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DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO BRASIL:
QUESTÕES DO NOVO MILÊNIO
Salvatore Barreto Benvenuto
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa
de Pós-graduação em Ciência Política, Instituto de
Filosofia e Ciências Sociais, da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Mestre em
Ciência Política.
Orientadora: Maria Lucia Teixeira Werneck Vianna
Rio de Janeiro
Maio de 2009
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DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO BRASIL:
QUESTÕES DO NOVO MILÊNIO
Salvatore Barreto Benvenuto
Orientadora: Maria Lucia Teixeira Werneck Vianna
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em
Ciência Política, Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, da Universidade Federal do
Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título
de Mestre em Ciência Política.
Aprovada por:
___________________________________
Presidente, Profª. Maria Lucia Teixeira Werneck Vianna
___________________________________
Profª. Ingrid Sarti
___________________________________
Profª. Ludmila Rodrigues Antunes
Rio de Janeiro
Julho 2009
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Benvenuto, Salvatore Barreto.
Déficit na educação e crescimento econômico no Brasil:
questões do novo milênio/ Salvatore Barreto Benvenuto - Rio
de Janeiro: UFRJ/ IFCS, 2009.
ix, 83f.: il.; 31 cm.
Orientadora: Maria Lucia Teixeira Werneck Vianna
Dissertação (mestrado) – UFRJ/ IFCS/ Programa de Pós-
Graduação em Ciência Política, 2009.
Referências Bibliográficas: f. 70-74.
1. Educação. 2. Crescimento econômico. 3. Déficit
educacional. 4. Políticas públicas. 5. Produtividade. I. Vianna,
Maria Lucia Teixeira Werneck. II. Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Programa
de Pós-graduação em Ciência Política. III. Déficit na educação
e crescimento econômico no Brasil: questões do novo milênio.
RESUMO
DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO BRASIL:
QUESTÕES DO NOVO MILÊNIO
Salvatore Barreto Benvenuto
Orientadora: Maria Lucia Teixeira Werneck Vianna
Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-
graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ,
como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciência
Política.
O objetivo deste trabalho é apontar os déficits educacionais que possam
oferecer entraves ao crescimento econômico no Brasil. O contexto produtivo de
modelo recente, baseado numa intensificação do uso da informação, exige uma
relação muito mais intensa com os processos de aprendizado, os quais permitam a
disseminação dos parâmetros recentes da produção. Estes processos dependem da
formação educacional da mão-de-obra, capaz de sustentar a apreensão sistemática
das novas qualificações em situação de constante obsolescência. Tal contexto
demanda investimentos significativos nas categorias educacionais de base, que
permitam construir as competências requeridas no novo milênio. Em paralelo,
diversas políticas públicas no país tentam atender as atuais demandas investindo
na disseminação da educação sem, no entanto, assegurar a qualidade da mesma.
Palavras-chave: educação, crescimento econômico, déficit educacional, políticas
públicas, produtividade.
Rio de Janeiro
Julho 2009
ABSTRACT
DEFICIT ON EDUCATION AND ECONOMIC GROWTH IN BRAZIL:
ISSUES OF NEW MILLENNIUM
Salvatore Barreto Benvenuto
Orientadora: Maria Lucia Teixeira Werneck Vianna
Abstract da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-
graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ,
como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciência
Política.
The goal of this work is to point the educational deficits that can offer
obstacles to economic growth in Brazil. The productive context of recent model,
based on an intensification of the information use, demands a much more intense
relationship with the processes of learning, which allow a dissemination of recent
parameters of production. These processes depend on educational formation of
work force, capable of sustaining a systematic apprehension of new qualifications in
situation of constant obsolescence. Such context demands significant investments
on basic categories of education that allow build the competences required in new
millennium. In parallel, diverse public policies on country try to meet the current
demands investing on spread education without, however, ensure the quality of it.
Key words: education, economic growth, educational deficit, public policies,
productivity.
Rio de Janeiro
Julho 2009
AGRADECIMENTOS
Gostaria de tecer um agradecimento especial à minha orientadora Maria
Lucia Teixeira Werneck Vianna. Não caberia aqui o quanto seu incentivo foi
importante no decorrer deste trabalho.
Aos caríssimos professores do programa de pós-graduação em ciência
política, agradeço pela maneira fascinante com a qual a ciência política se
descortinou para mim.
Um agradecimento especial aos professores Aluisio Alves e Liana Cardoso
pelo encorajamento inestimável.
Gostaria de agradecer ao ambiente de debate e cooperação mútua
proporcionado pelos meus colegas de turma, terei sempre todos na memória.
Aos amigos que sofreram e superaram junto comigo todos os desafios, e
dividem agora a satisfação deste trabalho, em especial a Nathalia Cordeiro.
Agradeço ao apoio financeiro da Capes, decisivo no decorrer deste trabalho.
Aos meus pais, Paulo Roberto e Elza
LISTA DE SIGLAS
FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.
Ideb - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica.
INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.
IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
IOH - Índice de Oportunidade Humana.
OCDE - Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico.
PAC - Plano de Aceleração do Crescimento.
Pisa - Programa Internacional de Avaliação de Alunos.
PDE - Plano de Desenvolvimento da Educação.
PTE - Paradigma Tecno-econômico.
Saeb - Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica.
SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.
SESI - Serviço Social da Indústria.
Unesco - Organização das Nações Unidas para Educação Ciência e Cultura.
WWW - World Wide Web.
SUMÁRIO
Introdução 1
Capítulo 1. A modernidade exacerbada
4
A modernidade do final do milênio
O Prometeu moderno
Capítulo 2. O conhecimento na Era informacional
13
Territorialidade e inovação
Conhecimento tácito e conhecimento codificado
Redes de cooperação
Reconcentração da geração de novos conhecimentos
Trabalho e educação no novo contexto produtivo
Informação, inovação e educação
Capítulo 3. A participação do Brasil no novo contexto econômico
41
Investimentos corporativos em educação
Re-exclusão educacional
Uma retórica sobre a educação
O risco moral da educação
Investimentos em educação no Brasil
Finalizando
Considerações finais 67
Referências bibliográficas 70
Introdução
A presente dissertação tem como objetivo apontar a natureza do déficit educacional
no Brasil, diante do atual contexto econômico mundial. Nesse contexto, a chamada
economia informacional (Castells, 1991), as exigências relativas ao conhecimento
não só aumentam como se tornam mais complexas e sofisticadas. Contudo, o cerne
de tais exigências reside na educação básica, capaz de fornecer os fundamentos
dos saberes que sustentem a apreensão sistemática de cada vez mais
conhecimento.
O ponto de partida do trabalho está, assim, no reconhecimento das
mudanças em curso na relação entre tecnologia e produção. Os requisitos de
produtividade e competitividade, cada vez mais exigentes, passaram a demandar
novas abordagens no campo educacional. No Brasil, conforme apontado por vários
estudos, embora tenha ocorrido uma massificação da educação fundamental, as
questões relativas à qualidade e à adequação do ensino básico continuam
pendentes. Pretende-se, com esta dissertação, contribuir para o debate em torno
de tal tema, qual seja, o da necessidade de políticas públicas na área de educação
que visem superar o gargalo que o ensino fundamental ainda representa para o
crescimento econômico do país.
A pesquisa realizada foi eminentemente bibliográfica. Buscou-se levantar a
produção acadêmica que descreve as características do contexto socioeconômico no
novo milênio, com um viés voltado às relações entre educação, trabalho e
crescimento econômico no Brasil. Como esta literatura é vasta e diversificada, foi
preciso traçar um recorte temático que orientasse a seleção dos textos no sentido
de esclarecer o objetivo da dissertação. Obras importantes e indispensáveis à
compreensão do tema tratado deixaram de ser incluídas no corpo do trabalho, no
intuito de não desviar do recorte proposto.
A dissertação está estruturada em três capítulos e uma breve conclusão. O
primeiro capítulo faz uma exposição sucinta das características do atual momento
socioeconômico, ressaltando a controvérsia entre ruptura e continuidade na
chamada modernidade.
O segundo capítulo retrata atual fase produtiva em sua relação com o
conhecimento, destacando o papel da educação neste processo. Ele procura
ressaltar a importância das relações com o aprendizado no esforço produtivo de
modelo informacional, e sua demanda constante por inovação, a ponto de tornar
esta última um fator crítico neste modelo. As relações de trabalho também sofrem
intervenções no modo recente da produção, tornando-se mais dependentes da
capacidade intelectual da mão-de-obra.
Competir, no atual contexto, esde alguma forma condicionado aos
investimentos em educação. Diante das recentes demandas por competitividade no
âmbito internacional do mercado, o crescimento econômico dos países esbarra na
oferta de recursos humanos qualificados, capazes de oferecer resposta aos recentes
implementos tecnológicos. A constante demanda por qualificação não pode sofrer
estrangulamentos, sob pena causar a obsolescência rápida de algum processo
produtivo.
A sustentabilidade do desenvolvimento socioeconômico está
diretamente associada à velocidade e à continuidade do
processo de expansão educacional. Essa relação direta se
estabelece a partir de duas vias de transmissão distintas. Por
um lado, a expansão educacional aumenta a produtividade
do trabalho, contribuindo para o crescimento econômico, o
aumento de salários e a diminuição da pobreza. Por outro, a
expansão educacional promove maior igualdade e mobilidade
social.
1
Neste contexto, surge uma pergunta com relação à situação atual dos
investimentos em educação no país: o Brasil é capaz de acompanhar as mudanças?
O terceiro capítulo trata em boa parte desta pergunta. Diversos empreendedores já
se ressentem da carência por mão-de-obra qualificada, a ponto de alguns deles
investirem na formação educacional de seus funcionários. Este fator vem tomando
o fôlego, não só por sugar parte dos recursos, mas também por tomar um tempo
precioso numa atividade diversa da ocupação principal da empresa.
1
BARROS, HENRIQUES e MENDONÇA. Pelo fim das décadas perdidas, 2002: 1.
2
Paralelamente, compensar as desigualdades educacionais vem se firmando
como bandeira em diversos movimentos na sociedade civil, os quais buscam
equalizar o problema. O debate sobre oferta de oportunidades vem ganhando
espaço na sociedade, apontando eventualmente uma variedade da síndrome de
Mateus
2
. Neste contexto a tendência observada é a de investir mais naqueles que
já tem muito, deixando em segundo plano os que apresentam pouca desenvoltura
em relação às credenciais acadêmicas.
Esta questão coexiste com um risco moral moral hazard, ou seja, uma
condição de aumento constante das demandas por credenciais acadêmicas. Esta
inflação por diplomas influencia nas exigências por cada vez mais investimentos em
formação educacional sem, no entanto, aderir um conteúdo real à qualificação.
Finalizando, destaca-se que diante do recente contexto socioeconômico, os
gestores das políticas públicas precisam se alinhar aos requisitos do modelo
recente, o que representa habilitar-se a aprender constantemente. Dessa forma, é
possível responder aos requisitos de flexibilidade e adaptação perenes no novo
milênio.
2
Dados empíricos demonstram que empresas deixadas a si próprias investem primeiramente
na formação de competências de empregados com bom treinamento formal. Essa 'Síndrome
de Mateus', em que mais é dado àqueles que já têm muito, aponta para a necessidade de o
poder público proporcionar aos trabalhadores sem qualificação um adequado
desenvolvimento de suas capacidades. LUNDVALL, B. Políticas de inovação na economia do
aprendizado, 2001: 207.
3
Capítulo 1
A modernidade exacerbada
Vivemos um tempo ágil. Ao sabor dos ventos das recentes tecnologias, as
mudanças são uma constante, produzindo um ritmo da vida em constante
aceleração. Tal característica é ainda recente, fomentando discussões sobre a
natureza e a forma das atuais circunstâncias. A velocidade e intensidade dos novos
processos informacionais ainda causam apreensão diante da maneira com a qual
avançam.
Existe um aparente descontrole neste avanço. O modo de evolução
característico deste processo pode dar a impressão de algo acéfalo caminhando de
forma descontrolada. Giddens invoca a imagem do carro de Jagrená, um ritual do
hinduísmo onde uma massa humana empurra um carro gigantesco sem controle
preciso, que eventualmente esmaga um ou outro participante sem, no entanto,
interromper sua trajetória.
1
Tal metáfora propõe uma imagem bastante
representativa do atual contexto, o qual remete não a destrutividade, mas ao
inesperado.
Cada vez mais a chamada teoria do caos vem sendo associada à atual fase.
2
Neste aspecto, remetendo a mesma idéia na mecânica quântica, caos está
associado à imprevisibilidade.
3
O comportamento errático do progresso sugere um
1
O termo vem do hindu Jagannãth, 'senhor do mundo', e é um título de Krishna; um ídolo
desta deidade era levado anualmente pelas ruas num grande carro, sob cujas rodas,
contava-se, atiravam-se seus seguidores para serem esmagados. GIDDENS, A. As
consequências da modernidade, 1991: 133.
2
Cada vez torna-se mais frequente a menção à teoria do Caos desenvolvida pela
matemática e pela física nos textos das ciências sociais. O propósito destas citações é, via de
regra, indicar a presença de um 'novo paradigma' científico. Contudo, quase nunca a
conexão entre a teoria do Caos e as ciências sociais é realmente explicitada, permanecendo
apenas 'subentendida'. LEHER, R. Educação em tempos desiguais, 1998: 2.
3
A teoria do caos, como representada pela mecânica quântica, propõe uma não linearidade
do comportamento dos corpos. O caos está na forma assimétrica do movimento, a qual
estabelece uma dependência sensível das suas condições iniciais, o butterfly effect. A
mecânica Newtoniana descreve um modelo o qual explica o movimento baseado em leis
universais, mas, empiricamente, há aspectos deste movimento que assumem características
imprevisíveis e que fogem a proposição de uma regra geral ou lei definitiva e, portanto,
caóticos. Versão baseada em: http://en.wikipedia.org/wiki/Chaos_theory, 2009.
5
planejamento improvável do futuro, levando a necessidade de adaptação ao estado
de eterno momento presente, a condição de hiper-realidade, uma peculiaridade das
mudanças constantes.
A idéia de descontrole sobre a trajetória dos eventos, sua característica
inovadora e seu potencial revolucionário, tem efeitos diversos sobre os indivíduos.
Alguns diriam que a fase atual coroa uma longa trajetória de evolução tecnológica,
e que presenciamos uma conflagração no processo produtivo, a qual revolucionará
a maneira de viver em sociedade. Para outros, a atual fase representa uma
oportunidade única para humanidade, que diante de uma etapa de mudanças pode
finalmente corrigir injustiças, que vem se perpetrando pela dureza em relação a
transformações.
Tal pensamento sugere uma comparação à célebre frase tudo que é solido
desmancha no ar, em que instituições resistentes a mudanças cedem diante das
novas circunstâncias.
4
Ele remete a transformações radicais na forma de viver,
assim como a que presenciamos, através de mudanças nas instituições e na
economia, as quais oferecem oportunidades valiosas para melhores rumos. Mas há
aqueles que vêem ameaças nestas mudanças.
A imprevisibilidade tem o poder de mexer com a estrutura das coisas, e
aqueles que conquistaram alguma proeminência, mas não se sentem capazes de
reconquistar, temem o novo. À medida que as circunstâncias mudam, ocorre uma
tensão inconfundível, já velha conhecida da espécie humana, entre os que celebram
o novo e aqueles que se resignam na segurança do território conhecido. A imagem
do carro de Jagrená talvez invoque uma figura monstruosa, mas para muitos, o
4
Essas e outras objeções semelhantes são justificadas, e o parecerão ainda mais se
lembrarmos que a famosa frase sobre 'derreter os sólidos', quando cunhada há um século e
meio pelos autores do Manifesto comunista, referia-se ao tratamento que o autoconfiante e
exuberante espírito moderno dava à sociedade, que considerava estagnada demais para o
seu gosto e resistente demais para mudar e amoldar-se a suas ambições - porque congelada
em seus caminhos habituais. Se o 'espírito' era 'moderno', ele o era na medida em que
estava determinado que a realidade deveria ser emancipada da 'mão morta' de sua própria
história (...). Essa intenção clamava, por sua vez, pela 'profanação do sagrado': pelo repúdio
e destronamento do passado, e, antes e acima de tudo, da 'tradição' (...).BAUMAN, Z.
Modernidade líquida, 2001: 9.
6
futuro pode ser mesmo temerário. Ainda assim, o ato de encarar com desconfiança
o que revoluciona não é definitivamente algo recente.
No final do séc. XIV o ritmo dos avanços tecnológicos na China estava
prestes a lançá-la em sua própria revolução industrial.
5
Os recursos tecnológicos
que dominava colocavam-na a frente de seu tempo, uma posição de supremacia
sem paralelo no mundo de então. Assim, o que teria tragado este país da sua
posição privilegiada? O medo do novo.
6
Para manter um determinado status quo,
os burocratas de então sacrificaram o potencial de liderança da China, detendo o
desenvolvimento tecnológico. O temor do potencial revolucionário da tecnologia —o
medo do novo, do desconhecido— fez os burocratas tomarem rumos conservadores
para evitar riscos.
7
Diante da mudança, aqueles que detinham privilégios sufocaram o avanço
da china medieval, prevendo que as mudanças trariam algo imprevisível e,
portanto, temerário. Mais tarde, na guerra do ópio, a China se vê dobrada nesta
crença, provando a si mesma que as mudanças são algo inevitável e irrefreável. Tal
inevitabilidade já não é tão contestada nos dias de hoje, mas a desconfiança
parece, na verdade, aumentar. Há os que lançam prenúncios apocalípticos,
temerários da forma incompreensível do futuro hoje.
8
Surgem profetas e
milenarismos, anunciando novos dilúvios. Parece inabalável a tendência humana ao
5
Nas palavras de Jones: 'A China esteve a ponto de se industrializar no final do século XIV."
CASTELLS, M. A sociedade em rede, 2005: 45.
6
De acordo com Mokyr, parece que o fator determinante do conservadorismo tecnológico
eram os temores dos governantes pelos impactos potencialmente destrutivos da
transformação tecnológica sobre a estabilidade social. Inúmeras forças eram contrárias à
difusão da tecnologia na China, como em outras sociedades, particularmente as guildas
urbanas. Os burocratas satisfeitos com o status quo preocupavam-se com a possibilidade de
desencadeamento de conflitos sociais, que poderiam unir-se a outras fontes latentes de
oposição em uma sociedade mantida sob controle por muitos séculos. Idem: 47.
