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UNESP
FACULDADE DE ENGENHARIA DO CAMPUS DE GUARATINGUETÁ
Guaratinguetá
2009
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GLAUCE GONZAGA SILVA
ANÁLISE BIOMECÂNICA DA MARCHA DE MULHERES
COM USO DE SAPATOS COM SALTOS EM SOLO PLANO E INCLINADO
Dissertação apresentada à Faculdade de
Engenharia do Campus de Guaratinguetá,
Universidade Estadual Paulista, para a obtenção
do título de Mestre em Engenharia Mecânica na
área de Projetos.
Orientador: Prof. Dr. João Alberto de Oliveira
Guaratinguetá
2009
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S586a
Silva, Glauce Gonzaga
Análise biomecânica da marcha de mulheres com uso de sapatos com
saltos em solo plano e inclinado. / Glauce Gonzaga Silva
Guaratinguetá : [s.n], 2009.
106f. : il.
Bibliografia: f. 97-103
Dissertação (Mestrado)
Universidade Estadual Paulista,
Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá, 2009.
Orientador: Prof. Dr. João Alberto de Oliveira
1. Biomecânica I. Título
CDU 612.766
DADOS CURRICULARES
GLAUCE GONZAGA SILVA
NASCIMENTO 07.04.1982 – JACAREÍ / SP
FILIAÇÃO Luiz Gonzaga da Silva
Maria Auxiliadora Lopes
2001/2005 Curso de Graduação em Fisioterapia
Universidade de Taubaté - UNITAU
2006/2007 Curso de Pós-Graduação Latu sensu em Fisiologia do
Exercício – Universidade Federal de São Paulo -
UNIFESP
2007/2009 Curso de Pós-Graduação Strictu sensu em Engenharia
Mecânica, nível de Mestrado - Universidade Estadual
Paulista (UNESP) - Faculdade de Engenharia do
Campus de Guaratinguetá - SP.
Dedico este trabalho à minha família, minha fortaleza.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, minha força maior, meu maior incentivador, devo a Ele
todas as bênçãos alcançadas em minha vida,
ao amigo Prof. Dr. João Alberto de Oliveira, meu orientador, que compartilhou
comigo cada desafio dessa jornada; meus sinceros agradecimentos ao senhor;
aos professores doutores Tamotsu Hirata, José Elias Tomazini e Luiz Fernando
Nascimento, que responderam pacientemente a todas as minhas dúvidas, contribuindo
para a conclusão desse estudo;
ao amigo Gilberto, que dedicou seus momentos de descanso para me ensinar
Física e Cálculo,
ao colega Eduardo Nagata, que me ajudou durante a coleta de dados,
aos funcionários do SAEPE e do CTIG da FEG, que gentilmente emprestaram os
tripés para a pesquisa,
aos funcionários e amigos do Departamento de Mecânica da UNESP, que
contribuíram para a realização deste trabalho. Devo ressaltar meu especial
agradecimento aos funcionários e agora amigos: Urbano Gonçalves e Walter
Tupinambá, bastante solícitos, me ajudaram na busca de soluções; também agradeço
Rodolfo e Pedro, que me ajudaram durante os imprevistos do trabalho; à Rose, Lúcia,
Salete, Ellen, que responderam às minhas solicitações com muito carinho;
às funcionárias da biblioteca, em especial à Rosana e à bibliotecária Ana Maria
Ramos Antunes, por toda gentileza e cordialidade nos atendimentos,
meu especial agradecimento a todas as voluntárias que de forma paciente e
compreensiva participaram da minha pesquisa,
aos meus amigos mestrandos e doutorandos da FEG, com os quais pude
compartilhar momentos de alegria e de aprendizado,
a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a realização desse
trabalho.
APOIO FINANCEIRO
Este trabalho contou com apoio da seguinte entidade:
- CAPES
“Conhecimento sem transformação não é sabedoria.”
(Paulo Coelho)
SILVA, G.G. Análise Biomecânica da Marcha de Mulheres com uso de Sapatos
com Saltos em Solo Plano e Inclinado. 2009. 106 f. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Mecânica) – Universidade Estadual Paulista Faculdade de Engenharia do
Campus de Guaratinguetá – SP.
RESUMO
É grande o número de mulheres que faz uso de sapatos com saltos na atualidade
durante várias horas por dia, sendo freqüentemente sujeitas a andarem por diversos
tipos de superfícies, sejam elas planas ou inclinadas, submetendo o sistema músculo-
esquelético a esforços variados. Os objetivos do presente estudo foram: adaptar uma
esteira para realização de análise biomecânica; analisar a marcha de mulheres com uso
de sapatos com saltos em comparação com a condição descalça; analisar a influência
da inclinação da superfície sobre o padrão de marcha dos indivíduos e relacionar o
efeito da utilização do calçado com salto com o efeito da inclinação da superfície.
Uma esteira elétrica foi adaptada através da colocação de plataformas de força
independentes para o direito e esquerdo, com o uso de 8 anéis e 32 extensômetros
em localização estratégica.Um tripé e uma câmera fotográfica digital foram utilizados
para a análise cinemática do joelho direito no plano sagital.Dez voluntárias jovens e
saudáveis participaram do estudo, andando sobre a esteira descalças e com uso de
sapatos com saltos de 5,0 cm, no plano horizontal, inclinado a 1,83° e 3,61°. Cada
condição foi analisada durante 10 segundos, totalizando 60 segundos de análise de
cada voluntária. A análise estatística não-paramétrica (teste de Wilcoxon) (p<0,10)
demonstrou que o uso de sapatos com saltos com 5 cm de altura associado à marcha
em plano horizontal e inclinado de 1,83° e 3,61° não altera o ângulo mínimo de flexão
do joelho no plano sagital, porém exerce influência sobre o ângulo máximo do mesmo
no plano horizontal, diminuindo-o com o uso do calçado. Foi constatado também que
o uso do referido calçado apresenta relação com a velocidade da marcha de forma
inversamente proporcional à inclinação da superfície, com exceção da inclinação de
3,61° com o uso de calçado, situação na qual observou-se valor próximo ao da
condição descalça no plano horizontal. A marcha em plano inclinado de 3,61° com uso
de calçado com salto de 5 cm gera aumento do primeiro pico de força. O mesmo
calçado gera, entretanto, diminuição do segundo pico de força tanto no plano
horizontal como nas duas inclinações estudadas. Diante dos achados do presente
estudo, conclui-se que o calçado estudado exerce influências em determinadas
características cinemáticas e cinéticas da marcha, o que exige certa parcimônia em sua
utilização freqüente.
PALAVRAS-CHAVE: Análise de marcha. Sapatos com saltos. Biomecânica.
SILVA, G.G. Biomechanical gait analysis of women using high-heeled shoes in
horizontal and inclined walkway. 2009. 106 f. Dissertation (Mestrade in Mechanical
Engineering) - Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá, Universidade
Estadual Paulista, Guaratinguetá.
ABSTRACT
Actually it's large the number of women that make use of high-heeled shoes for several
hours a day, often being subdued to gait different types of surfaces, smooth and/or
inclined, subjecting the musculoskeletal system to a variety of efforts. The present
study’s intentions were: to adapt a treadmill for the biomechanical analysis; to analyze
women’s gait using high heels in comparison with the barefoot condition; to analyze
the influence of a slope surface over the march pattern of individuals and to relate the
effect of high-heeled shoes utilization with the effect of a slope surface. An electronic
treadmill was adapted with the installation of independent force platforms for the right
and the left foot, using 8 rings and 32 strain gages in a strategic location. These were
connected trough 2 channels to the Spider 8, responsible for acquisition and processing
the signals which, connected to a computer, allowed the data analysis by the Catman®
3.1 software. It was necessary the utilization of a gear motor for the high-heels gait’s
velocity adaptation. A tripod and a digital camera were used for kinematic analysis of
the right knee in the sagittal plane. For synchronization of kinematic and kinetic data,
we used a light signaling that allowed the simultaneous start of data acquisition. Ten
healthy young women volunteers participated on the study, walking on the treadmill
barefoot and wearing shoes with heels of 5.0 cm on the horizontal plane, inclined 1.83
° and 3.61 °. Each condition was analyzed for 10 seconds, summarizing 60 seconds of
analysis of each volunteer. The images were fragmented in Quintic Player ® software
and relayed to the software ImageJ ®, through which were analyzed the angular
variation. Statistical analysis Non-parametric (Wilcoxon test) by using significance p
<0.10 showed that the use of shoes with with 5 cm heels associated with motion in the
horizontal plane and tilted 1.83 ° and 3.61 ° does not amending the minimum angle of
knee flexion in the sagittal plane, but applies influence on the maximum angle in the
same horizontal plane downwards with the use of footwear. It was also found that such
footwear is correlated with walking speed inversely proportional to the slope surface,
except the slope of 3.61 ° with the same footwear, in which case there was a value
close to the barefoot condition in the horizontal plane. The use of 5cm heel footwear
on the slope of 3.61 leads to an increase of the First Force Peak. The same shoes
however decreased both the Second Force Peak on the horizontal plane as the two
slopes studied. Given the findings of this study is recommended to avoid the constant
use of high-heeled shoes, due to the large number of biomechanical changes it
promotes and which are possibly related to acute and chronic injuries.
KEYWORDS: Gait Analysis. High-Heeled Shoes. Biomechanics.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1.1 – Particularidades do pé humano........................................................23
FIGURA 1.2 – Principais ligamentos da região do pé e tornozelo - região medial .24
FIGURA 1.3 – Principais ligamentos da região do pé e tornozelo - região lateral ..24
FIGURA 1.4 – Arco plantar longitudinal como uma viga ....................................... 26
FIGURA 1.5 – Efeitos da sustentação do peso corporal sobre os arcos do pé.........27
FIGURA 1.6 – Articulações femorotibiais: vista anterior com o joelho flexionado 28
FIGURA 1.7 – Articulação femoropatelar, vista medial, com o joelho estendido e
flexionado ........................................................................................28
FIGURA 1.8 – ADM do joelho em diferentes posicionamentos do quadril ............29
FIGURA 1.9 – Eixos anatômicos e mecânicos do fêmur e da tíbia .........................30
FIGURA 1.10 – Plataforma de força desenvolvida por Jules Amar ........................ 31
FIGURA 1.11 – Fases da marcha.............................................................................33
FIGURA 1.12 – Definição de passo e passada.........................................................33
FIGURA 1.13 – Divisões do ciclo da marcha ..........................................................34
FIGURA 1.14 – Fases da marcha: A) contato inicial; B) resposta à carga; C) apoio
médio; D) apoio terminal; E) pré-balanço; F) balanço inicial; G)
balanço médio; H) balanço terminal ............................................35
FIGURA 1.15 - Principais variáveis estudadas na análise cinética da marcha ........37
FIGURA 1.16 - Tipos de calçados: sandália plataforma e salto fino ......................39
FIGURA 1.17 - Padrão vetorial da marcha .............................................................40
FIGURA 1.18 - Imagem analisada no software Quintic Player ® ........................... 43
FIGURA 1.19 -Esteira instrumentada com plataforma de força: aplicação em análise
de marcha ........................................................................................ 45
FIGURA 1.20 - Exame baropodométrico ................................................................ 46
FIGURA 1.21 - Palmilhas utilizadas em sapatos com saltos .................................. 46
FIGURA 1.22 - Medidas Antropométricas: proporções do corpo humano ............. 47
FIGURA 1.23 - Distribuição do peso corporal com o uso de sapatos com saltos ... 50
FIGURA 2.1 – Calçado com salto ........................................................................... 54
FIGURA 2.2 – Marcadores anatômicos utilizados na voluntária ............................ 55
FIGURA 2.3 – Imagem dos softwares ImageJ e Quintic Player ............................56
FIGURA 2.4 – Definição do ângulo articular do joelho ......................................... 57
FIGURA 2.5 – Conexões entre a esteira, Spider 8 e computador ...........................59
FIGURA 2.6 – Suporte para inclinação da esteira ................................................... 60
FIGURA 2.7 – Dimensões do suporte metálico da plataforma de força ..................61
FIGURA 2.8 – Dimensões das bases da plataforma................................................. 62
FIGURA 2.9 – Dimensões do anel...........................................................................62
FIGURA 2.10 – Esquema de um extensômetro elétrico .......................................... 63
FIGURA 2.11– Moto-redutor................................................................................... 63
FIGURA 2.12 – Tacômetro......................................................................................64
FIGURA 2.13 – Spider 8..........................................................................................64
FIGURA 2.14 – Imagem do software Catman v.3.1............................................... 65
FIGURA 2.15 – Calibração ascendente na plataforma esquerda .............................66
FIGURA 2.16 – Calibração ascendente na plataforma direita .................................67
FIGURA 2.17 – Ponte de Wheatstone...................................................................... 67
FIGURA 2.18 – Lâmpada sinalizadora ....................................................................69
FIGURA 2.19 – Coleta de dados exportada para o Excel ........................................ 69
FIGURA 3.1 – Padrão cinemático do joelho no plano sagital durante a marcha ....71
FIGURA 3.2 – Gráfico do comportamento cinemático no plano horizontal ..........72
FIGURA 3.3 – Gráfico do comportamento cinemático no plano inclinado 1..........72
FIGURA 3.4 – Gráfico do comportamento cinemático no plano inclinado 2..........73
FIGURA 3.5 – Ângulo mínimo do joelho no plano horizontal................................ 75
FIGURA 3.6 – Ângulo mínimo do joelho no plano inclinado 1 ..............................76
FIGURA 3.7 – Ângulo mínimo do joelho no plano inclinado 2 ..............................76
FIGURA 3.8 – Ângulo máximo do joelho no plano horizontal ...............................77
FIGURA 3.9 – Ângulo máximo do joelho no plano inclinado 1.............................. 78
FIGURA 3.10 – Ângulo máximo do joelho no plano inclinado 2............................ 78
FIGURA 3.11 - Média de ciclos completos em cada condição estudada (n=10)..... 80
FIGURA 3.12 - Componentes de estudo da análise cinética da marcha...................81
FIGURA 3.13
Gráfico comparativo do PPF no plano horizontal...........................82
FIGURA 3.14 – Gráfico comparativo do PPF no plano inclinado 1.........................83
FIGURA 3.15 – Gráfico comparativo do PPF no plano inclinado 2.........................83
FIGURA 3.16 – Gráfico comparativo do SPF no plano horizontal...........................85
FIGURA 3.17 – Gráfico comparativo do SPF no plano inclinado 1.........................85
FIGURA 3.18 – Gráfico comparativo do SPF no plano inclinado 2.........................86
FIGURA 3.19 – Análise cinética comparativa no plano horizontal..........................87
FIGURA 3.20 – Análise cinética comparativa no plano inclinado 1........................88
FIGURA 3.21 – Análise cinética comparativa no plano inclinado 2........................88
FIGURA 3.22 – Análise cinemática no plano horizontal, condição descalça...........90
FIGURA 3.23 – Análise cinética no plano horizontal, condição descalça................90
FIGURA 3.24 – Análise cinemática no plano horizontal, condição com salto.........90
FIGURA 3.25 – Análise cinética no plano horizontal, condição com salto..............91
FIGURA 3.26 – Análise cinemática no plano inclinado 1, condição descalça.........91
FIGURA 3.27 – Análise cinética no plano inclinado 1, condição descalça..............91
FIGURA 3.28 – Análise cinemática no plano inclinado 1, condição com salto.......92
FIGURA 3.29 – Análise cinética no plano inclinado 1, condição com salto............92
FIGURA 3.30 – Análise cinemática no plano inclinado 2, condição descalça.........92
FIGURA 3.31 – Análise cinética no plano inclinado 2, condição descalça..............93
FIGURA 3.32 – Análise cinemática no plano inclinado 2, condição com salto.......93
FIGURA 3.33 – Análise cinética no plano inclinado 2, condição com salto............93
LISTA DE TABELAS
TABELA 3.1 – Características antropométricas das voluntárias da pesquisa.......... .71
TABELA 3.2 – Variação angular do joelho no plano sagital....................................73
TABELA 3.3 – Valores encontrados no teste de Wilcoxon para ângulo mínimo.... 76
TABELA 3.4 – Valores encontrados no teste de Wilcoxon para ângulo máximo.....79
TABELA 3.5 – Valores encontrados no teste de Wilcoxon para PPF.......................83
TABELA 3.6 – Valores encontrados no teste de Wilcoxon para SPF.......................86
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ADM -
Amplitude de Movimento
CG Centro de Gravidade
FEG -
Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá
FRS -
Força de reação do solo
FRSV Força de reação do solo vertical
Fy Componente vertical da Força de reação do solo
Fx Componente médio-lateral da Força de reação do solo
Fz Componente antero-posterior da Força de reação do solo
IFy_Fre Impulso Vertical de Frenagem
IFy_Pro Impulso Vertical de Propulsão
LED Light Emitting Diod (Diodo emissor de luz)
PC -
Peso corporal
% PC Porcentagem do Peso Corporal
PPF -
Primeiro Pico de Força
SPF -
Segundo Pico de Força
SMF Suporte Médio de Força
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO ........................................................................... 21
1.1 Objetivos ....................................................................................... 22
1.2 Estrutura da dissertação.................................................................. 22
1.3 Anatomia, biomecânica e fisiologia do pé e tornozelo humano.... 23
1.4 Anatomia, biomecânica e fisiologia do joelho humano................. 28
1.5 Análise de marcha ......................................................................... 31
1.5.1 Histórico da análise de marcha ..................................................... 31
1.5.2 Definições atuais............................................................................ 32
1.5.3 Fases da marcha ............................................................................ 34
1.5.4 Principais eventos biomecânicos durante a marcha....................... 36
1.5.4.1 Alteração do centro de gravidade (CG)......................................... 36
1.5.4.2 Alteração da força de reação do solo (FRS)................................... 36
1.5.4.2.1 FRS vertical e o uso de calçados.................................................... 38
1.5.4.3 Alteração no padrão vetorial.......................................................... 39
1.5.4.4 Influência neuro-músculo-esquelética na biomecânica da
marcha............................................................................................
