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Marcos Pereira Feitosa
Legendagem comercial
e legendagem pirata:
um estudo comparado
Faculdade de Letras da UFMG
1
o
semestre 2009
PosLin – Programa de Pós-graduação em Estudos Lingüísticos
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Marcos Pereira Feitosa
Legendagem comercial
e legendagem pirata:
um estudo comparado
Trabalho apresentado ao Programa de Pós-
Graduação em Estudos Lingüísticos da Faculdade
de Letras da Universidade Federal de Minas
Gerais para exame de qualificação de doutorado.
Área de concentração: Lingüística Aplicada
Linha de pesquisa: H – Estudos da Tradução
Orientadora: Profa. Dra. Adriana Pagano (UFMG)
Co-orientadora: Profa. Dra. Vera Araújo (UECE)
Faculdade de Letras da UFMG
1
o
semestre 2009
PosLin – Programa de Pós-graduação em Estudos Lingüísticos
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Sumário
1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA.............................................................................5
2. OBJETIVOS.....................................................................................................................8
2.1. OBJETIVOS GERAIS .......................................................................................................8
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...............................................................................................9
3. REVISÃO DE LITERATURA......................................................................................10
3.1. ESTUDOS DE ASPECTOS DESCRITIVOS DE MODALIDADES DA TRADUÇÃO AUDIOVISUAL
(DÍAZ-CINTAS, 2003)....................................................................................................10
3.2. ESTUDOS SOBRE EXPLICITAÇÃO EM TRADUÇÃO AUDIOVISUAL.................................14
3.3. ESTUDOS SOBRE FLUXO DE INFORMAÇÃO EM MODALIDADES DA TRADUÇÃO
AUDIOVISUAL
....................................................................................................................22
3.3.1. Organização Temática, Estrutura de Informação, Progressão Temática, Fluxo
de Informação (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004)..................................................23
4. METODOLOGIA...........................................................................................................38
4.1. CORPUS ......................................................................................................................38
4.1.1. Obtenção das legendagens piratas....................................................................42
4.1.2. Tratamento do corpus........................................................................................ 43
4.1.3. Tamanho do corpus ...........................................................................................45
4.2. A ANOTAÇÃO DO CORPUS ..........................................................................................46
4.3. ETAPAS DA ANÁLISE..................................................................................................48
4.3.1. Análises descritivas das legendagens comerciais e piratas em português ........49
4.3.2. Análises das legendagens piratas e comerciais em português com base no
conceito de explicitação ............................................................................................... 49
4.3.3. Legendas piratas e comerciais em português: Métodos de Desenvolvimento...50
4.3.3.1. CROSF (Código de Rotulação Sistêmico-Funcional)....................................51
4.3.3.2. EFI (Epitélio para Fluxo de Informação) ......................................................55
4.3.3.3. Procedimento de anotação do corpus com os códigos CROSF-15 + EFI-0356
4.3.3.4. Buscas feitas com CROSF + EFI ...................................................................60
5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE DADOS ......................................................................62
5.1. ESTUDOS DE ASPECTOS DESCRITIVOS DE MODALIDADES DA TRADUÇÃO AUDIOVISUAL
(DÍAZ-CINTAS, 2003)....................................................................................................63
5.1.1. Questões técnicas da legendagem.....................................................................63
5.1.2. Características do texto das legendas...............................................................74
5.2. ESTUDOS SOBRE EXPLICITAÇÃO EM TRADUÇÃO AUDIOVISUAL.................................81
5.3. ESTUDOS SOBRE FLUXO DE INFORMAÇÃO EM MODALIDADES DA TRADUÇÃO
AUDIOVISUAL
....................................................................................................................86
5.3.1. Estudo no corpus ...............................................................................................87
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................109
1
6.1. ESTUDOS DE ASPECTOS DESCRITIVOS DE MODALIDADES DA TRADUÇÃO AUDIOVISUAL
(DÍAZ-CINTAS, 2003)..................................................................................................110
6.2. ESTUDOS SOBRE EXPLICITAÇÃO EM TRADUÇÃO AUDIOVISUAL...............................111
6.3. ESTUDOS SOBRE FLUXO DE INFORMAÇÃO EM MODALIDADES DA TRADUÇÃO
AUDIOVISUAL
..................................................................................................................111
7. PRÓXIMAS ETAPAS..................................................................................................114
8. REFERÊNCIAS ...........................................................................................................114
9. ANEXOS .......................................................................................................................118
9.1. ANEXO 1: CROSF-15...............................................................................................118
9.2. ANEXO 2: EFI-03.....................................................................................................120
2
Lista de Ilustrações
Figura 1: Procedimento de anotação das legendagens de “Hannibal” com CROSF-15 + EFI-03...57
Figura 2: 1
o
exemplo de explicitação motivada pelo canal semiótico por adição que ocorreu apenas
na legendagem pirata em português........................................................................................... 85
Figura 3: 2
o
exemplo de explicitação motivada pelo canal semiótico por adição que ocorreu apenas
na legendagem pirata em português........................................................................................... 86
Quadro 1: Tipos e formas de explicitação em legendagem.............................................................. 15
Quadro 2: Filmes que compõem o corpus......................................................................................... 41
Quadro 3: Padrão de anotação utilizado no corpus desta pesquisa para categorias relacionadas ao
conceito de explicitação (PEREGO, 2003)................................................................................ 50
Quadro 4: Exemplos de buscas realizadas em CROSF.................................................................... 61
Quadro 5: Exemplos de buscas realizadas em EFI........................................................................... 62
Quadro 6: Localização das legendas................................................................................................. 65
Quadro 7: Tipo de letra em cada legendagem.................................................................................. 68
Quadro 8: Cor das legendas em cada legendagem............................................................................ 69
Quadro 9: Posição das legendas........................................................................................................ 73
Quadro 10: Marcação das legendas................................................................................................... 74
Tabela 1: Quantidade de palavras (“tokens”) nas legendagens que compõem o corpus................. 46
Tabela 2: Número de linhas por legenda nas legendagens comerciais e piratas em português ........63
Tabela 3: Número máximo de caracteres por linha em cada legendagem........................................67
Tabela 4: Duração das legendas (medida em segundos)................................................................... 72
Tabela 5: Total de ocorrências de explicitação nas legendagens comerciais................................... 82
3
Tabela 6: Total de ocorrências de explicitação nas legendagens piratas.......................................... 82
Tabela 7: Tempo de duração dos fragmentos de filmes selecionados para o corpus....................... 88
Tabela 8: Número de legendas em cada legendagem....................................................................... 89
4
1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
Nas últimas décadas, as pesquisas nos Estudos da Tradução têm abordado uma
gama cada vez maior de modalidades de tradução, tais como o voice-over, a dublagem e a
legendagem (BAKER, 1998, p. 244; HURTADO-ALBIR, 2001, p. 71), contempladas nos
chamados Estudos da Tradução Audiovisual (TAV). Apesar da longa data de existência das
dublagens e legendagens, verifica-se que são ainda incipientes estudos com foco na
tradução audiovisual (TAV), sendo trabalhos seminais a esse respeito (LUYKEN et al.,
1991; IVARSSON, 1992) aqueles desenvolvidos por profissionais de televisão, os quais
tratam, sobretudo, de questões técnicas de legendagem. Destaca-se ainda que as pesquisas,
em geral, têm como foco a legendagem produzida por profissionais (e.g., SANCHES, 1994;
AALTONEN, 1995; CHAUME-VARELA, 2001), sendo escassos os estudos referentes
àquela de circulação informal feitas por fãs, chamada de legendagem pirata, legendagem
feita de fãs para fãs, fansubs ou fantitles, a qual é uma realidade, a despeito de
posicionamentos institucionais e comerciais que a reprovam ou a censuram
1
.
Nesse contexto, dada a carência de trabalhos que abordem a legendagem
2
a partir de
um referencial lingüístico e que contemplem a chamada legendagem pirata, este estudo
busca caracterizar e contrastar, sob três perspectivas complementares, três subcorpora
constituídos por legendas de fragmentos iniciais de filmes de terror vinculadas ao arquivo
1
Compete salientar que este trabalho não objetiva analisar aspectos institucionais envolvidos na circulação de
legendagens piratas, nem busca referendar essa prática.
2
Entende-se por legenda o que Díaz-Cintas (2003, p. 32) chamou em espanhol de “subtítulo”. Cada porção de
texto que aparece por vez na tela do filme legendado é uma legenda. O termo legendagem se refere ao
conjunto de legendas encontradas em um filme legendado. O corpus desta pesquisa é composto de
legendagens i) piratas em português, ii) comerciais em português e iii) com transcrições do áudio em inglês
para dez filmes diferentes, totalizando 30 legendagens. Cada legendagem é, então, o total de legendas
encontrados em um filme legendado, seguindo o mesmo conceito que Díaz-Cintas (2003, p. 32) tratou como
“subtitulación”.
5
de áudio e vídeo, a saber: (i) dez legendagens piratas em português, (ii) suas respectivas
legendagens comerciais em português e (iii) legendagens com transcrições do áudio em
inglês. A escolha desse corpus, que compreende fragmentos iniciais de legendagens de
filmes adultos de terror/suspense da década atual, pauta-se na tentativa de investigar um
maior número de casos, de modo a se evitar que os achados desta pesquisa possam ser
atribuídos a estilos próprios dos tradutores ou a censuras feitas para a veiculação de um
filme específico.
Na primeira perspectiva de análise, utilizam-se critérios dos Estudos da Tradução
Audiovisual para tipificar as legendagens, particularmente os encontrados em Díaz-Cintas
(2003). A adoção dessa perspectiva se justifica pelo fato de que ainda inexiste uma
caracterização da legendagem pirata que permita diferenciá-la de forma sistemática da
legendagem comercial. Na segunda perspectiva, ainda buscando caracterizar as
legendagens, aplicam-se os conceitos de explicitação, particularmente como encontrados
em Perego (2003), para se responder a duas indagações: (i) se haveria explicitação nas
legendagens em geral (comerciais e piratas) e (ii) em que sentido e por quais razões a
explicitação nas legendagem pirata se diferencia (ou não) daquela observada na
legendagem comercial. A partir dessas duas análises que tipificam as legendagens
comerciais e piratas, parte-se para a terceira perspectiva de análise, vinculada à Lingüística
Sistêmico-Funcional, que objetiva investigar o impacto que as instâncias de explicitação e
outras escolhas encontradas nas legendagens comerciais e piratas têm sobre o fluxo da
informação (FRIES, 1996; 2002). Motiva essa análise a seguinte constatação: Dado e Novo
são orientados para o ouvinte (ou telespectador da legendagem), mas a decisão do que
representa Dado ou Novo compete ao falante (ou, no caso, àquele que produz a
legendagem) (FRIES, 1994). Assim sendo, adotando-se um referencial lingüístico – a
6
Lingüística Sistêmico-Funcional (LSF)
3
– que compreende a linguagem como um sistema
de escolhas e que, portanto, assume que diferentes traduções podem transmitir uma
mensagem semelhante por meio de organizações diferentes da mesma (VASCONCELLOS,
1997), busca-se compreender os padrões que diferenciam as legendagens piratas das
comerciais a partir de diferentes escolhas implementadas na retexualização de um mesmo
insumo audiovisual. O modo como a mensagem se organiza pode ser analisado, à luz da
LSF, segundo dois aspectos diferentes, quais sejam: i) a Organização Temática,
observando-se o ponto de partida da mensagem (Tema); e ii) a Estrutura de Informação,
tendo-se o elemento Dado, já conhecido pelo leitor/ouvinte, contextualizando-o, e o
elemento Novo, no qual se anuncia a informação à qual o falante deseja trazer o foco. A
informação flui ao longo do texto, do Tema ao Rema, ao Tema seguinte e ao Rema
seguinte, constituindo-se a Progressão Temática. O modo como a informação flui (de um
Dado a um Novo, retomado em um Dado e assim sucessivamente) ao longo da Progressão
Temática constitui o Fluxo de Informação. Thompson (2007) chama de Método de
Desenvolvimento o modo como a informação flui ao longo da Progressão Temática. Assim,
tem-se o Fluxo de Informação realizado por meio de diferentes padrões de Progressão
Temática, padrões esses descritos por Daneš (1974). A compreensão dos Métodos de
Desenvolvimento encontrados no corpus desta pesquisa possibilita, em última instância,
descrever um tipo de texto ainda não contemplado nos trabalhos dentro da LSF, com
3
A obra de Halliday, atualizada em 2004 em co-autoria com Matthiessen (HALLIDAY; MATTHIESSEN,
2004) é tratada aqui como Gramática Sistêmico-Funcional (GSF). Entende-se por Lingüística Sistêmico-
Funcional (LSF) o somatório de estudos de Halliday e outros autores, tais como Thompson (1996; 2004) e
Martin et al (1997), entre outros.
7
exceção de Espíndola (2008), que se concentra na Metafunção Ideacional
4
. Além disso,
vale apontar que a análise da organização da mensagem pode se somar às características
técnicas da legendagem (DÍAZ-CINTAS, 2003), uma vez que restringem as possibilidades
de organização do texto (FRIES, 1995; THOMPSON, 2007).
Por fim, cumpre apontar que este trabalho está inserido nos projetos do LETRA –
Laboratório Experimental de Tradução, mais especificamente no Grupo de Pesquisa
Modelagem sistêmico-funcional da tradução e da produção textual multilíngüe,
coordenado pela Profa. Dra. Adriana Silvina Pagano e registrado no Diretório de Grupos de
Pesquisa do CNPq. Conta com a co-orientação da Profa. Dra. Vera Lúcia Santiago de
Araújo, da UECE, pesquisadora atuante no campo da Tradução Audiovisual, no âmbito da
interação acadêmica do POSLIN/FALE e da UECE, no escopo de Projeto de Qualificação
Interinstitucional, financiado pela CAPES (PQI/CAPES 800/2002).
2. OBJETIVOS
2.1. Objetivos gerais
São objetivos gerais desta pesquisa:
- Contribuir para os Estudos da Tradução, no que tange à Tradução Audiovisual (TAV),
explorando uma modalidade de legendagem pouco estudada;
- Colaborar por meio de análises do corpus de pesquisa para apontar características
específicas dos filmes selecionados, produzidos originalmente em inglês, com legendas
comerciais e piratas em português;
- Cooperar com os estudos sobre explicitação no âmbito dos Estudos da Tradução;
4
Espíndola (2008) analisa em seu trabalho os Participantes, Processos e Circunstâncias nas legendas em
português dos DVDs comerciais dos seis filmes que compõem a saga “Star Wars”. A organização do texto
(Metafunção Textual), entretanto, não é focada em seu trabalho.
8
- Fomentar os estudos no âmbito da Lingüística Sistêmico-Funcional, particularmente no
que se refere às análises do Fluxo de Informação.
- Contribuir com as pesquisas na área dos Estudos da Tradução feitas pelos pesquisadores
do LETRA (Laboratório Experimental de Tradução) da FALE (Faculdade de Letras) da
UFMG, ao qual este trabalho se vincula.
2.2. Objetivos específicos
São objetivos específicos desta pesquisa:
- Analisar legendas em português brasileiro, comerciais e piratas, segundo os critérios
propostos por Díaz-Cintas (2003) na área da Tradução Audiovisual (TAV).
- Analisar legendas comerciais e piratas interlingüísticas em português, em sua relação com
o que se encontra nos filmes originais em inglês, em termos de explicitação, conforme
categorias apontadas por Perego (2003), verificando em que medida esse fenômeno está
presente nos dois tipos de legendagem (pirata e comercial) e se há diferenças substanciais
no que diz respeito ao tipo de explicitação mais freqüentemente utilizado em cada tipo de
legendagem.
- Analisar o Fluxo de Informação por meio dos diferentes padrões encontrados de Métodos
de Desenvolvimento (THOMPSON, 2007) em legendas em português, distinguindo-se as
legendas comerciais das piratas, contrastando-as também com transcrições do áudio
original em inglês; pretende-se realizar essa análise anotando-se todos os Temas e N-Remas
das legendas que compõem o corpus desta pesquisa e anotando-se também o Dado e o
Novo, de maneira a correlacionar e Organização Temática à Estrutura de Informação, além
de indicar onde o Novo é retomado e de onde cada Dado é retomado, de maneira que se
obtém uma caracterização dos padrões da Progressão Temática encontrados no corpus em
9
conjunto com a Estrutura de Informação, caracterizando, assim, o Fluxo de Informação no
corpus.
- Correlacionar os resultados das análises supracitadas, buscando uma caracterização da
legendagem pirata.
3. REVISÃO DE LITERATURA
Esta revisão abrange três perspectivas teóricas complementares, a saber: i) os
estudos de aspectos descritivos de modalidades da Tradução Audiovisual; ii) os estudos
sobre explicitação em modalidades da tradução audiovisual; iii) os estudos sobre Método de
Desenvolvimento, caracterizando o Fluxo de Informação textual e sua aplicação a um
corpus de legendas. Cada perspectiva é tratada de forma compartimentada ao longo deste
capítulo; contudo, dada a complementaridade da proposta, antecipa-se a existência de
pontos de contato, sobretudo quando da análise e discussão dos dados.
3.1. Estudos de aspectos descritivos de modalidades da Tradução Audiovisual (DÍAZ-
CINTAS, 2003)
Como já foi apontado na Introdução deste trabalho, os estudos da Tradução
Audiovisual (TAV) são um campo de estudo relativamente recente, de modo que são
poucos os trabalhos que desenvolvem categorias para caracterizar as legendas de filmes.
Um dos primeiros trabalhos foi o de Gottlieb (1995), no qual foram observadas as
estratégias que os espectadores de filmes legendados utilizavam para ler as legendas. Em
seu trabalho, Gottlieb (1995) apontou categorias para a caracterização das legendas:
10
segmentação, layout, tempo de leitura, conteúdo verbal denotativo e estilo e gramática.
Esses conceitos são tratados mais amplamente em Díaz-Cintas (2003) e em Araújo (2004)
5
.
Essa abordagem, de caráter descritivo e prescritivo, contempla os seguintes aspectos
das legendas, os quais descreve quanto ao seu uso e em alguns casos avalia em termos do
receptor das legendas:
Formato das legendas
- Número de linhas: Díaz-Cintas (2003) verifica, em geral, um número máximo de
duas linhas; na legendagem para surdos, contudo, são encontradas algumas vezes três
linhas, embora esse procedimento não seja recomendável, pois pode dificultar a leitura
(DÍAZ-CINTAS, 2003).
- Localização das legendas: segundo apontado por Díaz-Cintas (2003),
normalmente, as legendas se localizam na parte de baixo da tela para não prejudicar a
visualização das imagens. Há três situações em que a legenda aparece na parte de cima da
tela: a) na ocorrência de fundo branco ou muito claro; b) na ocorrência de uma cena
importante cuja visualização seja impedida pelas legendas; c) na exibição dos créditos,
quando há o que ser legendado no filme (DÍAZ-CINTAS, 2003).
- Número de caracteres por linha: varia de 28 a 40 caracteres (DÍAZ-CINTAS,
2003). No Brasil, para vídeo e TV, esse número varia de no mínimo 28 e no máximo 32
caracteres por linha (ARAÚJO, 2004).
6
5
Díaz-Cintas (2003) trabalhou com o par lingüístico inglês-espanhol. Os termos são tomados emprestados
aqui, adaptados ao português, segundo Araújo (2004), que trabalhou com o par lingüístico inglês-português.
6
O número de caracteres inclui os espaços entre as palavras.
11
- Tipo de letra: Díaz-Cintas (2003) afirma que as fontes mais utilizadas são:
Helvetica, Arial e Times New Roman, tamanho 12. Araújo (2004) aponta que, no Brasil,
algumas empresas legendadoras trabalham com Arial e Times New Roman, tamanho 10.
- Cor das legendas: de acordo com Díaz-Cintas (2003), as mais comuns são
amarelas ou brancas, sendo a cor amarela a melhor escolha quando o filme ou o programa
possui muitas imagens com fundo branco ou claro, segundo o autor.
- Duração das legendas: a duração mínima, segundo Díaz-Cintas (2003) é de um
segundo e a máxima é de seis segundos. Araújo (2004) afirma que, no Brasil, geralmente, o
tempo de quatro segundos é o mais comum.
- Posição das legendas: segundo Díaz-Cintas (2003), são normalmente
centralizadas ou justificadas à esquerda.
- Marcação: conforme apontado por Díaz-Cintas (2003), refere-se ao início e ao
final de cada legenda, que deve estar em sincronismo com o áudio e a imagem (DÍAZ-
CINTAS, 2003).
Características do texto das legendas
- Redução: Díaz-Cintas (2003) afirma que a principal característica das legendas
consiste na redução em forma de texto escrito do conteúdo oral da versão original do texto
de partida. Tudo o que é redundante e não essencial para a compreensão da produção
audiovisual e para a caracterização dos personagens é eliminado (DÍAZ-CINTAS, 2003, p.
201).
- Condensação: conforme apontado por Díaz-Cintas (2003), na legendagem existe
uma tendência a dar-se prioridade a palavras curtas, apesar de as palavras maiores serem
12
mais adequadas ao estilo do texto de partida (oral), as quais, contudo, ocupariam muito
espaço na tela (DÍAZ-CINTAS, 2003, p. 205).
- Omissão: segundo Díaz-Cintas (2003), são eliminadas todas as palavras e
expressões redundantes que não são essenciais para o entendimento do texto de partida e
para a caracterização dos personagens. Os tipos de palavras e expressões que normalmente
são omitidos são: a) aquelas que se repetem ou que são muito parecidas em sua estrutura
superficial; b) os marcadores da conversação tais como: you know; I mean; e right; c)
interjeições; d) perguntas retóricas (question tags); expressões formulaicas como os clichês
ou as fórmulas situacionais ou de rotina; e) enumerações; nomes próprios e apelidos dos
personagens; f) expressões parecidas nos idiomas de partida e de chegada; g) referências a
elementos ou pessoas mostradas no canal visual (DÍAZ-CINTAS, 2003, p. 209-211).
- Segmentação: conforme mencionado por Díaz-Cintas (2003), trata-se de onde
ocorre a “quebra” entre uma legenda e outra. Esta categoria é mencionada por Díaz-Cintas
(2003), mas já havia sido definida por outros autores. Uma definição mais clara é
encontrada em Gottlieb (1995) que, citando Helen Reid (1990, p. 109-110), distingue três
tipos de segmentação: a) visual (pelos cortes e movimentos de câmera); b) retórica (pela
pausa ou pelo ritmo da fala); e c) gramatical (pela sintaxe).
Os critérios citados nesta seção são adotados na presente pesquisa para caracterizar
as legendas piratas e contrastá-las com as legendas comerciais do corpus da pesquisa,
conforme será explicado mais detalhadamente no capítulo de Metodologia. Vale também
ressaltar que os aspectos descritivos aqui mencionados são características que restringem o
texto. Essa informação é relevante para observar os padrões encontrados de Método de
Desenvolvimento, conforme descritos na seção 3.3 deste capítulo.
