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Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Tecnologia e Ciências
Faculdade de Engenharia
Denison Flôres dos Santos
A LUTA PELA ÁGUA A COMPLEXIDADE SÓCIO-AMBIENTAL:
ASPECTOS URBANOS DO RIO DE JANEIRO
Rio de Janeiro
2009
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ii
Denison Flôres dos Santos
A LUTA PELA ÁGUA A COMPLEXIDADE SÓCIO-AMBIENTAL:
ASPECTOS URBANOS DO RIO DE JANEIRO
Dissertação apresentada, como requisito par-
cial para obtenção do título de Mestre, ao
Programa de Pós-graduação em Engenharia
Ambiental da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro. Área de Concentração: Controle
da Poluição Urbana e Industrial.
Orientadora: Thereza Christina de Almeida Rosso
Rio de Janeiro
2009
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iii
Gricel Aucira Portillo Miranda
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dis-
sertação.
____________________________ ___________________
Assinatura Data
SANTOS, DENISON FLÔRES DOS
A luta pela água a complexidade sócio-ambiental: aspectos ur-
banos do Rio de Janeiro. [Rio de Janeiro] 2009.
xxii, 213p. 29,7 cm (FEN/UERJ, M.Sc., Programa de Pós-
graduação em Engenharia Ambiental - Área de Concentração: Con-
trole da Poluição Urbana e Industrial, 2009.)
Dissertação - Univer-
sidade do Estado do Rio
de Janeiro - UERJ
1. Recursos hídricos;
2. Urbanização;
3. Desenvolvimento Sustentável;
4. Favela;
5. Complexo da Maré;
I. FEN/UERJ II. Título (série)
iv
Denison Flôres dos Santos
A LUTA PELA ÁGUA A COMPLEXIDADE SÓCIO-AMBIENTAL:
ASPECTOS URBANOS DO RIO DE JANEIRO
Dissertação apresentada, como requisito par-
cial para obtenção do título de Mestre, ao
Programa de Pós-graduação em Engenharia
Ambiental da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro. Área de Concentração: Controle
da Poluição Urbana e Industrial.
Aprovado em: ______________________
Banca Examinadora:
___________________________________________________
Prof
a
. Thereza Christina de Almeida Rosso, D.Sc. - Presidente
PEAMB/UERJ
___________________________________________________
Profº. Eduardo Monteiro Martins, D.Sc.
PEAMB/UERJ
___________________________________________________
Profº. Paulo Cesar Colonna Rosman, Ph.D.
COPPE-PEnO/UFRJ
___________________________________________________
Profª. Debora Cynamon Kligerman, D.Sc.
ENSP/FIOCRUZ
Rio de Janeiro
2009
v
DEDICATÓRIA
A Deus, por me proporcionar uma infra-
estrutura bela, verdadeira, confidente, amiga,
humilde, honesta, eficaz e amorosa neste
mundo: minha família.
vi
AGRADECIMENTOS
Uma jornada tão extensa, profunda e densa quanto esta não poderia ser concluída
sem a ajuda direta e/ou indireta de algumas pessoas. Nos contatos formais e informais, nas
atividades acadêmicas e extra-acadêmicas, nas discussões científicas e as trocas de idéias,
cada eixo das relações humanas, cada um envolvido, não se pode deixar de prestar a devi-
da homenagem e agradecimento.
Acima de tudo e todos, agradeço a Deus, por Sua perfeição, por me fazer enxergar e
contemplar as coisas boas da vida, mesmo quando vivenciando dificuldades e aflições. Nes-
te contexto, agradeço ao maior presente que Ele me deu: minha esposa. Renata dos San-
tos, não tenho palavras para expressar meu amor e admiração por você, de estar sempre
ao meu lado, por em momento algum ter contestado minha falta de atenção para contigo,
pelas poucas e divertidas horas assistindo filmes, jogando videogame, passeando, pelos
abraços carinhosos quando muitas vezes eu estava sentado ao computador, com inúmeros
livros e artigos à minha frente, com a mente em elevado grau de estresse, e através deste
gesto você conseguia me acalentar e livrar meus pensamentos das conturbações intelectu-
ais. Você é um exemplo de vida para mim e para muitas pessoas, obrigado por sempre es-
tar ao meu lado, mesmo em tempos difíceis, sempre me apoiou, esperançosa ao meu lado,
sempre dedicada em cuidar de mim; eu não teria concluído este trabalho sem sua ajuda e
sua companhia. Não existem tulos que possam lhe qualificar; você é o meu orgulho. Es-
plêndido é te amar e viver ao teu lado.
Aos meus pais: Sandra Flôres e Valdir dos Santos. Neste momento, comovo-me
em prestar esta singela homenagem a vocês; exemplos de pais, de seres humanos, de pes-
soas de caráter, honestidade e humildade. Vocês foram e sempre serão meus exemplos
neste mundo. Obrigado por vocês me fornecerem total apoio e suporte, neste momento e
período tão difícil, estar concluindo este curso, sob a condição de desemprego, contudo vo-
cês me dando amor, carinho, assistência e incentivo para que eu pudesse me manter e de-
dicar tempo inteiramente a este estudo. Suas qualidades me remetem à infância, quando
mesmo após fase adulta, o prazer em chamar e, em certos momentos, clamar pelo ―papai‖ e
―mamãe‖. É um presente divino, um privilégio e uma alegria colossal que carrego em meu
peito. O meu amor, orgulho e admiração por vocês são eternos. Ratifico que, do mesmo
modo, não existem títulos suficientes para qualificá-los; vocês estão acima de quaisquer
rótulos. Amo-os incondicionalmente.
Ao meu irmão: Marcel Flôres dos Santos. Obrigado por sempre me apoiar, preocu-
par-se comigo, tentando me ajudar de alguma forma. Orgulho-me de ti; continue crescendo,
sendo homem exemplar. Sua caminhada está sendo trilhada, com dificuldades, mas lembre-
se que assim é a vida, que nossos frutos serão colhidos à frente; persista e nunca desista.
vii
Sempre estarei apto a lhe ajudar e agradeço à recíproca, pois me certifico da veracidade da
mesma.
Ao milagre divino sobre a vida da minha tia Renata Flôres, a qual, segundo os mé-
dicos, foi dada como ―caso perdido‖, ―não há mais o que fazer‖, palavras que feriram tanto o
meu coração quanto os de meus familiares. Uma espera de 3 meses, -la sair de um co-
ma, de uma infecção generalizada, de uma falência múltipla de órgãos, de um ser humano
que foi resgatado novamente à vida. Hoje, vivendo sem alguma seqüela, aproximadamente
1 ano de recuperação, 2 após o ocorrido, uma pessoa inteira e completamente vívida; esta
experiência, apesar de tortuosa, elevou meus pensamentos e derribou alguns questiona-
mentos.
Aos meus tios Altemar Flôres e Carlos Alberto dos Santos, por serem tão cari-
nhosos e dedicados a mim, sempre preocupados e buscando oportunidades de emprego
que fossem aptas à minha carreira. Muito obrigado por este amor e suporte, jamais me es-
quecerei destas atitudes. Ambos sempre serão exemplos de transformação humana para
mim, tomados como modelos.
Aos meus tios Joel Pacheco e Moacir Flôres, por sempre estarem dispostos a vir
em minha residência para consertos estruturais e arquitetônicos, compartilhando boas con-
versas e risadas, concomitantemente.
Ao meu primo Pedro Henrik Flôres, pela amizade, companheirismo, pelos finais de
semana compartilhados comigo e minha esposa, pelos momentos descontraídos, ajudando-
me a recompor o humor e paciência.
Ao meu primo Robson Medeiros, o qual me agraciou de flexibilidade horária em mi-
nhas atribuições profissionais enquanto as mesmas existiram e foram compartilhadas con-
juntamente , permitindo e incentivando meu progresso acadêmico. Obrigado pelo investi-
mento e por acreditar em meu potencial.
A toda minha família, que me ajudou e deu total apoio para este projeto, que foi pilar
de sustentação durante toda minha existência, conduzindo-me pelo reto caminho, orientan-
do meus passos, sendo reflexo de boas qualidades que possam ser encontradas na huma-
nidade. Obrigado por suas vidas, pelas orações, pelo amor e carinho, pelas festas e mo-
mentos divertidos que compartilhamos juntos. Vocês são dádivas em minha vida, minha
infra-estrutura, um privilégio que um homem pode possuir.
À minha orientadora, Dra. Thereza Christina de Almeida Rosso, que desde o prin-
cípio, mesmo antes da aprovação no curso, confiou em mim, acreditou em meu potencial, e
se dispôs a orientar e direcionar minhas idéias neste trabalho. Obrigado por sua colabora-
ção e contribuições, tão quanto à bela amizade construída; um exemplo intelectual, acadê-
mico e profissional para mim.
viii
Ao corpo docente do Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental (PE-
AMB), Mestrado Profissionalizante em Engenharia Ambiental: Dr. Júlio Fortes, exemplar
docente, além de me ajudar a lidar com os contratempos da vida e aperfeiçoar minhas atri-
buições acadêmicas; Dr. Olavo Barbosa, pelas horas dedicadas após as aulas, comprome-
tido em subsidiar e elucidar meus pensamentos quanto a qmica da natureza; Dr. Gandhi
Giordano, pelo exemplo profissional, por suas valiosíssimas explicações quanto ao controle
de poluição e seus respectivos tratamentos; Dra. Luciene Pimentel, pelas aulas de hidrolo-
gia, sua aplicabilidade, pelo denso conteúdo e conhecimento pluralizado; Dr. Eduardo Mar-
tins, por seu conhecimento oferecido e compartilhado nas aulas de poluição industrial, seu
auxílio na elaboração de trabalhos acadêmicos. Obrigado a todos vocês, professores que
um dia participaram desta minha jornada acadêmica.
Ao corpo funcional do PEAMB: Jaciara Monteiro, Antônio Wilson de Souza, Eliza-
beth Costa (“Betinha”) e Iranete Amaral Fávila (in memorian). Pessoas fundamentais
para manutenção e comprometimento de qualidade e organização do mesmo. Obrigado
pela amizade e momentos partilhados juntos.
Aos amigos de curso, que muito ajudaram a elaboração deste trabalho: Carlos Edu-
ardo de Lima Passos, um profissional de elevada capacidade e um grandioso amigo que a
vida colocou em meu caminho, obrigado pelo suporte bibliográfico, intelectual e tecnológico
que você me proporcionou, além das conversas e incentivos quanto às dificuldades cotidia-
nas; Eduardo Dantas, pelo amparo nas questões de cobrança e outorga, pelas conversas e
explicações técnicas, por toda ajuda; Rodrigo de Matos, por ser tão amigo e prestativo,
pelo constante auxílio durante o curso, pelas aclarações quanto ao Excel, pelas boas con-
versas; Mônica Arruda, pelas valiosíssimas explicações nas questões químicas e matemá-
ticas durante o curso, por ser tão amiga e prestativa; Alice Freitas, pelos auxílios acadêmi-
cos, pelos trabalhos realizados em conjunto, pela amizade e apoio; Flávia Yuri, por ter sido
exemplo de vontade e dedicação, concluindo seu curso com uma gravidez durante o mes-
mo, ajudando-me a engrandecer minhas referências bibliográficas, um ser humano exem-
plar; Raul Gonçalves, pelas conversas informais ao longo do curso, livrando minha mente,
ainda que momentaneamente, das preocupações profissionais e acadêmicas; Lídia Aguiar,
exemplo de força e determinação, sofrendo grave acidente automobilístico, enquanto ainda
em curso, conseguindo recuperar-se e concluir o mesmo. Aos meus amigos de curso, dedi-
co esta breve homenagem.
O meu muito obrigado à amiga Márcia Chaves, responsável pelo cadastro de usuá-
rios no INEA, gerência de instrumentos de gestão de recursos hídricos, a qual foi peça fun-
damental para conclusão deste trabalho, oferecendo-me toda a ajuda possível, contribuindo
grandiosamente para os dados elencados nos capítulos pertinentes, pela constante gentile-
ix
za em atender minhas ligações e dúvidas, sendo exemplar em sua função. À Lígia Araújo,
serviço de hidrologia e hidráulica do INEA, pelo fornecimento dos arquivos quanto as Regi-
ões Hidrográficas do Rio de Janeiro. À Andrea Franco, geoprocessamento do INEA, por
fornecer os mapas das Macrorregiões Ambientais do Rio de Janeiro. À Mônica Falcão, dire-
toria de licenciamento ambiental do INEA, pelo fornecimento de dados referentes à outorga.
Ao Charles, presidente da Associação de Moradores da Baixa do Sapateiro, Com-
plexo da Maré, pelo apoio e por ser mediador nas pesquisas de campo, garantindo a aferi-
ção de dados e fotografias, sendo de grande assistência para o presente trabalho. Ao João
Batista Henrique, integrante do CEASM, por me fornecer imagens históricas que contribuí-
ram significativamente com a elaboração deste estudo.
Ao Robson Martins Teixeira, companheiro de trabalho de meu pai, o qual me aju-
dou na busca por informações estaduais através de veículos virtuais. Agradeço-te pelos es-
forços dedicados para comigo.
Aos amigos de banda: Deivid, Marcílio e Marcell; obrigado por todo o apoio moral,
pelas preocupações quanto à minha evolução dissertativa, pela compreensão de minha au-
sência, pelos esporádicos belos ensaios e shows, os quais me faziam esquecer toda e qual-
quer preocupação. O Frontal se tornou em algo muito além de uma banda, é parte de mi-
nha família, minha vida, compromisso e hombridade, libertação de mentes dominadas pelo
pensamento hegemônico. Por conseguinte, exponho meus sinceros agradecimentos à Ra-
quel e Charlene, esposas do Deivid e Marcílio, respectivamente, por cuidarem e serem va-
lorosas companheiras aos meus amigos/irmãos, por serem excelentes amigas em minha
vida. Inserido neste contexto, agradeço a todos os amigos e amigas conquistados nestes
anos de banda, pessoas de valiosa amizade que têm nos apoiado, direta e indiretamente.
Enquanto para muitos esta ―cena‖ é fútil, turbulenta e insana, para nós é uma forma de ex-
pressão, buscando expor o amor ao próximo e a integridade humana por meio da mesma,
almejando uma sociedade mais justa e igualitária.
As amigas Rany e Nina, por sempre me apoiarem e me ajudarem, e por não me dei-
xarem ser sedentário e persistir nas atividades físicas junto com minha esposa.
Ao amigo Vivas Araújo, por todo o apoio moral, pela preocupação dispensada a
mim, por toda ajuda, pela belíssima, concreta e íntegra amizade, exemplo de vida, por toda
diversão game maníaca dividida comigo.
Ao amigo, primo e vizinho Anderson Wiltshire, pela importante ajuda nos arquivos e
dados geoprocessáveis; sua esposa, Suelen, por juntos compartilharem saudáveis horas
para comigo e minha esposa na sala de musculação enquanto o tempo permitiu e assim
foi possível.
x
O que nós chamamos de poder do homem
sobre a natureza, na verdade, é o poder de
alguns homens sobre outros homens, utili-
zando a natureza como seu instrumento.
Clive S. Lewis, The abolition of man, 1947.
xi
RESUMO
Santos, Denison Flôres dos. A luta pela água a complexidade sócio-ambiental: aspectos
urbanos do Rio de Janeiro. 213p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental) Fa-
culdade de Engenharia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.
A luta pela água é fato no Brasil e Rio de Janeiro. Os desdobramentos, discorridos
desta, formam um conjunto de condicionantes as quais dão gênese ao cenário contemporâ-
neo quanto aos recursos hídricos. A relação homem x natureza é, de longa data, conturba-
da; a exploração desenfreada dos recursos naturais, a vel nacional e estadual, provocou
um cenário crítico e conflituoso, não havendo disponibilidade suficiente de água para sua
respectiva demanda, em certos locais. Não somente, a partir de análise ampla, amparadas
pela filosofia do holismo, os recursos hídricos passam a influenciar os comportamentos so-
ciais, permeando todos os setores da sociedade; a falta de saneamento atinge diretamente
o setor da saúde, assim como afeta os recursos econômicos, além da indisponibilidade,
conduzindo a população a se alocar próxima aos mananciais e, conseqüentemente, explorá-
los e degradá-los.
Este palco contextual, quando analisado a partir do maior conjunto de favelas do Rio
de Janeiro o Complexo da Maré , sob um foco teórico-reflexivo, remete a uma concepção
dialética, crítica, inovadora e holística. A ampla progressão da base legal destacando-se a
Política Nacional e Estadual de Recursos Hídricos , os profundos debates sobre sustenta-
bilidade principais frutos: Agenda 21 e os Objetivos do Milênio , a elaboração e reavalia-
ção de Planos Diretores, estratégias de atuação (ou não) do Poder Público sobre o ecossis-
tema urbano, análise de estudos científicos, observação do comportamento e cultura da
população moradora do Complexo da Maré, são aspectos a serem revalidados e colocados
num viés amplo e integrado, não havendo espaço para se estudar o meio ambiente de for-
ma isolada, tão quanto à esfera social que o rodeia.
A complexidade sócio-ambiental encontrada no cenário do Complexo da Maré é fruto
do contraditório processo de formação da cidade, da atuação do Estado, da própria atuação
do ser humano, sendo possível observar tal hipocrisia sem auto-crítica e reflexão por parte
do mesmo. A superação desta condição estrutural e científica demanda por profundas trans-
formações paradigmáticas e conceituais, enfocando e priorizando a sobrevivência e perpe-
tuação da espécie humana.
Palavras-Chave: Recursos Hídricos, Urbanização, Desenvolvimento Sustentável, Favela,
Complexo da Maré.
xii
ABSTRACT
The struggle for the water in Brazil and Rio de Janeiro is a fact. The unfoldings, dis-
coursed of this, form conditional factors which give genesis to the contemporary scenery as
for the water resources. The man x nature relationship is disturbed from long time; the wild
exploration of the natural resources, as national as state level, provoked a critical and con-
flicting scenery, that one with no enough availability of water for its respective demand in
some cases. Not only, starting from wide analysis, supported by the holistic philosophy, the
water resources began to influence the social behaviors, permeating all of the society sec-
tors; the lack of sanitation reaches the health section directly, as well as it affects the eco-
nomical resources, besides the water unavailability, driving the population to allocate itself
close to the founts and, consequently, to explore and degrade them.
This contextual stage, when analyzed from the biggest slums aggregation the
Complexo da Maré , under a theoretical-reflexive focus, it delivers to a dialectical concep-
tion, criticism, innovator and holistic. The wide progression of the legal base standing out
the National e State Water Resources Policy, the deep discussion about sustainability main
results: Agenda 21 and the Millennium Development Goals , the elaboration and revaluation
of Master Plans, strategies about performance (or not) by the Government over the urban
ecosystem, analysis of científic papers, observation of the Complexo da Maré residents be-
havior and civilization, it compounds aspects which need to be revalidated and put in a wide
and integrated viés, rejecting the environmental study in an isolated way, so as for the social
sphere that surrounds it.
The social and environmental complexity found in the Complexo da Maré scenery, is
resultant from the contradictory process of the city building, the State performance, the hu-
man being's own behaviour, the last one possible to observe such hypocrisy without self-
criticism and meditation by themselves, in some cases. The overcoming on this structural
and cientific condition demands for deep paradigm and conceptual transformations, focusing
and prioritizing survival and perpetuation of the human race.
Key-words: Water Resources; Urbanization, Sustainable Development, Slums, Complexo
da Maré.
xiii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Modelos de desenvolvimento. ................................................................................................................ 24
Figura 2. Expansionismo português. ...................................................................................................................... 27
Figura 3. O expansionismo português. .................................................................................................................. 28
Figura 4. Divisão do território brasileiro em capitanias hereditárias. ...................................................................... 31
Figura 5. a) ilustração esquemática de um monjolo; b) imagem real de um monjolo. ........................................... 33
Figura 6. Roda d’água. .......................................................................................................................................... 34
Figura 7. a) as ―bonecas‖; b) a fonte de inspiração das ―bonecas‖: a moringa. ..................................................... 34
Figura 8. Distribuição espacial das vazões específicas do Brasil. ......................................................................... 38
Figura 9. Atendimento total de água por bacias hidrográficas. .............................................................................. 41
Figura 10. Distribuição de consumo médio per capita de água por bacia hidrográfica. ......................................... 48
Figura 11. Atendimento total de esgoto. ................................................................................................................ 49
Figura 12. Interfaces do saneamento com a gestão de recursos hídricos e com a saúde pública. ....................... 53
Figura 13. Aguadeiro. ............................................................................................................................................ 56
Figura 14. Arcos da Carioca a) Período colonial; b) Cenário atual. .................................................................... 57
Figura 15. Captação de águas do Sistema Guandu. ............................................................................................. 61
Figura 16. As estações de tratamento do Sistema Guandu. .................................................................................. 62
Figura 17. População Total residente no Estado do Rio de Janeiro. ..................................................................... 65
Figura 18. Índice de atendimento total de água no estado do Rio de Janeiro. ...................................................... 66
Figura 19. Diversidades térmicas e deficiência hídrica no estado do Rio de Janeiro. ........................................... 67
Figura 20. Esquema Geral do Sistema Guandu 1965-1974. ................................................................................. 69
Figura 21. Esquema Geral do Guandu atual ...................................................................................................... 70
Figura 22. O ―tigre‖. ................................................................................................................................................ 74
Figura 23. Rede geral de esgoto da RMRJ - 2000. ................................................................................................ 78
Figura 24. Vista da Estação de Tratamento de Esgotos Alegria. ........................................................................... 83
Figura 25. Índice de Atendimento Total de Esgoto no estado do Rio de Janeiro. ................................................. 84
Figura 26. Relação do conceito de saneamento ambiental com a sociedade. ...................................................... 90
Figura 27. Dinâmica nacional na aprovação das leis das águas. .......................................................................... 93
Figura 28. Organograma da PNRH. ....................................................................................................................... 94
Figura 29. Estrutura geral do SINGREH. ............................................................................................................... 96
Figura 30. Cobertura nacional de Outorga de Recursos Hídricos.......................................................................... 99
Figura 31. Regiões Hidrográficas do Brasil. ......................................................................................................... 102
Figura 32. Região Hidrográfica Amazônica. ........................................................................................................ 103
Figura 33. Região Hidrográfica do Tocantins/Araguaia. ...................................................................................... 104
Figura 34. Região Hidrográfica Atlântico Nordeste Ocidental. ............................................................................. 106
Figura 35. Região Hidrográfica do Parnaíba. ....................................................................................................... 107
Figura 36. RH Atlântico Nordeste Oriental. .......................................................................................................... 108
Figura 37. Região Hidrográfica do São Francisco. .............................................................................................. 110
Figura 38. Região Hidrográfica do Atlântico Leste. .............................................................................................. 111
Figura 39. Região Hidrográfica Atlântico Sudeste. .............................................................................................. 112
Figura 40. Região Hidrográfica do Atlântico Sul. ................................................................................................. 114
Figura 41. Região Hidrográfica do Uruguai. ......................................................................................................... 115
Figura 42. Região Hidrográfica do Paraná. .......................................................................................................... 117
xiv
Figura 43. Região Hidrográfica do Paraguai. ....................................................................................................... 118
Figura 44. Organograma da PERH-RJ. ............................................................................................................... 120
Figura 45. Divisão hidrográfica do Rio de Janeiro. .............................................................................................. 123
Figura 46. Mapa das MRAs do Estado do Rio de Janeiro. .................................................................................. 124
Figura 47. Múltiplos usos da água. ...................................................................................................................... 142
Figura 48. Pontos de interferência outorgados no Estado do Rio de Janeiro. ..................................................... 144
Figura 49. Processos e impactos no sistema hidrológico provocados pela urbanização. .................................... 154
Figura 50. Identificação das regiões críticas afetadas por alagamentos (2003-2007). ........................................ 156
Figura 51. Área destacada ao Complexo da Maré com cotas de até 1,50m. ...................................................... 156
Figura 52. Iconografia ―um barracão a menos‖, de Calixto, 1903. ....................................................................... 159
Figura 53. Distribuição de favelas na cidade do Rio de Janeiro. ......................................................................... 163
Figura 54. O Complexo da Maré no Brasil e no Estado do Rio de Janeiro. ......................................................... 166
Figura 55. Mapa do Complexo da Maré. .............................................................................................................. 167
Figura 56. a) Caminhos entre as palafitas; b) Condições estruturais das palafitas.............................................. 168
Figura 57. Evolução da construção de casas no Complexo da Maré a) Prainha (1972); b) Prainha (2002). .... 170
Figura 58. Imagens comparativas do Complexo da Maré a. década de 1960; b. década de 1990................... 172
Figura 59. Processo evolutivo da ocupação da Maré. ......................................................................................... 173
Figura 60. Evolução arquitetônica da Maré. ........................................................................................................ 176
Figura 61. A espiral da mobilização. .................................................................................................................... 180
Figura 62. Compilação de imagens sobre disposição de lixo na Maré: a) Canal em Rubens Vaz assoreado por
lixos; b) Remoção de lixo em Pinheiro; c) e d) Remoção de lixo em um córrego que perpassa o Morro do Timbau
e Pinheiro. ............................................................................................................................................................ 186
xv
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Linhas estratégicas segundo diferentes dimensões de sustentabilidade Agenda 21 Brasileira. .......... 13
Tabela 2. Resultados obtidos no Voices of the people. ......................................................................................... 15
Tabela 3. Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e respectivas metas. ............................................................ 17
Tabela 4. Descontos concedidos pelo Brasil (US$ milhões). ................................................................................. 22
Tabela 5 Cronologia histórica: da ―descoberta‖ a centralização do Governo. ........................................................ 32
Tabela 6. Disponibilidade hídrica, vazões médias e de estiagem. ......................................................................... 38
Tabela 7. Distribuição brasileira de prestadores de serviços de água e esgoto segundo sua área de abrangência
1999. ................................................................................................................................................................... 46
Tabela 8. Cronologia geral da legislação de interesse ao setor de saneamento. .................................................. 51
Tabela 9. Investimentos em Sistemas de Água e Esgotos por Região Geográfica. .............................................. 52
Tabela 10. Situação dos estados brasileiros quanto a pior condição de disponibilidade de recursos hídricos por
habitante. ............................................................................................................................................................... 66
Tabela 11. Principais sistemas de abastecimento de água do estado do Rio de Janeiro. ..................................... 68
Tabela 12. Crescimento da população do Rio de Janeiro: 1585-1950. ................................................................. 73
Tabela 13. Dados percentuais de saneamento básico para o Sudeste e Brasil (comparativo entre urbano e rural)
1992-2007. .......................................................................................................................................................... 88
Tabela 14. Investimentos pelo PDBG. ................................................................................................................... 89
Tabela 15. Instâncias do SINGREH e respectivas competências básicas. ........................................................... 97
Tabela 16. Classes de uso CONAMA nº 357/2005. .......................................................................................... 100
Tabela 17. Instâncias do SEGRHI e suas respectivas competências. ................................................................. 122
Tabela 18. Dados hidrográficos da MRA-1. ......................................................................................................... 125
Tabela 19. Demanda hídrica na MRA-2. .............................................................................................................. 126
Tabela 20. Dados hidrográficos da MRA-2. ......................................................................................................... 127
Tabela 21. Dados hidrográficos da MRA-3. ......................................................................................................... 128
Tabela 22. Dados hidrográficos da MRA-4. ......................................................................................................... 129
Tabela 23. Dados hidrográficos da MRA-5. ......................................................................................................... 131
Tabela 24. Demanda hídrica na MRA-6 Rio de Janeiro. ................................................................................... 132
Tabela 25. Dados hidrográficos da MRA-6. ......................................................................................................... 132
Tabela 26. Dados hidrográficos da MRA-7. ......................................................................................................... 134
Tabela 27. Adimplentes x Inadimplentes (por número de usuários) Maio/2009................................................ 136
Tabela 28 Adimplentes x Inadimplentes (por volume de água captada) Maio/2009. ........................................ 138
Tabela 29. Evolução da base legal do Rio de Janeiro. ........................................................................................ 145
Tabela 30. Plano de trabalho no Estado do Rio de Janeiro 2007-2018. ........................................................... 147
Tabela 31. Episódios pluviais causadores de impactos sócio-ambientais na cidade do Rio de Janeiro. ............. 157
Tabela 32. Distribuição da população e de domicílios no Complexo da Maré 2000. ........................................ 173
Tabela 33. Forma de ocupação das ―comunidades‖ da Maré. ............................................................................. 174
Tabela 34. Diretrizes e ações do Plano Diretor para favelas. .............................................................................. 175
xvi
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1. Percentual de pessoas com renda inferior a R$75,50 no Estado do Rio de Janeiro - 1991-2000 (em %).
............................................................................................................................................................................... 18
Gráfico 2. Desnutrição protéico-calórica em crianças com menos de 1 ano e entre 1 e 2 anos de idade no Brasil
1999-2006 (em %). ................................................................................................................................................ 19
Gráfico 3. Proporção de alunos que iniciam a 1ª série do Ensino Fundamental e atingem a 1ª série do Ensino
Médio no Estado do Rio de Janeiro (em %). ......................................................................................................... 19
Gráfico 4. Razão entre homens e mulheres concluintes do ensino fundamental, médio e superior no estado do
Rio de Janeiro - 1999-2002 (*se a razão for > 1, a desigualdade é a favor dos homens, e inversamente às
mulheres). .............................................................................................................................................................. 20
Gráfico 5. Taxa de mortalidade infantil no estado do Rio de Janeiro 1994-2004. ............................................... 20
Gráfico 6. Taxa de mortalidade materna no estado do Rio de Janeiro 1994-2004 (valores elevados podem estar
refletindo os esforços realizados pelo Estado em melhorar a qualidade de informação). ..................................... 21
Gráfico 7. Casos confirmados de AIDS, malária e tuberculose no estado do Rio de Janeiro 1994-2005 ........... 21
Gráfico 8. Percentual de moradores em domicílios particulares permanentes com abastecimento de água, no
Brasil 1992-2005. ................................................................................................................................................ 22
Gráfico 9. Distribuição das atividades de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo entre as regiões brasileiras. ... 23
Gráfico 10. Projeção populacional para 2050. ....................................................................................................... 37
Gráfico 11. Situação brasileira quanto sua demanda e disponibilidade hídrica. .................................................... 39
Gráfico 12. Situação brasileira quanto a sua demanda x disponibilidade a partir de suas Regiões Hidrográficas. 40
Gráfico 13. Demanda consuntiva no Brasil por finalidade de uso. ......................................................................... 40
Gráfico 14. Investimentos em saneamento básico com recursos do PLANASA/PRONURB e do OGU 1980-
1993. ...................................................................................................................................................................... 45
Gráfico 15. Distribuição percentual do Índice de Qualidade das Águas no Brasil. ................................................ 47
Gráfico 16. Percentual de pessoas em domicílios particulares permanentes urbanos com esgotamento por rede
coletora ou fossa séptica, segundo regiões geográficas 1992-2007. ................................................................. 50
Gráfico 17. Evolução nos indicadores de acesso a serviços básicos no Rio de Janeiro 1991-2000. ................. 79
Gráfico 18. Abastecimento de água e esgoto no estado do Rio de Janeiro pela CEDAE (habitantes atendidos)
1995-2007. ............................................................................................................................................................. 82
Gráfico 19. Evolução da proporção de domicílios sem acesso a banheiro ou sanitário, e certos serviços básicos
no município do Rio de Janeiro 2001-2006. ....................................................................................................... 85
Gráfico 20 Proporção de domicílios sem acesso a banheiro ou sanitário, e certos serviços básicos na RMRJ, no
estado do Rio de Janeiro urbano e no Brasil urbano 2006. ................................................................................ 86
Gráfico 21. Demanda total de água na Região Hidrográfica Amazônica. ............................................................ 104
Gráfico 22 Demanda total de água na Região Hidrográfica Tocantins/Araguaia. ................................................ 105
Gráfico 23. Demanda total de água na Região Hidrográfica Atlântico Nordeste Ocidental. ................................ 106
Gráfico 24. Demanda total de água na Região Hidrográfica do Parnaíba. .......................................................... 108
Gráfico 25. Demanda total de água na Região Hidrográfica do Atlântico Nordeste Oriental. .............................. 109
Gráfico 26. Demanda total de água na Região Hidrográfica do São Francisco. .................................................. 110
Gráfico 27. Demanda total de água da Região Hidrográfica Atlântico Leste. ...................................................... 112
Gráfico 28. Demanda total de água na Região Hidrográfica Atlântico Sudeste. .................................................. 113
Gráfico 29. Demanda hídrica total da Região Hidrográfica do Atlântico Sul. ....................................................... 115
Gráfico 30. Demanda total de água na Região Hidrográfica do Uruguai. ............................................................ 116
xvii
Gráfico 31. Demanda total de água na Região Hidrográfica do Paraná. ............................................................. 117
Gráfico 32. Demanda total de água na Região Hidrográfica do Paraguai. .......................................................... 119
Gráfico 33. Cobrança por tipo de captação. ........................................................................................................ 139
Gráfico 34. Cobrança por tipo de lançamento. .................................................................................................... 139
Gráfico 35. Pontos de Interferência Outorgados no Rio de Janeiro 2008. ........................................................ 142
Gráfico 36. Análises do setor de outorga do Rio de Janeiro 2008. .................................................................... 143
Gráfico 37. Função urbana de escoamento superficial e sua freqüência anual. .................................................. 152
Gráfico 38. Índice de analfabetismo no Complexo da Maré. ............................................................................... 183
xviii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANA
Agência Nacional de Águas
ABRH
Associação Brasileira de Recursos Hídricos
ARP
Agente de redução de perda
BNH
Banco Nacional de Habitação
CBH
Comitê de Bacia Hidrográfica
CEASM
Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré
CECA
Comissão Estadual de Controle Ambiental
CEDAE
Companhia Estadual de Águas e Esgotos
CEDAG
Companhia de Águas do Estado da Guanabara
CEIVAP
Comitê para Integração da Bacia Hidrográfico do Rio Paraíba do Sul
CERHI
Conselho Estadual de Recursos Hídricos
CESB
Companhia Estadual de Saneamento Básico
CHP
Centro de Habitação Provisória
CITY
The Rio de Janeiro City Improvements Company Limited
CNARH
Cadastro Nacional de usuários de Recursos Hídricos
CNRH
Conselho Nacional de Recursos Hídricos
CNUMAD
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
COHAB
Companhia de Habitação Popular
CONAMA
Conselho Nacional de Meio Ambiente
CSN
Companhia Siderúrgica Nacional
DAA
Departamento de Águas
DAE
Departamento de Águas e Esgotos
DES
Departamento de Esgotos Sanitários
DURB
Departamento de Urbanização
ESAG
Empresa de Saneamento da Guanabara
ETA
Estação de Tratamento de Águas
ETE
Estação de Tratamento de Esgotos
FAFERJ
Federação das Favelas do Rio de Janeiro
FECAM
Fundo Estadual de Controle Ambiental
FEEMA
Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente
xix
FGTS
Fundo de Garantia por Tempo de Trabalho
FUNASA
Fundação Nacional de Saúde
FUNDRHI
Fundo Estadual de Recursos Hídricos
GEAP
Grupo Executivo de Assentamentos Populares
GEM
Grupo Especial da Maré
IAE
Inspetoria de Águas e Esgotos
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH
Índice de Desenvolvimento Humano
IDH-M
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
INEA
Instituto Estadual de Ambiental
IQA
Índice de Qualidade das Águas
MCID
Ministério das Cidades
MDL
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
MI
Ministério da Integração Nacional
MMA
Ministério do Meio Ambiente
MRA
Macrorregião Ambiental
MS
Ministério da Saúde
NPNS
Nova Política Nacional de Saneamento
ODM
Objetivos do Milênio
OGU
Orçamento Geral da União
PAC
Programa de Aceleração do Crescimento
PDBG
Programa de Despoluição da Baía de Guanabara
PERHI
Política Estadual de Recursos Hídricos do Rio de Janeiro
PLANASA
Plano Nacional de Saneamento Básico
PNAD
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
PNRH
Política Nacional de Recursos Hídricos
PNUMA
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
POUSO
Posto de Orientação Urbanística e Social
PROAP
Programa de Urbanização e Assentamentos Populares do Rio de Janeiro
PROFACE
Programa de Favelas da CEDAE
PRONURB
Programa de Saneamento para Núcleos Urbanos
PROSANEAR
Programa de Saneamento para Populações de Baixa Renda
xx
PROSEGE
Programa de Ação Social em Saneamento
RA
Região Administrativa
RH
Região Hidrográfica
RMRJ
Região Metropolitana do Rio de Janeiro
SAE
Serviço de Águas e Esgotos
SANERJ
Companhia de Saneamento do Estado do Rio de Janeiro
SEDU
Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano
SEGRHI
Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos
SEPURB
Secretaria de Política Urbana
SERFHA
Serviço de Recuperação de Favelas e Habitações Anti-Higiênicas
SERLA
Superintendência de Rios e Lagoas
SINGREH
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
SNIRH
Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos
SNIS
Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento
SNSA
Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental
SURSAN
Superintendência de Urbanização e Saneamento
UERJ
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
xxi
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................1
1.1. OBJETIVOS ......................................................................................................................................3
1.2. METODOLOGIA ................................................................................................................................4
1.3. ESTRUTURA DO TRABALHO ...............................................................................................................6
CAPÍTULO 2. SUSTENTABILIDADE: A AGENDA 21 E OS OBJETIVOS DO MILÊNIO .....................8
2.1. DA CRIAÇÃO À IMPLANTAÇÃO ............................................................................................................8
2.2. RESULTADOS PARCIAIS E CENÁRIO PROSPECTIVO ........................................................................... 18
CAPÍTULO 3. BREVE HISTÓRICO DE USO DAS ÁGUAS NO BRASIL ........................................... 25
3.1. O PERÍODO PRÉ-COLONIAL ............................................................................................................ 25
3.2. O PERÍODO PÓS-COLONIAL ............................................................................................................ 30
3.3. CONJUNTURA ATUAL .................................................................................................................... 36
3.4. O SANEAMENTO NO BRASIL ........................................................................................................... 42
3.4.1. Do período colonial ao século XX uma abordagem sintética .......................................... 42
3.4.2. Panorama presente ............................................................................................................ 46
CAPÍTULO 4. BREVE HISTÓRICO DA ÁGUA NO RIO DE JANEIRO ............................................... 54
4.1. DO POÇO CARA-DE-CÃO À EVOLUÇÃO DA CIDADE ........................................................................... 54
4.2. CENÁRIO CONTEMPORÂNEO .......................................................................................................... 64
4.3. O SANEAMENTO NO RIO DE JANEIRO ............................................................................................. 72
4.3.1. Gênese e evolução até o século XX síntese histórica .................................................... 72
4.3.2. Transformações institucionais e contexto hodierno ........................................................... 79
CAPÍTULO 5. GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS ....................................................................... 91
5.1. A POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS ............................................................................ 91
5.2. REGIÕES HIDROGRÁFICAS DO BRASIL .......................................................................................... 101
5.2.1. Amazônica ........................................................................................................................ 103
5.2.2. Tocantins/Araguaia ........................................................................................................... 104
5.2.3. Atlântico Nordeste Ocidental ............................................................................................ 105
5.2.4. Parnaíba ........................................................................................................................... 107
5.2.5. Atlântico Nordeste Oriental ............................................................................................... 108
5.2.6. São Francisco ................................................................................................................... 109
5.2.7. Atlântico Leste .................................................................................................................. 111
5.2.8. Atlântico Sudeste .............................................................................................................. 112
5.2.9. Atlântico Sul ...................................................................................................................... 114
5.2.10. Uruguai ........................................................................................................................... 115
5.2.11. Paraná ............................................................................................................................ 116
5.2.12. Paraguai ......................................................................................................................... 118
5.3. A POLÍTICA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS .......................................................................... 119
5.4. DIVISÃO HIDROGRÁFICA DO RIO DE JANEIRO ................................................................................ 122
5.4.1. Baía de Guanabara .......................................................................................................... 124
5.4.2. Baía de Sepetiba .............................................................................................................. 125
xxii
5.4.3. Baía da Ilha Grande ......................................................................................................... 127
5.4.4. Região dos Lagos e Rio São João ................................................................................... 128
5.4.5. Rio Macaé e Lagoa Feia .................................................................................................. 130
5.4.6. Rio Paraíba do Sul ........................................................................................................... 131
5.4.7. Rio Itabapoana ................................................................................................................. 133
5.5. COBRANÇA E OUTORGA .............................................................................................................. 134
5.6. PERSPECTIVAS FUTURAS ............................................................................................................ 145
CAPÍTULO 6. ASPECTOS URBANOS: O COMPLEXO DA MARÉ ................................................. 151
6.1. URBANIZAÇÃO, RECURSOS HÍDRICOS E FAVELA ............................................................................ 151
6.2. BREVE HISTÓRICO DO COMPLEXO DA MARÉ ................................................................................ 165
6.2.1. Gestão Local e os Recursos Hídricos .............................................................................. 176
6.3. REFLEXÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................ 181
CAPÍTULO 7. CONCLUSÕES E PROPOSIÇÕES ............................................................................ 191
7.1. CONCLUSÕES ............................................................................................................................. 191
7.2. PROPOSIÇÕES ............................................................................................................................ 198
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................................... 202
1
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO
O homem, desde seus primórdios, com o contínuo e crescente consumo de energia,
gerada a partir de recursos naturais, e a conseqüente geração de resíduos tem alterado o
meio ambiente. A modernização da sociedade intensificou as demandas energéticas e acen-
tuou os problemas ambientais. A consolidação do modelo de desenvolvimento capitalista
afirmou o hábito e comportamento consumista de toda a humanidade, moldando o mercado
produtivo para uma infinita circulação monetária; os recursos naturais foram apropriados
pelo capital, convertidos em bens de consumo e interesses econômicos.
Os recursos dricos remetem ao sinônimo de perpetuação da espécie humana, con-
siderando que todo organismo depende dela para sua sobrevivência. Assim, a mesma con-
diciona comportamentos e estruturas ecológicas distintas, de acordo com sua oferta e dis-
ponibilidade. Sua qualidade é intrínseca à sua quantidade, visto que sua capacidade de au-
todepuração está ligada diretamente a primeira característica; contudo, mesmo com 70% do
planeta sendo coberto por água, seu aproveitamento não é total, levantando hipóteses e
estudos a respeito do futuro da humanidade quanto a questão da escassez hídrica, esta
sendo fato cotidiano em algumas partes do mundo.
A Revolução Industrial e a decorrente explosão demográfica foram premissas para a
condição ambiental contemporânea, levando em conta também o sistema baseado na acu-
mulação do capital. Doravante, o desenvolvimento do município Rio de Janeiro, pautado em
eixo semelhante ao seu respectivo país, não fugiu às bases estabelecidas supracitadas. A
cidade se desenvolveu sob cenário de conflitos sociais, onde a burguesia repugnava e re-
primia a classe proletária, em conjunto ao Estado, o poder público não se movimentou em
prol de construir uma infra-estrutura urbana equilibrada, atendendo as necessidades de to-
dos quanto a qualidade de vida, saúde, moradia, distribuição de renda, entre outros. Os pro-
jetos de ocupação territorial eram voltados aos interesses da burguesia, compondo, em sín-
tese, condições de desenvolvimento às favelas. A visão ambiental do Rio de Janeiro foi, por
longa data, isolada, não sendo abrangente e integrada, promovendo o desenvolvimento do
Estado com resultados sob condições nocivas, em alguns casos, para o meio social e ambi-
ental.
O cenário de oferta e demanda hídrica, tanto no Brasil quanto no estado Rio de Ja-
neiro, possui nuances diferentes. Em ambos os casos a relação não acontece de forma e-
quitativa, o Brasil, apesar de deter grande parte da água potável mundial, compreende con-
dições antagônicas a respeito de seus recursos hídricos, assim como o Rio de Janeiro, este
2
último mais relacionado à distribuição populacional e histórico expansionista de formação da
cidade.
O sistema de abastecimento de água se encontra em nível superior de oferta aos sis-
temas de esgotamento sanitário e respectivo tratamento. O Brasil ainda se encontra inserido
em precárias condições sanitárias, existindo pontos isolados de eficácia quanto ao tema,
não sendo diferente no Rio de Janeiro, com a questão das favelas ratificando e enfatizando
tal perspectiva. A controversa formação da cidade, o direito a ela, conflitos sociais, entre
outros aspectos contraditórios atrelados ao cenário carioca, constitui-se parte da gênese do
cenário atual da complexidade sócio-ambiental, observado especialmente nas áreas de bai-
xa renda.
A criação e vigência da Política Nacional de Recursos dricos e da Política Estadual
de Recursos dricos, assim como os respectivos órgãos responsáveis, se encontram em
demasiado progresso teórico, não condizendo com a realidade prática de sua implementa-
ção e execução. Ainda se observam limites humano, econômico e institucional para uma
concreta estruturação de tais políticas, frágil em seu corpo profissional e técnico, conduzindo
a uma situação sensível do ponto de vista ambiental, quando as externalidades não são os
fatores exclusivos de delonga e empecilho para uma eficaz atuação. O déficit na fiscaliza-
ção, cobrança, monitoramento e manutenção dos sistemas instalados há de ser rompida por
meio de investimentos públicos no quadro funcional, profissional e humano, amparados por
devida capacitação e educação, formando consciência sócio-ambiental em sua própria infra-
estrutura interna.
Os ideais do desenvolvimento sustentável, as inúmeras conferências a respeito dos
mesmos, a elaboração da Agenda 21 e os Objetivos do Milênio, normas e documentos a
respeito da questão ambiental, conjuntas à esfera social, são atividades, ações, estratégias
e metas dignas de valorização. A sociedade clama pela prestação de serviços públicos, pela
manutenção de seu entorno, de sua paisagem, da saúde, não atentando para os problemas
umbilicais que condicionam, paradoxalmente, os fatores reclamados. O sistema sócio-
ambiental, confinado à cidade e favelas, é de demasiada profundidade teórico-reflexiva, uma
realidade contraditória e inversa aos próprios ideais da sustentabilidade ambiental; a função
social ainda não é cumprida pela cidade, pelo poder público, haja vista a existência das
―comunidades‖ de baixa renda.
Sob esta contextualização, o presente trabalho apresenta as dificuldades sob o fo-
co contraditório e paradoxal de formação das mesmas observadas na gestão dos recursos
hídricos e urbana, focando estes para áreas favelizadas, em especial o Complexo da Maré
atualmente o maior conjunto de favelas do Rio de Janeiro. O eixo temático abordado é de
suma relevância e importância para uma reflexão e reestruturação ambiental, social, política,
3
acadêmica e educacional, com intuito de contribuir para melhorias quanto à gestão dos re-
cursos hídricos urbanos.
A compreensão e viés deste estudo foram amparados à filosofia holística, analisando
as diferentes pautas conquanto não isoladas e apartadas sob uma concepção integrada
e sistematizada, lidando com o dinamismo imposto ao sistema global pelos diferentes seto-
res da sociedade. Diante de densa contextualização e observação, passada e presente,
através de pesquisa bibliográfica, tornou-se notória a inópia condição científica quanto ao
assunto de forma agregada, conforme supracitado, sobretudo a nível estadual.
A relação entre homem, recursos hídricos, meio ambiente, economia é inter e intra-
dependente, observando que todos estão envolvidos pelo mesmo sistema existencial, de-
vendo ser adequado o pensamento e educação quanto ao uso dos recursos naturais, a ocu-
pação territorial e seu entorno, a exploração econômica degradante, fatores e cenários estes
que, analisados de forma ampla e associada, tornam imperativo sua reestruturação; este é
justamente o maior desafio: a implementação e cumprimento proposto por estudos. A redu-
ção evolutiva dos recursos naturais e as densas relações e co-relações estabelecidas no
sistema urbano remetem a uma revisão paradigmática, metodológica, estratégica e episte-
mológica, superando as limitações impostas pelos mesmos e seus derivantes setores atuan-
tes.
Os recursos hídricos têm papel fundamental no desenvolvimento sócio-econômico de
uma região; a universalização do acesso à água deve ser agregada à sua gestão e conser-
vação, tendo em vista os problemas que se derivam destes, assim como sua importância
econômica, devendo ser bem planejada a política de desenvolvimento e servir toda a popu-
lação sem exclusões sociais e territoriais pelos serviços públicos prestados em torno
destes recursos.
1.1. Objetivos
O presente trabalho tem como objetivo geral a análise teórica, conceitual, histórica e
científica da problemática relacionada ao consumo de água estabelecida no cenário do Es-
tado do Rio de Janeiro. Este diagnóstico busca contextualização a partir do histórico nacio-
nal e respectiva análise de seu âmbito ambiental e legal, avançando para o cenário urbano,
social e ecológico estadual, assim como entrelaçar os parâmetros pautados com a susten-
tabilidade, inseridos na conjuntura das favelas, destacando o Complexo da Maré. Busca-se,
neste estudo, elaborar proposições embasadas pelos aspectos supracitados, almejando
uma reestruturação e renovação do viés sócio-ambiental hodierno.
4
A presente proposta de trabalho, valorizando a universalização dos serviços públicos
de acesso à água e saneamento, especialmente em áreas favelizadas, assim como a refle-
xão comportamental e paradigmática dos agentes envolvidos, deve ser apta a apresentar as
metas a serem alcançadas, frutos da análise dissertada. Resultantes, então, os objetivos
específicos elencados são:
análise do panorama federal e estadual quanto aos recursos hídricos, sob
contextualização histórica;
estudo das condições regionais hidrográficas, no Brasil e Rio de Janeiro;
verificação das condições legais, nacional e estadual, quanto a gestão dos
recursos hídricos e respectivas prospectivas;
análise e inter-compreensão do desenvolvimento sustentável quanto as con-
dições sociais e ambientais existentes, além de expectativas futuras;
compreensão holística e integrada da urbanização e seus efeitos sobre o ci-
clo hidrológico;
observação das relações e co-relações das favelas, atentando especialmente
ao Complexo da Maré, para com os recursos hídricos e seu entorno ambien-
tal;
elaboração de um escopo re-estrutural, crítico e moderno, a partir de proposi-
ções pertinentes ao tema.
1.2. Metodologia
A metodologia adotada para realização deste trabalho foi baseada em pesquisas bi-
bliográficas, observação local do espaço e sua população. As referências bibliográficas con-
sultadas, tanto por dados primários quanto por secundários, constituíram imperativo a sis-
tematização histórica, relacionando-a com o cenário presente e o eixo temático principal do
estudo. Não somente, também foram utilizados artigos científicos, publicados em periódicos,
anais de congressos, além de trabalhos acadêmicos e palestras ministradas, os quais servi-
ram de contribuição para elaboração dissertativa.
A contextualização histórica foi amplamente baseada nos estudos realizados por Ro-
sauro Mariano da Silva (1988), José Ribeiro da Silva (2002), Agência Nacional de Águas
(2007b) e José de Santa Ritta (2009), buscando a compreensão a partir da experiência pas-
sada. A densidade teórica e conceitual foi elaborada a partir de inúmeras referências, es-
quadrinhando na interdisciplinaridade os temas pertinentes e suas interconexões, referindo-
os à temática atual.
5
A ampliação da pesquisa para o estudo foi incentivada pela necessidade de concep-
ção holística e integrada, apresentando-se como premissa para não conduzir a interpreta-
ções fragmentadas e isoladas estas comuns em acervos bibliográficos especializados ; o
viés adotado e reproduzido é amplo, não abordando os recursos hídricos e meio ambiente
como esferas isoladas dos setores econômicos, políticos, culturais e sociais. A perspectiva é
baseada na assertiva condição de coexistência e interações entre os referidos setores, com
o dinamismo gerado a partir das relações estabelecidas pelos seus agentes com seu entor-
no.
A análise do cenário legal ambiental foi realizada para melhor contribuição, não de-
vendo ser ausente do estudo, considerando que seus avanços e implementações, ainda que
não conjuntos, remetem a uma paisagem de significativo valor, onde sua reflexão possibilita
um entendimento ampliado das questões ambientais e, indiretamente, fornece subsídios
para ser reproduzido o conhecimento específico e expandido a toda a sociedade, atrelando
a responsabilidade a todos. Sob este contexto, a questão do desenvolvimento sustentável,
pautada em diretrizes e metas, tendo como maiores frutos a elaboração da Agenda 21 e os
Objetivos do Milênio, marcam a história ambiental, fomentando e elevando o grau de siste-
matização, não mais se atendo apenas ao meio ambiente como tema isolado, mas enten-
dendo que este está intimamente ligado às condições humanas e suas atividades desenvol-
vidas a partir de seu modelo econômico.
O enfoque ao Complexo da Maré foi devido disponibilidade bibliográfica, acessibili-
dade ao local e pelo mesmo representar o maior conjunto de favelas do Rio de Janeiro. A
observação presencial foi limitada em certas ocasiões, devido conflito entre diferentes fac-
ções criminosas; a análise crítica quanto à urbanização, a formação das favelas, seus efei-
tos sobre os recursos hídricos e sua interação com o meio ambiente foi quanto a postura e
comportamentos dúbios, conduzindo o estudo a uma reflexão dialética, onde os agentes
locais (os moradores das favelas) e o Estado assumem papéis complexos e contraditórios
mediante as questões ambientais. Por conseguinte, foram identificadas, através de observa-
ções de campo, as práticas basais dos atores envolvidos, sua atuação, na busca por uma
reconstrução paradigmática, política, cultural e ambiental.
O presente trabalho optou por uma análise teórico-reflexiva, a partir de contextuali-
zação histórica, além de observações presenciais em campo, contrapondo-se a paradigmas
existentes e hegemônicos, evidenciando as contradições de todos os atores envolvidos,
reavaliando as condições contemporâneas da estrutura prática e teórica, inseridas num en-
foque de conflitos humanos, imperando a densa e complexa relação sócio-ambiental. A
compreensão desta complexidade ainda não está esgotada, pois inúmeras são suas verten-
tes; contudo, este estudo se torna parte constitutiva de uma contribuição diferencial para o
entendimento em pauta.
6
1.3. Estrutura do trabalho
O texto está estruturado em 7 capítulos, incluindo a presente introdução (Capítulo
1). O Capítulo 2 esboça conteúdo a respeito do desenvolvimento sustentável, destacando
suas maiores atividades constituídas: a Agenda 21 e os Objetivos do Milênio. O capítulo
trata sobre a crítica conceitual gerada a partir da dúbia abordagem quanto à sustentabilida-
de; em alusão ao conceito crítico, fugindo dos interesses capitalistas, o tema é inserido num
palco de ações e metas a serem alcançadas, associando meio ambiente e sociedade, pro-
movendo e fomentando a interpretação conjunta de seu relacionamento dinâmico e dos re-
sultados amplos obtidos, onde o meio ambiente contribui para o ser humano e vice-versa.
Também é exposto o cenário atual e perspectivas futuras quanto à sustentabilidade ambien-
tal e social.
O Capítulo 3 apresenta a contextualização histórica brasileira quanto ao uso da á-
gua e o saneamento, além de abordarem a condição atual e perspectivas de desenvolvi-
mento dos respectivos setores. O cenário federal foi analisado no aspecto de ser gênese
histórica e, concomitantemente, ser intrínseco ao processo evolutivo instalado no Rio de
Janeiro, o qual tem sua história permeada pelos acontecimentos pioneiros no país. Doravan-
te, a história das águas e saneamento no Brasil são partes conjuntas do histórico fluminen-
se.