40
1.5.5 Métodos de avaliação da marcha................................................... 41
1.5.5.1 Cinemetria...................................................................................... 42
1.5.5.2 Dinamometria................................................................................. 44
1.5.5.2.1 Plataforma de força........................................................................ 44
1.5.5.2.2 Baropodometria.............................................................................. 45
1.5.5.2.3 Estabilometria................................................................................ 47
1.5.5.3 Antropometria................................................................................ 47
1.5.5.4 Eletromiografia.............................................................................. 48
1.6 Alterações posturais e biomecânicas associadas ao uso de sapatos
com saltos..........................................................................
49
1.7 Alterações posturais e biomecânicas associadas à marcha em
plano inclinado..............................................................................
51
2
METODOLOGIA........................................................................
53
2.1 Comitê de ética............................................................................... 53
2.2 Seleção das voluntárias.................................................................. 53
2.3 Análise antropométrica.................................................................. 54
2.3.1 Equipamentos utilizados................................................................ 54
2.3.1.1 Balança mecânica........................................................................... 54
2.3.1.2 Estadiômetro.................................................................................. 54
2.3.2 Procedimento experimental............................................................ 54
2.4 Análise cinemática......................................................................... 54
2.4.1 Equipamentos utilizados................................................................ 54
2.4.1.1 Câmera digital................................................................................ 55
2.4.1.2 Tripé............................................................................................... 55
2.4.1.3 Marcadores anatômicos.................................................................. 55
2.4.1.4 Softwares........................................................................................ 56
2.4.2 Procedimentos experimentais......................................................... 56
2.4.1.2 Calibração da câmera..................................................................... 56
2.4.2.2 Coleta de dados.............................................................................. 57
2.5 Análise cinética.............................................................................. 58
2.5.1 Equipamentos utilizados................................................................ 58
2.5.1.1 Esteira instrumentada..................................................................... 58
2.5.1.1.1 Suporte para inclinação.................................................................. 59
2.5.1.2 Plataforma de força........................................................................ 60
2.5.1.2.1 Suporte metálico da plataforma de força....................................... 60
2.5.1.2.2 Bases da plataforma....................................................................... 62
2.5.1.2.3 Anéis.............................................................................................. 62
2.5.1.2.4 Extensômetros elétricos................................................................. 62
2.5.1.3 Moto-redutor.................................................................................. 63
2.5.1.4 Tacômetro digital........................................................................... 64
2.5.1.5 Spider 8 (HBM) ............................................................................ 64
2.5.1.6 Software de aquisição de dados.................................................... 65
2.5.2 Procedimento experimental............................................................ 65
2.5.2.1 Calibração da velocidade da esteira .............................................. 65
2.5.2.2 Calibração das plataformas de força............................................. 66
2.5.2.3 Coleta de dados.............................................................................. 67
2.5.2.4 Armazenamento dos dados............................................................ 69
2.6 Métodos para análise dos dados..................................................... 70
2.6.1 Variáveis analisadas....................................................................... 70
2.6.2 Análise estatística.......................................................................... 70
3
RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................ 71
3.1 Análise antropométrica................................................................. 71
3.2 Análise cinemática......................................................................... 71
3.2.1 Comparação do comportamento cinemático nas condições
descalça e com salto.......................................................................
72
3.2.1.1 Esteira com inclinação de 0º (horizontal)...................................... 72
3.2.1.2 Esteira com inclinação de 1,83º (inclinação 1)............................. 72
3.2.1.3 Esteira com inclinação de 3,61º (inclinação 2)............................. 73
3.2.2 Comparação cinemática do ângulo mínimo da articulação do
joelho.............................................................................................
75
3.2.2.1 Plano Horizontal............................................................. 75
3.2.2.2 Plano Inclinado 1............................................................. 75
3.2.2.3 Plano Inclinado 2............................................................. 76
3.2.2.4 Análise Estatística............................................................. 76
3.2.3 Comparação cinemática do ângulo máximo da articulação do
joelho.............................................................
77
3.2.3.1 Plano Horizontal............................................................. 77
3.2.3.2 Plano Inclinado 1............................................................. 78
3.2.3.3 Plano Inclinado 2............................................................. 78
3.2.3.4 Análise Estatística........................................................................ 78
3.2.4 Comparação do número de ciclos 79
3.3 Análise cinética.............................................................................. 81
3.3.1 Análise do PPF.............................................................................. 82
3.3.1.1 PPF - Plano horizontal................................................................... 82
3.3.1.2 PPF – Plano inclinado 1................................................................. 82
3.3.1.3 PPF – Plano inclinado 2................................................................. 83
3.3.1.4 Análise Estatística.......................................................................... 83
3.3.2 Análise do SPF.............................................................................. 85
3.3.2.1 SPF – Plano horizontal.................................................................. 85
3.3.2.2 SPF – Plano inclinado 1................................................................. 85
3.3.2.3 SPF – Plano inclinado 2................................................................. 85
3.3.2.4 Análise Estatística.......................................................................... 86
3.3.3 Comparações entre os resultados cinéticos.................................... 87
3.3.3.1 Plano horizontal............................................................................. 87
3.3.3.2 Plano inclinado 1............................................................................ 88
3.3.3.3 Plano inclinado 2............................................................................ 88
3.4 Comparação entre dados cinemáticos e cinéticos.......................... 89
3.4.1 Horizontal Descalça....................................................................... 89
3.4.2 Horizontal com Salto...................................................................... 90
3.4.3 Inclinação 1 Descalça..................................................................... 91
3.4.4 Inclinação 1 com Salto................................................................... 92
3.4.5 Inclinação 2 Descalça..................................................................... 92
3.4.6 Inclinação 2 com Salto................................................................... 93
4
CONCLUSÕES............................................................................ 96
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................... 97
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA............................................. 102
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO........................................... 104
APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO................ 105
ANEXO A – APROVAÇÃO COMITÊ DE ÉTICA.................
106
21
1 INTRODUÇÃO
Existem inúmeras controvérsias a respeito do uso de sapatos com saltos em
mulheres. Potério-Filho et al. (2006) acreditam que ele auxilia em até 30% o retorno
venoso dos membros inferiores; outro grupo acredita que esse tipo de calçado está
diretamente relacionado ao surgimento de calos, hálux valgo, inflamações nas unhas e
diversas alterações posturais, principalmente nos membros inferiores.
Gefen et al. (2002) e Opila-Correia (1990) relatam que os sapatos com saltos
deslocam o centro de massa do corpo anteriormente, o que gera um aumento na
sobrecarga no antepé e mudanças nos picos de pressões da cabeça dos 3
o
., 4
o
. e 5
o
.
metatarsos para o 1
o
. e 2
o
. metatarso. Além disso, sugere-se também que esse tipo de
calçado transmite forças aos tecidos moles, que podem causar dores nos membros
inferiores e coluna vertebral, o que justifica o fato de muitas usuárias de sapatos com
saltos relatarem dores na região lombar.
São poucos os estudos que abordam a análise de marcha em plano inclinado com
a utilização de calçados com saltos, situação freqüente nas atividades cotidianas das
mulheres. Diversas variáveis cinemáticas e cinéticas encontram-se alteradas nessas
condições em comparação com a condição descalça, variando também de acordo com
o grau de inclinação da superfície.
Ainda não um consenso sobre os efeitos da utilização de calçados com saltos
em superfícies inclinadas, situação bastante comum nas atividades cotidianas das
mulheres. Para isso, a utilização dos métodos de medição em biomecânica oferece
importante contribuição.
Até aproximadamente o ano de 1800, os métodos utilizados para análise da
marcha eram fundamentalmente subjetivos. Atualmente, através dos métodos de
medição em biomecânica, softwares especializados em calcular trajetória dos membros
inferiores, estimar forças e momentos nas articulações, e com a utilização de
equipamentos, como a plataforma de força, baropodometria e termografia, é possível
realizar análise de marcha com maior precisão nos resultados.
22
1.1 Objetivos
Esta pesquisa tem como objetivos: analisar a marcha de mulheres com uso de
sapatos com saltos em comparação com a condição descalça; analisar a influência da
inclinação da superfície sobre o padrão de marcha dos indivíduos, ambos através de
métodos de dinamometria e cinemetria de forma sincronizada; relacionar o efeito da
utilização do calçado com salto com o efeito da inclinação da superfície.
1.2 Estrutura da dissertação
No Capítulo 1 é elaborada uma introdução do trabalho, com justificativa e
destaque aos seus principais objetivos. São introduzidos comentários sobre anatomia,
biomecânica da marcha humana, um breve histórico do seu estudo e funções.
Comentam-se alguns trabalhos sobre alterações na marcha, além do relacionamento
entre essas mudanças e o uso de calçados com saltos, além da instrumentação utilizada
para análise de marcha.
No Capítulo 2 é descrita toda a metodologia do trabalho em questão, com a
descrição das etapas da construção da plataforma de força utilizada no trabalho, o
procedimento de calibração, a realização do procedimento experimental e os métodos
para a análise dos dados.
No Capítulo 3 são apresentados os resultados obtidos no estudo, associados à
discussão dos achados, comparando-os entre si e com os artigos pesquisados.
No Capítulo 4 são descritas as conclusões obtidas neste trabalho.
O trabalho é finalizado com a apresentação das referências necessárias à sua
realização, seguido dos apêndices, anexos e glossário.
23
1.3 Anatomia, biomecânica e fisiologia do pé e tornozelo humano
O pé humano estabelece a ligação entre o homem e o solo. Mesmo num ambiente
sem iluminação, o homem é capaz de detectar o tipo de solo em que pisa, graças a
sensores especiais de que o é portador. Existem duas particularidades do pé humano
em relação ao dos demais primatas: o primeiro raio do localiza-se paralelamente
aos outros quatro metatarsianos, o que garante uma marcha estável, como pode ser
visto na figura 1.1 inferior; o arco longitudinal promove amortecimento, permitindo
também a corrida, observado na região superior da figura 1.1 (VIEL, 2001; HAMILL,
KNUTZEN, 1993).
Figura 1.1 – Particularidades do pé humano (HAMILL, KNUTZEN, 1993)
O é distribuído em três conjuntos ósseos: tarso, metatarso e os pododáctilos.
Do ponto de vista biomecânico, três regiões são identificadas: a) regiões posterior e
anterior amortecimento; b) borda lateral equilíbrio e propulsão; c) região sob a
metatarso-falangeana do 1º. dedo pivoteamento (VIEL, 2001; PALASTANGA,
FIELD, SOAMES, 2000).
A conexão óssea é feita por meio de 107 ligamentos, que formam, por sua vez,
as articulações, dentre as quais se destacam a subtalar, transversa do tarso,
tarsometatarsianas e metatarsofalangeanas (figura 1.2 e 1.3) (PALASTANGA, FIELD,
SOAMES, 2000).
24
Figura 1.2 – Principais ligamentos da região do pé e tornozelo - região medial (adaptado de NETTER, 2000).
Figura 1.3 – Principais ligamentos da região do pé e tornozelo - região lateral (adaptado de NETTER, 2000).
Essa região é composta por um grande número de músculos que, para fins
didáticos, são divididos em extrínsecos e intrínsecos. O primeiro grupo refere-se à
musculatura cuja origem se localiza abaixo do joelho e com inserção no pé; são
responsáveis por movimentos do tornozelo, tais como dorsiflexão, flexão plantar,
inversão e eversão, além da movimentação dos artelhos. a musculatura intrínseca
tem origem abaixo da articulação do tornozelo, localiza-se no dorso ou na planta do
pé, e também participa da movimentação dos artelhos (SPENCE, 1991; HAMILL,
KNUTZEN, 1993).
25
Classificada como articulação em dobradiça uniaxial, o tornozelo é formado
pela conexão entre os ossos tíbia e fíbula (articulação tibiofibular) e pela mesma tíbia
com o tálus (articulação tibiotalar). Sua configuração garante mais estabilidade do que
mobilidade. Tíbia e fíbula juntas formam um profundo soquete para a tróclea do tálus,
e dessa forma cria-se um encaixe. uma projeção do maléolo lateral mais para baixo
do que o maléolo medial, o que garante proteção aos ligamentos mediais. Essa
diferença também coloca a região lateral mais propensa a fraturas por meio de um
entorse com inversão do tornozelo (PALASTANGA, FIELD, SOAMES, 2000;
SPENCE, 1991).
A articulação do tornozelo possui um eixo de rotação que corre obliquamente à
tíbia e não está alinhada com o corpo. Considera-se a amplitude média de dorsiflexão
do tornozelo em torno de 20°, sendo que para uma marcha eficiente são necessários
em torno de 10°. a flexão plantar, movimento que consiste no afastamento do pé em
relação à perna, apresenta amplitude de 50°, e cerca de 20 a 25° são necessários para a
marcha normal. Considerando o movimento total de flexão plantar e dorsiflexão
durante a marcha normal, espera-se de 20 a 40° (PALASTANGA, FIELD, SOAMES,
2000; HAMILL, KNUTZEN, 1993; SPENCE, 1991).
A articulação subtalar, responsável por absorção da rotação do membro inferior
no apoio, consiste na articulação entre os ossos tálus e o calcâneo, região denominada
retropé. Tálus e calcâneo são responsáveis por sustentar grande parte do peso corporal
no pé, sendo o tálus - osso no qual nenhum músculo se insere - encarregado de
transmitir o peso de todo o corpo. O eixo de rotação dessa articulação se localiza da
superfície plantar lateral posterior para a superfície medial dorsal, anterior do tálus.
