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FERNANDA MARIA LOPES
Avaliação do sistema estomatognático e de
sincrânios de lobo-guará (Chrysocyon
brachyurus) em vida livre e cativeiro
São Paulo
2008
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FERNANDA MARIA LOPES
Avaliação do sistema estomatognático e de
sincrânios de lobo-guará (Chrysocyon
brachyurus) em vida livre e cativeiro
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Clínica Cirúrgica
Veterinária da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da Universidade
de São Paulo para obtenção do título de
Mestre em Medicina Veterinária
Departamento:
Cirurgia
Área de concentração:
Clínica Cirúrgica Veterinária
Orientador:
Prof. Dr. Marco Antonio Gioso
São Paulo
2008
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Autorizo a reprodução parcial ou total desta obra, para fins acadêmicos, desde que citada a fonte.
DADOSINTERNACIONAISDECATALOGAÇÃONAPUBLICAÇÃO
(BibliotecaVirginieBuffD’ÁpicedaFaculdadedeMedicinaVeterináriaeZootecniadaUniversidadedeSãoPaulo)
T.2089 Lopes,FernandaMaria
FMVZAvaliação do sistema estomatognático e de sincrânios de loboguará
(Chrysocyon brachyurus) em vida livre e cativeiro / Fernanda Maria
Lopes.SãoPaulo:F.M.Lopes,2008.
151f.:il.
Dissertação (mestrado)‐Universidade de São Paulo. Faculdade de
MedicinaVeterináriaeZootecnia.DepartamentodeCirurgia,2009.
ProgramadePósGraduação:ClínicaCirúrgicaVeterinária.
 ÁreadeConcentração:ClínicaCirúrgicaVeterinária.
Orientador:Prof.Dr.MarcoAntonioGioso.

1. Odontologia veterinária.2. Sistema estomatognático.3. Dente.
4.Canidae.5.Animaisselvagens.I.Título.
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome: LOPES, Fernanda Maria
Título: Avaliação do sistema estomatognático e de sincrânios de lobo-guará
(Chrysocyon brachyurus) em vida livre e cativeiro
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Clínica Cirúrgica
Veterinária da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da Universidade
de São Paulo para obtenção do título de
Mestre em Medicina Veterinária
Data:____/____/____
Banca Examinadora
Prof. Dr. ___________________________ Instituição: _________________
Assinatura: _________________________ Julgamento: ________________
Prof. Dr. ___________________________ Instituição: _________________
Assinatura: _________________________ Julgamento: ________________
Prof. Dr. ___________________________ Instituição: _________________
Assinatura: _________________________ Julgamento: ________________
DEDICATÓRIA
A cada lobo-guará estudado neste trabalho e a todos os animais selvagens
Que as informações contidas nestas páginas contribuam para o entendimento e o
engrandecimento da odontologia e da saúde oral animal, despertando o interesse
pelo estudo em outras espécies e a busca pela qualidade de vida e pela
conservação dos animais que vivem em vida livre e cativeiro.
A todos os animais que participaram da minha vida acadêmica
Se hoje tenho a capacidade de exercer esta profissão, praticar a odontologia
veterinária e realizar este estudo, devo tudo isso a vocês, que mesmo sem saber,
sem pedir nem julgar, confiaram suas vidas aos meus cuidados.
Aos meus anjos da guarda
Mily, você foi e sempre será a minha filhinha, o meu anjinho, onde quer que esteja.
Só Deus sabe como sinto a sua falta.
King, Anakin, Kaitho (in memorian), Bob, Carol (in memorian) e Shapplin (in
memorian), vocês fizeram e fazem a minha vida mais feliz. Em inúmeros momentos,
deram força, trouxeram ânimo e me descontraíram quando eu realmente precisava.
À minha família
Vocês são a minha vida!
Aos meus pais, Sérgio e Célia, que, simplesmente, dispensam qualquer comentário.
Se não fossem vocês, nada disso teria acontecido. Vocês sempre me apoiaram nas
minhas escolhas, participaram das minhas decisões, se preocuparam, se
emocionaram e torceram por mim. Vocês me ensinaram tudo e muito mais, e acima
de tudo, me ensinaram a ter caráter, educação e respeito, ensinamentos estes que
não se dão de uma hora para outra, nem se aprende num piscar de olhos, mas que
crescem com a gente como reflexo do que vivemos, do que está ao nosso redor,
pelas atitudes que vemos e admiramos em quem está ao nosso lado, e assim
aprendi, com vocês. Exemplo de pais, de pessoas, de casal, de família. Amo vocês!
Aos meus irmãos, Fábio e Flávia, minha vida só é completa com vocês. Vini, meu
cunhado, você também entra aqui! Obrigada pelas ajudas, pelas opiniões, pelas
risadas e pela paciência de vocês.
“Pensem numa família fina... fina demais!”
Ao amor da minha vida, Juliano Kubitza (“Coxinha”)
A vida é engraçada. Ela realmente prega peças na gente. Há quem diga que Deus
escreve certo por linhas tortas, o que tiver que ser, será, o que é da gente está
guardado. Não sei. Só sei que foi assim... Quando a gente viu, já não conseguia se
imaginar vivendo sem o outro. Apenas a sua presença ao meu lado já basta. Te amo
para sempre.
Aos meus avós (in memorian), Jesus, Dolores, Osvaldo e Narcisa
Espero que possam acompanhar esta realização, de onde estiverem.
À amiga Mariana Malzoni Furtado (“Tripa”)
Amiga desde sempre, desde o primeiro dia que pisei na faculdade, em 1998. São
dez anos de convivência, de carinho, de amizade leal. Acho que um de nossos
sonhos se concretiza neste momento. Realizamos este trabalho juntando as duas
áreas em que cada uma trabalha e ama: a odontologia e os animais selvagens.
Lembra que você brincava, dizendo que um dia iríamos trabalhar juntas? Obrigada
por tudo, você foi, sem dúvida, uma das idealizadoras deste trabalho. Este feito é
nosso.
Ao amigo João Luiz Rossi Junior
Se não fosse você, este trabalho não existiria. Obrigada por me “encaminhar”
durante todo este processo. Amigo querido, guarda-costas, guia, carregador de
compras e inventor. O seu coração é tão grande quanto você, Coração!
AGRADECIMENTOS
A Deus e a São Judas
Agradeço por se fazerem presentes na minha vida diariamente, em cada gesto, em
cada momento, permitindo que eu tenha o privilégio de conviver com as pessoas
incrivelmente maravilhosas que estão ao meu redor, e seja capaz de realizar tudo o
que tenho feito até hoje. Espero que eu esteja sendo digna de toda essa benção.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Marco Antonio Gioso
Obrigada por abrir as portas do LOC (e muitas outras) e fazer despertar em mim o
amor pela odontologia veterinária, em uma das primeiras aulas que tive na
faculdade, ainda durante a disciplina de anatomia. Com você aprendi muito, e muito
além da odontologia e da veterinária. Obrigada de coração!
Ao LOC
Neste “pequeno laboratório”, vivi muitas coisas, passei momentos inesquecíveis e
fundamentais para a minha vida. Nele pude conhecer muitas pessoas, fazer amigos
e conviver com muitos colegas. Aprendi muito, demais, e também pude ensinar um
pouco.
A todos os amigos e familiares, que sempre apoiaram, ajudaram, dividiram
frustrações e alegrias durante esta fase da minha vida
À família Kubitza
Tenho que agradecer a todos vocês pelo carinho, meus (futuros) sogros,
Gilberto e Neusa, e cunhados, Marcelo, Mara (e Matheus, que está prestes a
chegar!), Kátia e Danilo, vô Oscar, vó Jandira e vó Ângela. Fazer parte desta família
me deixa muito feliz.
Aos amigos Bruna Silva Miranda, Mario Antonio Ferraro Rego e Raphael Oliveira
(“Rasta”)
Meus queridos, eu não podia imaginar que, durante uma viagem para o “meio do
mato” capturando lobo, fosse conviver com pessoas tão incríveis como vocês, e daí
nascer uma amizade sincera e muito especial. O que dizer a respeito? “Loucura,
hein?” (risos)
Aos amigos do LOC
A todos que, durante estes sete anos de convívio no LOC, apoiaram, deram idéias,
esclareceram dúvidas, trouxeram perguntas, dividiram e cobriram horários de
atendimento. Em especial: Marco Antonio León Roman, João Luiz Rossi Junior,
Alexandre Venceslau (um espetáculo de pessoa), Daniel Giberne Ferro e Vanessa
G. G. Carvalho (queridos amigos de LOC e Anclivepa), Michele A. F. A. Venturini e
Herbert Lima Correa (exemplos de dedicação e profissionalismo), Carla M. Omura
(seu jeito de ser é simplesmente contagiante), Juliana Kowalesky (quando a gente
começa a conversar, esquece do tempo... ainda mais se o assunto for odontologia),
Cristina E. Albuquerque, Fernanda P. L. Riva, Léslie M. Domingues Falqueiro,
Fernanda Hofmann Appollo, Samira Lessa Abdalla, Jonathan Ferreira (saudades
dos velhos tempos de LOC!), Roberto S. Fecchio, Sérgio L. S. Camargo, Mariana
Lage Marques, e Lenin A. V. Martinez.
Ao amigo Marco Antonio León Román
Filho, o que eu posso dizer neste momento que eu já não tenha dito antes? Você e
só você sabe o quanto eu sou grata por tudo que sempre fez por mim.
À amiga Léslie M. D. Falqueiro
As suas palavras sempre me ajudaram a dar seguimento aos meus planos, a
esclarecer as dúvidas e superar as adversidades. Uma amiga querida que o LOC
trouxe para mim.
À amiga Fernanda Hofmann Appollo
Passamos por muita coisa durante a pós-graduação e faria tudo de novo para
reviver os momentos impagáveis que tivemos. Risadas, correria, noites sem dormir,
leituras, correções, atendimentos, trapalhadas, idéias, dúvidas (muitas) e café
(excessivamente). A sua companhia e amizade fizeram tudo valer a pena!
À amiga Samira Lessa Abdalla
Você é um exemplo de dedicação, perseverança e altruísmo, sempre disposta a
ajudar a qualquer momento. Obrigada pelo auxílio na realização das radiografias do
projeto e em muitas outras etapas. Acima de tudo, obrigada pela sua amizade!
Ao amigo Roberto Silveira Fecchio
Definitivamente a pessoa mais empolgada com a realização deste estudo. É só
começar a conversar um pouco sobre os resultados do trabalho que a sensação é a
de que iremos concorrer ao Prêmio Nobel. “Show de bola!”
Aos colegas pós-graduandos
A convivência com vocês durante esta etapa foi maravilhosa. Nossas conversas e
risadas durante disciplinas da pós e da graduação, atendimento do hospital, e tantos
outros momentos são memoráveis. Em especial, gostaria de agradecer à amiga
Graziele Massae Shimamura (fiel companheira nos momentos cruciais da pós, em
especial na fase da dissertação), ao amigo Ewaldo de Mattos Junior (salvador nos
momentos estatísticos da dissertação), aos amigos Marco Ishimoto Della Nina,
Luciana Montel Moreno e Carolina de Oliveira Guirelli (amigos desde a graduação),
e aos queridos Leda Marques de Oliveira Barros e Luiz Felipe de Moraes Barros.
À FMVZ-USP e seus funcionários
Agradeço a todos que, de alguma maneira, fizeram parte da minha trajetória durante
a pós-graduação.
À Prof
a
. Dr
a
. Sílvia R. G. Cortopassi
Não consigo achar maneira, com palavras nem gestos, de agradecer por tanto, por
muito, por tudo que você sempre fez por mim. Obrigada por sua amizade, seu
carinho, seus conselhos, suas dicas, suas risadas, sua dedicação, suas palavras
realmente sábias nos momentos mais necessários e por ser a anestesista da minha
“véia”, quando ela também precisou! Obrigada por ser um exemplo de pessoa e de
professora para mim.
Aos professores da FMVZ-USP
Gostaria de agradecer aos professores desta Faculdade que foram fundamentais na
minha formação acadêmica, durante a graduação e a pós-graduação, em especial a:
Prof
a
. Dr
a
. Denise Tabacchi Fantoni, Prof
a
. Dr
a
. Júlia M. Matera, Prof
a
. Dr
a
. Ana
Carolina Brandão, Prof
a
. Dr
a
. Aline Magalhães Ambrósio, Prof
a
. Dr
a
. Clair Motos de
Oliveira, Prof
a
. Dr
a
. Maria Lucia Zaidan Dagli, Prof. Dr. Franklin de Almeida Sterman,
Prof. Dr. Paulo Sérgio Moraes de Barros, Prof. Dr. Angelo João Stopiglia, Prof. Dr.
Carlos Eduardo Larson, Prof. Dr. Fernando José Benesi, Prof. Dr. Archivaldo Reche
Junior, Prof. Dr. Idércio Luiz Signhorini, Prof. Dr. Paulo César Maiorca, Prof. Dr.
Marcelo de Campos Pereira e Prof. Dr. José Luís Catão-Dias.
Aos Médicos Veterinários do HOVET
Admiro e respeito vocês sobremaneira. Agradeço pelos ensinamentos de
todos que tive a oportunidade de conviver desde os estágios durante a graduação
até este momento. Obrigada a: Andressa Gianotti Campos Nitrini, Angélica de
Mendonça Vaz Safatle, Bruna Maria Pereira Coelho, Denise Maria Nunes Simões,
Guilherme Teixeira Goldfeder, Guilherme Gonçalves Pereira, João Luiz Krumenerl
Junior, Khadine Kazue Kanayama, Luciana Neves Torres, Luciane Maria Kanayama
Faria, Marcelo Faustino, Maria Luisa Franchini, Maurício Luís Marquesi, Patrícia
Ferreira de Castro, Paula Rumy, Paula Staudacher Leal de Carvalho, Rafael Costa
Jorge, Rodrigo De Benedetto, Rosa Maria Cabral, Sandra Aparecida Rosner, Silvana
Maria Unruh, Tatiana Soares da Silva, Vera Assunta Battistini Fortunato Wirthl e
Viviane Sanchez Galeazzi.
Aos Médicos Veterinários Residentes e Estagiários
Por toda a ajuda, paciência, comprometimento e coleguismo. Em especial,
às queridas Fabiana de Pinho Cunha e Fernanda Vituri.
A cada enfermeiro do HOVET
O atendimento dos casos e tudo que realizamos dentro deste hospital seriam
impossíveis sem vocês. Agradeço em especial ao José Miron Oliveira da Silva,
nosso fiel escudeiro do LOC pelas inúmeras ajudas, ao Jesus dos Anjos Vieira,
Cledson Lelis dos Santos e Otávio Rodrigues dos Santos. Aos meus eternos
companheiros de frango assado nos almoços preparados pelo Milton, Gilberto
Pereira da Cruz, Milton Gregório dos Santos, Carlito dos Santos Belan e Antonio
Carlos Malaquiras.
Aos secretários do VCI, Berlarmino Ney Pereira e Alessandra Souza, pela
atenção e por toda a ajuda durante a pós-graduação.
Às funcionárias da Biblioteca da FMVZ-USP, em especial à Elena Aparecida
Tanganini (quem nesta faculdade não gosta dessa pessoa?) e à Elza M. R. B.
Faquim, pelas correções e pela atenção durante o período da dissertação.
À CAPES e ao Departamento de Cirurgia, pela concessão da bolsa de mestrado.
Às instituições que participaram deste projeto
Por abrirem suas portas, permitindo a realização do estudo, dispostos a colaborar
em todos os momentos necessários: Associação Mata Ciliar, CETAS - UFV,
Zoológico de São Bernardo, Zoológico de Sorocaba, Museu de Zoologia da USP e
Jaguar Conservation Fund.
A todos do Museu de Zoologia da USP
Em especial, gostaria de agradecer à bióloga Juliana Gualda de Barros, que sempre
ajudou durante os trabalhos na coleção de Mastozoologia do MZ-USP, ao Prof. Dr.
Mário de Vivo e à Prof
a
. Dr
a
. Erika Hingst-Zaher, sempre atenciosos e nos
recebendo de braços abertos e colocando a coleção de Mastozoologia à nossa total
disposição.
A todos da Jaguar Conservation Fund
Por confiarem no meu trabalho e me acolherem para integrar o projeto de pesquisa
da instituição, e não medirem esforços para que as capturas dos lobos fossem
realizadas. A experiência vivida com vocês durante minha estadia foi inesquecível.
Agradeço a todos: Leandro Silveira, Anah T. A. Jácomo, Mariana M. Furtado
Gaspari, Rahel Sollmann (obrigada por me abrigar na sua casa!), Nathália Mundim
Tôrres e Tiago Boscarato
Aos voluntários da Earthwatch Institute
A ajuda destas pessoas foi imprescindível para o esforço de captura dos lobos-guará
de vida livre deste estudo. Agradeço a cada um que trabalhou, passou o dia inteiro
debaixo de sol, armando e checando gaiolas, fotografando, pesando animais,
coletando amostras, e sempre com bom humor e um sorriso no rosto, agradecendo
pela oportunidade de participar do projeto! Vocês não existem! Obrigada a todos:
Allison More, Bryce Trevett, Casey Rackham, Danila Cremona, Dustin Johnson,
Katelyn Adams, Kirin Daugharty, Laurel Robinson, Robert Owsley e Tenika Corral
(Thank you so much for your precious help during your staying at Emas Park –
Brazil. We couldn’t make it without your efforts!)
“A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original”
(Albert Einstein)
RESUMO
LOPES, F. M. Avaliação do sistema estomatognático e de sincrânios de lobo-
guará (Chrysocyon brachyurus) em vida livre e cativeiro. [Oral and skulls
evaluation of captive and wildlife maned wolves (Chrysocyon brachyurus)]. 2008. 151
f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) - Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.
O lobo-guará corresponde à maior espécie de canídeo da América do Sul, habitando
regiões de gramado, cerrado e florestas de arbustos. A alimentação destes animais
consiste de uma dieta onívora, incluindo pequenos mamíferos, répteis, insetos,
plantas forrageiras e frutos. Há escassa literatura acerca das enfermidades orais
nesta espécie, tanto em vida livre quanto em cativeiro. O presente trabalho teve
como objetivo realizar o levantamento das principais afecções do sistema
estomatognático e de sincrânios de lobos-guará, de indivíduos provenientes de vida
livre e cativeiro, avaliar se há diferenças nas prevalências de lesões orais entre os
grupos, e determinar parâmetros e características fisiológicas do sistema
estomatognático para a espécie. Para isso, foram estudados 80 espécimes, sendo
63 sincrânios e 17 animais vivos. As afecções orais mais freqüentes foram: desgaste
dentário (87,3%), fratura dentária (54,4%), doença periodontal (49,3%), anomalia
dentária (49,3%), e cárie (11,4%). Dentre as anomalias dentárias, a presença de
raiz acessória foi expressiva, correspondendo a 37,1% dos sincrânios, sendo mais
prevalente no primeiro molar superior (46,7%) e segundo molar inferior (26,7%). As
lesões sugestivas de cárie foram observadas em 18 dentes de nove lobos-guará,
sendo seis deles provenientes de vida livre. A gravidade e a prevalência de doença
periodontal foram mais acentuadas em animais de cativeiro, correspondendo a
66,6% deste grupo e a 47,3% do grupo de vida livre. Defeitos ósseos de fenestração
e deiscência foram encontrados, respectivamente, em 22,5% e 61,3% dos
sincrânios. A maioria das fraturas dentárias apresentou exposição da câmara pulpar
(84%), ocorrendo principalmente nos dentes caninos e incisivos. Conclui-se que o
lobo-guará apresenta fórmula dentária e padrão oclusal semelhante ao do cão
doméstico, e que as afecções orais são achados freqüentes na espécie. A
prevalência de algumas enfermidades, como a doença periodontal, apresenta
diferenças entre os grupos de vida livre e cativeiro. A presença de raiz acessória e
defeitos ósseos alveolares observados na espécie, assim como a prevalência de
outras afecções orais necessitam de mais estudos para elucidação dos fatores
envolvidos.
Palavras-chave: Odontologia Veterinária. Sistema estomatognático. Dente. Canidae.
Animais selvagens.
ABSTRACT
LOPES, F. M. Oral and skull evaluation of captive and wildlife maned wolves
(Chrysocyon brachyurus). [Avaliação do sistema estomatognático e de sincrânios
de Lobo-Guará (Chrysocyon brachyurus) em vida livre e cativeiro]. 2008. 151 f.
Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) - Faculdade de Medicina Veterinária
e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.
The maned wolf, Chrysocyon brachyurus, is the largest wild canid inhabiting South
America, specially areas with tall grass, fence and bush forest. They are omnivorous
and their most important dietary components are small mammals, reptiles, insects,
forage plants and fruits. There are few studies about oral diseases in free-ranging
and captive maned wolves. The present study performed a survey about diseases of
the stomatognatic system and skulls of free ranging and captive maned wolves,
differences between both groups and determination of the physiological parameters
and characteristics of the specie. Eighty specimens were evaluated (63 skulls and 17
living animals). The most frequent oral diseases included: teeth wearing (87,3%), and
fracture (54,4%), periodontal disease (49,3%), teeth anomalies (49,3%), caries
(11,4%). According to teeth anomalies, the presence of extra roots was significant,
corresponding to 37,1% of the skulls. The upper first molar (46,7%) and the lower
second molar (26,7%) were the most prevalent. Caries suggestive-lesions were
observed in 18 teeth of nine maned wolves, and six of them were free-ranging
animals. The severity and prevalence of periodontal disease were more pronounced
in captive specimens, corresponding to 66,6% of this group and 47,3% of the free-
ranging maned wolves. Osseous defects, both fenestration and dehiscence were
present in 22,5% e 61,3% of the skulls, respectively. The majority of teeth fractures
exposed the pulp chamber (84%), occuring mainly at the canines and incisors. In
conclusion, the maned wolf has a dental formula and occlusal pattern similar to the
domestic dog. Oral diseases are common in maned wolves. The prevalence of some
injuries, as periodontal disease, presents differences between free-ranging and
captive animals. Extra roots, alveolar osseous defects and other oral diseases need
more studies to elucidate which factors are involved.
