados estresses ocupacionais, os
quais podem desencadear, entre outras, doenças cardiovasculares, como a HAS.
Como o local de trabalho é muitas vezes o fator gerador do estresse, as chances de
se desenvolverem doenças aumentam em função do tipo de atividade que o
indivíduo executa, bem como os diversos fatores que tornam o ambiente de trabalho
insalubre (COUTO; VIEIRA; LIMA, 2007).
A etiologia da HAS primária, essencial ou idiopática, que acomete cerca de
95% da população de hipertensos, não está totalmente definida. Fatores genéticos e
ambientais parecem estar envolvidos na sua gênese, entre eles o estilo de vida, o
estresse decorrente do trabalho ou das atividades da vida diária e a ingestão
elevada de sódio (BRASIL, 2001b).
Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2001b), a HAS secundária tem
etiologia relativamente bem definida, tendo como causas, dentre outras, a exposição
ocupacional ao chumbo e ao ruído. As condições de trabalho geradoras de
estresse, com demandas e ritmos de trabalho excessivos e conflitos no trabalho
também são considerados, na atualidade, fatores de risco para o desenvolvimento
de HAS.
No tratamento farmacológico da HAS, é necessário atenção em relação à
existência de exposições ocupacionais capazes de interagir com os fármacos
utilizados, como, por exemplo, temperaturas elevadas com o uso de diuréticos ou
beta-bloqueadores (interferem na termorregulação), ou com solventes que podem
provocar sintomas semelhantes aos efeitos colaterais de diversos anti-hipertensivos
(BRASIL, 2001b).
No gráfico 5, a seguir, estão em destaque os problemas de saúde com
maiores frequências percentuais de relação com o trabalho, do tipo “provocado”.
88
Gráfico 5 - Problemas de saúde percebidos pelos profissionais de
enfermagem como “Provocados pelo trabalho” nas unidades intensivas do
HU, Rio de Janeiro, 2009.
A Lombalgia, terceiro problema de saúde mais presente entre os
profissionais de enfermagem intensivistas no HU, torna-se o mais percebido como
provocado pelo trabalho (32,5%). Varizes, problema mais referido, são
considerados provocados” por 23,4% dos trabalhadores, enquanto que
Transtornos do sono por 24,4%. Os problemas oculares, segundo maior
problema entre os trabalhadores, tiveram sua relação com a atividade laboral
considerada por uma minoria (9,1%).
Estes dados demonstram que, de forma geral, os profissionais de
enfermagem reconhecem os principais problemas de saúde que os acometem como
relacionados ao trabalho, ou até provocados por ele. Entretanto, alguns riscos
ocupacionais, embora identificados como presentes no ambiente de trabalho podem
não estar sendo devidamente reconhecidos como associados aos problemas de
saúde existentes pelo profissional que atua na assistência e gerências.
89
Através do questionário sobre problemas de saúde, atribuindo-se escores
iguais a cada doença ou agravo, foi criada uma escala de intensidade dos
Problemas de Saúde do Trabalhador (PST). Os problemas foram divididos em
relação à quantidade de respostas assinaladas nos questionários. A soma dos
problemas foi então dividida em tercis, tal como feito com a escala RAT.
Analisando a escala PST (tabela 6), percebemos que aproximadamente um
terço dos profissionais de enfermagem das unidades intensivas do HU tinha alto
grau de ocorrência de problemas de saúde, relacionados ou não ao trabalho. A
maior incidência, entretanto, estava na PST moderada (36,3%).
Tabela 6 - Demonstrativo da avaliação da escala de Problemas de Saúde do
Trabalhador (PST) de enfermagem das unidades intensivas do HU, Rio de Janeiro,
2009.
PST
n
(%)
Baixa
43
34,7
Moderada
45
36,3
Alta
36
29,0
Total
124*
100,0
* Foram desconsideradas as respostas em branco
Quando analisamos a escala PST relacionada à categoria profissional (tabela
7), percebemos significativo percentual de Auxiliares de Enfermagem incluídos no
alto grau de ocorrência de problemas de saúde (47,2%).
90
Tabela 7 - Distribuição dos trabalhadores segundo a função em relação à escala
PST no HU, Rio de Janeiro, 2009.
Problema de Saúde do Trabalhador
Baixa
Moderada
Alta
Total
Categoria profissional
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
Enfermeiro
6
14,0
23
51,1
11
30,6
40
32,3
Técnico de Enfermagem
22
51,2
16
35,6
8
22,2
46
37,1
Auxiliar de Enfermagem
15
34,9
6
13,3
17
47,2
38
30,6
Total
43
100
45
100
36
100
124*
100
p = 0,029
Analisando a tabela 7 se pode inferir que os Auxiliares de Enfermagem têm
maior probabilidade de sofrer algum tipo de problema de saúde, ou seja, a função
exercida pode influenciar em relação à ocorrência de problemas de saúde. Tal
associação mostra-se estatisticamente significativa, pois p < 0,05.
Magnago (2008) estudou distúrbios musculoesqueléticos entre trabalhadores
de enfermagem e identificou maior incidência desses problemas nos auxiliares de
enfermagem.
O estudo de Costa, Vieira e Sena (2009) também evidenciou que a maioria
dos afastamentos entre profissionais de enfermagem de um hospital público ocorreu
entre auxiliares de enfermagem, do sexo feminino.
Os trabalhadores que atuam em hospitais, especialmente aqueles que se
ocupam da assistência direta, estão mais expostos ao desgaste e adoecimento. Isto
ocorre em razão do contato com portadores de doenças infecciosas, da necessidade
da movimentação de pacientes e equipamentos pesados, do desgaste físico
decorrente do ritmo, da organização e divisão do trabalho, do convívio com a dor e a
morte, entre outros (SÊCCO et al., 2008).
91
Tabela 8 - Distribuição dos trabalhadores segundo o sexo e idade em relação à
escala PST no HU, Rio de Janeiro, 2009.
