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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PERNAMBUCO
CARLOS ALBERTO LIVINO DA SILVA
RELIGIÃO E SEXUALIDADE
Um estudo sobre o comportamento sexual de
adolescentes em Garanhuns – Pernambuco –
Brasil
Recife, PE
Março, 2009
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1
CARLOS ALBERTO LIVINO DA SILVA
RELIGIÃO E SEXUALIDADE
Um estudo sobre o comportamento sexual
de adolescentes em Garanhuns –
Pernambuco - Brasil
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação “Strictu
Sensu” da Faculdade de Odontologia
de Pernambuco FOP /
Universidade de Pernambuco UPE,
como requisito para a obtenção do
título de Mestre em Hebiatria.
Orientadora:
Profa. Dra. Kalina Vanderlei Silva
Recife, PE
Março, 2009
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2
CARLOS ALBERTO LIVINO DA SILVA
RELIGIÃO E SEXUALIDADE
Um estudo sobre o comportamento sexual de
adolescentes em Garanhuns – Pernambuco –
Brasil
Dissertação apresentada à Faculdade
de Odontologia de Pernambuco /
Universidade de Pernambuco, como
requisito parcial para a obtenção do
título de Mestre em Hebiatria.
Aprovada em, / /
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________
Prof. Dr. PARRY SCOTT
Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
____________________________________________
Profa. Dra. ADRIANA MARIA PAULO DA SILVA
Universidade de Pernambuco - UPE
____________________________________________
Profa. Dra. REGINA CELIA DE OLIVEIRA
Universidade de Pernambuco - UPE
3
DEDICATÓRIA
Aos meus pais,
Já não mais aqui;
À minha esposa Maria,
Pela compreensão e apoio;
A Ana Claudia, minha filha,
Pelo carinho com que me tem ajudado;
A Filipe, meu filho,
Pela entusiasmo com que constrói a vida;
A Pedrinho, meu filho,
Pelo caráter firme e amoroso.
Aos rapazes e moças que participaram deste estudo,
ajudando a compreender aspectos da sexualidade
do adolescente.
AGRADECIMENTOS
4
Pela vida,
Ao Senhor Deus,
Pela orientação,
Profa. Dra. Kalina Vanderlei Silva.
Pelo apoio,
Faculdade de Ciências e Tecnologias de Garanhuns / UPE,
Hospital Regional Dom Moura / Secretaria de Saúde de Pernambuco,
Secretaria de Saúde / Prefeitura de Garanhuns,
Prof. Dr. Belmiro Cavalcanti do Egito Vasconcelos,
Profa. Dra. Viviane Colares,
Prof. Dr. Mário Medeiros,
Prof. Pedro Henrique de Barros Falcão.
Pela facilitação do contato com os adolescentes,
Diretores e coordenadores pedagógicos das instituições escolares
que participaram deste estudo.
Pela amizade,
Aos colegas do Mestrado em Hebiatria (2007 – 2008) – Faculdade de
Odontologia de Pernambuco – FOP/UPE.
“E tudo era um caos até que a Mente se
ergueu e a tudo ordenou”.
(ANAXÁGORAS)
5
“Da minha aldeia vejo quanto da terra se
pode ver do universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como
outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
e não do tamanho da minha altura...”
(Fernando Pessoa. Poemas de
Alberto Caeiro, “Da minha Aldeia”,
em “O Guardador de Rebanhos”)
6
RESUMO
A religião é uma prática humana que institui princípios éticos indutores de
condutas que se acredita requeridas pelo transcendente com o fim de comunhão e
construção da felicidade. A sexualidade como instrumento da felicidade é, portanto,
uma dimensão humana para além da biologia, cujo significado vem sendo
historicamente construído em consonância com os parâmetros e valores sócio-
culturais, presumindo-se a influência da religião nessa construção, sobretudo
durante a adolescência. Este estudo transversal, qualitativo, utilizando a técnica de
grupo focal foi realizado com o objetivo de discutir questões da sexualidade
adolescente, relativas (1) ao conhecimento das doenças sexualmente transmissíveis
e formas de prevenção; (2) ao conhecimento de métodos de contracepção; (3) à
percepção da sexualidade; (4) às vivências sexuais, e (5) à orientação do desejo
sexual. Participaram 90 adolescentes secundaristas de ambos os sexos, sendo 42
religiosos e 48 não-religiosos na faixa etária de 15 a 19 anos, matriculados em
escolas públicas e em escolas privadas no município de Garanhuns, PE. Verificou-
se entre os adolescentes (1) satisfatório conhecimento das doenças sexualmente
transmissíveis e menor conhecimento das formas de prevenção; (2) maior
conhecimento dos todos de contracepção entre os não-religiosos; (3) concepção
de sexualidade mais influenciada pela afetividade entre os religiosos e mais
focalizada no sexo entre os não-religiosos; (4) atitudes conservadoras em relação às
vivências de sexo, e (5) definição pela heterossexualidade e rejeição de outras
formas de orientação do desejo sexual. Concluiu-se que a influência da religião
mostrou-se mais significativa em relação às medidas de contracepção, à
compreensão do papel da sexualidade na adaptação pessoal e vital e na atribuição
de afeto à relação sexual convencional.
Palavras-chave: Religião, sexualidade, adolescência, DST, anticoncepção,
vivências sexuais, orientação do desejo sexual.
7
ABSTRACT
The religion is a human practice that institutes ethical principles inductors of
conducts it is believed to be requested by the transcendent with the purpose of
communion and construction of the happiness. The sexuality as instrument of the
happiness is therefore, a human dimension for beyond the biology, whose meaning
has being historically built in consonance with the parameters and sociocultural
values, assuming the influence of religion in this construction, and above all during
the adolescence age. This transverse study, qualitative, using the technique of focal
group was made with the aim of discussing issues related to adolescent sexuality
relative to (1) the knowledge of sexually transmitted diseases and forms prevention;
(2) the knowledge of contraceptive methods; (3) the perception of the sexuality; (4)
the sexual experience, and (5) the orientation of sexual desire. 90 secundary school
adolescents of both sexes, took part in this, being 42 with religious background and
48 with no-religious background, in the 15 to 19 age group, enrolled in public schools
and in private schools from the municipal district of Garanhuns, Pernambuco, Brazil.
It was verified among the adolescents (1) satisfactory knowledge of the sexually
transmitted diseases and a smaller knowledge about forms the prevention; (2) a
larger knowledge of the contraception methods among the no-religious ones; (3) the
conception of sexuality is more influenced by the affectivity between the religious
ones and more focused on the sex act in itself among the no-religious ones; (4)
conservative attitudes in relation to the sex experiences, and (5) definition for the
heterossexuality and rejection to other forms of sexual desire orientations. We
concluded that the influence of the religion was shown more significant in relation to
the contraception measures, to the understanding of the sexuality role in the vital and
personal adaptation and in the attribution of affection to the conventional sexual
relationship.
Word-key: Religion, sexuality, adolescence, STD, contraceptive methods, sexual
experiences, orientation of the sexual desire.
8
RESUMEN
La religión es una práctica humana que instituye principios éticos inductores
de conductas que, se cree, sean requeridas por lo trascendente con la finalidad de
comunión y construcción de la felicidad. La sexualidad como instrumento de la
felicidad es, por lo tanto, una dimensión humana s allá de la biología, cuyo
significado ha sido históricamente construido en consonancia con los parámetros y
valores socio-culturales, con presumible influencia de la religión en esta
construcción, sobretodo durante la adolescencia. Este estudio transversal,
cualitativo, utilizando técnica de grupo focal fue realizado con el objeto de discutir
cuestiones sobre la sexualidad adolescente, relativas (1) al conocimiento de las
enfermedades sexualmente transmisibles (DST) y maneras de prevención; (2) al
conocimiento de métodos de contracepción; (3) a la percepción de la sexualidad; (4)
a las vivencias sexuales, y (5) a la orientación del deseo sexual. Participaron 90
adolescentes, estudiantes de secundaria de ambos sexos, totalizando 42 religiosos y
48 no-religiosos con edades entre los 15 y los 19 años, matriculados en escuelas
públicas y en escuelas privadas de la ciudad de Garanhuns, Pernambuco, Brasil. Se
ha verificado entre los adolescentes (1) satisfactorio conocimiento de las
enfermedades sexualmente transmisibles y menor conocimiento de las formas de
prevención; (2) mayor conocimiento de los métodos de contracepción entre los no-
religiosos; (3) concepción de sexualidad más influenciada por la afectividad entre los
religiosos y más centrada en el sexo entre los no-religiosos; (4) actitudes
conservadoras en relación a las vivencias sexuales, y (5) definición por la
heterosexualidad y rechazo a otras formas de orientación del deseo sexual. Se
concluye que la influencia de la religión se muestra más significativa en relación a
las medidas contraceptivas, a la comprensión del papel de la sexualidad en la
adaptación personal y vital y en la atribución de afecto a la relación sexual
convencional.
PALABRAS-CLAVE: Religión, sexualidad, adolescencia, DST, anticoncepción,
vivencias sexuales, orientación del deseo sexual.
9
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Grupo Focal Religioso: Características por religião, sexo,
idade e série escolar
42
QUADRO 2 - Grupo Focal Não religioso: Caracterís
ticas por sexo, idade e
série escolar
42
QUADRO 3 - Grupo Focal Religioso: Características dos grupos menores por
Religião, sexo, idade e série escolar
43
QUADRO 4 - Grupo Focal Não-Religioso: Características dos grupos
menores por sexo, idade e série escolar
43
QUADRO 5 - Temário proposto para discussão nos grupos focais 44
QUADRO 6 - Temário e proposições discutidas nos grupos focais 45
QUADRO 7 – Conhecimento das doenças sexualmente transmissíveis e
formas de prevenção / Categorização de Conteúdos
126
QUADRO 8 – Conhecimento de métodos anticoncepcionais /
129
QUADRO 9 – Percepção da sexualidade na adolescência /
Categorização de conteúdos
131
QUADRO 10 – Vivências sexuais na adolescência /
Categor
ização de conteúdos
134
QUADRO 11 – Orientação do desejo sexual / Categorização
de Conteúdos
137
10
LISTA DE ANEXOS
ANEXO A – Escolas par
ticipantes deste estudo
153
ANEXO B –
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
154
ANEXO C – Termo do Consentimento da Participação da
Pessoa como Sujeito
155
ANEXO D –
Ficha de identificação do participante
156
ANEXO E –
Normas para transcrição de entrevistas gravadas
157
ANEXO F – Transcrição de entrevista:
Grupo Focal Religioso 1 (GFR-1)
158
ANEXO G - Transcrição de entrevista:
Grupo Focal Não-Religioso 1 (GFNR-1)
164
ANEXO H – Transcrição de entrevista:
Grupo Focal Religioso 2 (GFR-2)
169
ANEXO I - Transcrição de entrevista:
Grupo Focal Não-Religioso 2 (GFNR-2)
174
ANEXO J – Transcrição de entrevista:
Grupo Focal Religioso 3 (GFR-3)
178
ANEXO K - Transcrição de entrevista:
Grupo Focal Não-Religioso 3 (GFNR-3)
183
ANEXO L – Transcrição de entrevista:
Grupo Focal Religioso 4 (GFR-4)
188
ANEXO M - Transcrição de entrevista:
Grupo Focal Não-Religioso 4 (GFNR-4)
195
ANEXO N – Transcrição de entrevista:
Grupo Focal Religioso 5 (GFR-5)
202
ANEXO O – Transcrição de entrevista:
Grupo Focal Não-Religioso 5 (GFNR-5)
211
11
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 12
CAPÍTULO I – RELIGIÃO E SEXUALIDADE: ASPECTOS HISTÓRICOS, 16
SOCIAIS E VIVÊNCIAS NA ADOLESCÊNCIA
1. Breve história da religião 16
2. O cristianismo no Brasil 17
3. Implicações da religião na vida social 18
4. Religião e sexualidade nas culturas antigas 20
5. Sexualidade na contemporaneidade 24
6. Sexualidade na adolescência e na juventude 26
7. Doenças sexualmente transmissíveis e implicações sanitárias 27
7.1. Propensão às doenças sexualmente transmissíveis 30
8. Métodos de contracepção 31
9.Afetividade e sexualidade na adolescência 34
10. Dimensões do comportamento sexual na juventude e na adolescência 36
11. Religião e sexualidade entre adolescentes 38
CAPÍTULO II – METODOLOGIA DA PESQUISA 40
CAPÍTULO III – RESULTADOS
46
1. Conhecimento das doenças sexualmente transmissíveis
e formas de prevenção entre adolescentes
44
2. Conhecimento de métodos anticoncepcionais entre adolescentes 58
3. Percepção da sexualidade entre adolescentes 70
4. Vivências sexuais entre adolescentes 85
5. Orientação do desejo sexual entre adolescentes 106
CAPÍTULO IV – DISCUSSÃO
124
1. Conhecimento das doenças sexualmente transmissíveis
e formas de prevenção entre adolescentes
124
2. Conhecimento de métodos anticoncepcionais entre adolescentes 126
3. Percepção da sexualidade entre adolescentes 129
4. Vivências sexuais entre adolescentes 132
5. Orientação do desejo sexual entre adolescentes 134
6. Alguns comentários e sugestões 137
CONSIDERAÇÕES FINAIS 140
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 142
ANEXOS 152
12
INTRODUÇÃO
A religião é um fenômeno típico da vida humana historicamente presente em
todas as sociedades desde os seus primórdios, constatação esta que desperta
interesse e influencia diferentes explicativas desse fenômeno, visto sob o olhar da
inspiração pelos teólogos. Modernamente, antropólogos e sociólogos têm procurado
interpretar a religião à luz das ciências, tratando-a como fato social, e, portanto
explicável como fenômeno circunscrito à dimensão do humano. Atrelada à ação
social, a religião adquire sentido pelo seu poder para orientar atitudes na construção
de valores relacionados às manifestações vitais, e de forma particular, sobre a
construção e o exercício da sexualidade.
A sexualidade sob a ótica psicanalítica se constitui na essência da atividade
humana, englobando tanto uma determinação anatômica quanto uma construção
mental (ROUDINESCO e PLON, 1998, p. 704). Foucault (2005) apresenta-a sob o
ponto de vista de uma invenção, uma construção histórica e social, um fenômeno
sempre dinâmico que pretende controlar e normatizar as vivências do sexo no
âmbito privado, fazendo eclodir uma visão sociológica de diferentes sexualidades
humanas. Assim, religião e sexualidade têm dotação psicológica e social para
inculcar princípios, normas e valores advindos de grupos majoritários cujo fim é
controlar e orientar padrões de vivências sexuais, tidas como normais, para os
indivíduos. Dessa forma os adolescentes por suas características psicoafetivas
parecem mais afetos à influência dos valores religiosos e sociais nas vivências da
sexualidade, consoante às peculiaridades culturais do lugar onde são educados.
Garanhuns é um município que integra a meso-região do agreste
pernambucano. Possui uma área de 472,46 km
2
, uma altitude de 842m, implantada
no Planalto da Borborema, com a temperatura de média de 20
o
C e clima
mesotérmico, banhada pelo rio Mundaú, a cidade que tem os codinomes de Suíça
Nordestina, Cidade da Garoa e Cidade das Flores, dista 228 km da capital do
Estado. Sua população geral de 124.996 habitantes destaca a matrícula de 7.412
adolescentes e jovens na rede pública e na rede privada de ensino (IBGE, 2007) e
uma população atual de adolescentes na faixa etária de 15 a 19 anos, superior a
13.163, conforme dados oficiais anteriores (IBGE, 2000). A história do município se
encontra intimamente ligada ao Quilombo dos Palmares, conserva ainda, as
comunidades quilombolas do Castaínho, do Timbó, do Caluete, do Estrela e do
Estivas.
Sua principal atividade econômica está alicerçada no comércio, na pecuária
leiteira e no turismo rural e urbano (secular e religioso). Dentre as atividades
turísticas merecem destaque (1) o Festival de Inverno, (2) a Garanheta (carnaval
fora de época) e (3) as romarias à Santa Mãe Rainha e à Santa Quitéria. Entre as
Sete Colinas, (1) o Relógio das Flores, (2) o Parque Euclides Dourado, (3) o Parque
Ruber van der Linden, (4) o Cristo do Magano, (5) o Monumento do Ipiranga, (6) o
Castelo de “João Capão”, (7) o mosteiro de São Bento, (8) o Seminário São José,
(9) o Palácio Celso Galvão, (10) as igrejas de Santo Antonio e de Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro, (11) as capelas da Santa Mãe Rainha e de Santa Quitéria e (12)
a Igreja Presbiteriana Central, são pontos turísticos de notória visita.
13
O município goza de satisfatório status, com Índice de Desenvolvimento
Humano IDH 0,692 (CONDEPE/FIDEM, 2007), situando-se entre os 23 municípios
melhores classificados em Pernambuco. A cidade goza ainda de infra-estrutura
integrada por uma vasta rede educacional pública e privada de ensino fundamental e
médio; comunicações (rádio, televisão, jornais de grande e de pequena circulação) e
transportes (urbano e interestadual).
O ensino superior é ministrado por duas universidades públicas: A
Universidade de Pernambuco UPE - Campus de Garanhuns e a Universidade
Federal Rural de Pernambuco - UFRPE, que oferecem licenciaturas e bacharelados
nas áreas de ciências humanas, biotecnológicas e agrárias. O ensino superior
privado é assegurado pela Associação de Ensino Superior de Garanhuns AESGA
(autarquia municipal) e pela Faculdade de Medicina de Garanhuns FAMEG. A
primeira oferece bacharelado nas áreas de administração empresarial e
administração hospitalar, Turismo, Marketing e Direito, e a segunda, recentemente
chegada ao município, implantou o curso de medicina. Em vias de implantação, um
projeto de inclusão digital em convênio com o Ministério das Comunicações e uma
faculdade privada de medicina. Sua estrutura social (educação, saúde, economia,
transportes, artes, segurança) dá-lhe maior diversidade cultural e religiosa no âmbito
do Agreste de Pernambuco por sua condição de cidade-pólo.
A educação no município está historicamente ligada à presença religiosa dos
presbiterianos e dos católicos. No ano de 1895, com a chegada dos missionários
presbiterianos a Garanhuns, a educação tornou-se um importante meio para a
evangelização local e regional. No município os presbiterianos fincaram bases
educacionais no Colégio Quinze de Novembro e no Seminário do Norte, este último
transferido posteriormente para o Recife (MATOS, 2009). O interesse dos
missionários presbiterianos pela evangelização através da educação possibilitou a
transferência em 1951, da Escola de Treinamento da Bíblia para Moças ETBM, do
Colégio Agnes Erskine, em Recife, para Garanhuns. Esta escola, atualmente sob a
designação de Instituto Bíblico do Norte, vem ministrando Cursos de Bíblia e
Educação Cristã, Cursos de Iniciação à Música Sacra, Curso Pré-seminário e outros,
para estudantes de ambos os sexos (VIANA, 2009).
A presença católica na educação local surgiu após a iniciativa dos
protestantes, com a fundação em 17 de janeiro de 1912, do atual Colégio Santa
Sofia, pertencente às Damas de Instrução Cristã, que durante muitos anos ministrou
educação exclusivamente para moças. Seguiu-se a fundação do Ginásio de
Garanhuns, atual Colégio Diocesano de Garanhuns, em 19 de março de 1915, pelo
Monsenhor Benigno Lira. Semelhantemente à instituição co-irmã, o Ginásio
Diocesano durante longo período da sua história, voltou-se à educação exclusiva de
rapazes, atraindo alunos de diferentes regiões do país. Anos depois, o município
recebe o Ginásio do Arraial, atual Colégio Monsenhor Adelmar da Mota Valença,
fundado pelo clérigo de mesmo nome em 07 de outubro de 1956.
O catolicismo local registra ao lado do empenho educacional, um evento de
rivalidade intra-religiosa que culminou no assassinato do bispo Dom Expedito Lopes,
em fins da década de 1950, por um sacerdote a ele submisso. O “martírio de
14
Expedito, que tanta glória espargiu”
1
(cantavam antigos alunos do Ginásio Municipal
de Garanhuns) e os testemunhos de graças alcançadas por fiéis, possibilitaram a
recente abertura do processo de beatificação do referido padre. A religiosidade de
católicos locais mistura-se à fé, como se no episódio da guarda de um dos
projéteis da arma disparada contra o bispo. Recentemente em novembro passado,
um atuante jornalista local, doou à diocese, o projétil (guardado desde 01 de julho de
1957) que “atravessou o braço esquerdo do bispo assassinado”
2
.
Cognominado
“Bispo dos Pobres”, “Bispo de Coração Mariano” e “Bispo do Perdão”, Dom Expedito
Lopes é reverenciado pelos católicos locais por sua doação pastoral aos pobres,
pela criação do Instituto das Missionárias de Nossa Senhora de tima do Brasil e
pelas preces e perdão dispensado ao seu agressor, horas antes da sua morte
(RAFAEL, 2009).
Pesquisadores sociais têm estudado com interesse os diferentes matizes da
religião e da religiosidade em Garanhuns. Estudando o comportamento religioso de
católicos leigos em Garanhuns (THEIJE, 2002) a autora mostrou a influência do
gênero na construção de significados que imprimem padrões de conduta à vivência
religiosa. Por seu turno, Braga (2004) em análise posterior, enfatizou as dimensões
da experiência religiosa e política vivida por católicos leigos da paróquia de São
Vicente em Garanhuns, em relação aos preceitos do catolicismo liberacionista.
Neste estudo, fatores inerentes ao autor, auxiliaram a construção e a
definição da natureza e dos objetivos explicitados adiante. A condição religiosa do
autor (protestante) bem como a atividade que desenvolve como psicoterapeuta em
serviço ambulatorial de saúde pública, tem permitido satisfatórias oportunidades de
interação com adolescentes. Tais oportunidades levaram a supor que fatores
históricos e culturais que impregnam a religião e a religiosidade vividas no município
influenciam a dinâmica da sexualidade de adolescentes locais, cujas dimensões e
implicações carecem ainda de explicação.
Considerando no rol das características sócio-culturais, a influência da religião
na construção social e humana do município, e por outro, a inexistência de estudos
similares em Pernambuco, descreveremos aqui, o papel da religião no
comportamento sexual de adolescentes religiosos, contrapondo-o ao comportamento
sexual de adolescentes não-religiosos. Definimos por comportamento sexual, o
repertório de conhecimentos e atitudes em relação à vivência sexual, como (1)
conhecimento sobre doenças sexualmente transmissíveis e suas formas de
prevenção; (2) conhecimento de métodos anticoncepcionais; (3) percepção da
sexualidade; (4) vivências sexuais em suas distintas formas; e (5) orientação do
desejo sexual.
A histórica diversidade religiosa da população garanhuense põe em destaque
o cristianismo, fortalecido pela educação com ênfase protestante e pela educação
com ênfase católica. Tal diversidade, com a primazia estatística católica ofereceu
satisfatório contexto à análise da influência exercida pela religião no comportamento
humano, e de modo particular, sobre o comportamento sexual de adolescentes, com
o fim de (1) avaliar o grau de conhecimento de adolescentes em relação às doenças
1
Estrofe do Hino do Ginásio Municipal de Garanhuns, atual Colégio Municipal Pe. Agobar da Mota Valença.
2
Disponível em: <http//www.diocesegaranhuns.org/site/exibepalavrabispo.php?cod_palavra=3> Acesso em 20
jan. 2008.
15
sexualmente transmissíveis e suas formas de prevenção; (2) relatar as implicações
da religião na aquisição de informações relativas aos métodos anticoncepcionais
entre adolescentes no contexto atual; (3) sumariar a influência da religião na
percepção da sexualidade entre adolescentes; (4) descrever formas de vivências
sexuais entre adolescentes; e (5) identificar princípios religiosos na orientação do
desejo sexual de adolescentes.
Esperamos com este estudo para a elaboração de programas de informação
e/ou orientação, ou outras medidas instrucionais de apoio ao desenvolvimento
sexual do adolescente. Concomitantemente esperamos também, incentivar a
atenção familiar às questões psicossociais e religiosas implicadas no
comportamento sexual e na sexualidade do adolescente. Esta proposição se afigura
factível como linha de investigação, uma vez que está satisfatoriamente estabelecido
o consenso de que a religião permite diálogo interface com áreas de outros saberes
(JONES apud OLIVEIRA, 2000, p. 7).
16
CAPÍTULO I
RELIGIÃO E SEXUALIDADE
ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E VIVÊNCIAS NA
ADOLESCÊNCIA
1. BREVE HISTÓRIA DA RELIGIÃO
A religião é uma prática cultural encontrada à origem do homem, e por isso,
interpretada como processo; uma construção cultural, um instrumento coletivamente
criado para explicar, originariamente, o desconhecido. Essa necessidade de
conhecimento, das explicativas primeiras para o fenômeno da morte, evoluiu para
uma assimilação racional da natureza, do homem e da sociedade (SILVA e SILVA,
2006; FREIRE, 2008; ROSA, 1996; CABRAL e OLIVEIRA, 1972; UCHOA, 1968).
A religião, como prática, apresenta-se constituída por sistemas de crenças
multiformes e de difícil classificação, dada à variedade, tanto das culturas humanas
quanto das religiões e religiosidades identificadas pela história e pela antropologia
(SILVA e SILVA, 2006, p. 354-358; RICHARDSON, 1995). Estudos antropológicos
em culturas antigas identificaram entre os Incas, os Santal indianos, os Gedeo
etíopes e os Mbaka centro-africanos, práticas cultuais monoteístas, próximas das
suas respectivas na religião judaico-cristã (RICHARDSON, 1995).
Sob o olhar judaico, a narrativa dos princípios teo-antropológicos,
evidenciados no ato criador da divindade, instituiu o deísmo pela superioridade
daquela em relação à criatura, semelhança do seu Criador (BÍBLIA. GÊNESIS,
1.26.). Tal semelhança, definida como “imago Dei”, refere-se a um ponto de contato
que possibilita a relação do homem com Deus, sendo essa relação, a essência do
homem (MODIN, 2003, p. 93). Portanto, como Deus se revela através da Sua
Palavra, a imago Dei” desempenha fundamentalmente uma função espiritual-social.
No plano ético-moral, a “imago Dei” viabiliza a produção de mecanismos necessários
à regulação da convivência social, assentada no protótipo da relação de Yahweh
(Deus dos hebreus) com patriarca Abraão. A narrativa bíblica mostra que o propósito
dessa relação é abençoar a humanidade (BÍBLIA. GÊNESIS, 12.1-3), à medida que
Yahweh fosse disseminado entre os povos.
A relação esperada de convivência do homem com o Transcendente – “imago
Dei” - tornou-se assim, o objeto da educação hebraica. Os hebreus adultos tinham
como responsabilidade maior, prestar especial atenção, pedagógica e religiosa, à
formação dos jovens, educando-os no “caminho que deve andar” (BÍBLIA.
PROVÉRBIOS, 22.6). O ensino da religião e a prática da religiosidade desde tenra
idade tornaram-se o caminho hebraico modelo pedagógico - pressupondo-se nele,
o meio para o aprendizado de valores eficazes à construção de uma ética de co-
responsabilidade com o amplo desenvolvimento da pessoa.
17
Os gregos, povo politeísta, voltaram-se à antropologia, com o destaque das
questões políticas e sociais. Aristóteles considerou o homem como um ser,
primeiramente político, por suas relações bem definidas com o Estado que espera
dos seus súditos o exercício da moral através da vida social (JAPIASSU e
MARCONDES, 1996, p.16). Assim, a moral estimula necessidades de associação, e
esta principia o desenvolvimento de relações indutoras de normas e valores
significativos entre pares e, portanto, a formação de uma cultura enquanto
característica identitária de um povo. Contrariamente à assertiva aristotélica,
Brunner afirma que o homem é um ser teológico, pois o seu fundamento, sua
finitude, bem como suas habilidades para compreender a natureza e a si mesmo,
encontra-se em Deus (MODIN, 2003, p. 93). Assim, a religião se constitui num
código de conduta entre o homem e a Divindade, lócus de origem do códice social
que permite entender o homem em sua natureza sócio-espiritual.
O cristianismo, herdeiro do judaísmo monoteísta, se refere a um agregado de
religiões que m, em Jesus Cristo, o Senhor e Salvador. Alicerçado nos princípios
da particularidade e da universalidade, o cristianismo afirma, em relação à
particularidade, que a , tal como revelada por Jesus Cristo, se constitui condição
imprescindível à salvação; quanto ao princípio da universalidade, de onde surgiu o
termo católico, utilizado por Inácio, de modo complementar, estende a salvação a
toda a humanidade que se permitir crer na revelada, ensinada e mantida através
dos históricos concílios ecumênicos. De notória expansão durante a ocupação
romana na Judéia, o cristianismo, incorporando-se ao Estado, identificou-se com a
Igreja Católica até a cisão com a Igreja Ortodoxa. Posteriormente, a decadência do
império romano favoreceu a ascendência da Igreja Católica à condição de religião
oficial, guardiã da fé, perseguidora dos não adeptos, obrigando-os à conversão pela
força. O propósito fundamental do cristianismo é ensinar as doutrinas bíblicas do
Novo Testamento, as quais se constituem diretrizes para regrar a vida pessoal e
social na prática do bem. Historicamente, se incluem nesta fé, a Igreja Ortodoxa
Oriental, o catolicismo em suas ramificações e as denominações protestantes da
pós-Reforma, como os anglicanos, os episcopais, os metodistas, os luteranos, os
presbiterianos, os congregacionais e, paralelos à reforma, os batistas (SILVA e
SILVA, 2006, p. 79-88; MENDONÇA e VELASQUES FILHO, 2002, p. 11-18;
MATHER e NICHOLS, 2000, p. 108-127).
2. O CRISTIANISMO NO BRASIL
O cristianismo católico chegou ao Brasil com os colonizadores portugueses,
agraciados, décadas antes da conquista, com o direito do Padroado que lhes
conferia autoridade administrativa e teológica sobre a igreja a se instalar. O
catolicismo gradativamente se implantou pelo mecanismo da negação das práticas
cultuais dos nativos e dos africanos (SILVA, 2001, p. 135). Pierucci, (2005, p. 301)
relata que os padres jesuítas, representantes primeiros da igreja católica no Brasil,
empreenderam a catequese dos nativos e dos negros escravos africanos, tarefa que
se afigurou complexa pelo contraste cultural manifesto nas relações entre os padres
e as nações que pretendiam converter ao cristianismo. A igreja implantada manteve-
se, pelo direito do Padroado, submissa à Coroa Portuguesa durante quatro séculos
até o advento da república. Note-se que em 1808, com a Abertura dos Portos às
nações amigas, permitiu-se aos imigrantes ingleses protestantes, a prática caseira
18
dos seus cultos, proibindo-se o proselitismo (SILVA, 2001, p.138), adotando-se
assim, uma atitude de liberdade controlada em relação à religião não oficial.
O Brasil República abdicou do direito do Padroado, optando pela declaração
da laicidade do Estado brasileiro em matéria de religião, favorecendo a partir de
então, a liberdade de expressão religiosa. Ao inscrever na constituição tal direito, por
extensão, contemplou-se o direito à liberdade de associação e ainda, o direito de
livre concorrência entre igrejas (SILVA, 2001, p. 138). Liberta do jugo estatal, a igreja
católica empreendeu um inestimável trabalho de expansão como antes não se
conheceu em território nacional, não evitando, mesmo assim, o surgimento de novas
igrejas e religiões. Mesmo diante da pluralidade religiosa contemporânea nacional, o
catolicismo é estatisticamente a religião dominante na população brasileira (IBGE,
2000).
O protestantismo europeu e americano ao instar-se no Brasil, empreendeu
um trabalho doutrinário com o propósito de induzir o abandono das crenças,
costumes e valores das classes populares, semelhantemente à estratégia adotada
pelo catolicismo. Pierucci (2005), em sua explanação sobre as religiões no Brasil, diz
que o protestantismo foi introduzido pelos imigrantes alemães de confissão luterana
que se radicalizaram no sul do país a partir de 1824. Inicialmente, o luteranismo
preocupou-se com a autopreservação cultural e religiosa evitando a comunicação da
em idioma que não fosse germânico. No período de implantação, muitas foram as
dificuldades enfrentadas pelos alemães, sobretudo, pela ausência de líderes
eclesiásticos, até que da Alemanha, a partir de 1886, vieram pastores que fundaram
a Igreja Evangélica Alemã no Brasil. Também, imigrantes luteranos americanos
chegaram ao Brasil em 1904, fundando a Igreja Evangélica Luterana no Brasil e,
após a segunda guerra, foi fundada a Igreja Evangélica de Confissão luterana no
Brasil. Em 1810, americanos protestantes de confissão anglicana e de confissão
metodista radicalizaram-se em São Paulo.
Á semelhança dos alemães, os pioneiros anglicanos optaram pela
manutenção da cultura luterana do país de origem e com visível desinteresse pela
conversão de brasileiros, condição esta que fez postergar a nacionalização dessa
igreja. O protestantismo no Brasil é então categorizado pela imigração e pela
conversão, sendo a segunda, fruto das missões inglesas com os anglicanos (1818) e
americanas com os presbiterianos (1859 e 1868), os metodistas (1870), os batistas
(1881), os episcopais (1889) e os congregacionais (1893), vindas com o propósito
de converter brasileiros ao cristianismo protestante. Neste trabalho de
evangelização, os metodistas, auxiliados pelas Sociedades Bíblicas na distribuição
de bíblias ao povo brasileiro, alcançaram destaque, fato que resultou na criação da
Igreja Congregacional no Rio de Janeiro em 1858. Em fins do século XIX, as
denominações clássicas do protestantismo, quais sejam: luterana, anglicana e
episcopal, metodista, presbiteriana, congregacional e batista, já se encontravam
implantadas no país (PIERUCCI, 2005, p. 304-306; SILVA, 2001, p. 138).
3. IMPLICAÇÕES DA RELIGIÃO NA VIDA SOCIAL
A religião cumpre importantes funções sociais, estabelecendo-se como
instrumento de organização da vida pessoal e coletiva, de criação e significação do
19
agir em consonância com padrões éticos e morais, tendo visível influência no
ajustamento pessoal (MARCONI e PRESOTTO, 1999, p. 171), através, inclusive, da
coerção psicológica. Com o incremento das possibilidades de conhecimento, a
função social da religião foi contestada: Marx e Engels apontaram-na como
elemento indutor da conformação do sujeito à ideologia do poder. Para Marx, a
religião é fruto de projeções mentais eliciadas das ansiedades do homem ante as
opressões do poder (LESBAUPIN, 2003, p. 15), uma realidade forjada pela
alienação e, portanto, o “ópio do povo” (ALVES, 1999, p. 80 e 91; CHAUÍ, 1999).
A contestação marxista à religião intenta o desprestígio da sua função
construtiva, impingindo-lhe uma dimensão, o político-ideológica, mas também
psicopática, assemelhando-a a recursos de identificação, ou de justificação ou
mesmo de defesa do psiquismo ante a percepção de superioridade do opressor. A
dúvida introduzida quanto à beneficência do papel social da religião, orientou o
exame da questão por neo-marxistas. Luxemburgo e Gramsci, abdicando do viés da
essência, adentraram ao papel histórico da religião no processo das transformações
sociais, pondo à luz, o seu poder na construção de ideologias progressistas
(LESBAUPIN, 2003, p. 27) como instrumento de resistência e evitamento da
submissão das classes populares.
Entendimento semelhante ao marxismo instalou-se na psicanálise. Freud,
(1913), inicialmente, refletindo sobre a natureza e a cultura, viu na segunda, um
conjunto de preceitos impostos, pela elite dominante, à massa menos esclarecida.
Nesse sentido, a função da cultura é produzir mecanismos de alívio da ansiedade
contra as agressões da natureza, sobretudo, contra o temor da morte. Mas, qual a
base dessa proposição? Na psicologia das massas, Freud encontrou a gênese da
religiosidade na figura parental. O pai protege, segurança, induz à adoção de
atitudes, dita regras, torna-se temido, pela criança, pelo poder de punir. Pela
educação, o sujeito, diz Freud, harmoniza as forças temidas da natureza, fazendo-as
pais ou deuses que podem gratificar o sofrimento impingido pela cultura. Assim,
Freud entendeu a religião como pretensa “explicação sobre a origem e gênese do
universo, consolo e esperança nas vicissitudes da vida e proibições que apóia com
grande autoridade”, e abrigo imaginário contra a natureza (UCHOA, 1968, p. 375).
Religião prosseguiu Freud, é uma ilusão, fruto dos desejos inconscientes,
semelhante à neurose obsessiva (ROUDINESCO e PLON, 1998, p. 286-288;
XAUSA, 1986, p. 178-179; HORDERN, 1979, p. 48). Ainda no âmbito da psicanálise,
contrariamente a Freud, Jung vê, na religião, uma das mais antigas e universais
expressões da alma, chegando, inclusive a advogar a existência de uma saudável
relação entre a saúde psíquica e religiosidade. Em caminho semelhante, William
James, ao descrever diferentes estados místicos da consciência, assemelhou a
experiência religiosa a uma forma específica de atividade psíquica (XAUSA, 1986, p.
178-181).
Durkheim dedica-se à análise do fenômeno religioso, concluindo que a
religião é também um instrumento de promoção da qualidade de vida. Para este
sociólogo, a religião contém, ao mesmo tempo, algo de eterno e um poder
dinamogênico que vivifica o crente e, por extensão, influi nas transformações
sociais. A religião, ao seu olhar, conjuga um sistema de idéias e de forças sui
generes que, na impossibilidade de descrevê-las melhor, utilizou a expressão “são
forças que levantam montanhas” (SANCHIS, 2003, p. 40-41), talvez numa alusão à
20
dimensão da referida por Jesus (BÍBLIA. MATEUS, 17.20; MARCOS, 11.23). A
análise durkheiminiana, relativa ao poder da religião, mostra que este é
erroneamente concebido pelos crentes; entretanto, não é algo que emerge das
defesas do inconsciente para evitar a ansiedade, mas um poder real que permite a
humanidade viver (DURKHEIM, 1977). Aqui, um contra ponto é colocado, por se
presumir que a ciência não pode apreender, com objetividade, a significação da
vivência religiosa, uma vez que a interioridade do homem que se submete à
experiência do sagrado está para além da análise sociológica (ALVES, 1999, p. 86).
A antropologia tem se dedicado ao exame da religião e da religiosidade
enquanto fenômeno cultural. Uma definição preliminar, diz tratar-se de “crenças em
seres espirituais” (TYLOR apud HERSKOVITS, 1964, p. 142), sendo esta uma
definição mínima, como bem assegurou a sua autoria. Gaarder, Hellern e Notaker
(2005, p. 19-20), compilaram definições interessantes: Schleiermacher, diz que a
“religião é um sentimento ou uma sensação de absoluta dependência”; Tiele
entende que “religião significa a relação entre o homem e o poder sobre-humano no
qual ele acredita ou do qual se sente dependente”. Essa relação se expressa em
emoções especiais (confiança, medo), conceitos (crenças) e ões (culto e ética);
Glasenapp refere-se à “convicção de que existem poderes transcendentes, pessoais
ou impessoais, que atuam no mundo, e se expressa por insight, pensamento,
sentimento, intenção e ação”. Já Herskovits (1964, p. 176), contribuindo nesse
campo conceitual, refere-se à exigência de um “sistema de crenças em, identificação
com e uma força ou poder maiores”. Certamente, essa exigência conceitual parece
respondida ao se pensar a religião como sistema de símbolos que se destinam a
persuadir e estruturar as motivações do indivíduo, estabelecendo conceitos gerais e
existenciais, imprimindo-lhes realidade (GEERTZ, apud HOEBEL e FROST, 1981, p.
353-354).
No campo teológico, a religião é tratada por suas vicissitudes e implicações.
Hordern (1979) descrevendo diferentes concepções e críticas teológicas, diz que
Barth entende a religião como uma busca de Deus pelo homem, ocorrendo que
comumente se encontra um deus consoante os anseios humanos (p. 142); ao ver de
Tillich a religião está para além das crenças e práticas tomadas como corretas e das
religiões tradicionais, por requerer do crente, uma atitude de profunda humildade
ante a divindade reverenciada em temor, atitude esta também encontrada entre
indivíduos não religiosos (p. 186); Hamilton define a religião como um conjunto de
atividades piedosas e eclesiásticas nas quais se insere uma visão da divindade a
quem se considera capaz de intervir nos problemas humanos (p. 247). O próprio
Hordern em sua análise, diz que a religião não é necessariamente boa, por se
constituir num campo de batalhas entre a consciência de Deus e o orgulho humano,
cujo desfecho pode conduzir à humildade ou à arrogância (p. 165).
4. RELIGIÃO E SEXUALIDADE NAS CULTURAS ANTIGAS
4.1. OS GREGOS
Wood (1967), produziu uma reflexão substancial sobre o comportamento
sexual humano em antigas civilizações. Para o autor, os gregos antigos usufruíram a
sexualidade sem repressões, com erotismo diversificado, instintos sexuais refinados
21
e racionalmente controlados. Os gregos aceitavam com naturalidade os impulsos
sexuais que deviam ser submetidos a um processo educativo de aprimoramento. O
apego à beleza física e ao conhecimento fez emergir padrões de comportamento
sexual caracterizado pela prevenção de excessos, rejeição a misticismos e atitudes
ascéticas. A sexualidade que era considerada dádiva dos deuses, não poderia
deixar de ser desejada pelo homem, considerado como ser bissexual e de amplas
necessidades eróticas. Naquela sociedade apreciava-se a tal ponto o gozo sexual
que não se punia o homem que buscasse satisfação fora do casamento, quer fosse
com uma concubina ou com um belo e jovem rapaz. Todavia, proibiam as relações
sexuais com crianças, mas aceitava-se a pederastia, caracterizada no apego de um
homem adulto que se encarregava da educação ética, moral e intelectual de um
jovem rapaz.
A pederastia, como uma característica sexual atribuída aos deuses e aos
heróis mitológicos (DANIEL e BAUDRY, 1977, p. 24) distinguia-se da prostituição.
No primeiro caso, o jovem se doava ao seu instrutor, e no segundo, a vivência íntima
mediante paga, sendo esta forma de entrega do corpo desprezada na cultura grega
(WOOD, 1967; ORAISON, 1977). Da vivência afetiva da auto-entrega do
adolescente ao seu mestre, resultava a homossexualidade, que embora não sendo
legalmente incentivada, era tolerada como ocorrência episódica e elemento de
aprendizagem afetiva e erótica da vida dos jovens, como o demonstram a literatura e
a religião.
A aceitação da homossexualidade masculina não se constituía em obstáculo
ao casamento, pois este era valorizado, com destinações divergentes entre os
sexos: as moças podiam realizá-lo ainda no início da adolescência, logo após a
menarca enquanto os rapazes eram orientados a fazê-lo após os 21 anos. A idéia da
natureza bissexual humana permitia vivências auto-eróticas e homoeróticas,
consoante o sexo. A masturbação não era considerada um vício, mas devia ser
abolida da sexualidade do adulto masculino, pois este devia ter a habilidade para
buscar satisfação com um parceiro ou uma parceira (WOOD, 1967, p. 678). Em
relação aos adolescentes e jovens masculinos, proibia-se a masturbação e a
homossexualidade não pedagógica, sob a alegação de desgaste energético e
promiscuidade, ao passo que às moças podiam praticá-las (CANO, FERRIANI e
GOMES, 2000) inclusive com a estimulação adicional dos falos artificiais (WOOD,
1967, p. 678).
A toda esta riqueza de afetos sexuais aliava-se o culto ao corpo que incluía
tanto a vestimenta e adornos quanto a própria nudez. A nudez masculina e feminina
era socialmente incentivada nas atividades artísticas e esportivas e a exposição dos
genitais era reverenciada como órgãos sagrados da procriação. A reverência aos
genitais humanos parece haver sido incrementada pelo discurso de Cerinto (Filósofo
gnóstico do I Século), para quem não é vergonhoso “nomear aquilo que Deus não se
envergonhou de criar” (WOOD, 1967, p. 677). A religião estava intimamente ligada à
produção da sexualidade e do comportamento sexual entre os gregos antigos.
4.2. OS ROMANOS
Os romanos antigos construíram a sexualidade sob a égide dos deuses.
Mutunus Tutunus e Juno protegiam, respectivamente, a fertilidade e as funções
22
sexuais femininas. A cultura romana tinha diferentes olhares à virgindade feminina,
sem envolver elementos ascéticos ou religiosos. Não se reverenciava a virgindade
em si, mas via-se nela um fator prático, pressupondo-se não ser confiável a relação
conjugal posterior com moça desvirginada (WOOD, 1967, p. 680).
As moças pobres podiam manter relacionamento sexual como bem lhes
aprouvesse, sem quaisquer deméritos; entretanto, das moças ricas, exigia-se a
virgindade como predição de fidelidade no casamento. As ricas jovens em núpcias
costumavam sentar sobre o falo de Mutunus Tutunus ou ser desvirginadas por
amigos do noivo após o cerimonial do casamento (WOOD, 1967, p. 680).
Ao homem, solteiro ou casado, permitia-se maior liberdade sexual,
recomendando-se aos rapazes a satisfação sexual nos bordéis, uma vez que
socialmente se aceitava com reservas - a prostituição, pois os romanos tinham o
hábito de cobrir a cabeça e ocultar o rosto quanto adentravam ao bordel. As
prostitutas romanas podiam ser escravas, moças livres ou ainda, moças
aristocráticas de vida livre, exigindo-se das primeiras, a inscrição profissional pública
nas listas da edilidade (WOOD, 1967, p. 682).
A cultura romana continha inúmeras proibições em relação ao comportamento
sexual, mas este quando manifesto em desacordo com as normas estabelecidas,
era encarado com naturalidade. Semelhantemente aos gregos, as relações sexuais
entre pessoas livres eram aceitas quando espontâneas, e desprezadas quando
realizadas mediante paga, característica da prostituição, sobretudo, feminina. A
homossexualidade masculina entre um adulto e um jovem, era aceita com
naturalidade, mas divergia em princípio, da pederastia grega, pela ausência do seu
papel educativo (DANIEL e BAUDRY, 1977). Semelhantemente à sociedade grega
antiga, os romanos conceberam e viveram a sexualidade aliando sexo e religião às
dimensões da felicidade humana (WOOD, 1967, p. 683).
4.3. OS HEBREUS
A nação hebraica, por seu turno, construiu uma ética da sexualidade
orientada no temor da idolatria e no mandamento da procriação, elegendo a
virgindade, o adultério, a masturbação, a prostituição e a homossexualidade como
temas fundamentais (WOOD, 1967, p. 686). Assim, o comportamento sexual foi
vivido em conflito: A ordem recebida para crescer e multiplicar (BÍBLIA. GÊNESIS,
1.28) enfrentou os obstáculos da ascese que desprezava o sexo e o prazer
resultante como práticas benéficas. A prostituição foi sempre proibida, não em
referência direta à prática do sexo, mas a associação desta com a religiosidade
pagã. Por outro lado, não se evitou a sua existência em diferentes formas, como a
prostituição sagrada praticada pelas sacerdotisas do Templo, e a prostituição
secular, praticada por mulheres comuns. As sacerdotisas habitualmente
entregavam-se a práticas sexuais mediante pagamento, colocando os frutos
econômicos desse trabalho à disposição da tesouraria do Templo. Essa prática,
comum entre rapazes e moças cananitas foi combatida e extinta no reinado de
Josias (BÍBLIA. 2REIS, 23.7; WOOD, 1967, p. 685), em concordância com a lei
mosaica que proibia terminantemente, a prostituição das filhas e dos filhos de Israel
a serviço do templo (BÍBLIA. DEUTERONÔMIO, 23.1). A historiografia registra a
23
ocorrência de outras formas de prostituição religiosa de adultos e jovens nos altares
dos altos, porém não ligadas ao culto judaico.
A moral sexual dos hebreus aceitava a realização de práticas sexuais entre
rapazes e moças desde que solteiros, sem premeditação e sem paga. Por outro
lado, valorizava-se a virgindade feminina reprimindo-se severamente a sedução de
virgens e a relação sexual por estupro (BÍBLIA. DEUTERONÔMIO, 22.13-29). Do
ponto de vista estético-religioso e sanitário, adultos e jovens portadores de “fluxo
seminal” ou sanguíneo ou ainda com mutilações ou com imperfeições genitais
(BÍBLIA. LEVÍTICO, 15.16,19; DEUTERONÔMIO, 23.1) eram proibidos de freqüentar
os cultos no Templo.
Diferentemente da cultura grega, proibia-se a nudez de adultos e jovens,
sobretudo no âmbito familiar, por sua associação com o pecado original, com a
relação sexual, bem como em referência a situações solitárias indutoras da
masturbação e desperdício do sêmem (BÍBLIA. GÊNESIS, 38.8-10; LEVÍTICO 18.1-
18; 15.16). Contrariamente as sociedades greco-romanas, os hebreus foram
intolerantes para com a homossexualidade masculina introduzida no templo nos
primeiros reinados de Israel, por se tratar de prática estéril e de origem cananéia
(BÍBLIA. LEVÍTICO 18.22). Considerada crime, a sodomização de menino recebia
punições diferentes por se acreditar que somente após os nove anos o menino
tornava-se um ser sexuado. Apenava-se com a morte no caso de ser o menino
menor de nove anos e com flagelação pública no caso da idade do menino ser maior
de nove anos (ORAISON, 1977; WOOD, 1967).
4.4. OS HINDUS
A sexualidade nas diferentes tribos hindus estendia-se desde as rigorosas
práticas de ascese à veneração do erotismo. Os hindus não proibiram nem limitaram
os prazeres da sexualidade que sempre foi vivida amplamente com fins religiosos.
A procriação era uma função valorizada, sob a proteção de Shiva, deus
integrante da trindade hindu. Shiva era símbolo da sexualidade, representado como
hermafrodita, portando um falo e uma vulva, mas os seus sacerdotes tinham a
obrigação de manter-se afastados do sexo, ao mesmo tempo em que cuidavam da
iniciação de moças que se tornavam dançarinas, sacerdotisas e prostitutas
templárias. Em muitas tribos hindus, as primogênitas eram consagradas ao deus
tribal e durante um período de tempo serviam como prostitutas nos templos. O
caráter religioso da prostituição hindu assemelhava-se àquele encontrado entre os
povos cananeus, condição não permitida aos hebreus (BÍBLIA. DEUTERONÔMIO,
23.17).
Os costumes sexuais hindus mostravam-se contraditórios, pois, à medida que
valorizavam a virgindade feminina e proibiam a sedução da jovem e da mulher
casada, aceitava-se a iniciativa sexual desta última quando apaixonada. A mulher
cabia-lhe viver ardorosamente a atividade sexual, por considerarem que o “gozo
sexual remove os males” da alma e que é “desumana a frustração sexual” (WOOD,
1967, p. 693). Diante de tanta liberdade para viver a sexualidade e o sexo, os
hindus, paradoxalmente, insistiam que a relação heterossexual devia obedecer à
tradição pênis-vagina, condenando outras formas de prazer e gozo, como o sexo
24
oral e anal. Semelhantemente aos hebreus, puniam a homossexualidade, a
masturbação e quaisquer outras formas de auto-erotização conducentes ao gozo
sexual, tolerando a homossexualidade feminina em razão de conceber a mulher
como incapaz de exercer controle sobre o instinto sexual (WOOD, 1967, p. 694).
Em relação ao desenvolvimento dos jovens, acreditavam que as mudanças
biofísicas da puberdade resultavam da união sexual com o deus lunar. Esta crença
era tão forte a ponto de permitir o defloramento de virgens pelo falo da imagem do
deus, após a realização do casamento de moças com a divindade (WOOD, 1967, p.
692). O comportamento sexual dos jovens era influenciado tanto pela casta como
pela idade. À moça de casta social e economicamente mais influente, não lhe era
permitido o casamento ou relacionamento sexual com rapaz de classe inferior, sob
pena de reclusão familiar. A idade por seu turno era um fator importante para o
casamento que, no âmbito familiar, devia ocorrer por ordem etária.
Em suma, os hindus empenharam-se na compreensão das muitas
possibilidades de viver a sexualidade, criando vários tratados sobre a arte de amar,
que deve ser cultivada em prol da felicidade humana. À mulher hindu, concedeu-se
a liberdade para revelar-se ativa durante a relação sexual, ao ponto de afirmar que
“o amante terá falhado, a menos que ela atinja também a completa satisfação”
(WOOD, 1967, p. 695).
5. A SEXUALIDADE NA CONTEMPORANEIDADE
No Século XX, a história da sexualidade humana foi extensamente estudada
por Foucault (2005), que viu a sexualidade como uma construção social. Para ele
[Foucault] a burguesia desde o século XVIII, preocupada com a ascensão do
capitalismo, dedicou-se à repressão da sexualidade (p. 21), circunscrevendo o sexo
à reprodução protagonizada na figura do casal. A circunscrição do sexo ao casal e o
âmbito da família delimitado para a vivência do sexo, tipificou como anormalidade
quaisquer formas de busca de prazer sexual fora da família, prescrições que
induziram a mercantilização do sexo. A repressão sexual na visão de Foucault
parece estimular a produção de gratificações sociais, como se vê na crescente
produção de discursos sobre o sexo reprimido. O discurso sobre o sexo cumpre uma
função cartática oportunizando àquele que fala rebelar-se contra o instituído na
busca de liberação do prazer e na tentativa de instituir novas ordens na sociedade
(HAGE, 2008). O papel da repressão sexual parece não ser outro, sendo àquele de
estimular a liberação do desejo de expor a verdade sobre o sexo, como se
depreende do prazer visível das pessoas quando falam das suas repressões
(FOUCAULT, 2005, p. 13).
Muitos questionamentos sobre a proximidade da repressão sexual com o
poder foram elencados pelo próprio Foucault (2005, p. 12, 14 e 16) que indagava se
a incitação para falar sobre o sexo como segredo (p. 35), não pretendia, em última
análise, desenterrá-lo com vistas a sua banalização? (HAGE, 2008). A repressão
sexual cumpre sua função social ao instituir uma vontade de saber (FOUCAULT,
2005, p. 17) sobre o sexo, como se vê no interesse eclesiástico quando da confissão
dos fiéis, nas diretrizes educacionais, nas prédicas familiares, na reserva dos
consultórios médicos e psicoterapêuticos, cujo fim não é outro, senão o controle do
25
sujeito e da população. Com a Contra-Reforma, a Igreja Católica estimulou o
discurso sobre o sexo, pretendendo disciplinar a mente dos fiéis na construção de
uma moral sexualmente útil aos princípios da católica (FOUCAULT, 2005, p. 22 e
25).
O século XIX trouxe uma mentalidade de liberdade de expressão, na qual se
inclui os fóruns de discussão do sexo que prescreveram as práticas sexuais
aceitáveis, com o apoio dos diferentes discursos elaboradas nas ciências
biomédicas e sócio-jurídicas (HAGE, 2008). Tais discursos pretendiam não a
proibição do sexo, mas a gerência do comportamento sexual quer naquilo que
coubesse ao Estado, quer naquilo que coubesse ao indivíduo. O interesse das
ciências e do Estado para saber sobre o sexo residia à base dos problemas
demográficos e econômicos carentes de controle (FOUCAULT, 2005, p. 27-28). No
âmbito das ciências, diz Foucault, a pedagogia e a psiquiatria voltaram-se à análise
da sexualidade infantil (p. 29) - até então negada – e as perversões sexuais,
tornando o sexo algo perigoso e, portanto de controle necessário. O sexo passou a
protagonizar o caminho para o desenvolvimento de psicogenias (p. 32) capazes de
cura através da fala, da fala verdadeira, sobre o sexo vivido e o sexo desejado. A
sexualidade aparece então, como resultado da estimulação de corpos, da vivência
intensa dos prazeres, da liberdade auferida no discurso sobre o sexo, do
conhecimento produzido sobre o sexo, dos controles exercidos sobre o sexo e das
resistências contra a repressão sexual (HAGE, 2008).
A sexualidade enquanto construção histórica envolve uma disposição
biológica que se manifesta em concordância com determinados princípios de uma
dada época. Assim, a sexualidade combina distintas formas de expressões
comportamentais de origem somática, psicossociais bem como as preferências
vivenciais do sexo. A vivência do sexo envolve as sensações, sentimentos,
emoções, energia sexual que se combinam às predisposições, preferências,
experiências e gratificação sexual, numa busca de definição de identidade e
atividade sexual num dado período existencial.
A sexualidade torna-se então um conceito de notória amplitude (TONIETTE,
2004), por envolver as questões de gênero enquanto valores masculinos e
femininos; a identidade sexual e a identidade de gênero que, o raro, costumam
ser confusamente consideradas (HUNTER e MALLON, 2001 apud PEREIRA, 2005,
p. 115); o erotismo; a vinculação emocional; atividades e práticas sexuais; relações
sexuais sem risco e comportamento sexual responsável; a orientação do desejo
sexual que em estudos pioneiros (KINSEY, POMEROY e MARTIN, 1948 apud
PEREIRA, 2005, p. 114) foi concebida integrando um contínuo entre um pólo
‘exclusivamente homossexual’ e outro pólo ‘exclusivamente heterossexual’, sendo
possível a manifestação de diferentes gradações de orientação sexual entre ambas
as polaridades. Atualmente a orientação sexual vem sendo classificada como
heterossexual, bissexual e homossexual.
Entre adolescentes, a sexualidade tornou-se objeto de análise e de
permanente discussão e intervenção no âmbito das políticas públicas, demandadas
pelo incremento da gravidez e das doenças sexualmente transmissíveis (MAHEIRIE
et al, 2005), bem como pela violência sexual insuflada pelo desejo e pela
curiosidade (ARAUJO, 2008) de adolescentes masculinos sexualmente precoces.
26
6. SEXUALIDADE NA ADOLESCÊNCIA E NA JUVENTUDE
As discussões iniciadas pelo movimento feminista nos Estados Unidos na
década de 1970 auxiliaram o embasamento das convicções do gênero enquanto
pilar fundamental na elaboração de conceitos e na atribuição de significados às
ações que se relacionam com o comportamento sexual e reprodução humana
(TAQUETTE et al, 2004). O gênero reveste-se de importância por envolver os
processos sócio-culturais que empreendem a humanização do sexo enquanto
significante biológico.
Boruchovitch (2000) analisando distintas contribuições de estudos
estrangeiros sobre a sexualidade entre adolescentes, concluiu que o gênero está
associado às diferenças perceptivas da vivência sexual. Adolescentes masculinos
dão maior vazão a impulsos afetivos e eróticos através da masturbação, mostram-se
menos conservadores quanto à virgindade e à vivência sexual, valorizam mais o
desempenho que a emoção do prazer e têm maturidade sexual e reprodutiva
coincidentes. As adolescentes, diferentemente, tendem a integrar a atividade sexual
a outras dimensões de envolvimento afetivo, intimidade e segurança. Revelam
atitudes conservadoras quanto à significação social e pessoal da virgindade e, bem
assim, da vivência sexual e valorizam a relação com o primeiro parceiro referido
sempre como o mais amado. Estes afetos estão presentes ao lado de uma
significativa tendência ao aumento da auto-estimulação erótica resultando em
vivências mais conflituosas produzidas pelo medo, preocupação e culpa quanto à
virgindade e sua significação social e moral.
A pesquisa sobre os comportamentos de risco entre adolescentes tem olhado
mais para os problemas da gravidez indesejada e a ocorrência da AIDS, razões que
parecem justificar as orientações atuais das pesquisas sobre o comportamento
sexual de adolescentes em relação ao uso de anticoncepcionais. De modo geral,
adolescentes tem insuficiente conhecimento da fisiologia reprodutiva, das questões
sexuais, das doenças sexualmente transmissíveis e dos métodos anticoncepcionais.
Motivação, variáveis biológicas e características da personalidade m sido
estudadas em relação à adoção de práticas seguras de realização sexual entre
adolescentes. Maturidade do ego, ansiedade moderada, auto-estima e aspirações
educacionais satisfatórias têm sido associadas a comportamentos de sexo seguro.
Por outro lado, a precocidade biológica que conduz a vivências antecipadas de sexo,
aliada a atitude egocêntrica, quando presente, induz idéias de invulneralibidade
contra os perigos do mundo exterior, resultando em comportamento sexual
negligente de autoproteção e no acometimento de doenças sexualmente
transmissíveis e gravidez indesejada (BORUCHOVITCH, 2000).
A sexualidade se reveste numa dimensão vital de notória força, ao induzir
relações de reciprocidade favorecedoras da convivência entre os grupos,
englobando o gênero, as relações entre os sexos, a reprodução, a escolha de
parceiros conjugais, a orientação sexual, o aborto (SCOTT, 2007). Por sua ampla
influência nas relações humanas a sexualidade juntamente com a religião, se
constitui numa área relevante de conhecimento e potente instrumento indutor da
construção moral dos grupos, sendo este o fator responsável pela diferenciação,
separação e identidade grupal. Sob esse olhar, Scott (2007) com muita propriedade
27
entende a moral como uma dimensão específica do comportamento do grupo,
influenciada por ambas, parecendo-lhe mais coerente tratar a moral em sua
dimensão plural.
Dentre as manifestações da sexualidade, as relações familiares, a idade de
início da vida sexual, o namoro, a gravidez, o aborto, o conhecimento e uso de
métodos de anticoncepção e a subjetividade da vivência afetiva-sexual tem sido
presentemente estudada com muita atenção (SCOTT, ATHIAS e QUADROS, 2007).
A influência da família no desenvolvimento da personalidade e na posterior decisão
do viver a sexualidade de adolescentes e jovens fica a depender do meio em que se
insere. No meio urbano, a decisão de “ficar”, namorar e casar está mais ligada aos
adolescentes e jovens do que propriamente à família, sendo esta mais influente no
meio rural e nos casos de afiliação religiosa, sobretudo, quando evangélica
(LONGHI, 2007, p. 64).
A idade atual de início da experiência sexual de adolescentes está
relacionada a peculiaridades culturais, razão pela qual os estudos indicam idades
aproximadas. As idades de 12 e 13 anos são referidas para o início da atividade
sexual independentemente do sexo (PEREIRA, 2005, p. 113; AQUINO et al, 2003
apud QUADROS, 2007, p. 81). Outros estudos realizados no Rio de Janeiro
(TAQUETTE et al, 2004) e em Goiás (SILVA et al, 2005) apontaram,
respectivamente, as idades de 14,6 e 14,5 anos para os rapazes e 15 e 15,4 anos
para as moças como marcos de iniciação sexual. A identificação da fase de iniciação
sexual reveste-se de capital importância na vida dos adolescentes, ao se considerar
que a opção pela realização do sexo seguro (uso de camisinha) está associada ao
gênero e à significação psico-afetiva da primeira relação sexual. No caso de
precocidade, observou-se menor propensão ao uso de camisinhas entre
adolescentes urbanos de baixa renda e escolaridade na faixa etária de 15 a 19 anos.
Ao se considerar a atividade sexual dos adolescentes cariocas, não se encontrou
diferença estatisticamente significativa entre os percentuais de rapazes e moças
sexualmente ativos, acometidos de doenças sexualmente transmissíveis e àqueles e
àquelas sem acometimento de tais doenças.
7. DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS E IMPLICAÇÕES SANITÁRIAS
As doenças sexualmente transmissíveis estão entre as cinco principais
causas de procura pelos serviços blicos de saúde (DORETO e VIEIRA, 2007) e
por esta razão têm recebido maior atenção dos organismos de saúde por se
constituírem em vias de transmissão da AIDS e de outras graves seqüelas quando
não diagnosticadas e tratadas eficazmente no tempo devido. Para fins de atenção à
saúde sexual, o Ministério da Saúde elaborou procedimentos para auxiliar os
profissionais dos serviços públicos de saúde no diagnóstico, tratamento e orientação
dos usuários com história atual de doenças sexualmente transmissíveis. Teles e
Teles (2004) considerando os procedimentos sugeridos pelo Ministério da Saúde,
apresentaram uma classificação das doenças sexualmente transmissíveis, que
resumidamente é apresentada a seguir:
28
I. Uretrites
São doenças de origem inflamatória ou infecciosa que apresentam corrimento
uretral, em ambos os sexos, requerendo a segunda maior cuidado inclusive
preventivo, uma vez que pode configurar-se numa DST e apresentar evolução com
complicações mais graves. Dentre as muitas complicações das uretrites, a
infertilidade masculina e a infertilidade feminina estão também associadas à
gonorréia e à clamídia (CAMARTE et al, 2000; RODRIGUES et al, 2000; PENA,
HAJJAR e BRAZ, 2000), requerendo assim, diagnóstico a tempo e tratamento
adequado.
II. Epididimite
É uma doença inflamatória ou infecciosa do canal aderido à parte de trás dos
testículos denominada epidídimo. Comumente decorrem de infecções da uretra, dos
rins, da bexiga ou ainda de processos infecciosos sistêmicos como a tuberculose e a
brucelose, e também como conseqüência de intervenções cirúrgicas como na
vasectomia (GUN, 2004). Em indivíduos sexualmente ativos, a causa da epididimite
é sempre uma DST originada pela Chlamydia trachomatis ou pela Neisseria
gonorrhoeae, ou ambas, ou ainda por bactérias do trato intestinal que infestam a
uretra quando da prática desprotegida no sexo anal. As bactérias costumam se
espalhar para além da uretra e atacam o epidídimo, podendo estender-se para
outras complicações como o edema peniano, orquite, prostatite, além de outras
complicações cardíacas e nervosas (PENNA, HAJJAR e BRAZ, 2000).
III. Proctite
A proctite é uma afecção inflamatória do ânus e do reto produzidas por
diferentes causas, nas quais também se inclui as doenças sexualmente
transmissíveis. No caso de DST em indivíduos masculinos, a proctite está
relacionada à freqüência de prática do sexo anal entre homossexuais. Dentre as
DST que podem produzir a proctite, estão o Linfogranuloma venéreo (HERNANI e
NADAL, 2007), a gonorréia, o herpes, e a clamídia (TELES e TELES, 2004).
IV. Úlcera genital
A úlcera genital se caracteriza por uma perda da superfície cutânea
anogenital que atinge a derme e está associada a sinais de inflamação local.
Originária do contato sexual, as úlceras genitais em ambos os sexos, têm recebido
maior atenção em saúde por se constituir em um importante co-fator para a
aquisição do HIV e facilitação da progressão da imunodeficiência (COSTA et al,
2006). Sabe-se que grande quantidade de úlceras genitais tem origem não sexual,
mas em todo o mundo a etiologia mais freqüente tem sido associada às doenças
sexualmente transmissíveis, cujas lesões são causadas pelo Herpes vírus simples
(Herpes), Treponema pallidum (Sífilis), Haemophilus ducreyi (Cancro mole),
Calymmatobactyerium granulomatis (Donovanose) e Chlamydia trachomatis
(Clamídia) – (COORDENAÇÃO NACIONAL DE DST/AIDS, 1999).
29
V. Condiloma
É uma infecção que atinge a ambos os sexos, causada pelo HPV (Papilloma
vírus humano) determinando lesões papilares que formam verrugas vegetantes de
tamanho variável, localizadas habitualmente na vulva, períneo, vagina, colo do útero
e no ânus e reto (MANZIONE, NADAL e CALORE, 2004; SOUSA, PINHEIRO e
BARROSO, 2008). As úlceras ano-retais não m necessária relação com a prática
do sexo anal. Inicialmente, as lesões são assintomáticas e imperceptíveis a olho nu,
requerendo assim especial cuidado ao exame ginecológico, uma vez que é possível
a evolução do condiloma para o câncer do colo do útero, da vulva e do ânus, como
já reportado noutros estudos (BASTOS et al, 2008).
VI. Patologias femininas associadas às doenças sexualmente
transmissíveis:
Doença Inflamatória pélvica
É uma inflamação que envolve o trato genital superior feminino e os
tecidos de sua sustentação. A inflamação habitualmente se inicia na vagina,
podendo ascender ao útero (Endometrite), às tubas uterinas (salpingite), aos ovários
(Ooforite), aos ligamentos de sustentação (Parametrite), ou afetar vários dos
apêndices uterinos, sobretudo as mulheres sexualmente ativas. As vias de contágio
podem ser também de natureza não sexual (MENEGOCI, ALCOLÉA FILHO e
GUTIERRES, 1999; MURTA et al, 2001) como também sexual. Quando de origem
sexual, a doença inflamatória pélvica costumeiramente está associada à gonorréia e
a clamídia (TELES e TELES, 2004).
Vulvovaginite
Refere-se a inflamações da vulva e da vagina, habitualmente
acompanhadas de secreção, intensa ou não, odor tido, comichões e dor,
produzidas por fatores sexuais e também por fatores não-sexuais. A vulvovaginite de
é mais comum em mulheres na faixa etária de 20 a 39 anos cujas complicações
gineco-obstétricas podem incluir a doença inflamatória pélvica, celulite s-
histerectomia, endometrite pós-aborto, corioaminionite e prematuridade do parto
(OLIVEIRA et al, 2008). Havendo origem sexual, a vulvovaginite pode ser causada
pelo Herpes vírus simples, Cândida albicans e Trichomonas vaginalis, ampliando as
possibilidades de transmissão ou outras infecções pelo HIV (OLIVEIRA et al, 2008;
TELES e TELES, 2004).
Vaginose
É uma afecção causada por um desequilíbrio da flora vaginal normal
produzida pelo aumento desordenado de bactérias, principalmente anaeróbias,
como a Gardnerella vaginallis, Bacterióides sp, Peptoestreptococos. A
sintomatologia consta de corrimento vaginal acinzentado de quantidade variável,
odor fétido mais acentuado depois da relação sexual e da menstruação e dor nas
relações sexuais. Pode ainda provocar maiores danos à saúde, como parto
prematuro, bem como aumenta o risco de aquisição de transmissão do HIV
30
(SIMÕES et al, 2006). Um número considerável de mulheres que ao exame clínico
apresentam vaginose, são assintomáticas, fato que deve merecer maior atenção
durante a consulta ginecológica.
Cervicite
É também chamada de endocervicite. Refere-se à inflamação endocervical
(epitélio do colo uterino) causada por diferentes agentes etiológicos. Quando sua
origem é sexual, a Neisseria gonorrhoeae, a Chlamydia trachomatis e o
Papilomavírus (HPV) são os agentes principais. Atualmente são conhecidos mais de
cem tipos de Papilomavírus, os quais são classificados pelo seu poder de indução
oncótica do colo do útero. O câncer do colo do útero representa a segunda maior
causa de óbito no mundo, em mulheres de 35 a 40 anos (NORONHA et al, 2006). A
cervicite não tratada pode produzir graves complicações, sobretudo porque grande
número de mulheres são assintomáticas. Os sintomas englobam o corrimento
vaginal, a dispareunia (dor nas relações sexuais), disúria, edema e sangramento do
colo do útero, podendo evoluir para a doença inflamatória pélvica e outras
complicações como a esterilidade, a prenhez ectópica e a dor pélvica crônica.
Corioamnionite
Trata-se de uma patologia associada à gravidez. É uma infecção comum
da placenta, induzida pela ruptura precoce da bolsa amniótica onde se encontra o
feto. A perda do quido aminiótico favorece a entrada de bactérias provenientes da
vagina, na cavidade aminiótica causando infecção do tecido conjuntivo
vascularizado (Cório) e da membrana epitelial (Âmnio) ambas de origem fetal. A
infecção corioaminiótica, frequentemente tem origem polimicrobiana e não sexual.
Todavia no caso de origem sexual, está associada à ação bacteriana da Neisseria
gonorrheae, Estreptococos B, Mycoplasma hominis e Gardnerella vaginalis
(BERALDO et al, 2004; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2000).
7.1. PROPENSÃO ÀS DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS
Em relação às exposições de risco, os rapazes apresentam maior propensão
ao acometimento por doenças sexualmente transmissíveis como uretrites
(gonocócicas ou não-gonocócicas) e infecções papilomatosas (HPV). As moças
enfrentam em maior percentual as vulvovaginites, as infecções papilomatosas (HPV)
e sífilis (TAQUETTE et al, 2004). As opiniões dos jovens a respeito da contracepção
são eqüidistantes. Os rapazes costumam tomar para si a responsabilidade pelo
evitamento da gravidez, mesmo considerando que as moças são mais cautelosas.
Por conseguinte, as moças acreditam que cedem mais facilmente aos desejos
sexuais dos rapazes, incluindo nestes, o sexo sem camisinha. Para elas, a adoção
de métodos de contracepção é algo difícil a depender do temperamento do parceiro.
Esta circunstância incita a limitação de parceiros sexuais, ou ainda, o evitamento de
parceiros como a forma mais segura de contracepção. A condição religiosa entre os
adolescentes tem função protetora, uma vez que a experiência sexual, para estes,
está associada ao casamento e à sua função reprodutiva (QUADROS, 2007, p. 81-
84).
31
8. MÉTODOS DE CONTRACEPÇÃO
Os métodos anticoncepcionais englobam ações, instrumentos ou ainda
medicamentos que se destinam à redução da propensão à gravidez em mulheres
sexualmente ativas. Hyppólito (2004) apresentou uma elástica descrição dos
métodos de contracepção, classificando-os em:
I. Métodos de barreira e espermicidas:
A camisinha
Constitui um revestimento de tex, vinil ou produtos de natureza animal,
destinado a conter a emissão dos espermatozóides durante a relação sexual. É um
método de relativa segurança uma vez que 10 a 30% das mulheres têm engravidado
durante o primeiro ano de uso deste método.
Diafragma
Dispositivo circular de borracha que ao ser colocado na vagina forma uma
barreira sobre o colo do útero para impedir a chegada de espermatozóides ao útero
e às trompas. Oferece proteção contra algumas DST. Apresenta também relativa
segurança uma vez que 5-25% das mulheres tem engravidado no primeiro ano de
uso. Deve ser retirado após seis horas da relação e tem sido associado a infecções
do trato urinário em determinadas usuárias.
Espermicidas
São produtos químicos apresentados sob a forma de aerosóis, cremes,
pomadas, geléias, supositórios e tabletes vaginais destinados a inativar ou matar os
espermatozóides. Podem ser usados sem receita médica. Tem as desvantagens de
ser efetivos por um período de no máximo duas horas e incidência de gravidez entre
10 a 30% durante o primeiro ano de uso.
II. Métodos naturais:
Coito interrompido
Prática sexual que pressupõe o controle masculino para evitar a ejaculação
durante a relação sexual. Tem-se aconselhado como medida preventiva, a micção
prévia no caso de ter havido relação sexual com ejaculação momentos antes de
uma nova relação. É um método de pequena eficácia, pois além da insatisfação
comum aos adeptos deste método, percentis superiores a 25% de mulheres tem
engravidado durante o primeiro ano de uso.
Tabela
Método sugerido por Ogino-Knaus para calcular e identificar o período fértil
da mulher. Baseia-se no conhecimento feminino sobre os seis últimos ciclos
menstruais para determinar o ciclo mais longo e deste subtrair 11 e o ciclo mais
32
curto subtraindo-se 18. Exemplificando: Ciclo mais longo 28 dias, menos 11= 17;
ciclo menos longo 24, menos 18 = 6. Assim o período fértil está entre o e o 17º
dia, contados a partir do início do período menstrual. Tem como desvantagens, a
dificuldade de muitas mulheres para detectar o período, não há proteção contra DST
e alta incidência de gravidez.
Muco cervical
Método de Billings. Baseia-se na capacidade da mulher para pesquisar
diariamente e reconhecer a presença progressiva do muco cervical que atinge o pico
no período da ovulação. Por prevenção, a atividade sexual deve ser interrompida tão
logo se perceba indícios de muco após o período da secura vaginal que comumente
segue a menstruação e retomada após o terceiro dia do pico do muco cervical.
