Download PDF
ads:
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE
DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
A IDENTIDADE SOCIAL: ESTUDO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO E
PRODUÇÃO DENTRO DO TRABALHO BANCÁRIO
Henrique Maia Veloso
Orientadora: Profa. Dra. Ana Cristina Limongi França
SÃO PAULO
2008
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Profa. Dra. Suely Vilela
Reitora da Universidade de São Paulo
Prof. Dr. Carlos Roberto Azzoni
Diretor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
Prof. Dr. Isak Kruglianskas
Chefe do Departamento de Administração
Prof. Dr. Lindolfo Galvão de Albuquerque
Coordenador do Programa de Pós-graduação em Administração
ads:
HENRIQUE MAIA VELOSO
A IDENTIDADE SOCIAL: ESTUDO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO E
PRODUÇÃO DENTRO DO TRABALHO BANCÁRIO
Tese apresentada ao Departamento de
Administração da Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade da
Universidade de São Paulo como requisito
para a obtenção do título de Doutor em
Administração.
Orientadora: Profa. Dra. Ana Cristina Limongi França
SÃO PAULO
2008
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Seção de Processamento Técnico do SBD/FEA/USP
Windows Explorer.lnk
Veloso, Henrique Maia
A identidade social: estudo das relações de consumo e produção dentro
do trabalho bancário / Henrique Maia Veloso. -- São Paulo, 2008.
237 p.
Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, 2008
Bibliografia.
1. Identidade social 2. Relações de trabalho 3. Consumo I. Univer-
sidade de São Paulo. Faculdade de Economia, Administração e Contabi-
lidade II. Título.
CDD – 305
ii
Dedico este trabalho aos meus amores:
Tatiana, minha esposa, e Ana Luísa, minha filha.
iii
AGRADECIMENTOS
Este trabalho é fruto de uma trajetória intelectual que foi sendo consolidada na vivência e
convivência com pessoas, espaços e instituições a quem devo o meu apreço e singelo
agradecimento.
Minha orientadora, Profa. Dra. Ana Cristina Limongi França, foi alguém que soube me
indicar os caminhos, preservando a minha Identidade e minhas opções. As escolhas que
fizemos juntos mostram sintonias entre nossas visões ao longo deste trabalho. Agradeço sua
atenção e compreensão não só pelos meus problemas de natureza acadêmica, mas pelas
diversas questões que atravessaram minha vida pessoal durante este doutoramento.
Às professoras Dra. Solange Maria Pimenta e Dra. Maria Laetitia Corrêa, amigas,
companheiras, que acompanharam grande parte da construção deste trabalho, indicando
literaturas pertinentes ao desenvolvimento da pesquisa, deixando sempre tudo mais complexo,
difícil e desafiador.
Aos professores Dr. André Luiz Fischer e Dra. Maria José Tonelli, membros da banca de
qualificação, cujas leituras atentas ao meu trabalho foram responsáveis pela incorporação de
elementos cruciais para a conclusão desta tese.
Não posso me esquecer do Prof. Dr. Lúcio Flávio Renault de Moraes e da Profa. Dra. Zélia
Miranda Kilimnik que me iniciaram no universo acadêmico, no início de minha carreira
docente e como pesquisador.
Minha gratidão aos professores da USP, Dr. Lindolfo Albuquerque Galvão, Dr. Roberto
Coda, Dra. Maria Teresa Leme Fleury, Dra. Maria Rosa Fischer, Dr. Silvio Aparecido dos
Santos e Dr. Adalberto Fischmann, que compartilharam conhecimentos e reflexões teóricas ao
longo das disciplinas que ministraram e que, de alguma forma, estão presentes neste trabalho.
Meus queridos colegas de trabalho, sobretudo amigos cordiais, que não me deixaram
descansar enquanto não terminasse esta tese, discutindo temáticas, indicando autores,
criticando minhas visões simplistas e acrescentando variáveis. Algumas vezes, o simples “não
desanime” foi fundamental. Obrigado Prof. José Milton Garcia, Profa. Maria Eliane Catunda
iv
de Siqueira, Profa. Dra. Marília de Gonzaga Lima e Silva Tose, Prof. Dr. Francisco Rogério
de Oliveira Bonatto, Prof. Francisco de Paula Oliveira, Prof. Dr. Ronny Francy Campos,
Profa. Maria José Scassiotti Souza, Profa. Dra. Moema Miranda de Siqueira, Prof. Dr.
Tommy Akira Gotto, Prof. Sibélius Cefas Pereira, Profa. Maria Emília Almeida Cruz, Prof.
Clodoaldo Coutinho Piragibe da Fonseca, Profa. Dra.Cristiane Fonseca Freitas, Dr. Cléber
Alencar Salles, Prof. Dr. Sílvio César Moral Marques e Prof. Dr. Cláudio Correa.
Aos bancários que participaram desta pesquisa, anônimos, extremamente disponíveis e
cordiais, cedendo parte de seu tempo para que esta tese pudesse se concretizar. Espero ter
feito jus à contribuição que deram. Que este trabalho possa se refletir e retornar a todos vocês
com melhorias futuras. Em especial, agradeço aos bancários Francisco e Antônio Carlos que
não mediram esforços para abrir espaço entre os demais.
Agradeço aos colegas de Doutorado que também são parte desta pequena brevidade temporal:
Profa. Sônia Regina Hierno Parolin, Profa. Amyra Moisés Sarsur, Prof. Marcos Abílio
Bosquetti, Prof. Luciano Sathler Rosa Guimarães, Prof. Sérgio Silva Dantas, Prof. Wilson
Amorin, Profa. Angeli Kishore, Prof. Silvio Roberto Stefano, Profa. Renata Schirrmeister,
Profa. Tatiana de Almeida Proença, Prof. Reinaldo Koei Yonamine, Prof. César Martins
Guimarães, Prof. Flávio Lício, Profa. Ângela Christina Lucas, Profa. Annelise Vendramini,
Prof. Solemar Merino Jorge, Prof. Hermann Hrdlicka, Prof. Victor Richarte Martinez, Prof.
Leonardo José Schettino Peixoto, Profa. Neila Conceição Viana da Cunha, Prof. Francisco
Ribeiro de Almeida, Prof. Márcio Shoiti Kuniyoshi, Profa. Carolina Harumi Koshima Beker,
Prof. Armando Lourenzo Moreira Júnior, Profa. Daniela Motta Romeiro Khauaja e tantos
outros com quem tive o prazer de conviver. Peço desculpas caso tenha me esquecido de
alguém, mas saibam todos que foram importantes para mim.
À Universidade de São Paulo, que, na figura de seus funcionários, acolheu-me assim como
acolhe a uma diversidade enorme de pesquisadores e estudiosos oriundos de diversas regiões,
mostrando a plenitude da inclusão e diversidade cultural. Dentro da grandiosidade que é essa
Universidade, fico feliz em ser parte de sua história. Em especial, agradeço aos vigilantes que
me deram suporte num momento complicado que vivenciei na USP e aos funcionários das
secretarias da pós-graduação.
v
Minha esposa, minha filha, meus pais, meus irmãos. Para minha família, poucas palavras:
eterna gratidão pelo intenso e incomensurável apoio.
Por último, mas não menos importante, digo que este trabalho não seria realizado se a
Universidade onde trabalho não me desse o apoio e crédito, não apenas com palavras de
incentivo, mas com um efetivo suporte institucional. Por isso agradeço à PUC Minas que, por
meio do seu Programa Permanente de Capacitação Docente, confiou e investiu nesta obra e
nesse processo de crescimento profissional.
vi
Nada resiste à realidade,
embora, às vezes, a realidade a nada resiste.
vii
RESUMO
Esta tese teve como objetivo analisar como as Identidades Sociais dos bancários têm sido
afetadas pelas transformações do mundo do trabalho e pelos valores da sociedade do
consumo. As Identidades Sociais são consideradas como importantes referenciais para
entender a dinâmica dentro das organizações. Há uma corrente de pensadores que descrevem
o trabalho perdendo sua relativa importância como referência social em função das
metamorfoses que vem sofrendo. Por outro lado, autores descrevem que os valores da
sociedade do consumo estão se revigorando no atual contexto, servindo, cada vez mais, como
parâmetros para os sujeitos. Na medida em que as Identidades Sociais são afetadas pelos
valores que permeiam determinado contexto social, procurou-se entender como tais mudanças
estão afetando o constructo. Partindo de uma visão construcionista, estabeleceu-se uma
abordagem qualitativa para estudar como 50 bancários, por meio de seus discursos,
reconstruíam suas Identidades Sociais e as ligações dessas com o trabalho e o consumo. Os
dados foram tratados por meio de análise de conteúdo, sendo que também foi realizado um
focus group com bancários, discutindo os resultados da pesquisa. Como conclusões obteve-se
que os elementos do trabalho ainda são fonte de referência para as Identidades Sociais. Os
elementos do consumo também apareceram como parâmetros importantes no discurso. O
consumo e o trabalho se mostram como referências complementares, embora sejam
provenientes de situações e relações antagônicas.
viii
ABSTRACT
This thesis aimed to analyze how the bank workers Social Identities have been affected by the
changes in the global work order and by the values of the current consumption society. The
Social identities are considered important references to comprehend the dynamics inside the
organizations. There is a group of researchers that describes the work activity failing to
maintain its relative importance as a social reference due to the metamorphosis it has been
experiencing. On the other hand, the authors assure that the consumption society values are
gathering new strength in the present context, and are offering new patterns to the individuals.
As the Social Identities are affected by the values that permeate a specific social context, we
tried to understand how such changes are affecting the constructus. We started from a
constructionist conception and we established a qualitative approach to study how the 50
bank workers unveil through their discourses the ways they reconstruct their Social Identities
in relation to work and consumption. The data were treated by means of an analysis upon the
content, and we also carried out a focus group with the bank workers, in which we discussed
the results of the research. We reached the conclusion that the constituents of the work are
yet a strong reference to the Social Identities. The consumption elements also appear as
important patterns in the discourse. The consumption and the work are revealed as
references, although they derive from antagonistic situations and relationships.
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS ................................................................................................ 3
LISTA DE QUADROS ............................................................................................................ 4
LISTA DE TABELAS ............................................................................................................. 5
LISTA DE ILUSTRAÇÕES ................................................................................................... 9
INTRODUÇÃO......................................................................................................................12
CAPÍTULO 1 - O PROBLEMA DE PESQUISA............................................................... 16
1.1. DEFINIÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA ....................................................................... 17
1.2. QUESTÃO DE PESQUISA ............................................................................................. 19
1.3. OBJETIVOS ................................................................................................................ 19
1.3.1. Objetivo geral ...................................................................................................... 19
1.3.2. Objetivos específicos............................................................................................ 19
1.4. RELEVÂNCIA DO ESTUDO .......................................................................................... 20
1.5. DESENHO TEÓRICO DA PESQUISA .............................................................................. 23
CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA PESQUISA ................................ 24
2.1. CONSTRUINDO IDENTIDADES .................................................................................... 25
2.1.1. Delimitações conceituais de Identidade .............................................................. 26
2.1.2. Concepções de Identidade ................................................................................... 30
2.1.3. Identidade: uma reconstrução histórica.............................................................. 31
2.1.4. Identidade: olhares interdisciplinares................................................................. 34
2.1.5. Identidade como construção social...................................................................... 36
2.1.6. A perspectiva construcionista e Identidade Social .............................................. 39
2.1.7. Identidade Social dentro do espaço organizacional............................................ 41
2.1.8. Identidade Social e trabalho................................................................................ 43
2.2. AS TRANSFORMAÇÕES DO TRABALHO E A IDENTIDADE SOCIAL................................. 46
2.3. CONSUMO E TRABALHO ............................................................................................ 51
2.4. T
RABALHO BANCÁRIO............................................................................................... 54
2.4.1. Questões contextuais e as instituições do sistema financeiro.............................. 55
2.4.2. Características do trabalho bancário.................................................................. 57
2.4.3. Alterações no setor bancário no Brasil ............................................................... 58
CAPÍTULO 3 - ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA............................... 68
3.1. M
ÉTODO DE PESQUISA .............................................................................................. 69
3.2. ESTRATÉGIA DE COLETA DE DADOS........................................................................... 73
3.2.1. Universo da pesquisa........................................................................................... 74
3.2.2. Unidade de análise .............................................................................................. 74
3.2.3. Operacionalização do conceito de Identidade..................................................... 74
3.2.4. Instrumentos de pesquisa..................................................................................... 76
3.2.5. Pré-teste ............................................................................................................... 77
3.2.6. Tamanho da população........................................................................................ 78
3.2.7. O processo de coleta de dados............................................................................. 78
3.3. TÉCNICA DE TRATAMENTO DOS DADOS ..................................................................... 79
3.3.1. Desenho da estratégia de coleta e tratamento de dados ..................................... 81
3.3.2. Categorias de análise........................................................................................... 81
3.4. D
ESCRIÇÃO GERAL DA POPULAÇÃO ENTREVISTADA.................................................. 83
2
3.4.1. Características demográficas...............................................................................84
3.4.2. Características funcionais....................................................................................86
3.4.3. Dados das organizações às quais os entrevistados fazem parte..........................89
CAPÍTULO 4 - RESULTADOS DA PESQUISA ...............................................................94
4.1. VISÃO SOBRE AS TRANSFORMAÇÕES DO CONTEXTO ..................................................95
4.2. VALOR DO TRABALHO ...............................................................................................98
4.2.1. Valor Pessoal........................................................................................................99
4.2.2. Valor Econômico................................................................................................101
4.2.3. Valor Social........................................................................................................103
4.2.4. Valor Moral........................................................................................................105
4.3. VALOR DO CONSUMO...............................................................................................106
4.3.1. Valor Pessoal......................................................................................................107
4.3.2. Valor Econômico................................................................................................109
4.3.3. Valor Social........................................................................................................111
4.3.4. Valor Moral........................................................................................................112
4.4. SER TRABALHADOR .................................................................................................113
4.5. SER CONSUMIDOR....................................................................................................121
4.6. ELEMENTOS DE EXPRESSÃO DA IDENTIDADE SOCIAL ...............................................127
4.6.1. Expressão da Identidade, identificação e trabalho............................................129
4.6.2. Expressão da Identidade, identificação e categoria profissional ......................131
4.6.3. Expressão da Identidade, identificação e organização......................................133
4.6.4. Expressão da Identidade, identificação e consumo............................................138
4.6.5. Expressão da Identidade, identificação e consumidor.......................................143
4.7. O CASO “ANALU....................................................................................................146
4.8. O FOCUS GROUP.......................................................................................................153
CAPÍTULO 5 - CONCLUSÕES.........................................................................................157
CAPÍTULO 6 - (IN)CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .......................................162
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................165
APÊNDICES.........................................................................................................................174
A
PÊNDICE A ROTEIRO DE ENTREVISTA ..............................................................................175
APÊNDICE B QUADROS DE ANÁLISE DO ROTEIRO DE ENTREVISTA......................................179
APÊNDICE C ANÁLISE DOS DADOS INDIVIDUAIS DOS ENTREVISTADOS...............................180
A
PÊNDICE D QUADROS-SÍNTESE DOS DADOS COLETADOS .................................................230
ÍNDICE REMISSIVO DAS FALAS DOS ENTREVISTADOS ......................................235
3
LISTA DE ABREVIATURAS
BCB: Banco Central do Brasil
BACEN: Banco Central do Brasil
DIEESE: Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
FEBRABAN: Federação Brasileira de Bancos
PAB: Posto Avançado Bancário
PROCON: Procuradoria do Consumidor
4
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Número de fusões, aquisições e incorporações por ano no setor bancário do
Brasil entre Julho de 1995 e Outubro de 2006 .................................................................60
Quadro 2 - Número estimado de empregados nos bancos no Brasil entre 1989 e 1996. .......60
Quadro 3 - Máquinas de auto-atendimento para saque e depósito no setor bancário do Brasil
de 2000 a 2006..................................................................................................................62
Quadro 4 - Descritores do planejamento desta pesquisa segundo quadro elaborado por
Cooper e Schindler (2003)................................................................................................71
Quadro 5 - Quadro de análise das respostas dos bancários para a categoria “Ser Trabalhador”
........................................................................................................................118
Quadro 6 - Quadro de análise das referências encontradas para descrever o “Ser
Trabalhador”...................................................................................................................121
Quadro 7 - Quadro de análise das respostas dos bancários para a categoria “Ser Trabalhador”
........................................................................................................................125
Quadro 8 - Quadro de análise da expressão da Identidade associada ao trabalho................130
Quadro 9 - Quadro de análise da expressão da Identidade associada à categoria profissional ..
..............................................................................................................................133
Quadro 10 - Quadro de análise da expressão da Identidade associada à organização ...........136
Quadro 11 - Quadro de análise da expressão da Identidade associada ao consumo ..............143
Quadro 12 - Como o Entrevistado 15 descreve o “eu” e o “outro” nas situações de trabalho e
de consumo.....................................................................................................................150
Quadro 13 - Quadro de análise do roteiro de pesquisa por categoria de análise....................179
Quadro 14 - Quadro resumo das características demográficas dos entrevistados..................231
Quadro 15 - Quadro resumo das características funcionais dos entrevistados.......................233
5
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Número de transações realizadas no setor bancário no Brasil em 2006.............. 63
Tabela 2 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por gênero – dados coletados nas
agências bancárias de julho a outubro de 2007................................................................ 85
Tabela 3 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por idade – dados coletados nas
agências bancárias de julho a outubro de 2007................................................................ 85
Tabela 4 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por grau de instrução formal – dados
coletados nas agências bancárias de julho a outubro de 2007 ......................................... 85
Tabela 5 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por estado civil – dados coletados nas
agências bancárias de julho a outubro de 2007................................................................ 86
Tabela 6 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por nível hierárquico do cargo
ocupado - dados coletados nas agências bancárias de julho a outubro de 2007 .............. 86
Tabela 7 - Distribuição dos respondentes por tempo no atual cargo – dados coletados nas
agências bancárias de julho a outubro de 2007................................................................ 87
Tabela 8 - Distribuição dos respondentes por tempo na atual instituição – dados coletados
nas agências bancárias de julho a outubro de 2007 ......................................................... 87
Tabela 9 - Distribuição dos respondentes por tempo na atual agência – dados coletados nas
agências bancárias de julho a outubro de 2007................................................................ 88
Tabela 10 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Trabalhou
em outros bancos?” - dados coletados nas agências bancárias de julho a outubro de 2007
.......................................................................................................................... 88
Tabela 11 - Distribuição dos respondentes por tempo total como bancário – dados coletados
nas agências bancárias de julho a outubro de 2007 ......................................................... 88
Tabela 12 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Na execução
do trabalho, tem contato com cliente?” - dados coletados nas agências bancárias de julho
a outubro de 2007............................................................................................................. 89
Tabela 13 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Na execução
do trabalho, tem contato com outros funcionários?” - dados coletados nas agências
bancárias de julho a outubro de 2007............................................................................... 89
Tabela 14 - Distribuição dos bancos no Brasil segundo a natureza econômica da instituição
em Fevereiro de 2008....................................................................................................... 90
Tabela 15 - Distribuição dos bancos em número de agências no Brasil segundo a natureza
econômica da instituição em Fevereiro de 2008.............................................................. 90
Tabela 16 - Distribuição dos bancos em número de postos avançados bancários no Brasil
segundo a natureza econômica da instituição em Fevereiro de 2008. ............................. 91
6
Tabela 17 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por natureza econômica das
instituições em que trabalham atualmente - dados coletados nas agências bancárias de
julho a outubro de 2007....................................................................................................91
Tabela 18 - Distribuição dos bancos no Brasil segundo a nacionalidade da propriedade da
instituição em Fevereiro de 2008 .....................................................................................92
Tabela 19 - Distribuição dos bancos em quantidade de agências e postos avançados bancários
no Brasil segundo a nacionalidade da propriedade da instituição em Fevereiro de 2008....
..........................................................................................................................92
Tabela 20 - Distribuição dos entrevistados segundo a nacionalidade da propriedade do banco
em Fevereiro de 2008 .......................................................................................................93
Tabela 21 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Como você
vê a profissão de bancário no passado?”- dados coletados nas agências bancárias de julho
a outubro de 2007 .............................................................................................................95
Tabela 22 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Como você
vê a profissão de bancário no presente?”- dados coletados nas agências bancárias de
julho a outubro de 2007....................................................................................................96
Tabela 23 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Como você
vê a profissão de bancário no futuro?”- dados coletados nas agências bancárias de julho a
outubro de 2007................................................................................................................97
Tabela 24 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por categorização do trabalho como
Valor Pessoal em seus discursos - dados coletados nas agências bancárias de julho a
outubro de 2007................................................................................................................99
Tabela 25 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por categorização do trabalho como
Valor Econômico em seus discursos - dados coletados nas agências bancárias de julho a
outubro de 2007..............................................................................................................102
Tabela 26 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por categorização do trabalho como
Valor Social em seus discursos - dados coletados nas agências bancárias de julho a
outubro de 2007..............................................................................................................103
Tabela 27 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por categorização do trabalho como
Valor Moral em seus discursos - dados coletados nas agências bancárias de julho a
outubro de 2007..............................................................................................................105
Tabela 28 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por categorização do consumo como
Valor Pessoal em seus discursos - dados coletados nas agências bancárias de julho a
outubro de 2007..............................................................................................................107
Tabela 29 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por categorização do consumo como
Valor Econômico em seus discursos - dados coletados nas agências bancárias de julho a
outubro de 2007..............................................................................................................109
Tabela 30 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por categorização do consumo como
7
Valor Social em seus discursos - dados coletados nas agências bancárias de julho a
outubro de 2007 ............................................................................................................. 111
Tabela 31 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por categorização do consumo como
Valor Moral em seus discursos - dados coletados nas agências bancárias de julho a
outubro de 2007 ............................................................................................................. 112
Tabela 32 - Quantidade de respondentes por tipo de citação na categoria de análise “Ser
Trabalhador” - dados coletados nas agências bancárias de julho a outubro de 2007 .... 116
Tabela 33 - Quantidade de respondentes por tipo de citação na categoria de análise “Ser
Consumidor” - dados coletados nas agências bancárias de julho a outubro de 2007.... 124
Tabela 34 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Quando as
pessoas perguntam quem é você, o que utiliza como referência para explicar quem é?” -
dados coletados nas agências bancárias de julho a outubro de 2007............................. 128
Tabela 35 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “O que você
diz para seu filho sobre quem você é e o que você faz?” - dados coletados nas agências
bancárias de julho a outubro de 2007............................................................................. 128
Tabela 36 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por “Referências mais citadas nas
questões de Identidade” - dados coletados nas agências bancárias de julho a outubro de
2007 ........................................................................................................................ 129
Tabela 37 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Você se
identifica com seu trabalho?” - dados coletados nas agências bancárias de julho a outubro
de 2007 ........................................................................................................................ 129
Tabela 38 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Você acha
que o trabalho afeta na definição de quem é você?”- dados coletados nas agências
bancárias de julho a outubro de 2007............................................................................. 130
Tabela 39 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “O que
gostaria de mudar em seu trabalho?”- dados coletados nas agências bancárias de julho a
outubro de 2007 ............................................................................................................. 131
Tabela 40 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Você se
identifica com a categoria profissional dos bancários?”- dados coletados nas agências
bancárias de julho a outubro de 2007............................................................................. 132
Tabela 41 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Você se sente
bancário?” - dados coletados nas agências bancárias de julho a outubro de 2007 ..............
........................................................................................................................ 132
Tabela 42 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Entre
trabalhar como bancário em outra organização (diferente da que trabalha atualmente) e
trabalhar no banco em outra profissão (não sendo bancário), em qual situação você se
identifica mais?”- dados coletados nas agências bancárias de julho a outubro de 2007 .....
........................................................................................................................ 134
8
Tabela 43 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “O banco
afeta na definição de quem você é?” - dados coletados nas agências bancárias de julho a
outubro de 2007..............................................................................................................136
Tabela 44 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Com quais
aspectos da organização você se identifica?”- dados coletados nas agências bancárias de
julho a outubro de 2007..................................................................................................136
Tabela 45 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Qual é a
importância que a organização tem na sua vida?”- dados coletados nas agências
bancárias de julho a outubro de 2007.............................................................................137
Tabela 46 Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Gosta de fazer
compras?” - dados coletados nas agências bancárias de julho a outubro de 2007 ...............
........................................................................................................................138
Tabela 47 Distribuição dos respondentes da pesquisa por como se definem na forma como
consomem - dados coletados nas agências bancárias de julho a outubro de 2007...............
........................................................................................................................140
Tabela 48 Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Você acha que
ao consumir consegue expressar a sua individualidade, mostrando um quem é a partir do
que consome e da forma que consome?” - dados coletados nas agências bancárias de
julho a outubro de 2007..................................................................................................141
Tabela 49 Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Você acha que
o consumo afeta na definição de quem é você?”- dados coletados nas agências bancárias
de julho a outubro de 2007 .............................................................................................142
Tabela 50 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Você acha
que o consumidor afeta na definição de quem é você?”- dados coletados nas agências
bancárias de julho a outubro de 2007.............................................................................144
Tabela 51 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Você prefere
ser consumidor ou ser bancário?”- dados coletados nas agências bancárias de julho a
outubro de 2007..............................................................................................................144
Tabela 52 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “O
consumidor é mais importante que o bancário?”- dados coletados nas agências bancárias
de julho a outubro de 2007 .............................................................................................145
Tabela 53 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Qual é a
importância do consumidor?”- dados coletados nas agências bancárias de julho a outubro
de 2007 ........................................................................................................................145
9
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
GRÁFICO
Gráfico 1 - Lucro líquido dos 11 maiores bancos no Brasil entre os anos 1994 e 2006........ 66
FIGURAS
Figura 1 - Desenho teórico da pesquisa.................................................................................. 23
Figura 2 - As concepções de self e Identidade segundo Gustavsson (2005) .......................... 31
Figura 3 - Estratégia da coleta e tratamento de dados ............................................................ 81
Figura 4 - Análise dos dados do Entrevistado: 01 ................................................................ 180
Figura 5 - Análise dos dados do Entrevistado: 02 ................................................................ 181
Figura 6 - Análise dos dados do Entrevistado: 03 ................................................................ 182
Figura 7 - Análise dos dados do Entrevistado: 04 ................................................................ 183
Figura 8 - Análise dos dados do Entrevistado: 05 ................................................................ 184
Figura 9 - Análise dos dados do Entrevistado: 06 ................................................................ 185
Figura 10 - Análise dos dados do Entrevistado: 07 ................................................................ 186
Figura 11 - Análise dos dados do Entrevistado: 08 ................................................................ 187
Figura 12 - Análise dos dados do Entrevistado: 09 ................................................................ 188
Figura 13 - Análise dos dados do Entrevistado: 10 ................................................................ 189
Figura 14 - Análise dos dados do Entrevistado: 11 ................................................................ 190
Figura 15 - Análise dos dados do Entrevistado: 12 ................................................................ 191
Figura 16 - Análise dos dados do Entrevistado: 13 ................................................................ 192
Figura 17 - Análise dos dados do Entrevistado: 14 ................................................................ 193
Figura 18 - Análise dos dados do Entrevistado: 15 ................................................................ 194
Figura 19 - Análise dos dados do Entrevistado: 16 ................................................................ 195
Figura 20 - Análise dos dados do Entrevistado: 17 ................................................................ 196
Figura 21 - Análise dos dados do Entrevistado: 18 ................................................................ 197
Figura 22 - Análise dos dados do Entrevistado: 19 ................................................................ 198
10
Figura 23 - Análise dos dados do Entrevistado: 20.................................................................199
Figura 24 - Análise dos dados do Entrevistado: 21.................................................................200
Figura 25 - Análise dos dados do Entrevistado: 22.................................................................201
Figura 26 - Análise dos dados do Entrevistado: 23.................................................................202
Figura 27 - Análise dos dados do Entrevistado: 24.................................................................203
Figura 28 - Análise dos dados do Entrevistado: 25.................................................................204
Figura 29 - Análise dos dados do Entrevistado: 26.................................................................205
Figura 30 - Análise dos dados do Entrevistado: 27.................................................................206
Figura 31 - Análise dos dados do Entrevistado: 28.................................................................207
Figura 32 - Análise dos dados do Entrevistado: 29.................................................................208
Figura 33 - Análise dos dados do Entrevistado: 30.................................................................209
Figura 34 - Análise dos dados do Entrevistado: 31.................................................................210
Figura 35 - Análise dos dados do Entrevistado: 32.................................................................211
Figura 36 - Análise dos dados do Entrevistado: 33.................................................................212
Figura 37 - Análise dos dados do Entrevistado: 34.................................................................213
Figura 38 - Análise dos dados do Entrevistado: 35.................................................................214
Figura 39 - Análise dos dados do Entrevistado: 36.................................................................215
Figura 40 - Análise dos dados do Entrevistado: 37.................................................................216
Figura 41 - Análise dos dados do Entrevistado: 38.................................................................217
Figura 42 - Análise dos dados do Entrevistado: 39.................................................................218
Figura 43 - Análise dos dados do Entrevistado: 40.................................................................219
Figura 44 - Análise dos dados do Entrevistado: 41.................................................................220
Figura 45 - Análise dos dados do Entrevistado: 42.................................................................221
Figura 46 - Análise dos dados do Entrevistado: 43.................................................................222
Figura 47 - Análise dos dados do Entrevistado: 44.................................................................223
Figura 48 - Análise dos dados do Entrevistado: 45.................................................................224
Figura 49 - Análise dos dados do Entrevistado: 46.................................................................225
11
Figura 50 - Análise dos dados do Entrevistado: 47 ................................................................ 226
Figura 51 - Análise dos dados do Entrevistado: 48 ................................................................ 227
Figura 52 - Análise dos dados do Entrevistado: 49 ................................................................ 228
Figura 53 - Análise dos dados do Entrevistado: 50 ................................................................ 229
12
INTRODUÇÃO
Um doutorado é uma procura de uma nova Identidade. É preciso abandonar hábitos, costumes
e valores que lhe são familiares e desvelar um “eu” desconhecido. Não são poucas as crises de
Identidade até que se encontre um tema com o qual se identifique. Quando tudo parece sem
sentido e incerto, quando as verdades deixam de ser o que são, você está próximo de ser o que
você não era. Mas você de alguma forma continua não sendo...
13
É possível identificar dentre os estudos sobre as transformações do contexto social da
atualidade dois grandes temas sobre os quais pesquisadores e estudiosos têm se debruçado e
despendido uma grande parte de suas reflexões. O primeiro tema trata das transformações do
Trabalho, abordando questões que vão da forma como é executado e compreendido pelo
indivíduo à reflexão sobre sua centralidade enquanto categoria social de análise. O segundo,
preocupa-se com o crescimento e valorização do Consumo, sendo que as problemáticas
associadas a este tema possuem um espectro amplo de discussões que partem das questões
ambientais até a discussão do consumismo como uma doença psicopatológica.
Há, dentre os dos estudos sobre o Trabalho, uma forte corrente de autores que afirma que essa
variável está perdendo a sua relevância social, fruto das reconfigurações políticas,
econômicas e tecnológicas às quais nossa sociedade tem sido submetida. Outras esferas de
natureza não-laboral, passariam a ocupar o espaço do trabalho na sociedade e,
conseqüentemente, na vida do indivíduo. Ao mesmo tempo, há, nos estudos sobre o
Consumo, uma linha clara de pensamento que delineia a sua valorização no contexto social,
tornando-se um forte ponto de referência para os sujeitos.
Embora as questões sejam de natureza extremamente diversa, há um ponto de interligação
íntima entre os dois temas. O consumo e o trabalho materializam-se no contexto do espaço
organizacional, nas relações de produção e aquisição de produtos e serviços. Acima de tudo, é
no indivíduo, enquanto produtor e consumidor, que esses dois universos distintos chocam-se e
mesclam-se. A realidade, seja ela objetiva ou subjetivamente constituída, opera-se no
indivíduo, que cria e vive dentro de suas verdades.
A complexidade da lógica no pensamento sobre os dois temas torna-se mais vívida quando se
entende que não é apenas uma análise de contradições sociais, mas também de antagonismos
intrínsecos aos indivíduos que estão inseridos neste contexto. Se por um lado há funções
opostas que são conduzidas para uma interligação e interação social entre trabalhadores e
consumidores, por outro, a dialética do consumo e trabalho acontece dentro do universo
subjetivo dos indivíduos, uma vez que estes trabalham e consomem também.
Dentre tantos elementos constituídos a partir da relação entre o sujeito e o mundo objetivo, a
Identidade é a verdade que o indivíduo constrói sobre si para si e para o mundo. A Identidade
parte das, e é o ponto de partida para, suas crenças sobre o mundo e sobre quem ele é. A
Identidade posiciona o sujeito nas relações sociais, dando sentido de pertencimento e
14
exclusão, sobre quem ele é e quem não é. Enquanto constructo que é socialmente constituído,
a Identidade reflete cada contexto social em que o indivíduo está imerso. Num contexto
complexo como o atual, cheio de contradições, que nega verdades que outrora eram
entendidas como absolutas, em que as incertezas parecem sobrepor às convicções mais
concretas do ser humano, as Identidades tornam-se igualmente complexas, refletido as
ambigüidades do sujeito na sua relação com seu mundo particular.
Por isso mesmo, o constructo Identidade é um importante conceito, não só para compreender
as relações entre indivíduos dentro de um processo de interação social, mas a relação do
indivíduo consigo mesmo.
Fruto da interligação de realidades sociais distintas e berço de discursos contraditórios, as
organizações são locais privilegiados de estudos sobre a sociedade atual, pois reúnem no
mesmo espaço indivíduos tão diversos quanto a realidade permite, ora como trabalhadores,
ora como consumidores. As organizações não só produzem bens e serviços, mas transformam
a “matéria” humana, criando trabalhadores-consumidores e consumidores-trabalhadores.
É neste contexto que esta pesquisa se insere, procurando compreender e analisar duas
realidades, o trabalho e o consumo, que, por mais que possam parecer distintos e distantes,
estão íntima e inextrincável e inexoravelmente interligados.
Procurando desenvolver essa temática dentro de uma lógica em que se possa compreender as
questões envolvidas nesta pesquisa, esta tese está organizada em seis capítulos. No primeiro
capítulo, “O Problema de Pesquisa”, procurou-se antecipar as questões teóricas associadas
com as perguntas orientadoras do trabalho. Entretanto, é na fundamentação teórica que essas
questões ganharam maior profundidade. Ainda no primeiro capítulo foram expostos o
objetivo geral e os específicos, bem como procurou-se expor a relevância do tema e o desenho
teórico da pesquisa.
O segundo capítulo, intitulado “Fundamentação Teórica da Pesquisa”, expõe o constructo
Identidade, partindo de suas concepções, desenvolvendo-o como elemento de uma construção
social e finalizando com as ligações dentro do mundo do trabalho. Em seguida, discute-se as
transformações sociais, com uma ênfase maior no trabalho, debatendo também o consumo
dentro do que a literatura discute sobre o tema. Por fim, apresenta-se o trabalho bancário,
configurando-o dentro do cenário atual, procurando mostrá-lo diante das transformações que
15
sofreu nos últimos anos, permitindo compreendê-lo como setor que reflete parte das
metamorfoses que a sociedade vem sofrendo, configurando-o como referência importante
para compreender a temática que está sendo discutida.
No capítulo intitulado “Aspectos Metodológicos da Pesquisa”, Capítulo 3 deste trabalho,
foram expostas e justificadas as opções metodológicas. Procurou-se destacar ao longo desta
parte que as escolhas, tanto da abordagem, do instrumento, quanto do tratamento dos dados,
deram-se quase que como uma conseqüência da definição conceitual de Identidade
Social utilizada nesta tese.
O Capítulo 4 expõe, como seu próprio nome indica, os resultados das análises dos dados
dentro das categorias provenientes das escolhas metodológicas descritas no capítulo anterior.
Além dessas categorias, expôs-se um caso entendido como relevante para a compreensão do
tema estudado. Por fim, apresentou-se os resultados do focus group realizado com os
bancários.
As “Conclusões” da pesquisa são apresentadas no Capítulo 5, expondo os elementos
considerados mais relevantes para responder as perguntas orientadoras deste estudo.
No capítulo seguinte, Capítulo 6, que se intitulou “(In)conclusões e Recomendações”, fez-se
reflexões sobre novas questões que surgiram ao longo do trabalho, bem como recomendações
para estudos posteriores. Considerou-se, na elaboração desse capítulo, que, o quê não se
concluiu, também é relevante para o conhecimento que se procura acumular.
Indica-se também como extremamente relevantes para a leitura deste trabalho os apêndices,
onde se encontram o roteiro de entrevista, bem como os seus quadros de análise e as análises
individuais de cada entrevistado. Estas últimas refletem grande parte do tratamento dos dados,
dentro da lógica do sujeito produtor do discurso.
Antecipo o pedido de desculpas àqueles que acharem ousadia expor no início de cada capítulo
os pensamentos que acompanharam cada etapa desta tese. Expressas verbalmente ou não, tais
reflexões se fizeram presentes em cada linha que se consubstanciou neste trabalho.
16
CAPÍTULO 1 - O PROBLEMA DE PESQUISA
Problema mesmo é quando você, mesmo cercado por muitos,
efetivamente não tem nenhum.
17
1.1. DEFINIÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA
O problema desta pesquisa parte de três constatações tratadas pela delimitação teórica de
alguns autores: as transformações do mundo do trabalho e da sociedade do consumo afetando
as instituições
1
sociais que tradicionalmente servem de referência para as Identidades; a
Identidade e suas características enquanto constructo teórico socialmente construído; e o
trabalho bancário, suas metamorfoses e suas características como prestação de serviços.
Expõem-se concisa e sucintamente essas constatações, sendo que no referencial teórico são
tratadas em profundidade e referenciadas pelos autores.
Na primeira constatação, tendências têm sido descritas em relação ao atual contexto e seus
efeitos sobre o indivíduo e a sociedade (BAUDRILLARD, 1991; GIDDENS, 1991; HALL, 1999;
SANTOS, 2002; BAUMAN, 2005). Primeiramente que as instituições sociais tradicionais,
enquanto quadros referenciais de valor para os indivíduos na sociedade, passam por processos
de questionamento e revisão. Dentre as inflexões de valores delineadas, o trabalho estaria
perdendo seu lugar no quadro de referência do indivíduo, dando espaço para outras dimensões
de natureza não-laboral (LINHART, 1991; ANTUNES, 1995; HALL, 1999; DE MASI, 2000;
SENNET, 2004; BAUMAN, 2005). Ou seja, os valores e instituições sociais tradicionais, que
sempre foram norteadores do indivíduo, de sua Identidade Social e de suas ações, começam a
ser questionados e suplantados. O recrudescimento dos valores da sociedade de consumo no
ideário do sujeito social é apontado dentre esses novos quadros de referência.
Na segunda constatação, a teoria discute que a Identidade é uma variável complexa e em
constante transformação, sendo fruto de relações do indivíduo com seu contexto social e com
o seu universo íntimo (BERGER; LUCKMANN, 1985; HALL, 1999 e 2000; GUSTAVSSON, 2005).
A Identidade se constitui em um processo de interação entre os sujeitos e o seu meio, sendo
1
O termo instituições está sendo utilizado dentro da concepção de Berger e Luckmann (1985), como parte da
objetivação de valores de natureza subjetiva no ideário social, em um determinado contexto.
18
este último considerado no sentido amplo, envolvendo diversas esferas sociais. Além disso, a
teoria direciona para constatações de que a Identidade passa por um processo de crise e
reposicionamento perante os novos contextos sociais (MERCER, 1990 apud WOODWARD,
2000; SILVA, 2000), constituindo-se de forma múltipla e fragmentada (HALL, 1999; GIDDENS,
2002; BAUMAN, 2005).
Na terceira constatação, observa-se que transformações tecnológicas, políticas, econômicas,
sociais e gerenciais mudaram completamente as configurações do trabalho nas últimas
décadas. Ao mesmo tempo, foi possível acompanhar uma série de metamorfoses sociais que
modificaram as relações do indivíduo com seus pares no trabalho e fora dele. Especificamente
no trabalho bancário, autores (VALLE, 1995; FREITAS, 1995; ACCORSI, 1992; GOMES, 1994;
RIBEIRO, 1999) descrevem mudanças que alteram significativamente a relação do profissional
com seu trabalho. Ou seja, dentre os aspectos objetivos, o trabalho bancário é descrito como
sendo representante legítimo de um contexto que é marcado pelo “estranhamento”, na
concepção enfocada por Antunes (1995), e pela falta de referência enquanto constituidor de
sujeitos sociais, na medida em que é descrito como um “trabalho vazio” (CODO; SAMPAIO,
1992; FALQUETO, 1997). Por outro lado, o aumento da competitividade do setor, aliado ao
fato de se configurar como uma prestação de serviços, faz com que haja uma sobrevalorização
da figura do consumidor nos processos organizacionais das empresas do setor.
A primeira constatação está interligada à segunda, na medida em que as mudanças sociais têm
afetado as Identidades, reposicionando-as perante o novo contexto. O setor bancário, em
função de suas características, por ser parte do setor de prestação de serviços e em função das
reconfigurações nas últimas décadas, revela-se um locus em que as mudanças possivelmente
estão influenciando as Identidades Sociais. Na medida em que os valores referenciais e as
instituições sociais, nas quais a Identidade Social se baseia, são questionados, que há uma
valorização do consumo e do consumidor e que o setor bancário encontra-se em um contexto
de transformação de seu trabalho, passa-se a formular as questões de pesquisa.
19
1.2. QUESTÃO DE PESQUISA
Tendo com base os elementos discutidos na situação-problema, pergunta-se: como o consumo
e o trabalho interferem nas Identidades Sociais dos bancários no contexto atual?
Nesse sentido, a questão principal deste trabalho é:
verificar como a Identidade Social do bancário se manifesta, tendo como ponto de partida a
sua relação com o trabalho em transformação e o seu posicionamento na sociedade de
consumo.
1.3. OBJETIVOS
1.3.1. Objetivo geral
Compreender como a Identidade Social se manifesta no discurso dos bancários perante a
contraposição de suas visões sobre o consumo e o trabalho, estabelecendo as possíveis
interligações entre estes dois elementos.
1.3.2. Objetivos específicos
a. Determinar quais são as tipificações
2
feitas pelos bancários sobre o “Ser Trabalhador”
e o “Ser Consumidor”, delineando como descrevem a si próprios – ou seja, a descrição
do “eu” – enquanto consumidores e trabalhadores;
b. Determinar as tipificações feitas pelos bancários sobre o “Ser Trabalhador” e o “Ser
Consumidor”, delineando como descrevem os demais indivíduos – ou seja, a descrição
do “outro” – enquanto consumidores e enquanto trabalhadores;
c. Descobrir quais são as descrições que os bancários fazem do trabalho e, a partir das
2
O conceito de tipificação foi trabalhado por Berger e Luckmann (1985) e foi melhor detalhado nos capítulos
Fundamentação Teórica da Pesquisa e Aspectos Metodológicos da Pesquisa.
20
descrições, delinear quais valores são associados a esta variável;
d. Descobrir quais são as descrições que os bancários fazem do consumo e, a partir das
descrições, delinear quais valores são associados a esta variável;
e. Compreender como Identidade Social se expressa quando associada a elementos como
o trabalho, a categoria profissional, a organização, o consumo e o consumidor;
f. Compreender como acontecem as relações entre o trabalho e o consumo enquanto
elementos constituidores da Identidade Social do bancário e suas possíveis
conseqüências subjetivas.
1.4. RELEVÂNCIA DO ESTUDO
A Identidade Social é um constructo importante para os estudos de Administração na medida
em que define o posicionamento dos sujeitos nos relacionamentos sociais dentro da
organização, além de interferir no sentimento de pertencimento e exclusão (diferenciação) no
que tange os grupos e as organizações (ASHFORTH; MAEL, 1989 apud STEVANATO, 2004;
CALDAS, 1999; GAULEJAC, 2002; STEVANATO, 2004; GUSTAVSSON, 2005). Conhecer melhor
como este constructo está sendo afetado pelo contexto atual permite compreender mais sobre
os indivíduos dentro das organizações e como os trabalhadores se relacionam entre si, com a
organização e com a comunidade a quem prestam seus serviços.
Além disso, a Identidade Social influencia e é influenciada pelos aspectos organizacionais e
gerenciais, na medida em que estes definem o contexto micro-social em que o indivíduo
opera, sendo objeto importante para compreender como as relações sociais, dentro das
organizações, se estruturam (BERGER; LUCKMANN, 1985; AKTOUF, 1998; SENNET, 2004;
STEVANATO, 2004).
Outro ponto que denota a relevância deste estudo é que o trabalho constituiu-se como uma das
referências importantes para o indivíduo, principalmente em uma sociedade com base no
mercado como a nossa, sob dois aspectos: o aspecto subjetivo e o aspecto objetivo
(B
RAVERMAN, 1987; BORZEIX; LINHART, 1996; PAUCHANT, 1996; FISCHER, 1996; CALDAS,
1999; ENRIQUEZ, 1999; SENNET, 2004; CIAMPA, 2005; TOSE, 2005). No primeiro aspecto,
subjetivo, o trabalho dá Identidade Social na medida em que cria a noção de pertencimento e
exclusão (diferenciação) em relação a uma determinada classe sócio-econômica, profissão ou
21
organização (FALQUETO, 1997; CALDAS, 1999; ENRIQUEZ, 1999; GUSTAVSSON, 2005). Para
alguns autores, o trabalho é fonte principal da constituição do homem enquanto ser social,
uma vez que é por meio dele que este media sua relação com a natureza, subjugando-a, e a
sua relação com os demais homens (ANTUNES, 1995; TEIXEIRA, 1999; ENRIQUEZ, 1999;
ARENDT, 2004). Ao mesmo tempo, a Identidade Social se constitui a partir da ação de
execução de um trabalho (CALDAS, 1999; CIAMPA, 2005), ou seja, o sujeito social se constitui
como tal, a partir do que ele faz, de suas ações no seu ambiente produtivo (TEIXEIRA, 1999;
ARON, 2003; ARENDT, 2004).
Autores constroem argumentações de que o trabalho se constitui uma referência para a
construção do sujeito social a partir da re-significação de seus valores, principalmente ao
longo da Era Moderna
3
, em função de uma série de elementos que definiram as opções de
desenvolvimento social (ENRIQUEZ, 1999; GIDDENS, 2002; SENNET, 2004; ARENDT, 2004;
BAUMAN, 2005). Ressalta-se que os valores da sociedade moderna enaltecem os que estão
inseridos no mercado de trabalho em contraposição aos que estão excluídos (CALDAS, 1999;
ENRIQUEZ, 1999). Não que, em outros momentos históricos distintos, o trabalho não seja
considerado relevante, mas a lógica econômica desse período traz uma conotação específica
para a atividade laboral do homem em termos sociais, contrapondo outros valores referentes
às atividades associadas ao tempo livre humano (ENRIQUEZ, 1999; DE MASI, 2000). Ao longo
da Era Moderna, a inserção do indivíduo na sociedade ficou marcada pelo trabalho, uma vez
que a concepção de desenvolvimento social é atrelada, de forma inextrincável, à noção de
produção e consumo de bens (ENRIQUEZ, 1999; ARENDT, 2004). Ou seja, o projeto de
desenvolvimento social na Era Moderna enfatiza o caráter de atenção às carências materiais
dos indivíduos (ENRIQUEZ, 1999). Esta constatação é importante na medida em que se reitera
que o constructo Identidade Social é moldado pelos valores vigentes em um contexto
específico (B
ERGER; LUCKMANN, 1985).
3
Está-se apropriando do conceito de Era Moderna dentro do mesmo sentido que os autores citados ao longo do
texto. Em geral, a literatura trata como Era Moderna o período que compreende os movimentos humanismo,
cartesianismo e iluminismo.
22
Já no aspecto objetivo, é por meio do trabalho que o indivíduo obtém sua sobrevivência
material. É com o trabalho que o indivíduo tem acesso a recursos que lhe permitirão ter os
bens que necessita consumir para sua existência humana (ANTUNES, 1995; TEIXEIRA, 1999;
ARON, 2003; ARENDT, 2004). É interessante ressaltar que há aspectos subjetivos inerentes e
interligados aos aspectos objetivos, de forma que o ato de consumir possui um lado simbólico
diretamente ligado à construção do sujeito social (WOODWARD, 2000; SILVA, 2000; COELHO,
2002; BAUMAN, 2005).
Neste sentido, a relevância desta pesquisa também está em contribuir para esta discussão
sobre o trabalho e suas metamorfoses sociais, além de buscar conexões entre o mundo do
trabalho e a sociedade do consumo.
23
1.5. DESENHO TEÓRICO DA PESQUISA
Figura 1 - Desenho teórico da pesquisa
24
CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA PESQUISA
Valer-se dos pensamentos alheios não é simplesmente se apropriar de um aglomerado de
frases e falas. É vivenciar outras histórias e estórias criadas a partir da intimidade com o
mundo que não nos pertence.
25
2.1. CONSTRUINDO IDENTIDADES
Esta pesquisa sobre Identidade no mundo do trabalho tem como ponto de partida a
consideração de que, apesar de as discussões sobre o constructo terem início no período
helênico, ainda há muito a se estudar sobre o que a define e como se comporta diante dos
novos valores e transformações da sociedade. É preciso explorar essa variável na medida em
que se constitui um dos elementos que configura o pensamento e a subjetividade do ser
humano.
Por que falar de Identidade? Segundo Bauman (2005), Identidade tem se tornado um tema que
vem crescendo nas discussões atuais.
É realmente um dilema e um desafio para a sociologia – se você se lembrar de que, há apenas
algumas décadas, a “identidade” não estava nem perto do centro de nosso debate, permanecendo
unicamente um objeto de meditação filosófica. Atualmente, no entanto, a “identidade” é o “papo
do momento”, um assunto de extrema importância e evidência. (B
AUMAN, 2005, p. 22-23).
Para Mercer (1990 apud WOODWARD, 2000) a Identidade torna-se relevante num contexto em
que se acredita que ela esteja em crise.
Quase todo mundo fala agora sobre “identidade”. A identidade só se torna um problema quando
está em crise, quando algo que se supõe ser fixo, coerente e estável é deslocado pela experiência
da dúvida e da incerteza. (M
ERCER, 1990 apud WOODWARD, 2000, p. 19).
A importância da Identidade enquanto constructo não se restringe aos momentos de crise. O
que os autores denotam é que, nestes momentos, são ressaltadas as conseqüências da
degradação da Identidade e que, atualmente, estamos em um contexto propenso a esse tipo de
questão.
Para compreender o que faz da identidade um conceito tão central, precisamos examinar as
preocupações contemporâneas com questões de identidade em diferentes níveis. Na arena global,
por exemplo, existem preocupações com as identidades nacionais e com as identidades étnicas; em
um contexto mais “local”, existem preocupações com a identidade pessoal, por exemplo, com as
relações pessoais e com a política sexual. Há uma discussão que sugere que, nas últimas décadas,
estão ocorrendo mudanças no campo da identidade – mudanças que chegam ao ponto de produzir
uma “crise da identidade”. (W
OODWARD, 2000, p. 16).
A Identidade é responsável, dentre outras coisas, pelo posicionamento do indivíduo perante
aos outros, na forma de relações sociais, e perante aos objetos, na relação com o mundo
natural (W
OODWARD, 2000; COELHO 2002; CIAMPA, 2005; BAUMAN, 2005). Ao se desvelar e
apreender a Identidade enquanto constructo, compreende-se a relação do indivíduo – no seu
aspecto mais íntimo e subjetivo – com o mundo natural objetivo e universo social
26
objetivado(BERGER; LUCKMANN, 1985; GIDDENS, 2002).
Além disso, a Identidade está diretamente relacionada à ação do Indivíduo. Ciampa (2005)
conclui em suas pesquisas que, mais do que uma “adjetivação”, a Identidade é “verbo”, no
sentido de que se faz e é feita pela ação do homem sobre as coisas e sobre si mesmo. Entender
a Identidade, em parte, é entender a ação do indivíduo e as suas implicações, ou seja, seu
trabalho, o que faz o indivíduo.
No contexto das organizações e dos estudos de administração, também se aplicam as
considerações acima enfocadas. Compreender a Identidade no contexto organizacional
implica entender parte das relações sociais que acontecem no trabalho, a relação do indivíduo
com suas atividades e o comportamento do indivíduo dentro da organização, entendido de
forma ampla. Isso permite inferir que a Identidade é, em essência, um constructo que auxilia
na compreensão de outras variáveis organizacionais. Stevanato (2004) assim se remete à
importância dos estudos de Identidade dentro do contexto organizacional ao resgatar o
trabalho de Ashforth e Mael (1989):
Os indivíduos procurariam escolher as atividades que são mais congruentes com os
aspectos salientes de suas identidades e que eles tendem a dar apoio para instituições que
encarnam tais identidades;
A identificação social afetaria os resultados tradicionalmente associados à formação de
equipes, incluindo a coesão intragrupal, cooperação e altruísmo e avaliações positivas do
in-group com o qual se identificam.
A identificação social também favoreceria a internalização e a aderência aos valores e
normas do in-grupo (sic). Além de facilitar a homogeneidade de atitudes e
comportamentos;
Finalmente, na medida em que o indivíduo se identificasse com um grupo, os valores e
práticas do in-group se tornariam mais salientes e percebidas como únicas e especiais.
(A
SHFORTH; MAEL, 1989 apud STEVANATO, 2004, p. 34).
Entretanto, dentro dos estudos organizacionais no Brasil, pode-se dizer que a Identidade ainda
é um constructo que carece ser mais explorado, sendo necessário desvendar as contribuições
possíveis que ela pode propiciar para a compreensão das organizações e dos indivíduos que as
compõem.
2.1.1. Delimitações conceituais de Identidade
A definição do que é Identidade, enquanto variável de estudo, é concomitantemente complexa
e simples. Complexa porque qualquer definição conceitual que tente sintetizá-la tende a cair
27
no simplismo de suas significações, sempre deixando a desejar no que diz respeito ao que ela
realmente é (GUSTAVSSON, 2005). Jackson e Smith (1999) afirmaram que esta é uma
dificuldade enfrentada por diversos pesquisadores, principalmente ao tentar conciliar uma
definição conceitual e operacional do constructo. Nas palavras destes autores:
Contudo, como foi detalhado adiante, por várias razões práticas, empíricas e teóricas, os
pesquisadores conceituaram e operacionalizaram o constructo em numerosas e, algumas vezes, em
maneiras absolutamente disparatadas. Embora muitas pesquisas sobre a identidade social tenham
ocorrido[...] permanece uma grande quantidade de inconsistência conceitual e operacional através
dos estudos e incongruência entre definições conceituais e operacionais do constructo dentro dos
estudos (J
ACKSON; SMITH, 1999, P. 120).(Tradução nossa)
4
Gustavsson (2005, p. 11) assim comenta sobre esta questão, buscando apoio no trabalho de
Erikson (1968).
Em resumo, a identidade individual é difícil de definir de uma forma precisa. Erikson, um dos
pesquisadores pioneiros neste campo, ele mesmo escreveu: ‘Quanto mais alguém escreve sobre
esse assunto, mais a palavra se torna um termo para alguma coisa impenetrável, uma vez que é
universal. Alguém somente pode investigá-la estabelecendo sua essencialidade em vários
contextos’ (Tradução nossa)
5
Por outro lado, a definição de Identidade torna-se simples – o que não quer dizer que ela perca
sua complexidade conceitual – na medida em que se entende o que ela representa em termos
reais para o indivíduo. Berger e Luckmann (1985) Hall, (2000), Woodward, (2000), Silva
(2000) e Gustavsson (2005) recorreram à pergunta “quem sou eu?” como sendo emblemática
para a definição de Identidade. Trabalhar a Identidade é compreender e apreender a definição
do “ser”, enquanto entidade ontológica.
4
“However, as detailed later, for various practical, empirical, and theoretical reasons, researchers have
conceptualized and operationalized the construct in numerous and sometimes quite disparate ways.(…) Although
much research on social identity has taken place (…) there remains a great deal of conceptual and operational
inconsistency across studies and incongruence between conceptual and operational definitions of the construct
within studies.”
5
“In summary, individual identity is difficult to define in a precise manner. Erikson, one of the pioneer
researchers in the field, himself wrote: ‘The more one writes about this subject, the more the word becomes a
term for something unfathomable as it is all-pervasive. One can only explore it by establishing its
indispensability in various contexts’.”
28
Identidade, para Woodward (2000), está associada também a uma relação dicotômica que dá
sentido ao sujeito. Neste sentido, a Identidade define o que o indivíduo “é” e aquilo que ele
“não é”. Em outras palavras, ser Brasileiro implica negar todas as outras nacionalidades. A
autora, a partir dessa constatação, descreve que a Identidade também significa
“pertencimento” e “exclusão” (diferenciação), na medida em que se faz parte ou não de
determinado coletivo a partir da sua Identidade. Indiretamente a autora desvela um lado
intrínseco da noção de Identidade que é seu caráter social, embora, como será definido
adiante, também é biológica e psicologicamente definida.
