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A magnitude da obra faz com que ela possa ser enquadrada na categoria de “grandes
projetos” possuidores de uma lógica própria de organização. Diversos autores têm
abordado o estudo destes empreendimentos; dentre eles, destacamos os aportes de
Gustavo Lins Ribeiro. Este autor define os “grandes projetos” como totalidades
discretas (organizadas por uma lógica particular, mesmo que inseridos em uma
lógica maior, fonte das suas características estruturais), e recorrentes (possuidoras de
semelhanças entre elas que justificam a sua colocação numa categoria única).
(RIBEIRO, 1987, p. 7 apud BERTONCELLO, 1992, p. 89).
O que nos chamou a atenção nessa tipologia feita por Ribeiro (RIBEIRO, 1987 apud
BERTONCELLO, 1992), no que tange à dimensão de projetos e sua caracterização a partir
daí, foi como o conceito elaborado se encaixa nas questões observadas na implementação dos
projetos das usinas nucleares brasileiras. Por exemplo, para Ribeiro existem três dimensões
interrelacionadas que caracterizam grandes projetos: o gigantismo, o isolamento e o caráter
temporário. Não vamos entrar em detalhes quanto às três dimensões propostas pelo autor,
porém, avançando um pouco mais nos conceitos por ele propostos, Bertoncello (1992) dirá
que.
O isolamento diz respeito ao local de implantação, facilitando o estabelecimento de
um “território controlado” (BECKER, 1988b). Sob jurisdição (legal, política e
administrativa) direta do órgão executor. Complementares deste território
controlado, criam-se territórios vinculados aos empreendimentos, mas não sob o seu
controle, que não interessa ao órgão executor. Assim, junto às obras existem uma
série de equipamentos e infra-estrutura que, pela sua importância, fazem parte do
território controlado; a partir dos limites das obras, coexistem diversos tipos de
instalações “espontâneas” que escapam do controle e também da responsabilidade
do órgão executor, sendo geralmente “terra de ninguém” campo dos conflitos mais
diversos. (BERTONCELLO, 1992, p. 89, grifo do autor).
É interessante notar essa dimensão do projeto, pois se olharmos o território onde foram
construídas as usinas, iremos nos deparar com uma realidade que segue quase literalmente a
descrição teórica de fenômenos trazidos quando de implantações de grandes projetos. Ou
seja, no território sob controle direto do órgão executor, como a vila de Praia Brava, toda a
infra-estrutura necessária foi provida. Porém, a quinze km dali, a partir dos limites das obras,
a antes bucólica Vila do Frade teve que arcar com todos os ônus do crescimento não
planejado, tornando-se uma espécie de terra de ninguém.
Uma dinâmica própria foi desencadeada na região, pois no auge das obras o efeito
multiplicador fez crescer alguns setores da economia local, o comércio principalmente. O
mercado de trabalho local sofre, mais uma vez, fortes impactos e, também uma vez mais, o
uso do solo sofrerá transformações. A atração de mão-de-obra operária é sentida quando
observamos números dos Censos de 1970 e 1980. O aumento da população levou a maiores
demandas por moradia, saúde, segurança, escolas etc. Um grande número de trabalhadores