Problema de Saúde do Trabalhador
Baixa
Moderada
Alta
Total
Sexo
n
f(%)
n
f(%)
n
f(%)
n
f(%)
Feminino
27
62,8
39
86,7
30
83,3
96
77,4
Masculino
16
37,2
6
13,3
6
16,7
28
22,6
Total
43
100
45
100
36
100
124*
100
Idade (em anos)
20-29
3
7,0
4
8,9
4
11,1
11
8,9
30-39
5
11,6
8
17,8
4
11,1
17
13,7
40-49
23
53,5
21
46,7
17
47,2
61
49,2
50e+
12
27,9
12
26,7
11
30,6
35
28,2
Total
43
100
45
100
36
100
124*
100
* Foram desconsideradas as respostas em branco
p = 0,017 (sexo); p = 0,953 (idade)
Em relação ao sexo, significância estatística (p <0,05) entre alta PST e as
profissionais de enfermagem. Existe uma maior probabilidade para o sexo feminino
apresentar valores altos na escala de problemas de saúde. Ou seja, diferenças
significativas entre homens e mulheres, com alta probabilidade (83,3%) das
mulheres apresentarem algum tipo de problema de saúde.
Embora cientificamente comprovada à maior incidência de problemas de
saúde nos mais idosos, neste estudo o se pode descartar a possibilidade de tal
associação ter se dado ao acaso (p>0,05).
Verifica-se que a faixa etária parece ser um fator de associação em relação
aos problemas de saúde, porém não foi possível aplicar o teste Qui-Quadrado, em
razão de 33% das células apresentarem menos que cinco observações, condição
que invalida o teste.
Da mesma forma que o ocorrido na associação idade e PST, em relação ao
número de vínculos (tabela 9) não podemos afirmar, neste estudo, que
significância estatística (p>0,05).
Entretanto, notamos uma alta incidência de problemas de saúde em
profissionais com mais de um vínculo empregatício (cerca de 60%), levando-se a
92
inferir que existe uma relação entre quem tem mais um nculo e o alto risco de
apresentar problemas de saúde.
Tabela 9 - Distribuição dos trabalhadores segundo o número de vínculos
empregatícios em relação à escala PST no HU, Rio de Janeiro, 2009.
Problema de Saúde do Trabalhador
Baixa
Moderada
Alta
Total
Nº de vínculos
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
1
24
55,8
15
33,3
15
41,7
54
43,5
2
18
41,9
29
64,4
19
52,8
66
53,2
3
-
-
1
2,2
2
5,6
3
2,4
5
1
2,3
-
-
-
-
1
0,8
Total
43
100
45
100,0
36
100,0
124*
100,0
* Foram desconsideradas as respostas em branco
p = 0,168
No estudo de Costa, Vieira e Sena (2009) comprovou-se que funcionários
com duplo ou tríplice vínculo empregatício se afastaram mais do trabalho.
Devido à sobrecarga de trabalho e ao sofrimento psíquico, os trabalhadores
da enfermagem possuem maior risco de apresentar doenças como hipertensão
arterial, diabetes mellitus, distúrbios ortopédicos, neurológicos e psicológicos entre
outros. Todos esses fatores são acompanhados de dificuldades socioeconômicas,
uma vez que esses profissionais recebem baixos salários, obrigando-os a adotar
dupla jornada de trabalho para conseguir sustentar a família e ter vida digna
(GIOMO et al., 2009).
O aumento da jornada de trabalho através de múltiplos empregos vem sendo
a solução encontrada por alguns trabalhadores para enfrentar esta realidade,
mesmo que seja uma saída sacrificante e que traz prejuízos para a vida pessoal e
coletiva (VERAS, 2003).
93
Tabela 10 - Distribuição dos trabalhadores segundo o tipo de jornada em relação à
escala PST no HU, Rio de Janeiro, 2009.
Problema de Saúde do Trabalhador
Baixa
Moderada
Alta
Total
Tipo de jornada
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
Diário
5
11,9
3
6,7
3
8,3
11
8,9
Plantão diurno
23
54,8
24
53,3
17
47,2
64
52,0
Plantão noturno
14
33,3
18
40,0
16
44,4
48
39,0
Total
42
100
45
100
36
100
123*
100
* Foram desconsideradas as respostas em branco
p = 0, 817
No estudo, plantonistas diurnos e noturnos têm frequências semelhantes. Se
considerarmos todos que trabalham durante o horário diurno, diariamente ou como
plantonista, notaremos predomínio (55,5%) de PST Alta nesses profissionais.
Não diferenças estatisticamente significativas entre o horário de trabalho
(diarista e plantonista diurno) e o alto PST (p>0,05), pois nas tabelas existem muitas
células com menos de cinco observações. Não podemos, portanto, afirmar que esta
relação não se deu ao acaso.
Entretanto, pode-se fazer inferências a respeito da relação entre o tipo de
jornada e o alto risco de apresentar problemas de saúde.
Nas unidades pesquisadas a razão para a PST Alta entre profissionais de o
horário diurno pode estar relacionada ao volume de atividades desempenhadas,
diferentemente do horário noturno.
Entretanto, sabe-se que trabalhadores do período noturno estão mais
expostos a agravos relacionados à privação do sono, ruído, maus hábitos
alimentares e principalmente estresse. Além disso, Torres e Pinho destacam que,
em relação à qualidade do sono entre trabalhadores de enfermagem, observa-se
que episódios de sono diurno após as noites de trabalho são ruins quando
comparados ao sono noturno (TORRES; PINHO, 2006).
Estudos posteriores sobre esta temática ajudariam a elucidar estas diferenças
em relação a problemas de saúde entre os trabalhadores nestas unidades.
94
3.4 Associações entre fatores de risco e problemas de saúde
Utilizando a mesma técnica de análise estatística, considerando os fatores de
riscos percebidos por grupos (tipos), foram realizadas associações entre os
problemas de saúde mais frequentes entre os profissionais de enfermagem das
unidades intensivas e os riscos ocupacionais.
