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ANEXO D – CH# 15
CH#15
O alerta do olfato
Estudo pioneiro da UFSC aponta meios de detecção precoce da doença de Parkinson
O sentido do olfato revelou-se um meio eficaz para o diagnóstico precoce do mal de Parkinson, doença neurodegenerativa que
atinge 1% da população mundial. A conclusão veio de um estudo realizado por pesquisadores do Departamento de
Farmacologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que confirmaram que a redução da sensibilidade olfativa e a
perda de habilidades cognitivas antecedem os sintomas motores clássicos da doença.
A perda do olfato é um dos primeiros sintomas do mal de Parkinson. Os prejuízos olfatórios estão associados à perda dos
neurônios dopaminérgicos, característica da doença. Esses neurônios produzem a dopamina, substância neurotransmissora de
impulsos relacionados com os movimentos musculares.
Para estudar esse processo experimentalmente, o grupo da UFSC trabalhou com
uma neurotoxina conhecida pela sigla MPTP, substância que também provoca a
morte dos neurônios produtores de dopamina. A pesquisa foi feita com o uso de ratos
de laboratório – investigações com humanos e outros primatas são mais difíceis de
serem realizadas em virtude de questões éticas.
Introduzida por via intranasal, a neurotoxina MPTP induziu nos roedores alterações
comportamentais e neuroquímicas semelhantes às notadas em portadores de
Parkinson. Prejuízo olfativo foi a primeira alteração percebida nos animais. “Os
procedimentos adotados permitiram uma análise mais precisa dos estágios da
doença e a descoberta de novos sintomas”, disse o farmacologista Rui Daniel
Prediger, um dos integrantes do grupo de pesquisa da UFSC.
“No futuro, após aprimoramento do estudo, testes periódicos de olfato, que são
simples e baratos, deverão ser aplicados em pessoas a partir de 50 anos com a finalidade de diagnosticar a doença
precocemente”, aposta Prediger. Juntamente com esse teste, serão feitos outros para descartar resultados equivocados (falsos
positivos), já que existem fatores de risco para alterações olfativas, como envelhecimento, tabagismo e alergias respiratórias.
O teste
Para investigar o olfato dos animais, os pesquisadores usaram uma caixa de madeira dividida em dois compartimentos
separados por uma porta. Em um, puseram serragem nova, sem cheiro, com a qual nunca tinham tido contado; no outro,
colocaram serragem familiar aos animais, impregnada com seu próprio odor. Os ratos que não receberam MPTP ficaram muito
mais tempo no ambiente ‘familiar’, enquanto aqueles com prejuízo olfativo permaneceram igual período de tempo nos dois
compartimentos, mostrando-se incapazes de diferenciá-los.
Logo após o primeiro dia de aplicação da toxina, os animais já apresentavam danos
olfativos. Semelhante ao observado na condição clínica, os ratos que receberam MPTP
só desenvolveram problemas motores tardiamente, três semanas após a administração
da toxina. O teste, desenvolvido por Prediger durante seu doutorado, realizado na UFSC,
é empregado atualmente em laboratórios de pesquisa da Alemanha e dos Estados
Unidos.
Além da eficiência do modelo experimental desenvolvido para pesquisar o mal de
Parkinson, outro diferencial inovador do estudo catarinense é a constatação de que a
doença pode ser causada por uma toxina ou um agente químico presente no meio
ambiente que alcançaria o organismo a partir da cavidade nasal.
“A incidência de Parkinson pode aumentar em indivíduos expostos a agrotóxicos ou a
metais pesados como alumínio e manganês”, afirma o farmacologista. Não se sabe ao
certo qual a causa principal da doença; sabe-se apenas que 10% dos casos são de
origem genética.
A doença
Os números impressionam. Cerca de 66 milhões de pessoas são acometidas pelo mal de
Parkinson no mundo, o equivalente a 20 vezes a população do Uruguai ou à soma das
populações da Espanha, Suécia e Portugal. No Brasil há aproximadamente 400 mil
parkinsonianos por volta dos 55 anos.
A doença de Parkinson só é diagnosticada quando cerca de 60% dos neurônios que
produzem dopamina estão degenerados e os níveis da substância ficam reduzidos a 20%. É uma doença com progressão bem
mais lenta se comparada com o mal de Alzheimer, podendo ficar até oito anos 'em silêncio'.
O fato de o processo neurodegenerativo já estar bastante avançado quando o diagnóstico é feito com base nos sintomas
motores pode ser um dos responsáveis pela falta de efetividade clínica dos diversos tratamentos usados para combater a
doença. Portanto, a identificação dos pacientes nos estágios iniciais da doença parece essencial para o sucesso de qualquer
terapia e meta médico-social.
Luan Galani Especial para a CH On-line / PR
05/09/2008
A bomba de infusão permite
determinar com segurança a
administração da neurotoxina
experimental MPTP em ratos de
laboratório, por via intranasal (arte:
Fábio Amorim Vieira).
Substância negra (área do
cérebro afetada na doença de
Parkinson) de ratos normais (no
alto, à esquerda) e de ratos que
receberam doses da neurotoxina
MPTP (à direita). Nas fotos de
baixo, vê-se a imagem
computadorizada de parte do
cérebro de um indivíduo normal
(esq.) e de outro acometido pelo
mal de Parkinson (dir.). Fotos:
Rui Daniel S. Prediger.