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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
FACULDADE DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO
MESTRADO EM GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL
SUSTENTÁVEL
Elaine Barbosa da Silva Xavier
RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA PARA O
DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL:
o caso do projeto Tareco & Mariola, no município de
Belo Jardim-PE, Brasil
Recife, 2009
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Elaine Barbosa da Silva Xavier
RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA PARA O
DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL:
o caso do projeto Tareco & Mariola, no município de
Belo Jardim-PE, Brasil
Dissertação apresentada ao Programa de
Mestrado Profissional em Gestão do
Desenvolvimento Local Sustentável da
Faculdade de Ciências da Administração
de Pernambuco - FCAP/UPE, como
requisito complementar para obtenção do
grau de Mestre em Gestão do
Desenvolvimento Local Sustentável.
Orientador: Prof. Dr. Múcio Luiz Banja
Fernandes
Recife, 2009
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Elaine Barbosa da Silva Xavier
RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA PARA O
DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL:
o caso do projeto Tareco & Mariola, no município de
Belo Jardim-PE, Brasil
Esta dissertação foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de Mestre em
Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável no
Programa de Mestrado
Profissional em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável
da
Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco - FCAP/UPE.
Recife, 19 de outubro de 2009.
Profº Ivo Vasconcelos Pedrosa, Dr.
Coordenador do Programa
Banca Examinadora:
Prof. Múcio Luiz Banja Fernandes, Dr.
Orientador
Profa. Andréa Karla Pereira da Silva, Dra
.
Membro Interno - FCAP
Prof. Sérgio Dantas Neves, Dr.
Membro Interno - FCAP
Profa. Maria da Graça de Vasconcelos Xavier Ferreira, Dra.
Membro Externo - UNICAP
À minha família, em especial
aos meus Pais, pelo exemplo
de vida, e ao meu esposo, pela
dedicação e apoio constantes.
Agradecimentos
Com esta dissertação concluo mais um desafio em minha vida. Cada ciclo fechado é
um estímulo para continuar a caminhada e chegar ao próximo desafio, tentando
aplicar todos os conhecimentos e experiências adquiridos, com a certeza de que,
para viver é preciso primeiro saber conviver e saber se colocar no lugar do próximo;
ter compaixão.
Este Mestrado me trouxe conhecimentos e experiências de incomensurável valor.
Agradeço inicialmente a Deus, pela oportunidade de viver esta experiência única,
me concedendo, em todos os momentos, a sabedoria necessária para lidar com as
dificuldades e superar os obstáculos do caminho.
Agradeço aos meus Pais, Pedrina e Everaldo, pelo amor incondicional e pela
dedicação de toda uma vida. Com vocês aprendi que o maior legado que se pode
deixar para um filho é a educação, traduzida não apenas nos conhecimentos
formais, mas principalmente nos princípios humanitários e de civilidade.
Agradeço aos meus irmãos, Evelton e Elielton, minha cunhada Simone e minha
amiga Fabíola, pela disponibilidade para ajudar a qualquer hora, no que fosse
preciso. Também pela compreensão com as ausências constantes em decorrência
dos estudos.
Ao meu marido, Andreas, que entrou na minha vida de forma inesperada, trazendo
consigo um amor carregado de compreensão, cumplicidade, companheirismo, e de
todos os adjetivos positivos que se pode depreender deste sublime sentimento.
Obrigada por tudo.
Ao meu orientador, o Prof. Múcio Banja, competente mestre e sábio orientador.
Obrigada pelo apoio necessário à realização do trabalho, cobrando-me a conclusão
das atividades e etapas da pesquisa sempre de forma serena, compreendendo as
minhas limitações e as adversidades surgidas durante o trabalho.
Aos queridos amigos do Mestrado, obrigada pela valiosa convivência. Com certeza
somos uma turma-exemplo de que é possível sim, substituir a competitividade tão
presente no mundo atual, pela cooperação, que preza pelo crescimento conjunto,
consolidando os laços de amizade.
Ao corpo docente do Mestrado, que durante todo o curso se preocupou em
desenvolver nos alunos o espírito crítico, reafirmando o nosso compromisso, ainda
maior a partir de agora, com o desenvolvimento sustentável da sociedade em que
vivemos.
Agradeço a Célia Ximenes, secretária do Mestrado, que sempre me recebeu de
braços abertos, disposta a ajudar nas dificuldades encontradas ao longo do curso.
As suas palavras de encorajamento foram extremamente importantes para que eu
acreditasse no meu potencial.
A Marcos Ferreira, pela intensa compreensão e apoio nos momentos em que
precisei me ausentar do trabalho por motivos do Mestrado. Pela constante
contribuição, por meio de enriquecedoras discussões acerca do tema, influenciando
positivamente as minhas análises. Obrigada pelos incentivos e flexibilidade que
propiciaram a conciliação da vida profissional e acadêmica.
Às colegas de trabalho e amigas Nadja, Janaína, Rebecca e Andreza, que sempre
se dispuseram a ajudar no que fosse necessário, principalmente nos momentos de
grande pressão, onde o tempo parecia ser um inimigo para a conclusão das tarefas
acadêmicas e laborais.
Aos que fazem a Acumuladores Moura S/A, pela decisiva e enriquecedora
contribuição para o Estudo. Agradeço em especial a Sra. Conceição Moura, um
exemplo para todos, por ter concordado em realizar a pesquisa, relatando todos os
fatos e dados com a simplicidade característica dos sábios. A Paulo Sales, Edson
Viana e Sérgio Moura, pela total disponibilidade demonstrada em contribuir para o
trabalho, aceitando a realização da pesquisa. Agradeço sobremaneira a cordialidade
e simpatia com que sempre fui recebida pelos dirigentes da Empresa.
Agradeço o apoio e disponibilidade de Jorge Baraúna, que acolheu com carinho e
dedicação a tarefa de me repassar as informações do projeto, por meio de
documentos e da entrevista concedida. Admirável é a sua capacidade de, com todas
as suas atribuições, dedicar grande e valiosa parte do seu tempo para contribuir com
o desenvolvimento da comunidade.
Por fim, porém não menos importante, reitero os meus sinceros agradecimentos aos
que fazem parte do Projeto Tareco & Mariola, especialmente ao Sr. Antônio dos
Santos e Maria do Socorro, por terem me recebido de forma acolhedora na sede do
Projeto, contribuindo para a conclusão da pesquisa.
Só é útil o conhecimento
que nos torna melhores.
Sócrates
RESUMO
A presente dissertação teve como objetivo central avaliar a atuação da Empresa
Acumuladores Moura na área de Responsabilidade Social, por meio do Projeto
Tareco & Mariola, e sua eficácia para a promoção do desenvolvimento local
sustentável do município de Belo Jardim, no agreste do Estado de Pernambuco,
Brasil. Para este fim, foram elaborados estudos concernentes à Empresa
responsável, ao Projeto acima citado e à cidade de Belo Jardim, além das pesquisas
bibliográficas sobre os temas relacionados à compreensão da Responsabilidade
Social e do Desenvolvimento Sustentável, como Ética, Cultura, Liderança, Gestão
de Resíduos Sólidos e Reciclagem. A pesquisa foi alicerçada na metodologia quanti-
qualitativa, de caráter exploratório. A abordagem adotada foi de estudo de caso. A
amostra foi composta por respostas de representantes da população local,
funcionários da Acumuladores Moura, catadores de resíduos urbanos e artesãos
inseridos no Projeto. Também foram ouvidos os gestores do Projeto Tareco &
Mariola, e a presidência da Empresa, composta por quatro executivos atuantes na
sua gestão. A coleta de dados foi feita por meio da aplicação de questionários, na
vertente quantitativa, e realização de entrevistas semi-estruturadas e observação
direta e participante, com características de análises qualitativas. Os dados obtidos
foram organizados em planilhas para posterior tratamento dos dados por meio da
utilização do software Microsoft Office Excel. Os resultados da pesquisa apontaram
uma contribuição positiva do Projeto Tareco & Mariola para a promoção do
Desenvolvimento Sustentável na comunidade de Belo Jardim. Contribuições sociais,
econômicas e ambientais do Projeto foram levantadas e confirmadas com a
pesquisa. As possibilidades de expansão da atuação social da Empresa também
foram detectadas, bem como a importância da liderança para o sucesso das
iniciativas sociais da Organização. Aspectos da cultura organizacional mostraram-se
relevantes para a adoção de práticas consistentes de Responsabilidade Social. Com
isso, foi possível perceber a importância da iniciativa privada em programas sócio-
ambientais, buscando o atendimento das premissas de sustentabilidade, galgada
numa coerente proposta de responsabilidade social, como requisito mínimo para o
desenvolvimento local sustentável.
Palavras-chave: Responsabilidade Social, Desenvolvimento Sustentável,
Sustentabilidade.
ABSTRACT
This dissertation concerns the actions of the Company Acumuladores Moura S/A in
the area of social responsibility through the Tareco & Mariola Project, and their effec-
tiveness in promoting sustainable local development in the city of Belo Jardim, in the
State of Pernambuco , Brazil. Therefore, studies have been prepared concerning the
responsible Company for the project mentioned above and the city of Belo Jardim, in
addition to literature searches on topics related to the understanding of Corporate
Social Responsibility, Sustainable Development, Ethics, Culture, Leadership, Solid
Waste Management and Recycling. The research was grounded in exploratory quan-
titative, and qualitative methodology. The approach adopted was a case study. The
sample consisted of responses from representatives of the local population, Acumu-
ladores Moura`s employees, waste collectors and artisans included in the Project.
The managers of the Tareco & Mariola Project were heard, the president of the
Company and its four executives that work in its management. Data collection was
done through questionnaires in the quantitative approach, implementation of semi-
structured interviews, direct observation, and participant characteristics of qualitative
analysis. The data were organized into spreadsheets for further processing of data
through the use of Microsoft Office Excel. The results obtained indicated a positive
contribution of the Tareco & Mariola Project to promote sustainable development in
the community of Belo Jardim. Social contributions, economic and environmental im-
pacts of the project were raised and confirmed through research. The possibilities for
expansion of the Company's operations were also detected, as well as the impor-
tance of leadership for the success of social initiatives of the organization. Aspects of
organizational culture were relevant to the adoption of consistent practices for Social
Responsibility. Thus, it was possible to realize the importance of the private sector in
social and environmental programs, seeking to meet the assumptions of sustainabil-
ity, building a coherent proposal for social responsibility, as a minimum requirement
for local development.
Key-words: Social Responsibility, Sustainable Development, Sustainability.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Representação dos componentes de uma bateria chumbo-ácido. 23
Figura 2: Imagem do cartaz de incentivo à devolução da bateria. 24
Figura 3: Gráfico da evolução dos preços da tonelada do chumbo na LME no
período de set/2008 a jun/2009. 25
Figura 4: Figura adaptada do modelo AQAL de Ken Wilber. 52
Figura 5: Destinação Final dos Resíduos Sólidos no Estado de Pernambuco 65
Figura 6: Gráfico da faixa etária. 86
Figura 7: Gráfico da escolaridade. 87
Figura 8: Gráfico sobre o conhecimento do Projeto. 88
Figura 9: Gráfico do percentual de pesquisados participantes do Projeto
Tareco & Mariola. 88
Figura 10: Gráfico da distribuição dos pesquisados na hierarquia da Empresa. 89
Figura 11: Gráfico da distribuição dos pesquisados nas Unidades da Empresa. 90
Figura 12: Gráfico da distribuição dos pesquisados por tempo de atuação
na Empresa. 90
Figura 13: Gráfico da distribuição dos pesquisados por tempo de atuação
na Empresa. 91
Figura 14: Gráfico da distribuição dos pesquisados por tempo de atuação
na Empresa. 92
Figura 15: Gráfico da faixa etária dos pesquisados. 92
Figura 16: Gráfico do tempo de atuação dos pesquisados no Projeto. 93
Figura 17: Gráfico da escolaridade dos pesquisados no Projeto. 93
Figura 18: Nível de Conhecimento das atividades do Projeto. 95
Figura 19: Nível de Conhecimento das atividades do Projeto. 96
Figura 20: Nível de Conhecimento das atividades do Projeto. 97
Figura 21: Grau de importância atribuído às ações do Projeto. 99
Figura 22: Grau de importância atribuído às ações do Projeto. 100
Figura 23: Grau de importância atribuído às ações do Projeto. 100
Figura 24: Benefícios e beneficiados com a manutenção do Projeto. 102
Figura 25: Benefícios e beneficiados com a manutenção do Projeto. 102
Figura 26: Benefícios e beneficiados com a manutenção do Projeto. 103
Figura 27: Gráfico da participação, direta ou indireta, no Projeto. 104
Figura 28: Gráfico da participação, direta ou indireta, no Projeto. 104
Figura 29: Gráfico da participação, direta ou indireta, no Projeto. 105
Figura 30: Gráfico do estímulo à participação nos Projetos. 106
Figura 31: Gráfico do estímulo à participação nos Projetos. 106
Figura 32: Gráfico do nível de importância atribuída à área de
Responsabilidade Social. 109
Figura 33: Gráfico do nível de atuação da Moura na área de
Responsabilidade Social. 110
LISTA DE QUADROS E TABELAS
Quadro 1: Adaptado de Exportação Brasileira: Pernambuco – Principais
produtos exportados em 2008. 27
Quadro 2: Adaptado de Exportação Brasileira: Pernambuco – Principais
empresas exportadoras em 2008. 27
Quadro 3: Dados referentes à amostra da pesquisa. 79
Quadro 4: Perfil dos entrevistados e duração das entrevistas. 80
Tabela 1: Distribuição da população do município de Belo Jardim-PE e
seus distritos. 21
Tabela 2: Dados referentes à quantificação da produção e do recolhimento das
sucatas de baterias em 5 cidades do centro-oeste paulista. 73
Tabela 3: Classes de rendimento nominal mensal das pessoas responsáveis
pelo domicílio, em salários mínimos – 2000 86
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BNDES
CCBA
CONAMA
CONAR
CONDEPE/FIDEM
CPRH
CEMPRE
DLS
FUNDARPE
IBGE
IPI
ISE
IDH
MMA
ONU
PET
PIB
PNSB
PNUD
RESOLPE
RH
RSC
RSE
SECTMA
SISNAMA
SUDENE
UFPE
UGRS
USP
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
Centro Cultural Brasil Alemanha
Conselho Nacional do Meio Ambiente
Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária
Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de
Pernambuco
Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
Compromisso Empresarial para Reciclagem
Desenvolvimento Local Sustentável
Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de
Pernambuco
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Imposto sobre Produtos Industrializados
Índice de Sustentabilidade Empresarial
Índice de Desenvolvimento Humano
Ministério do Meio Ambiente
Organização das Nações Unidas
Poli Etileno Tereftalato
Produto Interno Bruto
Pesquisa Nacional de Saneamento Básico
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Sistema Estadual de Informações sobre Resíduos Sólidos
Recursos Humanos
Responsabilidade Social Corporativa
Responsabilidade Social Empresarial
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente
Sistema Nacional do Meio Ambiente
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
Universidade Federal de Pernambuco
Unidade Gestora de Resíduos Sólidos
Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 16
2 JUSTIFICATIVA E CONTRIBUIÇÃO DO ESTUDO 18
3 OBJETIVOS 19
3.1 OBJETIVO GERAL 19
3.1.1 Objetivos específicos 19
4 LOCUS DA PESQUISA 20
4.1 O MUNICÍPIO DE BELO JARDIM 20
4.2 A ACUMULADORES MOURA S/A 22
4.3 O PROJETO TARECO & MARIOLA 28
5 REFERENCIAL TEÓRICO 33
5.1 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 33
5.2 O HOMEM, AS ORGANIZAÇÕES E O DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL 39
5.3 A CULTURA, AS ORGANIZAÇÕES E O DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL 44
5.4 A RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA 48
5.5 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS SOBRE A RESPONSABILIDADE SOCIAL 53
5.6 A GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL E SUA
RELAÇÃO COM O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 57
5.6.1 Políticas de Tratamento dos Resíduos Sólidos no Brasil 59
5.6.2 Políticas de tratamento dos resíduos sólidos no Estado
de Pernambuco 62
5.7 RECICLAGEM PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 67
6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 74
6.1 PERGUNTAS DE PESQUISA 74
6.2 DEFINIÇÃO DE TERMOS 74
6.3 DELINEAMENTO DA PESQUISA 76
6.4 DELIMITAÇÃO DA UNIDADE DE ESTUDO 77
6.5 SELEÇÃO DA AMOSTRA 78
6.6 COLETA DE DADOS 80
6.7 ANÁLISE DOS DADOS 82
6.8 VALIDAÇÃO DA PESQUISA 83
6.9 LIMITAÇÕES 84
7 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 85
7.1 PERFIL DOS GRUPOS PESQUISADOS 85
7.1.1 Grupo “Comunidade de Belo Jardim” 85
7.1.2 Grupo “Funcionários da Acumuladores Moura S/A” 89
7.1.3 Grupo “Artesãos e Catadores” 92
7.2 O CONHECIMENTO SOBRE AS ATIVIDADES DO PROJETO 95
7.3 O RECONHECIMENTO DA IMPORTÂNCIA DO PROJETO 98
7.4 AS AÇÕES DO PROJETO TARECO & MARIOLA 98
7.5 OS BENEFÍCIOS E BENEFICIADOS COM O PROJETO 101
7.6 A PARTICIPAÇÃO DOS ATORES NO PROJETO 103
7.7 A ATUAÇÃO DA MOURA NA ÁREA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL 107
7.8 A COMPREENSÃO SOBRE A SUSTENTABILIDADE 110
7.9 OS DILEMAS ÉTICOS DO “SOCIALMENTE RESPONSÁVEL” 111
7.10 A LIDERANÇA PARA A PROMOÇÃO DA SUSTENTABILIDADE 112
7.11 OS RESULTADOS DO PROJETO TARECO & MARIOLA 114
7.11.1 Aspecto Ambiental 114
7.11.2 Aspecto Social 114
7.11.3 Aspecto Econômico 115
7.12 O FUTURO DO PROJETO TARECO & MARIOLA 117
8 CONCLUSÕES 119
REFERÊNCIAS 122
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO PARA A COMUNIDADE LOCAL 132
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO PARA CATADORES E ARTESÃOS 134
APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO PARA FUNCIONÁRIOS
ACUMULADORES MOURA 136
APÊNDICE D – ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA GESTORES
DO PROJETO 138
APÊNDICE E – ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA PRESIDÊNCIA
DA EMPRESA 139
16
1 INTRODUÇÃO
A Responsabilidade Social Empresarial vem ganhando cada vez mais
adeptos no ambiente corporativo. Se antes essa responsabilidade era vista com
descrédito por parte de muitos empresários, hoje ela está conseguindo conquistar
maior espaço ao longo da hierarquia das grandes e pequenas organizações. A
postura de enfrentamento entre a classe empresarial e os órgãos ambientais do
governo e grupos ambientalistas, está dando lugar, crescentemente, ao diálogo
entre essas esferas da sociedade civil na busca de soluções para os impactos
socioambientais de muitas atividades empresariais. (CAMARGO et al, 2002).
O pressuposto de que a Responsabilidade Social, em especial a empresarial,
que é o foco desta pesquisa, pode contribuir para o desenvolvimento sustentável de
uma comunidade ou grupo social, parece se confirma cada vez mais com a
proliferação de organizações e de empresários ligados ao movimento em prol da
sustentabilidade.
Essa premissa pode ser comprovada por meio da investigação da evolução
dos ganhos sociais, ambientais e econômicos gerados pela implantação e gestão de
projetos de responsabilidade social da iniciativa privada. A Siemens (2008), por
exemplo, entende a sua Responsabilidade Social Empresarial como parte integral da
Empresa que abrange todas as três dimensões do desenvolvimento sustentável:
economia, meio ambiente e sociedade. A Natura (2009) estabeleceu o compromisso
com diretrizes para o meio ambiente que contemplam: a responsabilidade para com
as gerações futuras; a educação ambiental; o gerenciamento do impacto do meio
ambiente e do ciclo de vida de produtos e serviços; e a minimização de entradas e
saídas de materiais.
Segundo Capra (2002), no decorrer da última década do Século XX cresceu a
conscientização mundial, moldada pelas novas tecnologias, pelas novas estruturas
sociais, por uma nova economia e uma nova cultura. Na perspectiva dessa mudança
de pensamento, é importante (e coerente) estabelecer uma política empresarial,
alicerçada nas atuais premissas de sustentabilidade. Meadows et al (1972) apud
Nobre & Amazonas (2002) já haviam estabelecido um modelo matemático de alerta,
utilizando cinco variáveis que se distribuíam em: industrialização (crescente),
população (em rápido crescimento), má-nutrição (em expansão), recursos naturais
não-renováveis (em extinção) e meio ambiente (em deterioração).
17
Na concepção da mudança de visão empresarial, o uso diferencial da
“imagem” da empresa alia-se à necessidade de acompanhar o processo de
concorrência no mercado. O Instituto Ethos (2003, p.6) demonstra essa necessidade
de ajustes aos novos conceitos, estabelecendo uma nova visão sobre o processo de
produção e comercialização:
A Responsabilidade Social Empresarial - RSE tornou-se um fator de
competitividade para os negócios. No passado, o que identificava uma
empresa competitiva era basicamente o preço de seus produtos. Depois,
veio a onda de qualidade, mas ainda focada nos produtos e serviços. Hoje,
as empresas devem investir no permanente aperfeiçoamento de suas
relações com todos os públicos dos quais dependem e com os quais se
relacionam: clientes, fornecedores, empregados, parceiros e colaboradores.
Isso inclui também a comunidade na qual atua o governo, sem perder de
vista a sociedade em geral, que construímos a cada dia. (INSTITUTO
ETHOS, 2003 p.6)
Veloso (2005) cita como uma das atividades e atitudes que uma organização
precisa ter atualmente, o maior envolvimento com a comunidade local em que está
inserida, contribuindo para o seu desenvolvimento econômico, ambiental e social,
atuando diretamente na comunidade ou em parceria com governos e instituições
não-governamentais.
Experiências como o Projeto Tareco & Mariola, que tem como um de seus
principais pilares o reaproveitamento de resíduos sólidos, estimulando a criatividade
dos participantes do projeto por meio do artesanato e gerando renda pela
comercialização das peças produzidas; devem servir de objeto de estudo a fim de
que seja possível extrair aprendizados dessas experiências. O projeto, fundado e
gerenciado pela Empresa Acumuladores Moura S/A no município de Belo Jardim-
PE, será analisado à luz dos conceitos da sustentabilidade.
Dados de caráter social, econômico e ambiental foram levantados, já que a
promoção do Desenvolvimento Sustentável pressupõe ações que resultem
positivamente nessas dimensões, com vistas à promoção e manutenção da
qualidade de vida da comunidade local, não comprometendo os recursos
necessários à sobrevivência das suas futuras gerações. Os dados foram coletados
na sede do Projeto Tareco & Mariola junto aos seus participantes, na indústria de
acumuladores Moura por meio dos seus funcionários e corpo diretivo da Empresa,
que concebeu e é gestora do projeto.
18
2 JUSTIFICATIVA E CONTRIBUIÇÃO DO ESTUDO
A justificativa para a escolha do tema Responsabilidade Social Empresarial
para o Desenvolvimento Sustentável repousa na premissa, cada vez mais aceita
entre os estudiosos do tema, de que a promoção do desenvolvimento sustentável
dentro da sociedade deve ser resultado das ações de todos os grupos sociais. A
complexidade dos desafios que se apresentam neste novo século exige uma rede
diversificada de atores que possa, cada qual na sua esfera de atuação local,
promover o bem-estar de toda a comunidade.
As organizações, sejam elas com fins lucrativos ou não, possuem
normalmente em suas estruturas uma grande diversidade de capital humano
representativa da diversidade étnica-cultural existente no mundo. Além disso, essas
organizações vivas possuem uma grande capacidade, tanto para melhor quanto
para pior, de atuação, mobilização e modificação do meio em que estão inseridas.
Desta forma, é coerente e prudente, que as Empresas sejam consideradas
grandes agentes de transformação capazes de promover o desenvolvimento
sustentável na região em que atuam por meio de seus projetos sociais e,
principalmente, pela forma como os seus gestores exercem suas lideranças e
conduzem a gestão da Empresa.
O caso do Projeto Tareco & Mariola pode oferecer um rico panorama para
elucidar as formas de contribuição que uma empresa pode proporcionar à
comunidade local, transformando a vida de pessoas e contribuindo para a solução
de problemas que são locais e globais, como o gerenciamento dos resíduos sólidos.
A pesquisa pretende também identificar possíveis gargalos existentes na
gestão da Responsabilidade Social da Moura, oferecendo idéias de como solucionar
esses impasses para que os resultados auferidos nesta área possam ser ainda
melhores.
19
3 OBJETIVOS
Os objetivos apresentados foram definidos com o intuito de representar o
tema da pesquisa e facilitar o entendimento da seqüência de atividades realizadas
para este Estudo.
3.1 OBJETIVO GERAL
Avaliar a atuação da Acumuladores Moura na área de Responsabilidade
Social por meio do Projeto Tareco & Mariola e sua eficácia para a promoção do
desenvolvimento local sustentável.
3.1.1 Objetivos específicos
1. Descrever o processo de implantação e funcionamento do Projeto Tareco &
Mariola nos diversos setores do município de Belo Jardim-PE;
2. Verificar, na perspectiva da população local, se o Projeto Tareco & Mariola tem
gerado resultados econômicos, sociais e ambientais positivos para a comunidade
local;
3. Identificar o nível de conhecimento dos gestores do Projeto Tareco & Mariola e da
Acumuladores Moura sobre desenvolvimento sustentável;
4. Avaliar a percepção dos grupos pesquisados acerca da importância ambiental,
econômica e social do Projeto Tareco & Mariola, na perspectiva do desenvolvimento
local sustentável.
5. Avaliar a percepção dos funcionários da Acumuladores Moura sobre a atuação da
Empresa na área de Responsabilidade Social
20
4 LOCUS DA PESQUISA
4.1 O MUNICÍPIO DE BELO JARDIM
Segundo dados da Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de
Pernambuco CONDEPE/FIDEM (2008), o Município de Belo Jardim foi criado em
1928, fruto do desmembramento do município de Brejo da Madre de Deus, estando
localizado na mesorregião do agreste pernambucano, a 181,5 km da capital
pernambucana, Recife. A cidade de Belo Jardim teve origem na Fazenda Capim,
que em 1833 já fazia parte do Distrito da Paz de Jurema, pertencente a Comarca do
Brejo da Madre de Deus.
Em 1881 o povoado teve o nome alterado de Capim para Belo Jardim, por
sugestão do Frei Cassiano de Camachio que estava em missão naquela localidade.
Em 28 de junho de 1884 foi elevada à categoria de freguesia e, posteriormente, em
03 de Julho de 1897, foi elevada à categoria de vila. Por encontrar-se próxima da
estrada de ferro central de Pernambuco, o seu crescimento se intensificou. Em
1906, com a chegada dos trilhos à área urbana da cidade, a vila acelerou seu
desenvolvimento e tornou-se a sede do município do Brejo da Madre de Deus sendo
elevada à categoria de cidade. (GALVÃO; SILVA, 2006).
A situação de cidade sede do município do Brejo da Madre de Deus
permaneceu até 1928, quando o município do Brejo da Madre de Deus foi
desmembrado, criando o novo município de Belo Jardim pela Lei Estadual nº 1931,
de 11 de setembro de 1928. (GUIA DO RECIFE E PERNAMBUCO, 2008). O
município possui atualmente quatro distritos: Belo Jardim, Serra dos Ventos, Xucurú
e Água Fria, sendo a região banhada pelo rio Ipojuca, e ocupando uma área de
647,696 km². A população total da cidade é de 70.963 habitantes, estando estes
distribuídos conforme a Tabela 1 a seguir:
21
Tabela 1: Distribuição da população do município de Belo Jardim-PE e seus distritos.
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000 – Resultados do Universo.
( 1 ) Inclusive a população estimada nos domicílios fechados.