O Capítulo 4 continuidade aos estudos apresentados nos capítulos anteriores,
conduzindo-os a uma escala menor, norteando-os para as condicionantes estaduais e suas
respectivas experiências. O cerne evolutivo do Rio de Janeiro, amparado pelos capítulos
anteriores, foi fonte de formação da atual estrutural social e ambiental; o histórico estadual
permite o estabelecimento de uma concepção integrada a posteriori, observando o espaço a
partir de experiências passadas.
O Capítulo 5 oferece um panorama da estrutura legal federal e estadual, suas ações
desenvolvidas, destacando a Política Nacional e Estadual de Recursos dricos, além de
seus principais instrumentos: a outorga e cobrança pelo uso das águas. Há de se apresentar
a evolução da legislação ambiental no Brasil e Rio de Janeiro, considerando que a mesma é
pilar para o desenvolvimento harmonioso da sociedade, respeitando os limites naturais e
impondo normas, diretrizes e padrões para conter a degradação ecológica.
No Capítulo 6 fundamenta-se a essência do trabalho. A relação entre recursos hídri-
cos, urbanização e favelas, conduzindo o estudo a níveis locais, integrando-o ao Complexo
da Maré, o qual se configura estrutura de densa complexidade sócio-ambiental, devendo ser
analisado dialeticamente, por si e em relação ao Estado do Rio de Janeiro. Este capítulo
estrutura todo o texto prévio, relacionando e co-relacionando seus conteúdos, propondo no-
vas configurações interpretativas, expondo as externalidades contraditórias da cidade, a
7
condição paradoxal humana nas favelas, o papel do Estado atrelado aos interesses do capi-
tal, ações e planejamentos os quais passam a ser observados de maneira reflexiva, priori-
zando suas transformações e rupturas, almejando estabelecer uma nova concepção huma-
na e ecológica, sob a justificativa da perpetuação da espécie.
O Capítulo 7 apresenta as conclusões e proposições a partir do trabalho dissertado.
As conclusões foram pautadas nos principais aspectos elencados durante o estudo, condu-
zindo a construção de propostas pertinentes ao tema e julgadas necessárias para a mudan-
ça do cenário social e ambiental.
8
CAPÍTULO 2. SUSTENTABILIDADE: A AGENDA 21 E OS OBJETIVOS DO MILÊNIO
Um dos principais eixos de discussão ambiental é o desenvolvimento sustentável.
Inúmeros Congressos, Encontros, Simpósios e Estudos têm sido feito a respeito do tema.
Este tema é um tanto quanto vasto em seu conhecimento. Um dos focos centrais é a respei-
to da mudança no modelo de desenvolvimento, o qual, se persistir, conduzirá o planeta a
uma situação extrema de escassez de recursos naturais, logo, a presente geração deve
cuidar do seu meio agora para que as gerações futuras possam desfrutar do mesmo.
A preocupação com a questão ambiental é pauta internacional já há alguns anos. No
Brasil, esta só veio a se consolidar a partir dos anos 1980, em conjunto com a preocupação
dos recursos hídricos. A exploração dos recursos naturais desenfreada veio a clamar por
uma mudança no comportamento e desenvolvimento conduzido pelo homem.
A escassez de recursos hídricos é fator fundamental para este alarde acadêmico, ci-
entífico, econômico, político e social. Somado ao desperdício do mesmo, estas condicionan-
tes ameaçam o avanço do desenvolvimento sustentável e dos cuidados ao meio ambiente.
O presente capítulo, sendo intrínseco aos outros temas abordados nos capítulos se-
guintes, segue com uma abordagem sobre desenvolvimento sustentável, se atendo à Agen-
da 21 e aos Objetivos do Milênio, estes analisados de forma conjunta. O conhecimento tra-
tado aqui será instrumento importante para compreensão da inter-relação ambiental e soci-
al, dado que o próprio conceito de desenvolvimento sustentável é derivado de resistência
das ações antrópicas pelo próprio homem, como numa condição paradoxal.
2.1. Da criação à implantação
A água é recurso fundamental para a vida humana. O crescimento populacional ver-
tiginoso no pós-Revolão Industrial, somado ao fator tecnológico, aumentou em demasia a
demanda pelos recursos naturais, especialmente a água. O Brasil vem aumentando sua
demanda exponencialmente, com o crescimento conjunto de população, parque industrial e
áreas de irrigação. Sob este cenário, desenvolvem-se os ideais e de transformação do modo
de utilização da água, conduzindo a eficiência do mesmo, criticando a visão tradicional de
aumento da oferta (OLIVEIRA, E. C., 2008).
Interessante abordar sobre a situação brasileira, visto que o país é rico no que diz
aos recursos hídricos (não de maneira igualitária; vide capítulo 3.3), todavia sua região se-
mi-árida é conhecida por seu alto índice de escassez do recurso. Entretanto, para Rebouças
(2004) água suficiente para atendimento das necessidades básicas da região, bastando
9
a substituição dos sistemas tradicionais por outros mais eficazes, minimizando os índices de
consumo e melhorando a distribuição hídrica (apud OLIVEIRA, E. C., 2008).
A proposta do desenvolvimento sustentável e sua prática representam a visão atuali-
zada da relação meio ambiente e desenvolvimento. Nesta linha de pensamento, Muñoz
(2000) afirma que a sustentabilidade só é possível a partir da equidade social, ou seja, há de
se distribuir a economia equilibradamente, não deixando espaços para desigualdades radi-
cais, respeitando os limites ambientais. Assim será possível a legitimação da aspiração
quanto ao desenvolvimento sustentável.
A primeira onda de preocupação ambiental foi resultante da Conferência de Estocol-
mo, em 1972, ocupando pela primeira vez o centro de debates mundiais. Nesta Conferência,
o principal tema abordado foi sobre poluição, com foco central na conscientização dos paí-
ses em reduzir suas emissões, principalmente em áreas de grande densidade populacional,
onde as condições de higiene e sanitárias são mais precárias. Princípios foram proclamados
a partir desta Conferência, os quais o Brasil se apresentou contra tais propostas globalizan-
tes, assumindo papel de vilão esta situação viria a mudar ao longo da história, quando o
país começasse a passar por problemas de escassez e degradação de seus recursos natu-
rais. A Conferência de Estocolmo tornou-se marco histórico nas temáticas discutidas mundi-
almente, concretizando a questão ambiental. Seu maior fruto foi o Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), constituído de uma estrutura programática e insti-
tucional. Conseqüentemente, alguns anos após sua construção, o PNUMA publicou, em
1987, um relatório sobre a questão ambiental e sua relação com o homem, intitulado ―Nosso
futuro comum‖, conhecido também como Relatório Burdtland, apresentando o conceito de
desenvolvimento sustentável; este conceito veio a ser discutido e definido na XV Sessão do
Conselho de Administração do PNUMA:
O Conselho de Administração acredita ser sustentável o desenvolvimento que atende às ne-
cessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras atenderem às
suas próprias necessidades. Desenvolvimento sustentável tampouco implica transgressão al-
guma ao princípio de soberania. O Conselho de Administração considera que a consecução do
desenvolvimento sustentável envolve cooperação dentro das fronteiras nacionais através da-
quelas. Implica progresso na direção da equidade nacional e internacional, inclusive assistên-
cia aos países em desenvolvimento de acordo com seus planos de desenvolvimento, priorida-
des e objetivos nacionais. Implica também a existência de meio econômico internacional propí-
cio que resulte no crescimento e no desenvolvimento. Estes são elementos da maior relevância
para o manejo sadio do meio ambiente. Desenvolvimento sustentável implica ainda a manuten-
ção, o uso racional e valorização da base de recursos naturais que sustenta a recuperação dos
ecossistemas e o crescimento econômico. Desenvolvimento sustentável implica, por fim, a in-
corporação de critérios e considerações ambientais na definição de políticas e de planejamento
de desenvolvimento e não representa uma nova forma de condicionalidade na ajuda ou no fi-
nanciamento para o desenvolvimento.
O Conselho de Administração está inteiramente consciente de que os próprios países são e
devem ser os principais atores na reorientação de seu desenvolvimento, de forma a torná-lo
sustentável. O desenvolvimento sustentável e ambientalmente sadio é de grande importância
para todos os países, industrializados e em desenvolvimento. Os países industrializados pos-
suem os recursos necessários para fazer os ajustes requeridos; algumas de suas atividades
econômicas efetivamente têm impacto substancial no meio ambiente, não apenas no âmbito
10
nacional, mas além de suas fronteiras. Mesmo no caso dos países em desenvolvimento, a
maior parte dos recursos para o desenvolvimento provém deles mesmos. Para estes, muito
embora a manutenção da base de recursos naturais para as futuras gerações seja de grande
relevância, as necessidades da geração atual são de importância crítica. Ações induzidas pela
pobreza e pela necessidade de sobrevivência consomem a base de recursos e assim geram
mais pobreza. Em todos os países, questões de desenvolvimento e meio ambiente estão entre-
laçadas em uma mútua interação. Hoje, novas questões ambientais desafiam a comunidade in-
ternacional, enquanto as velhas questões se mantêm e até adquirem maior magnitude (apud
SETTI et al., 2000).
É válido expor aqui que alguns autores criticam o conceito de desenvolvimento sus-
tentável. Para Zorzal (1999), o conceito é de caráter hegemônico e inserido na agenda
mundial como instrumento de manipulação; semelhantemente assim já o era caracterizado
por Feldmann & Bernardo (1994, apud DIAS, 2003), os quais pensavam que o desenvolvi-
mento sustentável não se enquadrava como novo paradigma, o mesmo era característico da
comunidade elitista e conservadora, conduzindo as ações a uma modernização conforme
seus interesses. Para Oliveira, L. D. (2007), o conceito nasceu no âmago do pensamento da
classe dominante, a qual utiliza os pressupostos do conservacionismo juntamente com um
ensinamento do universo econômico de gestão de negócios, configurando um pensamento
derivado de acordos tácitos da burguesia internacional. Logo, apesar deste estudo não se
focar neste eixo temático, fica apropriada a exposição deste parágrafo para maiores refle-
xões sobre o assunto.
Em 1991, a Associação Brasileira de Recursos dricos (ABRH), sob cenário de pre-
ocupações com o futuro da humanidade a partir da crise ambiental, elabora a Carta do Rio
de Janeiro, cuja é responsável pelo apontamento da necessidade urgente em reduzir e eli-
minar a contaminação dos corpos dricos. Além disso, a Carta propunha a integração da
gestão entre os recursos hídricos e da mesma para com a gestão ambiental. Sua influência
foi ratificada um ano depois, com a Conferência sobre meio ambiente, a ser realizada no Rio
de Janeiro. Entretanto, antes da Conferência no Rio de Janeiro, ocorreu a Conferência de
Dublin, em janeiro de 1992, esta vista como recepção ao que viria acontecer no Rio de
Janeiro. Nesta Conferência, foi apresentada a Declaração de Dublin (1992), a qual registra
logo no início de seu documento:
A escassez e o desperdício de água doce representa uma séria e crescente ameaça para o
desenvolvimento sustentável e proteção do ambiente. A saúde e o bem-estar do homem, a ga-
rantia de alimentos, o desenvolvimento industrial e os ecossistemas dos quais eles dependem
estarão todos em risco, se os recursos de água e solos não forem geridos, na presente déca-
da, de forma bem mais efetiva do que tem sido no passado (apud ANA, 2002a).
A Declaração sugere a execução de ações em nível local, nacional e internacional,
baseadas em seus princípios que são:
Princípio nº 1 A água doce é um recurso finito e vulnerável, essencial para a susten-
tação da vida, do desenvolvimento e do meio ambiente.
11
Princípio nº 2 O desenvolvimento e a gestão da água devem ser baseados na parti-
cipação dos usuários, dos planejadores e dos políticos, em todos os níveis.
Princípio nº 3 As mulheres têm um papel essencial no aprovisionamento, gestão e
proteção da água.
Princípio nº 4 A água tem valor econômico em todos os seus usos competitivos e
deve ser reconhecida como um bem econômico (apud ANA, 2002a).
Assim, em 1992, no Rio de Janeiro, ocorreu a Conferência das Nações Unidas para
o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), também conhecida como Rio-92, resul-
tando num dos documentos mais importantes para a gestão ambiental mundial: a Agenda
21. Além deste, outros importantes documentos foram elaborados e apresentados na CNU-
MAD: a Carta da Terra, estabelecendo princípios a serem seguidos; e acordos e tratados
internacionais, com a questão das alterações climáticas e proteção a biodiversidade como
tema principal (ONU, 1992a). A Agenda 21 não se restringe aos problemas ambientais, mas
propõe um novo modelo de desenvolvimento visando a sustentabilidade, atribuindo estas
responsabilidades não somente aos governos federais, estatais e municipais, como também
a sociedade civil como um todo. O documento foi traduzido para inúmeros idiomas, refle-
tindo seu âmbito internacional.
Referente aos recursos dricos, a Agenda 21 os trata em vários capítulos, sendo
específica no capítulo 18: ―Proteção da Qualidade e do Abastecimento dos Recursos Hídri-
cos: aplicação de critérios integrados no desenvolvimento, manejo e uso dos Recursos Hí-
dricos‖; inserido na seção II: ―Conservação e Gestão dos recursos para o desenvolvimento‖.
Então, no capítulo 18, tratando a respeito da escassez e destruição dos recursos hídricos, o
documento apresenta as seguintes áreas de programas para o setor de água doce:
Desenvolvimento e manejo integrado dos recursos hídricos;
Avaliação dos recursos hídricos;
Proteção dos recursos hídricos, da qualidade da água e dos ecossistemas aquáticos;
Abastecimento de água potável e saneamento;
Água e desenvolvimento urbano sustentável;
Água para produção sustentável de alimentos e desenvolvimento rural sustentável;
Impactos da mudança do clima sobre os recursos hídricos (ONU, 1992b).
As ações e objetivos elencados pela Agenda 21, no capítulo referido, propõem a o-
ferta de água generalizada, com acesso a todos, mediante seu uso sustentável e racional,
ou seja, o ideal apresentado é abastecer toda a população com o recurso para saciar as
necessidades básicas e, concomitantemente, inserido numa ótica sustentável; este é o fator
principal, além de outros apontados como: reconhecimento da água como bem econômico e
limitado, avaliação quali e quantitativa da mesma, auto-sustentação financeira dos sistemas
de gestão, previsão de conflitos, gestão integrada dos recursos dricos (também entre si) e
meio ambiente, gestão participativa e descentralizada, integração com o setor de saúde,
12
proteção e preservação, entre outros variados fatores abordados pelo capítulo específico de
recursos hídricos da Agenda 21.
A respeito destes fatores, alguns podem ser revisados. A gestão descentralizada e
participativa é prevista nas leis 9.433/97 e 3.239/99, federal e estadual respectivamente,
devendo contar com seus instrumentos para sua execução. Neste âmbito, as ações regio-
nais devem estar integradas, através de seus Planos Diretores ou Planos Nacio-
nais/Estaduais; para isso é necessário o emprego e utilização de manuais, padronizando e
integrando os sistemas de gestão. Somente assim será possível alcançar resultados signifi-
cativos. Quanto a auto-sustentação financeira dos sistemas de gestão, esta ainda não é
totalizada, provocando a pertinente situação estacionária destes quanto a sustentabilidade
ambiental, não havendo ainda a ruptura teórica e o alcance à prática (LANNA, 2000).
A implementação da Agenda 21 depende da ação e consciência de todos, sem ex-
ceções, envolvendo toda a comunidade num processo de reflexão e reestruturação do mo-
delo de desenvolvimento atual, integrando seus papéis, num processo de construção do
futuro. Sua vigência no Brasil tornou-se possível através do Decreto Presidencial de
26/02/1997, posteriormente revogado pelo Decreto Presidencial de 03/02/2004 (MMA,
2004a), onde se criou a Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável (CPDS),
alavancando um processo de planejamento participativo e interdisciplinar da realidade na-
cional. Esta Comissão se focou na visão integrada das esferas institucional, política, econô-
mica, social e ambiental. Não somente em nível mundial, a ONU propõe a criação e instala-
ção de Agendas locais, estaduais e nacionais, baseadas nos critérios estabelecidos pelo
documento principal o capítulo 28 da Agenda 21 se atém a isto. O espaço deve ser tratado
em suas diferentes dimensões, levando em conta a integração das mesmas e, concomitan-
temente, implementando o plano de desenvolvimento local a partir do conhecimento dos
problemas locais, estes sendo extrapolados para outras dimensões geográficas, conduzindo
uma ação totalitária num ambiente integrado destas. O desenvolvimento local está inseri-
do numa complexidade sistêmica multidimensional, onde atuam todos os agentes sociais e
institucionais, sob diferentes planos de ação, representados na esfera política, econômica,
social, cultural, institucional, tecnológica e ambiental. (OSÓRIO e PINZÓN, 2000).
Em suas recomendações, a Agenda 21 diz:
Caso queiramos, no futuro, atender às necessidades humanas de maneira sustentável, é es-
sencial resolver hoje esses conflitos e avançar para um uso mais eficaz e eficiente da terra e de
seus recursos naturais. A abordagem integrada do planejamento e do gerenciamento físico e
do uso da terra é uma maneira eminentemente prática de fazê-lo. Examinando todos os usos
da terra de integrada é possível reduzir os conflitos ao mínimo, fazer as alternâncias mais efici-
entes e vincular o desenvolvimento social e econômico à proteção e melhoria do meio ambien-
te, contribuindo assim para atingir os objetivos do desenvolvimento sustentável. A essência
dessa abordagem integrada se expressa na coordenação de planejamento setorial e atividades
de gerenciamento relacionadas aos diversos aspectos do uso da terra e dos recursos terrestres
(ONU, 1992b).
13
Seguindo as propostas de elaboração de Agendas 21 Locais incentivadas pelo do-
cumento oficial , o Brasil criou a Agenda 21 Brasileira. Este processo se realizou de 1996 a
2002, tendo no último ano a elaboração dos documentos oficiais: ―Ações prioritárias‖ e ―Re-
sultado da consulta nacional‖. A partir de 2003, a Agenda 21 Brasileira passou a ser parte
do Programa do Plano Plurianual, adquirindo mais força política e institucional, passando a
ser um dos mais importantes instrumentos institucionais para o desenvolvimento sustentável
do país. A construção da Agenda 21 Brasileira objetivou a redefinição do modelo de desen-
volvimento do país, embutindo o conceito de sustentabilidade nos planos de ações nacio-
nais; sua implementação se preocupou em ser de caráter amplo, participativo e espacial-
mente representativo (MMA, 2004a). O referente documento estipulou a divisão sistêmica de
suas linhas de estratégia a serem executadas ao longo do tempo, no que diz respeito à in-
clusão do conceito e prática da sustentabilidade no país (tabela 1).
Tabela 1 Linhas estratégicas segundo diferentes dimensões de sustentabilidade Agenda 21 Brasileira.
DIMENSÕES
LINHAS ESTRATÉGICAS
Geoambiental
1. Uso sustentável,
conservação e
proteção dos recur-
sos naturais.
2. Ordenamento
territorial.
3. Manejo ade-
quado dos resí-
duos, efluentes,
das substâncias
tóxicas e radioati-
vas.
4. Manejo susten-
tável da biotecno-
logia.
Social
5. Medidas de redu-
ção das desigualda-
des e de combate à
pobreza.
6. Proteção e
promoção das
condições de
saúde humana
e seguridade
social.
7. Promoção da
educação e cultu-
ra, para a susten-
tabilidade.
8. Proteção e
promoção dos
grupos estratégicos
da sociedade.
Econômica
9. Transformação
produtiva e mudança
dos padrões de
consumo.
10. Inserção
econômica
competitiva.
11. Geração de
emprego e renda
reforma agrária e
urbana.
12. Dinâmica de-
mográfica e susten-
tabilidade.
Político-
institucional
13. Integração entre
desenvolvimento e
meio ambiente na
tomada de decisões.
14. Descentrali-
zação para o
desenvolvimen-
to sustentável.
15. Democratiza-
ção das decisões
e fortalecimento
do papel dos
parceiros do
desenvolvimento
sustentável.
16. Cooperação,
coordenação e
fortalecimento da
ação institucional.
17. Instru-
mentos de
regulação.
Da Informação e
do conhecimento
18. Desenvolvimento
tecnológico e coope-
ração, difusão e
transferência de
tecnologia
19. Geração,
absorção, adap-
tação e inova-
ção do conhe-
cimento.
20. Informação
para a tomada de
decisão.
21. Promoção da
capacitação e
conscientização
para a sustentabili-
dade.
Fonte: MMA, 2004a.
Devem-se levar em conta as condicionantes existentes nas regiões brasileiras, estas
diferentes em sua forma econômica, cultural e social, caracterizando os diferentes avanços
na implementação da Agenda 21. Segundo o MMA (2004b), para que a execução das linhas
estratégicas com eficácia e velocidade será indispensável que:
14
o nível de consciência ambiental e de educação para a sustentabilidade avance;
o conjunto do empresariado se posicione de forma proativa quanto às suas responsa-
bilidades sociais e ambientais;
a sociedade seja mais participativa e que tome maior número de iniciativas próprias
em favor da sustentabilidade;
a estrutura do sistema político nacional apresente maior grau de abertura para as polí-
ticas de redução das desigualdades e de eliminação da pobreza absoluta;
o sistema de planejamento governamental disponha de recursos humanos qualifica-
dos, com capacidade gerencial, distribuídos de modo adequado nas diversas instituições públi-
cas responsáveis;
as fontes possíveis de recursos financeiros sejam identificadas em favor de progra-
mas inovadores estruturantes e de alta visibilidade. (MMA, op. cit.).
A Agenda 21 Brasileira estabelece os cuidados a serem tomados em cada esfera
dos recursos naturais: terrestres, hídricos e atmosféricos. Sobre os recursos hídricos, foco
deste estudo, o documento transcorre sobre proposições para uma gestão integrada, objeti-
vando a sustentabilidade destes. Deve-se reconhecer o caráter multissetorial do desenvol-
vimento dos recursos hídricos no contexto do desenvolvimento sócio-econômico, bem como
seus usos múltiplos. À medida que o país se desenvolve, sua população aumenta, este al-
cança uma condição de escassez de água rapidamente se não houver uma gestão qualifi-
cada; é justamente o que se observa no mundo atual. A escassez dos recursos hídricos já
se tornou tema fundamental em todas as Conferências de Meio Ambiente, pois este é um
recurso natural de condição de sobrevivência humana.
Tanto em sua fase de construção quanto atualmente, a Agenda 21 Brasileira, através
da CPDS, sob presidência do MMA, reconhece sua dependência direta com o Estado, este
atuando como gestor do futuro e regulamentando a utilização dos recursos naturais (CER-
QUEIRA e FACCHINA, 2005). Contudo, não somente o Estado pode se responsabilizar pela
sustentabilidade de uma nação, mas também, como recomendado pela Agenda 21 Global,
por todos os setores da sociedade. Assim, a Agenda 21 Brasileira induz a elaboração e exe-
cução das Agendas 21 Locais, no intuito de integrar e acelerar o processo no que diz respei-
to ao desenvolvimento sustentável. A Agenda 21 Local representa a criação e execução de
políticas sustentáveis, com parcerias entre o sistema local e outros setores. O planejamento
do desenvolvimento sustentável, por meio da Agenda 21 Local, deve ser dado através de
algumas etapas:
1º passo: mobilizar para sensibilizar governo e sociedade;
2º passo: criar o Fórum da Agenda 21 Local;
3º passo: elaborar o Diagnóstico Participativo;
4º passo: elaborar o Plano Local de Desenvolvimento Sustentável/Publicação da Agenda 21
Local;
5º passo: implementar o Plano Local de Desenvolvimento Sustentável;
6º passo: monitorar e avaliar o Plano Local de Desenvolvimento Sustentável (MMA, 2005).
A Agenda 21 incentivou e intensificou as preocupações a respeito do desenvolvimen-
to sustentável ambiental e sócio-econômico; no ano de 2000, na Cimeira do Milênio, em
15
Nova Iorque, a ONU apresentou um documento com a Declaração do Milênio, sendo este
um marco histórico para o novo século que era iminente, refletindo as preocupações de vá-
rios países. Os principais objetivos traçados foram: reduzir para metade a porcentagem de
pessoas que vivem na pobreza extrema; fornecer água potável e educação a todos; inverter
a tendência de propagação do HIV/AIDS (ONU, 2000). Um dos elementos que alavancaram
a Declaração foi o estudo feito pelo Instituo Gallup, chamado de Voices of the people, inter-
rogando 57.000 adultos em 60 países, a respeito da condição humana. Os resultados foram
conforme demonstrados na tabela 2.
Tabela 2. Resultados obtidos no Voices of the people.
PAUTA
RESULTADOS
O mais importante na
vida
Em todo o mundo, saúde e uma vida familiar feliz foram consideradas como o mais
importante de tudo. Onde o desempenho econômico deixa a desejar, as pessoas
também realçaram a importância do emprego.
Onde um conflito, disseram que desejavam intensamente viver sem conflito. Onde
a corrupção era endêmica, as pessoas condenaram-na.
Os direitos humanos
As pessoas inquiridas estavam em geral descontentes pelo fato de os direitos huma-
nos não serem suficientemente respeitados.
Numa região, menos de um em cada dez cidadãos considerava que os direitos fun-
damentais são plenamente respeitados, enquanto um terço considera que não são de
modo algum respeitados.
Foi manifestada preocupação com a discriminação com base na raça e no sexo.
O ambiente
Dois terços das pessoas inquiridas consideram que o seu governo não tomou as me-
didas suficientes para enfrentar os problemas ambientais que o país conhece.
Os habitantes dos países em desenvolvimento figuram entre os que são mais críticos
relativamente à ação do seu governo no domínio do ambiente.
A Organização das
Nações Unidas
A sondagem revela que a maior parte das pessoas do planeta considera a proteção
dos direitos humanos como a tarefa mais importante das Nações Unidas. Quanto
mais jovens são os inquiridos, maior é a importância atribuída a esta questão.
Os inquiridos referiram também a manutenção da paz assegurada pelas Nações Uni-
das e a prestação de auxílio humanitário.
Globalmente, mais de 50% dos inquiridos classificaram de satisfatório o desempenho
das Nações Unidas; no entanto, a maioria dos jovens tem uma opinião favorável da
Organização.
A democracia
Na maior parte dos países, a maioria dos inquiridos considera que as eleições são li-
vres e justas.
Contudo, dois terços das pessoas inquiridas consideram que o seu país não é gover-
nado pela vontade do povo. Esta opinião foi expressa inclusivamente por cidadãos de
algumas das mais antigas democracias do mundo.
Fonte: ANNAN, 2000.
A Declaração do Milênio aponta valores e princípios que devem se inserir inexora-
velmente na conduta de uma nação. Dentre estes, destacam-se o respeito pela natureza e
a responsabilidade comum. Sobre o respeito pela natureza, a Declaração aponta para a
necessidade de atuar com prudência na gestão de todas as espécies e recursos naturais,
almejando o desenvolvimento sustentável; aborda sobre a imperativa mudança do modelo
de produção e consumo, preocupando-se com as gerações futuras. A responsabilidade co-
mum diz respeito à gestão econômica e social no mundo, não podendo haver focos unilate-
rais desta (ONU, 2000), ao contrário, organizar-se de forma universal tendo a consciência
de que, numa visão holística e global, certas ações unilaterais afetam o todo, e, especial-
mente, no que concerne ao meio ambiente, se provou incessantemente que este não de-
ve ser tratado de maneira isolada.
16
Esta Declaração promove um novo pensamento, na tentativa de reestruturação dos
modelos econômicos e sociais hodiernos. Entre seus tópicos, a Proteção do nosso Ambien-
te comum, IV, e Direitos Humanos, democracia e boa governação, V, tomam lugar
perspicaz e, concomitante à Agenda 21, reforçam a carência de uma gestão integrada e
ampla, não excluindo o social do ambiental. Vale ressaltar, no tópico IV, uma ação quanto
aos recursos hídricos, na qual almeja pôr fim à exploração insustentável dos recursos hídri-
cos, formulando estratégias de gestão integrada nacional, estadual, municipal e local ,
promovendo abastecimento e acesso quali e quantitativo ao recurso, atendo-se aos limites
exploratórios.
Sob este cenário de ações, o Brasil assumiu para si os Objetivos de Desenvolvimen-
to do Milênio (ODM). Os ODM foram criados com 18 metas a serem cumpridas, em geral,
até 2015 (tabela 3) são elencados de forma estratégica, buscando facilitar o processo e ga-
rantir evolução contínua do mesmo.
A implantação da Agenda 21 Brasileira e os ODM têm ocorrido de maneira significa-
tiva, pertinente em suas metas, buscando desenvolver-se progressivamente, sem cessar o
processo. Deve-se levar em conta a complexidade envolvida; para isso resultados são espe-
rados a longo prazo, visto que desde 1996 o Brasil iniciava suas ações (com o início da
elaboração da Agenda 21 Brasileira) e, em 2000, o país é incentivado pela Declaração do
Milênio, assumindo seus ODM. Mais de uma década se passou e ainda se fazem esforços
pela execução generalizada e eficaz destes instrumentos.
Os ODM são complementos à Agenda 21 Brasileira, sendo estreita sua sintonia e
instrumentos. Os Objetivos atuam como catalisadores da Agenda brasileira, promovendo
finalidade e direção comum nas ações e estratégias a serem executadas e as já em execu-
ção. Estes são marco na política do país, explicitando sua evolução racional e social, onde
seu governo passa a compreender a importância do meio e seus recursos e sua relação
com o homem e com a preservação de sua própria espécie.
17
Tabela 3. Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e respectivas metas.
ODM
METAS
i. Reduzir pela metade, entre 1990 e 2015, a proporção da população com renda inferior a
um dólar PPC* por dia
ii. Reduzir pela metade, entre 1990 e 2015, a proporção da população que sofre de fome
iii. Garantir que, até 2015, todas as crianças, de ambos os sexos, terminem um ciclo com-
pleto de ensino básico
iv. Eliminar a disparidade entre os sexos no ensino primário e secundário, se possível até
2005, e em todos os níveis de ensino, mais tardar até 2015
v. Reduzir em dois terços, entre 1990 e 2015, a mortalidade de crianças menores de 5 a-
nos
vi. Reduzir em três quartos, entre 1990 e 2015, a taxa de mortalidade materna
vii. Até 2015, ter detido a propagação do HIV/AIDS e começando a inverter a tendência a-
tual
viii. Até 2015, ter detido a incidência da malária e de outras doenças importantes e começa-
do a inverter a tendência atual
ix. Integrar os princípios do desenvolvimento sustentável nas políticas e programas nacio-
nais e reverter a perda de recursos ambientais
x. Reduzir pela metade, até 2015, a proporção da população sem acesso permanente e
sustentável à água potável segura
xi. Até 2020, ter alcançado uma melhora significativa nas vidas de pelo menos 100 milhões
de habitantes de bairros degradados
xii. Avançar no desenvolvimento de um sistema comercial e financeiro aberto, baseado em
regras, previsível e não discriminatório
xiii. Atender as necessidades especiais dos países menos desenvolvidos. Inclui: um regime
isento de direitos e não sujeito a quotas para as exportações dos países menos desen-
volvidos; um programa reforçado de redução da dívida dos países pobres muito endivi-
dados e anulação da dívida bilateral oficial; e uma ajuda pública para o desenvolvimento
mais generosa aos países empenhados na luta contra a pobreza
xiv. Atender as necessidades especiais dos países sem acesso ao mar e dos pequenos Es-
tados insulares em desenvolvimento
xv. Tratar globalmente o problema da dívida dos países em desenvolvimento, mediante
medidas nacionais e internacionais de modo a tornar a sua dívida sustentável a longo
prazo
xvi. Em cooperação com os países em desenvolvimento, formular e executar estratégias
que permitam que os jovens obtenham um trabalho digno e produtivo
xvii. Em cooperação com as empresas farmacêuticas, proporcionar o acesso a medicamen-
tos essenciais a preços acessíveis, nos países em desenvolvimento
xviii. Em cooperação com o setor privado, tornar acessíveis os benefícios das novas tecnolo-
gias, em especial das tecnologias de informação e de comunicações
*Dólar PPC = Paridade do Poder de Compra, método usado para calcular o poder de compra de um país.
Fonte: CERQUEIRA e FACCHINA, 2005 (adaptado pelo autor).
18
2.2. Resultados parciais e cenário prospectivo
Desde sua criação, a Agenda 21 Brasileira e os ODM têm alcançados resultados
significativos, além de estabelecer metas a serem cumpridas. Segundo seu relatório de
2007, trazendo à tônica deste estudo, sobre o objetivo, o Brasil obteve bons avanços: o
desmatamento da Amazônia caiu de 29mil kem 1996 para 13km² em 2006; as unidades
de conservação aumentaram de 235 em 2002 para 288 em 2006; o consumo de CFC redu-
ziu de 10.872PDO (Potencial Destruidor de Ozônio) em 1996 para 479PDO em 2006; 45%
da energia interna oferecida é renovável, enquanto apenas 6,1% é destas é oferecida nos
países ricos; aumento de 82,3% em 1992, da população urbana residente em domicílios
particulares permanentes com abastecimento de água e canalização interna, para 89,8% em
2005; 62,3% da população urbana do país, em 1992, tinham acesso a serviços adequados
de água e esgoto, passando para 73,3% em 2005; entre outros fatores sócio-ambientais
(BRASIL, 2007).
De acordo com os ODM, os relatórios de acompanhamento federal e regional abor-
dam os resultados obtidos e os avanços alcançados (gráficos 1 a 8; tabela 4), respectiva-
mente por cada Objetivo.
Gráfico 1. Percentual de pessoas com renda inferior a R$75,50 no Estado do Rio de Janeiro - 1991-2000
(em %).
Fonte: PNUD, 2007b.
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
25,48%
19,23%
12,03%
12,74%
1991
2000
Projeção 2015
Meta 2015
19
Gráfico 2. Desnutrição protéico-calórica em crianças com menos de 1 ano e entre 1 e 2 anos de idade no
Brasil 1999-2006 (em %).
Fonte: BRASIL, 2007.
Gráfico 3. Proporção de alunos que iniciam a 1ª série do Ensino Fundamental e atingem a 1ª série do
Ensino Médio no Estado do Rio de Janeiro (em %).
Fonte: Elaboração própria, a partir de PNUD, 2007b.
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
18%
20%
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
Crianças com menos de 1 ano
Crianças entre 1 e 2 anos
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
39,9%
54,5%
1991/92
2002/03
20
Gráfico 4. Razão entre homens e mulheres concluintes do ensino fundamental, médio e superior no esta-
do do Rio de Janeiro - 1999-2002 (*se a razão for > 1, a desigualdade é a favor dos homens, e inversamente às
mulheres).
Fonte: Elaboração própria, a partir de PNUD, 2007b.
Gráfico 5. Taxa de mortalidade infantil no estado do Rio de Janeiro 1994-2004.
Fonte: Elaboração própria, a partir de PNUD, 2007b.
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0,70
0,80
0,90
1,00
1999
2001
2002
Razão homens/mulheres
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
0
5
10
15
20
25
30
35
40
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Meta
2015
Razão crianças menores de 5 anos/crianças
nascidas vivas no mesmo período
21
Gráfico 6. Taxa de mortalidade materna no estado do Rio de Janeiro 1994-2004 (valores elevados podem
estar refletindo os esforços realizados pelo Estado em melhorar a qualidade de informação).
Fonte: Elaboração própria, a partir de PNUD, 2007b.
Gráfico 7. Casos confirmados de AIDS, malária e tuberculose no estado do Rio de Janeiro 1994-2005
(*nd = dado não disponível).
Fonte: Elaboração própria, a partir de PNUD 2007b; MS, 2007; MS, 1980-2003.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Meta
2015
Razão óbitos maternos/crianças nasicdas vivas
2.194
4.234
3.286
3.034
5.110
nd
1
1
19
3
1.511
1.630
1.401
790
nd
0
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
1994
1999
2002
2003
2005
AIDS
Malária (casos autóctones)
Tuberculose (todas as formas)
22
Gráfico 8. Percentual de moradores em domicílios particulares permanentes com abastecimento de água,
no Brasil 1992-2005.
Fonte: Elaboração própria, a partir de BRASIL, 2007.
Tabela 4. Descontos concedidos pelo Brasil (US$ milhões).
Países pobres altamente endividados
1.011,9
África
815,2
Demais países
196,7
Outros países em desenvolvimento
241,7
África
116,6
Demais países
125,1
TOTAL
1.253,6
Fonte: BRASIL, 2007.
Conforme os dados ilustrados, pode-se observar que, tanto a nível Estadual quanto
Federal, o caminho da sustentabilidade tem sido trilhado progressivamente, defrontando
com dificuldades em sua trajetória, contudo superando-as na medida do possível. Outro fa-
tor discutido acentuadamente nos dias atuais é sobre a mudança climática e seus impactos
no meio. Este já era um tema inserido no palco da crise ambiental e desenvolvimento sus-
tentável, contudo assumiu maior atenção recentemente. Resumidamente, para combater as
alterações climáticas provocadas pelas ações antrópicas, foram adotados os projetos de
0,0% 20,0% 40,0% 60,0% 80,0% 100,0%
1992
1993
1995
1996
1997
1998
1999
2001
2002
2003
2004
2005
Poço ou nascente (rural)
Rede geral (rural)
Poço ou nascente (urbana)
Rede geral (urbana)
23
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
1
(MDL). A distribuição das atividades de MDL (gráfi-
co 9) se dá de diferentes formas e abrangência no território nacional.
Gráfico 9. Distribuição das atividades de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo entre as regiões brasi-
leiras.
Fonte: CGEE, 2008.
Atualmente, na região Sudeste, o estado que executa maior parte das atividades de
MDL é São Paulo, com aproximadamente 80 atividades; o Rio de Janeiro fica em lugar,
com aproximadamente 20 atividades (CGEE, 2008).
A importância de se ter a Agenda 21 Brasileira e os ODM é fundamental neste pro-
cesso de transformação do modelo desenvolvimentista. Não de pode excluir estes dados,
nem deixá-los de lado, visto que se complementam e demonstram a situação do país, pos-
sibilitando maior valorização e conscientização por parte da sociedade. Um esboço modelo
é apresentado na figura 1, a qual apresenta diferentes rumos de desenvolvimento, ambos
trilhados atualmente pela humanidade vive-se uma fase de transição: o modelo consumis-
ta e impactante (enfoque linear humano) e a alternativa de mudança (sistema sustentável).
1
Desde a CNUMAD, a comunidade internacional tem discutido sobre a mudança do clima e suas implicações no
meio ambiente, econômico, político, tecnológico, entre outras esferas, concretizando a complexidade envolvida a
respeito da mesma. Com o estabelecimento do Protocolo de Quioto, alguns mecanismos foram criados para
serem plenamente aproveitados de forma significativa; destes mecanismos, o MDL foi o único flexível e aplicável
aos países em desenvolvimento, como o Brasil (CGEE, 2008).
Sudeste: 47%
Sul: 22%
Centro-oeste:
18%
Nordeste: 10%
Norte: 3%
Sudeste
Sul
Centro-oeste
Nordeste
Norte
24
Figura 1. Modelos de desenvolvimento.
Fonte: BRAGA et al, 2005.
de se conquistar o desenvolvimento sustentado do desenvolvimento sustentável,
ou seja, consolidar a estabilidade do crescimento macro-econômico e equilíbrio orçamentá-
rio e financeiro (MMA, 2004b). A construção do desenvolvimento sustentável nacional é uma
tarefa que deve ser executada por todos, havendo uma ruptura epistemológica quanto a
transferência de responsabilidades por parte da sociedade civil para com os governantes, ou
seja, não deve ser acomodada a condição exclusiva de cobrar por resultados e, contraditori-
amente, assumir um estilo de vida danoso e predatório para com o meio. Uma das ações
mais importantes para a sustentabilidade é quanto a educação do público, ratificando a con-
dição contraditória citada; deve haver compreensão por todos quanto a seus atos e modelos
de consumo. A trajetória e prospectivas são positivas segundo relatórios e publicações de
resultados obtidos ao longo do tempo, entretanto fica a reflexão sobre a condição humana e
sua relação com seu meio, devendo impulsionar demasiada mudança, ainda necessária
para a totalidade do desenvolvimento sustentável.
25
CAPÍTULO 3. BREVE HISTÓRICO DE USO DAS ÁGUAS NO BRASIL
O território brasileiro compreende demasiada diversidade geográfica, abrangendo
desde a Bacia Amazônica, com alta disponibilidade hídrica, até o cerrado do Planalto Cen-
tral e o semi-árido do Nordeste, com escassez do recurso, além de suas regiões tempera-
das com estações climáticas bem definidas. Doravante, os estudos desenvolvidos sofrem
dificuldade de discussão unificada, devido esta diversidade biológica, ainda somada a diver-
sidade social destas regiões. Contudo, existe uma herança cultural deixada pelos portugue-
ses: a dependência da disponibilidade de água. Este recurso, quanto mais abundante, mais
desperdiçado, tanto em quantidade quanto em qualidade. Em contrapartida, os índios eram
a favor do meio ambiente, prezando pela qualidade de suas águas para sua sobrevivência e
subsistência (ANA, 2007b).
A abordagem histórica deste trabalho se faz necessária uma vez que, não menos-
prezando o passado, o qual constrói todo o processo hodierno e promove melhor concepção
contextual, fornecendo embasamento informativo para análises e críticas, conduz a uma
interpretação sistêmica e densa.
Os estudos e análises abordados nos próximos capítulos foram norteados a partir de
um viés holístico, buscando elencar dados para melhor compreensão a posteriori, onde a
abordagem ampla se reduz, reunindo as devidas observações para análise restrita.
3.1. O período p-colonial
Pode-se iniciar a história do uso das águas no Brasil com o texto de Rubem Alves
(2001), chamado de A Água; este esboça de maneira poética o início da captação e distribu-
ição dos recursos hídricos no país:
(...) Difícil era levar a água da mina até a casa. Não havia canos. Havia uma árvore que podia
ser usada como cano, por ser oca por dentro: a embaúba. Ela se parece um marmoreiro. Via-
jando por aí a gente reconhece no meio das matas pelo prateado das suas folhas. Mas emba-
úbas não crescem em todos os lugares! Foi pela observação do jeito das águas correr que a in-
teligência encontrou uma solução. Os homens perceberam que a água sempre anda por conta
própria. É só lhe dar um leito por onde correr que ela corre, sem que a gente precise fazer for-
ça. Aí veio a idéia de se fazerem miniaturas de rios que levassem a água de onde ela estava
até o lugar onde queriam que ela estivesse. Assim se inventaram os ―regos‖. Um rego é um rio-
zinho artificial, para a água correr. Mas há uma coisa que a água não faz: ela não sobe morro...
Daí se deduz a primeira regra de como fazer a água chegar até perto de casa: é preciso que a
mina d‘água esteja mais alta que a casa. (...) Se estiver mais abaixo, o jeito é ir até lá e trazer
água num pote ou jarro... (...) Difícil era tomar banho. (...) O jeito era tomar banho de bacia e
canequinha. Complicado. (...) Banho diário é invenção moderna, felicidade não conhecida na-
queles tempos. (...) Foi assim durante milhares de anos (adaptado pelo autor).
O texto acima referido denota este início do uso dos recursos hídricos brasileiros.
Contudo, seu passado é complexo e de grandes histórias.
26
A tendência de desenvolvimento comercial européia foi acompanhada por Portugal,
estabelecendo seu grupo mercantil, estes voltados para o comércio da pesca, sal e agricul-
tura. A crise do culo XIV, com a tensão das revoltas e falta de segurança nas estradas,
beneficiou este grupo. Desta forma, as rotas marítimas passaram a ocupar lugar prioritário
nas relações comerciais e promoveram regiões litorâneas como Portugal, Espanha, Holanda
e Inglaterra. O comércio marítimo passou a ser fundamental para garantia de recursos.
A solução para a crise do século XIV era a quebra das barreiras feudais, ampliando o
mercado e as conquistas comerciais; entretanto, alguns problemas impediam esta prática: o
monopólio árabe-veneziano sobre os produtos orientais a exclusividade de compra e ven-
da destes produtos garantiam lucros somente aos italianos e árabes, excluindo o resto dos
países da Europa. Logo, um caminho alternativo para aquisição de bens materiais e novos
mercados era necessário. O monopólio estabelecido, somado aos problemas de peste, fome
e guerras da época, provocou a fome monetária (KOSHIBA e PEREIRA, 1993). A moeda
utilizada era o ouro, e a extração deste diminuiu por conta dos problemas, desvalorizando a
moeda e subindo os preços. Então, com o aumento das tensões sociais, numa busca de
alívio para a crise monetária, a busca por outras fontes e reabastecimento de metais precio-
sos é vista como solução, fazendo com que outros países buscassem sua expansão maríti-
ma e comercial. Não a crise econômica e a busca por novos recursos e mercados, mas
também havia em Portugal e Espanha, principalmente, o ideal missionário, o qual era uma
das grandes justificativas para a expansão, pela preocupação em catequizar os gentios.
A expansão marítima e comercial estava ligada diretamente a centralização política
do poder, o que colocou Portugal na frente graças a Revolução de Avis
2
(1383-1385); esta
liderada pelo grupo mercantil e auxiliada pelos interesses reais. Os recursos para a expan-
são só foi possível pelo acúmulo prévio de capital, prática impossibilitada nos países onde o
Estado era descentralizado. Além disso, Portugal possuía algumas vantagens como: enri-
quecimento favorável devido relações com Inglaterra e Itália; posição geográfica privilegia-
da, voltado para o Atlântico; era uma dos países mais urbanizados da Europa, com grande
parte da população dependente da pesca e outras atividades marítimas; tornou-se centro de
estudos marítimos no início do século XV. A partir de então, a expansão ultramarina deu
origem ao capitalismo português e levou o Estado a modernidade.
Portugal inicia sua expansão na primeira metade do século XV, com a tomada de
Ceuta, em 1415. Ceuta era importante ponto comercial, foco de mercadorias valiosas como
ouro, seda, marfim e escravos, garantindo altos lucros para o Estado português e sua bur-
guesia mercantil. Porém, a expansão não foi fundamentalmente capitalista, pois o Estado
2
O objetivo da Revolução era defender a independência e, conseqüentemente, fortalecer o poder real, que ca-
minhava para o absolutismo. Um Estado forte interessava à burguesia, na medida em que promovia o comércio
e a navegação.
27
buscava obtenção de terras e títulos. Contudo, estes diferentes momentos expansivos do
grupo mercantil e da nobreza portuguesa ocorreram em diferentes reinados. Ora o Estado
apoiava a expansão visando fundamentalmente os lucros, ora apoiava a expansão nobre,
de caráter cruzadista, buscando conquista de novas terras e títulos. Com isso, a burguesia
não conseguia se estabilizar.
Até 1460, os navios portugueses exploravam apenas o litoral africano e o caminho
para as Índias, buscando ouro e escravos. O interesse comercial aumentou, superando o
caráter cruzadista anterior. O Estado, aliado com a burguesia e a nobreza, insistia nas via-
gens marítimas, alcançando Calicute, em 1498, sob comando de Vasco da Gama, este sen-
do um dos mais importantes centros comerciais do Oriente (figura 2). O pioneirismo portu-
guês foi seguido pelos espanhóis, depois Inglaterra, França e Holanda.
Figura 2. Expansionismo português.
Fonte: KOSHIBA e PEREIRA, 1993.
Com o domínio de Calicute, os portugueses rapidamente organizaram outra expedi-
ção para consolidar o caminho (figura 3). Sob comando de Pedro Álvares Cabral, a expedi-
ção tomou rumo diferente e aportaram em terras estranhas, chamando-as de Ilha de Vera
Cruz, posteriormente mudada para Terra de Santa Cruz. E em 1503, passando a ser cha-
mada de Terra do Brasil.
28
Figura 3. O expansionismo português.
Fonte: ARRUDA e PILETTI, 1999.
O início do povoamento territorial do Brasil foi realizado, em sua maioria, por homens
em busca de esposas. Chegando ao Brasil, estes se depararam com o povo indígena, soci-
almente aberto aos matrimônios com os forasteiros, marcando a história com uma miscige-
nação, tipicamente lusitana, onde fora vivida de maneira única comparando às práticas co-
lonizadoras de outras potências européias. A descoberta do Brasil não despertou interesse,
inicialmente, em Portugal, pois não havia produtos que atraíssem a política mercantilista
portuguesa; porém, com o tempo, foram descobertas fontes de recursos naturais explorá-
veis, estes sendo retirados e exportados sem controle e preocupação ambiental.
Cerca de 6 milhões de índios habitavam o Brasil no período do ―descobrimento‖
3
(Darcy Ribeiro, in COE e RAMOS, 2008), estes dividindo-se em quatro grupos lingüístico-
culturais: Tupi, Jê, Aruaque e Caraíba. Neste período, o litoral brasileiro fora ocupado pelos
Tupis, impondo sua dominância e mandando as outras tribos para o interior. Observando
esta particularidade, os europeus passaram a firmar alianças e amizades com o grupo do-
minante, fundamentais para sua estratégia de ocupação. Os índios vivam em forma de co-
munidade primitiva: não tinham escravos e hierarquia, todos trabalhando igualmente. Esta
característica refletia sua forma de exploração dos recursos naturais, pois, por terem técni-
cas rudimentares para esta, a faziam apenas para sua sobrevivência, não objetivando esto-
cagem e lucros (ARRUDA e PILETTI, 1999).
3
Alguns historiadores consideram a ―descoberta‖ como um ato de invasão, aculturação e violência ao povo indí-
gena.
29
Os jesuítas aprenderam a língua Tupi, transformando-a e adaptando-a, alinhando-a
em uma língua comum entre as tribos. Esta atitude dos jesuítas promoveu uma aculturação
e perda de identidade dos nativos, tornando-os mais suscetíveis a dominação missionária e
seus interesses. E para garantir estes interesses, os próprios portugueses estimulavam e
provocavam conflitos entre as tribos, facilitando ainda mais sua dominação. Darcy Ribeiro
(1993), em depoimento oral, fala sobre este período:
É muito curioso... a sabedoria européia, em alguns capítulos dela, a sagacidade européia, a
sagacidade dos saqueadores, os ―extorquidores‖. Vejam só, em 1454, a Europa estava se ex-
pandindo ainda sobre a África, sobre a costa da África. O Papa deu ao Rei de Portugal uma bu-
la garantindo ao Rei de Portugal que onde o Príncipe D. Henrique, que estava viajando, que
estava explorando a África, que onde o príncipe pusesse a mão, aquela terra seria do Rei, e o
―Negro‖ em que ele tocasse seria escravo, escravo dele e de seus filhos até o fim do mundo.
Vejam só, isto é o direito à espoliação, uma bula papal, mesmíssima bula papal que é repetida
para o Rei de Espanha em 1493. Um ano depois da ―descoberta‖, um ano depois da invasão
da chegada aqui de Colombo. O Papa, que era uma suprema autoridade legal do mundo na
época, dava ao Rei de Espanha o direito que tinha dado ao Rei de Portugal, o direito de se a-
propriar. Esta é a lei que rege até hoje a única lei das Américas. A lei de saqueio, a lei do rou-
bo, a lei da espoliação. (apud COE e RAMOS, 2008).
Os portugueses não reconheciam a cultura local, a religião para eles era imprescin-
dível, sendo incapazes de compreender e aceitar o contexto sócio-cultural do povo indígena.
Américo Vespúcio
4
via os índios como ―mansos‖; para ele os índios viviam de maneira para-
disíaca. Contrapondo a visão de Caminha e dos jesuítas, os quais viam os índios como
―bestas‖, ―cães‖, ―porcos‖, pois não tinham costumes do homem branco.
Contudo, os europeus aprenderam a apreciar o meio ambiente com os índios. Espe-
cialmente a água, esta sendo fonte principal de sobrevivência e muito respeitada pelos nati-
vos. A água na língua tupi se resume a uma letra: i (ig). Existem várias nominações para a
água atribuída pelos índios. A água verdadeira é chamada de ieté, a água doce é icem, a
água boa é a icatu. A água benta ou santa é icaraí, esta designando nomes de bairros hoje
em dia. A cabeceira, nascente ou início de um rio é conhecida por icanga ou iacanga. O limo
dos rios é chamado de igaba. A bacia fluvial e a enseada é chamada de iguá, sendo tam-
bém utilizada como prefixo de alguns lugares, como Iguaba (bebedouro da baía). A cascata
de uma cachoeira é itu, a cachoeira branca é a itutinga, e a cascata vertical é ituzaingó,
semelhante a itupeva, diferenciada pela altura, esta última é de pouca altura. As quedas que
estrondam rumores são chamadas de ituporanga, e as silenciosas e brandas são itumirim e
ituassú. Para alguns grupos indígenas, a água é considerada um elemento divino e especial,
pois estimula o crescimento físico e psicosocial as indías costumam mandar suas crianças
tomarem banho na chuva para crescerem com mais vigor (ANA, 2007b).
4
Américo Vespúcio, (Florença, 9 de Março de 1454 Sevilha, 22 de Fevereiro de 1512), foi um mercador, na-
vegador, geógrafo, cosmógrafo italiano e explorador de oceanos que viajou pelo, então, Novo Mundo, escreven-
do sobre estas terras a ocidente da Europa.
30
Os portugueses com posição dominante passam a explorar os recursos hídricos do
Brasil. Pero Vaz de Caminha, em sua famosa carta, chega a falar dos índios, aproveitando-
se de sua solidariedade, tomando barris de água trazidos por estes, para envio ao Rei de
Portugal. Ainda afirma sobre a infinidade das águas encontradas e sua qualidade, contem-
plando o proveito de plantio e colheita.
A exploração foi feita de maneira inconseqüente e despreocupada, visando atender
interesses imediatistas. Todos os recursos naturais foram explorados desta forma. Decor-
rente disto, grandes áreas do país se tornaram improdutivas e inúmeras espécies de ani-
mais foram extintas. O Brasil só passaria a contar com um Código Florestal a partir de 1934.
3.2. O período pós-colonial
A partir de 1530, o governo português desviou sua atenção para as terras america-
nas, visto que na Ásia seus gastos com possessões estavam se elevando cada vez mais.
Este governo encontrou um novo desafio: tornar rentável a ocupação das terras do Brasil,
visto que a população nativa não produzia excedentes, apenas o necessário para sobrevi-
vência. Diante disto, o governo português deu início ao processo de colonização das terras
brasileiras. Então, em 1532 o Rei de Portugal anunciara o povoamento do Brasil através das
capitanias hereditárias
5
, ficando estabelecidas conforme mapa apresentado na figura 4.
5
Alguns núcleos de povoamento foram fundados, mas a Coroa Portuguesa percebeu que estes não garantiriam
a posse sobre as terras, pois eram isolados. Para estimular ainda mais o processo colonizador, e não dispondo
de capital para isto, foi implantado o sistema de capitanias hereditárias, dividindo o Brasil em faixas de terras que
seriam passadas de pai para filho (COSTA e MELLO, 1999).
31
Figura 4. Divisão do território brasileiro em capitanias hereditárias.
Fonte: COSTA e MELLO, 1999.
Este sistema transferia a tarefa de colonizar o Brasil. Os donatários (donos das ter-
ras) eram responsáveis por esta colonização, além de terem de desenvolver a terra à sua
própria custa. As capitanias hereditárias foram soluções para garantir a posse das terras
para Portugal; contudo, foi um fracasso. As terras inférteis e a falta de recursos dos donatá-
rios contribuíram para o insucesso das capitanias; apenas Pernambuco obteve sucesso e,
temporariamente, São Vicente.
