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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ESCOLA DE ENFERMAGEM
ARIANE CEDRAZ MORAIS
DEPRESSÃO EM MULHERES VÍTIMAS
DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
SALVADOR
2009
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ARIANE CEDRAZ MORAIS
DEPRESSÃO EM MULHERES VÍTIMAS
DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
SALVADOR
2009
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da
Bahia, como requisito para obtenção de grau de Mestre
em Enfermagem, Linha de Pesquisa Enfermagem na
Atenção à Saúde da Mulher.
Orientadora:Profª Drª Regina Lúcia Mendonça Lopes
Co-Orientadora:Profª Drª Normélia M
a
Freire Diniz
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Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da Escola de Enfermagem,
Escola de Enfermagem, UFBA.
Morais, Ariane Cedraz
M827d Depressão em mulheres vítimas de violência doméstica / Ariane
Cedraz Morais. – Salvador, 2009.
126 f. : il. ; 29 cm
Orientadora: Profª Drª Regina Lúcia Mendonça Lopes.
Co-Orientadora: Profª Drª Normélia Maria Freire Diniz.
Dissertação (Mestrado) Universidade Federal da Bahia, Escola
de Enfermagem, 2009.
1. Mulheres Saúde mental. 2. Depressão mental. 3. Violência
familiar. I. Lopes, Regina Lúcia Mendonça. II. Diniz, Normélia Maria
Freire. III. Universidade Federal da Bahia. Escola de Enfermagem.
IV. Título.
CDU 616.89
ARIANE CEDRAZ MORAIS
DEPRESSÃO EM MULHERES VÍTIMAS
DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da
Universidade Federal da Bahia, como requisito para obtenção de grau de Mestre em
Enfermagem, Área de Concentração Gênero, Cuidado e Administração em Saúde, Linha de
Pesquisa Mulher, Gênero e Saúde.
Aprovada em 27 de fevereiro de 2009
COMISSÃO EXAMINADORA
Regina Lúcia Mendonça Lopes_______________________________________________
Doutora em Enfermagem e Professora da Universidade Federal da Bahia
Tânia Maria de Araújo______________________________________________________
Doutora em Saúde Coletiva e Professora da Universidade Estadual de Feira de Santana
Solange Tavares Rubim de Pinho _____________________________________________
Doutora em Medicina e Saúde Humana e Professora da Universidade Federal da Bahia
Solange Maria dos Anjos Gesteira _____________________________________________
Doutora em Enfermagem e Professora da Universidade Federal da Bahia
Dedico este trabalho às mulheres do
Calafate, pelas suas histórias, pelo exemplo de
bravura, raça e coragem que se expressam no seu
dia-a-dia, pelo sorriso estampado no rosto e pelo
dom da vida de cada uma de vocês.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, por me permitir mais uma conquista, por ter me dado forças e
sabedoria nos momentos em que se fazia necessário, e por me mostrar sempre a serenidade e
o caminho da persistência. Esses elementos, Deus, foram fundamentais nesse processo.
Aos meus pais, Antonio e Auricélia, amores incondicionais, que sempre apostaram na
minha trajetória profissional, que me impulsionam a ser e a querer sempre mais. Meu eterno
muito obrigada.
À Antonio Ribeiro, meu esposo, meu companheiro, meu grande incentivador por
todos os momentos difíceis e que sempre me ajudou quando as coisas pareciam ‘duras’ ou
impossíveis. Agradecer pelo companherismo, por sempre entender meus momentos de
ausência e por ‘realizar junto comigo’ este trabalho.
Aos meus irmãos, Aisiane, Bete, Júnior e Artur, pois vocês me proporcionam alegria,
motivação e me ensinam a grandeza de ter uma família, sendo sempre meu ‘porto seguro’.
Aos meus sobrinhos, Ytalo, Ana Clara, Beatriz, Emile, Gustavo, Anna Louise,
Humberto, Rolemberg Filho, Andrezinho, pela inspiração, pelos sorrisos e olhares
confortantes e, principalmente, pela energia que vocês possuem e que recarregam sempre
‘minha bateria’.
À família Ribeiro Guimarães, em especial aos meus sogros Nair Ribeiro (in
memorian) e Edmundo Ribeiro, pela força, pela vibração e pela presença constante. À dona
Nair, meus sinceros agradecimentos, seus ensinamentos e sua história terão sempre um lugar
especial.
Às professoras Dr
a
Regina Lúcia Mendonça Lopes e Dr
a
Normélia Maria Freire Diniz,
que souberam pacientemente me orientar e me ensinaram a ‘arte’ de pesquisar e de desbravar
mundos desconhecidos, proporcionando-me grandes descobertas e desafios durante todo este
período do mestrado.
À professora Dr
a
Tânia Maria de Araújo, eterna professora, que me orientou a dar os
primeiros passos na pesquisa científica, que me mostrou o quão é prazeroso pesquisar e cujos
ensinamentos foram e são fundamentais para esta pesquisa.
À Universidade Federal da Bahia, em nome das professoras Dr
a
Mirian Santos Paiva e
Dr
a
Cristina Maria Meira de Melo, respectivamente coordenadora e vice-coordenadora do
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal da Bahia.
Às professoras do Curso de Mestrado em Enfermagem da UFBA, por terem
contribuído com seus ensinamentos durante essa nossa caminhada.
Aos Colegas da Universidade Estadual de Feira de Santana e da Universidade Federal
do Vale do São Francisco, que sempre colaboraram e me proporcionaram experiências
fundamentais para minha docência.
Aos alunos do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Vale do São
Francisco pela troca em sala da aula, pela força e pelo estímulo. Essas vibrações foram, sem
dúvida, muito importante para mim.
Às colegas do Curso de Mestrado, em especial à Zanethy Nascimento e Miriam pelas
idas e vindas nesta estrada, pelas trocas mútuas, pelo companheirismo e pela força que sempre
transferimos uma para outra.
Às bolsistas Andiara Rodrigues, Ereni da Silva e Poliana Nascimento, pois sem vocês,
esse trabalho, sem dúvida, seria impossível. Foi confortante contar com vocês, sei que
aprendemos juntas e aqui registro o meu muito obrigada.
Aos amigos David Mota, Calila de Oliveira, Vanessa de Oliveira, Tuilla Requião que
também contribuíram na realização desta pesquisa e tê-los comigo foi, sem dúvida, um
impulso.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), pelo
estímulo à pesquisa e pela bolsa de estudo que me foi disponibilizada durante todo este
período do curso.
À amiga Dr
a
Simone Seixas, Professora de Epidemiologia da UNIVASF, cujos
encontros permitiram-me superar dificuldades em torno dos estudos epidemiológicos e que
sempre se mostrou disposta a colaborar comigo.
Às amigas Olívia Oliveira, Viviane Souza e Simone Oliveira, que mesmo distante, sei
que vibram por mim, e estão sempre do meu lado. Amizades que nem o tempo, nem a
distância podem apagar.
Aos meus familiares, pois sei que estive muito ausente nesses últimos dois anos, mas
sei que mesmo longe torcem por mim e entendem minha ausência.
Ao Grupo de Pesquisa Núcleo “Violência, Saúde e Qualidade de Vida”, grupo de
estudo e pesquisa no qual participei de discussões e pude compreender melhor as facetas da
violência, principalmente a violência de gênero.
Ao Coletivo de Mulheres do Calafate, em nome de Jacinta Marta Tavares Leiro, pois
acreditou e apostou na realização deste estudo, além de representarem a força das mulheres do
Calafate, reforçam a possibilidade de uma discussão em torno da violência, do gênero e das
comunidades.
Às mulheres do Calafate, que participaram desta pesquisa, que abriram suas portas e
falaram sobre suas vidas, suas angústias e seus sofrimentos. Foi confortante perceber o quanto
vocês queriam dividir conosco suas histórias, e sei que aprendi muito com o que vi, ouvi e
senti durantes esses meses em companhia de vocês, MULHERES.
SEM AÇÚCAR
(Chico Buarque de Holanda)
Todo dia ele faz diferente
Não sei se ele volta da rua
Não sei se me traz um presente
Não sei se ele fica na sua
Talvez ele chegue sentindo
Quem sabe me cobre de beijos
Ou nem me desmancha o vestido
Ou nem me advinha os desejos
Dia ímpar tem chocolate
Dia par eu vivo de brisa
Dia útil ele me bate
Dia santo ele me alisa
Longe dele eu tremo de amor
Na presença dele eu me calo
Eu de dia sou sua flor
Eu de noite sou seu cavalo
A cerveja dele é sagrada
A vontade dele é mais justa
A minha paixão é piada.
MORAIS, Ariane Cedraz. Depressão entre mulheres vítimas de violência doméstica. 126 f.il.
Dissertação (Mestrado em Enfermagem) Escola de Enfermagem, Universidade Federal da
Bahia, Salvador, 2009.
RESUMO
A violência contra a mulher atinge, no Brasil, todas as classes e segmentos sociais, operando
numa base de discriminação e abuso sobre as diferenças, quais sejam de gênero, de classe de
raça, socioeconômica e geracional, sujeitando as mulheres à situações como fome, tortura,
humilhação e mutilação. Os impactos da violência vão além de custos sociais e/ou
hospitalares, mas incide essencialmente sobre a saúde da mulher, em especial a saúde mental.
Estudo epidemiológico de corte transversal que teve como objeto a associação entre violência
doméstica e prevalência de depressão e como objetivo geral analisar a associação entre
violência doméstica contra mulheres e a prevalência de depressão. Foram traçados como
objetivos específicos: caracterizar a população segundo características sociodemográficas e
segundo dados de saúde; descrever a violência doméstica, bem como aspectos relacionados à
mesma (tipo de violência cometida, agressor, freqüência, fatores agravantes); estimar a
prevalência de depressão entre as mulheres e descrever associação entre depressão, variáveis
sociodemográficas e violência. Participaram 375 mulheres com idade de 14 a 49 anos,
selecionadas através de amostragem aleatória por conglomerado realizado na comunidade do
Calafate, bairro periférico localizado em uma transversal da Avenida San Martin, na cidade de
Salvador, Bahia. A depressão foi avaliada através do Beck Depression Inventory (BDI), escala
de auto-relato, constituída de 21 itens que abordam sintomas depressivos, tendo como ponte
de corte 16 ou mais pontos. Entre as mulheres estudadas, 51,5 % apresentaram depressão,
encontrando-se uma forte associação entre violência doméstica e depressão (RP ajustada 2,60
e IC 95%: 1,99-3,40). A análise de regressão logística múltipla revelou que as mulheres que
possuíam companheiro apresentaram maior prevalência de depressão (RP: 4,40; IC 95%:
2,77-6,95) do que as mulheres sem companheiros, mesmo ajustada pelas co-variáveis renda e
idade. Os achados denotaram intenso sofrimento mental entre mulheres vítimas de violência,
sustentando a idéia de que viver com o agressor é algo que potencializa esse adoecimento e
fomentam a discussão sobre questões culturais, bem como a necessidade de se implementar
urgentemente as políticas públicas de proteção à mulher vítima de violência existentes e
fortalecer a rede de apoio social à estas mulheres.
Palavras-chave: Violência doméstica. Gênero. Depressão. Saúde da Mulher
MORAIS, Ariane Cedraz. Depression among women victims of domestic violence. 126 pp.
ill. Master Dissertation Escola de Enfermagem, Universidade Federal da Bahia, Salvador,
2009.
ABSTRACT
Violence against women in Brazil reaches all classes and social segments, operating on a
basis of discrimination and abuse of differences, being those of gender, social class, race,
economic and generational, submitting women to situations as hunger, torture, humiliation
and mutilation. The impacts go beyond social or hospital costs, affecting essentially women’s
health, and mental health, in particular. Analytical studies, epidemiological with a transversal
cut, that had as object the association between domestic violence and prevalence of
depression and a general objective analyze the association between domestic violence and the
prevalence of depression. Were plotted as specific objectives: to characterize the population
according to social and demographical features and health data; describe the domestic
violence as well as other aspects related to it (as the type of aggression perpetrated, aggressor,
frequency, aggravating factors, etc); estimate the prevalence of depression among the women
of Calafate and describe the association between depression, social and demographical
variables and violence. Participants 375 women with ages from 14 to 49, selected through
random sampling accomplished in the Calafate community, a peripheral neighborhood near
San Martin Avenue in the city of Salvador, Bahia. The depression was evaluated through
Beck Depression Inventory (BDI), a self-report scale, with 21 statements that approach the
depression symptoms, having as cut point 16 or more points. Among the women studied,
51,5% presented depression, and a strong association between domestic violence and
depression was found(PR agreement 2,60 and RI 95%: 1,99-3,40). The analysis of multiple
logistic regression revealed that the women who had partners presented higher prevalence of
depression (PR: 4,40; RI 95%: 2,77-6,95) than the women without partners, even if adjusted
by the co-variables income and age. The findings show intense mental suffering among the
women victims of violence and supports the idea that living with the aggressor is something
that potentializes the sickness process; the findings also stimulate the discussion about
cultural questions and the need to implement urgent public policies for the protection of the
existing women victims of violence and to strengthen the web of social support to all these
women.
Keywords: Domestic Violence. Gender. Depression. Women’s health
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Características sócio-demográficas das mulheres do Calafate, Salvador. Bahia -
Brasil, 2008...........................................................................................................50
Tabela 2 Distribuição da faixa etária segundo vitimização entre as mulheres do Calafate.
Salvador, Bahia, Brasil, 2008. ..............................................................................51
Tabela 3 Distribuição do grau de escolaridade segundo vitimização entre as mulheres do
Calafate. Salvador, Bahia, Brasil, 2008. ..............................................................54
Tabela 4 Variáveis relacionadas aos rendimentos econômicos das mulheres do Calafate.
Salvador- Bahia, Brasil, 2008. .............................................................................57
Tabela 5 Características gineco-obstétricas das mulheres do Calafate, Salvador. Bahia
Brasil 2008.........................................................................................................58
Tabela 6 Características das mulheres do Calafate, segundo antecedentes de saúde.
Calafate. Salvador, Bahia, Brasil, 2008. ..............................................................60
Tabela 7 Prevalências de sintomas físicos e psíquicos entre as mulheres do Calafate,
segundo queixas de saúde auto-referidas. Calafate. Salvador, Bahia, Brasil,
2008.......................................................................................................................62
Tabela 8 Prática de lazer existente entre as mulheres do Calafate. Calafate, Salvador
Bahia. Brasil, 2008...............................................................................................64
Tabela 9 Freqüência de etilismo e tabagismo segundo ocorrência de violência doméstica
entre as mulheres do Calafate. Calafate. Salvador, Bahia, Brasil, 2008. .............64
Tabela 10 Distribuição percentual das formas de expressão da violência sofridas pelas
mulheres do Calafate. Salvador Bahia. Brasil, 2008..........................................66
Tabela 11 Motivos que desencadeiam a violência que vitimiza as mulheres do Calafate.
Salvador- Bahia, Brasil, 2008. .............................................................................72
Tabela 12 Motivos de permanência da mulher na situação de violência. Calafate. Salvador
Bahia, Brasil, 2008............................................................................................73
Tabela 13 Busca de ajuda na Rede de Apoio à Mulher Vítima de Violência entre as
mulheres do Calafate. Salvador Bahia, Brasil, 2008 .........................................73
Tabela 14 Distribuição da violência doméstica e níveis de depressão entre as mulheres do
Calafate. Salvador Bahia, 2008..........................................................................75
Tabela 15 Sintomatologia apresentada pela mulheres do Calafate, segundo critérios do
Inventário do Beck e vitimização da violência doméstica. Salvador Bahia.
Brasil, 2008..........................................................................................................77
Tabela 16 Análise estratificada da associação entre violência doméstica e depressão
segundo características sóciodemográficas entre as mulheres do Calafate,
Salvador- Bahia. Brasil, 2008 (N = 375)..............................................................79
Tabela 17 Análise de Regressão Logística, razão de prevalência ajustada e intervalo de
confiança (95%) associação entre violência doméstica e depressão entre as
mulheres do Calafate, Salvador- Bahia. Brasil, 2008 (N = 375)...........................81
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 Cálculo da amostra...............................................................................................41
Gráfico 1 Raça / cor , segundo dados auto-referidos, entre mulheres do Calafate, Salvador
Bahia. Brasil, 2008 ............................................................................................52
Gráfico 2 Situação conjugal das mulheres do Calafate, Salvador Bahia. Brasil, 2008
...............................................................................................................................53
Gráfico 3 Religião entre as mulheres do Calafate, Salvador Bahia. Brasil 2008 .........53
Gráfico 4 Ocupação das mulheres do Calafate, Salvador Bahia. Brasil, 2008 ...............55
Gráfico 5 Condições das mulheres do Calafate, segundo prática de atividades físicas.
Calafate, Salvador Bahia. Brasil, 2008 ..........................................................63
Gráfico 6 Ocorrência de violência doméstica entre as mulheres do Calafate. Calafate.
Salvador, Bahia, Brasil, 2008 ............................................................................65
Gráfico 7 Local das agressões física ocorridas entre as mulheres vítimas de violência
doméstica. Calafate, Salvador Bahia. Brasil, 2008 ........................................67
Gráfico 8 Identificação do agressor, segundo ocorrência de violência doméstica entre as
mulheres do Calafate. Salvador, Bahia, Brasil, 2008 ........................................68
Gráfico 9 Tempo médio em que as mulheres estão submetidas à violência doméstica.
Calafate, Salvador Bahia. Brasil, 2008 ..........................................................69
Gráfico 10 Freqüência semanal das agressões entre as mulheres vítimas de violência
doméstica. Calafate, Salvador Bahia. Brasil, 2008 .....................................70
Gráfico 11 Dias de semana mais comum de ocorrência de violência entre as mulheres
vítimas do Calafate, Salvador Bahia. Brasil, 2008 ......................................70
Gráfico 12 Horários da ocorrência de violência entre as mulheres vítimas do Calafate,
Salvador Bahia. Brasil, 2008 .......................................................................71
Gráfico 13 Sentimentos prevalentes entre as mulheres vítimas diante da violência
doméstica. Calafate, Salvador Bahia. Brasil, 2008 .....................................71
Gráfico 14 Associação entre depressão e violência doméstica entre as mulheres do
Calafate. Salvador Bahia. Brasil, 2008 .......................................................74
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 16
2 CONTEXTUALIZAÇÃO ................................................................................................ 24
2.1 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ............................................................................................24
2.2 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E OS AGRAVOS ............................................................. 29
2.2.1 Violência Doméstica e Depressão............................................................................. 34
3 METODOLOGIA............................................................................................................. 38
3.1 TIPO DE ESTUDO ......................................................................................................... 38
3.2 CAMPO DO ESTUDO.................................................................................................... 39
3.3 POPULAÇÃO DO ESTUDO...........................................................................................40
3.4 COLETA DE DADOS......................................................................................................42
3.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE BECK DEPRESSION INVENTORY ............................. 43
3.6 PRÉ-TESTE .....................................................................................................................45
3.7 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA ............................................................................45
3.8 VARIÁVEIS DO ESTUDO..............................................................................................46
3.8.1 Variável dependente.....................................................................................................46
3.8.2 Variável independente.................................................................................................46
3.8.3 Co-variáveis..................................................................................................................47
3.9 SISTEMATIZAÇÃO DOS DADOS ...............................................................................47
3.10 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS ......................................................48
4 RESULTADOS...................................................................................................................50
4.1 PERFIL SÓCIO DEMOGRÁFICO DAS MULHERES DO CALAFATE......................50
4.2 CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO ........................................................................55
4.3 CONDIÇÕES DE SAÚDE DAS MULHERES DO CALAFATE ..................................58
4.3.1 Dados Gineco-Obstétricos ..........................................................................................58
4.3.2 Antecedentes de Saúde ...............................................................................................59
4.3.3 Queixas de Saúde .........................................................................................................61
4.3.4 Estilo de Vida...............................................................................................................62
4.4 VIOLÊNCIA................................................................................ ....................................65
4.4.1 Ocorrência de Violência entre as Mulheres do Calafate..........................................65
4.4.2 Caracterizando a situação de Violência....................................................................66
4.4.3 Perfil da Violência ......................................................................................................67
4.5 DEPRESSÃO...................................................................................................................74
4.5.1 Prevalência Global de Depressão................................................................................74
4.5.2 Depressão e Violência Doméstica................................................................................74
4.5.3 Análise dos Sintomas Depressivos..............................................................................75
4.5.4 Análise Estratificada ...................................................................................................79
4.5.5 Análise de Regressão Logística Múltipla ..................................................................80
5 DISCUSSÃO.......................................................................................................................82
5.1 LIMITES DO ESTUDO ...................................................................................................82
5.2 CARACTERIZAÇÃO DAS VÍTIMAS............................................................................83
5.3 CONDIÇÕES DE SAÚDE DAS MULHERES ...............................................................86
5.4 CARACTERÍSTICAS DA SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA.............................................89
5.4 DEPRESSÃO E VIOLÊNCIA ......................................................................................98
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................102
REFERÊNCIAS ..............................................................................................................105
APÊNDICES.................................................................................................................... 115
Apêndice A Questionário............................................................................................... 115
Apêndice B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.............................................121
Apêndice C - Carta de Esclarecimento..............................................................................122
ANEXOS ......................................................................................................................... 123
Anexo A Limites Geográficos do Calafate ................................................................... 123
Anexo B Setores Censitários do Calafate .................................................................... 124
Anexo C Ofício de aprovação do projeto pelo Comitê de Ética.....................................126
16
1 INTRODUÇÃO
A temática da violência tem sido objeto de estudo de várias pesquisas, seja nos campos
da Sociologia, da Filosofia, e da Saúde, em razão de ser um fenômeno mundial de grande
intensidade e complexidade, sendo considerado, por isso, nos últimos anos, um sério
problema de saúde pública.
A violência contra a mulher atinge, no Brasil, todas as classes e segmentos sociais,
operando numa base de discriminação e abuso sobre as diferenças, quais sejam de gênero, de
classe social, de raça, econômica e geracional, sujeitando as mulheres à situações como fome,
tortura, humilhação e mutilação.
Os estudos sobre a violência também aparecem numa tentativa de compreendê-la a
partir de abordagens feministas, questões de gênero e de poder, relações conjugais e
familiares. Somente nos anos de 80, iniciou-se o período em que houve a abertura
democrática na sociedade brasileira, em que a denúncia da violência contra a mulher ganhou
força e passou a haver uma ampliação dos espaços sociais e a articulação dos grupos
feministas (Izumino, 1998).
Minayo e Souza (1993) afirmam que, justamente nesta década, ocorreram mudanças
importantes no perfil de mortalidade no país, onde as chamadas “doenças do
desenvolvimento” assumiram o papel das principais causas de óbito. Por outro lado, observa-
se o crescimento de endemias, como HIV / AIDS, doenças sexualmente transmissíveis,
tuberculose e outras, refletindo a deterioração das condições de vida e de saúde associada à
ineficácia das políticas públicas de saúde.
As autoras apontam ainda que, na década de 80, a violência apresenta-se como
“fenômeno cujas facetas são objetos de apreensão no cotidiano, pelo desencadeamento de
temor generalizado aos assaltos, seqüestros e assassinatos”, passando a ser objeto de reflexão
de vários campos do saber, entre eles a saúde pública, pelo papel que assume diante da morbi-
mortalidade, vitimizando crianças, jovens, adultos, idosos, e, especialmente, mulheres, sendo
que estas passam a constituir o grupo mais vulnerável, mais submetido aos atos algozes que
perpassam a violência (MINAYO e SOUZA, 1993, p. 65).
17
Na década de 90, especialmente a partir de 1995, as pesquisas sobre violência tiveram
sua divulgação mais intensificada, especificamente no que diz respeito à violência contra
mulher. De acordo com a Organização Mundial de Saúde OMS (2001)
1
, esta é uma
violência de gênero e representa, além do problema da saúde pública, uma violação dos
direitos humanos que traz repercussões físicas e/ou psicológicas, seqüelas sociais e
econômicas.
Com a evolução e os avanços das questões teóricas, os estudos têm tido a preocupação
de analisar a violência doméstica, em diferentes fases evolutivas da vida das mulheres, tendo
em vista que o fenômeno produz acentuadas alterações biológicas, fisiológicas e psicológicas,
podendo interferir, inclusive, no crescimento e desenvolvimento destas mulheres,
principalmente se os atos violentos foram cometidos desde a infância e/ou adolescência.
Heise et al (1994) discorrem sobre a violência contra a mulher e suas conseqüências
para a saúde, apontando que 19% dos anos de vida perdidos por morte ou incapacitação física,
entre mulheres de 15 a 44 anos, são resultados de violência de gênero e que as conseqüências
do estupro e da violência doméstica para a saúde destas, medida desta forma, podem ter
efeitos maiores que todos os tipos de ncer, e pouco menos que os efeitos das doenças
cardiovasculares.
Em estudos afins, diversos pesquisadores no campo das ciências sociais e da saúde
demonstram-nos a relevância deste fenômeno, que se expressa no cotidiano de um grande
número de famílias brasileiras. As conseqüências se traduzem em uma série de agravos à
saúde física, reprodutiva e mental das mulheres e, não em poucos casos, podem ser fatais
(MOREIRA, RIBEIRO e COSTA, 1992; SAFFIOTI, 1994a; SAFFIOTI e ALMEIDA, 1995;
SOARES, SOARES e CARNEIRO, 1996 e TUESTA, 1997).
Giffin (1994), ao estudar a violência contra a mulher, destaca algumas conseqüências
para a saúde destas, ressaltando que
Os tipos de conseqüências não-mortais por parceiros incluem lesões
permanentes; problemas crônicos, tais como dor de cabeça, dor abdominal,
infecções vaginais, distúrbios do sono e da alimentação; e doenças de efeito
retardado, incluindo artrite, hipertensão, e doenças cardíacas (GIFFIN, 1994,
p. 419).
1
Apesar do uso distinto entre autores, dando destaque em separado aos termos violência contra mulher e
violência de gênero, este trabalho adotará tais palavras como sinônimos.
18
A autora indica ainda que as mulheres podem apresentar seqüelas psicológicas, seqüelas
somáticas, incluindo problemas crônicos de dor pélvica, dor de cabeça, asma, problemas
ginecológicos, gastrintestinais, além de efeitos permanentes na auto-estima e auto-imagem.
Outros comportamentos, também prevalentes nestas vítimas, são o abuso de drogas e álcool; o
sexo desprotegido, além de múltiplos parceiros; e a prostituição.
Podemos notar, no entanto, que diversos estudos foram realizados no intuito de
despertar a consciência coletiva de que a violência pode trazer sérios prejuízos à vida destas
mulheres, como os que foram realizados por Souza (2000), Reis (2002), Campos (2003),
Couto (2003), Vasconcelos (2006), Santana (2006), Campos (2006) e Rodrigues (2006).
A pesquisa de Campos (2003), por exemplo, teve como foco a violência familiar como
fator desencadeante da ameaça de parto prematuro. A autora, ao analisar a percepção da
própria gestante, identifica manifestações, repercussões e reações frente à violência familiar,
afirmando que, além da ocorrência do parto prematuro, outro agravante é a gravidez
indesejada, relatada por algumas das mulheres entrevistadas.
Percebe-se, portanto, que, além de estudos que associam a violência com o parto
prematuro e/ou gravidez indesejada, outros a relacionam com a prática do aborto, como o de
Souza (2000), Diniz et al. (2004; 2007) que pode ser, por vezes, fruto da gravidez indesejada
e/ou da própria violência.
Neste último, as autoras, ao estudarem a associação entre violência doméstica e aborto
provocado, constatam entre mulheres atendidas em processo de aborto numa maternidade
pública de Salvador Bahia, um índice de 88% de mulheres que, em algum momento de sua
vida, declararam história de violência doméstica e a relação intrínseca entre o ato de ser
violentada e a prática do aborto.
Além desse dado, no estudo de Diniz et al. (2004) observou-se que 67% das mulheres
em processo de aborto realizaram-no em conseqüência desta violência. Também cerca de 47%
das mulheres vivenciaram violência durante a gestação, e a expressão psicológica da violência
é a mais acentuada, aparecendo em seguida a expressão física e a sexual.
Diniz et al. (2004) destacam que
Os abortos espontâneos podem decorrer de violência durante a gravidez e
23% das mulheres que abortaram espontaneamente associaram-no à
violência vivenciada. Entre as capitais, a maior incidência ficou com
Salvador, depois Recife e Aracaju. A principal causa dos abortos
19
espontâneos ficou com a agressão física (39%), seguida de ameaça de
separação (25% das mulheres em Salvador). Com relação aos abortos
voluntários, 16% das mulheres abortaram por conta da agressão sofrida(...)
(DINIZ et al., 2004, p. 356).
Esses estudos, de modo geral, evidenciam o cotidiano destas mulheres, o enfrentamento
diário de atos violentos, a relação conjugal e familiar; o convívio intra-domiciliar, apontando
alguns fatores que influenciam a potencialidade da violência, tais como condições sócio-
econômicas e culturais, presença de patologias ou lesões decorrentes de atos violentos.
