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YVONE COSTA DE SOUZA
ATRAVESSANDO A LINHA VERMELHA:
Programa “Nova Baixada” de Educação Infantil – Discutindo a Diversidade
Étnico-Racial e Cultural na Formação Docente
Rio de Janeiro
2009
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YVONE COSTA DE SOUZA
ATRAVESSANDO A LINHA VERMELHA:
Programa “Nova Baixada” de Educação Infantil – Discutindo a Diversidade
Étnico-Racial e Cultural na Formação Docente
Dissertação apresentada, como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre,
ao Programa de Pós-Graduação em
Educação, Cultura e Comunicação em
Periferias Urbanas da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro. Área de
concentração: Educação e Cultura.
Orientadora: Profª. Drª. Isabel Brasil Pereira
Rio de Janeiro
2009
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CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CCS/C
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial
desta tese.
..................................................................................... .............................................
Assinatura Data
YVONE COSTA DE SOUZA
ATRAVESSANDO A LINHA VERMELHA:
Programa “Nova Baixada” de Educação Infantil – Discutindo a Diversidade
Étnico-Racial e Cultural na Formação Docente
Dissertação apresentada, como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre,
ao Programa de Pós-Graduação em
Educação, Cultura e Comunicação em
Periferias Urbanas da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro. Área de
concentração: Educação e Cultura.
Aprovado em___________________________________________________
Banca Examinadora:_____________________________________________
__________________________________________________
Profª. Drª. Isabel Brasil Pereira (Orientadora)
Faculdade de Educação da Baixada Fluminense da UERJ
__________________________________________________
Profª. Drª. Deise Gonçalves Nunes
Faculdade de Serviço Social da UFF
__________________________________________________
Profª. Drª. Lígia Maria Motta Lima Leão de Aquino
Faculdade de Educação da UCP e da UERJ
__________________________________________________
Profª. Drª. Maria Fernanda Resende Nunes
Faculdade de Educação da UNIRIO e da PUC - RIO
Rio de Janeiro
2009
DEDICATÓRIA
Com meu coração em cima da carteira este trabalho é dedicado
aos meninos e as meninas do Brasil, que trazem na sua história
a diversidade étnico-racial e que me instigam a inventar, pois,
como diz o poeta Manoel de Barros: “Tudo o que não invento é
falso”.
Às crianças do mundo e, em especial, às das Creches da
Chatuba/Mesquita e da Fiocruz pelo aprendizado.
AGRADECIMENTOS
Quero expressar minha gratidão, admiração e respeito à Professora Doutora
ISABEL BRASIL PEREIRA pela coragem, paciência, confiança e ensinamentos que
me proporcionou para que eu pudesse discutir a Educação Infantil através de um
olhar que privilegiou a diversidade étnico-racial e o combate ao racismo. Além disso,
em respeito à sua história de vida e sua prática de trabalho revolucionária marcadas
pela militância em prol da luta pela igualdade de direitos e justiça social na
sociedade brasileira. Quero agradecer à nossa amizade construída, não somente,
no campo das lutas sociais, mas, fortalecida pelos momentos descontraídos que
vivemos juntas, tanto na luta política quanto nos desfiles dos blocos do carnaval
carioca. Isabel, tenho certeza que você é uma das minhas amigas que jamais vai
faltar a um encontro.
Ao pessoal de casa: Minha mãe VICENCIA COSTA DE SOUZA, que pela
sua num mundo melhor, ensinou-me a não desistir do sonho, a resistir às
intempéries, e a se entregar, seja ao que for, somente pelo coração e pela ideologia.
Ao meu pai, SEBASTIÃO RODRIGUES DE SOUZA, que me fez acreditar que as
coisas que desejamos não caem do céu, e que os enfrentamentos que aconteceriam
nos trariam derrotas e vitórias, mas que o essencial é ser leal, saber resistir e não
desistir de ser íntegra e feliz. Aos meus irmãos IVANO COSTA SOUZA e IÊDA
MARIA DA COSTA SOUZA, pelas reminiscências de nossas algazarras nas
brincadeiras com coroas de princesas, cedros de fadas e espadas dos heróis
infantis, que nos levaram a ajudar ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO, o louco artista, a
tecer mantos feitos de fragmentos de papel, vidro, espelhos, contas. Desde a
Infância, mesmo sem saber, éramos benjaminianos! A MARCIA HELENA,
GEÖRG RUDOLPH, JAN PABLO, MAIRA ISABELLA E JULIA, cunhada e cunhado,
sobrinho e sobrinhas, que juntos compõem o cleo da minha família e me dão
apoio, amor e muita alegria nas horas mais difíceis da vida.
À minha FAMÍLIA MATERNA E PATERNA, meus TIOS E TIAS, PRIMOS E
PRIMAS pela alegria dos nossos encontros e pelos momentos vividos na casa de
nossos avós, lá em Mato Grosso do Sul, na cidade de Três Lagoas.
À minha Analista ROSA BORN, pelo amparo e acolhimento nos momentos
difíceis e felizes, não desse processo, mas da minha vida.
À minha querida e tão amável vizinha amiga EUCYARA AMBRÓSIO, pelo
perfumado e saboroso cafezinho e pela companhia nos dias de confinamento. Ao
meu vizinho JOSÉ WELLINGTON, pelas maravilhosas melodias dedilhadas em seu
piano, que me acompanharam em todos os momentos de concentração e escrita. À
minha querida CRISTINA DE SOUZA BARRETO que, como uma fada, cuida de mim
e da minha casa, colocando sempre em ordem os meus espaços de trabalho e de
vida.
Aos queridos amigos e amigas: Professora ELOÍSA HELENA COSTA, mestra
generosa, sempre pronta a ler tudo que lhe apresentava, oferecendo sugestões,
demonstrando uma sutil elegância ao exigir o essencial rigor científico. Ao meu
amigo, irmão, Professor LUIZ FERNANDO DE SOUZA, companheiro na vida e na
creche Fiocruz, por seu carinho, sugestões, nem sempre sutis, mas com total
lealdade. A MAURA MARIA DE MELLO, minha amiga na alegria e na tristeza, o
que nos une e nos fortalece nas adversidades. À minha amiga FÁTIMA REGINA
PIVETTA, por seu amparo, seu auxílio luxuoso, no esclarecimento de dúvidas
epistemológicas, além do companheirismo na luta por uma sociedade melhor. Ao
meu amigo-irmão PAULINHO CESAR NUNES DOS SANTOS, que providenciou o
carinho e o suporte no momento de enfrentar as questões do dia a dia e que no
momento de construção de uma dissertação, podem nos levar à loucura. À EDITE
AGUIAR DE SOUZA e ELCIANE DE SOUZA CABRAL, minhas amigas de Infância,
que me ajudam a prolongar na vida adulta o mesmo sentimento que vivenciamos
quando crianças. À minha prima MARIA IZABEL CAMARGO DA SILVA, que
diariamente me telefonava para garantir que eu continuaria na luta pela redação
desse trabalho. À VERA MICHEL BENJAMIN, SUELY AZEVEDO COSTA,
ROSAURA MICHEL CAVALCANTE E NERI JUREMA, comadres e amigas que
cuidaram e cuidam do meu equilíbrio físico e espiritual. À mais recente das minhas
amigas, NADIA CAVALCANTE DA CRUZ, pelo apoio, paciência e suporte,
mantendo-me concentrada no enfrentamento das minhas dificuldades, além de
ofertar um quinhão generoso de seu tempo precioso e do exercício leal da amizade.
À minha amiga CLAUDINHA TEIXEIRA, que formatou, releu, revisou meu projeto de
pesquisa que me trouxe até este momento final. À Professora ANGÉLICA
FONSECA, que me ajudou na elaboração e organização do projeto de pesquisa e,
por que não dizer, nas caronas que me fizeram ganhar um tempo imprescindível na
construção dessa dissertação.
Ao meu querido amigo HAYNE FELIPE DA SILVA, pela amizade, amparo e
por nunca ter faltado a um encontro.
Aos meus queridos COLEGAS, a todos AMIGOS E AMIGAS, pela riqueza da
diversidade do convívio, pelas caronas, pelos estudos, pela militância na educação
infantil, pela crença na resistência, pela amizade e alegrias que sempre rodearam
minha vida e meu coração.
Aos colegas e amigos da CRECHE FIOCRUZ e da DIREH (Diretoria de
Recursos Humanos da Fiocruz) agradeço a contribuição com suas opiniões dadas
no exercício do trabalho coletivo e também à paciência com que enfrentaram meus
momentos de ausência do trabalho em virtude da dedicação necessária à conclusão
desse texto; à EQUIPE TÉCNICA, às ASSISTENTES PEDAGÓGICAS E DE
PSICOLOGIA e do núcleo; às MENINAS DA SECRETARIA, sempre atentas e gentis
às nossas solicitações; à TURMA DA SAÚDE e a MARCELA, com suas mãos de
fada; às graciosas COMPANHEIRAS DA COZINHA E DO LACTÁRIO, sempre com
um chá para acalmar e um cafezinho para animar os momentos de convívio e aos
RAPAZES DO APOIO ADMINISTRATIVO. Em especial, gostaria de destacar o
trabalho das PROFESSORAS, DAS PROFESSORAS AUXILIARES E DOS
PROFESSORES que no desenvolvimento de suas atividades me fazem estar atenta
às questões que a contemporaneidade interpõe no caminho das crianças pequenas
em busca de sua felicidade.
Quero deixar público o meu reconhecimento e agradecimento à Creche
Fiocruz, nas pessoas de LEILA MELLO e SILVIA MOTTA, respectivamente, então
diretora da DIREH e atual chefe do Serviço de Benefício de Creche da Fundação
Oswaldo Cruz, que possibilitaram minha liberação para cumprir a jornada do
Mestrado na FEBF/UERJ.
Aos MEUS ALUNOS(AS) do Curso de Desenvolvimento Profissional para
Educação Infantil da Creche em parceria com a Escola Politécnica de Saúde
Joaquim Venâncio/Fiocruz.
Aos COLEGAS E AMIGOS DA FEBF e UERJ/Maracanã, nas pessoas de
HENRIQUE SOBREIRA, bravo e vitorioso coordenador do Programa de Mestrado;
Aos/Às PROFESSORES/AS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO, Isabel
Ortigão, Silvia Pimenta, Maurício Rocha, Antonio Flávio, Alita e Mauro Costa cujas
contribuições estão presentes neste trabalho.
Às Professoras Drª. DEISE GONÇALVES NUNES e MARIA FERNANDA
NUNES, pelas ricas discussões que em muito contribuíram e pela participação na
banca de qualificação e de defesa deste trabalho, na qual seus olhares ampliaram
as possibilidades e trouxeram novas perspectivas.
Às Professoras Drª. JANE FELIPE DE SOUZA e Drª. SUZANA RANGEL da
UFRGS, pelas discussões, atenção e carinho, meus sinceros agradecimentos.
À Profª. Drª. VERA MARIA RAMOS DE VASCONCELLOS pela
disponibilidade e gentileza com que me recebeu como aluna da Disciplina: Tópicos
Especiais: A Invisibilidade da Infância na Sociedade Contemporânea, cujas
discussões em muito contribuíram para o desenvolvimento deste trabalho.
Ao Secretário do Programa SANDRO HILÁRIO, pela disponibilidade, atenção,
empenho e cavalheirismo, sempre atento em acalmar minhas aflições, o meu
obrigado.
Aos/Às meus/minhas COLEGAS DE TURMA DO MESTRADO, com os quais
aprendi nos momentos de dor e alegria e, em especial, ao PAULO MELGAÇO e
ALEXANDRE DE CASTRO (Buiu), que ficaram bem pertinho de mim, segurando
minha onda, enchendo meu coração de afeto e amizade.
À Profª Drª. e amiga ANA LÚCIA GOULART DE FARIA da UNICAMP,
obrigada pela força e pelas pistas dadas.
Aos/Às colegas e amigos do NEI:P&E, aos meus alunos(as) da UERJ e às
Profª Drª. LÍGIA MARIA MOTTA LIMA LEÃO DE AQUINO e Drª. RITA RIBES
PEREIRA, que me apresentaram o Programa Nova Baixada de Educação Infantil. À
Profª Mestre LUISA MARIA DELGADO DE CARVALHO e ao MACIEL CRISTIANO,
nosso querido bolsista, pelo empenho solidário na produção da pesquisa de
Avaliação Qualitativa do Desenvolvimento das Crianças das Creches no âmbito do
Programa Nova Baixada, pela companhia e amizade, o meu agradecimento.
Às coordenadoras do PNB Educação Infantil, ADRIANI PINHEIRO FREIRE e
GLÁUCIA MÍRIAM SIMÕES DA MOTTA, antigas companheiras de militância pela
Infância, meu muito obrigado e minha admiração.
ÀS GESTORAS, COORDENADORAS PEDAGÓGICAS e admiradas
PROFESSORAS DAS CRECHES MARGARIDA DUARTE DA SILVA e VEREADOR
NILO DIAS TEIXEIRA, meu obrigado pela riqueza do convívio e contribuições
valorosas e valiosas que ajudaram a tecer com fios dourados a parte mais preciosa
deste trabalho, sem as quais não poderíamos caminhar e vislumbrar rotas de
esperança para um mundo melhor do que este que se apresenta.
Meu Axé!
O Apanhador de Desperdícios
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra de sapo
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
Eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
Manoel de Barros
RESUMO
Esta dissertação tem como objeto a incorporação do tema Diversidade Étnico-Racial
e Cultural na formação docente para a Educação Infantil na Periferia. A partir da
problematização do cotidiano enfocou-se questões como Racismo e Preconceito e a
forma como o abordadas junto à Infância Pequena. Nesta pesquisa buscou-se
analisar o desenvolvimento do Programa Nova Baixada de Educação Infantil e
refletir sobre o lugar que ocupa nas políticas educacionais, tendo como campo de
investigação a Baixada Fluminense. Orienta pelo propósito de compreender de que
forma as discussões étnico-raciais e a diversidade cultural estão ou o inseridas
nos espaços de formação adotou-se, metodologicamente, uma abordagem
qualitativa, de natureza descritiva. As cnicas privilegiadas foram: análise
documental, entrevistas estruturadas e semi-estruturadas. Os sujeitos da
investigação foram docentes e gestores de instituições nas quais se implementaram
o PNB, a saber: Creche “Margarida da Silva Duarte” e “Vereador Nilo Dias Teixeira”,
ambas no bairro da Chatuba, em Mesquita, município emancipado da cidade de
Nova Iguaçu em 1999. Fez-se levantar e analisar as contribuições da formação
docente no processo de pensar o fazer educativo. O referencial teórico se
fundamenta nos estudos de Trindade, Silva, Kramer, Faria, Lino e Hasenbalg que
abordam o tema relações étnico-racial na educação infantil. Através de nossa
pesquisa observou-se que escassez de trabalhos que discutem essa questão,
como também, nas matrizes curriculares dos cursos de formação de professores,
onde a Educação Infantil ocupa um espaço de penumbra como objeto de reflexão.
Por fim, conclui-se que o meio acadêmico se volta, predominantemente, para os
aspectos desenvolvimentistas da formação infantil, relegando ao segundo plano, a
discussão sobre a diversidade cultural, étnica e racial. No tocante às políticas
públicas indicamos a pertinência da revisão, pelo Poder Público, dos critérios que
orientam a definição de prioridades e que na prática se traduzem de modo muito
limitado frente às conquistas mais recentes dos direitos de todas as crianças de 0 a
6 anos, entre eles, os de freqüentar creches e pré-escolas, lugar seu conquistado.
Palavras chave: Educação Infantil, Infância pequena, Racismo, Preconceito,
Formação docente, diversidade étnico-racial e cultural.
ABSTRACT
This dissertation aims at incorporating the Cultural, Racial and Ethical Diversity
theme in teaching formation for Child Education in the suburbs. Not only were issues
such as Racism and Prejudice raised, but also the way they are approached in the
Early Childhood. Having Baixada Fluminense as the field of study, this research
analyzes the development of the Pre-School Education program Nova Baixada and
discuss its role in educational policies. In order to understand the way Racial and
Ethical discussions and cultural diversity are inserted or not in the teaching formation,
a qualitative and descriptive approach has been chosen, focusing on document
analysis, structured and semi-structured interviews. The objects of research were
teachers and directors of institutions in which the Nova Baixada program is
implemented: “Margarida da Silva Duarte” and “Vereador Nilo Dias Teixeira”, both
nursery schools in Chatuba neighborhood, Mesquita city, Rio de Janeiro state. The
teaching formation contributions in the education thinking process are raised and
analyzed. Theoretical references are based in the studies of Trindade, Silva, Kramer,
Faria, Lino and Hasenbalg, due to their approach to the Racial and Ethical theme. A
lack of articles that discuss this issue has been observed, as well as in the teaching
formation courses, in which Child Education, as an object of reflection, is often left
out. It is concluded that, in the academic community, developmental aspects towards
pre-school formation are considered more important than the Cultural, Racial and
Ethical discussion. As far as public policies are concerned, a revision of priorities is
suggested, since the constitutional right of having all children aged between 0 6 at
school, is not being entirely respected.
KEY WORDS: Child Education, Early Childhood, Racism, Prejudice, Teaching
Formation, Cultura, Racial and Ethcial Diversity.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Crianças Soltando Pipas desenho a nanquim bico-de-pena,
nanquim pincel e aguada de nanquim/papel -
Portinari, 1932...............................................................................
37
Mapa 1 – Região da Baixada Fluminense do Estado do Rio de Janeiro......
50
Foto 1 – Entrada da Creche Margarida da Silva Duarte..............................
68
Foto 2 – Área livre e parquinho da Creche Margarida da Silva Duarte.......
69
Foto 3 – Pinóquio criado por uma professora da Creche Vereador Nilo
Dias Teixeira..................................................................................
71
Foto 4 – Fachada da Creche Vereador Nilo Dias Teixeira..........................
72
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 –
Número de Estabelecimentos de Educação Infantil, Númer
o de
Crianças residentes e Número de Crianças atendidas em
Creches e Pré
-escolas por municípios da Baixada Fluminense
integrante do Programa Nova Baixada em
2007...............................................................................................
51
Tabela 2 –
Indicadores Demográficos e Educacionais do Ministério da
Educação (MEC)
Informações sobre o Município/2007
Mesquita
-
RJ...................................................................................................
61
Tabela 3 –
Indicadores Demográficos e Educacionais do Ministério da
Educação (MEC)
Número de Estabelecimentos de
Ensino/2007
- Município de Mesquita -
RJ...................................................................................................
63
Tabela 4 –
Tabela 4: Indicadores Demográficos e Educacionais do
Ministério da Educação (MEC)
Funções Docentes por Zona e
Formação/2007
- Município de Mesquita -
RJ.......................................................................................
............
84
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANPED Associação Nacional de Pesquisa e Pós Graduação em Educação
BID Banco Interamericano de Desenvolvimento
CBE/CNE Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação
CECIP Centro de Criação da Imagem Popular
CEMEI’s Centros Municipais de Educação Infantil
CF Constituição Federal
COEPRE Coordenação de Educação Pré-Escolar
DCNEI’s Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
EFEI Espaço de Formação de Educação Infantil
EPSJV Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio
FEBF Faculdade de Educação da Baixada Fluminense
FFAB Fundação Fé e Alegria do Brasil
FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz
FUNABEM Fundação Nacional do Bem Estar do Menor
Fundação CIDE Fundação – Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro
FUNDEB Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica
FUNDEF Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e Valorização do Magistério
HIV Síndrome de Imunosuficiência Adquirida
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
INAN Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição
LBA Legião Brasileira de Assistência
LDB / LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
MEC Ministério da Educação
MIEIB Movimento do Interfórum de Educação Infantil do Brasil
NEI:P&E Núcleo de Estudos da Infância: Pesquisa e Extensão
NUSEG Núcleo Superior de Estudos Governamentais
OMEP Organização Mundial de Educação Pré-Escolar
PCN Parâmetros Curriculares Nacionais
PIB Produto Interno Bruto
PNB Programa Nova Baixada
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PUC - RIO Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
RCNEI’s Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil
SAM Serviço de Atendimento ao Menor
SEIG Secretaria Estadual de Integração Governamental
SEMED Secretaria Municipal de Educação
SEPPIR Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
UEI’s Unidades de Educação Infantil
UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................
17
1 DA RODA À BRINCADEIRA DE RODA ................................................
25
1.1 História da Infância e história das crianças .......................................
25
1.2 Visibilidade das crianças ......................................................................
32
1.3 Cultura e Infância ..................................................................................
36
1.4 O lugar da Educação Infantil ................................................................
41
2 O PROGRAMA NOVA BAIXADA DE EDUCAÇÃO INFANTIL .............
48
2.1 Breve histórico ......................................................................................
48
2.2 Doze creches à margem do Rio Sarapuí .............................................
50
2.3 A formação dos professores ................................................................
54
3
MESQUITA: O MUNICÍPIO ENGATINHANDO NAS CRECHES DA
CHATUBA ........................................................................................ 59
3.1 As terras de Mutambó, hoje Município de Mesquita ..........................
59
3.2 As creches como mudança no cenário da Chatuba ..........................
64
3.3 Do brejo brotou margarida – Creche Margarida da Silva Duarte ......
67
3.4
Chapeuzinho Vermelho deu a volta no Lobo Mau – Creche
Vereador Nilo Dias Teixeira ..................................................................
70
4
PRÁTICA DOCENTE E A QUESTÃO ÉTNICO-RACIAL: O CAMINHO
DA PESQUISA ........................................................................................
76
4.1 Pela estrada a fora: o percurso da pesquisa ......................................
76
4.2 Formação docente e a questão étnico-racial .....................................
82
4.3 A relação preconceito racial e cotidiano das creches .......................
90
CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................
97
REFERÊNCIAS .......................................................................................
104
APÊNDICE A – Roteiro de entrevista .....................................................
113
APÊNDICE B – Consentimento livre e esclarecido ................................
116
17
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como tema a diversidade, cultura e a formação docente
para a Educação Infantil na Periferia do Município de Mesquita/RJ e é constituído
por questões que emergem da relação entre teoria e prática pedagógica exercida na
Educação Básica. Trata-se de uma problematização engendrada no entrelaçamento
da Educação Infantil com a diversidade, tendo como foco a formação docente em
relação às questões étnico-raciais e culturais.
A origem desta dissertação remonta às experiências adquiridas nas práticas
educacionais vivenciadas ao longo da minha trajetória profissional, como assistente
social da Creche da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
1
, como coordenadora do
“Curso de Desenvolvimento Profissional para Educadores Infantis”, desenvolvido em
colaboração com a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio
(EPSJV/Fiocruz), e como professora da disciplina “História, Infância e Política”,
ministrada no Departamento de Estudos da Infância, na Faculdade de Educação, da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (NEI:P&E –cleo de Estudos da
Infância: Pesquisa e extensão). A partir da minha atuação nestas esferas de
trabalho, vem sendo possível desenvolver uma reflexão sobre o cotidiano da
educação infantil, enfocando questões como racismo e preconceito, e a forma de
abordar essas questões junto à Infância pequena e pequenininha.
Em 2006 fui convidada pelo NEI:P&E a participar do processo de Avaliação
qualitativa do desenvolvimento das crianças das creches no âmbito do Projeto Nova
Baixada, programa do governo estadual em convênios firmados entre as prefeituras,
financiados com empréstimos do Banco Interamericano de Desenvolvimento, e que
deveriam incidir sobre a região da Baixada Fluminense, no Estado do Rio de
Janeiro. Descortinou-se, então, para mim, um novo cenário para reflexão sobre a
Educação Infantil.
Além de descobrir um território geográfico até então inexplorado, foi possível
me deparar com uma forma singular de prática educacional infantil, visto que esta se
amparava num modelo de gestão municipal insurgente e na tentativa de
1
A Creche da Fundação Oswaldo Cruz tem como finalidade o atendimento às crianças de três meses a cinco
anos, filhas de servidores desta instituição pública federal do Ministério da Saúde, da Ciência e Tecnologia.
Fundada em agosto de 1989, resultado do movimento de luta das trabalhaoras e trabalhadores da FIOCRUZ.
18
implementação de políticas para a Educação Infantil que correspondessem às
prerrogativas do Programa Nova Baixada.
A possibilidade de avaliar o desenvolvimento de um programa deste porte
forneceu um cus privilegiado para refletir sobre o lugar que a educação infantil
ocupa nas políticas educacionais, principalmente nesta região, bem como perceber
de que forma estão inseridas as discussões étnico-raciais, e sobre a diversidade
cultural, nestes espaços de formação dos pequenos cidadãos.
No âmbito da pesquisa, um dos desafios que se coloca hoje na sociedade e
que buscamos analisar, o as formas de contribuição para que a Infância, através
da Educação Infantil, ocupe um lugar de direito no processo de pensar o fazer
educativo, como uma das possibilidades de promover melhores condições de
cidadania.
Para se entender o contexto em que se vive e se atua, precisa-se conhecer e
refletir sobre os processos sócio-histórico-culturais que constroem a marca de um
tempo, sendo este, um dos elos que se deve destacar no momento em que se
pensa em um projeto educativo. Deve-se estar atento às seguintes questões: o que
é Infância hoje? Como lidar com as necessidades e desafios que ela nos impõe
como educadores?
