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UNIVERSIDADE
FEDERAL
DE
SANTA
MARIA
CENTRO
DE
ARTES
E
LETRAS
PROGRAMA
DE
PÓS-GRADUAÇÃO
EM
LETRAS
ANÁLISE DE GÊNERO: INVESTIGAÇÃO DA
ORGANIZAÇÃO RETÓRICA DE NOTÍCIAS DE
POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA NA REVISTA
CIÊNCIA HOJE ONLINE
DISSERTAÇÃO
DE
MESTRADO
Cristina dos Santos Lovato
Santa Maria, RS, Brasil
2010
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ANÁLISE DE GÊNERO: INVESTIGAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO
RETÓRICA DE NOTÍCIAS DE POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA NA
REVISTA CIÊNCIA HOJE ONLINE
por
Cristina dos Santos Lovato
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de
Pós-Graduação Letras, Área de Concentração em
Estudos Linguísticos, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM,
RS), como requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Linguística.
Orientador: Profª. Dr. Désirée Motta-Roth
Santa Maria, RS, Brasil
2010
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Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Artes e Letras
Programa de Pós-Graduação em Letras
A Comissão Examinadora, abaixo assinada,
aprova a Dissertação de Mestrado
ANÁLISE DE GÊNERO: INVESTIGAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO
RETÓRICA DE NOTÍCIAS DE POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA NA
REVISTA CIÊNCIA HOJE ONLINE
elaborada por
Cristina dos Santos Lovato
como requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Letras
COMISÃO EXAMINADORA:
Désirée Motta-Roth
(Presidente/Orientador)
Maria Eduarda Giering, Dr. (UNISINOS)
(Arguidor)
Graciela Rabuske Hendges, Dr. (UFSM)
(Arguidor)
Sara Regina Scotta Cabral, Dr. (UFSM)
(Suplente)
Santa Maria, 10 de fevereiro de 2010.
Dedico este trabalho aos meus pais, meu irmão, minha filha e ao
meu avô, Alcino (in memoriam), por todo amor, carinho e
compreensão.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter tornado esse momento possível e ter dado força para que eu
pudesse enfrentar com serenidade os obstáculos que surgiram durante esta
caminhada.
À Prof.ª Dr. Désirée, exemplo de intelectual, pesquisadora e educadora, minha
eterna gratidão pela paciência, boa vontade, incentivo, pelas oportunidades que
proporcionou, dedicação, lucidez e segurança com que conduziu a realização deste
trabalho.
À Prof.ª Ms. Ana Marilza Bittencourt, pelo estímulo inicial na vida acadêmica, que fez
com que eu pudesse entender a grandiosidade de ser professora.
Aos amigos que conquistei no mestrado, pelo carinho, apoio e incentivo nos
momentos de estresse e frustração, em especial, Prof.ª Dr. Vera Lúcia Pires e
Fátima Andréia Tamanini-Adames .
Aos colegas de pesquisa do Labler, por proporcionarem momentos tão agradáveis e
inesquecíveis. Em especial as colegas que começaram essa jornada comigo,
Ângela, Rogéria, Liane e Patrícia.
Ao Programa de Pós-graduação em Letras da UFSM.
À CAPES, pelo auxílio financeiro fundamental para que eu realizasse o mestrado.
Aos amigos de longa data, por entenderem quando não pude estar presente,
obrigada pelo companheirismo e amizade.
A todos aqueles que torceram por mim e, injustamente, não foram citados.
R
ESUMO
Dissertação de Mestrado
Programa de Pós-Graduação em Letras
Universidade Federal de Santa Maria
ANÁLISE DE GÊNERO: INVESTIGAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO
RETÓRICA DE NOTÍCIAS DE POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA NA
REVISTA CIÊNCIA HOJE ONLINE
A
UTORA
:
C
RISTINA DOS
S
ANTOS
L
OVATO
O
RIENTADOR
:
D
ÉSIRÉE
M
OTTA
-R
OTH
Data e Local da Defesa: Santa Maria, 10 de fevereiro de 2010.
Esta pesquisa tem como objetivo identificar e interpretar a organização retórica de
notícias de popularização da ciência, publicadas na revista Ciência Hoje Online,
oferecendo uma descrição esquemática da organização retórica desses textos e
uma interpretação dessa organização por meio de um levantamento de aspectos
relacionados ao contexto de produção das notícias. O aporte teórico utilizado para o
desenvolvimento da pesquisa é a Análise de Gênero formulada por Swales (1990;
2004). O corpus foi composto por 30 exemplares do gênero com temas relacionados
a tópicos de saúde e meio ambiente. A análise foi dividida em duas etapas: análise
textual e análise contextual. Os procedimentos de análise textual são de base
interpretativa de modo a descrever os elementos linguísticos concernentes a cada
movimento retórico (BHATIA, 1993, p. 22). O ponto de partida, nesta etapa, foi a
representação esquemática do gênero notícia de popularização da ciência elaborada
por Motta-Roth e Lovato (2009, p. 246). Os procedimentos de análise contextual
também são de cunho interpretativo e se baseiam em documentos do site da revista
e de entrevistas com sujeitos participantes do gênero. Os resultados indicam uma
organização retórica das notícias analisadas em seis movimentos retóricos, alta
incidência de glosa, discurso direto e indireto, como elementos recursivos. A
presença exclusiva da voz do pesquisador responsável pela pesquisa popularizada
para explicar e debater o estudo relatado mostra que, nas notícias da Ciência Hoje
Online, prevalece a visão dominante da ciência (HILGARTNER, 1990). Essa
prevalência confere um caráter monológico (MOTTA-ROTH; LOVATO, 2009) a
esses textos, pois somente o pesquisador avalia o estudo relatado. Desse modo,
mantém-se o poder hegemônico da ciência no discurso de popularização.
Palavras-chave: Análise de nero; notícias de popularização da ciência; Ciência
Hoje Online.
A
BSTRACT
Master’s Thesis
Post-Graduation Program in Languages
Federal University at Santa Maria, RS, Brazil
GENRE ANALYSIS: INVESTIGATION OF RHETORICAL ORGANIZATION OF
SCIENCE POPULARIZATION NEWS FROM THE MAGAZINE CIÊNCIA HOJE
ONLINE
A
UTHOR
:
C
RISTINA DOS
S
ANTOS
L
OVATO
A
DVISOR
:
D
ÉSIRÉE
M
OTTA
-R
OTH
This research aims to identify and to interpret the rhetorical organization of science
popularization news, published in the journal Ciência Hoje Online, providing a
schematic description of the rhetorical organization of these texts and an
interpretation of this organization by surveying aspects related to the context of
production of the news. The theoretical background used for the development of the
research is the Genre Analysis formulated by Swales (1990, 2004). The corpus is
comprised by 30 exemplars of the genre covering themes related to topics of health
and environment. The analysis was divided into two steps: textual analysis and
contextual analysis. The procedures for textual analysis have an interpretative basis
as a way to describe linguistic elements concerning each rhetorical move (BHATIA,
1993, p. 22). The point of departure to carry out this step was the representation of
the rhetorical organization of science popularization news genre elaborated by Motta-
Roth and Lovato (2009, p. 246). The procedures for contextual analysis are also
interpretative and they are based on documents from the magazine’s website as well
as from interviews with genre’s participants. The results indicate a rhetorical
organization of the news analyzed in six rhetorical moves, high incidence of code
glosses and direct and indirect discourses as recursive elements. The exclusive
presence of the voice of the scientist responsible for the research popularized
to
explain and debate the reported study shows that, in the news of Ciência Hoje
Online, the dominant view of science prevails (HILGARTNER, 1990). This prevalence
gives to these texts a monologue character (MOTTA-ROTH; LOVATO, 2009), since
just the researcher evaluates the study reported. This way, the hegemonic power of
science is maintained in the discourse of popularization.
Keywords: Genre Analysis, science popularization news, Ciência Hoje Online.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Descrição da organização retórica da seção introdutória de artigos
acadêmicos (SWALES, 1990, p. 141)........................................................................16
Figura 2 – Movimento 1 e respectivos passos da seção introdutória de artigos
acadêmicos (SWALES, 1991, p. 141)........................................................................17
Figura 3 Descrição esquemática da organização retórica da versão jornalística do
discurso médico (NWOGU, 1991, p. 115-116)...........................................................19
Figura 4 Esquema textual de Matérias de divulgação científica (GOMES, 2000, p.
104)............................................................................................................................24
Figura 5 Representação esquemática da organização retórica de notícias de
popularização da ciência (MOTTA-ROTH; LOVATO, 2009, p.246).............................25
Figura 6 – Recursos interativos, adaptado de Hyland (2005, p. 51-52)......................33
Figura 7 – Reformulações, adaptado de Hyland (2007, p. 274).................................36
Figura 8 – Instrumento de coleta de dados (MOOTA-ROTH, 2007, p. 20-21)...........44
Figura 9 Representação esquemática de notícias de PC da CH, adaptado de Motta
Roth e Lovato (2009, p. 246).......................................................................................46
Figura 10 – Pirâmide invertida (CANAVILHAS, 2006, p. 05)......................................47
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Movimentos retóricos / notícias de PC sobre saúde................................61
Tabela 2 – Movimentos retóricos / notícias de PC sobre meio ambiente..................62
Tabela 3 – Movimentos canônicos nas notícias de PC da Ciência Hoje Online.......63
Tabela 4 Percentagem de ocorrência dos passos retóricos / notícias de PC sobre
saúde..........................................................................................................................65
Tabela 5 Percentagem de ocorrência dos passos retóricos / notícias de PC sobre
meio ambiente............................................................................................................66
Tabela 6 Percentagem de ocorrência de Reformulação / notícias de PC sobre
saúde..........................................................................................................................70
Tabela 7 Percentagem de ocorrência de Reformulação / notícias de PC sobre
meio ambiente............................................................................................................71
Tabela 8 – Monólogo do pesquisador / notícias de PC sobre saúde........................74
Tabela 9 – Monólogo do pesquisador / notícias de PC sobre meio ambiente..........74
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – notícias de PC sobre saúde....................................................................40
Quadro 2 – notícias de PC meio ambiente................................................................41
LISTA DE ANEXOS
Anexo A Descrição esquemática da versão jornalística do discurso médico,
original em inglês (NWOGU, 1991, p. 115-116).........................................................91
Anexo B – Instrumento de coleta de dados reformulado: Questionário 1: coleta
documental , Questionário 2: coleta com sujeitos e e-mail enviado à redação da
Ciência Hoje On-line...................................................................................................92
Anexo C Questionários 1 e 2 com as respostas.....................................................96
Anexo D CH#15....................................................................................................100
Anexo E Exemplos de análise..............................................................................101
SUMÁRIO
Resumo.........................................................................................................................i
Abstract ......................................................................................................................iii
INTRODUÇÃO...........................................................................................................01
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................................................06
1.1 Gêneros textuais: ações discursivas socialmente convencionalizadas......06
1.1.1 Situação de interação........................................................................................09
1.1.2 Gênero textual pela perspectiva sócio-retórica.................................................10
1.2 Análise de gênero...............................................................................................12
1.2.1 O propósito comunicativo como aspecto definidor do gênero..........................13
1.2.2 O modelo CARS................................................................................................15
1.2.3 Movimentos e passos retóricos.........................................................................16
1.3 Estudos prévios sobre textos de popularização da ciência..........................18
1.3.1 Organização retórica da versão jornalística do discurso médico: as pesquisas
de Kevin Nwogu.........................................................................................................18
1.3.2 Esquema textual de Matérias de divulgação científica na Ciência Hoje...........23
1.3.3 Reformulações no modelo descritivo de Nwogu: GT Labler.............................25
1.4 O emprego de citações em notícias de popularização da ciência................31
1.5 Operadores metadiscursivos............................................................................32
CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA...............................................................................38
2.1 Procedimentos de escolha da fonte do corpus...............................................38
2.1.1 A fonte do corpus de análise: Ciência Hoje Online...........................................39
2.2 Procedimentos e critérios de coleta e organização do corpus.....................40
2.3 Procedimentos de análise textual.....................................................................42
2.4 Procedimentos de análise contextual..............................................................43
CAPÍTULO 3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................45
3.1 Organização retórica de notícias de popularização da ciência na revista
Ciência Hoje Online..................................................................................................45
3.1.1 Movimentos e passos retóricos nas notícias do corpu......................................48
3.1.2 Movimentos e passos canônicos das notícias do corpus ................................61
3.2 Operadores Metadiscursivos............................................................................67
3.2.1 Glosa.................................................................................................................68
3.2.2 Monólogo do pesquisador: Argumento de autoridade......................................72
3.3 A dialética: texto e contexto..............................................................................75
3.3.1 Interpretando o texto com base no contexto.....................................................75
3.3.2 Orientações para escrever um texto de popularização da ciência, segundo a
Ciência Hoje Online....................................................................................................77
CAPÍTULO 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS, LIMITAÇÕES DO ESTUDO E
SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS..........................................................81
4.1 Limitações do estudo.........................................................................................82
4.2 Sugestões para pesquisas futuras...................................................................83
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................85
Anexos.......................................................................................................................91
1
INTRODUÇÃO
Contextualização
A emergência de novos artefatos tecnológicos e científicos, nas últimas
décadas, leva-nos a compreender que somos cidadãos do mundo e no mundo e que
temos o direito de estar preparados para nos apossarmos dessas novas ferramentas
de cidadania e nos engajarmos na sociedade, agindo positivamente e
produtivamente nela e absorvendo de forma consciente toda a demanda de
informações que afetam nossa vida diariamente (MORAES, 1997, p. 135). É essa a
direção apontada para o ensino de ngua Portuguesa pelos Parâmetros
Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa, que reiteram a função da escola como
órgão promotor de condições para que os alunos reflitam sobre os conhecimentos
construídos ao longo de seu processo de socialização e possam agir sobre (e com)
eles (PCN-EF, 1999, p. 07-08).
Estamos de fato preparados para colocar em prática essa premissa apontada
pelo documento oficial do Ministério da Educação, que traz as diretrizes básicas
norteadoras do trabalho dos professores em sala de aula no contexto escolar?
14 anos, Moraes (1997, p. 135) já nos perguntava:
Que mudanças históricas estão sendo exigidas para que o indivíduo possa
sobreviver no seu universo cultural, atuar, participar e transformar a sua
realidade se a educação não lhe oferece as condições instrumentais mínimas
requeridas pelos novos cenários mundiais?
Buscando minimizar essa realidade menos do que satisfatória da educação
brasileira, em Análise de Gênero: investigação da organização retórica de notícias
de popularização da ciência na revista Ciência Hoje Online
1
, objetivamos oferecer
uma compreensão mais precisa da forma como esse gênero se organiza em uma
publicação brasileira, a fim de subsidiar o trabalho de professores de Língua
1
A presente pesquisa foi desenvolvida dentro do Projeto de Produtividade em Pesquisa/CNPq
301962/2007-3, Análise crítica de gêneros com foco em artigos de popularização da ciência (MOTTA-
ROTH, 2007), no Grupo de Trabalho LABLER Laboratório de Pesquisa e Ensino de Leitura e
Redação.
2
Portuguesa interessados em refletir e em produzir ciência na escola. Pressupomos
que um aluno educado cientificamente, no sentido de manter contato constante com
a ciência em toda sua vida escolar vivenciando, refletindo e produzindo ciência
desenvolve competências e habilidades reflexivas e comunicativas para questionar e
se posicionar frente a diferentes práticas científico-tecnológicas que fazem parte de
sua vida cotidiana (MOTTA-ROTH; LOVATO, 2009, p. 235). Na prática, isso significa
desenvolver habilidades de avaliação crítica e sistemática frente a informações que
são veiculadas tanto na mídia como também no cotidiano. Motta-Roth (2007, p. 03)
,
citando Andrade, ressalta que a ampliação das habilidades linguísticas “na
passagem do letramento da vida diária para o letramento acadêmico, constitui-se em
uma possibilidade pedagógica de disseminação da informação e da cultura e na
democratização dos saberes científicos e tecnológicos”.
A popularização da ciência (doravante PC) tem sido tema de interesse de
várias áreas de conhecimento, principalmente daquelas que buscam entender as
relações sociais entre indivíduos, grupos e instituições, focando aspectos, tais como
os educacionais, culturais e políticos (GERMANO, 2005; ALBAGLI, 1996). Pode ser
definida como o processo de reformulação do discurso científico para os meios de
comunicação de massa, visando a uma audiência não-especializada
(CALSAMIGLIA; FERRERO, 2003, p. 68).
O interesse crescente pelo processo de popularizar a ciência pode ser atribuído
à “aceitação, pela sociedade, do caráter benéfico da atividade científica e de suas
aplicações” (ALBAGLI, 1996, p. 396). Albagli (Idem, p. 397) aponta que “o papel da
divulgação científica vem evoluindo ao longo do tempo, acompanhando o próprio
desenvolvimento da ciência e da tecnologia”, podendo estar orientada para
diferentes objetivos, a autora destaca três: orientação educacional, orientação cívica
e orientação mobilizadora. A orientação educacional diz respeito à ampliação da
compreensão do processo científico e de sua lógica pelo público não-especializado.
A orientação cívica visa à informação do público sobre os impactos das pesquisas
científico-tecnológicas, principalmente em relação à tomada de decisões que afetam
a sociedade como um todo. Por fim, a orientação mobilizadora prevê a participação
da sociedade na formulação de políticas públicas para implantações tecnológicas.
Motta-Roth e Lovato (2009, p. 237) colocam que essas orientações mostram “o
apelo à participação da sociedade nas atividades científicas por meio da mídia”.
3
Nessa perspectiva, tanto o conhecimento público quanto o debate democrático
da ciência passam a ser fundamentais para que possamos entender melhor a forma
como a ciência interfere em nossa vida, suas implicações e aplicabilidades efetivas.
A circulação da ciência na sociedade por meio de veículos midiáticos, tais como
jornais, revistas e programas televisivos, pode nos ajudar a entender princípios e
dogmas científicos.
Textos de PC processam a prática científica, visando atingir a sociedade mais
ampla, na medida em que tornam o conhecimento especializado público e acessível.
Documentários televisivos, textos jornalísticos publicados em periódicos
especializados em popularização da ciência, como as revistas Ciência Hoje e
Superinteressante, são alguns exemplos de mecanismos midiáticos que servem a
função de levar a ciência até a sociedade (MOTTA-ROTH; LOVATO, 2009, p. 234).
No âmbito do jornalismo, dois gêneros textuais que servem a essa função são
“Notícia” e “Reportagem” (LAGE, 2004; FRANCESCHINI, 2004). A notícia é definida
por Lage (2005, p. 16) como o “relato de uma série de fatos a partir do mais
importante ou interessante”, em uma ordem decrescente de importância. Em
contraste com a reportagem, por exemplo, a notícia busca expor um acontecimento
de forma exata e precisa, enquanto aquela discorre sobre um tema, interpretando
situações e fatos (MOTTA-ROTH; LOVATO, 2009, p. 238).
A partir da definição posposta por Lage (2005, p. 16), a notícia de PC pode ser
entendida como
um conjunto de manchete: o lide, o evento principal, neste caso, uma
descoberta científica, contexto, eventos prévios, expectativas e avaliação
do significado e relevância da pesquisa para a vida do leitor não-
especializado (MOREIRA; MOTTA-ROTH, 2008, p.04).
O propósito comunicativo desse gênero é, segundo Motta-Roth e Lovato
(2009, p. 238), “expandir o conhecimento científico para o blico leigo,
recontextualizando e reformulando o conhecimento especializado em conhecimento
acessível a leitores não-especialistas (CALSAMIGLIA; VAN DIJK, 2004, p. 370)”.
A notícia de PC é um gênero que se presta para o trabalho com a leitura e a
reflexão sobre ciência em sala de aula, uma vez que pode ser considerada uma
fonte de pesquisa, um gênero em que se podem explorar as relações entre
4
linguagem, ciência e sociedade (MOTTA-ROTH, 2007, p. 04-5; MOTTA-ROTH,
LOVATO, 2009, p. 235).
Tomando por referência os estudos em Análise de Gênero (SWALES, 1990;
2004, por exemplo), o objetivo principal desta pesquisa é identificar e interpretar a
organização retórica de notícias de PC publicadas na revista Ciência Hoje Online.
Para tanto, os objetivos específicos são: investigar como as forças retóricas e os
atos de fala estão configurados no discurso de popularização da ciência e analisar o
contexto que gera esses textos. A primeira ação, mencionada no objetivo principal,
foi parcialmente finalizada em um estudo publicado previamente pela orientadora e
mestranda sobre a organização retórica de notícias de PC em português e em inglês
(MOTTA-ROTH; LOVATO, 2009), no primeiro ano da pesquisa, conforme
detalhamento na Fundamentação teórica no Capítulo 1. No segundo ano, o corpus
original em português foi ampliado para 30 textos. Foram acrescentadas mais 15
notícias sobre meio ambiente também extraídas da Ciência Hoje Online para
oferecermos uma exposição mais específica da organização retórica exclusivamente
de notícias de PC publicadas por essa revista, observando o modo como os
movimentos retóricos se articulam para alcançar o objetivo principal do gênero.
Analisamos também a forma como as forças retóricas e os atos de fala estão
sinalizados nas notícias. Por fim, realizamos uma análise dos contextos de produção
e veiculação do gênero em questão para tentar explicar a organização retórica das
notícias encontrada nesta pesquisa.
A partir dos resultados das análises, pretendemos, ao rmino deste estudo,
responder às seguintes questões de pesquisa:
Como as notícias de popularização da ciência publicadas pela revista
Ciência Hoje Online são organizadas retoricamente para atingirem seu
propósito comunicativo enquanto representantes de um gênero?
Como as práticas sociais jornalística e científica estão configuradas
linguisticamente nas notícias de popularização da ciência veiculadas
por essa revista?
5
Organização do texto da dissertação
Esta dissertação de mestrado está organizada em quatro capítulos. No
Capítulo 1, trazemos conceitos teóricos relativos à Análise de Gênero de base sócio-
retórica, adotado pela linha de pesquisa Linguagem no Contexto Social (GT Labler)
do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFSM, e estudos sobre textos de
popularização da ciência. No Capítulo 2, descrevemos o percurso metodológico
realizado. No Capítulo 3, discutimos os dados, descrevendo e interpretando os
resultados obtidos para responder às questões de pesquisa expostas na Introdução.
No Capítulo 4, apresentamos as considerações finais, limitações da pesquisa e
sugestão para pesquisas futuras.
6
CAPÍTULO 1–
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Neste capítulo, apresentamos os pressupostos teóricos que conduziram à
realização desta pesquisa. Na seção 1.1, a concepção de gênero textual é
apresentada segundo a perspectiva sócio-retórica, trazendo autores que priorizam o
enfoque social para análise de gêneros. Na seção 1.2, detalhamos a Análise de
Gênero formulada por Swales (1990; 2004). Na seção 1.3, são revistos trabalhos
prévios sobre a organização retórica de textos de popularização da ciência, focando
as pesquisas de Nwogu (1990, 1991) e Gomes (2000) e estudos realizados pelo GT
Labler, no projeto de Produtividade em Pesquisa/CNPq Análise crítica de gêneros
com foco em artigos de popularização da ciência (MOTTA-ROTH, 2007). Por fim, na
seção 1.4, são apresentados os operadores metadiscursivos.
1.1 Gêneros textuais: ações discursivas socialmente convencionalizadas
A linguagem está em todas as atividades sociais, constituindo-se, portanto,
em gênero textual. O gênero surge da relação entre o emprego da linguagem
moldado por fatores constituintes de determinada prática social, tais como, por
exemplo, a relação entre os participantes da interação. O padrão recorrente de
determinada interação influencia nossas escolhas em relação ao estilo, assunto e
grau de polidez, entre outras características também de natureza linguística e social,
que perpassam a construção do gênero (BAKHTIN, 2003; MILLER, 1984; SWALES,
1990). Os gêneros textuais refletem todos esses aspectos e são reconhecíveis como
construtos de natureza social que coordenam atividades e possibilitam o
compartilhamento de sentidos entre os membros de um mesmo grupo social
(BAZERMAN, 2005, p. 31).
Segundo Bazerman (Idem, p. 23), a produção de gêneros textuais é, acima de
tudo, a produção de fatos sociais, ou seja, “coisas que as pessoas acreditam que
sejam verdadeiras e, assim, afetam o modo como elas definem uma situação”.
Consistem em ações realizadas pela linguagem. A realização dessas ações ocorre
7
por meio de processos sociais típicos, recorrentes em determinadas situações, e,
desse modo, compreensíveis aos membros da prática social (Idem, p. 22).
Os usos da linguagem se moldam e se diferenciam de acordo com a ação
que realizam. Silveira (2005, p. 35), com base em Bakhtin (2003), aponta que a
maioria das situações de uso da língua(gem) “são convencionalizadas e reiteradas
na própria dinâmica das atividades sociais no cotidiano da vida”. Uma das
características dos gêneros textuais é sua pronta identificação por parte da maioria
das pessoas que vivenciam as práticas sociais em que determinados gêneros o
de uso frequente (Idem: ibidem). Bazerman (2005, p. 49) assinala que os gêneros
são o que as pessoas identificam como gêneros em qualquer momento do tempo.
Podemos reconhecê-los por “nomeação, institucionalização e regularização
explícita” (Idem: ibidem). Essas categorias listadas por Bazerman (Idem: ibidem)
remetem aos pressupostos bakhtinianos, que apontam a relativa estabilidade
composicional dos gêneros textuais como um aspecto definidor.
Bakhtin (2003, p. 261) define os gêneros textuais como componentes culturais
e históricos, configurações repetitivas e expressivas de interagir em conjunto, que
ordenam e estabilizam nossas relações na sociedade. A seguinte passagem
esclarece esse ponto:
Todos os diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso da
linguagem. Compreende-se perfeitamente que o caráter e as formas de uso
sejam tão multiformes quanto os campos da atividade humana, o que é
claro, o contradiz a unidade da língua. O emprego efetua-se em forma de
enunciados (orais ou escritos) concretos e únicos proferidos pelos
integrantes desse ou daquele campo da atividade humana. Esses
enunciados refletem as condições específicas e as finalidades de cada
referido campo não por seu conteúdo (temático) e pelo estilo da
linguagem, ou seja, pela seleção de recursos lexicais, fraseológicos e
gramaticais da língua, mas acima de tudo, por sua construção composicional
(Idem: ibidem).
Os gêneros fazem parte, portanto, de nossa vida nos diferentes âmbitos sociais
em que estamos inseridos; são definidos por sua composição, estilo e propósitos
comunicativos, nascentes da união de forças sociais, culturais e históricas (BAKHTIN,
2003, p. 262-268). Enquanto forças sociais e culturais, refletem as mudanças
decorrentes da vida social, “são correias de transmissão entre a história da sociedade
e a história da linguagem (Idem, p. 268)”. São forças históricas, pois são preexistentes
ao indivíduo. Enquanto usuários da língua “não criamos formas originais de
interagirmos nas situações comunicativas que participamos” (SILVEIRA, 2005, p. 39).
8
Como esclarece Bakhtin (2003, p. 285), “para o indivíduo falante os gêneros têm
significado normativo, não são criados por ele, mas dados a ele”. Nesse sentido,
podemos dizer que as diferentes práticas sociais, com suas funções específicas e
condições de realizações particulares, formulam e reformulam gêneros textuais para
atenderem suas especificidades e necessidades.
A estabilidade dos gêneros textuais é valorizada por Bakhtin, porque ele se
baseia no caráter histórico dos gêneros e sua importância para a efetiva
comunicação entre as pessoas. O teórico não nega a flexibilidade, a maleabilidade,
a plasticidade funcional e formal dos gêneros, mas coloca que o uso exige certo
conhecimento dessa organização mais ou menos estável do gênero (BENTES,
2006, p. 103). Segundo Rodrigues (2005, p. 165), a noção de gênero proposta por
Bakhtin, como um tipo de enunciado relativamente estável, não é resultado de uma
taxonomia ou princípio de classificação, mas uma tipificação de enunciados que
apresentam regularidades, ou seja, traços comuns que os constituem historicamente
nas atividades humanas em situações identificadas pelos participantes da interação.