Outro aspecto relevante delineado por Woodward (2000) é que a Identidade só faz sentido se
houver uma relação com o “outro”, ou seja, ela é relacional. “A identidade é, na verdade,
relacional, e a diferença é estabelecida por uma marcação simbólica relativamente a outras
identidades” (WOODWARD, 2000, p.14). Isto implica que a Identidade está associada à
concepção de alteridade que o indivíduo tem e como ele se relaciona com o outro, e isto
reforça seu caráter social. De forma análoga, Berger e Luckmann (1985) afirmam que a
compreensão do “ser” parte de um processo relacional, de forma que “esta reflexão sobre mim
mesmo é tipicamente ocasionada pela atitude com relação a mim que o outro manifesta. É
tipicamente uma relação “de espelho” às atitudes do outro (BERGER; LUCKMANN, 1985, p.
48).
Essa relação da definição da Identidade a partir do outro, para Woodward (2000), tem origens
na constituição primária da Identidade. Para a autora, o indivíduo somente começa a ter a
consciência de que é um “ser” quando ainda está na infância e percebe que é diferente de
outro “ser”, a mãe. Isto porque, ao nascer e nos primeiros anos de vida, esta distinção
ontológica não é percebida, sendo que a criança não faz a distinção entre ela e a mãe.
Dialeticamente, ao negar a mãe e reconhecer sua alteridade, a criança se faz um “ser”.
Para Berger e Luckmann (1985) a socialização primária, feita pelos pais, é responsável pela
constituição do núcleo do “ser” ao definir parte do universo simbólico sob o qual o indivíduo
vai viver e conviver socialmente. Entretanto, a Identidade sempre será “remodelada” pelas
novas relações sociais estabelecidas pela socialização secundária. Para esses autores, a
socialização secundária está diretamente associada ao fato de a estrutura social tornar-se mais
complexa que, por meio da divisão social do trabalho, constitui a necessidade da formação
das consciências profissionais específicas. Ou seja, o trabalho e a profissão são elementos da
29
construção do ser social.
Corroborando as idéias de Berger e Luckmann (1985), Gaulejac (2002) sugere uma
Identidade herdada, que vem da nascença; uma Identidade adquirida, ligada fortemente à
posição sócio-profissional e; uma Identidade esperada, que é a pela qual nós almejamos ser
reconhecidos (pelo outro). O autor ainda acrescenta que tais Identidades entram em estado de
tensão umas com as outras, a partir da vivência do indivíduo em suas diversas esferas pessoais
e sociais.
Ciampa (2005) desenvolve o conceito de Identidade como parte de um processo contínuo de
construção com base nas relações sociais.
Cada indivíduo encarna as relações sociais, configurando uma identidade pessoal. Uma história de
vida. Um projeto de vida. Uma vida-que-nem-sempre-é-vivida, no emaranhado das relações
sociais.
Uma identidade concretiza uma política, dá corpo a uma ideologia.
No seu conjunto, as identidades constituem a sociedade, ao mesmo tempo em que são constituídas,
cada uma por ela. (C
IAMPA, 2005, p.127).
O mesmo autor trata a Identidade como uma questão social e política, e, concomitantemente,
resgata a visão do constructo como um processo dinâmico. Recorre ainda à dialética
materialista para explicar o fenômeno da Identidade, procurando mostrar como os aspectos
concretos da realidade social podem afetar na constituição das formas identitárias, por meio
das tensões do contexto sobre o indivíduo.
Inspirado nos estudos de Ciampa (2005) e contextualizando a pesquisa da Identidade,
Laurenti e Barros (2000, p.1), ratificam a necessidade de entendê-la dentro de um processo
que exige a “circunscrição deste homem ao momento atual do mundo globalizado, marcado
por um capitalismo desorganizado, a fim de explicitar as novas bases sobre as quais se
articula o pessoal e o social na contemporaneidade”. Estas autoras partilham da concepção de
Identidade como sendo parte de uma construção sócio-histórica. “A identidade não é inata e
pode ser entendida como uma forma sócio-histórica de individualidade. O contexto social
fornece as condições para os mais variados modos e alternativas de Identidade.” (LAURENTI;
BARROS, 2000, p.6). Afirmam ainda, de forma semelhante à de Hall (1999), que a Identidade
no contexto atual é, em si, uma multiplicidade de posições assumidas pelo indivíduo, que não
podem ser consideradas como elemento único e conciso em todas as suas dimensões.
30
Neste sentido, levar-se-á em consideração o constructo Identidade nas seguintes
representações reais para o indivíduo:
A Identidade como uma definição do “ser” e do “não ser”;
A Identidade como relacional, definida não só por suas características internas, mas
pelas interações sociais com os outros;
A Identidade como elemento definidor de pertencimento e exclusão (diferenciação);
A Identidade como sendo múltipla em suas manifestações;
A Identidade como uma construção social;
A Identidade como verbo, ou seja, como ação.
Para entender mais sobre Identidade, é preciso compreender algumas de suas concepções.
2.1.2. Concepções de Identidade
A Identidade passa por duas grandes concepções, segundo Woodward (2000): a visão
essencialista e a visão não essencialista. A primeira vê a Identidade como possuidora de
elemento estabilizador e único que define o ser, não sendo mutável ao longo do tempo. A
segunda concepção entende que a Identidade é um processo relacional e de compartilhamento
de elementos comuns que definem o ser, mas que mudam ao longo do tempo. Nas palavras da
autora:
Na base da discussão sobre essas questões está a tensão entre perspectivas essencialistas e
perspectivas
não-essencialistas sobre identidade. Uma definição essencialista da identidade
“sérvia” sugeriria que existe um conjunto cristalino, autêntico, de características que
todos os
sérvios partilham e que não se altera ao longo do tempo. Uma definição não-essencialista
focalizaria as diferenças, assim como as características comuns compartilhadas, tanto entre os
próprios sérvios quanto entre os sérvios e outros grupos étnicos. (W
OODWARD, 2000, p. 12).
Gustavsson (2005) também explora esta dicotomia sobre as concepções de identidade,
entendendo como uma cisão de visões que são incompatíveis. A figura abaixo mostra como as
concepções são divididas.
31
Figura 2 - As concepções de self e Identidade segundo Gustavsson (2005)
Fonte: Adaptado de Gustavsson (2005, p. 12)
Entretanto, a partir do resgate teórico de alguns autores, principalmente de Hall (1999) e de
Berger e Luckmann (1985), é possível delinear que as concepções não são necessariamente
antagônicas, mas, pelo contrário, há uma complementaridade de visões. Hall (1999), ao
reconstruir historicamente as visões de Identidade, mostra como em sociedades de menor
mobilidade social, a Identidade tende a ser compreendida como fixa e estável, mas com as
alterações e conseqüente fragilidade das instituições sociais de hoje, a Identidade é vista e
vivenciada como uma celebração móvel.
Como a Identidade é vista como um constructo que perpassa diversos elementos da
constituição do ser – biológicos, psicológicos e sociais – há uma interação contínua de
variáveis que ora estão estáveis e ora estão em processos de reposicionamento. Berger e
Luckmann (1985) descrevem a Identidade associada aos processos de socialização. No que
tange a socialização primária, uma vez que é carregada de emoções vinculadas aos
progenitores, há tendência de ser mais constante e estável (não quer dizer imutável). Já a
socialização secundária é mais fluida e cambiante, sendo, portanto, ponto de flexibilidade para
as Identidades.
2.1.3. Identidade: uma reconstrução histórica
O estudo da Identidade perpassa por diversos momentos históricos e o início da compreensão
dessa variável tem origem no pensamento aristotélico (HALL, 1999). Mas é a partir do
Iluminismo que a Identidade ganha contornos e configurações mais lúcidas sobre a sua
constituição e a relação com o indivíduo.
Stuart Hall faz um resgate de três visões históricas da Identidade sendo que considera que em
cada uma das concepções “a individualidade era ‘vivida’ e ‘conceptualizada’ de forma
32
diferente” (HALL,1999, p.25). Nesse sentido, o desenvolvimento e a compreensão do
constructo Identidade caminha paralelamente à própria forma como ele se manifesta
socialmente.
Na primeira concepção, o sujeito do Iluminismo, o indivíduo é visto como dotado de um
centro essencial fixo que lhe dava Identidade, independente das alterações do mundo. Essa
concepção foi um reflexo do pensamento cartesiano que via na mente do indivíduo uma
essência única norteando sua individualidade. Ao mesmo tempo, a falta de mobilidade social
e as fortes influências do Estado e da Igreja serviam como aparato estabilizador das
Identidades, vinculando-as a uma delimitação geográfica e a uma condição nata do indivíduo.
Bauman (2005) afirma que esta vinculação da Identidade à “natividade do nascimento” foi
crucial para a legitimação do Estado.
A ficção da “natividade do nascimento” desempenhou o papel principal entre as fórmulas
empregadas pelo nascente Estado moderno para legitimar a exigência de subordinação
incondicional de seus indivíduos (de alguma forma, curiosamente, desprezada por Max Weber em
sua tipologia das legitimações). (B
AUMAN, 2005, p. 27).
Ao mesmo tempo, Bauman (2005) deixa claro que a Identidade é parte de uma construção
social e que, nos dias atuais, a mesma concepção está sendo utilizada para desvincular as
Identidades dos contextos locais e nacionais, migrando-se para um conceito de uma
Identidade cosmopolita. Ou seja, as mesmas variáveis identitárias que possam ser entendidas
como forças estabilizadoras da Identidade em um determinado contexto, em outro, a
desestabilização destas variáveis pode ser igualmente vivenciada pelos indivíduos sem que
isto se configure como uma incoerência conceitual do constructo Identidade. Em outras
palavras, Identidade enquanto essência ou não-essência fazem parte da realidade do mesmo
constructo.
O sujeito sociológico, dentro da segunda concepção trabalhada por Hall (1999), “ainda tem
um núcleo ou essência interior que é o ‘eu real’, mas este é formado e modificado num
diálogo contínuo com os mundos culturais ‘exteriores’ e as Identidades que esses mundos
oferecem” (HALL, 1999, p. 11). Nessa visão, a Identidade é constituída na interação
simbólico-cultural do indivíduo com a sociedade. Hall (1999) cita como grandes
influenciadores dessa visão o pensamento de Marx, Darwin e Adam Smith.
A construção da concepção da Identidade a partir do sujeito sociológico tem o trabalho como
um dos elementos centrais, na medida em que ele é entendido como a forma de relação do
33
homem com a natureza, construindo a sociedade tal como a conhecemos, dentro de uma
concepção de desenvolvimento sócio-historicamente definida (ENRIQUEZ, 1999; TEIXEIRA,
1999; ARENDT, 2004).
Bauman (2005) destaca que nesta interação com a sociedade, ou sua realidade próxima, o
indivíduo constrói uma biografia, ou seja, sua história de vida em uma lógica delineada.
Quando a modernidade substituiu os estados pré-modernos (que determinavam a identidade pelo
nascimento e assim proporcionavam poucas oportunidades para que surgissem a questão do “quem
sou?”) pelas
classes, as identidades se tornaram tarefas que os indivíduos tinham de desempenhar
[...] por meio de suas biografias.[...] Quando se trata de pertencer a uma classe, é necessário provar
pelos próprios atos, pela “vida inteira” – não apenas exibindo ostensivamente uma certidão de
nascimento –, que de fato se faz parte da classe a que se afirma pertencer. Deixando de fornecer
essa prova convincente, pode perder a qualificação de classe, tornar-se
déclassé. (BAUMAN, 2005,
p. 55-56).
Destaca-se que o sujeito sociológico é o expoente da modernidade no século XX. O projeto
social que procura unir o trabalho, a racionalidade e o progresso marca a compreensão de um
sujeito que se Identifica pelo seu universo produtivo. Bauman (2005) reitera essa visão de
sujeito sociológico contextualizado ao Estado de Bem-Estar Social e mostra sua crise a partir
da falência desse modelo.
Houve um tempo em que a identidade humana de uma pessoa era determinada fundamentalmente
pelo papel produtivo desempenhado na divisão social do trabalho, quando o Estado garantia (se
não na prática, ao menos nas intenções e promessas) a solidez e a durabilidade desse papel, e
quando os sujeitos do Estado podiam exigir que as autoridades prestassem contas no caso de
deixarem de cumprir as suas promessas e desincumbir-se da responsabilidade assumida de
proporcionar a plena satisfação dos cidadãos. (B
AUMAN, 2005, p. 51-52)
Por fim, a terceira concepção de Identidade é a do sujeito pós-moderno que é, segundo Hall
(1999), influenciado pela releitura do pensamento marxista na década de 60 configurando um
“anti-humanismo”; pelo pensamento freudiano que divide a Identidade em consciente e
inconsciente; pelo trabalho de Ferdinand de Saussure que relativiza o simbólico, o significado
e os valores da comunicação humana; pela genealogia do poder de Foucault e no poder
disciplinar que dociliza o indivíduo por meio das instituições sociais; e pelos movimentos
sócio-ideológicos como o feminismo e os movimentos de 1968 que questionam todas as
Identidades que outrora se consideravam como fixas e bem distintas, por exemplo a
Identidade sexual, a Identidade cultural, a Identidade política, a Identidade racial dentre
outras.
A última concepção da variável mostra não uma única Identidade, mas várias em que o
indivíduo se apega em momentos diferentes de sua vida. “Esse processo produz o sujeito pós-
34
moderno, conceptualizado como não tendo uma Identidade fixa, essencial ou permanente. A
Identidade torna-se uma ‘celebração móvel’[...]” (HALL, 1999, p. 12-13). A Identidade
percebida como um processo de construção constante, na medida em que ganha um caráter
provisório. “A fragilidade e a condição eternamente provisória da identidade não podem ser
mais ocultadas. O segredo foi revelado. Mas esse é um fato novo, muito recente.” (BAUMAN,
2005, p.22).
Bauman (2005), denominando o contexto atual de Modernidade Líquida, expõe a Identidade
como um questionamento ao sujeito moderno:
A abundância dos compromissos oferecidos, mas principalmente a fragilidade de cada um deles,
não inspira confiança em investimentos de longo prazo no nível das relações pessoais ou íntimas.
Tampouco inspira confiança no local de trabalho, onde o
status social costumava a ser definido,
onde a vida continua a ser ganha e os direitos de dignidade e respeito social continuam a ser
obtidos ou perdidos. Num artigo recente, Richard Sennett assinala que “um local de trabalho
flexível provavelmente não seria o lugar onde alguém desejaria construir um ninho”. (B
AUMAN,
2005, p. 36).
Consideramos importante compreender que esta pesquisa parte da premissa de que as
Identidades, tal qual se delimita teoricamente, estão em constante transformação e são fruto de
uma construção sócio-histórica e, ao mesmo tempo, de uma vivência do indivíduo com sua
realidade objetiva específica. Não se supõe que haja uma única Identidade, coerente e
acabada, embora haja elementos que são provenientes da socialização primária, mais
consolidados, e elementos da socialização secundária que se permitem flexibilizar mais.
A identidade plenamente unificada completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à
medida que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos
confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com
cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao menos temporariamente (H
ALL, 1999, p. 13).
Entretanto, não se supõe que as Identidades sejam cambiantes e totalmente mutáveis. Isto será
entendido de forma mais clara quando se tratar mais adiante da visão de Identidade como
construção social.
2.1.4. Identidade: olhares interdisciplinares
Todo indivíduo precisa ser compreendido como um ser biopsicossocial (LIMONGI-FRANÇA,
1990 e 2004), e a constituição das Identidades também é perpassada por esta concepção.
Aktouf (1998) categoriza as fontes de Identidade Pessoal como biológicas – tais como
hereditariedade, o corpo, o sexo, a idade –, psíquicas – constituídas a partir dos processos de
35
identificação, introjeção, transferência dentre outros – e sociais – origem social, cultural e
nacional, profissão, métier, orientação política, religiosa além de outras. Neste sentido, Aktouf
(1998, p. 26) define Identidade como “um conjunto bio-psico-social dinâmico que se constrói
em um espaço-tempo e que serve para nos definir aos nossos olhos e aos olhos do outro.”
Para a compreensão do “ser”, e conseqüentemente da Identidade, faz-se necessário um olhar
inter e transdisciplinar. Não é por menos que o tema Identidade tem sido objeto de estudo de
diversas ciências que, embora em alguns casos não haja conexões diretas entre elas, podem
ser entendidas como complementares. Essa característica do constructo, que transcende os
limites disciplinares das ciências, revela o lado complexo do tema e parte das dificuldades em
compreendê-lo em sua totalidade: conciliar perspectivas diferentes e, em alguns casos,
contraditórias, sem perder o sentido de complementaridade.
Woodward (2000) revela estas inter-relações, quando descreve o aspecto biológico da
definição da Identidade. Para ela, “O corpo é um dos locais envolvidos no estabelecimento
das fronteiras que definem quem nós somos, servindo de fundamento para a identidade – por
exemplo, para a identidade sexual.”(WOODWARD, 2000, p. 15). Complementando a concepção
de Identidade, a autora mostra que aspectos psicológicos e sociais interferem no aspecto
biológico. Woodward (2000, p. 32) acrescenta que “Entretanto, a forma como vivemos nossas
identidades sexuais é mediada pelos significados culturais sobre a sexualidade que são
produzidos por meio de sistemas dominantes de representação.”
Outros aspectos biológicos que são igualmente influenciados ou definidos por aspectos
psicológicos e sociais podem ser citados como influenciadores da Identidade tais como raça,
deficiências físicas, características marcantes do biótipo do indivíduo dentre outros. Ressalta-
se, em todos esses casos, que os elementos biológicos passam por uma concepção psicológica
e social, fruto de construções sócio-históricas.
Essa é uma característica da relação do homem com sua natureza biológica e com sua
existência material. Berger e Luckmann (1985) denotam que os elementos sociais que
determinam a Identidade são objetivados de tal forma que passam a se confundir e a serem
entendidos como naturais. Ou seja, embora sejam construções sociais, são vivenciados pelos
indivíduos como se fossem elementos naturais. Levando-se em consideração o que é natureza
e o que é social, os autores afirmam que “Embora seja possível dizer que o homem tem uma
natureza, é mais significativo dizer que o homem constrói sua própria natureza, ou, mais
36
simplesmente, que o homem se produz a si mesmo.” (BERGER; LUCKMANN, 1985, p. 71). Os
autores esclarecem ainda o fato de que o processo de objetivação social da Identidade “re-
produz” as definições biológicas com as quais o indivíduo nasce, dando um sentido sui
generis a cada contexto social. Fica mais claro quando os autores expõem que:
Os pressupostos genéticos do eu são, está claro, dados no nascimento. Mas o eu tal como é
experimentado mais tarde como uma identidade subjetiva e objetivamente reconhecível, não é. Os
mesmos processos sociais que determinam a constituição do organismo produzem o eu em sua
forma particular, culturalmente relativa. O caráter do eu como produto social não se limita à
configuração particular que o indivíduo identifica como sendo ele mesmo [...], mas com o
equipamento psicológico amplo que serve de complemento a essa particular configuração.
(B
ERGER; LUCKMANN, 1985, p. 74).
Na medida em que se clarifica que Identidade possui aspectos biológicos, psicológicos e
sociais e que estes últimos fazem parte de um elemento volátil que pode ser re-significado,
retoma-se o constructo dentro de sua concepção social.
2.1.5. Identidade como construção social
Para entender a construção social da Identidade, faz-se necessário entender que o primeiro
momento de sua constituição se faz no processo de socialização primária. Os elementos
básicos para a socialização passados pela família são o início da compreensão da realidade
social que foi objetivada, institucionalizada e reificada (B
ERGER; LUCKMANN, 1985). A
linguagem é um exemplo nítido desse processo, na medida em que os significados semânticos
são apreendidos e definidos nesse momento inicial. “A linguagem constrói, então, imensos
edifícios de representação simbólica que parecem elevar-se sobre a realidade da vida
cotidiana como gigantescas presenças de um outro mundo.” (BERGER; LUCKMANN, 1985, p.
61). Essas construções simbólicas são então assimiladas como realidades objetivas.
Entretanto, para que isso aconteça, Berger e Luckmann (1985) salientam que este processo é
feito de uma forma carregada de emoções provenientes da relação entre progenitores e filhos.
Nas fases iniciais da socialização a criança é completamente incapaz de distinguir entre a
objetividade dos fenômenos naturais e a objetividade das formações sociais. Tomando o aspecto
mais importante da socialização, a linguagem aparece à criança como inerente à natureza das
coisas, não podendo perceber a noção do caráter convencional dela. (B
ERGER; LUCKMANN, 1985,
p. 85).
O que faz com que o ser humano construa uma realidade social objetivada é a própria
necessidade humana de buscar sua estabilidade, que muitas vezes não é possível que seja
obtida biologicamente.
37
A inerente instabilidade do organismo humano obriga o homem a fornecer a si mesmo um
ambiente estável para sua conduta. O próprio homem tem de especializar e dirigir seus impulsos.
Estes fatos biológicos servem de premissas necessárias para a produção da ordem social. Em
outras palavras, embora nenhuma ordem social existente possa ser derivada de
dados biológicos, a
necessidade da ordem social enquanto tal provém do equipamento biológico do homem. (B
ERGER;
LUCKMANN, 1985, p.77).
Isso porque o ser humano, para lidar com os processos do cotidiano de sua existência
mundana, estabelece hábitos como forma de economia de esforços, liberando-o de tomar
decisões a todo o momento. Os hábitos, na medida em que se tornam compartilhados
intersubjetivamente, tornam-se um padrão que, na visão de Berger e Luckmann (1985),
precedem aos processos de institucionalização. O reconhecimento recíproco, por indivíduos
diferentes, dos hábitos cria tipificações que se tornam, ao longo do tempo, elementos
objetivados, ou seja, fatos apreendidos como realidade reificada, como se fossem “coisas
naturais”.
Os processos institucionalizados são então transmitidos de geração a geração como forma de
realidade coerente, definindo todo o universo simbólico para as gerações posteriores. O
indivíduo configura-se enquanto sujeito social a partir de uma realidade que foi reificada
coletivamente e interiorizada, subjetivamente, pelos indivíduos. A Identidade torna-se fruto,
em parte, dos significados daquele universo simbólico específico.
Além disso, o mesmo corpo de conhecimento é transmitido à geração seguinte. É aprendido como
verdade objetiva no curso da socialização, interiorizando-se assim como realidade subjetiva. Esta
realidade por sua vez tem o poder de configurar o indivíduo. Produzirá um tipo específico de
pessoa, a saber o caçador, cuja identidade e biografia
enquanto caçador têm significação somente
num universo constituído pelo mencionado corpo de conhecimento em totalidade (por exemplo,
em uma sociedade de caçadores) ou em parte (digamos em nossa própria sociedade, na qual os
caçadores se reúnem em um sub-universo próprio). Em outras palavras, nenhuma parte da
instituição da caça pode existir sem o particular conhecimento que foi socialmente produzido e
objetivado com referência a esta atividade. Caçar e ser caçador implicam a existência em um
mundo social definido e controlado por este corpo de conhecimento. Mutatis mutandis, o mesmo
se aplica a qualquer área de conduta institucionalizada. (B
ERGER; LUCKMANN, 1985, p.95).
Neste sentido, o que é “ser” brasileiro é, em parte, determinado por aquilo que o indivíduo
entende, dentro de seu universo simbólico, como elementos de pertencimento a esta categoria
ou de exclusão das categorias diferentes. Reitera-se que estas significações são valorativas e
carregadas de emoção, assim como foram, em grade parte, passadas pelos progenitores. Isto
será especificamente relevante quando forem contrastados os valores de uma época
específica, como as existentes em meados do século XX, e as novas configurações sociais.
A Identidade é, pois, proveniente de relações estreitas com as instituições ou tipificações
sociais que foram criadas e vivenciadas pelos indivíduos em um determinado período.
38
Finalmente, a própria identidade (o eu total, se preferirmos) pode ser reificada, tanto a do
indivíduo quanto a dos outros. Há então uma identificação total do indivíduo com as tipificações
que lhe são atribuídas. (B
ERGER; LUCKMANN, 1985, p.125).
A Identidade, então, passa a ser reforçada e trabalhada na interação do indivíduo com os
outros, na medida em que tais relações reforçam as tipificações e recrudescem os valores e
significados compartilhados pelo mesmo universo simbólico. O universo simbólico cumpre
um papel de perpetuação e legitimação das Identidades. Segundo Berger e Luckmann (1985,
p.136) “Desta maneira, o universo simbólico ordena e por isso mesmo legitima os papéis
cotidianos, as prioridades e os procedimentos operatórios, colocando-os sub specie universi,
isto é, no contexto do quadro de referência mais geral e concebível.”.
Na medida em que os universos simbólicos se modificam, em longo prazo, chocam-se a partir
das realidades distintas, sendo que a Identidade é igualmente afetada.
A “sadia” apreensão de si mesmo como possuidor de uma identidade definida, estável e
socialmente reconhecida está continuamente ameaçada pelas metamorfoses “supra-realistas” dos
sonhos e das fantasias, mesmo se permanece relativamente coerente na interação cotidiana [...] O
aparecimento de outro possível universo simlico representa uma ameaça porque sua simples
existência demonstra empiricamente que o nosso próprio não é inevitável. [...] Sendo produtos
históricos da atividade humana, todos os universos socialmente construídos modificam-se, e a
transformação é realizada pelas ações concretas dos seres humanos. (B
ERGER; LUCKMANN, 1985,
p. 137, 147 e 157).
Desta forma, os autores conectam os elementos da estrutura social bem como os
acontecimentos associados a ela diretamente relacionados com a construção da Identidade.
A identidade é evidentemente um elemento-chave da realidade subjetiva, e tal como toda realidade
subjetiva, acha-se em relação dialética com a sociedade. A identidade é formada por processos
sociais. Uma vez cristalizada, é mantida, modificada ou mesmo remodelada pelas relações sociais.
Os processos sociais implicados na formação e conservação da identidade são determinados pela
estrutura social. (B
ERGER; LUCKMANN, 1985, p. 228).
Corroborando a visão de Berger e Luckmann (1985), Giddens (2002) associa a Identidade ao
contexto na medida em que considera que são dois pólos de um processo inter-relacionado
que se influenciam mutuamente.
As transformações na auto-identidade e a globalização, como quero propor, são os dois pólos da
dialética do local e do global nas condições da alta modernidade. Em outras palavras, mudanças
em aspectos íntimos da vida pessoal estão diretamente ligadas ao estabelecimento de conexões
sociais de grande amplitude. (G
IDDENS, 2002, p. 36).
Tendo como ponto de partida a construção social da Identidade, aspectos recentes do contexto
revelam a preocupação com o tema, na medida em que as estruturas sociais e as instituições
que dela fazem parte passam por um processo de transformação.
39
A principal força motora por trás desse processo tem sido desde o princípio a acelerada
“liquefação” das estruturas e instituições sociais. Estamos agora passando da fase “sólida” da
modernidade para a fase “fluida”. E os “fluidos” são assim chamados porque não conseguem
manter a forma por muito tempo e, a menos que sejam derramados num recipiente apertado,
continuam mudando de forma sob a influência até mesmo das menores forças. Num ambiente
fluido, não há como saber se o que nos espera é uma enchente ou uma seca – é melhor estar
preparado para as duas possibilidades. Não se deve esperar que as estruturas, quando (se)
disponíveis, durem muito tempo. (B
AUMAN, 2005, p. 57).
Desta forma, entende-se que a Identidade não é fixa e possui componentes relacionados às
Instituições sociais que propiciam tal mobilidade. Entretanto, ela não muda ao sabor dos
ventos, a qualquer pequena alteração. É preciso que o universo simbólico se reposicione como
diferente e que as instituições sociais passem por processos de transformação.
2.1.6. A perspectiva construcionista e Identidade Social
Implicitamente, ao se tratar da Identidade como construção social, está-se delimitando o
tratamento do conceito dentro de uma perspectiva construcionista. Spink e Frezza (1999,
p.23) esclarecem que
A perspectiva construcionista é resultante de três movimentos: na Filosofia, como uma reação ao
representacionismo; na Sociologia do Conhecimento, como forma de desconstrução da retórica da
verdade, e na Política, como busca de
empowerment de grupos socialmente marginalizados.
As autoras, balizando-se nos trabalhos de Tomás Ibáñez, descrevem que dentre as questões
epistemológicas, como reação ao representacionismo, o construcionismo procura desfazer a
crença da dualidade sujeito-objeto comuns nas abordagens empiristas, racionalistas e
interacionalistas (S
PINK; FREZZA, 1999). Na abordagem representacionista, sujeito e objeto
são sempre entendidos como ontologicamente separados, e o conhecimento é uma
representação ou tradução de algo que é externo ao sujeito.
Diferentemente, o construcionismo entende que tanto o sujeito quanto o objeto são
construções sócio-históricas, que só podem se entendidas como produtos das interações
humanas em contexto determinado. Neste sentido, o conhecimento não é uma representação
da realidade externa ao indivíduo. O próprio indivíduo é uma construção social.
Spink e Frezza (1999) também retomam os conceitos de Berger e Luckmann (1985), da
Sociologia do Conhecimento, que buscam relativizar o conceito de verdade. Reiteram que a
sociedade é um produto humano, ou seja, construída socialmente.
No cotidiano de nossas vidas, somos, de fato, produtos de nossa época e não escapamos das
convenções, das ordens morais e das estruturas de legitimação. A pesquisa construcionista é,
40
portanto, um convite a examinar essas convenções e entendê-las como regras socialmente
construídas e historicamente localizadas. (S
PINK; FREZZA, 1999, p.32).
Citando Kenneth Gergen como um dos primeiros psicólogos sociais a trabalhar dentro da
perspectiva construcionista, Spink e Frezza (1999, p.26) reproduzem o autor: “A investigação
sócio-construcionista preocupa-se sobretudo com a explicação dos processos por meio dos
quais as pessoas descrevem, explicam ou dão conta do mundo (incluindo a si mesmos) em
que vivem” (GERGEN, 1985, p. 266) (Grifo nosso).
Dentro da abordagem construcionista, a Identidade passa a ser entendida como uma
construção que o indivíduo faz em suas práticas sociais. Ao lidar com a realidade, o indivíduo
se constrói. Ao procurar dar respostas de si mesmos, os sujeitos constroem quem são.
Outro ponto importante da abordagem construcionista diz respeito às práticas discursivas.
Elas se tornam elemento central de compreensão tanto da realidade quanto do sujeito. Ao
construir seu discurso, nos processos de interação social, o indivíduo reconstrói sua realidade,
afirmando-a ou negando-a, bem como se reconstrói, negando-se ou afirmando-se.
De forma análoga, Maturana e Varela (1995), ao criticarem o representacionismo pela
dicotomia sujeito-objeto, afirmam que todos os seres vivos são autopoiéticos, pois se auto-
controem. São produtos de si mesmos, “Donde se conclui que não há separação entre produtor
e produto” (MATURANA; VARELA, 1995, p.57). A linguagem é novamente enfatizada como
elemento importante para o conhecer humano.
Toda reflexão, inclusive a que se faz sobre os fundamentos do conhecer humano, ocorre
necessariamente na linguagem, que é nossa maneira particular de ser humanos e estar no fazer
humano. Por isso, a linguagem é também nosso ponto de partida, nosso instrumento cognitivo e
nosso problema. (M
ATURANA; VARELA, 1995, p.32).
Os autores acrescentam ainda:
Realizamos a nós mesmos em mútuo acoplamento lingüístico, não porque a linguagem nos
permita dizer o que somos, mas porque somos na linguagem, em um contínuo existir nos
mundos lingüísticos e semânticos que produzimos com os outros. Encontramos a nós mesmos
nesse acoplamento [...] em contínua transformação no vir-a-ser do mundo lingüístico que
construímos com os outros seres humanos. (M
ATURANA; VARELA, 1995, p.252) (Grifo nosso).
O discurso que o indivíduo constrói sobre si mesmo e sobre sua realidade é elemento central
na análise tanto do sujeito quanto do objeto. Tais definições sobre a abordagem
construcionista são especialmente relevantes nas opções metodológicas que foram feitas neste
estudo.
41
2.1.7. Identidade Social dentro do espaço organizacional
A Identidade Social é entendida como parte da Identidade Pessoal de um indivíduo. O que a
define, é o fato de ser construída socialmente a partir das relações e interações que acontecem
no escopo da vida social do Indivíduo.
Analisando a partir de uma outra concepção, Machado (2003) detalha que no espaço
organizacional é possível detectar quatro campos de análise em termos de Identidade: a
Identidade Pessoal, a Identidade Social, a Identidade no Trabalho e a Identidade
Organizacional. A Identidade Pessoal é uma construção psicológica que tenta dar uma
explicação do conceito de si para o indivíduo. A Identidade Social é uma representação de si
por pertencer a um grupo ou coletivo. A Identidade no Trabalho é uma construção a partir dos
papéis que o indivíduo desempenha no ambiente laboral. A Identidade Organizacional não
está no indivíduo, mas na entidade à qual ele pertence e sente que faz parte. Para a autora
essas Identidades se interferem mutuamente na constituição do ser social.
De forma distinta da visão dessa autora, nesta pesquisa entende-se Identidade Social no seu
sentido amplo, sendo que essa concepção parte da premissa de que o Trabalho, a Organização
e o Grupo, são faces da Identidade Social. Entretanto, o trabalho de Machado (2003) é
importante porque mostra esferas relevantes a serem consideradas no estudo da Identidade
Social associadas ao espaço laboral: o outro e as relações sociais, a organização – e a relação
do indivíduo com ela – e o trabalho em si.
É difícil dimensionar o quanto as organizações influenciam nas constituições das Identidades
no contexto atual. Entretanto, a compreensão de que vivemos em uma Sociedade
Organizacional dimensiona parte dessa questão. Por Sociedade Organizacional, entende-se
que as esferas públicas e privadas dos indivíduos são, em grande parte, mediadas pelas
organizações de tal maneira que seria difícil pensar nossa sociedade desprovida desse tipo de
entidade.
Sob duas perspectivas diferentes, que não são as únicas, as organizações interferem no
cotidiano das relações sociais dos indivíduos. A primeira ótica é a do indivíduo como
trabalhador, na medida em que ele se insere em organizações para se tornar economicamente
ativo e ter acesso a recursos para sua sobrevivência. Em outras palavras, o indivíduo precisa
trabalhar e como não dispõe de outra forma de acesso à sobrevivência, ele se insere dentro do
42
contexto do trabalho em organizações, dadas as características de nossa sociedade, que requer,
pelo menos para uma grande maioria, que se submeta à divisão social do trabalho. Fazer parte
da organização é estar submetido a uma série de regras e políticas organizacionais que
interferirão no seu cotidiano.
Independentemente de suas histórias individuais e seu passado, os atores sociais passam muito
tempo no ambiente de trabalho. O fato de possuírem as mesmas condições de trabalho e os
mesmos espaços de interação, bem como o acesso e o controle do mesmo tipo de recursos, oferece
aos indivíduos caminhos similares de acesso à identidade e ao entendimento. (V
ASCONCELOS;
VASCONCELOS, 2002, p. 68).
Em um segundo prisma de análise, o indivíduo – também em função da divisão social do
trabalho – depende, em grande parte, de organizações como fonte para obter acesso aos
produtos e serviços dos quais precisa para sua vivência mundana. Esses dois aspectos são
separados em função de uma opção de construção de nossa sociedade, de forma que o
processo de produzir pode ser, para um indivíduo específico, distante do processo de
consumir. Nem sempre o que ele produz, é consumido por ele e vice-versa. Essa dissociação
acontece não só pela divisão social do trabalho, como também pelos aspectos econômicos e
financeiros associados ao nosso modelo de organização social.
Tendo como perspectiva de análise esta dupla interface das organizações sobre os indivíduos,
uma vez que são elas que fazem a mediação entre o trabalho e o consumo, percebe-se que há
uma forte influência destas entidades sobre o cotidiano das relações sociais. Morgan (1996)
relata essa influência das organizações sobre os indivíduos e a dicotomia que se estabelece
entre aquele que trabalha e aquele que usufrui das organizações. As organizações para esse
autor são vistas como influenciadoras da vida social, muitas vezes como instrumentos de
dominação social e da vida íntima, na medida em que definem aspectos políticos das relações
sociais no trabalho. Isso porque as formas de gestão e organização do trabalho interferem
diretamente sobre o espaço micro-social das empresas.
Vasconcelos e Vasconcelos (2002) afirmam que as formas que as políticas de recursos
humanos assumem estão diretamente relacionadas à construção da Identidade Social dentro
das empresas, sendo que as organizações podem assumir posições políticas, no que diz
respeito ao conflito e à pluralidade, que interferem diretamente nos trabalhadores.
Existem modelos de Gestão de Recursos Humanos (GRH) que propõem o desenvolvimento
político e cognitivo dos atores sociais nas organizações e incorporam as dimensões do conflito e
do debate, favorecendo a emergência de identidades do tipo “solidariedade democrática” e
“afinidades seletivas” anteriormente descritas. Outros modelos sugerem práticas opostas, que, ao
43
reduzirem a autonomia dos atores organizacionais, limitam o seu desenvolvimento cognitivo e
politização. (V
ASCONCELOS; VASCONCELOS, 2002, p. 70).
Ressalta-se que as organizações representam um espaço social como outro qualquer, embora
tenham suas características e especificidades. Como tal, as organizações mediam relações
sociais entre atores sociais e possuem seus universos simbólicos e culturais específicos. São
nestes universos simbólicos intra-organizacionais que as Identidades são, em parte, afetadas.
Entretanto, não se pode esquecer que as organizações sempre estão diretamente ligadas ao
contexto social. As mudanças e transformações sociais geram impactos nos modelos de gestão
e nas políticas de recursos humanos (ALBUQUERQUE, 2002), lembrando que tais políticas
fazem a interface entre os aspectos da sociedade e o quadro interno das organizações
(FISCHER, 1985).
2.1.8. Identidade Social e trabalho
Especificamente no trabalho, a Identidade Social ganha uma dimensão importante, porque
esta atividade constitui, para alguns autores, um dos principais elementos que norteiam a vida
social do indivíduo. Uma vez que o próprio trabalho se modifica tecnológica, gerencial e
socialmente ao longo do tempo, a própria Identidade Social se transforma e, por isso, precisa
ser melhor compreendida em novos contextos.
É necessário entender que o trabalho constitui, para o homem, elemento construtor de sua
humanidade e vida (ENRIQUEZ, 1999; ARENDT, 2004).
Ao definir o trabalho como “o metabolismo do homem com a natureza”, em cujo processo “o
material da natureza (é) adaptado, por uma mudança de forma, às necessidades do homem”, de
sorte que “o trabalho se incorpora ao sujeito”, Marx deixou claro que estava “falando
fisiologicamente”, e que o trabalho e o consumo são apenas dois estágios do eterno ciclo da vida
biológica. (A
RENDT, 2004, p. 110).
Antunes (1995, p. 121) também afirma: que “[...] o ato de produção e reprodução da vida
humana realiza-se pelo trabalho. É a partir do trabalho, em sua cotidianidade, que o homem
torna-se ser social, distinguindo-se de todas as formas não humanas.” Com isto, Antunes
(1995) quer dizer que o homem deixa de ser submisso à natureza e passa a transformá-la e
subordiná-la aos seus interesses. Ou seja, o trabalho, uma vez que representa a relação entre a
natureza e o metabolismo humano, é essencial para a existência do ser. Entretanto, o
significado da atividade humana por meio do trabalho possui conotações diferenciadas nos
diversos períodos históricos.
44
Arendt (2004), discorrendo sobre o trabalho e o labor, desvela, valendo-se das concepções da
Grécia Antiga, que “Laborar significava ser escravizado pela necessidade, escravidão esta
inerente às condições da vida humana”. Arendt (2004) está chamando a atenção para o fato de
que a concepção assumida neste caso é de que, enquanto o homem depender do labor para
suprir suas necessidades, o ser humano não será plenamente livre. Enriquez (1999)
complementa esta visão dizendo que:
Nas antigas sociedades, particularmente naquela que, para nós, é sempre uma sociedade de
referência – a sociedade grega, da Atenas do século V a.c. – o trabalho não era absolutamente
valorizado. Vocês sabem muito bem que, logo após, os romanos chamariam o trabalho de
tripalium, que era um instrumento de tortura. Assim, o trabalho era fundamentalmente “aquilo
que tortura”. Além disso, como diziam particularmente Platão e Aristóteles, o trabalho é aquilo
que está ligado à necessidade de se cobrir, de se alimentar etc. Então, para os gregos antigos, tudo
aquilo que está ligado à necessidade não define a liberdade nem a grandeza do homem.
(E
NRIQUEZ, 1999, p. 70).
É interessante resgatar a visão de Hall (1999) que descreve que, no período helênico, a
Identidade era considerada como uma essência, imutável, estabilizada e fixa. No que diz
respeito ao trabalho neste período, a Identidade está vinculada à sua ocupação social também,
sendo que os escravos é que deveriam trabalhar para que seus senhores, cidadãos helênicos,
tivessem a condição de serem livres – inclusive do labor humano.
Essa consideração é importante para entendermos que as conotações valorativas do trabalho
se alteraram a partir da consolidação do capitalismo. Arendt (2004) entende que as
transformações da Era Moderna, em parte impulsionadas pelos valores do cristianismo,
fizeram com que uma total inversão de valores fosse feita, “tendo glorificado o trabalho
(labor) como fonte de todos os valores.” (ARENDT, 2004, p. 96).
Enriquez (1999) detalha que nesta inversão, o sentido do trabalho é agora associado à
liberdade individual, na medida em que se contestam os valores do feudalismo, quando o
sujeito era servo e preso à terra. Essa liberdade, entretanto, serve apenas para “vender sua
força de trabalho a quem possa lhe dar emprego.” (ENRIQUEZ, 1999, p. 71).
O trabalho passa então a ser elemento fundamental e constituidor da personalidade de
operários, formando a consciência profissional (ENRIQUEZ, 1999). Ressalta-se que o
trabalhador começa a se configurar a partir de uma série de definições econômicas, políticas e
sociais provenientes de sua atividade. Na Inglaterra da Revolução Industrial, a Poor Law, ou
lei dos pobres, retirava a cidadania dos que estivessem excluídos do mundo do trabalho como
condição para ter direito às práticas assistencialistas. O salário definia uma classe econômica
45
específica e, em grande parte, imutável.
[...] o trabalho que era tão desvalorizado nas sociedades antigas, torna-se um elemento
fundamentalmente integrador da sociedade, isto é, permite efetivamente a uma sociedade
engendrar ou reforçar laços sociais. A figura do trabalhador vai se tornar totalmente central.
(E
NRIQUEZ, 1999, p. 72).
Esses aspectos da construção do sujeito social da Era Moderna foram importantes para a
constituição de uma Identidade Social vinculada ao trabalho. Percebe-se como a era das
indústrias foi um marco nesse processo.
Em parte, esses valores, muito presentes ainda no nosso contexto, podem ser nitidamente
apreendidos quando o sujeito social se depara com a situação de exclusão do trabalho. Caldas
(1999), ao estudar a demissão e a perda do emprego e o que isto significa em termos
psicológicos, discorre:
Na medida em que às vezes construímos o que somos através de o que fazemos, a perda do
emprego pode significar o sentimento de “dissolução” ou “mutilação” de aspectos elementares do
nosso
eu. [...] Em outros depoimentos, a noção de perda ou vazio associada ao desemprego é
expressa em termos mais elementares e profundos, expressando a idéia de perda ou dissolução da
identidade. (CALDAS, 1999, p. 7-8).
Caldas (1999) acrescenta ainda que as organizações também são um referencial para os
indivíduos, uma vez que é a partir delas que se tem acesso ao trabalho.
[...] o problema é que nos dias de hoje boa parte dos significados que construímos – sobre o mundo
e nós mesmos – tem uma organização ou um papel organizacional como referencial. Ou seja,
quando perguntamos
quem é uma pessoa, a resposta mais esperada contém tanto um papel quanto
uma
organização como referências: “ele é um engenheiro da Petrobrás”, “Lea era uma vendedora
da Mesbla”. De forma semelhante, uma profissão pode dar às pessoas uma identidade mais central
ainda do que aquela associada a um emprego específico: por exemplo, o indivíduo pode ser um
cirurgião, ou um mecânico, ou um dentista. (C
ALDAS, 1999, p. 8).
Enriquez (1999) também vê a perda do trabalho como algo que afeta a Identidade, na medida
em que é um dos elementos que constituem o ser.
Sabemos muito bem que toda perda de trabalho provoca uma ferida profunda na identidade de
diferentes pessoas, concorrendo para a degradação de suas personalidades. [...] estamos todos de
acordo em dizer que o trabalho é um dos elementos constitutivos do ser humano. (E
NRIQUEZ,
1999, p. 69).
Outro aspecto importante da formação da Identidade a partir do trabalho é a constituição de
profissões específicas, que, na visão de Gaulejac (2002), também são formas de um
pertencimento a um coletivo.
Da mesma forma, as identidades profissionais produzem sentimentos de pertencimento a coletivos
46
que reúnem todas as pessoas que se graduaram nos mesmos cursos, que têm diplomas
equivalentes, que exercem ofícios similares, ou que ocupam as mesmas funções. Uma pessoa pode
definir-se como operário, agricultor, executivo, padeiro, médico, técnico, jurista, professor...,
tantas definições de si mesmo que servem de embasamento ao reconhecimento social. (G
AULEJAC,
2002, p. 176)(Tradução nossa)
6
.
Ou seja, é possível detectar que a Identidade Social associada ao trabalho pode-se manifestar
através do pertencimento e exclusão (diferenciação) em termos de uma classe (ENRIQUEZ,
1999) uma organização (CALDAS, 1999; MACHADO, 2003), uma profissão (CALDAS, 1999;
GAULEJAC, 2002) e a execução de uma atividade ou processo de trabalho (CIAMPA, 2005).
Uma vez que o trabalho é entendido como constituidor de Identidade Social, principalmente
sob a égide da Era Moderna, passa-se a discutir os aspectos da transformação do contexto e do
trabalho, entendendo que isto está diretamente relacionado à construção da Identidade Social.
2.2. AS TRANSFORMAÇÕES DO TRABALHO E A IDENTIDADE SOCIAL.
Retomando a questão das metamorfoses sociais, o trabalho e as organizações são,
particularmente, o espaço onde grande parte das mudanças se concretiza, principalmente por
meio da tecnologia e das novas formas de gestão. É também na organização e no trabalho o
lugar em que a imposição ao indivíduo desses novos valores e mudanças são mais fortes,
considerando as relações de trabalho desiguais e um aparato técnico-ideológico calcado na
“necessidade” de competitividade e modernidade (SANTOS, 2002).
Como salientado por Hall (1999) e por Bauman (2005), o trabalho se constituiu, no auge da
Era Moderna como a grande referência identitária, na medida em que as classes sociais foram
se definindo. A construção de classes sociais definiu concomitantemente o pertencimento a
uma classe trabalhadora específica e o pertencimento a uma classe de acesso aos bens de
6
“De même, les identités professionnelles produisent des sentiments d’appartenance à des colletifs que
rassemblent tous ceux que ont suivi les mêmes études, passé des diplômes équivalents, que exercent des métiers
similaires ou qui occupent les même fonctions. On peut ainsi se définir comme ouvrier, agriculteur, cadre,
boulanger, médecin, polytechnicien, juriste, instituteur..., autant de définitions de soi que servent de
soubassement à la reconnaissance sociale.”
47
consumo determinados.
Houve um tempo em que a identidade humana de uma pessoa era determinada fundamentalmente
pelo papel produtivo desempenhado na divisão social do trabalho, quando o Estado garantia (se
não na prática, ao menos nas intenções e promessas) a solidez e a durabilidade desse papel, e
quando os sujeitos do Estado podiam exigir que as autoridades prestassem contas no caso de
deixarem de cumprir as suas promessas e desincumbir-se da responsabilidade assumida de
proporcionar a plena satisfação dos cidadãos. (B
AUMAN, 2005, p.51-52).
Neste sentido, a classe servia como uma unidade estável e coerente para as Identidades, na
medida em que isto significava também uma coerência entre as dicotomias existentes na
esfera política, econômica e social. De um lado ficava uma classe trabalhadora, operária,
menos abastada e de tendências esquerdistas e de outro uma classe de proprietários, burguesa,
em boa situação econômica e com tendências de direita. Sabe-se que a realidade é por demais
complexa para que estas representações se encaixem perfeitamente na realidade dos
indivíduos, mas dentro das concepções do universo simbólico vigente, isto se configurava
como coerente para servir como referência identitária.
Na medida em que a modernidade recrudesce seus valores e a realidade se mostra mais
complexa do que o enquadramento feito pelas tipificações, a classe como elemento
estruturador de uma Identidade começa a perder a legitimação necessária à sua reificação
(BERGER; LUCKMANN, 1985; HALL, 1999; BAUMAN, 2005). Hall (1999), como salientado
anteriormente, descreve que novos referenciais estão surgindo como pontos de ancoragem
para as Identidades tais como movimentos feministas, reafirmações étnicas, dentre outros.
Bauman (2005) corrobora tais afirmações, afirmando que:
Novas bandeiras foram costuradas e erguidas, novos manifestos elaborados, novos cartazes
concebidos e impressos. Como a classe não mais oferecia um lugar seguro para reivindicações
discrepantes e difusas, o descontentamento social dissolveu-se num número indefinido de
ressentimentos de grupos ou categorias, cada qual procurando a sua própria âncora social.
(B
AUMAN, 2005, p. 42).
Deve-se ter em mente que o trabalho passou por transformações significativas ao longo século
passado, em plena Era Moderna. Dentre as principais transformações relatadas pelos autores,
temos o crescimento do setor de serviços – que difere em grande parte das características do
setor industrial tradicional – a mão-de-obra se torna mais heterogênea com a crescente
inclusão da força de trabalho feminina, as transformações tecnológicas como a informatização
e a automação, o enfraquecimento político de categorias profissionais específicas (CHILD,
1991; ANTUNES, 1995; VALLE, 1995; DEDECCA, 1996; FALQUETO, 1997).
48
Esta constatação de que o trabalho e, conseqüentemente a classe, estariam deixando de ser
referência social foi alvo de debate por Gorz (1982) e Offe (1989), sendo que estes autores
estavam questionando a centralidade do trabalho como categoria chave de análise social.
Como resultado de uma redução nos postos de trabalho na indústria, resultado da implantação de
novas tecnologias, Gorz previu que uma redução na classe operária levaria a uma alteração no
conteúdo político e ideológico do trabalho. A questão que se debate, então, é exatamente esta: a
redução da classe proletária industrial traria uma perda de referência e relevância do ser que
trabalha? (V
ELOSO et al., 1999, p. 64).
Para Offe (1989), o trabalho perde sua referência como elemento central na sociedade na
medida em que sofre uma série de transformações políticas, econômicas e sociais. Outras
esferas da vida do indivíduo estariam se cristalizando como pontos de referência, preenchendo
as lacunas deixadas pelo trabalho.
É interessante ressaltar que a classe trabalhadora é enfocada por estes autores (GORZ, 1982;
OFFE, 1989; ANTUNES, 1995) como sofrendo um processo de grandes mudanças e tornando-se
mais complexa. Não se pode pensar o trabalhador do contexto atual como se fosse o mesmo
de outrora. A começar pelo crescimento do setor de serviços que não possui as mesmas
características do setor industrial do auge do fordismo. Há igualmente dados estatísticos
comprovando a queda do percentual de participação do operariado industrial na composição
do mercado de trabalho. Outro ponto relatado pelos autores é a automação no setor industrial
que faz com que as características do trabalho executado sejam marcantemente diferentes. A
composição da mão-de-obra também é descrita como alvo de mudanças significativas. A
inserção da mão-de-obra feminina em espaços de trabalho tradicionalmente ocupados por
homens faz com que se tenha um novo perfil da classe de trabalhadores. Além disso,
acrescenta-se o crescimento do trabalho informal, bem como formas precarizadas de trabalho,
tais como terceirização e, em alguns casos, a formação das cooperativas.
Antunes (1995) analisa os mesmos sinais descritos por estes dois autores, mas discorda das
conclusões, sendo que, para ele, o trabalho continua como elemento central, dadas as
características de nossa sociedade, que ainda depende da produção e do consumo. Entretanto,
para Antunes (1995), a relação do indivíduo com o trabalho passa por um processo de
“estranhamento”. Independente das análises feitas e conclusões, seja ou não, o trabalho, o
elemento central da sociedade, percebe-se que a relação do indivíduo com o trabalho passa
por um processo de transformação dos valores e significados simbólicos.
49
Linhart (1991) também vê que a questão das transformações afeta a sociedade e o trabalho,
em função de uma crise pela qual passa, interferindo no indivíduo e na constituição do seu
“ser”.
Alguns autores expõem a Idéia de que a crise e o desemprego crescente favorecem a aparição de
novos modos de vida, de uma sociedade “com mais convívio”, baseada em outros valores além do
trabalho.
As análises que acabamos de expor induzem a pensar que por hora, a crise e o desemprego
atropelam, golpeiam violentamente os trabalhadores em seu ser, em seu equilíbrio. (L
INHART,
1991, p.538) (Grifo nosso) (Tradução nossa).
7
Para Sennet (2004), as transformações que o trabalho tem sofrido são provenientes da
mudança na lógica como as organizações têm se redefinido perante o contexto de
competitividade atual. Ou seja, elementos contextuais têm impulsionado freqüentes mudanças
nas organizações que geram alterações na estrutura interna e, conseqüentemente, na forma
como o trabalho é executado. Nas palavras de Sennet (2004, p. 60), “O ingrediente de mais
forte sabor nesse novo processo produtivo é a disposição de deixar que as mutantes demandas
do mundo externo determinem a estrutura interna das instituições.” Para este autor, a extrema
valorização da mudança e da flexibilidade como valores organizacionais para a
competitividade, servem de norte para a relação do indivíduo com o trabalho e, por isso,
geram uma destruição de elementos referenciais para os indivíduos. Tais referenciais serviam,
na visão de Sennet (2004), como norteadores para a construção de um caráter e que isto afeta
a sustentabilidade da Identidade.
Como se podem buscar objetivos de longo prazo numa sociedade de curto prazo? Como se podem
manter relações sociais duráveis? Como pode um ser humano desenvolver uma narrativa de
identidade e história de vida numa sociedade composta de episódios e fragmentos? As condições
da nova economia alimentam, ao contrário, a experiência com a deriva no tempo, de lugar em
lugar, de emprego em emprego. Se eu fosse explicar mais amplamente o dilema de Rico, diria que
o capitalismo de curto prazo corrói o caráter dele, sobretudo aquelas qualidades de caráter que
7
“Algunos autores exponen la Idea de que la crisis y el desempleo crecientes favorecen la aparición de nuevos
modos de vida, de una sociedad “más convival”, basada en otros valores además del trabajo.
Los análisis que acabamos de exponer inducen a pensar que por ahora, la crisis y el desempleo atropellan,
golpean violentamente a los trabajadores en su ser, en su equilibrio.”
50
ligam os seres humanos uns aos outros, e dão a cada um deles um senso de identidade sustentável.
(S
ENNETT, 2004, p. 27).
Sennet (2004) complementa seus argumentos associando a flexibilidade e a fluidez das
Identidades como fontes de impacto no compromisso que o indivíduo tem com seu trabalho,
mostrando uma relação superficial que o indivíduo estabelece com sua atividade.
É um lugar-comum dizer que as identidades modernas são mais fluidas que as divisões categóricas
das pessoas nas sociedades submetidas a classes do passado. “Fluido” pode querer dizer adaptável.
Mas em outra cadeia de associações, também significa descontração; o movimento fluido exige
que não haja impedimentos. Quando tudo nos é facilitado, como no trabalho que descrevi,
tornamo-nos fracos; nosso compromisso como o trabalho se torna superficial, uma vez que não
entendemos o que fazemos. (S
ENNET, 2004, p.87-88).
Interessante reparar como o autor destaca que as pessoas não querem que o trabalho se torne
algo inerente à sua individualidade. A frieza e o profissionalismo parecem querer
impermeabilizar o indivíduo perante sua situação de trabalho. É como uma busca pelo
isolamento de sua Identidade no trabalho.
Sennet (2004) atribui à revolução tecnológica parte das transformações ocorridas no trabalho.
Segundo o autor “Os ingredientes necessários para a especialização flexível, também aqui,
nos são conhecidos. A especialização flexível serve à alta tecnologia; graças ao computador, é
fácil reprogramar e configurar máquinas industriais.” (SENNET, 2004, p. 60). Mas é
interessante ver que Sennet associa tais mudanças diretamente ao papel valorizado que o
consumidor tem neste contexto. Na medida em que esta figura é sobrevalorizada, as mudanças
organizacionais se legitimam na busca de atender a uma entidade que parece estar socialmente
em patamar superior.
