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Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biodico
Faculdade de Enfermagem
Raquel Fonseca Rodrigues
Sacode a poeira e dá a volta por cima: resiliência em mulheres que
vivenciaram violência sexual
Rio de Janeiro
2010
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Raquel Fonseca Rodrigues
Sacode a poeira e dá a volta por cima: resiliência em mulheres que vivenciaram
violência sexual
Dissertação apresentada, como requisito para
obtenção do título de Mestre, ao Programa de
s-Graduação em Enfermagem, da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Área de concentração: Enfermagem, Saúde e
Sociedade.
Orientadora: Prof
a
.
Dr
a
.
Lucia Helena Garcia Penna
Rio de Janeiro
2010
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CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/CBB
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e cienfi
cos, a reprodução total ou parcial desta
dissertão.
________________________________________ _________________________
Assinatura Data
R696 Rodrigues, Raquel Fonseca.
Sacode a poeira e dá a volta por cima: resilncia em mulheres que
vivenciaram violência sexual / Raquel Fonseca Rodrigues - 2010.
98 f.
Orientadora: Lucia Helena Garcia Penna.
Dissertação (mestrado) Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
Faculdade de Enfermagem.
1. Vítimas de abuso sexual. 2. Violência contra a mulher. 3. Resiliência
(Traço da personalidade). I. Penna, Lucia Helena Garcia. II. Universidade
do Estado do Rio de Janeiro. Faculdade de Enfermagem. III. Título.
CDU
614.253.5
Raquel Fonseca Rodrigues
Sacode a poeira e dá a volta por cima: resiliência em mulheres que vivenciaram
violência sexual
Dissertação apresentada, como requisito para
obtenção do título de Mestre, ao Programa de
s-Graduação em Enfermagem, da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Área de concentração: Enfermagem, Saúde e
Sociedade.
Aprovada em 09 de março de 2010.
Banca Examinadora:
_____________________________________________
Prof
a
.
Dr
a
. Lucia Helena Garcia Penna (Orientadora)
Faculdade de Enfermagem da UERJ
____________________________________________________
Prof
a
.
Dr
a
. Denise Assis Corrêa Sória
Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da UNIRIO
____________________________________________________
Prof.
Dr. Octavio Muniz da Costa Vargens
Faculdade de Enfermagem da UERJ
Rio de Janeiro
2010
AGRADECIMENTOS
A jornada foi longa e com alguns obstáculos que o me deixaram desanimar.
Agradeço a todas as pessoas que em minha vida fazem parte pela força e motivação. Contudo,
quero aqui demonstrar gratidão a algumas pessoas que são fundamentais na minha vida e que
sem elas muitos aprendizadoso teriam sido possíveis.
Aos meus pais, pelo estímulo e apoio incondicional pela paciência e grande amizade
com que sempre me ouviram e sensatez com que sempre me ajudaram. A orientação, ajuda e
compreensão impulsionaram-me deveras para as lutas e conquistas. Por me oferecerem
sempre um ambiente seguro, respeitoso e repleto de amor para eu crescer e tornar-me cada
vez mais feliz.
Ao meu amado Bruno que, pelo inestimável apoio, preencheu as diversas falhas que
fui tendo por força das circunstâncias. Pela paciência e compreensão reveladas ao longo
destes meses, pelo incansável incentivo a concretização de mais essa etapa na minha vida
profissional, mas, sobretudo, pelos momentos prazerosos que sempre me proporcionou.
Ao meu irmão Rafael que, mesmo não estando em alguns momentos ao meu lado,
sempre foi meu incentivo para crescer na vida e assim ajudarmos um ao outro. Além de me
proporcionar segurança por saber que posso contar com ele sempre que for preciso.
Ao meu enteado Bernardo que, com sua ingenuidade e felicidade de viver, alegrou
muitos dos meus dias cansativos de estudo. Além de querer seu bem, quero ajudá-lo na
construção da resiliência em sua vida.
Aos meus sogros José Augusto e Marluci que, com amor, carinho e admiração sempre
torcem pela minha vitória e se disponibilizam a me ajudar em todo momento.
À minha cunhada Patrícia e minha sobrinha Ana Carolina pela alegria que me traziam
com seus sorrisos, pelas palavras de carinho e, principalmente à Carol pelas suas estripulias
encantadoras.
À minha querida amiga e professora Lucia Helena Garcia Penna por compartilhar de
sua sabedoria, pelo inestimável incentivo e pela crença em minha pessoa. Pela sua dedicação
ao que faz e pelos gestos e palavras de conforto nas horas mais difíceis que passamos juntas.
Às amigas: Joana Iabrudi Carinhanha, Valéria Aliprandi Lucido, Simone Dias
Sisnando, Renata Saiga Ornellas e Izabella Martingil, por estarem juntas desde a graduação
dando-me força e incentivo, por sempre serem honestas, gentis e amigas de verdade, cada
qual com sua particularidade.
Aos companheiros de trabalho do Instituto Fernandes Figueira, a toda equipe do
Departamento de Ginecologia, em especial a equipe maravilhosa do Centro Cirgico
Ginecológico, pela compreensão e apoio nas minhas ausências para a realização deste
trabalho. Sobretudo pelo acolhimento que cada um, principalmente do centro cirgico,
proporcionou-me e pelo aprendizado do verdadeiro trabalho em equipe. Sem vocês muitas
etapas seriam difilimas de serem transpostas.
À equipe de profissionais do Instituto Municipal da Mulher Fernando Magalhães,
principalmente às enfermeiras Fátima Inês e Valéria e ao funcionário do arquivo Jo, pelo
acolhimento e disponibilidade para colaborar na execução deste trabalho, facilitando a
identificação das mulheres que contemplariam esse estudo assim como o fornecimento de
informações do serviço que muito auxiliaram na estruturação do trabalho e da coleta de dados.
Aos professores Dr. Octavio Muniz da Costa Vargens, Drª Denise Assis rrea ria,
Drª Norma Valéria Dantas de Oliveira Souza e Drª Maria Aparecida Vasconcelos Moura pelo
carinho e solicitude em dividir suas ricas experiências e sabedorias. Almejando sempre a
melhoria da qualidade de vida das mulheres e da assistência prestada pelos profissionais de
saúde da área da Enfermagem e o crescimento individual e profissional dos acadêmicos e
profissionais que se tornam propagadores de seus conhecimentos.
Aos docentes e funcionários da Faculdade de Enfermagem da UERJ que me
acompanharam, auxiliaram e orientaram minha trajetória na pós-graduação com carinho,
paciência e respeito.
Às mulheres desse estudo que acreditaram em mim e propuseram-se a dividir suas
experiências a fim de ajudar outras mulheres que, como elas, passam ou passaram pela
adversidade da violência contra a mulher.
E por último e não menos importante, à Deus que com sabedoria iluminou meu
caminho, mesmo que em alguns momentos esses caminhos tenham sido repletos de
obstáculos, e me guiou nas conquistas maravilhosas em minha vida.
RESUMO
RODRIGUES, Raquel Fonseca.
Sacode a poeira e dá a volta por cima:
resiliência em
mulheres que vivenciaram violência sexual. 2010. 98f. Dissertação (Mestrado em
Enfermagem) – Faculdade de Enfermagem, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2010.
O objeto deste estudo foi
o processo de constrão da resiliência em mulheres que
vivenciaram violência sexual
. A violência sexual contra a mulher é um problema antigo no
mundo, onde o Brasil dispõe de elevadas estatísticas. As justificativas para a vioncia contra
a mulher constroem-se sob normas e preceitos sociais de gênero, os quais definem as
diferenças nos papéis e responsabilidades dos homens e das mulheres na sociedade e na
família. As consequências físicas e psicológicas para a mulher em situação de violência
sexual são alarmantes, podendo ocasionar traumas por longo prazo ou até mesmo para a vida
inteira, impedindo-a de retomar seus direitos humanos e de se reinserirem em suas famílias e
na sociedade. Entretanto, após a vivência de uma violência algumas mulheres têm seus
comportamentos transformados a fim de retomarem o curso de suas vidas. Tais
comportamentos dizem respeito à postura resiliente diante à violência sexual vivida e à sua
superação. Reconhecendo este comportamento como uma nova possibilidade de promoção da
saúde dessas mulheres, traçou-se como objetivo geral do estudo compreender o processo de
construção da resiliência em mulheres que vivenciaram violência sexual. Desenvolveu-se uma
pesquisa exploratória com abordagem qualitativa, realizada através da coleta da hisria de
vida com seis mulheres que vivenciaram violência sexual atendidas em um hospital municipal
do Rio de Janeiro (Brasil), referência no atendimento dessas mulheres. Os dados produzidos
foram interpretados à luz da modalidade temática da análise de conteúdo de Bardin. Deste
processo emergiram duas categorias:
A violência sexual vivida expressa nas atitudes do
cotidiano: sentimentos e emoções
e
A resiliência de mulheres em situação de violência
sexual
. Na primeira categoria identificaram-se as atitudes, sentimentos e emoções decorrentes
da adversidade. Destacaram-se os sentimentos de medo, tristeza, culpa e perda como sendo as
principais mudanças ocorridas com a violência. Na segunda categoria emergiram elementos
existentes na vida das mulheres que vivenciaram violência sexual e que favoreceram no
processo de construção da resiliência, sendo os aspectos individuais, familiares e sociais. A
pesquisa considerou que a resiliência é elemento fundamental na promoção da saúde das
mulheres que vivenciaram vioncia sexual assim como uma oportunidade de melhoria de sua
qualidade de vida, uma vez que reduz os agravos decorrentes dessa vioncia e incorpora
sentido de vida, serenidade, autoconfiança, autossuficiência e perseverança na vida da mulher.
Contudo, a resiliência para ser desenvolvida precisa além dos aspectos individuais da mulher,
uma rede de apoio familiar e social significativa e eficaz. A consulta de Enfermagem
estabelecida nos princípios da humanização, integralidade e dialogicidade entre profissional e
a mulher, seja nas Estratégias de Saúde da Família ou nos ambientes ambulatoriais e
hospitalares, caracteriza-se como campo fértil na promoção e apoio a essa rede familiar e
social. A enfermeira torna-se facilitadora na construção da resiliência em mulheres em
situação de violência sexual, onde é preciso oferecer escuta sensível e sem preconceitos,
incentivar a construção de sentido de vida, a recuperação da autoestima e autoconfiança e de
sua reinserção social.
Palavras-chave:
Saúde da Mulher. Violência contra a Mulher. Violência Sexual à Mulher.
Resiliência.
ABSTRACT
The object of this study was the process of building resilience in women who
experienced sexual violence. Sexual violence against women is an old problem in the world,
where Brazil has the highest statistics. The justifications for violence against women are built
in norms and social precepts of gender, which define the differences in roles and
responsibilities of men and women in society and family. The physical and psychological
consequences for women in situations of sexual violence are alarming and can cause injury by
long-term or even for life, preventing her from resuming their human rights and his re-
introduce the family and society. However, after the experience of violence some women
have changed their behavior in order to resume the course of their lives. These behaviors
relate to resilient stance on sexual violence experienced, which concerns the overcoming of
adversity. Recognizing this behavior as a new opportunity to promote the health of these
women, traced to the general objective of the study: understanding the process of building
resilience in women who experienced sexual violence. Developed an exploratory qualitative
approach, carried out by collecting life history with six women who experienced sexual
violence treated at a municipal hospital in Rio de Janeiro (Brazil), a reference to meet these
women. The data obtained were interpreted in the light of a thematic content analysis of
Bardin. From this process emerged two categories: sexual violence experienced in the
expressed attitudes of everyday life: feelings and emotions and the resilience of women in
situations of sexual violence. In the first category identified the attitudes, feelings and
emotions arising from adversity. The highlights were the feelings of fear, sadness, guilt and
loss as the main changes to the violence. In the second category emerged existing elements in
the lives of women who experienced sexual violence and who favored the process of building
resilience, and individual aspects, and social allowances. The research found that resilience is
a key element in promoting the health of women who experienced sexual violence as well as
an opportunity to improve their quality of life, as it reduces the damages resulting from such
violence and incorporates the sense of life, serenity, confidence, self-reliance and
perseverance in the life of the woman. However, the resilience need to be developed than the
individual aspects of the woman, a network of family and social support meaningful and
effective. Consultation with nursing established on the principles of humanization, integrity
and capacity for dialogue between professionals and women, whether in Strategies Family
Health or hospital outpatient settings and is characterized as a fertile ground to promote and
support the family and social network. The nurse becomes a facilitator in building the
resilience of women in situations of sexual violence, where you need to provide sensitive
listening and without bias, promoting the construction of meaning in life, recover their self-
esteem and self-confidence and its re-insertion social.
Keywords: Women’s Health. Violence against women. Sexual violence against women.
Resilience.
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
...........................................................................
10
1
APRESENTAÇÃO DA TEMÁTICA
.................................................................
15
1.1
A mulher em situação de violência
......................................................................
15
1.2
A mulher em situação de violência sexual
..........................................................
20
1.3
A resiliência e a mulher em situação de violência sexual
..................................
25
1.3.1
A promoção da resiliência pelos profissionais de sde à mulher em situação de
violência sexual
...................................................................................................... 29
2
PROPOSTA METODOLÓGICA
.......................................................................
30
2.1
Caracterização do estudo
.....................................................................................
30
2.2
Cenário
..................................................................................................................
30
2.3
Protagonistas Sociais
............................................................................................
31
2.4
Técnica de coleta de dados
...................................................................................
33
2.5
Análise dos dados
..................................................................................................
34
2.6
Responsabilidade Ética da pesquisa
...................................................................
36
3
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
............................................. 37
3.1
Perfil das mulheres em situação de violência sexual atendidas no
IMMFM/SMS/RJ
.................................................................................................
37
3.2
A violência sexual vivida expressa nas atitudes do cotidiano: sentimentos e
emoções
..................................................................................................................
41
3.3
A resiliência de mulheres em situação de violência sexual
...............................
51
3.3.1
Aspectos Individuais
..............................................................................................
52
3.3.2
Aspectos Familiares – o apoio estrutural
................................................................
58
3.3.3
Aspectos Sociais – a rede de apoio ampliada
.........................................................
61
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
...............................................................................
67
REFERÊNCIAS
...................................................................................................
70
APÊNDICE A
Número de mulheres entrevistadas por afirmativa da Escala de
Resiliência .............................................................................................................. 84
APÊNDICE B
– Escore da Escala de Resiliência das mulheres entrevistadas ..... 86
APÊNDICE C
– Ficha de Identificação ................................................................
87
APÊNDICE D
Roteiro para a coleta da História de Vida das mulheres
entrevistadas ...........................................................................................................
89
APÊNDICE E
– Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ...........................
90
APÊNDICE F
– Quadro demonstrativo das categorias ........................................ 91
APÊNDICE G
– Carta de solicitação do campo de pesquisa à direção do
Instituto Municipal da Mulher Fernando Magalhães (IMMFM/SMS/RJ) ............. 92
APÊNDICE H
Carta ao Comide Ética e Pesquisa da Secretaria Municipal
de Saúde do Rio de Janeiro (SMS – RJ) ................................................................ 93
APÊNDICE I
Quadro demonstrativo do perfil das mulheres em situação de
violência sexual atendidas no Instituto Municipal da Mulher Fernando
Magalhães (IMMFM/SMS/RJ)............................................................................... 94
ANEXO
– Escala de Resiliência ............................................................................
96
10
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A presente pesquisa versa sobre a temática da resiliência em mulheres que
vivenciaram violência. Tem como objeto o processo de construção
da resiliência em mulheres
que vivenciaram a violência sexual, valorizando o cuidado que ela recebeu em sua vida.
O interesse por este objeto surgiu no decorrer da formação e experiência profissional,
aonde, desde a graduação em enfermagem venho realizando estudos na área da saúde da
mulher. Embora os enfoques não fossem a violência, em muitos momentos da prática
profissional como enfermeira obstétrica e docente na área da saúde e mulher, identifiquei
situações de violência que as clientes relatavam ou apontavam estar vivenciando.
Ao trabalhar em setores como a maternidade e a enfermaria de ginecologia têm-se a
oportunidade de cuidar de mulheres em diferentes etapas de vidas e em diversos momentos do
seu atendimento (ambulatório, admissão, internação e no centro cirúrgico). Muitas delas, em
algum momento apontam vivenciar vioncias, seja física, psicológica ou sexual. Entretanto,
verifica-se que o cuidar dessas mulheres, geralmente, é centrado numa perspectiva biomédica,
onde o foco do atendimento prima pela resolutividade do diagnóstico da patologia e seus
efeitos, sendo pouco valorizadas as queses presentes no contexto social dessa mulher e que
podem influenciar o processo saúde-doença como as pprias situações de violência.
Uma em cada três mulheres no mundo sofre algum tipo de vioncia ao longo de sua vida;
entre 40 e 70% dos homicídios de mulheres são cometidos por seus pprios parceiros
íntimos; entre as causas de doenças, a violência contra as mulheres está listada acima dos
dados somados de acidentes de trânsito e malária
1
.
Segundo dados fornecidos pela Ipas Brasil
2
, a violência contra a mulher é um sério
problema de saúde pública, assim como uma violão dos direitos humanos. A Organização
Mundial de Saúde (OMS)
3
destaca alguns pontos importantes no que diz respeito à violência
contra a mulher, tais como: o fato das mulheres terem maior risco de vivenciarem violência
realizada por um homem conhecido; os maus tratos e o abuso sexual, geralmente, estão
presentes nos casos de violência física e o ato violento contra a mulher supera os limites
sociais, religiosos, étnicos e está presente em qualquer fase de sua vida.
As justificativas para a violência contra a mulher derivam frequentemente de normas e
preceitos sociais de gênero, os quais definem os papéis e responsabilidades de homens e
mulheres na sociedade e na família
4
. O homem considerando que a mulher que convive com
11
ele falhou no cumprimento de sua função, dos limites estabelecidos ou desafiou-o em seu
papel, tem o direito, aceitável ou mascarado nas normatizações sociais, de reagir a tudo isso
violentamente
4
.
No que diz respeito à violência sexual, a Rede Nacional Feminista de Saúde e Direitos
Reprodutivos
5
definiu-a como ato que força uma pessoa a estabelecer contato físico, sexual ou
verbal, ou fazer parte de outras relações sexuais utilizando-se de força, intimidação, coerção,
chantagem, suborno, manipulação, ameaça ou qualquer outro mecanismo que anule ou limite
a vontade pessoal
. R
evelando um complexo contexto de poder que marca as relações sociais
entre os sexos.
Dados levantados pelo Instituto Patrícia Galvão, na Costa Rica 67% das mulheres
maiores de quinze anos sofreram ao menos um incidente de violência física ou sexual em
algum momento de sua vida. 33% das mulheres mexicanas com mais de quinze anos sofrem
abuso e vioncia. No âmbito do Brasil estima-se que a cada quinze (15) segundos uma
mulher é violentada no país
6
.
As circunstâncias geradoras e geradas pela violência acabam comprometendo a
qualidade de vida e de saúde das mulheres. Normalmente essas mulheres estão mais
propensas a desenvolverem depressão, ansiedade, sintomas psicossomáticos, baixa
autoestima, isolamento social, distúrbios do sono, dores abdominais recorrentes, lombalgias
crônicas, cefaléias, contues localizadas, tentativas e ideias de suicídios, uso abusivo do
álcool e ou drogas, automutilação, problemas de alimentação, disfunções sexuais, problemas
na saúde reprodutiva (transmissão de infecções sexualmente transmissíveis – ISTs/AIDS,
gestações indesejáveis, precipitações de problemas ginecológicos entre outros). Ou seja,
acabam apresentando sérios comprometimentos em sua saúde física e mental
3, 7, 8, 9, 10
.
A violência contra a mulher não é um fenômeno novo, vem tomando maior
visibilidade a partir das últimas décadas com a luta dos movimentos feministas pela igualdade
de direito. A partir de sua inclusão na pauta do setor saúde, alguns estudos
3, 7, 8, 9, 10
vêm
apresentando relações existentes entre a sua ocorrência e a interferência na condição da saúde
da mulher que a vivencia. E muitas têm sido as ações governamentais e não governamentais
realizadas no sentido de prevenir a vioncia e propor formas de identificar e cuidar da mulher
que a vivencia, visto que muitas delas passam a ter agravos sobre sua saúde.
Cabe ressaltar que é fato a gravidade sobre a vida da mulher de um ato de vioncia
vivido em qualquer fase do seu ciclo vital. Entretanto, também é possível reconhecer que, de
uma adversidade vivida, algumas mulheres têm seus comportamentos transformados e ou
aprendidos como forma de retomar o curso normal de suas vidas
3, 11
. Tais posturas o
12
consideradas por diversos autores como sendo atitudes resilientes diante da adversidade
11, 12,
13, 14, 15
. Assim, existem mulheres que emergem da vioncia vivida fortalecidas e com
crescimento pessoal e social, considerando assim estas mulheres resilientes.
A resiliência, segundo Grotberg
16
, é uma capacidade universal que permite que uma
pessoa, grupo ou comunidade previna, minimize ou supere os efeitos nocivos das
adversidades”. Corroborando esse conceito Walsh
11
refere que as qualidades resilientes
possibilitam às pessoas se curarem de feridas dolorosas, assumirem suas vidas e irem em
frente para viver e amar plenamente”.
Tradicionalmente o trauma, os danos, os problemas, a carência e as limitações são
focados, por estudiosos e pelos profissionais de saúde, em uma complexidade cada vez maior
a fim de encontrarem causas e consequências previsíveis e maneiras para minimizar ou
corrigir tais desvios ou adversidades. Na resiliência, ao contrário, enfoca-se e enfatiza-se os
recursos das pessoas e grupos sociais para irem em frente” as adversidades (violência, morte,
doença terminal, relações interpessoais conturbadas entre outras)
14
. Envolve lutar
eficientemente, experimentar sofrimento e coragem, enfrentar dificuldade interpessoal e
internamente e superar as adversidades
17
.
Diante da possibilidade das mulheres que vivenciaram violência sexual enfrentarem tal
adversidade e retomarem seu cotidiano, passamos a refletir sobre as perspectivas de cuidar
que auxiliem a população feminina a melhor encarar tais adversidades e desenvolver condutas
que colaborem com a melhoria de sua qualidade de vida, principalmente na reconquista de sua
cidadania.
