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carne queimados. Quando é fêmea, marca-se também no rosto (cara) do animal, na chamada
ganacha (bochecha), também a ferro quente, um pequeno círculo que indica que foi imunizada
contra brucelose
29
. Se é macho, além da marca, é castrado. Revesavam-se para castrar,
Mariana, sua amiga Caroline, Marcelo, entre vários colegas de Mariana e de Solano,
estudantes do curso de veterinária. Com o animal deitado, os testículos são pressionados para
baixo, quando a bolsa escrotal é cortada
30
, expelindo os testículos para fora, então o cordão é
rompido
31
. O animal é ainda assinalado. Em uma das orelhas é feito um furo e na outra é
cortado um pedaço em formato de “V”. Cada estância possui uma marca e um sinal próprios e
registrado junto ao Órgão Público competente. Depois de extirpados do animal, os testículos
menores, portanto dos animais mais novos, são jogados à brasa (a mesma onde é aquecida a
marca), onde cozinham (assam) por alguns minutos, formando uma espessa camada torrada
conservando seu interior cozido mas sem queimar. Depois é retirado das brasas colocados de
molho em uma solução de sal e água (salmoura), espera-se um instante para que esfrie. Então
descasca-se a camada torrada e come-se. Quase todos apreciam a iguaria. Alguns até relatam
suas propriedades afrodisíacas. Come-se desde manhã cedo, quando são castrados os
primeiros terneiros. O sabor é semelhante ao de vísceras como coração, fígado ou até mesmo
rins.
A Colônia Borges, localiza-se dentro do município de Restinga Seca, que por seu
turno, é um dos municípios que compõe a Quarta Colônia
32
, região de imigração italiana, e
portanto, com forte influência dessa cultura. Dessa forma, observei que dentre as pessoas
advindas da comunidade para ajudar no rodeio, muitas não usavam bombachas ou sequer
qualquer indumentária que acionasse uma identidade gaúcha vinculada aos peões de estância,
sobre a qual eu pesquisava. Esse fato contrastava com a indumentária dos peões da própria
estância, bem como dos proprietários. O Sr. Caio, assim como os peões, vestia bombacha (a
maioria, mas não todos), boinas, bonés, chinelos. Roupas simples, mas que de certa forma os
vinculava a uma identidade definida. A pilcha
33
, realmente, quem a vestia, eram Zeca,
29 Essa é uma determinação da Inspetoria Veterinária do município, conforme me informou Marcelo.
30 Mariana usava um bisturi. Outros usavam pequenas facas bem afiadas. Perguntei se não inflamava o
ferimento, ao que me responderam “A faca tem que tá limpa. (...) Só não pode descascar laranja antes...”
31 O corte na parte inferior da bolsa escrotal é amarrado com “barbante ursa”, encontrado em casas
agropecuárias, e vendido para essa finalidade. Conforme me informou Mariana.
32 “Os municípios que compõe a IV Colônia são: Agudo, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Ivorá, Nova
Palma, Pinhal Grande, Restinga Seca, São João do Polêsine e Silveira Martins.” (Zanini, 2006. p. 31).
33 “Vestimenta típica do gaúcho.” (Bossle, 2003. p. 398). Segundo o dicionário Aurélio, pilcha quer dizer:
dinheiro, adorno, adereço, jóia, qualquer objeto de algum valor. Maciel (2001), descreve o momento histórico
da vinculação do termo pilcha à nomenclatura da indumentária típica do gaúcho “pilcha como algo de valor
tradicional, pilcha como vestuário é tradicionalista.” (p. 257). Em 8 de maio de 1948, Antônio Cândido,
então secretário do do novo Centro de Tradições Gaúchas, sugere em uma reunião entre os tradicionalistas,