Doravante, as cidades foram sendo formadas através deste processo. As primeiras a
serem construídas foram: São Vicente, Olinda, Igaraçu, Salvador, Rio de Janeiro, Filipéia de
Nossa Senhora das Neves, entre outras (ANA, 2007b). Estas eram pequenos núcleos do
início da colonização.
O colonialismo foi uma forma de acumulação inicial do capital por parte da burguesia
comercial européia para fortalecimento do Estado europeu. As colônias serviam para este
propósito. Sua política econômica era o mercantilismo, com principal função de manter uma
balança comercial positiva a exploração alheia das colônias garantia esta positividade; a
32
economia das colônias complementava a das metrópoles
6
. As colônias se encontravam em
posição desvantajosa, somado ainda ao fato desta possuir uma relação comercial exclusiva
com sua metrópole, ou seja, não poderia comercializar alguma coisa com outro país. Esta
exclusividade é chamada de pacto colonial
7
. Logo, todo o continente americano passa a ser
economicamente dependente da Europa; suas bases estruturais social, política e econô-
mica foram construídas sob interesses hegemônicos das metrópoles. No caso do Brasil,
ainda ocorreu um tipo de colonização mais predatória, fazendo da nação uma colônia de
exploração, onde sua população povoadora estava interessada apenas na exploração dos
recursos naturais, fortalecendo a economia da metrópole e garantindo acúmulos de capitais
para a mesma. O Brasil sofre conseqüências deste tipo de colonização até os dias atuais.
De maneira geral, as colônias de exploração são os atuais países subdesenvolvidos (COS-
TA e MELLO, 1999).
O período pós-colonial, principalmente, apresentou alguns marcos que valem ser a-
feridos conforme apresentado tabela 5:
Tabela 5 Cronologia histórica: da “descoberta” a centralização do Governo.
ANO
ACONTECIMENTOS
1500
A chegada dos Portugueses. Expedição chefiada por Pedro Álvares Cabral, três caravelas e 1.500 homens a
bordo, chegou ao litoral da Bahia, avistou um monte e o chamou de Monte Pascoal. No dia seguinte, a expe-
dição aportou em nova terra, chamando-a de ―Terra de Vera Cruz‖. Um relato é enviado ao Rei de Portugal,
a famosa Carta de Pero Vaz de Caminha.
1500-1530
Os portugueses percorrem o litoral brasileiro para ocupar e defender as terras. Se apossaram de mão-de-
obra indígena para estes feitos, fundando pequenas feitorias e explorando o pau-brasil como matéria-prima
de tinturarias.
1532
Portugal e Espanha dividem o Brasil através do Tratado de Tordesilhas (1494), porém os franceses não
aceitam a situação e ocupam diversos pontos do litoral brasileiro, o que culminaria em guerras a posteriori.
Para garantir a posse das terras, Portugal divide sua parte em capitanias hereditárias.
1549
Com o fracasso das capitanias hereditárias, criou-se o Governo Geral, com Tomé de Souza como gover-
nador geral.
1549-1553
Os conflitos entre portugueses e indígenas se acentuam. Tomé de Souza se alia aos Tupis e, vencendo,
escravizou as outras etnias.
1553-1558
A produção do açúcar consolida o projeto de colonização do Brasil.
1558-1572
Iniciam-se as guerras contra os franceses, expulsando-os do litoral brasileiro.
1572
A distância entre a colônia e a metrópole era uma dificuldade na administração das novas terras, assim,
centralizou-se o poder nas cidades do Rio de Janeiro e Salvador, numa tentativa de melhor esta administra-
ção.
Fonte: ANA, 2007b (adaptado pelo autor).
Atendo-se à exploração hídrica do Brasil, esta se inicia em Olinda, espalhando-se ao
longo de todas outras cidades. Suas histórias são semelhantes. Esta exploração está ligada
6
Na época do Brasil colônia, a metrópole tinha significado de país colonizador diante das terras ocupadas. Atu-
almente, o significado de metrópole está ligado à posição central de uma cidade e seu entorno urbano.
7
A palavra pacto transmite a idéia de ―acordo‖ ou ―contrato‖ entre duas pessoas ou países em torno de determi-
nadas questões. Mas quando se fala de pacto colonial, a expressão assume outro significado. Pacto colonial
indica uma relação de dominação política e econômica de uma potência sobre um país ou região, geralmente
mais pobre e menos desenvolvido. Não existe, portanto, um acordo entre duas partes contratantes. Essa domi-
nação é de tal ordem que a produção da região dominada deve ser complementar em relação à economia da
potência dominante. Desse modo, ela deve fornecer matérias-primas para a indústria da metrópole, ou produtos
que esta possa comercializar. Além disso, a colônia deve servir de mercado consumidor dos produtos fabricados
na metrópole (ARRUDA e PILETTI, 1999).
33
diretamente ao crescimento das cidades e sua evolução. O abastecimento d’água se deu de
maneiras diferentes ao longo do Brasil e foi, inicialmente, realizado por escravos negros e,
posteriormente, juntamente com os índios. Estes buscavam água para seus senhores. Com
o passar do tempo e com a evolução do país, o abastecimento de água passou a ser reali-
zado através de chafarizes e torneiras públicas. Posteriormente passa a ser através de tubu-
lações e grandes obras de engenharias.
Entre as diversas formas de exploração e uso dos recursos hídricos, encontrava-se o
monjolo (figura 5). Um dispositivo primitivo e distinto utilizado para socar milho, café, arroz e
amendoim. Era feito a partir de troncos de árvore, funcionando em movimentos alternados e
oscilantes, variando o ponto de equilíbrio provocado pelo filete de água que enchia uma das
cavidades extremas e esvaziava, repetindo o processo incessantemente.
Figura 5. a) ilustração esquemática de um monjolo; b) imagem real de um monjolo.
Fonte: ANA, 2007b.
A roda d‘água (figura 6) também foi bastante usada neste período inicial de uso das
águas. Era invvel a criação de animais e o plantio sem água; assim, a roda d’água garantia
a irrigação do terreno. Sua tecnologia primitiva era, consciente ou inconscientemente, a fa-
vor do meio ambiente, uma vez que não dependia de combustíveis fósseis para realização
de seu trabalho, não causando poluição. Entretanto, este tipo de abastecimento era moroso
como os outros, mesmo sendo considerado avançado para a época.
34
Figura 6. Roda d’água.
Fonte: ANA, 2007b (destaque do autor).
Com o tempo, os meios de transporte e armazenamento de água deste período fo-
ram sendo abandonados e se transformando em peças de decorativas, algumas não sendo
mais encontradas. Atualmente, o nordeste do Estado de Minas ainda desenvolve estas pe-
ças cerâmicas, mas não com o intuito de guardar a água fresca, e sim a decoração. As fa-
mosas ―bonecas‖ (figura 7) são inspiradas nas moringas.
a) b)
Figura 7. a) as “bonecas”; b) a fonte de inspiração das “bonecas”: a moringa.
Fonte: ANA, 2007b.
35
O abastecimento de águas fora um grande problema das cidades recém-criadas. Os
centros urbanos possuíam um sistema de abastecimento fraco e mal dimensionado; os sis-
temas de fontes e chafarizes públicos eram facilmente contaminados, uma vez que eram
alimentados por filetes expostos às diversas fontes poluidoras. O abastecimento residencial
era realizado por meio de poços ao fundo do quintal, também constantemente contamina-
dos, causando as mais diversas e fortes epidemias da época através da distribuição destas
águas. Estas distribuições de águas eram feitas, por geral, por moradores portugueses, cu-
jos zombavam da situação dizendo: ―a água é boa, o povo é burro, a água é deles e nós lha
vendemos‖ (ANA, 2007b).
A exploração desenfreada dos recursos hídricos, somada a falta de tecnologia para
um sistema denso e eficaz de abastecimento, provocou o período de crise, levando o recur-
so a ficar escasso e de difícil acesso. Esta escassez ocasionou desconfortos no cenário hi-
giênico pessoal, visto que os banhos passaram a ser privilégios de alguns. As Casas de
Banho da cidade eram restritas aos que possuíam melhores condições sociais, consideran-
do que estas não eram apenas locais voltados para higiene pessoal, mas também como
ponto de encontro de reuniões e restaurante. As Casas de Banho persistiram na história
brasileira até o problema do abastecimento ser sanado pelas autoridades, levando água
encanada às residências. Um aspecto interessante é que estas Casas de Banho são carac-
terísticas da cultura européia, trazidas para cá e atreladas à cultura da elite local.
Posteriormente, tornou-se mais visível as diferenças sociais e o acesso a água. Em
meados do século XIX os chafarizes passam a desaparecer, juntamente com os escravos
que carregavam esta água para seus senhores e, também, para vender, dando lugar a água
encanada. Inicia-se uma revolução técnica adotando novas características econômicas, cul-
turais, sociais e, ainda, paisagísticas. O acesso a água passa a ser diferenciado e de acordo
com as classes sociais, apenas as elites locais tinham acesso a água na porta de casa e às
Casas de Banho; as classes menos favorecidas tinham que contar com este acesso a água
e higiene pessoal nos chafarizes públicos e torneiras. Tempos depois, a água encanada era
um luxo conhecido e adquirido por poucos. A crescente demanda por água já se somava à
degradação ambiental, implicando no desmatamento das nascentes e tecnologias primitivas
empregadas nesta captação de águas.
Todavia, a Coroa Portuguesa começou a se preocupar com a sustentabilidade dos
recursos hídricos e florestas de sua colônia, vigorando sua legislação ambiental, a partir do
século XVI. Até 1532 no Brasil, aplicaram-se as Ordenações Manuelinas, dotando o país
de legislação ambiental. Historiadores apontam estas Ordenações como embrionárias da
legislação ambiental brasileira. Estas foram evoluindo até a chegada da família real em
1808. A legislação exclusivamente portuguesa foi aplicada no Brasil até 1548 quando a im-
plantação do Governo Geral dá início à legislação brasileira, complementando a portuguesa.
36
A partir de 1603 passam a vigorar as Ordenações Filipinas, com algumas alterações deriva-
das das legislações anteriores, protegendo mais o meio ambiente, protegendo as águas e
os peixes, proibindo a pesca com rede em certos períodos do ano e a poluição das águas.
Vários instrumentos legais foram sendo criados com o decorrer do tempo, visando a prote-
ção da fauna e flora brasileira; alguns destes eram: Regimento do Pau-Brasil (1605), a Carta
Régia (1797), Regimento de cortes de madeiras (1799), a criação do Jardim Botânico no Rio
de Janeiro (1808) (MARTINS e AMORIM, 2007). Apesar da principal preocupação estar re-
lacionada às fontes de matéria-prima, o cuidado pelos recursos dricos era explícito. O
Direito Ambiental brasileiro teve sua evolução ao longo da história, construindo instrumentos
importantes como: o Código Florestal
8
e o Código das Águas
9
, através da Constituição de
1934. Sua evolução se aos dias atuais, buscando melhorar cada vez mais sua gestão e
cuidado com seus recursos naturais.
Vale citar o artigo 225 da Constituição de 1988 que explicita: ―Todos têm direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essência à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações‖. Estudos detalhados sobre o tema foram
abordados no Capítulo 2.
3.3. Conjuntura Atual
Analisando o passado brasileiro, sua história, é possível concluir que o setor de meio
ambiente e, especificamente, de recursos hídricos do país ganhou notável avanço. A inclu-
são do Sistema Nacional de Gestão dos Recursos Hídricos na Constituição de 1988 marca
esta trajetória, somada ainda com a criação da Lei 9.433, datada de 8 de janeiro de 1997,
que estabelece a Política Nacional de Recursos Hídricos. A agenda política brasileira atual
verdadeiramente incorporou os recursos dricos em suas prioridades.
Vale observar que este sistema deve ser participativo, descentralizado e integrado,
envolvendo todos os atores. Esta participação é necessária, considerando que envolve a
discussão e integração entre governo, sociedade e técnicos, promovendo uma contínua
evolução nesta temática. Flávio Terra Barth diz que a implementação da gestão dos recur-
sos hídricos deve ser observada a partir de um eixo gradual, um processo político progressi-
vo, avançando em etapas, oferecendo melhoras e, ao mesmo tempo, levando em conta as
diferenças e especificidades de cada região brasileira (apud ANA, 2002a).
8
Decreto Federal nº 23.793 de 23 de Janeiro de 1934. O Novo Código Florestal passou a vigorar a partir de
1965, com a aprovação da Lei nº 4.771 de 15 de Setembro de 1965.
9
Decreto Federal nº 24.643 de 10 de Julho de 1934.
37
Em análises gerais, o Brasil possui cerca de 183.987.291 milhões de habitantes, com
aproximadamente 82% de sua população habitantes de áreas urbanas. Sua média popula-
cional é de 21,6hab/km² (IBGE, 2007). Seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de
0,800 e é o 70º na lista oficial da ONU, enquadrando-se nas nações com IDH elevado
(PNUD, 2007a). Uma projeção populacional para 2050 é representada no gráfico a seguir
(gráfico 10).
Gráfico 10. Projeção populacional para 2050.
Fonte: IBGE, 2008.
O Brasil detém 12% da disponibilidade hídrica mundial (1,5 milhão de m³/s), com
uma vazão média anual de seus rios de 179 mil m³/s (ANA, 2005b). Esta oferta é, em parte,
explicada pela bacia amazônica. Esta região hidrográfica detém 73,6% dos recursos hídri-
cos superficiais brasileiros. A tabela 6 mostra detalhadamente a disponibilidade hídrica e as
vazões médias e de estiagem de cada região hidrográfica.
38
Tabela 6. Disponibilidade hídrica, vazões médias e de estiagem.
Região hidrográfica
Vazão média (m³/s)
Disponibilidade hídrica
(m³/s)
Estiagem
Q
95
(m³/s)
Amazônica
132.145
73.748
73.748
Tocantins/Araguaia
13.799
5.447
2.696
Atlântico Nordeste Ocidental
2.608
320
320
Parnaíba
767
379
294
Atlântico Nordeste Oriental
774
91
32
São Francisco
2.846
1.886
852
Atlântico Leste
1.484
305
252
Atlântico Sudeste
3.162
1.109
986
Atlântico Sul
4.055
647
647
Paraná
11.414
5.792
3.901
Uruguai
4.103
565
394
Paraguai
2.359
782
782
BRASIL
179.516
91.071
84.904
Fonte: ANA, 2009.
Apesar de ter uma grande disponibilidade hídrica, esta não é equilibrada ao longo do
país, apresentando acentuada diferença entre suas RHs observação possível através da
tabela 6. A figura 8 ratifica estas diferenças através das vazões específicas.
Figura 8. Distribuição espacial das vazões específicas do Brasil.
Fonte: ANA, 2009.
39
Vale ressaltar que a região do Pantanal,apesar de reter boa parte de águas fluviais
provindas de seu Planalto, não se enquadra como produtora destas águas; devido esta con-
dição sua área representa uma baixa vazão específica.
Uma grande preocupação nacional e global é a relação demanda x disponibilidade.
O Brasil, a partir de estudos, se classifica com uma confortável situação. Porém, não se de-
ve analisar os dados de forma generalizada para assegurar esta condição de conforto. O
gráfico 11 apresenta a situação do país a partir da relação demanda x disponibilidade.
Gráfico 11. Situação brasileira quanto sua demanda e disponibilidade hídrica.
Fonte: ANA, 2007, apud ANA, 2009.
De acordo com o gráfico apresentado, o Brasil, como dito, se encontra em posição
privilegiada e muito cômoda quanto a seus recursos hídricos. Contudo, uma compensa-
ção de dados implícitos, devendo ser refletido e analisado de maneira minuciosa. A aferição
de comodismo se por conta da RH Amazônica, detendo 73,6% dos recursos hídricos
brasileiros e com uma demanda de apenas 4%; outras RHs como Tocantins/Araguaia e A-
tlântico Nordeste Ocidental também apresentam ótimas relações de demanda e disponibili-
dade. Assim, quando analisados de maneira generalizada, o gráfico induz a uma situação
de excelência nacional, entretanto, como referido, os dados sob análises de proporções re-
gionais, levando em conta as especificidades do país, apresentam preocupações quanto ao
cenário hídrico. Uma análise mais detalhada, a partir do gráfico 12, torna mais explícita a
real condição brasileira.
73%
9%
5%
4%
9%
Balanço nacional: Demanda x Disponibilidade Hídrica
Excelente
Confortável
Preocupante
Crítica
Muito crítica
40
Gráfico 12. Situação brasileira quanto a sua demanda x disponibilidade a partir de suas Regiões Hidro-
gráficas.
Fonte: ANA, 2009.
Somente a partir do gráfico 12 é possível observar a real situação brasileira. Como
supracitado, o Brasil detêm boa parte dos recursos hídricos mundiais, porém de forma desi-
gual, assegurando condições confortáveis a algumas de suas RHs e, para outras, condições
críticas e preocupantes. O país tem sua maior demanda consuntiva na irrigação (gráfico
13), um quadro histórico desde os tempos coloniais; conjuntamente com evolução do setor
industrial e urbano.
Gráfico 13. Demanda consuntiva no Brasil por finalidade de uso.
Fonte: ANA, 2009.
47%
8%
17%
2%
26%
Irrigação
Animal
Industrial
Rural
Urbano
41
A demanda por água é diretriz básica de uma população que aumenta a cada perío-
do. Segundo dados do IBGE (vide gráfico 10), a população brasileira tende a aumentar até
2040, quando se estima sua estabilidade com aproximadamente 225 milhões de habitan-
tes. Este modelo de desenvolvimento é negativo ao meio ambiente, pois o mesmo não con-
segue depurar todos os dejetos e resíduos gerados pela sociedade. O atendimento de água
(figura 9) se encontra em fases críticas em algumas regiões do país. Soma-se, ainda, o
fato de a água ser um divisor econômico-social neste palco, onde pode ser observada a re-
lação entre pobreza e acesso a água, principalmente potável; dados demonstram tal dispa-
ridade, onde a população com condições econômicas e sociais mais precárias são maioria
na falta de acesso à água (potável ou não, intensificada no primeiro caso) (PNUD, 2006).
Figura 9. Atendimento total de água por bacias hidrográficas.
Fonte: SNIS, 2005.
42
Atualmente, as dificuldades encontradas no país são derivadas de uma fraca infra-
estrutura urbana e, principalmente, a grande deficiência em sistemas de esgotos que com-
promete diretamente a qualidade das águas das praias e rios.
Os dados aqui expostos são importantes para compreensão holística de problemas
enfrentados em escalas locais.
3.4. O saneamento no Brasil
A história dos serviços de utilidade pública no Brasil é caracterizada pela instabilida-
de de seus modelos estatais e privados, de sua gestão centralizada e descentralizada. As
mudanças entre esses modelos ocorreram mais por imposição das novas forças, influências
e interesses políticos do que pelo intuito e meta em um modelo superior ao anterior.
As políticas do setor eram caracterizadas por medidas esporádicas e localizadas,
principalmente até a cada de 1960. Estas medidas eram realizadas pela necessidade
proveniente do crescimento populacional e da rede urbana. Os efeitos críticos da baixa efi-
ciência e disponibilidade dos sistemas de saneamento da época foram altas taxas de morta-
lidade infantil e agravamento da condição sanitária.
A história do saneamento no Brasil é dramática. Registros históricos demonstram
que as formas de afastamento e disposição final de dejetos eram bastante rudimentares. O
crescimento populacional, promovido pela colonização européia, não aumentava a de-
manda por água como também a poluição de rios e mananciais, através de lavagem de rou-
pas, utensílios e animais.
Atualmente, os setores de abastecimento de água e esgotamento sanitário são pau-
tas constantes nas agendas políticas, principalmente de países em desenvolvimento ca-
racterizados por sua baixa infra-estrutura na cobertura e qualidade destes serviços. O pre-
sente tópico se propõe a dissertar sobre a história do saneamento nacional, de seu passado
à condição hodierna, no intuito de promover maiores informações e, a posteriori, uma me-
lhor análise e discussão em situação e cenário regional.
3.4.1. Do período colonial ao século XX uma abordagem sintética
O período colonial foi, no aspecto ambiental, bem negativo. A economia encontrava-
se condicionada à exploração desenfreada dos recursos naturais e às monoculturas, estas
últimas caracterizadas pelos seus ciclos mercantis (SILVA, E. R., 2000); no âmbito físico-
mental, o acesso a saúde (hospitais, medicamentos, médicos, higiene, entre outros) era res-
43
trito às famílias reais, aos senhorios, locais, não havia ações governamentais nem preocu-
pação para aqueles que não faziam parte desta seleta população, apenas ações de abran-
gência micro. A questão do saneamento se resumia a instalação de chafarizes em algumas
praças e a drenagem de alguns terrenos, sendo a captação e distribuição de águas atribuí-
das a cada região, vila, localidade; seus dejetos e lixos eram removidos e tratados individu-
almente por cada família, não havendo terrenos apropriados para tal feito e muito menos
sistemas adequados de disposição. A chegada da família Imperial, em 1808, acentuou
ainda mais a situação (NASCIMENTO e SILVA, 2008).
A ordem nos serviços de saneamento veio com o fim do Império e da República.
Durante este período apenas os centros urbanos eram abastecidos de água e possuíam
redes de esgotamento sanitário os serviços públicos eram entregues à iniciativa privada,
principalmente estrangeira; esta situação delongou-se até o século XX. Após o advento da
Guerra Mundial, a insatisfação popular se generalizou e os serviços de abastecimento e
esgotamento outrora executados e geridos por empresas estrangeiras passam a ser
estatizado e vinculado aos recursos naturais. Portanto, a partir dos anos 1940, com o pro-
cesso de industrialização e urbanização em alta, os recursos hídricos passam a sofrer forte
impacto e degradação em detrimento do progresso político-econômico. Neste período sur-
gem as autarquias e mecanismos de financiamento, juntamente com a comercialização dos
serviços de abastecimento de água.
A partir de então, nos anos 1950-60, a qualidade de vida decai e os conflitos sociais
passam a ser mais explícitos; a exploração dos recursos naturais ainda ocorre de maneira
desenfreada. Almejando solução, a criação do PLANASA Plano Nacional de Saneamento
, gerenciado pelo Banco Nacional de Habitação (BNH), entre os anos 1964 e 1985, durante
a ditadura militar, assume a responsabilidade pela estruturação sanitária do país, buscando
reduzir o índice de mortalidade e doenças geradas pela falta de saneamento. O BNH incen-
tivou a criação de companhias estaduais e a concessão dos serviços pelos municípios aos
Estados. Os recursos financeiros eram originados do Fundo de Garantia por Tempo de Tra-
balho (FGTS), do Orçamento Geral da União (OGU), dos Estados e municípios através de
tarifas, e do próprio BNH a partir de empréstimos externos e internos (FARIA e FARIA,
2004). O PLANASA foi criado no intuito de solucionar permanentemente o déficit de abaste-
cimento de águas e esgotamento sanitário, com metas de atender 90% da população urba-
na com abastecimento de água e 65% com esgotamento sanitário em 1981 (IBGE, 2002).
Neste período houve grande aglutinação de decisões; os serviços municipais pas-
sam a sofrer pressão das companhias estaduais de saneamento básico (CESBs), culminan-
do também em uma separação política definitiva entre o setor de saúde e saneamento. Com
o acirramento da crise financeira, no início dos anos de 1980, o BNH adota a centralização
de seu poder privilegiando as empresas estaduais. Com o planejamento e aplicação dos
44
fundos realizados pelo BNH, o qual aplicava os recursos nas CESBs, a situação de depen-
dência dos municípios aos Estados se acentuou, que estes não tinham fontes de investi-
mento e financiamento para suas necessidades. Os governos estaduais passam a se bene-
ficiar com os recursos do PLANASA e, além, com os recursos municipais, já que estes eram
submetido a gestão estadual, não obtendo poder e autoridade sobre seus próprios fundos.
Sob este cenário, os municípios passaram a resistir esta condição de submissão se contra-
pondo com as imposições do governo e companhias estaduais. Os objetivos específicos do
PLANASA eram abastecimento urbano de água e coleta de esgotos a curto prazo, instituin-
do tarifas reais pela prestação dos serviços. O governo não alcançou por completo suas
metas estabelecidas com o PLANASA, mesmo somando aos resultados de abastecimento e
esgotamento dos municípios que na aderiram ao Plano. Suas metas não incluíam a coleta
de lixo como pauta para o saneamento, deixando de lado os impactos ao meio ambiente e
população provocados por este.
Em 1981, entra em vigor a Lei 6.938/81 que estabelece a Política Nacional do
Meio Ambiente com o objetivo de preservar, melhorar e recuperar a qualidade ambiental
relacionando-a a vida humana, assegurando um propício desenvolvimento sócio-econômico
do país. A mesma Lei cria o CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente , para me-
lhor definição e estabelecimento de normas rígidas de exploração dos recursos hídricos na-
turais. Com a Constituição de 1988, o papel do Estado é redefinido, descentralizando o po-
der e privatizando alguns setores, retomando as responsabilidades das políticas públicas em
todos os níveis nacional, regional e municipal. Os municípios passam a gerir seus recur-
sos e impor seus próprios planejamentos, porém enfrentando dificuldades no potencial dife-
renciado de cada um para atender suas respectivas demandas. O saneamento básico e os
serviços públicos passam a competir aos municípios por meio de concessões ou permis-
sões, podendo prestar serviços diretamente (através de departamentos ou serviços autôno-
mos) e indiretamente (através das CESBs ou empresas privadas). Inicialmente, a Constitui-
ção Federal define: (i) que é competência exclusiva da União a definição das diretrizes ge-
rais para a prestação e regulação dos serviços de saneamento; e (ii) a União, os estados, o
Distrito Federal e os municípios devem implementar programas para a melhoria das condi-
ções habitacionais. Esta definição se mostra frágil diante das regiões metropolitanas, onde o
interesse na prestação de serviços é comum; por não haver uma definição clara constitucio-
nal para esta condição, o governo federal, por meio do Projeto de Lei do Senado 266/96,
define as diretrizes gerais para a prestação, regulação e exercício do poder sobre os servi-
ços de saneamento (PENA e ABICALIL, 1999).
O PLANASA vigorou e foi modelo para o setor de 1971 a 1992. Representou grande
evolução no abastecimento de águas e esgotamento sanitário. Entre os anos de 1970-1980,
os números mostravam que o abastecimento de água passou de 11,9 milhões de pessoas
45
beneficiadas para 49,6 milhões; e quanto ao esgotamento sanitário, de 6,1 milhões de pes-
soas para 17,4 milhões (PAGNOCCHESCHI, 2000 apud FARIA e FARIA, 2004).
A partir de 1990 a economia afirmou-se por diferentes caminhos, com novas diretri-
zes e o findar do PLANASA alguns anos depois. As políticas públicas sofreram reformas
administrativas, extinguiu-se o controle pelas tarifas de água e esgoto, e grande montante
de investimentos. A extinção do PLANASA, devido um colapso estrutural de sua gestão,
levou o governo federal a tentar reerguer o setor de saneamento através de outros Planos.
Dentre os planos que se sucederam, merecem destaque: o Plano de Ação Imediata de Sa-
neamento (1990); o Programa de Saneamento para Núcleos Urbanos (PRONURB); o Pro-
grama de Ação Social em Saneamento (PROSEGE 1990-1992); e o Programa de Sanea-
mento para Populações de Baixa Renda (PROSANEAR 1991) (BARAT, 1996). Os inves-
timentos em saneamento por meio do PLANASA/PRONURB e recursos do OGU são apre-
sentados no gráfico 14, delineando sua evolução. Ainda assim, as reformas administrativas
continuaram ocorrendo durante este período, porém sem produção de resultados significati-
vos. É importante citar a criação do PMSS Programa de Modernização do Setor de Sane-
amento em 1993, como programa piloto do governo federal; este passou a ser programa
permanente do governo até os dias atuais, tendo como mais positivo fruto o SNIS Sistema
Nacional de Informações sobre Saneamento , criado em 1995.
Gráfico 14. Investimentos em saneamento básico com recursos do PLANASA/PRONURB e do OGU
1980-1993.
Fonte: FARIA, NOGUEIRA e MULLER, 2002 apud FARIA e FARIA, 2004.
Buscando um novo modelo intervencionista do Estado, a partir de 1995, surge a No-
va Política Nacional de Saneamento (NPNS), com a aprovação da Lei das Concessões (Lei
8.987/95), flexibilizando a prestação de serviços públicos. A NPNS passa assumir papel,
através da União, como reguladora, promotora e articuladora da política de saneamento,
tendo como objetivo a universalização do atendimento, a participação de todos os atores
envolvidos com o setor e a descentralização dos serviços. A responsabilidade da política de
saneamento é transmitida a Secretaria de Política Urbana (SEPURB), transformada, em
46
1999, em Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano (SEDU), com vínculo direto à
Presidência da República. Sob governança do presidente Lula, a SEDU passa a ser reco-
nhecida como Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (SNSA) e é incorporada ao
Ministério das Cidades; a SNSA é responsável pela articulação entre município, Estado e
setor privado. A outorga e prorrogação, destas concessões e permissões de serviços públi-
cos prestados, passaram a ser amparada pela Lei nº 9.074/95.
O governo federal, não obtendo resultados significativos e envolvido em conflitos e
carência no âmbito legal e institucional, cria a ―Lei das Águas‖, como é conhecida a Lei
9.433/97, criada no intuito de regulamentar e gerir os recursos hídricos, juntamente com a
questão do saneamento. Sua formulação foi um marco histórico no país e será tratada no
capítulo 5.
Até final dos anos 1990, as CESBs continuaram a ser a modalidade de maior presta-
ção adotada pelos municípios. A tabela 7 apresenta a distribuição dos prestadores de servi-
ços de água e esgoto segundo sua área de abrangência, como forma de ilustrar o contexto
da época.
Tabela 7. Distribuição brasileira de prestadores de serviços de água e esgoto segundo sua área de a-
brangência 1999.
Prestadores de Serviços
População Urbana dos municípios
atendidos
Quantidade de municípios
atendidos
Abrangência
Quantidade
Água (milhões)
Esgoto (milhões)
Água
Esgoto
Regional
27
100,6
69,5
3.890
748
Microrregional
5
0,8
0,1
14
4
Local
166
18,9
17,4
165
100
TOTAL
198
120,3
98,0
4.069
852
Fonte: SNIS, 1999 apud FARIA e FARIA, 2004.
Conforme observado a partir da tabela 7, mesmo com um número superior, a esfera
local desempenha menor quantidade de serviços prestados, confirmando a posição maioral
das CESBs que se enquadram na esfera regional , apresentando meros majoritários
nas prestações de serviços públicos.
3.4.2. Panorama presente
As questões de saneamento atuais no Brasil têm sido melhores e mais profundamen-
te estudadas. O acesso a estes dados é de fácil aquisição, uma vez que o país conta com
uma larga difusão de resultado de suas pesquisas. A criação da Agência Nacional de Á-
guas
10
(ANA) reflete esta realidade, sendo um marco na história dos recursos dricos do
10
Lei nº 9.984 de 17 de Julho de 2000.
47
país. A ANA dispõe um vasto banco de dados em seu sítio virtual, divulgando publicações e
dados de pesquisas voltadas aos recursos hídricos.
O setor de saneamento está diretamente ligado a questão da qualidade das águas
(gráfico 15). Dados publicados pela ANA dispõem sobre este tema em abrangência nacio-
nal, aferindo seus percentuais. O Índice de Qualidade das Águas (IQA) é medido dentro de
uma escala de 0 a 100, onde 0 representa péssima qualidade e 100, ótima.
Gráfico 15. Distribuição percentual do Índice de Qualidade das Águas no Brasil.
Fonte: ANA, 2005a.
Apesar de sua importância, o IQA tem suas limitações; ele não leva em conta, por
exemplo, metais pesados e agrotóxicos em sua base de cálculo. Contudo, é o indicador
mais largamente utilizado como referência. Para esta finalidade, o Ministério da Saúde (MS)
Fez uma atualização das normas de controle e vigilância da qualidade da água para consu-
mo humano. Buscando a elaboração de uma normal factível e de aplicação nacional, o MS
fez um processo de revisão envolvendo todos os agentes interessados no setor, concluindo
seus Esforços na publicação da Portaria MS. 518/2004, que institui o padrão de potabili-
dade e vigilância da qualidade das águas de consumo humano. No ano seguinte, o Decreto
5.440/2005 ratificou a importância da qualidade das águas expostas pela Portaria MS
518/2004, e estabeleceu instrumentos mecanismos de informação ao consumidor, cabendo
a fiscalização desta aos órgãos do Ministério da Saúde, Justiça, Cidades e Meio Ambiente,
além das autoridades Estaduais e municipais. O indicador de consumo de água (figura 10)
passa a assumir importante papel, pois este está atrelado à qualidade das águas, como a-
presentado no capítulo 2 da colonização e aumento populacional com degradação dos
recursos hídricos através do consumo desenfreado. Observa-se ao longo da história que o
aumento da população provoca danos diretos na qualidade das águas, e no mesmo sentido,
nas demandas por saneamento básico.
5%
71%
14%
8%
2%
Ótima
Boa
Aceitável
Ruim
Péssima
48
Figura 10. Distribuição de consumo médio per capita de água por bacia hidrográfica.
Fonte: SNIS, 2005.
Em análises comparativas, de acordo com os mapas apresentados nas figuras 9 e
10, torna-se visível a condição crítica da RH Atlântico Sudeste, principalmente no Estado do
Rio de Janeiro, onde apresenta um consumo médio maior que seu atendimento; a condição
de escassez já é fato no país, principalmente em algumas de suas regiões.
O principal fator degenerativo da qualidade das águas no Brasil é o lançamento de
esgotos domésticos; apenas 47% dos municípios possuem rede coletora de esgotos (figura
11) e, destes, somente 18% recebem algum tipo de tratamento (ANA, 2005a). A contamina-
ção das águas naturais representa uma das maiores fontes de risco à saúde pública, princi-
palmente para a parcela da população que não tem acesso aos serviços adequados de sa-
neamento (LIBÂNIO et al, 2005).
49
Figura 11. Atendimento total de esgoto.
Fonte: SNIS, 2004a.
A criação da Resolução CONAMA 357/2005 demonstra a preocupação do país quan-
to a qualidade de seus corpos dricos; esta Resolução visa o enquadramento dos corpos
de água em metas a serem alcançadas futuramente, divididas em obrigatórias e intermediá-
rias. Este enquadramento não é baseado na qualidade atual, mas sim no padrão que deve-
ria ser encontrado. A CONAMA 357/2005 visa o controle da poluição, protegendo as águas
e, conseqüentemente, a saúde pública, elaborando instrumentos que acompanhem a evolu-
ção da qualidade destes corpos. O país ainda sofre de carência por redes coletoras, mas os
avanços conquistados têm sido positivos, gerando boas perspectivas futuras. O gráfico 16
apresenta um comparativo neste âmbito, da evolução das redes coletoras entre os anos de
1992 a 2007. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), o
ano de 2007 apresentou um aumento percentual de 3 pontos na população urbana com a-
50
cesso a rede coletora de esgoto em relação ao ano anterior, sendo o maior aumento nos
últimos 15 anos.
Gráfico 16. Percentual de pessoas em domicílios particulares permanentes urbanos com esgotamento
por rede coletora ou fossa séptica, segundo regiões geográficas 1992-2007.
Fonte: PNAD, 2008.
Um estudo do PMSS (2008a) observou que, dentre os domicílios urbanos, 87,3%
são casas e 11,3% são apartamentos. Estes últimos possuem o maior índice de abasteci-
mento de água (96,1%), acesso aos serviços de esgotamento sanitário (85,8%) e coleta de
resíduos sólidos (93,5%). nos domicílios tipo cômodo (1,4%), observaram-se os menores
índices de acesso à água (57,2%), esgotamento sanitário (46,1%) e coleta de resíduos sóli-
dos (79,4%). O estudo afirma que de acordo com o número de cômodos, maior o índice de
acesso aos serviços prestados. Os domicílios localizados em áreas subnormais apresentam
os menores índices.
Atualmente existe o Projeto de Lei 1.991/2007 que institui a Política Nacional de
Resíduos Sólidos, com o objetivo de proteger a saúde pública, a qualidade do meio ambien-
te; a redução, reutilização e tratamento dos resíduos sólidos, entre outros instrumentos e
mecanismos dispostos a contribuir para um desenvolvimento sócio-econômico equilibrado
ao meio ambiente. Este Projeto substituiu o antigo, o Projeto de Lei 4.147/2001, o qual
fora severamente criticado pela sociedade e agentes do setor; sua maior crítica era a pro-
moção de uma maior facilidade de privatização das CESBs.
Recentemente, vigorou a Lei 11.445/2007 que estabeleceu as diretrizes nacionais
para o saneamento básico. Seus princípios fundamentais são: universalização do acesso,
integralidade, abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana, manejo dos
38,4%
43,9%
82,8%
67,4%
39,8%
66,1%
63,8%
68,4%
93,3%
85,0%
52,3%
81,0%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
Centro-Oeste
Brasil Urbano
1992
2007
51
resíduos sólidos, controle social, eficiência e sustentabilidade econômica, entre outros. Esta
Lei marca a evolução brasileira e sua constante luta pela saúde pública, porém o país ainda
necessita de melhor regulação e estruturação no setor.
No âmbito legal, diversas foram as leis, resoluções e projetos de lei elaborados para
o setor. A tabela 8 mostra uma cronologia geral da legislação de interesse.
Tabela 8. Cronologia geral da legislação de interesse ao setor de saneamento.
NÚMERO
EMENTA
Lei nº 6.938/81
Institui a Política Nacional do Meio Ambiente.
Constituição Federal de 1988
Constituição Federal do Brasil.
Lei nº 9.074/95
Estabelece normas para outorga e prorrogações das concessões e permissões de
serviços públicos e dá outras providências.
Lei nº 9.433/97
Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenci-
amento de Recursos Hídricos.
Lei nº 9.984/2000
Cria a Agência Nacional de Águas.
Portaria 518/MS de 2004
Estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da
qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade.
Resolução CONAMA 357/2005
Classifica os corpos de água e estabelece diretrizes ambientais para o seu enquadra-
mento; estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes.
Decreto nº 5.440/2005
Estabelece definições e procedimentos sobre o controle de qualidade da água de siste-
mas de abastecimento e institui mecanismos e instrumentos para divulgação de infor-
mação ao consumidor sobre a qualidade da água para consumo humano.
Projeto de Lei nº 1.991/2007
Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Lei nº 11.445/2007
Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico.
Fonte: Elaboração própria, a partir de PENA e ABICALIL, 1999; FARIA e FARIA, 2004; LIBÂNIO et al, 2004; BRASIL, 2007a;
PMSS, 2008b.
O Brasil, em seu plano hodierno, conta com o ―Programa Saneamento para Todos‖,
mediado pelo PAC Programa de Aceleração do Crescimento. O PAC creditou à Caixa E-
conômica Federal a quantia de R$5,2 bilhões para serem investidos exclusivamente em sa-
neamento básico e habitação popular (BRASIL, 2007a). O Programa tem por objetivo pro-
mover melhorias na qualidade de vida e condições de saúde da população, por meio de a-
ções integradas de saneamento básico no meio urbano, além de investimentos nos serviços
de abastecimento de água, esgotamento sanitário, saneamento integrado, desenvolvimento
institucional, manejo de águas pluviais, manejo de resíduos sólidos, manejo de resíduos de
construção e demolição, preservação e recuperação de mananciais, e estudos e projetos
fomentando novas perspectivas de atuação (BRASIL, 2008). A implementação do PAC re-
presenta uma modelagem da política nacional de saneamento, pois a interpretação do Pro-
grama conduz ao esclarecimento de seus objetivos e metas, estes circundados por uma
avaliação da atual política do setor (FILHO, 2008).
O país também conta, em sua agenda, com a execução do Plano Nacional de Sane-
amento Básico (PLANSAB), este sob elaboração e deliberado por meio da Lei
52
11.445/2007. O PLANSAB será instrumento capital para retomada fiscal do governo federal
frente as políticas públicas de outros setores por meio de avaliação sistemática da eficiên-
cia e eficácia das ações executadas e promoção da universalização do acesso aos servi-
ços de saneamento como um direito social, através de metas de curto, médio e longo prazo.
Este abrangerá e orientará a integração das modalidades e ações do saneamento básico
nacional, além de contar com articulação e compatibilidade com outros Programas e órgãos
existentes (MCID, 2008). As expectativas de investimentos no setor são aferidas na tabela
9.
Tabela 9. Investimentos em Sistemas de Água e Esgotos por Região Geográfica.
Regiões/Investimentos
(em milhões de R$)
Em 2000
Em 2010
Em 2015
Em 2020
Norte
6.753,8
11.274,6
13.835,5
16.307,3
Nordeste
16.888,5
27.318,8
32.267,2
37.324,6
Sudeste
27.165,5
50.349,3
62.416,0
74.404,0
Sul
12.984,2
23.211,0
28.098,3
33.055,2
Centro-Oeste
6.320,3
11.470,2
14.506,9
17.314,0
BRASIL
70.112,3
123.623,8
151.123,9
178.405,0
Fonte: MCID, apud MMA, 2009.
O PAC e o PLANSAB representam novos desafios para a consolidação institucional.
Estes devem se precaver para, no futuro, com o findar de seus recursos, não se depararem
com o risco de retornarem a uma condição passada e retrógrada de ausência de coesão
entre os setores, rupturas políticas e institucionais, paralelismo e superposição de compe-
tências.
Os ideais de autonomia e auto-sustentação ainda são um desafio. A política federal
passada, visando aplicar seus investimentos somente em regiões que tivessem um potenci-
al de autonomia financeira a médio-longo prazo. Entretanto, algumas esferas políticas me-
nores desviavam estes investimentos para as áreas que não apresentavam tal potencial, a
fim de seus próprios interesses. A questão de saneamento é plural, não sendo viável e sábio
aplicar seus investimentos de maneira isolada; a figura 12 esboça as interfaces do relacio-
namento do setor de saneamento com a saúde pública e a gestão de recursos hídricos.
53
Figura 12. Interfaces do saneamento com a gestão de recursos hídricos e com a saúde pública.
Fonte: LIBÂNIO et al, 2005.
O atual modelo de gestão do setor de saneamento pode ser caracterizado por dois
pontos principais: primeiro, pela possibilidade de alternância entre as formas em que o mu-
nicípio pode prestar os serviços de saneamento básico (ora por meio das CESBs, ora por
meio do setor privado); e segundo, pela ausência de regulação melhor definida e estrutura-
da para promover melhor suporte nas diferentes esferas na prestação dos serviços.
• Defesa Civil
• Educação Ambiental
• Abastecimento de água para consumo humano
• Tratamento de efluentes líquidos e esgotamento sanitário
• Drenagem Urbana
• Atendimento médico
• Vigilância sanitária
• Campanhas de imunização
• Outros
• Controle da emissão de gases prejudiciais à saúde humana
• Coleta e Tratamento/Disposição de resíduos sólidos
• Preservação/Recuperação de ecossistemas terrestres
• Controle da emissão de gases do efeito estufa
• Remediação de sítios contaminados
• Outros
Aqüicultura, Pesca
• Navegação
• Geração de energia
• Outros
Preservação/Recuperação
de ambientes aquáticos •
54
CAPÍTULO 4. BREVE HISTÓRICO DA ÁGUA NO RIO DE JANEIRO
A luta pela água se mantém ao longo da história do Rio de Janeiro. Este se destaca
na linha temporal das águas brasileiras. Sua trajetória remonta desde o início de sua ocupa-
ção e suas lutas travadas entre portugueses e franceses em busca por fontes de águas cris-
talinas. Seu passado reflete a história do país: uma longa e penosa luta pelos mananciais,
realização de obras e gestão dos serviços para garantir o fornecimento à população.
A capital federal, na época da colonização, repensa o país a partir de sua evolução
urbana e social. O processo de desenvolvimento da cidade caminha em conjunto com a
gestão de recursos hídricos; contudo seu início não se de maneira sustentável e esta
preocupação na gestão de seus recursos só se fará notável e significativa quando o contex-
to compreende a escassez dos mesmos.
O Rio de Janeiro abrange demasiada diversidade biológica em seu território; com re-
giões distintas morfologicamente a baixada e o planalto , o Estado se destaca pelo seu
litoral e suas áreas de florestais, detendo importante área de Mata Atlântica. Atualmente,
com a evolução urbana, suas áreas de vegetação nativa se deterioram cada vez mais, ex-
pondo a região a impactos ambientais sem precedentes. Soma-se ainda ao fenômeno da
favelização, este bastante presente no Estado.
O Estado do Rio de Janeiro assume papel importante no panorama nacional, pois
este compõe elevado nível de dinamismo econômico, apresentando uma das maiores taxas
de crescimento industrial.
Seguindo a linha de pensamento, as considerações a seguir, sobre o Rio de Janeiro,
conduzem o rumo deste trabalho para uma escala regional, buscando revelar informações
diferenciadas e nortear o mesmo para uma perspectiva de menor âmbito.
4.1. Do poço Cara-de-cão à evolução da cidade
Após a descoberta do Brasil, os navegantes portugueses buscaram novas terras ao
sul do continente. Em janeiro de 1502, com a expedição de André Gonçalves e Américo
Vespúcio, avistaram a foz, a qual supunham ser um rio posteriormente batizado de ―Rio de
Janeiro‖ , desaguando em uma extensa baía (a Baía de Guanabara); este rio com águas
límpidas ao longo de seu curso. Gonçalves Coelho aporta adentro da Baía de Guanabara
em 1504, desenvolvendo o as relações sociais e econômicas com os índios; seu local de
instalação foi nomeado ―Carioca‖, ou seja, ―casa de branco‖ (DELGADO DE CARVALHO,
1990). A notícia sobre as águas límpidas se espalhou rapidamente, resultando em uma
guerra secular pelo domínio dos mananciais encontrados. Portugueses e franceses comba-
55
teram na Ilha de Villegaignon; os portugueses simularam um ataque na praia, chamando
atenção dos franceses e estes abandonaram o forte para o combate. Assim, o comandante
português Mem de Sá, sabiamente aproveitando a situação, e tendo realizado sua armadi-
lha com sucesso, atacou e derrotou o exército francês.
Os franceses se aliaram com os índios Tamoios no intuito de se fortalecerem e bus-
carem conquistar novas terras. Tendo conhecimento do cenário, a Rainha de Portugal, D.
Catarina, envia ao Brasil uma esquadra, sob comando de Estácio de Sá, para ocupação das
terras e, persistentemente, expulsão dos franceses. A esquadra desembarcou entre a Urca
e o Pão de Açúcar, na enseada ―Cara de Cão‖, em março de 1565. Ao desembarque, Está-
cio de Sá e sua tropa povoaram o local, dando início à Cidade. A serventia de água doce era
uma necessidade; assim, o comandante resolve abrir um poço (o ―Poço Cara de Cão‖); no
local de desembarque havia apenas uma lagoa de águas não propícias de serem consumi-
das. Assim, destaca-se na história a primeira obra para o abastecimento de água para a
Cidade. Contudo, a fonte de água atribuída ao poço era escassa, levando, logo, a luta que
se travaria pelo Rio Carioca por hora sob domínio dos franceses e Tamoios. Esta luta cus-
tou a vida do próprio Estácio de Sá, todavia assegurando vitória aos portugueses (ANA,
2007b).
Após a vitória, a recém criada Cidade a Cidade Velha se transferiu para o Morro
do Castelo, em março de 1567. Porém, neste morro não foi encontrada água apropriada
para consumo, apesar de suas ricas matas e várzeas cobertas de alagados e lagoas. Assim,
os portugueses ordenam seus escravos a irem ao rio Carioca buscar água, estes passando
a ser chamados de ―aguadeiros‖ (figura 13). Uns buscando na embocadura do rio, e outros
no vale, originando a Trilha do Catete (FUNDREM, 1982). O local era distante e de difícil
acesso, os que não dispunham de escravos tinham que dar um jeito; soma-se ainda ao fato
de alguns moradores próximos aos rios represavam o mesmo em seu próprio benefício
(SILVA, R. M., 1988). A partir de então, dá-se início ao comércio de águas por meio dos es-
cravos e índios aguadeiros, posteriormente substituídos por escravos africanos; num viés
primitivo, é a primeira forma de abastecimento de água para o Rio de Janeiro.
56
Figura 13. Aguadeiro.
Fonte: ANA, 2007b.
Todavia, a demanda pela água aumentava conforme o crescimento populacional; fa-
zia-se necessário o fornecimento de água mais próximo da Cidade. Nascem as idéias para
as obras, a fim de garantir o abastecimento rápido e eficaz. A priori, a principal obra era
transferir as águas do Rio Carioca para perto da Cidade. Estas obras iniciaram, em 1673,
após inúmeras tentativas, sob o governo de João da Silva e Souza (1669-74), avançando
lentamente, primeiramente com os índios e, posteriormente, com os escravos africanos;
porém, seguiu-se morosamente por anos. E foi no governo de Ayres de Saldanha Albuquer-
que (1719-25) que as obras caminharam mais rápidas, sendo concluídas em 1723, conheci-
das como Aqueduto Carioca, levando água do rio Carioca ao Campo de Santo Antônio (atu-
al Largo da Carioca) através de um chafariz
11
, cujas bocas de bronze abasteciam a popula-
ção (SILVA, R. M., 1988). As águas escorridas, pelas torneiras constantemente abertas dos
chafarizes (herança cultural deixada pelos portugueses), empoçavam os lugares os quais
estavam instalados, exigindo obras de escoamento, que levassem estas águas para o mar.
Ao longo dos anos, as obras foram ruindo e deixando a Cidade sem água. Estas
condições conduziram os governos subseqüentes a buscarem melhorias nas obras de en-
genharia e, assim, introduzir novos e mais resistentes sistemas de abastecimento. Neste
11
A fase dos chafarizes, no Rio de Janeiro, se inicia em 1723 e se estende até final do século XIX.
57
contexto, sob o governo de Gomes Freire, são criados os ―Arcos da Carioca‖ (1817) (figura
14) localizados na Lapa –, substituindo os ―Arcos Velhos‖
12
. Tempos depois, sua estrutura
foi substituída por encanamentos de ferro fundido.
a)
b)
Figura 14. Arcos da Carioca a) Período colonial; b) Cenário atual.
Fonte: a. ANA, 2007b; b. Acervo do autor, 2009.
12
Os ―Arcos Velhos‖ eram constituídos de manilhas de barro, encomendadas da Bahia. Este material foi adquiri-
do em 1720, quando na Europa já se encontrava ultrapassado há mais de 60 anos os tubos de ferro fundido
(SILVA, R. M., 1988).
58
O Rio de Janeiro teve uma história peculiar em seu abastecimento hídrico, com um
homem chamado Sebastião da Costa Aguiar, em 1840. Este homem aprimorou os métodos
primitivos de comércio de águas que eram realizados pelos aguadeiros e, por meio de
carroças e uma pipa d’água, passou a se destacar. Sua água ficou conhecida como ―a boa
água do vintém‖. Ele entregava a água na porta das residências; seu negócio perdurou por
longos anos.
Boa parte do tempo foi servida a população fluminense das águas dos chafarizes.
Sua fase áurea foi na segunda metade do século XVIII, onde já se formavam grandes filas
pela população sedenta de água. Contudo, neste período não os chafarizes dessedenta-
vam a população, outras fontes complementavam o abastecimento: cisternas
13
e poços.
Além dos chafarizes, bicas públicas foram instaladas ao longo da cidade para abastecer a
população em crescente aumento; estas eram de bronze, alimentadas pelas tubulações que
abasteciam os chafarizes. Com o passar do tempo, a evolução da Cidade e sua necessida-
de de maior e melhor abastecimento, inclusive a domicílio, os chafarizes foram perdendo
sua função e importância na história do Rio de Janeiro, mas estes marcaram época e, como
um verdadeiro sistema, se valeram de notabilidade por mais de um século. No fim do século
XVIII, a população mal tinha se habituado ao abastecimento por chafarizes e passara a
exigir o mesmo em seus domicílios. Esta distribuição domiciliar era privilégio de poucas re-
sidências particulares, repartições públicas e igrejas.
Os mananciais do Rio de Janeiro emanavam águas puras e cristalinas; as obras rea-
lizadas neles, a partir do século XIX, se intensificaram de tal forma que praticamente todos
estavam aproveitados; esta época compreendeu a exploração dos mananciais da serra ca-
rioca, pois estas, além da disponibilidade hídrica, contavam com a vantagem gravitacional
a altura de seus mananciais facilitava a adução através da gravidade (técnica dominante
durante esta fase. Neste período, os sistemas de abastecimento não dispunham de reserva-
tórios, submetendo a cidade a variabilidades sazonais. Com isso, os novos aproveitamentos
de mananciais passaram a ser acompanhados de reservatórios, obras estas que tinham o
objetivo de evitar a escassez em períodos de estiagem. Neste fomento progressivo por re-
cursos hídricos, o governo estadual passa a adotar obras de maior porte, capaz de satisfa-
zer as necessidades da população. Então, no ano de 1877, foi marcado o início de uma no-
va fase do abastecimento de água da cidade: a construção da adutora do rio São Pedro;
logo em seguida foram captados o rio Santo Antônio e o rio do Ouro (FUNDREM, 1982).
Mesmo com diversas obras para garantir um abastecimento eficaz e incessante,
houve um período de grande estiagem, famoso na história pela busca da ―água em seis di-
as‖, onde projetos de engenharia e planos de obras foram realizados para solucionar a con-
13
As cisternas, para recolher água de chuva, foram um dos mais antigos recursos, datando do início do século
XVII (FUNDREM, 1982).
59
dição emergencial a qual se encontrava a cidade, entretanto, a chegada das chuvas coinci-
diu com o prazo determinado, criando um falso resultado na opinião popular a população
atribuiu o sucesso ao governo, não levando em conta as condicionantes meteorológicas.
Adiante, em 1893 concluem-se as obras da adutora do Tinguá e, em 1908, a de Xerém, re-
forçando a quantidade de água para a cidade. de ser notificado que as obras de capta-
ção eram de simples tecnologia, fazendo a adução por gravidade; não havia bacia de acu-
mulação, nem tratamentos preliminares. Entretanto, nesta época, as matas, bacias e ma-
nanciais ainda não tinham sido completamente degradados pela ação antrópica.
A população do Rio de Janeiro persiste em crescer em ritmo acelerado, conduzindo
o Estado a uma demanda por água de progressão geométrica. A deficiência no abasteci-
mento refletia conflitos até mesmo na esfera política. Os problemas nas adutoras, as estia-
gens e as vazões específicas dos rios agravaram ainda mais a situação da população cario-
ca, pois parte desta iniciou a degradação de matas e mananciais em busca de qualidade de
vida a partir de construções de suas residências próximas a estas áreas para próprio co-
modismo. Desde então, a diferença entre demanda e disponibilidade hídrica se acentuou de
tal forma que não foi mais possível o equilíbrio entre elas, havendo apenas as obras para
garantia do mínimo de abastecimento.