III. Métodos de esterilização voluntária:
Ligadura tubária
Procedimento cirúrgico destinado a interromper permanentemente a
fertilidade feminina pela obstrução das trompas de falópio. Trata-se de um método
que não apresenta efeitos colaterais em longo prazo e sem quaisquer interferências
na função e na relação sexual. Significativo nível de segurança contraceptiva, uma
vez que a gravidez tem ocorrido entre 0,1 a 1% em mulheres submetidas ao
procedimento no primeiro ano da cirurgia. Não oferece proteção contra DST.
Vasectomia
Método cirúrgico que impede de modo permanente a fertilidade masculina
pelo bloqueio dos condutos ejaculatórios. Trata-se de um método de alta eficácia
com risco de gravidez de 0,15 a 1% durante o primeiro ano do uso. Não apresenta
interferências na função espermática e na relação sexual. Não protege contra
DST/AIDS.
IV. Anticoncepcionais hormonais:
Anticoncepcionais orais combinados
São pílulas que contem estrógenos e progestagênio destinadas à supressão
da ovulação. Sua ão favorece o espessamento do muco cervical que impede o
avanço dos espermatozóides, modifica a fisiologia do endométrio dificultando a
implantação do óvulo e reduz a presença do esperma no trato genital superior
feminino (trompas de falópio). Revela-se um método eficaz de contracepção e
proteção contra infecções pélvicas, estimando-se a ocorrência de 1 a 8% de
gravidez no primeiro ano de uso.
Anticoncepcionais injetáveis
São substâncias químicas aplicadas por via intramuscular mensalmente
(combinação de estradiol e progesterona), bimensalmente (progesterona) ou
trimensalmente (progesterona) e cumprem as mesmas funções sicas dos
33
anticoncepcionais orais, tendo os últimos, ação mais prolongada. Oferecem maior
segurança que as pílulas orais, estimando-se a ocorrência de gravidez entre 0,3 a
1% durante o primeiro ano de uso.
V. Dispositivos intra-uterinos (DIU):
São dispositivos de pequeno tamanho destinados à inserção na cavidade
uterina. Ultimamente estão sendo construídos em material plástico e contem cobre
ou progestagênio. O DIU que libera cobre gradativamente tem por finalidade impedir
o avanço espermático ao útero. O DIU que libera progestagênio altera o
espessamento do muco cervical e a camada endometrial impedido o avanço do
esperma e a fecundação do óvulo. Sua utilização requer exame médico prévio a fim
de evitar posterior inflamação pélvica, riscos de infertilidade e DST como a Hepatite
B. Os DIUs em suas diferentes formas são altamente seguros, apresentando falhas
de 0,5 a 1%, o percentual de gravidez no primeiro ano de uso.
VI. Métodos Anticoncepcionais de emergência:
A “Pílula do Dia Seguinte”
É um recurso medicamentoso para o caso da ocorrência de relações
sexuais femininas desprotegidas. É uma medicação que se apresenta em duas
formas:
O Método de Yupze
Consiste na ingestão de duas pílulas de altas dosagens hormonais
(0,50mg de estrogênio e 0,25 mg de progesterona) até setenta e duas horas após a
realização de atividades sexuais, seguida de outra ingestão de mais duas pílulas
decorridas 12 horas da primeira ingestão e,
Progesterona isolada
Em alta dosagem (0,75mg) a ser ingerida da forma preconizada pelo Método
de Yupze. A administração hormonal exige que a usuária não se encontre grávida e
a segurança contraceptiva fica a depender do dia de fertilidade em que a mulher se
encontrava quando da realização sexual. A menstruação deve ocorrer dentro de
catorze dias da administração do medicamento, e sua não ocorrência pode
preanunciar gravidez que deve ser imediatamente avaliada. Estima-se o risco de
gravidez em 8% dos casos em que estes métodos são utilizados.
O Método de Lovelle
Consiste num composto de estrogênio (0,05 mg) e progesterona (0,25) para
impedir a ovulação, devendo o comprimido deve ser inserido diariamente na vagina
no mesmo horário. O método exige hábitos higiênicos bem definidos, esclarecimento
e treino da mulher para realizar com habilidade a inserção da pílula. Por suas
peculiaridades, este método oferece menores riscos e efeitos colaterais que os
contraceptivos orais e por isso é mais recomendado para mulheres em início e em
fins do ciclo reprodutivo.
34
9. AFETIVIDADE E SEXUALIDADE NA ADOLESCÊNCIA
O namoro é considerado uma reação de despertamento, indutora de atitudes
que levam à busca de parceiros para a vivência da sexualidade, quase sempre sob
o olhar fiscalizador dos pais ou outros membros da família. A fiscalização paterna é
diferenciada em relação ao sexo, limitando a liberdade da filha e favorecendo a
aquisição de experiência sexual ao filho. Ademais, exigências sociais de inclusão
das moças no mundo acadêmico e do trabalho têm influenciado a diminuição do
controle paterno sobre a vivência sexual da filha, ainda que socialmente se
considere a ausência de experiência sexual, um valor referencial feminino (SCOTT,
2007, p. 32-34; QUADROS, 2007, p. 90). Namorar, na percepção das moças, é uma
decorrência de sentimentos apropriados, merecimento, autocontrole e valor pessoal,
considerando-se ainda, em alguns casos, a aceitação pelo rapaz, das normas
paternas. O autocontrole exigido das moças, ainda na percepção destas, é
favorecido pelos padrões de comportamento conjuntamente prescritos tanto pela
religião como pela educação (LONGHI, 2007, p. 64).
As relações entre os irmãos também apresentam particularidades afetivas. As
irmãs costumam proteger-se entre si negando ao pai informações relativas à
sexualidade por elas vividas. Por outro lado, os irmãos, e os rapazes de modo geral,
diferenciam as sexualidades femininas em dois grupos: àquele que se comporta sem
apelo ao corpo e à incitação de relações sexuais, e àquele que facilita a
aprendizagem sexual masculina (SCOTT, 2007)
O comportamento identificado como “ficar” é outra modalidade da sexualidade
de maior predomínio entre adolescentes e jovens. Difere do namorar pela ausência
de continuidade e fidelidade. Trata-se de uma circunstância ocasional, definida pelos
parceiros, não levando, necessariamente, à prática de relações sexuais (SCOTT,
QUADROS e LONGHI, 2002, p. 218), mas que envolve posturas tradicionais e
conservadoras, com visível demérito às moças que, de modo geral, são esquecidas
pelos rapazes para o namoro envolvente e compromissado (LONGHI, 2007, p. 61-
62). Em auto-relatos, os rapazes da cidade costumam invocar, antigas e atuais
façanhas eróticas cujo significado parece estar associado à percepção de limitações
pessoais no campo financeiro, originando a necessidade do discurso sobre a
reputação feminina. Dessa forma, diz Scott (2007, p. 42) a figura da “mulher falada”,
sem reputação, é utilizada na construção de uma forma ilusória de auto-referência
da superioridade masculina.
Noutro estudo catarinense (MAHEIRIE et al, 2005) namorar e “ficar”
aparecem como dimensões da sexualidade definidas pela intensidade dos afetos
envolvidos, pelo tempo de duração do relacionamento e também, pelas promessas
de compromisso a se estabelecer entre os parceiros adolescentes. A autora verificou
ainda, que em ambas as situações os adolescentes tendem a valorizar a dimensão
afetiva do relacionamento.
A virgindade é outra dimensão da sexualidade que tem recebido substancial
atenção através da mídia. A idéia de menor importância se afigura paradoxal,
considerando-se a percepção dos jovens rapazes. Entretanto, os estudos (SCOTT,
2007) mostram que outras habilidades como a responsabilidade para cuidar da
casa, a seriedade para o envolvimento em atividades laboriosas e o compromisso de
35
fidelidade para com o novo parceiro, se afiguram mais importantes que a virgindade
em si.
A gravidez se reveste numa situação específica de conflito quando se trata de
parceiros solteiros que ainda não tomaram a decisão pública de vida conjugal.
Nesse caso, o dilema religioso e moral, a resolver, é encaminhado muito mais para o
lado das decisões familiares e, não raro, resulta na fuga do casal que conta,
normalmente, com o apoio de uma rede de relações familiares e comunitárias
(LONGHI apud SCOTT, 2007, p. 36). A atitude paterna ao perceber sinais de
atividade sexual da filha adolescente, via de regra, consiste em ameaça de expulsão
da família para viver com o pai da criança caso ocorra gravidez. Esta atitude
costuma produzir resultado antagônico: ameaçada de expulsão da família pela
ocorrência de gravidez inoportuna, a adolescente se vê diante de uma possibilidade
de autonomia ao se inserir noutro contexto familiar. Dessa forma, pai e filha parecem
desejar inconscientemente a ruptura dessa relação vincular (OLIVEIRA, 1999).
A mãe costuma apresentar atitudes ambíguas em relação à presunção de
atividade sexual e possibilidade de gravidez da filha adolescente. Um
comportamento afetivamente distante em relação à vida sexual da filha induz a
adolescente à percepção de estar autorizada à realização sexual. Assim,
adolescentes que engravidam, não revelam motivações de contenção quando se
encontram diante da oportunidade de realização sexual (OLIVEIRA, 1999). Por outro
lado, a ambigüidade materna referida acima, pode ser uma decorrência das
estimulações que se observa em dados contextos sócio-culturais que valorizam a
gestação. Esta variável pode explicar a menor preferência ou a rejeição de métodos
ou de procedimentos contraceptivos que vem sendo observados entre adolescentes
(SILVA, 2009).
Por outro lado, em famílias de pouca estruturação, a fuga do casal costuma
livrar os próprios envolvidos e seus pais, do constrangimento imposto pelas
limitações para arcar com os compromissos sociais e econômicos requeridos pela
circunstância. Ocorrendo a assunção da paternidade, a moral e a responsabilidade
feminina para prosseguir na relação de conjugalidade são fatores fortemente
considerados pelo parceiro, sobretudo, porque os padrões de namoro e sexualidade
são regulados pela religião. O aborto ou a proposta deste é sempre uma
possibilidade quando não se planejou a gravidez. Em qualquer situação, o aborto
origina um conflito independentemente das circunstâncias, porque implica, tanto a
continuidade da relação quanto às formas de interação existentes entre os parceiros.
Optando-se pelo aborto, a decisão costuma ser dirigida muito mais pelos padrões do
grupo e do casal que pelos ditames da religião, ressalvando-se a atitude antiabortiva
dos evangélicos. Se a decisão pelo aborto é exclusiva da jovem, pode envolver entre
outros fatores, dúvidas quanto à paternidade. A insistência do aborto pelo rapaz
adquire significação psicológica traduzida numa busca de reconhecimento da
“macheza” que, em grau não controlável, pode induzir comportamentos violentos
contra a mulher. Contrariamente, a não sugestão do aborto figura como um
indicador saudável dos parceiros em relação à vida (SCOTT, 2007, p. 35-43).
A contracepção é outra dimensão da sexualidade que se encontra associada
à peculiaridades sócio-culturais. Maheirie et al (2005) constatou que os rapazes
atribuem às moças a responsabilidade pela adoção de métodos de contracepção
nas relações sexuais. Quadros (2007, p. 90) referindo-se a estudos anteriores,
36
mostrou que o conhecimento de adolescentes e jovens brasileiros quanto aos
métodos de contracepção, indicam maior popularidade da camisinha e das pílulas.
Os rapazes revelam maior preocupação com a gravidez que com a prevenção desta
e das doenças transmitidas pelo sexo; desconhecem também, os métodos de
contracepção adotados pelas moças e, por essa razão, a camisinha é o recurso de
contracepção preferido pelos rapazes quando têm dúvidas quanto à saúde feminina;
não havendo dúvidas, e optando pelo sexo sem uso da camisinha, os rapazes
adotam o coito interrompido como método de contracepção. Verificou-se ainda, que
tanto os rapazes quanto as moças, dispõem de informações relevantes para a
realização de sexo seguro, informações pouco utilizadas em razão de inibições,
medo, dificuldades de falar sobre o sexo e o prazer, entre outras.
10. DIMENSÕES DO COMPORTAMENTO SEXUAL NA JUVENTUDE E NA
ADOLESCÊNCIA
O comportamento sexual dos jovens vem sendo estudado com bastante
interesse nas ciências sociais e da saúde. Um estudo comparativo do
comportamento sexual de jovens secundaristas e jovens universitários gaúchos
(SOUZA et al, 1997) encontrou diversos achados que podem ser sintetizados como
se segue:
Os jovens secundaristas têm na escola e nos amigos, respectivamente, as
fontes de maior e menor importância na aquisição de conhecimentos relativos à
sexualidade, enquanto os universitários em idêntica condição valorizam o
conhecimento adquirido dos amigos e dos pais;
A masturbação é uma prática de maior aceitação entre os rapazes
independentemente da instrução e entre as moças universitárias. O sentimento de
culpa decorrente da prática masturbatória é maior entre os universitários com leve
acréscimo dos índices femininos;
Independentemente do sexo, os universitários apresentam maior índice de
iniciação sexual que os jovens secundaristas. Quanto à idade de iniciação os
secundaristas antecedem em média os universitários em dois anos, sendo entre os
primeiros a idade de 13 anos para os rapazes e l5 anos para as moças e entre os
segundos a idade de 15 anos para os rapazes e l7 anos para as moças;
Quanto à preferência de parceiros para a primeira relação sexual, os
secundaristas independentemente do sexo iniciaram-se com a namorada/namorado,
enquanto os universitários optaram por parceiro eventual. Em relação ao
comportamento masculino de iniciação sexual com mulher prostituta, não se
observou diferença estatisticamente significativa entre os jovens secundaristas e os
universitários;
A casa da família e o motel são os lugares preferidos pelas moças
secundaristas para a prática de relações sexuais, ao passo que as moças
universitárias utilizam a casa da família, o motel e a casa de amigos. Rapazes
secundaristas utilizam a casa da família, a casa de amigos e o motel
preferencialmente a casa da família/motel para as relações sexuais enquanto os
37
universitários utilizam a casa da família, o motel e a casa de amigos e o automóvel
para as relações sexuais;
Secundaristas e universitários independentemente do sexo, apresentam
altos índices de respostas orgásticas positivas, com elevação destes índices no sexo
masculino;
Em relação à orientação sexual, secundaristas e universitários apresentam
elevados índices de heterossexualidade, com discreta elevação entre as moças
universitárias. A atividade homossexual, sem considerar o sexo, foi mais referida
entre os secundaristas, enquanto para a atividade sexual mista
(heterossexualidade/homossexualidade) não diferenças estatísticas significativas,
estando à opinião dos jovens dividida entre àqueles que consideram a
homossexualidade na vida adulta uma opção e àqueles que a julga um
comportamento desviante;
Os secundaristas consideram-se mais satisfeitos que os universitários com
a vivência das relações sexuais, havendo predomínio desta percepção de satisfação
entre as moças para quem o envolvimento afetivo é um fator importante para o êxito
nas relações sexuais;
Os universitários detêm maior conhecimento que os secundaristas quanto
aos todos de contracepção, cuja adoção destes é significativamente maior no
sexo feminino. No sexo masculino a preferência pelo uso da camisinha e pelo sexo
interrompido é semelhante entre os jovens secundaristas e os universitários;
A utilização da prática do aborto não difere significativamente entre moças
secundaristas e universitárias; todavia os rapazes universitários em índices
estatisticamente significativos estiveram envolvidos na prática do aborto da parceira,
condição que parece justificar a tendência destes jovens em apoiar a prática do
aborto na gravidez indesejada.
Em estudo recente (TAQUETTE et al, 2005) comparou dados sócio-
demográficos, econômicos e características sexuais de adolescentes masculinos
com história de homossexualidade e adolescentes sem história de
homossexualidade, atendidos em serviço público de saúde para adolescentes, no
Rio de Janeiro. Dentre os resultados obtidos, a autora enfatiza que os adolescentes
com vivências homossexuais registraram maior atraso escolar, menor inserção em
família biparental, maior exposição às situações de violência familiar e maior
utilização do álcool e outras drogas. Outras peculiaridades dos adolescentes com
antecedentes homossexuais neste estudo estão relacionadas à maior iniciativa
sexual e precocidade sexual (antes dos 15 anos), exposição a abuso sexual,
prostituição, acometimento por doenças sexualmente transmissíveis e menor
freqüência de uso de preservativos. Discutindo os dados deste estudo numa
abordagem psicanalítica, a autora concluiu que a ocorrência da homossexualidade
não é suficiente para definir os adolescentes estudados, como portadores de
identidade homossexual, mas advertiu para os riscos de prostituição a que os
mesmos estão expostos.
38
11. RELIGIÃO E SEXUALIDADE ENTRE ADOLESCENTES
As considerações tecidas no âmbito das ciências, naquilo que concerne ao
papel da religião nas construções sociais e, de forma específica, na vida da pessoa
e dos grupos, eclodiu no considerável interesse de pesquisadores, com o intento de
estabelecer associações entre a religião a outras dimensões do comportamento de
adolescentes. Atenção considerável tem sido dada à sexualidade na adolescência
pela sua historicidade, interdisciplinaridade, e também por se constituir num
instrumento de identidade, adaptação, valoração humana e percepção de
autonomia.
A religião é um fator influente tanto nas formas de adaptação ao mundo social
como na estruturação afetiva da vida íntima dos adolescentes. Sua influência não se
restringe à ascese, pois vem se solidificando como instrumento significativo de
informação e proteção contra o uso de drogas, bem como se converte, também,
numa possibilidade educativa de ministração de informações auxiliares à aquisição e
discussão de conhecimentos relativos aos todos e práticas anticoncepcionais
(SANCHEZ, OLIVEIRA e NAPPO, 2004; BELO e SILVA, 2004).
O início do comportamento sexual de adolescentes está condicionado à
presença de distintas variáveis, como o gênero, a idade, o namoro, e também pelas
atitudes e valores vividos na família (BORGES, 2005). O gênero é uma variável
importante, uma vez que adolescentes masculinos possuem maior domínio de
informações quanto aos problemas advindos da insegurança da vivência sexual,
apesar da presença significativa de concepções inadequadas entre ambos os
gêneros (BRASIL et al, 2000).
Associada à condutas de risco, a religiosidade é um fator de proteção e
retardo na iniciação sexual dos adolescentes que se autopercebem muito religiosos
(KAPLAN, 1994). Nessa mesma linha de pesquisa, outros estudos chilenos
mostraram que a influência maior da religiosidade se verifica sobre adolescentes
femininos cuja idade de iniciação sexual é em média aos 19,8 anos enquanto os
masculinos, aos 16,7 anos (PINO et al, 1994). No plano ético-moral, a religiosidade
foi também relacionada à adaptação pessoal e social, sendo um fator
potencializador da saúde mental (LYNN REW et al, 2006; VOLCAN et al, 2003). Os
valores éticos e morais transmitidos e incentivados nas religiões deístas, parecem
responder, em graus diferentes, à intensidade da drogadicção. Estudos que
investigaram a relevância da religião entre adolescentes pentecostais, assinalaram
que àqueles, utilizam substâncias psicoativas em grau significativamente menor que
os seus pares católicos ou espíritas (DALGALARRONDO et al, 2005).
O comportamento sexual do adolescente também é influenciado pela religião,
enquanto “um conjunto cultural suscetível de articular todo um sistema de crenças
em Deus ou num sobrenatural e um código de gestos, de práticas e de celebrações
rituais, admitindo a separação entre o mundo natural e o sobrenatural” (JAPIASSU e
MARCONDES, 1996, p. 234). De modo mais específico, entende-se por religião, o
“conjunto de crenças, preceitos e valores que compõem artigo de de determinado
grupo em um contexto histórico e cultural específico” (SILVA e SILVA, 2006, p. 354).
Nesse sentido as religiões cristãs ao incentivar o desenvolvimento de práticas mais
amplas de comunhão do adolescente com Deus, exercem um poder de psico-
39
coerção que tem como conseqüências, no caso dos evangélicos, o retardamento da
vivência sexual, a inibição ou a recusa da opção pelo uso de substâncias
anticoncepcionais (VIANA et al, 2007).
Conceituada dessa forma, a religião adquire concretude na vida pessoal e
coletiva, constituindo-se numa força que se presume integradora das habilidades
espirituais e psicossociais para o crescimento e adaptação do indivíduo e si e ao
mundo. A religião se manifesta através da religiosidade, entendida como dimensão
do imaginário eliciadora de práticas cultuais que visam manter a relação do homem
com a Divindade ou outro ser superior, estendendo-se à vida social. Entendimento
semelhante tem Oliveira (2000, p. 6) ao afirmar que “as nossas crenças, valores,
motivações, experiências, desejos (...) e outras expressões humanas estão
marcadas pela religião”.
40
CAPÍTULO II
A METODOLOGICA DA PESQUISA
Este estudo foi realizado em instituições educacionais integrantes da rede
pública e da rede privada de ensino médio no município de Garanhuns -
Pernambuco. Trata-se de um estudo transversal, quanti-qualitativo, com amostra
intencional e utilização da técnica de Grupo Focal.
A técnica focal vem sendo utilizada nas Ciências Humanas e Sociais com
satisfatório êxito em razão de possibilitar maior subjetivação na interpretação de
resultados obtidos em estudos no âmbito das ciências referidas que, segundo Silva
(2009), oferecem bases para o desenvolvimento de metodologias qualitativas que
vem sendo aplicadas nas ciências da saúde. Os grupos focais nas pesquisas sobre
comportamento costumam produzir rico material que possibilita a “formação de
consensos sobre determinado assunto ou de cristalizar informações díspares, a
partir de argumentações...” (MINAYO, DESLANDES e GOMES, 2008, p. 69)
produzidas durante as discussões temáticas. Para as autoras, a técnica focal (1)
favorece o desenvolvimento da compreensão da gica interna do grupo em estudo,
(2) requer a construção de instrumentos adequados para o registro dos debates e
das falas “ao da letra”, sendo a gravação a técnica mais fidedigna, e (3) deve
oferecer a garantia do anonimato.
Neste estudo elegeu-se a técnica do grupo focal como instrumento de
investigação, por sua pertinência para discutir coletivamente, de forma semi-
estruturada, as temáticas relativas ao comportamento sexual dos sujeitos. Esta
técnica na pesquisa qualitativa favorece a interação dos sujeitos através das idéias,
percepções e impressões que vão lentamente eclodindo durante a discussão
temática, auxiliando a elucidar o “porquê de certas escolhas e atitudes” (SIEBRA,
1999/2000, p. 34) quer em relação ao indivíduo quer em relação ao grupo.
Estudos sobre sexualidade e reprodução (HASSEN, 2002) têm utilizado a
técnica focal com o propósito de realizar
[...] levantamento de opiniões que refletem o grupo em um tempo
relativamente curto, otimizado de muitos participantes e pelo confronto
de idéias que se estabelece, assim como pela concordância de uma
mesma opinião, o que permite conhecer o que o grupo pensa. Em
alguns poucos encontros, conhecer percepções, expectativas,
representações sociais e conceitos vigorantes no grupo
.
A abordagem qualitativa propõe-se a elucidar, conhecer complicados
processos da subjetividade, sem almejar a predição, a descrição e o controle do fato
estudado (GONZÁLEZ REY, 2002) como ocorre noutras áreas do conhecimento.
Por responder a questões específicas de difícil ou impossível quantificação, a
abordagem qualitativa está voltada à significação, aos motivos, às aspirações, às
crenças, aos valores e às atitudes que não podem ser quantificados (MINAYO,
DESLANDES e GOMES, 2008, p. 21) ou são de difícil quantificação. Nas pesquisas
qualitativas em saúde, tem-se utilizado a concepção das Ciências Humanas as quais
41
atribuem primazia não a compreensão de um fenômeno em si, mas a busca do
significado individual ou coletivo dos fenômenos para a vida das pessoas (TURATO,
2005). Neste estudo (hebiátrico) a técnica focal favoreceu a compreensão das
diferenças existentes entre adolescentes quanto ao modo de pensar e viver a
sexualidade sob a influência da religião.
A população alvo constituiu-se de estudantes que se encontrava em atividade
acadêmica nas referidas redes de ensino no período de maio a setembro de 2008. O
acesso à rede pública de ensino foi viabilizado pela Gerência Regional de Educação
que recebeu previamente a visita do pesquisador e uma cópia do projeto de
pesquisa autorizado pelo Conselho de Ética em Pesquisa do Hospital Agamenon
Magalhães em Recife – Pernambuco. Em relação à rede privada de ensino, o
acesso aos alunos foi mediado pela direção e/ou coordenação pedagógica das
escolas visitadas, as quais foram entregues uma cópia do ofício de autorização do
Conselho de Ética, acima referido, para a realização do estudo.
Foram visitadas aleatoriamente, nove escolas públicas de maior matrícula em
2008 e cinco escolas particulares para a captação da amostra que foi obtida em
cinco escolas públicas e em três escolas privadas [ANEXO A]. A captação da
amostra foi precedida de contado do pesquisador com os alunos em sala de aula,
mediante aquiescência do professor. Este contato constou da apresentação do
pesquisador, uma breve explanação sobre a finalidade da visita e os objetivos do
estudo, as condições para inclusão e exclusão de participantes e o arrolamento dos
interessados. A todos os adolescentes que manifestaram que atendiam aos
requisitos deste estudo, foram distribuídas cópias do Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido [ANEXO B]. Cópias do Termo de Consentimento e Participação da
Pessoa como Sujeito, foram distribuídas aos adolescentes menores de dezoito anos
para autorização dos responsáveis e aquiescência da participação do adolescente
[ANEXO C] a ser devolvidas ao pesquisador após as assinaturas do referido termo,
sendo esta uma das condições de inclusão nos grupos.
Utilizou-se como critérios de inclusão, o interesse pessoal do adolescente em
colaborar para o desenvolvimento da pesquisa, aceitar-se como religioso, estar
vinculado ao desenvolvimento de atividades religiosas, bem como a não simpatia e a
não vinculação atual a atividades religiosas. Excluiu-se do processo na formação
dos grupos, adolescentes que guardassem entre si relações de parentesco (irmãos,
primos, tios, sobrinhos), vivências afetivas atuais (namorados, noivos, casados,
vivência conjugal), fossem vizinhos ou mantivessem antigas relações de amizades,
a fim de evitar que a afetividade entre os participantes pudesse dificultar a discussão
temática. Os adolescentes que aceitaram participar do estudo preencheram uma
ficha com dados pessoais para facilitar o contato entre os mesmos e o pesquisador
caso houvesse necessidade [ANEXO D].
A amostra, selecionada por critério de conveniência (BENDER e EWBANK
apud SIMÃO, 2006), possibilitou a formação de dois grandes grupos: O Grupo Focal
Religioso e o Grupo Focal o-religioso. Para o Grupo Focal Religioso foram
alocados 42 adolescentes (15 masculinos e 27 femininos) que se aceitaram como
religiosos, estando ou não vinculados a atividades atuais desenvolvidas em suas
religiões. As características deste grupo estão indicadas no [Quadro 1].
42
Quadro1: Grupo Focal Religioso: Características por religião, sexo, idade e série escolar.
GRUPO FOCAL
RELIGIOSO
Sexo
Idade Sub
total
Série Escolar
Total
15 16 17 18 19 1 2 3
Católicos M - 3 3 1 1 8 - - 8 8
F 1 7 8 2 1 19 - - 19 17
Sub-total
1
10
11
3
2
2
7
- -
27
27
Evangélicos M - 1 6 - - 7 - - 7 7
F - 3 3 1 - 7 - - 7 7
Sub-total -
4
9
1
-
14
- -
14
14
Espíritas M - - - - - - - - -
-
F - - 1 - - 1 - - 1 1
Sub-total
-
-
1
-
-
1
-
-
1
1
Total
1
14
2
1
4
2
4
2
- -
42
4
2
O Grupo Focal Não-Religioso foi constituído por 48 adolescentes, sendo 24
masculinos e 24 femininos. Estes adolescentes assim denominados foram
escolhidos por se apresentarem como não simpatizantes e não vinculados a
atividades religiosas atuais. As características deste grupo estão inseridas no
[Quadro 2].
Quadro 2: Grupo Focal Não-Religioso: Características por sexo, idade e série escolar.
GRUPO FOCAL
NÃO-RELIGIOSO
Sexo
Idade Sub
total
Série Escolar
Total
15 16 17 18 19 1 2 3
M 1 7 5 8 3 24 - 6 18 24
F 1 4 14 4 1 24 - 9 15 24
Total
2
11
19
1
2
4
48
-
15
32
48
Do Grupo Focal Religioso formaram-se cinco grupos menores denominados
Grupo Focal Religioso 1 (GFR-1), Grupo Focal Religioso 2 (GFR-2), Grupo Focal
Religioso 3 (GFR-3), Grupo Focal Religioso 4 (GFR-4) e Grupo Focal Religioso %
(GFR-5). Procedimento idêntico foi adotado para com o Grupo Focal Não-Religioso,
instituindo o Grupo Focal Não-Religioso 1 (GFNR-1), Grupo Focal Não-Religioso 2
(GFNR-2), Grupo Focal Não-Religioso 3 (GFNR-3), Grupo focal Não-Religioso 4
(GFNR-4) e o Grupo Focal Não-Religioso 5 (GFNR-5), objetivando a discussão das
distintas temáticas deste estudo sob a forma da técnica focal (SIMÃO, 2006;
WELLER, 2006). Estes grupos menores foram compostos com uma variação
numérica entre 5 e 13 adolescentes, para fins da utilização eficiente da técnica de
grupo focal como tem proposto diferentes pesquisadores qualitativos (MINAYO,
DESLANDES e GOMES, 2008; MORGAN apud SIMÃO, 2006; KIND, 2004;
OLIVEIRA et al, 2003; MARTINS e LINTZ, 2000; DIAS, 2000; CARLINI-COTRIM,
1996). As características dos grupos menores que integraram o Grupo Focal
Religioso e o Grupo Focal Não-Religioso, estão expressas, respectivamente, no
[Quadros 3 e 4], a seguir:
43
Quadro 3: Grupo Focal Religioso: Características dos grupos menores por sexo, religião,
idade e série escolar
Grupo Focal
Religioso
Sexo
Religião
Idade Série Escolar Total
CT EV
EP 15 16 17 18 19 1 2 3
GFR-1 M - 1 - - - 1 - - - - 1 1
F 3 3 - 1 5 - - - - - 6 6
Sub
-
t
otal
3
4
-
1
5
1
- - - -
7
7
GFR-2 M 1 2 - - - 3 - - - - 3 3
F 2 - - - - 2 - - - - 2 2
Sub
-
t
otal
3
2
- -
-
5
- - - -
5
5
GFR-3 M 2 2 - - 1 1 2 - - - 4 4
F 5 1 - - 3 2 1 - - - 6 6
Sub
-
t
otal
7
3
- -
4
3
3
-
- -
10
10
GFR-4 M 3 - - - 1 - 1 1 - - 3 3
F 5 - 1 - 2 4 - - - 1 5 6
Sub
-
t
otal
8
-
1
-
3
4
1
1
-
1
8
9
GFR-5 M 2 2 - - 1 3 - - - - 4 4
F 4 3 - - 1 3 3 - - - 7 7
Sub
-
t
o
tal
6
5
-
2
6
3
1
-
-
11
11
Sub
-
total (Grupos)
27
14
1
1
14
19
7
1
-
1
41
42
Total
42
42
42
42
Religião: CT (Católica) EV (Evangélicas) EP (Espírita)
Quadro 4: Grupo Focal Não-Religioso: Características por sexo, idade e série escolar
Grupo Focal
Não-
Religioso
Sexo
Idade
Série Escolar
Total
15 16 17 18 19 1 2 3
GFNR-1 M 1 2 - - - - 2 1 3
F 1 1 4 - - - 3 3 6
Sub
-
t
otal
2
3
4
-
-
-
5
4
9
GFNR-2 M - 1 - 3 2 - - 6 6
F - - 1 1 - - - 2 2
Sub
-
t
otal
-
1
1
4
2
-
-
8
8
GFNR-3 M - - 4 1 1 - 2 4 6
F - - 2 2 1 - 2 3 5
Sub
-
t
otal
-
-
6
3
3
-
4
7
11
GFNR-4 M - 2 1 3 - - - 6 6
F - - 5 - - - - 5 5
Sub
-
t
otal
-
2
6
3
-
-
-
11
11
GFNR-5 M - 2 - 1 - - 2 1 3
F - 3 2 1 - - 4 2 6
Sub
-
t
otal
-
5
2
2
-
-
6
3
9
Sub
-
total (Grupos)
2
11
18
12
5
-
15
33
48
Total
48
48
48
Os encontros de discussão foram realizados no âmbito das escolas aonde os
grupos foram constituídos, durante o turno da aula. Em cada encontro, um tema
44
diretor foi discutido por dois grupos menores, sendo um religioso e outro não-
religioso, obedecendo-se à seqüência demonstrada no [Quadro 5]:
Quadro 5: Temário proposto para discussão nos grupos focais
Grupos Focais
Temas
Religioso Não-Religioso
GFR-1 GFNR-1 Doenças sexualmente transmissíveis e formas de prevenção
entre adolescentes
GFR-2 GFNR-2 Conhecimento de métodos anticoncepcionais entre
adolescentes
GFR-3 GFNR-3 Percepção da sexualidade entre adolescentes
GFR-4 GFNR-4 Vivências sexuais entre adolescentes
GFR-5 GFNR-5 Orientação do desejo sexual em adolescentes
Em todas as escolas foi disponibilizado um espaço reservado que pode
acomodar satisfatoriamente os sujeitos durante todo o transcorrer da discussão. Os
grupos foram organizados em círculo para a discussão sempre antecedida de uma
breve orientação do pesquisador quanto às normas a observar: todos devem
participar; todos devem ouvir atentamente àquele que estiver falando; só interromper
o colega para contribuir com a fala; não se desligar da discussão; respeitar a pessoa
e a sua fala. Buscou-se construir uma ambiência informal durante os encontros com
vistas à ampliação da percepção de bem-estar, segurança e aceitação entre os
sujeitos, com vistas à livre expressão quanto às questões em exame (MORGAN
apud SIMÃO, 2006). Para facilitar o alcance deste clima, o pesquisador adotou uma
postura de espontaneidade, colocando guloseimas à disposição dos participantes
(DIAS, 2000; SIMÃO, 2006). Reservou-se o tempo de noventa minutos (MINAYO,
DESLANDES e GOMES, 2008; KIND, 2004), para a discussão de cada um dos
temas, porém o tempo utilizado pelos grupos variou entre 24m26s a 54m49s, sendo
o tempo médio utilizado de 33m40s.
Mediante a aquiescência dos grupos, as discussões foram gravadas em
aparelho digital MP3/WMA/REC/FM/Player, para posterior transcrição. No processo
da transcrição das falas utilizaram-se as normas propostas no Projeto de Estudo
Coordenado da Norma Urbana Culta NURC (PRETI, 1999; ROSSI, 2008 - ANEXO
F), combinadas com outras orientações para transcrição de dados lingüísticos
(PAIVA, 2004). As primeiras, de modo geral, apresentam vasta simbologia e a
retirada dos sinais de cadenciamento na fala, ao passo que as segundas autorizam
transcrever a fala do sujeito da forma mais clara possível. Este processo possibilitou
a transcrição das falas dos sujeitos sob a forma de sumário etnográfico com vistas à
análise de conteúdo (BUNCHAFT e GONDIM, 2004; GOMES e BARBOSA, 1999).
Os sumários são citações de trechos esclarecedores das falas dos sujeitos,
enquanto a análise de conteúdo se refere às categorias explicativas de
comportamento enquanto material constitutivo da análise (CARLINI-COTRIM, 1996).
As temáticas foram discutidas paralelamente com um Grupo Focal Religioso e
um Grupo Focal Não-Religioso, através de um guia de proposições como mostra o
[Quadro 6] a seguir:
45
Quadro 6 – Temário e proposições discutidas nos grupos focais
GRUPO
FOCAL
RELIGIOSO
TEMÁRIO / PROPOSIÇÕES
GRUPO
FOCAL NÃO-
RELIGIOSO
GFR-1
Conhecimento das doenças sexualmente
transmissíveis e formas de prevenção
O que os adolescentes entendem por doenças
sexualmente transmissíveis?
Quais são as doenças sexualmente transmissíveis
conhecidas pelos adolescentes?
Quais são os sinais ou sintomas de acometimento
pelas doenças sexualmente transmissíveis?
Como se prevenir das doenças sexualmente
transmissíveis?
GFNR-1
GFR-2
Conhecimento sobre métodos anticoncepcionais
O que os adolescentes entendem por
anticoncepção?
Quais são os métodos de anticoncepção
conhecidos pelos adolescentes?
A anticoncepção deve ser praticada ou estimulada
entre adolescentes?
GFNR-2
GFNR-3
Percepção da sexualidade
O que os adolescentes entendem por
sexualidade?
Qual a importância da sexualidade para os
adolescentes?
Há diferença entre sexualidade e sexo?
Existe relação entre sexualidade e ajustamento do
adolescente à vida?
GFNR-3
GFR-4
Vivências sexuais na adolescência
O que os adolescentes entendem por
sexualidade?
O que são vivências sexuais para os
adolescentes?
Como ocorrem as vivências sexuais entre
adolescentes?
Que satisfações ou frustrações trazem as
vivências de sexo entre adolescentes?
GFNR-4
GFR-5
Orientação do desejo sexual
O que os adolescentes entendem por orientação
de desejo sexual?
uma orientação de desejo sexual que pareça
correta?
Qual é a opinião dos adolescentes sobre o
relacionamento sexual com pessoa do mesmo
sexo?
Como os adolescentes vêem o relacionamento
sexual que envolve tanto pessoa do mesmo sexo
quanto do sexo oposto?
GFR-5
46
CAPÍTULO III
RESULTADOS
1. CONHECIMENTO DE DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS E
FORMAS DE PREVENÇÃO ENTRE ADOLESCENTES
Este tema foi discutido pelo Grupo Focal Religioso 1 (GFR-1) e pelo Grupo
Focal Não-Religioso 1 - (GFNR-1). A caracterização do Grupo Focal Religioso 1 está
indicada abaixo:
1.1. CARACTERIZAÇÃO DO GRUPO FOCAL RELIGIOSO 1 – (GRF-1)
Pseudônimo Sexo
Idade
Religião Série
Escolar
Rede de
Ensino
Lucas
Cristina
Damaris
Klaudiana
M
F
F
F
17
16
16
16
Evangélica
3a
Pública
Lucidalva
Mirian
Roberta
F
F
F
15
16
16
Católica
1.1.1. DADOS OBTIDOS
A transcrição da discussão sobre o conhecimento das doenças sexualmente
transmissíveis e suas formas de prevenção está inserida adiante [ANEXO F, p. 149].
Este conhecimento é imprescindível à segurança da saúde sexual e reprodutiva
humana e de forma particular aos adolescentes, por se encontrarem em vias de
desenvolvimento. Tal conhecimento pressupõe a formação de atitudes necessárias à
adoção de medidas de prevenção e segurança quando da realização de vivências
que incluam relações sexuais.
A discussão do conhecimento relativo às doenças sexualmente transmissíveis
e suas formas de prevenção entre adolescentes incluiu (1) o entendimento conceitual,
(2) as DST conhecidas por eles, (3) os sintomas de acometimento e (4) as formas de
prevenção. Em relação à dimensão conceitual, as doenças sexualmente
transmissíveis são vistas no todo, incluindo na maioria das falas o próprio conceito,
seguido de vias de contaminação, tipos e morte como desfecho.
A compreensão das DST como doenças adquiridas através das relações
sexuais, foi manifesta quase em sua totalidade pelos adolescentes, tendo os mesmos
enfatizado a necessidade de buscar informações específicas com o propósito de
adoção de medidas de segurança nas relações sexuais, como se no relato a
seguir:
47
Quando a gente tem muitas informações... hoje o mundo de hoje é
cheio de informações e quando a gente... éh:: temos as nossas
informações cabe a nós saber usá-las com sabedoria. É aquele
negócio... éh:: ...você não sabendo que tem a doença ... éh:: você não
sabendo se tratar ela pode ser levada à morte rapidamente... mas hoje
com a tecnologia e a ciência está muito avançada... ela tem o
tardecimento (retardamento dos sintomas) da AIDS, mas a maioria
delas não tem cura e basta a gente se prevenir para que não
possamos ser a razão. (DAMARIS, linhas 34-36; 48-52).
Tal déficit de informação parece responder tanto pelo baixo conhecimento dos
diferentes sintomas das doenças sexualmente transmissíveis, quanto pela menor
importância dada à adoção segura de práticas preventivas quando da vivência de
sexo, como se depreende das seguintes falas:
E isso acontece bastante com o adolescente, que tem aquilo que com
ele não acontece nada e que com os outros acontece pode acontecer
tudo. Às vezes sente dor e pensa: isso não é doença séria não. Não
fala para os pais, não vai ao médico, a doença vai piorando,
piorando até ao ponto da morte. (KLAUDIANA, linhas 58-61).
Buscando clarificar o pensamento exposto por Klaudiana, Cristina assim se
expressou:
é como (Klaudiana) disse: o jovem... assim... não tá/ se cuidando...
ele não tá/ priorizando o que realmente deve ser priorizado. Por
exemplo... éh::... geralmente essas doenças quando elas são
descobertas... por exemplo, na AIDS eu acho assim... ao meu ver na
maioria dos casos quando descobre já é tarde demais... nunca tem, eu
pelo menos nunca vi o exemplo de uma pessoa que passou tanto
tempo com essa doença que teve tratamento, pois sempre quando
você descobre já é tarde demais; quando você descobre ela, você não
tem mais condições de um tratamento digno ou coisa assim. (Linhas
62-69).
A rejeição social é outro fator capaz de intimidar os adolescentes quando se
percebem acometidos por sinais ou sintomas orgânicos que despertam a idéia da
presença de DST. A sociedade é vista como instituição que amedronta e pune os
desvios da norma sexual. Lucidalva entende que a incoerência da atitude do
adolescente na busca de apoio em saúde sexual decorre do “medo de enfrentar a
sociedade que nós estamos vivendo hoje” (Linhas 70-71). Em conseqüência desse
medo, a morte como desfecho nas DST surge no imaginário adolescente como uma
possibilidade mágico-trágica, merecedora de atenção especial. Com este olhar, a
adolescente Roberta comunicou:
É a mesma coisa, que são doenças que são transmitidas pelo sexo.
São perigosas e tem que levar em consideração que a maioria delas
pode levar à morte... eu acho, que num passe de mágica, qualquer
deslize elas pode levar à morte. (Linhas 43-45).
Entretanto, o desfecho letal - presumido por limitações de informações
específicas - nas doenças sexualmente transmissíveis também é visto como
48
estigma. A atitude preconcebida pela pessoa doente, e não a doença, é realçada em
seu papel determinante no desfecho como bem demonstrou o adolescente Lucas:
Eu acho assim, que a ciência avançou demais, mas o que leva à morte
mesmo é o preconceito e a vergonha do portador da doença, que tem
vergonha de ir ao médico e mostrar o que ele está passando. Então
ele acaba deixando o tempo passar e aquilo vai piorando, piorando e
quando ele for mesmo, realmente ao médico, não vai ter mais
condições de curar a doença. (Linhas 53-57).
O aludido desfecho letal das DST foi colocado como decorrência da não
adoção de medidas preventivas e, portanto, de responsabilidade do adolescente
sexualmente ativo, conforme o pensamento da adolescente Mirian:
Resumindo tudo, acho que leva à morte, como foi a pergunta, se
não tiver prevenção. Porque, sempre com a prevenção, você antes do
sexo você tem prevenção de comprimidos e camisinha; todas as DST
leva à morte quem quer mesmo isso... se não fizer prevenção
antes. (Linhas 76-79).
O medo, o desinteresse e a recusa em ser ajudado estão associados ao
conflito de atitudes de adolescentes quando necessitam de apoio específico no caso
de acometimento por DST, como mostrou Roberta:
Acho que... completando a fala de Cristina muitos jovens, eles...
quando descobrem, como já falaram, eles tem medo... assim eles não
se interessam a procurar uma ajuda e isso vai piorando cada vez mais
e chegando ao ponto de que se ele mesmo não quer ajudar não tem
condições dos outros ajudarem. (Linhas 72-75).
A condição social e financeira aparece em referência às demais outras
dificuldades encontradas pelo adolescente no caso de acometimento por DST e,
sobremodo, no caso da AIDS. Damaris vê o problema da seguinte forma:
Completando a fala de Mirian realmente muitas pessoas assim. Na
hora que acontece o ato sexual as pessoas não pensam numa coisa...
mas assim... quando eles pegam a doença além do medo e além do
preconceito, também tem a falta de dinheiro porque os tratamentos
são muito caros e você... éh::... a maioria das pessoas que tem AIDS
hoje são pessoas de baixa renda... é como Mirian disse... a gente tem
que saber se prevenir... éh::... porque preservativo eles dão de graça
em festas em programas sociais; a doença, o tratamento não é
grátis e você tem que pagar muito caro... além do preconceito você
tem que pagar muito caro... pagar muito caro em dinheiro... isso no
mundo de hoje que é capitalista não é fácil. (Linhas 80-88).
O conhecimento relativo às formas de doenças sexualmente transmissíveis
revelou-se escasso. Neste grupo, apenas três adolescentes (menos de 50%) citaram
as DST conhecidas que, em seqüência de importância, tem-se a Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida AIDS, a Sífilis, o Papilomavírus humano HPV, a
Gonorréia e o Cancro mole. O baixo conhecimento foi justificado pela adolescente
Cristina nos seguintes termos: “É importante falar nesse momento nós estamos aqui
49
em sete pessoas e que a gente sabe que existe um monte de doenças, que a
gente não tá/ lembrando”. (Linhas 106-107).
Ainda neste grupo, a sintomatologia das DST não é satisfatoriamente
conhecida pelos adolescentes. Os sintomas de acometimento citados fizeram
referências a “negócio, caroços e coisa mole que aparece nos genitais do homem e
da mulher, bolhas de pus no pênis, olho vermelho e emagrecimento” (Linhas 116,
120, 147-148, 149). A adolescente Damaris disse:
No caso da gonorréia ela tem diferença entre os homens e as
mulheres... aí... não é gonorréia é cancro mole desculpe... tem uma
espécie de... é um negócio que aparece assim ... nos órgãos genitais
da mulher e do homem... e é uma coisa mole que aparece; de início
aparece em todo (órgão)... só que depois fica bem ... ((não conseguiu
completar o pensamento)). (Linhas 115-119).
Para a adolescente Roberta, os sintomas da sífilis e da AIDS foram assim
resumidos: “Se não me engano é a sífilis que no pênis do homem fica bolhas de pus,
e a AIDS é atinge todo o corpo, os dentes, tudo” (120-121). No mesmo pensamento,
a adolescente Cristina relatou:
E... tem a questão do emagrecimento, porque você emagrece
absurdamente, principalmente na AIDS; você emagrece e tudo isso...
você não tem defesa; A AIDS... por isso que eu digo que é a pior
doença, porque quando você emagrece...sei lá... você... a AIDS é a
pior coisa que pode acontecer na vida do ser humano é ter AIDS. Eu
acho. (Linhas 149-153).
O adolescente Lucas intentou estabelecer a distinção entre a AIDS e as
demais outras doenças sexualmente transmissíveis, como se vê nesta fala:
Porque a AIDS afeta principalmente o sistema imunológico; se você
pegar uma gripe como ela (Klaudiana) falou... vai piorando cada vez
mais porque o seu organismo não vai ter defesa praquilo/... e em
relação às outras doenças pode aparecer nos órgãos genitais... não tô/
lembrado qual é a doença mas que fica o olho vermelho... e caroços
também nos órgãos genitais. (Linhas 144-148).
A referência da AIDS e o conhecimento respectivo pelos adolescentes parece
terem como motor a vasta publicidade através da mídia com foco na sua gravidade e
letalidade, por suas conseqüências mais amplas sobre o organismo e pelo
afetamento do bem-estar da pessoa. Esta é a percepção da adolescente Cristina em
sua fala:
Eu acho que a AIDS é a pior coisa a pior doença que pode acontecer
na vida de uma pessoa. Entre câncer... todas as doenças... eu acho
que é a doença que você MAIS sofre... porque você sofre tanto
fisicamente quanto psicologicamente... acho que a AIDS em si, eu
acho que é a pior coisa que pode ocorrer. Porque você faz o que?
você desmaia você vomita... de todas as doenças que você tem... por
exemplo, você vai ter uma dengue você vai ter o que? você vai ter
febre você vai vomitar; você vai ter outra doença, você vai desmaiar...
50
na AIDS você junta tudo isso, todos os sinTOMAS que você pode
imaginar, você tem na AIDS. (Linhas 122-129).
Esta percepção de pavor encontrou ressonância em outras participantes do
grupo que, ao completarem a fala que acabaram de ouvir, introduziram o medo e a
atitude preconceituosa para com o aidético. Para a adolescente Roberta não deve-
se apenas perceber as alterações orgânicas, mas deve-se atentar também para “...
o emocionalmente também, porque prá/ pessoa chegar e dizer, eu tenho AIDS,
quem vai conviver normalmente com essa pessoa? Na cabeça da pessoa vem
coisa bem pior” (Linhas 130-132). A adolescente Klaudiana ressaltou a necessidade
de se atentar para o perigo da fase não observável na evolução da AIDS ao pontuar
que: “... na AIDS também, a pessoa está na sua frente e você nem diz que ela tem
AIDS, porque ela ta uma pessoa normal, porque depois de algum tempo é que a
doença começa a se manifestar” (Linhas 136-138).
O potencial de periculosidade da AIDS conduz ao desenvolvimento de
atitudes pessoais e coletivas preconceituosas em relação à doença e ao seu
portador. Tais atitudes são racionalizadas e dessa forma justificadas, como se no
relato da adolescente Cristina:
Por isso que o preconceito nessa parte... éh::... ele tem razão de
existir; eu não sei se é porque eu sou... não sei se é porque... eu não
posso dizer que não sou preconceituosa porque eu nunca tive contato
com pessoa que tenha AIDS, mas eu acho que o preconceito nessa
parte ele tem razão de existir... é uma coisa... por exemplo: um corte
uma saliva, eu acho que para você conviver com uma pessoa dessa é
muito difícil; porque pegar uma doença dessa é... deve ser horrível e
você conviver com uma pessoa dessa... não que eu esteja dizendo
que uma pessoa dessa tenha que viver isolada mas precisa de um
cuidado especial prá/ conviver com pessoas que não tenham (AIDS)...
eu acho que o preconceito nessa parte tem um pouco de ... razão.
(Linhas 163-172).
O conhecimento dos todos de prevenção da AIDS e das doenças
sexualmente transmissíveis encontra-se também deficitário no grupo. As
informações disponíveis concedem primazia à camisinha, mas incluem também as
dimensões da maturidade psicológica e religiosa. Em relação à maturidade
psicológica, a adolescente Cristina referiu:
Antes do preservativo eu acho que vem a questão da consciência.
Será... eu sei que é o preservativo mas, será que eu tô/ pronta para
um ato sexual? será que essa é a pessoa que eu ... entende? a gente
não vai chegar e dizer ... éh::... a gente vai fazer e vamos usar
camisinha para não pegar AIDS. Vamos procurar saber o que é a
AIDS, o que são as doenças sexualmente transmissíveis e ... tudo isso
antes de você quais são os métodos que você pode usar prá/ que
isso não aconteça. (Linhas 196-201).
O questionamento sobre os métodos de prevenção foi abordado pelos
adolescentes na linha também da contracepção - aspecto que fez eclodir as
dimensões da interioridade religiosa dos participantes. Ouvindo a fala da
antecessora, a adolescente Damaris pretendeu contribuir, fazendo a inclusão de
51
princípios educativos e religiosos, numa visão prospectiva da iniciação sexual com o
propósito fundamental de formação da família, como se vê a seguir:
Complementando a fala de Cristina, é onde entra os princípios que
você aprendeu na sua infância, na sua educação, princípios religiosos;
e você... não é sua consciência mas é àquele princípio: será que é
certo fazer antes do casamento? será que àquele rapaz ou àquela
moça será para mim a minha alma gêmea? porque no mundo atual é
àquele negócio: faz por fazer, porque é bom, porque todo mundo tá/
fazendo, mas muitas vezes éh::... oitenta por cento , noventa por
cento das pessoas se arrependem, não segue princípio bíblico,
princípio religioso e às vezes acaba quebrando a cara. Hoje o mundo
está cheio de gente que precisa escutar esses princípios porque
muitas vezes é abandonado pelo pai, abandonado pela mãe ou muitas
vezes os pais não sabem educar; outros educam e a própria pessoa
não se conscientiza; às vezes isso é chato falar mas quando a gente
se previne quando a gente tem princípio e que sabe que é certo fazer
depois do casamento além do princípio bíblico e religioso e saber que
é com àquela pessoa que você casou, que tem todo aquele todo
processo que você conhece ... pelos menos, cinqüenta por cento você
conhece àquela pessoa; você tem mais facilidade de fazer o ato
sexual e sua consciência vai estar tranqüila de que você não fez nada
de errado escondido de ninguém. (Linhas 203-219).
Os ideais da não iniciação sexual antes do casamento e da reserva feminina
enquanto aguarda o parceiro idôneo são contestados no âmbito do próprio grupo
que atentou para as incertezas dos relacionamentos afetivos, como demonstrou em
sua fala a adolescente Roberta:
Agora, quantas pessoas, quantas mulheres ficam em casa achando
que se casou com o homem perfeito, com a alma gêmea de sua vida,
e com o passar do tempo descobre que teve uma grande decepção.
Será que ela casou com a alma gêmea? (Linhas 220-222).
O casamento como instituição de fidelidade sexual dos cônjuges é também
questionado na forma do discurso expresso acima pela adolescente Damaris. O
casamento e a relação sexual conjugal o vistos como lócus de possível aquisição
da AIDS e bem assim das DST, requerendo, por isso, a utilização da prática
protegida do sexo, conforme expõe a adolescente Cristina, situando a questão neste
enquadre:
Eu penso que a fala de Damaris não entrou dentro do contexto com
relação a AIDS porque ... acho que não tem nada a ver esse negócio
de ter que encontrar a pessoa certa prá/ fazer; a pessoa certa pode ter
AIDS, e no casamento eu acho que todo casal deveria usar camisinha
porque seu marido ou sua esposa pode ter relações com outras
pessoas... infelizmente no mundo que a gente vive é assim; não tem
nada a ver você ser casado, você ser namorado, você ser ...
entendeu? tem muitas pessoas novas com a idade da gente quinze,
dezesseis anos que pode praticar e usa camisinha e seu parceiro
pode ter AIDS e você não pega; e uma pessoa casada com vinte e
cinco anos, dez anos, cinquenta anos e pode pegar AIDS porque você
não sabe se você vai ter relações com outras pessoas e se seu marido
52
vai ter relações com outras pessoas; eu acho que a camisinha é
essencial em qualquer relacionamento seja você casado ou não.
(Linhas 223-234).
A religião aparece como mecanismo de proteção no adiamento da iniciação
sexual, entendida esta como prática justificável pós-casamento. A razão plausível
para esta atitude repousa no ensino de tradicionais princípios e diretrizes religiosas
que objetivam o regramento da vida sexual e conjugal da pessoa. Todavia, a
prevenção e o sexo seguro aparecem como algo necessário, ainda que as religiões
cristãs costumeiramente se posicionem contrariamente à utilização destes métodos
entre os fiéis. O conflito entre o ensino eclesiástico e o cotidiano do religioso
encontra-se retratado na explanação da adolescente Damaris:
Não é que seja a pessoa certa... eu não tô/ falando prá/ ser a pessoa
certa mas que seja depois do casamento; é bom porque a sua
consciência estará limpa, e o caso de usar camisinha ou não vai da
preferência sua; eu acho que a gente deve usar SIM. Em relação a ser
casado ou não, deve usar sim, até mesmo porque é uma
recomendação médica prá/ você ter mais saúde e fazer com
segurança. Mas eu acho que quando a gente faz (sexo)
aleatoriamente, não sendo casado, é aquele negócio: tem mais
facilidade de ter a doença? Certo. Usando camisinha tudo bem, pode
não ter a facilidade, mas eu tenho certeza que a consciência vai pesar
... certo? (Linhas 235-242).
A iniciação sexual pou pós-casamento é um fato importante, mas ainda em
discussão entre adolescentes de diferentes religiões, uma vez que o apoio ou a
rejeição da atividade sexual parece depender dos princípios de cada pessoa e não
da ética religiosa. Para a adolescente Cristina o posicionamento de Damaris supra
“envolve preconceito para com quem faz antes do casamento” (Linhas 243-244).
Este parecer não se afigura solitário, posto que a atividade sexual
independentemente do casamento é uma prática real e também uma questão ainda
não consensual, como explicitou a adolescente Mirian:
Como Damaris falou, ela tava falando do sexo como uma forma vulgar;
eu não acho que o sexo é uma forma vulgar; tem certas partes
(lugar/cultura) que o sexo como uma forma de demonstração de
amor e carinho principalmente se você e seu parceiro se amam; se
vocês se amam agora, vamos dar um exemplo: se vocês se amam
agora e tem a forma de demonstrar isso, os dois fazendo com amor e
com carinho, porque não? e se não tem possibilidade de se casar por
que não tem condições financeiras e vários outros motivos ... ((não
concluiu o pensamento)). (Linhas 246-252).
Conflitos entre as proscrições religiosas do sexo e os conflitos do ego
participam do desenvolvimento cotidiano da maturidade afetiva e sexual do
adolescente, conservando em muitos uma atitude de valorização dos princípios da
religião vivida. Ainda assim, a necessidade de prevenir doenças e contracepção é
fato que preocupa o adolescente e lhe impele ao uso de métodos de sexo seguro. O
adolescente Lucas trouxe esta compreensão:
53
Acho que a forma de prevenir primeiramente vem da bíblia. A ordem
de Deus é: depois do casamento ... o certo. Mas hoje em dia anda
muito complicado, tá/ muito difícil realmente o jovem se conter até o
casamento; porque realmente ((risos)) é complicado; mas o correto
seria primeiramente esse. Caso você não consiga o ideal é a
camisinha pois sem ela você pode fazer um filho que vai acarretar
vários problemas; é isso: o principal é a blia depois a camisinha.
(Linhas 255-260).
1.2. CARACTERIZAÇÃO DO GRUPO FOCAL NÃO-RELIGIOSO 1 – (GFNR-1)
Pseudônimo Sexo
Idade
Religião Série
Escolar
Rede de
Ensino
Dionísio
Joaquim
Petrus
Aparecida
Diana
Helena
Ivany
Mariângela
Stefânia
M
M
M
F
F
F
F
F
F
17
16
17
15
17
17
16
17
17
Não-
religioso
3a
Pública
1.2.1. DADOS OBTIDOS
Semelhantemente ao Grupo Focal Religioso 1 (GRF-1) anterior, este grupo
discutiu a temática das doenças sexualmente transmissíveis e formas de prevenção,
cujos discursos estão transcritos adiante [ANEXO G, p. 155]. Neste grupo, a
compreensão conceitual das doenças sexualmente transmissíveis envolveu
conceitos e tipos de doenças sexualmente transmissíveis. As contribuições do grupo
ao desenvolvimento desta questão foram sintéticas, como na fala do adolescente
Joaquim que resumiu: “É uma doença transmitida através do sexo” (Linha 23). Outra
contribuição situou a AIDS como referencial das DST, como citou a adolescente
Ivany:
São as doenças que são transmitidas através do ato sexual ou seja
uma pessoa que tem AIDS pode passar essa doença se tiver relação
com outra pessoa; no caso essa pessoa pode até não TER e passa a
TER, devido ao outro que tinha no ato sexual. (Linhas 35-38).
Em relação ao conhecimento das diferentes formas de doenças sexualmente
transmissíveis os adolescentes mostram-se inseguros em suas citações. Em ordem
de importância - e esta certamente relacionada à gravidade - fizeram referência à
AIDS, à filis, à Gonorréia e aos “escorrimentos” sem alusão ao sexo.
consciência entre os adolescentes de que dispõem de poucas informações, como se
constata na fala da adolescente Ivany, para quem as DST:
54
Não é um termo que é bastante discutido talvez por vergonha medo e
até pensar que nunca vai acontecer comigo mas não ... a doença tá/ aí
é sério deve ser tratada e tomar cuidado assim ... que deveria ser um
termo mais discutido embora não seja. (Linhas 70-73).
A vergonha e o medo referidos pela adolescente acima estão certamente
relacionados à atitudes sociais preconceituosas ainda existentes quanto à vivência
do sexo em suas diferentes formas de práticas possíveis. É ainda a mesma
adolescente [Ivany] que pronunciou este relato:
Assim ... tá/ num grupo de adolescente e chegar assim ... ah:: ... eu
fiz isso e aquilo tipo assim ... mas tem vergonha de dizer ...: ah::...
fiz...SEI LÁ, a vergonha de falar do ato sexual, talvez não da doença,
mas do ato. (Linhas 75-77).
O baixo nível de informações parece estar relacionado a uma atitude
preconceituosa de gênero. Adolescentes masculinos parecem mais disponíveis que
os femininos naquilo que concerne à discussão dos problemas de saúde originados
pelas DST. O adolescente Dionísio trouxe ao grupo a sua percepção:
A expectativa é pouca. Poucos adolescentes falam. Porque isso? De
cem adolescentes, cinco comentam essas doenças. Não é muito
comum. Para os adolescentes chegar e conversar, isso acontece
com os adolescentes masculinos; conversar com os femininos elas
pensam que estão queremos chamá-las pra praticar o ato sexual. É
muito comum encontrar isso. (Linhas 64-68).
O conhecimento das doenças sexualmente transmissíveis parece não
intimidar os adolescentes para que adotem medidas de prevenção. Para a
adolescente Diana, este conhecimento ainda não está disponível a todos, mas a
alguns adolescentes, os quais “às vezes sabem e mesmo sabendo não acreditam
que pode acontecer” (Linha 69). Atitudes de incoerência para com a possibilidade de
contrair DST observada entre adolescentes mais novos parecem preocupar àqueles
mais próximos da juventude. Tal é o caso referido pelo adolescente Dionísio, que em
sua narrativa apelou a um adágio popular:
Muitas pessoas... adolescentes de catorze ou dezesseis anos, a
pessoa vai conversar com eles sobre a prevenção sobre esse ato da
sexualidade prá/ ele se prevenir e ele acha que a pessoa está
maltratando, agredindo; aí ignora a pessoa, não leva em consideração
porque se conselho fosse bom não se dava, vendia. (Linhas 83-86).
A adolescente Aparecida mostrou-se solidária à inquietação de alguns com o
menor caso de outros adolescentes para com as doenças sexualmente
transmissíveis, como bem revelou em sua fala:
Assim... eu ouvi falar mas, a que chama mais atenção na
comunidade é a AIDS; mas muitas pessoas tem conhecimento da
doença, sabem que ela pode transmitir por relações sexuais; mas
muitas delas não leva adiante... pensa que isso não vai acontecer, tem
vergonha de falar... SEI LÁ! (Linhas 91-94).
55
A discussão das questões ligadas à sexualidade e ao sexo é vista como algo
que amedronta os adultos. A dimensão educativa da sexualidade e do sexo foi
remetida ao âmbito familiar, com a justificativa da postura de pais que não se
envolvem com a educação sexual dos filhos como forma de não precipitar a
iniciação sexual. Por conseguinte, a não participação paterna no desenvolvimento
sexual do filho redunda em dificuldades de orientação e adoção de medidas
preventivas da parte do adolescente quando da iniciação sexual. A adolescente
Ivany assim falou:
Eu acho assim, que o sexo ele é uma palavra forte... muita gente tem
aquele medo... falar de sexo, ai meu Deus, tô/ com aquela
preocupação; muitos pais também têm vergonha de falar com os filhos
por acharem... SEI LÁ... que vão colocar no caminho do ato sexual.
começa por aí: pessoa fica desligada da doença. A mais conhecida é a
AIDS, de fato, por não ter cura; existe tratamento mas cura eu acredito
ainda não tenha... então esse termo é muito forte para algumas
pessoas mas muitas acham normal; para outras, existe aquela cisma
devido aos pais que não orientam, não conversam, não explicam os
meio de prevenção... vai por aí. (Linhas 96-103).
Por outro lado, a não disponibilização de informações e o não envolvimento
de pais na construção da sexualidade dos filhos pode estar associada à ausência
deste saber pelos próprios pais, como demonstrou o adolescente Petrus: “Mas
também, muito pai não tem conhecimento disso prá poder discutir esse assunto com
o filho(Linhas 117-118). Proteção contra o perigo da iniciação sexual precoce é
outra forma de ver o distanciamento de pais em relação à temática da sexualidade e
do sexo, como pontuou a adolescente Mariângela: “As vezes os pais querendo
proteger os filhos termina prejudicando eles, né? Não falando sobre assuntos de
sexualidade, termina prejudicando eles” (Linhas l42-143).
A percepção da proteção aludida nas atitudes de pais em relação à
sexualidade e comportamento sexual de filhos ficou demonstrada nesta fala da
adolescente Ivany:
Existem pais que querem proteger e não falam logo cedo sobre o sexo
na maneira de prevenir, por vergonha de falar com o filho. Isso
acontece... qual o pai que vai chegar para a filha: filha você tá/ tendo
relação sexual? tome cuidado, use camisinha. Acho que não existe um
pai que vai falar isso. Também não vai dizer: chegada a hora, quer
fazer, faça, mas tenha cuidado. Mas prá/ uma pessoa que tem
dezesseis anos como eu, meu pai não chegaria prá mim prá/ tratar de
um assunto desse e falar: OLHE vai fazer? use camisinha, tome
cuidado com a doença. Meu pai não faria isso jamais... eu não acho
que ele seria ignorante, mas para me prevenir. Não existe o risco
da doença sexualmente transmissível, mas corre o risco da gravidez
na adolescência. (Linhas 107-116).
Paralelamente, existem pais que interagem com os filhos, fornecendo
informações sobre comportamento sexual e medidas de proteção, sem, ao que
parece, enfrentarem sentimentos de culpa ante a pressuposição de estimular
precocemente a atividade sexual do filho ou da filha adolescente. Esta é uma
realidade vivida e verbalizada pela adolescente Aparecida:
56
Em relação a tudo isso, eu ainda não participo de relação sexual, mas
minha mãe me aconselha. Ela fala na minha adolescência; ela fala que
não tá/ me incentivando a fazer relação sexual. Mas ela disse que no
dia que tiver de acontecer isso, eu usasse camisinha, eu me
prevenisse. Meu pai, não, porque eu não tenho muito contato com ele,
mas minha mãe e minha vó/ me incentivam muito; elas falam assim.
(Linhas 126-130).
Este relato foi partilhado pela adolescente Ivany que em apoio disse: “Minha
mãe também me aconselha, tipo a mãe de Aparecida...quando chegar a hora se
previna, se cuide” (Linhas 131-132). Entretanto, como disse atrás esta adolescente
“... sexo é uma palavra forte, muita gente tem àquele medo. Falar de sexo, ai meu
Deus, tô/ com àquela preocupação. Muitos também têm vergonha...” (Linhas 96-
103), esta fala parece haver sido internamente censurada, motivando outro discurso
com algumas incoerências na construção verbal. Neste, a autora retira a si própria e
a sua mãe do foco da questão, dizendo:
Eu falei assim, que existe... em geral... eu não falei da minha mãe nem
do meu pai nem da minha vizinha... falei geral, que existe assim: o pai
que não freqüentou a escola tem aquela cisma, é um tipo de
preconceito prá/ tratar com os filhos desse assunto. (Linhas 137-140).
Os sintomas das doenças sexualmente transmissíveis são pouco conhecidos,
estando em concordância com a menor habilidade demonstrada em relação às
informações das DST pelo grupo. Os sinais de manifestação das DST referidos
incluem manchas vermelhas, dor e ferida nos genitais, “escorrimentos” e feridas na
boca. A AIDS aparece como doença mais conhecida e que inspira maiores cuidados
por não apresentar na pessoa sintomas específicos de acometimento, como
demonstrou a adolescente Ivany:
SEI lá... a AIDS é bastante discutida que os sintomas parecem não
aparecer assim na cara; é uma doença silenciosa que vai acabando a
pessoa aos poucos; tem que ter cuidados porque os sintomas não
estão muito na cara... na AIDS. (Linhas 173-175).
As formas de proteção contra as doenças sexualmente transmissíveis
também o pouco conhecidas do grupo. A camisinha é o método de prevenção
conhecido. Todavia reconhecem que outros métodos existem, mas que não têm
informações atuais, como mostrou a adolescente Ivany:
Acho que a principal e mais conhecida é a camisinha. Éh::... outros
meios... sei lá... a pessoa deve se cuidar, se conhecer também, se
tiver com uma doença procurar o médico; é uma forma de evitar, de
proteger você e seu parceiro. (Linhas 187-189).
A atitude de respeito à integridade da saúde do parceiro aparece nesta fala
que foi compartilhada por outros adolescentes. O adolescente Joaquim disse: “É
isso, tem que ter respeito” (Linha 199). Nesta seqüência, o adolescente Dionísio
falou:
(...) eu acho que o portador de doença, não importa qual seja ele, não
deveria cometer o ato sexual com o seu parceiro; por mais que ele
57
seja insistente ou ela, deve chegar, ter consciência e dizer tô/ com tal
doença e nós não devemos ter isso; só quando eu me curar. E... não é
só respeito mas amizade também. (193-196; 201).
Uma preocupação com a atitude de adolescentes menos informados em
relação às doenças sexualmente transmissíveis e que se iniciam em atividades
sexuais surgiu espontaneamente no grupo. A adolescente Ivany, falou:
Você que é adolescente, comece a se ligar que as doenças
sexualmente transmissíveis tão aí, não é uma brincadeira. É preciso
tomar cuidado e se proteger em relação ao ato sexual, a outras coisas
mais, à sua saúde e à pessoa que ta do seu lado. Eu acho. (Linhas
206-209).
A responsabilidade do adolescente foi evocada como forma de estimular o
conhecimento, a prevenção e a participação de outras pessoas na discussão dos
problemas relacionados às DST, como demonstrou o adolescente Dionísio:
que os pais, vocês, amigos, parentes, vizinhos não tem
conhecimento, vamos procurar se conscientizar, se prevenir. Uma vez
que os pais não têm tanto conhecimento como nós temos hoje, porque
não tiveram oportunidade de estudar, de ter conhecimento... nós
devemos mesmo conscientizar amigos, parentes e até conhecidos.
(Linhas 210-214).
Viver a sexualidade parece ser um grande problema para o adolescente,
sobretudo quando a diferença entre sexualidade e sexo não está definida,
confundindo-se a primeira com o segundo. A relação sexual é entendida como
finalidade, razão ou objetivo da sexualidade, como na referência da adolescente
Ivany:
E assim... para os adolescentes o termo sexualidade é um tipo de
vergonha. Mas não gente, isso é normal, é até uma besteira a gente
ter vergonha (pausa); tem de se cuidar. Se for fazer use camisinha que
é o certo; é a melhor maneira de se prevenir. (Linhas 215-218).
58
2. CONHECIMENTO DE MÉTODOS ANTICONCEPCIONAIS ENTRE
ADOLESCENTES
Este tema foi discutido pelo Grupo Focal Religioso 2 - (GFR-2) e pelo Grupo
Focal Não-religioso 2 - (GFNR-2). As características do GFR-2 são mostradas a
seguir:
2.1. CARACTERIZAÇÃO DO GRUPO FOCAL RELIGIOSO 2 – (GFR-2)
Pseudônimo Sexo
Idade
Religião Série
Escolar
Rede de
Ensino
Apolo
Giany
Solange
M
F
F
17
17
17
Católica
3a
Pública
Alfredo
Heráclito
M
M
17
17
Evangélica
2.1.1. DADOS OBTIDOS
A transcrição dos discursos deste grupo encontra-se adiante [ANEXO H, p.
160]. O conhecimento dos métodos anticoncepcionais é um fator importante de
adaptação à medida que se observa o rebaixamento da idade de iniciação sexual e
a ocorrência de gravidez entre adolescentes. Entretanto tal conhecimento visto como
habilidade conceitual revelou-se impreciso no grupo. O entendimento disponível
apontou na direção de comportamentos de prevenção da concepção, proteção
contra doenças sexualmente transmissíveis e “instrumentos” para proteção “no ato
do sexo”.
A anticoncepção como adoção de medidas para evitar a concepção foi o
entendimento do adolescente Alfredo, que assim comentou:
Anticoncepção nós entendemos o seguinte: conceber, no caso seria
dar a luz. Então anticoncepção seria prevenir isso, ou quem sabe
proteger ou qualquer coisa desse tipo assim. Então, anticoncepção
seria tomar algumas medidas para que não viessem acontecer a
concepção. Uma primeira coisa: eles (adolescentes) já pensam nos
instrumentos, por exemplo, a camisinha. Eles vão pensando nessas
coisas. Quando eu falo anticoncepção se liga à idéia de
anticoncepcional, aí vem as pílulas. (Linhas 19-22; 52-54).
O termo anticoncepção evoca também sua associação com relação sexual,
consciência dos problemas do sexo e adoção de medidas de prevenção, sendo com
estas confundidas, como se vê na fala do adolescente Apolo:
Anticoncepcionais, vem mais de uma prova... um problema assim... de
proteger o adolescente na hora do sexo; uma proteção de que o jovem
não adquirira tantas doenças. Anticoncepção seria a conscientização
do jovem antes para que ele se proteja; esteja ciente do que ele vai
fazer. Tenha consciência do ato que ele vai fazer. (Linhas 13-15; 17-
18).
59
Apoiando o pensamento acima que a anticoncepção como prevenção das
doenças sexualmente transmissíveis, o adolescente Heráclito comentou
confusamente:
Éh::... essa parte de anticoncepção é boa, tem o seu lado bom e o seu
lado ruim. Sabemos hoje que várias doenças está por aí, como HIV,
HPV, são DST e esses anticoncepcionais foram inventados prá isso;
prá uma prevenção dessas doenças, desse sexo que fazem por ,
né/.... por brincadeira. (Linhas 28-31).
A atividade sexual antes do casamento foi vista como algo que demanda
prevenção da concepção, ao que parece em decorrência da imaturidade e da
gravidez indesejada na adolescência. Enquanto medida preventiva, a não atividade
sexual foi apresentada como medida eficaz, inclusive, para não enfrentar problemas
posteriores advindos do exercício inadequado do sexo, como mostrou a adolescente
Solange:
Seria uma maneira mais apropriada para que os jovens se
prevenissem de outras questões, no caso, quando tiver que tomar
anticoncepcionais; são jovens que fazem sexo antes do casamento e
não querem engravidar. Essa é a maneira de se prevenir, usando
anticoncepcionais. Eu acho que a melhor prevenção é não praticar,
porque se você não pratica você não vai ter nenhum problema. (Linhas
23-26; 32-33).
Mais adiante, discutindo questões relacionadas às medidas de prevenção nas
vivências sexuais, a mesma adolescente reafirma a sua posição sem deixar de
considerar que a sexualidade e o comportamento sexual devem seguir a vontade de
cada pessoa. No caso da impossibilidade de abstenção da relação sexual, a
adolescente reconhece a importância da adoção de medidas de sexo seguro: “Na
minha concepção a melhor forma de se prevenir é a abstenção: é não praticar. No
final, tá/ livre de tudo. Mas no mundo de hoje tudo muda, vai da cabeça de cada um,
se é prá fazer, é melhor se prevenir” (Linhas 172-174).
Entre os adolescentes o controle ou a abstenção sexual são dificuldades a
serem enfrentadas. Eliminar ou inibir o desejo de vivência do sexo se afigura uma
meta de difícil alcance, como expressou o adolescente Alfredo:
Eu estava lendo um livrozinho - “Tudo sobre a sexualidade” é o
nome do livro. Ele mostra dados que indicam que a sexualidade, a
questão do sexo e dos anticoncepcionais... em relação a isso que ela
(Solange) falou, é um pouco difícil porque quase ninguém consegue se
conter; esperar passar o tempo todo e tal. E para isso foram colocados
os métodos anticoncepcionais. (Linhas 34-38).
