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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Curso de Pós-Graduação em Engenharia Metalúrgica e de Minas
Tese de doutorado
"Desenvolvimento de curativos para cicatrização
de feridas por segunda intenção baseados em
biomateriais capazes de promoverem
resposta celular controlada via estímulo externo”
Autor: Carlos Ignacio
Orientador: Prof. Rodrigo Lambert Oréfice
Junho de 2009
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Curso de Pós-Graduação em Engenharia Metalúrgica e de Minas
Carlos Ignacio
DESENVOLVIMENTO DE CURATIVOS PARA CICATRIZAÇÃO DE FERIDAS
POR SEGUNDA INTENÇÃO BASEADOS EM BIOMATERIAIS CAPAZES DE
PROMOVEREM RESPOSTA CELULAR CONTROLADA VIA ESTÍMULO
EXTERNO
Defesa de tese de doutorado apresentada ao
Curso de Pós-Graduação em Engenharia
Metalúrgica e de Minas da Universidade
Federal de Minas Gerais
Área de concentração: Ciências e Engenharia de Materiais
Orientador: Prof. Rodrigo Lambert Oréfice
Belo Horizonte
Escola de Engenharia da UFMG
2009
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ii
Agradecimentos
Ao Prof. Dr. Rodrigo Lambert Oréfice, pelo apoio, orientação, incentivo.
À Dra. Sandra A. L. Moura, pela solidariedade e amizade, desde o início deste trabalho,
no UNILESTEMG e depois no ICB/UFMG.
À Prof. Dra. Lucíola Barcelos, pelo incentivo e incansável colaboração nos
experimentos com os animais, tarefa que faz com muito carinho. E pela ajuda na
montagem do protocolo do CETEA.
À Prof. Dra. Mônica Diniz Ferreira, pelo incentivo e pela colaboração na interpretação
dos resultados de histologia.
À Prof. Dra. Sílvia Passos de Andrade, pela disponibilização do laboratório de
Angiogênese.
Aos alunos de graduação, do Curso de Engenharia de Materiais, Igor Alan Soares,
Cinthia Brito, Helbert Andrade, Kelly Pontes, que muito colaboraram nos trabalhos.
A José Eugênio de Oliveira e Silva, graduando de engenharia elétrica, pela ajuda na
construção da fonte de alta voltagem e do gerador de radiofreqüência.
Ao Instituto de Ciências Biológicas ICB-UFMG, pela disponibilização e uso dos
laboratórios de Fisiologia e Biofísica e Patologia Geral.
Ao departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais DEMET/UFMG, pela
disponibilização das análises de Microscopia Eletrônica e Espectroscopia
Infravermelho.
Ao Centro Universitário do Leste de Minas Gerais-UNILESTE, pela disponibilidade de
uso dos laboratórios e pela bolsa de doutorado.
À faculdade de farmácia do UNILESTE, pela disponibilização dos laboratórios.
À Fapemig, pela Bolsa de Iniciação Cientifica Tecnológica e Institucional da
FAPEMIG –PROBIC, concedida ao aluno Igor Alan Gomes Soares.
À minha família, pela compreensão nos períodos de ausência.
A tantos outros, que direta ou indiretamente colaboraram com este trabalho.
iii
Sumário
Agradecimentos ................................................................................................................ii
Lista de figuras.................................................................................................................. v
Lista de tabelas................................................................................................................iix
Lista de equações............................................................................................................iix
Abreviaturas...................................................................................................................... x
Resumo ...........................................................................................................................xii
Abstract..........................................................................................................................xiv
Capítulo 1 - Introdução..................................................................................................... 1
Capítulos 2 - Objetivos ..................................................................................................... 7
Capítulo 3 - Revisão bibliográfica.................................................................................... 8
3.1 - Epiderme............................................................................................................................... 8
3.2 - Derme ................................................................................................................................... 9
3.3 - Feridas na pele .................................................................................................................... 10
3.4 - Cicatrização ........................................................................................................................ 14
3.5 - Curativos............................................................................................................................. 20
3.6 - Tipos de curativo ................................................................................................................ 21
3.7 - Polímeros inteligentes......................................................................................................... 25
3.8 – Graftização ou enxertia ...................................................................................................... 37
3.9 - Graftização e adesão de proteínas...................................................................................... 39
3.10 - Cultura de células e adesão celular................................................................................... 40
3.11 - Técnicas preparatórias de superfícies poliméricas para graftização................................. 44
3.12 – Estudos in vivo com materiais ......................................................................................... 52
Capítulo 4 – Procedimento Experimental....................................................................... 53
iv
4. 1 - Materiais ............................................................................................................................ 54
4. 1. 1 - Preparação dos filmes:.............................................................................. 54
4. 1. 2 - Obtenção do filme ..................................................................................... 55
4. 1. 3 – Limpeza e extração de contaminantes do filme........................................ 57
4. 1. 4 - Purificação do monômero – N – isopropilacrilamida (N-IPAAm) ........... 59
4. 1. 5 - Tratamento corona..................................................................................... 63
4. 1. 6 - Tratamento com radiação Ultravioleta ...................................................... 65
4. 1. 7 - Graftização ................................................................................................ 66
4. 1. 8 - Medidas do ângulo de contato................................................................... 68
4. 1. 9 – Transição LCST........................................................................................ 69
4. 1. 10 – Espectroscopia infravermelho FTIR-ATR.............................................. 70
4. 1. 11 – Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) ........................................ 71
4. 1. 12 - Teste in vitro de adesão em proteína ....................................................... 71
4. 2 - Testes in vivo ..................................................................................................................... 72
4. 2. 1 - Preparação do curativo .............................................................................. 72
4. 2. 2 - Implantação ............................................................................................... 73
4.2.3 - Verificação do mecanismo on-off em um modelo de ferida cutânea
excisional. ............................................................................................................... 75
Capítulo 5 - Resultados e Discussão............................................................................... 83
5.1 - Ângulo de Contato.......................................................................................... 83
5.1 – Ganho de massa – graftização. ...................................................................... 85
5.3 - Microscopia Eletrônica de Varredura - MEV ................................................ 87
5.4 - Transição LCST.............................................................................................. 92
5.5 - Espectroscopia infravermelho com transformada de Fourier - FTIR............ 95
5.6 - Testes de adesão com deposição de albumina................................................ 98
5. 7 - Testes in vivo............................................................................................... 101
Capítulo 6 - Conclusão ................................................................................................. 118
Capítulo 7- Referências Bibliográficas......................................................................... 119
v
Lista de figuras
Figura 1.1: Representação da transição (LCST) nos enxertos de P-N-IPAAm em
poliuretano ................................................................................................................ 5
Figura 1.2: Esquema representando o leito de ferida por segunda intenção e curativo.... 5
Figura 1.3: Esquema representando curativo posicionado sobre o leito da ferida............ 5
Figura 1.4: Esquema representando proliferação de células............................................. 6
Figura 1.5: Esquema representando o acionamento on-off............................................... 6
Figura 1.6: Esquema representando a retirada do curativo sem trauma. .......................... 6
Figura 3.1: Estrutura da pele, indicando principais elementos....................................... 10
Figura 3.2: Matriz extracelular (ECM) e fibroblastos .................................................... 17
Figura 3.3: Esquema gráfico representando os vários estágios de lesão e o tempo de
duração.................................................................................................................... 18
Figura 3.4: Tipos de feridas - Primeira, segunda e terceira intenção.............................. 19
Figura 3.5: Fórmula química estrutural para o poli(n-isopropilacrilamida) ................... 27
Figura 3.6: Transição globular para enovelada............................................................... 27
Figura 3.7: Esquema representando a reação RAFT
..................................................... 30
Figura 3.8: Esquema representativo de polimerização RAFT de P-N-IPAAm ............. 31
Figura 3.17: Efeito do tipo de comonômero na LCST do PNIPAM .............................. 32
Figura 3.18: Esquema representativo do hidrogel de PNIPAM ..................................... 34
Figura 3.19: Esquema representativo da progressão da formação do gel....................... 35
Figura 3.20: Gráfico representando Grau de inchamento x Tempo ............................... 35
Figura 3.21: Gráfico representando Retenção de água em relação ao tempo................. 36
Figura 3.22: Gráfico: LCST x Concentração de sais no PNIPAM................................. 37
Figura 3.10: Esquema representando alguns tipos de polymers brushes
...................... 38
Figura 3.11: Esquema representativo de graftização: grafting to e grafting from ......... 39
Figura 3.12: Esquema representando alguns tipos de polymers brushes ....................... 40
Figura 3.13: Mecanismo de adesão da célula. ................................................................ 42
Figura 3.14: Esquema representando dispositivo on-off, para camadas de células........ 42
vi
Figura 3.15: Eletromicrografia do cultivo e células sobre superfície com poli (N-IPAAm
co DEGMA) à temperatura de 37°C (a) e destacamento após decréscimo de
temperatura (b)........................................................................................................ 43
Figura 3.16: Esquema representando tipos de adesão de células sobre substrato. ......... 43
Figura 3.23: Esquema representando ângulo de contato entre liquido e sólido. ............ 45
Figura 3.24: Esquema representativo sistema corona ponta-plano................................. 48
Figura 3.25: Gráfico de densidade de elétrons em função da energia. ........................... 49
Figura 4.1 – Fluxograma da metodologia utilizada ........................................................ 53
Figura 4.2: Poliuretano Elastollan ELA585A10 natural.............................................. 54
Figura 4.3: Poliuretano em piridina a temperatura de 50°C ........................................... 54
Figura 4.4: Poliuretano totalmente dissolvido em piridina a 50°C................................. 55
Figura 4.5: Derramamento da solução sobre a placa de vidro........................................ 55
Figura 4.6: Início da operação de espalmagem da solução............................................. 56
Figura 4.7: Fim do processo de espalmagem da solução................................................ 56
Figura 4.8: Retirada do filme da placa............................................................................ 57
Figura 4.9: Extrator Soxhlet............................................................................................ 58
Figura 4.10: Detalhe da câmara do Soxhlet com filme de PU........................................ 58
Figura 4.11: N – isopropilacrilamida sendo preparado para purificação........................ 59
Figura 4.12: N- hexano adicionado ao n-isopropilacrilamida (N-IPAAm).................... 59
Figura 4.13: Dissolução de N-IPAAm em n-hexano com aquecimento e agitação. ...... 60
Figura 4.14: Dissolução total de N-IPAAM em n-hexano a 60°C. ................................ 60
Figura 4.15: Filtragem à vácuo da solução de N-IPAAm em n-hexano......................... 61
Figura 4.16: Solução filtrada de N-IPAAm em n-hexano. ............................................. 61
Figura 4.17: N-IPAAm purificado e totalmente separado do n-hexano......................... 62
Figura 4.18: Sistema de secagem à vácuo de N-IPAAm................................................ 62
Figura 4.19: Sistema para tratamento corona do filme de PU........................................ 64
Figura 4.20: Sistema para tratamento corona do filme de PU........................................ 64
Figura 4.21: Câmara de vácuo/gás indicando cor azul na abertura do arco elétrico ...... 65
Figura 4.22: Tratamento com radiação ultravioleta........................................................ 66
Figura 4.23: Filme de PU exposto ao UV....................................................................... 66
Figura 4.24: Sistema do reator com atmosfera controlada. ............................................ 67
vii
Figura 4.25: Reator para graftização............................................................................... 67
Figura 4.26: Porta amostra do filme na medida do ângulo de contato. .......................... 68
Figura 4.27: Lupa para observação do ângulo de contato .............................................. 69
Figura 4.28: Esquema representativo para medição da LCST........................................ 70
Figura 4.29: Montagem do curativo. .............................................................................. 73
Figura 4.30: Acondicionamento dos camundongos no biotério. .................................... 75
Figura 4.31: Aplicação de anestesia no camundongo..................................................... 76
Figura 4.32: Preparação da pele do dorso do camundongo. ........................................... 76
Figura 4.33: Excisão da pelr com punch......................................................................... 77
Figura 4.34: Feridas prontas para serem cobertas........................................................... 77
Figura 4.35: Feridas recobertas com curativos ............................................................... 78
Figura 4.36: Reforço para assegurar a montagem do conjunto. ..................................... 78
Figura 4.37: Medidas das feridas.................................................................................... 78
Figura 4.38: Termômetro à laser para leitura da temperatura da pele. ........................... 79
Figura 4.39: Leitura de temperatura sobre o curativo..................................................... 80
Figura 4.40: Retirada do curativo. .................................................................................. 80
Figura 4.41: Retirada do curativo ................................................................................... 80
Figura 4.42: Retirada do tecido região das feridas dorso do camundongo..................... 81
Figura 4.43: Vista das feridas lado interno da pele.e a direita esquema representativo. 81
Figura 4.44: Seccionamento com punch , para análises histológicas ............................. 81
Figura 4.45: Preparação para fixação.(A) Feridas sendo seccionadas............................ 82
Figura 4.46: Acondicionamento do tecido em formalina (A)......................................... 82
Figura 5.1: Molhabilidade de uma gota de água deionizada sobre asuperfície do PU
graftizado com P-N-IPAAm ................................................................................... 83
Figura 5.2: Esquema representativo da formação de grupos.......................................... 84
Figura 5.3: Esquema representativo da graftização poli-N-Isopropilacrilamida superfície
de poliuretano ......................................................................................................... 85
Figura 5.5: Eletromicrografia do PU graftizado após tratamento corona....................... 87
Figura 5.6: Eletromicrografia do poliuretano graftizado com P-N- IPAAm.................. 88
Figura 5.7: Eletromicrografia do poliuretano graftizado com P-N-IPAAm................... 88
Figura 5.8: Eletromicrografia do poliuretano graftzado com P-N-IPAAm.................... 89
viii
Figura 5.9: Eletromicrografia do poliuretano poroso sem grafts.................................... 90
Figura 5.10: Eletromicrografia do poliuretano poroso com grafts. ................................ 90
Figura 5.11: Eletromicrografia do poliuretano poroso sem graft. ................................. 91
Figura 5.12: Eletromicrografia do poliuretano poroso com graft................................... 91
Figura 5.13: Eletromicrografia do poliuretano poroso graftizado. ................................. 92
Figura 5.14: Poliuretano graftizado com P-N-IPAAm. T= 31,7°C. ............................... 93
Figura 5.15: Poliuretano graftizado com P-N-IPAAm T= 32,2°C. ................................ 93
Figura 5.16. esquema representativo do estado das moléculas....................................... 94
Figura 5.17 - Esquema representativo da estrutura química do ..................................... 95
Figura 5.18 - Esquema representativo da estrutura química do poliuretano. ................. 95
Figura 5.19: Espectros na região do infravermelho de filmes: PU puro sem grafts (A),
PU tratado com UV (B), PU graftizado com P-N-IPAAm (C) ......................... 96
Figura 5.20: Espectros na região do infravermelho de PU tratado corona e graftizado. 97
Figura 5.21: Gráfico indicando deposição e adesão de albumina................................... 99
Figura 5.22: Esquema representativo da deposição de albumina, sobre a superfície de
poliuretano com grafts de P-N-IPAAm. ............................................................... 100
Figura 5.24 – Cortes histológicos de implantes de P-N-IPAAm com 7 dias................ 103
Figura 5.25: Grau de contração das feridas sem e com cobertura ................................ 105
Figura 5.26: Feridas excisionais em camundongos ...................................................... 106
Figura 5.27: Testes on-off para verificação de aderência ............................................. 107
Figura 5.28: Esquema representativo do corte do tecido.............................................. 109
Figura 5.29 – Corte de pele normal de camundongo Swiss ......................................... 110
Figura 5.30A – Pele de camundongo mostrando área de lesão Ferida sem cobertura. 112
Figura 5.31A.- Pele de camundongo mostrando área de lesão Ferida com cobertura de
PU com grafts. Coloração H&E. .......................................................................... 114
Figura 5.32 Pele de camundongo mostrando área de lesão cobertura de poliuretano e
sem graft.. ............................................................................................................. 116
ix
Lista de tabelas
Tabela 3.1.Relação de formulação para polimerização………………...........................29
Tabela 3.2 LCST de polímeros a base de acrilamida………………………................. 33
Tabela 3.3 Tipos de polímeros com sua representação química e o valor da tensão
superficial…................................................................................................................... 46
Tabela 5.1 Ângulo de contato entre água deionizada e material………........................ 84
Tabela 5.2 Ganho de massa após graftização……......................................................... 86
Lista de equações
Equação 3.1.....................................................................................................................45
Equação 3.2.....................................................................................................................51
Equação 4.1.....................................................................................................................78
Equação 4.2.....................................................................................................................79
x
Abreviaturas
AAm - Monômero acrilamida
ATR – Attenuated Total Reflection
AIBN - 4,4’azobis(isobutyronitrile)
ASTM – American Standard Testing Materials
DMA – Dynamical Mechanical Analysis
DSC – Differential Scanning Calorimeter
DTE - Ditioester
ESCA – Electron Spectroscopy for Chemical Analysis
FTIR – Fourier Transformed Infrared
GPC – Cromatografia de Permeação a GEL
HEMA - Monômero 2-hidroxietil metacrilato
HPMA – Hidroxipropilmetacrilamida
IPN – Interpenetrant Polymers Network
ISO – International Standard Organization
LCST – Low Critical Solution Temperature.
LDH – Teste de citotoxidade
MEV – Microscópio Eletrônico de Varredura.
MTT MTT (3-(4,5-Dimethylthiazol-2)-2,5-diphenyltetrazolium bromide teste
citotoxidade
MBAAm - N, N′-metileno-bisacrilamide
NIPAM – Monômero n-isopropilacrilamida
N-tBAAm - Monômero butil acrilamida
M
N
- Massa Molar Numérica Média
M
W
- Massa Molar Ponderal Média
PHPMA – Poli Hidroxipropilmetacrilamida
P-N-IPAAm – Poli(n-isopropilacrilamida).
PDI- Índice de Poli Dispersão
RAFT - Reservible Addition Fragmentation Chain Transfer
RMN-H Ressonância Magnética Nuclear – Hidrogênio.
xi
RMN-C
13
Ressonância Magnética Nuclear – Carbono 13
PU - Poliuretano
SEC - Cromatografia por exclusão de tamanho
T
g
– Temperatura de transição vítrea
UV-VIS – Espectroscopia Ultra Violeta Visível.
XPS – Espectroscopia fotoelétrica de raios-x
xii
Resumo
O mercado conta hoje com uma gama variada de curativos que têm por finalidade
básica proteger feridas de possíveis infecções e ressecamento durante sua cicatrização.
A evolução científica aliada à elevada incidência de feridas cicatrizadas por segunda
intenção e seus altos custos para a saúde pública têm estimulado pesquisadores de
diversas regiões do mundo a buscar soluções mais eficientes e baratas, pautados na
convicção de que um curativo não tem apenas que proteger feridas. Um bom curativo
deve proporcionar proteção aos ferimentos, potencializar condições adequadas para a
recuperação dos tecidos lesados, dar suporte para a fixação celular e desenvolvimento
do novo tecido sadio. A estratégia, mais frequentemente utilizada, tem sido a de acelerar
os mecanismos de proliferação celular buscando propiciar melhores condições para a
recuperação da pele. Neste trabalho buscou-se, elaborar um novo curativo que
protegesse, contribuísse para a reconstrução tecidual e que no momento adequado e
previamente estipulado, pudesse ser removido do tecido neoformado por meio de um
estímulo externo favorecendo o descolamento celular sem causar-lhe dano sensível.
Utilizou-se, para desenvolvê-lo, polímeros baseados no poli (N-isopropilacrilamida) (P-
N-IPAAm) que é sensível a estímulos externos pois possui a propriedade de transição
de fase (LCST), que o torna hidrofílico quando atinge temperaturas abaixo de 32º C e
hidrofóbico para temperaturas acima de 32ºC. A hipótese principal envolveu a
utilização do comportamento desse polímero em contato com as novas células.
Enquanto hidrofóbico, o polímero favorece a adesão de proteínas e células, porém,
quando tornado hidrofílico (abaixo da temperatura de transição), proporciona uma perda
da aderência celular, denominado como mecanismo on-off. A estrutura do curativo
utilizado possuía duas camadas, sendo a primeira composta por um filme de poliuretano
(PU) com 50µm de espessura, cuja função é a proteção do ferimento e a segunda
composta por uma micro camada de enxertos de P-N-IPAAm, com a função de
proporcionar boas condições para atividade celular e o mecanismo on-off. Na primeira
camada utilizou-se filmes de poliuretano termoplástico que foram fabricados por
processo de espalmagem. Para inserir os enxertos de P-N-IPAAm, foi necessária a
formação de grupos reativos à superfície do filme de PU, para isto utilizou-se dois tipos
xiii
de tratamentos diferentes: efeito corona e radiação ultravioleta. O tratamento por
radiação ultravioleta se mostrou mais simples e eficiente, na formação desses grupos.
