preso, levado a um magistrado (sr. Fang), mas por um golpe de sorte, característico do
estilo dickensiano, será inocentado e ganhará uma família.
Eisner trabalha esta parte da história de Oliver com precisão. Enquanto Dickens se
utiliza de dois capítulos, totalizando 13 páginas, para montar toda a cena e o desfecho,
Eisner a resolve em poucos quadros. Isso porque a estrutura genérica da arte sequencial é
diferente da estrutura do romance. Na graphic novel Fagin, predomina a velocidade, o
timing, um ritmo mais acelerado que garante a emoção através da linguagem verbal e
não-verbal. Neste estilo, não cabe imagens redundantes.
Enquanto Dickens descreve assim o sr. Brownlow:
Iam a emergir de um pátio estreito, não longe do largo de Clerkenwell, ainda
conhecido, devido a qualquer estranha perversão linguística, pelo Prado,
quando o Trapaceiro parou de repente, e, levando um dedo aos lábios, puxou
de novo os companheiros para trás, com a maior cautela e circunspecção.
Que se passa? perguntou-lhe Oliver.
Caluda! ordenou-lhe o Trapaceiro. Vês aquele velho, na bancada da
livraria?
O cavalheiro idoso, ali? perguntou Oliver. Vejo, sim.
Pois ele serve declarou o Trapaceiro.
Mercadoria de primeira observou o sr. Charley Bates.
Oliver olhou de um para outro, com a maior das surpresas, mas não pode fazer
perguntas, pois os dois rapazes atravessaram sorrateiramente a estrada e
aproximaram-se, furtivos, pela retaguarda do senhor idoso que lhes atraíra a
atenção. Oliver deu alguns passos atrás deles, mas depois, sem saber se devia
avançar, se recuar, ficou parado a olhar, num espanto silencioso.
O senhor idoso era uma personagem de aspecto muito respeitável, de cabeça
empoada e óculos de aros e de ouro. Vestia sobrecasaca verde-garrafa, com
gola de veludo preto, e calças brancas, e tinha uma pequena bengala de bambu
debaixo do braço. Tirara um livro da bancada e estava parado a ler, tão absorto
como se estivesse sentado numa cadeira de braços, no seu escritório. É até
muito possível que se imaginasse lá. Pois tornava-se evidente, dada a sua
absoluta abstração, que não via a bancada, nem a rua, nem os rapazes, nem, em
suma, nada além do livro que lia interessadamente, virando a folha quando
chegava ao fim, recomeçando a ler a outra do princípio e repetindo
regularmente a operação com o maior interesse e entusiasmo.
Qual não foi o horror e o susto de Oliver quando, parado a alguns passos de
distância, com as pálpebras tão arregaladas quanto possível, viu o Trapaceiro
enfiar a mão na lagibeira do idoso senhor e retirá-la com um lenço! Depois viu-
se passá-lo a Charley bates e, por fim, viu-os desatar ambos a correr e
contornarem a esquina a toda a velocidade.
(…)
Tudo isso aconteceu no espaço de um minuto. No próprio instante em que
Oliver começou a correr, o senhor idoso levou a mão à algibeira e, dando por
falta do lenço, virou-se vivamente. Vendo o rapaz afastar-se com tanta pressa,
deduziu, naturalmente, que se tratava do gatuno e, gritando “agarra que é