13
3.2. Estudos sobre explicitação em Tradução Audiovisual
Ainda insuficientemente explorado no campo da Tradução Audiovisual (TAV), um
dos poucos trabalhos encontrados na literatura sobre o fenômeno da explicitação na
legendagem é o artigo “Evidence of explicitation in subtitling: towards a categorisation”
de Elisa Perego (2003). A autora parte da hipótese da explicitação, que vem sendo
formulada pelos teóricos da tradução desde Vinay e Darbelnet (1958), que a consideram
algo tornado mais explícito no texto traduzido que no texto de partida. Além disso, desde
Nida (1964) vincula-se a explicitação à adição de informações culturais relevantes ao texto
traduzido. A nomeação desse conceito enquanto “hipótese de explicitação” é atribuída a
Blum-Kulka (1986, p. 300), que trata a explicitação no nível do discurso, associando-a a
mudanças na coesão e na coerência na tradução. Perego (2003) menciona ainda as duas
categorizações de adição e especificação de Linn Øverås (1998, p. 5), que incluem tanto a
explicitação gramatical quanto a lexical.
Buscando uma categorização da explicitação que contemple a especificidade da
legendagem de filmes, sobretudo pelo seu caráter multimodal, Perego (2003) se detém
sobre o modelo de Klaudy (1996: 102–103; 1998: 82–84; 1999: 9–14), que subdivide a
explicitação em quatro tipos: obrigatória, opcional, pragmática e inerente à tradução. A
explicitação obrigatória ocorre quando há alguma limitação imposta pelas diferenças entre
as línguas, sejam essas limitações morfológicas, sintáticas ou semântico-estruturais. A
explicitação opcional seria uma escolha do(a) tradutor(a), que decide tornar algo mais
explícito na tradução. Ambos envolvem a adição ou a separação de itens lexicais e/ou
gramaticais. Já a explicitação pragmática, que Perego (2003, p. 69-70) delineia fazendo
referência ao trabalho de Klaudy (1996; 1998; 1999), seria a inserção de informações
culturais para facilitar a compreensão do texto traduzido. A quarta categoria de Klaudy – a
14
explicitação inerente à tradução – é aquela que não é obrigatória, nem opcional, nem
pragmática, mas decorrente do processo tradutório em si; trata-se de um aumento do
volume do texto ao reverbalizar uma mesma idéia em um idioma distinto, que ocorre
porque, muitas vezes, o que pode ser dito sinteticamente em um idioma, precisa ser
expresso de maneira mais elaborada para que seja compreendido na língua de chegada
(certas expressões idiomáticas, por exemplo).
Para sua pesquisa, Perego (2003) considera que a legendagem envolve (i) mudança
de linguagem oral para linguagem escrita, (ii) mudança de língua estrangeira para língua
local, e (iii) redução do texto devido a restrições de espaço de caracteres na tela e de tempo
de leitura das legendas. A autora propõe abordar a explicitação, observando em que
momento e por que a explicitação ocorre, por meio das categorias apresentadas no Quadro
1 a seguir, reproduzida de Perego (2003) e adaptada/traduzida para o português:
Quadro 1: Tipos e formas de explicitação em legendagem
Explicitação
Motivada por diferenças
culturais
Motivada por mudanças no
canal semiótico
Motivada pelo requisito de
redução
- adição
- especificação
- adição
- especificação
- adição
- especificação
Fonte: Perego (2003, p. 74)
Segundo Perego (2003), a explicitação pode ser feita na forma de adição de
informação no texto (por exemplo, adicionar um termo que não constava na fala) ou na
forma de especificação de algo (por exemplo, substituir o nome comercial de um produto
dito na fala pelo nome comum do referido produto no texto da legenda). Essas categorias
15
encontram-se explicadas mais detalhadamente a seguir, ilustradas com alguns exemplos
retirados do corpus desta pesquisa, uma vez que serão adotadas na análise deste trabalho
para categorizar o fenômeno da explicitação nas legendas – piratas e oficiais – feitas por
brasileiros para filmes produzidos no idioma inglês. Entretanto, é importante ter em mente
que a explicitação é um fenômeno que pode ou não ocorrer, além de ser possível haver
maior ocorrência em diferentes gravações audiovisuais. Pretende-se verificar o que é
encontrado – ou não – nos filmes do corpus aqui utilizado.
A explicitação, segundo Perego (2003), pode se dar por meio de adição ou de
especificação. Segundo a autora, a adição consiste em se adicionar uma informação que
não se encontrava no canal auditivo e a especificação é a substituição de um termo da
cultura do idioma original por uma definição do termo na língua para a qual se traduz.
Perego (2003) dá como exemplo de especificação o nome comercial de um produto em
inglês substituído pela natureza desse produto na legenda em espanhol, em lugar de seu
nome comercial. Um exemplo encontrado no corpus desta pesquisa é o de uma cena do
filme “O Buraco” (“The Hole”) em que o termo “Wellies” (referindo-se a botas
Wellington) foi traduzido como “botas” na legendagem comercial em português e como
“galochas” na legendagem pirata em português.
A fim de ilustrar as categorias propostas por Perego (2003) ao corpus desta
pesquisa, seguem exemplos retirados de uma análise piloto do corpus desta pesquisa,
contrastando o filme original em inglês
7
“Hannibal” com sua legendagem pirata em
português.
7
Como as legendagens intralingüísticas em inglês disponíveis nos DVDs comerciais são praticamente
transcrições completas das falas encontradas no canal auditivo, foram aproveitadas para servir de base para a
transcrição do áudio. Não se justificou uma nova transcrição do áudio, pois, conforme o que será apontado no
16
Explicitação motivada por diferenças culturais
- adição:
Exemplo 1
Filme original em inglês Legendagem pirata em português
“Now, Barney...” “Então diga-me, Barney...”
(“Hannibal”, 2001)
Veja-se no exemplo que, na fala do personagem no filme em inglês, há um ato de
fala implícito: o personagem está solicitando que o interlocutor participe de uma troca de
informações. Na legendagem pirata em português, essa troca é explicitada pela adição de
um verbo que realiza um Processo Verbal: “diga”.
capítulo de Análise e Discussão de Dados, houve apenas cinco omissões em quatro das dez legendagens
intralingüísticas em inglês. Essas cinco omissões, nas dez legendagens, são o total de diferenças entre o áudio
e as legendas. Todo o restante das falas foi transcrito integralmente nessas legendas. Essas cinco omissões
foram acrescentadas às legendas, com a anotação <AUDIO> na frente, de modo que as legendagens em inglês
passaram a ser uma transcrição exata do que se encontra no canal auditivo. Como é possível que um(a)
futuro(a) pesquisador(a) queria analisar as legendas comerciais intralingüísticas em inglês, a complementação
feita a partir do canal auditivo recebeu essa etiqueta. As legendas comerciais intralingüísticas em inglês não
correspondem a legendagens para surdos, pois não trazem descrição de sons como ruídos de máquina, sons de
passos ou presença de música no canal auditivo (ARAÚJO, 2004). Não se sabe com que propósito essas
legendas foram produzidas. Uma análise das legendas intralingüísticas, entretanto, escapa ao escopo desta
pesquisa. Foram aproveitadas aqui apenas como base para a transcrição do áudio.
17
Exemplo 2
Filme original em inglês Legendagem pirata em português
“We got some guy named Bolton
from the DC Police.”
“Temos um tipo chamado Bolton
da Polícia de Washington DC.”
(“Hannibal”, 2001)
Observe-se que, na fala do personagem no filme em inglês, “the DC Police” pode
ser compreendido por um interlocutor de fala inglesa como “the Washington DC Police”.
Isso é explicitado na legenda em português pela adição do qualificador “de Washington”, o
nome da capital.
- especificação:
Exemplo 3
Filme original em inglês Legendagem pirata em português
“Cut a check for $250,000.” “Passe-me um cheque de 250 mil dólares.”
(“Hannibal”, 2001)
Note-se que “cut a check” é uma expressão idiomática em inglês, que significa
“fazer um cheque e entregá-lo no ato”. Em português, a legenda apresenta o Processo
Material “passar” somado ao Participante “me” encontrados em “passe-me”, resultando em
um texto mais elaborado em português, com a adição do pronome “me”, especificando o
receptor do Processo “passar”.
18
Explicitação motivada por mudanças no canal semiótico
- adição:
Exemplo 4:
Em uma cena do filme “Hannibal” (2001), há escrito em jornal, em letras grandes:
“FBI WANTED
Evelda Drumgo”
Logo em seguida, há mais informações em letras menores, de difícil leitura, sendo a
primeira delas:
“HIV+”
Esta informação é verbalizada na legendagem pirata em português da seguinte
forma:
"Procurada pelo FBI
Evelda Drumgo soropositiva."
Cumpre observar que, nesse caso, a informação aparece no vídeo, em um jornal.
Não é extraída do canal auditivo. Segundo Araújo (2004), tudo que aparece escrito na tela
(letreiro, manchete de jornal, título de livro etc.) e ficar por mais de dois segundos
geralmente é traduzido. Trata-se de uma adição motivada por uma mudança decorrente do
impacto do canal visual.
Igualmente, encontra-se um letreiro no mesmo filme:
19
Exemplo 5
“PUBLIC MARKET”
Não há fala alguma nesse momento. A legendagem pirata traduz a placa do seguinte
modo:
“MERCADO PÚBLICO”
Essa legenda explicita uma informação encontrada no canal visual, não no canal
auditivo. Trata-se de um caso de explicitação motivada por mudança no canal semiótico,
por adição, isto é, adiciona-se na legendagem uma informação que não traduz uma fala,
mas outra informação apresentada no canal visual. Esse tipo de explicitação também inclui
a legenda que traduz o título do filme, encontrado escrito no canal visual.
- especificação:
Exemplo 6
Filme original em inglês Legenda pirata em português
“but why don't we start
with what you saw...”
“mas por que não começamos
pelo que observou...”
(“Hannibal”, 2001)
Verifica-se, nesse exemplo, que o Processo Mental “see” é traduzido pelo Processo
Comportamental “observou”. Ao utilizar o Processo Mental “see”, o locutor apenas indica
o que o Experienciador presenciou. A tradução se deu com um Processo Comportamental,
apontando para a ação de observar do Comportante, uma diferença que, embora sutil, põe
em evidência que o personagem não estava meramente presente na cena, mas analisava o
20
que ocorria. Isso não era reforçado desse modo na fala original em inglês, embora pudesse
ser percebido no contexto do filme.
Explicitação motivada pelo requisito de redução
- adição:
Exemplo 7
Filme original em inglês Legenda pirata em português
“Yes.
Yes, it seemed to me that they--”
“Sim.
Sim, na minha opinião eles --”
(“Hannibal”, 2001)
A informação “it seemed to me” foi reduzida, Metaforizando o Participante “to me”,
na expressão “na minha opinião”. O texto traduzido tem menor número de caracteres, mas a
redução foi obtida explicitando-se que esse “parecer”, realizado em inglês pelo Processo
Relacional “seemed” (“it seemed to me”) se trata de uma opinião. Não se encontra no
original inglês um termo correspondente ao que em português foi traduzido pela palavra
“opinião”. A explicitação é feita aqui pela adição desse termo, obtendo-se um texto mais
curto, visto que essa adição permite uma fala menos extensa que a original em inglês.
- especificação:
Exemplo 8
Filme original em inglês Legendas piratas em português
“What was it between them?” “O que acontecia entre eles?”
(“Hannibal”, 2001)
Observa-se que, no original em inglês, a oração “what was it between them
apresenta o Processo Relacional “was”. O uso de um Processo Relacional estabelece uma
21
relação entre os Participantes. Processos Relacionais, entretanto, não são utilizados para
descrever ações. Na legenda pirata em português do Exemplo 8, o Processo utilizado –
“acontecia” – é um Processo Material, de maneira que o locutor indica que os personagens
em questão estão a realizar uma ação. Entende-se, então, que a ação foi explicitada na
legenda, especificada utilizando-se de um Processo Material.
Tendo-se em mente os critérios apontados por Perego (2003) no que se refere à
explicitação, esse fenômeno é analisado e discutido na segunda seção do capítulo de
Análise e Discussão dos Dados.
3.3. Estudos sobre Fluxo de Informação em modalidades da tradução audiovisual
Um outro arcabouço teórico a ser considerado é o fornecido pela Lingüística
Sistêmico-Funcional (LSF), que tem base na Gramática Sistêmico-Funcional (GSF) de
Michael Halliday, um trabalho iniciado em 1960 e atualizado em 1985, 1994 e 2004, este
último em co-autoria com Christian Matthiessen. A LSF continuou sendo desenvolvida
também com outros colaboradores, dentre os quais se destacam Eggins (1994), Thompson
(1996; 2004) e Martin et al (1997).
Embora o conjunto de legendagens a serem analisadas possa ser considerado um
corpus, tal procedimento não é muito claro nos trabalhos de TAV, tais como o de Díaz-
Cintas (2003) e Perego (2003). Também não são freqüentes análises textuais de legendas de
filmes, embora se possa citar, por exemplo, o trabalho de Espíndola (2008) na UFSC,
orientado pela Profa. Dra. Maria Lúcia Vasconcellos. Em sua pesquisa, Espíndola analisa
elementos da Metafunção Ideacional (Participantes, Processos e Circunstâncias) nas
legendas comerciais em português correspondentes às falas do personagem Mestre Yoda
nos seis filmes que compõem a saga de ficção científica “Star Wars”. Entretanto, análises
22
que tratam da organização do texto (Metafunção Textual) das legendas ainda não são
encontradas na literatura.
3.3.1. Organização Temática, Estrutura de Informação, Progressão Temática, Fluxo
de Informação (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004)
À luz da Lingüística Sistêmico-Funcional (LSF), com base na Gramática Sistêmico-
Funcional (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004) – doravante tratada pela sigla GSF
8
–, a
língua é vista como um sistema, no qual podem ser observados padrões. Essa abordagem
busca regularidades pela análise da função, do texto, dos recursos e da potencialidade de
significados, em vez de analisar formas, sentenças isoladas, regras e gramaticalidade.
A LSF compreende a linguagem como um sistema de escolhas, assumindo,
portanto, que diferentes traduções podem apresentar uma mensagem semelhante organizada
de maneira diferente (VASCONCELLOS, 1997). Vale reiterar que a análise da organização
da mensagem pode se somar às características técnicas das legendas (DÍAZ-CINTAS,
2003), que restringem as possibilidades de organização do texto (FRIES, 1995;
THOMPSON, 2007), conforme discutido mais detalhadamente a seguir nesta seção.
Tomando a oração como unidade de análise, os autores da GSF apontam três
Metafunções, quais sejam: i) Ideacional (que se identifica com a representação do mundo);
ii) Interpessoal (que se identifica com a troca de mensagens); e iii) Textual (organização da
8
A sigla GSF se refere à obra de Halliday e Matthiessen (2004). A sigla LSF refere-se ao somatório da GSF e
dos trabalhos de outros autores que seguem essa abordagem, como Fries (1995; 1996; 2002) e Thompson
(1996; 2004; 2007), entre outros.
23
mensagem). Este trabalho se concentra nessa última Metafunção
9
, ou seja, na organização
da mensagem.
Segundo a GSF, entende-se que a oração parte de uma informação já conhecida pelo
leitor/ouvinte (Dado) que flui em direção a algo novo (Novo) que é anunciado. Essa
estruturação do texto incluindo elementos Dados e Novos é referida como Estrutura de
Informação. Concomitantemente a isso, ainda segundo a GSF, a mensagem pode ser
analisada referindo-se a que elemento é encontrado em posição inicial (Tema) orientando o
restante da mensagem (Rema).
O conceito de Tema tem evoluído desde o início dos estudos sobre a Gramática
Sistêmico-Funcional (CLORAN, 1995; FRIES 1995; 2002; THOMPSON 2004; 2007). A
noção de Tema e Rema partiu do trabalho dos lingüistas da Escola de Praga sobre a
Perspectiva Funcional de Sentença, mais tarde teorizado com diversas mudanças. Fries
(1995, p. 318) ressalta diferentes definições que Halliday deu para o tema, resumindo-as em
“o ponto de partida da mensagem”, “o gancho no qual a mensagem está pendurada” ou “de
que a mensagem se trata”
10
e apontando que se localiza no início da mensagem, no caso da
língua inglesa. Entende-se que, em alguns idiomas, o Tema pode não se encontrar no início
da oração, mas pode-se generalizar que línguas do oeste europeu tendem a ter essa
organização (FRIES, 1995; THOMPSON, 2007). Não obstante, Fries (1995) critica a
aplicação da GSF em outros idiomas baseados em conceitos da língua inglesa. Nesse
9
Esta pesquisa tem maior enfoque na Metafunção Textual, observando-se a Organização Temática e a
Estrutura de Informação, caracterizando-se a Progressão Temática e, por conseguinte, o Fluxo de Informação,
por meio dos diferentes padrões encontrados de Métodos de Desenvolvimento (THOMPSON, 2007).
Entretanto, embora o principal enfoque seja a Metafunção Textual, categorias da Metafunção Ideacional são
utilizadas ao falar do fenômeno da explicitação no corpus (Participantes, Processos, Circunstâncias etc.) ao
longo desta pesquisa.
10
Minha tradução de “(...) ‘the point of departure of the message’, ‘the peg on which the message is hung’ or
‘what the message is about’.” (FRIES, 1995, p. 318)
24
sentido, tenta-se aplicar em português tais conceitos sempre levando em consideração as
diferenças sistêmicas que podem ser encontradas entre os dois idiomas.
Fries (1995; 2002) e Thompson (2007) examinam os Temas em “Unidades-T” (T-
units), isto é, complexos oracionais que contêm uma oração independente juntamente com
todas as orações hipotáticas que dela dependem. Os autores mencionam a hipótese de se
agruparem as estruturas encontradas no texto (orações, principalmente) em Macrotemas
(orações que são Temas de parágrafos, ou parágrafos que são Temas de capítulos, por
exemplo) e/ou em Unidades-T, levando-se em conta, por exemplo, estruturas metafóricas
como um só Tema. Também discutem se o Tema se encerra no primeiro elemento
ideacional, ou se segue até o Sujeito
11
, como Martin et al (1997) apontam, sendo que o
Sujeito não é uma categoria da Metafunção Textual, de maneira que Fries (1995; 2002) e
Thompson (2004; 2007) não adotam essa postura em seus trabalhos, assim como tampouco
o fazem Halliday e Matthiessen (2004). Vale ressaltar aqui que uma análise levando-se em
conta estruturas Metafóricas também é possível. Podem-se encontrar Metáforas
Interpessoais, por exemplo, as quais podem ser analisadas como um único elemento (ponto
de vista metafórico), ou fragmentadas analisando-se cada elemento que as compõe (ou seja,
um ponto de vista congruente). Essas diferentes posições podem ser mais bem
compreendidas analisando-se o Exemplo 9 a seguir, extraído do corpus desta pesquisa:
11
O termo Sujeito aqui se trata do Participante sobre o qual algo é comentado. Trata-se de uma categoria da
Metafunção Interpessoal da Gramática Sistêmico-Funcional (Halliday & Mathiessen, 2004). Uma oração
pode começar com algum outro elemento Ideacional, como, por exemplo, uma Circunstância. Nesse caso,
seria possível considerar essa Circunstância por si só o Tema (HALLIDAY & MATTHIESSEN, 2004;
THOMPSON, 2004), ou estender o Tema até o Sujeito (MARTIN ET AL, 1997).
25
Exemplo 9
“É muito possível que ela tenha
uma seringa no cabelo”
(Legenda extraída da legendagem pirata em português de “Hannibal”)
Pode-se analisar o segmento “é muito possível” metaforicamente, considerando-o
um só elemento, semelhante à expressão “talvez”, de modo que esse segmento constituiria
um elemento Interpessoal (no caso, um Adjunto Modal de Modo). Ou pode-se considerar o
Processo Relacional (“é”) em posição inicial como sendo, por si só, o Tema, sob uma
perspectiva congruente. A opção por uma perspectiva metafórica ou congruente será
discutida mais adiante nesta seção.
O Tema pode ser simples ou múltiplo, sendo esperado que ele corresponda a um
Participante – forma “Não-Marcada” (HALLIDAY; MATTHIESSEN 2004, p. 85) –, a um
Processo ou Circunstância – forma “Marcada”
12
(HALLIDAY; MATTHIESSEN 2004, p.
85) –, ou até mesmo a uma Estrutura Tematizada (THOMPSON 1996; 2004; 2007), tal
como um Equativo Temático, por exemplo. Considere-se a seguir mais um fragmento do
corpus:
12
Para Halliday e Matthiessen (2004), quando a mensagem se organiza com uma estrutura “esperada” em
uma determinada posição, diz-se que é uma posição “Não-Marcada”; se, ao contrário, a mensagem se
organiza com uma estrutura “não-esperada” em uma determinada posição, diz-se que é uma posição
“Marcada”. Halliday e Matthiessen (2004) mencionam os termos “Marcado” e “Não-Marcado” (“Marked” e
“Unmarked”) principalmente para Temas, mas Fries (1995; 2002) se utiliza desses termos também para
caracterizar a posição dos N-Remas, que serão tratados mais adiante nesta seção.
26
Exemplo 10
“Muito bem.
Prestem atenção. O plano é este.”
(Legenda extraída da legendagem pirata em português de “Hannibal”, grifo meu.)
A mensagem encontrada na oração sublinhada no Exemplo 10 poderia ser realizada
como “este é o plano”, transmitindo-se uma mensagem semelhante. Considera-se isso um
caso de Equativo Temático. É um caso em que a separação entre “Marcado” e “Não-
Marcado” já não fica mais clara, a menos que se leve em consideração a Estrutura da
Informação, que não participa desse modo “equativo”, pois, para a Estrutura de Informação,
o relevante não é se o elemento corresponde ao Tema ou ao Rema, mas se corresponde a
um elemento Dado ou Novo. Essa noção de Dado e Novo pode ajudar a compreender por
que um Tema é tido como “Marcado” ou “Não-Marcado”. Halliday e Matthiessen (2004),
Fries (2002) e Thompson (2007) consideram “Marcados” os Temas circunstanciais ou com
um Participante que não corresponda ao Sujeito
13
. Mas esses mesmos autores também
explicam isso, não em torno do Sujeito, mas em torno do Fluxo de Informação. Consideram
“Marcado” um Tema que apresenta uma “quebra” no Fluxo da Informação, chamando a
atenção do leitor do texto para algo novo (Novo) que é anunciado e modifica a orientação
do texto. Os referidos autores apontam que um Tema Marcado pode ser constituído de um
13
“Sujeito” aqui é entendido como a categoria da Metafunção Interpessoal, que não será considerada nas
análises desta pesquisa, conforme discutindo anteriormente nesta seção.
27
Tema Focado (focused Theme), isto é, o Novo em posição Temática
14
. O “esperado”,
segundo esses autores, é que uma mensagem comece por algo que o leitor/ouvinte já
conheça (Dado), para poder se situar em um contexto e então compreender a novidade que
se apresentará ao fim (Novo). O Dado é algo que o leitor/ouvinte tem como recuperar ou já
conhece e o Novo, segundo esses autores, é algo que o locutor deseja anunciar ao
interlocutor. A seguir, um exemplo:
Exemplo 11
“Na noite passada ouvi uns barulhos.”
(Legenda extraída da legendagem pirata em português de “Cubo Zero”)
O Novo está localizado no início da mensagem: “Na noite passada” (Circunstância),
chamando a atenção do leitor da legenda para o momento em que ocorreu o Processo
Mental “ouvi”, localizando-o em um contexto. Segundo a perspectiva de Martin et al.
(1997), o Tema se estende até “eu” (Participante elíptico – Experienciador – do Processo
Mental “ouvi”), enquanto, sob a perspectiva apontada por Halliday (1994), Fries (1995;
2002), Halliday e Matthiessen (2004) e Thompson (2004; 2007), essa circunstância em
posição inicial constitui em si mesma o Tema, sendo esse um caso do que Halliday e
Matthiessen (2004, p. 85) chamam de “Tema Focado” (“focused Theme”).