Atualmente acredita-se existir uma exacerbada procura das pessoas pela
satisfação passível de obter através da relação sexual. Tal procura parece derivar da
influência exercida pelos meios de comunicação no comportamento das pessoas.
Assim, a causa do incremento do desejo sexual, a dificuldade de contenção sexual e
os problemas sociais resultantes da vivência desregrada do sexo parecem
conhecidos do adolescente, conforme o relato de Heráclito, para quem:
60
(...) o maior causador dessa praticada de sexo... acho que o que mais
influencia é a mídia... a mídia bota novela, músicas... isso leva as
pessoas a querer fazer isso (sexo) por brincadeira e acontece o que
temos hoje: superpopulação, doenças, mortalidade infantil. (Linhas 39-
42).
A dificuldade de contenção sexual de adolescentes torna-se um problema
social que merece especial atenção, dada a significação que adquire no contexto da
predição do abandono de crianças por mães adolescentes incapazes de efetivar
com êxito a maternidade. Referindo-se à influência da mídia e às conseqüências
originadas do desregramento sexual mencionado acima, a adolescente Solange
introduziu a questão da gravidez indesejada, na seguinte fala:
Principalmente muito abandono porque muitas mães, principalmente
as adolescentes, acham que fazer sexo está na moda; todas querem
fazer; não, porque meu namorado diz, se você gosta de mim me
prove... e tem gente que ainda pensa dessa forma e depois fica
grávida e fala: meu Deus e agora? vem e aborta, deixa na porta da
casa das pessoas. A malhação passa às cinco e meia da tarde; minha
irmã de dez anos assiste... se ela não tiver uma estrutura familiar, ela
vai pensar que é normal porque a mãe abandonou e ela foi criada por
outra mãe; agora está grávida. (Linhas 43-49).
O conhecimento pelos adolescentes dos meios disponíveis de proteção e de
anticoncepção parece não lhes oferecer habilidades necessárias à decisão
específica e segura quanto ao seu uso, possibilitando, dessa forma, o
questionamento da segurança presumida ao alcance da finalidade a que se
destinam, conforme se expressou a adolescente Solange nesta fala:
Eles acham que a questão de anticoncepcional vai livrar qualquer
coisa; acham que a camisinha não pode furar, que a pílula não pode
falhar... e sempre estão achando que são milagreiros - pode se dizer –
que não é; tudo falha, nada é perfeito. Então muita gente tem essa
idéia: porque eu to me prevenindo não vai acontecer nada; Se você
não usa camisinha você pode pegar Aids porque a pílula não vai livrar
isso; você pode pegar outra doença e com a camisinha pode
acontecer alguma coisa. (Linhas 61-66).
A relativa dificuldade observada na discussão do conceito de anticoncepção
foi remetida ao âmbito da família e à forma de veiculação da mídia. Os pais foram
citados pelo não tratamento das questões relativas à sexualidade dos filhos. Não
apenas os pais, mas a mídia ao fazer abordagens alusivas, afasta-se da questão
conceitual para investir na dimensão pragmática dos meios de anticoncepção, como
se vê no relato do adolescente Apolo, a seguir:
Anticoncepção, eu particularmente não tenho uma visão de que sei
especificamente o que é aquilo, porque a sociedade como ele
(Heráclito) tinha falado aqui, aborda. Em poucas das casas das
famílias brasileiras que falam sobre sexo, pais e filhos, não explicam o
que é anticoncepção, explicam mais o que é anticoncepcional. A
população está mais preocupada em anticoncepcional do que com o
significado de anticoncepção. A mídia não aborda isso, aborda os
61
efeitos: que os anticoncepcionais traz benefícios e que a falta deles
traz malefícios. (Linhas 67-73).
O relato acima é partilhado por outros adolescentes, que vêem o não
envolvimento dos pais na educação sexual dos filhos como algo que interfere
negativamente no modo de perceber e viver a sexualidade adolescente. A ausência
de educação sexual no âmbito familiar induz o adolescente a buscar informações em
fontes cuja idoneidade não lhe é possível avaliar. De certa forma, o adolescente
parece creditar aos pais uma parcela da culpa quando deixam de corresponder às
regras e aos costumes que exigem ausência de experiência sexual. Tal é o caso
relatado pela adolescente Solange:
Muitos pais passam isso para os filhos. Por exemplo, no meu caso,
mãe não é assim de dizer como é que as coisas acontecem. Ela em
nenhum momento da minha adolescência ela chegou prá mim e
explicou qualquer coisa; o que eu sei é de revistas, televisão,
comentários de amigos; isso leva com que muitas jovens... todo
mundo sabe... mas às vezes chega uma jovem a engravidar. Por
exemplo: Se eu não soubesse uma conseqüência por que não aprendi
em casa. (Linhas 74-79).
O conhecimento dos métodos de anticoncepção pelos adolescentes mostrou-
se deficitário. A camisinha aparece como o método do conhecimento de todos no
grupo, seguida de referências isoladas às pílulas anticoncepcionais e à pílula do dia
seguinte. Mais uma vez, os pais foram citados por suas dificuldades para ensinar
sobre o desenvolvimento da sexualidade dos filhos. Entretanto as inabilidades
paternas para educar nesta área, não é alguma coisa de difícil entendimento pelos
adolescentes. Entende-se que uma das responsabilidades paternais é acrescer
informações sexuais àquelas disponibilizadas ao adolescente por outros meios que
não a família. Entretanto, a compreensão da educação como ciclo repetitivo de
informações que vai atravessando as gerações é evocada para justificar a
dificuldade vivida por pais ao se requerer destes, o exercício formativo da
sexualidade da prole, como acredita o adolescente Apolo:
Os métodos de anticoncepção que eu conheço, são para a prevenção
sua. Além das informações seria a conversa com os pais; pais e mães
chegar aos filhos e conversar. Só que no meu modo de ver não
acontece mais; não é que eles não saibam e não queiram falar; é mais
por uma vergonha que eles têm de se sentar com os filhos e falar isso.
Como meus avós não chegaram prá falar isso com os filhos e até
repreendiam eles, se eles chegassem em casa e falassem uma coisa
dessas, então eles tem medo de passar isso pros filhos. Então na
informação vinculada, a anticoncepção acho que é isso: o melhor
modo de prevenção que o jovem pode adquirir é a informação. (Linhas
85-93).
Raciocínio semelhante foi demonstrado por Heráclito, com a agravante da
possibilidade de aquisição de informações deturpadas quando o adolescente,
limitado também por suas inibições, busca conhecimento da sexualidade em fontes
inapropriadas:
62
Essa questão de métodos de prevenção é... como ele (Apolo) falou
que os pais não levam a informação direta aos filhos, leva alguns filhos
a irem buscar grupos, vamos dizer: meninos de onze, doze anos está
na puberdade, não tem nada, aparece um caroço no peito e vai
perguntar aos amigos que dizem: isso não é nada não; eu também
tenho isso aqui. A menina menstrua, não sabe o que é e vai perguntar
a outras pessoas da sua própria idade, que não também não sabem
do assunto e inventam coisa da cabeça; e também esses poucos filhos
tem de vergonha de chegar e perguntar ao professor, também. (Linhas
94-101).
O conhecimento de métodos de anticoncepção produz atitude paradoxal entre
adolescentes. Se por um lado tem-se a possibilidade de vivenciar a relação sexual
com segurança, por outro o acesso a estes todos parece induzir a precocidade
sexual, que é fortalecida pela própria vivência. A prática do sexo antes do
casamento torna-se um problema social e religioso por envolver a quebra de valores
instituídos, cujas conseqüências recrudescem na visão do casamento como
instituição transitória. Tais possibilidades de alterações sociais e religiosas podem
ser induzidas unicamente pela utilização massificada da camisinha, como mostra o
adolescente Alfredo em sua fala:
Existe uma questão bem polêmica com relação à camisinha. A
camisinha previne mas também incita o jovem a começar a sua vida
sexual mais cedo. Porquê? sabe que é seguro, que é sexo seguro
como é colocado pelas pessoas, pela mídia, pelos meios de
informação. Então vamos fazer e tal; que esquece muitas vezes da
responsabilidade que tem; então isso é promiscuidade. Então vai
fazendo com um, com outro, com outro e a sociedade vai perdendo
aos pouquinhos os seus valores. O casamento hoje (pausa); casar e
separar, hoje, é normal; algum tempo atrás não acontecia isso. Então
isso não é um problema que está totalmente ligado aos métodos
anticoncepcionais, mas esta é também uma questão polêmica que a
camisinha traz. (Linhas 112-120).
O não aprendizado da atitude responsável para a realização sexual aparece
como indutor da atitude sexualmente promíscua referida acima, como relata o
adolescente Heráclito:
É isso que Alfredo falou. A pílula do dia seguinte e a camisinha incita o
jovem a começar o sexo um pouco mais cedo, sem responsabilidade.
O jovem hoje em dia, tipo ficar e transar está seguindo no mesmo
caminho. Se você tem uma mesa com um monte de comida, você ta
ali prá provar: os jovens com as meninas e as meninas com os jovens.
Tem cara que fica com três, cinco... e assim vai provando. (Linhas
121-125).
A fala acima de Heráclito motivou no grupo uma referência a uma situação de
fato. A acessibilidade à camisinha, a pressuposta segurança da anticoncepção e por
elas a indução da precocidade das relações sexuais entre adolescentes foi
demonstrada no relato da adolescente Solange: “Todo mundo aqui acho que já usou
camisinha. É a maneira que impede que os espermatozóides penetrem no óvulo da
mulher” (Linhas 150-151).
63
Princípios religiosos direcionam o pensamento de adolescentes na discussão
dos métodos de anticoncepção, com maior ênfase na camisinha e na pílula do dia
seguinte, destinadas à prevenção e à interrupção presumida da gravidez
respectivamente. A negativa da Igreja Católica quanto ao uso da camisinha entre
fiéis deixa de lado os problemas sociais como o crescimento da miséria em muitos
países, os problemas de saúde decorrentes das DST/AIDS - tudo numa tentativa de
controlar a atividade sexual dos jovens e adolescentes. O propósito de tal negativa é
fortalecer o sentido da virgindade e sua manutenção para o casamento enquanto
condição antecedente do sentimento amoroso a florescer entre pessoas de sexos
opostos, como discutiu a adolescente Solange:
Outra questão é que muita gente critica a igreja pelo fato de proibir
usar a camisinha. Quando trocou o Papa muita gente criticou que ele
disse que não aceitava a camisinha. Falaram a questão da África que
tem o índice maior de Aids, que tem que usar a camisinha ou então
todo mundo vai morrer, pois é o lugar mais pobre, mais miserável,
principalmente o Sul da África. Tem esses casos. Acho que deveria
haver uma exceção, mas o pensamento da igreja é, se é proibido o
uso de camisinha, consequentemente os jovens vão também parar de
fazer sexo antes do casamento. A igreja proíbe nessa intenção de
diminuir o começo da sexualidade, do sexo ativo dos jovens; a posição
da igreja é essa. Só que acho que devia pensar em dois pontos: Se for
totalmente liberada vai ficar do jeito que tá/; a tendência é piorar,
porque no tempo da minha mãe o povo casava virgem, pois tinha
padre que não aceitava casar quem não fosse virgem, porque na bíblia
diz que você tem que se guardar para o seu marido e o marido tem
que se guardar para a sua mulher. E realmente, é uma coisa muito
especial, tanto para o homem como para a mulher. Você casar com
um homem sabendo que ele foi só seu e você casar com uma mulher
sabendo que ela foi sua? Nessa forma eu acho que você vai casar
porque você quer transar com aquela pessoa, você gosta daquela
pessoa. (Linhas 190-206).
O sexo é visto como atividade a ser exercida em obediência aos valores
religiosos, tendo na acessibilidade do adolescente à camisinha um fator de bloqueio
ao alcance dos objetivos religiosos. Por outro lado, a inconstância da utilização da
camisinha pelo adolescente nas relações sexuais revela não descompromisso
para consigo próprio, bem como origem a problemas sociais que afetam
principalmente as crianças, como citou a adolescente Giany:
Também sou contra porque com isso se os jovens não pudessem usar
esses métodos antes do casamento com certeza seria melhor. A
maioria das culpas são dos jovens porque fazem sem compromisso...
aconteceu? depois deixa prá/ lá, não tá/ nem aí; ficam crianças nas
ruas, sofrendo, pedindo esmola; e com certeza isso iria melhor se
fosse obrigatório, só depois do casamento. (Linhas 234-238).
Colocada em foco pelo grupo a questão da utilização da pílula do dia
seguinte, o adolescente Heráclito disse:
Esse é o mais abortivo que tem. Esse ano no teve uma grande
polêmica sobre a pílula do dia seguinte. O governo quiz distribuir essa
64
pílula que a igreja não liberou: eles (a igreja) levaram isso como
aborto e aborto para a igreja é pecado. (Linhas 108-110).
Este parecer recebe apoio de outros adolescentes que se direcionam por
suas convicções religiosas, mas não impede a manifestação de conflitos pessoais
em relação à posição requerida dos fiéis pela igreja. A adolescente Giany
demonstrou este conflito ao advogar a pertinência do parecer eclesiástico em
relação à pílula do dia seguinte, no seguinte relato:
Realmente é um aborto. Eu acho por uma parte certa e por outra está
errada. Tá/ certo que você tá/ se prevenindo e tudo mais; mas em
outra você já pode tá/ grávida e aí tá/ tirando uma vida. Prá/ igreja isso
é inadmissível” (Linhas 111; 139-141).
A estimulação ou a adoção de medidas de anticoncepção são práticas que
evocam princípios defendidos pelas religiões e introjetados pelos adolescentes
através da educação religiosa a que estão expostos. Para alguns, a atividade sexual
somente se justifica através do casamento, sendo este o âmbito em que as medidas
de anticoncepção - e não de prevenção das doenças sexualmente transmissíveis e
da Aids - podem ser utilizadas como opção do casal. Neste caso, o fim das medidas
de anticoncepção é o regramento da prole, como se na fala do adolescente
Alfredo:
Eu não concordo com a utilização desses métodos anticoncepcionais
antes do casamento. Não concordo porque levando os jovens a ter
uma idéia deturpada do que na verdade é. A pessoa fica achando que
pega um aqui, outro ali... e a sociedade vai caminhando assim e no
futuro também vai assim. Eu não acho adequado por que o jovem
pode não estar preparado, não ter a responsabilidade prá ter uma vida
sexual ativa; eu creio que seria melhor prá ele depois do casamento,
porque o casamento é uma instituição sagrada. Se for assim, ninguém
mais vai querer casar, porque o negócio do casamento é justamente
onde você vai ter conhecimento de outra e tal; e você vai praticar
relações sexuais, e na verdade era isso alguns anos atrás.
Infelizmente isso foi modificado. Então querendo a sociedade
como? Totalmente voltada para o sexo. Então hoje tudo gira em torno
de drogas, sexo e dinheiro. Qual é a sociedade que nós estamos
querendo, se há um incentivo prá prática da vida sexual logo na
juventude aos treze ou catorze anos? Então, tá/ querendo uma
sociedade como? Não importa se com casamento ou sem casamento.
Se eu posso transar na hora que eu quiser, eu vou casar prá quê? Não
adianta. (Linhas 175-189).
Mais adiante, disse o mesmo adolescente [Alfredo]:
Como falei, são sou a favor de métodos anticoncepcionais antes do
casamento, mas no casamento, sim. Não vejo problema no uso da
camisinha depois do casamento. Mas você não venha dizer que o seu
parceiro está sendo infiel e por isso você está se prevenindo. Você
está casado e quer usar, use. Sou contra, antes do casamento porque
incita e banaliza o ato do sexo por essas idéias. (Linhas 219-223).
65
A utilização de medidas de regramento da prole (camisinha) no casamento
está longe de consenso entre adolescentes. Entretanto reconhecem a liberdade das
pessoas para decidirem sobre as particularidades da vida conjugal, como se vê na
resposta do adolescente Heráclito:
Depois do casamento? Essa questão de usar camisinha, acho que
não tem nem prá quê. Hoje existem métodos (pausa); minha mãe teve
três filhos e cortou as trompas e não teve precisão dela usando
camisinha. Não quer ter filho, então o homem tem como cortar o canal
prá não soltar espermatozóides e a mulher corta as trompas. Então
não precisa de camisinha depois do casamento. Agora, quer usar, use;
é uma questão pessoal. (224-229).
O ensino religioso e a fiscalização das igrejas em relação ao exercício da
atividade sexual são justificados sob o argumento de inibir a possibilidade de
desregramento sexual dos jovens pela interpretação inadequada que se dá à
atividade sexual. O sexo é visto como bênção divina, requerendo a sua utilização em
concordância aos padrões da religião, como mostrou o adolescente Heráclito:
A igreja condena o uso de anticoncepcionais por conta de que teria o
desencadeamento do sexo livre entre os jovens. Na igreja católica, a
minha religião, o sexo é um dom de procriação que Deus deixou para
todos os seres vivos da terra. O sexo só deveria ser feito para a
procriação e não de farra. O sexo é um dom divino que Deus deixou
prá/ procriar os nossos descendentes. (Linhas 213-217).
2.2. CARACTERIZAÇÃO DO GRUPO FOCAL NÃO-RELIGIOSO 2 – (GFNR-2)
Este grupo reuniu adolescentes que apresentaram as características
mostradas abaixo:
Pseudônimo Sexo
Idade
Religião Série
Escolar
Rede de
Ensino
Carlinson
Floriano
Givaldo
Herculano
Pedro
Suetônio
Ketman
Walbia
M
M
M
M
M
M
F
F
18
18
18
19
19
16
18
17
Não-
religioso
3a
Pública
2.2.1. DADOS OBTIDOS
A discussão neste grupo sobre a questão proposta “o que os adolescentes
entendem por anticoncepção” revelou pouco conhecimento da temática, bem como
menor habilidade grupal para alimentar a discussão pretendida [ANEXO I, p. 165].
De modo geral, os adolescentes alegaram não dispor de informações para explicar a
66
questão, como mostrou Givaldo: “Todo mundo tem a mesma idéia; a gente não tem
conhecimento sobre esse negócio (anticoncepção) aí” (Linhas 24-25).
Uma tentativa de contribuição nesse grupo associou anticoncepção à
medidas de prevenção e medicamentos, como se na fala do adolescente
Floriano: “Anticoncepção é um modo de prevenção para o adolescente. É um
remédio anticoncepcional que é para a mulher não engravidar. É uma prevenção”
(Linhas 12-13).
As informações dos adolescentes sobre todos anticoncepcionais estão em
concordância com o menor conhecimento demonstrado para conceituar a
anticoncepção. Os métodos conhecidos dos adolescentes e por eles referidos
apontam as pílulas anticoncepcionais, a camisinha, o dispositivo intra-uterino DIU,
a cirurgia das trompas e a vasectomia. Em relação aos últimos métodos, não
compreensão do funcionamento dos mesmos, como mostra o adolescente Suetônio
em sua argumentação:
Eu não sei direito como é, mas tem um DIU que a mulher utiliza;
quando ela tem relação sexual ela não engravida. E também ela pode
fazer a cirurgia que não menstrua mais e não passa mais óvulos; e no
homem também... que é a vasectomia. (Linhas 38-40).
O conhecimento relativo à segurança dos métodos de anticoncepção
acompanha o grau da baixa informação disponível no grupo. Os comprimidos, o
dispositivo intra-uterino e os procedimentos cirúrgicos - tanto os femininos como os
masculinos (vasectomia) - foram referidos sem qualquer menção à funcionalidade
dos mesmos. Todavia, sabem os adolescentes que a segurança dos métodos
citados é relativa e a fragilidade destes é ressaltada, como demonstrou Givaldo em
sua fala sintética: “Todo método tem o seu risco: A camisinha pode estourar; o
anticoncepcional a mulher pode esquecer de tomar; ir pela tabela, pode ser que
atrase ou adiante a menstruação da mulher” (Linhas 57; 59-60).
Informando o dispor de informações confiáveis sobre métodos de
anticoncepção, os adolescentes deste grupo revelaram-se indecisos para a tomada
de decisão quando da necessidade de proteção na relação sexual. A adolescente
Walbia fez o seguinte comentário quanto à maior segurança que acredita possuírem
as pílulas anticoncepcionais:
Quer dizer, é mais seguro e não é, porque se esquecer de tomar não
adianta, não faz efeito. Acho que seja porque a camisinha corre o risco
de estourar e o remédio se você tomar todo dia não corre o risco (de
engravidar). (Linhas 50-52).
Este argumento da impossibilidade de falha das pílulas se tomadas com
regularidade foi questionada pelo adolescente Carlinson, ao indagar: “Será que o
comprimido anticoncepcional não pode falhar?” (Linha 62). Ante esta indagação,
outras posições situaram os procedimentos cirúrgicos como eficazes, como insiste o
adolescente Suetônio em diferentes momentos da sua fala: “O método mais seguro
é o DIU porque a mulher coloca o negócio” (Linhas 54-55). Em outro momento:
“Então o mais seguro é fazer a cirurgia; corta lá e pronto” (Linha 61). E mais adiante:
67
“Prá/ mim o jeito mais seguro, que não vai trazer nenhum problema é fazer a
vasectomia mesmo. Cortou, já era” (Linhas 71-72).
A estimulação ou a prática da anticoncepção recebe aprovação entre os
adolescentes que ousaram contribuir à compreensão deste tema. As razões
utilizadas para justificar tal aprovação referem-se à gravidez de beres e
adolescentes e à prática do sexo sem riscos. Em relação ao estímulo e/ou à prática
de anticoncepção, diz o adolescente Givaldo em breve fala: “Acho que sim, porque
tem acontecido que muita gente tá/ tendo filho com onze, doze, treze... catorze anos,
mas não tem estrutura... idade prá/ ter filho; ter a responsabilidade” (Linhas 79-81).
Na mesma linha de pensamento, a prática da anticoncepção é também aprovada na
presunção de propiciar atividade sexual sem riscos, como o adolescente
Herculano: “Acho que é uma forma de você ter uma vida sexual sem riscos; traz
segurança aos jovens” (Linhas 112-113). Outra concordância no grupo busca
associar a prática da anticoncepção a informações específicas, no entendimento do
adolescente Carlinson em seu relato: “Acho que essa idéia de prevenção é boa, mas
deve ser mais divulgada porque muita gente não tem tanta informação” (Linhas 115-
116).
As informações disponíveis parecem são satisfazer as necessidades de
adolescentes, que vêem maior investimento na comunicação dos problemas sociais,
não associando estes ao desregramento da atividade sexual. De modo particular, a
baixa idade com que adolescentes engravidam é um fator de notória implicação
social para o mundo do trabalho, como mostra o adolescente Givaldo em sua
exposição:
A galera faz muita reportagem sobre a miséria, fome, desemprego,
mas tem muita gente que não que isso tá/ acontecendo por causa
disso mesmo: não tá/ tendo a divulgação dos anticoncepcionais. O
pessoal de doze, treze anos tem filho... tem que arranjar emprego;
daqui a quinze anos já tá/ grande, procurando emprego também.
uma mãe de vinte anos tem um filho de dez anos; com trinta anos tem
um filho de vinte e aí os dois já estão concorrendo ao mesmo mercado
de trabalho; aí vem o desemprego. (Linhas 117-123).
Entre os adolescentes deste grupo surgiu a idéia de promiscuidade sexual na
classe social menos favorecida. Tal idéia associa a promiscuidade referida à
ausência de ocupação laboral, levando a supor que a prática do sexo fortalece a
própria prática, tornando-se dessa forma um empecilho à adoção de práticas de
anticoncepção, entre os economicamente desfavorecidos, como mostra Carlinson
nesta fala:
Devia ser estimulado sim, mas tem aquela questão: quando a pessoa
é pobre, a única diversão dele é fazer aquilo porque não tem outra
coisa prá/ fazer. Deviam inventar algum tipo de... atividade prá/ esse
pessoal fazer. (Linhas 82-84).
Parte da responsabilidade dos problemas sociais que ocorrem pela ausência
ou pela deficiência das informações relativas à sexualidade e aos métodos de
anticoncepção é dirigida aos pais, ainda que estes não sejam necessariamente os
mais apropriados para informar. A adolescente Walbia, argumentando sobre o
68
desregramento sexual dos menos favorecidos economicamente, entende que o fato
aludido resulta da falta de informações, pois “tem casos que a gente não tem essa
conversa com os pais; agente procura essa conversa fora e a gente tem
informações erradas sobre isso” (Linhas 87-89). As informações desejadas pelos
adolescentes podem ser adquiridas de outras fontes, a depender da condição de
saber dos pais, como mostraram alguns adolescentes no grupo. Para Givaldo, “não
adianta ele (pai) dar uma informação sem ter certeza que é aquilo” (Linhas 93-94).
Prosseguindo, o adolescente Suetônio completa: “Tem que ser uma pessoa
informada; não precisa ser diretamente dos pais; do médico por exemplo” (Linhas
95-96).
A figura dos pais como exemplos de vida a seguir não é fator consensual
quando se considera a requisição de liberdade do adolescente para divergir de
modelos familiares. A adolescente Walbia, diante de uma condição particular de fato,
diz:
Mas às vezes a gente dos pais prá/ não fazer aquela coisa; minha
mãe engravidou com dezessete anos, mas não é por isso que eu vou
engravidar; eu já quero prá mim uma coisa totalmente diferente do que
ela teve. (Linhas 101-104).
Não abolindo a liberdade para divergir, o adolescente Givaldo insiste na
influência que os pais exercem no comportamento imitativo dos filhos: “Não é tudo
que o meu pai faz que eu vou fazer, mas tem certa influência. Se meu pai fuma, é
massa, então eu vou fumar também” (Linhas 105-106). Esta idéia sugere que o
comportamento individual e coletivo é reflexo de uma moldagem intencional ou não
através da educação. Neste sentido, o grau de convivência familiar e os modelos
educativos repetir-se-ão entre as gerações, facilitando ou inibindo o processo de
construção da sexualidade e do comportamento sexual, com maior influência sobre
os adolescentes.
As influências paternais mostram-se de forma peculiar na elaboração de
regras a seguir principalmente pelas filhas, que devem permanecer castas até o
casamento, que aparece, inclusive, como possibilidade de melhoria econômica. Tal
é o relato da adolescente Walbia:
Como ele (Floriano) falou, a gente, primeiro tem que planejar o futuro
agora prá/ poder pensar em relação. Eu vejo em casa uma coisa
assim: relação depois do casamento. Nossos pais pegam mais no
nosso (moças). Se a gente não fizer nada de errado, a gente não
vai engravidar. Depois que casar sim: tenho marido, posso ter
uma renda maior. (Linhas 134-138).
A idéia da iniciação sexual após o casamento é contestada entre os rapazes
que invocam as medidas de prevenção para a realização de sexo seguro,
maturidade para compreender o ato sexual e bem assim a transitoriedade do
casamento, sem quaisquer referências à questão da virgindade feminina. Optando
pelas medidas de prevenção e sexo seguro para combater a idéia de iniciação
sexual pós-casamento, diz o adolescente Givaldo: “Acho que não. Porque se você
fizer sexo com prevenção, qual vai ser a diferença entre fazer antes ou depois do
casamento?” (Linhas 141-142).
69
O adolescente Pedro prosseguiu:
Eu acho que não deve rolar relação depois do casamento; mas
pode ser antes também, desde que teje/ um pouco maduro, tenha
consciência do que tá/ fazendo. Casa hoje amanhã separa” Antes ou
depois do casamento, o importante é fazer com segurança. (Linhas
152-154; 171), e
Carlinson fechou a discussão: “Não existe mais aqueles casamentos de vinte,
trinta anos” (Linha 155).
A idéia do requisito de maturidade e responsabilidade para a ocorrência do
casamento traz à luz, a atitude de menos valia dos rapazes para estabelecerem
relacionamentos promissores com as moças. A adolescente Walbia colocou a
questão nos seguintes termos: “... adolescente não quer nada sério, quer curtir.
Vocês (rapazes) querem uma coisa ria agora? vocês o querem! vocês querem
sair, beber; vocês querem curtir” (Linhas 146-150). Noutro momento a mesma
adolescente diz: “Acho engraçado uma coisa: se tem o casal e a menina vai e
engravida? Ah, então bora/ logo casar... não sei o quê, não sei o quê. Então prá/ que
essa agonia todinha?” (Linhas 156-158).
Os jovens parecem se dispensarem da exigência do matrimônio quando
vivenciam relações sexuais e ocorrência de gravidez. A prática da relação sexual, e
não a gravidez, é a causa vista pelos adolescentes para a realização do casamento
de jovens por influências paternas, configurando-se um problema social, como
sugere o adolescente Givaldo em momentos distintos de suas argumentações:
Mas quantas pessoas jovens você já viu que tiveram relação e ela
engravidou e os dois decidiram casar porque ela engravidou? É
porque eles geralmente têm mais a influência do pai: e agora, meu pai
vai dizer isso, isso, isso; então vamos casar, senão meu pai vai fazer
isso, isso e isso. É tudo com medo do pai; porque se o pai chegar lá e
apoiar: você engravidou, aconteceu, beleza. Se ele chegar e der todo
o apoio a ela, beleza! (Linhas 159-160; 162-165).
E o adolescente Carlinson: “Na maioria das vezes quando a menina
engravida antes do casamento os pais querem que casem prá o sujar o nome
da família. É um problema social” (Linhas 168-169).
70
3. PERCEPÇÃO DA SEXUALIDADE ENTRE ADOLESCENTES
Este tema foi discutido pelos Grupos Focais Religioso 3 (GFR-3) e Não-
religioso 3 (GFNR-3). Abaixo são apresentadas as características do primeiro grupo:
3.1. CARACTERIZAÇÃO DO GRUPO FOCAL RELIGIOSO 3 – (GFR-3)
Pseudônimo Sexo
Idade
Religião Série
Escolar
Rede de
Ensino
Damião
Ricardo
Eloisa
Gleydes
Janice
Josely
Paula
M
M
F
F
F
F
F
18
18
17
16
17
16
17
Católica
3a
Pública
Tarcisio
William
Martha
M
M
F
16
17
16
Evangélica
3.1.1. DADOS OBTIDOS
A discussão temática neste grupo voltou-as à percepção da sexualidade na
adolescência como se na transcrição dos discursos [ANEXO J, p. 170]. A forma
como os adolescentes percebem a própria sexualidade parece influenciar o modo de
relacionamento entre si e, por extensão, o modo de convivência com o mundo. A
discussão da sexualidade traz à luz o conhecimento e os valores adquiridos ao
longo do desenvolvimento pelos adolescentes que se expressaram com pouca
clareza conceitual. Esta dificuldade foi por eles atribuída em parte à escola e em
parte à família pela ausência de programas de educação sexual para as crianças e
bem assim para os adolescentes, levando-os à busca de informações em outras
fontes. A discussão foi dirigida pelas seguintes proposições: (1) entendimento da
sexualidade, (2) importância da sexualidade para os adolescentes, (3) distinção
entre sexualidade e sexo, e (4) relação entre a sexualidade e o ajustamento à vida.
A visão dos adolescentes sobre a sexualidade inclui tanto o contato físico
como as trocas afetivas e emocionais entre as pessoas independentemente do sexo,
como se referiu a adolescente Janice em sua fala:
O que eu entendo por sexualidade é o contato não físico, mas o
contato emocional; não vem ao caso se é entre um homem e uma
mulher... e não só o contato físico no namoro, tudo é sexualidade, mas
também a amizade, a convivência com pessoa do sexo oposto. A
sexualidade tá/ ligada a tudo isso. (Linhas 17-20).
A sexualidade também é vista como uma disposição que se desenvolve
naturalmente desde o nascimento. Assim, a sexualidade é entendida como
resultante de afetos que evoluem da inocência para o desejo de realização sexual
sob o olhar do próprio indivíduo e controle da sociedade, como sugere mais adiante
a adolescente [Janice] nominada acima:
71
Eu acho que as crianças já nascem mais inteligentes para esse tipo de
coisa; mas quando criança você brinca com meninos mas com aquela
inocência: não que como adolescente você não tenha, mas você
pensa de outro tipo, como eu pensei em namoro. Mas em relação
ao sexo, a sociedade hoje em dia julga muito as pessoas. Antigamente
as meninas pensavam... eu vou casar virgem... hoje em dia não tem
mais isso, alguns acham bregas outros concordam. São opiniões
diferentes. (Linhas 28-33).
Contudo, a discussão de temáticas alusivas à sexualidade é vista como mais
apropriada aos adolescentes por se encontrarem em estágio de maturidade
cognitiva, afetiva e emocional mais evoluído que àquele em que se encontram as
crianças, como pensa o adolescente Ricardo em sua exposição:
A sexualidade é um tema mais voltado para os adolescentes porque a
criança tem aquela inocência e hoje em dia a adolescência ela já vem
praticamente em termo de sexualidade. Crianças falam em amor, mas
com inocência; o adolescente fala em amor, mas com segundas
intenções. (Linhas 53-56).
A atividade sexual também é incorporada ao conceito de sexualidade,
exigindo controle, maturidade e competência sexual do indivíduo, como mostra o
adolescente William: “Eu acho que a sexualidade tem que ser uma coisa planejada;
você pode fazer algo sem estar pronto, sem desenvoltura e também um
amadurecimento” (Linhas 25-26). A fidelidade relacional, a virgindade feminina e as
características típicas de desenvolvimento sexual aparecem também no conceito de
sexualidade que acompanha a atualidade afetiva e sexual dos adolescentes, que
tem como uma das característica a variação de parceiros, como sugere a fala da
adolescente Josely:
Quanto à sexualidade como Janice citou, antes as pessoas (moças) se
casavam virgens; começavam namorando com uma com uma
pessoa e com essa pessoa se casavam. Hoje, dependendo da
pessoa, fica com um, às vezes com dois e sempre tem relação sexual.
A maioria das pessoas hoje, fica, nem conhece a pessoa direito,
corre risco de engravidar. Antes, com dez anos agente brincava de
boneca, hoje as meninas com dez anos não brincam mais, querem
maquiagem, baton... (Linhas 35-41).
O modo de encarar a sexualidade parece resultar não apenas do
desenvolvimento, mas também das condições de incentivação sócio-culturais a que
as crianças estão submetidas desde os tenros anos da meninice, como demonstra a
adolescente Gleydes:
É porque tudo se desenvolveu... a tecnologia... e porque o
conhecimento não ia também evoluir? Hoje em dia nas escolas, alunos
da terceira e quarta serie estudam o corpo humano, estão vendo
toda essa parte. Acho que a tecnologia ajudou muito nisso, porque
antigamente agente brincava de boneca; hoje não, menino de nove
anos na internet é só o que vê; televisão que ensina... novelas. (Linhas
43-47).
72
A visão da sexualidade entre adolescentes combina a influência da educação
e dos diferentes meios oferecidos pela mídia, esta última, ao que parece, com maior
poder para influenciar a curiosidade e por extensão a precocidade do desejo sexual
infantil, como se percebe na fala da adolescente Janice, para quem:
A sexualidade está sendo estimulada desde pequenininho pela mídia,
pela internet, pela tecnologia. Desde pequenas as crianças estão
sendo estimuladas a conhecer, a saber o que é. Uma criança é curiosa
e ela na televisão: Use camisinha; então a criança vai querer saber
o que é. (Linhas 48-51).
A escola é então chamada a assumir o seu papel de informar e orientar o
desenvolvimento da sexualidade dos jovens, cabendo-lhe a elaboração de
programas educacionais específicos, numa tentativa de evitar dificuldades que
advém do desconhecimento ou da imprecisão da informação disponível, como opina
a adolescente Paula em um trecho do seu discurso:
Eu acho que os colégios deveriam se empenhar mais a respeito da
sexualidade, porque não são todos os colégios que debatem (o tema);
acho que deveria ter uma matéria prá/ debater não com os
adolescentes mas também com os alunos do fundamental. (Linhas 57-
60).
A família também é chamada a contribuir para a construção da sexualidade
saudável dos jovens. A ausência da orientação familiar naquilo que se refere à
construção da sexualidade, é vista pelos adolescentes como fator negativo, em
razão da possibilidade de oportunizar a aquisição de informações através de fontes
de credibilidade duvidosa, como mostra a adolescente Janice:
Acho que os pais também deveriam (ensinar). Se os pais não falam,
você não aprende em casa, você pode aprender até de uma forma
errada. Acho que isso devia partir de casa; os pais ficam com
vergonha de falar. Ás vezes a menina com certa idade pergunta uma
coisa e os pais têm vergonha de responder, porque acham que ela é
muito nova prá/ entender; mas acho que seria fácil. A minha mãe
sempre conversou comigo, mas eu vejo umas amigas minha que a
mãe jamais toca no assunto. Acho melhor saber em casa como é tudo,
do que saber na rua com amigo ou com pessoas que possam lhe
ensinar até de forma errada. (Linhas 61-68).
Para os pais, informar sobre a sexualidade e comportamento sexual o
parece ser tarefa fácil, uma vez que têm visível dificuldade para incluir as moças
que, por serem adolescentes, não dispõem daquela “inocência toda” como disse o
adolescente Tarcísio, partindo da sua vivência pessoal: “Eu acho que a família devia
informar mais. Meu pai procura mais os filhos homens para conversar; com as
meninas ele não aquelas informações por que aos catorze anos o é essa
inocência toda” (Linhas 69-71). A justificativa da não inclusão das moças nas
orientações paternas sobre a sexualidade, quando ocorrem, parece bem expressa
na fala da adolescente Paula, que acredita ser mais fácil aos pais aceitarem as
relações sexuais dos “filhos homens” (Linhas 72-73). Os pais são vistos como peças
importantes no desenvolvimento da sexualidade dos filhos, entretanto o papel
orientador daqueles ainda está por acontecer, como se neste trecho da fala da
73
adolescente Martha: “A gente sabe das coisas porque passa nos comerciais, mas
com o pai da gente, o” (Linhas 100-101). A reclamada orientação da parte dos
pais decorre da percepção de que informações corretas juntamente com a
convivência familiar saudável são condições importantes para evitar muitos dos
problemas enfrentados pelos jovens. A gravidez aparece como um problema
crescente, passível de controle através da presença e apoio paterno aos filhos,
como diz o adolescente Ricardo neste comentário:
No caso, os pais ajudam muito porque se os pais tivessem certo
contado de ensinar essas coisas para os filhos; hoje o índice de
adolescentes grávidas aumentou muito; se for ver, são pessoas de
favelas, de famílias rebeldes, de pais que não apóiam as pessoas; se
os pais dessem um pouco mais de informações a seus filhos, isso
podia ser evitado. (Linhas 74-78).
Por outro lado, a atitude de alheamento dos pais à vida sexual das filhas não
favorece a ocorrência de problemas, bem como precipita o surgimento de
conflitos psicológicos quando a adolescente enfrenta gravidez não desejada ou
doenças sexualmente transmissíveis, como mostra a adolescente Janice nessa fala:
Tenho amigas que não são mais virgens e os pais não sabem. Uma
delas me disse que foi ao médico e o médico lhe disse que tinha que
fazer tal exame, mas que não podia fazer para que os pais não
soubessem. Se ela tivesse espaço para falar com os pais, seria melhor
porque eles iriam dar informações, poderiam livrar de uma gravidez ou
de doença. (Linhas 79-83).
A habilidade paterna para informar pode coexistir com a prática de atitudes
punitivas para o caso de verificar-se a quebra de regras da família para o
comportamento sexual dos filhos. Nesta situação, pais e filhos não se achegam e os
primeiros se encontram em desvantagem afetiva em relação aos amigos das filhas
por incentivarem a prática do sexo, como vê o adolescente Damião nessa fala:
Os pais, eles não têm certa informação prá/ passar prá/ seus filhos. Às
vezes os filhos não chegam a seus pais. A mulher, como Janice falou,
tem medo de falar com o pai para não levar uma surra, ficar de
castigo. Às vezes tem a ameaça do pai, da mãe... que tem os
seus amigos que vão ficar por trás: Vamos que é bom; ficam
convencendo. (Linhas 85-89).
A religião paterna aparece também no controle do comportamento sexual,
principalmente em relação às moças, constituindo-se num fator de intimidação para
o diálogo quando aquelas se iniciam sexualmente antes do casamento, como se vê
na fala do adolescente William:
Tem a questão da religião, de seguir a bíblia. A bíblia diz que é para
fazer (sexo) depois do casamento. Alguns pais não seguem isso e
outros seguem. Por exemplo, alguém tem um pai religioso e a filha
por acidente ou algum desejo, fez sexo antes do casamento, ela vai ter
medo de chegar ao pai por que sabe que o pai vai dizer que ela errou.
(Linhas 90-94).
74
A importância da
sexualidade é vista diferentemente, pois leva em conta o sexo
do adolescente. A condição de ser masculino é privilegiada nas falas,
independentemente do sexo do falante que, de modo geral, associa liberdade, poder
e necessidade de afirmação dos rapazes, como citou a adolescente Paula:
Para os homens, esse termo que dizer que ele vai ser mais homem
junto dos seus colegas... porque fica com àquela menina e fica se
sentindo mais do que os outros. Acho que isso vai muito da
influência... eles estão sendo influenciados eles fazem mais sobre
pressão, prá/ dizer aos colegas que fazem o que o fazem ou fazem
mais do que os outros. (Linhas 105-109).
A iniciativa sexual dos rapazes que buscam afirmação e poder é questionável
por outros que vêem nestas atitudes um problema para o relacionamento afetivo e
sexual posterior. O aprendizado antecipado do sexo desacompanhado da
maturidade psicológica necessária parece não conduzir ao ajustamento esperado,
como se concebe da fala do adolescente William:
Sempre houve essa questão do homem, quando começa a ter vida
sexual ativa, achar que é o mais importante... MACHÃO. Acho que
todo crescimento deve ser de acordo com o que vai sendo feito... você
vai crescendo, vai amadurecendo, se preparando prá quando chegar
essa hora. Não adianta cortar caminho e seguir logo direto sem ter
certa maturidade. (Linhas 130-134).
A sexualidade como disposição natural presente na vida desde o nascimento
é vista também por sua importante influência no processo da maturação sexual
masculina, facilitando a percepção e a compreensão das diferenças psicológicas e
corporais do rapaz e da moça. Tal entendimento parece justificar a precocidade dos
rapazes na iniciação sexual como veículo de aprendizagem nas relações de gênero,
como vê a adolescente Paula:
Também acho que é importante porque a sexualidade já está presente
na vida do homem e da mulher desde que eles nascem. Quando ele
vai crescendo vai amadurecendo, vendo a diferença entre homem e
mulher... a diferença dos corpos e isso vai ajudando. Se não tiver
sexualidade ele não vai ter entendimento do que é certo, do que é
errado... das diferenças que existem entre homens e mulheres. De
certa forma é bom esse estímulo porque desde criança ele já vai
vendo essas diferenças. (Linhas 120-126).
Sexualidade e desejo sexual aparecem intimamente ligados na percepção
dos adolescentes, havendo referência à maior busca do prazer entre os rapazes,
descompromissada de outros elementos, como a afetividade. O desejo sexual
parece eclodir pela influência do grupo de amizades, cuja força parece suplantar os
bloqueios impostos pela educação, pela família e àqueles decorrentes da orientação
religiosa, como demonstra a adolescente Janice neste trecho da sua fala:
Eu acho que estão dando importância errada à sexualidade hoje em
dia, porque alguns meninos fazem prá/... as meninas também, mas
é menos. Conheço um caso que diz: a minha amiga não é mais virgem
então eu também não posso ser porque sou carente.. a importância
vem de você. Em algumas pessoas a religião ajuda; tanto evangélicos
75
como católicos sabem que sexo antes do casamento, de certa forma é
errado; mas se você tem outro pensamento não é religião que vai
empatar. Isso não vem da religião, vem dela mesmo; do modo que ela
foi criada; dos pais... do que vê com as amigas, com os amigos.
(Linhas 135-142).
A atividade sexual é então remetida à orientação religiosa, que ensina a
postergar a iniciação sexual até a ocorrência do casamento, como defende a
adolescente Josely em sua exposição: “O sexo Deus deixou como uma prova de
amor também... depois do casamento. Tem pessoas que fazem antes e avacalham
demais. Faz só por prazer somente” (Linhas 143-145). O desejo sexual por sua força
e natureza é justificado pelo amor que vier a existir entre duas pessoas. A relação
sexual pré-conjugal é justificada no âmbito do amor presumido entre duas pessoas.
Nesse caso, a quebra de princípios religiosos não modifica sua condição de erro,
mas é amenizada pelo sentimento amoroso, e dessa forma a vivência do sexo entre
adolescentes não fica a depender do casamento em si, mas do amor vivido no
casamento ou fora dele, como expõe a adolescente Janice:
Eu não sou contra o sexo antes do casamento, sou contra o sexo feito
por brincadeira, por prazer. Desde que haja amor entre os dois, eu sei
que é errado pelo lado da bíblia, mas o meu ponto de vista eu acho
que é menos. Às vezes as meninas ficam e faz relação sexual; eu
acho isso errado. Mas muitas vezes tem o casamento, mas não tem
amor naquele casamento. pronto, foi depois do casamento, mas
não adiantou de nada porque você fez porque casou, não fez porque
amava. Então, independente do casamento desde que seja feito por
amor àquela pessoa, com atenção, com carinho eu acho que não é
uma coisa tão errada, como quando se faz por brincadeira ou por
prazer. (Linhas 146-154).
Noutro momento, a mesma adolescente [Janice] manifesta o seu pensamento
em concordância com a visão do sexo, virgindade e casamento expressa acima:
Eu tava/ conversando ontem com a minha vó/ e ela falou que o prazer
de uma menina é casar virgem. Então eu falei que não, porque se uma
menina se entrega a um namorado e ele deixa ela, talvez aquela
pessoa já não fosse prá/ casar com ela. Futuramente você ia/ casar
com ele, fazer sexo com ele, mas talvez ele não fosse a pessoa certa
prá/ você porque ele o ia/ lhe amar o suficiente. Porque se ele lhe
deixou não importa se foi antes do casamento ou depois do
casamento; realmente ele lhe queria praquilo/ (fazer sexo).
Muitos homens tem preconceito prá/ casar com a mulher que não é
virgem, mas acho que não tem nada a ver. (Linhas 173-180).
A vivência sexual antecipada tende a desenvolver entre os adolescentes a
idéia da não necessidade do casamento para realização sexual e constituição
familiar, como sugere o adolescente Damião neste trecho da fala:
Tem que ver que o adolescente ou o jovem que tem relação antes do
casamento, no futuro vai atrapalhar ele, por quê? Não vai precisar se
casar prá conseguir o eu quer. Se ele tem o que quer antes do
casamento, porque ele vai querer casar, construir uma família. (Linhas
159-162).
76
A prática precoce do sexo gera divergências de opinião, motivadas tanto por
princípios religiosos bem como por outros valores não necessariamente vinculados
às religiões. Este fato sugere que a liberdade sexual aceita para o rapaz pode
ensejar fama, especificamente do caso do “galinha”, semelhantemente à recusa
dos rapazes em aceitar nos mesmos níveis de liberdade a atividade sexual das
moças, como referido pelo adolescente Damião:
tem o preconceito. Às vezes as pessoas não acreditam em
conversão; que uma pessoa era de um jeito e mudou. Aí se você é um
homem que vive pegando uma mulher, pega uma hoje, pega outra,
pega outra, fica o preconceito contra você. Aí diz (a moça) eu o vou
namorar, casar com ele porque ele é galinha. A mesma coisa é o
pensamento do homem com uma mulher: se você uma mulher
saindo com todos os homens, qual é o seu pensamento? Você vai
casar prá/ levar “gaia”? (Linhas 165-170).
A “gaia”, portanto, se constitui numa atitude sexual pré-anunciada de
infidelidade conjugal, decorrente da perda da virgindade feminina. As moças
reconhecem que o conhecimento desta condição pelos rapazes contribui
negativamente para estabelecer compromissos em futuros relacionamentos, como
mencionou a adolescente Eloisa, complementando a fala acima: “Ainda existe um
pouco de preconceito quando ela perde a virgindade. Ninguém quer nada sério com
ela”, e por isso, “a mulher tem de se dar valor” (Linhas 171-172; 181). Esta não é
uma opinião solitária, uma vez que a conservação da virgindade até o casamento
ainda é um fator de auto-valoração feminina e conseqüentemente importante para o
relacionamento conjugal, como descreve a adolescente Janice neste contexto:
Eu acho que não é por não ser virgem que você NÃO TÁ se dando
valor. Você tem que ter a consciência, porque tem menina que perde a
virgindade hoje, amanhã começa a namorar com outro e se entrega
prá/ ele; eu acho que isso tá/ errado. (Linhas 182-185).
As fragilidades de alguns casamentos são percebidas a partir da ocorrência
de experiências próximas a adolescentes que em suas reflexões consideram os
valores das religiões às quais se filiam como lembra o adolescente William nesta
fala:
Essa questão de casamento sem amor, um caso aqui no colégio: a
menina casou e se separou na lua de mel. O casamento não é uma
coisa por escrito; deve ser feito quando os dois tão/ certo daquilo.
Às vezes a pessoa pensa: vou me casar prá/ ficar tudo certo; pode tá/
certo pela lei, mas e pela lei de Deus? (Linhas 155-158).
A distinção entre sexualidade e sexo mostra que a primeira possui uma
dimensão mais ampla que insere afetos e emoções no relacionamento entre as
pessoas, ao passo que o segundo foi circunscrito a um ato, um momento, uma
prática de busca de prazer para o corpo, como nas referências dos adolescentes
William e Ricardo: “... sexualidade é uma coisa em geral e o sexo é um ato... o sexo
é uma parte... conseqüência da sexualidade” (Linhas 190-191; 201-202). A
adolescente Martha diz que “sexualidade todo mundo tem... o sexo são as emoções”
((fala com largo sorriso, acompanhada por risos do grupo)) (Linhas 192-193).
77
Os adolescentes revelam dificuldades na tentativa de conceituar a
sexualidade, pontuando sempre sua distinção do sexo, como se nos relatos a
seguir:
Para a adolescente Janice,
A sexualidade tá/ em tudo. Namorar quando criança lógico que tem
sexualidade... são dois sexos: Homem e mulher. Tem sexualidade
mas o o ato sexual; tem a sexualidade de namorar beijar na boca...
que não deixa de ser sexualidade; o ato sexual tem diferença... faz
parte da sexualidade mas não é? (Linhas 194-197).
Noutro momento, Janice diz ainda:
Eu acho que a sexualidade é o conjunto de tudo: conjunto das
sensações, dos sentimentos, das relações entre sexos opostos ou
sexos iguais... tudo isso; e sexo como William disse é o ato, é a
relação sexual. (Linhas 204-206).
O adolescente Damião a sexualidade em maior amplitude, permeando as
diferentes formas de relacionamento que podem ocorrer entre as pessoas, sem
referência direta à atividade sexual:
Sexualidade é mais uma forma de conversa... amizade... uma forma
de contato com as pessoas; o sexo é mais um ato. A gente tá/
conversando aqui... é um ato de sexualidade; sexualidade não é
chegar lá e fazer e tal... isso é o sexo em si. (Linhas 198-200).
Para o adolescente Ricardo, a sexualidade se constitui numa etapa da vida do
adolescente, que se caracteriza pela ampliação do conhecimento e das
possibilidades pessoais para atuar sexualmente:
Acho que a vida da pessoa pode ser considerada por etapas; acho
que a sexualidade pode ser uma etapa da vida do adolescente;
quando ele descobre essa etapa da sexualidade vai desenvolver sobre
aquela área. (Linhas 240-242).
Opinião contrária tem a adolescente Gleydes, que entende a sexualidade não
como etapa vital, mas como a vida em si, apresentando-se diferentemente em suas
características nos diferentes estágios de desenvolvimento. Por acompanhar o
sujeito desde a infância, a sexualidade é vista pela adolescente como importante
fator auxiliar do aprendizado das relações humanas e do ajustamento social:
Acho o contrário: A sexualidade é a vida. Ela está presente na vida
toda; ela não é uma parte da vida. A puberdade, a adolescência são
etapas da sexualidade que a pessoa está sempre desenvolvendo;
ela nunca para de aprender e está sempre em contato com outras
pessoas principalmente com o sexo oposto; desde criança ela aprende
a conviver, aprende as diferenças. A sexualidade é que está dividida
em etapas da vida. (Linhas 243-248).
78
A relação discutida entre sexualidade e ajustamento à vida mostra que as
mudanças corporais típicas da adolescência o percebidas como mecanismo de
facilitação do ajustamento social, como vê o adolescente William:
Acho que o desenvolvimento do corpo do adolescente faz parte da
sexualidade dele; se você tá/ desenvolvendo você passa pela
puberdade; o desenvolvimento do corpo é também uma forma de se
ajustar fisicamente na sociedade. (Linhas 221-224).
Os adolescentes vêem a contribuição da sexualidade ao ajustamento à vida,
diferentemente da percepção paterna. Para os primeiros, as mudanças corpóreas da
adolescência auxiliam o desenvolvimento da maturidade, do sentimento de
igualdade entre os sexos e da responsabilidade para optar pela iniciação da
atividade sexual, como se depreende do relato seguinte da adolescente Janice:
Alguns pais acham que a sexualidade atrapalha... eu acho que não.
Desenvolvendo o corpo você fica uma pessoa mais amadurecida...
mas também não lhe torna uma pessoa diferente; muitos pais julgam
que uma pessoa que fez sexo antes é menos responsável que uma
pessoa que não fez; acho que isso não muda... a responsabilidade da
pessoa... a personalidade não tá/ nisso. (Linhas 225-229).
Os conflitos de gênero no desenvolvimento da sexualidade são remetidos à
infância. A sexualidade, concebida como desejo, é o fator que favorece a mudança
comportamental amistosa entre os sexos. A auto-afirmação masculina parece
emergir do sentimento de associação ao sexo oposto, visto como condição
necessária ao desenvolvimento das habilidades em contextos sociais distintos, como
pontua o adolescente William:
Toda criança menino... (quando) pequeno tem aquela rixa de sempre
ser contra a mulher; quando você começa a desenvolver a
sexualidade, você começa a ver com outros olhos: Àquela mulher que
eu tinha rixa eu vejo como um aliado perto de mim porque os caras
vão ver e dizer: Olha ali... o cara tá/ andado com mulher. Se eu não
desenvolvesse a sexualidade, na escola eu não ia/ sentar perto de
mulher. Por que não? No trabalho se você tem uma concorrente
mulher e você não desenvolveu essa questão de ser sempre contra a
mulher, isso atrapalha a vida na sociedade. (Linhas 230-236).
Parecer assemelhado tem o adolescente Ricardo, fortalecendo a concepção
mostrada acima. Em sua comunicação, o adolescente pontua o estado latente da
sexualidade que eclode em maior potencial na adolescência durante a transição da
infância para a vida adulta. O desenvolvimento da sexualidade é, então, apontado
como fator que induz o ajustamento social do indivíduo:
Sim, a sexualidade existe mas ela tá/ escondida dentro de você;
quando você chega a uma certa parte da sua vida então você começa
a desenvolver; não é que ela chegue de REPENTE... mas ela está não
desenvolvida. Na adolescência é a parte que você mais desenvolve
essa questão; na adolescência você não é adulto nem criança você
tá/ num meio termo, você tá/ saindo da criança prá/ ser adulto. Nessa
79
parte da adolescência se você não desenvolver essa sexualidade você
não vai ter como se ajustar na sociedade. (Linhas 250-256).
3.2. CARACTERIZAÇÃO DO GRUPO FOCAL NÃO-RELIGIOSO – (GFNR-3)
Abaixo estão as características dos adolescentes que formaram este grupo:
Pseudônimo Sexo
Idade
Religião Série
Escolar
Rede de
Ensino
Maurício
Reginaldo
Roberto Carlos
Sergio Paulo
Erinaldo
Walter
Elielza
Araci
Maria Luiza
Pietra
Helenilda
M
M
M
M
M
M
F
F
F
F
F
17
17
19
17
17
19
19
18
17
17
18
Não-
religioso
3
3
3
3
2
2
3
3
3
3
2
Pública
3.2.1. DADOS OBTIDOS
A colaboração deste grupo quanto ao exame da questão proposta “o que os
adolescentes chamam de sexualidade” mostrou que esta temática não é bem
compreendida, o que justifica a limitada participação do grupo no exame desta
proposição [ANEXO K, p. 175]. A sexualidade para alguns é entendida como
atividade erótica, portanto diferente de comportamento sexual específico, como diz a
adolescente Helenilda nesta fala: “Sexualidade muita gente pensa que é fazer as
químicas mas quando a gente vai colocar em objetivo vê que não é as químicas
que a gente deve fazer... mas sexualidade” (Linhas 15-17). Contribuindo à discussão
do tema, o adolescente Sergio Paulo associa sexualidade à atividade sexual e à
opção individual de identidade sexual, como se vê:
Quando os adolescentes essa palavra sexualidade o que vem logo
na cabeça é em relação a sexo (atividade sexual) mas também em
relação ao sexo da gente... se você pretende ser homem ou se você
quer ser gay ... mulher... né/... isso aí é gosto de cada um... sabe? isso
é um fato prá agente também debater... a sexualidade de cada um.
(Linhas 24-27).
O conhecimento do próprio corpo como meio de preparação para
relacionamento afetivo e sexual enquanto se processa a maturidade biológica,
identifica a sexualidade na concepção do adolescente Maurício, como se deduz
desta comunicação:
“D
e certa forma, se conhecer... sexualidade é quando chega à
idade de ter relacionamento sexual... de conhecer o próprio corpo” (Linhas 37-38). A
sexualidade parece ser percebida diferentemente pelos adolescentes em relação ao
sexo, ao pontuar a inabilidade afetiva e sexual dos rapazes quando vivenciam
experiências sexuais com parceiros do sexo oposto. A preocupação dos rapazes
80
com o próprio prazer e a não valoração do prazer do outro é identificada como
característica masculina, como vê o adolescente Walter nesta fala:
A sexualidade prá/ os homens é mais diversão... assim... em sentir
prazer e não em dar prazer... principalmente os homens eles tende/
mais a sentir e não dar prazer à pessoa com quem ele tá/ se
relacionando. (Linhas 42-44).
As limitações para tratar desta temática (sexualidade) são reconhecidas pelo
grupo que julga ser o tema algo indefinido, como mostra a adolescente Araci neste
trecho: “Assim... sexualidade como a gente aqui... tá/ todo mundo perdido... ninguém
tem uma idéia própria... ninguém tem uma coisa certa prá/ dizer... é isso que os
jovens pensam... não tem nada certo” (Linhas 47-49). Assegurando esta idéia como
representativa da condição do pensamento sobre a sexualidade, o adolescente
Reginaldo conclui:
Eu acho que esse negócio sobre sexualidade... os adolescentes de
hoje em dia não tem uma idéia fixa sobre sexualidade... quando fala
em sexualidade pensa logo no sexo... no prazer... pensa logo nisso...
se for perguntar a outra pessoa vai ser difícil ter outra resposta.
(Linhas 50-53).
O menor acesso às informações é referido como fator influente nas
dificuldades de compreensão da sexualidade pelos adolescentes que atribuem à
escola e à família o papel orientador e formativo da sexualidade dos jovens, como se
pode deduzir da afirmativa do adolescente Sérgio Paulo nesta fala:
É a falta do diálogo que tem muitas vezes nas escolas... e também dos
pais em casa... e a falta de informação que lá fora também não passa
nada falando disso (sexualidade)... por isso que prus/ jovens sexo é
isso... prazer... diversão ou alguma coisa assim parecida. (Linhas 58-
61).
A importância dada à sexualidade pelos adolescentes, leva em consideração
o sexo biológico. Os rapazes valorizam a sexualidade pela liberdade que têm para
se permitirem buscar realização sexual e por desfrutarem de maior autonomia que
as moças no âmbito familiar e social. A importância da sexualidade é ressaltada pela
sensação de bem-estar advindo da relação sexual, como diz o adolescente Erinaldo
nesta fala: “Claro ... acho que é porque quando você tem uma relação você se sente
mais maduro... você se sente mais livre... ((risos no grupo)) mais solto” (Linhas 67-
68). Pertencer ao sexo masculino e perceber-se identificado com o seu sexo é
também outra característica que parece importante, talvez em decorrência da
liberdade e autonomia masculinas acima referidas, como mostra o adolescente
Reginaldo: “Bem... eu agradeço a Deus porque eu me sinto masculino. Isso vai da
cabeça de cada um; cada um tem a sua opção” (Linhas76-77). Nesta perspectiva, o
adolescente Sérgio Paulo, na fala a seguir, retoma a condição educacional de
reforçamento cultural da masculinidade que se estabelece desde cedo no âmbito da
família:
É bom ser masculino porque tem mais liberdade, principalmente em
casa; é homem, tem mais autoridade também; é mais livre prá/ sair, ter
relação sexual. Se você for um menino, todo pai deseja que o menino
81
seja... sabe (macho) pratique, que é prá ficar... (homem) sabe?
((risos no grupo)). O menino, eles (pais) incentivam mais do que a
menina. (Linhas 82-86).
A antecipação da atividade sexual parece fazer parte de uma pedagogia de
orientação sexual dos rapazes em determinadas famílias. Entretanto as razões da
liberalidade paterna em apressar o desenvolvimento do interesse pela relação
sexual como produto da masculinidade não são conhecidas pelos rapazes, para
quem somente os pais podem explicar o porquê de tal atitude. O incentivo paterno
para a iniciação da atividade sexual contempla apenas o sexo masculino, evitando
ou impedido que o sexo feminino tenha acesso à oportunidade de realização sexual
pré-matrimônio, como cita o adolescente Reginaldo:
Essa questão sobre os pais ser mais liberais com os homens do que
com as mulheres, isso é uma questão que quem pode responder
são eles. Os pais incentivam seus filhos homens a praticar o sexo
mesmo sem chegar a idade; até comentam entre eles: Ah, não, é
tudo homem, tem namorada. Qual é o pai que vai incentivar a mulher
(filha) a praticar sexo? Quem de vocês (meninas do grupo) o pai
incentivou? (Linhas 129-134).
Nesse contexto de incentivo da prática sexual no âmbito familiar pelos
rapazes, existem outras famílias que orientam sobre o comportamento sexual do
adolescente sem, contudo, incentivar a precipitação da vivência de relações sexuais,
como é o caso da experiência educativa familiar vivida pelo adolescente Erinaldo,
nesta fala:
Acho assim: que o homem quer sempre tomar a frente de tudo; e a
questão de horário é uma questão de disciplina. Eu moro com minha
mãe porque meu pai mora fora e passa muito tempo; então eu convivo
mais com ela (mãe); e o mesmo cuidado que ela (mãe) tem com
minha irmã e meu irmão mais novo ela tem comigo. Nem meu pai nem
minha mãe me incentiva a fazer sexo; o que eles dizem é: tenha
cuidado, use camisinha e tal. Mas incentivar, acho que isso não existe.
(Linhas 137-142).
As moças parecem ressentir-se do apoio preferencial paterno à liberdade
concedida aos rapazes desde a meninice. A percepção feminina dessa condição
cultural de fortalecimento da autoridade masculina aponta a idéia de que os rapazes
são treinados para serem chefes na família. As moças tendem a contestar essa
condição que se almeja dos rapazes em razão das mudanças que vêm ocorrendo na
vida social e, de modo particular, no papel da mulher, buscando ampliar o horizonte
da igualdade de gênero na sociedade, como demonstra a adolescente Araci nesta
fala:
Eu acho que todos os pais fizeram isso deste o tempo... antigamente,
que o homem fosse o chefe. Mas a mulher também pode ser; isso não
tem nada a ver; mulher pode sair. Como antigamente mulher não saía,
ficava tudo em casa costurando e eles pelo mundo, e a mulher não. A
mulher tem de ter direito de tudo o que eles fazem. (Linhas 90-94).
82
Noutro momento, a mesma adolescente [Araci] contesta o alcance da
liberdade permitida aos rapazes, enquanto condição viabilizadora da autonomia de
vida. O valor da autoridade paterna para instituir direção pela via da liberdade
autorizada aos rapazes parece não ser tão eficiente se comparado à atitude materna
em relação às moças. As incertezas e a perda de direção de vida dos rapazes na
atualidade são apontadas neste relato:
Ele (Reginaldo) falou que o homem pode ir prá/ festa, que o pai deixa
e a mulher não. Porque, como os homens no tempo de hoje tão muito
perdidos... a mulher não, a mãe vê, assiste muitas coisas e a mãe diz:
olhe, é assim, assim, assim, prá ver se ela presta atenção e pode ser
uma grande mulher prá/ frente. (Linhas 100-103).
A atitude paterna de cuidados em relação às moças tende a ser constante,
mesmo quando as filhas se tornam maiores de idade. A ênfase orientadora é
sempre encaminhada para a dimensão afetiva da sexualidade, constituindo-se numa
tentativa de prevenir a antecipação da atividade sexual, como diz a adolescente
Maria Luiza:
Os pais sempre tem mais crédito (cuidado, atenção) com as mulheres
do que com os homens. Aos homens diz: se vire, você é de maior; e à
mulher, não. Ela sendo de maior, vivendo com ao pais, eles ainda tem
cuidado; quando ela vai sair de casa, ter cuidado; se sair com o
namorado... sempre dão muito conselho... prá/ voltar cedo. (Linhas
105-109).
S
exualidade e sexo são dimensões do comportamento sexual ainda pouco
compreendidas pelos adolescentes deste grupo, como demonstra a fala do
adolescente Erinaldo, para quem o sexo é algo particular, por ocorrer num dado
momento, enquanto a sexualidade por sua amplitude “leva a várias coisas” (Linhas
152-153). A momentaneidade do sexo e sua circunscrição às vivências típicas de
estimulação do corpo em busca do prazer orgástico são mais conhecidas e, por isso,
mais facilmente os adolescentes descrevem emoções derivadas do sexo. A relação
sexo e prazer parece assumir maior importância para os rapazes, resultando na não
associação da relação sexual com o afeto pela parceira, como retratam estes
trechos das falas de Reginaldo e Walter:
O que o adolescente tem mais idéia hoje é sobre o sexo, o ato, a
pratiCAÇÃO; não sobre a sexualidade. Eu também não tenho uma
idéia concreta sobre sexualidade. O sexo prá/ muita gente é sentir
prazer. Sentir prazer, dar prazer ao seu corpo; não fazer sexo porque
você gosta da pessoa... você quer dar prazer ao seu corpo. (Linhas
168-170; 178; 180-181).
As dificuldades para compreender e estabelecer diferenças entre sexualidade
e sexo são atribuídas às limitações dos programas educacionais escolares e bem
assim à vasta produção de informações pelos meios de comunicação, que parece
não chegar com a qualidade devida aos adolescentes, como se vê na fala do
adolescente Walter, a seguir:
Eu posso falar que é porque... que quase todo mundo ainda não
entrou no clima de sexualidade e sexo aqui na sala (grupo); que ainda
83
tá/ uma discussão... então nessa discussão tá/ havendo um equívoco
do que é sexo e sexualidade. O adolescente em geral ainda não tá/
sabendo definir sexualidade e sexo. Acho que isso é uma discussão
que tende a abranger outras escolas, outros adolescentes, prá/ ver a
diferença, o porque que eles ainda não sabe diferenciar o sexo e a
sexualidade. O meio de comunicação é grande. As escolas agora que
tão/ pondo professores prá/ debater o sexo dentro da sala. Os
professores não tinham essa liberdade prá/ falar de sexo; por isso que
os adolescentes ainda se enrolam quando vão/ falar de sexualidade e
de sexo. Prá/ falar a verdade, nem eu tenho idéia do que seria a
sexualidade. (Linhas 155-164; 166).
A relação entre a sexualidade e o ajustamento à vida parece favorecer os
rapazes, inclusive na percepção das moças. A autorização por assim dizer para
que os rapazes experimentem relações sexuais sob o olhar condescendente dos
pais e da sociedade põe as moças em situação de desvantagem afetiva-sexual e
social, como mostra Araci nesta abordagem:
Mulher, não. Porque o homem quando tá/ numa turma de amigos e
diz: eu não sou mais virgem... ele é o cara. Mulher, não; mulher não
tem essas coisas... é mais fechada... é mais quieta; pode até comentar
com sua amiga, amiga mesmo ou com sua mãe... só. Pronto. Ela não
sai dizendo assim, a todo mundo. (Linhas 195; 197-200).
As relações de gênero estão implicadas na discussão da sexualidade e
ajustamento à vida. Para os rapazes, as relações sexuais que podem experimentar
são vistas por eles como mecanismos de facilitação do ajustamento pessoal e
social, condição que reconhecem negadas às moças em razão da honra a conservar
para o matrimônio, como mostram estes relatos de Reginaldo e Roberto Carlos:
O que ela (Araci) tá/ dizendo é verdade. Quando no meio dos meninos
tem um que ainda é virgem, aquela pessoa é discriminada; chamam
ele de donzelo. As mulheres não debatem esse tipo de coisa. É
porque vai da honra da mulher; porque ninguém vai querer casar com
uma mulher toda daquele jeito. Se eu for casar um dia e a minha
mulher não for virgem eu não quero mais ((risos no grupo)). (Linhas
202-204; 205-207).
A repressão da sexualidade feminina parece se justificar por um afeto de
desconfiança no comportamento posterior da moça que se antecipar na atividade
sexual. Apesar de haver reconhecimento que a antecipação sexual da moça pode
decorrer de uma paixão afetiva e sexual, não ser virgem continua sendo, na visão
dos rapazes, uma condição desestimulante para o casamento, como se absorve dos
relatos de Reginaldo,
É o seguinte: O homem que tiver uma relação sexual com uma mulher
e ela tiver relação com outros, então o cara não vai mais querer ela; o
cara vai dizer: Ah::.. não... ela se entregou prá/ outro cara...
discrimina logo; diz que é puta... que bota doença... o cara pensa: se
eu ficar com ela, ela vai chegar e botar outro cara aqui. (Linhas 211-
215), e
Erinaldo:
84
Ela pode tá/ apaixonada por ele naquele momento... e... muito/ cara
faz porque é legal e depois que consegue o que quer... tchau. Ás
vezes é a única vez da mulher, quando casar descobre que ela não
é mais virgem, aí vai fazer o quê? (Linhas 222-224).
uma tendência entre as moças para justificar, em parte, a desaprovação
masculina para o casamento com a moça não virgem. Ao lado dessa tendência, as
moças costumam considerar separadamente virgindade e fidelidade. O afeto
amoroso parece ser reconhecido pelas moças como estímulo suficiente para fazer
eclodir a paixão que impulsiona o relacionamento sexual. Entretanto, a fidelidade ao
parceiro é a condição valorizada pelas moças em relacionamentos futuros e não a
virgindade em si, como exemplifica a adolescente Araci, respondendo às falas dos
rapazes:
Eu acho que ele (Reginaldo) tá/ certo, mas como o menino (Roberto
Carlos) disse ali: se ele for casar um dia com uma mulher e ele
descobrir que ela não é mais virgem... mas ela não pode ser isso tudo
que o Reginaldo disse. Ela pode ter (tido) relações (só) com o ex-
namorado dela, mas eles dois; tá/ errado (rejeitar a moça não
virgem para o casamento). (Linhas 217-221).
A experiência sexual prévia dos rapazes não é diretamente questionada pelas
moças, apesar de existir a compreensão de que a virgindade é uma opção inclusive
para elas. Por outro lado, a idéia de igualdade entre os sexos existe e pode ser
utilizada para combater a autonomia masculina e a conseqüente rejeição da moça
não virgem para o casamento, como defendem Maria Luiza e Araci nestas falas:
Acho errado o que ele (Roberto Carlos) disse. Se a menina não for
virgem ele não quer mais ela; e ele também? ela podia fazer a mesma
coisa também: se você não é virgem eu também não quero mais você,
pronto ((risos no grupo)). (Linhas 225-227). Estava passando um
programa que tinha um casal que os dois namorava/ faz muito tempo e
os dois era/ virgens. É opção sexual deles. (Linhas 228-229).
85
4. VIVÊNCIAS SEXUAIS ENTRE ADOLESCENTES
Este tema foi objeto de análise pelo Grupo Focal Religioso 4 (GFR-4) e pelo
Grupo Focal Não-religioso 4 - (GFNR-4). As características dos adolescentes que
participaram do primeiro grupo estão demonstradas no quadro a seguir:
4.1. CARACTERIZAÇÃO DO GRUPO FOCAL RELIGIOSO 4 - (GFR-4)
Pseudônimo Sexo
Idade
Religião Série
Escolar
Rede de
Ensino
Apolônio
Peres
Flávio
Alberta
Luana
Antonia
Leandra
Vitória
M
M
M
F
F
F
F
F
19
18
16
17
17
17
16
16
Católica
3
Privada
Flávia F 17 Espírita 2
4.1.1. DADOS OBTIDOS
Este grupo esteve envolvido com a discussão das vivências sexuais, com
enfoque nas ocorrências na adolescência [ANEXO L, p. 179]. Para iniciar, buscou-se
o entendimento do grupo a respeito da sexualidade com vistas a facilitar o
envolvimento verbal com as questões referentes às vivências da sexualidade entre
adolescentes.
Para esse grupo, a sexualidade retrata o sexo amplamente vivido em busca
do prazer, sem levar em consideração a natureza dos afetos que impulsionam o
comportamento sexual, como mostra o adolescente Flávio:
Acho que infelizmente prá/ juventude de hoje em dia... eh:: o termo é
bem amplo, sexualidade se tornou um simples sexo... muito
vulgarizado... o sexo puro... não existe mais a sexualidade... hoje
sexo. (Linhas 16-18).
A disponibilidade atual da informação parece responder, em parte, pela
desvinculação do afeto amoroso no relacionamento sexual. O sexo deixa de ser
parte complementar da relação afetiva e assume a totalidade das atenções vitais,
resultando em perda de sentido pelo tratamento banal que tem recebido. Esta é a
opinião da adolescente Leandra:
Outra questão também que deve ser tratada aqui é a questão da
informação. Antigamente... eh::.. tudo o que se relacionava a
sexualidade era feito sepaRADO... os pais não conversavam com os
filhos... e hoje tem toda uma informação,hoje tem toda abertura que é
trazida pela geração... aos jovens. Agora o que é que ta/
acontecendo? Os meus colegas aqui falaram, não tá/ sendo
86
aproveitado de modo certo, ou seja: o jovem tem tanta informação...
eh:::.. que realmente... se tornou banalidade... como Vitória falou... ou
seja: estão tratando do sexo como uma coisa qualquer, como um
centro de mero prazer e não um ato de amor... né?... que na realidade
é o real significado da sexualidade é esse... é um complemento... não
um todo, mas uma parte. (Linhas 45-54).
A idéia do desvirtuamento atual da finalidade do sexo na vida das pessoas
está presente na concepção de adolescentes que entendem a função do sexo como
algo que tempera, que aprimora o sabor das relações afetivas, mas que não deve
ser tomado como a essência do relacionamento. As manifestações precoces de
comportamento sexual como o namoro e a própria relação sexual são atribuídas à
fácil acessibilidade às informações de pouca confiabilidade para orientar atitudes
afetivas e sexuais, como mostra a adolescente Vitória, para quem a prática do sexo
sem amor é uma das influências da mídia sobre o comportamento de adolescentes:
Eu acredito que essa promoção foi ocorrida/ pela mídia; a mídia hoje
de encarrega de banalizar o sexo e todas as purezas de sentimento
vividas com ele. Hoje não se fala mais de sexo... a indústria do amor...
o sexo em busca de complemento, mas o sexo como busca do prazer.
Isso faz com que as pessoas achem que isso basta... que e o
suficiente prá/ ser feliz, prá/ estar realizado. Então muitos jovens
acreditam que... por estar fazendo... tem que manter relações sexuais,
esquecendo da sua própria... do seu interior, suas convicções, da sua
própria sexualidade... de cuidar de si próprio. (Linhas 20-27).