São considerados movimentos triplanares dessa articulação a pronação e supinação.
Durante a marcha, cerca de 4° de inversão do calcâneo e 7° de eversão do mesmo são
esperados em pessoas normais. Espera-se que a pronação esteja presente em torno de
55% a 85% da fase de apoio (SANTOS et al., 2007; NORDIN, FRANKEL, 2003;
PALASTANGA, FIELD, SOAMES, 2000; HAMILL, KNUTZEN, 1993).
Deve-se ressaltar também a importância da articulação mediotársica, ou társica
transversa. Formada pela articulação calcaneocubóidea na região lateral e
26
talonavicular, medialmente, assume o formato de um “S” com dois eixos, oblíquo e
longitudinal (NORDIN, FRANKEL, 2003; HAMILL, KNUTZEN, 1993).
As demais articulações existentes no mediopé são as intertársicas, entre o
cuneiforme e o navicular, o cubóide e o intercuneiforme, que são articulações
deslizantes. No antepé existem os metatársicos e as falanges, e as articulações
respectivas entre eles. Essa região do tem as funções de manter o arco metatársico
transverso, manter o arco longitudinal medial e manter a flexibilidade no primeiro
metatarso (PALASTANGA, FIELD, SOAMES, 2000; SPENCE, 1991).
O também possui arcos formados pelos tarsos e metatarsos, sendo que dois
estão dispostos longitudinalmente (arco longitudinal lateral e medial) e um
transversalmente (arco transverso). Os arcos exercem a importante função de absorção
de choques, através de um sistema elástico, esquematizado na figura 4, onde W
representa o peso corporal total. A proteção dos arcos e a proteção dos feixes
neurovasculares da região plantar do são feitas pela fáscia plantar, que consiste
numa aponeurose plantar fibrosa que vai do calcâneo até a articulação
metatarsofalângica (NORDIN, FRANKEL, 2003; HAMILL, KNUTZEN, 1993).
Figura 1.4 – Arco plantar longitudinal como uma viga (NORDIN, FRANKEL, 2003)
Observa-se uma variação na distribuição do peso corporal nos pés durante a
marcha, e até mesmo na postura ereta estática, que é resultado do achatamento e
alongamento dos arcos do pé. Essas alterações ocorrem nos três arcos plantares e
resultam em desvio medial da cabeça do tálus e do tubérculo lateral do calcâneo. O
retropé sofre uma leve adução, pronação e extensão, e o antepé realiza relativa flexão,
abdução e supinação. Na figura 1.5 é possível observar a posição articular durante a
sustentação de peso, na linha tracejada, e a mesma quando não suporta peso, nos arcos
27
longitudinais medial (A), lateral (B), arco transverso anterior (C) e do mediopé (D)
(PALASTANGA, FIELD, SOAMES, 2000).
Figura 1.5 – Efeitos da sustentação do peso corporal sobre os arcos do (Adaptado de PALASTANGA,
FIELD, SOAMES, 2000)
A musculatura do exerce a função de sustentação de impactos de magnitude
elevada. Além disso, proporcionam energia cinética e potencial enquanto criam o
movimento e perdem energia posteriormente, quando absorvem movimento. Os 11
músculos intrínsecos do atuam em conjunto e estão ativos na fase de apoio,
principalmente nos instantes que precedem a propulsão (HAMILL, KNUTZEN, 1993;
SPENCE, 1991).
O movimento de flexão plantar é considerado o mais forte do tornozelo/pé,
devido à grande quantidade de massa muscular, e também por atuarem contra a
gravidade e ajudarem na propulsão na marcha (HAMILL, KNUTZEN, 1993).
As principais forças nas quais o tornozelo e o pé estão sujeitos durante a marcha
são de compressão e atrito, sendo encontrada uma força vertical de 0,8 a 1,1 vezes o
peso corporal vindo pelo solo durante o contato do calcanhar. Freqüentemente
encontra-se hipotrofia dos músculos intrínsecos do pé, devido ao uso constante de
calçados (PERRY, 2005; VIEL, 2001; HAMILL, KNUTZEN, 1993).
Também com função de apoio e absorção de choques durante a marcha, o
coxim gorduroso plantar é uma estrutura formada por septos fibrosos como arco
invólucro para as células gordurosas (SPENCE, 1991).
28
1.4 Anatomia, biomecânica e fisiologia do joelho humano
Considera-se a articulação do joelho a maior e uma das mais complexas do
corpo humano. Classificada como articulação em dobradiça bicondiliana sinovial entre
os côndilos do fêmur e os da tíbia, apresenta anteriormente a patela, osso do tipo
sesamóide que atua como um eixo para aumentar a alavanca do músculo quadríceps
femural. É possível classificar três principais articulações envolvidas no joelho: duas
femorotibiais (figura 1.6) e uma femoropatelar (figura 1.7) que apresentam, no
entanto, uma única cavidade articular (PALASTANGA, FIELD, SOAMES, 2000;
HAMILL, KNUTZEN, 1993; SPENCE, 1991).
Figura 1.6 – Articulações femorotibiais: vista anterior com o joelho flexionado (adaptado de NETTER, 2000)
Figura 1.7 – Articulação femoropatelar, vista medial, com o joelho estendido (à esquerda) e flexionado
direita) (SOBOTTA, 2000).
29
A amplitude de movimento (ADM) máxima do joelho em flexão depende da
posição na qual a articulação do quadril se encontra, devido à influência do músculo
reto femoral, que cruza as duas articulações. Com o quadril em extensão, atinge-se
aproximadamente até 120°. Quando o quadril está flexionado, pode-se chegar até 160°
de flexão do joelho, podendo haver nesse caso influência também dos músculos
isquiotibiais, localizados na região posterior da coxa, que quando hipertrofiados
podem limitar a flexão total do joelho (figura 1.8) (PALASTANGA, FIELD,
SOAMES, 2000).
Figura 1.8 ADM do joelho em diferentes posicionamentos do quadril (Adaptado de PALASTANGA, FIELD,
SOAMES, 2000)
Dentre as funções dessa articulação, deve-se destacar a sustentação de peso e
uma considerável estabilidade, em especial em extensão. Devido à interação de
ligamentos, músculos e movimentos complexos de deslizamento e rolamento nas
superfícies articulares, o joelho tem a capacidade de combinar relativamente bem essas
duas funções antagônicas mobilidade e estabilidade. É possível observar, além da
flexão e extensão, uma pequena quantidade de rotação no joelho, especialmente
quando o joelho está fletido e com o sem contato com o solo (PALASTANGA,
FIELD, SOAMES, 2000; HAMILL, KNUTZEN, 1993).
Os ligamentos colaterais e intracapsulares, a cápsula articular, as aponeuroses e
os tendões são responsáveis por garantir ao joelho uma maior estabilidade
(PALASTANGA, FIELD, SOAMES, 2000; HAMILL, KNUTZEN, 1993).
Na marcha, o joelho exerce função imprescindível, principalmente em função dos
movimentos de flexão e extensão que exerce durante as fases de apoio e balanço.
Pode-se considerar que o joelho também atua por compressão axial sob a ação da
30
gravidade. Em conjunto com a articulação do tornozelo, funciona como um potente
impulsionador do corpo para frente, permitindo a recepção e absorção de vigorosos
esforços aos quais é submetido (PERRY, 2005; PALASTANGA, FIELD, SOAMES,
2000; HAMILL, KNUTZEN, 1993).
Os eixos anatômicos do fêmur e da tíbia formam um ângulo aberto de
aproximadamente 175°, denominado ângulo femorotibial. Observa-se, no entanto, que
os centros articulares do quadril, joelho e tornozelo localizam-se sobre uma linha reta,
que é considerada o eixo mecânico do membro inferior (figura 1.9). Ao analisar os
eixos das articulações do quadril, joelho e tornozelo na postura ereta, observa-se que o
joelho apresenta leve rotação interna em relação à cabeça e ao colo do fêmur e a
extremidade inferior da tíbia (PALASTANGA, FIELD, SOAMES, 2000; HAMILL,
KNUTZEN, 1993).
Figura 1.9 – Eixos anatômicos e mecânicos do fêmur e da tíbia (PALASTANGA, FIELD, SOAMES, 2000).
31
1.5 Análise de marcha
1.5.1 Histórico da análise de marcha
Desde a Idade dia, o homem preocupou-se em registrar o movimento. Por
volta de 12.000 a.C., foram encontradas pinturas rupestres de animais com o dobro
do número de patas que possui, numa tentativa de demonstrar o movimento (LEMOS,
BARROS, SOARES, 2003).
Aristóteles (384-322 a.C.) estabeleceu hipóteses sobre o controle do movimento
e descreveu o deslocamento vertical que ocorre durante a marcha. Os irmãos Weber,
na metade do século XIX, introduziram conceitos essenciais de cinemática na marcha.
No final desse mesmo século, Eadweard Muybridge criou a ilusão de movimento por
meio de sucessivas fotografias expostas em alta velocidade. Esse método foi o
precursor do desenvolvimento das câmeras de cinema, e foi um marco na cinemetria
biomecânica (BAKER, 2007; SAAD, BATTISTELLA, MASIERO, 1996).
O francês Jules Amar (1879-1935), no período da Primeira Guerra Mundial, foi o
primeiro a desenvolver uma plataforma de força com registro dos três componentes
(Fx, Fy, Fz), e a utilizou na reabilitação de indivíduos que participaram da guerra
(figura 1.10).
Figura 1.10 – Plataforma de força desenvolvida por Jules Amar (BAKER, 2007).
32
Inman, em estudos mais recentes, analisou qualitativa e quantitativamente
parâmetros cinemáticos, cinéticos da marcha, além de utilizar-se de eletromiografia
dinâmica (BAKER, 2007; LEMOS, BARROS, SOARES, 2003; SAAD,
BATTISTELLA, MASIERO, 1996).
Braune e Fisher introduziram, em 1987, a técnica da estereometria no estudo do
movimento humano, o que permitiu reestruturar uma visão tridimensional da posição
instantânea do ponto móvel. O método utilizado por esses dois pesquisadores requer a
utilização de quatro câmeras fotográficas, duas de cada lado, com a finalidade de
registrar o movimento em diferentes perspectivas (BAKER, 2007; LEMOS, BARROS,
SOARES, 2003).
1.5.2 Definições atuais
Atualmente, define-se a marcha por comportamentos motores compostos por
movimentos integrados do corpo humano. São comportamentos cíclicos que permitem
estabelecer critérios objetivos para a distinção entre estrutura de movimentos normais
e anormais, assim como a discriminação de mudanças causadas pelo desenvolvimento
do indivíduo. Todo ato locomotor depende de interações dinâmicas entre o sistema
motor e as forças externas, entendidas como causas do movimento nesta interação do
corpo com o meio ambiente (WHITTLE, 2000; PERRY, 2005).
A locomoção deve atender a várias exigências simultâneas, dentre as quais
destacam-se: a propulsão do corpo para frente ou para trás; manutenção do equilíbrio
em condição estática e dinâmica, em situação variável de apoio; coordenação entre
postura, equilíbrio e locomoção com adaptação. Apesar de dois indivíduos não se
locomoverem de forma idêntica, algumas características da marcha são universais, e
servem como base para a descrição cinemática, eletromiográfica e dinâmica da marcha
(VIEL, 2001; PERRY, 2005).
A marcha normal é caracterizada por um ciclo que se inicia com o contato do
calcanhar com o solo (fase de apoio) e termina quando o deixa o solo (fase de
33
oscilação). Em situações normais, a fase de apoio constitui aproximadamente 60% do
ciclo e a fase de oscilação, 40% (figura 1.11) (WHITTLE, 2000; PERRY, 2005).
Figura 1.11 – Fases da marcha (Adaptado de VAUGHAN, DAVIS, O´CONNOR, 1992).
Um ciclo de marcha (ou passada) é delimitado pelo período entre o toque de um
calcanhar até o próximo toque do mesmo pé. Um passo é definido pelo intervalo entre
o toque do calcâneo de um até o contato do calcâneo do outro no solo. Portanto,
cada passada contém dois passos (figura 1.12) (PERRY, 2005; SAAD,
BATTISTELLA, MASIERO, 1996).
Figura 1.12 – Definição de passo e passada (PERRY, 2005).
34
1.5.3 Fases da marcha
Os oito intervalos funcionais da marcha são denominados fases. Cada uma das
fases é caracterizada por padrões de movimento realizados principalmente pelo
quadril, joelho e tornozelo. Analisar o padrão de marcha de um indivíduo através das
fases permite a identificação dos diferentes movimentos que ocorrem nas articulações
individuais, assim como associar essas ações ao contexto da função total do membro.
Pode-se identificar em cada uma das oito fases da marcha um objetivo funcional e um
padrão de movimento seletivo sinergístico para realizar essa meta. Dessa forma, os
membros inferiores estão aptos à realização das tarefas básicas, que são a aceitação de
peso, o apoio simples e o avanço do membro (figura 1.13) (PERRY, 2005).
Figura 1.13 – Divisões do ciclo da marcha (adaptado de PERRY, 2005)
Durante a tarefa de aceitação de peso, três eventos principais são identificados:
absorção de choque, estabilidade inicial do membro e preservação da progressão. O
corpo transfere abruptamente o seu peso para um membro que terminou recentemente
o balanço para frente e apresenta alinhamento irregular. Duas fases da marcha estão
incluídas nessa tarefa: contato inicial e resposta à carga. O contato inicial (figura 1.14-
A) caracteriza-se pelo toque do no solo, enquanto todo o membro inferior é
35
posicionado para a realização do rolamento do calcanhar (ADAMCZYK, COLLINS,
KUO, 2006; PERRY, 2005).
Figura 1.14 Fases da marcha: A) contato inicial; B) resposta à carga; C) apoio médio; D) apoio terminal; E)
pré-balanço; F) balanço inicial; G) balanço médio; H) balanço terminal (adaptado de Queen´s University, Canadá
Departamento de Mecânica e Engenharia dos Materiais -
http://me.queensu.ca/people/deluzio/GaitAnalysis.php)
Na resposta à carga (figura 1.14-B), também chamada duplo apoio inicial, o
corpo necessita de estabilidade suficiente para a recepção do peso; inicia com o toque
do no solo e continua até que o do membro oposto se eleve para a fase de
balanço (PERRY, 2005).
A tarefa de apoio simples é marcada pela sustentação de todo o peso corporal que
um membro inferior realiza, associada à progressão do corpo. Estão incluídas nessa
tarefa as fases de apoio médio e apoio terminal. A primeira metade do apoio simples é
denominada apoio médio (figura 1.14-C), quando grande exigência de estabilidade
do tronco e do membro. O apoio terminal (figura 1.14-D) inicia com a elevação do
calcanhar e continua até que o outro pé encoste-se ao solo, proporcionando dessa
forma a progressão do corpo (PERRY, 2005).
O avanço do membro é a terceira tarefa do ciclo da marcha, marcado pela
oscilação postural preparatória para o próximo período de apoio. As fases envolvidas
nesse processo são o pré-balanço, balanço inicial, balanço médio e balanço terminal.
No pré-balanço (figura 1.14-E), fase final do apoio, ocorre liberação e transferência do
peso corporal, e o objetivo é atingir o posicionamento adequado do membro para o
balanço.
O balanço inicial (figura 1.14-F) dura em média 30% do tempo total do balanço e
inicia com a elevação do do solo. Nessa fase ocorre o avanço do membro inferior.