Fries (1995; 2002) argumenta que o início da mensagem até o primeiro elemento
ideacional da oração pode ser tratado como Tema e que o termo Rema se aplica a todo o
14
Vale ressaltar que, embora Temas Focados sejam apontados como Temas Marcados, nem todo Tema
Marcado se refere a um Tema Focado. Na seção de Análise e Discussão dos Dados são apontados casos em
que um Tema Marcado é um elemento Dado. A “quebra” no texto pode ser causada por uma mudança de
contextualização, não necessariamente devida a um foco no elemento Novo em posição Temática. Os
conceitos de Tema Marcado e de Tema Focado são distintos, ainda que possa haver um ponto de contato.
28
restante da oração, de modo que o Novo em posição final fica sem um nome específico,
propondo, então, chamá-lo de “N-Rema” (“N-Rheme”). Enquanto o Tema orienta a
mensagem comunicada na oração, dizendo ao leitor como compreender o que se anuncia, o
N-Rema é o cerne daquilo que de fato é anunciado. Uma mudança na Escolha Temática,
então, influenciará no que é anunciado, mudando o conteúdo do N-Rema (Fries 2002, p.
126). Por exemplo: ao examinar um texto com uma estrutura de “solução de problema”,
espera-se que os significados mudem à medida que o texto segue da descrição do problema
até a descrição da solução, de modo que o N-Rema deve contar o cerne da solução, ao
passo que o Tema apresenta a caracterização do problema (Fries, 2002, p. 126). Em suma, o
Tema “localiza” o leitor/ouvinte, enquanto o N-Rema anuncia a informação nova que se
deseja que o leitor/ouvinte guarde (FRIES, 1995; 2002; THOMPSON, 2007).
Diferentes escolhas Temáticas, com maior ou menor “Marcação” (“Markedness”),
interferem, então, na Estrutura e no Fluxo de Informação
15
. Se, no Exemplo 11, a expressão
“na noite passada” se encontrasse no final da oração, em lugar de aparecer em posição
Temática, o Fluxo de Informação não se daria da mesma forma. Vê-se, então, um ponto de
contato entre a Progressão Temática e o Fluxo de Informação. Ambos caminham juntos na
Metafunção Textual.
Fries (2002, p. 122) aponta também um terceiro componente da Metafunção
Textual: a identificação do Participante. Entretanto, tal identificação no texto encontrado
15
Entende-se como Estrutura de Informação a organização da mensagem em Dado e Novo. O Fluxo de
Informação é a progressão dessa estrutura, tendo-se um Novo retomado mais adiante como Dado. O Fluxo de
Informação pode ajudar a compreender como se dão as cadeias coesivas de um texto. Ajudam também a
apontar a tessitura em si da mensagem organizada no texto.
29
nas legendagens de filmes ainda carece de fundamentação teórica, pois as legendagens e o
canal auditivo apresentam apenas parte do texto.
16
Cloran (1995), Fries (1995; 2002) e Thompson (2007) comentam o trabalho de
Daneš (1974), que aponta que a escolha de Temas em um texto não é feita ao acaso, ou
aleatoriamente, ou sem conexão com o texto. O autor afirma que a escolha de Temas é
padronizada e que seria intuitivamente esperado que algum tipo de regularidade ou padrão
governe a progressão da apresentação do Sujeito/Assunto. Daneš (1974, p. 109) identifica
três tipos de Progressão Temática, que podem ser, de uma maneira mais simplificada,
apontados nos seguintes padrões:
i) Progressão Temática linear simples: padrão linear de Tematização de Remas, em que
cada Rema é retomado no Tema do que é dito a seguir. Esse padrão mais básico de
Progressão Temática pode ser representado como Rema > Tema. Veja-se um exemplo:
Exemplo 12
“Barney, dê-nos a sua opinião
sobre o que observou”
O que acontecia entre eles?”
(Legendas extraídas da legendagem pirata em português de “Hannibal”)
16
A identificação do participante se dá, nesse caso, também por meio do que se encontra no canal visual. O
canal visual do corpus é sempre levado em conta também ao anotar-se o corpus. Entretanto, sua codificação
foca-se principalmente na Organização Temática, na Estrutura de Informação, na Progressão Temática e no
Fluxo da Informação. Quando um elemento da mensagem não se encontra no texto auditivo, mas em algo que
se pode ver no canal visual, entende-se que faz parte do contexto. Caso algo seja retomado de (ou em) um tal
elemento não-verbalizado nas legendas, considera-se na anotação do corpus e nas análises que é retomado de
(ou em) um ponto do contexto que não corresponde a elemento algum do texto das legendas, mas do (ou no)
contexto geral. Isso faz parte da Metodologia desta pesquisa, mas explica-se desde já para facilitar a
compreensão de como esses referenciais teóricas são adotados nesta pesquisa.
30
Observe-se que o Novo (sublinhado em itálico na primeira legenda do Exemplo 12)
é retomado no Dado (sublinhado em negrito na segunda legenda do Exemplo 12).
ii) Progressão Temática contínua: padrão em que o mesmo Tema aparece em diversas
orações, mas seguido cada vez de um Rema distinto. Pode ser simbolizado como Tema >
Tema. Veja-se um exemplo:
Exemplo 13
Ela suscitava-lhe interesse.
Ela intrigava-o.”
(Legenda extraída da legendagem pirata em português de “Hannibal”)
Note-se que o Tema (sublinhado) é retomado do Tema anterior, sendo repetido
várias vezes, constituindo um Dado retomado em orações consecutivas.
iii) Progressão Temática derivada do Tema: padrão formado pela derivação particular
dos temas a partir de um “Hipertema”
17
, como, por exemplo, o Tema de um parágrafo.
Veja-se um exemplo:
17
Conforme explicado anteriormente, trata-se, por exemplo, de uma oração que serve de Tema para um
parágrafo, ou de um parágrafo que serve de Tema para um capítulo (Halliday; Mathiessen, 2004).
31
Exemplo 14
“- Peão para Rei 2.
- Cavalo para o bispo da rainha 6.
- Xeque.
- O quê?
- Não tinha visto isso.”
(Fragmento extraído da legendagem pirata em português de “Hannibal”)
Observe-se que, embora os Processos na primeira legenda, composta de duas linhas,
se encontrem elípticos, é possível recuperar a transitividade, de modo que os Temas e os N-
Remas foram anotados. Os Temas estão em negrito e os N-Remas estão sublinhados. Os
Temas “Peão” e “Cavalo” referem-se a peças do jogo de xadrez (Macrotema) exibido no
canal semiótico do filme legendado (canal visual), que integra o texto do filme legendado.
Dessa forma, tem-se uma configuração de Temas retomados a partir de um Macrotema, que
é, nesse caso, fornecido pelo contexto da situação. Os elementos em itálico no Exemplo 14
(Temas, N-Remas e Absolutos) se referem todos a um mesmo Macrotema que, no caso, é o
contexto apresentado no canal semiótico do filme (o jogo de xadrez).
Fries (1995) e Thompson (2007) apontam que há uma sobreposição da Progressão
Temática com o Fluxo de Informação, chamando o agrupamento dos dois de “Método de
Desenvolvimento” (Method of Development)
18
. No Exemplo 14, os Temas e N-Remas
18
A noção de Método de Desenvolvimento aparece no trabalho de Fries (1995) e é mais elaborada no
trabalho de Thompson (2007). A tipificação encontrada em Thompson (2007) é aqui adotada.
32
estão todos grifados (Temas em negrito e N-Remas sublinhados), excetuando-se um Tema
elíptico (“eu”) na última legenda
19
do exemplo. Nota-se que tanto o Tema como o N-Rema
derivam do mesmo Macrotema nesse contexto (no caso, o jogo de xadrez que os
personagens estão a jogar), o que aponta que a informação flui segundo o modo como o
texto foi organizado. Logo, há uma sobreposição dos dois conceitos aqui, sendo que a
Progressão Temática tem enfoque nos Temas e o Fluxo de Informação tem enfoque na
retomada de informação de cada Novo para sucessivos Dados. O local onde cada elemento
(Dado e Novo) é retomado (caracterizando, assim, o Fluxo de Informação) é mapeado pelo
Padrão de Progressão Temática. Thompson (2007) caracteriza o Método de
Desenvolvimento, então, por esses três tipos de Progressão Temática, explicando que a
Progressão Temática aponta também para o Fluxo da Informação.
20
Fries (1995, p. 318) afirma que os padrões de Progressão Temática podem variar de
acordo com o texto
21
. Afirma também que pode haver um hibridismo entre eles, ou padrões
diferentes em fragmentos diferentes de um mesmo texto, dependendo do que se pretende
comunicar. Fries (1995: 319) afirma que o próprio fato de o texto se encontrar em forma
escrita o limita, restringindo e delimitando o modo como a Progressão Temática se dá.
19
Cada legenda é uma porção de texto que aparece na tela por vez, composta de uma ou duas linhas. Há um
espaço separando as legendas entre si em cada um dos exemplos.
20
Tem-se, então, a informação fluindo através de sucessivos Temas e Remas. Se uma informação flui (i) de
um Tema ou Rema para um Tema ou Rema seguinte, ou (ii) de um Dado ou Novo, sendo retomada em um
Dado seguinte, é apenas uma diferença de qual perspectiva se enfoca, mas o fluxo e a progressão passam
pelos mesmos elementos. Logo, há uma sobreposição dos conceitos de Progressão Temática e Fluxo de
Informação; esse conceito duplo sobreposto é tratado aqui como Método de Desenvolvimento (THOMPSON,
2007).
21
O autor trabalhou com um corpus composto de um conto de fadas, um romance, obituários de um jornal e
guias de viagem.
33
Vale ressaltar o que Thompson (2007, p. 689) aponta sobre a identificação do
padrão de Progressão Temática: que dois fatores diferentes podem influenciar qual desses
padrões será utilizado em um texto:
“(...) O primeiro fator se refere a se o discurso é planejado ou não-
planejado. Em um discurso não-planejado (ou que pretende parecer não-
planejado), as escolhas Temáticas são feitas com base em cada momento;
são inclinadas a refletir os significados que emergem como proeminentes
ao longo do texto, simplesmente porque aparecerão no Tema às vezes, mas
não necessariamente em uma maneira padronizada. Isso é particularmente
verdade em conversas (...) em que não é uma só pessoa que é responsável
pelas escolhas Temáticas.”
22
(THOMPSON, 2007, p. 689)
Entende-se, então, que um hibridismo é esperado. Não obstante, é possível que
essas escolhas se dêem diferentemente em cada uma das legendagens feitas para um mesmo
filme, caracterizando Métodos de Desenvolvimento distintos. Isso será discutido no
capítulo de Análise e Discussão de Dados.
Os trabalhos de Cloran (1995), Fries (1995; 2002), Thompson (2004; 2007) e
Halliday e Matthiessen (2004) não mencionam a legendagem de filmes, mas entende-se que
a legendagem de filmes também podem ser analisada com suas especificidades. Fries
(1995), por exemplo, tratou separadamente um romance, um conto de fadas, obituários e
guias de viagem, apontado especificidades do Método de Desenvolvimento em cada um
22
Minha tradução de: “(...) The first is whether the discourse is planned or unplanned. In discourse that is
unplanned (or intended to appear unplanned), thematic choices are made on a moment-by-moment basis; they
are likely to reflect the meanings that emerge as prominent through the text, simply because these will appear
in Theme at times, but not necessarily in a patterned way. This is particularly true of conversation (...) where
it is not one person who is responsible for the Theme choices.” (THOMPSON, 2007, p. 689)
34
desses textos. Pretende-se caracterizar aqui as legendagens de filmes, fazendo a distinção
entre legendagens comerciais e piratas; mais especificamente, em filmes de terror/suspense
da década atual, produzidos em países de língua inglesa, veiculados com legendas em
português no Brasil.
A categorização do corpus da presente pesquisa em “texto oral” ou “texto escrito” é
ambígua. Por um lado, têm-se as legendagens em textos escritos, apresentadas no canal
semiótico visual; por outro lado, esses textos traduzem falas encontradas no canal semiótico
auditivo
23
. Considerando-se que o texto tem um forte caráter oral/informal na maior
porção do corpus, esse critério é adotado aqui para justificar o modo como os Temas são
tratados neste trabalho.
Conforme apontado anteriormente nesta seção, Fries (1995; 2002) e Thompson
(2007) examinam os Temas em “Unidades-T” (“T-units”), isto é, complexos oracionais
que contêm uma oração independente juntamente com todas as orações hipotáticas que dela
dependem. Seguindo-se esse conceito, o seguinte fragmento extraído da legendagem pirata
de “Hannibal” poderia ser considerado uma “Unidade-T”:
Exemplo 15a
“Só para não começarmos com o pé esquerdo, deixe-me dizer-lhe porque estamos
todos aqui reunidos.”
(Fragmento extraído da legendagem pirata de “Hannibal”)
24
23
Pode-se levar em conta até mesmo o fato de as falas dos personagens serem provenientes de um roteiro
escrito. Entretanto, considera-se aqui que as falas no roteiro escrito pretendem simular textos orais
espontâneos para o espectador.
24
A informação é encontrada segmentada nas legendas conforme apontado no Exemplo 9b. O Exemplo 9a
indica como essa informação poderia ser recuperada, descaracterizando-se as legendas como tal, apenas a
título de argumentação aqui.
35
No entanto, essa possível Unidade-T foi obtida juntando-se duas legendas, cada uma
de duas linhas. Originalmente eram:
Exemplo 15b
“Só para não começarmos
com o pé esquerdo...
deixe-me dizer-lhe
porque estamos todos aqui reunidos.”
(Legendas extraídas da legendagem pirata em português de “Hannibal”)
Entende-se, então, que a adoção do conceito de Unidade-T exigiria que se
descaracterizem as legendas, eliminando-se sua segmentação. Considerando que esta
pesquisa visa precisamente a caracterizar as legendas, a unidade de análise necessita ser
cada legenda, de modo que o conceito de Unidade-T não seria adequado para realizar
análises em legendas.
A demarcação do Tema em um texto é algo sobre o que há alguma discordância.
Conforme mencionado anteriormente nesta seção, Fries (1995; 2002), Halliday e
Matthiessen (2004) e Thompson (2004; 2007) encerram o Tema no primeiro elemento
Ideacional encontrado. Martin et al (1997) estendem o Tema até o Sujeito. Como os
padrões de Método de Desenvolvimento adotados são os encontrados em Thompson (2007)
utilizando o conceito de N-Rema de Fries (1995; 2002), o conceito de Tema desses autores
é adotado nesta pesquisa.
36
Conforme anteriormente mencionado nesta seção, Fries (2002) e Thompson (2007)
adotam Unidades-T como unidades de análise. Isso foi demonstrado com o Exemplo 9.
Esse exemplo corresponde a um fragmento curto e, tomando-o por base, é possível que uma
perspectiva mais metafórica pareça adequada. Entretanto, considere-se outro excerto
extraído do mesmo corpus, apresentado no Exemplo 16 a seguir:
Exemplo 16
“Só para não começarmos
com o pé esquerdo...
deixe-me dizer-lhe
porque estamos todos aqui reunidos.”
(Legendas extraídas da legendagem pirata em português de “Hannibal”)
Tem-se, no Exemplo 16, um único período segmentado em duas legendas distintas,
sendo cada legenda segmentada em duas linhas na tela. A primeira legenda se encontra no
início da mensagem, mas não chega sequer a constituir o Tema da legenda seguinte, sendo
apenas parte dele. Caso o período inteiro fosse ser analisado como uma Unidade-T, seria
necessário ignorar a natureza das legendas, com suas restrições de espaço. Levando-se esse
caráter do corpus em consideração, uma perspectiva mais congruente é adotada nesta
pesquisa. Por exemplo, entende-se que, no Exemplo 9, o processo “É” em posição inicial
no fragmento realiza o Tema. No Exemplo 16, a primeira legenda é tratada como uma
oração menor (minor clause) e a legenda inteira recebe o Rótulo “Absoluto”, com o
primeiro elemento ideacional encontrado na legenda seguinte em posição temática – no
37
caso, “Deixe” (Processo) –, sem contar a oração hipotática (i.e. a primeira legenda inteira)
como parte de uma possível Unidade-T.
No referente aos padrões de Método de Desenvolvimento, o padrão Rema > Tema
pode ser identificado no corpus desta pesquisa como casos em que o Tema é retomado a
partir de algo encontrado no Rema, sendo que, nesta pesquisa, propõe-se ainda
subcategorizar isso em: i) Temas retomados do N-Rema anterior; e ii) Temas retomados de
outro ponto do Rema anterior. Os autores não mencionaram essa segunda possibilidade,
mas isso parece ocorrer no corpus, como será discutido no capítulo de Análise e Discussão
de Dados deste trabalho.
O procedimento de anotação do corpus para possibilitar as análises dos dados
encontrados será descrito no capítulo de Metodologia.
4. METODOLOGIA
4.1. Corpus
O corpus de pesquisa é composto dos fragmentos iniciais de dez filmes de
terror/suspense da década atual produzidos em língua inglesa, cada um incluindo duas
legendagens distintas, quais sejam: (i) legendagens comerciais interlingüísticas em
português e (ii) legendagens piratas interlingüísticas em português. Para fins de análise, foi
necessário anotar-se o que foi encontrado no canal auditivo do filme. Os DVDs comerciais
dos filmes incluem legendagens intralingüísticas em inglês também. Essas legendagens
foram usadas como base para a transcrição do áudio. Houve um total de cinco omissões de
repetições de falas encontradas no canal auditivo nessas legendagens. Essas falas foram
adicionadas a essas legendagens, de modo que assim se obteve uma transcrição exata do
áudio para servir de parâmetro de comparação nas análises das legendagens comerciais e
38
piratas em português. As legendagens comerciais em português foram obtidas a partir dos
DVDs “oficiais” comercializados no Brasil – os mesmos nos quais foram encontradas as
legendagens intralingüísticas em inglês. As legendagens piratas foram encontradas na
Internet, tendo elas sido produzidas para versões dos filmes veiculadas na Internet.
Os filmes foram veiculados primeiro no circuito pirata em formato para visualização
em computadores: arquivos “.avi” com legendas em formato “.srt” ou “.sub” vinculados
aos arquivos de vídeo “.avi”. Os DVDs comerciais foram disponibilizados no Brasil
posteriormente, segundo apontado por usuários das legendagens piratas
25
.
O corpus foi obtido de maneira híbrida, processando-se os filmes a partir dos DVDs
oficiais lançados no Brasil, adicionando-se as legendagens piratas encontradas na Internet.
Os fragmentos selecionados dos filmes foram convertidos para o formato “.avi”, para mais
facilmente se analisar no computador, e as legendagens comerciais foram extraídas dos
DVDs, convertidas ao formato “.srt”.
26
O corpus é composto de fragmentos dos filmes em
formato “.avi”; dos fragmentos correspondentes extraídos das legendagens piratas
circuladas via Internet em português; e dos fragmentos correspondes extraídos das
legendagens comerciais em português encontradas nos DVDs comercializados no Brasil.
Para cada filme, o fragmento selecionado para extração é delimitado do início do filme até
25
Informação apontada pelos usuários que deixaram comentários na seção de descarga de legendagens dos
fóruns <www.videoloucos.com.br> e <http://titles.box.sk>, acessados em 26 de novembro de 2006. As
legendagens foram obtidas do sítio eletrônico <http://titles.box.sk>; não obstante, os comentários do fórum
“videoloucos” se referem aos mesmos filmes.
26
Os filmes piratas são veiculados na Internet através de programas de compartilhamento de arquivos “peer-
to-peer” (“P2P”) em formato MPEG ou AVI, sendo o AVI (Audio-Video Interleaving) gravado com um
código de compressão de sinais para o vídeo e outro para o áudio. O código “XviD” foi selecionado para o
vídeo e “MP3” para o áudio – trata-se de uma combinação freqüente nesses arquivos, sugerida por fóruns
como <www.videoloucos.com.br> e <www.divx.box.sk>. As legendagens foram extraídas em arquivos “.srt”
separados – formato freqüente em sítios eletrônicos de legendagens piratas tais como:
<www.opensubtitles.org>, <www.legendas.tv> e <titles.box.sk>, entre outros. O processo de extração do
corpus e as razões para esses formatos serão explicados na seção seguinte deste capítulo.
39
a primeira mudança de capítulo
27
do DVD encontrada após um mínimo de dez minutos de
filme transcorridos, de modo que cada fragmento tem pouco mais de dez minutos e se
encerra em uma mudança de cena. Com isso, tem-se aproximadamente a mesma quantidade
de texto que haveria para analisar em um filme na íntegra, o que favorece a análise de um
número maior de filmes diferentes
28
, de modo que as características encontradas não se
referem a um só tradutor ou a um único filme. Como os fragmentos são tomados a partir do
início de cada filme, não há problemas de referências a cenas já transcorridas ou
recuperação de informações anteriores no filme.
A compilação do corpus foi definida com base nos seguintes critérios:
- Tipo de filme
Para minimizar questões de censura ou restrições na tarefa do tradutor, devido a
aspectos sensíveis (termos “tabu” etc), foram selecionados filmes classificados como tendo
um público-alvo adulto. Optou-se por filmes de “terror/suspense” por considerar-se que
esses filmes possuem um número elevado de interações entre personagens.
29
27
As mudanças de capítulos dos DVDs correspondem a mudanças de cenas.
28
Buscou-se evitar também que todos os filmes fossem produzidos em um mesmo país de língua inglesa, de
modo a aumentar a abrangência do corpus. Tem-se, então, filmes produzidos nos EUA, Canadá e Reino
Unido. Entretanto, nota-se em fóruns de Internet, tais como <www.videoloucos.com.br> e
<www.divx.box.sk>, que há um maior volume de postagens e comentários relacionados a filmes produzidos
nos EUA, de modo que esses foram mais numerosos no corpus.
29
Dado obtido de <www.videoloucos.com.br>, acessado em 26 de novembro de 2006.
40
- Disponibilidade de legendagem
O critério adotado foi selecionar filmes para os quais houvesse pelo menos a faixa
de som original do filme em inglês e legendagens em inglês e português nos DVDs
comerciais lançados no Brasil. As legendagens com a transcrição do áudio em inglês são
utilizadas como referência, enquanto o foco será comparar as legendagens em português
encontradas nos DVDs “oficiais” vendidos no Brasil com as produzidas por fãs veiculadas
informalmente pela Internet.
Com base no tipo de filme e na disponibilidade da legendagem, os filmes escolhidos
foram:
Quadro 2: Filmes que compõem o corpus
Título no
Brasil
Título original Ano de
produção
País Distribuição comercial no
Brasil
Amaldiçoados Cursed
2005 EUA Europa Filmes, 2006
O Buraco The Hole
2001 Inglaterra Europa Filmes, 2002
A Casa de Cera House of Wax
2004 EUA Warner do Brasil, 2004
A Cela The Cell
2000 EUA Playarte, 2000
A Chave-Mestra The Skeleton
Key
2006 EUA Universal do Brasil, 2006
Cubo Zero Cube Zero
2004 Canadá Imagem Filmes, 2004
Hannibal Hannibal
2001 EUA Columbia Pictures do Brasil,
2001
Jogos Mortais 2 Saw 2
2005 Canadá Aliance Empresa de
Audiovisual Ltda, 2005
O Massacre da
Serra Elétrica
The Texas
Chainsaw
Massacre
2003 EUA Europa Filmes, 2003
A Vingança de
Willard
Willard
2003 EUA Playarte, 2003
Os DVDs não indicam quem produziu as legendagens, de modo que esse dado não
está disponível.