Com problemas de grandes estiagens, os sistemas pequenos são deixados de mão
e se iniciam as obras de grande porte: o sistema Ribeirão das Lajes e a captação do rio Pa-
raíba do Sul; em termos prioritários, a favor de Lajes apontavam os fatores econômicos e
técnicos, pois este não precisava de tratamentos químicos e, o Paraíba, com suas águas
turvas e recebendo despejos diretos da cidade, necessitaria inúmeros tratamentos quími-
cos
14
estes mal vistos e o consentidos pela população
15
da época. O aproveitamento
das águas do Ribeirão das Lajes permitiu a construção de uma adutora menor e postergou o
tratamento qmico. Em 1940 constrói-se a Adutora, e em 1949 a 2ª, garantindo uma
maior vazão e fornecimento de águas, evitando os regimes sazonais os quais eram subju-
gados os sistemas de pequeno porte (FUNDREM, 1982). A 1ª adutora foi, assim que conclu-
ída, prolongada no intuito de abastecer maior parte da população, mas esta cobriu apenas o
déficit vivido na época. Concomitantemente à criação das adutoras, a rede distribuidora era
revista e ampliada pelo departamento governamental responsável pelos recursos hídricos. A
construção da 2ª adutora iniciou-se com atraso, devido interrupção do governo sobre o con-
trato com a empresa responsável, visto que esta alegava dificuldades financeiras e impedia
o avanço técnico do Rio de Janeiro. A crise na disponibilidade hídrica era um fator persisten-
14
Sabe-se, hoje em dia, que para a Engenharia Ambiental nem sempre as águas ―cristalinas‖ são as mais puras
e inofensivas.
15
A população da época tinha a opinião de que o tratamento químico era sinônimo de águas de má qualidade,
ainda achando que este tipo de tratamento causaria males a eles. Entretanto, a partir 1935 as águas dos manan-
ciais já eram cloradas; a Tijuca, a partir de 1962, já experimentava o processo de fluoretação em seus procedi-
mentos (SILVA, R. M., 1988).
60
te no cotidiano carioca; assim, a execução da 2ª adutora, sob contexto crítico as obras
realizadas eram, em grande parte, para cobrir o déficit, e não como soluções de longo prazo
, promove um alívio à população e garante maior chegada de água. Soma-se a este perío-
do a construção dos reservatórios de Quintino (1949), Honório Gurgel (1950) e de Mãe
D’água (1950) (SILVA, R. M., 1988).
Na década de 1950, a demanda pela água não é cessada e, ao contrário, continua a
aumentar. Assim, o rio Guandu foi escolhido para o abastecimento, devendo suas águas
passar por processo de tratamento. Esta obra foi iniciada em 1952, sendo sua primeira eta-
pa concluída em meados de 1957 mas em meados de 1955 a cidade se beneficiava no
abastecimento com as obras do Guandu, mesmo não terminadas. O final da adutora Guan-
du foi modificado para levar água à Zona Sul do Rio de Janeiro, com obras concluídas em
1958, contando com um túnel de 7,3km de extensão para possibilitar este adendo nas tubu-
lações; esta obra ficou conhecida como ―Túnel Engenho Novo-Macacos‖ e permitiu levar
cerca de 5.000L/s para a Zona Sul através de um pequeno riacho que passa por dentro da
rocha. Em 1966, a segunda etapa, com a criação da segunda adutora do Guandu, fora con-
cluída com o objetivo de manter a regularidade na média de fornecimento, pois eram fre-
qüentes os acidentes na adutora de Lajes ; esta obra ficou conhecida como ―A Obra do
Século‖, nomeada pelo, então, Governador daquela época, Carlos Lacerda. Seu sistema de
captação de águas é ilustrado na figura 15. Esta etapa foi executada sob fortes pressões
sociais, visto que urgia na cidade, mais uma vez, a demanda pela água; os constantes defei-
tos nas adutoras de Lajes e outras tubulações contribuíam para a instabilidade na vazão
média de água aduzida (CEDAE, 2001). Por meio destas obras, a expectativa era de solu-
ção de longo prazo, mas os problemas, em curto espaço de tempo, voltaram a aparecer.
61
Figura 15. Captação de águas do Sistema Guandu.
Fonte: CAMPOS, 2005 apud SERBER, 2005.
A partir de então, para somar forças e prover melhor serviços, o Estado da Guanaba-
ra e o Estado do Rio de Janeiro se fundem, em 1975. Outrossim, decorre a união das com-
panhias dos estados e concessionárias de abastecimento de água e esgotamento sanitário,
formando a CEDAE Companhia Estadual de Águas e Esgotos , a qual se encarrega da
expansão da adução existente, da Estação de Tratamento do Guandu (ETA Guandu) em
1975, assim atendendo não a Cidade do Rio de Janeiro, mas toda sua região metropoli-
tana. As obras no Guandu continuaram decorrentes das necessidades do Estado do Rio de
Janeiro. Em 1982, outra expansão é feita na ETA Guandu, alimentando a adutora da Baixa-
da Fluminense e inaugurando a NETA Nova Estação de Tratamento. 10 anos depois, ini-
ciada em 1992, uma nova ampliação foi realizada para abastecer exclusivamente a popula-
ção da Baixada Fluminense, Zona Oeste e Leopoldina. As águas que chegam à ETA Guan-
du são turvas e barrentas, mas saem limpas e cristalinas graças ao eficiente processo de
tratamento, por meio da VETA (1955) Velha Estação de Tratamento e da NETA (figura
16) (PASSOS, 2007).
Lagoa do
Guandu
Rio Ipiranga
Rio dos Poços
Rio Guandu
62
Figura 16. As estações de tratamento do Sistema Guandu.
Fonte: CEDAE, apud PASSOS, 2007.
Neste contexto, não se pode deixar de abrir espaço e comentar sobre a Estação Ele-
vatória do Lameirão, inaugurada em 1966, considerada a maior estação subterrânea de á-
gua potável do mundo. Seu dimensionamento previa a resolução de problemas de abaste-
cimento até o ano de 2000, quando um acidente no túnel Guandu-Lameirão provocou a ide-
alização da Nova Elevatória do Lameirão (NEL), inaugurada em 1975. Após 1 ano de inau-
gurada, a NEL interrompeu suas atividades, voltando a ser reinaugurada apenas em 1997,
quando a necessidade de abastecimento se acentuou significativamente (CEDAE, 2001).
Em uma escala cronológica resumida, o quadro do Rio de Janeiro era de uma de-
manda de 2,77m³/s em 1877-1940 com uma oferta de 3,46m³/s; e na década de 1980, a
demanda era de 16,51m³/s com uma oferta de 50,00m³/s, sendo possível com a ampliação
da ETA Guandu (FUNDREM, 1982).
A Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) é abastecida por meio de capta-
ção de seus mananciais. Exceto Ribeirão das Lajes e o Guandu, todos os outros mananciais
são explorados a fio de água, expondo sua população a períodos críticos com adventos sa-
zonais. As captações não são exclusivas para o abastecimento, mas também para geração
de energia, processos industriais, agricultura e outros. O sistema Guandu passou a ser a
principal fonte de abastecimento da RMRJ. A transposição das águas do Rio Paraíba do Sul
VETA
NETA
63
para este (1952) foi um marco histórico, concretizando a incessante demanda de água pelo
Estado, aliada ao fator qualidade. O manancial do Guandu apresenta inúmeros usuários e
múltiplos usos de água, justificando a transposição do Paraíba para o mesmo, no objetivo de
aumentar o atendimento da população.
A captação das águas do rio Guandu é feita por sistemas de barragens interligadas a
outros rios e tomadas d’água. Segundo o Plano Nacional de Recursos Hídricos, o sistema
de abastecimento de águas já conta com ações e programas até 2020 (ANA, 2007a), quan-
do serão reavaliados os sistemas já existentes e a demanda, agora contando com um novo
agravante: a escassez do recurso natural.
A ocupação das áreas ribeirinhas e mananciais virou algo comum no Estado do
Rio de Janeiro. O crescimento desordenado da população, o uso inadequado do solo e a
captação ilegal dos recursos hídricos são principais agravantes. Uma das conseqüências
destes impactos são as enchentes, pois grande parte dos destes rios não possuem uma
calha natural capaz de drenar as cheias; somam-se ainda os despejos de resíduos sólidos
diretamente nos rios, impedindo uma drenagem eficaz e o regime de chuvas acentuado nos
períodos de verão. Os reservatórios, criados para amenizar este tipo de cenário, os quais
marcaram importante passo na estrutura técnica aplicada na RMRJ, eram desenvolvidos
almejando estocar água para atender situações emergenciais, complementar e ajudar na
regularização da vazão, e preservar as áreas próximas, criando parques, evitando a ocupa-
ção desregulada do território. A persistente e contínua construção de sistemas e subsiste-
mas de abastecimento drico no Estado do Rio de Janeiro resulta em vasta complexidade,
exigindo uma gestão de qualidade administrativa e técnica, a fim de conquistar veis de
excelência em seu desenvolvimento.
Os mananciais, neste contexto, assumem papel precípuo, pois devem ser preserva-
dos para evitar a contínua degradação do meio e de seus recursos naturais. Medidas como
reflorestamento, manutenção da floresta, conservação do solo, criação de faixas não-
edificantes, proibição de atividades industriais a montante das bacias hidrográficas, elabora-
ção de planos e programas para conter e regularizar o crescimento urbano e populacional,
criação de parques e áreas de lazer, e investimentos na fiscalização são plausíveis até os
dias atuais. Soluções estas são aplicáveis aos sistemas já instalados, sendo válido destacar
os rios Paraíba do Sul e Guandu, pois estes são principais mananciais da RMRJ.
Contudo, não a RMRJ passou a ser mais bem abastecida, mas também a Baixa-
da Fluminense, a Região dos Lagos, o interior carioca, entre outros municípios e regiões. A
tecnologia, em plenos avanços e evolução por meio da substituição das tubulações por
tubos de alta densidade , proporcionou este investimento e maximização da qualidade do
abastecimento no Estado do Rio de Janeiro.
64
4.2. Cenário contemporâneo
O Rio de Janeiro é um dos Estados que mais se destacam na esfera ambiental, atu-
almente. Sua evolução legal, constitucional e técnica são de assumir papel de agente for-
mador de opinião, pois através de seu exemplo, outros Estados trilham seu caminho bus-
cando alcançar este nível. A criação da PERHI (Política Estadual de Recursos Hídricos)
Lei Estadual 3.239 de 02 de agosto de 1999 marca o Estado em seu histórico legal,
incorporando, definitivamente, os cuidados ao meio ambiente às políticas territoriais.
Um dos pontos focais do Estado condiz com sua população, que se encontra em
contínuo crescimento, provocando conseqüente degradação ambiental e social, pois o es-
paço geográfico e sua relação capitalista para com o social se dão de maneira complexa,
formando as favelas
16
, em alguns casos, e gerando condições inadequadas de qualidade de
vida para partes da população. Este cenário urbano-social do Rio de Janeiro é marcante,
pois suas políticas urbanistas enfrentam sérias dificuldades e problemas na busca de solu-
ções para estas condicionantes. A população se aglomerou na RMRJ com o passar do tem-
po, o que prejudicou ainda mais o desenvolvimento equilibrado da mesma.
Dados atuais mostram que a população (figura 17) do estado do Rio de Janeiro é de
aproximadamente 15.420.375 habitantes, distribuídos de maneira desigual em sua área de
43.696,04km² (IBGE, 2007). 81,25% desta população é urbana, sua média populacional
passou de 82hab/km² (1940) para 328hab/km² (2000) (IBGE, 2000). Seu Índice de Desen-
volvimento Humano Municipal (IDH-M) é o 5º maior do Brasil, com 0,807 (PNUD, 2003).
16
De acordo com a definição do IBGE, as favelas são classificadas como setores subnormais, que não seguem
a seqüência lógica dos endereços.
65
Figura 17. População Total residente no Estado do Rio de Janeiro.
Fonte: IpeaData, 2009, a partir de IBGE, 2000.
No cenário dos recursos hídricos, o estado do Rio de Janeiro apresenta um potencial
hídrico de 30km³/ano, disponibilizando um uso per capta de 2,2mil m³/hab.ano (SETTI et al,
2000). Apesar da demanda atual ser atendida, o estado se encontra próximo da escas-
sez, pois, como supracitado (vide capítulo 2, tópico 2.3.8), sua região possui uma das maio-
res demandas e uma das menores disponibilidades hídricas. A situação carioca é a pior
do Brasil (tabela 10); nenhum estado brasileiro ainda se encontra em condições crônicas de
escassez, entretanto alguns já configuram estresse hídrico.
A demanda pela água (figura 18) é gênese de conflitos nos múltiplos usos atribuídos
a este recurso natural. A evolução urbana e industrial torna seu abastecimento insuficiente
e/ou com qualidade deteriorada, provocando a busca pelo recurso natural em maiores volu-
mes e maiores distâncias da zona urbana; alguns casos, como realizado na região cario-
ca, a transposição de águas se torna inexorável ao abastecimento humano. Nas regiões
metropolitanas, como a RMRJ, a expansão urbana desordenada e ilegal agrava as condi-
ções ambientais dos mananciais utilizados para abastecimento urbano e industrial (NASCI-
MENTO e HELLER, 2005).
66
Tabela 10. Situação dos estados brasileiros quanto a pior condição de disponibilidade de recursos hídri-
cos por habitante.
Número
Estado
Disponibilidade per capta
(m³/hab.ano)
Situação
1
Pernambuco
1.270
O estresse hídrico é periódico e
regular
2
Paraíba
1.392
3
Distrito Federal
1.537
4
Sergipe
1.601
5
Alagoas
1.671
6
Rio Grande do Norte
1.681
7
Rio de Janeiro
2.208
Somente ocasionalmente tenderá a
sofrer problemas de falta d’água.
8
Ceará
2.276
9
São Paulo
2.694
10
Bahia
2.862
Fonte: LIMA, 2000, apud SETTI et al, 2000.
Figura 18. Índice de atendimento total de água no estado do Rio de Janeiro.
Fonte: SNIS, 2004a.
67
O Estado do Rio de Janeiro vem buscando estabelecer diretrizes e planos para al-
cançar um equilíbrio em sua demanda x disponibilidade hídrica. Investimentos significativos
são feitos na região. Todavia, faz-se necessário expor as diversidades térmicas e defici-
ência hídrica dispersada ao longo do território do Rio de Janeiro (figura 19), pois, assim
como na esfera nacional, a região esta submetida a condicionantes meteorológicas que afe-
tam diretamente o regime hídrico da mesma.
Figura 19. Diversidades térmicas e deficiência hídrica no estado do Rio de Janeiro.
Fonte: ANDRÉ et al, 2005.
A vertente atlântica do estado carioca abrange 40% do seu território e concentra cer-
ca de 80% de sua população. Se for feito um comparativo entre as figuras 17 e 19, a R-
MRJ, apesar de ser uma área úmida, encontra-se intensamente povoada, agravando a situ-
ação sócio-ambiental. Sua irregularidade pluviométrica acentua ainda mais este cenário;
exemplo disto é o rio Paraíba do Sul, com uma vazão máxima média de 2.140m³/s nos me-
ses de dezembro a março (período de maior índice pluviométrico), e nos meses de julho a
outubro (período de menor índice pluviométrico), com uma vazão mínima média de 99m³/s
(FRANCISCO e CARVALHO, 2004).
Como visto anteriormente, o principal sistema de abastecimento do Rio de Janeiro é
o Guandu, este receptor das águas do Paraíba do Sul, abastecendo a Baixada Fluminense
68
e a cidade do Rio de Janeiro. Além deste, existem outros sistemas abastecedores do Esta-
do, os quais são listados na tabela 11.
Tabela 11. Principais sistemas de abastecimento de água do estado do Rio de Janeiro.
Manancial
Capacidade de atendimen-
to (milhões de hab.)
Percentual (%)
Municípios atendidos
Rio Guandu
9,6
62
Rio de Janeiro e Baixada Fluminense.
Canal Imunana
1,5
10
Niterói, São Gonçalo, Itaboraí.
Ribeirão das Lajes
1,2
8
Rio de Janeiro e Baixada Fluminense.
Lagoa de Juturnaíba
0,5
3
Araruama, Saquarema, Silva Jardim,
Cabo Frio, Armação dos Búzios, Arraial
do Cabo, São Pedro da Aldeia, Iguaba
Grande.
Fonte: CIDE-RJ, 2001 apud FRANCISCO e CARVALHO, 2004.
O sistema Guandu possui uma complexa rede de captação que sofreu inúmeras alte-
rações ao longo do tempo (figuras 20 e 21), tratamento e distribuição. Cobrindo o atendi-
mento estadual de 62%, este sistema é de fundamental importância para o Rio de Janeiro.
Contudo, o fato de ser responsável por grande parte deste atendimento lhe concede uma
posição ambígua: por um lado é vantajoso para a concessionária, pois a gestão é mais loca-
lizada e de menor escala numérica, por outro, quaisquer problemas severos no sistema po-
de causar danos irreparáveis ao setor econômico e social do Estado, visto que não haveria
possibilidade de transpor as águas de outros sistemas para o abastecimento dos municípios
atendidos pelo Guandu (na hipótese de um acidente).
69
Figura 20. Esquema Geral do Sistema Guandu 1965-1974.
Fonte: SANTA RITTA, 2009.
70
Figura 21. Esquema Geral do Guandu atual
Fonte: SANTA RITTA, 2009.
71
Dados de Julho de 2008 (apud SANTA RITTA, 2009) dispõem sobre a quantidade de
substâncias químicas utilizadas na ETA Guandu para o enquadramento e adequação da
água servida. Assim, a ETA Guandu consome diariamente: 140 toneladas de sulfato de a-
lumínio, 20 toneladas de cloreto férrico, 15 toneladas de cloro, 25 toneladas de cal virgem,
10 toneladas de ácido fluossilícico. Este tratamento garante transporte de 43.000 litros de
água por segundo e abastecimento de cerca de 9 milhões de pessoas.
Apesar do Rio de Janeiro estar inserido em uma RH onde aproximadamente 74% de
sua demanda x disponibilidade se enquadra na condição excelente e confortável (vide grá-
fico 12), sua estrutura demográfica deve buscar transformações: um caminho de descon-
centração da RMRJ, proporcionando e possibilitando soluções de menor escala, somadas
ao fator de menor pressão sobre as bacias hidrográficas correspondentes, sendo possível a
utilização mais adequada das pequenas bacias. O padrão de crescimento populacional atual
é um dos contribuintes para a degradação dessas bacias; o rio Paraíba do Sul, principal
manancial do estado, encontra-se em alto nível de poluição (AGEVAP, 2006).
Faz-se válido abordar sobre a Região dos Lagos, a qual possui abastecimento regu-
lar, entretanto, sua população, em períodos de feriados e verão, quase quadruplica, tornan-
do seu abastecimento precário. A gestão regional realiza a transposição de águas entre
as regiões ao entorno, para evitar um colapso nestes períodos críticos.
O existente potencial de escassez no estado conduz a reflexões e designação de
mudanças, buscando melhor gerir seus recursos naturais frente a este cenário social e am-
biental desigual. As elevadas taxas de crescimento populacional e urbano, agravadas pela
desigualdade econômica, resultam nesta carente infra-estrutura sócio-ambiental (NASCI-
MENTO e HELLER, 2005). Em especial o Rio de Janeiro, sua população favelada cresce
pela carência habitacional, ocupando áreas de risco inundação, instabilidade geológica e
de preservação ambiental. Esta rápida escalada demográfica ofusca os planos urbanos e
ambientais, distanciando as diretrizes de ocupação do solo e instrumentos de ordenação do
desenvolvimento. A gestão ambiental, em conjunto com o plano social, se torna fator deter-
minante na estruturação futura do estado.
72
4.3. O saneamento no Rio de Janeiro
A qualidade de vida de uma população é diretamente proporcional ao saneamento,
consistindo maior parte de suas ações relacionadas à água. A relação qualitativa e quantita-
tiva dos recursos hídricos são fatores diretamente influenciadores do setor de saneamento,
atrelando uma esfera à outra.
Não só os recursos hídricos, mas também o setor de saúde está diretamente relacio-
nado ao saneamento. A história mostra, através do passado brasileiro, que uma das preo-
cupações pelo saneamento era justamente as doenças geradas pela falta do mesmo. Con-
tudo, a herança deixada pela corte portuguesa, no período pós-colonial, foi dramática, pois a
busca em melhoras no setor se resumiam ao abastecimento de água.
Os sistemas de saneamento têm sua história interligada com a formação e expansão
das cidades, no rumo organizacional da população e seu espaço. Não somente, seu pro-
gresso está vinculado, também, ao modo de desenvolvimento do Estado, por meio de sua
produção industrial, demografia, tecnologias e rentabilidade. Assim, o conceito de sanea-
mento toma conotação interdisciplinar, incluindo outros fatores em seu sistema de atuação e
semântico.
A partir do século XIX, o conceito de poluição é inserido nos conceitos sanitaristas;
antes, este era referido apenas por condições estéticas, não atribuindo valor real da condi-
ção higiênica e ecológica (SILVA, 1974 apud DIAS, 2003). Ao longo do tempo, a condição
sanitária, tanto do Brasil quanto do Rio de Janeiro, melhorou. A análise histórica se torna
essencial para compreensão da diligência desprendida para com os problemas sanitários.
As considerações apresentadas neste capítulo darão conta desta evolução que, ainda que
morosa, encontra-se em um nível significativo de desenvolvimento e evolução.
4.3.1. Gênese e evolução até o século XX síntese histórica
A história do saneamento do Brasil começa no Rio de Janeiro. Em 1607 os padres
franciscanos, chegando ao Rio de Janeiro, conseguiram liberação com o Conselho da Câ-
mara para montar um estabelecimento de curtume, nos terrenos próximos ao Morro de San-
to Antônio até a beira da Lagoa de Santo Antônio. Conseqüentemente, o mau cheiro do cur-
tume se espalhou e, imediatamente, as reclamações foram muitas e persistentes, forçando
a Câmara política a tomar decisões de curto prazo para amenizar o cheiro e evitar, assim,
as reclamações da população moradora ao redor do curtume. A solução foi o alargamento
73
da vala
17
que escorria as águas utilizadas no curtume; esta obra data de 1641 e é conside-
rada uma das primeiras obras de saneamento do Rio de Janeiro (ANA, 2007b). Esta ―vala‖,
posteriormente chamada de ―cano‖, também foi fator de demarcação urbana da cidade du-
rante longa data (NETO e BARROS, 2003).
A chegada da família Real, em 1808, marca a história do Rio de Janeiro. A cidade
que, antes, tinha seu crescimento limitado pelos fatores geográficos, passa, a partir de en-
tão, a buscar espaços alternativos para acomodação e expansão da corte portuguesa (RO-
CHA e CARVALHO, 1995). Além de acrescentar 15.000 novos habitantes na cidade, a che-
gada da corte chamou atenção de várias outras pessoas, dos simples trabalhadores a no-
breza, estes buscando novas oportunidades (NASCIMENTO e SILVA, 2008). Com este au-
mento súbito da população, a construção de casas e abertura de ruas seguiram o mesmo
ritmo; todavia, a condição higiênica e econômica da cidade não condisse com este avanço.
A tabela 12 demonstra a evolução da população do Rio de Janeiro neste período e anos
depois.
Tabela 12. Crescimento da população do Rio de Janeiro: 1585-1950.
Ano
População
Ano
População
Ano
População
1585
3.850
1821
112.695
1872
274.972
1710
12.000
1830
124.978
1890
522.651
1750
25.000
1838
137.078
1906
811.443
1760
30.000
1849
266.466
1920
1.157.763
1799
43.376
1856
151.665
1940
1.764.141
1808
60.000
1870
235.381
1950
2.377.451
Fonte: SILVA, J. R., 2002a.
Neste período, ainda que o abastecimento de água estivesse evoluindo e melhoran-
do sua distribuição à população, as questões sanitárias e higiênicas persistiam em não ca-
minhar no mesmo rumo. Os dejetos eram depositados nos fundos dos quintais, as águas
utilizadas eram despejadas diretamente nas vias públicas, formando poças de lama sobre
as valas abertas para o escoamento. Estas valas auxiliavam no escoamento das águas su-
jas, porém os dejetos residenciais eram recolhidos e levados pelos escravos, em barris car-
regados sobre a cabeça; estes escravos eram conhecidos como ―tigres‖ (figura 22). Estes
transportes de dejetos eram feitos exclusivamente à noite, para evitar o mau cheiro nas ho-
ras de maior circulação e até mesmo a visibilidade dos mesmos.
17
As valas foram consideradas obras revolucionárias na história do saneamento do Rio de Janeiro, nos anos de
1800, pois solucionavam os problemas de escoamento de águas e dejetos (NASCIMENTO e SILVA, 2008).
74
Figura 22. O “tigre”.
Fonte: CEDAE, 2001.
Sob o cenário dos tigres e das valas, o quadro sanitário da cidade piorou com o surto
epidêmico de febre amarela, em 1850, tornando-se alvo de críticas pelos agentes do setor
de saúde e da população como um todo (BENCHIMOL, 1992). A doença não se resumiu
apenas ao ano referenciado, mas entre o período de 1830-1851, com 23 epidemias letais na
cidade. Cerca de 4.160 pessoas morreram no ano de 1849 (SILVA, 1988 apud NETO e
BARROS, 2003). Em 1853, D. Pedro II contrata os serviços de saneamento para a cidade,
amparado pela Lei 719; posteriormente, veio a Lei 884 que já admitia a concessão dos ser-
viços prestados advindos de outras empresas.
Em 1861, o Império ordena grupos de estudos resolverem a questão do baixo rendi-
mento no abastecimento de águas, principalmente em períodos de estiagem. A proteção do
Maciço da Tijuca e exploração de novos mananciais na Serra dos Órgãos foi apresentada
como possíveis soluções, contudo optou-se pela continuidade da exploração dos mananci-
ais existentes. Com isso, a falta de água continuou e em 1870 o governo imperial, sob
estudos e soluções apresentadas pela comissão de estudos, resolveu explorar os mananci-
ais da Serra dos Órgãos. Posteriormente, foram construídas as represas de São Pedro (em
1877), Rio do Ouro (em 1880), Tinguá (em 1893) e Mantiqueira (em 1908), também aduto-
ras cruzando a Baixada Fluminense (SANTA RITTA, 2009). Contudo, a população urgia pelo
saneamento básico, pois a qualidade de vida decaía progressivamente.
75
Criada em Londres, em 1862, com o fim de executar e explorar os serviços de esgo-
tamento da cidade, a ―The Rio de Janeiro City Improvements Company Limited‖, conhecida
como City, novos rumos na história do saneamento do Rio de Janeiro. As obras iniciais
da City foram diversas estações de tratamento de dejetos, construídas no litoral da região,
afastadas das moradias. A empresa dividiu a cidade em 3 distritos com maior densidade
demográfica para facilitar a gestão de seus serviços. Uma nova história de saneamento
era escrita; em 1864 a City, iniciado seus trabalhos, contava com a Estação Elevatória
de Tratamento da Glória, esgotando 1.200 casas. Seus resultados influenciaram e incentiva-
ram a construção das estações da Gamboa e do Arsenal, em 1866. Segundo Benchimol
(1992), o Rio de Janeiro foi a primeira capital do mundo a instalar uma rede de esgoto domi-
ciliar, por meio de serviço terceirizado apesar de referir que para outros autores foi a se-
gunda, e para outros a terceira; Neto e Barros (2003) afirmam que a capital foi a segunda
a implantar tal sistema, por meio de contrato de 90 anos.
Com o advento industrial, a City se torna responsável pelo esgotamento dos despe-
jos industriais, antes lançados diretamente nos rios, na Lagoa Rodrigo de Freitas e na Baía
de Guanabara. Conforme evolução da cidade, as técnicas de saneamento deviam seguir a
mesma direção; assim, a City, em 1934, melhora suas técnicas empregadas e, abandonan-
do o sistema tradicional de transporte de lamas das Estações de Tratamento, passa a utili-
zar o método mecânico de remoção das mesmas através de bombas, levando diretamente
às embarcações, que as lançavam em alto mar. Apesar deste diferencial evolutivo na histó-
ria do saneamento do Rio de Janeiro, a City fora criticada pela comunidade de engenheiros
e imprensa, pois esta resistia em ampliar seus investimentos e utilizar materiais e engenhei-
ros nacionais. Seu contrato se encerrou em 1943 e, apesar de sua eficácia quantitativa ao
longo de seu tempo de atuação, seus serviços sempre foram criticados como péssimos pelo
setor de engenharia, médico e populacional (BENCHIMOL, 1992).
A partir do século XX, o Brasil rompe com as dependências exclusivas de capitais
estrangeiros, investindo em si próprio e instalando novos sistemas de gestão e serviços
estes outrora coordenados pelas empresas privadas através dos contratos. Esta condição
18
não era exclusiva do país, mas também do Rio de Janeiro e outras cidades brasileiras. A
criação da IAE (Inspetoria de Águas e Esgotos), em 1922, foi marco desta transformação,
onde a gestão passa a ser controlada pela própria nação. Os locais habitados por classes
médias e altas foram prioridade de atendimento da IAE no abastecimento de águas e esgo-
tamento sanitário, não deixando de atender, também, algumas localidades mais pobres. A
IAE promoveu, pela primeira vez, a capacidade de analisar e deliberar internamente, atribuí-
18
Silva (2002a) explica esta situação a partir do fator da comunidade dos engenheiros estar em seu início de
formação, fomentando as condicionantes externas, ou seja, os contratos eram inicialmente assumidos por em-
presas brasileiras, mas estas não possuíam base técnica significativa, repassando seus contratos às empresas
estrangeiras.
76
da ao Estado a partir de 1935. Assim, as políticas e decisões passaram a ser tomadas inter-
namente, buscando atender interesses próprios e consolidar seu corpo burocrata. Ressalva
para os retornos econômicos e financeiros, os quais ainda não eram contemplados pelos
órgãos, não havendo tarifas e/ou taxas pelos serviços prestados. Anos seguintes, a Inspeto-
ria inaugurou os sistemas do Leblon, Ipanema e Lagoa (1935), do Grajaú, Castelo e Morros
da Viúva (1937), e da Urca (1938). Mesmo com obras em prioridade para as áreas de classe
média e alta, a IAE realizou importantes feitos nas áreas suburbanas, como a estação de
tratamento de esgotos da Penha, em 1941.
Na década de 1980, foi lançado o projeto de saneamento básico da Baixada Flumi-
nense, Zona Oeste e São Gonçalo. Foram construídos mais de 2 mil km de redes coletoras
de esgotos, drenagem e urbanização das ruas. As águas servidas à Niterói e São Gonçalo
passaram a ser fluoretadas na Estação de Tratamento do Laranjal; a fluoretação tem como
principal objetivo a redução de cáries dentárias, muito comuns em crianças. O Programa de
Setorização do Abastecimento de Água da Baixada Fluminense garantiu à região 300km de
rede e mais 32.000 ligações domiciliares; a mesma ainda recebeu 334km de rede de esgo-
tamento sanitário. Neste mesmo período, Angra dos Reis recebeu novas obras de captação
e instalação, assim como Paquetá também recebeu uma nova Adutora a partir do sistema
Laranjal. Os municípios de Silva Jardim, São João de Meriti e Jardim Gramacho foram pres-
tigiados com novas estações de tratamento de esgoto. As antigas estações da Penha, Ilha
do Governador, Acari, Realengo e Icaraí foram reformadas, assim como as elevatórias de
Cantagalo e São Conrado. Estas obras contribuíram diretamente na recuperação da Baía de
Guanabara. Segundo a CEDAE (2001), pesquisas realizadas mostravam que a cada hora
uma criança morria no Estado por falta de estrutura sanitária.
Em 1980, o Grande Rio era abastecido por apenas cerca de 400km de redes de es-
goto sanitário e ausência de redes pluviais, o que indicava uma precária estrutura de sane-
amento e, conseqüentemente, a busca por uma ampliação nesta. Contudo, neste contexto,
os interesses entraram em conflitos e resultaram em disputas por áreas de influência e do-
mínio, divergindo os setores do poder público, ao invés de haver uma discussão consensual
e execução de liminares para o bem e evolução do Estado; esta situação se deu por conta
do término do PLANASA, conforme explanação no capítulo 3, o qual conduziu não o Es-
tado como a nação a uma situação de vazio institucional.
A década de 1990 foi marcada pelo Programa de Despoluição da Baía de Guanaba-
ra
19
(PDBG), sob supervisão da CEDAE este Programa preencheu, de certa forma, o vazio
deixado pelo PLANASA (NETO e BARROS, 2003). As obras realizadas pelo PDBG compre-
19
Em 1987, foi criada uma comissão que desenvolveu o Projeto de Recuperação Gradual do Ecossistema da
Baía de Guanabara, sob coordenação da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA). Este
viria a ser o principal fator a preceder e incentivar a criação do PDBG, posteriormente (DIAS, 2003).
77
endem o maior conjunto de intervenções realizadas nos últimos 20 anos do Rio de Janeiro.
A expectativa e principal foco de ambição do PDBG é reverter, a longo prazo, o quadro de
degradação observado na Baía de Guanabara; além, o Programa também conta com cons-
trução de novas redes coletoras, estações de tratamento de esgotos, melhoria de abasteci-
mento de água, recuperação e implantação de aterros sanitários, e tratamento adequado à
disposição final do lixo (CEDAE, 2001).
A CEDAE, em 1995, já dispunha de cerca de 4.600.000m de rede coletora, 41 EEs e
17 ETEs. O relatório decenal (1999) do Rio de Janeiro já aponta para 37 EEs e 13 ETEs. E,
em 2002, a assessoria de comunicação da CEDAE informou que a extensão de rede coleto-
ra do município do Rio de Janeiro passou para 4.892.431m (DIAS, 2003).
A figura 23 mostra a condição de abastecimento de redes de esgoto da RMRJ no fi-
nal do século XIX.
78
Figura 23. Rede geral de esgoto da RMRJ - 2000.
Fonte: IBGE, 2004 (adaptado pelo autor).
79
O Rio de Janeiro obteve significativa evolução em sua rede de esgotamento e sane-
amento básico. Um comparativo entre os dados gerados pelo Censo Demográfico, realiza-
dos pelo IBGE, ilustra esta taxa evolutiva (gráfico 17).
Gráfico 17. Evolução nos indicadores de acesso a serviços básicos no Rio de Janeiro 1991-2000.
Fonte: Elaboração própria, a partir de IBGE, 1991; id., 2000 (in PCRJ Armazém de Dados)
Observa-se que a década de 1990 contribuía com nível plausível de saneamento
no Estado carioca, diferentemente do país, o qual ainda encontra áreas carentes ao acesso
a estes serviços básicos. Este avanço é resultado de inúmeras manifestações da população
e dos setores profissionais (engenheiros e médicos, principalmente), visto que as conse-
qüências eram abrangentes, não se restringindo apenas a algumas partes desfavoráveis no
processo evolutivo urbano.
4.3.2. Transformações institucionais e contexto hodierno
O presente tópico se dispõe a expor, de forma breve, o histórico das transformações
institucionais ao longo do tempo, até a formação da CEDAE além da apresentação do
contexto atual do Rio de Janeiro quanto ao saneamento. Não se pretende, aqui, escrever a
história como instrumento de mídia e exibição, mas, contrariamente, assumindo consciência
científica e acadêmica, não podendo ser deixado de lado este passado institucional, pois o
mesmo é intrínseco ao presente cenário carioca. Estas transformações conotam as ações
do poder público e condizem com o âmbito reflexivo deste trabalho.
93%
94%
95%
96%
97%
98%
99%
100%
1991
2000
Percentual de pessoas que
vivem em domicílios com
água encanada
Percentual de pessoas que
vivem em domicílios com
banheiro e água encanada
Percentual de pessoas que
vivem em domicílios urbanos
com coleta de lixos
80
Em caráter retrospectivo, em 1931, sob presidência de Getúlio Vargas, criou-se a
Inspetoria de Águas e Esgotos (IAE). A IAE foi criada sob a justificativa da insuficiência da
distribuição de água potável em todo o Distrito Federal, provocando maior fragilidade na
saúde pública. Este órgão passou por coordenação de diferentes engenheiros: de 1931 a
1932 pelo engenheiro Nelson Coelho Leal, e de 1932 a 1937 pelo engenheiro Alberto Pires
Amarante. A sucessão veio com a criação dos Serviços de Águas e Esgotos (SAE). O SAE
apresentou, em início de sua vigência, o plano de emergência do Iguaçu, com o aproveita-
mento das águas baixas do mesmo, definindo reforços ao abastecimento, abrandando a
situação deficiente da época; em 28 de agosto de 1937 o projeto foi anulado por não mais
ser emergencial o palco de abastecimento do Rio de Janeiro. Interessante apontar para a
estiagem de 1939, a qual acabou obrigando o SAE a realizar as obras previstas no Projeto
Iguaçu. Com a experiência obtida, o governo passou a temer as estiagens severas e, assim,
passou-se a estudar a captação de outros mananciais. O Ribeirão das Lajes e suas obras
são frutos da gestão do SAE. Em 1945, a cidade carioca alcançava um déficit de 180 mi-
lhões de litros por dia, levando o governo a criar o Departamento de Águas e Esgotos (DA-
E). Coube ao DAE o novo reforço de adução para a cidade. Dentre as inúmeras obras reali-
zadas pelo Departamento, as que marcaram história foram: a duplicação da primeira aduto-
ra de Lajes; a criação da segunda adutora (1947) levando mais 220 milhões de litros por
dia para a cidade; o plano de adução do Guandu (1951) contando com a transposição
do Paraíba do Sul para assegurar um volume adequado. Posteriormente, em 1956, o Presi-
dente Juscelino separa o DAE e cria o Departamento de Águas (DAA). O prefeito da cidade
do Rio de Janeiro neste período foi Negrão de Lima. O renomado prefeito verificou, assim
assumido seu cargo, a insuficiência de recursos financeiros do município para realização de
obras e sua manutenção. Assim, o prefeito buscou aprovação do Plano de Realizações
(1956), custeado pelo Fundo Especial de Obras Públicas, o qual almejava obtenção dos
recursos para atender as necessidades da cidade e seu crescimento demográfico. As obras
eram relativas à urbanização e saneamento, exigindo a criação de um órgão gestor destes
recursos financeiros e das obras a serem executadas. Então, criou-se a Superintendência
de Urbanização e Saneamento (SURSAN), em 1957, com esta finalidade (SANTA RITTA,
2009).
A SURSAN foi constituída de dois Departamentos: o Departamento de Esgotos Sani-
tários (DES) e o Departamento de Urbanização (DURB). 4 anos depois, o DAA se incorpo-
rou a SURSAN, devido problemas administrativos internos; além deste não conseguir recur-
sos suficientes para continuar as melhoras do sistema abastecedor da cidade. O DES, re-
querendo maiores atribuições ao mesmo, passou a ser denominado de Departamento de
Saneamento, porém com a mesma sigla (DES). Esta alteração foi devido ao fato de, a partir
daquela alteração, o novo DES era competente pelo combate a ratos e mosquitos, os quais
81
se tornaram grave problema social. Este agravamento no saneamento do Estado conduziu o
governo a tomar uma decisão e formar, em 1972, a Empresa de Saneamento da Guanabara
(ESAG), esta sendo responsável pela coleta, transporte, tratamento e disposição final dos
esgotos. Seu marco foi o Plano Estadual de Esgotamento Sanitário da Guanabara, concluí-
do em 1973, com os objetivos de eliminar a poluição da Baía de Guanabara, remanejar a
rede de esgotos existente e construir novas redes de esgotos nas áreas que não as possuí-
am (SILVA, J. R., 2002b).
Vale ressaltar que, com a extinção do Departamento de Águas da SURSAN, foi cria-
da, em 1962, a Companhia Estadual de Águas da Guanabara (CEDAG), responsável pela
gestão a atuação no sistema de abastecimento de água do Estado. Conjuntamente, anos
depois (1972), foi criada a Companhia de Saneamento do Estado do Rio de Janeiro (SA-
NERJ), atribuída de exploração dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sani-
tário da cidade do Rio de Janeiro e seus respectivos municípios. A criação destas compa-
nhias se deu concomitantemente a outros departamentos, conforme supracitado. Em 1975,
os Estados do Rio de Janeiro e da Guanabara, outrora separados, passaram a ser unifica-
dos e denominados de ―Estado do Rio de Janeiro‖; neste mesmo rumo, a fusão das 3 com-
panhias CEDAG, ESAG e SANERJ foi realizada para melhor gerir o novo Estado, dando
origem a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE). Atualmente, a CEDAE é a
principal concessionária do Rio de Janeiro, respondendo por maior parte de todo o Estado e
responsável por todos os sistemas construídos sob gestão das companhias e departamen-
tos passados. Importante é que neste mesmo período da criação da CEDAE criou-se a
Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA), a Superintendência de Rios
e Lagoas (SERLA) e a Comissão Estadual de Controle Ambiental (CECA) (DIAS, 2003);
atualmente estes órgãos se fundiram, no dia 19 de janeiro de 2009, e formaram o Instituto
Estadual do Ambiente (INEA).
Conforme abordado, a formação da CEDAE é inexorável à história das águas e es-
gotos do Rio de Janeiro, visto que esta é parte da mesma, e representa as inúmeras ações
e projetos desenvolvidos pelo governo ao longo do tempo, buscando o abastecimento e es-
gotamento sanitário eficaz do Estado. O gráfico 18 mostra a faixa evolutiva no abasteci-
mento de água e esgotos no Rio de Janeiro, realizados pela CEDAE.
82
Gráfico 18. Abastecimento de água e esgoto no estado do Rio de Janeiro pela CEDAE (habitantes atendi-
dos) 1995-2007.
Fonte: Elaboração própria, a partir de SNIS, 1995-2007.
Iniciado em 1994, o PDBG ainda é, atualmente, um dos maiores planos atuantes no
Rio de Janeiro. A Estação de Tratamento de Esgotos Alegria (ETE Alegria) (figura 24) é seu
maior fruto; esta tratará os esgotos sanitários de 1,5 milhão de pessoas de 46 bairros da
Zona Norte e Centro. Além desta, outras ETEs foram constrdas pelo PDBG, como: ETE
Sarapuí, em Belford Roxo, com capacidade de tratar 1.000 litros de esgoto por segundo,
beneficiando 431 mil habitantes dos municípios de São João de Meriti, Nova Iguaçu e Bel-
ford Roxo; e, a ETE Pavuna com capacidade igual a da ETE Sarapuí. Estas 3 ETEs, con-
forme meta do PDBG, diminuirão de 20 mil litros de esgotos por segundo jogados na Baía
para 7 mil litros (CEDAE, 2001). Recentemente, no dia 22 Janeiro de 2009, foi inaugurada a
ETE Alegria, a mais importante do PDBG, responsável pela redução de 98% da carga polui-
dora dos 2.500 litros de esgoto por segundo, minimizando a deterioração do sistema aquáti-
co da Baía de Guanabara; a ETE Alegria aumentou o percentual do esgoto tratado do Rio
de 40% para 60%. Além disso, a Estação, em planejamentos futuros, contará com uma
planta de geração de energia elétrica a partir do biogás (INEA, 2009b). Além destas 3 prin-
cipais obras do PDBG, o mesmo também conta com a ETE São Gonçalo, com nível de tra-
tamento primário, beneficiando uma população de 235.000 habitantes, com uma vazão pro-
jetada de 765L/s; ainda, a ampliação das ETEs Ilha do Governador e Penha com novos e-
quipamentos, a primeira beneficiando 240.000 pessoas, com capacidade de tratamento de
525L/s e a segunda atendendo 576.000 habitantes e tratando 1.600L/s (CEDAE, 2007).
Água
0
2.000.000
4.000.000
6.000.000
8.000.000
10.000.000
12.000.000
1995
1998
1999
2000
2003
2004
2005
2006
2007
Água
Esgoto
83
Figura 24. Vista da Estação de Tratamento de Esgotos Alegria.
Fonte: SEOBRAS-RJ, 2008.
A ETE Alegria é a maior obra de despoluição da Baía de Guanabara. Além disto, o
sistema Alegria irá implantar 23km de coletores tronco, a reforma geral de 7 elevatórias,
instalação de 3,3km de linha de recalque e eliminação de 170 pontos de extravasamento de
esgotos no sistema de drenagem pluvial. A ETE Alegria terá capacidade de processar 5 mil
litros de esgotos por segundo, representando 432 milhões de litros por dia. Se a adução do
Guandu foi considerada a obra do século, o sistema Alegria é a obra do século XXI; enquan-
to o sistema Guandu veio para revolucionar o abastecimento de água no Rio de Janeiro, a
ETE Alegria veio para revolucionar o saneamento (CEDAE, 2001). O índice de atendimento
de esgoto (figura 25) tem aumentado continuamente através do PDBG e, mais recentemen-
te, pelo PAC. Todavia, o caminho é longo e as metas a serem alcançadas são definidas a
longo prazo.
84
Figura 25. Índice de Atendimento Total de Esgoto no estado do Rio de Janeiro.
Fonte: SNIS, 2004a.
O alto índice de saneamento na RMRJ é confirmado pela PNAD, a qual demonstra o
baixe índice de domicílios sem acesso a estes serviços públicos (gráfico 19). Porém, os
dados divergem quando a abrangência é mais ampla, como pode ser observado na figura
25. A contraposição de dados aferidos pode ser existente devido metodologia aplicada e/ou
quantidade de habitantes entrevistados.
85
Gráfico 19. Evolução da proporção de domicílios sem acesso a banheiro ou sanitário, e certos serviços
básicos no município do Rio de Janeiro 2001-2006.
Fonte: CARDOSO, 2008.
É importante notar que, conforme a política influenciada a qual se submete o governo
estadual, esta explícita, a condição geral do Estado não possui níveis tão plausíveis quanto
a RMRJ, como é apta tal observação desta condição através do gráfico 20. Assim como o
Brasil possui suas inúmeras condições (financeiras, sociais, culturais, ambientais) desiguais,
também o é o Rio de Janeiro.
86
Gráfico 20 Proporção de domicílios sem acesso a banheiro ou sanitário, e certos serviços básicos na
RMRJ, no estado do Rio de Janeiro urbano e no Brasil urbano 2006.
Fonte: CARDOSO, 2008.
Assim como exposto, o nível de falta de esgotamento sanitário alcança quase 10%
do Estado, sem levar em conta a população rural do mesmo o que aumenta significativa-
mente este índice (tabela 13). A questão do acesso aos serviços públicos nas áreas rurais,
tanto a vel nacional quanto estadual, ainda é um paradigma nas políticas sanitaristas; a
distinção entre urbano e rural é histórica, desde a era do descobrimento, visto que o urbano
sempre foi ocupado pela nobreza e, posteriormente, pela população operária, a qual era
mão-de-obra indispensável ao processo expansionista da cidade. Então, ainda no século
XXI, pode-se observar tal discrepância no acesso a um bem básico e de direito social: o
saneamento.
Como exposto pela tabela 13, a população rural ainda é um marco crucial a ser evo-
luído no Brasil e na região a qual está inserido o Rio de Janeiro. Existe uma distinção na
implantação dos sistemas de esgotos, onde podem ser observados os determinantes para
esta, visto que as regiões de maior renda per capta possuem maior prioridade e exercem
maior pressão, pois estas são agentes ativos e interessadas pela especulação imobiliária e,
posteriormente, melhores condições de qualidade de vida esta sendo exercida por seus
consumidores imobiliários finais. Doravante, o cenário espaço geográfico x demanda x água
se insere numa perspectiva complexa e desigual; no âmbito técnico, a prioridade para estas
obras é de acordo com a densidade populacional e os índices de desenvolvimento humano
e mortalidade, mas, de fato, não é o que ocorreu nem o que ocorre. Ainda é possível assistir
a acepção do Estado, o qual, através de críticas expostas pela sociedade acadêmica e cien-
87
tífica, resiste, porém assume um caminho evolutivo por meio de uma consciência sócio-
ambiental, onde o homem assume a tecnologia e informação como poder de mudança e/ou
destruição.
Interessante destacar a crítica feita por Dias (2003), onde alerta sobre a metodologia
utilizada na parametrização de desempenho. Para este, diversos são os fatores condicio-
nantes para a eficiência dos sistemas de esgotos, e o SNIS ainda não possui indicadores
referentes a contribuições indevidas provenientes de ligações prediais irregulares, os quais
são importantes, pois expões as características sociais. De maneira geral, o autor atenta
para a avaliação sistêmica de dados, elencando um conjunto mais amplo de parâmetros,
estabelecendo a relação com os indicadores de saúde, econômicos, sociais e ambientais.
88
Tabela 13. Dados percentuais de saneamento básico para o Sudeste e Brasil (comparativo entre urbano e rural) 1992-2007.
ÁREA URBANA
Ano
Região
Rede Coletora
Fossa Sépti-
ca
Fossa Rudimentar
Vala
Direto para o rio, lago
ou mar
Outro tipo
Não tinham
Total
1992
Sudeste
72,26
10,52
9,47
2,28
3,27
0,42
1,78
100,00
BRASIL
45,55
20,51
22,86
2,04
2,51
0,32
6,21
100,00
2007
Sudeste
83,46
9,86
2,91
0,96
2,50
0,07
0,25
100,00
BRASIL
57,39
23,57
14,11
1,29
1,92
0,10
1,62
100,00
ÁREA RURAL
Ano
Região
Rede Coletora
Fossa Sépti-
ca
Fossa Rudimentar
Vala
Direto para o rio, lago
ou mar
Outro tipo
Não tinham
Total
1992
Sudeste
7,45
6,69
43,38
3,94
14,24
1,28
23,02
100,00
BRASIL
2,99
7,28
32,69
3,03
4,36
0,64
49,01
100,00
2007
Sudeste
17,89
15,84
43,97
3,89
11,72
0,85
5,84
100,00
BRASIL
5,30
18,40
45,32
5,26
3,28
0,46
21,99
100,00
Fonte: PNAD, 2008.
89
O PDBG atualmente tem seus recursos voltados para diferentes áreas (tabela 14).
Porém, seu maior foco é no setor de saneamento, com 48% de seus recursos voltados para
esgotamento sanitário e 43% para abastecimento de água (CEDAE, 2007). O Relatório de
Desenvolvimento Humano do Rio de Janeiro já apontava para 91,84% dos recursos desti-
nados para o saneamento, relatando a não-amplitude de abordagem pelo PDBG (PCRJ,
2001a). Contudo, é o Programa mais importante do Estado e, analisando a história do sane-
amento no Rio de Janeiro, é possível aferir os avanços e melhorias promovidas pelo mes-
mo. Este contribui para cenários e perspectivas promissoras da qualidade de vida e ambien-
tal do Estado. E, levando em conta as especificidades (vide tabela 6, a nível nacional), es-
pera-se a abrangência ampla do território, pois experiências passadas mostram as desi-
gualdades de investimentos.
Tabela 14. Investimentos pelo PDBG.
Obras
Investimento
Esgotamento Sanitário
US$139.500.215,47
Abastecimento de água
US$157.241.332,24
Macrodrenagem
US$11.071.956,78
Resíduos Sólidos
US$11.560.226,73
Mapeamento Digital
US$3.449.518,68
Programas Ambientais Complementares
US$4.191.716,12
Fonte: CEDAE, 2007.
O PAC, do governo federal considerado como um dos maiores planos nacionais e
um marco histórico no país , criado em 2007, também terá parcela plausível de contribui-
ção ao Rio de Janeiro, com investimentos de R$3,1 bilhões geridos pelo Comitê Gestor do
PAC e respectivos proponentes dos recursos (Estado ou Município) , e mais R$36,7 mi-
lhões a ser gerido pela Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) , ambos previstos até
2010; tais recursos serão aplicados exclusivamente no setor de saneamento (BRASIL,
2009).
De todos os Planos e ações, tanto pelo governo federal, quanto estadual e municipal,
devem ser dotados de uma visão ecológica e sustentável, buscando o ciclo contínuo e in-
termitente dos resultados obtidos. Deve-se caminhar para o conceito de saneamento ambi-
ental, integrado à qualidade de vida e ambiental, envolvendo a participação da sociedade
(figura 26), com âmbito muito mais amplo que o saneamento básico (de visão antropocên-
trica).
90
Figura 26. Relação do conceito de saneamento ambiental com a sociedade.
Fonte: KOBIYAMA et al, 2008.
Os conhecimentos devem ser difundidos a todos os agentes envolvidos, para assim
ser possível maior capacidade de ação pelo indivíduo e maior conscientização do mesmo, o
tornando em fator multiplicador. O gerenciamento envolvendo a comunidade garante maio-
res e melhores resultados; esta é uma das melhores maneiras de gerenciar os recursos hí-
dricos e, conseqüentemente, o saneamento. A qualidade de vida humana depende direta-
mente do saneamento, e este depende diretamente dos recursos hídricos; logo, a relação
de gestão dos recursos hídricos x sociedade x saneamento é intrínseca, devendo ser plural
e conjunta, garantindo sustentabilidade dos Programas e ações realizados no passado, pre-
sente e futuro.
Conscientização
(Hidrologia)
Cidadão Professor
Alunos (crianças)
Participação
intensificada
Comunidades
Participação
intensificada
Gerenciamento
dos Recursos
Hídricos
Gerenciamento
Participativo dos
Recursos Hídricos
Melhoria do
Saneamento
91
CAPÍTULO 5. GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS
A influência antropogênica tem sido cada vez mais intensa sobre os recursos dri-
cos e naturais como um todo. Desde o início da humanidade, o meio ambiente sofre com as
ações predatórias e degradação da biosfera. Face a isto, instrumentos e ferramentas legais
têm sido desenvolvidas para evitar um colapso da existência humana: a legislação ambien-
tal e as normas têm sido cada vez mais restritivas. Ao longo da história, numa primeira fase,
as restrições legais eram reduzidas a punições, não alcançando mérito no desenvolvimento
e preservação do meio. Com o passar do tempo, adentrando uma segunda fase, com pres-
sões crescentes sobre a proteção ambiental, estas medidas passaram a abranger o setor
produtivo, não se atendo somente ao controle de poluição, mas a partir de então exigindo
uma produção mais limpa, com tecnologias mais eficientes, com ações de caráter preserva-
tivo dos recursos naturais.
No Brasil, a preocupação com seus recursos naturais se deu de maneira significativa
a partir da década de 1980, com a descentralização política pela Constituição de 1988 que
passava a compreender o poder e posição dos Estados e Municípios frente às questões
ambientais. Assim, as especificidades regionais e locais eram levadas em conta e, com isto,
melhores formas de gerir e preservar os recursos naturais foram estabelecidas, contando
com maior integração entre as diferentes esferas governamentais.
A gestão de recursos hídricos, concomitantemente, sofre significativo avanço com a
Constituição de 1988; muito se evoluiu desde o Código de Águas. A Constituição atribui às
águas o domínio público e de uso comum do povo, assim como também reescreve a respei-
to da dominialidade das mesmas.
A década de 1990 define a gestão de recursos hídricos no Brasil; a Lei nº 9.433 de
1997 é um marco histórico ao longo da trajetória legal do país e de sua preocupação com
seus recursos naturais. A referida Lei estabeleceu instrumentos e diretrizes, servindo de
exemplo para elaboração das políticas estaduais estas últimas, ainda complementaram e
criticaram alguns pontos da política nacional, conforme será abordado mais a frente.
Este capítulo tratará diretamente da política nacional e estadual de recursos hídricos,
buscando estruturar a discussão no âmbito legal e institucional.