Nesta concepção de cuidado tem-se a profissional enfermeira
*
. Em sua graduação é
estimulada a desenvolver uma visão crítica em relação à realidade sócio-político-ecomica
de seu país, visando uma participação efetiva e pró-ativa no âmbito da saúde a partir de uma
prática profissional comprometida com os princípios éticos e legais
18
.
Outras diretrizes e ações que contribuem para o incentivo dessa assistência integradora
e humanizada são as traçadas pela Política Nacional de Assistência Integral à Saúde da
Mulher
8
. As mesmas apontam para a importância de valorizar o contexto social que circunda
as necessidades das mulheres no desenvolvimento de um cuidar, seja no período reprodutivo
ou fora dele. No sentido de se proporcionar um cuidar a partir dos princípios da integralidade
faz-se necessário ampliar os conhecimentos a respeito das queses subjetivas que permeiam a
*
Optamos pelo uso do feminino ao referir “enfermeiras”, “profissionais enfermeiras” em decorrência de esse gênero
constituir a realidade majoritária no universo da Enfermagem.
13
realidade social da população feminina, em particular de mulheres que vivenciam a violência
sexual, e que possam interferir sobre o cotidiano das mesmas.
Calcado nessa realidade, o objetivo geral deste estudo está em compreender o processo
de construção da resiliência em mulheres que vivenciaram a violência sexual. Compreender
essas formas de superação e enfrentamento da violência vivida poderá favorecer no
aperfeiçoamento da assistência às mulheres, principalmente as que vivenciaram este tipo de
violência, estimulando nestas as condutas resilientes. Além disso, fornecerá informações para
que os profissionais de saúde possam contribuir na formação de mulheres resilientes e na
prestação de uma assistência mais eficiente para esse grupo que vivenciou a vioncia sexual.
Os dados coletados poderão também ser incluídos nos acervos de pesquisas nessa área, os
quais ainda são escassos se comparado ao número de mulheres que vivenciam a vioncia no
mundo.
A presente pesquisa integra-se às discussões do grupo de estudo – Mulher, Violência e
Saúde (MUVIS) do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Enfermagem (NEPEN-MUSAS),
vinculado ao programa de pós-graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FENF-UERJ). Neste cleo estuda-se a violência
contra a mulher em suas diferentes formas, olhares, repercussões, condutas e enfrentamentos.
Queses Norteadoras
- As mulheres que vivenciaram violência sexual atendidas em uma unidade
blica de saúde do município do Rio de Janeiro são resilientes?
- Como se expressa a resiliência em mulheres que vivenciaram a vioncia
sexual atendidas em uma unidade pública de saúde do município do Rio de
Janeiro?
- Quais são os fatores de risco para a vivência da violência sexual e os fatores
de proteção presentes no cotidiano das mulheres que vivenciaram a violência
sexual atendidas em uma unidade pública de saúde do município do Rio de
Janeiro?
Objetivos Específicos
- Identificar os fatores de risco e de proteção presentes no cotidiano de
mulheres que vivenciaram a violência sexual atendidas em uma unidade
blica de saúde do município do Rio de Janeiro.
14
- Identificar o modo como se expressa a resiliência em mulheres que
vivenciaram vioncia sexual atendidas em uma unidade pública de saúde do
município do Rio de Janeiro.
- Discutir o processo de construção da resiliência em mulheres que
vivenciaram vioncia sexual atendidas em uma unidade pública de saúde do
município do Rio de Janeiro.
15
1
APRESENTAÇÃO DA TEMÁTICA
1.1
A mulher em situação de violência
Me querem mãe e me querem fêmea,
me querem líder e me fazem submissa,
me fazem omissa e me cobram participação,
me impedem de ir e me cobram a busca,
me enclausuram nas prendas do lar e me cobram conscientização,
me tolhem os movimentos e me querem ágil,
me castram os desejos e me querem no cio,
me inibem o canto e me querem música,
me apertam o cinto e me cobram liberdade.
Me impõe modelos, gestos, atitudes e comportamentos.
E me querem única.
Me castram, podam, falam e decidem por mim.
E me querem plena...
Hilma Renauro
Segundo Tavares e Pereira
19
, a violência é uma violação do direito de liberdade
*
e do
direito de ser sujeito constituinte da própria hisria. De origem latina o vocábulo, oriundo da
palavra
vis
, significa força, referindo-se a conflitos autoritários, lutas de poder, domínio, posse
e aniquilamento do outro e de seus bens
21
.
A Organização Mundial de Saúde - OMS
3
, no Informe Mundial sobre a Violência e a
Saúde, acrescenta que a violência é resultado de ação recíproca e complexa de fatores
individuais, relacionais, sociais, culturais e ambientais. Afirma que compreender a vinculação
entre esses fatores é importante para alcançar a prevenção da violência e para tal, recorre-se
ao modelo ecológico. Este modelo aprofunda a relação entre os fatores individuais e
contextuais e considera a violência como produto de muitos níveis de influência sobre o
comportamento do indivíduo.
*
A liberdade é a capacidade de autodeterminação para pensar, querer, sentir e agir
20
.
16
Figura Modelo ecológico para compreender a violência
Fonte: Organização Mundial de Saúde. World report on violence and health. Geneva: World Health
Organization, 2002.
A OMS
3
explica os diferentes níveis que compõem o modelo ecológico da violência.
O primeiro vel é o individual. Corresponde às características do indivíduo que aumentam a
probabilidade de ser vítima ou propagadora de atos violentos. O nível relacional explica que o
comportamento do indivíduo e suas experiências são configurados pelos companheiros,
parentes e família. Em casos de convívios em ambientes violentos há uma maior
probabilidade de construir indivíduo violento. O terceiro nível corresponde ao da comunidade,
onde estudos mostram que determinadas comunidades favorecem a violência mais que outras,
uma vez que é neste contexto que os relacionamentos sociais se concretizam. O quarto e
último nível do modelo ecológico é o social. Neste nível incluem-se as políticas sanitárias,
educativas, econômicas e sociais que podem ou não manter altos níveis de desigualdade
econômica e ou social na sociedade, favorecendo ou não a banalização e a propagação da
violência.
Ao aplicarmos esse modelo na população feminina, considerada uma das parcelas da
sociedade que está mais sujeita a vivenciar a vioncia, encontramos nas mulheres um
exemplo claro. As mulheres, desde a antiguidade, vivem em um contexto sócio-histórico-
cultural de subjugação e dominação masculina característico da sociedade patriarcal, onde a
mulher tem seus direitos cerceados.
Desde a Idade Média na Europa, América do Norte e América Latina a mulher
vivencia violência, sendo esta diretamente ligada à questão de gênero. Porém, nesta época os
maus-tratos às mulheres eram aceiveis como forma de corrigi-las de seus erros. No Brasil,
no período Colonial, as agressões físicas e psicológicas realizadas contra as mulheres eram
ordenações do reinado e permitia que os maridos punissem suas esposas com o uso da
chibata
22
.
Nos séculos XVI e XVII, em diversos países europeus, o reinado paterno e marital
predominou, o qual permitia ao homem julgar e punir livremente sua família. Desse modo, a
17
mulher ocupava uma posição submissa em relão ao homem, sendo estereotipada como
fraca, passiva e destituída de poder na área pública. Recebia ensinamentos para o casamento,
que incluía cuidar da casa, criar os filhos e tolerar as relações extraconjugais e ou os atos
violentos do homem
23
.
Contudo, durante o Império, as mulheres deram força às suas lutas para amplião de
seus papéis na sociedade brasileira. Nesse momento, conseguiram-se avanços na luta por
direitos nos campos do trabalho, educação e política. Áreas estas ocupadas até o momento
pelos homens
24
.
A partir do início do século XX, as mulheres conseguiram inserir-se no mercado de
trabalho, porém o capitalismo, regime governamental da época, manteve em sua estrutura os
modelos de homens racionais, fortes, egoístas e autoritários e de mulheres puras, sensíveis,
emotivas, fiéis e honestas. Instituiu, com isso, táticas dominadoras que conceberam a ambos
os sexos funções específicas e subjugação mútua com predominância masculina
25
.
Entretanto, a partir da década de 50 as mulheres passaram a questionar as estruturas
sociais capitalistas, ou seja, as teorias universais, a discriminação, a segregação e o
silenciamento
26
.
Com a entrada da mulher no mercado de trabalho muitas mudanças se efetivaram em
relação ao seu papel social e nos princípios do modelo familiar. No entanto, segundo Paoli
27
e
Izumino
28
, vale ressaltar que a inserção da mulher na esfera de produção não se deu pelo
reconhecimento da sociedade da igualdade dos sexos. Esta inserção foi facilitada pela crise
econômica que atingia a população nessa época. Logo, o trabalho feminino foi seguido por
uma marca de inferioridade que lhe foi imputada e que está presente até hoje
27, 28
.
Percebe-se então que, como referido no resgate hisrico do papel da mulher perante a
sociedade, muitas conquistas foram alcançadas, porém a questão de gênero presente na esfera
blica e privada não mudou.
Gênero é uma construção sociocultural desigual entre mulheres e homens, onde estes
desempenham papéis sociais diferenciados estruturados historicamente, criando extremos de
dominação e submissão
29, 30
. E nesse contexto, desde os tempos mais remotos, as mulheres
têm vivido sob uma realidade de dominação e subalternidade.
Diante desse processo histórico-social do papel da mulher na sociedade, a violência
contra a mulher, segundo muitos estudiosos
15, 31, 32
, é entendida como uma violência de
nero, estruturada por um padrão de relações sexuais hierárquicos’, onde as mulheres, pelo
fato de serem mulheres, vivenciam violência.
18
Com a visibilidade dos elevados número de mulheres em situação de violência
cometidos pelos homens o só em âmbito privado, mas também no âmbito público, a
sociedade brasileira foi obrigada a denunciá-la e lutar por punões aos seus agressores.
Consequentemente, a partir da década de 80 os movimentos feministas conseguiram, junto ao
Estado, criar instituições específicas no combate, na prevenção e no tratamento dos agravos à
mulher em situação de vioncia. Com isso, formaram-se as Comissões de Defesa dos
Direitos da Mulher e em 1983 o Conselho Estadual da Condição Feminina, onde foram
priorizadas as seguintes questões para a mulher: trabalho, educação, saúde e combate à
violência
27
. Já em 1985 criou-se a primeira Delegacia de Defesa da Mulher com o intuito de
coibir a violência contra a mesma. Essas Delegacias, assim como os Conselhos,
disseminaram-se pelo Brasil nos níveis municipais, estaduais e federais
33, 34
. Vários órgãos a
partir dforam criados para apoio judico e de proteção, como as Casas de Abrigo. E em
1990 ações de grupos feministas conseguiram influenciar as decies jurídicas brasileiras no
que diz respeito aos casos de abuso físico.
Em 1994 a Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) adotou
a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e o
Brasil ratificou tal Convenção em novembro de 1995
35
. Essa Convenção, além de muitos
papéis, representou um importante marco no que diz respeito ao esforço dos movimentos
feministas em oferecer uma visibilidade à existência de mulheres em situação de violência e
ordenar dos Estados-membros da OEA sua erradicação e prevenção.
Nos tempos atuais o governo tem investido em diversas políticas blicas de
enfrentamento à violência contra a mulher. Dentre elas, destacamos as notificações
compulsórias no setor saúde que se tornaram obrigatórias para os casos de mulheres em
situação de vioncia. Estas estão decretadas na Lei 10.778 de 24 de novembro de 2003
36
,
que ordena a notificação compulsória dos casos de violência à mulher atendidos em serviços
de sde públicos e privados em todo o terririo nacional. Isto significa que a violência
contra a mulher deve ser tratada como um problema de saúde pública que causa epidemia ou
endemia.
Tivemos também em 07 de agosto de 2006 a alteração do Código Penal Brasileiro em
relação à pena aos agressores de mulheres. O Brasil triplicou a pena para agressões
domésticas contra mulheres e aumentou os mecanismos de proteção das vítimas. A Lei de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher Lei Maria da Penha”
37
permite que
agressores sejam presos em flagrante ou tenham a prisão preventiva decretada. Também acaba
19
com as penas pecuniárias, aquelas em que o réu é condenado a pagar cestas básicas ou multas.
A pena máxima passa de um (1) ano de detenção para três (3).
Acrescido a isso, nos últimos trinta (30) anos vem ocorrendo um aumento na
participação feminina na vida blica e no orçamento familiar. Am disso, a atividade sexual
das mulheres vem sofrendo modificações, as quais esta não esmais associada à reprodução
e ao casamento. Essas mudanças m tido uma aceitação gradativa da sociedade. Porém, essa
divisão do trabalho e da vida sexual não é homogênea entre todas as mulheres
38
. Em muitas
sociedades brasileiras o machismo ainda mantém-se arraigado em sua estrutura social,
sustentando, com isso, um sistema de ideias que perpetua ser bom e normal que o homem
controle não só o mercado, o governo e as atividadesblicas como também sua esposa
23
.
A concretização dessa contínua realidade autoritária se dá com os dados alarmantes
divulgados pelas pesquisas especializadas em violência, principalmente vioncia à mulher.
Segundo Cabral
39
, em 1997 no Rio de Janeiro foram registrados 5098 casos de violência
doméstica contra a mulher por mês, correspondendo a sete mulheres por hora sendo
agredidas. No caso de países da América Latina e Caribe, estudos apontam que 25 a 50% das
mulheres são alvos de vioncia doméstica, 33% delas sofrem abuso sexual entre dezesseis e
quarenta e nove anos de idade e que pelo menos 45% das mulheres desses países sofrem
ameaças, insultos e destruições de bens pessoais
23
. Outro dado apontado por Carreira e
Pandjiarjian
40
é que no Brasil estima-se que 70% das mulheres agredidas vivenciaram a
violência dentro de casa e foram praticadas pelo marido ou parceiro íntimo.
Segundo Almeida
41
, a violência é extremamente prejudicial à saúde da mulher.
Reafirmando essa citação, Penna
42
assegura que a violência contra a mulher, seja ela qual for,
é complexa e detentora de determinantes sociais e culturais que podem significar agravo à
saúde e ameaça à vida, às condições de trabalho, às relações interpessoais e à qualidade de
existência”.
Dentro desses casos registrados, as denúncias mais frequentes de violência contra a
mulher no domicílio são as agressões físicas, psicológicas e sexuais
43
. Ao se tratar da
violência sexual, dados divulgados pela Ipas Brasil
44
estimam que este tipo de violência
acometa doze (12) milhões de pessoas em todo o mundo. Somando a isso, Drezett
45
informa
que a cada 6,4 minutos nos EUA ocorre uma agressão sexual e que uma em cada quatro (4)
mulheres experimentou, durante a sua infância ou adolescência, relação sexual não
consentida.
20
1.2
A mulher em situação de violência sexual
Olho-te deitado no chão, dormindo
na lassidão abandonado, nos braços de Morfeu.
Nos roncos ressoando no quarto
decifro a mensagem da singularidade masculina,
machista, dono de todas as verdades,
todas as vontades, todos os desejos.
E eu me sinto um trapo, um nojo
naltipla dubiedade de papéis:
ora escrava, ora senhora, ora súdita, ora majestade,
ora serva, ora rainha, ora discípula, ora mestra.
Mas, em todas as faces, todas entidades,
na essência de cada potestade a alma de eu mulher:
cil, explosiva, maternal, eu sentimento, eu razão, passiva,
frágil, impulsiva, inconstante, destemida, protetora, intuitiva,
eu cabeça, coração, vida, eu mulher!
Desce do pedestal - sê homem,
me vejas mulher!
Eu mulher!
Ione Jaeger
A violência sexual é definida pela OMS
3
como todo ato sexual, tentativa de consumar
um ato sexual, comentários ou insinuões sexuais não desejadas ou ões para comercializar
ou utilizar de qualquer outra forma a sexualidade de uma pessoa, independentemente da sua
relação com o agressor. E pode ocorrer em qualquer lugar, inclusive seu lar ou ambiente de
trabalho.
Por muito tempo a violência contra a mulher foi consentida na sociedade patriarcal,
onde designava ao homem o papel ativo na relação social e sexual e à mulher o papel sexual
passivo e restrito a reprodução
38
.
Nas últimas décadas a atividade sexual da mulher na sociedade vem sofrendo
modificações. Esta não tem sido tão vinculada à reprodução e ao casamento. Todavia, essa
modificação da atividade sexual, assim como a participação da mulher na esfera blica, não
ocorre de maneira igualitária em todas as parcelas da sociedade. Primeiramente, porque ainda
grandes diferenças nas propostas de relações sexuais sociais entre homens e mulheres são
mantidas. Enquanto estas, mesmo exercendo uma atividade sexual fora do casamento,
almejam uma relação de afeto e compromisso, os homens ainda têm as mulheres como
21
objetos nas relações as quais se desejam adquirir e exibir
46
. Além disso, em muitas sociedades
o papel autoritário do homem na relação com a mulher, principalmente na relação sexual,
ainda está presente. Sobretudo as mulheres que se encontram casadas. Estas não têm, em
alguns países, a violência sexual conjugal reconhecida pela sociedade e pelas leis jurídicas.
Estes não aceitam que as mulheres se neguem a ter relação sexual com seus maridos, a não ser
em alguns casos após o parto e durante a menstruação, ocasionando assim uma realidade
violenta com a mulher casada
47
.
Segundo Jacobs
48
, a Organização das Nações Unidas - ONU divulgou no Fórum
Mundial Urbano o relatório O Estado das Cidades do Mundo: 2004-2005”. Neste informou
que as mulheres latinas, particularmente as do Brasil e da Argentina, estão entre as mais
propensas em vivenciar crimes sexuais no mundo. Dados também apresentados neste relatório
dizem que as taxas de violência sexual entre as mulheres latinoamericanas estão em torno de
5%, enquanto que nos países africanos esta taxa se apresenta entre 2,4% e na Ásia é de 1,6%.
Demonstrando que nos pses latinoamericanos a taxa de violência sexual contra as mulheres
está duas vezes maior que na África e quase cinco vezes maior que na Ásia.
Assim, como o relatório critica a legislação brasileira no que diz respeito à violência
doméstica, Vilela e Gera
49
e Teles e Melo
30
afirmam que a violência sexual contra a mulher
no Brasil, mesmo sendo muito frequente no lar, não é legalmente reconhecida. O digo
Penal Brasileiro
50
o a assinala como estupro nem como crime, uma vez que é cometida no
seio do casamento. Saffioti
51
acrescenta ainda que a violência sexual contra a mulher é
considerada como ato violento quando praticada por uma pessoa desconhecida à mulher.
Além disso, a violência sexual tem também embutida no seu feito, além do motivo de
expressão de poder e domínio do agressor para com a vítima, a utilização daquela como arma
de guerra. Passa a simbolizar uma forma de ataque ao inimigo, conquistando e degradando as
mulheres e os combatentes capturados. É usada também como forma de castigar as mulheres
por terem transgredido as normais sociais e morais, e, ainda, é praticada nos presídios como
forma de demonstração de poder e respeito ao agressor e castigo ao crime cometido. Mas
todas essas formas do uso da violência sexual, quando cometida contra a mulher, está,
normalmente, vinculada a questão de gênero, ou seja, de dominação do sexo masculino em
relação ao sexo feminino
3
.
Ainda conforme o Código Penal Brasileiro
50
em vincia, a violência sexual é
considerada uma violação pesada em três situações: no estupro, no atentado violento ao pudor
(AVP) e no assédio sexual. No caso de estupro, o Código Penal o define como ato de coagir
uma mulher à conjunção carnal (ou sexo vaginal) com o uso da violência ou grave ameaça a
22
esta, ou seja, a prática sexual realizada contra a mulher sem seu consentimento. O AVP é
definido como ato de constranger, com o uso da violência ou ameaça do uso desta, a praticar
ou permitir que com a mulher se pratique ato libidinoso diverso do sexo vaginal (carícias
íntimas, masturbação, sexo oral, sexo anal entre outros). Já o assédio sexual é definido por
este Código como forçar ou impor uma mulher a exercer um ato sexual (beijar o agressor,
despir-se ou praticar o ato sexual em si com o agressor) a partir de sua posição hierquica.
Ou seja, obter vantagens ou favorecimento sexual devido sua condição superior ao da mulher
ou oferecer em troca asceno ou manutenção no emprego, cargo ou função desempenhada
pela mulher.
A mulher, independente do tipo de violência sexual vivida, apresenta consequências
em sua saúde reprodutiva, mental e ao seu bem-estar social. Na saúde reprodutiva essas
mulheres têm um risco maior de hemorragias ou infecções vaginais, diminuição do desejo
sexual, irritação da genitália, dispareunia, dor pélvica crônica, infecções das vias urinárias e,
principalmente, infecções sexualmente transmisveis (IST) e HIV
3
. Além dessas possíveis
consequências da violência sexual vivida pela mulher, encontra-se a gravidez indesejada.
Muitas mulheres que engravidam após um ato de violência sexual, sentem-se violentadas pela
segunda vez, uma vez que essa gestação é fruto de uma agressão. Dados apresentados por
Holmes, Resnick, Kilpatrick e Best
52
mostram uma realidade parcial da gestação indesejada
após violência sexual: 32000 mulheres mexicanas engravidam após um ato de violência
sexual todos os anos. No Brasil, a ocorrência de gravidez após estupro pode ser interrompida,
pois esta é amparada pelo Artigo 128 do Código Penal Brasileiro
50
. Este dispõe que em casos
de gestação decorrente de estupro, a interrupção da gravidez é recomendada até a vigésima
semana pelos serviços de saúde. Acima dessa idade gestacional, a mulher deve ser
encaminhada para acompanhamento psicológico, pré-natal e métodos de adoção caso a
mulher assim desejar
50, 53
.
No âmbito da saúde mental as mulheres que vivenciaram violência sexual apresentam
maior probabilidade de desenvolver depressão, ansiedade, medo, transtorno pós-traumático,
dificuldade para dormir, doenças somáticas, consumo de álcool e/ou drogas, sentimentos de
culpa, autodepreciação, dificuldades de relacionamento e condutas agressivas. Além disso,
essas mulheres têm maior probabilidade de suicidar-se ou de praticar atos intencionais de
suicídio
3
.
