131
“Nesse primeiro momento já havia uma percepção clara dessa
divisão entre linha dura e moderados?
A percepção era muito tênue no início, mas foi se acentuando.
Havia muitos oficiais que eram moderados e cuja tendência era se agrupar
em torno do Castello. E havia outros que eram mais exaltados, mais
radicais, e que se uniram em torno do Costa e Silva. Essa divisão continuou
até o meu governo: quando fui presidente da República, ainda tive que
enfrentar o problema da linha dura. Os que estavam em torno do Castello
tendiam para a normalização da vida do país. E os outros achavam que não,
que era preciso continuar o expurgo. Terminaram criando um lema que era
inteiramente negativo. Era o contra. Diziam que eram contra a corrupção e
contra a subversão. Como seria possível construir o Brasil com a divisa de
ir contra? Era preciso construir, e não destruir.[...]
de armas na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais em 1938, e, no ano seguinte, foi designado instrutor de
artilharia na Escola Militar de Realengo. Em 1941 ingressou na Escola do Estado-Maior do Exército e, em 1952,
foi designado como membro permanente da ESG. Durante esse período que Geisel consolidou sua formação
militar, atuou nos governos dos presidentes Getúlio Vargas, Dutra e Café Filho. Durante o período em que Jânio
Quadros renunciou à presidência, em 1961, e João Goulart estava impedido de tomar posse da presidência da
República, Geisel foi nomeado chefe do Gabinete Militar do presidente em questão, Pascoal Mazzilli. Após o
golpe militar, Geisel e outros generais da, então, chamada “Sorbonne”, trabalharam para que o nome do general
Castelo Branco fosse aceito para presidência da República, em oposição à candidatura do general Costa e Silva.
Quando Castelo Branco tornou-se presidente, em 1964, nomeou Ernesto Geisel para a chefia de seu Gabinete
Militar. Em 1966, foi promovido a general do exército e, no ano seguinte, nomeado a Ministro do Superior
Tribunal Militar, onde ficou até 1969. No início do governo Médici, Geisel foi nomeado à presidência da
Petrobrás, onde ficou até 1973. No final do mandato do general Emílio Garrastazu Médici, o nome de Geisel foi
indicado pela ARENA para candidato à presidência. A eleição, em 1973, resultou em 400 votos em favor do
general Geisel e 76 votos para o “anticandidato” Ulisses Guimarães, do MDB. Ernesto Geisel tomou posse da
presidência no dia 15 de março de 1974 e, com ele, iniciou-se o período de abertura política “lenta, gradual e
segura”. Suas políticas expressaram o pensamento da linha moderada, da qual foi adepto desde que entrou na
ESG: o máximo de desenvolvimento e o mínimo de segurança dispensável. Nesse sentido, Geisel reatou as
relações diplomáticas com a China, firmou um acordo nuclear com a Alemanha, além de estabelecer relações
diplomáticas com os Emirados Árabes, Bahrein e reconheceu o governo português formado após a derrubada do
governo salazarista. O Brasil começou a aproximar suas relações com os países do Oriente Médio, mostrando-se
ao contrário da ocupação israelense nos territórios árabes e reconhecendo os direitos do povo palestino. Sua
política econômica foi definida no II Plano Nacional de Desenvolvimento, um conjunto de políticas econômicas
que procuram tornar o Brasil menos dependente de fontes de energia importadas, além de concentrar seus
esforços em desenvolver as indústrias de comunicação, transporte, entre outras de setores fundamentais. Tais
mudanças econômicas e políticas aumentaram a tensão interna já existente no governo militar, tornando as
diferenças entre militares moderados e linha dura explícitas. Liderando os mais radicais, o ministro do Exército,
Sylvio Frota, oferecia resistência aos planos de Geisel e, ao longo do tempo ela transformou-se em
enfrentamento ao presidente: desobedeceu a uma ordem direta de Geisel ao impedir a reentrada de Leonel
Brizola no Brasil e não controlou a violência nos órgãos de repressão após a morte de Vladimir Herzog, como o
presidente havia exigido. Sylvio Frota era militar da linha dura e candidato a ser o sucessor de Geisel, enquanto
este era favorável a ter Figueiredo como próximo presidente. Nesse contexto, Frota passou a pressionar Geisel a
aceitá-lo como candidato oficial à presidência. Geisel, além de não aceitar, o demitiu. Tal medida amenizou as
discrepâncias internas do governo e permitiu a ele implementar novas medidas visando a abertura política no
Brasil. Em 1977, Geisel tentou aprovar o chamado Pacote de Abril, que abrangia uma série de reformas na esfera
judiciária, porém, não conseguiu a maioria no Congresso e o projeto foi reprovado. Então, decretou recesso do
Congresso e aprovou-o, obtendo a fachada legal incluisive para medias eleitorais que garantissem a abertura
segura. A partir de 1977, Geisel começou a substituir os mecanismos do AI-5 por salvaguardas constitucionais e
instituiu a missão Portela, encarregada de negociar com diversos setores da sociedade – OAB, sindicatos, ABI e
CNBB- para reformar as políticas institucionais. Em 1978, no encerramento de seu mandato, revogou o AI-5,
restabeleceu o hábeas corpus, aboliu as penas de morte, prisão perpétua e banimentos, entre outras medidas
consideráveis que descomprimiu a máquina política do Brasil. Em 1980, tornou-se presidente da empresa
Nordeste Química S.A. (Norquisa). Após o fim de seu mandato, afastou-se dos cargos públicos, e sua atuação
política, embora muito procurada por políticos, manteve-se discreta: ajudou a fundar o PDS e apoiou a criação
do PFL. Em 1990, aposentou-se na Norquisa. Ernesto Geisel faleceu em 1996, no Rio de Janeiro.