Bakhtin (2003, p. 282) aponta que “[a] vontade discursiva do falante se realiza
antes de tudo na escolha de um certo gênero do discurso (grifo do autor)”. Ainda
segundo o autor (Idem: ibidem), a seleção do gênero é determinada pela
especificidade de uma determinada situação de interação. A opção é orientada por
considerações temáticas e pela situação concreta da comunicação, “constitui-se e
desenvolve-se em determinada forma de gênero (Idem: ibidem)”.
Bazermam salienta que (2005, p. 29),
se percebemos que certo tipo de enunciado ou texto funciona bem numa
situação e pode ser compreendido de uma certa maneira, quando nos
encontramos numa situação similar, a tendência é falar e escrever alguma
coisa também similar. Se começamos a seguir padrões comunicativos com
os quais as outras pessoas estão familiarizadas, elas podem reconhecer
mais facilmente o que estamos dizendo e o que pretendemos realizar.
Desse modo, o reconhecimento dos gêneros textuais por meio de suas
regularidades somadas ao reconhecimento do contexto social em que é praticado
pode ser um conhecimento muito útil, visto que facilita a interpretação e a atribuição
de sentido às ações que são realizadas em determinados contextos, seja no âmbito
profissional seja na vida diária (Idem, p. 31).
9
1.1.1 Situação de interação
Bakhtin (2003), ao trazer a noção de gêneros textuais para os estudos da
linguagem, enfatizava que o conteúdo temático, o estilo e a construção
composicional dos gêneros textuais
2
estão “indissoluvelmente ligados ao todo do
enunciado e são igualmente determinados pela especificidade de um determinado
campo da comunicação” (Idem, p. 262). A concepção dialógica da língua(gem),
preconizada por este autor (2003; 2004), fez com que o eixo de interesse da
investigação linguística recaísse também na análise do contexto, passando da análise
restrita ao artefato puramente materializado, isto é, o texto, para elementos extra-
textuais, tais como, por exemplo, questões de cunho ideológico, e como interferem na
organização da linguagem em determinada situação.
Nesse contexto teórico, Motta-Roth (2008, p. 372) aponta que a valorização do
dialogismo e da intertextualidade postulados por Bakhtin centra o texto no discurso.
Assim, a pedagogia de gênero “prevê um debate sobre as condições de produção,
distribuição e consumo do texto, os textos em si e seus efeitos” (Idem: ibidem).
Basicamente, essas colocações estabelecem que os gêneros textuais se articulam
segundo as práticas sociais (RESENDE; RAMALHO, 2006) a eles relacionados.
“Prática social” é o termo empregado pela Análise Crítica de Discurso para fazer
referência aos “modos habituais, ligados a perspectivas temporais e espaciais
particulares, em que indivíduos aplicam recursos materiais e simbólicos para agirem
no mundo” (CHOULIARAKI; FAIRCLOUGH, 1999, p. 22).
Motta-Roth (2006, p.159) afirma:
Ao investigar a linguagem como gênero, a relação dialética entre texto e
contexto se evidencia, de tal sorte que a interpretação do texto (linguagem)
depende da compreensão das condições do contexto (sociedade) e vice-versa
afinal, linguagem e sociedade constituem-se mutuamente (Fairclough,
1989).
Motta-Roth e Herbele (2005, p.14), citando Bazerman, assinalam que o
contexto pode ser entendido como “todos os fatores que dão forma a um momento no
qual a pessoa se sente compelida a se manifestar simbolicamente”, atendendo às
2
Bakhtin emprega o termo Gênero do discurso. Neste trabalho, chamaremos de Gênero textual,
conforme nomenclatura adota pela maioria dos autores filiados à Análise de Gênero de base sócio-
retórica que são referência bibliográfica neste estudo.
10
especificidades da interação. Nesse sentido, o conhecimento sobre a situação de
interação onde o gênero é ativado pode fornecer pistas que possibilitam aos
indivíduos interpretar as particularidades de determinada organização da linguagem
em resposta a uma situação. Essa tendência tem sido usual em trabalhos recentes em
Análise de Gênero (MOTTA-ROTH, 2006, p. 159). Cada vez mais é enfatizada a
necessidade de entender o contexto onde o gênero é praticado com vistas a elaborar
uma análise textual relevante e esclarecedora do gênero (BATHIA, 1993, p. 34).
Segundo Motta-Roth (2003, p. 172), a Análise de Gênero tem produzido
trabalhos que adotam uma metodologia etnográfica, propondo um estudo que mapeia
o contexto de cultura pesquisado, a fim de entender o contexto de situação de
interesse para o pesquisador. A autora (Idem, p. 173) cita os trabalhos de John
Swales, que, ao realizar um estudo textográfico, busca fazer sentido de cada
comunidade de prática por meio da análise do discurso local, fazendo observações do
contexto físico e entrevistas com membros participantes do gênero. Essa perspectiva
de análise caracteriza a Análise de Gênero de base sócio-retórica.
1.1.2 Gênero textual pela perspectiva sócio-retórica
A noção de gênero como ação social, desenvolvida inicialmente por Carolyn
Miller (1984), é vista como uma reconceituação da concepção de gênero textual, que
dava papel principal à análise textual, especialmente em relação às regularidades na
forma de realização do gênero. Essencialmente, a autora (1984, p. 151) argumenta
que uma definição retórica de gênero não deve ser centrada na substância (conteúdo)
ou na forma (estrutura), mas sim na ação que o gênero realiza.
Segundo Freedman e Medway (1994, p. 04), a concepção sócio-retórica de
gênero foi estabelecida a partir da convergência de importantes perspectivas que
marcaram os estudos da linguagem. São elas o Renascimento da Retórica, a Teoria
dos Atos de Fala, a Construção Social da Realidade, as Versões Retóricas da
Racionalidade na Argumentação e a Análise Crítica de Discurso. Para os autores
(Idem: ibidem), mesmo uma discussão breve sobre cada uma dessas perspectivas
pode oferecer uma visão acurada da revitalização da noção de gênero.
11
Resumidamente, o renascimento da retórica está relacionado com a mudança
de foco nos estudos sobre escrita, que passou a considerar noções básicas da
retórica como, por exemplo, contexto e audiência nas aulas de escrita (Idem, p. 05).
A nova concepção de gênero incorpora da Teoria dos Atos de Fala, do filósofo
Austin, a noção de que as palavras não apenas significam, mas fazem coisas.
Segundo Freedman e Medway (1994, p. 06), quando uma mãe diz para os outros
membros da família “A porta está aberta”, ela poder estar fazendo bem mais do que
uma declaração factual sobre um fenômeno físico, pode estar, por exemplo, sugerindo
que alguém feche a porta. O princípio sico dessa teoria é que o enunciado veicula
diferentes “ações”, segundo o contexto em que ocorre (Idem: ibidem). As Versões
Retóricas da Racionalidade na Argumentação contribuem para a revitalização da
noção de gênero por apontarem a importância do contexto para a argumentação. O
grande nome dessa corrente filosófica é, segundo Freedman e Medway (Idem, p.06),
Stephen Toulmim, que apontou que o grau de persuasão de um argumento depende
do contexto onde é realizado. A Construção Social da Realidade (ou Construtivismo
Social) contribui para essa nova abordagem de gênero por conceber a linguagem
como forma de “representação do mundo”. Silveira (2005, p. 75-76), citando Brueffe,
aponta que para essa perspectiva “conceitos, idéias, teorias, o mundo, a realidade e
os fatos são construtos da linguagem gerados pelas comunidades de conhecimento e
por elas usados para manter a coerência na comunidade”. A Análise Crítica do
Discurso trouxe para essa concepção de gênero não a preocupação com a
linguagem, mas também com questões de caráter ideológico, explorando as
dimensões ideológicas do uso da linguagem e como essas “dimensões refletem ou
reforçam valores e ideologias dominantes” (FREEDMAN; MEDWAY, 1994, p. 07).
Além da contribuição dessas abordagens de estudos da linguagem, citadas por
Freedman e Medway (1994), que constituem a base da revitalização da noção de
gênero, é preciso ressaltar as elaborações teóricas de Carolyn Miller (1984), que são
consideradas as linhas mestras da concepção sócio-retórica de gênero. Basicamente,
a proposta teórica de Miller (Idem, p. 151) enfoca como fatores contextuais podem
fornecer uma interpretação social do modo como as ações sociais representam
práticas sociais recorrentes. A autora (Idem: ibidem) também enfatiza que o sucesso
da interação requer que os participantes compartilhem padrões comuns e tenham as
mesmas motivações. Nesse sentido, afirma a autora (Idem, p. 39), “os gêneros
12
servem como instrumentos para o entendimento da melhor forma de agir em ações
comunicativas específicas”.
Outros autores são de grande importância para a Análise de Gênero de base
sócio-retórica, contribuindo para o desenvolvimento da teoria e em sua aplicação
prática. Dentre vários estudiosos se destacam os trabalhos de John Swales (1990;
2004). Segundo Freedman e Medway (1994, p. 10), “Swales vem para a nova
abordagem de gêneros seguindo a perspectiva de linguista aplicado interessado no
ensino de línguas”.
1.2 Análise de Gênero
Swales foi o primeiro autor a fazer alusão ao termo “gênero” no contexto de
ensino de línguas para fins específicos
3
(NWOGU, 1990, p. 45). A importância desse
teórico da linguagem se inicialmente por sua proposta para análise textual de
gênero, constituindo-se referência em trabalhos de vários pesquisadores da área da
Linguística Aplicada. Conforme Hemais e Biasi-Rodrigues (2005, p. 108), os
trabalhos do autor trazem conceitos-chave para a análise de gêneros, que delineiam
a própria área de pesquisa e utilizam a análise textual para iluminar o gênero e as
práticas sociais que o subjazem. O interesse de Swales (1990; 2004) recai
principalmente em discursos que permeiam as esferas acadêmica e profissional,
observando como a linguagem se estrutura nessas práticas segundo os propósitos
comunicativos dos membros praticantes do gênero.
A abordagem proposta por Swales (1990) é relevante para o ensino de
línguas, visto que elucida questões relativas à construção do texto e das práticas
sociais que determinam as escolhas linguísticas que configuram o texto (HEMAIS;
BIASI-RODRIGUES, 2005, p. 109). Nesse sentido, pode-se dizer que, para esse
autor, essa forma de abordagem aperfeiçoa o ensino, “visto que a consciência
linguística torna o ensino/aprendizagem mais eficaz” (Idem: ibidem).
O estudo dos gêneros textuais pela perspectiva da Análise de Gênero,
desenvolvida por Swales (1990, 2004), assume que os gêneros textuais são
3
Principalmente no ensino de inglês como segunda língua (Cf. SWALES, 1990, 2004).
13
compostos por sequências textuais e/ou blocos discursivos, que articulam a
realização do propósito comunicativo do gênero (SWALES, 1990; AL-ALI, 2006;
HALLECK; CONNOR, 2006; LOUDERMILK, 2007).
Segundo Halleck e Connor (2006, p. 72), a análise de gênero que objetiva
identificar os elementos funcionais dos textos desenvolve um sistema
linguístico/textual que possibilita descrever, avaliar, entender e reforçar o propósito
comunicativo principal do gênero, uma vez que a análise da organização retórica se
concentra no estudo da disposição da informação no texto em blocos discursivos e
como é sinalizada léxico-gramaticalmente.
Para Hasan (1989 apud MOTTA-ROTH; HERBELE, 2005, p. 14), uma análise
de gênero deve integrar o estudo do texto, enquanto materialização, e do contexto,
visto que essa posição metodológica ajuda a compreender quais elementos da
configuração textual do gênero são obrigatórios e quais são opcionais. Bathia (1993,
p.34) reitera a importância de integrar esses dois elementos no exercício analítico.
Para o autor (Idem: ibidem), o confronto dos resultados da análise com as reações
dos membros da prática social em que o gênero é realizado se constitui um
importante aspecto da análise quando se quer tornar o estudo uma explicação
relevante da forma como o gênero em questão é construído retoricamente.
Portanto, uma abordagem de gênero focada no arranjo textual das
informações no texto e suas respectivas funções retóricas juntamente com a análise
do contexto onde o gênero é elaborado pode ajudar a identificar e entender o
propósito comunicativo que o gênero realiza.
1.2.1 O propósito comunicativo como aspecto definidor do gênero
A concepção de gênero preconizada por Swales, em Genre analysis: English
in academic and research settings, de 1990, prioriza o papel do propósito
comunicativo como aspecto definidor do gênero. O autor argumenta que o gênero
se molda a partir do propósito comunicativo. Nesse sentido, o objetivo da ação
discursiva influi no modo como as pessoas vão construir e organizar seu discurso.
Nas palavras do autor (tradução nossa):
14
Um gênero compreende uma classe de eventos comunicativos, cujos
membros compartilham os mesmos propósitos comunicativos. Tais
propósitos são reconhecidos pelos membros especialistas da comunidade
discursiva onde o gênero é realizado e, portanto, constituem o conjunto de
razões para o nero. Essas razões moldam a estrutura esquemática do
discurso, influenciam e impõem limites à escolha de conteúdo e de estilo
(1990, p. 58).
Basicamente, a definição de gênero proposta por Swales (Idem: ibidem)
aponta seu funcionamento como meio de concretização e compartilhamento de
propósitos comunicativos pelos membros da comunidade onde são praticados.
Bathia (1993, p.13) reelabora vários aspectos dessa definição. Dentre eles, o
autor ressalta o propósito comunicativo como o critério mais importante e privilegiado
para identificar o gênero (Idem, p.43). Segundo Bathia (Idem, p. 13), qualquer
mudança, por menor que seja, no propósito comunicativo resulta em mudanças no
gênero.
Apesar do propósito comunicativo continuar presente nas principais
abordagens de gênero e em trabalhos que tratam de sua aplicabilidade e
implicações, Askehave e Swales (2001) questionam a centralidade do propósito
comunicativo como único critério para a classificação de um gênero devido à
dificuldade de identificá-lo de forma exata, uma vez que o propósito comunicativo do
gênero pode variar mesmo entre os membros de uma mesma prática social (Idem, p.
201-4).
Segundo Hemais e Biasi-Rodrigues (2005, p.118), Askehave e Swales
propõem abandonar a noção de propósito comunicativo como meio imediato para a
classificação dos gêneros, sugerindo que o analista deveria manter em mente que o
a identificação do objetivo comunicativo do gênero está em função do resultado da
análise textual e contextual. Para tanto, Askehave e Swales (2001, p. 209) sugerem
uma abordagem metodológica para análise de gêneros que inclui a investigação dos
contextos em que o gênero ocorre, levando em consideração a identificação da
comunidade, seus valores e expectativas em relação ao gênero. Entretanto, os
autores (2001, p. 195) ainda reconhecem a importância do propósito comunicativo
como um conceito “útil e viável” (Idem: ibidem) para a análise de gênero, desde que
não seja mais considerado o único critério de investigação, mas sim um dos critérios
em um círculo de análise que os autores denominam “text-in-context inquiry” (Idem,
p. 209).
15
Em síntese, a Análise de Gênero (SWALES, 1990; 2001), em termos de
análise da organização retórica, está relacionada com a natureza da informação e o
modo como o autor e essa informação em unidades discursivas para agir em
determinada situação retórica. Essa forma de analisar o gênero é associada
frequentemente ao modelo CARS (Create a Research Space), resultado da análise
da seção introdutória de artigos acadêmicos feita por Swales.
1.2.2 O modelo CARS
Swales, em Aspects of article introductions, de 1981, analisou 48 introduções
de artigos acadêmicos (doravante AA) e percebeu que essa seção apresentava
regularidades na forma como as informações eram dispostas (SILVEIRA, 2005). A
partir disso, o autor desenvolveu uma descrição esquemática que encapsulava tais
regularidades Esse modelo, baseado em moves (em português, “movimentos
retóricos”), foi denominado pelo autor CARS (Create a Research Space) e
representa uma estrutura esquemática típica da introdução de AAs. Swales e Najjar
(1987 apud HEMAIS; BIASI-RODRIGUES, 2005, p. 120) reaplicaram o modelo em
um corpus de análise mais amplo, composto por 110 introduções de três áreas
distintas: psicologia, física e educação. Os resultados dessa análise reforçaram a
organização retórica oriunda da análise das 48 introduções. Sucintamente, o modelo
apresenta os seguintes movimentos retóricos: apresentação da área em que a
pesquisa está inserida (Movimento 1), referência a pesquisas prévias (Movimento 2),
alusão aos objetivos, hipóteses e métodos de análise (Movimento 3), e justificativa
do estudo, apontando sua relevância para determinada área (Movimento 4) (Idem:
ibidem).
A aplicação do modelo por outros pesquisadores indicou problemas na
delimitação dos Movimentos 1 e 2 , conforme aponta o próprio Swales (1990, p. 80).
Portanto, o autor (Idem: ibidem) revisou o modelo e o reduziu para três movimentos.
Swales (1990, p. 140) argumenta em favor do novo modelo, assinalando que a
versão revisada abarca melhor as características da seção introdutória do AA (Idem,
p. 141), uma vez que sinaliza a necessidade de estabelecer a significância do
campo de pesquisa, a necessidade de situar a pesquisa atual em termos de
16
importância, e, por fim, a necessidade de mostrar como esse nicho será ocupado e
defendido no ecossistema mais amplo (Figura 1).
Figura 1
Descrição da organização retórica da seção introdutória da artigos acadêmicos
(SWALES, 1990, p. 141).
O método proposto por Swales para a descrição linguística tem sido aplicado
por vários pesquisadores filiados à corrente cio-retórica de Análise de Gênero
para o estudo dos mais variados gêneros. Dentre eles, citamos trabalhos que
também analisaram seções do AA como, por exemplo, Revisão de literatura
(HENDGES, 2002), em trabalhos que estudaram gêneros pertencentes à esfera
acadêmica, tais como Resenha (MOTTA-ROTH, 1995), Conferência (HALLECK;
CONNOR, 2006) e Ensaio (LOUDERMILK, 2007). Destacam-se também
investigações sobre gêneros de circulação mais ampla, como os pertencentes à
esfera jornalística (KINDERMANN, BONINI, 2006), cotidiana (AL-ALI, 2006) e
especializada (BATHIA, 1993; SILVEIRA, 2005).
1.2.3 Movimentos e passos retóricos
Os movimentos retóricos o segmentos textuais ou blocos discursivos que
desempenham funções específicas nos textos. Conforme Swales (2004, p. 228), são
1. Estabel
Passo 1 Asseverar a importância da pesquisa e/ou
Passo 2 Fazer generalização/generalizações sobre o assunto e/ou
Passo 3 Revisar itens da pesquisa prévia
2. Estabelecer um nicho
Passo 1 Apresentar evidências contrárias a estudos prévios ou
Passo 2 Indicar uma lacuna ou
Passo 3 Levantar questões ou
Passo 4 Continuar uma tradição
3. Ocupar o nicho
Passo 1 Esboçar os objetivos ou
Passo 2 Anunciar a presente pesquisa e/ou
Passo 3 Anunciar os principais resultados
Passo 4 Indicar a estrutura do artigo
17
“unidades retóricas que executam funções comunicativas coerentes em discursos
escritos ou orais”. Segundo Motta-Roth (1995, p. 44), a idéia de movimento retórico
está associada ao estudo dos padrões retóricos recursivos encontrados em
diferentes textos, nos quais diferentes segmentos textuais desempenham diferentes
funções comunicativas. Podem ser definidos como unidades da estrutura discursiva,
que apresentam orientação uniforme, têm características estruturais específicas e
funções definidas (NWOGU, 1991, p. 127).
Motta-Roth (1995, p.47)
clarifica a noção de movimento retórico, quando
aponta que (tradução nossa):
um movimento consiste em uma estratégia usada pelo autor para atingir um
dado objetivo em uma passagem do texto, um bloco de texto que pode se
estender por mais de uma sentença, que realiza uma função comunicativa
específica claramente definida e que, juntamente com outros
movimentos,constitui a totalidade da estrutura informacional que deve estar
presente no texto para que esse possa ser reconhecido como um exemplar
de um dado gênero textual. Cada movimento representa um estágio no
desenvolvimento da estrutura total da informação.
Para a realização de cada movimento, estratégias retóricas diversas,
mecanismos linguísticos que o escritor pode escolher para realizar o propósito
comunicativo do movimento dentro do texto como um todo. Esses mecanismos de
realização do movimento foram nomeados por Swales (1990, 2004) steps (Em
português, “Passos”).
A título de exemplificação, o Movimento 1, tal como foi formulado por Swales
(1990), tem como propósito estabelecer o campo da pesquisa. Esse movimento
pode ser constituído pela afirmação da importância da pesquisa (Passo 1), pela
exposição do conhecimento vigente (Passo 2) e/ou pela revisão de tópicos de
pesquisas prévias (Passo 3) (Figura 2
tradução nossa).
Figura 2 – Movimento 1 e respectivos passos da seção da seção introdutória de artigos acadêmicos
(SWALES, 1990, p. 141).
Cabe ressaltar que os movimentos retóricos são componentes funcionais
interligados. “São ao mesmo tempo auto-suficientes e relativamente ordenados,
Movimento 1
Estabelecer um território
Passo 1 Asseverar a importância da pesquisa e/ou
Passo 2 Fazer generalização/generalizações sobre o assunto e/ou
Passo 3
Revisar itens da pesquisa prévia
18
organizando o gênero como um todo coerente” (HENDGES, 2008, p. 103). Não são
formais; sua delimitação não está associada aos limites do parágrafo, visto que um
mesmo parágrafo pode compreender mais de um movimento (Idem: ibidem).
1.3 Estudos prévios sobre textos de popularização da ciência
1.3.1 Organização retórica da versão jornalística do discurso médico
4
: as pesquisas
de Kevin Nwogu
Nwogu (1990), em estudo comparativo, analisou a estrutura retórica de três
gêneros do discurso médico a partir da descrição linguística proposta por Swales. O
corpus de pesquisa foi composto por 45 textos, 15 AAs, 15 resumos e 15 versões
jornalísticas dos AAs. Sucintamente, o objetivo da pesquisa do autor foi comparar a
organização retórica desses 45 textos para delinear suas diferenças e similaridades,
quanto a progressão temática e coesão. Os resultados desse estudo apontaram que
os AAs e seus respectivos resumos apresentam uma estrutura semelhante,
enquanto a versão jornalística se diferencia dos outros dois gêneros (NWOGU,
1990, p. 117). O autor mostrou que os AAs apresentam uma organização textual
mais padronizada em relação a sua versão jornalística, direcionada ao público não
especializado. O resultado da análise da configuração textual da versão jornalística
apontou uma organização retórica distribuída em onze movimentos retóricos.
Em 1991, o autor refez a análise da versão jornalística de textos com temas
relacionados às ciências médicas e constatou que a informação era organizada em
nove movimentos retóricos. A descrição esquemática da configuração textual
encontrada pelo autor (1991, p. 115-116) pode ser visualizada na Figura 3 (tradução
nossa). A versão original em inglês no Anexo A.
Segundo Nwogu (1991, p. 116-118), os movimentos podem ser explicados
em termos de função e características distintivas, conforme a descrição dos
4
Tradução nossa. Em inglês, Jornalistic reported version (JRV).
19
movimentos e exemplos dados pelo autor
5
. A tradução dos exemplos está em nota
de rodapé.
Figura 3
Descrição esquemática da organização retórica da versão jornalística do discurso
médico (NWOGU, 1991, p. 115-116).
5
O autor apresenta em seu artigo uma descrição mais detalhada dos movimentos (1991, p 116-119),
porém as explanações apresentadas aqui têm somente como objetivo explicar os movimentos
sucintamente, com base nos exemplos do autor.
Movimento 1 –- Apresentar informação prévia
a. Fazer referência ao conhecimento estabelecido na área
b. Fazer referência ao problema de pesquisa
c. Enfatizar a perspectiva local
d. Explicar princípios e conceitos
Movimento 2 – Destacar os principais resultados da pesquisa
a. Fazer referência aos principais resultados
Movimento 3 – Revisar pesquisas relacionadas ao assunto
a. Fazer referência à pesquisa prévia
b. Fazer referência às limitações da pesquisa prévia
Movimento 4 – Apresentar a pesquisa
a. Fazer referência aos autores
b. Fazer referência ao objetivo da pesquisa
Movimento 5. – -Indicar observações consistentes
a. Declarar resultados importantes
b. Fazer referência a observações específicas
Movimento 6 – Descrever os procedimentos da coleta de dados
a. Fazer referência aos autores
b. Fazer referência à fonte dos dados
c. Fazer referência ao tamanho da amostra de dados
Movimento 7 – Descrever os procedimentos experimentais
a. Relatar principais processos experimentais
Movimento 8 – Explicar resultados da pesquisa
a. Declarar um resultado específico
b. Explicar princípios e conceitos
c. Indicar comentários e perspectivas
d. Indicar a significação do resultado principal
e. Contrastar resultados atuais e prévios
Movimento 9 – Apontar conclusões da pesquisa
a. Indicar implicações da pesquisa
b. Encorajar pesquisas futuras
c. Enfatizar a perspectiva local
20
Movimento 1 (Apresentar informação prévia)
tem como função fornecer
informações que servem de suporte para o entendimento do assunto
desenvolvido no texto. Pode ser sinalizado pela exposição do principal
problema de pesquisa e pela explicação de princípios e conceitos pertinentes
ao estudo.
In Britain, around 15,000 couples are affected by the…
6
Movimento 2 (Destacar os principais resultados da pesquisa)
tem como
objetivo principal resumir os resultados mais importantes da pesquisa,
constitui-se por meio de uma declaração breve formada por uma ou duas
sentenças marcadas pelo emprego da voz passiva e/ou do pretérito perfeito.
A new study by H. Wallemburg and his colleagues in the department …has
shown that low dose of aspirin given in the last three months of pregnancy
may prevent toxaemia
7
.
Movimento 3 (Revisar pesquisas relacionadas ao assunto)
tem como
propósito contextualizar a pesquisa relatada no campo de conhecimento em
que se insere pela referência às limitações e aos problemas de estudos
anteriores
The cause of this condition is not known and no therapy has proved effective
8
.
Movimento 4 (Apresentar a pesquisa)
tem como função apresentar a
pesquisa por meio da menção aos autores e objetivos.
The investigation formed part f a long-term research project known as the
Bogalusa Heart Study, which is monitoring the risk factors in children whose
parents have suffered heart attack
9
.
Movimento 5 (Indicar observações consistentes)
tem como função reportar
a importância dos resultados da pesquisa relatada. Contém aspectos do
resultado principal, que o autor julga importante para o leitor.
6
Na Grã-Bretanha, por volta de 15.000 casais são afetados por...
7
Um novo estudo feito por H. Wallemburg e seus colegas do departamento de... mostrou que
pequenas doses de aspirina ministradas nos últimos três meses de gravidez podem prevenir a
intoxicação sanguínea.
8
A causa dessa condição é ainda desconhecida e nenhum tratamento provou ser eficaz.
9
A investigação é parte de um projeto de pesquisa conhecido como Bogalusa Estudos do Coração,
que monitora os fatores de risco em crianças, cujos pais tenham sofrido infarto.
21
The reaserchers also found no change in breast cancer risk in womem who
used progestogen “potency”
10
.
Movimento 6 (Descrever os procedimentos de coleta de dados)
tem como
função relatar os procedimentos de coleta de dados, fazendo menção à fonte
dos dados, seleção e delimitação do corpus.
Neil Blumberg and his colleagues at the University of Rochesters, New York,
compared effects of blood transfusion in 216 patients who did not receive
blood...
11
Movimento 7 (Descrever os procedimentos experimentais)
tem como função
descrever os procedimentos de experimento em textos que relatam pesquisas
envolvidas com testes laboratoriais e trabalhos experimentais (Cf. NWOGU,
1991, p. 117). É caracterizado pelo uso de tabelas e/ou figuras com dados
estatísticos
12
Movimento 8 (Explicar resultados da pesquisa)
tem como função principal
explicar os resultados da pesquisa por meio da declaração de um resultado
específico, indicação da importância da pesquisa, comparação dos resultados
da pesquisa atual com resultados de pesquisas prévias, explicação de
princípios e conceitos que perpassam as observações feitas no estudo e
apresentação de comentários e pontos de vista do pesquisador e colegas.