O adolescente Flávio tem opinião semelhante por considerar que existe uma
visão disfuncional do sexo, impelindo adolescentes a iniciar-se sexualmente sem a
maturidade devida, como se vê nesse relato:
Como todo mundo aqui falou, o sexo está sendo encarado como o
todo do relacionamento... não um tempero, digamos assim, não um
toque a mais, o ápice... ele (o sexo) está sendo encarado como o
início, o meio e o fim de um relacionamento. E essa questão de...
eh::...se iniciar cada vez mais cedo, tanto o namoro quanto a sua
sexualidade por conta dessa informação como foi falada, mas a
informação vulgar... àquela informação distorcida, danificada. Por isso
crianças... eh::... (ininteligível) ainda sem personalidade formada
entram nessa vida tão cedo. (Linhas 56-62).
As informações relativas à sexualidade veiculadas na mídia e a atitude dos
pais quanto à orientação sexual familiar estão sob o olhar dos adolescentes. À mídia
é criticada naquilo que concerne ao conteúdo das informações produzidas, por não
auxiliar a construção da sexualidade saudável dos adolescentes. Os pais, por outro
lado, são também apontados pela atitude de menor proximidade e ausência de
orientação aos filhos em crescimento sexual, favorecendo com essa atitude a ida
dos filhos à fontes duvidosas de conhecimento, como mostra Vitória nessa fala:
Antes, a base de um relacionamento... tudo que se construía era
baseada em sonhos, em sentimentos. Hoje não, está sendo baseada
em sexo. Como Leandra falou, tá/ tendo muita informação mas não tá/
tendo formação. Hoje os pais não se sentam mais à mesa com seus
filhos, não conversam... então todas as fontes que eles (filhos) têm...
87
buscam na mídia... eh::.. na escola e nos amigos e é aí que encontram
informações mais defasadas. Os pais não tão/ mais conversando com
os filhos e os filhos não conseguem ter mais uma ligação... com seus
pais. Então, as informações acabam deformando quando não
informação... familiar. (Linhas 64-71).
A sexualidade, vista como opção de vivência sexual, dificulta a compreensão
da sua importância para a vida, sobretudo entre adolescentes, por se encontrarem
em vias de maturidade. As vivências de sexo podem induzir o desenvolvimento de
atitudes auto-afetivas de menos valia, que podem influenciar negativamente a
construção da auto-estima, como demonstra o adolescente Peres:
Eu creio que a sexualidade ainda permanece como opção sexual...
que o jovem ou a jovem esCOLHE. Como os nossos colegas falaram,
hoje em dia infelizmente... repetindo as palavras do colega, está se
tornando uma coisa nojenta (vivências sexuais)... a opção que o jovem
escolhe não lhe dando mais uma coisa de sentir-se orgulhoso por
escolher... né/... por viver a sexualidade; mas agora esse tornando
uma coisa... para muitos se torna nojenta... é TRISte mas é a
realidade. (Linhas 31-36).
Opção sexual e orientação do desejo sexual são utilizadas como sinônimos
pelos adolescentes, os quais acreditam que tais questões se encontram ainda
carentes de abordagem. É provável que a referência tenha a escola entre os
destinatários por sua função orientadora na construção da personalidade e, por
conseguinte, na construção da sexualidade. Valores vindos da religião encontram
férteis terrenos para a semeadura de idéias e atitudes que se manifestam em
relação às diversas possibilidades de construção sexual, como salienta a
adolescente Vitória:
Uma área da sexualidade que não tá/ sendo abordada é quanto à
opção sexual que as pessoas escolhem. Quando você nasce e acaba
sendo atraída por outra jovem, é um desvio da sua sexualidade, você
não tá/ mais sendo quem você, digamos, nasceu para ser... é uma
expressão que eu costumo usar... mas está sendo isso: seus
desejos... a mesma coisa que o lado masculino. A opção pelo
homossexualismo ou bissexualismo, coisas que segundo a religião
não são corretas... são abomináveis. (Linhas 97-103).
O grupo de amigos parece exercer influência na assunção do comportamento
sexual do adolescente. As experiências vividas por adolescentes iniciados
sexualmente tornam-se um passaporte para uma pretensa maturidade, que é
colocada a serviço do apressamento sexual dos colegas que revelam inibição ou
que ainda não despertaram para a iniciação sexual, conforme o pensamento da
adolescente Lú:
Eh::.. eu acho assim... que hoje em dia o jovem olha muito o sexo mais
como prazer... ele assim ... muitas vezes os amigos... e por
influência deles ou não.... não, foi bom e tal (a experiência sexual
vivida)... muitas vezes de deixa influenciar por isso... não leva sua
própria opinião. escuta muitas vezes: não, pô/... se você não fizer,
não... eh::.. vai ser bebezinho. acaba deixando se influenciar por
certas amizades. (Linhas 73-78).
88
A exigência de antecipação da experiência sexual dos adolescentes parece
ter por objetivo forçar aceitação no grupo de amigos, uma vez que algumas regras
internamente criadas dão condições de admissão e recusa de membros no grupo.
Uma atitude machista desde cedo vai impregnando o ideário adolescente de
autonomia, aceitação e poder que parecem alcançados na precoce iniciação sexual,
cujo fim é tão somente a afirmação do abandono da virgindade e o aprendizado do
prazer, como se absorve da fala do adolescente Apolônio:
Hoje ser virgem é motivo de mangação, de vergonha. Um jovem tem
vergonha de falar que é virgem por causa dos amigos que ficam
mangando, provocando... e motivo... e o jovem como foi falado,
segue por desejo e não por amor, mas por desejo. (Linhas 87-90).
A
sexualidade aparece, também como um caminho a percorrer com vistas ao
casamento. A existência prévia do sentimento amoroso é requerida como condição
principal para preterir a busca do prazer, bem como para fazer despertar e instituir
mecanismos psicobiológicos e sociais, que justificam e imprimem sentido à relação
sexual, somente no âmbito do matrimônio, como pensa o adolescente Apolônio
acima referido:
Assim... a sexualidade que eu entendo é normal em todo ser humano,
né/... prá todo ser humano depois do casamento pode ter a relação...
do sexo. Mas os jovens hoje não tão/ tendo mais a relação por amor,
mas sim pelo desejo. (Linhas 94-96).
A sexualidade é vivida com naturalidade a depender do modo de ser do
adolescente e das influências que se exercem sobre ele. Os ltiplos elementos
psicobiológicos que instituem a sexualidade são conhecidos dos adolescentes e
estes entendem que o caráter, enquanto disposição natural, coadjuvando com
valores e princípios, devem inibir tanto a exposição sensual como a sedução
exemplificada no comportamento das moças. Valores religiosos são acessados nas
ocasiões de encontros, presumindo-se inibir a espontaneidade do clima afetivo a se
estabelecer entre adolescentes, como entendem:
Flávio,
Se tiver personalidade (o adolescente) acho que pode encarar (as
vivências da sexualidade) como uma coisa normal... porque... como
falei no começo, sexualidade não se resume a sexo... é um todo.
Sexualidade inclui cuidado com seu corpo, cuidado com sua índole...
eh::... relacionamentos... eh::... sexualidade é um conjunto; não são
coisas específicas. E... tem coisas hoje em dia que tão/ agredindo a
sexualidade, principalmente de meninas como por exemplo, músicas...
eh::... novelas... alguns tipos de roupas que deixa a sexualidade... não
corpórea, digamos assim, mas deixa de qualquer forma a sexualidade
exposta. Vou citar um exemplo bem vulgar: Uma menina que tá/ de
saia, que tá/ com uma blusinha mostrando a barriga e tal, não vai ser
tão respeitada como uma menina que tá/ vestida composta e tal (...) é
àquele jogo de sedução... àquele jogo de atração talvez. (Linhas 110-
120; 122).
89
Pensamento semelhante tem Peres,
A
quelas pessoas que respeitam as orientações da religião e seguem
aquele ritmo... tradicional... e hoje um novo jeito de viver a
sexualidade, né/... aquela coisa natural, espontânea, de momentos... é
uma forma de viver a sexualidade. (Linhas 132-135).
Para os adolescentes deste grupo, a sedução e a sensualidade são
componentes da sexualidade que incitam à prática de relações sexuais, e por essa
razão devem ser evitadas ou controladas, por acreditarem existir uma compreensão
inadequada da sexualidade e do sexo entre os adolescentes. Reduzir a sexualidade
à prática do sexo é uma concepção deste grupo em relação àquilo que acreditam
ser a percepção corrente dos adolescentes, como mostra Vitória:
O problema do jogo de sedução é a pessoa que você está incitando;
se você quer passar por esses rapazes e não quer ouvir piadas você
não deve usar (roupas sensuais?). Mas tem muita gente que se veste
como tal e quando recebe alguns predicados ou adjetivos... acham
ruim. Acho que quando você tem o seu corpo você tem que zelar...
não precisa tá/ mostrando seu bumbum. (Linhas 124-128).
A percepção dos adolescentes sobre as vivências sexuais englobam instintos,
sentimento amoroso, incertezas e auto-entrega do corpo ao prazer. Os adolescentes
convivem também com conflitos nascidos do desejo e das resistências para viver os
valores de pureza afetiva e corpórea, ensinados e exigidos pela religião. Tais valores
não são desconsiderados pelos adolescentes, ainda que lhes pareçam de difícil
alcance em razão da própria construção psíquica do sujeito, sobretudo, feminino. A
menina é vista como sujeito mais propenso a distanciar-se das exigências religiosas
de manutenção da virgindade para o casamento em razão da força do ilusório afeto
amoroso que impulsiona o desejo afetivo e sexual, como exterioriza Leandra nesse
trecho de sua fala:
Então... existem jovens... eh::... com a religião ela tem essa tese
que somente depois do casamento, que é o certo, né/... que é o
momento certo. MAS a gente tem que ver também que além de seres
humanos, de pessoas que pensam, pessoas que têm idéias, somos
pessoas que tem instintos, somos pessoas que agem também que
agem pelos instintos... somos pessoas que sente desejos... somos
pessoas que... muitas vezes a gente se deixa levar muito pelo que a
gente sente. Isso acontece principalmente com as meninas... assim...
eu vou enfatizar as meninas, porquê? Porque as meninas elas se
apaixonam e elas se deixam levar por esse amor entre aspas, né?...
(Linhas 157-165).
A mesma adolescente, referindo-se ao afeto amoroso da parte da moça,
acredita que este surge na relação, carregada de tal intensidade sentimental, capaz
de obscurecer a reflexão racional em relação ao próprio sentimento amoroso e o seu
conseqüente desejo de realização. A auto-entrega quando ocorre reveste-se,
portanto, de uma dimensão vivencial da sexualidade não desejada, mas julgada
oportuna, favorecida pela idéia que a moça abriga de estar apta para viver aquele
momento. Ressalvadas as exceções, a adolescente [Leandra] acredita que o amor
responde, portanto, pela iniciação e manutenção da atividade sexual das moças e,
90
dessa forma, não parece possível antever conseqüências de um ato acumpliciado
pelo amor, como se vê a seguir:
Então... a mulher, a menina, a jovem ela se deixa levar por esse amor
então ela se entrega, mas ela se enTREGA porque ela TÁ/ sentindo,
ou seja, ela se sente preparada naquele momento prá/ isso. Muitas
vezes ela pode depois se arrepender, mas para a maioria dos jovens...
a concepção que Flávio falou é essa: fazer sexo. Mas prá/ outros não
é... muitos jovens hoje se entregam... existem jovens que se entregam
por amor sim, porque o? Claro que existe. Existe pessoas que vê o
sexo como complemento do amor, como uma conseqüência do que
você sente pelo outro. (Linhas 166-172).
O pensamento de Leandra, acima, é compartilhado por outras adolescentes
que atribuem ao afeto amoroso uma função eliciadora do desejo sexual vivido na
relação com a pessoa amada, como mostra Lú:
Acho que o sexo é uma forma de amor, uma forma de carinho que
você tem pelo seu parceiro; quando jovem e tal você gosta daquela
pessoa, você quer ter aquela vivência com aquela pessoa, você
TEM vamos dizer uma vivência sexual diretamente com aquela
pessoa. Sim, porque você ama. (Linhas 174-177).
De qualquer forma,
amor e realização de desejo sexual são dimensões da
sexualidade de difícil consenso. As explicações acima para justificar a ocorrência da
iniciação e da manutenção da atividade sexual induzidas pelo amor são vistas com
reservas por outras adolescentes que suspeitam da idoneidade do afeto amoroso
vivido por muitas moças. Em tais situações, moças existem que apelam à
racionalidade do amor vivido na relação com o namorado, justificando também os
valores religiosos para a manutenção da virgindade feminina para o casamento,
como mostra Vitória:
Acredito que a maior dificuldade não está quando você faz o sexo
com sentimento. Acho que a maioria dos jovens hoje fazem com
sentimento. Entretanto, tem que levar em consideração que
sentimento é esse... porque... acreditam estar amando e às vezes não
é amor... às vezes é uma coisa ilusória, ou muitas vezes como
Leandra falou das meninas, elas realmente estão amando, elas
realmente estão apaixonadas, mas a pessoa que está com elas não
está. Por isso é que a igreja, ela impõe que seja depois do casamento.
Que a partir do namoro você passa a conhecer realmente a pessoa
que estar do seu lado e se ela sente o mesmo por você... (Linhas 179-
186).
Em relação aos rapazes, a percepção feminina do sexo toma outra direção. O
amor invocado para justificar o comportamento da moça não é atribuído ao rapaz no
mesmo contexto. A realização do desejo sexual masculino visto pelas moças
decorre de necessidades pessoais de auto-afirmação, aceitação social e poder,
valendo como documento que situa num contexto amplo a identidade do sujeito,
induzindo no outro uma concepção psicossocial dessa identidade com vistas a
facilitação de novos relacionamentos, como vê Leandra:
91
(...) eu vou falar de uma opinião que os jovens FORA... daqui da nossa
conversa... jovens que vêem o sexo de outra forma. Eh::... através da
minha convivência com outros jovens, eu também converso com
amigos sobre... em relação a isso. E eles também vem o sexo de uma
forma como.... eh::... uma carteirinha de apresentação. Isso também é
uma das formas de você expor o sexo ou seja, isso também com os
homens. Se você for virgem você tá/ ferrado ou seja, você não tem...
você é um Ninguém... você passa a ser alguém quando você
praticou o sexo... isso também é uma forma de sexualidade e é o que
os jovens fora vêem. (Linhas 190-198).
A virgindade feminina parecer ser um problema crucial para a moça que vive
o conflito afetivo entre guardar-se do sexo e a realização deste. As mudanças de
pensamento sobre o comportamento sexual parecem justificar a atualidade
conflituosa das adolescentes que enfrentam a questão da vergonha de revelar-se
virgem, como mostra a fala de Lú: “Hoje o vergonhoso é a pessoa dizer que é
virgem... é uma contradição com antigamente; antigamente o vergonhoso era você
dizer que o era virgem. Daí é mais uma coisa dos tempos de hoje mesmo... dos
tempos que tão/ mudando” (Linhas 201-203).
Em pensamento semelhante, Flávia a questão da discriminação social que
se faz em relação aos privilégios sexuais em relação aos rapazes. Historicamente,
enquanto se aceita que os rapazes tenham vida sexual ativa, não apenas se nega
às moças tal privilégio como se estigmatiza a jovem que afastar-se das requisições
sociais de virgindade, como demonstra essa fala:
Acho que prus/ homem/ nunca teve isso de ser vergonhoso... pelo
contrário, desde os tempos medievais os pais contratavam prostitutas
prus/ filhos se iniciarem desde cedo. Agora tá/ um pouco mais aberto
isso e tá/ acontecendo também entre as meninas... mas não pode
fingir... por exemplo, se uma mulher já teve relações sexuais com
várias pessoas, não é uma carteirinha de apresentação boa, pru/
homem é, prá/ mulher não... porque se o homem já fez sexo com
várias meninas ele é o garanhão, ele é o cara... se for uma menina, é
puta mesmo. (Linhas 204-210).
A histórica aceitação do desejo masculino e sua realização coincidem com as
necessidades femininas também de realização sexual. Os questionamentos atuais
femininos são vistos como uma decorrência da abertura social às novas informações
e concepções de sexualidade que diminuem nas moças o medo e a culpa pela
realização sexual antecipada ou fora dos padrões sociais propostos, como entende
Flávio:
Não é que agora as meninas tão/ tendo desejos... desde muito antes
elas sempre tiveram desejos, sempre tiveram necessidade. que
agora as informações, as concepções, as idéias tão/ sendo mais
abertas digamos assim; antes tinham muita preocupação com a
reputação... hoje não tanto. Então não é que hoje as mulheres tão/
tendo desejo mais cedo e tal. É que agora está sendo mais aberto,
agora tá/ dando ênfase à liberdade. Por isso muito gente confunde
essa liberdade e em vez de descobrir o mundo e seus prazeres aos
poucos quer descobrir tudo de uma vez. (Linhas 212-219).
92
A preocupação feminina com a virgindade é uma dimensão da sexualidade
que deve permanecer, diz Vitória, em vista da atitude dos rapazes quando buscam
estabelecer relacionamentos consistentes. A banalização do sexo, que parece existir
entre os rapazes adquire nova significação quando encaram o casamento e, para a
iniciação dessa fase vital, a virgindade feminina é uma característica apreciável,
como se vê a seguir:
Antigamente tinha a preocupação com a reputação e hoje foi quebrada
essa barreira. Mas deve existir. Eu não sei dos rapazes aqui
presentes, mas muitos rapazes banalizam o sexo. Então as moças são
normais ter relação com outros homens, mas quando eles vão
procurar mulher para ter compromisso sério, para casar, para ter
filhos, para construir uma família, eles procuram as virgens... procuram
as que nunca foram de ninguém... e aí Flávio balança a cabeça... essa
é a opinião da maioria dos homens. Por mais que eles queiram que
tenham mulheres fáceis nas mãos deles, e muitas vezes eles incitam
para que as próprias namoradas se entreguem a eles, mas
futuramente eles vão/ procurar aquelas que são puras para manterem
relacionamento. Então eu acho que cabe a mulher saber se preservar.
(Linhas 220-229).
As vivências sexuais entre adolescentes parecem acontecer espontânea e
independentemente de lugar ou preparação prévia, ficando a depender do momento,
dos estímulos desinibidores disponíveis e da aclimatação que se estabelecer entre
os parceiros afetivos. Comentando essa questão, dizem as adolescentes:
Leandra,
Eu acho que... como acontece... em qualquer lugar... de qualquer
forma e hoje de várias formas. Estão dois jovens numa festa se
conhecendo... e de repente eles ficam... ficam e logo depois vem a
proposta, vem a vontade de fazer sexo; então eles saem
tranquilamente da festa e vão/ e ficam juntos num motel que hoje é o
que mais tem... ou em qualquer lugar. Como acontece é dessa forma,
não é uma coisa planejada, não é uma coisa premeditada... é uma
coisa que acontece de repente. Você uma pessoa, você gostou...
você fica. (Linhas 234-235; 238-243), e
Flávia,
Muitas vezes o ambiente, a bebida, tudo influencia e manda você
naquela direção. Tá/ num ambiente que todo mundo tá/ incitando você
a fazer isso... tem o álcool... todo mundo quer que você beba... fica
uma pessoa lá e... acontece. Nada planejado. (Linhas 244-247).
O tipo do sexo parece estar associado à qualidade do sentimento em relação
ao parceiro afetivo. Flávio faz diferença entre o sexo realizado com amor e o sexo
realizado por prazer, estando este último associado às inovações de performances
sexuais (oral e anal), como mostra essa fala: “Eu acho que se for sexo com amor,
vai ser sempre escolhida a forma convencional. Mas se fizer o sexo por prazer vão
conseguir formas inovadoras. Eh::... sei lá... o oral, o anal” (Linhas 273-274; 276).
Comentando essas formas inovadoras de expressividade sexual, sentimentos de
vulgarização do sexo, não preocupação com o parceiro e egocentrismo são
93
utilizados para definir também a atitude de rejeição das moças em relação ao sexo
não convencional, nas falas de Alberta que diz:
Sinceramente, um nojo. Oral e anal. Se torna vulgar demais... quando
uma pessoa mal conhece... por exemplo... tá/ numa festa e sai prá/
fazer sexo com outra pessoa e anal, oral... acho que isso torna
muito vulgar. (Linhas 282; 284-286).
Vitória amplia a discussão adicionando outras informações,
É até você buscar, digamos, o ápice do prazer sem se preocupar com
o bem-estar do outro. Quando se realiza sexo anal a mulher não
sente... na verdade sente: Dor... porque diante de muitos comentários
que ouvi é a única coisa que a mulher sente. O homem sim, ele
sente muito prazer, mas quando isso acontece não uma
preocupação com o bem-estar do outro. Então está havendo muito
egocentrismo em relação ao sexo... você quer sentir (prazer) não se
importando com o sentimento do outro. (Linhas 288-294).
C
onflitos, frustrações e satisfações encontram-se à base das vivências de
sexo entre adolescentes, levando a crer que a antecipação da atividade sexual seja
decorrente do sentimento de curiosidade, típico da faixa etária. O desejo de
conhecer o sexo e as emoções por ele propiciadas são primeiramente apontadas
como causa dos conflitos e das frustrações resultantes da atividade sexual entre
adolescentes, como mostra Lú: “Muitas vezes a pessoa por curiosidade se deixa
levar pelo momento e que aquele ali não era... realmente a hora certa e vai
descobrir depois que já fez (sexo). Aí... se deixa levar pela curiosidade” (Linhas 300-
302). Esse pensamento é ampliado por Antonia, que adiciona à curiosidade o desejo
de conhecer o prazer do sexo, como se vê nessa fala:
Às vezes se deixa levar pelo prazer, pela curiosidade e às vezes se
arrepende depois, né/... de ver que não era a pessoa certa... de ver
que não era o momento... que ele depois não procurou você... a
cabeça dos jovens... principalmente a mulher, ela fica pensando... ele
me achou vulgar. (Linhas 303-307).
Os valores religiosos de exigência de castidade associados às indecisões
quanto às coisas e objetivos pretendidos na vida, influenciam também a produção de
conflitos em relação às vivências sexuais. As incertezas quanto à formação
acadêmica e as instabilidades do comportamento sexual são metáforas que
mostram pertinentemente as dificuldades vividas pelos adolescentes em vias de
construção sexual. As moças estão mais propensas a auto-criticar as vivências
sexuais e por essa razão mais facilmente desenvolvem sentimentos de culpa. O
peso dos valores religiosos é percebido na fala de Leandra que, ao associar a
imaturidade vital e imaturidade sexual, substituiu inconscientemente a orientação do
sexo após o casamento pela maturidade adulta para decidir e fazer sexo
conscientemente e de forma responsável, como se vê nesse trecho de sua fala:
Por isso que a Igreja Católica ela faz questão da maturidade... o jovem
não está maduro porque ele tem uma concepção com relação a uma
coisa hoje e amanhã ele não tem mais. Ele tá/ sempre mudando de
opinião; tanto é que uma das questões que o jovem tem mais dúvida é
94
a questão do vestibular (...) porquê? Porque ele tá/ sempre sofrendo
essa mutação, sempre tá/ mudando de opinião. Com relação ao sexo
também. Por isso que a Igreja prega que o sexo comece a partir do
momento que a pessoa é adulta e tem certeza do que quer.
(Linhas 313-321).
As frustrações femininas conseqüentes aos conflitos vividos são originadas
tanto pelo sentimento religioso quanto pelo sentimento de culpa. Os valores
religiosos de exigência da virgindade para o casamento, a ocasião da realização
sexual bem como as circunstâncias que envolvem esse momento são fatores
consideráveis para a manutenção do equilíbrio psicológico das moças iniciadas
sexualmente. Por outro lado, o amor parece justificar e evitar o desenvolvimento de
culpa, como bem mostra Leandra nesta fala:
A maioria volto a falar, não são todos que fazem o sexo realmente por
amor e (os que fazem) não se arrependem e se sentem satisfeitos
porque fez com a pessoa que ama... e
...
Acho que depois que
acontece, aí vem a frustração porque muitas vezes a jovem é virgem e
depois como Antonia disse... será que foi realmente a hora certa?
(Linhas 309-313).
Comentando ainda a possibilidade da frustração das vivências sexuais
femininas antecipadas, diz Peres:
A mulher, eu não sei se elas sentem um prazer ou somente depois
da... principalmente a que era virgem e teve o seu primeiro momento...
eu nunca tive contato com meninas nessa experiência... mas eu
acredito que elas sintam que... quando não é no momento certo elas
fiquem frustradas e talvez nem queiram mais” ((o participante é
seminarista católico)). (Linhas 331-336).
Aludindo ao pensamento acima, Vitória entende que para as moças a
realização do desejo sexual por amor é algo satisfatório, e a desmistificação desse
sentimento uma frustração que pode produzir sérios danos a adolescente, como diz
nessa fala:
Acho que a satisfação e a decepção... é quando uma jovem... isso é o
maior dos exemplos... acredita que realmente aquilo é amor e se
entrega ao seu namorado e depois de alguns meses o namoro
terminar. Oscila a satisfação e a frustração é como se fosse uma
queda de pára-quedas, cai das nuvens para a terra sem saber se
embaixo vai ter como se proteger. (Linhas 355-359).
As satisfações das vivências sexuais dos adolescentes são consideradas
diferentemente em relação aos rapazes e as moças. No primeiro caso, a
possibilidade de mudança do status psicossexual e a idéia da obtenção de respeito
e autonomia no grupo parecem estimular o adolescente a deixar de ser criança e se
tornar um “hominho”, como sugere Peres:
A satisfação que eu pelo menos ouço falar... eh::... da mulher eu não
sei, mas do homem escutei muito falar... dizer que... é prá/ ele se
tornar hominho ((risos no grupo) fez sexo ele é hominho. Isso pru/
ego do indivíduo deve ser massa... além do prazer, se é que sentiu
95
prazer na hora do... /... essa é uma das satisfações do homem prá/
que o respeito dele seja elevado... no grupinho dos colegas lá... que
esse grupinho é... deveria acabar... nessa parte da amizade... e na
sociedade. Acredito que este... é uma das sensações ótimas... levam
também o jovem a... pá... ((o participante é seminarista católico)).
(Linhas 325-331).
As moças conservam uma preocupação ligada à responsabilidade do seu
papel na produção da satisfação masculina. Mais que a satisfação e o êxito pessoal,
as moças parecem tendentes à busca de reconhecimento de performance, e por
essa razão supõem que os diferentes tipos de relacionamentos sexuais existem pela
aquiescência feminina à realização dos desejos masculinos, como Leandra
nessas falas:
Essa questão da preocupação... a mulher, a maioria das mulheres
hoje, com quem eu converso, elas estão preocupadas em satisfazer o
homem, não em se satisfazerem... por isso que hoje existem várias
formas de se fazer sexo. Porque o homem propõe... à mulher e a
mulher faz. A forma anal, que a gente já falou... ((risos no grupo)) eh::..
essa é a forma que a mulher não sente de jeito nenhum... prazer.
(Linhas 337-340; 342-343).
Em relação ao
sexo oral como modalidade de expressão erótica não prazerosa
à mulher na fala de Vitória, Leandra responde, acentuando a preocupação feminina
na satisfação no parceiro numa tentativa de manter estável o relacionamento:
Não, oral a mulher sente... não tanto quanto o homem, mas sente...
então essa é a preocupação da mulher em satisfazer o homem...
porque a partir daí o homem vai ficar satisfeito e a mulher vai ter a
sensação que o seu parceiro tá/ satisfeito com você. Muitos
relacionamentos hoje são segurados através do sexo. (Linhas 345-
348).
A preocupação feminina em relação à satisfação masculina produz outras
questões importantes. A exigência masculina de não fazer uso da camisinha é
preocupante pelas conseqüências prejudiciais conhecidas e nessa ocasião
referidas por Flávia:
Também prá/ satisfazer o parceiro acontece outra coisa. Muitos
homens acham que usar camisinha é uma coisa que não é de
homem... de macho mesmo. Então... muitas vezes propõe fazer o
sexo sem camisinha... depois quando tiver DST, quando tiver a
gravidez... nessa história de fazer tudo o que o parceiro quer, a coisa
fica ruim. (Linhas 350-354).
4.2. CARACTERIZAÇÃO DO GRUPO FOCAL NÃO-RELIGIOSO 4 – (GFNR-4)
Este grupo semelhantemente ao Grupo Focal Religioso 4 – (GFR-4) discutiu a
temática das vivências sexuais na adolescente. Os adolescentes que participaram
deste grupo reuniram as características indicadas no quadro abaixo:
96
Pseudônimo Sexo
Idade
Religião Série
Escolar
Rede de
Ensino
Frederico
Geraldo
Severino
Antonio
Alberto
Januário
Betinha
Cidinha
Elizabete
Kácia
Lúcia
M
M
M
M
M
M
F
F
F
F
F
18
18
18
17
16
16
17
17
17
17
17
Não-
religioso
3a
Privada
4.2.1. DADOS OBTIDOS
Neste grupo, a concepção de vivências sexuais engloba um número
relativamente amplo de questões afetivas, sociais e biológicas, ligadas à iniciação
sexual, e bem assim questões associadas à satisfação e à frustração decorrente da
experiência sexual vivida [ANEXO M, p. 186]. A compreensão da sexualidade como
iniciação sexual principia o relato neste grupo, como nessa fala de Januário:
“Sexualidade, principalmente na adolescência é uma iniciação da vida sexual... no
caso, uma passagem para garotos e garotas, mudando sua vivência, seu conceito,
se tornando homens e mulheres com a sua iniciação sexual” (Linhas 16-18). Essa
iniciação parece está ligada a exigências de amigos que esperam do adolescente
um comportamento de conformidade àquilo que é preconizado pelo grupo, como
pontua Antonio:
Acho que sexualidade não se limita a iniciação de uma vida
sexual... eu acho que... já no caso de nós jovens, sexualidade se limita
a muitas coisas... descobertas... como... em que comunidade você se
adéqua, se você... está nos padrões que a sociedade lhe impõe...
alguma comunidade, algum grupo... por exemplo, tem gente que não
curte a Garanheta (Carnaval fora de época em Garanhuns) mas vai à
Garanheta porque a maioria se diverte e você quer ser igual a eles,
é legal, é bom ser igual a eles... ser famoso... pegar as meninas por
aí... quero ser igual a eles... então eu vou. (Linhas 37-44).
Para as moças, a iniciação sexual é vista com reservas, por julgarem que os
rapazes buscam realização sexual com fins de engrandecimento pessoal que lhes
permite autonomia para direcionar a afetividade feminina. Apesar de incentivarem as
moças à prática do sexo, não estão amadurecidos para compreender e guardar para
si a intimidade do ato ocorrido. Demonstrações afetuosas como “eu te amo” e
promessas de casamento parecem ser estímulos bastante utilizados pelos rapazes
para conduzirem as namoradas ao sexo, cujas conseqüências devem ser analisadas
com responsabilidade, conforme a referência de Kácia:
97
Assim... feito Lúcia falou que muitas pessoas começam certo momento
prá/ se tornar um grande homem... porque... principalmente acham
que as meninas tem que ir pela cabeça deles... tem que pensar na
gente... porque é bom a gente tá/... ah::.. porque eu te amo, porque
vamos casar... não é bem assim. Faz principalmente a cabeça da
gente... mulheres prá/ ir na ondinha deles... que depois que
acontecer tudo, eles não são... homens suficiente prá ficar prá si
mesmos, vão dizer aos amigos... espalhar... e como vai ficar a nossa
vida fora? Porque diz que isso é intimidade mas não é... é uma
coisa que vai ser aberta prá/ todo mundo, porque... por mais
(ininteligível) que o homem seja ela não vai ter maturidade suficiente
e... tem que se pensar muito bem antes disso.... poderá vir
conseqüências e tem que tá/ preparado prá/ assumir. (Linhas 56-66).
Por outro lado, rapazes que entendem que a precocidade sexual é um
problema a ser refletido pelos adolescentes e que as dificuldades vividas pelo mau
uso do sexo podem ser em parte atribuídas à ausência de orientação dos pais. A
orientação paterna é vista como importante fator para que os filhos possam construir
saudavelmente a sexualidade, evitando comportamentos indutores da prostituição,
como entendem Severino e Frederico:
É... a vida sexual dos jovens hoje em dia tá/ mais avançada... meninas
novas... até rapaz começa a vida sexual mais cedo e... às vezes
comete até erro... engravidar. Acho também que tinha que ter
orientação adequada dos pais... muitos pais também não dá/
orientação certa prá/ seguir adiante. Acho que a sexualidade tá/ muito
avançada prus/ jovens... começam a vida sexual muito cedo... muitos
começam a se prostituir. (Linhas 72-75; 85-86).
A sexualidade também é vista como um incremento da afetividade que se
desenvolve entre as pessoas, propiciando as vivências de relações homo ou
heterossexuais. Essas relações podem fruir do sentimento amoroso ou da própria
ausência deste, e, nesse caso, motivadas por necessidades, os rumos da
prostituição são uma possibilidade, como crêem Alberto e Geraldo:
A sexualidade no meu ponto de vista é um aumento do relacionamento
afetivo com uma pessoa do sexo oposto... ou não ((risos no grupo)).
Acho que a sexualidade é um momento íntimo entre duas pessoas que
se amam ou também não, né/... também tem jovens... assim... que não
tem como viver, que às vezes usa da sexualidade prá/ ganhar a vida,
ganhar dinheiro... essas coisas. (Linhas 23-25; 68-70).
Os adolescentes fazem diferença entre sensualidade e sexualidade.
Percebida como uma derivação da sensualidade, a sexualidade exige maturidade
para refletir sobre as conseqüências que podem advir das vivências sexuais.
também necessidade de boa relação com os pais e que estes possam orientar o
comportamento afetivo e sexual dos filhos, colaborando para a formação do
autoconhecimento como um mecanismo para evitar a tomada de decisões sob a
influência de outros ou minimizar possíveis conseqüências que se sigam às
vivências de sexo, como Lucia mostrou nessas falas:
A sexualidade... ela deriva da sensualidade. Hoje em dia (ininteligível)
o jovem por mais feio que ele se ache ele quer despertar sensualidade
98
em alguém. (como foi dito) quem é muito imaturo, vem a despertar
o desejo em alguém e na hora de realmente acontecer uma coisa mais
séria ele não tem capacidade de entender o vel do que vai atingir a
gente, como vai ser depois (ininteligível). A gente tem que pensar
direito no que tá/ fazendo. Esse negócio de sexualidade e
responsabilidade, a gente tem que pensar bem porque como a gente é
jovem e muita gente até que é mais velha, que chegou aos seus
trinta, vinte cinco anos e ainda tem uma cabeça de jovem... ainda o
tá/ preparada prá/ isso. (Linhas 27-35).
A
inda,
Acho assim... que prá/ você começar uma relação você tem que ter
uma boa idéia definida de quem você é, do que você realmente gosta,
do jeito que você tem que se comportar ou o... do jeito que você
acha certo ou não. Primeiro, não se pode ir pela cabeça dos outros
porque nem sempre você vai se dar bem; às vezes uma pessoa é
mais madura ou não e se você é influenciável ou não... pode se dar
mal porque você pode ter uma idéia errada, criar um trauma ou
alguma coisa assim. Antes de tudo tem de se ter muita maturidade,
com uma boa conversa... que nem sempre a gente tem com os pais
que principalmente a gente deveria ter. Prá/ você fazer isso tem que
pensar muito bem antes. (Linhas 46-54).
Atitudes mutuamente compromissadas e tolerância do desejo são elementos
requeridos para a conscientização e precaução naquilo que se refere aos possíveis
reveses que costumam acompanhar as experiências sexuais dos adolescentes.
Postergar a iniciação sexual para o momento em que o adolescente se perceba apto
para o exercício das vivências sexuais parece ser opção àqueles que pretendem
evitar tanto dificuldades afetivas, psicológicas e de adaptação posteriores, como a
banalização da sexualidade e do sexo estimuladas pela informação veiculada
pela mídia, como mostram Betinha,
Eu acho assim... que na... (vivência da) sexualidade tem que ter um
compromisso... assim... uma responsabilidade das duas pessoas.
Porque não é porque a gente é jovem que vamos ser irresponsável...
não, tem que se cuidar. Quando a gente é muito novo é tudo muito por
impulso, então tem que ter consciência do que tá/ fazendo... não pode
fazer a coisa assim por momento sem pensar na conseqüência; tem
que pensar muito bem, esperar o máximo que puder prá/ fazer a coisa
com consciência, sem o risco de arrependimento depois. (Linhas 77-
83), e
Alberto: “Não que a sexualidade esteja muito avançada, mas sim, que a
sexualidade atualmente está banalizada... porque o ato sexual... o que acompanha...
é um negócio escrachado/ (rebentado)” (Linhas 88-90) e Januário:
para complementar o que Alberto disse... que a sexualidade
vem sendo banalizada por causa da mídia, televisão, música, novela...
tudo fala de sexo como se fosse uma prática até... animalesca... é
homem fazendo sexo com homem, mulher fazendo sexo com mulher...
isso tudo mostrado expostamente na mídia e muitas pessoas que não
tem acesso à (boa) informação pensa que a televisão, mídia, música é
99
um tipo... é um de informação mas que passa um tipo de
informação errada... prá/ jovens, adolescentes... aí muitos de deixam
levar por essa influência da mídia, da televisão como falei, acaba
fazendo e acaba fazendo muito besteira por causa dessa falta de
informação. (Linhas 92-100).
As relações sexuais parecem tipificar primeiramente vivências sexuais para
os adolescentes. A primeira relação sexual adquire um significado especial, tanto
pelo inusitado da situação que em certos casos pode fazer-se acompanhar de culpa,
como também pela possibilidade de estender contatos afetivos entre os sexos. É o
que pensam Antonio,
A experiência... principalmente a primeira vez. Eu acho que a vivência
sexual se inicia quando o jovem tem interesse por outra pessoa...
outra adolescente no caso e a partir desse interesse é que ele começa
a formar opiniões, a se adequar a algum grupo, a criar ou a não criar a
personalidade... e vai daí... da primeira relação. (Linhas 105-108), e
Lúcia:
No meu ponto de vista a sexualidade prá/ os homens não tá/ na
questão de ser boa, de ser ruim... não importa a idade; melhor prá/ os
homens, quanto mais cedo melhor prá/ poder contar um para o outro.
Eu vejo assim, de fora... eu não sou homem não posso dizer de
certeza, mas o que eu vejo é que os homens eles gostam de comentar
e que prá/ eles isso é uma vitória; quanto mais cedo melhor. (Linhas
110-114).
A iniciação sexual na visão das moças, diferentemente daquilo que seria de
se esperar, não envolve necessariamente o amor em relação a pessoa desejada. As
condições que criam o clima parecem determinar o encontro casual que culmina na
realização do sexo. A iniciativa e o direcionamento comportamental para a relação
sexual não parece ser tarefa exclusiva do rapaz - a quem se pressupõe ser “mais
safado”, mas de ambos os sexos, que se envolvem pela naturalidade e intensidade
do desejo que são portadores rapazes e moças, como mostra Elizabete:
A vivência sexual é quando se tem uma relação íntima com uma
pessoa que você gosta que normalmente é o que deveria acontecer,
que nem sempre é assim; acho que é mais um momento de
realização, sei lá... qualquer coisa do tipo; nem sempre é com a
pessoa que vo gosta, nem sempre é com quem você tinha
planejado antes; muitas pessoas hoje fazem por uma questão do
momento... eu acho que o sexo não tem diferença tanto o homem
quanto a mulher, os dois são pessoas iguais. Não é porque o homem
é mais safado não... acho que depende da personalidade dessa
pessoa... do jeito que ela foi criada, o que ela acha certo ou errado;
acho que não tem questão de homem ser mais safado, porque eu
mesma vejo muito homem que é bem mais comportado do que muita
mulher; acho que isso vai de cada um. (Linhas 128-138).
Pensamento semelhante tem Kácia, para quem as vivências sexuais dos
adolescentes ocorrem independentemente da existência ou não do afeto amoroso.
100
Todavia é enfatizado o comportamento masculino de auto-valorização e divulgação
da intimidade entre os pares pela performance sexual obtida, como aqui se vê:
(...) a partir da relação, independente de que seja com amor ou não,
porque muitas pessoas vão por impulso. Só que eu não concordo com
Elizabete porque ela tá/ falando assim; mulher é bem mais reservada
do que homem apesar como ela falou, tem mulher que é mais danada
do que homem, isso sim; mas no caso é muito difícil você ver uma
mulher contando o que fez ou deixou de fazer; se for prá/ uma festa o
máximo que ela vai comentar é com quem ficou prá/ amigas mais
íntimas; não vai chegar prá/ todo mundo e dizer, feito homem; eu tiro
muito pelos meninos da sala que eu vejo o comentário deles; a
vivência deles pelo que eu vejo é por brincadeira. (Linhas 140-148).
A propensão do adolescente masculino para divulgar ocorrências sexuais
vividas parece estar agregada ao prazer obtido em vivências pretéritas, indutoras de
um sentimento de poder que emerge da aceitação social em relação à precocidade
e o crescimento da atividade sexual posterior. Prazer e poder parecem sensações
de ampla satisfação e identidade masculina que devem ser submetidas à aferição do
grupo, e por essa razão talvez aí se situe a impossibilidade de guardar para si o
desempenho alcançado, como sugerem Lúcia,
No meu ponto de vista a sexualidade prá/ os homens não tá/ na
questão de ser boa, de ser ruim... não importa a idade; melhor prá/ os
homens, quanto mais cedo melhor prá/ poder contar um para o outro.
Eu vejo assim, de fora... eu não sou homem não posso dizer de
certeza, mas o que eu vejo é que os homens eles gostam de comentar
e que prá/ eles isso é uma vitória; quanto mais cedo melhor. (Linhas
110-114), e
Outros adolescentes:
Acho que tem muito homem que também não quer prá/ dizer que
pegou, né/... tem homem também que quer pegar as mulher prá/
sentir o desejo né/... realizar os desejo... essas coisas, né/?. Muitos
homens também pegam as mulher prá/ sentir prazer e outros não...
eh::... como se fosse um troféu, prá/ contar prus/ amigos o que fez, o
que deixou de fazer. (GERALDO E FREDERICO, linhas 162-164; 166-
168).
Homem não se limita só... se pega ou não uma mulher; acho que
homem tem que provar que é homem nas atitudes; é o que a gente tá/
vendo aí, totalmente ao contrário do que Kácia disse; acho que o
homem... a verdade tem que ser dita... acho que não tem essa do
homem gostar de mulher fácil ou mulher difícil; homem gosta de
mulher, sendo ela fácil, difícil ou não. Acho que isso parte da carga de
informações que a gente tinha desde quando criança, pelos pais, pelos
amigos mais velhos... acho que é isso aí. (ANTONIO, linhas 149-155).
Homens, na maioria, tem a necessidade de falar das vivências
sexuais. Assim como ela (Kácia) falou, não é uma questão de pegar
mulher, a questão é dizer: eu peguei, eu fiquei; e tu? Ficasse com
quantas? A necessidade de dizer o maior número de mulheres (com
quem) ficou, como fez... (CIDINHA, linhas 156-159).
101
As vivências sexuais entre adolescentes ocorrem inesperadamente,
motivadas por impulso, atração física e desejo de satisfação íntima, os quais não
necessitam de direta dependência do afeto amoroso, presumindo-se em muitos
casos a exclusiva primazia do desejo, como descrevem Cidinha,
Assim... pelo momento. Você conhece uma pessoa e tá/ ficando com
ela. chega um momento ali e você vai ficando, vai apimentando o
momento... assim... um impulso. Acontece ali e você nem percebe...
EITA o que foi que eu fiz? Ninguém sabe nem como começa. Você tá/
ali curtindo o momento e de repente acontece. (Linhas 190-193), e
Lúcia:
Complementando o que ela (Cidinha) disse, acontece por impulso
porque hoje em dia, principalmente hoje em dia, é muito difícil você
um jovem sair com outro sendo amor de verdade. A gente se relaciona
assim, a atração física, no máximo porque gosta, porque tá/ afim...
agora, porque ama mesmo é muito difícil... você vai por aquele
momento mesmo. Às vezes você pode tá/ andando no comércio (local
de maior movimento social da cidade) de mãos dadas com o seu
namorado e não tá/ acontecendo nada, e de repente você pára ali no
ponto de ônibus e fica com ele e vem o desejo... é só vontade mesmo.
É aquele momento. Depois se você vai se arrepender ou não é
muito difícil você na hora pensar. Vem pensar bem depois; é por
impulso mesmo. (Linhas 195-204).
Outros adolescentes advogam a existência de um sentimento afetivo que
humaniza e significado ao relacionamento sexual. Por outro lado não se
desconhece a existência de outros estímulos que incitam o comportamento sexual,
como no caso do uso de drogas e bebidas alcoólicas que, por sua aceitação social,
parecem de maior utilização pelos adolescentes, como se infere dos seguintes
relatos:
Mas assim... por esse ponto de vista (Lúcia) ele basicamente remete o
ser humano à questão de um animal, que ali é de momento, é de
impulso, acabou-se. Não generalizando, mas é verdade que isso
realmente... essa parte de impulso e tal, por prazer mesmo. Mas
assim... ainda aqueles que fazem... ter a relação sexual por causa
de... uma questão realmente de gostar, de querer das duas partes
((uma voz feminina diz baixinho que é muito difícil)). (ALBERTO, linhas
206-211).
Muitas vezes a pessoa tá/ numa festa e rola bebida... droga... essas
coisa/ aí a pessoa não fica consciente, gera aquele impulso pela
bebida, pelo álcool essas coisa/ prá pessoa fazer sexo... A pessoa
tando/ embriagado a pessoa num/ pensa ((risos no grupo)) (...). Vai de
todo jeito... bora/ simbora/ e vai” ((risos no grupo)). (FREDERICO,
linhas 222-224; 226; 228).
O tipo bem como a variação da experiência sexual dos adolescentes é
referido como uma dimensão da sexualidade que está ligada a aprendizagens
prévias. De modo geral, parece não existir, pelo menos durante um período que se
102
estende da iniciação sexual à aquisição das primeiras habilidades, uma preferência
por algum tipo específico de prática sexual, como dizem Antonio: “Eu acho que não
existe formas de sexo não; sexo é sexo e pronto. O que existe é impulso, a vontade
de fazer, a gente vai lá e faz” (Linhas 254-255),
Januário,
Não... porque normalmente, tem muitas pessoas que não tem tanta
prática ou então tantas experiências diferentes com duas ou três
mulheres que nem/ muitos homens desejam, ficar com duas mulheres.
Querendo ou não, a pessoa sente aquele desejo, só que normalmente
prá/ o jovem aqui na cidade ou na região... é... o sexo é praticado de
forma básica, normal, como um sexo comum. (Linhas 234-238),
Frederico,
Assim... na maioria das vezes entre adolescentes que acontece sexo
oral é quando tem uma certa experiência. Não quando é a primeira
vez; a primeira vez é mais assim... entre o homem e uma mulher é
mais vaginal; quando a pessoa vai adquirindo mais experiência, vai
ficando mais maduro assim, a gente começa a fazer o sexo oral... e
até muitas pessoas prefere o oral do que o normal, vaginal. (Linhas
284-288), e
Geraldo: “Além do sexo vaginal e oral tem também o sexo anal ((risos)) que
tem outras pessoa/ que também gosta de praticar” (Linhas 290-291).
O convencionalismo sexual na atualidade parece tendente à perda de espaço
entre os adolescentes femininos. A inovação de atitudes sexuais aparece como fator
importante à auto-afirmação dos adolescentes nessa fala de Lúcia:
Não por experiência nem por tá/ buscando entender, mas pelo que...
como a sociedade é hoje em dia, quanto mais explícito for as coisas,
quanto mais você aparecer melhor... eu acho que hoje em dia TODO
mundo bota na cabeça que tem que fazer alguma coisa inovadora.
Acho que não vai ser aquele negócio que seu pai e sua mãe fazia não.
(Linhas 242-246).
Exemplificando o seu pensamento, a adolescente [Lúcia] diz:
Se você tiver numa festa, por exemplo, eu tô/ na casa dela... ela
quer ficar com um menino, tem um canto reservado lá, mas ela não
vai querer aquele canto tão reservado, vai querem um canto que todo
mundo... que todo mundo nunca... que nunca fez... que nunca foi lá.
Eu acho, que cada dia mais tá/ buscando coisa inovadora; não sempre
a mesma coisa como era. (Linhas 248-252).
A masturbação é referida pelos adolescentes como comportamento de
iniciação logo no início da puberdade. Os motivos dessa mudança comportamental
fazem referência aos padrões do grupo, a curiosidade e a descoberta das zonas
corpóreas de sensibilidade, como mencionam Frederico,
103
Muitos jovens começam a primeira experiência pela masturbação;
muitos não começam pelo sexo... a maioria começa pela masturbação,
principalmente quando são novo/ que é...assim moleque, menino
amarelo ((risos das moças no grupo)) que... é até impulsionado pelos
colega/ que não sabe até que isso existe. (Linhas 260-263), e
Januário:
No caso, como Frederico disse, masturbação... ele começa com...
acho que nas primeiras experiências com dez, onze, doze até treze
anos, os meninos não sabem basicamente o que é isso; estão
descobrindo essa área sexual aí começa com essas experiências,
comentários de amigos, garotos mais velhos falando sobre isso. Acho
que começa também por... curiosidade, por besteira, até por
conhecimento do próprio corpo, principalmente nos homens. Acho
que... masturbação significa isso: conhecimento do seu próprio corpo
ou então do seu próprio ser, quando você tá/ partindo prá/ uma fase de
criança prá/ pré-adolescente ou então prá/ adolescente mesmo. Acho
que se limita a isso. (Linhas 265-273).
As satisfações ou as frustrações decorrentes da atividade sexual entre os
adolescentes são percebidas diferentemente entre os rapazes e moças. Os rapazes
tendem a associar prioritariamente as satisfações ao prazer alcançado nas relações
sexuais vividas, sem quaisquer questionamentos ao bem-estar do par sexual. As
possíveis frustrações são referidas em relação às doenças sexualmente
transmissíveis e à gravidez da parceira, parecendo imunes ao desenvolvimento de
culpa, como se vê nesses relatos de:
Januário,
Satisfações é no ato, na hora, quando a pessoa sente o prazer...
aquele negócio todo... aquela satisfação na pessoa, mas
depois... muitas vez/ a pessoa pega doença, gera frustração;
doença, eh::... engravida... e várias outras coisa que fica assim... mei/
sujo assim o nome da pessoa. Bem... frustrações eu creio que... da
parte do homem pode... acontecer do arrependimento, não é nem da
parte dele mas da parte da garota, porque muitas vezes as garotas
iniciam essa vida sexual eh::... de uma forma errada ou por não
querer... outras vezes até por pressão do namorado: Não que se não
acontecer isso a gente termina ou... etc. Mas só que ocorre, mas essa
frustração não é nem da parte dele, porque parece que homem é
movido por testosterona... ele é movido por impulso, ele quer sexo ali
e pronto, ele num/ a parte sentimental ou emocional da namorada;
não sabe se a namorada tá/ pronta ou não. (...) Agora, já satisfação eu
acho que é quase cem por cento das vezes que pratica sexo. Agora só
que da parte da mulher, não; da parte da mulher ela leva prá/ parte
dos sentimentos, das emoções, pelo momento, pelo carinho. Pela
convivência mais com o namorado. (Linhas 302-318), e
Alberto:
Assim... a parte de frustração, de arrependimento do homem,
basicamente pode ser de acontecer alguma coisa: se pegar uma
doença, engravidar... alguma coisa assim. Essa parte de frustração...
104
vai mais a questão da mulher, porque depois se arrepende... eh::...
porque não devia ter feito isso, porque num/ era hora, porque isso,
porque aquilo. Mas pru/ homem não, por aquilo ali... aconteceu,
aconteceu... cabou-se/; passar prá/ próxima... e assim, a parte de
prazer é isso: Aconteceu lá o ato e... cabou-se/. (Linhas 320-326).
A suposição de que as moças estão mais propensas à frustração e ao
sentimento de culpa pela ocorrência de relações sexuais é justificada pelas
adolescentes. O medo de perder o namorado, a criação de um clima favorável, o
inesperado do momento e a realização do sexo sem desejo são motivos que
induzem frustrações nas moças. Todavia a frustração tende a ser maior nos casos
em que a moça planejou a ocorrência íntima e esta não gerou os resultados por ela
esperados, como se vê no relato de Lúcia:
É o seguinte... como Januário falou: Quando você tem um namorado
que você é impulsionada a fazer aquilo (sexo) você vai fazer prá/ não
perder ele, eu acho que isso foi como uma obrigação... não foi porque
você quis, então a frustração vem disso. Agora, eu acho que quando
acontece ali, você tá/ tão envolvida no momento... você pode até se
arrepender... dizer assim: EITA/ eu não devia ter feito agora, mas se
arrepender de algum trauma que isso vai ficar... alguma coisa... assim,
uma coisa psicológica, mas você num/ vai ficar, você vai TER uma
culpa... vai dizer, não, num/ devia ter feito agora, devia ter esperado;
mas quando realmente acontece... se você marcar... vamo/ hoje, tal
hora, tal canto e tal, acho que você vai com o seu psicológico muito
carregado, você vai com aquela obrigação, você vai carregar
pelo resto da sua vida, que é a sua primeira vez foi frustrada. (Linhas
331-341).
As satisfações masculinas e as frustrações femininas estão ligadas a uma
cultura de reforçamento social, que historicamente vem incentivando o rapaz a
aventurar-se na produção de experiências que lhe inculquem o sentimento de
liberdade, autonomia e poder. Por outro lado, tais privilégios não somente são
negados às moças, como se estigmatiza àquelas que se permitirem usufruir os
prazeres do sexo, além das conseqüências por elas conhecidas, como enfatizam
Alberto,
Mas assim... a própria sociedade atual é que impulsiona a isso
porque... assim... se o homem pega dez mulheres aquele é o cara,
aquele é o garanhão, não sei o que. Mas prá mulher, ela ficou com
dois, aquela mulher é puta... aquela mulher... é fácil. A própria
sociedade é que faz com que isso aconteça. Essa questão do
arrependimento, da frustração vem mais também da própria sociedade
que condena e no mesmo tempo apóia o que acontece. (Linhas 345-
350),
Elizabete,
Acho assim, como Alberto disse, acho que não é questão da
sociedade atual. É porque anos e anos a gente foi criada numa
sociedade machista. Todo mundo acha que o cara, ele deve começar
a se envolver com alguma menina desde cedo, desce seus treze anos,
por aí. Quando alguém fala assim... por exemplo, numa relação de pai
105
e filho, o pai nem se importa se o filho tá/ namorando ou não. Agora,
quando é a menina, tem de ser mais preservada. Se o pai tem um
filho e uma filha, por exemplo, o filho pode namorar com quantas
quiser, mas a filha tem que ser mais acatada (reservada). O homem
pode fazer o que der na telha dele, mas a menina tem sempre que
pensar MAIS prá/ fazer alguma coisa porque senão ela vai cair na
boca do povo... e o homem não vai cair não?... (Linhas 351-362), e
Kácia:
Eu acho assim, feito Elizabete falou: A mulher no que fizer ela vai sair
manchada e o homem também. que... são poucas as mulheres
que... o homem faz o que faz; se tiver afim dele, ela não vai pensar se
ele é galinha, ou o que ele for. E também a questão da mulher se
preservar mais do que o homem, que acho assim que o homem não
vai ter conseqüências do que fizer, porque ele assumir é uma coisa,
mas tá/ com uma mulher é outra. É muito fácil, ele assume o filho,
uma pensão, mas a conseqüência é da mulher. (Linhas 365-371).
106
5. ORIENTAÇÃO DO DESEJO SEXUAL ENTRE ADOLESCENTES
Este tema foi discutido pelos Grupos Focais Religioso 5 (GFR-5) e Não-
religioso 5 (GFNR-5). As características dos adolescentes que participaram deste
grupo estão indicadas no quadro a seguir:
5.1. CARACTERIZAÇÃO DO GRUPO FOCAL RELIGIOSO 5 – (GFR-5)
Pseudônimo Sexo
Idade
Religião Série
Escolar
Rede de
Ensino
Fabiano
José Roberto
Luzinete
Vânia
Clea
Nair
M
M
F
F
F
F
17
17
18
18
17
16
Católica
3a
Privada
Wellington
Fábio
Silvana
Carla
Magnólia
M
M
F
F
F
17
16
18
17
17
Evangélica
5.1.1. DADOS OBTIDOS
Neste grupo, a discussão da orientação do desejo sexual entre adolescentes
foi guiada por proposições que se voltaram (1) a uma tentativa de definição de
orientação do desejo sexual, (2) a possibilidade de extrair do pensamento do
adolescente uma visão de orientação sexual tida como correta, (3) a percepção
sobre o relacionamento homoerótico e (4) o relacionamento bissexual entre
adolescentes [ANEXO N, p. 193].
Instintivamente, a discussão centrou-se em questões da orientação sexual
sem a necessária compreensão para situar a temática e a partir desta fomentar
questões alusivas. De modo geral, a orientação do desejo sexual foi tomada no
sentido de atração por uma dada pessoa, que se explica pela ação da “química”
como na fala de Fábio:
Acho que esse desejo vai além de se conhecer... ser amigo ou então
gostar da pessoa. Desejo sexual é uma coisa relacionada à química,
um olhar... eh::... você pode nem conhecer a pessoa e se sentir
atraído sexualmente por ela, sem ser necessariamente amigo, sem
necessariamente conhecer. (Linhas 15-18).
Aos adolescentes deste grupo não há como definir orientação do desejo
sexual, uma vez que esta se manifesta através da “parte química e física” sem
ligação com a afetividade, como entende Nair:
Não... isso entra muito na parte química e física... isso não tem uma
questão sentimental desse tipo. Se você, mesmo que goste muito de
uma pessoa, que tenha uma relação MUITO afetiva, não é
107
necessariamente dizer que você tem realmente desejo por essa
pessoa; isso é uma coisa química. Tem que ter uma... combinação...
alguma coisa que... atração que faça com que você sinta esse desejo.
(Linhas 57-61).
A i
déia da orientação do desejo sexual como um ato de escolha e, portanto,
uma opção que se faz sem que esta guarde uma relação pertinente com o nível
bioquímico está presente na concepção dos adolescentes. Esta idéia parece resultar
do não desenvolvimento de orientação sexual divergente do sexo biológico, quando
o sujeito, em etapas anteriores do desenvolvimento, esteve exposto a situações de
risco. As falhas ou certas tipicidades da educação familiar parecem não responder
também pela definição da orientação sexual. A estrutura social e a rede de
amizades, quando aliadas a uma predisposição, são apontadas como condições
poderosas de influência na escolha da opção sexual, como mostram os argumentos
de:
Carla,
Bom... acho que a orientação sexual não depende muito de genes ou
essas coisas. Simplesmente depende das escolhas que a pessoa faz.
Teve épocas que a maioria dos meus beijos era com meninas... a
maioria das minhas colegas são sapatos ((risos no grupo)). Houve
alguns parentes da minha família... algumas meninas que quiseram
encostar em mim quando eu era menor. Quando eu tinha sete anos
elas tinham dezessete, dezoito e queriam mexer comigo... mas isso
não influenciou em nada não; acho que isso vai mais da pessoa
mesmo... acho que é você que escolhe o que você quer na sua vida.
(Linhas 67-74),
Fábio,
Essa história de criação... acho que não tem nada a ver não. Qual a
mãe que ver seu filho ser um homossexual ou sua filha uma lésbica?
Esse tipo de criação interfere na opção sexual da criança ou do
adolescente se ele quiser; se ele já tem uma mente fértil, alguma coisa
preparada e essa mente fértil dele possa desenvolver uma série de
acontecimentos que leve a crer que ele deseja pessoa do mesmo
sexo, isso é que pode... assim... a mãe certamente não quer que seu
filho seja gay... questão de criação não tem nada a ver na minha
opinião. Você é gay se você quiser... quem é que vai mandar você
ser gay? Quem vai querer que você seja gay? Quem vai querer que
você seja lésbica? (Linhas 87-95),
Magnólia,
Não é uma questão de mandar. A mãe vai mandar: Meu filho você vai
ser gay... não, é da criação; ele tá/ lá... beleza, olhando prá/ mãe,
vendo aquelas coisa/ tudo afeminada... se ele pegar alguma coisa prá/
fazer ela deve cortar do começo... por exemplo, ele vai pegar uma
sombra prá/ passar, ela não meu filho, pode o, isso é de mulher...
tem que cortar do começo; acho que isso vai mais da criação. (Linhas
96-100), e
108
Fabiano:
Nós hoje vivemos na sociedade... na qual... se fala muito que um
meio... o homem nasce bom e o meio é que determina... que o meio é
que o corrompe; eu acho que é justamente isso... que as pessoas são
influenciadas por outras e... é por isso que elas têm a opção sexual
delas... é tudo uma questão de escolha; cada um escolhe o que ele
quer; o que ela quer. (Linhas 123-127).
As disposições genéticas e psicológicas são indicadas como contribuintes da
orientação sexual e, de modo particular, quando ocorrem desvios do comportamento
esperado para o sexo biológico. As primeiras, determinadas por ocasião do
nascimento, levariam o sujeito inexoravelmente a adotar um padrão de orientação
sexual alheio à sua vontade, como vêem Wellington e Cléa:
Eh::... pelo que fiquei sabendo também, essa questão de orientação...
sexual tem a ver também com a questão genética. Alguns estudos
indicam que alguns genes interfiram na sexualidade... no caso a
orientação. Eu acho assim... que isso vem com a pessoa quando
nasce... sentimentos que vai/ surgindo... não é de uma hora prá/ outra,
não é ninguém que vai incentivar isso...mas sim... a pessoa tem
isso, já nasce com isso, com esse desejo... sexual por outra, ou se
não, por dois sexo/ (...). (Linhas 23-25; 76-79).
As disposições psicológicas aludidas são vistas como possuidoras de
primazia sobre as disposições bioquímicas sob o argumento da criação natural,
onde o padrão de comportamento sexual fora também definido no nascimento.
Aceitando-se a possibilidade de manifestações de orientação sexual divergente da
biologia, esta teria origem nos processos psicológicos que influenciam a construção
da identidade sexual, como quer Silvana:
Eu discordo que a orientação sexual dependa da genética... porque só
foram feitos dois sexos e, com certeza, depende da genética, feminino
e masculino. À parte... a questão de ter outra orientação sexual é
psicológico, eu acho... é de personalidade, questão sua. Acho que a
genética não tem nada a ver com isso. Eu acho assim como Nair
disse... de conviver com uma pessoa de mesmo sexo, não, porque o
fato de você conviver... num/ canto com várias mulheres... no meu
caso, eu morei com seis mulheres e nem por isso... ((risos do grupo
e da pessoa que está falando)). Eu acho assim, que a sua orientação
sexual não depende da sua convivência com homens ou com
mulheres... porque você pode fazer (sexo) com homens ou com
mulheres. Se você pode optar por homens, no meu caso, por que eu
vou optar por mulheres? Eu acho que é uma questão psicológica, não
é uma questão de conviver com “a” ou “b”. Eu acho isso. (Linhas 29-
32; 46-53).
A discussão sobre a existência de um padrão de orientação do desejo sexual
mostra que os adolescentes acreditam que o comportamento sexual correto é
aquele que está em sintonia com o sexo biológico. Esta percepção induz a adoção
de atitudes de respeito e também de rejeição para com as pessoas que apresentam
comportamentos sexuais divergentes do padrão esperado. Silvana traz a sua
percepção nestes termos:
109
Não... eu... sou preconceituosa sim, porque Deus fez o homem e a
você ser mulher. É sim... ser gay ou ser lésbica não é certo... você tá/
sendo diferente de tudo, você é incomum. Hoje tá/ se tornando comum
por conta que tá/ aumentando a quantidade, agora que não é normal;
tá/ sendo aceito porque o pessoal diz, não vou ser preconceituoso,
cada um faça o que quiser da sua vida, mas que é errado, é. Você
nasceu prá/ ser homem ou ser mulher e não gay ou sapatão. (Linhas
138-144).
também uma idéia bastante aceita entre os adolescentes deste grupo de
que a orientação do desejo sexual está em dependência direta do sexo biológico e,
dessa forma, a exposição a vivências sociais com pessoas de distintas orientações
sexuais m pouca influência para modificar àquilo que no princípio foi
determinado, como pensam Cléa,
Eu acho assim... se a pessoa tem a sua característica,,, já tá/ formada
a sua personalidade... uma amiga... um contato assim não vai interferir
em nada... tipo um relacionamento com uma homossexual; se eu tô/
relacionada com aquela menina, se eu tô/ andando com ela, mas eu
tenho a minha opção, acho que não vai me atingir. (Linhas 245-248), e
Carla:
Acho que o fato de você andar com gays, lésbica não vai mudar a sua
escolha; simplesmente eu tenho o que... eu tenho mais ou menos
umas seis amigas que são lésbicas, uns três amigos que são gays,
ando com eles, são gente fina, gosto deles, até meu pai fica olhando,
sabe que elas são lésbicas, meu pai chega a achar que eu, que eu
não sou, que ele sabe que eu namoro ((risos no grupo)); mas
simplesmente se ele (o pai) achar ou os outros tão/ achando que eu
sou, o problema é deles, eu tenho a minha escolha, eu sei o que eu
quero... simplesmente tô/ com uma pessoa e pronto. (Linhas 273-280).
A rejeição ao comportamento sexual divergente aparece de forma
numericamente significativa neste grupo. Ainda que se reconheça não ser possível
conviver sem a presença de pessoas com desvios de orientação sexual inclusive no
ciclo de amizades, parece também não ser possível evitar a manifestação de
atitudes preconceituosas contra o comportamento extravagante que se visualiza em
muitas pessoas, que ostentam atitudes indicadoras de desvios da orientação sexual.
A índole de revolta que se acredita manifesta na atitude daqueles que enfrentam a
sociedade, a falta de compreensão mais profunda da problemática da orientação
sexual e a distorção sexual auto-induzida são fatores influentes para a rejeição dos
desvios de orientação do desejo sexual, como mostram Fábio,
É uma questão de... acho que quando a pessoa escolhe... escolhe
não, aceita a sua condição sexual, ele vai destemido a enfrentar a
sociedade, pai, preconceitos; eu particularmente não sou
preconceituoso, tanto que eu tenho um amigo gay... mesmo assim eu
não gosto de extravagância, aquela parte de eu sou gay, quero
mostrar prá/ todo mundo... ser tipo... o modo de andar, ser uma mulher
propriamente assim... tanto na cabeça quanto na parte física... eu não
admito isso, apesar de aceitar e muito menos acho certo. Você quer
110
ser gay seja, mas mantenha a sua postura como Deus lhe fez, como
homem. (Linhas 156-163),
Nair,
Assim... essa questão de ser gay, ser aceito na sociedade,
preconceito, é uma coisa muito relativa porque, o fato da pessoa
escolher isso, mesmo diante das regras divinas escritas nas Escrituras
((pronúncia em tom de pouca credibilidade)) isso é errado. Mas
ninguém tá/ aí prá/ dizer se isso é certo ou errado... Deus deu o direito,
o livre arbítrio... então eu acho que... se chegou ao ponto da
sociedade se dividir entre pessoas que acham que conseguem
assimilar o que está escrito e pessoas que não querem aceitar isso,
querem viver de outra maneira... acho que isso... poderia ser mais
aceito, melhor aceito pela sociedade porque acho que isso também é
uma forma de revolta, já que a sociedade recrimina TANto essas
pessoas que tem essa índole de se tornar homossexual, acabam
ficando mais revoltados ainda, tentando brigar mesmo com a
sociedade... porque se não tivesse uma pressão tão grande talvez
existisse um número menor de homossexuais no mundo. (Linhas 169-
180).
Cléa,
Eu acho assim... tipo aqui na região de Pernambuco, uma cidade
pequena como Garanhuns, a sociedade não tá/ preparada... como
também na minha família e tal. Mas acho mais fora, em capitais... Rio
de Janeiro, eles tá/ mais preparado mais prá/ isso; então aqui é uma
coisa muito estranha você andar, conviver com gay... vão falar. Mas
isso já noutros países... Rio de Janeiro, São Paulo já é normal. (Linhas
286-291), e
Silvana:
É essa a questão... o fato que tá/ se formando não quer dizer que teja/
certo. É isso que eu defendo... não mudo minha opinião que é errado
ser gay ou ser lésbica. Porque é sim. Ninguém foi feito prá/ ser lésbica
ou viado... foi feito prá/ ser homem ou mulher... foi feito assim. Agora,
um pessoal além de distorcer ((discussões interrompidas pelo
pesquisador)) além de mudar sua cabeça, além de ter contato com
outra pessoa (do mesmo sexo) ainda quer mudar a vontade de Deus...
é complicado... mudar a sociedade é complicado; se ele tiver cacife
prá/ bater de frente com Deus, ele arroche. (Linhas 294-296; 298-303).
A percepção dos adolescentes, relativa ao relacionamento homoerótico é
tipicamente de rejeição, salvo algumas atitudes amenizadoras. A tendência de julgar
as pessoas pela aparência e a rejeição social conseqüente desta atitude é referida
como uma das condições que estimulam o preconceito para com as pessoas de
orientação homossexual, como sugere Luzinete:
Tá/ certo, cada um tem a sua opção sexual... beleza, mas é o
seguinte: Se você decide, eu quero ficar com um menino, mas eu
ando com uma sapatão... eu tenho uma colega, só que aí a pessoa vai
dizer... não, anda com ela, ela também é; porque a sociedade é muito
111
preconceituosa; então, beleza eu gosta de menino, mas como ando
com sapatão vão dizer que eu também sou ((seguiu-se um debate
sobre o preconceito social referido aqui)). (Linhas 262-267).
A tentativa do indivíduo homossexual de chamar a atenção para si com o fim
de externar e assumir sua condição de orientação sexual é um fator que induz a
rejeição social, e esta, por um processo de aprendizagem, é transferida à
coletividade. A busca de atenção e requisição de igualdade de direitos é vista como
necessidade fundamental dos homossexuais em busca de reconhecimento e
aceitação social. Todavia, o conhecimento desta necessidade não ameniza o conflito
psicossocial vivido, uma vez que a atitude pessoal de rejeição da pessoa
homossexual está assentada na proscrição coletiva das minorias, como cita Nair
nesta fala:
Isso é praticamente... a pessoa que escolhe ser gay, a partir do
momento que ela começa a se revelar prá/ sociedade, vai ter sempre
uma fase da sua revelação que ela vai querer sempre chamar a
atenção... vai querer toda a atenção voltada prá/ ela. Qualquer pessoa
na vida tentou chamar de alguma maneira, a atenção... qualquer
pessoa faz isso. Só pelo fato deles admitirem que são gays, que
sofrem o preconceito da sociedade, eles vão querer chamar a atenção
mesmo... porque se já sofrem o preconceito, se ninguém aceita, eu
(eles) vou ficar quieto porquê? Vai tentar interagir no meio da
sociedade de qualquer maneira... ele quer que a sociedade aceite ele
como é... lhe direcione direitos iguais a todo mundo. (Linhas 321-327).
A tentativa de homossexuais em obter reconhecimento e igualdade de direitos
enfrenta obstáculos de concepção entre adolescentes que separam o mundo em
duas partes: o mundo dos heterossexuais e o mundo dos homossexuais. A opção
para desfrutar da normalidade da vida parece está dedicada aos heterossexuais,
como se refere José:
Acho assim... que todo homossexual tem saber que ele não pode ter o
mesmo direito que pessoas heterossexuais... isso daí, eu não
concordo com isso; eles têm que ver que quando eles assumem esse
papel, eles têm que saber que vão passar por uma certa
discriminação e que... eh::... se eles tão/ prá/ isso mesmo, eles têm
que ver que vão enfrentar muita dificuldade e que o mundo fora não
vai aceitar isso prá/ eles. O certo prá/ eles era... o certo prá/ eles e prá/
mim era que cada um mantesse/ o seu sexo (comportamento
esperado do sexo biológico). (Linhas 192-192).
O casamento e a procriação são vistos por alguns adolescentes como algo
muito valoroso e por essa natureza não deveriam estar disponíveis aos
homossexuais. Ao que parece, os valores atribuídos ao casamento e à procriação
têm considerável peso afetivo na formação do casal e, por extensão, na educação
dos filhos que se exporiam ao preconceito homofóbico que herdariam dos seus pais,
como dizem José, respondendo sobre quais direitos não deveriam ser acessados
pelos homossexuais:
Direito de casar, direito de... ter filhos... eu acho que ter filhos... eu
acho que eles tendo filhos eles iam dar uma influência aos seus
112
filhos... isso ia/ até ser ruim prá/ criação do filho, pois o preconceito
que ele ia sofrer, por exemplo, os colegas... é isso. (Linhas 226-228), e
Silvana, que estende o pensamento acima aos âmbitos da vida social:
Eles que optaram por isso, sofrem os preconceitos devidos... agora, a
criança vai sofrer preconceito na escola, vai sofrer preconceito aonde
ele chegar, sem ele ter feito nada... eu mesmo não queria ser
adotado... se não for prá/ ser criado por um pai e uma mãe... por dois
homens ou duas mulheres eu não queria não. Era melhor viver numa
FUNDAC. (Linhas 229-233).
A rejeição do homossexual parece conduzir à formação de uma micro-
sociedade, um espaço homoerótico, que se organiza a partir da consciência do
estigma socialmente perpetrado. Assim, o espaço homoerótico que se organiza
torna-se o lócus de apoio e de luta pelo reconhecimento e igualdade humana, como
se reporta Nair:
A questão de conviver com... Fabiano falou em ver pessoas de mesmo sexo
se beijando, demonstrando alguma coisa de afeto em público. Eu acho que
no meio deles, eles vão/ ter uma compreensão melhor; a partir do momento
que eles começam a ter demonstrações afetivas em público, na sociedade
que a gente vive hoje, que não tem muito respeito pela opção sexual dos
outros. (Linhas 315-319).
A rejeição da homossexualidade parece mais encorpada quando envolve
pessoas afetivamente próximas, como parentes e amigos. Todavia, adolescentes
que buscam maior compreensão do problema homossexual em nossa sociedade,
dispondo-se a rever atitudes preconceituosas no sentido de não dificultar a
convivência social desta minoria. Vejam-se os relatos de Fabiano
Eu sou preconceituoso em certa parte porque... prá/ mim, pessoas que
não são próximas eu não tenho a menor discriminação; agora se for
amigos, essas coisas, eu não tenho amigos assim... eu não gosto
dessa influência ((risos no grupo)) eu não gosto de ter amigos ou
coisas próximas se for destinada a outros interesses. Agora, se for
externamente relacionado ao meu convívio social eu não tenho o
menor interesse (problema)... ele pode fazer o que bem quiser da vida
dele. (Linhas 207-212), e
Cléa:
EU, eu não acho; não tô/ falando assim por mim e sim na sociedade;
eu acho super-estranho, ainda não tô/ acostumada a ver isso, a
conviver com isso. EU acho que tenho essa parte de preconceito e
tento vencer cada vez mais essa barreira; eu sei que o mundo tá/ cada
vez mais evoluindo e a gente tem que conviver com isso, respeitar.
(Linhas 307-311).
Valores religiosos são invocados para sustentar a rejeição à
homossexualidade tomada no sentido de opção, de preferência consciente pelo
homoerotismo, cujo controle e implicações estão sob o poder do indivíduo, como
acentua a fala de Carla:
113
E tem no final da bíblia dizendo que os efeminados não entrarão no
reino dos céus. E simplesmente eu acho que ser gay é uma escolha
sua e as nossas escolhas vão/ decidir prá/ onde a gente vai... e larga é
a porta que leva à perdição. Você escolhe o caminho. E simplesmente
não tem essa de foi um gene ou foi algo como eu senti algo na hora.
Simplesmente Deus não deixa problemas prá/ gente que a gente não
possa suportar ((fala aplaudida no grupo)). (Linhas 445-450).
