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RENATA TOLÊDO ALVES
SAÚDE BUCAL E GESTAÇÃO: ATITUDES DE USUÁRIAS DO SERVIÇO PÚBLICO
DE JUIZ DE FORA – MG
Tese de Doutorado apresentada ao Curso
de Doutorado do Programa de Pós-
Graduação em Saúde: área de
concentração em Saúde Brasileira da
Faculdade de Medicina da Universidade
Federal de Juiz de Fora, como requisito
parcial para obtenção do Grau de Doutor
em Saúde.
Orientadora: Profa. Dra. Rosangela Almeida Ribeiro
JUIZ DE FORA
2009
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2
RENATA TOLÊDO ALVES
Saúde bucal e gestação: atitudes de usrias do serviço público
de Juiz de Fora – MG
Tese de Doutorado apresentada ao Curso
de Doutorado do Programa de Pós-
Graduação em Saúde: área de
concentração em Saúde Brasileira da
Faculdade de Medicina da Universidade
Federal de Juiz de Fora, como requisito
parcial para obtenção do Grau de Doutor
em Saúde.
Aprovado em ____/____/_____
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________________
Profa. Dra. Rosangela Almeida Ribeiro
Universidade Federal de Juiz de Fora
___________________________________________________________________
Prof. Dr. Silvio Issáo Myaki
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita FilhoCampuso José dos
Campos
___________________________________________________________________
Prof. Dr. Flávio de Freitas Mattos
Universidade Federal de Minas Gerais
___________________________________________________________________
Profa. Dra. Cristina Lougon Borges de Mattos
Universidade Federal de Juiz de Fora
___________________________________________________________________
Prof. Dr. Luiz Cláudio Ribeiro
Universidade Federal de Juiz de Fora
JUIZ DE FORA
2009
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3
“... Brindo à casa
Brindo à vida
Meus amores
Minha família...
(O Rappa)
4
AGRADECIMENTOS
Meus sinceros agradecimentos a todos que, de alguma forma, possibilitaram
esse meu encontro com as atitudes e a compreensão dos seus sentidos e inúmeras
possibilidades:
Aos meus pais, Braz Alves Pereira e Maria Maristela Toledo Pereira, pelos
princípios, valores e exemplos e por fazerem seus os meus sonhos.
À Profa. Dra. Rosangela Almeida Ribeiro, minha orientadora e amiga, por
oportunizar grandes momentos de construção do meu aprendizado como
Odontopediatra, como docente e, principalmente, como ser humano.
Aos professores doutores Luiz Cláudio Ribeiro e Isabel Cristina Gonçalves
Leite, pelas valiosas contribuições no desenvolvimento do estudo.
À querida amiga Aline da Silva Oliveira, pela inestimável ajuda na coleta de
dados e por vestir de alegria e otimismo os dias difíceis.
Às amigas Cristina Lougon Borges de Mattos e Fernanda Campos Machado,
pelo carinho e amizade em todos os momentos.
Aos professores e colegas do Curso de Pós-Graduação em Saúde, por
compartilharem suas experiências e saberes. À Capes, pela bolsa de Doutorado.
À Secretaria Municipal de Saúde e aos profissionais da saúde do serviço
público, por viabilizarem a realizão do estudo. Às gestantes voluntárias, pela
colaboração e confiança.
Aos meus alunos e seus pequenos pacientes, razão de tudo que fo
profissionalmente.
A Deus, pela felicidade de ter uma família, tantos amigos e grandes
oportunidades.
5
RESUMO
Frente à necessidade de incluir aspectos comportamentais no diagnóstico das
condições de saúde/doença bucal para grupos específicos, como as gestantes, a
avaliação das atitudes torna-se imprescindível. Este estudo transversal construiu e
validou um instrumento para avaliar as atitudes frente à saúde bucal de gestantes
usuárias do serviço público de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, e verificou a
associação entre as atitudes e características demográficas, socioeconômicas e a
história gestacional da população. A metodologia qualitativa foi utilizada para gerar
itens de atitudes em relação à saúde bucal na gestação. Após a validação aparente
os itens deram origem a um instrumento fechado cujas respostas foram construídas
numa escala tipo Likert de três pontos (Concordo; Não sei; ou Discordo). Este
instrumento foi aplicado, por entrevista individual, a uma amostra representativa do
município, constituída de 312 gestantes, com idade entre 13 e 43 anos. A análise
estatística testou a confiabilidade do instrumento, pelo método da consistência
interna, determinada pelo alfa (α) de Cronbach e verificou a associação entre a
variável dependente (atitude) e variáveis independentes (características
demográficas, socioeconômicas, história gestacional atual e pregressa), pelo teste de
Mann-Whitney. O nível de significância de adotado foi 5%. A avaliação da
confiabilidade do instrumento resultou em uma escala denominada Escala de Atitudes
frente à Saúde Bucal (EA-SB) constituída de 55 itens de atitudes (α=0,82), divididos
em três subescalas: Dieta e higiene (α=0,71); Relação bidirecional (α=0,74); e
Crenças e mitos (α=0,76). O escore total para a EA-SB demonstrou que apenas
63,8% das gestantes apresentaram atitude favorável frente à saúde bucal e estas
foram significativamente associadas às variáveis escolaridade (P=0,007), número de
gestações (P=0,028), número de filhos (P=0,029) e problema de saúde em gestações
anteriores (P=0,010). Os resultados obtidos demonstram que é possível construir um
instrumento confiável e válido para avaliar as atitudes de gestantes em relação à
saúde bucal e evidenciaram a necessidade de reforço às ações de promoção e
proteção de saúde individual e/ou coletiva direcionadas a este grupo específico.
Palavras-chave: Atitudes. Gestação. Saúde bucal. Validação. Consistência interna.
6
ABSTRACT
The evaluation of attitudes has become vital due to the necessity to include behavioral
aspects to the diagnosis of oral health/disease conditions for specific groups, such as
the group of pregnant women. This cross-sectional study developed and validated an
instrument to evaluate the attitudes of pregnant women who use the public services of
Juiz de Fora, Minas Gerais, Brazil, towards oral health and assessed the association
between attitudes and demographic and socioeconomic characteristics as well as
pregnancy history of the population. The qualitative methodology was used to create
questions about attitudes related to oral health during pregnancy. After apparent
validation, the questions gave origin to a closed instrument whose answers were
developed in scale such as the three-point Likert Scale (Agree; Don’t Know; and
Disagree). This instrument was applied at interviews, individually, to a representative
sample of the city constituted by 312 pregnant women with ages between 13 and 43.
The statistical analysis tested the reliability of the instrument through the internal
consistency method, determined by Cronbach’s alpha (α) and verified the association
between the dependent variable (attitude) and the independent variables
(demographic and socioeconomic characteristics and present and past history of
pregnancy) using the Mann-Whitney Test. The level of significance adopted was 5%.
The reliability evaluation of the instrument resulted in a scale called “Scale of Attitudes
towards Oral Health” (SA-OH) made of 55 attitude questions (α=0.82), divided into
three subscales: Diet and hygiene =0.71); Bidirectional relation (α=0.74) and Myths
and beliefs (α=0.76). The total score for SA-OH showed that only 63.8% of pregnant
women presented a favorable attitude towards oral health and these were significantly
associated to the variables of level of education (P=0.007), number of pregnancies
(P=0.028), number of children (P=0.029), and health problems during previous
pregnancies (P=0.010). The results showed that it is possible to develop a reliable and
valid instrument to evaluate the attitudes of pregnant women towards oral health.
Results also showed the need to reinforce individual and/or collective actions of health
promotion and protection which should be directed to this specific group.
Keywords: Attitudes. Pregnancy. Oral health. Validation. Internal consistency.
7
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Mapa 1 Juiz de Fora, segundo Regiões Administrativas.......................
57
Fluxograma 1
Fluxograma esquemático do estudo.........................................
58
8
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Distribuição das unidades de assistência nas RA de Juiz de
Fora – MG.................................................................................
57
Tabela 2 Número de gestantes (n) a serem incluídas, por RA de Juiz
de Fora – MG............................................................................
60
9
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABEP Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
BBO Bibliografia Brasileira de Odontologia
BDENF Base de Dados da Enfermagem
BIREME Centro Latino-Americano e do Caribe de Informão em
Ciências da Saúde
COCHRANE Revisões Sistemáticas da Colaboração Cochrane
CPO-D Índice de dentes cariados, perdidos e obturados
CPO-S Índice de superfícies cariadas, perdidas e obturadas
EA-SB Escala de Atitudes frente à Saúde Bucal
EUA Estados unidos da América
FO-UFJF Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Juiz
de Fora
H Hora
ICNTP Índice Comunitário de Necessidade de Tratamento
Periodontal
IPC Índice Periodontal Comunitário
IL Interleucina
ISD Índice de Saúde Dentária
LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da
Saúde
MEDCARIBE Literatura do Caribe em Ciências da Saúde
MEDLINE
MEDLARS
®
Management Section on-line
Min Minuto
OMS Organização Mundial da Saúde
Ph Potencial Hidrogeniônico
PG Prostaglandina
PIG Pequeno para Idade Gestacional
PRAMS
Pregnancy Risk Assessment Monitoring System
PSF Programa de Saúde da Família
10
PUBMED
Base de dados da U.S. National Library of Medicine and
National Institutes of Health – Estados Unidos
RA Região Administrativa
SCIELO
Scientific Electronic Library Online
SINASC Sistema de Informação de Nascidos Vivos
SMS Secretaria Municipal de Saúde
SUS Sistema Único de Saúde
UBS Unidade Básica de Saúde
UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância
WHOLIS
World Health Organization Library database
11
LISTA DE SÍMBOLOS
= Igual
% Por Cento
> Maior
< Menor
± Mais ou menos
Maior ou igual
Menor ou igual
α Alfa
β Beta
ml Mililitro
mm Milímetro
n Tamanho da Amostra
OR Razão de Chance
ORa Razão de Chance Ajustada
P
Nível de Significância
r
Coeficiente de Correlação
RR Risco Relativo
RRa Risco Relativo Ajustado
u.f.c./ml Unidades formadoras de colônia por mililitro
12
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...............................................................................
14
2 REVISÃO DA LITERATURA .........................................................
17
2.1 SAÚDE BUCAL E GESTAÇÃO ......................................................
17
2.1.1 Doença periodontal ......................................................................
17
2.1.1.1
Fatores de risco à doença periodontal ...........................................
21
2.1.1.2
Repercussão da doença periodontal na evolução e desfecho da
gestação .........................................................................................
22
2.1.2 Cárie dentária ................................................................................
32
2.1.2.1
Fatores de risco à cárie dentária ....................................................
34
2.1.2.2
Repercussão da cárie dentária na evolução e desfecho da
gestação .........................................................................................
37
2.1.3 Utilização do serviço odontológico durante a gestação ..........
38
2.2
CONHECIMENTOS, ATITUDES, PERCEPÇÕES E PRÁTICAS
DE GESTANTES FRENTE À SAÚDE BUCAL ...............................
40
2.2.1 Dieta e higiene bucal ....................................................................
40
2.2.2 Percepções da relação bidirecional entre saúde bucal e
gestação ........................................................................................
44
2.2.3 Crenças e mitos sobre saúde bucal e assistência
odontológica na gestação ...........................................................
46
3 HIPÓTESE .....................................................................................
53
4 OBJETIVOS ...................................................................................
54
4.1
OBJETIVO GERAL .........................................................................
54
4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..........................................................
54
5 METODOLOGIA ............................................................................
55
5.1 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO .............................................
55
5.2 LOCAL DO ESTUDO .....................................................................
56
5.3 DELINEAMENTO DO ESTUDO .....................................................
58
5.4 CÁLCULO DA AMOSTRA ..............................................................
59
5.5 CASUÍSTICA ..................................................................................
59
5.6 ASPECTOS ÉTICOS ......................................................................
61
5.7 MATERIAL E MÉTODO .................................................................
61
13
5.8 TRATAMENTO E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS .....................
64
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO .....................................................
66
6.1
CONSTRUÇÃO E VALIDAÇÃO DE UM INSTRUMENTO PARA
AVALIAR ATITUDES DE GESTANTES EM RELAÇÃO À SAÚDE
BUCAL ............................................................................................
66
6.2
SAÚDE BUCAL E GESTAÇÃO: ATITUDES DE GESTANTES
USUÁRIAS DO SERVIÇO PÚBLICO DE JUIZ DE FORA – MG....
84
6.3
ATITUDE DE GESTANTES USUÁRIAS DO SERVIÇO BLICO
FRENTE À SA
ÚDE BUCAL: ASSOCIAÇÃO COM VARIÁVEIS
DEMOGRÁFICAS, SOCIOECONÔMICAS E HISTÓRIA
GESTACIONAL ..............................................................................
100
6.4
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E ATITUDINAL DE SAÚDE BUCAL
DE GESTANTES USUÁRIAS DO S
ERVIÇO PÚBLICO DE JUIZ
DE FORA, MG ................................................................................
118
7 CONCLUSÕES ..............................................................................
138
REFERÊNCIAS ...........................................................................................
139
APÊNDICES ................................................................................................
151
ANEXOS .....................................................................................................
163
14
1 INTRODUÇÃO
Em nenhum outro momento da vida da mulher ocorrem mudanças fisiológicas
e comportamentais tão intensas quanto na gestação, a qual não deve, porém, ser
responsabilizada pelas doenças bucais que ocorrem durante este período.
Os veis elevados de estrógeno e progesterona, necessários para a
manutenção da gestação, são responsáveis pelo aumento da mobilidade dentária, do
fluido gengival, da profundidade do sulco gengival e da resposta inflamatória à ão
de irritantes locais (SARTÓRIO; MACHADO, 2001).
Tem-se demonstrado que os níveis hormonais aumentados contribuem
significativamente na etiologia e patogenia da doença periodontal. Mesmo com
índices de biofilme semelhantes, as gestantes apresentaram índice gengival
significativamente maior que não gestantes (TILAKARATNE et al., 2000).
As mulheres, durante a fase gestacional, parecem mais vulneráveis também ao
desenvolvimento da doença cárie. Neste período, ocorre diminuição do pH e
capacidade tampão da saliva, o que pode favorecer o crescimento e desenvolvimento
bacteriano. Hábitos inadequados de dieta e higiene bucal contribuem para o acúmulo
de biofilme e predisem as gestantes ao desenvolvimento e/ou agravamento da
doença (LAINE, 2002).
Para Segura et al. (2001), o impacto que condições sistêmicas exercem sobre
a saúde bucal tem sido bem documentado. Nos últimos anos, estudos m sugerido
que a condição de sde bucal pode desempenhar um papel importante na
etiopatogenia de diversos acometimentos, entre eles, os efeitos adversos na
gestação.
Tem sido sugerido que a doença periodontal em gestantes pode ser um fator
associado ao nascimento prematuro e/ou de baixo peso (BOGGESS et al., 2006;
DASANAYAKE, 1998; JEFFCOAT et al., 2001; LÓPEZ; SMITH; GUTIERREZ, 2002b;
LÓPEZ et al., 2005; MOLITERNO et al., 2005; OFFENBACHER et al., 2001;
OFFENBACHER et al., 2006a; ÚRBAN et al., 2006).
A assistência pré-natal constitui-se em um conjunto de procedimentos clínicos
e educativos com o objetivo de manter sob vigilância a evolução da gestação e
promover a saúde da mãe e da criança (BRASIL, 1998). Desta forma, um
15
acompanhamento pré-natal adequado deve conceber a saúde bucal como parte
integrante da saúde sistêmica.
O Ministério da Saúde preconiza que o período gestacional deve ser
aproveitado para o desenvolvimento de ações educativas em saúde e acrescenta que
as gestantes constituem um grupo ideal para que o processo de aprendizagem se
realize. Segundo as normas e manuais técnicos adotados para a assistência pré-
natal, todas as gestantes inscritas no pré-natal, por ocasião do primeiro atendimento,
devem submeter-se à consulta odontológica para o exame clínico da cavidade bucal e
estabelecimento de um plano de tratamento a ser desenvolvido neste período
(BRASIL, 1998).
As diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal recomendam a organização
e desenvolvimento de ações educativo-preventivas coletivas e a garantia do
atendimento individual. A consulta odontológica deve incluir, minimamente, a
orientação sobre possibilidade de atendimento durante a gestação; exame de tecidos
moles e identificação de risco à saúde bucal; diagnóstico de cárie e/ou doença
periodontal; e necessidade de tratamento e orientações sobre hábitos de dieta e
higiene bucal (BRASIL, 2004a).
Apesar do aumento do risco destas pacientes para o desenvolvimento das
doenças bucais e dos possíveis impactos destas doenças na saúde materno-infantil,
alguns estudos demonstram que gestantes o menos ao cirurgião-dentista que
mulheres de grupo etário semelhante (GAFFIELD et al., 2001; LYDON-ROCHELLE et
al., 2004; MANGSKAU; ARRINDELL, 1996).
A visita ao cirurgião-dentista durante a gestação pode estar associada à idade,
raça, grau de escolaridade, estado civil, renda familiar (MANGSKAU; ARRINDELL,
1996) e à frequência de utilização do serviço antes da gestação (GAFFIELD et al.,
2001). Finch et al. (1988) apud Albuquerque, Abegg e Rodrigues (2004) incluem as
gestantes entre os grupos não alcançados pelos serviços de saúde e que não buscam
o atendimento odontológico por iniciativa própria. Embora estas pacientes percebam
as necessidades de tratamento, não se sentem seguras quanto à sua indicação
formal. Para Costa, Saliba e Moreira (2002), necessidade de atualização de
conhecimentos para acabar com a exclusão, dificuldades de acesso e falta de
oportunidades de tratamento que estas pacientes enfrentam nos serviços. É
necessário investir nesta população para dirimir dúvidas e levar informações
16
concretas, reais e fundamentadas nas Ciências da Saúde, minimizando, assim, a
fragilidade psicológica e as fortes influências culturais nas suas decisões.
A alta suscetibilidade das gestantes ao desenvolvimento/agravamento da cárie
dentária e doença periodontal, as possíveis repercussões destas na evolução e
desfecho da gestação e as barreiras ao tratamento odontológico que este grupo
enfrenta relacionadas ao indivíduo e à prática dos profissionais, tornam fundamental o
desenvolvimento de ões direcionadas a esta população. As gestantes precisam de
acesso a informões relativas ao autocuidado, bem como às intervenções
necessárias para o controle de fatores que possam colocar em risco a evolução e
desfecho da gestação (ALVES, 2007).
Para Brandão (1998), o planejamento de estratégias de atuação deve ser
precedido de um diagnóstico de saúde bucal que contemple, além dos aspectos
biológicos envolvidos, os comportamentos do indivíduo, uma vez que a prevenção e
controle das principais doenças bucais são altamente dependentes deste
componente. Assim, poderão ser elaboradas estratégias que respeitem as
características dos grupos aos quais serão aplicadas. Contudo, o estudo das atitudes
requer instrumentos confveis e válidos (MORIYA, 1994).
Os poucos estudos até então conduzidos com instrumentos validados em
populações de gestantes foram limitados a investigar a autopercepção das condições
bucais e o impacto das mesmas sobre a qualidade de vida (ACHARYA; PARVATI,
2008; OLIVEIRA; NADANOVSKY, 2005; SILVA; ROSELL; VALSECKI JÚNIOR,
2006).
Frente ao exposto, este estudo se propõe a avaliar as atitudes de gestantes
acerca da saúde bucal por meio de um instrumento validado.
17
2 REVISÃO DA LITERATURA
Este capítulo se propõe a revisar a literatura acerca de alguns aspectos
relacionados à saúde bucal na gestação bem como dos conhecimentos, percepções,
atitudes e práticas de gestantes frente à saúde bucal e assistência odontológica
durante este período.
2.1 SAÚDE BUCAL E GESTAÇÃO
A gestação provoca mudanças orgânicas e psicogicas pprias do processo
fisiológico que caracteriza esta fase. As gestantes apresentam alterações nos fatores
associados à instalação/agravamento da doença periodontal e cárie dentária, o que
aumenta, neste grupo, a suscetibilidade a estas doenças.
2.1.1 Doença periodontal
A doença periodontal é um termo genérico para condições inflamatórias
crônicas de origem bacteriana que se iniciam com a inflamação gengival, a gengivite,
podendo ou não levar à extensão da inflamão aos tecidos de suporte dos dentes, a
periodontite (SOCRANSKY, 1984). Entre as doenças crônicas infecciosas que
atingem os seres humanos, a doença periodontal está entre as mais comuns
(OFFENBACHER et al., 2001). No Brasil, o levantamento epidemiológico nacional
Projeto SB Brasil 2003 (BRASIL, 2004b) utilizou o Índice Periodontal Comunitário
(IPC) para determinar a prevalência de doença periodontal. O número médio de
sextantes afetados e a respectiva proporção em cada sextante do IPC considerando a
população adulta (35 a 44 anos) da Região Sudeste foram: sadio (n=2,2 36,54%);
sangramento (n=0,6 9,97%); cálculo (n=1,25 20,76); bolsa de 4 a 5mm (n=0,21
3,49%); bolsa de 6mm ou mais (n=0,05 – 0,83%).
18
As gestantes parecem particularmente susceveis ao comprometimento
periodontal, em maior ou menor grau. Os estudos revisados demonstraram que a
prevalência da doença periodontal em gestantes variou de 10,1% (RAMOS et al.,
2006) a 100% (ROSELL; MONTANDON-POMPEU; VALSECKI JÚNIOR, 1999).
A condição periodontal de gestantes foi objeto de estudos em diversos países.
Santibáñez et al. (1998) determinaram a prevalência de doença periodontal em um
grupo de 100 gestantes mexicanas. Os resultados demonstraram que 81% da
amostra apresentavam a doença, sendo esta classificada como leve em 52 mulheres,
moderada em 19 e grave em 10 casos.
Entre as 100 gestantes espanholas examinadas por Machuca et al. (1999), a
gengivite em conseqncia do acúmulo de biofilme, foi a alteração periodontal mais
característica e associou-se ao nível de ocupação, grau de instrução e tratamento
periodontal prévio.
A condição periodontal de 250 mulheres nigerianas durante o peodo
gestacional foi avaliada por Agbelusi, Akinwande e Shutti (2000). O Índice
Comunitário de Necessidade de Tratamento Periodontal (ICNTP) revelou que 50%
das gestantes necessitavam de instruções de higiene bucal, alisamento e polimento
radicular; 13% necessitavam apenas de instruções de higiene bucal; e 32,2% não
requeriam tratamento.
Malavé, Salazar e Sánches (2001) avaliaram a prevalência da doença
periodontal associada à classe social em 150 gestantes da Venezuela examinadas no
terceiro e oitavo mês de gestação. A presença de gengivite foi observada em 52%
das mulheres no terceiro mês e em 52,67% daquelas no oitavo mês. Os autores
identificaram, ainda, uma associação significativa entre a classe social e a distribuição
da doença entre as mulheres no terceiro mês de gestação. A gengivite foi
diagnosticada em 18,18% na classe alta e 24,24% na classe média alta, em contraste
com 47,92% na classe média baixa, 73,81% na classe operária e 87,50% na classe
baixa. A doença manteve sua distribuição diferenciada por classes sociais tamm
entre as gestantes no oitavo mês.
Em um estudo conduzido na Turquia, Yalcin et al. (2002) ressaltaram a
influência positiva do maior nível educacional e melhores condições socioeconômicas
sobre as condições periodontais de 61 gestantes. Os escores dos parâmetros clínicos
adotados para a avaliação periodontal aumentaram gradualmente do primeiro ao
19
terceiro trimestre. O nível educacional mais baixo foi associado à pior condição
periodontal (P<0,05).
Scheutz et al. (2002) avaliaram a presença de doença periodontal numa
amostra estratificada pelo número de filhos e idade materna e composta por 500
gestantes da Tanzânia. A doença periodontal foi considerada como perda de inserção
>3mm. A análise de regressão logística múltipla evidenciou associação entre a
doença periodontal e o número de filhos. Os valores para a razão de chance
aumentaram em proporção ao número de crianças (2-3 filhos: OR=1,3; 4-6 filhos:
OR=2,0; e 7-12 filhos: OR=3,3). Da mesma forma, a idade materna foi associada à
destruição periodontal (30-37 anos: OR=1,5; 38-43 anos: OR=2,1; e 44-49 anos:
OR=3,7).
A relação entre a idade materna e as condições periodontais associadas ou
não a outras lesões bucais (úlceras inespecíficas, hiperplasia gengival, outras)
também foi investigada por Lárez et al. (2005) na Venezuela. Os resultados
encontrados demonstraram que 60,96% das gestantes apresentavam exclusivamente
gengivite. Ao se avaliar a gengivite associada a outras lesões bucais, não se
observou uma proporcionalidade crescente em relação à faixa etária. A maior
prevalência foi encontrada no grupo etário de 20-29 anos (n=98 39,04%) seguido
pelo grupo de 30-39 anos (n=70 27,89%). As menores prevalências foram
encontradas nos grupos etários de 10-19 anos e 40-49 anos (n=64 25,50%; n=19
7,57%, respectivamente).
O estudo caso-controle (1:1) desenvolvido na Jordânia por Taani et al. (2003)
comparou a prevalência de doença periodontal entre um grupo de 200 gestantes
(caso) e outro de 200 mulheres não gestantes (controle). As gestantes apresentaram
índices mais altos de sangramento gengival e perda de inserção clínica quando
comparadas às não gestantes (P<0,005).
Alguns estudos brasileiros tamm avaliaram a condição periodontal de
gestantes.
Oliveira e Oliveira (1999) determinaram a prevalência de doenças bucais em
uma amostra de 100 gestantes de Jo Pessoa PB. A gengivite foi a mais
prevalente entre as doenças pesquisadas, atingindo 91,1% das gestantes, seguida do
ressecamento dos lábios (5,4%), fístula (5,4%), e candidose (0,37%).
No estudo de Rosell, Montandon-Pompeu e Valsecki Júnior (1999), 100% das
gestantes que frequentaram a Clínica de Prevenção da Faculdade de Odontologia de
20
Araraquara SP apresentavam alguma alteração gengival. Destas, 29,2%
necessitavam de tratamento periodontal mais complexo, que incluía, além da
prevenção, raspagem e alisamento radicular e/ou eliminação de margens
restauradoras defeituosas.
Das gestantes brasileiras examinadas por Scavuzzi, Rocha e Vianna (1999) em
Salvador, Bahia, 95,1% apresentavam alguma alteração periodontal e 76%
necessitavam de algum tipo de intervenção, incluindo raspagens supra ou
subgengival (73,5%), raspagem profunda, curetagem ou intervenção cirúrgica (2,5%).
Isto sugere a maior gravidade de comprometimento periodontal nessas mulheres.
No Rio de Janeiro RJ, Sartório e Machado (2001) avaliaram a condição
periodontal de 60 gestantes de nível educacional e socioeconômico baixo e
demonstraram que 71,6% apresentaram gengivite.
Montandon et al. (2001) encontraram uma prevalência de 85,2% (n=92) de
doença periodontal entre as 108 mulheres no período pré ou pós-parto examinadas
em João Pessoa PB. A gengivite com a presença de cálculo foi o acometimento
mais comum (n=58; 53,7%), sendo seguida pela gengivite sem a presença de lculo
(n=24; 22,2%).
Zanata et al. (2003) avaliaram 64 gestantes num estudo prospectivo de 30
meses. O cálculo do ICNTP demonstrou que 95,4% das gestantes necessitavam de
alguma intervenção periodontal. Medidas preventivas atenderiam as necessidades de
21,9% das pacientes; 64,1% apresentavam necessidade de raspagem e alisamento
radicular; e 9,4% apresentavam necessidades de tratamentos mais complexos, não
mencionados pelos autores.
Em 2006, Coutinho determinou a condição periodontal de 24 gestantes
residentes em Pará de Minas MG em outro estudo prospectivo. Pelos parâmetros
clínicos adotados para a avaliação periodontal, 83% das gestantes apresentavam
gengivite e/ou periodontite leve ou moderada.
A condição periodontal de gestantes de Aracaju SE foi investigada por
Ramos et al. (2006) por meio do Índice de Sangramento Gengival. A prevalência da
doença encontrada foi muito inferior à maioria dos estudos revisados e atingiu apenas
10,1% das gestantes pesquisadas.
Ainda em 2006, Vogt determinou a prevalência de doença periodontal em 334
gestantes atendidas no Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas
(HC/UNICAMP) SP. Os resultados demonstraram a prevalência total de doença
21
periodontal com alguma perda de inserção (de 3 a 10mm ou mais) em 95,2% da
amostra, sendo que em 48,2%, a periodontite foi classificada como leve (perda de
inserção até 3mm).
Em 2007, Tonello, Zuchieri e Pardi avaliaram a condição periodontal de 88
gestantes brasileiras de Lucas do Rio Verde MT por meio do IPC. Os resultados
demonstraram que mais de 40% da amostra apresentaram escores superiores a 1,
que corresponde ao sangramento após a sondagem e presença de cálculo.
2.1.1.1 Fatores de risco à doença periodontal
As alterações periodontais em gestantes parecem estar associadas aos efeitos
do estrógeno e progesterona, hormônios relacionados à manutenção da gestação e
com potencial de aumentar a resposta aos efeitos irritantes locais, como o biofilme
bacteriano, o que poderia resultar em maior risco ao desenvolvimento/agravamento
da doença periodontal.
Essas alterações tendem a se agravar no decorrer da gestação, chegando à
gravidade máxima no terceiro trimestre, período coincidente com os maiores níveis
hormonais e tendem a diminuir após o parto. Ao examinar gestantes num intervalo de
três em três meses, Tilakaratne et al. (2000) encontraram considerável aumento no
Índice Gengival (P<0,001) durante o terceiro trimestre. Resultados semelhantes foram
descritos por Lieff et al. (2004) ao avaliar gestantes na 26
a
semana de gestação e 48
horas após o parto. Os autores observaram aumento significativo da doença
periodontal entre o período inicial e final (P<0,001), bem como aumento significativo
da gravidade da doença, percebido pelo aumento na porcentagem de mulheres com
quatro ou mais sítios de perda de inseão cnica 2mm (P<0,05) ou 3mm (P<0,001)
entre o primeiro e o segundo exames. Estes resultados, contudo, contrariam os
achados do estudo de Malavé, Salazar e Sanches (2001), no qual a prevalência da
doença periodontal em mulheres no terceiro e oitavo mês gestacional apresentaram
resultados muito semelhantes (52% e 52,67%, respectivamente).
Este incremento hormonal parece alterar outros aspectos relacionados à
doença periodontal. Di Plácido et al. (1998) associam os hormônios circulantes à
destruição dos mastócitos gengivais com consequente liberação de histamina e
22
enzimas proteolíticas, as quais podem contribuir para a resposta inflamatória
exagerada aos irritantes locais. Acrescentam ainda que a depressão imunológica que
a mulher experimenta neste período leva à diminuição das células T, que pode
associar-se à sensibilidade alterada dos tecidos gengivais.
Para Jesen, Lijemark e Bloomquisr (1981), a microbiota do biofilme subgengival
também é influenciada pelos níveis aumentados de estrógeno e progesterona. A
bactéria anaeróbia gram-negativa, Prevotella intermedia, estreitamente associada ao
início da doença periodontal, utiliza os hormônios circulantes no fluido gengival como
fator de crescimento e é encontrada em maior proporção no período gestacional.
Laine (2002) acrescenta que o estrógeno atua na proliferação e descamação epitelial,
fornecendo melhores condições nutritivas para as espécies bacterianas,
especialmente para as subgengivais. Respostas imunes alteradas somadas às fontes
de nutrientes criam um ambiente propício à Prevotella species. Além disso, melhores
condições anaeróbias no sulco gengival podem ser fornecidas pelo sangramento
gengival e o aumento de volume da gengiva. Para o autor, estas mudanças
relacionadas à microbiota periodontopatogênica são provisórias.
Apesar das fortes influências dos níveis aumentados do estrógeno e
progesterona, nem todas as gestantes apresentam as alterações gengivais descritas.
O fator etiológico primário e fundamental para o desenvolvimento da doença é o
biofilme bacteriano. Uma mulher com superfície dentária livre de biofilme e uma
gengiva saudável no início da gestação não mostra nenhum sinal de inflamação
gengival se o controle do biofilme é adequado durante o período.
2.1.1.2 Repercussão da doença periodontal na evolução e desfecho da gestação
As condições de saúde bucal podem desempenhar um papel importante na
etiopatogenia de diversas condições. A partir da década de 90, a doença periodontal
em gestantes vem recebendo atenção considerável como fator associado aos
nascimentos prematuros e/ou de baixo peso.
O nascimento considerado prematuro é definido pela Organização Mundial da
Saúde OMS como idade gestacional inferior a 37 semanas (WHO, 1977). A
definição internacional de baixo peso ao nascimento, ditada pela OMS inclui um peso
23
ao nascimento inferior a 2.500g, que pode ser resultado de um curto período
gestacional (prematuridade) ou retardo do crescimento fetal (WHO, 1984).
A prematuridade e baixo peso ao nascer estão associados à elevada taxa de
mortalidade no período pós-natal (28 dias a 11 meses de idade). Além do efeito
significativo na taxa de mortalidade infantil, há evidência crescente para ligar esses
eventos a outros problemas de saúde que podem incapacitar esta criança total ou
parcialmente pelo resto da vida, o que torna este problema um dos mais relevantes
em Obstetrícia (OFFENBACHER et al., 1998a). Estes nascimentos representam,
também, um custo social e financeiro elevado devido a uma maior demanda por
cuidados intensivos no período neonatal e pós-neonatal. Estes custos, no entanto,
não devem ser medidos somente em termos de sobrevivência; os resultados em
longo prazo devem ainda ser avaliados (OFFENBACHER et al., 1998a;
OFFENBACHER et al., 2001).
Segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a taxa
de mortalidade infantil no Brasil ainda corresponde a quase 100 mil crianças mortas
antes de completar um ano. Essa taxa é a terceira maior da América do Sul. Uma
análise aprofundada do problema revela que, nos últimos anos, enquanto o número
de óbitos a partir do segundo mês de vida caiu significativamente, a mortalidade de
recém-nascidos se manteve relativamente estável. Esse processo inverteu a
composição da taxa de mortalidade infantil brasileira: os óbitos neonatais, que eram
proporcionalmente menos numerosos, passaram a representar mais de 60% do total.
A alta proporção de óbitos neonatais está relacionada à evolução das causas de
mortalidade nas últimas décadas. Houve redução na participação de doenças
infecciosas e parasirias, doenças respiratórias e desnutrição, e considerável
aumento na participação das afecções perinatais (problemas originados até a primeira
semana de vida). Nessa categoria, está incluída a prematuridade (UNICEF, 2006).
A possibilidade da doença periodontal em gestante ser um fator associado à
prematuridade e baixo peso ao nascer gerou grande preocupação no meio científico e
passou a ser investigada em várias partes do mundo em estudos de diversas
naturezas, os quais foram desenvolvidos as o estudo pioneiro de Offenbacher et al.
