ilusão a que estamos sujeitos. Vendo um filme norte-americano dublado temos a impressão
de que se trata de uma correspondência simples entre o som e a imagem. O que podemos
dizer é que no mínimo isso é ideológico. O problema ético da ideologia, do exercício do
poder de uma forma dissimulada em naturalidade. Ainda que acessemos a língua original
do filme, se Inglês ou Francês, que compreendamos originalmente, não ultrapassaremos um
certo nível de simulação. Por esse motivo estamos condenados a um simulacro. Para Platão
o simulacro é a caverna, o engodo. Por isso filosoficamente não temos como saber se o
filme matrix é uma possibilidade real ou não: como nos diz Platão, os que estão dentro da
caverna não têm consciência disso. Segundo as previsões mais otimistas, as previsões da
Ficção científica, o homem só sairá da caverna no ano 2204. De acordo com os mesmos
tipos de previsões, o grande colapso da humanidade ocorrerá no ano de 2019, quando as
máquinas de alta biotecnologia e inteligência artificial decidirem cobrar seus direitos junto
à comunidade humana
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. Se a linguagem é uma extensão da fisiologia do indivíduo, e por
ela criamos a ficção, essa última é uma parte da realidade em que o indivíduo opera, mesmo
as ficções que apontam para distopias, como as que citamos. Utilizar a ficção no ensino de
ciência é, portanto, não uma obrigação do professor, mas um instrumental de operações
sobre realidades possíveis, um recurso simulatório de situações, de referências ligadas ao
cotidiano pelas imagens, pela linguagem. O mundo real pode não ser controlado por
máquinas inteligentes, mas muitas máquinas inteligentes estão ao nosso redor, e fantasiar
essa nova relação do homem com suas criações pode ser útil para ensinar a ciência, os
modelos científicos, as teorias importantes.
O ensino de ciência muitas vezes é uma realidade estática, conceitual, é
apresentada aos estudantes. Quando o olhar se volta para o grande dinamismo do mundo,
da sociedade, esse dinamismo permanece incompreensível. A idéia de que o conhecimento
é uma aproximação, e que é na cinética do mundo, na irregularidade, nos erros, no inexato
que ele deve se aprofundar, rejeitando a imobilidade do saber faz com que o ensino
necessite trazer ao estudante esses elementos dinâmicos. A razão da abstração do espírito
sobre a representação celular é a geração de imagens de realidade onde o organismo possa
operar. Por esse motivo, os conceitos lingüísticos, as descrições científicas, evocam
imagens. Pena que às vezes sejam imóveis estáticas de um mundo que não se comporta. O
estudo de biologia, por exemplo, que trata com uma série de entidades móveis, vivas,
microscópicas, irracionais que existem no limite de nossas capacidades perceptivas, deve
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