Mas há motivos mais fundamentais por trás do moderno capitalismo para buscar uma mudança
decisiva, irreversível, por mais desorganizada ou improdutiva que seja. Referem-se à volatilidade
da demanda do consumidor. Essa volatilidade produz uma segunda característica dos regimes
flexíveis, a especialização flexível. (S
ENNET, 2004, p.59).
Bauman (2005) retoma e corrobora a visão de Sennet, fazendo uma interligação com o
trabalho de Bourdieu, denotando que as pessoas passam de uns referenciais a outros, todos de
curta duração, e que isso recrudesce a fragmentação das Identidades.
Pierre Bourdieu e Richard Sennett explicaram por que o esfacelamento de cenários e rotinas
anteriormente estáveis e a fragilidade recém-revelada até mesmo por empresas grandes e
aparentemente sólidas não favorecem uma postura de união e solidariedade, além de evitar que
problemas e ansiedades individuais se intensifiquem no conflito de classes. Como nos mostram
Boltanski e Chiapello, os empregados se viram numa
cite par projets, onde as perspectivas de
emprego são confinadas a um único projeto atualmente em andamento. Entre as pessoas que vivem
de um projeto para outro, pessoas cujos processos de vida são desmembrados numa sucessão de
51
projetos de curta duração, não há tempo para que descontentamentos difusos se reduzam à busca
por um mundo melhor... Tais pessoas prefeririam um
hoje diferente para cada um a pensarem
seriamente num
futuro melhor para todos. Em meio ao esforço diário apenas para se manter à
tona, não há espaço nem tempo para uma visão da “boa sociedade”. (B
AUMAN, 2005, p. 41).
Neste sentido, Bauman (2005) entende que as fábricas não são mais um local que dê
segurança às Identidades, em função da extrema volatilidade e fragmentação das rotinas do
trabalho.
2.3. CONSUMO E TRABALHO
É interessante perceber que o consumo e o trabalho, embora muitas vezes tratados como
elementos distintos pelas pesquisas ou discussões, são faces do mesmo processo. O fato de
que, na era industrial, esses elementos fossem tratados como separados e distanciados criou
uma forma de trabalho distanciado das necessidades humanas em termos da produtividade.
Ao mesmo tempo, criou-se uma distância entre as necessidades reais do indivíduo e aquilo
que ele realmente consome.
Arendt (2004) comenta que o ato de produzir e consumir, na sua forma original, isso é, na sua
concepção essencial, estão ligados diretamente, de forma que o labor humano (aqui entendido
como produção de bens de consumo) é consumido ou metabolizado pelo indivíduo ou pela
natureza, dada a sua efemeridade. O trabalho, diferentemente do labor, produz bens de uso,
cuja perenidade transcende a necessidade imediata e metabólica do ser humano.
A partir de uma reconstrução dos valores na Era Moderna, o trabalho humano passa a gerar
excedentes de produção além da necessidade existencial do homem. Isto porque, segundo
Arendt (2004), a mesclagem que se fez ao longo da Era Moderna dos conceitos labor e
trabalho fez com que consumo e a produção se distanciassem das necessidades que deveriam
atender. A partir daí, o homem produz bens de uso como se fossem bens de consumo. Tal
qual como são produzidos, são consumidos.
Consiste em tratar os objetos de uso como se fossem bens de consumo, de sorte que uma cadeira
ou mesa seriam consumidas tão rapidamente quanto um vestido, e um vestido quase tão
rapidamente quanto um alimento. Esta forma de tratar as coisas do mundo é perfeitamente
adequada ao modo como elas são produzidas. A revolução industrial substituiu todo artesanato
pelo labor; o resultado foi que as coisas do mundo moderno se tornaram produtos do labor, cujo
destino natural é serem consumidos, ao invés de produtos do trabalho, que se destinam a ser
usados. (A
RENDT, 2004, p. 137).
Baudrillard (1991) explora a simbologia que envolve a sociedade de consumo, procurando
expor os seus elementos constitutivos. Como um dos pontos de reflexão, o autor diz que
52
objetos, produtos e bens de consumo, estão se multiplicando, numa clara demonstração de
abundância.
À nossa volta, existe hoje uma espécie de evidência fantástica do consumo e da abundância, criada
pela multiplicação dos objectos, dos serviços, dos bens materiais, originando como que uma
categoria de mutação fundamental na ecologia da espécie humana. (B
AUDRILLARD, 1991, p. 15).
Segundo Baudrillard (1991), os objetos são pontos de referência social nos quais o indivíduo
procura um status em relação aos demais. É uma forma de diferenciação, de procurar se
sobressair em relação aos demais. A busca pela felicidade neste tipo de construção se dá pela
possibilidade de consumo destes bens que não são acessíveis a todos.
Destaca-se que o autor denota o fato de que os signos e os valores são de certa forma
construídos de tal maneira que “[...] se enreda uma ordem do consumo, que se manifesta como
ordem da manipulação dos signos[...]” (BAUDRILLARD, 1991, p. 23). Com pensamento
semelhante ao de Baudrillard (1991), Santos (2002) afirma que as organizações também são
as responsáveis por produzir os consumidores muito antes de confeccionar os produtos para
eles. Ou seja, a organização constrói o consumo e os valores a ele ligados no ideário do
sujeito social. De forma análoga, Giddens (2002, p. 182) expõe:
Além disso, a mercantilização afeta crucialmente a força de trabalho – de fato a força de trabalho
como tal só passa a existir quando separada, como mercadoria, do “trabalho” como um todo.
Finalmente, a mercantilização afeta diretamente os processos de consumo, particularmente com o
amadurecimento da ordem capitalista. O estabelecimento de padrões regulares de consumo,
promovidos pela propaganda e outros métodos, torna-se central para o crescimento econômico.
Em todos esses sentidos, a mercantilização influencia o projeto do eu e o estabelecimento dos
estilos de vida.
Baudrillard (1991) vai diferenciar a sua concepção de consumo da visão que Arendt (2004)
tem, uma vez que vai rejeitar a idéia de que o consumo é uma busca pela satisfação das
necessidades humanas. A idéia de que consumimos em função de nossas necessidades físicas
é suplantada pelo consumo como uma forma de distinção social, de busca pelo status e,
portanto, insaciável. Nesse sentido, as desigualdades sociais não são problema para a
sociedade de consumo, pelo contrário, são utilizadas como propulsores econômicos desta
sociedade.
Neste tipo de sociedade, dissemina-se que os objetos podem proporcionar a felicidade que não
pode ser obtida em outras esferas da vida. E esse discurso está incorporado ao cotidiano
organizacional, trazido tanto pelas regras produtivas quanto pelos próprios trabalhadores uma
vez que também se inserem no sistema de consumo. Passa-se a constante idéia de que o
53
consumidor tem o direito de ser tratado de forma reverenciada, nesse sistema. O discurso da
organização de sobrevalorização do consumidor é difundido sistematicamente, tanto pelos
meios de comunicação e propaganda, quanto pelas políticas internas das organizações, através
dos programas de qualidade em produtos e serviços. Ressalta-se, entretanto, que a promessa
de felicidade na sociedade de consumo é ilusória, pois nunca será atingida, uma vez que os
indivíduos procuram a diferenciação e o status. Para que uns sejam felizes, é preciso ter o que
os outros não têm, gerando a desigualdade e a construção de categorias em possuidores e não-
possuidores de bens (BAUDRILLARD, 1991).
Toda a publicidade carece de sentido; só tem significações. No entanto, tais significações (e as
condutas a que elas se referem) nunca são
pessoais; mas diferenciais, marginais e combinatórias.
Isto é, dependem da
produção industrial das diferenças – pelas quais – na minha opinião – se
definiria com maior força
o sistema do consumo. (BAUDRILLARD, 1991, p.88).
Sennet (2004) também destaca o consumo como força motriz do capitalismo. Nas palavras do
autor: “Como história econômica, A ética protestante e o espírito do capitalismo está eivado
de erros. Como análise econômica, omite estranhamente qualquer consideração do consumo
como força motivadora no capitalismo.” (SENNET, 2004, p.126).
Para Bauman (2005), cada vez mais os processos de socialização estão mudando o foco de
importância do ser social do trabalho para o consumo.
Se os nossos ancestrais eram moldados e treinados por suas sociedades como, acima de tudo,
produtores, somos cada vez mais moldados e treinados como, acima de tudo, consumidores, todo
resto vindo depois. Atributos considerados trunfos num produtor (aquisição e retenção de hábitos,
lealdade aos costumes estabelecidos, tolerância à rotina e a padrões de comportamento repetitivos,
boa vontade em adiar a satisfação, rigidez de necessidades) se transformam nos vícios mais
apavorantes no caso de um consumidor. Se permanecessem ou no caso se tornassem comuns,
seriam como o dobre de finados da economia centrada no consumidor. (B
AUMAN, 2005, p. 72- 73).
Bauman (2005), de uma forma radical, enfatiza que o modo consumista cria Identidades e as
deixa expostas nas prateleiras, à disposição para quem puder adquirir.
Quase todos os materiais têm sido experimentados, e o que não foi tentado acabará sendo – e o
mercado de consumo se rejubila, enchendo galpões e prateleiras com os novos símbolos de
identidade, originais e tentadores, já que não foram provados nem testados.[...] Selecionar os
meios necessários para conseguir uma identidade alternativa à sua escolha não é mais um
problema (isto é, se você tem dinheiro suficiente para adquirir a parafernália obrigatória). Está à
sua espera nas lojas um traje que vai transformá-lo imediatamente no personagem que você quer
ser, quer ser visto sendo e quer ser reconhecido como tal. (B
AUMAN, 2005, p. 88-91).
Entretanto, há que se refletir que a Identidade Social, por mais que ela possa ser afetada pelos
valores da sociedade do consumo, não é tão fácil de ser desfeita quanto trocar de roupa. Os
objetos de consumo possuem signos e significados que usamos para expressar nossas
54
Identidades, como descrevem bem Woodward (2000) e Silva (2000). Mas isto não significa
que as Identidades são tão efêmeras e transitórias quanto os próprios bens que consumimos.
Além disso, deve-se entender que há uma contradição que, por mais que pareça apenas
semântica, revela uma diferença ligada à pergunta definidora da Identidade: Quem sou eu?
Ser alguém pode ser definido pelos bens, mas, por exemplo, há um longo caminho que
distancia entre ter uma roupa de um desportista e ser um desportista.
De forma um pouco mais ponderada, Giddens (2002, p. 183) afirma que o consumo afeta o
desenvolvimento genuíno do eu de forma que “a aparência substitui a essência à medida que
os signos visíveis do consumo de sucesso passam a superar a realidade dos valores de uso dos
próprios bens e serviços em questão.” Ou seja, pode-se depreender desta visão que isso pode
gerar mais uma angústia existencial, que na visão de Giddens (2002) conduz ao narcisismo,
do que necessariamente uma nova Identidade.
Nesse sentido, levando-se em consideração que o espaço produtivo catalisa as transformações
da sociedade pós-moderna, indaga-se sobre a Identidade do bancário dentro da organização e
no trabalho. Com as organizações e o trabalho sendo constantemente transformados e
reconfigurados pelas inovações tecnológicas e gerenciais, num ritmo insanamente constante,
com o que se auto-identifica esse novo homem social dentro do espaço produtivo? No que, no
trabalho e nas organizações, ele se apega para delinear sua Identidade? Como a Identidade
está se cristalizando no ideário do indivíduo no que tange o espaço produtivo? Quais os
reflexos da valorização do consumo e do consumidor afetam sua Identidade Social?
2.4. TRABALHO BANCÁRIO
Como diversos outros tipos de atividade econômica, o trabalho bancário sofreu drásticas
transformações nos últimos anos, principalmente na década de 1990. O trabalho bancário de
hoje difere substancialmente do realizado nas décadas de 70 e 80, tanto na forma como era
organizado e executado, quanto no sentido que tinha para os que o executavam. Parte das
transformações pode ser explicada pelas metamorfoses que o setor sofreu frente às novas
configurações do mercado nacional e mundial, pela alteração da tecnologia e pelas mudanças
políticas e econômicas acontecidas em nossa realidade.
Uma das atividades onde o trabalho tem se transformado de forma mais dramática hoje é o
trabalho bancário. Esse setor tem mudado muito nos últimos anos. Qualquer pessoa que esteja
habituada a fazer uso desses serviços certamente percebe muitas dessas mudanças no seu dia-a-dia,
55
seja na infra-estrutura disponibilizada a clientes e funcionários - como a automação e as
instalações físicas - seja em mudanças no funcionamento interno das agências, na forma de
atendimento aos clientes e na natureza dos produtos oferecidos. (M
ERLO; BARBARINI, 2002, p.
104).
As transformações do trabalho bancário estão diretamente ligadas aos processos de mudança
que aconteceram no contexto internacional e nacional. Não se pode pensar o trabalho bancário
como era visto anteriormente, não só nos aspectos de execução das atividades, mas nos seus
aspectos políticos, econômicos, tecnológicos e sociais. Neste sentido, é interessante ver como
o contexto internacional afetou este segmento econômico.
2.4.1. Questões contextuais e as instituições do sistema financeiro
Chesnais (1996) relata que um dos elementos importantes no contexto das décadas de 1980 e
1990 é a integração internacional dos mercados financeiros ocasionada, principalmente, pela
desregulamentação e liberação dos mercados nacionais. Chesnais (1996) não concorda com o
que muitos autores têm chamado de globalização da economia, enquanto instrumento de
integração e desenvolvimento dos povos. Segundo o autor, “A esfera financeira representa o
posto avançado do movimento de mundialização do capital, onde as operações atingem o
mais alto grau de mobilidade, onde é mais gritante a defasagem entre as prioridades dos
operadores e as necessidades mundiais.” (CHESNAIS, 1996, p.239).
É possível, por meio da integração financeira, que grandes quantias de dinheiro circulem pelo
mundo em um tempo significativamente menor. Para que tal fato pudesse se concretizar, foi
preciso conectar os mercados financeiros das diversas nações por meio da informática,
permitindo trabalhar com valores em tempo real e deslocá-los a qualquer momento.
A teleinformática (às vezes chamada “telemática”) surgiu da convergência entre os novos sistemas
de telecomunicações por satélite e a cabo, as tecnologias de informatização e a microeletrônica.
Ela abriu, às grandes empresas e aos bancos, maiores possibilidades de controlar a expansão de
seus ativos em escala internacional e de reforçar o âmbito mundial de suas operações (C
HESNAIS,
1996, p. 28).
Esta constatação vai ser importante para que se perceba como a automação e a informatização
são imprescindíveis para as instituições atreladas ao mercado financeiro. A informatização,
em função dessa necessidade de agilidade e volatilidade dos capitais, tornou-se quase que um
paradigma no setor financeiro – e mais especificamente no setor bancário. Primeiro, porque
era preciso agilitar – e em parte desburocratizar – o processo de trabalho, em função das
necessidades do capital, possibilitando realizar as operações financeiras tão rapidamente
quanto necessárias. Segundo, porque era preciso maior controle sobre o andamento das
56
instituições financeiras e saber a sua própria rentabilidade de forma mais ampla, detalhada e
completa. Terceiro, para a construção de um instrumento de marketing para personalizar o
atendimento aos consumidores por meio de gigantescos bancos de dados sobre o
comportamento deles.
Chesnais (1996) destaca ainda que a rentabilidade financeira vem ganhando mais espaço do
que a rentabilidade produtiva. Há hoje uma valorização extremada do desempenho financeiro
da organização que, muitas vezes, entra em choque com o investimento produtivo. O que
importa para as organizações é a rentabilidade no final de um período. Quanto mais rentável
em um período de tempo menor, mais valorizada será a organização (CHESNAIS, 1996). Com
isso, a visão de produtividade enquanto elemento atrelado ao trabalho é perdida.
Pouco importa o que a organização produz e como produz, desde que seja rentável em um
tempo menor. Luttwak (1996) mostra que a organização, dentro desse sistema, é valorizada
pelo seu desempenho financeiro, principalmente no mercado de ações, independentemente de
como andam as políticas de gestão de Recursos Humanos e a situação em que se encontram
os funcionários da empresa. Em alguns casos, processos de enxugamento do quadro de
funcionários – que antigamente poderiam ser considerados como situações de crise e, por isso
mesmo, um motivo para não se investir em determinada empresa – são aplaudidos pelos
mercados financeiros sob a forma de aumento do valor de troca das ações. Na prática, isso
significa que a organização estar indo bem no mercado não é, necessariamente, motivo de
segurança para os trabalhadores. Enriquez (1999, p. 77) ilustra bem este processo:
A redução de pessoal acontece, mesmo quando as empresas estão funcionando bem. [...] Quanto
mais as coisas funcionam, mais se eliminam trabalhadores. [...] uma companhia sueca, Eletrolux,
de eletro-eletrônicos e outros produtos, suprimiu aproximadamente 100 mil empregos no mundo e
12 mil na matriz, porque o acionista principal queria um rendimento de 15% para as suas ações,
rendimento esse que era de 9%, o que já é muito bom, porque na Suécia não há inflação.
Chesnais (1996) descreve também uma sobrevalorização do papel dos bancos nos países
como vantagem estrutural para as suas economias. Segundo esse autor, os bancos vão dar
suporte ao desenvolvimento fabril, servindo como incentivo às empresas multinacionais para
instalarem unidades produtivas em determinadas regiões. Pode-se dizer que, além do
incentivo em termos de fonte de recursos, os bancos têm um importante papel que é o de fazer
as intermediações financeiras entre países. Isso se traduz na internacionalização do setor
bancário com forte apoio empresarial e governamental. Nesse processo, diversos bancos
abrem filiais internacionais para ganhar em cima das transações produtivas entre os países ou
57
entre as empresas. Dentro dos setores bancários, principalmente dos países em
desenvolvimento, isso significa um forte aumento da competitividade.
Percebe-se que o setor financeiro vem sofrendo modificações como um todo, tendo, como
conseqüências mais evidentes a internacionalização, o aumento da competitividade e
reestruturação tecnológica.
2.4.2. Características do trabalho bancário
Antes de compreender o impacto das transformações sobre o trabalho bancário no Brasil, é
preciso entender que essa atividade profissional possui algumas características que a
distinguem de muitas outras, principalmente quando comparada aos demais prestadores de
serviços.
Uma dessas características é a burocratização dos processos que está intrinsecamente
associada à natureza do serviço vendido. Tudo precisa ser documentado, guardado e
contabilizado de forma a possibilitar o controle do desempenho e o controle fiscal em função
de eventuais auditorias. Isso implica forte prescrição de algumas tarefas, traduzidas em
normas, procedimentos e regras a serem seguidas. Grande parte das normas é feita para a
própria segurança do banco, dos consumidores e dos funcionários, tais como conferência de
assinatura, conferência de dados na entrega de talão de cheque, registro da realização de
transações financeiras dentre outros.
A natureza do objeto de trabalho também é sui generis. Isso por ser composto apenas por
números, por valores financeiros, quantias vultosas e pequenas ao mesmo tempo, que, no final
do dia, continuam a ser apenas dígitos que não expressam nenhuma conquista ou realização.
Codo e Sampaio (1992) classificam o trabalho bancário como sendo “vazio”, pois não
constrói um produto final tangível. Segundo esses autores, muitos funcionários relataram seu
sofrimento como sendo decorrente de uma falta de satisfação com o trabalho executado.
Recorremos à descrição do trabalho bancário de Falqueto (1997), que corrobora as afirmações
feitas por Codo e Sampaio (1992):
O que faz o bancário? Paga, recebe, vende produtos, realiza empréstimos, cobra operações
vencidas. É um trabalho repetitivo, monótono e metódico. Por exemplo: o caixa inicia o
expediente com zero e encerra com zero; [...] O bancário (a) trabalha com excesso de papel, regras
e normas, em geral muito rígidas. Qual o produto de seu trabalho? Ele(a) manipula dinheiro que
gera dinheiro, não construindo nenhum produto final. É um trabalho vazio. (F
ALQUETO, 1997, p.
67).
58
Moulin (1996) chama atenção para o fato de que o bancário, muitas vezes, sente-se realizado
em seu trabalho por meio do bom atendimento ao consumidor. Entretanto, no relacionamento
entre bancário e consumidor, a literatura sobre os bancos enfatiza problemas e conflitos
(MOULIN, 1996 e 1997; SILVA, 1992; ASSUNÇÃO, 1993). Além disso, os consumidores seriam
a forma como os bancários têm seu trabalho reconhecido e, também, são responsáveis por
uma fonte de pressão sobre a forma como executam o trabalho (VELOSO, 2000).
Uma vez compreendidas essas especificidades do trabalho bancário, passa-se a descrever as
alterações que o setor sofreu nos últimos anos no Brasil, como forma de descrever o contexto
em que tais profissionais atuam.
2.4.3. Alterações no setor bancário no Brasil
Nesta parte, será dada maior atenção às transformações das últimas três décadas no setor no
Brasil. O foco principal de análise dessas alterações concentra-se nas décadas dos anos 1980 e
1990, por ser nesse período em que se engendram os processos considerados como os grandes
responsáveis pela configuração que assume o trabalho bancário no contexto brasileiro atual.
A competitividade do setor bancário no Brasil, no início da década de 1980, pode ser
considerada baixa, principalmente em relação aos tempos atuais. O setor encontrava-se
oligopolizado, em função de uma política econômica adotada pelo Estado, que privilegiava a
concentração bancária e a formação de conglomerados financeiros. O objetivo dessa política
era construir um forte suporte ao capital industrial, ao setor comercial e ao setor de serviços
(F
REITAS, 1995).
A partir de 1986, mudanças nas políticas econômicas do governo fazem com que o setor
bancário passe por momento de transição. O Plano Cruzado, no governo Sarney, estabelece o
congelamento de preços que resulta numa queda vertiginosa e instantânea da inflação, para a
qual os bancos não estavam preparados. A rentabilidade dos bancos é imediatamente afetada e
os impactos dessa nova realidade concretizam-se nas políticas dessas organizações. Inicia-se
um processo de “ajustes administrativos” que culminam em processos de demissão,
programas de inovação tecnológica, reorganização dos processos de trabalho e reestruturação
produtiva. Entretanto, a volta da inflação não desestimulou, como se percebe pelo texto de
Segnini
(1998), a continuidade dos ajustes administrativos.
Em 1988, o Banco Central extingue a “carta patente”, que limitava a inserção de novos
59
bancos no mercado. Há, portanto, uma quebra da oligopolização, aumentando a sua
competitividade interna. Esse fato pode ser visto como um propulsor à reestruturação iniciada
naquela época.
Na década de 90, a abertura de mercado no governo Collor proporcionou a inserção de bancos
internacionais no mercado interno. Os bancos nacionais estavam diante de concorrentes que
traziam uma bagagem em termos de avanço tecnológico, gerencial e técnico, forçando ainda
mais a necessidade de reestruturação das empresas brasileiras. Os bancos estrangeiros
instalaram-se no Brasil buscando objetivos diversos. Alguns estavam interessados no
estreitamento comercial entre os países, enquanto outros buscavam um mercado de varejo
potencialmente grande.
Percebe-se que as organizações do setor respondiam bem às alterações do mercado. Por meio
da forte contenção de custos, tais como redução da estrutura de recursos humanos e
terceirização de processos, e de bem sucedidas operações de crédito, principalmente advindos
de empréstimos para financiar a reestruturação dos demais setores do mercado, em 1992, o
setor bancário é considerado o mais lucrativo da economia. Percebe-se que parte desse
processo teve impactos diretos sobre a categoria profissional dos bancários, como será visto
adiante.
A estabilização da economia em 1994, proporcionada pelo Plano Real, teve conseqüências
semelhantes aos acontecimentos de 1986. Entretanto, os ajustes administrativos foram
intensificados e foram incorporadas políticas de marketing mais agressivas, aliadas à
utilização da informática, visando a captação de consumidores.
Em 1994, depois da abertura da economia por Collor e no início do Plano Real, o número de
bancos volta a crescer. Já em 1996, há uma queda do número de instituições, provocada
principalmente por fusões, aquisições e falências, gerando um processo de concentração
financeira no setor. Segundo dados do Banco Central do Brasil, entre Julho de 1995 e outubro
de 2006, aconteceram 84 fusões, aquisições ou incorporações no setor bancário (Vide Quadro
1).
60
Quadro 1 - Número de fusões, aquisições e incorporações por ano no setor bancário do
Brasil entre Julho de 1995 e Outubro de 2006
Ano 1995
1
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
2
Quantidade
de fusões e
aquisições
5 14 18 12 4 6 4 6 8 2 0 5
Total 84
Fonte: FEBRABAN (2008)
Nota: 1 - dados de 1995 a partir de julho. 2 - dados de 2006 até outubro
Segundo o DIEESE (2007), os processos de fusão, aquisição e incorporação têm gerado
desemprego no setor, na medida em que as unidades incorporadas, em muitos casos, possuem
agências ou Postos Avançados Bancários (PABs) dentro do mesmo espaço geográfico das
instituições que as estão adquirindo, fundindo ou incorporando. Entretanto, embora a
concentração do setor esteja se evidenciando, a competitividade do setor ainda é acirrada.
Em que pese a maior concentração bancária, a necessidade de ampliar as operações de crédito
continuará impulsionando a concorrência no setor. Nesse aspecto, infere-se que a atual
concorrência decorre mais do atual ambiente macroeconômico do que da iniciativa dos bancos em
distribuir os ganhos de produtividade acumulados nos últimos anos. (D
IEESE, 2007).
Como parte dos ajustes administrativos, destaca-se a redução do número de postos de
trabalho. O Quadro 2 mostra dados do período de reestruturação produtiva no setor, entre os
anos de 1989 e 1996.
Quadro 2 - Número estimado de empregados nos bancos no Brasil entre 1989 e 1996.
Meses 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996
Janeiro
811.892 825.558 748.949 696.874 681.614 670.117 632.761 568.786
Fevereiro
813.076 825.081 745.564 694.839 680.638 668.917 629.251 564.152
Março
811.542 826.244 739.578 694.800 678.962 666.743 623.749 559.765
Abril
810.958 821.843 734.806 693.684 678.085 664.452 622.060 555.232
Maio
811.930 810.419 732.026 692.588 676.779 661.906 616.847 547.715
Junho
813.501 794.897 731.925 691.266 676.052 659.291 611.751 532.003
Julho
816.143 778.699 723.279 689.244 676.549 657.233 592.280 528.182
Agosto
814.206 771.331 717.914 687.827 677.884 653.272 588.927 526.093
Setembro
815.249 768.287 714.089 687.843 677.574 651.022 585.350 521.939
Outubro
818.580 763.105 708.751 686.376 676.369 646.236 581.758 518.714
Novembro
822.688 758.466 703.729 684.171 673.438 641.302 577.436 513.861
Dezembro
824.316 753.636 700.217 682.304 671.740 637.647 571.582 497.108
Fonte: DIEESE (1997b)
Percebe-se que no ano de 1989, entre janeiro e dezembro, o setor encontrava-se em expansão
61
em termos do número de empregados. A partir de 1990, inicia-se um processo de
enxugamento, sendo que dos 824.316 postos de trabalho existentes em dezembro de 1989,
apenas 497.108 eram registrados pelo CAGED do Ministério do Trabalho, ou seja, uma
redução de 38,77%.
O processo de reestruturação implementado no sistema financeiro, na década de 90, provocou uma
perda expressiva de ocupações no setor bancário. As fusões e aquisições que proliferaram nesta
década, em conjunto com as inovações tecnológicas no setor, provocaram enxugamento dos
empregos, como forma de reduzir os gastos totais, e, em particular as despesas de pessoal.
(D
IEESE, 2007).
Aparentemente, o número de postos de trabalho estabilizou-se no final da década de 1990,
não havendo drásticas reduções após aquela época. Analisando-se dados de 2005 e 2006, não
se observa uma tendência de redução ou expansão do número de postos de trabalho no setor.
Entretanto, há demissões e admissões acontecendo em igual proporção, sugerindo, segundo
(DIEESE, 2006), uma rotatividade no setor.
Cabe acrescentar que a rotatividade não é influenciada exclusivamente pela busca por redução nos
gastos com mão-de-obra. Estão associados ao fenômeno fatores como tempo de casa do
empregado e curva de experiência, reorganização do trabalho e adequação do perfil do trabalhador
às estratégias de negócio da empresa. (D
IEESE, 2006, p.3).
Ainda sobre esses ajustes, e, vinculado a esse movimento de enxugamento, relata-se um forte
processo de automatização nos bancos, motivado tanto pela difusão das práticas de redução de
custos quanto pela busca de agilização e centralização das informações (ACCORSI, 1992),
sendo essa última considerada como de importância estratégica para essas organizações.
Em termos de transformação tecnológica, é no início da década de 80 que começam a ser
implantados sistemas on-line, interligando as diversas agências (A
CCORSI, 1992). Esses
sistemas incorporam parte do trabalho que antes era feito pelo bancário e, de certo modo,
aumentam o controle sobre o trabalhador. A tecnologia é implementada principalmente para
reduzir os custos operacionais, aumentar a competitividade e servir como instrumento de
marketing.
A manipulação de produtos envolvendo inteligência artificial simplificou-se e desmitificou-se. Os
produtos tecnológicos estão disponíveis de modo mais acessível, a relação custo/benefício justifica
os investimentos e a utilização destas tecnologias: A importância da tecnologia para a promoção
de negócios no universo dos bancos brasileiros e a interação entre os recursos de informática e
marketing é de cerca de 70%”. (FREITAS, 1995, p.2).
Ressalta-se também a importância estratégica mercadológica da automação bancária descrita
por Segnini (1998, p.21) que diz que “os registros rápidos e seguros passaram a ser
62
fundamentais em termos de lucratividade.” Isso porque os bancos passam a competir
agressivamente pelos consumidores no mercado. Segnini (1998) chega a considerar o sistema
financeiro do Brasil como um dos mais informatizados do mundo.
Ainda hoje, há um forte investimento das instituições bancárias na ampliação da base de
máquinas que executam as atividades operacionais. Segundo dados da FEBRABAN (2008), em
2000, haviam 15.639 máquinas de auto atendimento para saque e depósito, sendo que em
2006 eram 53.427 unidades, correspondendo a um crescimento de 342% num período de sete
anos (Vide Quadro 3).
Quadro 3 - Máquinas de auto-atendimento para saque e depósito no setor bancário do
Brasil de 2000 a 2006
Ano
Máquinas em
agências
Máquinas em ante
salas de auto-
atendimento
Quiosque em
local público
Postos de
Atendimento
Total
2000 4.602 7.476 2.975 586 15.639
2001 4.717 11.677 3.340 2.803 22.537
2002 11.490 14.157 4.396 3.190 33.233
2003 16.145 16.636 5.201 3.577 41.559
2004 15.268 24.530 4.214 4.208 48.220
2005 14.535 28.446 4.322 4.749 52.052
2006 14.224 29.783 4.036 5.384 53.427
Fonte: FEBRABAN (2008)
Em termos de atendimentos, o ano de 2006 registrou 36,7 bilhões de transações bancárias
(Vide Tabela 1), segundo a F
EBRABAN (2008). O auto-atendimento foi responsável por 32,4%
das transações do ano. É importante observar o crescimento das formas alternativas para as
transações bancárias, destacando-se os Débitos automáticos (24,5%) e o Internet Banking
(16,8%). Apenas em quarto lugar encontram-se os atendimentos realizados diretamente pelos
caixas de agências (10,4%). Isto mostra que há uma forte capacidade de absorção do trabalho
bancário por formas alternativas de execução dos atendimentos. Os bancos podem ampliar o
volume de trabalho, no que diz respeito às atividades de rotina bancária, sem que isso
implique em uma expansão considerável dos seus quadros de funcionários. Deve-se lembrar
que estão excluídas dessas atividades a prestação de informações e esclarecimentos, as vendas
e o cumprimento de metas bem como outras atividades que fazem parte do contexto atual dos
trabalhadores deste setor.
63
Tabela 1 - Número de transações realizadas no setor bancário no Brasil em 2006
Forma de execução dos atendimentos
Número (em milhões de
transações)
% sobre o Total
Caixas de agências 3.799 10,4%
Auto Atendimento 11.901 32,4%
Call Center 1.194 3,3%
Internet Banking 6.163 16,8%
Débitos automáticos 8.995 24,5%
Número de cheques compensados 1.709 4,7%
Correspondentes e Pontos de vendas 2.921 8,0%
Total 36.682 100,0%
Fonte: FEBRABAN (2008)
Entretanto, não se pode atribuir exclusivamente às inovações tecnológicas a causa das
demissões em massa. Segundo Ely (1993), os bancos passaram também por processos de
inovação das técnicas de gestão e por terceirizações que reforçaram o movimento de
enxugamento.
Percebe-se também uma horizontalização no setor bancário, com a redução dos níveis de
gerência intermediária, e um aumento da importância dos funcionários que possuem um maior
contato com os consumidores, como os gerentes e caixas. Ou seja, a importância dos
funcionários está vinculada ao atendimento do consumidor. Tem-se constatado também que
as tarefas dos gerentes têm-se tornado mais complexas, enquanto nos níveis hierárquicos mais
baixos – como os caixas – têm ficado mais simples e mais fragmentadas (VALLE, 1995).
Ely (1993) relata que em alguns casos ampliou-se o número de estagiários como forma de
redução de custos e de precarização das condições de trabalho. Isso porque os estagiários
trabalham em câmaras de compensação ou de processamento de dados, realizando tarefas
extremamente fragmentadas – como a digitação de cheques compensados – e não têm a
maioria dos direitos comuns aos funcionários com carteira assinada. É preciso compreender
que a inserção de estagiários nos bancos causa um forte impacto tanto na dinâmica interna do
banco como no mercado de trabalho. Isso porque evidencia uma desvalorização do trabalho
bancário, na medida em que pessoas menos qualificadas podem realizá-lo e recebendo menos
por isso.
Uma modificação importante neste contexto é que os bancários agora precisam lidar com uma
série de produtos financeiros e, além disso, precisam saber vendê-los aos consumidores. Isso
tem sido relatado como um ponto que interfere na relação do indivíduo com o seu trabalho.
Os processos de reestruturação do trabalho bancário, até então mencionados, acarretaram novos
64
modos de trabalhar já que demandaram dos bancários uma atuação intensiva em vendas e,
portanto, criaram novos modos de subjetivação aos quais os trabalhadores bancários ficaram
expostos. Para os bancários mais antigos, tais modos de subjetivação não se mostraram indolores,
pois eles foram construídos num trabalho bancário de outra natureza, mais burocratizado e sem a
necessidade da atuação como vendedores. (G
RISCI; BESSI, 2004, p. 191).
É de responsabilidade do funcionário a venda desses produtos aos consumidores. Alguns
produtos, em função de suas características próprias, requerem um conhecimento diferenciado
de finanças e de mercado financeiro, de forma que o funcionário possa aconselhar o
consumidor sobre suas opções. Isso também pode ser visto como uma forma de qualificação
para o bancário à medida que exige uma visão de analista.
Observa-se que, com as estruturas mais enxutas, os bancos precisam reestruturar o processo
produtivo. Com uma quantidade menor de pessoas, o trabalho é então redistribuído para os
demais, significando que, além das novas funções, o bancário assume quantitativamente o
trabalho dos que saíram. Embora grande parte desse trabalho tenha sido assimilado pelas
máquinas, novas tarefas surgem com a automação, tais como a conferências dos dados, a
alimentação das máquinas, a manutenção dos sistemas de informação dentre outros.
Outro ponto para compreender a transformação do trabalho neste setor é que o bancário era
possuidor de uma profissão reconhecida socialmente e que, com os processos de
reestruturação, tal status se perdeu.
(..) trabalho bancário tinha uma conotação diferenciada da atual. A natureza do trabalho, o seu
produto e o status da função de bancário proporcionavam a esse trabalhador a percepção de que o
seu trabalho tinha uma importância elevada para a sociedade. (G
RISCI; BESSI, 2004, p. 172).
As transformações acontecidas e relatadas no setor são responsáveis por grande parte das
mudanças do trabalho bancário. A reestruturação do sistema financeiro e o aumento da
competitividade implicaram fortes ajustes na organização do processo de trabalho e na
estrutura dos bancos. Couto (2000) afirma que:
Assim sendo, a realidade do setor bancário no Brasil, nas décadas de 80 e 90, foi de aumento das
exigências para os trabalhadores, sendo as principais: o trabalho sob pressão (tanto por clientes
quanto por parte das chefias), os sistemas de trabalho ineficientes, os postos de trabalho
inadequados, os riscos de assaltos e os sistemas informatizados impondo novos ritmos para o ser
humano. (C
OUTO, Op. cit., p.322).
Couto (Op. cit) chama a atenção para alguns fatos importantes que podem ser considerados
como características intrínsecas ao trabalho bancário nos dias atuais. Um dos pontos é que o
consumidor tem sido um dos que vêm exercendo pressão sobre o bancário. Isso porque o
funcionário é a imagem viva da organização, representando seus valores, sua postura e seus
65
objetivos. Durante a prestação do serviço, o funcionário é o responsável por reconstruir a
imagem institucional e repassá-la para o consumidor, de forma que esse último reconheça, no
bancário e no serviço oferecido, os valores repassados tanto pelas campanhas de propaganda e
marketing quanto pelo discurso de valorização do consumidor. A contradição entre os valores
repassados e o mau serviço prestado, seja por culpa do funcionário ou não, gera a insatisfação
do consumidor. Por ser o ponto de contato com o consumidor, o bancário é o canalizador das
reclamações quanto ao serviço prestado. Tais constatações também se fizeram presentes no
trabalho de Veloso (2000).
Analisando as transformações do setor, Gomes (1994) concluiu que após as inovações
tecnológicas o bancário reduziu a sua visão do trabalho como um todo, uma vez que tais
profissionais tiveram seu trabalho simplificado.
O processo de reestruturação produtiva, aliado ao contexto econômico e às políticas
governamentais fizeram do setor bancário um dos mais rentáveis da economia. Quando se
analisa a rentabilidade das 11 maiores instituões do setor (Vide Gráfico 1), percebe-se que,
no momento da reestruturação produtiva, em 1995 e 1996, os bancos apresentavam prejuízo.
Tais prejuízos são explicados pelo fim da inflação, e conseqüente fim do ganho de tais
instituições com a desvalorização da moeda, pelo forte investimento em automação, pelos
pagamentos das indenizações pelos processos de redução dos quadros de funcionários e, em
alguns casos, pelos resultados dos processos de fusão e aquisição. Há um ponto de inflexão,
de forma que o lucro líquido, a partir de 1997, começa a se restabelecer.
A partir de 2001 a rentabilidade do setor cresce vertiginosamente, impulsionada pelos juros
altos do mercado, pelo aumento das tarifas dos serviços prestados, pelo processo de inclusão
bancária, que aumenta a base de clientes, e pela diversificação do portifólio de produtos
financeiros disponíveis no mercado, tais como empréstimo consignado, microcrédito, novas
linhas de financiamento dentre outros.
Após o impacto inicial do Plano Real, com o fim da receita inflacionária, os bancos passaram a
acumular sucessivos recordes de lucratividade com aumentos expressivos de receitas e redução de
custos. Entre 1994 e 2006, a receita de prestação de serviço global dos onze maiores bancos
registrou um aumento real (acima da inflação) de 222% em relação ao Índice Geral de Preços
Disponibilidade Interna (IGP-DI), calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). No mesmo
período, a despesa de pessoal total desses bancos caiu 34,6%, o que resultou num aumento real de
611,3% do lucro líquido global. (D
IEESE, 2007, p.7).
66
Gráfico 1 - Lucro líquido dos 11 maiores bancos no Brasil entre os anos 1994 e 2006.
Fonte: DIEESE (2007)
Embora, a partir de setembro de 2005, o Banco Central tenha reduzido a taxa Selic de forma
constante, passando de 19,75% em agosto de 2005 para 13,25% em dezembro de 2006, a
rentabilidade dos bancos não apresentou queda, porque as instituições mantiveram quase
inalterados os seus spreads bancários (DIEESE, 2006b). Além disso, estudos mostram que os
bancos têm aumentado o faturamento respectivo às tarifas dos serviços prestados tais como
manutenção de contas, emissão de extratos, movimentações financeiras dentre outros (DIEESE,
2006c).
A forte competitividade do setor direcionou as instituições bancárias para estratégias de
segmentação de mercado, focando públicos alvos distintos. Segundo o DIEESE (2007), os dois
principais segmentos nos quais os bancos estão direcionando seus esforços competitivos no
atual contexto é um popular e o outro sofisticado.
Nesse contexto, a segmentação da atividade bancária é uma estratégia que visa explorar
oportunidades em dois segmentos: um popular e outro sofisticado. Os dois públicos apresentam
perspectivas de mercado, rentabilidade e expansão diferentes. O primeiro oferece produtos e
serviços mais homogêneos
voltados para mercados de massa. O segundo oferece produtos e
serviços cada vez mais diferenciados para pessoas físicas de renda elevada e para clientes
corporativos com alta rentabilidade para o banco. A disputa por esse segmento é mais acirrada
e,
por isso, exige capacidade de inovação, atendimento individualizado e assessoria especializada.
Nele, a utilização de preços como instrumento competitivo perdeu parte da importância de
67
outrora.(DIEESE, 2007, p.9).
Subentende-se, neste sentido, que a classe bancária convive com realidades distintas
dependendo da forma como sua organização se posicionou em termos de estratégia
corporativa. Dentro do segmento popular, o volume de clientes e demanda destes por serviços
bancários deve ser quantitativamente superior, enquanto que no segmento sofisticado a
diversificação de produtos e a exigência dos clientes por atendimento personalizado é que
deve predominar na execução do trabalho.
As transformações contextuais das últimas três décadas, como pode ser depreendido dos
textos dos autores trabalhados, afetaram a categoria profissional, o trabalho e as organizações,
elementos esses que são entendidos como as referências identitárias para os indivíduos no
mundo do trabalho. É nesta contextualização que esta pesquisa busca entender como as
Identidades Sociais dos indivíduos, especificamente dos bancários, estão sendo afetadas e se
reposicionando.
68
CAPÍTULO 3 - ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA
Dizem que é possível saber mais de uma pessoa conhecendo o caminho que percorreu do que
aonde chegou. Entretanto, muitas vezes, o caminho é mais valorizado do que o elemento
essencial em toda discussão: o que se quer conhecer, antes de tudo, é a pessoa.
69
3.1. MÉTODO DE PESQUISA
Para se delinearem os procedimentos metodológicos que nortearam o esforço desta pesquisa,
partimos das características do constructo Identidade bem como da opção por um enfoque
construcionista para lidar com o tema.
O constructo Identidade não é novo, mas, por estar diretamente associado a questões que
envolvem o fórum íntimo do indivíduo, dificilmente pode ser compreendido por meio de uma
concepção puramente quantitativa. Requer, por sua natureza, uma análise qualitativa em
profundidade, o que implica delimitações prévias ao processo de escolha das opções de
pesquisa. Ou seja, o constructo é por demais complexo para ser analisado de forma
extensiva/quantitativa, requerendo, portanto, uma compreensão intensiva/qualitativa.
Outro ponto importante, diz respeito à inserção do tema dentro dos estudos organizacionais.
Dentro do contexto das pesquisas de âmbito nacional, a Identidade Social ainda carece de
estudos sistematizados para compreendê-la no ambiente organizacional, principalmente como
elemento associado a problemas que envolvam o consumo e a produção.
Neste sentido, há uma tendência de o direcionamento para uma abordagem mais qualitativa
em termos metodológicos. A opção por um enfoque construcionista de Identidade também
conduz para uma abordagem de caráter qualitativo, na medida em que o discurso construído
pelo indivíduo é essencial para a compreensão do sujeito.
Para Flick (2004, p. 20), a complexidade da realidade atual, em muitos casos, dificulta a
opção por processos de investigação dentro dos moldes quantitativos, aumentando a
valorização dos estudos qualitativos:
O fato de que a maioria dos fenômenos da realidade, de fato, não possam ser explicados de forma
isolada é resultado da complexidade da realidade e dos fenômenos. Se todos os estudos empíricos
fossem planejados exclusivamente de acordo como o modelo das nítidas relações de causa e efeito,
todos os objetos complexos teriam de ser excluídos.
O mesmo autor (FLICK, op.cit) orienta para a necessidade de se buscar métodos abertos que
sejam condizentes com a complexidade do objeto em estudo. Complexidade esta que
entendemos ser característica do constructo Identidade. Tendo como referência o trabalho de
Toulmin (1990), Flick (op.cit) salienta que no auge da modernidade, no contexto das
diversidades contextuais e com os objetos de estudo social tornando-se mais complexos,
quatro tendências podem ser observadas em termos de pesquisa empírica: o retorno ao oral,
70
entendendo por isso a realização crescente de estudos que se centrem nas narrativas, na
linguagem e na comunicação; o retorno ao particular, como uma forma de sair do geral e
abstrato que foge dos problemas concretos, sendo que estes últimos são entendidos como
distantes da normalidade; o retorno ao local em que o estudo se torna contextualizado nas
tradições e formas de vida locais, ao invés de buscar respostas de validade universais e; o
retorno ao oportuno, em que os problemas e as soluções são desenvolvidas dentro de contexto
temporal ou histórico específico, ou seja, de validade determinada.
A mudança social acelerada e a conseqüente diversificação das esferas de vida fazem com que os
pesquisadores sociais defrontem-se, cada vez mais, com novos contextos e perspectivas sociais;
situações tão novas para eles que suas metodologias dedutivas tradicionais – questões e hipóteses
de pesquisa derivadas de modelos teóricos e testadas sobre a evidência empírica – fracassam na
diferenciação de objetos. (F
LICK, 2004, p. 18).
Embora tais tendências possam estar sujeitas a questionamentos no que tange a totalidade de
sua aplicação no campo das pesquisas sociais, mostram uma preocupação direcionada às
questões e problemas da realidade complexa a que estão submersos os objetos de estudo.
Neste sentido, Flick (2004, p. 28) reforça:
A pesquisa qualitativa é orientada para a análise de casos concretos em sua particularidade
temporal e local, partindo das expressões e atividades das pessoas em seus contextos locais.
Portanto, a pesquisa qualitativa está em condições de traçar caminhos para a psicologia e as
ciências sociais concretizarem as tendências mencionadas por Toulmin, de transformá-las em
programas de pesquisa e de manter a flexibilidade necessária em relação a seus objetos e tarefas.
Stevanato (2004), no seu estudo sobre Identidades Sociais, reforça que, dada a complexidade
do fenômeno e a necessidade de se dar conta dos fenômenos subjetivos atrelados ao
constructo, a pesquisa qualitativa torna-se um instrumento adequado para as questões dessa
natureza.
Enquadrando-se como pesquisa qualitativa, para entender a complexidade da Identidade
Social inserida no contexto local e temporal a que pertence, este estudo pode ser descrito
segundo os critérios utilizados por Cooper e Schindler (2003), como no quadro que se segue:
71
Quadro 4 - Descritores do planejamento desta pesquisa segundo quadro elaborado por
Cooper e Schindler (2003)
Categoria Opções a serem escolhidas
segundo os autores
Opção feita para esta
pesquisa especificamente
O grau em que as questões de pesquisas
foram cristalizadas
Estudo Exploratório
Estudo Formal
Estudo Exploratório
O método de coleta de dados
Monitoramento
Interrogação/comunicação
Interrogação/comunicação
O poder do pesquisador de produzir efeitos
nas variáveis que estão sendo estudadas
Experimental
Ex post facto
Ex post facto
O objetivo do estudo
Descritivo
Causal
Descritivo
A dimensão do tempo
Transversal
Longitudinal
Transversal
O ambiente de pesquisa
Ambiente de campo
Pesquisa em laboratório
Simulação
Ambiente de campo
As percepções das pessoas sobre a
atividade de pesquisa
Rotina real
Rotina modificada
Rotina modificada
Fonte: Cooper e Schindler (2003)
Nota: quadro adaptado pelo autor
As características do objeto de pesquisa e sua inter-relação dentro do quadro referencial
teórico dos estudos em Administração, direcionam esta pesquisa para se configurar como
Estudo Exploratório. Segundo Cooper e Schindler (2003, p. 128), os “estudos exploratórios
tendem a gerar estruturas soltas com o objetivo de descobrir futuras tarefas de pesquisa”.
Neste sentido, ao final desta pesquisa, procurou-se tecer contribuições teóricas sobre o tema
de forma a subsidiar outros Estudos Formais. Gil (1999, p. 43) afirma que as pesquisas
exploratórias:
[...] são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de
determinado fato. Este tipo de pesquisa é realizado especialmente quando o tema escolhido é
pouco explorado e torna-se difícil sobre ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis.
Embora o tema Identidade Social não seja inédito em termos de estudo no Brasil, dentro do
contexto das relações de consumo e produção ainda são desconhecidos estudos sistemáticos
que permitam a estruturação do problema com a mesma clareza de um estudo formal – como
na conceituação de Cooper e Schindler (2003).
O método de coleta de dados configura-se como Interrogação/Comunicação por coletar dados
por meio do questionamento e busca de respostas por meios pessoais ou impessoais (COOPER;
SCHINDLER, 2003). O constructo Identidade é normalmente captado em termos de pesquisa
por meio do discurso do entrevistado e da reconstrução e interpretação devidamente
contextualizada de seu discurso (SPINK; FREZZA, 1999).
72
O discurso tem, no enfoque construcionista, papel central para a reconstrução do sujeito-
objeto – aqui entendido como inseparáveis – na medida em que são frutos de uma construção
social. O indivíduo, que se reconstrói a cada relação social com o outro ou com seu contexto
de forma autopoiética, expressa, por meio do seu discurso, quem ele é (MATURANA; VARELA,
1995; SPINK; FREZZA, 1999).
Flick (2004) descreve o discurso e a narrativa como elementos centrais na construção do
“texto”. “No processo de reconstrução de casos, são produzidos textos nos quais se fazem as
análises empíricas reais: a opinião do sujeito é reconstruída como sua teoria subjetiva, ou
assim formulada” (FLICK, 2004, p. 42).O “texto”, dentro da concepção de Flick (2004),
representa os dados, a base da interpretação do material empírico e o meio central para a
apresentação e comunicação das descobertas. Dessa forma, como fruto da
Interrogação/comunicação, o material empírico dessa pesquisa será o “texto” construído a
partir da fala dos bancários.
Ciampa (2005) vale-se da construção de “textos”, a partir da narrativa e do discurso, para
compreender o constructo Identidade, mostrando a necessidade de um estudo aprofundado
para compreender como se dá a dinâmica dessa variável. De forma análoga, Silva (2000)
mostra que as Identidades ganham significado a partir das representações feitas pelos
indivíduos e que são atos de criação lingüística. Por isso, o resgate da reconstrução feita pelo
sujeito é condição sine qua non para compreensão do constructo. Hall (2000, p. 109) reforça
esta concepção ao afirmar que “[...] é na tentativa de rearticular a relação entre sujeitos e
práticas discursivas [...]” que seus problemas devem ser compreendidos.
É precisamente porque as identidades são construídas dentro e não fora do discurso que nós
precisamos compreendê-las como produzidas em locais históricos e institucionais específicos, no
interior das formações e práticas discursivas específicas, por estratégias e iniciativas específicas.
(H
ALL, 2000, p. 109).
Não houve qualquer tipo de controle ou manipulação de variáveis ou o acompanhamento
dessas manipulações durante a pesquisa. Por isso mesmo, trata-se de uma pesquisa Ex post
facto (COOPER; SCHINDLER, 2003). Retomando os conceitos de Kerlinger (1979), Gil (1999,
p. 69) define a pesquisa ex post facto como “uma investigação sistemática e empírica na qual
o pesquisador não tem controle direto sobre as variáveis independentes, porque já ocorreram
suas manifestações ou porque são intrinsecamente não manipuláveis.” Em se tratando de
Identidade, trabalho e consumo como variáveis, evidencia-se a impossibilidade de um estudo
73
experimental, dada a natureza do objeto de pesquisa em questão.
O intuito desta pesquisa é de reconstruir a Identidade Social e encontrar nela um padrão que
explique como é afetada pelas relações de consumo e de produção dentro do trabalho
bancário. Neste sentido, pode-se caracterizar este estudo como Descritivo.
Foi feito um Corte Transversal na coleta de dados, representando “um instantâneo de um
determinado momento” (COOPER; SCHINDLER, 2003, p. 129). Esclarece-se que apesar da
Identidade não ser uma variável estática e estar sendo construída a cada instante, não se
pretendeu captar sua transformação ao longo do tempo, mas sim sua atual construção a partir
do ideário do entrevistado, de forma pontual.
As coletas de dados foram realizadas no próprio ambiente de trabalho (Ambiente de campo) e,
necessariamente, pressupõe-se uma percepção de Rotina Modificada (COOPER; SCHINDLER,
2003). Entretanto, esperou-se poder corrigir parte do problema gerado pela rotina modificada
por meio da construção do instrumento de coleta de dados, especificamente, pelas questões
semi-estruturadas feitas aos indivíduos e aos grupos.
3.2. ESTRATÉGIA DE COLETA DE DADOS
Em consonância com a abordagem adotada, optou-se por realizar entrevistas individuais semi-
estruturadas e o focus group com bancários, como alternativas indicadas para proceder à
coleta de dados. Segundo Gil (1988) as vantagens da entrevista são de possibilitar a obtenção
de dados referentes aos mais amplos aspectos da vida social do entrevistado, obtenção de
dados mais profundos sobre o comportamento humano e a possibilidade de classificação e
quantificação dos dados obtidos. Segundo Cooper e Schindler (2003, p.133) um focus group
ou “grupo de foco é um painel de pessoas, lideradas por um moderador treinado, que se reúne
por um período de 90 minutos a duas horas. O facilitador moderador usa princípios de
dinâmica de grupo para focar ou guiar o grupo na troca de idéias, sentimentos e experiências
em um tópico específico.”
As entrevistas permitem uma análise da Identidade Social de forma individualizada e o focus
group nos ajuda na construção de uma visão mais coletivizada sobre tema, por permitir que os
bancários discutam sobre a sua Identidade em conjunto. Durante o focus group, os resultados
das entrevistas foram discutidos com os bancários para que possam acrescentar aquilo que
74
compreendem como aspectos da Identidade Social que realmente correspondem à realidade
vivenciada por eles.
Como salientado anteriormente, a base empírica para o estudo é o “texto”, na concepção de
Flick (2004) proveniente da narrativa e do discurso construído por meio das estratégias de
coletas de dados.
3.2.1. Universo da pesquisa
Fazem parte do Universo desta pesquisa os trabalhadores do setor bancário, sejam eles
funcionários de Instituições de natureza pública ou privada
8
, que ocupem funções descritas
como atividades-fim bancárias. Desta forma, excluem-se do universo todos os funcionários de
atividades intermediárias, terceirizados e estagiários.
3.2.2. Unidade de análise
A unidade de análise da pesquisa é o indivíduo por meio da construção do seu discurso, na
expressão dos conceitos que tem de si e dos outros, manifesta a sua Identidade Social.
Entretanto, para a compreensão dos elementos que dizem respeito a construção social do
conceito de Identidade, a análise e compreensão dos discursos era feita de forma coletiva,
procurando extrair os elementos subjetivos que foram objetivados pelos entrevistados, por
meio de suas tipificações.
3.2.3. Operacionalização do conceito de Identidade
O conceito de Identidade será operacionalizado com base nas diversas definições feitas pelos
autores discutidos no referencial teórico desta pesquisa. Primeiramente a Identidade está
sendo entendida como fruto do discurso do entrevistado (SPINK E FREZZA, 1999) perante uma
relação social (WOODWARD, 2000). Ao manifestar sobre quem ele é perante o outro, o
8
Para efeitos dessa pesquisa, está-se utilizando a categorização da FEBRABAN (2008) para classificação dos
bancos, sendo que estes são separados apenas entre públicos e privados, no que diz respeito à configuração
jurídica da instituição.
75
entrevistado expressa sua Identidade Social. Além disso, o conceito de Woodward (2000) é
utilizado no sentido de entender que a Identidade é relacional e se manifesta na afirmação ou
na negação do outro. Por isso, não se trabalhará apenas na concepção que o indivíduo tem de
si, mas também na visão que tem do outro.
Outro marco importante para a operacionalização do constructo é a concepção de tipificação
9
,
utilizada por Berger e Luckman (1985) e comungada por Spink e Frezza (1999). Esclarece-se
que, segundo Berger e Luckmann (1985), as tipificações são esquemas referenciais para o
indivíduo do que é a realidade, de quem somos e de quem é o outro. Segundo os autores: “A
realidade da vida cotidiana contém esquemas tipificadores em termos dos quais os outros são
apreendidos, sendo estabelecidos os modos como ‘lidamos’ com eles nos encontros face a
face.” (BERGER; LUCKMANN, 1985, p. 49).