Além disso, buscam entender a situação conjugal, relações de poder e de submissão,
apoio familiar e também dos profissionais de saúde, na importância da detecção,
aconselhamento e prevenção da violência para que estas mulheres não sejam re-vitimizadas.
Muitos esforços têm sido feito no intuito de compreender o fenômeno da violência à
mulher sob a ótica psicossocial, abordando os agravos produzidos à saúde mental. Esses
estudos têm apontado a relação intrínseca existente entre violência doméstica e
vulnerabilidade física e psíquica, como vemos nos trabalhos realizados por Moreira (1999),
Francisquetti (2000), Drezett (2000), Jacobucci (2004), Rovinski (2004), Adeodato et al.
(2005), Crepschi (2005) e Rodrigues (2006).
As pesquisas têm reportado seqüelas análogas para o bem-estar psicológico e social das
mulheres, tais como: medo, ansiedade, fadiga; transtornos alimentares e de sono; percepções
de perda e vulnerabilidade; isolamento social; depressão e tentativa de suicídio.
“Mulheres em situação de violência doméstica são mais propensas a serem
diagnosticadas nos seguintes quadros nosológicos: depressão maior, distúrbio obssessivo-
compulsivo, transtorno de ansiedade generalizada e transtornos alimentares.” (KOSS apud
FRANCISQUETTI, 2000, p. 98).
Pesquisa realizada em três capitais brasileiras por Diniz et al. (2004), buscando
identificar as manifestações da violência doméstica e institucional na mulher assistida em sub-
programas do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher, ressalta que toda essa
violência que a mulher sofre tem conseqüências funestas para a sua saúde e ainda relaciona os
problemas que foram encontrados com maior prevalência entre as mulheres estudadas, tais
como dores de cabeça constantes, a depressão, que aparece como sendo o segundo sintoma
apresentado, seguido de insônia, frigidez e aborto.
20
Investigações apontam que a sintomatologia apresentada pelas mulheres em situação de
violência doméstica pode ser caracterizada como um quadro de estresse pós-traumático
2
,
corroborando com Drezett (2000) que aponta, neste quadro, sintomas como angústia, medo,
ansiedade, culpa, vergonha, humilhação, autocensura e o próprio quadro de depressão. Podem
ocorrer, também, reações somáticas como fadiga, cefaléia, insônia e corrimentos vaginais,
assim como um processo de reorganização psíquica que pode durar meses ou anos.
Podem se estabelecer transtornos da sexualidade, incluindo o vaginismo, dor
nas relações sexuais, diminuição da lubrificação vaginal e perda da
capacidade de orgasmo (...) A fase crônica também se caracteriza pela
ocorrência de problemas como depressão, bulimia, anorexia nervosa, baixa
auto-estima, fobias e dificuldades de relacionamento interpessoal. A
prevalência de idéias suicidas persistentes e de tentativas de suicídio é
elevada nos casos de estresse pós-traumático (DREZETT, 2000, p. 65).
Assim, num estudo desenvolvido por Rodrigues (2006) com mulheres queimadas
internadas em hospital geral na cidade de Salvador - Bahia, a autora buscou ir além das lesões
secundárias às queimaduras, mas também analisou a vivência pós-traumática das mulheres
vítimas de violência conjugal, abordando as repercussões e o adoecimento psíquico destas,
ressaltando que este adoecimento secundário à violência vem sendo expresso nas mulheres
pela experiência que pode ser vivida como traumática, pois além dos problemas físicos, os de
ordem psicológica e social se acham presentes.
No que diz respeito às queimaduras, ela reforça que
Intensifica-se o risco de problemas psicológicos por causa das seqüelas,
permanentes e desfigurantes, que provocam transtornos para a imagem
corporal, auto-imagem e auto-estima da mulher, cuja probabilidade de
sofrer de problemas mentais, como depressão, fobia, tendência ao suicídio,
consumo e abuso de álcool e drogas, e o estresse pós-traumático é grande
(RODRIGUES, 2006, p. 26-27)
Pesquisa realizada por Diniz e Souza (2007) em comunidade de Salvador, com o
objetivo de analisar a percepção de mulheres sobre os serviços de intervenção na violência
doméstica, traça o perfil da violência no bairro do Calafate, onde se constata que a violência
doméstica esteve presente na vida de 80,7% destas, sendo que 69,5% diz respeito à violência
conjugal.
2
Sintomatologia que tem sido freqüentemente estudada como conseqüência da violência; tem sido também
denominado como Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT) ou Síndrome de Estresse Pós-Traumático.
21
As autoras ainda salientam que a violência se expressa de forma variada e com
diferentes graus de severidade, sendo a violência psicológica a mais relatada entre as
mulheres entrevistadas (94,2%), seguida da violência física, na qual foi observada a
prevalência de 57,0%. Em relação à violência sexual, 32,2% relataram terem sido forçadas a
práticas sexuais tais como: estupro e atentado violento ao pudor. Atenta-se também para a alta
prevalência da violência física acompanhada pela coerção psicológica e sexual (24%) (DINIZ
e SOUZA, 2007).
Meu interesse, portanto, em realizar esta pesquisa, parte da constatação de que este
grupo populacional de mulheres vítimas de violência doméstica constitui uma parcela que
merece atenção especial. Tive meu interesse despertado em conhecer este perfil populacional
e em avaliar a saúde desta população, com ênfase na saúde mental, especificamente a
ocorrência de depressão, avaliando, também, aspectos relacionados à violência doméstica e a
repercussão sobre o organismo destas mulheres, sob o prisma bio-psico-social.
Minha aproximação pela avaliação de aspectos relacionados à saúde mental sempre
esteve presente na minha prática profissional. Durante a Graduação em Enfermagem na
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) fui bolsista do Programa Interinstitucional
de Bolsa de Iniciação Científica (PIBIC), integrante do Núcleo de Epidemiologia (NEPI) da
UEFS, onde desenvolvemos diversas pesquisas voltadas para estudos de Distúrbios Psíquicos
Menores (DPM) em diferentes grupos populacionais.
A minha inquietação justifica-se, ainda, pelo fato de ter realizado estudo durante o
Curso de Pós-Graduação em Saúde Pública oferecido pela Universidade Estadual de Santa
Cruz, na qual realizei pesquisa entre grupo populacional de idosos, no qual se estimou a
incidência de DPM entre eles, buscando compreender a relação da capacidade cognitiva e
grau de dependência dos sujeitos da amostra (MORAIS, 2002).
Posteriormente, no Curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica oferecido pela
Universidade Guarulhos, desenvolvi estudo monográfico intitulado “Gravidez e saúde mental:
uma abordagem multidimensional”, realizado com grupo de mulheres que cursavam a
gestação sem intercorrência, encontrando uma prevalência de distúrbios psíquicos menores de
60,2%, um achado extremamente elevado e que denotava intenso sofrimento mental entre
mulheres gestantes (MORAIS, 2005).
Além disso, durante meu exercício profissional, atuando como enfermeira assistencial
do Centro Obstétrico do Hospital Inácia Pinto da Silva em Feira de Santana, chamaram minha
22
atenção as mulheres, em especial aquelas que vivenciavam traumas familiares, vítimas de
violência doméstica, situação em que estavam bem evidentes sintomas depressivos, sintomas
somáticos, diminuição da energia, dúvidas à respeito das suas próprias condições biofísicas e
psicológicas, bem como acerca do enfrentamento com o companheiro e com a família e,
principalmente, com o cotidiano.
Atualmente, durante o Curso de Mestrado em Enfermagem da UFBA, integro um
Projeto de Extensão intitulado “Estratégias de Intervenção na Violência Doméstica em
famílias negras”
3
, sob coordenação da Professora Drª Normélia Freire Diniz, da Escola de
Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (EEUFBA), desenvolvido na comunidade do
Calafate, bairro periférico localizado na Av. San Martin, Salvador, que atua nesta comunidade
realizando oficinas, palestras e atividades educativas grupais há mais de dez anos.
Assim, de junho a dezembro de 2007 foram realizados nesta entidade encontros grupais
semanais, sempre às segundas-feiras. Foi possível perceber que a violência doméstica é
sempre queixa constante entre as mulheres deste grupo, que compartilharam neste espaço suas
vivências e discussões sobre a rede de atendimento. É notório o grau de sofrimento psíquico
destas mulheres, que apresentam sentimento de inutilidade, baixa auto-estima, entre outros
sintomas somáticos, despertando, assim, a necessidade de um estudo nesta comunidade que
abordasse esses dois aspectos: violência e saúde mental.
Diante do exposto, constitui-se como problema:
- Qual a associação entre violência doméstica contra mulheres e a prevalência de
depressão?
Assim, o objeto de estudo é a associação entre violência doméstica e prevalência de
depressão.
A presente pesquisa, portanto, tem como objetivo geral: Analisar a associação entre
violência doméstica contra mulheres e a prevalência de depressão.
3
Projeto de Extensão intitulado “Estratégias de intervenção na violência doméstica em famílias negras”, sendo
desenvolvido no Coletivo de Mulheres do Calafate (CMC), sob a coordenação da Professora Drª Normélia Diniz,
contando ainda com a participação das professoras Drª Regina Lúcia Mendonça Lopes e Solange M
a
dos Anjos
Gesteira, da doutoranda Nadirlene Pereira Gomes, das mestrandas Ariane Cedraz Morais e Marieve Pereira da
Silva e das bolsistas PIBIC Andiara Rodrigues, Maria Raquel e Simone Souza. Tem como objetivo geral acolher
famílias negras em situação de violência doméstica, vinculando seu atendimento ao Centro de Referência Loretta
Valadares, no que se refere à violência. Os objetivos específicos são: identificar famílias que estejam em
situação de violência doméstica; introduzir mulheres adolescentes e homens em processo educativo individual ou
em grupo no sentido de levá-las à compreensão do fenômeno violência; sistematizar a coleta de dados sobre
violência doméstica e o estresse pós-traumático a partir do atendimento.
23
Além deste, esta pesquisa tem como objetivos específicos:
-Caracterizar a população segundo características sóciodemográficas: idade, raça, grau
de escolaridade, renda mensal, estado civil, ocupação, número de filhos;
-Caracterizar a população segundo dados de saúde: informações gineco-obstétricas,
antecedentes patológicos pessoais, queixas de saúde referidos e sintomas físicos e psíquicos;
-Descrever a violência doméstica, bem como aspectos relacionados à mesma, tais como:
tipo de violência cometida, agressor, freqüência, fatores agravantes, etc;
-Estimar a prevalência de depressão entre as mulheres;
- Descrever associação entre depressão, considerando as variáveis sóciodemográficas e
violência.
A pesquisa servirá aos profissionais de saúde como uma reflexão para (re)elaboração de
programas preventivos e não apenas uma atuação assistencial direta, ressaltando-se, portanto,
a importância do treinamento de equipes multidisciplinares em saúde mental, as quais
possam, conjuntamente e de forma interdisciplinar com os serviços de Ginecologia e
Obstetrícia, os serviços de Emergência, os Programas de Saúde Pública
4
e instâncias que
constituem a Rede de Atenção à Mulher Vítima de Violência, identificar o sofrimento mental
destas mulheres.
Além disso, este estudo tem o intuito de despertar os profissionais de saúde para a
problemática da violência doméstica e amesmo institucional, muitas vezes despercebidas, e
incentivar a prática de uma atuação que contemple e contabilize a violência nos diagnósticos
realizados, aprimorando, assim, a eficácia das ações de saúde, além de assegurar que estas
mulheres, vítimas, não sejam re-vitimizadas por estes serviços.
4
Os Programas de Saúde Pública aqui mencionados referem-se ao Centro de Atenção Psicosocial (CAPS),
Programa de Saúde da Família (PSF), Programa de Agentes Comunitários em Saúde (PACS), Programa de
Interiorização dos Trabalhadores em Saúde (PITS) e Saúde Bahia, todos reconhecidos pelo Ministério da Saúde
Brasil e de ampla cobertura no Estado da Bahia, abrangendo a capital e demais cidades do interior.
24
2 CONTEXTUALIZAÇÃO
2.1 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Desde a década de 70, os movimentos feministas vêm denunciando a violência de
gênero como um grave problema que afeta a saúde física e mental das mulheres,
comprometendo severamente o seu desenvolvimento integral na sociedade. Passaram-se
muitos anos até que a violência de gênero fosse reconhecida como um fenômeno de vital
importância na agenda pública dos organismos internacionais.
Em 1994, a Organização dos Estados Americanos - OEA afirmou que a violência contra
a mulher constitui-se em violação dos direitos humanos das mulheres, expressa na Convenção
Interamericana para prevenir, sancionar e erradicar a Violência contra a Mulher - “Convenção
de Belém do Pará” - que ocorreu, justamente, no Brasil (OPAS, 1994).
No Brasil, essa Convenção tem força de lei interna, na qual se ratificou e
ampliou a Declaração e o Programa de Ação da Conferência Mundial de
Direitos Humanos, realizada em Viena, em 1993, e representa o esforço do
movimento feminista internacional para dar visibilidade à existência da
violência contra a mulher e exigir seu repúdio pelos Estados-membros da
Organização dos Estados Americanos OEA (OPAS, 1994, p. 18).
A Convenção declara que a violência contra a mulher constitui uma violação aos
direitos humanos e às liberdades fundamentais e limita total ou parcialmente à mulher o
reconhecimento, gozo e exercício de tais direitos e liberdades.
Para a OMS (2002, p. 56), a violência doméstica é reconhecida como sendo “qualquer
ação cometida por familiares ou pessoas que vivem na mesma casa e que leve um indivíduo à
morte, dano e/ou sofrimento físico, sexual e / ou psicológico”.
A violência doméstica está, desse modo, inserida no cotidiano familiar, vitimando, em
sua grande maioria, mulheres, crianças e adolescentes.Vale ressaltar, no entanto, que são as
mulheres as vítimas mais expressivas numericamente desta violência no espaço doméstico e o
agressor, como mostram vários estudos, é alguém da convivência familiar, muitas vezes o
próprio esposo, o ex-companheiro, o irmão, o pai, o padrasto, um vizinho, sendo, portanto,
alguém conhecido.
25
Pesquisa realizada pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-FIBGE,
em 2000, apontou que 63% das vítimas de violência no espaço doméstico são mulheres, e em
70% dos casos, os agressores são os próprios maridos ou companheiros (BRASIL, 2002).
Destaca-se ainda que
O espaço público é ainda muito masculino, estando os homens mais sujeitos
a atropelamentos, passando por acidentes de trânsito e chegando até ao
homicídio. As mulheres ainda têm uma vida mais reclusa, estando
infinitamente mais expostas à violência doméstica. Diferentemente da
violência urbana, a doméstica incide sempre sobre as mesmas vítimas,
tornando-se habitual (SAFFIOTI, 2004 a, p. 8).
Corroborando com a citação acima, os estudos acerca da violência contra as mulheres
têm demonstrado que o local de ocorrência desses atos é, em sua grande maioria, o próprio
domicílio, o que justifica o forte componente da violência ser denominada como de gênero.
Assim, enquanto nos espaços públicos se perpetra a violência masculina, é no espaço privado
do lar que ocorre, com maior freqüência, a violência feminina (SAFFIOTI, 1994 b).
Por outro lado, ressalta-se que os homicídios masculinos são em grande parte
perpetrados por homens desconhecidos, enquanto os agressores das mulheres são seus
conhecidos, companheiros e ex-companheiros. Segundo o Movimento Nacional dos Direitos
Humanos no Brasil, citado pelo Centro Feminista de Estudo e Assessoria CFEMEA (1999),
companheiros e ex-companheiros foram responsáveis por 72,3% dos assassinatos de mulheres
no País, em 1996.
Schraiber et al. (2002), a este respeito, sinalizam que, além das agressões no âmbito
doméstico serem cometidas por pessoas conhecidas da vítima, são atos sempre repetitivos, o
que sugere um maior impacto sobre a saúde das mulheres submetidas a essas agressões e que,
ainda, o maior desafio se constitui em reconhecer estes atos como violentos, uma vez que
poucas são as mulheres que reconhecem o vivido como violência.
Isto ocorre, provavelmente, porque as mulheres não nomeiam a situação
doméstica como violência, que é um termo, via de regra, reservado para
expressar o que ocorre no espaço público, como a violência das grandes
cidades. O termo também indica situação grave, o que, culturalmente,
parece significar que a violência doméstica, embora concretamente severa,
não é representada como tal (SCHRAIBER et al., 2002, p. 48).
26
Como se vê, definir violência doméstica não é uma coisa simples, visto ser um
fenômeno que ocorre em diferentes culturas, sendo diferentemente compreendida em diversos
países e em contextos socioculturais bastante heterogêneos.
Alguns autores destacam o impacto da violência doméstica como um ato cometido
dentro da família, por um dos seus membros, que ameaça seriamente a vida, a integridade
física ou psicológica; outros acentuam os valores culturais envolvidos no comportamento
violento, considerando que a violência é o produto de características patriarcais da sociedade
e da família, que geram uma nova gama de conflitos quando se chocam com os valores de
igualdade e liberdade (JACOBUCCI, 2004; SAFFIOTI, 2002; SILVA, 2003).
Percebe-se, portanto, que a violência doméstica é tão significativa e rotineira que passou
a assumir em nossas sociedades caráter endêmico e o maior desafio constitui-se a partir do
momento em que se naturaliza e se banaliza esta violência, como sendo algo inerente às
coletividades, às relações interpessoais e aos lares.
A violência doméstica apresenta características específicas. Uma das mais relevantes é
sua rotinização, o que contribui para a co-dependência e o estabelecimento da relação fixada e
cíclica. Rigorosamente, a relação violenta se constitui em verdadeira prisão. Neste sentido, o
próprio gênero acaba por se revelar uma camisa de força: o homem deve agredir, porque
macho deve dominar a qualquer custo; e mulher deve suportar agressões de toda ordem,
porque seu destino assim a determina (SAFFIOTI, 2004a).
Buvinic et al. apud Jacobucci (2004) ao analisarem o fenômeno da violência nas
Américas afirmam ser a violência doméstica altamente complexa e multifacetada, que
propicia desafios que são o de desagregar formas diferentes de violência e o de compreender
melhor seus significados, suas características, causas e conseqüências.
A violência contra a mulher é um fenômeno extremamente complexo, com raízes
profundas nas relações de poder baseadas no gênero, na sexualidade, na auto-identidade e nas
instituições sociais” (Heise et al., 1994, p. 41). É esta uma realidade que perpassa todas as
classes sociais, os grupos étnico-raciais e as diferentes culturas. Nesse sentido, Saffioti e
Almeida (1995) afirmam que se trata de fenômeno democraticamente distribuído, ao contrário
do que acontece com a distribuição da riqueza.
Na tentativa de explicar as causas da violência doméstica existem diversas teorias.
Destaca-se a perspectiva feminista na qual refere ser a violência doméstica uma violência de
27
gênero, em que as mulheres são cada vez mais acometidas do que os homens. Fundamenta-se,
portanto, na idéia da sociedade patriarcal e sexista.
Ainda que não se possa reduzir ao patriarcado a explicação de todas as formas de
desigualdade e de opressão do gênero feminino, devendo ser considerada a articulação do
gênero à classe social e às diferentes etnias, a gênese da violência tem sido atribuída
predominantemente ao patriarcado em algumas correntes feministas.
Para Saffioti (2002), no entanto,
[...] no exercício da função patriarcal, os homens detêm o poder de determinar
a conduta das categorias sociais nomeadas, recebendo autorização ou, pelo
menos, tolerância da sociedade para punir o que lhes apresenta como desvio.
Ainda que não haja nenhuma tentativa, por parte das vítimas potenciais, de
trilhar caminhos diversos do prescrito pelas normas sociais, a execução do
projeto de dominação-exploração da categoria social homens exige que sua
capacidade de mando seja auxiliada pela violência. (SAFFIOTI, 2002, p. 48)
Com efeito, a ideologia de gênero é insuficiente para garantir a obediência das vítimas
potenciais aos ditames do patriarca, tendo este necessidade de fazer uso da violência.
Souza (2000) explica que
A teoria centrada na opressão da mulher reconhece a violência contra a
mulher como violência de gênero por ser uma relação de poder que
estrutura papéis diferentes, opressão, dominação ou exploração com poder
centrado na maioria das vezes, no homem. Tem como paradigma a origem
da opressão feminina, o modelo patriarcal em que o homem ao ocupar o
espaço público que se refere ao espaço de produção, de decisões políticas,
de circulação econômica tornou apto e com poder reconhecido socialmente.
Em oposição, a mulher ocupou o espaço privado, o espaço doméstico, da
reprodução biológica para produção e manutenção de mão de obra, para o
trabalho e reprodução dos valores e da ideologia sobre a responsabilidade
das mulheres. (Souza, 2000, p. 37)
Saffioti (1994 b, p. 94) defende a legitimação social
5
da violência dos homens contra as
mulheres que responde pelo caráter tão marcadamente de gênero deste fenômeno. “A
violência contra a mulher integra, assim, de forma íntima, a organização social de gênero
vigente na sociedade brasileira”.
5
Destaco essa idéia da legitimação da violência ao perceber, então, que é nesse processo de legitimação e
socialização, que se internalizam as regras, crenças, valores e comportamentos acerca do que é ser masculino e
feminino dentro da cultura a que pertencemos.
28
Quanto à essa legitimação, Bourdieu (1998) afirma que
A força da ordem masculina pode ser aferida pelo fato de que ela não
precisa de justificação: a visão androcêntrica se impõe como neutra e não
tem necessidade de se enunciar, visando sua legitimação. A ordem social
funciona como uma imensa máquina simbólica tendendo a ratificar a
dominação masculina na qual se funda: é a divisão social do trabalho,
distribuição muito restrita das atividades atribuídas a cada um dos dois
sexos, de seu lugar, seu momento, seus instrumentos[...] (BOURDIEU,
1998, p. 15)
Neste contexto, assume o homem a figura de dominador, da necessidade de se sobrepor
ao sexo frágil a mulher- que passa então a configurar-se num espaço de exploração e
opressão, sendo que os homens beneficiam-se amplamente e têm privilégios bastante
concretos com esse sistema de dominação.
Ainda na mesma perspectiva, Silva (2003) identifica que, além da ideologia machista
que legitima as relações entre os sexos como relação de dominação-subordinação, existem
formas concretas de opressão do regime sócio-econômico e político a que tanto homens
quanto mulheres estão submetidos, numa dada formação social e histórica, bem como a
própria educação diferenciada, que possibilita a reprodução da violência pela incorporação
dessa ideologia no mundo da representação.
A autora explica que
A violência exercida contra a mulher por meio de fatores de natureza sócio -
psico - pedagógicas, mediados por um certo padrão de relações sociais de
gênero, ou seja, o padrão machista, denominado pela literatura
especializada como patriarcal e que se particulariza conforme as
determinações concretas de certos modos de produção. (SILVA, 2003, p.
264)
Outro aspecto importante que os estudos têm comprovado é que, diferente do que se
pensava anteriormente, a violência de gênero não atinge tão somente a classe social
econômica baixa e a raça negra, em especial, mas atinge à todas, desde que sejam mulheres,
inclusive em todas as faixas etárias. Sustenta-se, portanto, a idéia que as mulheres da classe
baixa denunciam com mais freqüência, temem menos o agressor por não terem que sustentar
um status nem ferir o ideal de uma sociedade igualitária (CASIQUE e FUREGATO 2006;
NARVAZ e KOLLER, 2006; SAFFIOTI, 1994 b; SOUZA, 2005).
29
Comenta Minayo (2007, p. 123) que “não são apenas problemas de natureza econômica,
como pobreza, que explicam a violência social, embora saibamos que elas são fruto, causa-efeito,
o elemento fundamental de uma violência maior, é o próprio modo organizativo institucional -
cultural de determinado povo”.
Pesquisas que tratam de analisar a violência existente entre as relações conjugais,
mostram a dimensão do problema, assim como o grande número de subnotificações, visto que
a maioria das mulheres quando vitimizadas não procura os serviços de amparo, quais sejam a
Delegacia de Proteção à Mulher, as Unidades de Saúde, os Hospitais; portanto, estima-se ser o
número registrado de ocorrências de violência à mulher muito abaixo do real.
É importante, portanto, não nos limitarmos aos estudos que tentam apenas explicar as
teorias ou causas da violência, mas as questões aqui suscitadas servem, portanto, para
compreender que estes questionamentos acerca da violência vão além da causalidade, da
relação causa-efeito, que são fatos eminentemente complexos, constituindo um fenômeno
multicausal, multidimensional, de extrema importância para entendermos o contexto dos
indivíduos nela inseridos.
2.2 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E OS AGRAVOS À SAÚDE
Pensando-se na violência, entendendo-a de forma mais global e/ou estrutural, nota-se
que ela “é um fenômeno sócio histórico e que acompanha toda a experiência da humanidade”
(Minayo, 2007; p. 1263) e, portanto, ela não é em si, um problema de saúde pública, mas
assim passa a se configurar quando são percebidos os impactos que a violência produz nas
sociedades afetando, direta ou indiretamente, a saúde individual ou coletiva.
A OMS revela em seu Relatório Mundial sobre Violência e Saúde que todo ano, mais
de um milhão de pessoas perdem a vida e muitas outras sofrem lesões o fatais” (OMS,
2002, p.3)
A violência, pelo número de vítimas e pela magnitude de seqüelas orgânicas
e emocionais que produz, adquiriu um caráter endêmico e se converteu num
problema de saúde pública em muitos países [...]. O setor Saúde constitui a
encruzilhada para onde convergem todos os corolários da violência, pela
pressão que exercem suas vítimas sobre os serviços de urgência, atenção
especializada, reabilitação física, psicológica e assistência social (OMS,
2002, p. 5).
30
A este respeito, Minayo (2007) ressalta que
Os danos, as lesões, os traumas e as mortes causados por acidentes e
violência correspondem a altos custos emocionais, sociais e com aparatos
de segurança pública. Causam prejuízos econômicos por causa dos dias de
ausência do trabalho, pelos danos mentais e emocionais incalculáveis que
provocam nas vítimas e suas famílias e pelos anos e produtividade ou de
vida perdidos. As conseqüências da violência que chegam ao sistema de
saúde, dentre outros aspectos, evidenciam aumento de gastos com
emergência, assistência e reabilitação, muito mais onerosos do que a
maioria dos procedimentos médicos convencionais (MINAYO, 2007, p.
1260).
Embora seja difícil ter estimativas precisas em relação ao custo da violência para o
mundo, calcula-se que bilhões de dólares são revertidos em despesas anuais com cuidados de
saúde, acrescidos de outros bilhões de dólares às economias dos países, em termos de dias não
trabalhados, imposição e cumprimento da lei e investimentos perdidos (DAHLBERG e
KRUG, 2007).
No relatório “Impacto da violência na saúde dos brasileiros” estima-se que
[...] cerca de 3,3% do PIB brasileiro são gastos com os custos diretos da
violência, cifra que sobe para 10,5% quando se incluem custos indiretos e
transferências de recursos.[...] Os danos e as transferências de recursos que
aqui se processam por causa da violência atingem a 14,2% do PIB da região
e equivalem a 168 milhões de dólares. Para se ter idéia do significado da
cifra dos custos diretos da violência no País (3,3% do PIB) ela é três vezes
maior do que o País investe em Ciência e Tecnologia (BRASIL, 2005, p.
11).
A problemática da violência social é apontada como a responsável, em suas
manifestações específicas, por uma série de agravos à saúde como maus-tratos a crianças,
espancamento de mulheres e outros, sendo que a morte é a sua pior conseqüência, ceifando
jovens e dizimando famílias.O fenômeno assume maiores proporções nas grandes regiões
metropolitanas e urbana.
Para Schraiber et al. (2002),
A violência contra a mulher constitui uma questão de saúde pública, além
de ser uma violação explícita dos direitos humanos. Estima-se que esse
problema cause mais mortes às mulheres de 15 a 44 anos que o câncer, a
malária, os acidentes de trânsito e as guerras. Suas várias formas de
opressão, de dominação e de crueldade incluem assassinatos, estupros,
31
abusos físicos, sexuais e emocionais, prostituição forçada, mutilação
genital, violência racial e outras (SCHRAIBER et al., 2002, p. 119).
Em se tratando especificamente de Salvador, num estudo realizado entre as capitais
brasileiras, Minayo e Souza (1993) observaram maior crescimento da mortalidade por causas
externas, quais sejam acidentes, suicídios e homicídios, em relação às demais capitais das
regiões metropolitanas, na qual a capital baiana registra índices que passam da 6ª causa, para a
2ª causa entre os anos de 1980 a 1993.
Este fato corrobora com os dados apresentados pelo Fórum Comunitário de Combate à
Violência FCCV (2002), os quais mostram que as causas externas são as principais causa de
morte em Salvador entre os anos de 1998 a 2001, e que os homens morrem 06 vezes mais que
as mulheres, sendo este outro aspecto da desigualdade da violência que se expressa como
morte.