7
Um Estado burocrático, sem incentivo externo e com desencorajamentos internos à
modernização tecnológica, optou pela mais prudente neutralidade, consequentemente
interrompendo a trajetória tecnológica que a China seguira há séculos, talvez milênios,
exatamente sob a orientação estatal. Idem. Ibidem.
8
Tampouco surpreende que entre os que mantêm crenças religiosas, haja uma tendência a
ver o potencial de desastre global como a expressão da ira de deus. Pois os riscos globais de
grandes consequências que todos nós corremos atualmente são elementos básicos do
caráter de descontrole, do carro de Jagrená da modernidade. GIDDENS, A. As consequências
da modernidade, 1991: 133.
7
misticismo, mesmo diante da ascensão da ciência e tecnologia a qual
presenciamos.
Perplexos ante a dimensão e a abrangência da transformação
histórica, a cultura e o pensamento de nossos tempos
frequentemente adotam um novo milenarismo. Profetas da
tecnologia pregam a nova era, extrapolando para a
organização e as tendências sociais, a mal compreendida
lógica dos computadores e do DNA.
9
É possível casualmente perceber associações de cunho quase religioso
insinuando algum fim dos tempos. Essa retórica veemente contribuiu para o
sucesso do polêmico artigo de Francis Fukuyama, o fim da história? Ironicamente,
tal artigo não se referia tanto a um fim, mas muito mais a um período de conflitos
ideológicos que terminam por reafirmar a democracia liberal como uma fase
madura da trajetória humana.
Existem assim aqueles que não se curvam aos deslumbres das recentes
tecnologias, e seus novos milagres, a ponto de anunciarem uma nova Era, mas
preferem assinalar uma exacerbação das características inerentes a própria
modernidade. Tais autores identificam uma economia de novo tipo, calcada nos
novos recursos tecnológicos e independente geograficamente.
A modernidade do final do milênio
O conceito de PTE - Paradigma Tecno-Econômico
10
aponta a superação sistemática
das características ligadas ao padrão tecnológico vigente, em busca de
produtividade. Nesta acepção, a atual conjuntura constitui-se dentro de um ciclo de
reconstrução do padrão produtivo, com base na inovação das técnicas e processos
tecnológicos.
9
CASTELLS, M. A sociedade em rede, 2005: 42.
10
Deve ser chamada a atenção para um conceito em particular, que se tornou elucidativo
para o entendimento das transformações estruturais enfrentadas periodicamente pelas
sociedades. Como resultado dos esforços objetivando explicar as diferentes dinâmicas e
padrões de geração, uso e difusão de tecnologias e outras inovações associadas, foi
desenvolvido o conceito de Paradigma Tecno-Econômico - PTE (Dosi, 1982; Freeman, 1982;
Perez, 1983). LASTRES e FERRAZ. Economia da informação, do conhecimento e do
aprendizado, 1999: 32.
8
Apesar da característica cíclica deste processo, confrontamos atualmente um
uso ainda mais extensivo das tecnologias disponíveis, aumentando a participação
do uso da informação no seu conteúdo. O atual PTE constitui o que se poderia
compreender como uma intensificação do uso das tecnologias da informação e de
um aumento na implementação do conhecimento para gerar inovação. O processo
informacional de aprimoramento do modelo de produção contém uma característica
ligada à inovação constante, e que se relaciona a uma determinada maneira de ser
da sociedade.
Alguns autores identificam esta circunstância como característica da
modernidade. A tarefa árdua de demarcar este conceito foi abraçada por diversas
obras, e vem trazendo polêmica ao debate sobre o momento vigente.
11
Giddens
situa o advento da modernidade no século XVII.
12
Desde então, tal evento vem
crescendo em abrangência e aceleração.
Este evento, em constante mudança numa busca por maior eficiência,
institui um contexto de avanço incessante. Em tal contexto, a inovação opera uma
matriz que alimenta a modernização, criando uma dinâmica de aceleração através
da constante alimentação deste sistema, na busca incessante por mais inovação.
Tal processo vem sendo aprimorado sistematicamente, chegando ao momento
atual de forma conceitualmente um tanto controversa.
O artigo de Maria Lucia Werneck Vianna destaca a relação das ciências
sociais com o atual paradigma.
13
A autora explora a idéia de hiper-realidade, em
função da produção intelectual contemporânea. Neste artigo sobressai um
interessante antagonismo sobre o tema, onde o autor Boaventura Santos classifica-
se como pós-modernista de oposição em contraposição ao pós-modernismo de
11
A destacar o extenso trabalho de Zygmunt Bauman em sua série líquida.
12
Modernidade refere-se a estilo, costume de vida ou organização social que emergiram na
Europa a partir do século XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em
sua influência. GIDDENS, A. As consequências da modernidade, 1991: 11.
13
A rapidez e a intensidade das mudanças operadas na realidade social, o objeto precípuo de
todas as ciências sociais, a tornam auto-explicável, hiper-real, (...). O resultado é que teoria
e realidade se confundem. A teoria passa a ser a própria realidade, na medida em que esta
se auto-explica. VIANNA, M. L.T.W. Hiper-realidade ou hipoteoria?, 2008: 63.
9
celebração. O que o pós-modernismo celebra é um improvável fim dos tempos,
alardeando uma crise insolúvel que nunca existiu. Nesta proposição, o fim da
história representa uma falta de opções em escala humana, onde a pós-
modernidade acena com um tipo de individualização que sugere o vazio.
A teoria e a cultura pós-modernas celebram o fim da história
e, de certa forma, o fim da razão, renunciando a nossa
capacidade de entender e encontrar sentido até no que não
tem sentido. A suposição implícita é a aceitação da total
individualização do comportamento e da impotência da
sociedade ante seu destino.
14
Jean-François Lyotard demarca uma ruptura, produto do fim de uma grand
narrative para a história humana. Mas, de alguma forma, a teoria da pós-
modernidade estabelece um fim da história que não se comprova. A trajetória da
sociedade segue sem se abalar, provando que a razão humana é capaz de
compreender até mesmo o que em algum momento foi incompreensível.
A fase recente provoca novas abordagens de processos estratégicos da
produção para atender as últimas demandas da competitividade, nas quais diversas
características socioeconômicas sofrem uma exacerbação. Assim sendo, estaríamos
vivendo não a pós-modernidade, mas uma condição sui generis da modernidade,
baseada numa intensificação sem precedentes das suas características próprias.
Giddens nos fala de uma forma tardia da modernidade, na qual, os
processos socioeconômicos conhecidos se intensificam no fim do último milênio.
Assim sendo, o período o qual vivemos não representa uma ruptura, mas um
momentum esporádico e imprevisível, uma modernidade exacerbada
15
, resultado
de um desenvolvimento inesperado de características conhecidas da sociedade.
O Prometeu moderno
14
CASTELLS, M. A sociedade em rede, 2005: 42.
15
Referência à idéia de Giddens de uma intensificação, ou exacerbação, dos processos da
modernidade no atual contexto socioeconômico: Em vez de estarmos entrando num período
de pós-modernidade, estamos alcançando um período em que as consequências da
modernidade estão se tornando mais radicalizadas e universalizadas do que antes.
GIDDENS, A. As consequências da modernidade, 1991: 13.
10
Recentemente, a economia vem sofrendo uma interferência dada pelo modo das
últimas tecnologias. A competição se torna ainda mais contundente através dos
recentes implementos em comunicação e logística, os quais promovem um acesso
mais ágil a mercados antes distantes. Assim, mais e mais competidores se
confrontam em um cenário muito mais globalizado, impulsionado por um aumento
nesta interatividade econômica.
Esta característica provoca novas abordagens de processos estratégicos da
produção, tais como pesquisa e desenvolvimento, com o intuito atender as
demandas recentes da competição. Calcado na maior interferência tecnológica, este
fenômeno trás um tipo de integração que gera maior intercâmbio da informação,
fazendo do conhecimento um fator chave em função da competitividade.
16
Nestas circunstâncias, os processos de aprimoramento da produtividade
sofrem um efeito de aceleração através das recentes tecnologias. Em tal contexto,
o conhecimento opera um papel ainda mais incisivo, trabalhando na promoção da
inovação, onde esta última ocupa um lugar decisivo para a competitividade. O
conhecimento gestado no processo produtivo é reinvestido no aprimoramento do
próprio processo, na busca por maior eficiência.
Castells descreve uma propriedade cíclica de realimentação da inovação,
como um círculo virtuoso que utiliza o processamento das informações como fonte
de produtividade. Assim, o conhecimento opera um processo, no qual a busca
incessante de maior eficiência da produção demanda investimentos substanciais em
desenvolvimento e aprendizado tecnológico, que sustentem o constante impulso
inovador.
A condição estratégica do conhecimento encontra nova ênfase diante da
modernidade em sua fase tardia. A produção de modelo recente requer uma
simbiose entre processo de acumulação de aprendizado e conhecimento. O fator
diferencial na fase informacional da sociedade é como o conhecimento é aplicado na
produção do próprio conhecimento para gerar produtividade. Estas novas relações
16
Ver neste trabalho o subtítulo Redes de cooperação.
11
de produção ultrapassam os meios convencionais, lançando mão de um processo
produtivo sem precedentes. A atual interferência deste processo na sociedade é
apontada como algo ainda mais incisivo que as duas últimas revoluções industriais,
por representar mudanças ainda mais significativas.
A necessidade da inovação constante, como principal consequência da
globalização em seu contexto competitivo, cria um aumento na demanda por
aprendizado. A velocidade do avanço tecnológico exige cada vez mais capacidade
de uso da informação à medida que a cultura tecnológica se dissemina, ou seja, a
complexidade e velocidade dos processos de inovação demandam constantemente
mais recursos intelectuais.
Numa conjuntura onde a mudança é uma constante, os elementos do
aprendizado, ou em última instância da adaptação aos avanços, podem constituir o
elemento diferencial competitivo. A corrida pela preeminência nesta competição
impõe um ritmo crescente ao aprimoramento tecnológico, mas este aprimoramento
é dependente da capacidade de aprendizado. Ele está calcado na competência dos
indivíduos envolvidos no processo, e na habilidade dos mesmos em lidar com as
novas formas do conhecimento. Assim sendo, o aprendizado corporativo está
relacionado ao aprendizado dos indivíduos.
Identifica-se consensualmente a informação, o conhecimento
e as tecnologias de informação, como elementos
fundamentais da dinâmica da nova ordem mundial. Da
mesma forma, dentre as características mais importantes do
novo padrão de acumulação, em primeiro lugar nota-se
sempre a absoluta relevância (além da crescente
complexidade) dos conhecimentos científicos e tecnológicos
desenvolvidos e utilizados. O acesso a tais conhecimentos,
assim como a capacidade de apreendê-los, acumulá-los e
usá-los, são vistos como definindo o grau de competitividade
e desenvolvimento de nações, regiões, setores, empresas e
indivíduos.
17
Neste contexto, as instituições que atuam na interface entre sociedade e
conhecimento ocupam uma posição estratégica no novo paradigma. Tal
circunstância coloca a educação na interseção de uma série de questões
17
LASTRES, H. Ciência e tecnologia na era do conhecimento, 2000: 15.
12
socioeconômicas relevantes. Entende-se por educação a interface na qual se dá a
interação entre o indivíduo e o conhecimento, sob determinado contexto
sociocultural. Assim, a educação, como vetor por excelência dos saberes, move-se
por questões cruciais na sociedade do conhecimento.
Recolocar em primeiro plano a questão da modernidade
significa, em grande parte, trazer a questão educacional para
o centro das preocupações. A redescoberta e revalorização
da questão educacional é hoje um tema candente, e uma das
tarefas mais centrais das ciências sociais contemporâneas.
18
A apreensão dos saberes representa um fator crucial na atual fase. A
formação educacional permite aos indivíduos assimilar os elementos do novo
paradigma informacional, o qual sugere novos contornos para a produção. Dessa
maneira, investimentos em educação são frequentemente considerados um fator
estratégico nesta fase. Uma eventual informatização do processo produtivo não
pode se desenvolver sem uma contraparte intelectual da sociedade, a qual permita
a incorporação dos novos códigos no atual paradigma. Um déficit na formação
educacional da população pode representar um considerável entrave ao
crescimento econômico, segundo os parâmetros recentes da produção.
A educação de base representa um alicerce importante diante do novo
paradigma da produção, sem o que, não é possível construir novas competências.
Tão relevante quanto investir em desenvolvimento tecnológico, é garantir as
condições de implementação do mesmo em função da força de trabalho. A forma
como se desenvolve o atual processo de inovação demanda um aprendizado
constante, o qual requer elementos fundamentais do conhecimento capazes de
sustentar o processo.
18
SCHWARTZMAN, S. Educação básica no Brasil, 1991: 3.
Capítulo 2
O conhecimento na Era informacional
No final do século XX, uma intensificação de diversos processos socioeconômicos
infringiu transformações importantes na sociedade.
1
A partir deste contexto, são
lançados novos parâmetros da competição que alimentam o ritmo das mudanças,
trazendo consequências para diversas formas da produção.
2
O impacto dos
recentes avanços tecnológicos se dissemina por toda a sociedade, tornando o uso
da informação algo cada vez mais embebido no cotidiano. Dessa forma, a
capacidade de processar o conhecimento ocupa um lugar cada vez mais
significativo neste novo mundo.
As inovações na comunicação e logística tornaram a distância geográfica
menos significativa. Assim, a produção ganha certa mobilidade em relação ao
Estado, criando uma configuração internacional para a competição. Tais condições
têm exigido cada vez mais aprimoramento e eficiência, em face às demandas do
atual contexto econômico. Com uma maior acessibilidade aos diversos recursos, a
forma de usá-los para produzir torna-se muito mais estratégica. Neste caso, a
interferência no processo produtivo, através da inovação, interpreta um papel mais
importante em função do acirramento da concorrência.
Uma característica marcante da atual fase econômica é a ação dos
conhecimentos sobre os próprios conhecimentos como principal fonte de
1
Nas últimas duas décadas do século XX, assistiu-se a grandes mudanças tanto no campo
socioeconômico e político quanto no da cultura, da ciência e da tecnologia. Estas
transformações vieram a receber a denominação de sociedade da informação, na medida em
que o elemento motor deste processo está assentado na difusão e utilização das tecnologias
de informação e comunicação (TICs) e, também, pelo valor econômico que a informação e
conhecimento passaram a deter no processo de desenvolvimento econômico e social.
CASTRO, ROSENTAL e ARAÚJO. Educação a distância e a construção de competências, 2007:
33.
2
Em primeiro lugar, salienta-se que apesar da grande variedade de inovações radicais e de
incremento, específicas em quase todo o setor industrial, existe evidência de uma mudança
de paradigma das tecnologias intensivas em capital e energia e de produção inflexível e de
massa (baseadas em energia e materiais baratos), dos anos 50 e 60, para as tecnologias
intensivas em informação, flexíveis e computadorizadas dos anos 70 e 80. LASTRES, H.
Redes de inovação e as tendências internacionais, 1995: 1.
14
produtividade. Assim, um dos processos cruciais desta sociedade é a construção do
conhecimento. Mas, no recente contexto competitivo, mais relevante que a posse
dos saberes é o seu uso em função da inovação. O conhecimento não representa
em si algo central, mas secundário em relação à capacidade de fazer usos
inovadores do seu potencial.
O uso da informação para produzir intervenções inovadoras no processo
produtivo vem crescendo em importância.
3
A informação gerada no processo
produtivo é reinvestida como forma de otimizar a produtividade, gerando um
círculo virtuoso.
4
Assim, o conhecimento gerado como produto deste processo é
reinvestido como forma de gerar mais conhecimento que permita aprimorar a
produtividade. Este movimento cíclico intensifica o ritmo da inovação a partir da
superação constante das velhas técnicas, e da necessidade de mobilizar cada vez
mais conhecimento a partir de uma base de informação em constante
crescimento.
5
Com o advento da modernidade —com referência a primeira revolução
industrial— o conhecimento, gerado a partir do funcionamento das mais diversas
operações produtivas, tende a ser reinvestido na busca por mais eficiência. Mas no
contexto econômico recente a velocidade e abrangência deste processo, movido
pelos novos implementos tecnológicos, têm alcançado patamares sem precedentes
3
Muda o elemento fundamental para a determinação da produtividade do processo de
produção, no qual o conhecimento intervém em todos os modelos de desenvolvimento, já
que o processo de produção se baseia sempre, e cada vez mais, em algum nível de
conhecimento.CASTRO, ROSENTAL e ARAÚJO. Educação a distância e a construção de
competências, 2007: 34.
4
"Contudo, o que é específico ao modo informacional de desenvolvimento é a ação de
conhecimentos sobre os próprios conhecimentos como principal fonte de produtividade. O
processamento da informação é focalizado na melhoria da tecnologia do processamento da
informação como fonte de produtividade, em um círculo virtuoso de interação entre as fontes
de conhecimentos tecnológicos e a aplicação da tecnologia para melhorar a geração de
conhecimentos e o processamento da informação. CASTELLS, M. A sociedade em rede, 2005:
54.
5
O que caracteriza a atual revolução tecnológica não é a centralidade de conhecimentos e
informação, mas a aplicação desses conhecimentos e dessa informação para a geração de
conhecimentos e de dispositivos de processamento/comunicação da informação, em um ciclo
de realimentação cumulativo entre a inovação e seu uso. Idem: 69.
15
(Giddens, 1991). Assim, operar o mecanismo da conversão da informação em
conhecimento participa, ainda mais, da capacidade de competir.
Nesta configuração produtiva, o uso da informação constitui um elemento
essencial no aprimoramento dos diversos processos da economia informacional.
Diversos autores salientam que, para alcançar o ritmo das inovações, é preciso
participar do processo de criação, desenvolvimento e disseminação da informação,
sem o que fica-se sujeito a permanecer dependente daqueles que o fazem. A
constante obsolescência da tecnologia cria um quadro em que, não desenvolver
inovação pode significar o uso de tecnologia de segunda mão, ultrapassada, e
perda de competitividade.
6
Tal competitividade impõe a proposição de novas técnicas e competências,
que precisam constantemente se sobrepor às suas versões anteriores com mais e
mais conhecimento inovador. Estes mecanismos de apreensão e aprimoramento do
conhecimento estão intrinsecamente ligados à formação de pessoal qualificado
capaz de, mais do que operar os dispositivos, desenvolver formas inusitadas da sua
aplicação. Assim, o conhecimento coloca-se como recurso principal e o aprendizado
como processo central da nova fase.