Reporting the Stroud outbreak in the Lancet, researchers at the public Health
Laboratory and Communicative Disease Surveillance in London, comment:
“there seems to be no logic behind the decision to exclude septicemia, which
only serves to confuse attempts at epidemiological investigation”.
13
.
Movimento 9 (Apontar conclusões da pesquisa)
tem como função apresentar
as conclusões da pesquisa, ressaltando as contribuições do estudo para a
área em que se insere, apontando às implicações da pesquisa e reforçando a
necessidade de mais pesquisas.
10
Os pesquisadores não encontraram nenhuma mudança nos riscos de ter câncer de mama em
mulheres que tomam progesterona.
11
Neil Blumberg e seus colegas da Universidade de Rochester, Nova Iorque, compararam os efeitos
da transfusão de sangue em 216 pacientes que nunca fizeram...
12
Nwogu em seu artigo não fornece exemplo desse movimento.
13
Relatando a explosão em Lancet, os pesquisadores do Laboratório de Saúde Pública e do Centro
de Controle de doenças em Londres, dizem: “Parece não haver lógica na decisão de excluir a
septicemia, que serve unicamente para confundir os esforços das investigações epidemiológicas.
22
The increasing numbers of B15 now being identified, the ability of these
organisms to maintain high endemic levels of disease, and the lack of
effective preventive messages, emphasizes the need for vaccine
development
14
.
In Britain, far less percent of breast cancer would have been attributable to
OC use in 1980, compared with perhaps 10% in 1985…
15
Cada um dos nove movimentos da representação esquemática de Nwogu
(1991, p. 115-6) realiza uma função no texto. Para o pesquisador (Idem: ibidem),
essa representação esquemática de modo geral abarca a organização retórica
encontrada em versões jornalística de um AA para o público não-especializado e
pode ser resumida como: contextualização do assunto (Movimento 1), alusão aos
resultados principais da pesquisa (Movimento 2), revisão de estudos anteriores
(Movimento 3), identificação dos pesquisadores e seus objetivos (Movimento 4),
indicação dos resultados alcançados com a pesquisa (Movimento 5), indicação dos
métodos usados na coleta de dados (Movimento 6), descrição dos métodos usados
no experimento (Movimento 7), discussões e explicações de resultados específicos
da pesquisa (Movimento 8) e indicação das principais conclusões do estudo
publicado e suas implicações para a audiência-alvo (Movimento 9). Esses
movimentos podem ser agrupados, segundo o autor (Idem, p. 116), em três grandes
conjuntos. O conjunto 1 inclui os Movimentos 1, 2 e 3, com função Descritiva, o
conjunto 2 inclui os Movimentos 4,5, 6 e 7, com função Explicativa, e o conjunto 3
inclui os Movimentos 8 e 9, com função Avaliativa.
Segundo o autor (Idem: ibidem), a existência de certa tendência de
organização sugere que a construção desses textos, como de qualquer outro, não é
imotivada, ou seja, é perpassada por questões de cunho social e profissional
(referentes à elaboração de um texto noticioso, por exemplo). A articulação das
funções retóricas desses movimentos no texto mostra o esforço do jornalista na
elaboração de estratégias de popularização da informação científica, tais como o
deslocamento dos resultados da pesquisa para o início do texto, antes dos
procedimentos metodológicos, que garantam ao leitor uma visão geral e essencial
do estudo popularizado.
14
O aumento da quantidade de B15 agora identificada, a habilidade desses organismos para
manterem altos níveis da doença, e a ausência de mensagens de prevenção eficientes enfatizam a
necessidade do desenvolvimento de vacinas.
15
Na Grã-Bretanha, muito menos do que cinco por cento dos casos de câncer de mama poderiam ter
sido atribuídos ao OC em 1980, comparado com talvez 10 % em 1985...
23
1.3.2. Esquema textual de Matérias de divulgação cientifica na Ciência Hoje
Gomes (2000) analisou textos de popularização da ciência, publicados na
revista Ciência Hoje, com o objetivo de identificar diferenças e semelhanças nas
estruturas textuais e estratégias discursivas de textos produzidos por jornalistas e
jornalistas-cientistas a partir da Estrutura de relevância de van Dijk (1992), em que o
autor propõe um esquema textual para a notícia jornalística. Gomes (Idem, p. 104)
salienta que o próprio autor reconhece a dificuldade de encontrar um exemplar do
gênero que apresente todas as categorias devido ao excesso de detalhes que o
esquema comporta (Cf. VAN DIJK, 1992, p. 141).
A autora (Idem: ibidem) propõe, portanto, uma reformulação do esquema
textual proposto por van Dijk (1992, p. 141) para abarcar as informações contidas
em Matérias de divulgação científica (doravante MDC), que correspondem às
notícias de PC analisadas neste estudo.
Segundo a autora (Idem: ibidem), a MDC comporta seis seções (Figura 4):
Título, Abertura, Contextualização, Metodologia, Perspectivas e Pontos de vista.
Sucintamente, essas categorias abarcam um Título que inclui o título propriamente
dito e o subtítulo, resumindo a informação que na visão do jornalista é a mais
importante. Segue-se uma Abertura que contém dados básicos que situam o estudo
a ser tratado.
Conforme Gomes (Idem, p. 105-6), a abertura informa de que trata o estudo a
ser relatado, pesquisadores envolvidos, resultados ou efeitos desses resultados.
Além disso, a autora (Idem: ibidem) ressalta que essa seção contém informações
que respondem a algumas das perguntas propostas pelos cânones jornalísticos (“O
quê”, “Quem?”, “Quando?”, “Onde?”, “Como?” e “Por quê?”), tal como também foi
observado por Nwogu (1991, p. 121). A Contextualização compreende informações
relativas ao contexto em que a pesquisa se insere, essa seção da MDC é sucinta e
as informações são expostas de forma simplificada (Idem, p. 114), enfocando o
objeto de interesse do estudo reportado. A Metodologia abarca os materiais e os
métodos aplicados na pesquisa (GOMES, 2000, p. 117). Em Perspectivas, “são
informadas principalmente as perspectivas positivas do estudo, mas também
problemas relacionados à pesquisa em si ou à aplicação dos resultados” (Idem, p.
119). Por fim, em Pontos de vista, aparece a opinião do autor da notícia embutida
24
em “verbos discendi selecionados, nos intensificadores e nos modalizadores” (Idem:
ibidem).
A autora (Idem, p.122) ressalta que, em se tratando de MDC, a explicitação
da voz do jornalista é menos comum, uma vez que a doutrina jornalística prega a
imparcialidade para alcançar a credibilidade, a única exceção são os gêneros
jornalísticos de caráter avaliativo (Idem: ibidem), tal como artigo e editorial.
Figura 4
Esquema textual de Matérias de divulgação científica (GOMES, 2000, p. 104).
Apesar da organização retórica da VJR, encontrada por Nwogu (1991), e do
esquema textual da MDC, proposto por Gomes (2000), serem oriundas de teorias
de análise textual diferentes, ambos parecem captar o conteúdo ideacional dos
textos de PC, principalmente em relação a aspectos concernentes aos cânones
jornalísticos, tais como, por exemplo, as perguntas características de uma notícia:
“Quem?”, “O quê?“,“Onde?”, “Quando?”e “Por quê” e a imparcialidade.
Título
Abertura
Contextualização
Metodologia
Perspectivas
P
O
N
T
O
S
D
E
V
I
S
T
A
25
1.3.3 Reformulações no modelo descritivo de Nwogu: GT Labler
A análise inicial sobre notícias de PC em português, assim como análises
anteriores sobre notícias de PC em inglês realizadas no GT Labler, adotou como
referência a descrição original elaborada por Nwogu (1991). À medida que o modelo
ia sendo aplicado, ficou evidente que necessitava de adaptações e de reformulações
para dar conta do modo como as informações o dispostas em notícias recentes
publicadas na Internet (PRATES, SCHERER, MOTTA-ROTH, NASCIMENTO, 2008;
SCHERER, MOTTA-ROTH, 2008; MOTTA-ROTH, GERHARDT, LOVATO, 2008). As
adaptações deram origem a uma nova descrição e representação esquemática da
organização retórica desse gênero (Figura 5).
Movimentos e passos
Elementos recursivos
Mov. 1 – LIDE/ Conclusão da pesquisa (previsão)
Mov. 2 – Apresentação da pesquisa por:
(a) identificação dos pesquisadores (ou)
(b) detalhamento dos resultados (e)
(c) referência ao objetivo da pesquisa (ou)
(d) alusão ao artigo científico publicado (ou à
tese/dissertação)
Mov. 3 – Referência a conhecimento prévio
(contextualização) por:
(a) referência ao conhecimento estabelecido
na área
(b) ênfase na perspectiva social
(c) alusão a pesquisas prévias
(d) indicação das limitações no conhecimento
estabelecido
Mov. 4 – Descrição da metodologia por:
(a) identificação do procedimento
experimental
(b) referência aos dados (fonte, amplitude,
data, local, categoria)
Mov. 5 – Explicação dos resultados da pesquisa por:
(a) exposição dos resultados
(b) explicação do significado dos resultados
(c) comparação das pesquisas atuais e
anteriores quanto aà:
(1) conhecimento estabelecido
(2) metodologia utilizada
(3) resultados obtidos
A Alternância de vozes (para comentários e
opiniões mais positivas ou negativas) que
podem incluir a voz de:
(1) Cientista (ou metaforicamente do
estudo);
(2) Colega/Técnico/Instituições;
(3) Governo;
(4) Público.
B Explicação de princípios e conceitos (por
meio de recursos de reescritura, como
Aposto, glosa e metáfora)
Figura 5
Representação esquemática da organização retórica de notícias de popularização da
ciência (MOTTA-ROTH; LOVATO, 2009, p.246).
Segundo Motta-Roth e Lovato (2009, p. 249), o gênero notícia de PC é
organizado em seis movimentos retóricos, como dois elementos ao longo do texto.
26
Movimento 1 (Lide
Conclusão da pesquisa)
tem como função retórica, nas
notícias de PC, trazer uma síntese prévia do tópico da notícia que sedesenvolvido
no texto. Esse movimento normalmente aparece como uma verdade perene
sinalizada principalmente pelo emprego do presente do indicativo (MOTTA-ROTH;
LOVATO, 2009, p. 249), conforme demonstra exemplo 1 (sublinhado).
Exemplo 1
CH#2 (M1-lide) Estudo traça perfil do vírus no país e mostra sua adaptação
aos medicamentos. (Idem: ibidem)
BBC#2 (M1-lide) HIV can survive the apparently effective onslaught of
antiviral drugs for years by hiding away in the body's cells, research
shows. (Idem: ibidem)
O processo verbal no presente do indicativo é recorrentemente associado ao
pesquisador responsável pela pesquisa ou por “uma metonímia deste na palavra
‘estudo’, ‘pesquisa’, ‘trabalho’ (o estudo / a parte representa o pesquisador/o todo)”
(BRASIL, SANTOS, SILVA, MOTTA-ROTH, 2008), em negrito no exemplo 2.
Movimento 2 (Apresentação da pesquisa)
tem como função retórica
explicar o lide, empregando versões parafrásicas para esclarecer o resultado geral
expresso no lide de forma sucinta. Esse movimento está numa relação de “previsão-
detalhe” (HOEY apud MOTTA-ROTH; LOVATO, 2009) com o Movimento 1 (lide). O
exemplo 2 ilustra essa relação (sublinhado).
Exemplo 2
LIDE (M1
lide) Uso da droga causou degeneração de células produtoras de
espermatozóides em camundongos.
§ 1 (2b) Fumar crack pode reduzir a fertilidade, (2a) aponta estudo da
Universidade de São Paulo (USP) (Idem, p. 251)
Como pode ser observado, a apresentação da pesquisa (Movimento 2)
responde ao lide (Movimento 1), pois trará maiores detalhes sobre o resultado geral
da pesquisa. Esse movimento também situa a notícia, trazendo dados
circunstanciais específicos, tais como data, local, período de tempo, em que o
estudo reportado aconteceu, conforme demonstra o exemplo 3 (negrito).
27
Exemplo 3
CH#5 (M1
lide) Material genético de tripanossomo foi identificado em
coelhos, aves e humanos
(2a) Pesquisadores brasileiros (2b) constataram que o material
genético do parasita causador da doença de Chagas pode ser
transferido para o genoma do hospedeiro. Os cientistas também
descobriram que esse DNA do animal infectado integrado ao do
Trypanosoma cruzi pode ser transmitido hereditariamente, ao menos
em galinhas. O estudo, (2d) publicado em 23 de julho na revista
Cell, sugere ainda que o mesmo mecanismo também funciona em
pacientes humanos. (Idem, p. 252)
BBC#7 (M1
lide) A single gene can keep in check the tendency to pile on fat,
scientists have shown.
(2a) The University of Texas team (2b) manipulated the gene,
called adipose, (2c) to alter the amount of fat tissue laid down by fruit
flies, worms and mice. (…) (2d) The study is published in the
journal Cell Metabolism. (Idem, p. 252)
A descrição proposta, em relação a esses dois primeiros trechos das notícias
(1
Lide / Conclusão da pesquisa e 2
Apresentação da pesquisa), guarda
semelhanças com a descrição da JRV de Nwogu (1991, p. 115-116) e com o
esquema textual da MDC de Gomes (2000, p. 140). Nas três pesquisas, é apontado
que os segmentos iniciais do texto trazem informações que vão situar o leitor em
relação a aspectos circunstancias da pesquisa, respondendo às perguntas “Quem?”,
“Onde?”, “Quando?”, e “Por quê?”, fazendo parte do que Gomes (2000, p. 104)
chamou de Abertura.
Movimento 3 (Referência a conhecimento estabelecido
Contextualização)
tem como função fornecer informações que contextualizam a pesquisa, ressaltado o
conhecimento estabelecido na área (3a), implicações mais amplas da pesquisa
(questões de cunho social, econômico ou cultural) ou alusão à pesquisa prévia (3c),
que pode ser feita pelas limitações ou lacunas de pesquisas anteriores (3d)
(SCHERER, MOTTA-ROTH, 2008). Abarca a apresentação de informação prévia
(Movimento 1) e a revisão de pesquisa relacionadas (Movimento 3) da descrição de
Nwogu (1991, p. 117). Esse movimento também está em correspondência com o
que Gomes (2000, p. 104) chamou de Contextualização, que inclui segmentos do
texto que vão informar ao leitor sobre o objeto da pesquisa ou o contexto onde se
insere, conforme ilustra os fragmentos sublinhados no exemplo 4.
28
Exemplo 4
CH#9 (3a) Os casos de dengue do tipo 2, assim como os do tipo 1, são os
mais comuns no Brasil, enquanto as primeiras manifestações da
dengue do tipo 3 surgiram no final dos anos 1990. O tipo 4 não é
identificado no país desde o final da década 1980. (MOTTA-ROTH,
LOVATO, p.253)
Também é exemplificada a ênfase na perspectiva social (3b), realizada pela
alusão a segmentos da sociedade externos à pesquisa que podem ser afetados ou
ter relação com ela (MOTTA-ROTH; LOVATO, 2009, p. 255). O exemplo 5
demonstra a ocorrência desses trechos (sublinhado).
Exemplo 5
CH#7 (3b) Nos últimos anos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) vem
demonstrando crescente preocupação com a venda e o uso
indiscriminado de drogas nos países em desenvolvimento. (Idem:
ibidem)
A alusão a pesquisas prévias (3c) pode ser feita por “referência ao
conhecimento gerado no passado, marcado por advérbios ou adjetivos temporais
(“anteriormente”, “prévios”), por um estudo ou por referência à crença de cientistas
(em oposição à de não-especialistas) sobre determinada questão” (Idem: ibidem),
conforme exemplo 6 (sublinhado).
Exemplo 6
CH#2 (3c) Os cientistas acompanham a evolução da epidemia desde 1995
na cidade de Santos (litoral de São Paulo) -- município com grande
incidência de Aids e primeiro no país a adotar as drogas para o
tratamento da doença. (Idem: ibidem)
Movimento 4 (Descrição da metodologia)
tem a função de relatar a fonte
dos dados da pesquisa (tamanho, tipo, categoria) e explicar os instrumentos e
procedimentos de pesquisa. O relato metodológico das notícias de PC guarda
semelhanças com o artigo científico (NWOGU, 1991, p. 117). Esse movimento
compreende os Movimentos 6 (Descrição da coleta de dados) e 7 (Descrição dos
procedimentos experimentais) da descrição esquemática de Nwogu (1991).
Segundo Motta-Roth e Lovato (2009, p. 256), “é recorrente o emprego de verbos de
experimento na voz passiva e no pretérito para informar sobre os procedimentos de
experimento”, conforme ilustra o exemplo 7 (sublinhado).
29
Exemplo 7
CH#12 (4b) Os cientistas avaliaram (4a) notas que estavam em circulação no
município do Rio de Janeiro e chegavam ao acaso às suas mãos (...).
(4b) Para calcular a quantidade de microrganismos, a equipe colocou
as notas em uma superfície esterilizada, passou [(4a) cotonete
contendo soro fisiológico esterilizado)] e depositou [(4a) o material
coletado em um tubo de ensaio]. (Idem: ibidem)
BBC#9 (4b) Post-mortem examinations were done on (4a) 12 patients who
took part in UK trials of the drugs - donepezil, rivastigmine, tacrine and
galantamine.
(2a) Professor Clive Ballard, director of research at the Alzheimer's
Society, and colleagues (4b) measured the concentrations of two
proteins associated with the build up of plaques found in the brains
with people with dementia.
(4b) The results were compared with (4a) 12 patients studied before
cholinesterase drugs were available. (Idem: ibidem)
Esse movimento também guarda semelhanças com a Metodologia explicitada
por Gomes (2002, p. 104), em que segmentos do texto vão explicar os materiais ou
métodos utilizados na pesquisa.
Movimento 5 (Explicação dos resultados)
tem a função de apresentar os
resultados de forma mais detalhada. As informações são relativas à exposição dos
resultados propriamente ditos (5a), à explicação destes (5b) e/ou à comparações de
resultados entre a nova pesquisa e pesquisas prévias (5c) (MOTTA-ROTH;
LOVATO, 2009). Segundo Motta-Roth e Lovato (Idem, p. 257), de forma semelhante
ao Movimento 3 (Referência a conhecimento prévio), esse movimento também vai
contextualizar a pesquisa. Porém, agora, como explica os resultados de modo mais
detalhado, concentra-se na alusão ao conhecimento estabelecido (5c1), na
metodologia (5c2) ou nos resultados propriamente ditos (5c3), conforme expoentes
destacados em negrito no exemplo 8.
Exemplo 8
BBC#14 (5a) More than a third of the teenagers questioned admitted
buying their own alcohol - described as an "ongoing challenge" for
trading standards officers. (Idem: ibidem)
CH#3 (5b) Isso pode explicar por que doenças provocadas por bactérias
são agravadas em pessoas que adquirem infecções virais. (Idem:
ibidem)
BBC#7 (5c1) The adipose gene was discovered in fat fruit flies more than
50 years ago, but scientists had not pinned down its exact role.
(Idem: ibidem)
30
BBC#2 (5c2) However, the NCI team used highly sensitive equipment to
measure infection levels below this threshold. (Idem: ibidem)
CH#6 (5c3) O resultado é similar ao de outros estudos realizados em
diferentes contextos históricos, geográficos e sociais. (Idem:
ibidem)
Na seção, que Gomes (2000) chama de Perspectivas, são apresentadas
informações relativas a aspectos positivos da pesquisa. Podemos associar essa
característica aventada pela autora à explicação da significância da pesquisa (Passo
b do Movimento 5
Explicação dos resultados) e à indicação das implicações da
pesquisa (Passo a do Movimento 6
Indicação das conclusões da pesquisa),
descrito na sequência.
Movimento 6 (Indicação das conclusões da pesquisa)
tem a função de
indicar as conclusões da pesquisa (Movimento 6). Essa função se realiza por meio
da menção a implicações da pesquisa (Passo a), sugestões de pesquisas futuras
(Passo b), informações que enfatizam a perspectiva local, informando o leitor sobre
o significado do problema investigado para uma determinada comunidade (Passo c)
ou ainda pode fazer alusão às limitações da pesquisa reportada (Passo d) (MOTTA-
ROTH; LOVATO, 2009, p. 258). O exemplo 9 ilustra algumas das realizações desse
movimento nas notícias de PC (sublinhado).
Exemplo 9
CH#10 (6a) Segundo ele, os resultados sugerem que a redução do potencial
de fertilidade deve atingir diretamente os pré-adolescentes usuários
da droga, que estão em pleno processo de maturação sexual. (6b)
“Pretendemos continuar essa linha de pesquisa e investigar novas
drogas, como o ecstasy”, completa. (Idem: ibidem)
BBC#1 (6d) However, the authors conceded that the actual data about
transfers was taken from a multitude of studies and was inevitably
inconsistent.
(…) (6c) Childbirth in the UK, experts stress, remains very safe. (Idem:
ibidem)
Além dos movimentos retóricos que constroem o gênero notícia de PC. Motta-
Roth e Lovato (2009, p. 246) destacam na Figura 5 dois aspetos recorrentes e
recursivos ao longo desses textos. Esses elementos recorrentes dizem respeito
tanto à inserção de vozes quanto ao emprego de reformulações metadiscursivas
para a explicação de ideias e/ou termos para facilitar a compreensão do conteúdo
pela audiência não-especializada (MOTTA-ROTH; LOVATO, 2009, p. 247). O
31
exemplo 10 (sublinhado) ilustra tanto o emprego das reformulações quanto da
inserção de vozes (sublinhado).
Exemplo 10
CH#1 Um dos medicamentos mais disseminados pelo planeta, o ácido
acetilsalicílico, conhecido popularmente como aspirina, pode ajudar no
tratamento da doença de Chagas. (Idem: ibidem)
CH#12 (Voz do pesquisador) "Não queríamos escolher pontos específicos da
cidade para fazer a coleta porque (...)", diz o microbiologista João
Carlos Tórtora, coordenador da pesquisa. (Idem: ibidem)
As reformulações metadiscursivas estão relacionadas com a natureza
pedagógica das notícias de PC, resultante de sua capacidade de se auto-explicar
(LEIBRUDER, 2000). Motta Roth e Lovato (2009, p.248-9) salientam que em notícias
de PC é constante a preocupação dos jornalistas em inserir explicações sobre
princípios e conceitos científicos que estão pressupostamente fora do âmbito de
conhecimento da audiência-alvo de notícias de PC (PRATES, SHERER, MOTTA-
ROTH, NASCIMENTO, 2008; MOTTA-ROTH, LOVATO, 2009). as citações
parecem estar relacionadas ao caráter argumentativo desses textos, interferindo na
forma como o leitor vai interpretar as teses apresentadas. A inserção de “vozes”
parece ser uma característica constante em textos de popularização da ciência,
conforme será visto na próxima seção.
1.4 O emprego de citações em notícias de popularização da ciência
Análises prévias sobre textos de PC indicam alta incidência de citações
(NWOGU, 1991; GOMES, 2000; MARCUZZO, MOTTA-ROTH, 2008; MOTTA-
ROTH, MARCUZZO, 2008; MOTTA-ROTH; LOVATO; 2009) e sua recorrência ao
longo do texto (Cf. MOTTA-ROTH, GERHARTD, LOVATO, 2008; MOTTA-ROTH;
LOVATO, 2009).
A “Alternância de vozes”, como é chamada a inserção de vozes para
comentar e expressar opiniões positivas ou negativas sobre o estudo popularizado,
segundo Motta-Roth e Lovato (2009, p. 246), inclui, além da voz do próprio jornalista,
que subjaz a toda notícia de PC, a voz de um/a cientista/pesquisador (ou
32
metonimicamente o estudo) e/ou de um colega e/ou do cnico/instituição e/ou do
governo e/ou do público.
De forma diferente, Nwogu (1991) chamou o emprego de citações em textos
de PC de “indicação de comentários e pontos de vista”, localizando essas citações
no interior dos trechos do texto com função de apresentar o assunto da pesquisa e
de explicar de forma detalhada os resultados da pesquisa (Movimentos 1 e 8,
respectivamente) (Cf. NWOGU, 1991, p. 115-116). Gomes (2000, p. 123) chama a
atenção para o alto índice de citações em textos de PC, mas não define sua
localização exata nos textos. Essa autora (Idem, p. 180) salienta que o emprego do
discurso relatado é frequente em matérias jornalísticas de modo geral e se acentua
em MDC, uma vez que, fazendo referência a van Dijk (1992), salienta que “as
citações são mais confiáveis que as descrições do fato por parte dos repórteres e,
também, convertem o texto jornalístico em algo mais vivo”.
As citações parecem interferir na maneira como a audiência do texto vai
recebê-lo e compreendê-lo, estando, portanto, atreladas muito mais ao nível
interpessoal (relação entre participantes da interação) do que ao ideacional
(conteúdo). Podem ser consideradas, portanto, operadores metadiscursivos,
conforme a teoria metadiscursiva, visto que são empregadas no texto para negociar
significado de maneira mais precisa com a audiência.
1.5 Operadores metadiscursivos
Com base em uma visão da escrita como prática social, o termo
“Metadiscurso” está relacionado com o modo como organizamos nosso discurso
para interagir com nosso ouvinte.
Basicamente, compreende o conjunto de recursos
linguísticos que o autor utiliza para organizar seu texto, indicando sua atitude em
relação ao público-alvo. Conforme definição de Hyland (2005, p. 37), metadiscurso
é o termo empregado para referir expressões auto-explicativas, que têm a função de
negociar significados interacionais no texto. Metadiscurso consiste, desse modo,
essencialmente de vários elementos de natureza textual que guiam ou direcionam
os leitores para o modo como eles devem compreender, avaliar e responder a um
determinado conteúdo informacional. Esses elementos podem ser entendidos como
33
estratégias em que o enunciador se apóia para projetar suas intenções
comunicativas no texto.
Segundo Hyland (2005, p. 49), o metadiscurso envolve duas dimensões:
interativa e interacional. Na dimensão interativa, o escritor molda seu texto de forma
a atender às expectativas da audiência, garantindo, assim, a interação “autor-texto-
leitor”. Sucintamente, a dimensão interativa diz respeito à organização lógica das
informações nos textos, tais como construções tautológicas (A=B) e expressões que
orientam o leitor no texto, por exemplo. Na dimensão interacional, o autor introduz
comentários e avaliações, explicitando seu ponto de vista para o leitor. De forma
resumida, essa dimensão engloba o posicionamento avaliativo do autor do texto,
atenuando a força de suas proposições.
A discussão, neste trabalho, fica restrita à dimensão interativa, pois essa
dimensão está relacionada à forma como o escritor constrói seu texto e porque
tanto o emprego de citações quanto de glosa, categorias identificadas em estudos
anteriores (NWOGU, 1991; GOMES 2000, LEIBRUDER, 2000, PRATES,
SCHERER, MOTTA-ROTH, NASCIMENTO, 2008; MOTTA-ROTH, MARCUZZO,
2008; MOTTA-ROTH, LOVATO, 2009), fazem parte dessa dimensão.
Segundo Hyland (2005, p. 50), a dimensão interativa pode ser dividida em
cinco categorias (Figura 6).
Figura 6
Recursos interativos, adaptado de Hyland (2005, p. 51-52).
16
O termo original em inglês é “Evidentials”. Neste trabalho, traduzimos como “Argumento de
Autoridade”, conforme nomenclatura adotada por Zamboni (1997), uma vez que ambos os termos
fazem referencia à mesma função das citações em textos: estabelecer comando de autoridade sobre
o tópico discutido (ZAMBONI, 1997, p. 142; HYLAND, 2005, p. 51-2).
Operadores
metadiscursivos
Função
Exemplo
Marcadores de
transição
Ajudam o leitor a entender as relações
pragmáticas estabelecidas entre um argumento
e outro.