(1996). Estes autores determinaram se a prevalência de doença periodontal materna
estaria associada à idade gestacional e peso ao nascimento. Após controlar outros
fatores de risco conhecidos, os resultados demonstraram que a doença periodontal é
24
um fator de risco independente e significativo para nascimentos prematuros de baixo
peso (OR=7,9).
Nos Estados Unidos, Dasanayake, em 1998, observou que as mães com
melhor saúde periodontal tinham menores riscos para parto prematuro de baixo peso.
Num estudo conduzido no Reino Unido, Davenport et al., em 1998, demonstraram
que, entre as 800 parturientes examinadas, a prevalência de prematuridade e baixo
peso ao nascimento estava dentro do esperado, ao contrário da extensão e gravidade
da doença periodontal que foram mais altas que o previsto.
Nos Estados Unidos, um estudo prospectivo conduzido por Jeffcoat et al.
(2001) testou a associação entre infecção periodontal crônica e nascimentos
prematuros em 1.313 gestantes. Verificou-se uma associação entre a presença de
periodontite entre a 21
a
e a 24
a
semanas de gestação e o consequente nascimento
prematuro. No mesmo país e ainda em 2001, Offenbacher et al. determinaram se a
doença periodontal materna contribui para o risco de prematuridade e baixo peso. Os
resultados confirmaram a hipótese de que a doença periodontal materna é fator de
risco independente para nascimentos prematuros, peso baixo ao nascimento e
restrição do crescimento fetal. Mães de recém-nascidos prematuros apresentaram
maior incidência e gravidade da doença periodontal.
Para examinar a relação entre nascimento prematuro e baixo peso e presença
de doença periodontal na mãe, Davenport et al. (2002) desenvolveram um estudo
caso-controle no Reino Unido. Os resultados não demonstraram nenhuma evidência
de associação (OR=0,79). Romero et al. (2002) conduziram um estudo para avaliar a
doença periodontal em mulheres grávidas e a correlação com condição nutricional de
seus filhos recém-nascidos. Após controle das variáveis de confusão, a análise
estatística demonstrou correlação significativa entre a gravidade da doença
periodontal em mulheres venezuelanas e o peso ao nascimento (r=-0,49; P<0,01) e
idade gestacional (r=-0,59; P<0,01).
Em um estudo caso-controle (1:2) conduzido na Arábia Saudita, por Mokeen,
Mola e Al-Jewais (2004), observou-se associação da doença periodontal com
nascimentos prematuros e de baixo peso, mesmo após controle para outros fatores
de risco (OR=4,21). Um outro estudo caso-controle foi desenvolvido na Hungria, em
2004, por Radnai et al. para verificar se a periodontite localizada pode resultar em
nascimento prematuro. Uma associação significativa foi demonstrada (P=0,001). A
razão de chance encontrada foi 5,46. O peso ao nascimento dos recém-nascidos do
25
grupo caso foi significativamente menor que o do grupo controle (P=0,047). Estes
resultados foram confirmados pelo achados do estudo caso-controle peruano (1:2)
desenvolvido por Robles, Salazar e Proaño De Casalino (2004). Os autores avaliaram
uma relação entre o retardo do crescimento intrauterino e doença periodontal
materna, controlando outros fatores de risco obstétricos. A análise multivariada
mostrou associação entre doença periodontal materna e retardo de crescimento.
A inter-relação entre prematuridade, baixo peso e aborto com a doença
periodontal materna foi investigada por Moore et al. (2004) num estudo prospectivo
realizado no Reino Unido. A análise dos resultados indicou que, nesta população, não
existiu nenhuma relação significativa entre a gravidade da doença periodontal e o
nascimento prematuro ou de baixo peso. Por outro lado, houve uma relação entre
saúde periodontal pobre e experiência de aborto.
Em um estudo caso-controle (1:2) que incluiu 156 gestantes peruanas
Lizarraga e Proaño De Casalino (2005) encontraram associação entre nascimento
prematuro de baixo peso e a perda de inserção periodontal, mesmo após controle de
outros fatores de risco. Mães com perda de inserção periodontal tiveram mais que o
dobro de chance de darem à luz a recém-nascidos prematuros de baixo peso. A razão
de chance ajustada (ORa) foi 2,14.
No estudo de Marin et al. (2005), que incluiu 152 gestantes francesas, a
presença de sangramento gengival e bolsa periodontal foram significativamente
maiores em mulheres que deram à luz a recém-nascido com peso inferior a 2.500g
(P=0,009), quando comparadas às mulheres cujos recém-nascidos tinham peso entre
2.500-3.499g. A doença periodontal em gestantes foi estatisticamente associada com
a redução de peso infantil ao nascimento.
A hipótese de não haver associação entre a doença periodontal e o nascimento
de bebês prematuros de baixo peso foi testada por Rajapakse et al. (2005) em um
estudo prospectivo em mulheres do Sri Lanka. Após a determinação de um ponto de
corte, as gestantes foram classificadas em expostas (n=66) e não expostas (n=161) à
doença periodontal. Após o nascimento e coleta dos dados, foi verificada a relação
entre a exposição ou não exposição ao fator de risco (doença periodontal) e a
prematuridade com baixo peso. Após ajuste para variáveis independentes, a razão de
chances destes nascimentos em relação à exposição ao risco foi 1,9, sugerindo a
associação da doença periodontal materna com o nascimento de prematuros de baixo
peso.
26
Em outro estudo prospectivo realizado nos Estados Unidos, Boggess et al.
(2006) investigaram se a doença periodontal está associada a nascimentos de
crianças pequenas para a idade gestacional (PIG). A condição periodontal foi
categorizada como: saúde, doença periodontal leve, doença periodontal moderada e
doença periodontal grave com base em parâmetros clínicos. A criança foi considerada
PIG quando o peso ao nascimento foi menor que o percentil 10 para idade
gestacional. Das 1.017 mulheres participantes do estudo, 67 (6,6%) deram à luz a
recém-nascidos PIG e 143 (14,3%) apresentavam doença periodontal moderada ou
grave. A taxa de nascimentos de crianças PIG foi mais alta entre as mulheres
portadoras de doença periodontal moderada ou grave quando comparadas àquelas
com saúde periodontal ou doença periodontal leve (P<0,001). A doença periodontal
moderada ou grave foi associada ao nascimento de crianças PIG mesmo após
ajustes para idade, fumo, drogas, estado civil e seguro saúde (ORa=2,3).
Meurman et al. (2006) estudaram 207 parturientes finlandesas por meio do
Índice de Saúde Dentária (ISD). A condição periodontal foi avaliada pelo IPC. Os
resultados não evidenciaram diferenças entre valores médios do ISD entre mães de
recém-nascidos prematuros de baixo peso e mães de recém-nascidos a termo de
peso normal.
Offenbacher et al. (2006a) avaliaram a possibilidade de a doença periodontal
materna atuar como preditiva de nascimentos prematuros (menos de 37 semanas) ou
muito prematuros (menos de 32 semanas), por meio de um estudo prospectivo
realizado nos Estados Unidos. O modelo preditivo foi desenvolvido para estimar se a
exposição materna à doença periodontal (antes de 26 semanas) e/ou a progressão da
doença periodontal durante a gestação, determinada pelos exames antes e depois do
parto, poderia predizer nascimentos prematuros ou muito prematuros mesmo após
ajustes para outros fatores de risco. A doença periodontal moderada ou grave antes
do parto foi associada à incidência de nascimentos prematuros espontâneos
(RRa=2,4). A progressão da doença periodontal durante a gestação foi um preditor da
gravidade deste efeito adverso (recém-nascidos de muito baixo peso), independente
de fatores de risco obstétricos e de domínio social.
No Brasil, os estudos que investigaram a possível associação entre a doença
periodontal e os desfechos mencionados foram desenvolvidos a partir do estudo de
Cardoso (1999). No intuito de avaliar se mulheres portadoras de doença periodontal
apresentavam o risco de parto prematuro de recém-nascidos de baixo peso, este
27
autor conduziu um estudo caso-controle. Os resultados indicaram que não uma
associação significativa entre doença periodontal de gravidade baixa à moderada e
prematuridade e/ou baixo peso.
Em 2003, Dias realizou um levantamento epidemiológico com a finalidade de
relacionar a presença de doença periodontal e o trabalho de parto pré-termo. A
amostra incluiu 41 mulheres com idade gestacional entre 28 e 37 semanas (grupo
caso) e 41 mulheres com idade gestacional maior que 37 semanas (grupo controle).
O índice gengival e a gravidade da doença apresentaram associação significativa com
o parto prematuro (P=0,029 e P=0,017, respectivamente). Em outro estudo
epidemiológico conduzido no mesmo ano por Furquim, observou-se que entre as 82
mulheres examinadas, aquelas com trabalho de parto prematuro apresentaram
índices de perda de inseão e gravidade da doença periodontal significativamente
maiores em comparação com aqueles registrados entre as mulheres com parto a
termo (P<0,05).
Glesse et al. (2004) realizaram um estudo caso-controle (1:1) com 162
mulheres para avaliar se a doença periodontal representa risco para a prematuridade.
Tanto a extensão quanto a gravidade da doença periodontal foram significativamente
maior em mães de recém-nascidos prematuros (P<0,001). O valor estimado para a
razão de chances indicou que estas apresentaram 12,16 vezes mais chance de terem
filhos prematuros que as mães de recém-nascidos a termo.
Cota (2005) avaliou a associação entre a doença periodontal materna e
intercorrências gestacionais (parto pré-termo e baixo peso ao nascimento) num
estudo transversal com alinhamento interno para caso-controle. A análise multivariada
demonstrou associação entre a doença periodontal e trabalho de parto prematuro
(ORa=2,0). No estudo caso-controle (1:2) realizado por Cruz et al., em 2005, as 302
gestantes foram divididas, de acordo com o peso de nascimento do recém-nascido,
em dois grupos: grupo caso (n=102; nascidos vivos de baixo peso) e grupo controle
(n=200; nascidos vivos de peso normal). A análise de regressão logística indicou
associação positiva entre a doença periodontal e o baixo peso ao nascer (OR=2,15),
especialmente entre as mães com escolaridade quatro anos (ORa=3,98).
A ligação entre a doença periodontal materna e o baixo peso ou a
prematuridade ao nascimento foi testada por Lunardelli e Peres (2005) num estudo
transversal com 449 parturientes. Três eventos foram investigados: prematuridade,
baixo peso ao nascimento e prematuridade e/ou baixo peso ao nascimento. A
28
presença de bolsa periodontal em um sítio chegou a ser associada à prematuridade,
mas após ajuste para outros fatores de risco, esta associação desapareceu. A
hipótese de associação entre doença periodontal e os três eventos pesquisados foi
rejeitada neste estudo.
Outro estudo caso-controle (1:1) brasileiro realizado no Rio de Janeiro por
Moliterno et al. (2005) verificou a possível associação entre a periodontite e o
nascimento prematuro de baixo-peso em 151 mulheres examinadas após o parto
natural. Demonstrou-se uma associação significativa (OR=3,48). O estudo conduzido
por Santana et al. (2005), no entanto, não demonstrou associação doença periodontal
materna e a prematuridade e baixo peso (P=0,660).
Alves e Ribeiro (2006) avaliaram a condição periodontal de 59 puérperas e
determinaram sua possível associação com nascimentos prematuros e/ou de baixo
peso. Os resultados demonstraram uma associação significativa entre a presença de
doença periodontal e esses nascimentos (OR=8,9; P=0,001).
Em uma amostra de 124 gestantes incluídas no estudo transversal realizado
por Pereira (2006), a periodontite crônica, caracterizada pela perda de inserção
clínica, elevou o risco para trabalho de parto prematuro (OR=4,7), parto pré-termo
(OR=4,9) e recém-nascido de baixo peso (OR=4,2).
Numa coorte de 327 gestantes, Vogt (2006) estimou o risco de resultados
desfavoráveis na gestação (parto pré-termo, recém-nascido de baixo peso, recém-
nascido PIG e amniorrexe prematura) em função da condição periodontal.
Demonstrou-se associação entre doença periodontal e parto pré-termo (RR=3,47),
baixo peso ao nascimento (RR=2,93) e amniorrexe prematura (RR=2,48) após a
análise multivariada.
Alguns autores que avaliaram a associação entre a doença periodontal e
nascimentos prematuros e/ou de baixo peso e tentaram identificar quais bactérias
relacionadas à patogênese periodontal poderiam influenciar o desenvolvimento fetal e
a idade gestacional ou exercer algum papel nesta associação.
Mitchell-Lewis et al. (2001) avaliaram amostras de biofilme subgengival de 145
mulheres para 12 escies de bactérias. Nenhuma diferença na situação periodontal
clínica foi observada entre mães de recém-nascidos prematuros e mães de recém-
nascidos a termo. Entretanto, as mães de prematuros de baixo peso apresentaram
contagens bacterianas médias significativamente mais altas de Bacteroides forsythus,
Campylobacter rectus, Eikenella corrodens e Eubacterium nodatum.
29
Com o propósito de avaliar a possível associação entre a infecção periodontal
e nascimentos prematuros de baixo peso por meio de dados clínicos e
microbiológicos no pós-parto, Buduneli et al. (2005) desenvolveram um estudo caso-
controle com um total de 181 mulheres. o foram encontradas diferenças
significativas entre os grupos quanto aos parâmetros periodontais adotados (P>0,05).
De acordo com a análise de regressão logística múltipla o Porphyromonas micros e
Campylobacter rectus foram associados (P<0,01 e P<0,05, respectivamente)
significativamente. Sugeriu-se que estes micro-organismos podem desempenhar
algum papel no aumento do risco de prematuridade e baixo peso ao nascer.
Um estudo caso-controle foi desenvolvido por Úrban et al. (2006) para avaliar a
existência de uma associação entre a condição periodontal de 161 gestantes, a
composição da microbiota do espaço periodontal e o nascimento prematuro. Os
resultados demonstraram profundidade de bolsa periodontal significativamente maior
(P=0,001) em mulheres com recém-nascidos prematuros de baixo peso (caso) em
comparação às mulheres com recém-nascidos a termo de peso normal (controle).
Houve associação entre o mero de bactérias anaeróbias e a presença de
periodontite significativa. As contagens de patógenos periodontais estavam
significativamente mais altas entre as mães do grupo caso (P=0,001). Os dados
revelaram uma possível associação entre a periodontite, causada por bactérias
anaeróbias gram-negativas (Tannerella forsythensis, Fusobacterium nucleatum,
Actinobacillus actinomicetemcomitans, Finegoldia magna, Porphyromonas gingivalis)
e nascimentos prematuros de baixo peso.
Outros estudos sugerem que a associação entre doença periodontal materna,
prematuridade e baixo peso ao nascimento pode ser mais bem indicada pelos níveis
de mediadores inflamatórios no fluido gengival, tais como prostaglandina E
2
(PG-E
2
) e
interleucina 1 beta (IL-1β).
Offenbacher et al. (1998b) mediram os níveis de PG-E
2
e IL-1β no fluido
gengival, a fim de determinar se os níveis desses mediadores relacionaram-se ao
resultado da gestação. Os resultados indicaram que os níveis de PG-E
2
são
significativamente mais altos em mães de recém-nascidos prematuros e de baixo
peso, em comparação com mães de recém-nascidos com peso normal (P=0,02).
Segundo os autores, os resultados sugerem que o aumento da PG-E
2
no fluido
gengival como um marcador de atividade de doença periodontal durante a gestação
associada à diminuição do peso ao nascimento.
30
Konopka et al. (2003) avaliaram os níveis de PG-E
2
e IL-1β no fluido gengival e
no soro sanguíneo entre 84 mães de prematuros de baixo peso (grupo caso) e entre
44 mães com recém-nascidos a termo de peso normal (grupo controle). Na população
estudada, em mulheres com periodontite grave e/ou generalizada, houve uma
possibilidade 3,9 vezes maior de nascimento prematuro de baixo peso em
comparação a mulheres com o periodonto sadio. Em mães do grupo caso, houve uma
concentração significativamente mais alta de PG-E
2
e IL-1β no fluido gengival bem
como concentrações mais altas PG-E
2
no soro em comparação às mães do grupo
controle.
Carta et al. (2004) também determinaram os níveis de PG-E
2
e IL-1β no fluido
gengival de 92 gestantes num estudo caso-controle. Os resultados indicaram que os
níveis de PG-E
2
e IL-1β foram significativamente mais altos em mães de recém-
nascidos prematuros de baixo peso (P<0,05).
Ao avaliarem os níveis de IL-6 e PG-E
2
no líquido amniótico
em 36 mulheres
com risco de complicações na gestação Dörtbudak et al. (2005) demonstraram níveis
significativamente mais altos (P<0,001) de ambos os mediadores inflamatórios em
mães de recém-nascidos prematuros quando comparados aos níveis encontrados
entre mães de recém-nascidos a termo.
Alguns estudos de intervenção testaram a hipótese de que o tratamento
periodontal na gestante reduziria os nascimentos prematuros e/ou de baixo peso.
Michell-Lewis et al. (2001), ao compararem os grupos com terapia periodontal
durante a gestação e com terapia periodontal as o parto, constataram que não
houve diferença estatisticamente significativa na frequência de doença periodontal
entre mães de recém-nascidos pré-termo ou a termo. Porém, os próprios autores
revelaram que a terapia periodontal antes do parto reduz a incidência de nascimentos
prematuros e de baixo peso. No grupo tratado, estes nascimentos corresponderam a
13,5%; no grupo o tratado, corresponderam a 18,9%. López, Smith e Gutierrez
(2002a) obtiveram resultados mais expressivos. Para os autores, o tratamento
periodontal antes do parto resultou numa incidência de nascimentos prematuros de
baixo peso de 1,84% no grupo tratado contra uma incidência de 10,11% nas
gestantes não tratadas. Em outro estudo randomizado e controlado dos mesmos
autores (LÓPEZ et al., 2005), a incidência de prematuridade e baixo peso no grupo
tratado foi de 2,14% e no grupo não tratado de 6,71%. Esta diferença pode ser
31
justificada pelo fato de, no primeiro estudo, não ter sido investigado o possível efeito
de fatores de confusão.
O tratamento periodontal não cirúrgico e o efeito sobre a prematuridade foram
investigados num estudo caso-controle (1:1) realizado por Michalowicz et al. (2006). O
grupo tratado (caso) incluiu 413 pacientes que receberam raspagem, alisamento e
polimento radicular antes do parto. O grupo controle (n=410) foi submetido ao
tratamento as o parto. Na comparação entre grupos, o tratamento periodontal não
diminuiu o nascimento prematuro (P=0,70) e não contribuiu para a redução dos
nascimentos de baixo peso (P=0,64) nesta amostra.
O benefício potencial da intervenção periodontal durante o segundo trimestre
gestacional na redução da prematuridade ao nascer foi avaliado por Offenbacher et
al. (2006b). A amostra incluiu 67 gestantes que foram submetidas à terapia
periodontal no período proposto. Os resultados preliminares demonstraram que o
tratamento periodontal durante a gestação reduziu 3,8 vezes o nascimento prematuro.
Sadatmansouri, Sedighpoor e Aghaloo (2006) relataram redução da taxa de
nascimento pré-termo de baixo peso e atribuíram esta diminuição à realização de
terapia periodontal durante a gestação. Não houve nascimento de prematuros de
baixo peso no grupo tratado e, no grupo não tratado, estes nascimentos
representaram 26,7%. Porém, os resultados deste estudo podem ter sua validade
externa questionada devido ao reduzido tamanho da amostra.
Os dados até então apresentados destacam a alta prevalência de doença
periodontal, entre gestantes, bem como o elevado risco que estas mulheres
apresentam ao desenvolvimento e/ou agravamento da doença. Cumpre ressaltar que
poucos estudos epidemiológicos têm sido conduzidos nos últimos anos nesta
população. Os estudos que avaliaram as possíveis implicações da condição
periodontal sobre a evolução e desfecho da gestação apresentaram resultados
heterogêneos, mas a maioria deles converge para a possível associação entre a
doença periodontal e a prematuridade e/ou baixo peso ao nascer. Destaca-se, assim,
a importância de medidas educativas, preventivas e/ou de controle da doença
periodontal direcionadas a este grupo populacional específico.
32
2.1.2 Cárie dentária
A cárie é, por definição, uma doença crônica, infecto-contagiosa e de alta
prevalência que atinge os tecidos mineralizados dos dentes. Um diagrama proposto
por Keyes (1960) para evidenciar a etiologia da doença sugere a interação de três
fatores: microbiota (micro-organismos), dente (hospedeiro) e substrato (dieta).
Newbrun (1978) acrescentou um quarto fator (tempo) afirmando que o
desenvolvimento da lesão necessita do desequilíbrio destes fatores por um
determinado período. Aspectos sociais e culturais relacionados às atitudes,
comportamentos e respostas imunológicas dos indivíduos podem atuar como
modificadores dos fatores anteriormente mencionados conferindo particularidade ao
risco à doença (THYLSTRUP; FEJERSKOV, 1995).
Segundo o levantamento epidemiológico nacional Projeto SB Brasil 2003
(BRASIL, 2004b), o grupo etário estabelecido como padrão para avaliação das
condições de saúde bucal em adultos é de 35 a 44 anos. A prevalência de cárie foi
estimada pelo índice CPO-D (C: cariado; P: perdido; O: obturado; D: dente). O valor
médio para esta faixa eria, considerando apenas a Região Sudeste, foi 20,3.
Cumpre ressaltar que a amostra que constituiu este grupo etário, segundo o sexo, foi
predominantemente feminina (67,59%).
A incidência e/ou prevalência de cárie em gestantes foi investigada em estudos
conduzidos em diversos países e também em estudos brasileiros. A avaliação da
doença pelo índice CPO-D variou, em valores médios de 2 a 27 (ROSA et al., 2007).
Pelo índice CPO-S (C: cariado; P: perdido; O: obturado; S: superfície), esta variação
foi de 27,3 (SILVA, 2001) a 61,10 (VIEGAS, 1970). Estes resultados demonstram a
maior prevalência da doença entre as gestantes brasileiras.
Entre os estudos conduzidos no Brasil, Viegas (1970) não encontrou diferenças
significativas entre gestantes e não gestantes quanto à incidência de cárie. As
mulheres (82 gestantes e 40 não gestantes) foram submetidas a dois exames clínicos
num período aproximado de seis meses para determinão do índice CPO-S. A
comparação entre grupos demonstrou médias muito próximas de incidência da
doença entre gestantes e não gestantes (61,10 e 68,75, respectivamente).
33
Em um estudo transversal conduzido por Torres et al. (1999), os índices CPO-
D e CPO-S foram utilizados para avaliar a condição bucal de 50 gestantes de Bauru –
SP. O CPO-D médio foi 14 e o CPO-S médio foi 37,1.
No estudo de Montandon et al. (2001), a doença cárie foi a mais prevalente
entre as 108 gestantes examinadas, atingindo 96,4% da amostra (104/108). Os
autores relataram, ainda, que o índice CPO-D médio foi 11,2, sendo que 82,4%
(89/108) apresentaram pelo menos um elemento dental perdido ou com extração
indicada. Dados quanto à incidência da doea na gestação demonstraram que 62
mães apresentaram novas lesões durante este período.
O estudo retrospectivo de Rosell (2001) avaliou os prontuários clínicos de 120
gestantes de Araraquara SP, das quais 40% apresentavam alta frequência de cárie
(40% dos dentes atingidos) e 15% tinham lesões de mancha branca ativas.
Em um estudo de natureza quali-quantitativa, Silva (2001) determinou os
índices CPO-D e CPO-S de 10 gestantes de em Campo Grande MS. Os resultados
demonstraram um CPO-D médio de 12,7, com o componente cariado correspondendo
a 25,98%. O índice CPO-S médio foi de 27,3 superfícies, sendo o componente
cariado responsável por 19,64% das superfícies avaliadas.
Rosa et al. (2007) investigaram se a prevalência de cárie em gestantes estaria
associada à idade. O estudo foi conduzido em Porto Alegre – RS. Entre as 63
gestantes incluídas no estudo, a prevalência de cárie, avaliada pelo índice CPO-D,
apresentou média de 2 e valor máximo igual a 9 nas mulheres até os 19 anos. Em
gestantes adultas (de 20 a 40 anos ou mais), a média encontrada foi de 8, com valor
máximo de CPO-D igual a 27. Os achados de Tonello, Zuchieri e Pardi (2007)
corroboram estes resultados. Os autores observaram também uma correlação
positiva entre o incremento de cárie e a idade, demonstrada pelo valor obtido pelo
coeficiente de correlação de Spearman (r=0,404).
Em um estudo prospectivo de 30 meses, Zanata et al. (2003) avaliaram 64
gestantes divididas, de acordo com a atividade de cárie, em dois grupos. O grupo
experimental foi constituído por 34 gestantes com doença ativa e o grupo controle por
30 gestantes com doença inativa. O índice CPO-D médio para o grupo experimental
foi igual a 14,3; para o grupo controle foi 13,6. O CPO-D médio para o total da
amostra foi 14, indicando alta prevalência da doença entre as gestantes.
Em 2005, Coutinho et al. avaliaram as condições bucais de 24 gestantes por
meio dos índices CPO-D e CPO-S. Os resultados demonstraram valores médios de
34
12,87 8,06) para o CPO-D e 31,54 (± 30,79) para o CPO-S. Entre as gestantes
examinadas, 11 apresentaram lesões de mancha branca ativa.
Ramos et al. (2006) realizaram um estudo com o objetivo de avaliar o índice de
cárie (CPO-D) de 170 gestantes de baixo nível socioeconômico residentes em
Aracaju SE. Os resultados revelaram um CPO-D médio de 10,43. Apenas duas
gestantes apresentaram CPO-D igual a zero. Para os autores, os resultados obtidos
demonstraram a precariedade das condições bucais deste grupo.
O estudo realizado por Tonello, Zuchieri e Pardi (2007) avaliou o índice CPO-D
para 88 gestantes. Os resultados demonstraram que 57% das gestantes obtiveram
valores superiores a 10. O CPO-D médio para o total da amostra foi 11,08. Para os
autores, a maioria das gestantes apresentou alta experiência de cárie.
A cárie dentária em gestantes também foi objeto de estudo em outros pses.
No México, o estudo transversal descritivo de Santibáñez et al. (1998), revelou
que, entre as 100 gestantes examinadas, 76 apresentaram cárie. Neste mesmo país,
León, García e Guerrero (2002) realizaram um estudo prospectivo utilizando como
amostra 103 mulheres. As gestantes foram submetidas ao exame clínico para
determinação do índice CPO-D. Os resultados demonstraram que 99% apresentavam
experiência de rie. O índice CPO-D médio foi 13,8. O componente cariado
correspondeu a 7,1; o perdido a 2,4; e o obturado a 4,3. Houve correlação positiva
entre o índice CPO-D de gestantes e o aumento da idade (r=0,35).
Scheutz et al. (2002) avaliaram se a presença de cárie está associada ao
número de filhos (0-1; 2-3; 4-6; 7-12) e à idade materna (24-29; 30-37; 38-43; 44-49)
em 500 gestantes africanas. Utilizou-se como referência o número de filhos de 0-1 e a
idade materna 24-29 para a análise estastica estratificada por regressão logística
múltipla. Os resultados o evidenciaram associação entre o número de filhos e a
presença de cárie (OR de 1,2; 1,1; e 1,4 para os estratos amostrais subsequentes).
Também não houve associação entre a idade materna e a presença de cárie (OR de
1,0; 1,0; e 1,3 para os estratos amostrais subsequentes), contrariando outros autores
que encontraram uma relação entre a cárie e a idade.
Entre as 251 gestantes venezuelanas avaliadas por Lárez et al. (2005), o índice
CPO-D variou de acordo com o grau de instrução da mãe. Os maiores índices foram
alcançados pelas gestantes com curso técnico superior universitário (CPO-D=19,92),
ensino secundário (CPO-D=18,21) e ensino primário (CPO-D=15,05). As gestantes
analfabetas (CPO-D=14,16) e universitárias (CPO-D=14,00) obtiveram os menores
35
índices. Para os autores, não existe uma relação direta estabelecida entre a gestação
e a cárie.
Em 2007, Herrera et al. determinaram a prevalência de cárie em 51 gestantes
chilenas pelo índice CPO-D. A análise clínica demonstrou um índice CPO-D de 10,2 ±
4,7 o que, segundo os autores, indica história de cárie em cerca de 30% dos dentes.
2.1.2.1 Fatores de risco à cárie dentária
As alterações fisiológicas e comportamentais comuns entre gestantes tamm
podem repercutir no aumento do risco à doença cárie nestas mulheres.
Alguns estudos investigaram os efeitos da gestação sobre a composição da
saliva, pH e fluxo salivar.
As concentrações delcio e fósforo na saliva foram investigadas por Salvolini
et al. (1998). Para os autores, as concentrações destes íons contribuem para a
estabilidade dos tecidos duros dos dentes e a queda destas concentrações pode
incrementar a incidência de cárie. Numa amostra de 60 mulheres, os resultados
evidenciaram queda nas concentrações salivares de cálcio e fósforo ao compararem
gestantes (grupo caso; n=45) e não gestantes (grupo controle; n=15) durante a 21
a
e
40
a
semana de gestação, sendo esta diferença estatisticamente significativa (P<0,05).
Os estudos relacionados ao fluxo salivar durante a gestação apresentaram
resultados controversos. Alguns não demonstraram nenhuma mudança significativa
no fluxo salivar durante a gestação (LAINE; PIENIHÄKKINEN, 2000; LAINE et al.,
1988; SEWÓN; LAINE, 2000). Outros, ao contrário, demonstraram redução do fluxo
salivar. Torres et al. (1999) avaliaram o fluxo salivar em 50 gestantes. Os autores
concluíram que as gestantes apresentaram taxas de secreção salivar média de
1,32ml/min, sendo que 17 (34%) apresentaram taxas inferiores a 1,0ml/min, 26 (52%)
apresentaram valores entre 1,0 e 2,0ml/min e sete (14%), valores acima de 2,0ml/min.
Gonzáles, Montes de Oca e Jiménez (2001) avaliaram, comparativamente, o fluxo
salivar de gestantes (n=50) e não gestantes (n=50). A média de fluxo salivar do grupo
de gestantes foi inferior à média do grupo de não gestantes (0,87 ± 0,49ml/min e 0,94
± 0,49ml/min, respectivamente). No estudo de Coutinho et al. (2005), 37,5% da
amostra de 24 gestantes apresentaram fluxo salivar considerado alto, 12,5%
36
apresentaram taxas dentro dos padrões considerados normais e 50% apresentaram
fluxo salivar reduzido.
Os valores de pH salivar e/ou capacidade tampão da saliva também foram
investigados. O pH salivar mais baixo em gestantes foi relatado por Orosz et al., em
1980. Laine et al. (1988) e Laine e Pienihäkkinen (2000) afirmaram que o pH salivar e
a capacidade tampão da saliva encontram-se reduzidos no período gestacional.
Gonzáles, Montes de Oca e Jiménez (2001) também identificaram diferenças
significativas (P<0,0001) nos valores médios de pH salivar. Entre as gestantes (n=50),
o pH foi menor que em não gestantes (n=50). Os valores médios obtidos foram 6,6 ±
0,19 e 7,09 ± 0,19, respectivamente. Ao comparar a capacidade tampão da saliva em
nove mulheres no pe pós-parto, Kivelä et al. (2003) demonstraram significativo
aumento da capacidade tampão da saliva da primeira para a segunda coleta
(P=0,028).
Num estudo prospectivo, Zanata et al. (2003) avaliaram a capacidade tampão
em mulheres durante a gestação e 6 e 12 meses após o parto. Os autores relataram
que o valor obtido foi diferente em cada avaliação. Valores crescentes foram
registrados nos períodos avaliados.
A microbiota associada ao desenvolvimento da doença cárie também parece
sofrer modificações durante a gestação. Tenovuo, Laine e Lehtonen (1987)
encontraram níveis mais elevados de Streptococcus mutans em gestantes durante o
terceiro trimestre de gestação e lactação. Torres et al. (1999) avaliaram 50 gestantes
brasileiras quanto ao nível de infecção pelos Streptococcus mutans. Altas contagens
salivares do micro-organismo (>250.000 u.f.c./ml) foram observadas em 60% das
gestantes. No estudo de Villagrán, Linossier e Danoso (1999) as gestantes
apresentaram contagens mais elevadas que as puérperas do grupo controle. No
entanto, não houve diferenças entre as contagens do micro-organismo das gestantes,
quando examinadas nos três trimestres gestacionais. Das 51 gestantes investigadas
por Herrera et al. (2007), 70,6% exibiram altos níveis de infecção pelos Streptococcus
mutans (>500.000 u.f.c./ml). Do ponto de vista microbiológico, os níveis encontrados
representam um alto risco ao desenvolvimento da doença rie.
Para Ojanotko-Harri, Laine e Tenovuo (1991), os Streptococcus mutans podem
utilizar o estronio em seu metabolismo, o que poderia justificar o maior nível deste
micro-organismo durante o terceiro trimestre gestacional demonstrado no estudo de
Tenovuo, Laine e Lehtonen (1987). Segundo Laine (2002) e Sartório e Machado
37
(2001), este trimestre gestacional corresponde ao período de maior elevação dos
veis hormonais durante a gestação. Porém, de acordo com Tenovuo, Laine e
Lehtonen (1987), a elevação dos níveis de Streptococcus mutans não ocorre em
função das alterações hormonais e sim devido às mudanças de hábitos de dieta que
ocorrem em função da maior demanda energética da lactação, o que pode favorecer
o crescimento de micro-organismos acidogênicos tamm após o parto.
Outros fatores parecem contribuir no aumento do risco à cárie em gestantes.
No primeiro trimestre gestacional são comuns as náuseas matinais que podem expor
o esmalte dentário ao conteúdo ácido do estômago e alterar o pH da saliva, tornando-
o mais ácido. Os enjoos podem resultar em dificuldades relacionadas à higiene bucal
aumentando, neste grupo, a predisposição ao desenvolvimento da doença
(OLIVEIRA, 1990).
Godín et al. (2001) avaliaram a náusea e vômito quanto à frequência, fase
gestacional e fatores desencadeantes em 200 gestantes colombianas. Os resultados
demonstraram a alta frequência da sintomatologia (64,5%), principalmente em
primíparas (43,4%) e pela manhã (78,3%). Um total de 55,8% das gestantes
investigadas relatou os sintomas no primeiro trimestre, mas 29,5% das mulheres
apresentaram náuseas e vômito durante toda a gestação. Os autores relataram,
ainda, que a higiene bucal foi fortemente associada à experiência dos sintomas. Entre
as gestantes inquiridas por Silva (2001), 66,67% relataram enjoo ou vômito durante a
gestação. No estudo de Coutinho et al. (2005), a maioria das gestantes (75%) relatou
episódios de náuseas durante a gestação, sendo estes, na maioria das vezes,
espontâneos (56%) e durante a higiene bucal (39%).