36
A segunda fase do período de balanço é o balanço médio (figura 1.14-G), que começa
quando o membro que realiza o balanço encontra-se oposto ao membro de apoio e
termina no momento em que as flexões de quadril e joelho no plano sagital são
semelhantes. O balanço terminal (figura 1.14-H) é delimitado até o instante em que o
atinge o solo. Nessa fase o avanço do membro inferior está completando-se e
ocorre um preparo para o próximo período de apoio, reiniciando o ciclo (PERRY,
2005).
1.5.4 Principais eventos biomecânicos durante a marcha
1.5.4.1 Alteração do centro de gravidade (CG)
São descritas diversas alterações biomecânicas no corpo humano durante a
marcha. Uma das mais destacadas é o deslocamento do CG predominantemente no
eixo horizontal durante a marcha, apesar do caráter senoidal desta trajetória evidenciar
também um movimento no eixo vertical. O deslocamento da linha de gravidade
constantemente à frente do tornozelo promove desequilíbrio do corpo para frente, o
que gera estratégias de restabelecimento do equilíbrio, ativadas pelo sistema
neuromuscular, e que garante um equilíbrio dinâmico durante todo o ciclo. Deve-se
ressaltar também que as solicitações são bilaterais, o que confere uma relativa simetria
ao corpo (PERRY, 2005; WINTER, 2005; WHITTLE, 2000).
1.5.4.2 Alteração da força de reação do solo (FRS)
Outra significante alteração biomecânica na marcha refere-se à FRS, conceituada
como o “total líquido de todas as forças musculares e gravitacionais atuando em cada
instante durante a fase de apoio”. A FRS vertical é considerada a grandeza que melhor
representa os efeitos do ambiente, calçado, velocidades e patologias na marcha
humana (SACCO et al., 2007; VIANA, GREVE, 2006; MASANI, KOUZAKI,
FUKUNAGA, 2002; WINTER, 1990).
37
Segundo Santos (2006), no estudo das forças que agem perpendicularmente à
superfície, deve-se destacar as seguintes variáveis, que podem ser visualizadas na
figura 1.15 e são descritas abaixo:
a) Primeiro Pico de Força (PPF): valor máximo da força de reação na direção
vertical (Fy) ocorrido no primeiro pico. Ocorre aproximadamente durante 1/3
da fase de apoio e se manifesta em função do contato do calcanhar com o solo
(contato inicial).
b)
Segundo Pico de Força (SPF): valor máximo da Fy ocorrido no segundo pico.
Ocorre durante 2/3 da fase de apoio. O PPF e o SPF podem apresentar valores
que excedem em até 20% o peso corporal de um indivíduo;
c)
Suporte Médio da Força (SMF): menor valor da força vertical ocorrido entre o
PPF e o SPF. Caracterizada por valores abaixo do peso corporal e pela flexão
do joelho, com o centro de massa em sua posição mais alta. A o SMF as
forças de frenagem agem passivamente sobre as articulações;
d)
Impulso Vertical de Frenagem (IFy_Fre): Impulso vertical calculado a partir da
integral da Fy, desde o início do apoio até a SMF (fase de frenagem);
e)
Impulso Vertical de Propulsão (IFy_Pro): Impulso vertical calculado a partir da
integral da Fy, desde o SMF até o fim do apoio (fase de propulsão).
Figura 1.15 – Principais variáveis estudadas na análise cinética da marcha (adaptado de SANTOS, 2006)
38
Antes da manifestação do PPF, por volta de 7% do ciclo de marcha, é notado um
pequeno pico inicial, denominado spike, ainda não bem esclarecido, porém acredita-se
que esteja relacionado à integridade da articulação dos membros inferiores, sendo mais
acentuado na marcha descalça. É importante distinguir o aparecimento do spike do
surgimento de ruídos eventuais durante a coleta de dados (SANTOS, 2006).
1.5.4.2.1 FRS vertical e o uso de calçados
Segundo Sacco et al. (2007), são considerados fatores que alteram
significativamente a FRS vertical:
a) Velocidade da marcha: a alta velocidade da marcha promove aumento do primeiro
pico de força vertical em relação ao segundo;
b) Uso de calçados: Quando descalço, o aparelho locomotor pode ser capaz de
otimizar as respostas dinâmicas. Na literatura controvérsia entre o papel do calçado
para uma melhor absorção de forças verticais e em uma possível diminuição da
capacidade do aparelho locomotor em absorver melhor estas forças com o uso crônico
deste acessório; Em relação ao solado, acredita-se que a estabilidade e força vertical
estejam diretamente relacionadas, o que dá suporte à idéia de que o aumento do
impacto em superfícies macias seria uma tentativa de promover estabilidade. Calçados
com saltos finos e duros parecem proporcionar maior consciência proprioceptiva, o
que levaria a maior estabilidade. Existe vantagem do solado mais duro na tarefa de
reduzir as forças externas, gerando uma compensação com o aumento na força interna
da articulação do tornozelo. A mesma autora afirma que um solado mais duro tende a
aumentar o braço de alavanca (distância entre o centro de pressão plantar e o centro da
articulação do tornozelo) resistente nessa articulação, o que aumenta a tensão no
sistema muscular e ligamentos responsáveis pelo controle da estabilidade articular.
Sandálias com salto tipo plataforma (figura 1.16) possuem solado grosso e rígido, que
interfere diretamente na biomecânica da locomoção.
39
Figura 1.16 Tipos de calçados: sandália plataforma esquerda) e salto fino direita) (Fonte: http:
www.arezzo.com.br)
O solado grosso, presente no calçado da figura 1.16 esquerda), diminui a
propriocepção e conseqüentemente a estabilidade, o que provocaria maior sobrecarga
do sistema ósteo-mio-articular, a fim de gerar aumento de estabilidade. O solado rígido
produz maiores 1
o
. e 2
o
. picos de força vertical devido a um aumento do braço de
alavanca resistente no tornozelo que desestabiliza a articulação e provoca maior tensão
muscular e ligamentar. Em relação às forças verticais, conforme o aumento do salto, os
1
o
. e 2
o
. picos de força vertical apresentam aumento em relação à condição descalça
(SACCO et al., 2007).
1.5.4.3 Alteração no padrão vetorial
É possível observar que, durante a marcha, as forças resultantes apresentam
padrões vetoriais distintos em cada fase (figura 1.17). No contato inicial, o vetor
localiza-se anterior ao joelho, o que gera um torque extensor no início da marcha. Na
fase de resposta à carga, o vetor se encontra próximo ao centro articular do joelho,
gradualmente tornando-se posterior, o que ocasiona um momento flexor. No apoio
médio, um declínio do torque flexor do joelho até chegar a zero, quando os
membros estão alinhados. Posteriormente, a massa corpórea avança sobre o de
apoio, movendo o vetor anterior ao joelho, ocasionando torque extensor. Com o
alinhamento relativo dos centros articulares do tornozelo, joelho e quadril, o membro
de apoio encontra-se estabilizado, e a resultante vetorial encontra-se na direção
vertical. Na fase de pré-balanço o vetor se encontra posteriormente ao joelho, com a
geração de outro torque flexor (PERRY, 2005).
40
Figura 1.17 – Padrão vetorial da marcha (Fonte: VAUGHAN, DAVIS,O´CONNOR, 1992)
1.5.4.4 Influência neuro-musculo-esquelética na biomecânica da marcha
Durante a marcha, os músculos realizam três funções essenciais: a) participam da
frenagem dos segmentos tracionados pela energia cinética; b) amortecem choques e
vibrações; e c) aceleram os segmentos corporais (VIEL, 2001).
Na fase de balanço, quando o indivíduo apóia-se sobre um só pé, nota-se o
comportamento de um pêndulo invertido no corpo humano, preso pelo e móvel ao
redor do tornozelo. É possível manter-se em equilíbrio nesta condição, graças à
atividade dos músculos laterais do tornozelo, adutores e abdutores do quadril. Dessa
forma, um indivíduo em condições saudáveis é capaz de manter um valor constante de
oscilações cíclicas e simétricas da pelve e dos membros inferiores (PERRY, 2005;
VIEL, 2001).
Na fase de apoio, constrói-se um modelo interno da marcha que, somado à
marcação visual do solo diante do indivíduo, resulta na colocação do no solo. As
aferências visuais assumem grande importância nesta fase, e permite a colocação
precisa do pé. Do ponto de vista mecânico, o age como uma mola ao receber cargas
em compressão, e posteriormente como um amortecedor hidráulico, dissipando parte
das forças envolvidas. A flexibilidade é um requisito essencial para que o exerça
adequadamente essas funções sendo, portanto, a rigidez um fator predisponente a
lesões (PERRY, 2005; VIEL, 2001).
41
Os tendões e aponeuroses do pé são capazes de armazenar parte da energia
produzida pela compressão e a restituem no fim da fase de apoio, pelo fato de serem
estruturas com potencial elástico, o que reduz em grande parte o trabalho muscular. Os
músculos, por sua vez, apresentam viscoelasticidade, que lhes a capacidade de frear
a marcha (VIEL, 2001).
Abaixo do calcanhar encontra-se uma quantidade de gordura que caracteriza-se
pela anisotropia. Atualmente uma preocupação por parte dos fabricantes de
calçados em produzirem solados que reproduzam as propriedades absorventes do
calcanhar humano (PERRY, 2005; VIEL, 2001).
Pode ser comparado ao efeito de pistão hidráulico o momento em que o entra
em contato com o solo, mas ainda sem o peso corporal, pois nessa fase a cabeça do
tálus se afunda e se alinha com a borda superior do navicular, fato que contribui para a
resiliência do pé. No momento seguinte, quando o finalmente recebe o peso
corporal, nota-se um leve valgismo do calcâneo; a superfície de contato apresenta
deslocamento lateral e uma tendência do peso corporal se localizar numa posição
medial. A segurança do complexo é também garantida pela tensão constante existente
nos tendões que cruzam o tornozelo, com destaque para o músculo fibular longo, com
importante função de amortecimento, e o fibular curto, essencial na estabilização
(PERRY, 2005; VIEL, 2001).
1.5.5 Métodos de avaliação da marcha
A marcha pode ser analisada qualitativamente, através de observação clínica, e a
partir do conhecimento do padrão do movimento humano. Uma análise simplesmente
visual da marcha humana pode apresentar grande número de falhas, em função da
complexidade e da rapidez dos movimentos ocorridos em cada evento. O método
qualitativo é largamente utilizado em clínicas de reabilitação, hospitais, consultórios
em geral, e baseia-se simplesmente na observação do profissional, com a utilização de
referências de pouca confiabilidade, ou simplesmente visual. Trata-se de um método
42
com resultados de difícil comparação, devido à falta de registros precisos, e não é
recomendado para uso em estudos científicos (BAKER, 2006; PERRY, 2005).
Em estudos científicos, faz-se necessária a utilização de técnicas para uma
análise de marcha minuciosa. Essa avaliação será capaz de detectar um provável
mecanismo fisiopatológico inicial, direcionar para o tratamento mais apropriado, servir
como instrumento para comparação pré e pós-tratamento de qualquer intervenção,
avaliar a necessidade do uso de prótese, órtese ou dispositivo de auxílio à marcha, e
até para orientação quanto ao desempenho de atletas de elite (SAAD, BATTISTELLA,
MASIERO, 1996).
Dentre os métodos de avaliação de marcha quantitativa, pode-se citar a
cinemetria, a eletromiografia, a dinamometria, a antropometria e a termografia. Na
complexa análise do movimento humano, estes métodos, dependendo do tema
estudado, podem ser utilizados isoladamente ou em conjunto, mediante sistemas
computadorizados que possibilitam aquisição de dados de forma sincronizada
(AMADIO, SERRÃO, 2007; ARAÚJO et al., 2004).
1.5.5.1 Cinemetria
A cinemetria é um método de captação de imagem de um movimento ou de uma
atividade em específico, possibilitando a obtenção de informações de medidas e a
execução de cálculos sobre parâmetros cinemáticos do movimento. Na análise da
marcha, a cinemática é usada para conhecer deslocamentos, velocidades, acelerações e
ângulos do corpo dos segmentos corporais. Outros dispositivos da determinação de
variáveis cinemáticas são goniômetros, velocímetros e acelerômetros As câmeras de
vídeo, geralmente com alta freqüência de aquisição (de 60 a 955 Hz, em média),
registram a imagem do movimento ou as coordenadas de pontos de interesse que, por
meio de análise com software específico (figura 1.18), obtém-se variáveis cinemáticas
de interesse (AMADIO, SERRÃO, 2007; ARAÚJO, ANDRADE, BARROS, 2005;
SACCO et al., 2003).
43
Figura 1.18 - Imagem analisada no software Quintic Player ® (Fonte: http: www.quintic.com)
O instrumento básico para medidas cinemáticas é baseado em câmeras de vídeo
que registram a imagem do movimento e então, através de software específico,
determinam as variáveis cinemáticas de interesse. Assim, pode-se classificar os
sistemas de medidas cinemáticas em: (a) Dispositivos convencionais com avaliação
manual - câmeras cinematográficas e fotográficas, que capturam a imagem estática;
(b) Dispositivos eletrônicos com avaliação manual - vídeo de média e alta freqüência
que captura a imagem seqüencial; (c) Dispositivos eletrônicos com avaliação
automática - sistema óptico-eletrônico, onde as coordenadas das imagens o
identificadas e digitalizadas automaticamente e conseqüente imediata obtenção das
coordenadas desejadas (AMADIO, SERRÃO, 2007).
Os marcadores fixos em regiões determinadas do corpo podem ser divididos
basicamente em dois grupos: ativos e passivos. Os marcadores ativos são conhecidos
como LEDs (Light Emitting Diods) e emitem luz infravermelha ao sensor; os passivos
são refletores e podem refletir a luz ambiente ou a luz projetada de volta ao sensor.
Tipicamente, para a determinação de parâmetros cinemáticos, é necessário adquirir a
trajetória dos marcadores colocados no corpo do sujeito, geralmente sobre a sua pele,
usando três ou mais câmaras de vídeo digitais. Normalmente, são recolhidas imagens
do sujeito em posição estática e durante o movimento. Posteriormente, estas imagens
44
são processadas pelo sistema computacional e a informação cinemática é apresentada
ao utilizador (AMADIO et al., 2002; SUTHERLAND, 2002).
Destaca-se ainda que os sistemas para a análise cinemática tridimensional de
movimentos humanos têm sido utilizados como instrumentos de avaliação e
diagnóstico em processos terapêuticos de pessoas com doenças, deficiências,
anomalias e limitações do aparelho locomotor. Os parâmetros cinemáticos da marcha
normal são referências para detecção das disfunções (PERRY, 2005; VIEL, 2001;
AMADIO et al., 2002).
1.5.5.2 Dinamometria
A dinamometria engloba todos os tipos de medidas de forças e momentos, de
forma a poder interpretar as respostas de comportamentos dinâmicos do movimento.
Através desse método, é possível avaliar diferentes tipos de força (SUTHERLAND,
2005; ARAÚJO et al., 2004; SCHNEIDER, BENETTI, MEYER, 2004).
As forças mensuráveis são as forças externas, transmitidas entre o corpo e o
ambiente. Os instrumentos comumente utilizados em dinamometria, para análise de
marcha, são a plataforma de força, a baropodometria (ou podobarometria) e a
estabilometria computadorizada. Assim, através da dinamometria mede-se a ação
deformadora da força sobre os corpos através de um método direto onde se
determinam as forças externas, as quais são pré-requisitos necessários para estimar as
forças internas (força muscular, ligamentar e articular) e momentos articulares
(AMADIO et al., 2002).
1.5.5.2.1 Plataforma de força
As plataformas de força são utilizadas para medir as forças de reação do solo
durante a marcha (nos três eixos) durante a locomoção humana, saltos e outros
movimentos ou posições, assim como o momento de força em relação a um ponto.