Conjunções e orações
adverbiais.
Marcadores de
estrutura
Sinalizam as fronteiras ou elementos da
construção esquematizada do texto
Para concluir, Resumindo, etc.
Marcadores
endofóricos
Referem outras partes previamente
mencionadas no texto
Ver figura. Na seção acima,
etc.
Argumento de
autoridade
16
Representa metalinguísticamente a idéia de
outra pessoa, que guia a interpretação do leitor
e estabelece um comando de autoridade sobre
o assunto
Segundo X, de acordo com X,
etc.
Glosa Adiciona informações por meio de paráfrase,
explicação e elaboração do que foi dito para
garantir que o leitor consiga recuperar o sentido
pretendido pelo leitor.
Em outras palavras, ou seja,
isto é, sinais gráficos (ex.:
parênteses).
34
Nwogu (1991); Leibruder (2000); Gomes (2000); Prates, Sherer, Motta-Roth,
Nascimento (2008) e Motta-Roth e Lovato (2009) apontam que textos de PC têm
como característica explicar termos e/ou ideias para facilitar a leitura do conteúdo
da notícia. Dentro da literatura sobre metadiscurso, um operador metadiscursivo
que atende a essa função é a glosa, uma estratégia frequentemente adotada pelos
escritores na elaboração de seu texto (PAGANO, 1998; COLUSSI, 2002). São
operações metalinguísticas de caráter tautológico (A=B) introduzidas ou sinalizadas
nos textos por expressões tais como “isso é chamado de”, “em outras palavras”, que
auxiliam os leitores no entendimento do tópico desenvolvido no texto. No entanto,
muitas vezes, são explicitamente sinalizadas por expoentes linguísticos
(FAIRCLOUGH, 2003, p.89), principalmente quando o sentido de uma oração é
equivalente ao da oração seguinte. Essa reelaboração é marcada por outros
mecanismos de coesão (travessão e parênteses, por exemplo).
Hyland (2007, p. 269-270) aponta duas subfunções para a Glosa: a
Reformulação e a Exemplificação. A Reformulação tem como função ampliar,
reafirmar ou elaborar a primeira sentença, conforme demonstra o exemplo 11
(negrito).
Exemplo 11
Between what Braj Kachru (1988) appropriately calls the Outer Circle, or the
countries where English was brought by colonization, and the Expanding
Circle…(Idem, p. 269)
A Reformulação pode ser entendida como parte de um plano de composição
textual, indicando que o escritor procura atingir determinados sentidos ou efeitos
retóricos (Idem: ibidem). Já a Exemplificação é, segundo Hyland (Idem, p. 270), “um
processo comunicativo onde o significado é esclarecido ou apoiado por uma
segunda unidade que vai ilustrar a primeira”. Veja exemplo 12 (negrito).
Exemplo 12
Here again, operators like A &P, Dominick´s Jwel, Safeway, Tom Thumb and
Vons have continue with their Hi-Lo strategy and rare successful.
(Idem:
ibidem)
A Exemplificação revela as predições do escritor em relação à familiaridade
do leitor com o tópico do discurso. É empregada no texto com o intuito de tornar o
argumento mais real e preciso para a audiência (Idem, p. 270).
Para Hyland (2007, p. 274), a Reformulação pode ser feita de diferentes
formas: expansão do original, por meio de explicações ou implicações, ou redução
35
do original, por meio de paráfrase ou especificação (Figura 7 tradução nossa).
A Reformulação por expansão-explicação vai oferecer esclarecimentos pontuais
que elaboram o significado de uma unidade precedente de modo a tornar um
conceito, por exemplo, mais acessível ao leitor (HYLAND, 2007, p. 274). Conforme
mostra o exemplo 13 (negrito).
Exemplo 13
Due to the lack of success in using several conventiol methods, anunbiased
recognition algorithm is proposed based on a novel, statistical feature point
Recognition principle, called the maximum principle of slope difference.
(Idem: ibidem)
A expansão também pode ocorrer por implicação e, nesse caso, tem como
função básica concluir ou resumir a parte mais importante do segmento anterior.
Nesse processo, o escritor busca guiar a compreensão do leitor por meio de um
resumo ou retomada do que ele gostaria que o leitor guardasse do enunciado
anterior (Idem: ibidem). O exemplo 14 (negrito) demonstra a realização desse tipo de
reformulação.
Exemplo 14
She was in direct control of something of which Dan’s death was a
consequence, and only in this way did she have control over Dan’s death.
This means that Dan’s deathwas not in Shirley’s control except insofar
as this something was in her control. (Idem, p.275)
Na redução, a Reformulação serve para restringir o significado do que foi dito,
“limitando o escopo de interpretação (HYLAND, 2007, p. 275)”, por paráfrase ou
especificação. O exemplo 15 (negrito) ilustra a ocorrência de paráfrase.
Exemplo 15
12 of the 18 (67 per cent) crimes were rape and murder, or acombination
relating to a sexual encounter.
(Idem, p. 276)
Na especificação, a reformulação não funciona para reafirmar uma ideia, mas
para detalhar características que foram salientadas no segmento anterior “a fim de
limitar a forma como o leitor vai interpretá-las (Idem: ibidem)”, conforme demonstra o
exemplo 16 (negrito).
Exemplo 16
they refer to psychoanalysis, to existential phenomenology and toMarxism
(in particular to the earlier works of Marx). (Idem: ibidem)
36
Figura 7
Reformulações, Hyland (2007, p. 274).
Hyland (2005, p. 97) aponta que as notícias de PC empregam frequentemente
citações. O autor (Idem, p. 96) ressalta que a inserção de vozes nos textos de PC
tem propósito diferente daquele observado nos AAs. Nos textos de PC, são
empregadas para alcançar credibilidade ao explicitar a fonte da informação. Nos
AAs, as referências são empregadas para relacionar o trabalho novo com a literatura
gerada pela área de conhecimento com a qual se relaciona.
Segundo Hyland (Idem: ibidem), no processo de popularização da ciência,
uma tendência a se referir ao(s) pesquisador(es) de forma mais geral, identificando
aquele que foi realmente importante para o desenvolvimento da pesquisa. Para o
autor (Idem: ibidem), essa credibilidade é alcançada por meio da menção da posição
do pesquisador em uma instituição, conforme exemplo 17 (negrito).
Exemplo 17
We can finally see a link between areas of starburst activity and these long
-linear filaments, said Farhad Yusef-Zadeh, a North-western University
astronomer Who presented the results last week at meeting of the
American Astronomical society in Denver. Scientists had theorized that
filaments were related to the magnetic field, because the first filaments
spotted were alight with it. “The problem with this hypothesis is that more
recent images have revealed a population of weaker filament oriented
randomly, ‘ Yusef-Zadeh said. (Scientific american, 2004). (Idem, p. 97)
Os operadores metadiscursivos parecem ser, portanto, essenciais para a
interpretação e entendimento de um texto, pois se articulam de tal forma a projetar
as necessidades da provável audiência, levando em consideração, durante a
escritura do texto, experiências, expectativas e conhecimento prévio do público-alvo.
Assim, os escritores oferecem explicações pontuais, tal como no exemplo 13
(...statistical feature point recognition principle, called the maximum principle of
slope difference) e especificam o sentido de termos no contexto em que o assunto
Reformulação
Expansão
Redução
Explicação
Implicação
Paráfrase
Especificação
37
do texto se desenvolve, como no exemplo 16 (... to Marxism (in particular to the
earlier works of Marx)).
Neste Capítulo, buscamos trazer conceitos teóricos que foram essenciais
para a realização do estudo. Partimos primeiramente da noção de gêneros textuais
como ações socialmente convencionalizadas. Na sequência, discorremos sobre a
concepção de gêneros textuais pela perspectiva sócio-retórica, com base nos
postulamentos teóricos formulados por importantes autores filiados a essa corrente,
focando principalmente a Análise de Gênero formulada por Swales (1990). Depois
revisamos trabalhos que analisaram textos de PC. Por fim, tratando-se de uma
abordagem sócio-retórica de gêneros, trouxemos para a discussão os operadores
metadiscursivos, estratégias metadiscursivas empregadas por escritores para
projetarem seus textos e interagirem com sua audiência. No Capítulo 2, na
sequência, serão detalhados os procedimentos metodológicos adotados para a
realização desta pesquisa.
38
CAPÍTULO 2 –
METODOLOGIA
Neste capítulo, sistematizamos o percurso metodológico realizado para o
desenvolvimento do presente estudo. Essa etapa da pesquisa compreendeu quatro
procedimentos analíticos: procedimentos de escolha da fonte do corpus,
procedimentos e critérios de coleta e organização do corpus, procedimentos de
análise textual e procedimentos de análise contextual.
2.1 Procedimentos de escolha da fonte do corpus
Os critérios adotados para a escolha da fonte do corpus são os mesmos
apresentados no projeto CNPQ 301962/2007-3, intitulado Análise crítica de
gênero com foco em artigos de popularizão da ciência (MOTTA-ROTH, 2007, p.
18): acessibilidade e gratuidade. Com base nesses dois critérios, decidimos analisar
somente revistas veiculadas na mídia eletrônica. Para a escolha da revista, também
foram estabelecidos dois critérios: 1) a revista deveria ser voltada à popularização
do conhecimento científico para a sociedade mais ampla e 2) o site da revista
deveria apresentar uma seção destinada à publicação de notícias (MOTTA-ROTH,
2007, p. 18; MOTTA-ROTH; LOVATO, 2009, p.242). Optamos pelas revistas Ciência
Hoje Online e Comciência por estarem de acordo com os critérios estabelecidos.
Durante aproximadamente 15 dias, os sites dessas revistas foram monitorados para
sabermos o número aproximado de notícias publicadas semanalmente e/ou
mensalmente, a disponibilidades de notícias publicadas em anos anteriores e de
livre acesso. A escolha da versão eletrônica da revista Ciência Hoje (disponível em
http://cienciahoje.uol.com.br/) se deu 1) porque a revista atualiza seu site
semanalmente e 2) porque mantém as notícias disponíveis online por um período de
aproximadamente 10 anos, o que facilitou consideravelmente a coleta e seleção do
corpus. A eliminação da revista Comciência foi devido ao fato de ela não
disponibilizar no site notícias publicadas em anos anteriores e também porque a
maioria das matérias jornalísticas na seção de Notícias não estavam de acordo com
39
o que entendemos como notícia de popularizão da ciência, conforme definição na
Introdução.
2.1.1 A fonte do corpus de análise: Ciência Hoje Online
17
As 30 notícias que compõem o corpus foram extraídas da versão eletrônica
da revista Ciência Hoje (http://cienciahoje.uol.com.br). Essa revista integra
juntamente com as revistas Superinteressante, Galileu e Comciência, o rol de
veículos midiáticos genuinamente brasileiros que têm como objetivo aproximar a
ciência do cotidiano das pessoas. Dentre essas quatro, a Ciência Hoje se destaca,
pois é uma publicação do Instituto Ciência Hoje (doravante ICH). Uma organização
social de interesse público sem fins lucrativos, vinculada à Sociedade Brasileira para
o Progresso da Ciência (SBPC), que por meio de uma série de publicações busca
ser uma ponte direta entre o pesquisador e a sociedade em geral, incentivando e
ampliando o interesse pela ciência no país.
Além da citada Ciência Hoje, o ICH também é responsável pela revista
Ciência Hoje das Crianças (desde 1986) e por uma série de livros intitulada Ciência
Hoje na Escola (desde 1996), que serve como material complementar aos livros
didáticos. Esse material é composto por uma série de artigos elaborados por
pesquisadores brasileiros. O ICH também elaborou um programa chamado
Programa Ciência Hoje de Apoio à Educação (PCHAE), que tem como objetivo
principal modificar a postura de professores e alunos em relação ao ensino de
ciências e promover a inserção da ciência como elemento vivo no cotidiano dos
alunos, utilizando a revista Ciência Hoje das Crianças como principal instrumento de
apoio.
O site da revista na Internet (desde 1997), uma iniciativa pioneira de
divulgação científica na Internet brasileira, disponibiliza parte do conteúdo das
publicações do ICH, que inclui também matérias destinadas às crianças em um link
especial (http: //cienciahoje.uol.com.br/materia/view/418), publicando notícias de
17
Todas as informações sobre a revista Ciência Hoje foram retiradas dos sites:
http://cienciahoje.uol.com.br/view/386 e http://pt.shvoong.com/social-sciences/1732807-
ci%C3%AAncia-hoje/.
40
popularização da ciência, além de reportagens e entrevistas, os quais oferecem ao
leitor uma visão panorâmica das atividades científicas que estão sendo realizadas
não só no Brasil, mas também no mundo.
2.2 Procedimentos e critérios de coleta e organização do corpus
O corpus de pesquisa foi composto por 30 notícias, extraídas do site da
revista Ciência Hoje Online, divididas em dois subcorpus (Quadros 1 e 2).
Quadro 1 – notícias de PC sobre saúde
#1. COSENDE, L. Aspirina para combater mal de Chagas. Ciência Hoje On-line, Rio de Janeiro, jun. 2000
Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/3130>.Acesso em 1º de jul. 2008.
#2. COELHO, S. Dinheiro na mão, risco de infecção. Ciência Hoje On-line, Rio de Janeiro, out. 2001. Disponível
em: <http:// http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/3085>. Acesso em 1º de jul. 2008.
#3. RODRIGUES, J.G. Homens estressados, doenças à vista? Ciência Hoje On-line , Rio de Janeiro, out.
2001. Disponível em: <http:// http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/3085>. Acesso em de jul.
2008.
#4. COELHO, S. HIV mutante e mais resistente. Ciência Hoje On-line, Rio de Janeiro, nov. de 2001. Disponível
em: <http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/3084>. Acesso em 1º de jul. 2008.
#5. MARQUES, F. Antibióticos modernos podem já estar 'obsoletos'. Ciência Hoje On-Line, Rio de Janeiro, nov.
2001. Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/3130>. Acesso em 1º de jul. 2008.
#6. MARQUES, F. Anomalia genética explica abortos espontâneos. Ciência Hoje On-Line, Rio de Janeiro, maio
2002. Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/3068>. Acesso em 1º de jul. 2008.
#7. MELLO, A. Bebida alcoólica pode reduzir risco de infarto. Ciência Hoje On-line, Rio de Janeiro, jan. 2003.
Disponível em: <http:// http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/3040>. Acesso em 1º de jul. 2008.
#8. MOEHLECKE, R. Parasita transfere seu DNA para hospedeiro. Ciência Hoje On-Line, Rio de Janeiro, jul.
2004. Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/2979>. Acesso em 1º de jul. 2008.
#9. CHAGAS, C. Estudo relaciona tabagismo com personalidade de universitários. Ciência Hoje On-Line, Rio
de janeiro, jul. 2004. Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/2980>. Acesso em
1º de jul. 2008.
#10. VERJOVSKY, M. Armadinha imunológica. Ciência Hoje On-Line, Rio de janeiro, out. 2006. Disponível em:
<http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/61198>. Acesso em 1º de jul. 2008.
#11. WALTZ, I. Estudo mapeia mutações do vírus da dengue. Ciência Hoje On-Line, Rio de janeiro, fev. 2007.
Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/112979>. Acesso em 1º de jul. 2008.
#12. ALVES, F. Gel para prevenção da Aids. Ciência Hoje On-line, Rio de Janeiro, set. 2007. Disponível em:
<http://cienciahoje.uol.com.br/101092>. Acesso em 1º de jul. 2008.
#13. BEZERRA, F. Crack diminui fertilidade. Ciência Hoje On-line, Rio de Janeiro, jan. 2008.
Disponível em: <http:// cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/109886>. Acesso em 1º de jul. 2008.
#14. WALTZ, I. Insulina no combate a ferimentos. Ciência Hoje On-Line, Rio de janeiro, fev. 2008. Disponível
em: <http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/112048 >. Acesso em 1º de jul. 2008.
#15. GALANI, L. Alerta do olfato. Ciência Hoje On-line, Rio de Janeiro, set. 2008. Disponível em: <
http://cienciahoje.uol.com.br/127454 >. Acesso em 1º de jul. 2008
41
Quadro 2 – notícias de PC sobre meio ambiente
#16. FIGUEIRA, M. Amazônia absorve excesso de CO2 da atmosfera. Ciência Hoje On-Line, Rio de janeiro,
jul. 2000. Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/2471>. Acesso em 2 de jul.
2008.
#17. FERNANDES, T. Manguezais atuam como filtros biológicos. Ciência Hoje On-line, Rio de Janeiro, dez.
2000. Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/2459.>. Acesso em 15 de jul.
2009.
#18. KUCK, D. Baía de Guanabara resiste à poluição de metilmercúrio. Ciência Hoje On-Line, Rio de janeiro,
fev. 2003. Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/2416>. Acesso em 4 de
mar.2009.
#19. LOBATO, J. Coleta intensiva ameaça castanheiras. Ciência Hoje On-Line, Rio de janeiro, dez. 2003.
Disponível em:<http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/2355>. Acesso em 15 de jul. 2009.
#20. FANZERES, A. Dividir não é a solução . Ciência Hoje On-line, Rio de Janeiro, dez. 2003. Disponível em:
< http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/2354. >. Acesso em 15 de jul. 2009
#21. LEVY, I. Abelhas sem ferrão podem proteger Mata Atlântica. Ciência Hoje On-Line, Rio de janeiro, ago.
2004. Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/2343>. Acesso em 2 de jul. 2008.
#22. TINOCO, J. Dispersor de sementes. Ciência Hoje On-Line, Rio de janeiro, nov. 2006. Disponível em:
<http://cienciahoje.uol.com.br/61738>. Acesso em 2 de jun. 2008.
#23. BRUM, L. Aumento do CO2 na atmosfera ameaça ecossistemas marinhos. Ciência Hoje On-Line, Rio de
janeiro, mar. 2007. Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/3899>. Acesso em 2
de jul. 2008.
#24. DANTAS, D. Amigos, mas não para sempre. Ciência Hoje On-Line, Rio de janeiro, jan. 2008. Disponível
em: < http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/109430>. Acesso em 15 de jul. 2009.
#25. SPATA, A. Aquecimento global ameaça Mata Atlântica. Ciência Hoje On-Line, Rio de janeiro, fev. 2008.
Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/3899>. Acesso em 4 de mar.2009.
#26. WALTZ, I. Desperdício desnecessário. Ciência Hoje On-Line, Rio de janeiro, fev. 2008. Disponível em: <
http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/111791. >. Acesso em 15 de jul. 2009.
#27. WALTZ, I. Peixes ajudam na dispersão de sementes. Ciência Hoje On-Line, Rio de janeiro, abr. 2008.
Disponível em:<http://cienciahoje.uol.com.br/117574>. Acesso em 2 de jul. 2008.
#28. WALTZ, I. Aliados pela sobrevivência. Ciência Hoje On-Line, Rio de janeiro, jun. 2008. Disponível em:
<http://cienciahoje.uol.com.br/121382>. Acesso em 2 de jul. 2008.
#29.LEAL, T. Marcha para a extinção. Ciência Hoje On-line, Rio de Janeiro, jan. 2009.
Disponível em: < http://cienciahoje.uol.com.br/136574>. Acesso em 1º de jul. 2008.
#30. WALTZ, I. Obstáculo inesperado. Ciência Hoje On-Line, Rio de janeiro, mar. 2009. Disponível em: <
http://cienciahoje.uol.com.br/139533 >. Acesso em 15 de jul. 2009.
Para a coleta das notícias, os seguintes critérios foram adotados, com base
em Motta-Roth (2007):
a) público-alvo: sociedade ampla, desde especialistas até não-especialistas;
b) período de tempo: publicadas entre 2001 e 2008; e
c) conteúdo: notícias que reportam pesquisas científicas relacionadas à saúde
e ao meio ambiente, conforme Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL,
1999).
42
2.3 Procedimentos de análise textual
Os procedimentos de análise textual são de base interpretativa de modo a
analisar e detalhar os elementos linguísticos concernentes a cada movimento
retórico do gênero em questão (BHATIA, 1993, p. 22). Primeiramente todos os
textos foram lidos para demarcar os movimentos e passos retóricos nos textos. As
funções retóricas de cada movimento foram interpretadas e sinalizadas, levando-se
em consideração as descrições feitas por Nwogu (1990; 1991), por Gomes (2000) e
principalmente os resultados de estudos prévios mais recentes (PRATES,
SCHERER, MOTTA-ROTH, NASCIMENTO, 2008; SCHERER, MOTTA-ROTH,
2008; MOTTA-ROTH, GERHARDT, LOVATO, 2008, MARCUZZO, MOTTA-ROTH,
2008, MOREIRA, MOTTA-ROTH, 2008, MOTTA-ROTH, LOVATO, 2009) realizados
no GT Labler, no projeto de Produtividade em Pesquisa/CNPq Análise crítica de
gêneros com foco em artigos de popularizão da ciência (MOTTA-ROTH, 2007).
Esses estudos reformularam o modelo de Nwogu (1991), dando origem a uma
nova representação esquemática do gênero para dar conta de textos publicados
mais recentemente na Internet. Destacamos o estudo realizado por Motta-Roth e
Lovato (2009), quando foi apresentada uma representação esquemática do gênero
notícia de PC com base em um corpus bilíngue, composto por 15 notícias em
português e 15 notícias em inglês (mostrada na Figura 5 no Capítulo 1).
Essa representação esquemática serviu de ponto de partida para a realização
desta pesquisa. Por fim, com base nesse novo modelo, o corpus em português do
estudo anterior foi ampliado, sendo acrescentadas mais 15 notícias sobre meio
ambiente (também extraídas da CH) as 15 notícias coletadas a fim de oferecer
uma representação da organização retórica de notícias de PC exclusiva dessa
revista. Em um segundo momento, foi realizada uma análise quantitativa a fim de
especificarmos os movimentos canônicos das notícias do corpus. Na última etapa,
realizamos uma análise microestrutural em termos de verificação de recursos
interativos, tais como glosa e argumento de autoridade, empregados pelo jornalista
para construir, organizar seu texto e guiar a leitura da audiência.
43
2.4 Procedimentos de análise contextual
Para oferecer uma análise relevante das notícias publicadas pela Ciência
Hoje Online, foi realizado um estudo voltado ao contexto de veiculação (site) e
produção das notícias (departamento de redação) para entendermos e explicarmos
a organização retórica encontrada na análise textual, conforme previsto pela Análise
de Gênero (SWALES, 1990, BATHIA, 1993, 2004). Com essa ação, contribuímos
para o projeto guarda-chuva, na medida em que buscamos entender o papel
regulador da prática social sobre o arranjo retórico do gênero em questão. A análise
do site da revista foi realizada por meio da coleta de material documental referente a
objetivos da revista, normas para publicação, entre outros documentos, com vistas a
responder algumas das questões expostas no Instrumento de coleta de dados
(Figura 8) e facilitar a coleta de dados com os sujeitos por meio de uma sondagem.
O questionário é composto por 13 perguntas, inicialmente elaboradas por Motta-
Roth (2007, p. 21-22). Para o propósito da presente pesquisa, esse questionário foi
revisado, levando-se em conta que algumas questões poderiam ser respondidas por
meio da análise do site da revista (disponível em http://cienciahoje.uol.com.br/). O
instrumento de coletas de dados foi, então, dividido em Questionário 1, composto
por perguntas destinadas à coleta documental e Questionário 2, composto pelas
questões destinadas à entrevista com os sujeitos. Esses questionários podem ser
visualizados no Anexo B.
O procedimento adotado para a análise das respostas também é de cunho
interpretativo. Nossa análise, nesta fase da pesquisa, enfatizou fundamentalmente a
forma como questões relativas às crenças e aos valores pertencentes às práticas
jornalística e científica se configuram e influem na organização retórica das notícias
de PC da Ciência Hoje Online. Partimos do pressuposto de que as respostas dos
questionários nos forneceriam “uma idéia mais sistematizada e acurada da prática
discursiva associada à prática social (MOTTA-ROTH, 2006, p. 159)”. O Questionário
2 foi enviado ao departamento de redação da revista no dia de junho de 2009 e
recebido no dia 27 do mesmo mês. O questionário preenchido pelo editor da Ciência
Hoje Online, Bernardo Esteves
18
, que se comprometeu em responder o questionário
18
Bernardo Esteves autorizou que seu nome fosse revelado, conforme Anexo C.
44
em nome de seus colegas, pode ser visualizado no Anexo C, juntamente com o
Questionário 1 (análise documental) respondido.
No próximo capítulo, os dados obtidos e triangulados nesses procedimentos
serão discutidos.
INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS EM PORTUGUÊS
Questionário em português para os editores de
Ciência Hoje
O Laboratório de Pesquisa e Ensino de Leitura e Redação (LabLeR) da Universidade Federal de Santa Maria atualmente
desenvolve pesquisa sobre notícias de popularização da ciência. Gostaríamos de contar com sua colaboração para levantar
dados acerca do processo de publicação dessas notícias pela mídia em o/a Sr./a desempenha a função de editor/a.
1. Qual o objetivo de sua revista ao publicar notícias de popularização da ciência?
2. Qual é o público-alvo/audiência-alvo da sua publicação?
3. Que temas são mais freqüentemente exploradas nas notícias de popularização da ciência publicadas por sua revista?
4. Como são selecionados esses temas?
5. Como são selecionadas as pesquisas (artigos publicados em periódicos científicos especializados) a serem popularizadas?
6. É preciso obter consentimento dos autores e/ou periódico para que uma pesquisa (artigo publicado em periódico científico
especializado) seja popularizada?
7. Em relação à política editorial:
a. Os autores que redigem as notícias de popularização da ciência na sua publicação devem seguir algum manual ou
listagem com critérios de formatação e organização/estruturação para a redação dessas notícias?
b. Quais são esses critérios?
c. Podemos ter acesso a eles? Como?
8. Sua publicação recebe comentários dos leitores em resposta às notícias de popularização da ciência? Qual o impacto
dessas notícias no público?
9. Ao navegar pelo seu sítio eletrônico, observamos que as temáticas mais recorrentes são aquelas relativas às ciências
biológicas, enquanto que temas de estudos da linguagem e comunicação são abordadas com menos freqüência. alguma
razão especial para essa diferença?
10. Como o/a senhor/a avalia o interesse de seu público-alvo por notícias de popularização da ciência sobre estudos da
linguagem e comunicação?
11. Qual é o perfil dos autores que escrevem as notícias de popularização da ciência na sua publicação?
( ) próprios pesquisadores/cientistas que desenvolveram a pesquisa popularizada.
( ) pesquisadores/cientistas atuantes na mesma área da pesquisa popularizada.
( ) jornalistas especializados em cada área específica (ex., bioquímica, medicina, biologia).
( ) jornalistas especializados em popularização da ciência no geral.
( ) jornalistas não-especializados em popularização da ciência e que também escrevem matérias de outra natureza.
( ) leitores da publicação.
( ) Outros autores. Especifique: __________________________________________
12. Quando os autores não são os próprios pesquisadores/cientistas que desenvolveram a pesquisa popularizada, as notícias
tendem a oferecer vários pontos de vista sobre a mesma descoberta científica, entre eles o do próprio autor da pesquisa.
Nesse caso, como é feito o contato com esses pesquisadores/cientistas que originalmente desenvolveram a pesquisa? Como é
obtida a participação deles no processo de popularização da ciência? Qual o grau de dificuldade para obter essa participação?
13. Notícias de popularização da ciência frequentemente trazem várias perspectivas de diferentes pessoas sobre uma dada
pesquisa. Como é feito o contato com elas? Como são selecionadas as opiniões que serão citadas na notícia de popularização
da ciência?
Figura 8 – Instrumento de coleta de dados (MOTTA-ROTH, 2007, p. 20).
45
CAPÍTULO 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O presente capítulo apresenta os resultados da análise do gênero notícia de
popularização da ciência na revista Ciência Hoje Online (Doravante CH). A
discussão está dividida em duas partes. A primeira, concentra-se na exposição da
organização retórica de notícias de PC publicadas por essa revista, focando: 1) o
modo como os movimentos estão organizados retoricamente nesses textos para que
o objetivo do gênero textual se realize, 2) os expoentes linguísticos que os sinalizam
e 3) os operadores metadiscursivos que transformam o conhecimento científico em
conhecimento acessível ao público não-especializado nas notícias analisadas. A
segunda parte é dedicada à (re)interpretação dessa organização retórica a partir dos
dados levantados na análise do contexto de veiculação e produção das notícias.