Spink e Frezza (1999, p. 25), comentando o trabalho de Berger e Luckman (1985), expressam
que “A partir do conceito de tipificação, eles propõem que a sociedade é um produto humano
(ou seja, a realidade é construída socialmente) [...] a base da realidade da vida cotidiana são as
interações face-a-face em que o outro é apreendido a partir de esquemas tipificadores.”
As tipificações são importantes, pois a Identidade pode se objetivar para o indivíduo quando
ele se identificar com tais tipificações. Berger e Luckmann (1985, p. 125) afirmam que:
“Finalmente, a própria Identidade (o eu total, se preferirmos) pode ser reificada, tanto a do
indivíduo quanto a dos outros. Há então uma identificação total do indivíduo com as
tipificações que lhe são atribuídas.”
Como descrito por Aktouf (1998), os processos de identificação são importantes para a
compreensão da Identidades dos sujeitos. Neste sentido, as identificações serão incorporadas
9
O conceito de tipificação de Berger e Luckmann (1985) utilizado nesta pesquisa possui relações atávicas com o
conceito de “tipo ideal” weberiano. Alfred Schultz, de quem Peter Berger era contemporâneo, se inspirou no
conceito weberiano ao tecer suas considerações sobre a construção do conhecimento. A diferença entre o tipo
ideal weberiano e a tipificação de Berger e Luckman (1985) é que o primeiro parte de uma concepção idealizada
e pura não existente na realidade, enquanto que a segunda é realidade subjetiva objetivada coletivamente.
76
como elementos constituidores das Identidades.
Este estudo apropria-se também da definição de Ciampa (2005) de que Identidade é verbo, é
ação. Ao se reconstruir a fala dos entrevistados sobre as categorias de análise, priorizou-se a
ação que ele expressa dentro das definições das categoria de análise “Ser Trabalhador” e “Ser
Consumidor”.
3.2.4. Instrumentos de pesquisa
O instrumento principal para coleta de dados foi o roteiro de entrevista semi-estruturada, que
procurou identificar as tipificações feitas pelos bancários sobre o trabalhador e o consumidor,
tanto como auto-referência quanto a partir da alteridade. Ou seja, foram descritas como são as
tipificações que o bancário faz de si mesmo como trabalhador e como consumidor e do outro
como trabalhador e como consumidor.
A entrevista também permitiu reconstruir descrições do trabalho, do consumo e do
consumidor para o bancário. A partir das tipificações, procurou-se, por meio do tratamento
dos dados, elencar os principais elementos que servem como referência identitária e
categorizá-los segundo os critérios dos próprios bancários. Isto permitiu avaliar, a partir do
discurso do bancário, os elementos que compõem sua Identidade com mais ênfase nos
elementos da dicotomia consumo-produção.
Frisa-se que o processo de entrevista é um processo direto de interação social em que os
discursos produzidos face-a-face permitem reconstruir parte das concepções tipificadoras dos
entrevistados. É através da fala que os aspectos subjetivos se cristalizam e se objetivam para o
indivíduo. Berger e Luckmann (1985, p. 57-58) comentam:
Falo como penso e o mesmo faz meu interlocutor na conversa. Ambos ouvimos o que cada qual
diz virtualmente no mesmo instante, o que torna possível o contínuo, sincronizado e recíproco
acesso às nossas duas subjetividades, uma aproximação intersubjetiva na situação face a face que
nenhum outro sistema de sinais pode reproduzir. Mais ainda, ouço a mim mesmo à medida que
falo. Meus próprios significados subjetivos tornam-se objetiva e continuamente alcançáveis por
mim e ipso facto passam a ser “mais reais” para mim.
Os autores ainda acrescentam que é na relação de linguagem com o outro que o seu “ser” se
objetiva e se torna alcançável para si e para o outro.
Ora, ao objetivar meu próprio ser por meio da linguagem meu próprio ser torna-se maciça e
continuamente acessível a mim, ao mesmo tempo em que se torna assim alcançável pelo outro, e
posso espontaneamente responder a esse ser sem a “interrupção” da reflexão deliberada. Pode-se
dizer por conseguinte que a linguagem faz “mais real” minha subjetividade não somente para meu
77
interlocutor mas também para mim mesmo. Esta capacidade da linguagem de cristalizar e
estabilizar para mim minha própria subjetividade é conservada (embora com modificações)
quando a linguagem se destaca da situação face a face. Esta característica muito importante da
linguagem é bem retratada no ditado que diz deverem os homens falarem de si mesmos até se
conhecerem a si mesmos. (B
ERGER E LUCKMANN, 1985, p. 58).
O roteiro de entrevista foi construído em dez sessões. A primeira sessão objetiva determinar
informações pessoais e comportamentais do indivíduo de forma introdutória, tendo como
objetivo situar o indivíduo dentro do seu quadro de referência pessoal. A segunda sessão
solicita dados funcionais e informações sobre o tempo de exercício profissional. Essa sessão
teve como objetivo avaliar o tempo de contato do entrevistado com a organização, com a
agência, com a profissão, além de situar o funcionário na estrutura da empresa e avaliar o grau
de familiaridade com a tarefa executada. A terceira sessão aborda a visão que o bancário tem
do próprio trabalho tendo como objetivo captar como ele compreende as suas tarefas e
obrigações, procurando avaliar o grau de contato com clientes e com demais colegas de
trabalho. A quarta sessão procura avaliar a consciência das transformações do trabalho por
parte do bancário, traçando um paralelo entre o passado, o presente e o futuro. A quinta sessão
aborda diretamente o trabalho e as visões que o funcionário tem sobre sua profissão e sobre as
atividades que executa. A sexta sessão foca a organização e a imagem construída pelo
bancário sobre ela, procurando também revelar os valores que permeiam a relação entre o
profissional e a instituição. A sétima sessão trata da categoria profissional como um todo,
solicitando ao entrevistado que elabore sua visão sobre o coletivo. A oitava sessão trabalhou
diretamente as tipificações feitas pelos bancários sobre quem são eles, como trabalhadores e
como consumidores, e quem são os outros, também como consumidores e como
trabalhadores. A nona sessão procurou trabalhar, segundo a fala dos bancários, o que são o
trabalho, o consumo e o consumidor para eles, procurando traçar um paralelo com a forma
como cada funcionário se define.
No focus group também foi utilizado um roteiro de entrevista construído a partir da análise
das informações coletadas nas entrevistas individuais. O objetivo do focus group foi de fechar
os conceitos e resultados obtidos dentro de uma concepção coletiva do que foi entendida a
Identidade Social associada ao trabalho e ao consumo.
3.2.5. Pré-teste
Foi realizado um pré-teste com o roteiro das entrevistas com o objetivo de avaliar a
compreensão das perguntas, o tempo de entrevista e a reação dos respondentes. Quatro
78
bancários participaram do pré-teste, sendo que as entrevistas destes não foram consideradas
no escopo da pesquisa.
Após a aplicação do pré-teste percebeu-se a necessidade da alteração em algumas perguntas,
pois a compreensão das mesmas por parte não condizia com a intenção da pesquisa. Também
foram acrescentadas novas perguntas que foram sugeridas pelos próprios entrevistados no
final de cada pré-teste.
3.2.6. Tamanho da população
Foram realizadas cinqüenta e cinco entrevistas com bancários. Entretanto, cinco entrevistas
foram descartadas, pois os entrevistados mostraram baixo envolvimento com o processo de
coleta de dados, ora não respondendo grande parte das perguntas, ora respondendo de forma
visivelmente displicente, em geral, preocupando-se mais com o tempo do que com a
construção de suas falas.
Seis bancários participaram do focus group. Inicialmente foram convidados oito bancários.
Entretanto, dois não compareceram, sendo que justificaram suas ausências posteriormente em
função de questões associadas ao trabalho. Optou-se por convidar bancários que não
participaram das entrevistas, entendendo que uma segunda perturbação a um mesmo grupo de
bancários poderia resultar em baixo envolvimento ou indução nas respostas.
3.2.7. O processo de coleta de dados
Todas as entrevistas foram realizadas no próprio ambiente de trabalho dos entrevistados. A
maioria das entrevistas aconteceram em ambientes isolados dos demais bancários. Entretanto,
em função da característica de algumas agências, os funcionários responderam em seus
próprios locais de trabalho. A todos os entrevistados foi garantido o sigilo tanto de seu nome
quanto de sua instituição.
As entrevistas aconteceram todas em horário não comercial, ora antes da agência abrir ora
depois do expediente bancário. Outro ponto relevente é que as entrevistas forma realizadas,
em sua grande maioria, nas segundas quinzenas de cada mês, também por motivos de
disponibilidade. Duraram entre uma hora e dez minutos e uma hora e trinta minutos.
Iniciou-se o processo de coleta de dados em uma agência de um banco privado com a
79
anuência e total colaboração da gerência para a realização da pesquisa, desde que fosse
garantido o sigilo do nome da instituição e dos entrevistados. Nesta agência, foram realizadas
vinte e duas entrevistas consideradas válidas. Efetivamente, todos os bancários da agência
foram entrevistados, exceto os que estavam afastados ou de férias. Na medida em que as
entrevistas foram se realizando, percebeu-se que características específicas da instituição
estavam influenciado diretamente o resultado de algumas respostas.
Optou-se, então, por outra instituição, desta vez de natureza pública, parar entrevistar os
bancários. Também com a anuência e colaboração do gerente, as entrevistas foram realizadas
contemplando a maioria dos bancários da agência. Dessa agência, obteve-se dezesseis
entrevistas válidas. Observou-se também que características específicas da organização
estavam afetando parte das respostas dos entrevistados, principalmente em relação à função
social exercida pelo banco.
Como forma de avaliar os bancários de outras instituições, optou-se por diversificar o grupo
de respondentes, compondo-os a partir de instituições diferentes. Os demais doze
entrevistados válidos foram escolhidos de sete outras instituições, sendo cinco privadas e duas
públicas. Relata-se que tal diversificação foi de suma importância para a validação de
algumas conclusões realizadas nesta pesquisa.
O focus group foi realizado em um ambiente fora do cotidiano laboral dos entrevistados.
Participaram entrevistados de três instituições bancárias diferentes, sendo duas privadas e uma
pública.
3.3. TÉCNICA DE TRATAMENTO DOS DADOS
Os dados foram tratados pela análise de conteúdo que, segundo Bardin (1977, p. 42), é:
um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando a obter, por procedimentos
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou
não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção
destas mensagens.
Para Bardin (1977) a análise de conteúdo possui uma função essencial nos estudos
exploratórios, pois dá profundidade à análise de textos e mensagens que eram pouco
exploradas em termos de profundidade, sempre de uma forma sistemática.
A análise de conteúdo será realizada em três etapas básicas: a pré-análise, a exploração do
80
material e o tratamento dos resultados. Estas três etapas permitiram categorizar as falas dos
entrevistados e situá-las dentro dessas categorizações.
As entrevistas foram transcritas e tabuladas de forma a captar, com base na fala de cada
entrevistado os principais pontos que denotam a sua Identidade Social e os elementos
associados a ela. Em seguida, a partir das falas individuais, procurar-se-á construir um perfil
comum dos discursos que dê indicações de traços de como os aspectos do trabalho e do
consumo estão afetando coletivamente as Identidades Sociais dos entrevistados. Ao mesmo
tempo, as discussões feitas no focus group complementaram as informações obtidas pelas
entrevistas individuais.
81
3.3.1. Desenho da estratégia de coleta e tratamento de dados
Etapas da pesquisa
1º Passo – Entrevistas Semi-
estruturadas
(Coleta de Dados)
Tipificações
1
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Outro Colega de trabalho Consumidor
2º Passo – Obter as tipificações
1
(Análise de conteúdo)
Objetivos específicos (a;b)
Referências
Identitárias
Predominantes
2
O que é
Ser Trabalhador
O que é
Ser Consumidor
4º Passo – Listar as referências
identitárias
2
(Análise de conteúdo)
Objetivos específicos (a;b)
Expressão da Identidade e identificações
associadas ao consumo e ao trabalho
(Objetivo Geral da Pesquisa)
6º Passo – contrapor as referências
identitárias e as descrições para
delinear a Identidade Social
associada aos apectos do consumo
e do trabalho. Discutir resultados
coletivamente com bancários
(focus group)
Objetivos específicos (e;f)
Valor do Trabalho Valor do Consumo
5º Passo – Verificar as categorias
em que encaixam o valor do
trabalho e o valor do consumo
dentro das concepções dos
entrevistados.
(Análise de conteúdo)
Objetivos específicos (c;d)
Descrições feitas
pelos bancários
Descrições
do Trabalho
Descrições do
Consumo e do
Consumidor
3º Passo – Obter as descrições
(Análise de Conteúdo)
Objetivos específicos (c;d)
Figura 3 - Estratégia da coleta e tratamento de dados
Notas: 1- Conceito segundo Berger e Luckmann (1985);
2 – Trabalhado segundo o conceito de Ciampa (2005);
3.3.2. Categorias de análise
A análise dos discursos dos entrevistados foi organizada em categorias, de forma que se
pudesse observar, ao longo das falas, elementos que caracterizassem os sentidos dados às suas
frases, permitindo classificações, de acordo com os objetivos de pesquisa. No decorrer do
82
processo de análise, diversas perguntas do roteiro de entrevista são utilizadas para extrair as
informações que compõem as categorias. Em cada categoria, partiu-se da própria fala dos
entrevistados para encontrar os elementos que permitissem as classificações, ou seja, partiu-se
da fala dos trabalhadores para encontrar os elementos que servissem como classificadores de
seus discursos. Ao todo, dez categorias foram utilizadas para interpretar os dados, as quais
descrevemos a seguir.
a) Categoria “Visão sobre as transformações do contexto”: nesta categoria, procurou-se
identificar como os entrevistados descreviam as mudanças acontecidas no setor, qualificando-
as dentro de seus próprios critérios de análise. Procurou-se obter não somente uma visão do
presente em relação ao passado, mas uma projeção para o futuro de tais funcionários. Esta
categoria é de análise secundária, servindo apenas para compreender parte dos dados e avaliar
a compreensão dos respondentes sobre as transformações ocorridas no setor.
b) Categoria “Valor do Trabalho”: nesta categoria, procurou-se, ao longo da fala dos
entrevistados, identificar qual é o valor dado ao trabalho, ou seja, procura definir qual é a
importância que é atribuída a ele.
c) Categoria “Valor do Consumo”: procurou-se depreender qual é a importância, ou valor,
dado ao consumo pelos entrevistados. De forma semelhante, o consumo será compreendido
na forma como se posiciona dentro do discurso do entrevistado.
d) Categoria “Ser Trabalhador”: quer-se entender nesta categoria como os entrevistados
descrevem o Ser Trabalhador, que no caso é ser bancário, bem como entender quais valores
estão associados a ele. Essa categoria incorpora a visão que os bancários tem de si mesmos e
dos demais bancários, seus colegas de organização ou de outras instituições.
e) Categoria “Ser Consumidor”: da mesma forma que na categoria anterior, procura-se
descobrir como os respondentes descrevem o ser-consumidor. Para esta categoria, balizou-se
na visão que o entrevistado tem de si mesmo, do seu cliente e dos demais consumidores que
não necessariamente são seus clientes.
f) Categoria “Elementos de Expressão da Identidade Social”: a pergunta chave desta
categoria é saber o que o bancário utiliza, dentre os elementos estudados, como referência
para exprimir sua Identidade. Procura obter dentre os elementos com os quais os entrevistados
se identificam, estabelecendo relações com os elementos identitários. Essa categoria de
83
análise serve para estabelecer relações nos discursos dos entrevistados e se subdivide nas sub-
categorias:
i. “Expressão da Identidade, identificação e trabalho”: tal categoria tem o
objetivo de verificar até que ponto o trabalho é utilizado de forma associada à
expressão de sua Identidade, além de compreender seus vínculos com sua
atividade laboral;
ii. “Expressão da Identidade, identificação e categoria profissional”: procura
avaliar como a categoria profissional está relacionada com os processos de
expressão da Identidade;
iii. “Expressão da Identidade, identificação e organização”: Analisa como a
organização está relacionada com os processos de expressão da Identidade e
Identificação.
iv. “Expressão da Identidade, identificação e consumo”: de forma análoga à
categoria anterior, procura associações entre aspectos do consumo e a
Identidade, bem como seus vínculos.
v. “Expressão da Identidade, identificação e consumidor”: procura explorar como
o consumidor afeta e quais são os vínculos que o entrevistado estabelece.
As categorizações são sempre cortes que são feitos nas falas. Entretanto, esclarece-se que se
procurou utilizar cada fala dentro de seu contexto, no discurso proferido.
3.4. DESCRIÇÃO GERAL DA POPULAÇÃO ENTREVISTADA
Reitera-se que num estudo qualitativo não há a intenção de se criar generalizações sobre as
informações pesquisadas. Por isso mesmo, não há obrigatoriedade de se constituir uma base
de dados representativa do Universo da pesquisa. Pelo contrário, em alguns estudos
qualitativos é comum utilizar-se de parte da população que está fora dos padrões de
84
normalidade estatística para compreender e explicar elementos que afetam a população como
um todo.
Nesta pesquisa procurou-se ter um grupo de entrevistados que pudesse variar em suas
características demográficas e funcionais, bem como oriundos de instituições
10
com
características econômicas diferentes, sendo que a variedade e a dispersão de tais
características está sendo entendida como uma forma de abrir o escopo de análise. À medida
em que se encontra um padrão comum no discurso proveniente de entrevistados com
características distintas, entende-se que se obteve elementos que denotem uma objetivação de
conceitos, tal qual como foi descrita por Berger e Luckmann(1985). Por isso, faz-se
necessário compreender que as características do grupo de entrevistados, não visam
comprovar o seu grau de similaridade ao Universo pesquisado, mas compreender sua
diversidade.
Esclarece-se que as características que são expostas neste item não foram alvo de estudos
correlacionais, por não ser objetivo desta pesquisa e pelo fato de a amostra não ter a intenção
de ser representativa.
3.4.1. Características demográficas
No que tange ao gênero dos entrevistados, 30 são do sexo masculino e 20 do sexo feminino,
sendo que há representantes dos respectivos gêneros em todas as demais características, como
faixas etárias distintas, nível de instrução formal, estado civil dentre outros. Vide Tabela 2
abaixo para detalhamento das informações sobre gênero.
10
Como foi descrito no item O processo de coleta de dados deste capítulo.
85
Tabela 2 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por gênero – dados coletados nas
agências bancárias de julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Masculino 30 60%
Feminino 20 40%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
No que diz respeito à faixa etária dos entrevistados, observa-se que há representantes nas
diversas faixas etárias. Entretanto, não se conseguiu nas agências pesquisadas de natureza
privada, bancários acima dos cinqüenta anos. A Tabela 3 detalha a distribuição dos
entrevistados por idade.
Tabela 3 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por idade – dados coletados nas
agências bancárias de julho a outubro de 2007
Intervalo de Classe Quantidade Freqüência
20 ———| 25 06 12%
25 ———| 30 16 32%
30 ———| 35 06 12%
35 ———| 40 06 12%
40 ———| 45 11 22%
45 ———| 50 04 08%
50 ———| 55 01 02%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Sobre a instrução formal dos respondentes, percebe-se que o nível de escolaridade é elevado.
Dos 50 entrevistados, 46 estão cursando ou já possuem curso superior. Os demais desistiram
de um curso superior que estava em andamento em função de questões associadas ao trabalho
bancário, tais como ter que mudar de agências/cidades constantemente ou incompatibilidade
com o horário de trabalho. Dentre as falas dos entrevistados, pode-se perceber que se trata da
estratégia de alguns bancos privados realizar captações somente em universidades, visando
jovens em início de carreira, o que pode, em parte, explicar os dados. A Tabela 4 discrimina
as informações sobre a instrução formal.
Tabela 4 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por grau de instrução formal –
dados coletados nas agências bancárias de julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Superior Incompleto 04 08%
Cursando superior 08 16%
Superior completo 28 56%
Especialização 10 20%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
86
Mais da metade dos entrevistados é composta por casados, sendo que destes 26 possuem
filhos. Há 17 solteiros entre os entrevistados e uma minoria de divorciados (02) e viúvos (01).
A Tabela 5 a seguir expõe os dados.
Tabela 5 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por estado civil – dados
coletados nas agências bancárias de julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Solteiros 17 34%
Casados 30 60%
Divorciados 02 04%
Viúvos 01 02%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
3.4.2. Características funcionais
A maior parte dos entrevistados descreveu seu cargo como de gerência intermediária,
representando 28 entrevistados. Entretanto, cabe explicar que a grande maioria destes de
cargo intermediário está classificada como gerente de relacionamento, ou seja, gestor de
contas de clientes. Não há nenhum subordinado sob a gestão destes funcionários. A função
principal destes é atender o cliente e vender produtos. Entretanto, são cargos comissionados e
descritos como se fossem cargos gerencias. Os 18 bancários no nível operacional executam
funções de caixa, técnico bancário ou escriturário. Os gerentes de agência, que também
executam funções de atendimento a clientes, totalizam quatro entrevistados. A Tabela 6
detalha os dados.
Tabela 6 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por nível hierárquico do cargo
ocupado - dados coletados nas agências bancárias de julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Gerente de agência 04 08%
Gerente Intermediário 28 56%
Operacional 18 36%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
A grande maioria dos entrevistados, 43 bancários, tem até cinco anos no cargo atual. Quatro
bancários têm entre cinco e dez anos e dois funcionários têm entre dez e quinze anos. Apenas
um funcionário tem entre 15 e 20 anos, sendo que este sempre assumiu a função de caixa. A
Tabela 7 expõe estes dados.
87
Tabela 7 - Distribuição dos respondentes por tempo no atual cargo – dados coletados
nas agências bancárias de julho a outubro de 2007
Intervalo de Classe Quantidade Freqüência
00 ———| 05 43 86%
05 ———| 10 04 08%
10 ———| 15 02 04%
15 ———| 20 01 02%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
No que diz respeito ao tempo de organização, 24 expressam que estão na instituição atual em
tempo igual ou inferior a cinco anos. Oito entrevistados situaram seu tempo de organização
entre cinco e dez anos. Entre dez e quinze anos, enquadram-se cinco entrevistados e entre
quinze e vinte anos dez bancários. Outros três funcionários possuem tempo superior a vinte de
organização. Tais informações são relevantes, pois mostram que há entre os respondentes
desde pessoas com pouco tempo de instituição até bancários com uma vasta experiência
organizacional. A Tabela 8 detalha os dados sobre o tempo na atual instituição.
Tabela 8 - Distribuição dos respondentes por tempo na atual instituição – dados
coletados nas agências bancárias de julho a outubro de 2007
Intervalo de Classe Quantidade Freqüência
00 ———| 05 24 48%
05 ———| 10 08 16%
10 ———| 15 05 10%
15 ———| 20 10 20%
20 ———| 25 02 04%
25 ———| 30 01 02%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Dentre entrevistados, 43 possuem até cinco anos na agência em que estão atualmente. Muitos
destes revelaram que há uma prática comum, tanto em bancos públicos, privados ou de
economia mista, de realizar rodízio de funcionários entre as agências em períodos de 04 a 05
anos, o que pode explicar esta característica da população. Apenas três respondentes têm mais
de quinze anos na mesma agência. A Tabela 9 apresenta tais informações.
88
Tabela 9 - Distribuição dos respondentes por tempo na atual agência – dados coletados
nas agências bancárias de julho a outubro de 2007
Intervalo de Classe Quantidade Freqüência
00 ———| 05 43 86%
05 ———| 10 04 08%
10 ———| 15 00 00%
15 ———| 20 02 04%
20 ———| 25 01 02%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Uma parcela considerável, 20 entrevistados, já trabalhou em outras organizações bancárias e
30 bancários só tiveram contato com o trabalho bancário na instituição que estão atualmente.
Dentre os que já trabalharam em outras instituições bancárias, encontram-se tanto
funcionários de instituições públicas ou privadas. Seguem as informações na Tabela 10.
Tabela 10 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta
“Trabalhou em outros bancos?” - dados coletados nas agências bancárias de julho a
outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Sim 20 40%
Não 30 60%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Em termos de tempo total como bancário, 15 respondentes têm até cinco anos de experiência.
Entre cinco e dez anos, são oito funcionários. Ressalta-se que 27 bancários têm mais de dez
anos de profissão, o que pode ser entendido como uma parcela que possui um tempo
significativo trabalhando no setor. A Tabela 11 detalha tais informações.
Tabela 11 - Distribuição dos respondentes por tempo total como bancário – dados
coletados nas agências bancárias de julho a outubro de 2007
Intervalo de Classe Quantidade Freqüência
00 ———| 05 15 30%
05 ———| 10 08 16%
10 ———| 15 08 16%
15 ———| 20 10 20%
20 ———| 25 05 10%
25 ———| 30 04 08%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Todos os entrevistados responderam que têm contato direto com o cliente na execução de suas
tarefas. Neste sentido, não há, entre os entrevistados, funcionários que trabalhem
exclusivamente em setores de suporte administrativo, uma vez que se entende que o contato
89
com o cliente é considerado como importante para este estudo (Vide Tabela 12).
Tabela 12 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Na
execução do trabalho, tem contato com cliente?” - dados coletados nas agências
bancárias de julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Sim 50 100%
Não 00 00%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
No que diz respeito a contato com outros funcionários na execução do trabalho, a maioria, 48
bancários, afirma que sim e dois entrevistados dizem que não (Vide Tabela 13).
Tabela 13 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Na
execução do trabalho, tem contato com outros funcionários?” - dados coletados nas
agências bancárias de julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Sim 48 94%
Não 02 04%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
3.4.3. Dados das organizações às quais os entrevistados fazem parte
Como foi exposto, garantiu-se aos entrevistados que o nome da instituição bem como dados
que pudessem as identificar não seriam expostos. Neste sentido, não são apresentados dados
individuais das Instituições, procurando apenas posicioná-las no setor. Os dados dos
entrevistados e de suas instituições de origem são comparados com os dados do setor,
principalmente em termos de número de agências e PABs
11
.
Reitera-se que não se intenciona delinear representatividade da população frente ao universo
da pesquisa.
11
Esclarece-se que não se conseguiu obter dados precisos e atuais da quantidade de funcionários em cada umas
das classificações da FEBRABAN (2008). Neste sentido, trabalhou-se com o número de agências e postos
avançados bancários na pressuposição de que instituições com maior quantidade de unidades destes elementos
devem ter maior quantidade de funcionários em seus quadros.
90
Segundo dados da FEBRABAN (2008), há no Brasil 154 bancos
12
com agências em
funcionamento, totalizando 18.516 agências bancárias e 38.358 PABs.
Os nove bancos que possuem funcionários que participam da pesquisa estão entre os 15
maiores bancos em números de agência e entre os 20 maiores bancos somando-se agências e
os Postos Avançados Bancários. Juntos, os bancos representam 84,11% do número total de
agências e 92,12% dos PABs. Tais informações mostram que os funcionários entrevistados
fazem parte de instituições que lidam com uma quantidade significativa de bancários em seus
quadros pessoais.
Segundo dados da FEBRABAN (2008), há no Brasil 12 bancos públicos e 142 de natureza
privada (Vide Tabela 14). Entretanto, quando são analisadas os números de agências
bancárias e PABs (Vide Tabela 15 e Tabela 16), pode-se perceber uma participação maior dos
bancos públicos no contexto geral do setor.
Tabela 14 - Distribuição dos bancos no Brasil segundo a natureza econômica da
instituição em Fevereiro de 2008.
Natureza econômica Quantidade Freqüência
Públicos 12 07,79%
Privados 142 92,21%
Total 154 100%
Fonte: FEBRABAN (2008)
Tabela 15 - Distribuição dos bancos em número de agências no Brasil segundo a
natureza econômica da instituição em Fevereiro de 2008.
Natureza Econômica Quantidade Freqüência
Agências de Bancos Públicos 7.956 42,97%
Agências de Bancos Privados 10.560 57,03%
Total 18.516 100%
Fonte: FEBRABAN (2008)
12
Dentre os 154 bancos, alguns são partes de conglomerados pertencentes a outros bancos. Desta forma,
contando-se somente os conglomerados, há no Brasil 124 bancos segundo a FEBRABAN (2008).
91
Tabela 16 - Distribuição dos bancos em número de postos avançados bancários no
Brasil segundo a natureza econômica da instituição em Fevereiro de 2008.
Natureza econômica Quantidade Freqüência
Postos Avançados Bancários de Bancos Públicos 15.908 41,47%
Postos Avançados Bancários de Bancos Privados 22.450 58,53%
Total 38.358 100%
Fonte: FEBRABAN (2008)
Dos 50 entrevistados desta pesquisa, 30 são provenientes de empresa privada, sendo que 22
destes são da mesma instituição, compreendendo uma agência inteira. Os demais oito
bancários são de seis outros bancos privados distintos. Vinte bancários são de empresas
públicas, sendo que 16 são de uma mesma agência e um de outro banco. A Tabela 17 expõe
os dados.
Tabela 17 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por natureza econômica das
instituições em que trabalham atualmente - dados coletados nas agências bancárias de
julho a outubro de 2007
Natureza Econômica Quantidade Freqüência
Pública 20 40%
Privada 30 60%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Nota: A separação dos bancos segue a classificação feita pela F
EBRABAN (2008)
No Brasil, predominam as Instituições de capital nacional, com 48,05% das instituições,
seguido das instituições nacionais de capital estrangeiro com 24,03% dos bancos. Os bancos
públicos, sejam estaduais ou federais, representam apenas 7,8% do número de instituições
(Vide Tabela 18).
No que diz respeito ao número de agências, os bancos federais possuem a maior quantidade
relativa (36,17%), seguido dos bancos nacionais (33,65%) e pelos bancos nacionais com
controle estrangeiro (18,15%).
Em termos de PABs, os bancos nacionais possuem maior percentual (40, 28%), sendo que os
bancos federais estão um pouco abaixo com 34,07% do total de agências. A Tabela 19 detalha
mais tais informações.
92
Tabela 18 - Distribuição dos bancos no Brasil segundo a nacionalidade da propriedade
da instituição em Fevereiro de 2008
Nacionalidade da Propriedade Quantidade Freqüência
Nacionais 74 48,05%
Nacionais com participação de capital estrangeiro 07 04,55%
Nacionais com controle acionário estrangeiro 37 24,03%
Estrangeiros 08 05,19%
Estaduais 06 03,90%
Federais 06 03,90%
Demais bancos não classificados pela FEBRABAN 16 10,39%
Total 154 100%
Fonte: FEBRABAN (2008)
Tabela 19 - Distribuição dos bancos em quantidade de agências e postos avançados
bancários no Brasil segundo a nacionalidade da propriedade da instituição em Fevereiro
de 2008
Agências Postos Avançados Nacionalidade da Propriedade
n f n f
Nacionais 6.230 33,65% 15.451 40,28%
Nacionais com participação de capital estrangeiro 943 5,09% 944 2,46%
Nacionais com controle acionário estrangeiro 3.360 18,15% 6.055 15,79%
Estrangeiros 9 0,05% 0 0,00%
Estaduais 1.258 6,79% 2.839 7,40%
Federais 6.698 36,17% 13.069 34,07%
Demais bancos não classificados pela FEBRABAN 18 0,10% 0 0,00%
Total 18.516 38.358
Fonte: FEBRABAN (2008)
Entre os entrevistados, não há representantes de instituições em propriedade de capital
estrangeiro. Ressalta-se entretanto que o volume de profissionais destas instituições são
significativamente pouco expressivos perante o setor como um todo. Ressalta-se também a
baixa presença de representantes das instituições nacionais com participação de capital
estrangeiro e de instituições estaduais. Há uma predominância muito forte de profissionais
representantes de instituições nacionais com controle acionário estrangeiro (23 bancários) e de
bancos federais (19 respondentes). Esta proporção foi afetada pela estratégia de coleta de
dados assumida durante a pesquisa e que foi detalhada anteriormente.
93
Tabela 20 - Distribuição dos entrevistados segundo a nacionalidade da propriedade do
banco em Fevereiro de 2008
Nacionalidade da Propriedade Quantidade Freqüência
Nacionais 06 12%
Nacionais com participação de capital estrangeiro 01 02%
Nacionais com controle acionário estrangeiro 23 46%
Estrangeiros 00 00%
Estaduais 01 02%
Federais 19 38%
Demais bancos não classificados pela FEBRABAN 00 00%
Total 50 100%
Fonte: Dados de pesquisa
No que diz respeito à configuração do conjunto de entrevistados, acredita-se, ao avaliar todos
os aspectos de seus representantes, que há pluralidade tanto em termos demográficos,
funcionais quanto institucionais, permitindo uma análise do contexto no qual os bancários
estão inseridos.
94
CAPÍTULO 4 - RESULTADOS DA PESQUISA
Uma visão pós-moderna da questão: os dados são cubos cheios de números. Certa vez o
pesquisador torturou os dados até que eles confessaram: só temos cinco lados.
95
4.1. VISÃO SOBRE AS TRANSFORMAÇÕES DO CONTEXTO
A categoria de análise “Visão sobre as transformações do contexto” procura entender como os
entrevistados, de forma coletiva, perceberam as transformações acontecidas no setor nos
últimos anos e como vê a profissão no presente.
Sobre o passado, as respostas se dividem entre os que descrevem a profissão com uma visão
positiva (29 entrevistados) e com visão negativa (21 respondentes). A Tabela 21 mostra tais
informações.
Tabela 21 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Como
você vê a profissão de bancário no passado?”- dados coletados nas agências bancárias de
julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Possuem uma visão positiva 29 58%
Possuem uma visão negativa 21 42%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Os que descrevem o passado de forma positiva, afirmam que antigamente havia mais status, a
remuneração era melhor, havia menos pressão por parte do banco e dos clientes. O
interessante é que esta visão se objetivou no coletivo dos bancários, pois até os que têm pouco
tempo de casa descrevem da mesma forma.
A gente tem um pouco daquela idéia do bancário (nome do banco) de 30 anos. O quê que
você vai ser meu filho? Médico ou trabalhar no (nome do banco)? Que era bem assim,
eram pessoas com salários altíssimos. (Entrevistado 15).
Antigamente o bancário, ele tinha uma imagem, uma imagem de sucesso, de que quem
fosse bancário, era como se diz, era um partidão, vamos dizer assim, e hoje isso vem
mudando. (Entrevistado 19).
[...] antigamente tinha lá as metas para bater tranqüilas, a concorrência não era tão
grande, então era bem mais tranqüilo trabalhar. (Entrevistado 20).
[...] eu vejo que antigamente o cliente necessitava do banco (depois) eu via que o banco
é que precisava do cliente. (Entrevistado 25).
Como visão negativa, a profissão de bancário é descrita como acomodada e o trabalho como
sendo muito manual e sem ferramentas que auxiliassem no processo de operação e gestão.
O bancário, ele era muito acomodado, naquilo que fazia, sem muita responsabilidade
para com o consumidor final, não usava nada de empatia nas suas atribuições, porém
não havia tanta reclamação como há hoje, por mais que hoje, os bancários se esforcem
em atender melhor e se colocar no lugar do cliente.(Entrevistado 47).
96
Nossa, eu sou da época que tudo era feito no relatório, no papel, na caneta, porque
quando alguém chegava para fazer um depósito no banco, você recebia o depósito
naquela maquininha arcaica que tinha antigamente, aí na sala, todos os depósito e
cheques eram lançados à mão. (Entrevistado 30).
O presente, na resposta dos entrevistados, em geral é expresso como uma oposição ao
passado. Por isso há uma semelhança, de forma invertida, entre a quantidade de visões
positivas e negativas (Vide Tabela 22).
Tabela 22 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Como
você vê a profissão de bancário no presente?”- dados coletados nas agências bancárias
de julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Possuem uma visão positiva 23 46%
Possuem uma visão negativa 27 54%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
As visões negativas do presente são descritas em termos da diminuição do status e dos
benefícios financeiros da profissão, a pressão por resultados em termos de vendas de
produtos, o medo das demissões e as cobranças maiores dos clientes. Alguns também
descreveram que aumentou a competitividade entre os bancários.
No passado você pode falar que num tinha uma cobrança, uma missão e um cumprimento
de metas. É complicado hoje. Mudou muito, você têm tudo automatizado. Você deixa de
ter vários papéis na tua mesa, é bem sistema, só que em relação ao seu tempo, é
precioso. Hoje eu não posso ficar com cliente na minha mesa, nem pode fumar um
cigarro contando da vida dele como era no passado. (Entrevistado 16).
[...] hoje é aquela corrida para pegar cargos superiores e para poder melhorar esse
salário. Talvez sem um preparo, então o que a gente está sentindo muito é que as pessoas
assim..., é que elas vão pedindo cargos sem saber até o quê que vão fazer, depois quando
chegam lá, é que elas vão estar tentando desenvolver aquelas certas atividades, eu estou
achando que está tendo até uma certa imaturidade... (Entrevistado 23).
[...] você tem também um nível de exigência por parte do cliente muito grande. Então, as
pessoas são mais esclarecidas, as pessoas têm mais opções. Muitas vezes você se depara
mesmo com situações aonde tem que, não só atender bem, mas procurar solução legal
para o cliente. (Entrevistado 37).
Como visão positiva, a profissão é descrita com maior dinamismo, a valorização dos
funcionários e dos clientes, o surgimento de ferramentas de gestão que facilitam o trabalho. O
bancário deixou de ser acomodado.
A profissão do bancário no passado, era um balconista qualificado e, muitas vezes, não
tinha qualificação, era mais um serviço, mais um serviço. Hoje nós saímos da linha de
serviço e passamos... continuamos a prestar serviço, mas a oferecer produtos. Produtos
97
que proporcionem evolução patrimonial aos nossos clientes, produtos que proporcionem
comodidade, tranqüilidade aos nossos clientes. Então o mercado como um todo mudou
muito, e para nós bancários houve uma exigência de evolução junto a esse mercado.
(Entrevistado 05).
No (nome do banco) a maneira deles trabalharem, o valor que eles dão hoje nas pessoas
hoje, nos funcionários, nos clientes, no meio ambiente... mudou muito o banco para cá.
Lá de trás para hoje, nossa, muito. (Entrevistado 11).
A profissão no passado é basicamente a mesma, o quê que você tem, hoje, de diferente,
você tem ferramentas novas de gestão. São ferramentas novas de gestão de riscos, a lista
de marketing para você trabalhar, as ferramentas e diversificar, a informática vem
mudando demais. (Entrevistado 21).
Eu acho que isso mudou muito com o tempo. O banco, as pessoas tendem a evoluir, tem
que se evoluir, porque quem não evolui é descartado. Eu acho que antigamente vestia
assim um prestígio de uma certa acomodação. Hoje em dia você não pode ter isso.
(Entrevistado 39).
A maioria dos entrevistados (35 respondentes) expressou uma visão negativa do futuro da
profissão. Apenas 15 descreveram o futuro de uma forma positiva. A Tabela 23 expõe tais
informações.
Tabela 23 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Como
você vê a profissão de bancário no futuro?”- dados coletados nas agências bancárias de
julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Possuem uma visão positiva 15 30%
Possuem uma visão negativa 35 70%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
As visões positivas do futuro são associadas à constante qualificação do bancário enquanto
profissional ou tornar-se uma atividade mais valorizada e, em alguns casos, como um
consultor financeiro. Outros vêem a profissão de forma positiva como uma sobrevivente,
ainda necessária no futuro.
O bancário sempre vai existir, acho que num..., muitas ferramentas hoje substituem o
trabalho manual que você fazia, pesquisas aquela coisa muito exaustiva. Mas sempre vai
ter que ter alguém que vai deferir um limite de contas, que ainda vai demonstrar para
você tudo que o cliente pode ter, como base e os dados cadastrais dele. Mas tem sempre
alguém que vai ter que decidir o quê que pode dar ou não para determinado cliente.
(Entrevistado 21).
Ah, eu acho que a profissão do bancário até tende a ser mais cada vez mais importante,
em função das mudanças que estão ocorrendo aí na sociedade, no próprio sistema
financeiro. (Entrevistado 40).
Para os respondentes, o futuro pode ser visto de forma negativa, porque haverá redução do
98
número de funcionários, as agências serão reduzidas e automatizadas e haverá aumento da
competitividade entre os bancos.
O futuro é que diminua mais ainda, a quantidade de empregados nas agências, que a
informatização substitua, sabe, as pessoas. Então quem quer se garantir, tem que
procurar crescer dentro da empresa, é procurar alguma função, sempre subir um degrau
onde a gente está. (Entrevistado 44).
Então, acho que para o futuro, com a tecnologia, o avanço, o contato do cliente
realmente vai ser mais como o universo da sala de auto-atendimento, universo virtual. O
que tem de interno no banco, eu acho que esse, com o tempo, vai diminuir bastante, não
vai ser tão necessário, tantos funcionários para executar as funções que hoje tem.
Acredito que a evolução aí, o progresso, a tecnologia, vai restringir isso, o banco vai ser
mais virtual. (Entrevistado 43).
Os dados coletados mostraram que os bancários se dividem no que diz respeito ao passado e
ao presente, quando são questionados sobre as principais transformações. A tecnologia e a
redução do número de funcionários nos bancos foram os elementos mais citados.
Conseqüentemente, relatam uma perda de status da profissão e uma redução dos benefícios
financeiros, assim como temem pela falta de estabilidade na profissão. O futuro é visto de
forma negativa pela maioria, no temor de que as agências reduzam ainda mais, principalmente
nas funções operacionais. Pouco foi dito sobre mudanças gerenciais, mas estas podem ser
percebidas indiretamente por meio da forma como lidam com os clientes, na forma que os
resultados são cobrados, nas políticas de recursos humanos que foram comentadas de forma
indireta.
4.2. VALOR DO TRABALHO
Dentro da categoria de análise “Valor do Trabalho”, procurou-se compreender, ao longo da
fala dos entrevistados, que tipo de importância é dada ao trabalho, na tentativa de entender o
que significa esta atividade em suas vidas. Foram consideradas as falas sobre o trabalho em si,
sobre a categoria profissional e sobre a organização, desde que associadas à categoria de
análise. Ao analisar os discursos dos entrevistados, pôde-se observar quatro valores
principais: “Valor Pessoal”, “Valor Econômico”, “Valor Social” e “Valor Moral”. Em alguns
casos tais valores eram descritos de forma positiva, ou seja, como coisas essencialmente
benéficas e, em outros casos, de forma negativa, ou seja, como maléficas. Deve ficar claro
que as separações entre os valores às vezes não são tão nítidas, mesmo porque, em alguns
casos estão diretamente associados. Ou seja, o “Valor Moral” reforça o “Valor Pessoal”,
assim como o “Valor Econômico” reforça o “Valor Social” e assim por diante.
99
4.2.1. Valor Pessoal
Entre os entrevistados, 48 citaram algum tipo de “Valor Pessoal” associado ao trabalho e dois
não associaram a atividade a tais valores. A grande maioria, 32 entrevistados, cita o trabalho
como valor positivo, sendo que outros 15 entrevistados associam “Valores Pessoais” positivos
e negativos. Apenas um entrevistado citou o trabalho como “Valor Pessoal” exclusivamente
negativo (Vide Tabela 24).
Tabela 24 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por categorização do trabalho
como Valor Pessoal em seus discursos - dados coletados nas agências bancárias de julho
a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
O trabalho é descrito com valor pessoal – positivo 32 64%
O trabalho é descrito com valor pessoal – negativo e positivo 15 30%
O trabalho é descrito com valor pessoal – negativo 01 02%
Não citaram valores pessoais 02 04%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Em termos de “Valor Pessoal” positivo, o trabalho é descrito de formas extremamente
diversas. Dentre as mais citadas, o trabalho é associado a um prazer, uma satisfação pessoal,
uma realização pessoal e profissional, uma forma de obter uma auto-estima, algo para ocupar
o dia e a mente.
[...]o trabalho para mim é uma realização. Eu abrir os olhos cedo, agradecer por mais
um dia, ter saúde, e ter alguma coisa para preencher o meu dia, e essa coisa é prazerosa,
e a cada dia que passa, você procura ser melhor do que ontem. (Entrevistado 16).
Acho que o trabalho traz tudo para gente. Tanto uma realização profissional, que a
nossa organização hoje nos concede isso, traz benefícios financeiros, que para isso a
gente tem condições de estar fazendo as coisas tanto pessoais para gente, como para
família. Então, acho que a importância é total, fora o prazer que a gente tem de estar
fazendo o trabalho. (Entrevistado 26).
Trabalho é uma realização do ser humano como pessoa, como missão de vida. Deus nos
coloca na vida com as competências, com as fragilidades também, lógico. Mas, o
trabalho é uma forma de se realizar, o ser humano como pessoa, como ser membro da
comunidade e o trabalho é muito bom, eu adoro trabalhar, penso que o trabalho me
realiza muito. (Entrevistado 27).
O trabalho também é descrito como uma forma de crescimento pessoal, de aprendizagem de
construção cotidiana da própria pessoa.
A gente precisa do nosso trabalho para sobreviver, o trabalho faz a gente se sentir
completo, dia após dia [...] faz a gente crescer como pessoa. Aquela responsabilidade de
estar ali a serviço, ele te gera internamente uma sensação de responsabilidade,
100
entendeu? Essa responsabilidade que te move, ela que te faz levantar todo dia. Não é
como responsabilidade do ponto negativo não, é a responsabilidade de você ser
importante naquilo que você faz, da tua presença ali ser importante. (Entrevistado 15).
O trabalho é uma coisa importante na vida da gente não pelo salário só, mas por estar
em contato com os colegas de trabalho, a gente vai aprendendo algo novo todo dia. No
meu caso que trabalho com o banco, com os clientes também, porque todo dia chegam
clientes com alguma novidade, com algum, algum ensinamento novo, entendeu? Então
acho que todo mundo, assim como eu, procura o trabalho, porque o trabalho é uma
vitamina para gente poder sobreviver. (Entrevistado 20).
O trabalho, para mim, é tudo, porque sem ele não sou ninguém. E eu te falo mais, eu já
estou preocupada, porque eu já estou aposentando e o quê que eu vou fazer daqui pra
frente? Eu não sei fazer outra coisa. (Entrevistado 24).
O trabalho para mim é tudo. O trabalho é estabilidade, é equilíbrio emocional, é
sustento, é ideal. O trabalho para mim, são essas coisas, eu já tenho um bom tempo de
trabalho. Eu estava lembrando, outro dia eu saí mais cedo, eu brinquei com o gerente lá,
o (nome do colega de trabalho) “Eu tenho vergonha de sair porque o sol está alto”
(risos), mas por quê? Eu passei a minha vida trabalhando doze, treze horas por dia,
então trabalhar seis horas para mim é uma coisa muito sabe, muito rápida. Ela passa
para mim numa fração de segundos, agora ficar sem trabalhar? Coisa terrível, coisa que
incomoda qualquer pessoa, o homem precisa do trabalho igual ele precisa do alimento
para ele, ele tem que ter aquela atividade, o trabalho para mim é fundamental.
(Entrevistado, 34).
O trabalho também é uma forma de realizar seus sonhos pessoais e familiares. É uma forma
de ter bens e projetos de vida e de qualidade de vida. É uma forma de valorizar os seus
consumos e legitimá-los.
E também o trabalho não só representa uma realização pessoal sua. Além de você se
sustentar com o salário, você também tem um projeto, em cima do trabalho, você faz ali
um projeto de vida. (Entrevistado 40).
[...] aquilo que te eu falei, o trabalho enobrece, ocupa a mente. Mas eu acho assim, muita
gente não tem respeito até pelos outros. Aliás, gente da minha idade, tenho vinte e seis
anos, mas gente assim, um pouco mais nova, tem vinte e três vinte e dois anos, não sabe o
que é respeitar uma pessoa. Não sabe o que é dar valor no dinheiro, dar valor num
carro, dar valor até em outra pessoa, porque não trabalha. Você está ali trabalhando,
você acordou cedo, você suou ali, mesmo uma pessoa que trabalha com o próprio pai.
Você trabalha com seu pai, mas você está ali acordando cedo e indo até seis horas da
tarde. Você sabe que esse trabalho está te dando dinheiro. O que você for comprar, você
vai comprar com muito mais gosto do que se chegar uma pessoa aí, que está estudando,
vinte e três anos, fala assim: “Oh pai, dá dinheiro para comprar aquele tênis?” Vai
comprar, vai pôr aquele tênis no pé e vai achar bonito. Agora uma pessoa que trabalhou,
juntou o dinheiro, para pôr aquele tênis no pé, ela vai sentir o gosto de ficar usando
aquele tênis, eu acho que é isso: o trabalho deixa a pessoa mais feliz em ter, em poder ter
alguma coisa. (Entrevistado 02).
Ressalta-se na fala deste último algo que ficou evidente em diversas falas de outros
entrevistados. Ao se referenciar a outros consumidores, principalmente clientes, há sempre o
101
sentido de descrevê-los como pessoas que, muitas vezes, não sabem o valor do dinheiro.
Valor este que está associado ao valor trabalho. A convivência com pessoas que se
endividam, que buscam financiamentos e que se encontram em dificuldades provenientes de
consumo, cria uma certa consciência em relação ao uso mais racionalizado do dinheiro. Tal
questão foi debatida durante o focus group e os bancários que participaram confirmaram o
fato de que são mais “controlados” no uso do dinheiro e, conseqüentemente, na forma como
consomem. Procuram sempre consumir dentro dos “limites”.
Como valor pessoal negativo, o trabalho é delineado como fonte de frustrações, estresse,
decepções, dentre outros sentimentos provenientes da sua relação com a execução do
trabalho, com os colegas ou com a organização.
[...] eu me sinto desgostoso por causa das frustrações que aconteceram durante o
processo de evolução dentro da empresa. Eu não me sinto muito feliz hoje não. Melhorou
muito, mas eu não me sinto feliz não. Eu acho que eu tenho que buscar outras
oportunidades, eu acho que eu tenho um potencial maior do que eu aplico aqui. Eu uso
um terço da minha capacidade de aplicação de estratégias dentro da empresa hoje, e isso
me deixa irritado, isso me deixa profundamente irritado, porque eu não consigo aplicar o
meu lado empreendedor de ver as coisas, o meu lado criativo de fazer movimentar a
máquina. (Entrevistado 05).
[...] quando eu perco um negócio eu me sinto frustrado, às vezes, sinto bem por ser bem
avaliado, tem dia que estou meio devagar. (Entrevistado 10).
[...] o bancário normalmente é aquela pessoa preocupada com detalhes também. Alguns
se tornam neuróticos. Fazer tudo certinho, tudo arrumadinho, também tem isso, porque a
profissão induz a isso. (Entrevistado 14).
[...] que cambada de gente medíocre (sobre os bancários), de verdade, assim, porque
bancário, qualquer um pode ser, porque a pessoa que fica estagnada só naquilo, então
ela se deixa levar pela mediocridade. Me desculpe, mas eu sinto isso. Quando eu chego
de manhã, muitas vezes, no banco eu falo assim: Nossa o bancário qualquer um pode ser,
né? É só um pouquinho de treino. E as pessoas, eu vejo gente lá dentro que não seria
outra coisa na vida se não fosse bancário. Isso até me dá um pouco de angústia, eu falo
assim: Nossa, fulano, se não fosse o banco, heim? Qual que ia ser da vida dessa pessoa?
(Entrevistado 15).
O trabalho é percebido como um “Valor Pessoal” que freqüentemente se apresenta no
discurso dos entrevistados. Embora possa ser estressante e frustrante, o trabalho também é
fonte de orgulho e valorização, de concretização de projetos pessoais e profissionais, de poder
realizar projetos de vida e legitimar o consumo.
4.2.2. Valor Econômico
O trabalho é associado a “Valores Econômicos” por 40 entrevistados, sendo que os outros 10
102
entrevistados, em momento nenhum de suas falas, associaram a este tipo importância. Não
houve respondentes associando a “Valores Econômicos” negativos (Vide Tabela 25).
Tabela 25 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por categorização do trabalho
como Valor Econômico em seus discursos - dados coletados nas agências bancárias de
julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
O trabalho é descrito com valor econômico – positivo 40 80%
O trabalho é descrito com valor econômico – negativo 00 00%
Não citaram valores econômicos 10 20%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Ao descrever o trabalho como “Valor Econômico”, alguns se pautam em aspectos da
constituição de um patrimônio para si ou para a família, uma forma de sobrevivência.
(O trabalho) Representa uma oportunidade muito boa de eu possuir meu pé-de-meia e
buscar fazer realmente o que eu quero. (Entrevistado 05).
Outra vez, primeira coisa: subsistência, (risos). Basicamente, eu acho que quem falar
diferente não está... Eu acho que o trabalho é a primeira coisa hoje na sociedade. Hoje
seria subsistência e depois eu acho que a pessoa tem que arrumar um trabalho que ela
goste de fazer. (Entrevistado 10).
Então não sei, para mim trabalho, ele é tudo porque através dele que eu tiro o sustento
da minha família. (Entrevistado 15).
Outros associam à possibilidade realizar seus desejos de consumo.
A gente brinca, mas quando você está trabalhando é uma coisa gostosa, sua auto-estima
está lá em cima, você pode fazer as coisas que você quer, você pode estar comprando ou
você pode estar guardando, isso é bacana. (Entrevistado 07).
O meu trabalho é muito importante, necessário pelo dinheiro, pela realização de
consumo mesmo, e também para ocupar a cabeça. É bom porque a gente estuda, estuda,
e uma hora a gente quer colocar em prática o que a gente estuda. Acho que o trabalho é
importante pra isso. (Entrevistado 17).
[...] me dá prazer de trabalhar e me dá condições de ter bens materiais [...] (Entrevistado
32).
O trabalho também foi associado à liberdade e à estabilidade financeira.
(O trabalho) representa uma satisfação pessoal, representa alguns é... alguma liberdade
financeira, representa realização junto aos meus filhos. (Entrevistado 33).
[...] todas as realizações que eu tenho na minha vida. Eu sempre trabalhei, desde os 15
anos. Foi meu primeiro emprego, e meu primeiro emprego eu já juntei dinheirinho para
comprar meu primeiro aparelho de som, entendeu? Porque meu pai sempre explicou
para gente, não dependa de homem... vocês podem casar, mas não dependam de dinheiro
de homem, trabalhem para ter suas coisas entendeu? Então, desde 15 anos, eu pagava
103
meu dentista, se eu precisava ir ao médico eu pagava, eu pagava meu remédio. Eu cresci
com essa mentalidade de que eu trabalho para ter as minhas coisas, entendeu?
(Entrevistado 46).
Os entrevistados que não associaram “Valores Econômicos” ao trabalho, recorreram
principalmente a “Valores Pessoais” positivos e a “Valores Morais” positivos. O trabalho é
entendido, como algo essencial para a sobrevivência e inserção econômica na sociedade. É
uma forma de não depender de outros para sua subsistência. É o caminho para realizar os
desejos materiais e patrimoniais.
4.2.3. Valor Social
Poucos entrevistados associaram valores sociais ao trabalho, sendo que a maioria (39
bancários) não fez qualquer menção. Sete respondentes descreveram como um “Valor Social”
positivo e quatro como “Valor Social” negativo (Vide Tabela 26).
Tabela 26 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por categorização do trabalho
como Valor Social em seus discursos - dados coletados nas agências bancárias de julho a
outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
O trabalho é descrito com valor social – positivo 07 14%
O trabalho é descrito com valor social – negativo 04 08%
Não citaram valores sociais 39 78%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Ao descrever o trabalho como “Valor Social” positivo, alguns direcionaram para a
possibilidade de cumprir uma função benéfica na sociedade. Alguns associam ao fato de
serem funcionários de um banco público.
[...] eu acho que a gente, é uma fabrica de realizações. Eu não sei separar. Há dois meses
atrás, eu soltei um credito mobiliário para um senhor, mas se você vê a alegria que o
senhor ficou, a satisfação. Já era um senhor, um rapaz de sessenta anos e a primeira
casa dele com a família. Uma coisa super bacana. (Entrevistado 07).
[...] quando eu sei o que estou fazendo ali é útil, que eu mudei a vida de alguma pessoa
que sentou na minha mesa aquele dia. (Entrevistado 15).
Alguns associam ao fato de serem funcionários de um banco público e à função que a
instituição tem na sociedade, distinguindo dos demais bancos privados.
[...] por ser estatal e ter um compromisso com o Estado, isso me identifica, isso me
identifica um pouco, porque se eu estivesse num banco, vou falar o nome dum banco aqui
que eu jamais me identificaria, num tenho nem condições, (nome de outro banco), por
exemplo, (nome de outro banco) é um banco totalmente, é uma máquina de sugar pessoas
104
mesmo. É uma empresa que tem se destacado aí, para os estagiários. É uma empresa que
você, estando na faculdade, com certeza, já trabalha lá. Eles fazem do estagiário um
funcionário, não remuneram bem, logo dispensam, não têm compromisso com ele, não
têm compromisso com cliente, não têm compromisso com a sociedade, não têm
compromisso com ninguém. (Entrevistado 14).
