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são as fontes morais, ou seja, assumem a posição de matriz para direcionamentos morais
eficazes, capazes de determinar nossos sentimentos e modos de vida: eles são as origens
últimas que fazem dos bens da vida dignos de serem buscados e desejados. A partir dessa
noção, percebe-se como o entendimento discursivo no domínio das diferentes configurações
exige a busca dos diferentes bens constitutivos que as forjaram. O acesso a tais bens resulta,
na ótica de Taylor, em uma melhor compreensão acerca de quem realmente somos.
Procurei expressar no quadro abaixo o meu entendimento sobre os principais conceitos
taylorianos aludidos e a relação entre eles:
Tabela 1. Conceitos elementares da análise hermenêutica de Charles Taylor
Import
O termo se refere à atribuição de alguma forma de significação (em termos de não-
indiferença, ou seja, algo que carrega algum tipo de valor ou importância, sutil ou
evidente) a qualquer tipo de fenômeno que se encontra no universo simbólico de
uma dada pessoa ou grupo. Nossos próprios sentimentos e emoções estariam sujeitos
a atribuições dessa natureza.
Avaliações
Fortes
São caracterizações contrastivas imersas na linguagem (distinções qualitativas),
pelas quais são discriminadas orientações sobre o certo e o errado, melhor ou pior,
mais ou menos elevado ou digno de respeito, etc. Elas são “fortes” no sentido de que
situam os próprios desejos, não sendo algo instrumentalizável, ou seja, que podemos
lidar como escolhas, mas elas mesmas situam e moldam nossas inclinações mais
elementares. Isso porque elas são “corporificadas” e manifestam assim como
expressão de certas linguagens que fazem concretizar em nós essas distinções
valorativas. Avaliações fortes implicam, dessa maneira, em imports que sejam
expressos em termos de contrastes.
Configuração
Uma configuração supõe um conjunto de avaliações altamente significativas que, em
um determinado lugar e momento histórico, logram serem influentes a tal ponto de
serem cruciais para os alicerces da organização social, de sua reprodução
institucional e do modelamento do self. Em termos mais sintéticos, corresponde a
um conjunto fundamental de avaliações fortes para uma dada sociedade, ou seja,
orientações básicas que coordenam as ações das pessoas.
Bens
constitutivos
São as verdadeiras fontes morais, ou seja, núcleos morais originários a partir dos
quais se desenvolvem um ou mais hiperbens. Em outras palavras, são as matrizes de
sentido mais básicas de onde se desenvolvem direcionamentos motivacionais para a
ação em larga escala.
Hiperbem
É um bem (princípio valorável, digno ou admirável) dotado de tal força orientadora
que, além de ser demasiado superior a outros presentes na situação, proporcionam a
própria perspectiva a partir da qual esses outros devem ser pesados, julgados e
decididos. As configurações se erigem em torno de bens desse tipo.
Horizontes
A idéia de horizonte procura expressar o pano de fundo de inteligibilidade da própria
identidade, os limites impostos, os espaços abertos, os termos em que pode ser
construído o centro de nossos selves. Representa o espaço moral aberto pelas
configurações existentes num dado contexto.