Outra mudança fisiológica citada por Oliveira (1990) ocorre no terceiro trimestre
gestacional. O decréscimo da capacidade gástrica em resposta ao período de maior
crescimento fetal leva à ingestão de menor quantidade de alimentos por vez, porém,
com maior frequência (refeições intermediárias às refeições principais). Também é
observada neste período a negligência com a higiene bucal (não correspondente ao
número de refeições diárias). O bito de refeições constantes e com alimentos
cariogênicos somado à negligência com a higiene bucal pode resultar no aumento da
incidência da doença cárie que é atribuída à gestação. Adicionalmente, Chala e
Santana (2003) destacaram que a dieta cariogênica e a alta frequência alimentar
promovem substrato adicional para o crescimento e desenvolvimento das bactérias
acidogênicas.
38
2.1.2.2 Repercussões da cárie na evolução e desfecho da gestação
Ainda é reduzido o número de estudos que investigaram uma possível
repercussão da doença cárie sobre o desenvolvimento fetal e/ou parto.
Dasanayake, em 1998, avaliou o efeito da cárie dentária sobre a idade
gestacional e peso do recém-nascido. Concluiu-se que o índice CPO-D não foi
associado à prematuridade e peso baixo dos recém-nascidos (OR=1,1; P=0,17).
Os veis médios dos micro-organismos bucais (Streptococcus mutans,
Streptococcus sobrinus, Streptococcus sanguinus, Lactobacillus acidophilus,
Lactobacillus casei e Actinomyces naeslundii genospecies 1 e 2) foram investigados
no estudo realizado por Dasanayake et al. (2005), que incluiu 297 gestantes
africanas. Investigou-se também a associação entre estes micro-organismos e a
idade gestacional e peso dos recém-nascidos. A análise multivariada demonstrou
associação negativa entre os altos níveis salivares de Actinomyces naeslundii
genospecies 2, idade gestacional (P=0,05) e peso ao nascimento (P=0,04). Os níveis
elevados de Lactobacillus casei apresentaram associação positiva com os eventos
pesquisados (P=0,04 e P=0,03). Os autores concluíram que além das bactérias
periodontopatogências, outras espécies bacterianas bucais também podem ser
relacionadas com a gestação.
A doença rie foi investigada por Meurman et al. (2006) por meio do ISD. A
doença foi avaliada pelo índice CPO-D em 207 gestantes. Os valores obtidos entre
mães de recém-nascidos prematuros de baixo peso (15,3) não foi estatisticamente
diferente de mães de recém-nascidos a termo de peso normal (12,9). Pelos
parâmetros utilizados, os autores concluíram o existir associação entre a cárie e
complicações na evolução e desfecho gestacional.
Morency et al. (2006) investigaram se a invasão por micro-organismos orais da
cavidade amniótica exerce algum efeito no trabalho de parto prematuro. Os autores
relataram o caso de uma mulher que apresentou ameaça de parto prematuro à 25
a
semana de gestação cujos Streptococcus mutans foram erradicados do líquido
amniótico por meio do uso parenteral de medicação antibiótica. O parto ocorreu na
34
a
semana de gestação. Os autores concluíram que o uso da medicação no combate
à infecção por este micro-organismo pode prolongar a gestação.
39
Embora a literatura demonstre um interesse em investigar uma possível
associação entre a cárie dentária e a evolução e desfecho gestacional, o número de
estudos ainda é muito reduzido e os resultados pouco conclusivos. Não existem
evidências científicas que indiquem maior prevalência de cárie dentária em gestantes
que em não gestantes. Entretanto, a gestação parece aumentar o risco ao
desenvolvimento e/ou agravamento da doença. Desta forma, justifica-se a inserção de
medidas educativas, preventivas e/ou de controle direcionadas aos fatores
associados à cárie dentária neste período.
2.1.3 Utilização do serviço odontológico durante a gestação
Embora a fase gestacional seja propícia à aquisição de novos conhecimentos e
hábitos, em especial aqueles que poderão favorecer a saúde do recém-nascido, este
grupo apresenta alguma resistência à procura pela atenção odontológica durante este
período. Mangskau e Arrindel (1996) demonstraram que gestantes o menos ao
cirurgião-dentista que mulheres de grupo etário semelhante.
Alguns estudos demonstraram que gestantes utilizam inadequadamente
serviço odontológico. Em 1996, Mangskau e Arrindell investigaram a utilização de
serviços odontológicos por gestantes e demonstraram que 43,2% da amostra
procuraram um cirurgião-dentista neste período. A principal razão alegada pelas
gestantes para não buscarem o tratamento odontológico durante este período foi a
ausência de problemas bucais. Gaffield et al. (2001) avaliaram os dados de um
Sistema de Avaliação e Monitoramento de Gestações de Risco (Pregnancy Risk
Assessment Monitoring System PRAMS) em quatro Estados americanos. Os
resultados demonstraram que entre 22,7 a 34,7% das mulheres relataram utilizar o
serviço odontológico durante a gestação. Entre aquelas que relataram problemas
bucais durante o período, somente 44,7% a 59,4% procuraram tratamento.
Lyndon-Rochele et al. (2004) analisaram os fatores associados aos cuidados
odontológicos durante a gestação por meio de informações do PRAMS do Estado de
Washington EUA. Os dados demonstraram que 58% das mulheres não receberam
cuidados odontológicos durante a gestação. Entre os fatores associados à não
40
utilização do serviço, a falta de orientações sobre saúde bucal foi o fator mais
fortemente associado à falta de tratamento odontológico durante a gestação
(OR=26,42).
No estudo conduzido por Habashneh et al. (2005), a taxa de utilização dos
serviços entre as gestantes pesquisadas foi de 49%. As visitas ao cirurgião-dentista
durante a gestação foram significativamente associadas aos fatores pessoais (ser
casada, apresentar maior frequência de utilizão do serviço quando não estava
grávida) e financeiros (ter seguro odontológico) e ao conhecimento da conexão entre
a saúde bucal e os resultados da gestação (P0,05).
O relatório do PRAMS também foi utilizado por Ressler-Maerlender, Krishna e
Robison (2005) para descrever os esforços do Centro de Controle e Prevenção de
Doenças Divisão Saúde Bucal em compreender a utilização dos serviços
odontológicos pelas gestantes. Foram incluídos dados de 12 Estados americanos. Os
resultados demonstraram que a maioria das gestantes não frequenta os serviços
odontológicos e entre as que relatam problemas bucais neste período, metade não
procura tratamento. Para os autores, a gestação modifica as percepções das
mulheres quanto à saúde bucal e cuidados odontológicos. Isto pode contribuir para a
evasão deste grupo à assistência durante este período.
A resistência que as gestantes apresentam ao tratamento odontológico
fundamenta-se, segundo Ressler-Maerlender, Krishna e Robison (2005), em crenças
e mitos que sugerem que as doenças bucais são comuns no período gestacional e
que o tratamento odontológico pode representar um dano potencial ao feto em
desenvolvimento. Para Leal (2006), esta resistência é real e está fundamentada em
crenças populares que são transmitidas pelos relatos familiares. Os cuidados com a
atenção odontológica parecem fazer parte de um sistema de significados negativos e,
por esse motivo, a falta de atenção aos cuidados bucais fica mais evidente durante a
gestação.
41
2.2 CONHECIMENTOS, ATITUDES, PERCEPÇÕES E PRÁTICAS DE GESTANTES
FRENTE À SAÚDE BUCAL
Neste subcapítulo serão apresentados os estudos relacionados aos
conhecimentos, atitudes, percepções e práticas de gestantes em relação à saúde
bucal. Para melhor compreensão do tema proposto, esta revisão será subdividida nos
seguintes aspectos: dieta e higiene bucal; relação bidirecional entre saúde bucal e
gestação; e crenças e mitos relacionados à assistência odontológica na gestação.
2.2.1 Dieta e higiene bucal
Alguns estudos avaliaram os conhecimentos e atitudes de gestantes frente à
dieta e higiene bucal.
Num estudo de natureza qualitativa, Bernd e Souza (1992) aprofundaram o
conhecimento sobre a percepção popular em saúde bucal de gestantes e puérperas.
Os resultados demonstraram que a origem da cárie é entendida como resultado de
alimentos “ruins” e como uma doença inevitável. Os hábitos de dieta, entretanto, não
o alterados. Segundo os autores, a dificuldade em mudar hábitos alimentares é
explicada pelos aspectos socioeconômicos (baixo custo dos carboidratos) e culturais
(associação do açúcar ao prazer e afeto). Quanto aos bitos de higiene, todas as
entrevistadas relataram escovar os dentes regularmente, mas admitiram
“esquecimentos”.
Numa amostra de 150 gestantes, Menino e Bijella (1995) detectaram que a
cárie foi o problema de saúde bucal mais conhecido (91,3%), seguida pela doença
periodontal (34,0%). Entre as causas dos problemas bucais, o consumo de doces e
os resíduos de alimentos foram as mais citadas (48,7%), seguidas pela má escovação
e falta de tratamento (42,04%). Quase todas as gestantes entrevistadas (98,7%)
reconheceram que a higiene bucal, redução do açúcar e visitas ao cirurgião-dentista
podem evitar a cárie. Quanto aos hábitos de higiene bucal, os resultados
demonstraram que a maior frequência de escovação foi três vezes ao dia (45,3%). Os
42
principais métodos adotados para a higiene bucal foram escovação (49,3%) e uso do
fio dental (42,0%).
Brandão (1998) avaliou as atitudes relacionadas à saúde bucal de 410
gestantes. A cárie foi a doença bucal identificada como a mais comum (n=111;
27,1%), seguida pela gengivite (n=28; 6,8%). Mais da metade das gestantes (n=222)
não soube identificar a doença bucal mais comum. A relação da cárie com a presença
de micro-organismos foi identificada por 39,4% da amostra respondente (n=137);
32,8% (n=45) relacionaram-na às alterações físicas na superfície dentária; e 26,3%
(n=26,3) estabeleceram relação entre a cárie e higiene bucal. Para a maioria das
gestantes, a higiene bucal é a forma de controlar ou prevenir a doença (n=229;
65,6%). Outros fatores foram associados à prevenção da cárie: visitas ao cirurgo-
dentista (n=175; 50,1%); redução do consumo de açúcar (n=42; 12,0%); e uso do
flúor/selante (n=12; 3,4%). Quanto à doença periodontal, a maioria das entrevistadas
relatou que a inflamão gengival é decorrente da higiene bucal (n=336; 81,9%).
As gestantes possuíam hábitos de dieta cariogênicos, com ingestão de alimentos com
sacarose entre as refeições principais (n=231; 82,5%). Em relação aos hábitos de
higiene bucal, 144 gestantes (35,1%) afirmaram o utilizar o fio dental; 240 (58,5%)
disseram realizar a escovação três vezes ao dia.
Santibáñez et al. (1998) determinaram os hábitos alimentares e higiênicos de
100 gestantes mexicanas. A alimentação foi considerada pelos autores como
inadequada em 64% das pacientes; em 87% dos casos, se observou ingeso
abundante de açúcares. Em relação à higiene bucal, 36% das mulheres realizaram a
escovação pelo menos três vezes ao dia e em quatro casos a higiene bucal foi
suspensa em função dos enjoos.
Ao investigar a percepção de 100 gestantes quanto aos hábitos de dieta e
higiene bucal, Barroso (1999) observou que a grande maioria (82%) passou a utilizar
“merendas” ricas em sacarose entre as refeições principais e apresentou o hábito de
escovar os dentes três vezes ao dia (78%). A doença cárie não foi identificada como
infecto-contagiosa por 58% das entrevistadas.
No mesmo ano, Oliveira e Oliveira relataram que a frequência alimentar de
gestantes, em relação ao período pré-gestacional, foi mantida em 46% dos casos,
enquanto que em 38% esta frequência aumentou. A frequência da higiene bucal
durante a gestação manteve-se similar ao período anterior à gestação em 74% das
mulheres e 14% reduziram esta frequência.
43
Os resultados obtidos por Antunes, Rosete e Fagulha (2001) indicaram que
72% das gestantes escovam os dentes mais de uma vez ao dia; 13% escovam
ocasionalmente. A maioria das inquiridas (55%) apresentava dieta cariogênica.
Contrariando outros autores, os achados deste estudo não demonstraram alterações
no que diz respeito à frequência de escovação e indicaram melhora no
comportamento das gestantes com uma diminuição pela metade no mero daquelas
que tinham uma dieta acentuadamente cariogênica.
No estudo de Rosell (2001), a análise de diário alimentar preenchido por
gestantes permitiu verificar que 79,2% apresentavam dieta carionica (ingestão de
carboidratos fermentáveis entre as refeições a duas vezes ao dia). Três escovações
diárias foram relatadas por 61,7% da amostra. Mais da metade das gestantes
entrevistadas (58,3%) o utilizava o fio dental; 29 (24,2%) utilizavam o fio dental três
vezes ao dia; e 21 (17,5%), quatro vezes ao dia.
Silva (2001) demonstrou que 59,38% das gestantes aumentaram a frequência
alimentar e 68,75% consumiam úcar com frequência. Os hábitos de higiene bucal
do período pré-gestacional foram mantidos pela maioria das gestantes (80,21%) e
52,08% usaram recursos adicionais à escova e creme dental, durante a higiene bucal.
No estudo de Bernardes et al. (2002), os dados sobre a frequência de consumo
de açúcar na dieta indicaram que 41% da amostra ingeriam grande quantidade de
úcar. Quanto ao número de escovações ao dia, 49% das participantes escovavam
seus dentes três vezes ao dia. Pouco mais da metade da amostra declarou não ter o
fio dental como hábito diário.
Num estudo comparativo do nível de conhecimento sobre saúde bucal entre
gestantes do serviço público e privado, realizado por Hapner (2002), verificou-se que
as gestantes de consultórios particulares apresentaram maior conhecimento sobre o
assunto que as do serviço público (73,7% e 50,8%, respectivamente). A escolaridade
foi a única variável que se associou ao vel mais alto de conhecimento das
gestantes.
Mais de 30% da amostra de gestantes incluídas no estudo de Martins e Martins
(2002) citou a cárie como o problema bucal mais conhecido e associou doença bucal
à falta de higiene bucal. Mais de 60% das gestantes disseram comer mais no período
gestacional e mais de 40% afirmaram “beliscar” o dia todo. A higiene bucal três vezes
ao dia foi a mais frequente. Mais de 60% das gestantes utilizavam o fio dental.
44
No estudo de Christensen, Jeppe-Jensen e Petersen (2003) o bito de
escovar os dentes pelo menos duas vezes ao dia foi o mais frequente na amostra
(96%). O uso de palitos foi relatado por 31% das gestantes, ao menos uma vez por
semana. O uso do fio dental, ao menos uma vez por semana, ocorreu em 43% da
amostra.
De acordo com os resultados obtidos por Tiveron, Benfatti e Bausells (2004), a
falta de higiene e o excesso de ingeso de doces são as principais causas de
problemas bucais para 67,6% das gestantes entrevistadas. Quase metade da amostra
(46,5%) declarou escovar os dentes três vezes ao dia.
No estudo de Coutinho et al. (2005), 50% das gestantes escovavam os dentes
três vezes ao dia e 38% mais de três vezes ao dia. Todas utilizavam creme dental. O
uso diário de fio dental foi rotina apenas para 25% das respondentes.
Entre os cuidados quanto à higiene bucal realizados pelas 625 gestantes que
compuseram a amostra do estudo de Habashneh et al. (2005), 408 (66%) afirmaram
usar o fio dental, sendo que 71% (n=298) não o utilizavam diariamente.
Honkala e Al-Ansari (2005) avaliaram a autopercepção de gestantes quanto à
saúde bucal e os hábitos de higiene. A maioria escovava os dentes mais de uma vez
ao dia (64%) e a principal razão foi a prevenção da cárie. Entre outros artifícios
utilizados para a higiene bucal, o fio dental foi o mais citado (42%), mas a maioria das
mulheres disse não utilizar nenhum método adicional.
As gestantes incluídas no estudo qualitativo de Codato (2005) relataram
mudança nos hábitos de higiene bucal durante o período gestacional e apresentaram
comportamentos diferentes quanto à higiene, a qual foi intensificada por algumas e
reduzido por outras.
Os conhecimentos de gestantes do serviço público em relação à própria saúde
bucal foram investigados por Araújo et al. (2005). A análise dos dados permite
verificar que o problema bucal mais conhecido pelas gestantes é a cárie (35,71%) e
21,42% conhecem a cárie e gengivite. A falta de higiene bucal, má escovação e
exagero de açúcares foram identificados como causas das doenças bucais.
Ramos et al. (2006), a fim de avaliar as condições bucais e os bitos de
higiene bucal de gestantes, demonstraram que 99 (58%) escovavam os dentes três
vezes ao dia e usavam creme dental. O fio dental não foi utilizado pela maioria
(n=112; 66%), e 95 (56%) faziam uso de palitos para a limpeza interdental. Somente
16 mulheres (9%) relataram o uso de bochechos para a higiene bucal.
45
No estudo conduzido por Venâncio (2006) para verificar os hábitos de dieta e
higiene bucal, 44,4% das 260 gestantes entrevistadas preferiam alimentos ricos em
carboidratos; 76,9% escovavam os dentes pelo menos três vezes ao dia; e 62%
utilizavam o fio dental.
2.2.2 Percepções da relão bidirecional entre saúde bucal e gestação
A relação entre a gestação e os problemas bucais foi investigada Menino e
Bijella (1995). Os resultados demonstraram que 44% das gestantes acreditam que a
gestação pode ocasionar problemas bucais e 6,7% relataram não saber. Os
problemas bucais associados à gestação foram: enfraquecimento dos dentes pela
remoção de lcio pelo feto (37,9%), aumento na incidência de cárie (25,8%), dor de
dente (16,7%), sangramento da gengiva (15,2%), e aumento de cárie associado ao
sangramento gengival e halitose (4,5%).
No estudo de Brandão (1998), 62,2% das gestantes acreditavam na
possibilidade de as doenças bucais afetarem a saúde geral. Dentre estas, 43,1%
(n=110) afirmaram que isto se deve ao processo infeccioso. Mais da metade
acreditava que a gestação pode causar dor de dente (45,5%), cárie (40,5%),
sangramento gengival (22%), aumento na salivação (4%), halitose (4%). Estes
resultados foram confirmados por Costa et al. (1998). A maioria das gestantes (95%)
acreditava que os problemas bucais afetam a saúde como um todo. Posteriormente,
contudo, os resultados obtidos por Barroso (1999) demonstraram que 62% das
gestantes não associavam saúde bucal como parte integrante da saúde geral.
As gestantes investigadas por Diáz Romero et al. (2001) relataram que a
“perda de cálcio para o feto” (43%), a cárie e perdas de elementos dentários (17%)
o os problemas mais frequentemente causados pela gestação.
Entre as gestantes entrevistadas por Silva (2001), 58,33% afirmaram que a
gestação traz problemas para os dentes. Os problemas percebidos mais
frequentemente foram: sangramento gengival (28%); queda de restaurações (27%);
dor (25%); e enfraquecimento dos dentes (24%).
No estudo de Bernardes et al. (2002), 39% das gestantes relataram problemas
bucais durante a gestação. Resultados semelhantes foram obtidos por Martins e
46
Martins (2002). A gestação foi responsabilizada pelos problemas bucais em
aproximadamente 40% amostra.
O estudo qualitativo realizado por Oliveira (2002) demonstrou representações
diferentes quanto à relação entre a gestação e problemas bucais. Esta relação obteve
representações positivas, negativas e desconhecidas no grupo abordado.
Em outro estudo da mesma natureza, Albuquerque, Abegg e Rodrigues, em
2004, concluíram que as gestantes percebem a dor de dente como um evento normal
durante este período.
No estudo conduzido por Tiveron, Benfatti e Bausells, em 2004, 60 gestantes
(35,2%) afirmaram que a gestação causa problemas bucais. Destas, 39,8% citaram a
dor de dente como o maior problema que a gestação pode causar.
Entre os problemas bucais associados à gestação investigados por Coutinho et
al. (2005), o sangramento gengival foi o mais percebido pelas gestantes (54%),
especialmente durante a higiene bucal.
Garbero et al. (2005) relataram que a presença de cárie foi atribuída, em 50%
das gestantes investigadas à ingeso de doces e à debilidade física. As alterações
hormonais, a higiene bucal e a presença de lesões derie em estágio avançado
foram consideradas, pela maioria, responsáveis pelo sangramento gengival durante
este período.
No estudo realizado por Habashneh et al. (2005), 43% da amostra
concordaram que pode haver uma relação entre a saúde bucal e os resultados da
gestação, não sendo, estes, especificados pelos autores.
No estudo qualitativo de Codato (2005), as gestantes atribuíram à gestação
algumas alterações bucodentais, tais como a perda de elementos dentários, dor de
dente, alterações na cor dos dentes, gosto amargo na boca, aumento no risco de
cárie e presença de alterações gengivais.
Entre as 70 gestantes investigadas por Araújo et al. (2005), 91% relataram que
os problemas bucais podem causar disfunções na saúde geral. Em 35% da amostra,
os problemas bucais (dor de dente, aumento de cárie e sangramento gengival) foram
atribuídos à gestação. Mais de 20% acreditam na retirada do cálcio dos dentes pelo
feto. O sangramento gengival também foi citado como decorrente da gestação e
percebido como “normal” pelas gestantes no estudo de Leal (2006).
Os resultados obtidos por Silva, Rosell e Valsecki Júnior. (2006) demonstraram
que 46% das gestantes avaliaram sua condição bucal como regular. A maioria (70%)
47
declarou não ter problemas com os dentes, mas 58,7% acreditavam que possuíam
algum problema na gengiva. A dor e/ou desconforto foram os eventos mais
percebidos nesta amostra.
Venâncio (2006) verificou que 81,5% das gestantes que compuseram sua
amostra acreditavam que os problemas bucais afetam a saúde geral e 32,7%
responsabilizavam a gestação por problemas bucais como: sangramento gengival,
enfraquecimento dos dentes e dor de dente.
Das 104 gestantes do serviço privado investigadas por Oliveira Júnior et al.
(2007), 90% não identificaram problemas nos dentes e gengiva durante este período.
Somente duas afirmaram perceber os dentes mais fracos após a gestação.
No estudo de Rosa et al. (2007) sobre autopercepção de saúde bucal de 63
gestantes, verificou-se que a maioria classificou sua saúde bucal como regular
(44,4%). Mais de 30% delas reportaram muita dor de dente durante este período.
2.2.3 Crenças e mitos sobre saúde bucal e assistência odontológica na
gestação
Bernd e Souza (1992), ao avaliarem as percepções das gestantes frente ao
tratamento odontológico, demonstraram que a prática odontológica se reflete como
uma experiência desagradável, marcada pelo medo associado à dor. Duas crenças
populares quanto ao tratamento odontológico foram marcantes: relatos de cirurgiões-
dentistas, familiares e amigos sobre a impossibilidade da gestante submeter-se ao
tratamento e o dano potencial que o tratamento pode ocasionar à criança.
Menino e Bijella (1995) observaram que, durante a gestação, apenas 17,3%
das gestantes incluídas no estudo procuraram por atendimento odontológico. Entre
estas, 42,3% buscaram tratamento de urgência. Entre aquelas que não se
submeteram à consulta odontológica, 52,4% disseram não precisar; 20,2% alegaram
a gestação como motivo; 15,3% responderam ser por falta de condições financeiras; e
12,1% por falta de tempo.
Somente 30% (n=123) das gestantes investigadas por Brano (1998)
relataram visitas regulares ao cirurgião-dentista nas frequências de uma vez/ano
(44%), duas vezes/ano (48%) e três vezes ou mais/ano (17,0%). A dor foi o principal
48
motivo pela procura ao cuidado odontológico (60,5%). Entre as 81 gestantes que
disseram não irem ao cirurgião-dentista, 83,9% alegaram medo de prejudicar ou
perder a criança e cinco foram desaconselhadas por seus médicos a buscarem
tratamento durante este período.
Entre as 100 gestantes investigadas por Santibáñez et al. (1998), 17 relataram
a perda de pelo menos um elemento dentário durante a gestação e 37% destas
mulheres consideraram esta situação como normal. Ao mesmo tempo, 68% das
gestantes mencionaram que procurariam o cirurgião-dentista em caso de
necessidade.
Ao investigar a percepção das gestantes quanto à submissão ao tratamento
odontológico, Barroso (1999) constatou que 46% receavam ou temiam o tratamento
durante a gestação. A crença de que a gestação enfraquece os dentes estava
presente em 54% das gestantes; 46% delas acreditavam que as restaurações caíam
durante o período.
Em 1999, Oliveira e Oliveira investigaram a procura pelo acompanhamento
odontológico em 100 gestantes. A maioria das respondentes (72%) não se sentiu
motivada a procurar um acompanhamento odontológico. Entre aquelas que se
submeteram ao tratamento odontológico neste período (28%), a procura foi motivada
pela presença de dor (12%), pela cárie (11%) e para prevenção (5%).
Em 1999, Vieira, Amorim e Orioli verificaram as principais dúvidas das
gestantes em relação à Odontologia. Das 53 dúvidas identificadas, 29 referiam-se à
submissão ao tratamento odontológico (anestesia local, realização de exodontia,
tratamento endodôntico e tratamento odontológico em geral); 10 foram relacionadas
ao exame radiográfico (submeter-se ao exame e riscos ocupacionais). Herpes labial,
uso de vitaminas com flúor, medicamentos e vacina para hepatite B também foram
mencionados.
As crenças de 80 gestantes foram pesquisadas por Antunes, Rosete e
Fagulha, no ano de 2001. De acordo com os resultados, 61% das respondentes não
acreditavam que a gestação cause perda de dentes. Para mais da metade, ocorre
“perda de cálcio dentário” durante o período. No que diz respeito à possibilidade de
realização de tratamento odontológico durante a fase gestacional, somente 30%
responderam que as gestantes não podem submeter-se ao tratamento.
Gaffield et al. (2001) investigaram as experiências e comportamentos de
gestantes de três Estados americanos. Cuidados odontológicos durante a gestação
49
foram relatados por 22,7 a 34,7% das mulheres. Entre as mulheres que apresentaram
problemas bucais durante a gestação (12,2 a 25,4%), quase a metade procurou o
cirurgião-dentista neste período.
Ao avaliar as atitudes que influenciam a demanda de serviços odontológicos
durante a gestação, Diáz Romero et al. (2001) relataram que a procura pelo
tratamento odontológico foi considerada adequada por 30% das gestantes; 28%
acreditavam em problemas relacionados ao tratamento; e 24% que a consulta era
necessária para o controle da perda de cálcio. Quanto ao tratamento odontológico,
64% das gestantes o estavam seguras de que o mesmo não representava
potencial dano para o feto e 20% acreditavam que radiografias e anestesia poderiam
ser danosas ao feto.
Rosell (2001) avaliou 120 prontuários de gestantes que frequentaram a Clínica
de Prevenção da Faculdade de Odontologia de Araraquara UNESP. Os resultados
demonstraram que o segundo trimestre gestacional foi o período em que as gestantes
mais procuraram o atendimento odontológico (52,5%), sendo seguido pelos terceiro
(27,5%) e primeiro trimestre (20,0%).
Buscando saber a frequência de visita ao cirurgião-dentista e os motivos para
esta freqncia, Silva (2001) demonstrou que somente 29,17% das gestantes
realizaram consultas odontológicas após a gestação sendo a dor o principal motivo
para a consulta (35,42%). Mais da metade da amostra (57,29) acredita que a gestante
não pode ir ao cirurgião-dentista. A crença de que o feto pode “roubar” cálcio dos
dentes das mães foi citada por 36,84% das gestantes; 28,42% afirmaram não saber.
Bernardes et al. (2002) investigaram a frequência da procura pelo tratamento
odontológico durante a gestação. Os resultados indicaram que 55% (n=59) não
procuraram o cirurgião-dentista neste período. Ao serem indagadas a respeito do
tratamento odontológico em caso de necessidade, 45% das gestantes afirmaram que
esperariam o nascimento da criança.
Costa, Saliba e Moreira (2002), num estudo quali-quantitativo, identificaram as
concepções de gestantes acerca do atendimento odontológico. Somente 6,79% da
amostra (n=30) apresentaram concepções desfavoveis ao tratamento durante esta
fase. A imagem do tratamento odontológico pelas gestantes foi identificada, em ordem
decrescente, pelas seguintes expressões: “prevenção”; “medo”; “higiene”; “anestesia”;
“o tratamento faz bem à gestante”.
50
A visita ao cirurgião-dentista foi relatada por aproximadamente 20% das
gestantes investigadas por Martins e Martins (2002). Os principais motivos alegados
para esta atitude foi o medo de prejudicar o feto. Entre as multigestas, 29% acreditam
que o feto pode “roubar” cálcio dos dentes da mãe e que esta é a causa do
enfraquecimento dos dentes.
Oliveira (2002) avaliou a percepção de gestantes num estudo qualitativo. A
análise dos discursos mostrou que a não procura pelo atendimento foi representada
pelas ideias centrais de que gestante não pode realizar tratamento odontológico,
dificuldade em obter tratamento nos postos de saúde, falta de condições financeiras,
descuido ou não identificar necessidade, e falta de tempo.
Entre as 1935 gestantes que compuseram a amostra do estudo de
Christensen, Jeppe-Jensen e Petersen (2003), 92% declararam ter consultado um
cirurgião-dentista nos últimos 12 meses. Nos cinco anos anteriores ao estudo, 88% da
amostra disseram ter consultado um cirurgião-dentista anualmente.
Albuquerque, Abegg e Rodrigues (2004) desenvolveram um estudo qualitativo
com o objetivo de identificar se existem barreiras ao atendimento odontológico e qual
a sua natureza. A análise dos dados demonstrou que as barreiras relacionadas são: a
baixa percepção da necessidade de tratamento associada à crença cultural que
desaconselha o tratamento odontológico. O tratamento odontológico representava
riscos quanto à anestesia, hemorragias e perigos para o feto. O medo e a ansiedade
frente ao tratamento odontológico foram identificados.
As crenças e o medo ao tratamento odontológico também foram identificadas
por Tiveron, Benfatti e Bausells (2004). Do total de gestantes (n=170), 141 não
procuraram o cirurgião-dentista durante o pré-natal. Os motivos alegados foram: os
dentes pareciam bons e não havia dor (56,7%); a anestesia faz mal ao feto (17,0%); e
não se pode tratar de dente durante a gestação (17,0%).
Das 24 gestantes avaliadas por Coutinho et al. (2005), aproximadamente 54%
declararam que foram submetidas ao tratamento odontológico nos últimos 12 meses.
O principal motivo para a presença das gestantes à consulta odontológica foi o
encaminhamento pelo serviço de pré-natal, sendo a consulta espontânea pouco
numerosa.
Um estudo transversal realizado em 2005 por Garbero, Delgado e Cárdenas
teve como propósito explorar os conhecimentos e atitudes de gestantes do serviço
privado (Grupo I) e do serviço público (Grupo II). Foi significativamente maior o
51
número de gestantes do Grupo I que reconheciam que poderiam receber tratamento
odontológico sem riscos durante a gestação (P0,01), bem como o mero de
gestantes que recebeu atenção odontológica neste período (P<0,0001). Em
contrapartida, o Grupo II apresentou maior frequência de encaminhamento ao serviço
de Odontologia pelo médico ginecologista/obstetra ou equipe de pré-natal (P0,01). A
crença de um possível efeito nocivo ao feto em fuão do tratamento odontológico
estava presente em 26,5% das gestantes do serviço privado e 54,7% das gestantes
do serviço público.
Ao investigar a utilização do serviço odontológico durante a gestação,
Habashneh et al. (2005) demonstraram que 49% visitaram o cirurgião-dentista
durante este período. As principais razões para não consultarem um cirurgião-dentista
foram: o apresentar problemas (89%); e preferir submeter-se à consulta após a
gestação. Entre as gestantes que participaram do estudo, 53% não acreditavam que
perderiam cálcio dos dentes para o desenvolvimento do feto.
Honkala e Al-Ansari (2005) relataram que pouco mais da metade (52%) da
amostra de gestantes frequentou o consultório odontológico durante o período. As
principais razões apontadas para a visita ao cirurgião-dentista foram: necessidade de
tratamento (50%); experiência de dor de dente (30%); “limpeza” (10%); e consulta de
rotina (7%).
As gestantes incluídas no estudo qualitativo de Codato (2005) acreditavam que
a gestação leva à perda de cálcio dos dentes e faz as restaurações caírem. A
assistência odontológica durante a gestação parece estar relacionada à oportunidade
de atenção específica e não com uma necessidade durante o período. As gestantes
mostraram-se abertas ao tratamento de problemas bucais inadiáveis, desde que
autorizado pelo médico. Algumas apontaram restrições ao tratamento odontológico
em função dos riscos que este pode representar para o feto.
Leal (2006) também demonstrou com seus resultados que a busca pelo serviço
odontológico pelas gestantes se quase sempre mediante os sinais e/ou sintomas
bucais. O autor ressaltou que muitas gestantes temem o tratamento por medo que
certos procedimentos possam interferir na saúde fetal e transferir sensações de dor
ou sofrimento para a criança. Este medo é reforçado por pessoas com quem a
gestante convive. O enfraquecimento dos dentes pela gestação, a perda de
elementos dentários e a retirada do cálcio dos dentes da mãe para o feto o outras
crenças comuns durante esta fase.
52
Embora 80,76% das gestantes (n=260) investigadas por Venâncio (2006)
acreditassem necessitar de tratamento odontológico, e 69,9% delas afirmarem que
tinham algum problema bucal, a maioria não procurou o cirurgião-dentista. Os
principais motivos alegados para esta conduta variaram de medo à falta de acesso.
Entre as gestantes usuárias do serviço privado que constituíram a amostra do
estudo de Oliveira nior et al. (2007), 58% responderam que procurariam
atendimento odontológico durante a gestação e 42% afirmaram que só o fariam após
a criança nascer.
Rosa et al. (2007) investigaram o acesso aos serviços odontológicos em 63
gestantes. A maioria das participantes (n=55; 87,3%) declararam terem ido ao
cirurgião-dentista pelo menos uma vez na vida. Foi também encontrado que 12,7%
(n=8) nunca tinham ido ao cirurgião-dentista.
Os estudos revisados demonstraram que as gestantes identificaram a cárie
dentária e doença periodontal como as doenças bucais mais comuns. Os hábitos de
dieta parecem modificar-se neste período, tornando-se mais frequentes. Em
contrapartida, os resultados da maioria dos estudos indicaram que os hábitos de
higiene bucal são mantidos.
