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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DE BAHIA – UESB
CAMPUS DE ITAPETINGA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM PRODUÇÃO DE RUMINANTES
FARELO DA VAGEM DE ALGAROBA EM
DIETAS PARA CABRAS EM LACTAÇÃO
CARLOS ALBERTO SANTANA DE OLIVEIRA
ITAPETINGA
BAHIA - BRASIL
2009
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA - UESB
CAMPUS DE ITAPETINGA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA
Área de concentração: Produção de Ruminantes
CARLOS ALBERTO SANTANA DE OLIVEIRA
FARELO DA VAGEM DE ALGAROBA EM DIETAS PARA CABRAS EM
LACTAÇÃO
Dissertação apresentada à Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia UESB / Campus de Itapetinga
BA, como parte das exigências do Programa de Pós-
Graduação de Mestrado em Zootecnia, área de
Concentração: Produção de Ruminantes, para
obtenção do título de “Mestre”.
Orientadora: Prof
a
. D.Sc. Mara Lúcia Albuquerque
Pereira
Co-orientador: Prof. D.Sc. Márcio dos Santos Pedreira
ITAPETINGA
BAHIA - BRASIL
2009
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3
636.085
O46f
Oliveira, Carlos Alberto Santana de.
Farelo da vagem de algaroba em dietas para cabras em lactação. /
Carlos Alberto Santana de Oliveira. – Itapetinga-BA: UESB, 2009.
48p. Il.
Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia
da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB - Campus de
Itapetinga. Sob a orientação da Prof
a
. D.Sc. Mara Lúcia Albuquerque
Pereira e co-orientador Prof. D.Sc. Márcio dos Santos Pedreira.
Dissertação normalizada e revisada por Rogério Pinto de Paula CRB
1746-6 Reg.
1. Produção de ruminantes Caprinos Alimentação Farelo de
vagem de Algaroba. 2. Caprinos Lactação – Alimentação alternativa. 3.
Nutrição animal – Caprinos. I. Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia - Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, Campus de Itapetinga.
II. Pereira, Mara Lúcia Albuquerque (Orientadora). III. Pedreira, Márcio
dos Santos (Co-orientador). IV. Título
CDD(21): 636.085
Catalogação na Fonte:
Rogério Pinto de Paula – CRB 1746-6 Reg.
Diretor da Biblioteca Regina Célia Ferreira Silva – BIRCEFS
Presidente do Conselho de Bibliotecas da UESB
Assessor de Cultura e Extensão – ASCULTE
UESB – Campus de Itapetinga-BA
Índice Sistemático para desdobramentos por Assunto:
1. Produção de ruminantes – Caprinos – Alimentação – Farelo de vagem de algaroba
2. Algaroba – Alimentação alternativa – Caprinos
3. Nutrição animal – Caprinos
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA
Área de Concentração em Produção de Ruminantes
Campus de Itapetinga-BA
TERMO DE APROVAÇÃO
Título: “Farelo da Vagem de Algaroba em Dietas para Cabras em Lactação”
Autor: Carlos Alberto Santana De Oliveira
Orientador: Prof
a
. D.Sc. Mara Lúcia Albuquerque Pereira
Co-Orientador: Prof. D.Sc. Márcio dos Santos Pedreira
Aprovado como parte das exigências para obtenção do Título de MESTRE EM
ZOOTECNIA, Área de Concentração: PRODUÇÃO DE RUMINANTES, pela Banca
Examinadora:
Data da realização: 10 de Julho de 2009.
Praça da Primavera, nº. 40, Bairro Primavera - Caixa Posta l 95 – Telefone: (77) 3261-8628 – Itapetinga–
BA – CEP 45.700 – 000 - e-mail: mestrado.zootecni[email protected]
5
Aos meus pais, JOSÉ PEDRO e MARIA CONSTÂNCIA, pela minha formação, pelo amor,
pela força, confiança e dedicação despendidos em todas as etapas da minha vida.
A minha amada esposa JIRLANE NOBRE e meus queridos filhos GABRIEL NOBRE e
RAFAELA NOBRE pelo amor incondicional e pelo exemplo de força e determinação.
A todos os meus familiares, os quais me deram muito apoio e resignação.
DEDICO!
6
A Deus ser único e supremo
Aos meus pais, esposa e filhos pela compreensão
A Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – Campus de Itapetinga, pela oportunidade
de continuidade da realização da minha formação profissional;
Aos professores e funcionários do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia;
À Profa. Dra. Mara Lúcia Albuquerque Pereira, pela sua orientação, disponibilidade e
ensinamentos;
Ao Professor Dr. Márcio dos Santos Pedreira, pela co-orientação, amizade, ensinamentos e
boa vontade;
Ao Laboratório de Nutrição Animal, sempre marcado pelo pulso firme e profissionalismo dos
professores José Luiz e Carmen Rech, e pelo companheirismo e espírito de cooperação.
Aos amigos Maharishi, Léo, Mazzilli, Paulo Barrão, Lucas, Lizziane e Marcos que foram
pessoas decisivas na condução deste experimento;
A minha amiga Taiala, pela sua ajuda não só na condução do experimento, como também
pela realização das análises bromatológicas, que Deus te ilumine sempre;
Ao colega e grande amigo Evanilton, pela ajuda durante as horas de estudo e apoio na
montagem desta dissertação , pelo incentivo e pela grande amizade.
Ao Profº Dr. Antonio Jorge Del Rei Moura e seus orientados, os quais deram contribuição
decisiva na coleta total de urina;
Aos funcionários do Setor de Caprinocultura Edilson e Jesulino (Barriga), que sempre
estiveram à disposição no que era necessário
A Zé Queiroz um amigo e sempre a disposição nos momentos de dificuldade;
Não poderia deixar de agradecer àquelas pessoas que não acreditavam, pois foram as
mesmas que me deram mais força para chegar aonde cheguei.
Aos meus colegas da UESB, que sempre me deram incentivo e apoio, principalmente à
Regina Célia (in memoriam)
A todos, o meu sincero MUITO OBRIGADO!
AGRADEÇO!
7
RESUMO
OLIVEIRA, C. A. S. Farelo da Vagem de Algaroba em Dietas para Cabras em Lactação. Itapetinga:
UESB, 2007. 48p. (Dissertação – Mestrado em Zootecnia – Produção de Ruminantes).*
Diferentesveis de inclusão (0, 33,3, 66,7, e 100%) do farelo de vagem de Algaroba
(Prosopis juliflora) na matéria natural do concentrado, fornecido na proporção de 60% com silagem
de capim Elefante constituindo 40% da MS de dietas para cabras Saanen, foram utilizados para avaliar
o consumo voluntário, a digestibilidade, o valor energético, a produção e composição do leite, o
balanço de nitrogênio, a excreção de uréia, o comportamento ingestivo e o custo econômico das dietas.
Foram utilizadas oito cabras adultas com dias de 60 dias em lactação e 50 kg de peso corporal,
distribuídas em dois quadrados latinos balanceados 4 x 4, em quatro períodos experimentais de
dezessete dias cada, sendo os primeiros dez dias de adaptação e sete dias de coletas de dados. Os
animais foram alojados em baias individuais de madeira com piso ripado, com cochos de alimentação
e de água. Os resultados foram analisados por meio de análise de variância e os itens significativos
submetidos a estudo de regressão. Os consumos de MS, PB e NDT não foram influenciados (P>0,05)
pelos níveis de farelo de vagem de algaroba (FVA). Os consumos de EE (0,51; 0,34; 0,36; 0,20 kg/dia)
e CNF (0,54; 0,53; 0,49; 0,36 kg/dia) apresentaram efeito linear negativo (P<0,05) e para FDA (0,28;
0,35; 0,41; 0,41 kg/dia) observou-se regressão linear positiva em função do aumento de FVA na dieta.
O consumo de MO (1,29; 1,35; 1,39; 1,12 kg/dia) e de FDN apresentaram comportamento quadrático
(P<0,05). Para FDN, estimaram-se consumos máximos de 0,665 kg/dia e 1,48% PC com níveis de
60,3 e 60,9% de substituição, respectivamente. Os coeficientes de digestibilidade dos nutrientes e o
percentual de NDT (65,5%) das dietas não foram afetados (P>0,05). Os tempos despendidos com
alimentação, ruminação e ócio não foram influenciados pela adição de FVA, portanto a taxa de
alimentação de MS das dietas sofreu queda linear (P<0,05) refletindo restrição do consumo. O balanço
de nitrogênio (N) foi negativo e não foi influenciado pelo aumento dos níveis de FVA, assim como as
excreções de N no leite e na urina expressas em g/dia e mg/kgPC
0,75
não foram afetadas (P>0,05). No
entanto, a excreção fecal de N reduziu (P<0,05) com a inclusão de FVA. A utilização de níveis
crescentes de FVA não afeta as concentrações de uréia no leite e no plasma. Não se observou
diferença estatística (P>0,05) entre os tratamentos analisados para a excreção diária de uréia na urina e
no leite. Entretanto, as concentrações de N ureico na urina apresentaram comportamento quadrático
(P<0,05), estimando valor mínimo de 116,7 mg/dl com 43% de FVA. A substituição do milho pelo
FVA até 66,7% no concentrado não altera (P>0,05) a produção de leite (média de 1,91 kg/dia) e os
constituintes do leite como, gordura, proteína bruta, lactose, sólidos totais e extrato seco
desengordurado. Avaliou-se a economicidade de produção de leite, considerando o custo com
alimentação dos animais e a receita representada pela produção de leite. As dietas com 0 e 33,3% de
substituição, o custo do litro de leite foi de R$ 0,33 e das dietas com 66,7 e 100%, o custo foi de R$
0,30. Animais recebendo dieta contendo 33,3 a 66,7% de FVA no concentrado foram os que
proporcionaram melhor margem bruta de lucro em R$/cabra/dia, sem levar em consideração a
variação do peso corporal.
Palavras-chave: balanço de nitrogênio, consumo, digestibilidade, excreção de uréia, produção de
leite, taxa de alimentação.
_________________________________
* Orientadora: Profa. D.Sc. Mara Lúcia Albuquerque Pereira, UESB e Co-orientador: Prof. D.Sc.
Márcio dos Santos Pedreira, UESB.
8
ABSTRACT
OLIVEIRA, C. A. S. Meskit (Prosopis juliflora (SW.) DC.) pod meal in substitution to corn meal in
diets for lactating goats. Itapetinga: UESB, 2009. 48p. (Dissertation Magister Scientiae in Animal
Science – Concentration Area in Ruminant Production).*
Different levels of inclusion (0, 33.3, 66.7 and 100%) of the meskit pod meal (Prosopis
juliflora) (MPM) in the natural matter basis of the concentrate, supplied in the ratio of 60% with grass-
Elephant silage constituting 40% of the dry matter basis. Eight Saanen goats had been used to evaluate
the voluntary intake, the digestibility and the energy value, the production and composition of milk,
the nitrogen balance, the urea excretion, the ingestive behavior and the economic cost of the diets.
Dairy goats with averages of 60 days in lactation and 50 kg of body weight (BW) were distributed in
two balanced Latin squares 4 x 4 design, with four experimental periods of 17 days each, being the
first ten days for adaptation and seven days of data collections. The animals had been lodged in
individuals wooden bays with feeder and water reservoir. The causes of variation of the results had
been analyzed by means of variance and regression analysis using themselves the System of Statistical
and Genetic Analysis - SAEG, 9.1, by means of t test, 5% of probability. The intake of dry matter
(DM), crude protein (CP) and total digestible nutrient (TDN) had not been influenced (P>0.05) by the
levels of MPM. Intake of ether extract (EE) (0.51, 0.34, 0.36, 0.20 kg/day) and non fibrous
carbohydrate (NFC) (0.54, 0.53, 0.49, 0.36 kg/day) had presented negative linear effect (P<0.05) and
for acid detergent fiber (ADF) (0.28, 0.35, 0.41, 0.41 kg/day) observed positive linear regression in
function to increase of MPM. The intake of organic matter (OM) (1.29, 1.35, 1.39, 1.12 kg/day) and
neutral detergent fiber (NDF) had presented quadratic effect (P<0.05). For NDF, had been estimated
maximum intake of 0.665 kg/day and 1.48% BW with levels of 60.3 and 60.9% of substitution,
respectively. The digestibility coefficients of the nutrients and the percentage of TDN (65.5%) of the
diets had not been affected (P>0.05). The times expended with feeding, rumination and idle had not
been influenced, but the feeding rate of DM of the diets reduced of linear mode (P<0.05) reflecting
restriction of the ingestion. The nitrogen (N) balance was negative and it was not influenced by the
increase of MPM levels, as well as the excretions of N in milk and urine expresses in g/day and mg/kg
BW
0.75
(P>0.05). However, the fecal excretion of N reduced (P<0.05) with the MPM inclusion. The use
of increasing levels of MPM did not affect the urea concentrations in milk and plasma. Statistic
difference was not observed (P>0.05) between treatments analyzed for the daily excretion of urea in
urine and milk. However, the urinary concentrations of ureic N had presented quadratic behavior
(P<0.05), estimated minimum value of 116.7 mg/dl with 43% of MPM. The substitution of the corn
meal by MPM up to 66.7% in the concentrate did not change (P>0.05) the milk production (average of
1.91 kg/day) and the milk components as, fat, crude protein, total lactose, total solids and non fat dry
extract. The economic analysis of the diets, considering the cost with feeding and the gross earnings
obtained with the milk production, it not had significant effect in the milk production in relation to the
levels of substitution. The diets with 0 and 33.3 % of substitution, the cost of the liter of milk was of
R$ 0.33 and of the diets with 66.7 and 100 %, the cost was R$ 0.30. The treatment with 33.3 and
66.7% of MPM in the concentrate they provided better crude margin of lucre (R$/goats/day), this
without taking in consideration the body weight variation.