Por outro lado, chama-se atenção para o fato de que “os rastros da violência praticada
contra a mulher são mais difíceis de identificar: a maior parte das agressões não mata, mas a
cada quatro minutos uma mulher é agredida em seu próprio lar, por uma pessoa com quem
mantém relação de afeto” (FCCV, 2002, p. 18).
Os estudos que se propõem a analisar as repercussões que a violência doméstica traz à
vida das mulheres, muito freqüentemente, apontam diversas conseqüências para a saúde
destas e sua qualidade de vida. Estas conseqüências se manifestam tanto na saúde física como
na saúde mental das mulheres vítimas de violência doméstica.
Alguns dos problemas que prejudicam a saúde física são: os maiores índices de suicídio,
homicídio, e a morte propriamente dita, sendo estas as principais causas de perda de vida em
potencial entre mulheres jovens, como fora afirmado anteriormente. Outras formas que
sinalizam problemas de ordem física são: abuso de drogas e álcool, queixas vagas, cefaléia,
distúrbios gastrintestinais, lesões, problemas ginecológicos, asma, condutas nocivas para a
saúde (fumo, sexo sem proteção), mutilação, cicatrizes, incapacidade permanente ou parcial.
(DAHLBERG e KRUG, 2007; GIFFIN, 1994; HEISE et al., 1994; MINAYO, 2002;
MINAYO, 2007).
Em relação à saúde reprodutiva, a violência contra a mulher tem sido associada a dores
pélvicas crônicas, às infecções sexualmente transmissíveis, como a síndrome da
imunodeficiência humana adquirida (HIV / AIDS), além de outras doenças como as
32
inflamações pélvicas, aborto espontâneo e a gravidez indesejada, bem como trabalho de parto
prematuro. (DINIZ et al., 2004 ; DINIZ et al., 2007 ; GIFFIN, 1994; HEISE et al., 1994;
SCHRAIBER et al., 2002; SOUZA, 2000; TUESTA, 1997).
Entre as manifestações que afetam a saúde mental assinalam-se as seguintes: distúrbio
de estresse pós-traumático, medo, fadiga, depressão, ansiedade, disfunção sexual, desordens
da alimentação, desordens múltiplas de personalidade e disfunção do sono.
Para Campos (2003), a situação da mulher diante do ato violento é de completa
vulnerabilidade, é uma condição de alta morbi-mortalidade que produz seqüelas breves ou
tardias, muitas vezes, irreversíveis. A mulher violentada desencadeia um ciclo mental de
estresse permanente, que reflete o medo da denúncia, o medo do agressor, a falta de amparo e
de resolutividade pela rede de atendimento e medo dos julgamentos por parte da família, pelas
instituições ou pelos profissionais que as atendem.
Vasconcelos (2006) ao estudar a violência sexual entre profissionais do sexo, afirma
que os sintomas podem permanecer por vários dias. Não somente os físicos, como dor no
baixo ventre ou infecções, transtornos digestivos, náuseas, vômitos, cólicas, mas também os
psicológicos, como os estados de choque ou crise do pânico, além dos psicossomáticos como
insônia, pesadelos, falta de concentração e irritabilidade.
Estes estudos, portanto, passam a delinear um outro perfil da morbidade das vítimas da
violência, que é o sofrimento mental, as desordens psicológicas / psiquiátricas e que somente
passam a despertar interesse dos pesquisadores nesta última década, sendo, portanto, algo
recente e de literatura ainda escassa.
Crepschi (2005), ao analisar as significações psicológicas dadas à violência sexual por
mulheres, afirma que a violência se relaciona à vivência traumática, devido ao fato de o
aparelho psíquico não estar preparado para enfrentar cotidianamente qualquer tipo de ato
violento, o que conduz o psiquismo a desestruturar-se completamente ou a responder ao
trauma, por meio de mecanismos de defesa, análogos à economia da dor.
A autora ainda ressalta que
Na violência, o sujeito é colocado na posição de não obter prazer ou de
buscá-lo como defesa contra o medo da morte. Por essa situação traumática,
podemos compreender a precariedade de elaboração psíquica do sujeito
violentado, com dificuldade de representação e simbolização e, muitas
vezes, com tendência à somatização ou psicotização. Com isso, o sujeito
33
torna-se inabilitado psiquicamente, destituído de sua subjetividade, desejo e
singularidade (CREPSCHI, 2005, p. 14).
Outra pesquisa nessa perspectiva foi a realizada por Jacobucci (2004), na qual estudo
quali-quantitativo, identificou os fatores psicossociais das histórias de vida de mulheres, que
se mantiveram na relação conjugal após a notificação dos atos violentos sofridos.
Constataram-se índices elevados de depressão entre mulheres que permaneceram no vínculo
conjugal em comparação com aquelas que romperam com o vínculo conjugal; e a presença de
alguns traços de personalidade como: traços esquizóides e traços de introversão/ extroversão.
Uma das primeiras manifestações, após a violência sexual, são o medo, a ansiedade e a
raiva, que podem durar alguns dias ou perdurar por anos, causando o Transtorno do Estresse
Pós-Traumático - TEPT
6
, cuja prevalência atinge 48% das pacientes violentadas, segundo
Drezett (2000), Berlim et al. (2003) e Crepschi (2005).
O TEPT pode ser dividido, segundo alguns estudiosos, em duas fases: a aguda e a fase
de reorganização. A fase aguda dura alguns dias e corresponde ao período de desorganização
psíquica, acompanhada de sintomas como o medo, ansiedade, culpa, vergonha, humilhação,
depressão e insônia. A fase de reorganização psíquica é uma fase longa, na qual se impõe a
psicoterapia de apoio, podendo a paciente apresentar os seguintes sintomas: transtorno de
sexualidade, vaginismo, dispareunia, bulimia e anorexia. Estes sintomas podem durar meses a
anos.
Indivíduos que foram expostos a eventos traumáticos têm um risco
aumentado de desenvolver transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)
(14% a 25% dos casos), depressão maior (26% dos casos), transtorno do
pânico e de ansiedade generalizada e abuso de substâncias. Eles também
podem apresentar sintomas somáticos e doenças físicas, particularmente
hipertensão, asma e dor crônica (BERLIM et al., 2003, p. 51).
Corroborando com o acima referido, Rodrigues (2006), ao estudar mulheres queimadas
vítimas de violência conjugal, encontra alta prevalência de TEPT entre elas, afirmando que as
mulheres apresentam baixa auto-estima, ficando mais expostas a problemas mentais, inclusive
depressão, estresse pós-traumático, tendência ao suicídio e consumo abusivo de álcool e
drogas.
6
A terminologia Transtorno de Estresse Pós- Traumático (TEPT) vem sendo largamente utilizada pela
Psiquiatria e pela Psicanálise, em substituição à desordens, distúrbios ou síndrome de estresse pós-traumático e
se constitui por manifestações psicossomáticas após o evento, podendo aparecer dias, meses ou anos decorrido o
trauma.
34
A autora aponta que os sintomas mais prevalentes neste grupo populacional foram: falta
de concentração e sobressaltos (85,7%), sensação de reviver o trauma (50%), sofrer de insônia
(57,1%) ou sentimento de culpa (85,7%), sentimento de isolamento (42,6%). Tais dados
corroboram com Ballone (2003, p. 6) ao afirmar que a sintomatologia do estresse pós-
traumático é tipicamente mista e variável e comporta de início um estado de aturdimento,
caracterizado por um certo estreitamento do campo da consciência e dificuldades de manter a
concentração (...).
Estudo desenvolvido por Rovinski (2004) buscou avaliar os tipos dos danos que as
mulheres vítimas de violência física ou sexual apresentam. Foram encontrando níveis
elevados de depressão (mensurados através do Inventário de Beck), escores também elevados
de ansiedade, de estresse pós traumático e de sintomas psicopatológicos, sendo estes três mais
significativamente entre mulheres vítimas de violência sexual do que outro tipo de violência.
2.2.1 Violência Doméstica e Depressão
A depressão pode designar um estado afetivo normal, um sintoma, uma síndrome ou
uma doença. No Código Internacional de Doenças - CID 10 (1997), a depressão é
conceituada como sendo um rebaixamento de humor, redução da energia e diminuição da
atividade.
Além desses, outros sintomas também se fazem prevalentes, tais como: idéias de
culpabilidade e/ou indignidade, diminuição da capacidade de concentração, dificuldade de
tomar decisões, cansaço mental e físico, diminuição da auto-estima e autoconfiança e
sintomas somáticos que abrangem os distúrbios do sono, lentidão psicomotora, perda do
apetite, perda de peso e diminuição da libido.
A depressão constitui-se num grave problema de saúde pública, evidenciada pela
importância das doenças mentais em relação às outras doenças. Esse transtorno compromete o
cotidiano das pessoas no relacionamento social, seja na família, trabalho ou comunidade.
Estudos epidemiológicos têm apontado a dificuldade para se definir a prevalência dos
sintomas depressivos na população em geral. Tal fato se deve aos diferentes critérios
diagnósticos, aos diversos instrumentos disponíveis para avaliação, dificultando, assim, a
realização de uma síntese.
35
É possível afirmar que os transtornos depressivos são doenças comuns, que afetam um
grande número de pessoas em diferentes países e culturas, porém vários estudos
epidemiológicos têm demonstrado diferenças de gênero na incidência, prevalência e curso de
transtornos mentais e comportamentais.
Na idade adulta emergem grandes diferenças entre homens e mulheres em
relação aos transtornos mentais. As mulheres apresentam vulnerabilidade
marcante a sintomas ansiosos e depressivos, especialmente associados ao
período reprodutivo. A depressão é, comprovadamente, a doença que mais
causa incapacitação em mulheres, tanto em países desenvolvidos como
naqueles em desenvolvimento. No mundo, a morte por suicídio em mulheres
é a segunda causa de morte para mulheres na faixa de 15 a 44 anos de idade,
sendo precedida somente por tuberculose (VIANA et al., 2003, p. 174).
Assim, uma das observações mais documentadas em estudos epidemiológicos é a maior
prevalência de depressão em mulheres, o que pode sugerir um papel determinante dos
hormônios sexuais, especialmente considerando que outras situações de variação hormonal
também tem sido associadas ao humor depressivo, como o período pré-menstrual, puerpério,
climatério, uso de contraceptivos orais, terapia de reposição hormonal (ANDRADE, VIANA
e SILVEIRA, 2006; BRAGA, 1996; CORDÁS e SALZANO, 2004; NIEVAS, 2005;
TORRES, 2004; TUONO et al., 2007; VERAS e NARDI, 2005).
A esse respeito, Tuono et al. (2007) afirmam que
[...] as diversas fases do ciclo reprodutivo passaram a ser vistas,
potencialmente, como fatores geradores de estresse ou de maior
vulnerabilidade para determinados transtornos mentais. Os fatores
atenuantes seriam alterações neuroquímicas, de hormônios, ou ainda,
aqueles associados à agravos menstruais, de personalidade, de
predisposição biológica, resultados esses obtidos por meio de modelos
multifatoriais de causalidade (TUONO et al., 2007, p. 86).
Além dessas especificidades biológicas mencionadas, outras teorias têm sido
exploradas para explicar as diferenças de gênero na prevalência de depressão, como por
exemplo, maior persistência dos episódios depressivos em mulheres, permeada pela influência
de pressões sociais, estresse crônico e nível de satisfação associados ao desempenho de papéis
tradicionalmente femininos, ou pela forma diferencial entre gêneros de lidar com problemas e
buscar soluções.
36
A esse respeito, Martin, Quirino e Mari (2007) ressaltam que, além dos sintomas de
depressão e ansiedade serem mais prevalentes entre as mulheres, destaca-se o fato de dever-se
compreender esta maior vulnerabilidade feminina sob a questão do ponto de vista cultural,
entendendo assim o segmento na qual estão imersas.
Além disso, fatores de risco têm sido associados à maior ocorrência de depressão entre
mulheres, incluindo história familiar, adversidades na infância, aspectos associados à
personalidade, isolamento social e exposição a experiências estressantes, eventos traumáticos;
dentre estes, ressalto sobre a possível incidência mais significante da depressão entre
mulheres vítimas de violência.
A violência física, psicológica e a pobreza contribuem para uma grande incidência de
depressão entre mulheres. A esse respeito, Torres (2004) assinala que a experiência de ter sido
golpeada, violentada ou maltratada pode levar à depressão e que este fato já tem sido
demonstrado por numerosos grupos de investigação que trabalham com mulheres. Outros
estudos, tais como o de Ferrer et al. (2004), Jacobucci (2004) e Torres (2004) evidenciam que
as mulheres submetidas a estresse econômico e responsabilidade de criar filhos pequenos
apresentam maiores sintomas depressivos.
A depressão, portanto, tem sido observada em muitos estudos sobre mulheres que
vivenciaram violência, abuso sexual, espancamento, sobreviventes adultos de incesto e
crianças abusadas (ADEODATO et al., 2005; FERRER et al., 2004; JACOBUCCI, 2004;
ROVINSKI, 2004; STUART e LARAIA, 2001).
Ferrer et al. (2004) realizaram estudo sobre violência doméstica e sua relação com
depressão e auto-estima entre mulheres mexicanas e porto-riquenhas que vivem nos Estados
Unidos, detectando que estas experimentaram violência com freqüência e a maior parte
sofreram de depressão e apresentaram baixos níveis de auto-estima.
Esses autores ainda afirmam que
[...]Cerca de 33% das mulheres vítimas de assassinatos nos Estados Unidos
são assassinadas por seus companheiros. Paralelamente, existem outros
problemas que surgem da violência doméstica e que, se não causam a
morte, têm um alto impacto na saúde física e psicossocial das mulheres,
assim como de toda família. Quando se refere à saúde psicológica, as
observações se realizam sobre os efeitos psicológicos causados pelo estresse
emocional que a violência doméstica pode gerar, sendo a mais significativa
delas, a depressão.(FERRER et al., 2004, p. 26-27)
37
Estudo semelhante a este foi realizado por Jacobucci (2004) quando analisou mulheres
que sofreram violência em seu espaço doméstico e constatou que, entre aquelas que
mantinham o vínculo conjugal após os atos violentos, os níveis e a severidade da depressão se
mostraram mais intensificados e a presença de traços de personalidade (traços esquizóides,
introversão/extroversão) também foram mais prevalentes entres estas.
Rovinski (2004) aponta que mulheres vítimas de violência apresentam elevado índice de
transtornos emocionais, destacando a depressão, a ansiedade e os transtornos de estresse pós-
traumático, sejam em vítimas criminais ou em vítimas da relação conjugal; no entanto, a
autora chama atenção de que mulheres que sofreram violência conjugal apresentam maiores
escores de depressão em relação àquelas que sofreram algum tipo de abuso sexual. Isso pode
ser explicado por “estarem constantemente sendo submetidas à situação de violência”
(ROVINSKI, 2004, p. 154).
Pode-se perceber, desse modo, a relação entre violência doméstica e adoecimento
psíquico, na qual as pesquisas têm evidenciado que mulheres vítimas de violência,
principalmente no âmbito doméstico, têm um maior risco de adoecimento e de maior
morbidade, mas ainda continuam silenciando a violência, mascarando a depressão, o medo, as
fobias, o não enfrentamento e convivendo cotidianamente com o próprio algoz.
38
3 METODOLOGIA
3.1 TIPO DO ESTUDO
Para investigar as condições de vida e ocorrência de depressão entre as mulheres optou-
se pela realização de um estudo epidemiológico, do tipo corte transversal. Segundo Pereira
(2005), este é um tipo de pesquisa que permite examinar a relação exposição-doença, em uma
dada população, em um dado momento, considerando-o como um bom método para detectar
freqüências das doenças e dos fatores de risco, e, assim, identificar os grupos na população,
que estão mais afetados ou menos afetados.
Além dos fatores considerados acima, a escolha de um estudo de corte transversal se
justifica por uma série de vantagens, tais como:
a) ser de fácil operacionalização, sendo de baixo custo em relação aos outros
tipos de estudos; b) possibilitar a obtenção de dados sobre exposições,
doenças e características das pessoas e do ambiente referentes a um único
momento, podendo ser coletado em curto intervalo de tempo; c) possuir
objetividade na coleta de dados; d) permitir que um número significativo da
população em estudo seja avaliado, além de não haver necessidade de
acompanhá-lo temporalmente; e) possibilitar descrição dos eventos na
população seja de doenças ou de fatores a ela relacionados, detectando casos
e/ou grupos de alto risco ( PEREIRA, 2005, p. 299).
Porém, neste tipo de estudo, uma questão importante que pode ficar sem resposta é a
definição de que evento ocorreu primeiro: o fator de exposição ou a doença. Desta forma, os
estudos de corte transversal refletem não apenas determinantes de doença, mas, também,
determinantes de sobrevida.
Vale ainda ressaltar alguns limites deste tipo de estudo queo: problemas operacionais
/metodológicos quando o evento a ser estudado, doenças e agravos, forem de baixa
prevalência, o que exige amostra de grande tamanho; não é capaz de determinar o risco
absoluto (incidência), mas é possível através dele, o cálculo da associação entre exposição e
doença, como ela existe, na população, em um particular momento (prevalência).
39
3.2 CAMPO DO ESTUDO
Para a realização desta pesquisa, foi escolhido como campo de estudo a comunidade do
Calafate, um bairro periférico, localizado em uma transversal da Avenida San Martin, na
cidade de Salvador, Bahia.
A origem do nome do bairro, segundo Huber (2002), deve-se ao fato da área ter sido um
quilombo e os escravos calafateavam embarcações.
Narram os moradores que, quando alguém pedia referência do local, eles
respondiam: “é na rua onde mora um calafate”. Assim, a transversal da San
Martin conhecida antigamente como portão 151, virou rua do Calafate, deu
nome ao bairro e hoje identifica algumas de suas organizações.(HUBER,
2002, p. 23)
Definir os limites geográficos do Calafate parece uma tarefa difícil, pois no decorrer
deste estudo foram encontrados diferentes limitações da área, seja pela Secretaria de Saúde do
Município, seja pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, pelo IBGE e pela Companhia
Baiana de Desenvolvimento Regional - CONDER, mas sabe-se que o bairro faz limites com
bairros antigos como Fazenda Grande, Retiro, Largo do Tanque, margeado de um lado pela
Avenida San Martin e por outro, pela BR- 324 (Anexo A).
Segundo dados da CONDER / IBGE (2006), em último censo demográfico realizado na
área
7
, existem 2.886 domicílios particulares permanentes; 11.198 pessoas residentes sendo
5.270 do sexo masculino e 5.928 do sexo feminino.
Destaca-se nesta comunidade o Coletivo de Mulheres do Calafate - CMC, instituição
fundada em 8 de outubro de 1992, sendo legalizada em 1996
8
. É caracterizada por ser uma
entidade sem fins lucrativos, criada pela própria população com o objetivo de prevenir e
combater a violência contra a mulher e promover a saúde deste grupo, além de se constituir
um meio de mobilização social e participação popular.
7
Considerou-se como área geográfica deste estudo os setores censitários, segundo a definição do IBGE (2006),
limitando-se geograficamente os setores 131, 132, 134, 136, 137,138, 139, 141, 362e 363, conforme foto (Anexo
B).
8
Informações colhidas através da dissertação intitulada Representações de casais sobre a violência doméstica
na gravidez”, de Santana (2006) e entrevista informal realizada em setembro de 2007, com a coordenadora do
Coletivo de Mulheres do Calafate, Jacinta Marta Tavares Leiro, então uma das líderes comunitárias que assume
a coordenação do CMC.
40
A entidade possui um grupo de coordenação que tem na sua liderança uma moradora da
comunidade, desenvolvendo atualmente alguns projetos de cunho social visando resgatar
conceitos de cidadania, de educação, combatendo a violência, estimulando a leitura entre
adolescentes, jovens e mulheres, prevenção de IST’s, HIV/AIDS e outros.
Esta localidade apresenta as mesmas características dos demais bairros da periferia da
cidade, tais como alta taxa de desemprego, baixo nível de escolaridade, de violência, falta de
saneamento sico, de área de lazer para os moradores, carência de escola pública para o
ensino fundamental e serviços de saúde que atendam a população com qualidade. A
comunidade está situada em uma área de risco, sujeita a constantes deslizamentos de terra em
períodos de chuva, com danos às moradias. Sentimentos de medo e de insegurança
predominam na comunidade, sendo a morte também uma constante devido ao alto índice de
violência urbana.
Minha aproximação com esta comunidade se deu através da Drª Normélia Maria Freire
Diniz, docente da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (EEUFBA), que
atua nesta comunidade realizando projetos de extensão (oficinas, palestras e atividades
educativas grupais) mais de 10 anos. Estas atividades foram realizadas através do projeto
de extensão citado anteriormente, promovida pela linha de pesquisa “Mulher, Saúde e
Violência”, coordenada pela referida docente através do Grupo de Estudos sobre Saúde da
Mulher (GEM) e mais recentemente, também pelo Grupo de Pesquisa Violência, Saúde e
Qualidade de Vida.
Vale ressaltar que o CMC apoiou a realização deste estudo, em especial no que se refere
à nossa inserção na comunidade, no acompanhamento da equipe durante os momentos da
coleta de dados, bem como no contato com as mulheres, que consentiram em participar desta
pesquisa.
3.3 POPULAÇÃO DO ESTUDO
Para população deste estudo, foi incluída amostra representativa da população feminina,
com idade faixa etária compreendida entre 15 a 49 anos
9
, que residiam na referida
comunidade.
9
Este critério de seleção foi adotado por ser esta faixa etária considerada como idade reprodutiva das mulheres.
Além da incidência de violência ocorrer mais significativamente entre mulheres situadas nesta faixa etária,a
exclusão de mulheres menopausadas se deu devido estudos apontarem associação de depressão e climatério, o
que poderia ocasionar um viés na realização deste estudo (NIEVAS, 2005).
41
Esta população foi selecionada através de amostragem aleatória por conglomerado,
estratificada por subdistritos. Para cálculo do tamanho da amostra se assumiu uma prevalência
estimada de depressão de 40%, considerando os estudos afins, razão de expostas e não
expostas à violência doméstica de 3/1, erro amostral de 3%, poder de estudo de 90%, com
95% de confiança.
A partir desses parâmetros chegou-se a uma amostra mínima de 168 mulheres. Para
correção do efeito do desenho de estudo (amostragem por conglomerado), dobrou-se o
tamanho da amostra (N=336). Admitindo-se recusas e perdas em torno de 10%, definiu-se N
amostral de 370 mulheres, como ilustra a Figura 1, a seguir.
Como critério de escolha da amostra, adotou-se que mulheres portadoras de deficiências
como surdez, mudez e as psiquiátricas, exceto as que possuíssem depressão; e aquelas que
não fossem, de fato, moradoras do bairro (estavam passando período de férias, de maternidade
ou que apenas exerciam atividades profissionais no Calafate) seriam excluídas da pesquisa.
Figura 1 Cálculo da amostra
POPULAÇÃO
CÁLCULO DA AMOSTRA
168
336
370
Prevalência de 40%
Erro amostral de 3%
Poder de estudo de 90%
Intervalo de Confiança de 95%
Correção pelo desenho de estudo
Recusas e perdas de 10%
42
3.4 COLETA DE DADOS
Inicialmente, foi realizada a delimitação geográfica do bairro, assim como os seus
setores censitários. Em cada setor, selecionaram-se as ruas a serem incluídas na pesquisa e
após, sortearam-se as casas, adotando-se o critério de saltar uma a duas casas vizinhas para
evitar viés das respostas obtidas.
A coleta de dados foi realizada na referida comunidade com o auxílio do grupo de
líderes do CMC, que acompanhavam a pesquisadora e/ou as bolsistas às residências das
entrevistadas, e de bolsistas do Grupo de Pesquisa Violência, Saúde e Qualidade de Vida que
foram treinados especificamente para este fim, por um período de dois meses. Contactamos,
casa a casa, todas as mulheres residentes em cada domicílio que se enquadravam como
sujeitos da pesquisa, à época da coleta de dados.
Os dados foram coletados em todos os setores censitários mencionados no Calafate,
no período de agosto a setembro de 2008.
Para a coleta das informações, a metodologia escolhida foi a entrevista estruturada, na
qual utilizou-se como instrumento o formulário
10
composto de questões fechadas de múltipla
escolha, divididas nos seguintes blocos (Apêndice A):
- Bloco I: Identificação Geral
11
Constitui-se de variáveis independentes, contendo
dados de caracterização de amostra, tais como nome (optativo), a idade, situação conjugal, cor
/ raça, religião;
- Bloco II: Aspectos Sócioeconômicos Constitui-se de variáveis independentes, com
dados sobre condições de moradia, infra-estrutura domiciliar, residência, escolaridade, renda
média individual e familiar mensal, realização de atividades domésticas, chefia da casa,
ocupação;
- Bloco III: Condições de Saúde e Estilo de vida Constitui-se de variáveis
independentes, avaliando a saúde das mulheres, a partir de informações gineco-obstétricas,
sintomas e/ou problemas de saúde, queixas mais freqüentes, e os hábitos das entrevistadas
quanto aos distúrbios do sono, tabagismo, etilismo, atividade sexual, atividade física e
atividades sociais;
10
Foi respondido com a presença da entrevistadora, ou seja, a própria pesquisadora ou as bolsistas.
11
Este formulário foi elaborado obedecendo aos critérios adotados pelo IBGE.
43
- Bloco IV: Avaliação da Violência Doméstica Constitui-se de variáveis
independentes, contendo a variável independente principal, qual seja a ocorrência de violência
doméstica. Neste bloco, foram também consideradas questões referentes ao tipo de violência
sofrida (se psicológica, física, sexual, patrimonial e outras), identificação do agressor,
freqüência, existência ou não de lesões físicas, horário mais freqüente, duração e busca da
rede de apoio.
- Bloco V: Avaliação da Saúde Mental- Contém a variável dependente depressão.
Para avaliação da saúde mental, em especial, a prevalência de depressão, optou-se, nesta
pesquisa, pela aplicação do Beck Depression Inventory (BDI) composto de 21 grupos de
afirmações. O BDI é uma escala de auto-avaliação de depressão, que possibilita a avaliação
rápida e objetiva de manifestações comportamentais de depressão, porém vale ressaltar que tal
escala não tem finalidade diagnóstica (Padovani, 2005).
O Inventário de Beck é composto por questões subjetivas, de múltipla escolha com
valores variando de 0 a 3, refletindo a gravidade dos sintomas de depressão, na qual a
entrevistada assinalará a alternativa que mais se aproxima do que sente ultimamente.
Adiante, encontram-se considerações importantes sobre o instrumento aqui adotado para
rastreamento da depressão.
3.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE O BECK DEPRESSION INVENTORY
O instrumento utilizado para avaliar a depressão nas mulheres foi o BDI. Este aborda a
sintomatologia depressiva, tais como: tristeza, pessimismo, sensação de fracasso, falta de
satisfação, sensação de culpa, sensação de punição, autodepreciação, auto-acusações, idéias
suicidas, crises de choro, irritabilidade, distúrbios do sono, fadiga, perda de peso, diminuição
da libido e preocupação somática.
Foi traduzido e validado para o português por Gorenstain e Andrade (1998) e desde
então vem sendo largamente utilizado em pesquisas clínicas, tais como as desenvolvidas por
Gorenstain e Andrade (1998), Demétrio et al. (2001), Santos et al. (2003), Jacobucci (2004),
Rovinski (2004), Furegato (2005), Padovani (2005) e Gandini et al. (2007).
Cunha (2001), no Manual da versão em português das Escalas Beck, explica que a
mesma pode ser utilizada amplamente tanto na área clínica como na de pesquisa e mostra-se
44
como um instrumento útil não para populações específicas, como as psiquiátricas, mas
também para a população em geral.
Um estudo realizado por Gandini et al. (2007) objetivou validar fatorialmente o BDI
utilizando uma amostra de 208 mulheres com câncer, na qual as autoras qualificam o
instrumento como sendo de fidedignidade altamente satisfatória, assumindo que
[...]o BDI tem duas soluções fatoriais, sendo uma bifatorial sendo F1
composto de 08 itens ( = 0,82) denominado “visão negativa de si mesmo”,
explicando 32,4% da variância e F2 com 05 itens ( = 0,77) denominado
“função física”, explicando 8% da variância e outra unifatorial com 13
itens, com fidedignidade altamente satisfatória ( = 0,86), denominada
“depressão”, explicando 38% da variância total. ( GANDINI et al., 2007, p.
23)
Outra pesquisa de validação fatorial do BDI foi realizada por Gorenstein e Andrade
(1998) com 1.080 estudantes universitários da cidade de São Paulo, na qual as autoras
identificaram três fatores para a amostra total. O fator 1, representando a dimensão de
autodepreciação, o fator 2, cognição-afeto e o fator 3, a dimensão somática. Os coeficientes
de fidedignidade foram de 0,76; 0,77 e 0,66, e cada fator explicou 28,3%; 6,4% e 6,1%,
respectivamente, de variância total.