É sugerido na literatura que a maior parte das gestantes percebe problemas
bucais neste período (cárie, sangramento gengival, dor de dente, perda de
restaurações e elementos dentários) e relaciona a saúde bucal à saúde geral. No
entanto, até o momento, nenhum estudo parece ter investigado os conhecimentos e
as atitudes acerca da possível associação entre os problemas bucais e evolução e
desfecho da gestação.
Apesar de as gestantes identificarem os problemas bucais e perceberem
alterações na cavidade bucal, elas ainda não incorporaram a assistência odontológica
durante a gestação como prática sistemática. As crenças populares relacionadas à
condição bucal e ao tratamento odontológico interferem de maneira negativa na
procura espontânea por atendimento. Em sua maioria, os temores das gestantes com
relação ao tratamento odontológico associam-se aos possíveis danos que o mesmo
pode acarretar ao feto.
53
3 HIPÓTESES
Os hábitos de dieta e higiene bucal das gestantes são inadequados.
As gestantes desconhecem a relação bidirecional entre saúde bucal e
gestação.
As gestantes possuem crenças e mitos relacionados à saúde bucal e
assistência odontológica na gestação.
54
4 OBJETIVOS
4.1 OBJETIVO GERAL
Avaliar as atitudes de gestantes usuárias do serviço público de Juiz de Fora
MG frente à saúde bucal.
4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Construir e validar um instrumento para mensurar as atitudes das gestantes
frente à saúde bucal.
Identificar atitudes favoráveis e desfavoveis frente à dieta e higiene bucal,
relação bidirecional entre a saúde bucal e gestação e crenças e mitos acerca
da saúde bucal e assistência odontológica entre as gestantes entrevistadas.
Verificar a associação entre as características demográficas, socioeconômicas
e história gestacional atual e pregressa e atitude do grupo de gestantes
pesquisado.
55
5 METODOLOGIA
5.1 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO
Os trabalhos citados foram selecionados por meio de pesquisa bibliográfica de
textos indexados na base de dados BIREME:
MEDLINE.
SCIELO (Scientific Electronic Library Online).
Pubmed.
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS).
Bibliografia Brasileira de Odontologia (BBO).
Base de Dados da Enfermagem (BDENF).
Literatura do Caribe em Ciências da Sde (MEDCARIBE).
Sistema de Informação da Biblioteca da OMS (WHOLIS).
Revisões Sistemáticas da Colaboração Cochrane (COCHRANE).
Também foi realizada pesquisa bibliográfica de fontes não indexadas (busca
ativa) em revistas, livros e trabalhos monográficos.
Os unitermos utilizados na pesquisa bibliográfica, listados abaixo, foram
utilizados isoladamente e/ou combinados entre si:
Atitudes – Attitudes.
Conhecimentos – Knowledge.
Crenças – Beliefs.
Mitos – Myths.
Percepção em saúde – Health perception.
Práticas – Practices.
Comportamento – Behaviour.
Qualidade de vida – Quality of life.
Questionários – Questionnaire.
Validação – Validation.
Consistência interna – Internal consistency.
Confiabilidade – Reliability.
56
Validade – Validity.
Promoção de saúde – Health promotion.
Fatores socioeconômicos – Socio-economic factors.
Fatores culturais – Cultural factors.
Condições sociais Social conditions.
Indicadores demográficos – Demographic indicators.
Acesso aos serviços de saúde – Access to health services.
Saúde bucal – Oral Health.
Odontologia – Dentistry.
Gestação – Pregnancy.
Doença periodontal – Periodontal disease.
Cárie dentária – Dental caries.
Streptococcus mutansStreptococcus mutans.
Saliva – Saliva.
Prematuridade – Prematurity.
Recém-nascido de baixo peso – Infant, low birth weight.
Interleucina – Interleukin.
Prostaglandina – Prostaglandin.
Fatores de risco – Risk factors.
5.2 LOCAL DO ESTUDO
O estudo foi desenvolvido na cidade de Juiz de Fora, no Estado de Minas
Gerais, Região Sudeste do Brasil. A área territorial do município é de 1.437km
2
e a
população estimada em 01/04/2007 de 513.348 habitantes (IBGE, 2000).
Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) do município (JUIZ
DE FORA, 2004), a organizão dos servos de saúde tem base territorial com a
regionalização da rede assistencial que compõe o Sistema Único de Saúde (SUS). O
município é subdividido em oito Regiões Administrativas (RA). Destas, sete localizam-
se na área urbana (RA Norte, RA Nordeste, RA Leste, RA Centro, RA Oeste, RA Sul,
57
RA Sudoeste) e uma na área rural (RA do Campo) do município (Mapa 1). A cada RA
cabe um espaço geográfico, populacional e administrativo de sua abrangência.
Mapa 1 Mapa de Juiz de Fora, segundo regiões administrativas.
(Fonte: Atlas Social, 2006).
Em média, 23 unidades de assistência fazem parte de uma RA, constituída de
Unidades Básicas de Saúde (UBS), Equipes de Programa de Saúde da Família
(PSF), Hospitais e Unidades de Referência. Atualmente, a Rede Municipal de Saúde
de Juiz de Fora conta com 57 UBS, 82 Equipes de PSF, 13 Hospitais e oito Unidades
de Referência. A distribuição das unidades de assistência nas RA do município é
apresentada abaixo (Tabela 1).
Tabela 1 – Distribuição das unidades de assistência nas RA de Juiz de Fora – MG
Região Administrativa
(RA)
Área UBS (N) PSF (N) Hospital (N) Unidade de
Referência (N)
RA Norte Urbana 11 23 1 -
RA Nordeste Urbana 5 7 2 -
RA Leste Urbana 8 21 1 -
RA Centro Urbana 3 3 7 8
RA Oeste Urbana 3 2 - -
RA Sul Urbana 5 10 1 -
RA Sudoeste Urbana 7 13 1 -
RA Campo Rural 15 3 - -
Total - 57 82 13 8
58
5.3 DELINEAMENTO DO ESTUDO
O estudo, do tipo transversal, foi desenvolvido conforme o fluxograma
esquemático apresentado a seguir (Fluxograma 1).
Fluxograma 1 – Fluxograma esquemático do estudo.
Terceira fase
Contato com a Secretaria Municipal de Saúde de Juiz de Fora –
MG
Obtenção da população assistida por Região Administrativa (RA)
Cálculo da amostra
Apreciação do Projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFJF
DESENVOLVIMENTO DO E
STUDO
Primeira fase
Segunda fase
Tratamento e interpretação dos dados
59
5.4 CÁLCULO DA AMOSTRA
O número de gestantes necessárias para o estudo foi determinado por lculo
amostral, por meio da utilização da fórmula de cálculo de expectativa populacional
para a ocorrência de doenças, proposta por Jekel, Katz e Elmore (2005) e descrita
abaixo:
n = N Z
2
p (1 – p)
d
2
(N – 1) + Z
2
p (1 – p)
onde:
N: total da população
Z: intervalo de confiança
p: proporção da população com o evento pesquisado
d: efeito do desenho
Para o cálculo amostral foram utilizados os dados do Sistema de Informações
de Nascidos Vivos (SINASC/JF) do ano 2004. Considerou-se o total de 6.729
nascimentos ao ano. Destes, 73,3% ocorreram no serviço público do município. A
partir destes dados, foi estimada uma gestante para cada nascido vivo, resultando no
total da população de 4.937 gestantes.
Como evento pesquisado, considerou-se a prevalência de doença periodontal
em gestantes (70%). A precisão requerida foi de 95% (1α) e erro admissível de 5%.
Obteve-se, assim, o número mínimo (n) de 303 gestantes.
5.5 CASUÍSTICA
A população estudada incluiu gestantes atendidas nas UBS do SUS de Juiz de
Fora – MG localizadas na área urbana do município.
Foram incluídas as gestantes que consentiram na sua participação no estudo,
sem distinção de raça, idade, vel socioeconômico ou escolaridade. Foram excluídas
as gestantes portadoras das seguintes alterações: diabetes, imunossupressão em
60
decorrência de comprometimentos sistêmicos, usuárias de medicamentos
anticonvulsivantes ou ansiolíticos, e aquelas submetidas a tratamento ortodôntico.
As participantes foram selecionadas por meio de uma distribuição de
amostragem proporcional à real distribuição da população atendida nas RA de Juiz de
Fora – MG, segundo os dados fornecidos pela SMS (SILVA, 2006).
A SMS forneceu a frequência absoluta referente à população e aos nascidos
vivos, no ano de 2005 (SINASC/JF), em cada RA localizada na área urbana do
município. A obtenção do número de gestantes incluídas por RA considerou uma
gestante por nascido vivo e seguiu a distribuição proporcional por RA (Tabela 2).
Tabela 2 – Número de gestantes (N) a serem incluídas, por RA de Juiz de Fora – MG
Região Administrativa
(RA)
População
(N)
% Nascidos
vivos (N)
% Gestantes (N)
RA Norte 100141 20 1631 25 76
RA Nordeste 53342 11 631 10 30
RA Leste 87479 18 1252 19 58
RA Centro 103117 21 1011 15 46
RA Oeste 29452 6 431 7 21
RA Sul 55693 11 841 13 39
RA Sudoeste 60607 13 735 11 33
Total 489831 100 6532 100 303
Inicialmente, foram selecionadas, por meio de sorteio aleatório, UBS de todas
as RA para a coleta dos dados (SILVA, 2006). Após o sorteio, foi realizado, conforme
solicitado pela Secretaria Municipal de Saúde, um contato com o gerente de cada
UBS, a fim de obter sua autorização para a coleta de dados, bem como o
agendamento de local, data e horário para sua realização.
No decorrer do estudo, foram incluídos outros locais para agilizar a coleta de
dados sem, contudo, comprometer a distribuição proporcional de amostragem por RA.
A Santa Casa de Misericórdia, o Instituto de Saúde da Mulher e o Hospital e
Maternidade Therezinha de Jesus foram incluídos por concentrarem grande parte das
consultas de pré-natal do SUS, no município de Juiz de Fora, após autorização escrita
de seus responsáveis legais.
61
5.6 ASPECTOS ÉTICOS
O presente estudo seguiu as normas e diretrizes da Resolução 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde.
Após a apreciação do Projeto de Pesquisa pelo Secretário Municipal de Saúde,
foi obtida a autorização para a realização do estudo na Instituição. A folha de rosto
para pesquisa envolvendo seres humanos foi assinada no dia 23 de julho de 2007
(Anexo 1).
Em seguida, o Projeto de Pesquisa foi encaminhado ao Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Federal de Juiz de Fora MG, tendo sido aprovado em 16
de agosto de 2007 (Parecer 256/2007 – Anexo 2).
O processo de investigação foi conduzido após as gestantes selecionadas, ou
seus responsáveis legais, receberem as informações relativas ao estudo e
concordarem com sua participação, assinando o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (Apêndice 1).
Todas as gestantes participantes do estudo foram encaminhadas ao projeto de
extensão “Projeto -Riso Atenção Materno-Infantil”, da Faculdade de Odontologia
da Universidade Federal de Juiz de Fora MG. Este projeto atende gestantes
usuárias do serviço público do município e região e é desenvolvido na Sala de Clínica
n
o
06 da FO-UFJF, às segundas-feiras, das 13:00h às 17:00h e às para quartas-feiras
13:00h às 17:00h. As gestantes que procuraram o Projeto Só-Riso tiveram a garantia
de tratamento, em nível de atenção primária, neste local e horário, respeitando-se a
ordem de inscrição. Os recém-nascidos destas mulheres também foram incluídos no
respectivo projeto para o acompanhamento e tratamento odontológico, em todos os
veis de atenção, de 0 aos 3 anos de idade, segundo os mesmos critérios adotados
para as gestantes.
5.7 MATERIAL E MÉTODOS
O presente estudo foi desenvolvido em três fases, a saber:
62
Primeira fase
A primeira fase teve como objetivo a criação de itens para um formulário
fechado destinado a avaliar as atitudes das gestantes frente à saúde bucal. Para isto,
foi elaborado um Roteiro de Entrevista com base na literatura visando o objeto do
estudo (Apêndice 2). Este roteiro de entrevista apresentou questões abertas e
fechadas relativas aos dados sociodemográficos e queses abertas norteadoras
relacionadas à história gestacional, hábitos de dieta e higiene bucal, relação entre
saúde bucal e gestação e assistência odontológica na gestação.
O roteiro de entrevista foi construído visando avaliar qualitativamente as
atitudes das gestantes frente aos itens propostos. Para Minayo (2004), a pesquisa
qualitativa preocupa-se com um nível de realidade que o pode ser quantificado,
trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e
atitudes. Para o autor, a pesquisa qualitativa é importante para compreender os
valores culturais e as representações de determinado grupo sobre temas específicos.
Esta fase do estudo foi desenvolvida utilizando como casstica as gestantes
atendidas no “Projeto Só-Riso Atenção Materno-Infantil”, apresentado
anteriormente. Somente gestantes agendadas para a primeira consulta foram
convidadas a participarem do estudo, a fim de evitar vieses e possíveis
direcionamentos de respostas em função das orientações recebidas como rotina do
respectivo projeto.
O Roteiro de Entrevista foi aplicado às gestantes, individualmente, por meio de
entrevistas realizadas em uma sala destinada a este fim. É importante ressaltar que
as questões norteadoras puderam adaptar-se aos conteúdos manifestos pelos
sujeitos de pesquisa, não seguindo, necessariamente, uma sequência uniforme
(CODATO, 2005). Segundo Bauer e Gaskell (2003), o objetivo da entrevista é a
compreensão detalhada de crenças, atitudes, valores e motivações relacionadas ao
comportamento de pessoas, em contextos sociais específicos, nos quais as perguntas
funcionam como um convite ao entrevistado para refletir e falar sobre determinado
assunto.
As entrevistas foram gravadas pela pesquisadora em aparelho MP3. Para
Shraiber (1995), o uso do gravador permite a ampliação do poder de registro, pois
capta um conjunto amplo de elementos de comunicação como pausas de reflexão,
vidas, entonação de voz, expressões de crítica, entusiasmo e surpresa que
auxiliam na compreensão da própria narrativa.
63
O número de entrevistas foi determinado pelo critério de saturão dos dados
ou redundância dos conteúdos expressos pelas gestantes (CODATO, 2005).
As entrevistas foram transcritas pela pesquisadora de forma integral e literal,
com o objetivo de manter a maior fidelidade possível das expressões, termos e
conteúdos manifestados pelas entrevistadas. Em seguida, foram realizadas leituras e
audições simultâneas visando identificar e corrigir possíveis falhas de transcrição.
No momento seguinte, o material foi lido e analisado e todo seu conteúdo foi
transformado em itens para a elaboração do formulário fechado (MORANDINI, 2006).
A análise qualitativa das entrevistas gerou um instrumento com 29 questões relativas
aos dados sociodemográficos e com 112 itens de atitudes frente à saúde bucal
(Apêndice 3).
Segunda fase
Um comitê de juízes constituído por quatro pesquisadores com experiência no
atendimento de gestantes realizou a análise da validade aparente dos itens gerados
na etapa anterior. Embora esta avaliação seja subjetiva, é importante para identificar
se os itens gerados estão realmente avaliando as características que o investigador
deseja (CUMMINGS; STEWART; HULLEY, 2006). Os pesquisadores também
opinaram sobre o agrupamento dos itens segundo os aspectos que julgaram
importantes na avaliação da saúde bucal de gestantes.
As opções de resposta para os itens de atitude foram construídas numa escala
tipo Likert. Para Günther (2003), este tipo de mensuração é especialmente utilizado
em levantamentos de atitudes, opiniões e avaliações. Segundo Oppenheim (1992), a
escala tipo Likert é uma escala unidimensional, ou seja, avalia atitudes do indivíduo
como um continuum para cada afirmão. Luiz, Costa e Nadanovsky (2005)
acrescentam, ainda, que tal medida reconhece a oposição entre contrários, a direção
de crescimento (gradiente) e o conceito de intermediário.
As escalas tipo Likert geralmente usam quatro ou cinco alternativas, embora se
encontrem também itens com duas, três ou até nove alternativas. Quanto ao número
de alternativas utilizadas, o importante é que estejam balanceadas, isto é, que
existam alternativas positivas, negativas e um “ponto do meio” nem positivo nem
negativo. Este cuidado evita uma avaliação enviesada em direção positiva ou
negativa (GÜNTHER, 2003). Neste estudo, para cada item formulado as gestantes
responderam conforme uma das três possibilidades: Concordo; Não sei; ou Discordo.
64
A análise da validade aparente resultou na eliminação de 27 itens. Este
procedimento resultou na versão inicial do instrumento, composto por 29 questões
relativas aos dados sociodemográficos e 85 itens de atitudes relacionados aos hábitos
de dieta e higiene bucal, relação bidirecional entre saúde bucal e gestação e crenças
e mitos acerca da saúde bucal e assistência odontológica (Apêndice 4).
Terceira fase
Na terceira fase do estudo, realizou-se a coleta dos dados. A versão inicial do
instrumento foi aplicada à casstica descrita anteriormente por meio entrevista
individual realizada pela pesquisadora, nas UBS selecionadas e em outros locais
incluídos.
5.8 TRATAMENTO E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
Para criação do banco de dados, foi utilizado o programa Excel para Windows.
Os dados de cada variável foram revisados procurando-se identificar potenciais
outliers e os erros identificados foram corrigidos. A análise estatística dos dados foi
realizada por meio do pacote estatístico SPSS para Windows (versão 10).
Os dados obtidos foram tabulados e utilizados para a validação do formulário
por meio do método da consistência interna determinado pelo alfa de Cronbach (α de
Cronbach). Esta propriedade diz respeito à existência de correlação entre os
diferentes itens que compuseram o instrumento e entre cada item com a pontuação
total, isto é, diz respeito à homogeneidade do instrumento de pesquisa. A
confiabilidade está relacionada à clareza e consistência de uma medida e representa
a probabilidade de obtenção dos mesmos resultados se o instrumento for novamente
aplicado (LUIZ; COSTA; NADANOVSKY, 2005).
A análise da consistência interna, realizada mediante avaliação do
comportamento de cada item foi importante para definir quais itens deveriam ser
mantidos ou removidos no instrumento para as análises finais.
Para a análise das atitudes das respondentes (variável dependente), as
repostas para os itens de atitudes foram transformadas em escores. O escore mais
alto foi atribuído à resposta mais favorável para o item, numa escala de 1 a 3. A
65
somatória dos escores obtidos para cada uma das afirmativas resultou no escore total
de cada participante.
Para verificar a associação entre as variáveis independentes (características
demográficas, socioeconômicas e história gestacional atual e pregressa) e a atitude
(variável dependente) foi utilizado o teste de Mann-Whitney que comparou grupos por
meio de postos ou ranks (ALVES, 2007). O nível de significância adotado foi de 5%
(α=0,05; P0,05).
66
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
6.1 CONSTRUÇÃO E VALIDÃO DE UM INSTRUMENTO PARA AVALIAR
ATITUDES DE GESTANTES EM RELAÇÃO À SAÚDE BUCAL.
Manuscrito redigido segundo as normas do Periódico Community Destistry and
Oral Epidemiology.
67
Título em Português: Construção e validação de um instrumento para avaliar
atitudes de gestantes em relação à sde bucal.
Título em Inglês: Development and validation of a questionnaire measuring attitudes
towards oral health among pregnant women.
Autores:
1. Renata Tolêdo Alves RT Alves: Doutora; Disciplina Odontopediatria
(Professora Substituta); Departamento de Odontologia Social e Infantil;
Faculdade de Odontologia; Universidade Federal de Juiz de Fora; Juiz de Fora;
Minas Gerais; Brasil.
2. Aline da Silva Oliveira
AS Oliveira: Mestre pelo Programa de Pós-
Graduação em Saúde; Faculdade de Medicina; Universidade Federal de Juiz
de Fora; Minas Gerais; Brasil. Bolsista da CAPES.
3. Luiz Cláudio Ribeiro LC Ribeiro: Doutor; Disciplina Estatística Aplicada
(Professor Adjunto); Departamento de Estatística; Instituto de Ciências Exatas;
Universidade Federal de Juiz de Fora; Juiz de Fora; Minas Gerais; Brasil.
4. Rosangela Almeida Ribeiro
RA
Ribeiro: Doutora; Disciplina
Odontopediatria (Professora Titular); Departamento Odontologia Social e
Infantil; Faculdade de Odontologia; Universidade Federal de Juiz de Fora; Juiz
de Fora; Minas Gerais; Brasil.
68
RESUMO
Objetivo: Descrever as etapas envolvidas na construção e validação de um
instrumento para avaliar atitudes de gestantes usuárias do serviço público em relação
à saúde bucal. Método: A metodologia qualitativa foi utilizada para gerar itens para
avaliar as atitudes em relação à saúde bucal na gestação. Os itens foram submetidos
à validação aparente para garantir que todos eram relacionados ao objeto de estudo e
claramente positivos ou negativos. A versão inicial do instrumento foi aplicada a uma
amostra representativa de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil. Os dados obtidos foram
utilizados para avaliar a confiabilidade do instrumento pelo método da consistência
interna determinado pelo alfa (α) de Cronbach. Resultados: A análise qualitativa das
respostas a uma entrevista realizada com nove gestantes gerou um instrumento com
112 itens cujas respostas foram construídas numa escala tipo Likert de três pontos
(Concordo; Não sei; ou Discordo). Quatro pesquisadores experientes revisaram os
itens. Obteve-se, eno, a primeira versão do instrumento, composto por 85 itens que
foi aplicada a uma amostra de 312 gestantes. A avaliação da confiabilidade do
instrumento resultou em uma escala denominada “Escala de Atitudes frente à Saúde
Bucal” (EA-SB), constituída de 55 itens de atitudes (α=0,82), divididos em três
subescalas: Dieta e higiene (α=0,71); Relação bidirecional (α=0,74); e Crenças e
mitos (α=0,76). Conclusões: É possível construir um instrumento confiável para
avaliar as atitudes de gestantes usuárias do serviço público em relação à saúde
bucal. Sugere-se a aplicação da EA-SB em outras populações de gestantes e/ou em
contextos sociais diferentes para confirmar a confiabilidade e validade da escala.
Descritores: Atitudes. Gestação. Saúde bucal. Validação.
69
ABSTRACT
Purpose: The aim is to describe the steps involved in the development and validation
of an instrument in order to evaluate attitudes towards oral health among pregnant
women who use public services. Method: The qualitative methodology was used to
create questions in order to evaluate the attitude towards oral health during
pregnancy. The questions were submitted to apparent validation to guarantee that all
were related to the object of study and clearly positive or negative. The initial version
of the instrument was applied to a representative sample of Juiz de Fora, Minas
Gerais, Brazil. The obtained data were used to evaluate the reliability of the instrument
using the internal consistency method determined by Cronbach’s alpha (α). Results:
The qualitative analysis of answers given by nine pregnant women in the interview
created an instrument with 112 questions whose answers were developed in scale
such as the three-point Likert Scale (Agree; Don’t know; Disagree). Four renowned
researchers reviewed the questions. The first version of the instrument was then
obtained. It was composed of 85 questions and was applied to a sample of 312
pregnant women. The reliability evaluation of the instrument resulted in a scale called
“Attitude Scale towards Oral Health” (AS-OH), made of 55 attitude questions (α=0.82),
divided into three subscales: Diet and hygiene (α=0.71); Bidirectional relationship
(α=0.74) and Myths and beliefs (α=0.76). Conclusions: It is possible to develop a
reliable instrument to evaluate the attitudes of pregnant women using the Public
Services towards oral health. The use of AS-OH is here suggested for other
populations of pregnant women and/or other different social contexts in order to
confirm the reliability and validity of the scale.
Descriptors: Attitudes. Pregnancy. Oral Health. Validation.
70
INTRODUÇÃO
As atitudes são definidas como o conjunto de crenças, sentimentos e
tendências comportamentais dos sujeitos frente a um determinado objeto social. São
as atitudes que determinam como os indivíduos tomam posições frente aos outros e
aos acontecimentos e é em função delas que se avaliam sentimentos,
comportamentos e escolhas. As atitudes constituem-se, assim, em poderosos
preditores do comportamento (1).
O comportamento capaz de criar riscos ou benefícios para a saúde pode ser
considerado um determinante da saúde (2) e, frequentemente, é negligenciado no
diagnóstico das condições de saúde/doença de grupos populacionais. Esta postura
ignora aspectos importantes, que precisam ser considerados na avaliação de
condições de saúde de modo a tornar possível a abordagem mais efetiva dos
indivíduos pelos profissionais de saúde (3).
Segundo as diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal, as ações e
serviços devem ser resultado de um adequado conhecimento da realidade de saúde
de cada localidade para, a partir disso, construir uma prática efetivamente resolutiva.
Gestores, profissionais da saúde e usrios devem ter consciência dos aspectos que
condicionam e determinam um dado estado de saúde. A reorientação do modelo de
atenção em saúde bucal deve pressupor a utilização da epidemiologia subsidiando o
planejamento das ações (4).
Frente à necessidade de incluir aspectos comportamentais no diagnóstico das
condições de saúde/doença bucal para grupos específicos, como as gestantes, a
avaliação das atitudes torna-se imprescinvel, pois estas são um importante
componente na explicação dos comportamentos (5). Este conhecimento poderá
subsidiar o planejamento e execução de programas específicos de educação e/ou
atenção odontológica que respeitem às características da população ao qual serão
aplicados. Contudo, o estudo das atitudes requer instrumentos confiáveis e válidos
(6).
Os poucos estudos até então conduzidos com instrumentos validados em
populações de gestantes foram limitados a investigar a autopercepção das condições
bucais e o impacto das mesmas sobre a qualidade de vida (7-9).
Desta forma, este estudo se propôs a descrever as etapas envolvidas na
construção e validação de um instrumento para mensurar as atitudes de gestantes
usuárias do serviço público em relação à saúde bucal.
71
MÉTODO
Os dados apresentados foram obtidos como parte de um estudo transversal
destinado a avaliar as atitudes de gestantes usuárias do serviço público de Juiz de
Fora em relação à saúde bucal. O município, com população estimada em 513.348
habitantes em 2007, possui área territorial de 1.437km
2
e
localiza-se no Estado de
Minas Gerais, Região Sudeste do Brasil (10).
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Federal de Juiz de Fora. Cada participante, após ser devidamente esclarecida,
consentiu em sua participação por meio da assinatura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido.
Os dados foram coletados por entrevista individual conduzida pelo pesquisador
principal (RTA).
O número de gestantes necessárias ao estudo foi determinado por cálculo
amostral, segundo fórmula de lculo de expectativa populacional para a ocorrência
de doenças (11). Considerou-se a prevalência média de doença periodontal igual a
70% (12) e uma gestante para cada nascido vivo entre os 73,3% dos nascimentos
que ocorrem no serviço público, segundo os dados do Sistema de Informão de
Nascidos Vivos (4.937 nascimentos/ano), com precisão requerida de 95% (1 α) e
erro admissível de 5%. Uma amostra de 303 gestantes foi considerada satisfatória.
A população do estudo constituiu-se de gestantes agendadas para a consulta
pré-natal em Unidades de Saúde que compõem o Sistema Único de Saúde (SUS) de
Juiz de Fora, selecionadas por meio de uma distribuição de amostragem proporcional
à real distribuição da população atendida nas Unidades de Saúde do município
segundo os dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Saúde (13). A fim de
permitir maior rapidez à coleta de dados e minimizar custos com deslocamento,
também foram incluídos centros de referência ao atendimento pré-natal no serviço
público. As gestantes cadastradas foram alocadas aleatoriamente por sorteio de uma
sequência de números gerados pelo registro das pacientes nas respectivas unidades.
Foram incluídas gestantes em boas condições de saúde, sem distinção de raça, nível
socioeconômico ou escolaridade. Gestantes portadoras de diabetes ou
imunodepressão por comprometimentos sistêmicos, edêntulas, usuárias de aparelho
ortodôntico, usuárias de drogas anticonvulsivantes ou ansiolíticas foram excluídas.
72
Construção do instrumento
Geração de itens
A primeira etapa de construção do instrumento teve como objetivo criar itens
para avaliar as atitudes em relação à saúde bucal na gestação. Para isto, utilizou-se
metodologia qualitativa, uma vez que esta permite alcançar aspectos subjetivos e
comportamentais do indivíduo, possibilitando uma compreensão particular do objeto
de estudo (14, 15).
Foi elaborado um roteiro de entrevista semiestruturado que incluiu dados
demográficos e socioeconômicos segundo critérios da Associação Brasileira de
Empresas de Pesquisas (16) e questões norteadoras relacionadas à saúde bucal na
gestação. O número de gestantes necessárias a esta etapa da construção do
instrumento foi determinado pela saturação dos dados ou redundância dos conteúdos
manifestos (17).
As entrevistas foram realizadas individualmente e gravadas pelo pesquisador
principal em aparelho MP3 e, posteriormente, foram transcritas de forma integral e
literal, com o objetivo de manter a maior fidelidade possível dos conteúdos,
expressões e termos. A análise qualitativa dos conteúdos manifestos pela população-
alvo, durante as entrevistas, gerou os itens de atitudes.
Validação aparente
Um comitê de juízes constituído por quatro pesquisadores com experiência no
atendimento de gestantes realizou a análise da validade aparente dos itens gerados
na etapa anterior. Isto permitiu a obtenção de uma versão inicial do instrumento
composta de itens claros, simples e relacionados ao objeto de estudo (18). Os
pesquisadores tamm opinaram sobre o agrupamento dos itens segundo os
aspectos que julgaram importantes na avaliação da saúde bucal de gestantes.
As opções de resposta para os itens foram construídas numa escala tipo Likert.
Este tipo de escala é especialmente utilizado em levantamentos de atitudes, opiniões
e avaliações (19). Neste estudo, para cada item formulado as gestantes responderam
conforme uma das três possibilidades: Concordo; Não sei; ou Discordo.
73
Confiabilidade do instrumento
A confiabilidade do instrumento foi avaliada após a aplicação da versão inicial
do instrumento à amostra anteriormente descrita. Os dados foram obtidos por meio de
entrevista realizada pelo pesquisador principal nas Unidades de Saúde.
Para criação do banco de dados e análise estatística foi utilizado o pacote
estatístico SPSS para Windows (versão 10). Os dados de cada variável foram
digitados de forma independente por dois pesquisadores (RTA e ASO) e, em seguida,
foram revisados para identificar potenciais outliers. Os erros identificados foram
corrigidos.
O método da consistência interna foi escolhido para avaliar a confiabilidade do
instrumento e, para isto, calculou-se o valor do coeficiente do alfa (α) de Cronbach,
que é o mais utilizado quando a escala é ordinal de três ou mais pontos (politômica ou
não dicotômica) (20).
A confiabilidade esrelacionada à clareza e consistência de uma medida e
representa a probabilidade de obtenção dos mesmos resultados se o instrumento for
novamente aplicado. Esta propriedade diz respeito à existência de correlação entre os
diferentes itens que compuseram o instrumento e entre cada item com a pontuação
total (21).
Para o cálculo deste coeficiente, a necessidade de que os itens sejam
codificados em valores numéricos (22), o que foi realizado mediante a transformão
das respostas para os itens de atitudes em escores. Para cada item, atribuiu-se 3
pontos à resposta mais favorável; 2 pontos à resposta intermediária; e 1 ponto à
resposta menos favorável.
A análise da consistência interna, realizada mediante avaliação do
comportamento de cada item foi utilizada para definir quais itens deveriam ser
mantidos ou removidos para a obtenção da versão final do instrumento. Itens que
apresentaram baixa correlação com o total (inferior a 0,15) (23), cuja supressão
contribuiu para o aumento do valor do α de Cronbach (24), foram excluídos.
Em seguida, obteve-se o escore por gestante pelo método aditivo, isto é, a
soma dos escores obtidos em cada item que constituiu a versão final do instrumento
(7). O escore obtido por cada gestante permitiu a classificação das atitudes em
favorável ou desfavorável.
74
RESULTADOS
Geração de itens
Nove gestantes que preencheram os critérios de inclusão participaram desta
etapa do estudo e possibilitaram a saturação dos dados. A análise dos conteúdos
transcritos possibilitou a geração de 112 itens de atitudes.
Validação aparente
A análise da validade aparente resultou na eliminação de 27 itens. Este
procedimento resultou na versão inicial do instrumento, composto de 85 itens de
atitudes com as opções de resposta anteriormente descritas.
Os itens foram agrupados em três partes, abordando diferentes aspectos da
saúde bucal durante a gestação. A primeira foi composta de 31 itens e refletiu as
atitudes das gestantes frente à dieta e higiene bucal. A segunda, com 27 itens,
avaliou as atitudes das gestantes frente à relação bidirecional entre saúde bucal e
gestação. Os 27 itens restantes compuseram a terceira parte do instrumento e tratou
das atitudes relativas a crenças e mitos frente à saúde bucal e assistência
odontológica durante a gestação.
Confiabilidade do instrumento
Para a aplicação da versão inicial do instrumento de pesquisa, foram
convidadas 340 gestantes. Destas, 16 recusaram-se a participar, alegando falta de
tempo e/ou interesse (taxa de resposta = 95,3%, 324/340). Das 324 mulheres
entrevistadas, 12 preencheram algum dos critérios de exclusão. A amostra final foi
composta de 312 gestantes.
A Tabela 1 descreve as características demográficas e socioeconômicas da
população do estudo. As gestantes tinham idade entre 14 e 43 anos (idade média
27,5 ± 6,05), eram predominantemente não brancas (61,9%) e a maioria (76%) vivia
com parceiros esveis, ou seja, eram casadas ou viviam em regime de união estável.
Mais da metade da amostra (56,7%) não trabalhava fora de casa e apresentava
escolaridade inferior a 8 anos (55,8%); 82,7% pertenciam à classe econômica C
(renda média familiar inferior a R$ 927,00, em valores atuais).
75
Tabela 1. Características demográficas e socioeconômicas de gestantes usuárias do serviço público, Juiz de Fora,
Minas Gerais, Brasil, 2009. (N = 312)
Variável Classificação N (%)
Até 27 anos 160 51,3
Idade
Mais de 27 anos 152 48,7
Branca 119 38,1
Etnia
Não branca 193 61,9
Com parceiro estável 237 76,0
Estado civil
Sem parceiro estável 75 24,0
Sim 135 43,3
Trabalha fora
Não 177 56,7
Baixa (até 8 anos) 174 55,8
Escolaridade
Alta (mais de 8 anos) 138 44,2
Até dois salários mínimos 258 82,7
Classe econômica
Mais de dois salários 54 17,3
A consistência interna para os 85 itens que compuseram a versão inicial do
instrumento foi considerada aceitável (α=0,71). A correlação existente entre cada
item, individualmente, com o total de itens do instrumento demonstrou que 38
apresentaram correlação item-total inferior a 0,15 e, destes, os itens 3, 4, 7, 28, 32,
41, 52 e 53 foram mantidos.
A Tabela 2 apresenta a versão final do instrumento que foi denominado Escala
de Atitudes frente à Saúde Bucal (EA-SB).