3.1 Organização retórica de notícias de popularização da ciência na revista
Ciência Hoje Online
A revisão da análise das 15 notícias de PC em português sobre o tema saúde,
corpus comum à publicação anterior, e a análise de mais 15 notícias sobre meio
ambiente confirma que o conteúdo informacional desses textos é distribuído em seis
movimentos retóricos, com dois elementos recursivos ao longo do texto, tal como
observado por Motta-Roth e Lovato (2009). A presente análise também ratifica duas
particularidades das notícias da CH observadas anteriormente: 1) a pouca referência
a estudos anteriores e 2) o emprego exclusivo da voz do pesquisador por meio do
discurso direto e indireto para comentar e avaliar a pesquisa (Elemento A)
19
.
De forma diferente da representação anterior, destacamos que as notícias
analisadas trazem no início do corpo do texto uma reescritura das informações
expostas sinteticamente no lide de maneira mais completa. No modelo
representativo de Motta-Roth e Lovato (Idem, p. 246), esse trecho aparece após a
identificação dos pesquisadores. Dos 30 textos analisados nesta pesquisa, 25
19
A representação proposta por Motta-Roth e Lovato (2009, p. 246) prevê não só a “voz” do
pesquisador, mas de colegas, técnicos, instituição, governo e público (com base nas notícias de PC
em inglês)
46
iniciam pela complementação
reescritura
das informações do lide (Movimento 1).
Ressaltamos também que as notícias analisadas não apontam à perspectiva local
na indicação das conclusões da pesquisa (Movimento 6 / Passo c), visto que o
situam a pesquisa dentro de uma comunidade especifica e/ou direcionam seus
resultados para um determinado grupo ou segmento da sociedade, tal como o
modelo descritivo de Motta-Roth e Lovato (2009, p. 246) prevê.
No modelo proposto aqui, também foram especificadas as maneiras pelas
quais o pesquisador explica princípios e noções para tornar o sentido de termos
técnicos e conceitos científicos claro para a audiência não-especializada (Elemento
B). Para fins de análise, foi adotada exclusivamente a teoria metadiscursiva.
A partir desses resultados, uma representação da organização retórica
exclusiva das notícias de PC da CH é apresentada na Figura 9.
Movimentos e passos Elementos recursivos
Mov. 1 – LIDE / Síntese da pesquisa (previsão)
Mov. 2– Apresentação da pesquisa por:
(a) detalhamento dos resultados (e)
(b) identificação dos pesquisadores (ou)
(c) referência ao objetivo da pesquisa (ou)
(d) alusão ao artigo científico publicado (ou à
tese/dissertação)
Mov. 3 – Referência a conhecimento prévio
(contextualização) por:
(a) referência ao conhecimento estabelecido na
área
(b) ênfase na perspectiva social
(c) alusão a pesquisas prévias
(d) indicação das limitações no conhecimento
Mov. 4 – Descrição da metodologia por:
(a) identificação do procedimento experimental
(b) referência aos dados (fonte, amplitude, data,
local, categoria)
Mov. 5 – Explicação dos resultados da pesquisa por:
(a) exposição dos resultados
(b) explicação do significado dos resultados
(c) comparação das pesquisas atuais e
anteriores quanto a/à:
(1) conhecimento estabelecido
(2) metodologia utilizada
(3) resultados obtidos
Mov. 6 – Indicação de conclusões da pesquisa por:
(a) menção a implicações da pesquisa
(b) sugestão de futuras pesquisas
(c) indicação das limitações da pesquisa
Popularizada
A – Monólogo do pesquisador
(metonimicamente o estudo)
B – Explicação de princípios e conceitos
(1) REFORMULAÇÃO;
(1ee) Expansão por explicação
(1ei) Expansão por implicação
(1re) Redução por especificação
(2) EXEMPLIFICAÇÃO
Figura 9
Representação esquemática de notícias de PC da CH, adaptado de Motta-Roth e
Lovato (2009, p. 246).
47
A técnica da Pirâmide invertida é empregada nas notícias analisadas. Já no lide
(Movimento 1) aparecem informações relativas à síntese do resultado principal da
pesquisa, seguidas pela apresentação da pesquisa (Movimento 2), frequentemente
pelo detalhamento imediato do lide e da alusão ao autor, acompanhada por uma
contextualização do estudo (Movimento 3). Na sequência, são expostos os
procedimentos metodológicos adotados (Movimento 4). Os últimos dois estágios
textuais dão informações adicionais dos resultados expostos sinteticamente nas
porções iniciais dos textos e indicam as conclusões da pesquisa (Movimentos 5 e 6,
respectivamente).
O modo como as informações são distribuídas nas notícias do corpus parece,
portanto, obedecer aos cânones jornalísticos para a redação de um fato noticioso,
seguindo a Estrutura de relevância de van Dikj (1992, p. 139), que corresponde ao
que é conhecido no âmbito jornalístico como Pirâmide invertida (Figura 10). Essa
estrutura toma os temas de nível superior informações mais importantes em
primeiro lugar e trabalha de cima para baixo, observando o critério de relevância
(Idem: ibidem).
Figura 10
Pirâmide invertida (CANAVILHAS, 2006, p. 05).
Tradicionalmente, a Pirâmide invertida pode ser descrita como a exposição
das principais informações no início do texto, seguida por informações
complementares em blocos de decrescente importância (CANAVILHAS, 2006, p.
05). Assim, a base da pirâmide, voltada para cima, abarca as informações mais
relevantes e interessantes do fato noticioso e as demais informações seguem em
48
ordem decrescente de importância, tal como a definição de notícia proposta por
Lage (2005, p. 16).
Pode-se dizer que os jornalistas da CH obedecem ao critério de relevância para
organizar o conteúdo nas notícias, transportando para o lide (Movimento 1) e para a
apresentação da pesquisa (Movimento 2) o resultado mais importante do estudo
reportado. Essa quebra cronológica na exposição dos fatos é característica das
notícias de PC do corpus. Primeiro o trazidas informações que garantam e
prendam o interesse do leitor, como o resultado, no lide (Movimento 1) e sua
explicação na sequência (Movimento 2 / Passo a detalhamento dos resultados. Na
medida em que, pressupostamente, o texto tenha a atenção do leitor, são
introduzidas explicações desses resultados e indicadas as conclusões da pesquisa.
A esquematização, exposta na Figura 9, também ilustra aspectos das notícias
analisadas relativos à forma como o escritor interage com a audiência. Esses
elementos ajudam o jornalista a alcançar seus objetivos com o texto e são marcados
textualmente pela glosa (Elemento B) e pela “voz” do pesquisador que realizou a
pesquisa por meio do emprego do discurso direto e indireto (Elemento A). Esta pode
ser entendida como uma estratégia retórica usada pelo jornalista para dar
credibilidade ao seu relato. Tanto a inserção da voz do pesquisador como o
emprego de glosa aparecem ao longo do texto, sendo considerados elementos
recursivos (MOTTA-ROTH; LOVATO, 2009, p. 247). São localizados separadamente
dos movimentos retóricos na descrição esquemática (Figura 9), visto que estão em
níveis distintos. Enquanto, os movimentos retóricos estão relacionados ao nível
ideacional (conteúdo), os elementos recursivos estão relacionados ao nível
interpessoal (relação autor-leitor).
Na sequência, essa organização é ilustrada por meio de passagens dos textos
que compõem o corpus de análise.
3.1.1 Movimentos e passos retóricos nas notícias do corpus
Conforme visto na seção 3.1, as notícias de PC coletadas da CH têm por
base um arranjo textual calcado no critério de relevância, que parte do geral para o
específico. O lide (Movimento 1) e o início das notícias (Movimento 2
49
Apresentação da pesquisa) o os trechos onde se observa mais claramente a
aplicação desse critério para a organização do conteúdo, uma vez que transportam
para o início do texto o resultado principal alcançado pela pesquisa que está sendo
reportada para o público o-especializado. Os exemplos, na sequência, ilustram o
caráter sintetizador do lide observado nas notícias analisadas, marcado
principalmente pelo emprego do presente do indicativo (sublinhado), que funciona
como um argumento para sugerir a perenidade dos resultados, atribuindo valor de
verdade ao enunciado (MOTTA-ROTH; LOVATO, 2009, p. 249-254). Das 30 notícias
que compõem o corpus, 21 empregam o presente do indicativo no lide.
Exemplo 18
CH#1 (Movimento 1
lide) Ácido acetilsalicílico inibe reprodução do T. cruzi no
organismo hospedeiro
Exemplo 19
-CH#3 (Movimento 1
lide) Estresse causa mais alterações imunes e hormonais na
população masculina do que na feminina
Exemplo 20
-CH#17 (Movimento 1
lide) Ecossistema contribui para tratar efluentes por meio do
acúmulo de metais
Exemplo 21
CH#22 (Movimento 1
lide) Árvores com sementes dispersas por animais têm mais
chances de resistir à redução de floresta
Também foi verificado, no lide, o emprego de modalizações, do pretérito
perfeito do indicativo e da voz passiva (sublinhado), respectivamente exemplos 22,
23 e 24.
Exemplo 22
CH#13 Uso da droga causou degeneração de células produtoras de espermatozóides
em camundongos.
Exemplo 23
CH#24 Ausência de grandes herbívoros pode prejudicar relação benéfica entre árvores
e formigas.
Exemplo 24
CH#8 Material genético de tripanossomo foi identificado em coelhos, aves e humanos.
O exemplo 22 ilustra o emprego do pretérito do indicativo (“causou”), o
exemplo 23, o emprego de modalização (“pode prejudicar”) e, o exemplo 24, a voz
passiva (“foi identificado”).
O lide (Movimento 1) é marcado por construções de caráter assertivo,
alcançado recorrentemente pelo emprego do presente do indicativo, são formados
por uma única sentença que traz o resultado da pesquisa de forma reduzida.
A tendência à condensação dos resultados no lide (Movimento 1) pode ser
interpretada como uma estratégia para assegurar o interesse do leitor no texto
50
(MOTTA-ROTH; LOVATO, 2009, p. 250). A antecipação da informação nas notícias
do corpus é aplicada fundamentalmente a essa seção das notícias, que articula de
forma sucinta a informação ou resultado mais inovador da pesquisa em uma única
sentença, sinalizando o conteúdo mais importante da notícia (VAN DIKJ, 1992, p.
133). O lide pode ser, portanto, considerado o trecho mais importante do texto, uma
vez que é por meio dele que o leitor decidirá se vai ler ou não o texto.
O resultado do estudo, apresentado no lide de forma compacta, é logo
retomado nos enunciados subsequentes (Movimento 2 Apresentação da
pesquisa), que o complementam (Passo b), conforme ilustram os exemplos de 25 a
28.
Exemplo 25
CH#4 (Movimento 1
lide) Estudo traça perfil do vírus no país e mostra sua adaptação
aos medicamentos
(Movimento 2
Apresentação da pesquisa / Passo a
detalhamento dos resultados) Um tipo mutante
do vírus HIV que adquiriu resistência a algumas drogas do coquetel de medicamentos contra a Aids
já existe no Brasil.
Exemplo 26
CH#15 (Movimento 1
lide) Estudo pioneiro da UFSC aponta meios de detecção
precoce da doença de Parkinson
(Movimento 2
Apresentação da pesquisa / Passo a
detalhamento dos resultados) O sentido do
olfato revelou-se um meio eficaz para o diagnóstico precoce do mal de Parkinson, doença
neurodegenerativa que atinge 1% da população mundial.
Exemplo 27
CH#19 (Movimento 1
lide) Extrativismo diminui número de árvores jovens e pode se
tornar insustentável
(Movimento 2
Apresentação da pesquisa / Passo a
detalhamento dos resultados) A coleta
intensiva de castanhas-do-pará é uma ameaça para a capacidade de renovação das árvores que
produzem essa semente (...)
Exemplo 28
CH#22 (Movimento 1
lide) Estudo sobre mico-leão-dourado destaca seu papel
fundamental na regeneração de florestas
(Movimento 2
Apresentação da pesquisa / Passo a
detalhamento dos resultados) O mico-leão-
dourado (Leontopithecus rosalia) tem excelente potencial para a dispersão de sementes dentro de
seu hábitat.
Motta-Roth e Lovato (2009, p. 251) apontam que o lide (Movimentos 1) e sua
complementação (Movimento 2
Apresentação da pesquisa), na sequência,
parecem estar em uma relação coesiva do tipo “previsão-detalhe”, segundo Hoey
(1983 apud MOTTA-ROTH; LOVATO, 2009, 251), uma vez que os trechos que
iniciam os textos são respostas à curiosidade despertada pelo lide. O exemplo 25
detalha o vírus de que trata o texto (um tipo mutante do vírus). O exemplo 26 explica
qual meio pode servir para a detecção precoce da doença de Parkinson; o exemplo
27 esclarece por que o extrativismo diminui o número de árvores e o exemplo 28
responde por que o mico-leão tem papel fundamental na regeneração de florestas.
51
A apresentação da pesquisa (Movimento 2) também fornece informações que
indicam objetivo da pesquisa, pesquisadores envolvidos, publicação de origem e
data. Os exemplos de 29 a 32 ilustram trechos (sublinhado) que servem a essas
funções.
Exemplo 29
CH#7 (Movimento 2 / Passo d
alusão ao artigo científico) É o que sugerem os
resultados de uma pesquisa publicada em 9 de janeiro no New England Journal of Medicine (...).
Exemplo30
CH#14(Movimento 2 / Passo b
identificação dos pesquisadores) O produto, patente
número 500 da Unicamp, foi desenvolvido pelo endocrinologista Mário Saad e pela enfermeira Maria
Helena Melo Lima, professores da Faculdade de Ciências Médicas.
Exemplo 31
CH#19 (Movimento 2 / Passo d
alusão ao artigo científico). O alerta foi divulgado por
17 pesquisadores coordenados pelo brasileiro Carlos A. Peres, da Universidade East Anglia (Reino
Unido) e da Universidade de São Paulo, em artigo publicado em 19 de dezembro na revista Science.
Exemplo 32
CH#21 (Movimento 2 / Passo b
referência ao objetivo da pesquisa) O objetivo do
estudo era entender a preferência dos meliponídeos pelas árvores mais altas e o efeito de sua
concentração nessa área da floresta.
Os exemplos 29 e 31 apresentam a pesquisa por meio da menção à
publicação de origem e data (“...9 de janeiro no New England Jornal of Medicine”,
“...19 de dezembro na revista Science”). O exemplo 30 ilustra a identificação dos
pesquisadores (“endocrinologista Mário Saad”, “Maria Helena Melo Lima,
professores da Faculdade de Ciências Médicas”) e o exemplo 32, a referência ao
objetivo da pesquisa (“O objetivo do estudo era entender...”). As notícias da CH
também popularizam dissertações de mestrado e teses de doutorado (sublinhado)
realizadas no Brasil.
Exemplo 33
CH#3 (Movimento 2 / Passo d
alusão ao artigo científico) O estudo, desenvolvido pela
psicóloga Alessandra Faustino em sua tese de doutorado, tinha como ponto de partida investigar os
motivos que levam uma pessoa a adoecer ao passar por algum tipo de estresse.
Exemplo 34
CH#9 (Movimento 2 / Passo d
alusão ao artigo científico) Traços da personalidade
podem criar predisposição ao tabagismo, aponta a tese de doutorado da psicóloga Regina de Cássia
Rondina, apresentada em junho à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São
Paulo (USP) em Ribeirão Preto.
Exemplo 35
CH#22 (Movimento 2 / Passo d
alusão ao artigo científico) (...) O estudo foi tema de
sua dissertação de mestrado defendida em 2002 no IB/USP.
Exemplo 36
CH#25 (Movimento 2 / Passo
alusão ao artigo científico) Esse é o quadro traçado
pelo biólogo Alexandre Colombo em sua dissertação de mestrado, apresentada ao Instituto de
Biologia da Unicamp.
A apresentação da pesquisa (Movimento 2) é sinalizada frequentemente por
nomes próprios que designam os pesquisadores (“Mário Saad”, “Maria Helena Melo
52
Lima”, as instituições onde a pesquisa foi realizada (“Universidade de São Paulo”) e
a publicação de origem da pesquisa (“Science”, “tese de doutorado”).
Diferentemente das notícias em inglês analisadas por Motta-Roth e Lovato
(2009), as notícias da CH contextualizam pouco a pesquisa relatada (Movimento 3
Referência a conhecimento prévio), no sentido de fazer alusão a pesquisas prévias
(Passo c) e indicar as limitações no conhecimento gerado por estudos anteriores
(Passo d). Nas notícias da CH, a contextualização (Movimento 3) é feita
normalmente por meio da referência a conhecimentos estabelecidos na área (Passo
a), que inclui informações que oferecem uma breve visão sobre a área ou assunto
que a pesquisa reporta, conceituações e descrições do objeto de interesse
(GOMES, 2000, p. 114). Nas notícias sobre saúde, das 16 ocorrências desse trecho,
11 servem a essa função. De forma semelhante, nas notícias sobre meio ambiente,
das 12 ocorrências, sete também servem a essa função, conforme análise do
percentual de ocorrência dos passos retóricos na seção 3.1.2, Tabelas 4 e 5. Os
exemplos 37 e 38 demonstram a ocorrência desses trechos nas notícias analisadas
(sublinhado).
Exemplo 37
CH#1 (Movimento 3 / Passo a
referência ao conhecimento estabelecido na área). O
mal de Chagas é uma das endemias que mais fazem vítimas na América Latina.
Exemplo 38
CH#24 (Movimento 3 / Passo a
referência ao conhecimento estabelecido na área). O
mutualismo, como é chamada essa relação amigável, acontece quando espécies diferentes se
beneficiam diretamente uma da outra.
O exemplo 37 ilustra a referência ao conhecimento estabelecido na área por
meio de um panorama sobre o assunto abordado na pesquisa. Esse trecho faz parte
de uma notícia que aborda um estudo sobre o mal de Chagas, intitulada (CH#1)
“Aspirina pode combater mal de Chagas”. O exemplo 38 traz a definição de
“mutualismo”, importante para o entendimento do tópico desenvolvido no texto, que
reporta uma pesquisa sobre a relação benéfica entre árvores e formigas, intitulada
(CH#24) “Amigos, mas não para sempre”.
Ao trazer para a notícia de PC conceitos e definições, é comum o emprego de
glosa (Elemento B) nesses trechos, como ilustra o exemplo 38 (itálico). O autor
emprega o termo técnico (mutualismo) e, na sequência, conceitua-o. Nesses
trechos, também é constante o emprego de advérbios de tempo (MOTTA-ROTH;
53
LOVATO, 2009, p.255), conforme ilustra o fragmento em negrito no exemplo 40, na
sequência.
Durante a contextualização do estudo (Movimento 3), é rara a referência a
pesquisas prévias (Passo c) e limitações no conhecimento gerado (Passo d). Dos 30
textos analisados, somente dois (saúde
CH#1, meio ambiente
CH#22) fazem
alusão a pesquisas prévias (sublinhado) e somente quatro (3 saúde
CH#8, C#14,
CH#15 e 1 meio ambiente
CH#16) fazem referência a limitações no conhecimentos
estabelecido. Os exemplos de 39 a 42 demonstram a ocorrência desses trechos nas
notícias analisadas (sublinhado)
Exemplo 39
CH#1 (Movimento 3
Referência a conhecimento prévio / Passo c-alusão a pesquisas
prévias) Segundo dados recentes, 20 milhões de pessoas infectadas no continente, 8 milhões
apenas no Brasil.
Exemplo 40
CH#22 O alerta é feito pela bióloga Marina Lapenta, (Movimento 3
Referência a
conhecimento prévio / Passo c-alusão a pesquisas prévias) que desde 1998 busca compreender
melhor a função dessa espécie no processo de germinação de sementes. O estudo foi tema de sua
dissertação de mestrado defendida em 2002 no IB/USP.
Exemplo 41
CH#8 O portador da doença de Chagas tem a infecção ao longo da vida, que funciona
como uma fonte de kDNA para integração no genoma. (Movimento 3
Referência a conhecimento
prévio / Passo d
indicação da limitações no conhecimento estabelecido) Ainda não foi demonstrado,
no entanto, se o kDNA incorporado em humanos pode ser herdado pelo mesmo mecanismo
verificado em animais de laboratório.
Exemplo 42
CH#14 (Movimento 3
Referência a conhecimento prévio / Passo d
indicação da
limitações no conhecimento estabelecido) O médico afirma que outras pesquisas em vários lugares
do mundo também buscam uma alternativa para acelerar o processo de cicatrização de ferimentos
em diabéticos, mas os resultados têm tido custo elevado.
Os exemplos 39 e 40 ilustram a referência a pesquisas anteriores e os
exemplos 41 e 42 exemplificam trechos que indicam as limitações no conhecimento
gerado. Também verificamos que a contextualização da pesquisa (Movimento 3)
inclui informações que remetem à perspectiva social (Passo b), tais como questões
de cunho social, cultural e econômico que têm relação com a pesquisa que está
sendo popularizada (MOTTA-ROTH, LOVATO, 2009). Dos 30 textos analisados,
somente cinco remetem a essas questões (2 saúde
CH#1 e CH#14
e 3 meio
ambiente
CH#18, CH#19 e CH#27), conforme demonstram os exemplos 43 e 44
(sublinhado).
Exemplo 43
CH#1 (Movimento 3
Referência a conhecimento prévio / Passo b
ênfase na
perspectiva social) O resultado do trabalho, iniciado em 1991, recebeu o prêmio "International Aspirin
Award 2000", concedido anualmente pela multinacional alemã Bayer, principal fabricante da aspirina.
54
Exemplo 44
CH#14 (Movimento 3-Referência a conhecimento prévio/Passo b-ênfase na perspectiva
social) A insulina, matéria-prima para a pomada, é encontrada a preços relativamente baixos no
mercado, o que pode tornar o medicamento barato e de fácil acesso a grande parte da população.
No exemplo 43, é mencionado que a pesquisa recebeu um prêmio e, no
exemplo 44, é feita referência à comercialização do medicamento.
A ausência de referência a outros estudos (Passo c
alusão a pesquisas
prévias), da indicação das limitações no conhecimento gerado na área em que a
pesquisa se insere (Passo d
indicações das limitações no conhecimento
estabelecido) ou alusão a questões de cunho cultural e social (Passo b) sugere que
as notícias analisadas oferecem apenas uma visão pontual do estudo relatado. As
notícias analisadas não abrem espaço para discussões e contradições que possam
existir sobre o tema desenvolvido, são econômicas na exposição do tópico da
pesquisa reportada, buscam um relato preciso, que traga informações essências,
consideradas importantes para o público. Essa característica demonstra que as
notícias analisadas seguem os princípios (para a escritura de notícias de PC)
postulados pela revista onde são publicadas, conforme entrevista com o editor da
revista (Anexo C) e um documento retirado do dite da revista (disponível em:
http://cienciahoje.uol.com.br/view/3190).
Após a contextualização da pesquisa (Movimento 3), aparecem informações
relativas aos procedimentos de experimento empregados para a realização da
pesquisa (Movimento 4
Descrição da metodologia). De forma semelhante ao artigo
científico (NWOGU, 1991, p. 117), as notícias de PC detalham a fonte dos dados de
pesquisa (sublinhado), em termos de tamanho, local da coleta, e o tipo de
experimento aplicado (itálico).
Exemplo 45
CH#2 (Movimento 4
Descrição da Metodologia / Passo a
identificação do
procedimento experimental) Os cientistas avaliaram (Passo b
referência aos dados) notas que
estavam em circulação no município do Rio de Janeiro e chegavam ao acaso às suas mãos.
Exemplo 46
CH# 14 (Movimento 4
Descrição da Metodologia / Passo a
identificação do
procedimento experimental) O produto foi testado durante cerca de um ano e meio (Passo b
referência aos dados) em animais (...).
Exemplo 47
CH#26 (Movimento 4
Descrição da Metodologia / Passo a
identificação do
procedimento experimental) Os pesquisadores analisaram durante um ano (Passo b
referência aos
dados) o lixo de caminhões vindos dos mais diversos pontos da cidade, desde bairros mais carentes
aos de população com maior renda, totalizando cerca de 1.500 kg de lixo.
Exemplo 48
CH#27 (Movimento 4
Descrição da Metodologia / Passo a
identificação do
procedimento experimental) Após coletar espécimes de peixes de rios do Pantanal, os pesquisadores
analisaram (Passo b
referência aos dados) o estômago e o intestino dos animais para verificar os
principais frutos ingeridos e quais deles poderiam ter suas sementes dispersas.
55
Os exemplos de 45 a 48 ilustram trechos das notícias do corpus que fazem
menção à fonte dos dados e ao método experimental. Conforme pode ser
observado, é frequente o emprego de verbos que denotam experimento (“avaliar”,
“testar”, “analisar” e “coletar”), construções no pretérito (“analisaram”) e voz passiva
(“foi testado”) (MOTTA-ROTH; LOVATO, 2009, p. 256), assim como advérbios de
lugar e de tempo (...no Rio de Janeiro”, “...cerca de um ano”, “...durante um ano”,
“...bairros mais carentes” e “...rios do Pantanal”). Nesses trechos, também é
frequente o emprego de glosa. Conforme ilustram (sublinhado) os exemplos de 49 a
52.
Exemplo 49
CH#3 Os participantes tiveram que falar sobre diferentes situações estressantes em
frente a uma câmera. Durante os testes, eles permaneciam com um cateter intravenoso para coleta
de sangue e conectados a eletrodos, para que dados como pressão, temperatura e freqüência
cardíaca fossem medidos.
Exemplo 5
-CH#6 O cariótipo (conjunto de cromossomos) de 417 embriões e fetos abortados
naturalmente foi estudado pela equipe de Sachetti.
Exemplo 51
CH#21 As abelhas foram recolhidas durante o dia, em períodos que variavam entre 5 e
60 minutos, de acordo com a extensão da superfície em que as flores estavam distribuídas. Em
superfícies floridas com menos de 2 m², por exemplo, a coleta durou cinco minutos; nas superiores a
9m², uma hora
Exemplo 52
CH#23 Para mostrar o impacto de um tal cenário sobre os ecossistemas marinhos, os
pesquisadores também realizaram experimentos com uma espécie de pequeno molusco marinho
(Clio pyramidata) abundante nos oceanos polares.
Segundo Nwogu (1991, p. 117), nesses segmentos dos textos de PC,
também é comum o uso de tabelas e dados estatísticos, todavia, no corpus
analisado há somente uma ocorrência (CH#15 no Anexo D).
Esse trecho aparece frequentemente após a exposição dos resultados de
forma sucinta no lide (Movimento 1), da apresentação da pesquisa (Movimento 2) e
da contextualização do estudo (Movimento 3). Entretanto, em algumas vezes, se
observa uma breve alusão à metodologia (sublinhado) nas porções iniciais das
notícias (MOTTA-ROTH; LOVATO, 2009, p. 253), como pode ser observado nos
exemplos 53 e 54.
Exemplo 53
CH#12 (Movimento 1
lide) Composto extraído de alga marinha foi capaz de impedir
multiplicação do vírus HIV em testes in vitro.
56
Exemplo 54
CH#16 (Movimento 2
Apresentação da pesquisa/Passo b
detalhamento dos
resultados) A Floresta Amazônica retira todos os dias uma quantidade significativa de dióxido de
carbono (CO2) da atmosfera. Medições recentes indicam que a diferença entre o CO2 absorvido e
liberado por cada.
No exemplo 53, a alusão ao procedimento de experimento aparece no lide
(Movimento 1), e, no exemplo 54, durante o detalhamento do lide na apresentação
da pesquisa (Movimento 2 / Passo b). Mesmo aparecendo nas porções iniciais, a
menção aos procedimentos de experimento é retomada depois da exposição dos
resultados, como demonstram os exemplos de 53 e 54. Segundo Nwogu (1991, p.