Há os bancários que descrevem como valores positivos o status da profissão e o respeito na
sociedade.
[...] acho que trabalhar no banco te dá um pouco de status diferente, você é visto
diferente na sociedade. (Entrevistado 07).
[...] você consegue respeitar e ser respeitado, acho que hoje em dia é tudo, o trabalho
para mim, é tudo. (Entrevistado 08).
Outros afirmam que são bem vistos em termos de status pela aparência e como consumidores.
Acabam tendo que manter as aparências que são esperadas pelos outros, sendo uma
justificativa para consumir.
[...] a gente está incluído na classe média alta pela sociedade, mas, não realmente pelo
salário que a gente ganha. A gente acaba vivendo esse lado, mas para poder manter esse
status mesmo. Se eu, por exemplo, eu trabalho numa cidade pequena, eu tenho que ir de
gravata, tal, trabalhar. Se, no final de semana eu começo a andar de roupa rasgada e de
pé no chão, carro velho, essas coisas, o pessoal começa a olhar de outra forma,
entendeu? (Entrevistado 20).
[...] tem a parte legal de ser bancário, vamos supor assim, você é bem visto, vai fazer
uma compra, alguma coisa e faz muita amizade. Agora financeiramente mesmo, hoje em
dia, não é aquela coisa, que a gente tinha falado, a gente tinha comentado atrás, não é
aquela coisa mais, hoje, financeiramente, mas é bom. (Entrevistado 28).
Dentre os valores sociais negativos, o entrevistado descreve a perda do status em relação ao
passado da profissão.
Eu acho que a gente desempenha um papel muito importante e, principalmente, carrega
uma responsabilidade todos os dias. De repente a gente poderia ser um pouco mais
remunerado pela função, como era antes, porque eu te falei que antigamente bancário
tinha um papel na sociedade muito mais importante do que parece que tem hoje.
(Entrevistado 06).
Outro ponto que se percebeu em relação ao valor negativo expresso pelos entrevistados é a
perda do poder político da categoria profissional.
(A categoria profissional é) Extremamente desvalorizada, vendida, vendida. Está nas
mãos dos banqueiros, sem força política nenhuma. O máximo que nós estamos
conseguindo anualmente na negociação salarial é a reposição da inflação, certo?
Antigamente se conseguia negociações sérias. [...] mas hoje a classe bancária se vendeu
ao poder judiciário. [...] e todo mundo morre de medo de perder o emprego, porque a
quantidade de benefícios que o banqueiro ofereceu para a classe dos bancários, vem
105
tampar o sol com a peneira, no que diz respeito à defasagem salarial do mercado. Muitos
bancários ficam inseguros e amedrontados, com medo mesmo de perder seu emprego por
causa dos benefícios, não por causa do salário em si, o salário em si, não é difícil de
conseguir o mesmo equivalente no mercado, o que você perde em si, quando você sai da
classe bancária, são os benefícios, que são muito bons. Então hoje eu vejo uma classe
que ela não tem poder político, poder nenhum para negociação política. (Entrevistado
05).
Um entrevistado expressou o trabalho dentro de uma “Visão Social” negativa em função do
impacto negativo que os bancos têm na forma de atuar na sociedade, ou seja, o banco gerando
problemas sociais.
De dez pessoas que estão em bancos, nove estão porque precisam e uma está porque
gosta. Digo para você isso, hoje ainda é assim, devido a esse leão (o banqueiro) que tem
por trás, esse leão insaciável que desrespeita você, quer dizer, essa vontade de ganhar,
de ganhar, de ganhar. Ele acaba invadindo a sua privacidade, invadindo a sua vida,
invadindo o seu corpo, a sua alma para poder tomar tudo pra ele. O banqueiro,
infelizmente, ele é muito poderoso nessa parte, e não faz isso só para sociedade, ele faz
isso com, com o bancário também. É um ramo que ganhou muito, ganha muito dinheiro.
(Entrevistado 14).
Os “Valores Sociais” se polarizaram entre ter função social (positivo) e ser prejudicial à
sociedade (negativo) e o status idealizado pelos outros (positivo) e o status real enfraquecido
(negativo). A perda da força política da categoria em termos de negociação e mobilização
também se destaca.
4.2.4. Valor Moral
O trabalho foi delineado como “Valor Moral” positivo para 21 entrevistados. Não houve
quem citasse “Valores Morais” negativos associados ao trabalho e 29 bancários não
associaram esse tipo de valores ao trabalho (Vide Tabela 27).
Tabela 27 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por categorização do trabalho
como Valor Moral em seus discursos - dados coletados nas agências bancárias de julho a
outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
O trabalho possui um valor moral – positivo 21 42%
O trabalho possui um valor moral – negativo 00 00%
Não citaram valores morais 29 58%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Dentre as respostas, observou-se que o trabalho é descrito como forma de engrandecer,
dignificar ou enobrecer a pessoa.
106
Porque o trabalho acaba dignificando a pessoa, eu acho que... graças a Deus eu tenho
um trabalho hoje. Porque eu não saberia ficar... ser dona de casa, ficar em casa, eu sou
uma pessoa muito dinâmica. Hoje eu acho que o trabalho é muito importante.
(Entrevistado 01).
[...] eu acho que sem o trabalho, como diz a frase, o trabalho engrandece o homem, e eu
acho que realmente você se sente melhor trabalhando, buscando em tão pouco tempo o
que você quer, buscando um objetivo para sua vida. (Entrevistado 13).
Trabalho dignifica, você tem aquela ocupação, ficar em casa, sem fazer nada, não tem
nem como. (Entrevistado 28).
Ah, o trabalho é tudo. Ele engrandece o homem, é onde a gente consegue realizar os
sonhos, consegue realizar os sonhos dos outros, dos clientes, das outras pessoas. E a
gente vê que hoje o que acontece no Brasil, a maioria das pessoas que não tem um
trabalho, tem baixa auto-estima, não consegue fazer parte dentro da sociedade. Fica
muito aquém. Então, o trabalho tem que ser tudo, você tem que valorizar, tem que
agradecer a cada dia, cada dia que eu acordo eu agradeço pelo meu trabalho, pela
minha vida, então, acho que é muito importante na vida da gente.(Entrevistado 50).
Trabalho é ser ativo. Quem não trabalha é dondoca ou inútil.
[...] eu não sei ficar sem (trabalho), eu sou uma pessoa totalmente ativa, sou ativo para
caramba. (Entrevistado 03).
Eu não consigo me imaginar parada, não nasci para ser dondoca. Sabe aquela coisa de
ficar: ah! O que é que eu vou faze. Eu não consigo ficar parada, eu não sou workaholic,
não so. Mas o trabalho é bem aquela coisa do Lutero: o trabalho dignifica o homem, eu
acho que a gente é digno por fazer alguma coisa em prol de alguém, e só fazer essa uma
coisa já é trabalho para mim. (Entrevistado 15).
[...] eu sinto que o trabalho é vital na vida de uma pessoa, num importa o quê, porque, se
você for sobreviver, eu fico até pensando na questão da aposentadoria. Viver só de
aposentaria sem atividade profissional eu acho difícil, porque o trabalho mantém as
pessoas ocupadas, mantém a dinâmica [...] Então o trabalho é vital, não é só a questão
mesmo de remuneração, você precisa pra você se sentir útil, bastante. (Entrevistado 30).
O trabalho é... a parte da gente se sentir útil, mais útil do que a gente pode ser
normalmente, sem trabalhar, sabe? (Entrevistado 32).
Dessa forma, há uma visão de que o trabalho faz as pessoas serem melhores. O “não
trabalhar” é associado a elementos moralmente negativos, e as pessoas se sentem culpadas.
Como foi citado em outra fala, o funcionário trabalha seis ou oito horas por dia, dependendo
do cargo, e sente culpa de não trabalhar como os demais empregados de outros setores
econômicos. Trabalhar é preciso, é necessário para a construção moral do ser.
4.3. VALOR DO CONSUMO
De forma semelhante à categoria anterior, o “Valor do Consumo” procura ver, ao longo da
107
fala dos entrevistados, quais sentidos são dados a esta variável, qual a importância para o
sujeito. Para composição dessa categoria, apropriou-se da fala dos entrevistados sobre o
consumo e o consumidor. Utilizou-se os mesmos valores da categoria “Valor do Trabalho”
para analisar as falas, uma vez que se observou haver congruências. Também observou-se se
os sentidos dados eram positivos e negativos.
4.3.1. Valor Pessoal
O consumo é descrito como “Valor Pessoal” positivo para 41 entrevistados. Seis funcionários
o expuseram com valores negativos e outros três citaram valores positivos e negativos em
termos pessoais ao mesmo tempo (Vide Tabela 28).
Tabela 28 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por categorização do consumo
como Valor Pessoal em seus discursos - dados coletados nas agências bancárias de julho
a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
O consumo é descrito com valor pessoal – positivo 41 82%
O consumo é descrito com valor pessoal – negativo e positivo 03 06%
O consumo é descrito com valor pessoal – negativo 06 12%
Não citaram valores pessoais 00 00%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Como “Valor Pessoal” o consumo é associado ao prazer, à satisfação, aos desejos.
Quando eu compro esse tipo de coisa, eu sinto muito prazer, muita satisfação.
(Entrevistado 05).
[...] eu tenho prazer em comprar, eu gosto. Já minha esposa dá uma controlada. Ela diz
ainda bem que eu não tenho paixão por carro, porque se eu tivesse...estava enrolado. Eu
gosto de comprar, mas coisa para casa, sabe, estar mudando, tem um móvel ali de seis
meses, pelo amor de Deus vamos trocar ele, vamos fazer alguma coisa, o quê mais
compro é isso mesmo. Às vezes, assim pelo telefone sempre tem alguma coisinha nova.
(Entrevistado 07).
Eu sinto um prazer de estar fazendo aquela “compração”, e fazer uma boa compra,
existe um prazer nessa busca e nesse atender a necessidade. (Entrevistado 34).
Então, o consumo é aquilo que eu te falei, uma certa satisfação, ao mesmo tempo culpa, é
como se eu não consumisse... eu me sentiria infeliz. É isso, é felicidade, é momentos de
felicidade.(Entrevistado 41).
É satisfazer uma necessidade quase que fisiológica.
[...] eu sinto que eu estou satisfazendo uma necessidade minha, eu sinto prazer em
comprar, certo, é uma coisa que... aquela força mesmo que a mídia faz, que é
propaganda e tudo. E a gente acaba envolvendo, tanto que vejo uma TV, dessas de trinta
108
e tantas polegadas, TV de plasma, então acho legal. Meu próximo passo vai ser comprar
uma televisão decente, só que eu vou esperar abaixar o preço. Não vou comprar uma de
doze mil, (risos) já está em três novecentos noventa, então estou esperando chegar um
pouquinho mais... (Entrevistado 12).
[...] eu tenho assim uma tara por produtos eletro-eletrônicos, notebook, computador,
som, isso daí. [...] num sei uma sensação de realização. (Entrevistado 22).
O consumo é descrito como uma forma de compensação pessoal pelo desgaste provocado
pelo trabalho ou pelo trabalho bem feito.
[...] uma sensação boa, poder comprar, de ver o quê que o dinheiro está trazendo de bom
para gente. É um resultado do trabalho, quem trabalha muito, pode gastar o dinheiro que
ganha.[...] Eu já percebi que em momentos que a gente está mais fragilizada, é o
momento que a gente quer comprar, parece que para provar alguma coisa. Eu, eu tenho
muitas fases assim, às vezes eu fico um mês sem comprar nada, porque eu não quero,
porque eu não preciso, e, de repente, eu estou num lugar e resolvo comprar um monte de
coisas, que, na verdade, eu também não preciso. Falar que é por necessidade na verdade
não é, o que a gente tem dá para gente trabalhar, roupa, sapato, mas tem horas que
parece que é por prazer mesmo, de vez em quando acontece. (Entrevistado 06).
[...] eu procuro sempre comprar muito o que eu preciso. Noventa por cento o que eu
preciso, e dez por cento a gente extrapola. Ah, mas não precisava ter um negócio assim,
mas é um prazer que eu me dou por trabalhar muito. Eu faço muito bem feito o que eu
faço, então acho que eu mereço ser ter um negócio legal. (Entrevistado 12).
Gosto (de comprar), me satisfaz bem, comprando, me tira da depressão. (Entrevistado
24).
O consumo seria a contrapartida do trabalho. De um lado eu trabalho, eu transpiro, eu
busco realizar pessoas, realizar oportunidades como fornecedor e outro lado eu também
curto aquele... é um complemento do trabalho. (Entrevistado 27).
Em termos negativos, alguns descrevem como um vício que é incontrolável e, às vezes,
perigoso. Outras vezes é descrito como uma angústia.
O consumo para mim? Para mim é um negócio até meio complicado, porque eu acho que
eu sou altamente consumista. Assim, no que gosto é até perigoso isso, o consumo, por
exemplo, sei, eu tenho vinte sapatos, para quê? Porque eu vou querer vinte e um, dois. Eu
vou lá e compro, vinte e um. Bijuteria, eu tenho um milhão de bijuterias, para quê? Eu
vou lá, então... Assim, ultimamente até eu tenho trabalhado a minha cabeça. Antes eu
comprava, às vezes para agradar uma pessoa, ou, às vezes mesmo para ter aquilo ali,
hoje, eu já estou pensando duas vezes. Eu já estou conseguindo falar não, não eu já
tenho, para quê que eu vou querer mais um? Eu, para mim é complicado, porque eu sou
consumista. (Entrevistado 24).
O consumo, às vezes, representa para mim uma angústia, porque a gente vive num
mundo que é muito consumista. E aí é uma grande questão que eu trago para mim é se eu
estou consumindo aquilo que é necessário para minha vida, para minha família ou para
as outras pessoas. (Entrevistado 31).
[...] eu acho o consumo um perigo, porque a pessoa pode ficar doente por causa das
109
coisas. (Entrevistado 42).
Mas é algo que precisa ser controlado e dominado para não tomar conta do indivíduo. E esse
controle advém da experiência em ver as pessoas se endividando excessivamente. O contato
com o cliente cria esta consciência a respeito do consumo.
Então, hoje, para mudar um pouco minha vida, eu coloquei algumas perguntas, primeiro
“eu preciso?” Se eu falar que eu preciso eu passo para outra pergunta “eu posso?” Se
eu barrar nessa “eu posso?” aí eu tenho que voltar no “eu preciso”, mas gente, vale a
pena fazer um financiamento? Vale a pena eu me endividar por isso? Não, então, eu não
compro. Então, eu acho que as pessoas, a maioria hoje, pensam assim, não, eu quero,
mas não sabem se precisam. [...] Mas acho que eu estou tentando mudar um pouco, dá
para mudar, dá. Se eu quero realmente, não vou ficar sofrendo por isso não.
(Entrevistado 08).
É uma coisa muito séria, você tem que saber levar, senão, você acaba extrapolando. Eu
sou uma pessoa extremamente controlada e eu consigo levar essa parte do consumo
numa boa. (Entrevistado 01).
Consumo é fuga, na maioria das vezes, no meu caso, foi fuga e eu tento me controlar hoje
em dia. Mas ele é necessário. Bem dosado, bem trabalhado. A gente não pode sair
comprando tudo que vem pela frente. Até porque depois vem o vazio de pensar
(Entrevistado 15).
É, não sou consumista, tenho muito controle financeiro (risos) e só consumo em extrema
necessidade, mesmo gostando de consumir, só em extrema necessidade.(Entrevistado 49).
O consumo é entendido como bom desde que seja dosado e controlado. É uma linha tênue que
você deve seguir entre o prazer e o vício, entre a satisfação e as conseqüências financeiras.
4.3.2. Valor Econômico
Dos 50 bancários entrevistados, 41 associaram o consumo a “Valores Econômicos” positivos
e apenas nove não associaram a variável a este valor. A Tabela 29 detalha estas informações.
Tabela 29 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por categorização do consumo
como Valor Econômico em seus discursos - dados coletados nas agências bancárias de
julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
O consumo é descrito com valor econômico – positivo 41 82%
O consumo é descrito com valor econômico – negativo 00 00%
Não citaram valores econômicos 09 18%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Enquanto “Valor Econômico”, o consumo, em geral, sai da associação direta com o
entrevistado e passa a ser visto como algo macro-social. Ou seja, o consumo e o consumidor
110
não são descritos economicamente como uma variável atrelada a ele, sujeito, mas ao contexto
em que está. Neste sentido, o consumo e o consumidor são expressos como as variáveis que
fazem com que a economia se mova, algo essencial para que as coisas existam, tais como
emprego, empresas, trabalhadores, salário. Acaba sendo descrito como algo que determina a
existência dele como trabalhador. E isso é descrito tanto na ação de consumir, quanto na
pessoa do consumidor.
[...] se não tiver consumo não existe nada. (Entrevistado 17).
Eu acho que é a base do capitalismo. Se não tiver o consumidor ali, não vai ter, vamos
supor, não vai precisar de um banco para emprestar o dinheiro, não vai ter que dar um
cheque, pagar um cartão de crédito, não vai precisar é... pode fazer camiseta branca e
calça azul para todo mundo que vai ser que nem Cuba, vai ser tudo igual. (Entrevistado
02).
O consumidor é quem movimenta o mercado. O consumidor é quem determina as regras,
é o cliente, é o consumidor, ele determina as regras. Ele tem as limitações dele, ele tem
que seguir algumas regras, porque não é o fato dele determinar o mercado, que ele faz o
que bem entender, existem regras de bom censo a serem seguidas. (Entrevistado 04).
O consumidor é tudo que a empresa precisa. E é um barco em que se sabe que existem
pessoas de tudo quanto é tipo. Aquele que compra para aliviar estresse, para esbanjar,
para ostentar, quem é compulsivo, então, sem o consumidor não há o comércio. Não há
empresas para vender produtos ou implantar seu serviços, o consumir é essencial para a
vida econômica do país, até porque cria o dinamismo do país. (Entrevistado 30).
O consumidor é o caminho para atingir o sucesso econômico e conseguir os objetivos da vida.
Na minha vida, na minha profissão, representa o meu ganha-pão, entendeu, na minha
profissão, eu tento atender bem os meus clientes, os meus consumidores, porque se eles
não consumirem o meu produto, eu não vou conseguir atingir o meu objetivo e daí por
diante, que eu não vou conseguir atingir o objetivo do banco e, por fim, eu posso correr o
risco de perder meu emprego e posso não conseguir atingir o meu objetivo de vida.
(Entrevistado 20).
Em alguns casos, o consumidor é descrito quase que como um produto, uma matéria-prima de
“Valor Econômico” para o bancário.
Uma carteira de clientes hoje, ela vale muito mais do que qualquer outra lista de
prospecção de clientes. (Entrevistado 05).
[...] eu gosto de comprar tudo, acho que sou melhor assim, o melhor que uma loja pode
ter, meu namorado fala isso, eu adoro comprar... (Entrevistado 18).
O cliente, ele é, como costumo dizer, é o maior patrimônio que tem no
banco.(Entrevistado 22).
Esclarece-se que, por trás do que possa parecer extremamente óbvio nas falas dos
111
entrevistados, da fala sobre a importância do consumo e do consumidor, deve-se entender que
há um processo de assimilação de valores muito evidente sobre uma sociedade em que o
consumo se torna o grande elemento central, que faz girar tudo e todos.
4.3.3. Valor Social
Dez entrevistados valeram-se de “Valores Sociais” positivos e apenas um descreveu como
“Valor Social” negativo ao falar sobre o consumo. Os demais entrevistados não citaram
“Valores Sociais” atrelados ao consumo (Vide Tabela 30).
Tabela 30 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por categorização do consumo
como Valor Social em seus discursos - dados coletados nas agências bancárias de julho a
outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
O consumo é descrito com valor social – positivo 10 20%
O consumo é descrito com valor social – negativo 01 02%
Não citaram valores sociais 39 78%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
O consumidor é descrito como possuidor de um poder de determinar regras, um ser que
possui direitos. Trata-se de um poder social, um poder político.
(Ser consumidor é) eu exigir meus direitos [...] eu tenho as minhas obrigações como
consumidor, mas eu tenho os meus direitos como consumidor. Então eu vejo o
consumidor... ser consumidor não é só comprar, ser consumidor é você comprar, é ditar
as regras do mercado, as leis. E o consumidor, ele é quem movimenta o mercado. O
consumidor é quem determina as regras, é o cliente, é o consumidor, ele determina as
regras. (Entrevistado 04).
É procurar uma coisa que te faz falta, exercendo teu direito de ser bem atendido,
sabendo seu dever de atender com cortesia. (Entrevistado 15).
O consumo também é associado a um processo de transformação cultural, associado à
conscientização do indivíduo.
[...] a questão da cultura do consumidor, que está cada vez mais exigente, mas isso é
fruto de um processo muito maior, que é a conscientização. E também de mecanismos de
defesa do consumidor, vem mudando a cultura de se ganhar dinheiro no financeiro.
(Entrevistado 47).
O consumidor é alguém que tem uma necessidade, alguém que precisa ser ajudado. Ao
atender suas necessidades, está-se cumprindo uma função social.
Ele várias vezes, vários momentos, o bancário é quase um psicólogo do cliente, é um
112
confessionário que o cliente chega, às vezes humildemente, semi-desnudado, vamos dizer
assim, a ponto de abrir o coração e “Estou precisando de dinheiro, estou numa situação
e tal.” Esse trabalho que eu acho muito digno e tem que ter muita serenidade para fazê-
lo, para atender a demanda da pessoa chegar, que é mais a cultura, os mais antigos,
tomar dinheiro emprestado era uma coisa assim, ruim à moda antiga. (Entrevistado 27).
[...] esse relacionamento nosso com o cliente, você acaba sabendo, você acaba sendo um
psicólogo do cliente. Você acaba sabendo, então de muitas coisas do cliente, o cliente
desabafa com você[...] (Entrevistado 03).
A única associação negativa em termos sociais foi feita em relação aos impactos do consumo
sobre o futuro do planeta.
Consumidor ele é chave para qualquer economia. E ele é chave também para
sustentabilidade do planeta se você for pensar por aí, para ver hoje, o consumidor, se ele
não tem consciência do que ele consome, ele vai estar, cada vez mais, consumindo coisas
que vão impactar relações futuras. Porque hoje a gente percebe que a maioria das
empresas ainda não se preocupa com a sustentabilidade. (Entrevistado 31).
As associações com valores sociais foram muito tênues, mesmo ao longo do discurso dos
entrevistados como um todo.
4.3.4. Valor Moral
Apenas três funcionários citaram “Valores Morais” positivos associados ao consumo. Outros
13 entrevistados citaram “Valores Morais” negativos. Os demais 34 entrevistados não citaram
“Valores Morais”. A Tabela 31 detalha tais informações.
Tabela 31 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por categorização do consumo
como Valor Moral em seus discursos - dados coletados nas agências bancárias de julho a
outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
O consumo possui um valor moral – positivo 03 06%
O consumo possui um valor moral – negativo 13 26%
Não citaram valores morais 34 68%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
O consumo é visto moralmente como elemento negativo, associado a um processo de culpa.
Até você prometer que isso é sigiloso, eh... no meu processo depressivo, eu adquiri
compulsão por compras. [...] Primeiro eu sinto..., alegria, parece que dá aquele
entusiasmo, depois dá um sentimento de culpa terrível.(Entrevistado 15).
O consumo é supérfluo, é comprar em excesso, o que não tem necessidade, e isso é visto
como moralmente errado.
113
Eu acho que está meio conturbado hoje em dia. Acho que as pessoas são muito
consumistas... ela quer consumir, consumir... e não pára. E eu acho assim... tem que
consumir o que você precisa. [...]Então hoje o mundo está muito consumista. Para onde
vai? E o resultando está aí. O que está acontecendo, cada dia, as pessoas mais
estressadas, cada dia trabalhando mais e não sabe para quê, consumindo não sabe o quê
e sorte daqueles que se desprendem um pouco desse consumismo, acho que o grande
estresse da população é o consumismo totalmente errado. (Entrevistado 08).
[...] de uma foram geral significa alguma coisa supérflua. A gente vê o primeiro passo
do consumidor é estar consumindo o que não tem necessidade. (Entrevistado 20).
[...] se você for ver a moda antiga, ainda você tinha um vestido no fim de semana, você
tinha um sapato e aquilo estava bom. Agora, o ser consumidor hoje é comprar em
excesso. Até um filho seu mesmo, às vezes, seu filho fala assim, “mãe eu quero um
celular”, aí você fala assim, “meu filho você não tem necessidade disso”, aí ele fala
assim, “mas todos os colegas meus têm”. (Entrevistado 23).
Chega, às vezes, ser descrito de forma pecaminosa, mas interessantemente, como valor
positivo.
Ser consumidor é bom. É falar uma necessidade, às vezes, é... sem precisar [...] uma
realização pessoal, ego, vaidade, orgulho ou para, até, atender as coisas básicas da vida
[...] conforto, entra a luxúria, vai ostentação [...] (Entrevistado 30).
O consumo é um antagonismo de valores.
Um mal necessário, o consumo é o lubrificante para engrenagem que está rodando aqui.
Esse consumo produz mais consumo. É um mal necessário. (Entrevistado 38).
O consumo, ele é um bem necessário. Sem ele a gente também não tem como sobreviver,
mas a gente nota que o consumo exagerado para algumas pessoas acaba trazendo
transtornos para ele no futuro. (Entrevistado 26).
Ao pronunciar que o consumo é “um bem necessário” o entrevistado, inconscientemente,
expressou duas faces do consumo em sua fala. É um produto necessário que o indivíduo
precisa possuir e é um bem que faz para si, para seu ego.
O consumo demonstra ser não só a garantia de subsistência/sobrevivência, mas de prazer, de
liberdade, de plenitude dos direitos, de se sentir completo. O consumo é entendido ainda
como algo que precisa ser controlado ou curado, uma doença para alguns uma droga viciante
para outros. É um bom pecado.
4.4. SER TRABALHADOR
A análise dos discursos dos bancários permitiu identificar 29 definições do que é “Ser
Trabalhador” em suas concepções. Foram consideradas todas as definições citadas por mais
114
de um bancário. A Tabela 32 exibe a quantidade de bancários que citou cada uma das
definições. É importante compreender que cada definição pode ter sua antítese, ou frase
negativa, como igualmente definidora da categoria analisada. Por exemplo, o 2º item da
Tabela 32 se vale da assertiva “Ser parceiro ou companheiro dos colegas bancários” que pode
ser expressa por alguns bancários como “não ser parceiro ou companheiro”. O que foi
considerado é que se o entrevistado vê os outros bancários como “não ser parceiros ou
companheiros”, mas expressa de forma recriminatória, negando o jeito como se comportam
seus colegas, sendo, portanto, interpretado como negação da negação, ou simplesmente,
afirmação. Isso porque o próprio respondente se vê como parceiro ou companheiro em
contraposição aos demais.
O importante para esta pesquisa é que nas definições do “Ser Trabalhador” aparecem diversas
citações de consumo e consumidor como referência para que o respondente descreva esta
categoria. O “cliente/consumidor” (1º item da Tabela 32) apareceu explicitamente na
definição de 30 entrevistados, associado a diversas possíveis ações, sendo que em vários casos
tais palavras foram utilizadas mais de uma vez pelo mesmo respondente. Neste sentido, o “Ser
Trabalhador” se define pela relação de consumo estabelecida em sua atividade profissional.
Destaca-se que em nenhuma das questões utilizadas para a análise desta categoria utilizou-se
perguntas que estão associadas ao consumidor ou ao consumo.
Eu acho que são atividades diferentes, um pouco diferentes. Por exemplo, quando eu
estou consumindo, eu mudo de posição e quando eu estou trabalhando, eu estou
atendendo alguém que vai consumir alguma coisa, então... [...] é esses dois lados. Não
sei se poderia dizer que... existe identificação entre busca e procura, mas eu acho que
são dois lados um de busca e um de procura. (Entrevistado 34).
Outro ponto importante é que 11 entrevistados (12º item da Tabela 32) estabelecem uma
relação direta entre o “Ser Trabalhador” e o “Ser Consumidor”. Tal vínculo mostra que suas
experiências como consumidores ajudam a desenhar suas referências como trabalhadores. De
forma análoga, foi possível perceber uma interligação entre o “Ser Trabalhador” e o “Ser
Consumidor” por meio da definição “Ser mais exigente” (16º item da Tabela 32), sendo que a
expressão é comum nas duas categorias, como será visto.
Eu como consumidor eu sou muito exigente. É... eu num aceito erros, gosto das coisas
bem feitas, se eu vou comprar alguma, se vou consumir alguma coisa e essa coisa está
com defeito, num chego a reclamar no PROCON. Mas eu volto na empresa, eu reclamo.
Só que, por outro lado, eu vejo se, às vezes, foi coisa mínima, também eu deixo passar,
entendeu? Mas eu acho que, como consumidor, eu sou muito exigente.[...] (Como
trabalhador, eu) sou exigente comigo mesmo. E eu fico sempre me cobrando, num
115
deixo..., num gosto de fazer coisa errada, quando acontece uma coisa errada fico
chateado, mas procuro corrigir, só que aí já fiquei chateado, você se abala um pouco,
então eu sou muito exigente, nesse ponto entendeu? (Entrevistado 20).
[...] eu sou até mais exigente trabalhando do que como consumidor, acho que eu exijo
mais de mim trabalhando do que com questão de consumo, quando eu vou comprar
alguma coisa, nesse sentido. (Entrevistado 28).
O “Ser trabalhador” também se define a partir de se conseguir “Satisfazer o outro” (19º item
da Tabela 32), que no caso é o consumidor.
(Ser bancário) hoje você tem que estar, cada vez mais, deixando o seu cliente satisfeito
com os seus produtos para que ele seja bem atendido e não vá procurar concorrente para
ele estar atuando. (Entrevistado 26).
Outro ponto importante utilizado para a definição do “Ser Trabalhador” é o “Poder consumir”
(22º item da Tabela 32). O “Ser Trabalhador” que permite ação do consumo.
O trabalhador ele é um consumidor em potencial, porque a pessoa trabalha para
conseguir uma renda, para conseguir uma coisa para se tornar um consumidor de outros
estabelecimentos ou talvez do próprio onde trabalha. (Entrevistado 19).
116
Tabela 32 - Quantidade de respondentes por tipo de citação na categoria de análise “Ser
Trabalhador” - dados coletados nas agências bancárias de julho a outubro de 2007
O que é ser trabalhador para o bancário Quantidade Freqüência
1. Realizar ações diretamente associadas ao cliente/consumidor 30 60%
2. Ser parceiro ou companheiro dos colegas bancários 25 50%
3. Lidar com pessoas e estabelecer relacionamentos 24 48%
4. Realizar atendimentos 18 36%
5. Não ser unido ou coeso 17 34%
6. Ser honesto, responsável, direito 16 32%
7. Lidar com dinheiro 16 32%
8. Ser competitivo/lidar com concorrência com colegas bancários 16 32%
9. Trabalhar sob pressão ou estresse 14 28%
10. Gostar do que faz 13 26%
11. Vender 12 24%
12. Tratar os clientes como gostaria de ser tratado 11 22%
13. Ter status ou ser importante 11 22%
14. Lidar com metas e resultados 10 20%
15. Ser mais qualificado 9 18%
16. Ser mais exigente 9 18%
17. Ser metódico, rotineiro/trabalhar como se fosse uma máquina 8 16%
18. Ser profissional 7 14%
19. Satisfazer o outro 7 14%
20. Ter comprometimento ou dedicação 7 14%
21. Ter medo 6 12%
22. Poder consumir 6 12%
23. Ser valorizado 5 10%
24. Ter desejo e volição 5 10%
25. Ser consultor 4 8%
26. Ajudar os outros 4 8%
27. Realizar-se 3 6%
28. Ter menor remuneração 3 6%
29. Ser psicólogo 2 4%
Fonte: Dados de pesquisa
Nota: Em destaque as definições que foram escolhidas como relevantes para o tema da pesquisa e que
são analisadas em maior profundidade.
O Quadro 5 detalha analiticamente as definições dos bancários em três espectros diferentes.
No primeiro espectro, que se situa na segunda coluna do quadro, classifica-se a resposta pelo
que ela está associada. As associações foram classificadas de acordo com as próprias falas.
Encontrou-se seis tipos de associações:
Papel social que o entrevistado desempenha: as respostas desta classificação estão
associadas ao fato de que “Ser Trabalhador” corresponde a uma função ou papel
em uma determinada relação social. Podem ser entendidas de forma que o “Ser
Trabalhador” resulta em um papel social específico.
Descrição de características da categoria profissional: estão enquadradas as frases
que descrevem os bancários coletivamente. Tais respostas permitem ver não só
117
como são vistos entre si, mas como são vistos pela sociedade na perspectiva
coletiva.
Descrição de como o trabalho é executado: descreve operacionalmente o que é
feito pelo bancário no seu processo produtivo. Trata-se da execução cotidiana do
trabalho como forma de definir o “Ser Trabalhador”.
Forma de atuação profissional: descreve características comportamentais do “Ser
Trabalhador”, que são definidas pela profissão.
Sentimentos associados à atividade profissional: delineiam sentimentos citados
como atrelados ao “Ser Trabalhador”, característicos da profissão.
No segundo espectro de análise, terceira coluna do quadro, descreve-se qual referência é
predominantemente utilizada para as definições feitas pelos respondentes. Encontrou-se cinco
principais referências para tais definições:
O colega de trabalho: o entrevistado utiliza os demais bancários de sua
organização banco para definir o que é “Ser Trabalhador”;
Outras profissões: o respondente se vale da comparação da sua profissão com as
demais em geral (não específicas) para estabelecer as definições;
Profissão no passado: o bancário utiliza a comparação a sua própria profissão no
passado para definir o que é “Ser Trabalhador” no contexto atual;
O Cliente: a principal referência utilizada para definir o “Ser Trabalhador” é
aquele que irá usufruir o trabalho bancário;
Eu em contexto de consumo: a vivência do entrevistado como consumidor serve de
referência para definir o “Ser Trabalhador”.
No terceiro, última coluna, classifica se a referência predominante é utilizada em dois
possíveis sentidos:
Igualdade: o respondente estabelece que “Ser Trabalhador” é semelhante ou igual à
referência utilizada para estabelecer a descrição.
118
Diferença: o respondente vale-se do argumento de que a referência utilizada é
diferente ao “Ser Trabalhador”. Neste sentido, a negação da referência define o
que é o “Ser”.
Quadro 5 - Quadro de análise das respostas dos bancários para a categoria “Ser
Trabalhador”
O que é ser trabalhador para o
bancário
Classificação da
resposta
Referência predominante
utilizada para estabelecer
a Identidade
Forma predominante
de estabelecer a
Identidade
1. Realizar ações diretamente
associadas ao cliente/consumidor
Papel social
Cliente
(outro-consumidor)
Diferença
2. Ser parceiro ou companheiro
Descrição da categoria
profissional
Colega de trabalho
(outro-trabalhador)
Igualdade
3. Lidar com pessoas e estabelecer
relacionamentos
Descrição do trabalho
Outras profissões
(outro-trabalhador)
Diferença
4. Realizar atendimentos Descrição do trabalho
Outras profissões
(outro-trabalhador)
Diferença
5. Não ser unido ou coeso
Descrição da categoria
profissional
Profissão no passado
(outro–trabalhador)
Diferença
6. Ser honesto, responsável, direito
Forma de atuação
profissional
Outras profissões
(outro-trabalhador)
Diferença
7. Lidar com dinheiro Descrição do trabalho
Outras profissões
(outro-trabalhador)
Diferença
8. Ser competitivo ou lidar com
concorrência com colegas bancários
Descrição da categoria
profissional
Profissão no passado
(outro-trabalhador)
Diferença
9. Trabalhar sob pressão/estresse
Sentimento associado à
atividade profissional
Profissão no passado
(eu/outro-trabalhador)
Diferença
10. Gostar do que faz
Jeito de ser do
profissional
Colega de trabalho
(outro-trabalhador)
Diferença
11. Vender Descrição do trabalho
Outras profissões
(outro-trabalhador)
Diferença
12. Tratar os clientes como gostaria
de ser tratado
Forma de atuação
profissional
Eu em outra situação
(eu-consumidor)
Igualdade
13. Ter status ou ser importante
Descrição da categoria
profissional
Profissão no passado
(eu/outro-trabalhador)
Diferença
14. Lidar com metas e resultados Descrição do trabalho
Outras profissões
(outro-trabalhador)
Diferença
15. Ser mais qualificado
Jeito de ser do
profissional
Profissão no passado
(outro-trabalhador)
Diferença
16. Ser mais exigente
Forma de atuação
profissional
Eu em outro contexto
(eu-consumidor)
Igualdade
17. Ser metódico, rotineiro ou
trabalhar como se fosse uma máquina
Forma de atuação
profissional
(outro-trabalhador)
Outras profissões
Diferença
18. Ser profissional
Forma de atuação
profissional
(outro-trabalhador)
Colega de trabalho
Diferença
19. Satisfazer o outro
Sentimento associado à
atividade profissional
Eu em outro contexto
(eu-consumidor)
Igualdade
20. Comprometimento dedicação
Forma de atuação
profissional
Colega de trabalho
(outro-trabalhador)
Diferença
21. Ter medo
Sentimento associado à
atividade profissional
Profissão no passado
(outro-trabalhador)
Diferença
22. Poder consumir Papel social
Outras profissões
(outro-trabalhador)
Igualdade
23. Ser valorizado
Descrição da categoria
profissional
Outras profissões
(outro-trabalhador)
Diferença
119
O que é ser trabalhador para o
bancário
Classificação da
resposta
Referência predominante
utilizada para estabelecer
a Identidade
Forma predominante
de estabelecer a
Identidade
24. Ter desejo e volição
Jeito de ser do
profissional
Colega de trabalho
(outro-trabalhador)
Diferença
25. Ser consultor Descrição do trabalho
Outras profissões
(outro-trabalhador)
Igualdade
26. Ajudar os outros Papel social
O outro na relação de
produção (eu-consumidor)
Diferença
27. Realizar-se
Sentimento associado à
atividade profissional
Colega de trabalho
(outro-trabalhador)
Diferença
28. Ter menor remuneração
Descrição da categoria
profissional
Profissão no passado
(outro-trabalhador)
Diferença
29. Ser psicólogo Descrição do trabalho
Outras profissões
(outro-trabalhador)
Igualdade
Fonte: Dados de pesquisa
Nota: Em destaque as definições que foram escolhidas como relevantes para o tema da pesquisa e que
são analisadas em maior profundidade.
Os três espectros de análise permitem compreender como as definições explicam o “Ser
Trabalhador”. Na definição “Realizar ações diretamente associadas ao cliente/consumidor”
(1º item do Quadro 5), o “Ser Trabalhador” é o que ocupa o papel social diferente do
consumidor/cliente. Ou seja, “Ser Trabalhador” é definido por estar, em termos de papéis
sociais, em situações opostas. É a oposição de papéis com o consumidor que o define como
ser bancário.
A descrição “Tratar os clientes como gostaria de ser tratado” (12º item do Quadro 5),
estabelece um sentido de Igualdade com a situação de “Ser consumidor”, na forma como o
profissional atua. Em outras palavras, “Ser Trabalhador” estabelece um paralelo, em termos
do resultado de sua atuação profissional, entre o eu-trabalhador e o eu-consumidor. Neste
sentido, sua forma de atuar depende de suas expectativas e experiências como consumidor
para que tais igualdades possam ser estabelecidas.
O 16º item do Quadro 5, “Ser mais exigente” funciona de forma análoga à descrição citada
anteriormente. O respondente estabelece um padrão de igualdade com ele mesmo como
consumidor, em termos da forma como atua profissionalmente. É como se o “Ser
Trabalhador” se definisse como “Ser mais exigente” à medida que sua experiência como
consumidor também o tornou mais exigente, e vice-versa.
(Como bancário, eu sou) exigente, acho que do jeito que eu gosto de passar uma clareza
para o consumidor na minha frente, eu também quero essa clareza e confiança.
(Entrevistado 08).
Hoje, eu sou muito exigente, muito, mas muito extremo. Até sou rotulado aí pela minha
120
filha, minha mulher, isso não precisava fazer isso, releva, mas acho que são assim em
relação aquilo que eu sou cobrado e aquilo que eu presto de serviço, eu dou o máximo de
mim, eu procuro a satisfação completa mesmo... (Entrevistado 16).
Eu sou muito exigente, muito exigente, porque a gente trabalha recendo muita cobrança.
Eu passei a ser inteligente com tudo, tudo que eu vou comprar. Sempre sou exigente,
sempre vou querer procurar, pesquisar, vou querer o melhor. (Entrevistado 17).
Eu como consumidor, eu sou exigente. Eu gosto de ser bem atendido. Tem algumas
coisas que se a gente não sabe fazer e pede explicação... eu gosto de ser bem explicado.
Eu acho que a gente faz isso no trabalho, a gente acaba exigindo isso em retorno. Eu
pesquiso bastante preço. Acho que hoje é uma coisa que a gente tem bastante diferença
de preço nos lugares que você vai. E eu gosto de consumir muito da minha cidade, acho
que para valorizar o lugar que eu moro. [...] Como bancário eu sou, acho que exigente
até comigo mesmo no atendimento ao meu público, que como eu exijo também. Eu como
consumidor, ele por outro, como consumidor, eu tenho que estar atendendo todas as
necessidades dele, e tento fazer o máximo. Eu dou o meu máximo dentro da minha parte
profissional. (Entrevistado 26).
“Satisfazer o outro” (19º item do Quadro 5) é uma descrição que o entrevistado estabelece
uma referência de igualdade com o sentimento que tem quando está na posição de eu-
consumidor. Mais uma vez, suas experiências como consumidor definem seu “Ser
Trabalhador”.
Então, quando eu estou trabalhando, a forma que o banco faz com que a gente trabalhe,
a gente tem sempre que deixar a pessoa satisfeita. Só que como consumidora, eu vejo que
sempre não é assim. O que eu quero, o que eu preciso, tanto faz, só mais uma ali. Sem dá
muita importância para o que eu preciso. (Entrevistado 17).
O “Ser Consumidor” também é associado ao “Ser Trabalhador” por meio da descrição “Poder
Consumir” (22º item do Quadro 5). A referência utilizada são os trabalhadores de uma forma
geral e o entrevistado estabelece uma relação de igualdade, no sentido de que o acesso ao
papel social de consumidor só é permitido a quem trabalha. Ser igual aos outros trabalhadores
é ter acesso ao consumo, é poder “Ser consumidor”.
A análise das entrevistas mostrou que a construção do “Ser Trabalhador” estabelece relações
mais complexas de igualdade e/ou diferença entre o eu-trabalhador e: a) o outro trabalhador
(no passado, colega de banco, ou demais profissões); b) o eu-consumidor e; c) o outro-
consumidor (Vide Quadro 6). Com isso, percebe-se que há influência da vivência como
consumidor e da convivência com consumidores, na definição desta categoria de análise,
segundo a fala dos entrevistados.
Em alguns casos, também foi possível observar que a definição do “Ser Trabalhador” é
construída estabelecendo uma relação de distinção entre os bancários do interior e os
121
bancários da capital. Os bancários da capital são mencionados como mais mobilizados em
termos sindicais, podendo ser considerada como uma especificação geográfica da referência
eu-trabalhador. Entretanto, apenas um entrevistado mencionou tal questão, podendo se
configurar como uma visão particular sobre o fato, até que novos estudos sejam realizados.
Quadro 6 - Quadro de análise das referências encontradas para descrever o “Ser
Trabalhador”
Forma de estabelecer a
relação
Referências Especificação da Referência
Eu trabalhador No passado
Outro trabalhador No passado
= Outro trabalhador Colega de banco
Outro trabalhador Colega de banco
= Outro trabalhador Outras profissões
Outro trabalhador Outras profissões
= Eu consumidor Fora do banco
Eu consumidor Fora do banco
= Outro consumidor Cliente do banco
Ser Trabalhador
Outro consumidor Cliente do banco
Fonte: Análise dos dados
4.5. SER CONSUMIDOR
Para a categoria “Ser Consumidor”, encontrou-se 19 definições ao longo dos discursos que
foram citadas por mais de um respondente (Vide Tabela 33). Da mesma forma que na
categoria de análise anterior, algumas definições podem ter antíteses ou frases negativas.
Dentro da análise desta pesquisa, são trabalhadas em maior profundidade, as definições do
“Ser Consumidor” que possuem relação estreita como o “Ser Trabalhador”. A definição “Ser
exigente” (1º item da Tabela 33) foi citada por 19 entrevistados e está relacionada à categoria
“Ser Trabalhador”, na medida em que foi igualmente citada naquela categoria e pelo fato de
que houve conexões entre as duas definições pelos respondentes.
Como trabalhador talvez eu não consiga exigir a mesma coisa que eu exijo como
consumidor. Como eu falei antes, às vezes eu sou obrigado a tomar algumas atitudes, às
vezes o sistema acaba me jogando numa situação, que se eu fosse consumidor não
chegaria a isso. Então eu acho que como consumidor você pode dar o grito, porque é
você atrás do seu direito, você tem esse direito[...] (Entrevistado 08).
Eu, quando eu era só consumidora, talvez eu fosse, eu num tratava com falta de cortesia,
eu acho que eu nunca tratei ninguém. Mas o fato de trabalhar do lado de cá, no
122
backoffice, isso me torna uma consumidora melhor, mais noção do que é dever e do que é
direito. A maioria das pessoas não consegue fazer esse gancho, porque não vivenciou os
dois lados, então trabalhar no banco, está ali na linha de tiro, que é bem isso mesmo, ele
me faz perceber o outro lado, que é o lado do consumidor, que ele me faz um consumidor
melhor. (Entrevistado 15).
Acho que eu sou até mais exigente trabalhando do que como consumidor, acho que eu
exijo mais de mim trabalhando do que com questão de consumo, quando eu vou comprar
alguma coisa, nesse sentido. (Entrevistado 28).
Eu sou exigente, muito exigente. [...] Muito exigente no resultado. (Entrevistado 29).
Esta última entrevistada, ao ser perguntada se o consumidor afeta na definição de quem ela é,
fez uma conexão entre o consumidor ser exigente e ela ser exigente.
Ah, eu acho que sim (o consumidor a define). Nessa visão eu acho que sim. Eu acho que
todo mundo, nesse ponto, se torna exigente nessas coisas. (Entrevistado 29).
Outra definição que foi muito citada é “Ser controlado ou criterioso na hora de consumir” (2º
item da Tabela 33), com 18 respondentes. A ligação dessa definição com o “Ser Trabalhador”
advém do fato de que o bancário lida com pessoas endividadas, que chegaram a tal situação
por extrapolar os limites de sua condição financeira.
Porque a gente como bancária, têm muitas pessoas que você vê que não têm controle. A
maioria dos casos, que vai nos bancos são pessoas que não têm controle, e não são
pessoas que têm planejamento, sem planejamento mesmo. E são pessoas que vão
consumindo, se endividando, não conhece mesmo os procedimentos bancários, a forma
de trabalhar com cartão de crédito, a forma de fazer que seja um leasing, um empréstimo
pessoal, as pessoas não entendem, e as pessoas estão cada vez mais se endividando, se
enrolando. (Entrevistado 46).
A definição do “Ser Consumidor” como “Ser hostil, brigar, xingar ou nervoso na hora de
consumir” (4º item da Tabela 33), com 15 respondentes, é sempre descrita na condição de
trabalhador que sofre a agressão. Entretanto, a vivência com esse tipo de situação cria
paralelos no eu-trabalhador e no eu-consumidor.
[...] eu como trabalhador eu não sou agressivo, e como consumidor eu também não sou
agressivo, eu caio na coluna do meio em ambas as partes, eu acho que seria isso.
(Entrevistado 05).
[...] tem aquele cliente que chega achando que... ele pega todos os problemas dele, que
ele tem em casa, que ele tem no serviço dele, que ele tem... que ele xingou o guarda na
rua, que ele tomou uma multa de trânsito, que o cara buzinou atrás dele, ele traz para
dentro do banco, senta na mesa e descarrega tudo em você. Aí você tem que saber filtrar
todos esses tipos de clientes: o cliente que chega te xingando, você deixa entrar num
ouvido e sair pelo outro, atende ele bem, para ver se quando ele chegar em casa ele põe
a cabeça no lugar e não faz mais aquilo. (Entrevistado 02).
123
Existe a pessoa sem informação, que a pessoa que vai buscar informação e tem o tirano,
o cliente, que a gente brinca que tem a tirania do consumidor. Se você olha para ele e
piscar o olho, ele liga pro PROCON. Então, eu vejo dois clientes, o cliente que precisa
de ajuda e o cliente inimigo. (Entrevistado 15).
Para nove dos entrevistados, a condição de existência do “Ser Trabalhador” é determinada
pelo “Ser Consumidor” (10º item da Tabela 33).
Hoje quem dita as regras é o cliente. Então a gente tem que prever o cliente, tem que ver
o cliente, como o seguinte: é ele que vai determinar se eu vou trabalhar nesse ramo mais
algum tempo ou não. A gente vê muita coisa aqui... (Entrevistado 04).
[...] mas os clientes que a gente tem reclamação, são poucos. Têm muitos que ficam
quietos, calados, então a gente leva em conta aquele que reclama. Na verdade os outros
são a grande maioria, eu acho que nós dependemos deles para existir. (Entrevistado 44).
Enquanto que o “Ser Trabalhador” se estressa, o “Ser Consumidor” pode “Desestressar” (16º
item da Tabela 33). Os três entrevistados que citaram, expressam como forma de compensar
pelo trabalho.
[...] então realmente é um trabalho estressante e é uma coisa... você trabalha com
dinheiro e com pessoas, que são duas coisas bem complicadas. Mexeu no bolso da
pessoa [...] O consumo, às vezes, me dá um pouquinho, uma relaxada. Às vezes, você está
meio... tem um dia estressado, daí você chega e fala: puxa hoje eu mereço alguma coisa.
Entro na Internet e compro uma pequena lembrançinha. Mas eu gosto, gosto sim de
consumir. (Entrevistado 07).
[...] você tem que ter alguma coisa para você, para tirar o seu estresse, para você, então
você tendo uma necessidade não sendo doença, sendo consumo, eu acho que você tem
uma necessidade de consumir além daquilo da sua necessidade, não que aquilo, não seja
fútil. (Entrevistado 25).
“Ser Consumidor” é “Ter sempre razão” para dois entrevistados. E ter razão em relação
àquele que está do outro lado do processo de consumo-produção. O entrevistado vale-se do
ditado para se expressar.
[...] tem aquele ditado que o cliente sempre tem a razão (Entrevistado 44).
Outro paralelo que é estabelecido entre as duas categorias de análise, “Ser Trabalhador e “Ser
Consumidor”, é a procura de reciprocidade no relacionamento social que se estabelece na
situação de consumo e produção. Ao expressar que quer “Ser tratado como trata” (29º item da
Tabela 33), ele está fazendo uma transposição entre o eu-trabalhador e o eu-consumidor.
Eu vejo que quando eu vou a algum lugar como consumidora, eu quero ter um
tratamento da mesma forma que eu trato os meus clientes aqui dentro (do nome do
banco), que é com respeito, com educação e querendo atender aquelas necessidades,
aqueles desejos. (Entrevistado 33).
124
Eu tento não ser diferente então, por exemplo, é tratar as pessoas como eu gostaria que
fossem tratadas, então se eu chego em um lugar, gostaria que as pessoas fossem
atendidas como eu atendo as pessoas. (Entrevistado 36).
Tabela 33 - Quantidade de respondentes por tipo de citação na categoria de análise “Ser
Consumidor” - dados coletados nas agências bancárias de julho a outubro de 2007
O que é ser consumidor para o bancário Quantidade Freqüência
1. Ser exigente 19 38%
2. Ser controlado ou criterioso na hora de comprar 18 36%
3. Ser compulsivo ou impulsivo na hora de consumir 15 30%
4. Ser hostil, brigar, xingar ou nervoso na hora de consumir 15 30%
5. Se sentir importante ou ter poder na hora de consumir 14 28%
6. Consumir está ligado a uma necessidade 13 26%
7. Gostar de comprar 12 24%
8. Sentir prazer, felicidade ou satisfação 11 22%
9. Ser consumista 10 20%
10. Determinar o “Ser Trabalhador” 9 18%
11. Comprar mais do precisa 9 18%
12. Gostar de qualidade e preço 7 14%
13. Ser mais esclarecido e consciente hoje 7 14%
14. Pesquisar 5 10%
15. Ser diferente 5 10%
16. Desestressar 3 9%
17. Ser racional na hora de consumir 2 4%
18. Ter sempre a razão 2 4%
19. Ser tratado como trata 2 4%
Fonte: Dados de pesquisa
Nota: Em destaque as definições que foram escolhidas como relevantes para o tema da pesquisa e que
são analisadas em maior profundidade.
O Quadro 7 analisa as definições dos bancários nos mesmos espectros que a categoria de
análise anterior. Entretanto, as associações são distintas. Em termos de classificação das
respostas, segunda coluna do quadro, encontrou-se seis tipos distintos:
Forma de atuação como consumidor: que descreve o comportamento do consumidor
segundo as definições dos próprios entrevistados.
Papel social que o consumidor desempenha: são os papéis que o “Ser Consumidor”
desempenha no contexto social na relação com os outros. As definições que expressam
o “Ser Consumidor” no contexto social, na relação com os outros indivíduos.
Característica do consumidor: apenas uma definição se enquadrou nesta associação
ligada à descrição do consumidor em si.
Função do consumo: são as definições que descrevem o porquê consumir.
125
Preferências de consumo: definem as expectativas que o entrevistado tem como
consumidor.
Sentimento em relação ao consumo: são ligadas ao que sente o entrevistado ao
consumir e que são definidoras do “Ser Consumidor” na concepção dos entrevistados.
Os demais espectros de análise foram semelhantes aos utilizados na categoria anterior.
Quadro 7 - Quadro de análise das respostas dos bancários para a categoria “Ser
Trabalhador”
O que é ser consumidor para
o bancário
Classificação da
resposta
Referência predominante
utilizada para estabelecer
a Identidade
Forma predominante
de estabelecer a
Identidade
1. Ser exigente
Forma de atuação como
consumidor
outro-consumidor Igualdade
2. Ser controlado ou criterioso
na hora de comprar
Forma de atuação como
consumidor
outro-consumidor Diferença
3. Ser compulsivo ou impulsivo
na hora de consumir
Forma de atuação como
consumidor
outro-consumidor Diferença
4. Ser hostil, brigar, xingar ou
ser nervoso na hora de consumir
Forma de atuação como
consumidor
outro-consumidor Diferença
5. Se sentir importante ou ter
poder na hora de consumir
Papel social outro-consumidor Igualdade
6. Consumir está ligado a uma
necessidade
Função do consumo outro-consumidor Diferença
7. Gostar de comprar
Sentimento em relação ao
consumo
outro-consumidor Diferença
8. Sentir prazer, felicidade ou
satisfação
Sentimento em relação ao
consumo
Não determinado* Não determinado*
9. Ser consumista
Forma de atuação como
consumidor
outro-consumidor Diferença
10. Determinar o Ser
Trabalhador
Papel social outro-trabalhador Diferença
11. Comprar mais do precisa
Forma de atuação como
consumidor
outro-consumidor Diferença
12. Gostar de qualidade e preço Preferências de consumo outro-consumidor Igualdade
13. Ser mais esclarecido e
consciente hoje
Característica do
consumidor
outro-consumidor Diferença
14. Pesquisar
Forma de atuação como
consumidor
outro-consumidor Diferença
15. Ser diferente Papel social outro-consumidor Diferença
16. Desestressar Função do consumo eu-trabalhador Diferença
17. Ser racional na hora de
consumir
Forma de atuação como
consumidor
outro-consumidor Diferença
18. Ter sempre a razão Papel social outro-trabalhador Diferença
19. Ser tratado como trata Preferências de consumo eu-trabalhador Igualdade
Fonte: Dados de pesquisa
Nota: Em destaque as definições que foram escolhidas como relevantes para o tema da pesquisa e que
são analisadas em maior profundidade. Os itens assinalados com asterisco não foram determinados
porque os discursos ora não mencionavam ora descreviam referências distintas, não havendo
predominância.
126
Na definição “Ser exigente” (1º item do Quadro 7), o entrevistado estabelece uma relação de
igualdade entre o eu-consumidor e o outro-consumidor em termos da forma como atua. A
definição “Ser exigente” foi utilizada de forma enfática ao definirem o “Ser Consumidor” e o
“Ser Trabalhador”. Ou seja, há associações entre o ser exigente como consumidor e a
atividade laboral.
Os respondentes utilizam a definição “Ser controlado ou criterioso na hora de comprar” (2º
item do Quadro 7) no sentido de estabelecer uma diferença com os outros-consumidores com
quem convivem em termos da forma como consomem, principalmente no contexto bancário.
A experiência de conviver com endividados os faz mais controlados.
