sentidos de percepção
355
. Ademais, submete-se a Deus
356
, de quem está mais
próximo do que as bestas. Essa superioridade se estabelece quanto à excelência
de natureza, e não segundo localização espacial
357
; daí ser a mente superior ao
mais sublime dos corpos, a saber, o céu onde brilham os astros.
354
“caeterorum animalum rationis expertium”. O olho interior, ou olho do espírito, é capaz de
ver, mediante a elevação do espírito, o que nenhum dos animais poderia ver, embora eles sejam
capazes de enxergar, como os homens, as criaturas corporais (cf. Gn. litt., IV, vii, 13).
355
O poder que Deus deu ao homem de dominar e domesticar todos os animais é interpretado
aqui como antes. A mente tem poder de dominar e domesticar os apetites e as dores humanas,
acalmando o comportamento desenfreado e selvagem, que se transforma, então, em costumes
humanos.
356
Agostinho se afasta da perspectiva grega. Marie-Anne Vannier cita um artigo de J. Pepin, ao
qual não tivemos acesso: “Em primeiro lugar, o apelo à transcendência interiorizada, que
caracteriza ambas as doutrinas, é para s. Agostinho uma conversão a uma pessoa, um recurso à
presença na alma do Deus tri-pessoal, especialmente, do Verbo. Ora, não há nada disso em
Plotino. O Uno carece da determinação mínima indispensável a qualquer pessoa [...]. Em
segundo lugar, o apelo à transcendência aparece em Agostinho como uma conversão a uma
pessoa amante [...]. Nada disso há no alexandrino, para quem o Uno não conhece o mundo
emanado dele por necessidade. Enfim, em Agostinho, a conversão a uma pessoa é também a
conversão de uma pessoa; a alma, em seu retorno unificante a Deus, Mestre interior, conserva
sua personalidade distinta; ela jamais esquece que ela (não) é parte da substância divina [...].
Para Plotino, ao contrário, o contato com o Uno volatiliza a personalidade, a ponto de o vidente
perder qualquer noção de si mesmo. A conversão, para Agostinho, não visa a reintegração do
homem ao princípio, mas se estabelece a partir da diferença intransponível entre criador e
criatura, alicerçando-se no diálogo e na relação com o criador” (PEPIN, J., “Le problème de la
communication des consciences chez Plotin et S. Augustin”. In: Revue de metaphysique et morale
55 (1950) 145-147, apud VANNIER, M.-A., ‘Creatio’, ‘conuersio’, ‘formatio’ chez s. Augustin., p. 136).
357
“Sed hoc excellit in homine, quia Deus ad imaginem suam hominem fecit, propter hoc quod
ei dedit mentem intellectualem, qua praestat pecoribus” (Gn. litt., VI, xii, 22). Gilson defende
que “a razão metafísica da união da alma com o corpo, em santo Agostinho, é a alma dever
servir de intermediária entre o corpo que ela anima e as Idéias de Deus que a animam. Como a
alma está em contato com as idéias divinas, eis um problema que ainda não está em tempo de
ser abordado. Digamos, ao menos, que ela está e, também, da maneira mais próxima possível. A
proximidade, que está aqui em questão, evidentemente não é uma proximidade de lugar, mas
de natureza. A alma, porque é espiritual, não está separada das idéias divinas por nada, as
quais são elas mesmas de natureza espiritual. O corpo, ao contrário, precisamente porque é
estendido no lugar, é incapaz de participar diretamente da natureza das idéias. Portanto, é
necessário um intermediário entre elas e ele, e tal intermediário é a alma. Com efeito, um corpo
é o que é somente por sua forma, a ordem de suas partes e as relações numéricas às quais ele
obedece; é a alma que as confere a ele e, por conseqüência, o faz ser o que ele é. Mas ela não as
confere para ele senão porque as têm a partir das idéias divinas. Logo, se o corpo não
participasse dessas idéias, ele não seria o que é; mas se participasse tão imediatamente quanto a