5.1. A Política Nacional de Recursos Hídricos
A preocupação em elaborar uma política nacional voltada para a preservação dos re-
cursos hídricos é concreta desde a Conferência das Nações Unidas sobre a água, em Mar
del Plata, em março de 1977, a qual propôs um Plano de Ação que, entre outros fatores,
92
recomendava a formulação e análise geral de uma política voltada para o uso, ordenação e
conservação da água, como marco definitivo de medidas eficazes. O Código das Águas, de
1934, vinha sendo criticado pelo setor técnico do governo, este explanando a necessida-
de de se modernizar o mesmo. A implementação do Código das Águas nunca ocorreu de
maneira efetiva, pois seus objetivos eram setoriais e não eram regulamentados. A origem da
Política Nacional de Recursos Hídricos é marcada pelo Seminário Internacional de Recursos
Hídricos, realizado em Brasília, em 1983, o qual desencadeou amplos debates sobre o te-
ma. 10 anos após a Conferência de Mar Del Plata, a Associação Brasileira de Recursos Hí-
dricos (ABRH), durante o VII Simpósio Brasileiro de Recursos dricos, manifestou a neces-
sidade da criação de um sistema nacional de recursos hídricos através da Carta de Salva-
dor, a qual previa o uso múltiplo da água, a descentralização e participação no sistema de
gerenciamento dos recursos dricos, a criação do sistema nacional de recursos dricos,
aperfeiçoamento da legislação, desenvolvimento tecnológico e aperfeiçoamento de recursos
humanos, e a disposição de um sistema de informações de recursos hídricos. Decorrente a
isso, a Constituição de 1988 teve a inclusão do Artigo 21, XIX, o qual compete à União a
instituição de um Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e a definição
de critérios de outorga de direito de uso. As discussões ao longo da década de 1980, por
meio de reuniões entre os diferentes setores e esferas políticas, culminaram na proposição,
em 1991, do Projeto de Lei que definia a Política Nacional de Recursos Hídricos. E com uma
defasagem de 6 anos, no dia 8 de janeiro de 1997 sancionou-se a Lei 9.433, sob presi-
dência de Fernando Henrique Cardoso, que define a Política Nacional de Recursos Hídricos
(PNRH) também conhecida como ―Lei das Águas‖ e cria o Sistema Nacional de Geren-
ciamento de Recursos Hídricos (SINGREH) (ANA, 2002a).
Interessante salientar que a promulgação da Lei 9.433 se deu quando 11 unidades
federativas já possuíam suas próprias leis de recursos hídricos. Atualmente, além da PNRH,
outros 25 Estados e o Distrito Federal dispõem de legislação estadual voltada para gestão
de sua região (figura 27). Aproximadamente uma década se passou para se alcançar este
patamar, com o pioneirismo assumido por São Paulo, o qual vigorava sua legislação des-
de 1991 (PEREZ, 2007); somente o Estado de Roraima ainda não detém sua própria política
de recursos hídricos.
93
Figura 27. Dinâmica nacional na aprovação das leis das águas.
Fonte: MENDONÇA, M. C., 2004.
A PNRH foi instituída para gestão dos recursos dricos; com seus instrumentos e
componentes; com esta, o país passou a dispor de um instrumento legal que, quando im-
plementado eficazmente, garantirá a sustentabilidade da água e oferta para as gerações
futuras, levando em conta sua qualidade. Suas diretrizes gerais, objetivos, fundamentos e
instrumentos são elencados na figura 28.
94
Figura 28. Organograma da PNRH.
Fonte: CHACON, 1997, apud SERBER, 2005 (adaptado pelo autor).
POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS (Lei nº 9.433/97)
DIRETRIZES GERAIS
OBJETIVOS
FUNDAMENTOS
1. Gestão sistemática sem dissoci-
ação da quantidade e qualidade.
2. Adequação às diversidades
regionais.
3. Integração entre gestão de
recursos hídricos e meio ambiente.
4. Planejamento articulado entre
usuários e com o setor regional,
estadual e nacional.
5. Articulação com a gestão de uso
do solo.
6. Integração das bacias hidrográfi-
cas com os sistemas estuarinos e
costeiros.
1. Assegurar à atual e às
futuras gerações a disponi-
bilidade e os padrões de
qualidade.
2. Uso racional e integrado
dos recursos hídricos, com
vista ao desenvolvimento
sustentável.
3. Prevenção e defesa
contra eventos hidrológicos
críticos ou pelo uso inade-
quado.
1. Água é bem público.
2. Recurso natural limitado.
3. Possui valor econômico.
4. Prioridade para consumo
humano e dessedentação de
animais.
5. Bacia hidrográfica como uni-
dade territorial.
6. Gestão descentralizada, com
participação do poder público,
dos usuários e das comunida-
des.
INSTRUMENTOS
1. Planos de recursos hídricos.
2. Enquadramento dos corpos
d’água em classes preponde-
rantes.
1. Diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos.
2. Análise de alternativas de crescimento econômico, de evolução das ativida-
des produtivas e da ocupação do solo.
3. Balanço entre disponibilidades e demandas futuras dos recursos hídricos.
4. Metas de racionalização de uso, de aumento de quantidade e melhoria da
qualidade.
5. Medidas, programas e projetos para atendimento das metas.
6. Prioridades para outorgas de direitos de uso.
7. Diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso dos recursos hídricos.
8. Propostas para criação de áreas de proteção de recursos hídricos.
4. Cobrança pelo uso
dos recursos hídricos.
5. Sistema de informações
sobre os recursos hídricos.
3. Outorga de direitos de
uso de recursos hídricos.
1. Derivação ou captação de
água.
2. Explotação de água subter-
rânea.
3. Lançamento de efluentes e
resíduos em corpos hídricos.
4. Aproveitamento do potencial
hidrelétrico.
5. Outros usos que alterem o
regime, a quantidade e a
qualidade da água.
1. Reconhecer a água
como bem econômico.
2. Incentivar o uso racio-
nal.
3. Obter recursos financei-
ros para os programas.
1. Sistema de coleta, tratamento, arma-
zenamento e recuperação de informa-
ções .
2. Dar consistência e divulgar dados e
informações.
3. Dados sobre disponibilidade e deman-
da de recursos hídricos.
4. Fornecer subsídios para a elaboração
dos planos de recursos hídricos.
95
A nova Lei representa a modernização legal e institucional brasileira, elevando o país
a uma posição exemplar mundial, sendo um dos que detém a legislação mais avançada no
setor de recursos hídricos. A PNRH estabeleceu um novo tempo no país; sua promulgação
representa a busca pela modernização e implementação de um sistema gestor eficaz das
águas brasileiras. Mudanças profundas e plausíveis foram ditadas com esta Lei, como a
atribuição e valoração econômica à água, apresentação da mesma como bem público, o uso
prioritário para abastecimento humano e dessedentação de animais, tomada da bacia hidro-
gráfica como unidade territorial de gestão, e a inclusão do Município na questão da dominia-
lidade (BRASIL, 1997).
Ainda conduz à elaboração de Planos de Recursos dricos, o enquadramento dos
corpos de águas, a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos, o sistema de informa-
ções sobre recursos hídricos, o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), os Con-
selhos de Recursos Hídricos dos Estados (CERHIs), os Comitês de Bacia Hidrográfica (C-
BHs), Órgãos dos poderes públicos Federal, Estadual, do Distrito Federal e Municipal cujas
competências se relacionam com a gestão dos recursos hídricos, e as Agências de Água,
Bacias e Recursos Hídricos (ANA, 2007a). No âmago da discussão ―pós-PNRH‖, estava a
carência de um órgão executivo para a implementação e fiscalização da mesma; com isso,
através da Lei 9.984, de 17 de Julho de 2000, criou-se a Agência Nacional de Águas (A-
NA) com a finalidade de impulsionar a PNRH, somar na gestão das condicionantes e pro-
mover a implantação generalizada da Lei 9.433; a criação da ANA foi um reconhecimento da
complexidade e dificuldades frente a instalação do SINGREH. Para colocar em prática e
garantir a participação descentralizada e social, o SINGREH, como instância maior, é dota-
do de colegiados e órgãos federais e estaduais os quais, operando de maneira articula-
da, se tornam responsável pela gestão e implementação da PNRH (figura 29).
96
Figura 29. Estrutura geral do SINGREH.
Fonte: ANA, 2007a.
A complexidade de implementação pode ser interpretada a partir das figuras 28 e
29. O SINGREH e a PNRH ainda trilham a trajetória da generalização e eficácia de suas
metas; a longo prazo, espera-se alcançar os resultados totais advindos de suas diretrizes,
objetivos, instrumentos e fundamentos. As variadas e diferentes instâncias decisórias que
estruturam o SINGREH são apresentadas na tabela 15, aferindo suas principais atribuições
e competências.
97
Tabela 15. Instâncias do SINGREH e respectivas competências básicas.
INSTÂNCIAS DECISÓRIAS DO SINGREH
COMPETÊNCIAS BÁSICAS
Conselho Nacional de Recursos Hídricos
(CNRH)
Dispor as diretrizes gerais e políticas regentes do Sistema.
Aprovar a constituição de comitês de bacia.
Arbitrar eventuais conflitos entre comitês de bacia e entre Conselhos
Estaduais de Recursos Hídricos.
Aprovar e acompanhar a execução do Plano Nacional de Recursos
Hídricos.
Aprovar critérios gerais para a concessão de outorgas de direitos de
uso de recursos hídricos e para a cobrança pelo uso da água.
Comitês de Bacias Hidrográficas
Arbitrar conflitos de uso de recursos hídricos.
Aprovar e acompanhar a execução do Plano de Recursos Hídricos da
bacia hidrográfica.
Propor aos Conselhos Nacional e Estadual os usos insignificantes a
serem isentos da obrigatoriedade de outorga pelo direito de uso da
água.
Propor valores e estabelecer mecanismos para a cobrança pelo uso
da água.
ANA e órgãos estaduais correlatos
Encargos indelegáveis de emissão de outorgas de direitos de uso da
água.
Fiscalização dos usos e dos usuários de recursos hídricos.
Cobrança pelo uso da água, podendo delegar tarefas operacionais às
agências de água de bacias hidrográficas.
Agências de Bacias Hidrográficas
Encargos indelegáveis de emissão de outorgas de direitos de uso da
água.
Fiscalização dos usos e dos usuários de recursos hídricos.
Cobrança pelo uso da água, podendo delegar tarefas operacionais às
agências de água de bacias hidrográficas.
Fonte: ANA, 2007a (adaptado pelo autor).
Observado de experiências anteriores, os pontos essenciais de mudança com a PN-
RH foram: descentralização da gestão; democratização da informação; planejamento por
bacia hidrográfica; cobrança pelo uso dos recursos hídricos (DANTAS, 2007). Contudo, es-
tas mudanças levaram a algumas conseqüências não muito bem vindas. A descentralização
do setor responsável pela gestão veio a enfraquecer o poder decisório do governo, visto que
estas decisões, agora, são tomadas com votação democrática, postergando posições e de-
cisões ora fundamentais a serem assumidas em um curto prazo vale a ressalva que a
descentralização não é um ponto negativo neste contexto, mas o fato é que o Brasil ainda
está iniciando seus passos nesta trajetória, daí a morosidade decorrente disto. A questão da
descentralização, ainda que incipiente na história do país (mesmo em tempos atuais obser-
va-se esta defasagem no processo descentralizador), é de cunho fundamental e pragmático,
uma vez que este processo expõe e envolve todos os agentes envolvidos poder público,
usuários e sociedade civil , tornando multiplicadora suas ações e influências. Outro ponto
importante foi o acesso liberado às informações através do Sistema Nacional de Informa-
ções sobre Recursos Hídricos (SNIRH), que é um dos instrumentos da PNRH e objetiva a
não-monopolização das informações e dados obtidos, garantindo acesso livro a todo cida-
98
dão. Assim, todos são capazes de proceder corretamente e exigir seus direitos baseados
em dados comprovados e eficazes, impedindo a reprodução do sistema fechado de deten-
ção de poder informativo, evitando a manipulação dos mesmos.
O planejamento por bacias hidrográficas inova no ponto de não se ater aos limites
geopolíticos. Esta postura proporciona uma melhor construção de soluções e gestão para os
recursos hídricos. Agora os Estados, Municípios e até mesmo países se reúnem para decidi-
rem, juntos, a melhor forma de consumo e distribuição dos recursos. Não somente, outros
dois importantes instrumentos foram a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos e a
cobrança pelo uso dos mesmos.
Tendo em vista a ação multifocal da PNRH, esta institui a cobrança pelo uso da á-
gua, impondo valor econômico ao recurso, com intuito de racionalizar seu consumo. Esta
cobrança é definida pelos CBHs, onde participam usuários, governo e sociedade civil do
processo de como e quanto será cobrado por este recurso. Sobre isto, o CNRH define na
Resolução 48/05 que esta cobrança deverá ser realizada de maneira integrada, conjun-
tamente com outros instrumentos da política de recursos hídricos, assim como seus projetos
e programas evidentes. Esta Resolução prevê condicionantes em seus instrumentos, pois
busca estas antes da efetiva cobrança. Esta preocupação ocorre devido a não permitir que
esta cobrança seja realizada sem respeitar os fundamentos estabelecidos na Lei
9.433/97, assumindo uma gestão integrada e superando as diversidades geográficas, soci-
ais, culturais, políticas e econômicas das diferentes partes do país. Assim, a cobrança levará
em conta o quanto e como cada grupo de usuários pode pagar, somando também ao fato de
aplicar estes recursos econômicos à melhoria das condições da bacia hidrográfica. O custo
deverá ser equivalente a manutenção e evolução positiva no aspecto natural da bacia explo-
rada. Apenas os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Ceará realizam a cobrança
pelo uso das águas (MMA, 2006b).
A outorga de direito de usos é um importante instrumento da PNRH, estabelecida pa-
ra assegurar a quantidade e qualidade dos recursos hídricos. Esta é um ato administrativo
onde o órgão responsável garante o direito de uso da água por tempo determinado, sob
termos e condições expressas pelo mesmo. Nem todo o país ainda está coberto por este
instrumento (figura 30); sua evolução tem se dado contínua, mas com resultados previstos
a longo prazo, pois já se passaram mais de 10 anos de ainda não se tem está cobertura
generalizada. A outorga tem o intuito de preservar os usos múltiplos da água conforme prio-
ridades estabelecidas nos planos de recursos hídricos, levando em conta o respectivo en-
quadramento dos corpos de água da bacia hidrográfica em questão (ANA, 2007a).
99
Figura 30. Cobertura nacional de Outorga de Recursos Hídricos.
Fonte: MMA, 2006b.
Outro instrumento de destaque advindo da Lei 9.433 foi o enquadramento de cor-
pos de água. Este é de acordo com os usos do recurso, visando estabelecer metas de qua-
lidade a serem atendidas a curto, médio e longo prazo. O enquadramento representa a dis-
tinção de usos de água de acordo com seus respectivos fins, visando minimizar a poluição e
prevenir a degradação da mesma. A Resolução CONAMA 20/1986 foi revisada com este
propósito, dando gênese a Resolução CONAMA nº 357/2005, mais atualizada e com melhor
conformidade para a situação nacional e seu panorama ambiental. Avanços significativos
foram alcançados com a nova Resolução CONAMA 357/2005, a adequação e revisão de
vários parâmetros, agora contando com as novas técnicas e equipamentos disponíveis. A
revisão também definiu as águas doces, em caso de não enquadradas, como classe 2 e as
águas salinas e salobras, em caso semelhante, em classe 1, salvo se as condições encon-
tradas forem melhores, estipulando, assim, classes mais rigorosas. A tabela 16 apresenta a
sistematização das classes de qualidade determinadas pela Resolução CONAMA
357/2005; a qualidade das águas varia de acordo com sua classe: a especial, de preserva-
ção e qualidade com grau de excelência, e a classe 4 à águas destinadas a usos gerais e
não necessitando tratamentos, respectivamente. Esta nova Resolução é específica ao en-
100
quadramento de águas superficiais; a Resolução antiga (CONAMA nº 20/1986) não especifi-
cava o uso de seus parâmetros, se eram para águas superficiais ou subterrâneas. Atual-
mente, apenas os Estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina
e Rio Grande do Sul possuem o enquadramento de corpos hídricos (MMA, 2006b).
Tabela 16. Classes de uso CONAMA nº 357/2005.
CLASSES
E
*
1
2
3
4
Abastecimento
para o consumo
humano
Após desinfecção
Após tratamento simplificado
Após tratamento convencional
Após tratamento convencional ou avançado
Preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas
Preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção inte-
gral
Proteção às comunidades aquáticas
Proteção às comunidades aquáticas em terras indígenas
Harmonia paisagística
Recreação
Contato primário (natação, esqui aquático e mergulho)
Contato secundário
Irrigação
Hortaliças consumidas cruas e frutas que se desenvolvem rentes ao
solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de película
Hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de esporte
e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto
Cultura arbóreas, ceralíferas e forrageiras
Aqüicultura e atividade de pesca
Pesca amadora
Dessedentação de animais
Navegação
* = classe especial.
Fonte: ALVES, 2005, apud ANA, 2007a.
Com mais de 10 anos da Lei nº 9.433, com análise histórica e institucional, o país al-
cançou notável avanço em sua gestão de recursos dricos, podendo comemorar tal fato.
Entretanto, ainda se está longe de uma condição adequada da gestão dos recursos hídricos
brasileiros; os órgãos, colegiados e entidades do setor não funcionam a pleno vapor, falta de
investimentos e recursos financeiros são principais fatores (MACHADO, 2007). Os déficits
políticos e institucionais do passado, a complexidade do sistema de gerenciamento do re-
curso, entre outros fatores contribuíram para a morosa escalada na melhoria desta esfera.
Os obstáculos que a PNRH enfrenta são: praticidade de sua teoria; inércia maior pelas Uni-
dades Federativas; desconcentração decisória sem descentralização (atrasando principal-
mente as políticas locais); dupla dominialidade de corpos hídricos; precariedade no funcio-
namento de conselhos e comitês; entre outros. Estes são desafios a serem superados ao
longo da vigência da Lei das Águas não podem ser, de alguma forma, deterministas a ponto
101
de ofuscarem os resultados já obtidos desde sua sanção. O Brasil, em balanço feito após 10
anos da PNRH, conta com 22 Conselhos Estaduais e Distrital de Recursos dricos em fun-
cionamento; 140 CBHs federais e estaduais em funcionamento; 2 comitês com suas respec-
tivas agências de águas e todos os instrumentos de gestão implantados, inclusive a cobran-
ça pelo uso da água; o Plano Nacional de Recursos dricos, que orienta a implementação
da PNRH; a ANA, que trouxe nova dinâmica para a gestão dos recursos hídricos na esfera
da União; o Programa de Desenvolvimento Sustentável de Recursos Hídricos, para o Semi-
árido brasileiro, que proporcionou saltos de qualidade na gestão dos recursos dricos na
região Nordeste (ANA, 2007b).
Sem embargo, a Lei 9.433, como supracitado, define e marca a história do país.
Avanços e desafios ainda são atuantes em sua trajetória, todavia as perspectivas decorren-
tes desta são positivas. Apesar das críticas e sugestões observadas nas legislações esta-
duais, quanto a PNRH, com complementações, esta serviu de base político-institucional pa-
ra o Brasil. Sua implementação ainda é descontínua e lenta, tendo cada unidade da federa-
ção seu próprio ritmo e dinâmica.
5.2. Regiões Hidrográficas do Brasil
Os avanços da legislação ambiental brasileira conduziram o país a notáveis estágios
de evolução e melhoras em sua gestão. A Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH)
marca história nesta evolução, buscando a integração, participação e descentralização na
gestão dos recursos hídricos. E para estes benefícios, o país adotou, segundo Resolução nº
32 de 2003, do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), a divisão de seu território
em regiões hidrográficas (RHs), conforme mapa apresentado na figura 31.
102
Figura 31. Regiões Hidrográficas do Brasil.
Fonte: Resolução CNRH nº 32, 2003.
As 12 regiões instituídas foram referenciadas segundo as bases físico-territoriais do
país, limitando suas abrangências de acordo com as diversidades hídricas existentes em
cada região.
A seguir, serão expostas informações de cada uma destas regiões para breve carac-
terização das mesmas, baseadas no Documento Base de Referência para o Plano Nacional
de Recursos Hídricos apresentado pela ANA (2003). Esta exposição é válida, pois através
desta se comprova as diferenças regionais de um país que, apesar de sua grande disposi-
ção hídrica, possui condições desequilibradas da mesma.
103
5.2.1. Amazônica
A RH Amazônica (figura 32) é a mais extensa do mundo. Possui uma área total de
7.008.032km², com nascentes nos Andes e foz no oceano Atlântico; 64,88% de sua área
estão dentro do território brasileiro, sendo os outros países que compõem a RH Amazônica
são: Colômbia (16,14%), Bolívia (15,61%), Equador (2,31%), Guiana (1,35%), Peru (0,60%)
e Venezuela (0,11%). A área inserida no Brasil corresponde a 3.843.402km², 73,5% do total
do país, abrangendo 7 estados (Acre, Amazonas, Amapá, Rondônia e Roraima).
Figura 32. Região Hidrográfica Amazônica.
Fonte: ANA, 2003.
É a região que mais sofre com desmatamento, pois suas árvores são fontes de gran-
des lucros para as indústrias madeireiras e, em análises gerais, sua fauna e flora diversifi-
cada é de grande valor econômico. Paradoxalmente é uma região com baixa intervenção
antrópica. Seu clima predominante é tropical chuvoso. Seu potencial hídrico é medido atra-
vés do somatório de vazões médias dos diferentes tributários, resultando em uma vazão
média total de 108.982m³/s. Sua demanda de água atual é representada no gráfico 21.
104
Gráfico 21. Demanda total de água na Região Hidrográfica Amazônica.
Fonte: ANA, 2003.
Sua maior demanda como observado no gráfico, é decorrente da irrigação, que ocor-
re principalmente na unidade hidrográfica de Tapajós. A demanda urbana é relativamente
pequena devido a baixa densidade demográfica da região. Assim, a região não apresenta
problemas de disponibilidade hídrica, em geral.
5.2.2. Tocantins/Araguaia
A RH Tocantins/Araguaia (figura 33) possui área de 967.059km², compartilhada pe-
los estados de Goiás, Tocantins, Pará, Maranhão, Mato Grosso e Distrito Federal. Seu prin-
cipal tributário é o rio Araguaia.
Figura 33. Região Hidrográfica do Tocantins/Araguaia.
Fonte: ANA, 2003.
17%
18%
21%
5%
39%
Demanda total na Região: 62,61m³/s
Urbana
Rural
Animal
Industrial
Irrigação
105
Esta RH se diferencia por dois aspectos da RH Amazônica: seu histórico de ocupa-
ção e suas características naturais. Sua densidade demográfica é de 8hab/km² e possui
biomas transitórios entre a Amazônia e o Cerrado. Sua vazão média é de 13.624m³/s, equi-
valendo a 7,6% do total do país. Sua demanda é ilustrada no gráfico 22.
Gráfico 22 Demanda total de água na Região Hidrográfica Tocantins/Araguaia.
Fonte: ANA, 2003.
A região se destaca por seu potencial hidroelétrico e mineral, compreendendo as u-
sinas hidrelétricas de Tucuruí, Lajeado, Serra da Mesa e Canabrava, e o Complexo Mineral
de Carajás. Sua rede urbana é bem característica, pois é fragmentada, possuindo 54,3% da
Região em centros urbanos, porém com apenas 13% da população efetivamente urbana.
5.2.3. Atlântico Nordeste Ocidental
A RH Atlântico Nordeste Ocidental (figura 34) possui uma área de 254.100km², com
91% pertencente ao estado do Maranhão e apenas 9% do Pará. Esta região, assim como a
Amazônica, sofre por ações antrópicas de desmatamento oriundas das atividades agrícolas
irregulares, provocando erosões nos solos e salinização. Em alguns casos é possível notar
processos de desertificação (MMA, 2006a).
11%
11%
19%
3%
57%
Demanda total na Região: 84,29m³/s
Urbana
Rural
Animal
Industrial
Irrigação
106
Figura 34. Região Hidrográfica Atlântico Nordeste Ocidental.
Fonte: ANA, 2003.
A vazão média da região é de 2.514m³/s, com fator característico: a maior parte de
captação de suas águas provêm de fontes subterrâneas, principalmente no Maranhão, onde
mais de 70% das cidades utilizam o sistema de poços para captação de águas. Sua deman-
da total pode ser observada no gráfico 23.
Gráfico 23. Demanda total de água na Região Hidrográfica Atlântico Nordeste Ocidental.
Fonte: ANA, 2003.
29%
35%
15%
4%
17%
Demanda total na Região: 16,2m³/s
Urbana
Rural
Animal
Industrial
Irrigação
107
Apesar da região apresentar uma demanda industrial baixa, este setor tem relativa
importância, compreendendo o Complexo Siderúrgico de Itaqui (MA) e outros segmentos
industriais de menor porte, mas representativos da região.
5.2.4. Parnaíba
A Região Hidrográfica do Parnaíba (figura 35) corresponde a segunda região hidro-
logicamente mais importante do Brasil. Ocupa uma área de 344.112km², drenando 99% do
Piauí, 19% do Maranhão e 10% do Ceará.
Figura 35. Região Hidrográfica do Parnaíba.
Fonte: ANA, 2003.
Esta região se assemelha a RH Atlântico Nordeste Ocidental no que tange as fontes
de abastecimento de água, ou seja, suas cidades também captam água através de poços.
Com uma vazão média de 763m³/s, a região apresenta uma carência de água e grandes
diferenças em seu desenvolvimento social e econômico. Seu quadro demográfico aumenta
no aspecto rural e seu cenário econômico é estagnado em alguns pontos, e elevado índice
de pobreza em outros. Parte da explicação da estagnação econômica nas atividades agríco-
las é por conta das condicionantes climáticas. Sua demanda hídrica para irrigação é superi-
or à média nacional por conta do alto índice de evapotranspiração da região e, ainda, pelas
tecnologias de baixa eficiência empregadas nos processos. Estes dados podem ser analisa-
dos conforme esboço no gráfico 24.
108
Gráfico 24. Demanda total de água na Região Hidrográfica do Parnaíba.
Fonte: ANA, 2003.
5.2.5. Atlântico Nordeste Oriental
A Região Hidrográfica do Atlântico Nordeste Oriental (figura 36) se destaca por
compreender mais de uma dezena de bacias costeiras, contudo, estas apresentando pouca
vazão e extensão. Esta RH ocupa uma área de 287.348km² e possui uma vazão média de
813m³/s. É caracterizada por possuir grande parte do interior de seu território ocupado pelo
bioma caatinga. Este bioma foi vastamente degradado pela ação antrópica, através da pe-
cuária, assim como outros biomas da região Mata Atlântica, Cerrado, Ecossistemas Cos-
teiros foram tomados pelas atividades canavieiras e o extrativismo vegetal, este último
representando maior impacto atual da região.
Figura 36. RH Atlântico Nordeste Oriental.
Fonte: ANA, 2003.
13%
12%
10%
1%
64%
Demanda total na Região: 24m³/s
Urbana
Rural
Animal
Industrial
Irrigação
109
Sua zona costeira é caracterizada pela ausência de grandes rios e, com ação das
correntes marítimas quentes, possibilitando a formação de um ambiente propício, conta com
vasta formação de recifes de corais. Dotada de densa biodiversidade, suas lagoas costeiras,
estuários e manguezais sofrem forte pressão antrópica derivada de interesses econômicos.
Não estes impactos, como o cultivo da cana-de-açúcar, a expansão urbana, as indús-
trias, entre outros, m provocado grandes impactos ao meio ambiente regional. O uso e
ocupação do solo desta RH são semelhante ao da RH Atlântico Nordeste Ocidental.
Sua disponibilidade hídrica é insegura, podendo ser observada e analisada através
do gráfico 25.
Gráfico 25. Demanda total de água na Região Hidrográfica do Atlântico Nordeste Oriental.
Fonte: ANA, 2003.
Conforme mencionado, sua alta demanda pela irrigação contrasta com a disponibili-
dade drica (0,3% do total nacional), principalmente em períodos de estiagem, sendo ne-
cessária, em certas ocasiões, a interligação de bacias e transposição de águas. As regiões
costeiras ainda contam com o agravante das atividades turísticas, provocando flutuação na
população e aumentando a poluição dos ambientes hídricos (PEREZ, 2007).
5.2.6. São Francisco
A Região Hidrográfica do São Francisco (figura 37) se destaca pelo rio São Francis-
co, palco de grandes acontecimentos históricos em todas as dimensões, portador de vasto
potencial hidroenergético e agricultura irrigada. Os tributários desta RH totalizam 168, dos
quais 99 são perenes e 69 são intermitentes. Sua área ocupada é de 638.324km², com uma
vazão média de 3.037m³/s.
15%
7%
2%
6%
70%
Demanda total na Região: 246m³/s
Urbana
Rural
Animal
Industrial
Irrigação
110
Figura 37. Região Hidrográfica do São Francisco.
Fonte: ANA, 2003.
Sua constituição ecológica abrange diversos biomas, devido sua extensão longitudi-
nal. A ação antrópica foi e tem sido forte na região, entretanto seu passado é mais forte no
âmbito predatório, pois a prática do extrativismo vegetal era muito forte devido ao abasteci-
mento das caldeiras dos barcos a vapor. Este passado ainda é vivo. Observam-se ainda
hoje processos erosivos, assoreamentos e desbarrancamentos derivados destas ações
passadas. Soma-se ainda a degradação das nascentes pelas atividades agrícolas.
Seu aproveitamento hidrelétrico é a base de fornecimento de energia para o nordes-
te, contando com 9 usinas ao longo do rio São Francisco, e 33 no total; além disto, as barra-
gens são aproveitadas para irrigação, abastecimento e lazer. O gráfico 26 expressa a de-
manda de água da região.
Gráfico 26. Demanda total de água na Região Hidrográfica do São Francisco.
Fonte: ANA, 2003.
17%
4%
4%
6%
69%
Demanda total na Região: 202,96m³/s
Urbana
Rural
Animal
Industrial
Irrigação
111
5.2.7. Atlântico Leste
A Região Hidrográfica Atlântico Leste (figura 38) possui significativo Parque Industri-
al e alguns grandes centros urbanos. Sua área abrange 4% do país, com 374.677km² -
compreendendo os estados de Sergipe, Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo e uma va-
zão de 1.400,43m³/s, representando 0,9% do total do país. Esta RH caracteriza-se por suas
diferenças fisiográficas, determinante das condições de qualidade das águas superficiais,
somadas as atividades de garimpo, as quais elevam a concentração de ferro, fósforo e alu-
mínio nestas águas, além de sua turbidez. Esta região também sofre forte pressão antrópi-
ca; a vegetação nativa foi devastada pela pecuária, cultura canavieira e plantio de cacau.
Atualmente, a atividade de maior impacto na região é o extrativismo vegetal.
Figura 38. Região Hidrográfica do Atlântico Leste.
Fonte: ANA, 2003.
A demanda hídrica da região (gráfico 27) é comprometida. Sua relação com a dis-
ponibilidade é crítica, pois esta é inferior, em um cenário onde esta demanda ultrapassa os
100% da disponibilidade oferecida.
112
Gráfico 27. Demanda total de água da Região Hidrográfica Atlântico Leste.
Fonte: ANA, 2003.
Conforme supracitado, esta RH possui situação desequilibrada, onde a demanda su-
pera a oferta. Um de seus aspectos prioritários é a ampliação da disponibilidade hídrica,
enfatizando as áreas críticas, regularizando vazões, preservando mananciais e oferecendo
maior quantidade de água subterrânea (ANA, 2002b).
5.2.8. Atlântico Sudeste
A Região Hidrográfica Atlântico Sudeste (figura 39) se destaca por sua real signifi-
cância e importância nacional, devido sua população e condição econômica, somados ainda
ao seu Parque Industrial. Esta região apresenta demasiados e profundos conflitos no uso de
águas, pois possui uma das maiores demandas e, também, uma das menores disponibilida-
des hídricas relativas.
Figura 39. Região Hidrográfica Atlântico Sudeste.
Fonte: ANA, 2003.
35%
15%
8%
5%
37%
Demanda total na Região: 92m³/s
Urbana
Rural
Animal
Industrial
Irrigação
113
A RH Atlântico Sudeste tem uma área de 229.972km², equivalente a 2,7% do territó-
rio nacional. Seus principais rios em extensão são: o Paraíba do Sul e o Doce, além dos
demais e poucos extensos rios. A região é constituída principalmente pela Mata Atlântica,
além da extensa Zona Costeira, com ênfase à Serra dos Órgãos/RJ, área constituinte de
grande aporte florestal, compreendendo diversas Unidades de Conservação.
A Região Sudeste apresenta a maior densidade demográfica e o maior pólo industrial
do Brasil, com destaque aos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. A pressão antrópica na
região é intensa, derivada da expansão urbana descontrolada, os portos marítimos (fontes
poluidoras dos ecossistemas aquáticos), terminais petrolíferos e atividades agrícolas (der-
ramando defensivos agrícolas e fertilizantes nos rios próximos).
Sua demanda por água, conforme mostra o gráfico 28, é complexa e desequilibrada,
conforme a RH Atlântico Leste, contudo sendo mais expressiva. Sua vazão média é de
3.286m³/s, com uma disponibilidade hídrica de 1.012m³/s, representando 1,3% do país.
Gráfico 28. Demanda total de água na Região Hidrográfica Atlântico Sudeste.
Fonte: ANA, 2003.
A relação entre demanda e disponibilidade é comprometida para esta RH; as unida-
des hidrográficas do Rio de Janeiro e São Paulo estão em um nível onde sua demanda é de
102% e sua disponibilidade hídrica de 109%. É fundamental a ampliação da oferta hídrica
para esta Região. Esforços vêm sendo feitos para promover estratégias e crescimento
econômico e social sustentável, num intuito de manter o equilíbrio, a qualidade de vida e do
meio ambiente. Atualmente, estão em plena atividades os Comitês de Integração de Bacia
Hidrográfica de rios de domínio da União: o Doce e o Paraíba do Sul (MMA, 2006a).
41%
9%
2%
15%
33%
Demanda total na Região: 219m³/s
Urbana
Rural
Animal
Industrial
Irrigação
114
5.2.9. Atlântico Sul
A Região Hidrográfica Atlântico Sul (figura 40) abrange uma área total de
185.856km², incluindo os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul; possui
uma vazão média de 4.129m³/s, com uma configuração de predominância de rios de peque-
no porte, exceto o rio Capivari e Itajaí, em Santa Catarina, e os rios Taquari-Antas , Jacuí,
Vacacaí e Camaquã, no Rio Grande do Sul. Esta RH tem papel importante no Brasil devido
seu desenvolvimento econômico, sua densidade demográfica e a exploração turística. Devi-
do esta ação antrópica, sua vegetação nativa está estimada em apenas 12% do que conti-
nha originalmente. A densa rede urbana contribui diretamente para o depósito de poluentes
no seu entorno, afetando o meio.
Figura 40. Região Hidrográfica do Atlântico Sul.
Fonte: ANA, 2003.
Grande parte da população da RH Atlântico Sul se localiza em área urbana (84,9%).
Contudo, sua maior demanda hídrica advêm da irrigação, devido a rizicultura por inundação,
conforme pode ser observado no gráfico 29.
115
Gráfico 29. Demanda hídrica total da Região Hidrográfica do Atlântico Sul.
Fonte: ANA, 2003.
5.2.10. Uruguai
A Região Hidrográfica do Uruguai (figura 41) representa importante função no país
por suas atividades agro-industriais e seu potencial hidrelétrico. Sua área é de 174.612km²
em território brasileiro, com uma vazão média de 4.117m³/s, sendo seu principal tributário o
rio Uruguai. É uma região que se encontra em grave estágio de desmatamento provocado
pela expansão agrícola, somado ainda pela suinocultura e avicultura em minifúndios.
Figura 41. Região Hidrográfica do Uruguai.
Fonte: ANA, 2003.
Sua maior demanda por água, assim como a RH Atlântico Sul, provêm do cultivo de
arroz, conforme mostra o gráfico 30.
9%
2%
2%
9%
78%
Demanda total na Região: 373,7m³/s
Urbana
Rural
Animal
Industrial
Irrigação
116
Gráfico 30. Demanda total de água na Região Hidrográfica do Uruguai.
Fonte: ANA, 2003.
Como exposto pelo gráfico, é a região que apresenta maior demanda de irrigação,
correspondendo a uma área de irrigação de 14% do Brasil. Suas águas vêm sofrendo notá-
vel contaminação proveniente da suinocultura, avicultura e dos agrotóxicos utilizados na
rizicultura.
5.2.11. Paraná
A Região Hidrográfica do Paraná (figura 42) representa grande importância, pois a-
brange 32% da população nacional e possui o maior índice de desenvolvimento econômico,
com o Parque Industrial mais avançado do país, destacando-se os setores de metalurgia,
mecânica, química e farmacêutica. Com uma área de 879.860km², compreendendo os esta-
dos de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Santa Catarina e Dis-
trito Federal, equivalente a 10% do território nacional. É a região que apresenta maiores
conflitos entre usuários e recursos hídricos. A partir de uma análise do gráfico 31 será pos-
sível melhor compreensão.
3%
1%
3%
2%
91%
Demanda total na Região: 245m³/s
Urbana
Rural
Animal
Industrial
Irrigação
117
Figura 42. Região Hidrográfica do Paraná.
Fonte: ANA, 2003.
Gráfico 31. Demanda total de água na Região Hidrográfica do Paraná.
Fonte: ANA, 2003.
Como ilustrado a partir do gráfico 31, em breve análise, é possível notar o equilíbrio
na demanda dos setores urbano, industrial e irrigação. Esta situação explica os contínuos
conflitos na região. O abastecimento humano, a diluição de efluentes nas cidades, a irriga-
ção, geração de energia elétrica, entre outros, são os principais fatores conflitantes da regi-
ão; esta RH possui a maior capacidade de energia instalado no país e, concomitantemente,
a maior demanda pela mesma. A demanda de água representa 27,1% do total do Brasil.
32%
4%
6%
25%
33%
Demanda total na Região: 589,6m³/s
Urbana
Rural
Animal
Industrial
Irrigação
118
5.2.12. Paraguai
A Região Hidrográfica do Paraguai (figura 43) tem sua respectiva importância para o
Brasil, pois inclui em sua área o Pantanal uma das maiores extensões úmidas contínua do
planeta, tombado como Patrimônio Nacional pela Constituição de 1988 e Reserva da Biosfe-
ra pela UNESCO em 2000. Sua área é de 363.445km² em território brasileiro (esta se es-
tende pela Argentina, Bolívia e Paraguai), abrangendo os estados do Mato Grosso do Sul e
Mato Grosso, com uma vazão média de 1.833m³/s e tendo o rio Paraguai como principal
tributário.
Figura 43. Região Hidrográfica do Paraguai.
Fonte: ANA, 2003.
A maior parte de sua demanda (gráfico 32) advém da dessedentação de animais.
Sua demanda urbana é concentrada na região metropolitana de Cuiabá/Várzea Grande,
enfrentando problemas de abastecimento devido poluição dos rios atrelada a falta de trata-
mento de esgotos. Apesar de a pecuária estar em expansão juntamente com a soja, boa
parte da irrigação é demandada pela rizicultura. A RH busca melhor gestão de seus recur-
sos para evitar situações críticas de demanda/disponibilidade.
119
Gráfico 32. Demanda total de água na Região Hidrográfica do Paraguai.
Fonte: ANA, 2003.
5.3. A Política Estadual de Recursos Hídricos
A PNRH, como já referida, foi referência para algumas Unidades Federativas do Bra-
sil. Sua implantação, ainda que de forma desigual ao longo do território nacional, é critério
inexorável aos cuidados com os recursos hídricos e ambientais. Alguns Estados avançaram
significativamente com a aprovação e regulamentação das leis voltadas aos recursos hídri-
cos; em muitos casos, estes não conseguem manter o ritmo ao longo do tempo conforme o
é ditado no início do processo. Alguns Estados se encontram em fase incipiente de regula-
mentação e implementação das leis devido estreito orçamento, limitando a estruturação mí-
nima dos órgãos gestores e colegiados. Por diferentes razões, principalmente de ordem po-
lítico-partidária, a regulamentação da Política Estadual de Recursos Hídricos do Rio de Ja-
neiro foi morosa. Para José Machado (2007), as situações estaduais derivam, em boa parte,
das desigualdades fiscais, econômicas e sociais, além de, não raro, falta de vontade política
dos governantes, esta atrelada à falta de percepção sobre a relevância e competência estra-
tégica de possuir e executar uma política de recursos hídricos.
A Política Estadual de Recursos Hídricos do Rio de Janeiro (PERHI) Lei nº 3.239 ,
sancionada em 02 de agosto de 1999, teve sua elaboração moldada a partir da PNRH e
assim seguiu por anos. A então nova política nacional presumia ações e instrumentos para
garantia de existência de água doce; com a dominialidade competente aos Estados, cada
um passou a ser responsável pela gestão de suas águas, levando em conta duas especifici-
dades locais. Neste sentido, o Rio de Janeiro destacou-se no cenário nacional, pois assumiu
um dos primeiros modelos integrados de gestão das águas da BH do rio Paraíba do Sul,
marcando exemplo para todo o país (YOUNG, 2004). A PERHI segue como base a PNRH,
sendo estruturada semelhantemente, porém com algumas modificações (figura 44).
16%
5%
39%
5%
35%
Demanda total na Região: 22,83m³/s
Urbana
Rural
Animal
Industrial
Irrigação
120
Figura 44. Organograma da PERH-RJ.
Fonte: Elaboração própria, a partir de RIO DE JANEIRO, 1999a.
.
1. Descentralização da ação do
Estado.
2. Gestão sistemática sem dissoci-
ação da quantidade e qualidade.
3. Adequação às diversidades
regionais.
4. Integração entre gestão de
recursos hídricos e meio ambiente.
5. Planejamento articulado entre
usuários e com o setor nacional e
municipal.
6. Planejamento regional, estadual,
municipal e dos usuários.
7. Controle de cheias e correta
utilização das várzeas.
8. Proteção das áreas de recarga
dos aqüíferos.
9. Controle da extração mineral.
10. Zoneamento de áreas inundá-
veis.
11. Prevenção da erosão do solo.
12. Consideração de toda extensão
do aqüífero para utilização de
águas subterrâneas.
13. Utilização adequada e demar-
cação das áreas marginais aos
rios, lagoas e lagunas.
14. Consideração do sistema
estuarino e zona costeira na ges-
tão territorial.
15. Publicidade das informações.
16. Conscientização da preserva-
ção dos recursos hídricos.
POLÍTICA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS (Lei nº 3.239/99)
DIRETRIZES GERAIS
OBJETIVOS
FUNDAMENTOS
1. Assegurar à atual e às
futuras gerações a disponi-
bilidade e os padrões de
qualidade.
2.Garantir uso prioritário
para população humana.
3. Prevenção e defesa
contra eventos hidrológicos
críticos ou pelo uso inade-
quado.
4. Articulação integrada
para soluções regionais dos
corpos de água.
5. Recuperação, preserva-
ção e conservão dos
ecossistemas aquáticos.
6. Despoluição dos corpos
hídricos e aqüíferos.
1. A água é um recurso essen-
cial à vida.
2. Gestão descentralizada, com
participação do poder público,
dos usuários e das comunida-
des
3. O acesso À água é um direito
de todos, desde que não com-
prometa a quantidade e quali-
dade dos aqüíferos e ecossis-
temas aquáticos.
4. Prioridade para consumo
humano e dessedentação de
animais.
INSTRUMENTOS
1. Plano Estadual de
Recursos Hídricos.
4. Enquadramento de corpos
de água em classes.
3. Planos de Bacia
Hidrográfica.
2. Programa Estadual de
Conservação e Revitaliza-
ção de Recursos Hídricos.
5. Outorga de
direito de usos.
6. Cobrança dos usuários.
7. Sistema Estadual de
Informações sobre Re-
cursos Hídricos.
Fundamentar, orientar a
formulação e implementar a
PERH-RJ.
Organizar a ação governa-
mental, visando a concreti-
zação dos objetivos da
PERH-RJ.
Atender as diretrizes da PERH-
RJ e servir de base para elabo-
ração do Plano Estadual de
Recursos Hídricos.
1. Assegurar e estabe-
lecer metas da qualida-
de das águas.
2. Diminuir os custos de
combate à poluição.
Controlar o uso, garantir
acesso à todos e pre-
servar a flora e fauna
endêmica ou em risco
de extinção.
1. Reconhecer a água como
bem econômico.
2. Racionalizar o consumo.
3. Financiar Programas e
Intervenções
Coletar, tratar, armazenar e
recuperar informações sobre
recursos hídricos e fatores
inconvenientes na gestão
dos mesmos.
121
A PERHI, como supracitado e observado a partir da figura 44, tem sua estrutura se-
melhante à PNRH. Entretanto, a mesma promoveu algumas complementações atenta às
suas condições regionais e locais. A Lei Estadual 3.239/99 define também o Sistema Es-
tadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SEGRHI), com objetivos de gerenciar a
gestão integrada das águas; arbitrar administrativamente os conflitos relacionados aos re-
cursos hídricos; implementar a PERHI; planejar, controlar e regular o uso, a preservação e
recuperação dos recursos hídricos; além de promover a cobrança. As instâncias que com-
põem o SEGRHI seguem elencadas na tabela 17, com suas respectivas competências,
mostrando como é complexo o referido sistema e como são distribuídas suas ações e res-
ponsabilidades.
Atualmente, no Rio de Janeiro, os CBHs formados são: Comitê Baía de Guanabara,
Comitê Piabanha, Comitê Guandu, Comitê Lago São João, Comitê Macaé, Comitê Rio Dois
Rios, Comitê Médio Paraíba do Sul. Outros ainda estão em processo de formação e institu-
cionalização. Esta descontinuidade das políticas estaduais dificultam a implementação da
PNRH, pois estas não se mantêm contínuas.
A gestão de águas do Rio de Janeiro tem uma característica diferencial a respeito da
cobrança. O tópico a seguir se dispõe a explanar mais sobre o tema e revelar as aborda-
gens regionais; conjuntamente tratar-se-á sobre a questão da outorga, a qual caminha junto,
como instrumento da PERHI, da cobrança pelo uso das águas.
122
Tabela 17. Instâncias do SEGRHI e suas respectivas competências.
INSTÂNCIAS DECISÓRIAS DO SEGRHI
COMPETÊNCIAS BÁSICAS
Conselho Estadual de Recursos Hídricos
(CERHI)
Fomentar uma política cada vez mais eficaz na gestão dos recursos
hídricos.
Valorização dos corpos de água de domínio estadual.
Estabelecer parâmetros para outorga e cobrança.
Promover a articulação, integração e coordenação do Planejamento
Estadual de Recursos Hídricos entre a esfera nacional, regional e u-
suários.
Aprovar propostas de criação de Comitês de Bacia Hidrográfica no
Estado.
Orientar a implantação da PERH-RJ, a aplicação de seus instrumen-
tos e atuação do SEGRHI.
Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FUND-
RHI)
Reconhecer a água como bem econômico e como recurso limitado.
Incentivar a racionalização do uso da água, assim como a localização
e distribuição espacial das atividades produtivas no território estadual.
Financiar pesquisas de recuperação e preservação de recursos hídri-
cos.
Garantir disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequa-
dos aos múltiplos usos.
Apoiar a fiscalização do uso dos recursos hídricos no território do
Estado.
Comitês de Bacia Hidrográfica
Enquadramento dos corpos de água.
Cobrança pelo uso da água.
Acompanhar a execução do Plano de Bacia Hidrográfica.
Encaminhar propostas ao CERHI quanto a isenção de outorga (uso
insignificante).
Aprovar critérios de cobrança.
Agências de Água
Manter balanço atualizado de disponibilidade hídrica.
Manter o cadastro de usuários de recursos hídricos.
Acompanhar os investimentos oriundos da cobrança.
Elaborar propostas orçamentárias, enquadramento dos corpos de
água, valores a serem cobrados e submetê-los aos Comitês.
Órgãos do Poder Público Federal, Estadual e
Municipal
Atuar de forma integrada, buscando consenso a partir de suas carac-
terísticas específicas.
Gerenciamento integrado de suas ações e planejamentos, a fim de
evitar ocorrências isolacionistas as quais não promovam resultados
significativos.
Fomento da participação de todos os agentes envolvidos na gestão
dos recursos hídricos, conduzindo a atuação generalizada dos mes-
mos e cuidados para com o meio.
Fonte: Elaboração própria, a partir de RIO DE JANEIRO, 1999a; id., 2003a; id., 2004; YOUNG, 2004.
5.4. Divisão hidrográfica do Rio de Janeiro
Não distante do ambiente nacional, o Rio de Janeiro, com constante evolução e a-
vanços em sua gestão dos recursos hídricos, resolve, através da Resolução 18 de 2006,
123
do Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERHI-RJ), que o Estado passa a ser dividido
em regiões hidrográficas, para fins de uma melhor gestão.
Assim, o anexo da Resolução CERHI-RJ nº 18/06 ilustra tal divisão (figura 45):
Figura 45. Divisão hidrográfica do Rio de Janeiro.
Fonte: Resolução CERHI-RJ nº 18, 2006.
Estas 10 RHs foram divididas segundo características hidrográficas. A partir desta
divisão, o Estado almeja a ter melhores condições técnicas e gestoras quanto a seus recur-
sos hídricos. Contudo, este processo ainda é recente, não dados disponíveis especifica-
dos por RH a construção e instalação dos CBHs está em processo, não sendo totalizada
no Estado (estes são responsáveis pela aferição, construção e divulgação dos dados refe-
rentes à sua RH). Os Comitês existentes atualmente são: baía de Guanabara, Piabanha,
Guandu, lago São João, Macaé, rio Dois Rios, Médio Paraíba do Sul. Todavia, apesar de
formados, alguns destes Comitês são incipientes e não estruturados, ou seja, não possuem
corpo técnico e funcional para atuar eficientemente, devido sua formação ser recente.
Assim, o presente capítulo irá abordar as Macrorregiões Ambientais (MRAs) do Rio
de Janeiro (figura 46), as quais, ainda que de forma mais ampla, garantirão informações
pertinentes ao tema e contribuipara adensamento de informações; comprovando, assim
como visto no capítulo 2.3, as diferenças hídricas e geográficas, agora em nível estadual. As
MRAs foram definidas pelo Decreto 26.058, no dia 14 de março de 2000, definindo estas
regiões, visto que a zona costeira e a bacia hidrográfica fluminense eram consideradas
ambientalmente e economicamente importantes. Os dados apresentados, a seguir, são ba-
124
seados no documento da ANA (2002c), sobre as bacias hidrográficas do Atlântico Sul, regi-
ão a qual está inserido o Estado do Rio de Janeiro no trecho leste.
Figura 46. Mapa das MRAs do Estado do Rio de Janeiro.
Fonte: RIO DE JANEIRO, 2000, apud INEA, 2009a.
5.4.1. Baía de Guanabara
A MRA-1, da bacia da ba de Guanabara e das Lagoas metropolitanas, possui uma
área de 4.920km², concentrando cerca de 67% da população fluminense. Esta região é
compreende a porção mais desenvolvida do território do Rio de Janeiro, além da maior parte
da RMRJ. Esta MRA se destaca por suas famosas e turísticas Unidades de Conservação: o
Parque Nacional da Tijuca, o Parque Estadual da Serra da Tiririca, parte do Parque Nacional
da Serra dos Órgãos, entre outras, sendo estas as mais conhecidas pela população e explo-
radas turisticamente.
Com uma densidade populacional de 1.624,22hab/km², a MRA possui como princi-
pais usos consuntivos de água: abastecimento urbano e rural, consumo industrial, desse-
dentação animal, irrigação e aqüicultura (estações de piscicultura). Cerca de 75% do uso
consuntivo é de uso doméstico, o resto atribuído ao uso industrial e animal. Decorrente dis-
to, os maiores impactos observados nos rios são causados pelo lançamento de efluentes
domésticos e industriais.
125
A vazão média mensal da MRA-1 é de 100m³/s, incluindo os 25m³/s advindos da
transposição do Paraíba do Sul, e uma pluviosidade média anual de 1.400-2.500mm; os
principais usuários são: CEDAE, Águas de Niterói, grandes indústrias atendidas pela CE-
DAE, entre outros de menor porte. As reclamações observadas por parte dos usuários são,
geralmente, por conta da qualidade das águas e sua respectiva potabilidade. Assim, a popu-
lação já se mobiliza contra os desmatamentos ilegais, obras sem licenciamento e lançamen-
to de efluentes tóxicos industriais. Uma das principais ações realizadas nesta região é o
Plano de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG) o qual será discutido mais a frente
, sendo umas das prioridades de investimentos da respectiva MRA. Os dados da região são
esboçados e resumidos na tabela 18.
Tabela 18. Dados hidrográficos da MRA-1.
Área: 4.920km²
Pluviosidade média anual:
1.400~2.500mm
Vazão média mensal: 100m³/s
Recorte Hidrográfico Estadual
Bacia Hidrográfica Principal
Principais afluentes
Bacia Hidrográfica da Baía de Guana-
bara e Lagoas Metropolitanas
Baía de Guanabara
Rio Guapimirim
Rio S. Aleixo
Rio Suruí
Rio Estrela
Rio Saracuruna
Rio Iguaçu
Rio Sarapuí
Baixada de Jacarepaguá
Rio Pau da Fome
Rio Grande
Rio Camorim
Canal do Pontal
Lagoa de Maricá
Rio Caranguejo
Rio Itapeteiú
Rio Ubatiba
Rio do Vigário
Lagoa Rodrigo de Freitas
Rio dos Macacos
Pequenos Córregos
Microbacias urbanas de São Conrado,
Urca, Copacabana e Leme
Pequenos Córregos
Lagoas Piratininga Itaipu
Pequenos Córregos
Fonte: ANA, 2002c (adaptado pelo autor).
5.4.2. Baía de Sepetiba
A bacia hidrográfica da Baía de Sepetiba (MRA-2) compreende como principais rios:
o Guandu, da Guarda, Canal Guandu, Mazomba, Piraquê, Piracão, Portinho, Ingaíba, São
Bráz, do Saco e Saí; o Guandu é a principal fonte de abastecimento da região. Sua área
territorial total é de 3.174km², onde 520km² é referente à Baía de Sepetiba e os outros
2.654km² à bacia hidrográfica contribuinte.
Uma característica desta MRA é sua topografia. Devido ser plana, os rios que percor-
rem por ela têm sido retificados, dragados, canalizados, entre outros tipos de obras, visando
reduzir as ocorrências de cheias na região. Além disto, a bacia foi foco de obras volumosas
126
de geração de energia desvio do rio Paraíba-Piraí e a Usina Hidrelétrica de Nilo Peçanha
, e a construção da adutora de Lajes-Rio de Janeiro.
Com uma pluviosidade anual média de 1.733,5mm e uma vazão média (da Baía de
Sepetiba) de 146m³/s, seus principais usos consuntivos são: abastecimento urbano e rural,
consumo industrial, consumo agroindustrial, irrigação, pesca profissional e esportiva. Seus
principais usuários são: CEDAE, Furnas Centrais Elétricas, Distrito Industrial de Santa Cruz,
Petrobrás, Cosigua, Cervejarias Brahma e Cintra. Sua demanda hídrica é esboçada na ta-
bela 19.
Tabela 19. Demanda hídrica na MRA-2.
Abastecimento Público
(L/s)
Industrial (L/s)
Irrigação + Rural (L/dia)
Total na Bacia (L/s)
47.290
21.000
12.000
80.000
Fonte: ANA, 2002c (adaptado pelo autor).