Na análise das novas tendências influenciando as políticas de
promoção ao desenvolvimento industrial e tecnológico,
destaca-se em primeiro lugar que, na atual Era, o
conhecimento coloca-se como recurso principal e o
aprendizado como processo central. A idéia principal que
vem norteando as discussões realizadas é que quão mais
forte for a base de recursos humanos, maior a possibilidade
de acelerar o processo de inovação e que quão mais forte o
potencial para inovação, maior a probabilidade de o sistema
atrair e absorver pressões competitivas.
7
Sem a formação de uma base de recursos humanos capaz de sustentar a
assimilação das novas tecnologias, não é possível a um país tornar-se competitivo.
6
A importância de controlar os processos de geração e difusão de novos conhecimentos e
inovações mostra-se ainda mais fundamental quando estas colocam-se ainda mais
nitidamente no cerne das estratégias competitivas públicas e privadas, como é o caso do
atual paradigma em expansão. LASTRES e ALBAGLI. Informação e globalização na era do
conhecimento, 1999: 14.
7
CASSIOLATO, J. A economia do conhecimento e as novas políticas industriais e
tecnológicas, 1999: 183.
16
Dessa forma, a disseminação do conhecimento —e dos saberes necessários a
interação com os recursos tecnológicos recentes— pela população, torna-se
fundamental no atual contexto. Mas, mais do que a simples distribuição dos
conteúdos escolares tradicionais, é importante atentar para a sua correspondência
com as atuais demandas e a sua apreensão consistente pelos alunos, fatores
ligados a qualidade na educação.
Em sua dissertação Um estudo sobre os determinantes do atraso escolar
apresentada ao programa de pós-graduação em economia da USP, Kátia M. Honda
destaca a qualidade da educação como um fator crucial da produtividade. Dessa
forma, o crescimento econômico estaria diretamente vinculado a uma base
intelectual instalada na sociedade.
Tal como evidenciado por Mankiw, Romer e Weil (1992) a
formação do capital humano é um dos principais fatores para
explicar as diferenças observadas com relação ao
crescimento dos países. Hanushek (1992) corrobora essa
informação ao provar que apenas a educação com qualidade
é responsável por elevar o crescimento econômico. O nível
de produtividade de um país está, portanto, limitado pelas
habilidades adquiridas pela população.
8
No atual contexto produtivo, em que o processamento da informação
contamina os mais diversos aspectos da atividade humana,
9
a circulação do
conhecimento depende da capacidade intelectual instalada naquela sociedade.
Assim, o sistema educacional num país torna-se a base para a disseminação dos
parâmetros lógicos e científicos sob os quais ocorre a inovação. Ele opera a
interface entre a sociedade da informação e os processos de aprendizado, sem o
que não se pode formar uma base capacitada, apta a operar e desenvolver os
dispositivos ligados a nova fase produtiva.
As altas taxas de inovações e mudanças recentes implicam,
assim, uma forte demanda por capacitação para responder
8
HONDA, K. Um estudo sobre os determinantes do atraso escolar, 2007: 12.
9
Os produtos das novas indústrias de tecnologia da informação são dispositivos de
processamento de informações ou o próprio processamento das informações. Ao
transformarem os processos de da informação, as novas tecnologias da informação agem
sobre todos os domínios da atividade humana e possibilitam o estabelecimento de conexões
infinitas entre diferentes domínios, assim como entre os elementos e agentes de tais
atividades. CASTELLS, M. A sociedade em rede, 2005: 119.
17
às necessidades e oportunidades que se abrem. Exigem, por
sua vez, novos e cada vez maiores investimentos em
pesquisa, desenvolvimento, educação e treinamento.
Argumenta-se, dessa forma, que os instrumentos
disponibilizados pelo desenvolvimento das tecnologias de
informação e comunicação (equipamentos, programas e
redes eletrônicas de comunicação mundial) podem ser inúteis
se não existir uma base capacitada para utilizá-los, acessar
as informações disponíveis e transformá-las em
conhecimento e inovação.
10
Territorialidade e inovação
Segundo Ianni, o paradigma clássico das ciências sociais sofre uma intervenção no
contexto das atuais mudanças, em que a reflexão sobre o Estado nacional é
repaginada.
11
Este autor analisa a intensificação das interações socioeconômicas e
propõe a idéia de sociedade global, na qual diversas relações humanas recebem
novas considerações. Para Ianni, as formas da sociedade nacional sofrem
intervenções dadas pelas tecnologias recentes, que podem sugerir uma
configuração transnacional para a sociedade.
A chamada network society, calcada na maior interatividade através das
recentes tecnologias, trás um aumento na integração que gera mais intercâmbio da
informação. Surge uma demanda por reações rápidas, capazes de oferecer
respostas prementes as mudanças repentinas, majoritariamente ligadas às novas
tecnologias. Neste contexto, a competição se relaciona intimamente à capacidade
de desenvolver e implementar os novos recursos informacionais, num ambiente em
que a constante obsolescência tecnológica demanda uma atualização constante.
O funcionamento singular das novas tecnologias põe as relações com o
conhecimento em posição de destaque. A manutenção da produtividade segue uma
tendência flexibilizante, onde o processo produtivo reinveste a informação gerada
pelo mesmo na otimização da produção. A ingerência da informação participa de
10
LEMOS, C. Inovação na era do conhecimento, 1999: 129.
11
O paradigma clássico das ciências sociais foi constituído e continua a desenvolver-se com
base na reflexão sobre as formas e os movimentos da sociedade nacional. Mas a sociedade
nacional está sendo recoberta, assimilada ou subsumida pela sociedade global, uma
realidade que não está ainda suficientemente reconhecida e codificada. IANNI, O.
Globalização: um novo paradigma das ciências sociais, 1994: 147.
18
um círculo virtuoso de refino, no qual, o produto acabado contém cada vez mais
informação acumulada. Neste contexto, o conhecimento torna-se fonte de
produtividade e o aprendizado, algo estratégico para a inovação.
A relação entre os três conceitos é forte: os processos de
aprendizado, em suas várias instâncias, resultam na
acumulação de conhecimentos; estes sustentam
teoricamente os avanços científicos, técnicos e
organizacionais que, codificados em vários formatos
informacionais, introduzem inovações que irão
continuamente transformar o sistema econômico. Em uma
era de transição entre paradigmas tecno-econômicos, sujeita
a transformações radicais e envolvendo, justamente,
tecnologias e atividades intensivas em informação, a
simbiose com processos de acumulação de aprendizado e
conhecimento é absolutamente indispensável.
12
Diante das atuais características da produção, os investimentos em pesquisa
e desenvolvimento têm sido apontados como decisivos em relação à capacidade de
competir. Nesta acepção, o aprendizado é compreendido como um fator
determinante do crescimento econômico, bem em sintonia com o argumento que
identifica os investimentos maciços em educação, como elemento chave do
crescimento de alguns países na história recente. A capacitação se instila como
elemento chave para o desenvolvimento da inovação, algo que move a
competitividade no atual paradigma produtivo.
A necessidade de investir constantemente em inovação
implica, necessariamente, promover processos que
estimulem o aprendizado, a capacitação e a acumulação
contínua de conhecimentos. Assim, e apesar da maior
visibilidade das informações e do papel desempenhado pelo
conhecimento no cerne do dinamismo do novo padrão,
alguns autores vêm preferindo denominar esta nova fase
como Economia do Aprendizado.
13
Neste contexto ocorre, simultaneamente, um processo de desprendimento
territorial da inovação, em função da sua intensa circulação pelo globo, e uma
reconcentração da geração de novos conhecimentos.
14
Ainda que os recursos
tecnológicos permitam um intercâmbio sem precedentes dos conhecimentos é
12
LASTRES e FERRAZ. Economia da informação, do conhecimento e do aprendizado, 1999:
55.
13
Idem: 49.
14
Esta citação é mais bem explorada ainda neste capítulo.
19
preciso redirecioná-los para determinados lócus, tanto para desenvolvê-los quanto
para aplicá-los, em função da inovação. A mobilidade emprestada pelas tecnologias
informacionais atinge apenas a circulação dos saberes sem, no entanto,
reconfigurar o quadro atual criando uma variedade cibernética da produção da
inovação.
Assim, a despeito da transnacionalização apontada por Ianni, o Estado
permanece o grande patrono da inovação.
15
Ele é o agente por excelência das
transformações, aquele com potencial para mobilizar os recursos necessários a
disseminação dos parâmetros relativos às demandas do atual paradigma. Dessa
forma, contraditoriamente, mesmo diante de uma forte independência territorial da
tecnologia e da inovação, o poder localizado territorialmente ainda cumpre um
papel fundamental.
16
Um dos principais fatores deste papel consiste em criar as condições de
aprendizado para participar do novo paradigma. A inserção no atual paradigma
produtivo, mesmo diante da intensa mobilidade do capital, ainda esta condicionada
a regras territoriais, dadas no âmbito da soberania do Estado. Sendo assim, os
processos informacionais, gestados muitas vezes no ambiente cibernético,
convergem às instâncias territoriais do poder e do conhecimento.
Mas a importância de uma configuração local do conhecimento não se
restringe a capacidade para desenvolver a inovação. Existe um aspecto do
conhecimento de difícil circulação nos meios eletrônicos, capaz de oferecer
obstáculos ao amplo intercâmbio digital dos saberes. Esta variedade do
conhecimento precisa de um contato presencial para transmitir-se, algo que pode
15
Entretanto, embora não determine a tecnologia, a sociedade pode sufocar seu
desenvolvimento principalmente por intermédio do Estado. Ou então, também
principalmente pela intervenção estatal, a sociedade pode entrar num processo acelerado de
modernização tecnológica capaz de mudar o destino das economias, do poder militar e do
bem-estar social em poucos anos. CASTELLS, M. A sociedade em rede, 2005: 44.
16
Cassiolato argumenta que a pretensa necessidade de retração do Estado não encontra
correspondência alguma nas políticas efetivamente implementadas nos países mais
avançados. As políticas públicas continuam a desempenhar papel fundamental no
funcionamento dessas economias, recorrendo a um número maior e mais complexo de
instrumentos. LASTRES e ALBAGLI. Informação e globalização na era do conhecimento,
1999: 12.
20
representar um elemento complicador diante das demandas atuais por aprendizado
independente às distâncias; o chamado conhecimento tácito.
Conhecimento tácito e conhecimento codificado
O intercâmbio do conhecimento tornou-se um atributo bastante representativo da
atual fase produtiva. Tal intercâmbio representa uma característica marcante do
formato recente da inovação, o qual incorpora usos inovadores do conhecimento,
produzidos de maneira descentralizada, e compartilhados através dos novos
recursos tecnológicos. Neste formato, o contato entre as diversas fontes da
inovação potencializa o uso das descobertas através da interação e acúmulo dos
novos conhecimentos, fruto das mais diversas fontes.
Uma linguagem digital comum aos processos tecnológicos torna possível que
as descobertas sejam rapidamente divulgadas. Dessa forma, as inovações se
disseminam de forma global, criando uma resposta integrada aos avanços. Esta
integração é cara à dinâmica da inovação. Ela permite que as diversas fontes de
conhecimento inovador se conectem para otimizar seus resultados através do
intercâmbio destes saberes.
A linguagem digital relaciona-se a um aspecto do conhecimento codificado
em parâmetros tecnológicos e científicos, que permitem a comunicação entre
espaços socioculturais diversos. Assim, o conhecimento codificado
17
constitui-se na
linguagem e metodologia científica, configurando-se de maneira universal e
intercambiável, pautada no acúmulo do conhecimento. Há, por outro lado, um tipo
de conhecimento que não compartilha as características de conversibilidade e
adaptabilidade relacionadas ao aspecto codificado.
17
Também é necessário distinguir dois tipos de conhecimentos: os conhecimentos
codificáveis - que, transformados em informações, podem ser reproduzidos, estocados,
transferidos, adquiridos, comercializados etc. - e os conhecimentos tácitos. Para estes a
transformação em sinais ou códigos é extremamente difícil já que sua natureza está
associada a processos de aprendizado, totalmente dependentes de contextos e formas de
interação sociais específicas. LASTRES e FERRAZ. Economia da informação, do conhecimento
e do aprendizado, 1999: 30.
21
O conhecimento tácito baseia-se no know how, ou seja, nos saberes
adquiridos na operação cotidiana da produção. Ele se desenvolve no ambiente local,
baseado numa forma de aprendizado estabelecida contextualmente. A
disseminação do mesmo depende de referenciais socioculturais comuns para sua
inteligibilidade, ou seja, este conhecimento só é compartilhado num determinado
espectro de referenciais socioculturais.
Em relação às tecnologias recentes da comunicação, ele se torna um
elemento complicador porque demanda um contato direto entre os interlocutores
para transmitir-se. Isso porque o conhecimento tácito incorpora certos elementos
que não são facilmente conversíveis em informação e, portanto, dependem de um
determinado tipo de interação para transmitir seu conteúdo. Assim, num contexto
onde o contato não-presencial se firma em diversas áreas, permitindo a troca de
conhecimento em operações tão complicadas quanto, por exemplo, uma cirurgia, a
necessidade de vivenciar o processo de aprendizado in loco representa uma
limitação considerável.
Apesar de ser permanentemente vital na inovação, o
conhecimento tácito, por suas características bastante
peculiares, só é compartilhado através da interação humana,
nas relações realizadas entre indivíduos ou organizações em
ambientes com dinâmica específica, o que, em última
instância, torna a inovação localizada e restrita ao âmbito
dos agentes envolvidos. A capacitação necessária para
compreender e usar os códigos locais pode se dar somente
com sua inserção nas redes de relações para participação do
processo de aprendizado interativo.
18
Michael Polanyi
19
investigou a natureza subjetiva do conhecimento tácito e
da sua transmissão. Sua construção depende de elementos —também subjetivos—
que sofrem limitações na sua expressão pela linguagem. O conhecimento tácito,
ainda que sob um contexto com dinâmica mais intensa, calcada em parâmetros
tecnológicos e científicos, retém os elementos característicos da sua construção
local. O processo de aprendizado, neste caso, depende da interação humana.
18
LEMOS, C. Inovação na era do conhecimento, 1999: 132.
19
POLANYI, M. The tacit dimension, 1966.
22
O campo de estudos da história dos conceitos investiga as limitações
impostas pela linguagem na transmissão dos conceitos. A conversão do
conhecimento em linguagem passível de registro é um tema candente, e
recentemente vem tomando vulto.
20
A história dos conceitos é herdeira da
begriffsgeschichte —a história conceitual alemã— e da conceptual history —história
dos conceitos britânica— que procuram desvendar os mecanismos da transmissão e
alteração de sentido dos conceitos entre contextos socioculturais diversos, inclusive
em função do distanciamento espaço-tempo.
Sem dúvida há muitas nuances da experiência difíceis de transmitir numa
narrativa, o que constitui um obstáculo à circulação plena do conhecimento. A
circulação dos saberes precisa de um registro do conhecimento, traduzido em
linguagem intercambiável e, portanto, limitado na sua carga de sentido. Limitado
porque a apreensão do conhecimento, o aprendizado, precisa incorporá-lo no
contexto sociocultural da experiência, no qual a contextualização da mensagem
permite compreendê-la.
Sendo assim, enviar o conhecimento pelos meios digitais não garante sua
compreensão na outra ponta do processo. O elemento tácito demanda que a
reconstrução dos saberes, a partir de uma informação remota, se realize no lugar
da vivência dos mesmos. Dessa forma, há um componente intimamente ligado ao
aspecto cultural na relação com o conhecimento.
O pesquisador da ciência da computação Valdemar Setzer atribui ao
conhecimento à conotação de algo vivido, vinculado a uma experiência.
21
Interpretar a informação a partir da experiência seria então um veículo da
construção do conhecimento, o qual se forma numa vivência do objeto do
conhecimento. Isso indica que o conhecimento depende de um determinado
20
JASMIN e FERES JR. História dos conceitos: debates e perspectivas, 2006.
21
Caracterizo Conhecimento como uma abstração interior, pessoal, de algo que foi
experimentado, vivenciado, por alguém (...). Nesse sentido, o conhecimento não pode ser
descrito; o que se descreve é a informação. Também não depende apenas de uma
interpretação pessoal, como a informação, pois requer uma vivência do objeto do
conhecimento. Assim, o conhecimento está no âmbito puramente subjetivo do homem (...).
SETZER, V. Dado, informação, conhecimento e competência, 2001: 4.
23
contexto para desenvolver-se. Assim, se a informação representa uma leitura
contextualizada do dado, o conhecimento se constitui sobre a articulação das
informações num certo contexto cultural.
A informação foi associada à semântica. Conhecimento está
associado com pragmática, isto é, relaciona-se com alguma
coisa existente no "mundo real" do qual se tem uma
experiência direta.
22
Assim, a implementação do conhecimento inovador depende de um
determinado contexto sociocultural para operar. A transposição entre o contexto
onde se desenvolve um determinado aprimoramento e outro o qual recebe a
inovação, depende de uma série de elementos locais. Isto significa que a linguagem
em que o conhecimento circula sofre limitações para transmitir seu conteúdo. O
contexto local de operação da tecnologia contém uma série de vicissitudes que
escapam ao aspecto codificado do conhecimento.
A apreensão dos avanços tecnológicos não é um procedimento estritamente
teórico. O conhecimento precisa ser inscrito num determinado contexto onde a
interpretação dos saberes ocorre. Dessa forma, os referenciais socioculturais são
fundamentais para a compreensão de qualquer mensagem, pois emprestam
determinada conotação ou sentido ao seu conteúdo.
Os novos recursos, produzidos no atual contexto da inovação, não podem
ser instalados além da capacidade humana de decodificar e recodificar tais
conhecimentos. A velocidade e complexidade dos avanços, portanto, estão
condicionadas a fatores humanos de aprendizado, e por mais que a velocidade do
processamento de dados se intensifique, ela depende do potencial humano para
traduzi-la em conhecimento passível de aplicação prática.
A inovação não surge numa forma codificada em parâmetros comuns, mas
na cosmogonia que lhe deu origem. Dessa forma, a ela está carregada de
elementos dados culturalmente, arraigados a certo ponto de vista e de difícil
transposição, dando uma vantagem extra aos que a produzem. A forma do
22
SETZER, V. Dado, informação, conhecimento e competência, 2001: 4.
24
conhecimento que circula no ambiente cibernético precisa se comunicar com uma
forma local, embebida culturalmente, para implementar as inovações.