Keywords: nitrogen balance, intake, digestibility, urea excretion, milk production, feeding rate.
______________________________
* Adviser: Mara Lúcia Albuquerque Pereira, D.Sc., UESB e Co-advises: Márcio dos Santos Pedreira,
D.Sc., UESB.
9
LISTA DE TABELAS
Tabela 1.1
Composição em ingredientes das dietas (% MS)............................................. 16
Tabela 1.2
Composição química do volumoso, dos concentrados e das dietas (%
MS)........................................................................................................................
18
Tabela 1.3
Médias, coeficientes de variação (CV) e determinação (R
2
/r²) e equações de
regressão para os consumos de nutrientes...............................................................
20
Tabela 1.4
Médias, coeficientes de variação (CV) e regressão para os coeficientes de
digestibilidade aparente (CD)..................................................................................
22
Tabela 1.5
Consumo de nutrientes digestíveis totais (CNDT), consumo de energia
metabolizável (CEM), e estimativas de energia líquida de lactação (EL), energia
digestível (ED) e energia metabolizável (EM) das dietas.......................................
23
Tabela 1.6
Médias dos tempos despendidos com alimentação, ruminação e ócio....................
24
Tabela 1.7
Médias, coeficientes de variação (CV) e de determinação (R
2
/r
2
) e equações de
regressão para os parâmetros de comportamento ingestivo....................................
25
Tabela 2.1
Média, coeficiente de variação (CV), determinação (r
2
) e equação de regressão
dos consumos de nitrogênio (N)..............................................................................
33
Tabela 2.2
Médias obtidas de excreção de urina, concentrações de uréia e N uréico na urina,
no leite e no plasma (mg/dL), excreções diárias de uréia e N uréico na urina e no
leite e excreção fracional de uréia (EFU), expresso em %, em função dos níveis
de substituição do milho grão moído pelo farelo da vagem de algaroba................
35
Tabela 3.1
Médias observadas, coeficiente de variação (CV) e equações de regressão
produção de leite (PL), produção de leite corrigido para 3,5 % gordura (PLCG),
gordura (G), proteína (PB), lactose (LAC), sólidos totais (ST), extrato seco
desengordurado (ESD), nitrogênio uréico no leite (NUL), nitrogênio uréico no
plasma (NUP)..........................................................................................................
42
Tabela 3.2
Custos com alimentação, receita proveniente da venda do leite e margem bruta
em função dos níveis de substituição do fubá de milho pelo FVA no
concentrado.............................................................................................................
45
10
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CA Conversão alimentar
CCNF Consumo de carboidratos não fibrosos
CCHOT Consumo de carboidratos totais
CDCNF Coeficiente de digestibilidade de carboidratos não fibrosos
CDCHOT Coeficiente de digestibilidade dos carboidratos totais
CDEE Coeficiente de digestibilidade do extrato etéreo
CDFDA Coeficiente de digestibilidade da fibra em detergente ácido
CDFDN Coeficiente de digestibilidade da fibra em detergente neutro
CDMO Coeficiente de digestibilidade da matéria orgânica
CDMS Coeficiente de digestibilidade da matéria seca
CDPB Coeficiente de digestibilidade da proteína bruta
CEE Consumo de extrato etéreo
CEL Celulose
CEM Consumo de energia metabolizável
CFDN Consumo de fibra em detergente neutro
CHOT Carboidratos totais
CMS Consumo de matéria seca
CNDT Consumo de nutrientes digestíveis totais
CNF Carboidratos não fibrosos
CNFD Carboidrato não fibroso digestível
CPB Consumo de proteína bruta
CSDN Carboidratos solúveis em detergente neutro
EALMS Eficiência de alimentação da matéria seca
EALFDN Eficiência de alimentação da fibra em detergente neutro
EE Extrato etéreo
EED Extrato etéreo digestível
ED Energia digestível
EF Excreção fracional
EFU Excreção fracional de uréia
EL Estimativas de energia líquida de lactação
EM Energia metabolizável
ERUMS Eficiência de ruminação da matéria seca
ERUFDN Eficiência de ruminação da fibra em detergente neutro
ESD Extrato seco desengordurado
FDA Fibra em detergente ácido
11
FDN Fibra em detergente neutro
FDN
CP
Fibra em detergente neutro corrigido para cinza e proteína
FDND Fibra detergente neutra digestível;
FVA Farelo da vagem da algaroba
g/kg
0,75
Gramas por quilo de peso metabólico
GMD Ganho médio diário
G Gordura
TALIMS Tempo de alimentação da matéria seca
TRUMS Tempo de ruminação da matéria seca
TAFDN Tempo de alimentação de fibra detergente neutra
TRFDN Tempo de ruminação da fibra detergente neutra
LAC lactose
LIG Lignina
MM Matéria mineral
MO Matéria orgânica
MS Matéria seca
N Nitrogênio
NBR mero de bolos ruminais
% NC Percentual de nitrogênio consumido
NDT Nutrientes digestíveis totais
NIDA Nitrogênio insolúvel em detergente ácido
NIDN Nitrogênio insolúvel em detergente neutro
NMMnd Número de mastigações merícicas por dia
NMMnb Número de mastigações por bolo ruminal
NUL Nitrogênio uréico no leite
NUP Nitrogênio uréico no plasma
%PC Porcentagem do peso corporal
PB Proteína bruta
PC Peso corporal
PL Produção de leite
PLCG Produção de leite corrigido para 3,5 % de gordura
SCE Silagem de capim-elefante
ST Sólidos totais
TMT Tempo de mastigação total
TRB Tempo de ruminação por bolo ruminal
V:C Relação de volumoso e concentrado da dieta
VPC Variação de peso corporal
12
SUMÁRIO
CAPÍTULO I
CONSUMO, DIGESTIBILIDADE E COMPORTAMENTO INGESTIVO DE
CABRAS LACTANTES EM DIETAS COM FARELO DA VAGEM DE
ALGAROBA..............................................................................................................................
13
1.1
INTRODUÇÃO................................................................................................
13
1.2
MATERIAL E MÉTODOS.............................................................................
16
1.3
RESULTADOS E DISCUSSÃO.......................................................................
20
1.4
CONCLUSÃO.................................................................................................
27
1.5
REFERÊNCIAS..............................................................................................
28
CAPÍTULO II
BALANÇO DE NITROGÊNIO EM DIETAS COM FVA PARA CABRAS
LACTANTES...................................................................................................................
29
2.1
INTRODUÇÃO................................................................................................
29
2.2
MATERIAL E MÉTODOS.............................................................................
31
2.3
RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................
33
2.4
CONCLUSÃO.................................................................................................
37
2.5
REFERÊNCIAS...............................................................................................
38
CAPÍTULO III
VIABILIDADE ECONÔMICA, PRODUÇÃO E COMPOSIÇÃO DO LEITE DE
CABRAS LACTANTES EM DIETAS COM FARELO DA VAGEM DA
ALGAROBA.....................................................................................................................
39
3.1
INTRODUÇÃO................................................................................................
39
3.2
MATERIAL E MÉTODOS..............................................................................
41
3.3
RESULTADOS E DISCUSSÃO.......................................................................
42
3.4
CONCLUSÃO..................................................................................................
46
3.5
REFERÊNCIAS..................................................................................................
47
13
CAPÍTULO I
CONSUMO, DIGESTIBILIDADE E COMPORTAMENTO INGESTIVO DE CABRAS
LACTANTES EM DIETAS COM FARELO DA VAGEM DE ALGAROBA
1.1 INTRODUÇÃO
Para o atendimento das exigências nutricionais dos ruminantes nos trópicos, a energia é
considerada o fator mais limitante, sendo essencial para o animal desempenhar seu potencial
produtivo. O milho é a fonte de energia mais utilizada na composição de dietas concentradas para
ruminantes, entretanto, variações no preço geralmente tem limitado a sua utilização que a
alimentação dos animais representa o principal custo da atividade pecuária. Assim, tem se buscado
fontes energéticas alternativas que possam substituir o milho sem prejudicar o desempenho dos
animais.
A algarobeira [Prosopis juliflora (S.W.) D.C.] introduzida no Brasil, principalmente no
Nordeste mais de 50 anos, constitui-se numa espécie capaz de possibilitar a convivência
harmoniosa com o fenômeno da seca, e possibilitar potencial forrageiro de qualidade (SILVA et al.,
2001). A vagem tem sido utilizada para produção do farelo, caracterizada por possuir concentração de
energia e de proteína semelhante ao milho, com concentração de carboidratos o-fibrosos (CNF),
variando de 55,63 a 59,92% (FIGUEIREDO et al., 2007), constituído por 25-28% de glicose, 11-17%
de amido, 7-11% de proteína e 14-20% de ácidos orgânicos e pectinas (SILVA et al., 2001).
A utilização de alimentos alternativos em dietas para ruminantes vai depender do seu valor
nutricional e efeitos no metabolismo e desempenho animal bem como da relação custo/benefício.
Além da composição bromatológica dos alimentos, é preciso conhecer a porcentagem de nutrientes
disponíveis para o animal, determinada por meio de estudos de digestibilidade que, por sua vez, está
diretamente relacionada com o consumo.
O consumo de nutrientes é o principal fator limitante na produção de ruminantes. Segundo
Rodrigues (1998), maximizar o consumo é fundamental para o desenvolvimento de rações e
estratégias de alimentação que otimizem a produção. A ingestão de matéria seca é um dos fatores
determinantes do desempenho animal, sendo o ponto inicial para o ingresso de nutrientes,
principalmente de energia e proteína, necessários para o atendimento das exigências de mantença e
produção (NOLLER et al., 1997).
Qualquer consideração sobre a utilização de alimentos pelos ruminantes deve ser feita no
contexto das complexas interações que ocorrem entre os diversos componentes da dieta e os
microrganismos do retículo-rúmen (RODRIGUES, 2001). As transformações que o alimento sofre são
determinadas por atributos intrínsecos do alimento e por sua interação com os processos cinéticos da
14
digestão (ELLIS et al., 1994). Isto implica na necessidade de se conhecer o valor nutritivo dos
alimentos que compõem a dieta do animal e sua digestibilidade
A digestibilidade de um alimento é estimada, basicamente, pela taxa de utilização de seus
nutrientes pelo animal. Logo, a digestão consiste em um processo de conversão de macromoléculas do
alimento em compostos simples absorvíveis pelo trato gastrointestinal (VAN SOEST, 1994). De
acordo com Souza et al. (2002), a digestão da fibra é afetada pelo teor de proteína das dietas,
principalmente aquelas compostas de forragem de baixa qualidade. A deficiência de proteína na dieta
limitaria a atividade ruminal afetando a ingestão e a digestibilidade dos nutrientes, visto que as
exigências de proteínas pelos ruminantes são atendidas pelos aminoácidos provenientes da proteína
microbiana e da proteína dietética não degradada no rúmen. A exigência mínima de nitrogênio para a
digestão máxima não é constante, mas muda com a disponibilidade de energia e pode variar com a
qualidade do volumoso utilizado.>>>>>>
A alimentação é um dos fatores mais limitantes para a obtenção de bons resultados na
criação de animais. Pelo custo e pela estacionalidade de produção das forragens, o estudo do
comportamento ingestivo torna-se um meio importante para avaliar a resposta do animal. O
conhecimento do comportamento ingestivo é uma ferramenta de grande importância na avaliação das
dietas, pois possibilita ajustar o manejo alimentar dos animais para obtenção de melhor desempenho
produtivo e reprodutivo.