Realizou-se nos filmes tratados com radiação ultravioleta o processo de enxertia de
moléculas de P-N-IPAAm por polimerização radicalar em solução, utilizando-se nitrato
cérico amoniacal como iniciador, e obtendo-se camadas de polímero enxertado de 3 a
8µm de espessura. Detectou-se a transição LCST do P-N-IPAAm enxertado ao
substrato de poliuretano em torno de 32°C. Essa transição pode ser visualizada pelo
ponto de turvação do filme e por diferenças na molhabilidade com água (ângulo de
contato). Realizaram-se também os testes do mecanismo on-off in vitro, com a proteína
albumina, fazendo a variação da temperatura acima e abaixo da transição LCST do P-N-
IPAAm. Os resultados obtidos indicaram que a camada enxertada é adequada para
viabilizar o mecanismo on-off e assim permitir o controle sobre o processo de adsorção
e dessorção de albumina. Realizaram-se também testes de mecanismo on-off in vivo
através de cobertura de lesão excisional feita em camundongos tipo Swiss, colocando-se
o material em contato direto com a ferida durante três dias e verificou-se que o tecido
não estava aderido ao curativo no momento da retirada do curativo. Não foi possível
verificar e registrar o mecanismo on-off do curativo, devido à rápida diminuição de
temperatura da pele dos camundongos após a anestesia, registrada em 28°C, e esta é
uma temperatura abaixo da LCST. Portanto para obter-mos resultados mais conclusivos
será necessário a manipulação da LCST para abaixo de 25°C. Entretanto verificou-se
através das análises histológicas do processo de cicatrização, que as feridas com
cobertura apresentaram processo inflamatório menos intenso e tecido conjuntivo mais
denso do que as feridas sem cobertura. As feridas cobertas com curativos possuindo
enxertos (grafts) apresentaram sinais de reepitelização e angiogênese mais intenso.
xiv
Abstract
The high incidence of wound healing by second intention and the high costs associated
with their treatment are changing the idea that healing dressing is just for wound
protection but to accelerate cell proliferation and to provide good conditions for the skin
recuperation. In this work, a new curative was develop that would be able, in the
appropriate and programmed moment, to be removed from the new tissue through an
external stimulus that would favor cellular detachment without extensive damages. We
used for such, polymers based in poly (N-isopropylacrylamide} (P-N-IPAAm), that is
sensitive to external stimulus. This polymer has a phase transition that turns it
hydrophilic when it is used in temperatures below 32°C and hydrophobic for
temperatures above 32ºC. The main hypothesis of this work involved the use of the
behavior of this polymer in contact with the cells that participate in the wound healing
process. While hydrophobic, the polymer can favor protein adhesion, however, when
turned hydrophilic (below the transition temperature), it can lead to cellular detachment,
the so called on-off mechanism. We prepared a wound dressing with two layers, being
the first composed by a polyurethane film (PU) with 50µm of thickness, whose function
was the protection of the wound and the second composed by a micro layer of grafts of
P-N-IPAAm, whose function is to provide good conditions for cellular activity and the
mechanism on-off. Thermoplastic PU films were manufactured by lamination process
and the P-N-IPAAm were grafted onto previously created reactive groups on the surface
of the PU film. Two types of treatments were used to activate the surface: corona effect
and the ultraviolet radiation. The treatment by ultraviolet radiation was shown to be
easier to use and more efficient. The grafting process of P-N-IPAAm molecules was
accomplished by radical polymerization in solution using ceric ammonium nitrate as the
initiator. Layers ranging from 3 to 8 µm of thickness of grafts were obtained. The
transition LCST of P-N-IPAAm grafted to the PU was detected around 32°C. This
transition was monitored by checking the cloudy point of the film and by measuring the
contact angle as a function of the temperature. The mechanism on-off in vitro was
xv
studied by measuring the adsorption of albumin in temperatures above and below the
LCST transition of P-N-IPAAm. Results showed that the grafted layer is able to display
the on-off mechanism to allow the control of the process of albumin
adsorption/desorption. They also took place tests of mechanism on-off in vivo through
covering of lesion excisional done in mice type Swiss, being put the material in direct
contact with the wound for three days and it was verified that the tissue was not adhered
to the curative in the moment of the retreat of the curative. It was not possible to verify
and to register the mechanism on-off of the curative, due to the fast decrease of
temperature of the skin mice after the anesthesia, there was fall temperature of the skin,
registered in 28°C that it is below LCST (32°C), at this stage no adherence between the
tissues and the curative could be noticed. Therefore to get more conclusive results it will be
necessary to manipulate the LCST of the grafts for a temperature below 25°C. However it was
verified through histological analyses of cicatrization process, that wounds with
curatives presented less intense inflammatory process and denser conjunctive tissue
than the wounds without covering. The wounds with covered by PU with grafts showed
signs of more intense re-epithelization and angiogenesis.
1
Capítulo 1 - Introdução
A pele é o maior órgão do corpo humano e recobre toda a sua superfície, constituindo
cerca de 20% do peso corporal. É dividida em duas camadas distintas: a epiderme e a
derme. A epiderme é a camada externa, composta por diferentes tipos celulares: os
queratinócitos, os melanócitos e as células de Langerhans e de Merkel. A derme é a
camada mais profunda e é formada por tecido conjuntivo, constituído por fibrilas de
colágeno e elastina com numerosos fibrócitos que sintetizam estas proteínas e sustentam
o tecido, a derme também é constituído por mastócitos perivasculares e dendrócidos,
importantes na imunidade e reparo da derme
1
. Além de fazer a comunicação com o
meio ambiente, a pele tem a finalidade de proteção química, física, biológica e realiza,
entre outras funções, a termoregulação e proteção imunológica. Entretanto, alguns
danos, que geralmente se manifestam na forma de feridas, podem comprometer sua
anatomia e fisiologia
2
e cuidados específicos devem ser tomados, para que não haja um
maior comprometimento do organismo. Dealey
3
conceitua ferida como qualquer lesão
que leve a uma quebra da continuidade da pele”, ou seja, qualquer ruptura que
comprometa a principal barreira de proteção do nosso organismo. Existem variados
tipos e formas de feridas, e vários e amplos são os estudos existentes a respeito do tema,
mas, restringiremos nosso escopo às feridas crônicas que são, em sua origem,
manifestação de doença subjacente e costumam vir associadas a eventos vasculares
locais ou sistêmicos.
De modo geral, as feridas são classificadas como agudas ou crônicas. Aquelas,
normalmente, duram menos que oito semanas, estas, são assim denominadas, por
falharem em seu processo normal de cicatrização, requerendo um tempo maior para
cicatrizar; ou não cicatrizando completamente; ou tornando-se recorrente.
2
As
queimaduras severas, diabéticas, úlceras de pressão (decúbito), úlceras venosas são
consideradas feridas crônicas.
4,5
Sua origem pode decorrer como consequência de uma
agressão ao tecido vivo; associada à diabetes ou a circulação sanguínea local ou do
avanço da idade; gerando incômodo e perda de qualidade de vida para o paciente.
2
Embasados na literatura médica
3
sabe-se que, somente na América Latina, anualmente,
surgem aproximadamente 1,1 milhões de novos casos de feridas crônicas. Cerca de 4%
dos portadores de diabetes sofrem com úlcera ativa e ainda 1% de pessoas com mais de
65 anos sofrem com úlceras de pressão. A úlcera de pressão é uma ferida que ocorre em
pacientes acamados por longo tempo, atingindo tanto jovens como idosos e gerando
custos elevados. Recentes estimativas do custo
3
de seu tratamento (clínico e cirúrgico)
revelaram custo médio hospitalar de US$ 21.675,00. Quando um paciente com fratura
de colo de fêmur desenvolve uma úlcera de pressão, os encargos hospitalares aumentam
em média US$10.986,00/paciente. No paciente cirúrgico, o grande impacto nos custos
de internação parece ser determinado pela presença ou não de complicações pós-
operatórias, as quais podem alterar significantemente o período de internação.
3
Moryson
6
afirma que, no Brasil, embora não haja dados confiáveis sobre o número de
pessoas acometidas por feridas crônicas, alguns trabalhos relatam que a cronificação de
lesões, em especial as úlceras crônicas dos pés e pernas é extremamente alta, causando
grande impacto psíquico, social e econômico sobre o indivíduo por ela acometido. Os
portadores dessas lesões, com freqüência, desenvolvem seqüelas que podem levar à
perda de membros e de suas funções, com conseqüente afastamento do trabalho e de
suas atividades normais o que vem a repercutir em elevados custos financeiros e
profundas conseqüências sociais tanto para o cidadão quanto para o país.
As feridas crônicas demandam atenção e exigem tratamento especializado para
obtenção de retorno funcional e anatômico da região. Havendo grande perda de pele ou
presença de dificuldades para a cicatrização, é necessário fazer a cobertura imediata
com um curativo
7
. Este terá a função de proteger a área da perda de fluidos e proteínas,
prevenir infecção por bactérias e subseqüente danos aos tecidos e, em alguns casos,
estimular a cicatrização por possibilitar um suporte para a proliferação de células
enfim, procurando substituir, paliativamente, a função natural da pele.
Focando o olhar para uma maior qualidade de vida aos portadores de feridas crônicas e
redução de custos hospitalares, chegamos à conclusão de que um novo conceito de
3
curativo é necessário. Desenvolvendo-se curativos que ajam de forma mais efetiva na
ferida acelerando seu processo de cicatrização, proporcionar-se-ía menor tempo de
internação e maior conforto aos pacientes. Entretanto, para que se atinja com eficácia a
população é preciso que ocorra, concomitantemente, o desenvolvimento de matéria-
prima mais abundante e barata, processos de fabricação automatizados e métodos de
esterilização mais simples.
A grande maioria dos curativos encontrados no mercado brasileiro hoje é importada
e/ou têm tecnologia patenteada por empresas multinacionais
4
. Atualmente, há um
grande número de pesquisadores
8, 9, 10, 11, 12, 13
trabalhando na síntese e modificação de
novos materiais biocompatíveis para aplicação em curativos e grandes avanços têm
ocorrido na compreensão dos processos e fenômenos envolvidos nas diversas fases da
reparação tissular, porém, muito há, ainda, a se pesquisar. Fundamentalmente, os
curativos têm sido construídos dentro do padrão “dupla camada”
14
tendo uma camada
elástica externa e uma subcamada interna. Aquela é, geralmente, feita utilizando
poliuretano ou silicone substituindo artificialmente a epiderme e essa é feita utilizando
um hidrogel, que, dada a sua alta capacidade de absorção de água, funciona como um
armazenador do esxudato da ferida, propiciando a manutenção do ambiente úmido que
promove o debridamento natural de tecido necrosado.
10, 15
Os curativos oferecidos no mercado atual se deparam com dois efeitos determinantes e
antagônicos entre si que são: adesão ativa e adesão passiva.
11, 17
Para que ocorra a
cicatrização é preciso obter tensões superficiais adequadas que proporcionem boa
aderência para a ativação, proliferação e diferenciação das células (adesão ativa), mas
em contraponto, esse mesmo efeito torna-se indesejado na retirada do curativo, pois
arrasta consigo uma boa parte do tecido neoformado, abrindo novamente a ferida.
A proposta deste trabalho é desenvolver um curativo que possua um sistema de
acionamento e desligamento (on-off)
20, 21, 22
de aderência à ferida que irá como
consequência, acelerar o processo de cicatrização sem, contudo gerar danos quando da
sua retirada. A estrutura projetada utilizará a mesma estratégia do curativo de duas
4
camadas, ou seja, uma primeira camada substituindo a epiderme protegendo o
ferimento, impedindo a entrada de bactérias e permitindo a troca de gases, porém,
inovando na segunda, que possuirá uma interface especial (poli (N-isopropilacrilamida))
que estará em contato direto com as células.
23
Essa interface terá a capacidade de
modificar sua natureza ao passar por sua temperatura crítica (LSCT)
22,24,25
de 32°C. A
hipótese principal desta tese é de que o poli (n-isopropilacrilamida) à temperatura do
corpo humano será capaz de proporcionar um nível de tensão superficial mais adequado
à proliferação e adesão das células (hidrofóbico). E, no momento da retirada do
curativo, bastará mudar a sua temperatura, alterando a natureza hidrofóbica do polímero
para hidrofílica, para proporcionar um descolamento suave do tecido neoformado sem
causar danos às células.
O trabalho foi dividido em três etapas, sendo que a primeira foi dedicada a preparação
do filme polimérico e preparação de uma interface especial construída pela graftização
(enxertia) de poli (N-isopropilacrilamida) em sua superfície.
A segunda etapa foi dedicada à caracterização química, física e morfológica da
superfície do polímero. Esses testes foram necessários para se compreender suas
propriedades.
A terceira etapa foi dedicada aos testes in vitro e in vivo para verificar reações
inflamatórias e cinéticas de cicatrização, bem como testar os mecanismos de
desligamento (on - off) in vivo.
As Figuras 1.1 a 1.6 ilustram a estratégia proposta para o curativo com mecanismo
inteligente de desligamento.
5
Figura 1.1: Representação da transição (LCST) nos enxertos de P-N-IPAAm em poliuretano
Figura 1.2: Esquema representando o leito de ferida por segunda intenção e curativo
Figura 1.3: Esquema representando curativo posicionado sobre o leito da ferida.
Leito da ferida
Poliuretano flexível graftizado
(polymer brushes)
P
-
N
-
Ferida aberta sem a presença do curativo
Película de poliuretano com graft P-N-IPAAm
P
-
N
-
I
PAAm hidrofílico
T < 32°C
T >32°C
T < 32°C
T > 32°C
P-N-IPAAm hidrofóbico
P
-
N
-
IPAAm hidrofílico
Filme de Poliuretano
6
Figura 1.4: Esquema representando proliferação de células
em contato com o P-N-IPAAm
Figura 1.5: Esquema representando o acionamento on-off
Figura 1.6: Esquema representando a retirada do curativo sem trauma.
P-N-IPAAm hidrofílico
abaixo de 32°C
Agente externo de alteração da temperatura para abaixo da LCST
borda da lesão
novo tecido
7
Capítulos 2 - Objetivos
Objetivo geral
Estudar o potencial do uso de cadeias enxertadas de poli (N-isopropilacrilamida) em
substratos de poliuretano visando a geração de curativos avançados inteligentes capazes
de modular processos de adesão celular e tissular a partir de estímulos externos.
Objetivos específicos:
- Avaliar a efetividade do processo corona e de radiação ultravioleta em preparar a
superfície dos filmes de poliuretano para receber os enxertos (grafts) de P-N-
IPAAm;
- Enxertar polímeros baseados no poli (N-isopropilacrilamida) na superfície do
poliuretano por polimerização em solução aquosa;
- Caracterizar o sistema polimérico obtido;
- Verificar a transição LCST na superfície do poliuretano graftizado.
- Avaliar a mecanismo on-off in vitro através da adesão de proteínas no
poliuretano graftizado
- Avaliar in vivo os curativos desenvolvidos, visando monitorar: eficiência na
recuperação do ferimento e mecanismo on-off de descolamento do curativo.
8
Capítulo 3 - Revisão bibliográfica
A pele é o maior órgão do corpo humano, correspondendo a 15% do peso de uma
pessoa e exerce diversas funções como: regulação térmica, defesa orgânica, controle do
fluxo sanguíneo, proteção contra agentes diversos do meio ambiente. Compete-lhe
também funções sensoriais de proteção ao calor, frio, pressão, dor e tato. Protege o
corpo de invasão por parasitas e injúrias mecânicas. A melanina produzida pelos seus
melanócitos atua no sentido de proteger o corpo contra a radiação ultravioleta. É um
órgão vital composto de vários tipos de células estruturadas por uma matriz extracelular.
É formada pela epiderme e pela derme, e embora a hipoderme esteja localizada logo
abaixo da derme, não é considerada como parte da pele
1
.
3.1 - Epiderme
A epiderme tem, entre suas funções, prevenir a perda de calor e de água para o
ambiente, e a infiltração de bactérias. Seu principal componente é o queratinócito, que
forma estruturas mantidas unidas por desmossomas, que promovem adesão célula a
célula, que origem à camada córnea, composta basicamente de queratina, uma
proteína responsável pela impermeabilização da pele. Não possui vasos, os nutrientes e
o oxigênio chegam a ela por difusão a partir de vasos sangüíneos da derme. Em geral a
epiderme possui quatro camadas, a camada basal, camada espinhosa, camada granulosa
e a camada córnea.
1, 2, 4
O extrato ou camada basal é responsável pela reposição celular, a renovação celular
constante da epiderme faz com que as células da camada córnea sejam gradativamente
eliminadas e substituídas por outras.
Esta camada está em um plano mais profundo, em
contato com a derme. É constituído por células cúbicas ou prismáticas pouco
diferenciadas que apresenta intensa atividade mitótica, sendo responsável pela
renovação constante da epiderme. Contém citoqueratina, algumas destas células
9
diferenciam-se e passam para as camadas mais superficiais, enquanto outras
permanecem na camada basal e continuam a se dividir
1
.
Na camada espinhosa, encontramos células poligonais cúbicas, cubóides ou
ligeiramente achatadas com mais queratina que as basais. Começam a formar junções
celulares umas com as outras, como desmosomas, dando o aspecto de espinhos
1
.
Na camada granulosa, as células são poligonais achatadas com núcleo central, com
grânulos de queratina proeminentes.
1
A camada córnea é a camada mais externa, constituída de células achatadas eosinófilas
sem núcleo (mortas) com grande quantidade de filamentos, principalmente queratinas
1
.
3.2 - Derme
A derme é um tecido conjuntivo que sustenta a epiderme. É constituída por numerosos
fibrócitos que sintetizam as proteínas das fibrilas do colágeno e da elastina que
sustentam o tecido. É composta pela região papilar de contato com a epiderme e pela
região reticular mais densa. É na derme que se localizam os vasos sanguíneos e
linfáticos responsáveis pela nutrição da epiderme e também os nervos e órgãos
sensoriais a eles associados.
1, 2
Estes incluem vários tipos de sensores:
- Corpúsculo de Vater-Pacini, sensíveis à pressão;
- Corpúsculo de Meissner com função de detecção de pressões de intensidades
variadas;
- Órgão de Ruffni, sensíveis ao calor;
- Célula de Merckel, sensíveis a tato e pressão;
- Folículo piloso, com terminações nervosas associadas;
- Terminação nervosa livre, com dendritos livres sensíveis.
10
Figura 3.1: Estrutura da pele, indicando principais elementos
(fonte: Merck)
3.3 - Feridas na pele
Ferida pode ser definida como qualquer ruptura da integridade da pele, membranas
mucosas ou qualquer outra estrutura do corpo
5
podendo ser causada por traumas físicos,
Hipoderme
11
químicos ou desencadeada por uma afecção clínica, apresentando-se de diversas formas,
tamanhos e profundidades
26
.
3.3.1 - Úlceras de Pressão ou Decúbito
Úlceras de Pressão ou Decúbito são úlceras decorrentes de isquemia tecidual local
provocada pela alteração do reflexo de dor em pacientes com lesão medular
(tetraplégicos, paraplégicos ou hemiplégicos) ou pacientes debilitados, idosos ou
cronicamente doentes. As úlceras de pressão têm sido alvo de grande atenção nos EUA,
devido a uma população de idosos vivendo em instituições de longa permanência,
estimada em torno de 1,5 milhões, sendo que, dentre estes, cerca de 25% a 33% chegam
a essas instituições já portando úlceras de pressão, e que aproximadamente 35% deles
ainda as desenvolverão em algum tempo de sua estadia. Sendo ainda causa indireta de
morte em paraplégicos, com uma freqüência de 7 a 8%.
27
A etiologia da úlcera de pressão ainda não está totalmente esclarecida, mas é sabido que
a pressão contínua sobre a pele é fator preponderante. Estudos indicam que pressão
entre 60 e 580mmHg no período de 1 a 6 horas pode ocasioná-las. Além da pressão,
forças de cisalhamento e fricção podem agir sinergicamente no desenvolvimento de
uma ferida em pacientes que estão desnutridos, incontinentes, acamados ou com
distúrbios mentais
6
.
Uma úlcera de pressão em seu primeiro estágio é uma alteração observável relacionada
com pressão na pele íntegra, cujos indicadores comparativos à área adjacente ou oposta
do corpo podem incluir mudanças em uma ou mais das seguintes condições:
temperatura da pele (aquecimento ou resfriamento) e/ou sensibilidade (dor, prurido). Ela
manifesta-se como uma área definida de hiperemia persistente na pele pouco
pigmentada, ao passo que, em peles mais escuras, ela pode manifestar-se com
tonalidades persistentes de vermelho, azul ou púrpura.