Conforme salientado anteriormente, o reconhecimento das
diversas fontes de conhecimento foi muito importante para a
compreensão da forma como é conduzido o processo
inovativo. Como resultado, uma das importantes percepções
atuais é que o processo inovativo é um processo de interação
de natureza social. O grau de interação com que se dá o
aprendizado vai variar conforme os agentes envolvidos, o
tipo de relação que mantêm entre si, a existência de
linguagem comum, identidades, sinergias, confiança, assim
como o ambiente em que se inserem.
23
O estudo de Kuenzer, Abreu e Gomes
24
, ao analisar o ambiente da indústria
petroquímica brasileira, uma área sob forte impacto das inovações, constatou uma
relação de interdependência entre os dois tipos de conhecimento —tácito e
codificado. O estudo empírico investiga a convivência entre trabalhadores
experientes e, portanto, possuidores de know how, e trabalhadores recentemente
contratados, os quais possuem um conhecimento tecnológico mais atualizado.
A conclusão do estudo aponta um ambiente de cooperação entre os dois
tipos de saberes, no qual as situações específicas vão determinar o volume da
interferência de cada um necessária à solução do problema. A combinação entre o
conhecimento tácito, estabelecido na operação sistemática da produção, e o
codificado, transmitido sob parâmetros científicos, é fundamental.
A relação entre conhecimento tácito e conhecimento
científico na base microeletrônica não é de oposição e sim de
articulação dialética, posto que são categorias que se
integram nos processos de trabalho flexibilizados, nos quais
a prevalência do tácito ou do científico responde à
especificidade do trabalho a ser realizado por uma força de
trabalho de qualificações diferenciadas que se articulam para
atender às necessidades das cadeias produtivas.
25
Os recursos tecnológicos da atual fase produtiva precisam tanto do
acompanhamento das recentes inovações quanto da observação dos componentes
locais, e da coordenação entre os dois pontos de vista para a sua implementação
23
LEMOS, C. Inovação na era do conhecimento, 1999: 134.
24
KUENZER, ABREU e GOMES. A articulação entre conhecimento tácito e inovação
tecnológica: a função mediadora da educação, 2007.
25
Idem: 466.
25
eficiente. O conhecimento apreendido no desenvolvimento da tecnologia depende
da articulação com o conhecimento local para ser operado.
O conhecimento codificado, passível de circulação na internet, sofre
restrições na sua implementação prática. Isso porque o desenvolvimento e o uso
efetivo do conhecimento estão ligados ao aspecto tácito no qual ele opera. Dessa
forma, articulação dos aspectos codificado e tácito é fundamental para recompor o
conhecimento na experiência prática, decodificada e compreensível, em
determinado contexto. Neste processo, uma série de elementos subjetivos, os quais
não podem ser codificados, são reincorporados para operacionalizar seu uso local.
Em direção contrária à assertiva de que a codificação pode
atingir todo tipo de conhecimento tácito, considera-se que o
processo de codificação nunca será completo (...). Isto
significa que toda codificação de um conhecimento é
acompanhada de criação equivalente na base do
conhecimento tácito. Ambos os conhecimentos, tácito e
codificado, devem ser tratados como complementares, pois
sempre haverá alguma forma de conhecimento tácito
específico implícita nas práticas comuns a cada firma, setor
ou região. Ou seja, ao mesmo tempo em que se observa
uma expansão cumulativa na base do conhecimento
codificado, essa codificação será sempre incompleta, pois
intensifica-se a importância e irredutibilidade do
conhecimento tácito como recurso fundamental, que
permanece na esfera de indivíduos e empresas específicas.
26
Isso implica que uma determinada quantidade de conhecimento tácito deve
surgir para complementar cada parte de conhecimento codificado. Essa interação
deve levar em conta que a aspecto codificado do conhecimento tem uma
característica universal, abrangente e de fácil circulação, com poucos limites à
troca, interação e acúmulo. Isso permite que o mesmo tenha um crescimento
bastante facilitado no atual momento tecnológico.
A comunicação na atual fase torna a produção deste tipo de conhecimento,
ininterrupta e em constante aceleração. Tal conhecimento está ligado ao aspecto
cumulativo da ciência, o qual acrescenta cada vez mais conhecimento a partir das
pesquisas que majoritariamente utilizam método e linguagem científica e, portanto,
comunicam-se diretamente.
26
LEMOS, C. Inovação na era do conhecimento, 1999: 131.
26
A questão é que a produção do conhecimento tácito é quantitativamente
limitada, culturalmente restrita e geograficamente estabelecida. Está condicionada
ao saber fazer, a aplicação dos saberes. O intercâmbio deste conhecimento fica
restrito a um tipo de linguagem comum aos interlocutores que permita a
compreensão. Isto porque o mesmo se constituí na experiência que de forma
alguma ocorre em separado do contexto cultural onde se deu.
Embora o espaço cibernético caminhe para tornar-se um lugar privilegiado
da interatividade intelectual, existem limitações importantes na transferência do
conhecimento, calcadas nas características próprias da linguagem. Para que os
implementos tecnológicos funcionem, eles precisam interagir com a capacidade
local de pô-los em prática. Assim, desenvolver uma produção própria do
conhecimento é algo fundamental para participar desta fase recente da economia.
Pode-se ainda considerar que, como afirmam alguns autores
(Lundvall, 1998), o aumento das possibilidades de
codificação de conhecimentos não vem produzindo efeitos
significativos em termos de maior transferibilidade dos
mesmos. A principal razão apresentada para tal é que
quando o conteúdo de conhecimento apresenta taxas
extremamente dinâmicas de mudança, apenas aqueles que
participam do processo de sua criação têm acesso ao mesmo
e acompanham sua evolução dinâmica.
27
A característica tácita do conhecimento se torna dessa maneira ainda mais
relevante, pela importância desta na recepção das inovações. Isto implica num
aumento da importância da capacidade intelectual instalada no contexto local. Tal
capacidade torna-se estratégica no atual contexto competitivo. Sem desenvolver o
potencial humano, uma determinada região pode isolar-se de tal forma do processo
de inovação que ficaria dependente da produção tecnológica alheia, perdendo
competitividade.
A inovação está vinculada tanto a um processo essencialmente humano,
quanto ao seu aspecto científico e tecnológico, ou seja, é preciso combinar os
fatores socioculturais e tecnológicos para implementar a inovação. Existem
27
CASSIOLATO, J. A economia do conhecimento e as novas políticas industriais e
tecnológicas, 1999: 174.
27
requisitos mínimos do conhecimento para atualizar-se de acordo com as inovações,
mesmo que estas se constituam sob um conhecimento novo. Assim, a educação
está na interface entre o conhecimento tácito e codificado. Ela atua no espaço da
experiência
28
em que se disseminam os saberes.
É aqui que os investimentos em educação se afirmam como algo estratégico
para a inserção neste novo mundo. As operações informacionais penetram de tal
maneira na forma recente de viver, que tornam o processo ininterrupto de
aprendizado de indivíduos, empresas e países imprescindível. Para todos estes é
fundamental o talento humano capaz de desenvolver usos inovadores do
conhecimento e/ou a implementação das inovações em determinado contexto. A
educação distribui os elementos intelectuais necessários para lidar com o
conhecimento, um fator de importância crescente nesta fase da modernidade.
Diante deste contexto, a educação não só fornece um conhecimento básico à
relação com a inovação, mas, mais ainda, propaga os elementos da linguagem que
permitem interagir com os conhecimentos, no atual paradigma. Neste caso, a
formação educacional constitui um dos processos cruciais diante do recente padrão
socioeconômico. A educação fornece os elementos que permitem compreender a
semântica dos novos parâmetros, sem o que a apreensão das tecnologias recentes
fica comprometida.
Redes de cooperação
A velocidade com a qual avança a tecnologia cria uma nova dinâmica da
competição. Nesta dinâmica o tempo e recursos, uma vez gastos para proteger
dado, informação e conhecimento, perdem importância face à constante
obsolescência destes. Assim, mais importante que preservar o conhecimento
adquirido é desenvolvê-lo no menor espaço de tempo possível para que o mesmo
não perca rapidamente o seu valor.
28
Referência ao ambiente onde ocorre a construção do conhecimento de que fala Setzer.
SETZER, V. Dado, informação, conhecimento e competência, 2001.
28
A sobrevivência no atual quadro competitivo depende da participação nas
diversas fases do processo de inovação como condição para acompanhá-lo. A
velocidade da inovação impõe a capacidade de desenvolvê-la como a melhor
maneira de manter-se competitivo em face ao ritmo das mudanças. Neste
contexto, a cooperação entre empresas com características e necessidades
semelhantes, algumas vezes constitui a única forma de acompanhar o processo de
inovação.
Nesse sentido, o acesso aos conhecimentos específicos de
uma firma, arranjo ou setor pode explicar em larga medida a
intensificação dos esforços para a formação de redes de
cooperação no contexto atual, objetivando a criação de uma
interação positiva para a absorção dos conhecimentos tácitos
existentes.
29
As inovações neste arranjo podem ser potencializadas pela troca de
experiências em função das similaridades. As trocas de conhecimento são
facilitadas pelo compartilhamento de um determinado contexto da produção com
características semelhantes. A proximidade representada por um contexto similar
potencializa a troca de conhecimento tácito, tanto por facilitar o contato presencial,
quanto por compartilhar características e conceitos comuns.
Assim, o que se verifica é a formação de redes de cooperação, as quais
permitem uma melhor performance nas relações com o conhecimento tácito. A
capacidade de interação neste arranjo promove um maior aproveitamento da
inovação, em função da cooperação quanto à distribuição dos saberes.
O grau de competitividade das empresas passou a refletir
cada vez mais a eficiência das redes ou sistemas nos quais
tal empresa se insere. As razões principais para tais novos
desenvolvimentos e participação em redes são atribuídas aos
novos requerimentos do rápido progresso e difusão das
tecnologias associadas ao novo paradigma técnico-econômico
baseado nas tecnologias da informação (o qual tanto gerou
necessidades de colaboração, quanto propiciou os meios
técnicos para o aprimoramento das redes).
30
A coordenação entre tácito e codificado é de suma importância para a
empreitada produtiva. Neste caso, estabelecer redes que possibilitem equilibrar o
29
LEMOS, C. Inovação na era do conhecimento, 1999: 132.
30
LASTRES, H. Redes de inovação e as tendências internacionais, 1995: 1.
29
máximo possível a produção de ambos os tipos de conhecimento torna-se uma
questão estratégica. Nestas redes as similaridades socioculturais potencializam a
produção de conhecimento tácito que permita a interação com a produção de
conhecimento codificado.
A codificação do conhecimento nesses tipos de arranjo, por
seu turno, é também relacionada aos contextos específicos
onde se compartilham códigos, linguagem comum,
identidade, confiança e conhecimentos tácitos necessários
para a interpretação precisa da mensagem codificada.
31
A importância do desenvolvimento local do conhecimento tácito aumenta à
medida que avança a produção do conhecimento codificado. Tal característica
depende não só do talento, o qual pode estar restrito à capacidade individual, mas
de uma relativa disseminação da formação educacional. Formar uma base
intelectual local é uma tarefa estratégica no esforço de equalizar a produção de
conhecimento codificado e tácito. A circulação do conhecimento, constituída numa
maior troca dos saberes entre diversos setores, é fundamental para alimentar a
produção de mais conhecimento na atual dinâmica produtiva.
Ainda, baseiam-se na compreensão de que o processo de
inovação é um processo de aprendizado interativo, que
envolve intensas articulações entre diferentes agentes,
requerendo novos formatos organizacionais em redes. Para
se estar apto a entrar nessas redes e nesse novo contexto, é
fundamental o investimento na capacitação de recursos
humanos, responsáveis pela geração de conhecimentos.
32
Desenvolver conhecimento inovador não se restringe a pesquisa e a
produção. As empresas estabelecem uma relação com a inovação que participa da
geração do conhecimento, uma relação absolutamente relevante no processo. Este
ciclo se realiza em toda interação na economia informacional, em que o
conhecimento deve ser usado para gerar mais conhecimento. Tal participação está
estritamente ligada à formação educacional dos indivíduos, e influencia o grau de
interação desta sociedade com a tecnologia.
31
LEMOS, C. Inovação na era do conhecimento, 1999: 132.
32
Idem: 141.
30
À medida que mais indivíduos dominem os elementos mínimos da interação
com os recentes implementos tecnológicos, gerando uma maior participação no
processo inovador, maior será a resposta a inovação. A questão não se resume à
formação de mão-de-obra capaz de decodificar as constantes mudanças, mas inclui
constituir uma base intelectual capaz de corresponder ao desenvolvimento
constante da tecnologia. Quanto maior o número de pessoas envolvidas no
processo, maior as chances de surgirem novas abordagens e novas direções para a
inovação.
Trabalho e educação no novo contexto produtivo
A relação entre educação e inovação tem sido bastante discutida no contexto da
chamada sociedade informacional, onde o conhecimento intensifica sua participação
como fator da competitividade. Os termos recentes da competição constituem-se
no uso de formas cada vez mais informacionais da produção, aprimorados através
de um determinado uso do conhecimento. Assim, o processo de inovação constante
aproxima a educação das demandas recentes da produtividade.
A necessidade de acompanhar o aprimoramento cada vez mais sofisticado
do processo de produção implica numa colocação mais intelectual do trabalho. A
questão recente está na maneira como uma tendência constituinte da modernidade,
na qual a máquina substitui com vantagens o trabalho humano repetitivo, se
revivifica neste novo milênio. A velocidade e abrangência da inovação superam
significativamente a das últimas revoluções industriais, causando um efeito
proporcional na sociedade.
Dessa forma, o trabalho sofre um impacto, no qual, dependendo da sua
relação maior ou menor com a tecnologia, estabelece uma relação ainda mais
acentuada com a educação, vis-à-vis a demanda pelo aprendizado constante. A
flexibilização da produção, como forma de adaptação à constante inovação, sugere
31
o domínio de uma série de competências
33
para interagir com tal processo, uma
vez que o elemento humano está diretamente envolvido no desenvolvimento e na
incorporação da tecnologia. À medida que as pressões competitivas aumentam a
velocidade da implementação das inovações, também aumenta a complexidade e o
volume da informação inserida no processo produtivo.
Muito embora a mudança seja uma constante, a inovação desenvolve-se sob
parâmetros de base lógica, voltados a uma proposta de base científica. Os
implementos tecnológicos atuais exigem um parâmetro comum, uma linguagem
digital, que permita a comunicação entre os seus diversos dispositivos.
34
Tal
linguagem afeta a interação com estas tecnologias, em maior ou menor intensidade
dependendo da natureza desta interação com as mesmas. Dessa forma, interatuar
com a tecnologia depende do uso de uma linguagem comum, digital e de base
lógica.
O trabalho utiliza cada vez mais um conteúdo intelectual, o qual opera
símbolos que representam os códigos da interação subjetiva. A transposição dos
saberes desenvolvidos, nos mais diversos contextos, para a aplicação prática
depende da capacidade de operar tal linguagem tecnológica.
A disseminação de uma nova "cultura tecnológica" e
"organizacional" exige o domínio de novos códigos de leitura
e de interação dos trabalhadores com o mundo do trabalho.
O momento atual lhes exige, entre outras qualificações, mais
que o "saber fazer", exige, sobretudo, lidar com operações
que permitam a transformação de símbolos em ações de
máquinas;
35
33
O conceito de competência começa a ser utilizado na Europa a partir dos anos 80. Não é
um conceito preciso nem é empregado com o mesmo sentido nas várias abordagens.
Origina-se das Ciências da Organização e surge num contexto de crise do modelo de
organização taylorista e fordista, mundialização da economia, exacerbação da competição
nos mercados, exigências de melhoria da qualidade dos produtos e flexibilização dos
processos de produção e de trabalho. Neste contexto de crise, e tendo por base um forte
incremento da escolarização dos jovens, as empresas passam a usar e adaptar as aquisições
individuais da formação, sobretudo escolar, em função das suas exigências. DELUIZ, N. A
globalização econômica e os desafios à formação profissional, 2001: 5.
34
Além disso, o processo atual de transformação tecnológica expande-se exponencialmente
em razão de sua capacidade de criar uma interface entre campos tecnológicos mediante uma
linguagem digital comum na qual a informação é gerada, armazenada, recuperada,
processada e transmitida. CASTELLS, M. A sociedade em rede, 2005: 68.
35
BARONE e APRILE. Empresa: um espaço para a educação formal, 2005: 7.
32
Com o aumento dos recursos tecnológicos, a interferência do uso da
informação para a atividade produtiva aumenta. O trabalho humano tende cada vez
mais a executar funções subjetivas, voltadas a operações as quais as máquinas são
incapazes de executar. Lidar com o conteúdo cada vez mais imaterial, simbólico e
abstrato das recentes tecnologias, codificar e decodificar o conhecimento, é algo
bastante dependente da interferência humana. Assim, tomar decisões sobre as
operações produtivas e aprimorar o conhecimento estabelecido vêm se
consolidando ao longo dos anos como uma tendência do trabalho.
O crescente aumento da interferência da informação estabelece relações
hierárquicas muito mais fragmentárias na produção, nas quais o trabalhador se
envolve de maneira mais direta no processo produtivo. Ele deve ser capaz de
decodificar a informação gerada no processo e interagir de maneira mais
autônoma, pois o tempo de resposta aos problemas que possam surgir deve ser o
menor possível para garantir produtividade.
Surgem novas tendências em relação ao trabalho: este
torna-se mais abstrato, mais intelectualizado, mais
autônomo, coletivo e complexo. Cada vez mais as funções
diretas estão sendo incorporadas pelos sistemas técnicos, e o
simbólico se interpõe entre o objeto e o trabalhador. O
próprio objeto do trabalho torna-se imaterial: informações,
"signos," linguagens simbólicas.
36
Assim, o trabalho vem ganhando contornos cada vez mais calcados na
capacidade de uso do conhecimento. De acordo com as tendências recentes, ele
recebe características mais autônomas e intelectuais que representem menos
trâmites hierárquicos e mais produtividade. O papel deste novo trabalhador
demanda uma formação educacional sólida, inclusive para lidar com as constantes
mudanças tecnológicas.
As circunstâncias competitivas, surgidas no contexto das recentes
tecnologias, trazem novas demandas para a educação em diversos níveis. Diante
de um quadro de aceleração constante da produção, obter mão-de-obra capaz de
adaptar-se às mudanças torna-se um fator essencial da competitividade. Neste
36
DELUIZ, N. A globalização econômica e os desafios à formação profissional, 2001: 2.