Segundo Mertens (1987), o consumo de matéria seca é a variável mais importante que
influencia o desempenho animal, sendo inversamente relacionada ao conteúdo de fibra da dieta. Dietas
com elevada concentração de fibra limitam a capacidade ingestiva do animal, em virtude da repleção
do retículo-rúmen. Por outro lado, dietas com teores reduzidos de fibra também resultam em menor
ingestão total de MS, uma vez que as exigências energéticas do animal podem ser atingidas em níveis
mais baixos de ingestão, podendo, ainda, ocasionar distúrbios digestivos que comprometem a saúde
animal, levando à redução do desempenho produtivo.
Consumo diário médio é, no mínimo no sentido formal, o resultado do número médio de
períodos de alimentação por dia e o tamanho médio destes períodos. Se as restrições que limitam
consumo apresentam seus efeitos em espaços de tempo mais curtos que um dia, o estudo de
comportamento alimentar de curto prazo possibilitaria o conhecimento e predição de consumo diário
(DADO & ALLEN, 1993).
De acordo com Hodgson (1990), os ruminantes adaptam-se às diversas condições de
alimentação, manejo e ambiente, modificando seus parâmetros de comportamento ingestivo para
alcançar e manter determinado nível de consumo, compatível com as exigências nutricionais.
O comportamento ingestivo é de fundamental importância para avaliação de uma dieta,
possibilitando ajustes no manejo alimentar para se obter maior consumo e melhor desempenho animal
(MENDONÇA et al., 2004).
15
O estudo do comportamento ingestivo é uma ferramenta que auxilia na resolução de
problemas relacionados com a diminuição do consumo em épocas críticas para produção de leite ou
carne, como a fase inicial de lactação, com os efeitos das práticas de manejo e com o
dimensionamento das instalações, da qualidade e quantidade da dieta (DAMASCENO et al.,1999).
O uso de alimentos concentrados torna-se praticamente indispensável na manutenção da
produção destes animais, porém é muitas vezes limitado, devido ao seu elevado custo. A utilização de
alimentos alternativos na alimentação, principalmente de ruminantes, tem crescido de maneira global.
Isto se deve à necessidade de elaboração de dietas a custos mais baixos, visando o bom desempenho
dos animais, seja na produção de carne ou leite. No entanto, estes alimentos, quando empregados de
maneira inadequada, podem deprimir o consumo e ainda afetar o desempenho dos animais
(ARMENTANO & PEREIRA, 1997).
O conhecimento do comportamento ingestivo de animais que recebem alimentos não
convencionais como parte da dieta contribuirá na elaboração de rações, além de elucidar problemas
relacionados com a diminuição do consumo (DADO & ALLEN, 1995).
Porém, são limitantes as informações sobre o uso do farelo da vagem da algaroba na
alimentação de cabra em lactação. Nesse contexto, este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de
avaliar o efeito de níveis de inclusão do farelo da vagem de algaroba em substituição ao milho grão
moído sobre o consumo e a digestibilidade dos nutrientes, e o comportamento ingestivo.
16
1.2 MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no setor de Caprinocultura da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia – UESB, em Itapetinga-BA, no período de fevereiro a maio de 2006.
Foram utilizadas oito cabras da raça Saanen, com peso corporal médio de 42,4 kg, média de
41 dias em lactação ao início do experimento, distribuídas em dois quadrados latinos (4x4),
balanceados em quatro períodos experimentais de 17 dias cada, sendo os primeiros 10 dias de
adaptação e sete dias de coletas de dados. O quatro tratamentos foram constituídos por dietas
isonitrogenadas contendo quatro níveis de substituição do grão de milho grão moído pelo farelo da
vagem da algaroba (FVA) (0; 33,3; 66,7 e 100%) na matéria natural. (Tabela 1.1).
Tabela 1.1 – Composição em ingredientes das dietas (% MS).
NÍVEIS DE FVA (% MN DO CONCENTRADO)
INGREDIENTE
0 33,3 66,7 100
Silagem de capim elefante
40,00 40,00 40,00 40,00
Milho grão moído
46,86 31,52 15,89 0,00
Farelo da vagem de algaroba
0,00 15,25 30,77 46,57
Farelo de soja
7,98 7,94 7,91 7,88
Farelo de algodão
2,95 2,98 3,00 3,03
Mistura mineral
2,21¹ 2,31² 2,43³ 2,52
4
Total
100,00 100,00 100,00 100,00
1
Fosfato bicálcico 39,9%, sal comum 20,1%, sal mineral comercial 40,0%;
2
Fosfato bicálcico 42,3%, sal comum 19,2%, sal mineral comercial 38,5%
3
Fosfato bicálcico 44,4%, sal comum 18,6%, sal mineral comercial 37,0%
4
Fosfato bicálcico 46,4%, sal comum 17,9%, sal mineral comercial 35,7%
Os animais foram manejados em baias individuais, onde receberam alimentação ad libitum
duas vezes ao dia (8:00 e 16:00 h). Foram feitas pesagens diárias da dieta fornecida e das sobras, de
todos os animais individualmente, para estimar o consumo, sendo que as sobras variaram em torno de
10% do total ofertado.
Para fins de análise bromatológica foram feitas amostras compostas dos alimentos
fornecidos e das sobras por animal e por período, acondicionadas em sacos plásticos, devidamente
identificados e armazenadas em congelador, a -20
o
C, sendo posteriormente submetidas a secagem de
ventilação forçada a 55º C durante 72 horas, moídas em moinho provido de peneira de um milímetro e
analisadas para determinação matéria seca (MS), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em
detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), nitrogênio em detergente neutro (NIDN),
17
nitrogênio em detergente ácido (NIDA), lignina (LIG) e minerais (MM) conforme descrito por SILVA
& QUEIROZ (2002).
As concentrações de carboidratos totais (CHOT) dos alimentos fornecidos, das sobras e das
fezes foram calculados segundo Sniffen et al. (1992): CHOT = 100 - (%PB + %EE + %CINZAS) e
concentrações de carboidratos não-fibrosos (CNF) foram estimados subtraindo a percentagem dos
carboidratos totais da percentagem dos teores de fibra em detergente neutro corrigido para cinza e
proteína (FDN
cp
) de acordo com Hall et al. (1999): CNF = CHOT – FDN
CP
(Tabela 1.2).
18
Tabela 1.2 – Composição química do volumoso, dos concentrados e das dietas (% MS).
NÍVEIS DE FVA (% MN)
0,0 33,3 66,7 100
ITEM
SCE FVA
CONCENTRADO
MS
29,11 92,75 89,73 90,19 91,64 92,25
MO
85,59 95,83 94,08 93,59 92,79 91,15
PB
3,07 7,82 13,87 13,77 13,54 13,44
EE
2,49 1,64 3,94 2,90 2,50 1,87
FDN
81,96 29,65 26,14 29,83 33,02 34,76
FDA
58,59 24,15 9,64 13,30 19,06 23,58
NIDN
0,30 0,17 1,81 0,95 0,56 0,46
NIDA
0,15 0,08 0,47 0,38 0,29 0,26
LIG
6,74 4,52 4,70 5,45 5,25 5,07
CNF
0,00 56,72 51,13 47,10 43,78 41,09
CHOT
80,46 86,37 76,27 76,93 76,80 75,85
MM
14,40 4,17 5,92 6,40 7,20 8,84
Matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE),
fibra detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), carboidratos não-fibrosos (CNF), carboidratos
totais (CHOT), silagem de capim-elefante (SCE), farelo da vagem de algaroba (FVA),
1
% do nitrogênio total
O teores de nutrientes digestíveis totais (NDT) foram calculados segundo Weiss (1999):
NDT (%) = %PBD + %FDND + %CNFD + 2,25 %EED, em que: PBD: proteína bruta digestível;
ITEM SCE FVA DIETA
MS
65,48 65,76 66,63 66,99
MO
90,68 90,39 89,91 88,93
PB
9,55 9,49 9,35 9,29
EE
3,36 2,74 2,50 2,12
FDN
48,47 50,68 52,60 53,64
FDA
29,22 31,42 34,87 37,58
NIDN
1,03 0,72 0,77 0,66
NIDA
0,33 0,32 0,39 0,45
LIG
5,52 5,97 5,85 5,74
CNF
30,08 28,26 26,27 24,70
CHOT
77,95 78,34 78,26 80,46
MM
9,31 9,60 10,08 11,06
19
FDND: fibra detergente neutra digestível; CNFD: carboidrato não fibroso digestível; EED: extrato
etéreo digestível.
A coleta de fezes foi efetuada por intermédio de bolsas coletoras, que permaneceram nos
animais durante o período de 24 horas, no dia de coleta de dados. As fezes de cada animal foram
pesadas e 20 % do total excretado foram embalados em saco plástico e armazenados a -10ºC para
posterior análise da matéria seca e nitrogênio total, conforme Silva & Queiroz (2002).
Para determinação da digestibilidade aparente dos nutrientes, foi realizada a coleta das
fezes no 3º dia pela manhã e a 2ª coleta no 7º dia a tarde nos períodos de coleta. Em seguida
homogeneizadas e pesadas, separando-se 10% do peso, em sacos plásticos e acondicionando-se em
freezer a -10ºC para posterior análise.
As pesagens dos animais foram realizadas após a ordenha da manhã, no início e no final de
cada período experimental.
No 12º dia de cada período experimental foi feita a avaliação do comportamento ingestivo,
sendo que os animais foram observados visualmente a cada 10 minutos durante um período de 24
horas para observação do tempo despendido com alimentação, ruminação e ócio.
O registro do tempo despendido em alimentação, ruminação ou ócio foi realizado por dois
observadores treinados, em sistema de revezamento, posicionados estrategicamente de forma a não
incomodar os animais. Durante a observação noturna, o ambiente foi mantido com iluminação
artificial.
No dia seguinte, foi realizada a contagem do número de mastigações merícicas e tempo
despendido na ruminação de cada bolo ruminal, com a utilização de cronômetro digital. Para essa
avaliação foram feitas observações de três bolos ruminais, em três períodos diferentes do dia (10 12;
14 16 e 18 20 horas), medindo-se a média do mero de mastigações merícicas e o tempo gasto
por bolo ruminal, de acordo com Mendonça et al. (2004).
Os dados de consumo, digestibilidade e comportamento ingestivo foram submetidos à
análise de variância e regressão, com 5% de probabilidade, utilizando-se o programa SAEG 9.1 (UFV,
2007).
20
1.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os consumos médios de MS, MO, PB, EE, FDN, FDA, CHOT e CNF em kg/dia, como
percentual do peso corporal (% PC) e em g/kg PC
0,75
dos animais estão apresentados na Tabela 1.3.
Tabela 1.3 - Médias, coeficientes de variação (CV) e de determinação (R
2/
r²) e regressão para os
consumos de nutrientes.