Para tanto, foram criadas escalas RAT para cada grupo de fatores de riscos,
originando as escalas RAT-AC (Risco de Acidentes); RAT-BIO (Risco Biológico);
RAT-ERG (Risco Ergonômico); RAT-FIS (Risco Físico) e RAT-QUI (Risco Químico),
verificando-se através do teste de Qui-Quadrado de Pearson a significância
estatística de cada associação com os problemas de saúde, sendo adotado o nível
de 5%.
3.4.1 Associação risco de acidentes e problemas de saúde
Os problemas de saúde Lombalgia, Lesões da Coluna; Problemas
articulares; Dores Musculares e Lesões por Acidentes foram associados ao
Risco de Acidentes no Ambiente de Trabalho.
Tabela 11 - Distribuição dos trabalhadores segundo Risco de Acidentes no
Ambiente de Trabalho (RAT-AC) em relação a problemas de saúde no HU, Rio de
Janeiro, 2009 (continua)
Risco de Acidentes no Ambiente de Trabalho (RAT-AC)
Lombalgia
Baixo
Médio
Alto
Total
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
Sim
18
43,9
22
55,0
25
64,1
65
52,0
Não
23
56,1
18
45,0
14
35,9
55
44,0
Não respondeu
-
-
-
-
-
-
5
4,0
Total
p= 0,192
41
100,0
40
100,0
39
100,0
125
100,0
95
Tabela 11 - Distribuição dos trabalhadores segundo Risco de Acidentes no
Ambiente de Trabalho (RAT-AC) em relação a problemas de saúde no HU, Rio de
Janeiro, 2009 (conclusão)
Risco de Acidentes no Ambiente de Trabalho (RAT-AC)
Baixo
Médio
Alto
Total
Lesões
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
da coluna
Sim
16
38,1
13
33,3
17
43,6
46
36,8
Não
26
61,9
26
66,7
22
56,4
74
59,2
Não respondeu
-
-
-
-
-
-
5
4,0
Total
p= 0,647
42
100,0
39
100,0
39
100,0
125
100,0
Problemas
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
articulares
Sim
14
32,6
15
38,5
16
40,0
45
36,0
Não
29
67,4
24
61,5
24
60,0
77
61,6
Não respondeu
-
-
-
-
-
-
3
2,4
Total
p= 0,758
43
100,0
39
100,0
40
100,0
125
100,0
Dores
Musculares
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
Crônicas
Sim
10
23,8
16
40,0
14
35,0
40
32,0
Não
32
76,2
24
60,0
26
65,0
82
65,6
Não respondeu
-
-
-
-
-
-
3
2,4
Total
p= 0,277
42
100
40
100,0
40
100,0
125
100,0
Lesões por
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
Acidentes
Sim
2
4,7
7
17,9
10
26,3
19
15,2
Não
41
95,3
32
82,1
28
73,7
101
80,8
Não respondeu
-
-
-
-
-
-
5
4,0
Total
p= 0,026
43
100,0
39
100,0
38
100,0
125
100,0
96
Em algumas doenças como a lombalgia, a probabilidade de estar doente é
alta (64,1%) para os trabalhadores expostos ao alto risco de acidentes. Lesões na
coluna, problemas articulares e dores musculares crônicas apresentam
respectivamente 43,6%; 40% e 35% de alta probabilidade de ocorrerem. Contudo,
não podemos dizer que a associação neste caso não se deveu ao acaso, em razão
do p>0,05. Somente a relação entre o risco de acidentes e lesões por acidentes foi
significativa (p<0,05), onde quem apresentou a escala de risco alta, tem
probabilidade de 26,3% de estar com lesões por acidentes. Se considerarmos as
respostas dos trabalhadores sobre relação com o trabalho (provocado/agravado), as
lesões por acidente foram consideradas “provocadas pelo trabalho” por 8,3% dos
trabalhadores.
Investigando determinadas características da ocorrência de acidente do
trabalho relacionado com a coluna vertebral em trabalhadores de enfermagem de
um hospital universitário, Parada, Alexandre e Benatti (2002) identificaram como
causas mais frequentes na ocorrência dos acidentes a movimentação, levantamento
ou transferência de peso excessivo, devido às pacientes obesos e/ou dependentes,
materiais e equipamentos. O agente causador de acidentes mais citado foi piso
escorregadio.
Trabalhadores de enfermagem submetem-se aos variados fatores de risco
ocupacional, sofrem acidentes de trabalho e adoecem e, na maior parte das vezes,
não atribuem estes problemas às questões decorrentes de sua atividade laboral
(ROBAZZI; MARZIALE apud GIOMO et al., 2009).
O ambiente de trabalho hospitalar provoca dano à integridade dos
trabalhadores de enfermagem, na medida em que se perfuram, caem, escorregam,
adoecem e apresentam dores relacionadas ao tipo de acidente ocorrido neste
ambiente em que atua ininterruptamente (GIOMO et al., 2009).
97
3.4.2 Associação risco biológico e problemas de saúde
Para os problemas de saúde testados (Doenças do Fígado; Doenças de Pele
e Doenças Infecciosas), em relação ao Risco Biológico não se pode inferir
resultados de associação significativa, em razão do p > 0,05 nos três casos. Isto se
deve ao fato da ocorrência desses problemas de saúde ter sido pequena entre os
profissionais.
Tabela 12 - Distribuição dos trabalhadores segundo Risco Biológico no Ambiente de
Trabalho (RAT-BIO) em relação a problemas de saúde no HU, Rio de Janeiro, 2009
Risco de Acidentes no Ambiente de Trabalho (RAT-AC)
Doenças
Baixo
Médio
Alto
Total
do Fígado
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
Sim
-
-
2
4,3
4
11,4
6
4,8
Não
42
100,0
45
95,7
31
88,6
118
94,4
Não respondeu
-
-
-
-
-
-
1
0,8
Total
p=0,065
42
100,0
47
100,0
35
100,0
125
100,0
Doenças
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
De Pele
Sim
4
9,5
8
17,4
7
20,0
19
15,2
Não
38
90,5
38
82,6
28
80,0
104
83,2
Não respondeu
-
-
-
-
-
-
2
1,6
Total
p=0,403
42
100,0
46
100,0
35
100,0
125
100,0
Doenças
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
Infecciosas
Sim
2
5,0
4
8,7
1
3,0
7
5,6
Não
38
95,0
42
91,3
32
97,0
112
89,6
Não respondeu
-
-
-
-
-
-
6
4,8
Total
p=0,549
40
100,0
46
100,0
33
100,0
125
100,0
98
No desempenho de suas atividades laborais, o pessoal de enfermagem é
exposto a risco biológico principalmente no manuseio de materiais perfuro cortantes,
como nas tarefas de realizar punção venosa e administração de medicamentos
(NISHIDE; BENATTI; ALEXANDRE, 2004; SÊCCO et al., 2008).