É uma escala de auto-relato, constituído de 21 itens de afirmação que abordam os
sintomas acima referidos, cada um com quatro alternativas, escaladas de 0 a 3, denotando o
grau da severidade dos sintomas, na qual o entrevistado responde sozinho ou é aplicado
oralmente. A pontuação total máxima é de 63 pontos, sendo o ponto de corte adotado,
conforme normas do manual em português, de: nível mínimo, de 0 a 11; leve, de 12 a 19;
moderado, de 20 a 35 e grave, de 36 a 63.
Padovani (2005) ressalta que o BDI é uma escala de auto avaliação de depressão, que
possibilita a avaliação rápida e objetiva de manifestações comportamentais de depressão,
porém tal escala não tem finalidade diagnóstica.
Santos et al. (2003) estudou depressão entre estudantes do Curso de Graduação em
Enfermagem, encontrando uma percentagem de 41% nesta população, apontando a relevância
de estudar esta temática, principalmente entre as mulheres , nas quais se observa maior
severidade da depressão.
45
A autora ainda destaca que o BDI tem sido amplamente utilizado para avaliar cognições
associadas à depressão em pacientes psiquiátricos e em populações normais, sendo um dos
mais aceitos para avaliar a intensidade de depressão e com melhor desempenho.
Demétrio et al. (2001) utilizaram o Inventário em estudo com mulheres pós-
menopausadas, no qual analisaram o efeito de estrógenos conjugados sobre o humor dessas
mulheres.
3.6 PRÉ - TESTE
Para garantir a qualidade, a validade e a operacionalidade foi realizado um pré-teste a
fim de detectar possíveis falhas no instrumento elaborado e evitar vieses metodológicos.
Lakatos e Marconi (2008, p. 90) ressaltam a importância do pré-teste para avaliar
“inconsistência ou complexidade das questões; ambigüidade ou linguagem inacessível;
perguntas supérfluas ou que causam embaraço ao informante e verificar se as questões
obedecem à determinada ordem ou se são muito numerosas”.
O pré-teste foi realizado entre mulheres da própria comunidade do Calafate que,
posteriormente, não estivessem incluídas na amostra da pesquisa. Para isso, foi selecionado
um quantitativo de 10% da amostra total, atingindo assim, 37 mulheres para a realização deste
pré-teste.
Após a realização do pré-teste, detectou-se a necessidade de possíveis ajustes a serem
feitos no formulário, assim como a inclusão de mais alguns questionamentos para enfim, ser
realizada a coleta.
3.7 ASPECTOS ÉTICOS
A pesquisa foi desenvolvida com base nas normas e diretrizes da pesquisa com seres
humanos estabelecidas pela Resolução 196/96, utilizando-se do termo de consentimento
livre e esclarecido (BRASIL, 1996).
46
O projeto de pesquisa foi apreciado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
(CEP) da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (SESAB), que emitiu o parecer de
aprovação n
o
275/2008 (Anexo C).
Todas as entrevistadas foram esclarecidas que as informações seriam mantidas em
anonimato, isso em função do caráter de que as questões abordadas são pessoais e, portanto,
confidenciais, destinando-se, exclusivamente, aos objetivos propostos pela pesquisa.
Junto ao instrumento de coleta, todas as entrevistadas receberam uma carta explicando a
natureza da pesquisa, os objetivos, a importância de obtenção de respostas e a participação da
pesquisadora como entrevistadora para assim garantir um maior número de formulários
devidamente preenchidos (Apêndice B).
Receberam, ainda, um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice C), no
qual as participantes assinaram, consentindo com sua participação na pesquisa, assumindo,
portanto, responsabilidade pelos dados fornecidos.
3.8 VARIÁVEIS DO ESTUDO
3.8.1 Variável dependente
Foi considerado como variável dependente deste estudo a depressão, aqui avaliado,
utilizando-se como instrumento para detecção e avaliação, o BID.
Para dicotomizar os níveis de depressão apresentados pelo Inventário de Beck, adotou-
se ponto de corte validado em estudos no Brasil, especialmente para este tipo de grupo
populacional, no qual mulheres que apresentaram pontuação igual ou maior que 16, foram
consideradas com depressão; escores menores que 16 foram considerados sem depressão.
3.8.2 Variável independente
A variável independente principal adotada neste estudo foi a violência.
A violência doméstica foi dicotomizada entre sim ou não, na qual antes de fazer este
questionamento, o entrevistador explicava à mulher o entendimento acerca da violência, na
47
qual a mesma se configurava pela presença de agressões sicas (puxões de cabelo, tapas,
bofetadas, queimaduras, espancamentos), violência sexual (incesto, sexo por coação e/ou
ameaças, estupro), violência psicológicas (abandono, rebaixamento de auto-estima, ofensas,
humilhações, entre outros), agressões verbais (xingamentos, ofensas, abandono), violência
patrimonial (queimar ou se desfazer dos documentos, pertences da mulher; destruição de
bens e/ou empréstimo sem consentimento prévio, etc).
Outras características da violência também foram analisadas como: agressor, início e
frequencia das agressões, motivações para a violência, local do corpo agredido, quando na
presença de agressões físicas; horário das agressões, comportamento e sentimentos diante da
violência, busca da rede de apoio às mulheres vítimas de violência, além dos motivos que
fazem a vítima permanecer na situação de violência.
3.8.3 Co-variáveis
- Características sociodemográficas foram avaliadas a partir das variáveis: idade,
situação conjugal, raça/cor, nível de escolaridade, renda, religião, .
- Características do trabalho foram avaliadas a partir da ocupação, renda individual,
renda familiar e chefia da família.
- Condições de saúde das mulheres foram avaliadas a partir dos dados gineco-
obstétricos (menarca, início da vida sexual, número de parceiro sexual, partos e abortos),
antecedentes de saúde existentes e prevalência das queixas de saúde (sintomas físicos e
psíquicos).
- Estilo de vida foi analisado com base nas seguintes categorias: práticas de atividade
física, atividades de lazer, etilismo e tabagismo.
3.9 SISTEMATIZAÇÃO DOS DADOS
Os dados contidos no formulário foram codificados em banco de dados do pacote
estatístico Statistical Package for the Social Sciences (S.P.S.S.) for Windows versão 13.0.
48
Assim, foi processada a digitação dos dados, sendo feita, paralelamente, análise da qualidade
dos dados colhidos.
Para controle da qualidade dos dados digitados e evitar possíveis erros de digitação,
procedeu-se, periodicamente, à revisão do banco de dados. Deste modo, realizou-se a análise
da qualidade do banco de dados através da listagem das freqüências simples de todas as
variáveis, na qual foi possível observar a qualidade da digitação e corrigir os erros
encontrados.
3.10 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS
Após digitação e processamento dos dados, foram realizadas análises e discussões dos
mesmos. Inicialmente, foi feita a caracterização da população estudada procurando diferenciar
a mesma em dois grupos: o de mulheres vítimas e o de não-vítimas de violência doméstica.
Procedeu-se para tal caracterização, a utilização do teste de qui-quadrado
12
para avaliar
diferenças entre os grupos expostos e não-expostos à violência doméstica, adotando-se um
nível de significância estatística de 5%. Foram estimadas as taxas de prevalência das variáveis
de interesse no estudo, e respectivos intervalos de confiança, quando indicados.
Após descrição das estimativas da prevalência de depressão, buscou-se descrever a
associação entre a freqüência das variáveis de interesse descritas como objetivo desta
pesquisa, como características sóciodemográficas e fatores relacionados à violência.
Subsequentemente, foi realizada análise estratificada no intuito de apontar as potenciais
confundidoras e modificadoras de efeito da associação em estudo; pois na análise
estratificada, além da variável dependente e da independente consideram-se outras co-
variáveis que podem ser impróprias à associação em teste, ou seja, pode-se identificar
possíveis modificadores de efeito e/ou potenciais confundidores (PINHO, 2006, p. 58).
A literatura aponta a questão do confundimento como eminentemente teórica; por essa
razão, são elaborados modelos explicativos para serem testadas empiricamente. O critério
empírico consiste em selecionar variáveis de confundimento potenciais, quando diferença
relativa entre as medidas ajustadas de cada co-variável e a medida de associação bruta for
superior a 20% (GREENLAND e MORGENSTERN, 2001).
12
Teste de Pearson, adotando-se valor de p 0,05 para associação estatisticamente significante.
49
Ressalta, portanto, que a adoção dos critérios de confundimento deve ser adotados, sem
contudo, negligenciar a necessidade dessas co-variáveis estarem associadas à exposição entre
mulheres portadoras da depressão e, simultaneamente, associadas ao desfecho entre as
mulheres que não foram expostas à violência.
Todavia, sobre a luz da teoria, optou-se levar para o modelo confundidores clássicos,
ainda que não houvesse confirmação empírica de necessidade de ajustamento.
Assim, se determinada co-variável interagir de modo dinâmico, modificando a
intensidade da depressão frente à situação de exposição, qual seja, a violência doméstica, esta
co-variável estará agindo de modo sinérgico, tornando esta exposição mais forte, o que
chamamos de uma variável modificadora de efeito.
Para verificação de interação foram observadas as medidas estrato-específicas em
relação aos intervalos de confiança dos estratos opostos. Caso haja indicação de possível
modificação de efeito, aplica-se o teste de homogeneidade (teste de Breslow-Day) entre os
estratos com significância de 5%, havendo, assim, um critério epidemiológico (medidas
estrato-específicas) e outro estatístico (teste de homogeneidade) para seleção de candidatas a
interação.
Por fim, realizou-se a modelagem através da regressão logística não condicional
visando estimar medida de associação ajustada pelos critérios teóricos e empíricos, para
avaliação simultânea das variáveis estudadas.
Para apresentação dos resultados, optou-se pela utilização de gráficos e tabelas,
dispostos a seguir, com posterior discussão dos resultados confrontando à luz das idéias de
estudos do gênero.
50
4. RESULTADOS
Foram entrevistadas 379 mulheres, sendo que 4 formulários foram invalidados devido à
qualidade dos dados obtidos, gerando inconsistência na análise dos mesmos. No que diz
respeito às recusas, o número registrado foi insignificante, o qual não dificultou a
operacionalidade da coleta (n = 13). Assim, o total de mulheres que participaram desta
amostra foi de 375, o que perfaz um total de 10,3 % de mulheres residentes no Calafate nesta
faixa etária, na qual todos os setores censitários foram representados proporcionalmente.
4. 1 PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO DAS MULHERES DO CALAFATE
O presente estudo descritivo caracteriza as mulheres do Calafate em suas características
sociodemográficas, buscando-se compreender a existência de características importantes e/ou
determinantes entre a vitimização ou não das mulheres vítimas e não-vítimas de violência,
como se vê na tabela 1.
Tabela 1 Características sociodemográficas das mulheres do Calafate, Salvador. Bahia
- Brasil, 2008 (N= 375)
Características
Vítimas
(n=190)
Não-vítimas
(n=185)
valor de
p
n
%
n
%
Idade (em anos)
14 29
93
48,95
98
52,97
0,44
30 49
97
51,05
87
47,03
Situação Conjugal
Solteira/ viúva/separada
93
48,95
104
56,22
0,16
Casada/União estável
97
51,05
81
43,78
Raça / Cor
Branca
14
7,41
15
8,24
0,38
Negra
172
91,01
160
87,91
Outras (amarela/indígena)
03
1,59
07
3,85
Nível de Escolaridade
Até 8 anos de estudo
44
23,16
50
27,03
0,38
Mais de 8 anos de estudo
146
76,84
135
72,97
Ocupação
Remunerada
86
45,26
80
43,24
0,69
D. casa/estudante/desempregada
104
54,74
105
56,76
Renda
Até 1 salário mínimo
77
41,4
66
40,24
0,83
Acima de 1 salário mínimo
109
58,6
98
59,76
51
Encontram-se adescritas algumas das variáveis sociodemográficas, para as quais se
observa que não houve significância estatística, ou seja, o grupo de mulheres do Calafate
vítimas e não-vítimas de violência doméstica são semelhantes com relação ao conjunto de
variáveis analisadas.
Quanto à variável idade, consolidando o total da amostra, percebe-se maior
concentração da faixa adulto jovem, mesmo que ainda as mulheres em idade mais avançada
tenham sido bem representadas, que as mulheres acima de 40 anos representaram 23% da
população.
Ao analisarmos os dados, tendo por base as variáveis faixa etária e violência, e apesar
das idades nimas (14 a 29) e máximas (30 a 49 anos) se apresentarem de maneira bem
semelhante; ainda é possível inferir que aquelas que sofrem violência concentram-se na idade
adulto jovem, representada pelas mulheres na faixa etária dos 20 aos 34 anos, apresentando
um percentual de 52,6% (mais da metade das mulheres que sofrem violência doméstica),
como se observa na tabela 2.
A tabela abaixo mostra que, apesar da concentração de mulheres vítimas de violência
encontrar-se na faixa adulto jovem, tal resultado não mostra significância estatística para esta
variável, sendo os grupos de mulheres, portanto, semelhantes a este respeito.
Tabela 2 Distribuição da faixa etária segundo vitimização entre as mulheres do
Calafate. Salvador, Bahia, Brasil, 2008. (N= 375)
Faixa Etária
Vítimas
n %
Não-Vítimas
n %
Valor
de p
14 a 19 anos
26 13,7
39 21,1
0,44
20 a 24 anos
31 16,3
26 14,0
25 a 29 anos
40 21,0
22 11,9
30 a 34 anos
29 15,3
34 18,4
35 a 39 anos
19 10,0
23 12,4
40 a 44 anos
26 13,7
23 12,4
45 a 49 anos
19 10,0
18 9,8
Total
190 100,0
185 100,0
52
Na amostra total, a variável raça/cor apresenta uma predominância de 51% de mulheres
da raça negra, seguida da parda (41%) e da branca (8%), como mostra o gráfico 1 a seguir.
Quando se estratificou segundo a ocorrência de vitimização, observa-se que a distribuição
ocorreu de maneira muito semelhante nos subgrupos estudados, as diferenças observadas não
apresentam significância estatística para tal evento (p =0,38).
Gráfico 1 Raça / cor , segundo dados auto-referidos, entre mulheres do Calafate,
Salvador Bahia. Brasil, 2008. (N= 375)
No que diz respeito ao estado civil, na amostra geral, evidencia-se maior predominância
de solteiras; portanto, se considerarmos que as casadas e as de união estável possuem uma
situação muito semelhante quanto ao estabelecimento de uma relação conjugal, estas
representam no seu total 47%, um dado que se aproxima ao de mulheres sem companheiros
(53%), como se vê no gráfico 2, a seguir.
Quando se analisa a situação conjugal, segundo exposição à situação de violência,
percebe-se que entre as que não m companheiro (solteiras, viúvas, desquitadas e
divorciadas) num total de 197, destas, 47,2% sofrem violência doméstica; enquanto que entre
aquelas que têm companheiro (casadas e de união estável), dentre um total de 178 mulheres,
54,5% destas são vítimas de violência doméstica.
Assim, em relação à situação conjugal, a diferença entre mulheres vítimas e não vítimas
parece ser insignificante (p=0,16); no entanto, pode-se inferir que o grau de exposição à
violência relaciona-se à situação marital, na qual as mulheres casadas apresentam maior
53
percentagem de vitimização; na verdade, esperava-se que o fato de ter um companheiro fosse
um fator de proteção à violência.
45%
19%
2%
28%
6%
Solteira Casada
Viuva União Estável
Sep./Desq./Divorciada
Gráfico 2 Situação conjugal das mulheres do Calafate, Salvador Bahia. Brasil, 2008.
(N= 375)
Em relação à religião das mulheres entrevistadas, destaca-se a religião católica (42,8%)
seguida da evangélica/protestante (31,8%). Com dados menos expressivos, aparecem ainda o
espiritismo (3,7%) e o candomblé, com 2,1%, conforme mostra o gráfico 3.
Gráfico 3 Religião entre as mulheres do Calafate, Salvador Bahia. Brasil 2008.
(N= 375)
54
Destaca-se, portanto, o fato de 19,5% das mulheres afirmarem não ter nenhuma religião,
principalmente por ser na cidade de Salvador, uma região marcada fortemente pelo
sincretismo religioso, pela influência de religião de matrizes africanas na cultura sócio-local.
Essa influência permeou toda a formação da sociedade, principalmente das
comunidades carentes sem, contudo, neste estudo demonstrar uma interelação entre violência
e religião.
A análise da religião segundo grau de exposição à violência, portanto, não apresentou
dados significativos, revelando tendência semelhante entre os subgrupos da variável religião
(p=0,70).
Para a variável escolaridade, correspondente ao grau de estudo, os resultados revelam
maior freqüência de 8 a 11 anos de estudo
13
, equivalendo a um total de 62, 4%, seguido de 2 a
8 anos de estudo (34,2%) e mais de 11 anos de estudo, com um total de 3,4% entre mulheres
que possuíam superior incompleto ou completo, como se vê na tabela abaixo.
Tabela 3 Distribuição do grau de escolaridade segundo vitimização entre as mulheres
do Calafate. Salvador, Bahia, Brasil, 2008.
Grau de Escolaridade
Total
n %
Vítimas
n %
Não-Vítimas
n %
Fundamental Incompleto
94 24,9
44 23,2
50 27,2
Fundamental Completo
35 9,4
21 11,0
14 7,7
Médio Incompleto
102 27,3
55 29,0
47 25,6
Médio Completo
132 35,2
66 34,8
66 35,9
Superior Incompleto
04 1,1
01 0,5
03 1,8
Superior Completo
06 1,6
03 1,5
03 1,8
Total
374 100,0
190 100,0
184 100,0
Quanto aos resultados por subgrupos, observa-se que não existe discrepância entre
mulheres vítimas e não vítimas em relação ao grau de escolaridade, no entanto, vale destacar
13
Para grau de escolaridade, as variáveis foram posteriormente categorizadas por anos de estudo; assim,
analfabeto, ensino fundamental incompleto e completo foram elencados como ‘menos de 08 anos de estudo’;
ensino médio incompleto ou completo na categoria ‘de 08 a 11 anos de estudo’; superior incompleto ou
completo, como ‘mais de 11 anos de estudo’.
55
o número significativo de mulheres que têm de 8 a 11 anos de estudo; e ressaltar também que,
mesmo com os programas de incentivos de ordem federais e /ou estaduais, o sistema de cotas
para ingresso nas universidades públicas e os sistemas de financiamento do ensino superior,
apenas 1,6% (n=6) do total da amostra apresentam terceiro grau completo e outros 1,1% (n=4)
que estão cursando o nível superior. Afora isso, é ainda muito tímida a inserção em faculdades
de mulheres residentes nos subúrbios.
4.2 CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO
Entre as 375 entrevistadas, mais da metade das mulheres, ou seja, 55,7%, afirmam não
exercer nenhum tipo de atividade remunerada, ao mesmo tempo em que 44,3% referem estar
trabalhando, exercendo alguma atividade no mercado de trabalho seja formal ou informal.
Porém, o que se percebe é que apesar de existirem 44,3% das mulheres trabalhando, apenas
17,6 % delas recebem salário mínimo e ainda assim a sua grande maioria não possui vínculo
trabalhista.
Esse dado merece ser melhor discutido em estudos posteriores visto que durante a
realização desta pesquisa foi percebido que o fator emprego constitui um forte elemento na
realização pessoal e profissional destas mulheres, pois este possibilita não a inserção no
mercado de trabalho, mas também permite-lhes satisfação pessoal, poder de compra, auto-
estima, empoderamento, independência, além da liberdade por saberem que não dependem
financeiramente de outrem, com destaque do companheiro.
Gráfico 4 Ocupação das mulheres do Calafate, Salvador Bahia. Brasil, 2008. (N=
375)
Como se vê no gráfico acima, em relação à ocupação das residentes do Calafate,
destaca-se o percentual significativo de 53% de mulheres que não possuem atividade
56
remunerada (donas de casa e estudantes), apesar de tais ocupações delegarem à mulher
atividades laborativas.
No que se refere à categoria “outras ocupações”, destacadas no gráfico 4, estão aí
elencadas as que são manicures, cabeleleiras, cobradoras de transporte coletivo, baiana de
acarajé, balconista, pizzaiola, profissional do sexo, entre outras.
Vale ressaltar em relação ao bairro, uma característica peculiar que é a existência de
uma cooperativa, a Costurart, que funciona desde 2001, tendo sido concebida pelo CMC com
o objetivo principal, desde a sua criação, de gerar renda para a comunidade, especificamente
para mulheres que sofriam e sofrem algum tipo de violência.
O grupo começou com um número de aproximadamente 30 mulheres que buscavam
doações na comunidade, jeans, roupas usadas e trabalhavam peças, customizando com
técnicas de pintura, bordado e bicos. Hoje, além de possuírem sede própria, conquistaram
alguns parceiros e apoiadores que ajudaram na capacitação e no desenvolvimento de produtos,
proporcionando, além da profissionalização, renda, ocupação e auto-estima.
Esta cooperativa é mantida através do trabalho destas mulheres, que mantém
funcionando oficinas de bordado, costura e customização no bairro, como uma oportunidade
de profissionalização entre as mulheres.
O resultado quanto aos rendimentos econômicos e exposição ou não à situação de
violência entre as mulheres do Calafate apresentou algumas significâncias estatísticas, na qual
os dois subgrupos (mulheres vítimas e não-vítrimas) apresentaram algumas diferenças, como
ilustra a tabela 4, a seguir.
Quanto à situação econômica das mulheres, investigou-se dois tipos de informações: a
primeira, quanto ao rendimento individual, que a mulher adquire pelo próprio trabalho,
mesmo que informal, e por outros tipos de proventos, tais como pensão alimentícia,
aposentadoria, entre outros; a segunda, refere-se aos rendimentos familiares, que neste estudo
foi representado pelas somas dos rendimentos mensais dos componentes da família, inclusive
os das pessoas cuja condição na família fosse pensionista, empregado doméstico ou parente
de empregado doméstico, seguindo as recomendações do IBGE, em relação aos indicadores
sociais mínimos.
57
Quanto às mulheres vítimas de violência, vale ressaltar que a maioria não possuía
nenhum tipo de renda individual ou recebia menos de um salário mínimo; sendo os grupos de
mulheres vítimas e não-vítimas semelhantes nos estratos analisados, como se vê na tabela 4.
A respeito da chefia da casa, 34,4% delas assumiam a chefia de suas casas sozinhas ou
com ajuda do parceiro; as demais, 65,6%, tinham seus sustentos garantidos por outras
pessoas, como o cônjuge, os pais, avós e/ou outros parentes, estando assim mais susceptíveis
à condição de subordinação, submissão e, conseqüentemente, de violência. As diferenças
encontradas foram estatisticamente significantes (p=0,02).
Tabela 4 Variáveis relacionadas aos rendimentos econômicos das mulheres do
Calafate. Salvador- Bahia, Brasil, 2008.
Variáveis
n
%
Vítimas
n %
Não-Vítimas
n %
valor
de p
Renda Individual (N= 370)
Até 1 salário mínimo
323
87,3
167 87,9
156 86,7
0,13
Acima de 1 salário mínimo
47
12,7
23 12,1
24 13,3
Chefe da Família(N= 370)
A própria mulher
129
34,4
66 34,7
63 34,1
0,02
Outras pessoas
246
65,6
124 65,3
122 65,9
Renda Familiar(N= 370)
Até 1 salário mínimo
143
40,9
77 40,5
66 36,7
0,04
Acima de 1salário mínimo
207
59,1
109 59,5
98 63,3
Total
350
100,0
190 100,0
180 100,0
Quanto à renda familiar, os resultados oscilavam entre nenhum salário até mais de 5
salários mínimos, aqui agrupados em mais de 1 salário, devido à quantidade ter sido pequena.
Nesta variável, observa-se maior dispersão quanto à vitimização das mulheres, na qual,
quanto menor a renda familiar, maior a ocorrência de violência, observando significância
estatística para esta condição. Entre as famílias que possuíam mais salários mínimos como
renda familiar, obteve-se menor número de casos de mulheres vítimas, como se na tabela
acima.
58
4.3 CONDIÇÕES DE SAÚDE DAS MULHERES DO CALAFATE
4.3.1 Dados Gineco-Obstétricos
Em relação aos dados gineco-obstétricos, que estão diretamente relacionados à sua
saúde reprodutiva, elencados na tabela 5, chama-nos atenção o número expressivo da prática
do aborto, a iniciação precoce da vida sexual, algumas inclusive, antes da menarca e o número
de parceiros sexuais.
Tabela 5 Características gineco-obstétricas das mulheres do Calafate, Salvador. Bahia
Brasil 2008.
Variáveis
n
%
Vítimas
n %
Não-Vítimas
n %
Valor
de p
Menarca (N= 365)
8 a 11 anos
66
18,1
35 19,0
31 17,1
0,22
12 a 14 anos
245
67,1
121 65,8
124 68,5
15 a 17 anos
54
14,8
28 15,2
26 14,4
Início da vida sexual(N= 375)
11 a 14 anos
62
16,5
36 18,9
26 14,2
0,62
15 a 18 anos
171
45,6
91 47,6
80 43,4
19 a 22 anos
71
18,9
36 18,8
35 19,0
23 anos ou mais
28
7,5
15 7,9
13 7,1
Ainda não iniciaram
43
11,5
13 6,8
30 16,3
Numero de parceiro sexual (N= 336)
Somente 1
92
27,4
46 25,8
46 29,1
0,15
De 2 a 4
153
45,5
78 43,8
75 47,5
De 5 a 8
29
8,6
20 11,3
9 5,7
Mais de 10
24
7,2
20 11,3
4 2,5
Prefere não especificar
38
11,3
14 7,8
24 15,2
Partos / pessoa (N= 263)
Apenas 1
106
40,3
58 38,7
48 42,5
0,75
De 2 a 3 filhos
118
44,8
71 47,3
47 41,6
De 4 a 5 filhos
32
12,2
15 10,0
17 15,0
6 filhos acima
7
2,7
06 4,0
01 0,9
Abortos provocado/pessoa (N= 133)
1 a 2 abortos
113
84,8
67 82,7
46 88,5
0,82
3 a 4 abortos
14
10,6
09 11,1
5 9,6
5 a 6 abortos
3
2,3
03 3,7
00 00
7 ou mais abortos
3
2,3
02 2,5
1 1,9
59
Quanto ao número de filhos, diferentemente do que se esperava, corroborando com o
número de pessoas por domicílio, a média ficou em torno de 1,8 filhos/pessoa, uma realidade
também encontrada nas famílias brasileiras, na qual a média de filhos foi diminuindo
paulatinamente, se observarmos o quanto as famílias foram diminuindo de tamanho ao longo
dos tempos.
O número de filhos por mulher no presente estudo, ou seja, 1 a 2, é semelhante aos
dados do IBGE (2000) que indicam a queda da fecundidade da brasileira. A inserção da
mulher no mercado de trabalho e a mudança dos conceitos da estrutura familiar vêm
contribuindo para esse fato.
Como se na tabela acima, entre as mulheres vítimas de violência, existe uma maior
multiplicidade de parceiros sexuais. As mulheres que tiveram de 5 a 8 parceiros ou mais de
10, foram as que sofreram violência doméstica (75,5%).
Em relação à iniciação sexual, observou-se diferenças significativas entre os subgrupos,
merecendo destaque o fato da iniciação da vida sexual mais precoce entre mulheres vítimas de
violência ( dentre as mulheres com iniciação sexual entre os 11 a 14 anos, 58,0% viviam em
situação de violência).
Um achado relevante diz respeito ao grau de paridade e o número de abortos
provocados, quando analisamos os subgrupos mulheres vítimas de violência e mulheres não
vítimas, nos quais percebe-se o número significante de 57% e 60,9% de partos e abortos,
respectivamente, entre aquelas vítimas de violência.
Esse dado corrobora com os estudos afins, como o de Souza (2000), no qual se
evidencia que entre mulheres vítimas de violência, existe maior número de gravidezes
indesejadas e, conseqüentemente,de abortos provocados.
Entretanto, vale ressaltar que apesar desses dados ilustrarem o maior grau de exposição
das mulheres vitimizadas, nenhuma dessas variáveis apresentaram significância estatística.
4.3.2 Antecedentes de Saúde
Números que nos chamam atenção e que estão diretamente relacionados ao grau de
morbidade desta população é a prevalência de hipertensão (19,5%), de doenças sexualmente
60
transmissíveis (16,8%)
14
, doenças ósseas/articulares (13,9%), entre outras, como mostra a
tabela 6.
Tabela 6 Características das mulheres do Calafate, segundo antecedentes de saúde.
Calafate. Salvador, Bahia, Brasil, 2008.