A destacada relevância cultural da região no Estado de Pernambuco é
configurada no seu rico folclore. A cidade é conhecida por seus festejos juninos que
se prolongam até o mês de julho, como a Festa da Redenção e a Festa das
Marocas, além de ser reconhecida como uma cidade de músicos, denunciando a
sua vocação para as questões artísticas e culturais. (PORTAL BELO JARDIM,
2009).
Economicamente, a região se apóia principalmente na presença de três
grandes indústrias: a Baterias Moura, produtora de acumuladores elétricos, a
Palmeiron, de gêneros alimentícios e a Natto, indústria alimentícia de derivados
avícolas. O setor industrial responde por 48% do Produto Interno Bruto do Município,
e em seguida a agropecuária com a produção de aves. (CONDEPE/FIDEM, 2008).
O potencial turístico da região é grande, apesar de pouco explorado, com
significativo apelo para o turismo ecológico e o turismo rural, como por exemplo, a
presença de cachoeiras como a do Grutião ou a da Fazenda do Tira-Teima. A região
possui grande deficiência nos aspectos relacionados à saúde pública, educação,
saneamento básico, enfim, questões que influenciam na qualidade de vida da
população residente.
O município possui IDH de 0,625; abaixo do indicador do Estado de
Pernambuco, que é de 0,705. O Produto Interno Bruto - PIB per capita da população
é de R$ 5.365, com um índice de Gini de 0,56, indicando que grande parte da
riqueza gerada pelo município fica concentrada em uma pequena parcela da
população. A taxa de analfabetos com 25 anos ou mais no município é de 41,76%, e
22
a média de anos de estudo da população é de apenas 3,53 anos.
(CONDEPE/FIDEM, 2008).
4.2 A ACUMULADORES MOURA S/A
A empresa Acumuladores Moura S/A foi fundada em outubro de 1957. Fruto
do sonho e da veia empreendedora do químico industrial Edson Mororó Moura, em
conjunto com a sua esposa e também química industrial Maria da Conceição Viana
Moura. O casal empreendeu o desafio de produzir acumuladores elétricos em uma
cidade do interior do Estado de Pernambuco, Belo Jardim, que, à época, não
possuía nenhuma, ou muito pouca infra-estrutura para receber um empreendimento
tão ousado e que exigia não só grandes investimentos de capital, como também
grande investimento em conhecimento. (MOURA, 2008).
De acordo com Moura (2008), muitas foram as adversidades encontradas
para iniciar a empreitada, mas superando cada uma delas e com o apoio de órgãos
governamentais como a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste -
SUDENE e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES; e
com parcerias tecnológicas firmadas ao longo dos anos com grandes empresas,
como a inglesa Chloride e, posteriormente, com a americana Exide, a
Acumuladores Moura S/A, mais conhecida como Baterias Moura, chegou aos seus
50 anos sendo a marca líder de baterias automotivas no Brasil, presente na maior
parte dos países da América Latina e em alguns países da Europa e América
Central.
Ao longo desses 50 anos a empresa diversificou o seu portfólio de produtos
desenvolvendo baterias tracionárias para atender ao mercado logístico;
estacionárias para o mercado de telecomunicações, bancos de no-breaks e energias
alternativas; baterias náuticas para aplicações em barcos, lanchas e demais
embarcações; além do carro-chefe da empresa: as baterias automotivas que hoje
equipam mais da metade dos veículos produzidos no Brasil. (MOURA, 2008).
Todas as baterias produzidas pela Moura são do tipo chumbo-ácido. As
baterias deste tipo possuem como componente principal o metal chumbo. De forma
simplificada as baterias são compostas por placas de chumbo e placas de dióxido de
chumbo, mergulhadas em solução de ácido sulfúrico. A eletricidade da bateria
provém da reação controlada que ocorre dentro dela entre o ácido sulfúrico e as
23
placas de chumbo, gerando o sulfato de chumbo, água e elétrons livres. Ao ser
carregada, os elétrons livres da bateria são devolvidos e o sulfato de chumbo e a
água transformam-se novamente em chumbo e ácido sulfúrico. (GUIA DO
HARDWARE, 2009). A seguir, na Figura 1, uma ilustração dos principais
componentes de uma bateria chumbo-ácido.
Figura 1: Representação dos componentes de uma bateria chumbo-ácido.
Fonte: Oficina e Cia (2009).
As baterias do tipo chumbo-ácido são, atualmente, as baterias mais utilizadas
no mundo para aplicações automotivas, sistemas de fornecimento de energia
elétrica e em aplicações de energia em geral, apesar do crescente avanço nos
estudos sobre outros tipos de baterias que sejam menos poluentes e consigam ser
mais eficientes do que as atuais. Aproximadamente 70% do chumbo extraído
anualmente, que é de aproximadamente 5,5 milhões de toneladas, destinam-se à
24
produção de baterias deste tipo. 50% do total de chumbo provêm da reciclagem,
segundo Imbelloni (2009).
Apesar de serem altamente poluentes devido ao chumbo, um metal pesado, e
ao ácido, presente em sua solução, as baterias possuem um potencial de 100% de
reciclagem para os seus componentes. O não reaproveitamento deste material
significa uma grande perda econômica e, principalmente, ambiental. Nos países
desenvolvidos aproximadamente 95% das baterias produzidas são recicladas ao
final da sua vida útil. No Brasil, este percentual chega a 85% nos grandes centros
urbanos, porém nas cidades pequenas e mais afastadas, supõe-se que este número
seja bem reduzido. (IMBELLONI, 2009).
A Moura recicla 100% de toda a sucata arrecadada através dos seus
distribuidores exclusivos em todo o Brasil. A empresa estimula os clientes finais a
devolverem as baterias através de cartazes explicativos sobre as conseqüências do
descarte incorreto do material e sobre as indicações da resolução do Conselho
Nacional do Meio Ambiente - CONAMA de nº 401/2008. Os cartazes são
encaminhados pelos distribuidores exclusivos a todas as revendas-clientes que
comercializam as baterias para os usuários finais. A seguir, a Figura 2 apresenta a
imagem do cartaz utilizado pela Moura.
Figura 2: Imagem do cartaz de incentivo à devolução da bateria.
Fonte: Moura (2009a).
25
Além do incentivo ao descarte correto das baterias utilizando o canal de
logística reversa da Empresa, por meio dos seus distribuidores, é prática arraigada
no mercado de baterias a concessão de descontos para os clientes na aquisição de
uma nova bateria, quando estes concordam em deixar sua sucata.
Os clientes finais e as próprias companhias sabem que, para uma empresa
de baterias, a matéria-prima secundária, proveniente da reciclagem das baterias
recolhidas, é de fundamental importância para a viabilidade econômica do negócio,
principalmente pelo fato de o Brasil não ser um País produtor de chumbo-primário,
dependendo 100% das reservas internacionais.
Além disso, existe atualmente uma instabilidade mundial no preço do chumbo,
principal componente da bateria, que chegou a variar mais de 100% em apenas 3
meses, no período de setembro a dezembro de 2008, conforme Figura 3 a seguir:
Figura 3: Gráfico da evolução dos preços da tonelada do chumbo na LME
1
no período de set/2008 a
jun/2009.
Fonte: Base Metals (2009).
1
LME (London Metal Exchange) é o principal mercado de metais básicos do mundo onde ocorrem as
principais negociações entre os maiores fornecedores e compradores mundiais de metais.
26
No Brasil, a Moura conta com cinco plantas fabris. Quatro situadas na cidade
de Belo Jardim-PE, e uma na cidade de Itapetininga-SP. A empresa também conta
com dois escritórios administrativos localizados, respectivamente, em Jaboatão dos
Guararapes-PE e São Paulo-SP. Além disso, possui uma rede de distribuição com
mais de 60 pontos de venda presentes ao longo de todo o território nacional.
(MOURA, 2008).
No exterior a empresa está presente na Argentina e Porto Rico, com unidades
de distribuição, além de possuir distribuidores independentes que atendem à região
do Mercosul e parte da Europa (Portugal, Espanha e Inglaterra). A Empresa tornou-
se a principal fornecedora da frota em circulação da América do Sul e líder de
vendas neste mercado, com relação à sua marca. (BARBOSA, 2008).
A Moura ocupa um lugar de destaque na economia do Estado de
Pernambuco, bem como na economia nacional, ocupando a posição nº 658 entre as
1000 maiores Empresas do Brasil, de acordo com a edição da Revista Exame
Melhores e Maiores (2009). A Empresa, na edição 2009 do anuário Valor 1000
(2009), uma publicação do jornal Valor Econômico, encontra-se na posição 585ª,
ante a posição 724ª que ocupou no ano de 2008. A publicação indica as 1000
maiores Empresas do Brasil.
A Moura encerrou o ano de 2008 com uma receita líquida de 430 milhões de
reais, frente aos 312 milhões auferidos no ano anterior (2007). O lucro líquido da
Empresa atingiu a cifra de 83 milhões de reais, segundo balanço publicado no Jornal
do Commercio em 26 de maio de 2009 (ACUMULADORES MOURA, 2009) . O
aumento no lucro líquido da empresa, de 2007 a 2008, foi de aproximadamente
240%.
No setor de Veículos e Peças, segundo classificação final da Revista Valor
1000, a Moura ocupa a 5ª posição entre as melhores do setor, à frente de Empresas
como Facchini e Ciferal. A avaliação se deu com base em critérios pré-definidos pela
publicação, como crescimento sustentável, receita líquida, rentabilidade, dentre
outros. No item “geração de valor” (Ebitda
2
sobre receita líquida), a Moura figurou
também o 5º lugar com um percentual de 23,1%. (VALOR 1000, 2009).
Na economia do Estado de Pernambuco, a Moura possui relevante atuação
econômica. A Empresa, que produz 5 milhões de baterias por ano e possui planos
2
Sigla em inglês para a expressão “Earning before interest, taxes, depreciation and amortization” que
em português pode ser traduzido como: ”Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização”.
27
para ampliar a produção para 7 milhões de unidades/ano, exporta entre 15% e 20%
da sua produção para a Argentina, Paraguai, Uruguai e Porto Rico. O crescimento
da Moura tem atingido um patamar de 10% nos últimos anos, segundo Paulo Sales,
presidente excutivo da Empresa. (VALOR ESTADOS, 2008).
No Quadros 1 e 2, a seguir, são representados os principais produtos
exportados e as maiores empresas exportadoras no Estado de Pernambuco, no
período de Janeiro a Dezembro de 2008.
Posição
Principais Produtos
Exportados
US$
FOB
Participação no total
de produtos exportados
(%)
Outros açúcares de cana,
beterraba, sacarose
quimicamente pura sólida
174.542.982 18,62
2º Uvas Frescas 104.247.413 11,12
Açúcar de cana em bruto 100.375.303 10,71
Borracha de butadieno (BR),
em chapas, folhas, tiras, etc.
48.792.909 5,20
Acumuladores elétricos de
chumbo para arranque de
motor pistão.
38.184.612 4,07
Quadro 1: Adaptado de Exportação Brasileira: Pernambuco – Principais produtos exportados em
2008.
Fonte: Ministério do Desenvolvimento – MDIC (2009).
Posição
Principais Empresas
Exportadoras
US$
FOB
Participação no total
exportado
(%)
PETROFLEX IND E COM S.A. 67.193.884 7,17
2º TERPHANE LTDA 48.127.235 5,13
USINA SAO JOSE S/A 42.852.428 4,57
COMPANHIA AGRO INDUSTRIAL
DE GOIANA
40.205.252 4,29
USINA TRAPICHE S/A 39.821.989 4,25
6º ACUMULADORES MOURA S/A 38.224.810 4,08
Quadro 2: Adaptado de Exportação Brasileira: Pernambuco – Principais empresas exportadoras em
2008.
Fonte: Ministério do Desenvolvimento – MDIC (2009).
28
A Empresa em 2008 possuia uma capacidade de produção anual de 6
milhões de baterias, das quais 50% tinha como destino as montadoras de veículos
instaladas no País como Ford, Volkswagen, Fiat, dentre outras. Do total da receita
da Empresa, 20% foram gerados no Nordeste, segundo o vice-presidente Paulo
Sales. Os investimentos da Moura, nos últimos quatro anos (2004 – 2008), giraram
em torno de 35 milhões de reais por ano, o que possibilitou dobrar a capacidade das
unidades fabris da Empresa. (VALOR ESTADOS, 2008).
Sobre a opção da Moura em continuar fixada no Nordeste, Paulo Sales
afirma: “Formamos mão de obra por aqui, e a importância da Moura na economia
local nos torna uma referência de qualidade [...]. Aqui temos mão-de-obra qualificada
e mais barata, o que compensa o fato de estarmos longe de São Paulo.” (VALOR
ESTADOS, 2008, p. 51). A unidade fabril de Itapetininga-SP ao longo dos anos
tornou-se mais um centro de distribuição, com pouca atividade industrial.
A Moura conta hoje com a força de trabalho de aproximadamente 2000
funcionários. Metade deste número está localizada na cidade de Belo Jardim-PE,
cidade que desde o início acompanhou de perto a história da Empresa, tendo, por
diversas vezes, confundido a sua história com a desta. Este é mais um motivo pelo
qual a Empresa busca cada vez mais se integrar à comunidade belo-jardinense, com
o objetivo de proporcionar à sua população uma melhoria na qualidade de vida, na
medida em que a Empresa também cresce e conquista cada vez mais espaço nos
cenários nacional e internacional.
4.3 O PROJETO TARECO & MARIOLA
O Projeto Tareco & Mariola, iniciativa de responsabilidade social da Baterias
Moura, possui dez anos de atuação. Idealizado e fundado em 1999 por Conceição
Moura, vice-presidente do Conselho de Administração da indústria de acumuladores,
a ação inclui atividades de coleta seletiva, reciclagem de lixo, produção artesanal e
cursos de educação ambiental e de gestão em 17 escolas de Belo Jardim-PE, sede
da Baterias Moura, e uma no município de Pesqueira-PE. O Projeto Tareco &
Mariola assume ser a sua missão: “Formar pessoas com capacidade de
aprendizagem e de trabalho, em condições de colaborarem para o bem-estar
próprio, de sua família e da sociedade em que vivem”. (MOURA, 2009b).
29
O início do projeto remonta aos anos de 1999, quando Conceição Moura,
vice-presidente do Conselho de Administração da Acumuladores Moura S/A, com o
apoio do atual gerente de qualidade da Empresa, Jorge Baraúna, decidiram unir
esforços para a fundação do Projeto. Jorge, isoladamente, como uma atividade
pessoal nas horas extra-laborais, procurava levar aos estudantes das escolas
públicas de Belo Jardim o conceito dos 5S, vivenciado e praticado por ele na fábrica
de acumuladores elétricos de Belo Jardim. O 5S, ou 5 sensos, é um método oriundo
do Japão do fim da década de 50, que promove a “organização padronizada”
através da prática dos sensos de: utilização, organização, limpeza, padronização e
auto-disciplina. O método foi incorporado às organizações ocidentais na década de
90 a fim de melhorarem a sua produtividade e a qualidade dos seus produtos. A
motivação para a ação e participação das pessoas é fundamental para o sucesso na
implantação do 5S. (VANTI, 1999).
A idéia de Conceição Moura de fundar um Projeto que pudesse proporcionar
uma melhora na qualidade de vida da população belo-jardinense se concretizou com
a Fundação do Tareco & Mariola, com a ajuda de Jorge Baraúna, que trouxe para o
escopo da ação social a sua atividade pessoal de ajudar as escolas de Belo Jardim
através de palestras sobre o 5S. O Projeto então teve início com atuação em 3 áreas
distintas: coleta seletiva, reciclagem voltada para produção de artesanatos e práticas
educativas nas escolas. Todas as atividades desenvolvidas pelo Tareco & Mariola
são interligadas pela temática ambiental, seja nas palestras proferidas nas escolas
que incluem a educação ambiental, seja nas práticas de coleta seletiva e reciclagem,
que contribuem para a minimização dos impactos dos resíduos sólidos gerados na
cidade.
Atualmente o Projeto tem sua sede situada em um prédio de propriedade da
Baterias Moura. Ele conta com a participação direta de 23 pessoas, entre gestores,
catadores e artesãos. O número de impactados com a ação e participantes indiretos
é bem maior, e ultrapassa as 17.000 pessoas, entre empresas parceiras que doam
os seus resíduos sólidos para o projeto; as empresas que compram grande parte do
material reciclado arrecadado; os artesãos que produzem as peças artesanais e as
expõem para a venda no Centro de Artesanato de Belo Jardim e em feiras e
exposições; o grupo de professores que apóiam o programa de Qualidade Total nas
Escolas, uma evolução do 5S nas Escolas, com a supervisão de 3 representantes
do Tareco & Mariola; os alunos e cidadãos em geral participantes dos cursos; e por
30
fim, os funcionários da Empresa, que contribuem indiretamente para o Projeto
através da coleta e doação de resíduos. (MOURA, 2009b).
Em 2007, uma parceria entre a Baterias Moura, a Prefeitura de Belo Jardim e
o Governo do Estado de Pernambuco tornou possível a construção de um Centro de
Artesanato na Cidade. A Moura doou um terreno para a construção do prédio que
hoje abriga o Centro de Artesanato. O governo do Estado, através da Fundação do
Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco - FUNDARPE, concedeu a verba à
Prefeitura de Belo Jardim para a construção do prédio. A Prefeitura ficou
responsável pela construção e manutenção do Centro, que levou o nome do Projeto
Tareco & Mariola, porém não se limita à comercialização apenas do trabalho dos
artesãos oriundos do Projeto. O Centro está aberto para que qualquer artesão belo-
jardinense ou dos municípios circunvizinhos comercializem lá as suas peças. Desta
forma, o empreendimento veio sanar um grande problema que era a falta de espaço
para a exposição e comercialização das peças artesanais produzidas, conforme
lembra Conceição Moura:
...o artesanato, que se desenvolveu bastante e criou-se um centro de
artesanato para poder vender os produtos, porque senão, senão não
venderia porque o pessoal da coleta tem uma facilidade enorme de
resultado porque tem a venda imediata; o do artesanato não; faz, e às
vezes não encontra o comprador, então isso dificulta um pouco, a gente tem
que ajudar, por isso que se teve a idéia de fazer um centro de artesanato
para poder dar saída no produto, fechar o ciclo.
A Prefeitura de Belo Jardim ficou responsável pela manutenção do Centro
com o pagamento das despesas com Pessoal. Os artesãos que lá expõem as suas
peças para comercialização, participam nos gastos de manutenção do Centro com
um percentual de contribuição em cima do que é vendido para o pagamento de
despesas fixas como água e energia. Temendo as instabilidades políticas, com
trocas de correntes partidárias no governo municipal, o que poderia afetar a
transferência de recursos da Prefeitura para a manutenção do Centro, Conceição
Moura decidiu criar uma associação em conjunto com as suas netas, que se
comprometeram a continuar o Projeto em qualquer situação adversa.
A Associação Centro de Artesanato Tareco & Mariola, constituída por
Conceição Moura, suas netas e Jorge Baraúna, fundada em 23 de março de 2007,
31
solicitou à Prefeitura de Belo Jardim a gestão do Centro de Artesanato Tareco &
Mariola e, após aprovação do pedido pela Câmara de Vereadores da Cidade, o
Centro passou a ser administrado pela Associação. A cessão da gestão do Centro
para a associação tem a duração de 20 anos, podendo ser prorrogado após este
período.
O Projeto ao longo dos anos se estruturou e hoje conta com uma sólida rede
de colaboração, que faz com que o mesmo expanda cada vez mais sua atuação e o
número de participantes diretos e indiretos. A geração de renda para os seus
participantes está entre os objetivos iniciais do Tareco & Mariola que vêm sendo
alcançados ao longo dos anos. Além disso, a implantação da coleta seletiva
acontece agora em empresas, escolas e residências da cidade.
Outro aspecto relevante é o aumento considerável no volume de material
coletado pelo Projeto, que chega a 35 mil quilos por mês, o que equivale à quase
metade da produção diária de lixo em Belo Jardim. Desse total, 95% são vendidos
para empresas especializadas em material reciclável. O restante é destinado à
produção de artesanato na sede do Tareco & Mariola. Um exemplo do
aproveitamento desses resíduos é o de que parte das garrafas de Poli Etileno
Tereftalato - PET é transformada em vassouras numa fábrica do projeto, além da
produção de móveis a partir do papelão reciclado.
Uma das principais bases do projeto social Tareco & Mariola é a coleta e
reciclagem de lixo – especialmente papel, papelão e garrafas PET. Com esses
materiais, os integrantes da Associação de Recicladores e Artesãos produzem de
móveis artesanais a vassouras. Esta Associação, que deu lugar à Associação de
Artesãos Belo-Jardinenses recentemente, a partir de maio de 2009, é o que dá
sustentação ao Projeto Tareco & Mariola, caracterizado também pela produção
artesanal de peças decorativas e utilitárias. Estes produtos são levados a feiras e
exposições em Pernambuco e Estados vizinhos. (MOURA, 2009b)
As ações do Tareco & Mariola são voltadas para a coleta seletiva do lixo
fornecido pela comunidade, comércio, indústrias e outras empresas de Belo Jardim.
Para que mais famílias carentes possam ser beneficiadas, o apoio da população é
fundamental. Com o objetivo de angariar o apoio da comunidade local, o Tareco &
Mariola deu início a uma campanha de coleta seletiva nos bairros da cidade,
solicitando a colaboração e participação de todos. Desta forma, o projeto conseguiu
fazer com que várias residências adotassem a coleta seletiva. Os materiais
32
coletados nas residências passaram a servir de insumo para a produção das peças
artesanais desenvolvidas no projeto. Além disso, os funcionários da Moura,
principalmente os que atuam nas unidades da Empresa em Belo Jardim, dão sua
contribuição separando material reciclável em seus departamentos e encaminhando-
os ao Projeto.
No quesito educação ambiental, mais de cinco mil pessoas envolvidas nas
escolas beneficiadas pelo Tareco & Mariola foram capacitadas. O projeto também
oferece capacitação para a produção de artesanatos. Com a atividade, os
participantes trabalham com o material coletado pelos catadores e usam matérias-
primas típicas da região, como palha de milho e couro. Reaproveitamento é a
palavra de ordem do Projeto, que dá um destino criativo para cada tipo de material,
moldando-os nas mãos de seus artesãos.
O Projeto Tareco & Mariola já foi agraciado com diversos prêmios
relacionados às ações de Responsabilidade Social Empresarial, dentre eles o
Prêmio Vida Profissional da Sodexho Pass, na categoria Responsabilidade Social,
dos anos de 2005, 2006 e 2008 e o Prêmio Cidadania 2006, do anuário Telecom.
(MOURA, 2009b).
33
5 REFERENCIAL TEÓRICO
5.1 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
O desenvolvimento sustentável tornou-se nas últimas décadas um conceito
amplamente debatido entre os diversos setores da sociedade. Alguns parecem
levantar a bandeira pelo simples “modismo” do tema, outros pelo real
comprometimento com os objetivos aos quais o desenvolvimento sustentável se
propõe.
Organizações utilizam-se do termo sustentável de forma corriqueira como se
a sustentabilidade fosse algo que pudesse ser alcançada apenas com pesados
investimentos em “marketing”, para ampla divulgação das suas supostas ações
sociais. Se por um lado a “onda” de euforia em torno do conceito e dos seus
desdobramentos provoca a reflexão e busca verdadeira do conhecimento, por outro,
provoca muitas vezes distorções na sua definição e aplicação.
Pelo dicionário Houaiss (2004) da Língua Portuguesa, o substantivo
desenvolvimento é definido como sendo sinônimo de crescimento, adiantamento,
progresso. O próprio dicionário já traz a definição de desenvolvimento sustentável
como sendo “desenvolvimento planejado a fim de não esgotar ou degradar os
recursos naturais”.
O conceito de desenvolvimento sustentável ganhou notoriedade pela primeira
vez na Comissão Mundial sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente em 1987,
organizada pela Organização das Nações Unidas - ONU, que resultou na
elaboração do Relatório Nosso Futuro Comum, mais conhecido como Relatório
Brundtland (ONU, 1991), em homenagem a então primeira-ministra da Noruega, Gro
Harlem Brundtland, encarregada de conduzir os estudos da Comissão.
O objetivo do encontro foi discutir e propor mudanças sobre a forma como até
então vinha sendo considerado o desenvolvimento: estritamente focado no aspecto
econômico, descuidando-se dos aspectos social e, principalmente, do ambiental.
Neste encontro foi utilizada pela primeira vez a definição para o termo
desenvolvimento sustentável que viria a ser uma das mais aceitas posteriormente.
Segundo o Relatório Nosso Futuro Comum (ONU, 1991), divulgado pela
Comissão Mundial sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, desenvolvimento
34
sustentável é suprir as necessidades da população mundial atual sem comprometer
as necessidades das populações futuras.
Analisando-se o conceito acima, constata-se a assertividade da definição do
termo em traduzir o desejo maior da humanidade, que é a perpetuação da espécie
humana. Ao mesmo tempo, esta definição não indica os caminhos tortuosos que
devem ser trilhados para que este objetivo se torne real. O conceito de
desenvolvimento sustentável não difere de todos os outros conceitos existentes,
quaisquer que sejam, pois todos eles são produtos do homem e voltados para o
entendimento também do homem.
Egoshi (2009) considera uma falácia entender o desenvolvimento sustentável
como instrumento voltado para a natureza e não para o ser humano. O autor faz um
paralelo entre o desenvolvimento sustentável e a Dialética Hegeliana que prevê os
elementos da tese, antítese e síntese.
O autor supracitado continua a sua análise afirmando que a tese (ou ação) se
traduz no desenvolvimento econômico e social da humanidade, promovendo uma
evolução econômica e tecnológica jamais vista, com um crescimento vertiginoso da
população. A antítese (ou reação) veio com a consciência do ser humano da finitude
dos recursos naturais e que, persistindo no atual modelo desenvolvimentista onde os
recursos naturais são explorados de forma ilimitada, com as benesses servindo
apenas a uma pequena parcela dos mais de 6 bilhões de habitantes do globo, em
algum momento o planeta entraria numa espécie de colapso com a provável
extinção da própria espécie humana. A síntese (ou solução) para essa dissonância
cognitiva entre o desenvolvimento desenfreado e a continuidade da vida humana é
apresentada com o conceito de desenvolvimento sustentável, que busca o caminho
do meio: desenvolver, respeitando-se os limites da natureza com vistas à
preservação da espécie.
Investigando-se em maior profundidade o que viria a ser o “não
comprometimento” com as necessidades das gerações futuras, foi possível
identificar o homem como parte integrante de um todo maior e mais complexo: o
planeta, o meio ambiente e suas diversas formas de vida que estão intimamente
relacionadas umas com as outras formando uma grande teia, tão bem aprofundada
por Fritjof Capra (2006) em seu livro “A Teia da Vida”.
A busca pelo refinamento cada vez maior da definição inicial oferecida pelo
Relatório Brundtland (ONU, 1991), como é conhecido o Relatório Nosso Futuro
35
Comum, deu origem à proposição do conceito, pelo Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento - PNUD, de Desenvolvimento Humano Sustentável,
baseado no “tripé” da sustentabilidade, que deposita sua estabilidade na defesa de
uma importância equânime dada às três dimensões propostas, a saber: social,
econômica e ambiental, conforme citado abaixo:
O desenvolvimento humano sustentável procura satisfazer as necessidades
imediatas sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras também
satisfazerem suas necessidades. Ele leva em conta os aspectos ambientais,
econômicos, sociais e humanos. Propõe a divisão eqüitativa dos frutos do
crescimento, permitindo que as pessoas aumentem sua autonomia e suas
capacidades, e que participem das decisões que influenciam sua vida.
(PNUD, 1996).
Veiga (2006) em seu livro “Desenvolvimento Sustentável: o desafio do século
XXI” propõe analisar isoladamente o significado das palavras “desenvolvimento” e
“sustentável” para só depois analisá-las em conjunto. Para o termo desenvolvimento,
o autor apresenta três definições possíveis de serem adotadas. Duas delas,
consideradas respostas simples como considerar o desenvolvimento como sinônimo
de crescimento econômico.