27
12
O segundo estágio é caracterizado por perda cutânea de espessura parcial envolvendo
epiderme ou derme. É superficial e manifesta-se clinicamente por abrasão, flictema ou
cratera rasa.
27
O terceiro estágio é determinado por perda cutânea de espessura total envolvendo lesão
ou necrose do tecido subcutâneo que pode se estender até a fáscia (tecido conjuntivo)
subjacente, sem atravessá-la. Manifesta-se clinicamente como uma cratera profunda.
27
No quarto estágio nota-se a perda cutânea de espessura total com destruição extensa,
necrose tecidual ou lesão muscular, óssea ou das estruturas de suporte (por ex.: tendão
ou cápsula articular). A formação de túneis ou de tratos fistulosos também pode estar
associada nesse estágio.
27
3.3.2 - Úlceras Venosas ou de estase
Ferida que surge nas pernas e/ou pés em consequência da dificuldade do sangue voltar
para o coração. As úlceras dos membros inferiores são muito freqüentes, extremamente
incapacitantes e afetam de modo significativo a produtividade e a qualidade de vida dos
indivíduos, além de determinar gastos significativos para os serviços de saúde. Os três
principais tipos de úlceras dos membros inferiores são as venosas, as arteriais e as
neuropáticas. As venosas são as mais comuns, representando 80% das úlceras de pernas.
A causa mais comum e importante das úlceras dos membros inferiores é a insuficiência
venosa crônica, seguida de arteriosclerose, que representa de 10 a 25% de todas as
úlceras; e que pode coexistir com a doença venosa. A maioria das úlceras venosas é
tratada com alguma forma de compressão (bandagens compressivas / bota de Unna), e,
portanto, se houver algum grau de insuficiência arterial nesses doentes, esse tipo de
tratamento tão utilizado na rotina médica poderá, além de ser pouco benéfico, retardar a
cicatrização da úlcera e causar danos maiores, como maior isquemia do membro
acometido.
28
As terapias de compressão são consideradas o ponto mais importante da cicatrização,
pois facilita o retorno venoso, impedindo a estase e consequentemente a trombose e
13
necrose. Consistem de alta compressão graduada, capaz de manter o local comprimido
por até 1 semana. Os dispositivos de compressão permitem manter um curativo simples
e não-aderente sobre a úlcera, propiciando um ambiente de cicatrização úmido e limpo.
Em alguns casos é possível determinar o tipo de bactérias que infecta a ferida e
administrar medicamentos tópicos. Não um curativo em particular que seja mais
efetivo na cicatrização das úlceras venosas de perna. O recomendável é que o curativo
tenha baixo custo e seja pouco ou não-aderente, para evitar danos ao leito da ferida
29
no
momento de sua retirada.
O tratamento de úlceras venosas tem custos substanciais em todo o mundo. Na
Escandinávia, o custo do tratamento tem sido estimado em U$25 milhões/ano (1985 US
dólares); na Inglaterra, em U$200 milhões/ano (1989 US dólares). Nos EUA, as feridas
crônicas geram gastos em torno de 7 bilhões/ano e as venosas por volta de U$ 1
bilhão/ano.
30
3.3.3 - Queimadura
As lesões cutâneas causadas por queimaduras ocupam o terceiro lugar entre os acidentes
que mais ocorrem no mundo. No Brasil, as estatísticas publicadas são escassas e
desatualizadas e, segundo os dados fornecidos pelo Ministério da Saúde (2000), o
Sistema Único de Saúde (SUS) gasta anualmente, cerca de R$ 55 milhões com o
tratamento.
31
Um recente levantamento, realizado por Dallan
31
, em sua dissertação, aponta que para o
tratamento de queimaduras, atualmente no mercado cerca de 120 tipos de produtos
constituídos de diversos materiais, sendo quase todos importados. Dentre eles, há
somente dois produtos nacionais: um biomaterial do tipo hidrogel reforçado com fibras
de polipropileno para uso em queimaduras que foi desenvolvido pelos Instituto de
Química da Universidade de São Paulo (USP, São Paulo, SP, Brasil) e Instituto de
Pesquisas e Energia Nuclear (IPEN, São Paulo, SP, Brasil) e uma biomembrana natural,
sintetizada por bactérias, que foi desenvolvido pela empresa Bionext Produtos
Biotecnológicos (São Paulo, SP) em parceria com pesquisadores do Instituto de
14
Química da Universidade Estadual Paulista (UNESP, campus em Araraquara, SP) e do
Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP, campus em São Carlos, SP).
Esta mesma dissertação aponta que, apesar da diversidade de materiais, o custo do
tratamento é bastante elevado, sendo fatores preponderantes o custo dos curativos e a
necessidade de troca freqüente.
A ferida causada por queimaduras é classificada segundo o grau de gravidade, sendo
que a queimadura de primeiro grau é bem superficial e tem como característica não
atingir funções hemodinâmicas e apresenta alteração da cor da pele. A de segundo grau
tem como característica atingir a epiderme e a derme e causa alterações nas funções
hemodinâmicas e tem uma característica bem peculiar que é a presença de bolhas. A de
terceiro grau é profunda, atingindo todas as camadas da pele e ainda tecidos subjacentes
atingindo os tecidos subcutâneos, o tecido ósseo, os músculos. A de quarto grau tem
como característica a carbonização dos tecidos.
31
O tratamento das lesões por queimaduras é um grande desafio aos profissionais da
saúde, devido, sobretudo, ao elevado potencial para desenvolvimento de infecções. A
terapêutica sistêmica ou local visa, fundamentalmente, o equilíbrio das funções vitais
assim como a instalação de medidas de prevenção de complicações, dentre as quais
estão as infecções. Após a lesão, uma grande quantidade do líquido extracelular é
seqüestrada para a área lesada, podendo este desvio de líquido causar falência dos
órgãos e dos tecidos restantes do corpo.
32
3.4 - Cicatrização
Cicatrização de feridas é um tipo de reparo dos tecidos humanos e envolve uma
seqüência complexa de eventos
14
. Fatores de crescimentos peptídicos produzidos por
plaquetas, macrófagos, células epidérmicas e dérmicas são muito importantes na
reconstrução dos tecidos.
8, 9, 13, 33
O processo de cicatrização consiste de inflamação,
seguido por formação de tecido de granulação e remodelação tecidual
8
. A fibrose
ocorre subsequentemente a formação de tecido de granulação, e é um importante evento
15
para reduzir o tamanho da lesão. Regeneração epidérmica e dérmica (contração da
lesão) podem usualmente fechar a ferida suavemente. Fibroblastos ricos em actina, em
tecidos de granulação, conhecidos como miofibroblastos, são os responsáveis pela
contração da ferida.
8, 9
Existem numerosos fatores sistêmicos e locais que podem vir a afetar a cicatrização,
interrompendo o processo de inflamação e ocasionando falhas na produção e
interligação do colágeno e na neovascularização. Estes fatores podem ser ocasionados
por: alterações nutricionais, idade, tabagismo, uso de medicamento, imunodepressão,
infecção local, insuficiência renal, insuficiência vasculogênicas, presença de tecido
necrosado, escaras, agentes tópicos inadequados.
34
O processo de cicatrização é complexo e compreende a resposta dinâmica e imediata do
organismo à lesão, com intuito de restaurar a característica anatômica, estrutural e
funcional do tecido lesionado. Consiste de três fases sobreponíveis: a inflamatória, a
proliferativa e a maturação.
3. 4. 1 - Fase inflamatória ou exudativa
Em condições fisiológicas normais, a fase inflamatória é a mais curta, com duração de
quatro a dez dias. Ocorre, inicialmente, a vasoconstrição que busca estancar o
sangramento. As plaquetas afluem para a ferida propiciando o controle do sangramento
e a limpeza, durando aproximadamente três dias
4
. As plaquetas têm uma função
importantíssima que é formar a placa de fibrina, elemento inicial de contenção do
sangramento, produzindo substâncias quimiotáxicas, que têm como função atrair outras
células para o local, e produzindo, caso da cicatrização, substâncias do grupo dos
polipeptídios formadas nos focos inflamatórios, que atraem leucócitos e fatores
estimulantes do crescimento
35
. presença de eritema, calor, edema, dor e perda de
função no local. Após a vasoconstrição vem a vasodilatação que ocorre quando se a
ruptura das terminações nervosas, por uma ação reflexa, determinada pela
vasoconstrição e pela liberação no leito da ferida de substâncias vasoativas que vão
16
gerar essa vasodilatação. Nessa fase, a migração de leucócitos manterá a ação de
limpeza e defesa, feitas principalmente através dos neutrófilos com função de
fagocitose. Os monócitos também aparecem no leito da ferida para substituir os
neutrófilos e gerando os macrófagos. O macrófago é a célula inflamatória mais
importante dessa fase. Permanece do terceiro ao décimo dia. Fagocita bactérias e
neutrófilos mortos e direciona o desenvolvimento de tecido de granulação. Formações
como fibrina, crosta composta de soro e hemácias impedem que o tecido se resseque,
mantendo um ambiente favorável à reparação.
4
3.4.2 - Fase proliferativa ou de tecido de granulação
Nessa fase acontece o preenchimento da lesão com duração que varia entre 7 e 21 dias.
É dividida em três processos: reepitelização, fibroplasia e angiogênese.
Na reepitelização, acontece a divisão ou mitose de queratinócitos não danificados das
bordas da ferida e dos anexos epiteliais, quando a ferida é de espessura parcial. E apenas
das margens, nas de espessura total. Sabe-se que o plano de movimento dos
queratinócitos migrantes é determinado também pelo conteúdo de líquido no leito da
ferida. Feridas superficiais abertas e ressecadas reepitelizam mais lentamente do que as
ocluídas.
33, 36
Fatores de crescimento são os prováveis responsáveis pelos aumentos das
mitoses e hiperplasia do epitélio.
37
Subsequentemente acontece a fibroplasia e a formação da matriz extracelular, fatores
fundamentais para a formação do tecido de granulação que são uma coleção de
elementos celulares, incluindo fibroblastos, células inflamatórias e componentes
neovasculares e da matriz, como a fibronectina, as glicosaminoglicanas e o colágeno
(Figura 3.2). A formação do tecido de granulação depende do fibroblasto, célula crítica
na formação da matriz. Longe de ser apenas produtor de colágeno, ele produz elastina,
fibronectina, glicosaminoglicana e proteases, sendo estas responsáveis pelo
debridamento e remodelamento fisiológico.
38
17
Em seguida ocorre a angiogênese ou formação de vasos sanguíneos, essencial para o
suprimento de oxigênio e nutrientes para a cicatrização. Inicialmente, as células
endoteliais migram para a área ferida, ocorrendo a proliferação das células endoteliais
que dão acesso às células responsáveis pelas próximas fases. A mediação dos
macrófagos iniciará a produção de fatores de angiogênese que estimularão a migração
de células endoteliais da periferia para o leito da ferida, formando os novos vasos. Essa
vascularização só acontece em meio úmido.
Figura 3.2: Matriz extracelular (ECM) e fibroblastos
3.4.3 - Contração
O miofibroblasto ocasiona tensões que potencializam o encolhimento da ferida. Após a
produção de uma falha cutânea, a área assim formada sofre imediata contração, como
resultado da retração das margens da lesão, conseqüente à ação centrífuga das fibras
elásticas da pele.
7, 5, 26
Quando, numa ferida plana se inicia o processo de cicatrização,
sua área torna-se progressivamente menor, devido ao movimento centrípeto de suas
ECM
18
bordas, sobretudo em resposta à ação de miofibroblastos presentes no tecido de
granulação
8, 26
. Este fenômeno é denominado de contração da ferida e sua conclusão
requer meses, sendo muitas vezes incompleto.
39
3.4.4 - Fase de maturação
O tempo de duração desta etapa varia de seis meses a dois anos e clinicamente se
observa uma cicatriz contraída que inicialmente é fina e pálida e que posteriormente se
transforma em uma cicatriz madura hipo ou hiper pigmentada.
4, 5, 7
Apesar de a cicatriz
ter uma aparência mais grossa e mais dura do que a pele, ela nunca tem 100% da
resistência mecânica à tração em relação a pele. A Figura 3.3 mostra um esquema da
cinética de cicatrização de uma lesão.
Figura 3.3: Esquema gráfico representando os vários estágios de lesão e o tempo de duração.
(Fonte: Cirurgia Cosmética. Princípios e Técnicas. 2000: 19)
3.4.5 Classificação segundo o tipo de cicatrização
A cicatrização pode ser por primeira, segunda ou terceira intenção.
4, 5
19
Primeira intenção (união primária): as bordas da ferida são opostas ou aproximadas,
com perda mínima do tecido, ausência de infecção e pequeno edema. O tecido de
granulação não é visível.
Segunda intenção (granulação): esta ferida tem presença de infecção e como a borda da
ferida está distante, o reparo é mais demorado e mais complicado. Caracterizada por
grande perda de tecido, permanecendo aberta. Suas fases de cicatrização são marcantes,
com resposta inflamatória evidenciada. Necessita de maior quantidade de tecido de
granulação, com epitelização visível, tendo necessidade de fortalecimento e um grande
processo de contração.
Terceira intenção (sutura secundária): ficará aberta enquanto houver infecção real e
depois se fechará por aproximação cirúrgica das bordas da ferida. A Figura 3.4
representa os três tipos de cicatrização.
Figura 3.4: Tipos de feridas - Primeira, segunda e terceira intenção.
(Fonte: Mandelbaum et al)
4
20
3.5 - Curativos
Curativo é um termo muito amplo e consiste no conjunto de procedimentos que
envolvem limpeza, debridamento e aplicação de cobertura à ferida, tendo como objetivo
o favorecimento da cicatrização; e de prevenção da colonização de locais de inserção
por dispositivos invasivos feitos para diagnósticos, ou terapêuticos.
39
Os diferentes materiais utilizados em curativos buscam proteger e promover o alívio da
dor, servindo em alguns casos como auxiliares no debridamento. Os materiais mais
utilizados são membranas de poliuretano usadas como camada externa devido a sua
biocompatibilidade e hemocompatibilidade. São altamente elastoméricos (extensíveis) e
permeáveis às substâncias gasosas, criando um ambiente inerte para o sangue,
controlando a perda de líquidos e calor através da área ferida e prevenindo a invasão por
bactérias. São mecanicamente resistentes e protegem a ferida de efeitos externos.
14
Os hidrogéis são usados como material da subcamada, ficando em contato direto com o
leito da ferida, podendo ser microporosos e macios. Como absorvem água mantém a
ferida úmida favorecendo o debridamento e alívio da dor. A gelatina preparada do
colágeno é uma opção interessante, pois além de tornar-se um hidrogel mais resistente
mecanicamente - se a ela acrescentarmos ligações cruzadas - tem a característica de não
expressar antigenicidade.
40
Não se pode desprezar o potencial do colágeno nativo,
porém a sua difícil solubilidade e antigenicidade em algumas condições fisiológicas o
tornam menos conveniente que a gelatina. Devido a sua alta capacidade de absorção de
água, a gelatina pode acumular fluidos e debris de células que são absorvidos e retidos
dentro da esponja. O crescimento de tecido ocorreria na matriz esponjosa e o curativo
permaneceria na ferida sendo bioabsorvido posteriormente e substituído pelo novo
tecido em crescimento.
40
Excesso de líquido acumulado no curativo tipo hidrogel sem macroporos pode causar a
maceração do tecido nas bordas da ferida, por isso, este curativo não tem aplicação em
feridas com muito exudato. Uma estrutura altamente porosa ou um hidrogel com alta
21
capacidade absorção de água evita este tipo de problema, preservando o tecido nas
bordas da ferida.
40
diversos tipos de curativos no mercado e cada tipo de ferida deve ser bem avaliado
antes de se optar por um deles. Existem alguns pré-requisitos básicos a serem
considerados nos curativos, que estão relacionados a seguir.
3, 4, 5, 26, 34, 40
Boa tolerância dérmica;
Proporcionar conforto físico e psicológico ao paciente;
Comprimir, sustentar ou imobilizar;
Remover/absorver a drenagem das secreções;
Manter a umidade entre a lesão e o curativo;
Proteger contra as infecções - impermeabilidade às bactérias;
Ser isento de partículas e de compostos tóxicos contaminadores;
Permitir troca gasosa;
Fornecer isolamento térmico;
Ser permeável aos raios-x e/ou exames;
Não aderência à lesão - evitando traumas durante a sua retirada.
3.5.1 - Umidade e armazenamento do exudato
A partir de 1962, ocorreu uma verdadeira "revolução no conceito de curativos", quando
Winter e Roove
4
demonstraram que a taxa de epitelização era 50% mais rápida em um
ambiente úmido e que a formação de crostas era minimizada, trazendo efeitos
extremamente benéficos para o processo cicatricial e reduzindo a dor, devido à proteção
das terminações nervosas contra o dessecamento. O interesse gerado ocasionou o
desenvolvimento de pesquisas, produção e comercialização desse tipo de recurso.
3.6 - Tipos de curativo
22
diversos tipos de curativos no mercado, alguns são específicos, outros são
utilizados em duas ou mais aplicações. Uma boa descrição é feita por Pereira
40
em seu
trabalho de mestrado, intitulado “Revisão Sistemática da Literatura Sobre Produtos
Usados no Tratamento de Feridas”, onde é feita a descrição de quase todos os tipos de
curativos existentes, citando aplicações, forma de uso, contra indicações e nomes
comerciais.
3.6.1 - Poliuretano
Apresentados na forma de filmes transparentes são bastante versáteis, podendo ser
utilizados tanto como coberturas primárias quanto secundárias. Indicados para
tratamento de feridas superficiais minimamente exsudativas, sendo também benéficos
para áreas doadoras de enxertos cutâneos com baixa exsudação, proteção de feridas
cirúrgicas sem complicações, fixação de cateteres, curativos secundários, prevenção de
lesões de pele por umidade excessiva ou atrito, como por exemplo, em úlcera por
pressão e lacerações.
40
3.6.2 Hidrocolóide
Cobertura estéril, composta por espuma externa ou filme de poliuretano permeável ao
vapor, unida a um material interno, sendo mais comumente o carboximetilcelulose, a
gelatina ou a pectina. Em contato com a ferida, o hidrocolóide interage com o exudato
formando um gel. O gel evita a aderência à ferida e proporciona alívio da dor, por
manter úmidas as terminações nervosas. A inibição do crescimento bacteriano é
potencializada pelo microambiente ácido promovido pela oclusão com este polímero.
40
3.6.3 - Hidrogel
É um gel transparente, formado por redes tridimensionais de polímeros e copolímeros
hidrofílicos compostos de água - 78 a 96%, uretanos, poli (vinil pirrolidona) (PVP) e
polietileno glicol. Está disponível em forma de placa e gel e requer a utilização de
cobertura secundária. Devido à reduzida capacidade de absorção é contra indicado em
feridas exsudativas. As trocas devem ser realizadas entre 1 a 3 dias.
41
23
3.6.4 - Papaína
É constituída de enzimas proteolíticas sendo usada no processo de reparação de tecidos
danificados. Seu efeito está relacionado à retirada de tecidos necróticos, desvitalizados e
infectados da lesão. Ela é, após o seu preparo, um de cor leitosa, com odor forte e
característico. Sua molécula é constituída de 17 aminoácidos diferentes com massa
molar relativa de 20900g/mol. Na forma de pó, deve ser preparada imediatamente antes
da realização do curativo. A papaína não danifica os tecidos, porém deve-se ter
precaução com o produto da digestão das enzimas, ou seja, o exudato contendo esta
substância pode ser irritativo sobre a pele íntegra, sendo necessárias trocas freqüentes de
curativos, para evitar lesões na pele, ao redor da ferida.
40
3.6.5 - Carvão ativado
Se constitui em cobertura estéril, composta de tecido de carvão ativado impregnado com
prata, envolvido externamente por invólucro de não-tecido poroso feito de fibras de
náilon, selado em toda sua extensão. É produzido pela carbonização de raiom de
viscose. Possui um sistema de poros no tecido capaz de reter bactérias, que são
inativadas pela ação da prata. É uma cobertura primária e requer cobertura secundária,
sendo feita usualmente com gazes, que devem ser trocadas diariamente ou mais de uma
vez ao dia. Tem indicação em feridas infectadas ou não, úlceras vasculogênicas, feridas
fúngicas, neoplasias, deiscência cirúrgica, úlceras por pressão e aquelas com drenagem
de exudato moderado ou abundante. É contra indicado em feridas secas e recobertas por
escaras. Em lesões com pouco exudato, o carvão ativado pode aderir e causar
sangramento durante sua remoção, principalmente nas áreas com tecido de granulação.