Key words: Veterinary dentistry. Stomatognathic system. Tooth. Canidae. Wild
animals.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Espécime adulto de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) em
ambiente típico do cerrado brasileiro (Parque Nacional das Emas -
GO) ........................................................................................................37
Figura 2 - Representação da anatomia dentária e tecidos adjacentes em dente
de espécime carnívoro: esmalte (a), dentina(b), polpa (c), gengiva
(d), cemento (e), ligamento periodontal (f) e osso alveolar (g)...............42
Figura 3 - Sondagem com sonda periodontal milimetrada, para determinação
dos parâmetros: profundidade da bolsa (a), retração gengival (b) e
nível clínico de inserção - NCI (c)...........................................................45
Figura 4 - Anatomia radiográfica normal de dente primeiro molar inferior de um
lobo-guará. As estruturas anatômicas identificadas no exame
radiográfico compreendem: esmalte (a), dentina (b), espaço do
ligamento periodontal (c), ápice radicular (d), furca (e), lamina dura
(f), osso alveolar (g), canal radicular (h) e câmara pulpar (i)..................47
Figura 5 - Progressão do envolvimento ósseo desde a formação de uma lesão
de fenestração, em animal jovem (esquerda), até a união de um
defeito de deiscência com a reabsorção óssea horizontal, causada
por doença periodontal, em animal de idade avançada.........................59
Figura 6 - Classificação de fratura dentária adotada pelo AVDC, adaptada de
Basrani (1983)........................................................................................67
Figura 7 - Gaiola de metal utilizada para captura dos animais (A). No detalhe
(B), lobo-guará capturado (indivíduo 12) (Parque Nacional das
Emas-GO) ..............................................................................................73
Figura 8 - Avaliação odontológica sendo efetuada em um lobo-guará de vida
livre (indivíduo 13) (Parque Nacional das Emas-GO).............................74
Figura 9 - Sincrânio (crânio e mandíbula) posicionado para avaliação
odontológica (indivíduo 22) (MZ-USP) ...................................................78
Figura 10 - Da esquerda para a direita: espelho odontológico, sonda periodontal
milimetrada e explorador odontológico...................................................79
Figura 11 - Sondagem da profundidade do sulco gengival com auxílio de sonda
periodontal em dente canino superior esquerdo de lobo-guará
(indivíduo 11)..........................................................................................80
Figura 12 - Avaliação de reabsorção óssea alveolar na face vestibular da raiz
mesial do dente primeiro molar superior esquerdo de um crânio de
lobo-guará, com a utilização de sonda periodontal milimetrada
(indivíduo 32)..........................................................................................82
Figura 13 - Mandíbula de um dos espécimes de lobo-guará estudados
posicionada para exame radiográfico intra-oral com sensor digital
(técnica de paralelismo) (indivíduo 75)...................................................84
Figura 14 - Sensor digital e software de radiografia digital utilizados para exame
dos sincrânios de lobo-guará .................................................................84
Figura 15 - Vista lateral esquerda e direita da oclusão do indivíduo 14,
respectivamente, aparentemente normal ...............................................85
Figura 16 - Vista rostral da oclusão do indivíduo 14, aparentemente normal...........85
Figura 17 - Agenesia dentária de dois incisivos inferiores em espécime de lobo-
guará (indivíduo 75). Pode-se notar o alinhamento dos dentes
inferiores em vista frontal (A) e a oclusão com os incisivos
superiores, em vista ventral (B). Radiograficamente confirma-se a
ausência de dentes inclusos (C) ............................................................91
Figura 18 - Ausência do terceiro molar inferior bilateral em sincrânio de lobo-
guará. Em A, ausência dentária adquirida, evidenciada pela
presença do alvéolo dentário. Em B, ausência congênita do
elemento dentário. Não há alvéolo, indícios de remodelamento
ósseo nem a presença de dente impactado...........................................91
Figura 19 - Dente supranumerário adjacente aos dentes primeiro e segundo pré-
molares inferiores direitos (seta) em espécime de lobo-guará
(indivíduo 71)..........................................................................................92
Figura 20 - Dente segundo pré-molar superior direito apresentando geminação
dentária (seta) em espécime de lobo-guará (indivíduo 33) ....................92
Figura 21 - Malformação dentária em canino superior direito em espécime de
lobo-guará (A) (indivíduo 74). Detalhe do dente em B, observando-se
irregularidade da superfície do esmalte .................................................93
Figura 22 - Dente segundo pré-molar superior de lobo-guará apresentando
fusão das raízes mesial e distal. Face vestibular (A) e face palatina
(B) (indivíduo 28)....................................................................................94
Figura 23 - Raízes acessórias em dentes molares de lobos-guará. Em A,
resquício de raiz na face vestibular do segundo molar inferior direito
(indivíduo 47). Em B, raiz acessória entre as raízes vestíbulo-distal e
palatina do segundo molar superior esquerdo (indivíduo 49).................94
Figura 24 - À esquerda, presença de raiz acessória vestibular, em dente
primeiro molar de lobo-guará, evidente pela fenestração óssea
(indivíduo 45). À direita, raiz acessória vestibular, entre as raízes
mesial e distal do segundo pré-molar superior direito em espécime
de lobo-guará (indivíduo 26)...................................................................95
Figura 25 - Giroversão de terceiro pré-molar superior esquerdo (seta) em
espécime de lobo-guará (indivíduo 26) ..................................................96
Figura 26 - Deslocamento vestibular do terceiro pré-molar inferior direito (seta)
em espécime de lobo-guará (indivíduo 29) ............................................97
Figura 27 - Apinhamento dentário em espécimes de lobo-guará. Em A,
apinhamento do segundo incisivo inferior direito. Pode-se notar a
localização do alvéolo do incisivo contra-lateral, indicando
malposicionamento dentário bilateral (indivíduo 64). Em B,
apinhamento dos dentes terceiro e quarto pré-molares inferiores
direitos (indivíduo 26) .............................................................................97
Figura 28 - Ausências dentárias em sincrânios de lobo-guará, ante-morte - A
(indivíduo 31) e pós-morte - B (indivíduo 72). Em A, observa-se
remodelamento ósseo, com arredondamento da crista óssea
alveolar. A localização da maioria dos alvéolos dentários não se
encontra evidente. Pode-se notar, ainda, grande número de
foraminas. Em B, o contorno da crista óssea permanece inalterado,
assim como a profundidade alveolar, com ausência de reação
periosteal..............................................................................................101
Figura 29 - Visualização radiográfica da ausência do dente primeiro molar
inferior esquerdo em dois espécimes de lobo-guará (indivíduos 60 e
62, respectivamente), ante-morte (A) e pós-morte (B). Em A, nota-se
perda da lamina dura, arrasamento alveolar e remodelamento ósseo,
evidenciado pelo arredondamento da crista óssea alveolar. Em B, há
preservação da lamina dura e o contorno da crista óssea permanece
inalterado, assim como a profundidade alveolar ..................................101
Figura 30 - Lesão circular bilateral na face oclusal do segundo molar superior
em sincrânio de lobo-guará (indivíduo 37), sugestiva de cárie.............104
Figura 31 - Lesão sugestiva de cárie no dente segundo molar superior direito do
lobo-guará da Figura 29, evidenciado pelo explorador odontológico
(A). Lesão periapical na raiz distal do mesmo dente (seta) (B)
(indivíduo 37)........................................................................................104
Figura 32 - Lesão sugestiva de cárie em primeiro molar inferior esquerdo de um
lobo-guará (A), apresentando área radiolúcida (setas) em região
periapical, no exame radiográfico (B) (indivíduo 63) ............................105
Figura 33 - Espécime de lobo-guará de vida livre, apresentando discreto
acúmulo de cálculo nos dentes pré-molares superiores. Ausência de
gengivite e periodontite (indivíduo 11)..................................................108
Figura 34 - Sondagem periodontal da face distal do canino superior direito de
um lobo-guará, com auxílio de sonda periodontal milimetrada (A).
Representação da profundidade da bolsa periodontal encontrada
(B). Gengivite grau 2 e doença periodontal grau 2 (indivíduo 8) ..........109
Figura 35 - Doença periodontal grau 3 em lobo-guará de cativeiro (indivíduo 2),
observando-se retração gengival, gengivite e acúmulo de cálculo em
diversos dentes, além de lesões endodônticas (fratura dentária dos
caninos esquerdos). .............................................................................110
Figura 36 - Doença periodontal grau 4 em quarto pré-molar e primeiro molar
superiores de lobo-guará. Reação periosteal evidente, cálculo e
exposição de furca grau 3 (indivíduo 25) .............................................110
Figura 37 - Deiscência óssea vestibular na região da raiz mesio-vestibular do
primeiro molar superior esquerdo em lobo-guará (indivíduo 37)..........112
Figura 38 - Fenestração óssea vestibular na região das raízes mesio-
vestibulares dos dentes quarto pré-molar e primeiro molar superiores
esquerdos de um espécime de lobo-guará (indivíduo 37)....................112
Figura 39 - Fenestração óssea (seta) na região de molares de um espécime
jovem (dentição mista) de lobo-guará (indivíduo 44)............................113
Figura 40 - Desgaste grau 2 em incisivos superiores e inferiores de espécimes
de lobo-guará, vivo (A) e sincrânio (B) (indivíduos 10 e 22,
respectivamente)..................................................................................114
Figura 41 - Desgaste na face oclusal do primeiro molar superior direito de um
lobo-guará (indivíduo 80). As manchas enegrecidas no dente
indicam formação de dentina terciária (reparadora).............................115
Figura 42 - Fratura dentária sem exposição pulpar (não-complicada) em terceiro
pré-molar superior esquerdo de lobo-guará (indivíduo 15) ..................116
Figura 43 - Fratura dentária com exposição pulpar (complicada) em canino
superior esquerdo (A) e em primeiro molar inferior direito (B) em
lobos-guará (indivíduos 9 e 8, respectivamente)..................................116
Figura 44 - Espécime de lobo-guará de vida livre com lesão traumática em
mucosa jugal e alveolar superior esquerda..........................................119
Figura 45 - Lesão óssea circular, com cerca de 6 cm de diâmetro na região
sagital do osso maxilar. Reação periosteal na face palatina do quarto
pré-molar e primeiro molar superiores direitos.....................................119
Figura 46 - Assimetria do rebordo ósseo ventral da mandíbula direita na região
de pré-molares (indivíduo 74)...............................................................120
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Identificação dos animais vivos avaliados, segundo habitat,
localidade e instituição de procedência..................................................75
Quadro 2 - Identificação dos sincrânios avaliados, segundo habitat, localidade e
instituição de procedência......................................................................77
Quadro 3 - Distribuição de apinhamento dentário em lobos-guará, segundo
espécie, habitat e dente acometido. São Paulo, out 2007-set 2008.......99
Quadro 4 - Distribuição das lesões sugestivas de cárie dentária em lobos-guará,
segundo espécie, habitat, dente acometido e tipo de lesão. São
Paulo, out 2007-set 2008 .....................................................................103
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Distribuição sexual dos lobos-guará avaliados de acordo com
espécime (vivo ou sincrânio) e habitat (vida livre, cativeiro ou
indeterminado). São Paulo, out 2007-set 2008 ......................................88
Gráfico 2 - Distribuição geral da doença periodontal nos lobos-guará, segundo
grau da enfermidade. São Paulo, out 2007-set 2008 ...........................106
Gráfico 3 - Distribuição da doença periodontal nos lobos-guará, segundo grau
da enfermidade e habitat. São Paulo, out 2007-set 2008 ....................107
Gráfico 4 - Distribuição da doença periodontal nos lobos-guará, segundo grau
da enfermidade, habitat e tipo de espécime. São Paulo, out 2007-set
2008 .....................................................................................................107
Gráfico 5 - Distribuição de gengivite nos lobos-guará vivos, segundo grau da
enfermidade e habitat. São Paulo, out 2007-set 2008 .........................109
Gráfico 6 - Distribuição geral de desgaste dentário em lobos-guará segundo
grau da enfermidade e habitat. São Paulo, out 2007-set 2008 ............113
Gráfico 7 - Distribuição geral de desgaste dentário em lobos-guará segundo
grau da enfermidade, habitat e tipo de espécime. São Paulo, out
2007-set 2008 ......................................................................................114
Gráfico 8 - Distribuição de fratura dentária nos lobos-guará segundo tipo de
fratura e grupo de dentes acometidos. São Paulo, out 2007-set 2008.118
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Distribuição de dentes supranumerários na Ordem Carnivora,
segundo o número de espécimes (número absoluto e porcentagem)
e grupo de dentes acometidos (não foram incluídos cães e gatos
dométicos), de acordo com a família......................................................52
Tabela 2 - Distribuição de dentes supranumerários em canídeos, segundo o
número de espécimes (número absoluto e porcentagem) e grupo de
dentes acometidos, de acordo com o gênero da família Canidae..........53
Tabela 3 - Distribuição dos lobos-guará de acordo com as principais afecções
do sistema estomatognático e o habitat. São Paulo, out 2007-set
2008 .......................................................................................................89
Tabela 4 - Distribuição dos lobos-guará com anomalias dentárias, segundo tipo
de espécime (vivo e sincrânio) e habitat, agrupados de acordo com o
tipo de anomalia dentária. São Paulo, out 2007-set 2008......................90
Tabela 5 - Distribuição de raiz acessória de acordo com o habitat dos
sincrânios de lobo-guará avaliados. São Paulo, out 2007-set 2008.......95
Tabela 6 - Distribuição de raiz acessória em lobo-guará, de acordo com a
localização dos dentes nas maxilas. São Paulo, out 2007-set 2008......96
Tabela 7 - Distribuição de apinhamento dentário nos lobos-guará, segundo o
habitat. São Paulo, out 2007-set 2008 ...................................................98
Tabela 8 - Distribuição da ausência dentária ante e pós-morte nos sincrânios de
lobo-guará avaliados, agrupados segundo a localização dos dentes.
São Paulo, out 2007-set 2008..............................................................100
Tabela 9 - Distribuição das lesões sugestivas de cárie em lobo-guará, de
acordo com o habitat. São Paulo, out 2007-set 2008...........................105
Tabela 10 - Distribuição de deiscência óssea nos lobos-guará, segundo o
habitat. São Paulo, out 2007-set 2008 .................................................111
Tabela 11 - Distribuição de fenestração óssea nos lobos-guará, segundo o
habitat. São Paulo, out 2007-set 2008 .................................................111
Tabela 12 - Distribuição de fratura dentária em lobo-guará segundo o habitat.
São Paulo, out 2007-set 2008..............................................................115
Tabela 13 - Distribuição de fratura dentária nos lobos-guará segundo tipo de
fratura e número de animais e dentes acmetidos, agrupados de
acordo com o habitat e procedência dos espécimes. São Paulo, out
2007-set 2008 ......................................................................................117
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Am ante-morte
AVDC American Veterinary Dental College
C dente canino
CETAS Centro de Triagem de Animais
FMVZ Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia
FPE focal palatine erosion
I dente incisivo
JAC junção amelo-cementária
JCF Jaguar Conservation Fund
kg quilograma
kVA Quilovoltagem-ampère
kVp Quilovoltagem-pico
LOC Laboratório de Odontologia Comparada
M dente molar
mm milímetro
N número absoluto
MZ Museu de Zoologia
NCI nível clínico de inserção
OMS Organização Mundial de Saúde
pH potencial hidrogeniônico
Pm pós-morte
PM dente pré-molar
PZMQB Parque Zoológico Municipal Quinzinho de Barros
SBC São Bernardo do Campo
UFV Universidade Federal de Viçosa
USP Universidade de São Paulo
VCI Departamento de Cirurgia
LISTA DE SÍMBOLOS
% porcentagem
χ
2
Qui-quadrado
p nível de significância
< menor
σ desvio padrão
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................29
2 REVISÃO DE LITERATURA........................................................................32
2.1 LOBO-GUARÁ (Chrysocyon brachyurus).....................................................34
2.1.1 Características gerais da espécie .............................................................36
2.1.2 Dieta.............................................................................................................37
2.2 CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO DOS
CARNÍVOROS..............................................................................................38
2.2.1 Anatomia e fisiologia oral ..........................................................................39
2.2.1.1 Anatomia dentária.........................................................................................41
2.3 AVALIAÇÃO DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO.....................................42
2.3.1 Espelho clínico odontológico....................................................................44
2.3.2 Sonda periodontal ......................................................................................44
2.3.3 Explorador odontológico ...........................................................................46
2.3.4 Odontograma ..............................................................................................46
2.3.5 Exame radiográfico intra-oral....................................................................47
2.4 AVALIAÇÃO DE SINCRÂNIOS PARA FINS ODONTOLÓGICOS ...............48
2.5 AFECÇÕES DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO......................................50
2.5.1 Anomalias dentárias e alterações em oclusão ........................................51
2.5.2 Doença periodontal ....................................................................................55
2.5.3 Cárie.............................................................................................................60
2.5.3.1 Diagnóstico da cárie .....................................................................................62
2.5.4 Traumas.......................................................................................................64
2.5.4.1 Fratura dentária ............................................................................................65
2.5.4.2 Desgaste dentário.........................................................................................67
2.5.4.3 Outros traumas.............................................................................................69
3 MATERIAL E MÉTODO ...............................................................................72
3.1 ANIMAIS VIVOS...........................................................................................72
3.2 SINCRÂNIOS ...............................................................................................75
3.3 EXAME ORAL ..............................................................................................78
3.3.1 Animais vivos..............................................................................................79
3.3.2 Sincrânios ...................................................................................................81
3.4 EXAME RADIOGRÁFICO ............................................................................83
3.5 DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA............................................................85
3.6 ANÁLISE DOS RESULTADOS.....................................................................86
4 RESULTADOS.............................................................................................88
4.1 ANOMALIAS DENTÁRIAS ...........................................................................89
4.2 AUSÊNCIA DE DENTES............................................................................100
4.3 CÁRIE.........................................................................................................102
4.4 DOENÇA PERIODONTAL..........................................................................106
4.4.1 Deiscência e fenestração óssea..............................................................111
4.5 DESGASTE DENTÁRIO.............................................................................113
4.6 FRATURA DENTÁRIA................................................................................115
4.7 OUTROS ACHADOS..................................................................................118
5 DISCUSSÃO ..............................................................................................122
6 CONCLUSÃO.............................................................................................134
REFERÊNCIAS..........................................................................................136
ANEXOS ....................................................................................................149
29
1 INTRODUÇÃO
A odontologia vem ocupando lugar de destaque no âmbito veterinário
nacional e internacional nas últimas décadas. Esta especialidade conseguiu
ultrapassar limitações preconceituosas e mostrar-se ao meio veterinário e à
população em geral não como uma modalidade de tratamento veterinário oferecido
aos animais de estimação, mas como uma disciplina fundamental para a saúde de
qualquer espécie animal.
Cada vez mais são observados casos clínicos que envolvem debilitação
geral do paciente, cuja etiologia está relacionada com enfermidades orais. Tais
achados não são inesperados, visto que a cavidade oral dá início ao processamento
de qualquer alimento ingerido pelo organismo e, desta maneira, a manutenção de
higidez das estruturas orais, como dentes, periodonto e língua é essencial para a
sanidade do organismo em geral (PACHALY; GIOSO, 2001).
O tratamento odontológico de animais mantidos em zoológicos e aquários
tem aumentado consideravelmente nas últimas três décadas, e a detecção precoce
das afecções orais pode minimizar a ocorrência de morbidade e mortalidade
relacionadas (GLATT; FRANCL; SCHEELS, 2008). Infelizmente, o diagnóstico
nestes animais pode ser tardio ou não ser efetuado, pela dificuldade na realização
de exame oral, sem adequada contenção anestésica.
Ao mesmo tempo em que a ameaça constante às espécies animais em vida
livre vem fazendo com que elas sejam colocadas em cativeiro a fim de melhorar as
suas chances de sobrevivência a longo termo, o sucesso para a manutenção dos
animais silvestres em cativeiro tem se tornado resultado direto da habilidade dos
profissionais em promover nutrição adequada e cuidados com a saúde destes
animais, garantindo longevidade e sanidade da população cativa da mesma espécie
e de outras, através de controle e tratamento de agentes infecciosos (DEEM, 2007).
Assim, o médico veterinário trabalha, atualmente, mais voltado à prevenção
e ao tratamento de enfermidades que ameaçam a sobrevivência das espécies
mantidas em cativeiro e de vida livre. A maioria destas doenças encontra-se
associada à proximidade da humanidade, que resulta em fragmentação e
degradação do habitat destes animais, isolamento das espécies e contato mais
30
próximo entre animais de vida livre, animais domésticos e seres humanos (DEEM,
2007).
Os estudos com espécies consideradas vulneráveis ou em perigo de
extinção, como o lobo-guará, são essenciais e precisam ser realizados com
urgência, pois devido ao fato destes estudos serem raros e com baixa densidade
populacional, há dificuldade na obtenção de amostras para fins científicos
(MATTOS, 2003). Além disso, há escassez de conhecimento acerca das doenças e
de informações sobre a prevalência de enfermidades em lobo-guará, assim como
sobre a higidez da espécie (PAULA; MEDICI; MORATO, 2008).
Desta maneira, o presente trabalho objetiva o levantamento das principais
afecções do sistema estomatognático de lobos-guará, por meio da avaliação de
espécimes vivos e sincrânios provenientes de vida livre e cativeiro, procurando
estabelecer, também, as características normais da espécie. Objetiva-se, ainda,
avaliar se o lobo-guará apresenta as mesmas enfermidades orais em vida livre e em
cativeiro, relacionando a prevalência de afecções orais com características da
ecologia da espécie.
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2 REVISÃO DE LITERATURA
A cavidade oral, os dentes e os tecidos associados são estruturas
fundamentais para a sanidade de todos os animais, sejam eles domésticos ou
selvagens (PACHALY; GIOSO, 2001). Como a cavidade oral dá início ao trato
digestivo, sua higidez é essencial para a eficiência de todos os sistemas de
processamento de alimentos e nutrientes no organismo animal (PACHALY; GIOSO,
2001).
Stimmelmayr et al. (2006) relatam que o desgaste e a fratura de dentes
observados em alces neste estudo resultaram em mortalidade precoce dos animais
adultos, uma vez que a eficiência mastigatória e digestiva e a condição corporal são
dependentes da saúde oral e da integridade dos dentes. Outro trabalho,
relacionando as causas de mortalidade e morbidade em focas (Halichoerus grypus),
relata diversas afecções acometendo estes animais, como doença periodontal, mau
posicionamento dentário, úlceras orais e fratura patológica de mandíbula, sendo, as
últimas, causas de mortalidade nos animais avaliados (BAKER et al., 1998).
Sainsbury et al. (2004) também atribuem às enfermidades orais importante papel na
mortalidade e morbidade em esquilos (Sciurus vulgaris).
Os dentes e os crânios são amplamente utilizados em estudos evolutivos e
ecológicos das espécies, inclusive diversos trabalhos em humanos, voltados
principalmente à paleontologia (MEIRI; DAYAN; SIMBERLOFF, 2005; ANYONGE;
BAKER, 2006; CAGLAR et al., 2007; CHRISTIANSEN, 2007; NAGY, 2008;
PROWSE et al., 2008). Os dentes figuram como indicadores do estresse ambiental
(BADYAEV, 1998), em comparações entre variações interespecíficas e entre
populações (DAYAN; WOOL; SIMBERLOFF, 2002), dimorfismo sexual
(STEINBERG; SCIULLI; BETSINGER, 2008) e nos estudos da estrutura da
comunidade (VAN VALKENBURGH; WAYNE, 1994).
O tempo e a seqüência de erupção dentária e troca de dentição têm sido
utilizados em estudos populacionais e demográficos como método para
determinação da idade de espécimes jovens (VAN NIEVELT; SMITH, 2005). Já os
achados de afecções orais encontrados em uma espécie podem indicar o tipo de
alimentação daquela determinada população durante um período ou época
específicos (BERNAL et al., 2007; PROWSE et al., 2008).
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A ampla variedade de dentições encontrada nos animais segue basicamente
o padrão adaptativo das espécies para as funções de preensão, mastigação e
trituração, além de capacidades defensiva, social e sexual (WIGGS; LOBPRISE,
1997). Os carnívoros retiveram, evolutivamente, uma dentição versátil, com
diferentes dentes adaptados para cortar carne, quebrar e despedaçar ossos e moer
ou triturar insetos e frutas. Estes alimentos diferem significativamente quanto à
textura e à resistência, sendo, desta maneira, lacerados de maneira mais eficiente
através de dentes com diferentes formatos. O osso, por exemplo, é quebrado mais
facilmente por dentes cônicos; já a carne, por ter consistência mais macia, é
rapidamente fragmentada por um dente cortante, semelhante a uma lâmina, ao
invés de um dente pontiagudo; e frutas e forragens, por dentes que promovam
trituração (VAN VALKENBURGH, 1989).
Dadas estas correlações entre forma e função dos dentes, os hábitos
alimentares dos animais podem ser deduzidos através de suas dentições, desde o
tipo de alimentação até em que região da boca os alimentos são ingeridos. Além
disso, os dentes geralmente são estruturas que se encontram preservadas em
crânios e fósseis, permitindo, assim, a reconstrução de prováveis dietas de
diferentes espécies e o estudo da socialização e competitividade entre espécies e
comunidades antigas (VAN VALKENBURGH, 1989; YAMASHITA, 2003).
As enfermidades orais podem ter impactos variáveis nas populações
selvagens e, na maior parte das espécies, não há informações sobre a saúde oral
destes animais em vida livre (HUNGERFORD et al., 1999; ROSSI JUNIOR, 2002,
2007). Alguns estudos indicam que enfermidades orais e a perda de dentes são
limitadores da expectativa de vida nos animais (BAKER et al., 1998; HUNGERFORD
et al., 1999; STIMMELMAYR et al., 2006). Em outro estudo, realizado em guepardos
(Acinonyx jubatus jubatus), foi observada correlação negativa entre o grau de
severidade de uma enfermidade comumente encontrada na espécie, denominada
focal palatine erosion (FPE), e a condição corporal dos animais (MARKER;
DICKMAN, 2004). Apesar do estudo não determinar as implicações desta afecção
na ecologia dos espécimes em vida livre, sugere-se que estes animais possam ser
mais lentos durante a captura de suas presas e, desta maneira, apresentando
desvantagem na competição com outros predadores, como leões e hienas. Fitch e
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Fagan
1
(1982 apud MARKER; DICKMAN, 2004, p. 23) relatam o caso de
mortalidade de um guepardo mantido em cativeiro devido à falência renal associada
à osteomielite oronasal, decorrente de FPE. Além disso, Munson (1993) refere que a
insuficiência renal apresenta-se como uma das principais causas de mortalidade e
limitadora da expectativa e da qualidade de vida em guepardos de cativeiro.
A literatura existente sobre enfermidades orais em animais silvestres é, em
sua maioria, sobre animais mantidos em cativeiro, descrevendo grande ocorrência
de doenças da cavidade oral devido a traumas e doença periodontal. As lesões
traumáticas geralmente ocorrem em decorrência do estresse de captura destes
animais, acidentes durante brincadeiras ou agressão, e problemas comportamentais,
como morder grades de metal, paredes, portões e cercas (WIGGS; LOBPRISE
1997; WIGGS; BLOOM, 2003).
Embora a ocorrência de fraturas dentárias em animais silvestres seja
especialmente atribuída ao ambiente de cativeiro, em estudo realizado na região
Central do Brasil em lobos-guará de vida livre, Furtado et al. (2006) constataram alta
prevalência de fraturas dentárias nos animais (63,1%).
2.1 LOBO-GUARÁ (Chrysocyon brachyurus)
O lobo-guará representa a maior espécie de canídeo da América do Sul,
habitando áreas abertas como o cerrado. A espécie é considerada diferente de
qualquer outro canídeo, sendo classificada como a única do gênero Chrysocyon
(SANTOS; SETZ; GOBBI, 2003).
A espécie encontra-se distribuída geograficamente, na atualidade, em
países como Argentina, Bolívia, Paraguai, Peru, Uruguai e, no Brasil, ocorrendo nas
regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste, nos Estados de Mato Grosso (MT), Mato
Grosso do Sul (MS), Goiás (GO), Minas Gerais (MG) e São Paulo (SP), podendo ser
encontrado em outros estados (JÁCOMO, 1999; ARAGONA; SETZ, 2001; PAULA;
MEDICI; MORATO, 2008).