Antecedentes de Saúde
n*
%
valor de p**
Viroses de Infância
250
66,7
0,01
Infecção Urinária
198
52,8
0,27
Anemia
138
36,8
0,51
Cirurgias Pélvicas
94
25,1
0,08
Varizes
90
24,0
0,41
Hipertensão
73
19,5
0,23
Doenças Sexualmente Transmissíveis
63
16,8
0,00
Doenças ósseas/ articulares
52
13,9
0,43
Diabetes
11
2,9
0,40
Úlcera gástrica
08
2,1
0,97
Câncer
02
0,5
0,16
* Este n refere-se ao total de mulheres que apresentaram determinadas queixas, dentre o
universo amostral N= 375; a porcentagem apresentada também está relacionada ao N.
** O valor p foi calculado segundo vitimização das mulheres, informando análise das
diferenças observadas entre vítimas e não-vítimas.
Ao analisarmos os antecedentes de saúde por subgrupos, percebe-se que as mulheres
vítimas de violência possuem uma maior morbidade, registrando neste grupo uma maior
prevalência de câncer (100,0%), de DST’s (66,7%), de diabetes mellitus (63,7%), de cirurgias
pélvicas (58,5%), de hipertensão (56,2%) e de doenças ósseas/articulares (55,8%).
Em relação a estas condições de saúde, pode-se afirmar que as mulheres vítimas de
violência estão mais expostas às doenças infecciosas, pois as viroses e as doenças
sexualmente transmissíveis apresentaram significância estatística, com um valor de p de 0,001
e 0,00, respectivamente.
14
A este respeito, vale ressaltar possível subnotificação destes números, tendo em vista que estes dados estão
relacionados à presença do diagnóstico médico; portanto, na prática, ouvia-se muitas queixas relacionadas à
DST’s, bem como queixas ginecológicas, mulheres hipertensas e diabéticas sem acompanhamento médico, sem
contar com a ausência de investigação para estas e outras co-morbidades, tendo em vista que esta população
constitui-se numa área descoberta pela Estratégia de Saúde da Família -ESF, não possuindo referência de
atenção básica em saúde; inclusive, foi uma queixa bastante freqüente registrada durante a coleta de dados desta
pesquisa.
61
4.3.3 Queixas de Saúde
Em relação às queixas de saúde referidas, as mesmas foram categorizadas em dois
grupos sintomatológicos: os sintomas físicos e os sintomas psíquicos. Os sintomas físicos
apresentaram prevalências ligeiramente mais elevadas do que os sintomas psíquicos.
Entre os sintomas sicos, as queixas mais prevalentes, de modo geral, foram dores nos
membros inferiores (70,9%), cefaléia (69,3%), lombalgia (60,0%), irritação oftalmológica
(53,9%), dores nos membros superiores (53,3%), seguidos de dores na garganta (42,9%).
Referentes aos sintomas psíquicos, o nervosismo (63,5%), o esquecimento (53,1%), o
choro freqüente (42,1%) e a insônia (42,1%) foram as queixas mais freqüentes, que
apresentaram maior percentual entre as mulheres do Calafate.
Ao se fazer a análise por subgrupos, observou-se prevalências mais elevadas entre as
mulheres vítimas de violência doméstica, como se na tabela 7, especialmente com relação
aos sintomas psíquicos.
Quanto às queixas físicas, por exemplo, destaca-se entre as vítimas de violência uma
prevalência considerável de sintomas otorrinolaringológicos, como perda temporária da voz
(70,8%), rouquidão (63,7%), diminuição da audição (62,3%), zumbido (61,9%) e tontura
(59,1%). Além destes, apresentaram distúrbios gastrintestinais (60,5%), parestesias de
membros inferiores (59%), irritações nos olhos (55,5%)
Ao se observar o valor de ‘p’, percebe-se que as diferenças nas prevalências de dores
nos membros inferiores, irritação oftalmológica, distúrbios gastrintestinais, rouquidão,
diminuição da audição e perda temporária da voz entre as mulheres que sofrem violência
doméstica e as que não sofrem foram estatisticamente significantes.
Quanto aos sintomas psíquicos, percebeu-se que as mulheres vítimas apresentam
sintomas somáticos como agressividade (69,1%), compulsividade (66,3%), choro freqüente
(64,6%) e nervosismo (59,7%). Nervosismo, esquecimento, choro freqüente, tontura,
agressividade e compulsividade foram as queixas psíquicas que apresentaram diferenças
estatisticamente significante entre os grupos estudados (tabela 7).
Além disso, todas estas manifestações, tanto físicas quanto psíquicas, são de extrema
importância para compreendermos a labilidade emocional na qual as mulheres se encontram,
62
de maior vulnerabilidade, não só de doenças físicas, mas principalmente psíquicas e/ou
psicológicas.
Tabela 7 Prevalências de sintomas físicos e psíquicos entre as mulheres do Calafate,
segundo queixas de saúde auto-referidas. Calafate. Salvador, Bahia, Brasil,
2008.
Queixas de saúde
n*
%
Vítimas
n %
Não-Vítimas
n %
p
Sintomas físicos
Dores nos Membros Inferiores
266
70,9
144 54,2
122 45,8
0,04
Cefaléia
260
69,3
124 47,7
136 52,3
0,08
Lombalgia
225
60,0
112 49,8
113 50,2
0,67
Irritação Oftalmológica
202
53,9
112 55,5
90 44,5
0,04
Dores nos Membros Superiores
200
53,3
106 53,0
94 47,0
0,33
Dor de garganta
161
42,9
76 47,2
85 52,8
0,25
Tontura
149
39,7
88 59,1
61 40,9
0,01
Irregularidade na menstruação
133
35,5
73 54,9
60 45,1
0,23
Parestesia em Membros Inferiores
127
33,9
75 59,0
52 41,0
0,20
Distúrbios Gastrintestinais
119
31,7
72 60,5
47 39,5
0,01
Zumbido
105
28,0
65 61,9
40 38,1
0,07
Fraqueza
102
27,2
58 56,9
44 43,1
0,14
Rouquidão
77
20,5
,5
49 63,7
28 36,3
0,01
Diminuição da acuidade auditiva
61
16,3
38 62,3
23 37,7
0,04
Disfonia
41
10,9
29 70,8
12 29,2
0,00
Sintomas psíquicos
Nervosismo
238
63,5
142 59,7
96 40,3
0,00
Esquecimento
199
53,1
112 56,3
87 43,7
0,02
Choro frequente
158
42,1
102 64,6
56 35,4
0,00
Insônia
158
42,1
86 54,5
72 45,5
0,21
Agressividade
139
37,1
96 69,1
43 30,9
0,00
Cansaço mental
138
36,8
74 53,6
64 46,4
0,38
Sonolência
128
34,1
67 52,4
61 47,6
0,64
Agitação
111
29,6
61 55,0
50 45,0
0,28
Inapetência
109
29,1
61 56,0
48 44,0
0,19
Dificuldade de memória
90
24,0
47 52,3
43 47,7
0,73
Compulsividade
77
20,5
51 66,3
26 33,7
0,00
4.3.4 Estilo de Vida
Quanto ao estilo de vida entre as mulheres do Calafate, foram analisadas as seguintes
categorias: práticas de atividade física, atividades de lazer, etilismo e tabagismo.
63
No que diz respeito à variável atividade física
15
, que se apresenta estatisticamente
significante (p =0,02), fica evidente ao analisarmos o gráfico 5, que a grande maioria das
mulheres, um percentual significativo de 62,7%, nunca exerceu nenhuma atividade física;
seguida de 26% de mulheres que a exercem com pouca freqüência (às vezes) e uma pequena
minoria que a exerce com média (5,1%) ou alta freqüência (4,0%).
0
50
100
150
200
250
Nunca
Sempre
Quase sempre
As vezes
62,7%
4,0%
5,1%
26%
Gráfico 5 Condições das mulheres do Calafate, segundo prática de atividades físicas.
Calafate, Salvador Bahia. Brasil, 2008. (N= 375)
Pode-se inferir, portanto, que o sedentarismo apresentou-se com elevada freqüência na
população estudada e que, mesmo dentre aquelas que praticam algum tipo de atividade física,
a exerciam esporadicamente.
Quanto à prática de lazer existente entre as mulheres do Calafate, foram percebidas
certas limitações, principalmente no tocante às condições financeiras e ao fato de se
perceberem como população marginalizada. Muitas justificavam o fato de não possuírem
poder econômico para realizar, por exemplo, viagens, passeios, ou coisas mais simples, como
ir à praia, a shopping, etc.
Assim, assistir televisão e ouvir rádio foram as duas atividades mais referidas como
lazer entre o grupo, com 63,2% e 51,5%, respectivamente. Outras atividades como ir à praia,
15
Aqui foi considerada como a atividade na qual a mulher praticasse pelo menos três vezes por semana, com a
finalidade única de exercício ao corpo, evitando-se o sedentarismo. Não foram consideradas, portanto, atividades
inerentes ao dia-a-dia, como as tarefas domésticas, subir e descer as ladeiras e escadarias do bairro, dentre outras
64
viajar/passear e o uso da internet foram também citados, mesmo que em menor freqüência,
como mostra a tabela a seguir.
Tabela 8 Prática de lazer existente entre as mulheres do Calafate. Calafate, Salvador
Bahia. Brasil, 2008. (N= 375)
Práticas de Lazer
n
%
Assistir TV
237
63,2
Ouvir rádio
193
51,5
Ir à praia
132
35,2
Viajar/ passear
103
27,5
Uso da Internet
88
23,5
Dançar
66
17,6
Fazer atividades artesanais
45
12,0
Ir ao Shopping
27
7,2
Fazer caminhadas
27
7,2
Em relação a tais variáveis, que envolvem a prática de atividades de lazer, ao se fazer a
análise por subgrupos, não houve diferenças significantes. Tanto as mulheres vítimas como as
não vítimas apresentaram perfis semelhantes a este respeito.
Dados relevantes estão apresentados na tabela 9, na qual as freqüências de etilismo e
tabagismo foram muito mais elevadas entre vítimas de violência do que entre as demais
mulheres; dentre as mulheres que fumam, 72,1% são vítimas de violência.
Tabela 9 Freqüência de etilismo e tabagismo segundo ocorrência de violência
doméstica entre as mulheres do Calafate. Calafate. Salvador, Bahia,
Brasil, 2008.
Estilo de Vida
n
%
Vítimas
n %
Não-Vítimas
n %
valor de
p
Tabagismo (N= 374)
0,003
Fumante
43
11,5
31 16,3
12 6,5
Ex-fumante
52
13,9
30 15,8
22 12,0
Nunca fumou
279
74,6
129 67,9
150 81,5
Etilismo (N= 373)
0,004
Etilista
189
50,7
110 58,0
79 43,2
Ex-etilista
75
20,1
38 20,0
37 20,0
Nunca bebeu
109
29,2
42 22,0
67 36,6
65
Em relação ao consumo do álcool, dentre um total de 189 mulheres etilistas, 58,2% são
mulheres violentadas. A freqüência de tabagismo entre as mulheres violentadas foi muito
mais elevada (58,2% contra 43,2%), na qual as diferenças alcançaram nível de significância
estatística.
4.4 VIOLÊNCIA
4.4.1 Ocorrência de Violência entre as Mulheres do Calafate
Como mencionado, na amostra total estudada (N= 375), 190 mulheres, que
corresponde a um percentual de 51,0%, referiram sofrer algum tipo de violência, como mostra
o gráfico abaixo.
Gráfico 6 Ocorrência de violência doméstica entre as mulheres do Calafate. Calafate.
Salvador, Bahia, Brasil, 2008. (N = 375)
Porém, é importante ressaltar que os números revelados podem estar subnotificados, vez
que, para esta variável, foi considerada como vítima quando a condição de violência era auto-
referida, ou seja, quando a mulher entendia que determinadas atitudes, como puxões de
cabelo, rebaixamento de auto-estima, ameaça, humilhações, entre outras, são situações que
caracterizam a violência.
Além deste aspecto, um outro que se apresenta como limite deste estudo, é o fato da
pesquisa ter sido realizada na casa das próprias mulheres, onde alguma delas pode não ter se
sentido à vontade para responder fidedignamente as situações de violência vividas, seja pela
66
presença dos familiares, vizinhos, e mesmo pela pesquisadora. também que se considerar
aquelas que não se sentem, de nenhuma forma, à vontade para falar sobre seu cotidiano, em
especial, um cotidiano normalmente velado.
4.4.2 Caracterizando a situação de violência
Em relação às formas de expressão da violência vivida, as mais freqüentemente citadas
foram as agressões verbais (81,2%) seguida da violência psicológica (61,3%) e as agressões
físicas (42,9%).
Tabela 10 Distribuição percentual das formas de expressão da violência sofridas pelas
mulheres do Calafate. Salvador Bahia. Brasil, 2008.
Formas de expressão da violência
n*
%
Violência Verbal
155
81,2
Violência Psicológica
117
61,3
Violência Física
82
42,9
Violência Patrimonial
18
9,4
Violência Sexual
15
7,9
Omissões
16
12
6,3
* Este n corresponde ao número de mulheres vítimas de violência, o qual, nesse
estudo corresponde a 190.
Dentre as que sofrem violência, 42,9% relataram sofrer agressão física; dentre estas,
destacam-se agressões em face, cabeça, tórax, membros superiores, inferiores, conforme
ilustra o gráfico 7. A face, por exemplo, representa o local mais atingido com 38,2%, seguido
dos membros superiores (32,9%), da cabeça (23%), tórax (13,4%) e o abdome (9,8%).
Esse achado é semelhante aos outros estudos que analisaram lesões decorrentes de
violência domésticas, na qual a incidência é muito mais significante em locais mais visíveis,
geralmente, do tórax para cima.
16
Segundo critérios definidos por Minayo (2005), mencionar negligência e omissão explicitamente como formas
de violência, separando-as de violência psicológica, é um passo fundamental para se desnaturalizar processos
estruturais e atitudes de poder que se expressam em ausência de proteção e cuidados, dentre outras situações,
responsáveis pela perenidade de hábitos econômicos, políticos, culturais e crueldades que aniquilam os outros ou
diminuem suas possibilidades de crescer e se desenvolver.
67
Gráfico 07 Porcentual do local das agressões físicas ocorridas entre as mulheres
vítimas de violência doméstica. Calafate, Salvador Bahia. Brasil,
2008. (N =190)
4.4.3 Perfil da Violência
Quanto às características relacionadas ao perfil da violência, estudaram-se variáveis
quanto à figura do agressor, freqüência das agressões, período no qual as mulheres sofriam
violência, local das agressões físicas, horário mais comum da violência, formas de
enfrentamento à violência e os motivos que desencadearam situações de violência, na visão
das entrevistadas.
Além de apresentarmos os sentimentos femininos prevalentes diante as agressões e os
motivos que fazem estas mulheres permanecerem neste ciclo de violência, mostra-se também
as instituições integradas à Rede de Atenção à Mulheres Vítimas de Violência mais
procuradas.
É importante ressaltar em relação às informações contidas no próximo gráfico que, entre
as figuras do agressor, destacaram-se os maridos/companheiros, ex-maridos/ex-companheiros
e namorados/ex-namorados, representando um total de 58% dos casos de violência,
confirmando assim, a existência da violência conjugal, sendo o parceiro o elemento que mais
predomina entre os agressores.
68
Gráfico 8 Identificação do agressor, segundo ocorrência de violência doméstica entre
as mulheres do Calafate. Salvador, Bahia, Brasil, 2008. (N = 190)
Assim, observa-se que a relação estabelecida entre o agressor e a mulher vítima é
sempre com alguém conhecido, do seu convívio: 35% dos agressores são seus companheiros
atuais (maridos ou namorados) e 23% dos seus ex-companheiros (ex-maridos e ex-
namorados), que, em sua grande maioria, não aceita o fim do relacionamento, ou outras
questões que estão imbricadas nesta, sustentadas pelas idéias do patriarcado, na qual o homem
detém o poder, a ordem e a mulher assume os papéis de subordinada e de obediente.
A figura dos demais agressores é constituída pelo padrasto, irmão, mãe, vizinho,
primos, colegas de trabalho, colegas de escola, porém, alguém sempre do seu convívio
familiar e/ou social, configurando a existência da violência intrafamiliar. Essas pessoas
totalizam um percentual de 42%, entre os agressores das mulheres do Calafate.
Esses dados salientam a presença do vínculo entre a vítima e o seu agressor, seja na
violência conjugal ou intrafamiliar, e daí entende-se a permanência desta situação a
violência e a relação de co-dependência desta mulher, seja a dependência financeira,
emocional, suporte social, com este homem, mesmo ele sendo o agressor.
Em relação à freqüência das agressões, um achado que nos chama atenção é o tempo
médio em que as mulheres vinham sofrendo a violência doméstica, no qual se observou
predominância daquelas que são vitimizadas mais de 10 anos, com 27,2% (como se no
gráfico 9), seguido de mais de 2 anos (21,5%) e de mais de 5 anos (19,9%).
69
Gráfico 9 Tempo médio em que as mulheres estão submetidas à violência doméstica.
Calafate, Salvador Bahia. Brasil, 2008. (N = 190)
Nota-se que o período de vitimização é muito longo, revelando que as mulheres não
conseguem, em sua grande maioria, sair deste ciclo de violência, principalmente quando o
agressor é alguém conhecido.
Assim, a permanência desta mulher em situação de violência, por envolver períodos
longos, acaba neutralizando as conseqüências destas agressões, que se manifestam em
sintomas psíquicos e físicos, como vimos anteriormente, podendo haver seqüelas mais
drásticas, se não forem acompanhadas por um profissional, seja ele da área de saúde, da área
jurídica, entre outros.
No que se refere à freqüência dos atos violentos, os dados ilustrados no gráfico 10,
mostram a relevância quanto à constância da violência: 33% sofriam violência pelo menos 1
vez por semana; 23% pelo menos 2 ou 3 vezes por semana e 20,9% referiram sofrer atos
violentos todos os dias e 19,9% referiram sofrer violência pelo menos uma vez por mês.
Os atos violentos e/ou agressivos, portanto, faziam parte do cotidiano, numa freqüência
bastante expressiva.
70
3,1%
23,0%
33,0%
19,9%
20,9%
01 vez/semana 02 ou 03 vezes/semana 04 ou 05 vezes/semana
Todos os dias 1 vez / mês
Gráfico 10 Freqüência semanal das agressões entre as mulheres vítimas de violência
doméstica. Calafate, Salvador Bahia. Brasil, 2008. (N = 190)
No que diz respeito aos dias em que ocorria a violência doméstica entre as mulheres do
Calafate, era mais significativo nos finais de semana (56%), seguidos pelos dias úteis (35%);
ainda existiram aquelas que referiam ser vítimas de violência todos os dias, independente do
dia da semana (9,0%), como ilustra o gráfico 11, a seguir.
Gráfico 11 Dias de semana mais comum de ocorrência de violência entre as mulheres
vítimas do Calafate, Salvador Bahia. Brasil, 2008. (N = 190)
71
Quanto aos horários em que sofrem violência, o período predominante foi o da noite
(incluindo também o período da madrugada) representando quase metade dentre as
ocorrências de violência, somando 45%. O segundo período mais prevalente foi variável
(42%), ou seja, estas mulheres referiram ser violentadas em todos os períodos do dia, não
havendo, para elas, maior destaque entre a noite, a tarde ou manhã (gráfico 12).
Gráfico 12 Horários da ocorrência de violência entre as mulheres vítimas do Calafate,
Salvador Bahia. Brasil, 2008. (N = 190)
Quanto ao enfrentamento das mulheres frente às agressões sofridas, percebe-se que a
atitude passiva tem sido a conduta mais adotada entre 35,1% delas; outras ainda referiram
revidar à violência com agressividade verbal (37,7%) ou agressividade física (25,7%) e uma
parcela de 1,6% citaram a auto-piedade como a conduta mais adotada perante a violência.
Gráfico 13 Sentimentos prevalentes entre as mulheres vítimas diante da violência
doméstica. Calafate, Salvador Bahia. Brasil, 2008. (N= 190)
72
Os sentimentos das vítimas que aparecem com maior intensidade são o de raiva (75,9%)
e tristeza (74,9%), seguidos de sentimentos como solidão (48,7%), medo (39,8%) e desespero
(32,5%), como vemos no gráfico 13. Os sentimentos menos relatados foram ansiedade
(27,7%), impotência diante da violência (25,7%) e auto-piedade (6,8%), sendo este último
uma conduta também adotada entre as mulheres, como vimos anteriormente.
Quanto aos aspectos reativos, que desencadeiam as situações de violência, os episódios
de ciúmes foram os mais frequentes (42,6%), seguido do uso abusivo de álcool (41,1%) e da
falta de dinheiro (35,8%) que, para as mulheres, ocasionava preocupação, agressividade,
descontrole por parte do agressor.
Tabela 11 Motivos que desencadeiam a violência que vitimiza as mulheres do
Calafate. Salvador- Bahia, Brasil, 2008.
Desencadeadores da Violência
n*
%
Ciúmes
81
42,6
Álcool
78
41,1
Falta de dinheiro
68
35,8
Desemprego
48
25,3
Drogas
34
17,9
Traição
18
9,5
* Este n corresponde às mulheres que referiram determinadas situações,
dentre o N total de mulheres vítimas de violência neste estudo (N = 190).
Outros fatores que foram menos frequentes, mas, no entanto, referidos entre as
entrevistadas foram o desemprego (25,3%), o uso de drogas ilícitas (17,9%) e traição (9,1%),
como ilustra a tabela 11, adescrita.
Quando questionadas quanto aos motivos que influenciavam a sua permanência na
situação de violência, diversos fatores foram apontados, como se na tabela 12, a seguir; o
mais frequente foi o fato de acreditar na melhora (42,8%), seguido por razões econômicas
(35,3%); outros fatos mencionados foram: por não poder deixar os filhos (30,5%) e o amor ao
companheiro agressor (29,9%).
Outros aspectos citados foram: não ter para onde ir caso precisasse livrar-se do agressor,
por perdão, por medo, por respeito à família (da vítima ou mesmo do agressor); em outros
casos, a mulher se sente ameaçada ou entende o casamento como algo sagrado e não seria
capaz de desvencilhar-se do companheiro, mesmo que para isso permaneça na situação de
violência (tabela 12).
73
Tabela 12 Motivos de permanência da mulher na situação de violência. Calafate.
Salvador Bahia, Brasil, 2008
Motivos
n*
%
Acredita na melhora
80
42,8
Razões econômicas
66
35,3
Não deixar os filhos
57
30,5
Amor ao companheiro
56
29,9
Não ter para onde ir
47
25,1
Perdão
46
24,6
Medo
40
21,4
Pela família
39
20,9
Ameaça
30
16,0
Casamento é sagrado
21
11,2
* Este n corresponde às mulheres que referiram determinadas situações, dentre o N total
de mulheres vítimas de violência neste estudo (N = 190).
A tabela 13, a seguir, mostra o tipo de ajuda utilizado entre as mulheres vítimas de
violência: um percentual significativo (44%) não buscaram nenhum tipo de ajuda. Dentre
aquelas que buscaram algum tipo de auxílio, foi mais prevalente a procura entre a própria
família (28,8%), seguida de amigos (22,5%) e vizinhos (9,9%).
Tabela 13 Busca de ajuda na Rede de Apoio à Mulher Vítima de Violência entre as
mulheres do Calafate. Salvador Bahia, Brasil, 2008
Ajuda
n*
%
Nenhuma
84
44,0
Família
54
28,8
Amigos
43
22,5
Vizinhos
19
9,9
Policial
17
8,9
Atendimento médico
17
8,9
DEAM
16
8,4
CMC
12
6,3
Justiça
11
5,8
Segurança Pública
07
3,7
Psiquiátrico
04
2,1
IPERBA
01
0,5
* Este n corresponde às mulheres que referiram determinadas situações, dentre o N total
de mulheres vítimas de violência neste estudo (N = 190).
Dentre os dados observados, chama atenção a baixa procura por serviços que integram a
Rede de Atenção às Mulheres Vítimas de Violência. O CMC apresentou uma procura de
6,3%.
74
Dentre os serviços que foram menos procurados estão: a justiça (5,8%), segurança
pública (3,7%), casos de atendimentos psiquiátricos (2,1%) e atendimento no Instituto de
Perinatologia da Bahia - Iperba (0,5%), hospital público da cidade de Salvador, que constitui-
se numa instituição especializada em tocoginecologia e neonatologia, sendo também
referência no atendimento às mulheres vítimas de violência sexual, procedendo a interrupção
da gravidez em situações de estupro.
4.5 DEPRESSÃO
4.5.1 Prevalência Global de Depressão
Para investigar a presença de sintomatologia depressiva entre as mulheres do Calafate,
como referido na metodologia, adotou-se o BDI. Para tanto, encontrou-se uma prevalência
global de depressão de 51,5% (n=193).
4.5.2 Depressão e Violência Doméstica
Ao associar a ocorrência de depressão com violência doméstica, percebe-se que entre as
mulheres vítimas de violência, 75,3% apresentam depressão e dentre as mulheres não-vítimas,
27% de depressão (p valor < 0,000, RP = 2,79 e IC 95%=2,23-3,69).
Gráfico 14 Associação entre depressão e violência doméstica entre as mulheres do
Calafate. Salvador Bahia. Brasil, 2008. (N = 375)
75
As mulheres vítimas de violência doméstica apresentaram prevalência quase três vezes
maior (RP=2,79) de ser acometida por esta morbidade psíquica, que é a depressão.
Observando-se a relação entre depressão e violência doméstica, percebe-se que escores
mais elevados de depressão estão presentes entre aquelas que sofrem violência doméstica.
Entre mulheres que não sofrem violência doméstica, a grande maioria obteve níveis
mínimos de depressão, enquanto que as vítimas de violência mantiveram média na
classificação moderada. Dentre aquelas que apresentam nível grave de depressão, ressalta-se
que 79,2% sofrem violência doméstica, como se vê ilustrado na tabela abaixo.
Tabela 14 Distribuição da violência doméstica e níveis de depressão entre as
mulheres do Calafate. Salvador Bahia, 2008
Níveis de
depressão
n
%
Vítimas
n %
Não-Vítimas
n %
RP
Nível mínimo
148
39,5
38 20,0
110 59,5
0,34
Nível leve
99
26,4
58 30,5
41 22,2
1,40
Nível moderado
104
27,7
75 39,5
29 15,7
2,52
Nível grave
24
6,4
19 10,0
05 2,6
3,9
Total
375
100,0
190 100,0
185 100,0
Na comparação intergrupo de vitimização, observa-se que entre as mulheres vítimas de
violência, foram obtidos escores mais elevados de depressão e significância estatística (p
<0,000), com intervalo de confiança de 2,22 a 3,69.
Na tabela acima ainda fica evidente que a razão de prevalência entre as mulheres
expostas (vítimas de violência doméstica) é crescente em relação ao nível de severidade da
depressão.
4.5.3 Análise dos Sintomas Depressivos
Dentre a sintomatologia apresentada pelo BDI, ao se analisar os dados contidos dentre
as respostas das mulheres do Calafate, foi possível elencá-los nos seguintes grupos
17
de
sintomas, em ordem decrescente:
17
Estes grupos de sintomas estão definidos no Manual da versão em português das escalas Beck (Cunha, 2001) e
para cálculos destas sintomatologias, foram consideradas todas as respostas positivas na escala de Beck, entre
mulheres vítimas e não vítimas.
76
1) Agitação ou retardo psicomotor:
Irritabilidade (82,1%);
2) Fadiga ou perda de energia:
Fatigabilidade (77,6%) e Dificuldade de trabalhar (37,8%);
3) Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva:
Auto-acusações (70,2%), Auto-aversão (41,1%), Punição (38,3%), Culpa (36,8%) e
Sentimento de fracasso (35,7%);
4) Insônia ou hipersonia:
Insônia (69,3%);
5) Humor deprimido:
Tristeza (63,5%), Preocupações somáticas (63,5%) e Choro (53,6%);
6) Capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se, indecisão:
Indecisão (58,6%);
7) Perda de interesse ou prazer:
Pessimismo (55,7%), Insatisfação (54,6%), Perda da libido (44,3%), Mudança na auto-
imagem (42,7%) e Retraimento social (40,6%);
8) Perda de peso, diminuição ou aumento de apetite:
Perda de peso (38,1%) e Perda de apetite (30,4%);
9) Pensamentos de morte recorrentes:
Idéias suicidas (24,9%).
Realizando-se análises por subgrupos, como mostra a tabela 15, a seguir, percebe-se que
para muitas sintomatologias as prevalências foram mais elevadas entre as mulheres vítimas de
violência doméstica, na qual as diferenças foram estatisticamente significantes.
Cabe destacar que os termos utilizados na descrição das sintomatologias foram
extraídos do BDI, fazendo-se pequenas adequações lingüística, em se tratando de população
feminina .