A Educação Infantil, desde 1988, tem outorgada em nossa Carta Magna o
direito das crianças às instituições educacionais, estabelecendo a garantia de
atendimento de creche e pré-escolas às crianças de zero a seis anos, sendo
competência do Município a manutenção desse nível de ensino, com a cooperação
técnica e financeira da União e do Estado.
Na história da Infância, registram-se muitos limites e algumas conquistas e
adquire especial importância o reconhecimento da criança, desde a mais tenra
idade, como sujeito de direitos sociais. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional
2
(LDBEN) ao considerar a Educação Infantil como primeira etapa da
Educação Básica, vem afirmar o direito de todos à educação e à essencial
interdependência entre todas as áreas educacionais. Esta lei é conhecida no campo
educacional e pela sociedade. Embora apresente avanço em relação à história
recente, na prática, pelo menos nas regiões onde concentração da população de
baixa renda, esse direito social não é cumprido a contento da população.
2
Lei nº. 9394, de 20 de dezembro de 1996.
19
Nos territórios da Baixada Fluminense, região do Estado do Rio de Janeiro,
integrada, principalmente, pelos municípios de Nova Iguaçu, Nilópolis, Duque de
Caxias, Mesquita e São João de Meriti, constata-se a insuficiência quanto ao acesso
e à qualidade da Educação Infantil. Mas, por outro lado, verifica-se o surgimento de
instituições públicas destinadas a esta etapa educacional, sendo que, um dos
projetos que resultou na criação de instituições públicas voltadas à Educação
Infantil, foi o PNB (Programa Nova Baixada).
A diversidade que encontramos na sociedade brasileira, definindo um tipo
humano de variadas características físicas, sociais e culturais, também se manifesta
na nossa histórica forma de lidar com nossos problemas sociais que acabam por
construir um cenário no qual podemos encontrar desde favelas miseráveis, bairros
populares até condomínios luxuosos, evidenciando um cotidiano marcado pelos
contrastes e pela desigualdade social.
Na proposta dessa investigação, não se ignora que se vive num mundo e,
particularmente num país, onde as crianças encontram-se por toda parte: nos
parques, bairros, ruas, praças, canaviais, portas de escolas. Crianças que estudam,
trabalham, esmolam nos sinais, brincam, roubam, choram e sorriem. Neste sentido é
importante que surjam pesquisas orientadas por questões que problematizem,
sensibilizem e ofereçam suporte teórico, especialmente aos educadores e
profissionais envolvidos nessa realidade, com vistas à intervenção no sistema
educacional e nas políticas públicas voltadas à Infância pequena.
Ainda que estudos como o de (Trindade, 2008; Silva, 2008;
Kramer,1995;Faria, 2002; Hasenbalg,1998), abordem o tema relações étnico-raciais
na educação infantil, e que no meio acadêmico, identifique-se um aumento da
produção que se dedica a relacionar educação e diversidade étnico-racial e cultural,
um dos enfoques principais deste trabalho se direciona a suprir a demanda por
análises que abarquem a transformação de políticas públicas educacionais em
programas e projetos, observando o papel que o negro ocupa no desenvolvimento
desses programas.
É importante que mais estudos e pesquisas como estes surjam sobre estas
questões, de modo que se apropriem desta temática e que apontem suportes
teóricos, especialmente, aos professores e professoras, educadoras e educadores
envolvidos nesta realidade, com a proposta de intervenção e ação no sistema
educacional.
20
No âmbito do “PNB Educação Infantil”, existem dificuldades políticas de várias
ordens: econômico-financeiras, administrativas, educacionais e culturais. No plano
educacional e cultural percebemos dificuldades, tais como, a insuficiente formação
docente, ou pseudo-formação” como define Adorno (1995), e a permanência do
ideário da “creche” apenas no seu cunho assistencial, num sentido em que a
Educação de crianças é tratada como uma “prática naturalizada”.
Conseqüentemente, temos a falsa premissa de que isso pode ser feito sem uma
formação docente qualificada.
Tais constatações nos permitiram construir questões que nos levaram a
considerá-las como objetos de estudo: Qual é a concepção de Educação Infantil
presente nos elaboradores, coordenadores e docentes esses últimos no âmbito
das instituições contempladas pelo Programa inseridos no PNB Educação Infantil?
Quais são os atributos requeridos para os docentes que atuam no PNB Educação
Infantil? Existem estratégias utilizadas pelo PNB Educação infantil para promover
melhor qualificação dos docentes?
Neste sentido, este estudo direcionou-se para analisar a atuação específica
de duas instituições de educação infantil, implantadas pelo Programa Nova Baixada
(PNB), no Município de Mesquita, Estado do Rio de Janeiro. As creches
selecionadas, designadas Centros Municipais de Educação Infantil (CEMEI’s), foram
“Vereador Nilo Dias Teixeira” e “Margarida da Silva Duarte”, ambas no bairro da
Chatuba, em Mesquita, município jovem, emancipado da cidade de Nova Iguaçu, em
1999.
Percebendo o significado da Infância e do direito à educação da criança, em
seus primeiros anos de vida e, especificamente, a população para a qual se destina
o atendimento dessas creches. Destacamos em nossa observação, o diálogo sobre
a questão do preconceito e do racismo, buscando perceber de que forma o tema da
diversidade étnica e cultural se colocou nas políticas públicas educativas desta
região.
Consideramos que um dos principais desafios está diretamente ligado à
formação dos Educadores Infantis, no sentido de contribuir para a superação de
dificuldades de conviver com as questões raciais entre as crianças e entre eles
mesmos, a fim de que se construa uma prática pedagógica voltada para o respeito
mútuo, conscientizando-se de que é fundamental lidar com as diferenças, partindo-
21
se do princípio de que elas são riquezas e precisam ser respeitadas. Segundo
Souza (2002),
para se conversar sobre as questões raciais e preconceitos, será necessário “deixar
o coração embaixo da carteira”, ou seja, relevar um pouco as emoções, as razões
individuais e os preconceitos herdados da nossa história e da nossa cultura. Sem
desconsiderar a nossa história de vida, que nos leva a enxergar melhor os
impedimentos à mudança, precisamos abandonar um pouco os sentimentos e
emoções que impossibilitam o enfrentamento dessas questões, ainda que para isso
seja necessário contar com o apoio, a companhia, a proteção e o afeto nas práticas
cotidianas (SOUZA, 2002, p.16).
É nessa tensão que o trabalho de formação se constrói.
Esse cenário nos leva a outras questões que constituem, também, o nosso
objeto de estudo: Como os educadores infantis percebem as questões raciais e os
preconceitos no seu cotidiano de trabalho? Quais são as dificuldades que encontram
no que diz respeito às questões raciais e ao preconceito com as crianças? A
formação recebida até então pelos educadores infantis contribuiu para o seu
entendimento da maneira de lidar com os preconceitos e as questões raciais no seu
cotidiano?
No campo da Educação Infantil, Rosemberg (2003) desenvolveu estudos
sobre as expressões do racismo na Educação, adotando a conceituação de
Philomena Essed que retoma a concepção do racismo como ideologia,
acrescentando a necessidade de percebê-lo também como uma estrutura e um
processo, através do qual, nas palavras da autora:
(...) grupos específicos, com base em características biológicas e culturais
verdadeiras ou atribuídas, são percebidos como uma raça ou grupo étnico inerente,
diferente e inferior. Tais diferenças são, em seguida, utilizadas como fundamentos
lógicos para excluírem os membros desse grupo ao acesso a recursos materiais e
não materiais.(...) na ideologia dominante, em geral, não se reconhece que o
racismo seja um problema estrutural. (...) o termo racismo é reservado apenas a
crenças e ações que apóiam a abertamente a idéia de hierarquias de base genética
ou biológica entre grupos de pessoas. O problema dessas definições restritas de
racismo é que elas tendem a fazer vista grossa a natureza cambiante do racismo
na últimas décadas. O discurso do racismo está se tornando cada vez mais
impregnado de noções que atribuem deficiências culturais à minorias étnicas. Essa
culturalização do racismo constitui a substituição do determinismo biológico pelo
cultural. (ESSED, apud ROZEMBERG, 2003, p.125-146)
Continuando a buscar respostas para o significado de racismo e preconceito,
encontramos outras referências em autores que hoje vêm aprofundando essa
discussão, fazendo uma leitura crítica das interpretações e dos conceitos. Sobre o
racismo, Hasenbalg (1998) afirma que:
22
O racismo se torna um dado universal que se soma ao fato da diferença existente
entre os grupos humanos, que é também um outro dado universal. Este é o sentido
mais amplo, mais comum, mais popular, que nós utilizamos quando falamos de
racismo; qualquer forma de discriminação já é considerada como racismo, porque o
preconceito é um dado universal, um dado ligado a um dado universal, um dado
ligado à própria psicologia humana, um dado inerente a todas as culturas e a todas
as civilizações. Não existe uma cultura que não seja preconceituosa. Então, é neste
sentido geral que empregamos o conceito de racismo (HASENBALG, 1998, p.45-
46).
É prematuro avaliarmos a apropriação da Lei 10.639/03 nas práticas
educativas e principalmente na formação dos professores, uma vez que...
A relevância do estudo de temas decorrentes da história e cultura afro-brasileira
não se restringe à população negra, ao contrário, diz respeito a todos os brasileiros,
uma vez que devem educar se enquanto cidadãos atuantes no seio de uma
sociedade multicultural e pluriética, capazes de construir uma nação democrática.
(Diretrizes curriculares para a Educação das Relações Étnico-Raciais, 2003, p.17).
A construção da identidade negra é de responsabilidade política. É necessário
e urgente romper com uma educação excludente da cultura negra a fim de
humanizar as questões raciais, sociais e culturais. Acreditamos que a discussão a
respeito da diversidade sirva como instrumento estratégico para o “fazer
educacional”, partindo do pressuposto de que, no coletivo, existe uma maior
pluralidade cultural, com oportunidades distintas, além de diferentes visões de
mundo e expectativas. Isto proporciona um ambiente com grande diversidade de
signos, códigos lingüísticos e culturais levando em conta também a contribuição de
cada família, comunidade, profissionais e demais “atores” do processo educativo.
Nesse passo, o problema a ser investigado, e que se colocou como questão
central a ser respondida pela pesquisa pode ser resumida da seguinte formulação:
Em que medida e por que formas e maneiras os docentes do “Programa Nova
Baixada - Educação Infantil” trabalham com as questões étnicas e culturais na sua
prática pedagógica com as crianças das creches implantadas pelo referido
Programa?
Trata-se, também, de pautar a pertinência das questões a serem
investigadas, no que diz respeito à formação docente deste segmento da Educação
Básica, ou seja, se e de que maneira implementam uma prática pedagógica
orientada ao respeito à diferença.
Este estudo foi realizado através de etapas específicas de acordo com o
andamento das atividades propostas. Inicialmente, foi feito o levantamento
23
bibliográfico regional da Baixada Fluminense, com destaque para Mesquita e sua
história. Para melhor compreender o histórico, foram realizadas análises de
documentos que relatam a ocupação da área em estudo.
Entre as atividades buscou-se levantar dados do Programa junto as CEMEI’s
de Mesquita. O levantamento das informações baseou-se também nos indicadores
disponibilizados pela Fundação CIDE (Centro de Informações e Dados do Rio de
Janeiro), que ainda se encontram em desenvolvimento pela insurgência do
Município. Utilizou-se como metodologia uma amostragem do corpo de professoras,
além das coordenadoras e diretoras das Creches pesquisadas. Foram realizadas
três visitas com a finalidade de efetuar registros fotográficos e observar as condições
de educação e cuidado oferecidas às crianças.
Para tal, foi utilizado amplo material documental, composto majoritariamente
por projetos, programas, relatórios de oficinas e seminários, além da legislação
pública federal e dados levantados junto ao Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) e o Ministério da Educação e Cultura (MEC). Também foram
realizadas entrevistas qualitativas com os responsáveis pelas creches e com
docentes que compõem o quadro técnico-profissional destas instituições que, com
suas reflexões e relatos sobre a vivência cotidiana das creches, puderam contribuir
fundamentalmente para a composição deste trabalho.
Desta forma, a presente dissertação encontra-se estruturada da seguinte
forma:
O primeiro capítulo, intitulado “Da Roda à Brincadeira de Roda”, é dedicado a
apresentar o papel da Infância e da criança, inserido-a num contexto histórico
definido de exclusão e de negação da mesma. Neste sentido, também é abordado a
questão da (in)visibilidade das crianças e as recentes discussões sobre cultura
infantil nas sociedades contemporâneas. Este capítulo conclui com uma análise
sobre o lugar que a educação infantil ocupa atualmente nas políticas públicas
educacionais de âmbito federal.
No segundo capítulo, denominado “O Programa Nova Baixada de Educação
Infantil”, dedicamo-nos a apresentar o PNB e seu desenvolvimento na Baixada
Fluminense, destacando o papel que este desempenhou, inicialmente, na instalação
e equipamento de 12 creches às margens do Rio Sarapuí que corta a região e na
preparação e formação dos profissionais que iriam atuar nestas instituições,
buscando perceber a lógica que orientou o desenvolvimento deste programa.
24
O capítulo terceiro, “Mesquita: O Município Engatinhando nas Creches da
Chatuba” enfoca as duas creches que foram objeto específico de análise nesta
dissertação, situadas no município de Mesquita, na região da Chatuba. Busca-se
apresentar um breve histórico desta região, de forma a situar seu desenvolvimento
populacional e apresentando a criação e conformação dessas duas creches como
locais de reabilitação social de espaços geográficos, até então marginais. Como
um município recentemente criado, poucos são os dados disponíveis, sejam do
IBGE ou da própria prefeitura de Mesquita. O que apresentamos aqui são recortes
sobre Mesquita encontrados na página virtual da Prefeitura de Mesquita, do IBGE e
da Fundação CIDE, principalmente.
No quarto e último capítulo, dedicamo-nos a apresentar a pesquisa de campo,
empírica e as análises dela resultantes, enfocando através das entrevistas
realizadas com os personagens responsáveis pela prática educacional infantil
dessas creches, a formação docente e a capacitação para lidar com as diferenças
raciais e culturais e as questões étnico-raciais no cotidiano das creches.
25
1 DA RODA À BRINCADEIRA DE RODA
1.1 História da Infância e história das crianças
A Infância, historicamente, foi lugar de sujeitos invisíveis que, durante
séculos, sofreram toda espécie de preconceito e violência, sendo tratados como
sujeitos sem valor, com total desconhecimento de sua humanidade, cujas vidas não
possuíam nenhuma importância para a sociedade. Tanto é assim, que aa própria
Língua Portuguesa não possuía muitas definições a respeito do ser criança, embora
esta já significasse um ideal de esperança. Na Idade Média, a morte e a vida infantis
eram irrelevantes. Somente a partir do entendimento do adulto a respeito de sua
capacidade de trabalho é que se definia uma função para ela no mundo social da
época.
A partir do século XVI, timidamente, começa a surgir certa mudança de
mentalidade a respeito da Infância das classes mais favorecidas, definindo-a como a
primeira etapa de vida do ser humano. Mas quando as crianças se tornavam um
pouco mais independentes dos cuidados obrigatórios, por parte das mães e amas,
que garantiam sua sobrevivência, eram então concebidas como adultos em
miniatura. naquela época, os adultos tinham dificuldade em reconhecer nas
crianças o seu próprio passado, digno de consideração, respeito, cuidado. No
entanto, as crianças desvalidas ainda ficavam invisíveis no seio do mundo adulto, só
ganhando um olhar sobre elas, a partir do século XIX.
Mais um exemplo de violência, abandono e invisibilidade que a Infância sofria
é o Sistema de Roda dos Expostos, o qual, segundo Freitas (1997), foi inventado na
Europa medieval e que pode ser assim descrita:
[...] Seria ele um meio encontrado para garantir o anonimato do expositor e assim
estimulá-lo a levar o bebê que não desejava para a roda, em lugar de abandoná-lo
pelos caminhos, bosques, lixo, portas de igrejas ou casas de família, como era de
costume, na falta de outra opção. Assim procedendo, a maioria das criancinhas
morriam de fome, de frio ou mesmo comidas por animais, antes de serem
encontradas por almas caridosas. (Maecílio, 1997, p.52).
26
“O caráter caritativo, cristão, sobre os cuidados das crianças,
não se ausenta na origem da Roda dos Expostos, que deve
seu nome à sua forma”. (Marcílio, 1997, p.5)
O fenômeno de abandonar e maltratar crianças acompanha a história da
colonização brasileira: está na Colônia, se evidencia no Império e se multiplica e
resiste até a proclamação da República, se extinguindo somente em 1950. Segundo
Marcílio (1997),
[...] havia de fato, descaso, omissão, pouca disposição para com esse serviço que
dava muito trabalho. A maioria dos bebês que iam sendo largados por todo lado,
acabavam por receber a compaixão de famílias que os encontravam. Estas criavam
os expostos por espírito de caridade, mas também, em muitos casos, calculando
utilizá-los, quando maiores, como mão-de-obra familiar suplementar, fiel,
reconhecida e gratuita; desta forma, melhor do que a escrava. Na realidade, a
quase totalidade destes pequenos expostos, nem chegavam à idade adulta. A
mortalidade dos expostos assistidos pelas rodas, pelas câmaras ou criados em
famílias substitutas, sempre foi a mais elevada de todos os segmentos sociais do
Brasil, em todos os tempos – incluindo neles os escravos... (MARCÍLIO, 1997, p.52-
53).
Apesar de se apresentar como salvação de inúmeras crianças abandonadas
no Brasil Colônia, a Roda dos Expostos foi, na verdade, um lugar de triste memória e
de longa vida, resistindo à mudança de regimes. No Brasil foram implantadas três
Rodas, respectivamente, nas cidades de Salvador, Rio de Janeiro e Recife (as mais
importantes da Colônia), todas no século XVIII. Os enjeitados permaneciam de um a
dois meses na Casa da Roda, onde o índice de mortalidade oscilava em torno de
60%. Os que sobreviviam eram enviados para as criadeiras, mulheres pagas pela
Santa Casa, devendo permanecer na companhia delas até a idade de 6 anos.
Embora arcando com a responsabilidade dos enjeitados, as Irmandades muitas
vezes acabavam não pagando as mensalidades aos criadores e às amas de leite. A
indefinição de uma política com relação aos expostos contribuía com altas taxa de
mortalidade infantil, sendo relevante ressaltar que estas atingiam, em sua maioria,
as crianças negras, filhos das escravas. (Lopes, 2005)
É importante lembrar que desde a colonização, o país recebeu infantes que
eram trazidos em caravelas sem terem condições sequer de decidir seu destino,
percorrendo territórios nunca dantes navegados pelas naus portuguesas durante o
Século XVI, trazendo para o Brasil Colônia uma tripulação de aventureiros,
degradados e passageiros periféricos: grumetes, pajens, meninas órfãs do Rei – que
aqui vinham casar e outras crianças migrantes, que nesse trajeto, muitas vezes
ficavam pelo caminho, no fundo do mar (Lopes, 2005).
27
Quando chegavam, as crianças eram submetidas ao trabalho infantil, a partir
dos 5 anos, e a outras condições degradantes. Aqui encontraram as nativas, os
curumins, que foram sujeitos das primeiras manifestações pedagógicas impostas
pela Companhia de Jesus que, usando métodos violentos, como a autoflagelação, a
disciplina e o medo, educava-os para a Igreja Católica e a submissão, procurando
apagar a cultura original dos nativos, de forma que negassem sua identidade cultural
e influenciassem, desta forma, também, suas famílias. A concepção de Infância dos
jesuítas incluía a idéia da criança mística que imitava Jesus, considerando-a como
uma folha de papel em branco, na qual, acreditavam, podiam moldar o sujeito que
desejassem, negando assim suas “tradições bárbaras e selvagens” (Lopes, 2005).
Com a instituição, pela Coroa Portuguesa, do tráfico negreiro, pelo qual o
povo africano foi seqüestrado e escravizado, o negro escravo veio se juntar aos que
aqui estavam, tornando-se assim, mais um dos sujeitos periféricos da população
colonial, embora a escravidão negra tenha sido mais cruel e desumana. (Souza,
1996) Se a criança não tinha nenhum valor, menos ainda tinha a negra,
considerada muitas vezes um animal de estimação, um brinquedo para o filho ou
para a mulher do fidalgo colonial. O preconceito apartava a criança branca da negra,
os meninos das meninas. Ao menino branco fidalgo era reservada uma educação
que procurava desenvolver suas capacidades intelectuais. À criança negra escrava,
pelo contrário, era reservado o mesmo destino dos escravos adultos africanos: o
trabalho rigoroso, cruel e desumano ao lado de seus pais que tomava todo seu
tempo e energia. Era muito fácil a criança se tornar um estorvo, um ninguém, sendo,
portanto, abandonada na Roda dos Expostos ou mesmo pelos caminhos.
As crianças negras eram trazidas pelo tráfico negreiro junto com seus pais em
condições infames nos navios negreiros. [...] Das crianças africanas aqui
desembarcadas poucas chegavam à idade adulta e, entre as que conseguiam tal
feito poucas conviviam com os pais, dos quais quase sempre, eram separadas por
forças de transações comerciais de que uns e outros eram objetos... (LOPES, 2006,
p.47).
São exemplos bem brasileiros do tratamento dado à Infância pobre, além do
abandono em rodas de expostos, o trabalho obrigatório em idade imprópria não
remunerado – e a total falta de perspectiva educacional.
No culo XIX, a partir do movimento higienista, a criança pequena e sua
mãe tornaram-se alvo de uma preocupação social assistencialista e,
conseqüentemente, a idéia importada da França, de abrigar a criança em creche,
28
começa a ganhar adeptos na elite política da nação (Vasconcellos, 2005).
Precisamos lembrar que as creches no Brasil, não tinham objetivos educacionais,
limitando-se à assistência básica até as primeiras cadas do século XX. A partir
desta época, sob a influência do educador alemão Fröebel e das transformações
vividas pela sociedade da Europa Ocidental, entidades assistenciais e educadores
propõem a criação de jardins de Infância, promovendo uma prática educacional
consubstanciada e objetiva (Kuhlmann, 1998). No Brasil, na Primeira República,
com o processo de urbanização-industrial capitalista, observa-se a ação de grupos
preocupados com questões sobre a Infância numa perspectiva de proteção à criança
com a intenção de
[...] elaborar leis que regulassem a vida e a saúde dos recém-nascidos;
regulamentar o serviço das amas de leite; velar pelos menores trabalhadores e
criminosos; atender às crianças pobres, doentes, defeituosas, maltratadas e
moralmente abandonadas; criar maternidades, creches e jardins de Infância
(KRAMER, 1992, p.52).
Estudos como o de Kramer (1992) apontam que no Brasil, como herança
escravagista com resquícios até hoje na nossa sociedade, as creches populares
eram pensadas para liberar mão-de-obra feminina para o trabalho em indústrias e
em casa de família. Complementando a afirmação de Sônia Kramer, encontra-se o
trabalho de Kuhlmann (1998), ao apontar que no Brasil, as primeiras propostas de
instituições pré-escolares populares, estavam vinculadas à liberação da mão-de-
obra feminina. Além de seu caráter prático, a nascente preocupação com a
assistência à Infância, também denotava uma preocupação com as questões
higienistas, vigentes à época, de disciplinarização do corpo social e também de
melhoramento da população, numa perspectiva eugênista. Como afirma Kuhlmann
(1998),
A grande marca dessas instituições, então, foi a sua postulação como novidade,
como propostas modernas, científicas – palavras utilizadas fartamente nessa época
de exaltação do progresso e da indústria. A creche, para crianças de 0 a 3 anos, foi
vista como muito mais do que um aperfeiçoamento das Casas de Expostos, que
recebiam as crianças abandonadas; pelo contrário, foi apresentada em substituição
ou oposição a estas, para que as mães não abandonassem suas crianças.
(KUHLMANN, 1998, p.82).
A partir do Código de Menores de 1927 é que começou a surgir um conjunto
de práticas a fim de regular o tratamento destinado à Infância, propiciando a
formulação da noção de “menor”.
29
Segundo Nunes (2005), o Código de Menores de 1927 foi “um marco na linha
política e ideológica que conduzirá, de forma hegemônica, o padrão brasileiro de
proteção à Infância até meados dos anos 1980.” (Nunes, 2005, p.74). Através dele,
a criança passou a ser encarada como objeto de intervenção social, tanto por meio
de medidas de assistência social, quanto pelo controle jurídico sobre os menos
favorecidos e ao mesmo tempo em que incidia sobre a Infância, tornando-a visível
no campo das práticas políticas e sociais, também qualificou a Infância dos pobres,
identificando-os como deliquentes ou abandonados.
O digo do Menor vem afirmar a segregação da Infância dos pobres e
desvalidos que continuam desamparados e sem a proteção do Estado e que são
punidos por duas formas distintas de práticas sociais: a filantropia e a exclusão do
convívio social quando são internados em instituições como o SAM (Serviço de
Atendimento ao Menor, de 1941) e a FUNABEM (Fundação Nacional do Bem Estar
do Menor, de 1964). Essas instituições de atendimento à Infância e Adolescência, na
verdade, tinham o caráter corretivo, disciplinar, punitivo e continuavam o tratamento
perverso e de maus tratos aos sujeitos infantis.