Também é estabelecida uma diferença com o outro-consumidor na forma de atuação como
consumidor ao utilizarem a definição “Ser hostil, brigar, xingar ou ser nervoso na hora de
consumir” (4º item do Quadro 7). A convivência com a hostilidade os faz pronunciar que não
são agressivos como consumidores, que são diferentes, pois entendem que não deveriam ser
agredidos, pois trata-se de uma injustiça por parte do consumidor.
Ao citar elementos que configurem como “Determinar o Ser Trabalhador” (10º item do
Quadro 7), o respondente estabelece uma diferença de papel social em relação ao outro-
trabalhador, de forma que um só exista na dependência do outro.
O eu-consumidor se distingue do eu-trabalhador na definição “Desestressar” (16º item do
Quadro 7) em termos da função do consumo para o entrevistado. O “Ser Consumidor”
desestressa em relação ou em compensação ao “Ser Trabalhador”.
Em termos de papel social, o eu-consumidor vai “Ter sempre a razão” em relação ao outro-
trabalhador, estabelecendo, neste sentido, as diferenças. Os dois estão em lados opostos em
relação à “razão”.
No 19º item do Quadro 7, “Ser tratado como trata”, o entrevistado expressa sua preferência de
consumo interligando o seu eu-consumidor com o eu-trabalhador. É interessante associar a
definição do “Ser Trabalhador” como “Tratar como gostaria de ser tratado”.
A análise desta categoria mostrou que há associações diretas entre o “Ser Consumidor” e o
“Ser trabalhador” na concepção dos entrevistados. Além disso, tais associações estão ligadas
ao movimento de valorização do consumo e do consumidor no contexto atual. Frases como “o
127
cliente tem sempre razão”, “o cliente é tudo para a empresa”, “quem paga meu salário é o
cliente” denotam a presença deste contexto.
4.6. ELEMENTOS DE EXPRESSÃO DA IDENTIDADE SOCIAL
Esta categoria procura avaliar quais elementos discursivos os entrevistados utilizam para
exprimir sua Identidade Social. Neste sentido, são avaliadas as referências que o entrevistado
usa para falar de si para os outros e os processos de identificações com os elementos desta
pesquisa.
Para as referências que utiliza para falar si, utilizou-se uma questão que solicita que ele
mostre como se apresenta no ambiente social (contexto externo) em que convive e uma
questão que solicita que ele expresse como se apresentaria para um membro de sua família
mais próximo (contexto familiar íntimo).
Na primeira questão, detalhada pela Tabela 34, que trata do contexto externo, a referência
mais utilizada para que o entrevistado se apresente socialmente é “A organização em que
trabalha” com 28 respondentes. O bancário expressa, em muitos casos, que é conhecido com o
sobrenome associado ao nome da organização.
(Nome do entrevistado) do (Nome do banco). Eu me identifico muito com o meu nome e
sobrenome. (Entrevistado 03).
Ela me dá identidade, com certeza. Eu diria que às vezes hoje o meu sobrenome é (Nome
do Banco). (Entrevistado 27).
Sou o (Nome do entrevistado) do (Nome do banco), normalmente a gente se define assim,
o banco passou a ser o sobrenome da gente. (Entrevistado 12).
No que eu trabalho, eu costumo brincar que eu tenho nome, (Nome do entrevistado) e
sobrenome (Nome do banco). (Entrevistado 47).
(Nome do entrevistado), gerente do (Nome do banco), ou (Nome do entrevistado) do
(Nome do banco). Sou bastante conhecido como (Nome do entrevistado) do (Nome do
banco). (Entrevistado 48).
Outros elementos bastante utilizados pelos entrevistados para se identificar são suas
“Características pessoais”, com 12 bancários citando tais elementos. Tais características
envolvem, traços físicos, comportamentos, sentimentos e emoções que são sui generis à
pessoa respondente. A família foi a terceira mais citada como referência social,
compreendendo sete entrevistados. As demais referências foram citadas individualmente,
128
tendo destaque que apenas um citou a categoria profissional como referência.
Tabela 34 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta
“Quando as pessoas perguntam quem é você, o que utiliza como referência para explicar
quem é?” - dados coletados nas agências bancárias de julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
A organização em que trabalha 28 56%
Características pessoais 12 24%
A família 07 14%
Categoria profissional dos bancários 01 02%
Curso de formação no ensino superior 01 02%
Atividades extra-trabalho 01 02%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Na segunda questão, que fala do contexto familiar íntimo, cujos dados estão tabulados na
Tabela 35, a referência mais citada é que o entrevistado “Fala o nome da organização em que
trabalha” com 17 respondentes. Outros 15 trabalhadores se referenciaram como bancários
para seus filhos. Oito entrevistados descrevem o trabalho que executa no cotidiano e três
falam do resultado social do seu trabalho.
Tabela 35 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “O que
você diz para seu filho sobre quem você é e o que você faz?” - dados coletados nas
agências bancárias de julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Fala o nome da organização em que trabalha 17 34%
Fala que é bancário 15 30%
Descreve o trabalho que executa 08 16%
Fala do resultado social do seu trabalho 03 06%
Fala o curso superior em que se formou 02 04%
Outras respostas associadas ao trabalho 03 06%
Outras respostas não-associadas ao trabalho 02 04%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Analisando as duas questões em conjunto, percebe-se que a organização é utilizada como
referência para 38 entrevistados, sendo que sete respondentes utilizam duplamente, no
contexto externo e no contexto familiar íntimo. Dentre os 50 bancários pesquisados, 48 em
algum momento fazem uma referência ou ao trabalho, ou à organização ou à categoria
profissional, sendo que em diversos casos tais elementos são citados mais de uma vez pelo
mesmo respondente. Neste sentido, apenas 02 entrevistados não fazem qualquer menção a
aspectos ligados ao trabalho como referência de si mesmo. A Tabela 36 detalha essas
informações.
129
Tabela 36 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por “Referências mais citadas
nas questões de Identidade” - dados coletados nas agências bancárias de julho a outubro
de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Fala o nome da organização em que trabalha ou para os filhos ou para
alguém na rua
38 76%
Fala o nome da organização em que trabalha para os filhos e para
alguém na rua
07 14%
Fala que é bancário ou para os filhos ou para alguém na rua 16 32%
Fazem menção a aspectos diretamente associados ao trabalho como
referência para sua Identidade
48 96%
Não fazem qualquer menção do trabalho como referência para sua
Identidade
02 04%
Fonte: Dados de pesquisa
4.6.1. Expressão da Identidade, identificação e trabalho
No que diz respeito aos processos de expressão da Identidade e de identificação, procurou-se
compreender se esses aconteciam em relação ao trabalho, em relação à categoria profissional
e em relação à organização.
Quando questionados sobre o trabalho, entre os entrevistados, a grande maioria (47
respondentes) se identifica com sua atividade laboral e três bancários apenas responderam que
não se identificam (Vide Tabela 37). Os que responderam que não se identificam não deram
motivos específicos para sua resposta, entretanto, sabe-se, em comentários após a finalização
das entrevistas, que todos possuem projetos pessoais associados a outro tipo de profissão que
já estão em andamento.
Tabela 37 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Você se
identifica com seu trabalho?” - dados coletados nas agências bancárias de julho a
outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Sim 47 94%
Não 03 06%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Quando questionados se o trabalho afeta na definição de quem eles são (Vide Tabela 38), 48
entrevistados afirmaram que sim e apenas dois que não. Um dos que afirmaram que não,
acredita que é preciso manter uma certa personalidade, independente do trabalho. Entretanto,
reconhece que o trabalho mudou o seu jeito de ser. O outro entrevistado nada mencionou
130
sobre o assunto.
Não, não. Ele me ajuda porque graças ao meu trabalho eu tenho posturas, assim que, de
repente, se eu não trabalhasse, eu não teria. Eu acho que o trabalho me ensinou muita
coisa, até na parte de buscar ser uma pessoa mais decidida, uma pessoa que busca ideais
e tudo mais. Eu acho que o trabalho me ajuda muito na tomada de decisões, porque você
acaba assumindo determinada postura do teu lado pessoal. Também é importante você se
manter, vamos colocar assim, você tem uma personalidade do lado pessoal, manter
aquela personalidade, entendeu? Eu acho que é importante. (Entrevistado 01).
Tabela 38 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Você
acha que o trabalho afeta na definição de quem é você?”- dados coletados nas agências
bancárias de julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Sim 48 96%
Não 02 04%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Ao se analisar de forma cruzada a identificação com o trabalho e o fato de o trabalho definir
quem ele é, observa-se que 45 entrevistados expressaram respostas afirmativas para as duas
questões. Nenhum entrevistado deu dupla resposta negativa para as questões.
Quadro 8 - Quadro de análise da expressão da Identidade associada ao trabalho
Identifica com o trabalho
O trabalho afeta na definição de quem ele é
Sim
Não
Sim 45 2
Não 3 0
Fonte: o autor
Avaliando as respostas sobre o que eles gostariam de mudar em seus trabalhos, 18
entrevistados propuseram sugestões que podem ser configuradas como “A forma de gestão da
empresa” e 16 descreveram melhorias sobre “O processo de trabalho” (Vide Tabela 39).
Um detalhe interessante é que o entrevistado que afirmou que “mudaria de trabalho” acredita
que o trabalho afeta na definição de quem ele é, entretanto, não se identifica com ele. O
entrevistado se vale de uma concepção moral para explicar como o trabalho o define e,
mesmo fazendo algo com o qual não se identifica, entende a importância da atividade em
termos de responsabilidade social.
Eu não consigo me imaginar parada, não nasci para ser dondoca. Sabe aquela coisa de
ficar: ah! O que é que eu vou fazer. Eu não consigo ficar parada, eu não sou workaholic,
não sou. Mas o trabalho é bem aquela coisa do Lutero: o trabalho dignifica o homem. Eu
131
acho que a gente é digno por fazer alguma coisa em prol de alguém, e só fazer essa uma
coisa já é trabalho para mim. Então não sei, para mim trabalho, ele é tudo porque
através dele que eu tiro o sustento da minha família. Se (o nome do marido) não
trabalhasse também? A gente precisa do nosso trabalho para sobreviver, o trabalho faz a
gente se sentir completo, dia após dia. (O trabalho) faz a gente crescer como pessoa
assim..., aquela responsabilidade de estar ali a serviço. Ele te gera internamente uma
sensação de responsabilidade que te move, ela que te faz levantar todo dia. Não é como
responsabilidade do ponto negativo não, é a responsabilidade de você ser importante
naquilo que você faz, da tua presença ali ser importante. (Entrevistado 15).
Outro entrevistado exemplificou-se como extremamente afetado pelo trabalho, tanto em
termos da identificação quanto de quem ele é.
Eu não vou em casa almoçar, e eu devo isso ao (nome do banco). De uma época, onde eu
me dispus a trabalhar um pouco mais, e eu esticava o meu horário de almoço de onze
para meio dia. Depois de meio dia eu não consegui sair às uma, de uma para duas, de
duas para marmita, até que eu cancelei a marmita, e hoje eu me adeqüei a essa situação.
Eu não sinto fome, eu não tenho úlcera, eu até me examino pra ver se essa é uma
situação normal, as pessoas me criticam, mas isso é o meu dia-a-dia. (Entrevistado 47).
Tabela 39 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “O que
gostaria de mudar em seu trabalho?”- dados coletados nas agências bancárias de julho a
outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
A forma de gestão da empresa 18 36%
O processo de trabalho 16 32%
Não mudaria nada 05 10%
As pessoas 04 08%
Recursos disponíveis 03 06%
Gostaria de mudar o seu próprio jeito de ser 02 04%
O contexto bancário 01 02%
Mudaria de trabalho 01 02%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
4.6.2. Expressão da Identidade, identificação e categoria profissional
Em termos da categoria profissional, 37 bancários afirmam que se identificam com ela (Vide
Tabela 40). Outros 13 afirmam que não se identificam com a categoria. A não identificação
com a categoria foi principalmente associada à forma como acontecem as manifestações
sindicais. Mesmo entre os que se identificam com a categoria, houve entrevistados que a
descrevem como desunida.
132
Tabela 40 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Você se
identifica com a categoria profissional dos bancários?”- dados coletados nas agências
bancárias de julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Sim 37 74%
Não 13 26%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Quando questionados se sentiam bancários, quase a totalidade dos entrevistados afirmou que
sim, com 42 respostas (Vide Tabela 41). A associação com a categoria foi mais citada do que
quando foram questionados sobre a identificação com ela.
Tabela 41 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Você se
sente bancário?” - dados coletados nas agências bancárias de julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Sim 42 84%
Não 08 16%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Analisando as questões sobre a identificação com a categoria e se sentir bancário, percebe-se
que 33 respondentes se identificam e se sentem bancários (Quadro 9). Os que se sentem
bancários, mas não se identificam com a categoria (9 entrevistados) afirmam que o sindicato
não os representa, sentem que os bancários não são unidos ou querem se diferenciar da
maioria dos bancários.
A gente vai faz a carteirinha desconta um valor pequeno da gente por mês, mas é só no
caso de você sair da empresa mesmo, que você tem o advogado para estar assinando,
porque eu acho que o sindicato nosso, o que ele faz pra gente é praticamente nada, é um
cabidão de emprego mesmo, para quem queria se afastar da empresa que foi lá ficar
enroscado no sindicato. (Entrevistado 02).
[...] porque eu vejo muito... eu vejo muita gente assim, sabe, sem boa vontade para
poder... eu não identifico (com a categoria profissional), então me considero bancário,
sou bancário, mas eu acho que assim eu... eu procuro cada vez mais diferenciar meu
serviço. (Entrevistado 03).
Eu falo que a gente é desunido, mas, eu mesmo... tem uma reunião, eu acabo não indo.
[...] Mas acho que não une mesmo, não vai. Quando tem uma manifestação aqui é meia
dúzia. Eu acho que a gente é assim, meio disperso mesmo. Devia ter um pouquinho mais
de união, trocar mais informações, sabe. Acho que isso num... acho que falta isso mesmo.
É estranho mesmo, você trabalha numa cidade que não é tão grande e você às vezes não
conhece um companheiro que trabalha ali num banco ao lado [...] (Entrevistado 07).
Quatro entrevistados não se sentem bancários, mas se identificam com a categoria. Dois
destes entrevistados possuem outra atividade profissional, concomitantemente. Outros quatro
133
respondentes não se identificam e não se sentem bancários. Interessante relatar que nos
comentários finais da pesquisa, dois destes bancários confessaram abertamente o desejo de
abandonar imediatamente a profissão, sendo que um deles concretizou tal vontade um mês
depois da entrevista e o outro começou a constituir uma profissão paralela. Embora um
entrevistado se sinta bancário e se identifique com a categoria, ele descreve que o bancário
não sabe ser outra coisa e o trabalho do banco como algo não palpável.
Eu ouvi uma vez de um colega aqui, ele falou assim... já até saiu do banco – a pessoa que
é bancária, o bancário, ele só sabe ser bancário, ele não sabe... a pessoa que trabalha
numa indústria... o administrador que trabalha em banco ele só sabe ser bancário, a
pessoa que trabalha numa indústria, ele tem uma visão maior do mercado, porque
indústria, você pode trabalhar numa indústria metalúrgica, uma indústria de confecção,
ele... é administração industrial. Então, às vezes, como é que eu vou explicar, o bancário
só faz isso, mas o quê que o bancário faz?[...] Olha, aqui a gente não tem nada palpável.
Eu acho que o banco ele não produz. Ele não gera produção de bens. (Entrevistado 04).
Outro bancário relata a condição efêmera de ser bancário relacionada ao contexto atual de
transformações.
Só que o bancário hoje em dia, ele não é bancário, ele está bancário, porque a gente
nunca sabe o dia de amanhã, por melhor que você vai empenhando o seu papel sempre
pode acontecer de haver cortes. [...] Então a gente está nessa, a gente nunca sabe o dia
de amanhã o quê que é ser bancário. Antigamente, quando eu entrei no banco, eu tinha
dezesseis anos, bancário era... você falava: “Eu sou bancário” você estava com a vida
feita e se for ver é um período curto dez anos... Então a gente nunca sabe o dia de
amanhã. Eu, no momento, eu estou satisfeito com a profissão, só que eu não almejo isso
para o resto da minha vida, eu pretendo formar... deixa eu ver se o chefe não está
olhando... – formar e procurar uma outra coisa. (Entrevistado 02).
Quadro 9 - Quadro de análise da expressão da Identidade associada à categoria
profissional
Identifica com a categoria
Se sente bancário
Sim
Não
Sim 33 4
Não 9 4
Fonte: o autor
4.6.3. Expressão da Identidade, identificação e organização
A grande maioria dos bancários que participaram da pesquisa (44 respondentes) estabelece
uma relação de identificação com a organização em detrimento à condição de ser bancário.
Ou seja, preferem ser da organização em outra profissão a continuar sendo bancário em outra
instituição. Tais informações reforçam a idéia de que a organização estabelece a referência
134
para o indivíduo mais presente do que o trabalho em si ou a categoria profissional (Vide
Tabela 42). Um dos entrevistados afirma que prefere a organização e que, se sair dela, não
volta para este setor, ou seja, procura outro tipo de emprego. O entrevistado relata ainda o fato
de que há bancários que “pulam” de banco em banco.
Prefiro trabalhar no banco em outra função. Eu, se eu sair do banco hoje, eu não
procuro serviço em outro banco, eu não me vejo em outro banco. Talvez porque eu falo
assim: “Deu o que tinha que dar”, porque banco para mim é tudo igual. Talvez um tenha
mais um pouco de pressão, o outro menos pressão, mas a instituição, o sistema é o
mesmo, o que muda é o tratamento, o funcionário, o cliente. Isso aí, acho que não... é a
cara do banco é o relacionamento com o cliente, mas eu me vejo dentro do banco na
outra profissão, na mesma profissão em outro banco não, como às vezes que têm essas
pessoas, que pulam, pulam, pulam... (Entrevistado 08).
Três funcionários preferem continuar sendo bancários em outra instituição e três expressam
que depende da função no banco. Os que preferem continuar como bancários não deram
motivos específicos e os que afirmaram depende da função, associaram a questões financeiras
e ao tipo de tarefa a ser executada.
Tabela 42 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Entre
trabalhar como bancário em outra organização (diferente da que trabalha atualmente) e
trabalhar no banco em outra profissão (não sendo bancário), em qual situação você se
identifica mais?”- dados coletados nas agências bancárias de julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Continuar na organização em outra profissão 44 88%
Continuar sendo bancário em outra organização 03 06%
Depende da função a ser desempenhada 03 06%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Para 40 entrevistados a organização afeta na definição de quem ele é, sendo que dez
acreditam que não (Vide Tabela 43). Para os que relatam que o banco define quem ele é, as
justificativas são diversificadas. Para alguns, o discurso ou a política de responsabilidade
social da instituição afetou diretamente o seu ser.
Mudou porque assim eu sempre fui uma pessoa muito preocupada com qualidade de vida
de meus funcionários, e eu procurava fazer muito fazer isso em outros bancos. Só que
não era preocupação desses bancos, e eu não via essa preocupação, como eu vejo aqui
no (Nome do banco). O (Nome do banco) realmente está muito preocupado, então está
muito eh... alinhado com o meu pensamento. (Entrevistado 12).
Outro afirma que o banco define seus diversos “seres”.
Eu acho que ela define quem são os (Nome do entrevistado no plural). Eu acho que ela
tem uns patamares, quer dizer, os (Nome do entrevistado no plural) hoje para (o Nome
135
do banco), para mim, são aqueles que estão entrando, que estão começando a ter uma
base de aprendizagem. (Entrevistado 34).
Há os que afirmam que são comportamentalmente diferentes, como duas identidades em
paralelo.
Eu costumo dizer que (no Nome do Banco) eu sou muito mais, vamos dizer assim,
expansivo do que na minha vida privada, acho que final de semana, você... às vezes você
está cansado de falar tanto que você se reserva um momento de silêncio, um momento de
mais calma, mas no trabalho não tem esse... (Entrevistado 37).
Se o bancário não for quem o banco quer que ele seja, deixa de ser bancário.
O banco estabelece aquilo que eu devo fazer. Ele já tem uma função pré-definida, no
caso de agente de atendimento, eu tenho que ter certos requisitos, eu tenho que me
enquadrar, se eu não me enquadrar nele, estou fora, outra pessoa vem e ocupa, então o
banco define sim quem ele quer que eu seja. (Entrevistado 43).
Os entrevistados que responderam que o banco não os define descrevem diversos elementos
para justificar a resposta. Um dos entrevistados explica que o banco não é a única opção para
sua vida.
Eu acho que muitas coisas na minha vida eu consegui, ou eu deixei de conseguir através
do banco, mas o banco não é a minha vida. Eu acho que se amanhã eu sou demitido, não
sei se talvez a pergunta chega por esse lado, mas se amanhã eu for demitido, eu não vou
ficar morrendo, falar assim: “Não, o banco era a única coisa que eu sabia fazer, porque
o banco é a minha vida”. Gosto do que eu faço, procuro fazer o melhor de mim, mas se
não deu certo, é porque ao meu redor não quiseram, vamos dizer assim, eu faço o que
posso e o que não posso, mas se não deu certo é porque não dependeu de mim mais.
(Entrevistado 08).
Outro entrevistado expressa que foi preciso entrar em um confronto com a organização para
manter seu ponto de vista e, por isso, a organização não conseguiu moldá-lo.
Eu já tive atrito até com (o Nome do banco), por eu defender, não interesses meus, mas
interesses que eu julgava correto. Então, (o Nome do banco) não me moldou, por isso
que eu tenho vários atritos e eu acho que se eu pudesse, eu não seria um bancário hoje,
eu não trabalharia (no Nome do Banco), justamente por causa disso, porque eu entrei
em atrito com algumas coisas (do Nome do Banco), e por ninguém me apresentar uma
razão de eu estar errado, não tem como uma pessoa falar que eu estou errado, porque eu
procuro... A consciência minha que me leva. Eu acredito que (o Nome do Banco) não
conseguiu moldar. Seria até bom se ela conseguisse me melhorar, mas se eu aceitar tudo
o que (o Nome do Banco) impõe ou faz, eu estaria pior, a gente também. (Entrevistado
25).
136
Tabela 43 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “O
banco afeta na definição de quem você é?” - dados coletados nas agências bancárias de
julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Sim 40 80%
Não 10 20%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Analisando-se as questões de forma conjunta, observa-se que dentre os 50 entrevistados, 36 se
posicionam como permanecendo na organização, sendo que a organização afeta na definição
de quem ele é. Oito entrevistados priorizam a organização, mas não acham que ela afeta na
definição de quem ele é (Vide Quadro 10).
Quadro 10 - Quadro de análise da expressão da Identidade associada à organização
Ser bancário X Ser da organização
O banco afeta na definição de quem ele é
Sim Não
Bancário 2 1
Organização 36 8
Depende da função 2 1
Fonte: o autor
Observa-se que a maioria dos entrevistados, ao descreverem os elementos de identificação
com a organização, delineiam questões associadas à visão de importância social e gestão
responsável por parte da empresa. Dentre os 50 participantes da pesquisa, 30 citam que o
“Discurso/política de responsabilidade social”, a “Função social da empresa” e a “Política de
relacionamento responsável com o cliente que a empresa adota” são os elementos de
identificação. Isso mostra que a identificação está acontecendo com a imagem positiva que a
organização quer transparecer (Vide Tabela 44).
Tabela 44 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Com
quais aspectos da organização você se identifica?”- dados coletados nas agências
bancárias de julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Discurso/ política de responsabilidade social 14 28%
Função social da empresa 10 20%
Políticas e práticas de Gestão de Pessoas que a empresa adota 10 20%
Características e elementos associados à execução do trabalho 10 20%
Política de relacionamento responsável com o cliente que a empresa
adota
06 12%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
A Tabela 45 mostra que, para 29 entrevistados, a organização possui uma importância
137
econômica, entendendo-a como uma fonte de obter salários e benefícios.
O (nome do banco), hoje, foi tudo para mim, porque graças a ele eu consegui terminar a
minha faculdade, e me manter financeiramente, ter a minha casa, ter o meu carro. Essa
parte que a gente geralmente coloca como um sonho na vida da pessoa, conquista de
alguma coisa, graças ao (nome do banco), eu consegui. Então, eu vejo que basicamente
tudo para mim[...] (Entrevistado 01).
Os 16 entrevistados que descrevem o banco na perspectiva da importância pessoal, afirmam
que ele permite crescer e aprender coisas novas.
Bom, o banco tem muita importância na minha vida, porque eu aprendi muito com o
banco. Eu viajei muito, eu tive oportunidade de conhecer muitas pessoas, muitos lugares,
muitas cidades, oportunidade de ser transferido para cinco ou seis cidades. (Entrevistado
12).
Muita importância, primeiro porque você lidando com as pessoas, você aprende muito e
a gente, você vê situações no dia a dia que te ensinam, que te mostram, muitas vezes ali
na frente. Você vai ter mais facilidade de tomar uma determina decisão em função de
tudo que a gente aprende aqui. (Entrevistado 22).
Outros quatro descrevem como importância profissional, o primeiro emprego que conseguiu.
(Nome do banco) foi um primeiro emprego, é o meu único emprego. Foi uma
oportunidade que apareceu na minha vida, quando eu acabei de formar. (Entrevistado
44).
Ele tem uma grande importância, nele que eu estou conseguindo me realizar
profissionalmente, estou conseguindo meu desenvolvimento pessoal. E então ele está
tendo uma grande participação assim na minha vida atualmente. (Entrevistado 45).
Como importância social, o entrevistado descreve a função que o banco tem em termos
sociais, sente que faz parte de uma coisa que tem relevância social.
Eu não sabia que ela era do tamanho que ela é não, é um absurdo a quantidade de
contas abertas, a quantidade de pontos de venda atendendo, a quantidade de benefícios
sociais que ela promove é uma coisa fantástica. (Entrevistado 34).
Tabela 45 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Qual é
a importância que a organização tem na sua vida?”- dados coletados nas agências
bancárias de julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Importância em aspectos econômicos 29 58%
Importância em aspectos pessoais 16 32%
Importância em aspectos profissionais 04 08%
Importância em aspectos sociais 01 02%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
138
4.6.4. Expressão da Identidade, identificação e consumo
No que tange às questões associadas ao consumo, dentre os entrevistados, 40 bancários
afirmaram que gostam de realizar compras e 10 não gostam (Vide Tabela 46). Ao descrever
as compras, alguns descrevem como forma de compensação.
É prazeroso. Quando você sai do banco para dar uma relaxada, você vai ali na loja
compra uma calça, uma blusa e um sapato... ah, é muito gostoso. (Entrevistado 09).
[...] parece que você é recompensado de alguma forma por, vamos supor assim, um dia
de trabalho, alguma coisa assim, você passou apertado, você vai lá compra alguma
coisinha... (Entrevistado 13).
Comprar é a contrapartida do trabalho, uma forma de recompensar pelo esforço, pela
dedicação ao serviço, pelo estresse dos dias de trabalho.
Eu sinto que é uma realização de transformar o meu trabalho em algo concreto, que
dizer eu, no meu caso da compra, é uma compra específica para deixar a família com um
conforto e bonito. (Entrevistado 14).
Eu acho que é retorno do teu trabalho. Tem assim, antes, quando eu era solteira, era
mais, agora a gente controla mais, mas assim, quando eu era solteira, eu falava que a
recompensa do trabalho, daquela dedicação é você poder sair e comprar. Tinha dia que
estava muito estressada com o trabalho, deixa eu ir comprar alguma coisa, para me
satisfazer, para ter um retorno do que a gente fica batalhando. (Entrevistado 36).
Tabela 46 Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Gosta de
fazer compras?” - dados coletados nas agências bancárias de julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Sim 40 80%
Não 10 20%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Depois de analisar os discursos dos entrevistados, foram separadas as respostas sobre sua
opinião como consumidores e sua relação com o consumo. Organizou-se as falas em três
classificações:
Consumistas: nesta classificação foram colocados os entrevistados que se declararam
expressamente como consumistas ou que manifestaram opiniões no sentido de que
“adoram fazer compras”, “é um prazer comprar”, “gosto de gastar em compras” dentre
outras expressões similares.
Moderados: aqueles que compram, mas sempre expressam como controlados,
planejando. Não mostraram entusiasmo ao responder sobre o assunto.
139
Não consumistas: aqueles que declaram expressamente que não gostam de comprar.
Ressalta-se que esta classificação é apenas convencional, uma forma de interpretação das
respostas, não tendo a pretensão de ser uma definição precisa de tais conceitos
13
.
Mais da metade dos entrevistados (28 respondentes) definiram ou se descreveram como
consumistas. Outros 17 expressam que são consumidores moderados. Cinco afirmam que
consomem pouco ou se declaram não consumistas (Vide Tabela 47). Os entrevistados sempre
se expressam de forma muito eufórica ao se descreverem como consumistas.
Eu sou muito consumista! (Entrevistado 07).
Ah, é um prazer muito grande. Comprar... um prazer, uma coisa assim, sem explicação,
às vezes eu estou triste, aí saio, compro, compro, compro, fico alegre. Depois posso até
ficar triste, porque eu vi o que gastei. Às vezes, eu comprei alguma coisa que eu não vou
usar, mas é um prazer enorme, uma sensação muito boa, comprar! (Entrevistado 24).
Eu sofro um consumismo danado, muito prazer, sem medo de errar! (Entrevistado 27).
Eu sinto um prazer de estar fazendo aquela “compração”, e fazer uma boa compra,
existe um prazer nessa busca, e nesse atender a necessidade! (Entrevistado 34).
Ah, prazer, eu adoro, eu gosto, eu sinto realizado! (Entrevistado 35).
Os consumidores moderados são aqueles que se descrevem como pessoas que compram, mas
sempre de forma planejada e controlada.
Gosto de comprar, mas eu evito, quando eu vou comprar alguma coisa já tenho em mente
o que eu quero, e onde vou achar. (Entrevistado 08).
Ah, gostar até gosto, mas ultimamente tenho sido assim mais centrado, porque para dar
uma organizada nas contas, e depois, eu acho que a gente vive com muito apelo, então se
você for sair para comprar, é uma beleza, mas... (Entrevistado 37).
Ser consumidor é você dentro do seu potencial, que você tem, que a gente tem três tipos
ou até mais de consumidores, ter potencial dentro daquilo que ele pode fazer e que ele
não seja um consumidor abusivo, porque isso vai trazer problemas para ele mesmo.
(Entrevistado 26).
13
Uma outra convenção possível para a mesma classificação poderia ser os “eufóricos”, os “retidos” e os “sem
entusiasmo”.
140
Os não consumistas não gostam de participar do ato de comprar ou de gastar dinheiro.
Descrevem as compras com poucas frases e pouco entusiasmo sobre o assunto.
Tabela 47 Distribuição dos respondentes da pesquisa por como se definem na forma
como consomem - dados coletados nas agências bancárias de julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Como pessoas que consomem muito ou como consumistas 28 56%
Consumidores moderados 17 34%
Não consumistas ou que consomem pouco 05 10%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
A grande maioria, 44 entrevistados, acha que consegue expressar sua individualidade ao
consumir. Os seis restantes afirmam que não (Vide Tabela 48). Os que acreditam que podem
expressar sua individualidade por meio do consumo valem-se do argumento “conhecer quem
consome pelo jeito que consome”. Neste sentido, utilizam o critério para analisar o outro e
para analisar a si mesmos.
A gente conhece pessoas pelo consumo. O consumo move as pessoas das casas delas
para outros ambientes e move as pessoas em pensamento também. Porque existem hoje
os consumidores que usam a Internet, que são pessoas que não saem de casa para
manter suas relações de troca, mas eu acredito que o consumo ele seja alguma diretriz...
ele inicia movimento e, de repente, toma um impulso. Um movimento que é um
movimento humano, que é um movimento financeiro, mas que é um movimento, que está
ali. (Entrevistado 15).
Infelizmente, a ostentação de carros, celulares, tecnologia em geral transmite muito
quem você é. Pessoas, por exemplo, que gostam de carros pequenos, eu entendo que as
pessoas, são pessoas que pensam muito pequeno, são pessoas que não têm anseios, que
não querem crescer, não querem uma evolução, eu vejo dessa forma. A simplicidade
também, ela não faz bem para a pessoa. A simplicidade exagerada, eu acho que ela não
faz bem para a pessoa. Eu acho que tudo tem o seu bom senso. Você não pode... não
precisa nem estar lá e nem cá. Um pouco de ostentação também não faz mal para
ninguém. Faz bem, faz bem para você, porque você trabalhou, você acordou cedo, você
madrugou para estudar, faz bem. (Entrevistado 05).
(... ) quando você olha na pessoa que você vê o sapato, você já sabe mais ou menos o tipo
de sapato que ela usa, mais ou menos o perfil dessa pessoa. (Entrevistado 12).
Alguns manifestam que procuram mostrar sua personalidade por meio do que consomem,
como forma de mostrar quem é.
[...] as coisas diferentes que eu busco comprar, coisas diferentes para mostrar minha
personalidade. (Entrevistado 13).
Outros expressam que consomem as coisas com as quais estabelecem uma relação de
identificação.
141
Acho que você pode ir em uma prateleira, que tem vários produtos, geralmente, você vai
nos produtos que mais te identificam. Se você for numa loja comprar uma roupa, você vai
comprar geralmente uma roupa que você mais se identifica com ela. (Entrevistado 26).
Cada um procura consumir aquilo que ele é. Se a pessoa é uma pessoa exibicionista, ela
vai querer comprar um carro maravilhoso, independente dela poder ou não. Tem gente
que deixa até de comer e faz trezentas prestações para poder aparecer com aquele carro.
Eu acho que sim, essa forma de como a pessoa consome mostra um pouco da forma como
ela é. (Entrevistado 33).
Apenas um entrevistado explicou o porquê não expressa sua individualidade por meio do
consumo.
[...] Acho que, a gente tem que expressar a individualidade de outras maneira, com
atitudes, com pensamentos, com personalidades. (Entrevistado 04).
Tabela 48 Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Você
acha que ao consumir consegue expressar a sua individualidade, mostrando um quem é
a partir do que consome e da forma que consome?” - dados coletados nas agências
bancárias de julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Sim 44 88%
Não 06 12%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Entre os entrevistados, 42 acreditam que o consumo afeta na definição de quem ele é, sendo
que os oito restantes afirmam que não. Os que afirmam que sim descrevem essa relação de
diversas formas. Alguns colocam aspectos externos como aparência.
Sim, a pessoa, o consumo define muito a pessoa. Você vê, seja o tipo de vestir, o tipo de
alimentação, o tipo é de... tudo. Acho que tudo define a pessoa, acho que você vai
consumir aquilo que você... as tendências. (Entrevistado 23).
Outros colocam aspectos internos como sentimentos de infelicidade ou felicidade.
Eu acho que define. Eu acho que eu sou um pouco depressiva, então, quando eu estou
depressiva é quando eu compro. Se eu estou mais triste, é quando eu compro, eu gasto.
Quando, eu estou normal, aí eu gasto menos. Só que é assim também, eu estive uma fase
difícil na minha vida, que é quando (o Nome do filho) foi embora, depois (o Nome do
Marido) foi embora. Trabalhou fora, depois quando (o Nome do outro filho) foi embora.
Então nessas fases assim, que eu fico pior. (Entrevistado 24).
Eu também defino os meus modos, meus costumes, define a personalidade, define as
características do ser humano e do (o Próprio nome do entrevistado)
especificamente.(Entrevistado 27).
Um entrevistado acredita que a escolha do que consumir mostra a sua consciência ou
responsabilidade social.
142
Acaba definindo sim, porque se eu posso consumir alguma coisa que é produzida é... com
responsabilidade, sem agredir o meio ambiente, sem ter é... tendo trabalho infantil, uma
série de coisas, eu me sinto melhor do que se eu comprasse algum produto que tivesse
essa política incorreta. (Entrevistado 31).
Dentre os que afirmam que sim, um ponderou essa definição, mostrando que há outros
elementos que definem mais.
Menos do que meu trabalho, vamos dizer assim, mas também tem o seu peso aí na minha
definição, vamos dizer assim. (Entrevistado 22).
Os que afirmam que não, alguns afirmam que não são “levados” pelos modismos.
Eu não me deixo levar pelas ondas. Como que eu vou falar... Têm as manias que estão no
momento. Eu não me deixo levar por isso, porque, senão, você sempre vai estar
consumindo, sempre tem uma nova moda. Então, eu procuro consumir o que eu preciso,
o quê eu quero. (Entrevistado 08).
Um expressou que o consumo não o define. Ele é quem define o consumo.
Não, acho que não. Eu acho que o (Nome do Entrevistado) define um pouco o consumo,
o contrário.(Entrevistado 34).
Tabela 49 Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Você
acha que o consumo afeta na definição de quem é você?”- dados coletados nas agências
bancárias de julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Sim 42 84%
Não 08 16%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Analisando de forma conjunta os dados, como exposto no Quadro 11, percebe-se que 37
entrevistados respondem simultaneamente que expressam sua individualidade por meio do
consumo e o consumo define quem ele é. Dentre os que acreditam que o consumo os define,
23 se expressaram como consumistas. Dos que se definem ou se expressam como
consumistas, 24 acreditam que expressam sua individualidade por meio do consumo.
Um entrevistado deu dupla resposta negativa para a questão sobre o consumo o definir e
expressar sua individualidade. Outro entrevistado, afirmou que o consumo não afeta na
definição de quem ele é e não expressa sua individualidade.
As duplas respostas mostram os extremos da forma como os indivíduos se posicionam no
aspecto do consumo e nas visões que têm de si mesmos. Entretanto, a realidade nem sempre
assume valores extremos. É nessa riqueza de possibilidades que a Identidade se concretiza nos
143
diversos indivíduos, mostrando pontos comuns e singularidades.
Quadro 11 - Quadro de análise da expressão da Identidade associada ao consumo
Expressa sua
individualidade
O consumo afeta na definição de
quem ele é
Como se define
Sim
Não
Consumista
Moderado
Não consumista
Sim 37 7 24 15 5
Não 5 1 4 2 0
Como se define
Consumista 23 5
Moderado 15 2
Não consumista 4 1
Fonte: Dados de pesquisa
4.6.5. Expressão da Identidade, identificação e consumidor
Para 37 entrevistados, indivíduo consumidor afeta na definição de quem ele é. Os outros 13
entrevistados acreditam que os consumidores não definem quem são. A Tabela 50 expõe os
dados desta questão. Em geral, os entrevistados manifestaram que se sentem diferentes por
causa dos consumidores, mas não sabem ou têm dificuldades para definir o porquê. Alguns
descrevem os outros consumidores, fora do banco, como afetando a definição de quem são,
tanto como consumidores (eu-consumidor) quanto como trabalhadores (eu-trabalhador).
Eu acho que afeta sim porque, eu acho, não tenho certeza, que eu sou uma pessoa que,
como eu falei, sou controlada. Então a visão que as pessoas vão ter como consumidoras
de mim, que eu sou uma pessoa mais tranqüila, controlada e tudo mais, se eu fosse uma
pessoa compulsiva, eles teriam uma outra visão, então eu acho que afeta e muito.
(Entrevistado 01).
Acaba definindo. Não tinha pensado nisso não, mas acaba definindo, porque de uma
certa maneira qualquer consumo acaba nos influenciando. Porque se uma pessoa
consome alguma coisa e aquilo ali pode despertar um desejo em mim também de
consumir, eu acabo sendo influenciado. Quem me disse que eu precisava ter um carro?
(Entrevistado 31).
Outros descrevem os consumidores a quem prestam seu serviço como definidores, tanto para
como ser quanto como não ser.
Talvez sirva como espelho. Alguns deles servem para mostrar o que eu não devo ser.
Alguns deles devem mostrar como eu devo seguir aqueles passos deles. Eu acho que
define sim. Eu acho é essencial o consumidor como espelho. (Entrevistado 08).
Acho que sim. Acho que define sim, porque você acaba querendo satisfazer da melhor
144
forma possível e, querendo ou não, você acaba satisfazendo mais as vontades dele que as
suas vontades. Que nem, dentro do banco, você tenta, da melhor forma possível, atendê-
lo com rapidez, com aquilo que ele quer, com o objetivo que ele quer, acho que mais ou
menos isso, acho que sim. (Entrevistado 28).
Os que afirmam que não, se expressaram muito pouco sobre o assunto. Entretanto, um
entrevistado que expressa que não acredita que o consumidor possa defini-lo, afirma que
aprende na relação com ele.
Talvez ele me traga algumas referências, conforme eu te disse, por exemplo, quando eu
tenho conhecimento de pessoas que consumiram ou que adquiriram coisas além do que
podiam. Assim você tem um exemplo daquilo que você não pode fazer. (Entrevistado 37).
Tabela 50 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Você
acha que o consumidor afeta na definição de quem é você?”- dados coletados nas
agências bancárias de julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Sim 37 74%
Não 13 26%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Os entrevistados manifestaram que preferem, em sua grande maioria, ser bancários, com 37
respondentes. Dentre os restantes, 12 preferem ser consumidores e um manifestou a
preferência por ser os dois (Vide Tabela 51).
Tabela 51 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Você
prefere ser consumidor ou ser bancário?”- dados coletados nas agências bancárias de
julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Prefere ser consumidor 12 24%
Prefere ser bancário 37 74%
Prefere ser os dois 01 02%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Os entrevistados se dividem quando são perguntados se os consumidores são mais
importantes que os bancários. A metade, 25 respondentes, acredita que sim e a outra metade
acredita que não (Vide Tabela 52).
145
Tabela 52 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “O
consumidor é mais importante que o bancário?”- dados coletados nas agências
bancárias de julho a outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
Sim 25 50%
Não 25 50%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Quando perguntados da importância do consumidor, a resposta mais citada por entrevistados
foi de que os consumidores são importantes para a organização, com 23 respondentes. 14
entrevistados citaram que o consumidor é importante para que ele possa executar seu trabalho
e seis descrevem que ele é importante para que a profissão de bancário exista. Dos restantes,
quatro descrevem o cliente dentro de uma importância absoluta e três expressam que ele é
importante para a manutenção de seus empregos (Vide Tabela 53).
Tabela 53 - Distribuição dos respondentes da pesquisa por resposta à pergunta “Qual é
a importância do consumidor?”- dados coletados nas agências bancárias de julho a
outubro de 2007
Categorias Quantidade Freqüência
É importante para o banco/organização 23 46%
É importante para a execução do trabalho 14 28%
É importante para que o bancário exista 06 12%
Importância absoluta (importante sem sentido definido) 04 08%
É importante para a manutenção do emprego 03 06%
Total 50 100 %
Fonte: Dados de pesquisa
Os dados da pesquisa mostraram que, no que diz respeito aos elementos associados ao
trabalho, a organização é o principal elemento de expressão da Identidade Social. O trabalho
em si, a categoria profissional, e a organização para a maioria dos entrevistados, afeta na
constituição do seu “ser”, mas é a organização que se constitui como principal referência em
comparação com as demais. Em geral, este vínculo entre a organização e a expressão da
Identidade está associado à função social ou ao discurso/política de responsabilidade social da
empresa.
Concomitantemente, os aspectos do consumo, o consumo em si e o consumidor afetam na
definição do seu “ser”, para a maioria dos entrevistados. As expressões das Identidades
associadas ao consumo e ao trabalho, embora sejam provenientes de uma contraposição entre
papéis distintos dentro do espaço produtivo (o eu-trabalhador e o outro-consumidor) e
oriundos de expressões do indivíduo em situações distintas (o eu-trabalhador e o eu-
146
consumidor), não se anulam. Pelo contrário, complementam-se de forma que o “Ser
Trabalhador” reforça a constituição do “Ser Consumidor” e vice-versa. Os valores do
consumo não são impeditivos para a valorização do trabalho, embora o sujeito possa pender
para um lado ou para outro.
Neste sentido, o estudo aprofundado de um dos entrevistados que será exposto a seguir, deixa
claramente manifesto no discurso do entrevistado essas conexões. Mesmo no caso de
estranhamento do trabalho (ANTUNES, 1995) e não identificação com trabalho associada a
uma evidente assimilação de valores do consumo, o valor do trabalho e a importância dele
para o caso se mostraram presentes no discurso, sem que isso se mostrasse uma incoerência
ou inconsistência da fala do bancário. É o que será tratado no “Caso Analu”.
4.7. O CASO “ANALU
Dentre os 50 casos estudados, escolheu-se um para uma análise do indivíduo como um todo e
as questões associadas ao tema da pesquisa. “Analu”, nome fictício para a entrevistada 15, foi
escolhida pelas características demonstradas durante seu discurso, principalmente pela
contradição extrema de valores entre o consumo e o trabalho. Ao longo de toda a análise dos
resultados, sua fala esteve presente em diversos momentos, mas agora a intenção é dar
conexão às falas, interligá-las no intuito de demonstrar a lógica do discurso da entrevistada,
bem como os sentidos implícitos nele presentes. A entrevistada permitiu que suas informações
fossem expostas, desde que sua Identidade ficasse descaracterizada, não permitindo que fosse
reconhecida nem a instituição que trabalha. Por isso, algumas informações foram omitidas e
frases foram descaracterizadas para não descumprir o compromisso firmado antes da coleta de
dados.
“Analu” é um caso singular, assim como são todos os sujeitos, com pontos em comum entre
os demais e diferenças que os fazem únicos. Ela não é um exemplo da maioria, nem se
configura como minoria entre os entrevistados.
A entrevista com “Analu” foi muito tranqüila, sendo que ela mostrou-se muito centrada e
bastante consciente de suas respostas durante toda a entrevista. “Analu” é uma jovem de 27
anos, recém-casada, não possui filhos, possui curso superior em Arquitetura e tem como
principal atividade fora do trabalho a leitura, passear e fazer compras. Na sua própria fala, ela
diz que gosta de fazer compras e em função de um processo de dificuldades associadas ao
147
trabalho, entrou num processo, descrito por ela mesma como de compulsão consumista.
Até você prometer que isso é sigiloso, no meu processo depressivo, eu adquiri compulsão
por compras. Qualquer coisa mesmo. Sapato, roupa, coisa de decoração, comida,
qualquer coisa eu gosto de comprar. Primeiro, eu sinto alegria, parece que dá aquele
entusiasmo, depois dá um sentimento de culpa terrível. (Entrevistado 15).
Ela tem consciência de que o seu consumismo é proveniente em parte de uma forma de
compensar aspectos negativos do seu trabalho e manifesta sua culpa quando não consegue se
controlar. A partir das dificuldades que passou, ela se define.
Uma passagem, mais uma pessoa que está aprendendo com a vida, dos tombos e do
levantar. Analu é assim.... bom, muito confuso. (Entrevistado 15).
“Analu” é bancária há pouco tempo. Ela está apenas há três anos nesta profissão, ocupando
sempre, neste período, o cargo de atendimento operacional. Ela, embora com tão pouco tempo
de instituição, vê o trabalho bancário no passado de forma positiva, de forma glamurosa.
A gente tem um pouco daquela idéia do bancário..., bancário (do Nome do banco) de 30
anos atrás. O quê que você vai ser meu filho? Médico ou trabalhar no (Nome do banco)?
Que era bem assim, eram pessoas com salários altíssimos. (Entrevistado 15).
Logicamente, pela idade e pelo tempo de banco, “Analu” não desfrutou este status ou deste
este salário. Entretanto, trata-se de uma realidade objetivada e comungada socialmente. Isso
lhe dá uma consciência de uma realidade mudada. O presente é uma negação do passado.
[...] hoje em dia, já é um pouco diferente, pelo que eu percebo, a gente tem tantas metas
quanto o pessoal dos bancos privados. E a briga é muito grande, tanto internamente
quanto externamente, existe briga entre as agências, como se fossem bancos diferentes.
Mas o caráter do bancário mudou muito. Hoje em dia, o salário já não é tão bom, aliás,
não é bom e as cobranças são maiores. (Entrevistado 15).
A junção da visão do passado e do presente cria uma perspectiva difícil para o futuro da
profissão. O fim da profissão leva ao nascimento de outra.
Eu vejo em extinção. O bancário mesmo, eu vejo em extinção. O que vão... o que eu
imagino que vai haver são consultores, consultores financeiros. Porque dia após dia, a
gente só está lá para resolver problemas. Nós somos gestores de problemas. Então, eu
acho que a tendência é o profissional mais específico, que vai ser o consultor financeiro.
Ele num vai..., não vai existir mais o bancário do ponto de vista que a gente tem hoje.
(Entrevistado 15).
“Analu” acredita que a principal mudança que aconteceu no setor nos últimos anos é o
acirramento da concorrência em função das políticas governamentais.
148
O aumento da concorrência, principalmente quando o governo permitiu o micro crédito,
onde qualquer... hoje em dia, qualquer empresa de arrendamento mercantil pode fazer
um financiamento, num precisa necessariamente ser um banco múltiplo. (Entrevistado
15).
A entrevistada procura estabelecer uma visão diferenciada para a profissão. Ser bancário para
ela, é não ser bancário propriamente dito. Ela tem sua própria estratégia para conviver com
sua profissão, que é vista como uma possibilidade de ação social, de auxílio aos outros. Sua
ação é uma forma de negar os demais bancários (outros-trabalhadores) que não se preocupam
em ajudar, apenas se preocupam em vender, emprestar dentre outras atividades.
Eu faço de tudo, de psicólogo, dou mesmo de psicólogo, de psicólogo e administrador
que eu não sou também. Eu faço exercício ilegal das profissões, de várias profissões
todos os dias. O pessoal chega precisando de ajuda e ninguém, muitas vezes, está
disposto a ajudar. A pessoa num tem muita informação, sabe? Eu como bancária o quê
que eu faço? Eu sirvo, só sentada na mesa, porque é uma questão de serviço. O serviço
que a pessoa quiser de mim, o que eu puder ajudar, o que eu puder informar, até como
função social, eu faço. Entendeu? Mas, basicamente o que quê um bancário faz?
Empresta dinheiro, cobra, vende produtos. (Entrevistado 15).
“Analu” não se sente bancária e não se identifica com a categoria. “Não!” Expressa a
entrevistada em tom firme, mas de forma calma, sem tecer maiores comentários. Da mesma
forma, responde ao perguntar-lhe se ela se identifica com o seu trabalho: “Não!” Acrescenta
ainda, quando questionada sobre o que mudaria no seu trabalho, caso pudesse, que mudaria de
trabalho, pois vê que é um trabalho limitado.
[...] eu mudaria de trabalho, porque o meu trabalho, eu mudo todo dia. O que eu faço lá
sempre, tento fazer todo dia. Agora, num tem jeito de mudar o mundo, como bancário
não. (Entrevistado 15).
Além de não se identificar com a categoria, “Analu” tem uma visão negativa da profissão, a
qual qualifica com desprezo pela estagnação, pela mediocridade que transparecem para ela.
Ai, meu Deus! Que cambada de gente medíocre, de verdade, porque bancário, qualquer
um pode ser. Porque a pessoa que fica estagnada só naquilo, ela se deixa levar pela
mediocridade. Me desculpe, mas eu sinto isso. Quando eu chego de manhã, muitas vezes,
no banco eu falo assim: Nossa o bancário qualquer um pode ser. É só um pouquinho de
treino. E as pessoas, eu vejo gente lá dentro que não seria outra coisa na vida se não
fossem bancários. Isso até me dá um pouco de angústia. Eu falo assim: Nossa, fulano, se
não fosse o banco heim? Qual que ia ser da vida dessa pessoa. (Entrevistado 15).
Quando questionada sobre a organização, a mesma é descrita sob aspectos positivos e
negativos. Entende como sendo uma boa organização, mas as pessoas a “modificam” pelas
suas falhas humanas. As vivências pessoais com estes problemas reforçam a idéia de que as
pessoas da organização (os demais bancários) são vistas de forma negativa.
149
(O Nome do Banco) é uma instituição muito forte. E acho até um lugar bom de se
trabalhar. Ele tem respeito às diferenças. Não é lavagem cerebral. Olha, ele incentiva o
desenvolvimento profissional das pessoas, ele dá condições para que você se desenvolva,
ele tenta te dar qualidade de vida, só que as pessoas estragam o banco. Porque (o Nome
do Banco) é composto por... a instituição (Nome do Banco) é uma instituição muito boa,
só que as pessoas por ali dentro, como a igreja mesmo, elas modificam pelas falhas que
os homens têm mesmo. Então tem assédio moral? Tem assédio moral! Forte! Eu já
ameacei um superior de processo de assédio moral, porque se prejudica a qualidade de
vida da gente... Tem corrupção? Tem! (Entrevistado 15).
Para ela, o banco não define quem ela é. Entretanto, ela se identifica com os elementos sociais
da organização. Por isso, ela se sente uma idealista, alguém que usa a organização para
praticar seus ideais. E isso está diretamente associado à visão de bancária que a entrevistada
tem. É a psicóloga que atende quem precisa.
(... ) eu me identifico com (o Nome do banco) quando eu me sinto um vetor social,
quando eu sei que o que estou fazendo ali é útil, que eu mudei a vida de alguma pessoa
que sentou na minha mesa aquele dia. Então, sou nesse aspecto idealista, mas esse
idealismo, mas eu me identifico com o banco nesse aspecto. (Entrevistado 15).
Entre ser bancária em outra instituição e continuar a trabalhar na organização onde está,
deixando de ser bancária, “Analu” prefere esta última opção. Ela gostaria de exercer a
profissão em que se formou dentro do banco, mas ainda espera essa oportunidade.
No Quadro 12, transcreve-se como “Analu” se descreve, enquanto consumidora e enquanto
trabalhadora, e como descreve as demais pessoas, como consumidoras e como trabalhadoras.
Percebe-se consonância entre as falas anteriores e descrições do eu-consumidor, do eu-
trabalhador e do outro-consumidor. Entretanto, ao descrever o colega de trabalho ela não
estabelece apenas aquela visão negativa da categoria. “Analu” descreve o profissional como
alguém que precisa ser bancário para sobreviver (família para criar) e que está sujeito às
mesmas regras que ela.
150
Quadro 12 - Como o Entrevistado 15 descreve o “eu” e o “outro” nas situações de
trabalho e de consumo.
Eu-consumidor Eu-trabalhador
Outro-consumidor
(Cliente)
Outro-trabalhador
(Colega de trabalho)
Fujo ao
consumir
Tento me
controlar
Compulsiva
Sou exigente
Metas
Psicólogo
Administrador
Exercício ilegal da profissão
Ajuda as pessoas
A favor do cliente
Não nasci para ser dondoca
O trabalho faz a gente se
sentir completo
Tenta ser igual ao consumidor
Sem informação
O cliente tirano e o
que precisa de ajuda
Está no mesmo barco
Tem as mesmas metas
As mesmas pressões
Não vejo como um número
Cambada de gente medíocre
Bancário qualquer um pode
ser
Estagnada naquilo
Fonte: Dados de pesquisa
Quando se analisa a fala de “Analu” sobre o consumo e o consumidor, percebe-se que a
valorização destes está presente, tanto nos aspectos pessoais, sociais e econômicos. Ser
consumidor para “Analu”,
É procurar uma coisa que te faz falta, exercendo teu direito de ser bem atendida,
sabendo seu dever de atender com cortesia. Noventa por cento não sabe do dever, só
sabe do direito. (Entrevistado 15).
O consumidor é a fonte geradora de trabalho, de serviço, para “Analu”. Assim ela descreve a
importância do consumidor
O cliente é a razão de todo o serviço. Todo serviço que existe no mundo, ele só existe em
razão de um cliente. (Entrevistado 15).
É interessante perceber que ela estabelece uma relação de empatia com o consumidor. Neste
sentido, ela se vale das referências pessoais que tem como ser-consumidora para definir sua
forma de ser-trabalhadora. Ao mesmo tempo ela estabelece uma relação de diferença com os
demais consumidores: ela se vê como instruída e os demais sem instrução; eles com a
necessidade de ajuda e ela com a capacidade de ajudar.
Costuma ser de igual para igual. Eu me coloco, eu tento desenvolver esse sentimento de
empatia, de colocar no lugar do cliente para saber o que ele espera daquilo que estou
oferecendo para ele. Tem produto que eu não vendo, aliás (o Nome do banco) têm
muitos produtos bons, mas que têm coisas que eu não tenho coragem de vender. Muitas
vezes chega um coitadinho que você olha para ele e fala: “Nossa, procurando
empréstimo?” E o filho atrás, para fazer empréstimo consignado. Você sabe que ele vai
tirar dinheiro da aposentadoria dele para dar para um filho, para um neto comprar uma
moto, e a gente vê acontecendo, que ele nunca mais vai ver aquele dinheiro e que ele vai
deixar de comprar os remédios dele. Então, para ser sincera, muitas vezes, eu olho e
falo: “olha, você não tem direito”. É meta do banco isso, é meta empréstimo, mas você
sabe que vai trazer um transtorno para aquela família, que vai piorar a qualidade de
151
vida daquele pessoal, assim, anos-luz. (Entrevistado 15).