Clara é a importância do crescimento para o desenvolvimento, porém o
primeiro se relaciona a uma mudança quantitativa, enquanto o segundo, a
mudanças qualitativas que extrapolam os limites dos números. O desenvolvimento
propõe uma mudança estrutural, que não permite o retrocesso às etapas anteriores.
O crescimento, do ponto de vista econômico, permite a repetição, o retrocesso, pois
ele diz respeito apenas a números e menos à estrutura. (VEIGA, 2006).
Cavalcanti (1999) defende a idéia de que o desenvolvimento sustentável deve
ser uma alternativa para o conceito de crescimento econômico, estando este
atrelado ao crescimento quantitativo da economia. Neste caso, existe uma crítica à
definição do autor quando se entende que o conceito de desenvolvimento
sustentável não seria apenas uma alternativa, já que alternativa pressupõe a
possibilidade de substituição de um termo por outro de valor semelhante.
O desenvolvimento sustentável deve não só englobar o conceito de
crescimento econômico como buscar harmonizá-lo com os conceitos de
desenvolvimento social e ambiental. Destarte, o desenvolvimento sustentável não
36
deve ser “alternativa”, mas substituto do conceito de crescimento econômico,
quando objetiva retratar um crescimento posto em prática de forma a equilibrar os
aspectos sociais, econômicos e ambientais, perpetuando este equilíbrio dinâmico ao
longo dos anos.
O desenvolvimento, conforme Veiga (2006), tem sido exceção histórica e não
regra. Os mercados são apenas uma entre as diversas variáveis necessárias ao
processo de desenvolvimento. Este, por sua vez, não é apenas um resultado direto
da interação das forças de mercado. Para Sachs (2002) o desenvolvimento permite
a cada indivíduo revelar as suas potencialidades e capacidades na busca da auto-
realização, por meio de esforços coletivos e individuais, trabalhos autônomos,
heterônomos e atividades voltadas para fins lucrativos e sem fins lucrativos. Não
existe apenas um caminho para o desenvolvimento, mas vários, e é esse conjunto
não homogêneo que pode viabilizar um desenvolvimento sustentável para todos.
Sen (2000) em seu livro “Desenvolvimento como Liberdade” consegue
consolidar bem o conceito de desenvolvimento sustentável, traduzindo-o como o
direito do ser humano de expandir e usufruir dos diversos tipos de liberdade, desde
as constitutivas, definidas como básicas para o enriquecimento da vida humana
como as liberdades associadas à satisfação das necessidades básicas de
alimentação, higiene, educação; bem como as liberdades instrumentais, que se
tornam meios para a promoção do desenvolvimento sustentável, como a liberdade
política e a liberdade de expressão, dentre outras.
A liberdade de escolhas é tida por Sen (2000) como definição de
desenvolvimento. O desenvolvimento é entendido como a possibilidade que as
pessoas têm de viverem o tipo de vida que escolheram, tendo instrumentos e
oportunidades para fazerem essas escolhas.
Furtado (2004), em seu artigo publicado na Revista de Economia Política, cita
o Brasil como um caso claro de país onde não houve correspondência entre o
crescimento econômico e o desenvolvimento alcançado nas últimas décadas. O
autor relembra que o crescimento econômico no País é voltado para realizar os
desejos de modernidade e preservação dos privilégios de uma elite. O
desenvolvimento é caracterizado por um projeto social subjacente. Não basta dispor
de recursos para investimento social, é preciso consolidar ações que busquem
transformar efetivamente crescimento (econômico) em desenvolvimento (social).
37
O desenvolvimento não é apenas um processo de acumulação e de
aumento de produtividade macroeconômica, mas principalmente o caminho
de acesso a formas sociais mais aptas a estimular a criatividade humana e
responder às aspirações da coletividade. (FURTADO, 2004, p.485).
Dando prosseguimento ao método de investigação adotado por Veiga (2006)
para definição do que é o Desenvolvimento Sustentável, passa-se à definição do
termo sustentabilidade. Para o autor existem, como para o desenvolvimento, três
possíveis definições. Duas delas com visões extremadas que criam um impasse e
um anátema na defesa científica. A última explora o caminho “do meio”.
A primeira teoria se baseia na premissa de que não há um dilema entre a
conservação ambiental e o crescimento econômico. Acredita-se que, inicialmente, o
crescimento econômico possa prejudicar a conservação ambiental, porém, atingido
um patamar de crescimento, as benesses do mesmo passariam a melhorar a
qualidade ambiental, sendo a teoria batizada como a “curva ambiental de Kuznetz”.
(VEIGA, 2006). A teoria apresenta suas controvérsias, minimizando a amplitude dos
fatores que influenciam o desenvolvimento e fazendo uma simplificação
extremamente linear entre renda per capita e qualidade ambiental.
Um exemplo da incompatibilidade da Teoria da Curva Ambiental de Kuznetz é
representado na pesquisa realizada pela revista Science
3
, constatando que o
desmatamento encontra-se na contramão do desenvolvimento da sociedade. A
pesquisa foi feita com base nos dados de centenas de municípios na Amazônia e,
através dos estudos, foi constatado que, quanto maior o desmatamento no município
pesquisado, menor era o seu Índice de Desenvolvimento Humano - IDH.
O estudo demonstra que a estratégia de desenvolvimento adotada na área
não promovia nem a preservação da biodiversidade local, nem proporcionava
melhoria na qualidade de vida da população residente. (MARCOLINI, 2009). O
desmatamento inicialmente provocava um aumento no IDH, porém, esse
crescimento não se mantinha ao longo dos anos, atingindo um ápice e
posteriormente voltando a patamares ainda inferiores aos encontrados inicialmente.
3
A revista Science é uma publicação da Sociedade Americana para o Avanço da Ciência (AAAS). A
revista foi fundada em 1998 e é uma das mais prestigiadas do mundo científico, com tiragem semanal
de 130 mil exemplares.
38
A segunda opção ao termo sustentável teorizada por Nicholas Georgescu-
Roegen (apud VEIGA, 2006), faz uma correlação com a segunda lei da
termodinâmica que discorre sobre o aumento da entropia em um sistema. A
premissa é de que a humanidade tira da natureza uma parte da energia de baixa
entropia (livre) que, com o passar do tempo, se torna de alta entropia (presa). Em
algum momento esse fluxo tende a se estabilizar e, assim, a humanidade passará a
retirar da natureza apenas o necessário de recursos (energia livre) para substituir
algum recurso descartado no sistema (energia presa).
Isso significa que as melhoras seriam maiores em termos qualitativos
(melhorias advindas da tecnologia e maior eficiência de produção) e menores em
termos quantitativos (recursos explorados na natureza), na busca por um equilíbrio
dinâmico. A teoria não obteve grande repercussão no meio científico, pois adota
uma visão bastante limitada e reducionista sobre o assunto.
O caminho do meio veio de forma política com a proposta de
institucionalização e legitimação da expressão Desenvolvimento Sustentável
adotada pela Assembléia Geral da ONU, no relatório Brundtland. (VEIGA, 2006).
No prefácio do livro “Desenvolvimento Sustentável: o desafio do século XXI”
de José Eli da Veiga, Sachs (2006) afirma que a sustentabilidade dependerá da
capacidade humana de utilizar com prudência os recursos ambientais, devendo a
adjetivação “sustentável” ser desdobrada em: ambientalmente sustentável,
socialmente includente e economicamente sustentado no decorrer do tempo. Sachs
(2006) propõe novos paradigmas integrando os diferentes saberes para que seja
possível obter um desenvolvimento sustentável.
Em entrevista à Revista Global, o Professor João Paulo Cândia Veiga (apud
GARCIA, 2008) do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo
- USP argumenta que a agenda da sustentabilidade está vinculada ao futuro da
humanidade e faz um paralelo com o século XX, quando temas como guerra
nuclear, paz e segurança estiveram constantemente presentes.
Porém, a sustentabilidade, diferentemente dos temas do século XX, pode ser
colocada em prática não só pelos governos, mas principalmente pela sociedade civil,
em particular pelas organizações, que desenvolvem tecnologias aplicadas à
fabricação de produtos cada vez mais ecoeficientes, e pelos consumidores, que
mudam seus padrões de consumo valorizando aspectos não só econômicos, mas
também sociais e ambientais.
39
5.2 O HOMEM, AS ORGANIZAÇÕES E O DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
O homem é um ser social, político e racional. Desde o início da história da
humanidade busca conviver em grupos. Inicialmente os grupos foram formados com
o objetivo maior de sobreviver às extremas adversidades do meio, posteriormente
esses indivíduos criaram laços entre si e deram origem às diversas civilizações e,
num contexto moderno, às nações componentes do globo. As convergências de
ideais e objetivos, mas também as divergências, levaram esses grupos à
necessidade de se organizarem num, cada vez mais complexo, sistema hierárquico
social, com a instituição de direitos e deveres para todos os que do sistema faziam
parte. (BLAINEY, 2008).
Atualmente as organizações se constituem no tipo de sistema social
predominante, considerando-se organização como uma associação de pessoas
independentemente dos objetivos que as unem, tais como religiosos, políticos ou
econômicos. As organizações com fins econômicos não são construções sociais
modernas, porém atualmente dominam o panorama social num contexto jamais
visto. Elas crescem e se organizam cada vez mais formando grandes
conglomerados presentes em diversas nações do globo, empregando milhares de
indivíduos de diversas nacionalidades e influenciando bilhões de pessoas com seus
produtos e serviços. (GOMES; MORETTI, 2007).
As organizações de fins econômicos, que aqui serão chamadas de Empresas,
Corporações ou ainda Organizações, tais quais são conhecidas hoje, surgiram a
partir da Revolução Industrial do século XVIII, apoiadas no sistema capitalista que
instaurou novas relações entre o capital e a força de trabalho. A acumulação de
bens, o aumento da produtividade, a supervalorização da máquina em detrimento do
homem foram alguns dos marcos dessa Revolução. (GOMES; MORETTI, 2007).
Nesse contexto, o tema “mudança” ocupou e ocupa um cenário de destaque
nas Organizações. As mudanças foram sempre tidas como algo inevitável e que
deveriam ocorrer para a conquista do progresso econômico e tecnológico, bases do
sistema capitalista. Essas mudanças foram sempre acompanhadas de um senso de
velocidade, considerado determinante para efetuar as transformações tidas como
necessárias.
40
Amaral (2009) traz à discussão o sentido da palavra “mudança”
argumentando que ela pode ser externa e interna ao indivíduo. No sistema
capitalista vigente, a velocidade, a flexibilidade, a resiliência são tidas como fatores
cruciais nos resultados das Empresas, impondo um ritmo de mudança que
proporciona aos indivíduos apenas reflexões superficiais de adequação ao cenário.
Segundo o autor, as mudanças internas demandam mais tempo, maior esforço e
conseqüentemente exigem maior dedicação e continuidade no horizonte temporal,
exigindo uma reconexão e sincronização interior, indispensáveis para dar sentido à
vida humana.
O paradoxo do progresso vivido atualmente pela sociedade é externalizado
pelo amplo avanço das ciências clássicas e do capitalismo convivendo com o
fracasso na solução de problemas cruciais para a vida humana como a fome, a
pobreza e a guerra, deixando transparecer um gradual abandono, pelos homens, de
princípios e valores universais. (GOMES; MORETTI, 2007).
Acontece que, atualmente, a sociedade e, conseqüentemente, também as
organizações, passam por uma profunda necessidade de mudança. Desta vez, uma
mudança interna, que leve à reflexão sobre os valores que até então guiaram a
humanidade. As empresas já não são consideradas instituições mecanicistas que
têm como única função auferir lucro. Hoje elas são consideradas importantes atores
na construção de um novo paradigma onde o homem e suas relações com o meio
são valorizados. A adoção de uma nova forma de gestão baseada no novo
paradigma exige um novo perfil de gestor, que compartilhe dos novos valores e
acredite verdadeiramente na importância de suas ações. (AMARAL, 2009).
“Quando os paradigmas mudam, o próprio mundo muda com eles”. O trabalho
de Thomas Kuhn (apud WAAGE, 2004, p.5) teve grande impacto na forma como era
compreendido o desenvolvimento científico. O autor argumenta que o surgimento de
novos paradigmas se dá quando as anomalias do atual modelo são perceptíveis,
levantando questões cruciais que levam à busca do entendimento sobre como
funcionam as atuais dinâmicas.
Conforme a estrutura teórica se torna menos útil e plausível para explicar as
dúvidas oriundas do maior aprofundamento sobre os temas atuais, novas teorias são
propostas e, algumas aceitas. Por vezes, essas novas teorias são caracterizadas
por grandes rupturas conceituais em relação às anteriores. As mudanças de
41
paradigmas levam às mudanças de entendimento sobre quais fatores são
importantes naquele contexto e quais medidas devem ser tomadas. (WAAGE, 2004).
Como em poucos momentos da história, atualmente a sociedade percebe a
necessidade de retirar o foco do homem como centro de tudo e passa a enxergá-lo
como mais uma parte do sistema, atentando para a grande complexidade do meio.
Para Morin (2007a, p.37) “conhecer o humano não é separá-lo do Universo, mas
situá-lo nele”, e não de forma central com vistas à satisfação do seu próprio ego.
Apesar de não ter o papel central neste grande sistema, o homem, sob a ótica
do desenvolvimento sustentável, está inserido como o agente de mudança capaz de
transformar a realidade. O papel do líder neste contexto é de extrema importância
para que as mudanças de valores e comportamentos necessárias à consolidação do
desenvolvimento sustentável sejam colocadas em prática.
Maximiano (2000, p.326) define a liderança como “o processo de conduzir as
ações ou influenciar o comportamento e a mentalidade de outras pessoas”. A
liderança pressupõe a presença de um conjunto de características indispensáveis
para o seu exercício em um grupo, como habilidades de comunicação,
relacionamento, persuasão, dentre outras, assim como a congruência de interesses
entre líderes e liderados, que gere uma motivação nos participantes do grupo para
atingir os objetivos propostos.
Os atuais desafios da sustentabilidade demandam um novo perfil de
liderança, com grandes obstáculos a serem vencidos. A demanda é crescente por
líderes transformadores que, antes de qualquer coisa, se deixem também ser
transformados pelos novos valores da sustentabilidade; que saibam conciliar e
aceitar a diversidade como condição sine qua non para a prática verdadeiramente
sustentável, e que consigam transmitir o entusiasmo e a importância das pessoas
em tudo que se realiza. (AMARAL, 2009).
A transformação dos modelos mentais do ser humano e das organizações
para um viver e conviver mais coletivo e salutar necessita de um estilo de liderança
transformador que valorize o autoconhecimento e a auto-realização, individual e
coletiva, estimulando o pleno desenvolvimento do potencial humano, partindo de
uma consciência expandida (espiritual - ambiental - social - econômica). A
capacidade de analisar o mundo com sua grande complexidade e seus impactos no
curto, médio e longo prazo nas sociedades, organizações e planeta em geral será
um grande desafio para o novo perfil de líderes. (GUEVARA; DIB, 2009).
42
Gomes & Moretti (2007) registram a necessidade de liberar a visão
economicista hegemônica atual, centrada nas realizações materiais, para uma visão
humanística, concentrando-se na abertura de duas frentes de atuação: a
maximização do conhecimento sobre os impactos e conseqüências das ações
humanas; e a elaboração de uma força de conhecimento do bem. Essa deve ser
uma busca tanto individual quanto coletiva, pois não é possível colocá-la em prática
sozinho.
A racionalidade instrumental superando a racionalidade substantiva não foi
capaz de gerar felicidade e bem-estar generalizados que compensariam os grandes
esforços feitos. A economia extrapolou a sua principal função de regular as forças
produtivas da sociedade, para tornar-se uma forma de dominação. As Empresas
tornaram-se fonte de mando e poder na sociedade contemporânea e, justamente por
hoje ocuparem uma posição de destaque no cenário mundial, as organizações
devem e precisam ser incluídas e consideradas como um dos principais meios para
a implantação, desenvolvimento e consolidação de uma cultura planetária
sustentável. (GOMES; MORETTI, 2007).
As Empresas hoje se preocupam em envolver todos os seus stakeholders nas
suas ações de Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social. Os
staakeholders podem ser compreendidos como todos os públicos que se relacionam
direta ou indiretamente com a organização, podendo ser chamados também de
“partes interessadas” (PALMISANO; PEREIRA, 2009).
O valor de uma Empresa atualmente é dado não só pelos seus ativos
financeiros, mas principalmente pelos seus ativos intangíveis dos quais destacamos
o valor da marca e a reputação da organização. A partir disto, a sociedade percebe
que cada vez mais pode exercer influência sobre as organizações, seja por meio da
aquisição dos seus produtos, reconhecimento e valorização da marca, valorização
das ações sociais que a Empresa conduz, dentre outras ações. Concomitantemente,
os gestores das organizações se vêem num cenário organizacional em que o
processo decisório envolve inúmeras variáveis e não apenas as costumeiramente
econômicas e financeiras.
De acordo com Trad (2009) a reputação de uma marca é de extrema
relevância para o seu reconhecimento e aceitação no mercado. Há algumas
décadas a reputação de uma Empresa repousava sobre a qualidade e preço dos
seus produtos. Hoje, essa gama de atributos para qualificar a reputação de uma
43
empresa aumentou, com a inclusão de características consideradas importantes
como a responsabilidade social corporativa, a sua governança corporativa, a forma
como lida com os seus stakeholders, se é inovadora, dentre outros. Para o autor, a
reputação reside na comunicação corporativa, porém ela deve perpassar todas as
funções, pois todos os integrantes da empresa, por meio das suas palavras e ações,
são responsáveis pela construção da reputação organizacional.
Um grande desafio enfrentado pelas organizações atualmente é preparar
seus profissionais para lidar e atuar no novo paradigma da sustentabilidade, agindo
proativamente em consonância com os preceitos da gestão sustentável. As
organizações vêem na área de Recursos Humanos - RH ou Gestão de Pessoas, um
grande aliado para a rápida e eficiente multiplicação dos novos conceitos e valores
da sustentabilidade. Se inicialmente esta área das organizações se dedicava
exclusivamente às questões burocráticas como recrutamento, seleção, avaliação e
recompensas, ao longo dos anos 90 o escopo das atividades dos gestores de RH,
como são comumente chamados, passou por grandes modificações.
A área de Gestão de Pessoas, ou RH, foi chamada a assumir uma posição
mais estratégica dentro das organizações a partir do momento em que ficava mais
claro que, sem pessoas preparadas, comprometidas e que compartilhassem dos
valores da Empresa, não era possível obter os resultados esperados. A grande
batalha agora é preparar profissionais que reconheçam e acreditem no grande
desafio que se coloca à frente das organizações que é o de aliar as questões
econômicas às questões sociais e ambientais. (PALMISANO; PEREIRA, 2009).
A engenheira Fátima Brayner, ex-Secretária de Tecnologia e Meio Ambiente
do Estado de Pernambuco, em entrevista concedida ao Centro Cultural Brasil
Alemanha - CCBA, elenca como um dos grandes desafios do gestor público (mas
também dos executivos de organizações privadas), aliar o desenvolvimento à
preservação ambiental. “A mediação de interesses, às vezes conflitantes, é um dos
pontos de tensão que exige do gestor público um profundo senso ético aliado à
defesa dos interesses públicos.” (BRAYNER, 2009). A engenheira destaca que a
questão ambiental está intimamente relacionada com as questões de cidadania,
destacando o acesso à educação e a distribuição de renda.
44
5.3 A CULTURA, AS ORGANIZAÇÕES E O DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
A definição de cultura dada pelo dicionário Houaiss (2004, p.204) da Língua
Portuguesa, dentre outras, é aceita como “o conjunto dos padrões de
comportamento, das crenças, costumes, atividades, etc. de um grupo social”, ou
ainda, “forma ou etapa evolutiva das tradições e valores de um lugar ou período
específico; civilização”.
Schermerhorn et al (1999) definem cultura como uma forma aprendida e
compartilhada de como fazer as coisas em uma sociedade. Os autores ainda
defendem que ninguém nasce com uma cultura, e sim em uma sociedade que nos
ensina a sua própria cultura. A cultura se manifesta através de conhecimentos,
valores, símbolos como o idioma, hino, bandeiras, manifestações artísticas.
A cultura compreende, também, um complexo coletivo de representações
mentais que ligam o material e o imaterial por estruturas dialéticas inevitáveis. O
material é representado pela estrutura econômica, as leis, as estruturas sociais, as
vivências concretas. O imaterial é tido como a vida simbólica, suas idéias e
representações ideológicas. O mundo imaterial, representado pelos valores, ideais,
crenças e símbolos alimentam os elementos materiais, traduzidos nos
comportamentos dos indivíduos em família, na sociedade e nas organizações.
(AKTOUFF, 1993). Da mesma forma, as organizações reforçam e constroem
dialeticamente os seus valores, ideais e cultura, baseadas nas suas estruturas
formais, suas inter-relações diárias e tudo aquilo de concreto que compõe a
organização.
Entender dentro da organização as complexas relações existentes entre o
“material” e o “imaterial”, relacionamento este que dá forma à cultura organizacional,
implica estabelecer uma relação entre a “cultura da empresa” e as estruturas sociais,
a história, as leis, a moral, todos os traços formadores daquela sociedade em que a
Empresa está inserida. Apesar da grande influência da cultura da sociedade nas
organizações locais, é possível afirmar que cada Empresa delimita uma cultura
organizacional única, gerada e sustentada principalmente pelos seus fundadores,
líderes e também pelo mercado e sociedade em que atuam, podendo variar esta
influência externa de organização para organização. (FREITAS, 1997).
45
Para Schein (1987), culturas nacionais, organizacionais ou subculturas são
formadas por pressupostos básicos, artefatos visíveis e conjuntos simbólicos que
criam os valores sociais. Esses valores nas organizações contribuem para criar
parâmetros de como pensar, agir e sentir, e por isso desempenham papel relevante
nas empresas. Desta forma, as organizações são parte de uma sociedade, logo,
parte de sua cultura, tornando-se subculturas desta sociedade.
Chiavenato (2000) afirma que muitos aspectos da cultura organizacional
podem ser identificados, são os aspectos formais e abertos, como a estrutura
organizacional, processos e diretrizes. Os aspectos informais e ocultos são de difícil
percepção e envolvem normalmente atitudes, sentimentos, valores e percepções.
Os aspectos informais, ou ocultos, são os mais difíceis de serem
compreendidos, interpretados e, conseqüentemente, de serem modificados. Apesar
disso, Chiavenato (2000) afirma que a cultura de uma organização não é estática, e
sofre alterações com o tempo, dependendo das condições internas e externas. O
que varia é a velocidade com que esta modificação acontece. A única maneira viável
de se mudar uma organização é mudar a sua cultura.
Ao entender-se a questão do desenvolvimento sustentável como um fator
comum a todas as nações do planeta, que deve ser encarado sistemicamente, com
uma orientação para o futuro e para a manutenção das gerações futuras, para que
este desenvolvimento seja posto em prática na sua plenitude se faz necessário uma
busca de consenso sobre questões polêmicas e cruciais.
A compreensão da total interdependência entre as problemáticas econômicas,
sociais e ambientais, como o aquecimento global e emissão de poluentes, apenas
para citar alguns exemplos, se faz necessária. A busca deste consenso pressupõe
habilidades de negociação e gestão de conflitos, que busquem um entendimento
para as divergências geradas, em grande parte, pelas diferenças culturais dos
participantes do grupo.
A UNESCO (2002, p.2), na Declaração Universal pela Diversidade Cultural,
reafirma o conceito de cultura como “o conjunto dos traços distintivos espirituais e
materiais, intelectuais e afetivos que caracterizam uma sociedade ou um grupo
social e que abrange [...] os modos de vida, as maneiras de viver juntos, os sistemas
de valores, as tradições e as crenças”.
A entidade, através da Declaração Universal pela Diversidade Cultural,
proclamou no referido documento, 12 artigos relacionados aos seguintes eixos:
46
Identidade, Diversidade e Pluralismo; Diversidade Cultural e Direitos Humanos;
Diversidade Cultural e Criatividade; e Diversidade Cultural e Solidariedade
Internacional. O artigo 3 intitulado “A diversidade cultural, fator de desenvolvimento”,
pertencente ao eixo “Diversidade, Identidade e Pluralismo”, afirma ser a diversidade
cultural um fator de ampliação das possibilidades de escolha, sendo uma fonte de
desenvolvimento, não apenas econômico, mas meio de acesso ao desenvolvimento
intelectual, espiritual, afetivo e moral de todos. (UNESCO, 2002).
Sen (2000), ao discorrer em seu livro “Desenvolvimento como Liberdade”
sobre os vários aspectos das liberdades, leva em consideração as avaliações de
valor lançadas sobre estas a depender da cultura local. Independentemente de
avaliações mais ou menos rigorosas e os pesos e medidas utilizados, é mister
reconhecer a preponderante relevância das liberdades para o desenvolvimento
sustentável. O entendimento do papel do homem como agente de mudança da
cultura local, nesse contexto, é essencial.
A busca de um entendimento das culturas diversas pressupõe um
conhecimento profundo da sua própria cultura. Morin (2007a, p.25) afirma que “para
pensar localizadamente, é preciso pensar globalmente, como para pensar
globalmente é preciso pensar localizadamente”. Isso ajuda a identificar previamente
a reação de determinada sociedade à adoção de novas práticas que visem
promover o desenvolvimento sustentável e, como essas ações podem ser
implantadas em cada região, atentando às particularidades dessa localidade, com o
objetivo de alcançar um resultado comum: a sustentabilidade.
O caso da utilização de sacolas plásticas para embalagens pode ser tomado
como exemplo. Na China, o governo proibiu a produção destas sacolas em todo o
território nacional e a proibição vem sendo acatada pela população numa
demonstração cultural de maior subordinação da população às regras
governamentais impostas, muito devido às duras penas imputadas àqueles que as
infrinjam.
No Brasil, estas sacolas são em grande parte utilizadas para o descarte do
lixo produzido nos domicílios brasileiros. Os grandes varejistas vêem a sacola
plástica como mais um serviço ofertado ao consumidor que reconhecerá, de
imediato, uma perda com a retirada deste benefício. Esta ação poderia causar um
certo desconforto na relação entre as partes, ainda que esta postura esteja
atualmente mudando.
47
Nos países europeus é prática comum e arraigada o consumidor pagar uma
quantia simbólica por estas sacolas plásticas, num posicionamento mais alinhado
com o conceito de “poluidor-pagador”, onde o agente causador do problema deve
arcar com os custos da solução para a problemática gerada pelos seus atos.
Este é apenas um caso isolado de como uma mesma ação que objetiva o
mesmo resultado pode gerar diversas reações dentro da diversidade cultural
presente entre as nações nas quais as medidas são aplicadas.
O conhecimento dos aspectos culturais de uma organização se torna cada
vez mais importante para a compreensão da manifestação da Responsabilidade
Social nas Empresas, principalmente em épocas onde o intercâmbio cultural é
crescente entre as diversas culturas do globo, e a necessidade de cooperação entre
as culturas torna-se essencial para a adoção de práticas sustentáveis, que objetivem
a construção de um futuro melhor.
Na academia há um reconhecimento de que ética, cultura e valores morais
são temas indispensáveis à compreensão e prática da Responsabilidade Social
Corporativa. (VELOSO, 2005).
O artigo 11 da Declaração Universal pela Diversidade Cultural (UNESCO,
2002) ressalta a importância do fortalecimento das políticas públicas em parceria
com a sociedade civil e o setor privado, a fim de se criarem condições para
promover o desenvolvimento humano sustentável, pois as forças do mercado, por si
só, não são capazes de garantir a promoção e preservação da diversidade cultural,
citada como elemento fundamental na prática da sustentabilidade.
Dentro de uma economia global, as empresas que queiram expandir suas
fronteiras e atuar em diversas partes do globo devem estar atentas às questões
culturais locais, buscando entendê-las e assimilá-las. Os padrões éticos e morais
tornam-se cada vez mais homogêneos e rigorosos com a globalização. (VELOSO,
2005).