Essa situação começa a se modificar a partir do final dos anos 80 do século
XX, quando os movimentos sociais organizados (movimento de mulheres, de
trabalhadores, de defesa e luta pelos direitos humanos, etc) ocupam territórios na
política nacional, lutando pela garantia do reconhecimento social das crianças como
sujeitos de direitos. Estes movimentos denotam a preocupação em cuidar e educar a
criança pequena, garantindo seu desenvolvimento global, o que se tornou uma
questão pedagógica relevante, através da luta pelo direito de creche, empreendida,
majoritariamente, pelo movimento feminista, mas que também foi encampada na luta
dos trabalhadores, que pregavam a melhoria das condições de trabalho do cidadão
brasileiro e, neste particular, da força de trabalho feminina.
Essa luta resultou em conquistas significativas, como o reconhecimento da
criança pelo poder público no Brasil, em suas diferentes esferas de atuação
(Federal, Estadual e Municipal), consubstanciando-se na aprovação de algumas leis,
como a Constituição Federal de 1988. Através da Constituinte, promulgada em
outubro de 1988, e marco da redemocratização nacional, o direito das crianças de 0
a 6 anos de freqüentarem creches e pré-escolas é reconhecido, independentemente
de sua classe social, pois estas crianças passavam a ser vistas como cidadãos de
pouca idade, sendo-lhes garantido o dever do Estado de acolher, cuidar e educar,
30
desde que as famílias optem por exercer esse direito. Segundo a Constituição, em
seu artigo 208, inciso IV, o “dever do Estado com a educação será efetivado
mediante garantia de: [...] IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de
zero a seis anos de idade” (Constituição Federal, 1988).
Com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, através da Lei
8.069/90, os municípios passam a ser responsáveis pela Infância e Adolescência, e
por criar as diretrizes municipais de atendimento aos direitos da criança e do
adolescente: o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente; o
Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e o Conselho Tutelar dos
Direitos da Criança e do Adolescente.
Em 1996, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LBDEN), pela lei nº 9394/96 (Brasil, 1996), a Educação Infantil passa a ser
considerada como primeira etapa da Educação Básica, adotando-se, para esta, o
critério da idade (0 a 6 anos) como forma de caracterizar a área de atuação da
creche e da pré-escola. Segundo Aquino (2008), com a LDBEN, o termo creche
passa a representar, o apenas mais um caráter assistencial, mas sim, todo um
conjunto de equipamentos destinados a crianças de zero a três anos, enquanto a
pré-escola deixa de significar exclusivamente o atendimento às camadas médias da
sociedade ou à preparação para a escolarização obrigatória e passa a representar o
equipamento formulado para atender às crianças de quatro a seis anos de idade. O
que entra em foco, com a LDBEN, é a promoção do desenvolvimento integral das
crianças.
Valorizamos essa narrativa histórica numa perspectiva “benjaminiana” de
olhar para o passado de forma crítica, pensar sobre ele e trazer essa reflexão para o
presente, para que ela possa nos ajudar a solucionar questões que nos preocupam
no cotidiano contraditório em que vivemos, cujo rosto mais cruel é o neoliberalismo
econômico que acaba por provocar uma descentralização da idéia tradicional de um
país como nação, flexibilizando fronteiras regionais, clonando processos culturais e
aplicando-os em diferentes partes do mundo, numa perspectiva autoritária, não
respeitando o papel social importante da Educação Infantil a ser desempenhado
num contexto de luta pela democratização da educação brasileira.
A criança é um ser social, uma pessoa, um cidadão de pouca idade, enraizada num
todo social que a envolve e que nela imprime padrões (de autoridade, linguagem e
outros aspectos sociais). Essa compreensão de quem são as crianças concretas é
31
condição para que se atue com elas no sentido de favorecer o seu desenvolvimento
pleno e seu conhecimento amplo sobre a realidade física e social. (KAPPEL e
KRAMER, 2000, p.52).
Diante desse quadro, um dos desafios que se coloca, são as formas de
contribuição para que a Infância, através da Educação Infantil, ocupe um lugar de
direito no processo de pensar o fazer educativo como uma das possibilidades de
promover a aquisição de melhores condições de cidadania.
Para entendermos o contexto em que vivemos e atuamos, precisamos
conhecer e refletir sobre os processos sócio-histórico-culturais que constroem a
marca de um tempo e de um lugar. Esse tempo é a contemporaneidade e o lugar é a
periferia da Cidade do Rio de Janeiro, onde vive uma enorme massa de
despossuídos, à margem da noção de cidadania, sem direito a uma educação de
qualidade, sem a presença concreta do poder público que lhe garanta saúde,
segurança, lazer, acesso à cultura instituída. De acordo com Bueno e Pereira (2000),
As massas urbanas, de trabalhadores e desempregados, do lumpen e da boêmia,
serão um problema constante para as elites. Não por acaso, a idéia mesma de uma
cidade limpa, arejada e ordenada, regular e funcional, define um ideal de
modernização que se opõe ao pavor do caos, da desordem, da anarquia, que viria
desses bárbaros urbanos, dentro dos muros da cidade, que seriam as massas
criadas pelo avanço do capitalismo (BUENO e PEREIRA, 2000, p.7-8).
Não podemos esquecer que os avanços, quer na legislação, quer na
ampliação ao acesso e na qualidade das instituições públicas que ministram a
“educação das crianças pequenas”, têm tido conquistas ainda tímidas, mas
construídas por ações políticas e sociais que têm seus atores nos movimentos
sociais e culturais.
Depois desse breve histórico, que nos ajudou a situar a condição da criança
ao longo dos tempos, em especial a das classes populares brasileiras, podemos
afirmar que um dos grandes desafios educacionais tem sido entender como a
Educação Infantil pode contribuir para que a Infância ocupe um lugar de direito no
processo de pensar o fazer educativo, visando, portanto, criar possibilidades de
promover a aquisição de melhores condições de cidadania, garantida, na
contemporaneidade, pelo direito ao brincar, ao usufruir da arte, ao afeto, à
expressão de suas idéias, sentimentos, desejos, e ao cuidado por parte de
professores(as) da Infância, capacitados a compreender as especificidades da
criança pequena.
32
O exercício de educar e cuidar e as propostas pedagógicas existentes nos
currículos da Educação Infantil, ainda se distanciam, na prática, do mundo da
Infância, principalmente ao não levar em consideração o direito de brincar, que ainda
não é visto como uma atividade infantil em que a criança adquire conhecimento de
mundo e da realidade social em que está mergulhada, sendo um importante fator de
observação do real.
Ao ter contato com a ludicidade inerente ao brincar infantil, com a linguagem
fantasiosa expressa nas mais diferentes formas narrativas (contos de fadas, cinema,
teatro, sica, dança) que, muitas vezes, não se furtam em expor as condições
infames e cruéis em que muitas crianças são colocadas, acreditamos que Educação
estará realizando o papel que imaginamos para ela: de garantir às crianças o direito
de ser crianças, de se desenvolver como cidadãs capazes de compreender, criticar e
modificar o mundo em que vivem.
1.2 Visibilidade das crianças
No texto anterior, trago um breve histórico da Infância e das crianças para que
possamos enxergar esse sujeito em seu território, uma vez que, durante muitos
séculos, vinha sendo visto como um adulto em miniatura. As crianças têm o direito
de ocupar os espaços e territórios que é o seu direito de brincar, se educar e ser
cuidada. Tornar a criança um ser sociável é uma questão histórica nas propostas da
educação, formatando-a, catequizando-a, sempre partindo do olhar do adulto e para
o adulto...
Como criar e produzir um espaço fora das amarras de sentido, da idéia de
Infância/povo, uma espécie de espaço fora-da-Infância uma banda larga, uma
margem maior, que nunca se sabe exatamente aonde vai chegar, e que as crianças
possam ficar sós, pensar, grunhir, falar etc? (ABRAMOWICZ, 2005, p.83).
Desde o Brasil Colônia, da história trágico-marítima sofrida pelas crianças,
sem dúvida, muitas mudanças ocorreram. Hoje, o Estado e a Sociedade
reconhecem a criança. Existem leis e códigos de proteção. A visibilidade das
crianças, é importante ser frisado, marca o início do diálogo entre áreas afins do
saber. O contexto “pós-moderno” de interdisciplinaridade impele as ciências sociais
33
a buscar respostas em várias fontes, com a intenção de visibilizar a Infância
Pequena, de 0 a 6 anos, e as crianças pequenininhas de 0 a 3 anos. As pesquisas
se encaminham em vários campos do conhecimento, além da Educação e da
Assistência Social. Dentre outras, podemos citar a Sociologia, a Antropologia, a
Filosofia e a Pedagogia da Infância.
A (in)visibilidade das crianças pequenas na formação dos professores, da
qual sabemos muito pouco, vem de encontro à uma prática pedagógica eletiva e
embranquecida. Portanto precisamos ouvi-las, observá-las, conversar com elas,
estar junto a elas, para poder ampliar suas vivências. Isso implica, necessariamente,
acompanhar as professoras enquanto trabalham em atividades complexas e
indispensáveis, ressaltando a importância das instituições de Educação Infantil
implantarem e executarem uma constante formação continuada das professoras no
exercício de seu trabalho.
Fica evidente que maiores esforços devem ser implementados no que se refere à
oferta de creche (0 a 3 anos), para aproximá-la das metas definidas, para que de
fato a educação para criança de até três anos seja incorporada como política
pública de educação, deixando de ofertá-la como um serviço excepcional, que em
geral, é destinado a crianças pobres e em situação de risco. A concepção de
creche como “mal necessário”, isto é, apenas para filhos de mães pobres e
trabalhadoras, tem impedido o crescimento da oferta e a democratização da
educação para as crianças pequenas, como se verifica no mero de
estabelecimentos de educação infantil, em sua distribuição entre creche e pré-
escola (AQUINO, 2008, p.7).
Ao começar um programa ou um projeto de proposta social, não se pode
desprezar a pedagogia do lugar, como cita Ana Beatriz Goulart de Faria (2007),
ressaltando a importância de se pensar sobre
[...] a reinfantilização dos espaços urbanos no sentido de restaurar a experiência
infantil do urbano, o amor pelas esquinas, os esconderijos, os encontros fortuitos,
os deslocamentos das funções, o jogo. E nos lembra que os espaços feitos por nós,
adultos, são a raiz semântica dos ‘espaços adulterados’. Imperdível e fundamental
a grande estréia dos últimos tempos! (ANA BEATRIZ GOULART, 2007, p.103-104).
Falamos aqui do lugar da criança, enquanto adulto que somos, buscando
desconstruir esse espaço adultocêntrico que durante séculos foi ocupado por esse
sujeito, sempre em comparação com o adulto. É necessário trazer as referências
históricas de creche e de Infância, as modificações, as conquistas das crianças e
das mulheres. A estas mulheres pertencem a criação e o cuidado das crianças
pequenas, sendo preciso reconhecer que para ser educadora infantil e professora,
34
não basta educar e cuidar, deve-se ter clareza e formação docente para responder
às necessidades das crianças; não basta apenas gostar delas, é preciso saber sobre
o que a criança pensa e sente, o que ela sabe sobre si e sobre o mundo em que
vive, como se desenvolve, como aprende, para que possa se tornar um mediador no
processo de construção do conhecimento da criança. (Souza, 2002).
Podemos considerar esse interesse histórico como relativamente recente,
como nos afirma Ariès (1981). As referências surgiram tardiamente e apresentaram
uma inexistência do “sentimento da Infância” (cuidado, mimo, conhecimento,
“paparicação”), denotando uma marginalidade conceitual, historicamente
estabelecida, no que diz respeito à idéia ou imagem infantis. Somente no despertar
da modernidade, a morte e os sentimentos infantis deixam de ser naturais e passam
a ser objeto de crítica, em especial no campo da Moral e da Psicologia, mas também
no seio da família ou no meio intelectual, nos dando uma noção de quanto as
crianças realmente são “infantis”, ou sem voz, desde sempre.
Sarmento (2004) refere-se à criança como ser social que ocupa um lugar de ator
social, portando consigo a novidade inerente à sua pertença, à sua geração,
permitindo a continuidade e o renascimento do mundo. O autor afirma que sempre
houve crianças, mas nem sempre houve Infância. A modernidade elaborou um
conjunto de procedimentos configuradores da administração simbólica da Infância,
mas eles ainda condicionam e constrangem a vida da criança (SILVA, 2007, p.26).
Para falar de pesquisa com gente no Brasil têm-se que falar de criança, pois,
em qualquer distinção de raça, gênero ou etnia, ela é um ser fundante, um sujeito
singular e a sua não-visibilidade, enquanto ator social, é um alerta sobre o papel
estranho que ela ocupa na sociedade... O que é criança, o que é Infância?
As pesquisas que contemplam as crianças em quase todos os segmentos da
sociedade não são suficientes para conhecê-las mais profundamente, e o fato de
terem seus direitos conquistados não lhes garante que eles sejam respeitados e
que estejam assegurados, há que se fazer mais (SILVA, 2007, p.26).
A etimologia latina da palavra “Infância” reúne as crianças na categoria dos
não habilitados, dos incapazes, dos deficientes. Ou seja, toda uma rie de
categorias que, encaixadas numa perspectiva do que elas “não têm”, são de ordem
social.
Um indivíduo de pouca idade é denominado infams. Esse termo está formado por
um prefixo privativo in e fari, “falar”, daí seu sentido de “que o fala”, “incapaz de
falar” [...] Em geral infams, podia designar criança e idade muito mais avançada que
35
aquela em que “não falam” [...] (KOHAN, p.100, 2007, apud CASTELLO e
MÁRSICO, 2007, no prelo).
Para olhar a criança, colocar a Infância no foco é necessário fazer um longo e
complexo percurso, até enxergá-las, mesmo que seja com ajuda de uma lupa.
Quando nos debruçamos na história, nas propostas e diretrizes de políticas públicas
da Infância, as crianças pequenas surgem timidamente nos documentos. Essas
pessoas de pouca idade, esses meninos e meninas invisíveis, são sujeitos da
modernidade, como diz Ana Lúcia Goulart de Faria (2002, p.15) “as crianças
pequenas estão sendo ouvidas e até citadas, o que vêm confirmar a
(in)visibilidade das crianças pequenas”.
A visibilidade dada à Infância aconteceu não com a Revolução Industrial,
mas principalmente, com a ida das mulheres para o mercado de trabalho. O
movimento de mulheres promove o engajamento das mães trabalhadoras em sua
busca de um lugar onde pudessem deixar seus filhos pequenos em segurança.
Como já foi abordado, a história nos confirma que o lugar de cuidado com as
crianças pequenas durante um grande período foi oferecido pela Igreja Católica,
espaço de maior arcabouço ideológico de sustentação da escravidão, onde as
crianças negras não eram tidas como pessoas, como gente, retiradas dos folguedos
infantis e transformadas em brinquedos, animaizinhos e bichinhos de estimação
(Mattoso, 1990).
A história da Educação Infantil e o interesse histórico pela Infância aparecem
muito tardiamente. Neste recorte histórico podemos perceber um conjunto de ações
perversas a que as crianças eram sujeitadas precocemente. Esse tratamento reforça
a condição de ser criança e de viver a Infância num tempo em que elas não eram
visíveis.
As crianças no Brasil são as principais vítimas das mazelas sociais, sendo pior para
as crianças negras, que passam por constantes constrangimentos, sofrem maus-
tratos, marginalização, invisibilidade, indiferença, preconceito e até mesmo racismo.
(SILVA, 2007a, p.26).
Ao mesmo tempo em que desperta um reconhecimento da Infância, dos
meninos e das meninas da classe trabalhadora e de segmentos subalternizados, as
políticas sociais e educacionais revelam uma ambigüidade histórica de um campo
legítimo de atenção e proteção social em que há uma diferenciação e discriminação
dessa Infância no interior das instituições que pra ela o voltadas. Cabe destacar
36
que o PNB (Programa Nova Baixada), assim como o Estado que com ele faz
parceria, estabelecem uma visão de Infância que ainda não a realmente, pois ao
atingirem esta população-alvo, formada pelas crianças de 0 a 6 anos, pertencentes
às famílias localizadas nos campos sociais marcados pela pobreza, mantêm a marca
do assistencialismo, como uma expressão das relações existentes na sociedade
brasileira o que, em nossa concepção, define uma ação de exclusão dos benefícios
do capitalismo, mantendo a desigualdade social.
No mundo moderno, a inocência infantil (vista como um momento de preservação)
e a violência contra a criança (como reflexo de uma extrema imposição) convivem
no mesmo espaço. O “direito” de compartilhar o mundo adulto representa de fato a
própria ausência de direitos da criança, sobretudo da criança pobre. As mazelas do
capitalismo compartilham com as crianças as condições de existência adversas ao
mundo infantil e estas m sua Infância furtada do exercício do sonho e da
liberdade, substituídos pela voracidade do mercado e do consumo. Para uma
imensa maioria resta a miséria e, na melhor das hipóteses, a conformadora
inserção no mundo do trabalho, quase sempre como membro desqualificado,
conforme ocorre no Brasil, em cujo país a inserção precoce da criança no trabalho
não é novidade (ROCHA, 1999, p.48).
A visibilidade social das crianças necessita ser apropriada e acolhida pelas
instituições do Estado, garantindo o direito e a proteção das crianças, para que seja
incluída nas creches e pré-escolas uma prática que possibilite a construção de um
espaço onde aquilo que define o ser infantil esteja garantido por propostas políticas
e professores que compreendam e vivenciem o mundo da criança, em que a
ludicidade, a Arte, a Cultura infantil tenham voz.
1.3 Cultura e Infância
Falar da Infância e da Cultura da criança nos dá acesso a uma rua de “mão
dupla”, que, como nos diz Walter Benjamin, “as ruas o têm mão única. Para
Benjamin, a criança tem interesse pelos retalhos, cacos e pedaços, que
“reconhece nos restos o rosto que o mundo e as coisas lhes mostra” (Benjamin,
1992, p.46). Através da narrativa de Benjamin sobre sua Infância, passada na
cidade de Berlim, o leitor é mergulhado nas reminiscências que um homem adulto
elabora sobre suas vivências como criança, entrelaçando diferentes dimensões
espaço-temporais e apontando como o sujeito criança é capaz de compor suas
37
próprias percepções cognitivas, de forma tanto consciente como inconsciente.
(Benjamin, 1992, p.52).
Para falar das e com as crianças das Creches da Chatuba foi necessário ir ao
encontro da “Infância de Berlim”, atravessar a Linha Vermelha, chegar ao município
de Mesquita. Caminhar nessas ruas com as professoras e com elas ouvir o apelo
social da Infância local, nos ajuda a identificar e reconhecer na sua história e nas
marcas que a vida do lugar foi impondo aos seus habitantes, uma vida de luta contra
as injustiças dos mais variados tipos, resultado de uma construção histórica e
cultural de uma comunidade específica em que essa Infância habita.
A produção cultural estabelecida nos currículos escolares não leva em
consideração a voz, a imagem da criança da Chatuba, de maioria negra, com suas
peraltices, seus folguedos e sua história de vida peculiares. Ao olhar a criança, não
a vê. Ao ver sua maioria negra, não a percebe.
Em uma manhã, caminhava pelas ruas da Chatuba. Deste caminho, faziam
parte da cena cabritinhos e cabras; carroças e burros; cacos e pedras; terrenos
baldios com seus fantasmas; ruas sem asfalto e crianças que gritavam
desesperadas e felizes com suas pipas empinadas, colorindo o céu como uma
pintura. De repente, me perguntei: será que não estou em Brodósqui
3
?
Figura 1: Crianças Soltando Pipas
Desenho a nanquim bico-de-pena, nanquim pincel
e aguada de nanquim/papel – Portinari, 1932.
Essa riqueza histórica e cultural, que me remeteu à obra de Portinari, permite
a possibilidade de se trabalhar na creche com a Cultura que a criança constrói
3
Cidade do interior do Estado de São Paulo onde nasceu o artista plástico Cândido Portinari.
A pipa é um brinquedo feito de
papel fino colorido e de bambu,
que leva rabiólas que enfeitam
o céu e as ruas de alegria com
os gritos dos meninos, como se
iluminassem as ruas com seus
folguedos infantis.
38
enquanto vive, aliada à Cultura já estabelecida, consubstanciada, nesse caso
específico, pelo grande pintor paulista.
A Infância vem sendo permanentemente modificada em razão, basicamente,
do contato da criança com a “cultura infantil e outras manifestações mais adultas da
cultura média”, conforme aponta Kincheloe e Steinberg, no livro, Cultura Infantil, a
construção corporativa da Infância (2001, p.32). Segundo estes autores, a
experiência contemporânea de Infância, distingue-se das demais que lhe
precederam, pelo pouco controle exercido pelos pais sobre as experiências culturais
dos filhos.
Além disso, a vivência cultural contemporânea da Infância é permeada de
manifestações produzidas por grandes corporações, como a televisão, o cinema, o
teatro, os videogames, e a sica, que exercem um domínio quase exclusivamente
privado sobre a Cultura Infantil. Estas referências culturais, em geral, homogeneízam
a vivência infantil, por buscarem atingir a uma maioria consumidora dos seus
produtos, não considerando, neste processo de massificação, realidades culturais
dissonantes.
Uma outra distinção que vêm sendo apontada, a respeito da idéia
contemporânea de Infância, diz respeito ao reconhecimento, por parte do universo
adulto, dos seus mais variados tipos, a partir da percepção da “diversidade das
formas e modos de desenvolvimento das crianças, em função da sua pertença
cultural – isto é, sustentam que a cultura molda a Infância, por contraponto à idéia de
uma natureza universal da Infância.” (Sarmento, 2007, p.28).
As concepções de criança mudam historicamente (Ferreira, 2004), os vários
olhares que se lançaram em direção às diferentes Infâncias, traduziram as
concepções de “ser criança” em cada época, evidenciando que o processo de
construção social da Infância não é estático e também espelham as mudanças
ocorridas no mundo dos adultos através dos tempos (SILVA, 2007, p.24).
A idéia de Infância, geralmente pautada por uma concepção ocidental do
mundo, não comporta as concepções prevalentes em culturas não-ocidentais.
Entretanto, ainda segundo Sarmento, cabe ressaltar que “mesmo no interior do
mesmo espaço cultural, a variação das concepções de Infância é fundada em
variáveis como a classe social, o grupo de pertença étnica ou nacional, a religião
predominante, o nível de instrução da população, etc.” (Sarmento, 2007, p.29). Estas
variáveis devem ser consideradas no interior do processo de Educação Infantil.
39
Como diz Souza (2008), é através da apresentação de narrativas de culturas
minoritárias ou periféricas, como a africana, a indígena ou mesmo de regiões
desconhecidas, que se pode encontrar a importância de discutir e de reconhecer
essas Culturas como um vasto universo da diferença, que pode ser construído no
imaginário e na vida infantil, estabelecendo uma contribuição significativa tanto para
o avanço do conhecimento quanto para a Cultura universal.
Um dos objetivos dessa pesquisa é trazer a diversidade das crianças e de
suas professoras, nas creches originadas do Programa Nova Baixada. Diante da
grande indústria cultural de massa, todos são nivelados pelo mesmo padrão, não
garantindo características culturais específicas e ignorando as peculiaridades da
diversidade, costumes e valores que identificam os diferentes povos do mundo e
tornando invisíveis, para as crianças, as suas especificidades étnicas, raciais e
culturais.
As desigualdades que marcam a história da construção da nossa sociedade
evidenciam, também, a apartação entre a Cultura da criança e a do adulto, que
sempre a educa a partir de uma visão adultocêntrica, não considerando as
especificidades infantis (sua sensibilidade, fantasia, imaturidade física e emocional).
O encontro desses dois universos culturais deveria permitir uma troca de
experiências enriquecedora, que atenda às interesses e conhecimentos infantis, na
qual se desenvolvam a sua sensibilidade, de forma que a criança possa descobrir o
quanto é rico e importante conhecer e identificar as diferenças no mundo.
Desde bem pequenas as crianças sofrem um sufocamento cultural do mundo
da Infância, tendo que, muitas vezes, antecipar as suas concepções culturais para
facilitar a entrada no mundo adulto. Conviver com experiências de diversos grupos
culturais e étnicos é um caminho de conhecimento da riqueza e da heterogeneidade.
Adultos e crianças juntos, cada um num cadinho de culturas e raças que passam a
discutir e conviver com as questões culturais, possibilita, dentre outras trocas,
suscitar a conscientização dos adultos a respeito das questões raciais, posto que
convivem no mesmo espaço com crianças negras, brancas, de traços asiáticos.
Meninos e meninas, com quem dividem o mesmo espaço educativo e de moradia, o
mesmo lugar no mundo.
A parca contribuição inferida às crianças na construção do universo cultural
infantil denota, de fato, as dificuldades inerentes ao saber adulto, familiar e educativo
de partilha da experiência e dos aparatos técnicos do qual são gestores. Segundo
40
Debortoli [et alli] (2008, p.42), a “compreensão de Infância que formos capazes de
produzir nos expõe, expõe nossas relações sociais”, e diz respeito ao lugar social
que o sujeito criança ocupa na nossa dinâmica social. Desta forma, afirmam, a
criança ocupa historicamente um papel similar ao atribuído a atores sociais
“enigmáticos pela sua diferença-beleza-estranheza-exclusão”, como as mulheres,
negros, indígenas e demais minorias sociais. (Debortoli [et alli], 2008, p.42).
