RESUMO
O presente trabalho avaliou a ecologia alimentar das espécies Stegastes fuscus e S.
variabilis, peixes recifais da família Pomacentridae, através da análise do conteúdo
estomacal e da ecomorfologia trófica. As coletas foram realizadas no período de
estiagem de 2008/2009, dezembro a março, e chuvoso de 2009, de junho a agosto, em
três recifes do complexo de Tamandaré (Pernambuco) o Igrejinha, o Pirambu e o
Mamucaba, onde 120 indivíduos foram capturados, dentre as duas espécies na sua fase
jovem e adulta, para a análise do conteúdo estomacal; 12 variáveis ecomorfológicas
relacionadas com a alimentação foram aferidas. Foram coletadas, ainda, através de
raspagem 72 amostras de 20 cm² da comunidade de algas nos territórios das espécies de
Stegastes, caracterizada através de biomassa por peso seco. Foram observadas 21
espécies de algas dentro dos territórios defendidos pelas espécies de Stegastes, sendo
destas cinco pertencentes à classe Chlorophyceae, dez à classe Floridophyceae e seis à
classe Phaeophyceae. Os territórios são mantidos em regime de cultura extensiva e
dominados pelas alga calcária Halimeda opuntia, sendo também encontradas como
importantes membros da comunidade de algas as espécies Jania adhaerens,
Dictyopteris delicatula e Palisada perforata. Houve estabilidade quanto à composição
das algas dentro dos territórios, tanto sazonalmente, quanto entre os recifes estudados. A
dieta das espécies consistiu de 83 diferentes itens alimentares, dos quais 16 foram de
origem animal, a exemplo de crustáceos, moluscos, cnidários e briozoários. A maior
diversidade de itens foi de origem vegetal, incluindo várias espécies de diatomáceas e
de macroalgas, e ainda cianobactérias, detritos e sedimento. Ambas as espécies
apresentaram as diatomáceas como item alimentar em maior abundância nos estômagos,
a exemplo de Licmophora, Isthmia e Climacosphenia, seguido das macroalgas, em
especial as filamentosas, folhosas e cilíndricas. A dieta das espécies de Stegastes se
sobrepuseram, indicando o potencial competitivo entre as espécies em relação ao
recurso alimentar. Não houve variação significativa nem entre as espécies, nem
ontogeneticamente, nem entre os recifes estudados quanto à alimentação. Foi observada
variação sazonal na dieta, associada à aceleração do metabolismo com o aumento da
temperatura durante o período de estiagem. Houve seleção negativa para as algas
calcárias e dentre as espécies mais consumidas, a maior preferência foi pelas algas
filamentosas, folhosas e cilíndricas. A não observação de muitas das espécies de algas
filamentosas nos territórios, que estavam presentes nos estômagos sugere que muitas
existam no ambiente em hábitos epifíticos. A espécie S. fuscus apresentou maior
densidade que S. variabilis nos recifes estudados, devido ao tamanho corpóreo superior
desta. As diferenças interespecíficas e ontogenéticas nos atributos ecomorfológicos
indicaram que os indivíduos jovens apresentam maior capacidade de natação, uma
capacidade aumentada de abocanhar e maior acuidade visual para encontrar os
alimentos, do que os indivíduos adultos. Foi observado que não há separação das
espécies levando em conta os índices ecomorfológicos utilizados, diferindo do padrão
obtido em estudos anteriores, sendo este relacionado a variadas metodologias e origem
do material analisado.
PALAVRAS-CHAVE: peixes recifais, herbivoria, macroalgas, conteúdo estomacal