Ainda que decisões externas, políticas e econômicas influenciem nos rumos
sócio-econômicos de um município, o desenvolvimento local sustentável requer
sempre a mobilização e participação de atores locais em torno de um projeto
coletivo. Do contrário as mudanças geradas pelo exterior não serão internalizadas
nas esferas social, econômica e cultural local.
As experiências positivas de fomento do desenvolvimento local ocorrem na
maior parte das vezes em um ambiente político e econômico favorável, onde
48
também existe o engajamento da comunidade local, representando uma vontade
conjunta que dá sustentação e viabilidade às ações do desenvolvimento.
(BUARQUE, 1999).
5.4 A RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA
A origem do termo Responsabilidade Social Corporativa - RSC ou
Responsabilidade Social Empresarial - RSE remonta aos meados do século XX, nos
Estados Unidos e posteriormente na Europa, quando tiveram início as discussões no
meio empresarial e acadêmico sobre o papel das organizações no meio ambiente
nos quais elas estavam inseridas. As organizações, como os cidadãos comuns,
possuem direitos e deveres e exercem influência sobre o meio ambiente. (ASHLEY,
2005).
Inicialmente as empresas direcionavam as suas ações para as questões
legais. A responsabilidade social confundia-se com o cumprimento pela empresa
das obrigações estabelecidas nas legislações. A justificativa para esta consideração
estava baseada no beneficiamento indireto da sociedade com o ato legalmente
responsável das empresas de pagar os impostos e agir conforme as determinações
estabelecidas pelo Estado. (ASHLEY, 2005).
Este beneficiamento se traduzia na oferta de serviços públicos como
educação, saúde, transporte, custeados por meio dos tributos pagos pela sociedade,
incluindo-se as empresas. Além disso, cumprindo com a sua função primária de
geração de lucro para os seus acionistas, as empresas também acreditavam agir de
forma socialmente responsável, ao gerar empregos para a população. (FRIEDMAN,
apud ASHLEY, 2005).
Com o passar do tempo, houve uma evolução do conceito, anteriormente
apoiado numa visão utilitarista dos recursos naturais e humanos disponíveis, para
uma visão mais integradora dos ambientes extra e intra-organizacionais e dos
diversos participantes, diretos ou indiretos, da estrutura organizacional, também
chamados de stakeholders. A evolução das formas de pensamento e a integração
de valores éticos na forma de gerir as empresas levou à construção de um novo
paradigma da gestão empresarial, onde a sociedade é parte importante do processo
de crescimento sustentável da organização. (TACHIZAWA, 2004).
49
Atualmente há especulações de que a não adesão e adoção das
organizações à cultura da sustentabilidade e da responsabilidade social poderá, em
cinco anos, significar o desaparecimento do mercado ou perda de capital e de valor
de marca dessas empresas. (GARCIA, 2008). As ações e exigências sobre a
responsabilidade social corporativa vêm crescendo numa escala global e as
empresas que desejam continuar atuando no mercado internacional devem se
adequar a essas novas exigências, incorporando as ações de RSE aos seus planos
estratégicos.
A diversidade de definições existentes para o termo “Responsabilidade Social
Corporativa” ou “Responsabilidade Social Empresarial” indica que ainda se vive um
período de adequações ao tema, de estudos e pesquisas que buscam um consenso
acerca da sua definição. Nem por isso sua importância é minimizada, já que a cada
dia são apresentados mais exemplos da aplicabilidade do tema nas empresas, com
a participação crescente destas em ações que visam à melhoria da comunidade
local.
O Instituto Ethos de Empresa e Responsabilidade Social, organização não
governamental fundada em 1998 com o objetivo de fomentar, mobilizar, sensibilizar
e ajudar empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, com
vistas à promoção de um desenvolvimento sustentável propõe uma definição para a
Responsabilidade Social Empresarial.
Para o Instituto Ethos (2009), a Responsabilidade Social Empresarial é a
forma de gestão definida pela relação ética e transparente da empresa com todos os
públicos com os quais ela se relaciona, e pelo estabelecimento de metas
empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade,
preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a
diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais.
Deste modo, a Responsabilidade Social Corporativa pressupõe a adoção de
um novo papel das empresas, extrapolando-se os limites dos seus muros, indo atuar
na comunidade local e em todos os grupos que se relacionam direta ou
indiretamente com a empresa. (DIAS, 2007).
Barontini & Calado (2009) adotam uma postura crítica quanto ao atual modelo
de sustentabilidade adotado por grande parte das organizações. Este modelo, que
os autores relatam ainda não ter alcançado o retorno desejável diante dos vultosos
investimentos das Empresas em ações de Responsabilidade Social, esbarra num
50
caráter dual onde o sujeito (homem) é separado do objeto (planeta) acarretando
uma dicotomia relacional em que o homem (herói/vilão) é capaz de decidir sobre a
preservação/destruição do planeta (objeto).
A dissociação do humano como parte não-integrante da natureza leva a uma
relação dual sujeito-objeto que hoje reflete o paradigma antropocêntrico vigente.
Uma mudança de rumo no sentido de integrar o homem à natureza, numa
perspectiva de unicidade, se faz necessária para enfrentar o desafio da expansão de
uma consciência humana transpessoal, integral e não-dual.
A adoção de uma visão fragmentada parece ser a regra nas organizações, e
essa visão é a que persiste também nas iniciativas de Responsabilidade Social
Corporativa de grande parte das Empresas. Investe-se em ações de coleta seletiva
e reaproveitamento dos resíduos, porém a redução do consumo não é incentivada.
Promovem-se ações de “valorização da diversidade”, ressaltando-se a acentuação
das diferenças numa avaliação empírica e relativa. Investe-se no desenvolvimento
de novas tecnologias para a redução da emissão de gases na natureza, porém a
redução da produção não é sequer cogitada nas discussões sobre o tema.
(BARONTINI; CALADO, 2009).
As Empresas, antes pautadas no single bottom line, onde os resultados eram
medidos apenas pelo aspecto econômico-financeiro, redirecionam os seus métodos
de avaliação para o triple bottom line, onde os resultados sociais e ambientais são
considerados na análise, em conjunto com os resultados econômicos. Apesar da
iniciativa de ampliar o escopo da análise dos resultados considerando outros
aspectos essenciais, a análise, na maioria das vezes, continua sendo isolada, sem
levar em consideração as interações entre as três vertentes citadas. (BARONTINI;
CALADO, 2009).
O insucesso na implantação de ações de Responsabilidade Social em muitas
Empresas está relacionado principalmente à ausência de uma crença verdadeira
dos valores que devem mover estas ações. Responsabilidade Social não se resume
apenas a “Fazer”, mas principalmente a “Ser”, pois não se trata de ação isolada com
início, meio e fim. É necessária uma transformação de valores com um real
comprometimento de todos, principalmente das lideranças organizacionais, que têm
um grande poder de sensibilizar e transformar a cultura da organização.
O “Fazer” deve irradiar do “Ser”, que deve estar imbuído dos valores
condizentes com uma percepção não-dual do planeta. Apesar do entendimento das
51
questões e transformações necessárias parecer simples, colocá-las em prática
mostra-se um processo difícil, lento e, doloroso, que implica uma reavaliação por
completo dos valores, crenças e o sentido da própria existência. (BARONTINI;
CALADO, 2009).
Uma ferramenta para análise e reflexão sobre o caminho errôneo que grande
parte das organizações parece trilhar nas suas atuações em Responsabilidade
Social, é dado aplicando-se o modelo integral AQAL (All Quadrants, All Levels)
desenvolvido pelo filósofo Ken Wilber (apud BARONTINI; CALADO, 2009).
Os autores utilizam uma simplificação do modelo de Wilber e, a partir dele,
fazem reflexões sobre o papel desempenhado pelas organizações e suas formas de
atuação. De forma objetiva e simplificada, o modelo integral AQAL propõe uma
representação da realidade em quatro quadrantes, que se complementam e
interagem mutuamente conforme as descrições de cada quadrante a seguir:
- Quadrante Superior Esquerdo: representa o “Eu” do indivíduo, com as suas idéias,
valores, crenças, mente, percepções. Considerado o quadrante “intencional”.
- Quadrante Superior Direito: representa o exterior do indivíduo, representando tanto
suas características físicas, como comportamentos e ações percebidos pelo mundo
externo.
- Quadrante Inferior Esquerdo: representa o interior do coletivo. A cultura, as crenças
e valores compartilhados pelo grupo social em que se está inserido. Na empresa
representa sua cultura, valores, mitos coletivos. A identidade da organização.
- Quadrante Inferior Direito: representa o exterior do coletivo. Na organização é
compreendido como sendo a imagem da empresa, o que ela reflete para a
sociedade, incluindo suas estruturas, ferramentas e mecanismos criados e adotados
na relação empresa-sociedade.
A seguir, na Figura 4, uma representação ilustrativa do modelo AQAL:
52
SUPERIOR
Figura 4: Figura adaptada do modelo AQAL de Ken Wilber.
Fonte: Barontini & Calado (2009).
Barontini & Calado (2009), ao utilizarem o modelo AQAL de Wilber como
ferramenta de análise para as ações de Responsabilidade Social na Empresas,
detectaram que, grande parte dessas ações sociais recai sobre o quadrante do
“exterior coletivo”, indicando uma preocupação muito mais “estética” nas ações, com
a repercussão no ambiente externo, do que movimentos que exerçam mudanças
significativas no interior dos indivíduos, da organização e, principalmente, no “interior
coletivo”, ou seja, na cultura organizacional.
Casos recorrentes de supervalorização da imagem projetada se multiplicam,
como o da empresa americana Enron, que através de “ilusionismo contábil” criou
uma falsa imagem de Empresa sólida e altamente lucrativa, levando milhares de
investidores à derrocada (NORRIS, 2003), ou no âmbito nacional, como o caso da
Petrobrás, que protagonizou no ano de 2008 um exemplo público de dissonância
entre discurso e prática, ao ter a veiculação de suas propagandas suspensas pelo
Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária - CONAR, sob a alegação
de disseminação de uma falsa idéia de que a Organização contribuiria para a
INFERIOR
ESQUERDO
Interior do Indivíduo
Exterior do Indivíduo
DIREITO
SUSTENT
ABILIDADE
“Modelos mentais
individuais”
“Ações individuais”
Interior do Coletivo
Exterior do Coletivo
“Valores e visão
compartilhadas”
“Ações e estruturas
compartilhadas”
53
qualidade ambiental e desenvolvimento sustentável do País. (FOLHA ONLINE,
2008).
Posteriormente, em novembro de 2008, a Petrobrás foi retirada do Índice de
Sustentabilidade Empresarial - ISE da Bovespa, carteira de ações composta por
empresas com bom desempenho em questões sócio-ambientais. Finalmente, em
dezembro de 2008, a Empresa comunicou o seu desligamento do Instituto Ethos de
Empresas e de Responsabilidade Social. A origem da polêmica foi a não
concordância da Petrobrás em se adequar à resolução número 315/2002 do
CONAMA que previa a redução no teor do enxofre do diesel produzido pela
Empresa a partir de janeiro de 2009. (PORTAL EXAME, 2008).
O Instituto Ethos, em carta veiculada no seu site sobre o posicionamento da
Petrobrás afirma:
A crise de reputação que a Empresa [Petrobrás] tem enfrentado está, sob a
ótica da sustentabilidade, intimamente ligada à sua incapacidade de rever
sua atuação e procurar desenvolver mecanismos de gestão mais
responsáveis, voltados para as reais necessidades do mercado, da
sociedade e do planeta. (INSTITUTO ETHOS, 2008).
Superar dilemas no intuito de construir uma cultura de responsabilidade social
e sustentabilidade parece ser um dos grandes desafios das organizações, exigindo
grande disposição para o diálogo, na busca de soluções para as diversas
contradições existentes no sistema. A atuação isolada apenas na esfera do “exterior
coletivo” não trará as mudanças profundas necessárias. A sustentabilidade só será
efetiva quando as ações recaírem sobre os três outros quadrantes do modelo de
Wilber (apud BARONTINI; CALADO, 2009).
5.5 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS SOBRE A RESPONSABILIDADE
SOCIAL
Teoricamente a definição do que é e o que busca o Desenvolvimento
Sustentável parece clara. Contudo, ao partirmos para a prática das ações
necessárias à consecução do Desenvolvimento Sustentável, muitas vezes nos
54
deparamos com dilemas éticos que exigem reflexões sobre os desdobramentos
dessas ações tanto no âmbito local, como nacional e até mesmo planetário.
O conceito de Ética é dado por Maximiano (2000, p. 428) como sendo “a
disciplina ou campo do conhecimento que trata da definão e avaliação do
comportamento de pessoas e organizações”. A ética se baseia nas morais vigentes
de uma sociedade. Estas morais, por sua vez, são influenciadas pela cultura local.
Como a cultura é um aspecto mutável no tempo e espaço, também podemos
dizer que a ética acompanha essa evolução e se modifica conforme as modificações
das morais. Para Morin (2007b, p. 15) a moral individual necessita, implícita ou
explicitamente, de uma ética, e esta, por sua vez, não existe sem as morais
individuais. Os dois termos podem ser considerados inseparáveis e
complementares.
Ponchirolli (2007, p. 17) explica a etimologia da palavra moral, que vem do
latim e significa “costumes”. O autor define moral como “o conjunto de hábitos e
costumes, efetivamente vivenciados por um grupo humano”. Já a ética, palavra de
origem grega que significa, de acordo com o autor, “modo de ser, caráter”, é definida
como “o conjunto das práticas morais de uma determinada sociedade, ou, como os
princípios que dão rumo a essas práticas”. A ética refere-se à teoria da prática
moral.
Para Srour (2003, p. 40) “falar de moral é falar de conflito de interesses”.
Diante da diversidade de morais e, por conseqüência, diferentes éticas presentes
nas diversas nações do globo, se torna premente a necessidade de um maior
diálogo e busca de um entendimento sobre a ética a ser adotada nas ações que
visem promover o Desenvolvimento Sustentável, de acordo com a abrangência das
repercussões destas ações.
No caderno de debate da Agenda 21, Boff (2006) apresenta a proposta de
uma nova ética para a sustentabilidade, construída a partir de quatro princípios
fundamentais e baseada em quatro virtudes consideradas imprescindíveis. Os
quatro princípios adotados nesta ética para a sustentabilidade proposta são: o
princípio da afetividade; o princípio do cuidado/compaixão; o princípio da
cooperação e, por fim, o princípio da responsabilidade. Estes princípios devem
orientar as ações e o comportamento dos agentes de mudança no Desenvolvimento
Local sustentável - DLS.
55
Os homens, por sua vez, devem adotar as quatro virtudes a seguir para que
estas sirvam de base para todas as ações tomadas: a Hospitalidade; a Convivência,
o Respeito a todos os Seres e a Comensalidade. O ser humano possui dentro de si
o princípio do egocentrismo que estimula o egoísmo, porém, ao mesmo tempo, o
homem carrega em seu DNA o princípio da inclusão, que traz a necessidade da
auto-sócio-organização biológica.
O sentimento de comunidade gera os sentimentos de responsabilidade e
solidariedade que são, por sua vez, fontes de ética. (MORIN, 2007b). O grande
desafio é fazer com que o princípio da inclusão prevaleça sobre o do egoísmo.
Tarefa que não se alcança unilateralmente, pois o ato de incluir o outro pressupõe a
permissividade do outro em deixar-se incluir, além da vontade de dividir um espaço
com o próximo.
Observa-se na ética proposta para a sustentabilidade, que a base do conceito
e de sua aplicação remonta às características mais comuns e primitivas do ser
humano, presentes em todas as épocas desde a sua criação. São aspectos
emocionais inerentes ao homem, perceptíveis na convivência social. Morin (2007b)
lembra que todo o olhar sobre a ética deve levar em consideração a subjetividade
com a qual esta é vivida. Não é possível ser ético sem fazer a ligação com o
sentimento humano carregado de sua subjetividade, o que gera muitas vezes
incompreensão.
Morin (2007a, p.51) neste contexto afirma que “a ética da compreensão
humana constitui, sem dúvida, uma exigência chave de nossos tempos de
incompreensão generalizada”. Para o autor, a compreensão humana só é possível
quando se percebe o humano como sujeito, permitindo-se reconhecer no outro uma
parte de si.
As organizações, por estarem inseridas em contextos sociais, não diferem
das necessidades destes em adotar padrões de ética e responsabilidade social em
suas ações. Nos dias de hoje, as empresas não devem estar só atentas às suas
responsabilidades econômicas e legais, mas também às suas responsabilidades
sociais, morais e éticas. Elas são cobradas cada vez mais pelos seus stakeholders
por uma postura que esteja alinhada com as expectativas éticas e morais da
sociedade em que estão inseridas. (VELOSO, 2005).
Mudar, porém, sem ter uma convicção do que se está realizando e, sem
assumir para si a responsabilidade do ato, não pode ser considerado ético. A
56
mudança só é verdadeira quando é do ser, quando assim, torna-se ético.
(PONCHIROLLI, 2007). A responsabilidade pelos atos, fruto da internalização de
valores e regras morais sociais, pode determinar a moralidade da escolha tomada.
Vázques (apud PONCHIROLLI, 2007) afirma ser possível falar em
comportamento moral apenas quando o sujeito é responsável pelos seus atos, tendo
a liberdade de escolha, a mesma liberdade de decisão preconizada por Sen (2000)
para definir o que seria o desenvolvimento, por conseguinte o desenvolvimento
envolve a moralidade de escolhas.
Morin (2002) acredita ser a Responsabilidade uma noção humanística que só
tem valor para o sujeito consciente. A responsabilidade enfrenta a terrível incerteza
da opção de escolha por uma entre várias opções de conduta. A consciência, por
sua vez, indica o caminho através da avaliação entre o certo e o errado. Para
Ponchirolli (2007, p. 37) a consciência é um “juízo da razão”.
Weber (1994), ao discutir sobre a situação ética dos políticos e teólogos,
apresenta duas concepções de ética: a ética da convicção ou deontologia (tratado
dos deveres), e a ética da responsabilidade, ou teleologia (estudo dos fins
humanos). No mundo dos negócios, a todo o momento é possível identificar ações e
escolhas dos gestores oscilando entre essas duas concepções.
A ética da convicção é fundamentada no apego às normas e valores pré-
estabelecidos, assumidos como universais e aplicáveis a qualquer contexto. Ela é
composta de códigos morais, valores, princípios e normas. Pode ser considerada
uma ética mais inflexível e conservadora, utilizando a máxima de que, se o valor é
tido como universal, ele deve ser aplicado a qualquer situação, independentemente
dos seus resultados.
A ética da responsabilidade se fundamenta na responsabilidade pelos
resultados dos nossos atos e escolhas. Os resultados das possíveis escolhas são
avaliados e os impactos dos atos praticados são levados em consideração. Na ética
da responsabilidade existe uma maior flexibilidade quanto à análise dos efeitos que
cada decisão irá gerar. (SROUR, 2003).
Ponchirolli (2007) afirma haver uma ambigüidade congênita na moralidade
empresarial brasileira. As organizações, segundo o autor, oscilam entre as duas
éticas ora valorizando a ética da convicção, que valida a construção de códigos de
ética dentro das organizações; ora valorizando a ética da responsabilidade, quando
57
o processo decisório envolve um estudo de cenários e os efeitos decorrentes de
cada decisão tomada.
Na prática, a adoção da ética da responsabilidade no meio organizacional é o
mais aplicável. Provavelmente essa opção advenha da diversidade de contextos nos
quais diariamente uma Empresa encontra-se inserida, com uma gama de possíveis
decisões a serem tomadas, cada qual impactando no cotidiano de diversos grupos.
Ao optarem por escolher o caminho da idoneidade, as organizações optam pela
ética da responsabilidade, que pressupõe constantes reflexões.
As principais características da ética da responsabilidade, citadas por
Ponchirolli (2007), são: a análise da circunstância para a tomada de decisão; a
responsabilidade pelos atos provocados oriundos da decisão tomada; a vertente da
finalidade onde os objetivos devem ser atingidos a qualquer custo e, por fim, a
vertente utilitarista que busca a maximização do bem nas decisões tomadas.
A vertente utilitarista da ética da responsabilidade é a mais próxima do
altruísmo, quando a orientação sobre a decisão a ser tomada se volta para a
maximização dos bons efeitos. Nesta vertente a máxima é de fazer o maior bem ao
maior número de pessoas. (Ponchirolli, 2007).
Apesar de a vertente utilitarista, no campo da teoria, apresentar-se como uma
das melhores vertentes a serem adotadas por qualquer indivíduo ou grupo para a
promoção da sustentabilidade, nem sempre no campo prático a sua aplicação é
possível, mediante o jogo de interesses presente nas situações grupais. Além disso,
a vertente utilitarista pressupõe, em muitos casos práticos organizacionais, a
supressão de interesses de membros que se encontram no topo da escala
hierárquica. A ética da responsabilidade, com a sua vertente utilitarista, esbarra
então nas armadilhas do poder.
5.6 A GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL E SUA
RELAÇÃO COM O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Atualmente, um dos grandes problemas das cidades brasileiras,
principalmente das grandes capitais, tem sido a gestão dos resíduos sólidos
urbanos. O crescimento populacional, aliado ao crescimento do consumo e a falta de
58
cuidados no descarte dos resíduos gerados vêm aumentando consideravelmente a
quantidade de lixo produzida pela população brasileira.
Dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico - PNSB, realizada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE no ano de 2000, revelam que
neste período, estimava-se uma coleta de 125.281 toneladas de lixo domiciliar por
dia no Brasil. Somente as 13 maiores cidades brasileiras com mais de um milhão de
habitantes coletavam, por dia, aproximadamente 41% deste número (IBGE, 2002).
Deste total, segundo a pesquisa, apenas 1,8% do total de lixo recolhido por
essas grandes cidades é depositado em lixões. O restante segue para aterros
sanitários ou controlados. Apesar disso, o número não leva em consideração a
quantidade de lixo que segue para as bacias hidrográficas e suas matas ciliares,
para os terrenos baldios e demais locais onde não há a fiscalização do poder público
ou privado para o controle destas ações.
Muitas vezes a carência de uma gestão adequada dos resíduos sólidos
urbanos pelos municípios brasileiros, aliada à falta de uma educação e consciência
ambiental da população, de investimentos pesados do setor público estatal na área,
de uma fiscalização rigorosa e aplicação eficiente das leis que regulamentam a
atividade, faz com que a questão se torne um grande problema público.
Além dos impactos ambientais gerados com a contaminação dos solos, dos
lençóis freáticos e do ar, com a liberação de gases tóxicos no processo de
decomposição dos resíduos, existem ainda os impactos sociais com o surgimento de
uma nova classe de trabalhadores que vivem do, e muitas vezes, no lixo, em
situação degradante.
A preocupação acerca desta população recai, principalmente, nas condições
de higiene às quais essas pessoas estão submetidas. Muitas vezes toda a família
tem como fonte exclusiva de renda a coleta de resíduos recicláveis para a venda, o
que inclui também o trabalho infantil, infringindo o Estatuto da Criança e do
Adolescente, bem como gerando grande ônus para a saúde pública pela
insalubridade presente, na maior parte das vezes, neste tipo de atividade, que pode
servir de vetor para os mais diversos tipos de doenças.
A PNSB 2000 revela a existência de 24.340 catadores em lixões em todo o
Brasil e aponta uma movimentação, ainda tímida, dos municípios, no sentido de
organizar a atividade com a criação de cooperativas e projetos que visem dignificar
aqueles que dela sobrevivem. (IBGE, 2002).
59
O Projeto Tareco & Mariola possui grande parte da sua atuação voltada para
a reutilização dos resíduos sólidos descartados pelas indústrias, comércio e
residências da cidade de Belo Jardim e arredores. O Projeto conta com a
participação de 10 catadores que comercializam aproximadamente 95% do material
arrecadado com as empresas especializadas na reciclagem de resíduos. Os 5%
restantes do material, seguem para a oficina do Projeto que, com a criatividade de
sete artesãos, transformam o lixo em artesanato, numa demonstração de que é
possível reaproveitar os mais diversos tipos de resíduos e contribuir para a solução
de uma problemática nacional: a gestão do lixo urbano.
5.6.1 Políticas de Tratamento dos Resíduos Sólidos no Brasil
No âmbito governamental, a questão do tratamento dos resíduos sólidos
começou a despertar a atenção do Estado brasileiro a partir da década de 90. Até
então, as preocupações se voltavam mais para as questões de saneamento básico
e o abastecimento de água dos municípios. Os serviços de limpeza urbana eram
limitados, concentrando a maior parte dos seus recursos no serviço municipal de
coleta de lixo, relegando para o segundo plano as preocupações sobre os locais de
depósito do material coletado e o aproveitamento desses resíduos.
Os anos se passaram e as pressões sociais sobre as questões ambientais
foram tomando corpo. Com isso, a questão do tratamento dos resíduos sólidos
urbanos ganhou um novo rumo passando a integrar a lista de prioridades em muitos
municípios brasileiros, tornando-se, em muitos destes municípios, uma alternativa
para a promoção do Desenvolvimento Sustentável da comunidade local.
Na Constituição Federal de 1988, no seu art. 23, inciso VI, é estabelecida
como sendo competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, a proteção do meio ambiente e o combate à poluição em qualquer de
suas formas. A Carta Magna também dispõe de um capítulo voltado para o meio
ambiente. O art. 225, que abre o capítulo VI da Constituição, assegura o direito de
todos a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, essencial à qualidade de
vida, sendo este bem de uso comum de todos, cabendo ao Poder Público e à
coletividade defendê-lo e preservá-lo para as atuais e futuras gerações (BRASIL,
1988).
60
A Lei nº. 6.938, de 31 de agosto de 1981 instituiu a Política Nacional do Meio
Ambiente que tem como objetivo preservar, melhorar e recuperar a qualidade
ambiental, propiciando desenvolvimento sócio-econômico, segurança nacional e
proteção à dignidade da vida humana (BRASIL, 1981). Dentre os princípios
estabelecidos na Política, nenhum deles refere-se diretamente à questão do
Tratamento dos Resíduos Sólidos. Esta mesma lei institui o Sistema Nacional do
Meio Ambiente - SISNAMA, que tem como órgão consultivo e deliberativo o
CONAMA, responsável, dentre outros, por estabelecer normas, critérios e padrões
para o controle e a manutenção da qualidade do meio ambiente, com vistas ao uso
racional dos recursos ambientais (BRASIL, 2008c).
Hoje, as questões relacionadas ao tratamento dos Resíduos Sólidos, no
âmbito federal, estão ligadas ao Ministério das Cidades, criado em janeiro de 2003
pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a missão de combater as
desigualdades sociais, transformar as cidades em espaços mais humanizados e
ampliar o acesso da população à moradia, ao saneamento e ao transporte (BRASIL,
2008a).
Ao Ministério das Cidades cabe tratar dentre outras, da Política Nacional de
Saneamento Básico, regulamentada pela Lei nº. 11.445 de 05 de janeiro de 2007,
que estabelece as diretrizes nacionais para a política federal de saneamento básico.
No art. 2º, inciso III, da supracitada lei, o tratamento dos resíduos sólidos é citado
como uma das atividades integrantes da política, que define limpeza urbana e
manejo de resíduos sólidos como: “conjunto de atividades, infra-estruturas e
instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destino final
do lixo doméstico e do lixo originário da varrição e limpeza de logradouros e vias
públicas” (BRASIL, 2007a).
O Plano Plurianual 2008-2011, divulgado pelo Governo Federal do Brasil em
2007, procura agrupar e expor em um só documento, todas as metas, ações,
orçamentos, que se constituem nas prioridades deste governo, no período de quatro
anos, tendo início no segundo ano do atual mandato ao primeiro ano do mandato
seguinte.
O atual Plano foi estruturado com foco em três grandes eixos: crescimento
econômico, agenda social e educação de qualidade, expondo as principais políticas
públicas que serão adotadas para atingir os objetivos aos quais o Governo Federal
Brasileiro se propõe. Segundo o documento, o Governo Federal prevê investimentos
61
da ordem de 120 milhões de reais nas áreas de resíduos sólidos urbanos, com o
apoio a projetos e melhora dos prestadores de serviço de saneamento básico,
visando à melhoria da qualidade e produtividade destes serviços.