41
4.1.1. Obtenção das legendagens piratas
Todas as legendagens piratas incluídas neste corpus foram encontradas no sítio
eletrônico <http://titles.box.sk>.
Os filmes vêm circulando nas versões lançadas nos EUA, que têm os mesmos
tempos totais de duração que as versões veiculadas oficialmente em DVDs no Brasil, pois o
sistema de gravação utilizado no Brasil é o mesmo utilizado nos EUA (NTSC), podendo o
filme ser gravado a aproximadamente 24 ou 30 quadros por segundo, o que difere do
sistema utilizado na Europa: PAL (necessariamente 25 quadros por segundo)
30
. A taxa de
quadros por segundo é um dado importante, visto que legendagens sincronizadas para uma
taxa de quadros por segundo diferente podem apresentar problemas ao serem utilizadas
para o mesmo arquivo .avi. Os dois formatos de legendagem pirata foram: .sub (apenas
para “A Cela” e “Hannibal”) e .srt (todas demais). O formato .srt apresenta a vantagem de
ser baseado em tempo de filme decorrido. A sincronização da legendagem em formato .sub
é feita através da vinculação com um quadro específico do filme, o que apresenta sérios
problemas de falta de sincronismo caso a cópia do filme tenha uma taxa de quadros por
segundo diferente. As duas legendas em formato .sub foram, então, convertidas para .srt a
título de padronização. Nenhum problema de sincronismo foi encontrado na conversão, já
que a taxa de quadros por segundo (qps) de cada filme era sabida
31
(29,97 qps em “A Cela”
e 23,76 qps em “Hannibal”, ambos gravados em NTSC). Nenhuma das legendagens piratas
foi produzida para o padrão PAL, que teria exatos 25 qps. Filmes gravados em NTSC
podem apresentar taxas de 23,76 qps, 23,96 qps ou 29,97 qps. Compreende-se, assim, que
30
O padrão de gravação utilizado para DVDs em todo o continente americano e no Japão é NTSC. Em todos
os demais países do mundo é PAL. Esse dado é fornecido por sítios eletrônicos de vendas de DVDs como
<www.dvdworld.com.br> e <www.amazon.com>, por exemplo.
31
Informação gerada automaticamente pelo programa BS Player.
42
versões da América do Norte foram usadas, mesmo quando o filme não foi originalmente
produzido nesse continente (exemplo: “O Buraco”, produção britânica – filme encontrado
na Internet gravado a 29,97 qps, com sua respectiva legendagem pirata).
4.1.2. Tratamento do corpus
Os DVDs oficiais dos filmes escolhidos para o corpus foram decriptados e
convertidos em “.avi”. As legendagens dos DVDs foram extraídas via OCR (Optical
Character Recognition) para o formato “.srt”, de maneira que puderam ser mais facilmente
analisadas e anotadas no computador, além de permitir, assim, que o corpus fosse anotado
digitalmente. Desse modo, obtiveram-se as legendagens intralingüísticas em inglês (para
servir de base para a anotação do áudio) e as legendagens interlingüísticas comerciais em
português. As legendagens piratas, obtidas da Internet
32
já em formato-texto (“.srt” ou
“.sub”), foram adicionadas ao corpus separadamente. Oito delas estavam em formato “.srt”
e duas estavam em formato “.sub”; a título de padronização, as legendas em formato
“.sub”
33
foram convertidas para “.srt” usando o programa SubSync para realizar a
conversão.
34
A decriptação dos DVDs foi feita com o programa DVD Decrypter e as legendagens
foram extraídas via OCR com o programa SubRip. Os vídeos foram convertidos para .avi
com o programa DVDx.
32
Encontradas no sítio eletrônico <titles.box.sk>, onde são disponíveis até o presente momento.
33
As legendagens piratas para “A Cela” e “Hannibal” estavam em formato “.sub” no sítio. As demais estavam
em formato “.srt”.
34
Todos os programas utilizados para extração do corpus e tratamento das legendas puderam ser
descarregados em versões gratuitas (“freeware”) do sítio eletrônico <www.superdownloads.com.br>, onde
estão disponíveis até o presente momento.
43
Deve-se ainda considerar um aspecto técnico dos DVDs: as legendas que compõem
as legendagens são gravadas em pequenos arquivos fotográficos (.gif), animados ou não,
embutidos nos arquivos .vob que compõem a gravação do DVD. A animação é usada em
caso de efeitos de esmaecimento (“fade in” e “fade out”) nas legendas. O usuário não tem
muito controle sobre tais detalhes ao assistir um DVD. Entretanto, legendagens piratas são
arquivos de texto. O player – isto é, o programa utilizado para visualizar o filme em
conjunto com uma legendagem – pode ser configurado para exibir as legendas com a fonte
que o usuário escolher, do tamanho que o usuário preferir. Ao aumentar muito o tamanho
da fonte, as legendas podem não caber mais na tela. Então, há duas opções: i) o usuário
pode programar o player para automaticamente reduzir o tamanho da fonte quando
necessário; ou ii) pode programá-lo para adicionar automaticamente novas quebras de
linhas onde forem necessárias, o que torna o número de linhas das legendas piratas
relativamente impreciso, pois tudo dependerá de como o usuário configurou seu player. O
legendador pode inserir quebras de linhas obrigatórias, mas, se o usuário escolher um
tamanho de fonte muito grande e optar por adicionar quebras de linhas onde necessário, é
possível que as duas linhas se transformem em três, quatro ou mais linhas. No entanto, as
quebras obrigatórias encontradas nas legendas nunca ultrapassam o limite de duas linhas
por legenda em todo o corpus desta pesquisa. Usando a configuração padrão do software
BS Player – programa gratuito escolhido para visualização dos filmes com suas
legendagens piratas – de fonte Arial 16, nenhuma quebra adicional foi necessária ao
visualizar os filmes legendados.
Acredita-se que usuários com monitores pequenos e/ou com dificuldades de visão
podem preferir legendas com tamanho maior na fonte. O corpus foi visualizado, ao longo
desta pesquisa, em um monitor de 17”, tela plana, padrão “full screen” (aspecto 4:3), com o
44
pesquisador sentado próximo ao monitor. O tamanho de fonte padrão do programa BS
Player (Arial 16) foi considerado satisfatório pelo pesquisador para a leitura das legendas.
Essas características das legendagens dos DVDs e das legendagens em formato “.srt” serão
retomadas no Capítulo de Análise e Discussão de Dados, pois são importantes para se tratar
do número de linhas ao se discutirem os aspectos descritivos (DÍAZ-CINTAS, 2003).
4.1.3. Tamanho do corpus
A legendagem comerciais e a pirata para cada filme correspondem a um mesmo
fragmento do mesmo filme, que se estende do início de cada filme até a primeira mudança
de cena após um mínimo de dez minutos de filme transcorridos; ou seja, o critério de
compilação do corpus considerou cenas completas. Não se trata de um corte feito
aleatoriamente em um mesmo tempo decorrido ou marcado por igual volume de texto. A
quantidade de falas em cada filme é diferente, o que faz com que suas legendagens tenham
volumes de texto distintos, conforme detalhados a seguir. Reitera-se aqui que cada porção
de texto apresentado por vez na tela durante a exibição do filme legendado constitui uma
legenda e que o conjunto de legendas encontrado em um filme legendado constitui uma
legendagem, conforme discutido no capítulo de Revisão de Literatura.
A legendagem mais curta do corpus é a de “A cela” (“The Cell”) em inglês, com
745 ocorrências (tokens)
35
. A mais longa é a legendagem pirata em português feita para o
filme “Amaldiçoados” (“Cursed”), com 3.389 ocorrências (tokens). A Tabela 1 a seguir
mostra os dados do corpus referentes ao número de ocorrências mais detalhadamente
36
.
35
A proposta de se traduzir o termo token como “ocorrência” é sugerida em Berber-Sardinha (2004, p. 165).
36
Dados extraídos usando a suíte de programas WordSmith Tools. Esses dados são referentes ao corpus não-
anotado.
45
Tabela 1: Quantidade de ocorrências (“tokens”) nas legendagens que compõem o corpus.
Filme Legendagens comerciais em
português
Legendagens piratas em
português
Amaldiçoados 2.961 3.389
O Buraco 1.774 1.890
A Cela 1.392 1.459
A Casa de Cera 2.299 2.672
A Chave-Mestra 2.189 2.187
Cubo Zero 1.629 1.559
Hannibal 1.453 1.751
Jogos Mortais 2 1.811 1.708
O Massacre da Serra Elétrica 2.471 2.153
A Vingança de Willard 1.355 1.618
Total
17.979 18.768
Como podemos ver na Tabela 1, oito das dez legendagens piratas apresentam maior
número de ocorrências que as legendagens comerciais para os mesmos filmes. Apenas
“Cubo Zero” e “O Massacre da Serra Elétrica” apresentam legendagens comerciais com
maior número de ocorrências que suas respectivas legendagens piratas.
Os dados da Tabela 1 serão retomados para maiores discussões no capítulo de
Análise e Discussão dos Dados.
4.2. A anotação do corpus
O corpus é composto de um conjunto de arquivos de computador: arquivos “.avi”
para os filmes, com suas legendagens em arquivos “.str” que se vinculam aos vídeos. A
visualização de um arquivo “.avi” pode ser feita com ou sem legendas. No caso de exibir-se
46
o filme legendado, é necessário abrir o arquivo de vídeo junto com um dos arquivos de
legendagem sincronizado para esse vídeo
37
.
A universalidade do formato de um mesmo corpus anotado para análises em
programas diferentes é importante para o Projeto CORDIALL, no qual esta pesquisa se
insere, de modo que é necessário que o formato seja aberto, passível de ser analisado
através de um concordanciador e análogo ao formato das legendagens. As legendagens em
formato .srt são arquivos análogos a .txt, que é o formato mais aberto que existe para um
texto. Funciona tanto em concordanciadores quanto em editores XML (de modo que podem
ser acoplados a quaisquer corpora em formatos tais como o .xml). O formato .srt se mostrou
perfeitamente funcional para todas as funções e programas de computador necessários à
pesquisa. Para as análises, ele pode ser tratado como se fosse .txt, com perfeita
compatibilidade com editores de texto e editores XML ou HTML, além de ser um formato
“leve”, o que é essencial, já que precisam ser abertos juntamente com seus respectivos
arquivos .avi, que demandam maior capacidade de processamento do computador. Os
arquivos são anotados observando-se também o canal semiótico e as legendagens anotadas
podem ser exibidas juntamente com o vídeo durante e após a anotação.
Para satisfazer a essas necessidades, cada uma das legendagens foi anotada
utilizando-se um programa feito para elaborar legendas para filmes: SubSync, distribuído
gratuitamente na Internet. Trata-se de um programa que permite fazer, corrigir, re-
37
Pode-se questionar por que as anotações nesta pesquisa não foram feitas diretamente nos arquivos de vídeo.
A fim de sanar essa dúvida, explica-se aqui que isso se deve ao modo como anotadores de vídeo funcionam.
Em primeiro lugar, anotadores de vídeo não abrem legendagens. Esse fato por si só já bastaria para descartar a
hipótese de utilizá-los. Foram testados softwares como NVivo e TASX Annotator, mas o máximo que esses
programas fazem é categorizar os vídeos e vincular um arquivo-texto a eles no qual se pode inserir a
marcação de tempo e, nesse arquivo em separado, fazer as anotações. Entretanto, as marcações de tempo já
são claras e precisas nos arquivos das legendagens e os vídeos seriam anotados justamente para explicar o que
foi extraído do canal visual para inserção nas legendas. Faz mais sentido anotar essas informações
diretamente nos arquivos das legendagens.
47
sincronizar e modificar legendas em geral. As anotações são feitas entre parênteses
angulares, de modo que são compatíveis também com leitores HTML, XML etc. Os
arquivos, entretanto, são .srt, isto é, .txt incluindo marcações de tempo, vinculando-os ao
filme. As legendagens anotadas são salvas com nomes diferentes, de modo a não serem
confundidas com as legendagens originais, não-anotadas. Embora as legendas com as
anotações inseridas fiquem fora das margens normalmente utilizadas, podem ser
visualizadas na íntegra com o próprio SubSync (além de players mais flexíveis, como, por
exemplo, o BS Player) e, para outras análises, com contagens de etiquetas, as legendagens
são abertas em um programa concordanciador. Uma opção leve e prática, já adquirida pelo
LETRA, é o concordanciador encontrado na suíte de ferramentas WordSmith Tools, que se
mostrou perfeitamente funcional para isso, mas qualquer outro concordanciador também
poderia ter sido utilizado. Com isso, obteve-se um corpus anotado juntamente com a
exibição dos arquivos de filmes, passível de análises automáticas computadorizadas e
também de ser visualizado na íntegra, com ou sem as anotações.
4.3. Etapas da análise
A primeira etapa se atém aos critérios apontados por Díaz-Cintas (2003), com foco
em aspectos descritivos das legendagens. Em segundo lugar, é feita uma caracterização das
legendagens segundo a explicitação, utilizando as categorias de Perego (2003). Por último,
são tratados aspectos referentes ao Fluxo de Informação nas legendagens que compõem o
corpus desta pesquisa. Essas três etapas são detalhadas separadamente nos subitens a
seguir.
48
4.3.1. Análises descritivas das legendagens comerciais e piratas em português
Os parâmetros levados em conta se baseiam principalmente em Díaz-Cintas (2003),
embora conceitos de Gottlieb (1994; 1998) também estejam inclusos. Esses conceitos,
reiterados a seguir, foram explicados mais detalhadamente no capítulo de Revisão de
Literatura:
- Formato das legendas: número de linhas; localização das legendas; número de
caracteres por linha; tipo de letra; cor das legendas; duração das legendas; posição das
legendas; marcação.
- Características do texto das legendas: redução; condensação; omissão; segmentação.
4.3.2. Análises das legendagens piratas e comerciais em português com base no
conceito de explicitação
As categorias de explicitação (PEREGO, 2003) a serem utilizadas foram detalhadas
no capítulo de Revisão de Literatura e são reiterados a seguir:
- Explicitação motivada por diferenças culturais: adição; especificação.
- Explicitação motivada por mudanças no canal semiótico: adição, especificação.
- Explicitação motivada pelo requisito de redução: adição, especificação.
Como já foi dito, a explicitação foi anotada manualmente assistindo-se os filmes em
um programa legendador – no caso, SubSync. As legendagens comerciais e piratas em
português foram anotadas e salvas em arquivos separados, a fim de não confundi-las com
as legendagens não-anotadas. A anotação foi realizada com as etiquetas (“tags”) descritas
no Quadro 3 a seguir:
49
Quadro 3: Padrão de anotação utilizado no corpus desta pesquisa para categorias relacionadas ao
conceito de explicitação (PEREGO, 2003)
Categoria relacionada ao conceito de explicitação (PEREGO, 2003) Etiqueta
Explicitação motivada por diferenças culturas realizada por adição <ECA>
Explicitação motivada por diferenças culturas realizada por especificação <ECE>
Explicitação motivada por mudanças no canal semiótico realizada por adição <ESA>
Explicitação motivada por mudanças no canal semiótico realizada por
especificação
<ESE>
Explicitação motivada pelo requisito de redução realizada por adição <ERA>
Explicitação motivada pelo requisito de redução realizada por adição <ERE>
Em seu artigo, Perego (2003) não descreve como foi realizada a anotação de
legendagens em sua pesquisa. O padrão de anotação apresentado no Quadro 3 é uma
proposta feita neste trabalho.
As análises dos dados obtidos a partir do corpus anotado com essas etiquetas se
encontram discutidas na segunda seção do capítulo seguinte.
4.3.3. Legendas piratas e comerciais em português: Métodos de Desenvolvimento
Como esta etapa é muito mais detalhada e trabalhosa, uma porção menor do corpus
foi selecionada para este estudo piloto. Para as outras duas abordagens, o corpus foi
analisado na íntegra. A partir dos aspectos descritivos apontados por Díaz-Cintas (2003),
selecionaram-se dois filmes com aspectos mais divergentes para essa análise mais laboriosa
para este trabalho. Pretende-se, no entanto, para a tese, observar o corpus integralmente.
50
Para este estudo piloto, dois filmes com suas respectivas legendagens foram
escolhidos para uma análise envolvendo a anotação de Temas, N-Remas e detalhes
referentes ao Fluxo de Informação. As legendagens i) com a transcrição do áudio em
inglês; ii) comerciais em português e iii) piratas em português dos filmes “Cubo Zero” e
“Hannibal” tiveram todos os seus Temas e N-Remas anotados com o CROSF-15
combinado com o EFI-03, conforme detalhado a seguir. Acredita-se aqui que a combinação
desses dois códigos pode ajudar a apontar detalhes sobre como se dá o Fluxo de Informação
ao longo de cada legendagem, observando-se aspectos relacionados ao Método de
Desenvolvimento (THOMPSON, 2007). Como esses dois filmes apresentaram os dados
mais distintos
38
, tanto no que se refere aos aspectos descritivos apontados por Díaz-Cintas
(2003) quanto no que se refere ao fenômeno da explicitação (PEREGO, 2003) entre a
legendagem comercial e a pirata, esses dois filmes foram escolhidos para essa análise.
4.3.3.1. CROSF (Código de Rotulação Sistêmico-Funcional)
Para se analisar a Organização Temática em um texto, Feitosa e Pagano (2005)
desenvolveram um código numérico para a anotação de corpora eletrônicos, adotado no
LETRA (Laboratório Experimental de Tradução, da Faculdade de Letras da Universidade
Federal de Minas Gerais) e também por alguns pesquisadores do Centro de Comunicação e
Expressão da Universidade Federal de Santa Catarina, entre eles: Espíndola (2008) e Pires
(2008). Trata-se do CROSF, que parte do Tema e permite, assim, anotar os corpora em
formato eletrônico utilizando-se de “Rótulos” – anotações com base na Lingüística
38
Esses dados serão discutidos no capítulo de Análise e Discussão de Dados.
51
Sistêmico-Funcional (LSF), ou seja, na Gramática Sistêmico-Funcional (GSF) e nos
trabalhos de outros teóricos que adotam essa abordagem.
Embora o CROSF possa ser utilizado para anotar Temas, Remas, e até mesmo N-
Remas, ainda carece de mais testes no que tange às análises de Remas, visto que essas
ainda são escassas na Literatura. Além disso, o CROSF não contempla, em sua utilização
sem códigos adicionais, a Estrutura de Informação. Entretanto, implementando-se um
código adicional a ele, é possível fazer associações entre a Organização Temática e a
Estrutura de Informação, possibilitando-se, assim, analisar o Fluxo de Informação
39
,
através dos diferentes Métodos de Desenvolvimento, conforme discutido na seção anterior.
A combinação da Lingüística de Corpus com a LSF resultava pesquisas laboriosas
com anotação manual em longas palavras, passível de erros e sem um critério de
padronização entre corpora diferentes. Uma proposta de anotação de corpora com termos
da LSF foi o CROSF, desenvolvido no LETRA (FALE/POSLIN/UFMG) em 2005 por
Feitosa e Pagano e atualizado em 2006. O Código de Rotulação Sistêmico-Funcional
(CROSF) é um código numérico que abarca o maior número possível de categorias da GSF,
por meio do qual se anota o corpus tomando por base o Tema. Na ausência do Tema, anota-
se a função Absoluto, para as orações menores (minor clauses), ou seja, para casos em que
se tem uma estrutura que não chega a formar uma oração, de modo que não há
transitividade a ser observada (Halliday; Matthiessen, 2004; Thompson, 2004). O código
também possibilitava a anotação dos Remas, mas isso não foi testado na época de seu
desenvolvimento. Considerou-se que o Rema poderia ser anotado, possivelmente, com as
39
Entende-se que, relacionando-se a localização do Tema (Organização Temática) com a localização do Dado
e do Novo (Estrutura de Informação), pode-se compreender melhor como se dão a Progressão Temática (isto
é, onde – e de onde – o Tema é retomado) e o Fluxo de Informação (onde o Novo é retomado como Dado
e/ou abandonado).
52
mesmas categorias das três Metafunções, quais sejam: i) Ideacional; ii) Interpessoal; e iii)
Textual.
Entende-se por Rótulo o que Halliday (1994, p. 24) chamou de Label em inglês, isto
é, um indicador da função que cada elemento desempenha em uma oração. O Rótulo na
forma de um código numérico de sete dígitos reduz a margem de erros, acelera a anotação
do corpus e facilita a leitura do texto anotado na tela do computador, já que um Rótulo
demasiado longo pode impedir que se veja na mesma linha, no programa concordanciador
utilizado, o texto ao qual esse Rótulo se refere. O código numérico também permite que
uma busca seja mais abrangente ou mais específica usando as mesmas anotações, pois cada
dígito em cada posição é interpretado de um modo.
Para uma melhor compreensão do CROSF, chamem-se as posições de cada dígito
por letras, a fim de não confundir sua posição no Rótulo com o seu valor numérico:
< 1 1 1 1 1 1 1>
a b c d e f g
O dígito na primeira posição é chamado de “posição a”; o segundo dígito está na
“posição b”; assim sucessivamente. A posição a se refere a se o fragmento anotado é Tema,
Rema, Absoluto, N-Rema etc. A posição b indica se o item na posição a é elíptico, se está
em primeira posição na oração, em segunda posição etc. Logo, b é interpretado segundo o
que for encontrado em a. Se o(a) pesquisador(a) não deseja anotar se o referido elemento é
Tema, Rema etc, poderá deixar os dois valores preenchidos com zeros (00). Entretanto, se
anotar a posição a com algum outro valor e a posição b com um zero (0), entende-se que o
elemento anotado se encontra elíptico no texto, sendo recuperado pelo contexto e assim
anotado pelo(a) pesquisador(a).
53
A posição c se refere à Metafunção (Ideacional, Interpessoal ou Textual). As demais
posições são subcategorias dentro de suas respectivas Metafunções, de modo que cada
posição deve ser interpretada segundo a posição que a precede. Uma lista completa do
código se encontra no Anexo 1, em seu 15
o
protótipo. O código foi desenvolvido através de
sucessivos protótipos que eram feitos e testados. Encontrando-se falhas no código, um novo
protótipo foi produzido e novamente testado. O protótipo 14 foi considerado satisfatório na
pesquisa de mestrado do mesmo autor deste trabalho, também orientado pela Profa. Dra.
Adriana Pagano, em 2005. O CROSF-15 (FEITOSA, 2006) é apenas o CROSF-14 com a
remoção do Rótulo “Processo-participante”, que não mais será utilizado. Esse Rótulo era
usado para quando se encontrava um Participante elíptico em posição Temática.
Atualmente, contudo, prefere-se anotar essas ocorrências como um caso de Tema elíptico –
Ideacional – Participante.
Tem-se aqui um exemplo de anotação feita com o CROSF-15 em um fragmento do
corpus desta pesquisa:
Exemplo 17
“I <1111121> didn't even see that. <6111122>”
(Retirado da transcrição do áudio em inglês de “Cube Zero”)
O primeiro Rótulo é interpretado como: “Tema Simples; Ideacional; Não-Marcado;
Participante do Processo Mental; Experienciador”. O segundo Rótulo é lido como: “N-
Rema; primeira posição (do final para o começo, já que se trata de um Rema); Ideacional;
Participante do Processo Mental; Fenômeno”. Maiores detalhes podem ser encontrados em
54
Feitosa (2005; 2006) e também nas análises e discussões de dados, encontrados
posteriormente neste trabalho.