O cliente se constitui numa forma de realização ou de frustração.
Se sente meio que realizado, só que a maioria do retorno que você tem com os clientes,
geralmente, é uma coisa muito frustrante. Eu, pelo menos os dias que eu tenho passado
no caixa, eu tenho visto o quanto as pessoas são sem educação, quantos não têm
empatia. (Entrevistado 15).
Em casos extremos, o cliente chega a ser considerado como um tirano, alguém que não tem
consciência, que não tem educação e que chega a ser agressivo em função do excesso de
exigência.
Eu percebo que as pessoas, elas são extremamente exigentes, mas elas não conhecem os
direitos e os deveres dela como consumidoras e como clientes. Eles tratam as pessoas
com descortesia, na maioria das vezes. E o PROCON, quando eu falei de tirania do
consumidor, o PROCON ele vem não só para dá um apoio para o consumidor. Porque a
gente vê que existe muito abuso. Mas em contrapartida a esse abuso, ele gerou o
sentimento de tirania entre as pessoas. É como se consumidor chegasse ao lugar em que
ele vai fazer a compra, que ele vai buscar o serviço, com a impressão que ele pode tudo,
inclusive desrespeitar a pessoas que estão oferecendo aquilo para ele. (Entrevistado 15).
Por isso mesmo, a entrevistada manifesta que o cliente não é mais importante do quem está
trabalhando. Devem ser entendidos como iguais no processo de consumo e produção.
“Analu” afirma que ser-trabalhadora ajudou-a a ser melhor consumidora. Isso porque entende
o “outro lado” do processo de produção-consumo. Mais uma vez, ela estabelece uma relação
entre ser-consumidora e ser-trabalhadora.
Eu quando eu era só consumidora, talvez eu fosse... eu num tratava com falta de cortesia.
Eu acho que eu nunca tratei ninguém.. mas o fato de trabalhar do lado de cá, no ponto
backoffice, isso me torna uma consumidora melhor, mais noção do que é dever e do que é
direito. A maioria das pessoas não consegue fazer esse gancho, porque não vivenciou os
dois lados. Então, trabalhar no banco, estar ali na linha de tiro, que é bem isso mesmo,
ele me faz perceber o outro lado, que é o lado do consumidor, que ele me faz um
consumidor melhor. (Entrevistado 15).
Quando contraposta entre as situações de ser-trabalhadora ou ser-consumidora, “Analu”
prefere ser consumidora do que ser bancária. O consumo para ela é fuga e já definiu quem ela
é, mas agora se sente controlada.
Consumo é fuga, na maioria das vezes, no meu caso, foi fuga e eu tento me controlar hoje
em dia. Mas ele é necessário, bem dosado, bem trabalhado. A gente não pode sair
comprando tudo que vem pela frente. Até porque, depois, vem o vazio de pensar para quê
que eu comprei isso? [...] (O consumo) Já me definiu mais, já me definiu mais. Hoje me
dia eu consigo sair de casa sem comprar e voltar para casa feliz. Eu, ontem, eu cometi
um deslize. Eu fui lá no (nome da loja de sapatos) e falei: Nossa Senhora, o sapato que
152
custava cento e cinqüenta agora está custando trinta, falei: “nossa vou comprar”.
Oitocentos reais de sapato, se eu tivesse comprado o valor normal. Gastei 250 no preço à
vista. Foi um deslize horrível, vou ter que conversar mais com minha psicóloga terça-
feira, mas já me definiu mais... o consumidor já definiu mais a Analu... hoje em dia ela é
menos consumista, um pouquinho. (Entrevistado 15).
Ela acredita que pode conhecer as pessoas pelo consumo
A gente conhece pessoas pelo consumo. O consumo move as pessoas das casas delas
para outros ambientes e move as pessoas em pensamento também. Porque existem hoje
os consumidores que usam a Internet, que são pessoas que não saem de casa para
manter suas relações de troca, mas eu acredito que o consumo, ele seja alguma diretriz...
ele inicia movimento e, de repente, toma um impulso. Um movimento que é um
movimento humano, que é um movimento financeiro, mas que é um movimento, que está
ali. (Entrevistado 15).
Embora “Analu” mostre em sua fala que os valores do consumo estão presentes em seu
cotidiano, que o consumidor e ser consumidor tem sua importância, o trabalho tem uma
representação em termos de valor moral, sendo responsável por definir quem ela é, em sua
própria concepção.
Eu não consigo me imaginar parada, não nasci para ser dondoca, sabe aquela coisa de
ficar: ah! O que é que eu vou fazer. Eu não consigo ficar parada, eu não sou workaholic,
não sou. Mas o trabalho é bem aquela coisa do Lutero: o trabalho dignifica o homem. Eu
acho que a gente é digno por fazer alguma coisa em prol de alguém, e só fazer essa uma
coisa já é trabalho para mim. Então, não sei, para mim trabalho, ele é tudo, porque
através dele que eu tiro o sustento da minha família. Se (o nome do marido) não
trabalhasse também? A gente precisa do nosso trabalho para sobreviver, o trabalho faz a
gente se sentir completo, dia após dia. (O trabalho) faz a gente crescer como pessoa
assim... aquela responsabilidade de estar ali a serviço. Ele te gera internamente uma
sessão de responsabilidade que te move, ela que te faz levantar todo dia. Não é como
responsabilidade do ponto negativo não, é a responsabilidade de você ser importante
naquilo que você faz, da tua presença ali ser importante. (Entrevistado 15).
“Analu” não se sente bancária, não se identifica com a categoria, a organização não a define,
embora se identifique com as práticas sociais que executa na Instituição. Ao mesmo tempo,
gosta de comprar, se define como consumista, entende a importância do consumidor e de ser
consumidor. Mesmo neste extremo, o trabalho é descrito por ela mesma como elemento
definidor do seu ser. Ela precisa do trabalho e o trabalho a define por mais “estranhado”, na
concepção de Antunes (1995), que ele possa se configurar. Para tanto, mesmo que não
estabeleça uma relação de proximidade com a profissão, “Analu” cria um vínculo
diferenciado com seu trabalho, uma forma de representá-lo diferente do que acredita que o
trabalho bancário é. Ela não é bancária, em suas próprias palavras é um “vetor social”.
153
4.8. O FOCUS GROUP
Durante o focus group, discutiu-se com os bancários participantes os resultados da pesquisa,
procurando analisar se há, por parte deles, algum resultado que lhes pareça estranho ou que
contradiga a realidade em que vivem. Utilizou-se como roteiro para as questões, os resultados
da pesquisa. Todavia, o grupo foi conduzido como uma espécie de diálogo coletivo, inserindo
questões que foram julgadas como oportunas e respondendo a questionamentos dos
participantes.
A primeira questão que foi debatida com os bancários é o desenho teórico da pesquisa, em
que se procurou expor o que estava sendo discutido pelo estudo. Os participantes do focus
group corroboraram as transformações objetivas acontecidas no trabalho bancário, assim
como os entrevistados individuais, dando destaque para as mudanças de ordem tecnológica e
a redução dos postos de trabalho.
Quando questionados sobre a mudança da forma como o consumidor se posiciona hoje no
setor, os bancários relataram que houve um reordenamento da importância dos clientes para
as instituições, muito visível no cotidiano de suas atividades. Entretanto, foi ponderado que,
embora os bancos profiram um discurso sistemático de que o cliente é o elemento mais
relevante no contexto atual, essa prática, na concepção deles, é mais apelo mercadológico do
que realidade, ou seja, uma falácia. Para eles, os acionistas querem mesmo é obter seus lucros,
independente de como isso venha a ser feito. Sendo preciso proferir um discurso de “salvem
as baleias” para abrir mais contas, comentou sarcasticamente um participante, “amanhã
estaremos defendendo as baleias do mar de Minas Gerais”. Apenas um participante comentou
que há uma tendência de que os bancos comecem a disseminar o uso racional do crédito, ou
seja, de, cada vez mais, orientar para que o cliente não abuse do uso de produtos bancários,
uma vez que esse abuso tem como resultado o aumento de inadimplência. “Perceberam que
estavam matando a galinha dos ovos de ouro” afirmou o participante.
Há um descompasso entre o que é passado para o cliente e o que o banco realmente faz para
alguns dos participantes. O banco vende uma imagem que não existe. Isso faz com que os
clientes sejam cada vez mais exigentes, uma vez que suas expectativas são aumentadas. Um
participante exemplificou que o banco em que trabalha, para alguns clientes, oferece contas
especiais com diferencial em termos de status, como se fossem “VIPs”. Entretanto, o volume
de trabalho e a falta de uma estrutura específica da agência resultam que os consumidores
154
diferenciados enfrentam filas e são atendidos da mesma forma, embora paguem tarifas mais
caras. Isso gera reclamação do cliente sobre a agência e sobre o bancário. “Se o banco
realmente se importasse com o cliente, investiria mais no bancário e na agência”, desabafa um
participante.
Ao serem expostos os resultados sobre as categorias “Valor do Trabalho” e “Valor do
Consumo” abordados pela pesquisa, não houve qualquer comentário acrescido ao tema. Foi
lhes questionado, então, se o bancário tem uma visão diferente das outras pessoas sobre o
valor do dinheiro, na medida em que essa hipótese foi relatada por um entrevistado. Foi
interessante perceber que os participantes concordaram que o bancário possui uma concepção
diferenciada sobre o dinheiro. Para eles, as pessoas, em geral, não têm noção do valor do
dinheiro e o utilizam de forma indiscriminada. Quando perguntado se isso não seria bom para
que eles pudessem vender mais os produtos bancários, eles entendem que sim, mas têm a
consciência de que os clientes estão passando dos próprios limites.
“O bancário sabe mais sobre seus limites do que pode ou não pode consumir?” A questão
gerou um certo debate, pois todos conhecem colegas de trabalho que passam por dificuldades
financeiras, ou porque não souberam se controlar ou fizeram opções erradas de investimento.
O que difere o bancário, na concepção de um respondente que foi corroborado pelos demais, é
que ele faz de forma consciente, tendo conhecimento dos riscos, uma vez que vê, todos os
dias, pessoas com problemas financeiros. Outro ponto importante que foi comentado é que
existe uma prática, por parte dos bancos, de inibir o endividamento por parte dos bancários.
As razões para estas práticas foram divergentes entre os entrevistados, embora compartilhem
dessa mesma concepção. Para uns, isso porque são a “vitrine do banco” e não podem passar
uma imagem ruim da instituição, como se fossem pessoas que não sabem lidar com o próprio
dinheiro. Também foi citado que, pelo fato de lidarem com dinheiro dos outros todos os dias,
é preciso não ter dívidas para não gerar qualquer tipo de dúvida sobre as ações do bancário no
trabalho. Os participantes citaram casos de suspeita de roubo de dinheiro entre colegas de
trabalho, de fraudes de bancários sobre clientes idosos e até de envolvimento com assaltantes
de bancos.
No que diz respeito à categoria “Ser Trabalhador”, os participantes revelaram que algumas
frases fazem mais sentido do que outras para a realidade em que vivem. Entretanto, nenhuma
definição pareceu estranha ao contexto bancário. O único item que gerou dúvidas foi a
155
definição “Ter status ou ser importante” (13º item da Tabela 32), pois, para eles, o bancário
perdeu status. Entretanto, foi-lhes explicado que tal afirmação foi colocada em comparação às
demais profissões do mercado e não em relação ao profissional do passado.
O “Ser Consumidor” também possui definições compartilhadas pelos participantes. Não
houve qualquer questionamento sobre as afirmações. Foi-lhes questionado sobre as
interligações entre o “Ser Trabalhador” e o “Ser Consumidor” e houve uma concordância com
as relações estabelecidas pela exposição dos resultados. Os participantes descreveram que
suas relações com os clientes os afetam muito, tanto como consumidores quanto como
trabalhadores. Há, na visão deles, compartilhamento de experiências e frustrações, o que gera
um sentimento de identificação, mesmo quando os clientes estão muito nervosos. Entretanto,
não concordam com a forma como são tratados por alguns consumidores e procuram não
reproduzir tal agressividade quando estão do outro lado, ou seja, como clientes. Foi lhes
questionado sobre como lidam com os clientes que chegam agressivos e cada um expressou
uma estratégia diferente, mas a situação sempre os deixa apreensivos, nervosos e, em alguns
casos, deprimidos depois do dia de trabalho. Um participante expressou que os clientes não
são mais importantes do que os bancários, mas sentem que estão numa relação desigual, em
que o cliente sempre está respaldado, seja pelo PROCON, seja pela imagem que o banco
vendeu ou seja pela postura do gerente da agência. “Quando o banco erra, é o bancário que
paga o pato”, expressou o participante.
No que diz respeito à categoria elementos de expressões da Identidade Social, os participantes
manifestaram que o trabalho é parte da vida pública que têm, principalmente quando
associando ao contexto de uma cidade de médio porte. Foi exposto aos participantes que o
nome do banco é muito utilizado como referência pelos bancários para expressar quem são
para os outros e, então, foi lhes perguntado se isso não contradiz a visão que eles têm da
organização, uma vez que o banco é descrito por alguns de forma negativa. Duas explicações
foram dadas para esta situação. A primeira é que a organização é uma coisa e os acionistas
são outra coisa, embora sejam ditos como sinônimos. A organização é um bom lugar para se
trabalhar e possui um papel social, na visão do participante, mas os acionistas exigem que o
banco aja pensando sempre em curto prazo, por resultados rápidos e contínuos, de forma que
“a gestão da empresa se dobra aos interesses dos que detêm o controle acionário”. A segunda
explicação é que o banco é referência, seja boa ou ruim, de quem eles são. As pessoas os
conhecem pela organização, principalmente numa cidade de menor porte. Um participante
156
relatou um caso em que, ao passear com a família, um cliente começou uma discussão verbal
questionando “como ele tinha coragem de colocá-lo na lista do SERASA?”, como se ele fosse
o banco. “O pior”, acrescentou, “é que nem foi o banco que o colocou naquela situação”. “Às
vezes”, comentou outro participante, “porque nos vestimos bem, os clientes confundem o
lucro dos bancos anunciados no Jornal Nacional com os nossos salários... quem dera!”.
Um dos participantes do focus group salientou, quando foram apresentados os dados que
mostram que os bancários preferem permanecer na organização do que continuar sendo
bancários, que mudar de organização não vai alterar as condições de pressão e a forma como
deverão executar suas tarefas, pois o contexto é igual em todas as organizações, inclusive para
os que trabalham em bancos públicos. Permanecer na organização em outra profissão,
segundo o relato dele, é a possibilidade de sair da “rotina do operacional de agência”,
mantendo os benefícios oferecidos pela instituição.
Não houve comentários que acrescentassem informações sobre a expressão de identidade
associada ao consumo e ao consumidor, de forma que os participantes apenas comentaram
que as informações despertaram interesse sobre o assunto.
A partir do focus group, não se detectou que tenha havido grandes disparidades entre a análise
dos dados e visão que os participantes têm de seu cotidiano, apenas algumas informações
foram acrescentadas para se compreender os resultados da pesquisa. Entretanto, acredita-se
que essa estratégia foi importante feedback para fechar as conclusões e (in)conclusões desta
tese.
157
CAPÍTULO 5 - CONCLUSÕES
Às vezes a realidade, depois de conhecida, parece tão óbvia que esquecemos
que nada é óbvio até que alguém conheça.
158
A análise dos dados coletados nesta pesquisa mostrou que as transformações do contexto,
sejam elas objetivas e específicas do setor bancário, ou sejam elas subjetivas como a
valorização do consumo e do consumidor, estão presentes nos discursos dos entrevistados,
denotando que tais profissionais expressam que estão submetidos a uma realidade laboral
bastante distinta da que tinham nas décadas passadas. Neste sentido, entende-se que os
bancários que participaram da pesquisa demonstram ter consciência das mudanças e, portanto,
tornam-se capazes de contrapor a realidade atual com a realidade vivida em anos anteriores.
Destaca-se que até mesmo os bancários com pouco tempo na profissão compartilham essa
visão das transformações, uma vez que tais informações e experiências do passado foram
socializadas pelos bancários mais antigos.
Em termos das transformações objetivas, foi possível captar que o bancário mudou a forma
como executa e compreende seu trabalho. O bancário de hoje é diferente do bancário do
passado, assim como o seu trabalho, corroborando as afirmações de Merlo e Barbarini (2002).
Os bancários também relataram de forma expressiva as descrições da reestruturação produtiva
que o setor sofreu na década de 1990, como descrito pelo DIEESE (1997 e 2007). As
constatações de Grisci e Bessi (2004) sobre a necessidade de que o bancário reaprendesse a
trabalhar e a lidar com novos modos de subjetivação, bem como a pressão para vender os
produtos financeiros e a perda do status da categoria, ficaram evidenciadas como pano de
fundo em muitas das questões envolvendo o cotidiano do profissional.
Ainda dentre os aspectos objetivos, percebe-se que o consumidor é um elemento central na
rotina dos bancos, sendo que, como foi relatado, a importância e a forma como ele é tratado e
compreendido pelos bancários mudou consideravelmente nos últimos anos. Neste sentido, o
bancário também precisou se reposicionar perante o novo tipo de cliente, mais exigente, mais
respaldado e mais valorizado, pelo menos em discurso, pelas organizações.
Também foi possível observar, dentro do contexto das transformações subjetivas, a
valorização do consumo no discurso dos entrevistados.Valor este que se mostrou presente na
fala de diversos entrevistados em termos pessoais e econômicos, embora tenha aparecido
como valor moral negativo também. Como valor social, embora não tanto quanto os demais
valores, o consumo também foi citado predominantemente como positivo. Foi possível
observar que o consumo se faz presente não só como uma forma de suprir carências materiais
de sobrevivência, mas como forma de prazer, de liberdade, de se sentir completo de
159
satisfação, de busca de felicidade por meio da realização dos projetos materiais de vida.
Os valores pessoais, econômicos, morais associados ao trabalho também se mostraram muito
presentes no discurso dos entrevistados, igualmente de forma positiva. Ele foi descrito como a
forma de realização, de sobrevivência, de dignificação do ser humano. Por meio dele o
trabalhador se sente útil. A fala dos entrevistados mostrou que o trabalho ainda se configura
como um forte referencial para a constituição dos sujeitos sociais.
Embora, como descrito por Arendt (2004), o consumo e o trabalho estejam distanciados em
termos objetivos, de forma que aquilo que o indivíduo produz nem sempre ele consome, há
uma forte conexão entre os dois, um vínculo de complementaridade em termos de seus
valores, como se o trabalho, em termos morais, redimisse os pecados do consumo ou como se
o trabalho legitimasse, justificasse o consumo. Por outro lado, nos valores pessoais, o
consumo é uma compensação prazerosa pelo desgaste, pelo sofrimento do trabalho, ou como
prêmio por sua execução bem feita.
A construção das Identidades a partir do outro, como descrito por Woodward (2000), mostrou
que há uma interligação entre o consumo e o trabalho, principalmente na relação entre o eu-
trabalhador e o outro-consumidor. Na construção que os bancários fazem do “Ser
Trabalhador” há diversas conexões com o “Ser Consumidor”, de tal maneira que para definir
o primeiro utiliza-se como forma recursiva o segundo. O “Ser Trabalhador” depende do “Ser
Consumidor” para se constituir em termos dos papéis sociais, da forma de atuação do
bancário e dos sentimentos associados ao trabalho. O “Ser Trabalhador” não se anula na
presença do “Ser Consumidor”, pelo contrário, ele se afirma, se define, ganha conotações
próprias.
Complementarmente, o “Ser Consumidor”, no que diz respeito à sua forma de atuação durante
o consumo, possui relações diretas com “Ser Trabalhador” na medida em que este convive
com outros “Seres Consumidores” durante a execução de suas atividades no trabalho. Ele
aprende com erros e acertos alheios e reage de forma semelhante aos consumidores com os
quais convive e que estabelece processos de identificação, numa relação de “espelhamento”,
como descrito por Berger e Luckmann (1985). A cada relação social que se estabelece, o
bancário reconstrói suas tipificações do “Ser Consumidor” e do “Ser Trabalhador” de forma
que suas referências mudam de sentido, mas continuam como referências.
160
Na medida em que as tipificações foram modificadas pelas mudanças contextuais, o bancário
estabelece novas estratégias, novas formas para lidar com seu cotidiano e para se constituir
enquanto sujeito social. Dessa forma, é preciso estabelecer novas maneiras de se relacionar
com o trabalho e com o outro, seja este último consumidor ou trabalhador. O trabalho
continua sendo uma referência para o indivíduo, entretanto, o consumidor e o consumo
tornam-se pontos de referência para seu trabalho. É por isso que o consumidor se configura
como uma forma de expressão de realização ou de frustração, pois é, em síntese, a nova forma
como seu trabalho se concretiza.
Enquanto elemento de expressão da Identidade Social, o trabalho ainda pode ser considerado
como expressivo, pelo que foi depreendido pelas falas dos entrevistados. Entretanto, não pode
ser entendido da mesma forma que outrora. O trabalho bancário ainda padece das
modificações que estão acontecendo em termos tecnológicos, gerenciais e sociais, não tendo
elementos cristalizados que sirvam de referência para o indivíduo. Os entrevistados se sentem
bancários, mas não “aqueles bancários de outrora”; são outros bancários, os de hoje. O que é
ser bancário? Ser vendedor? Ser consultor? Ser psicólogo? A certeza que se tem é que ser
bancário hoje não é ser como o bancário de antigamente. E o futuro é marcado por uma visão
negativa, que leva ao temor do fim da profissão.
Os bancários se compreendem como parte de uma categoria, mas não no sentido de união ou
coesão. Um coletivo que compete entre si, que já não é mais tão unido, que não tem o status e
o poder de antes. Sentem que são parte de um agrupamento e não de um coletivo estruturado e
organizado politicamente.
A organização, enquanto entidade social, aparenta ser o refúgio lógico e visível para que os
bancários manifestem quem são, corroborando as constatações de Caldas (1999). São as
organizações que estão presentes no ideário do consumidor, e, portanto, sendo pontos de
referência social. O consumidor as conhece pelo nome e conhece os trabalhadores dela pelos
“seus sobrenomes”. Os bancários, entretanto, estabelecem processos de identificação com o
discurso ou com a política de responsabilidade social do banco, em alguns casos, ou com a
função social da entidade. Metaforicamente dizendo, é melhor ter o sobrenome de uma
entidade que é conhecida como de “boa índole”.
Ao contrário do que Sennet (2004) apontou, em outra realidade distinta da que vivemos, o
trabalho ainda é um espaço de construção referencial para o indivíduo, principalmente porque
161
ainda vive-se sob a égide moral do trabalho. Entretanto, reitera-se que não se pode pensar
dentro da mesma lógica de trabalho que antes. Por mais “estranhado” que o trabalho seja para
o sujeito, como apontou Antunes (1995), ele continua sendo um elemento importante para o
sujeito social. As metamorfoses do trabalho modificaram objetivamente o trabalho e
subjetivamente a forma como os indivíduos lidam com ele, mas não a construção social que
os bancários fazem, em termos de sua importância ou valor como referência. Essa constatação
vai de encontro com a perspectiva construcionista de Berger e Luckman (1985) e de Spink e
Frezza (1999), na medida em que a realidade se constrói no sujeito e não fora dele.
Os resultados da pesquisa também mostram a necessidade de esta pesquisa seja
complementada com estudos posteriores, que se discute no capítulo que se segue.
162
CAPÍTULO 6 - (IN)CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Uma tese é como a construção de uma casa. Você nunca termina. Chega uma hora que você
tem que abandonar a construção e morar nela, mesmo cheia de (in)conclusões. Quando você
pára para pensar, o custo, principalmente o pessoal, extrapolou o orçamento inicial. Mas não
tem valor que pague o preço de ter seu próprio lar. Você começa a gostar até dos defeitos.
163
Este estudo também deixa questões consideradas importantes, mas que, em função do
propósito da pesquisa, não foram desenvolvidas. Também é importante ter em mente que as
opções metodológicas geraram potencialidades e limitações que precisam ser expressas para
que futuros pesquisadores possam aperfeiçoar estudos dessa natureza.
Primeiramente, deve-se evidenciar que a maioria dos autores utilizados para descrever o atual
contexto é oriunda de uma realidade diferente da brasileira, onde o consumo e ser consumidor
possuem características bem distintas. Entretanto, é certo que os movimentos de globalização
dos mercados tendem a aproximar essas realidades, fazendo com que as preocupações de tais
autores sejam igualmente nossas. Sugere-se, nesse sentido, que outros estudos enfatizem a
compreensão das conexões entre o consumo e o trabalho no contexto brasileiro, entendendo
que isso pode contribuir para elucidar nossas especificidades.
É importante compreender que, na medida em que se fez um corte transversal como opção
metodológica, serão necessários novos estudos para compreender a realidade estudada,
entendendo que as mudanças no trabalho e no consumo ainda estão se consolidando. Neste
sentido, recomenda-se que sejam realizadas pesquisas para entender como o trabalho e o
consumo e suas mudanças irão afetar em longo prazo. Pode-se cogitar que algumas das
constatações feitas pela pesquisa ainda podem ser modificadas, uma vez que as próximas
gerações irão assimilar com mais profundidade os valores da sociedade do consumo.
A opção por uma abordagem qualitativa implica, como foi exposto na metodologia, que não
há intenção de constituir uma amostra representativa, pois objetiva estudar em profundidade,
sem tecer generalizações. Além disso, a escolha pelo estudo exploratório e descritivo também
condicionou os resultados de forma a limitá-los na compreensão sobre conexões e das
relações causais entre as categorias de análise. Dessa forma, espera-se que estudos posteriores
possam se apropriar dos conteúdos e resultados dessa tese para desenvolver pesquisas
quantitativas que possibilitem generalizações dos achados aqui expostos.
A escolha da categoria bancária para o estudo foi significativamente importante para entender
o tema, entretanto, algumas de suas especificidades podem restringir o escopo das análises
somente ao setor estudado. Os entrevistados são parte de uma categoria que possui um
elevado grau de instrução formal. Além disso, o fato de lidaram com pessoas endividadas
gerou resultados específicos sobre a visão do consumo e sobre os consumidores. Recomenda-
se, dessa forma, que outras categorias profissionais também sejam estudadas, buscando
164
corroborar ou refutar os achados deste estudo.
Percebeu-se também que o fato de realizar a pesquisa em uma cidade de médio porte pode ter
afetado parte dos resultados da pesquisa, na medida em que as pessoas se conhecem e estão
mais próximas. Além disso, um dos entrevistados relatou que há entre os bancários da capital
um sentido de mobilização maior. Entretanto, não se considera este fato como uma limitação
da pesquisa, pois as agências do interior também fazem parte da realidade bancária, uma vez
que há dispersão geográfica desses estabelecimentos no país.
Expõe-se que ainda é preciso realizar outros estudos sobre as Identidades Sociais dentro das
organizações, associando-a a outros constructos e variáveis. É preciso saber mais sobre como
os sujeitos se constroem no espaço laboral e como as mudanças estão afetando os indivíduos,
ou seja, precisamos nos entender, cada vez mais, enquanto produtores de nossas realidades
dentro das organizações.
Por fim, retorna-se ao começo das indagações, lembrando que o crescimento desenfreado do
consumo talvez seja um dos grandes desafios sociais aos quais a humanidade está submetida,
e os problemas associados a essa temática ainda estão distantes de soluções concretas. O
modelo de crescimento da Era Moderna, estando ou não em um processo de recrudescimento
ou esfacelamento, ainda gera problemas ambientais, econômicos e sociais de tal sorte que a
necessidade de se repensar as opções para o futuro já nos foi incondicionalmente imposta. É
preciso repensar a relação que o homem estabeleceu com sua realidade ambiental, social e,
principalmente, consigo mesmo.
165
REFERÊNCIAS
166
ACCORSI, A. Automação bancária e seus impactos: o caso brasileiro. Revista de
Administração. São Paulo, v.27, n.4. p. 39-46, out./dez., 1992.
AKTOUF, O. Novas perspectivas em gerência e nas teorias das organizações. Material
didático. Belo Horizonte: CEPEAD/FACE/UFMG, 25 a 29 de maio de 1998.
ALBUQUERQUE, L.G. A gestão estratégica de pessoas. In: LIMONGI-FRANÇA, A.C. et al. As
pessoas na organização. 4. ed. São Paulo: Editora Gente, 2002.
A
NTUNES, R. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo
do trabalho. São Paulo: Cortez, 1995.
A
RENDT, H. A condição humana. 10. ed. Tradução de Roberto Raposo. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2004.
ARON, R. O marxismo de Marx. Tradução de Jorge Bastos. São Paulo: Arx, 2003.
ASHFORTH, B.E.; MAEL, F. Social identity and the organization. In: Academy of management
review, v.14, n.1, jan/1989 apud STEVANATO, L. A. Um estudo sobre a construção da
identidade social dos profissionais de e-business. São Paulo: FEA/USP, 2004. (Tese de
Doutorado em Administração).
ASSUNÇÃO, A. A. A saúde bancária na era moderna: fatores de risco. Saúde no trabalho
bancário. São Paulo, Central Única dos Trabalhadores, 1993.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.
BARUS-MICHEL, J. O sujeito social. Tradução Eunice Galery e Virgínia Mata Machado. Belo
Horizonte: Editora PUC Minas, 2004.
BAUDRILLARD, J. A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 1991.
BAUMAN, Z. O mal-estar da pós-modernidade. Tradução, Mauro Gama, Cláudia Martinelli
Gama. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998.
. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Tradução, Carlos Alberto Medeiros. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.
167
BERGER, P.; LUCKMANN, T. A construção social da realidade: tratado de sociologia do
conhecimento. 24. ed. Tradução de Floriano de Souza Fernandes. Petrópolis: Vozes, 1985.
BORZEIX, A.; LINHART, D. Identidades e práticas lingüísticas na empresa. In: CHANLAT, J.F.
(org) O indivíduo na organização: dimensões esquecidas. V.III. São Paulo: Atlas, 1996.
BOURGUIGNON, D. Elementos de análise na construção do perfil epidemiológico de
trabalhadores do Banco do Estado do Espírito Santo. SIMPÓSIO SAÚDE MENTAL E TRABALHO
BANCÁRIO. Anais... Vitória: Gráfica Santo Antônio, 1997.
BRAVERMAN, H. Trabalho e capital monopolista: a degradação do trabalho no século XX. 3.
ed. Rio de Janeiro: LTC, 1987.
CALDAS, M. P.. A demissão e alguns significados psicológicos da perda do emprego para o
indivíduo. In: 23 ENANPAD, 1999, Foz do Iguaçú. Anais..., 1999.
CASSIRER, E. Ensaio sobre o homem: introdução a uma filosofia da cultura humana.
Tradução Tomás Rosa Bueno. São Paulo: Martins Fontes, 1994 (Coleção Tópicos).
CHESNAIS, F. A mundialização do capital. Tradução Silvana Finzi Foá. São Paulo: Xamã,
1996.
CHILD, J. Estratégias gerenciales, nueva tecnologia y proceso del trabajo. In: CASTILLO, J.J.
(org) La automación y el futuro del trabajo: diseño del trabajo y cualificación de los
trabajadores. 2. ed. Madri: Ministério de Trabajo y Seguridad Social, 1991.
C
IAMPA, A. C. A estória do Severino e a história da Severina: um ensaio de psicologia
social. São Paulo: Brasiliense, 2005.
CODO, W. ; SAMPAIO, J. J. C. . Síndrome do Trabalho Vazio Entre Bancários. Jornal
Brasileiro De Psiquiatria, 1992.
COELHO, L.A.L. Tal objeto tal dono. In: LOPES, L.P.M.; BASTOS, L.C. (orgs). Identidades:
recortes multi e interdisciplinares. Campinas: Mercado de Letras, 2002.
C
OMISSÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA FEA/USP. Manual para formatação e edição de
dissertações e teses. São Paulo: FEA/USP, 2004.
168
COOPER, D.R.; SCHINDLER, P.S. Métodos de pesquisa em administração. 7. ed. Porto
Alegre: Bookman, 2003.
COUTO. H.A. O fenômeno LER/DORT no Brasil: natureza, determinantes e alternativas das
organizações e dos demais atores sociais para lidar com a questão. Belo Horizonte: Centro de
Pesquisas e Pós-Graduação em Administração da Faculdade de Ciências Econômicas da
Universidade Federal de Minas Gerais, 2000 (Tese de Doutorado em Administração).
DEDECCA, C.S. Desemprego e regulação no Brasil hoje. Cadernos do CESIT, n.20, ago.
1996.
DE MASI, D. O futuro do trabalho: fadiga e ócio na sociedade pós-industrial. 4. ed.
Tradução: Yadyr A. Figueiredo. Rio de Janeiro: José Olympio; Brasília: Ed. da UnB, 2000.
DIEESE. Mudanças no perfil da categoria bancária: ocupação gênero, escolaridade e faixa
etária (1986-1994). São Paulo: DIEESE, 1997.
.Reestruturação produtiva. Julho de 1997(b). Disponível em <
www.dieese.org.br/esp/estjul97.xml>. Acesso em 24/01/2008.
. Evolução Recente do emprego bancário no Brasil. Belo Horizonte: DIEESE, 1998.
. Admissões e demissões no setor bancário. Nota Técnica. n. 38, Out. 2006.
.
Uma análise da margem de ganho dos bancos. Nota Técnica. n. 35, Out. 2006(b).
.
As receitas de prestação de serviços dos bancos. Brasília: DIEESE, Junho de
2006(c).
.
Fusões no setor bancário: emprego e concorrência. Nota Técnica. n. 55, Nov. 2007.
E
BOLI, M.P. Relações de trabalho no Banco do Brasil: problemas e desafios. Revista de
Administração. São Paulo, v.27, n.4, p. 47-57, out./dez. de 1992.
ELY, H.B. Mudanças tecnológicas nos bancos brasileiros. São Paulo: SESE/SEEB-SP,
1993.
E
NRIQUEZ, E. Perda do Trabalho, perda da identidade.in: NABUCO, M.R.; NETO, A.C. (orgs)
169
Relações de trabalho contemporâneas. Belo Horizonte: Instituto de Relações de Trabalho
da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, 1999.
ERIKSON, E.H. Identity: Youth and Crisis. New York: Norton, 1968, apud GUSTAVSSON, B.
The Ethics of Managing Corporate Identity. Sage Publications New Delhi/Thousand
Oaks/London. Journal Of Human Values. 11:1, 2005.
FALQUETO, M. G. F. B. Construção social da identidade bancária: o que é ser bancário?” In:
Simpósio de saúde mental e trabalho bancário. Anais... Vitória (ES): Universidade Federal do
Espírito Santo, 1997.
FEBRABAN. Portal de Informações. Disponível em:
<http://www.febraban.org.br/portaldeinformacoes/>. Acesso em 24/01/2008.
FISCHER, G.N. Espaço, Identidade e Organização. In: CHANLAT, J.F. (org) O indivíduo na
organização: dimensões esquecidas. V.II. São Paulo: Atlas, 1996.
FISCHER, R. M. Pondo os pingos nos “is” sobre as relações de trabalho e as políticas de
administração de recursos humanos. In: Processos de Relações de trabalho no Brasil. São
Paulo: Atlas, 1985.
FLICK, U. Uma introdução à Pesquisa Qualitativa. 2. ed. Tradução Sandra Netz. Porto
Alegre: Bookman, 2004.
FREITAS, M.C.S. A qualificação do bancário na era da informática: um estudo de caso
sobre o treinamento dos caixas do Banco do Brasil. Niterói: Universidade Federal
Fluminense, 1995 (Dissertação de Mestrado em Educação e Trabalho).
GAULEJAC, V. Identité. In: BARUS-MICHEL, J.; ENRIQUEZ, E.; LEVY, A.(orgs) Vocabulaire de
psychosociologie: références et positions. Toulouse: Érès, 2002.
GERGER, K. The social constructionist movement in modern Psycology. In American
Psychologist, 40 (3), 1985 apud Spink, M.J.; Frezza, R.M. Práticas discursivas e produção
dos sentidos: a perspective da Psicologia Social. In Spink, M.J. (org) Práticas Discursivas e
produção de sentidos no cotidiano: aproximações teóricas e metodológicas. São Paulo:
Cortez, 1999.
170
GIDDENS, A. As conseqüências da modernidade. Tradução de Raul Fiker. São Paulo:
Editora da Universidade Estadual Paulista, 1991.
. Modernidade e Identidade. Tradução Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ed., 2002.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1988.
. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. Ed. São Paulo: Atlas, 1999.
G
OMES, M. H. T. S. Qualificação e a organização do trabalho no setor bancário: uma
discussão sobre a automação. Rio de Janeiro: Universidade Federal de Minas Gerais, 1994
(Dissertação de Mestrado em Engenharia da Produção).
G
ORZ, A. Adeus ao proletariado. Rio de Janeiro: Florence, 1982.
GRISCI, C.L.I.; BESSI, V.G. Modos de trabalhar e de ser na reestruturação bancária
Sociologias, Porto Alegre, ano 6, nº 12, jul/dez 2004, p. 160-200.
GUSTAVSSON, B. The Ethics of Managing Corporate Identity. Sage Publications New
Delhi/Thousand Oaks/London. Journal Of Human Values. 11:1, 2005.
HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. 3. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.
. Quem precisa da identidade? In: SILVA, T.T. (org) Identidade e diferença: a
perspectiva dos estudos culturais. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
JACKSON, J.W.; SMITH, E.R. Conceptualizing Social Identity: A New Framework and
Evidence for the Impact of Different Dimensions. Personality and Social Psychology
Bulletin, 1999. Extraído de [ http://psp.sagepub.com/cgi/content/abstract/25/1/120
] em
12/03/2007.
K
ERLINGER, F.N. Metodologia da pesquisa em ciências sociais: um tratamento conceitual. São
Paulo: EPU/Edusp, 1979. apud GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. Ed. São
Paulo: Atlas, 1999.
L
AURENTI, C.; BARROS, M. N. F. Identidade: questões conceituais e contextuais. Revista
Digital de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina. Londrina, Universidade
171
Estadual de Londrina, v2., n1, Jun/2000. [www2.uel.br/ccb/psicologia/revista] acessso em
01/06/2004.
LIMONGI-FRANÇA, A.C. Era uma vez um certo "Lambari" - Um estudo sobre as respostas
psicossomáticas na empresa, desde o julgamento 'só -psicológico'a revelação social. São
Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1990. (Dissertação de Mestrado).
. Qualidade de vida no trabalho – QVT: conceitos e práticas nas empresas da
sociedade pós-industrial. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.
LINHART, D. Crisis y trabajo. In: CASTILLO, J.J. (org) La automación y el futuro del trabajo:
diseño del trabajo y cualificación de los trabajadores. 2. ed. Madri: Ministério de Trabajo y
Seguridad Social, 1991.
LUTTWAK, E. O capitalismo turbinado e suas conseqüências. Novos estudos. São Paulo:
CEBRAP, n.45, p. 58-64, Jul., 1996.
MACHADO, H. V. A Identidade e o Contexto Organizacional: Perspectivas de Análise. Revista
de Administração Contemporânea. Edição Especial. 2003: 51-73.
MATURANA, H. R.; VARELA F. G. A árvore do conhecimento humano: as bases biológicas
do entendimento humano. Campinas: Editorial Psy II, 1995.
M
ERCER, K. Welcome to the jungle. In: RUTHERFORD, J. (org). Identity: community, culture,
difference. Londres: Lawrence and Wishart, 1990 apud W
OODWARD, K. Identidade e
diferença: uma introdução teórica e conceitual. In: Silva, Tomaz Tadeu da (org) Identidade e
diferença: a perspectiva dos estudos culturais. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes 2000.
MERLO, A.R.; BARBARINI, N. Reestruturação produtiva no setor bancário brasileiro e
sofrimento dos caixas executivos: um estudo de caso. Psicologia & Sociedade; 14 (1): 103-
122; jan./jun.2002.
MORGAN, G. Imagens da organização. São Paulo: Atlas, 1996.
M
OULIN, M.G.B. Trabalho, gênero e saúde mental: modos de inserção da mulher no
trabalho bancário. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1996 (Dissertação
de mestrado em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social).
172
. Sobre os impactos da organização do trabalho bancário na saúde mental dos
trabalhadores. In: SIMPÓSIO SAÚDE MENTAL E TRABALHO BANCÁRIO. Anais... Vitória:
Gráfica Santo Antônio, 1997.
OFFE, C. Trabalho: categoria-chave na sociologia? In: Revista Brasileira de Ciências
Sociais, São Paulo, V.10, n.4, jun. 1989.
PAUCHANT, T.C. A psicologia do self na empresa: uma prespectiva kohutiana. In CHANLAT,
J.F. (org) O indivíduo na organização: dimensões esquecidas. V.III. São Paulo: Atlas, 1996.
RIBEIRO, M.S. Fragilidade financeira e ajuste do sistema bancário comercial brasileiro
pós-Plano Real. Belo Horizonte: Centro de Pesquisas e Pós-Graduação em Administração da
Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais, 1999
(Dissertação de Mestrado em Administração).
SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 9.
ed. Rio de Janeiro: Record, 2002.
SEGNINI, L.R.P. Mulheres no trabalho bancário: difusão tecnológica, qualificação e
relações de gênero. São Paulo: Editora da Universidade de são Paulo, 1998.
SENNET, R. A corrosão do caráter: as conseqüências pessoais do trabalho no novo
capitalismo. Tradução Marcos Santarrita. 8. ed. Rio de Janeiro: Record, 2004.
SILVA, A.C.A. Estresse, estressores e qualidade de vida de bancários: um estudo
exploratório com uma amostra de funcionários do Banco do Brasil. Campinas: Pontifícia
Universidade Católica, 1992 (Dissertação de Mestrado em Psicologia).
SILVA, T.T. da. A produção social da identidade e da diferença. In: SILVA, T.T. (org)
Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes
2000.
SPINK, M.J.; FREZZA, R.M. Práticas discursivas e produção dos sentidos: a perspective da
Psicologia Social. In Spink, M.J. (org) Práticas Discursivas e produção de sentidos no
cotidiano: aproximações teóricas e metodológicas. São Paulo: Cortez, 1999.
STEVANATO, L. A. Um estudo sobre a construção da identidade social dos profissionais
173
de e-business. São Paulo: FEA/USP, 2004. (Tese de Doutorado em Administração).
TEIXEIRA, P.T.F. A individualidade humana na obra marxiana de 1843 a 1848. in. Ensaios Ad
Hominem – N.1, Tomo 1- Marxismo. São Paulo: Estudos e Edições Ad Hominem, 1999.
TOSE, M.G.L.S. Teletrabalho: a prática do trabalho a organização subjetiva dos seus agentes.
São Paulo: PUC São Paulo, 2005.(Tese de Doutorado em Ciências Sociais).
TOULMIN, S. Cosmópolis: the hidden agenda of modernity. New York: The Free Press, 1990
apud F
LICK, U. Uma introdução à Pesquisa Qualitativa. 2. ed. Tradução Sandra Netz. Porto
Alegre: Bookman, 2004.
V
ALLE, P.R.A. Automação bancária e seus impactos sobre o trabalho: o caso de um
grande banco privado nacional. Belo Horizonte: Centro de Pesquisas e Pós-Graduação em
Administração da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas
Gerais, 1995 (Dissertação de Mestrado em Economia).
VASCONCELOS, I.F.G; VASCONCELOS, F.C. Gestão de recursos humanos e identidade social:
um estudo crítico. Revista de Administração de Empresas – RAE. São Paulo: v. 42, n. 1, p.
64-78, Jan/Mar, 2002.
VELOSO, H.M et al. As transformações no mundo do trabalho. In: Pimenta, S.M. (org)
Recursos Humanos: uma dimensão estratégica. Belo Horizonte: UFMG/FACE/CEPEAD,
1999.
VELOSO, H. M. O que o coração sente mesmo quando os olhos não vêem: levantamento e
análise dos agentes estressores do trabalho bancário. Belo Horizonte: Centro de Pós-
Graduação e Pesquisa em Administração da Faculdade de Ciências Econômicas da
Universidade Federal de Minas Gerais, 2000 (Dissertação de Mestrado em Administração).
WOODWARD, K. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In: SILVA, T.T.
(org) Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. 2. ed. Petrópolis, RJ:
Vozes 2000.
174
APÊNDICES
175
APÊNDICE A ROTEIRO DE ENTREVISTA
Começar a entrevista explicando a natureza do trabalho acadêmico e garantindo o sigilo das
respostas do entrevistado. Explicar que a conversa será gravada apenas por questões de
praticidade e para não atrasar o processo de entrevista.
1. Aspectos Introdutórios (objetivo da pergunta: situar o indivíduo dentro do seu quadro de
referência pessoal)
1.1. Data da Entrevista
1.2. Nome completo
1.3. Banco em que trabalha
1.4. Idade
1.5. Formação
1.6. Estado Civil? Filhos?
1.7. Quando você não está trabalhando o que gosta de fazer?
1.8. Você gosta de fazer compras? O que você gosta de comprar? O que você sente quando
está comprando? (Aprofundar diálogo)
1.9. Quando as pessoas perguntam quem é você, o que utiliza como referência para explicar
quem é?
1.10 O que você diria para seu filho se ele perguntasse quem é você?
2. Identificação funcional do entrevistado (objetivo da pergunta: avaliar o tempo de contato
do entrevistado com a organização, com a agência, com a profissão; situar o funcionário na
estrutura da empresa; avaliar o grau de familiaridade com a tarefa executada)
2.1. Há quantos anos você trabalha neste banco?
2.2. E nesta agência?
2.3. Já trabalhou em outros bancos? (detalhar, caso sim)
176
2.4. Tempo total como bancário (não precisa necessariamente perguntar)
2.5. Qual é o Cargo/Função que você executa?
2.6. Há quanto tempo neste cargo?
3. Visão do próprio trabalho (objetivo da pergunta: compreender a execução das tarefas no
banco; avaliar os relacionamentos horizontais e verticais do funcionário; avaliar o nível de
contato com o consumidor)
3.1. Descreva o trabalho que realiza no banco, falando de suas funções, tarefas e obrigações.
(Modus operandi).
3.2. Na execução de seu trabalho você tem muito contato com outros funcionários ou com
seus superiores?
3.3. E com os consumidores, você tem muito contato com eles?
4. Consciência das transformações do trabalho (objetivo da pergunta: avaliar se o
funcionário possui uma visão de que seu trabalho tem sofrido alterações e quais as
perspectivas para o seu futuro profissional)
4.1. Como você vê a sua profissão no passado? (traçar paralelo com o presente)
4.2. E no futuro?
4.3. Qual é a principal transformação que você percebeu no trabalho bancário?
5. Sobre o trabalho (objetivo da pergunta: descobrir como o indivíduo vê a sua relação com
o trabalho)
5.1. O que um bancário faz e o que diferencia o trabalho de um bancário de outras profissões?
5.2. Você se sente bancário?
5.3. Como você se sente ao trabalhar dentro do banco?
5.4. O que você gostaria de mudar em seu trabalho?
5.5. Você se identifica com o trabalho que faz?
177
6. Imagem da organização atual
6.1. Qual a importância que a organização tem na sua vida?
6.2. Você acha que o Banco (nome do banco) afeta na definição de quem você é?
6.3. O que diferencia, na sua opinião, o trabalho dentro do Banco (nome do Banco) daquele
de outras instituições?
6.4. Com quais aspectos da organização você se identifica?
6.5. Entre trabalhar como bancário em outra organização (diferente da que trabalha
atualmente) e trabalhar no banco em outra profissão (não sendo bancário), em qual situação
você se identifica mais?
7. Concepção da Categoria Profissional
7.1. Como você vê os bancários como uma categoria profissional?
7.2. Você se identifica com esta categoria profissional?
8. Tipificações
8.1. Gostaria que você falasse das seguintes pessoas, descrevendo quem são elas e como você
as caracteriza:
8.1.1. Você como consumidor (eu-consumidor)
8.1.2. Você como bancário (eu-trabalhador)
8.1.3. O consumidor (outro-consumidor)
8.1.4. O colega de trabalho bancário (outro-trabalhador)
8.2. O que é ser “consumidor” na sua percepção?
8.3. Qual é a importância do consumidor?
8.4. Como é a sua relação com o consumidor?
8.5. Como o consumidor interfere na realização de seu trabalho?
178
8.6. Compare o consumidor e você dentro da organização, descrevendo as principais
diferenças e semelhanças.
8.7. Você sente que o indivíduo consumidor é mais importante do que o indivíduo bancário?
8.8. Compare duas situações: você como trabalhador x você como consumidor. Quais as
diferenças e semelhanças que você percebe nas duas situações?
8.9. Você prefere ser consumidor ou ser bancário?
9. Descrições
9.1. O que representa o trabalho para você?
9.2. Como você acha que o trabalho afeta na definição de quem é você?
9.3. O que representa o consumo para você?
9.4. Como você acha que o consumo afeta na definição de quem é você?
9.5. O que representa o consumidor para você?
9.6. Como você acha que o consumidor afeta na definição de quem é você?
9.7. Você acha que ao consumir você consegue expressar a sua individualidade, mostrando
quem é a partir do que consome e de que forma consome?
Finalização
Você gostaria de fazer algum outro comentário ou sugestão? Há algum ponto que tenha sido
esquecido, mas que você acha que é importante salientar?Agradecer a participação. Desligar
gravador e perguntar se há alguma dúvida.