A meta prevista pelo governo para esta área é de que, até 2011, 500
municípios brasileiros com até 50 mil habitantes sejam beneficiados com a oferta de
coleta de resíduos sólidos urbanos, incluindo-se o tratamento e disposição final dos
resíduos. (BRASIL, 2007b).
O Programa de Resíduos Sólidos Urbanos presente no Plano Plurianual
2008-2011, objetiva “ampliar a área de cobertura e eficiência dos serviços públicos
de manejo dos resíduos sólidos, com ênfase no encerramento de lixões, na redução,
no reaproveitamento e na reciclagem de materiais, por meio da inclusão
socioeconômica de catadores”. (BRASIL, 2007b).
O Programa encontra-se sob a responsabilidade do Ministério do Meio
Ambiente, e tem o Ministério das Cidades e o Ministério da Saúde como seus órgãos
executores. O Programa de Resíduos Sólidos Urbanos visa aumentar de 91,10% em
2000, para 94,02% em 2011 a taxa de cobertura de coleta de resíduos sólidos
urbanos, e de 29% em 2000, para 47% em 2011, a taxa de municípios com destino
final adequado de resíduos sólidos. (BRASIL, 2007b).
Com o tema do tratamento dos resíduos sólidos disperso entre diversas leis e
resoluções, porém sem um foco e uma estrutura de fiscalização e poder legal
coercitivo que impute pesadas sanções aos poluidores, principalmente no âmbito da
iniciativa privada, em 6 de setembro de 2007 o governo federal encaminhou ao
Congresso Nacional um Projeto de Lei que estabelece a Política Nacional de
Resíduos Sólidos. O documento, composto por 33 artigos, estabelece diretrizes,
instrumentos, responsabilidades e proibições para o gerenciamento dos resíduos
sólidos no País.
Fruto de um trabalho interministerial que envolveu os Ministérios das Cidades;
do Meio Ambiente; da Saúde; do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; do
Planejamento, Orçamento e Gestão; do Desenvolvimento Social e Combate à Fome;
da Fazenda e Casa Civil, a Política proposta ainda se encontra na lista de projetos
de lei a serem votados pelo Congresso Nacional. (GRIMBERG, 2007).
Em meados de 2008, declarado como o Ano Internacional do Saneamento,
foram publicadas as diretrizes para a elaboração, interministerial, do Plano de
Saneamento Ambiental - PLANSAB, com base nas determinações da Lei nº. 11.445
62
e na Resolução Recomendada nº. 33, de 1º de março de 2007, editada pelo
Conselho das Cidades.
O PLANSAB propõe-se a ser o eixo central da política federal voltada para o
saneamento básico, vinculando-se à Lei nº. 11.445 com o objetivo de alinhar,
vincular e articular os esforços dos entes federados. (BRASIL, 2008a).
5.6.2 Políticas de tratamento dos resíduos sólidos no Estado de
Pernambuco
Até meados de 1999, as ações relacionadas ao gerenciamento dos resíduos
sólidos do governo do Estado de Pernambuco concentravam-se mais na área
metropolitana da capital Recife, principalmente por ser esta a maior geradora de
resíduos em todo o Estado, com uma quantidade de aproximadamente 3,22 mil
toneladas/dia de lixo coletado. Deste número, 10% são destinados aos aterros
controlados, 21% para vazadouros a céu aberto (lixões) e 65% para aterros
sanitários. (IBGE, 2002).
O decreto de número 23.941 de 11 de janeiro de 2002 veio regulamentar a
Lei nº. 12.008, de 1º de junho de 2001, que dispõe sobre a Política de Resíduos
Sólidos do Estado de Pernambuco. O Decreto trata das infrações e penalidades
impostas pelo não cumprimento da lei, dentre outros assuntos pertinentes, além de
instituir a Unidade Gestora de Resíduos Sólidos - UGRS, que constitui o espaço de
interlocução técnica e política referente aos resíduos sólidos do Estado de
Pernambuco.
A unidade é composta por representantes de diversos órgãos
governamentais, sendo presidida pelo Secretário de Ciência, Tecnologia e Meio
Ambiente e tendo como secretário executivo um representante da Agência Estadual
de Meio Ambiente e Recursos Hídricos - CPRH. (PERNAMBUCO, 2002).
À Unidade Gestora de Resíduos Sólidos do Estado compete, entre outras
atividades, coordenar, no âmbito estadual, as atividades de implantação da Política
Estadual de Resíduos Sólidos e coordenar o Sistema Estadual de Informações
sobre Resíduos Sólidos - RESOLPE. No dia 06 de novembro de 2008, a UGRS
promoveu um workshop a fim de validar a minuta de revisão da base legal de
Resíduos Sólidos de Pernambuco. Participaram do evento representantes do
63
Ministério do Meio Ambiente - MMA, das Universidades, Associações de Catadores,
dentre outros. (PERNAMBUCO, 2008).
A legislação estadual que regulamenta o gerenciamento dos resíduos sólidos
no Estado prevê para os municípios a adoção de estratégias de mitigação da
geração de resíduos sólidos urbanos com a implantação de sistemas de coleta
seletiva, triagem e reaproveitamento dos resíduos recicláveis. A inclusão de
estratégias de reciclagem, redução e reutilização dos resíduos devem ser
priorizadas nos projetos postos em prática pelos municípios, atentando-se para a
classificação dos mesmos.
Os Resíduos Sólidos podem ser classificados quanto a sua origem e
finalidade. De acordo com o Projeto de Lei que institui a Política Nacional de
Resíduos Sólidos (BRASIL, 2008d), os resíduos são classificados quanto à sua
origem da seguinte forma:
a) resíduos sólidos urbanos, que são os resíduos gerados pelas residências,
estabelecimentos comerciais em geral e resultantes dos serviços de
limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos. São todos os resíduos que
se assemelhem em sua natureza e composição com os resíduos gerados
pelos domicílios;
b) resíduos sólidos industriais, resultantes dos processos produtivos e das
instalações industriais, bem como aqueles produzidos pelos serviços
públicos de saneamento básico, com exceção dos serviços de limpeza
urbana e manejo de resíduos sólidos;
c) resíduos sólidos de serviços de saúde, discriminados pelo Ministério da
Saúde em regulamentações técnicas específicas;
d) resíduos sólidos rurais, oriundos das atividades agropecuárias e dos
resíduos gerados pelos insumos utilizados nestas atividades;
e) resíduos sólidos especiais ou diferenciados são aqueles que, devido às
suas especificidades como volume e periculosidade, devem ser tratados
diferencialmente a fim de evitar impactos negativos à saúde e ao meio
ambiente.
64
Quanto à finalidade, os resíduos sólidos podem ser classificados em resíduos
sólidos reversos, que são passíveis de reaproveitamento através da logística reversa
para que sejam utilizados novamente no ciclo produtivo e, por fim, os rejeitos, que
não são mais passíveis de reaproveitamento, devendo ter uma destinação final
ambientalmente correta.
O conhecimento prévio sobre os tipos de resíduos sólidos e o tratamento
adequado para cada um deles é de fundamental importância para que sejam
estabelecidas normas de tratamento e destinação final do material de forma que não
ofereça risco ao meio ambiente e à saúde da população.
Para melhor compreensão sobre como se deu a elaboração da Política
Estadual de Resíduos Sólidos, se faz necessário entender os passos adotados
desde a sua concepção. Até 1999, como comentado, o Estado contava com
algumas ações de gestão de resíduos sólidos que se limitavam à área metropolitana
do Recife. A iniciativa de criar uma Política Estadual veio com o objetivo de
normatizar, em um contexto único, todas as atividades geradoras de resíduos
sólidos, contemplando todo o Estado e compartilhando as decisões com os atores
envolvidos em todo o processo.
Inicialmente foi elaborado um diagnóstico sobre os resíduos sólidos em 72
municípios, envolvendo 86% da população urbana do Estado. Nesta pesquisa, que
contou com o apoio do Ministério do Meio Ambiente - MMA, e que foi aplicada pela
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente - SECTMA, em parceria com a
Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, foram detectados sinais de
precariedade nos serviços de limpeza pública, lixões em funcionamento nos diversos
municípios pesquisados com famílias inteiras vivendo neste e deste ambiente, e a
existência de apenas seis aterros controlados e pouquíssimos aterros industriais,
conforme Figura 5.
65
Figura 5: Destinação Final dos Reduos Sólidos no Estado de Pernambuco
Fonte: SECTMA. Diagnóstico de Resíduos Sólidos. (PERNAMBUCO, 2000).
Os resultados do diagnóstico foram apresentados em 2000, e deram
seqüência à realização de consultas sobre o tema, com a participação de várias
esferas da sociedade no debate, como o Ministério Público Estadual, Federação das
Indústrias de Pernambuco, Associações de Catadores de Lixo, Empresas de
Reciclagem de Resíduos, dentre outros.
Como resultado do trabalho, foi elaborado o documento “Política de Resíduos
Sólidos: Propostas e Diretrizes” que deu embasamento para a criação da Política
Estadual de Resíduos Sólidos e o Projeto de Lei, votado e aprovado pela
Assembléia Legislativa, instituindo a Lei nº. 12.008, de 1º de junho de 2001 que
dispõe sobre a Política Estadual de Resíduos Sólidos de Pernambuco. Em 11 de
janeiro de 2002, o decreto de número 23.941 veio regulamentar a Lei nº. 12.008.
Em maio de 2007, o Governo de Pernambuco lançou o Plano Estratégico
Ambiental do Estado visando à construção de uma agenda de ações que deverão
ser seguidas para a promoção do desenvolvimento sustentável da região, com
enfoque principalmente na área ambiental, que até então não era considerada um
fator crítico de análise e decisão dos investimentos em ações a serem tomadas
pelos órgãos governamentais (PERNAMBUCO, 2007).
A proposta do documento foi balizada em consultas à comunidade científica,
empresariado, organizações da sociedade civil e do governo, na tentativa de propor
66
um trabalho que tivesse uma amplitude de visões e que fosse representativo de toda
a sociedade pernambucana.
O material, embasado na Política Nacional do Meio Ambiente, adotou as
seguintes diretrizes para o trabalho:
a) visão de curto, médio e longo prazo no planejamento e execução das
ações propostas;
b) adoção da Agenda 21 Estadual;
c) integração das políticas nacionais, governamentais, da sociedade civil e
setor produtivo;
d) fortalecimento do poder público para implantação das ações de gestão
ambiental;
e) fomentar a participação da sociedade civil nas decisões sobre a gestão
ambiental do Estado;
f) fortalecer as instituições municipais a fim de descentralizar as ações de
gestão ambiental;
g) estimular as práticas sustentáveis no âmbito do setor produtivo;
h) promover desenvolvimento florestal e proteção da biodiversidade.
A partir das Diretrizes adotadas acima, o Plano Ambiental apresentou seis
programas adotados com vistas à gestão ambiental integrada no Estado. A partir
deste programas, foram elaborados Projetos em cada uma das áreas definidas pelo
Programa.
O Programa de Qualidade Ambiental, um dos seis definidos pelo Plano
Ambiental, apresenta o projeto de Gestão Ambiental Urbana, tendo como objetivo
geral a gestão de resíduos e o controle dos riscos ambientais. Dentre os objetivos
específicos, a implantação do Programa de Gestão de Resíduos Sólidos de
Pernambuco figura como uma prioridade, por meio da reativação da Unidade
Gestora de Resíduos Sólidos - UGRS. (PERNAMBUCO, 2007).
67
5.7 RECICLAGEM PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
“Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. A célebre
frase do cientista francês Lavoisier
4
pode ser considerada fundamental para a
compreensão da importância da Reciclagem, principalmente nos dias atuais, em que
os recursos naturais tornam-se cada vez mais escassos e a demanda por eles é
crescente, numa sociedade sustentada pelo consumo. Os produtos consumidos,
sejam eles bens duráveis ou não-duráveis, provêm em sua totalidade de insumos
avindos da natureza e que, na maioria das vezes, são consideradas matérias-primas
não-renováveis.
Inicialmente, a abundância de recursos na natureza deu lastro à crescente
indústria do consumo. Porém, atualmente a sociedade enfrenta gargalos na
sustentação do atual modelo, que não comporta uma matriz onde se conjugam: o
crescimento populacional mundial, a escassez crescente de recursos naturais, o
aumento crescente dos gastos para o gerenciamento de resíduos gerados, a
carência cada vez maior de espaços adequados para o depósito dos resíduos,
principalmente nas grandes cidades, e o aumento da pressão social, gerando
movimentações políticas em direção a uma mitigação dos impactos ambientais
causados pelas ações humanas. (ÂNGULO et al, 2001).
As organizações, como sujeitos de grande relevância no contexto global atual,
são parte essencial na busca de uma alternativa para lidar com a problemática dos
resíduos nos grandes centros urbanos. Seja por pressões políticas, através de leis
punitivas, seja por questões econômicas, que proporcionam grandes retornos
financeiros no reaproveitamento de resíduos dentro do processo produtivo, através
da reciclagem, é cada vez maior o número de empresas que procuram adotar nos
seus processos a reutilização de materiais. Em alguns segmentos específicos, as
práticas de reciclagem já se encontram consolidadas dentro do processo produtivo,
como é o caso da indústria do aço, produto mais reciclado no mundo. (NAIDITCH,
2008).
Na indústria do aço, a Gerdau, indústria brasileira com faturamento de 37
bilhões de reais em 2007, pode ser citada como um caso exitoso de incorporação da
reciclagem no negócio principal e nas estratégias da Empresa. Quase 70% do aço
4
Antoine Lavoisier, químico francês considerado o fundador da Química Moderna. Primeiro cientista
a enunciar o princípio da conservação da matéria.
68
produzido pela Indústria é oriundo da sucata. A Gerdau utiliza a sucata como
matéria-prima em 42 das suas 45 usinas espalhadas no mundo. A energia
necessária para a produção do aço com a sucata exige apenas um quarto da
energia que seria utilizada usando como matéria-prima apenas o minério de ferro
(matéria-prima virgem). Estima-se que a Empresa economiza cerca de 112.000
gigawatts por ano de energia, apenas no Brasil. Essa quantidade de energia
equivale ao consumo anual da cidade de São Paulo com seus mais de 10 milhões
de habitantes. (NAIDITCH, 2008).
Ângulo et al (2001) atentam para a importância prévia do estudo e
gerenciamento dos impactos oriundos também do processo de reciclagem, pois o
ato de reciclar não exclui a geração de resíduos no processo produtivo e nem os
eventuais impactos ao meio ambiente. Uma análise prévia sobre o tipo de tecnologia
utilizada, a quantidade de energia necessária e os resíduos que serão gerados com
a reciclagem, são essenciais para prever se existirá a viabilidade econômica e
ambiental no processo, além dos riscos à saúde dos indivíduos envolvidos na etapa
de produção e nos usuários do novo produto fabricado a partir da matéria-prima
reciclada.
Na maior parte dos casos é viável optar pelo caminho da reciclagem, porém
existem exceções em que reciclar se torna mais oneroso, do ponto de vista
ambiental, econômico e social, do que produzir a partir de matéria-prima virgem. A
solução neste caso deverá então estar voltada para a pesquisa sobre novas formas
de produção, de matérias-primas alternativas e desenvolvimento de novas
tecnologias para o gerenciamento dos resíduos gerados.
O setor industrial é capaz de exercer grande e decisiva contribuição para
promover a reciclagem como alternativa à problemática do gerenciamento dos
resíduos sólidos globais. As indústrias possuem forte capacidade de investimento de
recursos em base científica e tecnológica, capacidade de organização em escala
global, e influência nos padrões de consumo da sociedade, além da agilidade
necessária para pôr em prática ações de mobilização. (VILHENA, 2009).
A conjugação de ganhos internos e externos à organização é possível quando
se adota um sistema de gestão ambiental que priorize a eficiência do ciclo produtivo
não apenas sob a ótica econômica, mas considerando também as questões
ambientais e sociais. No caso da Gerdau, isso foi possível adotando-se um processo
que integra atores internos e externos à organização.
69
As cooperativas de catadores de sucata são a força motriz que proporciona
viabilidade ao negócio da Gerdau. A Empresa possui um Programa de Capacitação
de Sucateiros, que visa organizar cooperativas de catadores em parceria com o
Compromisso Empresarial para Reciclagem - CEMPRE, entidade mantida por
diversas empresas de diversos setores, dedicada à promoção da reciclagem
baseada no conceito de gerenciamento integrado do lixo.
O Programa de capacitação da Gerdau, iniciado em 2006, envolvendo
cooperativas de catadores está sendo levado às outras Empresas do Grupo em
outros Países, como Colômbia, Chile e Uruguai. Com o Programa, a Empresa além
de aumentar a quantidade de material coletado para a reciclagem, que proporciona
uma grande economia no seu processo produtivo, promove a organização das
cooperativas e o desenvolvimento econômico e social das pessoas envolvidas. Por
fim os ganhos ambientais são incontestáveis quando todo o volume arrecadado
deixa de ir para os depósitos de resíduos (lixões e aterros) dos grandes centros
urbanos, para voltar ao ciclo produtivo através do reaproveitamento do material.
(NAIDITCH, 2008).
Apesar do destaque dado à reciclagem, principalmente pelos mercados de
aço e garrafas PET no Brasil, existem empresas que, dentro do seu negócio de
atuação, buscam inserir a reciclagem como condição sine qua non para o sucesso e
sustentabilidade do negócio. A Natura pode ser citada como uma Empresa que é
cada vez mais reconhecida, pelos diversos públicos, como uma organização
sustentável.
Eleita a Empresa sustentável do ano de 2008, pelo Guia Exame de
Sustentabilidade, a prática da sustentabilidade na Empresa Natura é trazida para o
negócio central da Organização, que por meio de pesados investimentos em
pesquisas e desenvolvimentos, conseguiu viabilizar a substituição da base de seus
sabonetes, anteriormente de origem animal, por uma base de origem vegetal,
cortando o vínculo da Empresa com o sacrifício de animais, apenas para citar
algumas das ações sócio-ambientais da Empresa. (HERZOG, 2008).
A Empresa Natura também foi uma das organizações pioneiras no Brasil a
lançar os refis na sua linha de produtos, estimulando o consumidor a adquiri-los.
Este tipo de embalagem consome menos matéria-prima (em média 30%) e energia
na sua produção. Conseqüentemente, impacta em menor escala o meio-ambiente,
70
além de ser produzido com materiais recicláveis. Os refis responderam, em 2007,
por 21,3% dos itens vendidos pela Empresa. (HERZOG, 2008).
Também em 2007, a Natura colocou em prática um projeto piloto de logística
reversa nas cidades de Recife e São Paulo, a fim de utilizar a sua rede de
consultoras como parceira no recolhimento das embalagens dos produtos vendidos.
Essas embalagens são destinadas às cooperativas de reciclagem destas cidades.
Em 2007 o projeto coletou cerca de 90 toneladas de resíduos. O projeto deverá, ao
longo dos próximos anos, ser estendido para todo o País, alcançando as mais de
600 mil consultoras da Empresa. (HERZOG, 2008).
Para grande parte dos estudiosos sobre sustentabilidade, uma organização
só é capaz de contribuir para o desenvolvimento social e ambiental do planeta se
levar os preceitos do desenvolvimento sustentável para o cerne do seu negócio. A
premissa também é defendida por Michael Porter (apud HERZOG, 2008) que
acredita ser um grande erro das companhias a adoção de estratégias econômicas e
de responsabilidade social distintas, quando na verdade elas deveriam ser uma só.
Apesar de serem crescentes os esforços das organizações para
internalizarem a utilização de insumos reciclados em seus negócios, ainda são
tímidas as ações governamentais que estimulem essas práticas nas organizações
por meio de políticas públicas e incentivos fiscais. Na esfera tributária, por exemplo,
o Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI dos plásticos reciclados é de 12%,
enquanto que o da resina virgem é de apenas 10%. Um reforma política e tributária
deve acompanhar as mudanças de paradigmas e de cultura, que se propõem a
edificar um real e consistente desenvolvimento sustentável. (CEMPRE, 2009).
Na indústria de baterias, em especial na indústria de baterias do tipo chumbo-
ácido, nas quais estão inseridas as baterias automotivas produzidas pela Moura, a
reciclagem ocupa um papel importante e de destaque para a viabilidade do negócio.
O número de baterias produzidas e consumidas é crescente, impulsionado pelo
crescimento da indústria automobilística. As baterias automotivas do tipo chumbo-
ácido possuem em sua composição o metal chumbo, tido como altamente poluente
quando descartado de forma incorreta na natureza.
O CONAMA publicou a resolução de número 401, em 04 de novembro de
2008 (BRASIL, 2008), em substituição à resolução de número 257/99, voltada a
estabelecer os limites máximos de chumbo, cádmio e mercúrio para pilhas e baterias
comercializadas no Brasil, e os critérios e padrões para o seu gerenciamento
71
ambientalmente adequado. A resolução leva em consideração as seguintes
questões:
a) a necessidade de minimizar os impactos causados ao meio ambiente
decorrentes do descarte inadequado de pilhas e baterias;
b) a necessidade de disciplinar o descarte de pilhas e baterias, em especial
aquelas que possuam em sua composição chumbo, cádmio e mercúrio,
no que está relacionado à coleta, reutilização, reciclagem, tratamento e
destinação final;
c) a necessidade de reduzir a geração de resíduos sólidos e fomentar
processos de produção limpos na fabricação de pilhas e baterias;
d) a necessidade de conscientização do consumidor sobre os riscos à
saúde e ao meio ambiente quando do descarte inadequado de pilhas e
baterias;
e) a necessidade de fomentar estudos que viabilizem a substituição das
substâncias tóxicas utilizadas e/ou redução aos níveis mais baixos
possíveis.
O órgão, dentre outras exigências, requer de todos os produtores nacionais e
importadores de pilhas e baterias, a apresentação anual de um plano de
gerenciamento de pilhas e baterias que contemple a destinação ambientalmente
adequada do material. As pilhas e baterias recebidas ou coletadas devem ser
acondicionadas adequadamente de forma separada, obedecendo-se às normas
ambientais e de saúde pública pertinentes. (BRASIL, 2008e)
Os estabelecimentos que comercializam os produtos, bem como suas redes
de assistência devem receber os produtos usados, sendo facultativa a recepção de
marcas diferentes daquelas que comercializam. A destinação ambientalmente
adequada do material coletado é de responsabilidade do produtor / importador. Na
embalagem dos produtos, bem como no material publicitário, deve conter a
indicação de destinação adequada, advertência sobre os riscos à saúde e ao meio
ambiente. (BRASIL, 2008e).
Apesar da existência de legislação vigente sobre o assunto, o seu
cumprimento esbarra, dentre outros, na falta de conhecimento da legislação pela
72
população e comerciantes, conforme estudo realizado na cidade de São Paulo.
(REIDLER apud ESPINOSA; TENÓRIO, 2004).
Um grande problema apontado por Espinosa & Tenório (2004) quando se
pensa em reciclagem, é o sistema de coleta, que depende não só da população,
como também das indústrias, distribuidores e governo. Além disso, no Brasil ainda
não existe legislação baseada no princípio do “poluidor-pagador”, em que a empresa
que produz ou importa a bateria é também responsável por sua correta destinação.
A norma CONAMA atribui apenas a responsabilidade de dar a destinação
correta às baterias, caso elas sejam devolvidas pelos usuários. Porém, não estipula
metas de coleta para as empresas produtoras e importadoras, a exemplo da norma
CONAMA nº258/99 direcionada aos produtores e importadores de pneumáticos, que
possuem metas de volume a serem cumpridas. Desta forma, o esforço da coleta
deixa de ser tão eficiente e a resolução mais branda. (ESPINOSA; TENÓRIO, 2004).
Devido principalmente à escassez do chumbo, principal componente nas
baterias automotivas do tipo chumbo-ácido, a reciclagem ocupa papel de destaque
na indústria de baterias, proporcionando a viabilidade econômica e ambiental
necessária à produção dos acumuladores elétricos, através da reciclagem de
praticamente todos os componentes do produto. Segundo estudo realizado sobre a
reciclagem do chumbo nas indústrias de baterias do centro-oeste paulista, as
empresas consideradas de médio e grande porte deste segmento conseguem
alcançar o percentual de 74% de retorno das sucatas das baterias. (BAENAS, 2009).
As pequenas indústrias, por limitações em seus sistemas de administração de
custos, falta de informação, limitações no processo de logística, pouca importância
dada às questões ambientais, dentre outros aspectos, atingem um percentual de
apenas 45% de retorno da sucata, conforme Tabela 2 a seguir:
73
Tabela 2: Dados referentes à quantificação da produção e do recolhimento das sucatas
de baterias em 5 cidades do centro-oeste paulista.
Fonte: Baenas (2009).
Por fim, a adoção de práticas sustentáveis de reciclagem incorporadas ao
processo produtivo das Empresas, parece ser o caminho mais seguro para manter-
se no mercado global, em que os recursos tornam-se cada vez mais escassos, e as
legislações nacionais buscam maior comprometimento das empresas com práticas
ecoeficientes de produção.
74
6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
6.1 PERGUNTAS DE PESQUISA
As perguntas são o melhor meio para se chegar às grandes descobertas, elas
são as precursoras, a causa primária, em todos os ramos do conhecimento humano.
(ARNTZ et al, 2007).
As perguntas levantadas nesta seção do trabalho visam traduzir aonde se
quer chegar com cada objetivo adotado. As respostas a estas perguntas devem ser
dadas ao longo da pesquisa. Caso o leitor consiga, após a leitura do estudo,
responder a cada uma das perguntas abaixo, que basicamente refletem os objetivos
geral e específicos da pesquisa, o objetivo proposto do trabalho terá sido alcançado.
Nas perguntas formuladas a seguir, o termo “atores” foi utilizado para
designar a população pesquisada, constituída de membros da comunidade local,
participantes do Projeto Tareco & Mariola, funcionários e presidência da
Acumuladores Moura.
a) Como teve início e como funciona o Projeto Tareco & Mariola?
b) Na perspectiva dos atores, o Projeto Tareco & Mariola proporciona
melhorias econômicas, sociais e ambientais para a população?
c) Qual o nível de conhecimento dos gestores do Projeto Tareco & Mariola
e da Acumuladores Moura sobre o desenvolvimento sustentável?
d) Qual a importância atribuída pelos atores às questões ambientais,
econômicas e sociais do Projeto?
e) Como a Acumuladores Moura é avaliada pelos seus funcionários em sua
atuação na área de Responsabilidade Social?
6.2 DEFINIÇÃO DE TERMOS
A definição dos termos e os conceitos adotados na pesquisa são
apresentados nesta seção para fins práticos e de melhor interpretação deste
trabalho. “Toda construção teórica é um sistema cujos eixos são os conceitos,
75
unidades de significação que definem a forma e o conteúdo de uma teoria.
Categorias são os conceitos mais importantes dentro de uma teoria.”
(GOLDENBERG, 1997, p. 79). Assim, foram definidas as seguintes categorias com
as suas respectivas definições.
Desenvolvimento Sustentável:
O desenvolvimento humano sustentável procura satisfazer as necessidades
imediatas sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras também
satisfazerem suas necessidades. Ele leva em conta os aspectos
ambientais, econômicos, sociais e humanos. Propõe a divisão eqüitativa
dos frutos do crescimento, permitindo que as pessoas aumentem sua
autonomia e suas capacidades, e que participem das decisões que
influenciam sua vida. (PNUD, 1996).
Responsabilidade Social: É a forma de gestão que é definida
pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais
ela se relaciona, e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o
desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e
culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a
redução das desigualdades sociais. (INSTITUTO ETHOS, 2008).
Ética: “a disciplina ou campo do conhecimento que trata da
definição e avaliação do comportamento de pessoas e organizações”. (MAXIMIANO,
2000, p. 428).