120-121), expor informações sobre os procedimentos metodológicos, após a
menção aos resultados da pesquisa, mostra que os jornalistas têm consciência da
necessidade de sempre projetar no texto a informação que garantirá o interesse do
leitor (NWOGU, 1991, p. 120-121). Entretanto, pressupomos que essa característica
das notícias é, na verdade, imposta pelo paradigma da Pirâmide invertida, que adota
o critério de relevância para a organização dos tópicos do assunto reportado.
Os trechos com uma explicação mais completa dos resultados da pesquisa
(Movimento 5
Explicações do resultado da pesquisa) aparecem após a descrição
dos procedimentos metodológicos (Movimento 4), recuperando, desse modo, a
sequenciacão lógica na ordenação dos fatos inicialmente rompida pela exposição
dos resultados do estudo no lide (Movimento 1), antes dos procedimentos
metodológicos (Movimento 4). Esses trechos normalmente trazem a exposição dos
resultados propriamente ditos de forma mais completa (Movimento 5 / Passo a), o
significado desses resultados (Movimento 5 / Passo b) e/ou comparações entre a
pesquisa relatada e pesquisas anteriores (Movimento 5 / Passo c). As comparações
(sublinhado) podem ser feitas por alusão ao conhecimento estabelecido (Movimento
5 / Passo c1), à metodologia (Movimento 5 / Passo c2) ou aos resultados
(Movimento 5 / Passo c3), conforme ilustram os trechos sublinhados nos exemplos
de 55 a 59.
Exemplo 55
CH#9 (Movimento 5
Explicação dos resultados da pesquisa / Passo a
exposição
dos resultados) A pesquisa indicou que, quanto maior o consumo diário de tabaco, maior a
probabilidade de o universitário apresentar essas características. (Passo c
comparação da pesquisa
atual e anteriores
3 resultados obtidos) O resultado é similar ao de outros estudos realizados em
diferentes contextos históricos, geográficos e sociais.
Exemplo 56
CH#10 (Movimento 5
Explicação dos resultados da pesquisa / Passo c
comparação
da pesquisa atual e anteriores
1 conhecimento estabelecido)
Esse material orgânico apresenta alto
teor de umidade. Experimentos indicam que são enterrados aproximadamente 38 mil litros de água
por dia
.
57
Exemplo 57
CH#12 (Movimento 5-Explicação dos resultados da pesquisa / Passo c
comparação
da pesquisa atual e anteriores
2 metodologia). Desde 1996, sua equipe, em colaboração com a da
bióloga Izabel Christina de Palmer Paixão Frugulhetti, também do Instituto de Biologia da UFF, vem
realizando pesquisas com extração de produtos naturais de algas pardas marinhas do gênero
Dictyota (...)
Exemplo 58
CH#19 (Movimento 5
Explicação dos resultados da pesquisa / Passo a
exposição
dos resultados) A equipe de Peres concluiu que, em áreas onde exploração intensa e constante
da semente, é pequena a população de árvores com menos de 60 cm de diâmetro à altura do peito
(ou DAP, que equivale ao diâmetro a 1,30 m do solo).
Exemplo 59
CH#29 (Movimento 5
Explicação dos resultados da pesquisa / Passo b
significado
dos resultados) Os autores acreditam que a diminuição dessa cobertura de gelo prejudicará o
processo reprodutivo e afetará a dinâmica da vida dessa espécie.
No exemplo 55, além da exposição detalhada dos resultados (itálico), é feita
uma comparação, em termos de resultados alcançados por outras pesquisas
(sublinhado). No exemplo 56, a comparação é feita por meio da menção ao
conhecimento estabelecido (sublinhado) e, no exemplo 57, através da metodologia
aplicada (sublinhado). No exemplo 58, também a exposição dos resultados de
modo a explicar o que foi indicado de maneira sucinta no lide (itálico). Por fim, no
exemplo 59, é apresentado o significado dos resultados (sublinhado).
A comparação, em termos de resultados, métodos e conhecimento, com
estudos anteriores e atuais, durante a explicação completa dos resultados
(Movimento 5), também é rara nas notícias do corpus. Das 28 ocorrências desse
trecho nas notícias com o tema saúde, seis fazem essa comparação. Nas notícias
sobre meio ambiente, das 25 ocorrências, três fazem esse tipo de comparação,
conforme pode ser verificado na seção 3.2.2, Tabelas 4 e 5.
Diferentemente dos trechos que têm como função contextualizar a pesquisa
(Movimento 3), no trecho que explica os resultados da pesquisa (Movimento 5), a
referência a estudos anteriores parece ter a função de legitimar os resultados,
evidenciando que o resultado do estudo é similar ao de outros (exemplo 55),
validando uma informação por meio do conhecimento estabelecido por outras
pesquisas (exemplo 56) e salientando que a pesquisa vem sendo realizada
alguns anos (exemplo 57).
Esse trecho é caracterizado pelo emprego da glosa, muitas vezes, explicam
noções, princípios e conceitos desconhecidos da audiência. São sinalizados
principalmente por construções como “isso é chamado de”, “conhecido como”, “isto
é”, “ou seja”, “por exemplo” e sinais gráficos
parênteses, travessões e vírgulas
.
Os exemplos 60 e 61 ilustram a ocorrência da glosa nesses trechos.
58
Exemplo 60
CH#8 A incorporação do kDNA em mamíferos e as mutações herdadas pelas aves
geraram modificações no genoma dos hospedeiros. Essas alterações levaram à síntese de proteínas
anormais, chamadas quiméricas.
Exemplo 61
CH#25 No quadro atual, o que se percebe é a contínua diminuição da mata atlântica,
devido a fatores como o rápido crescimento das cidades, o avanço das práticas agrícolas e o
extrativismo sem controle.
estratégias adicionais para captar a atenção do leitor. Uma das notícias
sobre saúde fez uso de tabelas para ilustrar os resultados (CH#3
exemplo 62) e
outra, com o tema meio ambiente, empregou uma pergunta retórica (CH#17
exemplo 63).
Exemplo 62
CH#3
Exemplo 63
CH#17Mas de que forma esses metais se acumulam nos sedimentos dos manguezais?
Quando a água que cerca o ecossistema atinge a zona de raízes dos mangues, seu fluxo torna-se
mais lento, o que aumenta a taxa de deposição nos sedimentos e provoca o acúmulo de partículas
enriquecidas em metais. Ao realizar o processo de fotossíntese, as plantas liberam oxigênio (...)
A última porção das notícias de PC é dedicada à exposição das conclusões
do estudo popularizado, seja por meio da indicação de suas implicações
(Movimento 6 / Passo a) pela sugestão de pesquisas futuras (Movimento 6 / Passo
b) ou pela indicação das limitações no estudo popularizado (Movimento 6 / Passo
c), conforme ilustram os exemplos de 64 a 67 (sublinhado).
Exemplo 64
CH#1 (Movimento 6
Indicação das conclusões da pesquisa / Passo b
sugestão de
pesquisas futuras) "Temos ainda que fazer muitos estudos em cobaias para podermos pensar em
experimentar o tratamento em humanos", afirma George dos Reis, orientador de Marcela Lopes.
Exemplo 65
CH#2 (Movimento 6
Indicação das conclusões da pesquisa / Passo a
menção das
implicações da pesquisa) Segundo Tórtora, a descoberta pode orientar novas leis trabalhistas --
pessoas que trabalham com dinheiro podem reivindicar direitos por estarem em contato com algo
contaminado -- e mudanças nas notas de real.
Exemplo 66
CH#16 (Movimento 6
I
ndicação das conclusões da pesquisa / Passo a
menção
das implicações da pesquisa) Segundo Carlos Nobre, a descoberta pode mudar a imagem
da
Amazônia. "A floresta talvez passe a ser reconhecida não apenas por sua biodiversidade, mas pela
possibilidade de contribuir para contrabalancear o efeito estufa”.
59
Exemplo 67
CH#30 (Movimento 6
Indicação das conclusões da pesquisa / Passo c
indicação
das limitações da pesquisa) “Ainda não temos evidência de que a estrada estaria prejudicando
diretamente a população de morcegos-de-Bechstein, mas seria interessante a construção de túneis
específicos para os morcegos”, afirma Kerth. “Muitos morcegos dependem da floresta para se
alimentar e se abrigar, e fragmentação do hábitat é provavelmente uma causa importante para o
declínio mundial das populações desses animais”.
No exemplo 64, a conclusão da pesquisa é feita pela sugestão de pesquisas
futuras e, nos exemplos 65 e 66, pela alusão às implicações da pesquisa. Por fim,
no exemplo 67, pela indicação de suas limitações. Nesses exemplos, podemos
observar as citações com a “voz” do pesquisador para indicar as conclusões da
pesquisa. Das 30 notícias analisadas, 22 inserem a voz do pesquisador para indicar
as conclusões do estudo popularizado. Ressaltamos, porém, que a “voz” do
pesquisador não é restrita a esse trecho das notícias. Pode aparecer desde o lide
até a descrição metodológica, desempenhando diferentes funções. Entretanto,
observamos um maior número de ocorrência nas últimas porções das notícias
analisadas. A voz do pesquisador nas notícias do corpus assume a função
correspondente ao trecho no qual aparece, explica os procedimentos metodológicos
(Movimento 4) ou comenta os resultados de forma mais detalhada (Movimento 5),
por exemplo. Mais adiante, na seção 3.2.2, a inserção da voz do pesquisador será
melhor explicada.
Diferentemente das notícias sobre saúde, onde a indicação das conclusões
da pesquisa (Movimento 6) parece ser um trecho obrigatório, não ocorre em apenas
dois textos (CH#8 e CH#14), nas notícias sobre meio ambiente, esse trecho não
apareceu em quatro textos (CH#17, CH#18, CH# 22, e CH#27). Possui, desse
modo, percentual de 73,33% de ocorrência (abaixo de 75%
o mínimo para ser
considerado um movimento canônico
). Os percentuais podem ser conferidos nas
Tabelas 1 e 2.
Nesta primeira exposição dos resultados, focamos exclusivamente a
descrição da organização retórica das notícias do corpus, buscando ilustrar essa
organização. De forma geral, os resultados alcançados aqui são semelhantes aos de
Motta-Roth e Lovato (2009). Nesta representação, os aspectos que diferem do
modelo anterior são: 1) a inversão dos trechos que complementam as informações
apresentadas de forma sucinta no lide e identificam o pesquisador, 2) o emprego
exclusivo da voz do pesquisador, 3) a nomeação das formas de explicação de
princípios e de conceitos apenas como glosa a partir de Hyland (2007), e 4) a
60
ausência de trechos que indicam perspectiva local, isto é, que situam ou direcionam
os resultados da pesquisa para uma determinada comunidade.
Na análise das notícias de PC da CH, também constatamos que o propósito
comunicativo desses textos deve ser definido em termos diferentes daqueles
propostos por Motta-Roth e Lovato (Idem, p. 238): “expandir o conhecimento
científico para o público leigo”. No presente estudo, verificamos que a forma como a
informação está distribuída nesses textos (publicados no Brasil) é voltada a
transmitir pontualmente o fato científico noticioso, aludindo raramente a estudos
anteriores. A ênfase é quase que exclusiva nos resultados da pesquisa
popularizada, característica reiterada pelo editor da revista em entrevista via e-mail
(Anexo C), que ressalta o caráter conciso e monológico desses textos. Essa
alteração no propósito comunicativo ratifica a importância de não adotar como único
critério para classificação do gênero o propósito comunicativo, conforme Askehave e
Swales alertam (2001). Os autores apontam que, para a classificação de um gênero,
se deve levar em consideração além do propósito comunicativo, questões relativas
aos valores e às expectativas dos membros da prática social (Idem, p. 209).
Outra característica que reforça o propósito comunicativo desses textos é a
presença exclusiva da voz do pesquisador. As notícias analisadas não oferecem um
debate entre os cientistas e seus colegas e/ou representantes da sociedade e
público que permita ao leitor questionar e construir sua própria opinião sobre o que é
exposto. Assim, nas notícias de PC analisadas nesta pesquisa, transmite-se
conhecimento científico para o público não-especializado, partindo de opiniões
construídas sobre a pesquisa e sua importância. Pressupomos que a “expansão” do
conhecimento científico só seja possível a partir de sua reflexão crítica em um
debate democrático, por meio de um texto polifônico, em que várias “vozes” sejam
mencionadas como forma de realizar um debate de prós e contras em torno de
novas descobertas
20
. Para ilustrar as questões discutidas acima, uma análise de
dois textos Crack diminui fertilidade” e “Coleta intensiva de castanheiras” pode ser
visualizada no Anexo E.
Na sequência, os movimentos e passos retóricos serão quantificados para
delimitarmos quais são característicos nas notícias do corpus.
20
Motta-Roth, comunicação pessoal, Universidade Federal de Santa Maria, 07 de janeiro de 2010.
61
3.1.2 Movimentos e passos canônicos das notícias do corpus
Nas Tabelas de 1 a 5, é possível visualizar os movimentos e passos
canônicos das notícias analisadas. Movimentos e passos canônicos são entendidos
aqui como trechos que aparecem em mais de 75% das notícias.
Tabela 1
Movimentos retóricos / notícias sobre saúde
A Tabela 1 apresenta o percentual de ocorrência dos movimentos em notícias
de PC sobre saúde. Como pode ser visualizado, o lide (Movimento 1), a
apresentação da pesquisa (Movimento 2), a descrição metodológica (Movimento 4)
e a explicação dos resultados (Movimento 5) aparecem em todas as notícias
analisadas sobre o tema saúde, com percentual de 100% de ocorrência. A exceção
é a indicação das conclusões da pesquisa (Movimento 6) que não aparece em dois
textos (CH#14 e CH#8) com percentual de 86,66% de ocorrência.
Esses movimentos são considerados canônicos nas notícias com o tema
saúde. A referência ao conhecimento prévio (Movimento 3) o ocorre em quatro
textos (CH#4, CH#7, CH#9 e CH#10) com percentual de ocorrência abaixo de 75%
(73,33%).
A Tabela 2 ilustra a ocorrência dos movimentos nas notícias sobre meio
ambiente.
Movimentos retóricos Textos CH
Movimento 1 Movimento 2
Movimento 3 Movimento 4 Movimento 5 Movimento 6
1 + + + + + +
2 + + + + + +
3 + + + + + +
4 + + - + + +
5 + + + + + +
6 + + + + + +
7 + + - + + +
8 + + + + + -
9 + + - + + +
10 + + - + + +
11 + + + + + +
12 + + + + + +
13 + + + + + +
14 + + + + + -
15 + + + + + +
N 15 15 11 15 15 13
% 100% 100% 73,33% 100% 100% 86,66%
Movimento
1 2 3 4 5 6
62
Tabela 2
Movimentos retóricos / notícias sobre meio ambiente
O percentual de ocorrência dos movimentos retóricos, nas notícias com o
tema meio ambiente, é semelhante ao das notícias sobre saúde. O baixo percentual
de trechos que contextualizam a pesquisa (Movimento 3) se confirma nas notícias
sobre meio ambiente, não ocorre em cinco textos (CH#17, CH#20, CH#25, C#26 e
CH#28), com percentual de 60% de ocorrência.
Diferentemente das notícias sobre saúde, nas notícias sobre meio ambiente a
indicação das conclusões da pesquisa (Movimento 6) não é considerado um trecho
canônico, com percentual de ocorrência de 73,33%. Os demais movimentos
aparecem em 75% das notícias, são considerados, portanto, canônicos, tal como
nas notícias sobre saúde.
Em virtude das indicações das conclusões da pesquisa (Movimento 6) terem
um percentual de ocorrência abaixo de 75%, observamos que menos
uniformidade em relação as notícias sobre saúde. Embora as notícias sobre meio
ambiente não tenham uma organização retórica tão estável quanto as notícias sobre
saúde, verificamos que os textos analisados são, no geral, relativamente
padronizados.
O editor da CH, em entrevista via e-mail (Anexo C), ressalta que os jornalistas
da revista não seguem nenhum manual interno de redação. Todavia, ele acrescenta
que os textos são escritos por repórteres que acabam por seguir de maneira geral o
paradigma do lide e da Pirâmide invertida. Isso confirma, portanto, a nossa
Movimentos retóricos Textos CH
Movimento 1 Movimento 2 Movimento 3 Movimento 4 Movimento 5 Movimento 6
16 + + + + + +
17 + + - + + -
18 + + + + + -
19 + + + + + +
20 + + - + + +
21 + + + + + +
22 + + + + + -
23 + + - + + +
24 + + + + + +
25 + + - + + +
26 + + - + + +
27 + + + + + -
28 + + - + + +
29 + + + + + +
30 + + + + + +
N 15 15 09 15 15 11
% 100% 100% 60% 100% 100% 73,33%
Movimento
1 2 3 4 5 6
63
interpretação dos dados, sugerindo que há, de certa forma, um esquema fixo de
composição dos textos. Conforme demonstra o próprio jornalista
os textos jornalísticos do site (e da revista) são escritos por repórteres que,
embora não sigam um documento formal de instruções para estruturar o
texto, acabam por seguir de maneira geral o paradigma do lide e da pirâmide
invertida (seguido, em linhas gerais, pela grande maioria das revistas e
jornais brasileiros).
Essa citação mostra a familiaridade dos jornalistas da CH Online com o
sistema de atividade da prática social da qual são membros.
A Tabela 3 apresenta o percentual total de ocorrência dos movimentos no
corpus.
Tabela 3 – Movimentos canônicos nas notícias da Ciência Hoje Online
Movimentos retóricos Textos CH
Movimento 1 Movimento
2
Movimento 3 Movimento 4 Movimento 5 Movimento 6
1 + + + + + +
2 + + + + + +
3 + + + + + +
4 + + - + + +
5 + + + + + +
6 + + + + + +
7 + + - + + +
8 + + + + + -
9 + + - + + +
10 + + - + + +
11 + + + + + +
12 + + + + + +
13 + + + + + +
14 + + + + + -
15 + + + + + +
16 + + + + + +
17 + + - + + -
18 + + + + + -
19 + + + + + +
20 + + - + + +
21 + + + + + +
22 + + + + + -
23 + + - + + +
24 + + + + + +
25 + + - + + +
26 + + - + + +
27 + + + + + -
28 + + - + + +
29 + + + + + +
30 + + + + + +
N 15 15 20 15 15 24
% 100% 100% 66,6% 100% 100% 80%
Movimento 1 2 3 4 5 6
64
A análise quantitativa dos movimentos confirma que a contextualização do
estudo (Movimento 3) o é um trecho obrigatório nas notícias analisadas, assim
como alguns passos retóricos (Tabelas 4 e 5). Entretanto, optamos por representá-
los na organização exposta na Figura 9, uma vez que sua ocorrência é prevista
21
.
A soma total do percentual de ocorrência dos movimentos retóricos (Tabela 3)
mostra que uma notícia de PC, publicada pela CH, contém sempre um lide, com a
síntese do resultado principal do estudo (Movimento 1), um trecho que complementa
as informações expostas no lide e identifica os pesquisadores, durante a
apresentação da pesquisa (Movimento 2), uma descrição dos procedimentos
metodológicos adotados, (Movimento 4), a explicação detalhada dos resultados
(Movimento 5) elucidados sinteticamente nas porções iniciais e a indicação das
conclusões da pesquisa. O conjunto desses cinco movimentos forma a configuração
textual típica das notícias de PC da CH.
21
Um membro da banca, Profª.Dr. Graciela Rabuske Hendges, sugeriu que a representação
esquemática das notícias da CH (Figura 9) contemplasse somente os movimentos canônicos.
Todavia, optamos por abarcar também os movimentos e passos retóricos que tiveram percentual de
ocorrência abaixo de 75%, uma vez que podem aparecer em uma notícia de PC da CH, ficando a
sugestão para pesquisas futuras.
65
Tabela 4.
Percentagem de ocorrência dos passos retóricos / notícias sobre saúde
Movimentos
1 2 3 4 5
6
Textos
Lide 2a 2b 2c 2d 3b 3c 3d 4a 4b 5b 5c 6b 6d
1 + + + + - + + + - - + + - - + + -
2 + + + - - + - - - + + + + - + - -
3 + + + + - + - - - + + + + - - - +
4 + + + - - - - - - + + + - - + - -
5 + + + - - + - - - + + + - + + + -
6 + + + + - + - - - + + + + - + - +
7 + + + - + - - - - + + + - - + - -
8 + + + - + + - - + + + + - - - - -
9 + + + + + - - - - + + + - + + + +
10 + + + - + - - - - + + + + + + - +
11 + + + + + + - - - + + + - + - + -
12 + + + - - + - - - + + + + + - + +
13 + + + - - + - - - + + + + - - + -
14 + + + - - + + - + + - + + - - - -
15 + + + - - + - - + + + + + + + + -
N
15 15 15 04 05 11 02 01 03 14 14 15 08 06 08 07 05
%
100%
100%
100% 26,66% 33,33% 73,33%
13,33
6,66%
20%
93,33% 93,33% 100%
53,33%
40% 53,33%
46,67%
33,3
3%
Move
1 2 2 2 2 3 3 3 3 4 4 5 5 5 6 6 6
66
Tabela 5
Percentagem de ocorrência dos passos retóricos / notícias sobre meio ambiente
Movimentos
1 2 3 4 5
6
Textos
Lide 2b 2c 2d 3a 3b 3c 3d 4a 4b 5b 5c 6 6b 6d
16
+ + + + - + - -
+
+ - + - - + - +
17
+ + + - - - - - - + + + + - - - -
18
+ + + - - + + - - + + + - - - - -
19
+ + + - + + + - - + + + + - + - -
20
+ + + - + - - - - + + + - - - + -
21
+ + + + - + - - - + + + - - + - -
22
+ + + + - - - + - + + + + - - - -
23 + + + - + + - - - + + + + + + - -
24
+ + + - + - - - - + - + +
-
+ + -
25
+ + + - + - - - - + + + +
-
+ + -
26
+ + + - - - - - - + + + -
+
+ - -
27
+ + + - + - + - - + + + + + - - -
28
+ + + - + - - - - + + + - - + - -
29
+ + + - - + - - - + + + + - - + -
30
+ + + - + + - - - + + + - - - +
N
15 15 15 04 08 07 03 01
01
15 13 15 08 03 08 04 1
%
100% 100% 100% 20% 53,33% 46,66%
20% 6,66%
6,66%
100% 86,67 100% 53,33%
20% 53,33%
20% 6,66%
Move
1 2 2 2 2 3 3 3 3 4 4 5 5 5 6 6 6
A análise quantitativa dos passos retóricos (Tabelas 4 e 5) indica que a
apresentação da pesquisa (Movimento 2) é feita por meio do detalhamento dos
resultados e da identificação dos pesquisadores (Passo 2a e Passo 2b,
respectivamente). A contextualização da pesquisa (Movimento 3) é realizada por
trechos que oferecem um panorama do tópico desenvolvido no texto (Passo a). A
descrição metodológica (Movimento 4) é realizada pela ocorrência simultânea da
identificação do procedimento experimental (Passo a) e referência à fonte dos dados
(Passo b). A explicação dos resultados da pesquisa (Movimento 5) é realizada nas
notícias predominantemente pela exposição dos resultados de modo mais detalhado
(Passo a). Por fim, a indicação das conclusões da pesquisa (Movimento 6) é
realizada recorrentemente pela indicação de suas implicações (Passo a). Essa
análise também demonstrou que uma tendência das notícias analisadas focarem
aspectos positivos da pesquisa. A predominância de determinados trechos assim
como a ausência de outros, sugere que há um esquema fixo de composição, que
determina os efeitos de sentido que se quer provocar: no caso das notícias dos
corpus, uma visão pontual e positiva, marcada pela ênfase nos resultados da
pesquisa e nos pesquisadores que a realizaram.
Na sequência, serão abordados os operadores metadiscursivos, elementos
empregados no texto para facilitar a negociação de significados entre escritor e
audiência.
3.2 Operadores metadiscursivos
3.2.1 Glosa
A glosa é definida por Hyland (2007, p. 266) como uma breve reformulação de
ideias e termos feita com o intuito de facilitar a interação autor-leitor e o
entendimento do tópico do texto. Hyland (2007) prevê dois tipos de glosa:
Reformulação e Exemplificação. O primeiro tipo de glosa se subdivide em
Reformulação por expansão e Reformulação por redução. Na expansão, as ideias
são retomadas de forma a ampliar o sentido do que foi expresso. Na redução, o
significado é restringido para limitar o sentido de um termo (HYLAND, 2007, p. 274).
68
A expansão pode ocorrer por explicação e implicação. Os exemplos de 68 a 71
ilustram a ocorrência de Reformulação por expansão-explicação (negrito).
Exemplo 68
CH#10 Os pesquisadores observaram que a superinfecção bacteriana estava
relacionada com a morte de granulócitos (células do sistema imunológico que combatem
bactérias).
Exemplo 69
CH#13 Os animais foram colocados em uma câmara e submetidos à inalação de
fumaça de crack durante dois meses, tempo que o ciclo de formação dos espermatozóides (chamado
de espermatogênese) leva para se completar nesses roedores.
Exemplo 70
CH#19 A coleta é simples: o fruto (ouriço) que contém as castanhas se desprende da
árvore e pode ser pego no chão.
Exemplo 71
CH#27 O estudo concluiu que o pacu é um dos principais responsáveis pela dispersão
das sementes da palmeira tucum (Bactris glaucescens).
Nessa operação metadiscursiva, os significados são elaborados de forma
situada e pontual com o objetivo de tornar um conceito mais acesvel para o leitor.
Normalmente funcionam para clarificar o sentido de um termo técnico, conforme
ilustra o exemplo 68, quando o autor primeiramente introduz o termo científico
(granulócitos) e depois o conceitua entre parênteses. Essa operação pode ser
invertida, o autor pode primeiramente oferecer a explicação, como no exemplo 69, e
depois o termo que a designa. Nas notícias analisadas neste estudo, essa última
forma de explicação é mais frequente, como ratificam os exemplos 70 e 71. Nesses
exemplos, primeiro são introduzidos termos de uso corrente, classificados nesta
pesquisa como explicações (“fruto” e “palmeira tucum”) e depois o termo ou nome
técnico que as designam (“ouriço” e “Bactris glaucescens“).
Na Reformulação por implicação, não ocorre uma reformulação propriamente
dita. Nesta forma de glosa, o autor retoma de forma resumida a informação que ele
considera mais importante do segmento anterior. O exemplo 72 traz um trecho do
único texto do corpus (CH#13) em que ocorreu Reformulação por expansão-
implicação.
Exemplo 72
CH#6 Dos 292 cariótipos analisados com sucesso, 149 apresentavam alterações
cromossômicas. Os cientistas encontraram apenas dois casos de anomalias estruturais, ou seja, a
freqüência das falhas numéricas foi significativamente maior.
No exemplo 72, o autor retoma de forma resumida a informação expressa no
segmento anterior, enfatizando a informação que ele considera mais significante
para o leitor e fazendo uma dedução a partir das informações mencionadas.
69
Diferentemente da Reformulação por expansão, a Reformulação por redução
serve para restringir o significado do que foi dito, limitando o escopo de interpretação
por parte do leitor (HYLAND, 2007, p. 275). Os exemplos que seguem ilustram a
ocorrência de Reformulação por redução-especificação (negrito).
Exemplo 73
CH#4 Para comparar casos antigos e novos de contaminação com o vírus, os
pesquisadores utilizaram uma técnica de análise capaz de identificar se a infecção é recente
(ocorrida até quatro meses antes da coleta de sangue).
Exemplo 74
CH#10 Após três dias, eles apresentaram aumento de 1.000 vezes na contagem de
bactérias, quando comparados aos de controle (sem o vírus).
Exemplo 75
CH#18 Um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro verificou que os níveis
de metilmercúrio nos seres vivos que habitam a baía estão bem abaixo do limite máximo permitido
pela atual legislação brasileira para a ingestão de organismos predadores – 1 micrograma de
mercúrio (Hg) por grama de tecido fresco.
Exemplo 76
CH#20 Durante o estudo, foram realizadas cerca de 21.600 capturas de aves de 164
espécies, que serviram como indicadores dos danos ecológicos nos fragmentos de mata
selecionados – de um, 10 e 100 hectares.