É de responsabilidade das instituições e dos espaços educativos garantir uma
prática e uma discussão que evidencie a diversidade cultural, combatendo os
estereótipos étnico-raciais nos seus projetos político-pedagógicos, efetivando ações
e estabelecendo um diálogo com o imaginário infantil, concentrando-se em exercer,
de modo mais prático, as atividades desenvolvidas com as crianças, para que elas
mesmas elaborem, em si, um estado de crítica e de constante esclarecimento a
respeito das questões culturais.
Quando busco focar a criança da Chatuba, quero falar das crianças com suas
experiências vividas no seio de suas famílias, onde se inicia sua vida cultural e
emocional. Experiências vividas no seu bairro, onde elas desenvolvem
características culturais muito peculiares. E na creche, onde, por meio do cuidado e
da educação, elas podem ampliar seu imaginário ao vivenciar trocas afetivas e
culturais ricas em diversidade, inserindo-as num contexto de diferentes práticas
sociais.
Desta forma, estamos tratando da constituição de relações de pertencimento,
efetivadas tanto pelo poder blico, quanto pelo poder privado e da construção de
políticas educacionais e culturais que permitam a inclusão das crianças pequenas.
Este movimento se daria, não através de modelos e propostas adultocêntricas e
embranquecidas, desconectadas da realidade infantil, mas sim, de uma proposta
dialética, de mútuo reconhecimento, trilhando o caminho para uma efetiva Educação
Infantil.
41
1.4 O lugar da Educação Infantil
Cresci brincando no chão, entre formigas. De uma Infância livre e sem
comparamentos. Eu tinha mais comunhão com as coisas do que
comparação. Porque se a gente fala a partir de ser criança, a gente faz
comunhão de um orvalho em sua aranha, de uma tarde em suas graças, de
um pássaro em sua árvore (MANOEL DE BARROS, 2003).
O lugar que a Educação Infantil e o atendimento à criança pequena ocupam
na trajetória da educação brasileira, sempre foi marcado por um caráter assistencial
e, consequentemente, não necessitando de profissionais com formação específica.
No Brasil, as instituições destinadas às crianças em idade anterior à
escolaridade obrigatória, ou seja, as creches, não tinham objetivos educacionais,
limitando-se à assistência básica até as primeiras cadas do século XX. A partir
desta época, sob a influência do educador alemão Fröebel e das transformações
vividas pela sociedade da Europa Ocidental, entidades assistenciais e educadores
propõem a criação de jardins de Infância, promovendo uma prática educacional
consubstanciada e objetiva (Kuhlmann, 1998).
Trata-se ainda de entender que as primeiras iniciativas voltadas à criança
tiveram um caráter higienista e se dirigiram ao combate do alto índice de mortalidade
infantil, que expressava um cunho preconceituoso e moralizante ao atribuir a
responsabilidade em sua elevação aos nascimentos ilegítimos da união entre
escravas e senhores. Do mesmo modo, atribuíam à falta de educação ou mesmo de
conhecimento das mães como causa desse índice.
Entenda-se assim, o movimento higienista no conjunto de alterações resultantes,
influindo também no Brasil, um país de ordem escravocrata nem industrializado,
nem revolucionado como os países da Europa. Para manter “sadio” o corpo social,
o movimento higienista precisava basicamente: determinar certas práticas e
valorizar outras, afirmar a família e a moralidade como fundamentos da “saúde
social”. (PEREIRA e MACHADO, 2008. destaque do autor).
O primeiro Congresso Americano da Criança, em 1916, propõe a anexação
de jardins de Infância e creches aos estabelecimentos de educação. Estes
estabelecimentos reforçavam dois aspectos das propostas do Congresso: isolar as
crianças dos meios sociais marginalizados que podiam contaminá-las e promover
uma educação mais moral que intelectual voltada para a profissionalização.
42
Entretanto, uma proposta educacional, elaborada exclusivamente para atender a
uma classe social específica, acaba por segmentá-la mais ainda, restringindo as
possibilidades do indivíduo de aspirar a melhorias em sua condição social, uma vez
que os bens culturais e sociais, essenciais à inserção deste indivíduo na sociedade,
não são partilhados com ele.
A partir dos anos 30, com o Estado de Bem-Estar Social e aceleração dos
processos de industrialização e urbanização, manifestam-se elevados graus de
nacionalização das políticas sociais, assim como a centralização do poder. Mas uma
experiência de vanguarda, que levava em conta a especificidade da Educação
Infantil aconteceu nessa cada: a criação dos Parques Infantis na cidade de São
Paulo, na gestão do poeta, escritor e educador Mario de Andrade, no Departamento
de Cultura da Cidade de São Paulo, no período de 1935-38, o que evidenciou a
preocupação do gestor poeta com a vivência cultural das crianças, suas famílias e
educadores, a sua diversidade étnica, dentro de um espaço público. Mário de
Andrade lutou contra a idéia corrente na época, da criança como ser incompleto,
desviando o foco de atuação dos Parques Infantis, da mãe trabalhadora para a
criança, incentivando as manifestações folclóricas das diversas populações infantis
paulistanas da época, assim como jogos e brincadeiras (Faria, 2002).
No período seguinte, além do SAM e da FUNABEM, como citado
anteriormente, surgiram no Brasil vários órgãos de amparo assistencial e jurídico
para a Infância, tais como a Legião Brasileira de Assistência (LBA) -1942 e o Projeto
Casulo; o UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) em 1946; o Comitê
Brasil da Organização Mundial de Educação Pré-Escolar em 1953; a Classificação
Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) em 1955; a Organização Mundial de
Educação Pré-escolar (OMEP) em 1969; o Instituto Nacional de Alimentação e
Nutrição (INAN) em 1972 e o MEC-COEPRE, em 1975.
Entretanto, o Estado de Bem-Estar Social não atingiu a maioria da população,
trazendo desenvolvimento e qualidade para alguns. A teoria foi muito trabalhada,
mas pouco colocada em prática. Neste sentido, as políticas sociais reproduzem o
sistema de desigualdades existentes na sociedade.
Resumindo. Nesse peodo, encontramos um governo fortemente centralizado
política e financeiramente, uma acentuada fragmentação institucional, a exclusão da
participação social e política nas decisões, privatizações e uso do clientelismo. Os
discursos higienistas e de saneamento nortearam práticas de tutela à família e à
43
criança pobre, identificados com a segurança nacional, consolidando a organização
de um arcabouço institucional. Neste período a creche ganha o sentido de
intervenção e regulação social: a dependência natural da criança pequena, que
precisa de cuidados, e da mãe pobre, que precisa de um patrono (Nunes, 2006,
p.15).
Em 1970, percebemos uma crescente evasão escolar e a repetência das
crianças das classes pobres nos anos iniciais da escola obrigatória. Como
conseqüência é instituída a educação pré-escolar (chamada compensatória) para
crianças de quatro a seis anos, com a intenção de suprir as “carências culturais”
existentes na Educação das famílias das classes pobres.
Como afirma Bourdieu (1998), a literatura baseada no pensamento crítico da
Educação Infantil, já desvelou a ideologia das teorias das “carências culturais” (défict
cultural) das chamadas classes populares como álibi que mascara questões relativas
ao processo ensino-aprendizagem, em que devem ser levados em conta o contexto
sócio-histórico, econômico, educacional, psicológico e cultural dos envolvidos nesse
processo. A respeito da relação “educação infantil e o álibi das carências culturais”,
a moral é límpida, e pode ser assim resumida: as classes populares são
responsáveis pelo seu fracasso educacional, pois não possuem os (re)quisitos
necessários para serem educadas e instruídas.
Nos anos de 1980 e 1990, com gestões eleitas para Municípios e Estados,
surgem propostas diferenciadas, algumas voltadas à melhoria da qualidade de vida
da população. Nesse quadro, os grupos organizados tiveram importante papel nos
movimentos sociais que conquistaram o reconhecimento na Constituição de 1988,
do direito à educação das crianças de zero a seis anos e o dever do Estado de
oferecer creches e pré-escolas para tornar fato esse direito (assegurada a opção da
família), o que foi reafirmado no Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990 e na
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, na qual a Educação
Infantil passa a ser considerada como a primeira etapa da educação básica.
No processo de luta pela Educação Infantil como direito, há que se mencionar
o papel da Associação Nacional de Pesquisa e Pós Graduação em Educação
(ANPED) que, ao promover debates e embates políticos nos seus runs, aglutina
forças para que na Constituição de 88, a educação pré-escolar possa ser vista
como necessária e de direito de todos, além de ser dever do Estado, devendo ser
integrada ao sistema de ensino (tanto creches como escolas).
44
A creche e a pré-escola são incluídas na política educacional, a partir de uma
perspectiva pedagógica e não mais assistencialista, na configuração da
Constituição. Esta perspectiva pedagógica a criança como um ser social,
histórico, pertencente a uma determinada classe social e cultural. Ela desmascara a
educação compensatória, que delega à escola a responsabilidade de resolver os
problemas da desigualdade econômica e social.
O ano de 1990 foi marcado pelo aumento das conquistas das políticas
educacionais. Além da Conferência Mundial de Educação, que reafirma a Educação
Infantil no processo educacional, a Lei 8069/90, chamada Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), referenda políticas de atendimento às crianças e aos
adolescentes e reconhece, no seu artigo 54, inciso IV, que as crianças e os
adolescentes são pessoas em condições peculiares de desenvolvimento. Esse fato
demonstra o avanço do pensamento oficial, influenciado pela luta dos movimentos
sociais, ao garantir o seu direito de ser criança: brincar como lhe aprouver; não
trabalhar; sonhar; conversar; aprender; conhecer; usufruir das diferentes
manifestações artísticas disponíveis na sociedade e de ser cuidado.
Mas é com a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação - 9394/96), em
seu Artigo 29, que a Educação Infantil passa a fazer parte da primeira etapa da
Educação Básica, oferecida em creches e pré-escolas complementando a ação da
família
4
.
Com a promulgação da nova LDB, a primeira etapa da Educação sica
passa a ter a função de educar e cuidar, o que exige a formação docente em caráter
de nível médio ou superior e vem inquietar os espaços acadêmicos. Com a formação
garantida por lei, o Conselho Nacional de Educação estabelece princípios
norteadores dos currículos através da formulação das Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI’s).
Entretanto, essas conquistas do final da década de 90, fruto das lutas dos
anos 80, ficam ameaçadas pela política do Governo Federal de então. O MEC (
Ministério da Educação e Cultura), ao implantar o FUNDEF (Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério), a Emenda
4
Embora a atual nomenclatura definida na LDB identifique o termo “creche” como o segmento educacional
destinado a crianças de 0 a 3 anos, o PNB adota a antiga nomenclatura que define o termo como unidade de
atendimento integral a crianças de 0 a 6 anos.
45
Constitucional 14/96 e a Lei 9424/96) provocou muitas prefeituras brasileiras a
repensar e reformular suas ações políticas e práticas para a Educação Infantil.
A partir do ano 2000, a Educação Infantil ocupa uma visibilidade que se
espalha por todo o Brasil. Segundo Nunes (2006), esta etapa da Educação Básica
[...] passa a ser vista como uma necessidade da sociedade contemporânea,
caracterizando-se por um espaço de socialização, de troca, de ampliação de
experiências e conhecimentos, de acesso a diferentes produções culturais. O
serviço educacional é direito da criança, dever de Estado e opção dos pais. Pontos
cruciais para este serviço são formulados no âmbito dos movimentos, em
consonância com a produção teórica sobre a criança de 0 a 6 anos. (NUNES, 2006,
p.16).
Os avanços legais continuam, até que em 2006, dez anos após a
promulgação da LDB, os runs de militância, ensino e pesquisa para a Infância se
organizam e conquistam mais uma vitória: a inclusão integral da Educação Infantil no
FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica).
De acordo com Corsino (2006),
O Senado Federal aprovou em 04/07/2006 a proposta de emenda constitucional
(PEC 415) que cria o FUNDEB, fundo que vai substituir o Fundef, que era restrito
ao Ensino Fundamental. Depois de uma grande mobilização, de diferentes
entidades e movimentos, conseguiu-se incluir as creches (crianças de 0 a 3 anos)
no Fundeb. Cabe ressaltar que o projeto aprovado inicialmente incluía apenas a
pré-escola, fragmentando a Educação Infantil. (CORSINO, 2006, p.13).
A creche e a pré-escola o lugares de muitas narrativas. Quando trago a
esse trabalho a importância da formação dos profissionais de Educação Infantil,
insisto no lugar e território ocupados por essas pessoas pequenas ao longo do
caminho. Criança e Infância, sujeito e lugar de cuidado, amparo, delicadeza,
gentileza, carinho, afeto, amor e amizade, confirmam essas leves palavras, que
trazem nos seus significados, movimento e exercício acolhedor, cujo objetivo é a
desconstrução da barbárie, uma vez que, através dos tempos, a criança sempre
viveu sem valor e consideração.
A criança era considerada anjo até os cinco anos de idade, perdê-la não significava
tristeza, mas consolo. Quanto mais filhos morriam na tenra idade, os pais
vislumbravam, para o futuro, uma feliz e certa entrada no reino dos “céus”, pela
mão de seus filhos anjinhos. (FARIAS, 2005, p.39).
A Educação Infantil, no presente momento político e social do Brasil, em
especial em territórios conflagrados como o da Baixada Fluminense, exige um
educador com formação, que permaneça em tempo integral com as crianças na
46
creche, compreendendo que quanto menor a criança, maiores são as exigências de
atuação dos profissionais que a cuidam e educam, isto é, que saibam sua origem,
sua cultura, suas condições sociais, suas necessidades de aprendizado, de
locomoção, de linguagem, de expressão dos seus sentimentos.
O educador infantil deve ter clareza para corresponder às necessidades das
crianças, não bastando apenas gostar delas. É preciso saber sobre o que a criança
pensa e sente, o que ela sabe sobre si e o mundo em que vive, como se desenvolve
e aprende, para que possa se tornar um mediador no processo de construção do
conhecimento da criança (Souza, 2002).
No campo da Educação Infantil, continuam ausentes conceitos e princípios
para a Infância pequena. A formação racional e técnica do educador apresenta um
abismo epistemológico entre o conhecimento pedagógico e a prática, pois entre
essas duas estâncias do fazer educacional específico para atender os pequenos,
existe uma área de conhecimentos que exige a aderência de outros campos do
saber, que ao longo dos tempos vem contribuindo para se entender as necessidades
infantis dessa faixa etária, em especial a Sociologia, a Antropologia, a Arte, a
Psicologia, bem como as contribuições dos Estudos Culturais. Dito isso, devemos
compreender que
Os professores lidam com problemas complexos, que o tem apenas uma
explicação. Na esfera educacional, os docentes devem entender as situações no
contexto específico em que se apresentam em suas singularidades, permitindo que
a interpretação de cada uma delas e as possíveis respostas sejam alteradas
conforme a necessidade. Uma definição rígida de conhecimento profissional pode
inclusive causar uma visão limitada das situações que os professores enfrentam e
dos procedimentos que devem adotar (SANTOS, 2004, p.192).
É necessário entender a especificidade de cuidar de um menino ou menina
pequena(o) que necessita do adulto como referência para que a pegue no colo, que
banho, que alimente, que converse, que brinque, como atos fundamentais de
construção de conhecimentos na Educação Infantil. Portanto, “conversar com a
criança que ainda não fala, contar-lhe histórias, criar ambientes desafiadores para as
crianças que ainda não andam e deixá-las o menor tempo possível no berço o
atividades pedagógicas que envolvem interação, trabalho corporal, afeto, etc”. (PNB,
2006).
A atividade docente envolve vários saberes. Contudo, percebemos uma
lacuna, uma fragilidade na formação e exercício profissional dos professores (as),
47
que trazem, não o desconhecimento das especificidades da Infância Pequena,
mas também práticas excludentes, sem comprometimento pedagógico, elegendo
muitas vezes o senso comum, que resulta numa prática preconceituosa, racista,
sexista, etc. Acham natural suas ações, a falta de reflexão sobre a ação praticada e
a ausência de projetos político-pedagógicos dos municípios em que atuam.
Quando uma professora ou professor chega às creches e pré-escolas sem
nunca ter trocado uma fralda, contado uma história, dado um banho em um bebê,
colocado uma criança para dormir, cantado uma canção infantil; se, em sua
formação, desconhecem a história do Brasil, da escravidão, da Educação, da
Infância, em particular das crianças negras; esse educador necessita ampliar a sua
formação no sentido de conhecer suas próprias raízes, reconhecer a importância da
manifestação de afeto, da contribuição dos diferentes ramos da Arte (teatro, música,
dança, literatura, e outros), da situação da criança como sujeito de direitos, da
relevância da questão histórica na formação de um povo, ressaltando suas
contradições, desvelando a história esquecida dos vencidos, enfim, escovando a
história a contrapelo.
Acreditando que o educador infantil para desempenhar suas funções, precisa
sim de espaço adequado e materiais disponíveis, e, também de permanente
investimento na formação, é necessário estar empenhado em cada vez mais discutir
o seu papel social, enquanto profissional, cidadão e sujeito construtor histórico.
48
2 O PROGRAMA NOVA BAIXADA DE EDUCAÇÃO INFANTIL
2.1 Breve histórico
A Baixada Fluminense, situada na região metropolitana do Estado do Rio de
Janeiro, é uma região que abrange os municípios de Belford Roxo, Duque de
Caxias, Guapimirim, Itaguaí, Japeri, Magé, Mangaratiba, Mesquita, Nilópolis, Nova
Iguaçu, Paracambi, Queimados, São João de Meriti e Seropédica. Ocupa uma
extensão de cerca de 2.100 km² que, geograficamente, corresponde à região de
planícies que se estende entre o litoral e a Serra do Mar, indo do município de
Campos, no extremo norte, até o de Itaguaí, próximo à cidade do Rio de Janeiro.
Sua população é de cerca de 2.849.256 habitantes, sendo 364.340 de crianças de 0
a 6 anos, segundo dados do Observatório de Políticas Públicas e Gestão Municipal
5
de 2000 e do Censo Demográfico de 1991
6
.
Seu território foi historicamente marcado pela ausência da participação do
Estado, resultando em inúmeros problemas de infra-estrutura urbana, como por
exemplo, a escassez de políticas públicas para a garantia de direitos,
especificamente da Infância. Segundo a análise realizada pelo Núcleo de Creches
da Baixada Fluminense, da Fundação e Alegria do Brasil (FFAB), organização
não-governamental que atua no campo da Educação Popular desde 1981, “uma das
maiores dificuldades enfrentadas pela população economicamente ativa da região,
principalmente pelas mulheres, é a inexistência de serviços eficazes de saúde,
educação e assistência”. (FFAB, 2001, p.19).
Sucessivas iniciativas por parte de organizações populares vêm atuando
nesse nicho, preenchendo o vazio deixado pela ausência das políticas públicas
governamentais. Como conseqüência indireta deste tipo de iniciativa, o Estado tende
a se eximir de atender a esta necessidade da população.
5
“Orçamento dos Municípios da Baixada Fluminense” (2000), citado em Uma história de luta: diagnóstico das
creches e pré-escolas da Baixada Fluminense, organizado pela Fundação e Alegria do Brasil: Núcleo de
creches da Baixada Fluminense, julho de 2001, p.19.
6
“Crianças e Adolescentes: indicadores Sociais” (1994), citado em Uma história de luta: diagnóstico das creches
e pré-escolas da Baixada Fluminense, organizado pela Fundação Fé e Alegria do Brasil: Núcleo de creches da
Baixada Fluminense, julho de 2001, p.19.
49
Por outro lado, ao longo da cada de 1990, em diversos países da América
Latina, foi desenvolvida pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), uma
série de programas de melhoramento de bairros, através de um pacote mínimo de
investimentos em infra-estrutura, visando um melhoramento na qualidade das
condições urbanas.
Dentre estas medidas, o “Programa Nova Baixada” (PNB), previsto para
incidir sobre a região da Baixada Fluminense, entrou em vigor em 1995, a partir de
convênios firmados entre as prefeituras e o governo estadual do Rio de Janeiro, com
financiamento a partir dos empréstimos feitos pelo BID. Este Programa se
caracteriza como um projeto integrado por obras de saneamento básico, drenagem e
pavimentação de ruas, engenharia sanitária e construção/operação de unidades
básicas de saúde da família, creches, abrigos, delegacias da mulher, delegacias
legais, unidades de armazenamentos de lixo, centros comunitários de defesa da
cidadania e prevêem a participação da comunidade em todas as fases do projeto.
(PNB, Relatório, 2006).
A amplitude dos campos de atuação do referido Programa recebeu críticas,
principalmente no que tange à sua existência a partir de empréstimos com órgãos de
fomento internacionais, como o BID, tornando o que deveria ser uma iniciativa
pública, com recursos públicos e, portanto, prioridade governamental, em projetos
implementados sob a égide de organismos internacionais.
De acordo com o pensamento crítico educacional, como os estudos de
Lehrer, Neves e Campos (1999) os organismos internacionais, durante a cada de
1990, e nos primeiros anos do culo XXI, vêm promovendo através de
empréstimos, projetos de desenvolvimento, no caso da área educacional, para os
países periféricos, como os da América Latina, a partir da visão política e econômica
capitalista dos países centrais.
Em contexto diverso do acima mencionado, o acesso à Educação Infantil no
Brasil é um direito conquistado, oriundo, principalmente, do movimento de mulheres
que, através de sua atuação política, se expressaram nos movimentos sociais e nas
demais organizações da classe trabalhadora.
Portanto, trata-se de entender o PNB, no que tange às suas ações na
Educação Infantil, também como um espaço político, de conflitos e contradições. Ou
seja, embora as críticas mencionadas acima sejam pertinentes, organizações
políticas da região (como associação de moradores), comprometidas com a
50
Educação das crianças, se envolveram no referido Programa, demarcando que um
espaço para a Educação Infantil fosse assumido e implementado como política
pública.
2.2 Doze creches à margem do Rio Sarapuí
O âmbito geográfico da atuação do PNB abarca os municípios localizados à
margem do Rio Sarapuí, isto é, o Programa se destina a um território conflagrado,
onde habita uma enorme massa de despossuídos, que vivem à margem cidadania,
sem acesso e garantia a uma educação de qualidade, sem a presença concreta do
poder público, que lhes garanta saúde, segurança, lazer, acesso à cultura, numa
tentativa de inclusão no corpo da sociedade instituída.
De acordo com o que foi estabelecido para este Programa, seu plano de ação
inicial previu investimentos para construção e implantação de unidades de Educação
Infantil – creche
7
– em quatro municípios da Baixada Fluminense.
Mapa 1: Região da Baixada Fluminense do Estado do Rio de Janeiro
Fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Baixada.png> Acessado em: 27 de julho de 2009.
7
Embora a atual nomenclatura definida na LDB identifique o termo “creche” como o segmento educacional
destinado a crianças de 0 a 3 anos, o PNB adota a antiga nomenclatura que define o termo como unidade de
atendimento integral a crianças de 0 a 6 anos.
51
No ano de 2006, registrou-se um atendimento a 1300 (mil e trezentas)
crianças, aproximadamente, nas 12 (doze) creches já em funcionamento, assim
distribuídas: 4 (quatro) em São João de Meriti, 2 (duas) em Duque de Caxias, 5
(cinco) em Belford Roxo e 2 (duas) em Mesquita. Todos estes municípios estão
localizados à beira do Rio Sarapuí.
Segundo a análise comparativa realizada por Gláucia Motta (2008), a partir
dos dados provenientes do Censo do IBGE, o quantitativo de creches e pré-escolas
existentes em Belford Roxo, Duque de Caxias, Mesquita e São João de Meriti
encontra-se aquém do necessário, mesmo com a implementação das atividades de
Educação Infantil do Programa Nova Baixada. Desta forma, a iniciativa de
construção de creches nessas regiões, ainda que inicialmente contemple apenas 4
(quatro) municípios, atende a uma demanda social e histórica de fornecimento de
ações sociais e educativas.
Tabela 1: Número de Estabelecimentos de Educação Infantil, Número de Crianças
residentes e Número de Crianças atendidas em Creches e Pré-escolas por
municípios da Baixada Fluminense integrante do Programa Nova Baixada em 2007.
Fonte: Censo Escolar 2007/ MEC / INEP e Censo 2000 / IBGE.
52
O PNB, no que diz respeito à Educação Infantil, foi realizado pela Secretaria
Estadual de Integração Social em parceria com a de Educação e é responsável pela
implementação das creches. Nesta tarefa estava incluída a escolha do local, a
construção e equipamento, além da elaboração do Projeto Político-Pedagógico
8
e da
formação do pessoal responsável por manter o funcionamento das creches.
Também incluem-se dentre suas responsabilidades, a realização de cursos de
formação continuada com os educadores, como analisaremos mais adiante nesta
dissertação, a fim de formar as primeiras equipes. Após a sua construção, as
creches passam a ser geridas pelos municípios contemplados.