Cultura: A cultura é um complexo coletivo de representações
mentais que ligam o material e o imaterial, por estruturas dialéticas inevitáveis. O
material é representado pela estrutura econômica, as leis, as estruturas sociais, as
vivência concretas. O imaterial é tido como a vida simbólica, suas idéias e
representações ideológicas. O mundo imaterial, representado pelos valores, ideais,
crenças e símbolos alimentam os elementos materiais, traduzidos nos
comportamentos dos indivíduos em família, na sociedade e nas organizações.
(AKTOUFF, 1993).
Liderança: “o processo de conduzir as ações ou influenciar o
comportamento e a mentalidade de outras pessoas”. Maximiano (2000, p.326).
76
Pesquisa quanti-qualitativa: combinação da metodologia
quantitativa, que se baseia na racionalidade instrumental utilizando métodos de
coleta e análise de dados quantificáveis; com a metodologia qualitativa, que repousa
seus instrumentos de avaliação em aspectos subjetivos. O pesquisador exerce
influência na análise dos dados por meio de sua percepção objetiva e subjetiva na
coleta dos dados. (GOLDENBERG, 1997).
6.3 DELINEAMENTO DA PESQUISA
“Os cientistas sociais, que pesquisam os significados das ações sociais de
outros indivíduos e deles próprios, são sujeito e objeto de suas pesquisas.”
(GOLDENBERG, 1997, p. 19). A citação de Goldenberg (1997) emerge uma
discussão antiga sobre qual o método mais apropriado para empregar-se nos
estudos de cunho social. Estudiosos como Husserl
5
, W. Dilthey
6
e Max Weber
7
afirmam que os atos sociais envolvem a propriedade do “significado”, que não está
presente nas questões abarcadas pelas ciências naturais.
A pesquisa ora apresentada pode ser qualificada como de cunho quanti-
qualitativo, pois se adotou a premissa de que a vertente quantitativa pode e deve ser
utilizada nas pesquisas de cunho social. Representações numéricas podem não dar
sentido à realidade, porém quando utilizadas em conjunto com métodos qualitativos
de estudo, contribuem de forma relevante para embasar análises dos resultados da
pesquisa e ajudar na compreensão do fenômeno social estudado, num contexto
mais amplo e complexo da realidade (GOLDENBERG, 1997).
O estudo de caso caracteriza a abordagem de pesquisa adotada,
considerando ser esta a mais adequada quando o objetivo inicial proposto foi o de
avaliar a atuação da Acumuladores Moura na área de Responsabilidade Social
Empresarial por meio do Projeto Tareco & Mariola e sua eficácia para a promoção
do desenvolvimento local sustentável.
5
Edmund Husserl, matemático e filósofo alemão, fundador da “Fenomenologia”.
6
Wilhelm Dilthey, filósofo, psicólogo e pedagogo alemão, propôs uma independência de métodos às
ciências do homem ou ciências do espírito.
7
Max Weber, jurista, economista e intelectual alemão, considerado um dos fundadores da Sociologia.
Reconhecido principalmente pelo seu trabalho sobre a Sociologia da Religião e a Teoria da
Burocracia.
77
Para Mayring (apud GUNTHER, 2006), o estudo de caso é o ponto de partida
para as pesquisas qualitativas, ressaltando o “princípio da abertura”, que permite a
adaptação dos métodos e técnicas aplicados ao objeto de estudo, podendo ser
utilizados tanto métodos qualitativos quanto quantitativos.
A observação participante, análise documental e a aplicação de entrevistas,
normalmente relacionadas com o método de estudo de caso (GOLDENBERG, 1997)
também fizeram parte do estudo, além do enfoque exploratório, que deu espaço às
descobertas emergentes ao longo da pesquisa. A observação participante refere-se
a uma situação em que o observador coloca-se de forma tão próxima quanto um
participante do grupo analisado, vivenciando e participando das atividades normais
deste. (MANN, 1973).
Neste estudo, o pesquisador participou efetivamente do grupo de funcionários
da Acumuladores Moura, um dos subgrupos pesquisados dentro do universo de
estudo, por conseguinte, permitindo uma maior aproximação da “perspectiva dos
sujeitos”. Para Denzin (apud LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 28) a observação
participante “é uma estratégia de campo que combina simultaneamente a análise
documental, a entrevista de respondentes e informantes, a participação, a
observação direta e a introspecção”.
A vertente quantitativa do estudo foi direcionada para os grupos de moradores
da comunidade, para os funcionários da Empresa e para os participantes do Projeto,
sendo utilizado o questionário como instrumento de coleta dos dados quantitativos
que, após serem tratados os resultados com a ferramenta do software Microsoft
Excel, originaram gráficos que puderam ser analisados e discutidos em conjunto
com os resultados da vertente qualitativa da pesquisa, coletados por meio dos
instrumentos de entrevistas semi-estruturadas, análise documental e observação
direta.
6.4 DELIMITAÇÃO DA UNIDADE DE ESTUDO
A pesquisa ora apresentada caracteriza-se como de natureza quanti-
qualitativa, com a adoção do método de estudo de caso e a observação participante.
Os métodos quantitativos de pesquisa se baseiam numa visão positivista, onde a
racionalidade prevalece. A isenção de valor do pesquisador é defendida pois o
78
mesmo não pode, em hipótese alguma, “contaminar” os resultados da pesquisa com
suas questões subjetivas. A neutralidade do pesquisador é fundamental.
Nos métodos qualitativos, a racionalidade dá lugar à subjetividade, norteados
por um paradigma interpretativo onde o pesquisador exerce papel fundamental e
dialético nas análises. Uma metodologia que consiga agrupar essas duas vertentes:
quantitativa e qualitativa, consegue melhor explorar o objeto de estudo e a partir daí
fazer descobertas e inferências mais ricas sobre o assunto. (GOMES; ARAÚJO,
2009).
A unidade de análise escolhida para estudo, como já mencionado, foi a
Acumuladores Moura S/A, em especial o Projeto Tareco & Mariola desenvolvido pela
Empresa. A escolha da Empresa ocorreu por tratar-se de uma organização
genuinamente pernambucana, que vem desenvolvendo o Projeto numa cidade do
interior do Estado, refletindo parâmetros de análise de sua contribuição para o
desenvolvimento local sustentável.
Além disto, a facilidade de acesso aos dados, pelo pesquisador, e a
possibilidade de ser um observador participante, influenciaram na decisão pela
Empresa e pelo Projeto escolhidos.
6.5 SELEÇÃO DA AMOSTRA
Inicialmente, foi selecionada a unidade de estudo como sendo a
Acumuladores Moura. Posteriormente, o Projeto Social Tareco & Mariola pelos
motivos descritos no tópico anterior.
A partir da escolha do Projeto, a seleção da amostra foi feita em diversos
níveis utilizando-se para isso diferentes métodos. A composição amostral foi
identificada previamente, levantando-se uma lista da população útil da qual foi
extraída a amostra representativa para a pesquisa.
A seguir, o Quadro-resumo 3 com as amostras selecionadas dentro dos
universos considerados de interesse para a pesquisa:
79
POPULAÇÃO
ÚTIL
QUANTIDADE
POPULAÇÃO
MÉTODOSELEÇÃO
AMOSTRA
AMOSTRA
SELECIONADA
APLICAÇÃO
PESQUISA
CatadoreseArtesãos 17 Amostraprobabilística 10 Pessoalmente
GestoresdoProjeto 5 Amostraprobabilística 4 Pessoalmente
PopulaçãoBelo
Jardim 70.963
Amostranãoprobabilística/
Conveniência 61 Pessoalmente
FuncionáriosMoura 1659
Probabilística/Randômica
Estratificada 77 Email
PresidênciaMoura 4 Amostraprobabilística 4 Pessoalmente
Quadro 3: Dados referentes à amostra da pesquisa.
Fonte: autora (2009).
O método de seleção da amostra para todos os grupos pesquisados, com
exceção do grupo “População de Belo Jardim”, se caracterizou por ser probabilístico,
já que a probabilidade de qualquer membro da população útil fazer parte da amostra
era previsível, mediante o conhecimento prévio da população total.
No caso do grupo “População de Belo Jardim”, o método é considerado não-
probabilístico, pois o conhecimento da população útil é limitado e, por conseguinte,
não é possível determinar a probabilidade de selecionar qualquer membro da
população. A seleção da amostra neste grupo é do tipo “Conveniência”, pois os
entrevistados foram selecionados aleatoriamente, de acordo com a sua
disponibilidade imediata, nas abordagens feitas pelo pesquisador no município, no
período da coleta dos dados. (REA; PARKER, 2000).
No grupo “Funcionários da Moura”, foi utilizado o método da amostragem
randômica estratificada, que consiste em estratificar os elementos da população útil
de forma a garantir a representatividade de todos os estratos. (REA; PARKER,
2000). Neste caso, os estratos foram as diferentes unidades da Empresa
distribuídas no território nacional, a saber: Unidades 01, 02, 04, 05, 06, 08 e
Escritório de São Paulo. O pesquisador procurou distribuir a amostra de forma a
representar, percentualmente, o número de funcionários de cada uma das unidades.
Nos grupos “Catadores e Artesãos” e “Gestores do Projeto”, as entrevistas e
questionários foram aplicadas de acordo com a disponibilidade dos participantes. No
grupo “Presidência da Moura”, entrevistas semi-estruturadas foram feitas com todos
os integrantes deste grupo de acordo com o Quadro 4 a seguir:
80
ENTREVISTADO CARGO FORMAÇÃO
TEMPO
EMPRESA
TEMPODA
ENTREVISTA
ConceiçãoMoura
VicePresidentedo
ConselhodeAdministração QuímicaIndustrial 52anos 24min.13seg.
EdsonMoura
PresidenteConselho
Administração Engenharia 34anos 30min.49seg.
SérgioMoura PresidenteExecutivo Engenharia 34anos 16min.52seg.
PauloSales PresidenteExecutivo Engenharia 34anos 16min.7seg.
Quadro 4: Perfil dos entrevistados e duração das entrevistas.
Fonte: autora (2009).
Importante relembrar que a presente pesquisa é de natureza quanti-qualitativa
e a análise conjunta dos dados quantitativos e qualitativos por meio de cruzamentos
permitiu uma idéia mais ampla e inteligível do problema (GOLDENBERG, 1997).
Para a coleta de dados por meio das entrevistas, todos os pesquisados foram
informados inicialmente sobre o teor do trabalho, autorizando a utilização e
publicação, integral ou em parte, das respostas concedidas ao pesquisador, que
foram gravadas e transcritas com o consentimento dos entrevistados. A autorização
foi feita por meio de um Termo de Consentimento, devidamente avaliado e assinado
pelos participantes.
A fim de preservar a identidade dos membros da presidência da Empresa,
foram utilizadas aleatoriamente as designações “Presidente 1, Presidente 2 e
Presidente 3” nas transcrições das entrevistas, com exceção da vice-presidente do
Conselho de Administração, Conceição Moura, responsável pela fundação e gestão
do Projeto Tareco & Mariola.
6.6 COLETA DE DADOS
Os métodos de coleta utilizados foram a pesquisa secundária, que envolve a
compilação de dados já disponíveis em órgãos como o IBGE, e o
CONDEPE/FIDEM; a análise documental feita a partir da análise interna dos
documentos da Empresa; e a pesquisa de campo, realizada na sede do Projeto
Tareco e Mariola, no município de Belo Jardim. (REA; PARKER, 2000).
81
A definição dos instrumentos de coleta de dados depende dos objetivos aos
quais se pretende alcançar e do universo a ser pesquisado. (SILVA; MENEZES,
2001). Os instrumentos de coleta adotados na pesquisa foram os seguintes:
1- Questionários: aplicados nos grupos dos “Catadores e Artesãos”,
“Funcionários da Moura” e “População de Belo Jardim”.
2- Entrevistas semi-estruturadas: aplicadas aos grupos “Presidência da Moura” e
“Gestores do Projeto”.
3- Observação direta e em tempo real (registro de dados à medida que
ocorrem), individual (realizada pelo pesquisador) e assistemática (que não
tem planejamento e controle prévios). (SILVA; MENEZES, 2001).
Inicialmente foi estabelecido contato com a Sra.. Conceição Viana Moura,
vice-presidente do Conselho de Administração da Acumuladores Moura S/A onde
foi exposto o interesse de elaborar a dissertação sobre o Tareco & Mariola, projeto
de responsabilidade social da Moura, que a teve como um dos seus fundadores.
Vale ressaltar que até hoje Conceição Moura participa ativamente da gestão do
Projeto. De imediato a vice-presidente do Conselho de Administração da Empresa
aceitou o pedido.
Posteriormente, os principais executivos da Empresa também foram
consultados sobre a viabilidade de realização da pesquisa e todos concordaram,
além de confirmarem as suas participações com as entrevistas. Os gestores do
projeto Antônio dos Santos, Maria do Socorro da Silva e Jorge Baraúna, supervisor e
coordenadores do Tareco & Mariola, respectivamente, foram contatados e
consultados sobre a possibilidade de concessão das entrevistas, além de
fornecerem um panorama prévio sobre o funcionamento do Projeto.
A coleta dos dados no grupo “População de Belo Jardim” foi feita em dois dias
de visita à cidade pelo pesquisador, com a aplicação de questionários realizada de
forma aleatória entre as pessoas que circulavam no centro da Cidade.
As entrevistas realizadas com os gestores do Projeto e a aplicação dos
questionários com os artesãos e catadores do projeto foram feitos, in loco, na sede
do Projeto e da Empresa.
Por fim, foram aplicados os questionários no grupo “Funcionários da Moura”,
por meio do envio eletrônico (e-mail) dos questionários. A escolha do meio eletrônico
82
para aplicação dos questionários foi feita devido à distância geográfica entre as
unidades da Empresa, o que inviabilizava o deslocamento do pesquisador até estas
filiais, com exceção da Unidade 01, localizada em Belo Jardim-PE, e da Unidade 02,
localizada no município de Jaboatão dos Guararapes-PE. A fim de padronizar o
meio de coleta, todos os questionários deste grupo foram enviados e respondidos
por meio eletrônico.
Um dos principais problemas na utilização de entrevistas e questionários
como meio de coleta de dados é conseguir aferir qual grau de veracidade pode ser
atribuído às respostas, visto que o pesquisador lida apenas com o que os indivíduos
desejam relatar, a imagem que querem projetar. Além disso, a postura, atitude e
personalidade do entrevistador interferem nas respostas dadas pelo pesquisado.
(GOLDENBERG, 1997).
Apesar disso, a interação proporcionada principalmente pela entrevista
pessoal também oferece uma ótima oportunidade de observação pelo pesquisador,
que poderá interpretar não apenas as palavras, mas também a linguagem corporal
do entrevistado. Essas observações podem contribuir para o enriquecimento da
análise dos resultados da pesquisa. (LÜDKE; ANDRÉ, 1986).
6.7 ANÁLISE DOS DADOS
A análise dos dados foi efetuada em dois níveis: o nível qualitativo e
quantitativo. No nível qualitativo foram analisadas as entrevistas aplicadas à
presidência da Empresa e gestores do projeto. Nesta etapa, o método de análise
utilizado foi o método Comparativo Constante, uma metodologia empregada
principalmente por pesquisadores que colhem seus dados através de entrevistas,
observações e análise de documentos. (GROVE, 2009).
Na etapa quantitativa da pesquisa, em que foram aplicados questionários na
comunidade local, com os catadores e artesãos do Projeto e com os funcionários da
Empresa, a análise dos dados foi feita com o auxílio do software Microsoft Excel. Os
dados foram tabulados e a partir deles, gerados gráficos que foram analisados de
forma isolada e também em conjunto, através de cruzamentos das informações
obtidas.
83
Em relação à natureza do processo de mensuração dos dados quantitativos,
foram utilizadas no questionário a Escala Nominal ou Classificadora, onde números
servem para classificar objetos, pessoas e características; a Escala por Pontos,
onde as categorias seguem um ordenamento pré-estabelecido; e por fim a Escala
Intervalar, em que escalas de intervalos conhecidos são usadas na mensuração dos
dados. (SILVA, 2009).
A análise dos dados qualitativos utilizando o método comparativo constante,
desenvolvida por Glaser e Strauss (1967) apud Grove (2009) requereu o
desenvolvimento de categorias, a fim de facilitar a análise dos dados, confrontando-
os com o referencial teórico e com a vertente quantitativa da pesquisa, quando
possível.
Neste trabalho, a observação direta e participante do pesquisador
proporcionou uma maior riqueza subjetiva nas análises qualitativas. Para Weber
(apud GOLDENBERG, 1997, p. 19) “o principal interesse da ciência social é o
comportamento significativo dos indivíduos engajados na ação social, [...]. Os
cientistas sociais [...] são sujeito e objeto de suas pesquisas”.
6.8 VALIDAÇÃO DA PESQUISA
O bom resultado da pesquisa qualitativa depende da sensibilidade, intuição e
experiência do pesquisador (GOLDENBERG, 1997).
A coleta de dados da pesquisa transcorreu de forma relativamente tranqüila.
As entrevistas com a presidência da Empresa e gestores do projeto transcorreram
de forma normal, tranqüila e cordial. O tom informal permitiu que as discussões
muitas vezes extrapolassem o tema da pergunta, enveredando a conversa para
temas relacionados. Essa extrapolação foi bem-vinda para o pesquisador,
permitindo-o extrair mais informações, objetivas e subjetivas, sobre a questão.
Um dos pontos considerados críticos foi a aplicação dos questionários na
comunidade. Supostamente por questões culturais, muitas das pessoas que
compunham o grupo da “População”, abordadas aleatoriamente no Município, se
negavam a responder o questionário. Muitas se mostravam desconfiadas com a
abordagem, outras inseguras. A maneira encontrada para transpor esta barreira foi
aplicar os questionários em conjunto com uma moradora local. O que foi feito.
84
Segundo Dias (2000), a consistência de uma pesquisa pode ser checada por
meio da revisão da literatura e confrontação com os achados. Além da triangulação,
que envolve a coleta dos mesmos dados de formas variadas.
A checagem dos achados e confrontação com a base teórica da pesquisa foi
utilizada pelo pesquisador, além da triangulação em algumas situações. A
triangulação foi possível devido à participação ativa do pesquisador dentro do
universo pesquisado, o que permitiu embasar grande parte das suas análises na sua
experiência e observações diárias, além do acesso aos documentos disponíveis
dentro da organização.
6.9 LIMITAÇÕES
A utilização do método quanti-qualitativo na pesquisa, por seu caráter
parcialmente subjetivo, e a adoção do estudo de caso, não favorece a extrapolação
dos resultados encontrados na pesquisa para outros ambientes e situações que não
sejam as aqui relatadas.
Goldenberg (1997) afirma ser um dos principais problemas da pesquisa
qualitativa, a certeza do próprio pesquisador em relação aos seus dados, pois este
corre o risco de utilizar mais a subjetividade de suas intuições do que um referencial
teórico apropriado.
O pesquisador, ao encontrar-se inserido no grupo de forma ativa, pode causar
a inibição de algumas práticas e comportamentos nos pesquisados, que poderiam
ser úteis para o enriquecimento e fidedignidade do trabalho. “Quanto mais intensa a
relação, maior a necessidade de um distanciamento do pesquisador, que torne
possível que ele reflita sobre cada dificuldade que, com certeza, terá de enfrentar”.
(GOLDENBERG, 1997, p.59).
Os achados, na pesquisa qualitativa, quando apoiados em estudos de caso,
dependem de uma argumentação explícita sobre em quais circunstâncias
específicas a generalização dos resultados é possível. (GÜNTHER, 2006).
Na pesquisa apresentada, os resultados relativos ao Projeto Tareco & Mariola
são restritos a este contexto, com algumas exceções, após checagem através de
confrontação com a teoria e prática de outros casos, presentes na literatura sobre o
assunto.
85
7 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Neste capítulo, dá-se início ao processo de análise e discussão dos resultados
da pesquisa, tendo em mente o objetivo inicial do Estudo: ”Avaliar a atuação da
Acumuladores Moura na área de Responsabilidade Social, por meio do projeto
Tareco & Mariola, e sua eficácia para a promoção do desenvolvimento local
sustentável”.
Além do objetivo geral, os objetivos específicos, descritos no terceiro capítulo,
serão perseguidos. A fim de alcançar tais objetivos, as perguntas da pesquisa,
relatadas no sexto capítulo, servirão como ponto de partida para o desenvolvimento
das discussões.
7.1 PERFIL DOS GRUPOS PESQUISADOS
A pesquisa quantitativa foi aplicada aos grupos: “Comunidade de Belo
Jardim”, “Funcionários da Acumuladores Moura” e “Catadores e Artesãos” através
de questionários. A seguir, serão traçados os perfis destes grupos de Estudo.
7.1.1 Grupo “Comunidade de Belo Jardim”
Ao grupo da comunidade local foram 61 questionários aplicados. A faixa
etária dos respondentes variou de 10 a mais de 50 anos, conforme Figura 6 a seguir:
86
Figura 6: Gráfico da faixa etária.
Grupo “Comunidade de Belo Jardim”.
A renda familiar de 70% dos pesquisados se situa entre 0 e 2 salários
mínimos vigentes, que no ano de 2009 é de R$ 465,00 (quatrocentos e sessenta e
cinco reais). O resultado da pesquisa, no âmbito da renda, retrata o Censo
Demográfico de 2000, que aponta a renda familiar de 70% da população variando de
0 a 2 salários mínimos, conforme Tabela 3:
Tabela 1: Classes de rendimento nominal mensal das pessoas responsáveis pelo domicílio,
em salários mínimos – 2000
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000 – Resultados do Universo.
( 1 ) Inclusive os domicílios cuja pessoa responsável recebia somente em benefícios.
A escolaridade do grupo pesquisado, excluindo-se a faixa etária de 10 a 19
anos, ficou concentrada entre 0 e 8 anos de estudo, o que equivale ao estudo entre
87
o ensino fundamental incompleto e o médio completo. 48% do universo pesquisado
afirmaram ter o fundamental (completo ou incompleto) e 36% o ensino médio
(completo ou incompleto). Apenas 14% dos entrevistados tinham atingido o nível
superior. 10% deles com o nível superior incompleto, 4% completo e, apenas 2%,
afirmou possuir pós-graduação, conforme Figura 7:
Figura 7: Gráfico da escolaridade.
Grupo “Comunidade de Belo Jardim”.
Os 61 integrantes do grupo “Comunidade de Belo Jardim” foram interrogados
sobre seus conhecimentos acerca do Projeto Tareco & Mariola. 80% do grupo
afirmaram conhecer o Projeto, conforme Figura 8, o que demonstra que o mesmo,
na cidade, é reconhecido, mesmo que apenas pela sua existência, não
necessariamente pelos seus objetivos, conforme será analisado posteriormente.
88
Figura 8: Gráfico sobre o conhecimento do Projeto.
Grupo “Comunidade de Belo Jardim”.
Dos participantes da pesquisa que afirmaram conhecer o Tareco & Mariola,
49% deles confirmaram a sua participação, direta ou indireta, no Projeto, de acordo
com a Figura 9. Vale ressaltar que, a participação indireta se traduz, principalmente,
na contribuição da comunidade local com a coleta seletiva realizada na cidade.
Atualmente, mais de 8.000 belo jardinenses separam os materiais recicláveis dos
seus lixos domésticos, que são recolhidos pelos catadores do Projeto. (NORDESTE,
2008).
Figura 9: Gráfico do percentual de pesquisados participantes do Projeto Tareco & Mariola.
Grupo “Comunidade de Belo Jardim”.
89
7.1.2 Grupo “Funcionários da Acumuladores Moura S/A”
No grupo relacionado aos funcionários da Moura, foram aplicados 75
questionários, respeitando-se a proporcionalidade do número de empregados em
cada unidade da Empresa. Os respondentes, dentro de cada filial, foram escolhidos
aleatoriamente. Os questionários foram aplicados via e-mail.
Dentro do universo pesquisado, o nível hierárquico do grupo geral apresenta-
se distribuído conforme a Figura 10:
Figura 10: Gráfico da distribuição dos pesquisados na hierarquia da Empresa.
Grupo “Funcionários da Acumuladores Moura S/A”.
Em relação à distribuição dos pesquisados nas unidades da Empresa,
seguindo o percentual representativo de funcionários atuando em cada uma das
unidades, a amostra total foi caracterizada da seguinte forma, conforme mostra a
Figura 11:
90
Figura 11: Gráfico da distribuição dos pesquisados nas Unidades da Empresa.
Grupo “Funcionários da Acumuladores Moura S/A”.
Os resultados da pesquisa quantitativa apontaram haver na organização uma
parcela significativa de funcionários com mais de 6 anos de atuação na Empresa.
Apresentando a estratificação dos resultados, 29% dos funcionários possuem entre
6 e 10 anos de atuação na Moura; e 25% deles possuem mais de 10 anos na
Empresa. Os resultados, contidos na Figura 12, corroboram o discurso da
Acumuladores Moura de prezar pela longevidade dos seus relacionamentos, sejam
clientes, fornecedores, distribuidores ou funcionários. (MOURA, 2008).
Figura 12: Gráfico da distribuição dos pesquisados por tempo de atuação na Empresa.
Grupo “Funcionários da Acumuladores Moura S/A”.
91
A importância da Empresa para a região de Belo Jardim pode ser um motivo
pelo qual grande parte dos funcionários dedica as suas vidas profissionais atuando
apenas na Moura. A Empresa é uma das 3 grandes organizações com sede no
Município. A cidade, por sua vez, tem 48% do seu PIB oriundo do setor industrial.
(CONDEPE/FIDEM, 2008). Logo, conclui-se que não existem muitas oportunidades
de atuação dos profissionais que não sejam uma das 3 grandes Empresas do
Município, a saber: Acumuladores Moura, fabricante de acumuladores elétricos;
Palmeiron, de gêneros alimentícios; e a Natto, de derivados avícolas.
Um dado que corrobora a interpretação anterior, é de que o tempo de
Empresa de mais de 6 anos, entre os respondentes da pesquisa que atuam nas
unidades localizadas em Belo Jardim, foi de 68%. Número bastante superior aos
25% encontrados entre os funcionários atuantes nas unidades fora do município,
conforme ilustram as Figuras 13 e 14:
Figura 13: Gráfico da distribuição dos pesquisados por tempo de atuação na Empresa.
Grupo “Funcionários da Acumuladores Moura S/A”. Unidades situadas em Belo Jardim.
92
Figura 14: Gráfico da distribuição dos pesquisados por tempo de atuação na Empresa.
Grupo “Funcionários da Acumuladores Moura S/A”. Unidades situadas fora de Belo Jardim.
7.1.3 Grupo “Artesãos e Catadores”
Dos 17 artesãos e catadores atuantes no Projeto Tareco & Mariola, 10
fizeram parte da amostra pesquisada, respondendo ao questionário. 70% do grupo
encontram-se na faixa etária de 30 a 50 anos, conforme Figura 15 a seguir:
Figura 15: Gráfico da faixa etária dos pesquisados.
Grupo “Catadores e Artesãos”.
93
Do universo pesquisado, 40% tem menos de 2 anos de atuação no Projeto,
de acordo com a Figura 16:
Figura 16: Gráfico do tempo de atuação dos pesquisados no Projeto.
Grupo “Catadores e Artesãos”.
A renda de 80% dos participantes do grupo é igual ou inferior a dois salários
mínimos, conforme Figura 17. Trabalhadores que, com pouca educação formal, já
que 70% deles possuem o nível fundamental incompleto, ou seja, menos de 4 anos
de estudo, demonstraram enorme capacidade criativa para lidar com problemas
atuais como o gerenciamento dos resíduos e o reaproveitamento de material
reciclável.
Figura 17: Gráfico da escolaridade dos pesquisados no Projeto.
Grupo “Catadores e Artesãos”.
94
Na vertente qualitativa da pesquisa, apresentam-se como pesquisados, por
meio do método de entrevista semi-estruturada, os componentes da presidência da
Empresa, a saber:
1- Conceição Viana Moura, química industrial, vice-presidente do Conselho de
Administração da Empresa, fundadora do Projeto Tareco & Mariola, e co-
fundadora da Acumuladores Moura S/A. Atua na Moura há 52 anos.
2- Edson Viana Moura, engenheiro, presidente do Conselho de Administração
da Moura, primogênito dos fundadores Edson Mororó Moura e Conceição
Viana Moura. Atua na Empresa há mais de 34 anos.
