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São 8h35. As crianças entram na sala de aula. Algumas trocam de lugar entre
si. A professora percebe, mas não intervém. As crianças começam a tirar o
material da mochila enquanto conversam muito. [...] A professora começa a
distribuir o caderno de atividades e diz às crianças que iriam ler um trava-
língua. A-18 pergunta a A-15: “O que é isso?”. A-14 pergunta à professora:
“Prô, o que é isso?”. A-13 diz: “É uma brincadeira, não é, prô?”. A
professora diz que pode ser uma brincadeira, e explica que trava-língua é um
conjunto de palavras difíceis de serem faladas juntas, trava a língua. A-17
pergunta: “Trava como, prô?”. A professora diz: “Trava porque a gente erra
na hora de falar”. Imediatamente A-6 diz: “Ah, eu sei o que é isso, é assim:
um prato de tigre para dois tigres, dois...”, A-01 interrompe: “Ah, eu
também sei isso...”. Há um tumulto, pois vários alunos começam a falar o
trava-língua dito por A-6, há risos, reclamações e muitas falas. A professora
deixa as crianças conversarem entre si, enquanto termina de entregar os
cadernos. Quando termina, entrega um trava-língua escrito para cada um e
pede que eles tentem identificar a letra que mais aparece no texto, e ainda, as
palavras e sílabas que eles já conhecem. Percebo que todos os alunos quando
recebem o texto, não agem com indiferença, olham fixamente para ele.
Alguns ficam em silêncio e outros logo começam a conversar entre si sobre
o texto. Próximos a mim estão A-14 e A-13 sentados em dupla e A-18 e A-8
também em dupla. A-18, depois de olhar o texto, diz a A-8: “Será que está
escrito tigre aqui?”, A-8 responde: “Não sei, também não sei ler ” e
pergunta à professora “Prô, está escrito tigre aqui?’. A professora
responde: “Tigre? Aí tem a letra T? Não tem, não é? Então não está!
Está escrito o nome de outro bicho!”. A-18 diz ao colega: “Que bicho será
que é?”. A-14, ouve, vai até a carteira da dupla e diz: “É rato, olha aqui ó,
está escrito rato”, apontando para a palavra RATO escrita no texto. Depois,
ele olha para mim e diz: “Viu, Fabiana, eu já sei ler! Minha tia está me
ensinando!”“. Eu pergunto a A-14 se ele já sabe qual é o trava-língua que
está escrito, e ele me diz; “Sei, o rato roeu a roupa do rei de Roma, é fácil
demais!”. A professora retoma a conversa com o grupo todo e pergunta:
“Qual a letra que mais aparece no começo das palavras do texto? A-14 diz:
“O rato roeu a roupa do rei de Roma”. A professora insiste: “Então qual a
letra que mais aparece? A-6 diz: “Prô, eu sei esse trava-língua, eu já
brinquei dele, nós vamos brincar?”. A -7 diz: “Esse é mais fácil que o do
tigre, não é?”. A professora diz que nesse momento não irão brincar com os
trava-línguas, pois é momento de atividade, depois poderia ser. A-13, diz
para mim “Fabiana, eu também já brinquei disso com meu pai, é legal!”.
A professora diz: “Vocês acharam a letra R, que palavras que tem no texto
que começa(m) com a letra R?”. As crianças dizem as palavras rato, rei e
roupa. A professora diz que há outras e pede para elas encontrarem. A-15
diz: “Roma, o que é isso prô?”. A professora explica que é o nome do lugar
onde mora o rei. A-5 diz: “É longe?”, A-6 diz: “É de mentira isso!”. A-5 diz:
“Ah”. A professora pergunta: “E o que o rato fez na roupa do rei?”, para
ajudar as crianças a identificarem a palavra que estava faltando “ROEU”. A-
16 diz: “Rasgou porque ele mordeu a roupa”. A professora diz: “Mas rato
não morde!”. A-12, diz: “Ai, morde sim...”. A professora explica: “Não, rato
rói a roupa, aqui diz O rato roeu, olha só!”. A-16 pergunta: “Roeu é igual
mordeu?”. A professora sorri e faz sinal afirmativo. A-6 diz: “Mas aqui está
escrito que o rato roeu a roupa do rei, não é, prô? A professora diz que sim.
A-14 pergunta: “Prô, a gente não vai brincar, então é para colar e
escrever?”. A professora explica que eles depois irão recortar as palavras do
texto de acordo com as marcas e tentar montar para colar no caderno. Mas
antes disso avisa que agora vai chamar alguns alunos para escrever as
palavras que começam com a letra R na lousa. Depois do estudo da