4.3.3.2. EFI (Epitélio para Fluxo de Informação)
Embora o CROSF possa ser utilizado para anotar corpora valendo-se de diversas
categorias da GSF, certas anotações extrapolam esse código, já que ele toma por ponto de
partida o Tema. Algumas anotações extrapolam as possíveis subcategorias de Temas e
Remas e co-ocorrem com elas. Tais anotações podem, entretanto, ser feitas em conjunto
com o CROSF, bastando-se para isso utilizar um código adicional. A co-utilização de
códigos adicionais com o CROSF já era prevista como uma possibilidade ainda no
protótipo 14, mas não fora previamente testada. Achava-se que bastava acrescentar uma
barra ( / ) e inserir o novo código. No entanto, programas concordanciadores não
reconhecem corretamente o código quando um dos caracteres é uma barra, como foi
verificado em testes, de modo que uma letra é usada como separador, sanando-se assim o
problema. Essa mesma letra serve para indicar que código adicional é este utilizado na
anotação do corpus.
No caso desta pesquisa, objetivou-se também observar se o fragmento anotado
corresponde a uma informação dada ou nova no texto, de modo que as categorias
hallidayanas Dado e Novo se tornaram necessárias. Como estas não são utilizadas para as
categorizações de Temas ou Remas, elas não se encontravam no CROSF, nem era possível
adicioná-las ao código sem mudar a sua lógica por inteiro, o que seria desnecessário, já que
nem toda pesquisa observará isso e a simples utilização de um código adicional, ou epitélio,
resolve esse problema. Pensou-se, então, em um epitélio para o Fluxo de Informação (EFI).
As primeiras duas tentativas de elaborar o EFI não se mostraram eficazes, mas a terceira
55
sim. Realizaram-se testes inicialmente apenas nas três legendagens do filme “Cube Zero”.
EFI-01 não permitia anotar se o Dado era ainda retomado mais adiante e tanto EFI-01 como
EFI-02 eram anotados com uma barra ( / ) para separar o que foi anotado em EFI do que foi
anotado em CROSF, o que não funcionou nas buscas eletrônicas, pois concordanciadores
confundiam valores dos dois códigos (CROSF e EFI), já que não consideravam a barra e
ambos códigos eram puramente numéricos. EFI-03 mostrou-se eficaz nos testes, incluindo
um caráter adicional: uma letra em sua posição inicial. Essa letra (no caso, h, atribuída
meramente por localizar-se na posição h do Rótulo) marca o início do EFI. O Anexo 2
mostra uma descrição detalhada do EFI-03.
4.3.3.3. Procedimento de anotação do corpus com os códigos CROSF-15 + EFI-03
Conforme discutido nas seções anteriores deste capítulo, o corpus foi anotado com
CROSF-15 em conjunto com EFI-03, sendo que o EFI foi elaborado durante esta pesquisa.
Esse procedimento de anotação foi aplicado inicialmente às legendagens do filme “Cubo
Zero”, a saber: i) transcrição do áudio em inglês, ii) legendagem comercial em português e
iii) legendagem pirata em português. Em seguida, foi aplicado também às três legendagens
do filme “Hannibal”
Para este procedimento, é preciso visualizar simultaneamente as três legendagens e
o filme (áudio e vídeo), anotando-se as três legendagens ao mesmo tempo, buscando-se
dirimir os erros nas anotações. O procedimento adotado, após alguns testes com softwares
diferentes, foi feito satisfatoriamente com programas leves: Bloco de Notas (parte do
Microsoft Windows) e BS Player (programa distribuído gratuitamente na Internet). As
legendagens se encontram em arquivos análogos a “.txt”, de modo que podem ser abertos
no Bloco de Notas. Para anotar as legendas, abriram-se as três legendagens ao mesmo
56
tempo, cada uma ocupando um quarto da tela do computador, usando o quarto de tela
restante para exibir o filme em tela reduzida no BS Player. Observou-se bem a marcação de
tempo enquanto se ouviu cada fala, exibindo e pausando o filme a cada 2 ou 4 segundos e
anotando-se as legendas. Repetiu-se cada cena de filme algumas vezes. Desse modo, foi
possível anotar simultaneamente as três legendagens, levando-se sempre em consideração
também o que era encontrado no canal semiótico, ao mesmo tempo. O modo como se
anotou está exemplificado na Figura 1 a seguir.
Figura 1: Procedimento de anotação das legendagens de “Hannibal” com CROSF-15 + EFI-03.
57
Conforme explicado anteriormente, cada rótulo do CROSF é um número de sete
dígitos expresso entre parênteses angulares. No entanto, tem-se aqui o CROSF em conjunto
com um epitélio; no caso, o EFI. Esse epitélio, ou código adicional, é identificado por uma
letra seguida pelo código em si; no caso do EFI, de três dígitos. Veja-se, a seguir, um
exemplo de legenda anotada com CROSF-15 + EFI-03, retirado da legendagem comercial
em português de “Hannibal”:
Exemplo 18
4
00:00:48,762 --> 00:00:53,131
Não, senhor. <5000000h143> <1011121h166> Não considero
psicologia uma ciência. <6111132h202>
(Legenda extraída da legendagem comercial em português de “Hannibal”)
As legendas não têm formatação de fonte; o itálico aqui e a disposição centralizada
apenas indicam que esse fragmento é uma legenda. O número “4” no topo diz que essa é a
quarta legenda que aparece na legendagem. Os números em seguida indicam em que hora,
minuto, segundo e milissegundo (isto é, milésimo de segundo) a legenda deve aparecer e
desaparecer. A quebra de linhas aqui é a mesma na tela, a menos que a configuração do
player force quebras adicionais, pois, em legendas em formato “srt” visualizadas no
computador, o usuário pode configurar seu player para aumentar a fonte e quebrar a
legenda em quantas linhas forem necessárias para que tudo caiba na tela, se assim for de
seu agrado, conforme explicado anteriormente. A legenda em questão no Exemplo 18
apresenta duas linhas, caso nenhuma configuração force mais quebras. Os Temas e N-
Remas estão anotados com CROSF+EFI, conforme explicados no capítulo de Revisão de
58
Literatura
40
. Para compreender como esses rótulos são interpretados, considere-se o
Exemplo 19, retirado da legendagem pirata de “Hannibal”:
Exemplo 19
Não, senhor. <5000000h143>
(Legenda extraída da legendagem pirata em português de “Hannibal”)
O código em CROSF indica que se trata da Função Absoluto (oração menor, no
caso). Normalmente, por não ter transitividade, não se consideraria a hipótese de que seja
Dado ou Novo. Entretanto, esse Absoluto realmente é a resposta a uma pergunta e abre um
novo assunto. Há referências no texto e anotou-se que se trata de parte de um Dado (1),
retomado do Absoluto anterior (4), retomado novamente no Rema seguinte, em uma parte
do Rema não correspondente ao N-Rema (3), o que compõe a anotação “h143” em EFI,
parte do referido Rótulo
41
.
Veja-se outro exemplo:
Exemplo 20
“<1011121h166> Não considero
psicologia uma ciência. <6111132h202>”
(Legenda extraída da legendagem comercial em português de “Hannibal”)
40
As anotações são inseridas logo após o elemento anotado, sendo que alguns elementos são elípticos, como,
por exemplo, o caso do rótulo <1011121h166>, que será explicado mais detalhadamente no capítulo
seguinte.
41
Para melhor compreensão do EFI, verificar o código na íntegra no Anexo 2.
59
O primeiro Rótulo é lido: Tema – elíptico – Ideacional – Não-Marcado –
Participante do Processo Mental – Experienciador; Dado, retomado de outro ponto do
contexto além da oração anterior; retomado noutro ponto após a oração seguinte. Trata-se
do Participante (Experienciador) “Eu”, que não se encontra explícito na legenda, mas pode
ser recuperado a partir da desinência verbal do Processo Mental “considero”.
O Rótulo <6111132h202> indica que “uma ciência” é o N-Rema; primeira posição
(ou seja: último elemento Ideacional na oração), Ideacional, Não-Marcado, Participante de
Processo Relacional, Atributo; Novo, retomado no Rema seguinte.
Todo N-Rema é necessariamente Ideacional, mas pode não ser o último elemento
Ideacional encontrado na oração em alguns casos. Se for o penúltimo elemento Ideacional,
considera-se aqui que se encontra em segunda posição; antepenúltimo elemento Ideacional,
terceira posição; e assim sucessivamente. São posições aqui consideradas “Marcadas”.
Entretanto, os estudos sobre Remas ainda são relativamente escassos na Literatura, de
modo que é possível que uma visão diferente venha a ser adotada em um futuro próximo.
Em todo caso, o CROSF é suficientemente flexível para que seja usado futuramente com
outra concepção de Marcado ou Não-Marcado para os N-Remas.
4.3.3.4. Buscas feitas com CROSF + EFI
O Fluxo de Informação foi anotado nos N-Remas e nos elementos Ideacionais dos
Temas. Elementos interpessoais e textuais foram anotados com o CROSF, sem o uso do
EFI em conjunto, visto que não se observa Fluxo de Informação neles. A presença ou
ausência do EFI no Rótulo não altera as buscas com o CROSF. Para isso, basta realizar
buscas com o parêntese angular de abertura: “<???????” e os Rótulos em CROSF são todos
encontrados.
60
Uma busca pode ser feita com maior ou menor especificidade. Por exemplo:
buscando-se “<??1????”, obtemos todos os elementos Ideacionais anotados, quer estejam
em posição Temática ou em um N-Rema. Quando se deseja obter todos os elementos
Ideacionais não-marcados, especificamente, pode-se buscar por “<??11???”. Rótulos mais
ou menos específicos podem ser buscados automaticamente, inclusive, com alguma co-
ocorrência específica anotada com o EFI, caso assim se deseje, como será visto a seguir.
Os concordanciadores em geral parecem aceitar o uso de um ponto de interrogação
(“?”) como um dígito-curinga, isto é, qualquer valor naquela posição é “aceitável” para
aquela busca. Também o uso de um asterisco (“*”) é útil, pois indica que o restante do
termo buscado (no início ou fim deste) pode ter quantos dígitos forem. Esse procedimento
agiliza um pouco as buscas, já que nem sempre se tem um Rótulo em EFI. Para se buscar
algo em CROSF, deve-se sempre incluir o parêntese angular de abertura. Para se buscar
algo em EFI, deve-se sempre começar com a letra “h” e terminar com o parêntese angular
de encerramento. Veja-se alguns exemplos:
Quadro 4: Exemplos de buscas realizadas em CROSF
Exemplos de buscas realizadas em CROSF
<??1????* para buscar todos os elementos Ideacionais anotados
<2??????* para buscar todos os Temas múltiplos
<??1?11?* para buscar todos os Participantes do Processo Material
<??20411* para buscar todos os Temas Interpessoais com Ajunto de Polaridade
61
Quadro 5: Exemplos de buscas realizadas em EFI
Exemplos de buscas realizadas em EFI
*h2??> para buscar todas as ocorrências de Novo
*h12?> para buscar todas as ocorrências de Dado, retomados do N-Rema anterior
*h2?6> para buscar todas as ocorrências de Novo que foram abandonados, não
repetidos no Dado seguinte
Como se vê nos exemplos apresentados nos Quadros 4 e 5, inúmeras buscas
diferentes podem ser feitas, com maior ou menor especificidade, segundo as necessidades
do(a) pesquisador(a).
Obtendo-se os dados anotados em CROSF e EFI, tem-se então: Temas, N-Remas,
localização do Dado, localização do Novo, incluindo onde (e de onde) cada elemento é
retomado. Esse procedimento permite caracterizar os Métodos de Desenvolvimento
encontrados (Progressão Temática e Fluxo de Informação). Essas análises serão discutidas
na seção 3 do capítulo seguinte.
5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE DADOS
Serão discutidos, em seções, os resultados encontrados nas legendagens do corpus
desta pesquisa sob as três óticas mencionadas nos capítulos de Revisão de Literatura e de
Metodologia, quais sejam: i) Estudos de aspectos descritivos de modalidades da Tradução
Audiovisual (DÍAZ-CINTAS, 2003); ii) Estudos sobre explicitação em Tradução
Audiovisual; e iii) Estudos sobre Fluxo de Informação em modalidades da Tradução
62
Audiovisual. Embora cada discussão tenha uma base teórica diferente, os resultados serão
correlacionados nas Considerações Finais.
5.1. Estudos de aspectos descritivos de modalidades da Tradução Audiovisual (DÍAZ-
CINTAS, 2003)
Serão tratados, nesta seção, os aspectos descritivos das legendagens com base
principalmente nos trabalhos de Díaz-Cintas (2003), divididos em subitens segundo o tipo
de questão a ser tratada, conforme discutidos no capítulo de Revisão de Literatura.
5.1.1. Questões técnicas da legendagem
Cada questão será tratada aqui pontualmente, segundo o que foi encontrado no
corpus.
* Número de linhas
Veja-se a Tabela 2 a seguir:
Tabela 2: Número de linhas por legenda nas legendagens comerciais e piratas em português
Filme Número máximo de linhas
por legenda na legendagem
comercial em português
Número máximo de linhas
por legenda na legendagem
pirata em português
Amaldiçoados
2 2
O Buraco
2 2
A Casa de Cera
2 2
A Cela
2 2
A Chave-Mestra
2 2
Cubo Zero
2 2
Hannibal
2 2
Jogos Mortais 2
2 2
O Massacre da Serra
Elétrica
2 2
A Vingança de Willard
2 2
Total (média dos filmes)
2 2
63
Como se pode ver na Tabela 2, não houve variações quanto ao número de linhas:
sempre uma ou duas linhas, tanto nas legendas das legendagens piratas quanto nas
comerciais. O máximo de duas linhas não foi ultrapassado em legenda alguma. Entretanto,
no que se refere às legendagens piratas, há algo que deve ser considerado aqui: a fonte, o
tamanho e o estilo não são fixados pelo legendador, mas sim pelo usuário. Isso é possível
devido à flexibilidade do formato-texto para legendagens visualizadas no computador,
conforme explicado no capítulo de Metodologia. Logo, ao visualizar as legendagens
piratas, é possível que o número varie, extrapolando o máximo de duas linhas, se o
espectador optar por aumentar a fonte, de modo que as legendas não caibam mais nas
linhas, quebrando-as. As quebras obrigatórias
42
inseridas nas legendas das legendagens
piratas, entretanto, nunca excederam o máximo de duas linhas por legenda.
* Localização das legendas
Observe-se o Quadro 6 a seguir:
42
Diferem-se aqui i) as quebras que o legendador insere nas legendas das ii) quebras automáticas decorrentes
da configuração feita pelo usuário. Cada legenda pode ter uma ou duas linhas e o ponto de quebra entre essas
duas linhas máximas é estabelecido pelo legendador. Essa é a quebra “obrigatória” tratada aqui. Novas
quebras podem ser adicionadas automaticamente pelo player, conforme necessário para que cada legenda
possa ser visualizada na íntegra na tela, mesmo que o usuário configure uma fonte maior no player. Os
players podem ser configurados para a) reduzir automaticamente o tamanho da fonte quando a legenda não
couber na tela, ou b) para inserir quebras de linhas adicionais, caso o usuário configure o player para exibir as
legendas em fonte de tamanho demasiado grande. Isso foi testado no Media Player Classic, no VLC
(VideoLan Console) e no BS Player.
64
Quadro 6: Localização das legendas
Filme Leg. comerciais em português Leg. piratas em português
Amaldiçoados
centralizadas horizontalmente
na porção inferior da tela
localização definida pelo usuário
O Buraco
centralizadas horizontalmente
na porção inferior da tela
localização definida pelo usuário
A Casa de Cera
centralizadas horizontalmente
na porção inferior da tela
localização definida pelo usuário
A Cela
centralizadas horizontalmente
na porção inferior da tela
localização definida pelo usuário
A Chave-Mestra
centralizadas horizontalmente
na porção inferior da tela
localização definida pelo usuário
Cubo Zero
centralizadas horizontalmente
na porção inferior da tela
localização definida pelo usuário
Hannibal
centralizadas horizontalmente
na porção inferior da tela
localização definida pelo usuário
Jogos Mortais 2
centralizadas horizontalmente
na porção inferior da tela
localização definida pelo usuário
O Massacre da
Serra Elétrica
centralizadas horizontalmente
na porção inferior da tela
localização definida pelo usuário
A Vingança de
Willard
centralizadas horizontalmente
na porção inferior da tela
localização definida pelo usuário
Conforme apontado no Quadro 6, os DVDs comerciais têm o padrão de localização
das legendas preestabelecido: centralizadas horizontalmente na porção inferior da tela,
exceto quando algo aparece escrito nessa porção da tela (nesse caso, as legendas aparecem,
então, na parte superior da tela). No entanto, caso o DVD seja visualizado em um
computador, programas como WinDVD e Power DVD Player admitem que o usuário
modifique o posicionamento das legendas conforme desejar.
As legendagens piratas são feitas para visualização no computador e não têm
qualquer formatação de texto, de modo que cabe ao usuário configurar o player com a
localização desejada. Logo, não há dados fixos a serem analisados nesse quesito nas
legendas piratas. Qualquer posicionamento que o usuário desejar poderá ser utilizado. Não
65
obstante, caso o usuário mantenha o padrão original do programa sem reconfigurá-lo, a
configuração original de players como VLC, BS Player, Media Player Classic é a mesma
dos DVDs “oficiais”: legendas localizadas horizontalmente no centro, na porção inferior da
tela.
Um outro fator a ser levado em conta é a diferença de tela entre computadores e
aparelhos de TV. As TVs não mostram a imagem na íntegra; elas cortam uma margem que
corresponde a 8% da imagem em todas as direções, isto é, 8% das margens superior,
inferior, esquerda e direita não são exibidas na TV. Os filmes em DVD podem ser exibidos
em computadores através de softwares como Power DVD, WinDVD, Media Player Classic,
VLC (Videolan Console) e Windows Media Player. Como as margens cortadas em
aparelhos de TV não são cortadas em monitores de computador, os programas exibem as
legendas um pouco mais embaixo, tampando uma porção menor da parte inferior da
imagem. Entretanto, essa localização continua sendo: horizontalmente no centro,
verticalmente embaixo.
* Número de caracteres por linha
Nas legendas comerciais, todas seguiram o mesmo padrão: máximo de 34 caracteres
por linha, máximo de duas linhas por legenda. Esse é um valor próximo da média que
Araújo (2004) especificou sobre as legendas feitas para TV e vídeo no Brasil, com máximo
de 32 caracteres por linha em média.
Nas legendas piratas, esse máximo não foi observado. É possível que os fãs
tradutores tenham preferido traduzir mais detalhadamente o que foi encontrado no canal
auditivo, mesmo que dificulte a leitura das legendas sem pausar o filme para lê-las. O
66
número máximo de caracteres por linha de legenda para cada legendagem está apresentado
na Tabela 3 a seguir:
Tabela 3: Número máximo de caracteres por linha em cada legendagem
Filme Número máximo de caracteres
por linha na legendagem
comercial em português
Número máximo de caracteres
por linha na legendagem pirata
em português
Amaldiçoados
32 38
O Buraco
32 49
A Casa de Cera
32 41
A Cela
32 40
A Chave-Mestra
32 40
Cubo Zero
32 36
Hannibal
32 41
Jogos Mortais 2
32 48
O Massacre da
Serra Elétrica
32 49
A Vingança de
Willard
32 34
Total (média dos
filmes)
32 41,6
O numero máximo de caracteres das legendas variou de 34 (“A Vingança de
Willard”) a 49 (“O Massacre da Serra Elétrica” e “O Buraco”) caracteres por linha,
conforme pode ser observado na Tabela 3. Os fãs legendadores não parecem ter um
máximo de caracteres em mente. As seguintes postagens (“posts”)
43
encontradas no fórum
eletrônico <www.videoloucos.com.br> em 2 de novembro de 2007 parecem confirmar isso:
43
Postagens feitas por fãs em fóruns eletrônicos podem não ser considerados dados oficiais. Entretanto,
cumpre lembrar que as legendagens piratas são, também, uma realidade “não-oficial”. Essas postagens podem
ajudar a corroborar, então, o que é encontrado nas legendagens piratas, mas entende-se que é questionável se
devem ou não integrar-se à justificativa da pesquisa, devido à sua natureza extra-oficial.
67
Lilica27: “Kra, vc podia da uma resumida, neh? Naum da pra le tudo sem pausa a
toda hora”
CerealKiller22: “Se vc quer aquelas tosqueras resumidas, aluga o DVD, p****. A
gente aqui traduz tudo justamente porque os fãs querem saber tudo que os
personagens falam.”
* Tipo de letra
Considere-se o Quadro 7 a seguir:
Quadro 7: Tipo de letra em cada legendagem
Filme Tipo de letra na legendagem
comercial em português
Tipo de letra na legendagem
pirata em português
Amaldiçoados
Arial 16 Escolhida pelo usuário
(não mensurável)
O Buraco
Arial 16 Escolhida pelo usuário
(não mensurável)
A Casa de Cera
Arial 16 Escolhida pelo usuário
(não mensurável)
A Cela
Arial 16 Escolhida pelo usuário
(não mensurável)
A Chave-Mestra
Arial 16 Escolhida pelo usuário
(não mensurável)
Cubo Zero
Arial 16 Escolhida pelo usuário
(não mensurável)
Hannibal
Arial 16 Escolhida pelo usuário
(não mensurável)
Jogos Mortais 2
Arial 16 Escolhida pelo usuário
(não mensurável)
O Massacre da
Serra Elétrica
Arial 16 Escolhida pelo usuário
(não mensurável)
A Vingança de
Willard
Arial 16 Escolhida pelo usuário
(não mensurável)
Conforme apontado no Quadro 7, nas legendas piratas não há formatação de fonte,
haja vista que os arquivos são análogos a .txt. As legendas serão apresentadas com a fonte
68
que o usuário escolher. O padrão do programa BS Player, utilizado nesta pesquisa, é Arial
16. A fonte usada nos DVDs comerciais parece ser essa mesma (ao menos, a partir de uma
estimativa visual). Entretanto, é possível que seja alguma outra fonte de aspecto
semelhante. O tamanho é difícil de precisar, pois tudo depende também do tamanho da tela
do aparelho utilizado para visualizar. Visualizando os DVDs no computador usando o
software Power DVD, o aspecto ficou aparentemente o mesmo de se visualizar no BS
Player com as legendas piratas em fonte Arial 16 no mesmo computador.