1
FITCH, H. M.; FAGAN, D. A. Focal palatine erosion associated with dental malocclusion in captive
cheetahs. Zoo Biology, v. 1, n. 4, p. 295-310, 1982.
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Apesar de possuir ampla distribuição, o lobo-guará pertence à categoria de
ameaça vulnerável da Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas
de Extinção, do Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2003), e à categoria quase
ameaçada da International Union for Conservation of Nature (IUCN) (ZUBIRI;
HOFFMANN; MACDONALD, 2004).
Originalmente, o lobo-guará era uma das espécies de canídeos mais típicas
do cerrado brasileiro. Entretanto, as populações têm sofrido considerável declínio ao
longo de sua área de ocorrência, devido à fragmentação de habitat, por constante
expansão das fronteiras agrícolas, à perseguição e captura de filhotes, por comércio
ilegal, crendices populares e caça predatória, além de atropelamentos e o crescente
aumento de doenças pela proximidade com cães domésticos (SANTOS; SETZ;
GOBBI, 2003; DEEM; EMMONS, 2005; TROLLE et al., 2007).
A espécie é considerada imprescindível para a estabilidade do ecossistema
do cerrado, sendo animal de topo de cadeia alimentar e dispersor de sementes de
diversas plantas, especialmente da lobeira (Solanum lycocarpum) (MATTOS, 2003).
Há poucos dados sobre a densidade populacional da espécie, oriundos de
apenas algumas unidades de conservação do Brasil Central, e o registro de
ocorrência da espécie, em diversos estados brasileiros e outros países da América
Latina, realizado através de colheita de material biológico, contato visual ou achados
de animais atropelados (PAULA; MEDICI; MORATO, 2008).
Já os animais mantidos em cativeiro vêm sendo registrados em um livro de
registro internacional (studbook), sustentado pela Universidade de Heidelberg, de
1973 a 1978, e, desde 1979, pelo Frankfurt Zoo, na Alemanha. Os dados mais
recentes em literatura referem-se ao studbook oficial internacional, de 31 de
dezembro de 2006, no qual foram registrados 427 espécimes em cativeiro, sendo
201 machos, 225 fêmeas e 1 animal de sexo indeterminado (201.225.1); nascimento
de 67 animais (33.21.13), mortalidade de 75 (31.32.12) e introdução de 14 animais
de vida livre para cativeiro (6.8) (INTERNATIONAL, 2008).
Em cativeiro, estima-se que os lobos-guará atinjam sobrevida de 16 anos de
idade, entretanto não há informação sobre a expectativa de vida da espécie em vida
livre (ZUBIRI; HOFFMANN; MACDONALD, 2004).
Os estudos epidemiológicos da espécie incluem principalmente as doenças
parasitárias, consideradas uma das principais causas de mortalidade em lobos-
guará (MATTOS, 2003).
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Com relação às afecções orais, há apenas um estudo retrospectivo em
literatura sobre a prevalência de lesões orais em lobos-guará, o qual avaliou a
ocorrência de fraturas dentárias em espécimes de vida livre (FURTADO et al., 2006)
e o relato de um caso de fibrossarcoma acometendo um lobo-guará de cativeiro, de
12 anos de idade, na maxila rostral, na região do terceiro incisivo esquerdo, o qual
foi submetido a maxilectomia rostral, apresentando sobrevida de 7 meses. O animal
foi eutanasiado devido à evolução desfavorável do quadro, sendo constatada a
presença de uma formação metastática mediastinal e diversas localizadas nos
pulmões (MCNULTY et al., 2000).
2.1.1 Características gerais da espécie
O lobo-guará é um animal solitário e territorial, com atividade predominante
em períodos noturnos e crepusculares, formando pares monogâmicos durante o
período reprodutivo (BUENO; MOTTA JUNIOR, 2006). Estas características fazem
com que os estudos sobre a biologia e o comportamento deste animal sejam
relativamente escassos, buscando-se cada vez mais informações através da
utilização de rádio-colares e armadilhas fotográficas para ter mais conhecimento
sobre a espécie (COELHO et al., 2007; MELO et al., 2007).
A espécie possui caracteres morfológicos peculiares, como seus membros
longos e finos, que permitem a este animal caçar e se movimentar em regiões de
forragens altas. As orelhas são grandes e a pelagem vermelho-ferrugem, com uma
crina de pêlos negros no dorso, assim como o plano nasal e as extremidades dos
membros dianteiros e mais da metade dos membros posteriores. A região cervical
ventral, a porção interna das orelhas e a cauda são de coloração branca (Figura 1).
O peso médio destes animais encontra-se entre 20 e 30 kg (SADALLA FILHO, 2000;
PAULA; MEDICI; MORATO, 2008).
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Figura 1 - Espécime adulto de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus)
em ambiente típico do cerrado brasileiro (Parque Nacional
das Emas - GO)
2.1.2 Dieta
O lobo-guará é considerado um carnívoro generalista, apresentando hábitos
alimentares onívoros, alimentando-se de pequenos mamíferos, como roedores e
tatus, répteis, gastrópodes, aves e ovos de aves, e de plantas forrageiras e frutos
silvestres, sendo a lobeira ou “fruta do lobo” (Solanum lycocarpum) um dos itens
mais importantes na dieta (MOTTA JUNIOR et al., 1996; JÁCOMO, 1999; SADALLA
FILHO et al., 2000; SANTOS; SETZ; GOBBI, 2003; SILVA; TALAMONI, 2003;
JÁCOMO; SILVEIRA; DINIZ FILHO, 2004).
Diversos trabalhos têm sido realizados para determinação do tipo de dieta
desta espécie, correlacionando à sazonalidade e disponibilidade de presas e
plantas, especialmente Solanum lycocarpum, em períodos de chuva e seca, e
também de acordo com o ambiente, como cerrado, planaltos e regiões voltadas à
agricultura e criação de gado (DIETZ, 1984; MOTTA JUNIOR et al., 1996;
ARAGONA; SETZ, 2001; SANTOS; SETZ; GOBBI, 2003).
Em estudo realizado por Santos, Setz e Gobbi (2003), em uma fazenda de
gado leiteiro em Minas Gerais, a lobeira (Solanum lycocarpum) consistiu no principal
item da dieta do lobo-guará (29,2%). Neste estudo, sementes de outras espécies
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frutíferas, incluindo outras espécies de solanáceas, e também pimentão, café e
mamão foram encontradas nas amostras fecais dos lobos, sendo estas espécies
remanescentes plantadas na região. acomo (1999) observou que a dieta dos
lobos-guará no Parque das Emas – GO consistia basicamente em 42,5% por itens
de origem animal e 57,4% de origem vegetal. A lobeira correspondendo a 18% do
total da dieta, mamíferos a 26,4%, aves a 11,2%, répteis a 3,1%, insetos a 1,6% e
ovos a 0,2%. Bueno e Motta Junior (2006) referem que a ingestão da fruta-do-lobo
(Solanum lycocarpum) pode chegar a 60% da dieta do lobo-guará em estações
chuvosas.
A fruta-do-lobo ou lobeira pertence à família Solanaceae, que compreende
frutos como jiló e tomate, sendo a maioria das espécies de Solanum considerada
venenosa (CORRÊA et al., 2000). As solanáceas têm em sua composição
glicoalcalóides, sugerindo-se que estas substâncias promovam inibição de infecção
renal por Dioctophyma renale, prevalente em lobos-guará (SANTOS; SETZ; GOBBI,
2003). Há estudos que indicam que este fruto possui pH variando de 4,2 a 4,5
(CORRÊA et al., 2000; OLIVEIRA JUNIOR et al., 2004).
Os lobos-guará são considerados animais oportunistas, devido à sua
característica alimentar, observada pela diversidade e proporção de itens
alimentares na dieta, tanto animal quanto vegetal e, além disso, pelo fato desses
animais se alimentarem também de restos alimentares e itens antrópicos. Em estudo
realizado em um parque estadual em Minas Gerais por Aragona e Setz (2001),
foram encontrados restos de plástico, papel, alumínio, cigarro, barbante, vidro e
carvão nas amostrais fecais dos lobos-guará. Em outro estudo, realizado em
estação ecológica localizada no nordeste do estado de São Paulo, foram avistados
três espécimes forrageando lixos próximos às moradias de fazendas da região
(MATTOS, 2003).
2.2 CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO DOS CARNÍVOROS
Os carnívoros correspondem por cerca de 10% dos mamíferos e por a 2%
da biomassa de todos os mamíferos. A ordem arnívora pode ser caracterizada pela
grande variação morfológica, ecológica e comportamental, como peso e tamanho
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corpóreos, padrões sexuais e reprodutivos, habitats e tipos de alimentação e
morfologia dentária distintas, variando de carnívoros estritos com grandes e afiados
dentes carniceiros a frutívoros com dentes rasos e achatados para trituração dos
alimentos (VAN VALKENBURGH, 1989).
Os canídeos apresentam morfologia craniana e dentária semelhante à do
cão doméstico (ELBROCH, 2006), logo, as informações acerca da anatomia e
fisiologia dentária serão abordadas no presente estudo considerando-se estas
similaridades.
2.2.1 Anatomia e fisiologia oral
As estruturas orais possuem diferentes funções, como a introdução de
alimentos e fluidos para dentro do canal alimentar, proteção contra predadores e
rivais, por exemplo, proteção contra microrganismos, perda de calor (principalmente
em cães) e comunicação (HARVEY; EMILY, 1993).
A morfologia craniana e dentária dos carnívoros é altamente especializada,
sendo composta por dentes adaptados para dominar a presa de maneira eficaz e
consumí-la rapidamente, através de ampla abertura da boca, suficiente para
apanhar a presa, e, ao mesmo tempo, dar estabilidade lateral para aplicar forças
oclusais intensas, semelhante a uma tesoura. Assim, a articulação
temporomandibular destes animais deve permitir grande força de oclusão, amplitude
vertical, mas limitado movimento de lateralidade (WIGGS; LOBPRISE, 1997;
WIGGS; BLOOM, 2003; ELBROCH, 2006).
Os elementos dentários também refletem as funções e tendências
adaptativas das espécies. A dentição carnívora, bem como a de alguns onívoros e
herbívoros, consiste tipicamente de dentes com seqüência de erupção específica,
com maturação e fechamento dos ápices radiculares (WIGGS; LOBPRISE, 1997).
A maioria dos carnívoros possui dentição do tipo heterodonte, isto significa
que diferentes grupos de dentes estão presentes na dentição destes animais, sendo
eles: incisivos, caninos, pré-molares e molares. Além disso, possuem uma troca de
dentição durante a vida, ou seja, uma dentição decídua ou primária, e uma dentição
chamada permanente, sendo classificados, desta maneira, como difiodontes. A
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erupção dentária é, na grande maioria dos carnívoros, do tipo vertical, sendo a troca
dentária imediata, isto é, assim que o dente decíduo sofre rizólise e subseqüente
esfoliação, ocorre sua substituição pelo dente permanente, que entra em oclusão
(WIGGS; BLOOM, 2003). Os dentes são tecodontes, isto significa que se encontram
firmemente alojados em seus alvéolos, através de articulação fibrosa específica,
denominada de gonfose (WIGGS; LOBPRISE, 1997).
Os dentes dos carnívoros são do tipo braquiodonte, ou seja, o comprimento
da coroa (altura) é proporcionalmente menor que o comprimento da raiz, e, uma vez
o dente erupcionado, apresenta menor movimentação lateral e de extrusão, devido à
presença de ligamento periodontal mais estável (MILES; GRIGSON, 2003). Dentes
secodontes são aqueles com cúspides cortantes, dispostos de maneira semelhante
a uma tesoura, como os pré-molares na maioria dos carnívoros, especialmente os
dentes carniceiros. Dentes bunodontes são dentes com cúspides achatadas, não
afiadas na face oclusal, dispostas de maneira a permitir ações de esmagamento e
trituração, como o primeiro e segundo molares superiores e segundo e terceiro
molares inferiores no cão (WIGGS; BLOOM, 2003).
Basicamente, os dentes incisivos são usados para roer, coçar e cortar, como
o rompimento do cordão umbilical; os dentes caninos servem para segurar, rasgar e
perfurar; os pré-molares são usados para cortar e segurar; e os dentes molares,
usados para triturar (HOLMSTROM, 1998).
A oclusão dos carnívoros é considerada anisognata, o que significa que a
maxila e a mandíbula são desiguais, sendo a porção oclusal da região molar da
mandíbula mais cranial à correspondente antagonista da maxila (WIGGS;
LOBPRISE, 1997). O formato da cabeça e o posicionamento dos dentes podem ser
afetados um pelo outro. O posicionamento anormal da dentição decídua pode
resultar em maloclusão dos dentes permanentes, ocasionando comprimentos
alterados na mandíbula e na maxila (GIOSO; CARVALHO, 2005).
A seqüência de erupção dos dentes decíduos e permanentes, assim como a
maturação e o fechamento dos ápices radiculares, é pouco documentada na maioria
das espécies animais (WIGGS; BLOOM, 2003).
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2.2.1.1 Anatomia dentária
Nos dentes dos carnívoros, o esmalte corresponde a uma fina camada que
recobre a coroa dentária. Esta estrutura é considerada a mais dura do organismo,
sendo formado predominantemente por cristais de hidroxiapatita. Possui coloração
branca translúcida, apesar de, muitas vezes, aparentar mudança na coloração,
devido à transmissão de cor da dentina subjacente (TEN CATE, 1988; HARVEY;
EMILY, 1993).
A dentina corresponde ao principal componente do dente, sendo recoberta
na coroa por esmalte e na raiz por cemento. É composta por cristais de
hidroxiapatita, fibras colágenas, mucopolissacarídeos e água. A dentina é uma
estrutura porosa, em seu interior existem túbulos dentinários contendo
prolongamentos citoplasmáticos dos odontoblastos, células especializadas,
localizadas na polpa dentária (TEN CATE, 1988).
A polpa dentária corresponde ao tecido interno do dente, composto por
vasos sanguíneos, terminações nervosas e células. Os odontoblastos, que
encontram-se na periferia, são responsáveis pela produção de dentina, dentre outras
funções (TEN CATE, 1988).
O periodonto é composto por estruturas responsáveis pelo suporte e pela
proteção do dente, sendo elas: cemento, ligamento periodontal, osso alveolar e
gengiva (NEWMAN; TAKEI; CARRANZA, 2002).
O cemento é um tecido avascular, semelhante ao osso, que recobre as
raízes dentárias dos mamíferos. Geralmente, recobre a porção cervical da raiz como
uma fina camada que se torna mais espessa no sentido apical da raiz. (REITER;
LEWIS; OKUDA, 2005). Através do cemento, as fibras do ligamento periodontal
prendem-se ao dente e, do outro lado, ao osso alveolar. O ligamento periodontal
realiza, assim, a sustentação do dente no interior de seu alvéolo, funcionando como
um amortecedor de impacto. Ao redor do dente, recobrindo o osso alveolar,
encontra-se a gengiva (NEWMAN; TAKEI; CARRANZA, 2002).
A figura 2 representa a anatomia normal de um elemento dentário e os
tecidos adjacentes, em carnívoros.
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Figura 2 – Representação da anatomia dentária e
tecidos adjacentes em dente de espécime
carnívoro: esmalte (a), dentina(b), polpa
(c), gengiva (d), cemento (e), ligamento
periodontal (f) e osso alveolar (g)
2.3 AVALIAÇÃO DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
O exame do sistema estomatognático deve ser realizado de maneira
cuidadosa e sistemática, por meio de inspeção e palpação, pois muitas afecções
dentárias e orais podem apresentar manifestações sutis (EBERHARD, 2001).
Em animais selvagens, na maioria das vezes, o exame inicial não pode ser
realizado com o animal consciente, e esta primeira etapa somente será efetuada
com o animal já anestesiado, para garantir acesso adequado e seguro do
profissional à cavidade oral. Desta maneira, durante qualquer procedimento que
necessite de sedação ou contenção química, como, por exemplo, o exame físico que
os zoológicos costumam efetuar anualmente nestes animais, pode-se
concomitantemente realizar o exame da cavidade oral (WIGGS; LOBPRISE, 1997;
WIGGS; BLOOM, 2003).
Eventualmente, algumas manifestações clínicas sugestivas de afecções
orais podem ser observadas pelos profissionais que trabalham com os animais no
zoológico. Estes sinais incluem, por exemplo, perda ou diminuição do apetite, perda
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de peso, aumento de volume facial, fístulas, sangramento oral, salivação excessiva,
corrimento nasal, alteração comportamental, como hiperatividade ou inatividade,
agressividade e outros indicativos de dor ou desconforto, como fricção da face
contra os membros ou chão, porta e grades (WIGGS; BLOOM, 2003). Outros sinais
mais discretos podem ser observados, como seletividade ou mudança no método de
preensão dos alimentos, evidenciada, por exemplo, pela presença de alimentos não
digeridos nas fezes e pelo animal evitar roer alimentos mais duros, escolhendo
apenas os de textura mais macia (WIGGS; LOBPRISE, 1997; WIGGS; BLOOM,
2003).
A avaliação do sistema estomatognático deve ser iniciada pela inspeção
externa da região cefálica, observando-se simetria, evidência de aumento de volume
facial, presença de fístula, ferimento e cicatrizes, presença de secreção nasal e
ocular. Em seguida, são avaliados lábios e mucosa, expondo, então, os dentes e
gengiva. A mucosa deve ser avaliada quanto à coloração, umidade, ulceração,
laceração e edema; a gengiva é inspecionada quanto à coloração, inflamação,
retração, presença de exsudato, sangramento e aumento de volume. Os dentes
devem ser avaliados quanto à oclusão, presença de fratura ou desgaste,
descoloração, cálculo, placa, mobilidade, cárie, lesões de reabsorção e defeitos de
desenvolvimento. A inspeção de formações, laceração, ulceração e corpos
estranhos é realizada por toda a superfície da língua, nas regiões laterais, dorsal e
ventral e por todo o palato (WIGGS; LOBPRISE, 1997; EBERHARD, 2001).
Embora o exame geral da cavidade oral possa ser realizado através de
inspeção visual direta, algumas manifestações precisam de meios diagnósticos
auxiliares, para determinação de alguns parâmetros e diferenciação de lesões
específicas. Para isso, alguns instrumentos fazem parte fundamental do exame
odontológico, como a sonda periodontal, o explorador e o espelho odontológico,
além do exame radiográfico. Além disso, as informações obtidas durante o exame
são vastas, necessitando de anotação em fichas odontológicas, chamadas de
odontogramas (HARVEY; EMILY, 1993; HOLMSTROM; FITCH; EISNER, 2004).
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2.3.1 Espelho clínico odontológico
Os espelhos odontológicos são utilizados para a observação indireta das
superfícies dentárias e outras estruturas orais, para iluminação e transiluminação
(HARVEY; EMILY, 1993).
Algumas regiões, como as faces distal e palatina dos dentes molares
superiores, são de difícil inspeção direta. Além disso, o espelho odontológico pode
ser usado para iluminação, refletindo a luz para o dente, ou transiluminação,
refletindo a luz pelo interior do dente, de uma face a outra, o que permite a avaliação
acerca de descoloração dentária (hemorragia interna), opacidade (desvitalização
pulpar) e áreas translúcidas, que podem ser indicativas de lesão de reabsorção
dentária e cárie (WIGGS; LOBPRISE, 1997; HOLMSTROM; FITCH; EISNER, 2004).
2.3.2 Sonda periodontal
A sondagem periodontal é um procedimento clínico que permite ao
profissional estimar a condição estrutural dos tecidos periodontais. O instrumento
mais amplamente utilizado no diagnóstico clínico periodontal é a sonda periodontal
(NEWMAN; TAKEI; CARRANZA, 2002).
Através deste instrumento, são avaliados parâmetros clínicos como
profundidade de sondagem, nível clínico de inserção (NCI) e sangramento à
sondagem. Em geral, as sondas são calibradas com marcas milimetradas e usadas
para determinar a migração epitelial que formam as bolsas periodontais (BULTHUIS
et al., 1998).
A sonda é introduzida no interior do sulco gengival até atingir o limite apical,
no epitélio juncional, sendo efetuadas as medidas referentes a (Figura 3):
profundidade do epitélio até a margem gengival, denominada sulco gengival
(fisiológico) ou bolsa periodontal (na doença periodontal), medida do epitélio até a
junção amelocementária (nível clínico de inserção), margem gengival até a junção
amelocementária (retração ou hiperplasia gengival) e exposição radicular.
Preconiza-se a realização destas mensurações em seis pontos diferentes em um
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mesmo dente, ou seja, em diversas faces dentárias, permitindo, assim,
determinação mais acurada sobre a condição específica do dente. Pode-se avaliar
com auxílio da sonda periodontal exposição de furca e mobilidade dentária (WIGGS;
LOBPRISE, 1997; HOLMSTROM; FITCH; EISNER, 2004).
Figura 3 - Sondagem com sonda periodontal
milimetrada, para determinação dos
parâmetros: profundidade da bolsa (a),
retração gengival (b) e nível clínico de
inserção - NCI (c).
French e Antony (1996) realizaram um trabalho com felídeos selvagens
mantidos em cativeiro no Metro Toronto Zoo, efetuando o exame oral dos animais e
avaliando a introdução de uma dieta seca experimental. Foram avaliadas as
seguintes espécies: onça pintada, tigre siberiano, tigre de Sumatra, leão africano,
leopardo das neves, suçuarana, lince africano, leopardo chinês e guepardo. Durante
a sondagem periodontal, foi constatada profundidade de bolsa de 1mm em todos os
incisivos destes animais e de, no máximo, 3mm nos demais dentes, sendo os
valores mais altos encontrados nos dentes quarto pré-molares superiores e caninos,
considerados, assim, valores fisiológicos no trabalho em questão.
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2.3.3 Explorador odontológico
O explorador odontológico possui extremidade pontiaguda, com ponta ativa
geralmente em semicírculo, ou levemente angulada. Este instrumento foi
desenvolvido para promover sensibilidade tátil, sendo usado para detectar a
presença de debris e cálculo em superfícies radiculares sub-gengivais, avaliar
mobilidade dentária, explorar a região de furca, detectar superfícies dentárias
irregulares, por exemplo, acometidas por cárie e lesões de reabsorção, e avaliar as
margens de uma restauração. O explorador é, ainda, muito utilizado para avaliar
superfícies dentárias fraturadas e com desgaste, a fim de evidenciar a existência de
exposição pulpar (HARVEY; EMILY, 1993; WIGGS; LOBPRISE, 1997;
HOLMSTROM; FITCH; EISNER, 2004).
2.3.4 Odontograma
O odontograma pode ser considerado o meio mais eficiente de arquivar os
achados clínicos odontológicos observados durante o exame oral. A facilidade de
compreensão desta ficha clínica permite rápido acesso à condição oral do paciente,
acompanhamento da evolução de uma doença ou do resultado de um tratamento
(Anexo A) (SCHUMACHER, 1993).
Diversos sistemas de identificação dentária têm sido usados para as fichas
de exame oral ou odontogramas. Os mais amplamente utilizados em odontologia
veterinária mundialmente são o Sistema Triadan Modificado e o Sistema de
Identificação Anatômica (HOLMSTROM; FITCH; EISNER, 2004).
O Sistema Triadan Modificado utiliza números de três dígitos para identificar
cada dente. O primeiro número representa o quadrante ao qual o dente pertence,
convencionando-se o quadrante correspondente à maxila direita de número 1, a
maxila esquerda como 2, a mandíbula esquerda como 3 e a mandíbula direita como
4, seguindo em sentido horário, como se estivesse olhando o animal de frente. A
representação desta classificação pode ser observada nos anexos A e B. Para a
dentição decídua, segue-se o mesmo padrão, utilizando-se os números de 5 a 8. Os
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dentes são identificados individualmente por dois dígitos, iniciando-se a numeração
a partir da linha mediana, sendo o dente 01 o primeiro incisivo, seguindo-se em
direção ao último dente molar (HOLMSTROM; FITCH; EISNER, 2004).
2.3.5 Exame radiográfico intra-oral
A radiografia intra-oral pode ser considerada uma das ferramentas mais
importantes na odontologia veterinária. Além de conhecimento sobre as técnicas
radiográficas empregadas, tipos e posicionamento dos filmes, é fundamental saber
interpretar a radiografia. Para isso, o conhecimento da anatomia radiográfica oral
normal é essencial para a interpretação correta de uma lesão ou para
monitoramento do tratamento (GORREL, 1998).
As estruturas normalmente identificadas através do exame radiográfico intra-
oral são as discriminadas a seguir: coroa, colo dentário, câmara e canal pulpar,
ápice radicular, espaço periodontal, parede dentinária, osso cortical, osso
interradicular, região de furca e, na mandíbula, o canal mandibular (Figura 4)
(HOLMSTROM; FITCH; EISNER, 2004).
Figura 4 – Anatomia radiográfica normal de dente primeiro
molar inferior de um lobo-guará. As estruturas
anatômicas identificadas no exame radiográfico
compreendem: esmalte (a), dentina (b), espaço
do ligamento periodontal (c), ápice radicular (d),
furca (e), lamina dura (f), osso alveolar (g), canal
radicular (h) e câmara pulpar (i)
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A avaliação radiográfica deve incluir a integridade da lamina dura ao redor
de toda a superfície radicular do dente, inclusive a região periapical. A lamina dura é
um termo radiológico, dado à linha radiodensa que circunda intimamente a raiz
dentária, e que equivale à cortical da crista óssea alveolar. Entre o dente e a lamina
dura pode ser visualizada no filme radiográfico uma fina camada radioluscente, que
corresponde ao espaço ocupado pelo ligamento periodontal (DUPONT, 2005).
