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Vicente do Rego Monteiro, pelo fato de ser tradutor de Mallarmé, dele fazer caligramas, traduzir os
caligramas de Apollinaire, claro –, e eu conheço a obra dele total – claro que ele teve uma influ~encia
muito grande (...) na pesquisa que eu fiz sobre ele fui descobrindo sua genialidade, é um cara que eu
admiro, e também tenho influência do modo de pensar dele. A influência não é a “obra em si”, a
influência é o modo de pensar das pessoas...
L – Eu ia perguntar agora das suas experiências com a máquina xerox. Lembro que você chegou até a
colocar fogo no equipamento.
PB – Toquei fogo, aí eu liguei para eles, eles bancaram meus custos da Universidade Católica em 80. Eu
liguei e disse: “Olha, vou tocar fogo na máquina”. Aí ele deu uma risada, eu aproveitei para desligar e
dizer até logo. Aí no outro dia eu liguei: “Vem buscar a máquina que eu taquei fogo...”. “Como é??”. E eu
fiz o registro em filme. E eu coloquei uma letras set (letras adesivas) e uns algodões, joguei álcool, fechei
a sala e os alunos deveriam sair, era na Universidade. Fechei a porta, tirei a chave (...) Aí toquei fogo (...)
As únicas letras que ficaram inteiras, um pedaço aqui outro ali, aí eu juntei aleatoriamente... (...) Outro
filme meu que eu fiz nos Estados Unidos de xerox, meu filho tinha um ano, eu levei ele comigo e eu
projetei o filme... quando eu fiz, eu disse: “O que é isso?”. Aí ele disse: “Aépta”. Não sei o que é “aépta”
(...) Eu peguei do meu filho vários títulos de coisas que ele dizia. Eu mostrava: “O que é isso?”. Aí ele
dizia e eu botava (...)
L – Você acha que depois da exposição do seu atelier na XXVI Bienal de São Paulo sua obra teve um
maior reconhecimento aqui no Brasil?
PB – É... agora eu acho mais importante o trabalho que Cristina Freire fez. (...) eu sou muito grato à
Cristina. Eu acho que ela que deu... esse livro... a gente passou dois anos, ela vinha, eu ia a São Paulo. A
última vez que eu fui para fechar o livro, eu parecia o homem da cobra, eu peguei um ônibus daqueles do
aeroporto para descer em um daqueles hotéis, ela foi me buscar. Quando eu desci do ônibus, a mala bateu
roda para um lado, de tanto peso, roda para o outro, três malas! “Olha o homem da cobra aqui”, tipo
camelô, não seu o quê... Outro dia a gente estava lembrando em São Paulo e rindo no barzinho, agora
quando eu fui, eu e ela, tomando uma cervejinha e lembrando, foi pedaço de mala... A gente foi direto
para a casa dela para deixar lá... Então eu devo muito a ela (...) Isso na minha cabeça é muito bem
compartimentado, mas... tem artista que tem um tema, eu não, eu atiro para todo lado (...) Assim: eu estou
fazendo um filme, vem uma idéia para um livro, eu paro, faço. Zanini está escrevendo um livro, é o
último livro dele, sobre Arte e Tecnologia no Brasil. Aí eu mandei um filme para ele (...) ele me escreveu
e disse assim: “tem uma cena do filme que eu não entendi”, nem eu (...) e eu achei interessante, eu peguei
e botei, e depois eu não quis mais tirar, deixei lá (...) deixei, não vou tirar nunca. Ela conseguiu fazer uma
leitura que é muito complicada da minha obra porque eu trabalho com todas as áreas. Tenho uma
formação de desenhista, por vinte anos (...) Tenho pinturas, tenho gravuras. Ganhei um prêmio do salão
de 72 de Belo Horizonte, um prêmio de objeto, que foi no Festival de Inverno (...) Então eu tenho uma
formação técnica bem legal. Porque eu acho que o desenho é a base de tudo. Você, para pintar, você tem
que saber desenhar. Fiz agora umas gravuras (...) fui a Porto Alegre a convite do diretor da Fundação
Iberê Camargo, fiz três gravuras (...) fui no meu apartamento, trouxe uma sacola de coisa que eu apanho
na rua, uma escova de aço que eu levei, eu disse: “olha... isso aqui... o que eu vou fazer lá eu não sei, mas