O comportamento de orientação bissexual recebe maior rejeição que o
comportamento homossexual entre os adolescentes. Pensa-se que a orientação
bissexual resulta de imaturidade em relação ao desejo sexual, aceitando-se a
hipótese de apenas duas formas de orientação: heterossexual e homossexual. A
possibilidade de manifestação da bissexualidade parece indicar o somente que à
pessoa ainda o foi possível decidir com maior propriedade a respeito de sua
inclinação, como se vê nos argumentos de Cléa,
Acho que quando ele é bissexual não tá/ formado ainda o que ele
quer; realmente tem adulto que é bissexual e tal, mas que ele não tem
uma opinião própria, uma opinião certa porque... ou você é gay ou
você é heterossexual; mas se você ficar pros/ dois lados eu acho que
tá/ no muro, ele não tem uma opinião certa, não é concreta a opinião
dele. Então eu discrimino as pessoas que são bissexuais. (Linhas 342-
346) e
Fábio:
Éh::.. na maioria das vezes é indecisão, mas tem pessoas que optam
por isso... gostam até; é tipo... uma divisão de experiências... assim
fazer parte das duas coisas ao mesmo tempo ((risos no grupo)); vê-se
muito isso hoje... tem mais bissexuais do que gays. Como Nair disse...
não tem meio certo... ou é certo ou errado. Assim... não que amenize,
mas botando numa balança é a mesma coisa... mas eu queria chamar
a atenção da indecisão; pode ser que ele esteja indeciso ou decidiu
por isso... ele quer isso... aí é só seguir em frente. (Linhas 347-353).
também uma tendência entre os adolescentes para considerar a
orientação bissexual como primariamente homossexual, como mostra José:
Eu acho isso errado por que... essa pessoa quando ela decide os dois
sexos... ela tem que ser ou um ou outro; e na minha opinião se uma
pessoa, no caso um homem, ele pode ficar com cem mulheres mas
uma vez que ele saiu com outro homem, a tendência dele é ser
homossexual, né? Eu já conversei com gay ((risos no grupo)) sem
levar pro/ mau sentido... e ele falou: Ah se aquele homem me
quisesse... então eu perguntei prá/ ele: tu acha que se ele te quisesse
ele era homem? Ele, CLARO... a argumentação dele era essa... que o
homem pode ter as duas escolhas, mas quando ele (o homem) vai ter
uma relação com um gay ele pode ser um passivo ou um ativo. Só que
eu discordo disso... eu acho que, na medida que ele vai ter uma
relação com pessoa do mesmo sexo, acho que ele é homossexual.
(Linhas 355-364).
114
A idéia da primariedade homossexual dos bissexuais decorre da percepção
de que os segundos, quando do sexo masculino, têm maior preferência para o
relacionamento sexual com os rapazes que julgam másculos. Os homossexuais
masculinos rejeitam-se entre si para a realização de atos sexuais, como dizem Fábio
Um experiência própria aqui ((risos no grupo)). Esse cara que eu falei
que é gay, que é meu amigo, ele tem relações tanto com homens
como mulheres, que a preferência dele é por homem (...) Ele disse
assim: Fábio eu ainda não dei em cima de você porque eu sei a sua
opção sexual, eu lhe respeito... você chegou a suspeitar que eu era
gay... eu falei, não; pois eu sou (o gay). Sério, eu falei... ele sou (o
gay) ((comentários e gracejos do grupo)). Ele disse eu sou
homossexual, respeito quem não é, agora quem eu vejo que tem a
mesma opção sexual que a minha eu vou... senão eu respeito... tanto
que eu tenho relações com mulheres, tive relações a três ((ares de
espanto e comentários depreciativos por alguns no grupo)). (Linhas
367-378), e
José:
(...) eu acho que eles (bissexuais) não tem um argumento bom prá/... a
respeito desse assunto. Porque... se o cara perguntar prá/ eles: se
aquele cara te quisesse ele é homem, eles diz/ sim; aí o cara
pergunta: Você teria relação com um viado eles diz/, não porque eu
não gosto de viado. Gay não gosta de viado ((risos fartos no grupo)).
Se o viado outro viado ali, diz logo: aquela bicha num/ sei o quê,
num/ sei o quê. (...) Mas se eles forem ver desse lado que eu vejo, se
o homem que eles forem ter relação, eles tem que ver que esse
homem não é bem um homem, ((risos e mais risos no grupo)).
(Linhas 379-387).
A rejeição que parece existir contra os bissexuais masculinos com maior
tendência à homossexualidade pode ser explicada por outro viés. O contato entre
homossexuais tende a ser rejeitado quando um do par sexual apresenta
comportamento efeminado. O tipo enrustido, por seu comportamento de discrição,
fechamento afetivo e ares de seriedade parece preterir o tipo efeminado, como
mostra Nair nessa fala:
A sociedade discrimina essa questão (bissexualidade)... e eu converso
com pessoas que são homossexuais e há uma certa desculpa para ter
relações com pessoa do sexo oposto... é uma questão da sociedade
não aceitar. Então, que um medo de enfrentar a sociedade,
então eu vou maquiar prá/ sociedade e viver no meio, dessa maneira,
tendo relações com pessoas que fazem a minha opção sexual. E o
fato que ele estava falando, gay não gosta de gay, não é bem assim...
gay não gosta de gay afeminado/... esprivitado/, que se veste de
mulher e aquela coisa assim prá/ chamar muita atenção. Geralmente o
gay ele gosta de homossexuais que é enrustido; a sociedade deles
sabe que ele é gay, mas por saber que ele é gay não é obrigado ele
tá/ se mostrando... ele é um gay, homem demais, bem discreto, calmo,
bem na dele... é como se fosse um homem e uma mulher, bem (mau)
comparando, claro; mas é uma forma que eles, no meio deles,
acharam para trocar essas... informações ((risos no grupo)). (Linhas
390-404).
115
5.2. CARACTERIZAÇÃO DO GRUPO FOCAL NÃO-RELIGIOSO 5 – (GFNR-5)
A orientação do desejo sexual foi discutida por este grupo, tal como proposto
para o Grupo Focal Religioso 5 – (GFR-5). As características dos adolescentes
deste grupo estão indicadas a seguir:
Pseudônimo Sexo
Idade
Religião Série
Escolar
Rede de
Ensino
Pablo
Gildete
Amaralina
Mariano
Sebastian
Soraya
Damiana
Maximila
Terezinha
M
F
F
M
M
F
F
F
F
18
18
17
16
16
17
16
16
16
Não-
religioso
3a
Privada
2a
5.2.1. DADOS OBTIDOS
Este grupo, ao discutir a temática da orientação do desejo sexual entre
adolescentes, mostrou dificuldades para oferecer conceituações mais precisas e em
certos casos incompreensão do tema. A orientação do desejo sexual foi entendida
como atividade educativa de responsabilidade social e familiar, com vistas à
prevenção da homossexualidade, da gravidez e das doenças sexualmente
transmissíveis [ANEXO O, p. 202].
Pablo entende por orientação do desejo sexual,
(...) campanhas para enfocar mais assim, questão de desejo
principalmente da passagem da puberdade prá/ mostrar que é nessa
fase que tá/ começando a despertar o desejo; enfocar, principalmente
na mídia, nem tanto no colégio, na mídia que hoje são/ onde os
adolescentes e na puberdade verem... mais imagens que venham
fazer uma atração assim... sentir uma atração por aquilo e sentir
desejo de fazer. (Linhas 15-20).
Aspectos instrucionais preventivos contra os possíveis riscos da atividade
sexual através da família e da escola o referidos como conceitos de orientação
sexual nas falas de Damiana: “Eu penso que deve ser... tipo uma instrução como a
gente direcionar esse desejo prá/ nem deixar de lado nem correr riscos. Eu penso
dessa... uma coisa assim” (Linhas 21-22), e
Gildete:
Bom, eu acho assim que pro/ adolescente, desde casa os pais devem
tá/ dando alertas e informando os adolescentes sempre e... acho que
no colégio também... é muito importante o colégio tá/ sempre alertando
e dando informações pros/ jovens. (Linhas 23-26).
116
O desconhecimento do significado do tema induz uma confusão daquele com
o comportamento homossexual. Adolescentes femininos heterossexuais tendem a
ser amistosos para com outros de orientação homossexual, acreditando que a
ocorrência deste padrão comportamental deva ser remetida à responsabilidade
familiar paterna. Os adolescentes supõem que os pais têm o poder de imprimir um
padrão de comportamento sexual aos filhos ou minimizar possíveis dificuldades de
orientação do desejo sexual, como sugere Maximila nesta fala:
Eu tenho um amigo que veio assumir prá/ mim ele... tava/ em dúvida...
ele... sei lá... ficou tão assim... em dúvida; antes dele assumir ele ficou
com vergonha... então ele quase que não se assumia, mas aí pelo que
ele conversou comigo, eu fiz a pergunta a ele se ele era gay, ele
se assumiu... ele disse, agora que você entendeu né/? Aí... que
ele ficou em dúvida e até porque os pais dele não conversam com
ele... tem uma relação muito trancada com os pais. Acho que se
tivesse um diálogo mais aberto ele taria/ muito mais orientado né/?
(Linhas 127-133).
A orientação do desejo sexual é enfocada também como medidas
instrucionais programadas principalmente no âmbito familiar, com o objetivo de
prevenir as dificuldades de interação entre pais e filhos, o desenvolvimento da
homossexualidade, a ocorrência de gravidez e o contágio por doenças sexualmente
transmissíveis entre adolescentes, como informam Mariano,
Tipo uma orientação... assim, por parte de pais e amigos, assim... que
ao adolescente teria que ser dito essa orientação sexual... o homem
se orientar para a mulher... até por conta da questão da
homossexualidade que muito comum hoje em dia. Então... essa
orientação sexual seria basicamente prá/ isso, mostrando qual é e
mostrando também os riscos das DSTs e outras coisas. (Linhas 28-
32), e
Terezinha:
Eu acho assim que... partindo... já devia partir da família, já de casa...
os pais deviam orientar os filhos mostrando os riscos que correm
principalmente as meninas que querendo ou não tão/ engravidando
cada vez mais pelo fato de não ter o acompanhamento da família...
porque a família acha assim: Não... ainda é adolescente não vai fazer;
mas pelo fato da família deixar os filhos de lado eles acabam se
revoltando e fazem as coisas erradas prá/ chamar a atenção dos pais
para que os pais sejam mais liberais com eles, mas muitas vezes não
são. Deveria partir mais da família e principalmente ter instituições que
façam palestras com relação a isso. Na minha opinião, se isso
ocorresse ia diminuir bastante esses problemas de gravidez e doenças
sexualmente transmissíveis. (Linhas 34-43).
A felicidade afetiva e sexual é um aspecto da sexualidade que recebe atenção
dos adolescentes, parecendo não incluir necessariamente o padrão de orientação
heterossexual. Ainda que o tipo de orientação do desejo sexual divirja daquele que
social e culturalmente se ensina e se espera do sujeito, os trejeitos e os
maneirismos adotados para chamar a atenção para a divergência devem ser
evitados. Encontra-se também entre adolescentes a idéia de que a orientação do
117
desejo para o campo da homossexualidade deve ser algo que resulte de um
processo de reflexão pessoal que induza a uma decisão corajosa, responsável,
inclusive como forma de auto-respeito, como mostram os argumentos de Damiana:
Eu acho assim... a pessoa tem que ser feliz, não importa a opção.
Você tem que ser feliz... agora... por exemplo, você ser um
homossexual é diferente da maioria, é; tem preconceito, tem; mas
muita gente lida com esse preconceito... assim... escraCHADO...
assim... se vestindo de travesti; não precisa você um show prá
mostrar que você é, prá/ você tentar ser respeitado (...) porque você
fazendo essas coisas é que você vai ser desrespeitado.... porque não
importa a opção que você fez... porque tem muito homossexual, tem
muito gay que é muito mais homem do que esses macho/ que se
dizem. E prá/ você seguir essa sua opção, você tem que ser corajoso
prá/ assumir porque a sociedade é muito preconceituosa, você tem
que ter também seu ato de responsabilidade... porque muitos
homossexuais tem problema/ eh:... muitos/ pega DST nessas parada/
gay, por exemplo... não medem as conseqüências do que
fazem...você tem que ter sua opção, tem que fazer o que você quer...
agora tem que ser responsável... e você fazer de tudo prá/ chamar
atenção aí é que vai ter preconceito... é o que eu acho. Você quer ser,
seja... agora também não precisa tá/ chamando a atenção. (Linhas 50-
65).
O enfoque do controle religioso na definição da orientação sexual é
ressignificado por Damiana, para quem a busca da felicidade é algo que tem a
primazia sobre a aceitação social quando esta exige conformação à norma,
preterindo a opção pela felicidade, como se depreende desta fala:
Agora assim... religião à parte, essas pessoas tem que ter auto-
satisfação né/... por exemplo, uma mulher que é homossexual, não
adianta ela casar e ter filhos que ela não vai ser feliz; o marido vai ser
corno do mesmo jeito... porque ela não vai deixar de se encontrar com
uma mulher prá/ ser feliz... por causa do marido... prá/ fazer os outros
feliz/... acho que a pessoa tem que se fazer feliz... entendeu? Mesmo
o pessoal não aceitando. (Linhas 85-90).
A possibilidade de identificar um padrão de orientação do desejo sexual
considerado correto entre os adolescentes caminha em grande maioria para a
heterossexualidade, ressalvando-se a possibilidade de outras formas de orientação
sexual que, em primeiro lugar, promova a felicidade pessoal. Referindo-se a esta
questão, dizem Damiana,
Pela sociedade eles acreditam que o certo é ser heterossexual... mas
a maior parte talvez... eles num/... ah:... o que ele queria ser num/ é; ...
a pessoa num/ escolhe... acho que a pessoa num/ escolhe de quem
gosta. (Linhas 113-115),
Mariano,
Acho que não existe essa orientação que pareça correta... hoje em dia
o papo que... assim é mais falado é que o importante é ser feliz; então
eu acho que o correto... prá/ muitas pessoas agora tá/ sendo ser feliz...
118
e não ter uma orientação sexual que satisfaça a outra pessoa (ou a
sociedade). (Linhas 118-121), e
Sebastian:
Assim... pela sociedade a gente que o correto é a opção
heterossexual... que isso é muito antigo... essa opção. Mas hoje... eu
acho que muitas pessoas, até os héteros dizem que não existe
assim... como já disse que o importante é ser feliz. (Linhas 150-153).
A homossexualidade se constitui num desvio da orientação do desejo sexual
para a maioria dos adolescentes deste grupo. Acredita-se que a origem deste desvio
está na forma em que o indivíduo foi educado e reforçado para a manutenção de
certos comportamentos no âmbito familiar, como diz Mariano, respondendo a
Maximila (Linhas 159-161), ao mencionar a delicadeza de uma criança escolar:
Mais isso tem relação com a criação... na minha opinião. Porque se
uma mãe cria uma criança mimada, fazendo tudo que ela quer, com
àquele dengo, ela sempre vai ficar uma criança mais delicada, mais
sensível e com isso, consequentemente, vai atrair mais amizades com
mulheres e aí... podendo aí... a opção sexual dele... mudar. (Linhas
163-167).
A delicadeza no comportamento masculino não deve ser confundida com
orientação homossexual. A educação e a convivência predominante com modelos
femininos podem oportunizar ao adolescente masculino uma compreensão maior
dos desejos e das necessidades femininas, cuja satisfação pelo sujeito masculino
não significa disposição homossexual, como sugere Terezinha, exemplificado com
um caso que lhe é conhecido:
Agora eu acho assim que um erro da sociedade igualar... como
Maximila falou... delicadeza em homem com homossexualidade. Tem
uma pessoa que é da minha família e é muito delicada. Ele vira
chacota do pessoal também da minha família, dizendo que ele é
homossexual. Só que, quando a gente interagiu mais com a vida dele,
a gente descobriu que ele não é; é porque ele é muito educado... ele é
culto... ele mais atenção... diferente da que os homens dão. Pelo
fato dele ter sido criado com as mulheres ele sabe o que as mulheres
precisam que é ser feliz e atenção; ele acaba dando atenção extra, ele
acaba dando... coisas que nenhum homem... dá quando tá/ numa
conversação... e muita gente... igual a ele fala que é
homossexualidade; então eu acho isso um erro. (Linhas 169-178).
Não necessariamente a forma de educação, mas a falta de apoio familiar
estabelece uma separação entre pais e filhos, resultando numa limitação da auto-
liberdade do adolescente para expor afetos em âmbito restrito. Esta falta de apoio
propicia a busca e a construção de amizades fora da família, mas não dissipa os
conflitos interiormente vividos em relação à orientação homossexual. Somente a
certeza da não rejeição possibilita ao adolescente homoerótico revelar-se aos seus
pares, como mostra Terezinha, referindo a uma situação que exemplifica por auto-
referência:
119
Prá/ eles, eles se empenham muito com as amizades pelo fato dele/
não ter uma auto-liberdade com a família. Então fica o seguinte: Eu
tenho o meu melhor amigo e tal e eu sou... como é que eu vou chegar
a ele? E se ele não quiser mais ser meu amigo o que é que eu vou
fazer... então fica muito isso na cabeça. Tenho amigos que são e
assim... aparentemente não parecem ser, mas quando você vai falar
com eles, eles se trancam prá/ falar esse assunto; mas quando você
mostra que você vai tá/ do lado dele/, que você não vai deixar de ser
amigo dele/ jamais por isso, eles acabam tendo você como um... apoio
prá/ eles, por eles seguir a vida mais tranqüila... porque a grande
dificuldade com os pais e principalmente com as amizades... porque
eles não conversam com os pais livremente; fica essa coisa... eu
tenho medo de falar a meus amigos porque eles são a minha única
base; como é que vou chegar e dizer? Se eles me deixarem em quem
é que vou me apoiar? (Linhas 135-146).
Atitudes de aceitação preconceituosa da homossexualidade encontram-se
presentes entre os adolescentes. Ainda que acreditem que se deva conceder ao
sujeito o direito de ser sexualmente feliz, exigem que as manifestações
comportamentais que tipificam o padrão de orientação sexual estejam em
conformidade com as normas e valores aceitos pela sociedade. A mídia vem
contribuindo para a popularização da homossexualidade ao utilizar-se de veículos de
comunicação de massa, através dos quais produz e conduz a exibição de enredos
melodramáticos. Assistidos inclusive por crianças, tais enredos podem precipitar a
curiosidade natural destas, culminando na realização de práticas homossexuais,
como mostram Sebastian,
Para complementar o que ela (Damiana) disse, acho que as pessoas
homossexuais têm que agir de acordo com a sociedade. A pessoa não
pode chegar... ah:... um homem vestido de saia, todo fortão, todo
musculoso e na rua de saia... essas coisa/... acho que tem de agir de
acordo com a sociedade... se não agir vai ter o preconceito... e cada
sociedade tem suas regras. (Linhas 67-71),
Mariano,
Mas ser feliz dentro dos limites porque... o caso do travesti... essas
coisa/ você poderia muito bem ser feliz ficando na sua...porque o
homossexual prá/ ser feliz acho que ele não precisa se vestir de
mulher, sair aparecendo fazendo escândalo na rua não. (Linhas 91-
94), e
Pablo:
Sou totalmente contra, tenho totalmente preconceito e acho que o
certo é hétero, desde que o mundo é mundo, homem com mulher e
sempre tem que ser assim; acho que a mídia tá/ enfocando muito esse
negócio de homossexualidade, botando casal de gays na televisão,
lésbicas... então influencia muito, principalmente porque as crianças
assiste/ aí faz por curiosidade, tipo uma modinha, isso é o que eu acho
que a mídia tá/ influenciando muito, muito mesmo. (Linhas 193-198).
120
O preconceito ao comportamento homoerótico parece de fácil manifestação,
como se nesta fala de Maximila, ao referir-se a pessoas de sua convivência que
se encontram vivendo conflitos psico-afetivos, decorrentes da homossexualidade
proibida de manifestar-se publicamente:
Eu tenho amigos que são... gays, mas... sei lá... eu tenho amizade
mas acho que eu particularmente... assim... não tenho preconceito
mas eu não queria prá mim entendeu? Eu acho assim... que seria uma
decepção prá/ um pai, você saber um filho seu ou uma filha sua...
porque é assim... todo pai sonha o seu filho casando com uma
mulher... qual é o pai que não sonha com isso? Qual é a mãe que não
sonha... o sonho de uma mãe é casar uma filha, e não com outra
mulher... sei lá, isso seria uma decepção... aí... sei lá! (Linhas 73-79).
A atitude preconceituosa parece aumentar nos casos em que a pessoa de
orientação homossexual busca chamar a atenção sobre si através de
comportamentos ridicularizadores, que induzem a sociedade a criticar, a
desautorizar e a reprimir a manifestação homossexual, como se neste
argumento:
Eu acho que às vezes é prá/ chamar atenção. Agora, chamam atenção
e acabam passando por ridículo porque em vez deles assumir/ a
ordem que ele quer seguir, acaba sendo motivo de... chacota dos
amigos, de quem passa na rua, começa a tirar pilherinha/ eles não
gosta/; Como é que eles querem fazer uma coisa e não ter uma
sociedade como agente tem? (MAXIMILA, linhas 95-99).
Trejeitos, maneirismos e outros comportamentos assemelhados muitas vezes
presentes no comportamento homossexual parecem incitar as pessoas a manifestar
suas rejeições a este comportamento que se considera um desvio da sexualidade.
Por outro lado, existe entre os adolescentes a idéia de que tais excentricidades
homossexuais são recursos utilizados tanto para revelar ao mundo esta
particularidade do desejo sexual, como um pedido de apoio, de reconhecimento
social ao direito e à liberdade de ser diferente, como diz Terezinha:
Acho assim... que muitas eles se veste/ desse jeito prá/ procurar um respeito,
prá/ mostrar o que eles são; só que antes deles ter respeito das pessoas eles
têm que se auto-respeitar. Então... nesse caso ele se respeitando, (...)
assim... ele é homem... ele se apaixona pela pessoa do mesmo sexo dele,
então ele fica na dele... ele tem um caso com essa pessoa... continua tendo,
mas... não esse caso de tá/ se vestindo de mulher... isso ele perde respeito,
ele não tá/ se respeitando... ele seria mais feliz se ele vivesse do modo certo
que a sociedade manda... porque talvez ele não seja feliz, mas evita de
passar constrangimento e tudo. (Linhas 101-109).
Acompanhando a fala acima, Soraya faz esta auto-referência: “Assim... eu
tento respeitar, mas eu acho que eu nunca vou concordar com isso, porque eu acho
errado” (linhas 208-209). O preconceito contra a homossexualidade parece
recrudescer em razão da mídia invocada pelos adolescentes por sua pressuposta
influência na construção da homossexualidade. Os realces à vida homossexual
através da televisão, de revistas e outros, acabam influenciando mais notoriamente
as crianças, como supõe Gildete:
121
Eu tenho preconceito também com relação ao homossexualismo, mas
a vida é de cada um e acho que a sociedade não deve impor tanto
não, que as pessoas não aceitam e... também acho que a mídia
influencia muito hoje em dia e tão até aceitando casamento de
homossexuais... acho que isso prá/ cabeça de uma criança que até os
homossexuais estão criando... eh::... fica meio estranho e a criança
acaba levando também esse lado da homossexualidade... acaba
despertando isso; As vezes a criança nem tem vontade de ser e acaba
experimentando porque isso dentro de casa e acha que isso é
normal. (Linhas 210-217).
Uma relação afetiva eroticamente estranha e nojenta é outra forma de
adjetivar a homossexualidade entre adolescentes, mesmo quando estes julgam que
os partidários desta forma de orientação sexual desfrutam de satisfação. A força dos
valores sócio-culturais é afirmada quanto se percebe que adolescentes os invocam
para manifestar posições pessoais quanto à homossexualidade, ainda que procurem
entender esta forma de relação amorosa, como se nestes argumentos: “É porque
a sociedade ensina... sexo oposto e não tem como entrar na cabeça da gente que
não é... no caso... que uma relação; então fica estranho” (TEREZINHA, linhas
186-187). Mariano, em linha de pensamento assemelhado indaga,
E a gente fica se perguntado também assim, como seria... qual é a
graça que... porque a gente sabe que entre um homem e uma mulher,
a gente sabe que na mulher, a mulher tem um órgão que... possa dar
o prazer a ela... a questão do clitóris, que uma sensação de prazer
a ela; e... entre... tipo duas mulheres, dois homens? (Linhas 189-192).
Por sua vez,
Damiana assim se expressa:
É estranho. Eu acho que todo adolescente acha isso estranho... não
tem como, principalmente quando você vai a uma festa. No festival de
Inverno do ano passado foi o que eu mais vi... era casal de homem se
beijando, casal de mulher... é estranho. Eu particularmente acho
nojento, mas eu vou fazer o quê? Eles não tão/ se sentindo bem?
Então eles têm que fazerem o que eles querem... agora eu acho que
todo mundo acha isso estranho; mesmo tentando entender... é
estranho. (Linhas 184; 219-224).
A orientação bissexual também é rejeitada entre adolescentes. Concebida
como orientação primariamente homossexual, a bissexualidade em sujeitos
masculinos parece mais apreciada quando a relação erótica ocorre com pessoa do
mesmo sexo. Utilizando-se de informações que possui sobre o comportamento
bissexual de amigos, Maximila diz:
Mas meu amigo disse... eu fiz essa pergunta a ele: o que é que tu
sente/ assim... ele disse que gosta de mulher, mas ele não tem o
mesmo prazer beijando uma mulher... não é uma questão de atração,
ele fica com os dois... ele diz que é muito mais prazeroso beijar uma
pessoa do mesmo sexo que ele. Eu também não sei não, não entendo
não porque... o pessoal assim que eu conheço... sei lá, prova dos dois,
sabe? Ou ele tá/ ficando meio doido ou é safadeza mesmo. Outra
coisa: essa pessoa não assume (sua homossexualidade). (Linhas 199-
202; 261-263).
122
Outras explicativas adolescentes para o comportamento bissexual enfocam
possibilidades de confusão, indecisão, safadeza, e até mesmo a curiosidade. Sentir
atração por ambos os sexos é não saber o que quer, condição que pode ser
amenizada através de orientação de pessoa mais experiente, como pensa
Terezinha:
Acho que é uma pessoa confusa... que não sabe o que quer... sente
atração pelos dois lados, mas... não sabe necessariamente qual dos
dois é o verdadeiro que ele tá/ sentido. Eu também que é por falta de
conversação com alguém mais experiente que se torna isso; mas eu
acho que é uma pessoa muito confusa da vida. (Linhas 240-244).
Vividas as experiências sexuais com ambos os sexos, parece ser possível
determinar a orientação do desejo sexual. A indefinição sexual, se persistir, somente
pode ser atribuída à safadeza, como diz Mariano:
Acho assim, que se você ficou com homem, se você ficou com
mulher você sabe muito bem qual é a sensação dos dois. Então eu
acho até... desculpe a palavra, uma safadeza essa questão de tá/
ficando com os dois porque você provou de um, provou do outro e
continua... você vai passar a vida provando prá/ ver do qual é que
gosta? Não concordo com isso. (Linhas 245-249).
A ausência ou a menor informação sobre a orientação bissexual pode
estimular o desejo e a prática de comportamentos bissexuais como forma de
aquisição de experiência. Neste aspecto, a conversa com os pais sobre os
sentimentos e ansiedades vividas pelo adolescente é fundamental, como sugere
Soraya:
Eu penso assim, essa pessoa bissexual é que não escuta muito falar
sobre isso fica querendo saber, interessada. pega e fica
experimentando de um lado e de outro... falta de conversa também
com os pais, principalmente. (Linhas 283-285).
A prática da bissexualidade é rejeitável entre os adolescentes heterossexuais
que a consideram de maior gravidade que a homossexualidade, uma vez que esta
comporta uma definição de orientação sexual, enquanto tal o ocorre com aquela.
A relação bissexual tende a produzir efeitos negativos sobre a adaptação sexual dos
envolvidos, sobretudo, quando uma das partes desconhece certas peculiaridades de
orientação sexual do parceiro. As vivências sexuais devem pressupor a existência
de uma ética que norteie e fomente atitudes de mútuo respeito nas vivências sexuais
em suas distintas orientações, como mostram:
Amaralina,
Eu concordo que é estranho você namorar com uma pessoa que é
bissexual... imagine assim, eu tá/ namorando e de repente imagino
que o menino também gosta do mesmo sexo que ele e tal; a mulher se
sente mal sendo traída por uma pessoa do mesmo sexo; imagine eu
(sendo traída) com um menino e ele (ficando) com outro menino... sei
123
lá... é uma questão que você fica sem reação na hora, né/? É meio
complicado. (Linhas 252-257),
Mariano,
E também assim, você ficando com duas pessoas você pode até... até
sem querer, você pode acabar machucando alguém... porque éh:...
tipo... se eu fosse bissexual aí tivesse ficando com Cecília e com um
menino... ao mesmo tempo Cecília começasse a sentir alguma coisa
por mim, eu taria/ machucando tanto ela como a outra pessoa, porque
isso... você começa a brincar com o sentimento das pessoas... e isso é
uma coisa muito séria você brincar com os sentimentos da pessoa.
(Linhas 264-269), e
Pablo:
Eu acho uma falta de respeito como falaram... totalmente... porque
não tem como namorar... é esquisito; você é hétero e tá/ com uma
pessoa gay, não tem como isso aí... é uma falta de respeito; você
conhece ela como sexo oposto e quando descobrir que ela é
bissexual, não concorda com isso... totalmente é contra. Eu acho que
o bissexualismo é tipo uma mangueira de esconder o
homossexualismo... é tipo eles se disfarçarem; eu acho que não tem
como a pessoa se relacionar com dois sexos... ou é um ou é outro .
(Linhas 275-281).
124
CAPÍTULO IV
DISCUSSÃO
1. O CONHECIMENTO DAS DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS E
FORMAS DE PREVENÇÃO ENTRE ADOLESCENTES
As características deste tipo de conhecimento apresentam-se semelhantes
entre os adolescentes religiosos (GFR-1) e os adolescentes não-religiosos (GFNR-
1), como se adiante [Quadro 7, p. 126]. O ato sexual, a transfusão de sangue e o
beijo (saliva e afecções bucais) são as vias de disseminação mais conhecidas dos
adolescentes, condição de conhecimento que se aproxima de outros estudos que
encontraram em adolescentes paulistas femininos urbanos (ROMERO et al, 2007) e
em adolescentes cariocas de ambos os sexos (CHICRAIA, et al, 1997) as mesmas
referências de conhecimento dentre outras formas de contágio da AIDS/DST. Os
adolescentes religiosos revelaram um relativo desconhecimento do potencial
agressivo das DST, vendo a morte como uma possibilidade, pela ausência de cura
para a maioria delas. Para estes adolescentes, outras variáveis como ausência de
prevenção, algumas disposições afetivas (medo, preconceito e vergonha) e
dificuldades financeiras, colaboram para o agravamento das DST e para a morte
como desfecho. Chicraia, et al (1997) em um estudo com adolescentes cariocas
encontrou referência à ausência de cura no caso específico da AIDS. Este déficit de
conhecimento sobre DST, apresentado pelos adolescentes de ambos os grupos
neste estudo, foi também encontrado em uma pesquisa realizada com adolescentes
secundaristas goianos, os quais indicaram o ato sexual como a principal fonte de
disseminação das doenças sexualmente transmissíveis (MARQUES et al, 2006).
Os adolescentes citaram cinco DST, sendo comuns aos grupos, a sífilis, a
gonorréia e a AIDS, semelhantemente aos resultados obtidos por Chicraia et al
(1997). Os adolescentes religiosos referiram conhecimento do HPV (Papilomavírus
humano) e do cancro mole, enquanto os adolescentes não-religiosos fizeram
referência à “crista de galo” (Condiloma) e aos corrimentos (infecções urogenitais).
Entretanto, o conhecimento dos sintomas das DST indicadas foi centralizado nos
genitais e na inespecificidade sintomática da AIDS (desmaios, vômitos,
emagrecimento), revelando que não dispõem de informações relevantes sobre a
temática discutida. As referências a formas isoladas de DST pelos grupos de
adolescentes mantém concordância com Romero et al (2007) ao concluir que as
DST foram timidamente referidas no seu estudo em razão do pouco conhecimento
destas doenças pela maioria das adolescentes que participaram daquela pesquisa.
O desconhecimento dos sintomas das DST entre adolescentes é preocupante, pois
65% das adolescentes interioranas, em um estudo paulista, não se consideravam
em risco de contágio por depositarem confiança no parceiro único (DORETO e
VIEIRA, 2007).
O conhecimento relativo aos métodos de prevenção das DST revelou-se
muito reduzido, sobretudo no grupo dos adolescentes não-religiosos que disseram
conhecer apenas a camisinha. O preservativo (camisinha) foi referido como o
125
principal método de prevenção das DST, mas sua utilização sistemática foi
considerada baixa entre adolescentes femininos paulistas com atividade sexual
iniciada (DORETO e VIEIRA, 2007). É provável que a condição sócio-econômica
(inferida neste estudo) e de educação (escola pública de bairro periférico) dos
adolescentes não-religiosos, responda pelo menor conhecimento deste grupo, em
relação aos todos de prevenção das DST, aumentando assim a condição de
risco, consoante os relatos contidos noutras pesquisas realizadas com adolescentes
no México (CABALLERO, VILLASENOR e HIDALGO, 1997) e em São Paulo – Brasil
(ROMERO et al 2007). Os adolescentes religiosos, além da camisinha, fizeram
referência ao dispositivo intra-uterino e à pílula do dia seguinte, ressaltando que a
prevenção das DST deve ser auxiliada pela prática de princípios religiosos, pela
maturidade psicossexual e também pelo acompanhamento médico da saúde. Este
grau de conhecimento é comparável àquele obtido por Romero et al (2007) com
adolescentes paulistas. É possível que a condição educacional diferenciada dos
adolescentes religiosos (alunos de escola pública de tempo integral, bairro nobre da
cidade), haja influenciado o desempenho do grupo em relação à abordagem
manifesta pelos adolescentes não-religosos (alunos de escola pública, turno
matutino, em bairro periférico da cidade)
126
Quadro 7 – Conhecimento das doenças sexualmente transmissíveis e formas de prevenção entre
adolescentes / Categorização de conteúdos
GRUPO FOCAL RELIGIOSO 1 (GFR-1) GRUPO FOCAL NÃO-RELIGIOSO 1 (GFNR-1)
O QUE OS ADOLESCENTES ENTENDEM POR DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS E
FORMAS DE PREVENÇÃO?
Doenças transmitidas /”pegas” / provocadas:
- Pelo ato sexual
- Transfusão de sangue
- Injeção contaminada
- Através da saliva (beijo)
A maioria não tem cura e leva à morte
- Preconceito, medo, vergonha
- Ausência de prevenção
- Dificuldades financeiras
Doenças transmitidas:
- Pelo ato sexual
- Transfusão de sangue
- Toalha de banho
- Pelo beijo
Ferida nos lábios
Cárie dentária
QUAIS SÃO AS DST CONHECIDAS DOS ADOLESCENTES?
AIDS
Sífilis
HPV
Cancro mole
Gonorréia
AIDS
Sífilis
Gonorréia
Crista de galo
Corrimentos
QUAIS SÃO OS SINAIS OU SINTOMAS INDICADORES DE DST?
Dor e caroços nos genitais
Negócio nos genitais (Cancro mole)
Bolhas de pus no pênis (Sífilis)
Câncer de útero (HPV)
Desmaios, vômitos, emagrecimento,
pneumonia e morte lenta (AIDS)
Olho vermelho (DST?)
Manchas avermelhadas nos genitais
Dor nos genitais
Corrimentos
Feridas na boca e nos genitais (Sífilis)
Queda da pele do pênis
Sintomas não especificados (AIDS)
QUAIS SÃO OS MÉTODOS DE PREVENÇÃO CONHECIDOS DOS ADOLESCENTES
Preservativo (Camisinha)
Prática de princípios educativos e religiosos
Maturidade psicossexual
DIU
Pílula do dia seguinte
Controle médico da saúde
Preservativo (camisinha)
2. O CONHECIMENTO DE MÉTODOS ANTICONCEPCIONAIS ENTRE
ADOLESCENTES
A categorização [Quadro 8, p. 128] mostra similaridades de conhecimento dos
métodos de contracepção pelos adolescentes religiosos (GFR-2) e pelos
adolescentes não-religiosos (GFNR-2), quanto aos aspectos conceituais (modos de
prevenir a gravidez). Para os adolescentes religiosos, estes métodos também são
utilizados na prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, como reportado
em outros estudos (ROMERO et al 2007).
127
Os adolescentes religiosos demonstraram conhecer dois todos de
contracepção (a camisinha e as pílulas anticoncepcionais). Para estes adolescentes,
a educação sexual é um importante fator que contribui para o desenvolvimento da
sexualidade e para a prevenção de problemas sexuais, razões estas que devem
estimular a família a preocupar-se com a educação sexual dos jovens. Este nível de
conhecimento está em concordância com o estudo realizado com estudantes
adolescentes da rede pública de Ribeirão Preto SP (DIB, 2007), e com os dados
obtidos por Quadros ( 2007) com jovens pernambucanos de Petrolândia (Sertão) e do
Ibura (Recife). A participação da família no desenvolvimento da sexualidade dos
adolescentes se afigura um fator de importância. Adolescentes baianos que fizeram
uso de contraceptivos na primeira relação sexual relataram os rapazes, o apoio da
família e as moças, o apoio paterno em assuntos sobre sexualidade, prevenção das
DST e contracepção (ALMEIDA et al, 2003). A mãe é percebida como o personagem
de maior importância como elo de comunicação (DIB, 2007), cujas atitudes costumam
serem confusas em relação à atividade sexual e presunção de gravidez da filha
adolescente (OLIVEIRA, 1999), a depender do contexto sócio-cultural em que se
inserem as grávidas (SILVA, 2009).
Os adolescentes não-religiosos fizeram referência a cinco métodos
contraceptivos (camisinha, pílulas anticoncepcionais, DIU, cirurgia de trompas e
vasectomia), sem quaisquer outras alusões às necessidades de apoios externos.
Este conhecimento dos adolescentes não-religiosos pode ser considerando
satisfatório tomando por referência um estudo baiano realizado com estudantes
adolescentes da capital e do interior, no qual os autores consideraram alto índice de
conhecimento, a citação entre quatro e seis métodos de anticoncepção (ALMEIDA et
al, 2003).
Quanto à segurança contraceptiva oferecida pelos métodos conhecidos, os
adolescentes religiosos mencionaram a camisinha, por funcionar como capa
protetora, barreira contra o avanço dos espermatozóides e por ser algo de cil
acesso. Esta concepção de segurança contraceptiva está demonstrada no alto índice
de uso do preservativo masculino por 90,1% dos rapazes e por 73,5% das moças na
primeira relação sexual (ALMEIDA et al, 2003). Entretanto, observou-se neste estudo
uma considerável queda na utilização deste método para 60,3% entre os rapazes e
43,2% entre as moças na última relação sexual, revelando que o conhecimento dos
métodos de anticoncepção não garante a sua utilização pelos adolescentes
(ALMEIDA et al, 2003; DIB, 2007). Dados mais preocupantes foram encontrados em
estudantes adolescentes na cidade de Maceió-AL, onde cerca de 25% da amostra de
estudantes que participaram da pesquisa, referiram não haver utilizado qualquer
método de contracepção na última relação sexual (LEITE, 2001). Os adolescentes
não-religiosos por seu turno, viram as pílulas anticoncepcionais como método de
maior segurança. Os contraceptivos orais foram incluídos entre os métodos de
contracepção mais conhecidos dos adolescentes nos estudos referidos (ALMEIDA
et al, 2003; DIB, 2007).
Os adolescentes religiosos manifestaram-se contrários à prática da
anticoncepção antes do casamento. Esta atitude está em concordância com os
princípios e valores que sustentam a divindade do sexo para a procriação, lócus de
onde se extrai sentido e significado religioso da atividade sexual. Entretanto,
ressalvou-se a possibilidade de optar pela contracepção no casamento mediante
128
práticas cirúrgicas voluntárias. Contrariamente, os adolescentes não-religiosos
entendem que a contracepção deve ser estimulada, permitindo a vivência do sexo
sem o perigo de contaminação das DST e da gravidez, sobretudo porque esta última
se afigura um problema para os pais. Este grupo ressaltou a necessidade de
informações e a participação ativa dos pais na orientação sexual dos filhos, aspecto
educativo também verificado em estudos anteriores (ALMEIDA et al 2003: DIB, 2007).
As características do conhecimento dos todos anticoncepcionais são
aproximadas entre os adolescentes religiosos e os adolescentes o-religiosos.
Todavia, os adolescentes religiosos revelaram-se mais aptos para a discussão
temática. A diferença fundamental entre os grupos situou-se na proposição “estímulo
e prática da contracepção” aspecto que mais pertinentemente evocou a manifestação
de princípios e valores religiosos, bem como àqueles outros valores não-religiosos
que imprimem sentido e conduta em referência à contracepção. Numa pesquisa porto
alegrense a prática do aborto foi mencionada por 12% das estudantes secundaristas
e por 2,7% dos rapazes que participaram daquela pesquisa. Não fosse o aborto uma
prática criminosa no país, 46,6% das moças e 48,3% dos rapazes gaúchos
responderam que adotariam a prática do aborto, no caso de gravidez não desejada
(SOUZA et al, 1997).
129
Quadro 8 – Conhecimento de métodos anticoncepcionais entre adolescentes / Categorização de
conteúdos
GRUPO FOCAL RELIGIOSO 2 (GFR-2) GRUPO FOCAL NÃO-RELIGIOSO 2 (GFNR-2)
O QUE OS ADOLESCENTES ENTENDEM POR ANTICONCEPÇÃO/
Proteção na hora do sexo contra doenças
Impedimento da concepção
Proteção contra a gravidez
Modo de prevenção da gravidez
QUAIS OS MÉTODOS ANTICONCEPCIONAIS CONHECIDOS DOS ADOLESCENTES?
Camisinha
Pílulas anticoncepcionais
Pílula do dia seguinte
Informações
Educação sexual na família
Camisinha
Pílulas anticoncepcionais
DIU
Cirurgia de trompas
Vasectomia
DOS MÉTODOS ANTICONCEPCIONAIS CONHECIDOS, QUAL O MAIS SEGURO? POR QUE?
Camisinha
- Fácil acesso ao adolescente
- Capa de proteção
- Impede o espermatozóide de penetrar o
óvulo
Pílulas anticoncepcionais
A ANTICONCEPÇÃO DEVE SER PRATICADA OU ESTIMULADA ENTRE ADOLESCENTES?
Não
- Deturpa o sentido do sexo
- Sexo é um dom divino para procriar
- Evita sentimentos de culpa
- Aceitável no casamento, porem não como
prevenção de doenças;
- No casamento deve-se optar por
procedimentos cirúrgicos
- A igreja é coerente com a proibição da
contracepção.
Sim
- Evita doenças e gravidez
- Exige conhecimento de informações e
participação ativa dos pais
- Possibilita a relação sexual segura; sem riscos
- Gravidez não é problema para os jovens; para
os pais, sim.
3. PERCEPÇÃO DA SEXUALIDADE ENTRE ADOLESCENTES
A discussão realizada sobre a percepção da sexualidade pelos adolescentes
religiosos (GFR-3) e pelos adolescentes não-religiosos (GFNR-3) revelou
semelhanças e divergências de idéias entre os grupos, como mostra o [Quadro 9, p.
131]. Entre os adolescentes religiosos a sexualidade foi mais amplamente
conceituada, envolvendo a dimensão corpórea e afetiva-emocional, reconhecendo-
se a influência que a mídia vem exercendo nas expressões da sexualidade. Os
adolescentes não-religiosos viram a sexualidade sob o olhar da aventura e do prazer
proporcionado pela relação sexual. As semelhanças de pensamento entre os grupos
foram demonstradas em relação ao conhecimento do corpo e às carências de apoio
dos pais e da escola no desenvolvimento sexual dos adolescentes. Estudos
paulistas mostraram que a boa comunicação familiar atua como fator de proteção,
fazendo postergar a iniciação sexual e que a ausência afetiva paterna se configura
num fator predisponente da precocidade sexual e da gravidez em adolescentes
interioranas (TAQUETTE e VILHENA, 2008). A forma de perceber a sexualidade
130
associada a crescimento pessoal, incluindo outras categorias perceptivas
(autoconhecimento, consciência, cumplicidade...) como viram os adolescentes
religiosos foi considerada periférica, enquanto a concepção de sexualidade
associada à satisfação (gênero, necessidade, transar...), como percebida pelos
adolescentes não-religiosos, foi considerada central num estudo carioca realizado
com estudantes adolescentes secundaristas (BENITE, 2004).
A sexualidade é valorizada entre os adolescentes religiosos e os não-
religiosos, por oferecer a idéia de aumento da masculinidade e da liberdade para a
realização de práticas sexuais que podem ocorrer desacompanhadas do afeto pela
parceira. Para os adolescentes religiosos a sexualidade é uma forma de demonstrar
amor à companheira no casamento, idéia que é acompanhada pelo preconceito
contra as moças não-virgens. Paralelamente, as moças manifestaram-se em relação
à virgindade como opção e não obrigação da mulher. Rieth (2002) verificou em
adolescentes gaúchas de 15-19 anos, que a virgindade é fator de forte significação
íntima e pessoal que é considerado pelas moças para se iniciarem sexualmente, e a
condição de iniciada é costumeiramente comunicada ao parceiro em futuros
namoros. Estudos realizados apontaram uma queda na importância dada à
virgindade feminina por rapazes universitários, inclusive pela possibilidade de que a
ausência de experiência feminina possa prejudicar o relacionamento. Também
referências a consideráveis percentuais de moças universitárias cariocas com idade
de 19 anos que se mantém virgens, fortalecendo assim, o significado atribuído à
virgindade pelas moças. Tal significação tende a recrudescer, pelo fato de não ser
desejável pelos rapazes que pretendem instituir relacionamentos duradouros, moças
que tenham mantido relações sexuais com muitos garotos (MATOS, FÉRES-
CARNEIRO e JABLONSKI, 2005).
Os adolescentes não-religiosos não fizeram referências às questões da
virgindade feminina, mas levantaram uma questão cultural quanto ao incentivo
paterno para que os rapazes se iniciem sexualmente. A percepção do apoio paterno
à iniciação sexual pode influenciar a precocidade sexual, ainda que em estudo
realizado com estudantes adolescentes de escolas publicas e escolas privadas de
Maceió-AL, verificou-se que a probabilidade de iniciação sexual é maior entre os
rapazes sem religião, com maior idade e atraso escolar (LEITE, 2001).
Houve entre os adolescentes de ambos os grupos, uma relativa dificuldade
para conceituarem sexualidade e sexo. A primeira, interpretada como “uma coisa em
geral” e que “leva à rias coisas” demonstra a dificuldade referida. A diferença mais
acentuada entre os grupos verificou-se no enfoque mais afetivo que foi dado à
sexualidade pelos adolescentes religiosos e no enfoque centralizado no sexo como
produção de prazer pelos não-religiosos. Benite (2004) categorizou a interpretação
da sexualidade como ato sexual, dentro das novas formas de entender as
expressões da sexualidade entre adolescentes.
Os adolescentes religiosos e os não-religiosos encontraram, por caminhos
diferentes uma relação entre a sexualidade e o ajustamento à vida. Para os
adolescentes religiosos as alterações corporais e o desenvolvimento da maturidade
são as causas principais do desenvolvimento da sexualidade, com influências sobre
as relações com o sexo oposto e, assim, com significativa influência sobre o
ajustamento pessoal e social. Para os adolescentes não-religiosos o ajustamento à
131
vida foi visto sob o viés do gênero, centralizado na liberdade do rapaz para a prática
do sexo como forma de evitar a discriminação entre os pares.
Quadro 9 – Percepção da sexualidade entre adolescentes / Categorização de conteúdos
GRUPO FOCAL RELIGIOSO 3 (GFR-3) GRUPO FOCAL NÃO-RELIGIOSO 3 (GFNR-3)
O QUE OS ADOLESCENTES CHAMAM DE SEXUALIDADE?
Contato físico, emoções e amizade não
importando se é entre homem e mulher
Afetos que crescem da inocência para o
desejo sexual
Afetos estimulados pela mídia
- Carecem de orientação educacional
- Participação dos pais
Desempenho sexual
Conhecimento do corpo
Fazer as químicas
Diversão, aventura e prazer (rapaz)
- Carece de informações na escola - Diálogo
com os pais
Conhecimento do corpo e relacionamento sexual
Sexo da pessoa, opção e relação sexual
QUE IMPORTÂNCIA TEM A SEXUALIDADE PARA OS ADOLESCENTES?
Torna o rapaz mais homem entre os
colegas
Ajuda a compreender as diferenças dos
corpos e saber o que é certo e errado
Rapazes “fazem sexo só prá fazer”
Demonstrar amor após o casamento
Preconceito dos rapazes contra a perda da
virgindade feminina
Virgindade é “opção da mulher
Sentimento de maturidade e liberdade quando o
rapaz mantém relação sexual
Importante para o homem. A mulher é mais presa
O rapaz tem mais malícia em situações imprevistas
Os pais incentivam os filhos rapazes a praticar o
sexo
Os rapazes têm maior liberdade em casa e também
para ter relação sexual
EXISTE DIFERENÇA ENTRE SEXUALIDADE E SEXO?
Sexualidade é uma coisa em geral e o
sexo é o ato
Sexualidade todos têm; sexo são as
emoções
Sexualidade é conversa, amizade, contato
com as pessoas.
Sexualidade é um conjunto das
sensações, das relações entre os sexos
opostos ou iguais. Sexo é o ato, a relação
sexual.
O sexo é momentâneo e a sexualidade leva a
várias coisas
Sexo é o ato, a “praticação”, é o sentir prazer
Sexo é dar prazer ao corpo
EXISTE ALGUMA RELAÇÃO ENTRE SEXUALIDADE E AJUSTAMENTO À VIDA?
Sim
- As mudanças no corpo ajudam a se
adaptar fisicamente na sociedade
- A pessoa fica mais amadurecida com o
desenvolvimento do corpo
- Ajuda o rapaz a se relacionar com as
mulheres
- Ajuda a compreender que o outro,
independente do sexo é igual a você
- Se não desenvolver a sexualidade não
tem como se ajustar na sociedade
Sim
- Dá liberdade ao rapaz de praticar sexo.
- O rapaz virgem é discriminado no grupo
- A mulher é mais fechada; não tem a liberdade
como o rapaz.
132
4. VIVÊNCIAS SEXUAIS ENTRE ADOLESCENTES
Os significados atribuídos às vivências sexuais entre os adolescentes
religiosos (GFR-4) e os adolescentes não-religiosos (GFNR-4) estão relacionados no
[Quadro 10, p. 134]. O conceito de sexualidade, salvo algumas particularidades,
ficou circunscrito ao sexo, atualmente vulgarizado pela influência da mídia. Esta
dificuldade para formular um conceito de sexualidade foi também encontrada em
60% dos adolescentes que participaram de um estudo para discutir afetividade,
sexualidade e regulação da gravidez em adolescentes, em Natal-RN (LIRA e
DIMENSTEIN, 2004). Para os adolescentes religiosos a sexualidade incorpora as
opções de orientação sexual e o sexo s-casamento. Os adolescentes não-
religiosos produziram conceitos mais genéricos sobre sexualidade (iniciação sexual,
relacionamento afetivo independentemente do sexo, conhecimento do corpo),
atribuindo à mídia, responsabilidade na indução à prostituição sexual entre jovens.
As vivências sexuais foram percebidas como algo normal, que deve ocorrer
com respeito e carinho entre os sexos, envolvendo jogos de sedução. A sedução
tem sido interpretada por sexólogos como um mecanismo de atratividade de ambos
os sexos, com maior freqüência de uso nas moças em razão da ansiedade que
emerge para obter resposta dos rapazes sobre o seu poder de atrair sexualmente
(VITIELLO e CONCEIÇÃO, 1993). De modo substancial, as vivências sexuais foram
vistas pelos adolescentes em relação à prática do sexo. Secundariamente, a
afetividade foi relatada como componente das vivências sexuais, sugerindo que os
adolescentes têm dificuldades para conceber vivências sexuais sem indução do
sexo. Reconhecem os adolescentes que as vivências sexuais habitualmente
ocorrem espontaneamente, por impulso, mas também pelo estímulo de amigos e
sob o efeito de bebidas. A espontaneidade das vivências sexuais adolescentes pode
ser demonstrada no “ficar” como nova modalidade de relação amorosa, cujos
motivos se estendem desde a falta de compromisso à espera de um parceiro ideal
para compromisso duradouro (MATOS, FÉRES-CARNEIRO e JABLONSKY, 2005).
Atualmente, as moças que “ficam” estão livres dos desapreços sociais que
outrora manchavam a imagem das moças direitas” que vivenciavam o “sarro” com
os namorados (NEDEFF, 2003). Quanto à forma de realização, a masturbação foi
referida pelos adolescentes não-religiosos como forma de vivência inicial de
descoberta do corpo. Entre adolescentes, a masturbação não busca exclusivamente
o auto-prazer, mas também se constitui numa forma de auto-verificação da
normalidade ejaculatória, funcionando como um meio seguro de experimentação
sexual, aumento da auto-confiança sexual, controle de impulsos sexuais e descarga
de tensões (NEDEFF, 2003). A prática da masturbação por adolescentes
secundaristas foi relatada por 97,1% dos rapazes e por 35,7% das moças, seguida
de sentimentos de culpa em 35,1% dos rapazes e em 48% das moças, num estudo
realizado em Porto alegre-RS (SOUZA et al, 1997). Neste estudo, em ambos os
grupos, o sexo convencional é a prática habitual, sendo outras formas (oral e anal)
praticadas quando se adquiriu experiências conforme os adolescentes não-
religiosos ou quando se faz sexo apenas por prazer, como mostraram os
adolescentes religiosos.
Os adolescentes religiosos concebem que as satisfações decorrentes das
vivências sexuais têm caráter afetivo e estão associadas à escolha adequada do(a)
133
parceiro(a) e à ocorrência do sexo no momento devido. Noutra situação, entre os
rapazes, o sexo quando ocorre parece ter a finalidade de auto-afirmação da
virilidade e a vivência do prazer. O olhar dos adolescentes não-religiosos o
prazer sexual obtido como a satisfação fundamental das vivências sexuais. O prazer
sexual como sinônimo de satisfação, parece decorrente da aptidão orgástica como
descrito por Souza et al (1997) em que 90,1% dos rapazes e 82,9% das moças
manifestaram obtenção de orgasmos nas relações sexuais e, conseqüentemente,
índices de satisfação de 86,6% entre os rapazes e 85,8% entre as moças com a
atividade sexual.
Entre os adolescentes masculinos, as idéias de frustração derivadas das
vivências sexuais estão ligadas ao acometimento por DST e gravidez. As moças
referiram preocupação em satisfazer o namorado, o término do namoro após a
relação sexual e o desapoio da sociedade às vivências sexuais das moças, como
situações frustrantes. O afeto na relação sexual leva em consideração o gênero: as
moças revelam maior preocupação na escolha do parceiro e no planejamento da
iniciação sexual (MATOS, FÉRES-CARNEIRO e JABLONSKI, 2005) bem como tem
em alta consideração (93,5%) o envolvimento afetivo como condição antecedente
para a prática do sexo, enquanto para os rapazes tal condição possui peso afetivo
acentuadamente menor (62,9%) como reportado no estudo gaúcho (SOUZA et al,
1997).
134
Quadro 10 – Vivências sexuais entre adolescentes / Categorização de conteúdos
GRUPO FOCAL RELIOSO 4 (GFR-4) GRUPO FOCAL NÃO-RELIGIOSO 4 (GFNR-4)
O QUE OS ADOLESCENTES ENTENDEM POR SEXUALIDADE
Sexo e prazer.
- Banalizado pela mídia (indústria do
amor)
Opções de orientação sexual
Algo normal para depois do casamento
Iniciação sexual para se tornar homem e
mulher
Relacionamento afetivo com pessoa do sexo
oposto ou não
Algo que deriva da sensualidade.
- Banalizado pela mídia;
- Podem induzir a prostituição;
- O ato sexual é um negócio “escrachado”.
Auto-conhecimento do corpo.
O QUE SÃO VIVÊNCIAS SEXUAIS PARA OS ADOLESCENTES
Coisa normal se tiver personalidade
Jogo de sedução
Prática de sexo
Amor, instintos, busca de prazer
Experiência sexual com pessoa do sexo
oposto.
Intimidade com pessoa de quem se gosta
Relação sexual com amor ou não
Respeito, carinho entre homem e mulher
COMO OCORREM AS VIVÊNCIAS SEXUAIS ENTRE ADOLESCENTES
Espontaneamente, em qualquer lugar, de
várias formas
As vezes sobre a influência de amigos e
de bebidas
De forma convencional se houver amor; de
forma inovadora (oral e anal) se apenas
por prazer
Egocentrismo masculino; não há
preocupação com o sentimento feminino
Por impulso: vai ficando, apimentando e acontece
ali sem se perceber
Só por prazer
Influência de amigos e bebidas
De forma básica; normal; sexo comum
Deve-se fazer alguma coisa inovadora
Sexo é sexo. A gente vai lá e faz e pronto
Masturbação no início como descoberta do corpo
Inicialmente, sexo vaginal; quando adquire
experiência faz sexo oral e anal
SATISFAÇÕES E FRUSTRAÇÕES DECORRENTES DAS VIVÊNCIAS SEXUAIS
Satisfações
- Fazer sexo com a pessoa que ama no
momento certo
- Além do prazer, se tornar hominho
Frustrações
- Deixar-se levar pela curiosidade
- Preocupação feminina em satisfazer o
homem
- Gravidez; DST
- Depois da entrega o namorado terminar o
namoro
Satisfações
- O momento do prazer
Frustrações
- Gravidez; doenças
- O rapaz não considerar os sentimentos da moça
- Arrependimento; não era a hora certa
- Fazer sexo para não perder o namorado
- A sociedade apóia o rapaz e pune a moça
5. ORIENTAÇÃO DO DESEJO SEXUAL ENTRE ADOLESCENTES
A concepção de orientação do desejo sexual pelos adolescentes religiosos
(GFR-5) e pelos adolescentes não-religiosos (GFNR-5) pode ser expressa em duas
dimensões [Quadro 11, p. 137]: (1) Como uma forma de educação familiar para
direcionar desejo sexual, prevenir DST, gravidez e ocorrência de homossexualidade,
e (2) como “química” de atratividade e opção que se faz por uma direção sexual com
135
o propósito de ser feliz. A orientação do desejo sexual vem sendo definida como um
sentimento subjetivo de atração direcionado a uma pessoa com quem se deseja
estabelecer relacionamento amoroso e sexual. O desejo sexual é determinado por
fatores genéticos e psicossociais e tem como característica o dinamismo erótico
interior que é impulsionado por uma carga de atração física e emocionalmente e que
indica não apenas a pessoa (homem ou mulher) que atrai, mas também o tipo dessa
pessoa (PICAZIO, 1998a).
A heterossexualidade é a forma de orientação do desejo julgada correta pela
grande maioria dos adolescentes de ambos os grupos. Todavia, entre os
adolescentes religiosos alguns aceitem que a orientação do desejo não seja uma
opção, rejeitam as outras orientações. Entre os adolescentes não-religiosos, embora
a heterossexualidade tenha sido a orientação eleita, alguns dos participantes
manifestaram que a orientação sexual deve ser aquela que possibilite auto-
satisfação. Este parecer vem obtendo aceitação nas ciências sociais e da saúde por
se acreditar na imutabilidade da orientação do desejo sexual e, por mais
diferenciada que possa parecer, não pode ser desconsiderada nas ciências sociais e
da saúde, uma vez que “expressa o real desejo e a verdadeira possibilidade de uma
pessoa se realizar afetiva e sexualmente” (PICAZIO, 1998b, p. 25).
A experiência sexual com pessoa do mesmo sexo recebeu maior
desaprovação entre os adolescentes religiosos. Para estes adolescentes, a
homossexualidade é uma opção de orientação sexual que contraria a norma aceita
(heterossexualidade) por se acreditar que Deus, não somente criou o homem e a
mulher, mas definiu também, a heterossexualidade como o padrão de sexualidade a
ser vivida pelos mesmos. Por contrariar a norma divina, a homossexualidade, na
percepção dos adolescentes religiosos, é submetida ao desapreço social, pensando-
se inclusive, na proibição do acesso ao casamento e à procriação, ao indivíduo
homossexual. A idéia da heterossexualidade como orientação correta do desejo
sexual, leva os adolescentes a acreditarem na superioridade desta sobre a
homossexualidade e na imunidade daquela à influência de outras formas de
orientação do desejo sexual.
Entre os não-religiosos, homossexualidade é vista como uma condição
resultante de influências ambientais introduzidas durante o desenvolvimento do
indivíduo. Dentre as influências referidas por estes adolescentes, a forma de criação
familiar tolerante em relação ao “dengo” e ao “mimo” da criança, é apresentada
como tendenciosa e suscetível de induzir, ainda na infância, uma preferência por
amizades femininas que podem induzir mudanças na orientação sexual. O enfoque
atual da mídia na homossexualidade é outra forma de despertar e influenciar a
iniciação homo-erótica da criança, por pura curiosidade. A convivência da criança
com adultos homossexuais, inclusive na condição de pais adotivos, tende a
favorecer a adaptação e a internalização, pela criança, dos estilos vivenciais
homossexuais. Assim, a homossexualidade, entre os adolescentes não-religiosos é
aceita com reservas, contrariando a idéia anterior de liberdade para manifestação do
desejo sexual, uma vez que tais manifestações devem seguir os preceitos sociais.
Taquette et al (2005) comparando relatos de adolescentes cariocas com e sem
história de homossexualidade, verificou que 20,3% dos rapazes de 14 a 19 anos que
constituíram a amostra do seu estudo, relataram experiência homossexual
decorrente de diferentes motivações, e nestes constatou a existência de alto nível de
136
atraso escolar (69,2%), violência familiar (61,5%), uso de álcool menos de cinco
vezes no último mês (69,2%) e uso de outras drogas (38,5%), abuso sexual (23%),
prostituição (46%), DST (53,8%), uso de preservativos às vezes/nunca (61,5%),
dados que situa, no conjunto, a homossexualidade como fator de risco entre
adolescentes.
Entre os adolescentes de ambos os grupos, alguns acreditam que a
orientação bissexual deriva de confusão, indecisão, curiosidade, opção ou até
mesmo, “safadeza” da pessoa. Picazio (1998b, p. 35) diz que a bissexualidade é a
forma de orientação que mais induz a propagação de polêmicas, por se considerar
que os bissexuais são “pessoas não-resolvidas” que preferem continuar “em cima do
muro”, havendo assim uma concordância com o pensamento dos adolescentes.
Para os adolescentes religiosos a bissexualidade e a homossexualidade são
orientações erradas e por isso o preconceito social e religioso manifesto no grupo.
Entre os adolescentes o-religiosos, a bissexualidade é uma forma de orientação
primariamente homossexual e de maior rejeição pelas moças quando se trata de
orientação bissexual em rapazes, devendo ser comunicada quando no
relacionamento amoroso e sexual o parceiro é de orientação heterossexual. Estudos
de base psicanalítica apontam a orientação bissexual como característica do início
da adolescência, sendo um processo que resulta de uma vaga percepção do corpo
(CAPITÃO e ZAPRONHA, 2004). Numa revisão de conceitos psicanalíticos sobre o
fenômeno da adolescência, considerou-se a bissexualidade como um processo
normal da definição da sexualidade, sobretudo no caso da adolescência prolongada.
Nesse estudo os autores insistem que a bissexualidade promove um conflito
psicológico que exige definição de identidade sexual como solução final para a crise
da adolescência prolongada, e tal exigência leva o adolescente a contornar o
problema mantendo-se na posição bissexual (CAMARA e CRUZ, 1999).
137
Quadro 11 – Orientação do desejo sexual entre adolescentes / Categorização de conteúdos
GRUPO FOCAL RELIGIOSO 5 (GFR-5) GRUPO FOCAL NÃO-RELIGIOSO 5 (GFNR-5)
O QUE OS ADOLESCENTES ENTENDEM POR ORIENTAÇÃO DE DESEJO SEXUAL?
Algo relacionado à química; atração sexual
- Influenciada pela genética
- Natureza psicológica (personalidade)
- Educação familiar
Escolhas que a pessoa faz
Atividade educativa para dar direção ao desejo
sexual
Orientação familiar para evitar homossexualidade
e DST
Aconselhamento para prevenção de gravidez e
DST
Opção que se faz por uma direção sexual em
busca da felicidade
HÁ UMA ORIENTAÇÃO DO DESEJO SEXUAL QUE SEJA CORRETA?
Aquela esperada do sexo biológico (ser
homem ou ser mulher – heterossexual)
Orientação sexual não é uma escolha;
talvez uma aceitação da condição sexual
Rejeição aos desvios de orientação sexual
Heterossexual
- Aceitando as outras formas de orientação
Aquela que dê auto-satisfação à pessoa
PERCEPÇÃO DO RELACIONAMENTO SEXUAL COM PESSOA DO MESMO SEXO
Há influência social
É uma questão de opção; de escolha da
pessoa
Homossexuais não podem ter os mesmos
direitos que os heterossexuais
- Casar; ter filhos
Amizades homossexuais não influenciam a
orientação sexual da pessoa
(heterossexual)
As manifestações sexuais devem obedecer aos
padrões sociais
Aceitação preconceituosa
- Rejeição dos trejeitos
- Comportamento estranho
- Não confundir delicadeza masculina com
homossexualidade
Homossexualidade é um problema decorrente da
educação
PERCEPÇÃO DO RELACIONAMENTO SEXUAL COM PESSOAS DE AMBOS OS SEXOS?
Gilete; corta dos dois lados; É errado do
mesmo jeito
Não tem opinião própria ... (ou é gay ou
heterossexual)
Indecisão ou opção sexual da pessoa
Maior preconceito e rejeição social
Maior rejeição religiosa
Orientação primariamente homossexual
Confusão, curiosidade, indecisão, safadeza
A bissexualidade masculina é mais rejeitável à
mulher
A bissexualidade deve ser informada ao parceiro
(heterossexual)
6. ALGUNS COMENTÁRIOS E SUGESTÕES
Os dados obtidos neste estudo sobre a sexualidade dos adolescentes
demonstram a necessidade de se promover amplas reflexões sobre o tema. A
percepção da menor presença dos pais e da escola na orientação sexual, mostram
que os adolescentes não esperam receber apoios isolados nesta fase tão importante
do desenvolvimento humano.
No espaço educativo o conhecimento do fenômeno religioso tende a
influenciar a adoção de práticas pedagógicas que instituem concepções de mundo
ligadas por elementos objetivos advindos das propostas das ciências sociais que se
incorporam à subjetividade da religião. Medeiros (2008, p. 107-122) discutindo
pressupostos éticos, filosóficos e sociais implicados no desempenho acadêmico,
mostra que não é sem razão que as ciências sociais têm se ancorado nos
fenômenos observados no comportamento religioso para construir e instituir uma
138
sustentável compreensão dos valores humanos implícitos no processo educativo. A
religião oferece concepções de mundo que favorecem a construção de ideologias
que historicamente tem influenciado na mudança de atitudes de homens e mulheres,
imprimindo direções de ação social em consonância com a idéia de apreensão de
verdades cujas origens remontam a uma fonte indubitável. Para o autor, o fenômeno
religioso principia uma Ética indutora de uma Moral que gradativamente vai
adquirindo poderes de Estado, (a escola, portanto) com grande força de influência
na forma como se organizam e se executam as ações sociais, particularmente em
relação aos objetivos educacionais.
A escola vem sendo apontada como um meio favorecedor da veiculação de
informações sobre sexualidade, tendo por propósito controlar o exercício da
sexualidade atuando na minimização dos problemas de saúde decorrentes da
exposição dos adolescentes a vivências sexuais de risco. Atualmente a escola vem
se constituindo num lócus que tem adicionado à sua especificidade pedagógica, a
responsabilidade de informar adolescentes sobre formas de evitamento das doenças
sexualmente transmissíveis e da gravidez (ALTMANN, 2001), pretendendo-se assim,
controlar a exposição dos adolescentes às situações de risco bem como controlar o
ocorrência da gravidez não planejada ou até mesmo desejada.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais propõem que o tratamento transversal
da temática da sexualidade sob a forma de “Orientação Sexual” deve mesclar toda a
atividade educativa, uma vez que a prática pedagógica influencia a construção e a
transmissão de experiências do mundo exterior ao mesmo tempo em que vai
construindo e transmitindo as experiências que as pessoas têm de si mesmas e dos
outros como sujeitos (ALTMANN, 2001). A idéia contida nesta orientação pressupõe
a habilidade dos professores para adentrarem à temática, auxiliando a construção
de novas mentalidades a partir da disponibilidade de materiais instrucionais. Por
outro lado, deve-se considerar que a produção destes materiais ocorrerá em estreita
ligação com as disposições afetivas dos professores, construídas ao longo da vida,
em relação à própria maneira de ver e viver a sexualidade. Como não há um padrão
de sexualidade, a ser adotado por todos, o papel da escola estará voltado à
construção de diferentes sexualidades, mas não poderá assegurar a inserção e
aceitação social de formas não-heterossexuais, como se no relato de alguns dos
adolescentes neste estudo.
Fava (2004) estudando a sexualidade como tema transversal nas escolas
municipais de Florianópolis, constatou a necessidade de (1) oferecer apoio aos
facilitadores de cursos e de modo geral aos docentes sobre questões vinculadas à
sexualidade, (2) facilitar o contato dos sujeitos com a sua própria história e vivências
da sexualidade, (3) instituir processos de formação contínua a fim de que a
educação sexual possa alcançar significado e produzir os frutos esperados nas
escolas públicas. Certamente estas conclusões são aplicáveis à realidade escolar
local, presumindo-se que a adoção de medidas pedagógicas semelhantes facilite a
atividade pedagógica na abordagem de questões ligadas à sexualidade e, por
extensão a educação e o desenvolvimento afetivo e sexual dos adolescentes.
Assim, é compreensível que os adolescentes requeiram maior envolvimento
dos pais e das instituições escolares na produção e transmissão de informações
significativas sobre a sexualidade adolescente, como instrumentos de promoção da
139
cidadania e, de modo particular, saúde sexual dos adolescentes. Tal requisição
encontra na dimensão religiosa uma possibilidade de explicação sobre a forma como
a escola e os educadores investem na orientação sexual dos alunos como proposto
nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Noutras palavras, normatizar, exemplificar,
insistir na integração de disciplinas e conteúdos escolares a partir do pensamento
majoritário das autoridades das ciências e da educação, não é o bastante para
imprimir a adoção de práticas pedagógicas que informem e influenciam mudanças
de comportamento em relação às vivências sexuais na adolescência.
Seguramente, diz Medeiros (2008, p. 122) “... a dimensão religiosa é um dos
espaços onde encontramos raízes éticas que podem contribuir para superar o
desânimo e o desinteresse das práticas sociais e educativas...”. Esta forma de
pensar a religião e a sua influência na produção de atividades coletivas de valor
social induz a necessidade de refletir sobre o papel atual da escola e da família na
contextualização das suas pressupostas práticas de atenção ao amplo
desenvolvimento psicossocial e sexual dos adolescentes. Semelhantemente às
práticas preventivas que se adotam em saúde, medidas preventivas de saúde sexual
para os adolescentes ainda carecem de delineamento político, educativo-familiar e
pedagógico-institucional.
140
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste estudo constatamos que os adolescentes religiosos (GFR-1) e os
adolescentes não-religiosos (GFNR-1) possuem nível de conhecimento semelhante
sobre as doenças sexualmente transmissíveis, quanto às possíveis formas de
contaminação. Relataram conhecimento de diferentes tipos de DST sem possuírem,
entretanto, conhecimento definido dos sintomas de manifestação das mesmas. Os
adolescentes religiosos mais que os não-religiosos demonstraram maior
conhecimento dos métodos preventivos, aliaram valores religiosos a uma conduta de
prevenção, mas tal conhecimento não permite assegurar a primazia dos primeiros
sobre os segundos. A religião não apareceu como fator definido de distinção quanto
ao conhecimento atual das doenças sexualmente transmissíveis e formas de
prevenção, mesmo com a melhor performance de argumentação dos adolescentes
religiosos durante a discussão da temática.
Os adolescentes têm claro conhecimento do sentido da anticoncepção,
havendo entre os não-religiosos (GFNR-2) maior conhecimento dos métodos de
contracepção. Ambos os grupos de adolescentes enfatizaram a camisinha e as
pílulas anticoncepcionais, mas não possuem conhecimento relativo à segurança
contraceptiva dos métodos por eles conhecidos, exceto em relação à camisinha por
reter o material ejaculado. Na discussão desta temática verificou-se forte influência
dos valores das religiões na rejeição tanto à estimulação como à prática da
anticoncepção pelos adolescentes religiosos (GFR-2).
Diferentes concepções de sexualidade foram encontradas entre os
adolescentes e nestas, incluiu-se um olhar mais voltado à afetividade entre os
religiosos (GFR-3) e uma ênfase para as relações sexuais e busca do prazer entre
os não-religiosos (GFNR-3), equiparando assim, sexualidade e sexo. A sexualidade
produz uma animação vital entre os religiosos voltada ao crescimento interior sem
conseguir ultrapassar as barreiras sócio-culturais da separação dos sexos. A
sexualidade foi discutida entre os religiosos, pelo viés do desenvolvimento biofísico e
das relações interpessoais como pressupostos de adaptação pessoal e social, ao
passo que os não-religiosos adentraram exclusivamente ao terreno das relações
sexuais permitidas aos rapazes. Os valores advindos das religiões como a rejeição
às moças não-virgens, a aceitação menos declarada da liberdade sexual dos
rapazes, a liberdade sexual no casamento e o exercício da sexualidade como
mecanismo de ajustamento à vida, separaram os adolescentes religiosos dos não-
religiosos.
Os adolescentes religiosos (GFR-4) e os não-religiosos (GFNR-4) revelaram
sensível dificuldade na compreensão do fenômeno da sexualidade. Ambos os
grupos conceituaram-na sob o olhar do prazer sexual, com maior elenco de riqueza
conceitual entre os não-religiosos. Para os adolescentes de ambos os grupos, as
vivências sexuais são comportamentos elásticos que podem se estender do carinho
à relação sexual entre pessoas heterossexuais, não havendo menção às outras
formas de relação erótica. A espontaneidade, a influência de bebidas e de amigos
foram os motores das vivências sexuais, nas quais o auto-erotismo e a prática do
sexo convencional se configuraram mais claramente. Entre os religiosos,
conhecimento de outras práticas de sexo (anal e oral) que alguns adolescentes
141
referem como inovação para o prazer, na ausência de sentimento amoroso entre os
parceiros. As mesmas práticas foram vistas pelos não-religiosos como
possibilidades de realização sexual quando se adquiriu satisfatória experiência,
sendo esta um requisito às iniciativas de inovação nas relações sexuais. As
satisfações das vivências sexuais entre os religiosos derivam do afeto, da escolha
adequada do parceiro e da ocasião em que ocorre, ao passo que os não-religiosos
tendem a valorizar mais efetivamente o prazer orgástico. As frustrações do sexo
referidas em ambos os grupos estão relacionadas à (1) fatores pessoais
circunstanciais (curiosidade, arrependimento, satisfazer e não perder o namorado), e
à (2) prática de sexo inseguro (gravidez e acometimento por doenças sexualmente
transmissíveis).