Documentos analisados, tais como o “Projeto de Creche”, o “2
o
Relatório de
Avaliação de Impacto”, o “Projeto Político-Pedagógico para Formação de Docentes”,
o “Relatório Final da Avaliação Qualitativa”, e as “Oficinas para as Creches no
Programa Nova Baixada”, revelam que, desde a sua proposta inicial, o
PNB/Educação Infantil apontava duas diretrizes em que atuaria: a construção de
creches e formação pedagógica. As demais faces, abordagens e estratégias que
configurariam a totalidade de uma proposta pedagógica, deveriam ser estabelecidas
pelos municípios, aos quais o Estado se articularia para implementação dos projetos.
que se ressaltar que as áreas de atuação do PNB foram escolhidas após
consulta à população da Baixada Fluminense, sendo a construção de creches e as
questões relativas à saúde da população, as demandas mais requeridas. Portanto, a
ação do PNB em relação à Educação se resumiu, a princípio, à construção de
creches, acrescida da necessidade de formação pedagógica dos docentes.
O PNB, por envolver vários setores como a educação, saneamento sico
etc, ficou localizado quanto à sua coordenação, gestão e acompanhamento e
definições das diretrizes na Secretaria de Estado de Integração Governamental
(SEIG), que criou um setor específico para este fim: a Superintendência do
Programa da Nova Baixada.
Inicialmente, a SEIG tentou instituir um convênio com as prefeituras para que
as Secretarias Municipais de Educação se responsabilizassem pelo processo de
formação pedagógica dos professores que iriam atuar nas creches. O município de
Mesquita foi um dos que, a princípio, manteve uma relação turbulenta no
acolhimento da construção das creches. O motivo alegado pelo referido município foi
8
O Projeto Político-Pedagógico foi elaborado pela Coordenação Pedagógica do PNB.
53
que não teria recursos para mantê-las, depois que repassadas pelo governo
estadual à Prefeitura de Mesquita. Naquele momento, a prefeitura deveria conseguir
terrenos para a construção das creches e, mais adiante, fornecer também o quadro
de professores que iriam atuar.
Ao serem incorporadas pelos municípios, estas creches contariam com uma
infra-estrutura montada e com as bases do Projeto Político-Pedagógico e de
Formação Continuada de Professores delimitadas, de forma a corresponderem às
deliberações elaboradas pela coordenação pedagógica do Programa Nova Baixada.
O PNB, estruturado desta forma e vinculado a SEIG, ainda que em parceria com a
Secretaria Estadual de Educação, nos leva a constatar que as secretarias municipais
de educação e a comunidade a qual estas creches atendem, pouco ou nenhuma
participação têm na elaboração das diretrizes educacionais para a Educação Infantil
que são ali desenvolvidas. Desta forma, ao serem assumidas pelas Secretarias
Municipais de Educação, estas, se transformam, prioritariamente, em executoras do
PNB Educação Infantil.
A alegação de alguns municípios sobre a impossibilidade de manter as
creches, de uma certa maneira, encobria o contexto político no qual as disputas
político-partidárias ocupam papel significativo. Como demonstram as análises de
Motta (2008), essas disputas, somadas a interesses pessoais em cargos de
governo, ou com influência nos mesmos, criaram dificuldades para as ações
planejadas no âmbito do PNB. Entende-se ainda que o argumento de alguns
municípios em não poder manter as creches, demonstra que as ações de melhoria
na Educação Infantil não estavam incluídas nas políticas e estratégias educacionais
traçadas para os seus respectivos governos.
Diante dos impasses políticos durante a implantação do PNB Educação
Infantil e das impossibilidades das Secretarias da Educação, a coordenação do PNB
desenvolveu ações para potencializar o processo de implementação das creches,
assumindo, por um período de três meses após a inauguração, o pagamento dos
trabalhadores, o acompanhamento pedagógico da equipe responsável pela
implementação do projeto e a coordenação dos cursos de formação docente. Essa
coordenação era composta por pedagogos e especialistas em Educação Infantil
vinculadas a SEIG.
Após o período de três meses, os governos municipais ficariam responsáveis
por: seleção dos funcionários; contratação, manutenção das creches (alimentação,
54
reparos) e gerenciamento; condução e acompanhamento político-pedagógico do
projeto educativo; orientação pedagógica e supervisão e realização das matrículas
(Relatório de Atividades, 2007).
2.3 A formação dos professores
A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior,
em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos
superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do
magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental,
a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. (LDB, 1997, Título IV, Art. 62º).
Sem ignorarmos que a formação docente foi sempre objeto de discussão,
desde a criação do que se pode chamar de Sistema Educacional Brasileiro,
destacamos as inflexões qualitativas e quantitativas nesse debate nas décadas
iniciais do culo 20, ao observarmos o que Nagle (2001) denominou de fenômenos
como o “entusiasmo pela educação” e o “otimismo pedagógico”. Este último
movimento, segundo autores como o próprio Nagle e Valle (2001), foi caracterizado
por um pensar a educação constituído por “especialistas” da área. Dito de maneira
mais explícita, “o entusiasmo pela educação” teve como uma das suas
características marcantes ser a Educação pensada por vários intelectuais de
diversos setores da sociedade como médicos e políticos, para citar alguns que
refletiam e publicavam suas idéias sobre esta prática social. O otimismo pedagógico
se caracterizou, entre outras ações, por trazer o discurso sobre a Educação mais
para a esfera da escola e de intelectuais. Convêm aqui ressaltar que, como nos diz
Valle (jul/dez 2001), se por um lado isso fez com que a educação e o conhecimento
escolar ganhassem mais aprofundamento nas reflexões, por outro reduziu a riqueza
de pensar a Educação como prática social a ser debatida (ainda que em
perspectivas antagônicas) em várias esferas da sociedade.
No que tange à formação docente, certamente os dois movimentos
contemplavam essas reflexões, como nos mostra a história da Educação. A trajetória
da Educação Infantil e o atendimento à criança pequena foi sempre marcado por um
caráter assistencial e, portanto, não necessitaria de profissionais com formação
específica.
55
A formação dos professores de Educação Infantil, embora estabelecida por
lei, ainda está por ser efetivada como um direito de todos os educadores, mesmo
para aqueles que se encontravam em serviço anteriormente à legislação vigente.
Pelas exigências postas, inclusive nos documentos legais como a Lei de Diretrizes e
Bases, as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil e as Diretrizes
Operacionais para a Educação Infantil (Brasil, 1996,1999, 2000), é esperado que o
profissional da área construa a sua carreira com reconhecimento de seus pares,
entre os demais professores e comunidades em geral .
Para tanto, segundo as autoras Vasconcellos, Aquino e Dias (2008, p.18) é
preciso conhecer mais sobre educação, desenvolvimento infantil e contextos de
desenvolvimento e aprendizagem para entender a criança como sujeito social e de
cultura”. As autoras reiteram, também, que “é necessário transformar o professor em
profissional mais preparado para os embates e exigências do cotidiano”. O
desenvolvimento profissional é preponderante para a formação da pequena Infância,
pois é onde ações transformadoras acontecem e se fortalecem para os embates na
sua prática cotidiana.
Outro desafio que se coloca quanto à formação dos educadores infantis, é
contribuir para a superação das dificuldades de conviver com as questões raciais
entre as crianças e entre eles mesmos, a fim de que se construa uma prática
pedagógica voltada para o respeito mútuo, conscientizando-se de que é fundamental
lidar com as diferenças, partindo do princípio de que elas são riquezas e precisam
ser respeitadas, ou seja, revelar um pouco as emoções, as razões individuais e os
preconceitos herdados da nossa história e da nossa cultura.
Precisamos superar os sentimentos e emoções que impossibilitam o
enfrentamento dessas questões, sem desconsiderar a nossa história de vida, que
nos leva a enxergar melhor os impedimentos à mudança.
Ao associar o pertencimento racial das crianças, destacando especialmente as
crianças negras, encontramos pistas que ajudaram a refletir sobre possibilidades
das ações pedagógicas cotidianas das professoras contribuírem para o reforço e a
reprodução da histórica ideologia racista do país. O reforço e naturalização do
racismo se dão, entre outras coisas, pelo silêncio, falas e atitudes muitas vezes
sutis e inconscientes, que mantêm e fortalecem os estereótipos negativos
associados á população negra (SILVA, 2008, p.119).
As questões raciais e os preconceitos estão presentes em todos os espaços,
sendo que suas principais vítimas encontram-se nos bairros de comunidades
56
populares, onde estão principalmente as crianças negras e pobres, filhas dos
trabalhadores excluídos da sociedade brasileira contemporânea, infelizmente tão
injusta e desumana.
De acordo com Adorno (2005), é necessário educar para enfrentar as
dificuldades que se impõem, tentando criar alternativas para promover a
emancipação dessas massas periféricas oprimidas, fazendo-as alcançar, pelo
próprio esforço de reflexão e ação, um estado de cidadania que seja realmente
universal no Brasil.
Para iniciar a formação das professoras, auxiliares de professoras e também
da direção, orientadoras educacionais e pedagógicas e auxiliares (porteiros,
cozinheiras, vigias, etc) que iriam trabalhar nas creches do PNB, a equipe de
especialistas do Projeto tinha garantido na proposta de implementação das
creches o desenvolvimento profissional da força de trabalho.
De acordo com Motta (2008), foram convidadas três organizações não-
governamentais, a saber: Organização Mundial para a Educação Pré-escolar
(OMEP), Centro de Criação de Imagem Popular (CECIP), Espaço de Formação de
Educação Infantil (EFEI). Mas, diante de uma reflexão mais profunda, decidiu-se
pela contratação de uma equipe permanente de especialistas para coordenar as
creches do PNB e dar prosseguimento à formação profissional da equipe de
funcionários das creches.
Constava como cláusula do convênio do PNB com o BID (Banco
Interamericano de Desenvolvimento) a exigência de suporte acadêmico, a ser
prestado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), às ações
desenvolvidas no âmbito do PNB pela SEIG. O objeto específico dessa cláusula era
a de realizar avaliação qualitativa de algumas das ações sociais. Como podemos
ver, a Universidade foi convidada para realizar um papel crítico, com o sentido de
apontar caminhos que dessem suporte ao trabalho realizado pelas creches do PNB
junto ao público beneficiário e subsidiasse as respostas a serem dadas ao
financiador do Projeto, o BID.
A primeira avaliação destinada às ações voltadas para a Educação Infantil foi
realizada em 2005, procurando identificar a partir do Processo de Implantação de
Unidades de Educação Infantil (UEI), as condições físicas dos equipamentos e as
primeiras ações de planejamento pedagógico e da gestão pelos municípios
abrangidos e suas respectivas políticas para a Educação Infantil. Num segundo
57
momento, em 2006, visando compreender a amplitude alcançada pelo Programa,
considerou-se a necessidade de complementar a pesquisa com um estudo mais
focalizado no desenvolvimento das crianças no contexto das unidades de educação
infantil (PNB, 2006).
A pesquisa realizou-se junto às crianças, seus familiares, suas professoras e
educadoras e os ambientes das creches. A observação de campo privilegiou os
ambientes e situações cotidianas das UEI dos quais as crianças participam. A
pesquisa documental focalizou documentos como as Orientações Curriculares -
Educação Infantil do Município e/ou das unidades educacionais, planejamento das
atividades destinadas às crianças, relatórios e fichas de registro e avaliação das
crianças. A partir do relatório referente à segunda etapa da pesquisa, foi feita uma
avaliação, em que muitas das críticas e sugestões formuladas caberiam a qualquer
instituição blica de Educação Infantil, tendo como foco, mais especificamente, o
desenvolvimento das crianças.
A análise sobre a estrutura e funcionamento das unidades indicou que essas,
cada vez mais, vêm sendo assumidas pelo poder público, como um equipamento
educacional de direito das crianças. Entretanto, observa-se que tais esforços
precisam ser intensificados para que de fato a educação infantil seja uma política de
democratização dos direitos de todas as crianças e suas famílias. As unidades
investigadas promovem ambiente de acolhimento e bem-estar às crianças e suas
famílias, mas tratamento acrítico de determinados temas, especialmente aqueles
relacionados a questões étnico-raciais e de sexualidade e gênero, reproduzindo
conceitos naturalizados pelo senso comum, resultando em práticas preconceituosas
que afetam negativamente a construção da identidade das crianças.
Essa pesquisa teve como foco as questões sobre diversidade cultural e
preconceito na educação infantil no Programa Nova Baixada/RJ (PNB), originado a
partir do convite do NUSEG/UERJ (Núcleo Superior de Estudos Governamentais) e
da Secretaria de Estado de Integração Governamental/RJ (SEIG) para proceder a
avaliação das unidades de educação infantil implantadas por esse Programa em
quatro municípios da Baixada Fluminense (Caxias, São João de Meriti, Belfort Roxo
e Mesquita), quanto às condições de funcionamento para a promoção de contextos
de desenvolvimento infantil integrado.
A análise sobre a estrutura e funcionamento das unidades indicou que essas,
cada vez mais, vêm sendo assumidas pelo poder público, como um equipamento
58
educacional de direito das crianças. Entretanto, observa-se que tais esforços
precisavam ser intensificados para que de fato a Educação Infantil seja contemplada
por uma política de democratização dos direitos de todas as crianças e suas
famílias. Alguns temas ficaram mais evidentes como, sexismo (tratamento
estereotipado de meninas e meninos), e discriminação por condições sociais e
familiares (crianças “carentes” e “rejeitadas”). As questões étnico-raciais são
silenciadas no cotidiano, ausentes nas práticas e manifestações culturais, sendo
apresentadas apenas em datas comemorativas como dia do Índio e de Zumbi. Esse
problema se acentua devido à forte presença de religiões, como neopentecostais e
católica carismática, que tem adotado postura dogmática e preconceituosa em
relação ao outro, em especial, aqueles vinculados ao sentido de africanidade. Além
do caráter discriminatório, tais posturas se contrapõem a práticas que reconhecem a
criança como sujeito de cultura, que elabora sua identidade (ou identidades) na
interação com o outro.
A partir dessa avaliação, a SEIG encomendou proposta de formação em ação
para os/as profissionais de Educação das unidades de Educação Infantil do PNB,
com o foco em temas relativos à diversidade cultural, étnica, religiosa e sexual das
crianças e suas famílias e educadores, visando aprofundar conceitos e subsidiar as
práticas cotidianas nas unidades educacionais, de modo a estabelecer contextos de
convivência, desenvolvimento e aprendizagem acolhedores e promotores de
ambientes favoráveis solidários, democráticos, criativos, críticos e felizes.
59
3 MESQUITA: O MUNICÍPIO ENGATINHANDO NAS CRECHES DA CHATUBA
3.1 As terras de Mutambó, hoje Município de Mesquita
Mesquita foi um distrito de Nova Iguaçu asetembro de 1999, quando passa
a ter o estatuto de Município, através da Lei nº 3.263 de 25/09/1999. O movimento
pela sua emancipação se iniciou ainda na década de 50, juntamente com os
movimentos sociais dos municípios de Nilópolis e São João de Meriti. Estes últimos
se emanciparam nesta época, enquanto o processo de Mesquita se perdeu nos
jogos políticos até 1980, época em que foi retomada a mobilização pela luta
emancipatória. Em 1995, após outros plebiscitos frustrados pela falta de quorum, a
maioria da população vota a favor da criação do Município de Mesquita (Prefeitura
de Mesquita, 2009). Sua emancipação é principalmente uma conquista de
movimentos sociais organizados, tornando-se o mais novo município da Baixada
Fluminense, região metropolitana do Grande Rio: “o município bebê”. Faz limite com
os municípios de Nova Iguaçu, Belford Roxo, São João de Meriti, Nilópolis e Rio de
Janeiro (Prefeitura de Mesquita, 1999).
A cidade de Mesquita foi chamada de Mutambó
9
por seus antigos ocupantes,
antes da inauguração oficial da parada de trem. “Em 1884, foi inaugurada uma
parada de trem nas terras cedidas pelo Barão de Mesquita para passagem dos
trilhos, que recebeu o nome de Jerônimo de Mesquita (posteriormente Mesquita)”.
(Silva, 2007, p.74).
Mesquita mais de 500 anos, era habitada por índios que foram dizimados
pelos colonizadores: o povo jacutinga como eram chamados na colonização . A
referência a essa época está fixada pelo nome do bairro de Jacutinga, o único em
toda a Baixada Fluminense que ainda preserva a memória da população nativa que
habitaram esta região (Prefeitura de Mesquita, 2009).
A Mesquita dos laranjais passa pela fase dos engenhos no século XVIII com a
produção de açúcar e aguardente, cuja mão-de-obra era os escravos. No final do
século XIX, as fazendas passaram a não dar mais lucro, período este em que chega
9
De origem africana, o vocábulo é originário do quimbundo, língua usual do povo oriundo de Angola, trazida
para o Brasil pelos negros a partir do século XVI. (Prado, 2000).
60
na região a Estrada de Ferro e, no início do século XX, as olarias, que ali se
instalaram devido à qualidade do barro. Os laranjais e as olarias dominaram a
paisagem do lugar até meados dos anos 1940, quando começaram a surgir os
primeiros loteamentos e a instalação de fábricas metalúrgicas que contribuíram para
impulsionar a economia local, iniciando a industrialização da região. (Prefeitura de
Mesquita, 2009). Ainda hoje Mesquita traz as marcas de sua ocupação pela
população negra, mão-de-obra escrava, expressa na constituição histórica de sua
população, classificada etnicamente como negra, apesar da inexistência de
comprovação nos bancos de dados oficiais pesquisados.
O desenvolvimento da região teve grande impulso com a chegada da ferrovia.
O declínio da citricultura levou ao processo de loteamentos, que ocuparam as áreas
onde havia grandes fazendas como a Fazenda da Caxueira e da Companhia Ludolf
& Ludolf (IBGE, 2009b). De acordo com a Fundação CIDE, no ano de 2003, as
principais atividades econômicas do município se concentravam nas áreas do
comércio e serviços e da indústria, contribuindo com 0,38% do PIB estadual e com
0,56% do PIB da Região Metropolitana (CIDE, 2009).
Mesquita nasceu como uma grande cidade, com seus quase 183 mil
habitantes, sendo a 13ª cidade em população do Rio de Janeiro, entre os 92
municípios que compõem o Estado.
O município possui uma área territorial de 41,6 Km
2
, onde vivem 182.546 mil
habitantes, segundo estimava do IBGE, em 2007 (IBGE, 2009a) ou 187.949
habitantes (IBGE, 2008). Em torno de 66% deste território é de área verde, que
compõe parte do Parque Municipal de Nova Iguaçu, reservas, matas e cachoeiras.
Possui 13 escolas estaduais e a rede municipal, em 2006, tinha um total de 14.718
alunos, sendo que 8,4% das crianças estavam em creche e na pré-escola. Em 2005,
havia dez (10) Creches Comunitárias na cidade. A rede de serviços de saúde tinha
14 Unidades sicas de Saúde, 03 hospitais móveis, 01 hospital maternidade, 01
unidade mista e 01 farmácia municipal. Os espaços públicos são compostos por 14
praças municipais. (Prefeitura de Mesquita, 2009).
O índice de desenvolvimento humano (IDH) de Mesquita não foi calculado,
pois em 2000, quando este foi estabelecido, não havia dados disponíveis sobre o
município:
61
Tabela 2: Indicadores Demográficos e Educacionais do Ministério da Educação
(MEC) – Informações sobre o Município/2007 – Mesquita - RJ.
Fonte: Portal MEC. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/ide/2008/gerarTabela.php>. Acessado em: 28/07/2009
Considerando os IDH dos municípios que fazem fronteira com Mesquita
(Nova Iguaçu - IDH 0,762, Belford Roxo - 0,742, São João de Meriti - 0,774, Nilópolis
- 0,788 e Rio de Janeiro - 0,842), podemos dizer, num exercício de imaginação
sociológica e conhecendo a realidade de Mesquita, que o seu IDH o é muito
diferente dos três primeiros, isto é, está entre 0,742 e 0,774
10
(PNUD, 2009a).
É apenas mais um indicador que possibilita comparar as condições sócio-
econômicas dos municípios brasileiros e situarmos nosso próprio lugar e condições
de vida com relação aos outros, numa escala relativa de desigualdades.
Considerando que o índice varia de 0 a 1, Mesquita se situaria, a partir deste
raciocínio, numa condição média de qualidade de vida. Como referência de
comparação entre as cidade do Estado do Rio, temos Niterói com o melhor IDH,
0,886, e a cidade de Varre-Sai, com o pior, 0,679. No nível nacional São Caetano do
Sul (SP) tem o melhor IDH - 0,919 e Manari (PE) o pior - 0,467.
O Município de Mesquita possui 11 bairros - Centro, Banco de Areia,
Chatuba, Cosmorama, Édson Passos, Jacutinga, Juscelino, Rocha Sobrinho, Santa
Terezinha, Santo Elias e Vila Emil. Dentre eles, o da Chatuba é considerado um
“bairro-favela” com o maior índice de violência e pobreza do município, por ser
constituído praticamente todo por uma favela, a da Chatuba. Apesar de ser
10
Este índice é uma medida sintética do desenvolvimento humano, que incorpora a longevidade, dados de
educação, além da renda da população. Como diz o próprio criador do IDH, o economista indiano Amartya Sen,
este índice “não é uma representação da ‘felicidade’ das pessoas, nem indica “o melhor lugar no mundo para se
viver”. (PNUD, 2009b).
62
considerada assim, Chatuba está dividida em 5 “sub-bairros”. São eles: Arrastão,
Bicão, Escadão, Fazenda Quinze e Raiz.
Segundo Sarmento (2007), “os bairros sociais se encontram, a maior parte
das vezes, numa situação de descontinuidade em relação ao espaço urbano,
tendência para o estabelecimento de fronteiras físicas e simbólicas rígidas que
dificultam a reciprocidade de interações com o exterior” (p.208). A fragmentação das
cidades, uma das conseqüências da intensa urbanização da sociedade brasileira, é
resultado histórico de processos de inclusão-exclusão sócio-econômica e espacial
das cidades que se parecem com mosaicos, em que se avizinham e se alternam os
territórios de exclusão contíguos aos espaços blicos da cidade formal. Nestes
espaços de exclusão, a ausência do poder público e do direito à cidadania,
aumentam não a vulnerabilidade sócio-ambiental dos habitantes destes lugares,
como da cidade como um todo (Porto & Pivetta, 2009).
O bairro da Chatuba, contexto territorial deste trabalho, não consta nos
registros oficiais de dados sócio-econômicos e nos indicadores pesquisados.
Mesquita ainda carece de políticas blicas de qualidade nos setores de
saúde, segurança, educação, dentre outros. Especificamente no que tange à
Educação Infantil, os relatórios de pesquisas realizadas recentemente, apontam
para a ausência de propostas político-pedagógica efetivas (PNB, 2006).
Em levantamento realizado em 2007 pelo MEC foi registrado o número de
Estabelecimentos de Ensino Regular do Município de Mesquita, como mostra a
tabela abaixo:
Tabela 3: Indicadores Demográficos e Educacionais do Ministério da Educação
(MEC) – Número de Estabelecimentos de Ensino/2007 - Município de Mesquita - RJ.
63
Fonte: Portal MEC. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/ide/2008/gerarTabela.php>. Acessado em: 28/07/2009
O município de Mesquita nasce com a “marca/mancha” herdada da
desigualdade social. Verifica-se que ainda hoje no município, não cobertura total
das redes de água, iluminação elétrica e coleta de lixo, assim como rede de esgoto e
pavimentação das ruas (Silva, 2007, p. 99). O “município bebê” ainda não conseguiu
romper com os velhos cios e assumir o seu papel conforme as próprias
orientações e diretrizes do MEC para a Educação Infantil. A precariedade dos dados
sócio-econômicos disponíveis é um sinal forte, pois não é possível estabelecer
políticas públicas de qualidade sem que tenhamos indicadores também de
qualidade.
64
3.2 As creches como mudança no cenário da Chatuba
[...] “Quero morar num lugar
onde ninguém mora.
Preciso morar num lugar
Que ninguém me pertuba
Ah! Vou morar na Chatuba”.
(Chatuba, de Dicró)
No biênio 2003/2004, o Programa Nova Baixada inaugura duas creches no
Bairro da Chatuba, repassando ao Município de Mesquita a responsabilidade de
administrá-las, conforme previsto na Lei de Diretrizes e Bases para Educação
Nacional que determinou que o município atuasse prioritariamente no Ensino
Fundamental e na Educação Infantil (art. 211, § 2º). A lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB) estabelece em seu art. 11, inciso V, que os municípios
incumbir-se-ão de “oferecer a Educação Infantil em creches e pré-escolas (...) com
prioridade (...)” (LDB, 1996).
Observa-se que o poder blico municipal garante o aspecto da assistência,
que também é importante, mas não consegue sustentar a manutenção dos recursos
indispensáveis ao desenvolvimento do trabalho com crianças pequenas, como
também não apresenta uma proposta político-pedagógica compatível com as
diretrizes do MEC.
Uma queixa recorrente que estudamos diz respeito à falta de recursos materiais
para a organização do trabalho cotidiano. E em alguns casos foi citado o fato de
que no seu momento de inauguração a creche dispunha desse tipo de material,
disponibilizando pelo PNB e, posteriormente, não fora reposto ou reposto apenas
parcialmente. Essa realidade varia nos diferentes municípios, de acordo com o
compromisso de suas políticas. (AVALIAÇÃO QUALITATIVA, 2006, p.90).
A forma como o Estado, de modo geral, se distancia das diretrizes e
propostas curriculares contidas na LDB, nos Parâmetros Nacionais de Qualidade,
demonstra que ainda está enraizado numa prática assistencialista e sem grandes
investimentos e que considera os serviços oferecidos, não como um direito das
crianças, mas como uma frente de atendimento às populações das periferias.