A cavidade pulpar, ou seja, a câmara pulpar e o canal radicular, pode ser
visualizada radiograficamente como uma região contínua radioluscente, no centro do
dente, estendendo-se desde a coroa até o ápice radicular. O tamanho e a espessura
da cavidade pulpar variam com a idade do animal (GORREL, 1998). Em animais
jovens, a parede dentinária pode ser visualizada no filme radiográfico com
espessura delgada e o canal pulpar amplo, e a lamina dura é bem evidente e
delimitada. Com a idade, a lamina dura pode desaparecer, o canal pulpar encontra-
se mais delgado e a parede de dentina mais ampla (HOLMSTROM; FITCH;
EISNER, 2004).
A ausência de um dente na cavidade oral pode ter diferentes causas, como
reabsorção pelo próprio organismo, falha no desenvolvimento ou na erupção do
dente e perda traumática. As conseqüências, dependendo da causa, podem
ocasionar a formação de cistos, por exemplo, no caso de falha de erupção, ou
abscessos, no caso de fraturas dentárias, com a persistência de raízes infectadas
nos alvéolos. Desta maneira, a avaliação radiográfica pode ser considerada um dos
melhores métodos para o diagnóstico de ausência e malformações dentárias
(VERSTRAETE et al., 1996b; HOLMSTROM, 1998).
2.4 AVALIAÇÃO DE SINCRÂNIOS PARA FINS ODONTOLÓGICOS
O termo sincrânio é amplamente utilizado em trabalhos principalmente na
área de Biologia, de acordo com a concepção de Gregory (1933), onde neurocrânio,
esplancnocrânio e mandíbula são considerados em conjunto, com a finalidade de
evitar as freqüentes confusões sobre a porção exclusiva do cranium (SIMÕES-
LOPES, 2006).
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A investigação osteológica pode revelar inúmeras informações úteis sobre a
saúde ante-morte de um espécime, como afecções infecciosas e físicas, em
humanos e em animais (COOPER; COOPER, 2008). Os acervos de história natural
dos museus são fonte de conhecimento e compreensão sobre as espécies e seus
habitats. É possível obter informações sobre o que estes animais se alimentavam
durante a vida, o grau de poluição química que os circundava enquanto forrageavam
plantas, por exemplo, e possivelmente outras informações que ainda não sabemos
revelar (ELBROCH, 2006).
Pode-se afirmar que o exame pós-morte de crânios e outros ossos
costumava ser negligenciado em medicina veterinária. Felizmente, o número de
estudos sobre enfermidades em animais silvestres que vem utilizando este material
tem aumentado significativamente, associando-se outros exames, como avaliação
radiográfica e microscópica (COOPER; COOPER, 2008).
Além disso, a possibilidade de realizar estudos comparativos sobre a
evolução dos animais, correlacionando o tipo de dieta e de afecções dentárias
existentes há séculos atrás e na atualidade podem trazer respostas e fomentar a
busca por inúmeras outras. Esta modalidade de estudo vem sendo realizada em
humanos há muitos anos, e cada vez mais aplicada à medicina veterinária, como
estudos sobre lesão de reabsorção dentária felina, que têm avaliado espécimes dos
séculos XII a XIV (BERGER et al., 2004).
Uma grande variedade de lesões inflamatórias e traumáticas e possíveis
doenças metabólicas e de desenvolvimento puderam ser diagnosticadas em
esqueletos de gorilas avaliados por Cooper e Cooper (2008). Tais afecções
incluíram abscessos periapicais, fraturas dentárias e reabsorção alveolar.
Diversos trabalhos têm sido realizados com auxílio de crânios secos para
avaliação de lesões ósseas e dentárias, e correlação de achados dentários e ósseos
com tipo de habitat e dieta em diferentes espécies animais, dentre elas: coelho
(OKUDA; HORI; ASARI, 2001), ferret (CHURCH, 2007), gambá (Didelphis albiventris
e Didelphis marsupialis) (AGUIAR et al., 2004), gato selvagem (VERSTRAETE et al.,
1996a, b), girafa (Giraffa camelopardalis) (CLAUSS et al., 2007), leão (Panthera leo)
(VAN VALKENBURGH, 1988), leão-marinho (Otaria byronia e Arctocephalus
australis) (SANFELICE; FERIGOLO, 2008), lêmure (Lemur catta) (CUOZZO;
SAUTHER, 2004), lobo (Canis lupus) (VAN VALKENBURGH, 1988; PAVLOVIĆ et
al., 2007), onça pintada (Panthera onca) (VAN VALKENBURGH, 1988; ROSSI
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JUNIOR, 2007), suçuarana (Puma concolor) (VAN VALKENBURGH, 1988;
DUCKLER; VAN VALKENBURGH, 1998; ROSSI JUNIOR, 2007), urso pardo (Ursus
arctos) (WENKER et al., 1999) e urso polar (Ursus maritimus) (SONNE et al., 2007).
2.5 AFECÇÕES DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
As afecções orais mais freqüentes em espécies carnívoras correspondem
principalmente a lesões traumáticas dos elementos dentários, sendo fratura,
desgaste e escurecimento dentário as mais prevalentes (WIGGS; LOBPRISE, 1997).
A literatura existente sobre enfermidades orais em animais silvestres
consiste principalmente em casos relacionados a espécimes de cativeiro,
descrevendo grande ocorrência de doenças da cavidade oral devido a traumas e
doença periodontal, decorrentes do estresse e problemas comportamentais gerados
pelo ambiente de cativeiro (WIGGS; LOBPRISE 1997; WIGGS; BLOOM, 2003).
Wenker et al. (1998, 1999) afirmam que o tratamento odontológico representa o
principal tipo de procedimento realizado em ursos cativos submetidos a anestesia,
sendo a exodontia e o tratamento endodôntico os mais prevalentes.
Felizmente, cada vez mais surgem estudos procurando avaliar a saúde oral
de animais de vida livre e comparar os achados com observações de espécimes de
cativeiro. Foram encontrados em literatura estudos em vida livre com as seguintes
espécies: esquilo-vermelho (Sciurus vulgaris) (SAINSBURY et al., 2004), gato
selvagem (VERSTRAETE et al. 1996a, b), onça-pintada (Panthera onca) e
suçuarana (Puma concolor) (ROSSI JUNIOR, 2002, 2007), urso pardo (Ursus arctos)
(WENKER et al., 1999).
O enriquecimento ambiental e da dieta de animais mantidos em cativeiro
pode causar tanto redução quanto aumento das doenças e afecções orais. Dietas
comerciais podem promover adequado balanço nutricional, entretanto, a textura, o
tamanho e a força requerida para mastigação podem ser ineficientes às
necessidades do animal, para limpeza dentária e gengival, manutenção do tônus
muscular, e manutenção do osso alveolar, que são promovidas com a captura,
mastigação e ingestão da presa, em vida livre (WIGGS; BLOOM, 2003). Problemas
como doença periodontal, lesões de reabsorção dentária e cárie podem estar
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relacionados à modificação da dieta dos animais em cativeiro. Muitos carnívoros
parecem ter necessidade de mastigar, e podem selecionar objetos inapropriados
para roer, a fim de suprir a falta de objetos adequados, resultando, assim, em
traumas dentários (desgaste ou fratura) (WIGGS; LOBPRISE, 1997; WIGGS;
BLOOM, 2003).
2.5.1 Anomalias dentárias e alterações em oclusão
Os dentes podem variar quanto ao número, tamanho, formato e posição
dentre uma mesma espécie. As variações quanto ao número, tamanho e formato
tendem a ter um fator genético envolvido, as variações quanto ao posicionamento do
dente costumam ser influenciadas por fatores ambientais ou secundárias a
condições que afetam o crescimento e desenvolvimento ósseo (MILES; GRIGSON,
2003). Variações com relação a coroas, raízes, sistemas endodônticos e número de
dentes têm sido relatadas em praticamente todas as espécies conhecidas pelo
homem (WIGGS; BLOOM, 2003).
A ausência congênita de dentes, tanto anodontia (ausência total) quanto
oligodontia (ausência da maioria dos dentes) é considerada rara em cães e gatos
domésticos e em canídeos selvagens (HARVEY; EMILY, 1993; VERSTRAETE et al.,
1996a; MILES; GRIGSON, 2003). Já a hipodontia (ausência de alguns dentes) é
achado clínico comum em cães, principalmente em dentes pré-molares (HARVEY;
EMILY, 1993).
A ausência de um elemento dentário na cavidade oral só pode ser
confirmada através da realização de exame radiográfico, que indicará se o dente
existe, porém houve falha no processo de erupção, ou se realmente não existe
(WIGGS; BLOOM, 2003).
A presença de dentes supranumerários também é considerada freqüente em
cães domésticos (GORREL, 1998). Miles e Grigson (2003) relatam a presença de
dentes supranumerários em 35 espécimes em um total de 1.280 crânios de
canídeos selvagens (2,7%) e em 69 de 799 crânios de cães domésticos (8,6%). As
tabelas 1 e 2 apresentam a prevalência de dentes supranumerários na Ordem
Carnivora e na família Canidae, respectivamente, segundo Miles e Grigson (2003).
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Os mesmos autores afirmam que dentes supranumerários são mais freqüentes na
maxila do que na mandíbula, na região do primeiro pré-molar. Embora em alguns
casos seja difícil determinar qual dos dentes corresponde ao supranumerário, a
diferenciação com um dente decíduo que não sofreu processo de esfoliação deve
ser feita, já que a presença do permanente pode gerar a formação de cisto dentígero
(WIGGS; LOBPRISE, 1997; WIGGS; BLOOM, 2003).
Tabela 1 - Distribuição de dentes supranumerários na Ordem Carnivora, segundo o número de
espécimes (número absoluto e porcentagem) e grupo de dentes acometidos (não
foram incluídos cães e gatos dométicos), de acordo com a família
Dente supranumerário
Total de espécimes com
dente supranumerário
Família
Número de
espécimes
I C PM M N %
Felidae 1308 4 1 26 4
35 2,7
Hyaenidae 142 0 0 1 0
1 0,7
Viverridae 1585 6 0 14 6
26 1,6
Mustelidae 1844 10 1 7 2
20 1,1
Procyonidae 413 1 0 5 1
7 1,7
Ursidae 379 4 0 5 0
9 2,4
Canidae 1280 3 1 16 15
35 1,9
Total 6951 28 3 74 28 133 1.9
Fonte: MILES; GRIGSON, 2003.
I = incisivo, C = canino, PM = pré-molar, M = molar
N = número absoluto
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Tabela 2 - Distribuição de dentes supranumerários em canídeos, segundo o número de
espécimes (número absoluto e porcentagem) e grupo de dentes acometidos, de
acordo com o gênero da família Canidae
Dente supranumerário
Total de espécimes com
dente supranumerário
Gênero
Número de
espécimes
I C PM M N %
Cão doméstico 799 19 0 39 13 69 8,6
Canídeos selvagens
Canis
315 1 0 9 1
11 3,5
Vulpes
493 2 1 3 2
8 1,6
Alopex
130 0 0 1 0
1 0,8
Cerdocyon
79 0 0 1 3
4 5,1
Dusicyon
139 0 0 1 3
3 2,9
Nyctereutes
29 0 0 1 1
2 6,8
Otocyon
31 0 0 0 2
2 6,4
Cuon
50 0 0 1 0
1 2,0
Speothos
14 0 0 0 3
3 21,0
Total
(canídeos selvagens)
1280
3 1 16 15
35 2,7
Fonte: MILES; GRIGSON, 2003.
I = incisivo, C = canino, PM = pré-molar, M = molar
N = número absoluto
As raízes podem apresentar aberrações quanto ao formato e, em dentes
multi-radiculares, diferença quanto ao número de raízes. Miles e Grigson (2003)
consideram a ocorrência de raízes acessórias rara em canídeos, sendo observados
apenas três casos da anomalia nos 1280 sincrânios de canídeos estudados,
correspondendo a uma raposa-vermelha (Vulpes vulpes) e duas raposas-polares
(Alopex lagopus). Em estudo realizado por Verstraete et al. (1996ª) utilizando 301
sincrânios de gatos selvagens, foi observada a presença de raiz acessória em
10,3% dos terceiros pré-molares superiores e dois casos nos quartos pré-molares
inferiores e um caso no primeiro molar inferior. Miles e Grigson (2003) afirmam que,
em felídeos, uma raiz acessória pode apresentar-se na face lingual entre as raízes
mesial e distal do quarto pré-molar inferior, embora não tenha sido relatada pelos
autores tal anomalia nos felídeos avaliados no estudo. Entretanto, em outras famílias
de carnívoros, há descrição de raízes acessórias, como Viverridae, Mustelidae e
Ursidae (MILES; GRIGSON, 2003).
Outras anomalias dentárias passíveis de ocorrência em carnívoros
correspondem à fusão dentária, na qual, durante o desenvolvimento, há união de
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dois ou mais dentes, geminação dentária, dilaceração de raiz e dens in dente
(WIGGS; LOBPRISE, 1997; GORREL, 1998). Além disso, malposicionamento dos
dentes pode ocorrer, como giroversão e apinhamento dentário, o que pode favorecer
o acúmulo de debris alimentares e bactérias por dificultar a higienização local.
A maloclusão tem sido relatada em diversos carnívoros selvagens, sendo
considerada uma afecção mais propensa em animais de cativeiro do que em
animais de vida livre. A etiologia pode estar relacionada a problemas ambientais,
nutricionais, textura da dieta, estresse, trauma e doença periodontal (WIGGS;
LOBPRISE, 1997; WIGGS; BLOOM, 2003).
Rossi Junior (2007) relata a prevalência de maloclusão em sincrânios de
onça-pintada (Panthera nça) e suçuarana (Puma concolor) de vida livre,
correspondendo a 12% e 7%, respectivamente. Em um estudo em guepardos,
Marker e Dickman (2004) observaram que 31,7% dos animais apresentaram
apinhamento dentário dos incisivos inferiores, sendo sugerido que fatores
ambientais e genéticos estejam relacionados, uma vez que esta espécie apresenta
elevada homozigose.
A hipocalcificação ou hipomineralização e a hipoplasia de esmalte são
observadas em diferentes graus na maior parte dos animais. Considera-se que
animais criados em zoológicos apresentam maior grau da afecção, comparados a
animais de vida livre (WIGGS; BLOOM, 2003).
A erupção dentária tardia pode ser considerada de difícil diagnóstico nos
carnívoros selvagens, já que há escassa literatura sobre o assunto e também pela
dificuldade para realização do exame oral rotineiramente. Há informação sobre as
fórmulas dentárias decíduas e o tempo de erupção das dentições decídua e
permanente apenas em algumas espécies de primatas e grandes felídeos (leão,
tigre, leopardo, onça parda e onça pintada) (WIGGS; LOBPRISE, 1997). Disfunções
endócrinas podem estar relacionadas com falhas na erupção dentária, mas as
causas mais freqüentes podem ser consideradas mecânicas, ocasionada por
deficiência no processo de irrompimento gengival do dente durante a erupção
(operculum), persistência de dente decíduo, dente supranumerário, apinhamento
dentário, cisto, formações, dilaceração de coroa ou raiz, ou traumas (HARVEY;
EMILY, 1993; WIGGS; BLOOM, 2003). Wiggs e Bloom (2003) relatam o caso de um
leopardo jovem com operculum em dentes pré-molares e molares.
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2.5.2 Doença periodontal
A doença periodontal é uma enfermidade oral caracterizada pelo
acometimento do periodonto, composto por estruturas responsáveis pela proteção e
sustentação do dente. Os tecidos periodontais compreendem: gengiva, ligamento
periodontal, cemento e osso alveolar (NEWMAN; TAKEI; CARRANZA, 2002).
A doença periodontal é causada pela placa bacteriana, que se adere à
superfície dentária, inicialmente na região supragengival, provocando reação
inflamatória local, através da liberação de toxinas, caracterizando a gengivite,
estágio inicial e reversível da doença periodontal (HENNET et al., 2006). Com a
evolução da doença, as bactérias colonizam o interior do sulco gengival, e outras
estruturas do periodonto, além da gengiva, são afetadas, estabelecendo a
periodontite, estágio avançado e irreversível da doença periodontal. Nesta etapa,
podem ser observadas manifestações como: retração gengival, bolsa periodontal,
perda do nível clínico de inserção (NCI), reabsorção alveolar, exposição de furca,
mobilidade dentária e, finalmente, perda do elemento dentário (HARVEY; EMILY,
1993; WIGGS; LOBPRISE, 1997).
Em estudo realizado por DeBowes et al. (1996), foi demonstrada correlação
positiva entre a gravidade da doença periodontal com alterações histológicas em
diversos órgãos e tecidos em cães domésticos, como rins, fígado e miocárdio,
sugerindo-se que a doença periodontal pode ter efeitos sistêmicos nesta espécie.
Em humanos, há diversos trabalhos que indicam a doença periodontal como risco
potencial para afecções sistêmicas, como insuficiência renal, doenças cardíacas e
pulmonares e partos prematuros (SHIOTA et al., 2002; LEÓN et al., 2007; FISHER
et al., 2008). Fitch e Fagan
2
(1982 apud MARKER; DICKMAN, 2004, p. 23) relatam o
caso de mortalidade de um guepardo mantido em cativeiro devido à falência renal
associada à osteomielite oronasal, decorrente de FPE.
A placa bacteriana é composta basicamente por bactérias, debris
alimentares e compostos salivares. Não havendo a remoção mecânica deste
biofilme, a placa sofre processo de mineralização, formando o cálculo dentário
(DUPONT, 1997). O cálculo dentário geralmente é observado na face vestibular e
2
FITCH, H. M.; FAGAN, D. A. Focal palatine erosion associated with dental malocclusion in captive
cheetahs. Zoo Biology, v. 1, n. 4, p. 295-310, 1982.
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lingual dos dentes, próximo os ductos salivares e menos freqüente nas faces
oclusais (PROWSE et al., 2008).
Em dentes multi-radiculares, a reabsorção do osso alveolar pode levar à
exposição da região interproximal das raízes, denominada de furca. O grau de
envolvimento desta região implica, dentre outros fatores, na escolha do tratamento a
ser realizado, como exodontia ou cirurgia periodontal (HARVEY; EMILY, 1993;
WIGGS; LOBPRISE, 1997). Assim, classifica-se a exposição de furca em três
estágios, segundo a Veterinary Dental Nomenclature, desenvolvida pelo AMERICAN
VETERINARY DENTAL COLLEGE (AVDC):
Grau 1: a sonda periodontal penetra na região de furca do dente multi-
radicular em profundidade inferior à metade da distância até a face contra-
lateral do dente, em qualquer direção.
Grau 2: a sonda periodontal penetra mais da metade da profundidade
da região de furca, sem atravessar para o outro lado.
Grau 3: a sonda periodontal atravessa a região de furca, para o outro
lado.
Outro método utilizado para avaliar o comprometimento do suporte
periodontal do dente é a determinação da mobilidade dentária, classificada em
estágios (AVDC):
Grau 0: mobilidade dentária fisiológica, de até 0,2 mm.
Grau 1: mobilidade aumentada, em qualquer direção, exceto axial,
entre 0,2 a 0,5 mm.
Grau 2: mobilidade aumentada, em qualquer direção, exceto axial,
entre 0,5 a 1 mm.
Grau 3: mobilidade aumentada, em qualquer direção, exceto axial,
acima de 1 mm, ou qualquer movimentação axial.
A classificação de doença periodontal aceita e recomendada pelo AVDC
baseia-se no grau de gravidade da enfermidade para cada elemento dentário,
individualmente, já que o paciente pode apresentar dentes com diferentes estágios
da doença. Desta maneira, a doença periodontal compreende os seguintes estágios:
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Normal (0): clinicamente normal – ausência de inflamação gengival ou
periodontite evidente.
Estágio 1: gengivite – sem perda de inserção periodontal.
Estágio 2: periodontite inicial – perda de menos que 25% da inserção
periodontal, exposição de furca grau 1.
Estágio 3: periodontite moderada – perda de 25 a 50% da inserção
periodontal, exposição de furca grau 2.
Estágio 4: periodontite grave ou avançada – perda de mais de 50% da
inserção periodontal, exposição de furca grau 3.
A perda de inserção periodontal pode ser avaliada através da sondagem
periodontal ou determinada radiograficamente, através da distância da margem
alveolar à junção amelo-cementária, em relação à raiz.
A doença periodontal é geralmente considerada mais freqüente em animais
de cativeiro quando comparados com animais de vida livre. A dieta e o ambiente são
considerados os principais fatores modificadores relacionados a esta predisposição
(WIGGS; LOBPRISE, 1997; WENKER et al., 1999; MILES; GRIGSON, 2003;
WIGGS; BLOOM, 2003). Wenker et al. (1999) salientam que a dieta inapropriada e
atividades que não possibilitem a higienização dentária adequada favorecem a
deposição de placa e bacteriana e cálculo nas superfícies dentárias de ursos
mantidos em zoológicos, e que a dieta natural destes animais, por ser variada
quanto à estrutura e aos valores nutricionais, requer mastigação e trituração
adicionais, prevenindo o acúmulo de cálculo e placa. Considera-se, ainda, que a
doença periodontal tende a progredir mais rapidamente e extensivamente na maxila
do que na mandíbula, já que o osso mandibular é mais denso (MILES; GRIGSON,
2003). Os mesmos autores afirmam, ainda, que lobos mantidos em cativeiro são
mais propensos a desenvolver doença periodontal similar à apresentada por cães
domésticos.
Problemas associados com doença periodontal e cárie são descritos em
primatas mantidos em cativeiro, especialmente quando a dieta oferecida a estes
animais possui consistência mais macia e contém carboidratos purificados ou
refinados ao invés de alimentos fibrosos naturais (WIGGS; LOBPRISE, 1997).
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Em estudo realizado por Hefferren, Smith e Kruckenberg (1996) com cães
domésticos, foram oferecidos objetos com diferente flexibilidade para os animais
mastigarem. Foi observado que o grupo controle, para o qual não foram oferecidos
objetos para roer, apresentou substancialmente mais placa, cálculo e descoloração
dentária, comparado aos demais grupos, que receberam os materiais. Tais objetos
foram mais efetivos no controle de acúmulo de debris sobre a superfície dentária do
que na sua remoção. Os objetos de consistência mais macia foram mais eficientes
no controle da placa bacteriana, enquanto os de consistência intermediária
prevaleceram no controle de cálculo e descoloração dentária. Não foram observadas
lesões em tecidos moles e duros da cavidade oral causados pelos objetos para
mastigação.
Em estudo realizado em canídeos selvagens, Miles e Grigson (2003)
afirmam que a reabsorção óssea alveolar ocorre nestes animais, embora seja
incomum, acometendo 24 espécimes examinados em um total de 1.157 (2,1%),
sendo observada, ainda, prevalência mais elevada em algumas espécies do que em
outras (MILES; GRIGSON, 2003).
Em estudo efetuado em sincrânios de gorilas, Kakehashi, Baer e White
(1963) estabeleceram cinco critérios de avaliação da doença periodontal: 1.
Distância da crista óssea alveolar vestibular à junção amelocementária (JAC), sendo
a representação de reabsorção óssea horizontal, 2. Envolvimento de furca, 3.
Reabsorção óssea interproximal, ou seja, entre dentes adjacentes, 4. Deiscência e
5. Fenestração.
Fenestração e deiscência correspondem a tipos de defeitos ósseos, que
podem ocorrer principalmente na face vestibular do osso alveolar, embora também
possam acometer as faces lingual e palatina. A fenestração caracteriza-se por uma
lesão circunscrita no osso alveolar, na qual a raiz dentária fica exposta, sendo
recoberta apenas por periósteo e gengiva. Neste caso, a margem da crista óssea
alveolar permanece intacta. Quando estas áreas descobertas por osso estendem-se
até e envolvem a margem da crista alveolar, o defeito ósseo recebe a denominação
deiscência (Figura 5) (NEWMAN; TAKEI; CARRANZA, 2002).
Estes defeitos ósseos têm grande importância em odontologia humana, pois
podem predispor a retrações gengivais, influenciar o grau e o padrão de reabsorção
óssea e trazer complicações a cirurgias periodontais (LARATO, 1970; DAVIES et al.,
1974; LÖST, 1984; NEWMAN; TAKEI; CARRANZA, 2002).
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Fonte: KAKEHASHI; BAER; WHITE, 1963.
Figura 5 – Progressão do envolvimento ósseo desde a formação de uma
lesão de fenestração, em animal jovem (esquerda), até a união
de um defeito de deiscência com a reabsorção óssea horizontal,
causada por doença periodontal, em animal de idade avançada
Considera-se que aproximadamente 20% dos dentes em humanos
apresentam fenestração e deiscência, havendo variação na prevalência, de acordo
com o grupo étnico estudado. Os autores concordam que estes defeitos ósseos são
mais freqüentes em dentes anteriores do que em posteriores, mais comuns em face
vestibular do que em lingual ou palatina, acometendo principalmente os dentes
caninos inferiores, caninos e primeiros molares superiores (LARATO, 1970; DAVIES
et al., 1974; EDEL, 1981). Geralmente os defeitos apresentam-se bilateralmente
(NEWMAN; TAKEI; CARRANZA, 2002).