No exemplo 73, é especificado o sentido de “recente” no contexto da pesquisa
popularizada e, no exemplo 74, o que constitui o corpus de controle do estudo
reportado. No exemplo 75, o limite máximo para a ingestão de metilmercúrio de
acordo com a legislação brasileira e, por fim, no exemplo 76, os hectares de mata
selecionados para a pesquisa. A glosa por especificação estabelece uma relação de
identificação entre dois trechos do texto: entre um sintagma de sentido indefinido
(“infecções recentes”, “organismos de controle” e “fragmentos de mata
selecionados”) e um trecho a seguir que restringe seu sentido (“quatro meses”, “sem
o vírus”, “de um, 10 e 100 hectares”). Esse sentido especificado é recuperável a
partir do contexto imediato da pesquisa
22
.
O segundo tipo de glosa, Exemplificação, refere-se a um grupo de sentenças
e/ou a palavras, sinalizadas geralmente pelas expressões “por exemplo” e “como”.
Basicamente a função aqui é esclarecer o significado de um termo no contexto da
pesquisa reportada por intermédio de exemplos (HYLAND, 2007, p. 270). Os
exemplos de 77 a 80 demonstram a ocorrência de Exemplificação (negrito) nas
notícias do corpus.
Exemplo 77
CH#7 "Antes de determinar o nível de consumo de álcool seguro para cada indivíduo,
deve-se levar em conta outros fatores como os riscos de dirigir embriagado e de desenvolver
doenças hepáticas, além do histórico familiar".
22
Motta-Roth, comunicação pessoal, Universidade Federal de Santa Maria, 07 de janeiro de 2010.
70
Exemplo 78
CH#9 "Além da costumeira abordagem no sentido de alertar para as doenças
relacionadas ao fumo, o profissional poderia, por exemplo, trabalhar questões relacionadas à auto-
estima e à importância do cuidado consigo mesmo.
Exemplo 79
CH#22 Dentro do hábitat dos micos, outros animais, como os insetos, também
colaboram para a dispersão de sementes.
Exemplo 80
CH#25 Existem, inclusive, espécies que transitam por dois biomas diferentes a mata
atlântica e o cerrado, por exemplo.
A Exemplificação introduz elementos referentes à experiência do pesquisador,
tornando o que está sendo dito mais real e concreto para a audiência (HYLAND,
2007, p. 270). É um processo metadiscursivo que relaciona uma classe de coisas, tal
como animais e objetos, a trechos que identificam membros dessa classe. Assim,
termos indefinidos e gerais que denominam classes inteiras, como “fatores”,
“abordagens”, “animais” e “biomas”, são glosados por exemplares dessas classes:
“riscos”, “trabalhar questões”, “insetos”, “mata atlântica” e “cerrado”
23
O exemplo 77
ilustra “outros fatores” que interferem para a determinação do nível de consumo de
álcool para cada pessoa, o exemplo 78, outras formas de abordagem para o
tratamento de fumantes, o exemplo 79, outros animais, no caso insetos, que também
colaboram para a dispersão de sementes no ambiente, e, por fim, o exemplo 80,
espécies que transitam por biomas diferentes.
Tabela 6
Percentagem de ocorrência de Reformulação / notícias de PC sobre saúde
23
Motta-Roth, comunicação pessoal, Universidade Federal de Santa Maria, 07 de janeiro de 2010.
Reformulação
Textos
Expansão por
explicação
Expansão por
implicação
Redução
por paráfrase
Redução por
especificação
Exemplificação
1 + - - + -
2 - - - + -
3 + - - + +
4 + - + -
5 + - - + +
6 - + - + -
7 + - - - +
8 + - - + -
9 - - - -
+
10 + - - + +
11 + - - + -
12 + - - + -
13 + - - + +
14 + - - +
+
15 + - - + +
N 12 01 0 13 08
% 80% 6,66% 0% 86,66% 53,33%
Tipo de Glosa Expansão por
explicação
Expansão por
Implicação
Redução por
paráfrase
Redução por
especificação
Exemplificação
71
A Tabela 6 mostra que a Reformulação por expansão-explicação aparece em
80% das notícias, a Reformulação por redução-especificação em 86,66% e a
Exemplificação em 53,33%, comparando com a baixa ocorrência de expansão-
implicação com percentual de 6,66%, foi empregada somente em um texto (CH#6) e
redução-paráfrase que não apareceu em nenhuma notícia. Esses números são
semelhantes aos observados nas notícias sobre meio ambiente (Tabela 7).
Tabela 7
Percentagem de ocorrência de Reformulação / notícias de PC sobre meio ambiente
A Tabela 7 mostra que, nas notícias com o tema meio ambiente, a
percentagem de ocorrência de Reformulação por expansão-explicação e
Reformulação por redução-especificação é bastante semelhante ao percentual
observado nas notícias sobre saúde. A Reformulação por redução-especificação
ocorreu em 80% das notícias, a Reformulação por expansão-explicação teve o
mesmo percentual de ocorrência, 80%, e a Exemplificação aparece com percentual
de 66,66% de ocorrência. A Reformulação por expansão-implicação e aquelas por
redução-paráfrase não ocorreram em nenhuma notícia sobre esse tema.
Reformulação
Textos
Expansão por
explicação
Expansão por
implicação
Redução por
paráfrase
Redução por
Especificação
Exemplificação
16 + - - + +
17 + - - + -
18 + - - + +
19 + - - - -
20 - - - + +
21 - - - - +
22 + - - + +
23 + - - - -
24 + - - + +
25 - - - + +
26 + - - + +
27 + - - + +
28 + - - + +
29 + - - + -
30 + - - + -
N 12 0 0 12 10
% 80% 0% 0% 80% 66,66%
Tipo de
Glosa
Expansão por
explicação
Expansão por
Implicação
Redução por
paráfrase
Redução por
especificação
Exemplificação
72
Conforme pode ser observado nas Tabelas 6 e 7, a Reformulação por
redução-paráfrase não ocorre em nenhuma das notícias do corpus, por isso, não
aparece na representação esquemática desses textos na seção 3.1, Figura 9.
O alto percentual de ocorrência de Reformulação por expansão-explicação e
por redução-especificação nas notícias analisadas pode ser um indicativo de que os
pesquisadores entrevistados pela CH (as notícias publicadas são procedentes de
entrevistas, conforme Anexo C) têm consciência da necessidade de sempre oferecer
explicações, definições e especificações para facilitar o entendimento do conteúdo
científico das notícias e negociar significado de forma precisa com a audiência.
Essas duas formas de glosa reforçam o caráter didatizante desses textos e o papel
fundamental da glosa na reformulação do conhecimento científico em conhecimento
acessível ao público o-especializado, visto que facilitam o entendimento do
conteúdo cientifico das notícias por parte do público-alvo.
3.2.2 Monólogo do pesquisador: Argumento de autoridade
Um dos aspectos que mais chama a atenção nas notícias analisadas é a alta
incidência do emprego de citações com a voz do pesquisador responsável pelo
estudo, 100% de ocorrência neste corpus. Segundo Gomes (2000, p.181), em
função de não terem um conhecimento sobre o assunto abordado na notícia, os
jornalistas “buscam na voz do ‘outro’ (grifo da autora) a segurança necessária para o
que pretendem expor”. Zamboni (1997, p. 142) salienta que
a inserção das falas dos especialistas assume o caráter de argumento de
autoridade no discurso vulgarizado menos pela forma de dizer, e mais pela
possibilidade de revelar a ancoragem que lhe confere a autoridade do
discurso da ciência.
Hyland, (2005, p. 51), citando Thomas e Hawes, aponta que a inserção de
vozes ou Argumento de autoridade
24
, conforme nomenclatura adotada nesta
pesquisa, “são representações metalinguísticas da ideia de outra fonte, têm a função
de guiar a interpretação do texto e estabelecer um comando de autoridade sobre os
24
Adotaremos a nomenclatura proposta por Zamboni (1997), uma vez que esse termo parece
nomear a função que as citações desempenham nas notícias do corpus.
73
argumentos (tradução nossa)”. Esse recurso diferencia quem é responsável pelo
argumento e o quanto esse argumento pode contribuir para a persuasão (HYLAND,
2005, p. 51). A força retórica ou força do argumento nas notícias vai residir, portanto,
na autoridade do pesquisador citado. Nesse sentido, a “voz” do pesquisador pode
ser considerada estruturante do discurso nas notícias analisadas, visto que induzem
a adesão da audiência às teses apresentadas no texto. O emprego de citações
(sublinhado) está ilustrado nos exemplos 81 a 84.
Exemplo 81
CH#5 (Movimento 4
Descrição da metodologia / Passo b
referência aos dados)
"Aqui na Fundação, monitoramos, sobretudo cepas de Salmonella -- bactéria responsável pela
maioria das infecções alimentares-- e Shigella -- causadora de graves diarréias infantis", diz Dalia
Rodrigues, pesquisadora do Departamento de Bacteriologia da Fiocruz que participa do estudo.
Exemplo 82
CH#7 (Movimento 6
Indicação das conclusões da pesquisa / Passo c
limitações da
pesquisa) Mas o cientista ressalva que a descoberta deve ser tratada com cautela. "É sempre
arriscado dar recomendações individuais baseadas em estudos com grande número de pessoas”, diz.
Exemplo 83
CH#18 (Movimento 1
Lide) Concentração do composto em organismos marinhos não
ameaça o homem, diz estudo.
Exemplo 84
CH#19(Movimento 3
Referência a conhecimento prévio / Passo a
referência ao
conhecimento estabelecido na área) Rafael Salomão, engenheiro florestal do Museu Paraense
Emílio Goeldi e co-autor do estudo, explica que essas árvores podem chegar a 5 m de DAP e que a
escassez de exemplares com menos de 60 cm de DAP indica a falta de castanheiras jovens. "A
castanheira leva aproximadamente 18 anos para alcançar os 60 cm de DAP", diz. (Movimento 5 -
Explicação dos resultados da pesquisa/Passo a - exposição dos resultados)
"Nossa pesquisa aponta
uma relação direta entre o pequeno número de árvores nessa faixa de diâmetro e a ocorrência de
extração elevada”.
Nesses exemplos, observamos não o emprego de citações como também
sua recursividade nas notícias. No exemplo 81, é empregada a voz do especialista
para fazer menção à fonte dos dados de pesquisa. No exemplo 82 para indicar as
limitações do conhecimento popularizado. No exemplo 83, o termo “estudo”,
representando metonimicamente os pesquisadores, é empregado para indicar o
resultado principal da pesquisa no lide. Por fim, no exemplo 84, o pesquisador,
identificado por nome e credenciais, faz referência ao conhecimento estabelecido na
área e aponta os resultados da pesquisa. Esses exemplos mostram que as citações
assumem a função retórica do movimento no qual ocorrem. As Tabelas 8 e 9
ilustram a percentagem de ocorrência da voz do pesquisador nas notícias
analisadas.
74
Tabela 8
Monólogo do pesquisador/ notícias de PC sobre saúde
A Tabela 8 quantifica a ocorrência da voz do pesquisador nas notícias sobre
saúde. Nessa área, um alto índice de ocorrência nas porções finais dos textos,
73,33% nos trechos que explicam os resultados (Movimento 5) e 80% na exposição
das conclusões do estudo (Movimento 6), em contraste com o percentual de
ocorrência nos trechos que apresentam a pesquisa (Movimento 2) e descrevem a
metodologia (Movimento 4), 26,66% de ocorrência em ambos os trechos. Esses
números são bastante semelhantes nas notícias sobre meio ambiente, conforme
ilustra a Tabela 9.
Tabela 9
Monólogo do pesquisador / notícia de PC sobre meio ambiente
Textos Movimento 1 Movimento 2 Movimento 3 Movimento 4 Movimento 5 Movimento 6
1 - + - - - +
2 - - - + + +
3 - - + - + +
4 - - - + - +
5 - - - + - +
6 - + + - - -
7 -
+
- - + +
8 - - + - + +
9 - - - - + +
10 - - - - + +
11 - + + - + -
12 - - + - + +
13 - - + - + +
14 - - - - + -
15 - - - + + +
N 0 04 06 04 11 12
% 0% 26,66% 40% 26,66% 73,33% 80%
Movimento 1 2 3 4 5 6
Textos Movimento 1 Movimento 2 Movimento 3 Movimento 4 Movimento 5 Movimento 6
16 - - + - - +
17 - - - - + -
18 + - + - + -
19 - - + - + +
20 - - - + + +
21 - - - - + +
22 - - - + + -
23 - - - - + -
24 - - - - + +
25 - - - - + +
26 - - - - + +
27 - - - - + -
28 - - + - + +
29 + - - - + +
30 - - - - + +
N 02 0 04 01 14 10
% 13,33% 0% 26,66% 13,33% 93,33% 66,66%
Movimentos 1 2 3 4 5 6
75
Podemos observar que, nas notícias sobre meio ambiente, também há uma
maior concentração de citações nos trechos que explicam os resultados (Movimento
5
93,33%) e nos que indicam as conclusões da pesquisa (Movimento 6
66,66%),
em comparação com trechos que sintetizam o resultado principal da pesquisa de
forma resumida (13,33% no Movimento 1) ou contextualizam o estudo (26,66% no
Movimento 3). O alto índice de citações nesses trechos indica que, nas porções do
texto onde o conhecimento é de certa forma aprofundado, seja para explicar os
resultados de forma detalha (Movimento 5) ou para indicar as conclusões do estudo
(Movimento 6), o jornalista se apóia fundamentalmente na autoridade do
pesquisador entrevistado, legitimando os argumentos no texto. Na seção 3.4, na
sequência, (re)interpretamos os resultados procedentes dessa primeira etapa,
tomando por referência os dados levantados na análise do contexto (de veiculação e
produção das notícias).
3.3 A dialética: texto e contexto
3.3.1 Interpretando o texto com base no contexto
A análise dos contextos de veiculação e de produção das notícias do corpus
permitiu observar o papel regulador da prática social sobre a configuração textual do
gênero em questão. A análise realizada aqui foi feita a partir de dois procedimentos
metodológicos: coleta documental, realizada por meio da análise do site da revista
(contexto de veiculação do texto), e coleta com sujeitos, realizada através de um
questionário (contexto de produção) enviado aos editores.
A coleta documental nos ajudou a revisar o objetivo das notícias do corpus
resultante da análise textual a partir do confronto com o objetivo da revista (Anexo
C). Essa ação possibilitou observar como esses objetivos se materializam ou não no
texto. No site da revista, é apontado que seu objetivo com as publicações é “oferecer
ao leitor uma cobertura dinâmica da atualidade científica no Brasil e no mundo, ser
um canal direto entre o pesquisador e o público amplo, incentivando e ampliando o
interesse por ciências no país”. Esse objetivo se mostra incoerente com o
encontrado na análise das notícias do corpus: transmitir conhecimento científico ao
76
público não-especializado, na medida em que não um debate aberto sobre o
estudo popularizado. Nesse sentido, questionamos: de que forma poderá haver
interesse do público se a discussão sobre as novas descobertas científicas não está
ao alcance da sociedade ampla? O objetivo das notícias analisadas parece ser, na
verdade, buscar deixar o público consciente das atividades científicas realizadas no
Brasil e no exterior. Esse público é passivo, não participa da discussão, o que
prevalece é a opinião do próprio cientista, validada pela autoridade que emana de
sua condição de pesquisador.
Assim, transmitem-se informações, mas não se constrói conhecimento crítico,
que conecta um fato a sua causa e a sua consequência, que o localize no tempo em
relação ao que foi feito antes, que relaciona as várias vozes que expressam
diferentes pontos de vista
25
, somente o ponto de vista do pesquisador é expresso.
Isso indica que, nas notícias do corpus, prevalece a visão dominante da ciência em
que o processo de popularizar a ciência é visto como transmissão de conhecimento
e/ou tradução (HILGATNER, 1990; MOIRAND, 2003). A sociedade, portanto, é
mantida à parte da discussão científica ou da “Ciência dos Cientistas” (MENEZES,
2009). Hilgartner (1990, p.520) argumenta que “a visão dominante estabelece que o
conhecimento científico é inacessível ao público não-especializado”, servindo,
portanto, para a manutenção do papel do cientista como autoridade máxima. Assim,
conforme aponta Costa (1998 apud GERMANO, 2005, p. 13),
discursos que são mais poderosos para estabelecerem os seus critérios
como “verdadeiros” e os mais poderoso deles todos é atualmente o discurso
da ciência, que apoiado na validação concreta dos aparatos tecnológicos,
parece possuir a verdade absoluta.
O caráter monológico das notícias analisadas se mostra contrário à
concepção do processo de PC defendido por Myers (2003, p. 65), como “um terreno
de debates e práticas sociais”.
Em uma perspectiva mais contemporânea, o discurso de PC sai da esfera
científica restrita, passando a ser também tema de interesse da sociedade em geral.
Essa visão prevê a participação do cidadão não-especializado na discussão pública
da ciência, com caráter mais democrático, dando “maior controle social sobre os
impactos da ciência e da tecnologia na vida cotidiana” (ALBAGLI, 1996, p. 398).
25
Motta-Roth, comunicação pessoal, Universidade Federal de Santa Maria, 07 de janeiro de 2010.
77
Nesse sentido, as notícias de PC em inglês avançam em relação às notícias deste
corpus, uma vez que naquelas já se observa que a discussão sobre o estudo
popularizado não traz somente o ponto de vista do pesquisador, responsável direto
pela pesquisa, mas também a opinião de outros pesquisadores e representantes da
sociedade para comentar a pesquisa, tal como constatado por Motta-Roth e Lovato
(2009, p. 260-1). Em contraste com as noticias analisadas, as notícias em inglês
apresentam um caráter contra-hegemônico (Idem, p. 261).
O papel dos jornalistas nessa nova concepção do processo passa a ser,
portanto, de mediador da interação entre cientista e público, um articulador de um
número variado de discursos que vão além dos limites do discurso acadêmico
(BEACCO ET Al., 2002, p. 282) e não de um copilador de informações, tal como
acontece nas notícias deste corpus de análise. Nessa nova visão do processo de
PC, os jornalistas operacionalizam debates que objetivam questionar e avaliar as
implicações das descobertas científicas e dos avanços tecnológicos na sociedade.
Diferentemente, as notícias em português parecem ser construídas de modo a não
causar nenhuma dúvida no leitor em relação à validade dos resultados alcançados
com o estudo e sua importância. Os jornalistas têm, portanto, no emprego exclusivo
da voz do pesquisador que realizou a pesquisa, o suporte para dar credibilidade ao
relato, expondo por meio de suas credenciais o argumento que induzirá a adesão às
teses expostas no texto.
3.3.2 Orientações para escrever um texto de popularização da ciência, segundo a
Ciência Hoje Online
No site da revista Ciência Hoje, há um documento intitulado “Instruções para
autores” (disponível em: http://cienciahoje.uol.com.br/view/3190) que traz algumas
“dicas”, conforme é colocado pela própria revista, para orientar a escritura de um
texto científico voltado ao blico não-especializado. Apesar desse documento ser
um instrumento de orientação para a escritura de artigos de popularização científica
não motivo para desconsiderá-lo na análise das notícias de PC, uma vez que
ambos estão inseridos na mesma prática social, compartilhando, dessa forma, o
mesmo sistema de atividades. O editor da revista, em entrevista via e-mail,
78
esclarece a diferença entre artigo e notícia. Segundo ele, as notícias publicadas (na
revista e no site) são escritas por jornalistas e cobrem aspectos pontuais, enquanto
os artigos o assinados por pesquisadores e discorrem sobre uma grande questão
científica (Anexo C).
O documento disponível no site da revista nos ajudou a entender algumas
características interpessoais desses textos, características essas que estão
intimamente ligadas à relação estabelecida entre os participantes da interação, tal
como o emprego da glosa e da “vozdo pesquisador. nas primeiras linhas desse
documento é apontado que
É bom ressaltar que a linguagem usada em textos de divulgação científica
(grifo da revista) deve ser diferente da empregada em revistas científicas
especializadas. A primeira regra é ser simples (grifo da revista): não usar
termos técnicos nem jargões e fornecer explicações claras sempre que um
novo conceito for apresentado.
Esse fragmento pressupõe um processo transformacional da linguagem
especializada em linguagem acessível ao público não-especializado, caracterizado
por reformulações metadiscursivas, materializadas linguisticamente, nas notícias
analisadas, pelo emprego da glosa. A glosa parece ser, portanto, um instrumento
fundamental usado pelo jornalista no processamento do discurso científico para os
meios de comunicação de massa.
Na sequência, é sugerido aos escritores que elaborem a abertura do texto de
modo a causar impacto na audiência e prendar sua atenção.
As linhas iniciais são fundamentais para prender a atenção do leitor. Conte
parte de suas conclusões no início. Imagens fortes, depoimentos de impacto,
temas de interesse, analogias ou toques de humor podem ser usados para
motivar a leitura do texto.
Esse fragmento explica a presença dos resultados do estudo popularizado
no lide (Movimento 1) e nas primeiras linhas do texto (Movimento 2 Apresentação
da pesquisa) como estratégia para prender a atenção do leitor e garantir que ele
continuará lendo a notícia. O título de duas notícias que compõem o corpus explicita
“o toque de humor” empregado nas notícias: CH#2 “Dinheiro na mão, risco de
infecção, CH#28 “Amigos, mas não para sempre“.
Outra dica que também está relacionada com a busca pela brevidade e
pontualidade na escritura de um fato científico noticioso está ilustrada abaixo.
79
“Seja conciso: O espaço da revista e o tempo do leitor são preciosos.
Procure dar a informação essencial -- sem se apegar a detalhes -- da forma
mais concisa possível”.
O editor da revista, em entrevista via e-mail (Anexo C), complementa essa
informação, ressaltando que tanto as notícias do site como as da revista impressa
buscam oferecer um relato pontual sobre a pesquisa popularizada. Nas palavras do
editor,
(...) as notícias, publicadas tanto no site quanto na revista impressa, são
escritas por jornalistas e cobrem aspectos mais pontuais e factuais, sem a
pretensão de oferecer um panorama mais exaustivo sobre a questão
abordada na notícia
.
Tanto a passagem da entrevista quanto a sugestão para a escritura dos
textos explicam por que as notícias enfatizam os resultados da pesquisa e não o
contexto científico em que se inserem, focando aspectos sicos da atividade
científica popularizada, como metodologia, resultados, instituição onde a pesquisa
foi realizada e os pesquisadores envolvidos, seguindo o sistema e os critérios da
prática jornalística para produção de um fato noticioso.
Nesta seção, buscamos explicitar a relação dialética estabelecida entre o
texto e o contexto e a importância de integrar sempre à Análise de Gênero
(SWALES, 1990) a análise do contexto, assim, validando os dados e oferecendo
uma contextualização da análise (BHATIA, 1993, p. 34). Para Bathia (Idem: ibidem),
essa ação é fundamental quando se objetiva fazer uma análise relevante ao invés
de uma que seja meramente descritiva. Essa análise nos permitiu observar a função
reguladora da prática social sobre a forma de arranjo retórico das informações nas
notícias do corpus, tais como a busca por um relato pontual e preciso, característico
do jornalismo, e a inserção exclusiva da voz do pesquisador responsável pela
pesquisa como argumento para legitimar a pesquisa perante a sociedade mais
ampla e dar ao seu texto um caráter objetivo.
Contudo, apesar do discurso de popularização da ciência ser construído na
intersecção dos discursos cientifico e jornalístico (LEIBRUDER, 2000, p. 236),
observamos que a prática jornalística se sobrepõe à científica nas notícias
analisadas. Esses textos exprimem explicitamente uma estrutura organizacional que
segue os padrões de produção que tipificam a atividade jornalística, tais como a
pontualidade e factualidade no relato de um fato noticioso. Isso reafirma que a
estrutura organizacional de um gênero nunca é arbitrária, organiza-se de acordo
80
com o contexto em que é praticado. Já o discurso científico se configura nas notícias
por seu conteúdo, reportam uma nova descoberta científica.
81
CAPÍTULO 4 –
CONSIDERAÇÕES FINAIS, LIMITAÇÕES DO ESTUDO
E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS
Esta pesquisa teve como objetivo identificar e descrever a organização
retórica de notícias de popularização da ciência, publicadas no site da revista CH,
oferecendo uma representação esquemática desses textos que uma visão mais
precisa da forma como se organizam. A pesquisa realizada aqui se deu por meio de
um recorte no estudo prévio de Motta-Roth e Lovato (2009) sobre a organização
retórica do gênero notícia de PC, feito com o intuito de aperfeiçoar o modelo
apresentado, focando as notícias da CH. No presente recorte, incorporamos mais 15
notícias sobre meio ambiente à parte do corpus da publicação anterior (15 notícias
sobre saúde).
A ampliação do corpus de análise confirmou que as notícias de PC da CH se
organizam em seis movimentos retóricos, iniciando predominantemente por um
resumo do tópico principal da notícia (Movimento 1), seguido pela apresentação da
pesquisa (Movimento 2), normalmente por informações que complementam o lide e
identificam os pesquisadores, e pela contextualização da pesquisa (Movimento 3)
através de breves relatos que oferecem um panorama sobre o assunto reportado na
notícia de PC. Na sequência, são descritos os procedimentos metodológicos,
fazendo referência ao método e à fonte dos dados. As últimas duas porções das
notícias explicam os resultados da pesquisa (Movimento 5) e indicam as conclusões
do estudo (Movimento 6). Perpassando todo o texto, há a inserção de comentários
do pesquisador (Elemento A) e a explicação de termos e princípios científicos por
meio do emprego de glosa (Elemento B). A forma como as informações estão
arranjadas nas notícias do corpus indica que esses textos são construídos a partir da
técnica da Pirâmide invertida e têm, desse modo, por base uma ordenação que parte
do critério de relevância, que pode ser visto como uma estratégia discursiva usada
pelo jornalista para prender a atenção do leitor no texto.
Nossa análise também procurou mostrar que o processo de popularização da
ciência é marcado linguisticamente nas notícias pela glosa, empregada no texto para
converter a linguagem científica em linguagem acessível ao público não-
especializado. Confirmamos também por meio da análise das notícias sobre meio
ambiente que as notícias de PC da CH geralmente não contextualizam o estudo
82
popularizado, em termos de referência a estudos anteriores. Assim, verifica-se uma
premência na entrega do conteúdo da notícia ao leitor. Essas duas propriedades,
características da prática jornalística, mostram que a organização retórica das
notícias analisadas não é arbitrária. Esses textos se organizam segundo o sistema
de atividade da prática social na qual são praticados, no caso das notícias de PC, no
âmbito do jornalismo.
Por fim, observamos que as citações com a “voz” do pesquisador funcionam
como argumento de autoridade para validar o relato. Essa constatação reforça o
objetivo dessas publicações encontrado na análise realizada aqui: transmitir
conhecimento científico, visto que tendem a focar os resultados da pesquisa e sua
importância para a sociedade a partir do ponto de vista do pesquisador responsável
pela pesquisa. Não há, desse modo, uma discussão pública e democrática da
ciência de modo a ampliar o conhecimento: todo a discussão exposta se restringe ao
universo científico. Esse caráter monológico mostra que, nas notícias analisadas,
prevaleceu a visão dominante (HILGARTNER, 1990) e/ou tradicional (MOIRAND,
2003) da ciência: o jornalista assume o papel de compilador das informações
fornecidas pelo pesquisador entrevistado. As notícias analisadas sugerem, portanto,
um discurso que respaldo à hegemonia científica, o que interessa
pressupostamente ao público são somente os resultados da pesquisa, validados
pela condição do pesquisador como autoridade científica.