NÍVEIS DE FVA (% MN)
0,0 33,3 66,7 100
ITEM
CONSUMO (KG/DIA)
CV(%) R2/R²
REGRESSÃO
MS
1,41 1,48 1,52 1,27
13,37 - Ŷ = 1,42
MO
1,29 1,35 1,39 1,12
13,33 0,90 Ŷ= 1,2759+0,00591*FVA-0,000073**FVA
2
PB
0,16 0,16 0,16 0,13
16,27 - Ŷ = 0,15
EE
0,05 0,03 0,03 0,02
27,87 0,86 Ŷ = 0,0492297-0,00027**FVA
FDN
0,54 0,62 0,68 0,60
12,75 0,92 Ŷ = 0,5376+0,004224**FVA-0,000035*FVA
2
FDA
0,28 0,35 0,41 0,41
16,87 0,90 Ŷ = 0,2917+0,0014**FVA
CHOT
1,08 1,15 1,17 0,97
13,02 0,93
Ŷ = 1,0706+0,005272*FVA-0,000062*FVA
2
CNF
0,54 0,53 0,49 0,36
14,57 0,80 Ŷ = 0,5632-0,001667**FVA
ITEM
CONSUMO (% PC) CV(%)
R2/R² REGRESSÃO
MS
3,35 3,50 3,62 3,05 15,61 - Ŷ = 3,38
MO
3,28 3,12 3,15 2,51 32,89 0,72 Ŷ = 3,3559-0,006809**FVA
PB
0,37 0,37 0,38 0,31 19,17 - Ŷ = 0,36
EE
0,12 0,08 0,09 0,05 27,77 0,86 Ŷ = 0,1158-0,00062**FVA
FDN
1,21 1,38 1,52 1,35 12,75 0,92 Ŷ = 1,1947+0,009387**FVA-0,000077*FVA
2
FDA
0,66 0,82 0,97 0,99 18,28 0,99 Ŷ = 0,6874+0,003444**FVA
CHOT
2,57 2,72 2,80 2,34 18,49 - Ŷ = 2,61
CNF
1,28 1,25 1,17 0,88 16,93 0,99 Ŷ= 1,3389-0,003864**FVA
ITEM
CONSUMO (G/KGPC
0,75
) CV(%)
R2/R²
REGRESSÃO
MS
44,69
46,67 48,33
40,71 15,61 - Ŷ = 45,10
MO
34,26
36,31 37,32
31,14 15,06 - Ŷ = 34,76
PB
4,98 4,98 5,13
4,09 19,17 - Ŷ = 4,79
EE
1,60 1,10 1,16
0,66 27,77 0,86 Ŷ = 1,5442-0,00829**FVA
FDN
17,19
19,62 21,67
19,45 14,50 - Ŷ = 19,48
FDA
8,79 10,92 12,90
13,23 18,28 0,90 Ŷ = 9,1656+0,04592**FVA
CHOT
28,26
29,03 29,29
26,33 10,23 - Ŷ = 28,38
CNF
17,07
16,69 15,65
11,69 16,93 - Ŷ = 17,8521-0,05153**FVA
*significativo (P<0,05) pelo teste t; **significativo (P<0,01) pelo teste t.
21
O consumo de MS não foi influenciado (P>0,05) com a inclusão do FVA na dieta, com
médias de 1,42 kg/dia, 3,38 % PC ou 45,10 g/kg PC
0,75
. De acordo com Wilkinson & Stark (1987) o
consumo de MS por cabras geralmente se situa entre 3 e 5 % do peso corporal (PC).
Silva et al. (2001) avaliaram a substituição do milho por farelo de cacau e torta dendê nos
níveis de 15 e 30 % em dietas para cabras lactantes e não observaram efeito sobre a ingestão de MS.
Mouro et al. (2002), avaliando a substituição do milho grão moído por farinha de varredura de
mandioca em dietas para cabras Saanen em lactação, também não observaram efeitos no consumo de
matéria seca (CMS). Do mesmo modo, Zambom et al. (2008) não observaram diferenças no consumo
de MS quando substituíram o milho pela casca de soja em dietas para cabras em lactação. Pela
interpretação de resultados relatados na literatura, pode ser observado que a substituição de alimentos
tradicionais por fontes alternativas, sem elevar os teores de FDN em níveis que restringem o consumo
e as dietas sendo isonitrogenadas, não afeta o consumo de matéria seca dos animais.
Os consumos de PB e NDT (kg/dia, % PC e g/ kg PC
0,75
) não foram afetados (P>0,05)
quando se substituiu o grão de milho grão moído pelo FVA na dieta dos animais. Isso pode ser
explicado pelo fato das dietas serem isonitrogenadas e isoenergéticas. Já o consumo de CNF (kg/dia,
% PC e g/ PC
0,75
) decresceu com aumento dos níveis de FVA nas dietas, em razão de os níveis de CNF
terem sido alterados pela variação da proporção dietética do milho, aumento com maior concentração
de CNF quando comparado ao FVA.
Animais recebendo dietas com maiores níveis de FVA apresentaram menor (P<0,05)
consumo de EE (Tabela 1.3), comportamento que pode ser explicado pela concentração deste nutriente
na dieta, que decresceu com a inclusão do FVA, o qual apresenta menor concentração de EE em sua
composição quando comparado ao milho.
Os consumos de FDN, expressos em kg/dia e %PC (Tabela 1.3) foram influenciados pelos
níveis de FVA (P<0,05), estimando-se consumos máximos de 0,665 kg/d e 1,48% PC para níveis de
60,3 e 60,9 % de substituição, respectivamente. A concentração de FDN nas dietas elevou-se em
função da adição de FVA, esperava-se que o consumo seguisse o mesmo comportamento. Entretanto,
Mertens (1994), já previa que a ingestão de MS seria limitada pelo enchimento, quando o consumo
diário de FDN fosse maior que 11 a 13 g/ kg. Para cabras leiteiras estes parâmetros não estão bem
definidos, mas Santini et al. (1992) e Carvalho (2002) apresentaram evidências de que, no nível de
consumo de fibra das cabras deste trabalho, o mecanismo de controle do consumo dos animais parece
ter sido em função do fator físico. Neste experimento, animais recebendo dietas com 60,9 % de FVA
apresentaram consumo de FDN acima da capacidade considerada limitante, podendo inferir que a
substituição do milho pelo FVA no concentrado acima deste nível limita o consumo de MO,
provavelmente, devido à repleção do rúmen. (Tabela 1.3).
Houve efeito significativo da adição do FVA (P<0,05) em dietas de cabras lactantes sobre os
consumos de MO E CHOT expressos em Kg/dia, e com base na regressão estimou-se que os
consumos máximos aconteceria quando os níveis de FVA fosse de 40,5 3 42,5%, respectivamente. No
22
entanto, quando o consumo de Mo for expresso como %PC observou-se que a medida que se
aumentava os níveis de FVA na dieta o consumo de MO diminuía.
As respostas de consumo de MO e CHOT (Tabela 1.3), que apresentaram comportamento
quadrático (P<0,05), quando expressos em kg/dia, diferiram daquelas quando expressas como % PC.
Os teores desses nutrientes nas dietas foram semelhantes, podendo a variação de suas ingestões ser
justificada pela alteração do consumo de FDN em associação à variação de peso animal. Assim,
algumas variações de consumo podem ser removidas, expressando-se a ingestão como uma taxa do
peso corporal.
As médias dos coeficientes de digestibilidade total da MS, MO, PB, EE, FDN, CNF e CHOT
estão apresentadas na Tabela 1.4. As dietas não apresentaram diferenças entre si (P>0,05).
Tabela 1.4 - Médias, coeficientes de variação (CV) e regressão para os coeficientes de digestibilidade
aparente (CD).
NÍVEIS DE FVA (% MN)
ITEM
0,0 33,3 66,7 100
CV(%) REGRESSÃO
MS
65,29
70,47 66,17 67,87 12,70 Ŷ = 67,45
MO
69,23
72,88 67,72 70,47 11,80 Ŷ = 70,07
PB
70,26
73,86 72,79 76,40 10,78 Ŷ = 73,33
EE
80,77
75,64 77,59 71,63 10,33 Ŷ = 76,41
FDN
38,89
50,36 44,46 48,27 31,97 Ŷ = 45,49
CNF
62,75
68,13 75,24 71,22 15,24 Ŷ = 69,33
CHOT
68,36
72,50 68,54 69,58 11,34 Ŷ = 69,74
Matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro
(FDN), carboidratos não fibrosos (CNF), carboidratos totais (CHOT), nutrientes digestíveis totais (NDT).
Os valores de digestibilidade observados neste trabalho são condizentes àqueles encontrados
por Silva et al. (2005), que trabalharam com cabras Saanen, alimentadas com silagem de milho e
concentrado a base de milho como fonte de energia, aos quais foram observadas médias de 66,03;
64,33; 59,40; 88,59; 47,33; 81,25 e 66,14% para MS, MO, PB, EE, FDN, CNF e CHOT,
respectivamente.
A digestibilidade de EE não diferiu (P>0,05) com a inclusão do FVA, apesar de sua variação
média de 71,63 a 80,77. Essa diminuição numérica na digestibilidade pode ser explicada pela redução
da proporção do EE na MS ingerida com adição de FVA em substituição ao milho no concentrado
(Tabela 1.4).
Os valores médios de consumo de EM e estimativas de EL
L
, ED e EM das dietas estão
apresentados na Tabela 1.5.
23
Não houve efeito (P>0,05) dos níveis de FVA sobre o teor de NDT das dietas estudadas,
da mesma forma que o consumo de NDT também não foi influenciado, obtendo-se um valor médio de
0,93 kg (Tabela 1.5).
Tabela 1.5 Consumo de nutrientes digestíveis totais (CNDT), consumo de energia metabolizável
(CEM), e estimativas de energia líquida de lactação (EL), energia digestível (ED) e
energia metabolizável (EM) das dietas.
NÍVEIS DE FVA (% MN)
ITEM
0,0 33,3 66,7 100
CV
R
2
REGRESSÃO
CNDT (kg/dia)
0,92 1,01 0,98 0,83 21,03 - Ŷ = 0,93
CNDT (%PC)
2,04 2,24 2,18 1,84 21,03 - Ŷ = 2,07
CNDT (g/kgPC
0,75
)
9,03 31,66 31,04 26,38 22,24 - Ŷ = 29,53
CEM (Mcal/d)
3,46 3,80 3,68 3,08 13,41 0,99 Ŷ = 3,463+0,0172*FVA
0,0002*FVA
2
CEM (Kcal/PC)
83,41 90,29 88,71 74,60 13,91 - Ŷ = 84,25
CEM (Kcal/PC
0,75
)
211,58 229,70 224,85 188,90 13,70 - Ŷ = 213,76
NDT
65,35 67,78 64,44 64,60
10,58 - Ŷ = 65,54
EL
1
1,48 1,54 1,46 1,46
- - Ŷ = 1,48
ED
2
2,88 2,99 2,84 2,85
- - Ŷ = 2,89
EM
3
2,46 2,57 2,42 2,43
- - Ŷ = 2,47
*significativo a 5% de probabilidade pelo teste t
(1)
EL (Mcal/kg) = 0,0245 x NDT (%) – 0,12
(2)
ED (Mcal/kg) = 0,04409 X NDT (%)
(3)
EM (Mcal/kg) = 1,01 x ED (Mcal/ kg) – 0,45.
Avaliando os dados de consumo de MS predito pelo NRC (2007) para cabras no terço inicial
de lactação, com 50 kg de peso corporal, produzindo 1,62 kg de leite corrigido para 3,5% de gordura,
observa-se que o consumo 1,94 kg/dia é superior ao valor médio de 1,42 kg obtido neste experimento.
No entanto, os requerimentos de NDT e EM preditos pelo NRC (2007) de 1,03 e 3,70,
respectivamente, são muito próximos aos valores médios de 0,995 kg/dia e 3,74 Mcal/dia encontrados
para as dietas contendo 33,3 e 66,7% de FVA, em que as cabras produziram em média 1,91 kg de leite
por dia ou 1,70 kg de leite corrigido para 3,5 % de gordura
As médias dos tempos despendidos com alimentação, ruminação e ócio estão apresentadas
na Tabela 1.6.
Não foi observado efeito significativo (P>0,05) para os tempos gasto com alimentação,
ruminação e ócio em função dos níveis de substituição do milho grão moído pelo farelo da vagem de
24
algaroba (FVA). Os valores médios dos tempos gastos com alimentação (4,21 h/dia), ruminação (8,76
h/dia) e ócio (11,13 h/dia), independente dos níveis de FVA na dieta, Carvalho et al. (2004), utilizando
cabras Saanen alimentadas com silagem de milho (36% da MS da dieta) e concentrado (64% da MS da
dieta) à base de milho grão moído e farelo de soja, observaram tempo destinado à alimentação de 4,93
h/dia, ruminação de 7,2 h/dia e ócio de 11,87 h/dia.
Tabela 1.6 - Médias dos tempos despendidos com alimentação, ruminação e ócio (h/dia) e coeficiente
de variação (CV).
NÍVEIS DE FVA (% MN)
ITEM
(H/DIA)
0,0 33,3 66,7 100
CV(%) REGRESSÃO
Alimentação
3,87 4,14 4,49 4,04 24,09 Ŷ= 4,21
Ruminação
8,28 8,82 9,50 8,42 15,33 Ŷ= 8,76
Ócio
11,84
10,95
10,19 11,54 14,14 Ŷ= 11,13
Valores médios observados para os tempos de alimentação e ruminação foram próximos
aos citados por Church (1988) para cabras, de 4,23 e 7,43 h/dia para alimentação e ruminação,
respectivamente, e aos observados por Santini et al. (1992), que trabalhando com cabras Alpinas em
lactação, verificaram tempo máximo de alimentação de 4,38 h/dia e de ruminação de 6,06 h/dia, ao
utilizarem uma dieta contendo 47,4% de FDN.