179
APÊNDICE B QUADROS DE ANÁLISE DO ROTEIRO DE ENTREVISTA
Quadro 13 - Quadro de análise do roteiro de pesquisa por categoria de análise
Pergunta do Roteiro Categorias de análise
(1.1),(1.2), (1.3), (1.4),(1.5), (1.6), (1.7) Caracterização da população
(2.1), (2.2), (2.3), (2.4), (2.5), (2.6), (3.1), (3.2),
(3.3), (5.10, (6..3)
Identificação funcional e caracterização do trabalho
(1.8), (8.1.1), (8.1.3), (8.2), (8.3), (8.4), (8.5), (8.6),
(8.7), (8.8), (8.9), (9.3), (9.4), (9.5), (9.6), (9.7)
Ser Consumidor
(1.7), (1.10), (3.1), (4.), (4.2), (5.1), (5.3), (5.4),
(5.5), (7.1), (8.1.2), (8.1.4), (9.1), (9.2)
Ser Trabalhador
(5.3), (5.4), (6.1), (7.1), (9.1), Valor-trabalho
(1.8), (8.2), (8.3), (8.4), (8.5), (8.7), (9.3), (9.5) Valor-consumo
(4.1), (4.2), (4.3) Consciência das transformações do trabalho
(1.9), (1.10) Expressão de Identidade
(5.2), (5.5), (6.2), (6.4), (6.5), (7.2) (8.1.4),(9.2) Expressão de Identidade-trabalho
(8.1.1), (8.1.3), (9.4), (9.6), (9.7) Expressão de Identidade-consumo
(8.6), (8.8), (8.9) Expressão de Identidade-consumo-trabalho
Fonte: do autor
180
APÊNDICE C ANÁLISE DOS DADOS INDIVIDUAIS DOS ENTREVISTADOS
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Orgulho
Valorização
Faço dentro das normas
Pessoa correta
Precisa ser psicólogo
Ser condescendente
Dependo do consumidor
Sou controlada
Sou tranqüila
Não sou compulsiva
Gosto de qualidade
Exijo bom atendimento
Outro Colega de trabalho Consumidor
Pessoa que ajuda
Parceiros
Pessoa importante para desenvolver o trabalho
Classe unida
Poderia ser mais unida
Falta integração entre os bancos
É quem paga o meu salário
Parte fundamental
Sem ele não desenvolvo o meu trabalho
Sentir valorizado
Sentir orgulho
Ser psicólogo
Fazer dentro das normas
Ser correta
Ser condescendente
Depender do consumidor
Ajudar
Ser parceiro
Ser tranqüilo
Ser compulsivo
Ser controlado
Gostar de qualidade
Exigir bom atendimento
Pagar o salário dos outros
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Características pessoais
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Econômico
Moral
Positivo
Positivo
Pessoal
Econômico
Social
Positivo
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 4 - Análise dos dados do Entrevistado: 01
Fonte: Dados de pesquisa
181
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Adoro trabalhar no banco
Gosto de fazer direito
Tem que saber filtrar os tipos de cliente
Gosto de comprar
Gosto de ter as coisas
Apavorado para comprar
Impulsivo
Outro Colega de trabalho Consumidor
Tem alguns que são amigos mesmo
Gosto do pessoal que trabalha aqui
São sinceros
Não vejo falsidade
Classe desunida
Privado x Público
Tem vários tipos
Tem uns que a gente pode confiar
Tem cliente que xinga
Se acha Deus
Fazer direito
Gostar de Trabalhar no Banco
Ser amigo
Saber filtrar os tipos de cliente
Ser sincero
Ser desunido
Gostar de Comprar
Ter coisas
Ser impulsivo
Ser confiável
Xingar
Se achar Deus
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser consumidor
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Referência a características pessoais
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Moral
Positivo
Positivo
Pessoal
Econômica
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 5 - Análise dos dados do Entrevistado: 02
Fonte: Dados de pesquisa
182
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Realização
Consultor de negócios
Atendimento
Relacionamento
Lidar com gente
Venda de um serviço
Sou 90% trabalho
Gosta de ser transparente
Sou fácil de lidar
Sou consumista
Gosto de novidade
Exigente
Se me atendeu bem acaba me ganhando
Sou esclarecido
Exige como é exigido
Outro Colega de trabalho Consumidor
Equipe boa
Categoria unida na ora de buscar benefício
Concorrentes
O cliente está mais consciente
Mais informado
Pesquisa mais
Quer mais tempo para conversar
Sentir realizado
Ser consultor
Atender
Relacionar
Lidar com gente
Vender serviço
Ser transparente
Ser fácil de lidar
Ser concorrente
Ser consumista
Gostar de novidade
Ser exigente
Ser esclarecido
Exigir
Ser mais consciente
Pesquisar mais
Querer mais tempo para conversar
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Moral
Positivo
Positivo
Pessoal
Econômico
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 6 - Análise dos dados do Entrevistado: 03
Fonte: Dados de pesquisa
183
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Menor status
Pressão
Empresta dinheiro
Relacionamento
Muito responsável
Dependo do consumidor
Exigir direitos
Ter obrigações
Tenho que frear como consumidor
Outro Colega de trabalho Consumidor
É o parceiro
Muitos colegas
A gente tenta trabalhar em parceria
Existem ovelhas desgarradas
São unidos
É quem determina o mercado
É quem dita as regras
É ele que vai determinar se eu vou trabalhar
nesse ramo mais algum tempo ou não
Ter menos status
Ser pressionado
Emprestar dinheiro
Relacionar
Ser responsável
Ser parceiro
Ser unido
Exigir direitos
Ter obrigações
Determinar o mercado
Ditar as regras
Determinar quem trabalha
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Depende da função
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Econômico
Positivo
Psicológico
Moral
Político
Econômico
Positivo
Positivo
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 7 - Análise dos dados do Entrevistado: 04
Fonte: Dados de pesquisa
184
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Vendedor
Pró-atividade
Frustração
150% da minha meta
Visar resultados
Bom senso
Comprar sem exageros
Compro o necessário
Consumidor agressivo
Outro Colega de trabalho Consumidor
Não tem mais sensibilidade
Quer travar uma guerra
Ele quer crescer
Sem força política
O cliente é muito exigente
Evoluído
Consciente
Vender
Ser pró-ativo
Sentir frustração
Visar resultados
Não ser sensível
Travar uma guerra
Crescer
Não ter força política
Ter bom senso
Comprar sem exageros
Comprar o necessário
Ser agressivo
Ser exigente
Ser evoluído
Ser consciente
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser consumidor
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Econômico
Social
Pessoal
Positivo
Negativo
Positivo
Pessoal
Econômico
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 8 - Análise dos dados do Entrevistado: 05
Fonte: Dados de pesquisa
185
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Perdeu status
Relaciona com pessoas
Vende produtos
Satisfaz o cliente
Tem que dar resultado
Não sei o que eu seria se não tivesse trabalho
Me identifico com vários clientes
Buscar o que precisa
Impulsiva
Compra mais do que precisa
Se identifica com o cliente chato
Outro Colega de trabalho Consumidor
Nem todo mundo se dá bem com a profissão
Muitos não queriam estar em bancos
O cliente hoje é fundamental
Tem que tratar bem
Hoje tudo depende do cliente
Perder status
Relacionar com pessoas
Vender produtos
Satisfazer o cliente
Dar resultado
Não se dar bem com a profissão
Não querer estar em bancos
Se identificar com o cliente
Buscar o que precisa
Ser impulsiva
Comprar mais do que precisa
Ser chato
Ser fundamental
Ser bem tratado
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Referência a características pessoais
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Econômico
Social
Positivo
Positivo
Negativo
Pessoal
Econômico
Social
Positivo
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 9 - Análise dos dados do Entrevistado: 06
Fonte: Dados de pesquisa
186
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Atualizado
Ajuda as pessoas a realizar sonhos
Bom profissional
Segue as normas do banco
É você poder estar comprando
Sei ouvir
Fico quietinho
Trata o cliente como gostaria de ser tratado
Gosto de consumir
Não tem preocupação com o futuro
Outro Colega de trabalho Consumidor
Amigos confidentes
Desunida
Se contrapõem entre organizações diferentes
Vê os funcionários do banco do Brasil e da
caixa como diferentes
Dispersa
Não sabe a força que tem
O cliente é tudo
É a alma do negócio
Ser atualizado
Ajudar as pessoas
Seguir normas
Poder comprar
Ouvir
Ficar quietinho
Tratar o cliente como gosta de ser tratado
Ser desunido
Ser disperso
Não saber a força que tem
Gostar de consumir
Não ter preocupação com futuro
Ser tudo
Ser a alma do negócio
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Referência a características pessoais
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Social
Econômico
Moral
Positivo
Positivo
Positivo
Positivo
Pessoal
Econômico
Contraditório
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 10 - Análise dos dados do Entrevistado: 07
Fonte: Dados de pesquisa
187
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Competitivo
Atende o cliente
Mais organizado
Trabalho é tudo para mim
Respeito
Você consegue tudo
É menos exigente
Tornou-se uma pessoa controlada
Exigente
Quer clareza e confiança
É instruída
Posso dar o grito
Outro Colega de trabalho Consumidor
Já foram mais humildes
Estão distantes
Medo de perder o emprego
Reclama sem conhecimento do que tem direito
É um casamento com o cliente
Ser competitivo
Atender o cliente
Ser mais organizado
Ser respeitado
Conseguir tudo
Ser menos exigente
Não ser humilde
Ter medo de perder o emprego
Ser controlado
Exigir
Querer clareza e confiança
Ser instruído
Poder dar o grito
Reclamar sem conhecer os direitos
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Social
Econômico
Moral
Positivo
Positivo
Positivo
Positivo
Pessoal
Econômico
Negativo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 11 - Análise dos dados do Entrevistado: 08
Fonte: Dados de pesquisa
188
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
De tudo um pouco
Atende o cliente
Gosta do que faz
Representa tudo
Auto-estima
Gosta de consumir para desestressar
Outro Colega de trabalho Consumidor
Tem que ser companheiro
Compreensivo
Alguns vão passar por cima
Estressados
Trabalha como se fosse máquina
Tem que estar satisfeito com o banco
Ser de tudo um pouco
Atender o cliente
Gostar do que faz
Ter auto-estima
Ser companheiro
Ser compreensivo
Passar por cima
Ser estressado
Trabalhar como máquina
Gostar de consumir para desestressar
Ser satisfeito
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Família
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Econômico
Pessoal
Positivo
Contraditório
Pessoal
Econômico
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 12 - Análise dos dados do Entrevistado: 09
Fonte: Dados de pesquisa
189
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Faz negócio com o cliente
Dedicado
Comprometido
Subsistência
Trabalho que goste de fazer
Sou bom de relacionamento com os clientes
Sou decidido
Compro o que tenho necessidade
Realizações
Prezo pela qualidade
Não sou passivo
Se realiza fazendo compras
Insegura para comprar
Outro Colega de trabalho Consumidor
Companheiro
Passa mais tempo aqui do que com a família
Já foram unidos como categoria
Não tem mais a estabilidade
A razão de estar ali
Fazer negócio com o cliente
Ser dedicado
Ser comprometido
Gostar do trabalho que faz
Ser bom de relacionamento
Ser decidido
Ser companheiro
Passar mais tempo no banco do que com a
família
Não ter estabilidade
Comprar o que tem necessidade
Realizar-se
Prezar pela qualidade
Não ser passivo
Ser inseguro para comprar
Não comprar para sua subsistência
Ser a razão de alguém estar ali
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Família
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Econômico
Pessoal
Positivo
Contraditório
Pessoal
Econômico
Contraditório
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 13 - Análise dos dados do Entrevistado: 10
Fonte: Dados de pesquisa
190
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Ajuda a pessoa a cuidar do dinheiro
Trabalha direitinho
Faz com qualidade
Não tenho preguiça de trabalhar
Gosta de trabalhar
Paciente
Compro coisa boa
O que gosta não tem preço
Indeciso
Outro Colega de trabalho Consumidor
Tem ciúmes
Não vejo muito unido
Muito bom
Nervoso
Tem uns que falam absurdos
Ajudar a cuidar do dinheiro da pessoa
Trabalhar direitinho
Fazer com qualidade
Não ter preguiça de trabalhar
Gostar de trabalhar
Ser paciente
Ter ciúmes
Não ser unido
Comprar coisas boas
Ser indeciso
Ser muito bom
Ser nervoso
Falar absurdos
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Psicológico
Econômico
Moral
Positivo
Positivo
Positivo
Pessoal
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 14 - Análise dos dados do Entrevistado: 11
Fonte: Dados de pesquisa
191
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Competitivo
Mais responsabilidade
Vende dinheiro
Relacionamento
Dedicado
Sente feliz
Satisfação muito grande
Uma realização
Justifica meu consumo
Coloco sentimento na relação
Dedicado
Consumista
Consumo o que preciso
Extrapolo
É um prazer
Sou bom consumidor
Gostaria de me ter como cliente
Outro Colega de trabalho Consumidor
Um parceiro
Tem que ser legal
É um pessoal unido
Classe unida
Tem uma grande força
Muito bem definida
Elo da cadeia mais importante
Muito mais exigente que antes
Mais conhecimento de seus direitos
Não é fiel
Você perde ele facinho
Ser competitivo
Ter responsabilidade
Vender dinheiro
Relacionar
Ser dedicado
Ser feliz
Ter satisfação
Realizar-se
Justificar o consumo
Colocar sentimento
Ser unido
Ter uma grande força
Ser consumista
Consumir o que precisa
Extrapolar
Sentir prazer
Ser elo mais importante da cadeia
Ser mais exigente
Conhecer mais os direitos
Não ser fiel
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal Positivo Pessoal
Econômico
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 15 - Análise dos dados do Entrevistado: 12
Fonte: Dados de pesquisa
192
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Menos status
Vende
Satisfação da minha vida
Tenho necessidades
Estou controlado
Sou cliente do banco
Outro Colega de trabalho Consumidor
Trabalho em equipe
Busca ajudar um ao outro
Categoria estressada
Pessoas que correm atrás
Personagem principal da questão bancária
Ele é que me ajuda a conseguir tudo isso
Ter menos status
Vender
Trabalhar em equipe
Ajudar o outro
Ser estressado
Correr atrás
Ter necessidades
Ser controlado
Ser personagem principal
Ajudar a conseguir tudo
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser consumidor
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Econômico
Moral
Positivo
Positivo
Positivo
Pessoal
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 16 - Análise dos dados do Entrevistado: 13
Fonte: Dados de pesquisa
193
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Vender
Ter persuasão
Dedicada
Concorda com o sistema
É um vencedor
Passo uma imagem do eu
Quer qualidade
Sou crítico
Faço pesquisas antes de comprar
Sou criteriosa
Não compro no impulso
Quer qualidade
Outro Colega de trabalho Consumidor
Tem que gostar de trabalhar e trabalhar em
equipe
Categoria rebelde
Novatos rebeldes
Categoria que sofre junto com o povo
Categoria que tem que sobreviver
Tende a reduzir
Sabe que tem que se investir para manter no
ramo
Tem mudado
Cada vez mais exigente
Cada vez mais sabendo das coisas
Vender
Ter persuasão
Ser dedicado
Concordar com o sistema
Ser vencedor
Passar uma imagem de si
Querer qualidade
Gostar de trabalhar em equipe
Ser rebelde
Sofrer junto com o povo
Ter que sobreviver
Ter que investir em si
Ser crítico
Fazer pesquisas antes de comprar
Ser criteriosa
Não comprar no impulso
Querer qualidade
Mudar
Ser mais exigente
Saber mais das coisas
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser consumidor
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Família
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Econômico
Moral
Contraditório
Positivo
Positivo
Pessoal
Econômico
Contraditório
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 17 - Análise dos dados do Entrevistado: 14
Fonte: Dados de pesquisa
194
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Metas
Psicólogo
Administrador
Exercício ilegal da profissão
Ajuda as pessoas
A favor do cliente
Não nasci para ser dondoca
O trabalho faz a gente se sentir completo
Tenta ser igual ao consumidor
Fujo ao consumir
Tento me controlar
Compulsiva
Sou exigente
Outro Colega de trabalho Consumidor
Está no mesmo barco
Tem as mesmas metas
As mesmas pressões
Não vejo como um número
Cambada de gente medíocre
Bancário qualquer um pode ser
Estagnada naquilo
Sem informação
O cliente tirano e o que precisa de ajuda
Ter metas
Ser psicólogo
Ser administrador
Ajudar pessoas
Ser a favor do cliente
Não ser dondoca
Se sentir completo
Ser igual ao consumidor
Ser pressionado
Ser medíocre
Ser estagnado
Fugir
Tentar se controlar
Ser compulsivo
Ser exigente
Ser tirano
Precisar de ajuda
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser consumidor
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Referência a características pessoais
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Social
Moral
Econômico
Negativo
Negativo
Positivo
Positivo
Pessoal
Social
Econômico
Positivo
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 18 - Análise dos dados do Entrevistado: 15
Fonte: Dados de pesquisa
195
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Tem cobranças
Consultor financeiro
Presta serviço
Satisfeito
Não deixo dúvidas para o cliente
Realização
Ter alguma coisa para encher meu dia
Sou profissional
Procura o melhor
Dói quando não consegue satisfazer o cliente
Busca complementar-se
Sou muito exigente
Procuro satisfação completa
Sou formiga de supermercados
Outro Colega de trabalho Consumidor
Totalmente desunido
Concorrência
Ele é muito exigente
Ser cobrado
Ser consultor financeiro
Prestar serviço
Estar satisfeito
Não deixar dúvidas para o cliente
Realizar-se
Ter alguma coisa par encher o dia
Ser profissional
Procurar o melhor
Sentir dor quando não conseguir satisfazer o
cliente
Ser desunido
Ser concorrente
Buscar complementação
Ser exigente
Procurar satisfação
Ser formiga de supermercado
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Referência a características pessoais
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Positivo Pessoal
Econômico
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 19 - Análise dos dados do Entrevistado: 16
Fonte: Dados de pesquisa
196
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Vende
Cobro demais de mim
Importante
Necessário pelo dinheiro
Ocupa a cabeça da gente
Trabalho para consumir
Procura deixar o consumidor satisfeito
Sou exigente
Passei a ser inteligente
Vou pesquisar
Vou querer ser melhor
É insatisfeita
Outro Colega de trabalho Consumidor
Me dou bem com todos
Categoria estressada
Todo mundo bem parecido, todo mundo
desesperado, muita correria, só fala em banco e
em dinheiro
Imprevisível
Vender
Cobrar-se demais
Ser importante
Ocupar a cabeça
Trabalhar para consumir
Deixar o consumidor satisfeito
Dar-se bem com todos os colegas
Ser estressado
Ser parecido com colegas
Ser desesperado
Correr muito
Só falar em Banco e dinheiro
Ser exigente
Ser inteligente
Pesquisar
Querer ser melhor
Ser insatisfeito
Ser impaciente
Brigar
Ser imprevisível
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Econômico
Contraditório
Positivo
Pessoal
Econômico
Social
Positivo
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 20 - Análise dos dados do Entrevistado: 17
Fonte: Dados de pesquisa
197
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Atende clientes
Vende
Profissional
Representa minha vida
Trato como eu gosto de ser tratado
Atendo como cliente
Amo consumir
Sou mais consumista
Consumidor compulsivo
Outro Colega de trabalho Consumidor
Trabalho em equipe
Categoria melhor hoje em dia
Exigente
Atender clientes
Vender
Ser profissional
Tratar como gosta de ser tratado
Atender clientes
Trabalhar em equipe
Amar consumir
Ser consumista
Ser compulsivo
Ser exigente
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Econômico
Positivo
Positivo
Pessoal
Social
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 21 - Análise dos dados do Entrevistado: 18
Fonte: Dados de pesquisa
198
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Vendedor
Status
Não sou estritamente profissional
Estabeleço vínculo pessoal com consumidor
Mau cliente
Não gosto de gastar
Outro Colega de trabalho Consumidor
Necessidade de se tornar amigos
Começando a ficar unidos
Os funcionários de outros bancos se interagiam
muito mais
Alguém a se atender
Satisfazer as necessidades
Vender
Ter status
Ser estritamente profissional
Estabelecer vínculo com consumidor
Ser amigo dos colegas
Ser mau cliente
Não gostar de gastar
Satisfazer as necessidades
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser os dois
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Econômico
Moral
Positivo
Positivo
Positivo
Pessoal
Econômico
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 22 - Análise dos dados do Entrevistado: 19
Fonte: Dados de pesquisa
199
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Concorrência
Bater metas
Sou exigente comigo mesmo
Não gosto de coisas erradas
Vejo o interesse do banco
Me coloco no lugar do cliente
Consumo para passar o tempo
O que não tem necessidade
Sou exigente
Não aceito erros
Gosto das coisas bem feitas
Reclamo
Outro Colega de trabalho Consumidor
Tem uns que não estão nem
Estão despreocupados
Profissão normal
Classe média
Status
Tem cliente exigente
Tem cliente calmo e tem cliente apavorado
Ser concorrente
Ter pior salário
Bater metas
Ser exigente consigo mesmo
Não gostar de coisas erradas
Ver o interesse do banco
Colocar-se no lugar do cliente
Consumir para passar o tempo
Consumir o que não tem necessidade
Ser exigente
Não aceitar erros
Gostar das coisas bem feitas
Reclamar
Ser calmo ou ser apavorado
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Econômico
Social
Positivo
Positivo
Positivo
Pessoal
Moral
Econômico
Positivo
Negativo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 23 - Análise dos dados do Entrevistado: 20
Fonte: Dados de pesquisa
200
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Muito dedicado
Pessoa engajada
Sou firme nas decisões
Sou transparente, honesta e cordial
Estou trabalhando, tenho direito de consumir
Não sou impulsivo
Analiso bastante
Outro Colega de trabalho Consumidor
Que assuma responsabilidades
Estar com você a todo momento
Tem todo tipo de cliente
O maior artigo que uma empresa pode ter
Ser muito dedicado
Ser engajado
Ser firme nas decisões
Ser transparente
Ser honesta e cordial
Ter o direito de consumir
Assumir responsabilidades
Estar com o colega a todo momento
Não ser impulsivo
Analisar bastante
Ser de todo tipo
Ser o maior artigo de uma empresa
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Moral
Positivo
Positivo
Pessoal
Social
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 24 - Análise dos dados do Entrevistado: 21
Fonte: Dados de pesquisa
201
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Menos status
Lida com gente
Comprometida com o trabalho
Visto a camisa da empresa
Gosto de trabalhar
Define quem eu sou
Gosto de comprar
Evito gastos com coisas supérfluas
Consumidor moderado
Quer satisfação
Outro Colega de trabalho Consumidor
Minha segunda família
Personalidades diferentes
Relativamente até que é unida
Classe sufocada
A pressão em cima dos funcionários em atingir
metas
É o maior patrimônio do banco
Ter menos status
Lidar com gente
Ser comprometido com o trabalho
Vestir a camisa da empresa
Gostar de trabalhar
Ser alguém
Ser da família
Ter personalidades diferentes
Ser relativamente unidos
Ser sufocado
Ser pressionado para atingir metas
Gostar de comprar
Evitar gastos com coisas supérfluas
Ser consumir moderadamente
Ser maior patrimônio
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser consumidor
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Referência a características pessoais
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Moral
Econômico
Contraditório
Positivo
Positivo
Pessoal
Moral
Econômico
Positivo
Negativo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 25 - Análise dos dados do Entrevistado: 22
Fonte: Dados de pesquisa
202
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Vendedor
Salário baixo
Disputa
Dedicada
Caxias
Preocupada
Conseguir satisfazer uma pessoa
Se não tiver relacionamento, não vende
Sou aquele que pode atender a necessidade
Vou criar uma necessidade que nem eu teria
Não consegue viver sem consumir
Compro muita coisa que não tem necessidade
Outro Colega de trabalho Consumidor
Individualismo
Querer se sobressair pegar comissão melhor
Ele é vendedor
Vai cumprir meta
Quando entrei no banco era muito unido
Competitividade cada um buscando o seu
sucesso
O cliente é muito bom
Muito paciente
Tem necessidades urgentes
Vendedor
Ter salário baixo
Disputar
Ser dedicado
Ser Caxias
Preocupar-se
Conseguir satisfazer uma pessoa
Ter relacionamento
Poder atender a necessidade
Criar uma necessidade
Não conseguir viver sem consumir
Comprar o que não tem necessidade
Ser muito bom
Ser muito paciente
Ter necessidades urgentes
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal Positivo Pessoal
Moral
Econômico
Positivo
Negativo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 26 - Análise dos dados do Entrevistado: 23
Fonte: Dados de pesquisa
203
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Facilidades tecnológicas
Menos direitos
Contato com clientes
Se todo bancário fizesse o que eu faço
Visto a camisa
Não faço pela metade
Me dou nota nove
Trabalho é mecânico
Sou altamente consumista
Sou compulsiva
Não planejo as minhas coisas
Outro Colega de trabalho Consumidor
Relaciono bem
Não tem tempo de relacionar
Muito distante
Difícil entrosamento
A distância dos grandes centros, categoria
muito desunida
A gente envolvia mais com os sindicatos
Sem eles a gente não vive
Bonzinho
Pedras na mão
A gente depende deles para viver
Ele é a nossa vida
Lidar com facilidades tecnológicas
Ter menos direitos
Fazer contato com clientes
Vestir a camisa
Não fazer pela metade
Trabalhar mecanicamente
Ser consumista
Ser compulsiva
Não planejar as suas coisas
Ser bonzinho
Ter pedras na mão
Ser fonte de dependência de alguém
Ser a vida de alguém
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Referência a características pessoais
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Econômico
Positivo
Positivo
Pessoal
Moral
Econômico
Social
Positivo
Negativo
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 27 - Análise dos dados do Entrevistado: 24
Fonte: Dados de pesquisa
204
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Presta serviço à comunidade
Orienta pessoas
Qualificado
Eu preciso do cliente
Se preocupa em preparar
Consumo é necessário para sobreviver
Tira meu estresse
Consome sem necessidade
Fácil de se levar se for respeitado
Não se prepara para fazer o melhor
Outro Colega de trabalho Consumidor
Muito desunida, pois cada um trabalha num
setor
Cada banco foca um público alvo.
Alguém que precisa de alguma coisa do banco
Prestar serviço à comunidade
Orientar pessoas
Ser qualificado
Precisar do cliente
Preocupar-se em preparar
Ser necessário para sobreviver
Tirar seu estresse
Consumir sem necessidade
Ser fácil de ser levado
Não se preparar para fazer o melhor
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser consumidor
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Bancário
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Econômico
Contraditório
Positivo
Pessoal
Econômico
Moral
Positivo
Positivo
Negativo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 28 - Análise dos dados do Entrevistado: 25
Fonte: Dados de pesquisa
205
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Concorrência
Menos Status
Ir atrás do cliente
Deixar o cliente satisfeito
Sou exigente comigo mesmo
Busco produtos que atendam a necessidade do
consumidor
É menos exigente
Sou exigente
Gosto de ser bem atendido
Exige como faz no trabalho
É mais exigente
Outro Colega de trabalho Consumidor
Muito parceiro
Companheiro
Estão bem fortes hoje
Vem crescendo o número de bancários
Ele está mais informado
Ele tem uma exigência muito grande
O cliente tem muita força
Ser concorrente
Ter menor status
Ir atrás do cliente
Deixar o cliente satisfeito
Ser exigente consigo mesmo
Buscar produtos para atender a necessidade do
cliente
Ser menos exigente
Ser exigente
Ser bem atendido
Exigir como faz no trabalho
Ser mais informado
Ter muita força
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 29 - Análise dos dados do Entrevistado: 26
Fonte: Dados de pesquisa
206
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Atende demandas do cliente
Atender as expectativas do cliente
Gosto do que faço
Gosto de ser bancário
Posso ajudar as pessoas
Consumidor compulsivo
Gosta de consumir
Não tem medo de errar
Outro Colega de trabalho Consumidor
Guerreiros
Tem aqueles que amam ser bancários
Outros acham que é um bico
A comunidade vê como uma profissão boa
Trabalho bancário é estressante
Trabalho repetitivo
Bem vista pela comunidade
É alguém que tem uma perspectiva de
consumo
Uma demanda por um produto ou serviço
Atender as demandas do cliente
Gostar do que faz
Ajudar as pessoas
Ser guerreiro
Amar ser bancário ou achar que é bico
Ser estressado
Ser repetitivo
Ser bem visto pela comunidade
Ser compulsivo
Gostar de consumir
Não ter medo de errar
Ter uma perspectiva de consumo
Ter uma demanda
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser consumidor
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal Positivo Pessoal
Econômica
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 30 - Análise dos dados do Entrevistado: 27
Fonte: Dados de pesquisa
207
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Piores condições financeiras
Atendimento ao cliente
Nunca tive problema com cliente
Se coloca no lugar do cliente
É mais exigente trabalhando do que como
consumidor
Quer produto que satisfaça
Não sou exigente
Outro Colega de trabalho Consumidor
Existem uns probleminhas
Convive bem
É bem visto na hora que vai fazer compras
Meu ganha pão
Sem cliente não há banco
Cliente é fundamental
Estar em piores condições financeiras
Atender ao cliente
Não ter problema com cliente
Se colocar no lugar do cliente
Ser mais exigente trabalhando do que
consumindo
Conviver bem com colegas
Ser bem visto na hora que comprar
Querer produto que satisfaça
Ser o ganha pão de alguém
Ser fundamental
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Atividades que realiza extra-trabalho
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Econômico
Social
Moral
Positivo
Positivo
Positivo
Positivo
Pessoal Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 31 - Análise dos dados do Entrevistado: 28
Fonte: Dados de pesquisa
208
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Muita pressão
Abrir mão da vida pessoal
Relacionamento
Correria
Sou consumista
Sou exigente
Gosta de gastar dinheiro
Outro Colega de trabalho Consumidor
São todos louquinhos
Não sabe descrever.
Pessoas que gostam do que fazem ou que
precisam muito do dinheiro que ganham
Uma pessoa muito exigente
Nem sempre tem paciência
Ser pressionado
Abrir mão da vida pessoal
Relacionar-se
Correr
Ser louquinho
Não saber se descrever
Gostar do que faz ou precisar muito do
dinheiro
Ser consumista
Ser exigente
Gostar de gastar dinheiro
Ser muito exigente
Não ter paciência sempre
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Econômico
Pessoal
Positivo
Contraditório
Pessoal
Econômico
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 32 - Análise dos dados do Entrevistado: 29
Fonte: Dados de pesquisa
209
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Prefere ser
Bancário
Mais acelerado
Facilitar a vida da comunidade
Prestar serviços
Atender as pessoas
Sou feliz
Tenho prazer no que faço
Cumpro minhas metas
Enquadro o cliente como alguém da minha
família
Se identifica com os clientes
Eu me estresso no supermercado
Sou muito cauteloso
Não sou afoito
Outro Colega de trabalho Consumidor
Pessoas que não têm prazer no atendimento
Fez concurso e passou
Já foi mais unida
Cada um ta na sua
Individual
Pessoa carente
Que tem um problema
Uma dificuldade
Uma necessidade
Ser mais acelerado
Facilitar a vida da comunidade
Prestar serviços
Atender as pessoas
Ser feliz
Ter prazer no que faz
Cumprir metas
Enquadrar o cliente como alguém da minha
família
Identificar-se com os clientes
Estressar-se no supermercado
Ser muito cauteloso
Não ser afoito
Ser carente
Ter um problema
Ter uma dificuldade
Ter uma necessidade
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Moral
Econômico
Contraditório
Positivo
Positivo
Pessoal
Moral
Econômico
Negativo
Negativo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 33 - Análise dos dados do Entrevistado: 30
Fonte: Dados de pesquisa
210
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Trato com as pessoas
Conhecer os produtos
Acredita no trabalho que faz
Importância do bancário
Não consegue alcançar o cliente
Faço reflexão
Sou racional
Outro Colega de trabalho Consumidor
Tem muito a desenvolver ainda
Parecia que tinha uma coesão maior
O mercado não era tão competitivo
Preocupado como vai ser atendido
Exige qualidade
Tratar com as pessoas
Conhecer os produtos
Acreditar no trabalho que faz
Ser importante
Não conseguir alcançar o cliente
Ter muito a desenvolver
Ser menos coesos
Ser competitivo
Refletir
Ser racional
Ser preocupado como vai ser atendido
Exigir qualidade
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Moral
Pessoal
Positivo
Positivo
Pessoal
Moral
Econômico
Social
Negativo
Negativo
Positivo
Negativo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 34 - Análise dos dados do Entrevistado: 31
Fonte: Dados de pesquisa
211
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Liberdade
Menos autoritário
Consultor financeiro
Trata das finanças das pessoas
Gosto do que faço
Sou uma boa profissional
Tem que ser profissional
Amizade com cliente
Procuro preço e qualidade
Não sou impulsiva
Eu era
Me diz o que tu compras e te direi quem tu és
Outro Colega de trabalho Consumidor
Parceiro
Colega
Amigos
São unidos
Estão se sentido acuados
Pessoa que vem procurando ajuda
Quer consolo
Ter liberdade
Ser menos autoritário
Ser consultor financeiro
Tratar das finanças das pessoas
Gostar do que faz
Ser bom profissional
Ter amizade com o cliente
Ser parceiro
Ser colega
Ser amigo
Ser unido
Sentir-se acuado
Procurar preço e qualidade
Não ser impulsivo
Procurar ajuda
Querer consolo
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Família
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Econômico
Moral
Positivo
Positivo
Positivo
Pessoal
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 35 - Análise dos dados do Entrevistado: 32
Fonte: Dados de pesquisa
212
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Lida com dinheiro dos outros
Tento fazer o melhor
Honesto
Quer atender as necessidades
Gosto de comprar mas não sou compulsiva
Me dá prazer
Quer ser tratada como trata seus clientes
Outro Colega de trabalho Consumidor
Competitivos
Não tem aquela amizade de antigamente.
Não tem aquele companheirismo
Já foi uma categoria bem mais unida
Dispersou muito
Vem em primeiro lugar, antes de qualquer
coisa
Sem cliente o banco vai pro buraco
Lidar com dinheiro dos outros
Fazer o melhor
Ser honesto
Querer atender as necessidades
Ser competitivo
Não ter a amizade de antigamente
Não ser companheiro
Não ser mais unidos
Gostar de comprar
Não ser compulsivo
Sentir prazer
Ser tratado como trata
Vir em primeiro lugar
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Referência a características pessoais
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Econômico
Positivo
Positivo
Pessoal
Econômico
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 36 - Análise dos dados do Entrevistado: 33
Fonte: Dados de pesquisa
213
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Trabalho intenso
Responsabilidade
Intermediário
Não tenho um perfil estabelecido
Aprendi a lidar com pessoas
Sou consumidor cauteloso
Gosto de fazer boas compras
Outro Colega de trabalho Consumidor
Muito bom. Um nível excelente
Nível elevado
Categoria forte, muito unida
Profissional de valor muito grande
Variado
É aquele que precisa sair satisfeito
Trabalhar intensamente
Ter responsabilidade
Ser intermediário
Não ter perfil estabelecido
Aprender a lidar com as pessoas
Ter nível excelente
Ter nível elevado
Ser forte
Ser unido
Ter valor muito grande
Ser consumidor cauteloso
Gostar de fazer compras
Ser variado
Precisar sair satisfeito
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Social
Econômico
Positivo
Positivo
Positivo
Pessoal
Moral
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 37 - Análise dos dados do Entrevistado: 34
Fonte: Dados de pesquisa
214
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Relacionamento
Vendedor
Tratar o cliente
Fácil relacionamento
Boa comunicação
Já foi compulsivo
Hoje é controlado
Outro Colega de trabalho Consumidor
Parceria
Confiança
Classe unida
Uma pessoa estranha
Alguém que precisa
Relacionar-se
Vender
Tratar o cliente
Ser de fácil relacionamento
Ter boa comunicação
Ser parceiro do colega
Ser de confiança
Ser unido
Ser compulsivo
Ser controlado
Ser estranho
Precisar
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser bancário
Referências sociais Referência a características pessoais
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Social
Econômico
Positivo
Positivo
Positivo
Pessoal
Econômico
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 38 - Análise dos dados do Entrevistado: 35
Fonte: Dados de pesquisa
215
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Prefere ser
Bancário
Mais qualificação
Metas
Lidar com pessoas
Gosto
Tenho prazer em ser consumidor
Gosto de ser bem atendida
Outro Colega de trabalho Consumidor
Somos unidos
São colegas
Uma família
Muito estressante
Cliente é uma pessoa difícil para mim
Muito complicado
Cliente tem sempre razão
Ser mais qualificado
Ter metas
Lidar com pessoas
Ser unido
Ser colega
Ser uma família
Estar estressado
Gostar
Ter prazer
Ser difícil
Ser muito complicado
Ter sempre razão
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Moral
Econômico
Contraditório
Positivo
Positivo
Pessoal Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 39 - Análise dos dados do Entrevistado: 36
Fonte: Dados de pesquisa
216
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Mais cobrança
Mais concorrência
Trabalha com dinheiro
Resolvendo uma necessidade
Dou conta do serviço
Trabalha para sustento material
Sofisticado
Sou racional
Adquiro na medida em que preciso
Preocupado
Quer bom atendimento
Outro Colega de trabalho Consumidor
Colegas
Alguns puxam o tapete
Perdeu seu poder de fogo
Muito estresse
Nível de exigência muito grande
Alguém que sempre está querendo algo mais
Ser mais cobrado
Ter mais concorrência
Trabalhar com dinheiro
Resolver uma necessidade
Dar conta do serviço
Trabalhar para sustento material
Ser colegas
Puxar o tapete
Perder poder de fogo
Ter muito estresse
Ter nível de exigência muito grande
Ser sofisticado
Ser racional
Adquirir na medida em que precisa
Ser preocupado
Querer bom atendimento
Querer algo mais
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser bancário
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Econômico
Social
Contraditório
Positivo
Negativo
Pessoal
Moral
Econômico
Positivo
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 40 - Análise dos dados do Entrevistado: 37
Fonte: Dados de pesquisa
217
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Metas
Mais estressante
Mais informação
Bancário é como loja
Transparente
Me coloco no lugar do cliente
Sou exigente
Sou meio chato
Rigoroso
Displicente
Não olho preço
Não sou consumista
Sou exigente
Outro Colega de trabalho Consumidor
Estabilidade
Vou crescer rápido
Tem visão de longo prazo
Não preciso puxar o tapete
Desorganizada, estressada
Identifica com credibilidade
Com a marca
Confia nas pessoas
Ter metas
Estar mais estressado
Lidar com mais informação
Ser uma loja
Ser transparente
Colocar-se no lugar do cliente
Ser exigente
Ser estável
Crescer rápido
Ter visão de longo prazo
Não precisar puxar o tapete
Ser desorganizado
Ser chato
Ser rigoroso
Ser displicente
Não olhar preço
Não ser consumista
Ser exigente
Identificar com credibilidade
Identificar com a marca
Confiar nas pessoas
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser consumidor
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Moral
Pessoal
Positivo
Contraditório
Pessoal
Moral
Econômico
Negativo
Negativo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 41 - Análise dos dados do Entrevistado: 38
Fonte: Dados de pesquisa
218
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Sistematizado
Metódico
Lidar com dinheiro
Responsável
Procuro atender da melhor forma
Trata como gostaria de ser tratado
Exigente
Já foi mais consumista
Outro Colega de trabalho Consumidor
Relações complicadas
Pessoas bacanas
Lidar com egos
Culturas diferentes
Não é uma classe unida
Sindicato muito fraco
É o que faz você estar ali
Ser sistematizado
Ser metódico
Lidar com dinheiro
Ser responsável
Atender da melhor forma
Tratar como gostaria de ser tratado
Ter relações complicadas
Ser bacana
Lidar com egos
Lidar com culturas diferentes
Não ser unido
Ser exigente
Ser consumista
Ser o motivo de alguém estar ali
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Referência a características pessoais
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Social
Econômico
Pessoal
Moral
Negativo
Positivo
Positivo
Positivo
Pessoal
Econômico
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 42 - Análise dos dados do Entrevistado: 39
Fonte: Dados de pesquisa
219
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Profissão mais popular
Prestar serviços para a sociedade
Atendimento ao cliente
Identifico-me como bancário
Gosto de conversar
Gosto de atender clientes
Lidar com números
Verificar dados de empresas
Consome mais do que o necessário
Procura produtos que atenda relação custo-
benefício
Outro Colega de trabalho Consumidor
Pessoa que gosta da profissão
Passou no concurso
Comprometidas com a organização
Precisa estar disposto a ajudar
Gosta da instituição
Demonstra confiança
Valoriza o empregado
Ser mais popular
Prestar serviços à comunidade
Atender o cliente
Identificar como bancário
Gostar de conversar
Gostar de atender clientes
Lidar com números
Verificar dados de empresas
Gostar da profissão
Passar no concurso
Ser comprometida com a organização
Estar disposto a ajudar
Consumir mais do que o necessário
Procurar produtos que atenda relação custo-
benefício
Gostar da instituição
Demonstrar confiança
Valorizar o empregado
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Econômico
Positivo
Positivo
Pessoal
Moral
Econômico
Positivo
Negativo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 43 - Análise dos dados do Entrevistado: 40
Fonte: Dados de pesquisa
220
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Prefere ser
Bancário
Metas
Fim da estabilidade
Prestador de serviços
Atendimento
Financeiro com emocional
Apaixonada
Procura qualidade
Sente feliz consumindo
Momentos de felicidade
Compulsiva
Procura qualidade
Outro Colega de trabalho Consumidor
Amigo
Cumplicidade
Relativamente unida
Casquinha de ovo
Ter metas
Perder a estabilidade
Prestar serviços
Atender
Juntar o financeiro com o emocional
Ser apaixonado
Procurar qualidade
Ser amigo
Ter cumplicidade
Ser relativamente unido
Sentir feliz consumindo
Ter momentos de felicidade
Ser compulsiva
Procurar qualidade
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Família
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Econômico
Moral
Contraditório
Positivo
Positivo
Pessoal
Econômico
Contraditório
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 44 - Análise dos dados do Entrevistado: 41
Fonte: Dados de pesquisa
221
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Paciência para conversar
Atendimento
Profissional boa
Venho trabalhar animada
Tento ajudar
Sabe o quanto custa o dinheiro
Sou diferente no banco e na minha família
Gosto muito de comprar
Sabe o quanto custa o dinheiro
Outro Colega de trabalho Consumidor
Pessoas que vêm trabalhar e não têm vontade
Tem colega muito bom
Muita gente me ajudou
Pessoa leiga
Não sabe o que o banco pode oferecer
Não sabe quanto custa o dinheiro
Ter paciência para conversar
Atender
Ser bom profissional
Vir trabalhar animado
Tentar ajudar
Saber o quanto custa o dinheiro
Ser diferente no banco e na família
Vir trabalhar sem vontade
Ser bom colega
Ser ajudado por muita gente
Gostar muito de comprar
Saber o quanto custa o dinheiro
Ser leigo
Não saber o que o banco pode oferecer
Não saber o quanto custa o dinheiro
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Depende da função a ser desempenhada
Referências sociais Curso superior em que se formou
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Econômico
Positivo
Positivo
Pessoal
Moral
Econômico
Negativo
Negativo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 45 - Análise dos dados do Entrevistado: 42
Fonte: Dados de pesquisa
222
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Conhecer o cliente
Interagir com o cliente
Procuro ir além das minhas funções
Gosto de atender a pessoa e ir além
Sou profissional
Busco coisas que me satisfaçam
Sou consumidor voraz
Gosto de ter as coisas para atender minha
necessidade
Gosto de qualidade
Sou exigente
Outro Colega de trabalho Consumidor
Equipe bem unida
Um completa o serviço do outro
Foi em outro banco e se sentiu um lixo
Caixinha de surpresas
Tem várias facetas
Conhecer o cliente
Interagir com o cliente
Procurar ir além das funções
Gostar de atender a pessoa e ir além
Ser profissional
Ser equipe unida
Completar o serviço do outro
Buscar coisas que me satisfaçam
Ser voraz
Gostar de ter coisas para atender necessidade
Gostar de qualidade
Ser exigente
Ser caixinha de surpresa
Ter várias facetas
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser consumidor
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Família
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Econômico
Contraditório
Positivo
Pessoal
Econômico
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 46 - Análise dos dados do Entrevistado: 43
Fonte: Dados de pesquisa
223
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Menos trabalho
Fazer empréstimos
Rotina
Tem paciência para atender
Disposição para trabalhar
Gosto do que faço
Entendo as reclamações
Não sou consumidor assídua
Compro o que tenho necessidade
Não sou compulsiva
Outro Colega de trabalho Consumidor
Sempre me dei bem com colegas
Sempre muito amigos
Sem muita competição
Bom amigo mesmo
Categoria não é muito valorizada
A sociedade não valoriza muito a profissão do
bancário hoje em dia.
O cliente tem sempre razão
Reclama
Dependemos dele para existir
Ter menos trabalho
Fazer empréstimos
Ter rotina
Ter paciência para atender
Disposição para trabalhar
Gostar do que faz
Entender reclamações
Dar-se bem com colegas
Ser muito amigo
Não competir
Não ser valorizado
Não ser assídua
Comprar necessidade
Não ser compulsiva
Ter sempre razão
Reclamar
Ser fonte de dependência para alguém existir
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Família
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Econômico
Social
Positivo
Positivo
Positivo
Pessoal
Econômico
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 47 - Análise dos dados do Entrevistado: 44
Fonte: Dados de pesquisa
224
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Exigências maiores
Sabe da vida das pessoas
Orientador do cliente
Procura orientar
Sou melhor com o cliente do que comigo
mesmo
O contato com clientes o torna consumista
Os clientes sempre me procuram
Dou o máximo de mim
Consumidor afoito na hora de comprar
Não tenho paciência
Outro Colega de trabalho Consumidor
Equipes bastante unidas
Não tive problemas de relacionamento
Tive bastante ajuda
Perfis diferentes
Pessoa que precisa mesmo daquele serviço
Ter exigências maiores
Saber da vida das pessoas
Orientar cliente
Ser melhor com cliente do que consigo mesmo
Tornar-se mais consumista
Ser sempre procurado pelos clientes
Dar o máximo se si
Ser equipe unida
Não ter problema de relacionamento com
colega
Ter bastante ajuda
Ser afoito na hora de comprar
Não ter paciência
Ter perfis diferentes
Precisar de um serviço
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser consumidor
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Econômico
Contraditório
Positivo
Pessoal
Econômico
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 48 - Análise dos dados do Entrevistado: 45
Fonte: Dados de pesquisa
225
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Ameaças de ser mandado embora
Boa comunicação
Antenado com a economia
Sou exigente comigo
Tento sempre bater as minhas metas
Sempre atenciosa com os clientes
Faço brincadeiras
Trato bem todos eles
Sempre passo visão de pessoa alegre
Tenho que engolir sapo
Planeja o trabalho
Sou munheca
Não gosto de comprar
Compro à vista
Não gosto de fazer financiamento
Prefiro ter o dinheiro e comprar
Consumo é descontraído
Outro Colega de trabalho Consumidor
Alguns são complicados
Chamam a atenção
Acham que são superiores
Todo mundo é amigo
Bancário esta estressado
Posso perder meu emprego por causa dos
clientes
O cliente é complicado
Xinga
Ameaça
Ser ameaçado de ser mandado embora
Ter boa comunicação
Ser antenado com a economia
Ser exigente consigo
Bater metas
Ser atenciosa com clientes
Fazer brincadeiras
Tratar bem a todos
Passar visão de pessoa alegre
Engolir sapo
Planejar o trabalho
Ser complicado
Chamar a atenção
Achar ser superior
Ser amigo
Estar estressado
Ser munheca
Não gostar de comprar
Comprar à vista
Não gostar de fazer financiamento
Ter dinheiro e comprar
Ser descontraído
Fazer o outro perder emprego
Ser complicado
Xingar
Ameaçar
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Referência a características pessoais
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Econômico
Contraditório
Positivo
Pessoal
Moral
Positivo
Contraditório
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 49 - Análise dos dados do Entrevistado: 46
Fonte: Dados de pesquisa
226
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Mais exigente
Profissão de status
Categoria mobilizada
Elitizada
Criterioso
Sou organizado
Gosto de receber
Entregar serviço limpo
Não gosto de falcatruas
Eu tenho que ser como o consumidor
Gastador criterioso
Comparo preços
Reclamo
Sou questionador
Outro Colega de trabalho Consumidor
O colega não é fiel
Ele é cruel
Só olha pro seu umbigo
Se escondem atrás de um status
Muito difícil lidar
Tem uns que são super radicais
Tem que tratar como gostaria de ser tratado
Ser exigente
Ter status
Ser mobilizado
Ser elitizado
Ser criterioso
Ser organizado
Gostar de receber
Entregar serviço limpo
Não gostar de falcatruas
Ser como o consumidor
Não ser fiel com colega
Ser cruel com colega
Só olhar para o umbigo
Se esconder atrás do status
Gastar criteriosamente
Comparar preços
Reclamar
Ser questionador
Ser difícil de lidar
Ser super radical
Tratar como gostaria de ser tratado
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Depende da função a ser desempenhada
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Econômico
Positivo
Positivo
Pessoal
Econômico
Social
Positivo
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 50 - Análise dos dados do Entrevistado: 47
Fonte: Dados de pesquisa
227
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Menos serviços
Trabalha com recursos de terceiros
Satisfação do cliente
Encantar o cliente
Procura atender como gostaria de ser atendido
Exigente
Observo a forma de atendimento
E me identifica com a forma de atendimento
Compra mais do que precisava
Outro Colega de trabalho Consumidor
Equipe
Bastante parceiros
Os bancários em si não são concorrentes
Bastante diversificado
São mais criteriosos
Mais específicos
São exigentes
Lidar com menos serviços
Trabalhar com recursos de terceiros
Satisfazer o cliente
Encantar o cliente
Atender como gostaria de ser atendido
Ser equipe
Ser parceiro com colegas
Não ser concorrente entre si
Ser exigente
Observar a forma de atendimento
Identificar com a forma de atendimento
Comprar mais do que precisa
Ser bastante diversificado
Ser mais criterioso
Ser mais específico
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser bancário
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal
Econômico
Positivo
Positivo
Pessoal
Econômico
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 51 - Análise dos dados do Entrevistado: 48
Fonte: Dados de pesquisa
228
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Menos mecanicista
Vende dinheiro
Sou paternalista
Não sou consumista
Tenho controle financeiro
Só consumo em extrema necessidade, mesmo
gostando de consumir
Outro Colega de trabalho Consumidor
Importante
Tem que estar ajudando o outro sempre
É competitividade, tem que estar mordendo o
cliente ali
Pessoa que está precisando de mim
Poupador,
Investidor
Tomador
Ser mais mecanicista
Vender dinheiro
Ser paternalista
Ser importante
Estar ajudando o outro sempre
Ser competitivo
Morder o cliente
Não ser consumista
Ter controle financeiro
Consumir em extrema necessidade
Gostar de consumir
Precisar de alguém
Poupar
Investir
Tomar
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser consumidor
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Pessoal Positivo Pessoal
Econômico
Positivo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 52 - Análise dos dados do Entrevistado: 49
Fonte: Dados de pesquisa
229
Tipificações
Trabalhador Consumidor
Eu Eu - trabalhador Eu - consumidor
Pressão
Mais agressivo
Relacionamento com o cliente
Lidar com dinheiro
Ser honesto
Pesquiso muito
Pé no chão
Não gasto
Outro Colega de trabalho Consumidor
Limitações
São privilegiados em questão de salários
Nosso principal ativo
Cliente é exigente
O mais importante da instituição
Estar sob pressão
Ser mais agressivo
Relacionar com o cliente
Lidar com dinheiro
Ser honesto
Ter limitações
Ser privilegiado
Pesquisar muito
Ser pé no chão
Não gastar
Ser principal ativo
Ser exigente
Ser o mais importante da instituição
Referências
Identitárias
Predominantes
O que é ser
Bancário
O que é ser Consumidor
Ser bancário X
Ser consumidor
Prefere ser bancário
Ser bancário X
Ser organização
Prefere ser da organização
Referências sociais Organização
Variável Estudada Identidade Social
Valor Sentido Valor Sentido
Econômico
Pessoal
Moral
Positivo
Contraditório
Positivo
Pessoal
Moral
Econômico
Positivo
Negativo
Positivo
Descrições feitas
pelos bancários
Descrição do Trabalho Descrição do Consumo e do Consumidor
Figura 53 - Análise dos dados do Entrevistado: 50
Fonte: Dados de pesquisa
230
APÊNDICE D QUADROS-SÍNTESE DOS DADOS COLETADOS
Quadro 14 - Quadro resumo das características demográficas dos entrevistados
Entrevistado Gênero Idade Natureza Econômica
do Banco
Formação Estado Civil Número de
Filhos
Entrevistado 01 F 28 Privado Superior Completo Casado 0
Entrevistado 02 M 26 Privado Cursando Superior Solteiro 0
Entrevistado 03 M 30 Privado Especialização Solteiro 0
Entrevistado 04 M 30 Privado Superior Completo Casado 0
Entrevistado 05 M 28 Privado Especialização Solteiro 0
Entrevistado 06 F 30 Privado Superior Completo Solteiro 0
Entrevistado 07 M 35 Privado Especialização Solteiro 0
Entrevistado 08 M 31 Privado Superior Completo Solteiro 0
Entrevistado 09 F 36 Privado Cursando Superior Casado 1
Entrevistado 10 M 32 Privado Superior Incompleto Casado 2
Entrevistado 11 F 40 Privado Superior Completo Solteiro 0
Entrevistado 12 M 45 Privado Superior Completo Casado 1
Entrevistado 13 F 23 Privado Superior Completo Solteiro 0
Entrevistado 14 M 41 Público Superior Completo Casado 2
Entrevistado 15 F 27 Público Superior Completo Casado 0
Entrevistado 16 M 41 Privado Cursando Superior Casado 2
Entrevistado 17 F 22 Privado Cursando Superior Solteiro 0
Entrevistado 18 F 26 Privado Cursando Superior Solteiro 0
Entrevistado 19 M 21 Privado Cursando Superior Solteiro 0
Entrevistado 20 M 29 Privado Especialização Solteiro 0
Entrevistado 21 M 47 Privado Superior Incompleto Casado 2
Entrevistado 22 M 35 Privado Superior Incompleto Casado 2
Entrevistado 23 F 45 Público Superior Completo Casado 3
Entrevistado 24 F 47 Público Superior Completo Casado 3
Entrevistado 25 M 50 Público Superior Completo Casado 3
Fonte: dados da pesquisa
Quadro 14 – Quadro resumo das características demográficas dos entrevistados (Continuação... )
Entrevistado Gênero Idade Natureza Econômica
do Banco
Formação Estado Civil Número de
Filhos
Entrevistado 26 M 44 Privado Superior Completo Divorciado 0
Entrevistado 27 M 46 Público Especialização Casado 3
Entrevistado 28 M 29 Privado Superior Completo Casado 1
Entrevistado 29 F 24 Privado Superior Completo Solteiro 0
Entrevistado 30 M 44 Público Superior Completo Casado 1
Entrevistado 31 M 41 Público Especialização Casado 2
Entrevistado 32 F 41 Público Superior Completo Divorciado 2
Entrevistado 33 F 40 Público Especialização Casado 3
Entrevistado 34 M 51 Público Especialização Viúvo 5
Entrevistado 35 M 43 Público Superior Completo Casado 2
Entrevistado 36 F 29 Privado Segundo Grau Completo Casado 1
Entrevistado 37 M 43 Público Superior Completo Casado 1
Entrevistado 38 M 40 Público Superior Completo Casado 2
Entrevistado 39 M 25 Privado Superior Completo Solteiro 0
Entrevistado 40 M 28 Público Superior Completo Casado 1
Entrevistado 41 F 35 Público Superior incompleto Casado 3
Entrevistado 42 F 30 Público Superior Completo Casado 1
Entrevistado 43 F 43 Público Superior Completo Casado 1
Entrevistado 44 F 28 Público Superior Completo Solteiro 0
Entrevistado 45 M 28 Público Superior Completo Solteiro 0
Entrevistado 46 F 28 Privado Superior Completo Casado 0
Entrevistado 47 M 40 Privado Superior Completo Casado 1
Entrevistado 48 M 37 Privado Cursando Superior Casado 2
Entrevistado 49 F 24 Privado Especialização Solteiro 0
Entrevistado 50 M 33 Privado Especialização Casado 2
Fonte: dados da pesquisa
Quadro 15 - Quadro resumo das características funcionais dos entrevistados
Entrevistado Tempo no
banco
1
Tempo de
Agência
1
Trabalhou em
outros bancos
Tempo total
como bancário
1
Nível hierárquico do cargo Tempo no cargo
atual
1
Entrevistado 01 6 6 Não 6 Gerente Intermediário 3
Entrevistado 02 1,33 1,33 Sim 11 Gerente Intermediário 1,33
Entrevistado 03 0,33 0,33 Sim 8 Gerente Intermediário 0,33
Entrevistado 04 2,66 2,66 Não 2,66 Gerente Intermediário 2,66
Entrevistado 05 7 2,16 Não 7 Gerente Intermediário 1,25
Entrevistado 06 11 6 Não 11 Gerente Intermediário 5
Entrevistado 07 2 2 Sim 9 Gerente Intermediário 2
Entrevistado 08 6 0,1 Sim 13 Gerente Intermediário 0,1
Entrevistado 09 2 0,5 Sim 2,5 Gerente Intermediário 1,5
Entrevistado 10 2 2 Sim 17 Gerente Intermediário 2
Entrevistado 11 20 4 Não 20 Gerente Intermediário 0,83
Entrevistado 12 2,5 2,5 Sim 26 Gerente da Agência 2,5
Entrevistado 13 3 3 Não 3 Operacional 2,5
Entrevistado 14 15 2 Sim 22 Gerente da Agência 5
Entrevistado 15 3 1 Não 3 Operacional 3
Entrevistado 16 2,33 2,33 Sim 24 Gerente Intermediário 2,33
Entrevistado 17 2,5 2,5 Não 2,5 Operacional 1
Entrevistado 18 4 4 Não 4 Operacional 3
Entrevistado 19 1,5 1,5 Não 1,5 Operacional 1
Entrevistado 20 7 7 Não 7 Gerente Intermediário 1,5
Entrevistado 21 28 0,1 Não 28 Gerente Intermediário 10
Entrevistado 22 12 1,5 Não 12 Gerente Intermediário 2,5
Entrevistado 23 22 22 Não 22 Gerente Intermediário 4
Entrevistado 24 20 20 Sim 29 Operacional 2
Entrevistado 25 20 17 Sim 27 Gerente Intermediário 7
Fonte: dados da pesquisa
Nota: 1 – tempo em anos
Quadro 15 - Quadro resumo das características funcionais dos entrevistados (Continuação...)
Entrevistado Tempo no
banco
1
Tempo de
Agência
1
Trabalhou em
outros bancos
Tempo total
como bancário
1
Nível hierárquico do cargo Tempo no cargo
atual
1
Entrevistado 26 10 1 Sim 18 Gerente Intermediário 1
Entrevistado 27 18 1 Não 18 Gerente Intermediário 2,5
Entrevistado 28 1,25 1,25 Não 1,25 Operacional 1,25
Entrevistado 29 5 5 Não 5 Operacional 3
Entrevistado 30 18 2 Sim 24 Operacional 18
Entrevistado 31 17 2,5 Não 18 Gerente Intermediário 7
Entrevistado 32 17 1,66 Não 17 Gerente Intermediário 5
Entrevistado 33 4 2,16 Sim 12 Operacional 2,16
Entrevistado 34 0,66 0,33 Não 0,66 Operacional 0,5
Entrevistado 35 17 2,16 Sim 17 Gerente da Agência 2,16
Entrevistado 36 3,5 3,5 Sim 9 Gerente Intermediário 3,5
Entrevistado 37 23 2,16 Não 23 Gerente Intermediário 11
Entrevistado 38 18 0,66 Não 18 Gerente da Agência 7
Entrevistado 39 2 0,5 Sim 5 Operacional 3
Entrevistado 40 2 2 Não 2 Operacional 2
Entrevistado 41 6,5 2 Sim 13 Operacional 2
Entrevistado 42 0,5 0,16 Não 0,5 Operacional 0,5
Entrevistado 43 18 2,5 Não 18 Operacional 2,5
Entrevistado 44 6,5 6,5 Não 6,5 Operacional 1,5
Entrevistado 45 7,16 1,1 Não 7,16 Gerente Intermediário 0,16
Entrevistado 46 2 2 Não 2 Operacional 2
Entrevistado 47 15 0,5 Sim 17,5 Gerente Intermediário 0,5
Entrevistado 48 14 3,5 Não 14 Gerente Intermediário 11
Entrevistado 49 4 4 Não 4 Gerente Intermediário 0,33
Entrevistado 50 1,5 1,5 Sim 11 Gerente Intermediário 1,5
Fonte: dados da pesquisa
Nota: 1 – tempo em anos
235
ÍNDICE REMISSIVO DAS FALAS DOS ENTREVISTADOS
(Entrevistado 01) ................................................................................... 106, 109, 130, 137, 143
(Entrevistado 02) ................................................................................... 100, 110, 122, 132, 133
(Entrevistado 03) ........................................................................................... 106, 112, 127, 132
(Entrevistado 04) ................................................................................... 110, 111, 123, 133, 141
(Entrevistado 05) ............................................................. 97, 101, 102, 105, 107, 110, 122, 140
(Entrevistado 06) ........................................................................................................... 104, 108
(Entrevistado 07) ................................................................... 102, 103, 104, 107, 123, 132, 139
(Entrevistado 08) ........................................... 104, 109, 113, 119, 121, 134, 135, 139, 142, 143
(Entrevistado 09) ................................................................................................................... 138
(Entrevistado 10) ........................................................................................................... 101, 102
(Entrevistado 11) ..................................................................................................................... 97
(Entrevistado 12) ................................................................................... 108, 127, 134, 137, 140
(Entrevistado 13) ................................................................................................... 106, 138, 140
(Entrevistado 14) ........................................................................................... 101, 104, 105, 138
(Entrevistado 15) ...95, 100, 101, 102, 103, 106, 109, 111, 112, 122, 131, 140, 147, 148, 149,
150, 151, 152
(Entrevistado 16) ....................................................................................................... 96, 99, 120
(Entrevistado 17) ................................................................................................... 102, 110, 120
(Entrevistado 18) ................................................................................................................... 110
236
(Entrevistado 19)......................................................................................................................95
(Entrevistado 20)..............................................................................95, 100, 104, 110, 113, 115
(Entrevistado 21)......................................................................................................................97
(Entrevistado 22)............................................................................................108, 110, 137, 142
(Entrevistado 23)......................................................................................................96, 113, 141
(Entrevistado 24)............................................................................................100, 108, 139, 141
(Entrevistado 25)......................................................................................................95, 123, 135
(Entrevistado 26)..............................................................................99, 113, 115, 120, 139, 141
(Entrevistado 27)..............................................................................99, 108, 112, 127, 139, 141
(Entrevistado 28)....................................................................................104, 106, 115, 122, 144
(Entrevistado 29)....................................................................................................................122
(Entrevistado 30)..............................................................................................96, 106, 110, 113
(Entrevistado 31)............................................................................................108, 112, 142, 143
(Entrevistado 32)............................................................................................................102, 106
(Entrevistado 33)....................................................................................................102, 123, 141
(Entrevistado 34)............................................................................107, 114, 135, 137, 139, 142
(Entrevistado 35)....................................................................................................................139
(Entrevistado 36)............................................................................................................124, 138
(Entrevistado 37)..............................................................................................96, 135, 139, 144
(Entrevistado 38)....................................................................................................................113
237
(Entrevistado 39) ..................................................................................................................... 97
(Entrevistado 40) ............................................................................................................. 97, 100
(Entrevistado 41) ................................................................................................................... 107
(Entrevistado 42).................................................................................................................... 109
(Entrevistado 43) ............................................................................................................. 98, 135
(Entrevistado 44) ..................................................................................................... 98, 123, 137
(Entrevistado 45) ................................................................................................................... 137
(Entrevistado 46) ........................................................................................................... 103, 122
(Entrevistado 47) ............................................................................................. 95, 111, 127, 131
(Entrevistado 48) ................................................................................................................... 127
(Entrevistado 49) ................................................................................................................... 109
(Entrevistado 50) ................................................................................................................... 106
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo