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competição e solidariedade vivida no território familiar; a senhorial, onde se expressam as
raízes de posse, o poder autoritário e o sentimento de posse; e a cultural, caracterizada por
diferentes formas de uso, costumes e linguagem.
As territorialidades nos espaços de prostituição se manifestam de forma diferente, de
acordo com o grupo que ocupa o território. No caso dos territórios dos travestis, a posse e a
autoridade no controle do espaço estão muito presentes, defendendo, às vezes, de forma
agressiva o seu território contra outros grupos de travestis, prostitutas ou outras pessoas que
passam por seu território no intuito de apenas fazer certas “brincadeiras”. As prostitutas, por
sua vez, também defendem e criam um forte sentimento de posse sobre o seu território,
defendendo seu ponto, seja de forma agressiva fisicamente ou por meio de sua própria
linguagem. Já nos territórios dos garotos de programa, a posse se dá de forma diferente,
porquanto o que prevalece é mais o simbolismo como as vestimentas, comportamentos e
gestos mais ousados e o código através de olhares e manipulação das partes intimas, que é
desenvolvido pelo michê, como estratégias de sedução e entendidos por seus clientes.
Algumas características da territorialidade destacada por Mesquita (1995), se aplicam
aos territórios de prostituição, especialmente o sentimento de posse e poder autoritário, que
nos territórios de prostituição é desenvolvido no próprio grupo. Também pode-se destacar a
linguagem que é freqüentemente utilizada nos territórios de prostituição e que de certa forma
os diferenciam daqueles que não pertencem ao grupo.
Perlongher (1986) ao pesquisar sobre a prostituição dos garotos de programa em São
Paulo, além de destacar a idéia de identidade entre os profissionais do sexo, também justapõe
a idéia de territorialidade, pois o autor notou que, ao se propor trabalhar com os espaços de
prostituição, não se pode deixar de verificar a relação desses profissionais com o território e
suas práticas desenvolvidas para adquirir o controle espacial.
Numa tentativa de conceituar os territórios de prostituição, Ribeiro e Mattos (2002)
observaram que esses podem ser compreendidos como:
Conceitua-se os territórios da prostituição como apropriação, durante certo período de
tempo de uma rua ou um conjunto de logradouros por um determinado grupo de
prostitutas, michês e travestis, que através de uma rede de relações da adoção de
códigos de fala, expressões, gestos e passos, garantem e legitimam essas áreas como
territórios para a prática de tal atividade estruturada, outrossim, através da violência
explícita, principalmente entre as prostitutas e os travestis que utilizam, entre outros,
objetos cortantes para defender seus “pontos” contra aqueles que tentam invadi-los.
No caso dos michês, atos simbólicos, como o gestual de sua virilidade, constituem-se
nos códigos utilizados para atrair a clientela, em seus próprios territórios. (RIBEIRO
& MATTOS, 2002, p. 94).