Na
EA-SB, os itens mantiveram sua distribuição em três partes denominadas
subescalas. Na primeira (“Dieta e higiene”), 14 itens foram mantidos. A segunda
subescala (“Relação bidirecional”) foi reduzida a 18 itens. Os itens restantes (23 itens)
compuseram a terceira subescala (“Crenças e mitos”). O α de Cronbach calculado para
a escala foi 0,82. As três subescalas, analisadas separadamente, obtiveram os valores
0,71, 0,74 e 0,76 para o α de Cronbach, respectivamente (Tabela 2).
Na EA-SB, o escore mínimo possível foi 55 pontos (1 ponto X 55 itens) e o
máximo possível de 165 pontos (3 pontos X 55 itens). Para a obtenção do escore,
atribuiu-se 3 pontos à opção “discordo”. Contudo, os itens 8, 13, 29, 30, 31, 32 e 40
apresentaram codificação inversa dos escores e a maior pontuação foi atribuída à
opção “Concordo”.
A soma dos pontos obtidos em cada item de atitude resultou no escore total de
cada gestante e permitiu a classificação de suas atitudes em favoráveis (de 111 a 165
pontos) ou desfavoráveis (de 55 a 110 pontos).
76
Tabela 2. Escala de Atitudes frente à Saúde Bucal – EA-SB
Escala de atitudes (N = 55; α = 0,82)
Subescala 1 – Dieta e higiene (N = 14; α = 0,71)
01 Meu apetite aumentou durante a gravidez
02 Passei a preferir alimentos doces e massas
03 Depois que engravidei passei a comer mais guloseimas
04 Como mais vezes durante o dia agora que estou grávida
05 Tive enjoo durante a gestação
06 Na época do enjoo eu chegava a vomitar
07 Quando eu tinha enjoo eu comia toda hora
08 Uso o fio dental todas as vezes que eu como*
09 Passei a escovar menos os dentes por causa do enjoo
10 A pasta dá enjoo, por isto, escovo menos os dentes
11 Passei a não escovar a língua por causa do enjoo
12 Uso apenas escova e pasta para a higiene bucal
13 Uso escova, pasta e fio dental*
14 Não tenho o hábito de usar o fio dental
Subescala 2 – Relação bidirecional (N = 18; α = 0,74)
15 Depois que engravidei, passei a salivar mais
16 Minha gengiva passou a sangrar mais após a gravidez
17 Minha gengiva já sangrava antes de ficar grávida, mas piorou
18 Passei a ter mais cárie depois da gravidez
19 Meus dentes estragaram mais depois da gravidez
20 Depois de engravidar meus dentes ficaram mais senveis
21 Depois da gravidez tive mais tártaro
22 Meus dentes sangram na hora da alimentação
23 Meus dentes sangram na hora que eu escovo
24 Meus dentes sangram sozinhos
25 Meus dentes ficaram bambos depois da gravidez
26 A cárie na mãe pode levar ao parto prematuro
27 A cárie na mãe pode diminuir o peso do feto
28 A cárie pode fazer com que eu perca meu bebê
29 A infecção de um dente na mãe pode diminuir o peso do feto*
30 A infecção de um dente na mãe pode levar ao parto prematuro*
31 A infecção de um dente pode fazer com que eu perca o bebê*
32 Se soubesse que a saúde bucal influencia na gestação iria ao CD*
Subescala 3 – Crenças e mitos (N = 23; α = 0,76)
33 Eu acho que a gravidez faz as obturações caírem
34 Eu acredito que a gravidez altera a saúde bucal
35 A gravidez faz os dentes doerem
36 Os remédios da gravidez podem estragar os dentes
37 A gravidez pode fazer a mulher perder dentes
38 A gravidez enfraquece os dentes
39 O feto pode tirar cálcio dos dentes da mãe
40 A gestante pode tratar os dentes*
41 Meu médico disse que não posso tratar meus dentes
42 O dentista disse que não posso tratar meus dentes
43 Outras pessoas disseram que não posso tratar meus dentes
44 Acho que o tratamento odontológico pode incomodar o be
45 Não sei o que a gestante pode ou não fazer no dentista
46 Gestante só pode fazer limpeza
47 Gestante não pode tomar anestesia
48 A anestesia pode também anestesiar o feto
49 A anestesia pode causar defeitos no bebê
50 A anestesia pode fazer com que eu perca meu bebê
51 Gestante não pode fazer cirurgia/extração
52 Gestante não pode tirar raio-X
53 O raio-X pode causar defeitos no bebê
54 O raio-X pode fazer com que eu perca meu bebê
55 Tenho medo de tratar meus dentes e prejudicar o bebê
*Itens com codificação inversa dos escores
77
DISCUSSÃO
A mensuração das atitudes de gestantes é uma tarefa difícil, devido às
múltiplas dimensões que as compõem e às dificuldades envolvidas em sua medição
direta de maneira objetiva. A elaboração de um instrumento para este fim pressupõe
um processo meticuloso que vai desde a criação de itens até a demonstração de sua
validade e confiabilidade.
O presente estudo utilizou metodologia qualitativa para a criação de itens. Esta
trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, e valores,
sendo importante para compreender os valores culturais e as representações de
determinado grupo sobre temas específicos (15).
A coleta dos dados qualitativos foi realizada mediante entrevista, cujo objetivo é
a compreensão detalhada de crenças, valores, motivações e atitudes relacionadas ao
comportamento de pessoas em contextos sociais específicos (14). As gestantes
incluídas nesta fase do estudo também eram usuárias do serviçoblico do município
e apresentavam contexto social semelhante à população do estudo. Assim, acredita-
se que os itens obtidos tenham esgotado todo o arcabouço conceitual subjacente às
atitudes das gestantes frente aos aspectos avaliados.
Adicionalmente, o conjunto de itens gerados foi submetido à validação
aparente, que embora seja subjetiva, é importante para identificar se os itens estão
realmente avaliando as características que o investigador deseja (18). Entre os 27
itens eliminados, sete apresentavam conteúdos redundantes e os demais não foram
considerados associados ao objeto de estudo (11 relacionavam-se ao uso e/ou
propriedades do flúor, quatro tratavam de aspectos de saúde bucal fora do contexto
gestacional e cinco referiam-se a cuidados direcionados ao bebê).
As atitudes foram avaliadas numa escala tipo Likert que é predominante na
pesquisa comportamental e social (25). O emprego deste tipo de escala permite a
transformação do comportamento em dados numéricos e viabiliza a medida de
construtos hipotéticos e de natureza afetiva, como as atitudes (19, 24).
O delineamento da amostra à qual foi aplicada a versão inicial do instrumento
foi uma das estratégicas utilizadas para assegurar a validade do estudo, a
confiabilidade e reprodutibilidade dos dados (26). O lculo amostral destinado à
obtenção de representatividade das gestantes usuárias do serviço público do
município considerou a prevalência média de doença periodontal em uma população
com características semelhantes às das gestantes investigadas (12). Esta opção foi
78
baseada nas possíveis repercussões desta condição bucal sobre a evolução e
desfecho da gestação (27), um dos aspectos avaliados neste estudo.
As gestantes participantes foram alocadas das Unidades de Saúde e centros
de referência ao atendimento pré-natal. Contudo, a distribuição proporcional de
amostragem proposta para o estudo foi mantida por meio da inclusão das gestantes
segundo a região onde moravam, e não onde consultavam. No entanto, é necessário
considerar que, devido à grande extensão territorial do município, gestantes com
menor poder aquisitivo podem não ter sido incluídas, uma vez que esses centros
poderiam estar situados longe de suas residências, tornando necessária a utilização
de transporte pago para sua chegada ao local.
As características demográficas e socioeconômicas da amostra foram
semelhantes àquelas de estudos anteriores de natureza experimental (7-9). Este
resultado sugere a possível aplicabilidade do instrumento a populações de gestantes
jovens, usuárias do serviço público brasileiro e de perfil demográfico e
socioeconômico semelhante. Entretanto, em função da grande extensão territorial e
diversidade cultural do país, é necessário cuidado na generalização de resultados e
nova avaliação do instrumento antes de sua utilização em outras populações, ainda
que brasileiras (7).
A coleta dos dados relativos à aplicação da versão inicial do instrumento
também foi realizada mediante entrevista. A escolha do método baseou-se na baixa
escolaridade das participantes. A utilizão de um formulário autoaplicável poderia ter
resultado em dados insuficientes ou inadequados às análises posteriores (28). Este
tipo de abordagem não compromete a generalização de resultados, pois as
propriedades de instrumentos destinados à avaliação de atitudes são independentes
do método de administração (29). Desta forma, pode-se considerar a aplicação do
instrumento em versão autoaplicável, desde que as características educacionais da
amostra sejam compatíveis com o método.
Na construção da versão inicial do instrumento adotou-se o modelo da escala
tipo Likert para verificar o nível de concordância das gestantes com afirmações que
expressavam algo favorável ou desfavorável em relação aos diversos aspectos de
saúde bucal. As opções de respostas da escala utilizada foram balanceadas e
permitiram a expressão de atitudes favoráveis, desfavoráveis e ambivalentes ou
duvidosas frente aos itens avaliados. Este procedimento evitou uma avaliação
enviesada em direção positiva ou negativa (19).
79
A correlação existente entre alguns itens e o total do instrumento foi de baixa
magnitude. Entretanto, a remoção dos mesmos não contribuiu para melhorar a
confiabilidade do instrumento e foram mantidos. A decisão pela permanência ou não
dos itens a partir da estimativa se a eventual exclusão dos mesmos resultaria no
aumento do valor do α de Cronbach foi utilizada em estudos anteriormente realizados
(22, 24).
A EA-SB apresentou alta consistência interna demonstrada pelo valor do α de
Cronbach. Este coeficiente tem muita força como indicador de consistência interna
(22). Embora valores acima de 0,60 indiquem a confiabilidade do instrumento,
valores acima de 0,80 são altamente satisfatórios (24) e considerados preferíveis na
possível utilização do instrumento em outras pesquisas (20). Assim, é previsível que,
em contextos semelhantes, a EA-SB possa ser utilizada para o levantamento das
tendências atitudinais de gestantes frente aos aspectos avaliados.
Quando os itens que compuseram a EA-SB foram agrupados nas três
subescalas, obtiveram-se valores mais baixos para o α de Cronbach. Contudo, os
valores obtidos não comprometem a confiabilidade do instrumento quanto à aplicação
das subescalas separadamente, uma vez que os valores encontrados são superiores
a 0,70 e que os subconjuntos de itens proporcionam boa avaliação dos aspectos
abordados. Os resultados alcançados sugerem ainda que as três subescalas em
conjunto contribuem para o aumento da confiabilidade da EA-SB.
O coeficiente α de Cronbach é diretamente afetado pelo número de itens e
tamanho da amostra. Pode-se considerar que, em função do grande número de itens
que compuseram a EA-SB, o valor dos coeficientes obtidos tenha sido superestimado.
No entanto, o grande mero de elementos que compuseram a amostra e a
distribuição aproximadamente normal dos dados (média = 114,96 e mediana =
115,00) contribuíram para a redução da variância do conjunto de dados à qual o α de
Cronbach é sensível (22).
Os dados apresentados demonstram a confiabilidade da EA-SB determinada a
partir de sua consistência interna. Este estudo, porém, não avaliou a estabilidade do
instrumento, outra medida de confiabilidade a ser considerada quando da utilizão
da EA-SB em futuras investigações. Esta avaliação, analisada pelo modelo teste-
reteste, irá estimar a concordância entre os resultados obtidos pela aplicação do
instrumento em duas ocasiões diferentes por um mesmo observador (confiabilidade
intraexaminador) ou na mesma ocasião por dois ou mais observadores (confiabilidade
80
interexaminador). Como neste estudo as mensurações foram realizadas por um
escala ordinal, a concordância entre os resultados poderá ser estimada pelo
coeficiente Kappa (21).
O critério adotado para garantir a validade da EA-SB em medir as atitudes de
gestantes em relação à saúde bucal foi a validade de conteúdo. Esta etapa se refletiu
na fase de geração de itens, mediante a realização de entrevistas com a população
alvo, e na fase de validação aparente pelo comitê de juízes. ainda que considerar
a validade de construto para estabelecer em que grau a EA-SB será correlacionada
(validade convergente) ou o (validade divergente) com as condições bucais da
amostra, determinando, desta forma, a sensibilidade e especificidade do instrumento.
Esta é, provavelmente, a mais importante propriedade para a validade de um
instrumento (30). Futuros estudos poderão avaliar, simultaneamente, a condição
clínica e as dimensões sociais e psicossociais de saúde bucal de gestantes.
Novas investigações poderão avaliar a validade de critério do instrumento por
meio da validade concorrente, destinada à comparação dos escores obtidos na
versão original da EA-SB e aqueles obtidos em futuras aplicões da escala em sua
versão original ou em versões reduzidas (21).
Os dados fornecidos a partir da aplicação desta escala podem contribuir para
identificar precocemente as tendências comportamentais das gestantes usuárias do
serviço público do município frente a aspectos considerados relevantes à saúde bucal
neste período e fornecer subsídios para a elaboração de programas e de políticas
sociais centrados nas reais necessidades desta população.
A EA-SB constitui-se, também, numa ferramenta útil para avaliar a efetividade
ou estabelecer a reorientação de ações desenvolvidas para reforçar ou corrigir as
atitudes de gestantes frente aos aspectos abordados. As aplicações repetidas deste
instrumento no decorrer do tempo poderão definir alterações positivas ou negativas
das atitudes, tornando-se úteis na avaliação das intervenções propostas.
Embora os resultados obtidos possam ampliar a compreensão metodológica da
construção e validação de formulários, novos estudos são necessários para confirmar
a confiabilidade e validade da EA-SB em outras populações de gestantes e/ou em
contextos sociais diferentes.
Os avanços nas pesquisas poderão resultar em mudanças nas práticas
assistenciais e contribuir para a superação do modelo biomédico que desconsidera os
81
aspectos comportamentais no diagnóstico das condições de saúde/doença de grupos
populacionais específicos, como as gestantes.
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84
6.2 SAÚDE BUCAL E GESTAÇÃO: ATITUDES DE GESTANTES USUÁRIAS DO
SERVIÇO PÚBLICO DE JUIZ DE FORA – MG.
Manuscrito redigido segundo as normas do Periódico Revista de Saúde
Pública.
85
Título em Português: Saúde bucal e gestação: atitudes de gestantes usuárias do
serviço público de Juiz de Fora – MG.
Título em Inglês: Oral health and pregnancy: attitudes of pregnant women who use
the public services of Juiz de Fora – MG.
Autores:
5. Renata Tolêdo Alves RT Alves: Doutora; Disciplina Odontopediatria
(Professora Substituta); Departamento de Odontologia Social e Infantil;
Faculdade de Odontologia; Universidade Federal de Juiz de Fora; Juiz de Fora;
Minas Gerais; Brasil.
1. Aline da Silva Oliveira
AS Oliveira: Mestre pelo Programa de Pós-
Graduação em Saúde; Faculdade de Medicina; Universidade Federal de Juiz
de Fora; Minas Gerais; Brasil. Bolsista da CAPES.
2. Rosangela Almeida Ribeiro RA Ribeiro: Doutora; Disciplina
Odontopediatria (Professora Titular); Departamento Odontologia Social e
Infantil; Faculdade de Odontologia; Universidade Federal de Juiz de Fora; Juiz
de Fora; Minas Gerais; Brasil.
86
RESUMO
Objetivo: Este estudo transversal avaliou as atitudes de gestantes usuárias do
serviço público de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, frente a três importantes
aspectos da saúde bucal na gestação, a saber: Dieta e higiene bucal; Relação
bidirecional entre a saúde bucal e gestação; e Creas e mitos acerca da saúde bucal
e assistência odontológica. Método: Foram incluídas 312 gestantes com idade entre
14 e 43 anos. As atitudes foram avaliadas em entrevista individual por meio de um
instrumento previamente construído e validado (α=0,82). Os escores obtidos em cada
item foram submetidos à análise descritiva. Resultados: A frequência dos escores da
Subescala 1 identificou atitudes desfavoráveis de dieta que foram acompanhadas por
atitudes favoráveis relativas à higiene bucal, exceto quanto ao uso do fio dental. A
subescala 2 demonstrou que as gestantes perceberam alterações bucais durante a
gestação, contudo, não associaram adequadamente condição bucal e desfechos
desfavoráveis ao feto e/ou parto. A análise da subescala 3 demonstrou que algumas
alterações bucais são, erroneamente, atribuídas à gestação e que a maioria das
participantes desconhece as possibilidades de tratamento odontogico e teme que
alguns procedimentos possam colocar o feto em risco. Conclusões: Os resultados
obtidos neste estudo identificaram atitudes a serem analisadas para incorporação de
novas estratégias de atenção à saúde bucal para as gestantes do município e
reforçam a necessidade de implementação de ações educativo-preventivas dirigidas a
gestantes com vistas à promoção e proteção da saúde materno-infantil.
Descritores: Atitudes. Gestação. Saúde bucal.
87
ABSTRACT
Purpose: This cross-sectional study evaluated the attitudes of pregnant women who
use the public services of Juiz de Fora, MG, Brazil in face of three important aspects
of oral health during pregnancy yet to know: Diet and oral hygiene and pregnancy;
Bidirectional relationship between oral health and pregnancy; and Myths and beliefs
relating to oral health and dental assistance. Method: The sample included 312
pregnant women with ages ranging from 14 to 43. Attitudes were evaluated through
individual interviews by means of a previously developed and validated instrument
(α=0.82). The obtained scores in each question were submitted to descriptive analysis.
Results: The frequency of the scores from Subscale 1 identified unfavorable diet
attitudes which were followed by favorable attitudes referring to oral hygiene, except
as to the use of dental floss. Subscale 2 showed that the pregnant women noticed oral
changes during pregnancy although they did not associate oral condition and
unfavorable outcome as for the fetus and/or birth. The analysis of Subscale 3 showed
that some oral alterations are, erroneously, attributed to pregnancy and that most
participants do not know about the possibilities for dental treatment as well as fear
procedures may put the fetus at risk. Conclusions: The results identified attitudes yet
to be analyzed in order to incorporate new strategies directed to pregnant women
focusing on the promotion and protection of maternal-child health.
Descriptors: Attitudes. Pregnancy. Oral Health.
88
INTRODUÇÃO
A assistência pré-natal constitui-se em um conjunto de procedimentos clínicos
e educativos com o objetivo de manter sob vigilância a evolução da gestação e
promover a saúde da mãe e da criança
1
. Um acompanhamento pré-natal adequado
deve conceber a saúde bucal como parte integrante da saúde sistêmica. Desta forma,
é primordial o desenvolvimento de estratégias para inserir as gestantes em um
programa de cuidados odontológicos que considere todos os aspectos envolvidos em
sua condição de saúde bucal.
O planejamento de estratégias de atuação em saúde bucal deve ser precedido
de um diagnóstico que contemple os aspectos biológicos envolvidos nas doenças
bucais, bem como os comportamentos do indivíduo, uma vez que a prevenção e o
controle das principais doenças bucais são altamente dependentes destes
componentes. Assim, poderão ser elaborados programas que respeitem as
características dos grupos aos quais serão aplicados
2
.
Gestantes parecem mais vulneráveis a doenças bucais como a cárie dentária e
a doença periodontal. Hábitos inadequados de dieta e higiene bucal somados às
alterações físicas e hormonais próprias da gestação
3,4
podem repercutir
desfavoravelmente a saúde bucal e contribuir para o desenvolvimento e/ou
agravamento destas doenças.
Adicionalmente, estudos sugerem que a situação de saúde bucal pode
desempenhar um papel importante na evolução e desfecho da gestação. Um estudo
de meta-análise recente demonstrou que o tratamento periodontal em gestantes reduz
significativamente o índice de nascimentos prematuros e pode reduzir o índice de
baixo peso ao nascimento
5
.
Apesar do aumento do risco para o desenvolvimento das doenças bucais e dos
possíveis impactos destas doenças na saúde materno-infantil, alguns estudos
demonstram que gestantes vão menos ao cirurgião-dentista que mulheres de grupo
etário semelhante. Este comportamento parece associado à falta de orientação sobre
saúde bucal
6
e às crenças, reforçadas por pessoas com quem a gestante convive,
que certos procedimentos possam interferir na saúde fetal e transferir sensações de
dor ou sofrimento para a criança
7,8
.
Frente à necessidade de incluir aspectos comportamentais no diagnóstico de
saúde bucal, para grupos de gestantes, torna-se necessária a avaliação das atitudes,
89
pois estas são importantes para explicar comportamentos
9
. Contudo, o estudo das
atitudes requer instrumentos confiáveis e válidos
10
.
Desta forma, o presente estudo avaliou, por meio de um instrumento validado,
as atitudes de gestantes usuárias do serviço público frente a três importantes
aspectos da saúde bucal na gestação, a saber: dieta e higiene bucal; relação
bidirecional entre a saúde bucal e gestação; e crenças e mitos acerca da saúde bucal
e assistência odontológica. Os dados obtidos poderão subsidiar o planejamento de
ões e programas específicos, com vistas a ratificar ou retificar a atitude desta
população frente à saúde bucal de modo a propiciar um melhor quadro de saúde para
a mãe e para seu filho.
MÉTODO
Este estudo transversal foi conduzido em Juiz de Fora, município de área
territorial de 1.437km
2
, localizado no Estado de Minas Gerais, Região Sudeste do
Brasil e com população estimada em 2007 de 513.348 habitantes
11
. Foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Juiz de Fora e seguiu as
normas e diretrizes da resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
O número de gestantes necessárias ao estudo foi determinado por cálculo
amostral, segundo fórmula de lculo de expectativa populacional para a ocorrência
de doenças
12
. Considerou-se a prevalência média de doença periodontal igual a
70%
13
e uma gestante para cada nascido vivo entre os 73,3% dos nascimentos que
ocorrem no serviço público, segundo os dados do Sistema de Informação de
Nascidos Vivos (4937 nascimentos/ano), com precisão requerida de 95% (1 α) e
erro admissível de 5%. Uma amostra de 303 gestantes foi considerada satisfatória.
A população estudada incluiu gestantes atendidas nas Unidades sicas de
Saúde (UBS) do Sistema Único de Saúde (SUS) de Juiz de Fora no período de
fevereiro a dezembro de 2008, sem distinção de raça, idade, nível socioeconômico ou
escolaridade. Foram excluídas as gestantes portadoras de diabetes,
imunossupressão, usuárias de medicamentos anticonvulsivantes ou ansiolíticos e
aquelas submetidas a tratamento ortodôntico.
As participantes foram selecionadas por meio de uma distribuição de
amostragem proporcional à real distribuição das gestantes nas Regiões
Administrativas do município, segundo os dados fornecidos pela Secretaria Municipal
de Saúde. As UBS geridas pelas Regiões Administrativas foram selecionadas por
90
sorteio. As gestantes cadastradas nas UBS foram alocadas aleatoriamente por sorteio
de uma sequência de números gerados pelo registro das pacientes nas respectivas
unidades.
As entrevistas individuais foram realizadas por um único pesquisador treinado e
calibrado (RTA) nas UBS e centros de referência. Inicialmente, as gestantes
forneceram dados relativos às características demográficas e socioeconômicas.
As atitudes das gestantes foram avaliadas por meio de um instrumento
denominado Escala de Atitudes frente à Saúde Bucal (EA-SB), anteriormente
construído e validado (α=0,82) e incluiu 55 itens de atitudes divididos em três
subescalas: Dieta e higiene (Subescala 1; α=0,71); Relação bidirecional (Subescala 2,
α=0,74) e Crenças e mitos (Subescala 3, α=0,76)
14
. As opções de resposta foram
construídas numa escala tipo Likert, que é especialmente utilizada em levantamentos
de atitudes, opiniões e avaliações
15
. Para cada item formulado, as gestantes
entrevistadas responderam conforme uma das seguintes possibilidades: Concordo;
Não sei; ou Discordo.
As respostas para os itens de atitudes foram transformadas em escores. Para
cada item, atribuiu-se 3 pontos à resposta mais favorável; 2 pontos à resposta
intermediária; e 1 ponto à resposta menos favorável. O escore 3 no item classificou a
atitude em favorável e os escores 2 e 1 classificaram a atitude em desfavorável. Para
todos os itens, atribuiu-se 3 pontos à opção “Discordo”, com exceção dos itens 8, 13,
29, 30, 31, 32 e 40, os quais apresentaram codificação inversa dos escores,
atribuindo-se, assim, a maior pontuação à opção “Concordo”.
Os dados foram analisados por meio do pacote estatístico SPSS para Windows
(versão 10). Os escores obtidos em cada item foram submetidos à análise descritiva.
RESULTADOS
Um total de 340 gestantes foi convidado a participar do estudo. Destas, 16
recusaram sua participação alegando falta de tempo e/ou interesse (taxa de reposta =
95,3%, 324/340). Das 324 mulheres entrevistadas, 12 preencheram algum dos
critérios de exclusão. A amostra final foi composta por 312 gestantes.
A Tabela 1 descreve as características demográficas e socioeconômicas da
população do estudo. As gestantes tinham idade entre 14 e 43 anos (idade média
27,5 ± 6,05) sendo a idade inferior a 27 anos mais prevalente (51,3%). A maioria era
não branca (61,9%) e vivia com parceiros estáveis (76%). Mais da metade da amostra
91
não trabalhava fora de casa (56,7%) e apresentava escolaridade inferior a 8 anos
(55,8%); 82,7% tinham renda média familiar inferior a dois salários mínimos em
valores atuais.
Tabela 1. Características demográficas e socioeconômicas de gestantes usuárias do serviço público, Juiz de Fora,
Minas Gerais, Brasil, 2009. (N = 312)
Variável Classificação N (%)
Até 27 anos 160 51,3
Idade
Mais de 27 anos 152 48,7
Branca 119 38,1
Etnia
Não branca 193 61,9
Com parceiro estável 237 76,0
Estado civil
Sem parceiro estável 75 24,0
Sim 135 43,3
Trabalha fora
Não 177 56,7
Baixa (até 8 anos) 174 55,8
Escolaridade
Alta (mais de 8 anos) 138 44,2
Até dois salários mínimos 258 82,7
Classe econômica
Mais de dois salários 54 17,3
A Tabela 2 apresenta a classificação de cada item de atitude que constituiu a
EA-SB, de acordo com os escores obtidos.
A análise dos 14 itens que compuseram a Subescala 1 mostrou atitudes
desfavoráveis relativas à dieta para a maioria das pesquisadas. Estas foram
relacionadas ao aumento de apetite (67,3%), preferência por doces e massas
(52,5%), aumento na ingestão de guloseimas (53,5%) e frequência alimentar (70,2%),
e presença de enjoo (72,1%) com algum episódio de emese (59,6%). As atitudes das
gestantes nos itens que avaliaram a higiene bucal foram predominantemente
favoráveis, exceto quanto ao uso de fio dental após todas as refeições, negligenciado
por 92% da amostra (Tabela 2).
92
Tabela 2. Classificação dos itens de atitude da EA-SB de gestantes usuárias do serviço público, Juiz de Fora,
Minas Gerais, Brasil, 2009. (N = 312)
Itens de atitude da EA-SB (N = 55; α = 0,82) Classificação (n %)
Subescala 1 – Dieta e higiene (N = 14; α = 0,71) Favorável Desfavorável
01 Meu apetite aumentou durante a gravidez 102 32,7 210 67,3
02 Passei a preferir alimentos doces e massas 148 47,4 164 52,5
03 Depois que engravidei passei a comer mais guloseimas 145 46,5 167 53,5
04 Como mais vezes durante o dia agora que estou grávida 93 29,8 219 70,2
05 Tive enjoo durante a gestação 87 27,9 225 72,1
06 Na época do enjoo eu chegava a vomitar 126 40,4 186 59,6
07 Quando eu tinha enjoo eu comia toda hora 264 84,6 48 15,4
*08 Uso o fio dental todas as vezes que eu como 25 8,0 287 92,0
09 Passei a escovar menos os dentes por causa do enjoo 204 65,4 108 34,6
10 A pasta dá enjoo, por isto, escovo menos os dentes 202 64,7 110 35,3
11 Passei a não escovar a língua por causa do enjoo 204 65,4 108 34,6
12 Uso apenas escova e pasta para a higiene bucal 190 60,9 129 39,1
*13 Uso escova, pasta e fio dental 153 49,0 159 51,0
14 Não tenho o hábito de usar o fio dental 191 61, 2 121 38,8
Subescala 2 – Relação bidirecional (N = 18; α = 0,74) Favorável Desfavorável
15 Depois que engravidei, passei a salivar mais 125 40,4 186 59,6
16 Minha gengiva passou a sangrar mais após a gravidez 179 57,4 133 42,6
17 Minha gengiva já sangrava antes de ficar grávida, mas piorou 213 68,3 99 31,7
18 Passei a ter mais cárie depois da gravidez 129 41,3 183 58,7
19 Meus dentes estragaram mais depois da gravidez 182 58,3 130 41,7
20 Depois de engravidar meus dentes ficaram mais senveis 138 44,2 174 55,8
21 Depois da gravidez tive mais tártaro 144 46,2 168 53,8
22 Meus dentes sangram na hora da alimentação 277 88,8 35 11,2
23 Meus dentes sangram na hora que eu escovo 127 40,7 185 59,3
24 Meus dentes sangram sozinhos 278 89,1 34 10,9
25 Meus dentes ficaram bambos depois da gravidez 277 88,8 35 11,2
26 A cárie na mãe pode levar ao parto prematuro 159 51,0 153 49,0
27 A cárie na mãe pode diminuir o peso do feto 142 45,5 170 54,5
28 A cárie pode fazer com que eu perca meu bebê 164 52,6 148 47,4
*29 A infecção de um dente na mãe pode diminuir o peso do feto 143 45,8 269 54,2
*30 A infecção de um dente na mãe pode levar ao parto prematuro 93 29,8 219 70,2
*31 A infecção de um dente pode fazer com que eu perca o be 65 20,8 247 79,2
*32 Se soubesse que a saúde bucal influencia na gestação iria ao CD 307 98,4 5 1,6
Subescala 3 – Crenças e mitos (N= 23; α = 0,76) Favorável Desfavorável
33 Eu acho que a gravidez faz as obturações caírem 182 58,3 130 41,7
34 Eu acredito que a gravidez altera a saúde bucal 104 33,3 208 66,7
35 A gravidez faz os dentes doerem 132 42,3 180 56,7
36 Os remédios da gravidez podem estragar os dentes 137 43,9 175 56,1
37 A gravidez pode fazer a mulher perder dentes 145 46,5 167 53,5
38 A gravidez enfraquece os dentes 111 35,6 201 64,4
39 O feto pode tirar cálcio dos dentes da mãe 96 30,8 216 69,2
*40 A gestante pode tratar os dentes 40 12,8 272 87,2
41 Meu médico disse que não posso tratar meus dentes 291 93,3 21 6,7
42 O dentista disse que não posso tratar meus dentes 259 83,0 53 17,0
43 Outras pessoas disseram que não posso tratar meus dentes 184 59,0 128 41,0
44 Acho que o tratamento odontológico pode incomodar o be 247 79,2 65 20,8
45 Não sei o que a gestante pode ou não fazer no dentista 53 17,0 259 83,0
46 Gestante só pode fazer limpeza 161 51,6 151 48,4
47 Gestante não pode tomar anestesia 77 24,7 235 75,3
48 A anestesia pode também anestesiar o feto 175 56,1 137 43,1
49 A anestesia pode causar defeitos no bebê 129 41,3 183 58,7
50 A anestesia pode fazer com que eu perca meu bebê 140 44,9 172 55,1
51 Gestante não pode fazer cirurgia/extração 64 20,5 248 79,5
52 Gestante não pode tirar raio-X 85 27,2 227 72,8
53 O raio-X pode causar defeitos no bebê 71 22,8 241 77,2
54 O raio-X pode fazer com que eu perca meu be 122 39,1 190 60,9
55 Tenho medo de tratar meus dentes e prejudicar o bebê 171 54,8 141 45,2
*Itens com codificação inversa dos escores
93
Os escores obtidos nos itens referentes às atitudes frente à relação bidirecional
entre a saúde bucal e a gestação (Subescala 2) demonstraram a percepção, pelas
gestantes, de influências do período gestacional sobre a saúde bucal. A maioria
percebeu aumento do fluxo salivar (59,6%), do mero de lesões de cárie (58,7%),
sensibilidade aumentada nos dentes (55,8%), maior formação de cálculo dentário
(53,8%) e presença de sangramento durante a escovação (59,3%). Por outro lado, os
resultados relativos à possível repercussão da condição bucal sobre a gestação
mostraram atitude desfavorável em mais de 50% das gestantes, nos itens que
associaram a cárie dentária ao peso do feto e a infecção dentária com peso fetal,
ocorrência de parto prematuro e aborto. Quase a totalidade da amostra apresentou
atitude favorável à procura pelo cirurgião-dentista mediante o conhecimento das
possíveis repercussões da saúde bucal sobre a gestação (Tabela 2).
A Subescala 3 demonstra que a maioria das voluntárias apresentou atitude
desfavorável representada pela crença de que a gestação altera a saúde bucal
(66,7%) e é responsável por alterações como a dor de dente (57,7%), perda de
elementos dentários (53,5%) e enfraquecimento dos dentes (64,4%). Estes
acometimentos foram, ainda, associados ao uso de medicamentos durante a
gestação (56,1%) e/ou remoção de cálcio dos elementos dentários pelo feto (69,2%).
Para a maioria, o uso de anestesia (75,3%), a realização de procedimentos cirúrgicos
(79,5%) e o exame radiográfico (72,8%) são proibidos durante a gestação em função
do risco potencial ao feto que estes representam (Tabela 2).
DISCUSSÃO
Este estudo foi o primeiro a avaliar as atitudes frente à saúde bucal de
gestantes usuárias do serviço público de saúde de Juiz de Fora, MG, e demonstrou
que o assunto ainda é pouco compreendido na população avaliada. As participantes
apresentaram atitude desfavorável em 32 dos 55 itens que compuseram o
instrumento. Seria desevel que as atitudes fossem favoráveis em um maior número
de itens, com vistas a propiciar um melhor quadro de saúde para a mãe e para seu
filho.
A atitude constitui-se em um preditor do comportamento
9
e este pode ser
considerado um determinante da saúde
16
. O instrumento utilizado para a mensuração
das atitudes (EA-SB) foi construído e validado para esta população específica
14
,
podendo-se considerar que o mesmo é adaptado à população ao qual se destina
2
. O
94
elevado número de itens da EA-SB não dificultou a coleta de dados pelo pesquisador
principal. A alta taxa de resposta obtida demonstrou que o instrumento apresentou-se
de fácil compreensão e teve boa aceitação durante a entrevista que durou, em média,
15 minutos.