33
contexto, a centralização das informações no âmbito administrativo da produção,
cede à necessidade de uma maior autonomia no chamado chão de fábrica. O
acesso às informações pertinentes e a tomada de decisões não é mais uma
exclusividade do âmbito administrativo, em nome da agilidade e da performance
produtiva.
Reduz-se, portanto, a separação a priori entre as tarefas de
concepção/direção (os desdobramentos do antigo “poccc”
“fayoliano”) e as de execução de tarefas. Isto exigirá um
aumento do conhecimento e compreensão do conjunto do
processo produtivo não apenas dos empresários, gerentes e
quadros técnicos, mas agora de todos os trabalhadores, o
que só será possível com um maior nível de educação geral e
polivalente qualificação dos mesmos.
37
A intensificação da circulação e acessibilidade da informação dissemina a
possibilidade de inovar, fragmentando a participação neste processo. Uma vez que
o acesso às informações se torna muito mais fácil, seu uso para compor o
conhecimento, a capacidade de juntar as peças, torna-se ainda mais importante.
Na era informacional de Castells, esta capacidade de decodificar a informação e
reconstruí-la na forma de conhecimento, representa um fator fundamental da
inovação.
Tal característica coloca a educação numa posição crucial quanto às
demandas do atual contexto. As políticas educacionais passam então a uma posição
ainda mais estratégica, pois o conhecimento de base —relativo à educação
fundamental— constitui o alicerce sobre o qual se constroem as qualificações
necessárias ao presente esforço produtivo.
Informação, inovação e educação
As atuais características produtivas operam num parâmetro de superação da
concorrência baseado na criação constante de formas mais eficientes da produção,
formas que são aprimoradas através do uso do conhecimento. Neste modelo, a
produção gera dados sobre o seu desempenho, os quais são organizados em
37
PASSOS, C. Novos modelos de gestão e as informações, 1999: 62.
34
informações. Tais informações constituem um conhecimento que é aplicado na
inovação do processo produtivo. Este comportamento cíclico de produção e
aplicação constante da informação constitui uma característica da era
informacional.
Assim, o conhecimento reinvestido na produção tem um papel significativo
diante do recente contexto econômico. À medida que a velocidade de
implementação das inovações se intensifica, o volume e complexidade das
informações em questão aumentam. Sendo assim, a capacidade de articular as
informações, e de interagir com a tecnologia, vem sendo cada dia mais requerida
como forma de orientar a própria direção da inovação. Sob este contexto, a
educação corresponde às ferramentas básicas da interação com tais características
operacionais.
Os recursos disponíveis através das recentes tecnologias viabilizam um
aumento da participação dos indivíduos no processo da inovação. Diversas
interações com os meios tecnológicos geram informações aproveitadas pelo próprio
sistema, tornando o consumidor num co-operador ou co-desenvolvedor
38
das
mesmas.
Tal usuário precisa dos mecanismos para lidar com a informação, e assim
constituir o conhecimento necessário à interação como a tecnologia. A importância
dos elementos educacionais se reflete na capacidade de gerar, acrescentar ou
expressar a informação para a construção dos saberes. Na sociedade informacional,
a educação proporciona a capacidade de decodificação do conhecimento para gerar
mais conhecimento.
Assim, a questão estratégica foge à posse da informação, a qual circula em
abundância no espaço cibernético, e recai sobre o uso inovador da mesma para
38
Duas alternativas que vêm sendo utilizadas, já há algum tempo inclusive no Brasil,
referem-se à transformação do consumidor em co-produtor; seja do serviço que consome
(como no caso das caixas automáticas de serviços bancários); seja como fornecedor de
informações sobre seu perfil de consumo (como, por exemplo, no caso dos autodenominados
correios eletrônicos gratuitos). LASTRES e FERRAZ. Economia da informação, do
conhecimento e do aprendizado, 1999: 43.
35
constituir um conhecimento aprimorado. Dessa forma, quanto maior o número de
cérebros capazes de inovar, maior a chance de produzir inovações que permitam
competir no atual contexto.
Sendo assim, é preciso envolver o maior número possível de pessoas no
esforço de inovação para que as chances de produzi-la aumentem. Quanto mais
indivíduos mobilizem os elementos do conhecimento, maior a probabilidade de que
mais inovação seja incorporada num menor espaço de tempo. Este fator está
intimamente ligado às bases educacionais capazes de lançar os fundamentos
necessários ao aprendizado constante. A educação básica representa, neste
contexto, um fator fundamental para compor a inovação.
Considerando que apesar da velocidade e a natureza das mudanças persiste
uma base lógica calcada no método científico, por mais inusitadas que pareçam as
inovações estas seguem uma linguagem tecnológica e científica, sem a qual não é
possível acrescentar ao conhecimento existente. Assim, as mais diversas relações
com a inovação dependem de um certo montante do conhecimento. A
implementação dos aprimoramentos propostos constantemente não pode acontecer
sem um saber fundamental.
O reflexo da falta de formação educacional já se mostra em diversos setores
produtivos no Brasil. Muitas empresas desenvolvem programas de formação escolar
para compensar a defasagem educacional no país. Neste caso, a educação já não
representa, para colocar em termos simples, somente erudição ou formação
técnica.
39
Ela fornece ao indivíduo os mecanismos da apreensão sistemática de
novas competências, as quais permitem operar as tecnologias em aprimoramento
constante. Esta questão surge como fator estratégico à produtividade no contexto
39
A educação técnico-profissional não se tem colocado à margem dessa discussão e hoje
começa a refletir sobre a necessidade de estar articulada à educação geral, para evitar a
dualidade histórica entre educação propedêutica x educação profissional-instrumental, dando
respostas à dupla dimensão dos objetivos educacionais: preparar o profissional competente e
o cidadão socialmente responsável, o sujeito-político comprometido com o bem-estar
coletivo. DELUIZ, N. A globalização econômica e os desafios à formação profissional, 2001:
2.
36
recente. A intensificação do ritmo da inovação, como principal consequência do
atual contexto competitivo, cria um aumento na demanda por qualificação.
Assim, no atual contexto, as políticas públicas educacionais tornam-se um
fator da competitividade. Uma vez que a implementação da inovação converge ao
espaço territorial, o Estado exerce uma influência determinante nas condições de
recepção das tecnologias recentes. Dessa forma, a ampla disseminação da
educação, pública e de qualidade, torna-se uma condição fundamental para
permitir o acesso do esforço produtivo à mão-de-obra qualificada. Ainda que a
totalidade da formação não se resuma aos contornos da educação formal, é esta
que fornece os fundamentos, sem os quais não é possível acrescentar qualquer
conhecimento.
As relações com o conhecimento constituem-se num fator chave para os
países no contexto competitivo internacional. Este se tornou um elemento
estratégico, o qual determina a inserção no novo paradigma. Assim, a despeito do
aumento considerável da mobilidade dos mais diversos recursos —financeiros e
informacionais— a participação do Estado permanece um fator crucial para
promover a inovação no novo milênio.
Reconcentração da geração de novos conhecimentos
Muito embora algumas argumentações sobre a globalização
apontem um
enfraquecimento das instituições enraizadas territorialmente,
40
envolvendo algum
desprendimento da produção do conhecimento, certos aspectos desta produção
retêm elementos dados culturalmente e arraigados a contextos locais. Isso implica
a existência de um componente do conhecimento que não pode ser facilmente
40
Na percepção dominante, estaríamos caminhando para um mundo sem fronteiras com
mercados (de capitais, informações, tecnologias, bens, serviços etc.) tornando-se
efetivamente globalizados e para um sistema econômico mundial dominado por 'forças de
mercado incontroláveis', sendo seus principais atores as grandes corporações transnacionais
socialmente sem raízes e sem lealdade com qualquer Estado-Nação. LASTRES e ALBAGLI.
Informação e globalização na era do conhecimento, 1999: 10.
37
transmitido, o conhecimento tácito, o que de certa forma revaloriza as fronteiras
territoriais.
Todo conhecimento codificado está invariavelmente ligado a um
determinado conteúdo de conhecimento tácito (Lemos, 1999). Assim, a idéia de
uma aldeia global, sem fronteiras e independente, a qual experimenta um
enfraquecimento do Estado nacional, pode ser repensada. O uso local da
tecnologia, as características locais da mão-de-obra e seu nível educacional, têm
uma importância expressiva diante das exigências recentes da produção. Ainda que
a inovação tecnológica experimente uma disseminação sem precedentes, são as
características locais que determinam a possibilidade ou não, da recepção destas
tecnologias.
41
Apesar do crescimento de uma dimensão virtual da circulação dos saberes —
Internet— a sua produção parte de um contexto cultural/territorial específico. Neste
sentido a dimensão territorial da produção do conhecimento não perde em nada
sua significância, pelo contrário, a circulação livre das idéias reforça a importância
da capacidade de implementá-las —ligada ao acesso aos recursos intelectuais e
instalações tecnológicas— como demarcador da supremacia tecnológica. Este
aspecto estratégico da territorialidade remete a uma reformulação dos parâmetros
ligados a competição geopolítica.
Poder que não mais se restringe ao domínio dos meios
materiais e dos aparatos políticos e institucionais, mas que,
cada vez mais, define-se a partir do controle sobre o
imaterial e o intangível — seja das informações e
conhecimentos, seja das idéias, dos gostos e dos desejos de
indivíduos e coletivos. Estabelecem-se assim novas
hierarquias geopolíticas, definidas com base em novos
diferenciais sócio-espaciais, refletindo fundamentalmente
desiguais disponibilidades de informações e conhecimentos
estratégicos, bem como desiguais posições no âmbito dos
fluxos e dos fixos que compõem as redes de informação e
comunicação em escala planetária. Configuram-se e exigem-
41
"As novas formas de codificação do conhecimento mudam a fronteira entre conhecimento
tácito e codificado. Entretanto, não reduzem a importância relativa do conhecimento tácito
na forma de habilidades, capacitações etc. Ao contrário, o conhecimento tácito adquire um
significado maior, acentuando a importância de processos locais de desenvolvimento
tecnológico, inovação e competitividade. (Cassiolato)" In: LASTRES e ALBAGLI. Informação e
globalização na era do conhecimento, 1999: 15.
38
se, nesse contexto, novos modelos e instrumentos
institucionais, normativos e reguladores, bem como novas
políticas industriais, tecnológicas e de inovação que sejam
capazes de dar conta das questões que se apresentam frente
à nova realidade sócio-técnico econômica.
42
Ainda há muito debate quanto às mudanças nos contornos do Estado na
atual fase. O poder se desata cada vez mais dos aspectos materiais, em função da
redução das limitações de comunicação e logística, e avança gradativamente para o
espaço informacional. Esse fator interfere nas relações internacionais de poder,
mudando a forma como as nações competem por maior influência na atual
conjuntura. A estratégia geopolítica aponta novos cenários competitivos baseados
em usos inovadores do conhecimento. O contexto recente permite que novos tipos
de supremacia internacional se desenvolvam, fazendo com que a capacidade de
mobilizar recursos intelectuais seja um fator ainda mais preponderante.
A característica difusa da informação atual dinâmica internacional cria uma
reconcentração da geração de novos conhecimentos (Lastres e Albagli, 1999: 14).
Isso ocorre em função da maior capacidade de determinados atores
implementarem a inovação. O conhecimento gerado na produção local circula de
forma mais intensa neste contexto, dando chance a certos atores produtivos
aproveitarem diversas fontes para compor a inovação. Tais atores potencializam a
inovação gerada no ambiente local, através do seu maior acesso aos recursos
disponíveis.
43
O maior acesso à informação potencializa a circulação de abordagens
inovadoras do conhecimento, que podem ser geradas em diversos ambientes,
disponibilizando seu uso por aqueles com recursos adequados para desenvolvê-las.
Dessa forma, o conhecimento inovador disseminado pelo ambiente informacional,
redireciona-se às instituições que de alguma forma mantêm vínculos territoriais.
42
LASTRES e ALBAGLI. Informação e globalização na era do conhecimento, 1999: 9.
43
Assim, a globalização é vista como reforçando o caráter cumulativo das vantagens
competitivas dos grandes conglomerados, que vêm instalando redes de informação mundiais
internas através das quais podem articular as atividades de financiamento, administração,
P&D, produção e marketing em escala global. (...) Seus campos de atuação são cada vez
mais globais, no entanto suas sedes e centros de decisão continuam centralizados em seus
países de origem. Idem: 14.
39
A maior circulação do conhecimento, dessa forma, não potencializa um
contexto internacional da inovação. O que ela cria é a distribuição do potencial
inovador e o seu redirecionamento para determinados centros de desenvolvimento.
O espaço virtual criado através da WWW —World Wide Web— pode criar a ilusão de
uma dimensão extraterritorial independente, mas o conhecimento precisa ser
reconstituído no ambiente local, privilegiando determinados arranjos estruturais em
ciência e tecnologia.
[...] cerca de 95% da nova ciência é criada nos países que
abrigam somente um quinto da população mundial. Grande
parte dessa ciência – no âmbito da saúde, por exemplo –
negligencia os problemas que afligem a maioria da população
mundial. A distribuição desigual da atividade científica gera
sérios problemas não só para a comunidade científica dos
países em desenvolvimento, mas para o próprio
desenvolvimento. Ela acelera a disparidade entre países
avançados e em desenvolvimento, criando dificuldades
sociais e econômicas no plano nacional e internacional. A
idéia de dois mundos científicos é um anátema ao espírito
científico. A mudança desse cenário e a extensão dos
benefícios da ciência a todos exigirão o empenho dos
cientistas e das instituições científicas em todo o mundo.
44
Essa abordagem destaca a importância da educação, quanto à produção e
disseminação do conhecimento. Os investimentos neste sentido estão diretamente
ligados a capacidade de constituir a inovação fundamental à competitividade. O
papel da formação de pessoal qualificado, capaz de dar sustentação à
implementação das inovações, constitui-se cada vez mais em algo importante em
meio às mudanças recentes no paradigma produtivo.
45
Considerando o papel do conhecimento na atual dinâmica produtiva, os
investimentos em educação participam efetivamente da capacidade de competir. É
no ambiente educacional que se lançam as bases para as relações com o
conhecimento, as quais refletem diretamente na capacidade de inovação dos
países.
44
TILLY, C. O acesso desigual ao conhecimento científico, 2006: 47.
45
Os habitantes dos países de alta renda da OCDE obtêm cerca de 360 patentes por milhão
de pessoas por ano, ao passo que os países em desenvolvimento obtêm menos de uma por
milhão (cf. UNDP, 2004: 183). Idem: 59.
40
A seguir a tabela 1 demonstra o impacto significativo de um aumento na
escolaridade da população sobre o desenvolvimento econômico numa comparação
entre Brasil e Coréia do Sul.
TABELA 1
Apud: BARROS e MENDONÇA. Investimentos em educação e desenvolvimento econômico,
1997: 5.
Capítulo 3
A participação do Brasil no novo contexto econômico
Na atual conjuntura econômica a capacidade de aprender tornou-se um fator
decisivo da competitividade. As constantes mudanças, características do modelo
recente, guardam um estreito vínculo com o aprendizado.
1
Assim, constituir novas
habilitações tornou-se um elemento-chave deste modelo, o qual requer a superação
constante para assimilar a inovação.
Esta questão contém um componente bastante humano, ligado ao
desenvolvimento e implementação da inovação. A capacidade de aprendizado está
vinculada à formação educacional daqueles envolvidos no processo (Lemos, 1999),
algo que vem chamando atenção para a atuação dos indicadores educacionais em
diversos países.
De acordo com as demandas do recente paradigma, é preciso estabelecer
uma escolarização de base, capaz de sustentar a construção recorrente de novas
qualificações. É necessária uma base de recursos humanos que permita ao sistema
absorver as pressões competitivas do recente paradigma. Assim, a competição de
modelo recente exige uma mão de obra disponível, escolarizada, e mais
importante, capaz de aprender.
As novas demandas da produtividade vêm encontrando o Brasil sob um
déficit significativo no seu desempenho educacional.
2
Algumas impressões em
relação à educação no país são às vezes compreendidas como gargalos ao
desenvolvimento. Considerando que para manter-se competitivo no quadro atual é
1
Mudança e aprendizado são as duas faces da mesma moeda. A aceleração das mudanças
confronta agentes e organizações com novos problemas e a solução para tais problemas
requer novas habilitações (Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico/OECD 2000). LUNDVALL, B. Políticas de Inovação na economia do aprendizado,
2001: 200.
2
A partir desse recorte, e com base na evidência empírica, procuramos demonstrar que a
realidade educacional brasileira encontra-se em uma encruzilhada no que se refere aos
dilemas estratégicos para construção de um processo de desenvolvimento sustentável.
BARROS, HENRIQUES e MENDONÇA. Pelo fim das décadas perdidas, 2002: 1.
preciso uma atualização constante, o salto de produtividade estaria comprometido
sem a capacidade adequada de aprendizado. Dessa forma, o mau desempenho dos
indicadores educacionais relaciona-se às atuais dificuldades enfrentadas pelo setor
produtivo.
Estabelece-se, ao mesmo tempo, uma correlação entre a
baixa escolaridade da força de trabalho do país e as
dificuldades enfrentadas pelo setor produtivo para dar o
chamado salto de produtividade e qualidade. O modelo que
se preconiza, supostamente demandante de novas
qualificações e de novas competências à força de trabalho,
estaria encontrando barreiras dadas pelas próprias
características da formação escolar dos trabalhadores,
marcada pela descontinuidade e precariedade.
3
Alguns organismos internacionais vêm destacando o papel da educação
frente aos desafios da nova fase econômica. Por exemplo, o Banco mundial
divulgou o IOH – Índice de Oportunidade Humana – participaram do estudo Ricardo
Paes de Barros, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, e
os economistas do Banco Mundial Francisco H. G. Ferreira, José Molinas e Jaime
Saavedra. O mesmo levou em consideração a conclusão do sexto ano escolar na
idade correta e matrícula escolar de crianças entre 10 e 14 anos para o indicador
de educação. Segundo o IOH, o Brasil está abaixo da média latino-americana em
desempenho educacional, inferior ao Chile, Argentina, Costa Rica, Venezuela e
Uruguai.
4
Mas a percepção da defasagem educacional no Brasil não se restringe aos
indicadores socioeconômicos. Diversas empresas já se ressentem da má
qualificação geral da mão de obra em função destas carências. Nestes casos, a
demanda não vem sendo atendida pelas políticas educacionais, algo que traz
reflexos preocupantes em diversos setores. Este fator vem demonstrando tanto a
importância da formação educacional em diferentes campos da produção, quanto o
déficit o qual o país enfrenta neste sentido.