A respeito do bem-estar social a mulher após a violência sexual terá isso
proporcionado se a visão sócio-político-cultural do papel sexual do homem e da mulher
favorecer punição digna ao agressor e oferecer mais poder às mulheres através da prevenção e
23
redução de sua exclusão social
3, 48
. Caso contrário, numa sociedade de valorização do
patriarcalismo, as famílias, a população e, principalmente, as mulheres tendem a adotar
posturas de reconhecida subordinação
54
. Infelizmente, os países da América Latina ainda
continuam mergulhados no atraso, na estupidez, no analfabetismo e em hábitos e costumes
antiquados que impedem o avanço cultural dos povos e tornam as mulheres o setor
populacional mais discriminado
23
.
Outra questão importante a respeito da violência sexual contra mulher é o número
reduzido de registro de ocorrência. Acredita-se que a maioria das mulheres que
experimentaram a violência sexual não registre queixa por constrangimento, por medo de
humilhação, receio de não ser compreendida ou ter dúbia interpretação do parceiro,
familiares, amigos, vizinhos e autoridades
45
. Isso é comprovado quando Saffioti
55
e Faúndes
et al
56
mencionam que no Brasil os dados quantitativos e qualitativos a respeito desse tipo de
violência contra a mulher é escasso. O baixo número de denúncias reflete, também, um
fenômeno de silenciamento da vítima, cujos direitos foram diminuídos pelo agressor através
de suas ameaças, violências físicas e seduções
23
.
Os poucos dados revelados sobre a violência sexual no Brasil mostram que no período
de 1996 e 1997, no Distrito Federal, foram registrados sessenta (60) casos por mês. Destes, a
maioria era estupro, seguida de AVP e tentativa de estupro. Ainda referente a esses dados,
57,7% dos estupros registrados foram praticados por desconhecidos e 42,3% por pessoas
conhecidas
57
. Segundo Brasil
58
, o total de ocorrências de estupro registrado pelas Polícias
Civis no Brasil no ano de 2003 foi 14298, proporcionando uma taxa de 15,9% (por cem mil
mulheres), estando 31% dos casos nas capitais do país. Desse total de registros realizados em
todo o Brasil, 20,89% ocorreu na Região Norte, 10,91% na Região Nordeste, 15,84% na
Região Sudeste, 19,61% na Região Sul e 23,20% na Região Centro-Oeste. Embora os dados
apresentados não retratem fielmente a realidade do estupro no Brasil devido à falta de
denúncia por parte de muitas mulheres, essa estatística mostra que os números maiores de
registros são nas regiões onde o nível instrucional e a dependência da mulher com o homem é
ainda significativa. Além de tratar-se de regiões onde o papel machista do homem é muito
valorizado e exigido pela sociedade.
No que diz respeito ao AVP, Brasil
58
apresenta os seguintes dados: em 2003
ocorreram 10093 registros, destes 30,77% ocorreram nas capitais do país. Do total de
registros de AVP, 7,3% foi realizado na Região Norte, 3,8% na Região Nordeste, 4,3% na
Região Sudeste, 9,9% na Região Sul e 11% na Região Centro-Oeste. Porém esses dados
divulgados incluem o AVP cometido contra mulheres, homens, crianças, adolescentes e
24
idosos, dificultando com isso retratar uma realidade parcial da situação da mulher no que diz
respeito a esse tipo de violência sexual.
Embora estudos recentes demonstrem que o número de ocorrências registradas venha
crescendo a cada ano, sugerindo com isso uma tolerância menor das mulheres em relação à
violência, principalmente a sexual, esses dados ainda estão aquém da realidade
59, 60
. Diante
disso, Santos
59
refere que as mulheres em situação de violência procuram as unidades de
saúde para tratarem dos sinais e sintomas das agressões e que somente 2% procuram as
delegacias especializadas no atendimento à mulher.
Com isso, vê-se a necessidade dos profissionais de saúde estarem mais qualificados e
sensibilizados para identificar situações de violência, inclusive a violência sexual. Uma vez
que esses agravos podem estar mascarados em queixas de doença sexual, infecções
transmitidas sexualmente repetidamente, dor crônica, frequente dor de cabeça ou sintomas
como depressão
7, 23
.
Segundo Deslandes, Gomes e Silva
61
, ainda há nos serviços de saúde uma
invisibilidade com a vioncia contra a mulher, seja física, psicológica ou sexual, e certa
surdez em atender as solicitações dessas mulheres agredidas. Muitos autores
39, 62, 63
sugerem
que, para prevenir, promover e tratar à mulher em situação de violência sexual, assim como os
outros tipos de violência, as unidades de sde devam se articular com outras instituições,
uma vez que a violência não se restringe aos transtornos anatomopatológicos.
Desta forma, para que as unidades de saúde incorporem a violência contra a mulher
como questão de saúde pública, é preciso que todos os envolvidos enfrentem o desafio de
recriar a linguagem da saúde, redimensionando o espaço da doença e das pessoas,
reconhecendo que cada mulher que vivenciou a violência tem a sua história, inserida em
contextos cio-culturais-econômicos diferentes
64
. Pom, estas mulheres possuem o mesmo
direito de aprender a valorizar a sua ppria vida, sem medo de denunciar ou acabar com o
relacionamento (no caso da violência conjugal), resultando em mudanças nos padrões
culturais vigentes
65
.
Segundo Brasil
66
, o grande desafio é colocar em prática ações que promovam o
empoderamento feminino, fazendo com que as mulheres em situação de violência sejam
capazes de valorizar sua própria vida e consigam interferir nos padrões machistas da
sociedade.
Articulando com a queso da construção da resiliência em mulheres que vivenciaram
violência sexual, é preciso estimular essas mulheres, no âmbito social, familiar e nas
instituições de saúde, a reconhecerem a violência vivida, compreendê-la, vencê-la e saírem
25
fortalecidas ou transformadas a partir dessa adversidade
14
. A enfermeira neste contexto
desenvolve o papel de facilitadora nessa construção da resiliência através de sua capacidade
em produzir conhecimentos relevantes, adequar-se as necessidades sociais, prestar assistência
de qualidade, integral e humanizada às mulheres em situação de vioncia sexual. Garante a
essas mulheres seus direitos de cidadã, ou seja, o direito à saúde integral.
1.3
A resiliência e a mulher em situação de violência sexual
A vida não é um corredor reto e tranqüilo
que nós percorremos livres e sem empecilhos,
mas um labirinto de passagens,
pelas quais nós devemos procurar nosso caminho,
perdidos e confusos, de vez em quando presos em um beco sem saída.
Porém, se tivermos fé, uma porta sempre será aberta para nós,
s mesmos nunca pensamos,
Mas aquela que definitivamente se revelará boa para nós.
Archibald Joseph Cronin
Tradicionalmente as pesquisas sobre violência contra a mulher enfatizam as patologias
físicas ou mentais decorrentes da violência e os fatores de risco que expõem a mulher a
vivenciar tal adversidade. Entretanto, nos últimos tempos, outras questões têm sido
consideradas importantes para a promoção e prevenção da violência contra a mulher
3
. Assim,
a atenção outrora dada às patologias tem-se deslocado para concepções positivas na superação
das mulheres da adversidade vivida. Nesse sentido, a resiliência tem se mostrado como um
fator importante na promoção da saúde das mulheres em situação de violência e na sua
reinserção social e familiar
13, 15
.
O termo resiliência tem sua origem na física e refere-se à propriedade que um corpo
deformado tem de retomar a forma anterior após cessar a tensão causadora da deformação
67
.
Porém, no que diz respeito ao ser humano, a resiliência não significa o retorno ao estado
anterior e sim a superação de uma adversidade e a possibilidade de construção de novos
caminhos de vida
68
.
O estudo da resiliência pela Ciência Humana e da Saúde é relativamente recente,
sendo pesquisada pouco mais de vinte (20) anos
15
. Os primeiros estudos preocupavam-se
26
em compreender o desenvolvimento humano, especificamente de crianças e adolescentes,
diante de situações adversas e suas estratégias de enfrentamento
15, 69
. O estudo da resiliência
tem maiores discussões no Reino Unido e nos EUA, porém vem crescendo nos países em
desenvolvimento como América Latina e Brasil. Nestes últimos, as primeiras pesquisas datam
de 1995 e para esses pesquisadores a resiliência é comunitária e pode ser obtida através do
apoio social
70
. Contudo, a maioria dos estudos concentra-se na área da sde mental e da
Psicologia, mais especificamente na área da Saúde da Criança e do Adolescente.
Realizando um levantamento com a palavra-chave resiliencia” nas produções
publicadas
online
na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), especificamente nas bases de dados:
Lilacs, Medline, BDENF, Scielo, Adolec, PAHO e Repidisca, encontramos cento e setenta e
cinco (175) produções científicas latinoamericanas e brasileiras (artigos, dissertações, teses,
manuais e guias). Destas, quarenta e cinco (45) caracterizavam-se por serem trabalhos
científicos de outras áreas distintas da saúde (educação física, geografia, engenharia química e
física). E destacaram-se cento e trinta (130) produções na área da saúde, onde somente cinco
(05) produções trabalhavam a resiliência em mulheres que vivenciaram violência
31, 70, 71, 72, 73
.
Nestas produções, todas artigos, a resiliência foi trabalhada sob diferentes aspectos:
aprofundada e esclarecida a partir de suas bases conceituais; identificada como importante
fator para a promoção da saúde das mulheres que vivenciaram violência; subentendida em
atividades específicas como forma de empoderamento da mulher que consegue superar e
atravessar a violência; e comparada à espiritualidade no que diz respeito a ser considerada
fator de proteção no enfrentamento da violência.
A literatura é inequívoca em afirmar que a resiliência foi introduzida na Psicologia
como uma característica inata do indivíduo e que quando considerado resiliente denominava-
se como pessoa invulnerável, ou seja, imune a qualquer tipo de adversidade
74
.
A invulnerabilidade era entendida como resistência absoluta ao estresse e constituía
característica imutável de um indivíduo. Entretanto, esse conceito contribuiu para um
entendimento dos sobreviventes de adversidades como pessoas infelizes e insensíveis
11
.
Assim sendo, a invulnerabilidade não condiz com as condições humanas, uma vez que ao
atravessar uma adversidade a pessoa não consegue sair ilesa dela
75
. “Uma pessoa resiliente se
abate e sofre com as dificuldades; porém, de forma distinta a outra muito vulnerável,
consegue ‘dar volta por cima’ com mais facilidade e presteza”
76
.
A resiliência embora possua diferentes compreensões em relação ao seu processo de
construção, os estudiosos apresentam um consenso em sua definição no que diz respeito à
27
capacidade de uma pessoa enfrentar, superar e transformar-se por experiências de
adversidade
14, 68
.
As situações de adversidade não são estáticas, mudam e requerem mudanças no
processo de resiliência. Essa noção de processo descarta a ideia de resiliência como uma
característica pessoal e incorpora a concepção de que a adaptação positiva não é uma tarefa
apenas da pessoa que se encontra na adversidade, mas tamm da família e da sociedade que
devem fornecer recursos para que ela possa desenvolver-se mais plenamente
14
.
A resiliência está diretamente relacionada ao vínculo estabelecido com outra pessoa e
à capacidade de dar sentido a uma experiência sem significado inicialmente
68
. Uma pessoa
consegue ser resiliente a uma adversidade porque além de valores individuais, a sociedade, a
família e os núcleos de convívio também lhe oferecem valores. Através de uma relação
marcada por um forte vínculo de confiança, por uma escuta não estigmatizadora e por uma
atividade de crer na capacidade dela superar as adversidades, é possível ajudar essa pessoa na
elaboração e reorganização da adversidade vivida
68
. As redes familiares e sociais
proporcionam informações, serviços, apoio, companhia além de oferecer segurança e
solidariedade, estimulando com isso o amor pprio e autoconfiança.
Na rede de apoio ampliada temos os serviços de saúde que se caracterizam como um
importante espo para a construção da resiliência, uma vez que esses servos são os mais
procurados pelas mulheres em situação de violência. Diversos estudos
77, 78, 79
afirmam que os
profissionais de saúde, em especial, as enfermeiras, quando sensibilizadas e capacitadas são
agentes fundamentais na interrupção do ciclo de violência.
O estudo da resiliência requer também um entendimento dinâmico e interligado dos
fatores de risco e de proteção, tanto pela mulher como pela suas redes de apoio. Por fator de
risco subentende-se por eventos negativos da vida que, dentro de um determinado contexto
aumentam a probabilidade da pessoa desenvolver alterações físicas, psicológicas e sociais
13
.
Reportando-se para o estudo, mais especificamente sobre a violência sexual, os fatores de
risco que influenciam as possibilidades das mulheres vivenciarem tal adversidade são: ser
jovem, consumir álcool ou droga, ter vivenciado violência sexual, ter muitos parceiros
sexuais e ser profissional do sexo
3, 80
.
sobre os fatores de proteção, Pesce, Assis, Santos e Oliveira
81
afirmam que estes
são elementos que minimizam a probabilidade de um resultado negativo acontecer e,
consequentemente, o risco terá sua incidência e gravidade diminuídas. Estudos
82, 83, 84, 85
descrevem três tipos de fatores de proteção: individuais (autoestima positiva, autocontrole,
28
autonomia, temperamento afetuoso e flexível); familiares (coesão, estabilidade, respeito
mútuo, apoio); e sociais (amizadeslidas, pessoas significativas na vida).
Diante dos fatores que podem causar desequilíbrio ao indivíduo, os mecanismos de
proteção, individuais, sociais e familiares, são elementos importantes para o restabelecimento
do equilíbrio e demonstração de capacidade de superação à adversidade. Com isso, a
resiliência é entendida como o “produto final da combinação e acúmulo dos fatores de
proteção”
86
.
As ações de enfrentamento da adversidade utilizadas pelas pessoas são denominadas
coping
e diz respeito às estratégias cognitivas e comportamentais que o indivíduo utiliza nas
adversidades cotidianas ou inesperadas a fim de vencê-las, minimizá-las ou tolera-las
76
. O
fato de um indivíduo ser mais resiliente diante a uma adversidade do que de outra não
significa que utilizou menos estratégias de
coping
. Essas estratégias requerem da pessoa uma
capacidade de avaliação sobre a adversidade e o entendimento das consequências desta para
sua vida.
Em pesquisas que utilizam a resiliência como objeto de estudo, um dos instrumentos
que podem ser utilizados para identificar os sujeitos resilientes é a Escala de Resiliência
(ANEXO A) desenvolvida por Wagnild e Young
87
. Esse instrumento de pesquisa tem sido
usado por mais de quinze (15) anos por milhares de pesquisadores de todo o mundo.
A escala foi desenvolvida através de um estudo com vinte e quatro (24) enfermeiras
americanas que atuavam em centros cirgicos
87
. Os autores consideravam que o centro
cirúrgico era um ambiente de grande estresse, exigindo que essas profissionais de saúde
desenvolvessem atitudes resilientes para enfrentarem as adversidades do dia a dia desse
cenário
88
. As enfermeiras foram solicitadas a descreverem como se organizavam diante de
situações negativas. Das narrativas foram destacados cinco fatores que os autores
consideraram importantes para a construção da resiliência: serenidade, perseverança,
autoconfiança, sentido de vida e autossuficiência.
A referida escala foi validada culturalmente no Brasil, mediante revisão bibliográfica
do tema
81
. Nesta concluiu-se que a escala de resiliência possui validade de conteúdo para
utilização na população brasileira que reflete através de seus vinte e cinco (25) itens a
aceitação geral das definições de resiliência.
29
1.3.1 A promoção da resiliência pelos profissionais de sde à mulher em situação de
violência sexual
Ancorados nas noções de violência como fenômeno complexo e de resiliência como
capacidade de superar a adversidade e produto dos fatores de proteção, os profissionais de
saúde tornam-se peças chaves nesse processo. Junqueira
68
afirma que dependendo do tipo de
atenção que recebeu, a mulher poderá traçar um caminho que a leva a imobilidade,
estigmatização e valorização do ciclo de violência; ou a um caminho que procura promover
sua resiliência com o propósito de impulsioná-la na direção da criatividade e da transformação
da experiência vivida.
É importante que o profissional da área da saúde, em particular a enfermeira, ofereça
uma escuta senvel e uma orientação que ajude a mulher a valorizar seu corpo, a ter
consciência que ele lhe pertence e que ninguém tem o direito de violar seu terririo
corporal
68
. Somado a isso, a enfermeira deve promover o potencial dessa mulher para a
construção e o fortalecimento em ser resiliente em sua vida. Para a promoção da resiliência é
preciso promover e auxiliar essas mulheres a identificarem as redes de apoio e suas estratégias
de exteriorização da força intrapsíquica e adquirirem habilidades interpessoais para a
resolução de conflitos e enfrentamento da adversidade
11
.
Cyrulnik
89
corrobora ao relatar que as marcas da adversidade vão ficar presentes em
suas lembranças, em seus sentimentos. A história vivida fica em sua memória, mas a pessoa é
capaz de se recuperar. Porém, isso é possível se encontrar um suporte que a ajude a
prosseguir e a delinear uma trajetória de vida positiva. “Resiliência é uma dança bem sucedida
na música da vida. Não uma dança com bailarinos solitários: ela pede parcerias, empatia,
encontros. Ela fala de amor”
90
.
Para que seja possível a enfermeira oferecer suporte significativo à mulher que
vivenciou a violência sexual, é importante que ela compreenda o processo de construção da
resiliência dessas mulheres. Para isso é preciso conhecer as características protetoras
(individuais, familiares e sociais) que elas desenvolveram e que modificaram seu percurso
pessoal de vida.
30
2
PROPOSTA METODOGICA
2.1
Caracterização do estudo
O método qualitativo de pesquisa apresentou-se como estratégia ideal para atender os
objetivos deste estudo, que, de modo geral, consistiu em compreender o processo de
construção da resiliência em mulheres que vivenciaram a violência sexual. A escolha deu-se
porque a pesquisa qualitativa apresenta-se como o método capaz de alcançar o aspecto
subjetivo do ser humano, pois, segundo Minayo
91
, “ela se preocupa com um nível de realidade
que não pode ser quantificado(...) trabalha com o universo de significados, motivos,
aspirações, crenças, valores e atitudes(...)”.
Esse estudo foi do tipo exploratório, uma vez que, como traçado como objetivo da
pesquisa, buscamos uma compreensão da natureza geral do problema/situação. Além disso, a
proposta foi não descrever, mas também desvendar as várias maneiras pelas quais as
mulheres que vivenciaram a vioncia sexual construíram o processo de resiliência assim
como os processos adjacentes relacionados a esse processo
92
. A pesquisa exploratória permite
um conhecimento mais completo e mais adequado da realidade. Assim, o alvo é atingido mais
eficientemente, com mais consciência. A pesquisa exploratória corresponde a uma
visualização da realidade particular do indivíduo
93
.
2.2
Cenário
Inicialmente pensamos, para compor o estudo, juntarmos duas unidades de referência
no atendimento às mulheres em situação de violência sexual, sendo uma unidade de nível
primário e uma de nível terciário. Escolhemos como nível primário, um Centro Integrado de
Atendimento à Mulher (CIAM) vinculado ao Conselho Estadual de Direitos da Mulher
(CEDIM) da Secretaria Estadual do Rio de Janeiro. Tivemos a autorização da diretora da
unidade para realizarmos nossa pesquisa, porém em nossas sucessivas aproximações com esse
campo, verificamos, junto à equipe de profissionais que ali trabalham, a ausência, naquele
momento, de mulheres que vivenciaram violência sexual. Na ocasião, existiam mulheres que
31
vivenciaram outros tipos de violência, principalmente vioncia física praticada pelo parceiro.
Optamos eno por não utilizar esse Centro Integrado de Atendimento à Mulher como campo,
destinando-o para uma futura pesquisa com mulheres que vivenciaram outros tipos de
violências.
Logo, desenvolvemos nossa pesquisa no Instituto Municipal da Mulher Fernando
Magalhães (IMMFM/SMS/RJ). Esta unidade é referência para o atendimento emergencial,
ambulatorial e/ou de internação de mulheres que vivenciaram violência sexual. Nesta são
realizados os acompanhamentos com base nos protocolos do Ministério de Saúde de
prevenção e tratamento dos agravos decorrentes da violência ou mesmo a indicação e
realização para a prática do aborto legal nos casos em que a gravidez foi fruto da violência
sexual. O atendimento às mulheres em situação de violência sexual prestado nessa unidade de
referência apresenta como princípios a integralidade e a humanização da assistência à mulher,
baseados nas diretrizes preconizadas pelo Ministério da Saúde
7, 8, 37
.
2.3
Protagonistas Sociais
Escolhemos como protagonistas de nosso estudo, mulheres em situação de violência
sexual e que foram atendidas no IMMFM/SMS/RJ. Destacamos como critérios de inclusão:
serem mulheres resilientes para a vioncia sexual vivida, pertencerem a qualquer classe
social, etnia e religião, ter idade igual ou superior a dezenove anos, uma vez que o Estatuto da
Criança e do Adolescente considera criança até os doze anos incompletos e adolescente dos
doze até os dezoito anos de idade
94
. Como critérios de exclusão, apontamos: ser criança ou
adolescente, fazer acompanhamento psiquiátrico, possuir como local de moradia a rua ou
abrigo, ter abandonado o acompanhamento no IMMFM e ser profissional do sexo.
Para alcançarmos essas mulheres, realizamos um levantamento dos prontuários
indicados numa planilha de controle, que nos foi gentilmente cedida pela enfermeira
responsável pelo ambulatório de Atendimento as Vítimas de Violência Sexual. Limitamo-nos
aos atendimentos realizados no período de janeiro de 2007 a dezembro de 2008, considerando
a importância do tempo decorrido entre a ocorrência da violência e as modificações oriundas
desse fenômeno em suas vidas.
No levantamento da planilha de controle da unidade, identificamos noventa (90)
mulheres atendidas no período de janeiro de 2007 a dezembro de 2008 (o ano de 2009 ainda
32
não estava lançado na planilha). Destas, quarenta (40) mulheres preenchiam algum fator de
exclusão do estudo: três (03) moravam na rua ou em abrigos; vinte e cinco (25) crianças ou
adolescentes; sete (07) pacientes psiquiátricas; um (01) abandono do acompanhamento; três
(03) não foram vítimas de violência sexual (estavam listadas na planilha errada); uma (01)
profissional do sexo.