3- Sérgio Viana Moura, engenheiro, presidente executivo da Empresa, e
segundo filho do casal de fundadores. Sua atuação está mais voltada para a
área industrial da Moura, especialmente nas unidades da Empresa
localizadas na cidade de Belo Jardim. Atua na organização há mais de 34
anos.
4- Paulo Sales, engenheiro, presidente-executivo da Moura. Genro dos
fundadores da Empresa. Sua atuação está mais voltada para as áreas
administrativo-financeira e comercial. Atua na Moura há mais de 34 anos.
Além dos representantes da presidência da Empresa, também foram
entrevistados os gestores do Projeto Tareco & Mariola:
1- Jorge Baraúna, matemático e administrador, co-fundador do Projeto Tareco &
Mariola em conjunto com Conceição Moura. Funcionário da Empresa há mais
de 20 anos. Atualmente ocupa o cargo de Gerente de Qualidade da Moura,
na unidade 01, unidade fabril e matriz da organização localizada em Belo
Jardim. Coordena principalmente as áreas da Coleta Seletiva e do 5S nas
Escolas, que compõem o escopo das atividades do Tareco & Mariola.
2- Maria do Socorro da Silva, artesã e coordenadora do Projeto. Atua há dez
anos no Tareco & Mariola. Supervisiona a área responsável pela produção
dos artesanatos.
3- Antônio dos Santos, artesão e supervisor de produção do Projeto. Atua há
mais de três anos coordenando o trabalho da coleta seletiva, a produção de
vassouras a partir de garrafas Pet, e móveis, com material reciclável.
95
Importante se faz ressaltar que, todos os entrevistados citados anteriormente,
autorizaram a publicação de seus nomes e dos conteúdos das entrevistas no
presente trabalho, porém os nomes dos presidentes da Empresa foram preservados
nas transcrições das entrevistas apresentadas no presente trabalho.
7.2 O CONHECIMENTO SOBRE AS ATIVIDADES DO PROJETO
A avaliação do conhecimento dos grupos pesquisados sobre as atividades do
Projeto Tareco & Mariola foi aplicada nos questionários, por meio da pergunta
“Quais as atividades que você acha que são desenvolvidas no projeto?”. Foram
colocadas cinco opções. Para responder à pergunta, os pesquisados poderiam
assinalar tantas opções quanto achassem pertinentes.
A análise dos resultados do grupo “Comunidade de Belo Jardim” demonstra
um conhecimento da comunidade sobre as ações praticadas no Tareco & Mariola.
Quase 100% dos respondentes que afirmaram conhecer o projeto, assinalaram as
opções “Coleta Seletiva no Comércio” e “Produção de Artesanatos” como ações que
fazem parte das atribuições do Tareco & Mariola. Em seguida as opções “Práticas
educativas na comunidade” e “Práticas educativas nas escolas”, foram apontadas
em quase 70% dos questionários. A opção menos reconhecida dentre as cinco foi a
“Coleta de Resíduos Orgânicos”, com apenas 18% de citações, conforme Figura 18:
Figura 18: Nível de Conhecimento das atividades do Projeto.
Grupo “Comunidade de Belo Jardim”.
96
No Grupo dos funcionários da Moura, a produção de artesanatos foi
assinalada em quase 100% dos questionários, seguida pela opção “Coleta de
Resíduos Sólidos”, com 85%. As opções “Coletiva Seletiva no Comércio”, “Práticas
Educativas na Comunidade” e “Práticas Educativas nas Escolas” apresentaram uma
média de 70% de citações. Assim como na comunidade de Belo Jardim, a opção
“Coleta de Resíduos Orgânicos” foi a menos citada, com 16% de indicações. Os
resultados apresentam-se graficamente na Figura 19.
Figura 19: Nível de Conhecimento das atividades do Projeto.
Grupo “Funcionários da Acumuladores Moura S/A”.
No Grupo de Catadores e Artesãos, a “Coleta de Resíduos Sólidos”, a “Coleta
Seletiva no Comércio” e a “Produção de Artesanatos” foram lembrados em 100%
dos casos. Assim como nos outros grupos, a opção “Coleta de Resíduos Orgânicos”
foi a menos citada, conforme Figura 20 a seguir.
97
Figura 20: Nível de Conhecimento das atividades do Projeto.
Grupo “Catadores e Artesãos”
Nas entrevistas realizadas com os membros da Presidência da Empresa, e
Gestores do Projeto, o nível de conhecimento dos mesmos sobre as atividades do
Projeto foram medidos através da pergunta aberta: “Você poderia dizer quais
atividades o Projeto envolve?”. As respostas de todos os entrevistados foram
direcionadas para os três eixos principais do Projeto: coleta seletiva; artesanato e
educação, a exemplo da resposta de Conceição Moura:
[...] ele [o Projeto] abrange várias pessoas, abrange o setor da coleta
seletiva, que é uma maneira de gerar trabalho para as pessoas [...],o
artesanato, que se desenvolveu bastante e se criou um centro de
artesanato para poder vender os produtos [...]A outra coisa era também
ajudar na educação nas escolas[...]
Os resultados da pesquisa, qualitativos e quantitativos, apontam um
conhecimento de todos os atores pesquisados, sobre as atividades desenvolvidas
pelo Projeto, tendo este conseguido relacionar a sua imagem aos três temas: Coleta
Seletiva/Reciclagem, Produção de Artesanatos e Ações de Educação nas Escolas.
98
7.3 O RECONHECIMENTO DA IMPORTÂNCIA DO PROJETO
Ao serem questionados sobre a importância do Projeto, 100% de todos os
grupos onde foram aplicados os questionários reconheceram como importantes as
atividades desenvolvidas pelo Tareco & Mariola.
O reconhecimento total dos grupos acerca da importância das atividades do
Projeto pode ser atribuído, principalmente entre àqueles inseridos na comunidade
belo jardinense, à divulgação dos resultados do Trabalho através dos meios de
comunicação internos e externos à Organização (TV, Jornais, Revistas), além do
acompanhamento dos resultados pela observação direta e participante da
comunidade, e dos funcionários da Empresa.
A Moura é o principal meio pelo qual o Projeto tem os seus resultados
divulgados, tanto através do sistema de comunicação interno da Empresa (jornais,
murais, TV Corporativa), quanto pela comunicação externa, por meio do trabalho da
assessoria de imprensa. Em 2008 10% do total de citações sobre a Moura
registrados pela Assessoria de Comunicação da Empresa foram relativos à área de
Responsabilidade Social, na qual o Projeto Tareco & Mariola se destaca. (SIGNO,
2008). Além disso, a veiculação de duas matérias sobre o Projeto na TV Globo,
tornaram ainda mais públicas as atividades e os resultados do trabalho.
Os resultados reforçam a afirmação de Trad (2009) de que a reputação de
uma organização reside na sua comunicação corporativa, perpassando todas as
funções e todos os integrantes da empresa, que através das suas palavras e ações
são responsáveis por construir a reputação organizacional. Esta, por sua vez, exerce
extrema relevância para o reconhecimento e aceitação de uma marca no mercado
em que atua.
7.4 AS AÇÕES DO PROJETO TARECO & MARIOLA
Após serem questionados sobre a importância do Projeto, os pesquisados
foram convidados a enumerar, por ordem crescente de importância, do número um
(mais importante) ao número cinco (menos importante), os principais beneficiados
com o projeto.
99
Nos três grupos pesquisados que responderam ao questionário, a natureza foi
citada como a maior beneficiada com o Projeto, ocupando o primeiro lugar. Em
seguida, os grupos “Comunidade de Belo Jardim” e “Artesãos e Catadores”
consideraram a Cidade como a segunda maior beneficiada. Já o grupo dos
funcionários da Moura citou, em segundo lugar, as Empresas envolvidas no Projeto.
Os resultados divergentes quanto ao segundo lugar em importância, podem
estar relacionados à heterogeneidade no grupo de funcionários da Moura, visto que
neste grupo encontram-se pessoas atuantes em unidades da Empresa que estão
localizadas fora do município de Belo Jardim e adjacências. Assim, para estes
respondentes, não há a possibilidade de observação direta e in loco, dos benefícios
proporcionados à Cidade pelo Projeto.
A percepção de que a Moura seria uma das principais beneficiadas com o
Projeto, foi pequena. A Empresa, nos três grupos, foi citada sempre nas últimas
colocações em termos de importância. Esse aspecto pode ser considerado positivo,
sob o ponto de vista da imagem da organização. Para os grupos pesquisados,
apesar de a Empresa ser a responsável pelo Projeto, os resultados deste são
voltados prioritariamente para a natureza e para a cidade de Belo Jardim.
A seguir, as Figuras 21, 22 e 23 retratam os percentuais por meios dos
gráficos:
Figura 21: Grau de importância atribuído às ações do Projeto.
Grupo “Comunidade de Belo Jardim”.
100
Figura 22: Grau de importância atribuído às ações do Projeto.
Grupo “Funcionários da Acumuladores Moura S/A”.
Figura 23: Grau de importância atribuído às ações do Projeto.
Grupo “Catadores e Artesãos”.
101
7.5 OS BENEFÍCIOS E BENEFICIADOS COM O PROJETO
Na vertente quantitativa da pesquisa, os três grupos participantes foram
indagados sobre os benefícios proporcionados pelo Projeto, quando da sua
manutenção pela Moura. Várias alternativas em forma de questionamentos foram
colocadas aos pesquisados, que deveriam concordar ou discordar dos seus
conteúdos.
Os três grupos consultados, por meio da aplicação de questionários,
apontaram a Natureza e a Moura, por meio da melhoria da sua imagem, como as
maiores beneficiadas com a continuidade do Projeto, representando praticamente
100% de concordância com as questões colocadas.
Além destas alternativas, quase 100% dos três grupos pesquisados também
reconhecem, na manutenção do Projeto, o cumprimento da função social e
ambiental da Empresa.
Este resultado expressa uma tendência global de reconhecimento das ações
sociais das empresas, como parte de suas obrigações. As ações de
responsabilidade social cada vez mais deixam de ser reconhecidas como “atividades
extras”, e passam a ser colocadas no rol de obrigações empresariais, perdendo o
status de diferencial competitivo, passando a tornar-se requisito fundamental.
Garcia (2008) afirma que as ações e exigências sobre a responsabilidade
social corporativa vêm crescendo numa escala global e as empresas que desejam
continuar atuando no mercado internacional devem se adequar a essas novas
exigências, incorporando as ações de RSE aos seus planos estratégicos.
A contribuição da Empresa, através do Projeto, com as ações governamentais
foi amplamente aceita nos grupos. Porém, ao contrário dos grupos “funcionários da
Moura” e “catadores e artesãos”; 61% dos integrantes do grupo “comunidade” não
concordam com a afirmativa de que a Moura, mantendo o Projeto Tareco & Mariola,
estivesse “se metendo no papel a ser desenvolvido pelos gestores municipais”.
A comunidade reconhece ser também das empresas a responsabilidade de
promover melhorias sociais e ambientais na sociedade, reforçando a defesa de
Gomes & Moretti (2007) de que as organizações devem e precisam ser incluídas e
consideradas como um dos principais meios para a implantação, desenvolvimento e
consolidação de uma cultura planetária sustentável.
Os resultados são apresentados a seguir nas Figuras 24, 25 e 26:
102
Figura 24: Benefícios e beneficiados com a manutenção do Projeto.
Grupo “Comunidade de Belo Jardim”.
Figura 25: Benefícios e beneficiados com a manutenção do Projeto.
Grupo “Funcionários da Acumuladores Moura S/A”.
103
Figura 26: Benefícios e beneficiados com a manutenção do Projeto.
Grupo “Catadores e Artesãos”.
7.6 A PARTICIPAÇÃO DOS ATORES NO PROJETO
Nos grupos da comunidade e dos funcionários, a participação deles no
Projeto, direta ou indiretamente, foi analisada. Na comunidade, 49% dos
pesquisados que afirmaram conhecer o Tareco & Mariola confirmaram a sua
participação, direta ou indireta, conforme Figura 27.
104
PARTICIPA DO PROJETO
49%
51%
Sim
o
Figura 27: Gráfico da participação, direta ou indireta, no Projeto.
Grupo “Comunidade de Belo Jardim”.
No grupo dos funcionários, a participação destes foi de 55%, no geral.
Filtrando os respondentes por unidade de atuação da Empresa, 65% dos
funcionários que atuam nas unidades da Moura localizadas em Belo Jardim
afirmaram participar do Projeto, segundo Figuras 28 e 29.
PARTICIPA DO PROJETO
55%
45%
Sim
o
Figura 28: Gráfico da participação, direta ou indireta, no Projeto.
Grupo “Funcionários da Acumuladores Moura S/A”.
105
PARTICIPA DO PROJETO
39%
61%
Sim
o
Figura 29: Gráfico da participação, direta ou indireta, no Projeto.
Grupo “Funcionários Acumuladores Moura - Unidades localizadas em Belo Jardim”.
No grupo de funcionários atuantes nas unidades fora do município de Belo
Jardim, a participação dos funcionários foi confirmada exclusivamente na Unidade
02, localizada em Jaboatão dos Guararapes, sede do escritório administrativo da
Empresa. 83% dos funcionários pesquisados da unidade 02 afirmaram participar do
Projeto.
A participação dos funcionários é, principalmente, realizada de forma indireta,
através da doação de papéis, jornais e revistas utilizados nas unidades.
A concentração da participação dos funcionários apenas nas unidades de
Belo Jardim e de Jaboatão dos Guararapes reflete a centralização do Projeto no
entorno da cidade sede da Empresa: Belo Jardim, além da mobilização e
participação dos funcionários apenas nas unidades centrais da Empresa (a unidade
da matriz fabril, localizada em Belo Jardim-PE e a unidade de Jaboatão do
Guararapes-PE, onde está a presidência da Moura).
Através dos resultados da pesquisa também foi constatado que, na percepção
do funcionário Moura atuante fora das unidades de Belo Jardim, a Empresa não
estimula a sua participação nos Projetos Sociais da Organização. Essa percepção
foi externada por 62% dos consultados, conforme figura 30 a seguir:
106
ESTÍMULO À PARTICIPAÇÃO
38%
62%
Sim
o
Figura 30: Gráfico do estímulo à participação nos Projetos.
Grupo “Funcionários Acumuladores Moura - Unidades localizadas fora de Belo Jardim”.
Ao contrário dos resultados das unidades externas ao perímetro do município
de Belo Jardim, as unidades localizadas neste município reconhecem o esforço da
organização em estimular os seus funcionários a participarem das ações sociais da
Empresa. 78% dos empregados dessas unidades afirmaram sentir-se estimulados
pela Empresa a participarem das iniciativas de Responsabilidade Social, de acordo
com gráfico da Figura 31.
ESTÍMULO À PARTICIPÃO
78%
22%
Sim
o
Figura 31: Gráfico do estímulo à participação nos Projetos.
Grupo “Funcionários Acumuladores Moura - Unidades localizadas em Belo Jardim”.
107
A diferença de percepções anteriormente apresentadas reforça a hipótese de
que existe, dentro da Moura, uma centralização das suas ações de
Responsabilidade Social na cidade de Belo Jardim, levando a uma centralização
também do estímulo e engajamento dos funcionários. Isto pode ser reforçado pelo
fato de o principal projeto de Responsabilidade Social da Empresa, o Tareco &
Mariola, concentrar suas atividades exclusivamente na cidade e no seu entorno, sem
nenhuma extensão das suas ações às outras cidades em que a Empresa possui
representações.
7.7 A ATUAÇÃO DA MOURA NA ÁREA DA RESPONSABILIDADE
SOCIAL
A Moura é uma Empresa que vive um período de transição entre uma visão e
prática da Responsabilidade Social voltada para o atendimento das questões legais
e do lucro e uma visão da Responsabilidade Social mais humanística e integradora
do meio ambiente em que está inserida, incorporando-as às estratégias de
crescimento e atuação da Empresa.
A Responsabilidade Social defendida por Friedman (apud ASHLEY, 2005),
que julga ser a verdadeira Responsabilidade Social da Empresa a geração de lucro,
proporcionando a geração de empregos, além do cumprimento das questões legais,
é a vertente defendida pelo Presidente 1, conforme depoimento:
Eu acho que um programa de Responsabilidade Social da Empresa é ela
ter lucro, mas ter lucro respeitando a lei. Porque naturalmente na hora que
ela respeitar o lucro ela vai ter que ter os seus processos bem feitos, as
pessoas bem treinadas, bem capacitadas, motivadas, não é? E para você
ter as pessoas motivadas elas tem que estar satisfeitas, o salário tem que
estar certo... Ou seja, eu acho que essa é que é a responsabilidade
realmente social.
O Presidente 2, também defende a visão de Friedman ao ser questionado
sobre o grau de importância que ele atribuía à Responsabilidade Social para as
empresas:
108
[...] eu acho que a empresa em si ela sobrevivendo, ela já está dando uma
contribuição social tremenda [...] Então eu acho que a grande
Responsabilidade Social, eu não tenho dúvida quanto a isso, a grande
Responsabilidade Social da Empresa, de qualquer Empresa, é se manter
viva, é ser economicamente viável, para que ela possa cumprir a sua
Responsabilidade Social, que é manter os empregos, manter o crescimento,
os funcionários daquelas empresas crescerem profissionalmente. Eu acho
que essa é que é a grande Responsabilidade Social da Empresa... As
pessoas confundem Responsabilidade Social com caridade, com prestação
de serviços comunitários, que também é, mas a grande Responsabilidade
Social da Empresa é viabilizar-se economicamente. Aí sim ela cumpre o seu
papel social. É assim que eu vejo.
O depoimento do Presidente 2 corrobora o relato de Barbosa (2009), de que,
no Brasil, a idéia de função social da empresa sempre esteve associada ao seu
principal dever: o lucro. A função social da empresa era entendida como quase o
equivalente a compartilhar os deveres do Estado.
Por outro lado, há Conceição Moura, vice-presidente do Conselho de
Administração e co-fundadora da Empresa, além de matriarca da família Moura,
responsável por coordenar as ações sociais da Organização. Para Conceição
Moura, a Responsabilidade Social está mais associada à definição de Tachizawa
(2004), com uma visão mais integradora dos ambientes intra e extra-
organizacionais, conforme depoimento:
[...] eu acho que é uma coisa importantíssima [A Responsabilidade Social]
porque você não pode viver bem se todo mundo em volta vive mal, aí eu
acho que você tem que ajudar, e quando ela [a Empresa] ajuda, se ela
ainda quiser receber os frutos disso recebe. Porque o povo reconhece, e
reconhece comprando o produto daquela empresa.
O depoimento da vice-presidente, também reflete a importância da reputação
da Empresa para o seu reconhecimento e aceitação no mercado em que atua,
influenciando as decisões de compras dos consumidores (TRAD, 2009).
O Presidente 3 faz menção à importância da gestão na Responsabilidade
Social, além da integração Empresa-Sociedade. A gestão também é algo citado pelo
Instituto Ethos de Empresa e Responsabilidade Social, ao adotar a definição de que
a Responsabilidade Social é uma forma de gestão definida pela relação ética e
transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona, e
pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento
109
sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as
gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das
desigualdades sociais. (INSTITUTO ETHOS, 2008).
Ela [a Empresa] tem que procurar fazer aquilo que seja feito de uma forma
sustentável, não é? E com um arcabouço de gestão por trás disso tudo, por
que senão a coisa não vinga... Porque não adianta você querer fazer uma
ilha de prosperidade num ambiente completamente hostil. Nós temos que
melhorar o ambiente, e eu acho que todo o trabalho nosso e da maioria das
empresas tem que ser nessa linha.
Apesar das polaridades existentes nos discursos sobre Responsabilidade
Social dos membros da presidência da Empresa, o reconhecimento da importância
do Projeto Tareco & Mariola para a população belo jardinense é unânime.
Os funcionários da Moura que fizeram parte da amostra pesquisada por meio
de questionários foram indagados sobre o nível de importância que atribuíam à área
de Responsabilidade Social nas empresas. 100% dos pesquisados consideraram a
área importante, e desses, 81% afirmaram ser a área de Responsabilidade Social
além de importante, estratégica para as empresas, conforme Figura 32.
Figura 32: Gráfico do nível de importância atribuída à área de Responsabilidade Social.
Grupo “Funcionários da Acumuladores Moura S/A”.
110
Todos os funcionários pesquisados também reconhecem que a Moura possui
ações voltadas para a Responsabilidade Social, porém, em níveis diferenciados de
percepção quanto à atuação da Empresa nesta área, conforme Figura 33 a seguir:
COMO VÊ ATUAÇÃO DA MOURA
7%
39%
54%
Intensa
Mediana
Pouco
Expressiva
Figura 33: Gráfico do nível de atuação da Moura na área de Responsabilidade Social.
Grupo “Funcionários da Acumuladores Moura S/A”.
O resultado da pesquisa que aponta a atuação da Moura como mediana, para
a maioria dos pesquisados, pode estar relacionada à concentração das ações
sociais apenas na cidade de Belo Jardim e adjacências.
7.8 A COMPREENSÃO SOBRE A SUSTENTABILIDADE
A compreensão da expressão “sustentável”, baseada no tripé: econômico,
social e ambiental, adotado pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD, 1996), não permeou as respostas de todos os
entrevistados. Várias foram as visões apresentadas pelos pesquisados para o
adjetivo “sustentável”, ao serem indagados com a pergunta: “Você acha que o
Projeto pode ser considerado sustentável? Por que?”
111
O Presidente1 apresentou um viés econômico em sua resposta, adotando a
palavra sustentável como sinônimo de economicamente viável, conforme transcrição
da resposta a seguir:
Eu acho que sim [...] Ele é um projeto de custo baixo, não é? Pelo que eu
sei se gasta pouco. O orçamento é pequeno e, eu acho que ele se
sustenta...
Já o Presidente 2, citou a questão ambiental, atribuindo-a à sustentabilidade
do Projeto:
[...] pode, pode. Porque ele [o Projeto] é sustentável por natureza, que
envolve a coleta seletiva. O lixo sempre vai ser produzido não é, e os
artesanatos também, e tal... acho que é sustentável sim.
Apesar de praticada, por meio, principalmente, das ações educacionais do
Projeto com o 5S nas Escolas, a vertente social não foi citada em nenhuma das
respostas relacionas à Sustentabilidade do Projeto.
7.9 OS DILEMAS ÉTICOS DO “SOCIALMENTE RESPONSÁVEL”
As preocupações sobre as questões éticas da atuação socialmente
responsável da Empresa foram levantadas pelo Presidente 1, que reiterou a
necessidade de as organizações, além de terem um posicionamento socialmente
responsável com o público externo, que assim também o tenham com o seu público
interno:
[...] também não tem nada de antiético em você extrapolar as quatro
paredes de sua indústria e se envolver com problemas reais que a
comunidade tem, e se você pode ajudar naquilo [...] Isso não tem nada.
Pelo contrário, eu acho que é bom. O que precisa ter é assim, precisa ter
uma correspondência entre o que você faz fora e o que você faz dentro.
112
O posicionamento do Presidente 1 se alinha à defesa de Barontini & Calado
(2009) de que o “Fazer” deve irradiar do “Ser”. A Empresa deve adotar uma postura
ética e responsável principalmente com aqueles que a constituem, refletindo a sua
postura para as ações extra-organizacionais. A identidade, que é o que a empresa é,
representa e acredita através da sua cultura, deve ser correspondente à sua
imagem, como ela se comporta e se mostra fora dos seus domínios, perante a
sociedade, seguindo o modelo integral de Ken Wilber (apud BARONTINI; CALADO,
2009).
Morin (2007b) afirma que o sentimento de comunidade gera os sentimentos
de responsabilidade e solidariedade. Essa parece ser uma crença também de
Conceição Moura ao fundar o Tareco & Mariola:
Toda a Empresa deve se preocupar um pouco com o entorno dela porque
quando ela está inserida numa cidade pequena, numa cidade pobre, ela
precisa ajudar a desenvolver aquelas pessoas que estão no entorno dela
para que possam ter uma vida melhor, uma melhor condição de
sobrevivência. Então, isso eu vi em Belo Jardim, que a cidade era pequena,
pobre, que estava precisando de um apoio da Empresa e criei há 10 anos o
Projeto Tareco & Mariola.
Os princípios da nova ética para a Sustentabilidade defendida por Boff (2006),
que são: o princípio da afetividade, do cuidado/compaixão, da cooperação e da
responsabilidade, podem ser depreendidos das palavras da vice-presidente do
Conselho de Administração da Moura.
7.10 A LIDERANÇA PARA A PROMOÇÃO DA SUSTENTABILIDADE
O Tareco & Mariola teve a sua fundação e condução marcada pela liderança,
principalmente dos seus fundadores: Conceição Moura, apoiada por Jorge Baraúna.
Essa liderança é reconhecida na Empresa, conforme depoimento de Maria do
Socorro, artesã e coordenadora do Projeto, ao relatar o início da sua atuação no
Tareco & Mariola:
113
[...] eu fui dar alguns cursos lá em Recife. Eu morava lá. Então D.
Conceição me convidou pra dirigir [a área de artesanato do Tareco &
Mariola]. Eu comecei aqui do zero. Ela botou anúncio no rádio. Ela
organizou o espaço. E eu comecei. Ela trouxe umas idéias porque ela é
quem traz muitas idéias para a gente e, eu juntei o pessoal, e foi quando eu
comecei.
A própria Conceição Moura apresenta, em seu discurso, traços de liderança e
espírito empreendedor:
[...] eu sou muito a favor da parceria e é por isso que eu até aceitei um
cargo que pertence à Prefeitura para que pudesse ser mais fácil essa
parceria, porque eu sou do município, sou Secretária, e sou da Moura.
Secretária de Cultura e Meio Ambiente, que aliás, é agora: turismo, cultura e
meio ambiente. No turismo eu já estou há oito anos neste cargo, então,
como a cidade precisava muito de uma melhora de aspecto eu passei esses
oito anos quase que só envolvida nisso.
O artigo 11 da Declaração Universal pela Diversidade Cultural (UNESCO,
2002) ressalta a importância do fortalecimento das políticas públicas em parceria
com a sociedade civil e o setor privado, a fim de se criar condições para promover o
desenvolvimento humano sustentável, pois as forças do mercado, por si só, não são
capazes de garantir a promoção e preservação da diversidade cultural, citada como
elemento fundamental na prática da sustentabilidade.
A idéia de Amaral (2009) sobre a necessidade crescente por líderes
transformadores que, antes de qualquer coisa, se deixem também ser transformados
pelos novos valores da sustentabilidade, conseguindo transmitir o entusiasmo e a
importância das pessoas em tudo que se realiza também pode ser aplicada a Jorge
Baraúna, conforme relato da vice-presidente Conceição Moura:
[...] Jorge para esse trabalho tem sido de uma eficiência enorme, em todos
os aspectos ele tem ajudado tremendamente. Ele está lá, gosta, faz isso
desprendidamente, não ganha nada com isso. [...] E ele não ganha nada, só
faz trabalhar, mas o retorno vem na satisfação de ver que aquelas pessoas
estão progredindo.
114
7.11 OS RESULTADOS DO PROJETO TARECO & MARIOLA
O Tareco & Mariola, nos seus dez anos de funcionamento, conseguiu
alcançar resultados muito positivos nas áreas em que se propôs atuar,
proporcionando resultados sociais, econômicos e ambientais, principalmente para a
população belo jardinense.
7.11.1 Aspecto Ambiental
No aspecto ambiental, o principal foco do projeto está concentrado na ação
de coleta seletiva. Com a participação de 10 catadores, a coleta é feita nas
residências e empresas parceiras. No mês, os resíduos coletados variam entre 38 e
40 toneladas, conforme relato do Sr. Antônio, supervisor da área da Coleta Seletiva
do Projeto.
Jorge Baraúna, coordenador do Tareco & Mariola, afirma que, no mês, o
projeto arrecada o equivalente a 60% da produção diária de resíduos da cidade de
Belo Jardim. 70% do material coletado é proveniente da Moura, segundo Jorge. O
restante é coletado entre moradores e empresas da cidade.
