32
[...] Os pretos divididos em Nações e com instrumentos próprios de
cada uma dançam. „Como acontece até hoje no Candomblé, as
nações se dividiam e se diferenciavam por meio de diversos
elementos rituais como a língua, cantos, danças e
instrumentos, especialmente os tambores‟.
27
Os candomblés do Brasil estão divididos por nações, que caracterizam-
se por um sistema de crenças em divindades chamadas de orixás.
28
O culto
aos orixás se estabeleceu principalmente na Bahia e em outras regiões do
Brasil, peculiarmente denominados de Tambor de Mina (Maranhão), Batuque
(Rio Grande do Sul) e xangôs (Pernambuco).
29
A palavra “xangô”, em Pernambuco, passou a caracterizar tanto a
religião afro-brasileira, voltada para o culto aos orixás (deuses
associados à natureza ou ancestrais divinizados, na concepção
iorubá), como a referir-se ao orixá do trovão, isto é, um orixá
particular. Todavia, xangô designa o terreiro ou local onde ocorre o
próprio culto, assim como as festas litúrgicas ou toques que ali se
desenvolvem, ou seja, o termo xangô, no Estado de Pernambuco, é
polissêmico.
30
A multiplicação dos terreiros pode ser explicada sob vários enfoques,
um deles é o fascínio e a atração que exercem, pelo uso ritualizado do corpo
através dos transes, cantos, danças, vestimentas, comidas e bebidas durante
as festas sagradas realizadas nos terreiros.
31
De acordo com Eduardo Fonseca, as festas sagradas do candomblé
teriam uma função religiosa e uma estético-proselitista muito forte. O aspecto
religioso seria observado no cultuar e homenagear dos deuses, tendo um
caráter de fé, expressada pelos cantos e danças realizadas com entusiasmo,
27
Idem. p. 101.
28
Denominação iorubá para os santos ou divindades africanas (Exu, Lebara, Ogum, Oxossi,
Ossain, Iansã, Obá, Eua, Xangô, Nanã, Becém, Fequém, Tempo, Omulu, Oxum, Iemanjá e
Oxalá) cultuadas nos candomblés, que seriam incorporados sob transe mediúnico. A tais
entidades seriam atribuídas vestes rituais, comidas, danças e cantos específicos, os quais
seriam visíveis em cerimônias públicas e privadas. PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos
Orixás. São Paulo, Editora Companhia das letras, 2001. p. 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23.
29
Foi Percebido em nossas oportunidades de visitação em alguns terreiros do Recife que a
denominação de Xangô não é bem aceita, tendo uma conotação de inferioridade para os
adeptos, os quais preferem a denominação de candomblé.
30
COSTA, Valéria Gomes. Práticas culturais femininas e constituição de espaços num
terreiro de xangô de nação xambá. In: Afro-ásia n. 36, p. 199-227, Salvador, 2007, p. 200.
31
LOYOLA, Maria Andréa. Médicos curandeiros: conflito social e saúde. São Paulo. Ed.
Difel, 1984. MOTTA, Roberto. A tradição afro-brasileira e sua expansão em Pernambuco.
In: Ciclo de Palestras do NERP/Núcleo de Estudos e Pesquisas em Religiões Populares –
Mestrado em Antropologia/UFPE. Recife, Mimeo, 1994.