Na prática, nem todos os profissionais de enfermagem que atuam em
ambientes semicríticos ou críticos, como as UTIs, adotam as medidas de
biossegurança necessárias à sua proteção durante a assistência que realizam o que
pode ocasionar agravos à sua saúde e à do cliente sob seus cuidados (CORREA;
DONATO, 2007).
3.4.3 Associação risco ergonômico e problemas de saúde
Os problemas de saúde, Varizes (24,2%), Lombalgia (21,7%),
Estresse/depressão (19,0%), Dor de cabeça (17,1%), Lesões na coluna (15,8%),
Dor muscular crônica (14,8%) e Problemas articulares (13,9%) tiveram
associação significativa em relação à escala de alto risco ergonômico (p < 0,05),
como demonstrado na tabela 13. Isto significa que os trabalhadores expostos a altos
riscos ergonômicos têm maior probabilidade de adquirir estes problemas de saúde.
Vale lembrar que estes problemas de saúde relacionados foram à maioria dos
“provocados pelo trabalho”, na percepção do profissional de enfermagem das
unidades intensivas.
99
Tabela 13 - Distribuição dos trabalhadores segundo risco ergonômico em relação
aos problemas de saúde mais frequentes no HU, Rio de Janeiro, 2009.
(continua)
Mudança Humor
Álcool/Drogas
Não
Sim
Não
Sim
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
RAT
Baixo
32
26,2
9
7,4
40
33,3
-
-
ERG
Médio
27
22,1
15
12,3
37
30,8
3
2,5
Alto
23
18,9
16
13,1
39
32,5
1
0,8
p = 0,17
p = 0,164 (a)
Dor de Cabeça
Perda Auditiva
Não
Sim
Não
Sim
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
RAT
Baixo
31
25,2
10
8,1
36
29,8
3
2,5
ERG
Médio
26
21,1
16
13,0
38
31,4
4
3,3
Alto
19
15,4
21
17,1
35
28,9
5
4,1
p = 0,034 (*)
p = 0,770 (a)
Probl. Oculares
Doença Coração
Não
Sim
Não
Sim
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
RAT
Baixo
19
15,7
21
17,4
40
32,3
1
0,8
ERG
Médio
17
14,0
25
20,7
39
31,5
4
3,2
Alto
16
13,2
23
19,0
37
29,8
3
2,4
p = 0,778
p = 0,418 (a)
Lesões Coluna
Lombalgia
Não
Sim
Não
Sim
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
RAT
Baixo
30
25,0
8
6,7
25
20,8
15
12,5
ERG
Médio
23
19,2
19
15,8
17
14,2
24
20,0
Alto
21
17,5
19
15,8
13
10,8
26
21,7
p = 0,029 (*)
p = 0,027 (*)
Hipertensão
Dores Musc. Crônicas
Não
Sim
Não
Sim
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
RAT
Baixo
30
25,0
8
6,7
35
28,7
6
4,9
ERG
Médio
32
26,7
11
9,2
25
20,5
16
13,1
Alto
28
23,3
11
9,2
22
18,0
18
14,8
p = 0,764
p = 0,008 (*)
Não foram consideradas as respostas em branco.
Resultados calculados para linhas e colunas não nulas.
(*).A estatística qui-quadrado (p) é significativa ao nível 0.05.
(a).Mais que 20% das células nesta sub tabela apresentam contagens menores que 5 (Qui-quadrado pode estar
não válido).
100
Tabela 13 - Distribuição dos trabalhadores segundo risco ergonômico em relação
aos problemas de saúde mais frequentes no HU, Rio de Janeiro, 2009.
(conclusão)
Varizes
Doenças Pele
Não
Sim
Não
Sim
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
RAT
Baixo
23
18,5
18
14,5
40
32,5
1
0,8
ERG
Médio
16
12,9
27
21,8
36
29,3
6
4,9
Alto
10
8,1
30
24,2
28
22,8
12
9,8
p = 0,015 (*)
p = 0,003 (*)
Doenças Renais
Probl. Respiratórios
Não
Sim
Não
Sim
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
RAT
Baixo
38
31,7
-
-
37
30,1
3
2,4
ERG
Médio
42
35,0
1
0,8
33
26,8
10
8,1
Alto
35
29,2
4
3,3
29
23,6
11
8,9
p = 0,060 (a)
p = 0,058
Não
Sim
Não
Sim
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
RAT
Baixo
35
28,2
6
4,8
33
27,0
8
6,6
ERG
Médio
33
26,6
10
8,1
21
17,2
20
16,4
Alto
27
21,8
13
10,5
23
18,9
17
13,9
p = 0,065
p = 0,015 (*)
Transtornos do Sono
Estresse/Depressão
Não
Sim
Não
Sim
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
RAT
Baixo
25
21,0
14
11,8
32
26,4
9
7,4
ERG
Médio
26
21,8
15
12,6
20
16,5
20
16,5
Alto
17
14,3
22
18,5
17
14,0
23
19,0
p = 0,113
p = 0,003 (*)
Não foram consideradas as respostas em branco.
Resultados calculados para linhas e colunas não nulas.
(*).A estatística qui-quadrado (p) é significativa ao nível 0.05.
(a).Mais que 20% das células nesta sub tabela apresentam contagens menores que 5 (Qui-quadrado pode estar
não válido).