40
3.6.6 - Alginatos
Os alginatos são polissacarídeos derivados do ácido algínico, que são obtidos
principalmente de algas marinhas da espécie Laminaria. São utilizados há algumas
décadas devido às suas propriedades hemostáticas. O sódio do exudato e o cálcio do
24
alginato sofrem troca iônica formando um gel solúvel de alginato de sódio. Esse gel não
é aderente à ferida e é indicado para feridas exsudativas. É também utilizado para o
tratamento de feridas de espessura total, como deiscência de ferida cirúrgica, úlceras,
etc. De fácil aplicação, tem duas apresentações: placa ou fita, porém sua utilização deve
ser bem avaliada devido ao seu custo elevado.
40
Tabela 3. 2 – Custo de curativos disponíveis no mercado (Fonte: Pereira
40
)
3.6.7 – Curativos com fatores de crescimento
Com o desenvolvimento da becaplermina, que é o fator de crescimento derivado de
plaquetas (PDGF), foi estabelecida a categoria dos curativos bioativos, isto é, curativos
ou substâncias que interagem diretamente com as fases da cicatrização promovendo sua
aceleração.
22, 42
São indicados somente em situações especiais devido ao seu alto custo.
A utilização da becaplermina é feita, apenas, nos casos em que exista deficiência da
25
ação dos fatores de crescimento comprovada como, por exemplo, nas úlceras
neuropáticas crônicas de pacientes diabéticos.
30
3.6.8 - Estrutura tridimensional para proliferação de células
Os curativos temporários podem ser agrupados em duas categorias distintas: aqueles
que possuem poros em suas estruturas,
43
permitindo assim, a migração celular e aqueles
que não permitem o crescimento de células em suas superfícies podendo ser utilizados
como recobrimentos (como por exemplo, algumas membranas poliméricas simples).
44
A porosidade permite a ancoragem das células à estrutura do curativo havendo,
portanto, a necessidade de sua retirada por intervenção cirúrgica. Tal procedimento
pode ser suprimido, caso seja utilizado, conjuntamente ao curativo, uma estrutura
porosa de natureza biodegradável. Neste caso, as células podem se ancorar a essa
camada e lá permanecerão até o fim do processo. Neste caso não se retira o curativo,
deixando-o no local até que a camada biodegradável seja totalmente absorvida pelo
organismo ao longo do processo de cicatrização.
30, 45
Estes materiais, ao serem
bioabsorvidos, ainda apresentam algumas reações inflamatórias e este é um problema
ainda a ser resolvido.
46
3.7 - Polímeros inteligentes
Os polímeros inteligentes ou que respondem a um estímulo stimuli responsive
polymers - são cada vez mais utilizados em aplicações de alta tecnologia, devido a sua
capacidade de responder a um estimulo externo e apresentar grandes modificações de
propriedades tais como hidrofilia-hidrofobia, tensão superficial, memória de forma,
além de outras.
47, 48, 49, 50, 51, 52
Os estímulos podem ser físicos tais como: temperatura,
ultra-som, campo elétrico, campo magnético, ondas eletromagnéticas ou ao ambiente
químico, por exemplo, sensibilidade ao pH ou a presença de íons (sais).
3.7.1 - Poli (n-isopropilacrilamida) (P-N-IPAAm)
O poli (n-isopropilacrilamida) possui o mecanismo de estímulo físico relativo a
26
temperatura, relacionado com uma transição de fase que pode ocorrer próxima à
temperatura do corpo humano, tornando-o potencialmente um material com forte
potencial para aplicações médicas.
Em 1978, Tanaka
53
observou precisamente a transição de fase nos polieletrólitos
derivados de poliacrilamida, tais como: N–isopropilacrilamida, dietilacrilamida, entre
outros. Desde então, ele e seus colaboradores têm demonstrado este comportamento em
géis ionizados de poliacrilamida. Também interpretaram as mudanças de volume dos
hidrogéis termosensíveis a partir de modelos cinéticos que obedecem à lei de Fick para
a difusão, o que deu início a um crescente número de trabalhos envolvendo o poli (N-
isopropilacrilamida), cuja unidade estrutural esta representada na Figura 3.5.
Esse é, provavelmente, o mais conhecido polímero que apresenta inversão de
solubilidade sob aquecimento, isto é, diminui a solubilidade em água com o aumento da
temperatura. Esta característica é observada em polímeros que apresentam LCST
(Lower Critical Solution Temperature) que é a temperatura crítica inferior de
solubilidade do polímero em um determinado solvente.
54, 55
Isto ocorre geralmente em
sistemas que apresentam fortes interações secundárias do tipo ligações de hidrogênio
entre polímero e solvente à baixas temperatura, permitindo haver uma boa miscibilidade
entre eles, para temperaturas mais altas o sistema se torna instável devido as forças de
hidrogênio entre polímero-solvente se aniquilarem, separando as fases (colapso). Essa
temperatura pode ser observada visualmente, através da turvação de uma solução do
sistema solvente-polímero ao ultrapassar a temperatura de 32°C. Este método é
conhecido como ponto de turvação.
54, 55
27
Figura 3.5: Fórmula química estrutural para o poli(n-isopropilacrilamida)
Acima da LCST prevalecem as interações hidrofóbicas, resultando na precipitação do
polímero na água. As mudanças estruturais do material devido a presença da água gera
uma expansão das moléculas e a saída de água gera um colapso das moléculas
resultando a contração volumétrica, denominada transição globular par anovelada,
conforme mostra a Figura 3.6.
53,54,55
Figura 3.6: Transição globular para enovelada.
(fonte: Han et al
32
)
Nas diversas aplicações para o poli (n-isopropilacrilamida) é comum este estar
misturado com alguns aditivos, que por sua vez, podem vir a perturbar a LCST do
polímero
54
se tiverem a capacidade de interagir com a água ou com o polímero. Este
comportamento, entretanto, torna-o ainda mais interessante, pois potencializa diversas
aplicações, dentre as quais se destacam, na liberação controlada de fármacos e na
utilização em processos de separação industrial, entre outras.
28
A facilidade que a LCST dos géis de poli (n-isopropilacrilamida) tem de ser ajustada
para próximo da temperatura do corpo humano, através de copolimerizações e do uso de
aditivos, torna este polímero um material extremamente útil em aplicações biomédicas,
principalmente na liberação controlada de medicamentos. O processo consiste,
basicamente, na incubação do gel em solução contendo as biomoléculas à temperatura
abaixo da LCST e posteriormente as moléculas podem ser expelidas ao se colocar o gel
em soluções (ou corpo humano) a uma temperatura acima da LCST.
57
Outra aplicação muito importante e com inúmeras patentes é o processo de separação de
moléculas. É realizado por seletividade de tamanho e ocorre quando o gel é colocado
em uma solução aquosa contendo vários solutos. A água presente na solução penetra e
causa o inchamento do gel, os solutos grandes tais como macromoléculas, que estão na
solução, não conseguem adentrar na rede porosa do gel por impedimento estérico,
enquanto que os solutos pequenos transitam e penetram livremente nela. Após a
remoção do gel, a solução é deixada mais concentrada de macromoléculas. O gel é
removido e colocado em outra solução aquosa a uma temperatura acima da LCST,
causando a liberação da água de sua estrutura. Juntamente com ela, as moléculas de
pequena massa molar também são lixiviadas, possibilitando a reciclagem do gel para
utilização posterior.
57
3.7.2 Polimerização do n-isopropilacrilamida
O processo de polimerização de P-N-IPAAm linear pode ser realizado adicionando
monômero de N-IPAAm em 40 ml de metanol, na presença de iniciador α′-azobis-
isobutironitrila (AIBN) e aquecendo até 60°C.
58
A reação é mantida com nitrogênio
seco por duas horas. A massa molar do polímero pode ser controlada pela relação
monômero/iniciador (M/I), como listado na Tabela 3.2. Em seguida, adiciona-se uma
solução 8% (NH
4
)
2
SO
4
por gotejamento na solução de poli(n-isopropilacrilamida). O
polímero precipitado é lavado em água destilada à quente (80°C) e, em seguida, é seco
sob vácuo. A massa molar média pode ser estimada por viscosidade intrínseca (equação
29
de Mark-Houwink). Este método usualmente não fornece a curva de distribuição de
massa molar.
Tabela 3.1. Exemplo de Formulação para polimerização.
Relação M/I (monômero/Iniciador) e massa molar resultante do processo
de polimerização (Fonte: Stevin et al
45
)
P-N-IPAAm
(g)
AIBN (g) M / I
(relação molar)
Massa Molar
média
4,52 0,164 40 222.000
4,52 0,0657 100 223.000
4,52 0,0329 200 289.000
O controle da distribuição de massa molar é um dos aspectos mais importantes na
caracterização de um polímero e geralmente é expresso através de médias. As duas mais
importantes são: massa molar numérica média (M
N
) e massa molar ponderal média
(M
W
) e a sua relação indica o índice de polidispersividade (PDI), dada pela equação 1.
Equação 1
PDI= M
N
/ M
W
(1)
Ganachaud et al
59
relata que têm encontrado dificuldades na medida da distribuição de
massa molar do P-N-IPAAm usando técnicas de cromatografia por exclusão de tamanho
(SEC) e apresentam um trabalho aonde comparam várias técnicas de medida, tais como
espalhamento de luz, titulação de grupos terminais com SEC. Eles demonstraram que há
discrepâncias em valores acima de 10
4
g/mol de massa molar e sugeriram alguns
procedimentos de preparação e de manipulação da amostra para diminuir estas
discrepâncias. Convertine et al
60
por outro lado, contornaram este problema utilizando
polimerização viva, que é um tipo de reação que mantêm a polimerização muito bem
controlada, previsível e com PDI próximo a 1. Dentre as diversas maneiras de
polimerização viva, ultimamente tem-se destacado a polimerização RAFT (Reservible
Addition Fragmentation Chain Transfer) ou polimerização
60
por transferência,
fragmentação e adição reversíveis. O processo envolve a adição de monômeros, um
30
bom solvente para o polímero e o monômero, um iniciador azo ou peróxido e o agente
de transferência reversível
61
como mostra a Figura 3.7.
CH
2
+
CH
3
CH
2
+
S
S
Ph
A
R*
Propagação
S A
S
Ph
M
n
R
Monômero (M)
+
R M*
n
+
S
S
Ph
MR
A*
+
A M*
p
Polimerização
DTE
A =
R M*
n
Figura 3.7: Esquema representando a reação RAFT
43
O agente de transferência (ditioester, DTE) reage com o radical do iniciador (R ) ou o
radical de propagação (R-M
n
) para dar origem a outro agente de transferência A , que
reinicia a polimerização. O comportamento vivo envolve uma reversível seqüência de
adição fragmentação entre a espécie ativa e a espécie dormente o S=C(Ph)S .
Convertine et al
60
utilizaram a polimerização RAFT para a produção do poli(N-
isopropilacrilamida), realizada em um solvente, o N, N-dimetilformamida (DMF),
empregando um azo iniciador convencional
-
2,2-azo bis (4-metoxy-2,4-
dimetilvaleronitrila) - como fonte de radicais primários e um agente de transferência de
cadeia disponível comercialmente (tri-tiocarbonatado), o 2-dodecil sulfanil tiocarbono
sulfato ácido l-2-metil propionico (DMP), como mostrado na Figura 3.8. Todas as
31
polimerizações foram conduzidas a 25 °C sob atmosfera de nitrogênio e 33 % em massa
de monômero. Elas apresentaram excelente controle sobre o tamanho e estrutura das
cadeias poliméricas, sem revelar sinais de reações indesejáveis ao agente de
transferência de cadeia que pudesse gerar ramificações ao final da reação. Os autores
também fizeram várias comparações metodológicas na medida de distribuição de massa
molar e concluíram que, com esta técnica, as medidas podem ser realizadas com GPC,
mesmo acima de 10
4
g/mol.
Figura 3.8: Esquema representativo de polimerização RAFT de P-N-IPAAm
60
Este tipo de polimerização pode ser utilizado em processos de enxertia de moléculas na
superfície de polímeros. É uma técnica chamada grafting from, que será vista
posteriormente.
3.7.3 - Ligações cruzadas
Os hidrogéis são materiais poliméricos que possuem a propriedade de aumentar rias
vezes o seu volume inicial através da absorção de água sem, no entanto, perder a sua
forma. As aplicações deste tipo de material dependerão do grau de inchamento e de suas
propriedades mecânicas. Um hidrogel necessita formar uma rede tridimensional na sua
estrutura para ser estabilizado, para isto necessita de um agente reticulante. Esse agente
pode ser químico (através de ligações cruzadas covalentes), ou pode ser físico (através
de cargas complexas - ligações de hidrogênio, van der Waals, etc.).
62
As ligações
cruzadas são as mais interessantes e geralmente melhoram as propriedades mecânicas
dos hidrogéis. A gelatina é um hidrogel estabilizado por agentes físicos e geralmente
suas propriedades mecânicas são pobres. Estas propriedades podem ser melhoradas
acrescentando-se um agente reticulante químico, como o glutaraldeído, por exemplo.
32
No caso do P-N-IPAM, as ligações cruzadas o preparadas em solução aquosa com
persulfato de potássio (iniciador) e monômero de N-I-PAAm e N, N′-metileno-
bisacrilamide (MBAAm, como agente reticulante mantido a 70°C por 4h). As ligações
cruzadas geralmente permitem ao polímero absorver água impedindo a sua completa
dissolução. O polímero apenas sofre um inchamento ao absorver a água. Aumentando-
se a densidade de ligações cruzadas, melhoram-se as propriedades mecânicas do
hidrogel, mas limita-se a absorção de água.
3.7.4 – Influência da arquitetura dos polímeros inteligentes na LCST
várias maneiras de estruturação do polímero e dos copolímeros que podem
influenciar a temperatura de transição (LCST) bem como a cinética de absorção de
água. A copolimerização com outro monômero que possui diferente hidrofobia pode
controlar a LCST do P-N-IPAAm.
57, 58
A Figura 3.17 apresenta o efeito de dois
comonômeros de diferentes naturezas, na LCST do P-N-IPAM em relação à
composição do copolímero. O monômero acrilamida (AAm) tem natureza hidrofílica,
enquanto o butil acrilamida N-tBAAm possui uma natureza hidrofóbica.
Figura 3.17: Efeito do tipo de comonômero na LCST do PNIPAM
Monômero Acrilamida (AAm) de natureza hidrofílica
Monômero N-tBAAm de natureza hidrofóbica
58
Efeito da copolimerização sobre a
LCST do P-N-IPAAm
33
Os valores de LCST são influenciados pelos grupos hidrofóbicos e hidrofílicos, assim
como o posicionamento desses grupos ao longo da cadeia. O tipo de copolimerização
também pode proporcionar uma arquitetura em nível molecular bastante distinta entre si
e, portanto, podendo gerar diferentes resultados em termos de LCST. Os resultados
apresentados na Figura 3.17 foram obtidos para copolímeros randômicos, os
copolímeros graftizados com os mesmos tipos de co-monômeros não apresentam
variação de LCST
58
com a variação de composição do copolímero.
Tabela 3.2 – LCST de polímeros a base de acrilamida
63
34
3.7.5 Influência da arquitetura do hidrogel na velocidade de absorção e perda de
água
Algumas aplicações para polímeros inteligentes dependem de uma resposta rápida,
como, por exemplo, o uso como músculos artificiais. A velocidade de absorção de água
também é modulada pela arquitetura do material. Os mecanismos de transporte da água
dependerão da estruturação molecular. O empacotamento do hidrogel pode ser
modulado controlando-se a topologia do polímero de P-N-IPAAm simplesmente
graftizando-o com oligômeros do próprio polímero na rede do hidrogel (N-IPAAm)
(Figura 3 18) o que proporciona uma desidratação muito rápida com a mudança de
temperatura.
58
Figura 3.18: Esquema representativo do hidrogel de PNIPAM
Tipo normal e tipo combinado (com graftização de oligômeros de PNIPAM)
(Fonte: Gil et al
58
)
Liu et al
58
relatam que obtiveram uma resposta rápida na absorção de água pelo hidrogel
simplesmente mudando o método de realização da polimerização. Este resultado foi
obtido quando foram comparados hidrogéis polimerizados pelo sistema convencional de
polimerização radicalar com outros produzidos via polimerização RAFT. A diferença
foi devido à formação de uma arquitetura hiper ramificada do hidrogel polimerizado
pelo sistema RAFT permitindo a formação de espaços intermoleculares por onde
possibilitava e facilitava a saída ou entrada de água. O esquema da estrutura dos dois
Junção química
Cadeia de P-N-IPAAm graftizada
Hidrogel P-N-IPAAm normal Hidrogel P-N-IPAAm combinado
35
sistemas pode ser visto na Figura 3.19 e na figura 3.20 mostra a diferença entre o
sistema polimerizado via raft e o convencional.
Figura 3.19: Esquema representativo da progressão da formação do gel
Diferentes estruturas dos géis (a)–(c) sistema convencional de polimerização.
Polimerização RAFT d)–(f)
64
Figura 3.20: Gráfico representando Grau de inchamento x Tempo
64
Tempo (min.)
Grau de
inchamento
(%)
Raft
convencionais
Gel
Gel
Hiper ramificado
Formação gel
Sistema de polimerização convencional
Sistema de polimerização raft
polímero morto
Cadeia não expandida
Cadeia expandida
36
Zhang et al
61
, relatam um trabalho no qual utilizaram água e acetona no sistema de
polimerização e formação de ligações cruzadas. Este procedimento permitiu que a
estrutura do hidrogel se expandisse pela ação do solvente, durante a sua estruturação e
permitisse caminhos livres para a saída rápida da água. Na Figura 3.21 pode ser vista a
perda de água em relação ao tempo com os sistemas em que se variava a quantidade de
acetona. Nota-se que o tempo de perda de água diminuía com o aumento da quantidade
de acetona na preparação do hidrogel.
Figura 3.21: Gráfico representando Retenção de água em relação ao tempo
Variando a composição acetona – água: 0 (20% , 80%) ;
(40%, 60%) ;
(60%, 40%); (80%,20%).
64
3.7.6 Influência de sais na LCST
Os sais exercem forte influência na LCST na seguinte ordem KI <KCl < KOH que esta
de acordo com a rie de Hoffmeister. Os sais interagem com as moléculas de água por
hidratação diminuindo a entropia do sistema. Para manter o equilíbrio, a entropia do
sistema pode ser aumentada assim que as moléculas de água são liberadas fora da
molécula hidrofóbica. A Figura 3.22 apresenta o comportamento LCST com a
concentração do sal.
65
Tempo (min.)
Retenção
de água
(%)
37
Figura 3.22: Gráfico: LCST x Concentração de sais no PNIPAM.
( KI, KCl , KOH). (Fonte: Panayiotou et al
65
)
3.8 – Graftização ou enxertia
A modificação de uma superfície sólida de outro polímero ou mesmo de um material
inorgânico, através da inserção de um polímero é denominado polymers brushes (Figura
3.10). Esta técnica consiste em aderir quimicamente uma monocamada de polímero
sobre a superfície desejada.
66, 67, 68, 69
Primeiramente, uma preparação da superfície,
que consiste em criar uma interface para futuras ligações químicas, com o material
polimérico, que pode ser um oligômero, ou uma rede de hidrogel (com ligações
cruzadas, ou não). As possibilidades arquitetônicas
70, 71, 72
deste tipo de interface são
inúmeras, podendo variar o comprimento de cadeia polimérica, ou variar a densidade de
ligações à superfície, ou copolimerizar um bloco no polímero graftizado, ou colocar
diferentes polímeros graftizados lado a lado na superfície modificada.
73
Concentração de sal
LCST
(°C)
38
Figura 3.10: Esquema representando alguns tipos de polymers brushes
36
dois tipos de graftização (enxertia) em superfície de materiais poliméricos que são
predominantes: grafting to e grafting from. Grafting to é uma técnica em que o
polímero a ser enxertado é previamente fabricado por polimerização, por exemplo,
RAFT (pré-polímero) e depois enxertado na superfície a ser modificada. É condição
necessária que a superfície deve ser preparada de modo a possuir grupos reativos com o
pré polímero, a vantagem deste processo é que pode se controlar e medir o tamanho dos
enxertos, com extrema facilidade.
73
A graftização from é uma técnica realizada através de polimerização radicalar
utilizando-se iniciadores que coordenam a formação de radicais na superfície do
polímero a ser graftizado. Tais radicais promovem a incorporação do monômero que
reage propagando-se a partir da superfície. Há reações de homo polimerização em
paralelo que competem com a graftização. A figura 3.11 representa este dois modelos.