Com relação as cinquenta (50) mulheres que atendiam aos critérios de inclusão muitas
dificuldades foram encontradas no estabelecimento de contato e ou localização. Destas: três
(03) não retornaram as ligações após deixarmos recado com telefones para contato; uma (01)
não foi possível contato, pois o homem que atendia ao telefonema dizia que qualquer coisa
era para resolver com ele; com trinta e uma (31) mulheres, não conseguimos estabelecer
contato telefônico: o número de telefone estava errado, ou ninguém atendia no número de
telefone fornecido, ou não moravam mais no local (telegramas retornavam), entre outros;
cinco (05) não quiseram conceder entrevista por diversos motivos: por falta de tempo, por,
temporariamente, estar fora da cidade para resolver problemas de família, por não querer mais
falar sobre a vioncia ocorrida dentre outros; uma (01) faltou aos agendamentos realizados
para entrevista (tendo sido feito quatro agendamentos sem sucesso); três (03) não possuíam
telefone de contato. Diante disto, participaram de nosso estudo um total de seis (06) mulheres.
Antes de iniciarmos a coleta das entrevistas junto a essas mulheres, no sentido de
completar os critérios de inclusão utilizamos a Escala de Resiliência desenvolvida por
Wagnild e Young (ANEXO A) para identificarmos quais eram resilientes.
Esta escala é composta de vinte e cinco itens descritos de forma positiva, com
respostas tipo Likert. As respostas variam de 1 (discordo totalmente) a 7 (concordo
totalmente) e seus escores alternam de 25 a 175 pontos, com os valores altos indicando
elevada resiliência. Traçamos como ponto de corte entre ser ou não resiliente, a média das
pontuações a qual obtivemos um valor igual a 75 pontos. Logo, a mulher que apresentasse
valor abaixo de 75 pontos seria classificada comoo resiliente para a violência sexual
vivida.
Ao utilizarmos a escala de resiliência nas seis (6) mulheres de nosso estudo,
constatamos que as mesmas foram resilientes para a vioncia sexual vivida, uma vez que
atingiram escore maior que 75, variando entre 126 a 154 (APÊNDICE A e B). Tal resultado
nos permitiu afirmar que são mulheres resilientes, indicando terem superado a adversidade da
violência sexual e conseguiram reinserir-se em seu contexto social e familiar.
33
2.4
Técnica de coleta de dados
Tendo identificado as protagonistas do estudo, iniciamos a coleta de dados
propriamente dita, com a aplicação de uma ficha de identificação das depoentes (APÊNDICE
C). Essa ficha continha dezesseis (16) perguntas fechadas, onde as mulheres assinalaram uma
resposta que condizia a sua situação. As dez (10) primeiras perguntas diziam respeito à
situação socioeconômica e as seis (6) últimas, sobre a hisria de violência vivenciada.
Acreditamos que dessa forma conseguimos compreender parcialmente a realidade das
mulheres estudadas e assim utilizarmos uma linguagem clara e integradora de sua realidade.
Com a ficha preenchida, demos início à coleta da hisria de vida das mulheres que
compuseram o estudo (APÊNDICE D). Na coleta da história, realizamos o seguinte
questionamento direcionador do depoimento: 1) Fala-me sobre a sua vida desde a infância até
esse momento da violência vivida; 2) Fala-me sobre sua vida após a violência vivida até o
momento que está vivendo agora. Os pontos que foram abordados versavam sobre a: relação
familiar; relação social; autoimagem; autoestima; rede de apoio.
A hisria de vida é uma técnica que possibilita ao pesquisador compreender a
realidade da protagonista social da pesquisa e tem como principal objetivo retratar as
experiências vivenciadas por elas assim como o seu significado
95
. Com a técnica da história
de vida é possível captar o que acontece na intersecção do indivíduo com o social
96
.
Reforçando tal característica, Maués
97
afirma que para compreender o que cada pessoa pensa
e sente e como cada uma age, é necessário conhecer o mundo social no qual esta pessoa está
inserida.
Além disso, é preciso conhecer os valores sociais, as formas de relação e de produção
das estratégias de vida e as maneiras de ser no contexto e tempo que se vive, contemplando a
proposta do modelo ecológico. Para tal, utilizamos uma entrevista aberta, onde foi solicitado
que a entrevistada falasse livremente sobre sua vida, em um determinado momento ou período
dela.
Oferecemos nessa coleta de dados uma escuta atenta, porém sem passividade, ou seja,
o entrevistador/pesquisador pôde formular questões ou tecer algum comentário para
esclarecer ou aprofundar alguma queso que considerou relevante para o estudo
98
.
Conseguimos, conforme sugeri Thiollent
99
, interagir com as mulheres, transmitir confiança
para as mesmas e estabelecer uma relação de diálogo construtivo para a pesquisa. Segundo
Augras
100
, este método não é considerado apenas como um método de coleta de dados, mas
34
também uma oportunidade, tanto para o pesquisador como para a entrevistada, de
questionamento e de reflexão sobre uma experiência vivida, pois, ao se relatar sobre sua vida,
a entrevistada está compartilhando uma especificidade de sua vida pessoal.
As entrevistas foram gravadas e, posteriormente transcritas. A partir destas realizamos
a análise de dados. Um aspecto relevante do uso da gravação direta é registrar todas as
expressões orais, imediatamente, deixando o entrevistador livre para prestar toda a sua
atenção ao entrevistado
101
.
Vale ressaltar que, para atender as exigências éticas e científicas fundamentais
previstas na Resolução nº 196/96
102
sobre pesquisa envolvendo seres humanos, as mulheres
foram esclarecidas a respeito da pesquisa, tiveram suas vidas respondidas, assinaram, após
minuciosa leitura juntamente com o entrevistador/pesquisador, o termo de consentimento livre
e esclarecido (APÊNDICE E) e tiveram seus anonimatos garantidos através da utilização de
pseudônimos como forma de identificação no estudo. Os pseudônimos utilizados foram
Entrevistada 01, Entrevistada 02, Entrevistada 03, Entrevistada 04, Entrevistada 05 e
Entrevistada 06. Além disso, foram esclarecidas quanto à liberdade de deixar a pesquisa em
qualquer momento da etapa de execução.
2.5
Análise dos dados
Para o tratamento dos dados obtidos utilizamos a análise de conteúdo. A análise de
conteúdo, segundo Bardin
103
, é
um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando obter, por procedimentos
sistemáticos e objetivos de descrição dos contdos das mensagens, indicadores (quantitativos
ou o) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção destas mensagens.
Logo, a análise de conteúdo busca ir além dos significados manifestos, relacionando
estruturas semânticas (significantes) com estruturas sociológicas (significados) dos
enunciados. Isto implica na associação do que foi descrito e analisado com os fatores
determinantes de suas características.
Dentre as várias técnicas de análise de conteúdo utilizamos a análise temática, a qual,
para Minayo
104
, é a que melhor se aplica a pesquisa qualitativa em saúde. Para a mesma
35
autora, a análise temática consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem uma
comunicação cuja presença ou frequência signifiquem alguma coisa para o objetivo analítico
visado
104
. Portanto, trata-se de agregar as ideias/expressões com características comuns num
único conceito capaz de abrangê-las. Outro aspecto da análise temática enfatizado por
Rodrigues e Leopardi
105
é o trabalho de elaborar e selecionar os vários significados contidos
numa frase retirada do texto (unidade de codificação).
Os textos das entrevistas, portanto, foram analisados numa discussão contextual da
realidade, procurando o significado real da fala das mulheres e a relação com o seu conteúdo
histórico, social e qualitativo em sua totalidade.
Entre os procedimentos necessários para o levantamento e organização dos conteúdos
relativos aos dados obtidos, optamos por utilizar o método proposto por Oliveira
106
por nos ter
possibilitado uma avaliação dos depoimentos de maneira bastante fidedigna, favorecendo a
imparcialidade da pesquisadora. Trata-se de um método cujos procedimentos associam
técnicas qualitativas e quantitativas, uma vez que, segundo Minayo e Sanches
107
,
é de se desejar que as relações sociais possam ser analisadas em seus aspectos mais
ecológicos’ e concretos e aprofundadas em seus significados mais essenciais. Assim, o
estudo quantitativo pode gerar questões para serem aprofundadas qualitativamente, e vice-
versa.
Seguindo os passos da análise temática de conteúdo realizamos leitura flutuante das
histórias de vida para assim, tomarmos ciência do conteúdo das mesmas. Posteriormente
identificamos as unidades de registro (UR), que significam os recortes nos depoimentos
referentes ao objeto do estudo. Nesse sentido buscamos identificar em seus relatos o
significado dos sentimentos e emoções desenvolvidas diante a violência sexual vivida e os
fatores que auxiliaram as mulheres deste estudo no processo de construção da resiliência.
Em seguida agrupamos em unidades de significação, temáticas que possuíam
significados próximos e verificamos a frequência de aparição de cada uma. Realizamos,
quando necessário, reagrupamentos, denominados como subcategorias. A fim de mantermos a
quantidade e qualidade das subcategorias, reagrupamo-las em conjuntos maiores que
apresentavam similaridade as quais denominamos de categorias. Com intuito de facilitar a
visualização e compreensão, organizamos o referido processo de categorização em um quadro
(APENDICE F).
As categorias e subcategorias respectivas que emergiram foram: 1
a
Categoria:
A
violência sexual vivida expressa nas atitudes do cotidiano: sentimentos e emoções
;
36
Categoria:
A
Resiliência em mulheres que vivenciaram violência sexual,
subdividida em
Aspectos Individuais”, Aspectos Familiares o apoio estrutural
e Aspectos Sociais a
rede de apoio ampliada”.
2.6
Responsabilidade Ética da pesquisa
O projeto de pesquisa, juntamente com uma carta de solicitação do campo de pesquisa
(APENDICE G), foi encaminhado à direção do Instituto Municipal da Mulher Fernando
Magalhães, onde obtivemos autorização pela mesma de utilizar o espaço e sua clientela que
vivenciou violência sexual para coleta dos dados. Posteriormente, com a autorização da
unidade e com a carta ao
Comitê de Ética da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro
SMS/RJ (APÊNDICE H)
, o projeto de pesquisa foi enviado a esse Comide Ética onde foi
analisado e autorizado o início da pesquisa (Parecer 256ª/2008, Protocolo de Pesquisa nº
208/08).
As questões éticas na pesquisa envolvendo seres humanos, exigência da Resolução
196/96, foi criteriosamente respeitada, esclarecendo às protagonistas da pesquisa sobre as
vidas a respeito desta, as ponderações entre os riscos e os benefícios de sua participação e a
relevância social da pesquisa, como explicado anteriormente.
37
3
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
3.1
Perfil das mulheres em situação de violência sexual atendidas no IMMFM/SMS
Para compreender o contexto socioecomico das seis (6) protagonistas deste estudo e
analisar seus depoimentos com melhor apropriação consideramos de suma importância
entender o perfil das mulheres que vivenciaram violência sexual atendidas no IMMFM. Para
isso realizamos um levantamento das mulheres atendidas no período de janeiro/2007 a
dezembro/2008 (APENDICE I).
Construindo um breve panorama dessas mulheres atendidas nesses dois anos
encontramos que a maioria delas eram jovens com idade entre dezenove a vinte e seis anos
(47,45% ou 28 mulheres); com nível escolar predominante no ensino médio completo
(22,03% ou 13 mulheres); moradoras da Zona Norte
*
(52,54% ou 31 mulheres); solteiras
(45,76% 27 mulheres) e exercendo alguma atividade remunerada, das quais 49,15% (29
mulheres) exercem profissões ditas femininas e 11,86% (7 mulheres) profises masculinas.
Em relação à violência vivida, verificamos dois aspectos: vínculo com o agressor e local da
agressão. No que diz respeito ao vínculo com o agressor identificamos que 59,32% (35
mulheres) foram violentadas por desconhecido e 20,33% (12 mulheres) por pessoa conhecida
(ex-marido, namorado, ex-cunhado, amigo, noivo e cliente do local de trabalho). Quando
verificamos os locais que ocorreram a violência sexual identificamos que 23,72% (14
mulheres) das violências ocorreram na residência da vítima, 15,25% (9 mulheres) na rua,
5,08% (3 mulheres) no local de trabalho e no motel (cada um) e 3,38% (2 mulheres) no carro
ou na residência do agressor respectivamente.
Vale ressaltar que muitos dos dados verificados possuíam uma porcentagem de
ausência de registro superior aos demais fatores da categoria, demonstrando com isso uma
realidade verificada por diversos autores da existência de registros incompletos das fichas
de notificação e ou dos relatos das mulheres que vivenciaram violência sexual.
Reportando-se as mulheres do estudo, encontramos os seguintes dados:
*
Vale ressaltar que a Zona Norte é a região do Município do Rio de Janeiro que comporta o maior contingente de bairros.
Além disso, o IMMFM/SMS/RJ é referência de atendimento nessa região, onde as mulheres que não residem nos bairros
abrangidos por esta unidade são orientadas quanto à existência de unidades de referências próximas as suas residências
38
º
Idade
(anos)
Estado
Civil
Bairro
reside
Escolaridade Profissão
Tempo de
Ocorrência
da VS
(meses)
Agressor
Local
Agressão
1
20 Solteira
Rio
Comprido
Ensinodio
completo
Estudante 8 Conhecido
Residência
do
agressor
2
38 Casada Piedade
Ensino
superior
completo
Professora 7 Desconhecido Rua
3
31 Solteira
Praça da
Bandeira
Ensinodio
completo
Auxiliar de
serviços
gerais
13 Desconhecido
Residência
da vítima
4
21 Casada
Jardim
Primavera
Ensinodio
completo
Estudante 11 Desconhecido Rua
5
47 Casada Catete
Ensino
superior
completo
Arquiteta 10 Desconhecido Rua
6
25 Casada Gloria
Ensino
superior
completo
Professora/
revisora de
texto
13 Desconhecido
Residência
da vítima
Quadro – Perfil das mulheres entrevistadas
No que diz respeito à faixa etária das mulheres entrevistadas podemos dizer que são
mulheres jovens que variaram suas idades entre vinte e vinte e cinco anos (3 mulheres), trinta
a trinta e cinco anos (1 mulher), trinta e seis a quarenta anos (1 mulher) e quarenta e seis a
cinquenta anos (1 mulher). Quando questionadas quanto ao estado civil, quatro (4) mulheres
referiram serem casadas e duas (2) solteiras. Como localidades de moradias, encontramos três
(3) morando na Zona Norte, duas (2) morando na Zona Sul e uma (1) morando na Baixada
Fluminense. No grau de escolaridade das entrevistadas tivemos uma igualdade nos resultados,
50% (3 mulheres) com nível médio completo e 50% (3 mulheres) com terceiro grau completo.
Destacamos ainda que 66,66% (4 mulheres) trabalham e 33,33% (2 mulheres) estão
dedicando-se atualmente aos estudos.
Avaliando o tempo transcorrido da violência sexual vivida até a data da coleta de
dados, observamos que os períodos variaram entre sete (7) meses e treze (13) meses e que
cinco (5) das mulheres do estudo foram violentadas por desconhecido (5 mulheres) e somente
uma conhecia o agressor. Tivemos como locais onde ocorreu a violência sexual, a rua (03
mulheres), a residência da própria mulher (02 mulheres) e a residência do agressor (01
mulher).
Podemos perceber que a violência sexual contra a mulher esmais presente entre as
mais jovens. Entretanto encontramos essa violência em diversas faixas etárias, graus de
escolaridade, estado civil e condição profissional. Tais dados o corroborados por outros
estudos que afirmam que a violência é um fenômeno que atinge mulheres de diferentes
39
classes sociais, etnias, raças, posição econômica e profissional
30, 58, 108
. Mas, esses estudos
identificam como fator de risco preponderante para vivenciar a violência, o fato de serem
mulheres – violência de gênero.
Como referido no decorrer do estudo desde a Idade Média a violência contra a mulher
é presente na vida das mulheres. Além disso, tal ato foi compreendido por muito tempo como
aceivel e como prática capaz de corrigir a mulher de seus erros
26, 30, 39
. Essa construção
histórica do papel desigual do homem e da mulher levou as pessoas a pensarem que tal
relação fosse natural. Consequentemente, esse pensamento justificou o autoritarismo
masculino que levou a uma compreeno da violência de gênero como natural e inata à
mulher.
Gradualmente e com constantes lutas, os movimentos feministas foram modificando
alguns dos papéis sociais da mulher, tais como: sua inserção na esfera pública, o direito ao
voto, a incorporação do prazer nas relações sexuais não remetendo somente a procriação.
Contudo, a sociedade ainda arraigada aos preconceitos patriarcais, continuou determinando
valores e formas de comportamento diferentes para homens e mulheres tanto na esfera privada
quanto na pública ainda nos tempos atuais.
No que diz respeito ao mercado de trabalho, as mulheres passaram a desempenhar
funções antes ditas masculinas, tornando-se hoje uma grande mão-de-obra no mercado de
trabalho
109
. As mulheres deste estudo referiram exercer alguma atividade profissional.
Todavia, a desigualdade de gênero está presente e evidenciada no mercado de trabalho
quando verificamos as atividades em que as mulheres possuem maior representatividade. As
mulheres, assim como as depoentes do estudo, geralmente ocupam profissões ditas femininas
e, para algumas sociedades, de menor valor como: professora, recepcionista, secretária,
auxiliar de serviços gerais, enfermeiras, nutricionistas entre outras. Essas atividades nada mais
são do que o prolongamento das suas atividades domésticas para esfera pública
110
.
Ao analisar o grau de parentesco dos agressores com a mulher surpreendemo-nos com
o resultado de que das seis (6) entrevistadas, cinco (5) não conheciam a agressor. Geralmente,
encontramos estudos que afirmam que a violência sexual geralmente é praticada por
conhecido: padrasto, marido, irmão entre outros
7, 111
. Porém, em um estudo realizado por
Drezett
112
, verificou-se que a violência sexual realizada por conhecido é maior entre as
crianças. Já entre os adolescentes e mulheres adultas a maior prevalência é por desconhecido,
corroborando os dados encontrados pela nossa pesquisa.
No que diz respeito ao local onde aconteceu a violência sexual encontramos três (03)
mulheres que relataram terem vivenciado violência na rua (perímetro urbano), duas (02) na
40
residência da própria mulher, sendo que uma destas foi na portaria do prédio, e uma (1)
ocorreu na casa do agressor que era seu conhecido. Drezett
112
verificou em seu estudo que um
número significativo das mulheres na fase adulta que vivenciaram violência sexual foi
abordado no percurso da escola ou trabalho. Traçando um paralelo dos resultados encontrados
com o estudo desenvolvido por Drezett
112
podemos afirmar que, a violência sexual contra a
mulher pode acontecer tanto no espaço doméstico quanto no espo público, tornando-a um
fenômeno difícil de ser evitado, onde a mulher tem para esse tipo de violência uma maior
vulnerabilidade.
A vulnerabilidade é por s entendida como um conjunto de fatores que aumentam o
risco da mulher vivenciar violência sexual. Diante disso e baseado na construção histórica da
mulher já exposto no decorrer do trabalho, afirmamos que este estudo trabalha com mulheres
em situação de vulnerabilidade de gênero. Consequentemente, ao vivenciarem tal adversidade
as mulheres tornam-se vulneráveis aos seus agravos que poderão ser reduzidos pela presença
dos fatores de proteção. Esses mecanismos de proteção são disponibilizados pelos fatores
individuais, sociais e familiares e auxiliam as mulheres na construção da resiliência. Esses
fatores podem estar presentes na vida das mulheres antes mesmo da violência vivida ou
podem ter sido desenvolvidos diante a adversidade.
Nesse sentido, ainda traçando o perfil das mulheres de nosso estudo, analisamos seus
depoimentos a fim de identificar suas características individuais e a rede familiar e social
existente em suas vidas antes da violência vivida. É importante ressaltar que para o
desenvolvimento da resiliência o indivíduo precisa ter pelo menos uma pessoa significante em
sua vida.
Analisando tal contexto identificamos que todas as mulheres depoentes deste estudo
sempre tiveram em suas vidas uma pessoa que lhe dava apoio e em quem podia confiar, sendo
representada em cinco (5) das seis (6) entrevistadas pela mãe no contexto familiar e pelos
amigos na rede social. Posteriormente, tivemos relato da constante relação de apoio exercido
pelo pai, pelos irmãos, pelos tios e pela religião. As mulheres relataram que desde a infância
seus relacionamentos foram saudáveis, onde tinham abertura para conversar com um dos pais
e irmãos; tiveram carinho, atenção e amor familiar; e desenvolveram e mantiveram laços
fortes de amizades, das quais muitas estão presentes até hoje. Duas das entrevistadas
identificaram também a religião como fator importante, uma vez que baseada em suas crenças
e doutrinas construíram-se os valores familiares e a relação respeitosa com o próximo.
Identificando os traços individuais das mulheres de nosso estudo, verificamos que
essas mulheres referiram que eram pessoas tranquilas, determinadas, com elevada autoestima,
41
autoconfiança e autonomia. Não apresentavam dificuldade em estabelecer bons
relacionamentos, eram muito felizes com a vida que tinham e que no decorrer de suas vidas
atravessaram outras adversidades as quais conseguiram superar, tais como: perda do pai e/ou
da mãe; alcoolismo paterno, adultério, violência física, violência sexual (sem ser a desse
estudo), violência urbana e tentativa de abuso sexual na infância.
Com isso, podemos considerar que as mulheres do nosso estudo apresentavam no
decorrer de seu desenvolvimento uma rede de apoio satisfatória e traços individuais
favoráveis ao desenvolvimento da resiliência diante da violência sexual vivida.
3.2
A violência sexual vivida expressa nas atitudes do cotidiano: sentimentos e emoções
Aquilo que sentimos a respeito de qualquer coisa
reflete nossa história e desenvolvimento,
nossas influencias passadas,
nossa agitão presente
e nosso potencial futuro.
Compreender os nossos sentimentos
é compreender nossa reação ao mundo que nos circunda.
David Viscott
Em seus depoimentos as mulheres expressaram como passaram a viver após a
ocorrência da violência sexual e verbalizaram algumas das mudanças que aconteceram em seu
cotidiano. Encontramos algumas modificações de comportamentos e atitudes assim como, a
presença de sentimentos como: o medo, expresso por todas as entrevistadas (51 URs); seguido
da tristeza referida por cinco das seis entrevistadas (48 URs); da culpa, relatada por três
entrevistadas (07 URs); e da perda, onde duas entrevistadas referiram esse sentimento (11
URs).