Profissionais de enfermagem estão entre os profissionais com as mais
elevadas taxas de incidência de lombalgias. Flexão, torção, levantamento de cargas
pesadas e movimentos bruscos foram relacionados em estudo de Vieira et al. (2006)
a problemas na região lombar.
101
Analisando diversos estudos, Magnago et al. (2007) mostrou não uma
elevada ocorrência de distúrbios musculoesqueléticos em trabalhadores de
enfermagem, mas também sua relação com fatores de risco ambientais e
ergonômicos inadequados, como a movimentação e o transporte de pacientes; a
postura corporal inadequada; o déficit de pessoal e os equipamentos inadequados e
sem manutenção.
Dentre os trabalhadores de unidades de terapia intensiva, as queixas mais
importantes variam entre as de ordem emocional e as relacionadas a distúrbios
osteoarticulares. Sintomas como angústia, ansiedade, cansaço mental, irritabilidade,
desânimo e depressão dividem lugar com lesões da coluna vertebral, como a dor
lombar e a diminuição da força muscular (BECK et al., 2006).
A associação de aspectos psicossociais e os problemas osteomusculares
ainda não estão totalmente esclarecidos. Entretanto, estudos indicam que
trabalhadores submetidos a altos níveis de exigências psicológicas no trabalho e
com poder de decisão têm um aumento do limiar da dor, enquanto pessoas com
pequenas possibilidades de decisão no trabalho apresentam menor limiar. Assim,
pode-se inferir que sob altos níveis de exigência psicológica uma maior
mobilização de energia, como supressão da sensibilidade dolorosa, o que poderia
ocasionar maior risco de desenvolver, em longo prazo, alterações nos tecidos
músculoesquelético, uma vez que dor, como sinal de alerta, está ausente. Por outro
lado, o pouco poder de decisão contribui para o desenvolvimento da depressão, o
que explicaria o baixo limiar, tornando os indivíduos mais sensíveis à dor (BRASIL,
2001b).
Os achados neste estudo, em relação à influência dos fatores de risco
ergonômico no aparecimento de problemas de estão de acordo com várias outras
pesquisas na área de saúde do trabalhador, já citadas nesta dissertação.
3.4.4 Associação risco físico e problemas de saúde
Os problemas de saúde Estresse/depressão (59,0%), Problemas
digestivos (36,6%) e Problemas do sistema nervoso (31,6%) tiveram associações
significativas em relação à escala de alto risco físico (p < 0,05). Ou seja, os
102
trabalhadores expostos a altos riscos físicos têm maior probabilidade de adquirir
estes problemas de saúde.
Tabela 14 - Distribuição dos trabalhadores segundo risco físico em relação aos
problemas de saúde relacionados no HU, Rio de Janeiro, 2009
Varizes
Prob. Digestivos
Não
Sim
Não
Sim
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
RAT
Baixo
20
40,8
29
59,2
42
85,7
7
14,3
FIS
Médio
16
47,1
18
52,9
27
79,4
7
20,6
Alto
13
31,7
28
68,3
26
63,4
15
36,6
p = 0,389
p = 0,041 (*)
Transt. Sono
Mudança Humor
Não
Sim
Não
Sim
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
RAT
Baixo
29
60,4
19
39,6
32
65,3
17
34,7
FIS
Médio
21
63,6
12
36,4
27
79,4
7
20,6
Alto
18
47,4
20
52,6
23
59,0
16
41,0
p = 0,323
p = 0,167
Estresse/Depressão
Prob. Sist. Nervoso
Não
Sim
Não
Sim
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
RAT
Baixo
33
68,8
15
31,3
41
85,4
7
14,6
FIS
Médio
20
58,8
14
41,2
32
94,1
2
5,9
Alto
16
41,0
23
59,0
26
68,4
12
31,6
p = 0,033 (*)
p = 0,013 (*)
Perda Auditiva
Câncer
Não
Sim
Não
Sim
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
RAT
Baixo
42
89,4
5
10,6
49
100,0
-
-
FIS
Médio
33
97,1
1
2,9
34
100,0
-
-
Alto
34
85,0
6
15,0
39
95,1
2
4,9
p = 0,219 (a)
p = 0,128 (a,b)
Dor de Cabeça
Hipertensão
Não
Sim
Não
Sim
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
RAT
Baixo
35
72,9
13
27,1
36
75,0
12
25,0
FIS
Médio
20
58,8
14
41,2
28
84,8
5
15,2
Alto
21
51,2
20
48,8
26
66,7
13
33,3
p = 0,101
p = 0,207
Resultados calculados para linhas e colunas não nulas.
(*).A estatística qui-quadrado (p) é significativa ao nível 0.05.
(a).Mais que 20% das células nesta sub-tabela apresentam contagens menores que 5 (Qui-quadrado pode estar
não válido).
(b) A contagem esperada nesta sub-tabela é menor que 1 (Qui-quadrado pode estar não válido).
103
As condições ambientais desfavoráveis, como excesso de calor, ruídos,
vibrações e iluminação insuficiente geram tensões no trabalho e causam
desconforto, aumentando o risco de acidentes e provocando danos a saúde do
trabalhador (IIDA, 2205).
O desgaste do trabalhador de unidades intensivas deve-se à precariedade
das suas condições de trabalho e ao ambiente da terapia intensiva, visto como
ruidoso, pelo excesso de pessoas que transitam em um espaço exíguo e alarmes
sonoros que disparam a todo instante (SANTOS; OLIVEIRA; MOREIRA, 2006).
Alguns sintomas como náuseas, vômitos, diarréia e cólicas abdominais
podem estar relacionados à exposição à radiação ionizante, ocorrendo geralmente
nas primeiras semanas após exposição e cedendo espontaneamente com o passar
do tempo. Cerca de um ano após a exposição podem aparecer distúrbios de
motilidade, má absorção e obstrução intestinal, entre outros (BRASIL, 2001b).
Além disso, a adaptação ao trabalho em turnos também propicia o
aparecimento de perturbações gastrointestinais, como úlceras pépticas e duodenais,
gastroduodenites, anorexia e constipação intestinal (PITTA, 2003; BARBOZA;
SOLER, 2003).