3
BARONE e APRILE. Empresa: um espaço para a educação formal, 2005: 11.
4
BBC Brasil.com. Brasil fica pior que AL em ranking de chances na escola, 2/10/2008.
O Brasil tem grande parte de sua formação educacional nas mãos do Estado,
mas, apesar dos avanços em relação ao número de matrículas em todo o território,
ainda existem déficits significativos na qualidade, os quais provocam lacunas
quanto às demandas por mão-de-obra. Em função destes déficits muitas empresas
têm procurado formar profissionais de acordo com as especificidades das suas
demandas.
5
Investimentos corporativos em educação
Há algum tempo, a iniciativa privada procura garantir no país as condições
necessárias quanto à qualificação da mão de obra como, por exemplo, através de
escolas do SENAI, SESI e etc., mas o contexto mudou. Nas atuais circunstâncias a
qualificação específica, característica das escolas citadas, não mais atende às
exigências do modelo recente.
A formação educacional agora deve ser de caráter abrangente, focando
competências que venham a sustentar um aprendizado futuro flexível. Diante das
constantes mudanças nos requisitos das relações com as novas tecnologias, a
educação básica permanece como uma das poucas constantes. Ela fornece o
alicerce necessário ao aprendizado constante, característico do atual paradigma.
No Brasil, no passado, o setor industrial sempre cuidou da
formação da mão de obra de que necessitava, através das
escolas do SESI e SENAI, mas hoje este tipo de formação
estreita e focalizada já não é adequado, colocando em
questão o futuro destes serviços educacionais. Hoje, há
consenso bastante grande de que o fundamental a ser
proporcionado pela educação básica (incluindo a secundária)
é a formação geral, sobretudo de conhecimento da língua e
do raciocínio matemático, e que o mercado de trabalho pode
suprir o resto. O problema da educação básica brasileira não
é, pois, que o país não proporciona educação profissional e
5
O baixo nível de escolaridade da força de trabalho do país está pressionando um número
crescente de empresas a assumir para si a tarefa de ampliar a escolaridade de seus
trabalhadores. Explicita-se, nesta prática, o estabelecimento de vínculos entre a educação
dos trabalhadores e os problemas vivenciados pelo setor produtivo face à internacionalização
do mercado econômico e ao novo padrão de competitividade daí desencadeado. Cabe à
educação, segundo esta concepção, contribuir para a inserção das empresas neste novo
contexto e, também, promover as condições para os processos de qualificação/requalificação
dos trabalhadores, em que se insere a aquisição de novas competências profissionais
.
BARONE e APRILE. Empresa: um espaço para a educação formal, 2005: 11.
técnica, e sim a má qualidade da educação geral que os
alunos recebem.
6
Dessa maneira, a responsabilidade por suprir as demandas educacionais em
consonância com os requisitos da atualidade, pertence ao Estado. Ele é o único
agente capaz de constituir um projeto desta magnitude, disseminando a educação
de qualidade que atenda aos atuais requisitos competitivos.
Com a ineficácia do poder público na distribuição adequada do
conhecimento, os custos e as responsabilidades recaem sobre aqueles que não
podem dispensar este recurso. É o caso das empresas que precisam preparar mão-
de-obra para suprir sua demanda por qualificação. Neste caso, a solução
corporativa se apresenta voltada a objetivos específicos sem, no entanto, ser capaz
de resolver o problema de forma definitiva. Enquanto o Estado não cumpre o papel
de realizar investimentos de maneira efetiva, não se pode esperar mais que
soluções momentâneas.
É preciso destacar que a necessidade de investir na educação dos
trabalhadores constitui uma desvantagem competitiva, em relação a regiões onde
isto não é necessário. O esforço para acompanhar as demandas recentes da
produtividade requer um ritmo de aprendizado, que depende da formação
educacional prévia da mão de obra. Tal circunstância no país preocupa, dando
margem a uma série de iniciativas corporativas para compensar as defasagens.
Em artigo recente intitulado o preço da ignorância
7
a revista Exame, uma
publicação da Editora Abril ligada ao movimento educar para crescer
8
, traz uma
série de depoimentos contundentes. Entre relatos de fonte acadêmica e
corporativa, ressalta a situação alarmante do Brasil diante das carências
educacionais. Alguns trechos referem-se a entrevistas de executivos em grandes
empresas, e suas necessidades reais quanto à mão-de-obra. A realidade precária
6
SCHWARTZMAN, S. A agenda social brasileira, 2004: 20.
7
EXAME. O preço da ignorância, 27/8/2008.
8
http://educarparacrescer.abril.uol.com.br
do ensino no país produz um custo significativo, em tempo e recursos, na hora de
selecionar os candidatos aptos a uma determinada ocupação.
Essa necessidade de avaliar uma multidão de candidatos
para encontrar um punhado de eleitos custa caro. No ano
passado, a Atento, maior empresa de atendimento telefônico
do país, entrevistou 240 000 jovens de 18 a 24 anos com
ensino médio completo. Metade dos candidatos foi reprovada
nos testes orais por não conseguir falar o português básico
corretamente. Identificar e desclassificar tantos
despreparados custou 1,8 milhão de reais à empresa. "Só
precisamos que o atendente tenha um bom vocabulário", diz
Cleide Barani, vice-presidente de RH da Atento. "Mas a
maioria dos jovens não sabe falar. Utilizam regularmente
expressões como 'nóis foi'."
9
Desta forma, as defasagens educacionais são capazes de emperrar o
desempenho econômico. As chances de superar as perdas causadas pela carência
por mão-de-obra instruída, num mercado globalizado, são pequenas. Para competir
no atual contexto não pode haver um gargalo educacional.
O artigo na revista exame ressalta ainda que, ao ter de investir em
educação para garantir condições operacionais necessárias, as empresas desviam
do seu foco os recursos que de outra forma poderiam estar mais bem investidos.
Dessa forma, a empresa desvia sua vocação principal para se enveredar na área
educacional, em função da falta de instrução disponível. O esforço neste sentido
suga o fôlego para superar o concorrente, principalmente na atual conjuntura
competitiva.
O negócio da paulista Tecnisa é construir prédios. Mas a
empresa todo ano contrata dez professores e gasta 150 000
reais para ensinar centenas de operários a ler, escrever e ter
noções básicas de informática. Assim, consegue garantir a
qualidade das obras e reduzir desperdícios. Toda vez que
começa uma obra, instala ao lado uma sala de aula. "Dar
educação é obrigação do Estado, mas ele perdeu o rumo",
diz Romeo Busarello, diretor de marketing da Tecnisa
10
Mesmo com o tema em evidência, a questão parece de difícil solução. A
velocidade com que as tecnologias vêm e vão, exige um esforço ainda maior para
9
EXAME. O preço da ignorância. Prova na seleção de candidatos, 27/8/2008.
10
Idem.
adaptar-se ao ritmo das mudanças. Perder tempo para preparar mão-de-obra pode
significar perda de competitividade.
A natureza difusa da informação, e o papel estratégico do conhecimento na
era informacional, fazem do conhecimento algo essencial para assimilar a inovação.
Tal processo implica na formação de pessoal qualificado, capaz de adaptar-se às
novas tecnologias. Este fator vincula a implementação da inovação à qualificação
recorrente da mão de obra, algo que demanda uma formação educacional básica,
que funcione como alicerce aos novos saberes, sem o que não será possível
incorporar-se ao novo paradigma.
Assim, os resultados dos investimentos em educação estão ligados ao
desempenho competitivo no país. Sem o conhecimento que sustente a apreensão
sistemática de novas competências, não é possível implementar a inovação, e sem
este recurso a capacidade de competir se esgota rapidamente. Em suma: sem a
eficiência na administração dos investimentos educacionais por parte do Estado não
pode haver um surto de crescimento para o país, em período recente.
"O que tem de ficar claro é que, se nada mudar, vai ser
impossível ter crescimento de verdade", diz o economista
Edward Glaeser. (...) O obstáculo fica evidente quando se
olha para as empresas de setores em expansão. "Quanto
maior é o ritmo de crescimento das empresas, mais
complicado é encontrar pessoas qualificadas, e mais oneroso
treiná-las", diz Chieko Aoki, presidente da rede de hotéis
Blue Tree (...) "Se o Brasil engrenar um novo surto de
crescimento, vai parar por falta de gente para trabalhar", diz
Marcos Magalhães, presidente da Philips.
11
A competitividade depende da qualificação dos indivíduos envolvidos nas
diversas etapas do processo, algo que é influenciado pela capacidade de
implementar o conhecimento incorporado nas relações com a inovação. Neste caso,
o desempenho econômico se conecta a uma espécie de lastro educacional, ou seja,
uma reserva em recursos educacionais capaz de sustentar os avanços em função
do desenvolvimento tecnológico. Esta reserva só é possível sob certas condições
11
EXAME. O preço da ignorância. Setores em crescimento, falta de profissionais, 27/8/2008.
mínimas de educação, as quais permitam que certos indivíduos capazes não sejam
soterrados pela absoluta falta de oportunidade.
Esta idéia está em sintonia com o IOH – índice de oportunidade humana –
criado com o intuito de medir se as chances estão distribuídas de maneira
equitativa,
12
em termos socioeconômicos. Em reportagem publicada pela BBC —
Brasil fica pior que AL em ranking de chances na escola— o IOH é citado para
destacar a situação preocupante do ensino no país. Nesta reportagem Marcelo
Giugale, diretor do Banco Mundial para Política Econômica e Redução da Pobreza na
América Latina, comenta a relação entre as remunerações e a formação.
"Sabemos agora que o campo de jogo está desnivelado
quando começamos na vida, e que circunstâncias pessoais
sobre as quais não temos nem responsabilidade nem controle
no início da vida são muito importantes no nosso destino
final (...). Isso nos faz questionar se não é o caso de dar a
todos as mesmas chances, e não os mesmos prêmios".
13
Valorizar as credenciais funciona bem num ambiente de oportunidades
iguais, mas num quadro como constatado no Brasil, isto pode funcionar como
estímulo às desigualdades educacionais. Premiar os mais instruídos não constitui
sempre um real estímulo, pois em muitos casos a trajetória daquele indivíduo foi
impulsionada pela facilidade de acesso aos recursos ou, em outras palavras, pela
maior oportunidade. Para aferir se o que está sendo premiado é a capacidade
daquele indivíduo, ou as oportunidades as quais ele teve acesso, é preciso equalizar
as chances logo no inicio da formação educacional.
Para alguns, o ponto de partida socioeconômico está numa tal situação de
desvantagem, que não se pode esperar um nível de competição razoável na busca
por títulos. É preciso valorizar o talento, e só é possível detectá-lo sob condições
razoáveis de competição. Assim, mais importante que recompensar a formação é
colocar mais competidores em condições equilibradas, para que a capacidade
individual não seja apagada pela extrema falta de oportunidade.
12
BBC Brasil.com - Brasil fica pior que AL em ranking de chances na escola, 2/10/2008.
13
Idem.
A premiação da oportunidade em detrimento da capacidade pode ter seu
reflexo na precariedade da inovação. Contratar alguém que teve a melhor formação
não garante que esta pessoa não seja um mero reprodutor de conteúdo. No atual
contexto produtivo, o uso inovador do conhecimento constitui o diferencial
competitivo. Tal característica sugere uma importância renovada da equalização
das chances no país.
No âmbito do governo brasileiro, através do Plano de Aceleração do
Crescimento - PAC, a preocupação com a educação está exemplificada pelo Plano
de Desenvolvimento da Educação - PDE, uma iniciativa do governo Lula para tentar
mudar o quadro atual. Em seu lançamento, no dia 24 abril de 2007, o presidente
enfatiza o papel da educação ainda no início do discurso: nenhum tema é tão
positivo, tão mobilizador e capaz de unir tanto o País quanto a educação.
14
Mas, não só o governo e o empresariado estão envolvidos no problema. Há
algum tempo, o cenário da educação instiga a mobilização por parte da sociedade
civil. A atual conjuntura da educação no Brasil tem suscitado iniciativas relevantes,
as quais demonstram como o tema vem crescendo em evidência.
Outro executivo preocupado é Manoel Amorim, presidente do
conselho de administração da operadora de celulares Vivo.
Amorim concilia a atribulada agenda profissional com a de
conselheiro do movimento Quero Mais Brasil, em que
defende reformas no ensino público. (...) Entre os
empresários cativados pelo tema está Jorge Paulo Lemann,
acionista da Inbev e da Lojas Americanas. Lemann criou uma
fundação que leva seu nome e atua na melhoria da gestão do
ensino público. "Meus amigos podem achar que estou
virando um socialista tardio, mas na verdade estou aflito com
os baixos níveis educacionais do Brasil", diz Lemann.
15
Com uma motivação semelhante o movimento todos pela educação
16
propõe
uma mobilização generalizada, contando com a adesão de diversas instituições.
Este movimento conclama a sociedade a participar de uma convergência de forças
14
O Globo Online - Íntegra do discurso de Lula na cerimônia de lançamento do PAC da
educação, 24/4/2007.
15
EXAME. O preço da ignorância, 27/8/2008.
16
http://www.todospelaeducacao.org.br
em prol da educação
17
, relacionando muitos dos problemas socioeconômicos do
país aos problemas educacionais. Em entrevista recente, o presidente-executivo do
movimento, Mozart Neves, se refere à criação de uma lei de responsabilidade
educacional com o intuito de fiscalizar a gestão dos recursos educacionais
18
.
Também a Editora Abril, através de suas diversas publicações, propõe uma
reflexão sobre este tema em seu projeto educar para crescer.
19
A editora apregoa
uma proposta voltada à valorização da educação, a qual inclui um manifesto neste
sentido. Tal proposta tem a percepção da necessidade de uma grande cruzada de
diversos atores sociais em torno da educação, para promover o crescimento
socioeconômico do país.
O movimento educacionista
20
, capitaneado pelo senador Cristovam
Buarque, conclama a defender a educação como prioridade nacional. Entre estes, o
MEB – movimento de educação de base – de inspiração católica ligado a CNBB,
propõe a mobilização da sociedade em torno do tema. Tais iniciativas encontram
eco entre vários setores da sociedade, sobressaindo à idéia de que os
investimentos em educação no Brasil têm sido insuficientes e/ou mal aplicados até
então.
Re-exclusão educacional
À medida que a informação torna-se cada vez mais crucial para a produtividade, o
trabalho incorpora maiores elementos da flexibilidade e da adaptabilidade frente às
17
O Brasil só será um país verdadeiramente independente quando todos seus cidadãos
tiverem uma Educação de qualidade. Partindo dessa idéia, representantes da sociedade civil,
da iniciativa privada, organizações sociais, educadores e gestores públicos de Educação se
uniram e, em setembro de 2006, criaram o movimento Todos Pela Educação: uma aliança
que tem como objetivo garantir Educação Básica de qualidade para todos os brasileiros a
2022, bicentenário da independência do País. (vários autores). Governança, estatuto e
projetos do todos pela educação, 2007.
18
O Globo Online - Ensino básico ainda é maior desafio do MEC, diz presidente do todos pela
educação, 23/9/2008
19
http://educarparacrescer.abril.uol.com.br
20
http://www.educacao-ja.org.br/
mudanças na produção.
21
O avanço tecnológico afasta gradativamente o indivíduo
das tarefas repetitivas e sem qualquer intervenção intelectual, dando espaço para
equipamentos mais econômicos e eficientes, e assim, mudando o conteúdo do
emprego.
Este fator essencial da modernidade, o aprimoramento da produtividade na
substituição do trabalho humano repetitivo por avanços tecnológicos, tem novas
implicações no contexto da era informacional. Ele, gradativamente, desvia a
ocupação humana para tarefas das quais dependem a tomada de decisões cada vez
mais complexas, e requerem alguma interferência intelectual, demandando em
alguns casos improvisação e inventividade. Decisões estas que apelam para um
domínio cada vez maior do conhecimento dado pela educação, apreendido e
renovado indefinidamente.
O trabalhador deste novo contexto produtivo precisa ter características
flexíveis, as quais utilizam a formação educacional como prerrogativa básica.
Assim, uma estrutura educacional vincula-se de forma essencial ao crescimento
econômico, através da necessidade de aprimoramento constante da mão-de-obra.
A oferta de trabalho mal qualificado no Brasil produz consequências palpáveis no
setor produtivo.
A esse quadro, junta-se a vulnerabilidade da força de
trabalho do país no que diz respeito à escolaridade, indicador
que cada vez mais se apresenta como um dos determinantes
da "conquista" ou da "manutenção" do e no posto de
trabalho, bem como do aumento da produtividade e
incremento econômico para o país.
22
Atuar na modernidade em sua fase recente exige mais que o conhecimento
estabelecido. O processo de aprendizado precisa ser constante para acompanhar o
ritmo das inovações e corresponder à obsolescência sistemática das tecnologias. O
21
O processo de 'acumulação flexível' gera o fenômeno paradoxal, de ampliação do trabalho
precarizado e informal e da emergência de um trabalho revalorizado, no qual o trabalhador
multiqualificado, polivalente, deve exercer, na automação, funções muito mais abstratas e
intelectuais, implicando cada vez menos trabalho manual e cada vez mais a manipulação
simbólica. DELUIZ, N. A globalização econômica e os desafios à formação profissional, 2001:
1.
22
BARONE e APRILE. Empresa: um espaço para a educação formal, 2005: 9.
conhecimento não deve ser estático, canônico e reproduzido a partir de um modelo
tradicional, sob pena de arraigar demais os saberes às suas velhas formas. Neste
quadro, ser alfabetizado significa mais do que dominar as letras. É preciso
estabelecer uma relação persistente com os meios digitais, os quais permanecem
em constante atualização.
A necessidade do aprendizado constante reformula a questão das
desigualdades. Assim, a desigualdade educacional no Brasil se agrava em função da
necessidade crescente do uso da informação. Aqueles que não buscam algum tipo
de atualização, o que consiste numa massa de brasileiros vivendo mais ou menos
isolados do processo, tendem a se distanciar da sociedade, a qual se torna cada dia
mais wireless. A característica inovadora da fase produtiva recente exige o
desenvolvimento de recursos intelectuais, que permitam operar uma matriz de
base tecno-científica de caráter flexível.
Assim, no presente contexto, o fluxo crescente da informação potencializa
muito mais a condição de exclusão, criando uma variedade digital da mesma. A
exclusão digital, ou seja, a falta de acesso aos meios digitais, coloca tais questões
em um novo patamar.