A etiologia destes defeitos ainda não foi estabelecida, mas acredita-se que
contornos radiculares proeminentes, posicionamento dos dentes, como protrusão
vestibular das raízes, força oclusal, associados à espessura óssea delgada sejam
fatores predisponentes (EDEL, 1981; LÖST, 1984; NEWMAN; TAKEI; CARRANZA,
2002).
Em estudo realizado por Kakehashi, Baer e White (1963), a doença
periodontal foi avaliada em 292 crânios de gorila, sendo observadas 468 lesões de
fenestração na maxila e 13 na mandíbula, em todas as faixas etárias estudadas,
incluindo animais jovens; o dente primeiro molar superior foi o mais acometido.
Deiscência foi observada em 101 locais na maxila e 55 na mandíbula, todos em
animais adultos. Os autores sugerem que, diferentemente de uma das etiologias
propostas em humanos, que se refere ao posicionamento dos dentes, os animais
avaliados não apresentavam desalinhamento dentário, descartando esta hipótese.
Entretanto, devido à alta prevalência dos defeitos ósseos em maxila, sugere-se que
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as diferenças anatômicas quanto à densidade e espessura óssea da mandíbula e da
maxila, e a força oclusal exercida sobre os dentes pré-molares e molares podem ser
os principais fatores envolvidos na espécie (KAKEHASHI; BAER; WHITE, 1963).
Skinner e Newell (2003) também observaram este tipo de defeito ósseo em
outras espécies de primatas, as lesões de fenestração mais extensas foram
observadas nos dentes caninos apresentando as maiores cúspides.
2.5.3 Cárie
A cárie pode ser definida como uma doença infecciosa transmissível que
acomete os tecidos mineralizados do dente, causada por bactérias, caracterizada
por desmineralização da parte inorgânica e desintegração da porção orgânica do
dente, devido à fermentação bacteriana. A cárie se inicia formando um biofilme
composto por saliva, debris alimentares e bactérias cariogênicas, sobre a superfície
dentária, principalmente em regiões onde há estagnação de alimento, como fóssulas
e fissuras intercuspidais e superfícies interproximais, embora possa ocorrer em
outras regiões, inclusive em superfície radicular (REITER; MENDOZA, 2002). A cárie
é resultado de um processo crônico, provocado pelo desequilíbrio freqüente do
fenômeno de desmineralização-remineralização, durante um período de tempo,
produzida pela ação de ácidos provenientes do metabolismo de carboidratos na
placa bacteriana dentária (LIMA, 2007).
A principal bactéria envolvida em processos cariogênicos é a Streptococcus
mutans. Estas bactérias fermentam carboidratos, produzindo ácidos, como lático,
acético e propiônico, que dissolvem o dente (HALE, 1998; REITER; MENDOZA,
2002; MILES; GRIGSON, 2003; ROSA; GONÇALVES; ROSA, 2005; PROWSE et
al., 2008).
A prevalência de cárie em carnívoros é baixa, comparada à observada em
humanos, primatas e herbívoros, e os estudos realizados em animais se limitam
praticamente a estudos experimentais voltados à cárie humana e, os casos naturais,
à descrição e prevalência da lesão, especialmente em cães domésticos (HALE,
1998; MILES; GRIGSON, 2003). Segundo Milles e Grigson (2003) a cárie parece
não ter sido descrita em canídeos selvagens de vida livre e de cativeiro.
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Em cães domésticos, um estudo realizado por Miles e Grigson (2003)
avaliou 762 sincrânios provenientes de diversos museus, sendo observada presença
de cárie em apenas quatro casos, correspondendo a aproximadamente 0,5%.
Venturini (2006) observou, durante levantamento da casuística de um centro
odontológico veterinário em São Paulo, durante período aproximado de quatro anos,
que 1,1% dos cães domésticos atendidos, de um total de 2300 espécimes,
apresentaram cárie dentária. Já Hale (1998) constatou a presença de cárie em 5,3%
dos 435 cães avaliados em atendimento odontológico, no Canadá, durante o período
de um ano.
Wenker et al. (1999), em estudo realizado em ursos pardos, observaram
6,9% dos animais de cativeiro e 14,7% dos animais de vida livre com diagnóstico
definitivo de cárie. Os autores referem que a prevalência mais baixa dos animais de
cativeiro deve-se à inclusão de animais muito jovens no grupo estudado (idade
inferior a 5 anos), já que, avaliando-se as faixas etárias separadamente, as
prevalências observadadas corresponderam a 11,2% nos animais com idade entre
10 e 20 anos, e 24,1% naqueles com idade superior a 20 anos. Em contrapartida, o
desvio padrão nos animais de vida livre foi muito acentuado.
As razões atribuídas à baixa prevalência de cárie em carnívoros incluem:
forma anatômica das coroas dentárias (cônica), com poucas fissuras e pequenas
mesas oclusais; dieta pobre em carboidratos fermentáveis; pH salivar alcalino, capaz
de tamponar os ácidos produzidos pelas bactérias (o pH médio do cão corresponde
a 7,5 e o do homem a 6,5); e microbiota oral livre de microrganismos cariogênicos
(HALE, 1998).
Uma dieta com alta cariogenicidade é composta por altos teores de
açúcares, que favorece a atividade bacteriana, e viscosidade, que facilita a
aderência de debris alimentares na superfície do dente. Alimentos abrasivos são
considerados cariostáticos, pois promovem a remoção de alimentos e bactérias da
superfície dentária (PROWSE et al., 2008).
Desta maneira, a cárie é considerada um processo multifatorial,
desenvolvendo-se apenas na presença de diversos fatores concomitantes, que
incluem, conforme mencionado anteriormente: pH oral, dieta cariogênica, anatomia
dentária (fóssulas, fissuras e outros defeitos estruturais), além da presença de
microrganismos cariogênicos.
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Alguns trabalhos em humanos relatam a transmissão intra-específica,
especialmente entre mães e filhos, através da saliva e fômites, como chupetas,
mamadeiras e colheres, comprovando o potencial contagioso da cárie (CAUFIELD;
CUTTER; DASANAYAKE, 1993; ROSA; GONÇALVES; ROSA, 2005; ERCAN et al.,
2007). Hungerford et al. (1999) realizaram estudo em guaxinins provenientes de uma
região rural e de um parque estadual, o último apresentando contato direto dos
animais com pessoas. Foi constatada prevalência significativamente maior de
doença periodontal e cárie nos animais do parque, mas ocorrência similar de dentes
ausentes e fraturados. Wenker et al. (1999) sugerem a transmissão da microbiota
cariogênica humana para animais de cativeiro, através de alimentos oferecidos pelo
público em zoológicos e parques, como mais um fator envolvido na epidemiologia da
cárie em animais.
Em primatas de idade avançada é freqüente a ocorrência de cáries em
superfície radicular concomitantes a desgaste dentário. Sugere-se que, devido à
destruição do esmalte oclusal ocasionado pelo desgaste, há enfraquecimento do
esmalte interproximal, facilitando, assim, o acúmulo de debris alimentares nesta
região, expondo a dentina a bactérias cariogênicas (MILES; GRIGSON, 2003).
Wenker et al. (1999) observaram que muitos processos cariosos diagnosticados nos
ursos deste estudo foram classificados como lesões tipo VI, ou seja, decorrentes de
desgaste excessivo do dente, levando à exposição pulpar e conseqüente cárie,
principalmente em espécimes de cativeiro, com problemas comportamentais
relacionados a mordidas repetitivas de grades.
2.5.3.1 Diagnóstico da cárie
O aspecto clínico inicial da cárie consiste em uma pequena mancha de
coloração marrom-escura ou preta, na superfície do esmalte.
Em primatas, as lesões cariosas não são comumente encontradas como em
humanos, entretanto, mudanças na dieta podem aumentar sua incidência,
especialmente em animais idosos. Wiggs e Lobprise (1997) relatam que na maior
parte dos casos, as cáries encontradas nestes animais são do tipo I e II em dentes
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pré-molares e molares. Em cães, as lesões ocorrem principalmente nas superfícies
planas dos dentes molares.
Considera-se a cárie muito mais comum nos dentes pré-molares e molares
superiores do que nos inferiores (MILES; GRIGSON, 2003).
Os métodos convencionais mais comumente utilizados em odontologia
humana para detecção de lesões cariosas incluem a inspeção visual direta e indireta
(radiográfica) e o método tátil. Tais métodos são considerados ferramenta
diagnóstica eficiente para detecção de cárie. Contudo, são métodos subjetivos,
sendo que a interpretação dos resultados depende de conhecimento, análise crítica
e capacidade de percepção do profissional (CABRAL, 2006). Dependendo da
profundidade da lesão, principalmente em cáries iniciais, estes métodos podem não
ser eficientes, e novos métodos para detecção vêm sendo utilizados, como
transiluminação através de fibra óptica e técnicas de fluorescência, com luz visível,
laser e ultra-som (PRETTY, 2006).
A sondagem de qualquer lesão presente na superfície dentária, com auxílio
de um explorador odontológico, é importante para avaliação das características das
margens do esmalte e da dentina no local da lesão. Geralmente, em uma lesão de
reabsorção externa, a dentina que delimita a região apresenta consistência firme, e
não macia ou amolecida, como é observado na cárie (DUPONT, 2005).
Levin (1996) relata um caso de reabsorção dentária externa associada a
cárie nos dentes quarto pré-molares superiores de um tigre siberiano de 10 anos de
idade. O diagnóstico baseou-se apenas nos achados clínicos, considerando-se as
características dos tecidos mineralizados do dente no local da lesão, avaliadas
visualmente e através de palpação. As avaliações estruturais referem-se
principalmente à consistência das estruturas dentárias, superfície e localização da
lesão e a espécie envolvida.
Clinicamente, as lesões de reabsorção externa são geralmente detectadas
na região do colo cervical do dente, próximo à junção amelocementária, e, em
dentes multi-radiculares, principalmente na região de furca. As lesões de reabsorção
podem ser identificadas através de sondagem com explorador odontológico, que
evidencia perda de estrutura dentária de consistência áspera. Em processos
cariosos, o explorador perfura e fica preso à superfície dentária, devido à dissolução
do esmalte e da dentina, causada pelas bactérias (REITER; MENDOZA, 2002).
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Radiograficamente, a cárie pode ser visualizada como uma área
radioluscente correspondente ao local de destruição do esmalte e da dentina. É
importante salientar que é necessária uma destruição de pelo menos 40% da
substância mineral do dente para que uma lesão seja evidente radiograficamente
(GORREL, 1998; NIEMIEC, 2005).
Entretanto, o diagnóstico definitivo da cárie é efetuado apenas com a
utilização de corantes, e subseqüente avaliação histológica. A rodamina B consiste
no principal corante utilizado para este fim, sendo capaz de corar a substância
dentária desmineralizada pelas bactérias cariogênicas de coloração vermelho-
escura (BERGER et al., 1996; WENKER et al., 1999)
A classificação mais utilizada para lesões causadas por cárie e preparos
cavitórios consiste na Classificação de G. V. Black (BLACK, 1908), que se baseia na
localização e tipo de superfície dentária:
Classe I: face oclusal de pré-molares e molares (região de fóssulas e
fissuras).
Classe II: face proximal de pré-molares e molares.
Classe III: face proximal de incisivos e caninos, sem comprometimento
da borda incisal.
Classe IV: face proximal de incisivos e caninos, com comprometimento
da borda incisal.
Classe V: região cervical de qualquer dente.
2.5.4 Traumas
As lesões orais geralmente ocorrem devido a acidentes durante
brincadeiras, auto-agressão durante episódios de pânico ou ansiedade, que
normalmente estão associados a situações em que o animal tenta escapar do
recinto, atacando barras, grades, paredes e portas, ou momentos de estresse, como
durante tempestades, trovões. O mais freqüente é a presença de lacerações em
tecidos moles, como mucosa oral, gengiva e língua, ou traumas alvéolo-dentários,
que incluem fraturas dentárias, concussão, luxação e avulsão dentária. Em alguns
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casos, há descoloração do dente, que pode ficar rosado, indicando pulpite, podendo
ocorrer desvitalização pulpar e conseqüente necrose (WIGGS; BLOOM, 2003).
As fraturas e desgaste dentários são descritos em diversas espécies de
carnívoros mantidas em cativeiro, como ursos, lobos, coiotes, raposas, leões,
leopardos, tigres, jaguatiricas, furões e raccoons, principalmente nos dentes
incisivos, caninos e carniceiros (WIGGS; BLOOM, 2003). Estas lesões dentárias em
animais de cativeiro são, em parte, atribuídas ao ambiente cativo, principalmente por
mordedura de grades, barras e cercas, brincadeiras e mastigação de objetos ou
brinquedos inapropriados ou problemas comportamentais (WIGGS; BLOOM, 2003).
Steenkamp e Gorrel (1999) observaram prevalência de 83% de desgaste
dentário em estudo realizado com 37 sincrânios de cachorro-selvagem africano
(Lycaon pictus) de vida livre, e 48% dos animais avaliados apresentando mais de um
dente fraturado, sendo a maioria com exposição pulpar.
Em estudo realizado por Hofmann (2005) em sincrânios de orcas, o autor
observou que afecções dentárias acometendo a polpa não são raras em animais
mantidos em cativeiro, e também podem ocorrer em espécimes de vida livre.
Traumas dentários e exposição pulpar foram observados em animais jovens, com
idade em torno de 5 e 6 anos. Em cativeiro, estes animais friccionam os dentes
mandibulares contra as paredes dos recintos repetidamente, causando abrasão
dentária e, eventualmente, exposição pulpar. A causa para este comportamento não
é conhecida, mas acredita-se que seja um comportamento compulsivo obsessivo ou
tédio (HOFMANN, 2005).
2.5.4.1 Fratura dentária
Embora a ocorrência de fraturas dentárias em animais silvestres seja
especialmente atribuída ao ambiente de cativeiro, em estudo realizado na região
Central do Brasil em lobos-guará de vida livre, Furtado et al. (2006) constataram alta
prevalência de fraturas dentárias nos espécimes (63,1%). Em trabalho realizado com
lontras, foram capturados 25 espécimes de vida livre, sendo constatada a presença
de fraturas dentárias em diversos animais (INSKEEP, 1995).
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French e Antony (1996) realizaram um trabalho com felídeos selvagens
mantidos em cativeiro no Metro Toronto Zoo, efetuando o exame oral dos animais e
avaliando a introdução de uma dieta seca experimental. Foram avaliadas as
seguintes espécies: onça pintada, tigre siberiano, tigre de Sumatra, leão africano,
leopardo das neves, suçuarana, lince africano, leopardo chinês e guepardo. A
afecção dentária mais freqüente observada nestes animais foi fratura dentária. A
abrasão da região distal dos dentes caninos foi comumente observada nos
espécimes de idade mais avançada, sugerindo-se ser resultado de mordida de
jaulas.
Em estudo realizado em grandes carnívoros, Van Valkenburgh (1988)
observou que os dentes mais freqüentemente fraturados nestes animais
correspondem, em ordem decrescente, aos caninos, pré-molares, molares
carniceiros e incisivos. Furtado et al. (2006) observaram prevalência semelhante à
observada por Van Valkenburgh (1988), à exceção dos molares carniceiros, que não
apresentaram fratura na espécie avaliada, o lobo-guará.
Traumas dentários e ósseos e perda dentária podem ter conseqüências
graves para o animal e, em vida livre, podem levar à morte por inapetência (MILES;
GRIGSON, 2003).
Existem diversas classificações utilizadas em odontologia veterinária e
humana para fraturas dentárias. A classificação preconizada pela Organização
Mundial de Saúde (OMS) e pelo AVDC segue a proposta por Basrani (1983) (Figura
6):
fratura incompleta do esmalte (trincas ou rachaduras), sem perda de
estrutura dentária.
fratura de esmalte, havendo perda de estrutura dentária restrita ao
esmalte.
fratura de coroa não-complicada – acomete esmalte e dentina, mas
não há exposição pulpar.
fratura de coroa complicada – acomete esmalte e dentina, com
exposição da polpa.
fratura corono-radicular não-complicada – acomete esmalte, dentina e
cemento, sem exposição pulpar.
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fratura corono-radicular complicada – acomete esmalte, dentina e
cemento, com exposição da polpa.
fratura radicular.
Figura 6 – Classificação de fratura dentária adotada pelo American Veterinary Dental College
(AVDC), adaptada de Basrani (1983): fratura incompleta de esmalte (A), fratura de esmalte
(B), fratura de coroa não-complicada (C), fratura de coroa complicada (D), fratura corono-
radicular não-complicada (E), fratura corono-radicular complicada (F), fratura radicular (G)
2.5.4.2 Desgaste dentário
O desgaste dentário é definido como a perda progressiva de superfície
dentária causada por processos físicos ou químicos, exceto causada por cárie.
Basicamente, três mecanismos podem estar envolvidos no desgaste dentário,
isoladamente ou em conjunto: erosão, atrição e abrasão (DONACHIE; WALLS,
1996; LUSSI; JAEGGI; ZERO, 2004).
A atrição é definida como a perda natural ou excessiva de substância
dentária decorrente da ação mecânica causada pelo contato entre dentes
antagonistas, durante o processo mastigatório ou devido à maloclusão (REITER;
MENDONZA, 2002).
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A abrasão corresponde ao desgaste dentário ocasionado por processo
mecânico, que não seja causado pelos dentes, mas decorrente da roedura de
objetos, como pedras, ossos e grades, intenso prurido devido a dermatoses, e, em
humanos, a causa mais freqüente corresponde à escovação dentária muito intensa
(REITER; MENDONZA, 2002).
A erosão é definida como a perda localizada, crônica, e patológica da
superfície dentária através de dissolução química causada por substâncias ácidas e
quelantes, sem envolvimento bacteriano (TEN CATE; IMFELD, 1996). Basicamente,
as substâncias ácidas erosivas são classificadas pela origem, intrínseca ou
extrínseca. A dieta é considerada um dos principais fatores etiológicos para
desenvolvimento e progressão da erosão em humanos, relacionados com o
consumo de bebidas e outras substâncias ácidas como refrigerante e sucos (LUSSI;
JAEGGI; ZERO, 2004; LIM et al., 2008). Além das propriedades químicas, que
incluem pH, capacidade de tamponamento, presença de quelantes, adesão à
superfície dentária e concentração de cálcio, fosfatos e flúor, por exemplo, há outros
fatores envolvidos: comportamentais, como hábitos alimentares, freqüência de
higienização oral, alto consumo de substâncias ácidas e fatores biológicos, como
taxa, composição e capacidade de tamponamento da saliva, anatomia dentária e
oclusão (LUSSI; JAEGGI; ZERO, 2004).
Apesar de o desgaste dentário ocorrer fisiologicamente nas espécies,
inclusive no homem, sendo um dos métodos mais amplamente utilizados para
estimativa de idade em muitos estudos, quando se manifesta clinicamente de forma
acentuada, pode trazer conseqüências graves para o animal. O desgaste dentário
pode causar sensibilidade, quando há exposição dentinária, e dificultar a ingestão de
alimentos e outras funções atribuídas aos dentes e cavidade oral (WIGGS; BLOOM,
2003).
Wenker et al. (1999) realizaram modificação na classificação de desgaste
utilizada em humanos, adaptando-a para o estudo em ursos, como segue:
grau 0: ausência de desgaste.
grau 1: acometimento do esmalte apenas.
grau 2: dentina visível, sem alteração nas cúspides dos molares. Nos
incisivos, cúspide normal.
grau 3: desgaste acentuado das cúspides dos molares, apresentando
arrasamento. Nos incisivos, o rebordo da cúspide não se encontra visível.
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grau 4: desgaste muito acentuado, com a coroa dentária próxima à
junçao amelo-cementária.
Embora haja atrição dentária em carnívoros, esta não é considerada tão
acentuada quanto em herbívoros, que apresentam desgaste constante pela
mastigação de plantas, com erupção ou crescimento contínuo dos dentes (WIGGS;
LOBPRISE, 1997).
A síndrome chamada em língua inglesa como Cage Biter Syndrome, que
poderia ser traduzida em português como a “Síndrome do Mordedor de Grades”
geralmente resulta em desgaste dentário acentuado das cúspides ou bordas incisais
de incisivos e caninos, ou da face distal dos caninos. Mudanças no recinto destes
animais são necessárias para reduzir o estresse e o tédio, na tentativa de corrigir
este hábito e prevenir a sua progressão, se possível (BARTLETT, 2003; WIGGS;
BLOOM, 2003).
Van Valkenburgh (1988) efetuou estudo sobre traumas dentários em
sincrânios de grandes mamíferos predadores, incluindo leão africano, leopardo,
onça pintada, guepardo, hiena-listrada, hiena-manchada, cachorro-selvagem
africano, suçuarana e lobo. Com relação ao desgaste dentário, o autor observou, na
maior parte dos espécimes, desgaste leve dos dentes, e maior prevalência de
desgaste moderado nas hienas.
2.5.4.3 Outros traumas
Fraturas mandibulares e maxilares são consideradas comuns em animais de
vida livre, embora a prevalência seja desconhecida, já que se baseia quase
exclusivamente em casos nos quais houve sobrevivência do animal e o crânio pôde
ser avaliado (MILES; GRIGSON, 2003).
Em estudo retrospectivo realizado em lobos (Canis lupus) e coiotes (Canis
latrans) acerca das lesões traumáticas, degenerativas e de desenvolvimento
observadas durante necropsia destes animais, foi observada a presença de corpo
estranho na cavidade oral de dois lobos. Em um deles, o corpo estranho encontrava-
se encapsulado, na região do frênulo lingual, e no outro, um pedaço de madeira
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encontrava-se preso no palato, entre os quarto pré-molares, com a presença de
necrose da mucosa palatina. Em um filhote de coiote foram observadas ulcerações
por toda a mucosa palatina, associada à presença de espinhos, também presentes
na pele (WOBESER, 1992).
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3 MATERIAL E MÉTODO
Para a realização do presente estudo foi efetuada avaliação do sistema
estomatognático de 80 (oitenta) espécimes de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus),
sendo 63 (sessenta e três) sincrânios e 17 (dezessete) animais vivos, provenientes
de vida livre e de cativeiro, durante o período de outubro de 2007 a setembro de
2008.
3.1 ANIMAIS VIVOS
O exame oral em animais vivos foi realizado em oito espécimes provenientes
de ambiente cativo e em nove de vida livre.
Nos animais mantidos em cativeiro, o exame oral foi realizado concomitante
a outros procedimentos que necessitavam de contenção química dos animais, ou
sob anestesia geral, durante tratamentos odontológicos, previamente agendados
pelas instituições mantenedoras dos mesmos. Os procedimentos foram realizados
nas instalações das instituições, discriminadas a seguir: Associação Mata Ciliar -
Jundiaí-SP, Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) da Universidade
Federal de Viçosa (UFV) - Viçosa-MG, Parque Zoológico Municipal Quinzinho de
Barros (PZMQB) - Sorocaba-SP e Parque Zoológico Chico Mendes - São Bernardo
do Campo-SP.
Os indivíduos vivos mantidos em cativeiro foram selecionados considerando-
se os requisitos discriminados a seguir:
Não ter sido submetido a tratamento odontológico em período inferior
ou igual a 12 (doze) meses.
Estar em ambiente cativo por período superior ou igual a 12 (doze)
meses.
O exame da cavidade oral dos animais vivos de vida livre foi realizado,
durante o mês de julho de 2008, no Parque Nacional das Emas (PNE), situado na
região sudoeste do estado de Goiás, na região limítrofe com os estados de Mato
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Grosso e Mato Grosso do Sul, juntamente a outros procedimentos efetuados pelo
Instituto Onça Pintada (Jaguar Conservation Fund).
Os animais foram capturados com gaiolas de metal, contendo isca viva, as
quais eram preparadas e checadas diariamente, em período matutino e vespertino,
pela equipe da instituição e por colaboradores voluntários da Earth Watch Institute
(Figura 7). Os animais capturados foram submetidos à contenção química,
utilizando-se associação de cloridrato de tiletamina e zolazepam
c
, na dose estimada
de 2,5 mg/kg, via intramuscular (FURTADO et al., 2006). A suplementação
anestésica foi efetuada, quando necessária, após a determinação do peso real dos
animais.
Figura 7 - Gaiola de metal utilizada para captura dos animais (A). No detalhe (B), lobo-guará
capturado (indivíduo 12) (Parque Nacional das Emas-GO)
Após a pesagem, o animal foi posicionado sob uma lona, no chão, sem
exposição solar direta, para a realização da avaliação odontológica e dos demais
procedimentos, como exame físico geral e colheita de materiais biológicos (sangue,
fezes, urina, pêlos e ectoparasitas), exame biométrico e remoção de rádio-colar,
quando existente (Figura 8). Durante o procedimento, foi realizada monitoração de
parâmetros vitais por meio de auscultação cárdio-respiratória, para mensuração das
freqüências cardíaca e respiratória, tempo de preenchimento capilar (TPC) e
aferição da temperatura retal. Tais parâmetros não foram objetivo desta pesquisa,
todavia.
c
Zoletil® (50 mg de tiletamina e 50 mg de zolazepam por ml; Virbac S.A. - France Virbac)
A
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Figura 8 - Avaliação odontológica sendo efetuada em um lobo-guará
de vida livre (indivíduo 13) (Parque Nacional das Emas-
GO)
Os indivíduos foram identificados através de raspagem de pêlos da região
cranial de um dos membros torácicos, evitando duplicidade na amostragem e
permitindo a liberação do indivíduo em caso de recaptura, sem necessidade de
contenção química.
