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Vindo do Campo do Pires, já chegando ali, uns meninos ali na rua, penso assim, que
tristeza! E logo à frente, pouco antes do Via Ouro
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, um espaço enorme liberado,
tem um negócio lá que parece é da Conspar
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, cedido. Gente, pô, faz uma área de
lazer ali, faz umas quadras, libera isso aí né. Põe os meninos pra ficar brincando,
jogando bola, jogando vôlei, o que for, um parquinho, aquelas madeiras,
investimento pequeno, coisa besta. Agora fica ali aquela meninada no meio de pai
bebendo, outros se drogando, e aquela meninada fica vendo aquela cena, age por
imitação, é uma tristeza. Realmente é uma produção explosiva, eu temo muito.
(Rodrigo).
Nova Lima não tem espaço de lazer para o jovem, nenhum. Para você ter uma idéia,
quando eu falo em associação comunitária, quando a presidente de lá, que é super
ativa, eu ajudo a divulgar, falo, dou força, do jeito que eu posso, vou lá etc. Quando
ela faz uma sessão de vídeo lá, enche. Essa meninada quer fazer as coisas e não tem
atividade, tudo isso que a gente está falando faz parte de isso aí, você não tem, você
tirou os campinhos. Você vai no Galo aqui, você tem um bar ali em frente uma
pracinha que a meninada fica ali toda..., o dia inteiro, qualquer hora que você for lá
eles estão lá, não têm o que fazer. (Rita).
Atingidas pela privatização dos espaços de lazer junto à natureza e pelo processo de
segregação instalado no município, as crianças vêm restritos seu universo e suas
possibilidades de inscrição social.
Vendo pelo José de Almeida, as crianças observam, né, o bairro Ouro Velho , é um
condomínio que tem cancela. “Não posso passar, só podem passar determinadas
pessoas”, quer dizer, isso já é uma questão dura pras crianças do José de Almeida e
de bairros que também sofrem com esse tipo de coisa. Eu acho que criança não
deveria ver isto, isso cria uma revolta nas crianças, então não sei como processam
isso, como que tá sendo, como que a escola trabalha isto, se eles pensam isso, mas
enfim, eu acho que é uma questão a ser levantada e pensada, perguntar pros
meninos, o quê que eles sentem, o que eles acham, se eles não acham nada. (Mirtes).
Então assim quando você fala em juventude numa cidade como Nova Lima, que não
tem escola em tempo integral, eu não diria nem escola, educação em tempo integral,
o que fazer com esses meninos? Não tem, os campinhos foram fechados, você
perdeu o que tinha na infância da minha idade, da minha geração e não deu nada em
troca, você não tem espaço de lazer para a meninada, não tem nada! Você não tem
instrutores, porque você precisa de gente que leve as crianças, você não tem os guias
para fazer essa coisa aí, porque isso tudo pode ser promovido e não é promovido
uma vez na vida não, promovido como parte dessa educação que eu estou falando,
que tem que ser o tempo todo. (Rita).
O jovem daqui não tem, não tem o que fazer, não tem passeio, não tem um campo
bonito, não tem o que se fazer. A gente, quando era novo, a gente ia pra Rio Acima,
pra não sei onde, pra Banqueta, pro Rego dos Carrapatos pra nadar. Eu aprendi
nadar ali ... Nesse alto aí das Quintas Dois, pegava esterco, colhia flor do campo.
Então eu tive uma juventude e uma infância muito movimentadas, sabe, e meu pai,
minha mãe, a gente visitava os presépios e tudo, mexia com Pastorinhas
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. Então
hoje eu falo isso, os meninos não sabem, né? (Sara).
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Empresa de transporte lotada no município.
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Grande construtora lotada no município.
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Grupo de mulheres, vestidas de pastoras, que no período natalino se deslocava pela cidade, cantando e
dançando marchas alusivas à data, festejando o nascimento do deus- menino.