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ministro estrategicamente posicionado. Verifica-se a ampliação da atuação e visibilidade do ITI e
do ativismo de algumas empresas estatais em projetos sociais, impulsionando agendas emergentes
nas áreas de software livre e de inclusão digital. Além disso, constata-se a mudança de perfil e o
maior número de técnicos e gerentes arregimentados nos comitês interministeriais que coordenam
os projetos. O novo perfil é influenciado pela entrada de técnicos recrutados em administrações
estaduais e municipais com vocação para as temáticas da inclusão digital e do software livre. Há
evidências de maior freqüência de interlocução de entidades da sociedade civil que atuam na área
de inclusão digital.
A manutenção do arranjo institucional baseado na atuação de uma instância de coordenação
estratégica com participação de altos dirigentes de todos os ministérios vinculada à Presidência da
República tem sido importante componente organizacional de sustentação ao governo eletrônico.
Os resultados obtidos em projetos e ações de amplo escopo e transversalidade se deveram em
grande medida À viabilização de mecanismos de consulta e de participação junto aos ministérios.
A perda de um forte patrocinador político debilitou a capacidade de liderança do programa sobre o
conjunto de órgãos e entidades da administração federal. De forma concomitante, a atuação do
CEGE refluiu enquanto os comitês técnicos, expandidos e fortalecidos, têm exercido com maior
autonomia a coordenação dos projetos. A interrupção da realização periódica de reuniões desse
conselho, de forma mais evidente a partir de 2003, é demonstração preocupante de certo
desalinhamento estratégico da política de governo eletrônico, em relação às prioridades do
governo como um todo.
Apesar de relevantes realizações nos projetos de infra-estrutura e de integração de sistemas, não há
avanços no aprofundamento da colaboração entre os órgãos e, de forma mais evidente, no
desenvolvimento dos serviços ao cidadão. Esses avanços dependem de forma crucial da
capacidade de mobilização exercida por intermédio do CEGE e dos dirigentes e redes de
relacionamento que nele convergem. Nesse sentido, a implementação do programa tem trilhado
um caminho de maior descentralização ao custo de dispersão e acomodação a arranjos de tipo
incrementalista.
...dois itens emergentes na agenda do governo eletrônico [...] ganharam presença autônoma e certa
centralidade na agenda governamental: a inclusão digital e o software livre. As agendas
emergentes atropelaram o esforço de formulação estratégica e de compatibilização entre espaços
de atuação, papéis e planejamento de ações no âmbito do governo eletrônico, acarretando
dispersão de recursos e capacidades, especialmente de mobilização e coordenação transversal
sobre o conjunto da administração federal. Esse efeito de diluição se deu ao mesmo tempo em que
a atuação da CEGE refluía e o programa governo eletrônico perdia visibilidade política. A ênfase
conferida a esses temas na agenda reflete diferentes visões que, não são antagônicas, divergem em
relação a opções estratégicas, estilos e arranjos para a implementação dos projetos. Assim, a
perspectiva de construção de uma agenda específica para a inclusão digital ganhou corpo,
resultando na criação de um programa específico para a área, coordenado a partir do MP, o qual
disputa espaços de atuação com outros projetos, na área de inclusão digital.
O tema software livre emergiu com força e foi incorporado às diretrizes do governo eletrônico,
para implementação progressiva, iniciando-se pelos projetos novos e pela modernização dos
sistemas corporativos da administração federal. Entretanto, a implementação de ações nesse
sentido foi pressionada todo o tempo por uma visão alternativa que preconizava o planejamento e a
indução mais forte junto aos órgãos e entidades, da fixação de metas de transição para a
disseminação generalizada do software livre. Essa estratégia alternativa, explicitada no ativismo do
ITI entre 2003 e 2005, não foi bem sucedida em viabilizar o apoio político e os recursos
necessários à sua implementação. A substituição do dirigente máximo da autarquia e a perda de
apoio no âmbito da Presidência da República marcam uma inflexão desde 2006 que indica a
conformação de uma estratégia de implementação mais incremental e direcionada aos sistemas
corporativos.
Além das circunstâncias relacionadas com estratégia, lideranças e construção de agendas, a
organização do governo eletrônico convive com estruturas organizacionais nas áreas de
informática que necessitam de atualização. Essas estruturas são significativo obstáculo à
operacionalização dos projetos e ao alinhamento das áreas de tecnologia da informação com a
visão estratégica do governo eletrônico. De forma geral, não existem instâncias capazes de
coordenar projetos de maior complexidade, no âmbito de cada ministério. As unidades
administrativas responsáveis pela gestão de informação e informática permanecem subordinadas a
estruturas organizacionais que não estão alinhadas às características inovadoras pretendidas pelo
governo eletrônico. A realização de projetos de alcance interministerial, voltados para a gestão
interna, encontra dificuldades de mobilização e de coordenação junto aos ministérios.