Liquido cristalino
Copolímero em bloco
Mistura de homopolímeros
Semi-flexíveis
Flexíveis
Copolímeros randômicos
Homopolímero carregado
39
Figura 3.11: Esquema representativo de graftização: grafting to e grafting from
36
.
3.9 - Graftização e adesão de proteínas.
Alguns trabalhos sobre adesão de proteínas indicam que uma influência grande da
morfologia das cadeias de superfícies graftizadas com PEO (polietileno glicol) e
também com P-N-IPAAm. Assim, a densidade de cadeias, comprimento das cadeias e a
extensão do estiramento das cadeias da camada graftizada afetam as interações com as
moléculas de proteínas.
74,75,76,77,78, 79,80, 81
A figura 3.12 mostra um esquema representativo dos tipos de conformação relacionado
a densidade de moléculas enxertadas sobre a superfície do polímero e o comportamento
frente a uma transição LCST. No esquema A e B tem-se uma baixa densidade de
moléculas, chamada conformação em cogumelos (mushroom conformation). No
esquema C e D tem-se uma alta densidade de moléculas e conformação tipo escova
(brush conformation). A e C estão no estado hidratado (abaixo de LCST) e B e D estão
no estado colapsado (acima da LCST).
40
Figura 3.12: Esquema representando alguns tipos de polymers brushes
82
A conformação em cogumelo ocorre quando a separação das moléculas é maior que o
raio de giração das cadeias poliméricas. Quando o raio de giração é inferior tem-se a
conformação em escova. A conformação em cogumelo pode levar a exposição do
substrato, particularmente no estado colapsado.
82, 83
A modificação de superfícies de materiais poliméricos para uso em cateteres, através da
graftização de poliacrilamida que possui propriedades antitrombogênicas
84, 85, 86, 87, 88
é
bastante estudada e utilizada.
3.10 - Culturas de células e adesão celular
A primeira condição para adesão de uma célula a uma determinada superfície é a adesão
de proteínas,
89, 90, 91, 92, 93
e apesar de algumas proteínas poderem se fixar na superfície
hidrofílica do P-N-IPAAm (abaixo da LCST), as células não se fixam devido às
propriedades mecânicas do hidrogel serem inadequadas (macia demais).
94
A modelagem da adsorção de proteínas pode ser feita pelas medidas das forças de
interação entre as pontas (sonda) do Microscópio de Força Atômica (AFM) com
proteínas e P-N-IPAAm em solução tampão. Entretanto diferenças na preparação do
recobrimento e as condições de uso na CP-AFM tem mostrado diferenças significativas
nos resultados.
95, 96, 97
41
Estudos para avaliação de forças interfaciais envolvidas entre proteínas e recobrimentos
de P-N-IPAAm são feitos através de microscopia de força atômica (AFM) utilizando-se
sondas do microscópio (probe) revestidas com colóide (CP-AFM) e tem fornecido
informações das interações entre as proteínas da superfície e da sonda do microscópio e
a superfície de P-N-IPAAm acima e abaixo da LCST.
94, 96, 97, 98
Alguns trabalhos tem utilizado esta técnica de avaliação
95, 99, 100, 101, 102,
de superfície .
Em geral é notado que forças atrativas significantes entre a ponta hidrofóbica e a
superfície do P-N-IPAAm a temperaturas acima da LCST, enquanto abaixo da LCST,
as forças interativas são desprezíveis.
94
A massa molar das proteínas tem um papel importante na adsorção: os recobrimentos de
baixa densidade de graftização podem permitir a aproximação de proteínas de massa
molar pequena. Como a adsorção de proteínas é usualmente irreversível sobre substrato
não hidratado, é de se esperar que o recobrimento incompleto do substrato, quando o
estado colapsado é atingido, deve promover uma reversão incompleta das interações
entre proteína e recobrimento.
96, 97, 102, 103
A quantidade de proteína que é irreversivelmente adsorvida não é somente determinada
pelas interações químicas e da microestrutura do recobrimento, mas também pelo tipo
de proteína, tempo de residência da proteína sobre a superfície e a desnaturação da
proteína.
98, 104
Recentemente, Shimizu et al
46
realizaram importantes trabalhos a respeito de adesão de
células para uso em dispositivos de proliferação e crescimento de células. A idéia do
grupo, a princípio, era construir, através de uma nova concepção, um tecido
tridimensional. Primeiramente, construíram-se camadas bidimensionais de células e
posteriormente estas foram montadas, camada por camada, até se obter um tecido
espesso e funcional. Porém, para isso tornar-se possível, era necessário fazer a retirada
da camada de célula que estava sobre a placa de cultura, sem rompimento da estrutura
42
bidimensional, construída. Para solucionar este problema Shimizu
46
teve a idéia de
revestir placas de poliestireno com uma fina camada de poli (n-isopropilacrilamida)
(técnica de feixe de elétrons) e sobre esta placa fez crescer uma camada de células a
37°C. Nesta condição, o polímero se mostra hidrofóbico e propicio à adesão e
crescimento celulares. Quando se diminui a temperatura para menos de 32°C, o
polímero torna-se hidrofílico, liberando a camada de células que pode ser retirada sem
causar nenhum dano às células (Figuras 3.13 e 3.14).
Figura 3.13: Mecanismo de adesão da célula.
A – Superfície hidrofóbica
B - Destacamento com agentes químicos
C – Destacamento com mudança da superfície
56
Figura 3.14: Esquema representando dispositivo on-off, para camadas de células.
28
Junção célula-célula
hidrofílico
hidrof
óbico
hidrof
óbico
hidrofílico
membrana de
proteína
43
Nitschke et al
62
fizeram estudos sobre adesão e destaque de células sobre superfícies
de copolímero P(NIPAMM co-DEGMA), onde os grupos de dietileno glicol
proporcionaram melhoria no destaque das células. A figura 3.15 mostra uma eletro
micrografia de proliferação de células sobre uma superfície com resposta ao
destacamento de células via estímulo externo.
Figura 3.15: Eletro micrografia do cultivo e células sobre superfície com poli (N-IPAAm co
DEGMA) à temperatura de 37°C (a) e destacamento após decréscimo de temperatura (b).
29
Os mecanismos de destacamento celulares da superfície de um polímero termicamente
sensível não são simples e representam mudanças no metabolismo celular. As células
entram em contato com uma superfície (adesão passiva) e a partir daí estão
dinamicamente alterando as suas membranas e sua morfologia para otimizar as
interações e estabilizar a interface célula-material (adesão ativa) (Figura 3.16).
16
Figura 3.16: Esquema representando tipos de adesão de células sobre substrato.
16
Ad
esão
Destacamento
Adesão passiva Adesão ativa
Processo ativo
44
A mudança da natureza da adesão nas células envolve mudanças na interface célula-
material e isto demanda um consumo de energia
16
que advém, obviamente, do
metabolismo celular. O P-N-IPAAm começa a se hidratar a 32°C, neste momento as
células começam a se modificar e quanto menor a temperatura mais o P-N-IPAAm se
hidrata, o que facilita o destacamento das células de sua superfície. Entretanto, o
metabolismo da célula também se reduz o que demanda um maior tempo para o
destacamento. Foi observado que a temperatura específica para se destacar as células
integralmente (sem danos), de uma superfície termosensivel
16
varia de acordo com o
tipo de células, pois cada tipo apresenta uma temperatura sensitiva diferente e
metabolismos celulares diversos. Okano et al
16
relataram diferenças significativas de
temperatura sensitiva entre as células hepatocíticas (10°C) e endoteliais (20°C) e
apontaram que esta tecnologia é importante não no destacamento integral de células
em culturas, mas também para purificação, ordenação e separação de células.
Harriz
et al
63
demonstraram que o comportamento mecânico (flexibilidade e rigidez) do
material é muito importante na adesão e espalhamento das células. Pelham e Wang
105
reportaram um trabalho minucioso no qual exploraram a topografia superficial dos
hidrogéis, utilizando-se de indentação por microscopia de força atômica, e concluíram
que a adesão e espalhamento das células sobre uma variedade de géis, a base de
acrilamidas, são regulados pela flexibilidade dos substratos. Vários estudos indicam que
a transdução mecânica entre células e matriz extracelular é um fator importante no
comportamento celular tais como: adesão, migração, proliferação, diferenciação, re-
diferenciação, metástase e apoptose.
18, 73
.
3.11 - Técnicas preparatórias de superfícies poliméricas para graftização
A característica de uma superfície pode ser representada pela medida de sua tensão
superficial, que por sua vez pode ser medida pelo ângulo de contato entre a superfície a
ser caracterizada e um líquido de tensão superficial conhecida.
94
O ângulo de contato
pode ser relacionado com três forças superficiais que mantém a gota de um líquido em
equilíbrio com uma superfície sólida (figura 3.23), dada por:
45
γ
γγ
γ
LV
cosθ
θθ
θ + γ
γγ
γ
SL
=
γ
γγ
γ
SV
( 3.1)
onde
γ
LV
- energia interfacial entre liquido e vapor
(mN/m).
γ
SL
- energia interfacial entre sólido e liquido (mN/m).
γ
SV
- energia interfacial entre sólido e vapor (mN/m).
Figura 3.23: Esquema representando ângulo de contato entre liquido e sólido.
O ângulo θ igual a 0° significa que o líquido molha completamente a superfície, ou seja,
líquido e sólido possuem a mesma tensão superficial. Por outro lado, ângulos que se
aproximam de 180°, indicam que o líquido tem baixa molhabilidade sobre a superfície
sólida, ou seja, tensão superficial do líquido é muito diferente que a da superfície sólida.
A tensão superficial dos polímeros varia com a composição química de suas moléculas.
Assim, polímeros que possuem flúor em sua composição têm valores de tensão
superficiais bem baixos e vão aumentando conforme se muda a composição tal como
mostra o esquema representativo na tabela 3.3. Nota-se que a medida que se acrescenta
grupos de hidrogênio, cloro, oxigênio e nitrogênio, os valores de tensão superficial vão
aumentando.
γ
LV
Líquido
Sólido
γ
sv
γ
SL
θ
46
Tabela 3.3 Tipos de polímeros com sua representação química e o valor da tensão
superficial.
Polímero Fórmula Tensão Superficial
(
γ
γγ
γ)
(Mn/m)
Teflon (PTFE)
16,2
Polifluoreto de
Vinilideno (PVDF)
25
Polietileno (PE)
31
Poliestireno (PS)
33
Álcool polivinilico
(PVA)
37
Policloreto de vinila
(PVC)
40
Polietileno tereftalato
(PET)
43
A superfície do polímero é a região de fronteira entre a massa polimérica e o ambiente
externo. Muitos polímeros apresentam hidrofobia e inércia química que são indesejáveis
em certas aplicações. A possibilidade de modificação da superfície torna-se uma
estratégia muito interessante para se obter atividades especificas de uso sem
comprometer as propriedades mecânicas do material.
73, 95, 96, 106, 107, 108, 109
47
Diversas técnicas são utilizadas para realizar o acoplamento de macromoléculas a
superfície de polímeros e tipicamente envolvem a criação de sítios reativos (radicais) e
formação de hidroperóxidos na superfície com posterior reação com as moléculas a
serem enxertadas covalentemente. Essas moléculas podem ser um pré polímero que se
liga aos sítios reativos ou pode ocorrer a partir de monômeros que iniciam a
polimerização se ligando aos sítios da superfície do polímero. Dentre as técnicas
existentes, se destacam: tratamento químico,
110
tratamento corona,
111, 112, 113, 114
plasma
a baixa temperatura,
115, 116, 117, 118, 119, 120, 121
radiação ultravioleta,
121, 122, 123
radiação
gama,
124
feixes de partículas (elétrons, íons), etc. Na prática podemos considerar que
ainda limitações para todas essas técnicas, por exemplo: a radiação UV pode
diminuir a resistência mecânica dos filmes; o plasma necessita de sistema de baixa
pressão (vácuo), o que dificulta a linha de produção; o tratamento com raios Gama
necessita equipamentos caros; o tratamento Corona apresenta dificuldades em materiais
de geometria complexa, além de necessitar de um bom controle ambiental (temperatura,
fluxo de ar, tipo de gás, umidade relativa, limpeza de eletrodos).
Vai ser abordado neste trabalho somente as técnicas de tratamento corona e irradiação
ultravioleta.
3.11.1 - Tratamento corona
A descarga corona é produzida quando um potencial elétrico é aplicado entre dois
eletrodos,
114
que pode ser ponta-placa ou placa-placa. Geralmente o ar atmosférico é o
gás que está entre as placas, tal como está representado na figura 3.24. Este método tem
diversos campos de aplicação, desde tratamento de água até a separação de poluentes
(precipitadores eletrostáticos) e é muito utilizada em tratamentos superficiais,
principalmente no setor de embalagens plásticas, onde a superfície é tratada para
melhorar a adesão da tinta de impressão.
48
Figura 3.24: Esquema representativo sistema corona ponta-plano.
Quando o alto campo elétrico (5.000 a 20.000Volts) é aplicado entre os eletrodos, os
elétrons colidem com as moléculas de gás que são ionizadas, causando o vento corona e
espécies ativas (íons). Se um polímero é colocado entre os eletrodos, este sofre ataque
dessas espécies ativas, podendo inclusive, criar radicais na superfície do material
polimérico.
Alguns fenômenos visíveis acontecem entre os eletrodos. Dentre eles, se destaca a
abertura de uma descarga luminosa que indica que está presente uma alta densidade de
elétrons dotados de alta energia. Este fenômeno fica mais estável e intenso quando se
diminui a quantidade de moléculas entre os eletrodos (vácuo). A colisão dos elétrons
com oxigênio, nitrogênio e outros gases faz com que este elétron perca energia que é
transferida às moléculas, excitando-as ao estado energético mais elevado.
Posteriormente, essas moléculas voltam ao seu estado natural liberando energia, na
forma de luz, calor e outras radiações eletromagnéticas. A figura 3.25 indica a
quantidade de energia dos elétrons que são necessárias para a geração de descarga
luminosa. Note que o valor varia de 1 a 20eV. Sabe-se que a energia para quebrar uma
ligação hidrogênio-carbono e gerar uma espécie ativa na superfície do polímero é cerca
de 2,5eV, ou seja, há energia suficiente durante as colisões para gerar tais espécies.
Durante efeito corona, gera-se muito gás ozônio, perceptível pelo cheiro característico,
Fonte de
Tensão
Medidor de corrente
Eletrodo
Eletrodo
Camada isolante
Vento corona
+
_
Polímero
49
significando que oxigênio nascente próximo à superfície do polímero. Este oxigênio
se combinará facilmente com as espécies ativas formando grupos hidroxilas e carbonilas
na superfície do polímero. Estes grupos serão os pontos de ligação de moléculas para ali
serem enxertadas.
Figura 3.25: Gráfico de densidade de elétrons em função da energia.
114
Os parâmetros que influenciam nas propriedades superficiais dos filmes tratados com
descarga corona são: temperatura, umidade relativa, distância dos eletrodos, forma dos
eletrodos, tipos de gases utilizados, tensão aplicada e tempo de tratamento
107
. Segundo
Torres e Sinésio, em um trabalho de tratamento corona em PET, as maiores influências
no valor do ângulo de contato, portanto, na eficácia do tratamento por descarga Corona,
normalmente são exercidas pela distância da ponta de descarga à amostra e pelo tempo
de tratamento. Nos ensaios realizados, no entanto, a distância apresentou uma influência
menor na eficácia do tratamento em relação ao tempo.
108
Zhu et al
75
estudaram a modificação de membranas de polietersulfona através de
tratamento corona em uma câmara com ar seco e fluxo controlado (10L/min.) com duas
50
placas de alumínio como eletrodo de dimensões de 20x30 cm a uma distância entre
placas de 8 mm, a placa inferior possuía um revestimento de silicone com 4mm de
espessura, utilizou-se também um gerador de freqüência (10KHz). A graftização em sua
superfície foi feita meio aquoso com ácido acrílico (1 a 2mol/L). A reação de
graftização atingiu 5 horas em seu melhor grau de polimerização que chegou a 150 a
200µg/cm
2
. Foram feitas medidas de ângulo de contato de água sobre a superfície do
polímero e indicou variação de 90° no ângulo de contato entre antes e após a
graftização. O estudo se estendeu as propriedades mecânicas do material e mostra que
até 100W de potência, quase não houve alterações nas propriedades mecânicas do
material, mas acima de 200W de potência há comprometimento dessas propriedades.
Jingxin e Liao
76
graftizaram poli (ácido acrílico) em filmes de polietileno de baixa
densidade, utilizando-se o tratamento corona. Neste trabalho houve a impregnação de
benzofenona no filme de polietileno, antes de realizar o tratamento corona. A
graftização ocorreu em solução aquosa de ácido acrílico. Parâmetros, tais como, tempo
de tratamento corona e voltagem fez com que o grau de graftização aumentasse até um
valor máximo e depois decrescesse. O aumento de tempo de reação, temperatura de
reação e concentração de monômeros (ácido acrílico) fez com que o grau de graftização
aumentasse. O melhor resultado obtido (grau de graftização de 220µg/cm
2
) ocorreu com
tempo de tratamento de 70s, 20% de ácido acrílico, 1,5 horas de reação a temperatura de
70°C.
3.11.2 – Tratamento por radiação de fótons ou ultravioleta
A radiação ultravioleta é classificada segundo faixas de comprimento de onda (λ): UVA
(400 320nm, também chamada de "luz negra" ou onda longa), UVB (320–280nm,
também chamada de onda média) e UVC (280 - 100nm, também chamada de UV curta
ou "germicida"). A energia fornecida pela onda eletromagnética é suficientemente alta
para gerar tios ativos e formação de hidroperóxidos na superfície dos materiais
poliméricos.
51
A equação de Planck permite o cálculo da energia necessária para a propagação da
onda, dada por:
E = h c / λ
λλ
λ (3.2)
Onde h é a constante de Planck que vale 4,13 x 10
-15
eV.s e c é a velocidade da luz.que
vale 3x10
8
m/s.
O comprimento de onda máximo para ultravioleta está em torno de 400nm, significando
que a energia mínima para este comprimento de onda é 3,1eV (elétrons volts). Esta
energia é suficiente para a quebra de ligação C-H, que é cerca de 2,54eV e a energia
para a quebra de uma ligação C-C é de 3,79eV. Ambas são geradoras de sítios ativos na
superfície dos polímeros.
Vários estudos sobre a radiação UV têm sido feito para observar seus efeitos na
fotodegradação dos materiais poliméricos e na foto polimerização de resinas, vernizes e
adesivos. Seu uso na modificação de superfícies poliméricas é uma técnica que tem sido
usada com freqüência.
Ebara et al
77
utilizando técnicas de UV, graftizou P-N-IPAAm em micro canais de
membranas de polidimetilsiloxano para uso em processos de filtragem, afim de se
produzir uma válvula aos micro canais, permitindo a passagem de moléculas
específicas. Neste trabalho foi empregada uma polimerização direta, utilizando a
benzofenona como foto iniciador. Nesta cnica, primeiramente faz- se a adsorção da
benzofenona na superfície do filme polimérico e posteriormente mergulha-se o filme em
uma solução aquosa de N-IPAAm (monômero) sob irradiação UV com uma lâmpada de
365nm e 100W de potência. A densidade de moléculas na superfície do filme aumenta
com o aumento do tempo de exposição e a concentração de foto iniciador.
Curtia. et al
78
graftizaram P-N-IPAAm sobre a superfície de polietileno tereftalato
(PET) e poliestireno (PS) através de UV. Foi utilizado pré-irradiação da superfície com
52
uma lâmpada de 215W seguida de foto polimerização do n isopropilacrilamida (N-
IPAAm) e acrilamida (AAm) em uma solução aquosa tendo como foto iniciador o
periodato de sódio. Os resultados indicaram alterações importantes no ângulo de contato
entre água e a superfície dos polímeros utilizados e ainda apresentou a mudança de
natureza hidrofóbica hidrofílica em 35°C (LCST do copolímero P-N-IPAAm/
PAAm).
O uso de radiação ultravioleta é evidenciado pela facilidade de aplicação e manuseio. A
possibilidade de irradiar grandes áreas superficiais de geometria complexa, talvez seja a
maior vantagem de se utilizar esta técnica. Além disso, este é um método relativamente
barato e de baixa manutenção.
3.12 – Estudos in vivo com materiais
Os testes in vivo são mais difíceis de serem realizados e tem um custo mais elevado.
Além disso, eles são mais difíceis de se controlar, envolvem sempre um comitê de ética
e por isso são usados mais na fase final, quando se tem um bom conhecimento a
partir de testes in vitro.