Os adolescentes consideraram duas possibilidades de orientação sexual:
heterossexual e homossexual. Desta forma manifestaram forte rejeição à
bissexualidade por diferentes motivos. Alguns dos adolescentes não-religiosos
consideraram a bissexualidade uma “safadeza”, uma forma disfarçada da
homossexualidade com o intuito de amenizar rejeições sociais como relataram
alguns dos adolescentes religiosos. Os não-religiosos rejeitaram a bissexualidade
por razões estéticas, enquanto os religiosos a rejeitaram por considerarem que na
gênese humana a orientação do desejo foi definida pelo Criador, princípios que
sustentam o desapoio social e religioso verificado no grupo dos adolescentes
religiosos.
Finalizando, este estudo por sua natureza não tem a pretensão de ser
conclusivo, mas permite enunciar as seguintes constatações:
O conhecimento relativo às doenças sexualmente transmissíveis e
formas de prevenção entre adolescentes secundaristas o revelou influências que
possam ser atribuídas à condição de ser ou não religioso.
A condição de ser religioso não influencia o conhecimento relativo aos
métodos de contracepção, mas revela-se um fator importante na posição ética
adotada pelos adolescentes em relação à estimulação e à prática de contracepção.
A condição religiosa se revela pouco influente na compreensão de
questões gerais sobre a sexualidade. Entretanto, é um fator qualitativamente
importante para atribuir significação afetiva mais ampla ao valor da sexualidade no
processo de adaptação social e vital entre adolescentes.
As vivências sexuais de adolescentes não diferem substancialmente
quanto às formas de realização. Porém, a condição religiosa parece atribuir afeto à
prática do sexo e este em sua forma convencional, significando que a preferências
por outras formas (inovações) de realização sexual denotam falta de afeto entre os
parceiros.
A heterossexualidade é a forma de orientação do desejo sexual aceita
entre os adolescentes. A homossexualidade e a bissexualidade são orientações
rejeitadas pelos adolescentes independentemente da condição de ser ou não
religioso.
142
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152
ANEXOS
153
ANEXO A – ESCOLAS PARTICIPANTES DESTE ESTUDO
1. CENTRO DE ENSINO EXPERIMENTAL DE GARANHUNS
Rua Dr. Ernesto Dourado, S/N – Heliópolis
55.290-000 - Garanhuns, PE
Fones: (087) 3761-1168
(087) 3761-8288
2. CENTRO EDUCACIONAL NOVA DIMENSÃO
Av. Gonçalves Maia, 159 – Heliópolis
55.296-270 – Garanhuns, PE
Fone: (087) 3762-5416
3. COLEGIO DIOCESANO DE GARANHUNS
Praça da Bandeira, S/N – Centro
55.290-000 – Garanhuns, PE
Fone: (87) 3761-1505
4. COLEGIO PRESBITERIANO 15 DE NOVEMBRO
Praça Souto Filho, 696 – Heliópolis
55.295-400 – Garanhuns, PE
Fone: (087) 3761-1161
5. ESCOLA FRANCISCO MADEIROS
Trav. Julião Cavalcanti, S/N – Magano
55.294-211 – Garanhuns
Fone: (087) 3761-2111
6. ESCOLA HENRIQUE DIAS
Rua Pedro Rocha, 296 – Heliópolis
55.295-470 – Garanhuns, PE
Fones: (087) 3761-8432
(087) 3762-7215
7. ESCOLA Pe. AGOBAR VALENÇA
Av. Caruaru, 508 – Heliópolis
55.295-380 – Garanhuns, PE
Fone: (087) 3762-7066
(087) 3763-2713
8. ESCOLA Prof. JERÔNIMO GUEIROS
Praça Cel Antonio Vitor, 359 – São José
55.295-270 – Garanhuns, PE
Fones: (087) 3761-8434
(087) 3762-9340
154
ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PERNAMBUCO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO1
11
1
Você está sendo convidado(a) a participar, como voluntário(a), da pesquisa
INFLUÊNCIA DA RELIGIÃO NO COMPORTAMENTO SEXUAL DE ADOLESCENTES. Sua
participação não é obrigatória, e, a qualquer momento, você poderá desistir e retirar o seu
consentimento. Se você desistir de participar, mesmo após haver dado o seu
consentimento, sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com os
pesquisadores nem com a instituição patrocinadora da pesquisa.
Se concordar em participar, você receberá uma cópia deste termo onde consta o
telefone e endereço da pesquisadora principal, para fins de dúvidas em relação ao projeto e
à sua participação.
Nome da pesquisa: INFLUÊNCIAS DA RELIGIÃO NO COMPORTAMENTO SEXUAL DE
ADOLESCENTES
Pesquisador responsável: Profa. Dra. KALINA VANDERLEI SILVA
Endereço: Rua Dr. Correia da Silva, 126 – Várzea – Recife, PE.
Telefone: (81) 9147-1656
Pesquisador participante: CARLOS ALBERTO LIVINO DA SILVA
Endereço: Av. Simoa Gomes, 1599 – Heliópolis, Garanhuns, PE.
Telefone: (87) 9988-2803
Instituição patrocinadora: FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PERNAMBUCO – UPE
A pesquisa tem por objetivo, comparar a influência da religião no comportamento
sexual de adolescentes. Será realizada através de entrevistas grupais, em encontros a ser
agendados com os grupos, cujo conteúdo abordará questões relativas ao comportamento
sexual de adolescentes na atualidade. Os participantes, nos encontros, receberão um
número a fim de evitar a identificação nominal dos mesmos. O conteúdo dos encontros será
gravado para posterior análise pelos pesquisadores, com o propósito de comparar
possíveis diferenças no comportamento sexual em função da religião ou da ausência desta
na vida dos participantes.
O participante não será submetido a qualquer risco físico, moral ou
constrangimento. Sua resposta ajudará aos pais, professores, religiosos e a comunidade, a
refletir sobre o valor da religião na vida e, de modo particular, no comportamento sexual de
adolescentes. Por sua participação, você não terá quaisquer custos financeiros, bem como
não receberá qualquer reembolso por ela. Suas respostas serão confidenciais aos
pesquisadores e estes destruirão as gravações realizadas após a análise do conteúdo das
mesmas. O relatório da pesquisa não divulgará dados individuais; sua ênfase será
colocada nos dados coletivos que estejam diretamente ligados aos objetivos do estudo.
Profa. Dra. KALINA VANDERLEI SILVA CARLOS ALBERTO LIVINO DA SILVA
Pesquisadora Responsável Pesquisador Participante
_________
1 Adaptado da UNISO
155
ANEXO C – TERMO DE CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA
COMO SUJEITO
UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PERNAMBUCO
TERMO DE CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO SUJEITO
(AUTORIZAÇÃO DOS PAIS OU RESPONSÁVEIS)
Eu,_______________________________________________________________________
RG___________________, responsável legal por _________________________________
________________________, RG________________________, declaro que concordo com
a sua participação na pesquisa que investiga a influência da religião no comportamento
sexual de adolescentes, no âmbito da cidade de Garanhuns. Declaro também que li o
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO, elaborado pela UNIVERSIDADE
DE PERNAMBUCO / FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PERNAMBUCO, assinado pela
pesquisadora responsável Profa. Dra. KALINA VANDERLEI SILVA, e que fui informado
pelo pesquisador participante CARLOS ALBERTO LIVINO DA SILVA, dos procedimentos
que serão utilizados, riscos e desconfortos, benefícios, custo, reembolso dos participantes e
confidencialidade da pesquisa, havendo-me sido assegurado que este consentimento pode
ser retirado a qualquer momento sem estar o participante ou o responsável legal por este,
sujeito a quaisquer penalidades.
Declaro ainda que recebi uma cópia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
assinado pela pesquisadora responsável.
Garanhuns,_____ de _________________________ de________ .
______________________________________________
(Assinatura do pai ou responsável legal)
CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO SUJEITO
Eu__________________________________________________________________,
RG__________________, declaro que fui devidamente informado(a) sobre os objetivos e
das demais condições desta pesquisa como descritas acima e concordo em participar como
sujeito, pois estou ciente de que posso retirar o consentimento dado, a qualquer momento,
sem estar sujeito a quaisquer formas de penalidades.
Garanhuns,_____ de _________________________ de________ .
________________________________________________
(Assinatura do(a) participante)
156
ANEXO D - FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DO PARTICIPANTE
UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PERNAMBUCO
Nome da pesquisa: RELIGIÃO E SEXUALIDADE: Um estudo sobre o
comportamento sexual de adolescentes em Garanhuns – Pernambuco – Brasil.
Ficha de Identificação do Participante
Nome:
Idade ____ anos Sexo ( ) Masculino ( ) Feminino Série ___________
Religião:
( ) Católica
( ) Evangélica
( ) Outras
( ) Não-religioso / não-religiosa
Colégio / Escola
Residência:
Fones p/ contato:
157
ANEXO E – NORMAS PARA TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTAS GRAVADAS
OCORRÊNCIAS
SINAIS
UTILIZADOS
EXEMPLIFICAÇÕES
Incompreensão de palavras ou
segmentos
( ) Do nives de rensa ( ) de renda
nominal.
Hipótese do que se ouviu (hipótese) (estou) meio preocupado (com
o gravador)
Truncamento (havendo
homografia, usa-se acento
indicativo da tônica e/ou timbre)
/ E comé/ e reinicia
Entonação enfática Maiúscula Porque as pessoas reTÊM
moeda
Prolongamento de vogais e
consoantes (como s, r)
:: podendo
aumentar para :::::
ou mais
Ao emprestarmos éh::: ...
dinheiro
Silabação - Por motivo de tran-sa-ção
Interrogação ? Eo Banco... Central... certo?
Qualquer pausa ... São três motivos... ou três
razões que fazem...
Comentário descritivo do
transcritor
((minúscula)) ((tossiu))
Comentários que quebram a
sequência temática da exposição:
desvio temático
-- -- ... a demanda da moeda - -
vamos da casa essa notação - -
demanda da moeda por motivo
...
Superposição, simultaneidade de
vozes
Ligando as linhas a. na casa de sua irmã
b. [sexta-feira?
a. fazem LÁ
b. [cozinham lá
Indicação de que a fala foi tomada
ou interrompida em determinado
ponto. Não no seu início, por
exemplo,
(...) (...) nós vimos que existem...
Citações literais de textos, durante
a gravação
“entre aspas” Pedro Lima... ah escreve na
ocasião... “O cinema falado em
língua estrangeira não precisa
de nenhuma baRReira entre
nós”...
1. Iniciais maiúsculas só para nomes próprios ou siglas.
2. Fáticos: ah, éh, ahn, uhn, ta (não por estar: tá? Você está brava?)
3. Nomes de obras ou nomes comuns estrangeiros são grifados.
4. Números por extenso.
5. Não se indica o ponto de exclamação (frase exclamativa)
6. Não se anota o cadenciamento da frase.
7. Podem-se combinar sinais. Por exemplo: oh:::... (alongamento e pausa)
8. Não se utilizam sinais de pausa, típicas da língua escrita, como ponto e vírgula,
dois pontos, vírgula. As reticências marcam qualquer tipo de pausa.
Referência:
< http://www.psrossi.com/Normas_entrev.pdf.>
158
ANEXO F - GRUPO FOCAL RELIGIOSO 1 – (GFR-1) 1
2
TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTA
3
4
5
DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS E FORMAS DE PREVENÇÃO
6
7
P: “Estamos reunidos com o grupo GRF-1. E nesta ocasião nos vamos discutir
8
algumas proposições relativas às doenças sexualmente transmissíveis e suas formas
9
de prevenção. A primeira questão que nós gostaríamos de discutir, é “o que os
10
jovens entendem ou acham ser as doenças sexualmente transmissíveis? Com a
11
fala?
12
Damaris: “Éh:: bem... que eu conheço... eu conheço a AIDS que é a mais famosa de
13
todas... que ela é transmitida pelo sexo... é um vírus que é... assim eu entendo pouco
14
porque não estou lembrando de muita coisa... mas é ((risos)) preferível que faça sexo
15
com prevenção para não pegar essa doença... eu não lembro dos sintomas agora”.
16
P: “Isso, mas o que queremos é ver com o grupo, o que o grupo entende por doenças
17
sexualmente transmissíveis. Você falou em possibilidade de prevenção; mas o que
18
são doenças sexualmente transmissíveis?”
19
Lucas: “Bom eu acho assim... doenças que são pegas pelo ato do sexo, é claro. Éh::..
20
o que eu entendo é isso... doenças que se pega assim: no ato do sexo”.
21
P: “Quem prossegue?”
22
Klaudiana: “Assim... como ela (Damaris) disse, a AIDS não é uma doença que só se
23
pega pelo sexo... existem várias outras formas de pegar como a transfusão de sangue,
24
uma injeção contaminada, essas coisas todas. Éh:: também como ele (Lucas) disse...
25
só que cabe tomar consciência e ter cuidados prá/ não pegar”.
26
P: “Quem mais contribui?”
27
Cristina: Éh:: como ele (Lucas) disse, são doenças que são provocadas pelo ato
28
sexual e não só pelo ato sexual como (Roberta) disse, que pode ser pega pela
29
transfusão de sangue e às vezes pela saliva”.
30
P: “Que outra contribuição? todos podem falar tranquilamente;acresce sempre alguma
31
coisa.
32
Damaris: “Bem... éh:: eu acho assim... que como (Klaudiana) disse vai da consciência
33
de cada um.Quando a gente tem muitas informações... hoje o mundo de hoje é cheio
34
de informações e quando a gente... éh:: temos as nossas informações cabe a nós
35
saber usá-las com sabedoria”.
36
P: Lucidalva?
37
Lucidalva: “Acho que... resumindo o pensamento ((não inteligível)) nós sabemos, o
38
básico é que são doenças transmitidas pelo sexo”.
39
P: “Vamos ouvir Mirian”.
40
Mirian: “É isso que falaram... não tenho mais a acrescentar”.
41
P: Roberta?
42
Roberta: “è a mesma coisa; que são doenças que são transmitidas pelo sexo... são
43
perigosas e tem que levar em consideração que a maioria delas pode levar à morte...
44
eu acho que num passe de mágica... qualquer deslize elas pode levar à morte”.
45
P: Essa palavra de Roberta de que as doenças sexualmente transmissíveis podem
46
levar à morte, o que vocês acham?”
47
Damaris: “É aquele negócio... éh:: ...você não sabendo que tem a doença ... éh:: você
48
não sabendo se tratar ela pode ser levada à morte rapidamente... mas hoje com a
49
tecnologia e a ciência está muito avançada... ela tem o tardecimento (retardamento
50
dos sintomas) da AIDS, mas a maioria delas não tem cura e basta a gente se prevenir
51
para que não possamos ser a razão”.
52
Lucas: “Eu acho assim que a ciência avançou demais... mas o que leva à morte
53
mesmo é o preconceito e a vergonha do portador da doença que tem vergonha de ir
54
ao médico prá/ mostrar o que ele espassando; então ele acaba deixando o tempo
55
159
passar e aquilo vai piorando, piorando e quando ele for mesmo realmente ao médico
56
não vai ter mais condições de curar a doença”.
57
Klaudiana: “E isso acontece bastante com o adolescente que tem aquilo que com ele
58
não acontece nada e que com os outros acontece pode acontecer tudo; às vezes
59
sente dor e pensa: isso não é doença séria não... não fala para os pais não vai ao
60
médico... aí a doença vai piorando, piorando até ao ponto da morte”.
61
Cristina: “Aí é como (Klaudiana) disse: o jovem... assim... não ta/ se cuidando... ele
62
não ta priorizando o que realmente deve ser priorizado. Por exemplo... éh::...
63
geralmente essas doenças quando elas são descobertas... por exemplo, na AIDS eu
64
acho assim... ao meu ver na maioria dos casos quando descobre é tarde demais...
65
nunca tem, eu pelo menos nunca vi o exemplo de uma pessoa que passou tanto
66
tempo com essa doença que teve tratamento, pois sempre quando você descobre já é
67
tarde demais; quando você descobre ela, você não tem mais condições de um
68
tratamento digno ou coisa assim”.
69
Lucidalva: “Completando a fala de Lucas, acho que é o medo de enfrentar a
70
sociedade que nós estamos vivendo hoje”.
71
Roberta: “Acho que... completando a fala de Cristina muitos jovens, eles... quando
72
descobrem, como falaram, eles tem medo... assim eles não se interessam a
73
procurar uma ajuda e isso vai piorando cada vez mais e chegando ao ponto de que se
74
ele mesmo não quer ajudar não tem condições dos outros ajudarem”.
75
Mirian: “Resumindo tudo, acho que leva à morte, como foi a pergunta, se não tiver
76
prevenção. Porque, sempre com a prevenção, você antes do sexo você tem
77
prevenção de comprimidos e camisinha; todas as DST leva à morte quem quer
78
mesmo isso... se não fizer prevenção antes”.
79
Damaris: “Completando a fala de Mirian realmente muitas pessoas assim. Na hora
80
que acontece o ato sexual as pessoas não pensam numa coisa... mas assim... quando
81
eles pegam a doença além do medo e além do preconceito, também tem a falta de
82
dinheiro porque os tratamentos são muito caros e você... éh::... a maioria das pessoas
83
que tem AIDS hoje são pessoas de baixa renda... é como Mirian disse... a gente tem
84
que saber se prevenir... éh::... porque preservativo eles dão de graça em festas em
85
programas sociais; a doença, o tratamento não é grátis e você tem que pagar muito
86
caro... além do preconceito você tem que pagar muito caro... pagar muito caro em
87
dinheiro... isso no mundo de hoje que é capitalista não é fácil”.
88
P: alguém mais gostaria... ((não houve manifestações))
89
P: “Quais são as doenças sexualmente transmissíveis que os jovens
90
conhecem?”
91
Cristina: “Bom... a gente tem a AIDS que é a mais conhecida... a gente tem... filis...
92
a gente tem.... tô/ esquecida...., AIDS, sífilis”.
93
P: “Quem contribui mais?”
94
Damaris: “Tem a AIDS, o HPV que é um vírus e tem a gonorréia... pronto”.
95
P: “Quem mais contribui?”
96
Klaudiana: “Só sei dessas também”.
97
P: Lucas?
98
Lucas: ((não contribuiu))
99
Roberta: ((sorriu)
100
P: Lucidalva?
101
Lucidalva: ((sorriu))
102
P: Mirian?
103
Mirian: “Nada”.
104
P: “Alguém gostaria de fazer algum comentário?”
105
Cristina: “É importante falar nesse momento nós estamos aqui em sete pessoas e que
106
a gente sabe que existe um monte de doenças só que a gente não tá lembrando”.
107
P: “Essa fala da Cristina é importante... alguém não recorda mais?
108
Klaudiana: “Eu tô/ com uma lembrança na cabeça mas não sei se é uma DST....
109
cancro mole?” ((risos)).
110
160
P: “As doenças sexualmente transmissíveis são também chamadas de doenças
111
venéreas”.
112
P: “Muito bem. Agora, quais são os sinais que aparecem no corpo e indicam que
113
a pessoa está com uma DST?”
114
Damaris: “No caso da gonorréia ela tem diferença entre os homens e as mulheres...
115
aí... não é gonorréia é cancro mole desculpe... tem uma espécie de... é um negócio
116
que aparece assim ... nos órgãos genitais da mulher e do homem... e é uma coisa
117
mole que aparece; de início aparece em todo (órgão)... que depois fica bem ...”
118
((não conseguiu completar o pensamento)).
119
Roberta: “Se não me engano é a sífilis que no pênis do homem fica bolhas de pus e a
120
AIDS éh::... atinge todo o corpo... os dentes... tudo”. .
121
Cristina: Eu acho que a AIDS é a pior coisa a pior doENÇA que pode acontecer na
122
vida de uma pessoa. Entre câncer... todas as doenças... eu acho que é a doença que
123
você MAIS sofre... porque você sofre tanto fisicamente quanto psicologicamente...
124
acho que a AIDS em si, eu acho que é a pior coisa que pode ocorrer. Porque você faz
125
o que? você desmaia você vomita... de todas as doenças que você tem... por exemplo,
126
você vai ter uma dengue você vai ter o que? você vai ter febre você vai vomitar; você
127
vai ter outra doença, você vai desmaiar... na AIDS você junta tudo isso, todos os
128
sinTOMAS que você pode imaginar, você tem na AIDS”.
129
Roberta: “Contando o emocionalmente também, porque prá/ pessoa chegar e dizer eu
130
tenho AIDS... quem vai conviver normalmente com essa pessoa? na cabeça da
131
pessoa só vem coisa bem pior”.
132
Damaris: “Tem AIDS e o HPV que na maioria das vezes nós não vemos. Ela (HPV)
133
tem tratamento; às vezes ela estaciona... eu não lembro os sintomas, mas quando ela
134
avança, ela pode causar câncer de útero e que pode levar alguém à morte”.
135
Klaudiana: E na AIDS, também a pessoa esna sua frente e você nem diz que ela
136
tem AIDS porque ela tá/ uma pessoa normal, porque depois de algum tempo é que
137
a doença começa a se manifestar”.
138
P: “De que forma?
139
Klaudiana: “Éh::...as doenças que você pode pegar: você pode pegar um resfriado
140
que pode virar uma pneumonia... éh:: pode ficar muito mais grave do que a doença
141
é ( ) e pode durar um dia... uma semana porque ela parece que mata os glóbulos
142
vermelhos
( )
aí, com isso a doença vai cada vez mais piorando”.
143
Lucas: “Porque a AIDS afeta principalmente o sistema imunológico; se você pegar
144
uma gripe como ela (Klaudiana) falou... vai piorando cada vez mais porque o seu
145
organismo não vai ter defesa praquilo/... e em relação às outras doenças pode
146
aparecer nos órgãos genitais... não tô/ lembrado qual é a doença mas que fica o olho
147
vermelho... e caroços também nos órgãos genitais”.
148
Cristina: “E... tem a questão do emagrecimento, porque você emagrece
149
absurdamente, principalmente na AIDS; você emagrece e tudo isso... você não tem
150
defesa; A AIDS... por isso que eu digo que é a pior doença, porque quando você
151
emagrece...sei lá... você... a AIDS é a pior coisa que pode acontecer na vida do ser
152
humano é ter Aids. Eu acho”.
153
Roberta: “Complementando a fala de Cristina quando ela fala que a AIDS é a pior
154
doença que uma pessoa pode ter é porque a AIDS vai matando de pouquinho em
155
pouquinho... ela não chega e logo os sintomas... vai passando os tempos e cada
156
vez piora mais... então a pessoa pode sobreviver dez anos... cinco anos como pode
157
sobreviver um dia... então quando fala que a AIDS é uma doença é porque ela vai
158
matando de pouquinho em pouquinho”.
159
Mirian: “E isso que eu ia falar também sobre a AIDS... acho que você não pode levar
160
um corte porque quando a pessoa leva um corte sempre causa assim... inflama logo e
161
você pode também ser infectado pelo corte daquela pessoa”.
162
Cristina: Por isso que o preconceito nessa parte... éh::... ele tem razão de existir; eu
163
não sei se é porque eu sou... não sei se é porque... eu não posso dizer que não sou
164
preconceituosa porque eu nunca tive contato com pessoa que tenha AIDS, mas eu
165
161
acho que o preconceito nessa parte ele tem razão de existir... é uma coisa... por
166
exemplo: um corte uma saliva, eu acho que para você conviver com uma pessoa
167
dessa é muito difícil; porque pegar uma doença dessa é... deve ser horrível e você
168
conviver com uma pessoa dessa... não que eu esteja dizendo que uma pessoa dessa
169
tenha que viver isolada mas precisa de um cuidado especial prá/ conviver com
170
pessoas que não tenham (AIDS)... eu acho que o preconceito nessa parte tem um
171
pouco de ... razão”.
172
Roberta: “E quem assistiu na Globo “Sete Pecados”, passou esse caso da AIDS: uma
173
estudante adolescente que tinha AIDS... e que ela estava de escola em escola por
174
conta do preconceito; ela chegou na escola e falou que estava passando bastante
175
preconceito e aí a diretora promoveu uma palestra já prá/ isso: prá/ esclarecer,
176
dizendo que beijo ela não ia passar AIDS, se ela tivesse cárie ou alguma coisa na
177
boca: afta ou alguma coisa assim. Se explodisse, a outra pessoa poderia pegar... e
178
na relação sexual se ela se protegesse com camisinha ela não iria transmitir... e que
179
ela poderia ser feliz e conviver na sociedade normalmente porque isso não é uma
180
coisa que vá passar facilmente”.
181
Cristina: “Li um livro e muita gente leu; o assunto que ele trata é a AIDS. Um
182
menino que tem AIDS e a amiga dele, que gosta muito dele, e que vai tentar ajudar...
183
mas a gente vê que é uma coisa fictícia , mas que acontece demais no mundo atual;
184
e... acompanhando o livro a gente entra totalmente na história; a gente vê, a gente
185
olha a coragem que ela tem de tá/ ao lado do amigo e você fica pensando se você
186
faria mesmo tudo isso... e a gente vê o preconceito que ele passa, os sintomas, e tudo
187
isso e que não é uma coisa fictícia e que acontece... quando a gente pensa que
188
acontece a gente fica pensando... a gente pensa se a gente seria capaz de passar por
189
uma coisa dessa, de enfrentar uma coisa dessa... é que a gente a questão da
190
consciência... aí é que a consciência pesa... nessa hora”.
191
P: “Alguém mais gostaria de falar?”
192
((não houve manifestações)).
193
P: “Muito bem. E como é possível se prevenir dessas doenças?”
194
Mirian: “Usando preservativo”.
195
Cristina: “Antes do preservativo eu acho que vem a questão da consciência. Será...
196
eu sei que é o preservativo mas, será que eu tô/ pronta para um ato sexual? será que
197
essa é a pessoa que eu ... entende? a gente não vai chegar e dizer ... éh::... a gente
198
vai fazer e vamos usar camisinha para não pegar AIDS. Vamos procurar saber o que é
199
a AIDS, o que são as doenças sexualmente transmissíveis e ... tudo isso antes de
200
você vê quais são os métodos que você pode usar prá/ que isso não aconteça”.
201
P: “Alguém mais?”
202
Damaris: “Complementando a fala de Cristina, é onde entra os princípios que você
203
aprendeu na sua infância, na sua educação, princípios religiosos; e você... não é
204
sua consciência mas é àquele princípio: será que é certo fazer antes do casamento?
205
será que àquele rapaz ou àquela moça será para mim a minha alma gêmea? porque
206
no mundo atual é àquele negócio: faz por fazer, porque é bom, porque todo mundo tá/
207
fazendo, mas muitas vezes éh::... oitenta por cento , noventa por cento das pessoas
208
se arrependem, não segue princípio bíblico, princípio religioso e às vezes acaba
209
quebrando a cara. Hoje o mundo está cheio de gente que precisa escutar esses
210
princípios porque muitas vezes é abandonado pelo pai, abandonado pela mãe ou
211
muitas vezes os pais não sabem educar; outros educam e a própria pessoa não se
212
conscientiza; às vezes isso é chato falar mas quando a gente se previne quando a
213
gente tem princípio e que sabe que é certo fazer depois do casamento além do
214
princípio bíblico e religioso e saber que é com àquela pessoa que você casou, que tem
215
todo aquele todo processo que você conhece ... pelos menos, cinqüenta por cento
216
você conhece àquela pessoa; você tem mais facilidade de fazer o ato sexual e sua
217
consciência vai estar tranqüila de que você não fez nada de errado escondido de
218
ninguém”.
219
162
Roberta: Agora quantas pessoas quantas mulheres ficam em casa achando que se
220
casou com o homem perfeito com a alma gêmea de sua vida e com o passar do tempo
221
descobre que teve uma grande decepção? será que ela casou com a alma gêmea?”.
222
Cristina: “Eu penso que a fala de Damaris não entrou dentro do contexto com relação
223
a AIDS porque ... acho que não tem nada a ver esse negócio de ter que encontrar a
224
pessoa certa prá/ fazer; a pessoa certa pode ter AIDS, e no casamento eu acho que
225
todo casal deveria usar camisinha porque seu marido ou sua esposa pode ter relações
226
com outras pessoas... infelizmente no mundo que a gente vive é assim; não tem nada
227
a ver você ser casado, você ser namorado, você ser ... entendeu? tem muitas pessoas
228
novas com a idade da gente quinze, dezesseis anos que já pode praticar e usa
229
camisinha e seu parceiro pode ter AIDS e você não pega; e uma pessoa casada com
230
vinte e cinco anos, dez anos, cinquenta anos e pode pegar AIDS porque você não
231
sabe se você vai ter relações com outras pessoas e se seu marido vai ter relações
232
com outras pessoas; eu acho que a camisinha aí é essencial em qualquer
233
relacionamento seja você casado ou não”.
234
Damaris: “Não é que seja a pessoa certa... eu não tô/ falando prá/ ser a pessoa certa
235
mas que seja depois do casamento; é bom porque a sua consciência estará limpa, e o
236
caso de usar camisinha ou não vai da preferência sua; eu acho que a gente deve usar
237
SIM. Em relação a ser casado ou não, deve usar sim, até mesmo porque é uma
238
recomendação médica prá/ você ter mais saúde e fazer com segurança. Mas eu acho
239
que quando a gente faz (sexo) aleatoriamente, não sendo casado, é aquele negócio:
240
tem mais facilidade de ter a doença? Certo. Usando camisinha tudo bem, pode não ter
241
a facilidade, mas eu tenho certeza que a consciência vai pesar ... certo?”.
242
Klaudiana: “Acho que você (Damaris) está envolvendo o seu preconceito com quem
243
faz antes do casamento”.
244
Lucas: ((sorriu)).
245
Mirian: “Como Damaris falou, ela tava falando do sexo como uma forma vulgar; eu
246
não acho que o sexo é uma forma vulgar; tem certas partes (lugar/cultura) que o
247
sexo como uma forma de demonstração de amor e carinho principalmente se você e
248
seu parceiro se amam; se vocês se amam agora, vamos dar um exemplo: se vocês se
249
amam agora e tem a forma de demonstrar isso, os dois fazendo com amor e com
250
carinho, porque não? e se não tem possibilidade de se casar por que não tem
251
condições financeiras e vários outros motivos ...;’ ((não concluiu o pensamento)).
252
P: “Mas a questão seria como se prevenir das DST?”.
253
Mirian: “Éh:: ... a forma de prevenção mais popular falada é a camisinha”.
254
Lucas: “Acho que a forma de prevenir primeiramente vem da bíblia. A ordem de Deus
255
é: depois do casamento ... o certo. Mas hoje em dia anda muito complicado, tá/ muito
256
difícil realmente o jovem se conter até o casamento; porque realmente ((risos)) é
257
complicado; mas o correto seria primeiramente esse. Caso você não consiga o ideal é
258
a camisinha pois sem ela você pode fazer um filho que vai acarretar vários problemas;
259
é isso: o principal é a bíblia depois a camisinha”.
260
P: “Lucidalva?”
261
Lucidalva: “Não””.
262
P: “Roberta?”
263
Roberta: “Acho que o fundamental é o preservativo; eu não conheço outro meio de
264
prevenir a não ser o preservativo; se houver eu não sei”...
265
Lucas: “Anticoncepcionais, a pílula do dia seguite” ((muitas vozes))
266
Roberta: “Assim... da AIDS quando você precisar receber sangue ter o certificado que
267
o portador daquele sangue não tinha AIDS; quando for levar uma injeção, ter certeza
268
que aquela é uma injeção nova; isso é uma outra forma de prevenir também”.
269
Damaris: “Antes de fazer o ato sexual é bom ir no médico buscar informações clínicas
270
e sociais para você se auto informar-se... antes de você fazer você tem que ir no
271
médico”.
272
P: “Cristina ia falar?
273
Cristina: “não”
274
163
P: “Quem mais gostaria de contribuir?
275
((não houve manifestações)).
276
P: “O grupo não quer mais contribuir?”
277
Klaudiana: ((comentários sobre uma situação divergente da temática em discussão))
278
P: “Mais alguma contribuição?”
279
((Silêncio no grupo))
280
P: Nada mais?”
281
((Silêncio no grupo))
282
P: “Então nós encerramos por aqui as contribuições desse grupo sobre as doenças
283
sexualmente transmissíveis e suas formas de transmissão”.
284
164
ANEXO G - GRUPO FOCAL NÃO-RELIGIOSO 1 – (GFNR1) 1
2
TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTA 3
4
5
DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS E FORMAS DE PREVENÇÃO 6
7
P: Estamos nesta ocasião reunidos aqui na Escola Francisco Madeiros, com um
8
grupo de adolescentes, e nesta ocasião nos faremos uma discussão sobre as doenças
9
sexualmente transmissíveis e as suas formas de proteção. Então, uma primeira
10
questão que nós desejamos que ela seja debatida pelo grupo, é ver o que os
11
adolescentes entendem por doenças que sejam sexualmente transmissíveis.
12
Quem poderia iniciar?
13
((Silêncio no grupo))
14
P: O que são as doenças sexualmente transmissíveis?
15
Dionísio: “Uma delas é a AIDS conhecida normalmente no mundo inteiro não por
16
jovens mas também por adolescentes; um meio de se prevenir é usar preservativo
17
conhecido como camisinha.”
18
Diana: “Uma delas além da AIDS é a sífilis.”
19
P: “Helena, talvez”.
20
Helena: “Não sei não viu” ((risos)).
21
P: “Outra pessoa? Joaquim?”
22
Joaquijm: “Uma doença transmitida através do sexo”.
23
P: “Que outra idéia?”
24
Aparecida: “A gonorréia”.
25
P: “Aguma outra idéia alguma outra contribuição?... Aparecida?”.
26
Dionísio: “Não sei....” ((não prosseguiu))
27
P: “Petrus?”
28
Petrus: “Tem também a crista de galo, conhecida também, né/.”
29
P: “Mas o que você acredita que seja uma doença sexualmente transmissível?”
30
Petrus: ((não responde))
31
P: “Mariangela?”
32
Mariangela: ((apenas sorriu))
33
P: “Ivany?”
34
Ivany: “São as doenças que são transmitidas através do ato sexual ou seja uma
35
pessoa que tem AIDS pode passar essa doença se tiver relação com outra pessoa; no
36
caso essa pessoa pode até não TER e passa a TER, devido ao outro que tinha no ato
37
sexual.”
38
Dionísio: “Ou seja praticando a sexualidade.”
39
P: “Stefânia?”
40
Stefânia: “A única doença que eu conheço é a AIDS outras eu não conheço não.”
41
P: “E o que é uma doença sexualmente transmissível?”
42
Stefânia: “É aquilo que Dionísio falou.”
43
P: Muito bem. Então vamos para uma segunda questão: Quais são as doenças
44
sexualmente transmissíveis que são do conhecimento dos adolescentes e dos
45
jovens?”
46
Petrus: “AIDS, sífilis, gonorréia também... várias mas do meu conhecimento
47
essas três.”
48
P: “Que outra pessoa?”
49
Joaquim: “Só lembro do nome dessas também.” (citadas por Petrus); ((risos no
50
grupo))Dionísio: “Não sei se é transmissível: os corrimentos também”.
51
P: “Que outra contribuição? Diana?”
52
Diana: “É o que ele (Joaquim) falou aí; só conheço essas também.”
53
P: “Quem mais colabora? Mariangela?”
54
165
Mariangela: “Não.” ((indicando que nada tem a acrescentar))
55
P: “Stefânia?”
56
Stefânia: “Como falei, eu também só conheço a AIDS.”
57
P: “Diana?”
58
Diana: ((sorriu; não fez comentários))
59
P: “Na comunidade o que os jovens falam dessas doenças? as DST são também
60
chamadas de doenças venéreas. Isso vocês talvez já ouviram falar na comunidade, no
61
colégio, talvez algum colega... alguma colega mencionou algo nesse sentido; o que
62
vocês podem falar a respeito?”
63
Dionísio: “A expectativa é pouca. Poucos adolescentes falam. Por que isso? de cem
64
adolescentes cinco comentam essas doenças; não é muito comum. Para os
65
adolescentes chegar e conversar, isso acontece com os adolescentes masculinos;
66
conversar com os femininos, elas pensam que estão queremos chamá-las pra praticar
67
o ato sexual; é muito comum encontrar isso”.
68
Diana: “Às vezes sabem e mesmo sabendo não acreditam que pode acontecer.”
69
Ivany: “Não é um termo que é bastante discutido talvez por vergonha medo e até
70
pensar que nunca vai acontecer comigo mas não ... a doença é sério deve ser
71
tratada e tomar cuidado assim ... que deveria ser um termo mais discutido embora não
72
seja.”
73
P: “Quando você fala em medo e vergonha, de quê ou de quem?”
74
Ivany: “Assim ... tá/ num grupo de adolescente e chegar assim ... ah:: ... eu fiz isso
75
e aquilo tipo assim ... mas tem vergonha de dizer ...: ah::... fiz...SEI LÁ, a vergonha de
76
falar do ato sexual, talvez não da doença, mas do ato.”
77
P: “Que outra idéia? Helena?”
78
Helena: “Eu vejo assim, que a AIDS não tem cura; tem que ter relações com
79
camisinha”.
80
P: “Mariangela?”
81
Mariangela: ((apenas sorriu))
82
Dionísio: “Muitas pessoas... adolescentes de catorze ou dezesseis anos, a pessoa vai
83
conversar com eles sobre a prevenção sobre esse ato da sexualidade prá/ ele se
84
prevenir e ele acha que a pessoa está maltratando, agredindo; aí ignora a pessoa, não
85
leva em consideração porque se conselho fosse bom não se dava, vendia”.
86
P: “Alguma outra contribuição? Aparecida?
87
Aparecida: “Eles estão falando por mim aí.” ((sorriu)).
88
P: “Quais são sexualmente as doenças transmissíveis que você já tomou
89
conhecimento?”
90
Aparecida: “Assim... eu ouvi falar mas, a que chama mais atenção na comunidade
91
é a AIDS; mas muitas pessoas tem conhecimento da doença, sabem que ela pode
92
transmitir por relações sexuais; mas muitas delas não leva adiante... pensa que isso
93
não vai acontecer, tem vergonha de falar... SEI LÁ”.
94
P: “Quem prossegue?
95
Ivany: “Eu acho assim, que o sexo ele é uma palavra forte... muita gente tem aquele
96
medo... falar de sexo, ai meu Deus, já tô/ com aquela preocupação; muitos pais
97
também têm vergonha de falar com os filhos por acharem... SEI ... que vão colocar
98
no caminho do ato sexual. Já começa por aí: pessoa fica desligada da doença. A mais
99
conhecida é a AIDS, de fato, por não ter cura; existe tratamento mas cura eu acredito
100
ainda não tenha... então esse termo é muito forte para algumas pessoas mas muitas
101
acham normal; para outras, existe aquela cisma devido aos pais que não orientam,
102
não conversam, não explicam os meio de prevenção... vai por aí”.
103
Dionísio: “Discordo. O pai que não orienta o seu filho é um ignorante, porque devido
104
ao pai e à mãe deve sentar com o filho, não importa a idade e orientar...” ((não
105
prosseguiu))
106
Ivany: “Existem pais que querem proteger e o falam logo cedo sobre o sexo na
107
maneira de prevenir, por vergonha de falar com o filho. Isso acontece... qual o pai que
108
vai chegar para a filha: filha você tá/ tendo relação sexual? tome cuidado, use
109
166
camisinha. Acho que não existe um pai que vai falar isso. Também não vai dizer:
110
chegada a hora, quer fazer, faça, mas tenha cuidado. Mas prá/ uma pessoa que tem
111
dezesseis anos como eu, meu pai não chegaria prá mim prá/ tratar de um assunto
112
desse e falar: OLHE vai fazer? use camisinha, tome cuidado com a doença. Meu pai
113
não faria isso jamais... eu não acho que ele seria ignorante, mas para me prevenir.
114
Não existe o risco da doença sexualmente transmissível, mas corre o risco da
115
gravidez na adolescência”.
116
Petrus: “Mas também muito pai não tem conhecimento disso prá/ poder discutir esse
117
assunto com o filho”.
118
Joaquim: “Uma questão de cultura”.
119
P: “Alguma outra idéia?”
120
Dionísio: “Eu sustento minha palavra. Eu acho ignorância dos pais. Se o pai o tem
121
conhecimento, provavelmente a mãe deve ter conhecimento; mínimo ela tem. Deveria
122
chegar conversar com a filha e o pai com o filho ou então pai e mãe sentar e conversar
123
com o filho ou a filha”.
124
P: “Alguma outra contribuição?”
125
Aparecida: “Em relação a tudo isso eu ainda não participo de relação sexual mas
126
minha mãe me aconselha; ela fala na minha adolescência, ela fala que não tá/ me
127
incentivando a fazer relação sexual, mas ela disse que no dia que tiver de acontecer
128
isso eu usasse camisinha eu me prevenisse. Meu pai não, porque eu o tenho muito
129
contato com ele mas minha mãe e minha vó me incentivam muito... elas falam assim”.
130
Ivany: “Minha mãe também me aconselha, tipo a mãe de Aparecida...quando chegar a
131
hora se previna, se cuide.”
132
Joaquim: “Voltando ao assunto, ela (Ivany) concorda comigo; veja que a mãe dela
133
abriu o jogo com ela; como eu tenho mãe, ela abriu o jogo pra mim: vai acontecer
134
isso, use isso, isso e isso; se previna, procure saber quem é a pessoa, se previna de
135
todos os modos; foi o que eu procurei.”
136
Ivany: “Eu falei assim, que existe... em geral... eu não falei da minha mãe nem do meu
137
pai nem da minha vizinha... falei geral, que existe assim: o pai que não freqüentou a
138
escola tem aquela cisma, é um tipo de preconceito prá/ tratar com os filhos desse
139
assunto.”
140
P: “Alguma outra contribuição? Mariangela?”
141
Mariangela: “Às vezes os pais querendo proteger os filhos termina prejudicando eles
142
né/? ... não falando sobre assuntos de sexualidade termina prejudicando eles.”
143
P: “Que outra contribuição? quem gostaria de prosseguir?”
144
((não houve comentário do grupo)).
145
((Vozes no corredor))
146
P: “Alguém gostaria de prosseguir?”
147
((Silêncio no grupo))
148
P: Muito bem. Outra questão. Como é que as doenças sexualmente
149
transmissíveis aparecem no corpo? Quais são os sinais, quais são os sintomas?
150
Como é que o adolescente sabe que pode ter adquirido uma doença
151
sexualmente transmissível?”
152
Joaquim: “Manchas avermelhadas e dor nas partes genitais”.
153
P: “Que outra contribuição?”
154
Dionísio: “Escorrimento...” ((não prosseguiu))
155
P: “Que outra idéia?”
156
Ivany: “Eu li por alto que... parece que na sífilis surge uma ferida nos órgãos genitais e
157
parece que na boca se não me engano.”
158
P: “Outra idéia?”
159
Dionísio: “Apesar de eu não ter bastante conhecimento, de seis em seis meses eu
160
procuro o meu médico, aí ele me explica... mas eu não lembro agora”.
161
P: “Que outra contribuição? Stefânia?”
162
Stefânia: “Não... não sei”.
163
P: “Diana?”
164
167
Diana: “No momento não sei falar”.
165
Dionísio: “Eu vi um vizinho falando que saiu com uma mulher e pegou uma doença;
166
doença era essa que não descobria; indiquei um médico a ele e ele foi... pode ser até
167
um outro nome, mas ele disse que era esporão de galo... doença no órgão sexual ao
168
homem que faz cair a pele todinha”.
169
P: “Outra idéia?”
170
((Silêncio no grupo))
171
P: “Nada mais?”
172
Ivany: “SEI lá... a AIDS é bastante discutida que os sintomas parecem não
173
aparecer assim na cara; é uma doença silenciosa que vai acabando a pessoa aos
174
poucos; tem que ter cuidados porque os sintomas não estão muito na cara... na AIDS”.
175
P: “Que outra idéia?
176
((Silêncio no grupo))
177
P: “Nada mais?... Aparecida?”
178
Aparecida: ((não falou))
179
P: Muito bem. E quais são as formas de se prevenir das doenças sexualmente
180
transmissíveis?”
181
Dionísio: “Uma das principais é usando a camisinha”.
182
P: “Que outra idéia?”
183
Joaquim: “Só conheço preservativo”.
184
P: “Camisinha”
185
P: “Outra idéia?”
186
Ivany: “Acho que a principal e mais conhecida é a camisinha. Éh::... outros meios... sei
187
lá... a pessoa deve se cuidar, se conhecer também, se tiver com uma doença procurar
188
o médico; é uma forma de evitar, de proteger você e seu parceiro”.
189
P: “Outra idéia?”
190
Petrus: “Éh::... tem camisinha, camisinha feminina...” ((não prosseguiu a fala))
191
Dionísio: “Éh::... mas a camisinha feminina ela não evita a doença a não ser a
192
gravidez e isso não é doença; eu acho que o portador de doença, não importa qual
193
seja ele, não deveria cometer o ato sexual com o seu parceiro; por mais que ele seja
194
insistente ou ela, deve chegar, ter consciência e dizer tô/ com tal doença e nós não
195
devemos ter isso; só quando eu me curar”.
196
Ivany: Éh::.. nesse ponto eu concordo contigo (Dionísio); deve cuidar de si e da
197
pessoa que tá/ ao teu lado”.
198
Joaquim: “É isso, tem que ter respeito”.
199
P: “Que outra idéia?”
200
Dionísio: “E... não é só respeito mas amizade também”.
201
P: “Mariangela?”
202
Mariangela: ((sorriu apenas))
203
P: “Alguém gostaria de fazer um comentário sobre alguma das questões faladas
204
aqui?”
205
Ivany: Eu gostaria. Você que é adolescente, comece a se ligar que as doenças
206
sexualmente transmissíveis tão aí, não é uma brincadeira. É preciso tomar cuidado e
207
se proteger em relação ao ato sexual, a outras coisas mais, à sua saúde e à pessoa
208
que ta do seu lado. Eu acho”.
209
Dionísio: ”Já que os pais, vocês, amigos, parentes, vizinhos não tem conhecimento,
210
vamos procurar se conscientizar, se prevenir. Uma vez que os pais não tem tanto
211
conhecimento como nós temos hoje, porque não tiveram oportunidade de estudar, de
212
ter conhecimento (pausa). nós devemos mesmo conscientizar amigos, parentes e
213
até conhecidos”.
214
Ivany: “E assim... para os adolescentes o termo sexualidade é um tipo de vergonha.
215
Mas não gente, isso é normal, é até uma besteira a gente ter vergonha (pausa); tem
216
de se cuidar. Se for fazer use camisinha que é o certo; é a melhor maneira de se
217
prevenir”.
218
168
Dionísio: “Mas a AIDS não é só transmitida pelo ato sexual, mas por um beijo
219
também...” ((não prosseguiu))
220
Ivany: “Se você tiver com a boca cortada e der um beijo numa pessoa ela pega... uma
221
ferida nos lábios...” ((não prosseguiu))
222
Dionísio: “Até uma cárie dentária... você deve se prevenir de todas as maneiras
223
possíveis”.
224
Diana: “Toalha também de banho”.
225
P: “Mais alguém?”
226
Ivany: “Não” ((risos no grupo)).
227
Petrus: “Eu soube que com um menino aconteceu com transfusão de sangue no
228
próprio hospital. E deveria ter mais essas reuniões nos colégios, porque esse assunto
229
não é muito discutido”.
230
Dionísio: Não nas escolas, mas nas praças públicas... em todos os cantos...
231
orientação”.
232
P: “Muito bem. Estivemos reunidos aqui com um grupo na Escola CERU Francisco
233
Madeiros, onde discutimos questões relativas às doenças sexualmente transmissíveis
234
e formas de prevenção.
235
169
ANEXO H - GRUPO FOCAL RELIGIOSO 2 – (GFR-2) 1
2
TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTA 3
4
5
CONHECIMENTO SOBRE MÉTODOS ANTICONCEPCIONAIS 6
7
8
P: Estamos aqui reunidos com o grupo GR2, onde vamos fazer uma discussão sobre
9
o conhecimento dos adolescentes a respeito de métodos anticoncepcionais. A primeira
10
questão que nós propomos, é o que os adolescentes entendem por
11
anticoncepção?” Com a palavra?
12
Apolo: “Anticoncepcionais, vem mais de uma prova... um problema assim... de
13
proteger o adolescente na hora do sexo; uma proteção de que o jovem não adquirira
14
tantas doenças”.
15
P: “Isto seria anticoncepcional, mas anticoncepção o que seria?”
16
Apolo: Anticoncepção seria a conscientização do jovem antes para que ele se
17
proteja; esteja ciente do que ele vai fazer. Tenha consciência do ato que ele vai fazer”.
18
Alfredo: Anticoncepção nós entendemos o seguinte: conceber, no caso seria dar a
19
luz. Então anticoncepção seria prevenir isso, ou quem sabe proteger ou qualquer coisa
20
desse tipo assim. Então, anticoncepção seria tomar algumas medidas para que não
21
viessem acontecer a concepção”.
22
Solange: “Seria uma maneira mais apropriada para que os jovens se prevenissem de
23
outras questões, no caso, quando tiver tomar anticoncepcionais; são jovens que fazem
24
sexo antes do casamento e não querem engravidar. Essa é a maneira de se prevenir,
25
usando anticoncepcionais”.
26
P: “Outra contribuição?”
27
Heráclito: Éh::... essa parte de anticoncepção é boa, tem o seu lado bom e o seu
28
lado ruim. Sabemos hoje que várias doenças está por , como HIV, HPV, são DST e
29
esses anticoncepcionais foram inventados prá isso; prá uma prevenção dessas
30
doenças, desse sexo que fazem por aí, né/.... por brincadeira”.
31
Solange: “Eu acho que a melhor prevenção é não praticar, porque se você não pratica
32
você não vai ter nenhum problema”.
33
Alfredo: “Eu estava lendo um livrozinho “Tudo sobre a sexualidade” é o nome do
34
livro. Ele mostra dados que indicam que a sexualidade, a questão do sexo e dos
35
anticoncepcionais... em relação a isso que ela (Solange) falou, é um pouco difícil
36
porque quase ninguém consegue se conter; esperar passar o tempo todo e tal. E para
37
isso foram colocados os métodos anticoncepcionais”.
38
Heráclito: “E o maior causador dessa praticada de sexo... acho que o que mais
39
influencia é a mídia... a mídia bota novela, músicas... isso leva as pessoas a querer
40
fazer isso (sexo) por brincadeira e acontece o que temos hoje: superpopulação,
41
doenças, mortalidade infantil”.
42
Solange: Principalmente muito abandono porque muitas mães, principalmente as
43
adolescentes, acham que fazer sexo está na moda; todas querem fazer; não, porque
44
meu namorado diz, se você gosta de mim me prove... e tem gente que ainda pensa
45
dessa forma e depois fica grávida e fala: meu Deus e agora? vem e aborta, deixa
46
na porta da casa das pessoas. A malhação passa às cinco e meia da tarde; minha
47
irmã de dez anos assiste... se ela não tiver uma estrutura familiar, ela vai pensar que é
48
normal porque a mãe abandonou e ela foi criada por outra mãe; agora está grávida”.
49
P: “Isso que você aborda são conseqüências, mas voltando à anticoncepção, o que
50
vocês acreditam que os jovens pensam que seja anticoncepção?”
51
Alfredo: “Uma primeira coisa: eles (adolescentes) já pensam nos instrumentos, por
52
exemplo, a camisinha. Eles vão pensando nessas coisas. Quando eu falo
53
anticoncepção aí se liga à idéia de anticoncepcional, aí vem as pílulas”.
54
170
P: “Vamos ouvir a Giany”.
55
Giany: “Eu ia falar que todo mundo conhece, sabe sobre o assunto. você tem
56
várias influências na adolescência. Por exemplo, eu tô/ em grupo de amigos um
57
chega e diz assim: eu fiquei com àquela menina e aconteceu isso e isso; aí para que o
58
outro não fique por baixo, diz: eu também peguei aquela e fiz isso, isso e isso. Isso
59
acontece muito”.
60
Solange: “Eles acham que a questão de anticoncepcional vai livrar qualquer coisa;
61
acham que a camisinha não pode furar, que a pílula não pode falhar... e sempre estão
62
achando que são milagreiros... pode se dizer que não é; tudo falha, nada é perfeito.
63
Então muita gente tem essa idéia: porque eu / me prevenindo não vai acontecer
64
nada; Se você não usa camisinha você pode pegar AIDS porque a pílula não vai livrar
65
isso; você pode pegar outra doença e com a camisinha pode acontecer alguma coisa”.
66
Apolo: “Anticoncepção, eu particularmente não tenho uma visão de que sei
67
especificamente o que é aquilo, porque a sociedade como ele (Heráclito) tinha falado
68
aqui, aborda. Em poucas das casas das famílias brasileiras que falam sobre sexo, pais
69
e filhos, não explicam o que é anticoncepção, explicam mais o que é anticoncepcional.
70
A população está mais preocupada em anticoncepcional do que com o significado de
71
anticoncepção. A mídia não aborda isso, aborda só os efeitos: que os
72
anticoncepcionais traz benefícios e que a falta deles traz malefícios”.
73
Solange: Muitos pais passam isso para os filhos. Por exemplo, no meu caso, mãe
74
não é assim de dizer como é que as coisas acontecem. Ela em nenhum momento da
75
minha adolescência ela chegou prá mim e explicou qualquer coisa; o que eu sei é de
76
revistas, televisão, comentários de amigos; isso leva com que muitas jovens... todo
77
mundo sabe... mas às vezes chega uma jovem a engravidar. Por exemplo: Se eu não
78
soubesse uma conseqüência por que não aprendi em casa”.
79
Alfredo: “Como Apolofalou, não é tão fácil definir anticoncepção. Ao meu modo de
80
ver, como falei antes, no caso é proteção, medidas preventivas, outras coisas mais”.
81
P: “Alguém mais deseja fazer alguma colocação?... Ninguém mais?”
82
((Não houve manifestações no grupo)).
83
P: “Quais são os métodos de anticoncepção que os jovens conhecem?”
84
Apolo: “Os métodos de anticoncepção que eu conheço, são para a prevenção sua.
85
Além das informações seria a conversa com os pais; pais e mães chegar aos filhos e
86
conversar. que no meu modo de ver não acontece mais; não é que eles não
87
saibam e não queiram falar; é mais por uma vergonha que eles têm de se sentar com
88
os filhos e falar isso. Como meus avós não chegaram prá falar isso com os filhos e até
89
repreendiam eles se eles chegassem em casa e falassem uma coisa dessas, então
90
eles tem medo de passar isso pros filhos. Então na informação vinculada a
91
anticoncepção acho que é isso: o melhor modo de prevenção que o jovem pode
92
adquirir é a informação”.
93
Heráclito: “Essa questão de métodos de prevenção é... como ele (Apolo) falou que os
94
pais não levam a informação direta aos filhos, leva alguns filhos a irem buscar grupos,
95
vamos dizer: meninos de onze, doze anos está na puberdade, não tem nada, aparece
96
um caroço no peito e vai perguntar aos amigos que dizem: isso não é nada não; eu
97
também tenho isso aqui. A menina menstrua, não sabe o que é e vai perguntar a
98
outras pessoas da sua própria idade, que não também não sabem do assunto e
99
inventam coisa da cabeça; e também esses poucos filhos tem de vergonha de chegar
100
e perguntar ao professor também”.
101
P: “Mas quanto aos métodos que se ensinam sobre anticoncepção, o que se fala
102
sobre eles? Quais são os métodos que se tornam mais conhecidos dos
103
adolescentes?”
104
Alfredo: “Os preventivos, no caso as pílulas anticoncepcionais, a camisinha, existem
105
outros mas a princípio só lembro estes”.
106
Solange: “A pílula do dia seguinte...” ((não prosseguiu a fala))
107
171
Heráclito: “Esse é o mais abortivo que tem. Esse ano no teve uma grande polêmica
108
sobre a pílula do dia seguinte. O governo quis distribuir essa pílula só que a igreja não
109
liberou: eles (a igreja) levaram isso como aborto e aborto para a igreja é pecado”.
110
Giany: “Realmente é um aborto”.
111
Alfredo: Existe uma questão bem polêmica com relação à camisinha. A camisinha
112
previne mas também incita o jovem a começar a sua vida sexual mais cedo. Porquê?
113
sabe que é seguro, que é sexo seguro como é colocado pelas pessoas, pela
114
mídia, pelos meios de informação. Então vamos fazer e tal; que esquece muitas
115
vezes da responsabilidade que tem; então isso é promiscuidade. Então vai fazendo
116
com um, com outro, com outro e a sociedade vai perdendo aos pouquinhos os seus
117
valores. O casamento hoje... casar e separar, hoje, é normal; algum tempo atrás não
118
acontecia isso. Então isso não é um problema que está totalmente ligado aos métodos
119
anticoncepcionais, mas esta é também uma questão polêmica que a camisinha traz”.
120
Heráclito: “É isso que Alfredo falou. A pílula do dia seguinte e a camisinha incita o
121
jovem a começar o sexo um pouco mais cedo, sem responsabilidade. O jovem hoje
122
em dia, tipo ficar e transar está seguindo no mesmo caminho. Se você tem uma mesa
123
com um monte de comida, você ta ali prá provar: os jovens com as meninas e as
124
meninas com os jovens. Tem cara que fica com três, cinco... e assim vai provando”.
125
Solange: A questão de camisinha, muita gente acha que pelo fato de ta usando a
126
camisinha não vai acontecer nada. que é assim: nem todas as vezes é usada a
127
camisinha, principalmente entre os adolescentes. Tem gente que não tem acesso
128
porque não sabe que nos postos de saúde é distribuído camisinha e
129
anticoncepcionais. hoje fez com camisinha, certo; que você não faz uma vez só;
130
quem faz a primeira vez sempre faz outra; ninguém come uma só vez ((risos no
131
grupo)). Hoje usou camisinha, amanhã não, e diz: Eita/ eu não usei camisinha ontem e
132
vai tomar anticoncepcional. que às vezes não sabe como funciona o
133
anticoncepcional; às vezes não sabe que tem que tomar depois da menstruação.
134
toma um dia depois que transou. Não vai adiantar de nada. Se você tiver grávida,
135
você não pode fazer mais nada; só se tomar a pílula do dia seguinte; aí é um aborto; a
136
igreja não permite.
137
P: “Que outra contribuição? Giany?”
138
Giany: “Eu acho por uma parte certa e por outra está errada. certo que você se
139
prevenindo e tudo mais; mas em outra você pode grávida e ta tirando uma
140
vida. Prá igreja isso é inadmissível”.
141
Heráclito: “Além disso que ela (Giany) falou, leva também a irresponsabilidade. Os
142
jovens pensam que doenças podem ser somente o cara que ta transando com a
143
menina vai pegar doenças por aquele ato que ta fazendo ali. Mas pode pegar
144
através de beijo que leva ao sexo e através de tudo mais”.
145
P: “Que outra contribuição sobre métodos anticoncepcionais? Desses métodos que
146
vocês citaram qual àquele que ao adolescente parece ser mais seguro?”
147
((todos: camisinha)).
148
P: “Vocês podem explicar por quê?”
149
Solange: “Todo mundo aqui acho que já usou camisinha. É a maneira que impede que
150
os espermatozóides penetrem no óvulo da mulher”.
151
Heráclito: “É tipo uma capa de proteção”.
152
Solange: “Isso, uma capa de proteção”.
153
Apolo: “É também uma coisa de fácil acesso você ter uma camisinha; você pega ali,
154
coloca no bolso e vai prá todo canto; já a pílula do dia seguinte já é mais difícil você ter
155
na sua frente”.
156
Alfredo: “Digamos que é uma prevenção mais instantânea, mais prática quem sabe,
157
para alguns. Para alguns que não tem prática surgem algumas barreiras,
158
dificuldades. Para o jovem o mais indicado, o melhor o que as pessoas acham mais
159
acessível, mais seguro, até mesmo pelas informações que se tem seja a camisinha”.
160
Pesquisador: Que outra contribuição?
161
172
Heráclito: “Como ele falou (Alfredo) é uma prevenção instantânea... o sexo não é
162
programado... você não programa o sexo prá usar um método anticoncepcional que é
163
o da pílula; sabe-se que a mulher a qualquer hora ela vai fazer sexo e o homem
164
também; então coloca uma camisinha que é pra prevenir. Tem também a camisinha
165
feminina que é outro grande demais, custa muito dinheiro e não é distribuída
166
gratuitamente.
167
P: “Nada mais?”
168
((não houve manifestações do grupo))
169
P: “Vocês acham que a anticoncepção deve ser praticada ou estimulada entre
170
jovens?”
171
Solange: “Na minha concepção a melhor forma de se prevenir é a abstenção: é não
172
praticar. No final ta livre de tudo. Mas no mundo de hoje tudo muda, vai da cabeça de
173
cada um, se é pra fazer, é melhor se prevenir”.
174
Alfredo: “Eu não concordo com a utilização desses métodos anticoncepcionais antes
175
do casamento. Não concordo porque levando os jovens a ter uma idéia deturpada
176
do que na verdade é. A pessoa fica achando que pega um aqui, outro ali... e a
177
sociedade vai caminhando assim e no futuro também vai assim. Eu não acho
178
adequado por que o jovem pode não estar preparado, não ter a responsabilidade prá
179
ter uma vida sexual ativa; eu creio que seria melhor prá ele depois do casamento,
180
porque o casamento é uma instituição sagrada. Se for assim, ninguém mais vai querer
181
casar, porque o negócio do casamento é justamente onde você vai ter conhecimento
182
de outra e tal; e aí você vai praticar relações sexuais, e na verdade era isso alguns
183
anos atrás. Infelizmente isso foi modificado. Então querendo a sociedade como?
184
Totalmente voltada para o sexo. Então hoje tudo gira em torno de drogas, sexo e
185
dinheiro. Qual é a sociedade que nós estamos querendo, se um incentivo prá
186
prática da vida sexual logo na juventude aos treze ou cartorze anos? Então, tá/
187
querendo uma sociedade como? Não importa se com casamento ou sem casamento.
188
Se eu posso transar na hora que eu quiser, eu vou casar prá quê? Não adianta”.
189
Solange: “Outra questão é que muita gente critica a igreja pelo fato de proibir usar a
190
camisinha. Quando trocou o Papa muito gente criticou que ele disse que não aceitava
191
a camisinha. Falaram a questão da África que tem o índice maior de AIDS, que tem
192
que usar a camisinha ou então todo mundo vai morrer, pois é o lugar mais pobre,
193
mais miserável, principalmente o Sul da África. Tem esses casos. Acho que deveria
194
haver uma exceção, mas o pensamento da igreja é: se é proibido o uso de camisinha,
195
consequentemente os jovens vão também parar de fazer sexo antes do casamento. A
196
igreja proíbe nessa intenção de diminuir o começo da sexualidade, do sexo ativo dos
197
jovens; a posição da igreja é essa. Só que acho que devia pensar em dois pontos: Se
198
for totalmente liberada vai ficar do jeito que tá/; a tendência é piorar, porque no tempo
199
da minha mãe o povo casava virgem, pois tinha padre que não aceitava casar quem
200
não fosse virgem, porque na bíblia diz que você tem que se guardar para o seu marido
201
e o marido tem que se guardar para a sua mulher. E realmente, é uma coisa muito
202
especial, tanto para o homem como para a mulher. Você casar com um homem
203
sabendo que ele foi só seu e você casar com uma mulher sabendo que ela foi só sua?
204
Nessa forma eu acho que você vai casar porque você quer transar com aquela
205
pessoa, você gosta daquela pessoa”.
206
Heráclito: “É onde nasce o amor”.
207
Solange: “Concordando com Heráclito, é onde realmente nasce o amor. Mas hoje
208
quantas pessoas casam porque estão grávidas, principalmente em cidades pequenas?
209
Quando o pai descobre que a filha teve uma relação sexual antes do casamento, tem
210
que casar a filha... pode tá/ grávida ou não”.
211
Giany: “Ou põe pra fora de casa”.
212
Heráclito: “A igreja condena o uso de anticoncepcionais por conta de que teria o
213
desencadeamento do sexo livre entre os jovens. Na igreja católica, a minha religião, o
214
sexo é um dom de procriação que Deus deixou para todos os seres vivos da terra. O
215
173
sexo deveria ser feito para a procriação e não de farra. O sexo é um dom divino
216
que Deus deixou prá/ procriar os nossos descendentes”.
217
Heráclito: “E não prá/ brincadeira”.
218
Alfredo: “Como falei, são sou a favor de métodos anticoncepcionais antes do
219
casamento, mas no casamento, sim. Não vejo problema no uso da camisinha depois
220
do casamento. Mas você não venha dizer que o seu parceiro está sendo infiel e por
221
isso você está se prevenindo. Você está casado e quer usar, use. Sou contra, antes
222
do casamento porque incita e banaliza o ato do sexo por essas idéias”.
223
Heráclito: “Depois do casamento? Essa questão de usar camisinha acho que não tem
224
nem prá/ quê. Hoje existem métodos... minha mãe teve três filhos e cortou as trompas
225
e não teve precisão dela ta/ usando camisinha. Não quer ter filho, então o homem tem
226
como cortar o canal prá/ não soltar espermatozóides e a mulher corta as trompas.
227
Então não precisa de camisinha depois do casamento. Agora, que usar use, é uma
228
questão pessoal”.
229
Apolo: “Heráclito falou de uma questão da consciência das pessoas. Vai da maneira
230
de cada um pensar o que quer fazer prá/ se prevenir, prá/ continuar isso. Vai da
231
medida que a sociedade vê isso aí.
232
P: “Alguma outra contribuição?”
233
Giany: “Também sou contra porque com isso se os jovens não pudessem usar esses
234
métodos antes do casamento com certeza seria melhor. A maioria das culpas são dos
235
jovens porque fazem sem compromisso... aconteceu? depois deixa prá/ lá, não tá/
236
nem aí; ficam crianças nas ruas, sofrendo, pedindo esmola; e com certeza isso iria
237
melhor se fosse obrigatório, só depois do casamento”.
238
P: “Mais alguma contribuição?”
239
((nenhuma manifestação do grupo)).
240
P: Nós agradecemos ao grupo ter nos ajudado a discutir essa temática. Quero dizer
241
que foi muito agradável ter estado aqui com vocês.
242
174
ANEXO I - GRUPO FOCAL NÃO-RELIGIOSO 2 – (GFNR-2) 1
2
TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTA 3
4
5
CONHECIMENTO SOBRE MÉTODOS ANTICONCEPCIONAIS 6
7
P: Estamos reunidos com adolescentes da Escola Henrique Dias, e nesta ocasião
8
nós vamos fazer uma discussão sobre anticoncepção e todos anticoncepcionais. A
9
primeira questão que nós gostaríamos de ver debatida, é a idéia que os adolescentes
10
tem sobre o que seja anticoncepção?” Quem tem a palavra?
11
Floriano: “Anticoncepção é um modo de prevenção para o adolescente. É um remédio
12
anticoncepcional que é para a mulher não engravidar. É uma prevenção”.
13
P: “Esclarecendo, anticoncepcional é uma coisa, anticoncepção é outra. Então s
14
temos duas coisas diferentes. Mas sobre anticoncepção, nas aulas de biologia ou
15
de ciências, o que os professores ensinam como anticoncepção?”
16
Givaldo: “Eu não tenho conhecimento sobre anticoncepção e fica meio difícil prá
17
explicar”.
18
P: “Outra pessoa?
19
Walbia: “Eu também não tenho conhecimento; não posso explicar uma coisa que não
20
sei”.
21
Suetônio: “Eu também tenho a mesma opinião dos dois” ((Givaldo e Walbia)).
22
P: “Outra idéia?”
23
Givaldo: “Todo mundo tem a mesma idéia; a gente não tem conhecimento sobre esse
24
negócio (anticoncepção) aí”.
25
((Muitas vozes))
26
Givaldo: “Todo mundo tem a mesma idéia... a gente não tem conhecimento sobre esse
27
negócio aí”.
28
P: “Outra questão: Quais são os métodos anticoncepcionais que os adolescentes
29
escutam falar ou que tem realmente conhecimento?”
30
Givaldo: “Os anticoncepcionais que eu vejo falar é as pílulas prá/ não engravidar”.
31
P: “Outra idéia?”
32
Walbia: “Eu acho que as pílulas, mas também a camisinha e outros métodos que
33
tem”.
34
P: “Que outra idéia?”
35
Pedro: “Eu tenho a mesma idéia dos dois” ((Givaldo e Walbia)).
36
P: “Que outra idéia?”
37
Suetônio: “Eu não sei direito como é, mas tem um DIU que a mulher utiliza; quando
38
ela tem relação sexual ela não engravida. E também ela pode fazer a cirurgia que não
39
menstrua mais e não passa mais óvulos; e no homem também... que é a vasectomia”.
40
P: “Que outra idéia?”
41
Carlison: “Outro método também de prevenção é aquele tipo de camisinha que no
42
momento que ela estoura libera um produto que elimina os espermatozóides e não
43
tem perigo de engravidar”.
44
P: “Que outra idéia?”
45
((não houve manifestações)).
46
P: “Dos métodos que vocês citaram, qual o que parece mais seguro?
47
Walbia: “Acho que os anticoncepcionais são mais seguros”.
48
P: “Por que?”
49
Walbia: “Quer dizer, é mais seguro e não é, porque se esquecer de tomar não adiante,
50
não faz efeito. Acho que seja porque a camisinha corre o risco de estourar e o remédio
51
se você tomar todo dia não corre o risco”.
52
175
Suetônio: “Mas o mesmo risco da camisinha estourar é o mesmo risco de você
53
esquecer de tomar o remédio. O método mais seguro é o DIU porque a mulher coloca
54
lá o negócio”.
55
Walbia: “Mas tem que ficar todo mês trocando”.
56
Givaldo: “Todo método tem o seu risco”.
57
P: “Você pode dizer quais são os riscos?”
58
Givaldo: “A camisinha pode estourar; o anticoncepcional a mulher pode esquecer de
59
tomar; ir pela tabela, pode ser que atrase ou adiante a menstruação da mulher”.
60
Suetônio: “Então o mais seguro é fazer a cirurgia; corta lá e pronto”.
61
Carlison: “Será que o comprimido anticoncepcional não possa falhar?”.
62
Floriano: “Como Saulo falou, acho que o comprimido anticoncepcional depende do
63
organismo da mulher. Uma colega minha ficou aviciada/ em anticoncepcional e o
64
médico disse que ela parasse porque podia engravidar e o nenê podia nascer com
65
problemas”.
66
P: “Outra idéia?”
67
Givaldo: “Mas tem muita gente que toma de bolo; vai na farmácia e compra; mas esse
68
remédio tem que ser tomado com prescrição médica... com acompanhamento”.
69
P: “Outra idéia?”
70
Suetônio: “Prá/ mim o jeito mais seguro, que o vai trazer nenhum problema é fazer
71
a vasectomia mesmo. Cortou, já era”.
72
Walbia: “E se no futuro desejar ter filho, tem como reaver?”
73
Givaldo: “A vasectomia tem”.
74
P: “Outra idéia?”
75
((Não houve manifestações))
76
P: A anticoncepção deve ser estimulada ou mesmo praticada entre
77
adolescentes?”
78
Givaldo: “Acho que sim, porque tem acontecido que muita gente tá/ tendo filho com
79
onze, doze, treze... catorze anos, mas não tem estrutura... idade prá/ ter filho; ter a
80
responsabilidade”.
81
Carlison: “Devia ser estimulado sim, mas tem aquela questão: quando a pessoa é
82
pobre, a única diversão dele é fazer aquilo porque não tem outra coisa prá/ fazer.
83
Deviam inventar algum tipo de... atividade prá/ esse pessoal fazer”.
84
P: “Carlison acha que o sexo quando ocorre entre as pessoas menos favorecidas e
85
jovens, ocorre porque eles não têm outras atividades. O que vocês acham a respeito?”
86
Walbia: “Acho que é falta de informação. Tem casos que a gente não tem essa
87
conversa com os pais; agente procura essa conversa fora e a gente tem informações
88
erradas sobre isso”.
89
Givaldo: “Acho também que seja isso”.
90
P: “Mas será que as informações mais adequadas são as informações dos pais?”
91
Suetônio: “Depende dos pais”.
92
Givaldo: “Pois é, não adianta ele (pais) dar uma informação sem ter certeza que é
93
aquilo”.
94
Suetônio: “Tem que ser uma pessoa informada; não precisa ser diretamente dos pais;
95
do médico, por exemplo”.
96
P: “Pedro ia falar?”
97
Pedro: “Hoje os adolescentes pegando o ritmo dos pais que tão do mesmo jeito
98
deles. Hoje tem crianças que tão entrando nisso através de bebedeira, droga; às
99
vezes faz isso com o próprio pai”.
100
Walbia: “Como João falou é pelos pais. Mas às vezes a gente dos pais prá não
101
fazer aquela coisa; minha mãe engravidou com dezessete anos, mas o é por isso
102
que eu vou engravidar; eu quero prá mim uma coisa totalmente diferente do que ela
103
teve”.
104
Givaldo: “Não é tudo que o meu pai faz que eu vou fazer, mas tem certa influência. Se
105
meu pai fuma, é massa, então eu vou fumar também”.
106
176
Carlison: “Acho que existe influência dos pais sim, mas muito mais de amigos. Você
107
erra com o pai se quiser; mas a influência não é tão especificamente como a dos
108
amigos”.
109
P: Voltando à questão da anticoncepção, esta deve ser estimulada, praticada entre
110
adolescentes? Vamos ouvir o Herculano?”
111
Herculano: “Sim. Acho que é uma forma de você ter uma vida sexual sem riscos; traz
112
segurança aos jovens”.
113
P: “Outra idéia?”
114
Carlison: “Acho que essa idéia de prevenção é boa mas deve ser mais divulgada
115
porque muita gente não tem tanta informação”.
116
Givaldo: “A galera faz muita reportagem sobre a miséria, fome, desemprego, mas tem
117
muita gente que não que isso tá/ acontecendo por causa disso mesmo: o tá/
118
tendo a divulgação dos anticoncepcionais. O pessoal de doze, treze anos tem filho... aí
119
tem que arranjar emprego; daqui a quinze anos / grande, procurando emprego
120
também. Aí uma mãe de vinte anos tem um filho de dez anos; com trinta anos tem um
121
filho de vinte e aí os dois já estão concorrendo ao mesmo mercado de trabalho; aí vem
122
o desemprego”.
123
P: “Essa palavra de Givaldo é uma palavra interessante. Dentro de casa todos estão
124
concorrendo ao mesmo emprego. Ele acredita que isso está acontecendo porque os
125
jovens estão tendo atividade sexual muito cedo e sem proteção. O que vocês acham?”
126
Pedro: “A família aumenta, a população aumenta sem um plano familiar adequado”.
127
Givaldo: “Tudo isso porque faltou informação para se prevenir no começo”.
128
P: “Utilizando método de prevenção, isso parece significar que o adolescente deve ter
129
atividade sexual. Se ele se proteger, tudo bem. É isso? O que vocês acham?”
130
Floriano: “Na minha opinião, é. Claro que é, mas não exageradamente; porque vamos
131
se prevenir prá dar tudo certo e fazer direto? Não pensar em fazer isso; é preciso
132
também planejar a vida e pensar no futuro”.
133
Walbia: “Como ele (Floriano) falou, a gente, primeiro tem que planejar o futuro agora
134
prá/ poder pensar em relação. Eu vejo em casa uma coisa assim: relação só depois do
135
casamento. Nossos pais pegam mais no nosso (moças). Se a gente não fizer nada
136
de errado, a gente não vai engravidar. Depois que casar sim: já tenho marido, já posso
137
ter uma renda maior”.
138
P: “Walbia diz que o sexo deve ser realizado antes do casamento. O que vocês
139
acham?”
140
Givaldo: “Acho que não. Porque se você fizer sexo com prevenção, qual vai ser a
141
diferença entre fazer antes ou depois do casamento?”.
142
Carlison: “Concordo com Givaldo por um motivo: Se depois do casamento os dois
143
tiverem empregados, tiverem um filho e depois perderem o emprego, o é a mesma
144
coisa de ter feito antes do casamento?