* Cor das legendas
Essa característica encontra-se detalhada no Quadro 8 a seguir:
Quadro 8: Cor das legendas em cada legendagem
Filme Cor das legendas na
legendagem comercial em
português
Cor das legendas na legendagem
pirata em português
Amaldiçoados
Amarelas, com esmaecimento,
contorno preto
Escolhida pelo usuário (indeterminada)
O Buraco
Amarelas, contorno preto Escolhida pelo usuário (indeterminada)
A Casa de Cera
Amarelas, contorno preto Escolhida pelo usuário (indeterminada)
A Cela
Amarelas, contorno preto Escolhida pelo usuário (indeterminada)
A Chave-
Mestra
Brancas, contorno preto Escolhida pelo usuário (indeterminada)
Cubo Zero
Brancas, com esmaecimento,
contorno preto
Escolhida pelo usuário (indeterminada)
Hannibal
Brancas, contorno preto Escolhida pelo usuário (indeterminada)
Jogos Mortais
2
Brancas, contorno preto Escolhida pelo usuário (indeterminada)
O Massacre da
Serra Elétrica
Amarelas, contorno preto Escolhida pelo usuário (indeterminada)
A Vingança de
Willard
Brancas, com esmaecimento,
contorno preto
Escolhida pelo usuário (indeterminada)
69
Díaz-Cintas (2003) e Araújo (2004) afirmam que as legendas são amarelas ou
brancas, sendo que as legendas amarelas são preferidas quando há predominância de cores
claras na imagem. Entretanto, o que se observou nos DVDs comerciais foram fontes com
cor branca ou amarela e contorno preto (em inglês, “alias” ou “aliased fonts”: fontes com
contorno de cor diferente). Conforme se vê no Quadro 8, os DVDs dos filmes “Hannibal”,
“Cubo Zero”, “Jogos Mortais 2”, “A vingança de Willard” e “A Chave-Mestra”
apresentaram suas legendas em letras brancas com contorno preto; os DVDs dos demais
filmes que compõem o corpus apresentaram legendas em letras amarelas com contorno
preto. A opção entre letras brancas e amarelas ocorreu, então, 50% para cada cor entre os
filmes que compõem o corpus desta pesquisa
44
. As letras claras com contorno escuro são
visíveis tanto com imagens claras ou escuras no fundo. Os filmes que apresentam legendas
brancas têm muitas cenas escuras; pode ser que isto tenha levado os legendadores a preferir
a cor branca para estes. Entretanto, as legendas brancas ou amarelas ficam ambas visíveis
para todos esses filmes, desde que o contorno escuro seja usado nas letras
45
.
O programa BS Player tem por padrão fonte de letras brancas com contorno preto.
Entretanto, o usuário pode escolher qualquer outra cor para as letras e/ou para o contorno,
ou mesmo se haverá ou não contorno. O usuário pode também escolher que uma tarja (preta
ou de qualquer outra cor que preferir) seja usada como pano de fundo das legendas em
lugar de um contorno nas letras. Esse recurso é particularmente útil quando o filme tem
legendas fixas na imagem em uma língua diferente da que se deseja visualizar. As legendas
44
As cores são presentes apenas nos DVDs oficiais. Esse dado não se aplica às legendas piratas, visto que é o
usuário quem as determina nesse caso, conforme detalhado a seguir.
45
Isso foi testado com as legendas piratas no programa BS Player.
70
fixas podem ser tampadas e uma outra legendagem pode ser exibida sobre as tarjas opacas,
nesse caso.
* Duração das legendas
Assistindo aos filmes legendados, tanto com as legendagens piratas quanto com as
comerciais, verificou-se que as legendas duram o tempo das falas, isto é, são sincronizadas
com as falas. A duração das legendas pode estar ligada também à segmentação (tratada
mais adiante). O tempo de duração das legendas aparece descrito nos arquivos de
computador das legendagens, todas em formato “.srt”, de modo que essa informação pôde
ser lida diretamente nesses arquivos. As legendas de uma linha duram aproximadamente
46
dois segundos e as legendas de duas linhas duram aproximadamente quatro segundos, tanto
nas legendagens comerciais quanto nas piratas, conforme apresentado na Tabela 4 a seguir:
46
Diz-se “aproximadamente”, pois alguma diferença pode ser medida em milissegundos. Como o tempo é
demarcado com cliques manuais de mouse ao produzir as legendas, essa diferença em milissegundos não é
levada em consideração. O humano clicando não pode ter tal precisão “milimétrica”, de modo que as medidas
tiveram seus valores aproximados para a pesquisa.
71
Tabela 4: Duração das legendas (medida em segundos)
Leg. comercial em português Leg. pirata em português Filme
Leg. de 1 linha Leg. de 2 linhas Leg. de 1 linha Leg. de 2 linhas
Amaldiçoados 2 4 2 4
O Buraco 2 4 2 4
A Casa de Cera 2 4 2 4
A Cela 2 4 2 4
A Chave-
Mestra
2 4 2 4
Cubo Zero 2 4 2 4
Hannibal 2 4 2 4
Jogos Mortais
2
2 4 2 4
O Massacre da
Serra Elétrica
2 4 2 4
A Vingança de
Willard
2 4 2 4
Total (média
dos filmes)
2 4 2 4
Observa-se que não houve diferenças entre as legendagens. Todas apresentaram 2
segundos para se ler cada linha de legenda.
* Posição das legendas
Veja-se o Quadro 9 a seguir:
72
Quadro 9: Posição das legendas
Filme Leg. comerciais em português Leg. piratas em português
Amaldiçoados
centralizadas localização definida pelo usuário
O Buraco
centralizadas localização definida pelo usuário
A Casa de Cera
centralizadas localização definida pelo usuário
A Cela
centralizadas localização definida pelo usuário
A Chave-Mestra
centralizadas localização definida pelo usuário
Cubo Zero
centralizadas localização definida pelo usuário
Hannibal
centralizadas localização definida pelo usuário
Jogos Mortais 2
centralizadas localização definida pelo usuário
O Massacre da
Serra Elétrica
centralizadas localização definida pelo usuário
A Vingança de
Willard
centralizadas localização definida pelo usuário
As legendas dos DVDs apresentaram-se sempre centralizadas, isto é, os textos das
legendas não foram justificados nem pela margem esquerda, nem pela margem direita, mas
pelo centro. Em contrapartida, não há uma posição definida para as legendas piratas. O
padrão original do BS Player é, igualmente, com o texto sempre centralizado (isto é,
justificado pelo centro), mas o usuário pode modificar isso conforme queira.
*Marcação
Esse aspecto pôde ser observado visualmente. Quando uma personagem começa a
falar, aparece a legenda. Ao encerrar a fala no canal auditivo, desaparece também a
legenda; ou seja: as legendas são marcadas de forma sincronizada com as falas, conforme
apontado no Quadro 10 a seguir:
73
Quadro 10: Marcação das legendas
Filme Leg. comerciais em português Leg. piratas em português
Amaldiçoados
sincronizadas com as falas sincronizadas com as falas
O Buraco
sincronizadas com as falas sincronizadas com as falas
A Casa de Cera
sincronizadas com as falas sincronizadas com as falas
A Cela
sincronizadas com as falas sincronizadas com as falas
A Chave-Mestra
sincronizadas com as falas sincronizadas com as falas
Cubo Zero
sincronizadas com as falas sincronizadas com as falas
Hannibal
sincronizadas com as falas sincronizadas com as falas
Jogos Mortais 2
sincronizadas com as falas sincronizadas com as falas
O Massacre da
Serra Elétrica
sincronizadas com as falas sincronizadas com as falas
A Vingança de
Willard
sincronizadas com as falas sincronizadas com as falas
Conforme já discutido na seção sobre as durações das legendas, as legendas de uma
linha duram dois segundos e as de duas linhas duram quatro segundos. As legendas tanto
das legendagens comerciais quanto das piratas parecem ter seguido esses critérios, não
tendo sido observada nenhuma mudança no que diz respeito a esses parâmetros de
sincronia.
5.1.2. Características do texto das legendas
Aqui serão discutidas apenas as questões de linguagem que se referem aos critérios
propostos por Díaz-Cintas (2003), quais sejam: redução; condensação; omissão;
segmentação.
74
* Redução
A principal característica da legendagem consiste na redução em forma de texto
escrito do conteúdo oral da versão original do texto de partida. Segundo Díaz-Cintas (2003,
p. 201), tudo o que é redundante e não é essencial para a compreensão da produção
audiovisual e para a caracterização dos personagens é eliminado.
As legendas das legendagens comerciais em português foram mais curtas,
observando o número máximo de 34 caracteres por linha (Cf. Tabela 3), conforme já
descrito neste capítulo. As legendas piratas, no entanto, não parecem ter um número
máximo de caracteres por linha (Cf. Tabela 3) e são muito maiores, conforme discutido
anteriormente.
As legendas das legendagens piratas não parecem ser produzidas buscando reduzir o
texto encontrado no canal auditivo. Toda a informação encontrada no canal auditivo parece
ser retextualizada nas legendagens piratas, mas não necessariamente nas comerciais, que
removem uma ou outra partícula, tais como interjeições e repetições. Segue um exemplo
retirado das legendagens para o filme “Amaldiçoados”:
Exemplo 21
Filme original em inglês Leg. comercial em português Leg. pirata em português
“No! No, no.
I need you to read my friend's.”
“É pra você ler a mão dela.” “Não! Não, não. Quero que
leia a mão da minha amiga.”
(Retirado das legendagens de “Amaldiçoados”)
Reitera-se aqui que as quebras de linhas nos exemplos correspondem às quebras de
legendas inseridas pelos legendadores.
75
Na legenda extraída da legendagem comercial em português no Exemplo 21 se
omite a negativa repetida em inglês: “No! No, no.”, dando apenas a correção da
informação, pois vê-se, no canal visual, que a vidente lê a mão da que reclama, em vez de
ler a mão de sua amiga, conforme lhe fora solicitado. “É pra você ler a mão dela”. Nessa
legenda, omitiu-se também a informação sobre a outra moça ser sua amiga, dizendo-se
apenas “ela”, reduzindo assim a fala. Já na legenda extraída da legendagem pirata, as
negações encontradas no áudio do filme foram traduzidas em igual número, sem se omitir
nenhuma de suas ocorrências.
Algo semelhante ocorre no filme “Cubo Zero”. No início do filme, um personagem
pede água várias vezes em seguida: “Water! Water!” A legendagem pirata em português
apresenta “Água! Água!” no número total que se ouve no áudio do filme, sem que se
reduza o número de vezes que isso é dito. A legendagem comercial em português apresenta
essa repetição em número menor, sem repeti-la todas as vezes em que aparece no canal
auditivo.
* Condensação
Segundo Díaz-Cintas (2003), há uma tendência a se preferir palavras curtas sempre
que há uma opção entre uma mais longa e uma mais curta. O autor, entretanto, não
apresenta critério algum para se mensurar esse fenômeno. É difícil precisar se realmente há
uma diferença nesse aspecto. As palavras escolhidas para as traduções comerciais e piratas
foram diferentes, mas o aspecto que pode ser observado no corpus em formato eletrônico se
76
refere não ao tamanho
47
, mas à quantidade de ocorrências (“tokens”), conforme já
apontado na Tabela 1 no capítulo de Metodologia. As legendagens piratas apresentam um
volume maior de informação traduzida, conforme se vê no Exemplo 22 a seguir:
Exemplo 22
Filme original em inglês Leg. comercial em português Leg. pirata em português
“Bummer! You mean you're just
an ass wimp-wad for no reason?”
“Não diga! Você é só delicado?” “Quer dizer que você é um
bundão sem motivo algum?”
(Exemplos retirados das legendagens de “Amaldiçoados”)
A legenda extraída da legendagem comercial em português contém um número
menor de caracteres, ocupando uma só linha, condensando-se a fala, com a utilização de
termos mais curtos, concentrando-se na idéia principal. A expressão “for no reason”, por
exemplo, é omitida na legendagem comercial em português; aparece, entretanto, na
legendagem pirata como “sem motivo algum”. A legendagem pirata poderia trazer apenas
“sem motivo”, ou poderia conter a informação condensada, dizendo “à toa”, mas optou-se
pela forma mais longa, sendo que a legendagem comercial sequer aponta que se tenha
buscado uma forma mais curta – a expressão foi simplesmente omitida.
Notam-se casos em que palavras curtas parecem ser preferidas nas legendagens
comerciais e piratas. Vê-se, no Exemplo 22, que a expressão no filme em inglês “an ass
wimp-wad” foi traduzida como “delicado” na legendagem comercial e “bundão” na
legendagem pirata, expressões mais curtas. Em todo caso, o total de ocorrências
47
O tamanho das palavras pode variar simplesmente devido ao vocabulário de cada língua. Seria possível
argumentar, por exemplo, que a língua inglesa dispõe de palavras mais curtas que a língua portuguesa. O
tamanho das palavras se torna, então, um aspecto ambíguo. Entretanto, a redução em quantidade de
ocorrências (“tokens”) é um aspecto claro, apontado pelas ferramentas computacionais.
77
(“tokens”)
48
é inferior nas legendagens comerciais, o que indica um menor volume de texto
das legendagens comerciais que nas piratas.
* Omissão
A omissão parece ocorrer em maior grau nas legendagens comerciais em português.
Como já discutido anteriormente, as legendagens comerciais em português totalizam um
número inferior de ocorrências (“tokens”) em relação à transcrição do áudio em inglês e
em relação às legendagens piratas em português, que são as mais longas. Novamente, os fãs
legendadores parecem querer traduzir “tudo”. Repetições, interjeições etc. aparecem nas
traduções piratas, embora sejam freqüentemente omitidas nas comerciais, conforme já
citado no item anterior. Nas legendagens comerciais, omitem-se algumas expressões que o
tradutor provavelmente considerou menos relevantes.
Considere-se o Exemplo 23 extraído das legendagens do filme “Hannibal”, já
previamente citado em outra seção (exemplificando um caso de explicitação, que aqui não
será considerado no momento). Nota-se a repetição de “Yes” / “Sim” na legendagem pirata,
mas não na legendagem comercial em português:
Exemplo 23
Filme original em inglês Leg. comercial em português Leg. pirata em português
“Yes.
Yes, it seemed to me that they--”
“Sim. Me parecia que eles...” “Sim.
Sim, na minha opinião eles – ”
(Exemplos retirados das legendagens de “Hannibal”)
48
Cf. Tabela 1 no capítulo de Metodologia.
78
Na legendagem pirata, não se omitiu a repetição do termo “Yes. Yes...”. A
legendagem comercial, entretanto, apresentou um só “sim”. Tais falas redundantes
aparecem traduzidas nas legendagens piratas do corpus, mas não nas legendagens
comerciais em português. Isso ocorreu nesses padrões ao longo do corpus em geral e parece
caracterizar, de fato, as legendagens comerciais em português (maior omissão) e as
legendagens piratas em português (evitando-se a omissão).
Houve um caso em “Hannibal” em que uma fala inteira foi omitida na legendagem
comercial em português, apresentado no Exemplo 24 a seguir:
Exemplo 24
Filme original em inglês Leg. comercial em português Leg. pirata em português
She's on a jump-out squad all night.
She's saving her strength.
Participou de batidas a noite toda. Está numa brigada-supresa noturna.
Está poupando forças.
(Exemplos retirados das legendagens de “Hannibal”)
A fala “She’s saving her strength” foi traduzida apenas na legendagem pirata
(“Está poupando forças”). Na legendagem comercial em português, foi omitida.
* Segmentação
Gottlieb (1995), citando Helen Reid (1990, p. 109-110), distingue três tipos de
segmentação: a) visual (pelos cortes e movimentos de câmera); b) retórica (pela pausa ou
pelo ritmo da fala); e c) gramatical (pela sintaxe). Em geral, um padrão parece ser seguido,
embora diferentes legendagens possam apresentar alguma diferença na segmentação.
Mesmo assim, seria possível confirmar que esses tipos de segmentação foram os utilizados.
79
Considere-se o Exemplo 25, com um fragmento retirado das legendagens do filme “Jogos
Mortais 2”:
Exemplo 25
Legendas comerciais
intralingüísticas em inglês
Legendas comerciais em
português
Legendas piratas em português
“So far in what could loosely
be called your life...”
“Até agora,
nesta sua porcaria de vida...”
“Até agora, o que pode-se
chamar de sua vida,”
“you've made
a living watching others.”
“você ganhou seu sustento
observando os outros.”
“você viveu observando os outros.”
“Society would call you
an informant, a rat, a snitch.”
“A sociedade diria que você é um
informante, delator, dedo-duro.”
“A sociedade te chama de informante,
um rato, um dedo-duro.”
“I call you unworthy
of the body you possess...”
“Eu digo que você
é indigno do corpo que possui...”
“Eu te chamo de desmerecedor
do corpo que possui.”
“of the live you've been given.” “da vida que lhe foi dada.” “Da vida que lhe foi dada.”
(Legendas extraídas das legendagens de “Jogos Mortais 2”)
A quebra de linha dentro de cada legenda no Exemplo 25 corresponde às quebras de
linha feitas pelos legendadores.
Lendo-se as legendas comerciais e piratas, observa-se visualmente que as
segmentações parecem ocorrer em pontos análogos, como ilustra o Exemplo 25. Entretanto,
as razões para essas segmentações podem ter mais de uma explicação. Cada um dos três
tipos de segmentação pode ser usado para se justificar cada uma das segmentações. Como
há muitas mudanças de enfoque na câmera, torna-se difícil dizer se isso influenciou ou não
na segmentação das legendas (segmentação visual), mas é uma possibilidade. O ritmo de
fala do fragmento supracitado parece acompanhar o que se poderia atribuir à segmentação
retórica, visto que encerra-se uma legenda e abre-se outra em cada pausa na fala, como se
pode observar assistindo ao filme com cada uma das diferentes legendagens. Nota-se nesse
fragmento que cada legenda corresponde a uma oração (seja uma oração completa ou uma
“oração menor”), observando-se a segmentação gramatical. É possível que a segmentação
tenha, de fato, levado em conta esses três quesitos, pois cada caso de segmentação pode ser
80
justificado por mais de um aspecto. Não se pode afirmar com certeza quais aspectos do
texto audiovisual foram considerados para a segmentação ao longo do corpus em geral, já
que quaisquer desses três aspectos – visual; retórico; gramatical – poderiam ser utilizados
para justificar a segmentação das legendas. É possível que os três tipos co-ocorram,
levando-se esses três aspectos em conta ao longo da tradução.
5.2. Estudos sobre explicitação em Tradução Audiovisual
As categorias de explicitação (PEREGO, 2003) a serem utilizadas foram detalhadas
no capítulo de Revisão de Literatura e são resumidas a seguir:
- Explicitação motivada por diferenças culturais: adição; especificação.
- Explicitação motivada por mudanças no canal semiótico: adição, especificação.
- Explicitação motivada pelo requisito de redução: adição, especificação.
As Tabela 5 e 6, a seguir, mostram o que foi encontrado quantitativamente nas
legendagens comerciais e piratas, respectivamente. As áreas sombreadas correspondem a
pontos de diferença entre o que foi quantificado na legendagem comercial (Tabela 5) e na
legendagem pirata (Tabela 6) do mesmo filme.
81
Tabela 5: Total de ocorrências de explicitação nas legendagens comerciais
culturais do canal semiótico de redução
Explicitações motivadas por
aspectos:
adição especif. adição especif. adição especif
.
Cubo Zero ... 1 9 ... ... ...
A Casa de Cera ... 3 3 ... ... ...
A Cela ... ... 1 ... ... ...
A Chave-Mestra 1 1 3 ... ... ...
A Vingança de Willard ... ... 11 ... ... ...
Amaldiçoados ... ... 2 ... 1 ...
Hannibal 1 1 2 ... 1 1
Jogos Mortais 2 1 2 2 ... ... ...
O Buraco ... 4 1 ... ... 1
O Massacre da Serra Elétrica ... 4 1 ... ... ...
Total
3 16
35 ... 2 2
Tabela 6: Total de ocorrências de explicitação nas legendagens piratas
culturais do canal semiótico de redução
Explicitações motivadas por
aspectos:
adição especif. adição especif. adição especif
.
Cubo Zero ... 1 11 ... ... ...
A Casa de Cera ... 3 3 ... ... ...
A Cela ... ... 1 ... ... ...
A Chave-Mestra 1 1 3 ... ... ...
A Vingança de Willard ... ... 11 ... ... ...
Amaldiçoados ... ... 2 ... 1 ...
Hannibal 1 1 2 1 1 1
Jogos Mortais 2 1 2 2 ... ... ...
O Buraco ... 4 1 ... ... 1
O Massacre da Serra Elétrica ... 4 1 ... ... ...
Total
3 16
37 1 2 2
A explicitação ocorreu, nos dois tipos de legendagem, nos mesmos momentos para
as mesmas finalidades, exceto apenas onde indicado com um sombreado nas Tabela 5 e 6.
A única legendagem que apresentou os seis tipos de explicitação foi a legendagem pirata de
“Hannibal”. Todos os exemplos encontrados nessa legendagem foram mostrados no
capítulo de Revisão de Literatura, na forma de um estudo piloto. A explicitação ocorreu na
82
legendagem comercial em português de “Hannibal” em mesmo número, para os mesmos
momentos, mudando apenas as palavras utilizadas para a tradução, à exceção de um caso: o
de explicitação por especificação, motivada pelo canal semiótico – sua única ocorrência foi
encontrada somente na legendagem pirata, conforme já mostrado no Exemplo 6 no capítulo
de Revisão de Literatura.
Em geral, houve poucas explicitações motivadas por diferenças culturais, seja por
adição ou especificação. Observou-se que as diferenças culturais ocorreram em igual
número nas legendagens comerciais e piratas para cada filme em português, exatamente:
uma vez em “Cubo Zero” por especificação; uma vez em “Hannibal” por especificação e
uma por adição; duas por especificação e uma por adição em “Jogos Mortais 2”; quatro
vezes por especificação em “O Massacre da Serra Elétrica”; uma vez por adição e uma por
especificação em “A Chave-Mestra”; quatro vezes por especificação em “O Buraco”; três
vezes por especificação em “A Casa de Cera”; e não foi encontrada nenhuma vez em “A
Cela” e “A Vingança de Willard”. Não se observaram diferenças quantitativas desse tipo de
explicitação entre as legendagens piratas e comerciais em português.
Os exemplos de explicitação motivada por aspectos de redução foram escassos,
como se pode ver nas Tabelas 5 e 6. É possível que esse tipo de explicitação não seja
comum em filmes de terror/suspense legendados, ocorrendo, talvez, em outras gravações
audiovisuais. Outras pesquisas em corpora diferentes talvez apontem mais aspectos.
Já a explicitação motivada pelo canal semiótico por adição foi mais comum. Placas
e dizeres escritos que aparecem no canal visual foram quase sempre traduzidos,
excetuando-se apenas dois casos em “Cubo zero”, conforme apontados nas Figuras 2 e 3 a
seguir, em que comandos de computador que apareceram na tela foram explicitados apenas
83
na legendagem pirata em português. Nos demais casos, apareceram tanto na legendagem
pirata quanto na comercial.
Outro caso de explicitação motivada pelo canal semiótico por adição a ser levado
em consideração é uma legenda traduzindo o título do filme, que aparece escrito no canal
visual no início do filme. Exceto em “Hannibal”, quando o título do filme aparece escrito
no canal visual, houve uma legenda explicitando-o. Como o título de “Hannibal” no Brasil
foi o mesmo nome inglês, sem modificações, os legendadores (comercial e pirata)
provavelmente não viram necessidade de explicitá-lo. Não obstante, as legendagens
comerciais e piratas dos outros nove filmes apresentaram uma legenda traduzindo o título,
caracterizando-se casos de explicitação motivada pelo canal semiótico por adição.
Houve apenas um caso de explicitação motivada pelo canal semiótico por
especificação em todo o corpus: ocorreu na legendagem pirata para Hannibal, conforme
mostrado no Exemplo 6, no capítulo de Revisão de Literatura, em que o Processo Mental
“saw” foi traduzido com um Processo Comportamental (“observou”) na legendagem pirata,
pondo em evidência que o Participante não estava meramente presente na cena, mas
analisava o que ocorria. Isso não era reforçado de tal modo na fala em inglês, embora
pudesse ser percebido no contexto do filme. Nenhuma das outras legendagens do corpus
apresentou exemplos de explicitação motivada pelo canal semiótico por especificação. É
possível que esse tipo de explicitação não seja comum em filmes de terror/suspense
legendados no Brasil.