Para os grupos sintomatológicos descritos, vale destacar irritabilidade, auto-acusações,
tristeza, pessimismo, insatisfação, mudança na auto-imagem, culpa e idéias suicidas, como
aqueles estatisticamente associados à vitimização das mulheres.
77
Tabela 15 Sintomatologia apresentada pela mulheres do Calafate, segundo critérios do
Inventário de Beck e vitimização da violência doméstica. Salvador Bahia.
Brasil, 2008
Sintomatologia
n*
%
Vítimas
n %
Não-Vítimas
n %
p
RP
Irritabilidade
Aborrecida ou irritada mais facilmente
164
43,7
93 56,7
71 43,3
0,04
1,31
Sente-se irritado o tempo todo
83
22,1
66 79,5
17 20,5
0,00
3,90
Não se irrita mais
61
16,3
33 54,1
28 45,9
0,56
1,18
Fatigabilidade
Cansa-se com mais facilidade
209
55,7
106 50,7
103 49,3
0,98
1,02
Sente-se cansada o tempo todo
77
19,5
51 66,3
22 33,7
0,00
1,96
Cansada demais para fazer alguma coisa
09
2,4
03 33,3
06 66,7
0,29
0,50
Auto-acusações
Critica-se por suas fraquezas ou erros
151
40,3
92 60,9
59 39,1
0,00
1,56
Culpa-se sempre por suas falhas
90
24,0
52 57,8
38 42,2
0,12
1,37
Culpa-se por tudo de mau que acontece
22
5,9
16 72,7
06 27,3
0,02
2,66
Insônia
Não dorme tão bem quanto costumava
129
34,4
76 58,9
53 41,1
0,02
1,43
Acorda e tem dificuldade de voltar a dormir
93
24,8
62 66,7
31 33,3
0,00
2,00
Acorda várias horas mais cedo
38
10,1
20 52,6
18 47,4
0,80
1,11
Tristeza
Sente-se triste
162
43,2
107 66,0
55 34,0
0,00
1,94
Sente-se sempre triste
63
16,8
57 90,5
06 9,5
0,00
9,53
Sente-se tão triste ou infeliz que não suporta
13
3,5
10 76,9
03 23,1
0,05
3,32
Preocupações somáticas
Está preocupada com problemas físicos
156
41,6
74 47,5
82 52,5
0,30
0,90
Está muito preocupada com problemas físicos
51
13,6
31 60,8
20 39,2
0,12
1,55
Tão preocupada que não pensa em nada
31
8,3
18 58,1
13 41,9
0,39
1,38
Indecisão
Adia as tomadas de decisões
83
22,1
54 65,1
29 34,9
0,00
1,86
Tem mais dificuldade em tomar decisões
114
30,4
74 64,9
40 35,1
0,00
1,85
Não consegue mais tomar decisões
23
6,1
13 56,5
10 43,5
0,51
1,30
Pessimismo
Sente-se desanimada quanto ao futuro
118
31,5
76
64,4
42 35,6
0,00
1,80
Acha que nada tem a esperar
53
14,1
42 79,3
11 29,7
0,00
2,67
Futuro sem esperança e nada tem a melhorar
38
10,1
28 73,7
10 26,3
0,00
2,80
Insatisfação
Não sente mais prazer nas coisas como antes
132
35,2
91 68,9
41 31,1
0,00
2,21
Não encontra um prazer real em mais nada
32
8,5
24 75,0
08 25,0
0,00
3,00
Está insatisfeita ou aborrecida com tudo
41
10,9
28 68,3
13 31,7
0,02
2,15
Choro
Chora mais agora do que costumava
121
32,3
75 62,0
46 38,0
0,00
1,63
Chora o tempo todo
42
11,2
32 76,2
10 23,8
0,00
3,20
Não consegue mais chorar
38
10,1
24 63,0
14 37,0
0,10
1,70
Perda da libido
Esta menos interessada em sexo
91
24,3
59 64,8
32 35,2
0,00
1,84
Está muito menos interessada em sexo
38
10,1
25 65,8
13 34,2
0,05
1,92
Perdeu completamente o interesse em sexo
37
9,9
23 62,2
14 37,8
0,14
1,65
Mudança na auto- imagem
Preocupa-se em parecer velha ou sem
atrativo
76
20,3
52 68,4
24 31,6
0,00
2,16
Mudanças permanentes na aparência
48
12,8
31 64,6
17 35,4
0,04
2,05
Acredita que pareça feia
36
9,6
28 77,8
08 22,2
0,00
3,50
78
Continuação da Tabela 15 Sintomatologia apresentada pela mulheres do Calafate,
segundo critérios do Inventário de Beck e vitimização da violência
doméstica. Salvador Bahia. Brasil, 2008
Sintomatologia
n*
%
Vítimas
n %
Não-Vítimas
n %
p
RP
Auto-aversão
Sente-se decepcionada consigo mesma
139
37,1
90 64,8
49 35,2
0,00
1,84
Sente-se enojada de si mesma
08
2,1
06 75,0
02 25,0
0,16
3,00
Ela se odeia
07
1,9
06 85,8
01 14,2
0,06
6,04
Retraimento social
Está menos interessado pelas outras pessoas
100
26,7
60 60,0
40 40,0
0,03
1,50
Perdeu a maior parte do interesse pelas
pessoas
33
8,8
17 51,5
16 48,5
0,92
1,06
Perdeu todo o interesse pelas outras pessoas
19
5,1
09 47,4
10 52,6
0,77
0,90
Perda de peso
Perdeu mais de dois quilos e meio
98
26,1
51 52,0
47 48,0
0,75
1,08
Perdeu mais de cinco quilos
22
5,9
11 50,0
11 50,0
0,95
1,00
Perdeu mais de sete quilos
23
6,1
12 52,2
11 47,8
0,88
1,09
Punição
Acha que pode ser punida
44
11,7
23 52,3
21 47,7
0,82
1,10
Crê que será punida
20
5,3
09 45,0
11 55,0
0,60
0,82
Acha que está sendo punida
80
21,3
65 81,3
15 18,7
0,00
4,35
Dificuldade de trabalhar
Precisa de esforço extra para trabalhar
80
21,3
50 62,5
30 37,5
0,02
1,67
Tem que se esforçar muito para trabalhar
60
16,0
41 68,3
19 31,7
0,00
2,15
Não consigo mais fazer trabalho algum
02
0,5
02 100,0
00 00
0,16
00
Culpa
Sente-se culpada grande parte do tempo
86
22,9
57 66,3
29 33,7
0,00
1,97
Sente-se culpada na maior parte do tempo
25
6,7
23 92,0
02 8,0
0,00
11,5
Sente-se sempre culpada
27
7,2
21 77,8
06 22,2
0,00
3,50
Sentimento de fracasso
Fracassou mais do que uma pessoa comum
77
20,5
64 83,2
13 16,8
0,00
4,95
Sua vida um monte de fracasso
44
11,7
36 81,8
08 18,2
0,00
4,50
Como pessoa, é um completo fracasso
13
3,5
10 76,9
03 23,1
0,05
3,33
Perda do apetite
O apetite não é tão bom quanto costumava
80
21,3
44 55,0
36 45,0
0,38
1,22
O apetite está muito pior agora
27
7,2
14 51,9
13 48,1
0,90
1,08
Não tem mais nenhum apetite
07
1,9
03 42,9
04 57,1
0,68
0,75
Idéias Suicidas
Tem tido idéia de se matar, mas não a executa
58
15,5
39 67,3
19 32,7
0,00
2,06
Gostaria de se matar
25
6,7
22 88,0
03 12,0
0,00
7,34
Suicidaria se tivesse oportunidade
10
2,7
07 70,0
03 30,0
0,22
2,34
79
4.5.4 Análise Estratificada
Dentre as características sociodemográficas analisadas, as co-variáveis idade, raça/cor,
situação conjugal, escolaridade, trabalho e renda não revelaram interação estatística com a
associação principal aqui avaliada.
Constatou-se na etapa de análise estratificada que a situação conjugal, o fato da mulher
ter companheiro, aumentou a magnitude do efeito da violência sobre a ocorrência de
depressão nas mulheres, em nível estatisticamente significante, revelando tal co-variável
como um possível modificador de efeito para a associação principal investigada, detalhada na
tabela 16.
Desta forma, após afastar-se a possibilidade de interação estatística, as demais co-
variáveis foram testadas quanto ao confundimento da associação principal e não se mostraram
potenciais modificadoras.
Tabela 16 Análise estratificada da associação entre violência doméstica e depressão
segundo características sóciodemográficas entre as mulheres do Calafate,
Salvador- Bahia. Brasil, 2008.
Variáveis
Associação Bruta
N
375
RP
2,78
IC 95%
2,17 3,58
p
18
Idade (em anos)
0,49
14 a 29
191
2,58
1,90- 3,58
30 a 49
184
3,07
2,10-4,55
RP ajustada
2,80
2,18-3,60
Raça /Cor
0,48
Branca
29
2,14
0,97-4,71
Negra/parda
332
2,85
2,17-3,75
Outras
10
7,0
1,14- 42,9
RP ajustada
2,84
2,19-3,66
Situação Conjugal
0,03
Casada
178
3,91
2,50-6,20
Solteira
197
2,23
1,65-3,03
RP ajustada
2,82
2,20-3,65
Escolaridade
0,18
< de 8 anos de estudo
94
2,21
1,65-3,03
>8 anos de estudo
281
3,12
2,30-4,28
RP ajustada
2,82
2,18-3,61
Trabalho
0,29
Sim
166
3,34
2,15-5,20
Não
209
2,50
1,85-3,38
RP ajustada
2,80
2,18-3,60
Renda (em salário mínimo)
0,49
1
143
2,38
1,65-3,40
>1
207
3,08
2,12-4,50
RP ajustada
2,78
2,17-3,58
18
O valor de p nesta tabela refere-se ao teste de homogeneidade.
80
4.5.5 Análise de Regressão Logística Múltipla (ARLM)
Na análise de regressão logística, para inclusão/ exclusão de cada co-variável no modelo
foram adotados critérios teóricos e estatísticos (nível de significância a 20%) com emprego do
teste de Razão de Máxima Verossimilhança. Como medida de associação entre violência e
depressão foi utilizada RP assumindo intervalo de confiança a 95%.
A presença de co-variáveis modificadora de efeito foi verificada usando teste de Razão
de Verossimilhança com estabelecimento de significância a 5%. Para aquelas variáveis não se
identificasse empiricamente a presença de modificação de efeito, o papel da variável de
confundimento foi avaliado conforme modelo preditivo empregando-se a estratégia backward
na análise de regressão logística do tipo não condicional.
Bases teóricas e empíricas foram consideradas para selecionar potenciais variáveis
confundidoras, assumindo como tal aquela que produzisse uma alteração de pelo menos 10%
na medida de associação (GREENLAND; MORGENSTERN, 2001).
O modelo de regressão logística incluiu, além da variável dependente (depressão) e da
variável independente principal (violência doméstica), as seguintes co-variáveis:
- Sociodemográficas
19
: renda, idade, situação conjugal;
- Condições gineco-obstétricas: ter filhos, número de abortos provocado;
- Estilo de vida: etilismo, tabagismo.
A modelagem permitiu avaliar simultaneamente a existência de interação classificando
a variável estado civil como modificadora de efeito da associação entre violência doméstica e
depressão para o grupo em estudo.
Para análise de confundimento, com a retirada de cada co-variável selecionada, avaliou-
se o efeito na associação principal investigada. Observou-se que, empiricamente, não se
confirmou nenhuma dessas co-variáveis como confundidora. No entanto, foram mantidas no
modelo de regressão logística as co-variáveis idade, renda, etilismo, tabagismo, presença de
filhos e aborto provocado sustentadas em critérios teóricos.
19
Dentre as co-variáveis sóciodemográficas, idade e renda foram mantidas como confundidoras, uma vez que
raça/cor, escolaridade e trabalho apresentaram colinearidade com renda familiar. Ao passo que a situação
conjugal foi classificada como modificadora de efeito.
81
Tabela 17 Análise de Regressão Logística
20
, razão de prevalência ajustada e intervalo
de confiança (95%) associação entre violência doméstica e depressão entre
as mulheres do Calafate, Salvador- Bahia. Brasil, 2008 (N = 375)
Modelo
RP
IC 95%
Bruto
2,78
2,17-3,58
Ajustado
2,60
1,99-3,40
Encontrou-se, com significância estatística, uma forte associação entre violência
doméstica e depressão entre as mulheres, mesmo após ajustamento pela co-variável
considerada confundidora neste estudo, como foi o estabelecimento de relação conjugal.
Ao final, estratificando-se por categorias do modificador de efeito - estado civil,
observou-se que as mulheres que possuem companheiro (casadas ou de união estável)
apresentaram maior prevalência de depressão (4,40 vezes) do que aquelas sem companheiro
(1,79), também com significância estatística, como mostra a tabela 18.
Tabela 18 Análise de Regressão Logística, Razões de prevalência ajustadas
21
, valor de
p e os respectivos intervalos de confiança a 95% para a associação entre
violência e depressão com a modificadora de efeito. Calafate, Salvador-
Bahia. Brasil, 2008 (N= 375)
20
Através do Modelo de Poisson os valores de Odds Ratios obtidos na Regressão Logística foram convertidos a
Razão de Prevalência ajustada por renda, idade, etilismo, tabagismo, ter filhos e aborto provocado.
21
Razões de Prevalência ajustadas por renda, idade, etilismo, tabagismo, filhos e aborto provocado.
Modificadora de efeito
N
RP
p
IC 95%
Com companheiro
178
4,40
0,000
2,77-6,95
Sem companheiro
195
1,79
0,002
1,08- 2,12
82
5 DISCUSSÃO
5.1 LIMITES DO ESTUDO
O principal limite deste estudo refere-se ao tipo de desenho adotado, qual seja, o estudo
corte transversal, pois este tipo de estudo apresenta duas limitações relevantes: a primeira,
refere-se ao viés de prevalência e a segunda, à dificuldade em esclarecer a seqüência causal.
Estudos transversais medem a prevalência, e não a incidência, tornando limitada a
informação produzida por este tipo de estudo no que diz respeito à história natural das
doenças e ao seu prognóstico.
O estudo pode fornecer, deste modo, informações distorcidas da realidade, visto que os
agravos à saúde de curta duração têm menos chances de aparecerem nos resultados. Ou seja,
nesta investigação não estão incluídas as evoluções, os óbitos ou curas, em conseqüência, as
pessoas identificadas como doentes são os sobreviventes e, portanto, o viés de sobrevivência
ou viés de prevalência não pode ser completamente afastado, devendo, assim, ser considerada
na avaliação dos achados obtidos aqui. (PINHO, 2006, p. 92)
Outra desvantagem está relacionada ao fato de que a exposição e o efeito são
mensurados em um mesmo ponto no tempo, o que torna difícil a identificação do momento da
exposição, ou seja, se esta precede o aparecimento da doença ou se a presença da doença
altera o grau de exposição a determinado fator. No entanto, para fatores que permanecem
inalterados no tempo, como sexo, raça e grupo sanguíneo, os estudos seccionais podem
oferecer evidência válida de uma associação estatística.
Assim, a maior desvantagem dos estudos transversais refere-se com à impossibilidade
de estabelecer relações causais por não provarem a existência de uma sequência temporal
entre exposição ao fator e o subseqüente desenvolvimento da doença.
Destarte, não se pode afirmar se a violência doméstica leva à ocorrência da depressão
ou se a própria depressão é que predispõe a mulher às situações de violência. Desta forma,
tais resultados devem ser analisados com maior atenção para que não se cometa o equívoco de
fornecer uma informação não fidedigna.
No entanto, o presente estudo obteve uma amostra representativa da população de
mulheres do Calafate, na zona periférica da cidade de Salvador, Bahia, dentro da estimativa
83
esperada: (esperado: 370, entrevistadas: 375), obedeceu a critérios de aleatoriedade, além de
estratificar proporcionalmente os censitários do bairro, o que reduz a possibilidade de terem
ocorrido erros sistemáticos na seleção da amostra estudada.
Outro tipo de viés que pode ser encontrado refere-se à ocorrência de violência
doméstica, na qual sugere-se que os números estão subnotificados, vez que durante a
realização do Projeto de Extensão na referida comunidade, percebia-se um maior número de
violência, além do estudo desenvolvido no bairro por Diniz e Souza (2007) que mostra um
número mais expressivo de violência.
Assim, dois aspectos merecem ser ressaltados: o primeiro quanto à percepção da própria
mulher acerca da violência, na qual ela pode não compreender que determinadas situações são
caracterizadas como violência; pelo fato de ser tão naturalizada e banalizada no cotidiano
desta mulher. O segundo refere-se à situação da mulher ter sido entrevistada em sua própria
residência, o que pode ter constrangido a entrevistada, levando-a a não informar sobre o
evento estudado.
Uma dificuldade adicional encontrada, apesar da pesquisadora e das bolsistas já estarem
envolvidas com atividades na comunidade algum tempo, foi a inserção dos entrevistadores
nos setores mais violentos, pois à época da coleta de dados, houve perseguições policiais no
bairro, seguidos de assassinatos em determinados setores censitários, onde o tráfico de drogas
ilícitas e a violência eram mais exacerbados, gerando certo desconforto e desconfiança por
nossa parte bem como da comunidade, mesmo que isso não tenha alterado o cronograma
previsto para a coleta.
5.2 CARACTERIZAÇÃO DAS VÍTIMAS
Quanto às características sociodemográficas citadas anteriormente, observa-se que as
mulheres vítimas são, essencialmente, adultas jovens com idade compreendida entre 20 a 39
anos, negras (91,1%), possuem mais de 8 anos de estudo (76,84%); não possuem nenhuma
atividade remunerada, são donas de casa, estudantes ou desempregadas (54,74%) e,
contraditoriamente, 58,6% recebem mais de 01 salário mínimo.
Vale ressaltar, portanto, que o foram encontradas diferenças estatisticamente
significantes, a 0,05, para estas características sociodemográficas, já que os dois grupos
apresentam certa homogeneidade no perfil observado.
84
Esses resultados são semelhantes a outros estudos sobre a mesma temática, nos quais se
encontrou um perfil da mulher vitimizada com ampla faixa etária, qual seja, de 15 aos 55
anos, nível sócio econômico baixo, sem apresentar relação entre a ocupação e a raça/cor.
(ADEODATO et al, 2005; BLAY, 2005; CREPSCHI, 2005 e RODRIGUES, 2006;
DANTAS-BERGER e GIFFIN, 2005; MARINHEIRO, 2003; RIVERA-RIVERA et al.,
2004; ROVINSKI, 2004).
Pesquisa desenvolvida pela OMS (2005) mostra que as mulheres mais jovens, sobretudo
com idade compreendida entre 15 e 19 anos têm maior risco de sofrer violência física ou
sexual, ou mesmo ambas, provocadas pelo companheiro; para isso, sustenta-se a idéia de que
as mulheres de maior idade possuem um status social mais elevado que as jovens, sendo,
portanto, menos vulneráveis à violência doméstica.
Corroboro com Rabello e Caldas Junior (2007) que, com relação aos estudos sobre
violência encontraram, geralmente, a maioria das mulheres vítimas jovens, argumentam para
isso que, provavelmente, pode estar relacionado à vida sexual ativa destas mulheres, sendo
esta uma condição à exposição da violência doméstica.
Quanto à variável raça/cor, neste estudo foram prevalentes as de raça negra,
representando 91,1% das entrevistadas; porém, esse dado confirma-se com a própria
composição populacional do Calafate, na qual mais de 90% da população é essencialmente
negra.
Marinheiro (2003), Rovisnki (2004) e Blay (2005) encontraram algumas diferenças que
devem ser destacadas: os autores afirmam que grande maioria das vítimas encontradas em
seus estudos eram brancas, chamando atenção para o fato do Brasil ser um país de racismo
oculto, em que se atribui aos negros a maior prevalência de violência, sendo que estes dados
vêm confrontar-se com o pensamento do senso comum .
Outro aspecto relevante mencionado por Blay (2005), e também foi aqui encontrado, é o
fato das mulheres vítimas apresentarem nível educacional elevado: a grande maioria apresenta
mais de 8 anos de estudo e cerca de 5% das vítimas têm nível universitário, seja completo ou
não.
Este achado corrobora com Andrade (2002) ao afirmar que quanto à escolaridade das
vítimas, as mesmas concentram-se em valores acima da média. Nas escolaridades
equivalentes aos e graus todas as participantes estão acima da média, sendo importante
salientar que a vitimização doméstica/conjugal via ameaças ocorre, com mais intensidade,
entre pessoas com escolaridade equivalente ao 3º grau ou pós-graduação.
85
Isto evidencia que, contrariando o senso comum, uma escolaridade alta e o acesso a
informações não estão diretamente relacionados a um comportamento menos violento no que
se refere às ameaças entre parceiros.
A OMS (2005), no entanto, afirma que, quanto maior o nível educacional, menor o
número de casos de violência, sugerindo que a educação tenha um efeito protetor para a
mulher, independente de seu ingresso na escola e sua idade. Defende, ainda, a idéia de que
mulheres com um maior nível de educação tenham mais possibilidade de escolher seus
parceiros e maior capacidade de optar ou não pelo casamento, além de serem capazes de
negociar maior autonomia e controle dos recursos e do poder no matrimônio. Assim, quanto
maior o nível educacional, menor o número de casos de violência entre aquelas analisadas.
Adeodato et al. (2005) corroboram com a OMS (2005) ao afirmarem que o
esclarecimento da mulher leva a uma menor tolerância à violência. Quanto mais a mulher se
qualifica, mais chance tem de encontrar trabalho remunerado, melhorando assim a auto-
estima e independência.
Em relação aos rendimentos econômicos, percebeu-se que quanto menor a renda
familiar e quando a mulher é sustentada pelos parentes, houve significância estatística, com
valor de p 0,04 e 0,02, respectivamente. Esse dado, à princípio, parece ratificar os achados
apontados em estudos semelhantes desenvolvidos por Rivera-Rivera et al. (2004), Rovinski
(2004), Adeodato et al. (2005), Crepschi (2005), na qual entre mulheres de baixa renda
encontrou-se maior exposição à situação de violência.
Embora a literatura relate que a pobreza e a falta de padrões morais conduzam à
violência, esta pode estar ocultada em outras camadas populacionais; assim, vale ressaltar que
violência não é coisa de pobre; acontece que as relações das camadas menos favorecidas entre
a vida privada e a pública é mais estreita; estas também denunciam mais.
A esse respeito, Drezett (2000) e Rovinski (2004) criticam estes achados frente à
possibilidade de que a grande maioria dos autores tem trabalhado com mulheres de baixo
nível socioeconômico e que os resultados apontam para um tipo de viés nas pesquisas, vez
que mostram apenas o tipo de mulher vitimizada, a que os pesquisadores estariam tendo
acesso.
Rovisnki (2004) ressalta que os trabalhos de pesquisa sobre violência de gênero são em
locais onde haveria uma predominância de população de baixa renda, que possui poucos
recursos econômicos e de rede social. Assim, a autora afirma que apesar dos estudos acerca da
86
violência de gênero sempre encontrarem achados que indiquem uma tendência no perfil das
vítimas, de serem negra, de classe menos desfavorecida e com baixa escolaridade, acredita-se
que apenas com o desenvolvimento de estudos epidemiológicos, que abrangesse de modo
igualitário o acesso a todas as camadas sociais, poder-se-ia inferir, com mais precisão, a
prevalência das vitimizações, principalmente quanto ao nível socioeconômico.
5.3 CONDIÇÕES DE SAÚDE DAS MULHERES
As mulheres vítimas de violência estão mais expostas às doenças infecciosas, como
viroses e doenças sexualmente transmissíveis: as diferenças observadas entre os grupos
apresentaram significância estatística, ambos com um valor de p < 0,05.
Outros sinais e sintomas físicos que aqui refletem desordens patológicas e que
apresentaram significância estatística entre as mulheres que sofrem violência doméstica
foram: dores nos membros inferiores, irritação oftalmológica, distúrbios gastrintestinais,
rouquidão, diminuição da audição e perda temporária da voz.
Nervosismo, esquecimento, choro freqüente, tontura, agressividade e compulsividade
foram, dentre as queixas psíquicas, as que se apresentam estatisticamente relacionadas à
vitimização das mulheres.
Em relação ao estilo de vida, as variáveis etilismo e tabagismo estiveram
freqüentemente relacionadas com a vitimização das mulheres sendo que em ambos
evidenciou-se significância estatística, com valor de p de 0,004 e 0,003, respectivamente.
A este respeito, dados similares são encontrados no estudo de Francisquetti (2000) no
que se refere, não à mortalidade, mas à morbidade, na qual as conseqüências para a saúde da
mulher vítima de violência têm sido bem documentadas. São elas: risco aumentado para dores
crônicas, doenças mentais, DST/AIDS, gravidez indesejada, aborto, doença pélvica
inflamatória, abuso de drogas, distúrbios gastrointestinais etc.
Estudo análogo desenvolvido pela OMS (2005) aponta também para esta maior co-
morbidade entre mulheres vítimas de violência, principalmente, a violência doméstica tendo
em vista ser muito mais freqüente entre as mulheres vítimas de violência infligida por seus
companheiros o estado de saúde ser considerado mal ou muito mal em relação àquelas que
nunca haviam sido maltratadas por seus companheiros.
Encontraram-se também mais problemas relacionados ao sistema ósseo-muscular, à
maior dificuldade em realizar suas atividades cotidianas, queixas mais prevalentes de dores
87
físicas, perda de memória, corrimentos e afecções vaginais. Este estudo ainda salienta que os
problemas de saúde estão relacionados com a existência de violência ao longo da vida,
sugerindo que os efeitos físicos da violência podem persistir muito depois da experiência
violenta, sustentando a relação de que maltratos acumulados afetam a saúde em maior
medida.
Corroborando com o acima referido, D’Oliveira (2000) também destaca que os efeitos
persistem mesmo após o fim das situações de violência e que mulheres vitimizadas acabam
por utilizar mais os serviços de saúde,que são mais vulneráveis aos diversos problemas de
saúde apresentando mais sintomas físicos e mentais do que mulheres não expostas à violência.
Esses achados são semelhantes aos encontrados em estudos afins, como no de Heise et
al. (1994), Giffin (1994), Souza (2000), Schraiber et al. (2002), Minayo (2002), Minayo
(2007), Dahlberg e Krug (2007) e Diniz et al.(2007), nos quais a violência contra a mulher
tem sido associada a dores pélvicas crônicas, às infecções sexualmente transmissíveis, entre
elas a HIV / AIDS, além de outras doenças como as inflamações pélvicas, aborto espontâneo
e a gravidez indesejada, bem como trabalho de parto prematuro, abuso de drogas e álcool.
Outras formas de manifestação da violência se dão através de queixas (sejam físicas ou
psicológicas), cefaléia, distúrbios gastrintestinais, lesões, problemas ginecológicos, asma, e
condutas nocivas para a saúde como abuso de fumo, álcool e sexo sem proteção.
Em relação às queixas otorrinolaringológicas, que foram bastante freqüentes e se
mostraram significantemente associadas entre os subgrupos analisados, sabe-se que a voz
expressa emoções e com certeza os estados físico e emocional refletem-se diretamente na voz.
Para Oliveira (2004), muitas desordens vocais podem ser resultado de repressão, de emoções
e tensões, que podem acabar sendo convertidas em perdas temporárias da voz, disfonia,
rouquidão.
Neste sentido, no processo de avaliação da voz é importante considerar a relação entre
estados emocionais, cognição e funções fisiológicas, devendo-se ponderar características de
personalidade, estresse físico e mental, emoção. Outros aspectos psicológicos estão
relacionados à voz, entre eles situações de perigo, incluindo a vitimização contra a mulher,
abusos sexuais na infância, estupro, e outros traumas (OLIVEIRA, 2004, p. 15).
em relação aos zumbidos e a diminuição da acuidade auditiva, Katz (1999) afirma
que, embora as perdas auditivas geralmente sejam caracterizadas pela progressão lenta, a
deficiência auditiva neurossensorial pode ter início súbito. Assim, queixas como diminuição
88
progressiva da audição, dificuldades na audição podem ser derivados do uso de drogas,
trauma, infecção ou doença. O trauma pode ser físico ou psicológico, sendo que ambos
implicam situação de violência para a mulher, como podemos constatar no desenvolver desta
pesquisa.
Castro e Riquer (2003), ao analisarem estudos que se concentram em mulheres com
determinadas condições específicas de saúde, afirmam que pode existir uma relação inversa
de causalidade, ou seja, que a enfermidade em si pode ser, por outro lado, uma condição de
risco adicional para as mulheres frente à violência. Assim, algumas condições como gravidez,
HIV/AIDS, DST’s, desordens neurológicas crônicas, deficiências físicas, doenças mentais são
condições que os estudos mostram estarem associados à maior exposição de vitimização. Em
conseqüência, para os autores, é possível hipotetizar que certos padecimentos e certas
condições de saúde das mulheres se associam a um maior risco de sofrer violência.