Numa primeira análise percebemos que as atitudes, sentimentos e emoções diante da
violência sexual vivida das mulheres depoentes deste estudo estão em consonância com
estudos sobre violência sexual contra a mulher. Esses estudos
58, 113 114, 115
apontam que as
mulheres em situação de vioncia sexual podem apresentar inúmeras reações a essa
adversidade, tais como: ansiedade, medo, abuso na ingestão de medicamentos ou outras
substâncias, problemas sexuais, tristeza, raiva, desespero, culpa, autoisolamento.
42
No aprofundamento da compreensão sobre os sentimentos referidos pelas depoentes -
medo, tristeza, perda e culpa, desmembramos cada um a fim de apontar, não somente o
conceito dessas atitudes e sentimentos mas também identificar nas entrelinhas de suas falas
outros significados imersos da violência vivida.
As mulheres investigadas não verbalizaram nenhum desses sentimentos como fatores
de proteção. Possivelmente, pelo fato dos mesmos serem considerados em nosso meio social
como sentimentos negativos. Entretanto, é possível considerar que tais atitudes, mudanças de
comportamentos e os sentimentos diante da violência sexual vivida as protegem indiretamente
de novas adversidades.
Constatamos que o medo foi retratado nas falas das mulheres quando estas apontaram
que passaram a o acreditar nas pessoas; tinham receio de sair na rua; apresentaram medo de
passar pelo local em que aconteceu a violência; de uma gravidez fruto da violência ou mesmo
o próprio medo de se vestirem de forma atraente o que a tornaria mais vulnerável a vivenciar
outra violência sexual.
Mas de principio assim não pago pra ver mais. Não arrisco mais. (Entrevistada 01)
Me remete a situação então eu já fico com medo. (Entrevistada 02)
Na primeira semana eu fiquei... Não, o vou mais sair na rua. (Entrevistada 03)
... eu fiquei um pouco traumatizada depois disso [violência sexual] de entrar no metrô ou
passar por aquele lugar. (Entrevistada 05)
O percurso que eu fiz quando vivi a vioncia eu o faço. o faço sozinha pelo menos. É
muito dicil. (Entrevistada 06)
Considerando o fato de serem mulheres com tempo decorrido da violência sexual
vivida de 7 a 13 meses, o que poderíamos apontar como traumas recentes, percebemos que
elas apresentaram reações decorrentes das emoções e sentimentos ainda marcantes no
imaginário dessas mulheres. Sentimentos estes que, em determinados momentos podem
bloquear as mulheres em realizar atitudes que antes eram vistas como corriqueiras. Além
disso, tudo ou todos que fazem essas mulheres recordarem da violência sexual vivida, traz a
tona sentimentos e lembranças que as mesmas gostariam de esquecer - se não esquecer,
reelaborá-los, guardando-os no sincio da alma.
Tais sentimentos de medo foram também verificados por Oliveira, Barbosa, Moura,
Von Kossel, Morelli, Botelho et al
116
em estudo onde treze (13) mulheres que vivenciaram
violência sexual e vinte e nove (29) profissionais que trabalhavam nas equipes de atendimento
a essas mulheres no Instituto Médico Legal - IML de São Paulo passaram a sentir medo de
43
ficarem desacompanhadas e, algumas vezes, tornaram-se incapazes de realizar tarefas
cotidianas. Referem que essas mulheres passam a ter desconfiança de homens e que quando a
violência ocorre próximo às suas casas, as mulheres desejam mudar-se com medo do retorno
do agressor.
O medo apresentou-se também como uma reação das mulheres em defenderem-se de
outras violências, ou seja, à medida que estejam mais cautelosas estariam prevenindo-se da
ocorrência de outra violência. Para isso, as mulheres passaram a utilizar-se de elementos que
as auxiliaram a desenvolver-se de forma um pouco mais segura, minimizadora de sofrimentos
e preventivas para outras adversidades. Podemos considerar que essas mulheres estabeleceram
estratégias de
coping
que auxiliaram sua resiliência diante da violência sexual vivida. Os
mecanismos protetores que uma pessoa dispõe internamente ou os que aprendem com o meio
em que vive, são elementos cruciais para estimular o potencial de resiliência ao longo da
vida”
76
.
... ele [meu namorado] sempre também vinha com esses convites de ir pra casa dele, de ficar
com ele essas coisas todas, eu falei: “Não. o posso mais acreditar em mais ninguém.
(Entrevistada 01)
Se parar um carro me pedir informação eu saio, eu finjo que o escuto e saio, ou fico bem
longe né, dou a informação bem longe pra não me aproximar e tal. (Entrevistada 02)
a noite que eu o saio ainda direito. Só saio mesmo porque eu vou pra igreja com as
meninas e volto com as irmãs, que é caminho e é perto de casa. (Entrevistada 03)
Imagina se alguém encostar perto de mim de novo, pedir uma informação! (Entrevistada 04)
Hoje em dia eu olho muito pra ver se tem alguém que eu acho que é suspeito. (Entrevistada
06)
Não há dúvidas de que comportamentos que permitam uma maior vulnerabilidade à
violência devam ser revistos. Numa sociedade onde a violência à mulher é uma questão de
nero, as atitudes e comportamentos femininos necessitam ser preventivos. Entretanto, a não
observância crítica da intensidade e frequência da utilização de tais mecanismos de proteção
podem promover uma condição de limitação do seu estar na vida, cerceando-a. Esse
sentimento pode vir a interferir em sua qualidade de vida, seu bem-estar e essas mulheres
passam a conviver com o medo no seu dia a dia, variando somente em sua intensidade.
Assis, Avanci, Pesce e Njaine
76
afirmam que o ser humano não consegue nem deve
viver isolado do mundo e das pessoas, mesmo que tal atitude seja uma forma de afeto ou
proteção. O ser humano necessita trocar e relacionar-se. Sem isso se torna difícil crescer,
desenvolver-se e sentir-se capaz de reconhecer e superar dificuldades.
44
Ainda em relação ao medo, as depoentes referiram também desconfiança nas pessoas.
A violência sexual vivida despertou nas mulheres o medo do outro, principalmente dos
homens. a perda do referencial de segurança e todos parecem ter semelhança com o
agressor.
Acho que em mais ninguém. Não dá mais pra acreditar em ninguém. (Entrevistada 01)
... você passa a ver o outro com muito mais medo. (Entrevistada 02)
... as pessoas que tem estereótipos mais parecido com o cara que me violentou, são as que
mais me apavoram. (Entrevistada 06)
Teixeira
117
afirma que as pessoas ao vivenciarem um trauma ou terem suas vidas
ameaçadas, passam a ter uma perspectiva do mundo alterada, interferindo com isso no modo
de ver as outras pessoas, de ver a si próprios e de perceber a vida ao redor.
A mulher em sua construção hisrica foi educada a vislumbrar o homem como pessoa
responsável pelo seu sustento e manutenção e com isso, possuem a obrigação civil de servi-
los, são devedoras eternamente. Com a violência sexual, as mulheres passam a sentir-se social
e psicologicamente traídas e a imagem protetora masculina é desconstruída. Passam a
desconfiar do que aprenderam e do que acreditavam ser verdade.
De imediato assim eu não acredito em mais nada assim de amizade, grande amor. Nada disso
o. (Entrevistada 01)
Assim no começo é complicado você... Você fica com medo do outro né? Mesmo que o outro
seja seu marido. (Entrevistada 02)
Temos também construído em cima do papel masculino o delineamento do papel
sexual da mulher na sociedade. O homem, em nossa sociedade de caráter patriarcal, determina
quando e como deve ser a relação sexual, não valorizando a vontade feminina, além de exigir
respostas das mulheres correspondentes aos seus desejos sexuais e seus valores de
agressividade, livre iniciativa e satisfação imediata do desejo.
Giordani
23
afirma que nesse contexto de desigualdade entre homens e mulheres, com
finalidades masculinas opressivas, de dominação e de exploração, “a mulher não é considerada
sujeito, mas tratada como objeto”. Essa visão da mulher na sociedade está presente tanto na
esfera pública como na privada.
Entretanto, a sociedade difere no entendimento quanto à punição do agressor da
violência sexual praticada por desconhecido e por conhecido, principalmente pelo njuge.
Quando a violência é praticada por um desconhecido, ela tem uma conotação de crime, sendo
45
exigido para o agressor todas as consequências jurídicas em relação ao seu ato. Já quando essa
violência ocorre dentro do contexto familiar, esse julgamento torna-se mais difícil. Nas
tipificações sociais, a maior proximidade entre o homem e a mulher confere menor
credibilidade às acusações das mulheres, fato que muitas vezes as desmotivam a realizar a
denuncia
118
.
Misturado ao sentimento de medo de uma nova violência e a descrença nas pessoas,
observamos, sublimado no depoimento de uma das entrevistadas, o medo de chamar a atenção
através de sua imagem corporal. Ela referiu que ao pensar sobre sua autoimagem possui medo
de emagrecer (padrão social de beleza) ou de escolher roupas que valorizem seu corpo,
alegando tornar-se atraente e aumentar as chances para vivenciar nova violência sexual. A
sociedade introjetou nas pessoas, inclusive nas mulheres, a construção da imagem da mulher
como ser pecador, tentação do homem, com isso vêem a mulher como tendo provocado o
homem com atitudes ou até mesmo trajes provocantes” justificando a violência sexual vivida.
... eu continuo me arrumando normal. Adoro me arrumar. Adoro sair arrumada. Mas é
diferente, pois agora tenho medo de estar chamativa demais. (Entrevistada 06)
... quando eu penso em emagrecer, eu vou pensando logo nisso: Eu vou ficar mais bonita.
Vou me sentir mais bonita e quando a gente se sente mais bonita, a gente tem tendência a se
arrumar diferente”. Então, às vezes eu me retraio um pouco. (Entrevistada 06)
Louro
26
e Giffin
119
afirmam que a construção ideológica da mulher como passiva e a
do homem como ativo vêm explicar o entendimento da sociedade de que as mulheres são
vistas como tentando os homens a saírem do caminho da pureza, da razão e da moralidade,
uma vez que a natureza feminina é baseada no corpo/emoção.
Acrescido a essa visão, Detoni
120
refere que esse estereótipo das mulheres como
contribuintes para a violência sexual devido à maneira de agir ou vestir-se perpassa por
diversas instâncias, desde a polícia até o judiciário, gerando impunidade.
Podemos dizer que atrelado ao sentimento de medo de chamar atenção, temos o
sentimento de culpa. As depoentes de nosso estudo, a respeito desse sentimento, referiram que
acharam que o erro estava com ela, que a culpa da vioncia era dela e que ao verbalizarem
sobre a violência sexual vivida pediam desculpas às pessoas.
Em sociedades marcadas pelas desigualdades de gênero, a responsabilidade do
agressor (geralmente do sexo masculino) é banalizada e seu comportamento oportunista,
explorador e destrutivo é esquecido. A sociedade na maioria das vezes valoriza a imagem da
mulher como sendo provocante e culpada. Constatam-se mais uma vez, que tais atitudes são
provenientes de uma visão social onde o homem é o que detém poder.
46
... eu achava [que nos relacionamentos amorosos que não davam certo depois da violência
que vivi] que o erro era comigo... (Entrevistada 01)
... depois da violência sexual eu fiquei me culpando... (Entrevistada 03)
Eu pedia sempre desculpas quando ia contar pra alguém, porque as pessoas ficam muito
abaladas. (Entrevistada 06)
Zuwick
121
enfatiza que a vergonha que deveria acometer o agressor “volta-se contra a
mulher e a silencia, tornando-a parte da rede que sustenta a dominação." A compreensão do
ser mulher é pautada na imagem de sedutora, pecadora, responsável pela atração sexual
masculina e guardiã da moralidade, o que justifica as violências sexuais que vivencia
119
.
Outro sentimento apresentado pelas mulheres de nosso estudo foi o medo de
engravidar com a violência sexual vivida.
Tem que ser negativo. Até porque se deu tudo certo no primeiro [caso de violência]. Deu
negativo. o fiquei grávida nem nada. Eu falei assim: Não. No segundo também eu tenho
que seguir por isso, porque Deus vai me ajudar que também vai dar tudo certo’. (Entrevistada
01)
Os primeiros exames assim que... Você chega aqui você faz logo um teste de gravidez. Dá um
medo assim. (Entrevistada 02)
Ao falarmos de uma gravidez fruto de uma violência sexual, nos deparamos com uma
mulher em conflito de sentimentos. Essa mulher encontra-se inserida numa sociedade que
considera como um dos únicos
status
sociais da mulher a condição de ser mãe. A imagem de
mãe em nossa sociedade tem a ideia de pureza, de caridade, da humildade e da obediência,
relacionando-a a figura de “maternidade santificada”
122
.
Entretanto, essa gravidez traz misturada à imagem da pureza a marca de uma
adversidade que ela gostaria de esquecer. A gravidez fruto da violência sexual é mais do que
ter uma gestação indesejada ou não planejada. É ter engravidado por uma inseminação natural
forçada sem vínculos e sem interação. É um ato de agressividade masculina. Uma violação
dos direitos humanos. Um crime.
As mulheres que vivenciaram violência sexual costumam perceber a gravidez como
outra violência, além de ser intolerável por elas. Tal medo reflete a preocupação da mulher em
ter que levar a constante lembrança da violência vivida refletida num filho dessa adversidade.
Somado a isso, a gravidez passa a impossibilitar as mulheres de não divulgarem sobre a
violência sexual vivida
23
.
Para grande parte das mulheres o aborto torna-se a única saída para amenizar os
sentimentos de culpa e a lembrança da violência sexual vivida. Porém para outras, a prática do
47
aborto é um dilema e uma decisão muito difícil. As mulheres quando decidem interromper a
gestação, encontram conflitos com suas crenças, princípios religiosos e valores, os quais
contribuem para o surgimento do sentimento de culpa
123
.
Ao decidir pelo aborto, a mulher se defronta com outro obstáculo. Socialmente, a
prática do aborto é condenada por preceitos éticos, morais e religiosos e sua compreensão é de
assassinato a um ser indefeso, mesmo que esse aborto seja juridicamente aceito. Neste
sentido, a mulher embora seja respaldada legalmente para a prática do Aborto Legal, ela vive
essa dualidade de sentimentos onde ora aflora o desejo de ser mãe e ora a culpa de o
almejar essa gravidez.
Outro fator que o fenômeno da violência sexual nos faz refletir é sobre a própria visão
do homem, em especial de ver a mulher como objeto de seu prazer independente da vontade
dela. Não há a preocupação, a compreensão consciente da responsabilidade do homem de que
esse ato possa gerar uma vida e destruir outra. É considerado um ato de perversidade
masculina, uma brutalidade onde a mulher é vista como um objeto para saciar um impulso
sexual irracional, sem envolvimento e, em grande parte dos casos (subnotificados), sem
desdobramentos punitivos para o agente agressor.
Encontramos também nos depoimentos, o sentimento de tristeza que, o
desvinculado do anterior, surgiu nas falas das mulheres quando afirmaram que após a
violência sexual vivida não queriam sair de casa, passaram dias chorando, não queriam falar
com ninguém e sentiram-se desmotivadas com algumas coisas.
Fiquei uns 4 dias sem falar com ninguém... (Entrevistada 01)
... passei uns dois, três meses só chorando. (Entrevistada 03)
... eu fiquei muito triste. (Entrevistada 05)
... na segunda semana eu estava me sentindo muito incapaz. (Entrevistada 06)
A violência sexual acarreta nas mulheres uma inibição ou interrupção da continuidade
de uma vida saudável”, onde nunca mais elas serão as mesmas. A tristeza dessas mulheres
reflete a subjugação de seu corpo assim como a violação de sua privacidade / intimidade. A
violência sexual desestrutura a segurança criada pela mulher em suas vidas e abala seus
planos, sonhos e anseios. Além disso, abala a interrelação dessa mulher consigo, com o outro,
com o social, uma vez que o trauma, o medo e o estigma marca sua vida por tempo
indeterminado, se não pela vida toda.
48
Monteiro e Souza
124
e Giordani
23
verificaram também tais atitudes em seus estudos e
afirmaram que as consequências da violência na vida da mulher são registradas pela baixa da
autoestima, pelo medo, pelo isolamento social e pelo sentimento de culpa. As mulheres em
que a violência sexual foi perpretada por desconhecido tendem ao sincio uma vez que se
encontram num constante conflito interior em entenderem o que e o porquê aconteceu a
violência com elas.
Temos também submerso nessa tristeza a vergonha, o medo da rejeição, o
autoisolamento o só como reflexo da tristeza de ter tido seu corpo invadido, como também
a vergonha do outro. Na trajetória hisrico-social do papel social da mulher verifica-se que
sua educação foi pautada no exercício da sexualidade para fim reprodutivo e restrito ao
espaço privado, sendo designado para si, dentre inúmeras condições, a fidelidade para com o
seu marido.
O sexo para a mulher ainda é visto como manifestação de amor e predispõe as relações
entre casais no que diz respeito às suas vidas sexuais. Nesse contexto, a violência sexual traz à
tona a relação sexual fora do casamento, ou seja, a infidelidade. Considerando que a ideia
social da violência sexual contra a mulher é decorrente, geralmente, das incitações femininas,
de suas provocações, vestimentas e comportamentos, a tristeza passa a ser um sentimento
presente por ser considerada infiel ao seu companheiro. Diante dessa vergonha e dessa
suposta infidelidade” as mulheres que vivenciam violência sexual tendem a se autoisolar.
... uns 4, 5 meses fiquei assim contida. (Entrevistada 01)
Aí eu fiquei mais deprê ainda com a rejeição do meu ex-namorado depois que soube da
violência. (Entrevistada 03)
... tinha dias que eu não conseguia nem mesmo estudar. Ficava o dia inteiro deitada.
(Entrevistada 06)
O ser humano tem necessidade de segurança no que diz respeito à proteção de si
mesmo, da família e da comunidade. Associado a essa necessidade tem-se a importância do
amor próprio, autoestima e autoconfiança. Essa autoestima faz com que a pessoa sinta-se mais
útil e valorizado junto à sociedade. A vivência da violência sexual desestrutura essa
autoestima, ocasionando uma sensação de inferioridade, vergonha e distanciamento social.
Quanto menos seguros nos sentimos, mais nos afastamos das relações interpessoais, mais
desmotivados nos tornamos.
Não tava querendo ir pra igreja. Não tava querendo ir pro trabalho. o tava querendo fazer
mais nada. (Entrevistada 03)
49
É só uma tristeza que dava que eu não conseguia levantar. (Entrevistada 06)
A tristeza também esteve presente na memória dessas mulheres. As consequências de
uma experiência traumática afetaram os pensamentos dessas mulheres. O trauma fica
registrado em sua memória onde qualquer situação que se assemelhe ao momento da violência
ou que a faça reviver os sentimentos ruins daquela adversidade, a deixa triste.
... começou a voltar tudo de novo. Todas as imagens, todas as lembranças, começou a voltar
muito. Assim eu to meio chorando de novo. (Entrevistada 02)
... às vezes o pensamento vem na mente. O triste acontecimento vem na lembrança, porque
aconteceu dentro do meu quarto e onde eu olho, às vezes, eu lembro do acontecimento.
(Entrevistada 03)
... me dá uma tremedeira assim de tristeza quando eu lembro da violência. (Entrevistada 05)
Eu evito ficar revivendo aquilo, porqueo traz nada de bom. (Entrevistada 06)
As consequências decorrentes da vioncia sexual não afetam somente a memória,
atingem também o campo de ação, de iniciativa e de objetividade na vida
34
. Isto nos permite
também afirmar que essas mulheres construíram atitudes de proteção diante dessa tristeza, ou
seja, estratégias de enfrentamento da adversidade, uma vez que a reflexão e o estar sozinha, as
protegem de novas adversidades.
Outro sentimento apresentado pelas entrevistadas e não menos importante foi o da
perda. Embora esse sentimento tenha sido exteriorizado somente por duas depoentes ao
afirmarem a perda do prazer sexual e da liberdade de ir e vir, ele está implícito em todo o
decorrer das falas das mulheres de nosso estudo.
A perda está presente no sentimento de medo quando se perde a liberdade de ir e vir e
de relacionar-se. Encontramos na tristeza quando entendemos que muitas dessas mulheres, em
um primeiro momento, perderam a alegria em suas vidas. E identificamos tamm na culpa,
ao afirmarmos que nessas mulheres há a perda do respeito e da dignidade.
Em relação às perdas verbalizadas pelas depoentes deste estudo, os disrbios sexuais
tiveram sua explicação além dos problemas físicos acarretados. Sabe-se que a vioncia sexual
expõe a mulher a inúmeros problemas ginecológicos, tais como: ISTs, HIV/AIDS, lacerações,
doenças pélvicas inflamatórias. Entretanto, a repercussão de tal adversidade afeta
principalmente o psicológico dessas mulheres.
A mulher foi educada quanto à importância de entregar-se ao homem que ama. A
relação sexual com alguém vai muito além do físico, envolve amor, respeito, cumplicidade e
fidelidade. Ao vivenciarem violência sexual, as mulheres têm esse sexo romântico
50
desconstruído e o vêem mais significado em praticarem tal ato. Passam a ter relação sexual
como uma obrigação de um casal, para satisfazerem a vontade de seus namorados, maridos ou
afins. Além disso, trazem registrados na memória marcas da vioncia vivida que quando
despertadas emergem através de diferentes manifestações da violência ocorrida.
Dói [a relação sexual]. Às vezes nem tá doendo, a pessoa não fazendo nada pra doer e dói.
(Entrevistada 01)
Não vou dizer a você que continuo a mesma pessoa de sempre em relação a sexo. A minha
vontade caiu bastante. Mas eu faço um esforcinho pra agradar e tal. (Entrevistada 06)
O sexo para mulher vai além da satisfação física do desejo e da sensação de prazer
alcançada. Envolve estabelecer uma relação fortemente marcada pelo respeito, amor, carinho,
o qual consequentemente leva a um relacionamento prazeroso
125
.
As mulheres são educadas para vivenciarem uma relação sexual permeada de um
contexto romântico, onde o sexo é um meio de assegurar sua proteção junto ao homem. Nesse
sentido, a violência sexual interrompe essa ideologia feminina acarretando transtornos em sua
concepção de amor e sexo nos seus relacionamentos.