Para se testar curativos, geralmente se preparam feridas por segunda intenção em
animais, como ratos, camundongos, coelhos ou cães. O curativo é aplicado sobre a área
da ferida e sempre um grupo controle onde não se aplica o curativo em teste. Neste
caso, apenas protege-se o ferimento com gaze e vaselina. O teste tem duração máxima
de 28 dias, onde se verifica a aderência, absorção e aspecto do exudato
7
e
a cinética de
cicatrização.
125
A cinética é realizada com medidas dimensionais da ferida com
paquímetro ou via programas de computador baseados em fotografia. A troca de
curativos pode ser realizada diariamente, ou em intervalos maiores, dependendo da
especificidade do trabalho. Alguns animais são sacrificados no decorrer dos
experimentos para serem submetidos a biópsias na região da ferida para análises
histológicas
131
. Tais análises buscam verificar informações como: a presença de
macrófagos, fibroblastos, angiogênese, disposição das fibras de colágenos, presença de
hemorragia, aspecto granular e reações inflamatórias.
53
Capítulo 4 – Procedimento Experimental
O fluxograma abaixo (fig. 4.1) representa a metodologia utilizada neste trabalho
Figura 4.1 – Fluxograma da metodologia utilizada
54
4. 1 - Materiais
4. 1. 1 - Preparação dos filmes:
Os filmes de poliuretano termoplástico Elastollan ELA585A10 (Basf), gentilmente
cedido pela empresa Petropol Polímeros, foram obtidos através da técnica de
espalmagem, por espalhamento de uma solução de poliuretano 20% em piridina PA,
sobre uma placa de vidro.
O procedimento adotado para seu desenvolvimento começou com a pesagem de 20g de
poliuretano (figura 4.2), juntamente com 80g de piridina PA (figura 4.3). O béquer foi
tampado com um vidro de relógio para evitar evaporação do solvente, até a sua
completa dissolução (figura 4.4) e deixado por 24 horas à temperatura de 50°C,
Figura 4.2: Poliuretano Elastollan ELA585A10 natural
Figura 4.3: Poliuretano em piridina a temperatura de 50°C
55
Figura 4.4: Poliuretano totalmente dissolvido em piridina a 50°C
4. 1. 2 - Obtenção do filme
Para a obtenção do filme, utilizou-se uma placa de vidro de 150x170mm, que foi
primeiramente lavada com solução sulfocrômica, enxaguada diversas vezes com água
destilada. Após sua secagem em estufa a 105°C, foram coladas, simetricamente, várias
camadas de fita adesiva em suas bordas laterais, de modo que as fitas que determinaram
a espessura do filme a ser formado ficassem com a mesma altura.
A espalmagem do filme foi realizada, dentro de uma capela, espalhando-se a solução
sobre uma placa de vidro em uma quantidade suficientemente grande para poder cobrir
toda a placa (figura 4.5).
Figura 4.5: Derramamento da solução sobre a placa de vidro
56
Em seguida, com auxílio de um bastão de vidro apoiado sobre as fitas das bordas,
conforme mostra a figura 4.6, espalhou-se a solução sobre a placa de vidro, com uma
velocidade lenta e uniforme. (figura 4.7).
Figura 4.6: Início da operação de espalmagem da solução
Figura 4.7: Fim do processo de espalmagem da solução
Após o espalhamento, desligou-se o exaustor e fechou-se a porta da capela, a fim de que
a secagem do filme se desse sempre de maneira suave e lenta. Após 8 horas, tempo
suficiente para que o filme se formasse, retirou-se o filme da placa de vidro, puxando
lentamente uma de suas bordas, até retirada completa do filme, conforme figura 4.8..
fita
adesiva
fita
adesiva
bastão de
vidro
solução
PU/Piridina
57
Figura 4.8: Retirada do filme da placa
Os filmes porosos foram obtidos acrescentando à solução de piridina, cerca de 10% de
cloreto de lítio, em seguida repetiu-se o mesmo procedimento de espalmagem descrito
acima. Após a evaporação da piridina, os filmes foram retirados da placa de vidro e
imersos em um béquer contendo água destilada à temperatura de 50°C sob agitação,
para retirada do cloreto de lítio. A água foi trocada a cada 60 minutos de agitação. Foi
realizado um total de seis trocas de água, sendo que na última o tempo de agitação se
estendeu por 24 horas. O objetivo é a formação de poros pela retirada dos sais (cloreto
de lítio) da estrutura do material.
4. 1. 3 – Limpeza e extração de contaminantes do filme.
O filme, após ser retirado da placa, foi cortado em pedaços menores para facilitar a
colocação em um extrator Soxhlet para retirada de eventuais aditivos (plastificantes,
antiaderentes, etc.). Utilizou-se como solvente o etanol P.A. O processo de extração foi
realizado por 24 horas. O equipamento utilizado para a extração (figura 4.9) consistiu de
uma manta de aquecimento, um balão para o depósito de etanol, um extrator Soxhlet e
um condensador de refluxo, refrigerado a água.
58
Figura 4.9: Extrator Soxhlet
Figura 4.10: Detalhe da câmara do Soxhlet com filme de PU
Condensador
de
Refluxo
Soxlhet
Balão
com etanol
Filme de PU
Detalhe do filme
de PU em etanol
na câmara do
Soxhlet
Manta
59
4. 1. 4 - Purificação do monômero – N – isopropilacrilamida (N-IPAAm)
Na purificação do n-isopropilacrilamida 97% (Aldrich) (fig. 4.11), 50g de n-
isopropilacrilamida (fig. 4.12) foram dissolvidos em 300ml de n-hexano (Sinth). a 60°C,
com agitação por 15 minutos.(fig. 4.13 e fig. 4.14).
Figura 4.11: N – isopropilacrilamida sendo preparado para purificação
Figura 4.12: N- hexano adicionado ao n-isopropilacrilamida (N-IPAAm).
60
Figura 4.13: Dissolução de N-IPAAm em n-hexano com aquecimento e agitação.
Figura 4.14: Dissolução total de N-IPAAM em n-hexano a 60°C.
Transcorrido o tempo, foi feita a primeira filtração a vácuo na solução, ainda quente,
tendo como objetivo retirar-lhe as impurezas insolúveis (fig. 4.15 até fig. 4.16).
Utilizou-se um funil de Buchner e um filtro de papel.
61
Figura 4.15: Filtragem à vácuo da solução de N-IPAAm em n-hexano.
Figura 4.16: Solução filtrada de N-IPAAm em n-hexano.
Após a filtragem a quente, transferiu-se o líquido filtrado do kitassato para um béquer
de 500ml e realizou-se a precipitação a -6°C, utilizando-se para isto uma solução de
salmoura e gelo dentro de um recipiente de porcelana.
Após 6horas, observou-se uma intensa precipitação de cristais de N-IPAAm, que foram
levados novamente ao processo de filtração a vácuo (fig. 4.17), onde foram separados,
ainda em baixa temperatura, para que o N-IPAAm não se solubilizasse novamente e
houvesse perda no rendimento da purificação. Este procedimento foi repetido como
medida de precaução.
Kitassato
Solução
hexano
n
-
ipaam
62
Figura 4.17: N-IPAAm purificado e totalmente separado do n-hexano.
Após a filtragem à vácuo, o N-IPAAm foi colocada na embalagem original (após
limpeza) e levado para secagem à vácuo durante 2 horas, utilizando se um dessecador
acoplado a uma bomba de vácuo, conforme a figura 4.18. O N-IPAAm foi guardado em
local adequado aguardando as etapas de polimerização.
Figura 4.18: Sistema de secagem à vácuo de N-IPAAm.
cristais de
n-ipaam
purificado
n-hexano
com
impurezas
solúveis
dessecador
N-IPAAm
vacuômetro
bomba
de
vácuo
63
4. 1. 5 - Tratamento corona
O equipamento para tratamento corona foi construído (fig. 4.23) com ajuda de alguns
colaboradores e com recursos do laboratório de tecnologia mecânica e laboratório de
polímeros do Unileste. O gerador de freqüência e o formato dos eletrodos foram os
detalhes do projeto em que mais houve necessidade de aprimoramento: o gerador de
freqüência por necessidade de ajuste da impedância entre gerador e os eletrodos pela
necessidade de se distribuir melhor o vento corona.
O tratamento corona foi realizado utilizando-se dois procedimentos:
1 – Tratamento do poliuretano (purificado) em corona com atmosfera livre com 60% de
umidade relativa. (fig. 4.19)
2 Tratamento do poliuretano (purificado) em corona sob vácuo primário (20torr) e
adição de argônio sob atmosfera rarefeita (fig. 4.20 e 4.21).
Em ambos os casos foi utilizado uma tensão de 20.000Volts, corrente de 3 a 6mA e
freqüência de 12kHz. O filme foi colocado entre os dois eletrodos, mais especificamente
sobre o anodo. Houve variação de tempo de tratamento e variação da distância dos
eletrodos, sendo que, para verificar esses pontos ideais de tratamento, houve a medida
da redução de ângulo de contato entre a água e a superfície do poliuretano (tensão
superficial). Essas medidas foram feitas 5 minutos após tratamento à atmosfera livre e
30 minutos após tratamento em vácuo.
64
Figura 4.19: Sistema para tratamento corona do filme de PU.
Figura 4.20: Sistema para tratamento corona do filme de PU.
Cilindro
de
argônio
Bomba
de
Vácuo
Saída
de
alta
voltagem
Gerador
de
freqüência
e alta
voltagem
Câmara
de
vácuo / gás
Cátodo
Anodo
Filme de PU
65
Figura 4.21: Câmara de vácuo/gás indicando cor azul na abertura do arco elétrico
4. 1. 6 - Tratamento com radiação Ultravioleta
O tratamento com radiação ultravioleta foi feito adaptando-se uma lâmpada de baixa
pressão, com comprimento de onda 256-370nm, com de potência 30W, dentro de uma
calha de lâmpada fluorescente (fig. 4.22), com revestimento de alumínio. Realizou-se o
tratamento colocando-se o filme de poliuretano sobre uma placa cerâmica a uma
distância de 5cm da lâmpada (fig. 4.23), durante vários intervalos de tempo.
Primeiramente foi realizado 12 horas de tratamento, para verificar o comprometimento
das propriedades mecânicas do poliuretano após longa exposição à radiação. Após esta
verificação, padronizou-se um tratamento de 4 horas para a formação de hidroperóxidos
e radicais livres na superfície do PU para a posterior graftização com N-IPAAm.
Entrada
de gás
Cátodo
Anodo
Vácuo
Câmara
de vácuo/gás
com formação
de descarga
(glow discharge)
66
Figura 4.22: Tratamento com radiação ultravioleta.
Figura 4.23: Filme de PU exposto ao UV.
..
4. 1. 7 - Graftização
A graftização do N-IPAAm foi realizada em um balão de três bocas (fig. 4.24 e 4.25)
com agitação magnética, fluxo de nitrogênio (1 bolha por segundo) e controle de
temperatura (abaixo de 32°C). A solução foi preparada com 5% de monômero N-
IPAAm em ácido nítrico 0,04N e 0,1% nitrato cérico amoniacal e degaseificada em
vácuo. Após pesagem, os filmes de poliuretano foram introduzidos no reator,
juntamente, como referência, de um pedaço de filme de poliuretano sem tratamento.
Transcorridas doze horas, os filmes foram retirados da solução e devidamente lavados
para a retirada de monômeros e polímeros que não estavam adequadamente aderidos à
sua superfície. Essa limpeza foi feita com trocas contínuas de água destilada a 70°C,
que foi agitada durante 4 horas. Os filmes foram secos em estufa 105°C e novamente
pesados.
67
Figura 4.24: Sistema do reator com atmosfera controlada.
Figura 4.25: Reator para graftização
Termômetro
Reator
Polimerização
em Solução
com filme de
poliuretano
Sistema de
borbulhamento
de nitrogênio
Nitrogênio
Reator
Placa de
aquecimento
com agitador
magnético
Cilindro de
nitrogênio
Fluxímetro
Válvula
do nitrogênio
68
4. 1. 8 - Medidas do ângulo de contato
O ângulo de contato entre a gota de água deionizada e o filme de poliuretano foi medido
utilizando-se uma lupa e um porta amostra que foi montado do seguinte modo:
colocou-se a lupa na posição inclinada de 90° em relação a sua posição original (fig.
4.26), nesta posição poderia se observar a gota na horizontal. Fixou-se o filme sobre a
borda lateral de um vidro de 2mm de espessura com a ajuda de dois grampos (fig. 4.27),
para que ficasse bem esticado e reto. Com uma micro seringa colocou-se 1µL de água
deionizada sobre a superfície do filme em seguida fotografou-se a gota, para posterior
medição em microcomputador. As medidas foram tomadas após pelo menos 30
segundos de contato da água com a superfície do poliuretano e foram realizadas cinco
medidas em cada filme, com desvio de 2°.
Figura 4.26: Porta amostra do filme na medida do ângulo de contato.
porta
amostra
69
Figura 4.27: Lupa para observação do ângulo de contato
.
4. 1. 9 – Transição LCST
A medida da temperatura de transição LCST foi realizada colocando-se um filme de
poliuretano graftizado com P-N-IPAAm em uma placa de Petri imerso em água
destilada (fig.4.28). Aqueceu-se a água até uma temperatura de 35°C e deixou-se
resfriar naturalmente. Foi feita leitura de temperatura através de uma termo resistência
PT100 classe B, mergulhado na água. Este sensor foi acoplado a um multímetro para
leitura da resistência ôhmica e através de uma tabela convertia-se ao valor da
temperatura. O erro deste tipo de montagem (sensor e multímetro) é de 0,30°C. O
registro foi feito visualmente e com uma câmera digital através da verificação de
alteração da transparência. Para melhor visualização do efeito, a placa de Petri foi
colocada sobre uma figura contendo um código de barra.
70
Figura 4.28: Esquema representativo para medição da LCST.
4. 1. 10 – Espectroscopia infravermelho FTIR-ATR
As amostras foram caracterizadas por espectroscopia na região do infravermelho
(FTIR). Espectros de FTIR foram coletados num espectrômetro Perkim-Elmer Paragon
1000, utilizando-se um acessório para reflexão total atenuada (ATR). Durante as
análises, as amostras foram pressionadas contra a superfície de um cristal ATR: KRS-5.
A análise por reflexão atenuada permite a análise da superfície do material, pois é
baseada na reflexão total da radiação na interface de matérias com índices de refração
diferentes.
Multímetro
código de barras
filme
sensor
71
Os espectros foram obtidos utilizando 16 leituras por espectro; resolução de 4cm
-1
,
região de aquisição de 4000 a 400cm
-1
em ar atmosférico e espectro de referência,
background obtido com a presença do cristal.
4. 1. 11 – Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)
A superfície de fratura dos materiais produzidos foi investigada através de microscopia
eletrônica de varredura, utilizando-se um Microscópio Eletrônico de Varredura, marca
JEOL, modelo 6360LV, do departamento de Engenharia Metalúrgica da UFMG. As
superfícies de fratura foram obtidas através da imersão dos materiais em nitrogênio
líquido por cinco minutos e fratura imediatamente realizada após a remoção. Este
procedimento permite preservar a morfologia original da estrutura interna, visualizando
o formato dos poros e possibilitando fazer medidas da camada superficial de material
enxertado. As superfícies de fratura foram recobertas com ouro e visualizadas no
microscópio eletrônico de varredura.
4. 1. 12 - Teste in vitro de adesão em proteína
O teste de adesão on-off in vitro foi feito testando a adesão de proteína sobre a
superfície do poliuretano graftizado com P-N-IPAAm, primeiramente fazendo-se aderir
proteína (albumina 2,0% em água) em duas condições: acima e abaixo de 32°C. Neste
caso, foi analisado qual o estado da superfície do PU (hidrófilo ou hidrófobo) seria mais
adequado para a fixação das proteínas. Em seguida, foi verificado se as proteínas que
aderiram acima de 32°C (estado hidrófobo) estavam bem fixas e se abaixo de 32°C
essas proteínas seriam eluídas.
As amostras 1 e 2 foram feitas de poliuretano graftizado com P-N-IPAAm. A amostra 1
foi colocada em uma solução de albumina a temperatura maior que 32°C durante 5 dias.
A amostra 2 foi colocada em uma solução de albumina a temperatura abaixo de 32°C
durante 5 dias.
72
Após a etapa de deposição em solução aquosa de albumina as amostras foram lavadas,
secas e pesadas da seguinte maneira (limpeza 1):
- Amostra 1 lavada em água destilada a temperatura acima de 32°C
- Amostra 2 lavada em água destilada a temperatura abaixo de 32°C
A amostra 1 foi novamente lavada em água destilada, mas desta vez à temperatura
abaixo de 32°C para verificar se haveria perda de massa, ou seja, se a proteína que
aderiu acima de 32°C perderia a aderência abaixo de 32°C. A amostra 2 foi novamente
lavada a temperatura abaixo de 32°C (Limpeza 2). Em seguida foram secas em estufa e
pesadas novamente para verificação da variação de massa.
4. 2 - Testes in vivo
Os testes in vivo foram realizados no ICB Instituto de Ciências Biológicas da UFMG
departamento de Fisiologia e Biofísica/Lab. de Angiogênese.
O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Experimentação Animal - CETEA
protocolo 069/09.
4. 2. 1 - Preparação do curativo
Os curativos foram preparados no Departamento de Micro Clínica da Faculdade de
Farmácia, do Unileste. Foram utilizados os filmes de poliuretano com e sem tratamento,
que foram cortados utilizando-se um vazador de 10mm de diâmetro. Após o corte, o
filme foi levado para esterilização em luz ultravioleta de 30W de potência e
comprimento de onda 254-370nm, durante dois minutos de exposição em cada face do
filme a uma distância de 2cm do filme. Os filmes esterilizados foram colocados dentro
de um coletor de amostra previamente esterilizado e levados para a montagem final, em
uma capela de fluxo laminar com ambiente esterilizado por luz ultravioleta.
73
A montagem foi feita utilizando-se duas películas - uma com adesivo para prender o
material à pele do animal e a outra simples (sem adesivo) apenas para proteger
temporariamente o material até seu uso no teste in vivo - que foram montadas
paralelamente, tendo entre elas o material tratado (fig. 4.29). Para esse fim, foi utilizada
capela previamente esterilizada por luz ultravioleta durante 15 minutos, luvas de látex e
pinças de aço inox para manuseio das partes com e sem adesivo do curativo.
Figura 4.29: Montagem do curativo.
Os curativos prontos foram colocados em um coletor de amostra convencional e levados
para a aplicação nos testes in vivo.
4. 2. 2 - Implantação
Todos os testes in vivo foram feitos no Instituto de Ciências Biológicas - ICB - da
UFMG.
Este teste foi realizado para dois tipos de materiais: o poliuretano e poli(n-
isopropilacrilamida). O poliuretano utilizado é o mesmo fabricado no procedimento
4.1.2 e sem poros. O poli(n-isopropilacrilamida) foi sintetizado pelo processo de
polimerização em solução aquosa, em um reator de vidro de três bocas. A solução
possuía a seguinte composição:
proteção
do adesivo
adesivo
cobertura
74
- 50g água;
- 3,35g de N-IPPAm; monômeros.
- 0,067g MBAAm (N, N′-metileno-bisacrilamida); agente de ligação cruzada.
- 0,0335g APS – persulfato de amônia; Iniciador
- 0,0335g TEMED-trietiletilenodiamina, acelerador.
A reação acorreu à temperatura ambiente em cerca de 15 minutos e o resultado foi um
hidrogel, de consistência macia tal como uma gelatina. O material foi lavado em água
destilada, cerca de 5 vezes, sempre fazendo-se várias ciclagens de temperatura,
aquecendo e resfriando-se o banho em torno da LCST (32°C) para facilitar a limpeza,
pois acima de 32°C a água é expulsa do interior do hidrogel carreando as impurezas
(monômeros, iniciadores e catalisadores). Para aplicação do implante, cortou-se, com
auxilio de uma lâmina, pequenos pedaços (0,3x0,5 cm) deste hidrogel.
Tanto o poliuretano como o hidrogel foram esterilizados em autoclave à vapor, à
temperatura de 130°C, durante o tempo de uma hora. Em seguida colocados dentro de
um recipiente esterilizado que foi hermeticamente fechado e levado ao ICB para
implantação nos animais.