Os números de períodos de alimentação por dia e o tamanho médio destes períodos não
foram influenciados pelos níveis de FVA, estimando-se valor médio de 25,26 períodos e 10,70 s/g
MS, respectivamente. Consistente com esses resultados, o consumo de MS também não foi alterado.
No entanto, o consumo de FDN que sofreu efeito quadrático (p<0,05), a medida que aumentou os
níveis de FVA na dieta, demonstra que as alterações do consumo de FDN podem ser preditas por
medidas de comportamento ingestivo. Isto porque neste estudo parece ter existido regulação física do
CMS por distensão do trato gastrointestinal, que é estabelecida no espaço de tempo menor que um dia,
mas também parece ter existido restrição do consumo por mecanismos fisiológicos de demanda de
energia que se instalaram em longo prazo. Segundo Dado & Allen (1993), a extensão que a ingestão
de vacas lactantes é regulada por distensão no retículo-rúmen depende da demanda de energia do
animal e o efeito enchimento da dieta. Assim, o estudo do comportamento ingestivo de curto prazo
não pode explicar as alterações observadas no consumo diário de FDN das cabras.
A taxa de alimentação da MS reduziu linearmente (P<0,05) com adição de FVA no
concentrado, apresentando queda de 0,698 g MS/h para cada unidade percentual de acréscimo de
FVA. Este fato sugere que este parâmetro pode ser usado para predizer o consumo quando é regulado
25
por mecanismo físico e/ou por fatores que se instalam em longo prazo. É importante salientar que
neste estudo, o consumo de matéria orgânica das dietas também sofreu redução linear quando expresso
como percentual do peso corporal.
Tabela 1.7 - Médias, coeficientes de variação (CV) e de determinação de (R
2
/r
2
) e equações de
regressão para os parâmetros de comportamento ingestivo.
NÍVEIS DE FVA (% MN)
ITEM
0,0 33,3 66,7 100
CV(%)
R
2
/R
2
REGRESSÃO
CMS (kg/dia)
1,41 1,48 1,52 1,27 13,34 Ŷ = 1,41
CFDN (kg/dia)
0,54 0,62 0,68 0,61 12,75 0,92
Ŷ=0,5376+0,00422*FVA-
0,00003**FVA
2
TALIMS
9,88 10,08 11,30 11,53 26,49 Ŷ= 10,70
TRUMS
21,25 21,84 22,92 24,08 11,29 Ŷ= 22,52
TALIFDN
25,73 24,00 25,00 24,11 28,29 Ŷ= 24,71
TRUFDN
55,17 52,36 50,98 50,28 11,49 Ŷ= 52,20
EALMS (gMS/h)
386,32
381,15 365,17
314,11 17,17 0,83 Ŷ= 396,57-0,698*FVA
EALFDN
(gFDN/h)
148,14
159,40 163,79
151,83 16,57 - Ŷ = 155,79
ERU (gMS/h)
176,45
167,77 162,02
151,78 13,08 - Ŷ = 164,51
ERUFDN
(gFDN/h)
67,58 70,73 73,03 73,32 10,39 - Ŷ = 71,17
TMT (h/dia)
12,16 12,97 13,77 12,46 11,89 - Ŷ = 12,84
NBR (nº/dia)
478,82
531,76 573,38
503,23 13,78 - Ŷ = 521,80
NMMnd (nº/dia)
28191,1
4
29545,68
32400,50
28566,64
15,67 - Ŷ = 29675,99
NMMnb (nº/bolo)
58,76 56,17 59,29 57,72 9,50 - Ŷ = 57,99
TRB (seg/bolo)
62,74 60,65 62,97 62,57 6,61 - Ŷ = 62,23
* significativo (P<0,05) pelo teste t
consumo de matéria seca (CMS), consumo de fibra em detergente neutro (CFDN), tempo (segundos) de alimentação (grama)
da matéria seca (SALIMS), tempo (s) de ruminação (g) da matéria seca (SRUMS), tempo (s) de alimentação (g) de fibra em
detergente neutro (SALIFDN), tempo (s) de ruminação (g) da fibra em detergente neutro (SRFDN) eficiência de alimentação
da matéria seca (EALMS) e FDN (EALFDN), eficiência de ruminação da MS (ERUMS) e FDN (ERUFDN), tempo de
mastigação total (TMT), número de bolos ruminais (NBR), número de mastigações merícicas (NMMnd), número de
mastigações por bolo ruminal (NMMnb) e o tempo de ruminação por bolo ruminal (TRB).
Os parâmetros do comportamento ingestivo, quais sejam, eficiência de alimentação da
fibra em detergente neutro (EALFDN), eficiência de ruminação (ERU), eficiência de ruminação da
fibra em detergente neutro (ERUFDN), tempo de mastigação total (TMT), número de bolos ruminais
(NBR), numero de mastigações por dia (NMMnd), numero de mastigações por bolo (NMMnb) e
tempo de ruminação por bolo ruminal (TRB) (Tabela 1.7), não apresentaram alterações (P>0,05) em
função dos níveis de substituição do milho grão moído pelo FVA, refletindo o fato de que o consumo
26
de FDN sofreu redução antes que houvesse modificações nos mecanismos de ruminação e mastigação.
De acordo com Allen (2000) a regulação física de ingestão de matéria seca ocorre quando o consumo
de alimento é limitado pelo tempo requerido para mastigação ou por distensão dentro do trato
gastrintestinal. Dessa forma, quando a distensão no retículo-rúmen limita a ingestão, decréscimo no
tamanho da partícula de forragem pode manter ou mesmo aumentar o consumo de matéria seca se a
densidade das partículas deglutidas ou o tempo disponível para ruminação aumentam. Neste estudo,
provavelmente a maior densidade das partículas seja a causa da maior fragilidade da FDN proveniente
do FVA, que pode ter reduzido a retenção no rúmen, pois o tempo disponível para ruminação não foi
alterado.
Os resultados demonstraram que as dietas não modificaram a maioria dos parâmetros
ingestivos, tendo em vista que todas as dietas apresentaram mesma relação volumoso:concentrado de
40:60, mesmo havendo diferenças nos concentrados com relação às fontes energéticas.
Carvalho et al. (2004) encontraram valores superiores para CMS (2,22 kg/dia), CFDN
(0,722 kg/dia), EAL (450,6 gMS/h), ERU (313,7 gMS/h), ERUFDN (103,6 gMS/h), NBR (631,19
nº/dia) e NMMnd (33.449,2 nº/dia); entretanto valores para EALFDN (147,3 g FDN/dia) e TMT
(12,13 h/dia) foram semelhantes e os valores de NMMnb (52,4 nº/bolo) e TRB (41,00 s/bolo) foram
inferiores.
27
1.4 CONCLUSÃO
O FVA pode ser utilizado em até 40,5% de substituição do milho grão moído pois não
interfere na maioria dos consumos de nutrientes, apesar de que níveis maiores não interferem na
digestibilidade aparente dos nutrientes.
A utilização do farelo da vagem de algaroba em substituição ao milho grão moído no
concentrado reduz a taxa de alimentação da matéria seca devido ao efeito de distensão ruminal, mas
não modifica os parâmetros fisiológicos de ruminação de cabras lactantes.
A determinação da taxa de alimentação em estudo de comportamento alimentar de curto
prazo pode ser utilizada para predizer o consumo diário de dietas constituídas por farelo da vagem de
algaroba em substituição ao milho no concentrado.
28
1.5 REFERÊNCIAS
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of forages. In: FAHEY JUNIOR, G. C.; COOLINS, M.; MERTENS, D. R.; MOSER, L. E. (Eds.)
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componentes nitrogenados do farelo e diferentes partes integrantes da vagem de algaroba (Prosopis
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HALL, M.B; et al. A method for partitioning neutral detergent soluble carbohydrates. Journal of the
Science of Food and Agriculture. London, v.79, n.9, p.2079-2086, 1999.
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Fahey; Jr., M. Collins; D. R. Mertens, and L. E. Moser, ed., American Society of Agronomy, Crop
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA. Sistema de análise estatísticas e genéticas SAEG 9.1.
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Ceará, Fortaleza.
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ESTUDANTES DE ZOOTECNIA, 1998, Viçosa-MG. Anais... Viçosa-MG: Universidade Federal de
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SILVA, D.J. Análise de alimentos: métodos químicos e biológicos. Viçosa-MG: UFV, 1990, 165p.
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Van SOEST, P.J. Nutritional ecology of the ruminants. 2 ed. Ithaca: Cornell University, 1994. 476p
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ZAMBOM, M.A.; ALCALDE, C.R.; SILVA, K.T.; et al. Desempenho e digestibilidade dos nutrientes
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pré-parto. Revista Brasileira Zootecnia. v.37, n.7, p.1311-1318, 2008.
29
CAPÍTULO II
BALANÇO DE NITROGÊNIO EM DIETAS COM FVA PARA CABRAS LACTANTES
2.1 INTRODUÇÃO
A inclusão de alimentos concentrados na alimentação de animais ruminantes eleva a
densidade energética e/ou protéica da dieta, favorecendo o consumo de nutrientes mais digestíveis, e
conseqüentemente, o desempenho animal. Entretanto, o elevado preço de ingredientes primários,
como milho e farelo de soja, restringe a utilização destes produtos na alimentação de ruminantes e a
manutenção de sistemas de produção mais intensivos.
A finalidade da utilização do farelo da vagem da algaroba para várias espécies ruminantes
é de tornar viável sua inclusão em rações, bem como minimizar os custos da produção animal.
Os suplementos concentrados protéicos de alta qualidade nutricional têm sido responsáveis
pelo alto custo de alimentação de cabras leiteiras (SILVA et al., 2006), o que leva a crer que o
conhecimento da utilização de compostos nitrogenados seria interessante sob o ponto de vista
produtivo. Assim, é de fundamental importância a determinação do nível adequado de PB em dietas de
cabras lactantes.
A PB tem sido relacionada com o consumo de matéria seca. Todavia, para forragens com
teor de proteína bruta abaixo de 4 a 6 %, na base da matéria seca, o consumo de matéria seca seria
limitado pela baixa disponibilidade de compostos nitrogenados para os microrganismos do rúmen
(RAYMOND, 1969). No entanto, uma vez corrigida essa deficiência, o consumo seria limitado pela
taxa de remoção de resíduos indigestíveis do rúmen.
Russell et al. (1992) relataram que os microrganismos do rúmen, especialmente os
celulolíticos, utilizam a amônia para efetuar a síntese de proteína microbiana. Assim, a presença do N
amoniacal, no ambiente ruminal, é fator fundamental, desde que esteja associada a uma fonte de
energia adequada. Quando desequilíbrio na compatibilidade entre o PB e a energia no rúmen, a
excreção dos compostos nitrogenados aumenta, ocorrendo também aumento na produção de uréia, que
envolve custo energético, além de perda de N.
Considerando o papel central da fermentação microbiana na digestão dos ruminantes, torna-
se importante a avaliação do N disponível para a absorção pelo animal. As exigências protéicas dos
ruminantes são atendidas mediante a absorção intestinal de aminoácidos provenientes, principalmente,
da proteína microbiana sintetizada no rúmen e da proteína dietética não degradada no rúmen porém
digestível no intestino (VALADARES FILHO & VALADARES, 2001).
A otimização do uso da PB dietética requer conhecimento da partição do N dietético entre
proteína produzida e produtos de excreção (HARMEYER & MARTENS, 1980). O teor de uréia na
urina, no soro e no leite pode ser útil para a avaliação do uso do N dietético.
30
O balanço dos compostos nitrogenados permite avaliar o estado nutricional dos animais por
meio dos produtos finais absorvidos e da extensão das perdas excretadas, o qual poderá refletir na
resposta produtiva.
A resposta animal ao efeito associado da ingestão de energia e proteína indica uma resposta
quadrática do balanço de nitrogênio (N) a níveis crescentes do suprimento de proteína quando a
energia não é limitada, logo, a produção através da ingestão de proteína depende do nível de energia
suprido e vice-versa (CHOWDHURY & RSKOV, 1997). Qualquer minimização das perdas de
nitrogênio estará relacionada com a maior eficiência do rúmen em utilizar o nitrogênio dietético
(ROCHA, 2002).