Já a explicitação motivada pelo canal semiótico por adição foi freqüente. Os filmes
que a apresentaram em menor quantidade (Cf. Tabelas 5 e 6) foram “Amaldiçoados” – que,
além da tradução do título, teve apenas uma tradução de uma placa – e “Jogos Mortais 2”,
que mostrou apenas a tradução do título e a tradução de algo escrito numa parede.
84
Os dois filmes com o maior número de casos de explicitação motivada pelo canal
semiótico por adição foram “A Vingança de Willard” e “Cubo Zero”, ambos com 11 casos.
Em “A Vingança de Willard”, além da tradução do título, houve dez traduções de rótulos
de embalagens e de placas. Já as legendagens para “Cubo Zero” apresentaram uma
diferença entre a legendagem pirata e a comercial em português. Sua legendagem pirata
apresentou esse tipo de explicitação em quantidade igual que “A Vingança de Willard”: 11
casos, incluindo a tradução do título. Notou-se, contudo, que duas mensagens escritas nas
telas dos computadores que o personagem operava no filme foram traduzidos apenas na
legendagem pirata e não na legendagem comercial, de modo que a legendagem comercial
de “Cubo Zero” apresentou apenas nove casos, com dois casos a menos. Esses dois casos
são mostrados no nas Figuras 2 e 3 a seguir:
Figura 2: 1
o
exemplo de explicitação motivada pelo canal semiótico por adição que ocorreu apenas na
legendagem pirata em português
85
Figura 3: 2
o
exemplo de explicitação motivada pelo canal semiótico por adição que ocorreu apenas na
legendagem pirata em português
Nos dois casos exibidos nas Figuras 2 e 3, mensagem encontrada escrita no canal
visual foi explicitada apenas na legendagem pirata. Essas duas informações não foram
explicitadas na legendagem comercial. Nos demais nove momentos em que algo foi
encontrado escrito no canal visual, a informação foi explicitada nas duas legendagens.
Excetuando-se essas pequenas diferenças nos dois casos citados, as explicitações em
geral foram relativamente escassas e ocorreram em números próximos nas legendagens
piratas e comerciais do corpus desta pesquisa.
5.3. Estudos sobre Fluxo de Informação em modalidades da tradução audiovisual
Como esta etapa é feita detalhadamente, oração por oração, na tentativa de traçar o
Fluxo de Informação ao longo das legendagens, um fragmento menor do corpus foi
selecionado para isso. Como os dados mais distintos nas análises descritivas (DÍAZ-
86
CINTAS, 2003) e nas análises baseadas no conceito de explicitação (PEREGO, 2003)
foram observados entre “Cubo Zero” e “Hannibal”, esses dois filmes foram selecionados
para o presente estudo.
Para estas análises, é necessário anotar não apenas as legendagens comerciais e
piratas em português, mas também o que é encontrado no áudio do filme. As legendagens
intralingüísticas em inglês disponibilizadas nos DVDs comerciais foram aproveitadas para
isso. Houve dois casos de omissão nas legendas em inglês para o filme “Cubo Zero”, em
que um “What?” e um termo chulo apareciam apenas no canal auditivo e, em “Hannibal”,
uma repetição (“I know, I know.”) foi omitida. Essas falas foram transcritas a partir do
áudio e adicionadas às legendas, obtendo-se assim uma transcrição exata do áudio.
5.3.1. Estudo no corpus
O corpus utilizado nas buscas corresponde a um fragmento do corpus total da
pesquisa, composto das legendagens com a transcrição do áudio em inglês – doravante
tratadas por [E]
49
–, as comerciais em português — [CP] – e as piratas, feitas por fãs, em
português – tratadas aqui como [FP] — para dois dos filmes que compõem o corpus da
pesquisa: “Cubo Zero” e “Hannibal”, como já explicado anteriormente.
50
O total de tempo dos dois fragmentos é um pouco diferente e corresponde, também,
aos dois extremos encontrados no corpus: são o maior fragmento e o menor fragmento em
tempo de filme decorrido, sendo que o número total de legendas é um número próximo.
49
Para facilitar a leitura do texto, evitou-se o uso excessivo de siglas para referir-se ao corpus, pois isso não
se mostrou necessário ao discutir os dados considerando aspectos descritivos (DÍAZ-CINTAS, 2003) ou o
conceito de explicitação (PEREGO, 2003). Entretanto, nesta seção, o uso de siglas para fazer referência a
cada uma das legendagens tornou-se necessário para facilitar a leitura deste texto.
50
O procedimento de anotação do corpus selecionado para o estudo-piloto foi descrito no capítulo de
Metodologia.
87
Conforme comentado no capítulo de Metodologia, o critério adotado para a quebra do
fragmento do filme para compor o corpus foi de tomar cada filme do início até a primeira
mudança de capítulo do DVD (mudança de cena) após um mínimo de 10 minutos
transcorridos. Em “Cubo Zero”, essa mudança ocorreu com 18 minutos exatos de filme
transcorridos, visto que seu terceiro capítulo começava antes de 10 minutos transcorridos e
a mudança de cena seguinte só ocorreu em 18’00”. Em “Hannibal”, o momento de quebra
foi ao final do terceiro capítulo, igualmente, mas isto ocorreu em 10’23”.
A Tabela 7 mostra o tempo de duração de cada fragmento de filme que compõe o
corpus desta pesquisa:
Tabela 7: Tempo de duração dos fragmentos de filmes selecionados para o corpus
Filme Tempo de duração do fragmento selecionado
Amaldiçoados 14’27”
O Buraco 14’21”
A Cela 12’14”
A Casa de Cera 12’56”
A Chave-Mestra 13’40”
Cubo Zero 18’00”
Hannibal 10’39”
Jogos Mortais 2 10’18”
O Massacre da Serra Elétrica 13’31”
A Vingança de Willard 15’58”
Total
136’08”
Embora “Cubo Zero” e “Hannibal” tenham tempos de duração muito diferentes,
nenhum desses dois filmes possui as legendagens com o maior ou com o menor número de
legendas do corpus, como se pode observar na Tabela 8 a seguir. As legendagens mais
longas foram, na verdade, as de “Amaldiçoados”, com 211 legendas em [E], 207 em [CP] e
230 em [FP]; as legendagens mais curtas foram as de “A vingança de Willard”, o qual,
88
embora seja o segundo fragmento mais longo de filme, com seus 15’58” de duração, tem
apenas 80 legendas em [E], 90 em [CP] e 110 em [FP]. As legendagens de “Cubo Zero” e
“Hannibal” não correspondem aos extremos no que se refere ao número de legendas das
legendagens. “Cubo Zero” tem 113 legendas em [E], 123 em [CP] e 115 em [FP];
“Hannibal” tem 112 legendas em [E], 100 em [CP] e 112 em [FP]. Os números de legendas
por legendagem são descritos detalhadamente na Tabela 8 a seguir:
Tabela 8: Número de legendas em cada legendagem
Filme Legendagem comercial em
português
Legendagem pirata em
português
Amaldiçoados 207 115
O Buraco 109 114
A Casa de Cera 155 173
A Cela 101 102
A Chave-Mestra 143 142
Cubo Zero 123 115
Hannibal 100 112
Jogos Mortais 2 113 98
O Massacre da Serra Elétrica 166 132
A Vingança de Willard 90 110
Total
1.217 1.103
Apenas “Cubo Zero” e “O Massacre da Serra Elétrica” possuem mais legendas em
[CP] que em [FP]. “Cubo Zero” e “Hannibal”, então, diferem-se também na relação entre
qual legendagem tem maior número de legendas: [CP] ou [FP]. Esse dado também
influenciou na escolha desses dois filmes para o presente estudo com CROSF + EFI.
Em “Cubo Zero”, as legendas adicionais nas legendagens em português são
decorrentes de explicitação motivada pelo canal semiótico, conforme já descritas na seção
anterior. Em “Cubo Zero”, [CP] e [FP] apresentaram as legendas segmentadas de maneira
semelhante, sendo que [FP] contém duas legendas adicionais, correspondentes a
89
explicitações decorrentes do canal visual que ocorrem em [FP] e não em [CP]. Já em
“Hannibal”, a segmentação ocorreu de maneira diferente entre as legendagens, o que
influenciou no aumento do número de legendas. A diferença não é decorrente de
explicitações de elementos escritos no canal visual (isto é, explicitações por adição
motivadas pelo canal semiótico), visto que estas ocorreram em números iguais, conforme já
discutido na seção anterior. Entretanto, houve maior redução da informação e omissões
mais numerosas em [CP], conforme já discutido na seção de análises descritivas sob os
critérios de Díaz-Cintas (2003). [FP] parece ter sido produzida buscando “traduzir tudo”,
conforme já discutido na mesma seção.
5.3.1.1. Buscas feitas no corpus
*h205* (ocorrências de Novo abandonado)
Os asteriscos fazem parte do elemento buscado no concordanciador. Significa que
quaisquer caracteres, em quaisquer números, à esquerda de “h” e à direita de “5” serão
aceitos. A busca “<???????h205>” também poderia ter sido feita, mas, como houve alguns
casos de Rótulos múltiplos com CROSF, isso evita erros de buscas.
“Cubo Zero” teve 52 ocorrências em [E], 58 em [CP] e 57 em [FP]. “Hannibal” teve
41 em [E], 35 em [CP] e 41 em [FP]. Nota-se que, em “Hannibal”, [FP] é semelhante a [E],
mas [CP] apresenta menos ocorrências, visto que parte da informação Nova que não é
retomada no contexto foi reduzida ou omitida. Já em “Cubo Zero”, o número de
explicitações decorrentes do que foi encontrado no canal visual – sempre um Novo
abandonado – foi o fator causador de 5 ocorrências diferentes e as demais diferenças foram
causados por diferenças na organização da informação nas legendas, pois porções de
90
informações diferentes foram encontradas no N-Rema. Tem-se, a seguir, um exemplo
extraído das legendagens de “Cubo Zero”:
Exemplo 26
[E]
“-Are <2120200h100> you <2211111> trying to psyche me <6111112h201> out?”
[CP]
“-Vai <2120200h100> me <2211112h165> deixar jogar <6311311h205> ou
<6230322h205> não <6120411h205> ?”
[FP]
“- Está <2120200h100> me <2211112h165> desorientando <6311311h205> ou
<6230322h205> quê <6120310h205> ?”
(Fragmento extraído do corpus anotado com CROSF-15 + EFI-03, referente às legendagens
de “Cubo Zero”)
51
Embora, no Exemplo 26, extraído das legendagens de “Cubo Zero”, tanto [CP]
quanto [FP] apresentem mensagens semelhantes ao que é encontrado em [E], o Fluxo de
Informação ocorre de maneira diferente. [E] tem um só N-Rema com o Participante
(Fenômeno – “me”) retomado no Tema seguinte, conforme indicado em seu Rótulo,
enquanto as duas traduções em português têm N-Remas múltiplos, com as partículas “ou
não” e “ou quê” ao final de cada pergunta. O N-Rema corresponde ao Novo encontrado
normalmente no último elemento Ideacional do Rema. Entretanto, caso o Novo não se
encontre no Rema, não há N-Rema a ser anotado. Caso seja outro elemento Ideacional do
Rema, é anotado mostrando sua real posição, contando os itens Ideacionais desde o final do
51
Estas legendas eram todas de uma só linha cada. A quebra de linhas aqui ocorre apenas porque, com as
anotações, não é possível exibir as legendas sem quebrar as linhas. Isso foi necessário apenas nesse exemplo.
As quebras de linhas nos demais exemplos a seguir correspondem às quebras de linhas encontradas nas
legendas.
91
Rema até seu início. No caso das traduções no Exemplo 26, anotou-se que o último
elemento Ideacional, correspondente ao Novo, foi um Processo Material (“jogar” em [CP] e
“desorientar” em [FP]) encontrado em terceira posição, com dois elementos interpessoais
após o referido Processo. Essa diferença, entretanto, não significa necessariamente que
estas traduções estejam inadequadas. Como Vasconcellos (1997) aponta, organizações
diferentes da informação no texto podem apontar simplesmente para diferenças nos
sistemas de cada língua e ainda comunicar mensagens semelhantes adequadamente. Isso se
aplica à organização dos Temas e provavelmente pode aplicar-se também ao N-Rema.
*h201* (Quando o Novo é retomado no Tema da oração seguinte)
Embora esse Rótulo talvez fosse esperado na maioria das orações, o resultado
encontrado no corpus foi outro. Em “Cubo Zero”, [E] apresentou 11 ocorrências; [CP] e
[FP] apresentaram dez. O resultado foi ainda menor em “Hannibal”: apenas duas
ocorrências, tanto em [E], quanto em [CP] e em [FP], para os mesmos fragmentos. Alguma
redução é encontrada em todas as traduções em português, especialmente em [CP] e há
casos de omissão de algo expresso em [E]. As legendas se apresentam muitas vezes na
forma de Absoluto, já que, além da fala, há referências no canal visual e muito da
informação, mesmo no canal auditivo, pode estar condensada. Muitas vezes o texto pode
ser compreendido com o contexto e, então, mesmo em alguns casos de Absoluto, o Fluxo
de Informação ainda foi anotado com o EFI. No entanto, esse fluxo não parece se dar muito
freqüentemente na forma de uma informação Nova apresentada no final do Rema e
retomada no N-Rema seguinte em padrão linear de Progressão Temática (Rema > Tema).
Ao contrário: tem-se muitos casos de informação nova no Rema simplesmente abandonada,
como observado na busca anterior. As buscas no corpus apontam que o Rótulo para
92
informação Nova no N-Rema abandonada é, de fato, o mais freqüente em todas as
legendagens, conforme já discutido. Esse dado aponta que a construção Rema > Tema não
é a mais freqüente no corpus, embora seja presente nele.
*h111* (Dado retomado do Tema anterior, retomado no Tema seguinte)
Esse Rótulo indica quando ocorre a organização Tema > Tema, isto é, a Progressão
Temática Constante (Daneš, 1974; Fries, 1995; Thompson, 2007). Em “Cubo Zero”, houve
três ocorrências em [E], [CP] e [FP], todas nas mesmas cenas do filme, ainda que as falas
sejam construídas com alguma diferença, como se pode verificar no Exemplo 27 a seguir:
Exemplo 27
Filme original em inglês “Cubo Zero”:
-They <1111111h201> come for you at night <6111510h206>.
-What? <5000000h111>
They <1111111h111> come for you at night <6111510h205>.
-Who does? <5000000h111>
-They do. <5000000h116>
93
Legendagem comercial em português de “Cubo Zero”:
-Eles <1111151h201> nos observam <6111351h201> .
-O quê? <5000000h111>
Eles <1111151h111> nos observam
mais à noite <6111510h205> .
-Quem? <5000000h111>
-Eles. <5000000h116>
Legendagem piratas em português de “Cubo Zero”:
<1011111h201> Vêm pra você de noite <6111510h206> .
O quê? <5000000h111>
- Eles <1111111h111> vêm pra você de noite <6111510h205> .
- Quem <1120310-1111111h114> é que vem <6111311h211> ?
Eles. <5000000h116>
Ainda que cada textualização seja feita de modo diferente, os fragmentos em [CP] e
[FP] correspondentes ao que foi anotado em [E] como <...h111> (Dado, retomado do Tema
anterior, retomado no Tema seguinte) são presentes nos mesmos momentos da cena, tendo
ocorrido analogamente.
“Hannibal”, entretanto, apresentou diferenças entre as ocorrências de <...h111> em
cada uma de suas legendagens; houve quatro ocorrências em [E], uma em [CP] e três em
[FP].
94
Em um dos casos, isto se deveu à omissão de uma repetição encontrada apenas em
[E]: “I know. I know.” que apareceu uma vez e menos em [CP]. Conforme visto na seção
sobre os aspectos descritivos das legendas (DÍAZ-CINTAS, 2003), tais repetições foram
muitas vezes traduzidas em [FP] e omitidas em [CP].
Um dos casos de diferença entre as três legendagens se refere à omissão de toda
uma informação (não repetição) em [CP], como se vê no Exemplo 28 a seguir:
Exemplo 28
Filme original em inglês “Hannibal”:
She's <1111133h111> on a jump-out squad all night. <6111541h205>
She's <1111111h116> saving her strength. <6111112h205>
Legendagem comercial em português de “Hannibal”:
<1011111h115> Participou de batidas a noite toda. <6111510h205>
Legendagem pirata em português de “Hannibal”:
<1011133h111> Está numa brigada-supresa noturna. <6111134h205>
<1011111h116> Está poupando forças. <6111112h205>
Percebe-se em [CP] a omissão de uma oração, presente em [E] e em [FP], de modo
que a retomada no Tema seguinte não ocorreu porque a oração onde o Tema seguinte
estaria foi omitida em [CP].
95
Em dois casos, a diferença na ocorrência do Rótulo <...h111> se deve à diferente
construção do texto em cada uma das legendagens. Um deles é transcrito no Exemplo 29 a
seguir:
Exemplo 29
Filme original em inglês “Hannibal”:
If <2130334> you <2211133h111> happen to be the one
who puts her in a patrol car... <6111134h206>
in front of the news cameras, Bolton, <5000000h000>
you <1111111h116> don't wanna push her head down. <6111119h206>
Legendagem comercial em português de “Hannibal”:
Se <2130334> for <2211330h113> você a colocá-la
no carro de polícia... <6111134h206>
não <2121411> empurre <2211310h166> a cabeça dela
para baixo. <6111119h206>
Legendagem pirata em português de “Hannibal”:
Se <2130334> lhes <2211134h113> tocar terem que a meter
num carro de patrulha... <6111134h206>
em frente da imprensa, Bolton, <5000000h000>
não <2121411> lhe <2211112h166> empurrem a cabeça para baixo. <6111119h206>
96
Para facilitar a visualização do ocorrido, a retomada de um Tema no Tema seguinte
foi indicada através de uma flecha. Entretanto, a mensagem foi apresentada nas duas
legendagens em português com a realização de um Processo Material na forma de comando
(modo imperativo), eliminando-se o Processo Mental “wanna”, transformando a sugestão
em comando. Com isso, não se teve a retomada de um Tema no Tema seguinte.
Nota-se, em todo caso, que a configuração Tema > Tema (contínua) não foi
freqüente no corpus, apresentando baixa ocorrência nas três legendagens para os dois
filmes.
<1??????h16?> (Dado em posição Temática, recuperado pelo contexto)
A Progressão Temática derivada do Tema, como visto no capítulo de Revisão de
Literatura, ocorre quando um Dado em posição Temática é derivado de uma estrutura que
funcione como Macrotema. No caso de um texto escrito (narrativa, notícia de jornal, carta
etc.), uma oração pode ser o Macrotema de um parágrafo, assim como um parágrafo pode
ser Tema de todo um texto. Legendas, entretanto, não dispõem de parágrafos. Em
contrapartida, as legendas fazem referência constante ao que se encontra no canal
semiótico. É difícil categorizar uma legendagem como texto oral ou como texto escrito,
tratando-se de um caso híbrido, com um texto escrito que possui características de
oralidade. O Macrotema pode se situar no canal visual, por exemplo, em lugar de uma
porção escrita do texto. Ao anotar-se o corpus, foram identificados casos em que um
elemento é anotado como Dado, sem que fosse retomado do Tema ou Rema anterior, mas
do contexto situacional, preenchendo-se, assim, a posição j com o dígito “6”.
97
A busca pelo rótulo <1??????h16?> no programa concordanciador
52
aponta para
casos em que houve um Dado em posição Temática retomado do contexto (no caso, do
canal semiótico). "Cubo Zero" apresentou 32 ocorrências em [E], 41 em [CP] e 35 em [FP].
Em "Hannibal" houve 47 ocorrências em [E], 29 em [CP] e 35 em [FP]. Esses números
apontam para um Método de Desenvolvimento baseado em Progressão Temática derivada
do Tema em elevada concentração; não obstante, essa configuração se deu de maneira
diferenciada em cada legendagem. Veja-se alguns exemplos:
Exemplo 30
Cubo Zero
[E]
What? <5000000h124>
No way! <5000000h206>
[CP]
O quê? <5000000h124>
<1011133h166> Não pode ser <6111331h206> .
[FP]
O quê? <5000000h124> Não pode... <5000000h206>
Nota-se, no Exemplo 30, que a oração menor “No way!” em [E] se deu na forma de
uma oração maior em [CP] (“Não pode ser.”). Em orações menores, não há transitividade a
ser observada, de modo que não há Tema. Isso explica a diferença na Progressão Temática.
Se um Tema em uma legendagem não está realizado como Tema em outra legendagem, não
há como a Progressão Temática ser igual. Isso não é de todo inesperado, visto que é sabido
que línguas diferentes constroem a realidade de maneiras diferentes. Por exemplo, não é
52
No caso, utilizou-se a ferramenta Concord da suíte de programas WordSmith Tools.
98
inesperado que uma expressão como “No way!” seja traduzida como “Não pode ser” ou
“Não pode”. Veja-se outro exemplo a seguir:
Exemplo 31
Cubo Zero
[E]
-They do. <5000000h116>
[CP]
-Eles <1111121h165> observam <6111321h206> .
[FP]
- <1011333h106> É verdade <6111334h205> .
Em inglês: “They come for you at night.” “Who does?” “They do”. Em [CP], a
primeira dessas falas foi traduzida como “Eles nos observam” e em [FP] como “Eles vêm
para você à noite”. A fala condensada em [CP] traz uma Organização Temática diferente,
decorrente não só da condensação da fala, como também das diferenças sistêmicas entre os
idiomas. A fala “They do” é uma reafirmação do que já foi dito e isto se realizou em [FP]
como “É verdade”, diferença também devida aos sistemas distintos do idioma inglês e do
português.
Em “Hannibal”, diferentemente de “Cubo Zero”, a ocorrência do Dado em posição
Temática, recuperado do contexto (Rótulo <1??????h16?>), foi mais numerosa no filme em
inglês que nas legendagens em português. Conforme visto anteriormente, enquanto "Cubo
Zero" apresentou 32 ocorrências em [E], 41 em [CP] e 35 em [FP], em "Hannibal" houve
47 ocorrências em [E], 29 em [CP] e 35 em [FP]. Vejam-se alguns exemplos a seguir:
99
Exemplo 32
Filme original em inglês “Hannibal”
Sometimes <1112510h205> Dr. Lecter and I
would talk...
when <2120300-2212510h165> things got quiet enough...
Legendagem comercial em português de “Hannibal”
Quando <2120300-2212510h205> as coisas se acalmavam,
o Dr. Lecter e eu falávamos...
Legendagem pirata em português de “Hannibal”
Às vezes <1112510h205> eu e o Dr. Lecter
conversávamos...
depois <1112510h205> de se instalar o silêncio...
No Exemplo 32, as legendas correspondem ao início do filme “Hannibal”. A
primeira fala se inicia com um Tema Marcado – Circunstância em [E] e em [FP] e a
segunda legenda em [E] e em [FP] é uma oração hipotática que seria desconsiderada, não
fosse a opção feita por análises congruentes
53
.
53
Considerando-se que a unidade de análise proposta para este trabalho foi cada uma das legendas,
desconsiderar toda uma legenda por se tratar de uma oração hipotática seria desconsiderar o propósito da
pesquisa; logo, as legendas foram todas anotadas, mesmo quando correspondentes a uma oração hipotática.