Os implantes foram colocados na região subcutânea dorsal de camundongos (Swiss),
através de uma incisão de 10mm de comprimento. Não houve nenhuma fixação do
implante. Assim que o material for implantado, a abertura foi suturada. Após 7 dias os
animais foram eutanasiados por deslocamento cervical e os implantes retirados para
análise histológica
Foram utilizados três animais, por material, totalizando-se 6 animais. Os implantes para
avaliação histológica, depois de retirados, foram fixados em formalina tamponada
(aldeído
fórmico (37- 40%) 100ml, fosfato monossódico 4g, fosfato bisódico 4,5g, água
destilada 900 ml) por 24 horas. Posteriormente o material foi processado para inclusão
em parafina. Os blocos foram submetidos à microtomia (5 µm) e as lâminas montadas e
coradas com hematoxilina e eosina (H&E).
75
As imagens microscópicas dos cortes histológicos foram capturadas com uma objetiva
(40x) plana apocromática em microscópio (Zeiss Axiolab; Zeiss; Germany). As
imagens foram digitalizadas e transferidas para o analisador de imagem (Kontron
Eletronics, Carl Zeiss – KS300 versão 2).
O acondicionamento dos camundongos foi feito em Biotério de manutenção
(laboratório de angiogênese, local onde os experimentos foram realizados). Os animais
foram distribuídos em caixas de polipropileno (fig. 4.30) sobre estantes vazadas, o que
permitia a circulação de ar entre as caixas (distância de 5cm entre cada uma
horizontalmente e de 80cm verticalmente). Os animais foram tratados com ração
industrial e água filtrada. O barulho era restrito e a iluminação controlada. Os ciclos de
claro-escuro foram controlados artificialmente, diariamente, segundo o ciclo natural da
espécie. A temperatura também foi controlada e a circulação de ar garantida por
exaustor.
Figura 4.30: Acondicionamento dos camundongos no biotério.
4.2.3 - Verificação do mecanismo on-off em um modelo de ferida cutânea
excisional.
Testes para verificação do mecanismo on-off dos curativos foram executados em
camundongos Swiss que foram anestesiados (fig.4.31) e tiveram dorso previamente
76
depilado (fig. 4.32) com maquina elétrica de corte de pelos para a produção de duas
feridas cutâneas excisionais, criadas através do pressionamento da pele da região dorsal
com um furador circular tipo punch de biópsia (diâmetro de 0,5cm e área de 0,196cm
2
(fig. 4.33 e fig. 4.34). Os animais foram previamente divididos em dois grupos: grupo
sem cobertura e grupo com cobertura. A anestesia utilizada foi 80mg/Kg de cetamina e
10 mg/Kg de xilazina. Foram usados 2 grupos e 5 camundongos, num total de 10
camundongos. Testes anteriores indicaram que houve um pequeno desvio padrão nas
variáveis estudadas, por isto o valor de n igual a 5 apresenta boa confiabilidade.
Figura 4.31: Aplicação de anestesia no camundongo.
Figura 4.32: Preparação da pele do dorso do camundongo.
77
Figura 4.33: Excisão da pelr com punch.
Figura 4.34: Feridas prontas para serem cobertas.
Cinco animais tiveram recobertas as feridas do lado direito (5 feridas) com poliuretano sem
graft ou qualquer outro tipo de tratamento (fig. 4.35 e fig. 4.36). As feridas do lado esquerdo
(cinco feridas) foram recobertas com poliuretano graftizado com P-N-IPAAm. Um grupo de
cinco animais sem cobertura (10 feridas) foi usado como controle.
sem grafts
com grafts
78
Figura 4.35: Feridas recobertas com curativos
Figura 4.36: Reforço para assegurar a montagem do conjunto.
Após a retirada dos curativos, as feridas foram avaliadas, medidas (antes e durante o
processo de cicatrização) (fig. 4.37) e fotografadas. A avaliação do fechamento da
ferida foi realizada com paquímetro e as medidas foram tomadas observando-se o maior
e menor diâmetro.
Figura 4.37: Medidas das feridas..
A área foi calculada pela equação (4.1)
7
:
A = π
ππ
πR.r (4.1)
Onde r é o raio menor e R é o raio maior, medidos em uma mesma ferida.
79
O cálculo do fechamento da ferida foi feito pela equação (4.2)
7
M ±
±±
± DP = (A
o
– A
l
) / A
o
(4.2)
Onde A
o
é a área inicial da ferida e A
l
é a área da ferida no dia da observação. M é a
média e DP é o desvio padrão.
As observações consistiram primordialmente de anotar os aspectos de coloração,
aderência, presença de infecção, presença de tecido de granulação e teve como
fatores preponderantes os seguintes tópicos:
- Observar o arraste de tecido na retirada do curativo.
- Testar e observar mecanismo on-off.
Testou-se e observou-se o mecanismo on-off através da verificação da mudança de
aderência do curativo à ferida. Para isto, primeiramente mediu-se a temperatura
diretamente sobre a superfície do curativo, utilizando-se um termômetro a laser
como indica a figura 4.38, em seguida retirou-se os curativos com temperatura da
pele acima de 32°C (fig. 4.39) e observou-se a aderência do material em contato
com a ferida. (fig. 4.40- 4.41).
Figura 4.38: Termômetro à laser para leitura da temperatura da pele.
80
Figura 4.39: Leitura de temperatura sobre o curativo.
Figura 4.40: Retirada do curativo.
Figura 4.41: Retirada do curativo
81
Após as observações do mecanismo on-off e os animais serem sacrificados, iniciou-se a
retirada de amostra da pele retirando-se os tecidos com uma tesoura cirúrgica (fig. 4.42
e fig. 4.43) e o seccionamento da lesão foi feita incluindo área de lesão e área da borda
da lesão com tecido normal com auxilio de um punch (8mm) com diâmetro maior que o
utilizado para a produção das lesões. (fig. 4.44).
Figura 4.42: Retirada do tecido região das feridas dorso do camundongo.
Figura 4.43: Vista das feridas lado interno da pele.e a direita esquema representativo.
Figura 4.44: Seccionamento com punch , para análises histológicas
8 mm tecido da ferida e 3 mm da borda da ferida
ferida 1
ferida 2
tecido dorso
82
Posteriormente fez-se o corte transversal do tecido (fig. 4.45) e acondicionamento em
formalina tamponada (formaldeído a 37-40% 100ml, água destilada 900ml, fosfato de
sódio monobásico 4g, fosfato de sódio dibásico (anidro) 6,5g) por 24 horas, (fig.4.46),
posteriormente o material foi processado para inclusão em parafina e emblocado. Os
blocos foram submetidos à microtomia (5µm) e as lâminas montadas e coradas com
hematoxilina e eosina (H&E).
Figura 4.45: Preparação para fixação.(A) Feridas sendo seccionadas
(B) Seccionamento do tecido em corte transversal para análises histológicas
C) Esquema representando o corte.
Figura 4.46: Acondicionamento do tecido em formalina (A)
Esquema representativo do corte do tecido a ser embutido e
microtomisado para análises histológicas (B).
C
B
A
B
A
83
Capítulo 5 - Resultados e Discussão
5.1 - Ângulo de Contato.
As medidas do ângulo de contato indicam alterações da superfície do material.
Analisando-se os resultados da tabela 5.1, nota-se que o poliuretano puro possui um
ângulo de contato de 45° e que todos os tratamentos realizados alteraram a sua
superfície. Vale destacar que o melhor tratamento para formação de hidroperóxidos à
superfície do poliuretano foi o ataque com luz ultravioleta, que gerou um ângulo de
contato de 32°. Tal resultado indica que este tratamento poderia gerar uma densidade de
hidroperóxidos por área maior e, conseqüentemente, uma maior densidade de moléculas
graftizadas em sua superfície.
Figura 5.1: Molhabilidade de uma gota de água deionizada sobre a superfície do PU graftizado
com P-N-IPAAm
A figura 5.1 são fotos de gotas de água deionizada que estão sobre a superfície do
poliuretano enxertado com P-N-IPAAm em duas situações a 25 e 40°C. Nota-se que a
25°C a água molha muito mais a superfície do polímero, o que indica que o estado da
superfície é mais hidrófilo e a 40°C a molhabilidade é inferior, o que indica um estado
hidrofóbico, os ângulos de medida podem ser verificados na tabela 5.1.
25°C
40°C
84
Tabela 5.1 – Ângulo de contato entre água deionizada e material.
As mudanças do ângulo de contato com o tratamento corona em poliuretano foram bem
menos expressivos do que o tratamento por radiação ultravioleta, o que indica que o
tratamento UV foi mais eficiente na formação de grupos reativos na superfície do PU. A
figura 5.2 representa o efeito da luz UV na superfície do material polimérico, na
formação de hidroxilas, carbonila e epoxies. Cada novo grupo formado é consequencia
da oxidação da superfície do poliuretano, na presença de radiação que é a fonte
energética destas reações.
Figura 5.2: Esquema representativo da formação de grupos
hdroxilas, carbonila e epoxies, quando da exposição de PU à radiação UV
Filme de poliuretano Ângulo de contato
Sem tratamento (25°C)
45° (±
±±
± 2°)
Tratamento Ultra Violeta (25°C)
32° (±
±±
± 2°)
Tratamento Corona ao ambiente (25°C)
42° (±
±±
± 2°)
Tratamento Corona atmosfera
controlada e rarefeita (25°C)
38° (±
±±
± 2°)
PU com grafts P-N-IPAAm
(25°C)
28° (±
±±
± 2°)
PU com grafts P-N-IPAAm
(40°C)
74° (±
±±
± 2°)
OH
O
OH
O
OH
Poliuretano
LUZ UV
Poliuretano
85
Os resultados de ângulo de contato dos filmes graftizados se referem à graftização
usando-se o tratamento por ultravioleta. As medidas demonstram claramente o
comportamento da superfície abaixo e acima da transição LCST (T=32°C) resultando
um ângulo de 28° na temperatura abaixo de 32°C e o ângulo de 74° para temperatura
acima de 32°C. Mostrando assim uma forte alteração do ângulo de contato, quando este
material ultrapassa a LCST do P-N-IPAAm, o que indica variação do comportamento
hidrofílico para hidrofóbico. O estado hidrofóbico da superfície do PU graftizado, pode
favorecer a adesão de proteínas insolúveis ou que tenha baixa solubilidade em água.
5.1 – Ganho de massa – graftização.
A figura 5.3 representa a graftização tipo graftization from da poliacrilamida na
superfície de um polímero, utilizando nitrato cérico amoniacal como catalisador, onde o
iniciador tem papel fundamental em formar o radical nos grupos hidroxilas e possibilitar
a formação dos enxertos, a formação do homopolímero ocorre em paralelo, este é
separado depois por lavagem do filme enxertado.
Figura 5.3: Esquema representativo da graftização poli-N-Isopropilacrilamida superfície de
poliuretano
Pela tabela 5.2 pode se observar que o tratamento ultravioleta foi muito mais eficiente
que o tratamento corona e que o ganho de massa superior dos filmes com poros, foi
devido ao aumento da área superficial específica do material.
86
Tabela 5.2 – Ganho de massa após graftização.
Tipo de pré tratamento do filme Ganho de massa após a graftização
(µ
µµ
µg/cm
2
)
Controle 0,0
Tratamento corona
Atmosfera rarefeita de argônio (10torr)
Distância eletrodos 5 mm (25KV e 3mA)
Tempo: 20s
0,3
Tratamento Ultravioleta
Filme sem poros
Distância do filme 5 cm e tempo 4 horas.
3
Tratamento Ultravioleta
Filme com poros
Distância do filme 5 cm e tempo 4 horas
6
Se compararmos este resultado com os resultados do ângulo de contato (tabela 5.1)
nota-se que os resultados com o tratamento corona e ultravioleta estão coerentes com os
resultados de ganho de massa após graftização.
Observa-se também que no grupo controle, ou seja, poliuretano sem nenhum
tratamento, não houve nenhum ganho de massa e graftização.
87
5.3 - Microscopia Eletrônica de Varredura - MEV
A figura da figura 5.4 é uma eletro micrografia da amostra de poliuretano sem
graftização
Figura 5.4: Eletro micrografia do poliuretano sem graftização.
Vista da superfície natural
A figura 5.5 mostra a eletro micrografia da superfície de uma amostra de poliuretano
graftizado com poli (N-isopropilacrilamida) (P-N-IPAAM), após tratamento corona.
Nota-se a presença dos poros na superfície do poliuretano, indicando que a camada de
material graftizado é bem delgada. Não foi possível medir a camada graftizada, que se
mostrou com uma dimensão incapaz de ser resolvida pela microscopia eletrônica de
varredura.
Figura 5.5: Eletro micrografia do PU graftizado após tratamento corona.
Vista da superfície natural
88
A figura 5.6 é uma eletro micrografia que mostra a superfície de um filme após
graftização de poliuretano tratado por luz ultravioleta.
Figura 5.6: Eletro micrografia do poliuretano graftizado com P-N- IPAAm.
Após tratamento UV – Vista da superfície natural
A figura 5.7 é a eletro micrografia que mostra a superfície da seção do filme fraturado.
Nota-se que não presença de poros no interior do filme. O processo de espalmagem
gera este tipo de estrutura, deixando poucos poros restritos geralmente à superfície do
filme. Observa-se também um filme fino na superfície, melhor visualizado na figura 5.8.
Figura 5.7: Eletro micrografia do poliuretano graftizado com P-N-IPAAm.
Após tratamento UV – Vista da superfície de fratura
89
A figura 5.8 é a eletro micrografia que revela corte transversal do filme da figura 5.6 em
diferentes aumentos. A camada de polímero modificada através do tratamento e UV e
de graftização foi medida com um aumento de 7500x, e registrou uma espessura de
1,8µm.
Figura 5.8: Eletro micrografia do poliuretano graftzado com P-N-IPAAm.
Após tratamento UV - Vista da superfície de fratura - 7500x
A figura 5.9 é a eletro micrografia que revela a superfície de uma amostra de
poliuretano poroso, preparado através da introdução de cloreto de lítio e posterior
extração. O objetivo do incremento na porosidade foi o de proporcionar uma maior
adesão e maior permeabilidade do filme ao vapor d’água e ao oxigênio, visando a
aplicação como curativo.
90
Figura 5.9: Eletro micrografia do poliuretano poroso sem grafts
Vista da superfície natural
Pode-se observar o aumento de porosidade do filme pelo aspecto da superfície quando
comparada à exibida na figura 5.4 (filme produzido sem cloreto de lítio). O cloreto de
lítio foi retirado do filme, após a sua obtenção, por limpeza em água, o que é
relativamente fácil, pois o cloreto de lítio é extremamente solúvel em água.
Figura 5.10: Eletro micrografia do poliuretano poroso com grafts.
Após tratamento UV – Vista da superfície natural
A figura 5.10 é a eletro micrografia que mostra a superfície da amostra da figura 5.9
após graftização com P-N-IPAAm, através de tratamento com luz ultravioleta. Nota-se
91
nitidamente o aspecto diferente da superfície, com total desaparecimento dos poros e
com a formação de escamas, o que indica que a camada graftizada é espessa.
Figura 5.11: Eletro micrografia do poliuretano poroso sem graft.
Vista da superfície fraturada
A figura 5.11 é a eletro micrografia que diz respeito à amostra da figura 5.9 (superfície
da secção fraturada). Nota-se que os poros são uniformes e distribuídos por toda a
espessura do filme, o que é interessante, pois aumentará a permeabilidade do material.
Estes poros têm em média o de diâmetro 5µm.
Figura 5.12: Eletro micrografia do poliuretano poroso com graft.
Vista da superfície fraturada
92
Figura 5.13: Eletro micrografia do poliuretano poroso graftizado.
Após tratamento UV – Vista da superfície fraturada
As figuras 5.12 e 5.13 são eletro micrografias da superfície fraturada do PU poroso
graftizado após tratamento UV. Pode-se perceber que os poros do poliuretano foram
parcialmente ocupados pelo P-N-IPAAm, indicando que uma boa penetração do
material nos poros, dificultando até a medida da espessura da camada da superfície
modificada que foi estimada em 5µm.
5.4 - Transição LCST
A temperatura de transição do P-N-IPAAm graftizado sobre a superfície do poliuretano
foi medida observando-se a mudança de transparência do filme, conforme esquema
representativo da figura 4.32. O efeito visual da transição de temperatura pode ser
observado nas figuras 5.14 e 5.15 que retratam o filme de PU graftizado submetido às
temperaturas abaixo e acima de 32°C. Nota-se que abaixo de 32°C o filme está mais
transparente, pois as moléculas do P-N-IPAAm graftizado estão absorvendo água
(higroscópico) e sofrem um inchamento proporcionando transparência ao conjunto.
Alguns trabalhos utilizam teste de absorção na espectroscopia UV-Vis. para medida da
LCST, que é um método bastante preciso
83, 127
. No caso deste trabalho, a opacidade do
filme devido à elevada espessura da camada graftizada (8 a 10µm de espessura) não
permitiu a leitura, através de espectrofotômetro. A leitura foi feita por observação
93
visual.
Figura 5.14: Poliuretano graftizado com P-N-IPAAm. T= 31,7°C.
Figura 5.15: Poliuretano graftizado com P-N-IPAAm T= 32,2°C.
Na figura 5.13, o filme submetido a temperaturas superiores a 32ºC se mostra mais
opaco, pois as moléculas graftizadas não absorvem água (hidrofóbico) e entraram em
colapso (mas ainda permanecem graftizadas a superfície) e com isto ficam mais
agrupadas restringindo a transmissão de luz (maior espalhamento).
94
Figura 5.16. Esquema representativo do estado das moléculas
Tendo em vista os possíveis erros de medida de temperatura, pode-se considerar que a
LCST do filme graftizado seria em torno de 32°C. Este fenômeno é totalmente
reversível e ocorre muito rapidamente.
Cole et al
82
fizeram uma revisão ampla sobre este assunto e apontam que não
valores exatos para medida de LCST de polímeros graftizados e sim uma faixa de
transição. Os autores indicam que o valor da LCST é preciso quando se trata de
polímeros não graftizados. Eles sugerem também que o LCST pode ter relação com o
tamanho, a arquitetura, espessura e densidade dos grafts e que poucos trabalhos que
esclarecem isto.
Annaka et al
126
apresentaram resultados utilizando micro balança de quartzo para medir
a transição LCST para P-N-IPAAm graftizado, em superfície de quartzo, na espessura
de 50nm e obtiveram uma variação contínua nos valores, com inicio de transição em
torna de 15°C e final de transição em 50°C. Os autores sugerem que o comprimento dos
grafts, assim como o índice de polidispersão desses mesmos grafts e a densidade de
grafts sobre a superfície, tem forte influência nos resultados.
O trabalho de Curtia et al
78
obtém resultados mais estreitos a respeito da LCST de P-N-
IPAAm graftizado na superfície de PET (camada de 30µm de espessura), utilizando
ângulo de contato para medir a transição LCST. O resultado aponta o inicio da transição
em torno de 30°C e com término em 35°C. Este resultado se aproxima mais do
resultado obtido nesta tese, provavelmente devido à grande espessura da camada
Colapso das moléculas
(acima LCST)
Expansão das moléculas
(abaixo LCST)
95
graftizada. Este fato possibilita que o P-N-IPAAm tenha uma densidade elevada de
moléculas levando a um comportamento semelhante ao polímero puro não graftizado.
5.5 - Espectroscopia infravermelho com transformada de Fourier - FTIR
Na obtenção dos espectros na região do infravermelho, utilizou-se a técnica ATR
(reflexão total atenuada). Este tipo de análise é restrita a superfície do material, sendo
útil para investigar as modificações efetuadas no poliuretano.
Banda (cm
-1
) Característica
1604 N-H vibração amida II
1446 C-N estiramento
1650 Estiramento carbonila
1540 N-H Estiramento amida I
Figura 5.17 - Esquema representativo da estrutura química do
poli-N-isopropilacrilamida e bandas típicas do espectro infravermelho.
Banda (cm
-1
) Característica
1538 Amida II - deformação - d NH
1724 Amida I - estiramento C=O
3330 Estiramento NH.
Figura 5.18 - Esquema representativo da estrutura química do poliuretano.
e bandas típicas do espectro infravermelho.
As figuras 5.17 e 5.18 apresentam as principais bandas do espectro infravermelho do P-
N-IPAAm e do Poliuretano.
96
Figura 5.19: Espectros na região do infravermelho de filmes: PU puro sem grafts (A),
PU tratado com UV (B), PU graftizado com P-N-IPAAm (C)
A figura 5.19 mostra três espectros: poliuretano puro, poliuretano que foi tratado com
radiação ultravioleta e poliuretano que possui moléculas de P-N-IPAAm graftizadas em
sua superfície com pré-tratamento com radiação ultravioleta. A principal diferença entre
os espectros está na banda à 1639cm
-1
que é relativo ao grupo carbonila (C=O)
(estiramento) pertencente ao grupo amida (CONH) do P-N-IPAAm. A banda em
3334cm
-1
para o poliuretano puro é relacionada à funcionalidade NH do grupo uretânico
e hidroxila. Esta mesma região esta mais larga no espectro do poliuretano que sofreu
tratamento com radiação ultravioleta (espectro B), provavelmente devido à formação de
hidroperóxidos resultantes do ataque por radiação.