A identificação dos espécimes vivos, bem como a localidade e a instituição
de procedência são apresentadas no quadro 1.
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Identificação
do animal
Habitat Localidade Instituição
1 Cativeiro Jundiaí - SP Associação Mata Ciliar
2 Cativeiro Jundiaí - SP Associação Mata Ciliar
3 Cativeiro Jundiaí - SP Associação Mata Ciliar
4 Cativeiro Viçosa - MG CETAS - UFV
i
5 Cativeiro Viçosa - MG CETAS - UFV
i
6 Cativeiro São Bernardo do Campo - SP Zoológico - SBC
ii
7 Cativeiro São Bernardo do Campo - SP Zoológico - SBC
ii
8 Cativeiro Sorocaba - SP PZMQB
iii
9 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iv
10 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iv
11 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iv
12 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iv
13 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iv
14 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iv
15 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iv
16 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iv
17 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iv
i
CETAS-UFV - Centro de Triagem de Animais Silvestres da Universidade Federal de Viçosa
ii
SBC - São Bernardo do Campo
iii
PZMQB - Parque Zoológico Municipal Quinzinho de Barros
iv
JCF - Jaguar Conservation Fund
Quadro 1 - Identificação dos animais vivos avaliados, segundo habitat, localidade e instituição de
procedência
3.2 SINCRÂNIOS
O exame dos sincrânios foi realizado em 63 (sessenta e três) espécimes,
sendo 12 (doze) provenientes de cativeiro, 29 (vinte e nove) de vida livre e 22 (vinte
e dois) de procedência desconhecida.
Os sincrânios utilizados para avaliação foram provenientes das coleções do
Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP) - São Paulo-SP, do
Instituto Onça Pintada (Jaguar Conservation Fund) e do CETAS da Universidade
Federal de Viçosa-MG.
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A identificação dos sincrânios, bem como a localidade e a instituição de
procedência são apresentadas no quadro 2.
(Continua)
Identificação
do animal
Habitat Localidade Instituição
18 Cativeiro Viçosa - MG CETAS - UFV
i
19 Cativeiro Jardim da Luz, Mogi Guaçu - SP MZ - USP
ii
20 Cativeiro Jardim da Luz, Mogi Guaçu - SP MZ - USP
ii
21 Cativeiro Zoológico (sem procedência) MZ - USP
ii
22 Cativeiro Zoológico de Piracicaba MZ - USP
ii
23 Cativeiro Parque Zoológico de São Paulo MZ - USP
ii
24 Cativeiro Parque Zoológico de São Paulo MZ - USP
ii
25 Cativeiro Parque Zoológico de São Paulo MZ - USP
ii
26 Cativeiro Parque Zoológico de São Paulo MZ - USP
ii
27 Cativeiro Parque Zoológico de São Paulo MZ - USP
ii
28 Cativeiro Parque Zoológico de São Paulo MZ - USP
ii
29 Cativeiro Parque Zoológico de São Paulo MZ - USP
ii
30 Cativeiro Parque Zoológico de São Paulo MZ - USP
ii
31 Indeterminado Ribeirão Preto - SP MZ - USP
ii
32 Indeterminado UNESP Jaboticabal MZ - USP
ii
33 Indeterminado UNESP Jaboticabal MZ - USP
ii
34 Indeterminado UNESP Jaboticabal MZ - USP
ii
35 Indeterminado UNESP Jaboticabal MZ - USP
ii
36 Indeterminado UNESP Jaboticabal MZ - USP
ii
37 Indeterminado Desconhecida MZ - USP
ii
38 Indeterminado Desconhecida MZ - USP
ii
39 Indeterminado Desconhecida MZ - USP
ii
40 Indeterminado Desconhecida MZ - USP
ii
41 Indeterminado Desconhecida MZ - USP
ii
42 Indeterminado Desconhecida MZ - USP
ii
43 Indeterminado Desconhecida MZ - USP
ii
44 Indeterminado Desconhecida MZ - USP
ii
45 Indeterminado Desconhecida MZ - USP
ii
46 Indeterminado Desconhecida MZ - USP
ii
47 Indeterminado Desconhecida MZ - USP
ii
48 Indeterminado Desconhecida MZ - USP
ii
49 Indeterminado Desconhecida MZ - USP
ii
50 Indeterminado Desconhecida MZ - USP
ii
51 Indeterminado Desconhecida MZ - USP
ii
52 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iii
53 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iii
54 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iii
55 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iii
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(Conclusão)
Identificação
do animal
Habitat Localidade Instituição
56 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iii
57 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iii
58 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iii
59 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iii
60 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iii
61 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iii
62 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iii
63 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iii
64 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iii
65 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iii
66 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iii
67 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iii
68 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iii
69 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iii
70 Vida livre Parque Nacional das Emas - GO JCF
iii
71 Vida livre Águas de Santa Bárbara - SP MZ - USP
ii
72 Vida livre Águas de Santa Bárbara - SP MZ - USP
ii
73 Vida livre Águas de Santa Bárbara - SP MZ - USP
ii
74 Vida livre Batatais - SP MZ - USP
ii
75 Vida livre Cascalho Rico - MG MZ - USP
ii
76 Vida livre Bragança Paulista - SP MZ - USP
ii
77 Vida livre Estrada de Goiás - GO MZ - USP
ii
78 Vida livre Franca - SP MZ - USP
ii
79 Vida livre Itararé - SP MZ - USP
ii
80 Vida livre Paraná MZ - USP
ii
i
CETAS-UFV - Centro de Triagem de Animais Silvestres da Universidade Federal de Viçosa
ii
MZ-USP - Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo
iii
JCF - Jaguar Conservation Fund
Quadro 2 - Identificação dos sincrânios avaliados, segundo habitat, localidade e instituição de
procedência
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Para a avaliação odontológica, os espécimes foram dispostos em bancada
de trabalho sobre base escalonada
1
em centímetros e polegadas (Figura 9).
Figura 1 - Sincrânio (crânio e mandíbula) posicionado para avaliação
odontológica (indivíduo 22) (MZ-USP)
3.3 EXAME ORAL
O exame da cavidade oral e dos sincrânios foi realizado
macroscopicamente, por meio de inspeção visual direta e indireta, com auxílio de
sonda periodontal milimetrada, explorador e espelho odontológicos (Figura 10).
Quando possível, foi realizado exame radiográfico intra-oral dos dentes com
suspeita ou diagnóstico de afecções orais.
1
RM-IC-C (Olfa Corporation® - Higashinari-ku, Osaka - Japan)
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Figura 10 - Da esquerda para a direita: espelho odontológico,
sonda periodontal milimetrada e explorador
odontológico
Em todos os animais, as informações acerca do sistema estomatognático
foram anotadas em ficha odontológica (odontograma), específica para canídeos,
desenvolvida pelo Laboratório de Odontologia Comparada (LOC), vinculado ao
Departamento de Cirurgia (VCI) da FMVZ-USP, adaptada para uso em canídeos
selvagens e sincrânios (Anexos A e B).
3.3.1 Animais vivos
Nos animais vivos, o exame oral foi efetuado inicialmente por meio de
inspeção facial externa, avaliando-se a presença de assimetria de face, cicatrizes ou
lesões cutâneas e alterações em lábios e mucosa nasal. Durante o exame oral
interno, avaliaram-se tecidos moles, como língua, lábios, palato, mucosa, gengiva, e,
finalmente, os dentes.
Os dentes foram inspecionados fisicamente por meio de exame visual direto,
além de espelho clínico, sonda milimetrada e explorador odontológico, realizando-se
a avaliação em todas as suas faces anatômicas, assim como o periodonto (Figura
11).
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Figura 11 - Sondagem da profundidade do sulco gengival com
auxílio de sonda periodontal em dente canino superior
esquerdo de lobo-guará (indivíduo 11)
As afecções dentárias avaliadas nos animais vivos foram:
Anomalia dentária.
Apinhamento dentário.
Ausência dentária.
Bolsa periodontal (mm).
Cálculo dentário (graus 0, 1, 2 e 3).
Cárie.
Desgaste dentário (graus 0, 1, 2, 3 e 4).
Escurecimento dentário.
Exposição de furca (graus 1, 2 e 3).
Exposição pulpar.
Fratura dentária.
Gengivite (graus 0, 1, 2 e 3).
Giroversão dentária.
Hiperplasia gengival.
Maloclusão dentária.
Mobilidade dentária (graus 0, 1, 2 e 3).
Nível clínico de inserção - NCI (mm).
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Reabsorção dentária.
Retração gengival (mm).
Outras alterações.
Para classificação das enfermidades orais, foram utilizadas, na doença
periodontal e em fraturas dentárias aquelas preconizadas pelo American Veterinary
Dental College (AVDC) para lesões dos tecidos mineralizados dos dentes, como
cáries, a classificação de G. V. Black e em desgaste dentário a classificação
proposta por Wenker et al. (1999).
A classificação de doença periodontal utilizada no presente estudo preconiza
a avaliação individual dos dentes. Embora tenha sido efetuada desta maneira,
optou-se pela classificação por animal para fins comparativos.
3.3.2 Sincrânios
Os sincrânios foram avaliados quanto à presença de assimetria e lesões
ósseas, e oclusão. Os dentes e osso alveolar foram inspecionados fisicamente por
meio de exame direto utilizando-se espelho clínico, sonda milimetrada e explorador
odontológico, realizando-se a avaliação em todas as suas faces anatômicas.
As afecções dentárias avaliadas nos sincrânios foram:
Anomalia dentária.
Apinhamento dentário.
Ausência dentária.
Cárie.
Deiscência óssea alveolar.
Desgaste dentário (graus 0, 1, 2, 3 e 4).
Escurecimento dentário.
Exposição de furca (graus 1, 2 e 3).
Exposição da câmara pulpar.
Fenestração óssea alveolar.
Fratura dentária.
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Giroversão dentária.
Maloclusão dentária.
Reabsorção da crista alveolar (mm).
Reabsorção dentária.
Outras alterações.
A classificação de doença periodontal nos sincrânios restringiu-se à
avaliação do osso alveolar, devido à ausência dos tecidos moles que compõem o
periodonto. Logo, a doença periodontal grau 1 (gengivite) não pôde ser avaliada
neste grupo, assim como a mobilidade dentária, por não haver os tecidos moles
inerentes.
A reabsorção óssea foi mensurada em milímetros, tomando-se a medida da
distância entre a junção amelo-cementária (JAC) e a crista alveolar, nas faces
ósseas mesial, vestibular, distal e palatina ou lingual (Figura 12). Foi estabelecida
subtração padrão de 1,5 mm a partir da JAC, a fim de caracterizar a medida do
espaço biológico, ocupado pelo epitélio juncional e inserção conjuntiva. Em dentes
multi-radiculares foram realizadas medidas para cada raiz.
Figura 12 - Avaliação de reabsorção óssea alveolar na face
vestibular da raiz mesial do dente primeiro molar
superior esquerdo de um crânio de lobo-guará, com a
utilização de sonda periodontal milimetrada (indivíduo
32)
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Para determinação de fenestração e deiscência ósseas, foi adotada
metodologia descrita por Davies et al. (1974), isto é, considerou-se deiscência o
defeito ósseo vertical apresentando medida de crista óssea igual ou superior a 4
mm, comparada à crista alveolar adjacente, com base na JAC; e fenestração o
defeito ósseo localizado na tábua óssea alveolar causando exposição radicular, sem
comprometimento da margem da crista alveolar.
A ausência dentária foi distinguida entre ante e pós-morte de acordo com a
forma e o padrão da margem óssea alveolar. Considerou-se a perda dentária ante-
morte na presença de osso alveolar com as seguintes características: contorno
irregular ou arredondado da crista óssea alveolar, diminuição da profundidade do
alvéolo, reação periosteal exuberante e aumento da vascularização, evidenciada
pela presença de grande número de foraminas (VERSTRAETE et al., 1996b).
3.4 EXAME RADIOGRÁFICO
O exame radiográfico intra-oral foi efetuado, quando possível, utilizando as
técnicas de paralelismo, bissetriz e Clark, descritas em literatura (Figura 13)
(WIGGS; LOBPRISE, 1997).
Foram utilizados aparelhos radiográficos odontológicos, sendo um deles de
coluna móvel
1
, de 8mA, 70kVp e 1,20kVA, com tempo de exposição médio de 0,7
segundos, e outro de coluna fixa
2
, 8mA e 70kVp, com tempo de exposição médio de
0,7 segundos (radiografia convencional) e 0,19 segundos (radiografia digital); e filme
radiográfico dental intra-oral
3
, tamanho periapical, número 2 (31mm X 41mm) e
oclusal, número 4 (57mm X 76mm), com técnica de revelação manual, em câmara
escura (KODAK, 2008). Em alguns casos, foi utilizado sensor intra-oral digital
número 2
4
, com software próprio (Figura 14).
1
Spectro 70X Eletronic® (Dabi Atlante Inds. Médico Odontológicas Ltda. - Ribeirão Preto, SP - Brasil)
2
Xdent D70® (Xdent Equipamentos Odontológicos Ltda. - Ribeirão Preto, SP - Brasil)
3
Kodak E-speed® (Carestream Health Incorporated - Rochester, NY - United States of America)
4
Dr. Suni Plus Intraoral Sensor® (Suni Medical Imaging, Inc. - San Jose, CA - United States of
America)
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Figura 13 - Mandíbula de um dos espécimes de lobo-guará
estudados posicionada para exame radiográfico
intra-oral com sensor digital (técnica de paralelismo)
(indivíduo 75)
Figura 14 - Sensor digital e software de radiografia digital utilizados
para exame dos sincrânios de lobo-guará
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3.5 DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA
Em todos os animais, as informações acerca do sistema estomatognático
foram anotadas em ficha odontológica (odontograma), específica para canídeos,
desenvolvida pelo Laboratório de Odontologia Comparada (LOC), vinculado ao
Departamento de Cirurgia (VCI) da FMVZ-USP, adaptada para uso em canídeos
selvagens e sincrânios (Anexos A e B).
Foi efetuado registro fotográfico de todos os animais avaliados, utilizando-se
câmera fotográfica digital. Para cada espécime, foram realizados registros
fotográficos da vista lateral (esquerda e direita) e frontal da cavidade oral e das
afecções presentes (Figuras 15 e 16).
Figura 15 - Vista lateral esquerda e direita da oclusão do indivíduo 14, respectivamente,
aparentemente normal
Figura 16 - Vista rostral da oclusão do indivíduo
14, aparentemente normal
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O
3.6 ANÁLISE DOS RESULTADOS
Para avaliação dos resultados, foi realizada análise descritiva e comparativa
dos dados obtidos entre indivíduos de vida livre e de cativeiro. As informações
anotadas nos odontogramas foram compiladas em planilha (programa Microsoft
Excel®
i
) contendo identificação do animal, tipo de espécime avaliado (animal vivo ou
sincrânio), habitat, sexo, idade (quando presente) e afecções diagnosticadas; foram
desenvolvidas planilhas para cada afecção oral encontrada, distribuídas de acordo
com identificação do animal, habitat, tipo de espécime avaliado e dentes
acometidos.
A análise comparativa foi efetuada por meio de testes não-paramétricos de
freqüência Qui-quadrado (χ
2
) e Exato de Fisher, e o teste não-paramétrico com
dados ordinais não-emparelhados Mann-Whitney, através do programa estatístico
GraphPad InStat®
j
. Utilizou-se o teste de qui-quadrado quando o número dos dados
em cada grupo de amostra era maior que cinco e o teste exato de Fisher quando
este era menor que cinco. Nas afecções classificadas de acordo com a gravidade da
lesão foi efetuado o teste de Mann-Whitney. O nível de significância adotado foi de
p< 0,05 e intervalo de confiança de 95% (DORIA FILHO, 2003).
O número de espécimes e dentes incluídos na análise estatística variou,
dependendo da afecção avaliada, devido à ausência de informações, em alguns
casos, sobre procedência, sexo, idade, além da ausência de dentes.
i
Microsoft Excel® (Microsoft Corporation - Redmond, WA - United States of America)
j
InStat® version 2.01 (GraphPad Software Inc. - San Diego, CA - United States of America)
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4 RESULTADOS
Dentre os 79 animais avaliados, 17 foram espécimes vivos, sendo 9 de vida
livre e 8 de cativeiro, e 62 sincrânios, representando 29 animais de vida livre, 13 de
cativeiro e 20 de procedência indeterminada. Dos 79 animais utilizados no estudo,
foram avaliadas 79 maxilas e 73 mandíbulas, totalizando 3.320 dentes.
O indivíduo 44 não foi incluído na análise estatística do estudo, por ser um
espécime jovem, apresentando dentição mista.
A distribuição sexual dos espécimes avaliados encontra-se representada no
gráfico 1.
Gráfico 1 - Distribuição sexual dos lobos-guará avaliados de acordo com espécime (vivo ou
sincrânio) e habitat (vida livre, cativeiro ou indeterminado). São Paulo, 2007-2008
Devido à falta de informação sobre a idade da maior parte da amostra, tanto
dos sincrânios, quanto dos animais vivos, principalmente dos de vida livre, não foi
realizada distribuição etária dos espécimes. Através de exame radiográfico intra-oral
foi possível apenas classificar os animais submetidos a este exame como adultos e
sub-adultos, de acordo com a etapa do processo de dentinogênese.
As principais afecções orais observadas nos lobos-guará encontram-se
resumidas na tabela 3.
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Tabela 3 - Distribuição dos lobos-guará de acordo com as principais afecções do sistema
estomatognático e o habitat. São Paulo, 2007-2008
Habitat
Afecção
Cativeiro (n=21) Vida livre (n=38) Indeterminado (n=20)
Total
(n=79)
Anomalia dentária
14 (66,6%) 14 (36,8%) 11 (55%)
39 (49,3%)
Cárie
1 (4,7%) 6 (15,7%) 2 (10%)
9 (11,4%)
Doença periodontal
14 (66,6%) 18 (47,3%) 7 (35%)
39 (49,3%)
Desgaste dentário
20 (95,2%) 31 (81,7%) 18 (90%)
69 (87,3%)
Fratura dentária
9 (42,8%) 23 (60,5%) 11 (55%)
43 (54,4%)
Outras lesões*
1 (4,7%) 2 (5,2%) -
3 (3,7%)
* Lesões traumáticas ósseas e de tecidos moles
4.1 ANOMALIAS DENTÁRIAS
As anomalias dentárias foram observadas em 39 espécimes de lobo-guará,
correspondendo a 26,5% do total de animais, sendo 6 animais vivos e 33 sincrânios.
As anomalias dentárias foram classificadas quanto a: anatomia dentária,
posicionamento e número de dentes. A presença de raiz acessória e o apinhamento
dentário foram as anomalias dentárias encontradas com maior prevalência neste
estudo, sendo descritas mais adiante. Outros achados de anomalias dentárias foram
notados, porém pouco freqüentes, como pode ser observado na tabela 4.
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Tabela 4 - Distribuição dos lobos-guará com anomalias dentárias, segundo tipo de espécime (vivo e
sincrânio) e habitat, agrupados de acordo com o tipo de anomalia dentária. São Paulo,
2007-2008
Número de animais acometidos
Afecção Espécime
Vida livre Cativeiro Indeterminado
Total
Agenesia dentária
Vivo 0 0 ...
0
Sincrânio 1 1 1
3
Total 1 1 0 3
Apinhamento dentário
Vivo 1 3 ...
4
Sincrânio 4 3 3
10
Total 5 6 3 14
Dente supranumerário
Vivo 0 0 ...
0
Sincrânio 1 0 1
2
Total 1 0 1 2
Geminação dentária
Vivo 0 0 ...
0
Sincrânio 0 0 1
1
Total 0 0 1 1
Giroversão dentária
Vivo 0 0 0
0
Sincrânio 1 0 1
2
Total 1 0 1 2
Malformação dentária
Vivo 0 0 0
0
Sincrânio 1 0 1
2
Total 1 0 1 2
Raiz acessória
Vivo ... ... ... ...
Sincrânio 8 7 9
24
Total 8 7 9 23
Raiz fusionada
Vivo ... ... ... ...
Sincrânio 0 3 0
3
Total 0 3 0 3
Com relação à anomalia dentária de número, foram observados tanto
agenesia quanto presença de dentes supranumerários.
A agenesia dentária foi observada em três espécimes (3,8% do total de
lobos-guará avaliados), acometendo, em um dos animais, os incisivos inferiores
(indivíduo 75) (Figura 17) e nos outros dois animais os terceiros molares inferiores,
uni e bilateralmente (indivíduos 26 e 50, respectivamente). Nos três casos, foi
efetuado exame radiográfico para confirmar a ausência de elementos dentários
(Figuras 17C e 18).
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Figura 17 - Agenesia dentária de dois incisivos inferiores em espécime de lobo-guará (indivíduo 75).
Pode-se notar o alinhamento dos dentes inferiores em vista frontal (A) e a oclusão com
os incisivos superiores, em vista ventral (B). Radiograficamente confirma-se a ausência
de dentes inclusos (C)
Figura 18 - Ausência do terceiro molar inferior bilateral em sincrânio de lobo-guará. Em A,
ausência dentária adquirida, evidenciada pela presença do alvéolo dentário. Em
B, ausência congênita do elemento dentário. Não há alvéolo, indícios de
remodelamento ósseo nem a presença de dente impactado
Dentes supranumerários foram observados em dois sincrânios,
correspondendo a 2,5% do total de animais. Estes dentes foram observados nos
indivíduos 33 e 71, entre o primeiro e o segundo pré-molares superiores e entre
primeiro e segundo pré-molares inferiores, respectivamente, sendo unilateral em
ambos os casos (Figura 19). Na maxila contralateral do indivíduo 33 foi observada
geminação do dente segundo pré-molar (Figura 20), considerada anomalia da
anatomia, assim como a presença de raízes fusionadas e acessórias.
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B
A B
C
A
B
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Figura 19 - Dente supranumerário adjacente aos dentes primeiro e
segundo pré-molares inferiores direitos (seta) em
espécime de lobo-guará (indivíduo 71)
Figura 20 - Dente segundo pré-molar superior direito
apresentando geminação dentária (seta) em
espécime de lobo-guará (indivíduo 33)
Malformação dentária foi observada no dente canino superior de dois
espécimes de lobo-guará (indivíduos 42 e 74), representando 2,5% do total de
lobos-guará avaliados. O dente canino superior direito do indivíduo 74 foi
caracterizado como malformado devido ao diâmetro reduzido de sua coroa, e à
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irregularidade da superfície dentária, mais evidente na face mesio-vestibular,
possivelmente causada por hipocalcificação ou hipoplasia do esmalte (Figura 21).
Figura 21 - Malformação dentária em canino superior direito em espécime de lobo-
guará (A) (indivíduo 74). Detalhe do dente em B, observando-se
irregularidade da superfície do esmalte
Três espécimes provenientes de cativeiro, correspondendo a 4,8% dos
sincrânios avaliados, apresentaram seis dentes maxilares com raízes fusionadas
(indivíduos 25, 28 e 30). O indivíduo 28 apresentou quatro dentes fusionados:
segundo pré-molar esquerdo (Figura 22), terceiro pré-molar direito e primeiros
molares superiores. Não foi observada esta afecção em dentes mandibulares. Os
indivíduos 28 e 30 apresentaram os dentes segundos molares superiores direitos
fusionados.
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D
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Figura 22 - Dente segundo pré-molar superior de lobo-gua
apresentando fusão das raízes mesial e distal. Face
vestibular (A) e face palatina (B) (indivíduo 28)
A presença de raiz acessória foi observada em 23 sincrânios (37,1%),
correspondendo a 3,47% (n=45) do total de 1.297 dentes muti-radiculares avaliados
nestes espécimes (Figuras 23 e 24). Não foi observada diferença estatisticamente
significativa entre os animais de vida livre e de cativeiro (p = 0,19) (Tabela 5).
Figura 23 - Raízes acessórias em dentes molares de lobos-guará. Em
A, resquício de raiz na face vestibular do segundo molar
inferior direito (indivíduo 47). Em B, raiz acessória entre as
raízes vestíbulo-distal e palatina do segundo molar superior
esquerdo (indivíduo 49)
A
B
A
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D
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O
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Figura 24 - À esquerda, presença de raiz acessória vestibular, em dente primeiro molar de
lobo-guará, evidente pela fenestração óssea (indivíduo 45). À direita, raiz
acessória vestibular, entre as raízes mesial e distal do segundo pré-molar superior
direito em espécime de lobo-guará (indivíduo 26)
Tabela 5 - Distribuição de raiz acessória de acordo com o habitat dos
sincrânios de lobo-guará avaliados. São Paulo, 2007-2008
Habitat
Raiz acessória
Cativeiro Vida livre
Total
Presente 7 (17%) 8 (19%)
15 (36%)
Ausente 6 (14%) 21 (50%)
27 (64%)
Total
13 (31%) 29 (69%) 42 (100%)
χ
2
=1,674, p=0,1958
A raiz acessória foi observada com maior prevalência em dentes maxilares
(n=33) do que mandibulares (n=12), sendo estatisticamente significativa (p=0,0004)
(Tabela 6). Os dentes mais acometidos, em seqüência decrescente, foram: primeiro
molar superior (46,7%), seguido pelo segundo molar inferior (26,7%), segundo pré-
molar superior (8%) e segundo molar superior (8%), terceiro (4%) e quarto pré-
molares superiores (4%).