Algumas estratégias foram utilizadas para assegurar a validade e confiabilidade
do estudo e evitar possíveis vieses. O planejamento amostral delineou uma amostra
estratificada proporcional, que tende a gerar resultados mais precisos que amostra
aleatória simples
17
.
A EA-SB obteve valores expressivos de consistência interna para esta
população
14
, demonstrando a possibilidade de obtenção dos mesmos resultados se
for novamente aplicada. As atitudes foram avaliadas numa escala tipo Likert,
especialmente utilizada para este tipo de levantamento. As opções de respostas
foram balanceadas, isto é, existiam alternativas positivas, negativas e um “ponto do
meio”, evitando vieses quanto à direção das respostas
15
.
O pesquisador principal antes da entrevista ressaltou que não existiam
respostas certas ou erradas para os itens investigados e que o estudo pretendia,
unicamente, identificar o que a gestante conhecia sobre a saúde bucal de modo a
direcionar as orientações que deveria receber. Acredita-se que este procedimento
possa ter evitado o viés de desejabilidade social, que resulta de respostas baseadas
no que o indivíduo percebe como sendo socialmente apropriado e não em seus
conhecimentos, crenças e sentimentos
18
.
O grupo estudado foi composto, principalmente, por mulheres jovens, não
brancas, com companheiro, sem atividade remunerada, com até oito anos de
escolaridade e de condição econômica baixa. Estas características demográficas e
socioeconômicas também foram encontradas em estudos anteriormente
realizados
19,20
sugerindo a possibilidade de extrapolação dos resultados. É
necessário, contudo, considerar a revalidação do instrumento caso o mesmo seja
aplicado em outras populações, mesmo que apresentem características
semelhantes
21
.
A análise das atitudes frente aos aspectos de saúde bucal avaliados
demonstrou atitudes desfavoráveis quanto à dieta. Os escores sugerem o aumento do
apetite, da frequência alimentar e da ingestão de alimentos cariogênicos,
representados neste estudo como doces, massas e guloseimas. Este resultado
encontra-se em consonância com estudos anteriores
2,10
. O aumento da frequência
95
alimentar pode justificar-se pela redução da capacidade do estômago, à medida que
ocorre o crescimento fetal
22
. A ingestão de dieta cariogênica é atribuída ao baixo
custo dos carboidratos e à associação cultural feita entre o açúcar e o prazer e
afeto
23
. Cumpre ressaltar que a amostra do presente estudo constituiu-se de
gestantes de condição econômica baixa.
A presença de enjoo e emese foi investigada pelo possível potencial
cariogênico resultante da exposição do esmalte dentário ao conteúdo gástrico e pela
influência que estes sintomas exercem sobre as atitudes das gestantes quanto à
higiene bucal
20
. Embora enjoo e episódios de emese tenham sido frequentes para a
maioria das voluntárias, as atitudes frente à higiene bucal foram predominantemente
favoráveis.
O uso do fio dental foi considerado um hábito em mais de 60% da amostra,
resultado corroborado por outros estudos com grupos de gestantes
2,10
. Entretanto,
houve negligência do seu uso após todas as refeições. O uso diário de fio dental vem
sendo associado à alta inserção socioeconômica e à frequência ao serviço
odontológico
24
. As gestantes incluídas no presente estudo apresentaram baixo nível
socioeconômico e apenas 12,2% da amostra submeteram-se ao tratamento
odontológico até o momento da entrevista (dados não apresentados), o que pode
justificar os resultados encontrados.
A gestação exerce seu efeito na condição bucal de gestantes predispondo ao
desenvolvimento e/ou agravamento das doenças bucais
3
. A condição bucal pode
também desempenhar algum papel na evolução e desfecho da gestação
5
. A análise
das afirmativas sobre relação bidirecional entre saúde bucal e gestação mostrou
atitudes desfavoráveis quanto à influência da gestação sobre a condição bucal.
Os resultados sugerem que as gestantes perceberam aumento no incremento
de cárie as a gestação. Apesar de a literatura não ser unânime ao relacionar o
aumento da prevalência de cárie dentária com a gestação, existem condições bucais
ideais para uma maior atividade cariogênica neste período. Durante a gestação,
ocorre um decréscimo na capacidade fisiológica do estômago, o qual promove
ingestão de menor quantidade de alimentos de cada vez, tornando as refeições das
gestantes mais frequentes
4
, evento confirmado no presente estudo. Adicionalmente, a
baixa escolaridade pode se configurar como um fator de risco para a presença de
cárie dentária, uma vez que pessoas com menor grau de instrução podem ter
dificuldade de acesso aos serviços de saúde ou, ainda, se o acesso for viabilizado,
96
podem ter dificuldade para assimilar, interpretar e incorporar informações. A baixa
escolaridade da amostra e a pequena proporção de gestantes tratadas podem ter
contribuído para os resultados encontrados.
Embora a população estudada tenha apresentado atitudes predominantemente
favoráveis relativas à higiene bucal, futuros estudos poderão avaliar se a frequência
de realização da higiene bucal relaciona-se ao aumento no incremento de cárie
percebido pelas gestantes, uma vez que esta tamm pode interferir na instalação
e/ou evolução da doença. A escovação, mesmo com desempenho insatisfatório na
remoção de biofilme, pode atuar na desestabilização do mesmo, bem como
proporcionar contato com o dentifrício fluoretado, que atua no processo de reparação
tecidual da estrutura dentária.
Outras alterações percebidas pelas gestantes foram o sangramento gengival
durante a escovação e o aumento da incidência de cálculo dentário. A baixa
escolaridade, a não utilização do fio dental e o aumento da frequência alimentar,
registrados entre as gestantes entrevistadas, são considerados fatores de risco para a
doença periodontal, considerada a partir do sangramento gengival
25
, e podem ter
contribuído para os resultados encontrados.
Para a maioria das mulheres, relação entre cárie dentária e evolução e a
diminuição do peso fetal. Embora seja um assunto pouco explorado, a associação
entre o CPO-D e resultados desfavoráveis na gestação não foi confirmada no estudo
de Meurman et al.
22
. Entretanto, a relação entre doença periodontal e possíveis
efeitos sobre o feto e/ou parto parece estabelecida
5
. Frente ao caráter infeccioso da
doença, as atitudes das gestantes foram desfavoráveis, uma vez que a maioria não
sabe ou discorda das possíveis consequências da presença de infeão sobre o feto
e/ou parto. Chama atenção que a quase totalidade da amostra declarou que
consultaria um cirurgião-dentista se soubesse da possível influência da condição
bucal sobre a gestação. A divulgação deste conhecimento entre gestantes poderia,
provavelmente, tornar mais favoráveis as atitudes relativas à assistência odontológica.
A maioria das gestantes apresentou atitude desfavorável para a crença de que
a gestação altera a saúde bucal. Estudos anteriores confirmaram que ainda persistem
as crenças que atribuem à gestação alterações como a sensibilidade dolorosa nos
dentes
2
, perda de elementos dentários
23
, enfraquecimento dos dentes
8
, danos
causados à estrutura dentária em decorrência do uso de medicamentos e remoção de
lcio dos dentes pelo feto
8,23
.
97
Para a maior parte das entrevistadas, o tratamento odontológico não pode ser
realizado durante a gestação. Embora estudos anteriores demonstrem a influência de
relatos de profissionais de saúde e familiares sobre essa crença
2,8
, os resultados
encontrados parecem mais fortemente relacionados ao desconhecimento sobre as
possibilidades de tratamento. O uso de anestesia, a realização de procedimentos
cirgicos e exames radiográficos constituíram-se em proibições durante a gestação
pelo dano potencial dos procedimentos ao feto
8,23
.
Os resultados obtidos no presente estudo sugerem a inclusão do cirurgo-
dentista na equipe multiprofissional e interdisciplinar de pré-natal, a fim de
conscientizar a equipe e a população de gestantes sobre a possibilidade de
diminuição do risco às doenças bucais e sobre as possíveis repercussões destas à
saúde durante a gestação. A educação em saúde bucal poderá fornecer instrumentos
para fortalecer a autonomia de gestantes do município no controle do processo
saúde-doença e na condução de seus hábitos, tornando-as capazes para a
autogestão. Ações educativo-preventivas poderão resultar na adoção de atitudes mais
favoráveis frente à saúde bucal e assistência odontológica e contribuir para a
qualidade de vida para a mãe e para seu filho.
CONCLUSÃO
De acordo com a metodologia utilizada e com a análise dos resultados obtidos,
pôde-se concluir que gestantes usrias do serviço público de Juiz de Fora
apresentam atitudes desfavoráveis quanto à dieta, relação bidirecional entre saúde
bucal e gestação, e crenças e mitos frente à saúde bucal e assistência odontológica.
Este quadro reforça a necessidade de implementação de estratégias educativo-
preventivas dirigidas a gestantes com vistas à promoção e proteção da saúde
materno-infantil.
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100
6.3 ATITUDE DE GESTANTES USUÁRIAS DO SERVIÇO PÚBLICO FRENTE À
SAÚDE BUCAL: ASSOCIAÇÃO COM VARIÁVEIS DEMOGRÁFICAS,
SOCIOECONÔMICAS E HISTÓRIA GESTACIONAL.
Manuscrito redigido segundo as normas do Periódico Community Dentistry and
Oral Epidemiology.
101
Título em Português: Atitude de gestantes usuárias do serviço público frente à
saúde bucal: associação com variáveis demográficas, socioeconômicas e história
gestacional.
Título em Inglês: The attitude of pregnant women who use public oral health
services: the association with demographic, socioeconomic and pregnancy history
variables.
Autores:
6. Renata Tolêdo Alves RT Alves: Doutora; Disciplina Odontopediatria
(Professora Substituta); Departamento de Odontologia Social e Infantil;
Faculdade de Odontologia; Universidade Federal de Juiz de Fora; Juiz de Fora;
Minas Gerais; Brasil.
1. Aline da Silva Oliveira
AS Oliveira: Mestre pelo Programa de Pós-
Graduação em Saúde; Faculdade de Medicina; Universidade Federal de Juiz
de Fora; Minas Gerais; Brasil. Bolsista da CAPES.
2. Luiz Cláudio Ribeiro LC Ribeiro: Doutor; Disciplina Estatística Aplicada
(Professor Adjunto); Departamento de Estatística; Instituto de Ciências Exatas;
Universidade Federal de Juiz de Fora; Juiz de Fora; Minas Gerais; Brasil.
3. Rosangela Almeida Ribeiro
RA
Ribeiro: Doutora; Disciplina
Odontopediatria (Professora Titular); Departamento Odontologia Social e
Infantil; Faculdade de Odontologia; Universidade Federal de Juiz de Fora; Juiz
de Fora; Minas Gerais; Brasil.
102
RESUMO
Objetivo: Este estudo transversal avaliou as atitudes de gestantes usuárias do
serviço público de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, frente à saúde bucal e sua
associação com as caractesticas demográficas, socioeconômicas e a história
gestacional da população. Método: Foram incldas 312 gestantes com idade entre
14 e 43 anos. As atitudes foram avaliadas em entrevista individual por meio da
“Escala de Atitudes frente à Saúde Bucal” (EA-SB), constituída de 55 itens de atitudes
(α=0,82). O teste de Mann-Whitney foi utilizado para testar a hipótese de associação
entre a variável dependente (atitude) e as variáveis independentes (características
demográficas, socioeconômicas, história da gestacional atual e pregressa). O nível de
significância adotado foi 5%. Resultados: O cálculo do escore total para a EA-SB
demonstrou que apenas 63,8% das gestantes apresentaram atitude favorável frente à
saúde bucal e estas foram significativamente associadas às variáveis escolaridade
(P=0,007), número de gestações (P=0,028), número de filhos (P=0,029) e problema
de saúde em gestações anteriores (P=0,010). Conclusões: Os resultados obtidos
evidenciam a necessidade de reforço às ações individuais e/ou coletivas de promão
e proteção de saúde, direcionadas a este grupo usuário do serviço público.
Descritores: Atitude. Gestação. Saúde bucal. Promoção de saúde.
103
ABSTRACT
Purpose: This cross-sectional study evaluated the attitudes of pregnant women who
use Public Oral Health Services of Juiz de Fora, Minas Gerais, Brazil, towards oral
health and their association with demographic and socioeconomic characteristics and
pregnancy history of the population. Method: The study sample included 312 pregnant
women with ages from 14 to 43. Attitudes were evaluated in an individual interview by
means of the “Attitude Scale towards Oral Health” (AS-OH) made up of 55 attitude
questions (α=0.82). The Mann-Whitney Test was used to test the hypothesis of an
association between the dependent variable (attitude) and independent variables
(demographic and socioeconomic characteristics, present and past pregnancy
history). The level of significance adopted was 5%. Results: The estimate of the total
score for EA-SB showed that only 63.8% of the pregnant women presented a
favorable attitude towards oral health and these are significantly associated to the
variables of level of education (P=0.007), number of pregnancies (P=0.028), number
of children (P=0.029) and health problems during previous pregnancies (P=0.010).
Conclusions: The results showed the need to reinforce individual and/or collective
actions for the promotion and protection of health directed to this group of Public
Service users.
Descriptors: Attitude. Pregnancy. Oral health. Health promotion.
104
INTRODUÇÃO
A assistência pré-natal constitui-se em um conjunto de procedimentos clínicos e
educativos com o objetivo de manter sob vigilância a evolução da gestação e
promover a saúde da mãe e da criança (1). Desta forma, um acompanhamento pré-
natal adequado deve conceber a saúde bucal como parte integrante da sde
sistêmica.
O Ministério da Saúde preconiza que o período gestacional deve ser
aproveitado para o desenvolvimento de ações educativas em saúde e acrescenta que
as gestantes constituem um grupo ideal para que o processo de aprendizagem se
realize. Segundo as diretrizes estabelecidas para a assistência pré-natal e atenção
em saúde bucal, todas as gestantes, por ocasião do primeiro atendimento pré-natal,
devem submeter-se à consulta odontológica que deve incluir, minimamente, o exame
clínico da cavidade bucal, identificação de risco à saúde bucal, diagnóstico das
doenças bucais e necessidades de tratamento e orientações sobre hábitos de dieta e
higiene bucal e possibilidades de tratamento durante a gestação (1, 2).
O planejamento e a execução de programas de educação e/ou atenção
odontológica específicos devem respeitar as características da população a qual serão
aplicados (2, 3). Assim, entre gestantes, a elaboração de estratégias de ação para
prevenção e controle das principais doenças bucais deve ser precedida do diagnóstico
de saúde bucal. Este deve contemplar, além dos aspectos biológicos envolvidos, os
comportamentos do indivíduo.
Gestantes parecem mais vulneráveis a doenças bucais como a cárie dentária e
a doença periodontal. Hábitos inadequados de dieta e higiene bucal contribuem para o
acúmulo de biofilme e as predispõem ao desenvolvimento e/ou agravamento destas
doenças (4). Estudos anteriores demonstraram que gestantes experimentam um
aumento na frequência de ingestão de dieta cariogênica (5, 6), embora isto não se
reflita nos hábitos de higiene bucal (6, 7).
Os níveis aumentados de estrógeno e progesterona, necessários à
manutenção da gestação, podem contribuir significativamente na etiologia e patogenia
da cárie dentária (8) e doença periodontal (9). Adicionalmente, a produção científica
atual sugere que a condição bucal materna pode repercutir sobre a idade gestacional
e peso do recém-nato. Um estudo de meta-análise sugeriu que a doença periodontal
materna pode representar um fator de risco à antecipação do processo de parto e/ou
redução de peso do bebê (10).
105
Estudos anteriormente conduzidos para avaliar a relação bidirecional entre
saúde bucal e gestação mostraram que, frequentemente, os problemas bucais são
atribuídos à gestação (3, 6) e que as gestantes associam a saúde bucal à saúde geral
(6) e, mais especificamente, aos resultados da gestação (11).
Apesar do aumento do risco para o desenvolvimento das doenças bucais e dos
possíveis impactos destas doenças na saúde materno-infantil, alguns estudos indicam
que gestantes vão menos ao cirurgião-dentista que mulheres de grupo etário
semelhante. Este comportamento parece associado à falta de orientação sobre saúde
bucal (12) e modificação das percepções destas mulheres quanto aos cuidados
odontológicos (13).
As crenças populares relacionadas à condição bucal e ao tratamento
odontológico também interferem de maneira negativa na procura espontânea por
atendimento, realizada, quase sempre, mediante sinais e/ou sintomas bucais. Muitas
gestantes temem o tratamento pela crença de que certos procedimentos possam
interferir na saúde fetal e transferir sensações de dor ou sofrimento para a criança.
Esta crença é reforçada por pessoas com quem a gestante convive (6, 11, 14).
Frente à necessidade de incluir aspectos comportamentais no diagnóstico de
saúde bucal para grupos de gestantes, torna-se necessária a avaliação das atitudes
relativas à saúde bucal durante a gestação, as quais podem estar associadas a uma
maior suscetibilidade às doenças bucais mais prevalentes, bem como a uma possível
evasão à assistência odontológica.
O estudo das atitudes se constitui em um importante componente na
explicação dos comportamentos (15). Contudo, requer instrumentos confiáveis e
lidos (16).
Desta forma, o presente estudo se propôs a avaliar as atitudes de gestantes
usuárias do serviço público frente à saúde bucal por meio de um instrumento validado,
e sua associação com as características demográficas, socioeconômicas e história da
gestação atual e pregressa da população.
MÉTODO
Este estudo transversal foi conduzido em Juiz de Fora, município de área
territorial de 1.437km
2
, localizado no Estado de Minas Gerais, Região Sudeste do
Brasil e com população estimada em 2007 de 513.348 habitantes (17). Foi aprovado
106
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Juiz de Fora e seguiu
as normas e diretrizes da resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
O número de gestantes foi determinado por lculo amostral, segundo fórmula
de cálculo de expectativa populacional para a ocorrência de doenças (18).
Considerou-se a prevalência média de doença periodontal igual a 70% (19) e uma
gestante para cada nascido vivo entre os 73,3% dos nascimentos que ocorrem no
serviço público, segundo os dados do Sistema de Informação de Nascidos Vivos
(4937 nascimentos/ano), com precisão requerida de 95% (1 α) e erro admissível de
5%. Uma amostra de 303 gestantes foi considerada satisfatória.
A população estudada incluiu gestantes atendidas nas Unidades sicas de
Saúde (UBS) do Sistema Único de Saúde (SUS) de Juiz de Fora no período de
fevereiro a dezembro de 2008, sem distinção de raça, idade, vel socioeconômico ou
escolaridade. Foram excluídas as gestantes portadoras de diabetes,
imunossupressão, usuárias de medicamentos anticonvulsivantes ou ansiolíticos e
aquelas submetidas a tratamento ortodôntico.
As participantes foram selecionadas por meio de uma distribuição de
amostragem proporcional a real distribuição das gestantes nas Regiões
Administrativas do município, segundo os dados fornecidos pela Secretaria Municipal
de Saúde. As UBS geridas pelas Regiões Administrativas foram selecionadas por
sorteio. As gestantes cadastradas nas UBS foram alocadas aleatoriamente por sorteio
de uma sequência de números gerados pelo registro das pacientes nas respectivas
unidades.
As entrevistas individuais foram realizadas por um único pesquisador treinado e
calibrado (RTA) nas UBS e centros de referência. Inicialmente, as gestantes
forneceram dados relativos às características demográficas, socioeconômicas, e
história da gestação atual e pregressa (varáveis independentes).
As atitudes das gestantes (variáveis dependentes) foram avaliadas por meio de
um instrumento denominado Escala de Atitudes frente à Saúde Bucal (EA-SB),
anteriormente construído e validado (alfa de Cronbach = 0,82) (20). A EA-SB incluiu
55 itens de atitudes divididos em três subescalas: Dieta e higiene (Subescala 1);
Relação bidirecional (Subescala 2); e Crenças e mitos (Subescala 3). As opções de
resposta foram construídas numa escala tipo Likert, que é especialmente utilizada em
levantamentos de atitudes, opiniões e avaliações (21). Para cada item formulado, as
107
gestantes entrevistadas responderam conforme uma das seguintes possibilidades:
Concordo; Não sei; ou Discordo.
As respostas para os itens de atitudes foram transformadas em escores. Para
cada item, atribuiu-se 3 pontos à resposta mais favorável; 2 pontos à resposta
intermediária; e 1 ponto à resposta menos favorável. O escore 3 no item classificou a
atitude em favorável e os escores 2 e 1 classificaram a atitude em desfavorável. Para
todos os itens, atribuiu-se 3 pontos à opção “Discordo”, com exceção dos itens 8, 13,
29, 30, 31, 32 e 40, os quais apresentaram codificação inversa dos escores,
atribuindo-se, assim, a maior pontuação à opção “Concordo”.
Em seguida, obteve-se o escore total por gestante pelo método aditivo, isto é, a
soma dos escores obtidos em cada item da EA-SB (22). Os escores totais foram
calculados para a escala como um todo e para as três subescalas individualmente e
foram utilizados para classificar as atitudes em favoráveis (escore total maior que o
ponto de corte) ou desfavoráveis (escore total menor que o ponto de corte). Os pontos
de corte determinados para a EA-SB e para as três subescalas foram 110, 28, 36 e 46
pontos, respectivamente.
Os dados foram analisados por meio do pacote estatístico SPSS para Windows
(versão 10). Utilizou-se o teste o paramétrico de Mann-Whitney (23) para verificar a
hipótese de associação entre a variável dependente (atitudes) e as variáveis
independentes (características demográficas, socioeconômicas, história da gestação
atual e história gestacional pregressa). O nível de significância adotado foi 5%.
RESULTADOS
Um total de 340 gestantes foi convidado a participar do estudo. Destas, 16
recusaram sua participação alegando falta de tempo e/ou interesse (taxa de reposta =
95,3%, 324/340). Das 324 mulheres entrevistadas, 12 preencheram algum dos
critérios de exclusão. A amostra final foi composta por 312 gestantes.
A Tabela 1 descreve as características demográficas e socioeconômicas da
população do estudo. As gestantes tinham idade entre 14 e 43 anos (idade média
27,5 ± 6,05 anos). A idade inferior a 27 anos foi mais prevalente (51,3%). A maioria
era não branca (61,9%) e vivia com parceiros estáveis (76%). Mais da metade da
amostra não trabalhava fora de casa (56,7%) e apresentava escolaridade inferior a 8
anos (55,8%); 82,7% tinham renda média familiar inferior a dois salários mínimos em
valores atuais.
108
Tabela 1. Características demográficas, socioeconômicas, história da gestação atual e história gestacional
pregressa de gestantes usuárias do serviço público, Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, 2009. (N = 312)
Variável Classificação N (%)
Até 27 anos 160 51,3
Idade
Mais de 27 anos 152 48,7
Branca 119 38,1
Etnia
Não branca 193 61,9
Com parceiro estável 237 76,0
Estado civil
Sem parceiro estável 75 24,0
Sim 135 43,3
Trabalha fora
Não 177 56,7
Baixa (até 8 anos) 174 55,8
Escolaridade
Alta (mais de 8 anos) 138 44,2
Até dois salários mínimos 258 82,7
Classe econômica
Mais de dois salários 54 17,3
Primigesta 133 42,6
Número de gestações
Multigesta 179 57,4
Sim 198 63,5
Problema de saúde
na gestação atual
Não 113 36,2
Sim 160 51,3
Situação de estresse
na gestação atual
Não 152 48,7
Sim 38 12,2
Tratamento odontológico
na gestação atual
Não 274 87,8
Um 79 44,1
Número de filhos*
Dois ou mais 100 55,9
Sim 115 64,2
Problema de saúde em
gestações anteriores*
Não 64 35,8
Sim 43 24,0
Problema em parto anterior*
Não 136 76,0
Sim 58 32,4
Experiência de aborto*
Não 121 67,6
Sim 36 20,1
Parto prematuro anterior*
Não 143 79,9
Sim 33 18,4
Bebê de baixo peso anterior*
Não 146 81,6
*Dados relativos às gestantes com duas gestações ou mais (N = 179).
A maioria das gestantes era multigesta (57,4%), experimentou algum problema
de saúde (63,5%) e/ou alguma situação de estresse (51,3%). Poucas gestantes
submeteram-se ao tratamento odontológico até a entrevista (12,2%). Entre as
multíparas (N=179), 55,9% tinham dois filhos ou mais, e 64,2% apresentaram algum
problema de saúde em gestações anteriores. Problemas em partos anteriores
109
(24,0%), experiência de aborto (32,4%), parto prematuro (20,1%) e bebê de baixo
peso (18,4%) foram eventos relatados.
A Tabela 2 apresenta a classificação das atitudes com base no lculo do
escore total para a EA-SB e demonstra que 63,8% das gestantes apresentaram
atitude favorável frente à saúde bucal. A análise das subescalas demonstrou atitude
desfavorável relativa à dieta e higiene bucal (Subescala 1) em 60,3% da amostra. A
atitude das voluntárias foi predominantemente favorável quanto à relação bidirecional
saúde bucal e gestação (64,4%) e crenças e mitos relacionadas à saúde bucal e
assistência odontológica (59,0%).
Tabela 2. Classificação das atitudes frente à saúde bucal, dieta e higiene, relação bidirecional e crenças e mitos
de gestantes usuárias do serviço público segundo EA-SB, Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, 2009. (N = 312)
Variável
Classificação
das atitudes
Escores
possíveis
(mín-máx)
Escores
obtidos
(mín-máx)
dia
Desvio-
padrão
N (%)
Favorável 111-165 111-149 100,20 7,61 199 63,8
Atitudes
EA-SB
Desfavorável 55-110 78-110 123,33 9,07 113 36,2
Favorável 29-42 29-42 33,79 3,13 124 39,7
Subescala 1
(Dieta e higiene)
Desfavorável 14-28 16-28 23,74 3,46 188 60,3
Favorável 37-54 37-54 42,73 3,71 201 64,4
Subescala 2
(Relação
bidirecional)
Desfavorável 18-36 22-36 32,20 3,16 111 35,6
Favorável 47-69 47-67 53,39 4,75 184 59,0
Subescala 3
(Crenças e
mitos)
Desfavorável 23-46 25-46 40,84 4,30 128 41,0
A análise do escore total obtido na EA-SB demonstrou associação
estatisticamente significativa entre as atitudes frente à saúde bucal e as seguintes
variáveis: escolaridade (P=0,007); número de gestações (P=0,028); número de filhos
(P=0,029); e problema de saúde em gestações anteriores (P=0,010). Postos médios
mais altos foram obtidos entre as gestantes de maior escolaridade, primigestas, com
apenas um filho e que não apresentaram problemas de saúde em gestações
anteriores (Tabela 3).
110
Tabela 3. Associação entre atitudes frente à saúde bucal e características demográficas, socioeconômicas, história
da gestação atual e história gestacional pregressa de gestantes usuárias do serviço público, Juiz de Fora, Minas
Gerais, Brasil, 2009. (N = 312)
Variável Classificação
Escore
mínimo
Escore
máximo
Escore
médio
Desvio-
padrão
Postos
médios
P
Até 27 anos 78 145 115,08 14,40 157,91
Idade
Mais de 27 anos 82 149 114,82 13,70 155,01
0,777
Branca 78 143 114,26 13,52 152,81
Etnia
Não branca 82 149 115,87 14,70 161,33
0,408
Com parceiro
estável
78 149 114,86 13,71 156,01
Estado civil
Sem parceiro
estável
81 147 115,25 15,14 158,06
0,864
Sim 82 149 115,87 14,70 161,33
Trabalha fora
Não 78 143 114,26 13,52 152,81
0,408
Baixa (até 8 anos) 78 149 113,21 14,16 144,21
Escolaridade
Alta (mais de 8
anos)
82 143 117,16 13,62 172,00 0,007**
Até dois salários 78 149 114,93 13,74 156,26
Classe econômica
Mais de dois
salários
82 143 115,07 15,53 157,64 0,919
Primigestas 82 149 117,07 13,82 169,54
Número de
gestações
Multigestas 78 147 113,39 14,04 146,81
0,028**
Sim 78 149 114,51 14,95 153,16
Problema de saúde
na gestação atual
Não 81 143 115,93 12,20 169,97
0,461
Sim 78 149 113,67 13,69 148,74
Situação de estresse
na gestação atual
Não 81 145 116,30 14,32 164,66
0,119
Sim 78 138 114,61 14,73 160,42
Tratamento
odontológico
na gestação atual
Não 81 149 115,00 13,97 155,96 0,775
Um 78 145 115,66 13,95 99,53
Número de filhos*
Dois ou mais 78 147 111,59 13,91 82,47
0,029**
Sim 78 145 111,37 14,70 82,55
Problema de saúde
em gestações
anteriores*
Não 83 147 117,02 11,84 103,39 0,010**
Sim 78 135 112,84 15,00 89,97
Problema em parto
anterior*
Não 81 147 113,56 13,77 90,01
0,996
Sim 81 139 111,91 13,64 84,03
Experiência de
aborto anterior*
Não 78 147 114,09 14,22 92,86
0,285
Sim 81 135 109,33 14,13 76,09
Parto prematuro
anterior*
Não 78 147 114,41 13,88 93,51
0,070
Sim 81 135 111,30 14,77 84,12
Bebê de baixo peso
anterior*
Não 78 147 113,86 13,87 91,33
0,470
* Dados relativos às gestantes com duas gestações ou mais (N = 179).
**P0,05 – Teste Mann-Whitney.
111
DISCUSSÃO
Este estudo demonstrou que a saúde bucal ainda é pouco compreendida entre
as gestantes avaliadas. Apenas 63,8% da amostra apresentaram atitude favorável
frente à saúde bucal. Seria desejável que uma maior porcentagem de gestantes
apresentasse atitudes favoráveis de modo a propiciar melhor quadro de saúde para a
mãe e para seu filho.
A atitude constitui-se em um preditor do comportamento (15) e, este, pode ser
considerado um determinante da saúde (24). O instrumento utilizado para a
mensuração das atitudes (EA-SB) apresentou boa capacidade classificatória e
permitiu identificar a atitude das gestantes usuárias do serviço público do município
frente a aspectos considerados relevantes à saúde bucal. Contudo, a escala foi
construída e validada para esta população específica (20). A aplicação do instrumento
em outras populações, mesmo que apresentem características sociodemográficas
semelhantes, deve considerar, primeiramente, a revalidação da escala (22).
Alguém poderia questionar o elevado número de itens que compõem a EA-SB.
Contudo, isto não dificultou a coleta de dados pelo pesquisador principal. A alta taxa
de resposta obtida demonstrou que o instrumento apresentou-se de cil
compreensão e teve boa aceitação durante a entrevista que durou, em média, 15
minutos.
Entre as participantes, 36,2% apresentaram comportamento de risco atribuído
à atitude desfavorável em relação aos aspectos avaliados. Piores condições são
encontradas em grupos cujas tradições, crenças e culturas desfavorecem a saúde
bucal (25), e entre os quais as gestantes podem ser incluídas (6, 11, 14). Deste modo,
estima-se que pior condição de saúde bucal possa ser encontrada entre as mulheres
com atitude desfavorável, o que poderá ser confirmado em futuros estudos que
considerem simultaneamente a condição clínica e as dimensões sociais e
psicossociais (26) ao se avaliar as necessidades de saúde bucal de gestantes.
A análise do escore total para cada subescala demonstrou que a proporção de
atitude desfavorável relativa à dieta e higiene bucal foi 69% maior que a relação
bidirecional saúde bucal e gestação, e 47% maior frente às crenças e mitos referentes
à saúde bucal e assistência odontológica. Maciças campanhas que promovem
alimentos cariogênicos como socialmente aceitáveis e ligados a demonstrações de
afeto competem com grande vantagem sobre as mensagens educacionais a respeito
do consumo do açúcar e saúde bucal (27). Por outro lado, mensagens publicitárias de
112
produtos dirigidos à higiene bucal e recomendações para a realização de escovação
três vezes por dia o amplamente veiculadas nos meios de comunicação (5). Este
resultado evidencia a necessidade de estratégias mais efetivas direcionadas à
população de gestantes.
Após a entrevista, todas as gestantes incluídas no presente estudo receberam
orientações sobre todos os aspectos avaliados e acesso imediato ao tratamento
odontológico, em nível de atenção básica. A atitude favorável, apresentada pela
maioria, nas subescalas relativas à relação bidirecional entre sde bucal e gestação,
assim como às crenças e mitos frente à saúde bucal e assistência odontológica não
resultou, no entanto, na procura por tratamento. Menos de 40% da amostra foram
atendidas durante a gestação. Novos estudos poderão avaliar os fatores associados à
baixa adesão aos programas assistenciais.
Este estudo foi orientado pela hipótese de que a atitude das gestantes frente à
saúde bucal poderia ser influenciada por suas características demográficas,
socioeconômicas e pela história gestacional atual e pregressa. Escolaridade, número
de gestações, número de filhos e problema de sde em gestações anteriores
influenciaram significativamente as atitudes das participantes.
Conhecimentos, atitudes ou pticas podem apresentar relação direta com a
escolaridade (28). Gestantes com escolaridade mais alta mostraram atitude mais
favorável. Níveis de escolaridade mais altos, além de propiciarem melhor condição
bucal (29), resultam em mais oportunidades de acesso à informação sobre saúde
(30). A educação parece influenciar a realização de condutas mais saudáveis bem
como maior assimilação, interpretação e incorporação de informações capazes de
promover melhoria na condição de vida.
Fatores socioeconômicos têm sido considerados como fundamentalmente
importantes no comportamento das pessoas em relação à saúde (28). No entanto,
não se observou associação entre a classe econômica e atitude. Cumpre ressaltar
que 82,7% das gestantes avaliadas pertenciam à faixa de classificação econômica
correspondente à renda familiar inferior a dois salários mínimos. Esta variável não
deve ser excluída de futuras investigações, uma vez que não foi possível diferenciar
estratos, os quais poderiam comportar-se de forma diferente na determinação das
atitudes avaliadas.
Primigestas apresentaram atitude mais favorável. Tem-se enfatizado que estas
gestantes tendem a procurar a assistência pré-natal no primeiro trimestre, enquanto
113
que as multigestas, mais experientes, esperam mais pela procura (31). Este
comportamento pode sugerir uma maior motivação em buscar orientações e maior
receptividade para incorporar informações e conhecimentos que possam beneficiar a
saúde do seu filho.
Ter apenas um filho influenciou favoravelmente a atitude das gestantes. Talvez
este fato possa ser justificado pelo maior tempo disponível para o autocuidado,
realização das práticas de higiene bucal e procura pelo tratamento odontológico. Um
número alto de filhos parece comportar-se como obstáculo para a formação de
atitudes adequadas (28).
Melhor atitude foi encontrada entre as gestantes que não apresentaram
problemas de saúde em gestação anterior. Os resultados obtidos indicam tamm
uma tendência de atitudes favoráveis entre as mulheres sem história de parto
prematuro anterior. Provavelmente, atitudes favoráveis à sde geral resultaram em
comportamentos capazes de evitar os problemas de saúde durante a gestação bem
como desfechos desfavoráveis à mesma, e que foram acompanhadas de atitudes
favoráveis relativas à saúde bucal.