... tem pontos se as pessoas tocarem eu não sinto mais como o pescoço, como outras coisas
também eu não sinto mais. E eu sei que antes eu sentia. (Entrevistada 01)
... se ele [meu marido] falasse alguma palavra que o cara tinha me falado, voltava [a
lembrança da violência]. (Entrevistada 02)
Não encontramos em nosso estudo relatos de aversão ao sexo, pom identificamos
dificuldades desenvolvidas após a violência vivida. Os disrbios sexuais são frequentes nas
mulheres que vivenciam vioncia sexual e muitas delas tendem a reduzir permanentemente
suas atividades sexuais, desenvolvendo completa aversão à prática sexual com homens
23, 126
.
A outra perda referida foi em relação à falta de liberdade. O ser humano possui dentre
os inúmeros direitos, o direito à liberdade de ir e vir e à igualdade. Contudo, a violência
sexual representa uma violação aos direitos humanos da mulher e, consequentemente, limita
suas possibilidades na sociedade. É fato que a violência contra a mulher, seja física,
psicológica ou sexual, deprecia sua dignidade, seus valores e sua representatividade social. A
mulher ao vivenciar qualquer tipo de violência tem violado os direitos de privacidade,
intimidade, liberdade e autonomia individual.
A magnitude da prevalência mundial da violência contra a mulher permite refletir que,
embora os avanços constitucionais e internacionais tenham sido muito importantes para o
reconhecimento do papel feminino na sociedade, ainda são fortes os valores e crenças
51
patriarcais que regem nossa sociedade. A construção dos papéis masculinos e femininos na
esfera blica e privada da supremacia do homem e da submissão feminina, torna-se um
obstáculo para a implementação de diversos direitos recomendados pelas convenções e
declarações nacionais e internacionais.
O roubo da minha liberdade pra mim foi pior do que qualquer violência sexual em si, porque
isso passa entendeu, mas a sensação de que tem alguém ats de você, de que qualquer lugar
escuro é muito ruim... (Entrevistada 06)
O maior problema depois da violência foi o roubo dessa minha liberdade. (Entrevistada 06)
Tivemos na hisria da humanidade inúmeros avanços, entre eles avanços
constitucionais importantes no reconhecimento da igualdade entre o homem e a mulher e
avanços sociais significativos da participação da mulher na economia, política e cultura
127
.
Entretanto, mediante uma cultura que atribui compreensões e avaliações morais diferentes às
atitudes do homem e da mulher, os números de casos de violência contra a mulher são
alarmantes e são provas concretas de que muitos desses acordos ainda continuam no papel
109,
127, 128
.
A violência contra a mulher constitui uma violação de seus direitos humanos e
liberdades fundamentais e um obstáculo para que as mesmas desfrutem desses direitos. A
violência de gênero torna-se incompatível para dignidade e o valor humano, os quais devem
ser combatidos e eliminados.
Na Conferência Mundial sobre Direitos Humanos a violência contra mulher foi
identificada como obstáculo ao desenvolvimento, à paz e a igualdade entre os sexos, o que
confere a necessidade impreterível dos órgãos governamentais em promover o respeito
universal e a observância e proteção de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais a
todas as pessoas, indiferente de sua raça, etnia, classe ou sexo
30
.
3.3
A resiliência em mulheres em situação de violência sexual
Venha para a margem, disse a vida.
Eles disseram: Temos medo.
Venha para a margem, disse a vida.
Eles vieram. Ela os empurrou... e eles voaram.
Guillaume Apollinaire
52
Esta categoria evidencia os elementos existentes na vida das mulheres estudadas que
auxiliaram no processo de construção de sua resiliência. Constatamos como principais
elementos os aspectos individuais (69URs); os aspectos familiares (53 URs); e os aspectos
sociais (70 URs), os quais serviram como rede de apoio na construção da resiliência. São
mecanismos de proteção que auxiliam as mulheres a tornarem-se capazes de lidar com a
adversidade e não sucumbir a ela.
Os mecanismos de proteção individual, familiar e social fornecem às pessoas alicerces
para a construção da resiliência diante da adversidade vivida
76, 81
. Com um contexto afetivo e
protetor as mulheres desenvolvem estratégias para o enfrentamento da violência sexual e,
consequentemente, os danos decorrentes não se tornam tão graves e duradouros.
O entorno para um indivíduo construir a resiliência precisa ser: estável para dar o
sentimento de continuidade e de futuro; amoroso para aprender a dar e receber afeto;
confiável para oferecer segurança; flexível e aberto às novidades; e respeitoso para poderem
colocar em prática os direitos e deveres da vida em sociedade
12
.
3.3.1
Aspectos Individuais
Os aspectos individuais ajudam as pessoas a desenvolverem respostas positivas diante
das adversidades, facilitando com isso a construção de estratégias de enfrentamento e
superação. Esses aspectos não atuam isoladamente no processo de construção da resiliência,
porém são importantes para modificar a resposta das pessoas diante dos fatores de risco e com
isso minimizar seu impacto.
Buscando aprofundar mais sobre o aspecto individual, baseamo-nos nos cinco fatores
indicados por Wagnild e Young
87
como importantes no processo de construção da resiliência
e que se encontram relacionados à condição individual. São estes: o sentido de vida, a
autoconfiança, a serenidade, a autossuficiência, e a perseverança.
Nos depoimentos, o sentido de vida foi o aspecto individual que mais se destacou (20
URs). Seguido a ele, identificamos o aspecto autoconfiança com um total de 16 URs; a
serenidade (9 URs), a autossuficiência (6 URs) e a perseverança (4 URs).
53
As entrevistadas apresentaram em suas falas a presença do fator sentido de vida, o
qual foi exposto através de depoimentos de continuidade das atividades e dos planos traçados
anteriormente à ocorrência da violência, o respeito a si próprio e a presença da religião como
norteadora em suas vidas.
Entendemos o sentido de vida quanto à competência das mulheres em não permitir que
a vivência da vioncia sexual interrompesse seus planos, sonhos e anseios, como sendo
manter-se motivadas em continuar traçando, construindo e realizando sonhos e planos.
Sabemos que a vida em todo o seu caminho apresenta às pessoas imeros obstáculos, o que
explica a resiliência como um processo dinâmico e constante, entretanto com motivação,
autoestima e apoio a pessoa encontra e retoma sua vida.
Dando certo ou errado, estando feliz ou triste, eu acho que pra mim é importante eu ser eu.
(Entrevistada 01)
Vou retornar ao tratamento de fertilizão. (Entrevistada 02)
... to levando a minha vida normalmente. (Entrevistada 03)
Pinheiro
129
afirma que as mulheres tendo capacidade de dar um sentido em suas vidas,
conseguem desenvolver uma base suficiente para enfrentar a adversidade. Ter sentido de vida
é importante para avaliar os momentos estressores, buscar recursos e aprender com a
experiência, aliando esta à visão de futuro promissor
130, 131
.
Depois que aconteceu a violência, depois de 7 meses eu casei. (Entrevistada 04)
Eu não mudei exatamente nada da minha rotina. (Entrevistada 05)
No dia seguinte ou no final de semana seguinte eu fui ao cinema com um casal de amigos, eu
e meu marido. (Entrevistada 06)
Assis, Pesce e Avanci
12
referem que mesmo havendo uma possibilidade de
acomodação na vida, manter relações afetivas, atividades produtivas, estudos e satisfazer as
necessidades básicas, ajudam as pessoas na construção e manutenção de sua saúde mental.
Verificamos também que uma das mulheres buscou na religião o sentido da vida, a
explicação para o que aconteceu assim como, o apoio para seguir em frente.
Se aconteceu a violência comigo foi pra eu ficar mais atenta e para ter mais força e mais fé
naquilo que os irmãos, que o pastor e que meu próprio pai vem falando: Que tem que ter
Deus no seu caminho’. (Entrevistada 03)
54
Anjos e Baltazar
132
acrescentam que após a adversidade a onipotência dos
pensamentos não é alcançada o que acarreta a criação de um ser onipotente, que salvará a
pessoa e o livrará da culpa. Ainda os mesmos autores afirmam que essa projeção a um vínculo
com Deus além de livrar a pessoa da culpa, serve para que consiga enfrentar o problema fora
dele mesmo. A religiosidade é tomada como uma maneira de camuflar ou mesmo aplacar
muitos agravos.
O segundo fator que identificamos na fala das mulheres foi a autoconfiança que
apareceu através da crença de que podem atravessar novas adversidades seja pela experiência
vivida seja pela força divina. Esse fator é reforçado por diversos outros fatores que presentes
nas mulheres ajudam muito no processo de construção da resiliência, tais como: autoestima;
autoeficácia; autoavaliação; empatia e confiança na rede familiar e social.
... eu sempre superei as coisas Graças a Deus... o tem o porquê de eu ter medo de ser feliz.
(Entrevistada 01)
Sempre pedindo a Deus força de vontade e coragem pra enfrentar o que tiver que vir pela
frente. (Entrevistada 03)
... quando eu começo a querer entrar nesse processo de melancolia eu lembro: Gente peraí.
Eu quase morri. Eu fui maltratada pra caramba. Quase podia ter perdido minha vida.” Vamos
levantar esse astral, porque eu quero ser feliz, eu mereço... (Entrevistada 05)
A autoconfiança diz respeito à crença em si mesma para atravessar as adversidades e
continuar firme com seus planos e anseios
67
. Costa e Bigras
133
afirmam que encorajar a
mulher e fornecer-lhe suporte para o desenvolvimento da autoconfiança, promove sua
autoestima e, consequentemente, sua resiliência diante da vioncia sexual. Quanto menos
autoconfiança, perseverança e vontade de superar a mulher apresentar, maior serão as
manifestações negativas decorrentes da vioncia sexual.
Fundamental no processo de construção da resiliência é a maneira com que as pessoas
percebem sua própria capacidade de lidar com as adversidades e controlar seus resultados. A
percepção de si mesmo e as suas compreensões internas após a ocorrência do trauma são
preditores de resultados psicológicos satisfatórios ou não. As pessoas que possuem suas
compreenes de enfrentamento, procurando “modificar o presente positivamente, superam
com maior facilidade traumas psicológicos
134
.
A serenidade foi o terceiro fator encontrado. Identificamos nas falas sua presença
quando as mulheres referiram que após a ocorrência da violência passaram a ter mais
tranquilidade para resolver as coisas, amadurecimento para tratar do assunto da violência com
o parceiro e desenvolveram uma compreensão da violência sexual vivida.
55
Agora eu esperar é a melhor opção sabe? Pra ver até que ponto. Se a pessoa continuar
comigo, ela é meu amigo, ela vai ficar comigo. (Entrevistada 01)
Agora já to mais tranquila. (Entrevistada 02)
Em nosso estudo uma (1) entrevistada vivenciou a violência sexual praticada por um
conhecido, no caso o namorado da época. Nesta mulher a serenidade foi demonstrada quando
afirmou que se tornou mais tranquila, calma na busca de encontrar alguém para relacionar-se
afetivamente. E, que aprendeu a aguardar os acontecimentos naturais das coisas a fim de
diminuir seu risco de vivenciar uma nova violência sexual. Parece-nos que neste caso temos
um resgate da autoestima, o que significa desenvolver atitudes de aceitação de si própria,
credibilidade em suas capacidades e seus valores.
Agora eu tenho paciência de investir, de esperar, de finalmente agora conquistar alguém a tal
ponto da pessoa me esperar. De escolher quem espera a gente... (Entrevistada 01)
Eu tenho que ver até que ponto vale a pena pra mim. Se não der certo, até que ponto aquilo
me atinge, me incomoda. (Entrevistada 01)
As demais entrevistadas apresentaram serenidade em lidar com os problemas. Tal fato
é demonstrado quando estas apontam que não falam toda hora da violência vivida,
compreendem a adversidade como uma coisa possível de acontecer, natural e tendo um
propósito para sua vida.
A resiliência é entendida quando, no caso, a mulher vivencia uma adversidade,
enfrenta-a e com sabedoria e apoio supera-a. Entendemos que para que seja possível
estabelecer esse apoio é importante a comunicação da adversidade, o dividir o sofrimento
como forma de pedir ajuda. Para isso é necessário o estabelecimento de parcerias e relações
de respeito, confiança e ajuda. Cabe dizer que, uma vez tendo sido esclarecidas todas as
questões e arestas do problema, ficar revivendo e relembrando a vioncia sexual não se
apresenta como estratégia adequada para a superação.
É como se não tivesse acontecido assim . A gente [eu e meu marido] conversou e tal.
Mas assim a gente ta levando a vida em frente sem... sem ficar toda hora tocando no assunto,
vivenciando a história e tal. (Entrevistada 02)
A comunicação tem a função de transmitir informações factuais, opiniões e
sentimentos e representa a natureza dos relacionamentos. Ela é fator importante no
funcionamento familiar, na qual os esforços de intervenção para a construção da resiliência é
pautada na capacidade que cada um tem de expressar com clareza e resolutividade os
56
problemas
11
. Contudo, reviver a violência vivida faz desgastar o presente, traz a tona
sentimentos ruins e acarreta repercussões desfavoráveis a cada membro envolvido nessa
relação
135
.
A respeito da compreensão da violência sexual vivida as mulheres trouxeram em suas
falas a violência como uma condição esperada em sua vida, com um propósito para acontecer
ou algo que poderia acontecer a qualquer pessoa (natural).
E eu nunca me senti culpada porque eu sabia que tinha um propósito. (Entrevistada 03)
... eu posso passar por coisas diceis de novo se vier, porque eu sei... eu entendo tudo como
um propósito. (Entrevistada 04)
Na minha cabeça é uma coisa que pode acontecer com qualquer pessoa e, infelizmente,
aconteceu comigo. (Entrevistada 06)
Embora em suas falas esse entendimento transmita certa serenidade, podemos dizer
que tal postura é reflexo da educação da mulher em nossa sociedade patriarcal, podendo
expressar certo conformismo. A violência sexual contra a mulher a reduz a um objeto, onde o
homem tem o direito social de extravasar sua agressividade e seu desejo.
A mulher foi educada pela sociedade, Igreja e Medicina, para ter como função
satisfazer o homem. E, tais condições permitiram que a violência à mulher (violência de
nero) fosse inclusive considerada aceita socialmente. A mulher sempre é considerada
responsável e merecedora da violência vivenciada.
Infelizmente, o entendimento da sexualidade masculina como necessidade e impulso
biológico instintivo aplicado sobre a sexualidade feminina, regulariza a dominação, o controle
e a violência sexual contra a mulher
54
.
O quarto fator destacado nos depoimentos foi a autossuficncia que apareceu nos
relatos através de falas que apontavam a capacidade em realizar atividades por conta própria.
Entendemos a autossuficiência como a capacidade da mulher de se manter, em algumas
situações, suficientes por si só. Esta autossuficiência reflete-se na realização de atividades
cotidianas que passaram a ser difíceis de serem realizadas a partir de uma adversidade.
Sabemos que a violência sexual acarreta transtornos psicológicos que geram medo, vergonha,
baixa autoestima. Impedem, em alguns casos, as mulheres de realizarem atividades cotidianas.
Contudo com a associação dos diversos fatores individuais de proteção sentido de vida,
perseverança, autoconfiança, serenidade essas mulheres conseguem superar seus traumas e
desenvolver atividades de forma a alcançar a condição de autossuficiente.
57
Agora já ando sozinha. (Entrevistada 01)
... eu já ando sozinha, já não fico com mais tanto medo de andar sozinha... (Entrevistada 02)
Mas logo depois eu me recuperei. Saí de novo sozinha, porque eu tinha que voltar a trabalhar.
Aí tive que ir sozinha. (Entrevistada 04)
As pessoas que conseguirem desenvolver maneiras de lidar com a adversidade e tentar
modificar positivamente suas consequências, conseguem superar os traumas com mais
facilidade. A mulher quando recupera sua competência de falar, de agir e de ir e vir, ela
retoma a condição de sujeito, ou seja, ela readquire parcialmente seus direitos humanos
136, 137
.
Todavia, a resiliência não é constituída somente com características individuais,
necessita também de uma relação significativa da família e da rede social. Falar em
resiliência em termos individuais constitui um erro fundamental
138
. A resiliência é um
processo, uma transformação da mulher que insere seu desenvolvimento numa sociedade e
escreve sua hisria numa cultura.
Finalizando os aspectos individuais temos o quinto fator encontrado - a perseverança.
Este emergiu nos depoimentos das mulheres através de relatos de atitudes de persistência em
modificar ou vencer os traumas acarretados pela violência vivida. Na violência sexual, a
perseverança torna-se presente quando a mulher encoraja-se para continuar na vida com seus
planos pré- estabelecidos e com o crescimento pessoal adquirido com o enfrentamento da
violência.
... é um direito meu, a uma persistência minha ser sempre quem eu sou, em qualquer
situão. (Entrevistada 01)
... comecei a andar distancias pequenas até poder andar sozinha assim de ônibus.
(Entrevistada 02)
... hoje em dia eu me forço a fazer certas coisas, tipo parar pra olhar uma loja no meio do
caminho. (Entrevistada 06)
Walsh
11
define perseverança como a capacidade de enfrentar bem e persistir diante da
adversidade opressiva. Retratando possíveis conseqncias nocivas da violência sexual à
mulher, a perseverança nessa situação pode significar a manutenção dos planos de vida
traçados anteriormente à ocorrência da violência, assim como ser tenaz e determinada em
conseguir superar traumas da violência.
58
3.3.2
Aspectos Familiares – o apoio estrutural
Esta subcategoria caracteriza o papel dos familiares no processo de construção da
resiliência. O núcleo familiar pode ser constitdo pelos: companheiros, pais, irmãos, tios,
primos, ou seja, pessoas com grau de parentesco e que foram identificadas pelas mulheres que
vivenciaram a violência sexual como importantes no enfrentamento da adversidade. Das seis
(06) mulheres entrevistadas, cinco (05) referiram ter tido apoio de sua família (51 URs) e que
esse apoio foi fundamental na superação da adversidade.
... todo mundo assim junto no dia do ocorrido. Assim foi importante. (Entrevistada 02)
Você consegui reagir da violência se você tiver principalmente a família... (Entrevistada 03)
A entrevistada que não referiu apoio familiar, afirmou que não considerou importante
contar para o companheiro e/ou irmãos uma vez que, segundo ela, não iria acrescentar em
nada, somente iria aguçar o sentimento de pena deles. Referiu que sua relação com os irmãos
não é de conversas íntimas nem de trocas de afeto. Ela considera que ao criarem novas
famílias eles têm que se preocupar com sua esposa e filhos e não com ela. Além disso, ela
aponta que seu companheiro tem pensamentos machistas e entende que as mulheres que
vivenciaram violência sexual fizeram por onde, ou seja, para ele elas provocaram.
... ele [meu marido] acha que..., ele já falou várias vezes: que a mulher que é estuprada é
porque ela quis. Porque ela que seduziu. E eu fiquei pensando:Hum! Tolinho o sabe nada
(Entrevistada 05)
Diante dessa concepção, a entrevistada não revelou a violência vivida que o
sentimento de culpa ia lhe ser imposto ao ins de apoio. Na verdade constatamos em sua
fala, a violência cotidiana de violência psicológica e de gênero em seu ambiente intrafamiliar.
A vioncia de gênero e, consequentemente, a violência psicológica dessa mulher é retratada
pela violação da honra, onde seu companheiro através da calunia, difamação e inria,
responsabiliza as mulheres, inclusive ela, pela vivencia da violência sexual. Tal atitude nada
mais é que exteriorização da formação patriarcal de nossa sociedade que associa a imagem da
sexualidade feminina à sedução, à traição e a levar o homem a caminhos de desonra da moral
– como se o mesmo tivesse isento de sua participação nas relações interpessoais
42
.
59
As mulheres que referiram apoio familiar destacaram o quanto este foi importante no
enfrentamento da violência sexual vivida. E apontaram que o mesmo foi estabelecido a partir
de uma escuta sincera, palavras de incentivo, presença constante e companhia no tratamento.
Minha mãe me ajuda. A agora sim. (Entrevistada 01)
... principalmente meu irmão depois que soube desse acontecimento, ele sempre fica me
ligando, me dando atenção... (Entrevistada 03)
... todos nós (minha família) somos muito unidos, todos ficaram perto de mim. (Entrevistada
04)
A minha mãe não fala muito sobre isso o. Ela só fica do meu lado, me abraça. (Entrevistada
06)
A família estruturada constitui o porto seguro do indivíduo. Quando consegue oferecer
aos seus membros suprimentos para sua sobrevivência lar, segurança e alimentação; seu
desenvolvimento afetivo, cognitivo e social; e seu sentimento de aceitação e de se sentir
amado, a família torna-se base para o desenvolvimento da personalidade de qualquer ser
humano.
A família é fundamental na formação e desenvolvimento da estrutura de vida do
indivíduo. É o primeiro ambiente no qual se desenvolve a personalidade de cada novo ser. É
vista como o primeiro espaço psicossocial, modelo das relações a serem estabelecidas com o
mundo. É a matriz da identidade pessoal e social, uma vez que nela se desenvolve o
sentimento de pertinência, de independência e de autonomia
139
.
Sabemos que os núcleos familiares vêm se transformando no decorrer dos tempos,
acompanhando as alterações religiosas, econômicas e socioculturais. Contudo sua função
protetora e de socialização são mantidas no que diz respeito a desenvolverem papel
fundamental no apoio de seus integrantes diante da adversidade.
As relações familiares baseadas no apoio, segurança e respeito foram destacadas pelas
mulheres como alicerces necessários para reconstruir sua autonomia. Tais relações permitem
estabelecer outros vínculos, outras bases relacionais com colegas de trabalho, vizinhos,
amigos entre outros. Somado a isso, essa relação de afeto ajuda a construir a autoestima que é
um fator fundamental na construção da resiliência. Não se tem dúvidas de que uma relação
familiar afetuosa favorece ao desenvolvimento da resiliência pela mulher.
Entretanto, entendemos que para esse vínculo de confiança e apoio é preciso construir
entre os membros da família uma comunicação clara e verdadeira. A verbalização da
adversidade possibilita que os outros integrantes consigam identificar o problema,
compreender sua dimensão e, juntos, estabeleçam condutas de apoio e superação da violência
60
sexual vivida. Nesse sentido, verificamos que cinco (05) entrevistadas contaram para pelo
menos um ente da família e recebeu deste o apoio fundamental para sua superação.