Do volume total captado no Guandu, somente uma pequena parcela é consumida na
própria bacia, sendo maior parte deste volume distribuído para as bacias adjacentes, da
baía de Guanabara e das lagoas metropolitanas.
A MRA-2 apresenta como principais impactos degradantes a retificação dos rios, pois
estas obras provocam erosão da calha do Guandu e afluentes, e a deterioração da qualida-
de das águas advinda dos esgotos e efluentes industriais. O Guandu é palco de maiores
conflitos na região, visto que é a principal fonte de abastecimento e, ao mesmo tempo, rece-
be depósitos de esgotos e efluentes industriais, além da exploração de areia, deteriorando
suas margens e qualidade das águas, como mencionado.
Atualmente, o Comitê Guandu já está estruturado, atuando em prol da respectiva ba-
cia, onde os principais objetivos são reduzir a emissão de esgotos e efluentes industriais,
além da gestão e saneamento ambiental da bacia hidrográfica. O resumo dos dados sobre a
MRA-2 é aferido na tabela 20.
127
Tabela 20. Dados hidrográficos da MRA-2.
Área: 3.174km²
Pluviosidade média anual: 1.733,5mm
Vazão média: 146m³/s
Recorte Hidrográfico Estadual
Bacia Hidrográfica Principal
Principais afluentes
Bacia Hidrográfica da Baía de Sepetiba
Litoral Oeste
Rio Ingaíba
Rio São Braz
Rio Saí
Itaguaí
Rio Mazomba-Cação
Rio da Guarda ou Itaguaí
Rio Guandu
Ribeirão das Lajes-Rio Guandu-Canal
de São Francisco
Rio Guandu Mirim-Canal de São Fer-
nando
Litoral Leste
Canal do Itá
Rio Piraquê-Cabuçu
Restinga de Marambaia e Ilhas da Baía
Córregos
Fonte: ANA, 2002c (adaptado pelo autor).
5.4.3. Baía da Ilha Grande
A MRA-3, a qual compreende a Bacia Hidrográfica da Baía da Ilha Grande, caracteri-
za-se por todos os destinos de seus rios serem a Baía da Ilha Grande, a qual possui uma
área total de 2.356km², os quais 1.736km² são contemplados pelo Estado do Rio de Janeiro
e 620km² por São Paulo. Além disto, a região é dotada de rios de pequena extensão com
regime torrencial, grande quantidade de cachoeiras e declividade elevada, com destaque
para a Cachoeira do Veado, no rio Mambucaba, com 200m de queda d’água.
Os principais rios da MRA-3 são de domínio da União, alguns pequenos córregos
pertencentes a São Paulo e a maioria dos cursos d’água ao Rio de Janeiro. A respectiva
bacia hidrográfica foi alterada ambiental, social e economicamente após a construção da
rodovia Rio-Santos, a qual foi responsável pela atração do mercado imobiliário, o turismo e
instalação de usinas nucleares. Seus principais usos consuntivos de água são: abasteci-
mento urbano e rural, consumo industrial e dessedentação de animais; sua pluviosidade
média anual é de 2.200mm e, sobre a vazão média, não há dados sistematizados informan-
do as descargas dos principais rios da região.
Os principais fatores degradantes ambientais da região provêm da ocupação urbana
e exploração de terrenos inadequados (acidentados) para plantio de bananas, intensificando
o processo erosivo. O lançamento direto ou indireto de esgotos no mar, sem prévio trata-
mento, e a não-disposição final adequada do lixo também são fortes influências para a de-
gradação ambiental da respectiva MRA.
A região ainda se encontra em fase de estruturação do seu CBH, aplicando seus in-
vestimentos em obras de saneamento coleta e tratamento de esgotos, abastecimento de
128
água, gerenciamento de resíduos sólidos , melhoria da infra-estrutura turística implanta-
ção de unidades de conservação, capacitação profissional , recuperação de áreas degra-
dadas, conservação da biodiversidade, reforço institucional dos órgãos públicos e no siste-
ma de gerenciamento. Os dados apresentados na tabela 21 resumem a situação hidrográfi-
ca da região.
Tabela 21. Dados hidrográficos da MRA-3.
Área: 2.356km²
Pluviosidade média anual: 2.200mm
Vazão média: nd*
Recorte Hidrográfico Estadual
Bacia Hidrográfica Principal
Principais afluentes
Bacia Hidrográfica da Ilha Grande e
Paraíba do Sul
Baía da Ribeira
Rio Jacuecanga
Rio Areia do Pontal
Rio Ariró
Rio Jurumirim
Rio Bonito
Rio Bracuí
Córrego da Areia
Rio do Frade
Rio da Conceição
Bocaina
Rio Japetinga
Rio do Funil
Rio Mambucaba
Rio São Gonçalo
Córrego Iguaçu
Córrego Humaitá
Rio Taquari
Rio São Roque
Rio de Barra Grande
Rio Pequeno
Parati
Rio Graúna
Rio da Draga
Mateus Nunes
Rio Perequê-Açu
Rio do Corisco
Joatinga
Rio dos Meros
Rio Parati-Mirim
Córrego Mamangú
Córrego Ponta Begra
Córrego Toca de Boi
Ilha Grande
Córrego Itapecerica Sul
Córrego Parnaioca
Córrego Araçatiba
Enseada Abraão
Enseada Andorinha
Enseada Estrela
*nd = Dados não disponíveis.
Fonte: ANA, 2002c (adaptado pelo autor).
5.4.4. Região dos Lagos e Rio São João
A bacia hidrográfica da Região dos Lagos e do Rio São João (MRA-4) ocupa uma
área continental de 3.752km², compreendendo as lagoas de Jaconé, Saquarema, Jacarepiá
e Araruama, bem como os rios São João, Una e das Ostras. Sua topografia é bem diversifi-
cada, com serras, colinas, maciços litorâneos isolados, planícies fluvio-marinhas e restingas.
Suas principais atividades econômicas são o turismo, a pesca, a construção civil acentua-
da pelo próprio turismo , e agropecuária, no interior da região. Uma característica marcante
129
desta MRA é que, em períodos de verão, sua população duplica e, por algumas vezes, ul-
trapassa este contingente, devido a alta temporada turística na mesma. Este é um dos gra-
ves problemas que a gestão local tem enfrentado, pois com esta oscilação populacional a
gestão dos recursos hídricos da região se torna mais difícil, sendo obrigada a prever uma
quantidade não-exata de pessoas para não permitir problemas de escassez de água e pro-
blemas sanitários (vide capítulo 4.3); obras de transposição de águas das bacias vizinhas
são realizadas para conter este aumento súbito da demanda hídrica.
Os principais usos consuntivos da região são: abastecimento urbano e rural, consu-
mo industrial, consumo agroindustrial (pequena escala), dessedentação animal, irrigação e
aqüicultura (estações de piscicultura). A pluviosidade da MRA-4 é pendular, variando de
750mm no extremo leste à 1.500mm nas áreas serranas. Os principais fatores degradantes
do ambiente regional são derivados das obras de engenharia, atividades de mineração e
exploração de areia no leito dos rios. Com isto, a gestão ambiental e dos recursos hídricos
foi reclamada pela comunidade, e o resultado foi a criação do Consórcio Intermunicipal para
Gestão Ambiental das Bacias da Região dos Lagos, do Rio São João e da Zona Costeira.
Os efeitos desta ação foram concretizados com a criação do Comitê de Bacia Lagos São
João, em 2005; sua principal meta é consolidar a PNRH e a PERHI, além de implantar a
gestão integrada e recuperação ambiental da região. Atualmente, os investimentos na regi-
ão são visíveis, desde ações locais (melhorias executadas pelas prefeituras) às regionais
(ações tomadas pelo Estado e União), avançando na elaboração do Plano de Bacias e do
cadastro de usuários dos recursos hídricos. A tabela 22 apresenta, resumidamente, os da-
dos hidrográficos respectivos à bacia hidrográfica em pauta.
Tabela 22. Dados hidrográficos da MRA-4.
Área: 3.752km²
Pluviosidade média anual:
750~1.500mm
Vazão média: nd*
Recorte Hidrográfico Estadual
Bacia Hidrográfica Principal
Principais afluentes
Bacia Hidrográfica da Região dos Lagos
Rio das Ostras
-
Rio São João
Rio Aldeia Velha
Rio Bacaxá
Rio Una
-
Lagoa de Araruama
Rio Mataruna
Rio das Moças
Lagoas de Saquarema, Jaconé e Jaca-
repiá
Rio Ubá
Rio Regame
Rio Ibicuíba
Rio Piabas
Rio Mato Grosso
Rio Jundiá
*nd = Dados não disponíveis.
Fonte: ANA, 2002c (adaptado pelo autor).
130
5.4.5. Rio Macaé e Lagoa Feia
Com uma área de aproximadamente 6.560km², a bacia hidrográfica do Rio Macaé e
da Lagoa Feia (MRA-5) compreende as bacias da lagoa de Imboassica, do rio Macaé, das
lagoas costeiras de Carapebus, Quissamã e lagoa Feia. Semelhante à MRA-4, esta região
possui topografia diversificada, com serras que em alguns trechos ultrapassam os 2.000m,
colinas isoladas, planícies extensas e tabuleiros terciários. As principais atividades econômi-
cas desenvolvidas nesta MRA são a extração de petróleo e gás com a atuação da maior
empresa brasileira, a Petrobrás S.A., na Bacia de Campos , turismo, pesca, construção
civil e, no interior da região, a agricultura e ecoturismo este último em pequena escala.
A pluviosidade da região é de 800mm nas áreas de baixa altitude, no entorno, leste e
nordeste da lagoa Feia, e entre 1.600-2.100mm nas áreas serranas. As principais formas de
uso consuntivo da água na MRA-5 são voltadas para o abastecimento urbano e rural, o con-
sumo industrial e agroindustrial, a irrigação, a dessedentação de animais, a aqüicultura e a
pesca profissional e esportiva; os principais usuários dos recursos hídricos são a CEDAE e
a Petrobrás S.A., entre outros de menor importância e consumação.
Observa-se que os principais fatores degradantes da região são as ocupações inde-
vidas do solo, próximas aos leitos das lagoas, provocando erosão das margens dos rios,
além das obras de drenagem, retificação e canalização de rios, intensificando e degradando
o meio da mesma forma que o fator anterior. Soma-se, também, a coleta e disposição ina-
dequada do lixo, gerando resíduos sólidos poluentes e contribuindo para a contaminação
das águas. A ação tomada para reter estes fatores degradantes foi a criação do Consórcio
Intermunicipal para Gestão Ambiental das Bacias do Rio Macaé e Macabú, da Lagoa Feia e
Zona Costeira; não somente criado para gerir melhor a MRA, o Consórcio tem como meta a
criação dos Planos de Bacia, buscando uma gestão eficaz de seus recursos hídricos. Os
dados hidrográficos da região são apresentados na tabela 23.
131
Tabela 23. Dados hidrográficos da MRA-5.
Área: 6.560km²
Pluviosidade média anual:
800~2.100mm
Vazão média: nd*
Recorte Hidrográfico Estadual
Bacia Hidrográfica Principal
Principais afluentes
Bacia Hidrográfica do Rio Macaé e da
Lagoa Feia
Bacia da Lagoa de Imboassica
Rio Imboassica
Bacia do Rio Macaé
Rio Macaé
Rio São Pedro
Rio Sana
Bacia das Lagoas de Carapebus e de
Quissamã
Diversas lagoas
Bacia da Lagoa Feia
Rio Imbé (Ururai)
Rio Preto
Rio Bela Joana
Rio Urubu
Rio Macabu
*nd = Dados não disponíveis.
Fonte: ANA, 2002c (adaptado pelo autor).
5.4.6. Rio Paraíba do Sul
De forma geral, a área da bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul possui uma área
de 55.000km², levando em conta a abrangência de São Paulo e Minas Gerais, além do Rio
de Janeiro. Entretanto, a área correspondente ao Estado do Rio de Janeiro (MRA-6) é de
20.700km². Sua topografia e geologia é de tamanha dessemelhança que esta MRA foi divi-
dida em 3 partes: a) Paraíba de montanha (curso superior); b) Paraíba curso médio; c) Para-
íba curso final (curso inferior). Além disto, esta divisão também reflete as características hi-
drográficas e as formas de uso das águas do Rio Paraíba do Sul.
A MRA-6 é uma das regiões econômicas mais importantes do país, abrigando cida-
des de grande e médio porte, com principais atividades voltadas para o setor industrial
com indústrias químicas e metalúrgicas, principalmente , pecuária as áreas de pasto o
predominantes , agricultura e silvicultura destaque para cultivo de cana-de-açúcar e café
, e mineração voltadas para a construção civil. Seu progressivo crescimento econômico e
social conduziu a uma significativa degradação ambiental ao longo do tempo, afetando a
qualidade das águas dos rios da respectiva bacia hidrográfica; o Rio Paraíba do Sul é res-
ponsável pelo abastecimento de 12 milhões de pessoas, sendo 8 milhões da RMRJ. A
transposição de suas águas para o Guandu marcou o mesmo como ponto estratégico o qual
garante qualidade de vida para a população. Todavia, esta gerou e intensificou os conflitos
de usos das águas; com o intuito de minimizar os conflitos e melhor gerir os recursos hídri-
cos da região, contemplando o uso múltiplo do recurso, fundou-se em 1996 o Comitê para
Integração da Bacia Hidrográfico do Rio Paraíba do Sul (CEIVAP), através do Decreto Fede-
132
ral 1.842 (BRASIL, 1996). Além disto, o CEIVAP é responsável pelo enquadramento dos
corpos hídricos, aprovar e acompanhar a cobrança pelo uso da água. Neste último quesito,
o órgão se destaca, pois, inspirado pela PNRH e por experiências de outros Comitês, o
CEIVAP foi o primeiro organismo de bacia a apresentar um modelo experimental de cobran-
ça pelo uso de água, o qual foi exemplo para outros órgãos, posteriormente.
As principais formas de uso consuntivo das águas da MRA-6 são: abastecimento ur-
bano e rural, consumo industrial e agroindustrial, dessedentação animal, irrigação e aqüicul-
tura. Seus principais usuários são, no Rio de Janeiro: CEDAE, CSN, Furnas e LIGHT. O
abastecimento urbano e industrial são os mais principais consumidores da bacia; além, um
outro fator significativo na região é o saneamento, com consumo voraz de água para dilui-
ção de esgotos. Com uma vazão média de longo termo da área inserida no Estado do Rio
d Janeiro de 2.552m³/s, a estimativa de demanda desta MRA é apresentada na tabela 24.
Tabela 24. Demanda hídrica na MRA-6 Rio de Janeiro.
Abastecimento Público
(m³/s)
Industrial (m³/s)
Irrigação (m³/dia)
Total estimado na Bacia
(m³/s)
186,4
~20 a 22,0
7,0
215,4
Fonte: ANA, 2002c (adaptado pelo autor).
Sobre o cenário ambiental, observam-se na região que os principais fatores degra-
dantes são os ciclos econômicos de exploração do solo (café, cana-de-açúcar, pastagens),
alterando a composição pedológica e provocando processos de desertificação; esta condi-
ção é encontrada principalmente no noroeste fluminense. Outro fator é o lançamento de e-
fluentes urbano-industriais, causando perda da qualidade das águas; além, o crescimento
populacional na MRA-6 provocou o aumento direto da demanda hídrica, sendo necessária
uma gestão eficaz para não haver danos aos recursos.
Atualmente, o CEIVAP gere a respectiva MRA, priorizando suas atividades e ações
para as áreas de cobrança pelo uso das águas, implementar ações institucionais referenda-
das por legislações estaduais e federais, garantir a sustentabilidade econômico-financeira e
ambiental, e prover suporte para ações complementares que busquem reverter o quadro de
degradação ambiental existente. A tabela 25 esboça os dados hidrográficos da região.
Tabela 25. Dados hidrográficos da MRA-6.
Área: 20.700km²
Pluviosidade média anual:
1.000~2.000mm
Vazão média de longo termo:
2.552m³/s
Recorte Hidrográfico Estadual
Bacia Hidrográfica Principal
Principais afluentes
Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do
Sul
Rio de Janeiro
Rio Piraí
Rio Piabanha
Rio Paquequer
Rio Dois Rios
Fonte: ANA, 2002c (adaptado pelo autor).
133
5.4.7. Rio Itabapoana
A bacia do rio Itabapoana compreende os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e
Espírito Santo. Sua área relativa ao Rio de Janeiro (MRA-7) é de 1.520km², correspondente
a 40% da área total. A região é caracterizada por seu tradicionalismo no que diz às ativida-
des econômicas, mantendo-se nos serviços urbanos e de setor primário, especialmente ca-
fé, pecuária leiteira, cana-de-açúcar e fruticultura tropical, conferindo baixo dinamismo eco-
nômico à mesma.
Os principais usos consuntivos das águas da MRA-7 são: abastecimento urbano e
rural, consumo agroindustrial, dessedentação animal, pesca profissional e esportiva. Seus
principais usuários são: CEDAE, usinas de açúcar e álcool, alambiques, abatedouros, usi-
nas de leite e produtores rurais diversos. Devido à alta taxa de atividades rurais na região,
além do lançamento de esgotos, um dos fatores degradantes da mesma é o carreamento de
herbicidas e fungicidas por produtores rurais e agroindústrias , contribuindo e intensifi-
cando a alteração da qualidade das águas. Tamanha é o estágio de degradação que, na
área inserida no Rio de Janeiro, a bacia possui o menor índice de cobertura florestal. Dora-
vante, os conflitos se acentuam, pois a comunidade reclama pela qualidade e potabilidade
das águas, além dos esforços e ações institucionais voltados para recuperação ambiental da
região.
Atendendo às reclamações, criou-se o Projeto Managé, em 1995, o qual abrange e
trata de forma integrada as questões econômicas, sociais e ambientais da região, buscando
elaborar estratégias e soluções para os problemas regionais; não somente, o Projeto visa o
desenvolvimento sustentável da bacia. Segundo dados formulados pelo Projeto Managé, as
prioridades de ações ambientais da MRA-7 são: construção de estações de tratamento de
águas, esgotos sanitários e resíduos sólidos; capacitação profissional; e apoio federal. Os
estudos são complexos e a região caminha progressivamente, almejando construir uma rea-
lidade sustentável econômica, social e ambiental na região. Dados hidrográficos sobre esta
são elencados na tabela 26.
134
Tabela 26. Dados hidrográficos da MRA-7.
Área: 1.520km²
Pluviosidade média anual: 1.320mm
Vazão média na foz: 95,81m³/s
Recorte Hidrográfico Estadual
Bacia Hidrográfica Principal
Principais afluentes
Bacia Hidrográfica do Rio Macaé e da
Lagoa Feia
Rio Itabapoana
Córrego do Pilão
Córrego do Caldeirão
Vala Água Preta
Córrego do Juvêncio
Córrego Santo Eduardo
Córrego Liberdade
Córrego Pirapetinga
Córrego Lambari
Córrego Água Limpa
Córrego Santana
Córrego do Baú
Ribeirão Varre e Sai
Ribeirão do Ouro
Ribeirão Onça
Rio Verde
Rio Preto
Fonte: ANA, 2002c (adaptado pelo autor).
5.5. Cobrança e outorga
A cobrança pelo uso da água é um instrumento da PNRH e da PERHI, com o objeti-
vo de racionalizar o consumo deste recurso e gerar arrecadação financeira para preserva-
ção e manutenção das bacias. Este instrumento funciona a partir de um pacto entre usuá-
rios, sociedade civil e poder público. Com relação aos rios de domínio estadual, no Rio de
Janeiro, a cobrança foi iniciada em 2004 e, atualmente, já está implementada em todas as
bacias do Estado.
Esta cobrança tem o propósito de induzir o comportamento humano a valorizar mais
o respectivo recurso, reduzindo seu desperdício e diminuir o índice de poluição sobre o
mesmo. A gestão descentralizada, ainda em fase incipiente, é interessante visto que a
mesma envolve todos os agentes participantes, compatibilizando os diversos usos da água.
A cobrança através de um preço, onde este, inserido na lei da oferta e procura, tende a au-
mentar conforme sua diminuição na disponibilidade, ou seja, quanto mais próximo da escas-
sez, mais caro será o consumo de água, forçando a uma racionalização e reformulação do
comportamento humano (LANNA, 2000).
Uma das principais críticas à PNRH, feita a partir da PERHI, é o fato desta não defi-
nir de onde vêm os recursos financeiros para implementação de seus instrumentos, assim
como para mobilização, criação e operacionalização dos CBHs. Com isso, o Estado do Rio
de Janeiro ficou em um impasse quanto a sua estrutura institucional, pois se encontrava em
135
período de escassez de recursos governamentais; urgia a necessidade pela cobrança dos
recursos hídricos, pois, através desta, seria possível a implementação dos instrumentos a-
bordados na PNRH e PERHI (DANTAS, 2007).
No que tange a gestão das águas no Estado do Rio de Janeiro, a PNRH era seguida
pela Lei Estadual 3.239/99, com abordagens bem semelhantes. Todavia, a mudança sig-
nificativa veio com a Lei Estadual 4.247/03, esta tratando da cobrança do uso da água
e instituindo outras ações, se distanciando, em parte, com aquilo outrora seguido da PNHR.
Logo assumida esta posição, o Estado do Rio de Janeiro, através da Lei 4.247/03, altera
a ordem de implantação dos instrumentos de cobrança outrora utilizados e definidos pela
PNRH: agora a cobrança se torna o primeiro instrumento este era elencado em lugar
segundo a Lei 9.433/97. A partir de então, passam a existir recursos para a implementa-
ção dos outros instrumentos e implementação dos Comitês, estes responsáveis pela avalia-
ção de prioridades a serem seguidas e respectivos valores.
Contudo, apesar destas mudanças, nem a PNRH e nem a Política Estadual de Re-
cursos dricos definem claramente os órgãos responsáveis pela cobrança do uso das á-
guas. A PERHI instituiu a Fundação Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (SERLA)
atualmente incorporada ao INEA (Instituto Estadual do Ambiente) por esta e outras res-
ponsabilidades enquanto não se define este papel aos órgãos destinados.
Interessante ressaltar aqui que, até recentemente, a Lei Estadual nº 4.247/03 vetava
o repasse dos custos dos processos pelas concessionárias ao consumidor. O artigo 24 des-
ta Lei promulgava tal fator. Ou seja, caso a concessionária distribuidora de águas sofresse
algum impacto em seu processo, seja por questões técnicas melhorias de equipamentos
, seja por questões legislativas imposição do Estado ao setor para melhoria na distribuição
e qualidade , esta aumentaria seus custos e não poderia repassá-los ao consumidor final,
gerando um impacto financeiro inviável e conduzindo a uma situação insustentável. Contu-
do, em 05 de maio de 2008, entrou em vigor a Lei Estadual 5.234/08 que altera a Lei
4.247/03 que dispunha deste veto ao repasse aos consumidores. A partir de então, o Artigo
24 passa a vigorar com a seguinte redação:
Art. 24 - Os acréscimos de custos verificados nos processos produtivos previstos nessa Lei
farão parte da composição dos custos para revisão tarifária a ser analisada pela Agência Regu-
ladora de Energia e Saneamento Básico do Estado do Rio de Janeiro - AGENERSA.
§ 1º - Os custos tributários oriundos dessa cobrança poderão ser abatidos dos valores cobra-
dos pelo órgão gestor;
§ 2º- O repasse decorrente da cobrança pelo uso da água pelos prestadores dos serviços de
saneamento será explicitado na conta de água do consumidor, sendo o valor recolhido ao
FUNDRHI;
§ 3º - Para fins da fórmula de cálculo prevista nos artigos 19 e seguintes, não serão conside-
rados os volumes destinados aos consumidores beneficiados pela tarifa social, aos quais não
será efetuado o repasse;
§ 4° - A cobrança pela utilização dos recursos hídricos não deve ultrapassar o percentual de
2% (dois por cento) sobre a arrecadação efetiva dos prestadores de serviços de saneamento;
136
§ 5º - O pagamento em razão da cobrança pelos recursos hídricos será realizado diretamente
pelas distribuidoras de água ao FUNDRHI (RIO DE JANEIRO, 2008).
O histórico de cobrança foi um tanto quanto buliçoso, pois a falta de equilíbrio e es-
calas, planos de aplicação, previsões, todo um conjunto de ações que não realizadas em
seu início contribuíram para um palco de inadimplência, não-fidelidade, falta de confiança e
turbulência. A cobrança foi padronizada conforme a realizada na bacia do Rio Paraíba do
Sul, não havendo preocupação com as diferentes condições existentes nas outras bacias.
Todavia, no contexto hodierno, após mais de 5 anos do início da cobrança, aproxi-
madamente, a taxa de inadimplência ainda alcança uma alta escala, quando levada em con-
ta por volume de água, pois quando observada a partir de número de usuários, a interpreta-
ção se torna enganosa (tabela 27). É levado em conta o fator diferencial entre as bacias,
havendo, assim, uma despadronização de valores e taxas cobradas. Demasiado número de
usuários ainda não possuem outorgas de uso das águas e nem todas as bacias possuem
seus planos de investimentos; poucos comitês são bem embasados tecnicamente e organi-
zados. Esforços têm sido realizados para reduzir o índice de inadimplência e construir uma
gestão participativa e integrada, com maior agilidade na tomada de decisões e maior capa-
cidade técnica para apoiá-las.
Tabela 27. Adimplentes x Inadimplentes (por número de usuários) Maio/2009.
USUÁRIOS (quantidade)
Inadimplentes
Adimplentes
Total
B. Ilha Grande
---
11
11
Guandu
10
42
52
Md. P. do Sul
12
17
29
Piabanha
4
20
24
B. Guanabara
29
84
113
Lagos S.João
9
9
18
Dois Rios
9
10
19
Macaé e das Ostras
1
9
10
Bxo. P. do Sul
8
6
14
Itabapoana
2
1
3
TOTAL
84
209
293
Fonte: INEA, 2009c.
137
Ao se observar os dados aferidos pelo INEA, levando-se em conta o número total de
usuários, apenas 28,67% dos usuários se encontram em situação de inadimplência. Porém,
se levado em conta o volume total da água captada (tabela 28), inserido no quesito adim-
plência x inadimplência, uma média total de 47,7% da captação ainda se encontra em situa-
ção de inadimplência. Contudo, Dantas (2007) questiona tal cenário, demonstrando em seu
estudo que diferenças explícitas na metodologia das cobranças, mostrando as desigual-
dades entre os usuários cobrados; colocando, assim, alguns usuários em condições desi-
guais no setor de cobrança, visto ainda que a situação era acentuada pela impossibilidade
de repassar os custos (atualmente autorizado pela Lei Estadual nº 5.234/08).
138
Tabela 28 Adimplentes x Inadimplentes (por volume de água captada) Maio/2009.
RH
Inadimplentes
Vazão de captação
anual - inadimplentes
(m³/h)
Adimplentes
Vazão de captação anual
- adimplentes (m³/h)
Total
Vazão Total (m³/h)
% Matrículas ina-
dimplentes
% Vazão
inadimplente
B. Ilha Grande
-
-
11
12.708.649,20
11
12.708.649,20
-
-
Guandu
10
1.487.979.693,20
42
64.565.633,35
52
1.552.545.326,55
19,2
95,8
Md. P. do Sul
12
22.073.244,45
17
51.260.395,10
29
73.333.639,55
41,4
30,1
Piabanha
4
24.678.909,36
20
19.893.922,18
24
44.572.831,54
16,7
55,4
B. Guanabara
29
1.507.419.341,65
84
56.135.954,94
113
1.563.555.296,59
25,7
96,4
Lagos S. João
9
748.024,80
9
52.382.293,96
18
53.130.318,76
50,0
1,4
Dois Rios
9
7.313.120,64
10
21.621.634,30
19
28.934.754,94
47,4
25,3
Macaé e das
Ostras
1
26.963.280,00
9
38.966.865,50
10
65.930.145,50
10,0
40,9
Bxo. P. do Sul
8
11.918.856,00
6
22.899.208,00
14
34.818.064,00
57,1
34,2
Itabapoana
2
1.955.232,00
1
21.869.340,00
3
23.824.572,00
66,7
8,2
TOTAL
84
3.091.049.702,10
209
362.303.896,52
293
3.453.353.598,62
28,7
89,5
Fonte: INEA, 2009c.
139
Os gráficos 33 e 34 apresentam respectivamente a participação percentual por tipo
de captações e de lançamentos de efluentes, em relação à quantidade total de captações e
lançamentos declarados pelos usuários de recursos hídricos de rios de domínio estadual.
Gráfico 33. Cobrança por tipo de captação.
Fonte: INEA, 2009c.
Gráfico 34. Cobrança por tipo de lançamento.
Fonte: INEA, 2009c.
Conforme observado dos gráficos, maior parte das captações advém de poços pro-
fundos e rios ou cursos d’água. os lançamentos, parte majoritária vai para rios ou cursos
d’água. Estes dados revelam a característica comportamental dos usuários de recursos hí-
dricos do Rio de Janeiro; as captações de poços profundos devem ser cuidadosas e efica-
zes, pois se explorados sem limites, os mesmos provocam salinização do solo através da
entrada de cunha salina, quando sua captação extrapola a disponibilidade e profundidade
limites. os lançamentos em rios ou cursos d’água representam o principal problema do
Estado: poluição. As legislações têm avançado neste aspecto, buscando inovar e reestrutu-
rar suas diretrizes e parâmetros limitantes, com a meta de reduzir a poluição.
4%
2%
3%
3%
40%
11%
37%
Açude ou Barragem de acumulação
Barragem de nível
Lago natural ou lagoa
Nascente
Poço profundo
Poço raso
Rio ou Curso d'água
3%
6%
3%
67%
12%
9%
Lago natural ou lagoa
Mar
Rede - Outro tipo de rede
Rio ou Curso d'água
Solo - Fossa ou sumidouro
Solo - outros
140
A cobrança por quantidade utilizada reflete diretamente a associação da água como
bem econômico e limitado. E a cobrança pelos lançamentos representa a atenuação das
externalidades dos usuários, constituindo-se peça-chave para redução da carga poluidora e
danos ao meio ambiente.
Um estudo realizado por Motta et al. (2006), apresentado no XXXIV Encontro de E-
conomia, demonstra a diversidade de aceitação dos usuários quanto a cobrança. No estudo,
o autor se ateve aos usuários industriais da bacia do rio Paraíba do Sul, mostrando por meio
de questionários respondidos pelos mesmos que, dependendo do parâmetro abordado,
uma diferença na concordância ou não quanto a cobrança do recurso. De forma geral, 53%
não concordam com a cobrança, demonstrando o alto grau de resistência dentre os usuá-
rios. Todavia, quanto aos usuários cadastrados à ANA, 60% concordam com a cobrança;
explícito é que o não cadastramento, nesta forma, assinala uma não concordância com a
cobrança. Interessante é que 60% dos usuários com uso insignificante
20
, isentos da cobran-
ça, discordam da mesma. De modo geral, segundo este estudo, ainda de se trabalhar e
trilhar árduos caminhos para conscientização e cobrança dos recursos hídricos concordada
entre os setores de pequeno e médio porte, visto que por parte das empresas de grande
porte a receptividade foi positivamente significativa.
Em conformidade, a outorga de direito de uso também se enquadra, sendo importan-
te instrumento neste cenário de escassez e poluição. A outorga é um preparativo para a
cobrança; sua concessão representa um bem econômico para quem a recebe, pois garante
acesso aos [escassos] recursos hídricos legalmente, com qualidade e quantidade. Sua im-
plantação é derivada de cadastramento dos usuários, garantindo participação e interligação
dos mesmos. A mesma é responsável pelo cenário futuro da bacia em questão, visto que
sua concessão dará direito de uso ao usuário, este acompanhado e fiscalizado, não deven-
do ultrapassar os limites impostos pela base legal estadual. Este instrumento é de demasia-
20
São considerados usos insignificantes de recursos hídricos de domínio estadual, para fins de outorga e co-
brança: I - as derivações e captações para usos de abastecimento público com vazões de até 0,4 (quatro déci-
mos) litro por segundo, com seus efluentes correspondentes; II - as derivações e captações para usos industriais
ou na mineração com características industriais, com vazões de até 0,4 (quatro décimos) litro por segundo, com
seus efluentes correspondentes; III - as derivações e captações para usos agropecuários com vazões de até 0,4
(quatro décimos) litro por segundo, com seus efluentes correspondentes; IV - as derivações e captações para
usos de aqüicultura com vazões de até 0,4 (quatro décimos) litro por segundo, com seus efluentes correspon-
dentes; V - os usos de água para geração de energia elétrica em pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), com
potência instalada de até 1 MW (um megawatt); VI. as extrações de água subterrânea inferiores ao volume
diário equivalente a 5.000 (cinco mil) litros e respectivos efluentes, salvo se tratar de produtor rural, caso
em que se mantém o parâmetro discriminado no inciso III deste mesmo artigo. Inciso acrescentado pelo
art. 3º da Lei Estadual nº 5.234/08. Independem, ainda, de outorga pelo poder público, o uso de recursos hídri-
cos para a satisfação das necessidades de pequenos núcleos populacionais, ou o de caráter individual, para
atender às necessidades básicas da vida, distribuídos no meio rural ou urbano, e as derivações, captações,
lançamentos e acumulações da água em volumes considerados insignificantes. A caracterização como uso in-
significante na forma do "caput", não desobriga os respectivos usuários ao atendimento de outras deliberações
ou determinações do órgão gestor e executor da política de recursos hídricos competentes, inclusive cadastra-
mento ou solicitação de informação (RIO DE JANEIRO, 2003b).
141
do valor, assegurando a qualidade da água e podendo promover o desenvolvimento, ou
não, de uma região.
A concessão de uso da água deve ser analisada minuciosamente e criteriosa, pois o
direito de poluir pelo usuário nem sempre é possível de se permitir, mesmo com o pagamen-
to, ações atenuantes e respeitando os limites legais. No caso de existir a possibilidade de
prejudicar uma população à jusante da fonte poluidora, e/ou ultrapassar os limites legais, o
governo deve negar a outorga. Um dos principais benefícios oriundos da outorga é o cadas-
tro dos usuários, implicando na aferição de todas as informações necessárias e o planeja-
mento de uso da água; estes dados são fundamentalmente necessários, pois se leva em
conta os usuários já outorgados, contemplando sua situação após a inserção de outros usu-
ários, evitando conflitos e displicências do contratado no documento outorgante. No Estado
do Rio de Janeiro, o cadastro é pré-requisito para solicitação de outorga.
Segundo a Portaria SERLA 567/07, os critérios definidos para concessão de ou-
torga são:
I - Para as águas superficiais:
a) O balanço hídrico quantitativo na bacia hidrográfica onde se situa a captação;
b) O cálculo da vazão de referência (Q7,10), a partir de estudos de regionalização disponí-
veis, contemplando a análise estatística de séries históricas de vazão do curso d‘água em cau-
sa, quando estas existirem;
c) A vazão máxima outorgável correspondente a 50% da Q7,10 do curso de água junto à se-
ção de interesse para todos os casos, inclusive abastecimento humano.
II - Para as águas subterrâneas:
a) Os aspectos quantitativos da vazão de extração nos locais indicados para explotação;
b) A possibilidade de ocorrer interferência com poços tubulares de outros usuários vizinhos,
em raio de 2 km, aproximadamente, ou com outros corpos hídricos existentes nas imediações
da extração;
c) A vazão máxima sustentável de um poço tubular, isto é, a vazão de extração que não pro-
voque a superexplotação, considerando a possibilidade de afetar os demais usuários de água
subterrânea por área ou micro-bacia e a recarga do aqüífero.
III - Para o lançamento de efluentes:
a) A qualidade dos efluentes lançados e as vazões de diluição requeridas nos trechos dos
corpos hídricos afetados pelos lançamentos;
b) A localização, através das coordenadas geográficas, dos locais de lançamento, observan-
do-se, quando couber, o lançamento a montante do local de captação;
c) A proteção das áreas de recarga de água subterrânea e das nascentes.
Parágrafo único Em regiões servidas por rede de abastecimento público, o usuário deverá
observar o disposto no Decreto nº. 40.156, de 17 de outubro de 2006, e na Portaria SERLA nº.
555, de 1º de fevereiro de 2007 (RIO DE JANEIRO, 2007).
Com as referidas informações, o usuário será avaliado para permissão ou o do
uso da água. A outorga é um instrumento importante no cenário carioca, uma vez que este
desenvolve seu lado urbano intensamente e crescentemente. Este instrumento fica respon-
sável de gerir os recursos hídricos, atentando para os múltiplos usos da água (figura 47),
promovendo a concessão e, concomitantemente, mantendo o equilíbrio da quantidade e
qualidade das águas.
142
Figura 47. Múltiplos usos da água.
Fonte: BRAGA et al., 2005.
As atividades sujeitas à outorga são aquelas que alteram o regime, quantidade e
qualidade do corpo hídrico, por meio de captação e lançamento. Também existem as condi-
ções que não necessitam de outorga, chamadas de uso insignificante (vide nota de rodapé
20), as quais não provocam danos e alterações severas/significativas ao meio. As emis-
sões de outorga e respectivas análises, no Rio de Janeiro, são ilustradas nos gráficos 35 e
36.
Gráfico 35. Pontos de Interferência Outorgados no Rio de Janeiro 2008.
Fonte: INEA, 2008b.
0
100
200
300
400
500
600
28
43
32
50
20
31
40
28
75
73
58
47
525
143
Gráfico 36. Análises do setor de outorga do Rio de Janeiro 2008.
Fonte: INEA, 2008b.
Um fato ainda não abordado neste estudo é que a outorga tem prazo máximo de 35
anos, segundo estipulado pela Lei Estadual nº 3.239/99, artigo 25, renováveis e podendo ser
suspensa por não cumprimento dos termos, ausência de uso por 3 anos consecutivos, ne-
cessidade de atender usos prioritários/situações de calamidade, prevenir/reverter degrada-
ção ambiental, comprometimento do ecossistema aquático ou aqüífero (RIO DE JANEIRO,
1999a).
Os outorgados no Estado do Rio de Janeiro são apontados na figura 48. A demanda
no Estado tem sido frequente e crescente. Cabe ao órgão gestor manter a equidade e
precauções, atentando sempre para com as gerações futuras e o desenvolvimento
sustentável. E fica claro que a cobrança e a outroga são instrumentos intrínsecos e
inexoráveis, visto que um depende e está interligado ao outro. Ambos instrumentos
permitem o controle e manutenção do sistema fiscalizador, reprimindo o uso ilegal da água,
o qual prejudica os usuários legais. Os referidos instrumentos devem ser executados pelo
poder público de maneira democrática e transparente, promovendo melhor gestão e
evitando conflitos de usos, condfuzindo o Estado a um desenvolvimento não somente
quantitativo, como qualitativo.
45,9%
41,7%
12,2%
0,2%
Uso Insignificante
Outorga
Autorização
Indeferimento
144
Figura 48. Pontos de interferência outorgados no Estado do Rio de Janeiro.
Fonte: INEA, 2008a.
145
5.6. Perspectivas futuras
A gestão de recursos hídricos no Rio de Janeiro tem sido evolutiva. A escassez da
água, numa região onde a demanda supera a disponibilidade, se torna fator basal para im-
plantação da cobrança e outorga, objetivando a redução de poluição e racionalização de seu
consumo. O desenvolvimento da legislação estadual (tabela 29) reflete suas ações e preo-
cupações para com seu meio, com o Estado buscando atenuar a condição crítica, almejan-
do o equilíbrio estável de seus recursos naturais.
Tabela 29. Evolução da base legal do Rio de Janeiro.
Leis
Data
Descrição
650
11/01/1983
Dispõe sobre a Política Estadual de defesa e proteção das bacias fluviais e lacustres do Rio
de Janeiro.
855
17/06/1985
Dispõe sobre a divulgação, pelo Poder Executivo, dos dados relativos ao controle da poluição
no Estado do Rio de Janeiro.
1.060
10/11/1986
Institui o Fundo Estadual de Conservação Ambiental FECAM.
1.356
03/10/1988
Dispõe sobre os procedimentos vinculados a elaboração, análise e aprovação de Estudos de
Impacto Ambiental.
1.361
06/10/1988
Regula a estocagem, o processamento e a disposição final de resíduos industriais tóxicos.
1.803
25/03/1991
Cria a taxa de utilização de recursos hídricos de domínio estadual TRH.
1.898
26/11/1991
Dispõe sobre a realização de Auditorias Ambientais.
2.011
10/07/1992
Dispõe sobre a obrigatoriedade da implementação de Programa de Redução de Resíduos.
2.110
28/04/1993
Cria o Sistema estadual de recolhimento de pilhas e baterias usadas.
2.533
08/04/1996
Acrescenta dispositivos a Lei nº 1356 de 03/10/1988, que dispõe sobre procedimentos vincu-
lados ao Estudo de Impactos Ambientais.
2.575
19/06/1996
Acrescenta dispositivos a Lei nº 1060 de 10/111986.
2.661
27/10/1996
Regulamenta o Art. 274 da Constituição estadual no que se refere à exigência de níveis míni-
mos de tratamento de esgotos sanitários, antes de seu lançamento em corpos d’água.
3.007
09/07/1998
Dispõe sobre o transporte, armazenamento e queima de resíduos tóxicos.
3.111
18/11/1998
Complementa a Lei nº 1356 de 03/10/1988, estabelecendo o principio da análise coletiva de
EIA/RIMA, quando numa mesma bacia hidrográfica.
3.239
02/08/1999
Institui a Política Estadual de Recursos Hídricos, cria o Sistema Estadual de Gerenciamento
de Recursos Hídricos, regulamenta a Constituição Estadual em seu Art. 261, § 1º, inciso VII e
dá outras providências.
3.467
14/09/2000
Dispõe sobre sanções administrativas de condutas lesivas ao meio ambiente no estado do Rio
de Janeiro.
3.373
24/03/2000
Proíbe o uso de substância Ascarel no território do estado do Rio de Janeiro.
3.471
04/10/2000
Altera a Lei nº 1898 de 26/11/1991 que dispõe sobre a realização de Auditorias Ambientais.
3.679
18/10/2001
Cria o Grupo de Apoio Técnico Especializado no MP-RJ.
4.191
30/09/2003
Dispõe sobre a Política Estadual de Resíduos Sólidos.
4.247
16/12/2003
Estabelece a cobrança pela utilização de recursos hídricos.
5.234
05/05/2008
Dispõe sobre a cobrança pela utilização dos recursos hídricos de domínio do Estado do Rio
de Janeiro.
Fonte: SERBER, 2005 (adaptado pelo autor).
Segundo Lanna (2008), o valor econômico atribuído à água não foi derivado da base
legal federal e/ou estadual , mas sim o fato de sua escassez, a qual afeta as relações
econômicas resultantes de seu uso; assim, não existe uma condição legal, mas sim econô-
mica e de própria sobrevivência e perpetuação da raça humana. Não somente, a escassez
146
de água desencadeia inúmeras alterações na esfera econômica, reduzindo a produtividade
de alguns setores industriais, desvalorização de propriedades, custos de abastecimento,
entre outros fatores, os quais derivam a estimativa econômica da água. Seu estudo também
aponta para a redundância da legislação, pois a real justificativa da cobrança é a própria
escassez do recurso, caso contrário o país perderia sua vantagem competitiva em relação a
economia mundial como visto, o Brasil detém 12% dos recursos hídricos mundiais. A críti-
ca reflexiva elaborada pelo autor, supracitado, é de grande valia, pois contribui para uma
visão diferenciada quanto a gestão de recursosdricos.
Esta gestão tem se destacado pelos seus instrumentos de outorga e cobrança. Al-
guns planejamentos (tabela 30) têm sido feitos e outros ainda o serão realizados; a busca
pela sustentabilidade é a força motriz deste processo. A cobrança da água bruta e outorga
são instrumentos importantes na gestão dos recursos hídricos, sendo precisa a superação
de falhas e conflitos institucionais e políticos, assim como a instalação efetiva e totalizada
dos CBHs com seus respectivos planos de bacia, buscando também uma gestão participati-
va e descentralizada, envolvendo as esferas local, municipal, estadual e nacional (BARCEL-
LOS et al., 2007).
147
Tabela 30. Plano de trabalho no Estado do Rio de Janeiro 2007-2018.
PROJETO
SITUAÇÃO
PROGRESSO
PRAZO
INVESTIMENTOS
FONTE
Diagnóstico, regularização e
proposição de diretrizes para
conservação de mananciais de
abastecimento público
Em 21/07/2009: Termo de Referência concluído em
25/06/2009, aguardando alteração para inclusão da UERJ nas
ações e posterior encaminhamento para abertura do processo
licitatório e liberação do orçamento FECAM de 2010.
2010-2010
R$1.057.398,54
FECAM
Estruturação do sistema de
gestão participativa dos recur-
sos hídricos no Estado do Rio
de Janeiro
Em 27/04/2009: 7 comitês instalados; 1 comitê em processo de
instalação ainda em junho de 2009; Reuniões ordinárias de
plenária do CERHI funcionando; Convênio Secretaria Executiva
CBH Guandu; Manual de Procedimentos sendo elaborado.
nd
2007-2009
nd
nd
Implantação de Sistema de Aler-
ta de Cheias no Estado do Rio
de Janeiro
Em 24/07/2009: A implantação do Sistema encontra-se em
diferentes situações. Baixada Fluminense: Sistema em opera-
ção. Região Serrana: Petrópolis com estações e modelagem
em execução, aguardando integração com o Sistema SERLA e
Friburgo em implantação das estações. Sistema Macaé e
Teresópolis com financiamento aprovado pelo FECAM aguar-
dando processo licitatório. Norte e Noroeste - em licitação pela
ANA, de estudos e necessidades.
2008-2011
R$ 3.094.954,70
FECAM
Implantação de Sistema Estadu-
al de Informações em Recursos
Hídricos
Em 22/07/2009: Aguardando aumento da partição ou troca de
máquina. Treinamento de dois técnicos de suporte realizado.
Treinamento do ArcHydro em aberto (4 vagas). O DRM não
conseguiu homologar as cartas geológicas no prazo de
27/03/2009. A ANA atendeu à solicitação desenvolvimento do
webservice no SNIRH. Entretanto, um dos serviços da cobran-
ça não foram desenvolvidos, ainda em negociação na ANA.
Foram homologadas parte das versões dos Módulos de Cadas-
tro e Outorga no servidor instalado no INEA, embora sem a
comunicação com a ANA. IMAGEM em testes com a ANA para
ajustar webservices. Primeira versão da cobrança em fase de
homologação, aguardando ajustes. Aguardando o deploy dos
outros Módulos. Treinamento das turmas de Crystal Report em
andamento. Solicitado o aditamento do contrato pela IMAGEM.
2007-2009
R$ 1.860.679,05
FECAM
Pacto do saneamento
Em 03/08/2009: O Pacto pelo Saneamento, com a entrada em
operação da ETE Alegria, perfaz hoje 8 % da meta prevista. O
projeto é de conhecimento dos municípios que vem solici-
tando apoio da SEA para a execução de Plano e Projeto de
Sanemaneto e recursos para a execução de obra. Em termos
institucionais, uma comissão de especialistas discutindo
2008-2018
nd
nd
148
aspectos legais da implementação do Pacto, bem como uma
possível emenda à constituição do Estado. Está sendo iniciado
o estabelecimento de parcerias com os Comitês de Bacia para
garantir 70 % dos recursos da cobrança provenientes de em-
presas de saneamento para investimento no Pacto e a alavan-
cagem de recursos junto ao Governo Federal e entidades
privadas de fomento.
Plano Estadual de Recursos
Hídricos
Em 22/07/2009: Aguardando a elaboração do Plano Estratégi-
co/Termo de Referência a ser executado por uma equipe ex-
terna de consultores, seguida de uma supervisão do INEA, com
previsão de entrega em setembro/09. Tendo por base o Termo
de Referência será conduzida a estruturação do projeto e dado
início ao procedimento licitatório, com previsão de ocorrência
em dezembro/09.
nd
2009-2010
nd
nd
Projeto Iguaçu controle de
inundações e recuperação ambi-
ental das bacias dos rios Igua-
çu/Botas e Sarapuí
Em 05/08/2009: O Plano Diretor encontra-se em desenvolvi-
mento. Foram elaborados o Plano de Trabalho, os documentos
base para a licitação das obras para implantação do PAC I e os
documentos referentes às ações estruturais de parte dos cor-
pos hídricos e da via expressa, bem como às ações não estru-
turais que abrangem respectivamente às legalizações e regu-
lamentações Municipais. Com base nos documentos entregues
pela revisão do Plano Iguaçu, contendo 23 intervenções em
afluentes do Rio Sarapuí, a SEA Secretaria de Estado de
Ambiente e o INEA assinaram em junho de 2009, junto ao
Governo Federal a obtenção de recursos financeiros, da ordem
de R$ 81,5 milhões para desenvolvimento das 23 intervenções
em afluentes do Rio Sarapuí,para implantação do PAC II. Os
documentos encontram-se em fase de preparação para licenci-
amento ambiental e preparo do processo licitatório para contra-
tação das obras.
2007-2013
R$ 406.075.866,55
FECAM/PAC
Recuperação da Rede Hidrome-
teorológica e Estruturação do
Banco de Dados
Em 24/07/2009: Todas as 31 estações fluviométricas e pluvio-
métricas convencionais foram recuperadas, entretanto as 5
estações automáticas e as 10 estações telemétricas não estão
operando em boas condições. Foram realizadas medições de
descargas líquidas em todas as estações operadas pela C-
PRM. Houve mudança de orientação quanto à realização de
medições nas estações do Sistema de Alerta de Cheias da
Baixada Fluminense conforme previsão do convênio, e apenas
algumas medições foram realizadas nas 8 estações do Alerta,
durante o período de cheias, para complementar a operação da
equipe do Alerta. Quando necessário duas equipes, em vez de
somente uma, vão ao campo visitar as estações e realizar
2007-2009
R$ 554.335,00
FECAM/
FUNDRHI
149
medições de descargas líquidas.
Recuperação do sistema de
diques e canais da Baixada
Campista
Em 21/07/2009: Foi realizada parte da recuperação das com-
portas do Paraíba do Sul e algumas obras emergenciais nos
canais. Foi elaborado o Projeto de recuperação do Sistema de
Canais para operar como drenagem. Falta contratar o projeto
das obras para operar como canais de irrigação. Foi obtido
financiamento para execução das obras de desassoreamento
dos canais do Sistema S. Bento e Campos-Macaé.
2007-2010
R$ 540.712,35
MI
Rio Ama os Rios / Ecobarreiras
implantação de programa de
redução de lixo nos corpos
hídricos
Em 27/07/2009: Existem 9 ecobarreiras e 2 ecopontos instala-
dos: Arroio Fundo, Marapendi, Itanhangá, Sernambetiba, Canal
do Cunha, Irajá, Docas, Meriti, Ceasa, Ecop. de V. Redonda e
de Macaé. O convênio INEA x FEBRACOM (FECAM), em
andamento desde dez/2007, R$ 1.200.000,00, terminou. A
ASSERJ patrocina a operação das ecobarreiras e ecopontos
através de Convênio com a FEBRACOM, com a interveniência
do INEA. A ecobarreira no Canal de Sernambetiba foi construí-
da com patrocínio da LIGHT, por um TAC e tem a operação
patrocinada pela HAZTEC/NOVAGERAR. Está prevista a
instalação de 7 ecobarreiras com verba do TAC - FCA/VALE, 5
na APA Guapimirim, 1 no Rio Brandoas e 1 no Rio Maruis, com
operação também pelo TAC, por 24 meses. Estão sendo insta-
ladas 2 ecobarreiras nos rios Botas e Sarapuí, pelo PAC, com
operação por 6 meses. Serão 13 ecobarreiras em 2009 e 20
em 2010.
2008-2010
R$ 4.303.487,92
FECAM/
FCA/INEA/
LIGHT
Legenda:
Desenvolvimento concluído Desenvolvimento normal dentro dos prazos previstos
Desenvolvimento com dificuldade Desenvolvimento com atraso nd = Dados não disponíveis
Fonte: Elaboração própria, a partir de SIGERIO, 2009.
150
A gestão de recursos hídricos, através das bacias hidrográficas, tem produzido me-
lhores resultados, pois, por meio de simulações, é possível envolver todos os usuários inte-
ressados e extrapolar o cenário para condições futuras. Assim, torna-se possível melhor
análise e alocação dos investimentos, estruturados numa base econômico-financeira (BOR-
SOI e TORRES, 1997). Esta condição, atualmente, é fato tanto em vel nacional (não com-
pletamente) quanto estadual.
Faz-se necessário, sempre, um plano de ação, levando em conta as prioridades e
metas envolvidas na gestão dos recursos hídricos. É premente a condição social, devendo
haver uma mudança definitiva de hábitos, em um cenário onde a água é condicionante vital
comum a todos. No caso do Rio de Janeiro, este contexto é mais intenso, visto que seu
crescimento urbano e populacional ainda se encontram em escalas progressivas. O plane-
jamento é a forma de conciliar recursos escassos e necessidades abundantes (SETTI et al.,
2000).
Os sistemas de gestão têm sido construídos a partir das condições dos recursos hí-
dricos, ou seja, sua gênese e complementações se dão de forma a atender as necessidades
evidentes, não havendo, por inteiro, uma gestão de forma a previr e prevenir os danos e
conflitos ligados aos recursos hídricos. Ramos (2002) reclamava por uma gestão com-
plementar, ou seja, combinando os instrumentos de forma a um cobrir a defasagem financei-
ra do outro. Um exemplo dado em seu estudo é que, quando a cobrança é efetuada de for-
ma eficaz, esta deve se integrar a outras lacunas do sistema gestor, garantindo recursos
para licenciamento e a própria gestão, já outros setores seriam complementados por um
sistema de autocontrole dos usuários poluidores. Segundo seu estudo, o instrumento de
cobrança tem pouco impacto na mudança comportamental nos usuários, sendo necessária,
ainda, a imposição de limites dos poluentes pelo Estado.
Entretanto, o Rio de Janeiro caminha evolutivamente quanto a sua gestão de recur-
sos hídricos. Os avanços legais (vide tabela 29) refletem, em parte, este processo, somado
às reformas institucionais e técnicas (criação do INEA e incorporação de novos profissionais
por meio de concursos públicos). A obrigatoriedade de licenças, os limites restritos e pa-
drões aplicados aos usuários são instrumentos importantes na história do Estado carioca.
Os novos planejamentos na área de saneamento contam com redução de consumo através
de elevação das tarifas cobradas, assim como a implantação de hidrômetros. O Estado se-
gue uma trajetória de boas perspectivas futuras, tendendo a se manter numa persistência
desenvolvimentista, através de seus instrumentos o Rio de Janeiro assume a cobrança
como seu principal instrumento, dado que os outros instrumentos serão melhores implemen-
tados com subsídios provindos desta e sistema de gestão. Os resultados são esperados a
longo prazo, com medidas e ações executadas em nível municipal e estadual, contribuindo
para o progresso nacional.