Geralmente, as plataformas de força são montadas para o piso fixo ou esteiras
45
ergométricas (figura 1.19), podendo ser uniaxiais (para a força vertical) ou triaxiais
(para a força vertical e as forças horizontais). Para a análise da marcha humana, a
utilização desses equipamentos é de extrema importância na determinação dos padrões
da marcha normal e na avaliação da marcha patológica. Assim, as plataformas podem
fornecer descrições tridimensionais da força, ou seja, 3 componentes de força (vertical,
z, e horizontal, x e y), além de duas coordenadas horizontais do centro de pressão, e os
momentos (VIEL, 2001; PERRY, 2005; SANTOS, ZARO, 2006).
Assim, o uso da plataforma pode quantificar a variação dinâmica da força de
reação do solo durante a fase de contato entre corpos, fase esta onde ocorre a
transferência destas forças externas para o corpo, podendo determinar alterações que
ocorrem durante o movimento (AMADIO, SERRÃO, 2007).
Figura 1.19 - Esteira instrumentada com plataforma de força: aplicação em análise de marcha (EMG System do
Brasil ®).
Atualmente, encontra-se uma grande variedade de plataformas de forças no
mercado, em função do tipo de sensores usados. Estes podem ser à base de quartzo,
como também de extensômetros (VIEL, 2001).
1.5.5.2.2 Baropodometria
A baropodometria consiste na análise e mensuração da distribuição da pressão
plantar em situações estáticas e dinâmicas. Os sensores conectam-se a diodos
luminosos de forma que a intensidade da luz emitida por eles é proporcional à força
aplicada. Os três principais sensores utilizados atualmente são de quartzo
piezoelétrico, de variações de resistência e de variação de capacidade. Trata-se de um
46
instrumento bastante utilizado na prática clínica e em pesquisas, e que apresenta
grande confiabilidade (KAERCHER, 2008).
O exame baropodométrico apresenta o dado de pressão plantar associado a
outros, como o centro de gravidade do corpo e dos pés, com cores que indicam as
regiões de maior pressão. É também possível diagnosticar o tipo de que o indivíduo
apresenta (normal, plano ou cavo), além da superfície de apoio plantar (figura 1.20)
(KAERCHER, 2008).
Figura 1.20 – Exame baropodométrico (KAERCHER, 2008)
Também se associa a essa técnica a utilização de palmilhas (figura 1.21), peças
de pequena espessura colocadas no interior de calçados, dotada de sensores, que
conectadas a um sistema de telemetria envia sinais para um computador, que realiza a
leitura e o processamento dos dados (CHIAPPIN et al., 2008).
Figura 1.21 Palmilhas utilizadas em sapatos com saltos (Fonte: http://www.novel.de/productinfo/systems-
pedar-high.htm)
47
1.5.5.2.3 Estabilometria
A estabilometria avalia o comportamento do sistema sensorial de controle da
postura, por meio da quantificação das oscilações posturais na posição ortostática com
o uso de uma plataforma de força, na qual é possível analisar o deslocamento do centro
de pressão no próprio plano ou nas direções ântero-posterior e lateral. Esse
instrumento fornece importantes informações sobre o controle postural dinâmico em
situações normais e patológicas, com extensa aplicação em reabilitação,
otorrinolaringologia, ortopedia, gerontologia, esportes e outras áreas. É possível
registrar automaticamente os dados estabilométricos de um indivíduo com alta
quantificação dos parâmetros envolvidos na amostragem de dados (KAERCHER,
2008; BASTOS, LIMA, OLIVEIRA, 2005).
1.5.5.3 Antropometria
A antropometria procura determinar características e propriedades do aparelho
locomotor como as dimensões das formas geométricas de segmentos corporais,
distribuição de massa, posições articulares, densidade, propriedades inerciais, centro
de massa segmentar, momento de inércia, etc., definindo um modelo antropométrico a
partir das medidas (figura 1.22) (MELO, SANTOS, 2000).
Figura 1.22 – Medidas Antropométricas: proporções do corpo humano (WINTER, 1990)
48
Na antropometria são obtidas as medidas inerciais do corpo, onde são usados
desde a fita métrica, balanças, paquímetros digitais e até medidas com raio laser no
registro dos parâmetros antropométricos. Essas medidas são necessárias para a
normalização dos dados, para a personalização dos modelos físico-matemáticos e para
os métodos de simulação (AMADIO et al., 2002).
A partir das considerações anteriores, torna-se evidente que a antropometria,
além de sua importância na mensuração das medidas corpóreas, é útil na determinação
de modelos antropométricos que facilitem os cálculos relativos às análises cinemáticas
e dinâmicas, personalizando-se matematicamente assim um modelo físico-geométrico
que melhor se adeque à tarefa a ser analisada (MELO, SANTOS, 2000).
1.5.5.4 Eletromiografia
A eletromiografia (EMG) é um método que permite a investigação dos processos
fisiológicos musculares, através da observação da ativação do músculo, tanto em
relação à realização do movimento e à produção de força, quanto às disfunções e seus
processos fisiopatológicos. Dessa forma, ela é feita com a detecção, a amplificação e a
apresentação das alterações elétricas que ocorrem quando o músculo se contrai. Na
análise da marcha, este método de medição tem sido utilizado como identificador dos
músculos em atividade, durante fases da marcha normal e patológica (ARAÚJO et al.,
2004; PERRY, 2005; GAO et al., 2008).
Esse método apresenta inúmeras aplicações, notadamente na clínica médica para
diagnóstico de doenças neuromusculares; na reabilitação, na reeducação da ação
muscular (“biofeedback eletromiográfico); na anatomia, com o intuito de revelar a
ação muscular em determinados movimentos; e na biomecânica no sentido de servir
como ferramenta indicadora de alguns fenômenos. Consiste no registro da atividade
elétrica dos grupos musculares durante a realização do movimento (AMADIO,
SERRÃO, 2007; SUTHERLAND, 2001).
A técnica da eletromiografia está baseada no fenômeno do acoplamento
eletromecânico do músculo. Para a captação e aquisição de sinais eletromiográficos,
49
um determinado aparato deve ser conectado ao indivíduo, consistindo de eletrodos,
pré-amplificadores, amplificadores, filtros e conversores analógico-digitais; desde a
fase de captação, até a aquisição e armazenamento dos dados no computador. Os sinais
eletromiográficos estão sujeitos a serem corrompidos por ruídos e interferências
(AMADIO, SERRÃO, 2007; AMADIO et al., 2002).
1.6 Alterações posturais e biomecânicas associadas ao uso de sapatos com saltos
A postura ereta pode ser influenciada pelo uso do calçado com salto, que diminui
a estabilidade do apoio, promovendo alteração do equilíbrio postural. O controle
postural está envolvido com o controle da posição do corpo no espaço, com o objetivo
de garantir orientação e estabilidade ao indivíduo (BRINO, ÁVILA, SOUZA, 2003;
HORODYSKI et al., 2006).
Durante o uso do sapato com salto, comparado com a condição descalça, ocorrem
alterações nas demandas da tarefa e do ambiente. Para isso, é necessário que haja um
controle postural adaptativo, que solicita alterações nos sistemas sensorial e motor,
pois ocorrem adaptações posturais, que causam fadiga muscular e prováveis mudanças
no alinhamento postural (BRINO, ÁVILA, SOUZA, 2003).
O uso de sapatos com saltos pode promover alterações na biomecânica do pé,
além de instabilidade, contato do calcanhar diminuído, e causar acomodação nas
articulações e mudança na cinemática dos membros inferiores, pelve e coluna vertebral
durante a marcha. Esse fato, por sua vez, gera movimentos compensatórios e
alterações nos tecidos adjacentes, que aumenta consideravelmente a possibilidade do
surgimento de sintomas na coluna lombar associado ao uso desse tipo de calçado
(OPILA-CORREIA, 1990). Menant et al. (2009) notaram maior tempo de apoio duplo
com uso de sapatos com saltos, comparados com calçados sem salto.
Durante a marcha, a área de apoio dos pés de um indivíduo com sapato de salto é
menor que quando os pés se apóiam totalmente no solo, o que causa menor
estabilidade do corpo (figura 1.23). Essa distribuição ganha desproporção significativa
com saltos maiores que 3 cm (HAUSDORFF, 2005; OPILA-CORREIA, 1990).
50
Figura 1.23 – Distribuição do peso corporal com o uso de sapatos com saltos (adaptado de RESSIO, 2003)
Foi observado por Opila-Correia (1990) que o uso de sapatos com salto alto
(entre 5 e 7 cm de altura), comparado com o salto baixo, promove diminuição da
velocidade da marcha, diminuição do comprimento do passo, além de aumento da fase
de apoio. Com relação a alterações posturais, essa mesma autora relatou aumento da
flexão do joelho na fase de apoio e diminuição da flexão do quadril na fase de balanço,
associado à diminuição da amplitude de movimento da pelve no plano sagital. Lee,
Jeong, Freivalds (2001) observaram diminuição do ângulo de flexão do tronco, maior
atividade eletromiográfica do músculo tibial anterior e aumento significante do
movimento vertical do centro de massa durante a marcha com salto alto, e sugeriram
que o uso desse tipo de sapato seja evitado.
Eisenhardt et al.
1
(1996 apud VIEL, 2001, p. 68) estabeleceu uma relação entre a
altura dos saltos do sapato com a pressão registrada nos pés, em um estudo no qual
foram analisadas 30 mulheres, com idade entre 18 e 30 anos (Quadro 1).
1
EISENHARDT, et al. Change in temporal gait characteristics and pressure distribution for bare feet versus
various heel heights. Gait Posture v.4, n.4, p. 280-286 apud VIEL, E. A marcha humana, a corrida e o salto.
São Paulo: Manole, 2001.
51
Quadro 1: Diferenças de pressão registradas segundo a altura dos saltos do calçado (adaptado de VIEL, 2001)
Altura do Salto (cm) Efeito constatado
Pés descalços Mínimo de pressão sob os I e V metatarsianos; fase de
apoio mais longa
1,75 Pressão do pé elevada sob o V metatarsiano
3,12 Tempo de apoio reduzido sobre o calcâneo
5,72 Compressão marcada do calcâneo, duração curta; pressão
elevada sobre o III metatarsiano
8,74 Tempo de apoio muito reduzido sobre o V metatarsiano;
pressão elevada sob o III metatarsiano
Outros autores ainda associam o uso desses calçados ao desconforto do pé, maior
consumo de oxigênio, encurtamento do tendão calcâneo, dor nos membros inferiores,
alterações no padrão da marcha, maior probabilidade de entorse de tornozelo e
osteoartrite nos joelhos. Acredita-se que, quanto maior a altura do salto do calçado,
maiores as alterações posturais que ele promoverá. (SANTOS, NAZÁRIO, ÁVILA,
2007; PEZZAN, SACCO, JOÃO, 2007; GEFEN et al., 2002; YOE, 1994; EBBELING
et al., 1994; MURRAY et al., 1970; ADRIAN AND KARPOVITCH, 1965; SCHOLL,
1931).
Yung-Hui e Wei-Hsien (2005) sugerem a utilização de pequenas palmilhas em
regiões como o arco plantar longitudinal medial e transverso para a atenuação da força
de impacto e aumento do conforto com o uso desses calçados.
1.7 Alterações posturais e biomecânicas associadas à marcha em plano inclinado
Oliveira (2008) ressalta a importância da análise biomecânica em plano
inclinado, principalmente por ser uma exigência nas atividades de vida diária e prática.
Em diversas situações das atividades de vida diária, o ser humano depara-se com
locais de acesso em plano inclinado, como rampas, aclives e declives de diversos
graus. O sistema músculo-esquelético é capaz de detectar e responder prontamente às
alterações da superfície, por meio de mudanças no tempo de ativação e na magnitude
da atividade muscular. Para manutenção do equilíbrio corporal, tronco, cintura pélvica
52
e membros inferiores se adaptam continuamente através de rios mecanismos, dentre
os quais se pode citar a anteriorização do centro de gravidade durante o aclive. Por
meio de estudos que avaliaram as adaptações locomotoras ocorridas na transição do
plano horizontal para o inclinado, Prentice et al (2004) e Leroux, Fung e Barbeau
(2002) mostraram que as principais alterações posturais são observadas na fase de
balanço, como flexão aumentada das articulações do quadril, joelho e tornozelo.
Em plano inclinado é necessário diminuir o período de amortecimento e
aumentar o de propulsão. Para isso, ocorre aumento do tempo de aplicação da força no
apoio terminal, caracterizada pela atividade eletromiográfica aumentada dos músculos
gastrocnêmio medial e tibial anterior nessa fase, que co-ativados promovem maior
propulsão. As alterações eletromiográficas somadas às mudanças posturais seriam as
responsáveis pela eficiência da marcha em aclive. A marcha em plano inclinado
também gera melhorias na simetria entre o hemicorpo direito e esquerdo (OLIVEIRA,
2008; KLUZIK, HORAK, PETERKA, 2007).
53
2 METODOLOGIA
Para a obtenção dos objetivos propostos nesse estudo, foram utilizados três
tipos de análises experimentais: antropométrica, cinemática e cinética.
2.1 Comitê de Ética
Previamente à realização dos testes experimentais, o presente trabalho foi
submetido à avaliação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Taubaté,
o qual segundo o uso das competências definidas na Resolução CNS/MS 196/96,
considerou o trabalho aprovado, de acordo com o registro CEP/UNITAU 299/09
(em anexo).
2.2 Seleção das voluntárias
Para a realização dos procedimentos, foram selecionados 10 (dez) sujeitos do
sexo feminino. Todas as participantes são estudantes de cursos de graduação ou pós-
graduação da Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá FEG, com peso 55,3 kg
(±6,65), altura 1,59 m (±0,05), índice de massa corporal (IMC) 21,9 kg/m
2
2,45),
idade 25,6 anos 5,15). Foram considerados critérios de exclusão para a pesquisa:
lesões músculo-esqueléticas nos últimos seis meses, período gestacional, cirurgia na
região pélvica e membros inferiores e presença de dor na mesma região. Adotaram-se
como critérios de inclusão a utilização de calçado número 36 ou 37 e a experiência
prévia na utilização de sapatos com saltos.
As etapas da pesquisa foram totalmente explicadas para todas as voluntárias,
verbalmente e na forma escrita, juntamente com a aplicação de um questionário e um
termo de consentimento (presentes no apêndice do trabalho), para a seleção das
voluntárias e fornecimento de informações utilizadas para a posterior análise dos
dados.
O calçado utilizado na pesquisa apresenta altura de salto de 5,0 cm, da marca
Vizzano, com solado antiderrapante, nos tamanhos 36 e 37 (figura 2.1).
54
Figura 2.1 – Calçado com salto
2.3 Análise antropométrica
2.3.1 Equipamentos utilizados
2.3.1.1 Balança Mecânica
Para a medida da massa corporal dos sujeitos, foi utilizada uma balança mecânica
anti-derrapante com capacidade máxima de 130 kg, da marca G-Tech.
2.3.1.2 Estadiômetro
Para a medida da estatura dos sujeitos foi utilizado um estadiômetro da marca
Welmy, com campo de uso até 2,00 m, resolução em milímetros (intervalos de 5 mm).
2.3.2 Procedimento experimental
Para a realização da análise antropométrica, as voluntárias foram submetidas à
medida da massa corporal e da estatura na condição descalça, previamente ao início da
análise de marcha em cinemetria e dinamometria.
2.4 Análise cinemática
2.4.1 Equipamentos utilizados
55
Para a realização da análise cinemática, foram utilizados os seguintes
instrumentos:
2.4.1.1 Câmera digital
Foi utilizada uma mera digital da marca Samsung Digimax A502, com 5.0
mega pixels de resolução, no modo filmagem, com freqüência de captura de 24 fps
(frames per second ou “quadros por segundo”).