[Minha mãe] sabe. (Entrevistada 01)
... assim minha família mais próxima né que mora ali [na vila] que sabe. (Entrevistada 02)
Meu tio depois que soube da violência me deu apoio... (Entrevistada 03)
O apoio do meu noivo que hoje é minha verdadeira família também foi importante.
(Entrevistada 04)
Meu marido foi meu maior apoio. (Entrevistada 06)
Walsh
11
afirma que o funcionamento da família é melhor quando conseguem através
da comunicação extrair o significado do que aconteceu, esclarecem o que podem prever e
determinam a melhor forma de lidar com a situação. Ainda segundo a mesma autora, as
adversidades tornam-se mais compreensíveis e administráveis quando seus significados e suas
repercussões são discutidos abertamente no núcleo familiar.
A confiança estabelecida com algum membro da família encoraja e reforça a
importância de um compartilhamento aberto e honesto das emoções. Essas emoções quando
não faladas e guardadas para si podem acabar sendo expressas em sintomas emocionais ou
físicos nocivos à pessoa ou virem à tona no relacionamento com o outro ou no contexto da
vida
11
.
Contudo para que se estabeleça uma comunicação é preciso que do outro lado tenha
alguém disposto a escutar. A pessoa que se disponibiliza a escutar a mulher passa a dividir um
momento intimo dela e consegue compreender o significado da adversidade para ela. A escuta
quando realizada de forma sincera e completa torna-se um valioso instrumento de ajuda.
... mas a pessoa [namorado] pelo menos me escuta. (Entrevistada 01)
Todas [as pessoas com quem me relaciono] sempre me escutaram. Aparentemente dizem me
entender. (Entrevistada 01)
É comum verificarmos como reação humana diante de situações adversas, o indivíduo
realizar uma catarse daquilo que lhe causou um agravo. É um desabafar de acontecimentos,
ora comunicativo, ora apelativo. Essa reação pode ser explicada pelo fato da pessoa precisar
ser escutada para que ordene e organize sua experiência e mesmo que a solução pareça
distante ou impossível, o simples falar traz um alivio imediato para ela.
O ato de escutar vai além da capacidade auditiva da pessoa. Significa estar disposto
para a fala, ao gesto e às diferenças do outro
140, 141
.
61
Compreendemos que quando a pessoa não é escutada ela pode entender que não
merece atenção ou não se interessam por ela. Com isso, a não escuta pode estimular o
sentimento de desvalorização, consequentemente desenvolvendo na pessoa sentimento de
culpa e baixa autoestima.
Entendemos que a violência sexual vivida pela mulher acaba atingindo também a
família e a maneira como esta enfrenta a adversidade, resistindo aos transtornos e
reorganizando-se eficientemente possibilita a resiliência da mulher assim como um
sentimento de respeito, confiança e autoestima.
3.3.3
Aspectos Sociais – a rede de apoio ampliada
Ainda na construção da resiliência verificamos que a mulheres investigadas referiram
ter tido o apoio social (70 URs) para transpor o trauma da violência sexual vivida. As mesmas
destacaram o apoio demonstrado pelos amigos, colegas de trabalho, profissional de saúde e na
própria religião.
As pessoas que estavam bem próximas de mim é que souberam. (Entrevistada 04)
... meus amigos me surpreenderam. Assim de sair do trabalho e ir pra casa fazer comida pra
mim. De passar a noite comigo. De tentar me animar. (Entrevistada 06)
Entendemos, a partir dos depoimentos, que a rede social tem inúmeras funções junto à
mulher, tais como: promover a convivência em sociedade, oferecer apoio emocional,
responsabilidades e papéis sociais e prestar outros servos de apoio. Para o apoio ser eficiente
e oferecer acolhimento, proteção, estímulo de luta e de força para realizar conquistas é preciso
que seja efetivo e coeso.
Todas essas funções confluem na determinação de um importante subsídio junto às
mulheres com o sentido de propiciar competência e determinação individual, ou seja, o
fortalecimento da autoestima e reconhecimento de si mesmo como ser capaz e integrado em
um contexto sociocultural.
O restabelecimento da participação positiva na sociedade pelas mulheres que
vivenciam violência sexual, possivelmente acaba por contribuir para a interrupção de um
possível ciclo de violência e, consequentemente, promove a resiliência diante de tais
adversidades vividas.
62
A rede de apoio social existente na vida das pessoas pode ser definida como um
conjunto de sistema e pessoas significativas que compõem os relacionamentos recebidos e
percebidos pelo indivíduo
142
. É considerada uma importante dimensão do desenvolvimento
humano, constituindo uma interface entre a pessoa e o sistema do qual ela faz parte
143
.
Em nosso estudo a amizade foi um dos apoios sociais que surgiram e que foi
destacado como fator importante para a construção da resiliência. A presença dos amigos e a
relação bem estruturada com esse núcleo da sociedade oferecem as mulheres, através do
sentimento de apego positivo, capacidade para desenvolver estratégias de superação. Elas
destacaram que a força e o companheirismo prestado pelos amigos ajudaram-nas em seu
fortalecimento para reagir aos agravos decorrentes da violência sexual vivida além de
fornecerem um sentimento de proteção.
Ele [meu amigo] teve preocupação com várias áreas na minha vida, na sde, no remédio, em
tudo. (Entrevistada 01)
Foi importante com certeza o apoio dos amigos. (Entrevistada 02)
Você consegue reagir da violência se você tiver amigos... (Entrevistada 03)
... meus amigos foram muito importantes pra mim. (Entrevistada 06)
A relação de amizade promove afeto, intimidade e confiança e que com isso
reconhecem a consideração positiva e o cuidado que um tem pelo outro como uma
oportunidade de experimentar sentimentos positivos e construtivos
144, 145
.
As interações proporcionadas pelas amizades favorecem a delimitação da identidade
social, a construção de habilidades e competências sociais bem como o desenvolvimento
individual de autoestima e autoeficácia. Os amigos são geralmente pessoas escolhidas para o
convívio a partir da afinidade. Gera cumplicidade, fortalecimento pessoal e coletivo e
desenvolvimento individual e coletivo. Os sentimentos e atitudes provenientes dessas relações
de amizades são tamm determinantes no processo de construção da resiliência.
Entendemos com isso que a relação estabelecida positivamente entre amigos torna-se
um fator de proteção diante as adversidades, reduzindo os sentimentos de ansiedade, medo,
solidão e estimulam atividades de criatividade e aprendizado de novos caminhos.
Identificamos também na fala das depoentes o apoio dos colegas de trabalho nesse
momento de superação da adversidade. Este apoio foi retratado tanto pela compreensão do
chefe, através do incentivo ao retorno as atividades anteriores mesmo após o tempo de
ausência, ou na ppria dispensa das atividades trabalhistas para realizarem os tratamentos
63
necessários, assim como, no restabelecimento da relação com os colegas de trabalho, como
uma maneira de voltar à ativa e de ter alegria de viver.
E as colegas de trabalho também me apóiam, são super amigas. Sempre tão brincando.
(Entrevistada 03)
Meus chefes me deram assisncia. Se preocuparam comigo. (Entrevistada 04)
... como eu trabalho numa escola só meu diretor ficou sabendo porque ele tinha que me dar
uma licença. (Entrevistada 02)
Minha orientadora do mestrado e esse professor que é praticamente meu orientador também
ficaram sabendo, pois eu precisava explicar o que estava acontecendo. (Entrevistada 06)
Embora o vínculo entre os colegas de trabalho não sejam tão profundos quanto à
amizade, ter a compreensão dessas pessoas além de ajudar a diminuir as lembranças ajuda a
minimizar o sentimento de medo da perda do emprego uma vez que precisam ausentar-se para
cuidarem de si. Essas atitudes favorecem a construção ou manutenção de relações saudáveis
assim como o sentimento de valorização, importantes para a autoestima, logo para a
construção da resiliência.
Apoiaram. Continuou tudo normal (no trabalho). (Entrevistada 01)
[O diretor da escola] Apoiou. (Entrevistada 02)
Eu vi também como uma força o incentivo dos meus chefes em me estimularem a voltar ao
trabalho. (Entrevistada 04)
... o meu patrão da época ele veio me buscar pra me levar pra eu ir tomar a outra vacina em
Vila Isabel. (Entrevistada 05)
No contexto do trabalho a construção de recursos adaptativos que preservem a relação
saudável entre o ser humano e seu trabalho favorece a formação da autoestima, a busca de
significado para a vida, a esperança, a preservação da identidade, a autoafirmação da
resiliência
146
.
A religião também foi identificada na fala de duas (2) entrevistadas como importante
nesse processo de superação da violência sexual vivida. A religião ajudou-as na superação da
violência vivida através da força divina presente em suas vidas. Acreditam que foram capazes
de atravessar o trauma da adversidade em decorrência da força que Deus provinha. E, em
alguns momentos consideraram es força a mais importante no processo de construção da
resiliência.
Tanto faz sendo crente não sendo crente, tem que ter Deus no caminho, porque sem Deus
você não consegue. (Entrevistada 03)
64
Deus principalmente foi quem me deu forças que assim varias vezes quando eu pensava no
começo porque aconteceu isso, eu logo tinha uma paz no meu coração quando... porque eu
sentia... assim algo de Deus pra minha vida. (Entrevistada 04)
A crença em um Deus ou fazer parte de uma religião constrói uma estrutura fortificada
no interior das pessoas, as quais se sentem fortalecidas diante a adversidade. O envolvimento
religioso passa com isso a servir como um fator de proteção do sofrimento psicológico dessas
mulheres e representa apoio no enfrentamento da violência vivida assim como um estímulo a
mudança de atitudes.
Acho que deve ser Deus mesmo [que me dá forças]. (Entrevistada 01)
... ali no retiro eu vi que... o que Deus fez na vida daquelas mulheres: a superação delas e que
Deus tava me curando ali naquele momento através do testemunho daquelas mulheres.
(Entrevistada 04)
...eu senti muito o amor de Deus por mim quando eu tava passando por tudo. (Entrevistada
06)
As crenças e práticas religiosas auxiliam numa melhor saúde física e mental, onde
alguns estudos
147, 148
verificaram que a religião melhora a sensação da dor, a debilidade física,
a pressão arterial, ameniza o impacto do câncer. na saúde mental aumenta a satisfação de
vida, bem-estar, esperança, otimismo e diminui os níveis de ansiedade, depressão e abuso de
substancias.
O envolvimento em religiões, segundo Lawler e Younger
149
, pode proporcionar esse
aumento na autoestima e no significado de vida das pessoas, auxiliam-nas no processo de
construção da resiliência diante a adversidade.
Entretanto, embora não tenha sido apresentado por nenhuma entrevistada, sabemos
que a religião também pode desenvolver-se na vida das pessoas como um fator de risco. A
religião fanática acaba impedindo que a pessoa enfrente realmente a adversidade,
exacerbando nelas o sentimento de vergonha, culpa e punição.
A religião em nossa compreensão promove conforto, força em enfrentar os problemas,
constitui uma energia positiva que ajuda as mulheres, assim como seus familiares e outras
redes sociais de apoio, na construção de sua resiliência. Entretanto, a mulher tem seu papel
social construído sob fortes ideologias machista de dominação e submissão, onde a Igreja teve
grande participação nessa construção histórica. Quando a Igreja incorpora em suas ações essa
visão discriminatória da mulher, pode estar imputando nela o sentimento de culpa da
violência sexual e diminuindo ainda mais sua autoestima e sua valorização. A religião nesse
contexto passa a exercer um efeito nocivo na saúde das mulheres uma vez que utiliza as
65
crenças religiosas para justificar comportamentos socioculturais negativos ou, em alguns
casos, substituir cuidados de saúde tradicionais
147
.
Encontramos também em nosso estudo o relato de duas entrevistadas sobre o papel da
profissional de saúde na sua vivência da violência sexual. Uma referiu sobre a ação da
assistente social, do seu trabalho que a orientou sobre a necessidade de procurar um hospital e
a acompanhou nesse atendimento e em posterior conversa com a mãe. A segunda referiu que
a Instituição que foi atendida dispunha de profissionais que muito lhe ajudaram.
Ela [a assistente social da empresa que eu estagiava] pegou e falou que tinha que conversar
comigo e tinha que chamar meus pais caso eu o viesse aqui [no hospital] para saber o que
tava acontecendo. (Entrevistada 01)
... as pessoas ali na Fernando Magalhães. Elas me deram muita força. (Entrevistada 05)
... [a assistente social] foi conversar com minha mãe na minha casa pra seguir os outros
tratamentos que tinham que ser feitos. (Entrevistada 01)
Os profissionais de saúde, no contexto da mulher em situação de violência sexual,
desempenham importante papel na detecção dos fatores de risco e de proteção para tal
adversidade. Para isso, é importante que esses profissionais, estejam eles nas unidades de
saúde ou nos locais de trabalho da mulher, tenham conhecimento e consciência sobre a
violência sexual, tornando-se capazes de identificar tal adversidade, encaminhar ao tratamento
indicado, encorajar a exteriorização dos sentimentos decorrentes da vioncia, dispor de uma
escuta sensível e compreensível para esses sentimentos, oferecer o apoio indispensável para a
segurança dessas mulheres assim como estimular sua independência, autoestima,
autoconfiança e iniciativa para criarem estratégias de
coping
diante a violência sexual vivida.
Machado, Leitão, Holanda
150
afirmam que ao profissional de saúde conm adquirir
capacidade de compreender e entender o indivíduo diante suas complexidades, dimensões
ampliadas, sabendo ouvir e, ao intervir, fazê-lo com ações compreensivas e humanizadas.
No entanto, sabemos também que vários casos de violência sexual ficam ocultos,
principalmente os casos de violência conjugal, e o tratamento dessas mulheres acabam
encaminhando-se somente para os sinais e sintomas dos agravos à saúde dessas mulheres.
A reprodução desse tipo de atendimento da profissional de sde em que as mulheres
não têm a situação da violência valorizada e consideram-se os sinais e sintomas é,
possivelmente, decorrentes da falta de capacitação e sensibilização dessa profissional ou,
ainda da dificuldade em lidar com tal situação que o coloca face aos seus valores e crenças,
repercutindo no envolvimento e adesão da mulher ao tratamento
116, 151
.
66
Percebemos então que o apoio social, assim como a família, quando oferecido de
forma segura e significativa, proporciona às pessoas elementos necessários para a construção
da resiliência. A partir desse apoio recebido a mulher passa a ter capacidade de efetuar trocas
com outras pessoas e, consequentemente, construir uma base estável ao longo de suas vidas.
O papel da enfermeira nesse contexto de apoio social ampliado não está somente na
condição de fazer, mas também na condição de ser. Ser que faz a diferença na vida da mulher
que com vínculo positivo incentiva a construção da resiliência. Visualiza a mulher como um
indivíduo que vai além da vioncia sexual vivida e com respeito aos seus direitos e dignidade
estabelece uma relação de desenvolvimento interpessoal.
67
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conhecer o processo de construção da resiliência em mulheres em situação de
violência sexual foi de grande importância, pois revelou ser uma rica estratégia a ser
incorporada na assistência a essas mulheres, principalmente na promoção de sua saúde e,
consequentemente, da melhoria de sua qualidade de vida.
O estudo mostrou que a violência sexual vivida pelas mulheres entrevistadas é um
reflexo da construção sociocultural em que estamos inseridos, na qual a submissão feminina
está evidenciada nos atos violentos e nas entrelinhas dos relatos dessas mulheres. As mulheres
submersas nessa educação patriarcal não conseguiram se desvencilhar dos sentimentos de
medo, tristeza, culpa e perda decorrente da violência sexual vivida e encontram, mesmo que
inconscientemente, na concepção de nero, muitas explicações por terem vivido tal
adversidade.
Verificamos que a dinâmica da violência sexual vivida pelas mulheres entrevistadas
repercute sobre sua vida e sua saúde a curto e longo prazo. A curto prazo podemos afirmar as
consequências de isolamento social, sentimentos de baixa autoestima, desvalorização e
desmotivação e conflitos pessoais. A longo prazo temos as lembranças eternas da
adversidade, sentimentos de medo e desconfiança e as disfunções sexuais.
Evidenciamos em suas falas a existência de uma estrutura favorável para a construção
da resiliência. Características individuais de autoestima, autoconfiança e autonomia, rede
familiar confiante e presente através de conversa aberta, escuta sensível e companheirismo e
rede social estruturada com forte presença dos amigos e da religião, compõem o contexto em
que as mulheres entrevistadas encontram-se inseridas.
Para tanto, o apoio social não precisa se reduzir aos amigos e à religião. As
instituições de saúde caracterizam-se como campos férteis para que os profissionais de saúde
estimulem nas mulheres em situação de violência sexual a reempoderar-se, retomar sua
cidadania, seus direitos humanos, o controle de seu corpo e sua saúde, estimular as relações
interpessoais saudáveis, reduzindo com isso o impacto da violência. Tornam-se com isso
facilitadores na construção da resiliência. É possível perceber que as estratégias de cuidado
podem auxiliar as mulheres no desenvolvimento da autonomia, do amor próprio e ao
próximo. Esta perspectiva abre novos horizontes para a atuação da enfermeira.
Vimos que a resiliência pode ser desenvolvida em qualquer etapa da vida e que diz
respeito à capacidade da mulher vivenciar, enfrentar e superar a violência sexual vivida, o que
68
a torna fator importante para ser estimulado pela enfermeira a fim de prestar uma assistência
integral da mulher. Promover a resiliência nas consultas de Enfermagem é ampliar a
promoção da saúde visando o bem-estar e melhoria da qualidade de vida. Criar um bom
vínculo profissional-mulher é indispensável para um atendimento integral e efetivo, onde o
trabalho da resiliência se dá através de uma escuta aberta e sem preconceitos, uma assistência
que auxilie a mulher na construção de um sentido de vida, na recuperação da autoestima e
autoconfiança e na reinserção social preservando suas crenças e valores.
É preciso traçar uma perspectiva de atuação diante da mulher que vivenciou violência
sexual crítica no que diz respeito à visão de fatalidade. A assistência não se resume a demanda
exclusiva de atendimento ao trauma. Trata-se de uma assistência integral e humanizada à
mulher marcada por uma adversidade, porém inserida em um contexto sócio-econômico-
cultural particular que deve ser valorizado.
A mulher em situação de violência tem sua relação interpessoal e sua vida abalados,
requerendo apoio emocional da profissional que lhe presta assistência. Não se trata transmitir
à cliente as informações que a enfermeira julga serem importantes a sua saúde. Significa
conhecer o contexto da mulher e pensar com ela as demandas, caminhos e soluções. A
participação e a responsabilidade da mulher nas ações de seu cuidado, de promoção de sua
saúde, transformam-na em sujeito da ação de saúde, dela participando ativamente, respeitando
suas peculiaridades individuais, sociais, econômicas e culturais.
Consideramos que para a enfermeira contribuir valiosamente para a promoção da
resiliência, é preciso que a mesma, junto com a mulher, identifique e atue sobre os fatores de
risco relacionados à vioncia sexual vivida, sejam os riscos individuais, familiares e
comunitários, assim como os fatores de proteção que atuam minimizando o impacto de tal
adversidade, favorecendo o enfrentamento e superação por essa mulher que está sendo
cuidada.
As ações de cuidado baseadas na resiliência têm como estratégia básica o foco no
indivíduo e no grupo social, os quais se encontram expostos à violência, contribuindo para
reforçar, viabilizar, desenvolver habilidades e competências individuais e coletivas que
permitem às mulheres enfrentarem e superarem a adversidade, consequentemente
desenvolvendo uma melhor qualidade de vida e de inserção e convívio social.
A enfermeira deve contribuir com a mulher na identificação e desenvolvimento de
suas características resilientes, permitir que ela busque novas condições de vida para que não
fiquem acomodadas a adversidade. Com isso, podemos pensar a resiliência como uma nova
perspectiva profissional no alcance da promoção da saúde.
69
Acrescido a isso, a resolutividade da violência sexual à mulher não se resume aos
laços familiares e aos serviços de saúde. É preciso discutir esse assunto no cotidiano dos
serviços de saúde, definir prioridades para capacitar os profissionais e estabelecer parcerias
com outros servos, uma vez que a violência contra a mulher exige um atendimento
interdisciplinar e intersetorial. Acreditamos também que a inserção no cuidado de uma pessoa
ou de um grupo identificado pela mulher como significante em sua vida, auxilia e facilita na
construção de sua resiliência.
Considerando a resiliência como uma temática recente no setor saúde, mas de grande
impacto na saúde da mulher, há a necessidade de ampliar as reflexões sobre as relações da
resiliência com a saúde da população feminina. Investir na instrumentalização das enfermeiras
quanto ao seu papel fundamental no processo da construção da resiliência a fim de minimizar
os agravos à sde das mulheres em situação de violência sexual. Ampliar as pesquisas e
reflexões da resiliência e sua repercussão sobre a saúde da mulher e fortalecer a inserção da
temática da violência contra a mulher e a resiliência nos diversos cursos de formação em
saúde.
Destacamos que a enfermeira, quando sensibilizada e disposta a contribuir para
modificar o panorama desumano da violência à mulher, torna-se uma das principais agentes
na promoção e prevenção de tal adversidade. Para tanto, a enfermeira deve adquirir
competência intelectual e técnica durante sua formação acadêmica e profissional am de
manter-se atualizada sobre a temática.
Consideramos, a partir da realidade encontrada, que a consulta de enfermagem, assim
como quaisquer das práticas de cuidado realizadas pela enfermeira com base em ões
estratégicas baseadas nos princípios da integralidade, da humanização e principalmente do
diálogo, ou seja, permeadas de acolhimento, da promoção de empoderamento, de autoestima,
do autoconhecimento, da crítica e do autocuidado podem ser reconhecidas como ações
facilitadoras do processo de construção da resiliência em mulheres que vivenciaram a
violência sexual.