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Tabela 6 - Distribuição de raiz acessória em lobo-guará, de acordo com a
localização dos dentes nas maxilas. São Paulo, 2007-2008
Localização
Raiz acessória
Maxila Mandíbula
Total
Presente 33 (2%) 12 (1%)
45 (3%)
Ausente 587 (44%) 710 (53%)
1297 (97%)
Total
620 (46%) 722 (54%) 1342 (100%)
χ
2
=12,685, p=0,0004
Dentre as anomalias dentárias quanto ao posicionamento dos dentes, foram
observados dois animais com giroversão dentária (2,5%) (Figura 25), acometendo o
terceiro pré-molar superior esquerdo em ambos os casos (indivíduos 26 e 43). Um
espécime apresentou deslocamento vestibular do terceiro pré-molar inferior (1,2%)
(Figura 26).
Figura 25 - Giroversão de terceiro pré-molar superior esquerdo
(seta) em espécime de lobo-guará (indivíduo 26)
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Figura 26 - Deslocamento vestibular do terceiro pré-molar inferior
direito (seta) em espécime de lobo-guará (indivíduo 29)
Foram observados 28 dentes apresentando apinhamento dentário em 14
espécimes (17,7%), sendo 6 animais de vida livre, 5 de cativeiro e 3 de procedência
desconhecida (Figura 27). Não foi observada diferença estatisticamente significativa
entre os animais de vida livre e de cativeiro (p = 0,68) (Tabela 7).
Figura 27 - Apinhamento dentário em espécimes de lobo-guará. Em A, apinhamento do
segundo incisivo inferior direito. Pode-se notar a localização do alvéolo do
incisivo contra-lateral, indicando malposicionamento dentário bilateral
(indivíduo 64). Em B, apinhamento dos dentes terceiro e quarto pré-molares
inferiores direitos (indivíduo 26)
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Tabela 7 - Distribuição de apinhamento dentário nos lobos-guará,
segundo o habitat. São Paulo, 2007-2008
Habitat
Apinhamento
Cativeiro Vida livre
Total
Presente 5 (8%) 6 (10%)
11 (19%)
Ausente 16 (10%) 32 (54%)
48 (81%)
Total
21 (36%) 38 (64%) 59 (100%)
χ
2
=0,1667, p=0,6831
Os dentes quarto pré-molar e segundo incisivo inferiores foram os mais
acometidos. Foram observados 10 casos de manifestação bilateral e 6 de unilateral,
como pode ser observado no quadro 3.
Não foi observada persistência de dentes decíduos nos lobos-guará do
presente trabalho.
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Identificação Espécime Habitat
Dente com
apinhamento
i
1 Vivo Cativeiro
308
408
3 Vivo Cativeiro 408
6 Vivo Cativeiro 402
9 Vivo Vida livre
302
402
11 Vivo Vida livre 201
24 Sincrânio Cativeiro
106
206
308
408
26 Sincrânio Cativeiro
307
308
407
408
33 Sincrânio Indeterminado 206
42 Sincrânio Indeterminado
308
408
43 Sincrânio Indeterminado
207
308
408
54 Sincrânio Vida livre
302
402
64 Sincrânio Vida livre
302
402
67 Sincrânio Vida livre
302
402
71 Sincrânio Vida livre 405
i
Classificação dentária (Sistema Triadan Modificado)
Quadro 3 - Distribuição de apinhamento dentário em lobos-guará, segundo
espécie, habitat e dente acometido. São Paulo, 2007-2008
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4.2 AUSÊNCIA DE DENTES
Nos 79 animais avaliados, foram totalizadas 692 ausências dentárias. As
ausências ante-morte, correspondentes às observadas em sincrânios e às
apresentadas nos animais vivos, totalizaram 144 dentes, e as consideradas pós-
morte a 548 dentes (Tabela 8).
As ausências ante-morte incluíram agenesia congênita, dentes inclusos,
perda adquirida, decorrente, por exemplo, de doença periodontal e fratura dentária
sem evidência de presença radicular (ausência de inflamação local da gengiva e
sem alteração do osso alveolar). Não foram observados dentes inclusos neste
trabalho.
Tabela 8 - Distribuição da ausência dentária ante e pós-morte nos sincrânios
de lobo-guará avaliados, agrupados segundo a localização dos
dentes. São Paulo, 2007-2008
Número de
dentes ausentes
Ante-morte Pós- morte Total
Maxila 67 226
293
Mandíbula 77 322
399
Total 144 548 692
As figuras 28 e 29 evidenciam as diferenças quanto à morfologia óssea
alveolar, observadas nas ausências dentárias ante e pós-morte, no exame visual e
radiográfico, segundo os critérios estabelecidos previamente.
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Figura 28 - Ausências dentárias em sincrânios de lobo-guará, ante-morte - A
(indivíduo 31) e pós-morte - B (indivíduo 72). Em A, observa-se
remodelamento ósseo, com arredondamento da crista óssea alveolar.
A localização da maioria dos alvéolos dentários não se encontra
evidente. Pode-se notar, ainda, grande número de foraminas. Em B, o
contorno da crista óssea permanece inalterado, assim como a
profundidade alveolar, com ausência de reação periosteal
Figura 29 - Visualização radiográfica da ausência do dente primeiro molar inferior esquerdo em
dois espécimes de lobo-guará (indivíduos 60 e 62, respectivamente), ante-morte (A)
e pós-morte (B). Em A, nota-se perda da lamina dura, arrasamento alveolar e
remodelamento ósseo, evidenciado pelo arredondamento da crista óssea alveolar.
Em B, há preservação da lamina dura e o contorno da crista óssea permanece
inalterado, assim como a profundidade alveolar
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4.3 CÁRIE
Dos 79 animais avaliados, nove (11,4%) apresentaram 18 dentes
acometidos por lesões sugestivas de cárie, em um total de 2.628 dentes. Os
espécimes apresentaram de um a quatro dentes acometidos pela lesão. Dentre os
animais que apresentaram as lesões, seis eram de vida livre (sendo dois animais
vivos), um de cativeiro e dois de procedência desconhecida.
Destas lesões, quatro localizaram-se em regiões de fóssulas e fissuras, nas
superfícies oclusais dos dentes molares superiores (classe I), e doze em superfícies
lisas, sendo nove em regiões interproximais, de caninos e terceiros incisivos
inferiores (classe III), e de primeiro e segundo molares inferiores (classe II). Em três
casos, as lesões foram observadas na face vestibular do dente canino inferior,
próximo à região cervical. Em um mesmo animal, os primeiros incisivos superiores
apresentaram lesão nas faces proximais, acometendo o ângulo incisal (classe IV). A
perda de estrutura dentária foi extensa em dois casos, impossibilitando a
determinação da localização inicial da lesão, na face proximal ou na face oclusal do
dente, optando-se por classificá-las como classe II. A distribuição destas lesões
pode ser observada no quadro 4.
Nas figuras 30 e 31, podem ser observadas lesões sugestivas de cárie
bilateralmente, acometendo os segundos molares superiores do indivíduo 37, e
presença de lesão periapical na raiz distal do lado direito.
Não foi realizada análise microbiológica nem histopatológica das lesões para
confirmação do diagnóstico de cárie.
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Identificação Espécime Habitat
Dente acometido
por cárie
i
Classificação
da lesão
ii
9 Vivo Vida livre 309 II
10 Vivo Vida livre 109 II
12 Vivo Vida livre
303
304
III
III
20 Sincrânio Cativeiro
109
209
I
I
36 Sincrânio Indeterminado
110
210
404
I
I
V
51 Sincrânio Indeterminado 404 V
63 Sincrânio Vida livre
309
404
II
V
65 Sincrânio Vida livre
409
410
II
II
70 Sincrânio Vida livre
101
201
303
304
IV
IV
III
III
i
Classificação dentária (Sistema Triadan Modificado)
ii
Classificação de G. V. Black
Quadro 4 - Distribuição das lesões sugestivas de cárie dentária em lobos-guará, segundo
espécie, habitat, dente acometido e tipo de lesão. São Paulo, out 2007-set 2008
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Figura 30 - Lesão circular bilateral na face oclusal do segundo
molar superior em sincrânio de lobo-guará
(indivíduo 37), sugestiva de cárie
Figura 31 - Lesão sugestiva de cárie no dente segundo molar superior direito do lobo-
guará da Figura 29, evidenciado pelo explorador odontológico (A). Lesão
periapical na raiz distal do mesmo dente (seta) (B) (indivíduo 37)
Na figura 32, pode-se observar destruição da porção distal da coroa do
primeiro molar inferior, sugestiva de cárie, e visualização de lesão periapical na
radiografia deste dente.
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Figura 32 - Lesão sugestiva de cárie em primeiro molar
inferior esquerdo de um lobo-guará (A),
apresentando área radiolúcida (setas) em
região periapical, no exame radiográfico (B)
(indivíduo 63)
Não foi observada diferença estatisticamente significativa entre os animais
de vida livre e de cativeiro (p=0,68) (Tabela 9), nem predisposição entre dentes
maxilares e mandibulares (p=0,39) para as lesões sugestivas de cárie.
Tabela 9 - Distribuição das lesões sugestivas de cárie em lobo-guará, de
acordo com o habitat. São Paulo, out 2007-set 2008
Habitat
Cárie
Cativeiro Vida livre
Total
Presente 1 (2%) 5 (8%)
6 (10%)
Ausente 20 (34%) 33 (56%)
53 (90%)
Total 21 (36%) 38 (64%) 59 (100%)
Teste Exato de Fisher, p=0,4070
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4.4 DOENÇA PERIODONTAL
Constatou-se, através da sondagem da profundidade de bolsa, que o sulco
gengival do lobo-guará apresenta valor médio de 1,1 mm (σ=0,41 mm), com valores
observados neste estudo variando entre 0,5 mm e 2 mm.
A doença periodontal, classificada segundo a gravidade, pode ser avaliada
nos gráficos 2 a 4, distribuída de acordo com procedência, habitat e tipo de
espécime avaliado.
Gráfico 2 - Distribuição geral da doença periodontal nos lobos-guará, segundo
grau da enfermidade. São Paulo, out 2007-set 2008
Nos espécimes de vida livre não foi observada manifestação grave da
doença periodontal (grau 4) e apenas um sincrânio deste grupo apresentou
periodontite moderada (grau 3). Nos animais de cativeiro foi constatada distribuição
homogênea em todos os graus de doença periodontal, como pode ser observado no
gráfico 3.
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Gráfico 3 - Distribuição da doença periodontal nos lobos-guará, segundo grau da enfermidade
e habitat. São Paulo, out 2007-set 2008
A distribuição da doença periodontal entre os animais vivos foi considerada
estatisticamente significante (U=14,5, p=0,036), entretanto, apresentou valores de p
iguais a 0,0774 (U=288,0) e 0,4971 (U=163,5) para a distribuição geral da população
e para sincrânios, respectivamente.
Gráfico 4 - Distribuição da doença periodontal nos lobos-guará, segundo grau da enfermidade,
habitat e tipo de espécime. São Paulo, out 2007-set 2008
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A presença de cálculo dentário foi considerada extremamente significante
nos animais vivos (U=4,5, p=0,0010). Na maioria dos animais vivos de vida livre foi
possível notar discreto acúmulo de cálculo, como pode ser observado na figura 33
(indivíduo 11).
Não foi efetuada a determinação do grau de placa bacteriana nos animais
vivos, devido à dificuldade para utilização de evidenciadores de placa nos animais
de vida livre.
Figura 33 - Espécime de lobo-guará de vida livre, apresentando discreto
acúmulo de cálculo nos dentes pré-molares superiores.
Ausência de gengivite e periodontite (indivíduo 11)
A distribuição da gravidade de gengivite nos animais vivos pode ser
observada no gráfico 5. (p=0,0592; U=16,0). Não foram observados espécimes com
gengivite grave (grau 3).
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Gráfico 5 - Distribuição de gengivite nos lobos-guará vivos, segundo grau da
enfermidade e habitat. São Paulo, out 2007-set 2008
Na figura 34, a sondagem periodontal da face distal do canino superior
direito de um espécime de lobo-guará de cativeiro, revelou a existência de bolsa
periodontal, com perda do nível clinico de inserção (indivíduo 8).
Figura 34 - Sondagem periodontal da face distal do canino superior direito de um lobo-
guará, com auxílio de sonda periodontal milimetrada (A). Representação da
profundidade da bolsa periodontal encontrada (B). Gengivite grau 2 e doença
periodontal grau 2 (indivíduo 8)
Na figura 35, pode-se observar espécime de lobo-guará de cativeiro com
doença periodontal grau 3.
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Figura 35 - Doença periodontal grau 3 em lobo-guará de cativeiro
(indivíduo 2), observando-se retração gengival, gengivite
e acúmulo de cálculo em diversos dentes, além de lesões
endodônticas (fratura dentária dos caninos esquerdos).
Nos sincrânios, alterações evidentes na morfologia do osso alveolar
puderam ser observadas, decorrentes da doença periodontal em alguns espécimes
(Figura 36).
Figura 36 - Doença periodontal grau 4 em quarto pré-molar e
primeiro molar superiores de lobo-guará. Reação
periosteal evidente, cálculo e exposição de furca
grau 3 (indivíduo 25)
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4.4.1 Deiscência e fenestração óssea
Os defeitos ósseos de fenestração e deiscência foram encontrados,
respectivamente, em 22,5% (n=14) e 61,3% (n=38) dos 62 sincrânios avaliados.
Dentre os espécimes que apresentaram deiscência, três eram provenientes de
cativeiro (23%), sete de vida livre (24,1%) e dois de origem desconhecida (9,5%).
Nos casos de fenestração óssea, seis eram animais de cativeiro (46,1%), 18 de vida
livre (62%) e 14 de origem desconhecida (66,6%).
Não foi observada diferença estatística significativa entre animais de
cativeiro e de vida livre quanto a estes defeitos ósseos (Tabelas 10 e 11).
Tabela 10 – Distribuição de deiscência óssea nos lobos-guará, segundo o
habitat. São Paulo, 2007-2008
Habitat
Deiscência
Cativeiro Vida livre
Total
Presente 4 (10%) 7 (17%)
11 (26%)
Ausente 9 (21%) 22 (54%)
31 (74%)
Total
13 (31%) 29 (69%) 42 (100%)
Teste Exato de Fisher, p=0,7132
Tabela 11 – Distribuição de fenestração óssea nos lobos-guará, segundo
o habitat. São Paulo, 2007-2008
Habitat
Fenestração
Cativeiro Vida livre
Total
Presente 7 (17%) 18 (43%)
25 (60%)
Ausente 6 (14%) 11 (26%)
17 (40%)
Total
13 (31%) 29 (69%) 42 (100%)
χ
2
=0,026210, p=0,8714
Todos os achados de deiscência e fenestração foram observados na maxila,
não sendo observados casos na mandíbula. As lesões estavam presentes nos
dentes quarto pré-molar, primeiro e segundo molares superiores (Figuras 37 e 38).
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Figura 37 – Deiscência óssea vestibular na região da raiz mesio-
vestibular do primeiro molar superior esquerdo em lobo-
guará (indivíduo 37).
Figura 38 – Fenestração óssea vestibular na região das raízes
mesio-vestibulares dos dentes quarto pré-molar e
primeiro molar superiores esquerdos de um espécime
de lobo-guará (indivíduo 37).
Foi constatada presença de fenestração óssea bilateral, na face vestibular
da região molar superior do espécime jovem, não incluído na análise estatística do
presente trabalho por apresentar dentição mista (Figura 39).
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Figura 39 – Fenestração óssea (seta) na região de molares de
um espécime jovem (dentição mista) de lobo-guará
(indivíduo 44)
4.5 DESGASTE DENTÁRIO
A distribuição de desgaste dentário de acordo com habitat e procedência dos
animais pode ser observada nos gráficos 6 e 7.
Gráfico 6 – Distribuição geral de desgaste dentário em lobos-guará segundo grau
da enfermidade e habitat. São Paulo, out 2007-set 2008
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Gráfico 7 – Distribuição geral de desgaste dentário em lobos-guará segundo grau da
enfermidade, habitat e tipo de espécime. São Paulo, out 2007-set 2008
Não foi observada diferença estatisticamente significante entre os animais
de vida livre e os de cativeiro quanto à gravidade de desgaste dentário (U=328,0,
p=0,3966). Foi notado que o desgaste acometeu principalmente os dentes incisivos
e molares na maioria dos animais (Figuras 40 e 41).
Figura 40 – Desgaste grau 2 em incisivos superiores e inferiores de espécimes de lobo-
guará, vivo (A) e sincrânio (B) (indivíduos 10 e 22, respectivamente)
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Figura 41 – Desgaste na face oclusal do primeiro molar superior
direito de um lobo-guará (indivíduo 80). As manchas
enegrecidas no dente indicam formação de dentina
terciária (reparadora)
4.6 FRATURA DENTÁRIA
As fraturas dentárias foram observadas em 94 dentes de 43 espécimes,
correspondendo a 54,4% do total de animais avaliados. A distribuição das fraturas
dentárias segundo o habitat dos animais pode ser observada na tabela 12.
Tabela 12 – Distribuição de fratura dentária em lobo-guará segundo o
habitat. São Paulo, 2007- 2008
Fratura dentária
Habitat
Presente Ausente
Total
Cativeiro 9 (11,4%) 12 (15,2%)
21 (26,6%)
Indeterminado 11 (13,9%) 9 (11,4%)
20 (25,3%)
Vida livre 23 (29,1%) 15 (19%)
38 (48,1%)
Total
43 (54,4%) 36 (45,6%) 79 (100%)
Foram observadas fraturas complicadas e não-complicadas, ou seja, com e
sem exposição de polpa nos animais, como pode ser observado nas figuras 42 e 43.
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Figura 42 – Fratura dentária sem exposição pulpar (não-complicada)
em terceiro pré-molar superior esquerdo de lobo-guará
(indivíduo 15)
Figura 43 – Fratura dentária com exposição pulpar (complicada) em canino superior
esquerdo (A) e em primeiro molar inferior direito (B) em lobos-guará
(indivíduos 9 e 8, respectivamente)
Na tabela 13, pode-se observar a distribuição de fraturas dentárias de
acordo com o tipo de fratura, habitat e procedência dos espécimes avaliados.
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Tabela 13 – Distribuição de fratura dentária nos lobos-guará segundo tipo de fratura e número de
animais e dentes acmetidos, agrupados de acordo com o habitat e procedência dos
espécimes. São Paulo, 2007- 2008
Dentes fraturados
Espécime
Total de
animais
acometidos
FD com EP FD sem EP
Total de
dentes
fraturados
Cativeiro 9 24 5 29
Sincrânio 2 4 0 4
Vivo 7 20 5 25
Indeterminado 11 19 4 23
Sincrânio 9 19 4 23
Vida livre 11 36 6 42
Sincrânio 16 25 4 29
Vivo 7 11 2 13
Total geral 43 79 15 94
FD= fratura dentária
EP= exposição de polpa
Não foi observada diferença estatisticamente significativa quanto à
prevalência de fratura dentária entre os animais de vida livre e os de cativeiro
(χ
2
=1,064, p=0,3023) e quanto ao número de fraturas encontradas entre os dois
grupos (U=369,0, p=0,6376).
Os dentes mais acometidos foram os caninos (42,5%), seguidos pelos
incisivos (35,1%), pré-molares (16%) e molares (6,4), conforme o gráfico 8. Não foi
observada fratura do quarto pré-molar superior em nenhum espécime avaliado.
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EP= exposição de polpa
Gráfico 8 – Distribuição de fratura dentária nos lobos-guará segundo tipo de fratura e grupo
de dentes acometidos. São Paulo, out 2007-set 2008
4.7 OUTROS ACHADOS
Além da análise dos dentes, foram coletados dados referentes ao aspecto
geral do sistema estomatognático, onde puderam ser observados casos isolados de
lesão em tecidos moles, como lábio e mucosa oral (Figura 44), além de cicatrizes
faciais. Não foram observadas formações neoplásicas, secreção nasal e ocular e
assimetria facial nos animais vivos.
Nos sincrânios, lesões e assimetrias ósseas foram observadas em dois
espécimes (Figuras 45 e 46).
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Figura 44 - Espécime de lobo-guará de vida livre com lesão
traumática em mucosa jugal e alveolar superior
esquerda
Figura 45 - Lesão óssea circular, com cerca de 6 cm de diâmetro na
região sagital do osso maxilar. Reação periosteal na
face palatina do quarto pré-molar e primeiro molar
superiores direitos
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Figura 46 - Assimetria do rebordo ósseo ventral da mandíbula direita
na região de pré-molares (indivíduo 74)
Apesar de não ter sido objetivo do presente estudo a avaliação de infestação
nesta espécie por ectoparasitas, vale salientar que os animais capturados em vida
livre apresentaram, sem exceção, alta infestação de carrapatos. O espécime número
2, proveniente de cativeiro, apresentava lesões cutâneas por todo o corpo, com
áreas alopécicas e intensa puliciose e ixodidiose, achados clínicos não observados
nos outros dois espécimes que conviviam com este animal.
Todos os animais vivos avaliados neste trabalho apresentaram condição
corporal normal, não sendo observados sinais clínicos de emagrecimento,
prostração ou debilitação física.
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5 DISCUSSÃO
Conforme salientado por Wiggs e Lobprise (1997) e Elbroch (2006) acerca
da anatomia e fisiologia dentária dos carnívoros, o lobo-guará (Chrysocyon
brachyurus) também possui desenvolvimento dentário do tipo difiodonte com
elementos dentários do tipo heterodonte. As mandíbulas são anisognáticas, com
ancoragem dentária do tipo tecodonte. As coroas dentárias são braquiodontes,
sendo os dentes pré-molares secodontes e os dentes molares bunodontes.
A fórmula dentária e o padrão de oclusão do lobo-guará foram determinados,
e, assim como descrito no cão doméstico e em outras espécies de canídeos
selvagens, (HARVEY; EMILY, 1993; MILES; GRIGSON, 2003; WIGGS; BLOOM,
2003), a fórmula dentária do lobo-guará compreende 42 dentes distribuídos em: I
3/3; C 1/1; PM 4/4; M 2/3. O padrão de oclusão da espécie é semelhante ao do cão
doméstico normal (GIOSO; CARVALHO, 2005): incisivos com oclusão em tesoura,
sendo que os superiores sobrepõem os inferiores; caninos inferiores eqüidistantes
ao terceiro incisivo e canino superiores; intercuspidação dos pré-molares, sendo o
primeiro pré-molar inferior rostral ao superior; oclusão em tesoura do quarto pré-
molar superior em relação à porção secodonte do primeiro molar inferior, estando
este dente lingual ao dente maxilar; face oclusal dos molares superiores em contato
com as dos molares inferiores, considerando-se apenas a porção bunodonte do
primeiro molar inferior.
Neste estudo, não foram observados casos de anodontia e oligodontia
congênitas, as quais são consideradas raras em cães domésticos e canídeos
selvagens (HARVEY; EMILY, 1993; MILES; GRIGSON, 2003). Nos três casos deste
trabalho em que foi observada agenesia dentária, o exame radiográfico foi efetuado
para confirmar a ausência do dente ou de resquícios dentários, assim como a
inspeção visual direta e radiográfica do osso alveolar, evidenciando a ausência de
processo de remodelamento ósseo ocasionado por perda do elemento dentário.
Entretanto, concorda-se com Rossi Junior (2002) e Miles e Grigson (2003) sobre a
dificuldade do diagnóstico diferencial entre a ausência dentária congênita e a
adquirida, cujo alvéolo tenha sido completamente remodelado ao longo da vida.
Além do exame radiográfico, o posicionamento dos dentes adjacentes assim como a
comparação com os dentes contralaterais são critérios importantes no diagnóstico,
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que podem trazer informações relevantes. No indivíduo 75 (Figura 17), por exemplo,
foi possível notar a disposição dos quatro incisivos inferiores existentes, ocupando
toda a região rostral da mandíbula, na qual normalmente estariam localizados os
seis incisivos, sugerindo a agenesia dentária dos incisivos centrais. Na ausência
dentária de causas não-congênitas, os dentes normalmente encontram-se no
mesmo local de sua erupção ou próximo a ele, não havendo migração dos
elementos para a região do diastema. Isso porque os dentes dos carnívoros,
diferentemente dos primatas e dos ruminantes, possuem mínima capacidade de
movimentação lateral e vertical, após sua erupção, devido à presença de ligamento
periodontal resistente às forças funcionais aplicadas ao dente (WIGGS; BLOM,
2003).