A prevenção de doenças do sistema nervoso relacionadas ao trabalho utiliza
conhecimentos de várias disciplinas, valorizando a percepção dos trabalhadores
sobre seu trabalho e sua saúde, considerando as normas técnicas e os
regulamentos vigentes. A vulnerabilidade do sistema nervoso aos efeitos da
exposição ocupacional e ambiental a agentes físicos decorrentes da organização do
trabalho tem ficado cada vez mais evidente, traduzindo-se em episódios isolados ou
epidêmicos de doença nos trabalhadores (BRASIL, 2001b).
3.4.5 Associação risco químico e problemas de saúde
Quanto à escala RAT QUI, nenhum dos problemas de saúde testados pode
ser estatisticamente associado à escala de risco químico, uma vez que o teste Qui-
Quadrado para estes não foram significativos (p > 0,05).
104
Desta forma, os riscos químicos, presentes nas unidades intensivas, para
cerca de um terço dos profissionais de enfermagem, não podem ser relacionados a
nenhum dos problemas de saúde mais frequentes.
3.4.6 Afastamentos, mudança e transferência do trabalho por motivos de saúde e
todas as escalas de risco
Os itens Mudança/transferência do trabalho e Afastamentos frequentes
por motivo de saúde, que constam do instrumento da pesquisa na parte “Problemas
de saúde dos profissionais” foram relacionados a todas as escalas RAT criadas.
Tabela 15 - Distribuição dos trabalhadores segundo todos os riscos em relação a
afastamento e mudança do trabalho por motivos de saúde nas unidades intensivas
do HU, Rio de Janeiro, 2009.
(continua)
Mudança/transferência do trabalho por motivo
de saúde
Afastamentos frequentes
por motivo de saúde
Escalas de
Não
Sim
Não
Sim
Riscos
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
Baixo
41
95,3
2
4,7
39
90,7
4
9,3
RAT-AC
Médio
38
95,0
2
5,0
33
82,5
7
17,5
Alto
38
95,0
2
5,0
33
82,5
7
17,5
Baixo
45
91,8
4
8,2
42
85,7
7
14,3
RAT-FIS
Médio
34
100,0
-
-
29
85,3
5
14,7
Alto
38
95,0
2
5,0
34
85,0
6
15,0
Baixo
41
97,6
1
2,4
39
92,9
3
7,1
RAT-BIO
Médio
42
91,3
4
8,7
38
82,6
8
17,4
Alto
34
97,1
1
2,9
28
80,0
7
20,0
Baixo
59
96,7
2
3,3
52
85,2
9
14,8
RAT-QUI
Médio
20
95,2
1
4,8
19
90,5
2
9,5
Alto
38
92,7
3
7,3
34
82,9
7
17,1
Resultados calculados para linhas e colunas não nulas
(*) A estatística qui-quadrado (p) é significativa ao nível 0,05.
(a).Mais que 20% das células nesta sub-tabela apresentam contagens menores que 5
(Qui-quadrado pode estar não válido).
105
Tabela 15 - Distribuição dos trabalhadores segundo todos os riscos em relação a
afastamento e mudança do trabalho por motivos de saúde nas unidades intensivas
do HU, Rio de Janeiro, 2009.
(conclusão)
Baixo
40
97,6
1
2,4
36
87,8
5
12,2
RAT-ERG
Médio
40
95,2
2
4,8
40
95,2
2
4,8
Alto
37
92,5
3
7,5
29
72,5
11
27,5
Teste Qui-Quadrado (Significância)
Mud/Transf. Trabalho
Afast. Freq.
RAT-AC
0,996(a)
0,471
RAT-FIS
0,236(a)
0,995
RAT-ERG
0,571(a)
0,012(*)
RAT-BIO
0,314(a)
0,226
RAT-QUI
0,650(a)
0,728
Resultados calculados para linhas e colunas não nulas
(*) A estatística qui-quadrado (p) é significativa ao nível 0,05.
(a).Mais que 20% das células nesta sub-tabela apresentam contagens menores que 5
(Qui-quadrado pode estar não válido).
Estas associações não foram estatisticamente significativas, em razão do
pequeno índice de respostas, não sendo possível efetuar inferências acerca da
relação entre os riscos e os problemas relacionados ao afastamento e mudança
entre os trabalhadores do HU.
Vale lembrar que, respeitando os critérios de exclusão de sujeitos
estabelecidos, os trabalhadores afastados por motivos variados (licenças médicas,
inclusive) não participaram da pesquisa.
Entretanto, 15% dos profissionais de enfermagem das unidades intensivas
que participaram da pesquisa, indicaram afastamentos frequentes por motivo de
saúde (13% relacionados ao trabalho), sinalizando que mesmo entre os que
estavam trabalhando na ocasião da coleta de dados uma parcela significativa
com histórico de ausências dessa natureza.
106
4 CONCLUSÕES
Esta dissertação de mestrado, cujo foco principal é as condições de trabalho
de enfermagem em unidades intensivas, faz parte de um projeto mais amplo, o
INGECTH-SUS. Trabalhos anteriores, também inseridos no projeto matriz, foram
realizados no mesmo hospital, entretanto em unidades abertas.
Seguindo uma metodologia inovadora de gestão de condições de trabalho,
com a participação direta dos principais envolvidos, os trabalhadores, o estudo teve
como finalidade principal a identificação de fatores de risco a que estão expostos os
profissionais de enfermagem de unidades intensivas em um hospital universitário no
município do Rio de Janeiro.
Através da utilização do instrumento adaptado pela orientadora, foram
identificados também os problemas de saúde e agravos que acometem estes
trabalhadores.
Estabelecendo-se como problema de pesquisa a associação entre problemas
de saúde e riscos ocupacionais, foi traçado como objetivo geral estudar estes
problemas e sua associação com o trabalho, a partir da percepção do trabalhador
das unidades intensivas.
