38
desconstrutivista
24
, cujo principal representante é Derrida (1973 apud, ibid.)
25
. Essa
concepção considera o ato de ler como um processo discursivo, no qual os sujeitos produtores
de sentido (autor e leitor) estão sócio-historicamente determinados e ideologicamente
constituídos; portanto, o momento social é determinante do comportamento, das atitudes, da
linguagem do leitor, assim como da configuração de sentidos concebida por cada um deles
(cf. ibid.).
Entendemos, assim, que o significado do processo de leitura não é pré-dado pelo autor
do texto, antes é construído pelo sujeito leitor através da transformação do material pré-dado
do texto (cf. ISER, 2002 p. 115). Dessa forma, Coracini também acredita que:
Se entendermos discurso como conjunto de enunciados possíveis numa dada
formação discursiva, em que os sujeitos determinam as condições de exercícios da
função enunciativa, (Foucault, 1969) ao mesmo tempo em que são por elas
determinados, se compreendemos linguagem como uma série infinita de jogos
convencionais (no sentido que Wittgenstain dá ao termo), cujas regras são
partilhadas por uma comunidade cultural, interpretativa, que determina a produção
do sentido, então, compreenderemos que não pode ser o texto o receptáculo fiel do
sentido, que este não pode ser controlado a não ser pelos sujeitos submersos num
determinado contexto sócio-histórico (ideológico), responsável pelas condições de
produção. Estas nada mais são do que o imaginário discursivo que habita o sujeito e
que determina o seu dizer. (grifo do autor) (ibid., p. 15-16).
Assim, cada indivíduo realizará diferentes leituras, dependendo do momento em que
estas sejam feitas, como coloca Foucault
26
(1971 apud, ibid.): “O dizer é inevitavelmente
habitado pelo já dito e se abre sempre à pluralidade de sentidos, que, por não se produzirem
jamais nas mesmas circunstâncias, são, ao mesmo tempo e inevitavelmente novos.”(grifos
nossos).
Dessa forma, fala-se em pluralidade de sentidos, mas não na acepção de texto
polissêmico que se constrói como oposto ao texto monossêmico, e sim na acepção de
“disseminação de sentidos”, como explica Derrida
27
(1972, p. 61, apud, ibid.):
A atenção dada à polissemia ou politematismo constitui, certamente, um progresso
com relação à linearidade de uma escritura ou de uma leitura monossêmica, ansiosa
por se amarrar ao sentido tutor, ao significado principal do texto [...]. Entretanto, a
polissemia enquanto tal se organiza no horizonte implícito de uma resolução unitária
do sentido, para não dizer de uma dialética [...], de uma dialética teleológica e
totalizante que deve permitir a um dado momento, por mais distante que esteja,
24
Segundo Grigoletto, o desconstrutivismo considera que um texto nunca possui significado anterior à leitura,
inserindo-se, dessa forma, no domínio da heterogeneidade e da intertextualidade. Nesse sentido, essa linha
aponta que devem ser permitidas várias leituras e abordagens na construção de um significado (cf. 1995, p.
104).
25
A obra citada por Coracine é DERRIDA, J. De la Grammatologie. Paris: Les Editions de Minuit, 1967.
26
FOUCAULT. L’ ordre Du Discours. Paris:Ed. Gallimard, 1971.
27
DERRIDA, J. Positions. Paris: Les Editions de Minuit, 1972.