145
Walbia: “Sim, mas depois de casado você tem maior maturidade do que o
146
adolescente; adolescente não quer nada sério, quer curtir. Vocês querem uma
147
coisa séria agora, vocês o querem: vocês querem sair, beber, vocês querem curtir.
148
Uma pessoa mais velha já tem sua maturidade e vai trabalhar e não é em trabalho
149
de boyzinho; é preciso sustentar o filho”.
150
P: “Pedro?”
151
Pedro: Eu acho que não deve rolar relação depois do casamento; mas pode ser
152
antes também, desde que teje/ um pouco maduro, tenha consciência do que tá
153
fazendo. Casa hoje amanhã separa”.
154
Carlison: “Não existe mais aqueles casamentos de vinte, trinta anos”.
155
Walbia: Acho engraçado uma coisa: se tem o casal e a menina vai e engravida? Ah,
156
então bora/ logo casar... não sei o quê, não sei o quê. Então prá/ que essa agonia
157
todinha?”.
158
Givaldo: “Mas quantas pessoas jovens você viu que tiveram relação e ela
159
engravidou e os dois decidiram casar porque ela engravidou?”.
160
Walbia: “Tenho uma colega que tá/ vivendo isso agora”.
161
177
Givaldo: “É porque eles geralmente têm mais a influência do pai: e agora, meu pai vai
162
dizer isso, isso, isso; então vamos casar, senão meu pai vai fazer isso, isso e isso. É
163
tudo com medo do pai; porque se o pai chegar e apoiar: você engravidou,
164
aconteceu, beleza. Se ele chegar e der todo o apoio a ela, beleza”.
165
P: “Walbia está dizendo que os jovens (homens) não estão desejosos da prática do
166
casamento. O que vocês acham?”
167
Carlison: “Na maioria das vezes quando a menina engravida antes do casamento os
168
pais querem que casem só prá/ não sujar o nome da família. É um problema social”.
169
P: “Que outra idéia?”
170
Pedro: “Antes ou depois do casamento o importante é fazer com segurança”.
171
Givaldo: “E responsabilidade”.
172
P: “
O que seria essa responsabilidade?”
173
Carlinson: “Um modo de prevenção”.
174
Walbia: “Tem meninos que diz: vamos fazer e não vamos se prevenir não. Isso é falta
175
de responsabilidade. Vai que ocorre da menina engravidar, depois pensa: tá/ vendo,
176
se eu tivesse usado camisinha não teria ocorrido isso”.
177
Pedro: “Não só os meninos, mas às vezes as meninas tão um pouco assanhadas”.
178
Suetônio: “A questão da prevenção não é engravidar... mas pegar doença, você
179
era; pegar AIDS, sífilis, gonorréia, cancro mole... acabou a sua vida alí”.
180
P: “Mas, ele fala no cancro mole, o outro fala na filis e na gonorréia também. Mas o
181
cancro mole e a gonorréia têm o poder de matar?”
182
Suetônio: “Não é uma questão de matar; é uma questão de você ser uma pessoa
183
doente... vamos dizer... com sua mulher... você é novo e tal e faz sexo sem
184
camisinha... aí quando você for fazer com a sua mulher vai ter que fazer com
185
camisinha... se você tiver uma doença sexualmente transmissível vai passar prá/
186
qualquer pessoa que você fizer sexo”.
187
P: “Alguma outra contribuição?”
188
Givaldo: “Discordo de Walbia quando bota a culpa nos meninos que influenciam as
189
meninas a fazer sem prevenção: a culpa é dos dois”.
190
Ketman: “Tem gente que faz sexo por fazer. Acho que é vida, é prazer... tem que
191
ter responsabilidade, planejamento”.
192
Givaldo: “Mas sexo é prazer. Se você não tem prazer de fazer aquilo, prá/ que vai
193
fazer?”.
194
P: “Outra contribuição?”
195
((Não houve manifestações))
196
P: “Muito bom. Nós agradecemos a colaboração do grupo nessa discussão. Quero
197
dizer que foi muito agradável ter estado com vocês nesta ocasião”.
198
178
ANEXO J - GRUPO FOCAL RELIGIOSO 3 – (GFR-3) 1
2
TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTA 3
4
5
PERCEPÇÃO DA SEXUALIDADE 6
7
P: “Estamos nessa ocasião reunidos com o Grupo GR3, aqui no Colégio Estadual
8
Professor Jerônimo Gueiros. A temática dessa ocasião refere-se à percepção que os
9
adolescentes têm a respeito da sexualidade. A primeira questão que nós gostaríamos
10
de iniciar a discussão... é vendo o conhecimento... ou seja... o que é que os
11
adolescentes chamam de sexualidade. Quem começaria”
12
((indecisões no grupo))
13
P: “Quem gostaria de dar a sua primeira opinião?”
14
((Silêncio no grupo))
15
P: “Bem... estão vamos começar com Janice”.
16
Janice: “O que eu entendo por sexualidade é o contato não físico, mas o contato
17
emocional; não vem ao caso se é entre um homem e uma mulher... e não só o contato
18
físico no namoro, tudo é sexualidade, mas também a amizade, a convivência com
19
pessoa do sexo oposto. A sexualidade tá/ ligada a tudo isso”.
20
P: “Quem prossegue?
21
Gleydes: “É um conjunto das sensações, dos sentimentos que a pessoa tem; tudo
22
isso envolve a sexualidade da pessoa”.
23
P: “Quem prossegue?... uma voz masculina então?”
24
William: “Eu acho que a sexualidade tem que ser uma coisa planejada; você pode
25
fazer algo sem estar pronto, sem desenvoltura e também um amadurecimento”.
26
P: “Outra opinião? Quem prossegue?”
27
Janice : “Eu acho que as crianças já nascem mais inteligentes para esse tipo de coisa;
28
mas quando criança você brinca com meninos mas com aquela inocência: não que
29
como adolescente você não tenha, mas você já pensa de outro tipo, como eu já pensei
30
em namoro. Mas em relação ao sexo, a sociedade hoje em dia julga muito as pessoas.
31
Antigamente as meninas pensavam... eu vou casar virgem... hoje em dia não tem mais
32
isso, alguns acham bregas outros concordam. São opiniões diferentes”.
33
P: “Josely ia falar?”
34
Josely: “Quanto à sexualidade como M3 citou, antes as pessoas (moças) se casavam
35
virgens; começavam namorando com uma só com uma pessoa e com essa pessoa se
36
casavam. Hoje, dependendo da pessoa, fica com um, às vezes com dois e sempre
37
tem relação sexual. A maioria das pessoas hoje, fica, nem conhece a pessoa
38
direito, corre risco de engravidar. Antes, com dez anos agente brincava de boneca,
39
hoje as meninas com dez anos não brincam mais, querem maquiagem, baton...”
40
((não prosseguiu a fala)).
41
P: “Gleydes?”
42
Gleydes: “É porque tudo se desenvolveu... a tecnologia... e porque o conhecimento
43
não ia também evoluir? Hoje em dia nas escolas, alunos da terceira e quarta serie
44
estudam o corpo humano, estão vendo toda essa parte. Acho que a tecnologia
45
ajudou muito nisso, porque antigamente agente brincava de boneca; hoje não, menino
46
de nove anos na internet é só o que vê; televisão que ensina... novelas”.
47
Janice : A sexualidade está sendo estimulada desde pequenininho pela mídia, pela
48
internet, pela tecnologia. Desde pequenas as crianças estão sendo estimuladas a
49
conhecer, a saber o que é. Uma criança é curiosa e ela na televisão: Use
50
camisinha; então a criança vai querer saber o que é”.
51
P: “Uma voz masculina?”
52
Ricardo: “A sexualidade é um tema mais voltado para os adolescentes porque a
53
criança tem aquela inocência e hoje em dia a adolescência ela vem praticamente
54
179
em termo de sexualidade. Crianças falam em amor, mas com inocência; o adolescente
55
fala em amor, mas com segundas intenções”.
56
Paula: “Eu acho que os colégios deveriam se empenhar mais a respeito da
57
sexualidade, porque não são todos os colégios que debatem (o tema); acho que
58
deveria ter uma matéria prá/ debater não com os adolescentes mas também com
59
os alunos do fundamental”.
60
Janice: “Acho que os pais também deveriam (ensinar). Se os pais não falam, você
61
não aprende em casa, você pode aprender ade uma forma errada. Acho que isso
62
devia partir de casa; os pais ficam com vergonha de falar. Ás vezes a menina com
63
certa idade pergunta uma coisa e os pais têm vergonha de responder, porque acham
64
que ela é muito nova prá/ entender; mas acho que seria fácil. A minha mãe sempre
65
conversou comigo, mas eu vejo umas amigas minha que a mãe jamais toca no
66
assunto. Acho melhor saber em casa como é tudo, do que saber na rua com amigo ou
67
com pessoas que possam lhe ensinar até de forma errada”.
68
Tarcísio: “Eu acho que a família devia informar mais. Meu pai procura mais os filhos
69
homens para conversar; com as meninas ele não aquelas informações por que
70
aos catorze anos já não é essa inocência toda”.
71
Paula: “Acho que para os pais é mais fácil eles saberem que os filhos homens têm
72
relações do que para as filhas mulheres”.
73
Ricardo: “No caso, os pais ajudam muito porque se os pais tivessem certo contado de
74
ensinar essas coisas para os filhos; hoje o índice de adolescentes grávidas aumentou
75
muito; se for ver, são pessoas de favelas, de famílias rebeldes, de pais que não
76
apóiam as pessoas; se os pais dessem um pouco mais de informações a seus filhos,
77
isso podia ser evitado”.
78
Janice: “Tenho amigas que não são mais virgens e os pais não sabem. Uma delas me
79
disse que foi ao médico e o médico lhe disse que tinha que fazer tal exame, mas que
80
não podia fazer para que os pais não soubessem. Se ela tivesse espaço para falar
81
com os pais, seria melhor porque eles iriam dar informações, poderiam livrar de uma
82
gravidez ou de doença”.
83
P: “Damião gostaria de falar?”
84
Damião: “Os pais, eles não têm certa informação prá/ passar prá/ seus filhos. Às
85
vezes os filhos não chegam a seus pais. A mulher, como Janice falou, tem medo de
86
falar com o pai para não levar uma surra, ficar de castigo. Às vezes tem a ameaça do
87
pai, da mãe... só que aí tem os seus amigos que vão ficar por trás: Vamos que é bom;
88
ficam convencendo”.
89
William: “Tem a questão da religião, de seguir a bíblia. A bíblia diz que é para fazer
90
(sexo) depois do casamento. Alguns pais não seguem isso e outros seguem. Por
91
exemplo, alguém tem um pai religioso e a filha por acidente ou algum desejo, fez sexo
92
antes do casamento, ela vai ter medo de chegar ao pai por que sabe que o pai vai
93
dizer que ela errou”.
94
Tarcísio: “Eu acho também que nós da cidade temos mais informações que os do
95
sítio. Eu soube que no sítio tinha um pessoal que fazia sexo, depois lavava a
96
camisinha e colocava no varal e os filhos curiosos perguntavam aos pais prá que
97
servia aquilo”.
98
Eloisa: “Acho que os pais deveriam dar informações e o colégio também”.
99
Martha: “A gente sabe das coisas porque passa nos comerciais, mas com o pai da
100
gente não”.
101
Felipe: ((Comentário não relacionado ao tema em discussão))
102
P: “Uma outra questão nós gostaríamos que também pudéssemos discutir... por
103
exemplo... que importância tem a sexualidade para o adolescente?”
104
Paula: Para os homens, esse termo que dizer que ele vai ser mais homem junto dos
105
seus colegas... porque fica com àquela menina e fica se sentindo mais do que os
106
outros. Acho que isso vai muito da influência... eles estão sendo influenciados eles
107
fazem mais sobre pressão, prá/ dizer aos colegas que fazem o que não fazem ou
108
fazem mais do que os outros”.
109
180
P: “O que nós gostaríamos de saber, é que importância tem para cada um a sua
110
própria sexualidade? Como vocês se vêem dessa forma? Como cada um se vê na sua
111
própria sexualidade?”
112
Ricardo: “Eu acho que o prazer do homem é maior que o da mulher; mas a vontade
113
que o homem tem eu acho que a mulher tem também. É o medo que não deixa levar a
114
acontecer”.
115
Martha: “Ou também a questão da religião. Cada um tem sua religião, sua opção”.
116
P: “Mas a questão, vejam só: é importante para o adolescente a sua sexualidade?”
117
((Todos respondem: É))
118
Janice: “Acho que é importante até para a maturidade”.
119
Paula: “Também acho que é importante porque a sexualidade já está presente na vida
120
do homem e da mulher desde que eles nascem. Quando ele vai crescendo vai
121
amadurecendo, vendo a diferença entre homem e mulher... a diferença dos corpos e
122
isso vai ajudando. Se não tiver sexualidade ele não vai ter entendimento do que é
123
certo, do que é errado... das diferenças que existem entre homens e mulheres. De
124
certa forma é bom esse estímulo porque desde criança ele já vai vendo essas
125
diferenças”.
126
Paula: “Em relação à sexualidade da mulher eu acho mais complicado porque, para a
127
mulher na medida que ela crescendo o corpo vai se desenvolvendo e pru/ homem
128
não... pru/ homem é mais fácil”.
129
William: “Sempre houve essa questão do homem, quando começa a ter vida sexual
130
ativa, achar que é o mais importante... MACHÃO. Acho que todo crescimento deve ser
131
de acordo com o que vai sendo feito... você vai crescendo, vai amadurecendo, se
132
preparando prá quando chegar essa hora. Não adianta cortar caminho e seguir logo
133
direto sem ter certa maturidade”.
134
Janice: “Eu acho que estão dando importância errada à sexualidade hoje em dia,
135
porque alguns meninos fazem prá/... as meninas também, mas é menos. Conheço
136
um caso que diz: a minha amiga não é mais virgem então eu também não posso ser
137
porque sou carente.. a importância vem de você. Em algumas pessoas a religião
138
ajuda; tanto evangélicos como católicos sabem que sexo antes do casamento, de
139
certa forma é errado; mas se você tem outro pensamento não é religião que vai
140
empatar. Isso não vem da religião, vem dela mesmo; do modo que ela foi criada; dos
141
pais... do que vê com as amigas, com os amigos”.
142
Josely: “O sexo Deus deixou como uma prova de amor também... (para) depois do
143
casamento. Tem pessoas que fazem antes e avacalham demais. Faz por prazer
144
somente”.
145
Janice: “Eu não sou contra o sexo antes do casamento, sou contra o sexo feito por
146
brincadeira, por prazer. Desde que haja amor entre os dois, eu sei que é errado pelo
147
lado da blia, mas o meu ponto de vista eu acho que é menos. Às vezes as meninas
148
ficam e faz relação sexual; eu acho isso errado. Mas muitas vezes tem o casamento,
149
mas não tem amor naquele casamento. pronto, foi depois do casamento, mas não
150
adiantou de nada porque você fez porque casou, não fez porque amava. Então,
151
independente do casamento desde que seja feito por amor àquela pessoa, com
152
atenção, com carinho eu acho que não é uma coisa tão errada, como quando se faz
153
só por brincadeira ou por prazer”.
154
William: “Essa questão de casamento sem amor, um caso aqui no colégio: a menina
155
casou e se separou na lua de mel. O casamento não é uma coisa por escrito; deve
156
ser feito quando os dois tão/ certo daquilo. Às vezes a pessoa pensa: vou me casar
157
prá/ ficar tudo certo; pode tá/ certo pela lei, mas e pela lei de Deus?
158
Damião: “Tem que ver que o adolescente ou o jovem que tem relação antes do
159
casamento, no futuro vai atrapalhar ele, por que? Não vai precisar se casar prá/
160
conseguir o eu quer. Se ele tem o que quer antes do casamento, porque ele vai querer
161
casar, construir uma família”.
162
Tarcísio: “Ele não achou a pessoa certa prá/ se casar; o amor não entrou nos
163
corações dos dois. Ele achou o que quis, não achou a pessoa certa”.
164
181
Damião: “Aí tem o preconceito. Às vezes as pessoas não acreditam em conversão;
165
que uma pessoa era de um jeito e mudou. se você é um homem que vive pegando
166
uma mulher, pega uma hoje, pega outra, pega outra, fica o preconceito contra você. Aí
167
diz (a moça) eu não vou namorar, casar com ele porque ele é galinha. A mesma coisa
168
é o pensamento do homem com uma mulher: se você uma mulher saindo com
169
todos os homens, qual é o seu pensamento? Você vai casar prá levar gaia?”
170
Eloisa: “Ainda existe um pouco de preconceito quando ela perde a virgindade.
171
Ninguém quer nada sério com ela”.
172
Janice: “Eu tava/ conversando ontem com a minha vó/ e ela falou que o prazer de
173
uma menina é casar virgem. Então eu falei que não, porque se uma menina se
174
entrega a um namorado e ele deixa ela, talvez aquela pessoa não fosse prá/ casar
175
com ela. Futuramente você ia casar com ele, fazer sexo com ele, mas talvez ele não
176
fosse a pessoa certa prá/ você porque ele não ia lhe amar o suficiente. Porque se ele
177
lhe deixou não importa se foi antes do casamento ou depois do casamento; realmente
178
ele lhe queria praquilo/ (fazer sexo). Muitos homens tem preconceito prá/ casar
179
com a mulher que não é virgem, mas acho que não tem nada a ver”.
180
Eloisa: “A mulher tem de se dar valor”.
181
Janice: “Eu acho que não é por não ser virgem que você O se dando valor.
182
Você tem que ter a consciência, porque tem menina que perde a virgindade hoje,
183
amanhã começa a namorar com outro e se entrega prá/ ele; eu acho que isso
184
errado”.
185
P: “Mais alguém?”
186
((Silêncio no grupo))
187
P: Outra questão eu gostaria de discutir com vocês... como fazer a diferença entre
188
a sexualidade e o sexo?”
189
William: “Sexualidade é uma coisa em geral e o sexo é o ato. O sexo é uma parte da
190
sexualidade”.
191
Martha: A sexualidade todo mundo tem; o sexo são as emoções” ((fala com largo
192
sorriso, acompanhada por risos do grupo))
193
Janice: “A sexualidade tá/ em tudo. Namorar quando criança lógico que tem
194
sexualidade... são dois sexos: Homem e mulher. Tem sexualidade mas não o ato
195
sexual; tem a sexualidade de namorar beijar na boca... que não deixa de ser
196
sexualidade; o ato sexual tem diferença... faz parte da sexualidade mas não é”.
197
Damião: “Sexualidade é mais uma forma de conversa... amizade... uma forma de
198
contato com as pessoas; o sexo é mais um ato. A gente tá/ conversando aqui... é um
199
ato de sexualidade; sexualidade não é só chegar lá e fazer e tal... isso é o sexo em si”.
200
Ricardo: “A sexualidade pode ser considerada como um todo; sexo é um ato,
201
conseqüência da sexualidade”.
202
P: “Uma opinião feminbina...”
203
Janice: “Eu acho que a sexualidade é o conjunto de tudo: conjunto das sensações,
204
dos sentimentos, das relações entre sexos opostos ou sexos iguais... tudo isso; e sexo
205
como William disse é o ato, é a relação sexual”.
206
P: “Outra opinião? Josely?”
207
Josely: “Como Janice citou, sexualidade é em geral; o sexo é o ato, independente de
208
ser homem ou mulher”.
209
P: “Alguém gostaria de dar outra opinião?”
210
((Não houve manifestações))
211
P: “Mais uma questão então, apenas... existe alguma relação entre a sexualidade e
212
o ajustamento do adolescente à vida?”
213
Paula: “Como assim?”
214
((Comentários de alguns no grupo sem relação com o tema)).
215
P: “A sexualidade ajuda o adolescente a ajustar-se à vida? Se nós analisarmos a vida
216
como uma participação geral: A vida na escola, a vida no trabalho, a vida na igreja, a
217
vida nos esportes, a vida na igreja, a vida na família, a vida na música, a vida na
218
182
vizinhança. A sexualidade ajuda o adolescente a ajustar-se a esses diferentes
219
ambientes da vida?”
220
William: Acho que o desenvolvimento do corpo do adolescente faz parte da
221
sexualidade dele; se você tá/ desenvolvendo você passa pela puberdade; o
222
desenvolvimento do corpo é também uma forma de se ajustar fisicamente na
223
sociedade”.
224
Janice: “Alguns pais acham que a sexualidade atrapalha... eu acho que não.
225
Desenvolvendo o corpo você fica uma pessoa mais amadurecida... mas também não
226
lhe torna uma pessoa diferente; muitos pais julgam que uma pessoa que fez sexo
227
antes é menos responsável que uma pessoa que não fez; acho que isso não muda... a
228
responsabilidade da pessoa... a personalidade não tá/ nisso”.
229
William: “Toda criança menino... (quando) pequeno tem aquela rixa de sempre ser
230
contra a mulher; quando você começa a desenvolver a sexualidade, você começa a
231
ver com outros olhos: Àquela mulher que eu tinha rixa eu já vejo como um aliado perto
232
de mim porque os caras vão ver e dizer: Olha ali... o cara andado com mulher. Se
233
eu não desenvolvesse a sexualidade, na escola eu não ia/ sentar perto de mulher. Por
234
que não? No trabalho se você tem uma concorrente mulher e você não desenvolveu
235
essa questão de ser sempre contra a mulher, isso atrapalha a vida na sociedade”.
236
Janice: “Com a sexualidade você aprende que o outro independente do sexo é um ser
237
igual a você. Com o tempo você vai aprendendo a conviver com pessoas de sexos
238
diferentes”.
239
Ricardo: “Acho que a vida da pessoa pode ser considerada por etapas; acho que a
240
sexualidade pode ser uma etapa da vida do adolescente; quando ele descobre essa
241
etapa da sexualidade vai desenvolver sobre aquela área”.
242
Gleydes: “Acho o contrário: A sexualidade é a vida. Ela está presente na vida toda; ela
243
não é uma parte da vida. A puberdade, a adolescência são etapas da sexualidade
244
que a pessoa está sempre desenvolvendo; ela nunca para de aprender e está sempre
245
em contato com outras pessoas principalmente com o sexo oposto; desde criança ela
246
aprende a conviver, aprende as diferenças. A sexualidade é que está dividida em
247
etapas da vida”.
248
Janice: “(É que não é só relacionada a adolescência: acho que ao resto da vida”.
249
Ricardo: “Sim, a sexualidade existe mas ela tá/ escondida dentro de você; quando
250
você chega a uma certa parte da sua vida então você começa a desenvolver; não é
251
que ela chegue de REPENTE... mas ela está não desenvolvida. Na adolescência é a
252
parte que você mais desenvolve essa questão; na adolescência você não é adulto
253
nem criança você tá/ num meio termo, você tá/ saindo da criança prá/ ser adulto.
254
Nessa parte da adolescência se você não desenvolver essa sexualidade você não vai
255
ter como se ajustar na sociedade”.
256
P: “Outra opinião?
257
((Silêncio no grupo)).
258
P: “Nada mais?... Quando ocorre o silêncio parece que o assunto foi
259
satisfatoriamente explorado... foi muito agradável ter estado aqui no Colégio Jerônimo
260
Gueiros, com esse bom pessoal aqui...”
261
183
ANEXO K - GRUPO FOCAL NÃO–RELIGIOSO 3 - (GFNR-3) 1
2
TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTA 3
4
5
PERCEPÇÃO DA SEXUALIDADE 6
7
8
P: “Estamos reunidos nessa ocasião com adolescentes da Escola Agobar Valença e
9
neste momento nós faremos uma discussão sobre a percepção que têm os
10
adolescentes a respeito da sua própria sexualidade. Então a questão que nós
11
gostaríamos inicialmente de debater e o que os adolescentes entendem por
12
sexualidade? Quem começa?
13
((Indecisões... ))
14
Helenilda: “Sexualidade muita pensa que é fazer as químicas; mas quando a gente
15
vai colocar em objetivo, que não é as químicas que a gente deve fazer, mas
16
sexualidade”.
17
P: “Que outra idéia? Helenilda gostaria de falar?”
18
Pietra: ((sorri, mas não contribuiu à discussão))
19
P: “Maria Luiza deseja falar?”
20
Maria Luiza: “Não”.
21
P: "Que outra opinião podemos ter sobre o que os adolescentes entendem por
22
sexualidade?
23
Sergio Paulo: “Quando os adolescentes vê/ essa palavra sexualidade o que vem logo
24
na cabeça é em relação a sexo, mas também em relação ao sexo da gente... se você
25
pretende ser homem ou se você quer ser gay ... mulher... né/... isso aí é gosto de cada
26
um... sabe? isso é um fato prá/ agente também debater... a sexualidade de cada um”.
27
P: Sergio Paulo está se referindo a uma questão de identidade sexual, mas o que
28
desejamos debater é o que vocês chamam de sexualidade. A questão é, o que os
29
adolescentes entendem ou acham ser a sexualidade?
30
Erinaldo: “Uma diversão, uma aventura”.
31
Araci: “Uma aventura muito grande que pode dar errado”.
32
Reginaldo: “Um mero prazer”.
33
Roberto Carlos: “Principalmente para os homens que querem chegar... e créo/...;
34
deixa prá lá”.
35
P: “Que outra idéia? Maurício, talvez?
36
Maurício: “De certa forma se conhecer... sexualidade é quando chega a idade de ter
37
relacionamento sexual... de conhecer o próprio corpo”.
38
P: “Outra idéia? Elielza deseja falar?”
39
Elielza: ((com gestos indicou que não)).
40
P: “Walter?”
41
Walter: “A sexualidade prá/ os homens é mais diversão... assim... em sentir prazer e
42
não em dar prazer... principalmente os homens eles tende mais a sentir e não dar
43
prazer à pessoa com quem ele tá/ se relacionando”.
44
P: “Walter está abordando mais uma questão de competência sexual. Mas, voltando à
45
questão, o que os adolescentes têm na mente quando falam de sexualidade?”
46
Araci: Assim... sexualidade como a gente aqui... tá/ todo mundo perdido... ninguém
47
tem uma idéia própria... ninguém tem uma coisa certa prá dizer... é isso que os jovens
48
pensam... não tem nada certo”.
49
Reginaldo: “Eu acho que esse negócio sobre sexualidade... os adolescentes de hoje
50
em dia não tem uma idéia fixa sobre sexualidade... quando fala em sexualidade pensa
51
logo no sexo... no prazer... pensa logo nisso... se for perguntar a outra pessoa vai ser
52
difícil ter outra resposta”.
53
184
P: “Qual seria a dificuldade de compreensão do adolescente em relação à
54
sexualidade? Porque você julga que os adolescentes não têm assim, muito jeito prá
55
dizer o que seria sexualidade?”
56
Erinaldo: “Falta de diálogo”.
57
Sergio Paulo: “É a falta do diálogo que tem muitas vezes nas escolas... e também dos
58
pais em casa... é a falta de informação que fora também não passa nada falando
59
disso... por isso que prus/ jovens sexo é isso... prazer... diversão ou alguma coisa
60
assim parecida”.
61
P: “Alguma outra contribuição?”
62
((não houve manifestações)).
63
P: Muito bem... vamos ver uma segunda questão: Qual seria a importância da
64
sexualidade para o adolescente? Qual é o papel da sexualidade na vida do
65
adolescente? É importante o exercício da sexualidade para o adolescente?”
66
Erinaldo: “Claro... acho que é porque quando você tem uma relação você se sente
67
mais maduro... você se sente mais livre... mais solto ((risos no grupo)).
68
P: “Erinaldo está apontando uma questão de comportamento sexual, de vivência
69
sexual; faz parte da sexualidade, mas será que o comportamento sexual é a própria
70
sexualidade?”
71
((silêncio no grupo)).
72
P: “Que outra idéia podemos ter? Por exemplo: Como se sentem os adolescentes
73
sendo masculinos e outros femininos? Os adolescentes masculinos como se sentem
74
com o fato de serem masculinos?”
75
Reginaldo: “Bem eu agradeço a Deus porque eu me sinto masculino. Isso vai da
76
cabeça de cada um; cada um tem a sua opção”.
77
P: “Outra idéia?”
78
Erinaldo: “Pode fazer de novo a pergunta?”.
79
P: “Como os adolescentes masculinos se sentem com esse fato de serem
80
masculinos? É bom ser masculino, por quê? É bom ser feminino, por quê?”
81
Sergio Paulo: É bom ser masculino porque tem mais liberdade, principalmente em
82
casa; é homem, tem mais autoridade também; é mais livre prá/ sair, ter relação sexual.
83
Se você for um menino, todo pai deseja que o menino seja... sabe (macho) pratique, já
84
que é prá ficar... (homem) sabe? ((risos no grupo)). O menino, eles (pais) incentivam
85
mais do que a menina”.
86
P: “Sergio Paulo está abordando uma questão de gênero: Sexualidade e gênero. Ele
87
diz que é importante ser masculino por causa dessa liberdade, do poder. Que resposta
88
têm as meninas?”
89
Araci: Eu acho que todos os pais fizeram isso deste o tempo... antigamente, que o
90
homem fosse o chefe. Mas a mulher também pode ser; isso não tem nada a ver;
91
mulher pode sair. Como antigamente, mulher não saía, ficava tudo em casa
92
costurando e eles pelo mundo, e a mulher não. A mulher tem de ter direito de tudo o
93
que eles fazem”.
94
Reginaldo: Mas temos que concordar uma coisa: Um homem na família é tratado
95
como... sei lá! Pode fazer tudo que quiser. Mulher tem hora certa prá chegar em casa,
96
homem não; ele tem mais incentivo. Com a mulher, não; os pais dão muitos
97
conselhos, falam muito com ela sobre isso”.
98
P: “Qual a resposta feminina que temos para Reginaldo?”
99
Araci: “Ele (Reginaldo) falou que o homem pode ir prá festa, que o pai deixa e a
100
mulher não. Porque, como os homens no tempo de hoje tão muito perdidos... a mulher
101
não, a mãe vê, assiste muitas coisas e a mãe diz: olhe, é assim, assim, assim, prá ver
102
se ela presta atenção e pode ser uma grande mulher prá/ frente”.
103
P: “Outra contribuição feminina?”
104
Maria Luiza: “Os pais sempre tem mais crédito (cuidado, atenção) com as mulheres
105
do que com os homens. Aos homens diz: se vire, você é de maior; e à mulher, não.
106
Ela sendo de maior, vivendo com ao pais, eles ainda tem cuidado; quando ela vai sair
107
185
de casa ter cuidado; se sair com o namorado... sempre dão muito conselho... prá/
108
voltar cedo”.
109
P: “Outra contribuição? Elielza?”
110
Elielza: “Eu acho assim: O homem desde antigamente, não é de agora, tem a
111
passagem livre e a mulher é mais presa. Agora, por que isso? A mulher ser presa?
112
Não são dois seres humanos?”.
113
P: “Quem tem a resposta?”
114
Roberto Carlos: “A mulher é mais frágil”.
115
Elielza: “Não tem nada a ver, nada a ver. Os seres humanos têm direitos iguais, e
116
aí?”.
117
P: “Roberto Carlos acredita que é por que a mulher seja mais frágil”.
118
Elielza: “Mas aí vai depender da confiança”.
119
P: “Elielza acredita que a confiança do pai é que vai estabelecer a forma dele se
120
relacionar com ela. O que vocês acham?”
121
Sergio Paulo: “Na minha opinião é porque o homem tem mais malícia; acontecer
122
alguma coisa assim: você vai prá uma festa, acontece de vir alguém te assaltar ou
123
coisa parecida, é claro que ele não vai pro/ seu lado; se vir, você tem aquela malícia. E
124
a menina, não: é um assalto, passa tudo”.
125
Elielza: “E a gente vai reagir fazer feito vocês? Não”. ((risos no grupo)).
126
Sergio Paulo: “É o que tô/ dizendo: vocês não têm... não têm essa malícia de chegar,
127
enrolar até ele dá um vacilo e vocês correr/”.
128
Reginaldo: “Essa questão sobre os pais ser mais liberais com os homens do que com
129
as mulheres, isso é uma questão que quem pode responder são eles. Os pais
130
incentivam seus filhos homens a praticar o sexo mesmo sem chegar a idade; até
131
comentam entre eles: Ah, não, já é tudo homem, tem namorada. Qual é o pai que vai
132
incentivar a mulher (filha) a praticar sexo? Quem de vocês aí (meninas do grupo) o pai
133
já incentivou?”.
134
Erinaldo: “Mas teu pai (referindo-se a Reginaldo) te incentiva a fazer sexo?”
135
Reginaldo: “Incentiva” ((risos no grupo)).
136
Erinaldo: “acho assim, que o homem quer sempre tomar a frente de tudo; e a questão
137
de horário, é uma questão de disciplina. Eu moro com minha mãe porque meu pai
138
mora fora e passa muito tempo; então eu convivo mais com ela (mãe); e o mesmo
139
cuidado que ela tem com minha irmã e meu irmão mais novo ela tem comigo. Nem
140
meu pai nem minha mãe me incentiva a fazer sexo; o que eles dizem é: tenha
141
cuidado, use camisinha e tal. Mas incentivar, acho que isso não existe”.
142
P: “Erinaldo trata de uma questão de gênero. Mas, e a questão da sexualidade? Isso é
143
importante para a nossa vida, exercer a nossa sexualidade?”
144
((não houve manifestações)).
145
P: “Muito bem... uma terceira questão: Existe diferença entre a sexualidade e o
146
sexo?”
147
((silêncio no grupo)).
148
P: “Vocês estão dizendo que os pais incentivam os filhos homens a fazer sexo e
149
negam essa oportunidade às filhas, as meninas. diferença entre a sexualidade e o
150
comportamento sexual? O que vocês acham?”
151
Erinaldo: “Sexualidade, acho que o sexo é mais momentâneo; a sexualidade leva a
152
várias coisas”.
153
P: “Walter?”
154
Walter: “Eu posso falar que é porque... que quase todo mundo ainda não entrou no
155
clima de sexualidade e sexo aqui na sala (grupo); que ainda tá/ uma discussão... então
156
nessa discussão tá/ havendo um equívoco do que é sexo e sexualidade. O
157
adolescente em geral ainda não tá/ sabendo definir sexualidade e sexo. Acho que isso
158
é uma discussão que tende a abranger outras escolas, outros adolescentes, prá/ ver a
159
diferença, o porque que eles ainda não sabe diferenciar o sexo e a sexualidade. O
160
meio de comunicação é grande. As escolas agora que tão/ pondo professores prá/
161
debater o sexo dentro da sala. Os professores não tinham essa liberdade prá/ falar de
162
186
sexo; por isso que os adolescentes ainda se enrolam quando vão falar de sexualidade
163
e de sexo”.
164
P: “Mas na sua idéia (Walter) o que seria a sexualidade?
165
Walter: “Prá/ falar a verdade, nem eu tenho idéia do que seria a sexualidade”.
166
P: “Alguma outra contribuição?”
167
Reginaldo: “O que ele (Walter) falou é verdade. O que o adolescente tem mais idéia
168
hoje é sobre o sexo, o ato, a pratiAÇÃO; não sobre a sexualidade. Eu também não
169
tenho uma idéia concreta sobre sexualidade”.
170
P: “Outra contribuição? Dagoberto?”
171
((risos no grupo. Dagoberto esboçou um sorriso, mas não contribuiu)).
172
P: “Maria Luiza?”
173
Maria Luiza: “Eu sei lá”.
174
P: “Elielza?... Helenilda?... Ninguém mais?”
175
((silêncio no grupo)).
176
P: “O que vocês acham ser o sexo?
177
Walter: “O sexo, prá/ muita gente é sentir prazer”.
178
P: “De que forma?”
179
Walter: “Sentir prazer, dar prazer ao seu corpo; não fazer sexo porque você gosta da
180
pessoa... você quer dar prazer ao seu corpo”.
181
P: “Alguma outra contribuição?... Nada?”
182
((mistura de vozes))
183
P: “Muito bem... mais uma outra questão... o que nós gostaríamos de ver agora é se
184
existe alguma relação entre a sexualidade e o ajustamento da pessoa à vida?
185
Será que a sexualidade ajuda o adolescente a se sentir melhor, a se sentir mais
186
adaptado à família, à escola, ao trabalho em alguns casos, aos esportes? O que
187
vocês acham? Que comentários vocês fazem?”
188
((silêncio no grupo)).
189
P: “O fato de ser menino tem alguma influência no ajustamento à vida? Por exemplo:
190
Se fala que os meninos têm mais liberdade; essa liberdade ajuda ele a adaptar-se
191
melhor à vida presente?
192
((silêncio no grupo)).
193
P: “O fato de ser mulher, isso ajuda ela a adaptar-se à vida? A sexualidade (...)
194
Araci: “Mulher, não”.
195
P: “Por que?”
196
Araci: Porque o homem quando tá/ numa turma de amigos e diz: eu não sou mais
197
virgem... ele é o cara. Mulher, não; mulher não tem essas coisas... é mais fechada... é
198
mais quieta; pode até comentar com sua amiga, amiga mesmo ou com sua mãe... só.
199
Pronto. Ela não sai dizendo assim, a todo mundo”.
200
P: “O que vocês acham?”
201
Reginaldo: “O que ela (Araci) ta/ dizendo é verdade. Quando no meio dos meninos
202
tem um que ainda é virgem, aquela pessoa é discriminada; chamam ele de donzelo.
203
As mulheres não debatem esse tipo de coisa”.
204
Roberto Carlos: E porque vai da honra da mulher; porque ninguém vai querer casar
205
com uma mulher toda daquele jeito. Se eu for casar um dia e a minha mulher não for
206
virgem eu não quero mais” ((risos no grupo)).
207
Araci: “Em todo caso, se tu for casar, se tu gostar dela amanhã, tu num/ vai casar com
208
ela?”.
209
Roberto Carlos: “Ôxe/, vou nada” ((risos no grupo)).
210
Reginaldo: É o seguinte: O homem que tiver uma relação sexual com uma mulher e
211
ela tiver relação com outros, então o cara não vai mais querer ela; o cara vai dizer:
212
Ah::.. não... ela se entregou prá/ outro cara... discrimina logo; diz que é puta... que
213
bota doença... o cara pensa: se eu ficar com ela, ela vai chegar e botar outro cara
214
aqui”.
215
P: “As mulheres o que acham dessa fala do Reginaldo?”
216
187
Araci: Eu acho que ele (Reginaldo) / certo, mas como o menino (Roberto Carlos)
217
disse ali: se ele for casar um dia com uma mulher e ele descobrir que ela não é mais
218
virgem... mas ela não pode ser isso tudo que o Reginaldo disse. Ela pode ter (tido)
219
relações (só) com o ex-namorado dela, mas eles dois; aí tá/ errado (rejeitar a moça
220
não virgem para o casamento”.
221
Erinaldo: Ela pode tá/ apaixonada por ele naquele momento... e muito cara faz
222
porque é legal e depois que consegue o que quer... tchau. Ás vezes é a única vez
223
da mulher, aí quando casar descobre que ela não é mais virgem, aí vai fazer o quê?”
224
Maria Luiza: “Acho errado o que ele (Roberto Carlos) disse. Se a menina não for
225
virgem ele não quer mais ela; e ele também? ela podia fazer a mesma coisa também:
226
se você não é virgem eu também não quero mais você, pronto” ((risos no grupo)).
227
Araci: “Estava passando um programa que tinha um casal que os dois namorava/ faz
228
muito tempo e os dois era/ virgens. É opção sexual deles”.
229
Reginaldo: “Isso é uma besteira, porque se você for casar com uma mulher e tudo
230
mais você não vai sair perguntando: tu é/ virgem? Se não for, não quero não?”.
231
Roberto Carlos: “Prá/ encontrar uma virgem por aqui é difícil”. ((fala com ar de
232
descrença; risos no grupo)).
233
P: Mas nós estamos falando de liberdade sexual, aliás, liberdade prá/ fazer ou deixar
234
de fazer sexo. Mas a questão seria essa: A sexualidade ajuda a pessoa a ajustar-se à
235
vida?
236
Erinaldo: “Ajuda”.
237
Roberto Carlos: “Principalmente a mulher quando engravidar a primeira vez, da
238
próxima vez ela vai pensar” ((comentário em tom de brincadeira; risos no grupo)).
239
P: “Alguma outra contribuição?”
240
Walter: “Quando faz em sexo prá se ajustar na vida, muitos se encontram, outros não;
241
ficam totalmente perdidos prá/ a partir do sexo ele dar um jeito na sua vida. Eu acho
242
que nem todos buscam o sexo prá/ se encontrar na vida”.
243
P: “Outra contribuição?”
244
Roberto Carlos: “Dá um jeito na vida quando o pai obriga o cara a casar com a filha
245
dele” ((risos no grupo)).
246
P: “Alguma outra idéia?”
247
((não houve comentários)).
248
P: Estivemos aqui reunidos com um grupo de adolescentes da Escola Agobar Valença
249
e nesta ocasião fizemos uma reflexão sobre a percepção dos adolescentes a respeito
250
da sexualidade.
251
188
ANEXO L - GRUPO FOCAL RELIGIOSO 4 - (GFR-4) 1
2
TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTA 3
4
5
VIVÊNCIAS SEXUAIS NA ADOLESCÊNCIA 6
7
P: Estamos nesta ocasião, reunidos aqui no Colégio Diocesano, com um grupo de
8
adolescentes e, nesta ocasião também, faremos uma discussão sobre vivências
9
sexuais na adolescência. Uma primeira questão que nós gostaríamos de debater, é o
10
significado ou o sentido que tem a sexualidade para os adolescentes. Então a questão
11
seria: O que os adolescentes entendem por sexualidade? Com a palavra?...
12
((silêncio no grupo)).
13
P: Quem gostaria? ... ((silêncio))...
14
P: Vamos começar com o Antonio ((risos no grupo))
15
Flávio: “Acho que infelizmente prá/ juventude de hoje em dia... eh:: o termo é bem
16
amplo, sexualidade se tornou um simples sexo... muito vulgarizado... o sexo puro...
17
não existe mais a sexualidade... hoje só sexo”.
18
P: Quem prossegue?
19
Vitória: “Eu acredito que essa promoção foi ocorrida/ pela mídia; a mídia hoje de
20
encarrega de banalizar o sexo e todas as purezas de sentimento vividas com ele. Hoje
21
não se fala mais de sexo... a indústria do amor... o sexo em busca de complemento,
22
mas o sexo como busca do prazer. Isso faz com que as pessoas achem que isso
23
basta... que e o suficiente prá/ ser feliz, prá/ estar realizado. Então muitos jovens
24
acreditam que... por estar fazendo... tem que manter relações sexuais, esquecendo da
25
sua própria... do seu interior, suas convicções, da sua própria sexualidade... de cuidar
26
de si próprio”.
27
P: quem prossegue?
28
Peres: “Como é a pergunta?”
29
P: O que é a sexualidade para os adolescentes?
30
Peres: “Eu creio que a sexualidade ainda permanece como opção sexual... que o
31
jovem ou a jovem esCOLHE. Como os nossos colegas falaram, hoje em dia
32
infelizmente... repetindo as palavras do colega, está se tornando uma coisa nojenta
33
(vivências sexuais)... a opção que o jovem escolhe não lhe dando mais uma coisa de
34
sentir-se orgulhoso por escolher... né... por viver a sexualidade; mas agora estar se
35
tornando uma coisa... para muitos se torna nojenta... é TRISte mas é a realidade”.
36
P: Outra colaboração?
37
Flávia: “Eu acho que a juventude é imediatista... estão começando a fazer as coisas
38
cada vez mas cedo porque temos cada vez menos tempo e cada vez mais correria.
39
Então o que antes, por exemplo, muitos anos atrás, começava a namorar... sei lá...
40
aos quinze ou dezesseis anos, hoje tem meninas de nove, oito anos que já tem
41
namoradinho no colégio. Tá/ começando tudo mais cedo, tudo mais rápido, querem
42
aproveitar ao máximo a vida... a juventude porque tá/ passando tudo muito rápido”.
43
P: Nós ouvimos Flávia. Leandra?
44
Leandra: Outra questão também que deve ser tratada aqui é a questão da
45
informação. Antigamente... eh::.. tudo o que se relacionava a sexualidade era feito
46
sepaRADO... os pais não conversavam com os filhos... e hoje tem toda uma
47
informação,hoje tem toda abertura que é trazida pela geração... aos jovens. Agora o
48
que é que ta/ acontecendo? Os meus colegas aqui falaram, não tá/ sendo aproveitado
49
de modo certo, ou seja: o jovem tem tanta informação... eh:::.. que realmente... se
50
tornou banalidade... como M6 falou... ou seja: estão tratando do sexo como uma coisa
51
qualquer, como um centro de mero prazer e não um ato de amor... né?... que na
52
realidade é o real significado da sexualidade é esse... é um complemento... não um
53
todo, mas uma parte”.
54
189
P: Flávio?
55
Flávio: “Como todo mundo aqui falou, o sexo está sendo encarado como o todo do
56
relacionamento... não um tempero, digamos assim, não um toque a mais, o ápice... ele
57
(o sexo) está sendo encarado como o início, o meio e o fim de um relacionamento. E
58
essa questão de... eh::...se iniciar cada vez mais cedo, tanto o namoro quanto a sua
59
sexualidade por conta dessa informação como foi falada, mas a informação vulgar...
60
àquela informação distorcida, danificada. Por isso crianças... eh::... (ininteligível) ainda
61
sem personalidade formada entram nessa vida tão cedo”.
62
P: Vitória?
63
Vitória: “Antes, a base de um relacionamento... tudo que se construía era baseada em
64
sonhos, em sentimentos. Hoje não, está sendo baseada em sexo. Como Leandra
65
falou, tá/ tendo muita informação mas não tá/ tendo formação. Hoje os pais não se
66
sentam mais à mesa com seus filhos, não conversam... então todas as fontes que eles
67
(filhos) têm... buscam na dia... eh::.. na escola e nos amigos e é que encontram
68
informações mais defasadas. Os pais não tão/ mais conversando com os filhos e os
69
filhos não conseguem ter mais uma ligação... com seus pais. Então, as informações
70
acabam deformando quando não há informação... familiar”.
71
P: Lú ia falar?
72
Lú: Eh::.. eu acho assim... que hoje em dia o jovem olha muito o sexo mais como
73
prazer... ele vê assim ... muitas vezes os amigos... e por influência deles ou não....
74
não, foi bom e tal (a experiência sexual vivida)... muitas vezes de deixa influenciar
75
por isso... não leva sua própria opinião. escuta muitas vezes: não, pô/, se você não
76
fizer não... eh::.. vai ser bebezinho. Aí acaba deixando se influenciar por certas
77
amizades”.
78
P: Outra contribuição?
79
((silêncio no grupo))
80
P: Antonia?
81
Antonia: ((sorriu))
82
P: Alberta?
83
Alberta: “Ah::... os meninos já falaram praticamente tudo... o que os jovens pensam
84
sobre esse assunto.
85
P: Apolônio?
86
Apolônio: “Hoje ser virgem é motivo de mangação, de vergonha. Um jovem tem
87
vergonha de falar que é virgem por causa dos amigos que ficam mangando,
88
provocando... e motivo... e o jovem como foi falado, segue por desejo e não por
89
amor, mas por desejo”.
90
P: seria comportamento sexual. Mas em relação a sexualidade, como você
91
entende? O que seria prá/ você a sexualidade?... A sexualidade humana o que seria
92
ela?
93
Apolônio: “Assim... a sexualidade que eu entendo é normal em todo ser humano, né...
94
prá todo ser humano depois do casamento pode ter a relação... do sexo. Mas os
95
jovens hoje não tão/ tendo mais a relação por amor, mas sim pelo desejo”.
96
Vitória: “Uma área da sexualidade que não tá/ sendo abordada é quanto à opção
97
sexual que as pessoas escolhem. Quando você nasce e acaba sendo atraída por
98
outra jovem, é um desvio da sua sexualidade, você não tá/ mais sendo quem você,
99
digamos, nasceu para ser... é uma expressão que eu costumo usar... mas está sendo
100
isso: seus desejos... a mesma coisa que o lado masculino. A opção pelo
101
homossexualismo ou bissexualismo, coisas que segundo a religião não são corretas...
102
são abomináveis”.
103
P: Outra contribuição?
104
((silêncio no grupo))
105
P: Nada?
106
((silêncio no grupo))
107
P: Muito bem. Como os jovens vêem as vivências da sexualidade hoje? Como é
108
que os jovens podem viver a sexualidade?
109
190
Flávio: “Se tiver personalidade (o adolescente) acho que pode encarar (as vivências
110
da sexualidade) como uma coisa normal... porque... como falei no começo,
111
sexualidade nao se resume a sexo... é um todo. Sexualidade inclui cuidado com
112
seu corpo, cuidado com sua índole... eh::... relacionamentos... eh::... sexualidade é um
113
conjunto; não são coisas específicas. E... tem coisas hoje em dia que tão/ agredindo a
114
sexualidade, principalmente de meninas como por exemplo, músicas... eh::...
115
novelas... alguns tipos de roupas que deixa a sexualidade... não corpórea, digamos
116
assim, mas deixa de qualquer forma a sexualidade exposta. Vou citar um exemplo
117
bem vulgar: Uma menina que tá/ de saia, que tá/ com uma blusinha mostrando a
118
barriga e tal, não vai ser tão respeitada como uma menina que tá/ vestida composta e
119
tal”.
120
P: Mas essa não é uma forma dela viver a sexualidade dela?
121
Flávio: “Sim, é àquele jogo de sedução... àquele jogo de atração talvez”.
122
P: Vitória?
123
Vitória: “O problema do jogo de sedução é a pessoa que você está incitando; se você
124
quer passar por esses rapazes e não quer ouvir piadas você não deve usar (roupas
125
sensuais?). Mas tem muita gente que se veste como tal e quando recebe alguns
126
predicados ou adjetivos... acham ruim. Acho que quando você tem o seu corpo você
127
tem que zelar... não precisa tá/ mostrando seu bumbum”.
128
P: Outra contribuição?
129
Peres: ”Eh::... já vendo essas colocações dos colegas, como viver a sexualidade?
130
Foram apresentadas várias formas de viver a sexualidade tanto neste encontro, nesta
131
reunião como na outra. Aquelas pessoas que respeitam as orientações da religião e
132
seguem aquele ritmo... tradicional... e hoje um novo jeito de viver a sexualidade,
133
né... aquela coisa natural, espontânea, de momentos é uma forma de viver a
134
sexualidade”.
135
P: Outra idéia?
136
((silêncio no grupo))
137
P: Mais alguém? M4?
138
Flávia: “Acho que já tocaram em todos os pontos nesse aspecto”.
139
P: ?
140
((silêncio no grupo))
141
P: Para os adolescentes hoje, o que realmente se pode chamar de vivência
142
sexual?
143
Flávio: “Fazer sexo”
144
Alberta: “A grande maioria”
145
Flávio: “Banalizando mesmo: fazer sexo”.
146
P: Flávio acredita que a vivência sexual seja exclusivamente a realização de uma
147
forma de sexo.
148
Flávio:”Infelizmente”.
149
P: “Que outra idéia?”
150
Alberta: “A curiosidade também”.
151
Leandra: “Porque... assim... Flávio falou fazer sexo apenas... a maioria dos jovens tem
152
essa mesma concepção que Flávio falou agora. Mas também a gente tá/ falando aqui
153
de uma maioria mas o do todo; não são todos os jovens que vêem o sexo dessa
154
forma. Tem muita gente que fala assim... eh::... a questão do tempo, do momento...
155
isso também varia muito porquê? Porque o sexo em si ele vem do amor... né/... às
156
vezes ele vem do amor, né/... Então... existem jovens... eh::... com a religião ela tem
157
essa tese aí que somente depois do casamento, que é o certo, né/... que é o momento
158
certo. MAS a gente tem que ver também que além de seres humanos, de pessoas que
159
pensam, pessoas que têm idéias, somos pessoas que tem instintos, somos pessoas
160
que agem também que agem pelos instintos... somos pessoas que sente desejos...
161
somos pessoas que... muitas vezes a gente se deixa levar muito pelo que a gente
162
sente. Isso acontece principalmente com as meninas... assim... eu vou enfatizar as
163
meninas, porquê? Porque as meninas elas se apaixonam e elas se deixam levar por
164
191
esse amor entre aspas, né?... porque muitas vezes agente acha que ama mas o
165
ama. Então... a mulher, a menina, a jovem ela se deixa levar por esse amor então ela
166
se entrega, mas ela se enTREGA porque ela TÁ/ sentindo, ou seja, ela se sente
167
preparada naquele momento prá/ isso. Muitas vezes ela pode depois se arrepender,
168
mas para a maioria dos jovens... a concepção que Flávio falou é essa: fazer sexo. Mas
169
prá/ outros não é... muitos jovens hoje se entregam... existem jovens que se entregam
170
por amor sim, porque não? Claro que existe. Existe pessoas que o sexo como
171
complemento do amor, como uma conseqüência do que você sente pelo outro”.
172
P: Outra idéia?”
173
: “Acho que o sexo é uma forma de amor, uma forma de carinho que você tem pelo
174
seu parceiro; quando jovem e tal você gosta daquela pessoa, você quer ter aquela
175
vivência com aquela pessoa, você TEM vamos dizer uma vivência sexual
176
diretamente com aquela pessoa. Sim, porque você ama”.
177
P: Vitória?
178
Vitória: “Acredito que a maior dificuldade o está quando você faz o sexo com
179
sentimento. Acho que a maioria dos jovens hoje fazem com sentimento. Entretanto,
180
tem que levar em consideração que sentimento é esse... porque... acreditam estar
181
amando e às vezes não é amor... às vezes é uma coisa ilusória, ou muitas vezes
182
como Leandra falou das meninas, elas realmente estão amando, elas realmente estão
183
apaixonadas, mas a pessoa que está com elas não está. Por isso é que a igreja, ela
184
impõe que seja depois do casamento. Que a partir do namoro você passa a conhecer
185
realmente a pessoa que estar do seu lado e se ela sente o mesmo por você.
186
quando tomarem uma decisão juntos é prá/ ser prá/ toda vida ou pelo menos enquanto
187
durar. Mas se é uma decisão tomada juntos, com o tempo você consegue perceber,
188
porque aí não é só eu ou você, mas também o outro”.
189
Leandra: “Eu vou falar assim porque eu convivo com todos os jovens... e eu vou falar
190
de uma opinião que os jovens FORA... daqui da nossa conversa... jovens que vêem o
191
sexo de outra forma. Eh::... através da minha convivência com outros jovens, eu
192
também converso com amigos sobre... em relação a isso. E eles também vem o sexo
193
de uma forma como.... eh::... uma carteirinha de apresentação. Isso também é uma
194
das formas de você expor o sexo ou seja, isso também com os homens. Se você não
195
for virgem você tá/ ferrado ou seja, você não tem... você é um ninguém... você
196
passa a ser alguém quando você praticou o sexo... isso também é uma forma de
197
sexualidade e é o que os jovens fora vêem... prá/ trazer assim um pouquinho a
198
personalidade deles”.
199
P: “Outra contribuição?”
200
: “Hoje o vergonhoso é a pessoa dizer que é virgem... é uma contradição com
201
antigamente; antigamente o vergonhoso era você dizer que não era virgem. Daí é
202
mais uma coisa dos tempos de hoje mesmo... dos tempos que tão/ mudando”.
203
Flávia: “Acho que prus/ homem/ nunca teve isso de ser vergonhoso... pelo contrário,
204
desde os tempos medievais os pais contratavam prostitutas prus/ filhos se iniciarem
205
desde cedo. Agora tá/ um pouco mais aberto isso e tá/ acontecendo também entre as
206
meninas... mas não pode fingir... por exemplo, se uma mulher já teve relações sexuais
207
com várias pessoas, não é uma carteirinha de apresentação boa, pru/ homem é, prá/
208
mulher não... porque se o homem fez sexo com várias meninas ele é o garanhão,
209
ele é o cara... se for uma menina, é puta mesmo”.
210
Flávio: “Acho que isso não seja confundido... eh::... de uma certa forma com o caráter
211
da... assim... vou citar as meninas: Não é que agora as meninas tão/ tendo desejos...
212
desde muito antes elas sempre tiveram desejos, sempre tiveram necessidade. que
213
agora as informações, as concepções, as idéias tão/ sendo mais abertas digamos
214
assim; antes tinham muita preocupação com a reputação... hoje não tanto. Então não
215
é que hoje as mulheres tão/ tendo desejo mais cedo e tal. É que agora está sendo
216
mais aberto, agora ta/ dando ênfase à liberdade. Por isso muito gente confunde essa
217
liberdade e em vez de descobrir o mundo e seus prazeres aos poucos quer descobrir
218
tudo de uma vez. É o que acontece com boa parte dos jovens tão cedo”.
219
192
Vitória: “Antigamente tinha a preocupação com a reputação e hoje foi quebrada essa
220
barreira. Mas deve existir. Eu não sei dos rapazes aqui presentes, mas muitos rapazes
221
banalizam o sexo. Então as moças são normais ter relação com outros homens, mas
222
quando eles vão procurar mulher para ter compromisso sério, para casar, para ter
223
filhos, para construir uma família, eles procuram as virgens... procuram as que nunca
224
foram de ninguém... e Flávio balança a cabeça... essa é a opinião da maioria dos
225
homens. Por mais que eles queiram que tenham mulheres fáceis nas mãos deles, e
226
muitas vezes eles incitam para que as próprias namoradas se entreguem a eles, mas
227
futuramente eles vão/ procurar aquelas que são puras para manterem relacionamento.
228
Então eu acho que cabe a mulher saber se preservar”.
229
Flávio: ”É como se fosse uma separação: O grupo das fáceis... assim... o grupo das
230
prá/ ficar e o grupo das prá/ namorar”.
231
P: “Muito bem. Outra questão: Como é que acontecem as vivências de sexo entre
232
adolescentes? Como é que ocorrem essas práticas? O que seria mais comum?
233
Leandra: “Eu acho que... como acontece... em qualquer lugar... de qualquer forma e
234
hoje de várias formas”.
235
P: “Por exemplo?”
236
((risos no grupo))
237
Leandra: “Estão dois jovens numa festa se conhecendo... e de repente eles ficam...
238
ficam e logo depois vem a proposta, vem a vontade de fazer sexo; então eles saem
239
tranquilamente da festa e vão/ e ficam juntos num motel que hoje é o que mais tem...
240
ou em qualquer lugar. Como acontece é dessa forma, não é uma coisa planejada, não
241
é uma coisa premeditada... é uma coisa que acontece de repente. Você uma
242
pessoa, você gostou... você fica”.
243
Flávia: “Muitas vezes o ambiente, a bebida, tudo influencia e manda você naquela
244
direção. Ta num ambiente que todo mundo tá/ incitando você a fazer isso... tem o
245
álcool... todo mundo quer que você beba... fica uma pessoa e... acontece. Nada
246
planejado”.
247
P: “Mas será que mesmo não sendo nada planejado, o sexo é vivido de uma
248
mesma maneira entre eles? Ou ocorre de maneiras diferentes”
249
Flávia: “Como assim, entre homem e mulher?”
250
P: Sim, ou entre pessoas do mesmo sexo”. O que vocês acham? Pelo
251
conhecimento que vocês têm dos outros colegas adolescentes, às vezes não
252
religiosos, por aquilo que eles comentam, como é que ocorrem as experiências
253
sexuais entre adolescentes?
254
P: “Vocês estariam inibidos para falar dessa temática?”
255
((risos no grupo))
256
P: “Beijar é uma forma de sexo?”
257
Flávio: “Não, é uma forma de sexualidade”.
258
P: “Mas o beijo, digamos, apaixonado pode conduzir a uma vivência de sexo?”
259
Flávia: “Pode”.
260
P: “Qual seria a vivência de sexo mais comum entre os adolescentes?”
261
Leandra: “Como assim, por onde começa?”
262
((risos no grupo))
263
P: “Quando se fala de formas de sexo, hoje por exemplo, o sexo vaginal e outras
264
formas de sexo. Entre os jovens existe alguma preferência?”
265
((risos no grupo))
266
P: Na verdade é o que vocês lêem... o que vocês escutam na comunidade, às vezes
267
até mesmo na própria classe”
268
Leandra: “Se o sexo é preferência do jovem?”
269
P: O sexo é uma preferência. Agora, normalmente quando o jovem tem essa opção
270
de fazer sexo, existe alguma forma preferida por ele?
271
((risos no grupo))
272
Flávio: “Eu acho que se for sexo com amor, vai ser sempre escolhida a forma
273
convencional. Mas se fizer o sexo por prazer vão conseguir formas inovadoras”.
274
193
P: “Por exemplo?”
275
Flávio: “Eh::... sei lá... o oral, o anal”.
276
P: “Sexo oral e sexo anal são práticas hoje muito difundidas entre adolescentes.
277
Parece que Flávio parece ter uma inibição (para falar) mas isso que ele falou são
278
práticas muito difundidas e preferenciais entre adolescentes. Como è que vocês vêem
279
isso? Na verdade, não é uma questão de vida pessoal, mas do que vocês lêem, do
280
que escutam”.
281
Alberta: “Sinceramente, um nojo”.
282
P: “O quê?”
283
Alberta: “Oral e anal. Se torna vulgar demais... quando uma pessoa mal conhece...
284
por exemplo... tá/ numa festa e sai prá/ fazer sexo com outra pessoa e anal, oral...
285
acho que isso torna muito vulgar”.
286
P: “Que outra palavra?” M6?
287
Vitória: “É até você buscar, digamos, o ápice do prazer sem se preocupar com o bem-
288
estar do outro. Quando se realiza sexo anal a mulher não sente... na verdade sente:
289
Dor... porque diante de muitos comentários que ouvi é a única coisa que a mulher
290
sente. O homem sim, ele sente muito prazer, mas quando isso acontece não
291
uma preocupação com o bem-estar do outro. Então está havendo muito egocentrismo
292
em relação ao sexo... você quer sentir (prazer) não se importando com o sentimento
293
do outro”.
294
P: “Outra idéia? Apolônio, vamos ouvir Apolônio”.
295
((não houve comentários))
296
P: “Muito bem. Quais são as satisfações e os conflitos que surgem das vivências
297
de sexo entre adolescentes? Que satisfações trazem... que frustrações trazem as
298
vivências de sexo entre adolescentes?”
299
: “Muitas vezes a pessoa por curiosidade deixa levar pelo momento e vê que aquele
300
ali não era... realmente a hora certa e só vai descobrir depois que já fez (sexo). Aí... se
301
deixa levar pela curiosidade”.
302
Antonia: “Às vezes se deixa levar pelo prazer, pela curiosidade e às vezes se
303
arrepende depois, né/... de ver que não era a pessoa certa... de ver que não era o
304
momento... que ele depois não procurou você... a cabeça dos jovens... principalmente
305
a mulher, ela fica pensando... ele me achou vulgar. Nunca tive essa experiência ainda,
306
mas eu penso assim”.
307
Leandra: “Essa é uma frustração. Agora uma satisfação... que o jovem sente é
308
realmente na hora. A maioria volto a falar, não são todos que fazem o sexo realmente
309
por amor e (os que fazem) não se arrependem e se sentem satisfeitos porque fez com
310
a pessoa que ama... em primeiro lugar... e a satisfação realmente vem na hora. Acho
311
que depois que acontece, aí vem a frustração porque muitas vezes a jovem é virgem e
312
depois como Antonia disse... será que foi realmente a hora certa? Por isso que a Igreja
313
Católica ela faz questão da maturidade ... o jovem não está maduro porque ele tem
314
uma concepção com relação a uma coisa hoje e amanhã ele não tem mais. Ele tá/
315
sempre mudando de opinião; tanto é que uma das questões que o jovem tem mais
316
dúvida é a questão do vestibular. Muitos jovens hoje faz vestibular mas não faz o que
317
quer... muitas vezes ele escolhe mais depois se arrepende, porquê? Porque ele ta
318
sempre sofrendo essa mutação, sempre tá/ mudando de opinião. Com relação ao sexo
319
também. Por isso que o igreja prega que o sexo comece a partir do momento que a
320
pessoa já é adulta e já tem certeza do que quer”.
321
P: “Que outra idéia?”
322
Peres: “Repita a pergunta por favor”.
323
P: “Quais são as satisfações e as frustrações que o sexo traz aos adolescentes?”
324
Peres: “A satisfação que eu pelo menos ouço falar... eh::... da mulher eu não sei, mas
325
do homem escutei muito falar, dizer que... é prá/ ele se tornar hominho ((risos no
326
grupo) fez sexo ele já é hominho. Isso pru/ ego do indivíduo deve ser massa... além do
327
prazer, se é que sentiu prazer na hora do... né/... essa é uma das satisfações do
328
homem prá/ que o respeito dele seja elevado... no grupinho dos colegas lá... que esse
329
194
grupinho é... deveria acabar... nessa parte da amizade... e na sociedade. Acredito que
330
este... é uma das sensações ótimas levam também o jovem a... pá... A mulher, eu não
331
sei se elas sentem um prazer ou somente depois da... principalmente a que era virgem
332
e teve o seu primeiro momento... eu nunca tive contato com meninas nessa
333
experiência... mas eu acredito que elas sintam que... quando não é no momento certo
334
elas fiquem frustradas e talvez nem queiram mais” ((participante é seminarista
335
católico))
336
Leandra: “Essa questão da preocupação... a mulher, a maioria das mulheres hoje,
337
com quem eu converso, elas estão preocupadas em satisfazer o homem, não em se
338
satisfazerem... por isso que hoje existem várias formas de se fazer sexo. Porque o
339
homem propõe... à mulher e a mulher faz”.
340
P: “Dessa formas que são lhe conhecidas quais seriam?”
341
Leandra: “A forma anal, que a gente já falou... ((risos no grupo)) eh::.. essa é a forma
342
que a mulher não sente de jeito nenhum... prazer”
343
Vitória: “E oral”
344
Leandra: “Não, oral a mulher sente, não tanto quanto o homem, mas sente... então
345
essa é a preocupação da mulher em satisfazer o homem... porque a partir daí o
346
homem vai ficar satisfeito e a mulher vai ter a sensação que o seu parceiro tá/
347
satisfeito com você. Muitos relacionamentos hoje são segurados através do sexo”.
348
P: “Algum outro comentário?”
349
Flávia: “Também prá/ satisfazer o parceiro acontece outra coisa. Muitos homens
350
acham que usar camisinha é uma coisa que não é de homem, de macho mesmo.
351
Então... muitas vezes propõe fazer o sexo sem camisinha... depois quando tiver
352
DST, quando tiver a gravidez... nessa história de fazer tudo o que o parceiro quer, a
353
coisa fica ruim”.
354
Vitória: “Acho que a satisfação e a decepção... é quando uma jovem... isso é o maior
355
dos exemplos... acredita que realmente aquilo é amor e se entrega ao seu namorado e
356
depois de alguns meses o namoro terminar. Oscila a satisfação e a frustração é
357
como se fosse uma queda de ra-quedas, cai das nuvens para a terra sem saber se
358
embaixo vai ter como se proteger”.
359
P: “Outra idéia?”
360
((não houve comentários do grupo))
361
P: “Não havendo, então nós encerramos aqui a nossa discussão e agradecemos mais
362
uma vez a colaboração desse grupo para a compreensão da sexualidade do
363
adolescente aqui na nossa cidade”.
364
195
ANEXO M - GRUPO FOCAL NÃO-RELIGIOSO 4 - (GFNR-4) 1
2
TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTA 3
4
5
VIVÊNCIAS SEXUAIS NA ADOLESCÊNCIA 6
7
8
P: “Estamos aqui reunidos no Colégio Diocesano com um grupo de adolescentes,
9
onde nesta ocasião faremos uma discussão sobre as vivências sexuais na
10
adolescência. A primeira questão que nós gostaríamos de analisar com o grupo, é o
11
conceito que o grupo tem do que seja sexualidade. O que seria para esse grupo a
12
sexualidade? Quem começa?
13
((silêncio no grupo))
14
P: “Quem gostaria de começar?”
15
Januário: “Sexualidade, principalmente na adolescência é uma iniciação da vida
16
sexual... no caso, uma passagem para garotos e garotas, mudando sua vivência, seu
17
conceito, se tornando homens e mulheres com a sua iniciação sexual”.
18
P: “Que outra idéia?”
19
Alberto: “Essa idéia de R6 (tornando homens e mulheres) isso assim...
20
biologicamente porque em muitos deles ainda a maturidade não alcançou esse nível.
21
Geralmente são... uma idade de dezoito, dezessete anos mas com uma mentalidade
22
de uma pessoa de doze, treze anos. A sexualidade no meu ponto de vista é um
23
aumento do relacionamento afetivo com uma pessoa do sexo oposto... ou não” ((risos
24
no grupo)).
25
P: “Que outra idéia?”
26
Lúcia: “A sexualidade... ela deriva da sensualidade. Hoje em dia (ininteligível) o jovem
27
por mais feio que ele se ache ele quer despertar sensualidade em alguém. (como
28
foi dito) quem é muito imaturo, vem a despertar o desejo em alguém e na hora de
29
realmente acontecer uma coisa mais séria ele não tem capacidade de entender o nível
30
do que vai atingir a gente, como vai ser depois (ininteligível). A gente tem que pensar
31
direito no que tá/ fazendo. Esse negócio de sexualidade e responsabilidade, a gente
32
tem que pensar bem porque como a gente é jovem e muita gente até que é mais
33
velha, que já chegou aos seus trinta, vinte cinco anos e ainda tem uma cabeça de
34
jovem... ainda não tá/ preparada prá/ isso” ((ruído de máquinas ao fundo da sala)).
35
P: “Que outra idéia?”
36
Antonio: “Acho que sexualidade não se limita a iniciação de uma vida sexual... eu
37
acho que... no caso de nós jovens, sexualidade se limita a muitas coisas...
38
descobertas... como... em que comunidade você se adéqua, se você... está nos
39
padrões que a sociedade lhe impõe... alguma comunidade, algum grupo... por
40
exemplo, tem gente que não curte a Garanheta (Carnaval fora de época em
41
Garanhuns) mas vai à Garanheta porque a maioria se diverte e você quer ser igual
42
a eles, é legal, é bom ser igual a eles... ser famoso... pegar as meninas por aí... quero
43
ser igual a eles... então eu vou”.
44
P: “Que outra idéia?”
45
Lúcia: “Acho assim... que prá/ você começar uma relação você tem que ter uma boa
46
idéia definida de quem você é, do que você realmente gosta, do jeito que você tem
47
que se comportar ou não... do jeito que você acha certo ou não. Primeiro, não se pode
48
ir pela cabeça dos outros porque nem sempre você vai se dar bem; às vezes uma
49
pessoa é mais madura ou não e se voé influenciável ou não... pode se dar mal
50
porque você pode ter uma idéia errada, criar um trauma ou alguma coisa assim. Antes
51
de tudo tem de se ter muita maturidade, com uma boa conversa... que nem sempre a
52
gente tem com os pais que principalmente a gente deveria ter. Prá/ você fazer isso
53
tem que pensar muito bem antes”.
54
196
P: “Outra idéia?”
55
Kácia: “Assim... feito Lúcia falou que muitas pessoas começam certo momento prá/ se
56
tornar um grande homem... porque... principalmente acham que as meninas tem que ir
57
pela cabeça deles... tem que pensar na gente... porque é bom a gente tá/... ah::..
58
porque eu te amo, porque vamos casar... não é bem assim. Faz principalmente a
59
cabeça da gente... mulheres prá/ ir na ondinha deles... que depois que acontecer
60
tudo, eles não são... homens suficiente prá ficar prá si mesmos, vão dizer aos
61
amigos... espalhar... e como vai ficar a nossa vida fora? Porque diz que isso é
62
intimidade mas não é... é uma coisa que vai ser aberta prá/ todo mundo, porque... por
63
mais (ininteligível) que o homem seja ela não vai ter maturidade suficiente e... tem que
64
se pensar muito bem antes disso.... poderá vir conseqüências e tem que tá/ preparado
65
prá/ assumir”.
66
P: “Outra idéia?”
67
Geraldo: “Acho que a sexualidade é um momento íntimo entre duas pessoas que se
68
amam ou também não, né/... também tem jovens... assim... que não tem como viver,
69
que às vezes usa da sexualidade prá/ ganhar a vida, ganhar dinheiro... essas coisas”.
70
P: “Outra idéia?”
71
Severino: É... a vida sexual dos jovens hoje em dia tá/ mais avançada... meninas
72
novas... até rapaz começa a vida sexual mais cedo e... às vezes comete até erro...
73
engravidar. Acho também que tinha que ter orientação adequada dos pais... muitos
74
pais também não dá/ orientação certa prá/ seguir adiante”.
75
P: “Outra idéia?”
76
Betinha: Eu acho assim... que na... (vivência da) sexualidade tem que ter um
77
compromisso... assim... uma responsabilidade das duas pessoas. Porque não é
78
porque a gente é jovem que vamos ser irresponsável... não, tem que se cuidar.
79
Quando a gente é muito novo é tudo muito por impulso, então tem que ter consciência
80
do que tá/ fazendo... não pode fazer a coisa assim por momento sem pensar na
81
conseqüência; tem que pensar muito bem, esperar o máximo que puder prá/ fazer a
82
coisa com consciência, sem o risco de arrependimento depois”.
83
P: “Outra idéia?”
84
Frederico:”Acho que a sexualidade tá/ muito avançada prus/ jovens... começam a vida
85
sexual muito cedo... muitos começam a se prostituir“.
86
P: “Outra idéia?”
87
Alberto: “Não que a sexualidade esteja muito avançada, mas sim, que a sexualidade
88
atualmente está banalizada... porque o ato sexual... o que acompanha... é um negócio
89
escrachado/” (rebentado).
90
P: “Outra idéia?
91
Januário: “Só para complementar o que Alberto disse, que a sexualidade vem
92
sendo banalizada por causa da mídia, televisão, música, novela... tudo fala de sexo
93
como se fosse uma prática até... animalesca... é homem fazendo sexo com homem,
94
mulher fazendo sexo com mulher... isso tudo mostrado expostamente na mídia e
95
muitas pessoas que não tem acesso à (boa) informação pensa que a televisão,mídia,
96
música é um tipo... é um de informação mas só que passa um tipo de informação
97
errada... prá/ jovens, adolescentes... muitos de deixam levar por essa influência da
98
mídia, da televisão como falei, acaba fazendo e acaba fazendo muito besteira por
99
causa dessa falta de informação”.
100
P: “Há outra idéia?”
101
((silêncio no grupo; não houve manifestações de fala))
102
P: “O que os jovens chamam de vivências sexuais? O que são as vivências
103
sexuais para os adolescentes?”
104
Antonio: “A experiência... principalmente a primeira vez. Eu acho que a vivência
105
sexual se inicia quando o jovem tem interesse por outra pessoa... outra adolescente
106
no caso e a partir desse interesse é que ele começa a formar opiniões, a se adequar a
107
algum grupo, a criar ou a não criar a personalidade... e vai daí... da primeira relação”.
108
P: “Outra idéia?”
109
197
Lúcia: “No meu ponto de vista a sexualidade prá/ os homens não tá/ na questão de
110
ser boa, de ser ruim... não importa a idade; melhor prá/ os homens, quanto mais cedo
111
melhor prá/ poder contar um para o outro. Eu vejo assim, de fora... eu não sou homem
112
não posso dizer de certeza, mas o que eu vejo é que os homens eles gostam de
113
comentar e que prá/ eles isso é uma vitória; quanto mais cedo melhor”.
114
P: “Mas o que é uma vivência sexual?
115
Lúcia: “Prá/ os homens acontece o seguinte: eu vejo por meu irmão, ele tem quinze
116
anos; prá/ ele a vivência começou quando ele tinha catorze anos; a vivência dele prá/
117
mim começou muito cedo e aconteceu prá/ ele uma coisa que foi do momento mesmo;
118
depois ele comentando falou que foi muito errado o que ele fez... não por ele mas por
119
causa da menina. A vivência sexual dele, foi essa; prá/ ele foi um erro... não devia ter
120
acontecido tão cedo”.