A principal contribuição para o meio ambiente está no reaproveitamento dos
resíduos gerados, impedindo que os mesmos sejam direcionados para o lixão da
cidade. Com isso, ocorre a mitigação dos custos para gerenciamento dos resíduos
tanto por parte das Empresas, quanto do Governo.
Os resultados reafirmam o pensamento de Vilhena (2009), ao corroborar a
premissa de que o setor industrial é capaz de exercer grande e decisiva contribuição
para promover a reciclagem como alternativa à problemática do gerenciamento dos
resíduos sólidos globais.
7.11.2 Aspecto Social
A ação social principal do Tareco & Mariola está concentrada nas atividades
do 5S voltadas para a Educação. Atualmente são 17 Escolas de Belo jardim e uma
no município de Pesqueira-PE, que se beneficiam com o projeto.
115
No Tareco & Mariola duas professoras estão envolvidas nas atividades, sendo
coordenadas por Jorge Baraúna, que deu início ao trabalho antes mesmo da
Fundação do Projeto, em 1999. Jorge estima que o trabalho já tenha atingido mais
de 17 mil pessoas, entre alunos, professores, diretores e comunidade.
Além dos ensinamentos voltados para a gestão escolar utilizando as
ferramentas do 5S, o projeto também foca a educação ambiental, introduzindo nas
escolas conceitos como o da reciclagem e coleta seletiva, reforçando a defesa de
Brayner (2009) de que as problemáticas relacionadas às questões ambientais estão
intimamente ligadas às questões de cidadania, como o acesso à educação (vertente
social) e a distribuição de renda (vertente econômica). O Projeto, com a sua atuação
na educação ambiental e práticas de gestão, vem contribuir para minimizar a
problemática.
A área do artesanato também tem um resultado social bastante positivo,
proporcionando aos participantes do Projeto o aprendizado de um ofício que eles
levarão para toda a vida. Maria do Socorro, artesã e coordenadora dos artesãos,
afirmou em matéria veiculada pelo Programa Nordeste Viver e Preservar, da Rede
Globo (NORDESTE, 2008) que muitas das pessoas que passaram pelo projeto, hoje
atuam como artesãos independentes e vivem desta profissão.
A liberdade de escolha, proporcionada pelo aprendizado de um ofício, faz
com que o Tareco & Mariola dê às pessoas a possibilidade de se desenvolverem.
Essa premissa, de que a liberdade é uma condição sine qua non ao real
desenvolvimento, é defendida por Sen (2000) em seu livro “Desenvolvimento como
Liberdade”.
7.11.3 Aspecto Econômico
Os benefícios voltados à vertente econômica são os mais percebidos e
divulgados pelo Projeto e pela Moura. A renda dos participantes do Projeto
aumentou consideravelmente, como relata Conceição Moura:
116
Uma das mulheres deu uma declaração que ela está lá desde o primeiro dia
que o Tareco & Mariola apareceu, e ela disse que ganhava R$ 15,00 por
semana na coleta ali. Hoje ela ganha em torno de R$ 500,00 por mês, tem a
casa dela já toda montadinha, quer dizer, foi para ela um ganho enorme, e
muitos outros que estão lá da mesma maneira.
A mesma defesa foi feita por Antônio, supervisor da Coleta Seletiva do Tareco
& Mariola, em entrevista concedida ao pesquisador:
[...] aqui num mês a gente tira mais ou menos R$ 500 a R$ 600, aí já dá
para ir juntando algum dinheiro para fazer outras coisas não é? [...] a gente
aqui consegue muita coisa. Teve um que já comprou uma casa. Eu comprei
uma moto já daqui [com o dinheiro ganho no trabalho do projeto].
Além dos catadores e artesãos participantes do projeto, que conseguiram
melhorar as suas rendas por meio da coleta seletiva, revendendo os resíduos
coletados, e comercializando os artesanatos produzidos; os ganhos econômicos
também foram extensivos às Empresas, em especial a Moura, que com a ação de
incentivo à coleta seletiva consegue reduzir os seus gastos com o gerenciamento
dos resíduos oriundos do processo produtivo da Empresa. Jorge Baraúna, em sua
entrevista, fez menção ao tema:
70% dos resíduos que são coletados são daqui da Moura. Mas, o projeto
também faz um papel importante pra Moura. Antes a Moura pagava para
esses resíduos serem tirados da Empresa. Hoje, além de ela não ter esse
custo, ela também está ajudando a gerar [renda]. Então, quando eu falo
uma coisa nesse contexto, é que ela também está sendo, e muito,
beneficiada com isso. Nós tivemos uma redução de 90% nos resíduos que
eram enviados da Moura para o lixão da cidade. Isso caiu em 90%. Então é
muita coisa.
Desta forma, o Projeto pode ser considerado sustentável, pois envolve a
participação da comunidade local, proporcionando benefícios não só econômicos,
mas também sociais e ambientais, que dão sustentação e viabilidade às ações para
a promoção do desenvolvimento sustentável. (BUARQUE, 1999).
117
7.12 O FUTURO DO PROJETO TARECO & MARIOLA
A sustentabilidade está relacionada ao futuro da humanidade e é através dela
que a sociedade, com a participação de todos, comunidade, empresas com ou sem
fins lucrativos e governo, poderá encontrar as soluções para os problemas que
acometem o novo século. (VEIGA apud GARCIA, 2008).
O futuro do Tareco & Mariola, se depender da presidência da Moura e dos
gestores do Projeto, será próspero e poderá contribuir ainda mais para o
desenvolvimento da comunidade.
Na área da Coleta Seletiva, Jorge Baraúna ressalta as oportunidades de
crescimento:
[Hoje] nós coletamos apenas 60% do lixo que é gerado em 1 dia em Belo
Jardim, ou seja, o Tareco, ao longo de 30 dias, coleta o equivalente a 60%
do que é gerado em Belo Jardim [em 1 dia]. Então a gente tem um mundo
aí de oportunidades. [...]. Eu estou falando só é que, se a gente for colocar
só o que é possível de ser reciclado, a gente teria facilmente condições de
aumentar em 10 vezes o tamanho do Tareco. Eu acho que é uma
oportunidade grande, e o próximo passo é a gente trabalhar esse gap aí,
para estar envolvendo mais gente, dando oportunidade de renda para mais
pessoas.
Além da área da Educação, por meio do Programa 5S nas Escolas:
[...] e outro passo para ajudar inclusive nesse [da Coleta Seletiva] é o
trabalho na educação. Hoje nós temos 17 escolas envolvidas. Em Belo
Jardim, só de estadual mais municipal nós temos quase 100. Se a gente
colocar as escolas particulares, aí passam de 200. Então, essa é outra
oportunidade grande. Estar estendendo o projeto nas escolas para todas as
escolas. A gente sabe que é um negócio assim, a longo prazo, que hoje a
gente tem dezessete, e é um nível de dificuldade enorme de dar conta das
dezessete. Mas eu acho que se a gente conseguir avançar pelo menos para
50% dos estabelecimentos que existem aqui no município, a gente já faz
uma transformação grande. Tanto na área de educação, que vai mexer
diretamente com o projeto de coleta, já que um dos pilares que a gente
utiliza no processo de gestão das escolas é a questão ambiental, coleta e
reciclagem. Eu diria que a gente tem um mundo aí pela frente. Temos muita
oportunidade realmente de crescer.
A continuidade do Projeto dependerá também da capacidade da Moura de
internalizar a sustentabilidade na cultura organizacional. Veloso (2005) afirma que
118
ética, cultura e valores são temas indispensáveis à compreensão e prática da
Responsabilidade Social. Uma das formas de alcançar esse reconhecimento e
internalizar o tema à cultura empresarial é institucionalizar a área de
Responsabilidade Social dentro da organização, conforme reconhece o Presidente
3:
Veja, eu diria que nos últimos 20, 10 anos foi que a gente atentou mais para
isso, fez uma coisa de forma mais consciente. Antes a gente fazia mais com
o espírito de ajudar alguém que estava com algum projeto. [...] há dez anos
que a gente vem trabalhando e montando alguma coisa mais sólida. Eu
acho que nós precisamos incluir no nosso orçamento qual a verba para
trabalhar nisso e aí a gente começar a priorizar e transformar isso num
projeto como outro qualquer nosso. Aí a gente estaria num caminho mais
maduro, ou seja, profissionalizar a área de Responsabilidade Social.
O reconhecimento da necessidade de mudança por parte da Empresa já é um
grande passo. Porém, é preciso ter em mente que essa mudança deve iniciar
principalmente internamente, nos valores e na cultura da empresa para, a partir daí,
ser traduzida em ações. O lucro deve compartilhar o seu lugar de destaque com
outras questões como o meio ambiente e a sociedade (AMARAL, 2009)
A Moura, ao reformular a sua visão e valores no ano de 2008, deu um grande
passo no sentido de colocar em prática essa mudança, ao reconhecer dentre as
competências essenciais da Empresa a sustentabilidade. (MOURA, 2009d). Agora, o
grande desafio da Organização será traduzir esta competência em ações
consistentes e institucionalizadas.
119
8 CONCLUSÕES
Um grande diferencial na definição do Desenvolvimento Sustentável é a
intenção de orientá-lo não somente em benefício da sociedade, e por conseqüência
do ser humano, mas também em prol da questão ambiental e, principalmente, da
harmonização entre as esferas social, econômica e ambiental. A questão econômica
pode ser considerada como uma derivação das questões sociais, em seu sentido
mais amplo, porém não menos importante que as demais questões, tendo sido
inclusive o principal foco do desenvolvimento até então.
Após definir a amostra da pesquisa, prosseguir com a coleta e análise dos
dados, chegou-se à conclusão de que a empresa Acumuladores Moura S/A, apesar
de não possuir uma área de Responsabilidade Social institucionalizada na
organização, possui ações de Responsabilidade Social, sendo a principal delas o
Projeto Tareco & Mariola, na cidade de Belo Jardim.
O Projeto Tareco & Mariola demonstrou ser um caminho útil e exitoso para a
promoção do desenvolvimento sustentável na comunidade de Belo Jardim. As ações
que compõem o projeto permitem, de forma integrada, uma melhoria contínua dos
aspectos sociais, econômicos e ambientais da comunidade. Os resultados são
reconhecidos por toda a população e contribuem para a construção de uma boa
imagem da Empresa na comunidade em que foi fundada e atua até hoje.
Uma questão a ser trabalhada pela Empresa, para a obtenção de melhores
resultados com as suas ações sociais, é a profissionalização dos trabalhos,
concentrando-os em uma área de Responsabilidade Social Corporativa, que possua
claramente: objetivos, metas, orçamento, estrutura. Além disso, a descentralização
das práticas de Responsabilidade Social é necessária, a fim de que possa existir
uma uniformidade nas práticas da organização em todas as localidades em que ela
atua.
É certo que, para promover todas as mudanças necessárias descritas acima,
antes de qualquer coisa é preciso haver um alinhamento entre os gestores da
Empresa sobre as suas prioridades e formas de atuação. A escolha em assumir um
compromisso com a atuação socialmente responsável, implica em levar à cultura da
organização os valores da sustentabilidade, traduzindo-os em ações, nas decisões e
práticas adotadas pela Empresa.
120
Assim como no desenvolvimento local sustentável, as ações de
Responsabilidade Social Corporativa necessitam encontrar respaldo nas lideranças
empresariais, e participação efetiva dos atores organizacionais para que as práticas
e valores disseminados sejam internalizados à cultura da Empresa e assim tenham
sustentabilidade no horizonte temporal.
Os funcionários devem ser estimulados a se engajarem nas iniciativas da
Empresa, pois, mais importante do que simplesmente promover essas ações, é
disseminar os valores éticos que devem orientar a prática sustentável. A
sustentabilidade deve ser aprendida, internalizada e incorporada às visões de
mundo das pessoas. Está deve ser a principal função da Responsabilidade Social
Empresarial.
Através da pesquisa, pôde-se confirmar a importância da liderança para a
Responsabilidade Social e para a promoção do Desenvolvimento Sustentável. A
vice-presidente do Conselho de Administração, Conceição Moura, e Jorge Baraúna
mostraram ser possível mobilizar as pessoas em prol de causas sociais, construindo
redes de relacionamento e firmando parcerias construtivas e sólidas para a
sustentabilidade.
A característica da liderança para a sustentabilidade deve ser reconhecida e
valorizada pela Empresa, para que novos deres possam despontar na organização,
dando continuidade às suas ações sociais. Este é mais um motivo pelo qual os
funcionários devam ser encorajados a participar ativamente das práticas sociais da
Empresa.
A divulgação do Tareco & Mariola e dos seus resultados deve ser encarada
como uma atitude ética, que favorece não apenas a Empresa, por meio da
valorização da sua imagem, mas também toda a comunidade. Expor exemplos reais
de sucesso pode incentivar outras pessoas a participarem direta ou indiretamente do
Projeto, repercutindo numa cadeia de benefícios para todos os participantes.
Os resultados ambientais e sociais devem ter o mesmo destaque dado à
vertente econômica, pois refletem a compreensão de que a importância dada às três
áreas deve ser equânime, refletindo os princípios da sustentabilidade.
A solução para a problemática dos resíduos urbanos pode estar, dentre
outras ações, no fomento ao desenvolvimento de cooperativas e associações, como
o Projeto Tareco & Mariola, que consegue utilizar a criatividade como meio para
121
solução dos problemas urbanos, gerando renda, e tornando menos impactante a
ação humana no meio ambiente.
As ações voltadas à promoção da sustentabilidade devem ter como alvo não
só a comunidade local, mas, principalmente, os integrantes da Empresa. As ações
de conscientização ambiental devem dar sustentação às práticas sociais do Tareco
& Mariola. Os funcionários e a comunidade em geral devem ser estimulados não
apenas a promover a coleta seletiva em suas residências e postos de trabalho, mas
principalmente, a reduzirem o consumo exacerbado, através da conscientização
ambiental e do conhecimento sobre os impactos ambientais decorrentes da
produção desenfreada de resíduos, por meio do aumento do consumo, sem o
reaproveitamento dos materiais descartados.
A Moura deve expandir a sua atuação baseada nos princípios da
sustentabilidade, incorporando-os ao seu processo produtivo. Os investimentos na
área de pesquisa e desenvolvimento de novos materiais para a produção de baterias
mais “limpas”, como as do tipo íon-lítio, devem ser realizados como forma de
minimizar o impacto ambiental dos seus produtos. Esses investimentos para a
produção de novos tipos de baterias também será fundamental para dar
continuidade à Empresa, que atua num mercado ávido por encontrar soluções
ecoeficientes para seus produtos e processos produtivos.
Por fim, os resultados deste trabalho têm a sua aplicação parcialmente restrita
a Acumuladores Moura, que compôs a unidade de estudo da pesquisa. Extensões
dos resultados encontrados e das conclusões apresentadas devem ser feitos com
cuidado, considerando a especificidade da Empresa e do Projeto estudados.
122
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132
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO PARA A COMUNIDADE LOCAL
RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA PARA O DESENVOLVIMENTO
LOCAL SUSTENTÁVEL: O CASO DO PROJETO TARECO & MARIOLA, NO
MUNICÍPIO DE BELO JARDIM-PE, BRASIL.
QUESTIONÁRIO - COMUNIDADE LOCAL
DATA: ____________________________
1. Você se encontra em que faixa de idade:
( ) 10 a 19 anos ( ) 20 a 29 anos ( ) 30 a 39 anos
( ) 40 a 49 anos ( ) mais de 50 anos
2. Qual a sua renda familiar (soma da renda de todos os integrantes da família):
( ) 0 a 2 salários mínimos ( ) 3 a 6 salários mínimos
( ) 7 a 15 salários mínimos ( ) 16 a 30 salários mínimos
( ) + de 30 salários mínimos
3. Qual a sua escolaridade:
( ) Ensino Fundamental Incompleto ( ) Ensino Fundamental Completo
( ) Ensino Médio Incompleto ( ) Ensino Médio Completo
( ) Ensino Superior Incompleto ( ) Ensino Superior Completo
( ) Pós-graduação ( ) Mestrado / Doutorado
4. Conhece o Projeto Tareco & Mariola?
* Encerrar a entrevista caso a resposta seja não.
( ) sim ( ) não
5. Participa do Projeto Tareco & Mariola direta ou indiretamente?
( ) sim ( ) não
6. Quais as atividades que você acha que são desenvolvidas no projeto?
(pode ser marcada mais de uma opção)
( ) Coleta de resíduos sólidos
( ) Coleta de resíduos orgânicos
( ) Coleta seletiva no comércio
( ) Práticas educativas na comunidade
( ) Práticas educativas em escolas
( ) Produção de artesanatos
133
7. Na sua concepção, essas atividades são importantes?
( ) sim ( ) não
Se positivo, complete com opções em ordem crescente;
(1 – mais importante até o número 5 – menos importante):
( ) São boas ações para as pessoas envolvidas como catadoras
( ) São boas ações para as empresas parceiras
( ) São boas ações para a cidade
( ) São boas ações para a natureza
( ) São boas ações para a empresa Moura
8. Mantendo o Projeto Tareco & Mariola a Baterias Moura está:
(Fazer um X na opção SIM ou NÃO)
Questionamento Sim Não
Beneficiando a população pobre a cidade
Beneficiando a população do centro da cidade
Beneficiando o comércio da cidade
Beneficiando a natureza
Beneficiando os visitantes da cidade
Melhorando a imagem da empresa
Elevando os custos da empresa
Perdendo tempo com ações inúteis
Cumprindo seu papel social com a comunidade
Cumprindo seu papel ambiental
Contribuindo com as ações municipais
Exercendo um papel que deve ser desenvolvido pelos
governos municipal / estadual / federal
9. Você acha que esse projeto deveria:
( ) Continuar pois é de grande importância para a empresa
( ) Continuar pois é de grande importância para a população
( ) Parar pois não é o verdadeiro papel da empresa
( ) É um projeto que não apresenta nenhum papel significativo para a empresa
( ) Outro. Especificar: _____________________________________________
134
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO PARA CATADORES E ARTESÃOS
RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA PARA O DESENVOLVIMENTO
LOCAL SUSTENTÁVEL: O CASO DO PROJETO TARECO & MARIOLA, NO
MUNICÍPIO DE BELO JARDIM-PE, BRASIL.
QUESTIONÁRIO PARA CATADORES E ARTESÃOS
1. Cargo/ função: _________________________________.
2. Tempo que atua no Projeto: _________ anos e ________ meses.
3. Você se encontra em que faixa de idade:
( ) 10 – 19 anos ( ) 20 – 29 anos
( ) 30 – 39 anos ( ) 40 – 49 anos ( ) mais de 50 anos
4. Qual a sua renda familiar:
( ) 0 a 2 salários mínimos ( ) 3 a 6 salários mínimos
( ) 7 a 15 salários mínimos ( ) 16 a 30 salários mínimos
( ) + de 30 salários mínimos
5. Qual a sua escolaridade:
( ) Ensino Fundamental Incompleto ( ) Ensino Fundamental Completo
( ) Ensino Médio Incompleto ( ) Ensino Médio Completo
( ) Ensino Superior Incompleto ( ) Ensino Superior Completo
( ) Pós-graduação ( ) Mestrado / Doutorado
6. Quais as atividades desenvolvidas com o projeto?
( ) Coleta de resíduos sólidos
( ) Coletas de resíduos orgânicos
( ) Coleta seletiva no comércio
( ) Práticas educativas na comunidade
( ) Práticas educativas em escolas
( ) Produção de artesanatos
7. Na sua concepção, essas atividades são importantes?
( ) sim ( ) não
Se positivo, complete com opções em ordem crescente;
(1 – mais importante até o número 5 – menos importante):
( ) São boas ações para as pessoas envolvidas como catadoras
( ) São boas ações para as empresas parceiras
( ) São boas ações para a cidade
( ) São boas ações para a natureza
135
( ) São boas ações para a empresa Moura
8. Mantendo o Projeto Tareco & Mariola a Moura está:
(Fazer um X na opção SIM ou NÃO)
Questionamento Sim Não
Beneficiando à população pobre a cidade de Belo Jardim
Beneficiando a população do centro da cidade de BJ
Beneficiando o comércio da cidade de Belo Jardim
Beneficiando a natureza
Beneficiando os visitantes da cidade de Belo Jardim
Melhorando a imagem da empresa
Elevando os custos da empresa
Perdendo tempo com ações inúteis
Cumprindo seu papel social com a comunidade
Cumprindo seu papel ambiental
Contribuindo com as ações municipais
Exercendo um papel que deve ser desenvolvido pelos gestores
municipais
9. Você acha que esse projeto deveria:
( ) Continuar pois é de grande importância para a empresa
( ) Continuar pois é de grande importância para a população
( ) Parar pois não é o verdadeiro papel da empresa
( ) É um projeto que não apresenta nenhum papel significativo para a empresa
( ) Outro. Especificar: _____________________________________________
136
APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO PARA FUNCIONÁRIOS
ACUMULADORES MOURA
RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA PARA O DESENVOLVIMENTO
LOCAL SUSTENTÁVEL: O CASO DO PROJETO TARECO & MARIOLA, NO
MUNICÍPIO DE BELO JARDIM-PE, BRASIL.
QUESTIONÁRIO PARA FUNCIONÁRIOS DA EMPRESA
1. Cargo/ função do respondente: _________________________
2. Unidade da Empresa em que atua: _______________________
3. Tempo de Empresa: _____anos e ______meses.
4. Você considera a área de Responsabilidade Social:
(marque com um X apenas 1 alternativa)
a) ( ) Importante para as Empresas
b) ( ) Importante e Estratégico para as Empresas
c) ( ) De pouca ou nenhuma importância para as Empresas
5. Você acha que a Moura possui ações de Responsabilidade Social?
(marque com um X apenas 1 alternativa)
a) ( ) Sim b) ( ) Não
6. Caso tenha respondido sim à última pergunta, como você vê a atuação da
Moura nesta área?
(marque com um X apenas 1 alternativa)
a) ( ) Intensa
b) ( ) Mediana
c) ( ) Pouco expressiva
7. Você é estimulado pela Moura a participar das iniciativas de Responsabilidade
Social da Empresa?
(marque com um X apenas 1 alternativa)
a) ( ) Sim b) ( ) Não
8. Você conhece o Projeto Tareco & Mariola?
(marque com um X apenas 1 alternativa)
a) ( ) Sim b) ( ) Não
9. Participa do Projeto Tareco & Mariola direta ou indiretamente?
(marque com um X apenas 1 alternativa)
a) ( ) Sim b) ( ) Não
137
10. Quais as atividades que você acha que são desenvolvidas no projeto?
(pode ser marcada mais de uma alternativa)
a) ( ) Coleta de resíduos sólidos
b) ( ) Coleta de resíduos orgânicos
c) ( ) Coleta seletiva no comércio
d) ( ) Práticas educativas na comunidade
e) ( ) Práticas educativas em escolas
f) ( ) Produção de artesanatos
11. Na sua concepção, essas atividades são importantes?
(marque com um X apenas 1 alternativa)
a) ( ) Sim b) ( ) Não
Se positivo, complete as opções em ordem crescente
;
(1mais importante
até o número 5 menos importante):
(nenhum número deverá se repetir)
a) ( ) São boas ações para as pessoas envolvidas, como os catadores
b) ( ) São boas ações para as empresas parceiras
c) ( ) São boas ações para a cidade de Belo Jardim
d) ( ) São boas ações para a natureza
e) ( ) São boas ações para a empresa Moura
12. Mantendo o Projeto Tareco & Mariola a Moura está:
(Fazer um X na opção SIM ou NÃO)
Questionamento Sim Não
a) Beneficiando à população pobre a cidade de Belo Jardim
b) Beneficiando a população do centro da cidade de Belo J.
c) Beneficiando o comércio da cidade de Belo Jardim
d) Beneficiando a natureza
e) Beneficiando os visitantes da cidade de Belo Jardim
f) Melhorando a imagem da empresa
g) Elevando os custos da empresa
h) Perdendo tempo com ações inúteis
i) Cumprindo seu papel social com a comunidade
j) Cumprindo seu papel ambiental
k) Contribuindo com as ações municipais
l) Exercendo um papel que deve ser desenvolvido pelos governos
municipal / estadual / federal
13. Você acha que esse projeto deveria:
(pode ser marcada mais de uma alternativa)
a) ( ) Continuar pois é de grande importância para a empresa
b) ( ) Continuar pois é de grande importância para a população
c) ( ) Parar pois não é o verdadeiro papel da empresa
d) ( ) É um projeto que não apresenta nenhum papel significativo para a empresa
e) ( )Outro. Especificar: _______________________
138
APÊNDICE D – ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA GESTORES DO
PROJETO
RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA PARA O DESENVOLVIMENTO
LOCAL SUSTENTÁVEL: O CASO DO PROJETO TARECO & MARIOLA, NO
MUNICÍPIO DE BELO JARDIM-PE, BRASIL.
ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA GESTORES DO PROJETO
13. Cargo/ função: _________________________________.
14. Tempo que atua no Projeto: _________ anos e ________ meses.
15. Você poderia contar como passou a atuar no Projeto?
16. Você poderia dizer quais atividades o Projeto Envolve?
17. Em ordem decrescente de importância, quais os principais benefícios do
Projeto que você considera? Por quê?
18. Você acha que o Projeto pode ser considerado sustentável? Por quê?
19. Quais os próximos passos que você considera importante a serem
dados pelo Projeto?
20. Mantendo o Projeto Tareco & Mariola a Moura está:
(Fazer um X na opção SIM ou NÃO)
Questionamento Sim Não
Beneficiando à população pobre a cidade de Belo Jardim
Beneficiando a população do centro da cidade de BJ
Beneficiando o comércio da cidade de Belo Jardim
Beneficiando a natureza
Beneficiando os visitantes da cidade de Belo Jardim
Melhorando a imagem da empresa
Elevando os custos da empresa
Perdendo tempo com ações inúteis
Cumprindo seu papel social com a comunidade
Cumprindo seu papel ambiental
Contribuindo com as ações municipais
Exercendo um papel que deve ser desenvolvido pelos gestores
municipais
139
APÊNDICE E – ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA PRESIDÊNCIA DA
EMPRESA
RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA PARA O DESENVOLVIMENTO
LOCAL SUSTENTÁVEL: O CASO DO PROJETO TARECO & MARIOLA, NO
MUNICÍPIO DE BELO JARDIM-PE, BRASIL.
ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA PRESIDÊNCIA DA EMPRESA
1. Cargo: _________________________________.
2. Nome: _________________________________.
3. Como você vê a atuação da Moura na Comunidade local de Belo Jardim?
4. Você poderia citar alguns Projetos que envolvam a comunidade local?
5. Você poderia dizer quais atividades o Projeto Tareco & Mariola envolve?
6. Qual o grau de importância que você atribui a Responsabilidade Social
para as Empresas em geral?
7. Como você vê a atuação da Moura na área de Responsabilidade Social?
8. Existe um orçamento pré-definido na Moura para aplicação em ações de
Responsabilidade Social?
9. Caso exista, como se dá a definição do orçamento?
10. De que forma a Responsabilidade Social está inserida nas estratégias de
longo prazo da Empresa?
11. Em ordem decrescente de importância, quais os principais benefícios do
Projeto que você considera? Por quê?
12. Você acha que o Projeto pode ser considerado sustentável? Por quê?
13. Quais os próximos passos que você considera importante a serem
dados pelo Projeto? E pela Empresa?
14. Mantendo o Projeto Tareco & Mariola a Moura está:
(Fazer um X na opção SIM ou NÃO)
Questionamento Sim Não
Fazendo um favor à população pobre a cidade
Fazendo um favor a população do centro da cidade
Fazendo um favor ao comércio da cidade
Fazendo um favor a natureza
Fazendo um favor aos visitantes da cidade
Melhorando a imagem da empresa
140
Elevando os custos da empresa
Perdendo tempo com ações inúteis
Cumprindo seu papel social com a comunidade
Cumprindo seu papel ambiental
Contribuindo com as ações municipais
Exercendo um papel que deve ser desenvolvido pelos gestores
municipais
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