151
CAPÍTULO 6. ASPECTOS URBANOS: O COMPLEXO DA MARÉ
Sabe-se que a complexidade da ocupação urbana é, de certa forma, efeito colateral
dos avanços dos sistemas de saneamento; sua ambigüidade se quando analisada de
forma histórica, no passado sua implantação foi defasada em relação às ocupações e ex-
pansão das áreas habitadas, em tempos recentes, sua eficácia é, paradoxalmente, um cata-
lisador ao processo de urbanização, ampliando e intensificando as áreas onde se encontram
tais serviços e sistemas disponíveis. Em casos particulares, onde a população não se en-
quadra numa escala elevada de condição econômica, estes procuram ocupar lugares pró-
ximos aos centros urbanos e comerciais, dando gênese às habitações irregulares, pois não
levam em conta as condições geomorfológicas e sanitárias.
Após extensa abordagem nos capítulos anteriores, levando em conta as principais
condicionantes e externalidades intrínsecos ao processo evolutivo sócio-ambiental, o pre-
sente capítulo faz um esboço final, levando em conta os eixos temáticos supracitados como
pré-requisitos de um pleno entendimento e compreensão da condição existencial nas áreas
de baixa renda no caso particular deste estudo, o Complexo da Maré.
Este capítulo é precípuo em sua apresentação na forma sistêmica e ampla, relacio-
nando e co-relacionando, direta e indiretamente, os pontos supracitados até aqui. A questão
a ser apresentada não deve ser observada como simples como de fato não o é , nem
muito menos de maneira singular; é imprescindível a ruptura e reprodução contínua de um
conhecimento não-autônomo, o qual, em grande parte, não contribui para a construção de
um viés diferenciado e produtivo. Serão elencados fatores de formação de favelas, assim
como seu conceito, ações específicas voltadas para esta parcela da sociedade, a relação do
poder público com a mesma e uma breve reflexão a respeito da complexidade sócio-
ambiental explícita.
6.1. Urbanização, recursos hídricos e favela
A urbanização é o processo de expansão da influência urbana. O crescimento urba-
no é conseqüência direta da Revolução Industrial; com a expansão das indústrias manufatu-
reiras, cidades, agricultura mecanizada, transportes e desenvolvimento internacional das
vias marítimas (HALL, 1984). A atividade humana afetou profundamente os rios e riachos
em todas as partes do mundo de tal forma que é extremamente difícil encontrar um riacho
que não esteja, de alguma forma, alterado; é praticamente impossível encontrar um rio não-
impactado (HYNES, 1970, apud WARD e TRIMBLE, 2004). O uso da água, em suas múlti-
plas variáveis, intensifica-se a cada período. Os centros urbanos, pólos industriais e zonas
152
de irrigação são os que demandam maior quantidade de água, superando a oferta de água
em alguns casos, contribuindo ainda mais para a poluição deste recurso natural e desequilí-
brio ambiental.
A urbanização é uma atividade antropogênica tão impactante quanto a agricultura. O
processo de pavimentação, construção civil intensa, industrialização, formação de cidades,
todos são fatores relacionados ao processo de urbanização. Certamente, este tipo de ativi-
dade provoca sérios danos ao meio ambiente. A pavimentação diminui o processo de infil-
tração da água nos solos, aumentando a quantidade de áreas impermeáveis, prejudicando
uma das fases mais importantes do ciclo hidrológico: o reabastecimento do lençol freático. O
processo de retilinização de rios o impacta o meio ambiente como também as condi-
ções sociais e econômicas da área ao redor. Episódios de enchentes e inundações tornam-
se mais freqüente devido este processo. O gráfico 37 mostra bem a relação de escoamento
superficial
21
(chamado também de runoff) e sua freqüência de ocorrência por ano (dados
coletados no centro de Ohio, EUA).
Gráfico 37. Função urbana de escoamento superficial e sua freqüência anual.
Fonte: WARD e TRIMBLE, 2004.
Conforme gráfico exposto, observa-se que em áreas rurais, o escoamento superfici-
al é bem reduzido, pois a presença de vegetação protege o solo e reduz a taxa deste esco-
amento; em áreas urbanizadas localizadas em regiões úmidas, este episódio torna-se mais
freqüente no ano e com maior intensidade, devido às condições de infiltrações do solo de-
21
É o tipo de escoamento que representa o fluxo sobre a superfície do solo e pelos seus múltiplos canais (TUC-
CI et al., 2001b).
0
5
10
15
20
25
0,4
0,8
1
1,4
Frequência anual (nº de ocorrências/ano)
Runoff (polegadas)
Rural
Urbano (região seca)
Urbano (região úmida)
153
gradadas pelos fatores urbanos supracitados; já nas áreas urbanizadas inseridas em regi-
ões secas, podemos observar uma magnitude diferenciada das áreas úmidas, isto se deve
ao fato do solo ter maior capacidade de infiltração, visto que o mesmo se encontra em con-
dições de baixa umidade. Booth e Jackson (1997), apud Ward e Trimble (2004), diziam
que com aproximadamente 10% de área impermeabilizada dos corpos hídricos, os danos
causados no sistema aquático são, provavelmente, irreversíveis. Janusz Niemczynowicz
(1999) afirma que 182m² de área não-impermeável devolveria a necessidade de água de
1 (uma) pessoa.
Os problemas gerados pela urbanização são de ordem complexa, pois envolvem
uma abordagem integrada de suas conseqüências. As medidas a serem tomadas não po-
dem ser focadas especificamente, mas sim levando em conta um conjunto de razões e fon-
tes dos impactos gerados. Para se alcançar uma solução significativa, faz-se necessário
uma gestão integrada do ambiente urbano e seus subsistemas (TUCCI et al., 2001b). O
maior interesse, em diversos locais do mundo, é simplesmente de conseguir encontrar água,
não levando em conta os impactos gerados. Atualmente, um dos maiores impactos no ciclo
hidrológico é ―invisível‖, ou seja, o esgotamento dos lençóis freáticos, através de exploração
e superexploração sem limites, secando rios e salinizando aqüíferos costeiros (Villiers,
2002). Com a retirada das águas subterrâneas em áreas próximas as zonas costeiras, o
nível do lençol freático decai, dando lugar à invasão de água do mar, gerando a salinização
do lençol e solo.
A poluição de águas urbanas advém de diferentes fontes (chorume, esgotos, retilini-
zação de rios, intensificação de ocupação do solo, pavimentação, entre outros), assim como
da própria pluviosidade que, ao lavar a superfície urbana, escoa para o sistema de drena-
gem, carreando toda a poluição encontrada no solo e na atmosfera. O enxofre e nitrogênio
emitidos da queima de combustíveis fósseis serão precipitados em forma de chuva ácida.
Fontes industriais localizadas em grandes cidades, gerando efluentes tóxicos e perigosos à
saúde humana (resíduos hospitalares, de indústrias farmacêuticas, entre outros) também
são importantes focos de estudos e tratamentos para o sistema hidrológico (Hall, 1984). A
retirada da cobertura vegetal para geração de áreas urbanizadas, espaços vazios para
construção civil, inutiliza a proteção do solo gerada por esta, aumentando a erosão, vazão
máxima e escoamento superficial. Os efeitos negativos gerados no meio social e econômico
compreendem a desvalorização de áreas, estas com inundações freqüentes os índices de
cheias aumentam diretamente conforme a pavimentação asfáltica e não realização de obras
de drenagem, entre outros fatores indiretos como assoreamento de rios por deposição ina-
dequada de lixos , maiores índices de acidentes civis, principalmente na sociedade de bai-
xa renda (habitando em áreas sujeitas a deslizamentos de encostas, falta de saneamento
154
básico, entre outros), e despesas com medidas estruturais. Os impactos gerados pela urba-
nização são esquematizados na figura 49.
Figura 49. Processos e impactos no sistema hidrológico provocados pela urbanização.
Fonte: TUCCI et al., 2001b.
A urbanização tem seus efeitos diretos e indiretos sobre os recursos dricos, con-
forme observado na figura 49. Esta promove aumento na demanda drica, com conse-
qüente estresse e escassez em algumas regiões; perdas nos sistemas de abastecimento,
não havendo controle sobre tal situação; alterações microclimáticas que, por conseguinte,
geram alterações locais no regime hidrológico; conflitos de uso; aumento da poluição de
fontes abastecedoras; alterações do regime hídrico de mananciais ocupados indevidamen-
te; entre outros (TUNDISI, 2008).
Além dos efeitos diretos nos recursos hídricos, o processo de urbanização é atrelado
às mudanças climáticas; não exclusivamente, contudo concomitante aos processos evoluti-
vos industriais, juntos sendo contribuintes às alterações das condições meteorológicas lo-
cais e globais. Eventos hidrológicos extremos têm sido comuns no estado do Rio de Janeiro
Urbanização
Densidade
populacional
aumenta
Volume de águas
servidas aumenta
Qualidade das
águas pluviais
deteriora
Qualidade dos
cursos receptores
deteriora
Problemas de
controle de
poluição
Demanda de água
aumenta
Problemas de
Recursos Hídricos
Densidade de
construções
aumenta
Área
impermeabilizada
aumenta
Escoamento
superficial direto
aumenta
Picos das cheias
aumentam
Problema de
controle de
inundações
Clima Urbano se
altera
Modificação no
sistema de
drenagem
Velocidade do
escoamento
aumenta
Tempo de
concentração e
recessão menores
Recarga
subterrânea
diminui
Vazões básicas
diminuem
155
no contexto atual. Parte disto é reflexo da condição mundial quanto às questões ambientais,
estas sendo ignoradas por parte da sociedade civil e indústrias; conseqüências do histórico
discrepante sócio-ambiental construído ao longo do tempo. As ações antropogênicas, deri-
vadas de interesses políticos, os quais ignoram as condicionantes ambientais, acentuam tal
condição, provocando impactos significativos (por vezes irreparáveis). A questão do aque-
cimento global já é fato concretizado no cenário nacional e internacional. O Rio de Janeiro já
acusa estes efeitos.
O estado do Rio de Janeiro, sob a ótica dos efeitos das mudanças climáticas, tem
principal implicação ambiental quanto a isto, pois sua posição geográfica conduz a intensa
insolação anual, além de conflitos atmosféricos polares e intertropicais ocorrentes na região,
caracterizando complexa orografia (BRANDÃO, 2001). O Rio de Janeiro foi palco de e-
ventos meteorológicos catastróficos (tabela 31), chamando atenção da comunidade científi-
ca, civil e política. A fim de prevenção, almejando redução de óbitos e degradações sociais
decorrentes destes eventos, a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro criou o Alerta Rio
22
, o
qual é responsável por emitir alertas à população quanto às chuvas intensas. Apesar da
região onde está inserido o Complexo da Maré ser criticamente afetada por alagamentos
(figura 50), o mesmo não está completamente vulnerável às inundações na faixa de cota de
até 1,50m (figura 51), devido denso aterramento da região.
O uso e ocupação desordenada do solo são importantes autores de impactos ambi-
entais responsáveis por eventos hidrológicos extremos; estes acentuados nas áreas de me-
nor condição infra-estrutural. Além dos casos de enchentes, alagamentos, deslizamentos,
entre outros, as mudanças climáticas, mais sentidas em meios urbanos, são foco de aten-
ção em uma gestão ambiental integrada aos recursos hídricos e urbanização.
Contudo, tais observações e conseqüências revelam o crescimento e evolução não-
planejado da cidade; estes caminhos foram trilhados por longo tempo sem preocupações
locais, regionais, nacionais e internacionais. Vive-se uma condição contraditória e paradoxal,
com requisitos e bases legais criadas para minimizar os impactos ambientais e seus conse-
qüentes danos à humanidade que por sua vez é principal causadora dos mesmos , além
de tecnologias, almejando novas expectativas ás relações homem x natureza.
22
Sistema de Alerta de Chuvas Intensas e de Deslizamentos em Encostas da Cidade do Rio de Janeiro. Criado
em 25 de setembro de 1996 (Decreto "N" 15.142) com o objetivo de emitir boletins de alerta à população (via
estações de rádio e TV) sempre que houver previsão de chuvas intensas que possam gerar inundações de vias
públicas e/ou acidentes geotécnicos em encostas.
156
Figura 50. Identificação das regiões críticas afetadas por alagamentos (2003-2007).
Fonte: FREITAS, 2008.
Figura 51. Área destacada ao Complexo da Maré com cotas de até 1,50m.
Fonte: MENDONÇA e SILVA, 2008.
157
Tabela 31. Episódios pluviais causadores de impactos sócio-ambientais na cidade do Rio de Janeiro.
ANO
MÊS/DIA
PLUVIOSIDADE
IMPACTO GERADO
1613
----
Total de janeiro: 140mm
Inundação seguida de 96 dias de seca.
1756
4 a 7 de abril
----
Inundação em toda a cidade; desabamento de casas com vítimas.
1811
10 a 17 de feverei-
ro
----
Devido à grande violência com que a enxurrada descia do Morro do Castelo, ficou conhecido por Água do Monte.
Grande parte do morro desmoronou, fazendo desabar casas e soterrando várias pessoas, com grandes prejuí-
zos materiais.
1906
25 e 26 de janeiro;
17 de março
Total de janeiro: 291mm
97mm de 25 para 26
Total de março: 351mm dos quais
165mm no dia 17
Dois temporais provocaram desmoronamentos nos morros de Santa Teresa, Santo Antônio e Gamboa, soterran-
do várias pessoas. Houve muitos desabrigados. O Canal do Mangue transbordou, alagando quase toda a cidade.
Relatório enviado ao Prefeito Pereira Passos cita a 4ª inundação em 4 meses (dia 17 de março).
1928
26 de fevereiro
Total de fevereiro: 175mm 157mm de 23
a 26
Quatro dias de chuvas contínuas (de 23 a 26) provocaram vários desabamentos de barracos com vítimas fatais
nas favelas dos morros do Salgueiro, Pinto, Trapicheiro, São Carlos, Querosene, Mangueira e Santo Antônio. Foi
crítica a enchente na Praça da Bandeira, Canal do Mangue, Catete, São Cristóvão, Andaraí, Botafogo e Vila
Isabel, onde a água chegou a 1m de altura.
1962
15 e 16 de janeiro
Total de janeiro: 472mm 242mm nos dois
dias
Violento temporal se iniciou no dia 15 e atingiu no dia 16 um dos maiores indicies de chuva noticiados no Rio,
deixando o saldo de 25 mortes e centenas de desabrigados. O Canal do Mangue e o Rio Maracanã transborda-
ram. A Praça da bandeira e São Cristóvão foram os bairros mais castigados.
1966
11 de janeiro
27 de março
Total de janeiro: 617mm
237mm só no dia 11
403mm nos dias 11 e 12
111mm no dia 27
O ano de 1966 ficou registrado na memória do carioca como aquele em que ocorreu uma das maiores catástro-
fes climáticas de sua história. O saldo do violento temporal que caiu durante 4 horas foi de mais de 100 mortes,
sobretudo em Copacabana, Catete, Catumbi, Méier e Inhaúma, e milhares de desabrigados. na favela da
Rocinha mais de 40 barracos foram soterrados, fazendo 30 vítimas. No morro do Pavão o desabamento de 8
barracos matou 11 pessoas, e, no Morro dos Cabritos, 11 barracos foram atingidos, matando 15 pessoas. Em
Santa Teresa o desabamento de 10 barracos fez 15 vítimas fatais. Foi decretado estado de calamidade pública.
1983
20 de março
Total de março: 330mm 126mm só no
dia 20
Grande temporal na madrugada provoca transbordamento de rios em Jacarepaguá, deixando várias pessoas
desabrigadas. Deslizamentos de terra com desabamento de barracos mataram 5 pessoas. Foram registrados
143 casos de leptospirose, com 44 óbitos.
158
1985
3 de março
12 de abril
Total de março: 221mm
65mm no dia 3
Total de abril: 148mm
Mais de 100mm em Jacarepag
O temporal de março deixou o saldo de 23 mortes e 200 desabrigados. O bairro mais atingido com o temporal de
abril foi Jacarepaguá pelo transbordamento de rios e canais, inundando o bairro. Foram registrados 119 casos de
leptospirose, com 31 óbitos.
1986
7 e 8 de março
Total de março: 183mm
123mm de 7 a 10
Chuvas concentradas provocaram desabamento de barracos e morte de 12 pessoas, no Estácio, Salgueiro,
Catumbi e Rio Comprido. Foram notificados 91 casos de leptospirose, com 26 mortes.
1988
20 de fevereiro
Total de fevereiro: 443mm
127mm no dia 19
151mm nos dias 19 e 20
De 19 a 22 de fevereiro na área urbana do Rio precipitaram-se 384mm de chuva, metade dos quais só na noite
de 19 para 20, quando a pluviosidade normal do mês não ultrapassa 130mm. Três episódios de chuva intensa
(dias 3, 12 e 20) e 23 dias consecutivos de chuva contribuíram para o desencadeamento da catástrofe. Conse-
qüências trágicas: casa e edifícios desabaram, ruas submersas na lama e um saldo de 277 mortos, sendo 82
na cidade do Rio e mais de 12 mil desabrigados. Foi decretado estado de calamidade pública. Foram notificados
303 casos de leptospirose, com 16 mortes e grandes prejuízos materiais por causa da catástrofe.
1992
5 de janeiro
Total de janeiro: 420mm
132mm no dia 5
Forte temporal afetou seriamente os bairros da Zona Norte, matando 7 pessoas.
1996
13 de fevereiro
200mm em apenas 8 horas no dia 13
Uma catástrofe assolou a cidade, castigou impiedosamente as zonas Sul e Oeste, deixando triste saldo de 59
mortes e 1.500 desabrigados, a maioria em Jacarepaguá, em conseqüência de inundações e de 38 deslizamen-
tos de barreira na vertente sul do Maciço da Tijuca.
Fonte: GUERRA e CUNHA, 2000, apud DIAS, 2003.
159
Desde sua gênese, a cidade foi objeto não atentado por normas e políticas urbanas,
garantindo um crescimento e ampliação desordenada da mesma. O embelezamento da ci-
dade urgia na sociedade; a busca pela modernização era incessante; esta condição seria
concretizada com Pereira Passos, que empreendeu no Rio de Janeiro, durante esta época,
um amplo projeto de reformas urbanas conhecida como ―bota-abaixo‖, remodelando, sane-
ando e embelezando a cidade por meio de atuação ditatorial direta e indiretamente este
projeto derribou várias habitações populares (figura 52). Desde o século XIX o Rio de Janei-
ro vivenciava o problema de habitações populares, os cortiços, os quais eram renegados
pela burguesia carioca; a erradicação destes tipos de moradia era pré-requisito para a ―mo-
dernização e embelezamento‖ da cidade. Já na metade do século XIX e início do século XX,
a cidade ainda vivia os problemas de ausência de atuação do poder público em habitações
populares, o mesmo visava apenas sua extirpação e não atentava para o importante pro-
blema social que estava contribuindo, consciente ou inconscientemente, para crescimento.
Figura 52. Iconografia “um barracão a menos”, de Calixto, 1903.
Fonte: NOVAIS, 1998 apud CEASM, 2003.
O Plano Agache, na década de 1920 esboçava claramente o intuito de separar a
burguesia da classe pobre (proletariado); este plano foi ofuscado pela Revolução de 1930, a
qual fora fomentada justamente pelas discrepâncias profundas entre as classes sociais.
Somado a isto, a inércia de ação do poder público pela criação de vias que proporcionas-
sem menores trajetos para a classe trabalhadora foi um dos fatores decisivos para a expan-
são desordenada da cidade, pois estas pessoas buscavam lugares próximos ao trabalho
para morar. Proeminência, conforme apontada por Jung. (2006), é que os locais onde as
indústrias estavam instaladas não possuíam terrenos apropriados para habitação, restando
160
ao proletariado a ocupação de áreas públicas desocupadas ou áreas impróprias e não inte-
ressadas ao mercado imobiliário. Vaz (2002) observa que a crise das habitações populares
era tão intensa que todos os lugares eram aproveitados: lojas, porões, sótãos, cavernas em
morros da cidade, casebres nos morros próximos ao centro, entre outros (apud SILVA, C. R.
R., 2006). É possível analisar a formação das favelas a partir deste contexto, com inúmeras
condicionantes estruturais em voga, servindo de subsídios para a análise espacial e tempo-
ral. A decorrente dinamização espacial distributiva das indústrias fora diretamente acompa-
nhada pelas favelas.
A existência das favelas foi aceita em 1937, quando é inserido no Código de o-
bras a Seção II intitulada ―Favelas‖. A definição atribuída foi então contestada por alguns
artigos, desvendando a diversidade conceitual da favela em relação ao Código, o qual
enxergava a favela como objeto de intervenção (VALLADARES, 2000). O poder público
chama a atenção para as favelas e, por meio do então Código de obras, tenta controlar a
cidade espacialmente, no intuito de impedir a proliferação das favelas e atribuir conhecimen-
to provisório às mesmas; este parâmetro foi utilizado como pretexto para o desarraigamento
de parte das favelas, impulsionando a valorização urbana em alguns eixos da cidade. Mes-
mo o Código de obras reconhecendo a favela e oficializando sua existência, a política de
remoção e eliminação das mesmas persistiu até os anos de 1980; a mudança desta política,
posteriormente, é associada ao enfraquecimento da ditadura militar e o fim da era do mila-
gre econômico
23
(JUNG, 2006).
O período de 1930-1964 caracterizou a transição social brasileira. A partir dos anos
1940, com a evolução industrial do Rio de Janeiro, o fluxo migratório se acentuou atração
de mão-de-obra , além do próprio crescimento natural da região, ocasionando uma explo-
são demográfica no Estado. Neste contexto, o processo de ocupação industrial, também
avançando, passa a ocupar as áreas suburbanas do Rio de Janeiro, deslocando-se do cen-
tro para estas; esta situação se deu pela ação do Estado, este intervindo no processo de
localização industrial, buscando construir uma zona industrial na cidade, além de não apoiar
e/ou incentivar este processo oficialmente. Estavam, assim, definidas as áreas industriais da
cidade, influenciando e conduzindo vultoso aumento de estabelecimentos fabris e da popu-
lação, desenvolvendo novas áreas e gerando empregos (ABREU, 1997).
Em 1946, criou-se a Fundação Leão XIII, voltada para assistir os moradores de fave-
las, material e moralmente. A Fundação atuou em inúmeras favelas da cidade do Rio de
Janeiro, promovendo acesso a serviços básicos como água, energia elétrica e esgoto. Após
23
Também conhecido como ―milagre brasileiro‖, ditado pelo governo do general Medici (1969-74). O milagre
econômico foi o modelo econômico adotado que gerou rápido crescimento da nação, atingindo taxas anuais de
7-13%. Este período foi marcado pela construção de obras monumentais, como a rodovia Transamazônica, a
hidroelétrica Solteira e a Ponte Rio-Niterói. Fato é que esta expansão econômica ampliou as desigualdades entre
as classes sociais e, para os movimentos oposicionistas e insatisfeitos com tal cenário, a prática do governo era
a repressão, com casos de mortes em algumas vezes (KOSHIBA e PEREIRA, 1993; COSTA e MELLO, 1999).
161
10 anos da criação da Fundação Leão XIII, o governo carioca criou o Serviço de Recupera-
ção de Favelas e Habitações Anti-Higiênicas (SERFHA), atuando como aliado à citada Fun-
dação, com a proposta de educar e capacitar os moradores a resolverem seus próprios pro-
blemas, levantando lideranças locais e envolvendo as associações de moradores no intuito
de manter e multiplicar sua atuação. Posteriormente, nos anos de 1960-70, com a política
de erradicação em voga novamente, foi criada a Companhia de Habitação Popular (CO-
HAB), com a iniciativa de construção de conjuntos habitacionais, agrupando pessoas de
diferentes favelas, culturas, hábitos, em um mesmo local, arquitetando conflitos sociais vio-
lentos. O problema foi amenizado com a criação da Federação das Favelas do Rio de Janei-
ro (FAFERJ), em 1980, a qual elaborou planos e programas para abolir a violência existen-
tes na época. Sob este contexto que foram iniciados os programas de saneamento voltados
para as favelas estes serão discutidos mais a frente.
Da explosão demográfica e progresso industrial, aliados a fatores estruturais e políti-
cos, também à crise habitacional e segregação social, é intrínseco o processo de formação
de favelas. A favela foi ―inventada‖ pelo poder público, por sua ausência nas políticas habi-
tacionais voltadas para todas as classes sociais não somente à burguesia , e políticas
sociais quanto ao crescimento populacional da cidade, além de estimular este tipo de ocu-
pação segundo seus interesses em alguns momentos; a favela também foi ―inventada‖ pelo
proletariado, o qual se apossou deste processo e foi desenvolvendo um conjunto de estraté-
gias para garantia de sua sobrevivência (SILVA, C. R. R., 2006).
A gênese do conceito de favela é tão complexa quanto seu entendimento espacial.
Para Britto e Rennó (2009), este conceito já emerge de estudos dominantes, relacionando-o
às relações sociais, onde a Geografia Urbana reproduz o pensamento dominante do urba-
nismo, excluindo a favela da grande contradição que é a cidade; outros conceitos abordam a
favela como ocupações irregulares, assentamentos urbanos, aglomerados urbanos, aglome-
rados subnormais, estes os quais se prenderá o presente estudo, buscando fugir da repro-
dução de um pensamento dominante e, em análise crítica e reflexiva, manipulador da reali-
dade. Para Andrelino Campos (2006), o processo de ocupação de favelas é justificado por
fatores cruzados, a partir de informações indiretas, uma vez que a dinâmica espacial das
classes pobres, ao longo dos séculos XIX e XX, são analisadas apenas do ponto de vista
econômico, ocultado os reais motivos que levaram a construção destes tipos de habitação.
Valladares (2000) critica e ratifica a condição de reprodução do conceito hegemônico sobre
favelas, sendo amplamente divulgado por jornalistas e vários intelectuais, não importando
sua tendência ideológica, mas sim a partilha comum de um mesmo entendimento, constru-
indo uma imagem padrão. Santos (1996) expunha a condição da criação do conceito do-
minante pelo fato do homem ter se afastado da Natureza, não mais se reconhecendo como
parte integrante da mesma e dos processos técnicos, científicos e informacionais que a
162
envolvem, passando de uma visão vital para a racional. Assim, passou-se a desconsiderar a
dinâmica e sua evolução no espaço e tempo, delineando-se categorias isoladas de conhe-
cimento, formulando conceitos embasados em relações limitadas, com uma única viabilida-
de de desenvolvimento, não havendo uma interconexão e extrapolação das condicionantes
diretas e indiretas.
Santos (2004), em sua obra ―O Espaço Dividido‖, esboça uma conceituação e abor-
dagem particular sobre favelas, esta indo de encontro com o pensamento deste estudo, on-
de o autor define favelas como:
Realidade mutável. [...] A favela não reúne todos os pobres de uma cidade, e nem todos que
nela vivem podem ser definidos segundo os mesmos critérios de pobreza. Uma favela pode
compreender tanto biscateiros, que vivem de rendas ocasionais, como assalariados dos servi-
ços e das indústrias e mesmo pequenos empresários (SANTOS, op. cit.).
A abordagem dada pelo autor se destaca pelo mesmo representar a favela como
realidade mutável, ou seja, o conceito apresentado pelo pensamento dominante é restrito às
relações econômicas, manipulando o pensamento e o próprio conceito à atuação exclusiva
da classe pobre nestas áreas, e para o autor supracitado, as relações apresentadas em
uma favela são profundas e complexas, não sendo possível delimitar as mesmas apenas à
esfera econômica. Atrelado a isto, por tempos, estas áreas têm sido fortes alvos de conflitos
entre facções criminosas, disputando pelo domínio das mesmas, o que acaba por induzindo
e fortalecendo a aceitação do conceito [econômico] dominante por parte do público em ge-
ral, mostrando a favela como área exclusiva de marginais e criminalidade, quando na verda-
de existe um cenário repleto de diversidades sociais, culturais, econômicas, políticas, ambi-
entais, entre outros.
Nesse contexto, a legislação federal e estadual tem sido ineficaz nestas áreas, pois
ainda estão subjugadas e são seguidoras do pensamento dominante a respeito das favelas.
A relação social, econômica e ambiental nestas áreas é intrínseca, não pode ser analisada e
tratada de formas isolada. A distribuição de favelas no Rio de Janeiro (figura 53) é crescen-
te e contínua (CEZAR, 2002), refletindo, em parte, com a condição urbana, do processo
acelerado, e da estrutura econômico-social moldada a partir de interesses hegemônicos.
163
Figura 53. Distribuição de favelas na cidade do Rio de Janeiro.
Fonte: PCRJ, 2004.
164
A primeira favela do Município do Rio de Janeiro teve sua formação no Morro da
Providência, em 1889, com maior parte da população de escravos libertados (SILVA, J. R.,
2002b); desde então seu crescimento tem sido contínuo. Segundo Abreu (1997), a década
de 1940 foi o período de maior proliferação de favelas no Rio de Janeiro. Fatores como a
importância de proximidade do trabalho, adensamento populacional nos subúrbios - atingin-
do índices de até 200% em algumas áreas , taxas aceleradas de crescimento da cidade,
entre outros foram importantes contribuintes para este processo. Derivou-se, então, uma
febre imobiliária, onde o retalhamento de terrenos em lotes, com ou sem aprovação oficial,
tornou-se investimento de grandes lucros. Esta condição é ratificada em Campos (2006),
apontando a titulação de terras em favelas como um negócio quase inesgotável mesmo em
tempos atuais.
Paradoxalmente o poder público ―permite‖ a expansão do espaço favelizado, desen-
volvendo-se dois espaços urbanos distintos: a cidade formal e a cidade de segunda classe,
a qual se aglomera os pobres urbanos (CAMPOS, 2006); Abreu (1997), semelhantemente,
chama estes espaços distintos de espaço urbano legal e espaço urbano ilegal (apud JUNG,
2006). A partir da segunda metade do século XIX, a cidade do Rio de Janeiro passa pelo
processo de transformação urbana, tornando mais explícito as diferenças de classes popula-
res, tendo como gênese do principal conflito na cidade: a presença de pobres em áreas cen-
trais (ABREU, 1997). Tendo em vista este panorama, concorda-se, aqui, com o pensamento
de Lefebvre (1905), originalmente em sua obra ―A cidade do capital‖, o qual aponta:
A cidade, como tal, faz parte dessas condições históricas, implicadas no capitalismo. Ela re-
sulta da destruição das formações sociais anteriores e da acumulação primitiva do capital (que
se completa nela e por ela). Ela é coisa social, na qual são evidentes (tornam-se sensíveis) re-
lações sociais que, tomadas em si, não são evidentes, de sorte que é necessário concebê-las
pelo pensamento, a partir de sua realização concreta (prática). [...] Aí se exerce a ‗magia do di-
nheiro‘, a força, ao mesmo tempo maravilhosa e estupidamente brutal dessas coisas o ouro e
o dinheiro saídas das entranhas da terra e se impondo logo como encarnação do trabalho
humano (LEFEBVRE, 2001).
A cidade, formal e/ou de segunda classe, é vista como palco de conflitos e contradi-
ções, tanto na esfera social quanto na científica, onde os conceitos e valores são constan-
temente contrapostos a partir de diferentes ideologias e correntes de pensamento, inseridos
num escopo econômico. Interligando os eixos temáticos, em resumo, pode-se conectar a
urbanização com a questão da escassez de água e, conseqüentemente, deterioração na
qualidade de vida, todos funcionando em conjunto. Em áreas favelizadas, alguns problemas
urbano-epidemiológicos, em certos casos, se concentram, refletindo a reprodução histórica
das diferenças ambientais, culturais, sanitárias, sociais, econômicas, entre outros (DIAS,
2003). Num movimento ambíguo, onde o Estado passa a enxergar as favelas e prover a-
ções em prol destas especialmente na área sanitária , ao mesmo tempo se preocupa
165
com a população da cidade formal, visto que esta abriga trabalhadores moradores de fave-
las, ou seja, o Estado passa a gerir estas áreas num intuito de reter a proliferação de pro-
blemas em todas as esferas envolvidas: saúde, política, ambiental, cultural, urbano e, ao
mesmo tempo, promover maior acessibilidade aos serviços públicos e a implementação da
PNRH e PERHI.
Apegando-se ao exposto até aqui, fica notável a profundidade e enredamento da re-
lação entre urbanismo, recursos hídricos e favelas. Suas inúmeras condicionantes e exter-
nalidades extrapolam a condição física, remetendo a uma análise holística e integrada, al-
mejando a construção de um conhecimento e um viés diferenciado, onde a abordagem iso-
lacionista é renegada e abre-se espaço para uma conotação dialética.
6.2. Breve Histórico do Complexo da Maré
Ainda em pauta concernente às favelas, conduzindo a abrangência do estudo a um
nível local e, concomitantemente, ao foco do mesmo, torna-se fundamental dissertar sobre o
Complexo da Maré, a partir de um breve histórico e, posteriormente, elencar alguns dados e
aspectos da região quanto a gestão de recursos hídricos sobre a mesma.
O Complexo da Maré (figura 54 e 55) está localizado na Zona da Leopoldina, inseri-
do na RH V (vide figura 45), Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, suas coordenadas
geográficas são 22°51'34"S e 43°14'34"W, situado entre a Av. Brasil e a Linha Vermelha e
cortado pela Linha Amarela; atualmente configura o maior espaço popular e mais populoso
do Rio de Janeiro (CEASM, 2003), com um IDH-M de 0,722 (IBGE, 1991; id., 2000; in PCRJ
Armazém de Dados). Sua área, hoje ocupada por favelas, era repleta de praias, ilhas e
manguezais. Originalmente, estas áreas eram habitadas por índios, passando a ser explo-
radas mata atlântica, pau-brasil, cultivo de cana-de-açúcar e café, construção de vias e
dinamizando o modo de sobrevivência dos mesmos. A história da Maré tem sua gênese na
abertura da Avenida Brasil, a qual foi responsável pela maior mobilidade do fluxo migratório
na década de 1940 (principalmente do Nordeste brasileiro, alguns anos depois).
166
Figura 54. O Complexo da Maré no Brasil e no Estado do Rio de Janeiro.
Fonte: VARELLA et al., 2002.
167
Figura 55. Mapa do Complexo da Maré.
Fonte: CEASM, 2003.
168
A partir de 1940, a migração de populações advindas de Minas Gerais e interior do
Rio de Janeiro dá início a ocupação da Maré. Em 1950 este fenômeno migratório se intensi-
ficou, passando a contar com populações do Nordeste e Norte do país. A Avenida Brasil e
todo seu entorno se tornou foco de ocupação e moradia para estas pessoas; as palafitas,
construções as quais moravam os habitantes da região, foram característica marcante da
gênese da Maré (figura 56). Jacques (2002) fala a respeito destes tipos de construções,
executadas durante o início de ocupação da Maré:
Essa maneira de construir era o oposto da construção tradicional em terra firme. O terreno ali
era determinado pelas palafitas, estacas verticais, fincadas na lama, e era a partir dessa base
que se construía uma base horizontal, também de tábuas de madeira para se erguer a habita-
ção. A madeira usada nessas construções apodrecia rapidamente e tinha de ser trocada. As-
sim, além de não serem fixos como as casas na terra firme, os barracos estavam em perma-
nente processo de reconstrução. Entre os barracos usavam-se pontes, construídas e reconstru-
ídas também em madeira [...]‖ (in VARELLA et al., 2002).
a) b)
Figura 56. a) Caminhos entre as palafitas; b) Condições estruturais das palafitas.
Fonte: CEASM, 1999.
Mesmo com a repressão do Estado, a persistência destes imigrantes foi um marco
histórico no Estado do Rio de Janeiro, referente à constituição do Complexo da Maré (VIEI-
RA, 2006). Assim, as lutas foram travadas para a permanência das populações ali morando,
e a Maré se encontrava ocupada desde a Praia de Inhaúma até a Praia de Ramos. Inte-
ressante citar que cada região dentro da Maré tinha suas especificidades históricas e sociais
conforme o povo que a ocupara. O processo de ocupação da Maré foi intensificado com a
industrialização na Cidade do Rio de Janeiro; a industrialização foi o divisor de águas entre
a cidade e o campo, marcando definitivamente o processo de urbanização no Estado. Dora-
vante, a construção de vias fortificou ainda mais a mobilidade e facilitou a aglomeração po-
pulacional nas metrópoles; a mão-de-obra e ofertas de serviços são os principais atrativos
169
gerados pela industrialização, concentrando, direta e indiretamente, a expansão demográfi-
ca ao seu entorno, promovendo alteração da ordem urbana e impulsionando a disparidade
social, econômica, cultural, ambiental, entre outros (JUNG, 2007).
Como visto, a formação inicial da Maré foi constituída nos anos 1940. Neste período,
apesar de serem conjuntas, as localidades eram identificadas isoladamente, não compu-
nham o complexo de favelas, eram reconhecidas como favelas individuais. A partir de então,
com a criação do Centro de Habitação Provisória (CHP), este localizado na Maré, condicio-
nando um benefício que impulsionou a ocupação da região: fornecimento de água e energia
elétrica. Entretanto, o CHP não foi criado, originalmente, para tal feito, mas sim para fortifi-
car, naquele período, a política de erradicação de favelas. A remoção era baseada no reas-
sentamento dos moradores de favelas em conjuntos habitacionais distantes, isolados dos
centros urbanos e das áreas elitizadas da cidade. O maior CHP foi justamente construído na
Maré, chamado de Nova Holanda, com o aterramento de uma grande área da marinha e
promovendo a erradicação (não completa) das palafitas, induzindo a ocupação da região e,
alguns anos após, oficializando a favela (SILVA, C. R. R., 2006).
A década de 1970 foi marcada pelo início da auto-urbanização da Maré. Sob ameaça
de erradicação, os moradores e associações passaram a investir em suas condições de
sobrevivência, construindo e adaptando reservatórios de água, sistema de abastecimento,
aterramento de áreas para construção de mais casas, construção de casas de alvenaria
(figura 57), era uma nova era a ser iniciada na região, refletindo o processo de ocupação da
mesma.
170
a)
b)
Figura 57. Evolução da construção de casas no Complexo da Maré a) Prainha (1972); b) Prainha (2002).
Fonte: CEASM, 1999.
a década de 1980 assume destaque o Projeto-Rio, este realizado sob período da
ditadura militar, que retirou as famílias que outrora se abrigavam nas palafitas, levando-as
para os conjuntos habitacionais a intenção era a remoção definitiva de toda a favela para
os conjuntos habitacionais, contudo a resistência de moradores e alarde da mídia provocou
a não-realização desta etapa do Projeto. O principal objetivo do Projeto-Rio era o sanea-
mento da orla da Baía de Guanabara, a qual se encontrava profundamente poluída e com
171
acusações direcionadas às favelas, estas vistas como maiores causadoras; a região passou
a receber atenção prioritária. Assim, a etapa realizada foi a transferência das famílias que
moravam nas palafitas para os conjuntos habitacionais, gerando as primeiras favelas da
Maré: Morro do Timbau, Baixa do Sapateiro, Parque Maré, Parque Rubens Vaz, Parque
União e Nova Holanda. Não se pode deixar de citar que o período do Projeto-Rio foi de pro-
veito eleitoreiro, onde as obras eram realizadas parceladamente e/ou não tinham manuten-
ção, assim como das próprias associações que visavam atender seus próprios interesses;
este cenário foi criticado pelo jornal da região da época, o União da Maré, o qual disse em
uma de suas colunas:
Houve um momento nas discussões do Projeto Rio, em que o curso das negociações tomou
um caminho diferente da lógica estabelecida pelo próprio movimento. As diretorias das associ-
ações não ouviram mais as opiniões dos moradores. Passaram a decidir sozinhas, junto aos
órgãos do governo, aquilo que lhes parecia justo, mas o que mais satisfez aos seus interesses
particulares e de seus apaniguados. Hoje estamos desprezados por essas diretorias, que se
recusam a tomar qualquer iniciativa diante dos problemas mais comuns, debitando as respon-
sabilidades ao BNH. Ao mesmo tempo se arvoram em demonstrar seus prestígios junto aos ór-
gãos e funcionários dos governos federal e estadual. Tentam aparecer como vedete nas festas
e inaugurações administrativas. Transformam, aos poucos, as sedes das associações ―em cur-
rais eleitorais‖ dos maiores oportunistas e exploradores dos favelados. Trapaceiros habituados
a enganar os favelados com um caminhão de asfalto aqui, três canos de água ali, meia dúzia
de camisas acolá, limpeza de uma vala mais adiante e com pequenas obras apressadas e mal
feitas.Quando se aproxima a época das eleições esta safadeza se torna ainda maior, pois pre-
cisam dos nossos votos para se elegerem. Quando passa o pleito, as valas entopem, a água
enfraquece, a camisa rasga, o asfalto se arrebenta e nós continuamos no sufoco. (...) Esta aí o
exemplo dos conjuntos do Projeto-Rio. Os próprios responsáveis do Govêrno estão criando a
balburdia. Dividiram os apartamentos entre os Presidentes das Associações para serem entre-
gues aos seus apadrinhados. A Imprensa acaba de denunciar à opinião pública as trapaças
dos Presidentes das Associações da Área da Maré. Irresponsáveis e corruptos que jamais de-
veriam estar nos representando. É urgente uma atitude, da nossa parte, antes que êles ve-
nham a praticar outras irregularidades contra os interesses da coletividade favelada (UNIÃO
DA MARÉ, 1982, apud SILVA, C. R. R., 2006).
A evolução da ocupação da Maré pode ser visualizada através de imagens compara-
tivas (figura 58), assim como o esquema ilustrado em Varella et al. (2002) (figura 59). A
Maré não é apenas uma favela, mas sim um Complexo de Favelas, onde várias comunida-
des estão reunidas. Inicialmente, a Maré era composta por seis ―comunidades‖ adjacentes,
porém com características diferentes em diversos aspectos modo de ocupação, origem
dos moradores, organização geográfica, entre outros. Atualmente, a Maré se constitui de 16
comunidades, estas aqui definidas por ordem de ocupação: Morro do Timbau (1940), Bai-
xa do Sapateiro (1947), Conjunto Marcílio Dias (1948), Parque da Maré (1953), Parque Ro-
quete Pinto (1955), Parque Rubens Vaz (1961), Parque União (1961), Nova Holanda (1962),
Praia de Ramos (1962), Conjunto Esperança (1982), Vila do João (1982), Vila do Pinheiro
(1989), Conjunto Pinheiro (1989), Conjunto Bento Ribeiro Dantas ou ―Fogo Cruzado‖ (1992),
Nova Maré (1996), Salsa e Merengue (2000), todas estas compondo uma população de
132.176 habitantes, abrigados em 38.273 domicílios (tabela 32), representando 2,26% da
população carioca (CEASM 2003).
172
a) b)
Figura 58. Imagens comparativas do Complexo da Maré a. década de 1960; b. década de 1990.
Fonte: CEASM, 1999.
173
Figura 59. Processo evolutivo da ocupação da Maré.
Fonte: VARELLA et al., 2002.
Tabela 32. Distribuição da população e de domicílios no Complexo da Maré 2000.
COMUNIDADES
POPULAÇÃO
DOMICÍLIO
P/D
Parque União
17.796
5.876
3,00
Vila Pinheiros
15.485
4.310
3,60
Parque Maré
15.399
4.595
3,35
Baixa do Sapateiro
11.467
3.302
3,47
Nova Holanda
11.295
2.967
3,81
Vila do João
10.651
3.001
3,55
Rubens Vaz
7.996
2.482
3,10
Marcílio Dias
7.179
1.888
3,80
Timbau
6.031
1.858
3,20
Conjunto Esperança
5.728
1.708
3,40
Salsa e Merengue
5.309
1.349
3,94
Praia de Ramos
4.794
1.360
3,52
Conjunto Pinheiros
4.767
1.329
3,58
Nova Ma
3.142
695
4,50
Roquete Pinto
2.514
864
2,90
Bento Ribeiro Dantas
2.199
566
3,90
Mandacaru
424
123
3,44
TOTAL
132.176
38.273
3,45
Fonte: CEASM, 2003 (grifo do autor).
174
Nota-se que a ―comunidade‖ Mandacaru faz parte do banco de dados analisados pe-
lo Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM), contudo, existe um conflito den-
tro do Complexo quanto a algumas ―comunidades‖ pequenas, pois estas não possuem uma
liderança representativa e/ou uma associação de moradores, logo, não sendo aferida por
demais estudos e, em parte, pela própria população moradora da Maré.
Em agosto de 1988, foi instalada na Maré a 30ª Região Administrativa (RA), sob o
Decreto 7.980, visando facilitar aos moradores o acesso aos serviços públicos. Devido
esta RA estar sob comando de políticos tradicionais de outros bairros, a mesma não era
atendida em sua plenitude, indo contra os preceitos previsto à criação da mesma. Além dis-
to, a divisão geográfica da 30ª RA estipulada pelo referido Decreto foi mal elaborada, com
descontinuidade espacial e instalações militares ao longo da região, dificultando a atuação
da administração regional. Assim, teve início um movimento pelo reconhecimento do Com-
plexo da Maré como bairro, liderado pelos locais e interesses eleitoreiros por parte de políti-
cos envolvidos no processo; a estratégia era tomar a área referida pela 30ª RA como delimi-
tações geográficas para a criação do novo bairro. Assim, em resumo, a forma de ocupação
do Complexo ocorreu assim (tabela 33):
Tabela 33. Forma de ocupação das “comunidades” da Maré.
ANO
“COMUNIDADE”
FORMA DE CRIAÇÃO
1940
Morro do Timbau
Ocupação espontânea
1947
Baixa do Sapateiro
Ocupação espontânea
1953
Parque Maré
Ocupação espontânea
1954
Parque Rubens Vaz
Ocupação espontânea
1961
Parque União
Ocupação espontânea
1962
Nova Holanda
Governo Estadual
1982
Vila do João
Governo Federal
1982
Conjunto Esperança
Governo Federal
1989
Vila Pinheiros
Governo Federal
1989
Conjunto Pinheiros
Governo Federal
1992
Bento Ribeiro
Governo Municipal
1996
Nova Ma
Governo Municipal
2000
Novo Pinheiro Salsa e Merengue
Governo Municipal
“Comunidades integradas ao Complexo da Maré com a criação da 30ª RA
1948
Marcílio Dias
Governo
1955
Roquete Pinto
Ocupação espontânea
1962
Praia de Ramos
Governo Estadual
Fonte: JUNG, 2006.
O Plano Diretor da Cidade do Rio de Janeiro estabeleceu o ―Programa de urbaniza-
ção e regularização fundiária das favelas‖, este indo contra toda a proposta política até en-
tão, a qual propunha a erradicação e, a posteriori, realocação das favelas. O Programa visa-
va urbanizar e regularizar os espaços ocupados pelas favelas, com implantação de diretri-
175
zes e planejamento de ações de médio e longo prazo, as quais foram estruturadas de acor-
do com a tabela 34.
Tabela 34. Diretrizes e ações do Plano Diretor para favelas.
Diretrizes dos projetos urbanísticos das favelas
Integração da favela ao bairro e ao aglomerado de favelas
onde está situada.
Preservação da tipicidade da ocupação local.
Previsão da implantação progressiva e gradual da infra-
estrutura com a definição das obras a serem executadas em
cada etapa, de modo a manter a complementaridade entre
elas e os procedimentos de regularização urbanística a
serem adotados.
Ações para a regularização urbanística das favelas
Inclusão geográfica e urbana das favelas no planejamento da
cidade.
Aprovação de Projetos de Alinhamento.
Edição de legislação específica de uso e ocupação do solo.
Reconhecimento dos logradouros.
Implantação de sistema de fiscalização, acompanhado de
programa de esclarecimento e conscientização sobre suas
finalidades e vantagens.
Elaboração do cadastro de lotes e edificações para regu-
larização fundiária ou lançamento no cadastro imobiliário
do Município, ou para ambos.
Edição da legislação de parcelamento da terra.
Implantação prioritária de abastecimento de água, esgota-
mento sanitário, remoção dos resíduos sólidos e eliminação
dos fatores de risco.
Implantação de equipamentos urbanos complementares
relativos à saúde, educação, lazer e outros obedecida a
escala urbana da área e sua localização.
Fonte: PCRJ, 1992, apud SILVA, C. R. R., 2006 (adaptado pelo autor; grifo do autor).
A respeito dos itens grifados na tabela 34, sua análise nos remete à questão do
mercado e especulação imobiliária nas favelas, conforme supracitado. O interesse aferido
no Plano Decenal reflete a intenção do poder público em ―legalizar‖ estas áreas, pois as
mesmas serviriam de um negócio rentável e, praticamente, inesgotável para o setor respec-
tivo.
Sob este contexto, de acordo com algumas diretrizes e ações do Plano Diretor, que
decorreu a luta de interesses políticos eleitoreiros pelo reconhecimento do Complexo da
Maré como bairro. Nesta luta, quem saiu como vencedor foi o então vereador José Moraes,
o qual propôs o Projeto de Lei nº 307/93, para a criação do bairro Maré. Assim, no dia 24 de
Janeiro de 1994, foi publicado no Diário Oficial do Município do Rio de Janeiro a Lei
2.119, criando o bairro Maré, sob delimitações já estabelecidas no Decreto nº 7.980, da cria-
ção da 30ª RA (RIO DE JANEIRO, 1994).
176
Com o passar do tempo, o processo de urbanização se intensificou e a Maré passou
a assumir nova feição: os barracos de madeira foram substituídos por casas de alvenaria e,
com o aumento populacional na região, a Maré passou a crescer verticalmente (casas sobre
casas); sua evolução arquitetônica (figura 60) seguiu moldes próprios e atribuindo suas
próprias estratégias para tal formação. Não longe deste relativo progresso o qual a Maré
alcançou, junto com ele vieram as facções criminosas as quais impossibilitam, até os dias
atuais, uma integração das favelas contidas no Complexo.
Figura 60. Evolução arquitetônica da Maré.
Fonte: VARELLA et al., 2002.
Tendo em vista, ainda que sinteticamente, como é organizado o Complexo da Maré,
sua relação com a gestão de recursos hídricos amparada pela PNRH e a PERHI se
de maneira conflituosa e complexa, levando-nos a este estudo, numa tentativa de propor
ações que possam contribuir para uma melhor condição social, política, econômica e ambi-
ental. A seguir serão abordados alguns planos e programas sociais, diretos e indiretos, na
gestão dos recursos dricos voltados especialmente para esta parte da população (baixa
renda).
6.2.1. Gestão Local e os Recursos Hídricos
Conforme desenvolvido conhecimento e elencado alguns fatores fundamentais, cabe
a partir de então se tratar sobre a gestão local, voltada para as favelas, e seus impactos no
sistema de recursos hídricos. O presente estudo não se aterá apenas aos programas cria-
177
dos especificamente para o Complexo da Maré, mas de todas as regiões de baixa renda
envolvidas nestes referidos planejamentos e estratégias.
A evolução estrutural das cidades brasileiras e, conjuntamente, das favelas têm pro-
duzido uma situação cada vez mais crítica quanto aos recursos hídricos, além de impedir a
estabilização de um desenvolvimento sustentável; esta condição é fatídica ao Rio de Janei-
ro, somada à escassez já presente no Estado. Os fatores que se destacam neste âmbito
são: a contaminação dos mananciais por esgotos industriais e domésticos, além da própria
pluviosidade; as perdas no sistema de distribuição de águas e a contaminação por diferen-
tes fontes de poluentes; falta de coleta e tratamento de esgotos; drenagem urbana com di-
mensionamento inadequado; ineficaz gestão de resíduos sólidos, com coleta e disposição
inadequada de lixos (TUCCI et al., 2001a).
As bacias urbanas, principalmente em países desenvolvidos, geralmente são as mais
poluídas devido o uso urbano das águas. A poluição por efluentes industriais e domésticos
são principais, porém a fiscalização e licenciamento têm provido significativo avanço quanto
aos poluentes industriais, alcançando índices mais elevados na qualidade das águas, devido
tratamento priorizado por devida legislação. Todavia, poluentes inorgânicos derivados de
micropoluentes industriais tem seus efeitos sobre a saúde humana desconhecidos. Os cen-
tros urbanos e atividades industriais, assim como agricultura também, demandam demasia-
da quantidade de água para se manterem (VARGAS, 1999). Fica explícita a interação entre
qualidade e quantidade dos recursos dricos, devendo haver uma gestão integrada dos
mesmos, principalmente quando inseridos numa realidade diferenciada como é o caso das
favelas.
Assim, dentro deste contexto, é possível observar os programas e ações de gestão
local sobre os recursos hídricos. Com a meta de redução de consumo de água, conduzida
pelo novo viés global a respeito dos recursos naturais, a CEDAE, inserida num contexto de-
safiador, cria o Programa de Favelas da CEDAE (PROFACE), vigorando de 1983 até 1986;
em 1987 o programa mudou o nome para SANEAR, porém compondo as mesmas caracte-
rísticas, e seguiu até o ano de 1990, quando, posteriormente, voltou a ser denominado de
PROFACE, seguindo de 1991 a 1994. Este Programa, de nível estadual, teve como meta o
atendimento a todas as favelas do Rio de Janeiro, levando em conta suas especificidades, e
a integração e participação das comunidades, e também firmou parcerias com outros órgãos
públicos inseridos no processo. Por meio desta iniciativa, foram implantadas 29km de rede
de esgotamento sanitário, através de mutirões, redes de água, abertura e fechamento de
valas (VERDE e LIMA, 2000). Até dezembro de 1985 foram realizadas 57.485 ligações pre-
diais de esgotos, beneficiando uma população de 298.922 pessoas, ainda com a previsão
de realizar mais 38.875 ligações prediais de esgotos e beneficiar mais 202.150 pessoas. Em
outubro de 1992 foi elaborado um plano de obras para o PROFACE, o qual visava atender
178
cerca de 1.000.000 de moradores de favelas (SILVA, J. R., 2002b). Esta experiência propôs
uma melhor interação intercomunitária e intergovernamental.
No cenário específico do Complexo da Maré, foi desenvolvido o Grupo Especial da
Maré (GEM), em 1985, responsabilizado pela gestão da zona costeira, onde viviam 5 ―co-
munidades‖, com cerca de 90.000 pessoas, buscando solucionar os problemas ali observa-
dos. As ―comunidades‖ residentes eram: Parque da União, Parque Rubens Vaz, Parque No-
va Holanda, Baixa do Sapateiro e Morro do Timbau. Foram realizadas obras de drenagem
pluvial, com 11km de galerias, pavimentação de 125.215m² dos logradouros e, também,
construção de passagens de níveis entre os canais, além da construção de unidades habi-
tacionais, substituindo aquelas de madeira ainda existentes (ibid.).
Em 1986, foi criado o Programa de Saneamento para Populações de Baixa Renda
(PROSANEAR). Até 1987, o Programa havia beneficiado 199 ―comunidades‖, num total
de 983.060 habitantes, com serviços de esgotamento sanitário, instalando 189.050 ligações
prediais. Neste mesmo período, estavam agendados serviços para atender a mais 90
―comunidades‖, com a previsão de beneficiar 517.982 habitantes e a instalação de 99.612
ligações prediais das redes de esgotamento sanitário. nos anos de 1987-90, o Programa
beneficiou mais 50 ―comunidades‖, contando com 128.975 habitantes, por meio dos serviços
de águas e esgotos (ibid.). Em 1995, foi realizado um acordo entre a Caixa Econômica Fe-
deral e a CEDAE, visando atender as comunidades localizadas em encostas. O aumento
da população foi maior que o espaço geográfico plano disponível, levando à outra caracteri-
zação de construções em áreas de baixa renda: a verticalização, mas não da maneira for-
mal e arquitetônica a qual se conhece e se observa em condomínios, edifícios residenciais e
comerciais, mas sim composta de informalidade, dentro das condições financeiras precárias
as quais se encontram boa parte desta população residente de tais áreas. O PROSANEAR
implantou e ampliou vários sistemas de abastecimentos de água e esgotamento, tendo seu
fim no ano de 1998 (VEROCAI, 2008).