No que diz respeito às condutas nocivas que mulheres em situação de violência acabam
assumindo, diversos estudos chamam atenção para o abuso de fumo e álcool que, não somente
é comum aos agressores, mas principalmente entre as mulheres, como se nos dados aqui
constatados de que etilismo e tabagismo mostraram-se significantes estatisticamente quanto
ao grupo de mulheres vítimas e não- vítimas, semelhante aos achados por D’Oliveira (2000),
Giordani (2006) e Rabello e Caldas Junior (2007).
Rabello e Caldas Junior (2007) mostram que a droga mais consumida foi o álcool entre
76,2% das agredidas e 54,6% das não agredidas. Outras substâncias apareceram associadas ao
álcool: maconha, cocaína, crack, ropinol e que ainda observa-se que quando o álcool foi
associado a estas outras substâncias, a chance de ocorrer agressão aumentou em 29 vezes.
Os estudos mostram, portanto, ser comum entre mulheres vítimas de violência a adoção
de atos nocivos, como o abuso de álcool, fumo e de outras drogas ilícitas; neste estudo,
portanto, o foi pesquisado o uso de outras drogas, porém, percebia-se ser algo comum para
algumas das mulheres, que relataram tais situações durante as entrevistas.
Entre essas mulheres, percebe-se que o ato de beber, bem como o de fumar, mesmo que
as próprias tenham consciência dos danos produzidos à saúde, é uma forma de mostrar-se
livre, de romper com a sensação de dependência ao agressor, mas essencialmente, de produzir
um mecanismo, um efeito de fuga, na qual as mulheres vítimas extrapolam, ou pelo menos
tentam extrapolar as relações de poder na relação conjugal. Isso se tornou evidente durante as
entrevistas no Calafate.
89
A adoção do etilismo e tabagismo como estilo de vida era, para estas mulheres, uma
forma de se encontrar prazer, de alegria, de descontração que ainda possibilitava reunir-se
com as amigas e esquecer o dia-a-dia, livrar-se das preocupações do cotidiano.
5.4 CARACTERÍSTICAS DA SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA
Dentre as mulheres entrevistadas, 51% referiram vivência de violência doméstica; as
expressões de violência mais referidas foram: as agressões verbais (81,2%) seguida da
violência psicológica (61,3%) e as agressões físicas (42,9%), violência patrimonial (9,4%),
violência sexual (7,9%) e omissões (6,3%). Os agressores foram, em mais da metade dos
casos (58%), companheiros e/ou ex-companheiros, configurando a violência conjugal; os
demais agressores (42%) foram sempre alguém do seu convívio familiar e/ou social,
configurando a existência da violência intrafamiliar.
Quanto às agressões físicas, a face representou o local mais atingido com 38,2%,
seguido dos membros superiores (32,9%), da cabeça (23%), tórax (13,4%) e o abdome
(9,8%).
Existe predominância das mulheres que são vitimizadas há mais de 10 anos, com
27,2%; quanto à freqüência dos atos violentos, 33% sofreram violência pelo menos uma vez
por semana; 23% pelo menos 2 ou 3 vezes por semana e 20,9% referiram sofrer atos violentos
todos os dias e uma parcela de 19,9% referiram sofrer violência pelo menos uma vez por mês.
Os atos violentos são mais significativos nos finais de semana (56%), sendo que o
período predominante foi a noite, totalizando 45% (incluindo também o período da
madrugada) representando quase metade dentre as ocorrências de violência.
Esses dados acima mencionados o semelhantes aos de outros estudos nos quais a
figura dos companheiros e/ou ex-companheiros aparece como a mais freqüente nos estudos de
violência de gênero, principalmente da violência doméstica.
Schraiber et al. (2002), Saffiotti (2002 e 2004a), Silva (2003), Jacobucci (2004),
Giordani (2006) e Rodrigues (2006) corroboram que as mulheres são mais violentadas,
considerando toda e qualquer forma de violência, de forma maciça no interior de seus lares
seja por companheiros, essencialmente, e também por parentes ou sempre alguém conhecido,
fazendo com que o número de ataques e/ou atos violentos perpetrados por estranhos seja
significantemente menor.
90
Neste estudo, por exemplo, não foi identificado nenhum agressor desconhecido; em
todos os casos, seja na violência conjugal ou intrafamiliar, prevaleceu sempre a figura de
alguém do convívio da mulher; isto, por certo, potencializa as conseqüências da violência,
uma vez que estabelecida uma relação, seja conjugal, de amizade, afeto, amor ou mesmo
profissional, entende-se o caráter rotineiro da violência, situações cotidianas tidas como
normais, sugerindo haver algo de comum entre o ato de força ameaçador e as imposições sutis
sofridas pelas mulheres.
D’Oliveira e Schraiber (2000) num estudo realizado com base nas denúncias registradas
nas Delegacias de Defesa da Mulher (DDM) afirmam que, em relação à violência contra a
mulher, o agressor deixa de ser um estranho e passa a ser alguém com quem a mulher tem
alguma ligação afetiva: parceiro, pai, padrasto ou outro familiar, sendo que parceiros ou ex-
parceiros são os agressores em aproximadamente 70% dos casos registrados.
Ramirez-Rodrigues e Patiño-Guerra (1996), avaliando tomando mulheres que sofreram
violência e observando quem são seus perpetradores, encontraram que o companheiro/esposo
foi identificado como de maior percentagem, com 73%, enquanto Rabello e Caldas Junior
(2007) encontraram nas notificações contra os companheiros/ex-companheiros um percentual
ainda maior (90%) do que os estudos citados.
Schraiber et al. (2002) e levantamento realizado pela OMS (2005) reiteram que a forma
mais comum de violência vivida pelas mulheres é aquela perpetrada por parceiros íntimos e se
têm tido a preocupação de divulgar as elevadas prevalências da violência por seus parceiros
íntimos. Além de alta magnitude, esses episódios de violência mostram caráter muitas vezes
grave, expressando a desigualdade nas relações de gênero.
Tanto no estudo pioneiro de Heise et al. (1994), que reuniu dados de 35 estudos em 24
países, como no estudo feito pela OMS (2005) que reúne dados de15 estudos em 10 países
diferentes, está comprovada estatisticamente a alta incidência de violência de homens contra
mulheres, sendo a forma mais endêmica a violência sexual e física de companheiros íntimos
contra suas mulheres, o que conforma um importante problema de saúde pública.
Em 48 pesquisas de base populacional, 10 a 69% das mulheres entrevistadas apontaram
ter sido alguma vez alvo de agressão física de seus parceiros; a violência física é
freqüentemente acompanhada da violência psicológica e, em um terço a 50% dos casos, pela
violência sexual. Ramirez-Rodrigues e Patiño-Guerra (1996) ressaltam que todas as mulheres
que foram objeto de violência por seus companheiros/esposos sofreram de violência
91
emocional; destas, somente uma parte sofreram de violência física e 12% sofreram violência
sexual.
Dentre estas, destaca-se a violência emocional ou psicológica, vez que esta tipologia é a
mais difícil de ser identificada, ou de ser, pelo menos, percebida pela mulher. Até que a
mulher compreenda que ameaças, humilhações, xingamentos, ofensas, recusas de carinho,
acusações de traições, espancamento de seus filhos, impedimento de ir ao trabalho, de ter
amizades ou de sair são atitudes do companheiro que configuram violência emocional e/ou
psicológica pode durar anos ou mesmo nunca serem perceptíveis.
Segundo Teles e Melo apud Giordani (2006) apesar de ser a mais difícil de ser
percebida pela própria mulher, é a violência psicológica que produz efeito mais perverso, que
pode destruir a vontade, o desejo e a autonomia da mulher.
Os métodos de violência mais referidos entre as mulheres deste estudo foram os
seguintes: xingamentos, palavrões, calúnias, discussões de casais, os desentendimentos e
discussões com os vizinhos ou alguém da família, dentre as agressões verbais; as ameaças de
divórcio e de morte, o rebaixamento da auto-estima, ofensas, humilhações, atitudes que
atentem contra a dignidade da mulher, impedir a mulher de trabalhar fora de casa, ignorar e
criticar por meio de ironias e piadas, ofender e menosprezar o seu corpo, insinuar que tem
amante para demonstrar desprezo, ofender a moral de sua família, desrespeitar seu trabalho de
cuidado com a família ou fora de casa são exemplos de agressões psicológicas vivenciadas
pelas mulheres do Calafate.
Vale ressaltar, portanto, que entendemos a violência psicológica como a mais
prevalente, visto que ela perpassa todas as situações de violência, seja através das palavras,
das negligências, dos abusos sexuais, entretanto, este tipo de violência é pouco perceptível; as
mulheres vêem e a entendem quando outras formas de violência são mais expressivas no
seu cotidiano.
Caracterizando a violência física, foram prevalentes atitudes como tapas, murros,
beliscões, espancamento, lesões provocadas por arma de fogo, arma branca, queimaduras (por
ponta de cigarro, ferro elétrico e óleo de cozinha quente), traumas contundentes e empurrões.
Quanto à violência patrimonial, a perda e/ou destruição de documentos, destruição de
móveis e eletrodomésticos, desfazer-se de objetos pessoais da vítima, esconder ou rasgar
roupas, documentos e outros pertences da mulher foram as queixas mais prevalentes.
92
Descuido, abandono, negligência quanto à necessidade da mulher em vestir-se, comer,
cuidar da saúde, da higiene, da educação, desprover de assistência e de cuidados quando a
mulher está doente ou grávida, privar de afeto, fazê-la sentir-se abandonada pela família,
gerando sentimentos de solidão, isolamento e maltrato foram as condições que estiveram
relacionadas com a omissão.
Apesar do relativo baixo número de violência sexual identificada neste estudo (7,9%),
ainda assim pode-se considerar um número expressivo, pois este tipo de violência é a mais
frequentemente ocultada. Em relação à prevalência de violência sexual, destaca-se que 73,3%
destas foram praticadas pelos companheiros ou ex-companheiros das vítimas.
A este respeito, enfatizam-se os abusos sexuais, da mulher sentir-se forçada a ter relação
sexual com o companheiro, sentir-se ameaçada ou coagida ao sexo, às vezes, até sob forma de
tortura, como relatado durante as entrevistas
22
.
Dentre as mulheres que referiram sofrer violência sexual, houve relatos de serem
forçadas às relações sexuais, sendo este mais comum entre as mulheres casadas e/ou com
companheiros; alguns casos de estupro e assédio sexual, produção de gestos e atitudes
obscenas no trato com as mulheres e, ainda, casos de incestos, abuso sexual por parte de pai
ou padrasto.
Por outro lado, nota-se certo progresso no que diz respeito à qualidade das informações
obtidas, pois se observa que nos estudos baseados em entrevistas com mulheres, está sendo
revelada a violência sexual; entretanto, ainda uma relativa invisibilidade desta violência
nas denúncias de violências praticadas por homens contra mulheres no âmbito doméstico,
principalmente na relação matrimonial.
Dantas-Berger e Giffin (2005, p. 419) afirmam que a maioria esmagadora dos dados
aponta para a maior ocorrência e/ou visibilidade das violências físicas, tipificadas
criminalmente por lesões corporais, seguidas pelas violências psicológicas, principalmente
ameaça, difamação e injúria. A violência sexual, especialmente a coerção e/ou violência
sexual praticada por parceiro íntimo no âmbito privado, está pouco evidenciada ou inexistente
nas estatísticas disponíveis: “é praticamente impossível desvendar, nos dados estatísticos,
situações de estupro conjugal, porque elas estão escondidas em outros itens, como o de lesões
corporais.
22
Mesmo considerando o caráter quantitativo do estudo, o detalhamento de tais situações era possível ao se fazer
o questionamento acerca do tipo de violência sofrida.
93
Corroborando com as autoras acima, Giordani (2006) chama a atenção de que, embora a
violência sexual contra a mulher seja um fenômeno muito freqüente no lar, não é legalmente
reconhecida no Brasil, posto que o Código Penal Brasileiro o caracteriza como estupro,
tampouco como crime, a violência sexual no seio do casamento, isto é, a legislação brasileira
não prevê o direito da mulher de se recusar a ter relações sexuais com seu marido.
Quando a violência física se faz presente, percebe-se que as agressões são mais comuns
na parte superior do corpo, sendo mais freqüentes em face, cabeça, tronco, abdome e
membros superiores, confirmando os achados deste estudo.
Saffioti e Almeida (1995), a este respeito, consideram que os homens, ao agredirem
suas esposas, procuram atingir partes predominantemente visíveis do corpo, dentre elas o
rosto, pois o rosto feminino parece ter um significado especial, visto que a agressão neste
local implica em descaracterizar o que mais valoriza a identidade de qualquer sujeito.
Para a OMS (2005), os atos de violência física infligidas pelo parceiro seguem um
padrão de maltrato continuado e a freqüência destas agressões físicas são mais comuns do que
os estudos têm mostrado, pois na pesquisa realizada mostrou-se que à exceção da maior parte
dos distintos tipos de violência física grave (estrangulamento, queimaduras e uso de armas de
fogo e/ou branca) em todos os países, mais da metade das mulheres entrevistadas, havia sido
vítima de pelo menos um ato violento no último ano.
Além disso, nota-se que a permanência da mulher na situação de violência é muito
longa e muito freqüente, como observou-se neste estudo, no qual prevaleceu a freqüência
semanal das agressões semelhante à pesquisa realizada por Adeodato et al. (2005) , na qual os
autores encontraram uma média de tempo de convívio entre a vítima e o agressor de 10 anos e
um tempo de agressão de 5 anos, dados análogos a outros estudos do gênero (ROVINSKI,
2004; HIRIGOYEN, 2006; RODRIGUES, 2006; SANTANA, 2006).
As razões que justificam a permanência da mulher na situação de violência, dentre as
mulheres do Calafate, as mais prevalentes foram: acreditar na melhora do companheiro
(42,8%), não deixar a relação por razões econômicas (35,3%), não deixar os filhos,
assegurando a manutenção da vida a estas (30,5%), não ter para onde ir (25,1%), além do
medo e de se sentirem ameaçadas pelo agressor, por pressões familiares ou, ainda, por
conceberem o casamento como algo sagrado, soberano, mesmo que para isso tenham que
submeter-se à violência.
94
De tal modo, o fato da mulher conservar-se numa situação de violência acontece devido
à falta de mecanismos para sua saída do ciclo de violência; assim, não é uma tarefa tão fácil
compreender a permanência da mulher nesta situação.
Para Cunha (2007), a permanência da mulher na situação de violência é explicada à luz
das idéias de Lenore Walker
23
, na qual a autora afirma existir três fases distintas: na fase
I,conhecida como acumulação da tensão, a mulher tenta acalmar o seu agressor, torna-se
submissa como forma de evitar novos episódios de violência, adotando uma defesa
psicológica de negação.
Na segunda fase, conhecida também como fase do ataque violento ou explosão, “o
agressor maltrata física e psicologicamente a mulher vítima que procura apenas se defender,
esperando que ele pare e não prossiga no caminho da violência” (CUNHA, 2007, p. 89). Isso
pode resultar em agressões de intensidade variada, trazendo sérios prejuízos à saúde da
mulher, bem como dos seus filhos.
Porém, a situação de agressividade e brutalidade persiste apenas nessas duas primeiras
fases, pois na III fase, caracterizada pelo comportamento de bondade e amor arrependido ou
fase do apaziguamento, é nela onde o agressor encontra espaço para lamentar suas atitudes
anteriores, manifesta arrependimento, seduz a companheira, daí a fase também ser
reconhecida como lua-de-mel; a mulher, sensibilizada e também fragilizada, acredita na
melhora do agressor, acaba o perdoando, retira a queixa na Delegacia, quando for o caso, e é
especialmente nesta fase que o casal que vive uma relação violenta torna-se dependente um
do outro, estreitando seus laços de co-dependência e afeto.
Para Giordani (2006),
[...] entre as que resistem e as que fogem às agressões diárias, há aquelas que
tentam manter a paz rendendo-se às exigências do parceiro, situação que
nem sempre deve ser interpretada como uma reação passiva, mas como uma
estratégia de sobrevivência no casamento e uma forma de proteger-se e aos
seus filhos (Giordani, 2006, p. 165).
Outros estudos defendem a possibilidade de resistência das mulheres às violências
sofridas em seus lares devido às ineficiências, inoperâncias e inadequações gerais do Sistema
23
Autora feminista que publicou sua obra intitulada “The Cycle Theory of Violence in the Battered Woman”
que traz explicações acerca dos motivos que levam a mulher a permanecer na situação de violência, defendendo
a idéia de um ciclo de violência. As concepções apresentadas por esta autora são aceitas e concebidas por
teóricos do gênero.
95
Judiciário Brasileiro, formado por uma mistura de preconceito e incompetência dos órgãos
responsáveis (polícia, justiça, etc), o que tem resultado em subnotificações de muitos casos de
violência contra a mulher, mesmo após a aprovação da Lei Maria da Penha
24
.
Esse fato justifica, entre as mulheres do Calafate, a busca quase que insignificante das
instituições que compõem a Rede de Atendimento à Mulher Vítima de Violência. O
atendimento realizado por policiais e por profissionais médicos foi de apenas 8,9%; a busca à
DEAM foi ainda menos significante (8,4%), sendo esta uma política pública onde se esperava
maior expressividade, tendo em vista que a coleta de dados foi realizada num período
posterior à sanção e vigência da Lei Maria da Penha.
Ainda em relação à demanda pouco significante da DEAM, muitas mulheres referiram
descrédito da mesma, morosidade nos processos, despreparo dos profissionais que as
atendiam, e denunciaram, inclusive, casos de maltrato e desacato por parte dos profissionais
que seriam os responsáveis por prestar um serviço de proteção às mesmas.
Na pesquisa realizada pela OMS (2005), as mulheres relataram diversas situações para
justificar os atos de violência doméstica, entre eles destaca-se a não realização correta de
tarefas domésticas, negar-se a ter relações sexuais, desobedecer ao marido e atos de
infidelidade; estas justificativas denotam caráter eminentemente sexista e que refletem o
caráter, ainda, patriarcal do mundo em que vivemos.
Para as mulheres vítimas de violência no Calafate os fatores mais prevalentes foram:
ciúmes (42,6%), ingestão de bebidas alcoólicas (41,1%), falta de dinheiro (35,8%),
desemprego (25,3%), uso de drogas ilícitas (17,9%) e traição (9,5%).
Esse achado é legitimado com pesquisas afins, nas quais os dados convergem: Adeodato
et al. (2005) mostram que, entre os principais fatores que desencadearam as agressões, os
mais referidos foram o álcool e o ciúme, identificando que 70% dos parceiros ingeriram
álcool e, em 11%, drogas ilícitas. Estes autores salientaram a correlação direta entre consumo
de álcool pelo agressor e agressão aos filhos.
O consumo de álcool pelos agressores das mulheres que sofrem violência doméstica
aparece em outros estudos como o de Marinheiro (2003), Jacobucci (2004) e Rabello e Caldas
24
Lei Maria da Penha 11.340, de 7 de agosto de 2006.Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e
familiar contra a mulher, nos termos do 8
o
do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação
de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e outras
providências. (BRASIL, 2006).
96
Junior (2007), no qual se observam percentuais significativos de homens agressores etilistas;
Silva (2003) refere-se ao uso de drogas ilícitas e/ou lícitas pela maioria dos agressores,
afirmando existir uma forte correlação entre o abuso dessas substâncias e a violência.
Estudo desenvolvido no Brasil com 2.500 mulheres apontou como principais
determinantes para as agressões, o álcool e o ciúme, os quais foram citados por 21% das
vítimas; 14 % delas apontaram o machismo como causa da violência.
Autores como Giffin (2002) relacionam as relações violentas masculinas com o
desemprego, o que resulta em desestruturação da identidade masculina, refletindo
violentamente em suas parceiras. Essa autora citou que o poder do macho, na sociedade
contemporânea foi deslocado da rua para a casa e depois para o corpo.
A maioria das famílias das mulheres, inclusive as que participaram do presente estudo
consumiam drogas, sendo o álcool a substância mais utilizada e diariamente consumida. Por
conseguinte, o risco da associação do álcool com a agressão física o ocorre apenas com os
bebedores abusivos e regulares, mas também entre bebedores moderados ou eventuais.
Não se pode, contudo, reduzir os atos violentos ao alcoolismo; o álcool pode, sim, ser
um fator precipitador e facilitador das reações violentas, corroborando com Jacobucci (2004)
quando a autora afirma que, apesar das evidências associando o alcoolismo à violência
doméstica, parece haver ainda outros fatores, como: sócio-culturais, educacionais e de
personalidade. A autora ainda defende que o “uso abusivo de álcool, isoladamente, não
explica estas ocorrências, visto haver numerosos casos de alcoolistas que não agridem suas
esposas e outros que não consomem bebidas alcoólicas e são potenciais agressores”
(JACOBUCCI, 2004, p. 135).
Deste modo, para a autora, o alcoolismo, a pobreza e o desemprego são coadjuvantes
da violência, mas não a sua causa principal; outro aspecto importante que se destaca é o fato
de que a violência de gênero não tem correlação com determinismo biológico, mas sim, com
as relações de gênero que se estabelecem, ao enfatizar que
Por detrás das relações de gênero, atravessadas pelo poder desigualmente
repartido, vislumbra-se a violência. As diferenças biológicas entre os
homens e as mulheres e os papéis sociais que ambos desempenham não
determinam a ocorrência de violência. Na verdade, são os papéis sociais
impostos a homens e mulheres, reforçados por culturas patriarcais, que
estabelecem as relações de violência entre os sexos (JACOBUCCI, 2004, p.
56).
97
Porém, para outros teóricos, vinculados à teoria biologicista, as características
biológicas são importantes e determinam o potencial que o indivíduo tem para transformar-se
em agressor e exercer atos violentos sobre outra pessoa ou coletividade.
Essa teoria trabalha, portanto, com a idéia de que a agressividade é algo instintivo da
natureza humana, sendo natural e irresistível, como a fome e o instinto sexual. Segundo seus
defensores, os genes reproduzidos transmitem determinadas reações específicas, como no
caso, a violência. Nesse entendimento, estaria a idéia de que o homem tem um impulso sexual
muito maior e, às vezes, insaciável, o que pode legitimar o estupro, a prostituição. Segundo a
análise de gênero demonstra, a sexualidade masculina é aquela que domina, controla e que é
violenta.
Outro modelo de explicação se baseia em concepções psicologistas que tem o enfoque
no indivíduo e tendem a reduzir os fenômenos e processos sociais a um problema de conduta
individual e de determinação do indivíduo sobre o social. Consideram que o comportamento
do indivíduo é um padrão culturalmente apreendido no qual se estabelece o certo e o errado,
prescrevendo-se condutas, sentimentos, valores e atitudes diferenciadas para homens e
mulheres desde criança.
Ao se estudar a violência e gênero, tenta-se explicar a violência como resultante de
certas psicopatologias e, para isso, busca-se analisar as características psicológicas, tanto de
homens agressores, como de mulheres agredidas. Essas análises da violência refletem as
contradições sociais do mundo moderno, isto é, expressam-se no crescimento das tendências
anti-sociais na consciência coletiva, no isolamento e na alienação dos indivíduos.
Outra idéia sustenta-se na hipótese de conferir à violência aspecto geracional, ou seja, a
violência é perpetuada entre as gerações por um ciclo de violência, sendo transmitida por uma
sucessão de gerações.
Diversas teorias já foram propostas para explicar esse caráter geracional; entre elas, a
mais consistente é a teoria da aprendizagem social, segundo a qual a violência é vista como
um comportamento aprendido (STUART e LARAIA, 2001)
Stuart e Laraia (2001) explicam que
A teoria da aprendizagem social relacionada à violência declara que uma
criança aprende este padrão de comportamento em um contexto familiar,
tomando um progenitor violento como modelo de identificação. Nesse caso,
a violência e a vitimização são comportamentos aprendidos pela experiência
98
na infância. A criança aprende a obter tanto os meios quanto a aprovação
para a violência. (STUART e LARAIA , 2001, p. 865).
Castro e Riquer (2003) chamam atenção acerca da violência de gênero como
conseqüência do patriarcado, uma vez que este acabou sendo reduzido a variáveis individuais,
isto é, reduzido às características sociodemográficas (idade, estado conjugal, escolaridade,
ocupação, renda) e a aspectos relacionados às condutas individuais (principalmente consumo
de álcool e de drogas) do homem.
Ao se analisar a violência, é preciso fugir das caricaturas que se têm atribuído: de um
lado, um homem sempre de baixa escolaridade, pobre, desempregado e de outro, uma mulher
“coitada”, vítima, passiva e que se habituou à violência.
Porém, tentar explicar a violência bem como suas causas, é um trabalho desnecessário,
posto que não existe uma causa direta, uma causa única; assim, é mais que urgente que se
compreendam todos esses aspectos que estão imbricados na violência, uma vez que não existe
explicação para este fenômeno; ele é muito mais complexo do que se imagina,
principalmente, quando se trata da violência doméstica. Esta reúne todos os elementos
descritos, as questões culturais, socioeconômicas, raciais, familiares, os moldes do patriarcado
em nossa sociedade, e que continuam contribuindo para a perpetuação da violência, bem
como para a sua invisibilidade.
5.4 DEPRESSÃO E VIOLÊNCIA
A prevalência global de depressão entre as mulheres do Calafate foi de 51,5%, sendo
estatisticamente significante a associação entre ocorrência de depressão e violência doméstica
(percebe-se que entre as mulheres vítimas de violência, 75,3% apresentam depressão e dentre
as mulheres não-vítimas, 27% de depressão; relação apresentando p< 0,000, IC 95%=2,23-
3,69 e RP= 2,79).
Esse dado aponta intenso adoecer psiquíco entre estas mulheres, sendo este achado
superior aos demais estudos do gênero realizados. Moraes et al. (2006) pesquisando a
depressão pós-parto, encontraram uma prevalência de 19,1%; Mattar et al. (2007)
identificaram um percentual de 85% entre puérperas vítimas de violência.
99
Em estudo realizado entre mulheres portadoras do vírus HIV /AIDS encontrou-se um
percentual de 25,8% de depressão maior, sendo maior nas pacientes sintomáticas que em
relação às assintomáticas (MELLO e MALBERGIER, 2006). Em estudo realizado por
Jacobucci (2004), a autora encontrou um percentual mais elevado, sendo 86,67% de depressão
entre mulheres que mantiveram vínculo conjugal após denúncia na Delegacia da Mulher.
Rovinski (2004), utilizando o BDI, encontrou uma prevalência de 21,39% de depressão,
na qual as mulheres vítimas de violência sexual apresentaram níveis mais elevados de
depressão. Neste estudo, a autora confirma a hipótese de que mulheres vítimas de violência
apresentam elevados índices de transtornos emocionais, sendo mais comuns a depressão,
ansiedade fóbica, psicotismo e transtorno de estresse pós-traumático.
No estudo desenvolvido por Rabello e Caldas Junior (2007) percebe-se a relação direta
entre violência e risco mental alto, na qual as famílias que convivem com a violência têm duas
vezes mais chances de apresentar risco mental alto; ainda, no grupo das mulheres agredidas, o
percentual de alto risco mental correspondeu a 43,1%.
Ao analisar os dados de Adeodato et al. (2005), os autores sugerem que a violência
doméstica está associada à percepção negativa da saúde mental da mulher, das quais 78%
apresentavam ansiedade e insônia, 65% sintomas somáticos, 40% depressão grave e 26%
disfunção social; 39% já pensaram em suicídio e 24% passaram a fazer uso de ansiolíticos
após o início das agressões.
Alves e Coura-Filho (2001) descrevem que os estudos elaborados sobre violência no
contexto familiar, estão de acordo quando a grande maioria, ao analisar os perfis de
morbidade destas mulheres e detecta sinais e sintomas bastante freqüentes, como a depressão,
transtornos de ansiedade, perturbações do sono como hipersônia e insônia, transtornos
alimentares como a anorexia, a bulimia, a compulsão para comer, que favorece a obesidade,
além de fobias, disfunções sexuais, manifestações psicossomáticas, alcoolismo e abuso de
calmantes.
Esses estudos, como se vê, têm em comum a preocupação de se analisar as
conseqüências da saúde da mulher vítima de violência, em especial a saúde mental. Os
achados convergem às sintomatologias mais prevalentes entre as mulheres vítimas do Calafate
quando comparado às mulheres não-vítimas, a níveis estatisticamente significantes.
Para as sintomatologias mais prevalentes, destacam-se, portanto, a irritabilidade, auto-
acusações, tristeza, pessimismo, insatisfação, mudança na auto-imagem, culpa e idéias
100
suicidas. Todos esses sintomas foram evidenciados ao longo das entrevistas com as mulheres,
nas quais elas afirmavam essa irritabilidade excessiva ou mesmo a incapacidade de se irritar
(resiliência), a tristeza que era bastante perceptível, a labilidade emocional em que se
encontrava a maior parte das mulheres vítimas de violência; as queixas relacionadas aos
sintomas físicos e psíquicos, o choro fácil, a fragilidade e, ao mesmo tempo, a indisposição,
sentimentos de tristeza, de solidão, de desamparo.
