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acusações direcionadas às favelas, estas vistas como maiores causadoras; a região passou
a receber atenção prioritária. Assim, a etapa realizada foi a transferência das famílias que
moravam nas palafitas para os conjuntos habitacionais, gerando as primeiras favelas da
Maré: Morro do Timbau, Baixa do Sapateiro, Parque Maré, Parque Rubens Vaz, Parque
União e Nova Holanda. Não se pode deixar de citar que o período do Projeto-Rio foi de pro-
veito eleitoreiro, onde as obras eram realizadas parceladamente e/ou não tinham manuten-
ção, assim como das próprias associações que visavam atender seus próprios interesses;
este cenário foi criticado pelo jornal da região da época, o União da Maré, o qual disse em
uma de suas colunas:
Houve um momento nas discussões do Projeto Rio, em que o curso das negociações tomou
um caminho diferente da lógica estabelecida pelo próprio movimento. As diretorias das associ-
ações não ouviram mais as opiniões dos moradores. Passaram a decidir sozinhas, junto aos
órgãos do governo, aquilo que lhes parecia justo, mas o que mais satisfez aos seus interesses
particulares e de seus apaniguados. Hoje estamos desprezados por essas diretorias, que se
recusam a tomar qualquer iniciativa diante dos problemas mais comuns, debitando as respon-
sabilidades ao BNH. Ao mesmo tempo se arvoram em demonstrar seus prestígios junto aos ór-
gãos e funcionários dos governos federal e estadual. Tentam aparecer como vedete nas festas
e inaugurações administrativas. Transformam, aos poucos, as sedes das associações ―em cur-
rais eleitorais‖ dos maiores oportunistas e exploradores dos favelados. Trapaceiros habituados
a enganar os favelados com um caminhão de asfalto aqui, três canos de água ali, meia dúzia
de camisas acolá, limpeza de uma vala mais adiante e com pequenas obras apressadas e mal
feitas.Quando se aproxima a época das eleições esta safadeza se torna ainda maior, pois pre-
cisam dos nossos votos para se elegerem. Quando passa o pleito, as valas entopem, a água
enfraquece, a camisa rasga, o asfalto se arrebenta e nós continuamos no sufoco. (...) Esta aí o
exemplo dos conjuntos do Projeto-Rio. Os próprios responsáveis do Govêrno estão criando a
balburdia. Dividiram os apartamentos entre os Presidentes das Associações para serem entre-
gues aos seus apadrinhados. A Imprensa acaba de denunciar à opinião pública as trapaças
dos Presidentes das Associações da Área da Maré. Irresponsáveis e corruptos que jamais de-
veriam estar nos representando. É urgente uma atitude, da nossa parte, antes que êles ve-
nham a praticar outras irregularidades contra os interesses da coletividade favelada (UNIÃO
DA MARÉ, 1982, apud SILVA, C. R. R., 2006).
A evolução da ocupação da Maré pode ser visualizada através de imagens compara-
tivas (figura 58), assim como o esquema ilustrado em Varella et al. (2002) (figura 59). A
Maré não é apenas uma favela, mas sim um Complexo de Favelas, onde várias ―comunida-
des‖ estão reunidas. Inicialmente, a Maré era composta por seis ―comunidades‖ adjacentes,
porém com características diferentes em diversos aspectos – modo de ocupação, origem
dos moradores, organização geográfica, entre outros. Atualmente, a Maré se constitui de 16
―comunidades‖, estas aqui definidas por ordem de ocupação: Morro do Timbau (1940), Bai-
xa do Sapateiro (1947), Conjunto Marcílio Dias (1948), Parque da Maré (1953), Parque Ro-
quete Pinto (1955), Parque Rubens Vaz (1961), Parque União (1961), Nova Holanda (1962),
Praia de Ramos (1962), Conjunto Esperança (1982), Vila do João (1982), Vila do Pinheiro
(1989), Conjunto Pinheiro (1989), Conjunto Bento Ribeiro Dantas ou ―Fogo Cruzado‖ (1992),
Nova Maré (1996), Salsa e Merengue (2000), todas estas compondo uma população de
132.176 habitantes, abrigados em 38.273 domicílios (tabela 32), representando 2,26% da
população carioca (CEASM 2003).