Lamentavelmente, o Município de Mesquita herda esta mesma lógica de atuação.
De acordo com a conclusão da Avaliação Qualitativa do Desenvolvimento das
Crianças das Creches no Âmbito do PNB,
65
A ausência ou escassez de recursos materiais é apontada por parte das
educadoras como um elemento que dificulta o trabalho cotidiano. poucos
brinquedos, sendo que alguns pouco conservados. O mesmo ocorre com livros de
literatura infantil, levando os educadores a mantê-los guardados para conservá-los,
não facultando o seu acesso e tempo integral às crianças. O acervo disponibilizado
pelo PNB na ocasião da creche, em alguns casos não foi reposto ou o foi de
maneira insuficiente. (AVALIAÇÃO QUALITATIVA, 2006, p.95)
As crianças que freqüentam as creches da Chatuba Creche Margarida da
Silva Duarte e Creche Vereador Nilo Dias Teixeira moram em seu entorno e são
de famílias em que os pais ou responsáveis estão no mercado informal. Um grande
número de famílias é chefiado por mulheres e muitas crianças são criadas por avós.
Outro aspecto observado é a presença de mães muito jovens, inclusive
adolescentes de 14 anos. Essa realidade tem dificultado a permanência das
professoras, que desistem de trabalhar numa região marcada por diferentes formas
de violência e barbárie.
Por uma sociedade fundada no reconhecimento do outro e nas suas diferenças
de cultura, etnia, religião, gênero, classe social, idade superando a desigualdade:
este é o maior objetivo da educação. Mas isso é pouco hoje. Para lutar por esta
sociedade é preciso educar contra a barbárie, o que implica uma ética e exige uma
perspectiva de formação cultural que assegure sua dimensão de experiência crítica.
(Kramer, 2002, p.15).
Levando-se em consideração a história da luta por creches no Brasil e,
particularmente na Baixada Fluminense, não se pode esquecer que o objetivo
fundamental da creche entendido como direito da criança é o compromisso com
o seu desenvolvimento integral, como reflexo para toda e qualquer instituição pública
de Educação Infantil.
A função da creche precisa ser vista como um tema para reflexão da
comunidade como um todo. Entretanto, cabe chamar a atenção de que, na visão dos
pais e familiares, a creche desempenha duas funções essenciais: garantir
alimentação e preparar para a vida escolar. Acreditamos que esse tema deve passar
a fazer parte das reuniões com as famílias, não no sentido de esclarecer a estas se
a creche tem outras funções, mas no sentido mais rico de, conjuntamente, equipe e
familiares, refletirem sobre a importância da creche e das suas funções. (FONTE
???)
A análise sobre a estrutura e funcionamento das creches indica que essas,
cada vez mais, estão sendo assumidas pelo poder público, em especial a
municipalidade em cooperação com o governo do Estado, como um equipamento
66
educacional de direito das crianças. Os esforços por formular documentos
norteadores do trabalho pedagógico, o investimento e a formação continuada, a
ampliação do quadro funcional, especialmente quando via concurso público,
incorporando profissionais habilitados para as funções necessárias para o bom
desenvolvimento das creches, tudo isso é indicador de implementação de políticas
públicas de Educação Infantil que tendem a resultar na promoção de ambientes de
qualidade para o desenvolvimento integral das crianças. Entretanto, observa-se que
tais esforços precisam ser intensificados para que de fato a Educação Infantil seja
uma política de democratização dos direitos de todas as crianças e suas famílias.
Através do relatório de Avaliação Qualitativa do Desenvolvimento das
Crianças das Creches no Âmbito do Projeto Nova Baixada, realizado em 2006,
confirmamos nossas impressões. De modo geral, as famílias reconhecem a
qualidade do trabalho que a creche realiza, assim como é recorrente o sentimento
de agradecimento que as famílias têm por terem conseguido uma vaga para os seus
filhos. Partindo do princípio que a demanda de crianças é maior do que as vagas
ofertadas pelos municípios, a creche acaba sendo vista por um grande número de
famílias, como uma dádiva. Esse sentimento sugere, às vezes, a excessiva
positividade de avaliações feitas pelas famílias sobre as creches. É necessário que
se reflita sobre o quanto esse sentimento de dádiva se sobrepõe a um direito
fundamental da criança pequena por uma educação de qualidade.
Descrevo agora uma cena, que pode falar da Infância em Mesquita, na
Chatuba. Para chegar pela manhã no Município de Mesquita e no Bairro da
Chatuba, eu faço o seguinte trajeto: saio de casa, pego um ônibus integrado, depois
o metrô, desço na gare da Central do Brasil, de onde pego um trem até Japeri.
Tenho sorte em pegar o direto e em 40 minutos estou na Estação de Edson Passos.
Atravesso a estação, pego um transporte alternativo e vou até a Creche Margarida
Duarte. Quando entro, o motorista me pergunta se eu sei o nome da diretora.
Respondo que sim e ele diz que ela é muito querida no bairro e respeitada por
todos. Chegando lá, como sempre sou muito bem recebida pela direção e
trabalhadores. No fim da manhã vou para a Creche Vereador Nilo Dias Teixeira.
Nesse trajeto, eu e uma professora passamos no meio de uma cena cotidiana no
Bairro do Chatuba. Crianças nas ruas, uma carroça puxada por um cavalo, um
menino e uma menina numa única bicicleta, conduzida pela irmã com o menino na
carona. De repente eles caem no chão e nós saímos correndo para socorrer as
67
crianças. Quando chegamos, a professora identifica o menino como ex-aluno da
Creche Margarida e pergunta porque ele não foi pra escola. Ele diz que não foi
porque a mãe dele não o obrigou a ir e porque acha a escola chata. Esse diálogo me
emociona. Olho ao lado e vejo uma banca de frutas na beira da calçada, num
colorido ímpar nesse lugar da Infância na Chatuba.
Esta cena me faz recordar um diálogo de Sonia Iozzelli (2007) que revela os
valores das lutas, encontros e lugares coletivos. Neste relato, a autora coloca que a
partir do acolhimento da criança, das suas histórias e dos seus desejos,
compartilhados com a escola e a família, ela se torna responsabilidade ética e civil
do poder público. A Carta de Serviço de Pistoia Carta dei Servizi Educativi del
Comune di Pistoia soube restituir uma identidade separada ou confinada; carta
que revela igualdade e que assume a partir de 2005 o valor da comunicação. Neste
cruzamento, se encontra a cidade inteira como lugar de vida e de cultura, que está à
serviço das crianças e constitui num recurso para sua própria educação, em que
todos os cidadãos são responsáveis. (Iozzelli, 2007, p.15-17).
Por meio dessas lembranças, percebo territórios vizinhos de inspirações
infantis que me ajudam a aprofundar essa pesquisa sobre o lugar da Infância.
“Todo lugar tem um potencial pedagógico, explícito ou implícito. As paredes falam,
têm ouvidos, guardam segredos, dão arrepios, emocionam, fazem-nos lembrar,
sonhar, pensar”. (TERRITÓRIOS DA INFÂNCIA, 2007, p.101).
3.3 Do brejo brotou margarida – Creche Margarida da Silva Duarte
Eu tinha vontade de fazer como os dois homens que vi sentados na terra
escovando osso. No começo achei que aqueles homens não batiam bem. Porque
ficavam sentados na terra o dia inteiro escovando osso. Depois aprendi que
aqueles homens eram arqueólogos. E que eles faziam o serviço de escovar osso
por amor. E que eles queriam encontrar nos ossos vestígios de antigas civilizações
que estariam enterradas por séculos naquele chão.” [...] (MANOEL DE BARROS)
A história da creche e das crianças precisa ser contada e recontada, toda
hora, todo tempo. É preciso relatar, pesquisar, analisar os processos históricos
registrados, resgatados da memória e construir novas “prosas”. Creche é lugar de
socialização na vida das crianças pequenas.
A Educação Infantil vive atualmente um momento de crescimento na
implantação de creches no Brasil e de expansão por vagas nas creches e em pré-
68
escolas, como também a implementação das diretrizes e propostas pedagógicas
para a Educação Infantil. É momento, pois, de transformar pântano em flores,
chamas de dragões em fogos de artifício, semear alegrias, direitos, esperanças e
saberes sobre as crianças.
O local onde a Creche Margarida da Silva Duarte foi construída, assim como
o posto de saúde, além da quadra e da pracinha, era antes um grande terreno
abandonado com uma lixeira e em seus primórdios, um brejo.
“Apareceu a margarida, olê, olé, olá. Ela está em seu castelo, olê, seus
cavaleiros”. A Creche Margarida da Silva Duarte surge, trazendo beleza e alegria,
como está expresso na cantiga de roda, ocupando o brejo com seus canteiros de
margaridas. A creche funciona num prédio térreo e possui 3 salas de atividades, 2
berçários, 1 cozinha, 1 lactário, 1 refeitório, 2 banheiros infantis (cada um com 5
sanitários), 3 banheiros de adultos, 1 secretaria, 1 sala de reunião, 1 sala da
coordenação, hall de entrada, parquinho e horta.
Foto 1: Entrada da Creche Margarida da Silva Duarte
Inaugurada no dia 27 de junho de 2003, atualmente, atende a 130 crianças,
que estão assim divididas: nos berçários - 38 crianças com idade de 11 meses a 1
ano e 11 meses; uma turma formada por 24 crianças com 2 anos de idade, uma
69
turma com 21 crianças com 3 anos. Todas essas turmas funcionam em horário
integral, das 7:15 às 17:15 horas. Uma turma de 25 crianças com 4 anos, no horário
das 7:15 às 11:30 e outra formada por 22 crianças com 5 anos, das 13:00 às 17:00.
Nas turmas regulares, quando tiver crianças portadoras de necessidades
educacionais especiais, será reduzido em 2 alunos o número máximo de
matriculados. (SEMED/2007).
Assim como o canteiro de margaridas traz uma diversidade de mudas que
brotam cada um ao seu tempo, as meninas e meninos que freqüentam a Creche
Margarida da Silva Duarte têm, ao mesmo tempo, muitas coisas em comum e muitas
diferenças, como podemos ver no perfil que retrata a ocupação da creche. Elas
pulam, correm, choram, sentem fome, chupam o dedo ou chupetas; brincam entre si
ou sozinhas, com os amigos imaginários, bruxas, valentes soldados, sábias fadas.
Mas, são portadoras de suas histórias de vida, de suas características sociais,
étnicas, culturais, racial, entre outras.
Foto 2: Área livre e parquinho da Creche Margarida da Silva Duarte.
A maioria das famílias das crianças que freqüenta a Creche é chefiada por
mulheres. Todas as crianças possuem certidão de nascimento e a renda familiar
70
mensal é de até dois salários mínimos. Grande parte das crianças é criada e cuidada
por suas avós.
A direção da creche é ocupada por cargo de confiança indicado pela
Secretária Municipal de Educação e todas as professoras titulares das turmas são
concursadas, porém os demais cargos se dividem entre os contratos terceirizados
com uma relação de trabalho com direitos e benefícios precários.
3.4 Chapeuzinho Vermelho deu a volta no Lobo Mau Creche Vereador Nilo
Dias Teixeira
Quem não conhece a história da Chapeuzinho Vermelho, uma obra clássica
adaptada por Perrault, das narrativas populares que ouvia de sua avó, de sua mãe,
de uma tia? Quem não conhece a história da menina faceira que se embrenha no
meio da floresta a pedido de sua mãe que, mesmo sabendo dos perigos, a envia
sozinha pelos caminhos sombrios e violentos da Idade dia, apenas com uma
recomendação. A menina segue bem sozinha para visitar a vovó doente, levando
uma cesta de quitutes e encontra com um lobo feroz solto no caminho.
Chapeuzinho, como toda criança, distraída com a natureza ao redor, brinca e se
encanta com a riqueza da flora e da fauna, a ponto de aceitar a bia sedutora do
Lobo.
Perrault finaliza sua versão com uma recomendação às crianças de que
ouçam os adultos e não conversem com estranhos. Mas, na Baixada, os
“Chapeuzinhos Vermelhos” da Creche Vereador Nilo Dias Teixeira deram a volta no
Lobo Mau, e também nos adultos, pois não conversam com estranhos, como
precisam deles como sujeitos transformadores pelo convívio com a Infância.
71
Foto 3: Pinóquio criado por uma professora da Creche Vereador Nilo Dias Teixeira.
Chapeuzinho Vermelho revive todo dia, saindo do ventre do Lobo para
reivindicar mais creches Vereador Nilo Dias Teixeira por toda a Baixada, dando a
volta na inércia de um Poder Público que muitas vezes se esquece de que
Chapeuzinho tem poder.
A Creche Vereador Nilo Dias Teixeira está localizada em uma área de risco,
de muita pobreza, ocupando um terreno utilizado anteriormente para “desova” de
cadáveres, depósito de lixo e, mais antigamente, um campo de futebol. O local
também é conhecido pela população como “Matadouro”, um local de morte,
podridão, transformado pelo apelo da Infância num lugar onde os “Chapeuzinhos”,
“Joãos” e “Marias”, “Pequenos Polegares” podem se desenvolver e crescer,
trazendo-o nas suas reminiscências como um local de alegria, saúde, paz.
A Creche Vereador Nilo Dias Teixeira, inaugurada no biênio de 2003/2004,
atende a 115 crianças de 1 a 5 anos de idade. O funcionamento da Creche se dá em
duas formas: para as crianças de 3 a 5 anos, o atendimento é de meio período. Para
as crianças de 1 a 3 anos o atendimento é de horário integral (manhã e tarde).
As crianças que freqüentam a creche moram em seu entorno e são de
famílias em que os pais ou responsáveis estão no mercado informal. Embora a
creche seguisse os critérios da Secretaria Municipal de Educação (SEMED), a
matrícula também passava pelo crivo e aprovação da direção anterior, tendo
72
mudado a partir de março deste ano. Também foi encontrado um grande número de
famílias chefiadas por mulheres, em que as crianças são criadas por avós. Outro
aspecto é a presença de mães muito jovens.
Por ser considerado o bairro mais violento do Município de Mesquita, essa
realidade também dificulta a permanência das professoras, que desistem de
trabalhar numa região marcada pela violência e barbárie.
Segundo Sônia Kramer,
[...] não corremos o risco de chegar a barbárie porque muito vivemos na
barbárie. [...] Educar contra a barbárie, para mim, significa recuperar a história e as
histórias guardadas e esquecidas, estabelecendo uma outra relação com a
tradição; significa colocar o presente numa situação crítica e compreender que o
passado não precisaria ter sido o que foi, o presente pode ser diferente do que é e
que, portanto, é possível mudar o futuro. (KRAMER, 2000, p.9-10).
Foto 4: Fachada da Creche Vereador Nilo Dias Teixeira.
A Creche Vereador Nilo Dias Teixeira funciona num prédio de dois andares.
No térreo, há um pátio na entrada e outro interno com parquinho (balanços sem uso,
por conta do “perigo”), quatro salas de atividades, um refeitório, uma cozinha com
despensa, um banheiro para meninos e meninas e outro para mulheres
(funcionárias) e homens (funcionários). Nas salas de atividades das crianças
ventilador de teto. No andar de cima fica a sala da direção, secretaria, lactário
73
(cozinha do berçário), sala da coordenação pedagógica e um banheiro de adultos.
Ainda no segundo andar, funciona o berçário, que tem aparelho de ar condicionado.
um solário e duas salas. Também nesse andar há um banheiro para as crianças,
com uma banheira e um trocador de fraldas. O chuveiro da banheira do berçário não
tem água quente.
Quanto ao material de uso e consumo , há lençóis, fraldas, toalhas, sabonetes
e todo material de higiene e limpeza fornecido pela Prefeitura. Na secretaria da
Creche um acervo de livros referentes à Educação e à literatura infantil,
disponibilizado pelo PNB, mas que tem sido pouco utilizado pelas professoras. Em
relação a brinquedos, livros e materiais para atividades com as crianças, existem em
quantidade muito restrita.
As crianças são bem cuidadas quanto à higiene, alimentação e atenção
básica.
A estrutura administrativa dispõe de pessoal para diversas funções: uma
diretora, uma coordenadora pedagógica, um secretário escolar, quatro professoras,
cinco auxiliares, três monitores, uma estimuladora, dois auxiliares de servente e
quatro auxiliares de cozinha. O quadro funcional é composto por funcionários
concursados e contratados via cooperativa, sendo alguns nomeados em cargo de
confiança. Sendo que grande parte do grupo ingressou no ano de 2007, via
concurso público.
A equipe do berçário dispõe de uma professora, duas auxiliares, uma no turno
da manhã e outra no turno da tarde, havendo, ainda, uma estimuladora materno-
infantil contratada. As auxiliares são moradoras da comunidade e, até então, nunca
tinham trabalhado com crianças.
A Creche não possui documentos próprios como: Projeto Político-Pedagógico,
Regimento Escolar, Planejamento ou Estatuto. O trabalho se faz pautado na
Proposta Pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de Mesquita e nas
orientações dadas pela Coordenação de Educação Infantil da Secretaria,
apresentadas em seminários e encontros mensais com as equipes das creches.
Encontramos dentre os critérios de matrícula determinados pela SEMED
alguns tópicos que merecem ser pontuados: necessidade do responsável que
depende da matrícula para trabalhar; crianças em situações de risco ou oriunda de
situações familiares de riscos (portadores de HIV, desnutrição infantil, vítima de
violência doméstica, acometidas por doenças crônicas, uso abusivo de drogas,
74
presidiário ou ex-presidiários, crianças com necessidades especiais) e renda familiar
até 2 salários mínimos.
A estrutura administrativa se apresenta com: sete (7) professoras, nove (9)
auxiliares, três (3) estimuladoras, uma (1) secretária, uma (1) coordenação
pedagógica, uma (1) orientação educacional, um (1) dirigente de turnos, duas (2)
auxiliares de serviços gerais, duas (2) merendeiras, uma (1) auxiliar de cozinha e
três (3) vigias, atendendo a seguinte divisão e carga horária
Estrutura administrativa:
Berçário
1 professora com carga horária de 25 horas semanais
3 auxiliares (30 horas semanais)
3 estimuladoras (40 horas)
Turma de 2 anos
2 professoras – manhã e tarde
(25 horas semanais)
3 auxiliares – uma de manhã e duas a tarde
(40 semanais)
Turma de 3 anos
2 professoras – manhã e tarde
(25 horas semanais)
3 auxiliares – uma de manhã e duas a tarde
(30 semanais)
Turma de 4 anos
1 professora – manhã
(25 horas semanais)
Turma de 5 anos
1 professora – manhã
(25 horas semanais)
1 secretária
(30 horas semanais)
1 coordenadora pedagógica
(25 horas semanais)
1 orientadora educacional
(12 horas semanais)
1 dirigente de turno
(40 horas semanais)
2 auxiliares de serviços gerais
(40 horas semanais)
2 merendeiras
(40 horas semanais)
1 auxiliar de cozinha
(40 horas semanais)
3 vigias
(24 / 48 horas semanais)
Formação do corpo docente dos funcionários da creche:
Ensino fundamental, Ensino médio e Nível superior
Fonte: Secretaria Municipal de Educação – SEMED.
Os critérios de matrícula determinados pela Secretaria Municipal de Mesquita
para as crianças usufruírem o direito às Unidades de Educação Infantil – UEI,
apresentam uma dicotomia na sua utilização, que pode ser evidenciada quando nos
debruçamos nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil – DCNEI e
75
nos critérios para atendimento das crianças de 0 a 6 anos em creches e em pré-
escolas, como consta no Art. 4º da LDB 9394/96 que prevê o dever do Estado
“atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de
idade” .
Embora o número de matrículas em creche e pré-escolas venha
apresentando um crescimento gradativo, por força da demanda, os municípios
continuam seguindo critérios discriminatórios e assistencialistas que inibem um real
crescimento desta demanda.
A invisibilidade das crianças novamente está ressaltada quando ainda
encontramos propostas educacionais que excluem os direitos conquistados, a
responsabilidade e o acolhimento do Estado (neste caso representado pelo
Município de Mesquita) em relação à Educação Infantil e às conquistas desses
cidadãos e cidadãs de pequena idade.
76
4 PRÁTICA DOCENTE E A QUESTÃO ÉTNICO-RACIAL: O CAMINHO DA
PESQUISA
4.1 Pela estrada a fora: o percurso da pesquisa
Falar da Infância ou da Educação Infantil é, consecutivamente, falar de
cotidiano. O “Era Uma Vez”, uma das expressões mais ouvidas nessa fase da vida,
reflete os cotidianos que existem dentro e fora de nossa imaginação.
A constatação óbvia de que o cotidiano sempre existiu é o ponto de partida para a
tentativa de compreender como as “acontecências” cotidianas estão presentes na
produção do conhecimento historicamente acumulado pelo mundo ocidental.
(OLIVEIRA e SGARBI, 2008, p. 13)
Falar das Creches do PNB, por si só, já indicaria a opção pela linha de
pesquisa que busca compreender a realidade, a partir da análise das redes de poder
e de saber presentes no cotidiano.
Até bem pouco tempo, o conhecimento criado no cotidiano não tinha
importância ou deveria ser superado, especialmente porque, para a ciência moderna
seria necessário separar o sujeito do objeto. Outras lógicas e concepções, que
rompem com esta cientificidade e indicam a possibilidade de traçar novos caminhos
metodológicos para a pesquisa, nos ajudam a mergulhar inteiramente no espaço e
tempo do cotidiano investigado, o que vem contribuir para a aproximação com os
valores e saberes daquele contexto, conforme entende Oliveira (2001):
Pesquisando o cotidiano, no cotidiano, aprendemos com os nossos parceiros de
pesquisa, incorporamos às nossas “variáveis” elementos da vida de todos que, se
não servem para a construção de um modelo explicativo das ações pedagógicas
empreendidas por eles, nos ajudam a ingressar na rede de valores, crenças e
conhecimentos que nelas interferem
. (OLIVEIRA, 2001, p.41)
Na busca de compreensão dos “fios do cotidiano” das Creches do PNB, este
estudo utilizou a análise de documentos e a entrevista, como técnicas básicas do
trabalho de campo.
Para a análise dos documentos foram considerados:
- Proposta para formação do Projeto Político-Pedagógico;
77
- Programa Nova Baixada Projeto Creche da SEIG - Secretaria de Estado
de Integração Governamental / 2005;
- Orientações Curriculares Educação Infantil Prefeitura Municipal de
Mesquita/RJ – 2008;
- Proposta Político-Pedagógica - Creches do Programa Nova Baixada Para
Formação dos Docentes – 2005;
- Relatório Final das Oficinas para as Creches Programa Nova Baixada – PNB
– NUSEG/UERJ – 2007;
- Relatório de Atividades Realização de Serviços de Gestão Estratégica,
para mobilização e fortalecimento da estrutura e das relações comunitárias junto aos
beneficiários do Programa Nova Baixada – 2007;
- 2º Relatório de Avaliação de Impacto do Programa Nova Baixada (PNB) na
Melhoria da Qualidade de Vida da População – 2006;
- Avaliação Qualitativa do Desenvolvimento das Crianças das Creches no
âmbito do Projeto Nova Baixada – NUSEG/UERJ - 2006;
- Relatório Técnico Pedagógico - NUSEG/UERJ – 2005;
- Relatórios de Pesquisa do Programa Nova Baixada – Rio de Janeiro –
NUSEG/UERJ – 1996;
- Formação em Ação Oficinas para as Creches Programa Nova Baixada
PNB Proposta de Integração Acadêmica Tema: Diversidade cultural e étnica,
religiosa e sexual: rompendo com preconceitos – NUSEG/UERJ – 2007.
Tendo como propósito favorecer o diálogo e a interação entre a pesquisadora
e os atores sociais, a entrevista ocupou um lugar de destaque.
A entrevista é o procedimento mais usual no trabalho de campo. Através dela, o
pesquisador busca obter informes contidos na fala dos atores sociais. Ela não
significa uma conversa despretensiosa e neutra, uma vez que se insere como meio
de coleta dos fatos relatados pelos atores, enquanto sujeitos-objeto da pesquisa
que vivenciam uma determinada realidade que está sendo focalizada. Suas formas
de realização podem ser de natureza individual e/ou coletiva. (MINAYO, 2003,
p.57).
Sobre as entrevistas, vale ressaltar que foram organizadas de forma semi-
estruturada e realizadas com os técnicos responsáveis pela implantação das
creches do PNB, professoras, diretoras e orientadoras educacionais das creches,
num total de 10 profissionais.
As entrevistas foram realizadas no período de junho a julho de 2009,
individualmente, sendo disponibilizada para essa atividade, em ambas as creches, a
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sala da direção. Foram gravadas em fitas cassetes e tiveram, em média, uma
duração de 20 minutos cada.
Para propiciar um clima de confiança, as entrevistadas foram informadas
quanto aos objetivos, procedimentos e proposta da pesquisa para a conclusão da
dissertação de mestrado sobre a diversidade cultural e étnico-racial do Programa
Nova Baixada de Educação Infantil. Foi apresentado ainda o roteiro (Apêndice A),
sendo que cada entrevistada recebeu uma cópia do questionário e o termo de livre
consentimento (Apêndice B), que foi assinado antes do início de cada entrevista.
O roteiro foi norteado da seguinte forma:
1) Identificação e dados sobre as entrevistadas;
2) Formação docente;
3) Questões étnico-raciais.