Estes elementos encontrados são bastante semelhantes no estudo de Jacobucci (2004),
no qual a autora caracteriza esses sintomas como um quadro de distimia, sendo esta um dos
fatores responsáveis pelas dificuldades sentidas por estas mulheres em buscar soluções
eficazes para resolverem seus problemas conjugais” (JACOBUCCI, 2004, p. 146).
Foi perceptível também entre as mulheres do Calafate essas dificuldades para enfrentar
a violência, permeada pelas ameaças, pela culpa, pela necessidade de manter-se neste ciclo e,
principalmente, pelo caráter de rotinização que a violência doméstica assume entre estas
mulheres vítimas.
Dentre as co-variáveis analisadas, somente o estado civil atuou como modificadora de
efeito da associação entre violência doméstica e depressão para as mulheres do Calafate.
Observou-se que o a situação conjugal (mulheres que casadas ou de união estável) om a
violência, aumentando a associação entre violência e depressão, comprovando que mulheres
que possuem companheiro apresentam prevalência de quase três vezes maior em relação
àquelas que não possuem companheiro.
Assim, o achado neste estudo e em outros similares demostra que a situação conjugal
apresenta-se como um potencial para a prevalência de depressão, contrariando a idéia de que
ter um companheiro, ter uma relação conjugal fosse um fator de proteção à morbidade na
existência da violência conjugal.
Portanto, não é simplesmente o fato de ter ou não ter companheiro ou o estabelecimento
de uma relação conjugal que venha a predispor em maior grau a mulher à depressão, mas sim
o estabelecimento de violência conjugal nesta relação.
Esses achados apontam no mesmo sentido que aqueles publicados por Jacobucci (2004),
Rovinski (2004) e OMS (2005), sustentados no pressuposto de que o estabelecimento de uma
relação conjugal na qual o parceiro assume a figura do agressor, passa-se a configurar como
um fator de risco à morbi-mortalidade desta mulher e, por conseguinte, prejudicando o seu
estado de saúde, especialmente a saúde mental.
101
No estudo realizado pela OMS (2005), por exemplo, afirma-se que as mulheres que
tenham sido vítimas de violência infligida por seus parceiros tenham problemas de saúde
mental, angústia emocional e comportamento suicida mais significantes. Também se
identificou a angústia emocional mediante sintomas como choro fácil, incapacidade de
desfrutar a vida, a fadiga e os pensamentos suicidas entre as mulheres entrevistadas, indicando
que mulheres vítimas de violência por seus parceiros apresentam maior risco de doença
mental.
É muito mais provável, segundo a OMS (2005) que as mulheres que tenham sido
vítimas de violência infligida por seus parceiros tenham pensado em suicidar-se ou pelo
menos tenham tentado alguma vez, dados estes que coincidem com estudos realizados em
países desenvolvidos e industrializados que associam os suicídios cometidos com atos
violentos existentes na relação conjugal.
Todavia, não deve ser desconsiderada a existência de estudos cujos resultados não
corroboram com os aqui encontrados, entre os quais se destacam os Costa e Ludermir (2005)
e Pinho (2006) na qual a situação conjugal revelou-se um importante indicador de sofrimento
mental, sinalizando que as mulheres divorciadas, separadas ou viúvas apresentaram maior
prevalência de desordens mentais. Para isso, as autoras sustentam a idéia do casamento
segundo suas determinações sociais. As mulheres casadas teriam maior suporte social e
familiar; assim, ter um companheiro pode representar baixos índices de ansiedade, depressão
e somatizações, além de melhor adaptação a circunstâncias e efeitos dos eventos produtores
de estresse.
102
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O principal interesse deste estudo foi avaliar a associação de depressão e violência
doméstica entre as mulheres do Calafate. Para isso, buscou-se determinar grupo de mulheres
expostas e não-expostas à violência e para avaliação de depressão utilizou-se o BDI,
instrumento validado no Brasil.
A associação entre depressão e violência doméstica foi evidenciada no presente estudo:
as mulheres expostas à violência doméstica apresentaram maior prevalência de depressão.
O achado mais relevante desta investigação foi a confirmação de que o estabelecimento
de uma relação conjugal interage com a violência, aumentando a associação entre violência e
depressão.
Em relação aos aspectos predominantes no grupo de mulheres vítimas de violência
doméstica, destaca-se:
As mulheres vítimas o, essencialmente, adultas jovens, com mais de 8 anos de
estudo; não possuem nenhuma atividade remunerada, são donas de casa, estudantes ou
desempregadas;
Maior exposição às doenças infecciosas, especialmente, as viroses e as doenças
sexualmente transmissíveis;
Maior prevalência de doenças secundárias, de queixas de saúde, configurando um
número expressivo de sinais e sintomas físicos e psíquicos que refletem um maior grau de
vulnerabilidade e adoecimento entre mulheres vitimizadas;
Maior vulnerabilidade à adoção de condutas nocivas à saúde, encontrando alta
prevalência de etilismo, tabagismo, prática de aborto;
Os companheiros e/ou ex-companheiros configuram num percentual de mais da
metade quanto à figura do agressor, configurando a violência conjugal; os demais agressores
(42%) são sempre alguém do seu convívio familiar e/ou social, configurando a existência da
violência intrafamiliar;
A prevalência global de depressão entre as mulheres do estudo foi de 51,5%; entre as
mulheres em situação de violência a prevalência foi de 75,3%, contra 27% entre as mulheres
não vítimas, denotando maior sofrimento mental entre mulheres vitimadas.
103
Essas características perpassam por questões complexas, como discutidas anteriormente,
como a precarização das condições de vida, pobreza, questões raciais, desemprego, a forte
influência das relações de gênero na formação da identidade entre homem e mulher; o
despreparo e a desarticulação de uma rede que deveria acolher, acompanhar e oferecer apoio à
esta mulher vitimizada. Ainda, a inoperância de um Sistema Judicial que o tem o poder de
amparar estas mulheres , além de uma sociedade onde ainda se perpetua e se banaliza a
violência.
Salientam-se, ainda, as graves conseqüências para a saúde e a vida das pessoas
envolvidas numa situação de violência. Este quadro aponta para a importância de intervenções
e o atendimento em saúde mental é uma das intervenções possíveis que pode contribuir na
mudança desse cenário, no contexto de uma equipe multiprofissional e de uma rede de
referências.
Para enfrentar a violência contra a mulher, no entanto, é fundamental que se adotem
medidas mais complexas e se faz urgente a necessidade de políticas públicas transversais de
gênero e neste sentido é necessário que se dê maior visibilidade às seguintes questões:
Implantar e implementar as políticas públicas de enfrentamento à violência contra a
mulher já existentes;
Exigir das Unidades de Saúde o cumprimento da Lei de Notificação Compulsória para
facilitar o diagnóstico, acompanhamento, referenciamento e estabelecimento de condutas do
indivíduo vítima de violência que busca atendimento na rede de saúde;
Existência de uma rede de serviços, facilitadora da continuidade, acessibilidade e
personalização dos cuidados, que tenha em conta a importância de respostas pidas e
adequadas, no caso a caso, a par de uma identificação/sinalização mais precoce das
situações/complicações de(a) violência doméstica;
Estabelecer, executar e supervisionar planos de ação multisetoriais para abordar a
violência contra a mulher;
Exigir das autoridades competentes um maior vigor no cumprimento da Lei Maria da
Penha, a criação das Varas e Juizados Especiais na adoção de medidas protetivas à mulher em
situação de violência;
104
Sensibilizar os gestores municipais com relação à necessidade da existência de Casas
Abrigo e/ou Casas de Passagem para acolher, proteger e abrigar mulher e filhos em situação
de perigo, em virtude da violência doméstica;
Capacitar e treinar o pessoal da Rede de Atenção à Mulher Vítima de Violência,
exigindo maior desempenho e garantindo às mesmas estratégias de enfrentamento da
violência;
Fomentar conhecimento mais preciso da epidemiologia deste fenômeno, com
implementação de contextos / instrumentos que possibilitem o registro e análise da
informação visando respostas cada vez mais adequadas às reais necessidades dos subsistemas
em crise.
Reitero as considerações de Andrade (2002), posto que, diante das limitações deste
estudo, salienta-se a necessidade de que se produzam outros estudos e, principalmente,
políticas públicas que apontem para uma redução de situações de violência/dominação no lar.
Além disso, diante da magnitude da violência e seus efeitos sobre a saúde da mulher e
suas famílias, e considerando ser este um fenômeno histórico-cultural que persiste em nossa
sociedade e que se perpetua nos lares das famílias, fazendo de seus membros eternos algozes,
propõe-se, então, pesquisas de cunho mais qualitativo, que possam trabalhar especificamente
a influência cultural sobre a definição dos gêneros feminino e masculino; bem como a
estrutura patriarcal a que ainda estamos expostos e que influencia o comportamento de
vítimas e agressores à violência, contribuindo para sua configuração.
Este estudo, portanto, mostra-se de extrema relevância por ser mais uma oportunidade
de se discutir e dar visibilidade à violência contra a mulher e seu impacto na saúde das
mulheres vítimas, além de possibilitar aos profissionais, gestores, acadêmicos, instituições
que compõem a Rede de Atenção à Mulher Vítima de Violência, em especial, às próprias
mulheres, um momento de reflexão acerca do cotidiano destas mulheres, envolvendo
violência e adoecimento, com a perspectiva de que este fenômeno seja repensado, discutido e
enfrentado.
105
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Apêndice A - Questionário
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Nº DE ORDEM __________
MESTRADO EM ENFERMAGEM Data ______ /________/ 2008
SETOR CENSITÁRIO ________________________________________________
1. Nome ________________________________(opcional) 2. Idade _________anos
3. Situação Conjugal
1( )Solteira 2( )Casada 3( )Viúva 4( ) União estável
5( )Separada 6( )Desq./Divorciada 7( )Outro 8( )Não sabe
4. Cor (auto-referida)
1( )Branca 2( )Negra 3( )Parda 4( ) Amarela
5( )Indígena 6( )Não sabe 7( )Outro ____________________
5. Religião
1( )Católica 2( )Evangélica 3( )Espírita
4( )Canbomblé 5 ( ) Outra 6( ) Nenhuma
6. Grau de escolaridade
1( )Analfabeto 2( )Ensino Fundamental incompleto
3( ) Ensino Fundamental completo4( ) Ensino Médio incompleto
5( ) Ensino Médio completo 6( )Superior incompleto
7( ) Superior completo 8( )Não sabe
7. Trabalha atualmente?
1( ) Sim 2 ( ) Não
8. Ocupação
1( ) Dona de casa 2( ) Empregada doméstica 3( ) Estudante
4( ) Professora 5( )Vendedora 6( )Artesã
7 ( ) Cozinheira 8 ( ) Outra ____________________
9. Há quanto tempo você reside no bairro?_____________________________
10. Renda média mensal individual R$___________________
11.Quem é o chefe da família?
1( )Você mesma 2( )Cônjuge 3( )O casal 4( ) Os pais
5( )Outros parentes 6( )Filho(s) 7( )Outro ____________________
12. Outra pessoa ajuda nas despesas?
1( )Sim Quem?_____________________2( )Não
13. Renda média mensal familiar R$_____________________
14. Mora com quem?
1.( ) Sozinha 2. ( ) Com companheiro 3.( ) Com marido e filhos
4.( ) Com outros familiares5. ( ) Com amigas 6. ( ) Outros ____________
15. Com quantas pessoas mora? ____________________________________________
16. Há quanto tempo convive com esse companheiro? ________ ( ) Não se aplica
Bloco I Identificação
Bloco II Aspecto Sócioeconômicos
116
17. Quanto ao trabalho de casa / doméstico, qual a sua responsabilidade pelas seguintes tarefas?
Responsabilidade
Não
Sim, menor
parte
Sim, a maior
parte
Inteiramente
Não se
aplica
Cuidar das crianças?
Cuidar da limpeza?
Cozinhar?
Lavar roupa?
Passar roupa?
Fazer compras?
Pagar contas?
18. Quando está fora de casa, quem costuma fazer as tarefas domésticas?
1( )Empregada 2( )Marido/companheiro
3( )Filha (o) 4( ) Outra mulher (mãe/ irmã/ vizinha)
5( ) Outra pessoa ________________ 6 ( ) Ninguém
19. Qual idade na primeira menstruação?_________________anos
20. Qual idade na primeira relação sexual? __________anos Se não teve, vá para questão 28
21. Quantos parceiros sexuais você já teve?
1( )Somente 01 2( )de 02 a 04 3( )de 05 a 08
4( )Mais de 10 5( )Prefiro não especificar
22.Você tem filhos?
1( )Sim Quantos?_____________________ 2( )Não
23. Quantas gravidezes? _____________________ 9( )Não se aplica
24. Quantos partos? _____________________ 9( )Não se aplica
25. Quantos abortos? _____________________ 9( )Não se aplica
26. Quantas vezes por semana você faz sexo?
1( )Somente 01 2( )de 02 a 04 3( )de 05 a 08
4( )Mais de 10 5( )Prefiro não especificar 6 ( ) Sem parceiros sexuais
27. Seu desejo sexual está normal? _________________________________________________
28. Você atinge o prazer normalmente? ______________________________________________
29. Antecedentes Pessoais (assinale X em quantas opções forem necessárias)
1( ) Infecção Urinária 2( )Diabetes 3( )Hipertensão 4( )Câncer
5( ) DST 6( )Gemelaridade 7( ) Cirurgias pélvicas 8( ) Varizes
9( )Viroses de infância 10( ) Dçs Ósseas 11( )Anemia 12( )Úlcera
13( )Outros _______________
30. Dos problemas de saúde abaixo relacionados:
(assinale aqueles que você sente em média ou alta freqüência)
Dor na garganta
( )
Problemas digestivos
( )
Esquecimento
( )
Rouquidão
( )
Cansaço mental
( )
Diminuição de audição
( )
Dor nos braços
( )
Irritação nos olhos
( )
Dor nas pernas
( )
Perda temporária da voz
( )
Tontura
( )
Zumbido nos ouvidos
( )
Sonolência
( )
Nervosismo
( )
Insônia
( )
Fraqueza
( )
Formigamento nas pernas
( )
Dor nas costas
( )
Agressividade
( )
Agitação
( )
Choro frequente
( )
Dor de cabeça
( )
Perda do apetite
( )
Dificuldade de memória
( )
Compulsividade
( )
Irregularidade menstrual
( )
Bloco III História de Saúde e hábitos de vida
117
Distúrbios do sono
31. Dorme bem? ( )Sim ( ) Não
32. Acorda durante a noite, tendo pesadelos? ( )Sim ( ) Não
33. Usa ou já usou algum remédio para dormir? ( )Sim ( ) Não
34. Caso use ou já tenha usado especifique qual.________________________________
35. Acorda com facilidade? ( )Sim ( ) Não
Tabagismo
36. Você fuma?( ) Sim Nº cigarros/dia?_________ Há quanto tempo fuma? ______
( ) Já fumou. Há quanto tempo deixou de fumar? ________
( ) Não, nunca fumou.
Etilismo
37. Você bebe? ( ) Sim Nº doses/dia?_________ Há quanto tempo bebe? ______
( ) Já bebeu. Há quanto tempo deixou de beber? ________
( ) Não, nunca bebeu.
38. Pratica esportes e/ou alguma atividade física?
1( )Nunca 2( )Sempre 3( )Quase sempre
4( ) Às vezes 5( )Não se aplica
39. Qual seu passatempo preferido? (assinale no máximo três)
1( )Assistir TV 2( )Fazer caminhadas 3( )Internet
4( )Ouvir rádio 5( )Dançar 6( )Ir ao shopping
7( )Praia 8( )Atividades artesanais 9( ) Viajar/passear
40. Você acredita que vem sofrendo algum tipo de violência?
( ) Sim ( ) Não Se não, vá para Bloco V.
41. Que tipo de violência? (assinale quantas forem necessárias)
1. ( )Agressões físicas 2. ( ) Violência Psicológica 3. ( ) Abuso Sexual
4. ( ) Patrimonial 5. ( ) Agressões verbais 6. ( ) Omissões
Descrever__________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
42. Quem é o agressor?
1. ( ) marido/ companheiro 2. ( ) ex-marido/ ex-companheiro 3. ( ) namorado
4. ( ) ex-namorado 5. ( ) padrasto 6. ( ) irmão
7. ( ) vizinho 8. ( )outro _______________________
43. Quando as agressões se iniciaram?
1. ( ) Há um mês 2. ( ) Há + de 06 meses 3. ( ) Há + de um ano
4. ( ) Há + de dois anos 5. ( ) Há + de cinco anos 6. ( ) Há + de dez anos
44. Qual é a freqüência destas ocorrências de agressão?
1. ( ) Uma vez /semana 2. ( ) Duas ou três/semana 3. ( ) Quatro ou cinco/semana
4. ( ) Todos os dias 5. ( ) Outra ______________________________
45. Possui algum tipo de agravante para a agressão?
1. ( )Uso de álcool 2. ( ) Uso de outras drogas 3. ( )Desemprego
4. ( ) Falta de dinheiro 5. ( ) Ciúmes 6. ( )Traição7. ( ) Outras__________
46. Se for o caso de agressão física, qual (ais) o (s) local (ais) do corpo é mais agredido?
1. ( )Cabeça 2. ( ) Face 3. ( ) Membros superiores
4. ( ) Tórax 5. ( ) Abdome 6. ( ) Genitais
7. ( )Mamas 8. ( ) Membros inferiores 9. ( )Outros _____________________
Bloco IV Avaliação da Violência Doméstica
118
47. Horário das agressões
1. ( ) Durante a manhã 2. ( ) Durante a tarde 3. ( ) Durante a noite
4. ( )Variável
48. Dias da semana mais freqüente das agressões?
1. ( ) Finais de semana 2. ( ) Outros dias_______________________
49. Como se comporta diante das agressões ?
1. ( ) passividade 2. ( ) agressividade física 3. ( ) agressividade verbal
4. ( ) auto piedade (‘eu mereço’) 5. ( ) Outra ____________________________
50. Qual o seu sentimento diante da violência?
1. ( )Raiva 2. ( ) Ansiedade 3. ( ) Solidão
4. ( ) Medo 5. ( ) Tristeza 6. ( ) Desespero
7. ( )Impotência 8. ( ) Auto-piedade 9. ( )Outros ____________________
51. Quando é agredida, solicita ajuda de alguém ? (marque quantas forem necessárias)
1. ( ) Filhos 2. ( ) Amigos 3. ( ) Vizinhos
4. ( ) Policial 5. ( ) Familiares 6. ( )Coletivo de Mulheres(CMC)
7. ( )Segurança pública 8.( ) Desconhecido 9.( ) Justiça
10. ( ) Saúde (Atend. Médico) 11.( ) Saúde (Atend. Psiquiátrico)
12. ( ) Nenhuma ajuda 13. Outros______________________
52. Busca ou buscou a rede de apoio?
1. ( ) DEAM 2. ( ) VIVER 3. ( )Casa Abrigo
4. ( ) CREAIDS 5. ( ) IPERBA 6. ( ) C. Ref. Loreta Valadares
7. ( ) Outro _________________________________________
53. Você acredita que o comportamento do seu companheiro/marido/namorado contra você
afetou ou está afetando sua saúde física ou mental?
1. ( ) Sim 2. ( ) Não 3. ( ) Não sei
54. Qual a razão que faz você manter este relacionamento? (marque quantos quiser)
1. ( ) Não deixar os filhos 2. ( ) Casamento é sagrado 3. ( ) Pela família
4. ( ) Razões econômicas 5. ( ) Amor ao companheiro6. ( ) Ameaça
7. ( ) Acredito na melhora 8. ( ) Não tenho para onde ir 9. ( ) Medo
10. ( ) Perdão 11. ( ) Outro _________________________________
55. INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO DE BECK
Este questionário consiste em 21 grupos de afirmações. Depois de ler cuidadosamente cada grupo,
faça um círculo em tomo do número (0, 1, 2, ou 3) próximo à afirmação, em cada grupo, que descreve
melhor a maneira que você tem se sentido na última semana, incluindo hoje. Se várias afirmações em
um grupo parecerem se aplicar igualmente bem, faça um círculo em cada uma. Tome o cuidado de ler
todas as afirmações, em cada grupo, antes de fazer a sua escolha.
1. 0 Não me sinto triste.
1 Eu me sinto triste.
2 Estou sempre triste e não consigo sair disto.
3 Estou tão triste ou infeliz que não consigo suportar.
2. 0 Não estou especialmente desanimado quanto ao futuro.
1 Eu me sinto desanimado quanto ao futuro.
2 Acho que nada tenho a esperar.
3 Acho o futuro sem esperança e tenho a impressão de que as coisas não podem melhorar.
3. 0 Não me sinto um fracasso.
1 Acho que fracassei mais do que uma pessoa comum.
2 Quando olho para trás, na minha vida, tudo o que posso ver é um monte de fracassos.
3 Acho que, como pessoa, sou um completo fracasso.
Bloco V Avaliação da Saúde Mental
119
4. 0 Tenho tanto prazer em tudo como antes.
1 Não sinto mais prazer nas coisas como antes.
2 Não encontro um prazer real em mais nada.
3 Estou insatisfeito ou aborrecido com tudo.
5.0 Não me sinto especialmente culpado.
1 Eu me sinto culpado grande parte do tempo.
2 Eu me sinto culpado na maior parte do tempo.
3 Eu me sinto sempre culpado.
6. 0 Não acho que esteja sendo punido.
1Acho que posso ser punido.
2 Creio que serei punido.
3 Acho que estou sendo punido.
7. 0 Não me sinto decepcionado comigo mesmo.
1 Estou decepcionado comigo mesmo.
2 Estou enojado de mim.
3 Eu me odeio.
8. 0 Não me sinto, de qualquer modo, pior que os outros.
1 Sou crítico em relação a mim por minhas fraquezas ou erros.
2 Eu me culpo sempre por minhas falhas.
3 Eu me culpo por tudo de mau que acontece.
9. 0 Não tenho quaisquer idéias de me matar.
1 Tenho idéias de me matar, mas não as executaria.
2 Gostaria de me matar.
3 Eu me mataria se tivesse oportunidade.
10. 0 Não choro mais do que o habitual.
1 Choro mais agora do que costumava.
2 Agora, choro o tempo todo.
3 Costumava ser capaz de chorar, mas agora não consigo, mesmo que o queira.
11. 0 Não sou mais irritado agora do que já fui.
1 Fico aborrecido ou irritado mais facilmente do que costumava.
2 Atualmente me sinto irritado o tempo todo.
3 Não me irrito mais com as coisas que costumavam me irritar.
12. 0 Não perdi o interesse pelas outras pessoas.
1 Estou menos interessado pelas outras pessoas do que costumava estar.
2 Perdi a maior parte do meu interesse pelas outras pessoas.
3 Perdi todo o meu interesse pelas outras pessoas.
13. 0 Tomo decisões tão bem quanto antes.
1 Adio as tomadas de decisões mais do que costumava.
2 Tenho mais dificuldade em tomar decisões do que antes.
3 Não consigo mais tomar decisões.
14. 0 Não acho que minha aparência esteja pior do que costumava ser.
1 Estou preocupado por estar parecendo velho ou sem atrativos.
2 Acho que há mudanças permanentes na minha aparência que me fazem parecer sem atrativos.
3 Acredito que pareço feio.
120
15. 0 Posso trabalhar tão bem quanto antes.
1 Preciso de um esforço extra para fazer alguma coisa.
2 Tenho que me esforçar muito para fazer alguma coisa.
3 Não consigo mais fazer trabalho algum.
16. 0 Consigo dormir tão bem como o habitual.
1 Não durmo tão bem quanto costumava.
2 Acordo uma a duas horas mais cedo que habitualmente e tenho dificuldade em voltar a dormir.
3 Acordo várias horas mais cedo do que costumava e não consigo voltar a dormir.
17. 0 Não fico mais cansado do que o habitual.
1 Fico cansado com mais facilidade do que costumava.
2 Sinto-me cansado ao fazer qualquer coisa.
3 Estou cansado demais para fazer qualquer coisa.
18. 0 Meu apetite não está pior do que o habitual.
1 Meu apetite não é tão bom quanto costumava ser.
2 Meu apetite está muito pior agora.
3 Não tenho mais nenhum apetite.
19. 0 Não tenho perdido muito peso, se é que perdi algum recentemente.
1 Perdi mais de dois quilos e meio.
2 Perdi mais de cinco quilos.
3 Perdi mais de sete quilos.
Estou tentando perder peso de propósito, comendo menos. Sim () Não ( )
20. 0 Não estou mais preocupado com minha saúde do que o habitual.
1 Estou preocupado com problemas sicos, tais como dores, indisposição do estômago ou prisão de
ventre.
2 Estou muito preocupado com problemas físicos e é difícil pensar em outra coisa.
3 Estou tão preocupado com meus problemas físicos que não consigo pensar em qualquer outra coisa.
21. 0 Não notei qualquer mudança recente no meu interesse por sexo.
1 Estou menos interessado por sexo do que costumava estar.
2 Estou muito menos interessado em sexo atualmente.
3 Perdi completamente o interesse por sexo.
Total ______________________________
121
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ESCOLA DE ENFERMAGEM
TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO
Baseado na portaria 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta a
pesquisa com seres humanos, eu, _________________________________________, fui
devidamente esclarecida sobre a proposta de dissertação intitulada “Depressão em Mulheres
Vítimas de Violência Doméstica” que tem como objetivo geral analisar a associação entre
violência doméstica contra mulheres e a prevalência de depressão, além dos objetivos
específicos que são: 1) estimar a prevalência de depressão entre as mulheres do Calafate; 2)
Caracterizar a população segundo características sócio-demográficas; 3) Identificar a
violência doméstica, bem como aspectos relacionados à mesma; 5) Descrever associação
entre depressão, variáveis sócio demográficas e violência; e, 6) Descrever a associação entre
depressão, condições de saúde e hábitos de vida.
A mesma será realizada pela aluna do Mestrado em Saúde da Mulher da EEUFBA,
Ariane Cedraz Morais, na qual devo responder um questionário com questões de múltipla
escolha, e aceito participar voluntariamente, autorizando a utilização de conteúdo das minhas
informações para fins científicos, porém respeitando com sigilo absoluto as informações
confidenciais. Fui esclarecida que minha participação se dará após a assinatura desse termo
que também será assinado pela pesquisadora, em duas vias. Havendo qualquer dúvida nesse
momento, durante ou após a entrevista poderá procurar a pesquisadora através do telefone e/
ou endereço abaixo.
Salvador, ___________ / __________ / 2008
_______________________________ _______________________________
Ariane Cedraz Morais Assinatura da entrevistada
(Pesquisadora responsável)
Impressão digital
Escola de Enfermagem/Universidade Federal da Bahia Rua Augusto Viana, SN, Vale do Canela
Canela, Salvador, Bahia, Tel (71)32837631
Apêndice B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
122
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ESCOLA DE ENFERMAGEM
PREZADA SENHORA,
Esta pesquisa, para a qual a senhora es sendo convidada a participar, é
realizada pela Enfermeira do Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal da
Bahia (UFBA), com o objetivo principal de descrever o perfil das mulheres residentes
no Calafate, Avenida San Martim, Salvador- Bahia, bem como avaliar as condições de
saúde e violência, determinando principais fatores de risco relacionados à ocorrência
de depressão entre este grupo populacional.
A sua participação irá garantir, através da pesquisa, um estudo sobre a vida
destas mulheres, as condições de saúde, ocorrência de depressão bem como permitir
uma análise em relação à violência a qual estão submetidas, além de constituir-se
numa oportunidade de discutir sobre a valorização e reestruturação das redes de
atenção direcionadas para estas mulheres.
Por tanto, a sua participação é de fundamental importância e, para garantir a
qualidade desta pesquisa, solicitamos a sua colaboração para responder este
questionário que é de fácil resposta, todas as perguntas são objetivas, bastando apenas
assinalar ( X ) e, por isso, solicitamos que ele seja todo respondido.
Queremos deixar claro que a sua participação deve ser voluntária, não precisa
ser nominado e as respostas contidas não serão identificáveis, mantendo assim, o
anonimato das informações fornecidas.
A sua colaboração é importante para que possamos realizar esta pesquisa.
Desde já, muito obrigada.
Enf
a
Ariane Cedraz Morais
Apêndice C - Carta de Esclarecimento
123
Anexo A - Limites Geográficos do Calafate
124
Anexo B - Setores Censitários do Calafate
125
Continuação do Anexo B - Setores Censitários do Calafate
126
Anexo C - Ofício de aprovação do projeto pelo Comitê de Ética
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