A Tríplice Fronteira na agenda de segurança dos Estados Unidos | 209
sobre a área de fronteira, representando-a como uma zona vinculada “de fato” (e
não só potencialmente) a grupos do terrorismo internacional.
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Esta nova dinâmica veio a ganhar contornos ainda mais nítidos durante mar-
ço de 2003, um período-chave na Guerra ao Terror norte-americana. À época os
Estados Unidos haviam preso recentemente Khalid Shaikh Mohammed, conside-
rado um mentor intelectual dos atentados de 11 de Setembro e o terceiro homem
na hierarquia da rede Al-Qaida. Além disso, o cenário internacional se encontrava
em momento de alta tensão às vésperas invasão do Iraque. No Brasil, a revista
VEJA publicava uma matéria na qual afirmava que tanto Osama bin Laden quanto
o mesmo Khalid Shaikh Mohammed, que fora preso no Paquistão e estivera na
Tríplice Fronteira em 1995 (JUNIOR, 2003). Somente foi confirmada oficialmente
a passagem Shaikh Mohammed pelo Brasil, embora a própria Comissão do Con-
gresso norte-americano sobre o 11/09 reconhecesse que nada indicava que essa
visita estivesse relacionada com o desenvolvimento de qualquer potencial ativida-
de terrorista (KEAN & HAMILTON, 2004: 148). Na Argentina, mais uma vez soa-
va o alerta do potencial “terceiro atentado”, agora devido ao início da invasão dos
Estados Unidos no Iraque. No Paraguai, diante de boatos surgidos a partir da dita
invasão, o embaixador norte-americano no Paraguai, John F. Keane, se apressava
em informar que os Estados Unidos não tinham planos de intervir na Tríplice
Fronteira (EE.UU. NO, 2003), sendo prontamente seguido por Curtis Struble, sub-
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É bem verdade que Hill não foi o primeiro comandantes do Comando Sul a falar da questão da
Tríplice Fronteira nestes termos. Em 2002, o General Gary Speer, então à frente do USSOUTH-
COM já havia alegado que “nos últimos anos, grupos terroristas internacionais tem usado países
latino-americanos como santuários (safe havens) para bases de apoio a fim de amparar operações
em todo o mundo. Por exemplo, a Tríplice Fronteira de Argentina, Brasil e Paraguai serve como
uma base de apoio para Grupos Islâmicos Radicais, como o Hizballah, Hamas e al-Gama'a al-
Islamiyya. Estas organizações arrecadam recursos na Tríplice Fronteira através de atividades ilíci-
tas que incluem o tráfico de drogas e armas, falsificação, lavagem de dinheiro, falsificação de
passaportes e pirataria de softwares e músicas. Além disso, estas organizações provêm refúgio e
assistência para outros terroristas na região” (Fonte: Testimony of Gen. Gary Speer, Acting Com-
mander-in-Chief, U.S. Southern Command, March 5, 2002. Disponível em: <http://armed-
services.senate.gov/statemnt/2002/Speer.pdf>. Acesso em: 16 abr. 2008). Speer, contudo, não foi
tão ativo em engajamento com a questão da Tríplice Fronteira quanto o foi Hill. O pronunciamento
de 2002, vale ressaltar, foi o único feito Speer e o primeiro feito por um Comandante do South-
Com sobre a Tríplice Fronteira antes de a região se tornar um pauta recorrente dos discursos arti-
culados pelos comandantes subseqüentes deste órgão do Departamento de Defesa. As declarações
de postura dos demais Comandantes referentes aos anos de 2000 e 2001 sequer mencionam a regi-
ão como um foco de preocupação. Ver: (1) “Statement of General Charles E. Wilhelm, command-
er-in-chief, U.S. Southern Command, March 23, 2000”. Disponível em:
<http://armedservices.house.gov/comdocs/testimony/106thcongress/00-03-23wilhelm.htm>. Aces-
so em: 16 abr. 2008; (2) “Testimony of Gen. Peter Pace, commander-in-chief, U.S. Southern
Command, Senate Armed Services Committee, March 27, 2001”. Disponível em:
<http://ciponline.org/colombia/032701.htm>. Acesso em: 16 abr. 2008.
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