Além da garantia de sigilo da identidade, foi explicado que a entrevista
poderia ser interrompida a qualquer momento, caso a participante não quisesse dar
prosseguimento; que a participante não seria obrigada a responder a qualquer
pergunta que considerasse inadequada; que a gravação poderia ser ouvida,
inutilizando-a caso elas assim desejassem e que, ao final, aquela que quisesse,
receberia a transcrição da fita.
A cada questão apresentada, a entrevistada tinha todo o tempo que achasse
necessário para responder o que pensava sobre o tema abordado, além da
permissão de responder na ordem que lhe fosse mais conveniente.
Após concluirmos as gravações, foram iniciadas as transcrições, na íntegra,
das falas das entrevistadas. Em seguida, foram analisadas e, no decorrer deste
estudo, os resultados serão apresentados.
A primeira etapa da análise dos dados foi iniciada, separando as informações
referentes ao perfil das professoras entrevistadas, para melhor entender o olhar de
cada uma delas sobre as questões levantadas. Assim, conheceríamos um pouco
suas concepções e, consequentemente, compreenderíamos melhor como percebem
as questões do preconceito na sua própria formação e na formação docente do
PNB, do racismo no cotidiano das creches e na relação com as crianças de 0 a 6
anos.
A partir da investigação sobre a formação, concepções, experiências e
práticas, observamos as verdades e certezas como propriedade individual.
Percebemos que a formação discursiva atravessava as falas fazendo com que as
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entrevistadas ocupassem um lugar de mediadoras e não de construtoras histórico-
sociais.
O Programa Nova Baixada e os projetos de atendimento às crianças
pequenas, propostos por ele, tinham o seu caráter clientelista e assistencialista e,
como finalidade, a implantação de UEI’s a serem assumidas pelo sistema municipal
de educação, assim como a criação e a implantação de projetos político-
pedagógicos de forma gradativa, tendo como clientela, as famílias economicamente
menos favorecidas. Ao desenvolver a pesquisa, pudemos constatar como as
professoras esperam que o Poder Político Municipal e Federal se responsabilizem,
de fato, pela Educação Infantil.
Como cita Vasconcellos (2008) em sua pesquisa no município de Niterói, a
origem das unidades públicas de educação infantil é resultado da apropriação pelo
poder público das iniciativas de organização da população e que, após a criação da
FME Fundação Municipal de Educação em 1992, passou a existir uma política de
incorporação das creches à rede pública de ensino. (p. 15-16).
Os problemas levantados pela pesquisa envolveram vários níveis: as fontes
básicas e objetivas; as referências teóricas e críticas; as formulações de políticas
públicas, administrativas e burocráticas; o cotidiano das creches em termos de
currículos, qualificação, hierarquias e organização do trabalho. Tomamos o
necessário cuidado, é certo, mediando os níveis e evitando as passagens diretas,
bruscas, da percepção geral dos problemas para o nível específico e pontual que
forma o cotidiano. E vice-versa, sem passagem direta, e também brusca, dos dados
específicos e pontuais para generalidades que tendem a ser vazias e pouco
elaboradas.
A pesquisa foi realizada em duas creches do PNB: CEMEI Margarida da Silva
Duarte e CEMEI Vereador Nilo Dias Teixeira, localizadas, como explicitado, no
bairro da Chatuba – Município de Mesquita.
Embora situadas no mesmo bairro, as creches apresentam realidades
diferentes, desde a estrutura arquitetônica, a área livre, a disposição dos ambientes
e a quantidade de salas, até a sua concepção e prática pedagógica, em que estão
as diferenças mais pontuais que se constituíram, ao mesmo tempo, como desafio e
riqueza para nossas análises e reflexões.
As diferenças existem, porém. Atualmente as gestoras das creches trocam
suas experiências. A Creche Margarida da Silva Duarte tem na sua direção, desde
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sua fundação, uma professora de formação Normal e com Habilitação na graduação
de Pedagogia. A Creche Vereador Nilo Dias Teixeira conta com a gestão de uma
professora com a mesma habilitação, porém apenas pouco mais de 6 meses.
Contava anteriormente com um gestor, do gênero masculino, com formação em
Educação Física e morador da Chatuba, onde os critérios e as propostas de gestão
se diferenciavam da SEMED, na forma de seleção das crianças, na relação com as
famílias da comunidade e com os trabalhadores da Creche.
É importante ressaltar que, os critérios da SEMED e aqueles próprios dessa
gestão, se diferenciam da Lei de Diretrizes e Bases e dos critérios de atendimento
em creches. Ambos são assistencialistas e não garantem os direitos das crianças,
sendo dirigidos de forma clientelista. Não se pode dissociar em um espaço de
Educação Infantil, o direito de educar e cuidar de todas as crianças.
A gestão democrática é uma prática pouco privilegiada nas instituições para a
Infância Pequena. A especificidade pedagógica geralmente não é prioridade, nem
redimensionada para um funcionamento adequado das creches. É preciso observar
os critérios e os parâmetros de funcionamento definidos por Lei nas instituições
escolares.
A função de gestor das IEI’s, desempenhada por “profissionais que exercem os
cargos de direção, administração, coordenação pedagógica ou coordenação-geral”
(BRASIL, 2006b, p.36), deve se constituir como “liderança responsável e de
qualidade”, visando garantir os direitos básicos de crianças e suas famílias à
educação e cuidados, num ambiente de gestão democrática (Resolução CNE/CBE
n.º 1/1999, artigo 3º, Diretriz). Quanto à formação desse profissional, é exigido
ter “no mínimo o diploma de nível médio modalidade Normal e, preferencialmente,
de nível superior (pedagogia)” (BRASIL, 2006b, p.36; apud AQUINO, 2008, p.15-
16).
A constituição da força de trabalho dos espaços de Educação Infantil herda
marcas históricas em sua composição e trazem alguns traços da menos-valia do
trabalho feminino, o que pode ser considerado uma ambigüidade, não só pela
atividade que exercem, mas pela responsabilidade em realizá-la.
A constatação de que esta profissão tem sido marcada por uma naturalização do
feminino quando é enfatizado o predomínio de mulheres como profissionais destas
instituições significa a compreensão e que a categoria gênero é uma dimensão
decisiva da organização da igualdade e da desigualdade em nossa sociedade,
que “as estruturas hierárquicas repousam sobre percepções generalizadas da
relação pretensamente natural entre masculino e feminino. (CERISARA, 2002, p.
6).
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Dos dez profissionais entrevistados, oito são professoras selecionadas
através de concurso público realizado pela Secretaria de Educação de Mesquita,
assim como as coordenadoras pedagógicas. As diretoras ocupam cargo de
confiança, mas também pertencem ao quadro público.
Quanto à formação profissional possuem, no mínimo, formação de Magistério
Nível Médio, enquanto quatro estão cursando Pedagogia. Uma das diretoras é
Pedagoga e a outra tem Curso Normal - nível médio. As coordenadoras pedagógicas
são formadas em Pedagogia, como também a Orientadora Educacional. As
coordenadoras do PNB da Educação Infantil possuem formação em Pedagogia,
sendo que uma delas concluiu o curso em dezembro de 2008, mas já tinha formação
superior em Educação Física. Todas são especialistas em Educação Infantil pela
PUC – RIO.
Aproximadamente 100% do quadro de professores que trabalha nas Creches
Municipais de Mesquita é do sexo feminino, o que confirma pesquisas e estudos
sobre a feminilização do magistério e que evidencia a presença da força de trabalho
feminina na Educação e, em especial, na Educação Infantil.
Embora a profissionalização do trabalho com crianças tenha atingido
diferentes classes sociais, idades, espaços políticos, etnias e concepções de vida
pessoal e profissional, ainda encontramos uma forte influência entre a figura materna
e a função docente.
Não assumir que o educar e cuidar seja uma necessidade exclusiva da criança
pequena ou uma necessidade exclusiva da criança pequena de baixa renda, e que
toda atividade de cuidado da criança deveria ficar sob responsabilidade da família
ou daqueles profissionais que trabalham em funções subalternas, ou que sejam
atividades menos dignas. É importantíssimo reconceituar o cuidado. É
importantíssimo reconceituar o significado das necessidades de cuidado de uma
criança que, durante um período de sua vida, de seu dia, está sob nossa
responsabilidade. É fundamental não se fazer mais esse corte esquizofrênico, entre
a cabeça e o corpo. Nós adultos não fazemos isso para nós, e procuramos integrar,
em nosso cotidiano, o cuidado para outras atividades (ROSEMBERG, 1996, p.6).
Grande parte desse grupo é adulta
11
, com idade entre 22 e 50 anos, o que
indica a possibilidade de experiência no mundo do trabalho.
11
Conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente/1990 “considera-se criança, para os efeitos desta
Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade”
(Art. 2º). (...) “nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e
vinte e um anos de idade” (Parágrafo único).
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Observamos um dado importante quanto ao local de moradia das professoras
entrevistadas, especialmente as concursadas: há uma significativa diversidade de
locais, sendo que nenhuma mora no bairro da Chatuba e apenas duas moram em
Nilópolis, nos bairros Santa Theresinha e Centro. As demais residem nos municípios
de Niterói (Barreto); Nova Iguaçu (Centro e Palhada); Queimados (Paraíso); São
João do Meriti (Centro); Rio de Janeiro (Realengo, Vila Isabel, Tijuca, Ipanema e
Campo Grande).
Esta pesquisa constitui-se num estudo que permitirá melhor conhecer a
prática docente das professoras sob a Diversidade Cultural e Étnico-Racial do
Programa “Nova Baixada” de Educação Infantil. Neste sentido, a partir da primeira
etapa, a análise documental e da escolha do município e das creches, foi construída
a base para desenvolver a pesquisa e o encaminhamento metodológico buscando
analisar qualitativamente as concepções e a formação do corpo docente quanto ao
racismo e o preconceito no cotidiano da prática na Educação Infantil.
Segundo Gomes (2008), é necessário conhecer a realidade dos espaços
onde esses programas e realidades se concretizam, para pensar e analisar, de
forma contextualizada, tal pesquisa. necessidade de defender e garantir o direito
das crianças à uma educação de qualidade, refletindo sobre as práticas e as
propostas pedagógicas desenvolvidas, quando possível, com a intenção de melhorar
a qualidade do atendimento prestado às creches que integraram o Programa Nova
Baixada de Educação Infantil.
4.2 Formação docente e a questão étnico-racial
Ao tratar da questão das diversidades racial e cultural junto às creches do
PNB, torna-se relevante considerar a formação docente, como afirma Fúlvia
Rosemberg (1996):
[...] cuidar e educar crianças pequenas em instituições coletivas é uma habilidade
profissional que necessita ser aprendida e de condições de trabalho adequadas
para se expressar. O modelo de que a educadora infantil é uma substituta materna
acaba, de certa forma, justificando o poder público a não investir nessa área,
historicamente, porque o poder público e o restante da sociedade investem em
educação, tanto mais quanto mais velho for o cidadão (ROSEMBERG, 1996, p. 4).
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A formação docente deveria ser o primeiro critério para a seleção das
professoras que trabalham na Educação Infantil. Os cursos de formação em nível
médio, modalidade normal, e pedagogia de nível superior não se constituem de uma
matriz curricular, mas, como coloca Gomes e Silva (2002), deveriam propor “o
desafio de construir e implementar propostas voltadas para uma pedagogia da
diversidade e assim construir uma proposta mais coletiva” que contemple a Infância
pequena.
A qualidade da formação e a ausência de condições adequadas do
exercício do trabalho dos professores são históricas em nosso país, trazendo em
evidência as amarras sociais e culturais encontradas no cotidiano da prática
docente. Um professor ou uma professora, no seu curso de formação, estuda e é
apresentado a uma criança e quando eles chegam para trabalhar nas unidades
escolares públicas e comunitárias, encontram outra. Deparam-se com histórias,
fatos, locais, situações, solicitações que a sua formação não dá conta. Sua formação
profissional permanece periférica. No caso da Educação Infantil, as políticas de
formação no Brasil, desde a cada de 90, vêm sendo representadas por
movimentos para a melhoria na qualidade, resultando numa definição de identidade
dos serviços destinados às crianças de 0 a 6 anos.
Um ponto específico nesse processo de elaboração de identidade está associado a
se definir o perfil do profissional que atua diretamente com crianças até então,
denominado de diversas maneiras, com diferentes responsabilidades de graus de
escolaridade (AQUINO, 2008, p. 168).
Não podemos deixar de citar o Movimento do Interfórum de Educação Infantil
do Brasil (MIEIB) que é composto por 22 estados da Federação, estabelecendo
assim, os fóruns estaduais permanentes.
Para compreender o conjunto de saberes dos professores da educação infantil, é
preciso considerar as marcas produzidas historicamente em sua trajetória
profissional, marcadas pela diversidade de funções do atendimento às crianças
pequenas, que refletem e influenciam o cotidiano da educação infantil (AQUINO,
2008, p. 169).
Por um lado, temos um quadro de professoras com formação inicial mínima
em Ensino Médio, modalidade normal, mas pouco qualificadas para trabalhar com a
Educação Infantil, o que confirma a ausência de qualidade nos cursos de formação
oferecidos pelas escolas e/ou faculdades mantidas pelo Estado. Além disso, a
maioria das professoras teve sua formação em municípios diversos do local onde
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atuam, com realidades, experiências e visões diferentes daquelas em que se
encontram hoje.
Tabela 4: Indicadores Demográficos e Educacionais do Ministério da Educação
(MEC) Funções Docentes por Zona e Formação/2007 - Município de Mesquita -
RJ.
Fonte: Portal MEC. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/ide/2008/gerarTabela.php>. Acessado em: 28/07/2009
A formação inicial nos cursos de magistério, modalidade Normal médio e
superior, até os anos 90, não contemplava a criança de 0 a 3 anos, o que confirma a
invisibilidade, mesmo no mundo contemporâneo. Como vimos, somente a partir da
promulgação da Constituição Federal de 1988 e, posteriormente, a aprovação do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é que se estabeleceu a Educação
Infantil como etapa inicial da Educação Básica.
[...] Eu não tenho uma formação específica voltada para a Educação Infantil. Na
verdade, tudo o que eu tenho de mais forte na minha formação, em relação à
Educação infantil veio com a prática e com a busca de informação, com o estudo...
de uma forma autônoma. [...] (Depoimento de uma professora da CEMEI Vereador
Nilo Dias Teixeira, 2009).
85
Em relação aos cursos específicos sobre Educação Infantil, podemos concluir
das respostas das professoras entrevistadas, que na Formação de Magistério, assim
como no Curso de Pedagogia, nas escolas normais e nas universidades, as crianças
pequenas o lhes foram apresentadas. A maioria o demonstra receio em afirmar
que conheceu a pré-escola a partir das suas experiências, das suas práticas e dos
cursos adicionais em pré-escola com caminhos para a alfabetização e a
escolarização, o que vem de encontro aos debates acadêmicos, à especificidade da
docência na Educação Infantil, marcada por várias reformas e que traz uma delicada
visão da importância atribuída à formação docente, conforme vemos retratada no
Parecer nº 04/2000 da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de
Educação – CBE/CNE (BRASIL, 2000).
Diante disso, podemos reafirmar a urgência em se pensar na formação
continuada em serviço, como coloca Vera Candau (1997):
Estudos de especial interesse vêm sendo desenvolvidos por vários autores na
perspectiva do reconhecimento da importância de se trabalhar no âmbito educativo,
questões relativas à diversidade cultural, étnica, às questões de gênero. Esta
temática hoje é praticamente ignorada na formação continuada de professores
(CANDAU, 1997, p.67).
A compreensão de que trabalhar com Educação Infantil é uma tarefa que não
exige formação, está ligada a uma visão que não reconhece nesse “cuidado” a sua
dimensão educativa, desafiadora, voltada para o desenvolvimento da criança. A
presença de professores nas turmas de crianças maiores denuncia o quanto ainda a
Educação Infantil organiza seu trabalho como sendo uma fase preparatória para a
escola regular. É como se as crianças maiores precisassem de um trabalho
pedagógico, que, na Educação Infantil, ainda é visto como se fosse unicamente a
preparação ou “prontidão” para a escola.
necessidade de se estabelecer um currículo, em que conversar com a
criança que ainda não fala, dar banho, trocar fraldas, colocar no colo, organizar um
ambiente que garanta o movimento para aquelas que ainda não andam e deixá-las o
menor tempo possível no berço, sejam atividades pedagógicas que envolvam
interação, preparação, trabalho corporal, afeto, amizade e respeito pelas diferenças
e as diversidades.
Percebemos ainda nas respostas das professoras entrevistadas, que, embora
com formação, muitas têm uma experiência inicial de trabalho em escolas com
86
turmas regulares. O fato de hoje trabalharem em creches não possibilitou muita
discussão sobre a especificidade do trabalho com a Educação Infantil como um todo,
do berçário às turmas de 6 anos.
Um segundo aspecto a destacar é que, no caso das estimuladoras ou
auxiliares, esse vínculo é bastante diferenciado, pois uma significativa presença
de profissionais contratados. Essa ausência de vínculo, marcada por uma
permanência instável na instituição, impossibilita a construção de uma equipe com
vistas à perspectiva de uma formação em serviço.
Percebemos que as professoras reconhecem a necessidade da formação
continuada, voltada para a Educação Infantil e que seja entendida como necessária
para a atuação em todas as turmas, mas em particular, com as crianças de 0 a 3
anos.
Apontamos a necessidade percebida nas conversas de que sejam previstas
políticas de formação específica em Educação Infantil, mesmo na formação inicial,
para que esta possa ser uma área de estudos mais aprofundada.
[...] “A consolidação de propostas educacionais baseadas em princípios e
respeito aos direitos das crianças como sujeitos de cultura exige que os
professores sejam vistos do mesmo modo” [...] (AQUINO, 2008, p.170).
Percebemos ainda, através das entrevistas, que após a conclusão do
Relatório de Avaliação Qualitativa do Desenvolvimento das Crianças das Creches
(NUSEG/UERJ - 2006), o Programa Nova Baixada contribuiu diretamente para a
formação das professoras e das gestoras.
Eu acho que o Programa foi muito bom, pena que foi uma vez. (...)
trouxe questões muito novas e atuais, uma forma de olhar diferente. (...)
promoveu muitas reflexões, tanto assim que tem um certo tempo que
aconteceu e até hoje as pessoas se lembram do grupo que veio. Houve
uma troca muito enriquecedora e faz falta... então, fica a sugestão que
volte, se possível (Depoimento de uma professora da CEMEI Margarida da
Silva Duarte, 2009).
Apesar da contribuição do PNB na formação das professoras das Creches do
Município de Mesquita, cabe citar o comprometimento e o papel fundamental
desenvolvido pelas coordenadoras da Educação Infantil do Programa, pela sua
formação, atuação prática e militância nos fóruns políticos e pelos esforços pessoais
em buscar inserção em todos os projetos, seminários, congressos e movimentos
87
propostos para discussão do tema. O engajamento político das coordenadoras do
programa foi fundamental para garantir a continuidade da proposta inicial.
As professoras entrevistadas identificam no PNB as seguintes concepções de
Educação Infantil:
- A possibilidade de interação entre gestores e a abertura de discussões
sobre temas e questões comuns não ao Município de Mesquita, como
também de outros;
- Trouxe discussões sobre o tema que muito não tinha. Permitiu que a
concepção de Educação Infantil progredisse e não fosse uma parte isolada.
É o momento mais importante, essa fase da Educação Infantil, é [...] onde a gente
tem que trabalhar muito, apresentar possibilidades... [...] as crianças estão ali,
captando tudo, descobrindo, construindo... e, se tiver um ambiente favorecedor, se
tiver profissionais capacitados, preparados, se tiver todos esses subsídios pra que
isso aconteça... (Entrevista com professora da CEMEI Margarida da Silva Duarte,
2009).
A partir de como as professoras entrevistadas entendem a Educação Infantil e
seu papel, recortamos alguns fragmentos:
“A Educação Infantil é o primeiro passo para começar tudo, e mesmo assim
ainda é desvalorizada e, quando bem trabalhada, muitos frutos são alcançados. É
um espaço de construção do conhecimento, um espaço de descoberta, [...] onde a
criança está construindo mesmo, está crescendo, está se desenvolvendo e está se
percebendo como sujeito [...]”; “é ela que prepara pra tudo...”; “se houvesse uma
continuidade, um comprometimento [...] as coisas fluiriam melhor.”
Continuam em suas afirmações, colocando que a Educação Infantil [...] “é
uma oportunidade que o aluno tem de se desenvolver de forma plena, não na
questão do desenvolvimento físico, mental, mas também a questão cognitiva, o
aprendizado... tudo que a Educação Infantil proporciona ao aluno facilita o
desenvolvimento dele [...]”.
Para as coordenadoras do Programa, a Educação Infantil é um direito das
crianças, uma opção da família e um dever do Estado, “mas continuam invisíveis do
ponto de vista do potencial financeiro para acontecer, [...] ainda não acontecem
porque os recursos não são socializados totalmente”.
O meu entendimento de Educação Infantil mudou muito depois que eu
estive dentro da Educação Infantil, em especial, no lugar que eu vim
trabalhar... (Depoimento de uma professora da CEMEI Vereador Nilo Dias
Teixeira, 2009).
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Afinal, as professoras se sentem preparadas para trabalhar na Educação
Infantil?
“De maneira nenhuma, eu acho que isso vai acontecendo no dia a dia, o tempo
todo, a gente nunca está preparada. Eu acho que hoje eu penso assim... Agora, eu
acho que eu aprendi um pouquinho... Aí, eu vejo que tenho muito mais a aprender e
tenho muita coisa ainda pra descobrir, pra crescer e pra desenvolver mesmo...
Acho que está caminhando, mas estar preparada, eu acho que nunca vai estar.”
(Depoimento de uma professora da CEMEI Margarida da Silva Duarte, 2009).
“Me sinto, claro que me sinto, porque tudo você tem que “correr atrás”, você não
nasce sabendo. A própria experiência e necessidade faz com que você aprenda...
Eu acho que eu daria conta do recado sim, com certeza.” (Depoimento de uma
professora da CEMEI Vereador Nilo Dias Teixeira, 2009).
“[...] é uma pergunta um pouco polêmica pra mim, porque se eu falar que eu estou
preparada, eu acho que me podo, não busco mais conhecimento. Quando eu
respondo que não estou, é nesse sentido, de estar sempre buscando, porque eu
acho que a educação se faz tentando, ousando, buscando alternativas diferentes...
Mas eu acho que eu tenho experiência e quero adquirir mais, no entanto eu ainda
sinto muito a falta de uma formação, ainda que se tivesse que chegar lá no
doutorado, pós-doutorado, eu não quero ter essa concepção de estar preparada,
estar pronta.” (Depoimento de uma professora da CEMEI Margarida da Silva
Duarte, 2009).
“Não... E eu acho assim, que preparada a gente nunca está, a gente vai se
preparando todo dia, todo dia... sempre.” (Depoimento de uma professora da
CEMEI Vereador Nilo Dias Teixeira, 2009).
“Me sinto. Eu gosto muito de trabalhar com as crianças menores, exatamente por
isso eu escolhi fazer o Normal Superior com ênfase na Educação Infantil. Com o
passar do tempo, você vai aprendendo a lidar melhor com essas crianças, o
jeitinho, as especialidades de cada um... Eu gosto muito.” (Depoimento de uma
professora da CEMEI Vereador Nilo Dias Teixeira, 2009).
“Preparada eu não me sinto, não posso dizer preparada... Eu acho que busco muito
estudar, entender, estar sempre em contato, lendo, refletindo sobre o que eu fiz
hoje... se foi bacana... Se eu acho que essa atividade hoje não foi legal, então vou
tentar fazer de uma outra maneira... Mas eu não me vejo preparada. Eu acho que
isso é muito bom, porque acho que talvez... “Ah, estou preparada”, não tivesse mais
o intuito de buscar e de tentar entender, acho que talvez estagnasse. Eu não me
sinto preparada, sinto que estou caminhando e que estou construindo coisas com
as crianças, mas preparada eu não sei se seria.” (Depoimento de uma professora
da CEMEI Vereador Nilo Dias Teixeira, 2009).
Em suas falas, as professoras revelam se reconhecerem como sujeitos deste
lugar, se espelhando como construtores histórico-sociais, recolhendo de suas
próprias experiências vividas, que é preciso enfrentar desafios, estar em constante
movimento diante do que o seu cotidiano lhes impõe. É necessário reconhecer no
encontro com o outro e nas diversas formas de ver o mundo, na busca de propostas
pedagógicas da contemporaneidade, alguns aspectos que julgam ser importantes
para elaboração e o exercício de suas atividades como professoras da Infância
pequena.
89
Podemos ler nas entrelinhas a proposta de um caminho a ser percorrido, de
buscas de conhecimento, em que elas possam desenvolver, construir e adquirir cada
vez mais conhecimentos.
Estes são pontos que podem contribuir para a reflexão dos profissionais de
educação infantil sobre a sua prática, sobre o seu cotidiano, sobre a sua
experiência. Com certeza não se esgotam, pois trabalhar com o universo das
crianças é, como diz o poeta Manoel de Barros, carregar água na peneira, o que de
forma alguma é tarefa inglória e desprezível, mas o contrário, ou seja, uma
atividade que permite encher os vazios com peraltagens (NUNES, 2006, p.24).