2.4.1.2 Tripé
Foi utilizado um tripé da marca Tiffen (Estados Unidos), modelo F-10 para
fixação e manutenção da câmera na mesma posição durante a coleta de dados.
2.4.1.3 Marcadores anatômicos
Para demarcação dos pontos anatômicos (figura 2.2) nas voluntárias, foram
utilizados marcadores cilíndricos de isopor com diâmetro de 13 mm, afixados ao corpo
através de fita dupla face da marca 3M.
Figura 2.2 – Marcadores anatômicos utilizados na voluntária (nas setas brancas)
56
2.4.1.4 Softwares
Para a análise em cinemetria, foram utilizados dois softwares, ambos de
domínio público: Quintic Player (Inglaterra, Quintic Consultancy Ltd®), para
fragmentação da filmagem (transformação da filmagem em fotos), e ImageJ (Estados
Unidos, National Institute of Mental Health), que processa e analisa as imagens
obtidas pelo Quintic Player. A figura 2.3 mostra a imagem fragmentada pelo Quintic
Player sendo analisada através do ImageJ.
Figura 2.3 – Imagem dos softwares ImageJ e Quintic Player
2.4.2 Procedimentos experimentais
2.4.2.1 Calibração da câmera
Como os parâmetros utilizados na análise cinemática foram os ângulos
articulares do joelho, não houve necessidade de calibração, uma vez que a alteração da
distância da câmera ao objeto não influi nos resultados do ângulo obtido.
57
2.4.2.2 Coleta de dados
Para a aquisição das imagens, o tripé foi posicionado a uma distância de 2,25 m
do centro da esteira, a uma altura de 0,93 m do solo. Essas medidas foram adotadas
pelo fato de estarem na altura média do joelho das voluntárias, considerando a altura
da esteira e da plataforma sob as mesmas. Devido ao posicionamento da esteira,
analisou-se o membro inferior direito das voluntárias no plano sagital. As voluntárias
foram orientadas a utilizar roupas de ginástica, apropriadas para a colocação dos
marcadores nos membros inferiores, e em seguida estes foram afixados no trocânter
maior do quadril, linha articular do joelho e maléolo lateral direito (figura 2.4), para a
obtenção dos ângulos da articulação do joelho no plano sagital. Estes pontos
anatômicos foram encontrados com base nas técnicas de anatomia palpatória de Serge
Tixa (TIXA, 2000), e realizados pela própria pesquisadora em todas as voluntárias,
para evitar eventuais alterações decorrentes da aplicação de diferentes indivíduos. As
voluntárias tiveram permissão de apoiar seus membros superiores na esteira para que
houvesse maior segurança durante a coleta de dados.
Como a coleta de dados teve duração de 10 segundos e a câmera utilizada
apresenta capacidade de filmagem de 24 quadros por segundo, cada ensaio resultou em
aproximadamente 240 quadros. Deste total, foram analisados cerca de 120, escolhidos
alternadamente para a análise no programa ImageJ.
Figura 2.4 – Definição do ângulo articular do joelho
58
A coleta de dados teve duração de dez segundos para cada uma das seis
condições estabelecidas (descalça e com saltos no plano horizontal; descalça e com
saltos na primeira inclinação; descalça e com saltos na segunda inclinação),
totalizando sessenta segundos de coleta de cada voluntária. Previamente a cada
condição, as voluntárias andaram durante três minutos sobre a esteira, para que
pudessem se adaptar à superfície da mesma. Foram analisados todos os ciclos de
marcha completos que as voluntárias realizaram durante os dez segundos
determinados. Descartando-se os ciclos incompletos, a duração da análise de dados foi
definida pelo número de ciclos completos multiplicado pelo tempo médio dos ciclos.
2.5 Análise cinética
2.5.1 Equipamentos utilizados
2.5.1.1 Esteira instrumentada
A figura 2.5 apresenta um esquema das conexões feitas entre a esteira, a
plataforma de força, Spider 8 e o computador.
59
Figura 2.5 – Conexões entre a esteira, Spider 8 e computador
Os extensômetros montados nos anéis transmitiram as variações das forças
ocorridas na plataforma de força. As conexões elétricas dos extensômetros resultaram
em dois cabos, um correspondente ao esquerdo e outro ao direito (canal 0 e 1
respectivamente). Com a ativação de dois canais no Spider 8, foi possível realizar a
aquisição, condicionamento e amplificação dos sinais, que posteriormente foram
conduzidos ao computador, onde os dados foram finalmente analisados por meio do
software Catman®.
2.5.1.1.1 Suporte para inclinação
Para a realização das análises em planos inclinados, foram utilizados suportes
laterais em cada lado da esteira, com uma ranhura longitudinal que permitiu a
alteração da inclinação da base anterior da esteira (figura 2.6). O suporte contém sete
orifícios igualmente espaçados, permitindo uma variação da altura da esteira. Nos
ensaios realizados, foram utilizados apenas os três primeiros orifícios, sendo o
60
primeiro no plano horizontal (inclinação 0°), o segundo na inclinação 1 (1,83°), e o
terceiro na inclinação 2 (3,61°).
Figura 2.6 – Suporte para inclinação da esteira
2.5.1.2 Plataforma de força
A plataforma de força construída para este estudo foi composta pelos elementos
visualizados nas figuras 2.7 a 2.10.
2.5.1.2.1 Suporte metálico da plataforma de força
A figura 2.7 apresenta o suporte metálico utilizado para a construção da
plataforma de força.
61
Figura 2.7 – Dimensões do suporte metálico da plataforma de força
62
2.5.1.2.2 Bases da plataforma
Figura 2.8 – Dimensões das bases da plataforma
2.5.1.2.3 Anéis
Foram utilizados quatro anéis de aço por plataforma, num total de oito anéis,
cujas dimensões podem ser visualizadas na figura 2.9.
Figura 2.9 – Dimensões do anel
2.5.1.2.4 Extensômetros elétricos
Foram utilizados quatro extensômetros elétricos por anel (ponte completa) como
sensores de força de contato, num total de trinta e dois extensômetros elétricos da
63
marca Kyowa (Japão), tipo KFG-2-120-C1-11, fator de ganho 2,10±1,0%, resistência
119,8±0,2 ohm, cujo esquema pode ser visto na figura 2.10. Os extensômetros foram
posicionados nas regiões laterais dos anéis, sendo colocados dois na região interna e
dois na parte externa de cada anel.
Figura 2.10 – Esquema de um extensômetro elétrico
2.5.1.3 Moto-redutor
Para ajustar a velocidade da esteira ao uso de sapatos com saltos, foi utilizado um
moto-redutor (figura 2.11) trifásico, marca Weg, modelo 80887, com potência de 1
CV, velocidade máxima de 1730 rotações por minuto (rpm), possibilitando as
variações contínuas de velocidade de 0 a 1730 rpm.
Figura 2.11 – Moto-redutor
64
2.5.1.4 Tacômetro digital
Foi utilizado um tacômetro da marca Eberle (figura 2.12), do tipo ótico/contato,
com faixa de medição de 0,5 a 100 000 rpm. Obtendo-se o número de rotações por
minuto do eixo (w) através do tacômetro, e multiplicando-se pelo raio (r) do cilindro
da esteira, foi possível determinar a velocidade da mesma, que foi controlada a 3,6
km/h (1,0 m/s) e aferida previamente a cada ensaio.
Figura 2.12 – Tacômetro
2.5.1.5 Spider 8
O Spider 8 (figura 2.13) (Hottinger Baldwin Messtechnik- HBM, Alemanha) foi
utilizado para aquisição e processamento (amplificação e filtro) dos sinais de
extensômetros em forma de ponte completa de Wheatstone.
Figura 2.13 – Spider 8 (Fonte: http://www.hbm.com)
65
2.5.1.6 Software de aquisição de dados
Foi utilizado o software Catman® da marca HBM versão 3.1, através do qual foi
possível realizar análises em tempo real das forças exercidas sobre a plataforma
durante a marcha. A figura 2.14 mostra um gráfico produzido pelo software, com as
variáveis “tempo” (em segundos) em função da “força” (em Newtons), que representa
uma coleta de dados obtida com os canais 0 (pé esquerdo, cor vermelha) e 1 (pé
direito, cor azul), em tempo real.
Figura 2.14 – Imagem do software Catman v.3.1
2.5.2 Procedimento experimental
2.5.2.1 Calibração da velocidade da esteira
Previamente ao início de cada ensaio, foi realizada a calibração da velocidade da
esteira com a utilização do tacômetro do tipo ótico/contato. Para isso, o moto-redutor
foi acionado na menor velocidade, enquanto o tacômetro foi posicionado no centro do
66
cilindro anterior da esteira. A velocidade foi aumentada gradualmente até o tacômetro
indicar o número de rotações necessárias para se atingir a velocidade desejada de 3,6
km/h, correspondente a 1,0 m/s.
2.5.2.2 Calibração das plataformas de força
Foram realizadas calibrações independentes para as plataformas esquerda (canal
0) e direita (canal 1). As anilhas de 5, 7 e 10 kg foram colocadas sobre as plataformas
de força de forma ascendente (com início da medição com a plataforma sem carga,
acrescentando-se gradualmente as anilhas). Essas medidas foram registradas três
vezes.
As figuras 2.15 e 2.16 mostram os gráficos com as médias encontradas nas três
calibrações, acompanhadas das respectivas equações da reta e a correlação encontrada
entre mV/V e N. Observa-se que em ambos os canais foram encontradas correlações
(R
2
) próximas ou iguais de 1.
Média Calibração-canal0 (asc)
y = 5961,5x + 2,2272
R
2
= 0,9999
0
100
200
300
400
500
600
700
0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1 0,12
mV/V
N
Figura 2.15 – Calibração ascendente na plataforma esquerda
67
Média Calibração-canal1 (asc)
y = 6690x - 3,2645
R
2
= 1
-100
0
100
200
300
400
500
600
700
0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1 0,12
mV/V
N
Figura 2.16 – Calibração ascendente na plataforma direita
2.5.2.3 Coleta de dados
As forças de contato dos pés com a base da esteira foram medidas por
transdutores do tipo extensômetros (strain gages) fixados apropriadamente em células
de carga, localizadas nos quatro cantos da plataforma. Os transdutores estão dispostos
em circuitos do tipo ponte de Wheatstone (figura 2.17), que apresenta maior precisão
para medidas de pequenas variações de resistência (FIALHO, 2005).
Figura 2.17 – Ponte de Wheatstone (FIALHO, 2005)
As coletas foram realizadas com freqüência de amostragem de 50Hz, sendo
utilizada a componente perpendicular ao plano da base da esteira. Foi utilizada a
componente vertical da força de reação do solo, pois segundo Sacco et al. (2007) é a
68
grandeza que melhor representa os efeitos do ambiente, calçado, velocidades e
patologias na marcha humana.
Sabe-se que a velocidade da marcha exerce influência considerável sobre as
magnitudes da força de reação do solo. Por isso, com a aferição prévia do tacômetro
em todos os ensaios, foi fixada a velocidade de 3,6 km/h, adequada para a utilização de
calçados com saltos e de acordo com o proposto nas Normas Brasileiras de conforto do
calçado (NBR 14834) para ensaios biomecânicos.
As voluntárias foram submetidas a seis condições de análise, obedecendo a
seguinte ordem:
1) sem inclinação: descalça
2) sem inclinação: com salto
3) inclinação 1: descalça
4) inclinação 1: com salto
5) inclinação 2: descalça
6) inclinação 2: com salto
Somente depois que todas as voluntárias completaram a etapa no plano
horizontal, a esteira foi ajustada para a primeira inclinação (1,83º), para garantir as
mesmas condições em todas as análises. O mesmo procedimento foi adotado na
transição da primeira para a segunda inclinação (3,61º), na qual todas também
realizaram com êxito. Após a realização de um teste piloto, decidiu-se não incluir na
pesquisa a terceira inclinação (5,45º), pois oferecia risco aumentado de lesões com o
uso de sapatos com saltos.
Para sincronização dos dados obtidos com a dinamometria e cinemetria, foi
utilizada uma lâmpada sinalizadora (figura 2.18) para o início da coleta, posicionada
no mesmo plano de filmagem das voluntárias. Antes de iniciar o procedimento, a
filmagem foi acionada. Após esse procedimento, simultaneamente foram acionados o
botão da iluminação sinalizadora e o registro dos dados da plataforma de força, através
da sincronização feita no Spider 8. A filmagem foi considerada válida para a coleta
exatamente depois que essa luz se acendesse, e dessa forma iniciou-se o registro da
filmagem e das forças no mesmo instante.
69
Figura 2.18 – Lâmpada sinalizadora (indicada na seta branca)
2.5.2.4 Armazenamento dos dados
Os dados foram exportados para o software Microsoft Excel®, onde foram
analisados e armazenados através de tabelas e gráficos, através dos quais foi possível
observar as variações de forças de contato do esquerdo (linha vermelha) e do
direito (linha azul), como mostrado na figura 2.19. Para a análise cinética, a força de
contato registrada pelas voluntárias foi convertida em porcentagem do peso corporal
(% PC), para normalização dos dados.
0
100
200
300
400
500
600
700
0 2 4 6 8 10 12
Tempo (s)
Força (N)
Figura 2.19 – Coleta de dados exportada para o Excel
70
2.6 Métodos para análise dos dados
2.6.1 Variáveis analisadas
Os dados cinemáticos foram comparados entre si, considerando a condição
“descalça” com a condição “com saltos” no plano horizontal, inclinado 1 e 2, através
de gráficos e tabelas, tendo como objeto de análise os seguintes parâmetros: ângulo
mínimo, ângulo máximo, número de ciclos, período e freqüência. A análise cinética foi
composta pela análise do PPF, SPF e comportamento gráfico nas diversas condições.
Finalmente foi realizada uma comparação gráfica entre os dados cinemáticos e
cinéticos referentes ao direito das voluntárias, uma vez que os dados cinemáticos
colheram informações limitadas a esse membro.
2.6.2 Análise estatística
Devido ao pequeno número da amostra (n=10), não houve número suficiente de
elementos para afirmar que a distribuição dos dados experimentais tenha sido normal,
motivo pelo qual se explica a utilização da estatística não-paramétrica. Para a
comparação dos dados nas condições descalça/salto, foi aplicado o teste de Wilcoxon,
indicado para uso quando existem dois grupos relacionados, com consideração à
magnitude da diferença para cada par. Os testes foram calculados com o auxílio do
software Minitab 15 Statistical Software®, sendo adotado p < 0,10.
71
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Análise antropométrica
A tabela 3.1 fornece os dados antropométricos médios obtidos na avaliação das
voluntárias:
Tabela 3.1 – Características antropométricas das voluntárias da pesquisa (média ± desvio padrão) (n=10)
Idade
(anos)
Massa
(kg)
Estatura
(m)
IMC
(kg/m
2
)
25,60 ± 5,15 55,30 ± 6,65
1,59 ± 0,05 21,92 ± 2,45
3.2 Análise cinemática
O joelho realiza dois movimentos de flexão e extensão no plano sagital durante
um ciclo completo da marcha, resultando num gráfico através do qual é possível
extrair o valor máximo (tendendo a extensão completa) e mínimo (tendendo a flexão
completa) de amplitude de movimento da articulação. Na figura 3.1 é possível
visualizar o comportamento cinemático do joelho direito de uma voluntária na
condição descalça, para exemplificar o padrão encontrado. Deve-se considerar que, no
presente estudo, o joelho em extensão completa foi referenciado como Θ = 180°. Os
quadros citados na figura 3.1 referem-se às fotos seqüenciais extraídas da filmagem,
por meio do software Quintic Player®.