As bandas que aparecem em 1727 (amida I - C=O estiramento - n) associada aos grupos
carbonila da ligação uretânica no espectro do poliuretano puro desaparecem no espectro
de poliuretano graftizado com P-N-IPAAm, como resultado da presença das cadeias
enxertadas do P-N-IPAAm que atenuam o feixe de infravermelho. Nota-se também que
a banda à 1727cm
-1
relativa aos grupos carbonila sofreram alteração, como
conseqüência da oxidação da superfície gerada pela atuação da radiação ultravioleta.
97
A banda em 3400 cm
-1
do espectro C possivelmente devido aos grupos OH da água,
pois a superfície graftizada é altamente higroscópica.
A figura 5.20 diz respeito a espectros na região do infravermelho relacionados ao
tratamento utilizando o efeito corona nos filmes de PU. Nota-se que o poliuretano
graftizado teve alterações no espectro semelhantes ao poliuretano graftizado da figura
5.14, com notável aparecimento da banda em 1639cm
-1
relacionado à carbonila (C=O)
do grupo amida do P-N-IPAAm (estiramento) e alargamento da banda em 3300cm
-1
relacionado aos grupos hidroxilas da água
Figura 5.20: Espectros na região do infravermelho de PU tratado corona e graftizado
com P-N-IPAAm (D), PU purificado (F) e PU sem grafts (E).
Nota-se que o espectro do poliuretano purificado no extrator Soxhlet é idêntico ao
poliuretano sem graft tratado com corona, o que indica que o grau de alteração na
superfície (oxidação) foi menor que aquele obtido pelo tratamento UV.
As análises indicam que a graftização ocorreu tanto no tratamento com radiação
ultravioleta como no tratamento corona. Nota-se também que o espectro D da figura
5.20 indica que o tratamento corona graftizou uma camada bem delgada de P-N-
IPAAm, pois ainda apresenta sinais da banda do espectro do PU a 1727 cm
-1
diferente
98
da figura 5.19, onde o espectro C (PU graftizado com UV), não apresenta banda a 1700
cm
-1
.
5.6 - Testes de adesão com deposição de albumina
O teste on-off de adesão de albumina foi realizado em duas condições, acima de 32 °C,
quando o poliuretano graftizado está hidrofóbico e abaixo de 32°C, quando este está em
condições hidrofílicas. O material que foi utilizado nas duas condições foi o mesmo, ou
seja, poliuretano poroso modificado com UV e graftizado com P-N-IPAAm.
O resultado apresentado na figura 5.21 indica que a proteína (albumina) adere melhor à
superfície em que foi depositada na condição em que o poliuretano está em condição
hidrofóbica, chegando a atingir em média 3,5% do peso inicial do filme. Ao se lavar o
filme de poliuretano graftizado em água destilada abaixo da temperatura LCST houve a
perda, em parte, de aderência da proteína, chegando a ficar retido ainda 0,5% de
proteína.. Isto acontece porque quando a superfície do poliuretano passa para a condição
hidrofílica as moléculas de proteínas, que estão imobilizadas apenas por interações
secundárias perdem a adesão. Provavelmente por que quando os grafts da superfície do
poliuretano se expandem acontece uma diminuição dos pontos de interações secundárias
realizadas anteriormente. Em paralelo os grafts absorvem uma grande quantidade de
moléculas de água, ou seja, há uma grande competição entre água e albumina, e,
logicamente, a superfície hidrofílica prefere se ligar às moléculas de água.
99
Deposição de Albumina em Poliuretano Graftizado com
P-N-IPAAM
0
1
2
3
4
As limpeza na respectiva
temperatura de deposão
(Limpeza 1)
As limpeza abaixo de 32 °C
(Limpeza 2)
Albumina
(%)
Deposição de albumina abaixo de 32°C
Deposição de albumina acima de 32°C
Figura 5.21: Gráfico indicando deposição e adesão de albumina
em poliuretano graftizado com P-N-IPAAm.
Isto significa que o mecanismo on-off para albumina, em água, foi efetivo. Alguns
autores, trabalhando com albumina bovina chegaram a conclusões similares
83, 87
O resultado indica também que há uma baixa adesão de proteínas nas condições em que
a superfície do poliuretano estaria em uma condição higroscópica (abaixo de LCST),
significando que a extensão das cadeias de P-N-IPAAm restringe a penetração das
moléculas de proteína.
100
Figura 5.22: Esquema representativo da deposição de albumina, sobre a superfície de
poliuretano com grafts de P-N-IPAAm.
5 dias
Deposição de albumina em temperatura
Temperatura menor que LCST
Deposição de albumina em
temperatura maior que LCST
5 dias
Limpeza
T < 32°C
101
5. 7 - Testes in vivo
5. 7.1 - Implantes
Os polímeros usados como implantes nos ensaios in vivo foram o poliuretano sem
graftização, recortado em retângulos de 1,0 x 1,5cm, e o P-N-IPAAm puro, com
aproximadamente 0,3mm de altura e 0,5mm de diâmetro. Cada polímero foi implantado
sub-cutaneamente na região dorsal de camundongos Swiss e lá permaneceram durante 7
dias. Após esse período os animais foram sacrificados, os implantes retirados e
processados rotineiramente para inclusão em parafina. As lâminas histológicas foram
preparadas com cortes de tecido a 5 µm e coradas com hematoxilina-eosina (H&E).
Nos implantes de poliuretano sem graftização observou-se o desenvolvimento de uma
cápsula envolvendo todo o implante. Essa cápsula era constituída por tecido conjuntivo
mais frouxo (fibras finas e separadas), tecido adiposo, células inflamatórias (macrófagos
e linfócitos) e vasos sanguíneos (Fig. 5.23).
Nos implantes de P-N-IPAAm puro, foram observados tecido conjuntivo com fibras
mais espessas e maduras (mais denso) e maior vascularização indicando um processo de
reparo mais adiantado (Fig. 5.24). Também havia presença de tecido adiposo, células
inflamatórias. Não houve infiltração celular na matriz de nenhum dos implantes e seus
poros não foram visíveis pela microscopia óptica até 60X.
102
Figura 5.23 Cortes histológicos de implante de poliuretano sem graftização com 7 dias. A
seta, com duas pontas, mostra a região do implante (imp). TC- tecido conjuntivo
apresentando fibras finas e frouxas; TA- tecido adiposo; v- vasos sangüíneos. B, C e D
representam diferentes aumentos de A. Coloração H&E.
T
T
T
T
T
T
v
v
v
v
v
T
T
T
v
v
imp
imp
4x
10x
20x
60x
103
Figura 5.24 Cortes histológicos de implantes de P-N-IPAAm com 7 dias. A seta, com duas
pontas, mostra a região do implante (imp). TC- tecido conjuntivo apresentando fibras mais
espessas e densas; TA- tecido adiposo; v- vasos sangüíneos em grande quantidade. B, C e D
representam diferentes aumentos de A. Coloração H&E.
T
T
v
v
v
v
v
v
v
v
T
imp
4x
10x
20x
60x
104
Analisando os achados dos implantes de poliuretano e P-N-IPAAm em termos de
desenvolvimento e amadurecimento do tecido até sete dias de implantação, observa-se
que o processo de reparo no P-N-IPAAm está mais adiantado. A temperatura corporal
normal do camundongo varia de 35,2 a 37,9 °C, isto significa que o implante de P-N-
IPAAm estava em um ambiente com temperatura acima da LCST cujo valor é de 32°C,
isso contribui para um estado hidrofóbico do polímero. É sabido que esse estado
favorece a adesão de proteínas e células
11, 12, 28, 29, 30
. Isso, aliado a um baixo grau de
toxidade em relação ao poliuretano provavelmente tenha contribuído para um
amadurecimento do tecido conjuntivo e o crescimento de vasos gerando um processo
mais avançado em torno do P-N-IPAAm.
105
5.7.2 – Avaliação da cicatrização da ferida cutânea.
A figura 5.25 representa a avaliação do fechamento das férias (determinado através da
equação 4.4) que estão apresentadas na figura 5.27.
Figura 5.25: Grau de contração das feridas sem e com cobertura
Observando-se o gráfico verifica-se que os valores do grau de contração estão bem
próximos e não existe diferença estatística entre feridas cobertas com ou sem graft
Na figura 5.26 têm-se as feridas que receberam coberturas. As fotos do lado C também
foram realizadas imediatamente após a indução da ferida, enquanto as fotos do lado D
são feridas que receberam cobertura durante 3 dias de cicatrização. As feridas com a
legenda A receberam cobertura com poliuretano poroso graftizado com P-N-IPAAm e
as fotos com legenda B receberam poliuretano poroso sem graftização. A idéia de se
colocar um grupo controle (B) ao lado do grupo em análise (A) foi para eliminar a
variação de resultados de animal para animal.
Estas feridas até o terceiro dia ainda estão em processo de auto limpeza e inflamação, e
iniciando o processo de reparo e proliferação
1, 2, 3, 4, 35, 38
, portanto ainda não se verifica a
presença acentuada de novas células e de tecido neoformado. Mesmo assim tiveram
fechamento em torno de 20%, provavelmente devido em parte ao inicio do reparo e em
106
parte devido às tensões centrípetas que são comuns nas feridas abertas
5, 7
e que ainda
permanece em feridas fechadas.
Figura 5.26: Feridas excisionais em camundongos
Fotos lado C feridas recentes.
Fotos lado D feridas após 3 dias de cicatrização
(Feridas com cobertura)
lado C lado D
1A
2A
3A
4A
5A
4B
5B
3B
2B
1B
107
5. 7. 3 – Teste do mecanismo on-off
Figura 5.27: Testes on-off para verificação de aderência
do tecido na superfície dos materiais.
Os testes on-off realizados diretamente na ferida foram feitos e registrado como na
figura 5.27. O teste era simplesmente verificar a aderência acima da LCST e a não
aderência abaixo da LCST. O resultado indicou que todos os curativos colocados nos
camundongos não apresentaram aderência. Analisando as condições no momento da
retirada dos curativos, notou-se que havia uma incerteza da temperatura da pele do
camundongo, pois após a anestesia houve hipotermia no camundongo e
consequentemente houve queda temperatura da pele, registrada em 28°C que é abaixo
da LCST (32°C). Portanto houve a necessidade de garantir que a temperatura da pele se
sustentasse acima da LCST e o teste não foi conclusivo. Para solucionar este problema,
pode se manipular os grafts de P-N-IPAAm de maneira a abaixar a LCST do curativo.
108
Não se pode deixar de considerar que este teste foi realizado até o terceiro dia de
cicatrização, nestas condições, o tecido ainda não está em fase de proliferação plena,
portanto, é de se esperar que a aderência seja também restrita. Os cortes histológicos
indicaram que houve uma pequena reepitelização e isto tenha contribuído para que
facilitasse a retirada do curativo. Portanto ainda a necessidade de se expandir os
testes para 7 e 14 dias de cicatrização.
Foi observado, também que o crescimento de pelos do animal pode interferir na
aderência do material à superfície da lesão, pois os pelos estariam levantando o
curativo. duas maneiras que poderiam resolver este problema: a primeira seria usar
camundongos hairless que não possuem pelos ou utilizar uma ferida maior para que os
pelos não interferissem tanto e o mecanismo ficaria também mais fácil de se observar.
5.7. 4 - Cortes histológicos
Os cortes histológicos que serão aqui apresentados são dos processos de cicatrização e
na figura 5.28 este representado o esquema dos cortes das lesões. Após a retirada do
tecido lesionado, fez-se um corte transversal, em seguida foram fixados em formalina,
onde permaneceu até serem colocados em parafina e cortados conforme o esquema
abaixo.
109
Figura 5.28: Esquema representativo do corte do tecido
Vista lateral indicando as bordas preservadas e o tecido em recuperação
À direita foto de corte histológico (A).
5.7.5 – Influencia dos polímeros no processo de reparo tecidual
A habilidade do corpo em substituir células lesionadas ou mortas e reparar tecidos após
inflamação é crítica à sobrevivência. Quando os agentes lesivos danificam as células e
os tecidos, o hospedeiro responde desencadeando uma série de eventos com o objetivo
de eliminar esses agentes, conter o dano e preparar as células sobreviventes para a
replicação. O reparo do tecido danificado por ressecção cirúrgica, ferimentos e diversos
tipos de lesão pode ser dividido em dois processos: regeneração e cicatrização. A
regeneração resulta na restituição dos tecidos perdidos; a cicatrização pode restaurar as
estruturas originais, porém envolve a deposição de colágeno e a formação de cicatriz.
Os ferimentos superficiais, como um ferimento cutâneo que danifica somente o epitélio,
sofrem reparo por regeneração epitelial. Os ferimentos cutâneos incisionais que
danificam a derme sofrem reparo através da formação de uma cicatriz de colágeno. A
regeneração requer uma arquitetura de tecido conjuntivo intacto. Ao contrário, a
cicatrização ocorre se a estrutura da matriz extracelular estiver danificada, causando
alterações na arquitetura tecidual.
128
Com o objetivo de investigar a contribuição dos polímeros no processo de reparo
tecidual, lesões na pele de camundongos Swiss foram feitas com o auxilio de um
Tecido preservado (borda)
Tecido preservado (borda)
Tecido
cicatricial
Borda
Borda
Tecido
cicatricial
A
110
vazador o qual removia uma área circular de tamanho padronizado da pele do dorso do
animal, em 2 áreas distintas. Em um grupo, a lesão foi deixada exposta (sem cobertura)
e em outros dois grupos usou-se como cobertura o poliuretano (poroso) sem graft e o
poliuretano graftizado com P-N-IPAAm. O processo cicatricial dessas lesões foi
observado durante o período de 3 dias após o qual os animais foram sacrificados e a
pele (lesão mais uma borda intacta) foi removida para estudo histológico. A pele normal
da região dorsal do camundongo é dividida em duas regiões, a epiderme e a derme. A
epiderme é constituída de células epiteliais de revestimento formando um epitélio
estratificado pavimentoso queratinizado, enquanto a derme é formada por tecido
conjuntivo onde se encontram vasos sangüíneos e linfáticos, nervos, folículo piloso e
glândulas sebáceas. Abaixo da derme observam-se tecidos adiposo e muscular Fig.5.29.
Figura 5.29 Corte de pele normal de camundongo Swiss mostrando epiderme (E) com
queratina, derme (D) constituída por tecido conjuntivo (TC), com folículo piloso (fp), glândula
sebácea (gs) e tecidos adiposo (TA) e muscular (m). H&E. Aumento de 4x.
fp
TA
gs
m
TC
E
D
D
111
Nas lesões de pele sem cobertura observa-se extensa área de necrose superficial, com
presença de tecido de granulação logo abaixo. Esse tecido está constituído por um
conjuntivo frouxo com fibras muito finas, delicadas e separadas, vasos sangüíneos
neoformados e células inflamatórias (neutrófilos, macrófagos e linfócitos) Fig.5.30A e
B.
112
Figura 5.30A – Pele de camundongo mostrando área de lesão (L) e a borda intacta (b). Na
superfície da lesão observar área de necrose (n) Ferida sem cobertura. Coloração H&E.
b
b
L
n
113
Figura 5.30B – Pele de camundongo mostrando área de lesão (L) e a borda intacta (b). Ferida sem
cobertura. Na superfície da lesão observar área de necrose (n). Próximo à borda da lesão observa-
se área de tecido conjuntivo (TC) frouxo, com vasos sangüíneos (v) neoformados e muito
infiltrado inflamatório (setas) correspondendo ao tecido de granulação (tg) ou tecido cicatricial
jovem. B, C e D representam diferentes aumentos de A. Coloração H&E.
4x
10x
40x 60x
b
L
n
b
L
n
v
tg
tg
v
v
v
v
v
v
A
B
C
D
TC
TC
114
Nas lesões de pele com cobertura de poliuretano graftizado com P-N-IPAAm observa-
se ausência de área de necrose superficial, presença de tecido de granulação constituído
por conjuntivo mais denso (fibras espessas) indicando um processo mais evoluído,
vasos sangüíneos e células inflamatórias (neutrófilos, macrófagos e linfócitos)
Fig.5.31A e B.
Figura 5.31A.- Pele de camundongo mostrando área de lesão (L) e a borda intacta (b Ferida com
cobertura de PU com grafts. Coloração H&E.
b
b
L
115
Figura 5.31B.- Pele de camundongo mostrando área de lesão (L) e a borda intacta (b). Ferida
com cobertura de PU com grafts de P-N-IPAAm. Próximo à borda da lesão observa-se área de
tecido conjuntivo (TC) mais denso e infiltrado inflamatório (setas) correspondendo ao tecido de
granulação (tg) ou tecido cicatricial jovem. B, C e D representam diferentes aumentos de A.
Coloração H&E.
4x
10x
4
6
b
L
L
b
m
m
b
L
T
T
A
B
C
D
116
Figura 5.32 Pele de camundongo mostrando área de lesão (L) e a borda intacta (b) de ferida
com cobertura de poliuretano e sem graft. Na superfície da lesão observa-se área de necrose (n).
Próximo à borda da lesão há área de tecido conjuntivo (TC) denso. C e D representam diferentes
aumentos de A e B respectivamente. Coloração H&E.
A
B
C
D
n
n
L
b
b
L
TC
TC
4X
10
X
4
0
X
40
X
117
Nas lesões de pele com cobertura de poliuretano sem graft observa-se área de necrose
superficial menos intensa em relação às lesões sem cobertura, presença de tecido de
granulação constituído por tecido conjuntivo com fibras mais espessas e densas, vasos
sangüíneos e menos células inflamatórias (neutrófilos, macrófagos e linfócitos). O
processo de reparo nessa lesão apesar da presença de necrose encontra-se bem mais
evoluído do que o observado na lesão sem cobertura Fig.5.33.
As análises histológicas apesar de terem sido realizadas em amostras de feridas até o
terceiro dia de recuperação, já apontam que o processo de cicatrização é mais
organizado, tem menor processo inflamatório, menor necrose, menor contração e não
apresenta saliência na borda da ferida quando esta recebe uma cobertura.
As coberturas que possuem P-N-IPAAm graftizado na superfície do poliuretano,
apresentaram uma ligeira melhora no processo de cicatrização, promovendo
reepitelização e angiogênese. A temperatura corporal normal do camundongo varia de
35,2 a 37,9 °C, isto significa que o implante de P-N-IPAAm estava em um ambiente
com temperatura acima da LCST (nome da sigla) cujo valor é de 32°C, isso contribui
para um estado hidrofóbico do polímero. É sabido que esse estado favorece a adesão de
proteínas e células
11, 12, 28, 29, 30
. Isso, aliado a um baixo grau de toxidade em relação ao
poliuretano provavelmente tenha contribuído para um amadurecimento do tecido
conjuntivo e o crescimento de vasos gerando um processo mais avançado em torno do
P-N-IPAAm.
118
Capítulo 6 - Conclusão
O tratamento por luz ultravioleta se mostrou mais simples e eficiente que o tratamento
corona para alteração da superfície do poliuretano através da inserção de grupos polares.
Foi possível graftizar o poli (N-isopropilacrilamida) em superfícies de poliuretano
modificado por tratamentos corona e com radiação ultravioleta.
Foi demonstrada a viabilidade de se modular o grau de molhamento de superfícies de
PU através de processos de oxidação baseados em radiação UV ou processo corona e
através de enxertia de poli (N-isopropilacrilamida) na superfície do PU.
Foi detectada a transição LCST do P-N-IPAAm enxertado em substrato PU.
Foi demonstrada a possibilidade de se manipular o grau de molhamento de superfícies
de PU contendo cadeias enxertadas de poli (N-isopropilacrilamida) através da alteração
da temperatura.
A alteração da temperatura acima ou abaixo da temperatura de transição LCST do poli
(N-isopropilacrilamida) se mostrou adequada para viabilizar o mecanismo on-off e
assim permitir o controle sobre o processo in vitro de adsorção e dessorção de albumina.
Os testes de verificação do mecanismo on-off para três dias de cicatrização em feridas
de segunda intenção, não foram conclusivos, porque não havia certeza da temperatura,
no momento da retirada dos curativos.
As feridas com cobertura apresentam processos inflamatórios menos intensos e tecido
conjuntivo mais denso do que as feridas sem cobertura.
As feridas com cobertura com grafts apresentaram sinais de reepitalização e
angiogênese, mais intensos que as feridas com poliuretano sem grafts. .
119
Capítulo 7- Referências Bibliográficas
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