A uréia constitui a principal forma pela qual os compostos nitrogenados são eliminados
pelos mamíferos e, quando a produção de amônia é maior que sua utilização pelos microrganismos,
observa-se elevação na concentração de amônia no rúmen, com conseqüente aumento na sua excreção
e no custo energético para sua produção, resultando em perda de N metabólico. A determinação do
balanço de nitrogênio permite quantificar a utilização do N metabólico e relaciona-lo com a dieta
testada.
Este estudo foi realizado com o objetivo de avaliar o efeito de níveis de inclusão do FVA
em substituição ao milho grão moído sobre o balanço dos compostos nitrogenados em cabras Saanen
lactantes.
31
2.2 MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no setor de Caprinocultura da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia UESB, em Itapetinga-BA. Foram utilizadas oito cabras da raça Saanen, no terço
inicial da lactação, distribuídas em dois quadrados latinos balanceados 4x4, em quatro períodos
experimentais de 17 dias cada, sendo os primeiros dez dias de adaptação e sete dias de coletas de
dados. Os tratamentos foram compostos por quatro níveis de substituição do milho grão moído pelo
FVA (0; 33,3; 66,7 e 100 %) na matéria natural do concentrado representando 60 % e como volumoso
foi utilizado a silagem de capim-elefante na proporção de 40 % na matéria seca total da dieta. A
composição da silagem de capim-elefante, farelo da vagem de algaroba e das dietas experimentais
encontram-se no Capítulo 1.
Os animais foram manejados em baias individuais, onde receberam alimentação ad
libitum duas vezes ao dia. Foram feitas pesagens diárias da dieta fornecida e das sobras, de todos os
animais, para determinar o consumo, sendo que as sobras foram mantidas em torno de 10 % do total
ofertado.
As cabras foram ordenhadas manualmente, duas vezes ao dia, fazendo-se o registro diário
da produção de leite (PL) essa mensuração foi realizada do décimo ao décimo sétimo dia de cada
período experimental e a composição do leite foi estimada em duas ordenhas diárias e em quatro
amostragens, sendo 10 % da PL, durante o período de coleta: ordenha vespertina no 1
o
dia; ordenha da
manhã no 2
o
dia; ordenha da tarde no 6
o
dia e ordenha da manhã no 7
o
dia.
As análises qualitativas do leite foram realizadas no Laboratório de Fisiologia da Lactação
da Escola Superior Luiz de Queiroz (ESALQ) em Piracicaba – SP.
As amostras de urina, em cada período experimental foram obtidas de coletas de 24 horas
no 6º dia do período de coleta. Utilizaram-se sondas de Foley 10 acopladas a mangueiras que
conduziam a urina até recipientes plásticos de 5 litros contendo 20 mL de solução de H
2
SO
4
40%.
Após a coleta, os recipientes contendo urina foram devidamente pesados, para estimação do volume
total produzido, e homogeneizados. Em seguida, filtrou-se a urina utilizando-se 4 camadas de gaze e
100 mL foram acondicionados em coletores de urina devidamente identificados e armazenadas em
freezer a -10
o
C, para posterior quantificação de compostos nitrogenados pelo método Kjeldahl.
A coleta de fezes foi efetuada por intermédio de bolsas coletoras, que permaneceram nos
animais durante o período de 24 horas, no dia de coleta de dados. As fezes de cada animal foram
pesadas e 20 % do total excretado foram embalados em saco plástico e armazenados a -10ºC para
posterior análise da matéria seca e nitrogênio total, conforme Silva & Queiroz (2002).
No 1 dia de cada período experimental, foram coletadas amostras de sangue, quatro
horas após a alimentação matinal, utilizando-se EDTA como anticoagulante. Logo após a coleta, as
amostras foram centrifugadas (5.000 rpm por 15 minutos) e o plasma sangüíneo acondicionado em
recipientes de vidro e congelado para posterior análises.
32
Os dados foram submetidos à análise de variância e regressão, com 5% de probabilidade,
utilizando-se o programa SAEG 9.1 (UFV, 2007).
33
2.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os valores referentes ao consumo e excreções de N nas fezes, urina e leite em g/dia, g/kg
PC
0,75
, como percentual do N consumido (% NC) e mg/kg PC encontram-se na Tabela 2.1
Tabela 2.1 - Média, coeficientes de variação (CV) e de determinação (r
2
) e equação de regressão do
consumo, excreção e balanço de nitrogênio expressos em g/dia, g/ kg PC
0,75
, percentual
do nitrogênio consumido (% NC) e mg/kgPC.
NÍVEIS DE FVA (% MN)
0,0 33,3 66,7 100
ITEM
NITROGÊNIO (G/DIA)
CV(%) REGRESSÃO
Consumo
25,00 25,23 25,79 20,37
16,27 - Ŷ = 24,09
Fecal
7,41 6,36 6,90 4,60 24,22 0,78
Ŷ = 7,498-0,0236*FVA
Urina
15,69 13,41 11,27 11,76
48,07 - Ŷ = 13,03
Leite
8,10 7,84 8,16 6,16 15,37 - Ŷ = 7,56
Balanço
-6,19 -2,38 -0,54 -2,16
-274,99
- Ŷ = -2,82
ITEM NITROGÊNIO (MG/ KG PC
0,75
) CV(%)
REGRESSÃO
Consumo
797,44 796,71
820,93
653,74
19,16 - Ŷ = 767,21
Fecal
237,34 203,96
221,58
150,65
24,05 0,69
Ŷ = 239,727-0,7269*FVA
Urina
491,51 430,57
352,53
380,65
45,99 - Ŷ = 413,81
Leite
260,01 244,40
253,17
196,79
15,17 - Ŷ = 238,59
Balanço
-191,41
-82,21
-6,35 -74,36
-270,88
- Ŷ = -88,58
ITEM NITROGÊNIO (% NC) CV(%)
REGRESSÃO
Fezes
29,74 26,14 27,21 23,60
29,63 - Ŷ = 26,67
Urina
63,56 54,32 44,56 60,48
44,14 - Ŷ = 55,73
leite
32,24 31,03 32,46 29,33
14,04 - Ŷ = 31,27
Balanço
-25,54 -11,50
-4,23 -13,41
-211,89
- Ŷ = -13,67
ITEM NITROGÊNIO (MG/ KG PC) CV(%)
REGRESSÃO
Consumo
598,08 597,54
615,70
490,30
19,16 - Ŷ = 575,40
Fecal
178,00 152,97
166,19
112,99
60,19 0,69
Ŷ = 179,795-0,5452*FVA
Urina
368,63 322,93
264,40
285,49
50,50 - Ŷ = 310,36
Leite
195,01 183,30
189,87
147,60
15,16 0,67
Ŷ = 199,283-0,4068*FVA
Balanço
-143,56
-61,66
-4,76 -55,77
-270,88
- Ŷ = -66,44
*significativo (P<0,05) pelo teste t.
O NRC (2007) preconiza para cabras de 50 kg no terço inicial de lactação, produzindo de
0,88 a 1,61 kg/dia de leite com 4 % de gordura, 10,4 % para o teor de proteína bruta na MS da dieta,
34
com variação de peso corporal (VPC) de -23 g/dia. Neste estudo, não houve efeito (P>0,05) das dietas
sobre a VPC, sendo que os animais perderam em média 53,0 g de peso corporal ao dia e as dietas
foram formuladas para fornecer em torno de 9,4% de PB na MS.
Quando o balanço de nitrogênio for negativo, pode significar que a retenção de nitrogênio
não foi suficiente para atender às exigências de mantença e síntese de tecidos. De acordo com Bomfim
(2003) diferenças no fluxo de proteína microbiana e na qualidade da proteína metabolizável também
podem ser responsáveis pelo balanço de nitrogênio negativo, uma vez que sua utilização ou retenção
pode ser limitada em função de seu perfil de aminoácidos.
Entretanto, mesmo havendo redução linear no fluxo e na eficiência de crescimento
microbiano a partir da alteração na quantidade e perfil de CSDN com a utilização de níveis crescentes
de FVA em substituição ao milho no concentrado, não foi observado efeito sobre a retenção de
nitrogênio.
A análise de regressão detectou efeito linear decrescente (P<0,05) dos níveis de FVA em
substituição ao milho sobre a excreção de N fecal, provavelmente devido aos menores teores de NIDA
das dietas constituídas por níveis crescentes de FVA (Tabela 2.1). A manutenção na porcentagem de
compostos nitrogenados fecais em relação ao nitrogênio consumido deve-se ao fato de que o consumo
de FDA aumentou (Tabela 1.3), mantendo a ingestão percentual de NIDA constante.
Observa-se na Tabela 2.2, os dados referentes às concentrações médias de uréia e nitrogênio
uréico (N ureico) na urina, no leite e no plasma e excreções médias diárias de uréia e N uréico na urina
e no leite, além da excreção fracional de uréia em cabras lactantes alimentadas com níveis crescentes
de farelo da vagem de algaroba no concentrado.
Houve efeito quadrático (P<0,05) entre os tratamentos analisados para concentração de uréia e
N uréico na urina, estimando-se um valor mínimo de N ureico de 116,7 mg/dL para 43,2% de FVA no
concentrado. Como neste estudo o volume urinário dos animais não se alterou (P>0,05), pode-se
concluir que o nível ótimo de inclusão de FVA é de 43,2% promovendo maior eficiência de utilização
do N da dieta.
A excreção diária de uréia na urina seguiu o mesmo comportamento da concentração de N
ureico no plasma, confirmando a afirmação de Harmeyer & Martens (1980) de que a quantidade de
uréia excretada na urina é influenciada principalmente pela sua concentração no plasma.
Demonstrando assim, que os animais alimentados com dieta à base de FVA não apresentaram
alteração nas excreções de uréia na urina ou no leite.
Não foi verificada diferença significativa (P>0,05) para a excreção fracional (EFU) da uréia
(Tabela 2.2), apesar do coeficiente de variação de 63,7%. Isso indica que a porcentagem de reabsorção
de uréia não foi constante, sendo possível pressupor que as dietas variaram quanto ao fornecimento de
proteína digestível aos animais. Swenson (1988) verificou que a excreção fracional de uréia se elevou
com o aumento do teor de proteína digestível da dieta.
35
Tabela 2.2 - Médias obtidas de excreção de urina, concentrações de uréia e N uréico na urina, no leite
e no plasma (mg/dL), excreções diárias de uréia e N uréico na urina e no leite e excreção
fracional de uréia (EFU), expresso em %, em função dos níveis de substituição do milho
pelo farelo da vagem de algaroba.
NÍVEIS DE FVA (% MN)
0,0 33,3 66,7 100
ITEM
CONCENTRAÇÕES (MG/DL)
CV (%)
R
2
REGRESSÃO
Uréia na urina
376,4 325,8 294,1 454,7 28,2 0,90
Ŷ = 385,060–4,144*FVA+0,048*FVA
2
N uréico na urina
175,4 151,8 137,1 211,9 28,2 0,89
Ŷ = 179,437–1,931*FVA+0,022*FVA
2
Uréia no leite
34,4 34,8 35,6 43,6 30,0 Ŷ = 37,1
N uréico no leite
16,0 16,2 16,6 20,3 30,0 Ŷ = 17,28
Uréia no plasma
26,8 29,2 27,2 32,5 18,8 Ŷ = 28,93
N uréico plasma
12,5 13,6 12,7 15,1 18,8 Ŷ = 13,48
ITEM EXCREÇÕES (G/DIA) CV (%) R
2
REGRESSÃO
Urina
2,09 2,12 1,91 1,69 31,23 Ŷ = 1,95
Uréia na urina
7,2 6,7 5,3 6,7 41,2 Ŷ = 6,48
N uréico na urina
3,4 3,1 2,5 3,1 41,3 Ŷ = 3,03
Uréia no leite
0,60 0,63 0,64 0,64 31,8 Ŷ = 0,63
N uréico no leite
0,28 0,29 0,30 0,30 31,8 Ŷ = 0,29
ITEM EXCREÇÕES (MG/KG PC) CV (%) R
2
REGRESSÃO
N uréico na urina
81,5 75,2 58,3 75,6 40,8 Ŷ = 72,65
N uréico no leite
6,6 6,9 7,2 7,2 33,0 Ŷ = 6,98
ITEM EXCREÇÕES (MG/KG PC
0,75
) CV (%) R
2
REGRESSÃO
N uréico na urina
206,5 190,8 148,5 191,2 40,9
Ŷ = 184,25
N uréico no leite
16,9 17,7 18,3 18,3 32,7 Ŷ = 17,80
EFU
0,75 0,58 0,62 0,54 63,7 Ŷ = 0,62
*significativo ao nível de 5% de probabilidade pelo teste t.