23
Aquele indivíduo que de alguma forma não é capaz de
acompanhar o ritmo das inovações se vê sob risco de superação, migrando para
posições profissionais menos favoráveis ou mesmo para a margem do processo.
O chamado processo de re-exclusão
24
funciona em sintonia com as
demandas mais recentes de empregabilidade, pautadas na necessidade de
qualificação constante. O crescente aumento na velocidade da inovação requer que
23
Vale lembrar que o termo 'exclusão' foi originariamente utilizado para referir-se às pessoas
desprotegidas por programas de seguridade social e, por essa razão, qualificadas de
'problemas sociais' ou 'desajustadas'. Posteriormente, o uso do termo foi ampliado, passando
a incorporar o fenômeno da 'nova pobreza', que associa as mudanças tecnológicas ao
desemprego prolongado, envolvendo, inclusive, pessoas já qualificadas (POSTHUMA;
LOMBARDI, 1997). BARONE e APRILE. Empresa: um espaço para a educação formal, 2005:
8.
24
No caso da reexclusão, o sentido que lhe é atribuído implica o reconhecimento de um
contingente de pessoas que já se encontravam excluídas do mercado de trabalho por falta de
vagas ou de oportunidades de emprego e que, devido ao novo cenário produtivo, são
novamente excluídas por não domínio das atuais exigências de qualificação profissional.
Idem: 8.
um número cada vez maior de indivíduos compreenda os elementos básicos do
conhecimento, necessários às operações tecnológicas cada vez mais comuns.
25
Sendo assim, os indivíduos à margem do processo formam uma massa que se
comporta cada vez menos de acordo com as recentes demandas.
O indivíduo sem uma formação educacional adequada torna-se, no processo
de re-exclusão, um tipo inusitado de analfabeto. A característica de isolamento em
relação à informação, presente na falta de compreensão das letras, renova-se de
forma acentuada em relação aos novos meios informacionais. Tal indivíduo se vê
atropelado por um volume de informação crescente e de decodificação complexa,
do qual depende uma parte significativa da sua interação profissional no contexto
recente.
Atento a esta perspectiva, o país tem realizado investimentos significativos
para aumentar o número de vagas no ensino público. A percepção do Estado
brasileiro está em sintonia com diversos organismos internacionais que propõe os
investimentos em educação como algo estratégico no momento econômico atual.
O problema não está na quantidade, mas na qualidade dos investimentos. O
Brasil se coloca como um dos países grandes investidores em educação, mas os
déficits se perpetuam. Parece haver uma retórica que exige um constante aumento
nos valores destes investimentos sem, no entanto, buscar os reflexos efetivos no
crescimento econômico que os justifiquem.
Uma retórica sobre a educação
À medida que mais e mais indivíduos se põem à margem das exigências recentes
do mercado de trabalho, aumenta o debate político, mas pouco se realiza no
sentido resolver o problema. As carências detectadas e as medidas implementadas
25
Difundia-se a idéia de que a flexibilização demandaria um novo perfil de qualificação da
mão-de-obra, que compreenderia: escolaridade básica, capacidade de adaptação a novas
situações, compreensão global de um conjunto de tarefas e de funções conexas,
demandando capacidade de abstração e de seleção, trato e interpretações de informações
(Machado 1992: 15). SHIROMA e CAMPOS. Qualificação e reestruturação produtiva: um
balanço das pesquisas em educação, 1997: 19.
não vêm estabelecendo necessariamente uma relação direta, algo que provoca um
desencontro sistemático entre práticas e resultados. O tema está efetivamente em
pauta, mas as ações ainda demandam aprimoramento frente ao dilema entre
resultados esperados e obtidos.
Na verdade, embora o aumento dos índices de desemprego
impulsione os debates, verifica-se um retardamento na
definição de práticas efetivas. Este quadro se explicita no
precário e tênue vínculo que se estabelece entre educação
geral, educação profissional e a conformação de uma política
de emprego no país.
26
Não falta ao poder público a percepção da importância da educação, bem
como das condições recentes de acirramento da competição, mas ele não consegue
articular-se de maneira satisfatória. As tentativas de produzir políticas que possam
suprir tais necessidades mostram-se débeis diante da pressão competitiva do
mercado. Iniciativas políticas desarticuladas não são capazes de compor um esforço
conjunto, sem o que não é possível reformar o quadro geral da educação.
Também entre os setores governamentais verifica-se um
interesse crescente em relação à temática, haja vista o
grande número de projetos desenvolvidos sob a coordenação
do Ministério do Trabalho, pelas Secretarias de Estado
ligadas às questões do trabalho, com o Programa Estadual de
Qualificação. São iniciativas, contudo, vêm ocorrendo de
forma desarticulada e fragmentada devido principalmente à
inexistência de uma política global de educação que,
coordenada às demais políticas públicas, concorram para a
formação do trabalhador, para a geração de oportunidades
de trabalho e de rendas.
27
Os parâmetros da formação educacional estão sempre mudando, em função
da introdução constante de novas tecnologias, o que demanda uma organização
compatível e articulada dos investimentos na área. É preciso uma ação decidida
para que as mudanças constantes nas exigências do atual paradigma, não sejam
implementadas após a sua desatualização.
A baixa efetividade das políticas educacionais no país pode ter relação com
as expectativas em torno da educação. A idéia de que quanto maiores os valores
em investimentos, maiores os retornos em educação perpassa o argumento. Dessa
26
BARONE e APRILE. Empresa: um espaço para a educação formal, 2005: 10.
27
Idem. Ibidem.
forma, a percepção da educação como tema de importância relevante entra em
pauta sem, no entanto, dar uma idéia precisa de como e onde os investimentos na
área podem contribuir para o desenvolvimento.
As associações entre desenvolvimento e educação têm sido, em larga
medida, propagadas por diversos organismos internacionais, citando o exemplo de
diversos países que melhoraram seus desempenhos econômicos, através de
vultosos investimentos em formação educacional. A idéia de que a educação está
na raiz de diversos problemas socioeconômicos participa de uma retórica capaz de
inflar as expectativas e desviar os ânimos das perspectivas concretas.
O problema com estas esperanças em nome da educação é
que elas confundem as verdadeiras origens dos problemas
econômicos, e prometem mais do que a educação pode
proporcionar. A consequência mais séria deste excesso de
promessas é externa às escolas: a idéia de que a educação e
o treinamento podem resolver problemas muito maiores
desviam a atenção de soluções orientadas de forma mais
precisa para as causas dos problemas. A retórica inflada
tende também a desestimular a análise séria e cuidadosa
sobre quais programas de fato funcionam, e quais dependem
somente da retórica para sua justificação.
28
Tal retórica propõe os investimentos em educação como fator fundamental
do desenvolvimento. Dessa forma criou-se uma demanda por investimentos na
área educacional, sem necessariamente obter resultados efetivos em qualificação. A
idéia de que mais investimentos refletem em mais educação, e consequentemente
mais desenvolvimento, perpassa o debate.
29
Isso vem criando um distanciamento
entre as expectativas quanto ao aumento geral da escolaridade e os seus efeitos
práticos em função do crescimento econômico.
Se a percepção destas importantes questões encerra uma retórica, ou seja,
uma representação dos fatos que não tem necessariamente algo a ver com a
28
SCHWARTZMAN, S. A sociedade do conhecimento e a educação tecnológica, 2005: 11.
29
"Este excesso de promessas pode também desviar a atenção do papel modesto, mas sem
dúvida valioso, que a educação pode ter, ao proporcionar às pessoas competências reais
para ocupações qualificadas que de fato existem. A visão contrária – de que a escolaridade
tem um papel modesto no desenvolvimento econômico, e isto se a demanda por
competências estiver bem estabelecida – tem ganhado reconhecimento nas últimas duas
décadas, sobretudo entre planejadores educacionais dos países em desenvolvimento. No
entanto, a idéia de que as reformas educacionais podem resolver vários grandes problemas
permanece popular na retórica política, em relatórios de comissões, e em documentos
governamentais. Idem. Ibidem.
realidade, as ações políticas podem errar o alvo uma vez que a visão do mesmo
está embaçada. À medida que a percepção do papel da educação encerra um
discurso, a perspectiva de como lidar com as questões educacionais pode ser mal
direcionada. Neste caso, a idéia da necessidade de mais recursos para a educação,
e da importância da inclusão dos alunos através do aumento das matrículas, estaria
vinculada a uma percepção que representa pouca efetividade no caso brasileiro.
O desconhecimento destes dados tão básicos faz com que
sejam propostas prioridades que pouco contribuem para lidar
com os problemas fundamentais da educação. A primeira
falsa prioridade é a de aumentar os gastos, como se este
fosse o a principal fonte de estrangulamento. (...) Nesta
linha, é também equivocada como prioridade a necessidade
de criar novas escolas. Com a cobertura se aproximando de
100% e a redução das taxas de fecundidade, muitos estados
já começam a sofrer o problema inverso, de salas vazias.
30
No atual estágio quase 100% dos alunos do ensino fundamental (7-14 anos)
estão matriculados. Existem até casos de excesso de vagas em alguns municípios
surgindo, inclusive, à expressão inflação educacional. A pergunta neste momento
seria então, como e não quanto é preciso gastar para equalizar as oportunidades no
país. Embora a inclusão em massa dos alunos no ensino básico tenha se realizado,
os resultados esperados fogem às expectativas.
Os investimentos vultosos em infra-estrutura não têm garantido resultados
efetivos quanto à qualidade do ensino.
31
Estabelecer uma relação equivocada entre
um maior volume dos investimentos e os resultados esperados, parece estar no
cerne do mau desempenho brasileiro nesta área.
Dessa forma, percebe-se que o papel exato da educação quanto às recentes
demandas de empregabilidade e produtividade ainda possui certa controvérsia.
Entre a qualificação efetiva e o credenciamento inócuo para o mercado de trabalho,
30
SCHWARTZMAN, S. Educação: a nova geração de reformas, 2004: 5.
31
Os estudos recentes sobre os retornos a educação no Brasil enfatizam o impacto da
escolaridade, medida em anos de estudos, sobre os salários. Porém, muitas pesquisas
internacionais têm reconhecido a superioridade da qualidade desses anos de estudo,
mensurada por testes de proficiência, sobre a quantidade para explicar os salários dos
estudantes quando ingressam no mercado de trabalho, assim como a produtividade dos
países e das regiões e suas diferenças. O que se tem observado no país é que a educação
avança, mas não em termos qualitativos. CURI, A. Relação entre o desempenho escolar e os
salários no Brasil, 2006: 16.
a formação educacional nem sempre transparece de que lado está. As pressões
competitivas têm influenciado por maiores requerimentos em titulação sem, no
entanto, existirem garantias da relação destes títulos com uma maior
produtividade. Ainda não se sabe se a educação garante maior empregabilidade, ou
se é a percepção do mercado que aumenta os requisitos educacionais do emprego.
A questão do relacionamento entre a educação e a economia,
e, mais especificamente, do impacto da educação sobre a
empregabilidade, está sujeita a uma série de mitos que
conduzem muitas vezes a políticas equivocadas. Não há
dúvida que as pessoas mais educadas conseguem melhores
trabalhos, com melhores salários e com menos riscos de
desemprego. Existe menos certeza, no entanto, sobre se é a
educação que gera esta situação de mais e melhores
empregos, ou é o mercado de trabalho que, quando se
expande e moderniza, faz uso de pessoas mais educadas e
competentes.
32
A percepção da necessidade de aumento dos requisitos educacionais, não
está necessariamente baseada em fatores produtivos, e pode causar uma pressão
por diplomas sem, no entanto, acrescentar nada além de inflacionar as demandas
por formação. Tal contradição constitui um risco moral
moral hazard.
O risco moral da educação
A idéia de uma maior necessidade de qualificação não vem necessariamente atada
à demanda por produtividade. Isso indica que alguma parte do aumento nas
exigências educacionais corresponde ao simples credenciamento, sem qualquer
aprendizado. Na verdade, o aumento geral da demanda por qualificação, em
diversos níveis educacionais, coexiste com um crescimento dos requerimentos para
ocupar cargos e funções, voltados meramente aos títulos. Estas duas condições
aparentemente contraditórias parecem conviver, em função das exigências do
mercado, revelando uma oscilação das demandas de uma ou outra, de acordo com
as condições econômicas vigentes.
Quando a economia se mantém estagnada, o efeito da
educação pode ser, simplesmente, o de reforçar os
mecanismos de filtragem das pessoas para os empregos
32
SCHWARTZMAN, S. A agenda social brasileira, 2004: 19.
existentes, sem clara correspondência com as habilidades
efetivamente requeridas para as diversas funções. Quando a
economia se expande, por outro lado, ela cria demandas por
pessoas dotadas das habilidades e competências que as
firmas necessitam para seu funcionamento, e existem
problemas quando o sistema educacional não é capaz de
gerar pessoas com as qualificações necessárias.
33
Dessa forma, o que vem ocorrendo é que os requisitos educacionais voltados
à qualificação e a produtividade, crescem em paralelo à manutenção de
determinados privilégios.
34
Na tentativa de corresponder às exigências de
determinados cargos, levando em conta os requerimentos para a ocupação destes
tenderem às novas demandas, se estabelece um movimento em busca de títulos e
credenciamentos, que justifiquem a permanência ou contratação em determinados
postos profissionais.
Assim, a disseminação da educação através de uma maior adesão a
formação educacional, em busca de títulos, não contribui para uma maior
qualificação, mas antes cria uma visão distorcida da situação real da produtividade
no país. Quando a formação educacional se dissocia da qualificação, apontando tão
somente para a titulação com fins de ascensão ou manutenção de cargos, ocorre o
chamado risco moral.
No Brasil, esta dissociação atingiu um grau extremamente
elevado, criando uma situação que os economistas
costumam chamar de "moral hazard" - um risco moral.
Nenhum país do mundo, possivelmente, tem tantas
profissões regulamentadas, e não sei se existem outros
exemplos de países que criaram tantas exigências de
diplomas e credenciais educacionais em todos os níveis da
vida social, antes que tivessem sistemas educacionais
capazes de formar pessoas com as competências esperadas
para estes níveis. O resultado desta situação é que existem
incentivos crescentes para a obtenção de credenciais
educacionais, que não são acompanhados de incentivos
equivalentes em termos de competência e produtividade. E,
na medida em que o mercado de credenciais inflaciona,
33
SCHWARTZMAN, S. A agenda social brasileira, 2004: 19.
34
"Assim, a educação e as profissões têm sempre uma face dupla. Por um lado, elas têm a
ver com a competência, a cultura, a produtividade, os serviços. Por outro, elas têm a ver
com o monopólio, os privilégios, os direitos estabelecidos, a diferenciação e a discriminação
social. No melhor dos casos, estas duas faces coexistem em harmonia - os que têm
competência e produzem mais recebem os benefícios deste trabalho meritório, e tratam de
preservar seu mercado de trabalho. Mas existem muitas situações em que elas se dissociam
- quando os benefícios do monopólio, do privilégio e das sinecuras preponderam sobre os da
competência. SCHWARTZMAN, S. O risco moral da educação, 2001: 3.
surge a necessidade de criar credenciais adicionais, e assim
por diante.
35
Esta situação vem ocorrendo no país em diversos setores, acarretando
custos que não projetam qualquer possibilidade de ganho econômico. A
necessidade constante de qualificação, como consequência das demandas recentes
da produtividade, pressiona as exigências por formação educacional, aumentando
os requerimentos para a ocupação de determinados cargos.
36
Dessa forma, a
dissociação entre a qualificação e o credenciamento, pode ter consequências
importantes no quadro produtivo geral.
O risco moral pode levar a uma demanda crescente por credenciais
acadêmicas sem representar qualquer aumento na produtividade. Ele influencia o
clamor por investimentos em educação sem, no entanto, acrescentar um ganho a
produtividade que os justifiquem. Tal dissociação põe em risco a direção dos
investimentos em educação, ligados à qualificação profissional e à produção do
conhecimento, criando uma variedade burocrática e inócua dos mesmos.
O risco moral, portanto, é a tendência ao crescimento sem
limites das demandas por credenciais, elevando cada vez
mais os custos da educação, sem que a "fase de
crescimento" chegue a seu termo, e sem que as questões de
qualidade e competência passem ao primeiro plano.
37
Dessa forma, a demanda por investimentos em educação tente a crescer
indiscriminadamente, sem ser acompanhada pelo crescimento econômico que
sustente os mesmos. Uma situação de risco moral pode criar uma associação entre
a impressão de baixos investimentos e a ineficácia do sistema educacional,
deixando à margem a questão dos resultados dos mesmos.
Investimentos em educação no Brasil
35
SCHWARTZMAN, S. O risco moral da educação, 2001: 3.
36
Fica clara, também, a necessidade de aumentar cada vez mais a qualificação profissional
dos trabalhadores, através da educação em suas diversas formas; ainda que, por outro lado,
a exigência de níveis de educação formal cada vez mais altos pelos empregadores pode
levar, simplesmente, a uma valorização crescente das credenciais educativas, sem impacto
efetivo na produtividade, e resultando em discriminação ainda maior no mercado de
trabalho.SCHWARTZMAN, S. A agenda social brasileira, 2004: 15.
37
SCHWARTZMAN, S. O risco moral da educação, 2001: 3.
A comparação do volume de investimentos educacionais entre o Brasil e diversos
países, aponta para má qualidade dos investimentos ao invés da baixa quantidade
dos mesmos no país. Segundo dados do Pisa
38
, o Brasil está acima da média em
investimentos em educação entre os países da OECD - Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, como se pode observar no quadro 1,
abaixo.
QUADRO 1
Apud SCHWARTZMAN, S. Educação e desenvolvimento: onde estamos, e para aonde
vamos?, 2003: 9.
As exigências por credenciais sugerem uma carência educacional
constante
39
, a qual pode ser atribuída à incompetência do Estado em supri-la. Mas
38
O estudo internacional comparativo da OECD sobre 'Competências de Leitura para o
Mundo de Amanhã', conhecido como PISA (...) OECD. Knowledge and skills for life - first
results from PISA 2000 - Education and skills. Paris: OECD Programme for International
Student Assessment. 2001; OECD. Knowledge and skills for life - further results from PISA
2000. Paris: OECD Programme for International Student Assessment. 2003.
SCHWARTZMAN, S. Educação e desenvolvimento: onde estamos, e para aonde vamos?,
2003: 1.