As características bioconstitucionais como idade e cor da pele podem predispor
aos desfechos em saúde, mas não o seus principais determinantes.
Representações sociais construídas destas características podem afetar fortemente a
saúde, pois determinam desigualdades de oportunidade, estabelecem interdições,
impõem maneiras de agir e comportamentos pessoais, os quais afetam a saúde
diretamente. Não se observou associação entre estas variáveis e as atitudes das
gestantes. Entretanto, como a idade e a cor da pele afetam a natureza das relações
sociais do indivíduo, podem ter implicado em oportunidades desiguais de acesso à
educação (32) que foi a variável mais fortemente associada à atitude.
Observou-se que gestantes submetidas ao tratamento odontológico
apresentaram melhor atitude que as não tratadas. Contudo, a diferença entre os
grupos não foi significativa, o que talvez possa ser explicado pelo reduzido número de
gestantes tratadas até o momento da entrevista. Futuros estudos poderão confirmar
que conhecimentos, atitudes e práticas de saúde mais adequadas entre mulheres
estão associados à procura por orientação profissional (33).
O presente estudo foi realizado em uma população com características
sociodemográficas particulares, uma vez que a maioria das entrevistadas apresentava
baixo nível de escolaridade e renda. É possível que estudos desenvolvidos em outras
114
populações e/ou em contextos sociais diferentes contribuam para retificar ou ratificar
os resultados encontrados, permitindo assim, melhor compreensão das atitudes de
gestantes frente à saúde bucal.
Uma possível limitação deste estudo refere-se ao seu delineamento
transversal. Todas as observações foram feitas em cada indivíduo em uma única
oportunidade não sendo possível estabelecer a precedência temporal das variáveis
independentes sobre o desfecho.
Também pode ter incidido vs de desejabilidade social que resulta de
respostas baseadas no que o indivíduo percebe como sendo socialmente apropriado
e o em seus conhecimentos, crenças e sentimentos (23). Embora as participantes
tenham sido informadas que o pesquisador era da área odontológica, no momento
anterior à coleta dos dados, o mesmo ressaltou queo existiam respostas certas ou
erradas e que a pesquisa pretendia, unicamente, identificar o que a gestante já
conhecia sobre a saúde bucal de modo a direcionar as orientações que deveria
receber.
É importante salientar que a escolaridade foi a variável mais fortemente
associada com a atitude das voluntárias, e pode, direta ou indiretamente, relacionar-
se às demais associações encontradas no presente estudo. Tal fato merece atenção
dos profissionais e dos gestores da saúde envolvidos na assisncia pré-natal.
O resultado de que pouco mais de uma em três gestantes tem atitude
desfavorável frente à saúde bucal ressalta a necessidade de reforço às ações
individuais e/ou coletivas de promoção e proteção de saúde, direcionadas a este
grupo usuário do serviço público. Uma análise pormenorizada dos itens que
compuseram o instrumento poderá direcionar as ações necessárias à manutenção ou
modificação das atitudes para esta população específica.
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118
6.4 PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E ATITUDINAL DE SAÚDE BUCAL DE GESTANTES
USUÁRIAS DO SERVIÇO PÚBLICO DE JUIZ DE FORA, MG.
Manuscrito aceito para publicação no periódico Pesquisa Brasileira em
Odontopediatria e Clínica Integrada (Anexo 3)
119
Título em Português: Perfil epidemiológico e atitudinal de saúde bucal de gestantes
usuárias do serviço público de Juiz de Fora, MG.
Título em Inglês: Epidemiological and attitudinal profile of the oral health of pregnant
users of the public service of Juiz de Fora, MG.
Autores:
1. Renata Tolêdo Alves RT Alves: Mestre; Doutoranda do Programa de Pós-
Graduação em Saúde; Faculdade de Medicina; Universidade Federal de Juiz
de Fora; Minas Gerais; Brasil. Bolsista da CAPES.
2. Aline da Silva Oliveira
AS Oliveira: Mestranda do Programa de Pós-
Graduação em Saúde; Faculdade de Medicina; Universidade Federal de Juiz
de Fora; Juiz de Fora; Minas Gerais; Brasil. Bolsista da CAPES.
3. Isabel Cristina Gonçalves Leite ICG Leite: Doutora; Disciplina Saúde
Coletiva e Epidemiologia (Professora Adjunta); Departamento Saúde Coletiva;
Faculdade de Medicina; Universidade Federal de Juiz de Fora; Juiz de Fora;
Minas Gerais; Brasil.
4. Luiz Cláudio Ribeiro LC Ribeiro: Doutor; Disciplina Estatística Aplicada
(Professor Adjunto); Departamento de Estatística; Instituto de Ciências Exatas;
Universidade Federal de Juiz de Fora; Juiz de Fora; Minas Gerais; Brasil.
5. Rosangela Almeida Ribeiro
RA
Ribeiro: Doutora; Disciplina
Odontopediatria II (Professora Titular); Departamento Odontologia Social e
Infantil; Faculdade de Odontologia; Universidade Federal de Juiz de Fora; Juiz
de Fora; Minas Gerais; Brasil.
120
RESUMO
Objetivo: Este estudo traçou o perfil epidemiológico e atitudinal de gestantes usuárias
do serviço público de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, a fim de conhecer a condição
dentária, necessidades de tratamento, condição periodontal e atitudes frente à dieta,
higiene bucal, relação bidirecional entre saúde bucal e gestação, crenças e mitos
relacionados à saúde bucal e assistência odontológica. Método: Foram incluídas 312
gestantes com idade entre 13 e 43 anos. O exame clínico determinou a condição
dentária pelo índice CPO-D e as necessidades de tratamento e condição periodontal
pelo Índice Periodontal Comunitário (IPC). As atitudes foram avaliadas por entrevista
individual. Os dados foram submetidos à análise descritiva. Resultados: O CPO-D
médio da amostra foi 10,79 (±6,08). Necessidade de tratamento restaurador foi mais
frequentemente observada (37,6%). A presença de cálculo dentário foi a condição
periodontal mais frequente (47,9%). O formulário que avaliou as atitudes obteve boa
consistência interna (α=0,82). A análise das subescalas do instrumento demonstrou
atitudes desfavoráveis frente à dieta, relacionadas à frequência alimentar e alto
consumo de carboidratos, que foram, no entanto, acompanhadas por atitudes
favoráveis quanto à higiene bucal. Observou-se que gestantes ignoram as possíveis
repercussões da saúde bucal sobre o feto e parto, embora percebam alterações
bucais após a gestação. As atitudes relativas a crenças e mitos frente à saúde bucal e
assistência odontológica demonstraram que 79,9% das gestantes desconhecem as
possibilidades de tratamento e que 43,3% temem que esta assistência prejudique o
bebê. Conclusão: As gestantes apresentaram quadro de saúde bucal precária e
atitudes predominantemente desfavoráveis quanto aos aspectos avaliados. Os
resultados obtidos irão subsidiar o planejamento e execução de programas de
educação e atenção odontológica dirigidos a esta população, com vistas à saúde
materno-infantil.
Descritores: Epidemiologia, gestantes, sde bucal, atitudes, serviços de saúde.
121
ABSTRACT
Purpose: This study traced the epidemiological and attitudinal profile of the pregnant
women who use the public health services of Juiz de Fora, Minas Gerais, Brazil, in
order to know the dental condition, treatment needs, periodontal condition and their
attitudes towards diet, oral hygiene, bidirectional relation between oral health and
pregnancy and myths and beliefs referring to oral health and dental assistance.
Method: A sample of 312 pregnant women was included in the study with ages
ranging from 13 to 43. The clinical exams determined the oral condition by means of
CPO-D. The treatment needs and periodontal condition were determined by means of
Community Periodontal Index. Attitudes were evaluated by individual interviews. Data
were submitted to descriptive analysis. Results: The mean CPO-D of the sample was
10.79 (±6.08). Restorative treatment needs were most frequently observed (37.6%).
The presence of dental calculus was the most frequent periodontal condition among
the pregnant women (47.9%). The Cronbach’s alpha of the whole scale was 0.82,
indicating good internal consistency. The analysis of the subscales of the instrument
showed unfavourable attitudes towards diet represented by increase on diet frequency
and high consumption of carbohydrates. However, favourable attitudes have been
shown towards oral hygiene. Although the pregnant women perceive oral alterations
after the gestational period they do not know or disagree with possible rebound of oral
health during pregnancy. Myths and beliefs referring to oral health and dental
assistance showed that 79.9% do not know which procedures can or can not be.
Conclusion: The pregnant women presented poor oral health and predominantly
unfavourable attitudes as to the evaluated aspects. The obtained results will support
the planning and set up of educational programs and dental assistance towards this
population aiming at maternal-infant health.
Descriptors: Epidemiology, pregnant women, oral health, attitude, health services.
122
INTRODUÇÃO
A gestação é um estado durante o qual a mulher carrega o filho em
desenvolvimento no útero. Inicia-se na fertilização (óvulo fecundado) e termina ao
nascimento (1). Neste período da vida da mulher, ocorrem mudanças fisiológicas e
comportamentais importantes, em resposta ao crescimento e desenvolvimento fetal.
Para a Odontologia, entre as mudanças fisiológicas, as alterações dos níveis
hormonais, especialmente de estrógeno e progesterona, são de particular interesse.
Estudos sugerem que estes hormônios contribuem significativamente na maior
suscetibilidade à doença periodontal que as gestantes apresentam (2,3).
Embora a literatura não seja unânime ao relacionar o aumento da prevalência
de cárie dentária com a gestação, existem condições bucais ideais para uma maior
atividade cariogênica neste peodo, justificadas por um decréscimo na capacidade
fisiológica do estômago, o qual promove ingestão de menor quantidade de alimentos
de cada vez, tornando as refeições das gestantes mais frequentes (4,5).
A exposição constante do esmalte dentário ao conteúdo ácido do suco gástrico
nos momentos de náuseas e emese, e a diminuição de pH e capacidade tampão da
saliva também podem predispor à doença (6).
Adicionalmente, estudos sugerem que a situação de saúde bucal pode
desempenhar um papel importante na etiopatogenia de diversas condições, entre
elas, os resultados adversos na gestação. Um estudo de meta-análise recente
demonstrou que o tratamento periodontal em gestantes reduz significativamente o
índice de nascimentos prematuros e pode reduzir o índice de baixo peso ao
nascimento (7).
Apesar de a gestação representar um aumento do risco ao desenvolvimento
das doenças bucais e dos possíveis impactos destas doenças na saúde materno-
infantil, gestantes vão menos ao cirurgião-dentista que mulheres de grupo etário
semelhante (8). Parecem existir lacunas na atenção odontológica rotineira oferecida a
esta população, embora as gestantes estejam mais receptivas a adquirir novos
conhecimentos e modificar bitos que possam influenciar a saúde e o
desenvolvimento do bebê, além constituírem um grupo ideal para que o processo de
aprendizagem se realize (9).
Este comportamento frente à sde bucal pode ser associado à fragilidade
psicológica e às fortes influências culturais que mitificam a atenção odontológica às
gestantes e acabam por afastá-las do tratamento (10).
123
A assistência pré-natal constitui-se em um conjunto de procedimentos clínicos
e educativos com o objetivo de manter sob vigilância a evolução da gestação e
promover a saúde da mãe e da criança (9). Um acompanhamento pré-natal adequado
deve conceber a saúde bucal como parte integrante da saúde sistêmica. Desta forma,
é primordial o desenvolvimento de estratégias para inserir as gestantes em um
programa de cuidados odontológicos que considere todos os aspectos envolvidos em
sua condição de saúde bucal.
O planejamento de estratégias de atuação em saúde bucal deve ser precedido
de um diagnóstico que contemple os aspectos biológicos envolvidos nas doenças
bucais, bem como os comportamentos do indivíduo, uma vez que a prevenção e o
controle das principais doenças bucais são altamente dependentes destes
componentes. Assim, poderão ser elaborados programas que respeitem as
características dos grupos aos quais serão aplicados (11).
Nesse sentido, este estudo traçou o perfil epidemiológico de saúde bucal
relativo à condição dentária e periodontal, bem como o perfil atitudinal frente à dieta,
higiene bucal, relação bidirecional entre saúde bucal e gestação, crenças e mitos
relativos à saúde bucal, e assistência odontológica, de gestantes usrias do serviço
público de Juiz de Fora, MG. Os dados obtidos poderão subsidiar o planejamento de
ões e programas específicos, a fim de promover a melhoria das condições de
saúde bucal das gestantes e contribuir para a promoção da saúde da mãe e de seu
filho.
METODOLOGIA
O estudo epidemiológico, de natureza transversal, foi apreciado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Juiz de Fora, MG, e aprovado em 16
de agosto de 2007 (Pareceres 255/2007 e 256/2007). Cada participante, após ser
devidamente esclarecida, consentiu em sua participação por meio da assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Todas as gestantes incluídas foram orientadas e encaminhadas ao “Projeto Só-
Riso Atenção Materno-Infantil” da Faculdade de Odontologia da Universidade
Federal de Juiz de Fora para tratamento em vel de atenção básica. Além disso,
tiveram a garantia de inclusão de seus filhos, após os três meses de idade, para
atenção preventiva e/ou curativa em todos os níveis no projeto.
124
A população de estudo constituiu-se de gestantes agendadas para a consulta
pré-natal em Unidades de Saúde que compõem o Sistema Único de Saúde (SUS).
Foram incluídas gestantes em boas condições de saúde, sem distinção de raça, nível
socioeconômico ou escolaridade. Foram excluídas as gestantes portadoras de
diabetes ou imunodepressão por comprometimentos sistêmicos, edêntulas, usrias
de aparelho ortodôntico, usuárias de drogas anticonvulsivantes ou ansiolíticas.
O número de gestantes necesrias para o estudo foi determinado por cálculo
amostral, segundo fórmula de lculo de expectativa populacional para a ocorrência
de doenças (12). Considerou-se a prevalência média de doença periodontal igual a
70% e uma gestante para cada nascido vivo entre os 73,3% dos nascimentos que
ocorrem no serviço público, segundo os dados do Sistema de Informação de
Nascidos Vivos (4937 nascimentos/ano) (13), com precisão requerida de 95% (1 α)
e erro admissível de 5%. Calculou-se uma amostra satisfatória de 303 gestantes.
Um único pesquisador treinado e calibrado (ASO) realizou o exame clínico bucal
das participantes sob luz ambiente, com a paciente sentada em cadeira comum (14).
O exame clínico utilizou os códigos e critérios recomendados pela Organização
Mundial da Saúde OMS (17). A condição dentária foi avaliada segundo o número de
dentes cariados, perdidos e obturados (índice CPO-D) e a necessidade de tratamento
e a condição periodontal, segundo o Índice Periodontal Comunitário (IPC). Para todos
os índices foi verificada a concordância intraexaminador em 10% da amostra
(Kappa0,94).
Outro pesquisador (RTA), previamente treinado e calibrado, realizou a coleta
dos dados demográficos, socioeconômicos e relativos às atitudes das participantes.
As atitudes das gestantes frente aos diversos aspectos de saúde bucal foram
avaliadas por meio de um instrumento, constituído de 55 afirmativas (itens),
construídas numa escala tipo Likert. Esta escala é uma forma de mensuração
especialmente utilizada em levantamentos de atitudes, opiniões e avaliações (16).
Para cada item formulado, as gestantes entrevistadas responderam conforme uma das
seguintes possibilidades: concordo, o sei e discordo. O instrumento foi submetido à
validação pelo método da consistência interna determinado pelo alfa de Cronbach (α
de Cronbach).
Para criação do banco de dados, foi utilizado o programa Excel para Windows.
Os dados de cada variável foram digitados de forma independente por duas
pesquisadoras (RTA e ASO) e, em seguida, foram revisados para identificar potenciais
125
outliers. Os erros identificados foram corrigidos. A validação dos itens de atitudes pelo
método da consistência interna e a análise descritiva dos dados foram realizadas por
meio do pacote estatístico SPSS para Windows (versão 10).
RESULTADOS
Foram convidadas a participar do estudo, 340 gestantes. Destas, 16 recusaram
sua participação alegando falta de tempo e/ou interesse e 12 preencheram algum dos
critérios de exclusão. A amostra final foi composta por 312 gestantes, com idade entre
14 e 43 anos (idade média 27,5 ± 6,05).
A Tabela 1 descreve as características demográficas e socioeconômicas da
população do estudo. As gestantes eram predominantemente adultas (91,7%) e não
brancas (61,9%). A maioria (76%) vivia com parceiros estáveis, ou seja, eram
casadas ou viviam em regime de união estável, e 56,7% não trabalhavam fora de
casa. Mais da metade da amostra (55,8%) apresentava escolaridade inferior a 8 anos
e 82,7% tinham renda familiar inferior a dois salários mínimos em valores atuais (R$
927,00).
Tabela 1 Características demográficas e socioeconômicas de 312 gestantes, Juiz de Fora, MG, 2009.
Variável
Classificação Frequência absoluta
(n=312)
Frequência relativa
(%)
Adolescente (14 a 19 anos) 26 8,3
Idade
Adulta (20 a 43 anos) 286 91,7
Branca 119 38,1
Etnia
Não branca 193 61,9
Com parceiro estável 237 76,0
Estado civil
Sem parceiro estável 75 24,0
Sim 135 43,3
Trabalha fora
Não 177 56,7
Baixa (até 8 anos) 174 55,8
Escolaridade
Alta (mais de 8 anos) 138 44,2
Até dois salários mínimos 258 82,7
Classe econômica
Mais de dois salários 54 17,3
Os resultados relativos aos dados do exame clínico demonstraram que a
prevalência de cárie dentária, estimada por meio do índice CPO-D, para a amostra
total foi 96,5%, considerando-se como experiência de cárie a presença de qualquer
elemento cariado, perdido ou obturado. O índice CPO-D das gestantes apresentou
valor médio igual a 10,79 (± 6,08), com variação entre 0 e 26, na amostra total (dados
não apresentados).
A Tabela 2 apresenta a condição dentária para cada componente do índice.
Em média, o componente “O” (6 ± 4,83) representou a maior parte do índice CPO-D
126
calculado. O número médio de dentes hígidos por gestante foi igual a 17 6,26) e
sua prevalência foi correspondente a 61,26% (5304/8658).
Tabela 2 Condição dentária de 312 gestantes, Juiz de Fora, MG, 2009.
Número de dentes
Condição dentária
Frequência absoluta
(n=8658)
Frequência relativa
(%)
Média por
gestante
Dentes presentes 8658 100% 27,5
Hígidos
5304 61,3%* 17,0
Cariados
695 8,0%* 2,2
Perdidos
787 9,1%* 2,5
Obturados
1872 21,6%* 6,0
* Dos dentes presentes
A Tabela 3 apresenta as necessidades de tratamento dentário entre as 312
gestantes examinadas. Dos 8658 dentes presentes, 1537 (17,8%) apresentavam
alguma necessidade de tratamento. O valor médio por gestante foi 4,9 elementos com
alguma necessidade de intervenção. Destes 1537 dentes, 37,6% apresentavam
necessidades restauradoras e 11,4% necessitavam de exodontia.
Tabela 3 Necessidade de tratamento dentário de 312 gestantes, Juiz de Fora, MG, 2009.
Número de dentes
Necessidade de tratamento
Frequência absoluta
(n=8658)
Frequência relativa
(%)
dia por
gestante
Nenhuma
7121 82,2 22,8
Alguma
1537 17,8 4,9
Exodontia
176 11,4* 0,6
Tratamento pulpar
103 6,7* 0,3
Restauração
578 37,6* 1,9
Coroa
24 1,6* 0,1
Não se aplica/outras
656 42,7* 2,1
* Dos dentes com alguma necessidade de tratamento
A prevalência de doença periodontal, estimada por meio do índice IPC para a
amostra total foi 87,8%. Foram consideradas portadoras de doença periodontal as
gestantes que apresentaram digos do IPC1, ou seja, a partir do sangramento
gengival (dados não apresentados).
A Tabela 4 apresenta a condição periodontal, por sextante. Dos 1872 sextantes
examinados, apenas 3,7% foram excluídos por apresentarem menos de dois dentes,
presentes ou com exodontia indicada. Dos 1803 sextantes presentes 39,5% eram
sadios (n=712) e 47,9% apresentavam cálculo dentário.
127
Tabela 4 Condição periodontal por sextante de 312 gestantes, Juiz de Fora, MG, 2009.
Número de sextantes
Condição periodontal
Frequência absoluta
(n=1872)
Frequência relativa
(%)
Média por
gestante
Sextantes excluídos
69 3,7% 0,2
Sextantes presentes
1803 96,3% 5,8
Sadio
712 39,5%* 2,3
Cálculo
863 47,9%* 2,8
Sangramento
166 9,2%* 0,5
Bolsa 4-5mm
50 2,8%* 0,2
Bolsa 6mm
12 0,6%* 0,1
* Dos sextantes presentes
A validação do instrumento com os 55 itens de atitudes demonstrou boa
consistência interna (α=0,82). A frequência das respostas obtidas em cada item
encontra-se descrita na Tabela 5.
A análise dos 14 itens relativos à dieta e higiene bucal (do 1 ao 14) mostrou um
aumento de apetite relatado pela maioria das gestantes (66,3%), preferência por
doces e massas (52,2%), aumento na ingestão de guloseimas (53,5%) e frequência
alimentar (70,2%), e presença de enjoo (72,1%) com algum episódio de emese
(59,6%). Os dados demonstraram que, para a maioria (84,6%), o enjoo não aumentou
a frequência alimentar. Mais de 90% da amostra não utilizam o fio dental após todas
as refeições e, mais da metade discordou das dificuldades relativas à higiene bucal na
presença de enjoo. O uso de escova, pasta e fio dental para a realização da higiene
bucal foi relatado por 49% da amostra, mas 38,8% relataram que o tinham hábito
de uso do fio dental.
Os dados dos 18 itens (do 15 ao 32) referentes às atitudes frente à relação
bidirecional entre a saúde bucal e a gestação demonstraram a percepção de
influências do período gestacional sobre a saúde bucal. A maioria percebeu aumento
do fluxo salivar (58,3%), sensibilidade aumentada nos dentes (55,4%), maior
formação de cálculo dentário (34,6%) e presença de sangramento durante a
escovação (59,3%).
Por outro lado, os resultados relativos à possível repercussão da condição
bucal sobre a evolução e desfecho da gestação mostraram que a maioria das
gestantes não sabe ou discorda da relação entre a cárie ou infecção dentária sobre o
feto e/ou parto, embora a quase totalidade da amostra (98,4%) tenha relatado que
procuraria o cirurgião-dentista durante a gestação se soubesse de uma possível
repercussão de sua condição bucal sobre a gestação.
128
Tabela 5 Distribuição das respostas dos 55 itens da escala de atitudes frente à saúde bucal de 312 gestantes, Juiz
de Fora, MG, 2009.
Itens de atitudes (α=0,82) Respostas (n – %)
Subescala de dieta e higiene Concordo Não sei Discordo
01 Meu apetite aumentou durante a gravidez 210 67,3 0 0,0 102 32,7
02 Passei a preferir alimentos doces e massas 163 52,2 1 0,3 148 47,4
03 Depois que engravidei passei a comer mais guloseimas 167 53,5 0 0,0 145 46,5
04 Como mais vezes durante o dia agora que estou grávida 219 70,2 0 0,0 93 29,8
05 Tive enjoo durante a gestação 225 72,1 0 0,0 87 27,9
06 Na época do enjoo eu chegava a vomitar 186 59,6 0 0,0 126 40,4
07 Quando eu tinha enjoo eu comia toda hora 48 15,4 0 0,0 264 84,6
08 Uso o fio dental todas as vezes que eu como 25 8,0 0 0,0 287 92,0
09 Passei a escovar menos os dentes por causa do enjoo 107 34,3 1 0,3 204 65,4
10 A pasta dá enjoo, por isto, escovo menos os dentes 110 35,3 0 0,0 202 64,7
11 Passei a não escovar a língua por causa do enjoo 105 33,6 3 1,0 204 65,4
12 Uso apenas escova e pasta para a higiene bucal 122 39,1 0 0,0 190 60,9
13 Uso escova, pasta e fio dental 153 49,0 0 0,0 159 51,0
14 Não tenho o hábito de usar o fio dental 121 38,8 0 0,0 191 61,2
Subescala relação bidirecional Concordo Não sei Discordo
15 Depois que engravidei, passei a salivar mais 182 58,3 4 1,3 125 40,4
16 Minha gengiva passou a sangrar mais após a gravidez 133 42,6 0 0,0 179 57,4
17 Minha gengiva já sangrava antes de ficar grávida, mas piorou 99 31,7 0 0,0 213 68,3
18 Passei a ter mais cárie depois da gravidez 114 36,5 69 22,1 129 41,4
19 Meus dentes estragaram mais depois da gravidez 109 35,0 21 6,7 182 58,3
20 Depois de engravidar meus dentes ficaram mais sensíveis 173 55,5 1 0,3 138 44,2
21 Depois da gravidez tive mais tártaro 108 34,6 60 19,2 144 46,2
22 Meus dentes sangram na hora da alimentação 34 10,9 1 0,3 277 88,8
23 Meus dentes sangram na hora que eu escovo 185 59,3 0 0,0 127 40,7
24 Meus dentes sangram sozinhos 33 10,6 1 0,3 278 89,1
25 Meus dentes ficaram bambos depois da gravidez 34 10,9 1 0,3 277 88,8
26 A cárie na mãe pode levar ao parto prematuro 22 7,0 131 42,0 159 51,0
27 A cárie na mãe pode diminuir o peso do feto 41 13,1 129 41,4 142 45,5
28 A cárie pode fazer com que eu perca meu bebê 16 5,1 132 42,3 164 52,6
29 A infecção de um dente na mãe pode diminuir o peso do feto 143 45,8 103 33,0 66 21,2
30 A infecção de um dente na mãe pode levar ao parto prematuro 93 29,8 123 39,4 96 30,8
31 A infecção de um dente pode fazer com que eu perca o bebê 65 20,8 125 40,1 122 39,1
32 Se soubesse que a saúde bucal influencia na gestação iria ao CD 307 98,4 3 1,0 2 0,6
Subescala crenças e mitos Concordo Não sei Discordo
33 Eu acho que a gravidez faz as obturações caírem 91 29,2 39 12,5 182 58,3
34 Eu acredito que a gravidez altera a saúde bucal 177 56,7 31 10,0 104 33,3
35 A gravidez faz os dentes doerem 167 53,5 13 4,2 132 42,3
36 Os remédios da gravidez podem estragar os dentes 126 40,4 49 15,7 137 43,9
37 A gravidez pode fazer a mulher perder dentes 104 33,3 63 20,2 145 46,5
38 A gravidez enfraquece os dentes 153 49,0 48 15,4 111 35,6
39 O feto pode tirar cálcio dos dentes da mãe 130 41,7 86 27,6 96 30,8
40 A gestante pode tratar os dentes 40 12,8 44 14,1 228 73,1
41 Meu médico disse que não posso tratar meus dentes 21 6,7 0 0,0 291 93,3
42 O dentista disse que não posso tratar meus dentes 53 17,0 0 0,0 259 83,0
43 Outras pessoas disseram que não posso tratar meus dentes 128 41,0 0 0,0 184 59,0
44 Acho que o tratamento odontológico pode incomodar o be 36 11,5 29 9,3 247 79,2
45 Não sei o que a gestante pode ouo fazer no dentista 249 79,8 10 3,2 53 17,0
46 Gestante só pode fazer limpeza 66 21,2 85 27,2 161 51,6
47 Gestante não pode tomar anestesia 161 51,6 74 23,7 77 24,7
48 A anestesia pode também anestesiar o feto 55 17,6 82 26,3 175 56,1
49 A anestesia pode causar defeitos no bebê 76 24,4 107 34,3 129 41,3
50 A anestesia pode fazer com que eu perca meu bebê 66 21,1 106 34,0 140 44,9
51 Gestante não pode fazer cirurgia/extração 165 52,9 83 26,6 64 20,5
52 Gestante não pode tirar raio-X 191 61,2 36 11,6 85 27,2
53 O raio-X pode causar defeitos no bebê 172 55,1 69 22,1 71 22,8
54 O raio-X pode fazer com que eu perca meu bebê 103 33,0 87 27,9 122 39,1
55 Tenho medo de tratar meus dentes e prejudicar o bebê 135 43,3 6 1,9 171 54,8
129
Os 23 itens (do 33 ao 55) que avaliaram as crenças e mitos de gestantes frente
à saúde bucal e assistência odontológica durante a gestação demonstraram que
56,7% acreditam que a gestação altera a saúde bucal. As principais crenças das
gestantes referem-se ao aumento de sensibilidade dolorosa (53,5%), enfraquecimento
dos dentes (49,0%), retirada de lcio dos dentes da mãe pelo feto (41,7%). Mais da
metade da amostra (79,8%) não soube quais procedimentos podem ou não ser
realizados durante a consulta odontológica. As gestantes acreditam que não podem
tomar anestesia (51,6%), realizar procedimentos cirúrgicos (52,9%) e submeter-se ao
exame radiográfico (51,2%). Entre as entrevistadas, 55,1% acreditam que o exame
radiográfico pode causar malformação fetal e 54,8% temem que a assistência
odontológica prejudique o bebê.
DISCUSSÃO
O conhecimento da situação epidemiológica na população é essencial para o
planejamento e a execução de ações em sde bucal. Embora as diretrizes da
Política Nacional de Saúde Bucal (17) incluam as gestantes como um grupo
específico, para o qual é proposto o diagnóstico de lesões de cárie, necessidades de
tratamento bem como das alterações periodontais, poucos estudos epidemiológicos
neste grupo o conhecidos. O presente estudo parece ter sido o primeiro a avaliar a
condição de saúde bucal e as atitudes frente à saúde bucal de gestantes usuárias do
serviço público de saúde de Juiz de Fora, MG.
O delineamento da amostra, o treinamento e a calibração do pesquisador para
realização dos exames clínicos foram estratégias utilizadas para assegurar a validade
do estudo, a confiabilidade e reprodutibilidade dos dados (18).
O grupo estudado foi composto, principalmente, por mulheres jovens, não
brancas, com companheiro, sem atividade remunerada, com até oito anos de
escolaridade e de condição econômica baixa. Estas características demográficas e
socioeconômicas o semelhantes às de estudos anteriormente realizados (19,20).
A condição dentária foi determinada por meio do índice CPO-D, o mais
utilizado na aferição da prevalência da doença na dentição permanente. Cada
unidade dentária é considerada individualmente e o total de dentes afetados expressa
a experiência passada e atual do processo de cárie nos indivíduos. Apesar de ser
considerado bom estimador para a prevalência de cárie dentária em estudos
epidemiológicos, o CPO-D tem seu valor preditivo limitado em adultos, visto que a
130
experiência acumulada de cárie permanece alta a despeito das variações nos fatores
de risco aos quais a população possa vir a ser exposta (21).
Neste estudo, o índice CPO-D médio das gestantes foi igual a 10,79 6,08).
Este valor é marcadamente inferior ao registrado pela população adulta brasileira
(CPO-D=13,20) no último levantamento nacional (22).
A análise dos componentes do índice CPO-D indicou uma maior influência do
componente “O”, seguido pelos componentes “P” e “C”, nesta ordem. Em relação aos
dentes hígidos, entre a população adulta, melhor condição de saúde foi observada
entre as gestantes de Juiz de Fora, as quais apresentaram mero médio de dentes
hígidos igual a 17, enquanto a média nacional, por adulto, foi 10,85 dentes hígidos
(22). As melhores condições encontradas podem ser atribuídas às características
particulares do município, que apresenta alto Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH>0,8) (23).
Entre os 1537 elementos dentários com necessidade de tratamento, a maior
parte da demanda (49%) poderia ser sanada por meio de atendimento em nível de
atenção básica, uma vez que restaurações de uma e duas faces (37,6%), bem como
exodontias (11,4%) eram necessárias à maioria das gestantes. No entanto, 8,3% das
unidades dentárias que apresentaram alguma necessidade de tratamento requeriam
procedimentos com maior grau de complexidade, como coroas (1,6%) e tratamento
pulpar (6,7%). Estes dados enfatizam a necessidade de disponibilizar a assistência
odontológica em outros níveis de atenção, a fim de garantir atenção integral em saúde
bucal às gestantes. Segundo a OMS, os dados acerca da necessidade de tratamento
podem ser úteis à estimativa do pessoal requerido e custos de um programa de saúde
bucal sob condições locais (15).
A avaliação da condição periodontal das gestantes empregou o IPC de forma
parcial, por meio de sondagem de dentes índice (15). Embora este registro parcial
possa subestimar a prevalência da doença (24), viabiliza a coleta de dados de modo
mais dinâmico ao diminuir o mero de dentes a serem sondados e,
consequentemente, a duração do exame.
A ausência de qualquer alteração gengival foi encontrada entre 12,2% das
gestantes. Este resultado é semelhante a outro estudo conduzido com grupo de
gestantes (25). Apesar da alta prevalência da doença encontrada, apenas 3,4% dos
sextantes presentes, entre todas as gestantes, foram acometidos por sua forma grave
(presença de bolsa periodontal). Esta forma da doença atingiu 25% das gestantes
131
com 35 anos ou mais. Segundo o último levantamento nacional, cerca de 10% dos
adultos apresentaram bolsa periodontal em um ou mais sítios (22). Como a doença
periodontal parece exercer efeito na evolução e no desfecho da gestação (7),
minimizar sua ocorrência poderia implicar diretamente na redução dos desfechos
desfavoráveis à gestação.
A avaliação de atitudes frente aos vários aspectos de saúde bucal pode
contribuir na identificação dos determinantes comportamentais envolvidos nas
doenças, visto que a saúde bucal é altamente dependente do comportamento do
indivíduo (11). Este conhecimento pode contribuir para direcionar os serviços quanto
aos cuidados em saúde bucal de uma população. Assim, este estudo investigou
também as atitudes das gestantes frente a alguns aspectos relacionados à saúde
bucal.
As atitudes foram avaliadas por um instrumento constituído de 55 afirmativas
construídas numa escala tipo Likert, especialmente utilizada para este tipo de
levantamento. As opções de respostas foram balanceadas, isto é, existiam
alternativas positivas, negativas e um “ponto do meio”, o que evita vieses de avaliação
quanto à direção das mesmas (16). Adicionalmente, realizou-se a validação do
formulário pelo método da consistência interna determinado pelo α de Cronbach. O
valor obtido (α=0,82) demonstra a confiabilidade do instrumento e a probabilidade de
obtenção dos mesmos resultados (82%) se o estudo for reproduzido.
