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para andar... Essa cãimbra agora é a maior dificuldade para andar, pois tenho que parar e
esperar melhorar. Nesses dez anos, o que mais me incomodou foi essa cãimbra. [...] Depois do
Parkinson fico mais irritada, claro, claro a gente fica nervosa, porque a gente trabalha e faz
tudo e começa a ficar devagarzinho, trabalhando pouco, a gente fica irritada, um pouco
zangada, mas eu deixo passar. Eu gostava de dançar de brincar e deixo passar as coisas, não
é? Eu sinto falta da convivência em grupo e muito. [...] No tratamento da doença a minha nora
me acompanha nos exames ou minha neta quando ela pode ir, quando ela não pode, vai minha
nora comigo. Na reunião do grupo eu ia sozinha, depois foi minha nora começou ir comigo,
depois minha neta foi uma vez. Aí eu adoeci e também parou uns dias o negócio lá (referindo
ao período de férias dos docentes da universidade foram suspensas as reuniões do grupo
(Grupo de Ajuda Mútua de Parkinson). Era para começar de novo, mas eu estava doente
parei, pois não pude ir. [...] A dificuldade era o problema da tremura porque você não está
sentindo nada, e começar tremendo longe assim, e ali vai crescendo, eu chegava do serviço, ó,
meu Deus, mas por que eu não estou nervosa, sentia o meu corpo está tremendo? A mão
tremendo. Eu não tenho vergonha do tremor, nem constrangimento, não, não. Só ficava assim:
Por que eu estou sentindo isso? O que aconteceu? Depois conversando um fala uma coisa
outro fala outra, a gente vai vendo outras pessoas que tem esse problema, aí eu descobri que
esse problema vinha da mente. Aí eu falei com o médico: Oh, Doutor, não adianta me
enganar e ele pegou a sorrir e me explicou. [...] Tenho minha casa na praia e quero construir,
mas está faltando dinheiro, vem a doença o dinheiro que a gente tem para fazer qualquer coisa
na casa da gente vai comprar remédio. Tudo isso, atrapalha, atrapalha os planos da vida, pois
a gente faz um planejamento de uma coisa e dá outra. Aí desvia o dinheiro para outra coisa,
para medicamento, como é que faz? Mas mesmo assim, é difícil, a gente vai lutando, vai
passando por cima de tudo e vence se Deus quiser.
Sempre eu tive vontade de morar em Itabuna, minha filha foi morar lá, agora eu posso
passar uns tempos lá. Tomar um banhozinho de mar, Oh! Rapaz, eu tenho uma casa lá na
praia (com muita felicidade e enfática), aí, aí... Eu vou para lá passar um mês lá e volto para
cá de novo. Beleza, beleza, claro. Aí eu digo que vou me queimar, o que o preto faz na praia?
Se queimar. (gargalhadas) É gostoso, gostoso demais, pois é, minha filha, aí a vida é assim...
Está boa, minha vida é boa, só não está melhor por causa da doença. [...] A doença para mim é
algo muito ruim, porque eu não sentia nada, aí quando vem a idade chegando... [...] O que
mais incomoda é a cãimbra do pé (contratura em pé equina), demais, incomoda muito, olha aí
(mostra o pé novamente), incomoda demais. Só, porque tanto tempo com o mal de Parkinson
não me aborrecia em nada, porque não é de hoje, já são dez anos, não me aborrecia nada,
agora com essa cãimbra que está dando, e eu estou desconfiada que essa cãimbra é da doença.
[...] Nos serviços de saúde eu gostaria que na fisioterapia a primeira coisa, que a gente com
esse mal de Parkinson, fosse atendido logo, tem levar o papel lá no Júlia (Centro de Saúde),
para marcar, aquela coisa toda, tem hora que a gente não pode ir, não acha quem vai, fica
difícil. Então faz a fisioterapia depois a gente vai levar o papel. Não (enfático) tem que levar
(papel é a autorização do SUS para a fisioterapia) primeiro para depois fazer a fisioterapia,
isso tudo é difícil para nós. Eu mesma, as meninas ajeitaram para eu fazer a fisioterapia lá,
mas nunca saiu o papel porque eu tenho plano de saúde e pego na mão do médico, só que eu
pedia para ir para Clínica da UESB porque é perto para mim. Só quando tiver uma vaga no
Júlia, para dar o visto para marcar para lá. Porque lá na rua é longe para mim e eu tenho que
pegar ônibus para ir. Eu fiz três vezes lá (UESB) com o papel do Júlia. Eu tenho papel, mas já
passou o prazo. [...] (...) dez anos com a doença de Parkinson e no início eu fazia tudo, lavava
roupa, fazia tudo, só sentido uma tremura longe, fazia comida, tudo, tuuudo. Hoje só o que
está me atrapalhando é o andar e se não fosse essa câimbra eu estava fazendo tudo. Eu estava
pulando. [...] (...) Mostra o pé direito, já está começando a cãimbra (contratura). Vai indo
relaxa! Não uso nenhuma técnica de relaxamento, eu passo álcool canforado com folha de