39
Como Tinbergen (1975) apresentou com precisão, o valor de mercado da educação
resulta, de forma relevante, de uma 'corrida' entre a evolução do sistema educacional e o
progresso tecnológico. (...) o progresso tecnológico tende a gerar um viés contrário aos
trabalhadores não-qualificados (...), produzindo, portanto, um aumento na escassez relativa
de trabalhadores qualificados com consequente aumento no valor de mercado da educação.
BARROS, HENRIQUES e MENDONÇA. Pelo fim das décadas perdidas, 2002: 7.
a percepção de que o país investe pouco em educação não corresponde à realidade,
se comparada a diversos países em desenvolvimento.
Ao contrário do que se pensa, o Brasil gasta bastante em
educação, em relação a seu produto. (...) Com 5.2% do PIB,
o gasto brasileiro é superior à média da OECD, e só inferior,
no grupo, a Israel e Látvia.
40
O volume de investimentos em educação coloca o Brasil entre os países
grandes investidores na área. Isso indica que ao invés da falta de recursos, o que
se verifica é uma flagrante má distribuição dos mesmos. Um eventual clamor por
investimentos já não pode estar voltado à inclusão em massa dos alunos e o
aumento nas matrículas, pois o acesso generalizado à educação básica já foi
alcançado no país. O problema agora se coloca em outro patamar, no qual, a
questão da qualidade na educação emerge.
Não só tem aumentado o acesso à escola, que hoje é
praticamente universal, como a escolaridade, com a média
da população de 20 anos já superando os 8 anos de
educação fundamental. Esta evolução faz com que se tornem
anacrônicas as políticas educacionais que tenham como
principal objetivo levar às pessoas à escola. O grande
problema da educação brasileira, do ponto de vista
propriamente educacional, não são as crianças e adultos que
estão fora da escola, e sim o que acontece dentro delas.
41
Recentemente, a secretaria de educação do município do Rio de Janeiro
descobriu 25 mil alunos na condição de analfabeto funcional, cursando entre o
quarto e o sexto ano. Diante desta realidade, o governo municipal criou um plano
de realfabetização e reforço escolar em parceria com o instituto Ayrton Senna no
intuito de, paralelamente à educação normal, dar aulas compensatórias (JB,
2009).
42
O depoimento do garoto invisível
43
da rede municipal do RJ espelha uma
realidade perturbadora no ensino público brasileiro.
40
SCHWARTZMAN, S. Educação e desenvolvimento: onde estamos, e para aonde vamos?,
2003: 8.
41
SCHWARTZMAN, S. A agenda social brasileira, 2004: 16.
42
Segundo a reportagem do Jornal do Brasil, dos 460.553 alunos da 3
a
à 9
a
séries avaliados
no Rio de Janeiro 315.450 precisam de aulas de reforço, perfazendo 68,5 % dos avaliados.
Dentre estes, 28.879 (13,68%) são considerados analfabetos funcionais. Jornal do Brasil. Na
sexta série, mas quase analfabeto, 2009.
43
Referência ao trecho da reportagem que espelha o embaraço de um aluno diante da sua
condição educacional: Bruno queria ser invisível. E, por 5 anos, conseguiu.. ÉPOCA. No sexto
ano da escola, eles escrevem assim, 2009: 60.
Segundo o instituto Paula Montenegro, ligado ao IBGE, um quarto dos
alunos entre o sexto e o nono ano (25%), com mais de 15 anos, são analfabetos
funcionais no país. Mas a escola não está conseguindo ensinar direito. E o grupo
que era analfabeto parece estar migrando para a categoria de analfabetos
funcionais, afirma a diretora do mesmo instituto, Ana Lúcia Lima.
A questão do analfabetismo funcional já afeta o parque produtivo no Brasil
há algum tempo. Mesmo quando já existe um quadro de funcionários formado, a
necessidade de atualização esbarra na formação educacional. Resultado: algumas
empresas se vêem envolvidas na ingrata tarefa de formar seus funcionários na
educação básica, para só então treiná-los nas qualificações as quais intentam.
O empresário Edson Musa, presidente do conselho de
administração da Caloi, viu de perto como o ensino de baixa
qualidade prejudica a vida do trabalhador e da indústria. Ao
comprar a empresa, em 1999, Musa decidiu implantar
programas de qualidade. Foi avisado pelo RH que os
operários não conseguiriam assimilar um programa
sofisticado. "Achei aquilo um absurdo e mandei aplicar um
teste para medir os conhecimentos", diz Musa. Resultado:
38% dos operários com ensino fundamental completo eram
analfabetos funcionais — conheciam palavras, mas não
entendiam o significado das frases. Para resolver o problema,
a Caloi implantou um programa de reforço escolar e passou a
aplicar uma prova na seleção de novos funcionários. Agora a
Caloi pedirá ensino médio completo aos operários. "Não
precisaríamos desse nível de formação", diz Musa. "Mas
talvez assim encontremos gente com conhecimentos de
ensino fundamental."
44
Assim, verifica-se que, apesar dos esforços no sentido de equalizar as
diferenças educacionais, o ensino público vem diminuindo sua eficiência. Dados
recentes do Saeb - Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica - apontam
decréscimo nos índices de aproveitamento dos alunos. De acordo com dados
divulgados pelo próprio Inep - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira - as médias de proficiência vêm caindo ao longo dos
últimos anos.
A seguir, nos gráficos 1 e 2, dados do SAEB traçam um perfil do ensino
básico brasileiro. Eles apresentam, num período de dez anos, os resultados de
44
EXAME. O preço da ignorância. Prova na seleção de candidatos, 27/8/2008.
desempenho dos alunos de 4ª e 8ª séries do Ensino Fundamental e da 3ª série do
Ensino Médio, em Língua Portuguesa e Matemática. As médias de proficiência nas
avaliações propõem um quadro preocupante.
Gráfico 1
Gráfico 2
Apud: Médias de desempenho do SAEB/2005 em perspectiva comparada, 2007.
Análises dos resultados do Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Básica (SAEB) mostram que muitas pessoas
passam pela educação básica sem jamais aprender a ler e
escrever com um mínimo de competência.
45
A rota descendente da qualidade no ensino básico já se reflete na
produtividade de empresas brasileiras. A importante questão da oferta de mão-de-
45
SCHWARTZMAN, S. A agenda social brasileira, 2004: 16.
obra qualificada demanda atenção urgente. Sem a formação escolar que permita a
introdução aos novos saberes, característicos da Era informacional, a inovação fica
inacessível.
Dessa forma, chegamos ao novo milênio em situação de despreparo frente
às demandas por mão de obra. O país pode ter se preocupado com a sua
capacidade de desenvolver tecnologia, uma condição sem dúvida estratégica no
atual contexto, mas relegou ao segundo plano a base educacional que permita
implementá-la na prática, algo que pode tornar inócuo todo o potencial de
crescimento que possuímos.
Uma pesquisa realizada em parceria entre o Ibmec São Paulo
e a London Business School com as 500 maiores empresas
brasileiras identificou que a baixa formação dos empregados
afeta negativamente decisões de investimento. Cerca de
40% delas disseram que a falta de trabalhadores qualificados
impede a adoção de novas tecnologias. "O Brasil sempre se
preocupou em fazer política industrial, mas ignorou que o
mais importante é formar pessoas", diz o economista Naércio
Aquino Menezes Filho, coordenador da pesquisa pelo Ibmec.
"O resultado disso é que as empresas estão perdendo
produtividade."
46
Finalizando
Diante da realidade apresentada, cabe ressaltar o possível impacto destes fatos
para o desempenho econômico brasileiro a médio e longo prazo. Como destacado
anteriormente, o crescimento econômico desenvolveu uma relação ainda maior com
o conhecimento diante do recente paradigma produtivo, aumentando em
importância o papel da educação.
Em sua dissertação, apresentada ao programa de pós-graduação em
economia da USP - A relação entre o desempenho escolar e os salários no Brasil
(Curi, 2006), Andréia Z. Curi destaca a qualidade da educação como um fator
importante do crescimento econômico. Seu estudo revela que o impacto de um
aumento na qualidade do ensino pode ser bem mais significativo que na
46
EXAME. O preço da ignorância. Despreparo da mão-de-obra, 27.08.2008.
quantidade. Assim, é necessário estabelecer parâmetros de qualidade que evitem o
desperdício de recursos em uma formação inócua em larga escala.
Assim, além do indivíduo, a sociedade também é influenciada
pela qualidade educacional, em termos de ganhos de
produtividade e de crescimento econômico. Hanushek e
Kimko (2000), utilizando informações de exames
internacionais de matemática e ciências, demonstram que as
diferenças na qualidade das escolas têm grandes impactos
nas taxas de produtividade e de crescimento nacional. Os
autores mostram que a qualidade do ensino tende a ser mais
importante para o crescimento e o bem-estar de um país do
que a média de anos de estudo da sua população.
47
Esta circunstância pede ações adequadas do poder público, que respondam
as demandas prementes do atual quadro. Considerando-se que o país possui tanto
recursos quanto a vontade de investir em educação, falta apenas corresponder a
tais demandas. Uma vez que o atual paradigma apresenta a característica de
constante mudança, os administradores dos recursos públicos precisam aprender a
aprender, de acordo com o modelo recente.
As peculiaridades deste novo paradigma para produção exigem uma
constante adaptação a novos contextos, que surpreendem constantemente. A
flexibilidade precisa acompanhar as políticas públicas à medida que a tecnologia
permeia a sociedade. Tanto os policy makers quanto as próprias políticas públicas
precisam encarnar as condições de constante mudança e aprendizado
características da atual fase.
A introdução do novo paradigma tecno-econômico, com altas
e velozes taxas de mudanças, aliada ao processo de
globalização, inclui novos elementos à questão da promoção
de inovação. Como destacam alguns autores, mudanças vêm
ocorrendo rapidamente, e para melhor inserção na Economia
Baseada no Aprendizado importa que se estimule este
processo. Nesse sentido, é importante reconhecer que
também a formulação de políticas deve ser tratada como um
processo de aprendizado, pois é necessário que se
compreenda e se adapte as políticas a tais mudanças, para
estabelecer diretrizes consonantes com os contextos
específicos. Para tanto, enfatiza-se a importância do
aprendizado também na formulação de políticas, direcionado
tanto para as instituições envolvidas, como para os próprios
47
CURI, A. A relação entre o desempenho escolar e os salários no Brasil, 2006: 15.
formuladores de políticas (Lundvall e Borrás, 1998 e
Cassiolato e Lastres, 1999).
48
O quadro apresentado dá a impressão de um apego do poder público a
velhas formas do fazer das políticas públicas. A idéia perturbadora é a de que
apesar da percepção de um novo mundo brotando aqui e agora, existem dúvidas e
hesitações quanto ao mergulho no atual contexto. As consequências das hesitações
podem ser devastadoras do ponto de vista da obsolescência.
Em um estudo recente a Unesco - Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura - oferece um diagnóstico incisivo da atual situação
brasileira. A defasagem em relação à educação já é grande o bastante para
significar décadas de atraso. Isto indica que, apesar do tema tomar fôlego no
cenário nacional, ainda estamos longe de competir em condições e igualdade com
os países desenvolvidos.
Segundo estudo da Unesco, mantido o passo atual, o Brasil
demorará mais de 30 anos para alcançar o nível educacional
que as maiores economias têm hoje. (...) "O emprego do
século 21 requer habilidades mentais", diz Célio da Cunha,
representante da Unesco no Brasil para a área de educação.
"Exige raciocínio rápido, capacidade de interpretação e de
análise da informação. Atributos que só são adquiridos com
ensino de qualidade."
49
As atuais circunstâncias do ensino brasileiro vêm chamando a atenção de
diversos especialistas, os quais apontam a urgência do tema. No atual contexto, a
perda de competitividade para o Brasil é iminente. Tais especialistas apontam o
déficit na qualidade da educação como um fator de peso na matemática da
competição nos dias de hoje.
No sobrecitado estudo do Banco Mundial IOH— tal fator fica ainda mais
claro. Baseados no mesmo, diversos especialistas apontam a condição frágil na qual
se encontra o país, nos termos da competição de modelo recente. Através dos
baixos índices de eficiência da educação no país pode mos concluir que o Brasil
48
LEMOS, C. Inovação na era do conhecimento, 1999: 140.
49
EXAME. O preço da ignorância. O emprego do século 21 requer habilidades mentais,
27/8/2008.
necessita de medidas urgentes que apontem os caminhos para sair deste imbróglio
político-econômico.
"Há muito tempo, sabemos que as deficiências do Brasil na
educação afetam a distribuição de renda e o crescimento
pessoal dos indivíduos", diz Alberto Rodríguez, especialista
em educação do Banco Mundial e coordenador do estudo.
"Com a pesquisa, ficou claro que essas deficiências também
provocam a perda de competitividade do país em relação a
economias com as quais disputa o mercado global."(...) "Não
tenho a menor dúvida de que o baixo crescimento do PIB
brasileiro nos últimos anos está intimamente associado à
baixa qualidade do ensino", diz o economista americano
Edward Glaeser, professor da Universidade Harvard e
estudioso dos efeitos da educação sobre o desenvolvimento
das sociedades. "A educação é um dos motores do
crescimento, e no Brasil esse motor funciona mal."
50
O texto magistral de Castells demonstra o mesmo erro por parte de diversos
países ao longo da história.
51
Perder a corrida tecnológica pode significar
defasagens insuperáveis, capazes de lançar o país em um ostracismo econômico,
como foi o exemplo da China. O fato é que, nas atuais circunstâncias competitivas,
estas condições estão acirradas pela natureza das transformações. Neste sentido,
correr riscos é muito mais uma condição da nova fase que uma escolha.
50
EXAME. O preço da ignorância. Desenvolvimento empresarial passa pela melhora na
qualidade da educação, 27/8/2008
51
CASTELLS, M. A Sociedade em rede, 2005.
Considerações finais
O medo ao qual se refere Castells
1
atinge, nesta nova etapa humana, aqueles que
gostariam de projetar longamente a segurança futura, o que não é mais possível. O
atual paradigma valoriza o momento presente, e a capacidade de arriscar lançando-
se no novo. Um mundo de projeções em curto prazo é um mundo de tempos
breves e mudanças rápidas. Este é provavelmente o fator chave que condiciona as
mudanças ao novo ritmo apressado da vida.
Assim, diante da velocidade com a qual se desdobra o tempo, percebemos
que as defasagens se alargam em ritmo apressado, pedindo frequentemente
regime de urgência às soluções. Em tal contexto acelerado, as mudanças seguem o
ritmo do aprendizado, o qual dita a capacidade ou não de participar do atual
contexto. Adaptar-se significa sobrevir, algo que na atual fase relaciona-se ainda
mais a capacidade de aprender. O aprendizado, assim, reconcilia o indivíduo com o
novo, fazendo deste uma fronteira possível, mesmo em constante movimento.
Dessa forma, é preciso estar sempre pronto a mudar. Sobreviver ao invés de
perecer, em tempos de competitividade internacional acirrada, demanda uma base
sobre a qual construir o aprendizado. Navegar sob os ventos tempestuosos das
inovações requer os instrumentos intelectuais majoritariamente calcados na
educação. Aprender a aprender depende de alicerces sólidos, os quais permitam
relaciona-se com o conhecimento. Estes se desenvolvem sob certas condições que
não precedem a velha escola e o velho professor.
Não há portanto uma desconexão, uma pós-modernidade ou ruptura, mas
uma exacerbação de características bastante familiares.
2
A escola ainda é o locus
do conhecimento, e o professor o vetor do mesmo. O ambiente escolar ainda é o
lugar por excelência do aprendizado, pois o mesmo depende de uma dimensão
humana, um espaço da experiência, no qual ele recompõe a informação para
1
Ver introdução. CASTELLS, M. A sociedade em rede, 2005: 47.
2
Referência ao capítulo 1.
68
estabelecer conhecimento. Considerando que são os indivíduos que operam as
instituições, a educação dos mesmos é um fator fundamental do aprendizado.
Assim, adaptar-se ao atual contexto, falando de empresas indivíduos e países,
requer a capacidade de aprender.
Tanto quanto a educação avançada, o conhecimento básico sustenta o
esforço de inovação. É ele o responsável pela disseminação dos saberes essenciais
a disseminação do atual modelo. Assim, sobre tais saberes é possível erigir o
conhecimento de ponta, tecnologicamente afinado, e voltado a aplicações
sofisticadas. Sem uma boa base, a inovação não se sustenta.
Diante das pressões competitivas atuais, o tempo corre contra as indecisões
e hesitações. É preciso, portanto, mergulhar nas tempestades dos novos tempos,
para aprender a nadar. Sabe-se que o Brasil vem há muito tempo atentando para a
importância dos investimentos educacionais na área produtiva, mas a mudança das
marés econômicas, ainda assim, pegou o nosso sistema educacional despreparado.
No fim do último milênio, as exigências recaíram na formação de condições
básicas, necessárias a construção de saberes mais sofisticados. Tais saberes são
renovados sistematicamente, colocando a questão do ensino de base como uma
das poucas constantes no presente contexto. No Brasil este fator esbarra no
problema da proficiência no aprendizado. Verifica-se uma expansão significativa no
número de matrículas no ensino fundamental, a ponto de incluir quase a totalidade
de indivíduos em idade correspondente, mas ainda assim o problema persiste. Os
portadores destas certificações parecem não possuir as qualificações
correspondentes, fator chave da perpetração das carências por mão-de-obra.
Desta forma, o Estado brasileiro vem esboçando uma preocupação
significativa com o tema, mas ainda não é capaz de articular as medidas que
constituam soluções dos problemas. O ensino hoje é deficitário a ponto de significar
uma real perda de competitividade em diversas áreas da produção. O que se
verifica é que para sobreviver num ambiente internacional extremamente
competitivo, as empresas têm de qualificar elas mesmas sua mão de obra. Tal fator
69
diminui o desempenho, por consumir tempo e recursos que poderiam de outra
forma, estar mais bem investidos.
O papel da iniciativa privada não é definitivamente o de educar. A esfera
pública é a única que dispõe dos meios para administrar um projeto de tamanha
magnitude; equilibrar as chances de acesso a educação de qualidade. Assim,
equalizar as oportunidades educacionais é algo fundamental para a competitividade
no país. Não há lugar no mundo onde promover o desempenho econômico não
tenha passado por políticas educacionais contundentes, universais e de alta
qualidade. Do empenho governamental depende a solução deste impasse político-
econômico, sem o que podemos sufocar em curto prazo a trajetória de crescimento
econômico para o Brasil.
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