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84
APÊNDICE A –
Número de mulheres entrevistadas por afirmativa da Escala de Resiliência
Discordo
Totalmente
Discordo
Muito
Discordo
Pouco
Não Concordo
Nem Discordo
Concordo
Pouco
Concordo
Muito
Concordo
Totalmente
1. Quando eu faço
planos eu os levo até
o fim
3 1 2
2. Eu costumo lidar
com os problemas de
uma forma ou de
outra
1 2 3
3. Eu sou capaz de
depender de mim
mais do que qualquer
outra pessoa
1 1 2 2
4. Manter interesse
nas coisas é
importante para mim
6
5. Eu posso estar por
minha conta se eu
precisar
1 2 2 1
6. Eu sinto orgulho
de ter realizado
coisas em minha vida
1 5
7. Eu costumo aceitar
as coisas sem muita
preocupação
2 1 1 2
8. Eu sou amigo de
mim mesmo
2 1 3
9. Eu sinto que posso
lidar com várias
coisas ao mesmo
tempo
1 4 1
10. Eu sou
determinado
2 1 3
11. Eu raramente
penso sobre o
objetivo das coisas
2 3 1
12. Eu faço as coisas
um dia de cada vez
1 1 2 2
13. Eu posso
enfrentar tempos
diceis porque já
experimentei
dificuldades antes
1 1 4
14. Eu sou
disciplinado
1 1 2 2
15. Eu mantenho
interesse nas coisas
1 1 4
16. Eu normalmente
posso achar motivo
para rir
2 1 3
17. Minha crença em
mim mesmo me leva
a atravessar tempos
diceis
1 1 4
18. Em uma
emergência, eu sou
uma pessoa em quem
as pessoas podem
contar
1 5
19. Eu posso 1 2 3
85
geralmente olhar
uma situação de
diversas maneiras
20. Às vezes eu me
obrigo a fazer coisas
querendo ou não
2 1 2 1
21. Minha vida tem
sentido
1 5
22. Eu o insisto em
coisas as quais eu
o posso fazer nada
sobre elas
2 1 2 1
23. Quando eu estou
numa situação dicil,
eu normalmente acho
uma saída
2 1 3
24. Eu tenho energia
suficiente para fazer
o que eu tenho que
fazer
1 1 4
25. Tudo bem se há
pessoas que o
gostam de mim
2 1 1 2
86
APÊNDICE B –
Escore da Escala de Resiliência das mulheres entrevistadas
Entrevistadas Pontuação
1 141
2 126
3 154
4 135
5 148
6 139
87
APÊNDICE C -
Ficha de Identificação
Iniciais do nome: _________________ Codinome: ________________________
1)
Local onde mora (Bairro): ______________________________________
2)
Qual a sua idade?___________
3)
Qual sua escolaridade (qual foi a última série que você completou)?
a)
Não estudou
b)
Nível Fundamental completo
c)
Nível Fundamental incompleto
d)
Nível Médio completo
e)
Nível Médio incompleto
f)
Terceiro grau completo
g)
Terceiro grau incompleto
4)
Qual a sua cor? ( leia as alternativas)
a.
Branca
b.
Parda, morena, mulata, cabocla
c.
Negra
d.
Amarela/oriental
e.
Indígena
f.
NSR
5) Qual sua religião? _____________________________________________________
6)
Estado Civil:
Solteira ( ) Separada ( ) Casada ( ) Viúva ( ) Com Companheiro ( )
Tempo de união: _______________________
7) Quantas pessoas ao todo vivem na sua casa?__________ Qual o parentesco com você?
______________ Quantas trabalham?__________
88
8) Profissão/ Ocupação: ____________________________________________
9) Qual a renda familiar?
a)
Até 1 (um) sario mínimo.
b)
1 a 3 salários mínimos.
c)
Mais de 3 salários mínimos.
10) Quem é o chefe de família em sua casa, assumindo as responsabilidades?
Você ( ) Seu companheiro ( ) Outros ( )
História de violência
11) Você já foi alguma vez maltratada emocionalmente ou fisicamente?
SIM ( ) NÃO ( )
12) Alguémlhe bateu, esbofeteou, chutou ou machucou fisicamente?
SIM ( ) NÃO ( )
13) Caso afirmativo (sim), por quem? (Por favor, marque com um X uma ou mais opções)
( ) Marido ( ) Ex-marido ( ) Namorado ( ) Pai ( ) Estranho ( ) Outro
Número de vezes ______________________________.
14) Quando você vivenciou violência sexual? _______________________
15) Quem praticou a violência sexual?
( ) Marido ( ) Ex-marido ( ) Namorado ( ) Estranho ( ) Outro
16) Aonde ocorreu à vioncia sexual?
( ) Rua ( ) Casa ( ) Trabalho ( ) Outro
89
APÊNDICE D –
Roteiro para a coleta da História de Vida das mulheres entrevistadas
ETAPA: Esclarecimento à mulher de todas as dúvidas em relação à pesquisa e os termos
utilizados na mesma (com o gravador desligado)
ETAPA: Entrevista com a mulher (com gravador ligado)
Fala-me sobre a sua vida desde a infância até esse momento da violência vivida.
Fala-me sobre sua vida após a vioncia vivida até o momento que está vivendo agora.
Pontos a serem abordados:
- relação familiar
- relação social
- autoimagem
- autoestima
- rede de apoio
90
APÊNDICE E -
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO BIOMÉDICO
FACULDADE DE ENFERMAGEM
Prezada mulher,
Você está sendo convidada a participar de uma pesquisa que tem por título. Sacode a
poeira e dá a volta por cima: resiliência em mulheres que vivenciaram violência sexual, tendo
como autora a mestranda Raquel Fonseca Rodrigues, orientada pela professora Lucia Helena
Garcia Penna, vinculada ao programa de mestrado da Faculdade de Enfermagem da UERJ.
Abaixo estaremos dando informações sobre a mesma, esclarecendo todas as vidas e, caso
você queira participar, pedimos que, ao final da leitura, assine este documento que se encontra
em duas vias (uma ficará com você e a outra ficará com a gente).
Os objetivos deste estudo são: Identificar os fatores de risco e de proteção presentes no
cotidiano de mulheres que vivenciaram a violência sexual atendidas em uma unidade pública
de saúde do município do Rio de Janeiro; Identificar o modo como se expressa a resiliência
em mulheres que vivenciaram a violência sexual atendidas em uma unidade pública de saúde
do município do Rio de Janeiro; Discutir o processo de construção da resiliência em mulheres
que vivenciaram violência sexual atendidas em uma unidade pública de saúde do município
do Rio de Janeiro.
Com esta pesquisa esperamos compreender as formas de superação e enfrentamento
da violência vivida, possibilitando com isso um aperfeiçoamento na assistência às mulheres
que vivenciaram violência, principalmente a violência sexual. Além disso, a pesquisa
pretende fornecer informações aos profissionais que os auxilie na formação de mais mulheres
resilientes e contribua para uma assistência mais eficiente para as mulheres que vivenciaram
violência.
Solicitamos sua autorização para realização de uma entrevista que será gravada e
posteriormente transcrita e publicada no trabalho. Solicitamos, também, sua permissão para
que os dados coletados possam ser utilizados nesse e em outros estudos por nós realizados.
Garantimos o sigilo assegurando sua privacidade- sua identidade não será revelada em
nenhum momento - pois utilizaremos pseudônimos na divulgação dos resultados. Esta
pesquisa não acarretará riscos e você pode recusar-se em participar ou solicitar seu
desligamento em qualquer fase da pesquisa livre de qualquer penalidade.
Agradecemos a sua colaboração e estaremos sempre à disposição para esclarecimentos
quanto ao andamento da pesquisa na Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro localizado em Boulevard, 28 de setembro 157, 7º andar Vila Isabel, Tel:
(21) 2587-6336 e também no Comi de Ética e Pesquisa/SMS-RJ, localizado na Afonso
Cavalcanti, 455 sala 701 Cidade Nova, Tel: (21) 2503-2024 ou (21) 2503-2026, no horário
de 9h às 13h, de segunda a sexta-feira. Deixo também disponível meu contato por telefone e
por email para qualquer esclarecimento: Tel: (21) 9747-5359; Email: quelfr@gmail.com.
Após esclarecimento de todas as minhas dúvidas, assino este documento autorizando a
utilização dos dados de minha entrevista na pesquisa.
Rio de Janeiro, _____ de __________________ de 2009.
__________________________________ _______________________________
(nome do entrevistado) (assinatura do entrevistado)
__________________________________ _______________________________
(nome do pesquisador) (assinatura do pesquisador)
91
APÊNDICE F -
Quadro demonstrativo das categorias
Categoria
Unidade
de
Registro
E1 E2 E3 E4 E5 E6
Total
Entrevistada
s
Tristeza
URs = 48
14
UR
s
4
UR
s
13
UR
s
5
UR
s
12
UR
s
5
Culpa
URs = 7
2
UR
s
4
UR
s
1
UR
s
3
Medo
URs = 51
14
UR
s
11
UR
s
3
UR
s
2
URs
1
UR
s
20
UR
s
6
A violência sexual
vivida expressa nas
atitudes do
cotidiano:
sentimentos e
emoções
URs = 116
Perda
URs = 11
7
UR
s
4
UR
s
2
Categoria
Subcategor
ia
Unidade de
Registro
E1 E2 E3 E4 E5 E6
Total
Entrevistadas
Serenidade
URs = 10
5
URs
2
URs
1
URs
1
URs
1
URs
5
Perseverança
URs = 4
2
URs
1
URs
1
URs
3
Autoconfiança
URs = 16
3
URs
1
URs
7
URs
5
URs
4
Sentido de Vida
URs = 20
6
URs
3
URs
5
URs
2
URs
3
URs
1
URs
6
Aspectos
Individuais
URs = 69
Autossuficiência
URs = 6
2
URs
1
URs
3
URs
3
Aspectos Familiares - o apoio
estrutural
URs = 51
6
URs
12
URs
9
URs
11
URs
13
URs
5
A resiliência
em mulheres
que
vivenciaram
violência
sexual
URs = 192
Aspectos Sociais a rede de
apoio ampliada
URs = 74
24
URs
7
URs
11
URs
11
URs
3
URs
18
URs
6
92
APÊNDICE G -
Carta de solicitação do campo de pesquisa à direção do Instituto Municipal
da Mulher Fernando Magalhães (IMMFM/SMS/RJ)
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO BIOMÉDICO
FACULDADE DE ENFERMAGEM
Prezado Diretor(a)
Gostaríamos de pedir autorização para realização de uma pesquisa intitulada Sacode a
poeira e dá a volta por cima: resiliência em mulheres que vivenciaram violência sexual.
Consiste em um projeto de pesquisa vinculada ao programa de mestrado da Faculdade de
Enfermagem da UERJ, da mestranda Raquel Fonseca Rodrigues, orientado por Lucia Helena
Garcia Penna. Os objetivos deste estudo são:
- Identificar os aspectos que contribram na formação da resiliência das mulheres que
vivenciaram a violência sexual atendidas em uma unidade pública do município do Rio de
Janeiro que possuem assistência a essas mulheres;
- Analisar a repercussão de uma conduta resiliente na vida da mulher que vivenciou a
violência sexual atendidas em uma unidade pública do município do Rio de Janeiro que
possuem assistência a essas mulheres;
- Discutir o processo de construção da resiliência em mulheres que vivenciaram a
violência sexual atendidas em uma unidade pública do município do Rio de Janeiro que
possuem assistência a essas mulheres.
Com esta pesquisa esperamos compreender as formas de superação e enfrentamento
da violência vivida, possibilitando com isso um aperfeiçoamento na assistência às mulheres
que vivenciaram violência, principalmente a violência sexual. Além disso, a pesquisa
pretende fornecer informações aos profissionais, auxiliando-os na formação de mais mulheres
resilientes e contribuindo para uma assistência mais eficiente para as mulheres que
vivenciaram violência.
Agradecemos a sua colaboração e estaremos sempre à disposição para esclarecimentos
quanto ao andamento da pesquisa na Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro localizado em Boulevard, 28 de setembro 157 Vila Isabel. Tel: (21) 2587-
6336.
Estaremos dando informações sobre a mesma e caso ocorra consentimento pedimos
que, ao final da leitura, assine este documento que se encontra em duas vias (uma é para a
Instituição e a outra ficará conosco).
Assinado este documento, autorizo a realização da pesquisa nesta Instituão.
Rio de Janeiro, _____ de __________________ de 2008.
__________________________________ _______________________________
(nome do Diretor(a)) (nome do pesquisador)
__________________________________ _______________________________
(assinatura do Diretor(a)) (assinatura do pesquisador)
93
APÊNDICE H -
Carta ao Comide Ética e Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde do
Rio de Janeiro (SMS – RJ)
AUTORIZAÇÃO DA PESQUISA
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biomédico
Faculdade de Enfermagem
Programa de Pós-graduação Mestrado em Enfermagem
Rio de Janeiro, setembro de 2008.
Da Prof. Dra. Lucia Helena Garcia Penna
Para Comitê de Ética da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro – SMS/RJ
Venho por meio desta, solicitar a autorização no Comitê de Ética da Secretaria Municipal
de Saúde para a realização da pesquisa intitulada: “Sacode a poeira e dá a volta por cima:
resilncia em mulheres que vivenciaram vioncia física e ou sexual, sob a responsabilidade
da Prof. Dra. Lucia Helena Garcia Penna.
Este projeto possui como objeto de estudo: o processo de construção da resiliência em
mulheres que vivenciaram a violência física e ou sexual. Tendo como objetivos: Identificar os
aspectos que contribuíram na formação da resiliência das mulheres que vivenciaram a vioncia física
e ou sexual atendidas em unidades públicas do município do Rio de Janeiro que possuem assistência a
essas mulheres; Analisar a repercussão de uma conduta resiliente na vida da mulher que vivenciou a
vioncia física e ou sexual atendidas em unidades públicas do município do Rio de Janeiro que
possuem assistência a essas mulheres; Discutir o processo de construção da resiliência em mulheres
que vivenciaram a violência física e ou sexual atendidas em unidades públicas do município do Rio de
Janeiro que possuem assistência a essas mulheres.
O desenvolvimento do mesmo será de responsabilidade da orientadora e da mestranda Raquel
Fonseca Rodrigues, matriculada no Programa de Pós-graduação – Mestrado em Enfermagem da
Faculdade de Enfermagem da UERJ (FACENF/UERJ).
O projeto de pesquisa será cadastrado no Departamento de Pesquisa da UERJ e assim que
obtivermos a autorização para a coleta de dados iniciaremos a nossa atividade no campo.
Certas de contar com sua colaboração agradecemos a atenção e o apoio a esta solicitação
institucional e colocamo-nos a disposição para quaisquer esclarecimentos,
Cordialmente,
Prof. Dra. Lucia Helena Garcia Penna
FACENF/PPGENF / UERJ
LUCIA HELENA GARCIA PENNA
luciapenna@terra.com.br
tel.: 2587-6335; Ramal: 04 - (Faculdade de Enfermagem)
94
APÊNDICE I
Quadro demonstrativo do perfil das mulheres em situação de violência
sexual atendidas no Instituto Municipal da Mulher Fernando Magalhães (IMMFM/SMS/RJ)
N
º
Idade
(anos)
Estado
Civil
Bairro reside Escolaridade Profissão
Tempo de
Ocorrência
da VS
(meses)
Agressor
Local
Agressão
01 20 Solteira Rio Comprido
Ensinodio
completo
Estudante 8 meses Conhecido
Residência
do agressor
02 38 Casada Piedade
Ensino superior
completo
Professora 7 meses Desconhecido Rua
03 31 Solteira
Praça da
Bandeira
Ensinodio
completo
Auxiliar de
serviços gerais
13 meses Desconhecido
Residência
da vítima
04 21 Casada
Jardim
Primavera
Ensinodio
completo
Estudante 11 meses Desconhecido Rua
05 47 Casada Catete
Ensino superior
completo
Arquiteta 10 meses Desconhecido Rua
06 25 Casada Gloria
Ensino superior
completo
Professora/
revisora de
texto
13 meses Desconhecido
Residência
da vítima
07 40 - Catete
Ensinodio
completo
Secretaria 25 meses Conhecido
Local de
trabalho
08 19 -
Ilha do
Governador
- - - - -
09 37 Casada Ipanema
Ensinodio
completo
Organizadora
de eventos
- Conhecido -
10 21 Solteira Costa Barros
Ensino
fundamental
completo
Do lar 21 meses Desconhecido -
11 20 - Saracuruna - - - - -
12 19 Solteira Benfica
Superior
incompleto
Professora 10 meses Desconhecido -
13 23 - Santa Tereza - - 15 meses Desconhecido
Residência
da vítima
14 35 Solteira São Cristoo
Ensinodio
completo
Caixa de
supermercado
8 meses Conhecido
Residência
da vítima
15 21 Solteira
Duque de
Caxias
- Estudante 9 meses - -
16 37 Separada Botafogo
Ensino superior
completo
Psicóloga 17 meses - -
17 27 Separada Penha Circular
Ensino superior
incompleto
Estudante 24 meses Conhecido -
18 23 Solteira Bonsucesso
Ensinodio
completo
Recepcionista 19 meses - -
19 30 Solteira São Cristoo - - 13 meses Desconhecido -
20 30 Solteira Tijuca
Ensino superior
completo
Aunoma 13 meses Desconhecido Rua
21 19 Solteira Leme
Ensinodio
incompleto
Estudante 10 meses Desconhecido
Carro do
Agressor
22 22 Solteira
Ilha do
Governador
Ensinodio
incompleto
Estudante 10 meses Conhecido Motel
23 26 - Piedade - - - - -
24 19 Solteira Higienópolis - Vendedora 26 meses Desconhecido Rua
25 23 Solteira Ipanema
Ensino superior
incompleto
Maquiadora 5 meses Desconhecido
Residência
da vítima
26 26 Casada Ilha do Ensino Babá 22 meses Desconhecido Local de
95
Governador fundamental
incompleto
trabalho
27 34 - - - - - Desconhecido -
28 23 - Queimados - - 19 meses - -
29 30 Casada Piabetá
Ensino superior
completo
Assistente
Social
19 meses Desconhecido -
30 55 - Inhaúma
Ensino
fundamental
incompleto
Do lar 10 meses Desconhecido
Residência
da vítima
31 32 Casada Brás de Pina
Ensinodio
completo
Recepcionista 9 meses Desconhecido
Residência
da vítima
32 54 - - - Professora 12 meses Desconhecido
Residência
da vítima
33 43 Solteira Tanque
Ensino
fundamental
incompleto
Acompanhante 23 meses Conhecido -
34 35 - Pavuna
Ensinodio
completo
Do lar 26 meses Desconhecido Rua
35 23 Solteira Costa Barros
Ensino
fundamental
incompleto
Auxiliar de
serviços gerais
12 meses Desconhecido Rua
36 22 Solteira -
Ensinodio
completo
Telemarketing 19 meses Desconhecido -
37 28 Casada
Ilha do
Governador
Ensinodio
completo
Secretaria 26 meses Desconhecido
Residência
da vítima
38 21 Solteira Tijuca
Ensinodio
completo
Técnica em
prótese
dentaria
8 meses Desconhecido
Residência
da vítima
39 27 Casada o Gonçalo
Ensinodio
incompleto
Faturista 16 meses Desconhecido -
40 27 Solteira -
Ensino superior
incompleto
Auxiliar
administrativo
8 meses Conhecido -
41 22 - Penha - - 7 meses Conhecido
Residência
do agressor
42 30 Solteira Itaboraí
Ensino
fundamental
incompleto
Do lar 10 meses - Motel
43 20 Solteira Quintino
Ensino superior
incompleto
Estudante 25 meses Desconhecido Rua
44 23 Solteira
Fazenda
Botafogo
Ensinodio
completo
Caixa 10 meses Desconhecido
Carro do
agressor
45 37 Solteira Caju
Ensino
fundamental
completo
Do lar 26 meses Desconhecido
Residência
da vítima
46 55 Casada São Cristóo
Ensino
fundamental
incompleto
Do lar 12 meses Desconhecido
Residência
da vítima
47 38 - São Gonçalo
Ensino
fundamental
incompleto
Auxiliar de
produção
13 meses -
Local de
trabalho
48 20 Solteira Penha
Ensino superior
incompleto
Estudante 19 meses Desconhecido -
49 41 Solteira
Duque de
Caxias
Ensinodio
incompleto
Auxiliar de
produção
13 meses Desconhecido Rua
50 19 - - - Estudante - - -
Protagonistas do estudo
96
ANEXO
Escala de Resiliência
Escala de Resiliência
Marque o quanto você concorda ou discorda com as seguintes afirmações:
Discordo
Totalmente
Discordo
Muito
Discordo
Pouco
Não Concordo
Nem Discordo
Concordo
Pouco
Concordo
muito
Concordo
Totalmente
1. Quando eu
faço planos, eu
levo eles até o
fim.
2. Eu
costumo lidar
com os
problemas de
uma forma ou
de outra.
3. Eu sou
capaz de
depender de
mim mais do
que qualquer
outra pessoa.
4. Manter
interesse nas
coisas é
importante
para mim.
5. Eu posso
estar por
minha conta
se eu
precisar.
6. Eu sinto
orgulho de ter
realizado
coisas em
minha vida.
7. Eu
costumo
aceitar as
coisas sem
muita
preocupação.
97
8. Eu sou
amigo de
mim mesmo.
9. Eu sinto
que posso
lidar com
rias coisas
ao mesmo
tempo.
10. Eu sou
determinado.
11. Eu
raramente
penso sobre o
objetivo das
coisas.
12. Eu faço
as coisas um
dia de cada
vez.
13. Eu posso
enfrentar
tempos
difíceis
porque
experimentei
dificuldades
antes.
14. Eu sou
disciplinado.
15. Eu
mantenho
interesse nas
coisas.
16. Eu
normalmente
posso achar
motivo para
rir.
17. Minha
crença em
mim mesmo
me leva a
atravessar
tempos
difíceis.
98
18. Em uma
emergência,
eu sou uma
pessoa em
quem as
pessoas
podem
contar.
19. Eu posso
geralmente
olhar uma
situação de
diversas
maneiras.
20. Às vezes
eu me obrigo
a fazer coisas
querendo ou
não.
21. Minha
vida tem
sentido.
22. Eu não
insisto em
coisas as
quais eu não
posso fazer
nada sobre
elas.
23. Quando
eu estou
numa
situação
difícil, eu
normalmente
acho uma
saída.
24. Eu tenho
energia
suficiente
para fazer o
que eu tenho
que fazer.
25. Tudo bem
se há pessoas
que não
gostam de
mim.
* Versão adaptada para o português da Escala de Resiliência de Wagnild e Young, 1993.
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