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financeiras; em seguida, mémoire vai designar um dossiê administrativo; já no século
XV aparece o vocábulo mémorable exatamente no momento em que as artes estavam
em ascensão, e, em 1777, aparece memorandun no inglês emprestado do latim.
Assim o termo ganha espaço nos dicionários e enciclopédias.
Essa palavra que surge para definir a área das ciências exatas, por se tratar de
cunho biológico, será utilizada, também, para lembrar os mortos. Le Goff (1996: 462)
expõe que, na Revolução Francesa, houve uma busca para o não esquecimento
daqueles que morreram, a saber, os heróis de guerra que lutaram em defesa do país,
e, assim, esse contexto é apresentado como sendo “A grande época dos cemitérios
[...], com novos tipos de monumentos, inscrições funerárias e rito da visita ao
cemitério.” (Le Goff, 1996: 462)
As comemorações, destarte, foram criadas a partir das memórias que foram
utilizadas pelos românticos. Um dos traços do romantismo era, principalmente, o
nacionalismo exacerbado residente na exaltação dos valores nacionais ambientados
no passado, nesse sentido, o recurso para tais valores foi a memória. Além disso, o
calendário das comemorações foi expandido a muitos países e ganhou status de
memória coletiva: “Em todas as sociedades, os indivíduos detêm uma grande
quantidade de informações no seu patrimônio genético, na sua memória em longo
prazo e, temporariamente, na memória ativa” (Goody,1977, apud Le Goff, 1996: 425).
Na memória coletiva, então, está impresso os conflitos entre a classe
dominante e a luta do povo contra os que detêm o poder. Por esse lado, os que lutam
são silenciados em virtude de ameaçar a ordem social, a classe dominante utiliza
ideologicamente o mecanismo da memória coletiva para se manter no poder, porque a
memória coletiva é o que foi vivido no seio de um grupo, acentuando o que fizera no
passado e o que ficou reconhecido por todo o grupo social; a partir da consciência do
que foi vivido o grupo propõe mudança.
Com efeito, a memória coletiva é um recurso em expansão nas sociedades
modernas que permitem delinear o conhecimento. Porém, ao apagar a memória
individual, a pessoa tende a um estado de conflito constante pautado na angústia
existencial por se desconhecer particularmente e existir somente a partir de um grupo
determinado, porque sua memória individual é descartada e consequentemente
esquecida. A memória coletiva, sem dúvida, é um recurso de poder e, às vezes, é
manipulada historicamente. Le Goff (1996: 477) considera a história como sendo uma
ferramenta que ao recuperar o passado tem como objetivo servir e modificar o