Figura 3.1 – Padrão cinemático do joelho direito no plano sagital durante a marcha
72
3.2.1 Comparação do comportamento cinemático nas condições descalça e com salto
As figuras 3.2 a 3.4 apresentam o comportamento cinemático médio de uma
voluntária da pesquisa, analisada de acordo com a porcentagem do ciclo de marcha por
meio de variações do ângulo de flexão do joelho.
3.2.1.1 Esteira com inclinação de 0º (horizontal)
Horizontal
110
120
130
140
150
160
170
180
190
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
% Ciclo de marcha
Descalça
Salto
Figura 3.2 - Gráfico da variação angular (°) do joelho no plano horizontal
3.2.1.2 Esteira com inclinação de 1,83º (inclinação 1)
Inclinação 1
110
120
130
140
150
160
170
180
190
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
% Ciclo de marcha
Descalça
Salto
Figura 3.3 - Gráfico da variação angular (°) do joelho na inclinação 1
73
3.2.1.3 Esteira com inclinação de 3,61º (inclinação 2)
Inclinação 2
110
120
130
140
150
160
170
180
190
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
% Ciclo de marcha
Descalça
Salto
Figura 3.4 - Gráfico da variação angular (°) do joelho na inclinação 2
Nas figuras 3.2 a 3.4 foram ilustrados os ensaios biomecânicos de apenas uma
voluntária em função da alta variabilidade inter-sujeito, motivo pelo qual foi adotada a
estatística não paramétrica para análise dos resultados.
Perry (2005) analisou o ciclo da marcha (CM) normalizando-o em porcentagem,
e dividiu-o de acordo com os eventos observados no plano sagital do joelho, como se
observa na tabela 3.2. A autora ressalva, no entanto, que fatores como velocidade,
individualidade e pontos anatômicos de referência adotados podem interferir nesses
dados.
Tabela 3.2 - Variação angular do joelho no plano sagital (adaptado de PERRY, 2005)
Movimento do joelho
Movimento Tempo
Flexão até 18° 0 a 15% do CM
Extensão até 5° 15 a 40% do CM
Flexão até 65° 40 a 70% do CM
Extensão até 2° 70 a 97% do CM
Perry (2005) afirma que em condições normais, sem influência de calçados e/ou
superfície, a fase de contato inicial é caracterizada por leve flexão ou hiperextensão do
joelho, seguida por uma flexão na fase de resposta à carga, que ocorre em grande
velocidade. No apoio simples, o joelho completa a flexão e suporta todo o peso
corporal. O apoio médio é marcado pela extensão gradual da articulação, seguido pelo
74
apoio terminal, no qual se observa a menor flexão da fase de apoio. O joelho volta a
flexionar no final do apoio terminal, alcançando 40° no fim do pré-balanço e atingindo
cerca de 60° a 70° de flexão máxima. A partir daí, é notada novamente a extensão do
joelho, durante o balanço médio e balanço terminal. A extensão máxima ocorre
instante antes do fim da fase de balanço, concluindo o ciclo em torno de 5° de flexão.
No presente estudo, observa-se que no plano horizontal, a marcha descalça e com
salto apresentaram trajetórias semelhantes, apesar da flexão aumentada com o uso do
calçado na fase de apoio terminal até o fim do ciclo. Hammil e Knutzem (1993) e
Palastanga, Field e Soames (2000) ressaltam que a articulação do joelho é envolta por
músculos que garantem uma adequada recepção e absorção dos esforços externos,
como este imposto durante a marcha com calçados com saltos. Opila-Correia (1990),
comparando as mesmas condições, encontrou aumento da flexão do joelho na fase
de apoio, além do aumento da duração dessa fase. Possivelmente a autora encontrou
maiores discrepâncias em função da utilização de calçados de até 7 cm em seu estudo.
Na inclinação 1, observa-se a influência de dois fatores simultâneos na marcha: a
utilização do calçado com salto e o plano inclinado. Houve antecipação da fase de
balanço com o uso do calçado, além de flexão aumentada do joelho nessa condição.
Prentice et al. (2004) e Leroux, Fung e Barbeau (2002) afirmam que a marcha em
plano inclinado promove alterações posturais como aumento da flexão do quadril,
joelho e tornozelo. Nessa situação, o controle de tronco, assim como de pelve, são
imprescindíveis para o equilíbrio corporal, para que haja uma adequada recepção de
força pelos membros inferiores. Quanto maior a inclinação, maior o comprimento do
passo na marcha. As adaptações posturais são tarefa-dependentes e diferentes se
comparadas na posição estática e durante a marcha. Apesar da pequena inclinação
adotada no presente estudo (1,83°), foi possível notar a grande influência que o plano
inclinado exerce no comportamento cinemático dessa articulação.
A inclinação 2 (3,61°) assume características diferenciadas, com uma trajetória
alterada nas primeiras fases da marcha, assim como a diminuição da flexão máxima
do joelho com o uso do calçado. Essas mudanças possivelmente já refletem os achados
de Prentice et al. (2004) e Leroux, Fung e Barbeau (2002), que afirmam que as
alterações posturais são diretamente proporcionais às inclinações da superfície. Como
75
o sapato com salto promove diminuição do comprimento do passo e o plano inclinado
gera o aumento do mesmo, é possível que esses dois fatores simultaneamente resultem
em menor flexão do joelho com o uso do calçado.
3.2.2 Comparação cinemática do ângulo mínimo da articulação do joelho
As figuras 3.5 a 3.7 apresentam os valores médios de ângulo mínimo do joelho
direito no plano sagital, realizados pelas voluntárias nos respectivos ensaios.
3.2.2.1 Plano Horizontal
100
105
110
115
120
125
130
ângulo
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Voluntárias
Ângulo mínimo - Horizontal
Descalça
Salto
Figura 3.5 – Ângulo mínimo do joelho no plano horizontal
3.2.2.2 Plano Inclinado 1
76
100
105
110
115
120
125
130
ângulo
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Voluntárias
Ângulo mínimo - Inclinação 1
Descalça
Salto
Figura 3.6 – Ângulo mínimo do joelho no plano inclinado 1
3.2.2.3 Plano Inclinado 2
100
105
110
115
120
125
130
ângulo
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Voluntárias
Ângulo mínimo - Inclinação 2
Descalça
Salto
Figura 3.7 – Ângulo mínimo do joelho no plano inclinado 2
3.2.2.4 Análise Estatística
Tabela 3.3 – Valores encontrados no teste de Wilcoxon para ângulo mínimo (Descalça x Salto) (n=10)
Condição p
Horizontal 0,581
Inclinação 1 0,541
Inclinação 2 0,238
77
O ângulo mínimo reflete a situação de maior flexão de joelho em todo o ciclo de
marcha. Foi realizada comparação nas condições descalça e salto nas três inclinações,
com a hipótese alternativa de que a condição descalça ofereceria valor menor que a
condição com salto. O teste não-paramétrico de Wilcoxon não apontou diferença
estatisticamente significante na comparação descalça e com salto, como pode ser visto
na tabela 3.3, fato que contrasta com os achados de Sacco et al. (2007). Deve-se
evidenciar que o ângulo mínimo manifesta-se durante a fase de balanço da marcha,
período que não está diretamente sob os efeitos da utilização do calçado e da
inclinação da superfície, o que sugere que esse parâmetro não seja um reflexo imediato
das condições adversas impostas no presente estudo e que por esses motivos não
tenham demonstrado valores com significância estatística.
3.2.3 Comparação cinemática do ângulo máximo da articulação do joelho
As figuras 3.8 a 3.10 apresentam os valores médios de ângulo máximo do joelho
direito no plano sagital, realizados pelas voluntárias nos respectivos ensaios.
3.2.3.1 Plano Horizontal
162
164
166
168
170
172
174
176
178
180
ângulo
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Voluntárias
Ângulo máximo - Horizontal
Descalça
Salto
Figura 3.8 – Ângulo máximo do joelho no plano horizontal
78
3.2.3.2 Plano Inclinado 1
162
164
166
168
170
172
174
176
178
180
ângulo
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Voluntárias
Ângulo máximo - Inclinação 1
Descalça
Salto
Figura 3.9 – Ângulo máximo do joelho no plano inclinado 1
3.2.3.3 Plano Inclinado 2
162
164
166
168
170
172
174
176
178
180
ângulo
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Voluntárias
Ângulo máximo - Inclinação 2
Descalça
Salto
Figura 3.10 – Ângulo máximo do joelho no plano inclinado 2
3.2.3.4 Análise Estatística
79
Tabela 3.4 – Valores encontrados no teste de Wilcoxon para ângulo máximo (Descalça x Salto)(n=10)
Condição p
Horizontal 0,074*
Inclinação 1 0,476
Inclinação 2 0,610
* diferença estatisticamente significante
O ângulo máximo reflete a situação de menor flexão, ou com tendência a
extensão do joelho, durante o ciclo de marcha. O teste não-paramétrico de Wilcoxon
confirmou a hipótese alternativa para o plano horizontal, de que o ângulo máximo na
condição descalça é maior que com o uso do calçado, como pode-se notar na tabela
3.4. Esse achado está de acordo com Opila-Correia (1990) e Ebbeling et al. (1994) que
afirmam haver aumento da flexão do joelho com o uso do calçado com salto. Esses
autores justificam o aumento da flexão do joelho e a diminuição da flexão do quadril
em função de um mecanismo protetor do sistema músculo-esquelético. Ao associar os
achados do presente estudo a respeito do ângulo máximo e mínimo do joelho, pode-se
afirmar que existe diminuição considerável da amplitude de movimento do joelho com
o uso do sapato com salto no plano horizontal, porém sem redução do ângulo mínimo
dessa articulação. Possivelmente nas inclinações 1 e 2 essa alteração não foi
significativa em função da existência de um segundo fator influente (plano inclinado).
3.2.4 Comparação do número de ciclos
O gráfico 3.11 apresenta a média do grupo nas seis condições estudadas, com
relação aos parâmetros descritos abaixo: O número de ciclos (n), observado no eixo
vertical (y) do gráfico, é definido pela quantidade de ciclos completos de marcha
realizados pelas voluntárias em dez segundos.
80
Ciclos completos
4,2
4,4
4,6
4,8
5
5,2
Horizontal
descalça
Horizontal
salto
Incl1
descalça
Incl1 salto Incl2
descalça
Incl2 salto
Figura 3.11 – Média de ciclos completos em cada condição estudada (n=10)
O número de ciclos completos mostrou-se em valores decrescentes da condição
“horizontal descalça” até “inclinação 2 descalça”, e apresentaram novamente um
crescimento na última condição estudada, “inclinação 2 salto”.
A diminuição do número de ciclos completos sugere diminuição da velocidade
da marcha nas condições adversas estudadas (uso de calçados com saltos e inclinação
da superfície). A condição “inclinação 2 descalça” foi a que apresentou menor número
de ciclos, possivelmente pelo maior nível de dificuldade encontrado pelas
participantes, achado que concorda com os estudos de McIntosh et al. (2006), que
afirmam que a cadência (número de passos por minuto) é inversamente proporcional à
inclinação da superfície. Sacco et al. (2007) atribui a diminuição da velocidade da
marcha à rigidez do solado e à instabilidade gerada em função da elevação do centro
de gravidade com o uso do salto. Opila-Correia (1990) também encontrou diminuição
da velocidade e do comprimento do passo com o uso de calçados com até 7 cm de
altura. A possível justificativa para o aumento do número de ciclos na última condição
é a alteração do posicionamento dos pés com o uso do sapato com salto na inclinação
2. Como a marcha em plano inclinado coloca os pés em dorsiflexão e o calçado com
salto posiciona-os em flexão plantar, é possível que as duas condições combinadas
nessa intensidade tenha proporcionado condições biomecânicas mais favoráveis para a
marcha.
81
3.3 Análise cinética
O gráfico obtido na análise cinética pode ser observado na figura 3.12, que
apresenta o tempo (em segundos) no eixo x, e a porcentagem do peso corporal (% PC)
da voluntária no eixo y, através do qual podem ser identificados as seguintes variáveis
de estudo: 1) Primeiro Pico de Força (PPF); 2) Suporte Médio de Força (SMF); 3)
Segundo Pico de Força (SPF); 4) fase de frenagem (área cinza); 5) fase de propulsão
(área verde). A cor rosa indica o direito e a cor azul corresponde ao esquerdo. A
linha vermelha horizontal apresenta a região de duplo apoio, quando os dois pés estão
em contato com a superfície e que, em condições normais, apresenta distribuição do
peso corporal próxima a 50% em cada membro inferior. A figura 3.12 apresenta a
curva de uma voluntária na condição descalça, no plano horizontal, escolhida
aleatoriamente para ilustração das variáveis.
Figura 3.12 – Componentes de estudo da análise cinética da marcha
A figura 3.12 é bastante rica em relação ao número de informações que se pode
extrair sobre o comportamento cinético da marcha. Através dela é possível realizar um
estudo comparativo entre os pés direito e esquerdo, analisar a linearidade da marcha,
além do tempo necessário para atingir o PPF, que a idéia do impacto sofrido nas
articulações dos membros inferiores. O gráfico também permite a análise do período
82
de duplo apoio inicial e final, e relacioná-lo com o peso corporal total do indivíduo.
Também pode-se estudar o primeiro e segundo picos de força e o SMF, além da
incidência dos spikes e o tempo dos períodos de frenagem e propulsão. No presente
estudo, foram escolhidos para análise os parâmetros mais relevantes para a análise
biomecânica da marcha, de acordo com os objetivos do presente estudo.
3.3.1 Análise do PPF
3.3.1.1 PPF - Plano horizontal
Os gráficos das figuras 3.13 a 3.15 apresentam o PPF médio realizado pelas
voluntárias em proporção à porcentagem do peso corporal, analisado nas condições
descalça e com salto.
80
85
90
95
100
105
110
% PC
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Voluntárias
PPF - Horizontal
Descalça
Salto
Figura 3.13 – Gráfico comparativo do PPF no plano horizontal
3.3.1.2 PPF – Plano inclinado 1
83
80
85
90
95
100
105
110
% PC
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Voluntárias
PPF - Inclinação 1
Descalça
Salto
Figura 3.14 – Gráfico comparativo do PPF no plano inclinado 1
3.3.1.3 PPF – Plano inclinado 2
80
85
90
95
100
105
110
% PC
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Voluntárias
PPF - Inclinação 2
Descalça
Salto
Figura 3.15 – Gráfico comparativo do PPF no plano inclinado 2
3.3.1.4 Análise Estatística
Tabela 3.5 – Valores encontrados no teste de Wilcoxon para PPF (Descalça x Salto) (n=10)
Condição p
Horizontal 0,695
Inclinação 1 0,380
Inclinação 2 0,051*
* diferença estatisticamente significante
84
Os gráficos 3.13 a 3.15 apresentam os resultados para o PPF médio das
voluntárias nas três condições de inclinação, combinadas às duas condições de calçado
(descalça e com salto de 5 cm). Somente na inclinação 2 foi encontrada diferença com
significância estatística através do teste de Wilcoxon, que apontou valores maiores de
PPF com o uso do calçado, como pode-se observar na tabela 3.5.
Sacco et al. (2007), em um estudo da força de reação do solo com oito mulheres
jovens usando tênis e sandália plataforma, afirmam a influência que o sapato com salto
exerce sobre o PPF, aumentando-o de forma diretamente proporcional à altura do
calçado, possivelmente por dificultar a realização do rolamento do calcanhar no
contato inicial, devido ao posicionamento do em flexão plantar com o uso desse
calçado. Curiosamente, Stefanyshyn et al. (2000) encontraram força vertical de
impacto maior com o calçado com salto de 3,7 cm do que com o de 8,5 cm, e atribui
esse achado a um possível mecanismo protetor do sistema músculo-esquelético,
associado a diferenças na construção e/ou composição do calçado com maior salto.