Maiores explicações podem ser encontradas no capítulo de Metodologia deste trabalho.
100
Em [CP], a informação da segunda legenda de [E] foi usada em posição Temática
na primeira legenda, omitindo-se assim a informação encontrada no Tema da primeira
legenda em [E] e em [FP]. Conforme já explicado na subseção 6.2 deste trabalho, as
legendas comerciais em português apresentaram maiores omissões e maior condensação
que as legendas piratas, que procuram “traduzir tudo”. Com tal omissão e, ainda, inversão
de ordem das legendas, a organização do texto se diferencia muito. Tem-se, assim, uma
Organização Temática diferente e, conseqüentemente, uma Progressão Temática diferente
também, com um número menor de Temas.
Observe-se outro exemplo:
Exemplo 33
Filme original em inglês “Hannibal”
Thank you very much
for your candor. <5000000h000>
And <2130321> keep <2211310h166> all those wonderful items... <61111112h204>
from your personal Lecter
treasure trove coming. <5000000h000>
Legendagem comercial em português de “Hannibal”
Obrigado pela franqueza.
E continue trazendo suas... <5000000h000>
valiosas descobertas sobre o Lecter. <5000000h000>
101
Legendagem pirata em português de “Hannibal”
Muito obrigado
pela sua sinceridade. <5000000h000>
E <2130321> vá <2211310h166> passando sempre esses achados... <61111112h204>
do seu baú pessoal
de tesouros Lecter. <5000000h000>
As legendas do Exemplo 33 apresentam segmentação diferenciada, de modo que os
Rótulos também se diferenciam, já que a unidade de análise foi modificada. Os Rótulos são
aplicados para cada unidade de análise, isto é, cada legenda, buscando-se anotar o Tema e o
N-Rema. Caso não haja transitividade a ser observada dentro da legenda, anota-se o
Absoluto. Sendo assim, devido à diferença entre a segmentação, onde em uma legendagem
havia transitividade a ser observada, em outra não havia e vice-versa. Não fosse a
segmentação, ter-se-ia em [E]: “And keep all those wonderful items from your personal
Lecter treasure trove coming”; em [CP]: “E continue trazendo suas valiosas descobertas
sobre o Lecter”; e em [FP]: “E vá passando sempre esses achados do seu baú pessoal de
tesouros Lecter”. Cada uma dessas falas seria analisada como uma sentença, não fosse a
segmentação, modificando a unidade de análise. O Tema de cada uma das três teria sido o
mesmo: “And keep...”, “E continue...”, “E vá passando...” (Tema Textual: Adjunto
Conjuntivo: Extensão: Aditivo; seguido de: Tema Ideacional: Processo Material.) Haveria,
no entanto, uma diferença no N-Rema: [E] apresentaria um Processo Material no N-Rema
(“[keep] coming”), enquanto [CP] e [FP] trariam o Participante: Meta (em [CP]: “suas
102
valiosas descobertas sobre o Lecter”; em [FP]: “esses seus achados do seu baú pessoal de
tesouros Lecter”. No entanto, devido à segmentação das legendas, as unidades de análise
não foram esses períodos completos; foram fragmentos dele e os fragmentos não foram os
mesmos em cada legendagem, o que causou uma Organização Temática distinta e,
conseqüentemente, uma Progressão Temática distinta também.
<12?????h2??> (Temas simples Marcados, apresentando o Novo em posição Temática –
Temas Focados)
No capítulo de Revisão de Literatura, foi discutido como a Estrutura de Informação
afeta a Organização Temática (CLORAN, 1995; FRIES, 1995; 2002; HALLIDAY;
MATTHIESSEN, 2004; THOMPSON, 2004; 2007). Em geral, parte-se do que o ouvinte já
conhece para contextualizá-lo (Dado) orientando-se a mensagem em seu princípio (Tema),
conduzindo-a pelo resto da mensagem (Rema) em direção ao que se deseja anunciar ao
ouvinte (Novo). Tende-se a começar a mensagem com o Sujeito
54
em posição Temática
(Tema Não-Marcado) para orientar a mensagem, contextualizando, assim, o ouvinte. Se o
Tema for realizado por outro elemento Ideacional, tem-se, então, um Tema Marcado.
Sobrepõe-se à Organização Temática a Estrutura de Informação: contextualiza-se o ouvinte
com o elemento Dado e, em seguida, anuncia-se ao ouvinte o elemento Novo. Entretanto,
se o Novo for apresentado no início da mensagem, há uma quebra: tem-se o Novo em
posição Temática (Tema Focado), que se trata de uma estrutura também Marcada. Essa
estrutura pode ser localizada no corpus através da busca pelo Rótulo <12?????h2??>.
Mesmo se a posição b não fosse preenchida com o valor “2”, já se teria uma busca por
todos os Temas simples Focados. Optou-se, aqui, por verificar, em todo caso, se todos os
54
“Sujeito” no conceito da GSF, segundo a Metafunção Interpessoal.
103
Temas Focados são, de fato, Temas Marcados, realizando-se as duas buscas. O resultado
foi diferente para as duas buscas. Essa busca apontou em “Hannibal” três ocorrências de
Novo em posição Temática, todos realizados em Temas Marcados, em [E], [CP] e [FP].
Entretanto, essa busca em “Cubo Zero”, [E] apresentou sete ocorrências de Tema Focado e
apenas uma delas corresponde a um Tema Marcado, sendo as outras seis caracterizadas
como Tema Não-Marcado; [CP] apresentou nove ocorrências de Tema Focado – nenhum
deles correspondeu a um Tema Marcado; e [FP] apresentou oito Temas Focados, sendo um
Marcado e sete Não-Marcados. A passagem com o Tema Marcado em [E] e [FP] se
encontra no exemplo a seguir:
Exemplo 34
Cubo Zero
[E]
The other night, <1212510h205>
I heard some noise <6111122h204>.
[CP]
Na noite passada <1212510h205> ouvi
um barulho <6111122h204> .
[FP]
Na noite passada <1212510h205> ouvi uns barulhos <6111122h204> .
A Organização Temática e a Estrutura de Informação ocorrem do mesmo modo
nessas três legendas, sem alterações. Tem-se o Novo em posição Temática, reorientando-se
a conversa entre os personagens para um novo assunto (estavam jogando xadrez, discutindo
o jogo em si). Houve uma quebra no assunto e essa reorientação se deu através de um Tema
Focado, com uma Circunstância em posição Temática (Tema Marcado) para mudar a
orientação da conversa.
104
Os demais casos de Tema Focado em “Cubo Zero”, entretanto, não configuraram
Temas Marcados – exemplos a seguir:
Exemplo 35
Cubo Zero
[E]
-They <1111111h201> come for you at night <6111510h206>.
[CP]
-Eles <1111151h201> nos observam <6111351h201> .
[FP]
<1011111h201> Vêm pra você de noite <6111510h206> .
Exemplo 36
Cubo Zero
[E]
Oh, good. <5000000h000> They <1111111h165> didn't forget
lunch this time <1111510h205>.
[CP]
Ainda bem <5000000h000> . <1011111h165> Não esqueceram
nosso almoço dessa vez <1111510h205> .
[FP]
Boa <5000000h000> . <1011111h165> Não se esqueceram
do almoço desta vez <1111510h205> .
Embora o Sujeito esteja em posição Temática nas legendas dos Exemplos 35 e 36,
esse Sujeito corresponde ao Novo anunciado na mensagem, de modo que o Tema não é
Marcado, ainda que seja Focado. Entende-se, então, que a Estrutura de Informação pode vir
105
em uma organização Marcada segundo o conceito de Dado e Novo sem que o Tema dessa
unidade de análise seja configurado como Marcado
55
.
Nota-se que, tanto em [CP] quanto em [FP], há elementos elípticos em posição
Temática. Isso será discutido no item a seguir.
<?0?????h???>, com exceção marcada na busca para <5* (Temas e N-Remas elípticos)
Por meio dessa busca encontra-se tudo o que foi anotado como elíptico. Entretanto,
a mera busca por “<?0?????h???> encontraria também os casos de Absoluto, anotados com
<50> no começo. Por isso, o Rótulo “Absoluto” foi marcado como exceção para as buscas.
Assim, foram encontrados apenas os Temas e os N-Remas.
Em “Cubo Zero”, [E] tem apenas três elementos elípticos anotados, enquanto [CP]
tem 29 e {FP] tem 30. Em “Hannibal”, há zero ocorrências em [E], 21 em [CP] e 22 em
[FP]. Em “Hannibal”, [FP] apresentou uma ocorrência a mais que [CP] de Participante
elíptico em posição Temática, embora, no geral, possua número maior de legendas e de
caracteres que [CP].
Em “Hannibal”, todos os casos elípticos encontrados foram para Participante
elíptico em posição Temática. Em “Cubo Zero”, dois elementos elípticos não
correspondentes ao Participante em posição Temática foram encontrados anotados. A
seguinte busca, mais específica, revelou isso.
55
O conceito de Tema Marcado em português pode ser confuso, uma vez que, em certos casos, é possível ter
um Tema Não-Marcado que não corresponde ao Sujeito, quando o Processo é realizado por um verbo que
demanda a ordem “verbo-sujeito”, conforme apontado, por exemplo, em Feitosa e Pagano (2005), no
exemplo: “Sobrou limonada?”, em que o verbo “sobrar” exige a pós-posição do sujeito, constituindo-se essa a
forma “Não-Marcada” em português. Entretanto, não foram encontrados casos como esse no corpus desta
pesquisa.
106
<10101??h???> (Tema simples; elíptico, Ideacional; Participante)
Os números desta busca e da busca anterior nas legendagens para “Hannibal” foram
iguais. Já em “Cubo Zero”, são observadas diferenças: uma só ocorrência em [E], 29 em
[CP] e 30 em [FP]. Com isso, constatou-se que duas ocorrências em [E] para “Cubo Zero”
de elementos elípticos anotados não se tratavam da elipse do Participante em posição
Temática. O concordanciador mostrou que se tratavam de duas ocorrências de elipse do
Finito, o que talvez seja característico de textos orais. Aqui está um exemplo dessa
ocorrência:
Exemplo 37
“<2120200-2020200> <2211121h146> You know who these are <6111333h201> ?”
(Legenda anotada com CROSF-15 + EFI-13 extraída de [E] para “Cubo Zero”, itálicos e
aspas usados aqui apenas para evidenciar que se trata de um exemplo no texto.)
No Exemplo 37, a pergunta seria “[Do] you know who these are?”. No entanto, o
Finito foi omitido pelo falante. Considera-se que houve elipse do Finito, de modo que o
mesmo foi anotado como elemento elíptico, parte do Tema, sendo o elemento ideacional do
Tema o Participante “You”.
<5* (Absoluto)
Esse foi o Rótulo mais numeroso em todas as legendagens analisadas, mas não
ocorreu na mesma proporção entre as três legendagens de cada filme. “Cubo Zero” teve 69
ocorrências em [E] e [CP] e 72 ocorrências em [FP]. “Hannibal” teve 49 ocorrências em
[E], 57 em [CP] e 64 em [FP].
107
Como já mencionado anteriormente, o Fluxo de Informação pôde ser observado
mesmo em Absolutos, visto que eles trazem em si alguma informação, ainda que não haja
Transitividade a ser observada; porém, foi possível perceber como o Fluxo da Informação
se deu também por meio dos Absolutos
56
em alguns casos. Em certos casos, havia uma
frase que não chegava a ser uma oração completa, mas que se repetia, interligando-se ao
texto como um todo. Nos demais casos em que o Fluxo de Informação não pôde ser
observado nos Absolutos, valores neutros (h000) foram utilizados para preencher EFI.
Tem-se, a seguir, alguns exemplos de Absolutos anotados em [E] para “Cubo Zero”:
Exemplo 38
“Water! <5000000h204> Water! <5000000h144>”
No Exemplo 38, o elemento “Water!”, em sua primeira aparição, foi anotado como
“Novo”, retomado no Absoluto seguinte. Assemelha-se ao padrão Tema > Tema, sendo
aqui caracterizado como Absoluto > Absoluto, o que Daneš não havia indicado
originalmente em seu trabalho, já que a Progressão Temática não envolve Absolutos. Tem-
se, não obstante, o Fluxo de Informação, caracterizando aqui um Método de
Desenvolvimento (THOMPSON, 2007).
Observe-se outro caso de Absoluto no qual o Fluxo de Informação pôde observado,
no Exemplo 39 a seguir:
Exemplo 39
“Rook <1111111h165> takes Queen <6111112h205>.
Check. <5000000h205>”
56
Realizados por orações menores (“minor clauses”).
108
No Exemplo 39, “Check” é uma “oração menor” (“minor clause”), i.e. uma oração
incompleta, correspondendo à Função Absoluto, mas traz, assim mesmo, informação Nova
ao jogo de xadrez em andamento nessa cena do filme, do modo como um N-Rema o faria;
logo, foi anotado como informação Nova abandonada, isto é, não retomada posteriormente.
No filme “Cubo Zero”, foi encontrado um total de 12 Absolutos anotados como
“Novo” em [E], 10 em [CP] e 12 em [FP]. No entanto, esse rótulo — <5000000h205> —
teve zero ocorrências nas três legendagens de Hannibal. Vê-se essa ocorrência, então, como
algo possível, mas não tão freqüente nas legendas aqui analisadas. Parece depender do
filme. Aqui, tem-se dados apenas para legendas em filmes de terror/suspense da década
atual.
Com este estudo, pode-se ver alguns padrões encontrados de Métodos de
Desenvolvimento no corpus selecionado. É possível que esse tipo de análise seja também
útil para contrastar estes dados com os que poderiam ser encontrados em outros corpora.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando os três aspectos diferentes sob os quais o corpus foi analisado, as
considerações finais se dividem aqui em três etapas, cada qual com um foco maior em um
referencial teórico específico. Não obstante, ainda que, em cada uma das etapas, uma
determinada abordagem tenha primazia, há pontos de contatos entre as três abordagens, de
modo que, dentro de cada seção, uma abordagem pode apontar alguma característica tratada
por outra.
109
6.1. Estudos de aspectos descritivos de modalidades da Tradução Audiovisual (DÍAZ-
CINTAS, 2003)
Muitas das características descritivas de Díaz-Cintas (2003) se referem a detalhes
das legendas fixas na imagem, sobre as quais o usuário não tem qualquer poder de
modificação. Entretanto, as legendas piratas são flexíveis a esse respeito, de modo que o
usuário pode configurar seu player para exibir as legendas com fontes de tipos, cores e
tamanhos diferentes e também pode modificar seu posicionamento na tela conforme suas
necessidades e seu gosto.
O número de caracteres é outro ponto no qual as legendas piratas diferem, visto que
não há um máximo a ser observado. Os legendadores piratas buscam traduzir o máximo
possível, ainda que não haja tempo de leitura suficiente para ler as legendas sem pausar o
filme. Talvez seja por pensarem em um público-alvo que prefira pausar o filme em diversos
momentos, mas ler a informação o mais completa possível. As legendas comerciais
mantiveram um máximo de 34 caracteres por linha, com um tempo de leitura de 2 segundos
por linha de legenda. Esse número é próximo da média apontada por Araújo (2004) de 32
caracteres por linha.
As legendas comerciais de metade dos filmes eram amarelas e da outra metade
brancas, todas com contorno preto. No caso das legendas piratas, é o usuário que define
com que cores deseja visualizar as legendas, que são exibidas conforme o espectador
decidir configurar seu player.
No que diz respeito aos aspectos da linguagem, embora reduções, condensações e
omissões sejam presentes nas legendas das legendagens piratas, esses três recursos foram
utilizados em maior número nas legendagens comerciais em português. Em geral, as
legendagens piratas parecem buscar traduzir sempre “o máximo possível”, sem buscar
110
reduzir as legendas, sendo essa preocupação mais claramente observada nas legendagens
comerciais, que apresentam legendas mais curtas.
Quanto à segmentação das legendas, não se pôde observar com nitidez quais
recursos foram utilizados. Os conceitos de segmentação: i) visual, ii) retórica e iii)
gramatical podem todos ser utilizados para justificar como se deu a segmentação de cada
uma das legendas. É possível que os três conceitos tenham sido levados em conta
simultaneamente, tanto para legendagens comerciais quanto piratas.
6.2. Estudos sobre explicitação em Tradução Audiovisual
As explicitações movidas por questões culturais e por questões de redução não
foram freqüentes nas legendagens, de um modo geral. Apenas as explicitações por adição,
motivadas pelo canal semiótico, foram freqüentes. Os números foram relativamente
próximos entre as legendagens comerciais e piratas em português. A diferença não pareceu
significativa no que se refere ao conceito de explicitação de Perego (2003) no corpus.
Entretanto, cumpre salientar que o corpus abrange apenas filmes de suspense/terror da
década atual. É possível que em legendagens para outras gravações audiovisuais isso se dê
de modo diferente.
6.3. Estudos sobre Fluxo de Informação em modalidades da tradução audiovisual
Um novo código adicional foi proposto para se acoplar ao Código de Rotulação
Sistêmico-Funcional (CROSF) e desenvolveu-se o Epitélio para Fluxo de Informação
(EFI), cujo protótipo 03 se mostrou satisfatório para as análises em combinação com o
CROSF-15 (FEITOSA, 2006). Com o EFI, foi possível apontar características relacionadas
ao Fluxo de Informação nas legendas, contrastando-se: i) os textos originais em inglês [E]
111
com o que foi encontrado nas ii) legendagens comerciais em português [CP] e iii) naquelas
feitas por fãs (piratas) em português [FP].
Como a anotação é muito mais específica, anotando-se mais de um elemento em
cada oração com dois códigos, um fragmento menor do corpus foi selecionado para este
estudo-piloto. Pretende-se, entretanto, analisar o corpus na íntegra na tese. Os dois filmes
com legendagens com características descritivas (DÍAZ-CINTAS, 2003) mais díspares
foram então selecionados: “Cubo Zero” e “Hannibal”, cada um com suas três legendagens
(transcrição do áudio em inglês, legendagem comercial em português e legendagem pirata
em português). Cada conjunto de legendagens foi anotado simultaneamente, com as três
legendagens e o filme sendo exibidos constantemente, sem deixar de correlacionar os textos
traduzidos com o canal semiótico.
Os Rótulos mais numerosos correspondem a Absolutos, ocorrendo em número
superior nas [CP]s. Embora as [FP]s do corpus tenham apresentado maiores ocorrências de
Absolutos que as [E]s, seus números são mais próximos das [E]s que das [CP]s, sendo seus
Absolutos adicionais gerados, em sua maioria, em decorrência da explicitação do que é
encontrado no canal visual. A alta ocorrência de Absolutos nos três tipos de legendagem
deve-se, principalmente, à segmentação das mesmas, partindo-se certas orações mais
longas em mais de uma legenda. Trata-se de uma restrição do formato do texto
(legendagem).
As configurações de Progressão Temática linear (Rema > Tema) e contínua (Tema
> Tema) foram pouco numerosas, destacando-se mais a Progressão Temática derivada do
Tema, sendo muitas vezes a informação retomada do canal semiótico, tanto nas
legendagens piratas quanto nas comerciais. No entanto, o Fluxo de Informação se deu
também por meio dos Absolutos, de modo que a configuração Absoluto > Absoluto
112
também foi encontrada, sendo que essa não caracteriza uma Progressão Temática, visto que
não há Organização Temática a ser observada, ainda que haja Fluxo de Informação. É
possível que se possa aqui apontar um quarto Método de Desenvolvimento, independendo
de um padrão de Progressão Temática.
No referente à Organização Temática, as [FP]s apresentaram dados mais próximos
das [E]s que das [CP]s, as quais apresentaram construções mais divergentes,
particularmente devido à maiores omissões e condensações, conforme mencionado na
seção 6.1. Isso, entretanto, não significa que uma ou outra tradução seja mais ou menos
adequada, já que uma mensagem semelhante pode ser expressa com organizações
alternativas em muitos casos, como aponta Vasconcellos (1997).
Os dados apresentados neste trabalho podem diferir de dados obtidos em outros
corpora, possivelmente analisando textos sem ser legendagens, ou mesmo legendagens para
gravações audiovisuais que não correspondam a filmes de terror/suspense, o que talvez
possa ser feito em futuras pesquisas, visto que extrapolaria o escopo desta. Há também uma
limitação da análise do que é encontrado no canal semiótico. É possível que uma pesquisa
anotando-se a Progressão Temática das imagens do canal visual, cena-a-cena, analisando-se
também a Progressão Temática da trilha sonora (incluindo a trilha musical), aponte
correlações adicionais entre o que é encontrado nos textos das legendas e o que se encontra
no canal semiótico no referente a Organização Temática, Progressão Temática, Estrutura de
Informação e Fluxo de Informação. A análise do canal semiótico, extremamente laboriosa,
constituiria, por si só, uma outra pesquisa, extrapolando o escopo desta.
113
7. PRÓXIMAS ETAPAS
- Anotar o restante do corpus em CROSF-15 + EFI-03.
- Realizar análises no corpus anotado na íntegra, contrastando-se as legendagens comerciais
e piratas, usando a transcrição do áudio em inglês como referência, para os dez filmes que
compõem o corpus.
- Contrastar os novos dados obtidos com os já encontrados, buscando caracterizar as
legendagens piratas em contraste com as legendagens comerciais do corpus.
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Méthode de traduction. Paris: Didier, 1958.
117
9. Anexos
9.1. Anexo 1: CROSF-15
118
119
9.2. Anexo 2: EFI-03
EFI: Protótipo 03
Mapa do código: CROSF: ab cd efg EFI: h ijk
Posição h: Sempre igual à letra h. Isso indica que o que vem a seguir é o EFI.
Posição i Posição j Posição k
1. Dado 1. Retomado do Tema anterior 1. Retomado no Tema seguinte
2. Novo 2. Retomado do N-Rema anterior 2. Retomado no N-Rema seguinte
3. Retomado de outra parte do
Rema anterior
3. Retomado noutra parte do Rema
seguinte.
4. Retomado do Absoluto anterior 4. Retomado no Absoluto seguinte
5. Abandonado
6. Retomado de outro ponto
anterior ou recuperado pelo
contexto
6. Retomado numa oração após a
seguinte
A posição j só será preenchida para o Dado. Se o elemento for Novo, será considerado que
ele não está sendo retomado de lugar algum, de modo que será preenchida com o valor 0
(zero).
Em caso de Absoluto, não há transitividade, mas há uma mensagem sendo transmitida.
Considerando que o Absoluto pode se relacionar com o texto antes e depois dele, mesmo
um Absoluto pode ser um ponto de referência. Um Absoluto pode ser retomado de outro
ponto e ele mesmo poderá ser retomado mais tarde.
Certas estruturas (Continuativos, por exemplo) não são utilizadas como referências. As
posições i e j podem então ser preenchidas com o valor 0 (zero), mesmo se for algo
encontrado no Dado.
Os rótulos têm o aspecto: <abcdefghijk>. Cada letra na verdade é um valor numérico, com
exceção da letra h, que é usada para preencher a posição h, separando um código do outro.
Ex: <1111111h111>.
Buscas com “dígitos-curinga” devem ser feitas com pontos de interrogação (?) no lugar dos
valores a serem substituídos, com os restantes do sinais na íntegra. Exemplo:
<???????h???>
O número exato de dígitos e os parênteses angulares devem estar sempre presentes nas
buscas computadorizadas.
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