Argôlo et al. (2009) verificaram que houve redução linear do fluxo de proteína bruta
microbiana em função dos níveis de FVA. Oliveira et al. (2009) observaram que não houve efeito
dos níveis de FVA sobre a concentração de N amoniacal no rúmen de cabras alimentadas com as
mesmas dietas deste estudo, sendo que a dieta contendo somente milho grão moído como fonte de
36
energia apresentou redução de 1,31 mg de amônia/100 mL de fluido ruminal a cada intervalo de uma
hora após alimentação e aquele constituído por 100% de FVA proporcionou queda de 0,66 mg/100 ml
neste mesmo período. Assim, a utilização de FVA em dietas para cabras, provavelmente promove
menor utilização microbiana do nitrogênio amoniacal presente no rúmen quando associado a fontes de
proteína como farelo de soja e algodão.
De acordo com Russell (1992), o acúmulo de amônia no rúmen indica ineficiência de
fermentação e crescimento microbiano e pode levar ao aumento de sua absorção pela parede do
rúmen, elevando a excreção urinária de uréia. Neste estudo, a excreção urinária de uréia não se alterou,
provavelmente devido à ocorrência do mecanismo de reciclagem de uréia em direção ao men,
principalmente nas dietas contendo FVA.
37
2.4 CONCLUSÃO
A substituição do milho pelo farelo da vagem de algaroba no concentrado para cabras
lactantes não altera a retenção de nitrogênio.
A adição de 43,2% de farelo da vagem de algaroba em substituição ao milho no
concentrado proporciona menor concentração de uréia na urina e existem evidências de que este
alimento associado ao milho promove melhor eficiência de utilização do nitrogênio da dieta de cabras
lactantes
38
2.5 REFERÊNCIAS
ARGÔLO, L.S.; PEREIRA, M. L. A.; DIAS,J C. T.; et al. Farelo da vagem de algaroba na
alimentação de cabras lactantes: parâmetros ruminais e síntese de proteína microbiana. Revista
Brasileira de Zootecnia. 2009. (prelo).
CHOWDHURY, S. A.; ØRSKOV, E. R. Protein energy relationships with particular references to
energy under nutrition: A review. Small Ruminant Research, v.26, p.1-7, 1997.
HARMEYER, J.; MARTENS, H. Aspects of urea metabolism in ruminants with reference to the goat.
Journal of Dairy Science. v.63, n.10, p.1707-1728, 1980.
NATIONAL RESEARCH COUNCIL (NRC). Nutrient requirements of small ruminants: sheep, goats,
Cervids and new word camelids. Washington-USA: National Academy Press, 2007, 362p.
OLIVEIRA, L. N.; PEREIRA, M. L. A.; PEDREIRA, M. S.; et al. Concentração ruminal de nitrogênio
amoniacal em cabras alimentadas com farelo da vagem de algaroba [Prosopis juliflora (SW.)
(DC).2009. (resumo, enviado e submetido a congresso).
RAYMOND, W.F. The nutritive value of forage crops. Adv. Agr., v.21, p.1-108, 1969.
ROCHA, M.H.M. Teores de proteína bruta em dietas com alta proporção de concentrado para
cordeiros confinados. 2002. 73p. Dissertação (Mestrado) Escola Superior de Agricultura Luiz de
Queiroz, Piracicaba-SP.
RUSSELL, J.B.; et al. A net carbohydrate and protein system for evaluating cattle diets: I. Ruminal
fermentation. Journal of Animal Science., Savoy, v.70, n.11, p.3551-3561, 1992.
SILVA, H.G.O.; PIRES, A.J.V.; SILVA, F.F.; et al. Características físico-químicas e custo do leite de
cabras alimentadas com farelo de cacau ou torta de dendê. Arquivo Brasileiro de Medicina
Veterinária e Zootecnia, v.58, p.116-123, 2006.
SILVA, D.J.; QUEIROZ, A.C. Análise de alimentos: todos químicos e biológicos. 3.ed. Viçosa-
MG: UFV/Imprensa Universitária, 2002, 235p.
SWENSON, M.J. In: DUKES, H.J. (Ed.) Fisiologia dos animais domésticos. 10 ed. Rio de Janeiro:
Guanabara, 1988, 799p.
VALADARES FILHO, S.C.; VALADARES, R.F.D. Recentes avanços em proteína na nutrição de
vacas leiteiras. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE BOVINOCULTURA DE LEITE, SINLEITE,
2, 2001, Lavras. Anais... Lavras-MG: Universidade Federal de Lavras, p.228-243, 2001.
39
CAPÍTULO III
VIABILIDADE ECONÔMICA, PRODUÇÃO E COMPOSIÇÃO DO LEITE DE CABRAS
LACTANTES EM DIETAS COM FARELO DA VAGEM DA ALGAROBA
3.1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, a caprinocultura no Brasil principalmente a região Nordeste, vem se
consolidando como importante alternativa pecuária, principalmente para o pequeno produtor, que
emprega mão-de-obra familiar. Entre os fatores que têm colaborado para essa consolidação, destacam-
se o preço atrativo do leite, pelo produtor e consumidor, e as características particulares do leite,
consumido por pessoas que possuem intolerância ao leite bovino (GONÇALVES et al..2001)
A atividade caprina leiteira brasileira apresenta baixos índices de desempenho, apesar de o
rebanho ser numericamente representativo, produz 128.000 t/ano. Quando comparada com produções
de países Europeus como a França e Espanha que produzem anualmente 525 e 350 mil toneladas,
respectivamente (FAOSTAT, 2003).
No Brasil, a produção de leite de cabra e de seus derivados vem apresentando aumentos nos
últimos anos, principalmente pela necessidade de se buscarem novas alternativas de produtos de alta
qualidade e rentabilidade (MACEDO et al., 2002)
Os sistemas de criação de caprinos, com adoção de práticas de manejo e alimentação
adequadas, possibilitam melhor desempenho dos animais e, por conseqüência, melhor retorno
econômico.
O manejo alimentar é considerado fator determinante na produção e composição do leite
caprino e esta diretamente relacionado a quantidade e a qualidade da dieta.
A suplementação deve ser empregada com o intuito de melhorar o aproveitamento dos
recursos alimentares fibrosos disponíveis na região. A espécie forrageira e suas características
morfológicas de crescimento, estrutura da planta, valor nutricional, fatores antinutritivos e
aceitabilidade pelo animal, quantidade de material morto, características do terreno, dentre outros,
influenciam nas decisões a serem tomadas no consumo pelo animal (RIBEIRO et al,, 2000; OSMARI
et al,, 2003).
Segundo Mertens (1987), o consumo de matéria seca é a variável mais importante que
influencia o desempenho animal, sendo inversamente relacionada ao conteúdo de fibra da dieta. Dietas
com elevada concentração de fibra limitam a capacidade ingestiva do animal, em virtude da repleção
do retículo-rúmen. Por outro lado, dietas com teores reduzidos de fibra também resultam em menor
ingestão total de MS, uma vez que as exigências energéticas do animal podem ser atingidas em níveis
mais baixos de ingestão, podendo, ainda, ocasionar distúrbios digestivos que comprometem a saúde
animal, levando à redução do desempenho produtivo.
40
O uso de alimentos concentrados torna-se praticamente indispensável na manutenção da
produção destes animais, porém é muitas vezes limitado, devido ao seu elevado custo. A utilização de
alimentos alternativos na alimentação, principalmente de ruminantes, tem crescido de maneira global.
Isto se deve à necessidade de elaboração de dietas a custos mais baixos, visando o bom desempenho
dos animais, seja na produção de carne ou leite. No entanto, estes alimentos, quando empregados de
maneira inadequada, podem deprimir o consumo e ainda afetar o desempenho dos animais
(ARMENTANO & PEREIRA, 1997).
Desta maneira, o custo da atividade pecuária está estreitamente relacionada com a
alimentação (Martins et al., 2000) principalmente quando se manipulam as fontes suplementares com
alimentos de alta qualidade nutricional como o milho e o farelo de soja, os quais apresentam custo
elevado. Neste sentido, a utilização de fontes alimentares alternativas torna-se imprescindível para
melhorar a relação benefício/custo, além de não concorrer diretamente com a alimentação humana.
Os gastos com alimentos volumosos por litro de leite produzido geralmente representam
menor custo, não ultrapassando 10% do custo total de produção. Enquanto que o uso de alimentos
concentrados contribui sensivelmente para elevar o preço do litro de leite produzido (Pereira, 2001).
A produção de leite depende de diversos fatores, tais como raça e idade da cabra, ordem de
parição, estádio da lactação, variabilidade genética individual e, principalmente, da alimentação
(Ribeiro, 1997; Morand-Fehr, 2005). Todas essas características tornam o leite caprino um alimento de
grandes perspectivas e possibilita ao produtor comercializar um produto com inúmeros atrativos e com
um mercado consumidor com tendências a crescer.
Neste contexto a algaroba constitui-se uma opção potencial. É uma leguminosa arbórea que,
no Nordeste do Brasil, frutifica no período seco, ou seja, na entressafra da maioria das forrageiras
utilizadas na alimentação de ruminantes. Além disso, a algaroba concentra seu valor nutritivo nas
vagens (frutos), constituindo uma rica fonte de carboidratos com valores de energia bruta comparáveis
aos do milho. (STEIN et al., 2005)
Este trabalho foi conduzido com o objetivo de avaliar o efeito do farelo da vagem de
algaroba em substituição ao milho grão moído no concentrado sobre a produção de leite e a
viabilidade econômica das dietas de cabras Saanen.
41
3.2 MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no Setor de Caprinocultura da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia - UESB, em Itapetinga-Bahia.
Foram utilizadas oito cabras da raça Saanen, no terço inicial da lactação, distribuídas em
dois quadrados latinos balanceados 4 x 4, em quatro períodos experimentais de 17 dias cada, sendo os
primeiros dez dias de adaptação e sete dias de coletas de dados. As dietas foram balanceadas para
cabras com média de produção diária de 2,5 kg de leite, peso vivo médio de 50 kg, não prenhes. Os
animais foram alojados em baias individuais de madeira com 1,50 m
2
de área e piso ripado de madeira,
providas de comedouros e bebedouros dispostos frontalmente em cada baia.
Os tratamentos utilizados foram quatro níveis de substituição do milho grão moído pelo
farelo da vagem de algaroba (0,0; 33,3; 66,7 e 100 %) na matéria natural do concentrado
representando 60% e como volumoso foi utilizado silagem de capim Elefante na proporção de 40% na
matéria seca total da dieta.
A composição da silagem de capim Elefante, do farelo de vagem de algaroba e das dietas
experimentais bem como as proporções dos ingredientes nas dietas estão apresentadas no Capítulo 1.
Os animais foram manejados em baias individuais, onde receberam alimentação ad libitum duas vezes
ao dia. Foram feitas pesagens diárias da dieta fornecida e das sobras, de todos os animais, para estimar
o consumo, sendo que as sobras foram mantidas em torno de 10% do total ofertado.
As cabras foram ordenhadas manualmente, duas vezes ao dia, fazendo-se o registro diário da
produção de leite (PL). Essa mensuração foi realizada do décimo ao décimo sétimo dia de cada
período experimental e a composição do leite foi determinada em amostras compostas obtidas em duas
ordenhas diárias e de quatro amostragens, constituídas 10% da PL, durante o período de coleta:
ordenha vespertina no dia; ordenha matutina no dia; ordenha vespertina no dia e ordenha
matutina no dia. Alíquotas das amostras compostas foram acondicionadas em frascos plásticos com
conservante (Bronopol®). As análises qualitativas do leite foram realizadas no Laboratório de
Fisiologia da Lactação da Escola Superior Luiz de Queiroz (ESALQ) em Piracicaba – SP.
A produção de leite corrigida para 3,5% de gordura foi estabelecida pela fórmula
apresentada por Gravert (1987): LCG (3,5%) = 0,4337PL + 16,218PG, em que, LCG representa a
produção de leite corrigida para gordura, PL é produção de leite (kg/dia) e PG, produção de gordura
(kg/dia).
Para avaliar a viabilidade econômica das dietas, considerou-se o custo com alimentação dos
animais e a receita representada pela produção de leite. O preço do leite e dos insumos utilizados foi
cotado em fevereiro de 2006, na região de Itapetinga-BA. A mão-de-obra não foi considerada, pois
todos os animais foram manejados de forma semelhante.