McIntosh et al. (2006) relacionam a marcha em plano inclinado ao aumento das
forças exercidas sobre as articulações dos membros inferiores, aumentando
consideravelmente a força de reação do solo, o que justifica o aumento da PPF na
inclinação 2. No plano inclinado maior exigência de força muscular dos membros
inferiores, e maior amplitude de movimento do tornozelo, informações relevantes para
a reabilitação em idosos e deficientes com limitações nessas articulações. Esses
autores também afirmam que, ao comparar o plano horizontal a inclinações de até 5°,
um aumento considerável na força de reação do solo; no entanto, essas diferenças
tornam-se menores ao comparar inclinações entre 5°, e 10°. Outro fato que deve ser
mencionado é que, como as voluntárias foram permitidas a apoiarem as mãos nos
suportes laterais da esteira por questões de segurança, este pode ter sido um dos
motivos pelo qual o PPF não teve aumento significativo no plano horizontal e na
inclinação 1. Possivelmente a marcha na inclinação 2 (3,61°) associada à utilização do
sapato com salto de 5 cm foram os responsáveis pelo aumento considerável da PPF
nessa condição.
85
3.3.2 Análise do SPF
3.3.2.1 SPF – Plano horizontal
70
75
80
85
90
95
100
105
% PC
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Voluntárias
SPF - Horizontal
Descalça
Salto
Figura 3.16 – Gráfico comparativo do SPF no plano horizontal
3.3.2.2 Análise do SPF – Plano inclinado 1
75
80
85
90
95
100
105
% PC
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Voluntárias
SPF - Inclinação 1
Descalça
Salto
Figura 3.17 – Gráfico comparativo do SPF no plano inclinado 1
3.3.2.3 SPF – Plano inclinado 2
86
75
80
85
90
95
100
105
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
SPF - Inclinação 2
Descalça
Salto
Figura 3.18 – Gráfico comparativo do SPF no plano inclinado 2
3.3.2.4 Análise Estatística
Tabela 3.6 – Valores encontrados no teste de Wilcoxon para SPF (Descalça x Salto) (n=10)
Condição p
Horizontal 0,033*
Inclinação 1 0,042*
Inclinação 2 0,012*
* diferença estatisticamente significante
Os gráficos 3.16 a 3.18 apresentam os resultados para o segundo pico de força
médio das voluntárias nas três condições de inclinação combinadas às duas condições
de calçado (descalça e com salto). O teste estatístico não-paramétrico de Wilcoxon
apontou valores estatisticamente maiores de SPF na condição descalça comparada ao
uso do calçado, nas três inclinações estudadas, como explanado na tabela 3.6. Não
existe um consenso na literatura em relação ao efeito do uso de calçados com saltos e o
comportamento do SPF durante a marcha. Sacco et al. (2007) utilizaram em sua
pesquisa sandália do tipo plataforma, caracterizada por apresentar solado bastante
rígido e de altura elevada, e possivelmente por esse motivo encontraram aumento do
SPF com o uso desse tipo de calçado. Esses autores relacionam a rigidez do solado ao
aumento do PPF e SPF em função do aumento do braço de alavanca no tornozelo, que
seria responsável por desestabilizar a articulação, gerando maior tensão na mesma.
87
Eles também afirmam haver uma relação diretamente proporcional entre a altura do
salto e o aumento do PPF e SPF. Viel (2001) e Hammil e Knutzem (1993) relacionam
a utilização constante de calçados, fato comum na atualidade, à hipotrofia muscular da
região intrínseca do pé, evento que proporciona fraqueza aos movimentos do
durante a marcha e pode dificultar a realização do SPF. Além disso, o calçado
utilizado no presente estudo caracteriza-se por apresentar conforto, solado
antiderrapante e de alta flexibilidade, fatores que podem ter influenciado na redução
do SPF com o uso do mesmo.
3.3.3 Comparações entre os resultados cinéticos
As figuras 3.19 a 3.21 apresentam o comportamento cinético de uma voluntária
da pesquisa, analisada de acordo com a porcentagem do ciclo de marcha. Os gráficos
referem-se a análises do membro inferior direito. O eixo y representa a força, dada em
Newtons (N).
3.3.3.1 Plano horizontal
Figura 3.19 – Análise cinética comparativa no plano horizontal
88
3.3.3.2 Plano inclinado 1
Figura 3.20 – Análise cinemática do ângulo mínimo no plano inclinado 2
3.3.3.3 Plano inclinado 2
Figura 3.21 – Análise cinemática do ângulo mínimo no plano inclinado 2
89
Observa-se nas três figuras (3.19 a 3.21) que o PPF com o uso de sapato com
salto foi maior do que na condição descalça, apesar da análise estatística evidenciar
que essa diferença obteve significância somente na inclinação 2. O plano horizontal foi
a única condição na qual se nota uma breve antecipação do PPF com o uso do salto,
enquanto nas demais condições ele se manifestou no mesmo tempo da condição
descalça. Quando uma força de elevada magnitude é aplicada a um corpo em curto
período de tempo, caracteriza-se um evento de alto impacto, fato que pode gerar lesões
nas articulações do e tornozelo com o uso constante desse tipo de calçado,
principalmente se o indivíduo estiver acima do peso, visto que a massa corporal é
outro fator que influencia sobre a força de impacto. O comportamento cinético da
voluntária no plano horizontal e inclinação 1 mostrou-se bastante semelhante na
comparação das condições descalça e salto, apenas com um leve aumento do SMF
com o uso do calçado. Na inclinação 2, as principais diferenças gráficas estão
relacionadas ao PPF e SMF aumentados e na área de propulsão diminuída com o uso
do calçado.
3.4 Comparação entre dados cinemáticos e cinéticos
As figuras 3.22 a 3.34 apresentam o comportamento cinemático e cinético de
uma voluntária da pesquisa, nas seis condições estudadas. No eixo x, todos os gráficos
estão representados pela porcentagem do ciclo de marcha. No eixo y da análise
cinemática estão apresentados os ângulos do joelho direito no plano sagital (em graus),
e no eixo y da análise cinética estão representadas as forças (em Newtons).
3.4.1 Horizontal Descalça
90
Horizontal descalça
100
110
120
130
140
150
160
170
180
190
200
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100
% Ciclo da marcha
Figura 3.22 – Análise cinemática no plano horizontal, condição descalça
Horizontal descalça
-5
45
95
145
195
245
295
345
395
445
495
545
595
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100
% ciclo da marcha
Figura 3.23 – Análise cinética no plano horizontal, condição descalça
3.4.2 Horizontal com Salto
Horizontal salto
100
110
120
130
140
150
160
170
180
190
200
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100
% ciclo de marcha
Figura 3.24 – Análise cinemática no plano horizontal, condição com salto
91
Horizontal salto
-5
45
95
145
195
245
295
345
395
445
495
545
595
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100
% ciclo de marcha
Figura 3.25 – Análise cinética no plano horizontal, condição com salto
3.4.3 Inclinação 1 Descalça
Inclinão 1 descalça
100
110
120
130
140
150
160
170
180
190
200
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100
% ciclo de marcha
Figura 3.26 – Análise cinemática no plano inclinado 1, condição descalça
Inclinação 1 descalça
-5
45
95
145
195
245
295
345
395
445
495
545
595
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100
% ciclo de marcha
Figura 3.27 – Análise cinética no plano inclinado 1, condição descalça
92
3.4.4 Inclinação 1 com Salto
Inclinação 1 salto
100
110
120
130
140
150
160
170
180
190
200
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100
% ciclo de marcha
Figura 3.28 – Análise cinemática no plano inclinado 1, condição com salto
Inclinação 1 salto
-5
45
95
145
195
245
295
345
395
445
495
545
595
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100
% ciclo de marcha
Figura 3.29 – Análise cinética no plano inclinado 1, condição com salto
3.4.5 Inclinação 2 Descalça
Inclinação 2 descalça
100
110
120
130
140
150
160
170
180
190
200
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100
% ciclo de marcha
Figura 3.30 – Análise cinemática no plano inclinado 2, condição descalça
93
Inclinação 2 descalça
-5
45
95
145
195
245
295
345
395
445
495
545
595
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100
% ciclo de marcha
Figura 3.31 – Análise cinética no plano inclinado 2, condição descalça
3.4.6 Inclinação 2 com Salto
Inclinação 2 salto
100
110
120
130
140
150
160
170
180
190
200
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100
% ciclo de marcha
Figura 3.32 – Análise cinemática no plano inclinado 2, condição com salto
Inclinação 2 salto
-5
45
95
145
195
245
295
345
395
445
495
545
595
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100
% ciclo de marcha
Figura 3.33 – Análise cinética no plano inclinado 2, condição com salto
94
A análise das figuras 3.22 a 3.33 teve como objetivo principal ilustrar
graficamente as diferenças biomecânicas encontradas nas seis condições estudadas e
procurar estabelecer uma relação entre o comportamento cinemático e cinético durante
a marcha.
Na condição horizontal descalça, nota-se que a flexão máxima do joelho
manifestou-se em momento bastante próximo ao SPF, com uma grande área de
propulsão. Os gráficos 3.22 e 3.23 serviram como referência (condição base) para as
análises seguintes, pelo fato de relatarem o comportamento normal da marcha humana
sem a influência dos fatores estudados.
Com a influência do sapato com salto, nota-se nos gráficos 3.24 e 3.25 que a
flexão máxima do joelho ocorre tardiamente em relação ao surgimento do SPF, fato
possivelmente causado pelo aumento da flexão do joelho devido ao uso do calçado.
Outra informação relevante a ser comentada é a nítida diminuição do SPF em relação
ao PPF no gráfico 3.25, com diferença de significância estatística, como foi abordado
anteriormente.
Os gráficos 3.26 e 3.27 apresentam o efeito da inclinação sobre o comportamento
cinemático e cinético na marcha, e revelam que, nessa condição, o ângulo mínimo do
joelho coincide com o período de pré-balanço da marcha, como pode ser visto na
figura 3.27 (65% do CM). uma proporção adequada entre PPF e SPF, assim como
de SMF. Nota-se que a curva do ângulo mínimo do joelho apresenta-se suavizada em
comparação à condição horizontal descalça.
Na condição inclinação 1 salto (figuras 3.28 e 3.29), a flexão máxima do joelho e
o SPF são coincidentes (55% do CM) e surgem precocemente em relação à condição
base, fato influenciado possivelmente tanto pelo tipo de calçado como pela inclinação
da superfície.
As figuras 3.30 e 3.31 evidenciam o comportamento gráfico suavizado,
principalmente no ângulo mínimo do joelho e no SPF (não coincidentes), porém com
manifestação próxima. Ao analisar o comportamento cinético em 3.31, destacam-se a
presença de um spike pouco antes dos 10% do CM e a intensidade do SPF aumentada
em relação ao PPF.
95
Deve-se ressaltar na inclinação 2 com salto (3.32 e 3.33) o aumento da
irregularidade cinemática do joelho nas fases iniciais da marcha e, na análise cinética,
a intensidade reduzida do SPF (quase igual ao SMF) e a manifestação coincidente do
ângulo mínimo com o SPF.
De forma geral, pode-se afirmar que, apesar do comportamento cinético e
cinemático assumir um padrão característico semelhante nessas doze condições, são
identificáveis algumas peculiaridades em cada uma delas, o que nos permite avaliar
indiretamente as condições pelas quais o sistema neuro-músculo-esquelético foi
submetido.
96
4 CONCLUSÕES
A esteira elétrica adaptada para a análise biomecânica da marcha mostrou-se um
instrumento eficaz, que permitiu a realização de todos os ensaios em plano horizontal e
inclinações de 1,83° e 3,61° de forma segura e confiável.
O uso de sapatos com saltos com 5 cm de altura associado à marcha em plano
horizontal e inclinado de 1,83° e 3,61° não altera o ângulo mínimo de flexão do joelho
no plano sagital, porém exerce influência sobre o ângulo máximo do mesmo no plano
horizontal, diminuindo-o com o uso do calçado.
Esse tipo de sapato também promove diminuição da velocidade da marcha,
observada pela diminuição do número de ciclos completos em 10s. No entanto, o uso
desse calçado em plano inclinado de 3,61° resulta em um número de ciclos próximo ao
da condição descalça no plano horizontal, o que sugere ser esta uma condição na qual
a eficácia biomecânica é restabelecida.
A marcha em plano inclinado de 3,61° com uso de calçado com salto de 5 cm
gera aumento do PPF, o que possivelmente gera maior tensão sobre o sistema
músculo-esquelético. O mesmo calçado gera, entretanto, diminuição do SPF tanto no
plano horizontal como nas duas inclinações estudadas.
De acordo com os achados do presente estudo, conclui-se que o calçado estudado
exerce influências em determinadas características cinemáticas e cinéticas da marcha,
o que exige certa parcimônia em sua utilização freqüente. Devido à grande
complexidade do tema e dos inúmeros fenômenos relacionados que ainda não são bem
esclarecidos, sugere-se que mais pesquisas abordem a análise de marcha com o uso de
diferentes calçados, associados a diversas inclinações de superfície, a fim de que haja
uma maior compreensão desses mecanismos.
97
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http://www.jneuroengrehab.com/content/3/1/19>. Acesso em: 27 fevereiro 2008.
104
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO APLICADO ÀS VOLUNTÁRIAS
Nome completo: .........................................................................................................
Data de Nascimento: .................................. Telefone................................................
Curso: .................................................... Ano/Semestre: ...........................................
Peso: .................kg Altura: ..............m Número de calçado: .........................
SIM
NÃO
1) Você costuma usar sapatos de salto com freqüência (mais de três
vezes por semana)?
2) Você foi submetida a cirurgia nos pés, tornozelos, joelhos ou quadril
nos últimos 6 meses?
3) Você está grávida?
4) Você sofreu lesão no(s) pé(s), tornozelo(s), joelho(s), quadril nos
últimos 6 meses?
5) Você apresenta dor no(s) pé(s), tornozelo(s), joelho(s), quadril
atualmente?
105
APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA:
Título do Projeto: “Análise de marcha de mulheres com uso de sapatos com saltos,
em solo inclinado e plano”
Pesquisadores : Glauce Gonzaga Silva / João Alberto de Oliveira
Telefones para contato : (12) 3123-2800 ; (12) 9111-8439
CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DA PESQUISA:
Esta pesquisa tem por objetivo analisar a marcha de mulheres numa esteira, para verificação da força de
reação do solo nas seguintes condições: descalça, com uso de sapatos com saltos de 5 cm, em superfície plana e
inclinada. Outro objetivo da pesquisa é analisar esse movimento também através de filmagem, numa vista
lateral.
Inicialmente, a pesquisadora responsável fará um breve questionário, depois será pedido a cada
voluntária que ande sobre uma esteira, com e sem calçados. Após uma pequena inclinação da esteira, esse
procedimento será repetido, sendo que a voluntária terá total liberdade para interromper o experimento a
qualquer momento, sem nenhum prejuízo.
Os dados serão coletados em no máximo três dias, e não haverá nenhum tipo de risco de lesão ou
desconforto às voluntárias, desde que os procedimentos sejam seguidos corretamente.
Espera-se que essa pesquisa sirva para a compreensão das alterações biomecânicas decorrentes do uso
de sapatos com saltos.
Será garantido o sigilo total e absoluto de todas as informações coletadas sobre os sujeitos da pesquisa,
assim como suas imagens e dados pessoais. As voluntárias têm o direito de pedir maiores detalhes sobre os
procedimentos a qualquer momento da pesquisa.
___________________________ ______________________________
Glauce Gonzaga Silva Prof. Dr. João Alberto de Oliveira
(Pesquisadora responsável) (Orientador)
106
ANEXO A - CARTA DE APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA
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