Através de objetivos específicos traçados e alcançados, foram identificadas
as características profissionais dos trabalhadores de enfermagem das unidades
intensivas; descritos os fatores de risco do ambiente de trabalho percebidos pelos
trabalhadores; levantados os problemas de saúde percebidos e sua relação com o
trabalho e analisadas as associações entre problemas de saúde mais incidentes e
os tipos de risco percebidos.
De forma bastante abrangente, participaram trabalhadores de enfermagem de
todas as categorias nas unidades intensivas estudadas, com predominância de
profissionais de nível médio, do sexo feminino e de faixa etária superior a 40 anos.
A maioria dos trabalhadores tem vínculo estatutário com a instituição,
trabalhando sob regime de plantão de 12 horas, admitido a mais de 10 anos e
possuindo outro vínculo empregatício.
Os riscos ocupacionais, classificados por tipo neste estudo, foram mais
percebidos representativamente pelos enfermeiros e observou-se a predominância
dos riscos ergonômicos no ambiente de trabalho. Tais riscos, principalmente os
107
relacionados à postura, esforço físico e ritmo de trabalho foram os mais
frequentemente percebidos como presentes no ambiente de trabalho. A associação
do risco ergonômico com os problemas de saúde mais indicados como existentes
pelos trabalhadores foi estatisticamente significativa. Isto indica que os trabalhadores
expostos aos fatores de risco ergonômico apontados na pesquisa têm maior
probabilidade de adquirir problemas de saúde como varizes, lesões na coluna,
lombalgia, dores musculares e problemas articulares.
Além destes problemas de saúde, transtornos psíquicos e do comportamento
como estresse e depressão, mudanças de humor e transtornos do sono foram muito
frequentes e também significativamente associados ao risco ergonômico.
Outro fator de risco muito percebido foi o Biológico, entretanto a associação
com alguns problemas de saúde não foi estatisticamente relevante.
Os fatores de risco físico, principalmente exposição à radiação, ruído e
temperatura inadequada foram muito percebidos e sua associação com problemas
do sistema nervoso, digestivos além de estresse e depressão foi estatisticamente
significativa.
Os riscos químicos e de acidentes também foram percebidos pelos
trabalhadores, entretanto sua associação com problemas de saúde não foi
estatisticamente significativa, ou pode ser atribuída ao acaso.
Os problemas de saúde que acometem a maioria dos participantes foram
varizes, problemas oculares e lombalgia, seguido de estresse/depressão e
transtornos do sono.
Conclui-se, portanto, que através da metodologia utilizada, foi possível
identificar os fatores mais frequentes percebidos pelos profissionais de enfermagem,
bem como estudar a associação dos riscos ocupacionais com os problemas de
saúde, entre esses profissionais, identificando qual tipo de risco está influenciando
de forma significativa os problemas referidos.
Comparando-se os dados obtidos nesta pesquisa com outros realizados no
mesmo hospital, ou outras unidades de saúde, com a mesma metodologia do projeto
matriz, observa-se que, independente do setor ser aberto ou fechado, os riscos e
problemas mais evidentes são semelhantes, variando discretamente apenas em
relação às frequências percentuais.
O trabalho em unidades intensivas, num ambiente fechado, com ritmo de
trabalho intenso, com alto grau de tensão, não difere muito das unidades não-
108
intensivas, pelo menos no que diz respeito aos riscos e problemas de saúde
apresentados neste estudo. As diferenças principais são relacionadas ao conteúdo
do trabalho, composição da equipe de enfermagem e percepção dos enfermeiros
sobre riscos ocupacionais.
O desenvolvimento desta pesquisa encontrou algumas limitações e
dificuldades, como o exíguo tempo para conclusão, a dificuldade para a coleta de
dados nas unidades intensivas e a exclusão dos trabalhadores ausentes por
licenças médicas, férias ou outros motivos.
Tendo-se em vista os dados encontrados nesta dissertação, fazem-se
necessários novos estudos buscando detalhamento maior dos problemas
levantados.
Recomendações:
Criar um espaço de discussão desses resultados entre os gerentes
e trabalhadores para a elaboração de um programa que vise ao
desenvolvimento de promoção e proteção da saúde dos
trabalhadores de enfermagem;
Solicitar a realização de concursos públicos para aumentar o
quantitativo de trabalhadores de enfermagem, através de formas de
contrato seguras;
Cumprir as medidas que dizem respeito ao trabalho feminino, de
acordo com as normas já estabelecidas;
Realizar atualizações para o trabalhador em relação a diversos
enfoques, destacando-se a importância do controle dos riscos
ocupacionais; promoção de saúde do trabalhador; medidas de
biossegurança para controle dos riscos biológicos e químicos;
medidas ergonômicas para o controle dos riscos ergonômicos;
Criação de um Comitê de Ergonomia para operacionalizar o
processo de avaliação e implementação das melhorias no HU, com
a participação efetiva dos trabalhadores nas estratégias de
mudança;
109
Desenvolver permanentemente os trabalhadores, com o apoio do
Comitê de Ergonomia, através de programas de capacitação para o
reconhecimento de riscos no trabalho e promoção de medidas para
o alcance de uma saúde ótima (trabalhador saudável) e de
prevenção de acidentes e doenças junto aos trabalhadores de
enfermagem;
Implementar medidas de controle específicas aos diferentes riscos
evidenciados, a saber:
- Riscos Biológicos realização de atualizações permanentes sobre as
medidas de biosseguranca; disponibilização de recursos suficientes
para o cumprimento das normas de biosseguranca, como a oferta de
equipamentos de proteção individual e coletiva e treinamento quanto
ao seu uso correto, em cumprimento da NR 32;
- Riscos Ergonômicos adoção de medidas ergonômicas, com
mudanças no processo de trabalho, disponibilizando equipamentos e
utensílios adequadamente; atualização do trabalhador para as posturas
corretas no trabalho; promoção de mudanças organizacionais no
trabalho; fortalecimento de estratégias de enfrentamento dos
trabalhadores para os riscos ergonômicos de ordem psicossocial;
- Riscos de Acidentes promoção de mudanças no ambiente de
trabalho orientadas por um ergonomista ou engenheiro de segurança,
respeitando a participação dos trabalhadores, visando à construção de
um ambiente seguro para o trabalhador; atualização das noções de
primeiros socorros e condutas em caso de acidentes; consulta a
gerentes e trabalhadores de enfermagem por ocasião de obras ou
reformas;
- Riscos Químicos atualização dos trabalhadores em relação ao
manuseio das substancias químicas; estocagem e armazenamento
adequado das substâncias químicas;
- Riscos Físicos realização de mudanças físicas no ambiente de
trabalho, através do planejamento da área física, com apoio de um
ergonomista e participação dos trabalhadores.