121
P: “Outra idéia?”
122
Elizabete: “Acho assim, falando sobre a questão do homem, da sexualidade ser
123
diferente...”
124
P: “Mas nesse momento nos gostaríamos de entender bem o que é que os
125
adolescentes entendem como uma vivência sexual. Quando é que um
126
comportamento que nos dizemos que é uma vivência sexual?
127
Elizabete: “A vivência sexual é quando se tem uma relação íntima com uma pessoa
128
que você gosta que normalmente é o que deveria acontecer, que nem sempre é
129
assim; acho que é mais um momento de realização, sei lá... qualquer coisa do tipo;
130
nem sempre é com a pessoa que você gosta, nem sempre é com quem você tinha
131
planejado antes; muitas pessoas hoje fazem por uma questão do momento... eu
132
acho que o sexo não tem diferença tanto o homem quanto a mulher, os dois são
133
pessoas iguais. Não é porque p homem é mais safado não... acho que depende da
134
personalidade dessa pessoa... do jeito que ela foi criada, o que ela acha certo ou
135
errado; acho que não tem questão de homem ser mais safado, porque eu mesma vejo
136
muito homem que é bem mais comportado do que muita mulher; acho que isso vai de
137
cada um”.
138
P: “Outra idéia?”
139
Kácia: “Prá/ mim a vivência sexual (ocorre) a partir da relação, independente de que
140
seja com amor ou não porque muitas pessoas vão por impulso. Só que eu não
141
concordo com Elizabete porque ela tá/ falando assim; mulher é bem mais reservada
142
do que homem apensar como ela falou, tem mulher que é mais danada do que
143
homem, isso sim; mas no caso é muito difícil você ver uma mulher contando o que fez
144
ou deixou de fazer; se for prá/ uma festa o máximo que ela vai comentar é com quem
145
ficou prá/ amigas mais íntimas; não vai chegar prá/ todo mundo e dizer, feito homem;
146
eu tiro muito pelos meninos da sala que eu vejo o comentário deles; a vivência deles
147
pelo que eu vejo é por brincadeira”.
148
Antonio: “Homem não se limita só... se pega ou não uma mulher; acho que homem
149
tem que provar que é homem nas atitudes; é o que a gente tá/ vendo aí, totalmente ao
150
contrário do que Kácia disse; acho que o homem... a verdade tem que ser dita... acho
151
que não tem essa do homem gostar de mulher fácil ou mulher difícil; homem gosta de
152
mulher, sendo ela fácil, difícil ou não. Acho que isso parte da carga de informações
153
que a gente tinha desde quando criança, pelos pais, pelos amigos mais velhos... acho
154
que é isso aí”.
155
Cidinha: “Homens, na maioria, tem a necessidade de falar das vivências sexuais.
156
Assim como ela (Kácia) falou, não é uma questão de pegar mulher, a questão é dizer:
157
eu peguei, eu fiquei; e tu? Ficasse com quantas? A necessidade de dizer o maior
158
número de mulheres (com quem) ficou, como fez. Como ela (Kácia) falou, mulheres
159
tem aquela reserva, não tem necessidade de mostrar que fez isso, que fez aquilo”.
160
P: “Outra idéia?”
161
Geraldo: “Acho que tem muito homem que também não quer prá/ dizer que pegou,
162
né/... tem homem também que quer pegar as mulher prá/ sentir o desejo né/...
163
realizar os desejo... essas coisas, né/?”.
164
198
P: “Outra idéia?”
165
Frederico: “Muitos homens também pegam as mulher prá/ sentir prazer e outros
166
não... eh::... como se fosse um troféu, prá/ contar prus/ amigos o que fez, o que deixou
167
de fazer”.
168
P: “Outra idéia?”
169
Kácia: Mas assim, independente feito eles falaram, de ser pelo desejo ou não, eu
170
vejo muitas pessoas que namora muito tempo e o homem depois que consegue
171
com a namorada e eu acho isso mais do que errado, vai contar aos amigos; então eu
172
vejo assim... eu tenho um amigo que é apaixonado pela menina e ele chegou e
173
comentou o que fez e o que não fez com ela; então não é questão de... de qualquer
174
jeito prá/ eles é uma vitória e eles vão/ dizer”.
175
P: “Outra idéia?”
176
Januário: Mas que vivência sexual não se limita simplesmente a prazer, a sexo,
177
com quem fez, com quem não fez; acho que a vivência sexual parte principalmente de
178
um ato de respeito entre homem e mulher; agora, que vai da cabeça de cada um,
179
se ele quiser se reservar ou não a esse momento, porque... eh::... eu vejo muito ato
180
de respeito, carinho, entre homens e mulheres e eu nunca vi faltar com o respeito de
181
uma parte ou de outra; isso aí também parte da maturidade de cada um, se vai
182
comentar ou não; isso você vai pela sua cabeça se você achar que isso vai soar
183
bonito prá/ sua namorada ou prá seu parceiro; isso aí vai da consciência de cada um”.
184
P: “Outra idéia?”
185
((silêncio no grupo))
186
P: “Mais alguém?... Não? Muito bem. Uma outra questão: Como é que acontecem as
187
vivências de sexo entre adolescentes? Como se dão, como ocorrem as
188
vivências de sexo entre adolescentes?
189
Cidinha: “Assim... pelo momento. Você conhece uma pessoa e tá/ ficando com ela. Aí
190
chega um momento ali e você vai ficando, vai apimentando o momento... assim... um
191
impulso. Acontece ali e você nem percebe... EITA o que foi que eu fiz? Ninguém sabe
192
nem como começa. Você tá/ ali curtindo o momento e de repente acontece”.
193
P: “Outra idéia?”
194
Lúcia: “Complementando o que ela (Cdidinha) disse, acontece por impulso porque
195
hoje em dia, principalmente hoje em dia, é muito difícil você um jovem sair com
196
outro sendo amor de verdade. A gente se relaciona assim, a atração física, no máximo
197
porque gosta, porque tá/ afim... agora, porque ama mesmo é muito difícil... você vai
198
por aquele momento mesmo. Às vezes você pode tá/ andando no comércio (local de
199
maior movimento social da cidade) de mãos dadas com o seu namorado e não tá/
200
acontecendo nada, e de repente você para ali no ponto de ônibus e fica com ele e vem
201
o desejo, é vontade mesmo. É aquele momento. Depois se você vai se
202
arrepender ou não é muito difícil você na hora pensar. Vem pensar bem depois; é por
203
impulso mesmo”.
204
P: “Outra idéia?”
205
Alberto: “Mas assim... por esse ponto de vista (Lúcia) ele basicamente remete o ser
206
humano à questão de um animal, que ali é de momento, é de impulso, acabou-se. Não
207
generalizando, mas é verdade que isso realmente... essa parte de impulso e tal, só por
208
prazer mesmo. Mas assim... ainda aqueles que fazem... ter a relação sexual por
209
causa de... uma questão realmente de gostar, de querer das duas partes”. ((uma voz
210
feminina diz baixinho que é muito difícil))
211
P: “Muito bem. A questão, por exemplo, da vivência de sexo, quais são as formas de
212
sexo preferidas pelos jovens, pelos adolescentes? A respeito do que vocês lêem, do
213
que vocês escutam na comunidade, na sala... quais são as vivências sexuais
214
preferidas... ou mais vividas pelos adolescentes?
215
((risos no grupo))
216
P: “Não entenderam? O sexo pode ser feito de diferentes formas, pode começar por
217
um beijo e pode prosseguir para outros comportamentos. Mas quando os
218
adolescentes e jovens tem experiências sexuais, isso pode ocorrer de diferentes
219
199
formas. Quais são as formas de sexo mais vividas ou mais experienciadas pelos
220
adolescentes?
221
Frederico: “Muitas vezes a pessoa tá/ numa festa e rola bebida... droga... essas coisa/
222
a pessoa não fica consciente, gera aquele impulso pela bebida, pelo álcool essas
223
coisa/ prá pessoa fazer sexo”.
224
P: “De que forma?”
225
Frederico: “A pessoa tando/ embriagado a pessoa num/ pensa ((risos no grupo))
226
P: “Vai de todo jeito ((em tom de descontração))
227
Frederico: “Vai de todo jeito... bora/ simbora/ e vai” ((risos no grupo)).
228
P: “Por exemplo: quando vocês lêem sobre o sexo, diferentes formas de sexo. O
229
sexo convencional, o sexo vaginal entre heterossexuais, o sexo homossexual entre
230
pessoas do mesmo sexo quer sejam masculinas quer sejam femininas. Mas em se
231
tratando dos adolescentes, quando eles se relacionam sexualmente, se eles tiverem a
232
oportunidade de ter relação sexual, qual seria a forma preferida de viver o sexo?”
233
Januário: “Não... porque normalmente, tem muitas pessoas que não tem tanta prática
234
ou então tantas experiências diferentes com duas ou três mulheres que nem/ muitos
235
homens desejam, ficar com duas mulheres. Querendo ou não, a pessoa sente aquele
236
desejo, que normalmente prá/ o jovem aqui na cidade ou na região... é... o sexo é
237
praticado de forma básica, normal, como um sexo comum”.
238
P: Januário acha que os adolescentes tem uma preferência pelo sexo comum; esse
239
sexo comum, talvez fosse exclusivamente o sexo vaginal. Mas será que essa é
240
realmente a experiência dos jovens?”
241
Lúcia: “Não por experiência nem por / buscando entender, mas pelo que... como a
242
sociedade é hoje em dia, quanto mais explícito for as coisas, quanto mais vo
243
aparecer melhor... eu acho que hoje em dia TODO mundo bota na cabeça que tem
244
que fazer alguma coisa inovadora. Acho que não vai ser aquele negócio que seu pai e
245
sua mãe fazia não”.
246
P: “Um exemplo?”
247
Lúcia: “Se você tiver numa festa, por exemplo, eu tô/ na casa dela, ela quer ficar
248
com um menino, tem um canto reservado lá, mas ela não vai querer aquele canto
249
tão reservado, vai querem um canto que todo mundo... que todo mundo nunca... que
250
nunca fez... que nunca foi lá. Eu acho, que cada dia mais tá/ buscando coisa
251
inovadora; não sempre a mesma coisa como era”.
252
P: “Outra idéia?”
253
Antonio: “Eu acho que não existe formas de sexo não; sexo é sexo e pronto. O que
254
existe é impulso, a vontade de fazer, a gente vai lá e faz”.
255
P: “Outra idéia?”
256
((silêncio no grupo))
257
P: “O pessoal parece que está inibido para falar dessas particularidades. Por exemplo:
258
Uma vivência que pode ser comum na adolescência, a masturbação”.
259
Frederico: “Muitos jovens começam a primeira experiência pela masturbação; muitos
260
não começam pelo sexo... a maioria começa pela masturbação, principalmente
261
quando são novo/ que é...assim moleque, menino amarelo ((risos das moças no
262
grupo)) que... é até impulsionado pelos colega/ que não sabe até que isso existe”.
263
P: “Outra idéia?”
264
Januário: “No caso, como Frederico disse, masturbação ele começa com... acho que
265
nas primeiras experiências com dez, onze, doze at...é treze anos, os meninos não
266
sabem basicamente o que é isso; estão descobrindo essa área sexual começa com
267
essas experiências, comentários de amigos, garotos mais velhos falando sobre isso.
268
Acho que começa também por... curiosidade, por besteira, até por conhecimento do
269
próprio corpo, principalmente nos homens. Acho que... masturbação significa isso:
270
conhecimento do seu próprio corpo ou então do seu próprio ser, quando você tá/
271
partindo prá/ uma fase de criança prá/ pré-adolescente ou então prá/ adolescente
272
mesmo. Acho que se limita a isso”.
273
P: “Outra idéia?”
274
200
Elizabete: “Como Januário disse, acho que masturbação é mais como um meio de
275
descoberta mesmo; acho que é... sei lá, conhecer o corpo, uma preparação maior”.
276
P: “Outra idéia?”
277
((silêncio no grupo))
278
P: “Nada? Por exemplo: Já leram alguma reportagem adolescente sobre sexo oral?”
279
((silêncio no grupo))
280
P: “Já leram?”
281
((Já))
282
P: “Alguém poderia comentar?”
283
Frederico:”Assim... na maioria das vezes entre adolescentes que acontece sexo oral é
284
quando tem uma certa experiência. Não quando é a primeira vez; a primeira vez é
285
mais assim... entre o homem e uma mulher é mais vaginal; quando a pessoa vai
286
adquirindo mais experiência, vai ficando mais maduro assim, a gente começa a fazer o
287
sexo oral... e até muitas pessoas prefere o oral do que o normal, vaginal”.
288
P: “Outra idéia?”
289
Geraldo: “Além do sexo vaginal e oral tem também o sexo anal ((risos)) que tem
290
outras pessoa/ que também gosta de praticar”.
291
P: “Outra idéia?”
292
((silêncio))
293
P: “Sobre essa fala trazida pelo R1, sexo anal. Como vocês acham que isso ocorre na
294
adolescência?
295
((Silêncio))
296
P: “Alguém gostaria de comentar? ... Não?
297
P: Muito bem. Uma última outra questão: Quais são as satisfações, quais são as
298
frustrações que surgem da vivência de sexo na adolescência?”
299
P: “Quando o jovem tem satisfações e quando ele tem frustrações por ter vivido
300
experiências sexuais?
301
Januário: “Satisfações é no ato, na hora quando a pessoa sente o prazer... aquele
302
negócio todo... aí dá aquela satisfação na pessoa, mas depois... muitas vez/ a pessoa
303
pega doença, gera frustração; doença, eh::... engravida... e rias outras coisa que
304
fica assim... mei/ sujo assim o nome da pessoa”.
305
Januário: “Bem... frustrações eu creio que... da parte do homem pode... acontecer do
306
arrependimento, não é nem da parte dele mas da parte da garota, porque muitas
307
vezes as garotas iniciam essa vida sexual eh::... de uma forma errada ou por não
308
querer... outras vezes até por pressão do namorado: Não que se não acontecer isso a
309
gente termina ou... etc. Mas que ocorre, mas essa frustração não é nem da parte
310
dele, porque parece que homem é movido por testosterona... ele é movido por
311
impulso, ele quer sexo ali e pronto, ele num/ a parte sentimental ou emocional da
312
namorada; não sabe se a namorada ta/ pronta ou não. Eh::.. como falei muitas
313
outras vezes, isso também parte da maturidade de cada um, tanto do homem como da
314
mulher. Agora, já satisfação eu acho que é quase cem por cento das vezes que pratica
315
sexo. Agora só que da parte da mulher, não; da parte da mulher ela leva prá/ parte dos
316
sentimentos, das emoções, pelo momento, pelo carinho. Pela convivência mais com o
317
namorado”.
318
P: “Outra idéia?”
319
Alberto: “Assim... a parte de frustração, de arrependimento do homem, basicamente
320
pode ser de acontecer alguma coisa: se pegar uma doença, engravidar... alguma coisa
321
assim. Essa parte de frustração... vai mais a questão da mulher, porque depois se
322
arrepende... eh::... porque não devia ter feito isso, porque num/ era hora, porque isso,
323
porque aquilo. Mas pru/ homem não, por aquilo ali... aconteceu, aconteceu... cabou-
324
se/; passar prá/ próxima... e assim, a parte de prazer é isso: Aconteceu o ato e...
325
cabou-se/”.
326
P: “Que vocês acham dessa palavra que ele traz? Vamos ouvir uma voz feminina”.
327
((sem manifestações no grupo))
328
201
P: “Ele acredita que as frustrações das vivências de sexo são mais para as meninas.
329
O que vocês acreditam?”.
330
Lúcia: “É o seguinte... como Januário falou: Quando você tem um namorado que você
331
é impulsionada a fazer aquilo (sexo) você vai fazer prá/ não perder ele, eu acho que
332
isso foi como uma obrigação... não foi porque você quis, então a frustração vem disso.
333
Agora, eu acho que quando acontece ali, você tá/ tão envolvida no momento... você
334
pode até se arrepender... dizer assim: Eita/ eu não devia ter feito agora, mas se
335
arrepender de algum trauma que isso vai ficar... alguma coisa... assim, uma coisa
336
psicológica, mas você num/ vai ficar, você vai só TER uma culpa... vai dizer, não, num/
337
devia ter feito agora, devia ter esperado; mas quando realmente acontece... se você
338
marcar... vamo/ hoje, tal hora, tal canto e tal, acho que você já vai com o seu
339
psicológico muito carregado, você já vai com aquela obrigação, aí você vai carregar
340
pelo resto da sua vida, que é a sua primeira vez foi frustrada.”
341
P: “Outra idéia?”
342
((sem manifestações no grupo))
343
P: “Outra idéia?”
344
Alberto: “Mas assim... a própria sociedade atual é que impulsiona a isso porque...
345
assim... se o homem pega dez mulheres aquele é o cara, aquele é o garanhão, não
346
sei o que. Mas prá mulher, ela ficou com dois, aquela mulher é puta... aquela mulher...
347
é fácil. A própria sociedade é que faz com que isso aconteça. Essa questão do
348
arrependimento, da frustração vem mais também da própria sociedade que condena e
349
no mesmo tempo apóia o que acontece”.
350
Elizabete: Acho assim, como Alberto disse, acho que não é questão da sociedade
351
atual. É porque anos e anos a gente foi criada numa sociedade machista. Todo
352
mundo acha que o cara, ele deve começar a se envolver com alguma menina desde
353
cedo, desce seus treze anos, por aí. Quando alguém fala assim... por exemplo, numa
354
relação de pai e filho, o pai nem se importa se o filho tá/ namorando ou não. Agora,
355
quando é a menina, tem de ser mais preservada. Se o pai tem um filho e uma filha,
356
por exemplo, o filho pode namorar com quantas quiser, mas a filha tem que ser mais
357
acatada (reservada). O homem pode fazer o que der na telha dele, mas a menina tem
358
sempre que pensar MAIS prá/ fazer alguma coisa porque senão ela vai cair na boca
359
do povo... e o homem não vai cair não? Eu não sei se os homens pensam assim, mas
360
prás/ meninas a idéia fica meio/ manchada: o, aquele cara é um galinha, então eu
361
não vou ficar com ele, se eu sei que um dia vou namorar com ele e ele vai me trair”
362
((repetições de falas)).
363
P: “Outra idéia?”
364
Kácia: “Eu acho assim, feito M5 falou: A mulher no que fizer ela vai sair manchada e o
365
homem também. que... são poucas as mulheres que... o homem faz o que faz; se
366
tiver afim dele, ela não vai pensar se ele é galinha, ou que ele for. E também a
367
questão da mulher se preservar mais do que o homem, que acho assim que o homem
368
não vai ter conseqüências do que fizer, porque ele assumir é uma coisa, mas tá/ com
369
uma mulher é outra. É muito fácil, ele assume o filho, uma pensão, mas a
370
conseqüência é da mulher” ((repetições de falas)).
371
P: “Outra idéia?”
372
((sem manifestações no grupo))
373
P: “Ninguém mais? Nada mais?”
374
Frederico: “Tá/ bom por hoje” ((voz baixa)).
375
P: “Então nós encerramos aqui nossa discussão sobre as vivências sexuais do
376
adolescente na nossa cidade. Agradecemos a colaboração de todos por haverem
377
ajudado neste nosso trabalho de pesquisa.”
378
202
ANEXO N - GRUPO FOCAL RELIGIOSO 5 (GFR-5) 1
2
TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTA 3
4
5
ORIENTAÇÃO DO DESEJO SEXUAL 6
7
8
P: Estamos aqui no Colégio Quinze de Novembro, com um grupo de alunos
9
secundaristas, onde nesta ocasião, estaremos fazendo uma discussão sobre algumas
10
questões que tratam da orientação do desejo sexual entre adolescentes. A primeira
11
questão que nós gostaríamos de debater, é: O que os adolescentes entendem por
12
orientação de desejo sexual. Quem poderia começar?
13
((Silêncio no grupo))
14
Fábio: Acho que esse desejo vai além de se conhecer... ser amigo ou então gostar
15
da pessoa. Desejo sexual é uma coisa relacionada a química, um olhar... eh::... você
16
pode nem conhecer a pessoa e se sentir atraído sexualmente por ela, sem ser
17
necessariamente amigo, sem necessariamente conhecer”.
18
P: “Outra idéia?”
19
((Silêncio no grupo))
20
P: “Quem gostaria de prosseguir?”
21
P: “Mais alguém?”
22
Wellington: “Eh::... pelo que fiquei sabendo também, essa questão de orientação...
23
sexual tem a ver também com a questão genética. Alguns estudos indicam que alguns
24
genes interfiram na sexualidade... no caso a orientação”.
25
P: “Outra idéia?”
26
((Silêncio no grupo))
27
P: “Todos podem falar com tranqüilidade”.
28
Silvana: “Eu discordo que a orientação sexual dependa da genética... porque só foram
29
feitos dois sexos e, com certeza, depende da genética, feminino e masculino. A
30
parte... a questão de ter outra orientação sexual é psicológico, eu acho... é de
31
personalidade, questão sua. Acho que a genética não tem nada a ver com isso”.
32
P: “Outra idéia?”
33
((Risos no grupo))
34
José: “Eu também concordo com Silvana. Eu acho que essa atração pelo mesmo
35
sexo é mais... eh::.. um convívio social e... essas coisas, tipo... leva a ter atração pelo
36
mesmo sexo, acho que isso vai depender muito do jeito como vive... de sua criação”.
37
P: “Outra idéia?”
38
Nair: “Eh::... acho que é uma questão do desejo sexual pode ser uma coisa física,
39
química como falou Fábio, mas isso também, a parte genética não deve alterar muito a
40
respeito disso não. Porque, eu acredito que a personalidade de uma pessoa de optar
41
ou não por uma pessoa do mesmo sexo ou oposto, seja eh::.. uma escolha, mas
42
também uma vivência. Se ela convive num ambiente que acha que uma pessoa do
43
mesmo sexo seria a opção certa... não é apoiado pela sociedade, mas eu acho que
44
não deveria interferir no meio não.
45
Silvana: “Eu acho assim como Nair disse... de conviver com uma pessoa de mesmo
46
sexo, não, porque o fato de você conviver... num/ canto com várias mulheres... no meu
47
caso, eu já morei com seis mulheres e nem por isso... ((risos do grupo e da pessoa
48
que está falando)). Eu acho assim, que a sua orientação sexual não depende da sua
49
convivência com homens ou com mulheres... porque você pode fazer (sexo) com
50
homens ou com mulheres. Se você pode optar por homens, no meu caso, por que eu
51
vou optar por mulheres? Eu acho que é uma questão psicológica, não é uma questão
52
de conviver com “a” ou “b”. Eu acho isso”.
53
203
P: Mas nós estamos dando alguns exemplos. Mas se fossem procurar um conceito do
54
que seria orientação do desejo sexual haveria um conceito que pudesse ser dado para
55
esse termo?
56
Nair: “Não... isso entra muito na parte química e física... isso não tem uma questão
57
sentimental desse tipo. Se você, mesmo que goste muito de uma pessoa, que tenha
58
uma relação MUITO afetiva, não é necessariamente dizer que você tem realmente
59
desejo por essa pessoa; isso é uma coisa química. Tem que ter uma... combinação...
60
alguma coisa que... atração que faça com que você sinta esse desejo”.
61
P: “Que outra colaboração?
62
((Silêncio no grupo))
63
P: “Vânia, talvez?”
64
((Risos no grupo))
65
Vânia: “Não... não”.
66
Carla: “Bom... acho que a orientação sexual não depende muito de genes ou essas
67
coisas. Simplesmente depende das escolhas que a pessoa faz. Teve épocas que a
68
maioria dos meus beijos era com meninas... a maioria das minhas colegas são
69
sapatos ((risos no grupo)). Houve alguns parentes da minha família... algumas
70
meninas que quiseram encostar em mim quando eu era menor. Quando eu tinha sete
71
anos elas tinham dezessete, dezoito e queriam mexer comigo... mas isso não
72
influenciou em nada não; acho que isso vai mais da pessoa mesmo... acho que é você
73
que escolhe o que você quer na sua vida”.
74
P: “Outra idéia?”
75
Cléa: “Eu acho assim... que isso vem com a pessoa quando nasce... sentimentos
76
que vai surgindo... não é de uma hora prá/ outra, não é ninguém que vai incentivar
77
isso...mas sim... a pessoa tem isso, já nasce com isso, com esse desejo... sexual
78
por outra, ou se não, por dois sexo/ ... esse sentimento pela outra pessoa”.
79
Magnólia: “Eu acho que vai da criação... dos pais por que... eu sei lá... é muito
80
estranho. Pronto: lá em (cidade onde mora a pessoa que fala) tem um caso desse; um
81
menino que é criado só com a mãe, não tem pai... o moleque é um viadinho ((risos no
82
grupo)) perdido, desse tamanho (bem pequeno) ((risos no grupo)); assistindo desenho
83
do Homem Aranha, fica com coisa (ininteligível), fica com aquelas coisa/ estranha... e
84
minha tia também criou o meu primo e nem por isso ele é gay... vai da criação da mão,
85
eu acho, da mãe e do pai”.
86
Fábio: “Essa história de criação... acho que não tem nada a ver não. Qual a mãe que
87
ver seu filho ser um homossexual ou sua filha uma lésbica? Esse tipo de criação
88
interfere na opção sexual da criança ou do adolescente se ele quiser; se ele já tem
89
uma mente fértil, alguma coisa preparada e essa mente fértil dele possa desenvolver
90
uma rie de acontecimentos que leve a crer que ele deseja pessoa do mesmo sexo,
91
isso é que pode... assim... a mãe certamente não quer que seu filho seja gay...
92
questão de criação não tem nada a ver na minha opinião. Você é gay se você
93
quiser... quem é que vai mandar você ser gay? Quem vai querer que você seja gay?
94
Quem vai querer que você seja lésbica?”.
95
Magnólia: “Não é uma questão de mandar. A mãe vai mandar, meu filho você vai ser
96
gay... não, é da criação; ele tá/ ... beleza, olhando prá/ mãe, vendo aquelas coisa/
97
tudo afeminada... se ele pegar alguma coisa prá/ fazer ela deve cortar do começo...
98
por exemplo, ele vai pegar uma sombra prá/ passar, ela não meu filho, pode não, isso
99
é de mulher... tem que cortar do começo; acho que isso vai mais da criação”.
100
P: “Outra colaboração?
101
Nair: “Assim... a questão de criação... na minha família tem caso de um menino muito
102
próximo que foi criado exatamente pela mãe e por ter primas, tinha contato
103
com mulheres. Não necessariamente ele nasceu gay, ninguém nasce gay; mas a partir
104
do momento que ele convive em ambiente muito feminino, mesmo que ele não vá
105
brincar de boneca, que ele passar maquiagem, mas ele passa a ter uma certa
106
sensibilidade feminina, porque ele conviveu desde o início só com isso. E também, por
107
ter contato com pessoas homossexuais ela passar... mesmo que tenha uma
108
204
formação... eh::... ter uma cabeça formada, mesmo assim ela pode ser corrompida,
109
porque o9 convívio demais com pessoa que tenha essa APTIDÃO... pelo mesmo sexo
110
assim, pode começar a se corromper e vai convivendo, vai convivendo e de uma hora
111
prá/ quando vai perceber tem atração por uma pessoas do mesmo sexo’.
112
P: “Outra colaboração?
113
Vânia: “Eu acho que não é a convivência, viver com mulher, porque meu pai ele
114
foi criado com minha e tinha três irmãs e nem por isso ele é gay. E outra coisa
115
((risos no grupo)) o negócio de ser sensível num/ tem nada a ver não, porque... ele é
116
grosso, entendesse? Então ser criado só por mulher não tem nada a ver”.
117
Nair: “Tu falou de gay, é uma questão que influencia; não necessariamente pelo fato
118
de você conviver só com mulheres você não vai se tornar gay, mas que você tem uma
119
grande participação, TEM; Se você conviver num ambiente tem mulheres ((outras
120
vozes interromperam a adolescente em sua fala))”
121
P: “Outra idéia?”
122
Fabiano: “Nós hoje vivemos na sociedade de (ininteligível) na qual... se fala muito que
123
um meio... o homem nasce bom e o meio é que determina... que o meio é que o
124
corrompe; eu acho que é justamente isso... que as pessoas são influenciadas por
125
outras e... é por isso que elas tem a opção sexual delas... é tudo uma questão de
126
escolha; cada um escolhe o que ele quer; o que ela quer”.
127
P: Muito bem. Uma outra questão que nós gostaríamos de debater: Para os
128
adolescentes existe uma orientação de desejo sexual que pareça ser correta?
129
alguma forma de orientação que os adolescentes entendam que seja realmente a
130
orientação adequada, a orientação certa? Quem gostaria de falar sobre isso?
131
((Risos no grupo))
132
P: “Vocês estiveram dando alguns exemplos de pessoas que têm desejos sexuais por
133
pessoa do mesmo sexo. Então a questão é: Existe alguma orientação sexual que
134
tenha ou que seja correta?
135
Todos: “Tem sim”.
136
P: “Ótimo. Quem pode falar?”
137
Silvana: “Não, eu acho assim que... eu... sou preconceituosa sim, porque Deus fez o
138
homem e a mulher, só isso; Então...((riso)) a orientação certa é você ser homem, você
139
ser mulher. É sim... ser gay ou ser lésbica não é certo... você tá/ sendo diferente de
140
tudo, você é incomum. Hoje tá/ se tornando comum por conta que tá/ aumentando a
141
quantidade, agora que não é normal; tá/ sendo aceito porque o pessoal diz, não vou
142
ser preconceituoso, cada um faça o que quiser da sua vida, mas que é errado, é. Você
143
nasceu prá/ ser homem ou ser mulher e não gay ou sapatão”.
144
P: “Alguém mais?”
145
Clea: “Eh::... tipo assim, se a sociedade discrimina tanto o homossexualismo e tal...
146
acho que a pessoa não escolhe eu quero ser GAY; ele sabe que vai passar por uma
147
barra, vai enfrentar a família, vai enfrentar a sociedade, vai enfrentar tudo isso; então
148
ele não vai dizer: Ah eu quero porque é uma moda e sim, é uma coisa que ta dentro
149
dele; acho que a pessoa nasce com isso. Existe o certo que é homem prá/ mulher,
150
que é o correto como Deus criou, porque a mulher vai engravidar e tal. Mas acho que
151
ele não tem culpa de querer ser gay porque se eles pudesse desviar e ser um homem,
152
feito... foi feito prá/ ser, eles não iam correr o risco de enfrentar pai, ser discriminado,
153
ser banido da sociedade”.
154
((Muitas vozes confirmando ser errada a homossexualidade))
155
Fábio: “É uma questão de... acho que quando a pessoa escolhe... escolhe não, aceita
156
a sua condição sexual, ele já vai destemido a enfrentar a sociedade, pai, preconceitos;
157
eu particularmente não sou preconceituoso, tanto que eu tenho um amigo gay...
158
mesmo assim eu não gosto de extravagância, aquela parte de eu sou gay, quero
159
mostrar prá/ todo mundo... ser tipo... o modo de andar, ser uma mulher propriamente
160
assim... tanto na cabeça quanto na parte física... eu não admito isso, apesar de aceitar
161
e muito menos acho certo. Você quer ser gay seja, mas mantenha a sua postura como
162
Deus lhe fez, como homem”.
163
205
Magnólia: “Eu sou preconceituosa sim, mas respeito... certo... convivo... quer ser,
164
seja; agora, que prá/ mim é errado... eu não sou obrigada a concordar, sou obrigada a
165
respeitar... eu vou fazer o quê? Mas se eu pudesse, eu acabava com tudinho ((risos
166
no grupo))”.
167
P: “Outra idéia? Nair.
168
Nair: “Assim... essa questão de ser gay, ser aceito na sociedade, preconceito, é uma
169
coisa muito relativa porque, o fato da pessoa escolher isso, mesmo diante das regras
170
divinas escritas nas Escrituras ((pronúncia em tom de pouca credibilidade)) isso é
171
errado. Mas ninguém tá/ prá/ dizer se isso é certo ou errado... Deus deu o direito, o
172
livre arbítrio... então eu acho que... se chegou ao ponto da sociedade se dividir entre
173
pessoas que acham que conseguem assimilar o que está escrito e pessoas que não
174
querem aceitar isso, querem viver de outra maneira... acho que isso... poderia ser
175
mais aceito, melhor aceito pela sociedade porque acho que isso também é uma forma
176
de revolta, já que a sociedade recrimina TANto essas pessoas que tem essa índole de
177
se tornar homossexual, acabam ficando mais revoltados ainda, tentando brigar mesmo
178
com a sociedade... porque se não tivesse uma pressão tão grande talvez existisse um
179
número menor de homossexuais no mundo”.
180
P: “Outra idéia?”
181
((Barulho de crianças em recreio))
182
Fábio: A questão de assim... você se sentir sob pressão da sociedade, da família...
183
acho que isso não determina não, a não ser que você seja um rebelde sem causa...
184
não porque ninguém gosta, eu vou ser; se você gosta, se você quer, seja. Acho que o
185
fato da sociedade não lhe aceitar do jeito que você é, isso é um fato determinante prá/
186
você manter a sua cabeça, não prá você mudar; se você já é e a sociedade discrimina
187
isso, isso deve ser um fator a mais prá/ você enfrentar... os demônios e continuar sua
188
cabeça feita; Agora, se a sociedade é um fator de mudança de opção sexual, acho
189
que não”.
190
P: “Outra idéia?”
191
José: “Acho assim... que todo homossexual tem saber que ele não pode ter o mesmo
192
direito que pessoas heterossexuais... isso daí, eu não concordo com isso; eles têm
193
que ver que quando eles assumem esse papel, eles têm que saber que vão passar por
194
uma certa discriminação e que... eh::... se eles tão/ prá/ isso mesmo, eles têm que ver
195
que vão enfrentar muita dificuldade e que o mundo fora não vai aceitar isso prá/
196
eles. O certo prá/ eles era... o certo prá/ eles e prá/ mim era que cada um mantesse/ o
197
seu sexo (comportamento esperado do sexo biológico”.
198
P: “Outra idéia?”
199
((uma voz no grupo diz: quem manda se amostrar))
200
Carla: “Eu não concordo com Magnólia, essa história de gay nem de sapatão; agora
201
tenho muitos amigos gays em (cidade da adolescente que fala) tenho bem uns três e
202
nenhum é assim... homem... tudo tem o cabelo grande... eu não concordo; se na bíblia
203
tem dizendo que é desonroso para Deus, homem ter cabelo grande, imagine ser gay e
204
sapatão ((seguiu-se uma discussão religiosa que necessitou a intervenção do
205
pesquisador))”
206
Fabiano: “Eu sou preconceituoso em certa parte porque... prá/ mim, pessoas que não
207
são próximas eu não tenho a menor discriminação; agora se for amigos, essas coisas,
208
eu não tenho amigos assim... eu não gosto dessa influência ((risos no grupo)) eu não
209
gosto de ter amigos ou coisas próximas se for destinada a outros interesses. Agora, se
210
for externamente, relacionado ao meu convívio social eu não tenho o menor
211
interesse... ele pode fazer o que bem quiser da vida dele”.
212
P: “Outra idéia? Mais alguém? Silvana”.
213
Silvana: “Assim como ele (Fabiano) diz, por mim... eu tenho amizades sim, agora a
214
partir do momento que não me prejudica como pessoa, não denigre a minha imagem,
215
ta entendendo? Porque você vê, eu moro em cidade pequena, se tem uma pessoa
216
que é errada ninguém acredita que aquela pessoa resolveu ser certa; independente de
217
ser gay ou sapatão,... ladrão... agora é assim, eu tenho amizade sim... alô, tudo bem,
218
206
não discrimino apesar de não achar certo, falo, respeito, acho errado, mas andar junto
219
não porque vai atingir a mim, porque em cidade pequena é assim. Se eu andar com
220
uma turma de lésbicas, ninguém vai achar que a filha de (citou o nome do pai) vai tá/
221
trazendo elas prá/ ser mulher... não... vai tá/ achando que eu fui pro/ lado de lá...
222
prá/ mim não ((risos))”.
223
P: “Outra idéia?”
224
Wellington: “Eu queria saber de José que direitos eles não teriam?”
225
José: “Direito de casar, direito de... ter filhos... eu acho que ter filhos... eu acho que
226
eles tendo filhos eles iam dar uma influência aos seus filhos... isso ia até ser ruim prá/
227
criação do filho, pois o preconceito que ele ia sofrer, por exemplo, os colegas... é isso”.
228
Silvana: “Eles que optaram por isso, sofrem os preconceitos devidos... agora, a
229
criança vai sofrer preconceito na escola, vai sofrer preconceito aonde ele chegar, sem
230
ele ter feito nada... eu mesmo não queria ser adotado... se não for prá/ ser criado por
231
um pai e uma mãe,, por dois homens ou duas mulheres eu não queria não. Era melhor
232
viver numa Fundac”.
233
Fabiano: ”Deu-se até um caso na novela da Rede Globo, em que um filho tem um pai
234
que é... bicha ((risos no grupo)). E... aquilo não acontece... se os amigos deles
235
souberem o vão/ discriminá-lo com aquilo ali... eh:... continuo com a mesma idéia...
236
que você não discrimine, agora que seja fora da sua cidade entre aspas, fora do seu
237
convívio particular. Contanto que seja fora, que se dane prá/ lá ((risos))”.
238
P: Muito bem. Outra questão que nós gostaríamos de discutir é: Qual é a opinião
239
dos adolescentes sobre o relacionamento com pessoa do mesmo sexo? O que
240
vocês acham a respeito?
241
((Muitas vozes no grupo: Errado))
242
Fábio: “Como eu já disse, quem tem sua opção sexual, vá... contanto que isso não me
243
afete; mas comigo... comigo não”.
244
Cléa: “Eu acho assim... se a pessoa tem a sua característica,,, ta/ formada a sua
245
personalidade... uma amiga... um contato assim não vai interferir em nada... tipo um
246
relacionamento com uma homossexual; se eu tô/ relacionada com aquela menina, se
247
eu tô/ andando com ela, mas eu tenho a minha opção, acho que não vai me atingir”.
248
Nair: “A questão de você andar com pessoa que tem relações com pessoas do
249
mesmo sexo não vai interferir de maneira alguma na sua (opção sexual); vai da sua
250
pessoa, viver prá/ que a sociedade não interfira, tipo, se você anda com pessoas que
251
tem relações com o mesmo sexo, se você quer diretamente... eu tenho amigos gays e
252
não me incomodo de maneira alguma de andar com eles, mas de alguma maneira
253
me criticaram dizendo que eu tinha uma opção sexual diferente da que tenho... por
254
andar com pessoas desse tipo; mas assim... eh::... eu acredito que essas pessoas que
255
tem atração por pessoas do mesmo sexo, tem relação com essa pessoa, se ela
256
soubesse se impor, tipo, eu gosto de uma pessoa do mesmo sexo mas eu tenho um
257
amigo que é do meu sexo e eu tenho atração, mas é amigo... tem que ser
258
diferenciado; ela tem que aceitar a opção sexual da outra pessoa e conviver com a
259
sua opção sem interferir no meio (grupo)”.
260
P: “Vamos ouvir Luzinete”.
261
Luzinete: “Tá/ certo, cada um tem a sua opção sexual... beleza, mas é o seguinte: Se
262
você decide, eu quero ficar com um menino, mas eu ando com uma sapatão... eu
263
tenho uma colega, que a pessoa vai dizer... não, anda com ela, ela também é;
264
porque a sociedade é muito preconceituosa; então, beleza eu gosta de menino, mas
265
como ando com sapatão vão dizer que eu também sou ((seguiu-se um debate sobre o
266
preconceito social referido aqui))”
267
Magnólia: “Minha cidade é desse tamanho (pequena) e quem anda mais com os
268
gay é as rapariga, as quenga; se você tá/ andando com gay você é rapariga e
269
quenga e isso é o que minha mãe briga; eu gravo CD prá/ eles, eles vão/ na minha
270
casa e pega CD, mas minha mãe não quer; eu não gosto de gay, só gosto dos gay de
271
(sua cidade) porque são bonzinhos”.
272
207
Carla: “Acho que o fato de você andar com gays, lésbica não vai mudar a sua escolha;
273
simplesmente eu tenho o que... eu tenho mais ou menos umas seis amigas que são
274
lésbicas, uns três amigos que são gays, ando com eles, são gente fina, gosto deles,
275
até meu pai fica olhando, sabe que elas são lésbicas, meu pai chega a achar que eu,
276
só que eu não sou, que ele sabe que eu namoro ((risos no grupo)); mas simplesmente
277
se ele (o pai) achar ou os outros tão/ achando que eu sou, o problema é deles, eu
278
tenho a minha escolha, eu sei o que eu quero... simplesmente / com uma pessoa e
279
pronto”
280
P: “Mais alguém? Ninguém mais?”
281
Wellington: “Sobre o relacionamento entre dois gays, no caso, eu penso que
282
atualmente eles tão/ prá se largarem dos limites da sociedade, tão/ mostrando muito
283
sua intimidade”.
284
P: “Mais alguém?”
285
Cléa: “Eu acho assim... que a opinião de Wellington e dos meus colegas é tipo aqui na
286
região de Pernambuco, uma cidade pequena como Garanhuns, a sociedade não tá/
287
preparada... como também na minha família e tal. Mas acho mais fora, em capitais...
288
Rio de Janeiro, eles tá/ mais preparado mais prá/ isso; então aqui é uma coisa muito
289
estranha você andar, conviver com gay... vão falar. Mas isso noutros países... Rio
290
de Janeiro, São Paulo já é normal”.
291
((Seguiu-se uma polêmica, interrompida pelo pesquisador, sobre a condição de ser
292
homossexual)).
293
Silvana: “É essa a questão... o fato que ta se formando não quer dizer que teja/ certo.
294
É isso que eu defendo... não mudo minha opinião, que é errado ser gay ou ser
295
lésbica”.
296
Nair: “Por que?”
297
Silvana: “Porque é sim. Ninguém foi feito prá/ ser lésbica ou viado... foi feito prá/ ser
298
homem ou mulher... foi feito assim. Agora, um pessoal além de distorcer ((discussões
299
no grupo interrompidas pelo pesquisador)) além de mudar sua cabeça, além de ter
300
contato com outra pessoa (do mesmo sexo) ainda quer mudar a vontade de Deus...
301
é complicado... mudar a sociedade é complicado; se ele tiver cacife prá/ bater de
302
frente com Deus, ele arroche”.
303
P: “Mais alguém gostaria de comentar?”
304
Wellington: “Cléa, tu acharia bonito, por exemplo, dois homem se beijando de cueca...
305
na rua?”.
306
Cléa:”EU, eu não acho; não tô/ falando assim por mim e sim na sociedade; eu acho
307
super-estranho, ainda não tô/ acostumada a ver isso, a conviver com isso. EU acho
308
que tenho essa parte de preconceito e tento vencer cada vez mais essa barreira; eu
309
sei que o mundo tá/ cada vez mais evoluindo e a gente tem que conviver com isso,
310
respeitar”.
311
Fabiano: “Se evolução significa justamente isso eu prefiro não evoluir ((fala aplaudida
312
no grupo))”
313
P: “Mais alguém?”
314
Nair: “A questão de conviver com... Fabiano falou em ver pessoas de mesmo sexo se
315
beijando, demonstrando alguma coisa de afeto em público. Eu acho que no meio
316
deles, eles vão/ ter uma compreensão melhor; a partir do momento que eles começam
317
a ter demonstrações afetivas em público, na sociedade que a gente vive hoje, que o
318
tem muito respeito pela opção sexual dos outros...”
319
Welligton: “Mas muitos gostam de impactar também”.
320
Nair: “Isso é praticamente... a pessoa que escolhe ser gay, a partir do momento que
321
ela começa a se revelar prá/ sociedade, vai ter sempre uma fase da sua revelação que
322
ela vai querer sempre chamar a atenção... vai querer toda a atenção voltada prá/ ela.
323
Qualquer pessoa na vida já tentou chamar de alguma maneira, a atenção... qualquer
324
pessoa faz isso. pelo fato deles admitirem que são gays, que sofrem o preconceito
325
da sociedade, eles vão querer chamar a atenção mesmo... porque se sofrem o
326
preconceito, se ninguém aceita, eu (eles) vou ficar quieto porquê? Vai tentar
327
208
interagir no meio da sociedade de qualquer maneira... ele quer que a sociedade aceite
328
ele como é lhe direcione direitos iguais a todo mundo”.
329
P: “Mais alguém? ((silêncio no grupo)). Muito bem. Última questão: Como é visto
330
pelos adolescentes o relacionamento sexual que envolve tanto pessoa do
331
mesmo sexo como do outro sexo?
332
Silvana: “Gilete? Gilete... corta dos dois lados”.
333
P: “Como é que os adolescentes vêem essa forma de relacionamento hoje?”
334
Silvana: “Não... é bissexual, é?”
335
P: “É”.
336
Silvana: “Pior do que o ((risos no grupo)). Não, ele tá/ certo enquanto ele tá/ com a
337
mulher; quando ele partir pro/ outro lado ele tá/ errado”.
338
Vânia: “Discordo, discordo. Se botar prá/ mim numa balança é uma coisa só; prá mim
339
é errado do mesmo jeito”.
340
P: “Outra idéia?”
341
Cléa: “Acho que quando ele é bissexual não tá/ formado ainda o que ele quer;
342
realmente tem adulto que é bissexual e tal, mas que ele não tem uma opinião própria,
343
uma opinião certa porque... ou você é gay ou você é heterossexual; mas se você ficar
344
pros/ dois lados eu acho que tá/ no muro, ele não tem uma opinião certa, não é
345
concreta a opinião dele. Então eu discrimino as pessoas que são bissexuais”.
346
Fábio: “Éh::.. na maioria das vezes é indecisão, mas tem pessoas que optam por
347
isso... gostam até; é tipo... uma divisão de experiências... assim fazer parte das duas
348
coisas ao mesmo tempo ((risos no grupo)); vê-se muito isso hoje... tem mais
349
bissexuais do que gays. Como Nair disse... não tem meio certo... ou é certo ou errado.
350
Assim... não que amenize, mas botando numa balança é a mesma coisa... mas eu
351
queria chamar a atenção da indecisão; pode ser que ele esteja indeciso ou decidiu por
352
isso... ele quer isso... aí é só seguir em frente”.
353
P: “Outra idéia?”
354
José: “Eu acho isso errado por que... essa pessoa quando ela decide os dois sexos...
355
ela tem que ser ou um ou outro; e na minha opinião se uma pessoa, no caso um
356
homem, ele pode ficar com cem mulheres mas uma vez que ele saiu com outro
357
homem, a tendência dele é ser homossexual, ? Eu conversei com gay ((risos no
358
grupo)) sem levar pro/ mau sentido... e ele falou: Ah se aquele homem me quisesse...
359
então eu perguntei prá/ ele: tu acha que se ele te quisesse ele era homem? Ele,
360
CLARO... a argumentação dele era essa... que o homem pode ter as duas escolhas,
361
mas quando ele vai ter uma relação com um gay ele pode ser um passivo ou um ativo.
362
que eu discordo disso... eu acho que, na medida que ele vai ter uma relação com
363
pessoa do mesmo sexo, acho que ele é homossexual”.
364
((Comentários não alusivos à discussão e por isso, interrompidos pelo pesquisador))
365
P: “Vamos ouvir o Fábio”.
366
Fábio: Um experiência própria aqui ((risos no grupo)). Esse cara que eu falei que é
367
gay, que é meu amigo, ele tem relações tanto com homens como mulheres, que a
368
preferência dele é por homem. No dia que ele me disse... eu desconfiava, não pelo
369
jeito mas com quem ele andava... se ele fosse daqueles gay extravagante que quer
370
chamar a atenção, eu não queria nada com ele, NEM FALAR. Ele disse assim: Fábio
371
eu ainda não dei em cima de você porque eu sei a sua opção sexual, eu lhe respeito...
372
você já chegou a suspeitar que eu era gay... eu falei, não; pois eu sou (o gay). rio,
373
eu falei... ele sou (o gay) ((comentários e gracejos do grupo)). Ele disse eu sou
374
homossexual, respeito quem não é, agora quem eu vejo que tem a mesma opção
375
sexual que a minha eu vou... senão eu respeito... tanto que eu tenho relações com
376
mulheres, tive relações a três” ((ares de espanto e comentários depreciativos por
377
alguns no grupo)).
378
José: “Só prá completar o que eu tinha falado... eh::... eu acho que eles (bissexuais)
379
não tem um argumento bom prá?... a respeito desse assunto. Porque... eles dizem...
380
se o cara perguntar prá/ eles: se aquele cara te quisesse ele é homem, eles diz/ sim;
381
o cara pergunta: Você teria relação com um viado eles diz/, não porque eu não
382
209
gosto de viado. Gay não gosta de viado ((risos fartos no grupo)). Se o viado vê outro
383
viado ali diz logo, aquela bicha num/ sei o quê, num/ sei o quê. Eles tem a mesma
384
amizade se conheceram pouco ou se... onde ele mora a sociedade é pouca. Mas
385
se eles forem ver desse lado que eu vejo, se o homem que eles forem ter relação, eles
386
tem que ver que esse homem não é bem um homem, né” ((risos e mais risos no
387
grupo)).
388
P: “Outra idéia?”
389
Nair: “A sociedade discrimina essa questão... e eu converso com pessoas que são
390
homossexuais e uma certa desculpa para ter relações com pessoa do sexo
391
oposto... é uma questão da sociedade não aceitar. Então, já que um medo de
392
enfrentar a sociedade, então eu vou maquiar prá/ sociedade e viver no meio, dessa
393
maneira, tendo relações com pessoas que fazem a minha opção sexual. E o fato que
394
ele estava falando, gay não gosta de gay, não é bem assim... gay não gosta de gay
395
afeminado... esprivitado, que se veste de mulher e aquela coisa assim prá/ chamar
396
muita atenção. Geralmente o gay ele gosta de homossexuais que é enrustido; a
397
sociedade deles sabe que ele é gay, mas por saber que ele é gay não é obrigado ele
398
ta se mostrando... ele é um gay, homem demais, bem discreto, calmo, bem na dele.
399
Quando ele quer vai e em cima do outro, o outro que é meio esprivitado em
400
cima, se ele quiser ele aceita... geralmente os gays, tem o tipo homem que gosta dos
401
esprivitados e os esprivitados gostam do tipo homem; é uma troca, justamente por
402
isso... é como se fosse um homem e uma mulher, bem (mau) comparando, claro; mas
403
é uma forma que eles, no meio deles, acharam para trocar essas... informações”
404
((risos no grupo)).
405
Magnólia: “Eu acho que o homem que sai com um gay, é pior do que ele, é mais
406
safado do que ele. Em (cidade da adolescente) tem tanto homem casado que sai com
407
os gay. As sapatão de (outra cidade) / tudo morado em (sua cidade). Minha mãe
408
não queria eu jogasse mais bola porque o treinador foi dizer a ela que dava
409
sapatão no jogo de bola feminino. Eu acho que um homem que sai com um gay é pior
410
do que o gay e uma mulher que sai com outra mulher é pior do que a peste. Sabe que
411
isso é cão dentro dessas pessoas? Isso é espírito maligno, isso é pombagira dentro
412
dessas pessoas ((tom de brincadeira acompanhado de risos do grupo)); isso é a
413
pessoa que não tem Deus dentro do coração... isso é anormal”.
414
P: “Vamos ouvir Wellington”.
415
Wellington: Eu mesmo conheço um cara que teve filho recentemente mas tinha
416
relações com outros homens. o que acontece... ela ganhava prá/ isso. Agora... se
417
for prá/ pensar bem, eu acho que ele é gay”.
418
P: “Nair”
419
Nair: “O fato que Magnólia estava falando sobre as pessoas homossexuais não ter
420
Deus no coração, também não é assim pô. Existem igrejas... eu acho errado botar
421
Deus no meio desse tipo de coisa... é errado; mas existem pessoas que aceitam, se
422
unem entre si prá/ não largarem a Palavra de Deus... tem o idealismo da religião, mas
423
por medo da sociedade criticá-los dentro da igreja, eles montam um grupo, montam
424
uma igreja mesmo que... eu estava assistindo uma matéria um tempo desse aí... eu vi
425
uma igreja evangélica de gays, onde o pastor era casado com um homem... eu fiquei
426
passada. Confesso que nunca tinha visto formada por gays evangélicos... já tinha visto
427
católica, espírita. Mas a evangélica me causou um certo transtorno pelo fato da
428
evangélica ser preconceituosa ((intervenções de alguns do grupo)). A Igreja Católica
429
não aceita diretamente, mas a partir do momento que você, mesmo homossexual tem
430
a iniciativa de ir à igreja, ouvir a Palavra... mesmo que ela não lhe penetre totalmente e
431
lhe faça voltar ao normal, porque isso não é uma coisa normal, acho que não devia
432
dizer que essa pessoa não tem Deus no coração... porque a religião é uma coisa
433
totalmente imparcial”.
434
Fábio: “Só queria discordar um pouquinho da palavra de Nair quando diz que a igreja
435
evangélica é preconceituosa... não vale a pena generalizar... você não conhece todo
436
mundo, como é que você vai generalizar isso ((discussões entre alguns do grupo
437
210
sobre o preconceito das igrejas)); o preconceito é o ato das pessoas; a doutrina não
438
permite e as pessoas vão/ fazer o quê? Eu já vi um gay na igreja e ele foi tratado muito
439
bem como qualquer pessoa ((seguiu-se uma breve discussão doutrinária)). Apesar de
440
ser evangélico eu não sou preconceituoso, mas quem quiser chamar a atenção como
441
você disse, por favor, distância”.
442
Carla: “Simplesmente tavam/ falando que os gays têm Deus no coração. Mas tem uma
443
frase na bíblia que ela não é escrita se nós somos por Deus, mas se Deus é por nós.
444
E tem no final da blia dizendo que os efeminados não entrarão no reino dos céus. E
445
simplesmente eu acho que ser gay é uma escolha sua e as nossas escolhas vão/
446
decidir prá/ onde a gente vai... e larga é a porta que leva à perdição. Você escolhe o
447
caminho. E simplesmente não tem essa de foi um gene ou foi algo como eu senti algo
448
na hora. Simplesmente Deus não deixa problemas prá/ gente que a gente não possa
449
suportar ((fala aplaudida no grupo)).
450
P: “Mais alguém?”
451
((silêncio no grupo))
452
P: “Muito bem. Então já que o pessoal não quer mais se manifestar, nós encerramos a
453
aqui essa nossa discussão sobre a orientação do desejo sexual”.
454
211
ANEXO O – GRUPO FOCAL NÃO-RELIGIOSO 5 – (GFNR-5) 1
2
TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTA 3
4
5
ORIENTAÇÃO DO DESEJO SEXUAL 6
7
8
P: Nós estamos aqui reunidos, no Colégio Nova Dimensão, com um grupo de alunos
9
da segunda série do segundo grau, e nesta ocasião faremos uma discussão relativa à
10
orientação do desejo sexual entre adolescentes. A primeira questão que s
11
gostaríamos de debater com o grupo, é o entendimento que têm os adolescentes
12
sobre o que seja orientação do desejo sexual. Quem poderia começar? O que para
13
os adolescentes é orientação de desejo sexual?
14
Pablo: “Bem... eh:... acho que seja... tipo campanhas... eh::.. campanhas para enfocar
15
mais assim, questão de desejo principalmente da passagem da puberdade prá/
16
mostrar que é nessa fase que tá/ começando a despertar o desejo; enfocar,
17
principalmente na mídia, nem tanto no colégio, na mídia que hoje são/ onde os
18
adolescentes e na puberdade verem... mais imagens que venham fazer uma atração
19
assim... sentir uma atração por aquilo e sentir desejo de fazer”.
20
Damiana: “Eu penso que deve ser... tipo uma instrução como a gente direcionar esse
21
desejo prá/ nem deixar de lado nem correr riscos. Eu penso dessa... uma coisa assim”.
22
Gildete: “Bom, eu acho assim que pro/ adolescente, desde casa os pais devem tá/
23
dando alertas e informando os adolescentes sempre e... acho que no colégio
24
também... é muito importante o colégio tá/ sempre alertando e dando informações
25
pros/ jovens”.
26
P: “O que seria orientação do desejo sexual?”
27
Mariano: “Tipo uma orientação... assim, por parte de pais e amigos, assim... que ao
28
adolescente teria que ser dito essa orientação sexual... o homem se orientar para a
29
mulher... até por conta da questão da homossexualidade que muito comum hoje em
30
dia. Então... essa orientação sexual seria basicamente prá/ isso, mostrando qual é e
31
mostrando também os riscos das DSTs e outras coisas”.
32
P: “Outra idéia?”
33
Terezinha: “Eu acho assim que... partindo... devia partir da família, de casa... os
34
pais deviam orientar os filhos mostrando os riscos que correm principalmente as
35
meninas que querendo ou não tão/ engravidando cada vez mais pelo fato de não ter o
36
acompanhamento da família... porque a família acha assim: Não... ainda é
37
adolescente não vai fazer; mas pelo fato da família deixar os filhos de lado eles
38
acabam se revoltando e fazem as coisas erradas prá/ chamar a atenção dos pais para
39
que os pais sejam mais liberais com eles, mas muitas vezes não são. Deveria partir
40
mais da família e principalmente ter instituições que façam palestras com relação a
41
isso. Na minha opinião, se isso ocorresse ia diminuir bastante esses problemas de
42
gravidez e doenças sexualmente transmissíveis”.
43
P: “As vezes algumas pessoas entendem como orientação também a questão da
44
opção sexual. A opção sexual ela pode ter diferentes níveis... pode ser heterossexual,
45
pode ser homossexual, pode ser bissexual. O que vocês a respeito dessa orientação
46
de desejo do sexo?”
47
P: “Soraya com a palavra”.
48
Soraya: “Não, passa aí...”.
49
Damiana: “Eu acho assim... a pessoa tem que ser feliz, não importa a opção. Você
50
tem que ser feliz... agora... por exemplo, você ser um homossexual é diferente da
51
maioria, é; tem preconceito, tem; mais muita gente lida com esse preconceito...
52
assim... escraCHADO... assim... se vestindo de travesti; não precisa você dá um show
53
prá mostrar que você é, prá/ você tentar ser respeitado; porque você fazendo essas
54
212
coisas você não vai ser respeitado... porque você fazendo essas coisas é que você vai
55
ser desrespeitado.... porque não importa a opção que você fez... porque tem muito
56
homossexual, tem muito gay que é muito mais homem do que esses macho/ que se
57
dizem. E prá/ você seguir essa sua opção, você tem que ser corajoso prá/ assumir
58
porque a sociedade é muito preconceituosa, você tem que ter também seu ato de
59
responsabilidade... porque muitos homossexuais tem problema/ eh:... muitos/ pega
60
DST nessas parada/ gay, por exemplo... não medem as conseqüências do que
61
fazem...você tem que ter sua opção, tem que fazer o que voquer... agora tem que
62
ser responsável... e você fazer de tudo prá/ chamar atenção é que vai ter
63
preconceito... é o que eu acho. Você quer ser, seja... agora também não precisa tá/
64
chamando a atenção”.
65
P: “Outra idéia? Sebastian?”
66
Sebastian: “Para complementar o que ela (Damiana) disse, acho que as pessoas
67
homossexuais têm que agir de acordo com a sociedade. A pessoa não pode chegar...
68
ah:... um homem vestido de saia, todo fortão, todo musculoso e na rua de saia... essas
69
coisa/... acho que tem de agir de acordo com a sociedade... se não agir vai ter o
70
preconceito... e cada sociedade tem suas regras”./
71
P: “Maximila”
72
Maximila: Eu tenho amigos que são... gays, mas... sei lá... eu tenho amizade mas
73
acho que eu particularmente... assim... não tenho preconceito mas eu não queria prá
74
mim entendeu? Eu acho assim... que seria uma decepção prá/ um pai, você saber um
75
filho seu ou uma filha sua... porque é assim... todo pai sonha o seu filho casando com
76
uma mulher... qual é o pai que não sonha com isso? Qual é a mãe que não sonha... o
77
sonho de uma mãe é casar uma filha, e não com outra mulher... sei lá, isso seria uma
78
decepção... aí... sei lá”.
79
P: “Soraya ia falar?”
80
Soraya: “Não porque... como ela (Maximila) tava/ falando... eu não concordo, porque
81
não é o certo esse negócio de homossexualismo...”
82
Maximila: “Perante a bíblia”
83
Soraya: “É”...”
84
Damiana: “Agora assim... religião à parte, essas pessoas tem que ter auto-satisfação
85
né/... por exemplo, uma mulher que é homossexual, o adianta ela casar e ter filhos
86
que ela não vai ser feliz; o marido vai ser corno do mesmo jeito... porque ela não vai
87
deixar de se encontrar com uma mulher prá/ ser feliz... por causa do marido... prá/
88
fazer os outros feliz... acho que a pessoa tem que se fazer feliz... entendeu? Mesmo o
89
pessoal não aceitando”.
90
Mariano: Mas ser feliz dentro dos limites porque... o caso do travesti... essas coisa/
91
você poderia muito bem ser feliz ficando na sua...porque o homossexual prá/ ser feliz
92
acho que ele não precisa se vestir de mulher, sair aparecendo fazendo escândalo na
93
rua não”.
94
Maximila: “Eu acho que às vezes é prá/ chamar atenção. Agora, chamam atenção e
95
acabam passando por ridículo porque em vez deles assumir/ a ordem que ele quer
96
seguir, acaba sendo motivo de... chacota dos amigos, de quem passa na rua, começa
97
a tirar pilherinha/ eles não gosta; Como é que eles querem fazer uma coisa e não
98
ter uma sociedade como agente tem?”
99
P: “Ouvimos Maximila. Vamos ouvir Terezinha”.
100
Terezinha: “Acho assim... que muitas eles se veste/ desse jeito prá/ procurar um
101
respeito, prá/ mostrar o que eles são; que antes deles ter/ respeito das pessoas
102
eles têm que se auto-respeitar. Então... nesse caso ele se respeitando, ele seguindo o
103
modo de vida que ela acabou de... assim... ele é homem... ele se apaixona pela
104
pessoa do mesmo sexo dele, então ele fica na dele... ele tem um caso com essa
105
pessoa... continua tendo, mas... não esse caso de tá/ se vestindo de mulher... isso ele
106
perde respeito, ele não tá/ se respeitando... ele seria mais feliz se ele vivesse do modo
107
certo que a sociedade manda... porque talvez ele não seja feliz, mas evita de passar
108
constrangimento e tudo”.
109
213
P: “Muito bem. Outra questão: A partir dessas considerações que vocês fizeram,
110
existe uma orientação de desejo sexual que o adolescente acredita que seja
111
correta?
112
Damiana: “Pela sociedade eles acreditam que o certo é ser heterossexual... mas a
113
maior parte talvez eles num/... ah:... o que ele queria ser num/ é... a pessoa num/
114
escolhe... acho que a pessoa num/ escolhe de quem gosta”.
115
Mariano: “Eu acho que não... não sei... hum:... como é a pergunta professor?”
116
P: “Se existe uma direção do desejo sexual que pareça correta”.
117
Mariano: “Acho que não existe essa orientação que pareça correta... hoje em dia o
118
papo que... assim é mais falado é que o importante é ser feliz; então eu acho que o
119
correto... prá/ muitas pessoas agora tá/ sendo ser feliz... e não ter uma orientação
120
sexual que satisfaça a outra pessoa (ou a sociedade)”.
121
Damiana: “Agora... até assumirem eles tem que se preparar... até assumirem eles
122
ficam... não tem como... eles ficam achando: não era prá/ eu ser isso... a sociedade
123
não quer isso... até você assumir, acho errado, agora quando assumir não acho
124
mais... quando você assume você chuta o balde; agora, até você chutar o balde fique
125
na sua”.
126
Maximila: “Eu tenho um amigo que veio assumir prá/ mim ele... tava/ em dúvida...
127
ele... sei lá... ficou tão assim... em dúvida; antes dele assumir ele ficou com
128
vergonha... então ele quase que não se assumia, mas pelo que ele conversou
129
comigo, eu fiz a pergunta a ele se ele era gay, ele se assumiu... ele disse, agora
130
que você entendeu né/? Aí... que ele ficou em dúvida e até porque os pais dele
131
não conversam com ele... tem uma relação muito trancada com os pais. Acho que se
132
tivesse um diálogo mais aberto ele taria/ muito mais orientado né/?”
133
P: “Terezinha?”
134
Terezinha: “Prá/ eles, eles se empenham muito com as amizades pelo fato dele/ não
135
ter uma auto-liberdade com a família. Então fica o seguinte: Eu tenho o meu melhor
136
amigo e tal e eu sou... como é que eu vou chegar a ele? E se ele não quiser mais ser
137
meu amigo o que é que eu vou fazer... então fica muito isso na cabeça. Tenho amigos
138
que são e assim... aparentemente não parecem ser, mas quando vovai falar com
139
eles, eles se trancam prá/ falar esse assunto; mas quando você mostra que você vai
140
tá/ do lado dele, que você não vai deixar de ser amigo dele jamais por isso, eles/
141
acabam tendo você como um... apoio prá/ eles, por eles seguir a vida mais tranqüila...
142
porque a grande dificuldade com os pais e principalmente com as amizades... porque
143
eles não conversam com os pais livremente; fica essa coisa... eu tenho medo de
144
falar a meus amigos porque eles são a minha única base; como é que vou chegar e
145
dizer? Se eles me deixarem em quem é que vou me apoiar?”
146
P: “Sebastian”
147
Sebastian: “Como assim?”
148
P: “Existe uma orientação de desejo sexual que lhe pareça correta?”
149
Sebastian: “Assim... pela sociedade a gente que o correto é a opção
150
heterossexual... que isso é muito antigo... essa opção. Mas hoje... eu acho que muitas
151
pessoas, até os héteros dizem que não existe assim... como disse que o importante
152
é ser feliz”.
153
P: “Soraya”
154
Soraya: “Prá/ mim a opção... a correta mesmo é o hétero; agora como todos
155
comentaram aqui, se ele quer ser homossexual, se ele é feliz assim, fazer o quê? Mas
156
eu não acho... o correto mesmo é ser heterossexual”.
157
P: “Maximila?”
158
Maximila: “Sei não... porque tem um menino num colégio que teve ter seus onze,
159
doze anos e... assim... tem um jeitinho já, um negocinho assim, uma coisinha mais
160
delicadazinha... então sei lá se é de criança, mas acho que ele não nasceu gay não”.
161
P: “Outra idéia?”
162
Mariano: “Mais isso tem relação com a criação... na minha opinião. Porque se uma
163
mãe cria uma criança mimada, fazendo tudo que ela quer, com àquele dengo, ela
164
214
sempre vai ficar uma criança mais delicada, mais sensível e com isso,
165
consequentemente, vai atrair mais amizades com mulheres e aí... podendo aí... a
166
opção sexual dele... mudar”.
167
P: “Terezinha?”
168
Terezinha: “Agora eu acho assim que um erro da sociedade igualar... como Maximila
169
falou... delicadeza em homem com homossexualidade. Tem uma pessoa que é da
170
minha família e é muito delicada. Ele vira chacota do pessoal também da minha
171
família, dizendo que ele é homossexual. Só que, quando a gente interagiu mais com a
172
vida dele, a gente descobriu que ele não é; é porque ele é muito educado... ele é
173
culto... ele mais atenção... diferente da que os homens dão. Pelo fato dele ter sido
174
criado com as mulheres ele sabe o que as mulheres precisam que é ser feliz e
175
atenção; ele acaba dando atenção extra, ele acaba dando... coisas que nenhum
176
homem... quando tá/ numa conversação... e muita gente... igual a ele fala que é
177
homossexualidade; então eu acho isso um erro”.
178
P: “Mais outra idéia?
179
((Silêncio no grupo))
180
P: Muito bem. Outra questão que engloba isso que vocês estão tratando. O que os
181
adolescentes acham das pessoas que mantém relação sexual com pessoa do
182
mesmo sexo?
183
Damiana: “É estranho”.
184
P: “Terezinha?”
185
Terezinha: “É porque a sociedade ensina... sexo oposto e não tem como entrar na
186
cabeça da gente que não é... no caso... que há uma relação; então fica estranho”.
187
P: “Mariano”
188
Mariano: “E a gente fica se perguntado também assim, como seria... qual é a graça
189
que... porque a gente sabe que entre um homem e uma mulher, a gente sabe que na
190
mulher, a mulher tem um órgão que... possa dar o prazer a ela... a questão do clitóris,
191
que dá uma sensação de prazer a ela; e... entre... tipo duas mulheres, dois homens?”
192
Pablo: “Sou totalmente contra, tenho totalmente preconceito e acho que o certo é
193
hétero, desde que o mundo é mundo, homem com mulher e sempre tem que ser
194
assim; acho que a mídia tá/ enfocando muito esse negócio de homossexualidade,
195
botando casal de gays na televisão, lésbicas... então influencia muito, principalmente
196
porque as crianças assiste/ faz por curiosidade, tipo uma modinha, isso é o que eu
197
acho que a mídia tá/ influenciando muito, muito mesmo”.
198
Maximila: Mas meu amigo disse... eu fiz essa pergunta a ele: o que é que tu sente
199
assim... ele disse que gosta de mulher, mas ele não tem o mesmo prazer beijando
200
uma mulher... não é uma questão de atração, ele fica com os dois... ele diz que é
201
muito mais prazeroso beijar uma pessoa do mesmo sexo que ele”.
202
P: “Essa questão nós pegaremos logo a seguir. Mas em relação às pessoas,quem
203
mantém relacionamento sexual com outra do mesmo sexo? Cecília?”
204
Soraya: “Como é?”
205
P: “O que o adolescente acha do relacionamento sexual com pessoa do mesmo
206
sexo?”
207
Soraya: “Assim... eu tento respeitar, mas eu acho que eu nunca vou concordar com
208
isso, porque eu acho errado”.
209
Gildete: “Eu tenho preconceito também com relação ao homossexualismo, mas a vida
210
é de cada um e acho que a sociedade não deve impor tanto não, que as pessoas
211
não aceitam e... também acho que a mídia influencia muito hoje em dia e tão até
212
aceitando casamento de homossexuais... acho que isso prá/ cabeça de uma criança
213
que até os homossexuais estão criando... eh::... fica meio estranho e a criança acaba
214
levando também esse lado da homossexualidade... acaba despertando isso; As vezes
215
a criança nem tem vontade de ser e acaba experimentando porque isso dentro de
216
casa e acha que isso é normal”.
217
P: “Damiana?”
218
215
Damiana: Eu acho que todo adolescente acha isso estranho... não tem como,
219
principalmente quando você vai a uma festa. No festival de Inverno do ano passado foi
220
o que eu mais vi... era casal de homem se beijando, casal de mulher... é estranho. Eu
221
particularmente acho nojento, mas eu vou fazer o quê? Eles não tão/ se sentindo
222
bem? Então eles têm que fazerem o que eles querem... agora eu acho que todo
223
mundo acha isso estranho; mesmo tentando entender... é estranho”.
224
Soraya: “Se eu tiver alguns amigos assim... amigos mesmo que tejam/... que converse
225
comigo, que tejam/ dizendo assim... não porque eu penso assim ser... eu faço o
226
possível prá/ dar conselhos prá/ não seguir, sabe? No que depender de mim, eu ajudo
227
assim prá/ não ter esse negócio de homossexualidade”.
228
P: “Sebastian?”
229
Sebastian: Faço a mesmo coisa que ela (Cecília)... tento respeitar, mas acho feio
230
homens se beijando, acho feio, não gosto de ver”.
231
P: “Outra idéia?”
232
Damiana: “Não”.
233
P: “Muito bem. Então, uma outra questão: Como os adolescentes percebem o
234
relacionamento de pessoas que mantém sexo com ambos os sexos? De uma
235
pessoa que se relaciona com ambos os sexos?
236
Maximila: “Como a gente percebe?”
237
P: “Qual é a opinião dos adolescentes sobre alguém que se relaciona
238
independentemente do sexo?”
239
Terezinha: “Acho que é uma pessoa confusa... que não sabe o que quer... sente
240
atração pelos dois lados mas... não sabe necessariamente qual dos dois é o
241
verdadeiro que ele tá/ sentido. Eu também que é por falta de conversação com alguém
242
mais experiente que se torna isso; mas eu acho que é uma pessoa muito confusa da
243
vida”.
244
Mariano: “Acho assim, que se você ficou com homem, se você ficou com mulher
245
você sabe muito bem qual é a sensação dos dois. Então eu acho até... desculpe a
246
palavra, uma safadeza essa questão de tá/ ficando com os dois porque você já provou
247
de um, provou do outro e continua... você vai passar a vida provando prá/ ver do
248
qual é que gosta? Não concordo com isso”.
249
Soraya: “Essa questão tem muito que falar, como Terezinha falou, uma pessoa
250
confusa”.
251
Amaralina: “Eu concordo que é estranho você namorar com uma pessoa que é
252
bissexual... imagine assim, eu tá/ namorando e de repente imagino que o menino
253
também gosta do mesmo sexo que ele e tal; a mulher se sente mal sendo traída por
254
uma pessoa do mesmo sexo; imagine eu (sendo traída) com um menino e ele
255
(ficando) com outro menino... sei lá... é uma questão que você fica sem reação na
256
hora, né/? É meio complicado”.
257
Gildete: “Eu também concordo que o bissexualismo é mais errado ainda”.
258
P: “Sebastian?”
259
Sebastian: “Acho que falta consciência”.
260
Maximila: Eu também não sei não, não entendo não porque... o pessoal assim que
261
eu conheço... sei lá, prova dos dois, sabe? Ou ele tá/ ficando meio doido ou é
262
safadeza mesmo. Outra coisa: essa pessoa não assume (sua homossexualidade)”.
263
Mariano: “E também assim, você ficando com duas pessoas você pode até... asem
264
querer, você pode acabar machucando alguém... porque éh:... tipo... se eu fosse
265
bissexual tivesse ficando com Cecília e com um menino... ao mesmo tempo Cecília
266
começasse a sentir alguma coisa por mim, eu taria/ machucando tanto ela como a
267
outra pessoa, porque isso... você começa a brincar com o sentimento das pessoas... e
268
isso é uma coisa muito séria você brincar com os sentimentos da pessoa”.
269
Terezinha: “Fora que se machuca também porque... ele não vai tá/ provando uma
270
coisa melhor e se ele se sentir atraído pelas duas... porque... ele tem dúvida... então
271
ele pode muito bem se sentir atraído pelas duas” ((vozes que se misturam)).
272
P: “Damiana?”
273
216
((vozes que se misturam no grupo)
274
Pablo: “Eu acho uma falta de respeito como falaram... totalmente... porque não tem
275
como namorar... é esquisito; você é hétero e tá/ com uma pessoa gay, o tem como
276
isso aí... é uma falta de respeito; você conhece ela como sexo oposto e quando
277
descobrir que ela é bissexual, não concorda com isso... totalmente é contra. Eu acho
278
que o bissexualismo é tipo uma mangueira de esconder o homossexualismo... é tipo
279
eles se disfarçarem; eu acho que não tem como a pessoa se relacionar com dois
280
sexos... ou é um ou é outro”.
281
P: “Soraya?”
282
Soraya: “Eu penso assim, essa pessoa bissexual é que não escuta muito falar sobre
283
isso aí fica querendo saber, interessada. Aí pega e fica experimentando de um lado e
284
de outro... falta de conversa também com os pais, principalmente”.
285
Amaalina: “Eu concordo que é estranho você namorar com
286
P: Outra idéia?
287
Damiana: “Não”
288
P: “Nada mais? Alguma outra contribuição?”
289
((silêncio no grupo))
290
P: “Bom, não havendo, nós encerramos aqui a nossa discussão sobre a orientação do
291
desejo sexual entre adolescentes”.
292
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