Em 1992, foi elaborado o Plano Diretor da cidade do Rio de Janeiro, o qual integrou
as favelas à cidade. Então, em 1993, sob governança municipal do Prefeito César Maia,
criou-se o Grupo Executivo de Assentamentos Populares (GEAP), este propondo programas
habitacionais, tendo destaque o Favela-Bairro. O Programa de Urbanização e Assentamen-
tos Populares do Rio de Janeiro (PROAP), conhecido como Favela-Bairro, tinha objetivo de
construir e/ou complementar a estrutura urbana da cidade, democratizando o acesso a sa-
neamento e condições ambientais seguras, com o propósito de tornar a favela em um bairro.
Em sua primeira fase, além da missão de integrar e solucionar problemas como saneamento
básico, drenagem, contenção e serviços sociais, o Programa se firmou como marco na his-
tória das políticas públicas da Cidade do Rio de Janeiro, intensificando os serviços sociais e
gerando rendas em sua segunda fase (PCRJ, 2003a). A partir de 1997, o Favela-Bairro se
179
desdobrou para comunidades menores e grandes favelas antes o Programa previa aten-
dimento apenas para favelas de médio porte.
Anos seguintes, o Favela-Bairro foi complementado com o Posto de Orientação Ur-
banística e Social (POUSO), criado em 1996, atuando no pós-obras, visando acompanha-
mento, intervenção e manutenção destas áreas. O índice de crescimento de favelas no Rio
de Janeiro, entre 1999 e 2009, foi de 6,88%, passando de 42.894.464,17m² para
45.843.509,35m² de área ocupada. Em estudo analítico, Vial e Cavallieri (2009) mostram
que os resultados obtidos a partir dos POUSOs e do Favela-Bairro são significativos no con-
trole de uso e ocupação do solo urbano. Segundo os autores, os índices mostram que fave-
las com os Programas, tiveram uma taxa de expansão anual de menos de 2%, e sem os
respectivos Programas, as mesmas alcançaram taxas maiores que 7%.
Contudo, levando em conta todos os projetos esboçados, ainda podem ser observa-
das obras inacabadas nas áreas de favelas, apresentando um cenário lastimável de esfor-
ços e investimentos não concretizados e deixados de lado. As controvérsias sobre os resul-
tados são atreladas ao processo participativo do espaço, ou seja, a falta de gerência e a-
companhamento, tanto por parte dos moradores quanto por parte do poder público, contri-
buem para tal cenário citado (JUNG, 2006; VEROCAI, 2008).
Quanto as ações e estratégias direcionadas direta e exclusivamente aos recursos hí-
dricos, uma delas, tomadas pela CEDAE e reforçada pelo Estado, foi a criação da tarifa
social: destinada às populações de baixa renda. Chama atenção o intuito de minimizar im-
pactos diretos sobre a disponibilidade destes recursos e seus custos de distribuição le-
vando em conta os desvios de águas realizados nas tubulações da concessionária , e, con-
tudo, viabilizar o acesso aos serviços de abastecimento de água tratada. Esta tarifa foi pri-
meiramente incorporada às favelas e, posteriormente, nos conjuntos habitacionais, abran-
gendo 10,5% dos usuários. Na verdade, a cobrança feita pela concessionária é inferior ao
seu custo de fornecimento, contudo, compensa seus prejuízos em outras áreas (CEDAE,
2001). A prática da tarifa social está atrelada a cobrança diferenciada, esta menor que o
cobrado normalmente. Este serviço vem sendo adotado no Brasil desde 1980. O elevado
índice de perda de água no sistema de abastecimento é um dos principais problemas no
país, afetando a eficiência dos serviços prestados. Inácio e Portella (2005) propõem, na
questão de mobilização contra as perdas de água, um esquema de ação entre um comitê,
seus funcionários, a comunidade local e agentes de redução de perda (ARPs), estes últimos
formados por treinamento profissional para atuarem no cotidiano da região em questão a ser
executada esta mobilização (figura 61).
180
Figura 61. A espiral da mobilização.
Fonte: INÁCIO e PORTELLA, 2005 (adaptado pelo autor).
O Decreto Estadual 25.438/99 que dispõe sobre a cobrança pelo uso de água em á-
reas de baixa renda, no estado do Rio de Janeiro, busca implementar os seguintes fatores:
Fornecimento dos serviços de água e esgoto a toda a população do Estado, princi-
palmente a camada menos favorecida que tem nesses serviços uma importante ação preventi-
va de saúde;
Implementação de uma política de preços de fornecimentos de serviços públicos coe-
rente com a capacidade de pagamento de cada área do Estado, aferida pelas características
específicas da população local; e
Uma conscientização ampla de economia em todos os sentidos, principalmente no to-
cante a um bem vital e finito como a água potável (RIO DE JANEIRO, 1999b).
Embora esta prática seja adotada no intuito de melhorar o acesso e minimizar os
conseqüentes impactos aos recursos naturais, algumas dificuldades ainda são encontradas
nestas áreas. Algumas como: vazamentos internos, inadimplência, lançamentos de esgotos
a céu aberto, entre outros. Andrade e Lobão (1996), em análise sobre o subsídio da tarifa
social, apontam que o consumidor pode aumentar seu bem-estar social em até 500% em
relação a uma situação de não-subsídio. A parceria com a Prefeitura da Cidade do Rio de
Janeiro e com a população das comunidades de baixa renda é fundamental, pois através
desta é possível o gerenciamento integrado poder público e população local , minimizan-
Combate às
perdas de
água e ao
desperdício
ARPs
Associações
Comunitárias
Direção
Mídia
Comitê
Escolas
Funcionários
181
do os impactos diretos nos equipamentos e nos recursos hídricos, além de estimular a
conscientização e educação por parte desta população para com seus interesses e meio.
O Programa mais atual em execução foi desenvolvido pelo governo Federal, é o
PAC, englobando diversas áreas, dentre elas a questão da urbanização, habitações popula-
res, saneamento e o desenvolvimento sustentável, estes específicos em destaque para o
Rio de Janeiro. O Programa ainda se encontra em condição incipiente, almejando objetivos
de curto, médio e longo prazo, sendo alcançados em diferentes espaços de tempo, de acor-
do com as especificidades das regiões as quais são acionadas pelo PAC.
A sustentabilidade ambiental das águas urbanas deve depender de mecanismos in-
terdisciplinares e integrados em tempos e escalas variadas (FERREIRA e CUNHA, 2005),
elencando de maneira sistêmica os agentes e fatores envolvidos para com este cenário. O
controle de uso e ocupação do solo é um desafio para o poder público. Costa (1997), apud
Muñoz (2000), afirma que para cada família de baixa renda que se instala em áreas de ma-
nanciais, a mesma resolve seu problema de moradia e, concomitantemente, provoca pro-
blemas para, pelo menos, mais 10 família que se utilizavam destas águas.
Os problemas locais devem ser analisados de forma holística, mesmo estes expres-
sando a complexidade para esta ação, pois suas conseqüências extrapolam seu meio e
contribuem para o global. A gestão integrada deve atentar, também, para as desigualdades
sociais e econômicas ainda explícitas no Brasil; os programas e ações, aqui explanados,
são passos de uma longa jornada a ser trilhada. É neste contexto que a responsabilidade
social entra como mais um instrumento a ser utilizado na gestão e busca pelo equilíbrio en-
tre o homem e seu meio.
6.3. Reflexões e Considerações Finais
O rápido desenvolvimento industrial no Rio de Janeiro foi subsídio para conseqüên-
cias danosas: subemprego, marginalidade, favelas (um dos fatores), entre outros; o mesmo
extrapolou a política urbana, esta não conseguindo caminhar conjuntamente ao seu avanço.
Todo este processo evolutivo é coletivo ao conceito de globalização; novas condições técni-
cas, a dupla tirania do dinheiro e informação, passam a reger o progresso de forma perver-
sa, onde o aumento da pobreza e desamparo ao próximo se torna mais acentuado (SAN-
TOS, 2005). A célere evolução da cidade e aglomeração urbana contribuíram para inúmeros
conflitos inseridos no setor dos recursos hídricos; geralmente suas causas estão relaciona-
das aos aspectos institucionais (TUCCI et al., 2001a), entretanto será levado em conta, nes-
te estudo, os aspectos sociais, especificamente os condicionados às áreas de baixa renda.
182
A favela se tornou problema desde muito cedo, no século XIX, e principalmente a
partir das reformas urbanas do centro da cidade, a partir do início do século XX, onde a
mesma passou a ser foco de discussões e intensificou os incômodos outrora gerados. Ao
longo do tempo, com a ajuda da imprensa, divulgando somente notas negativas e pejorati-
vas a respeito das favelas, as mesmas se tornaram um problema precípuo de ser resolvido.
Um estudo realizado pela PCRJ (2005), a sobre a revisão do Plano Diretor da Cidade, elen-
cou a favela como problema em todas suas áreas de planejamento, ratificando a situação
paradoxal e contraditória, quando a mesma não é reconhecida como parte da cidade e sua
dialética formação e construção.
Sob um contexto reflexivo sócio-político-filosófico, pode-se afirmar que a população
de baixa renda configura o que Karl Marx (1973), em seu livro O Capital, apud Borchardt
(1982), conceitua de ―exército industrial de reserva‖
24
, onde estes se submetem a serviços
menos valorizados, constituem desempregados que vivem de serviços temporários, entre
outras características semelhantes. Fazendo uma alusão sobre o conceito de Marx, vale
ressaltar que, sobre o aumento demográfico, em especial das favelas, é algo que o Estado
faz indiferença em certos casos, pois esta população configura mão-de-obra barata. Paola
Jacques (2002) ratifica tal condição em nota de rodapé, expondo este lado do Estado:
O poder público pouco se manifestava face o aumento do fluxo migratório, uma vez o aumen-
to da mão-de-obra barata era necessário para a indústria em crescimento, que os terrenos o-
cupados pelas favelas eram públicos ou pouco valorizados e que, pelo seu caráter populista,
as favelas passaram a ser vistas como fontes de numerosos votos e, conseqüentemente, se
tornaram praticamente intocáveis [...] (JACQUES, 2002, in VARELLA et al., 2002).
Assim, não se pode deixar de lado o papel alienador do Estado, pois este se posicio-
na de acordo com seus interesses, os mesmos não sendo explícitos à população. Não se
pode excluir a responsabilidade da população de áreas de baixa renda, assim como não se
pode excluir a responsabilidade, principalmente social, de um Estado, cujo papel seria de
promover igualdade social e de acesso a educação. Contudo, após criação de documentos
e normas que protegem os direitos humanos e visam à sustentabilidade ambiental, tanto o
Estado quanto empresas têm se envolvido mais em ações sociais e ambientais sua gran-
de parte pela obrigatoriedade imposta pelas respectivas normas e documentos.
A segregação sócio-espacial ainda é uma realidade no Rio de Janeiro; o uso do solo
urbano ainda é distinto entre as diferentes classes sociais. Contraditoriamente, a política
habitacional, que impede ocupação inadequada de alguns terrenos da cidade pelas favelas,
não age de mesma forma e eficácia em relação aos terrenos ociosos, planos, situados em
locais seguros e apropriados à construções edificantes, com finalidade explícita de especu-
24
Em dias atuais, este conceito é positivo em ajudar a analisar as condições de trabalho e seus enlaces com o
capitalismo, contudo o mesmo não dá conta por completo destas, visto que as mesmas, em seu processo histó-
rico mutagênico, alcançam relações e condições que extrapolam a totalidade do conceito.
183
lação imobiliária. Esta margem diferencial entre os terrenos ociosos e déficits habitacionais
confirmam tal condição do Estado e ratificam a condição brasileira de má-distribuição de
renda. A responsabilidade é atrelada ao Estado, pela sua ausência em políticas estruturais,
visando minimizar o acesso técnico e social dos grupos mais pobres (CAMPOS, 2006). Setti
et al. (2000) fala a respeito da cidadania ambiental, considerando que a questão ambiental é
inerente ao social, seus conflitos gerados pelas desigualdades ultrapassam a esfera de atu-
ação exclusiva do poder público. O autor aponta para a relação essencial que deve haver
entre todos os agentes envolvidos, aprofundando a racionalidade de convivência e emanci-
pação, indo contra as estratégias de controle e dominação; esta condição de agressão ao
meio ambiente está ligada, ainda sob análises do autor, à injustiça e relação entre os grupos
dominantes e dominados. Pode-se aludir tal fato às condições educacionais; o gráfico 38
mostra tal condição a respeito do Complexo da Maré.
Gráfico 38. Índice de analfabetismo no Complexo da Maré.
Fonte: Elaboração própria, a partir de IBGE, 1991; id., 2000 (in PCRJ Armazém de Dados).
A taxa de analfabetismo como observado, tem decaído ao longo do tempo no Com-
plexo da Maré. A referida alusão convém com a questão da dissociação da responsabilidade
dos sujeitos envolvidos e a gestão ambiental, onde a racionalidade não leva em conta os
valores inseridos na natureza (ROSSO e DIAS, 2005). Inserido neste contexto de atuação
do Estado/poder público x sociedade, conforme tratado no tópico anterior, remete-se a uma
análise dialética de todo este cenário.
O presente estudo não pretende tratar a questão das favelas como única e exclusi-
vamente vítima do cenário global. de se expor aqui a atuação de parte da população
0%
5%
10%
15%
20%
25%
1991
2000
Percentual de crianças de 7 a
14 anos analfabetos
Percentual de crianças de 10
a 14 anos analfabetos
Percentual de adolescentes
de 15 a 17 anos analfabetos
Percentual de jovens de 18 a
24 anos analfabetos
Percentual de pessoas de 15
anos ou mais analfabetos
Percentual de pessoas de 25
anos ou mais analfabetos
184
moradora de favelas, daí a conotação dialética. Esta atua de forma dúbia e contraditória em
alguns casos, ou seja, ao mesmo tempo em que se reclama por algum direito (ex.: sanea-
mento básico), os mesmos atores contribuem negativamente para o que foi reclamado (ex.:
disposição inadequada de lixo, principalmente em rios e ruas, levando em conta a existência
de coleta por parte do poder público). Passa a ser repetitiva a transferência de responsabili-
dades, com uma parte da sociedade que reclama pelo bem-estar social e ambiental e, con-
comitantemente, não se dispõe a realizar tais práticas e mantê-las e acusa o poder público,
e vice-versa.
As constatações supracitadas foram possíveis por meio de pesquisa e observação
de campo parte da metodologia adotada para o presente estudo. Estes meios foram fer-
ramentas de fundamental importância, pois através dos mesmos foi viável o estudo in locus,
captando informações e opiniões de alguns moradores, avaliando seu contexto, postura e
hábitos diários, conduzindo a reflexões concretas e concisas quanto à complexa e paradoxal
relação entre esta parte da sociedade e seu entorno.
Um estudo feito por Passos (2003), no Complexo da Maré, aponta que a própria po-
pulação moradora reconhece que disposição inadequada de lixo por parte dela, conferin-
do o índice de 73,48% de pessoas que cometem tal ato. Além disto, apenas 10,54% da po-
pulação entrevistada no estudo do autor mencionado (em um universo de 313 moradores
entrevistados) conheciam a tarifa social da CEDAE. A partir disto, é possível observar a
comunicação por parte da concessionária e poder público, os quais não insistem e persis-
tem em ações de conscientização e divulgação dos programas sociais; também, a própria
população (não total) reconhece as contradições vividas por parte de seus habitantes. Se-
gundo o estudo de Passos (2003) e observação do espaço em análise, um dos principais
problemas no Complexo da Maré está atrelado ao lixo (figura 62).
185
a)
b)
186
c)
d)
Figura 62. Compilação de imagens sobre disposição de lixo na Maré: a) Canal em Rubens Vaz assoreado
por lixos; b) Remoção de lixo em Pinheiro; c) e d) Remoção de lixo em um córrego que perpassa o Morro
do Timbau e Pinheiro.
Fonte: Acervo do autor, 2009.
187
Conforme observado nas imagens anteriores, a alta taxa de disposição inadequada
de lixo no Complexo da Maré é fato no cotidiano desta população. Este cenário nos conduz
à análise dialética do foco deste estudo. Relacionar estas ações contraditórias por parte dos
moradores da Maré com a educação e/ou cultura é algo complexo, pois não somente as
classes sociais pobres, mas também as ricas possuem suas contradições e vivem de forma
ambígua no que tange a questão de relação homem x natureza. Para isso, vale a reflexão
feita por Loureiro (2007), a partir de Adorno (1992), quando fala da semiformação cultural do
ser humano:
[...] a formação (Bildung) tem como fim tornar os indivíduos aptos a se afirmarem como racio-
nais em uma sociedade racional e a existirem como seres livres em uma sociedade livre. No
entanto, a Bildung é ambígua, pois nela o indivíduo tanto se adapta à realidade social, refor-
çando e reproduzindo o mundo que o danifica, como também pode resistir à adaptação cega,
ahistórica e sem compromisso com a auto-reflexão crítica. A prevalência de uma formação cul-
tural unilateral, de acomodação ao existente que se esquece que ―seu sentido próprio não pode
se separar da implantação das coisas humanas‖, promove uma formação regressiva ou [...] de
semiformação. Apesar de toda ilustração e informação que se difundem, a formação cultural na
sociedade administrada se converte em semiformação. (LOUREIRO, op. cit.).
A semiformação é algo intrínseco à sociedade; sua profundidade é parte da relação
teórico-pragmática do homem. O contexto supracitado reflete isto, e não somente o mencio-
nado, mas, de certa forma, boa parte deste estudo, onde a teoria ainda se encontra em es-
tágio mais avançado que o pragmatismo. de se romper com esta condição, expandir os
conhecimentos e experiências conquistadas, buscar a práxis verdadeira, fugindo desta
pseudo-atividade (Ibid.), erradicar o pensamento dominante hegemônico que atua no senti-
do de impedir a construção do conhecimento autônomo e crítico. Assim, pode se observar
estas ações, onde os reclamantes e interessados contribuem, paradoxalmente, para uma
perpetuação de seus problemas. A favela não pode, então, ser observada apenas a partir de
seu locus, mas sim de forma ampla, integrada e crítica, levando em conta, também, a postu-
ra de seus atores envolvidos.
Contudo, não deve ser atentado apenas este segmento de análise, visto que a favela
é produto da formação contraditória da cidade como um todo. A geografia da metrópole flu-
minense é clássica, onde forma-se o centro e, a partir deste, decorre os gradientes da dife-
rença social até sua periferia, em boa parte dos pontos de observância. Entretanto, alguns
destes pontos fogem da tendência, com a presença de favelas próximas aos centros e regi-
ões elitizadas, combinando distância social com proximidade física (PCRJ, 2001b). A produ-
ção do espaço geográfico ocorre de forma associada às relações políticas, econômicas,
ambientais, culturais e sociais. A dinamização na busca por diferentes caminhos de sobrevi-
vência, contemplando o futuro, fugindo da prisão cotidiana, é característica da classe pobre.
É a vitória da individualidade refortalecida (SANTOS, 2002).
188
Dentro deste contexto, a marginalização da favela passa a assumir importância, pois
é vista como ―ferida cancerígena no belo corpo da cidade‖ (PCRJ, 2003b). Este era o senso
comum de maior parte da população, legitimada por pensadores e cientistas sociais, outrora
usado como justificativa para erradicação das favelas por parte do poder público. Este senso
comum se tornou um conceito ideológico, o qual, posteriormente foi criticado por vários es-
critores (Alejandro Pontes, Jose Nun Anibal Quijano, Manuel Castells, Florestan Fernandes).
Tais trabalhos foram importantes, pois mostravam o estereótipo imposto às favelas, limitan-
do seu eixo de observação apenas à questão da marginalidade, déficits, deficiências, desor-
ganização e patologias. A partir dos anos de 1970, a teoria da marginalidade passou a ser
desconstruída, dando início aos conceitos de inclusão/exclusão social, desigualdade, injusti-
ça e segregação espacial (Ibid.).
Atualmente, com a questão do tráfico de drogas instalada nas favelas, seus morado-
res acabam sendo associado ao mesmo, um erro comum assistido no Rio de Janeiro; dentro
da própria favela a distinção entre trabalhadores e ―movimento‖ (traficantes). Todavia, a
mídia não aborda desta forma e mesmo os trabalhadores todos o subjugados a um
conceito determinista e totalizador, não havendo definições claras e uma contumácia quanto
a este cenário. Na verdade, em alusão a Santos (2005), o qual apresenta a técnica hege-
mônica como fruto da ciência, esta santificada como pensamento único as soluções cria-
das são apresentadas como únicas, garantindo poder aos seus criadores ; este mesmo
pensamento conduz à reflexão da ideologia passada pela mídia, a qual é grande formadora
de opiniões, apresentando a favela como algo impossível de se resolver e como o câncer
da cidade, a barreiraao processo de modernização, enquanto a própria favela é fruto das
contradições da formação da cidade. Santos (Ibid.) ainda aponta para a ciência que se inse-
re nesta condição de reprodução ideológica, se distanciando da busca pela ―verdade‖. Con-
tudo, o presente estudo almeja contribuir cientificamente para o pensamento autônomo,
buscando ruir com o reproducionismo hegemônico e, de forma dialética, analisar e refletir as
condições complexas e, por certas vezes, paradoxais de uma população e seu meio.
Vale atentar para o fato que, atualmente, mesmo com o papel de destaque que as-
sumiram as favelas, o discurso estatal mudou, dando mais atenção, estudando as favelas,
atrelando características culturais, contudo a postura e tratamento continuam o mesmo, tan-
to por parte do Estado quanto das elites urbanas: repressão e negação às favelas. O espaço
urbano passa a refletir as desigualdades da sociedade contemporânea e suas formas con-
traditórias de produção capitalista (NASCIMENTO, M., 2009).
A urbanização completa da sociedade se deu antes do capitalismo, mas, atualmente,
está inserida nos domínios industriais, burgueses e capitais. Seu avanço é foco de inúmeras
observâncias, transformando e moldando padrões e condições sociais, destruindo o meio
ambiente, sendo gênese de contradições no sistema de produção capitalista impulsiona o
189
capital, mas tende a fragmentar, com conflitos sociais, políticos, econômicos, culturais, am-
bientais, entre outros, iniciados a partir de si ; a estratégia assumida é sua progressão ―sob
forma apropriada ao desenvolvimento humano integral e como lei reguladora da produção
social‖ (LEFEBVRE, 2001). Neste contexto, as condicionantes de mercado passam a gerir
as políticas públicas. Assim, no plano teórico-reflexivo, a cidade se insere e evolui segundo
os moldes de produção capitalista, destruindo o meio ambiente e reconstruindo-o a partir de
seus interesses, aplicando seus discursos ideológicos e justificando as degradações a partir
de sua periferia, da população com menores poderes políticos e de mídia.
A gestão integrada das águas urbanas deve ser interdisciplinar e intersetorial, para
contribuir e possibilitar a sustentabilidade do respectivo cenário. Experiências nos EUA, pela
Agência de Proteção Ambiental, envolvem os municípios e estabelecem metas a serem
conquistadas por meio de medidas estruturais e não-estruturais por estes, assim, o próprio
município envolve sua população, pois a pena é a ação judicial por parte da Agência contra
o mesmo. Já na França, estas metas são delegadas pelos Comitês de Bacia, que consistem
em medidas semelhantes. Um instrumento de valor é a atuação preventiva no desenvolvi-
mento urbano, pois reduz os custos a serem aplicados, visto que a situação não será ele-
mento surpresa para a gestão (TUCCI, 2005).
Estudos contemporâneos que se destacam neste âmbito são: o Projeto Pró-USO e o
Projeto Guardião de Rios, ambos envolvendo a população local com a questão ambiental. O
Pró-USO foi um Projeto elaborado pela docente Thereza Rosso, D.Sc., da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o qual foi instalado no Campus Regional de Resende
(campi da UERJ). O Projeto prevê ações para contornar a escassez de água e seu desper-
dício, ampliando sistemas de captação e tratamento, implementando tecnologias economi-
zadoras de água e conscientização da população no racionamento do insumo. Ações estru-
turais e não-estruturais foram executadas: reformas em instalações hidrossanitárias existen-
tes; uso de fontes alternativas de água para fins não potáveis (águas pluviais), reduzindo o
consumo da água tratada; educação ambiental e conscientização quanto o consumo de á-
gua; seminários informativos e discursivos; divulgação do Projeto através de cartilhas, carta-
zes e CD-ROM. O Projeto envolve estudantes do campus, funcionários, população local e
entorno, buscando viabilizar a sustentabilidade e cuidados ao meio ambiente. o Projeto
Guardião de Rios, coordenado pela PCRJ, Secretaria de Meio Ambiente, atua na limpeza e
conservação de corpos dricos da cidade do Rio de Janeiro, com o diferencial de focar nas
áreas que atravessam favelas. O Guardião de Rios tem sua estratégia de desempenho en-
volvendo os moradores locais, enquadrando-os em seu quadro técnico-funcional, o que ga-
rante melhor resultado social ao programa, considerando que as pessoas envolvidas terão
vivência e experiência com a questão ambiental, sendo educadas e reproduzindo tal conhe-
cimento aos demais moradores da ―comunidade‖; direta e indiretamente as pessoas envol-
190
vidas contribuem para a causa ambiental, por meio da capilaridade social atrelada ao Proje-
to.
A integração institucional não pode deixar de lado a integração social, onde todos os
atores e agentes envolvidos se juntam para discutir e atuar coletivamente, buscando a solu-
ção dos problemas em pauta. Faz-se necessário a construção educativa e organizada de
instâncias que perpetuarão as ações já realizadas e serão responsáveis por reclamar e gerir
os planejamentos e/ou investimentos realizados em suas regiões. Horieste Gomes (1988),
em análise sobre a relação homem x natureza, já afirmava:
Sabemos que o desenvolvimento harmônico de uma sociedade depende, basicamente, de
uma biosfera sadia como sistema integrado e auto-regulado suficiente para dar continuidade a
sua reprodução nova se, o homem no processo de sua produção material respeitar as suas leis
de funcionamento e evolução. Para tanto, há que se pautar por uma conduta superior orientada
no sentido de tornar consciente e planificada a relação interdependente Homem-Natureza, a
fim de que se possa criar um meio propício nos parâmetros naturais e sociais à vivência
dos seres vivos (in AB’SABER et al., 1988).
Não deve haver dissociação entre natureza e cultura, entre ciência e política, a qual
gera o paradoxo da modernidade, onde os pensamentos não são interligados e acabam por
não construir um conhecimento conjunto (SANTOS, 2002). Doravante, a questão ambiental
conduz a uma retomada da reflexão holística por parte do ser humano quanto ao seu meio e
sua relação com o mesmo. A conscientização é um dos principais passos a serem tomados;
a auto-análise e a autocrítica são instrumentos de total vigor para auxiliar o homem a não se
estagnar em uma condição de comodismo e transferência de responsabilidades, no intuito
de se ausentar das mesmas e, posteriormente, reclamar por estas.
191
CAPÍTULO 7. CONCLUSÕES E PROPOSIÇÕES
Listados os temas e suas relações e co-relações, o presente capítulo se dispõe a es-
boçar as conclusões e respectivas proposições a respeito deste estudo. A profunda análise
bibliográfica, teórica, filosófica, conceitual e reflexiva realizada aqui se justapõe com a im-
portância da questão homem x meio ambiente.
A ciência, como formadora de conceitos e ideologias, passa a ser reavaliada, na ten-
tativa de tratar todos os seus nuances, buscando nortear este estudo para uma contribuição
ampla, não se atendo apenas ao eixo científico positivista muitas das vezes pregado na
academia , mas social, cultural, ideológico, ambiental e econômico.
Os aspectos sociais e culturais da água, além dos econômicos e ambientais que são
abordados mais freqüentemente, configuram importantes fontes de informações para aque-
les que estão à frente de planejamentos e gerências dos recursos hídricos. Estes ―diferen-
tes‖ e inter-relacionados aspectos são responsáveis por inúmeras ações e decisões quando
analisados e estudados de forma ampla e conjunta, formulando práticas que definem o uso
da água.
7.1. Conclusões
O estudo sobre a complexidade sócio-ambiental, atrelada aos recursos hídricos e fa-
velas com atenção dedicada ao Complexo da Maré , alçando detalhes e fatos históricos
para formulação de um entendimento amplo e interligado, revela uma posição diferenciada e
construtiva para a esfera acadêmica, científica, política, social e ambiental. Experiências
passadas do país demonstram a importância de tais setores serem analisados e estudados
de forma conjunta, mantendo suas relações com o presente e alicerçando proposições per-
tinentes e derivadas deste tipo de reflexão; constituindo imperativo para o desenvolvimento
sócio-ambiental da sociedade, fornecendo subsídios para futuros projetos e planejamentos.
Explanações e abordagens dos recursos hídricos brasileiros, relacionados com con-
dições sociais particulares favelas e seus temas derivados, inseridos em uma contextua-
lização histórica, conceitual e filosófica ainda são focos de pouco estudo. O desenvolvimen-
to nesta área é necessário para compreensão do cenário atual, lendo-o a partir de seu pas-
sado e suas experiências anteriores de sucesso, fazendo um resgate da vitalidade ambien-
tal e humana, não separando as atmosferas intelectuais, fomentando um novo viés quanto
ao tema.
Cidades como Rio de Janeiro, que compõe o quadro de destaques brasileiro, por seu
elevado crescimento econômico e demográfico, constituem singulares condições sócio-
192
ambientais, com problemas acumulados quando analisados historicamente. A disponibilida-
de drica no Estado em pauta se encontra, em algumas localidades, em condições de
estresse. Mesmo com normas, veis adequados, legislação e diretrizes em vigor, tanto a
nível federal quanto estadual, uma questão explícita como o problema de esgotos e sanea-
mento ratifica a real condição a qual se encontra o Brasil e o Rio de Janeiro. O funciona-
mento dos instrumentos de proteção ambiental não é eficaz, reduzindo a utilização de cor-
pos hídricos e acentuando a condição de escassez. A PNRH e a PERHI, além do auxílio do
CONAMA, fortalecem a promoção de uma relação sustentável entre homem e recursos hí-
dricos, estabelecendo limites e fomentando uma gestão qualificada e eficaz. O Plano Diretor
da Cidade do Rio de Janeiro também atua como importante instrumento ambiental, com
suas propostas de recuperação ambiental, considerando suas prioridades, visando controlar
e manter os resultados obtidos. Entretanto, o que ainda é passivo de observação são as
falhas de fiscalização pelos órgãos responsáveis, afetando o desempenho institucional e,
conseqüentemente, industrial e social.
Fica claro que os custos de intervenções em corpos hídricos poluídos é mais ele-
vado que aqueles limpos, além de resultados e retorno sobre a qualidade de vida humana
mais morosos. uma necessidade de revisão conceitual e prática, envolvendo toda a so-
ciedade, expondo o conhecimento para a situação e cenário hídrico, garantindo a conscien-
tização sobre a prevenção dos recursos hídricos e elencando as vantagens sobre a mesma.
Mesmo o Rio de Janeiro avançando significativamente no seu saneamento, por meio
de programas estaduais e federais, o contexto ambiental global do Estado não acompanha
tais resultados. A degradação de ambientes aquáticos, corpos hídricos, córregos, mananci-
ais, acusa a limitada e conturbada progressão ambiental a qual vem vivendo o Estado; a
consistência dos avanços deve ser estruturada técnica e conceitualmente, gerindo e plane-
jando integradamente os ecossistemas urbanos e aquáticos, estes envolvidos num sistema
ambiental e suas relações antropogênicas. Em áreas de baixa renda, o saneamento está
substancialmente oferecido e os resultados, no âmbito da saúde humana, são superiores
aos de cunho médico, uma vez que a causa de inúmeras doenças é tratada em sua raiz.
A água representa forte aspecto na determinação de comportamentos sociais, assim
também como, devido à consciência passada de que a água lava tudo, a deposição de lixos
em rios, ruas e praias era costumeira, enfatizando tal pensamento e comportamento. É his-
tórica a condição de abastecimento de água e/ou acesso a sua utilização condicionada ao
poder do diferentes segmentos sociais; no passado brasileiro, as camadas com pode aquisi-
tivo compravam água na porta de casa, enquanto os mais pobres haviam de buscar nas
bicas e poços públicos, com longos trajetos e, freqüentemente, sob disputa pelo recurso.
Sob este cenário, a política de uso e ocupação do solo é a que mais se aproxima en-
tre os recursos hídricos (abastecimento, saneamento, entre outros) e o meio urbano (e suas
193
contradições sociais), buscando (ou não, em alguns momentos) o equilíbrio entre estes a-
gentes, promovendo os diversos usos do recurso, definindo as atividades possíveis a partir
do mesmo, os tipos de edificações e estabelecimentos, sua infra-estrutura e seus impactos
posteriores sobre o meio ambiente. O Plano Diretor, neste aspecto, se mostra como instru-
mento de forte intervenção, complementando as ações políticas do governo estatal a fim de
evitar a degradação ambiental, social, econômica, política e cultural por meio da urbaniza-
ção. O o-cumprimento destas políticas fomenta os conflitos administrativos e estilhaça o
poder de ação articulada a outras esferas e setores de atuação, levando em conta que irão
atentar seus interesses de forma umbilical, fora de uma consciência conjunta e estrutural.
A modelagem de sistemas ambientais e administrativos implica em uma nova abor-
dagem, sendo integrada e sistêmica, a fim de gerir adequadamente o meio e seu entorno,
suas externalidades, estabelecendo prioridades espaços-temporais e obedecendo a hierar-
quia energética e material. O processo de urbanização fugiu o controle devido a não-
integração das soluções propostas, focando-se apenas em soluções locais e individuais,
não observando o entorno; o planejamento urbano ambiental deve avançar de forma a erra-
dicar os erros passados e, através destas experiências, alavancar novos procedimentos,
diretrizes e gestão do homem x natureza, não caindo no jogo de interesses políticos e eco-
nômicos. Esta inconsistência alcançou tamanha exposição que, no contexto hodierno, as
questões e problemas sócio-ambientais são temas de debate em todos os segmentos da
sociedade, remetendo contraditoriamente às ações políticas do poder público, o qual fora
responsável, no passado, por não aplicar ações conjuntas e se ater ao locus.
Essa exposição é construtiva e necessária, não somente, também divulgação deta-
lhada dos problemas e suas dimensões, chamando atenção da importância de compreen-
são e responsabilidade por parte de toda a sociedade. Conforme dissertado neste estudo, a
transferência de responsabilidades não deve ser progressiva e de ser erradicada, ou se-
ja, todos devem cuidar de seu meio e entorno, de forma sistêmica e coletiva, não reproduzir
erros outrora cometidos, utilizando meios de comunicação para multiplicar suas ações e
abrangência dos problemas envolvidos, disciplinando toda a comunidade e envolvendo-a
em participação, dentro de suas possibilidades específicas.
O contínuo progresso na legislação ambiental tem contribuído pertinentemente às
mudanças de comportamento frente à poluição urbana e seus problemas sócio-ambientais,
fomentando relativamente suas formas de correção. Ainda existe deficiência nestas ações,
posturas, comportamentos, os quais têm sido executados de formas isoladas por alguns
grupos, valorizando os sistemas ecológicos, sociais e econômicos, não acontecendo de
forma regional e/ou generalizada; definitivamente de se estabelecer relações de parceria
entre poder público, população, indústrias, organizações não-governamentais, entre outros,
fechando o ciclo de mobilização e atingindo uma meta e objetivo em comum. A própria au-
194
sência de ações governamentais promove maior reflexão por parte da população, atentando
para seus problemas ambientais e, em alguns episódios, conseguindo relacioná-los com sua
saúde. Assim, torna-se precípuo o fator de conscientização e participação local, servindo
como agente multiplicador e integrador, flexibilizando e descentralizando a problemática em
pauta; o não envolvimento da população local, ora pelo poder público, ora pelas empresas,
acarretará em uma relação estritamente econômica e de interesses, não havendo a con-
templação espaço-territorial das possíveis soluções e as responsabilidades atribuídas a ca-
da um.
A questão do saneamento, em ênfase nas discussões da gestão ambiental e sanitá-
ria federal e estadual, ainda não está completamente relacionada à educação, ou seja, uma
medida será amplamente eficaz levando em conta os hábitos e costumes do ho-
mem/população local. A atuação dos sistemas ambientais deve envolver todos os agentes,
considerando as influências e representatividades acerca dos variados setores da socieda-
de, assim como sua participação na pré, presente e pós-realização de programas, planeja-
mentos e ações, gerenciando os investimentos e operações a serem executados. A questão
da contradição ―popular‖ alarmada pela mídia ainda é fato: ligações clandestinas de água e
energia elétrica o encontradas com demasiada freqüência em ―comunidades‖ de baixa
renda e, também, em condomínios de luxo em áreas elitizadas do Rio de Janeiro; daí a ne-
cessidade de integrar o sistema ambiental à educação e conscientização humana, para
conquistar resultados efetivos e preservá-los contínuos. Essas práticas necessitam, inexora-
velmente, de técnicos e educadores especializados e capacitados para intervir no local, ex-
pondo as relações e co-relações que o setor ambiental possui com a saúde, cultura, cidada-
nia, higiene, economia, entre outros, almejando a erradicação das condicionantes ilegais
instaladas.
A busca no melhor aproveitamento de água e racionamento de seu consumo tem ge-
rado diversos estudos e soluções tecnológicas para o setor, visando aperfeiçoar o sistema.
As águas domésticas tem sido foco de ações e projetos tecnológicos, tendo em vista que o
consumo com descargas de água pode chegar até 30% do consumo total de águas prediais;
bacias sanitárias, mictórios a seco, reuso de águas residuárias, entre outros são estudos
que tem evoluído e sendo amplamente difundido no cenário ambiental. boa expectativa
no cenário sócio-ambiental quanto a isto; uma reavaliação dos conceitos, necessidade de
racionalização, saneamento, tratamento de esgotos e usos prioritários têm convergido em
desenvolvimento de novas tecnologias e pautas de gestão dos recursosdricos brasileiro.
O problema da escassez da água pode ser relacionado diretamente com sua quali-
dade, visto que seu consumo em quantidade não a deteriora completamente, mas sim os
resíduos que nela são misturados para diluição, disposição, entre outros fatores impactantes
como compostos químicos, orgânicos, inorgânicos, pesticidas, agrotóxicos, lixo, esgoto. O
195
reuso de águas se torna cada vez mais imponente, visto que o uso de água potável para
esgotamento sanitário é inviável, observando as condições de disponibilidade e demanda
pelos recursos hídricos; o tratamento efetivo de esgotos é fundamental, associado à capaci-
dade de ponderar os resíduos sólidos e líquidos na gestão dos recursos hídricos.
Nas favelas, o problema se torna mais delicado, pois se insere em uma complexida-
de social e ambiental, considerando que parte dos moradores possui condições precárias de
vida e, por vezes, não possuem renda suficiente para pagar por sua alimentação, água e
energia elétrica. Daí o intuito deste estudo ratificar tal complexidade, pois, ausentando a
dialética da transferência de responsabilidades e inércia, alguns habitantes, verdadeiramen-
te, não possuem condições de sobrevivência até mesmo com o mínimo cobrado. Assim,
de se fazer uma releitura, o problema não é exclusivamente ambiental, o abastecimento e
saneamento já alcança boa parte do Complexo da Maré e outras favelas do Rio de Janeiro;
seu maior desafio consiste na cobrança pelos serviços prestados, pela erradicação de liga-
ções ilegais e conscientização da população. A dialética sócio-ambiental é fator presente
nestas ―comunidades‖, devendo haver um persistente e consistente trabalho de educação
ambiental, cultural e social, promovendo e envolvendo toda a população aos cuidados de
seu meio e dos recursos utilizados. Estudos de condições atuais dos sistemas, viabilidade
de novos programas, intervenções, devem se manterem ativos a fim de assegurar bases
eficazes para implantações de novas ações nestas regiões; estes programas e ações pro-
postos devem agir de forma ampla, não sendo local, buscando solucionar os problemas em
suas origens que por vezes não tem sua gênese na ―comunidade‖ em foco.
A gestão ambiental e urbana voltada para os recursos hídricos, embasadas pela
PNRH e PERHI, devem atentar seus esforços para o ciclo hidrológico e as atividades de-
senvolvidas nos centros urbanos, monitorando as fontes poluidoras, poluentes, mananciais,
rios, córregos, gerando e fornecendo informações pertinentes que permitam a implantação
de níveis e metas de qualidade hídrica, agregados a minimização dos impactos ambientais e
sociais gerados. A esfera ambiental deve estar associada à urbana, atuando integradamente
na conturbada, contraditória, sistêmica e complexa área de atuação de interesses econômi-
cos, sociais e políticos que é a cidade. A questão ambiental obterá resultados de formas
diferenciadas, observando a estrutura espaço-temporal de cada local e/ou região, variando
segundo suas condições culturais, econômicas, ambientais, políticas, entre outros, condu-
zindo a retornos diversificados sobre a defesa do meio ambiente.
Os ambientes aquáticos configuram importante fonte de diversificadas aplicações,
desempenhando papel recreativo, ambiental, econômico, social, paisagístico, psicológico,
entre outros. Pesquisas desenvolvidas por grupos acadêmicos e científicos apresentadas
pela mídia, revistas científicas, jornais de circulação em massa comprovam o poder rela-
xante das águas, aumentando a qualidade de vida apenas por sua presença e paisagem
196
contraposta à cidade; além, os ambientes aquáticos contribuem como fontes práticas de
didática aplicada, educação ambiental, estratégias de planejamento urbano e ambiental,
entre outras funções e possibilidades de usufruir sustentavelmente deste recurso.
A pesquisa bibliográfica realizada mostrou o problema de estudos ambientais e soci-
ais (não generalizando) sendo tratados de formas dissociadas; o escopo global seja ele
ambiental e/ou social é apresentado e aceito, no entanto, em contradição, as propostas
são parciais, paliativas, locais e isoladas quando realizadas. Os programas habitacionais,
sociais, ambientais e educativos têm aumentado seu número, com novos investimentos,
porém com antigas ações e estratégias, culminando em uma estagnação qualitativa; não se
pode, todavia, simplesmente ignorar estes investimentos, pois seus esforços são válidos,
mas há de se romper com as práticas e estratégias dominantes e repetitivas, alcançar novas
metodologias e práticas eficazes, abolindo as soluções temporárias.
As ações e estratégias, aplicadas nas favelas, devem ser qualitativas, não apenas
quantitativas. Uma forma de melhor gerir e aplicar tais investimentos é respeitar as especifi-
cidades de cada ―comunidade‖, sua cultura, educação, formação social, espaço geográfico,
viabilizando múltiplos caminhos de atuação e diferentes, porém concisos, resultados. O pla-
nejamento e gerenciamento dos recursos hídricos, considerando seus múltiplos usos, deve
superar as limitações institucionais e governamentais, por meio de permeabilidade social e
ambiental, conduzindo toda a sociedade a um objetivo comum.
O conceito de estudos sócio-ambientais avança para a consolidação de um novo pa-
radigma, um viés sistêmico e integrado, observando seus focos a partir da abordagem holís-
tica. O desafio ainda se encontra na praticidade das idéias teorizadas; os ambientes hidroló-
gicos e urbanos são de delicada análise, visto sua complexidade, principalmente quando
atrelada às favelas, onde as nuances culturais e econômicas são abstrusas. A análise histó-
rica, nacional e estadual, forneceu valiosas informações e a possibilidade de integrá-las,
revelando a desordem instituída desde os primórdios exploradores do país e Estado. Com
um passado social e ambientalmente conturbado exploração desenfreada e crescimento
desordenado da população , o modelo desenvolvimentista aplicado no país ainda é inviá-
vel, com urbanização intensa e degradação ambiental, sob a justificativa do ―progresso‖; as
favelas são reflexos e conseqüências desta inviabilidade, expondo o modelo baseado na
acumulação de capital, onde o direito a cidade é concedido apenas a alguns, criando os
espaços legais e ilegais, com suas relações e co-relações estabelecidas aos recursos hídri-
cos.
Paradoxalmente, justamente nestas áreas de baixa renda, favelas, ―comunidades‖, e
suas outras inúmeras conceituações, a ruptura com o paradigma teórico-filosófico e o prag-
matismo em vigor se torna gradativa e escalonar, contemplando a complexidade inerente,
norteando os esforços realizados para uma trajetória interdisciplinar e intersetorial, conside-
197
rando tempo, espaço, características locais, de forma a estabelecer resultados significativos
e progressivos. Tal questão tem como premissa o distanciamento da teoria e proximidade
da prática, o envolvimento entre sujeito e objeto; a compreensão conjunta da problemática
estudada se mostra como marco acadêmico-científico, sob a filosofia holística e seus precei-
tos, analisando e interpretando inúmeros agentes e setores envolvidos, buscando elencar
proposições pertinentes e convenientes.
A concepção global e integrada a respeito dos sistemas sociais e ambientais caracte-
riza uma nova compreensão de mundo, incentivando o meio acadêmico e científico a reava-
liar suas convicções teórico-epistemológicas, desenvolvendo estudos nesta linha de pensa-
mento cada vez mais freqüentes. O raciocínio e entendimento interdependente entre os va-
riados setores, subjugados ao complexo cenário urbano-ambiental, admite melhor e mais
real a percepção da estrutura social e seus agentes envolvidos, os quais são responsáveis
pelas alterações ambientais, espaciais e temporais; a concepção interdisciplinar se trans-
forma num importante instrumento ambiental, orientando com maior eficácia as ações políti-
cas e a dinamização dos sistemas urbanos. Ademais, é mister que toda a sociedade, além
da comunidade acadêmica e científica, mudem suas opiniões e concepções quanto as rela-
ções homem x natureza; a transformação deve, neste ponto, deve ser individual e, em outro
estágio, coletiva, estabelecendo novos hábitos e entendimentos a respeito de seu próprio
comportamento com seu entorno, fortalecendo o respeito às legislações ambientais vigentes
e cuidando do ambiente tendo a qualidade de vida intrínseca e inexorável à esta relação.
Cabe ao poder público extinguir as relações comerciais que se derivam a partir deste cená-
rio, concebendo com honestidade suas preocupações com os recursos dricos e o meio
ambiente, omisso de interesses capitais diretos e indiretos, promovendo sustentabilidade
hídrica por meio de intervenções justas, livre de conflitos institucionais e políticos, ratificando
a necessidade destes à vida humana.
A recuperação e documentação das experiências passadas, contextualizadas em
sua história, calcadas de análise integrada, não dissociando o social, cultural, econômico,
político e ambiental, compreendem subsídios para formulações e concepções de futuros
projetos e sistemas. Não se pretende, por meio deste estudo, esgotar o tema tratado, mas
contribuir para que o mesmo venha evoluir cientificamente e tecnologicamente, cooptado às
nuances sócio-ambientais já expostas. Fica dissertada uma análise holística e conjunta, al-
mejando conduzir a reflexões teóricas e práticas, rompendo com paradigmas políticos e cul-
turais observados, traçando o objetivo e caminho a ser trilhado por um novo viés, no qual os
recursos dricos, o meio ambiente, o homem, todos são vistos como um, com suas rela-
ções e co-relações desencadeando reações sinérgicas, contudo sob possibilidades de pre-
venção e outras ações conexas ao tema.
198
7.2. Proposições
A eficácia de uma gestão sustentável dos recursos hídricos, amparada pela PNRH e
PERHI, assim como dos ideais de sustentabilidade (não conjunta aos interesses de acumu-
lação de capital) ambiental e social, conforme exposto no presente trabalho, é concordante
às concepções de otimização dos sistemas, racionalização dos recursos hídricos, conscien-
tização ambiental, reflexão teórico-conceitual, ruptura epistemológica, entre outras ações
que remetem a não continuidade das mesmas estratégias aplicadas e desperdício de inves-
timentos, contemplando soluções mais econômicas e plausíveis a partir do exposto.
O cenário contemporâneo tem contemplado persistentemente a questão ambiental
nos projetos e planejamentos desenvolvidos, com variados níveis de custos, a fim de mini-
mizarem os conflitos ambientais, os quais são extrapolados ao plano político, econômico e
social. Estes investimentos devem ser intrínsecos aos interesses da sociedade, uma vez
que condizem com sua própria condição de sobrevivência a longo prazo; alguns investimen-
tos ainda são aplicados de forma isolada, não havendo uma avaliação ambiental, sensibili-
zando sua capacidade operacional e conservação a posteriori, além de ser passivo de efeito
oposto, ou seja, sua intenção pode não ser contemplada e obter resultados inversos ao que
foi estrategicamente aplicado inicialmente.
O processo sócio-ambiental é interdependente das condicionantes tecnológicas, no
âmbito da operacionalização e controle sobre os sistemas existentes; há de ser rotineira a
prática destes aspectos para efetivo gerenciamento dos referidos sistemas. O ato de cons-
truir e manter é economicamente mais favorável à sustentabilidade e desenvolvimento social
que consertar algo existente como solução temporária, esta última observada por muitas
vezes na atuação do poder público e concessionárias responsáveis pelos recursos hídricos
no Estado.
O caso de ligações ilegais nas tubulações da CEDAE, observadas em favelas e tam-
bém em áreas elitizadas do Rio de Janeiro esta última com menos freqüência , deve ser
alvo de rigorosa fiscalização desde instalação das obras até após sua conclusão, havendo
intervenção constante na região com apoio do governo estadual. Entretanto, de ser rom-
pida com a prática simplória de não haver devido esclarecimento a respeito da intervenção
executada; seu efeito isolado não gera resultados significativos sua gestão, devendo ser
apresentadas justificativas e explicações coerentes e de impacto social, ambiental, econô-
mico e vital, expondo a dependência que toda a sociedade possui entre si, visto que ações
degradantes locais decorrem para o regional e, em devida escala, para o mundial. Quanto a
isso, a capacitação dos próprios funcionários e agentes responsáveis por esta intervenção é
fundamental, considerando que estes devem obter devido conhecimento primeiramente,
para repassá-los com devido vigor e alento. Este trabalho potencializa a redução de custos,
199
além de reflexão social, ambiental, cultural, funcional; o mesmo contribui como instrumento
de ação para redução da degradação dos recursos hídricos.
A questão do gerenciamento dos recursos hídricos, mediante a complexidade sócio-
ambiental observada no Complexo da Maré, sob a filosofia do holismo, é de grande investi-
mento e de necessária constância, não devendo ser retida ao poder público e concessioná-
rias, mas com a participação de toda a sociedade e população local, rompendo com as
transferências de responsabilidades e interesses cunhados na acumulação do capital.
Não se pode buscar apenas uma evolução ambiental no seu sentido único, mas sim
uma que integre a sociedade, principalmente aqueles que são excluídos, de certa forma, a
este acesso e, direta ou indiretamente, contribuem para uma condição morosa de progres-
so; não cabendo a estes a culpa por inteiro, pois como visto, esta condição de exclusão é
um instrumento de manipulação do capital. O desenvolvimento sustentável (não se atendo
ao conceito capitalista) e social é um grande desafio, cabe a todos os atores envolvidos se-
rem conscientes e, caso contrário, serem alcançados por aqueles que assim o são. Este
estudo, contudo, almeja contribuir para esta evolução sócio-ambientalista, sabendo-se dos
riscos e dificuldades de implantação das propostas científicas, sociais e institucionais apre-
sentadas.
Em resumo, pode-se conduzir às seguintes proposições:
Implementação total e eficaz da PNRH e PERHI;
Investimentos na proteção e gestão dos recursos dricos;
Retificação dos parâmetros de análise da qualidade dos corpos hídricos e sis-
tema de cobrança, tornando-os unificados e coesos;
Adoção de atitudes pró-ativas na gestão ambiental e urbana;
Integração da gestão dos recursos dricos federais e estaduais, buscando
uma melhor articulação e comunicação entre as diferentes esferas;
Investimentos na educação, buscando não formar cidadãos como, tam-
bém, jovens conscientizados com a questão ambiental;
Desenvolvimento e multiplicação da consciência ambiental, a nível funcional e
social, relacionando efeito e causa, com compreensão dos impactos gerados
e suas conseqüências;
Desenvolvimento de programas e ações regionais, levando em conta as es-
pecificidades de cada localidade;
Controle de uso e ocupação do solo, respeitando a cidadania;
Adoção de metas e controle da perda de água;
Racionalização do consumo de água;
200
Ações conjuntas sobre o monitoramento dos corpos dricos do Estado, fisca-
lizando e controlando seus usos, por parte do poder público (órgãos ambien-
tais responsáveis) e concessionárias de água, evitando danos ambientais e
estruturais;
Ampliação dos sistemas de abastecimento e saneamento, com meta de aten-
dimento generalizado da população fluminense principalmente em áreas fa-
velizadas , com priorização de recuperação dos sistemas instalados e de-
teriorados, sendo a primeira com amplo debate e disseminação cultural sobre
o cenário de demanda e disponibilidade hídrica;
Progressão na construção e instalação de sistemas de tratamento de esgo-
tos;
Programas alternativos de habitações populares, com acesso aos serviços
públicos e, também, condições sociais e econômicas adequadas para a ma-
nutenção pelos moradores ali instalados;
Melhor distribuição de renda;
Controle de natalidade através de programas educacionais;
Ações sociais locais e regionais, visando minimizar o radicalismo vil que apar-
ta um local/região de outros;
Capacitação profissional e técnica;
Gestão integrada multissetorial, articulando interesses e planejamentos en-
volvendo secretariais ambientais, de saúde, urbanas e rurais, sociais, educa-
cionais, poder público, concessionárias, empresas.
Disseminação do conhecimento técnico e científico á toda a sociedade, não
privando as partes deste, garantindo amplo acesso e utilizando-o como ins-
trumento integrador, social e libertário;
Sistema interdisciplinar quanto aos recursos hídricos e meio ambiente, abor-
dando a política de recursos hídricos, plano de recursos hídricos, gerencia-
mento de recursos hídricos, desenvolvimento econômico, expansão demográ-
fica, expansão agrícola, características regionais, sistemas tecnológicos, alte-
rações e contextos sociais, urbanização, perspectivas futuras quanto aos re-
cursos hídricos e naturais, num âmbito global;
Ruptura epistemológica e paradigmática, atrelando responsabilidade à toda a
sociedade, em suas atividades cotidianas quanto ao uso dos recursos hídri-
cos, buscando a transformação de comportamento e costumes, sob orienta-
ção educacional, social e cultural;
201
Torna-se fundamental as propostas supracitadas sob a ótica ambientalista conside-
rando que esta não exclui o meio social de seu cenário e atividades , remetendo a planos e
estratégias de melhoria da qualidade e quantidade de água, assim como saúde, economia e
condição humana. A preservação, recuperação e conservação dos corpos hídricos devem
fazer parte e estar integradas com as proposições aqui elencadas, para efeito totalizante
destas. A partir de experiências passadas e o histórico nacional e estadual, é possível definir
critérios e metas para um real desenvolvimento em equilíbrio com a sociedade e os recursos
naturais; de nada vale a acumulação do capital evidenciada neste estudo, uma vez que os
recursos hídricos, tal como o meio ambiente, são fatores que condicionam a existência hu-
mana e a tornam perpétua, devendo ser direito de todos o acesso à vida e ao seu meio, au-
sente de exclusões e interesses condicionados ao capital.
202
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