A presença de dentes supranumerários, em contrapartida à agenesia, pode
ser considerada de fácil diagnóstico, apesar de, em alguns casos, a determinação
de qual dos dentes corresponde ao supranumerário possa ser difícil, conforme
salientado por Wiggs e Lobprise (1997) e Wiggs e Bloom (2003). A prevalência
encontrada para esta anomalia dentária (2,5%), no presente estudo, foi semelhante
à observada por Miles e Grigson (2003) em canídeos selvagens (2,7%) e próxima à
de outros gêneros da família Canidae (Tabela 2), assim como observado em coiotes
(Canis latrans) (2,6%) por Nellis (1972). Com exceção do gênero Speothos, no qual
21% (n=14) dos espécimes apresentaram dentes supranumerários e dos cães
domésticos (8,6%, n=799), os demais gêneros apresentaram prevalência entre 0,8 e
6,8% no trabalho realizado por Miles e Grigson (2003). Os mesmos autores afirmam
que os dentes supranumerários em canídeos localizam-se principalmente na região
de primeiro pré-molar. No presente estudo, a anomalia foi observada nesta região,
nos dois sincrânios em que foi diagnosticado dente supranumerário, sendo um caso
na maxila e o outro na mandíbula, unilateralmente.
Com relação à presença de raízes acessórias, a prevalência observada no
presente estudo (37,1%) difere substancialmente daquela encontrada por Miles e
Grigson (2003) em outros canídeos selvagens, os quais apresentaram prevalência
de 0,2% (Vulpes sp) e 1,5% (Alopex sp), salientando-se que, nos demais gêneros
estudados pelos autores, não foram observados casos desta anomalia dentária. No
presente estudo, a prevalência de raiz acessória em dentes maxilares foi
estatisticamente significativa comparada à observada em dentes mandibulares,
semelhante às observações de Verstraete et al. (1996a) em gatos selvagens. Nos
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lobos-guará deste estudo, o primeiro molar superior foi o dente mais acometido por
esta anomalia dentária, correspondendo a praticamente metade dos casos (46,7%),
seguido pelo segundo molar inferior (26,7%). Em felídeos, Miles e Grigson (2003)
afirmam que o quarto pré-molar inferior pode apresentar uma raiz acessória na face
lingual do dente, entre as raízes mesial e distal. Entretanto, não há relato da
anomalia nos felídeos avaliados pelos autores no estudo. Rossi Junior (2002, 2007)
também não descreve a existência de raízes acessórias nos espécimes de onça-
pintada e suçuarana avaliados. Já Verstraete et al. (1996a) observaram a presença
de raiz acessória principalmente no terceiro pré-molar superior dos gatos selvagens
avaliados. Tendo em vista que os felídeos evolutivamente perderam os dentes
molares, com exceção do primeiro molar inferior (carniceiro) e do primeiro molar
superior, de tamanho extremamente reduzido (MILES; GRIGSON, 2003), a
comparação com canídeos acerca da prevalência de raiz acessória segundo o dente
acometido torna-se difícil. Além disso, a baixa ocorrência desta anomalia na escassa
literatura existente em outros canídeos e mesmo em outras famílias de carnívoros
impossibilita a análise comparativa com o presente estudo (MILES; GRIGSON,
2003).
Vale ressaltar que, nos animais vivos avaliados neste trabalho, não foram
observados indícios da presença de raiz acessória durante a inspeção visual direta,
e a ausência de exame radiográfico nestes casos impossibilitou o diagnóstico
definitivo da anomalia. Estas observações fomentam questões de relevância clínica,
como a dificuldade de diagnóstico de raízes acessórias sem auxílio de exame
radiográfico, tendo em vista que mais de um terço dos sincrânios estudados
apresentaram pelo menos um dente com a anomalia, e a importância deste achado
clínico na realização de procedimentos odontológicos, principalmente extração
dentária. Tal relevância clínica foi ressaltada por Verstraete et al. (1996a), que
observaram a presença de raiz acessória em mais de 10% dos dentes de sincrânios
de gatos selvagens estudados nas ilhas Marion. O fato de que procedimentos
odontológicos vêm sendo efetuados rotineiramente em zoológicos e instituições
mantenedoras de espécies selvagens, especialmente extrações dentárias e
tratamentos endodônticos (WENKER et al., 1999; GLATT; FRANCL; SCHEELS,
2008), ratifica a importância de estudos semelhantes em outras espécies, a fim de
avaliar a prevalência desta anomalia dentária, bem como outras alterações do
sistema estomatognático, prevenindo complicações trans e pós-cirúrgicas.
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A presença de raízes fusionadas possui relevância clínica semelhante à das
raízes acessórias, embora a prevalência no presente estudo não tenha apresentado
a mesma expressividade (4,8%). Apesar de não haver menção acerca da
prevalência desta anomalia em canídeos no estudo de Miles e Grigson (2003), os
autores relatam alguns casos nos gêneros estudados.
Apesar da classificação de doença periodontal ser preconizada para
avaliação individual dos dentes, e ter sido realizada neste estudo, optou-se pela
representação por indivíduo no presente trabalho, que, embora seja menos precisa e
minuciosa, facilitou a apresentação dos resultados. Na distribuição da doença
periodontal de acordo com o grau da enfermidade, foi possível notar tendência dos
animais de cativeiro em apresentar periodontite mais avançada, com alguns
espécimes manifestando o grau mais elevado da doença, enquanto os animais de
vida livre apresentaram graus mais brandos, principalmente gengivite e periodontite
inicial. Nos animais vivos, a distribuição da doença periodontal e de cálculo dentário
nos animais de cativeiro e de vida livre foram consideradas estatisticamente
significantes, confirmando a literatura, que afirma que animais de cativeiro
apresentam doença periodontal mais grave e prevalente que animais de vida livre
(WENKER et al., 1999; WIGGS; BLOOM, 2003). Entretanto, isso não significa que
estes animais não apresentem a enfermidade, apenas que as manifestações são, de
modo geral, mais discretas. Deve-se atentar, ainda, para a interpretação do número
elevado de animais com doença periodontal grau 0 e reduzido de gengivite,
independente do habitat dos espécimes, já que a impossibilidade de avaliação de
tecidos moles nos sincrânios suprime o grau 1, correspondente à gengivite.
A presença de cálculo dentário observada nos animais vivos foi mais
prevalente nos espécimes de cativeiro, principalmente na face vestibular, próxima
aos ductos salivares, de acordo com afirmação de Prowse et al. (2008).
Apesar de não ter sido efetuada a comparação da dieta dos animais de vida
livre e de cativeiro diretamente neste estudo, sabe-se que a dieta natural do lobo-
guará e da maioria das espécies selvagens costuma ser mais abrasiva do que a
comumente oferecida aos animais de zoológicos, e certamente este fator contribui
para a deposição de placa bacteriana e cálculo sobre os dentes, conforme descrito
por diversos autores (WIGGS; LOBPRISE, 1997; WENKER et al., 1999; MILES;
GRIGSON, 2003; WIGGS; BLOOM, 2003). O estudo realizado por Hefferren, Smith
e Kruckenberg (1996) reforça estas afirmações, uma vez que os cães que não
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receberam objetos abrasivos para higienização dentária foram os que apresentaram
maior prevalência de placa e cálculo.
Miles e Grigson observaram em 1.157 sincrânios de canídeos selvagens
avaliados que apenas 24 espécimes (2,1%) apresentavam reabsorção óssea
alveolar decorrente de doença periodontal. No presente trabalho, a prevalência de
periodontite em lobo-guará foi muito superior à observada pelos autores,
correspondendo a 37% dos casos (34,2% nos animais de vida livre e 47,6% nos
animais de cativeiro). Mais estudos precisam ser realizados para avaliar se a
diferença pode ser devido à pequena amostragem do presente trabalho, comparada
ao estudo de Miles e Grigson, ou se a espécie apresenta predisposição para a
afecção. Os mesmos autores referem que algumas espécies de canídeos avaliados
no estudo apresentaram prevalência maior que outros, afirmando, ainda, que lobos
mantidos em cativeiro são mais propensos a desenvolver doença periodontal similar
à apresentada por cães domésticos.
A metodologia descrita por Kakehashi, Aber e White (1963) e Wenker et al.
(1999) para avaliação periodontal de sincrânios em primatas e ursos,
respectivamente, mostrou-se adequada para utilização na espécie estudada neste
trabalho. Já a quantificação da presença de cálculo nos sincrânios não foi efetuada
neste estudo por não se mostrar fidedigna, devido à perda de depósitos calcificados
que pode ocorrer em decorrência da preparação química e física dos sincrânios,
conforme ressaltado por Wenker et al. (1999).
Alguns defeitos ósseos que ocorrem na face vestibular principalmente do
osso maxilar, conhecidos como fenestração e deiscência, são caracterizados pela
exposição das raízes dentárias, sendo descritos em Gorilla e Colobus (KAKEHASHI;
ABER; WHITE, 1963; MILES; GRIGSON, 2003). Miles e Grigson (2003) afirmam
que, apesar da etiologia ainda ser desconhecida, não há dúvida que estas lesões
ocorram em outras espécies além das mencionadas, podendo ser decorrentes não
apenas de afecções locais, mas possivelmente relacionadas à atrofia esquelética ou
à osteoporose. No entanto, estudos precisam ser realizados para confirmar a
existência de correlação entre tais enfermidades sistêmicas e os defeitos ósseos
mencionados.
A literatura humana atribui algumas possíveis causas da fenestração e da
deiscência, tais como: contornos radiculares proeminentes, posicionamento dos
dentes, como protrusão vestibular das raízes e força oclusal, associados à
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espessura óssea delgada (EDEL, 1981; LÖST, 1984; NEWMAN; TAKEI;
CARRANZA, 2002). O presente estudo concorda com a etiologia proposta nesses
estudos, já que os casos de defeitos ósseos alveolares observados ocorreram
somente na maxila, que possui delgada cortical óssea, com prevalência nos dentes
quarto pré-molar, primeiro e segundo molares. Tais dentes estão sujeitos a
acentuada carga mastigatória em carnívoros e, principalmente, o dente quarto pré-
molar superior (carniceiro), que apresenta raízes vestibulares proeminentes.
O achado clínico de 61,3% de deiscência nos espécimes avaliados sugere a
possibilidade deste defeito ósseo ser fisiológico na espécie, já que animais sub-
adultos, incluindo o indivíduo 44, em fase de troca de dentição, apresentaram
deiscência bilateral, semelhantemente aos dados encontrados em gorilas e em
outras espécies de primatas, em todas as faixas etárias avaliadas, inclusive em
espécimes jovens, com dentição primária em processo de erupção (KAKEHASHI;
ABER; WHITE, 1963; SKINNER; NEWELL, 2003).
Esse estudo corrobora com Kakehashi, Aber e White (1963) em que a
deiscência óssea observada nos animais de ambos estudos parece ser uma
confluência da fenestração óssea e de reabsorção horizontal progressiva, e que o
posicionamento dos dentes não parece estar envolvido na etiologia destes defeitos
em animais, diferentemente do que é proposto em humanos (LÖST, 1984; EDEL,
1981).
A prevalência de cárie em lobos-guará encontrada neste estudo (11,4%) foi
maior que a descrita em cães domésticos por alguns autores. Miles e Grigson (2003)
e Venturini (2006) observaram prevalência de 0,5 e 1,1%, respectivamente,
enquanto Hale (1998) observou 5,3% dos cães estudados com cárie. Por outro lado,
a prevalência mostrou-se mais próxima à observada por Wenker et al. (1999) em
ursos pardos de cativeiro (6,9%) e de vida livre (14,7%).
A confirmação definitiva da cárie pode ser efetuada apenas através do uso
de corantes, como a rodamina B, e realização de exame histopatológico
subseqüente (BERGER et al., 1996; WENKER et al., 1999). Infelizmente, este
exame não foi efetuado no presente estudo, dentre outros fatores, pelo fato do
exame necessitar de corte histológico do dente. Desta maneira, o exame
necessitaria de extração dentária nos animais vivos e, nos sincrânios, perda do
dente de um animal que faz parte de coleções de museus. Vale ressaltar que
apenas o trabalho realizado por Wenker et al. (1999) efetuou tal avaliação para a
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confirmação das lesões cariosas. Entretanto, conforme ressaltado por Cabral (2006),
os métodos de detecção da cárie mais freqüentemente realizados consistem na
inspeção visual e nos métodos tátil e radiográfico, embora outros métodos venham
sendo cada vez mais empregados, permitindo maior sensibilidade e especificidade
(PRETTY, 2006).
A região mais freqüentemente acometida pela cárie em cães domésticos
corresponde à mesa oclusal do primeiro molar superior, por ser um local que
apresenta condições favoráveis ao acúmulo de debris alimentares e bactérias. A
região intercuspidal do primeiro molar inferior é outra localidade propícia à cárie,
pelas mesmas características (HALE, 1998). Estas regiões, e também a mesa
oclusal do segundo molar superior (semelhante à anatomia do primeiro molar) foram
acometidas em cerca de 40% dos casos suspeitos de cárie observados no presente
estudo. A mesma porcentagem foi observada nos caninos inferiores, indicando a
região cervical destes dentes, principalmente a face adjacente ao terceiro incisivo,
como local aparentemente predisposto à cárie de superfície lisa em lobos-guará.
Devido à pequena amostragem de casos suspeitos de cárie no estudo, não
foi possível determinar a prevalência de simetria de lesões, que poderiam indicar
predisposição anatômica, fisiológica ou microbiológica, conforme sugerido por Hale
(1998), em estudo retrospectivo de cárie em cães. Entretanto, a anatomia dentária
dos dentes molares do lobo-guará confere regiões de fóssulas ainda mais profundas
que as observadas em cães domésticos, que poderiam favorecer ao acúmulo de
debris e bactérias e dificultar a higienização.
Dentre os nove lobos-guará acometidos, 6 eram provenientes de vida livre,
dois de origem desconhecida e um animal de cativeiro. Apesar desta predisposição
não ter sido estatisticamente significativa, deve ser levada em consideração. As
observações destas lesões incitam o interesse pela busca dos fatores ou
características que possam estar envolvidos na ocorrência desta enfermidade em
espécimes de vida livre, haja vista as razões atribuídas à baixa prevalência de cárie
nos carnívoros, especialmente os selvagens. A determinação do pH salivar e o
estudo da microbiota oral, mais especificamente, de bactérias cariogênicas, nesta
espécie, podem auxiliar na elucidação da questão.
Além disso, a alta ingestão da fruta-do-lobo, conforme descrito por Bueno e
Motta Junior (2006) e a acidez deste fruto, de acordo com os trabalhos de Corrêa et
al. (2000) e Oliveira Junior et al. (2004), podem estar relacionados à prevalência
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expressiva de lesões sugestivas de cárie na espécie. Embora o pH da fruta-do-lobo
não seja considerado baixo, comparada a de outros frutos, não se pode descartar
que a sua ingestão contínua e freqüente possa afetar o mecanismo de
desmineralização-remineralização no esmalte dentário do lobo-guará e ainda, por
possuir açúcares como a sacarose em sua composição, poder ser considerada uma
dieta cariogênica.
Sabe-se que a cárie consiste em processo multifatorial, envolvendo fatores
já mencionados, como pH oral, dieta cariogênica, anatomia dentária (fóssulas,
fissuras e outros defeitos estruturais), além da presença de microrganismos
cariogênicos. A observação de Wenker et al. (1999) quanto à presença de lesões
classe VI em ursos pardos, decorrentes de desgaste dentário excessivo e exposição
pulpar, especialmente em animais de cativeiro com problemas comportamentais,
ressalta a necessidade de prevenção e tratamento das enfermidades orais, além de
cuidados especiais do manejo ambiental das espécies de cativeiro. Outro fator
salientado pelos autores, considerado plausível pelo presente trabalho, é a
transmissão da microbiota cariogênica humana para estes animais, através de
alimentos oferecidos pelo público em zoológicos e parques. Exemplificando esta
teoria, pode-se considerar o estudo em raccoons realizado por Hungerford et al.
(1999), no qual foi observada maior prevalência de doença periodontal e cárie no
grupo de animais habitantes de um parque estadual, que mantinham contato direto
com seres humanos.
Apesar da prevalência de cárie observada neste estudo ter sido mais
evidente em animais de vida livre, não há como discordar de Redford e Ritcher
(1999), quando afirmam que animais silvestres em ambientes ditos “selvagens”, ou
seja, que nunca tenham tido contato ou ação de humanos, sejam raros. Os autores
afirmam que, na realidade, acredita-se que poucas espécies existentes na
atualidade não tenham sido influenciadas de alguma forma pela intervenção do
homem. A característica alimentar oportunista do lobo-guará comprova esta
afirmação, especialmente nos estudos de Aragona e Setz (2001) e de Mattos (2003),
que evidenciam a presença de restos alimentares e itens antrópicos nas fezes dos
animais e observação de espécimes forrageando lixos de moradias humanas.
As lesões traumáticas, representadas por desgaste e fratura dentária, foram
as afecções do sistema estomatognático mais prevalentes, acometendo,
respectivamente, 87,3% e 54,4% dos lobos-guará estudados. A prevalência de
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fraturas dentárias observada assemelha-se à descrita por Furtado et al. (2006) em
lobos-guará de vida livre avaliados no Parque das Emas-GO (63,1%), especialmente
quando considerados apenas o grupo de vida livre (60,5%), e à observada em
cachorro-selvagem africano de vida livre (48%), relatada por Steenkamp e Gorrel
(1999). Já Rossi Jr. (2002) relata alta prevalência de fratura e desgaste dentário em
felídeos selvagens de cativeiro (Panthera onca and Puma concolor), e não observa a
ocorrência destes traumas dentários nos animais de vida livre avaliados. Verstraete
et al. (1996a) relatam a ocorrência 54,8% dos gatos selvagens estudados
apresentaram pelo menos um dente fraturado; e French e Antony (1996)
observaram que a fratura dentária foi a afecção mais freqüente nos felídeos
selvagens estudados. A maioria da literatura existente sobre odontologia em animais
selvagens atribui ao ambiente de cativeiro a ocorrência de fraturas dentárias nos
animais, geralmente relacionadas com problemas comportamentais e agressividade
(WIGGS; LOBPRISE, 1997; WENKER et al., 1999; PACHALY; GIOSO, 2001;
WIGGS; BLOOM, 2003). Entretanto, as observações do presente estudo e dos
trabalhos de Verstraete et al. (1996a), Steenkamp e Gorrel (1999) e Furtado et al.
(2006) demonstram que esta afecção dentária também ocorre com freqüência em
vida livre, e provavelmente a causa nestes casos esteja relacionada às
características e hábitos alimentares do lobo-guará em natureza.
Van Valkenburgh (1988) sugere que aqueles animais que se alimentam de
presas pequenas, invertebrados e vegetais provavelmente tenham uma tendência a
apresentar baixa prevalência de fraturas dentárias, o que contrapõe os resultados
obtidos no presente estudo, já que o lobo-guará apresenta este tipo de dieta
alimentar e apresenta alta prevalência de traumas dentários em vida livre.
A localização anatômica e o tamanho dos dentes podem predispor um tipo
ou outro de dente a diferentes forças durante sua utilização na captura, por exemplo.
O dente canino é, sem dúvida, o mais proeminente e vulnerável a traumas
(HARVEY; EMILY, 1993) e desta maneira, o mais freqüentemente fraturado, como
observado no presente trabalho e em outros estudos (VAN VALKENBURGH , 1988;
FURTADO et al, 2006).
Assim como mencionado por Wenker et al. (1999) em ursos pardos de
cativeiro e vida livre, a localização de desgaste dentário nos lobos-guará
apresentou-se similar entre os grupos estudados, acometendo principalmente os
incisivos. Steenkamp e Gorrel (1999), semelhante ao presente trabalho, observaram
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prevalência de desgaste dentário superior a 80% nos animais estudados. Embora o
desgaste dentário seja considerado um processo fisiológico, utilizado inclusive para
estimativa de idade em muitas espécies, pode levar à perda acentuada da superfície
dentária, comprometendo a função. Alguns trabalhos descrevem exposição pulpar
associada ao desgaste (Wenker et al., 1998, 1999), e as implicações desta afecção
para o animal precisam ser investigadas.
Os animais vivos avaliados no presente estudo com lesões orais
importantes, como fratura dentária, exposição pulpar, desgaste acentuado, cárie e
mobilidade dentária não apresentaram sinais clínicos que indicassem debilitação e
emagrecimento, como resultado de dificuldade de ingestão de alimentos. Entretanto,
isso não significa que as afecções orais não exerçam papel importante na saúde
geral destes animais. Aparentemente, não foram detectadas lesões agudas, como
fraturas dentárias com exposição de polpa viva, sendo possível que, durante o
processo agudo da enfermidade, o animal possa ter apresentado desconforto, dor e
inapetência, e sobrevivido, adaptando-se e superando este período, até mesmo
através de seletividade da dieta, até se restabelecer. Também é possível que, da
mesma maneira que foi observado em raccons por Hungerford et al. (1999), estes
animais tenham conseqüências menos severas decorrente de afecções orais por
serem espécies que conseguem segurar ou apreender o alimento com os dentes e
membros dianteiros, e utilizar ampla variedade de fontes alimentares, já que são
animais considerados oportunistas.
A realização do exame radiográfico dos sincrânios possibilitou a identificação
dos animais quanto à idade como jovens, quando da presença de ápice radicular
aberto, e adultos, com ápice fechado, representando mais um método para
determinação etária, além daqueles comumente empregados em literatura, como
tempo e seqüência de erupção dentária, estágio de ossificação das suturas
cranianas, grau de desgaste dentário e linhas incrementais de cemento (WENKER
et al. 1999; VAN HORN; MCELHINNY; HOLEKAMP, 2003; VAN NIEVELT; SMITH,
2005). Concorda-se com Wiggs e Bloom (2003) que, o ideal, em um estudo
comparativo entre animais de vida livre e cativeiro, seria a utilização de espécimes
com idade semelhante, obtendo-se, assim, informações mais precisas, que podem
facilitar na determinação da etiologia de cada afecção. E, assim, contribuir
significativamente para a manutenção da saúde oral dos animais mantidos em
cativeiro, não se limitando apenas à realização dos tratamentos odontológicos, mas
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principalmente na prevenção das enfermidades, em cativeiro e em vida livre,
especialmente em espécies ameaçadas de extinção, como o lobo-guará,
contribuindo para a conservação da espécie.
Se a humanidade continua desejando ter o privilégio de ter estes animais a
seu redor, em seu convívio, ela tem a obrigação e a responsabilidade de oferecer a
eles o melhor (WIGGS; LOBPRISE, 1997). Com a informação obtida de relatos de
casos e de estudos comparativos como o presente trabalho, há a possibilidade de
promover a estes animais cuidados odontológicos de qualidade e melhor qualidade
de vida.
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6 CONCLUSÃO
Conclui-se, com o presente trabalho que:
O lobo-guará apresenta fórmula dentária e padrão anatômico e oclusal
semelhante ao do cão doméstico e de outros canídeos;
As afecções do sistema estomatognático são freqüentes em lobo-guará,
tanto em animais mantidos em cativeiro quanto em vida livre;
O desgaste dentário consiste no principal achado odontológico nos
espécimes, seguido por fraturas, anomalias dentárias, doença periodontal, cárie e
lesões traumáticas de tecidos moles e osso;
A fratura dentária é mais prevalente em animais de vida livre, e a doença
periodontal em animais de cativeiro, sendo a gravidade desta enfermidade mais
acentuada nos lobos-guará de cativeiro, assim como a deposição de cálculo
dentário;
A principal anomalia dentária observada nos lobos-guará consiste na
presença de raiz acessória em dentes multi-radiculares, observada principalmente
em dentes maxilares;
Defeitos ósseos de fenestração e deiscência são achados freqüentes na
região de quarto pré-molar e molares superiores em sincrânios de lobos-guará,
entretanto sua implicação clínica ainda precisa ser estudada;
Lesões sugestivas de cárie foram observadas com prevalência superior
à de cães domésticos, e com maior freqüência nos animais de vida livre, sendo
importante a realização de estudos futuros para elucidar os fatores envolvidos.
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conditions of captive brown bears (Ursus arctos spp.) compared with free-ranging
Alaskan grizzlies (Ursus arctos horribilis). Journal of Zoo and Wildlife Medicine, v.
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WIGGS, R. B.; BLOOM, B. C. Exotic placental carnivore dentistry. The Veterinary
Clinics of North America: Exotic Animal Practice, v. 6, n. 3, p. 571-599, 2003.
WIGGS, R. B.; LOBPRISE, H. B. Veterinary dentistry: principles & practice.
Philadelphia: Lippincott-Raven, 1997. 748 p.
WOBESER, G. Traumatic, degenerative, and developmental lesions in wolves and
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1992.
148
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S
YAMASHITA, N. Food procurement and tooth use in two sympatric lemur species.
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150
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ANEXO A - Ficha odontológica (odontograma) usada para exame oral dos animais vivos,
adaptada para uso em canídeos selvagens
Fonte: Laboratório de Odontologia Comparada (LOC) - Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (VCI - FMVZ - USP)
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ANEXO B - Ficha odontológica (odontograma) adaptada para avaliação de sincrânios,
adaptada para uso em canídeos selvagens
Fonte: Laboratório de Odontologia Comparada (LOC) - Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (VCI - FMVZ - USP)
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