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que leva seu nome e os Atos dos Apóstolos. Em sua primeira obra, ele descreve os
acontecimentos que antecedem o nascimento de Jesus e culmina com a assunção
deste aos céus. Na segunda, narra os fatos que aconteceram após a assunção de
Jesus (história da Igreja Primitiva) e termina com a prisão de Paulo em Roma
(SANTOS, 2008, p. 51).
Os Roteiros para Reflexão VIII (2005, p. 48-49) relatam-nos que, ao ler o
Terceiro Evangelho e o livro dos Atos, percebemos que os destinatários verdadeiros
são as comunidades cristãs espalhadas por todo o Império Romano, que têm
ligações com Paulo e que podem ser caracterizadas como:
a) Comunidades urbanas, diferentes das comunidades rurais da Palestina.
A palavra ‘cidade’ aparece 40 vezes em Lucas, enquanto em Mateus aparece
26 vezes e em Marcos apenas oito vezes. No livro dos Atos, Paulo anda de
cidade em cidade.
b) Comunidades nas quais participam ricos e pobres. Lucas é o único que
narra a conversão de Zaqueu, que era rico (19,1-10), e é veemente em
apontar os perigos da riqueza, insistindo na necessidade de se desfazer dela
e de dar esmolas (3,11; 5,11.28; 6,30; 11,41; 12,33-34; 14,13.33; 16,9; 18,22;
19,8). O flagrante contraste de pobres e ricos é enfatizado nas bem-
aventuranças e maldições, que são uma interpelação direta aos ouvintes
(6,20-26), e na parábola do pobre Lázaro (16,19-31).
c) Comunidades em que há cristãos que se converteram, mas continuaram
ligados às instituições do Império (7,1-10). Publicanos e soldados acorrem à
pregação de João Batista (3,12-14). Lucas não quer criar problemas com o
Império que já está perseguindo os cristãos. Só no seu Evangelho, Jesus,
antes de morrer, pede perdão ao Pai por aqueles que o condenaram, ‘porque
não sabem o que fazem’ (23,34).
d) Em Lucas, Jesus dá especial atenção às mulheres (7,36-50; 8,1-3; 10,38-
42; 13,17; 15,8-10). Isto é muito significativo numa época em que a mulher
era marginalizada e não contava. Contudo tinham uma presença marcante
nas igrejas que se reuniam nas casas.
e) No episódio dos discípulos de Emaús (24,13-35), próprio de Lucas,
sente-se que havia uma situação de desânimo, de decepção, de quase
revolta. As comunidades, lá pelos anos 80, deviam atravessar uma crise
muito forte. Os cristãos eram uma pequena minoria, sujeita a todo tipo de
repressão e ameaça. Muitos estavam abalados em sua fé em Jesus e não se
sentiam seguros na vida solidária e fraterna da comunidade. Era preciso
renovar sua fé na presença incógnita de Jesus ressuscitado e salientar o
valor da partilha à mesa, onde ele se revela (ROTEIROS PARA REFLEXÃO
VIII, 2005, p. 48-9).
Lucas quer “tornar o cristianismo aceito dentro de um horizonte mais amplo,
procurando ligar a experiência do povo hebreu à problemática de toda a
humanidade” (WENZEL, 1998, p, 12).
O Evangelho de Lucas se destina a comunidades urbanas, das quais ricos e
pobres fazem parte, em que há cristãos convertidos, mas ainda ligados às estruturas
do Império. Comunidades onde a presença das mulheres é significativa. O episódio