Os dados foram submetidos à análise de variância e regressão, com nível de 5% de
probabilidade, utilizando-se o programa SAEG 9.1 (UFV, 2007).
42
3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 3.1 estão os valores médios da produção de leite (PL), gordura (G), proteína
bruta (PB), lactose (LAC), sólidos totais (ST) e extrato seco desengordurado (ESD), segundo os níveis
de substituição do milho pelo FVA.
Não houve influência do FVA (P>0,05) para a PL em nenhum dos comportamentos do
leite analisados respectivamente.
A alteração no CMS tem sido apontada, em alguns trabalhos, como responsável pela
alteração na produção de leite (PL). Neste experimento, como observado, não houve efeito
significativo (P>0,05) dos níveis de substituição do milho pelo FVA sobre o CMS, o que pode
justificar a ausência dos efeitos observados na produção e composição do leite.
Tabela 3.1 - Médias observadas, coeficiente de variação (CV) e equações de regressão na produção e
composição do leite.
NÍVEIS DE FVA (% MN)
ITEM
0,0 33,3 66,7 100
CV(%) REGRESSÃO
PL (kg/dia)
1,92 1,87 1,95 1,51 15,81 Ŷ= 1,82
PLCG (kg/dia)
1,72 1,68 1,73 1,31 14,63 Ŷ= 1,61
G (%)
2,94 2,85 2,81 2,73 7,32 Ŷ= 2,83
G (g/d)
54,59 53,40 54,96 40,61 14,82 Ŷ= 50,89
PB (%)
2,71 2,67 2,67 2,58 3,24 Ŷ= 2,66
PB (g/dia)
51,47 50,09 51,99 39,22 15,40 Ŷ= 48,19
LAC (%)
4,27 4,24 4,3 4,13 6,85 Ŷ= 4,24
LAC (g/dia)
81,56 80,30 84,30 62,56 16,40 Ŷ= 77,11
ST (%)
10,69 10,50 10,53 10,34 2,97 Ŷ= 10,52
ST (g/dia)
202,05
197,52 205,75
157,17 14,74 Ŷ= 190,63
ESD (%)
7,75 7,65 7,72 7,61 2,09 Ŷ= 7,68
ESD (g/dia)
147,46
144,13 150,79
116,56 15,23 Ŷ= 139,82
NUL (mg/dl)
16,03 16,21 16,59 20,33 30,00 Ŷ= 17,29
NUP (mg/dl)
12,51 13,61 12,68 15,14 18,77 Ŷ= 13,48
Produção de leite (PL), produção de leite corrigido para gordura 3,5 % (PLCG), gordura (G), proteína (PB), lactose (LAC),
sólidos totais (ST), extrato seco desengordurado (ESD), nitrogênio uréico no leite (NUL), nitrogênio uréico no plasma
(NUP).
Mouro et al. (2002) trabalhando com cabras Saanen, substituíram o milho grão moído pela
farinha de varredura da mandioca no concentrado, alimentadas com feno de alfafa na relação de 40 %
43
da dieta, e não obtiveram influência sobre a produção de leite, que foram de 2,14; 2,00; 2,06 e 2,21
kg/dia, para as respectivas porcentagens de substituição, 0; 33; 67 e 100%.
Silva et al. (2006), trabalhando com cabras Saanen alimentadas com silagem de milho (36%) e
concentrado (64%), que no grupo controle foi à base de milho grão moído e farelo de soja, obtiveram
resultados de 1,76 kg/dia, 2,74 e 7,93% para PL, G e ESD, respectivamente, os quais se assemelham
com os valores obtidos nesse trabalho, sendo a porcentagem da PB do leite superior (3,13%).
Bomfim (2003) relatou que a concentração de PB no leite reduziu em dietas ricas em FSDN.
Esse autor, ao utilizar dietas à base de 40,8% de feno de alfafa e 59,2% de concentrado constituído de
milho desintegrado com palha e sabugo, polpa cítrica e farelo de soja para cabras da raça Saanen,
encontrou valores para concentração de PB do leite variando de 2,63 a 2,82%, que são semelhantes
aos obtidos neste estudo, que foi em média 2,66%.
Bomfim (2003) também não observou efeito de dietas contendo 0,89 a 2,92 de razão amido +
açúcares solúveis e fibra solúvel em detergente neutro (AMAS:FSDN) sobre os teores (valor médio de
2,92%) e produções (média de 70,41 g/dia) de gordura do leite de cabras.
As respostas do percentual de gordura do leite frente à alteração da fonte de CSDN
apresentadas na literatura não são conclusivas (BOMFIM, 2003). Segundo Morand-Fehr & Sauvant
(1982), a natureza do volumoso e o nível de concentrado podem alterar a produção de leite e seus
constituintes em cabras lactantes, mas o efeito da substituição de amido por concentrados fibrosos
pouco altera a composição ou produção de leite. Os resultados obtidos com as dietas contendo 0, 33,3
e 66,7% de FVA em substituição ao milho no concentrado são consistentes com esta afirmação, tendo
em vista que o volumoso utilizado foi o mesmo em todas as dietas constituídas da mesma relação entre
volumoso e concentrado. Assim, ao considerar a dieta constituída por 100% de FVA como fonte de
carboidratos, observa-se redução acentuada na secreção diária do leite que refletiu na produção de seus
constituintes, sem afetar as suas concentrações.
Embora os valores médios de ST e ESD observados tenham sido inferiores aos citados por
Gelaye et al. (1997), Mouro (2001), Pizzarro & Bresslau (2001), encontraram-se dentro da faixa de
10,4 a 14,1% e 7,6 a 9,6% para ST e ESD, respectivamente, relatados por D’Alessandro et al. (1995).
Estes valores mais baixos devem-se à menores concentrações observadas de gordura e proteína.
As concentrações de N ureico no leite e no plasma não foram afetadas (P>0,05), sendo
apresentadas médias de 17,3 mg/dL e 13,5 mg/dL, respectivamente. De acordo com a concentração
média de N ureico no leite sugerido pela maioria dos pesquisadores (faixa de 10 a 17 mg/dL) indica
adequada eficiência de utilização de nitrogênio dietético. Morand-Fehr & Sauvant (1980) relataram
que o excesso de proteína na dieta não melhora a porcentagem de proteína no leite de cabra, e sim
aumenta o conteúdo de nitrogênio não-proteico e de uréia no leite. A concentração plasmática de N
ureico em ruminantes está diretamente relacionada com o consumo de proteína e tem sido usada em
estudos para verificar o estado nutricional protéico dos animais. Brun-Bellut et al. (1991) observaram
concentração de 21,9 mg/dL de N uréico no plasma de cabras lactantes alimentadas com 13,3% de PB
44
na dieta e Sahlu et al. (1993) relataram valores de 8,3; 22,0 e 33,3 mg/dl de N ureico no plasma em
cabras alimentadas, respectivamente com 9, 15 e 21% de PB na MS da dieta. Neste estudo, as dietas
foram isonitrogenadas com a concentração média de 9,4% de PB.
As médias da produção de leite (PL) em relação ao percentual de substituição do milho grão
moído pelo farelo da vagem de algaroba (FVA) no concentrado estão apresentadas na Tabela 3.1.
Verificou-se que não houve efeito significativo (P>0,05) dos veis de FVA sobre a PL, a
qual foi de 1,92; 1,87; 1,95 e 1,51 kg/dia para os respectivos veis, 0; 33,3; 66,7 e 100% de
substituição do milho grão moído pelo FVA. Resultado similar para produção de leite (1,76 kg/dia) foi
constatado por Silva et al. (2005) utilizando cabras Saanen, grupo controle, alimentadas com 36% da
dieta com silagem de milho e 64% de concentrado à base de milho grão moído e farelo de soja.
Mouro et al. (2002) trabalhando com cabras Saanen, substituindo o milho grão moído pela
farinha de varredura da mandioca no concentrado, alimentadas com feno de alfafa na relação de 40%
da dieta, não obtiveram influência sobre a produção de leite, que foram de 2,14; 2,00; 2,06 e 2,21
kg/dia, para as respectivas porcentagens de substituição, 0; 33; 66,7 e 100%.
Na Tabela 3.2 estão apresentados os custos com alimentação, receita proveniente da venda
do leite e a margem bruta em função dos níveis de substituição do milho grão moído pelo FVA no
concentrado.
O custo total de alimentação diminuiu em função da substituição do milho pelo FVA no
concentrado, devido ao baixo custo do farelo de algaroba no mercado. Para os concentrados com 0 e
33,3% de FVA, o custo do litro do leite foi R$ 0,33; R$ 0,30 para os concentrados contendo 66,7 e
100% de substituição. Esses valores estão relacionados ao custo total com alimentação (R$/dia) para
produção de leite (kg/dia).
A renda diária foi de R$ 1,92; 1,87; 1,95 e 1,51, para os respectivos porcentuais 0; 33,3;
66,7 e 100% de substituição do milho grão moído pelo FVA no concentrado. A margem bruta
(R$/cabra/dia) foi maior para a dieta com 66,7% de substituição (R$ 1,36), não levando em
consideração a variação de peso corporal (VPC) dos animais.
Silva et al. (2006) utilizando cabras Saanen alimentadas com dieta composta de 36 % de
silagem de milho e 64 % de concentrado à base de milho grão moído e farelo de soja, obtiveram o
custo por litro de leite de R$ 0,48 e a relação custo da dieta/receita de 39,76 %, em novembro de 2002,
e neste trabalho obteve-se uma média de relação custo da dieta/receita de 31,50%.
45
Tabela 3.2 - Custos com alimentação, receita proveniente da venda do leite e margem bruta em função
dos níveis de substituição do milho grão moído pelo FVA no concentrado.
NÍVEIS DE SUBSTITUIÇÃO (%)
ITEM
0,0 33,3 66,7 100
VOLUMOSO
Silagem de capim elefante (kg MS/cabra/dia)
0,56 0,59 0,61 0,50
Custo por kg (R$)
Custo (R$/cabra/dia)
0,22
0,12
0,22
0,13
0,22
0,13
0,22
0,11
CONCENTRADO
Farelo da vagem de algaroba (kg/cabra/dia)
0,0 0,22 0,47 0,59
Custo por kg (R$)
0,25 0,25 0,25 0,25
Custo (R$/cabra/dia)
0,0 0,06 0,12 0,15
Milho grão moído (kg/cabra/dia)
0,66 0,46 0,24 0,0
Custo por kg (R$)
0,48 0,48 0,48 0,48
Custo (R$/cabra/dia)
0,31 0,22 0,12 0,0
Farelo de Soja (kg/cabra/dia)
0,11 0,12 0,12 0,10
Custo por kg (R$)
0,71 0,71 0,71 0,71
Custo (R$/cabra/dia)
0,08 0,08 0,09 0,07
Farelo de Algodão (kg/cabra/dia)
0,04 0,04 0,05 0,04
Custo por kg (R$)
0,50 0,50 0,50 0,50
Custo (R$/cabra/dia)
0,02 0,02 0,02 0,02
Suplemento mineral (kg/cabra/dia)
0,03 0,03 0,04 0,03
Custo por kg (R$)
3,12 3,12 3,12 3,12
Custo (R$/cabra/dia)
0,10 0,11 0,11 0,10
Custo do concentrado (R$/cabra/dia)
0,51 0,49 0,46 0,34
Custo total com alimentação (R$/cabra/dia)
0,63 0,62 0,59 0,45
Custo do kg do leite (R$)
0,33 0,33 0,30 0,30
RECEITA
Preço de venda do kg de leite (R$)
1,0 1,0 1,0 1,0
Renda (R$/dia)
1,92 1,87 1,95 1,81
RELAÇÕES
Custo do Volumoso/Receita (%)
6,25 6,95 6,67 7,28
Custo do Concentrado/Receita (%)
26,56 26,20 23,59 22,52
Custo da Dieta/Receita (%)
32,81 33,15 30,26 29,80
Margem Bruta de Lucro (R$/cabra/dia)
1,29 1,35 1,36 1,06
46
3.4 CONCLUSÃO
As dietas contendo até 66,7% de substituição do milho grão moído pelo farelo da vagem de
algaroba não interferem na produção de leite, sendo os níveis da substituição de 33,3 a 66,7% mais
recomendados por apresentarem maior margem bruta de lucro (R$1,36/cabra/dia).
47
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