4.1 Limitações do estudo
A dificuldade encontrada na realização desta pesquisa está relacionada ao
fato de não podermos oferecer uma generalização maior da organização retórica do
gênero notícia de PC em português, conforme era previsto pelo projeto original, uma
vez que foram analisadas somente notícias publicadas no site da revista Ciência
Hoje. Nosso objetivo inicial era analisar notícias publicadas na Internet devido à
gratuidade e acessibilidade comumente oferecida por este ambiente virtual. Por essa
razão, inicialmente optamos pelos sites das revistas Ciência Hoje e Comciência. A
revista Comciência foi descartada no início da pesquisa por dois motivos 1) o
disponibilizava no site notícias publicadas em anos anteriores e 2) a maioria das
83
matérias jornalísticas publicadas na seção de Notícias não estavam de acordo com a
definição de notícia de popularização da ciência adotada neste estudo.
4.2 Sugestões para pesquisas futuras
Menezes (2009, p. 106) destaca que vivemos numa época em que tudo está
atrelado ao conhecimento científico. Assim, na educação escolar, o autor argumenta
que
as ciências devem ser pensadas como um equipamento essencial a e não
como uma admiração passiva da “Ciência dos cientistas”. Quem desconhece
a radiação que aciona, a fibra que veste, a proteína que come e o analgésico
que toma, não sabe como a vida surgiu e como evoluiu ou que a estrela
Dalva é o planeta Vênus. (...) Também desconhece que as Ciências não o
feitas de verdades eternas.
A partir dessas colocações, gostaríamos inicialmente de destacar a
importância de estudos sobre o processo de popularização da ciência a fim de
subsidiar o trabalho de professores de linguagem do contexto escolar e acadêmico,
uma vez que nossa área de estudo permite trabalhar em sala de aula os mais
variados gêneros sobre os mais variados assuntos. Portanto, ressaltamos a
necessidade de realizar mais pesquisas com esse tema, que busquem entender
como esse gênero se organiza, se há diferença quando publicados em meios de
comunicação midiáticos distintos ou quando abordam temas de outras áreas, como,
por exemplo, notícias de PC com temas relacionados às Ciências Sociais e
Humanas, Exatas, Rurais, etc.
Uma segunda sugestão seria abordar o gênero de forma mais crítica, dando
maior ênfase às regularidades das esferas sociais que se mesclam nesse gênero -a
científica e a jornalística. Nesse caso, sugerimos uma abordagem que ênfase às
estratégias discursivas e metadiscursivas de processamento do conhecimento
científico em textos de PC.
Por fim, cabe mencionar a importância de fazer pesquisas de natureza
prática, elaborando planos de ensino e materiais didáticos que incluam a produção
de relatos de pesquisa no contexto de sala de aula dos ensinos fundamental e
84
médio, em uma ação conjunta com professores de outras áreas, instaurando, dessa
forma, uma cultura de letramento científico na educação escolar brasileira.
85
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Campinas, SP: Unicamp. 200p. (Doutorado em Letras)-Programa de Pós-Graduação
em Letras, 1997.
91
ANEXO A Descrição esquemática da organização retórica da versão
jornalística do discurso médico (NWOGU, 1991, p. 115-116)
Move 1: Presenting Background Information
(a) reference to established knowledge in the field.
(b) by reference to main research problem.
(c) by stressing the local angle.
(d) by explaining principles and concepts.
Move 2: Highlighting Overall Research Outcome
(b) by reference to main results.
Move 3: Reviewing Related Research
(a) by reference to previous research
(b) by reference to limitations of previous research.
Move 4: Presenting New Research
(a) by reference to authors.
(b) by reference to research purpose.
Move 5: Indicating Observation
(a) by stating results
(b) by reference to specific observations.
Move 6: Describing Data Collection
(a) by reference to authors.
(b) by reference to source of data.
(c) by reference to data size.
Move 7: Describing Experimental Procedure
(a) by recounting main experimental processes.
Move 8: Explaining Research Outcome
(a) by stating a specific outcome.
(b) by explaining principles and concepts.
(c) by indicating comments and views.
(d) by indicating significance of main research outcomes.
(e) by contrasting present and previous outcomes.
Move 9: Stating Research Conclusions
(a) by indicating implications of the research.
(b) by promoting further research.
(c) by stressing local angle.
92
ANEXO B Instrumento de coleta de dados reformulado: Questionário 1:
coleta documental , Questionário 2: coleta com sujeitos e e-mail enviado à
redação da Ciência Hoje On-line
Questionário 1
1. Qual o objetivo da revista ao publicar notícias de popularização da ciência?
2. Qual é o público-alvo/audiência-alvo da revista?
Questionário 2
LABLER - LABORATÓRIO DE PESQUISA E ENSINO DE LEITURA E REDAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS
CENTRO DE ARTES E LETRAS
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
Santa Maria, 30 de junho de 2009.
Prezados editores da revista Ciência Hoje.
Sou bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES) no Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade
Federal de Santa Maria-RS.
Desde o início do ano passado, a equipe em que trabalho desenvolve um
estudo das notícias de popularização da ciência, dentro do Projeto de Produtividade
em Pesquisa/CNPq nº 301962/2007-3, Análise crítica de gêneros com foco em
artigos de popularização da ciência, coordenado por minha orientadora, Profª. Drª.
Désirée Motta-Roth. O objetivo da pesquisa é verificar como se configura o discurso
de popularização da ciência de modo a subsidiar o trabalho de professores de
linguagem interessados em refletir e em produzir ciência no contexto escolar.
93
Acreditamos que um aluno educado cientificamente desenvolve competências que
lhe possibilitam questionar e se posicionar frente às diferentes práticas científico-
tecnológicas que fazem parte da vida social.
Estou encarregada de analisar o site de sua revista e para a realização da
segunda etapa do estudo (a primeira etapa compreendeu a análise dos textos da
Ciência Hoje e sairá publicada como artigo no 2/2009 da Revista Linguagem em
Discurso, UNISUL), gostaria de solicitar a colaboração dos editores e autores das
notícias da sua revista.
Gostaria de entrevistá-los por e-mail, por meio das nove perguntas listadas
abaixo, sobre o processo de produção das notícias publicadas.
Peço que este e-mail seja encaminhado também para os jornalistas autores
das notícias e ressalto que a colaboração de vocês é primordial para o andamento
desta pesquisa.
Por favor, envie um e-mail para [email protected]
, a fim de declarar
a sua posição em relação à participação ou não na pesquisa. Por favor, utilize as
opções abaixo para explicitar sua posição.
( ) Aceito participar da pesquisa e autorizo a revelar meu nome como
informante da pesquisa.
( ) Aceito participar da pesquisa, mas não gostaria que meu nome fosse
revelado como informante da pesquisa.
( ) Não aceito participar da pesquisa.
Justificativa: _______________________________________________
Desde já agradeço a sua atenção e colaboração.
Aguardo resposta.
Cristina dos Santos Lovato
Endereço: R.: Jaguari 51, B.: Presidente João Goulart – CEP 97090-320
Santa Maria-RS
Fone: (55) 9983-5897
94
1. Qual é a fonte das notícias publicadas no site da revista?
2. Como são selecionadas as pesquisas reportadas nas notícias?
3. Como são selecionados os temas (saúde, tecnologia, etc.) das notícias?
4. É preciso obter consentimento dos autores e/ou do periódico para que uma
pesquisa (artigo publicado em periódico científico especializado) seja
noticiada? Se a resposta for sim, como esse consentimento é obtido?
5. Qual é o perfil dos autores que escrevem as notícias?
a) ( ) próprios pesquisadores/cientistas que desenvolveram a pesquisa
popularizada.
b) ( ) pesquisadores/cientistas atuantes na mesma área da pesquisa
popularizada.
c) ( ) jornalistas especializados em cada área específica (ex., bioquímica,
medicina, biologia).
d) ( ) jornalistas especializados em popularização da ciência em geral.
6. Mesmo quando a notícia não foi escrita pelo próprio pesquisador/cientista que
desenvolveu a pesquisa, o texto tende a oferecer o ponto de vista desse
pesquisador.
a) Como é feito o contato com o pesquisador que originalmente desenvolveu a
pesquisa?
b) Como é obtida a participação dele no processo de construção da notícia
publicada no site?
c) Qual é o grau de dificuldade para contatar esse pesquisador?
7.a) Os redatores das notícias devem seguir algum manual ou critérios de
formatação e organização/estruturação dessas notícias?
b) Em caso afirmativo, quais são esses critérios? c) Podemos ter acesso a eles?
Como?
8. Encontramos um documento na Internet, disponível no endereço
http://www.dft.if.uerj.br/particular/caio/CienciaHoje.htm, com instruções para
pesquisadores que pretendem publicar na revista.
95
a) Esse documento ainda vigora? As “dicas” disponíveis nesse endereço são
efetivamente adotadas na construção do texto?
b) Essas dicas são utilizadas tanto pelos redatores das notícias quanto pelos
pesquisadores que submetem artigo para publicação?
9. Quais são as diferenças entre os artigos e as notícias publicadas por vocês?
96
ANEXO C Questionários 1 e 2 com as respostas
Questionário 1
26
1. Qual o objetivo da revista ao publicar notícias de popularização da ciência?
Oferecer ao leitor uma cobertura dinâmica da atualidade científica no Brasil e no
mundo, ser um canal direto entre o pesquisador e o público amplo, incentivando e
ampliando o interesse por ciências no país.
2. Qual é o público-alvo/audiência-alvo da revista?
Professores e estudantes de ensino médio e pessoas que se interessam por ciência
em geral.
Questionário 2
Prezada Cristina,
Seguem minhas respostas para seu questionário, espero que sejam úteis. Fico à sua
disposição para resolver qualquer dúvida a esse respeito.
Atenciosamente,
Bernardo Esteves
Editor da Ciência Hoje On-line
http://www.cienciahoje.org.br/
Av. Venceslau Bras, 71 - casa 27
22.290-140 - Rio de Janeiro/RJ
Fone: (21) 2109-8999
Fax: (21) 2541-5342
(x) Aceito participar da pesquisa e autorizo a revelar meu nome como informante da
pesquisa.
( ) Aceito participar da pesquisa, mas não gostaria que meu nome fosse revelado
como informante da pesquisa.
( ) Não aceito participar da pesquisa.
1. Qual é a fonte das notícias publicadas no site da revista?
As notícias que publicamos são selecionadas de diversas fontes, que incluem (mas
não se restringem a): noticiário especializado publicado em jornais e revistas do
Brasil e do exterior; press-releases enviados por assessorias de imprensa de
universidades e centros de pesquisa do Brasil e do exterior; resumos de artigos a
26
Informações extraídas do site da revista no seguinte endereço: http://cienciahoje.uol.com.br/.
97
serem veiculados em periódicos técnicos enviados à imprensa por suas assessorias
de comunicação; lançamentos de livros de divulgação científica por editoras
brasileiras; etc.
2. Como são selecionadas as pesquisas reportadas nas notícias?
Elas são selecionadas em função de sua atualidade e de seu interesse e relevância
para o nosso público leitor, que é composto por leigos interessados por ciência de
maneira geral, ainda que tenhamos uma participação bastante expressiva de
estudantes e professores do ensino médio e universitário (portanto, somos
essencialmente uma revista destinada ao grande público). Além disso, tentamos
priorizar a ciência feita por pesquisadores brasileiros, sem perder de vista os
principais avanços da ciência internacional.
3. Como são selecionados os temas (saúde, tecnologia, etc.) das notícias?
Tentamos oferecer uma cobertura balanceada de todas as áreas da ciência,
inclusive as ciências sociais, ainda que, na prática, se note uma predominância de
temas ligados às ciências naturais e exatas.
4. É preciso obter consentimento dos autores e/ou do periódico para que uma
pesquisa (artigo publicado em periódico científico especializado) seja
noticiada? Se a resposta for sim, como esse consentimento é obtido?
Não. Em alguns casos, o autor do estudo relatado por um repórter tem acesso a
parte (ou à totalidade) do texto a ser publicado, de forma a evitar ou minimizar a
publicação de erros factuais. Nesses casos, o texto publicado leva em conta as
observações do pesquisador entrevistado.
5. Qual é o perfil dos autores que escrevem as notícias?
a) ( ) próprios pesquisadores/cientistas que desenvolveram a pesquisa
popularizada.
b) ( x ) pesquisadores/cientistas atuantes na mesma área da pesquisa
popularizada.
c) ( ) jornalistas especializados em cada área específica (ex., bioquímica,
medicina, biologia).
d) ( x ) jornalistas especializados em popularização da ciência em geral.
6. Mesmo quando a notícia não foi escrita pelo próprio pesquisador/cientista
que desenvolveu a pesquisa, o texto tende a oferecer o ponto de vista desse
pesquisador.
a) Como é feito o contato com o pesquisador que originalmente desenvolveu a
pesquisa?
Os autores dos estudos noticiados na CH On-line são geralmente entrevistados por
nossos repórteres - pessoalmente, quando estão no Rio de Janeiro; por telefone,
quando estão em outras cidades do Brasil; por e-mail ou Skype, quando moram no
exterior.
98
b) Como é obtida a participação dele no processo de construção da notícia
publicada no site?
Na maioria dos casos, ele é entrevistado e seu discurso aparece citado entre aspas,
no corpo do texto assinado pelo repórter. Em alguns casos, conforme relatado
acima, ele tem acesso prévio ao texto a ser publicado para evitar a publicação de
erros.
c) Qual é o grau de dificuldade para contatar esse pesquisador?
De maneira geral, é bastante cil entrar em contato com os pesquisadores por e-
mail ou telefone para o agendamento de uma entrevista.
7.a) Os redatores das notícias devem seguir algum manual ou critérios de
formatação e organização/estruturação dessas notícias?
Seguimos um manual de redação de circulação interna, elaborado por jornalistas da
casa. Esse documento diz respeito apenas a questões de padronização dos textos -
em que casos usar itálico, como grafar siglas, normas para uso de caixa alta e caixa
baixa etc. A estruturação e hierarquização das notícias não segue qualquer norma e
fica a critério de repórteres e editores.
b) Em caso afirmativo, quais são esses critérios?
Como dito acima, o manual citado rege apenas questões formais. Os critérios são
bastante similares aos dos manuais de redação dos grandes jornais brasileiros.
c) Podemos ter acesso a eles? Como?
Não.
8. Encontramos um documento na Internet, disponível no endereço
http://www.dft.if.uerj.br/particular/caio/CienciaHoje.htm, com instruções para
pesquisadores que pretendem publicar na revista.
a) Esse documento ainda vigora? As "dicas" disponíveis nesse endereço são
efetivamente adotadas na construção do texto?
As versões mais atuais das nossas instruções para autores estão disponíveis aqui:
http://cienciahoje.uol.com.br/view/3190
Essas instruções continuam em vigor. Mas vale dizer que elas se aplicam apenas
aos textos submetidos por pesquisadores à revista impressa, que tem um
mecanismo de controle de qualidade análogo ao da revisão por pares dos periódicos
técnicos. Nesse caso, pede-se aos autores que sigam essas instruções, e elas são
respeitadas mais ou menos à risca, em função de cada caso. Em seguida, os artigos
aprovados para publicação passam por uma edição feita por nossa equipe de
jornalistas, que segue de maneira geral o padrão proposto nas instruções para
autores. nos textos do site, não artigos publicados por pesquisadores (com
exceção das colunas publicadas às sextas-feiras por nossos oito articulistas que
escrevem uma vez por mês cada um). De resto, os textos jornalísticos do site (e da
revista) são escritos por repórteres que, embora não sigam um documento formal de
instruções para estruturar o texto, acabam por seguir de maneira geral o paradigma
do lide e da pirâmide invertida (seguido, em linhas gerais, pela grande maioria das
revistas e jornais brasileiros).
99
b) Essas dicas são utilizadas tanto pelos redatores das notícias quanto pelos
pesquisadores que submetem artigo para publicação?
Resposta incluída no item anterior.
9. Quais são as diferenças entre os artigos e as notícias publicadas por vocês?
Os artigos publicados na revista impressa (alguns deles são total ou parcialmente
reproduzidos no site) são assinados por pesquisadores e, de maneira geral,
apresentam o estado atual das pesquisas sobre uma grande questão científica.
as notícias, publicadas tanto no site quanto na revista impressa, são escritas por
jornalistas e cobrem aspectos mais pontuais e factuais, sem a pretensão de oferecer
um panorama mais exaustivo sobre aquela questão.
100
ANEXO D CH# 15
CH#15
O alerta do olfato
Estudo pioneiro da UFSC aponta meios de detecção precoce da doença de Parkinson
O sentido do olfato revelou-se um meio eficaz para o diagnóstico precoce do mal de Parkinson, doença neurodegenerativa que
atinge 1% da população mundial. A conclusão veio de um estudo realizado por pesquisadores do Departamento de
Farmacologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que confirmaram que a redução da sensibilidade olfativa e a
perda de habilidades cognitivas antecedem os sintomas motores clássicos da doença.
A perda do olfato é um dos primeiros sintomas do mal de Parkinson. Os prejuízos olfatórios estão associados à perda dos
neurônios dopaminérgicos, característica da doença. Esses neurônios produzem a dopamina, substância neurotransmissora de
impulsos relacionados com os movimentos musculares.
Para estudar esse processo experimentalmente, o grupo da UFSC trabalhou com
uma neurotoxina conhecida pela sigla MPTP, substância que também provoca a
morte dos neurônios produtores de dopamina. A pesquisa foi feita com o uso de ratos
de laboratório – investigações com humanos e outros primatas são mais difíceis de
serem realizadas em virtude de questões éticas.
Introduzida por via intranasal, a neurotoxina MPTP induziu nos roedores alterações
comportamentais e neuroquímicas semelhantes às notadas em portadores de
Parkinson. Prejuízo olfativo foi a primeira alteração percebida nos animais. “Os
procedimentos adotados permitiram uma análise mais precisa dos estágios da
doença e a descoberta de novos sintomas”, disse o farmacologista Rui Daniel
Prediger, um dos integrantes do grupo de pesquisa da UFSC.
“No futuro, após aprimoramento do estudo, testes periódicos de olfato, que são
simples e baratos, deverão ser aplicados em pessoas a partir de 50 anos com a finalidade de diagnosticar a doença
precocemente”, aposta Prediger. Juntamente com esse teste, serão feitos outros para descartar resultados equivocados (falsos
positivos), já que existem fatores de risco para alterações olfativas, como envelhecimento, tabagismo e alergias respiratórias.
O teste
Para investigar o olfato dos animais, os pesquisadores usaram uma caixa de madeira dividida em dois compartimentos
separados por uma porta. Em um, puseram serragem nova, sem cheiro, com a qual nunca tinham tido contado; no outro,
colocaram serragem familiar aos animais, impregnada com seu próprio odor. Os ratos que não receberam MPTP ficaram muito
mais tempo no ambiente ‘familiar’, enquanto aqueles com prejuízo olfativo permaneceram igual período de tempo nos dois
compartimentos, mostrando-se incapazes de diferenciá-los.
Logo após o primeiro dia de aplicação da toxina, os animais já apresentavam danos
olfativos. Semelhante ao observado na condição clínica, os ratos que receberam MPTP
só desenvolveram problemas motores tardiamente, três semanas após a administração
da toxina. O teste, desenvolvido por Prediger durante seu doutorado, realizado na UFSC,
é empregado atualmente em laboratórios de pesquisa da Alemanha e dos Estados
Unidos.
Além da eficiência do modelo experimental desenvolvido para pesquisar o mal de
Parkinson, outro diferencial inovador do estudo catarinense é a constatação de que a
doença pode ser causada por uma toxina ou um agente químico presente no meio
ambiente que alcançaria o organismo a partir da cavidade nasal.
“A incidência de Parkinson pode aumentar em indivíduos expostos a agrotóxicos ou a
metais pesados como alumínio e manganês”, afirma o farmacologista. Não se sabe ao
certo qual a causa principal da doea; sabe-se apenas que 10% dos casos são de
origem genética.
A doença
Os números impressionam. Cerca de 66 milhões de pessoas são acometidas pelo mal de
Parkinson no mundo, o equivalente a 20 vezes a população do Uruguai ou à soma das
populações da Espanha, Suécia e Portugal. No Brasil há aproximadamente 400 mil
parkinsonianos por volta dos 55 anos.
A doença de Parkinson só é diagnosticada quando cerca de 60% dos neurônios que
produzem dopamina estão degenerados e os níveis da substância ficam reduzidos a 20%. É uma doença com progressão bem
mais lenta se comparada com o mal de Alzheimer, podendo ficar até oito anos 'em silêncio'.
O fato de o processo neurodegenerativo já estar bastante avançado quando o diagnóstico é feito com base nos sintomas
motores pode ser um dos responsáveis pela falta de efetividade clínica dos diversos tratamentos usados para combater a
doença. Portanto, a identificação dos pacientes nos estágios iniciais da doença parece essencial para o sucesso de qualquer
terapia e meta médico-social.
Luan Galani Especial para a CH On-line / PR
05/09/2008
A bomba de infusão permite
determinar com segurança a
administração da neurotoxina
experimental MPTP em ratos de
laboratório, por via intranasal (arte:
Fábio Amorim Vieira).
Substância negra (área do
cérebro afetada na doença de
Parkinson) de ratos normais (no
alto, à esquerda) e de ratos que
receberam doses da neurotoxina
MPTP (à direita). Nas fotos de
baixo, vê-se a imagem
computadorizada de parte do
cérebro de um indivíduo normal
(esq.) e de outro acometido pelo
mal de Parkinson (dir.). Fotos:
Rui Daniel S. Prediger.
101
ANEXO E Exemplos de análise
CH#13
Crack diminui fertilidade
Fabíola Bezerra
Ciência Hoje On-line 21/01/2008
LIDE (1) Uso da droga causou degeneração de células produtoras de espermatozóides em
camundongos
§ 1
(2b) Fumar crack pode reduzir a fertilidade, [(2a) aponta estudo da Universidade de São Paulo (USP)].
[(4b) Camundongos] [(4a) expostos à fumaça proveniente da droga] tiveram suas células produtoras de
espermatozóides danificadas. [(5b) Os resultados indicam que esses efeitos podem ocorrer também em
humanos e causar danos irreversíveis ao aparelho reprodutivo de usuários de crack, [(B1-re)
principalmente jovens na puberdade]].
§ 2
(5a+A) “O crack induziu a morte de células dos testículos dos camundongos envolvidas no processo de
formação dos espermatozóides, o que pode significar uma redução no potencial reprodutivo", afirma
[(2a) o médico Júlio Cezar Zorzetto, que desenvolveu o estudo em sua tese de doutorado na Faculdade
de Medicina da USP].
§ 3
(4b) Para a pesquisa, Zorzetto usou 40 camundongos, [(B1-re) 20 jovens e 20 na fase adulta]. [(4a) Os
animais foram colocados em uma câmara e submetidos à inalação de fumaça de crack durante dois
meses, [(B1-re) tempo que o ciclo de formação dos espermatozóides [(B1-ee) (chamado de
espermatogênese)] leva para se completar nesses roedores]. A dose usada no experimento foi de cinco
gramas da droga por dia].
§ 4
(3a) A pedra de crack é feita a partir da pasta básica da cocaína (B1-re) (composta da folha da coca e de
ácido sulfúrico)], misturada a bicarbonato de sódio e água e aquecida. [(4b) A droga usada no estudo
tinha 57,6% de cocaína, quantidade que pode provocar também problemas no sistema cardiovascular,
[(B2) como hipertensão arterial e infarto do miocárdio e enzima].
§ 5
[(5a) Após a análise dos testículos dos animais, foi possível comprovar a redução da quantidade de
células germinativas que geram o espermatozóide, de túbulos seminíferos [(B1-ee) (estruturas onde
ocorre a espermatogênese)] e de células somáticas que nutrem e dão sustentação a todo o processo da
espermatogênese.
§6
(5a+A) Segundo Zorzetto, os camundongos mais jovens sofreram os maiores danos. “Nesses animais, os
efeitos do crack foram mais severos, com a diminuição significativa do número de células somáticas, além
da redução do número de túbulos seminíferos e das espermátides alongadas, [(B1-ee) células que estão
prontas para serem lançadas como espermatozóides].
§7
Dano irreversível
(3a+A) O pesquisador alerta que, embora as células germinativas tenham a capacidade de se regenerar,
isso não ocorre com as células somáticas. “O fato de essas células não se regenerarem indica que o
dano causado pelo uso de crack é irreversível e pode tornar os indivíduos estéreis.”
§8
(5c1/5b+A) O médico ressalta a importância do estudo, o primeiro a avaliar experimentalmente os efeitos
do crack em camundongos, uma vez que essa droga está se tornando cada vez mais popular e vem
sendo usada mais cedo, até por crianças. Segundo ele, os resultados sugerem que a redução do
potencial de fertilidade deve atingir diretamente os pré-adolescentes usuários da droga, [(B1-re) que
estão em pleno processo de maturação sexual]. [(6b+A) “Pretendemos continuar essa linha de pesquisa
e investigar novas drogas, [(B2) como o ecstasy”, completa ]].
102
CH#19
Coleta intensiva de Castanheiras
Julio Lobato
Ciência Hoje On-line 19/12/03
LIDE Extrativismo diminui número de árvores jovens e pode se tornar insustentável
(2b) A coleta intensiva de castanhas-do-pará é uma ameaça para a capacidade de renovão das árvores que
produzem essa semente. Aliada ao avanço da fronteira agrícola e pecuária, ela torna a extração insustentável a longo
prazo e põe em risco as populações das castanheiras. O alerta foi divulgado [(2a) por 17 pesquisadores coordenados
pelo brasileiro Carlos A. Peres, da Universidade East Anglia (Reino Unido) e da Universidade de São Paulo], [(2d) em
artigo publicado em 19 de dezembro na revista Science ].
2§ (3b) Além de comestível, a castanha-do-pará é matéria prima para as indústrias farmacêutica, alimentícia e de
cosméticos e tem grande importância para a economia da região amazônica. Só na Amazônia brasileira, são retiradas
45 mil toneladas da castanha por ano, vendidas a mais de US$ 33 milhões. A castanha-do-pará é a única semente
comercializada internacionalmente que é totalmente coletada em florestas primárias.
(3a) A coleta é simples: o fruto [(B1-ee) (ouriço)] que contém as castanhas se desprende da árvore e pode ser pego no
chão. E, embora o extrativismo não traga danos imediatos às castanheiras, ele prejudica a reprodução da espécie.
[(5a) A equipe de Peres concluiu que, em áreas onde exploração intensa e constante da semente, é pequena a
população de árvores com menos de 60 cm de diâmetro à altura do peito [(B1-ee) (ou DAP, que equivale ao diâmetro
a 1,30 m do solo)] ].
(3a+A) [(2a) Rafael Salomão, engenheiro florestal do Museu Paraense Emílio Goeldi e co-autor do estudo], explica que
essas árvores podem chegar a 5 m de DAP [(5a) e que a escassez de exemplares com menos de 60 cm de DAP
indica a falta de castanheiras jovens]. [(3a) "A castanheira leva aproximadamente 18 anos para alcançar os 60 cm de
DAP", diz]. [(5a+A) "Nossa pesquisa aponta uma relação direta entre o pequeno número de árvores nessa faixa de
diâmetro e a ocorrência de extração elevada ]"].
5§ (4a) Ao todo, a equipe examinou [(4b) 22 populações de castanheiras em matas primárias no Brasil, no Peru e na
Bolívia, que haviam sofrido diferentes graus de exploração]. Para reconstituir o histórico de exploração de cada grupo,
os pesquisadores usaram dados públicos e entrevistaram trabalhadores ligados à atividade nas regiões estudadas].
Foram estimados a proporção de frutas retiradas e de árvores coletadas, o período de extração desde 1900 e a
freqüência com que a colheita foi interrompida durante esse período.
6§ (4a) Tais dados foram comparados com informações coletadas pelas diferentes equipes que catalogaram, contaram e
mediram as castanheiras. [(5b) O levantamento permitiu determinar a quantidade de frutificação em cada época e,
assim, indicar as relações entre a intensidade da atividade extrativista e a ocorrência de plantas jovens].
7§ (6a+A) "Devemos nos preocupar mais com o extrativismo da castanha-do-papara garantirmos sua sustentabilidade
para os próximos anos", alerta Salomão. [(3a) “A reprodução da castanheira é difícil, pois a amêndoa in natura [(B1-
ee) (com casca)] demora quase dois anos para germinar e depende de uma clareira para isso"].
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