As gestantes apresentaram atitudes desfavoráveis quanto à dieta. Suas
respostas sugerem o aumento da frequência alimentar e da ingeso de alimentos
cariogênicos, representados neste estudo como doces, massas e guloseimas. Este
resultado encontra-se em consonância com estudos anteriores (11,20,26). O aumento
da frequência alimentar pode justificar-se pela redução da capacidade do estômago, à
medida que ocorre o crescimento fetal (27). A ingestão de dieta cariogênica é
atribuída ao baixo custo dos carboidratos e à associação cultural feita entre o açúcar
e o prazer e afeto (28). Cumpre ressaltar que a amostra do presente estudo
constituiu-se de gestantes de condição econômica baixa.
A presença de enjoo e emese foi investigada pelo possível potencial
cariogênico resultante da exposição do esmalte dentário ao conteúdo gástrico e pela
influência que estes sintomas exercem sobre as atitudes das gestantes quanto à
higiene bucal (20). Contudo, embora a maioria tenha apresentado enjoo e episódios
de emese, o enjoo não diminuiu a frequência da higiene bucal.
132
Escova, pasta e fio dental são utilizados na higiene bucal. O uso do fio dental
foi considerado um hábito em mais de 60% da amostra, resultado corroborado por
outros estudos com grupos de gestantes (11,20). Estes resultados demonstram
atitudes favoráveis das gestantes frente à higiene bucal. No entanto, as condições
bucais encontradas sugerem que estas atitudes podem ter sido superestimadas.
Orientações recebidas de cirurgiões-dentistas podem ter favorecido as respostas
registradas nos itens sobre higiene bucal.
A gestação exerce seu efeito na condição bucal de gestantes predispondo ao
desenvolvimento e/ou agravamento das doenças bucais (2-6). A saúde bucal pode
também desempenhar algum papel na evolução e desfecho da gestação (7). A análise
das afirmativas sobre relação bidirecional entre saúde bucal e gestação mostrou
atitudes favoráveis quanto à influência da gestação sobre a condição bucal. Os
resultados sugerem que as gestantes não perceberam aumento no incremento de
cárie após a gestação. Embora o CPO-D médio da amostra demonstre alta
prevalência da doença, este estudo não permite inferências acerca do incremento de
cárie dentária em gestantes devido à sua natureza transversal.
Entre as atitudes que avaliaram as alterações percebidas, as gestantes
relataram apresentar sangramento gengival (59,3%). Este resultado é corroborado por
estudo anterior, o qual demonstrou que a presença de sangramento foi o principal
problema atribuído à gestação (20). Cumpre ressaltar que a resposta favorável ao
aumento da incidência de cálculo dentário após a gestação correspondeu a 34,6% da
amostra. Contudo, a avaliação da condição periodontal neste estudo demonstrou que,
em média, a presença de cálculo foi mais representativa que o sangramento gengival
(2,8 e 0,5, respectivamente).
Para a maioria das mulheres, não relação entre cárie dentária e evolução e
desfecho da gestação. Embora seja um assunto pouco explorado, a associação entre
o CPO-D e resultados desfavoveis na gestação não foi confirmada no estudo de
Meurman et al. (27). Entretanto, a relação entre doença periodontal e possíveis efeitos
sobre o feto e/ou parto parece estabelecida (7). Frente ao caráter infeccioso da
doença, as atitudes das gestantes foram desfavoráveis, uma vez que a maioria não
sabe ou discorda das possíveis consequências da presença de infecção sobre o feto
e/ou parto. Estudos anteriores investigaram a associação entre saúde bucal e saúde
geral e demonstraram que gestantes reconhecem esta relação (11,20). Todavia, como
nenhum estudo avaliou especificamente a relação entre condição bucal, feto e parto,
133
não foi possível a comparação de resultados. Chama atenção que a quase totalidade
da amostra declarou que consultaria um cirurgião-dentista se soubesse da possível
influência da condição bucal sobre a gestação. A divulgação deste conhecimento
entre gestantes poderia, provavelmente, tornar mais favoráveis as atitudes relativas à
assistência odontológica.
Foram demonstradas atitudes desfavoráveis em relação às crenças e aos mitos
sobre a saúde bucal. Ainda persistem as crenças de que a gestação é responsável
pela queda de restaurações (28), sensibilidade dolorosa nos dentes (11),
enfraquecimento dos elementos denrios (29) e retirada de cálcio dos dentes pelo
feto (28,29).
Para a maioria das entrevistadas, o tratamento odontológico não pode ser
realizado durante a gestação. Embora estudos anteriores demonstrem a influência de
relatos de profissionais de saúde e familiares sobre essa crença (11,26,29), os
resultados encontrados parecem mais fortemente relacionados ao desconhecimento
sobre as possibilidades de tratamento. O presente estudo ratifica crenças acerca do
tratamento odontológico, uma vez que a maioria das participantes concorda que
anestesia, procedimentos cirúrgicos e exames radiográficos constituem-se em
proibições durante a gestação. Estudos anteriores identificaram que gestantes
atribuem estas proibições ao dano potencial dos procedimentos ao feto (26,28,29).
Neste estudo, porém, este dano foi identificado pelas gestantes apenas para o exame
radiográfico.
O grave quadro de condição bucal, com relação à cárie dentária, doença
periodontal e necessidade de tratamento, registrado no presente estudo, demonstra a
necessidade de medidas de controle destas doenças bucais, as quais se constituem
no maior problema de saúde pública, e cujo tratamento ocupa a quarta posição dentre
os mais caros na maioria dos pses industrializados (30). As atitudes desfavoveis
de gestantes frente aos aspectos de saúde bucal avaliados podem ser consideradas
um fator de risco que, possivelmente, contribui para a situação encontrada, bem como
para a demanda de cuidados observada. Futuros estudos poderão demonstrar a
associação entre a condição de saúde bucal de gestantes e suas atitudes.
Os planejamentos em saúde devem ser antecedidos pelo diagnóstico da
condição bucal, em seus aspectos biológicos e comportamentais (11), para que
possam gerar ações capazes de resultarem em melhoria da qualidade de vida da
134
população. A ausência destes dados poderia levar a um planejamento inadequado
por parte dos gestores em saúde.
Os resultados obtidos neste estudo trouxeram à luz do conhecimento,
problemas e indicadores a serem analisados para incorporação de novas estratégias
de atenção à saúde bucal para as gestantes do município. Além disso, poderão
nortear a implementação de ões em saúde bucal em Juiz de Fora, MG, e contribuir
para o planejamento e a alocação de recursos.
Sugere-se a inclusão do cirurgo-dentista na equipe interdisciplinar de pré-
natal, a fim de conscientizar a equipe e a população de gestantes sobre a
possibilidade de diminuição do risco às doenças bucais a partir da adoção de atitudes
favoráveis frente à saúde bucal. A ampliação do acesso à assistência odontológica e
a intensificação da aplicação de medidas terapêuticas para a proteção da saúde entre
as gestantes são medidas que repercutirão na promoção de saúde bucal e,
consequentemente, em melhor qualidade de vida para mãe e filho.
CONCLUSÃO
De acordo com a metodologia utilizada e com a análise dos resultados obtidos,
pôde-se concluir que gestantes usrias do serviço público de Juiz de Fora
apresentam quadro de saúde bucal grave, grande necessidade de tratamento
odontológico restaurador. Foram observadas, também, atitudes desfavoráveis quanto
à dieta, relação entre a condição bucal e a evolução e desfecho da gestação e
crenças e mitos frente à saúde bucal e assistência odontológica. Este quadro reforça
a necessidade de implementação de estratégias educativo-preventivas dirigidas a
gestantes, bem como de garantia de atenção odontológica, como parte do programa
de pré-natal do Sistema Único de Saúde oferecido no município, com vistas à
promão de saúde materno-infantil.
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138
7 CONCLUSÕES
De acordo com a metodologia utilizada e análise dos resultados obtidos, pôde-
se concluir que:
É possível construir um instrumento confiável e lido para mensurar as
atitudes de gestantes usuárias do serviço público de Juiz de Fora, MG, frente à
saúde bucal.
As gestantes apresentaram atitudes desfavoráveis em relação à dieta
acompanhadas por atitudes favoráveis relativas à higiene bucal, exceto quanto
ao uso do fio dental.
As gestantes demonstraram atitudes favoráveis relacionadas à influência da
gestação na condição bucal e desfavoráveis quanto à possível associação da
condição bucal e desfechos adversos à gestação.
As atitudes desfavoráveis das gestantes frente às crenças e mitos indicam que
algumas alterações bucais são, erroneamente, atribuídas à gestação e a
maioria das participantes desconhece as possibilidades de tratamento
odontológico e temem que procedimentos possam colocar o feto em risco.
O lculo do escore total para a Escala de Atitudes frente à Saúde Bucal (EA-
SB) demonstrou que 63,8% das gestantes apresentaram atitude favorável
frente à saúde bucal.
As atitudes das gestantes frente à saúde bucal foram significativamente
associadas às varveis, escolaridade (P=0,007); número de gestações
(P=0,028); número de filhos (P=0,029); e problema de saúde em gestações
anteriores (P=0,010).
A avaliação das atitudes das gestantes usuárias do serviço público de Juiz de
Fora, MG frente à saúde bucal evidenciam a necessidade de reforço às ações
de promoção e proteção de saúde individual e/ou coletiva direcionadas a este
grupo específico.
139
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151
APÊNDICES
APÊNDICE 1
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
APÊNDICE 2
Roteiro de Entrevista
APÊNDICE 3
Instrumento obtido após a análise qualitativa das entrevistas
APÊNDICE 4
Versão inicial do instrumento
152
APÊNDICE 1Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Você está sendo convidada a participar, como voluntária, em uma pesquisa. Após ser
esclarecida sobre as informações a seguir. No caso de aceitar fazer parte do estudo, assine
ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é da
pesquisadora responsável. Em caso de recusa você não será penalizada de forma alguma.
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa/UFJF (Protocolo 256/2007)
e, em caso de dúvida, você pode procurar esse Comitê pelo telefone 3229-3788.
INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA:
1. Pesquisadora responsável
§ Renata Tolêdo Alves
Odontopediatra, Doutoranda em Saúde Brasileira pela Universidade
Federal de Juiz de Fora - MG.
§ Contatos: (32) 3218-1144 - (32) 9102-4603.
2. Pesquisadora participante
§ Profa. Dra. Rosangela Almeida Ribeiro, Professora Ttitular da Faculdade de
Odontologia da Universidade Federal de Juiz de Fora - MG.
§ Contatos: (32) 3213-5714 - (32) 9987-7093.
3. Objetivo
Esta pesquisa tem como objetivo
identificar as atitudes de gestantes atendidas no
serviço público de Juiz de Fora
MG frente à saúde bucal na gestação.
Se você resolver participar, você deveresponder a uma entrevista que será realizada
pela pesquisadora responsável para que sejam anotadas as suas respostas. A entrevista
constituirá de questões fechadas (múltipla escolha) e abertas sobre aspectos do tema da
pesquisa, isto é, questões relativas à história gestacional, hábitos de dieta e higiene bucal,
efeitos da saúde bucal sobre a gestação e da gestação sobre a saúde bucal e assistência
odontológica durante a gestação.
4. Benefício
Como benefício
indireto por participar deste estudo, vo contribuirá para o
levantamento de aspectos importantes para a saúde materno-infantil e para o
desenvolvimento de programas de educação e/ou atenção odontológica às gestantes com o
objetivo de preservar a saúde materna, a sanidade gestacional e a saúde do bebê.
153
5. Risco
O único risco
previsto para você, como participante desta pesquisa, é a possibilidade
eventual de você se sentir constrangida, pessoalmente, frente ao conhecimento sobre o tema.
Todavia garanto que você não será identificada por meio do formulário preenchido.
Adicionalmente, você tem a garantia de que receberá respostas às suas perguntas e
esclarecimentos das dúvidas sobre o estudo sempre que preciso.
6. Penalidade
Nenhuma penalidade
lhe será imposta caso você não queira participar ou desista, em
qualquer momento, de continuar contribuindo no estudo.
7. Ressarcimento
Como este estudo não implica em gastos financeiros para você, sujeito participante, não
está prevista nenhuma forma de ressarcimento
.
8. Consentimento livre e esclarecido:
Eu, _____________________________________, RG/CPF nº_______________________,
abaixo assinado, concordo em participar, como sujeito, do estudo que tem como objetivo
identificar as atitudes de gestantes atendidas no serviço público de Juiz de Fora
MG frente
à saúde bucal na gestação. Fui devidamente informada e esclarecida pela pesquisadora
responsável sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis
riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar
meu consentimento a qualquer momento, sem que isso leve a qualquer penalidade.
Juiz de Fora, _____ de _______________________ de 2008.
______________________________________
Assinatura da voluntária
Assinatura Dactiloscópica
______________________________________
Renata Tolêdo Alves
Pesquisadora responsável (C.I. M-6.516.156 SSPMG)
154
APÊNDICE 2 Roteiro de Entrevista
1 DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS
1.1 Idade:_________ anos
1.2 Etnia: ( ) branca ( ) negra ( ) outra:_______________
1.3 Estado Civil: ( ) solteira ( ) casada ( ) união estável ( ) outro:______________
1.4 Escolaridade: (segundo critérios da ABEP)
( ) Analfabeto ou primário incompleto
( ) Primário completo (quarta série do primeiro grau completa)
( ) Ginásio completo (primeiro grau completo)
( ) Colegial completo (segundo grau completo)
( ) Superior completo
1.5 Trabalha fora de casa? ( ) sim ( ) não
Em que?_________________________________________________________________
1.6 Grau de Instrução do chefe de família: (segundo critérios da ABEP)
( ) Analfabeto ou primário incompleto
( ) Primário completo (quarta série do primeiro grau completa)
( ) Ginásio completo (primeiro grau completo)
( ) Colegial completo (segundo grau completo)
( ) Superior completo
1.7 Dos itens abaixo, qual(is) você possui? (segundo critérios da ABEP)
( ) Televisor em cores ( ) 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5 ( ) 6 +
( ) Rádio ( ) 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5 ( ) 6 +
( ) Banheiro ( ) 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5 ( ) 6 +
( ) Automóvel ( ) 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5 ( ) 6 +
( ) Empregada ( ) 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5 ( ) 6 +
1.8 Dos eletrodomésticos abaixo, qual(is) você possui?(segundo cririos da ABEP)
Aspirador de ( ) sim ( ) não
Máquina de lavar roupa ( ) sim ( ) não
Videocassete ( ) sim ( ) não
Geladeira ( ) sim ( ) não
2 ATITUDES
2.1 HISTÓRIA GESTACIONAL
Fale um pouco sobre sua gravidez atual e as anteriores. (Número de filhos, problemas
durante as gestações, medicamentos, complicações no parto e acompanhamento pré-natal)
2.2 HÁBITOS DE DIETA E HIGIENE BUCAL
Quanto à alimentação, você percebeu alguma mudança de hábito depois de ficar
grávida? (Preferências, freqüência, quantidade, náusea, vômito)
Quanto à higiene bucal, você manteve os mesmos hábitos antes e depois da gestação?
(Freqüência, creme dental, fio dental, flúor, dificuldades).
2.3 CONHECIMENTOS DOS EFEITOS DA GESTAÇÃO NA SAÚDE BUCAL
Você acredita que o fato de estar grávida exerce algum efeito sobre sua saúde bucal?
(cárie, doença periodontal, perda de elementos dentários e/ou obturações)
2.4 CONHECIMENTOS DOS EFEITOS DA SAÚDE BUCAL NA GESTAÇÃO
Você acha que suas condições de saúde bucal podem influenciar na saúde do bebê?
(desenvolvimento do feto, parto, transmissibilidade)
2.5 ASSISTÊNCIA ODONTOLÓGICA NA GESTAÇÃO
Em relação ao tratamento odontológico, como você se comportou antes e depois de
engravidar? (Freqüência, dificuldades, medos, crenças)
155
APÊNDICE 3 Instrumento obtido após a análise qualitativa das entrevistas
A CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
1 Idade em anos
2 Etnia 1( )branca 2( )negra 3( )outra
3 Estado Civil 1( )solteira 2( )casada 3( )união estável 4( )outra
4 Trabalha fora? 1( )sim 2( )o Em que?
5 Idade Gestacional
6 Altura
7 Peso antes de engravidar
8 Peso atual
9 Número de gestações 1( )1 2( )2 3( )3 4( )4 5( )5+
10 Problema de saúde em gestações anteriores? 1( )sim 2( )não
1( )hipertensão
2( )hipotensão
3( )diabete
4( )anemia
5( )ameaça de aborto
6( )infecção geniturinária
7( )outro
11 Problema em parto anterior? 1( )sim 2( )o Qual?
12 Perdeu algum bebê? 1( )sim 2( )o
13 Prematuro anterior? 1( )sim 2( )não
14 Bebê de baixo peso anterior? 1( )sim 2( )não
15 Faz pré-natal? 1( )sim 2( )não
16 Desde quando?1( )1 2( )2 3( )3 4( )4 5( )5 6( )6 7( )7 8( )8 9( )9
17 Número consultas1( )1 2( )2 3( )3 4( )4 5( )5 6( )6 7( )7 8( )8 9( )9+
18 Fumou durante a gestação? 1( )sim 2( )não Quanto?
19 Bebeu durante a gestação? 1( )sim 2( )não Quanto?
20 Outras drogas 1( )sim 2( )o Quanto?
21 Problema de saúde na gestação atual? 1( )sim 2( )não
1( )hipertensão
2( )hipotensão
3( )diabete
4( )anemia
5( )ameaça de aborto
6( )infecção geniturinária
7( )outro
22 Uso de medicamento? 1( )sim 2( )não
1( )ácido fólico
2( )sulfato ferroso
3( )antiemético
4( )antibiótico
5( )antiinflamatório
6( )antiespasmódico
7( )analgésico
8( )outro
23 Queda ou pancada durante esse período? 1( )sim 2( )o
24 Alguma situação de estresse nessa gestação? 1( )sim 2( )o
25 Foi ao dentista após a gestação? 1( )sim 2( )não
B CLASSIFICAÇÃO ABEP
1 Escolaridade (segundo critérios ABEP)
1( )analfabeto ou primário incompleto
2( )primário completo (quarta série do primeiro grau completa)
3( )ginásio completo (primeiro grau completo)
4( )colegial completo (segundo grau completo)
5( )superior completo
156
2 Grau de instrução do chefe da família (segundo critérios ABEP)
1( )analfabeto ou primário incompleto
2( )primário completo (quarta série do primeiro grau completa)
3( )ginásio completo (primeiro grau completo)
4( )colegial completo (segundo grau completo)
5( )superior completo
3 Dos itens abaixo, qual você possui? (segundo critérios ABEP)
1( )televisão em cores 1( )0 2( )1 3( )2 4( )3 5( )4 6( )5 7( )6+
2( )rádio 1( )0 2( )1 3( )2 4( )3 5( )4 6( )5 7( )6+
3( )banheiro 1( )0 2( )1 3( )2 4( )3 5( )4 6( )5 7( )6+
4( )automóvel 1( )0 2( )1 3( )2 4( )3 5( )4 6( )5 7( )6+
5( )empregada 1( )0 2( )1 3( )2 4( )3 5( )4 6( )5 7( )6+
4 Quais eletrodomésticos você possui? (segundo critérios ABEP)
1( )aspirador de pó 1( )sim 2( )não
2( )quina de lavar 1( )sim 2( )o
3( )videocassete 1( )sim 2( )não
4( )geladeira 1( )sim 2( )o
C ATITUDES
01 Meu apetite aumentou durante a gestação
02 Procuro ingerir alimentos saudáveis por causa do bebê
03 Passei a preferir alimentos doces e massas
04 Passei a ingerir mais alimentos ácidos
05 Como mais vezes durante o dia agora que estou gvida
06 Como mais quantidade por refeição agora que estou grávida
07 Tive enjôo durante a gravidez
08 Na época do enjôo eu chegava a vomitar
09 Quando tinha enjôo comia toda hora
10 Na época dos enjôos eu não conseguia comer nada
11 Senti queimação/azia durante a gravidez
12 Evito certos alimentos por causa do ganho de peso
13 Costumo comer entre as refeições principais
14 Entre as refeições principais eu como frutas
15 Entre as refeições principais eu como guloseimas
16 Depois que engravidei passei a comer mais guloseimas
17 Passei a comer mais frutas e verduras depois de engravidar
18 A alimentação da mãe pode influenciar os dentes do feto
19 Antes de ficar grávida escovava os dentes mais vezes ao dia
20 Passei a escovar menos os dentes por causa do enjôo
21 A pasta de dentes enjôo
22 Continuo escovando os dentes as mesmas vezes que antes
23 Escovo os dentes todas as vezes que como
24 Como passei a me alimentar menos, escovo menos os dentes
25 Uso apenas escova e pasta para a higiene bucal
26 Uso escova, pasta e fio dental
27 Uso escova, pasta, fio dental e bochecho
28 Uso menos o fio dental que usava antes de engravidar
29 Passei a usar menos o fio dental por causa do enjôo
30 Continuo usando o fio dental as mesmas vezes que antes
31 Uso o fio dental todas as vezes que eu como
32 Uso fio dental pelo menos uma vez ao dia
33 Não tenho o hábito de usar o fio dental
34 Só uso o fio dental de vez em quando
35 Faço uso de bochechos
157
36 Parei de usar os bochechos por causa do bebê
37 Flúor serve para clarear os dentes
38 Flúor serve para limpar os dentes
39 Flúor serve para deixar os dentes mais fortes
40 Flúor serve para prevenir a cárie
41 Somente crianças precisam usar o flúor
42 Adultos precisam usar o flúor
43 Nunca usei flúor
44 Só usei flúor quando era criança
45 Só uso flúor quando vou ao dentista
46 Meu médico passou flúor pra eu tomar por causa do be
47 O flúor não pode ser usado em excesso
48 Tenho o hábito de escovar a língua
49 Passei a não escovar a língua por causa dos enjôos
50 Percebi mudanças na minha boca depois de ficar grávida
51 Depois que engravidei, passei a salivar mais
52 Minha gengiva passou a sangrar depois de ficar grávida
53 Minha gengiva já sangrava antes de ficar grávida, mas piorou
54 Minhas obturações caíram depois que fiquei grávida
55 Passei a ter mais cárie depois da gravidez
56 Meus dentes estragaram mais depois da gravidez
57 Eu acredito que a gravidez altera minha saúde bucal
58 Depois de engravidar meus dentes ficaram mais sensíveis
59 Depois da gravidez tive mais tártaro
60 A gravidez fez meus dentes doerem
61 Meus dentes sangram na hora da alimentação
62 Meus dentes sangram na hora do fio dental
63 Meus dentes sangram sozinhos
64 Os remédios da gravidez estragaram meus dentes
65 Meus dentes ficaram bambos depois da gravidez
66 Passei a mastigar os alimentos mais de um lado que do outro
67 A gravidez pode fazer a mulher perder dentes
68 O feto pode tirarlcio dos dentes da mãe
69 A gravidez enfraquece os dentes
70 Minha saúde bucal pode influenciar o desenvolv. do feto
71 Minha saúde bucal pode influenciar o meu parto
72 A infecção na boca pode atingir o feto
73 A mãe pode transmitir doenças bucais ao feto
74 A mãe pode transmitir doenças bucais ao bebê
75 A mãe pode transmitir doenças bucais através da alimentação
76 A mãe pode transmitir doenças bucais ao feto
77A mãe pode transmitir doenç. bucais ao bebê pela respiração
78 A mãe pode transmitir doenças bucais ao bebê pelo beijo
79 A doença da gengiva na mãe pode diminuir o peso do feto
80 A doença da gengiva na mãe pode levar ao parto prematuro
81 A cárie na mãe pode diminuir o peso do feto
82 A cárie na mãe pode levar ao parto prematuro
83 A doença da gengiva pode fazer com que eu perca meu bebê
84 A cárie pode fazer com que eu perca meu bebê
85 A infecção de um dente pode fazer com q/ eu perca meu bebê
86 A infecção de um dente na mãe pode diminuir o peso do feto
87 A infecção de um dente pode levar ao parto prematuro
88 A gestante pode tratar os dentes
89 Eu procurei o dentista durante a gestação
90 Médico disse que não posso tratar meus dentes
91 Dentista disse que não posso tratar meus dentes
92 Outras pessoas disseram que não posso tratar meus dentes
93 Gestantes só pode fazer limpeza
158
94 Gestantes não pode tomar anestesia
95 A anestesia pode também anestesiar o feto
96 Eu fiz tratamento odontológico durante a gestação
97 Gestante não pode tirar raio-X
98 É melhor tratar os dentes depois do benascer
99 Gestante não pode fazer cirurgia/extração
100 Eu consigo dentista facilmente nas UBS
101 A anestesia pode causar defeito no be
102 Tirar raio-X pode causar defeito no bebê
103 Tenho medo de tratar meus dentes e prejudicar o bebê
104 A anestesia pode fazer com que eu perca o bebê
105 Tirar raio-X pode fazer com que eu perca o bebê
106 Não fui ao dentista antes por falta de condições financeiras
107 Acho que o tratamento odontológico pode incomodar o bebê
108 Não sei dizer o que a gestante pode ou não fazer no dentista
109 Cuidar dos dentes é importante para minha sde
110 Cuidar dos dentes é importante para o feto
111 Cuidar dos dentes é importante para o bebê
112 Meus dentes sangram na hora que escovo
159
APÊNDICE 4 Versão inicial do instrumento
A CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
1 Idade __________ anos
2 Etnia 1( )branca 2( )negra 3( ) parda 4 ( )outra
3 Estado Civil 1( )solteira 2( )casada 3( )união estável 4( )outra
4 Trabalha fora? 1( )sim 2( )o 4.1 Em que?
5 Idade Gestacional ________________
6 Altura________________
7 Peso antes de engravidar________________
8 Peso atual________________
9 Número de gestações 1( )1 2( )2 3( )3 4( )4 5( )5+
10 Problema de saúde em gestações anteriores? 1( )sim 2( )não
10.1 Qual? 1( )hipertensão
2( )hipotensão
3( )diabete
4( )anemia
5( )amea de aborto
6( )infecção geniturinária
7( )outro________________
11 Problema em parto anterior? 1( )sim 2( )o 11.1 Qual?________________
12 Perdeu algum bebê? 1( )sim 2( )o
13 Prematuro anterior? 1( )sim 2( )não
14 Bebê de baixo peso anterior? 1( )sim 2( )não
15 Faz pré-natal? 1( )sim 2( )não
16 Desde quando?1( )1 2( )2 3( )3 4( )4 5( )5 6( )6 7( )7 8( )8 9( )9
17 Número consultas1( )1 2( )2 3( )3 4( )4 5( )5 6( )6 7( )7 8( )8 9( )9+
18 Fumou durante a gestação? 1( )sim 2( )não 18.1 Quanto?________________
19 Bebeu durante a gestação? 1( )sim 2( )não 19.1 Quanto?________________
20 Outras drogas 1( )sim 2( )o 20.1Qual? _________ 20.2 Quanto?__________
21 Problema de saúde na gestação atual? 1( )sim 2( )não
21.1 Qual? 1( )hipertensão
2( )hipotensão
3( )diabete
4( )anemia
5( )amea de aborto
6( )infecção geniturinária
7( )outro________________
22 Uso de medicamento? 1( )sim 2( )não
22.1 Qual? 1( )ácido fólico
2( )sulfato ferroso
3( )antiemético
4( )antibiótico
5( )antiinflamatório
6( )antiespasmódico
7( )analgésico
8( )outro________________
23 Queda ou pancada durante esse período? 1( )sim 2( )o
24 Alguma situação de estresse nessa gestação? 1( )sim 2( )não
25 Foi ao dentista após a gestação? 1( )sim 2( )não
B CLASSIFICAÇÃO ABEP
1 Escolaridade (segundo critérios ABEP)
1( )analfabeto ou primário incompleto
2( )primário completo (quarta série do primeiro grau completa)
3( )ginásio completo (primeiro grau completo)
4( )colegial completo (segundo grau completo)
5( )superior completo
160
2 Grau de instrução do chefe da família (segundo critérios ABEP)
1( )analfabeto ou primário incompleto
2( )primário completo (quarta série do primeiro grau completa)
3( )ginásio completo (primeiro grau completo)
4( )colegial completo (segundo grau completo)
5( )superior completo
3 Dos itens abaixo, qual você possui? (segundo critérios ABEP)
3.1( )televisão em cores 0( )0 2( )1 3( )2 4( )3 5( )4 +
3.2( )dio 0( )0 1( )1 2( )2 3( )3 4( )4 +
3.3( )banheiro 0( )0 2( )1 3( )2 4( )3 4( )4 +
3.4( )automóvel 0( )0 2( )1 4( )2 5( )3 5( )4 +
3.5( )empregada 0( )0 2( )1 4( )2 4( )3 4( )4 +
4 Quais eletrodomésticos você possui? (segundo critérios ABEP)
4.1( )aspirador de pó 1( )sim 0( )o
4.2( )quina de lavar 1( )sim 0( )não
4.3( )videocassete 2( )sim 0( )o
4.4( )geladeira 2( )sim 0( )não
Classificação:
A1 – 30/34 pontos – 1% pop. Bras. – Renda Média - 7.793,00
A2 – 25/29 pontos – 5% pop. Bras. – Renda Média - 4.648,00
B1 – 21/24 pontos – 9% pop. Bras. – Renda Média - 2.804,00
B2 – 17/20 pontos – 14% pop. Bras. – Renda Média - 1.669,00
C – 11/16 pontos – 36% pop. Bras. – Renda Média - 927,00
D – 6/10 pontos – 31% pop. Bras. – Renda Média - 424,00
E – 0/5 pontos – 4% pop. Bras. – Renda Média - 207,00
C ATITUDES
Respostas: 1 – Concordo
2 – Não sei
3 – Discordo
ATITUDES RESPOSTAS
DIETA E HIGIENE 1 2 3
01 Meu apetite aumentou durante a gestação
02 Passei a preferir alimentos doces e massas
03 Passei a ingerir mais alimentos ácidos
04 Passei a comer mais legumes/verduras depois de engravidar
05 Depois que engravidei passei a comer mais guloseimas
06 Como mais vezes durante o dia agora que estou gvida
07 Tive enjôo durante a gravidez
08 Na época do enjôo eu chegava a vomitar
09 Quando tinha enjôo comia toda hora
10 Quando tinha enjôo não conseguia comer nada
11 Eu evito doces e massas por causa do ganho de peso
12 Costumo comer entre as refeições principais
13 Entre as refeições principais eu como frutas
14 Entre as refeições principais eu como guloseimas
15 Escovo os dentes todas as vezes que como
16 Como passei a me alimentar menos, escovo menos os dentes
17 Continuo escovando os dentes as mesmas vezes que antes
18 Continuo usando o fio dental as mesmas vezes que antes
19 Uso o fio dental todas as vezes que como
20 Tenho o hábito de escovar a língua
21 Passei a escovar menos os dentes por causa do enjôo
22 A pasta dá enjôo e, por isto, escovo menos os dentes
23 Passei a usar menos o fio dental por causa do enjôo
161
24 Passei a não escovar a língua por causa do enjôo
25 Uso apenas escova e pasta para a higiene bucal
26 Uso escova, pasta e fio dental
27 Não tenho o hábito de usar o fio dental
28 Só uso o fio dental de vez em quando
29 Uso fio dental pelo menos uma vez ao dia
30 Uso escova, pasta, fio dental e bochecho
31 Faço uso de bochechos
RELAÇÃO BIDIRECIONAL 1 2 3
32 Depois que engravidei, passei a salivar mais
33 Minha gengiva passou a sangrar mais depois de ficar grávida
34 Minha gengiva já sangrava antes de ficar grávida, mas piorou
35 Passei a ter mais cárie depois da gravidez
36 Meus dentes estragaram mais depois da gravidez
37 Depois de engravidar meus dentes ficaram mais sensíveis
38 Depois da gravidez tive mais tártaro
39 Meus dentes sangram na hora da alimentação
40 Meus dentes sangram na hora que eu escovo
41 Meus dentes sangram na hora do fio dental
42 Meus dentes sangram sozinhos
43 Meus dentes ficaram bambos depois da gravidez
44 Minha saúde bucal pode influenciar o desenvolvimento do feto
45 Minha saúde bucal pode influenciar o meu parto
46 A infecção na boca pode atingir o feto
47 A mãe pode transmitir doenças bucais ao feto
48 A doença da gengiva na mãe pode diminuir o peso do feto
49 A doença da gengiva na mãe pode levar ao parto prematuro
50 A doença da gengiva pode fazer com que eu perca meu bebê
51 A cárie na mãe pode levar ao parto prematuro
52 A cárie na mãe pode diminuir o peso do feto
53 A cárie pode fazer com que eu perca meu bebê
54 A infecção de um dente na mãe pode diminuir o peso do feto
55 A infecção de um dente na mãe pode levar ao parto prematuro
56 A infecção de um dente pode fazer com que eu perca meu bebê
57 Cuidar dos meus dentes é importante para o feto
58 Se soubesse que a saúde bucal pode repercutir no feto e parto eu iria
ao CD
CRENÇAS E MITOS 1 2 3
59 Eu acho que a gravidez faz as obturações caírem
60 Eu acredito que a gravidez altera a saúde bucal
61 A gravidez faz os dentes doerem
62 Os remédios da gravidez podem estragar os dentes
63 A gravidez pode fazer a mulher perder dentes
64 A gravidez enfraquece os dentes
65 O feto pode tirarlcio dos dentes da mãe
66 A gestante pode tratar os dentes
67 Meu médico disse que não posso tratar meu dentes
68 O dentista me disse que não posso tratar meus dentes
69 Outras pessoas disseram que não posso tratar meus dentes
70 Acho que o tratamento odontológico pode incomodar o bebê
71 Não sei o que a gestante pode ou não fazer no dentista
72 Gestante só pode fazer limpeza
73 Gestante não pode tomar anestesia
74 A anestesia pode também anestesiar o feto
75 A anestesia pode causar defeitos no be
76 A anestesia pode fazer com que eu perca meu bebê
77 Gestante não pode fazer cirurgia/extração
78 Gestante não pode tirar raio-X
162
79 O raio-X pode causar defeitos no bebê
80 O raio-X pode fazer com que eu perca meu bebê
81 Tenho medo de tratar meus dentes e prejudicar o bebê
82 Eu consigo dentista facilmente nas UBS
83 Eu fiz tratamento odontológico durante a gestação
84 Não fui ao dentista antes por falta de condições financeiras
85 Cuidar dos dentes é importante para minha saúde
163
ANEXOS
ANEXO 1
Folha de Rosto
ANEXO 2
Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa
ANEXO 3
Aceite para publicação do Manuscrito: Perfil epidemiológico e
atitudinal de saúde bucal de gestantes usuárias do serviço público
de Juiz de Fora, MG.
164
ANEXO 1 – Folha de Rosto
165
ANEXO 2 – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa
166
167
ANEXO 3 - Aceite para publicação do Manuscrito: Perfil epidemiológico e atitudinal de
sde bucal de gestantes usuárias do serviço público de Juiz de Fora, MG.
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