110
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120
APÊNDICE A Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
121
APÊNDICE B Gráficos não utilizados na análise
RESPOSTAS “RARAMENTE/ÀS VEZES”
Ordem e limpeza insuficientes
Conflito entre trabalhadores
Lesão por material perfurocortante
Conflito com chefia ou encarregados
Risco de queda no ambiente de trabalho
Risco de queda de materiais
Pouca decisão sobre a realização do trabalho
Conflito com clientes ou pacientes
Pouca oferta de formação connua
Falta de equipamentos de protão individual
Exposição aorus da Hepatite
Recursos insuficientes para realizar o trabalho
Risco de incêndio ou explosão
Exposição ao vírus HIV
Tarefas rotineiras ou monótonas
Risco de tropeçar em objetos
utilização de equipamento de proteção
Manipulação de cargas pesadas
Duração excessiva da jornada de trabalho
Organizão insatisfatória do horário
Risco de sobrecarga de trabalho
Risco de contato com substâncias químicas
Ventilação ineficiente/inadequada
Exposição a temperatura inadequada
Choques contra objetos moveis/imóveis
Iluminação insuficiente
Exposição a umidade excessiva
Riscos de contaminação no ambiente externo
Ritmo de trabalho acelerado
Posturas forcadas pela realização de alguma
Exposição a gases, vapores e aerosis
Esforço físico que produz fadiga
Desconforto pela postura adotada por muito
Trabalho isolado que dificulta contato com
Risco por contato elétrico
Desconhecimento/formação insuficiente
Exposição ao ruído
Pouca possibilidade de promoção
Exposição a radiação
Situão de discriminação no trabalho
Risco de contrair infecção/doença
Exposição a risco biológico
Agressividade, assedio sexual ou vioncia
Má distribuão do espo físico
Desconhecimento das saídas de emergência
56 %
55,6 %
49,6 %
49,6 %
48,8 %
47,6 %
46,8 %
46 %
44,7 %
44 %
44 %
43,9 %
43,4 %
43,2 %
42,7 %
42,4 %
41,1 %
41,1 %
40 %
39,5 %
39,2 %
39 %
37,1 %
36,8 %
36 %
35,5 %
35,2 %
34,4 %
33,9 %
33,6 %
33,3 %
32,8 %
32,8 %
32,8 %
32,3 %
32 %
30,9 %
28,7 %
27,4 %
25,8 %
25 %
23,2 %
17,6 %
16,8 %
14,6 %
Gráfico 4 - Distribuição proporcional dos trabalhadores segundo percepção de
existência e frequência de fatores dos principais riscos do ambiente de trabalho
(Raramente / Às vezes) do HU 2009.
122
RESPOSTAS “NÃO ACONTECE”
41,8%
40,8%
37,1%
36,0%
33,6%
32,5%
30,1%
29,8%
28,7%
28,2%
27,4%
27,2%
26,0%
25,8%
24,0%
23,6%
23,4%
22,4%
21,8%
20,8%
20,2%
20,0%
19,2%
17,9%
17,7%
17,2%
16,0%
15,3%
15,2%
14,4%
12,0%
11,4%
11,4%
11,2%
10,5%
10,4%
9,7%
9,6%
8,8%
8,1%
7,2%
6,4%
5,6%
4,8%
1,6%
desconhecimento ou formação insuficiente sobre os riscos do próp...
trabalho isolado que dificulta contato com companheiros
organizão insatisfatória de horário
agressividade, assédio sexual ou violência no trabalho
exposão à umidade excessiva
situação de discriminação no trabalho (assédio moral)
pouca oferta de formação connua
pouca oportunidade de decio sobre a realizão do trabalho
risco de incêndio ou explosão
conflito com clientes ou pacientes
iluminação insuficiente
conflito com chefia ou encarregados
sinalização de saídas de emergência
risco por contato elétrico
duração excessiva da jornada de trabalho
exposão a gases, vapores ou aerosóis
conflito entre trabalhadores
má distribuição do espaço sico
tarefas rotineiras ou monótonas
choques contra objetos móveis/imóveis
má utilização de equipamento de proteção individual
falta de equipamentos de protão individual
risco de contaminação ou segurança no ambiente externo
risco de contato com subsncia qmica
ventilação insuficiente/inadequado
pouca possibilidade de promoção
risco de tropeçar em objetos
risco de queda de materiais
ordem e limpeza insuficientes
exposão à temperatura inadequada
exposão à risco biológico ( secreção, etc)
recursos insuficientes para realizar o trabalho
risco de queda no ambiente de trabalho
exposão ao vírus HIV
manipulação de cargas pesadas
risco de sobrecarga de trabalho
ritmo de trabalho acelerado
lesão por material pérfuro cortante
exposão ao vírus da Hepatite
exposão à ruído
desconforto pela postura adotada por muito tempo
esfoo físico que produz fadiga
exposão á radiação
posturas foadas para realizão de alguma tarefa
risco de contrair infecção/doea
Gráfico 5 - Distribuição proporcional dos trabalhadores segundo percepção de
existência e frequência de fatores dos principais riscos do ambiente de trabalho (Não
Acontece) do HU, Rio de Janeiro, 2009.
123
ANEXO A Instrumento de Coleta de Dados
124
125
126
127
ANEXO B Autorização do autor do questionário
128
ANEXO C Autorização do Comitê de Ética em Pesquisa para o INGECTH-SUS
129
ANEXO D Autorização do Comitê de Ética em Pesquisa para a elaboração do
estudo
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