Diante da última pergunta feita durante as entrevistas, novamente me deparo
com a ausência da discussão sobre a questão étnico-racial e preconceito na própria
formação de professores.
Segundo os depoimentos das professoras entrevistadas o reconhecimento
da importância do tema, mas, ao mesmo tempo, consideram-no um tema polêmico e
difícil de ser trabalhado, discutido. Na maioria das respostas vemos uma certa
hesitação em colocar seus pontos de vista. Algumas afirmam claramente que,
apesar de ser um tema atual e estar em evidência, também é algo que não agrada
ou que, se possível, é evitado nas discussões.
“Eu acho que isso é um tema que ainda é muito velado. [...]” (Depoimento de uma
professora da CEMEI Margarida da Silva Duarte, 2009).
“É um assunto que se fala, que se discute, porque ele é pertinente, é necessário.
Mas é um assunto um tanto quanto polêmico, porque a gente tem que lidar com
vários preconceitos, até do próprio profissional. E até do profissional achar que o
aluno não está preparado pra entender essa questão do preconceito racial, por ser
muito pequeno...” (Depoimento de uma professora da CEMEI Margarida da Silva
Duarte, 2009)
“Que eu me lembre, só mesmo no “Nova Baixada
12
”. [...] Teve uma troca de
saberes que nós tivemos na Prefeitura, mas que nós apresentamos o trabalho que
nós nhamos desenvolvido.” [...] (Depoimento de uma professora da CEMEI
Vereador Nilo Dias Teixeira, 2009).
“Em alguns momentos a gente chegava a falar sobre esses assuntos, a questão
racial e até mesmo a questão das periferias, que isso está muito incutido nas
periferias...” (Depoimento de uma professora da CEMEI Margarida da Silva Duarte,
2009)
“As crianças vêem as diferenças, mas as crianças o têm preconceito, mas os
pais acabam colocando esse preconceito neles. São preconceitos que a própria
sociedade coloca nas crianças”. (Depoimento de uma professora da CEMEI
Margarida da Silva Duarte, 2009).
12
Formação em Ação - Oficina para as Creches – promovida pelo NEI:P&E – UERJ com o tema: Diversidade
Cultural e Étnica, Religiosa e sexual: rompendo com preconceitos, em junho de 2007.
90
A fala das professoras nos confirma que a escola é um espaço de
conhecimento, de transformação, de experimentação, de exclusão e de apartação.
Nesta questão, as professoras trazem a opressão que as acompanha e acorrenta
suas idéias e pensamentos herdados da escravidão. O negro e o preconceito racial
são freqüentes no espaço da escola e na história do Brasil.
A diversidade racial revela a riqueza de um povo de luta, de resistência e as
conquistas dos povos negros. Na formação docente e no cotidiano da escola,
embora a Lei 10.639 garanta os estudos da África e da Cultura Afro-brasileira,
estes apenas são apresentados às crianças em datas comemorativas oficiais,
fugindo do caminho legal. O emblema eurocêntrico embranquecido é tão forte, que
mesmo com a Lei, a escola em seus projetos pedagógicos e práticas cotidianas não
a utiliza como palco de desconstrução desse espaço segregatório.
A produção acadêmica sobre o racismo e o preconceito na Educação Infantil
ainda é precária. Pensar na formação docente para infância com um currículo de
valorização cultural que contemple as nossas origens africanas pautado na diáspora,
é um caminho de luta contra o racismo. Buscar estudos e ações que considerem o
ensino e a pesquisa da história do povo africano, a marca de um povo arrancado, de
maneira trágica, de seu continente, lugar de uma rica cultura construída por povos
de 53 países, é imprescindível para a construção de um currículo pautado na
valorização da diversidade racial.
A África é um dos maiores continentes do planeta, perdendo apenas para a
Ásia e a América e, ganhando disparado, do continente europeu. Mas, a marca da
dominação herdada e produzida durante esse trágico e cruel episódio, pode ser
desconstruída através de propostas, vontade e comprometimento políticos do poder
do Estado.
4.3 A relação preconceito racial e cotidiano das creches
Um dos grandes desafios que se coloca, ligado diretamente à formação dos
educadores infantis, é a superação de dificuldades de conviver com as questões
raciais entre as crianças e entre eles mesmos, a fim de que se construa uma prática
pedagógica voltada para o respeito mútuo, conscientizando-se de que é fundamental
91
lidar com as diferenças, partindo do princípio de que elas são riquezas e precisam
ser respeitadas, ou seja, revelar um pouco as emoções, as razões individuais e os
preconceitos herdados da nossa história e da nossa cultura. Sem desconsiderar a
nossa história de vida, que nos leva a enxergar melhor os impedimentos à mudança,
precisamos abandonar os sentimentos e emoções que impossibilitam o
enfrentamento dessas questões.
Dialogar com os professores de Educação Infantil sobre as questões raciais,
de preconceito e discriminação, permanentemente fez, e ainda faz parte das minhas
experiências pessoal e profissional, por acreditar que a troca, a partilha de
conversas é um caminho possível para reconstruir idéias, valores e representações
que se tem a respeito do negro, na certeza de que essas conversas favorecem as
minhas próprias reflexões.
Voltando às histórias da minha Infância, vejo que os adultos daquela época,
assim como os de hoje, não percebiam que muitas brincadeiras tinham um caráter
segregatório, faltando-lhes entendimento para reconhecer os indicativos de
preconceito para combatê-los durante o processo educativo das crianças. A emoção
e o interesse por esse tema, com certeza, justificam-se por tantos episódios da
minha Infância e da minha vida.
Percebendo o significado da Infância e do direito à educação da criança,
enquanto educadora, pesquisadora e formadora de educadores em instituições
públicas, busco contribuir para a formação política de profissionais da Educação
Infantil, assim como para a construção de uma auto-conceituação afirmativa.
Mas, como, afinal atuar contra o racismo no cotidiano da Educação Infantil?
Antes de tudo, discutindo com os professores sobre o que é o racismo e sobre os
seus próprios preconceitos, como se reporta Kramer (1995):
[...] precisamos sempre rememorar a história a de cada um de nós e de todos
conhecer a história, estudar a história, desatando a linguagem acorrentada por tão
diversas mordaças, ameaças, correntes, grilhões. Destaco, ainda, que os
profissionais da educação precisam discutir o racismo e os seus próprios
preconceitos, temas que, com freqüência, não têm sido reconhecidos como
legitimamente pedagógicos. Encontro racismo e preconceito nas coisas da escola?
Sim, e muito; e como poderia ser de outro modo? Estamos falando de uma
instituição que: busca homogeneidade (remanejamentos, etc.); tem um perfil do
bom aluno, do bom professor; acredito que existe o melhor todo, uma única
melhor maneira de ensinar isto ou aquilo; que tem especial apego a escolas de
desenvolvimento, a padrões de aprendizagem...; que padroniza, que tem nas
grades (curriculares) a base de seu trabalho: que separa, que se grega, desagrega,
valoriza a delação, a desunião, a premiação e o castigo (KRAMER, 1995, p. 69).
92
Consultando o Dicionário Escolar Afro-Brasileiro, encontramos:
Preconceito
: Atitude desfavorável para com um grupo ou indivíduos que nele se inserem,
baseada não em seus atributos reais, mas em idéias preconcebidas. O preconceito racial
é uma das molas propulsoras do racismo. (LOPES, 2006, p. 135).
Racismo
: Doutrina formalizada na França, em meados do século XIX, para afirmar a
superioridade de determinados grupos étnicos, nacionais, lingüísticos, religiosos, etc
sobre outros. Por extensão, o termo passou a designar as idéias e práticas
discriminatórias advindas dessa afirmada superioridade. (LOPES, 2006, p. 141).
Acreditamos que os conceitos deste e de outros dicionários consultados ainda
não dão conta de definir as palavras preconceito e racismo, pois levam a uma
confirmação de sua existência, não esclarecendo a segregação, a opressão que se
passa no cotidiano. Na verdade, estas explicações terminam por legitimar uma
prática discriminatória, que aparta e exclui, dificultando a busca de soluções contra o
racismo.
Por outro lado, o uso generalizado do conceito de racismo pode esvaziar a
importância das questões raciais, impedindo dessa forma o processo de
entendimento da necessidade de uma persistência da discriminação sobre este
tema, dentro de um novo enfoque.
[...] O reforço e a naturalização do racismo se dão, entre outras coisas, pelo
silêncio, falas e atitudes muitas vezes sutis e inconscientes, que mantêm e
fortalecem os estereótipos negativos associados à população negra (Silva,
2008, p.119).
Os estudos que tratam das questões raciais no Brasil estão divididos, de
acordo com Nogueira (1979) em três correntes: afro-brasileira, a dos estudos
históricos e a sociológica, cada qual trazendo, de acordo com suas especificidades,
suas concepções e definições de racismo e preconceito.
Este mesmo autor traz uma contribuição para a compreensão do preconceito,
caracterizando-o como racial de marca e de origem.
Considera-se como preconceito racial uma disposição (ou atitude) desfavorável,
culturalmente condicionada, em relação os membros de uma população, aos quais
se tem como estigmatizados, seja devido à aparência, seja devido toda ou parte da
ascendência étnica que se lhes atribui ou reconhece. Quando o preconceito de raça
se exerce em relação à aparência, isto é, quando toma por pretexto para as suas
93
manifestações os traços físicos do indivíduo, a fisionomia, os gestos, o sotaque,
diz-se que é de marca; quando basta a suposição de que o indivíduo descende de
certo grupo étnico, para que sofra as conseqüências do preconceito, diz-se que é
de origem (NOGUEIRA, 1979, p.78-79).
Dentre as diferenças dos preconceitos raciais de marca e de origem,
gostaríamos de destacar a questão da carga afetiva, em que, segundo o autor, o
preconceito de marca tende a ser mais intelectivo e estético, enquanto o de origem
tende a ser mais emocional e integral.
Acreditamos que o racismo, o preconceito racial e os estereótipos negativos
experimentados pela criança negra, influenciam o seu desenvolvimento global e, em
particular, a sua auto-imagem e auto-estima. Neste sentido, procuramos destacar
como as questões raciais e os preconceitos são percebidos e interpretados no
cotidiano das creches.
As respostas demonstram contradições quanto à própria existência de
preconceito nas creches. Para algumas professoras, o preconceito é percebido
apenas entre as crianças acima de 3 anos, ou seja, “entre as crianças de 0 a 3 anos“
a questão não é tão acentuada”. Para outras “existe menos preconceito nas creches
do que em outras unidades, talvez pela faixa etária”. E foi até mesmo citado que não
preconceito na creche: “Então as questões raciais aqui, eu não vejo preconceito.
Não vejo, de coração... Eu vejo que todo mundo aqui é muito bem amado, seja ele
branco, seja ele negro”.
Uma das professoras afirma que diferenças muito grandes sobre a
concepção do que seja racismo e preconceito entre as crianças e entre elas
mesmas, pois cada pessoa tem um pensamento, uma forma de olhar, uma vivência
diferente. A maioria, em sua opinião, até lida bem com essa questão, mas em muitas
falas, ela percebe um preconceito embutido: “os brancos são melhores, os brancos
moram em lugares melhores”.
Segundo definição do Dicionário de Relações Étnicas e Raciais, o termo
preconceito vem do latim prae, antes, e conceptu, conceito, que pode ser explicado
como um conjunto de crenças e valores aprendidos, mesmo não havendo nenhum
contato ou experiência compartilhada anteriormente, podendo ser um fenômeno
individual ou social. O preconceito social está ligado às classes sociais, às atitudes
ou idéias formadas antecipadamente, sem fundamento razoável e de maneira
desfavorável em relação a vários elementos sociais, grupos e culturas.
No cotidiano das Instituições de Educação Infantil, freqüentemente o
94
professor se depara com uma série de evidências sobre as questões raciais e o
preconceito, tendo ou não clareza delas, muitas vezes utilizando práticas
pertencentes ao senso comum que podem reforçar o racismo. Percebemos nessas
creches, pelos relatos das professoras, crianças negras querendo os seus cabelos
lisos, ruivos, louros e negros escorridos, isto é, buscando a idéia do “belo” que lhes é
transmitida através de um processo excludente e preconceituoso, deformando a
imagem que a criança negra faz de si e reforçando a negação de sua condição
racial.
O PNB apresentou uma proposta pedagógica inicial na qual não constava na
matriz curricular, o tema da diversidade cultural e étnico-racial. Após o resultado da
pesquisa de avaliação
13
, foram apontadas algumas reflexões, dentre as quais
podemos citar:
Práticas religiosas. Cabe fazer uma reflexão sobre o sentido da
presença constante de músicas e de outras atividades de caráter
religioso. Certamente as músicas religiosas, assim como as
relacionadas a outras áreas da cultura humana, ajudam a ampliar o
repertório musical das crianças. Entretanto, se apresentadas com o
intuito de formação religiosa, representam um equívoco, uma vez que
a escola/creche pública é laica, isto é, não pode ter uma orientação
religiosa, a fim de que se respeite a diversidade das religiões das
famílias e dos educadores que lhe constituem.
Diversidade e Preconceito. Embora se reconheça que as creches
promovem um ambiente de acolhimento e bem-estar às crianças e
suas famílias, é preciso enfrentar temas tratados de modo a-crítico,
reproduzindo conceitos naturalizados pelo senso comum, resultando
em práticas preconceituosas que afetam negativamente a construção
da identidade das crianças. Alguns temas ficaram mais evidentes
como sexismo (tratamento estereotipado de meninas e meninos), e
discriminação por condições sociais e familiares (crianças “carentes” e
“rejeitadas”). Outro tema necessário de ser posto em debate,
justamente por estar silenciado no cotidiano das creches, refere-se a
questões étnico e raciais. Trazer a diversidade étnico-racial, através
da música, das histórias, dos objetos e imagens de decoração, isto é,
das manifestações culturais, sem se restringir a datas comemorativas
como a Abolição da Escravatura (13/5), Zumbi (20/11) ou Folclore
(22/8). O enfretamento desses temas na creche, deve permitir ampliar
o conceito de cultura e de Infância, transpondo a visão de crianças
como meras consumidoras de “produtos infantis” e de “conteúdos
escolares”. (Avaliação qualitativa do desenvolvimento das crianças
nas creches construídas pelo PNB, 2006)
Em seguida, a Secretaria Estadual de Integração Governamental buscou
parceria com o Núcleo de Estudos da Infância da Faculdade de Educação UERJ,
via Núcleo Superior de Estudos Governamentais NUSEG, para a elaboração de
13
Avaliação Qualitativa do Desenvolvimento das Crianças das Creches no âmbito do Programa Nova Baixada,
realizada pelo NUSEG/UERJ em 2006.
95
oficinas, totalizando 104 horas-aula, partindo da necessidade de realizar uma
formação em serviço para os profissionais de Educação das unidades de Educação
Infantil do PNB, ressaltando os temas relativos à diversidade cultural, étnica,
religiosa e sexual das crianças, suas famílias e educadores.
Na fala de algumas das entrevistadas, encontramos a ausência de
esclarecimento no que diz respeito à importância de trazer para sua realidade e
prática formadora, ações que possibilitem o diálogo aberto e transformador:
Entretanto, por diversos momentos, as professoras, diretoras e coordenadoras
pedagógicas citam alternativas encontradas e praticadas para intervenção no
preconceito e no racismo, tais como: tentativa de diminuir a distância entre a teoria e
a prática; incentivo para que tragam textos para serem discutidos; investimento em
cursos de formação; aquisição de material para pesquisas e estudos; livros e
brinquedos didáticos e pedagógicos. Muitas dessas idéias apontadas acabam
ficando sem respostas e sem o amparo institucional para sua realização.
Embora esteja prevista no calendário letivo uma semana para comemorações e
discussão sobre a consciência negra, durante o mês de novembro, depoimentos
registrando que “durante o ano existe toda uma preparação, um processo
anterior”. Além disso, dentro dos projetos que estão trabalhando, “tem sempre algum
gancho, tem sempre algum coisa que a gente possa estar falando sobre a questão
racial também”.
Destaco a referência ao Projeto Harambee
14
, citado por parte das
entrevistadas, como um projeto que começou a partir de questionamentos de
crianças da creche: “Por quê que o cabelo de um era liso e o cabelo do outro era
duro?. Por quê que um tinha a pela clara e o outro tinha a pele escura?” Estes
questionamentos levaram as professoras a desenvolver em uma pesquisa, com a
participação de toda a comunidade, com coleta de material, montagem de peça
teatral e desfile, buscando livros e histórias infantis que mostrassem e valorizassem
o negro.
Nos parâmetros curriculares nacionais esses atores não aparecem, a
proposta pedagógica inicial não respeita e acolhe a diversidade étnico-racial, a
cultura da criança e suas diversidades aparecem timidamente numa proposta
14
O nome Harambee resultou de uma pesquisa na internet, realizada por uma professora, quando da formulação
do referido Projeto. É uma palavra de origem africana oriunda da tribo Ioruba e que significa ação conjunta.
96
pedagógica excludente, os saberes das disciplinas omitem a cultura local, étnica
racial, social e de direito.
“E com as crianças é a mesma coisa. Então, a questão da etnia, por exemplo,
passa muito por a criança aceitar sua cor, se achar bonita, saber a sua história,
saber a história do negro no país. Passa tanto pela construção do negro quanto
pela construção do branco, pela construção. É óbvio que se a gente for analisar os
pobres desse país, em sua maioria, isso tem até em pesquisa, são negros. Então
ao falar em negro, de certa forma, esfalando em pobre também. Eu acho que o
negro vem junto com a questão da pobreza, entendeu?” (Depoimento de uma
coordenadora do Projeto Educação Infantil Nova Baixada, 2009).
Gostaria de finalizar esse capítulo apontando para um futuro em que talvez
seja possível superar essas questões explicitadas acima. Em 2003, o governo Lula
fêz aprovar a Lei 10.639/03 que criou a Secretaria Especial de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) tornando obrigatório nos estabelecimentos
de ensino fundamental e médio, tanto oficiais quanto particulares, o ensino da
História e da Cultura Afro-brasileiras, da História da África, assim como a inclusão do
dia 20 de Novembro como Dia da Consciência Negra no calendário escolar, o que,
esperamos possa apontar rotas, caminhos e possibilidades de romper com as
desigualdades e a intolerância no Brasil.
O sucesso da implementação da lei depende da continuação das lutas sociais
e coletivas, sendo a sua mera aprovação um exemplo de vitória e conquista dos
movimentos sociais.
97
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando retornei a FEBF/UERJ, agora como aluna da primeira turma do Curso
de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação, Cultura e Comunicação
em Periferias Urbanas, desenvolvi a primeira dissertação do referido Programa na
discussão da Infância pequena, cuja idéia central foi discutir a diversidade, sob o
ponto de vista étnico-racial, no processo de formação docente do Programa Nova
Baixada (PNB) no município de Mesquita.
A dissertação direcionou o estudo para as relações étnico-raciais no contexto
da Educação Infantil, tema este, que vem revelando impasses e nuances político-
sociais que precisam, ainda, de muita pesquisa e contínua reflexão, para que as
lutas alcançadas não sejam perdidas e tenham uma representação significativa para
a população negra brasileira.
As pesquisas sobre relações raciais que abordam as questões étnicas e a
Infância pequena buscam, sobretudo, aprofundar no mundo moderno o quanto as
crianças pequenas são as principais vítimas de apartações raciais e sociais.
Quando Mesquita conquistou sua emancipação do município de Nova Iguaçu,
através das lutas dos movimentos sociais organizados a partir de 1999, e traçou
suas estratégias e políticas de ação no campo da Educação, não aproveitou esse
sentimento de autonomia e democratização para inovar e implementar um projeto
educacional político-pedagógico que contemplasse as propostas mais avançadas e
recentes, contidas nos variados documentos oficiais, tais como: o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação
Nacional (LDBEN), a Constituição Federal (CF/88), as Diretrizes Curriculares
Nacionais de Educação Infantil (DCNEI’s), e os Referenciais Curriculares Nacionais
para a Educação Infantil (RCNEI), que têm no seu cerne indicadores que garantem à
Infância Pequena o acesso a equipamentos e instituições educativas que possam
promover uma Educação que leve em conta os direitos fundamentais da criança.
As Creches Municipais (CEMEI’s) tiveram sua proposta de matriz curricular
implementada pelo poder público municipal e foram originadas das sugestões do
PNB. Estão localizadas no bairro da Chatuba - território de abandono e barbárie. Um
território periférico que concentra uma população de baixa renda, vivendo em sua
maioria, da renda informal. Está cercado pelo narcotráfico e controlado por milícias,
98
à espera de um poder público - que escove essa história ao contrário. O Poder
Municipal avança muito lentamente no caminho de recolher histórias, fatos, recortes
e retalhos desse lugar de Infância e de criança. Suas escolas não trazem o território
como sujeito pedagógico, considerado a partir do lugar que você se vê, onde você
aprende a se conhecer e encontra conhecimento e identidade.
O modo de viver a vida nas comunidades educativas, feitas de encontros e
saberes repartidos, que acolhe a criança, suas histórias e seus desejos de
compartilhar com a escola e com a família, traz a capacidade de intervir nos
processos constituintes da dinâmica social, na Educação e na prática cotidiana, em
que as crianças são responsabilidade ética e cível.
Uma tarefa das instituições educativas é pensar em serviços que promovam
estratégias, festas, alegrias e grande participação da comunidade local num cenário
de confronto, onde as atividades realizadas se movam em torno da Infância pequena
e seu modo de ser, reconhecendo-a como cidadã, respeitando e garantindo sua
identidade de criança.
Esta dissertação representou, de certa forma, a percepção da escassez de
trabalhos e reflexões sobre a Educação Infantil, pois mesmo no programa em que se
insere a produção deste trabalho, ele se configura como o único que trata da
temática da Infância Pequena. Nos próprios currículos dos cursos de formação de
professores, a Educação Infantil está timidamente visível, ocupando um espaço de
penumbra como objeto de reflexão. Reitera-se, ainda uma vez mais, a mentalidade
caritativa e o perfil comunitário, assistencialista que perdura na Educação Infantil,
não nas políticas públicas municipais, mas também no meio acadêmico. Esta
lacuna se tanto na formação de profissionais para atuar com crianças de 0 a 3,
como de crianças de 3 a 6 anos. Perdura o ideário de uma Educação voltada para a
prontidão, preparando as crianças para o mundo, numa relação dialética
adultocêntrica, na qual a criança passa a ser enxergada a partir dos 6 anos de
idade. Como já foi dito, ao longo da história vem se perpetuando a ausência de uma
Educação para a diversidade étnico-racial, mesmo com a recente instituição de uma
Lei específica que estabelece o ensino da História e da Cultura Afro-brasileiras nas
escolas públicas e particulares de todo o país. Mas, nem mesmo o MEC sabe
precisar quantas escolas a cumprem de fato. Diante das dificuldades para
implementar a Lei, sugere-se que os diretores e coordenadores pedagógicos sejam
99
qualificados, para que, cada vez mais, tenhamos profissionais capacitados,
mobilizadores e transformadores dessa realidade.
A reflexão sobre a Educação Infantil no meio acadêmico se volta,
predominantemente, para os aspectos desenvolvimentistas da formação infantil, sem
que aspectos sobre o trato, o cuidado de crianças de colo, que dependem de
atenção e dedicação especifica, assim como de uma ludicidade igualmente
específica, encontrem espaço nesses territórios de saber e de formação de
profissionais.
Igualmente questões sobre a diversidade cultural, étnica e racial precisariam
ter uma presença mais explícita nas discussões desenvolvidas no meio acadêmico,
ocupando um espaço mais representativo que as cadeiras eletivas do currículo de
formação de professores.
tendências que até hoje acreditam que a superação das diferenças sócio-
econômicas, ou seja, da própria sociedade de classes, por si traria a superação
do preconceito racial. Se por um lado percebemos a estreita relação entre sociedade
de classes e o preconceito racial, por outro não podemos deixar de afirmar a
importância dessas lutas acontecerem ao mesmo tempo.
Observamos que as propostas educacionais contidas tanto na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), quanto nos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs), incluindo o Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil (RCNEI) e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil (DCNEI), não fornecem elementos para a formulação de um currículo que
venham a contribuir com a formação de uma identidade racial. Além disso, quando
ocorre, discutem a temática de maneira superficial, excluindo do âmbito pedagógico
a história de luta e a cultura da raça negra, negando-a.
Em dezembro de 2003 foi outorgada a Lei nº. 10.639/03, que instituiu a
obrigatoriedade do ensino de História da África e da Cultura Afro-Brasileira, na forma
do artigo 26, somando-se à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN). Resultante das propostas de políticas públicas de reparação, trata-se de
mais uma conquista dos movimentos sociais. A questão racial, entretanto, não pode
ser pensada no cotidiano da escola, somente através da especificidade da Cultura
negra. É necessário, também, considerar o estudo das diversidades racial, religiosa
e cultural que caracterizam a sociedade.
100
Entendemos que o “Programa Nova Baixada - Educação Infantil”, no âmbito
da tradução de política pública, ainda necessita do aprofundamento de seu papel e
relevância. Entretanto, não se pode negar a importância de analisar o referido
Programa, posto que este ainda é apresentado como um instrumento de garantia de
um direito social da população, ou seja, a ampliação do acesso à Educação Infantil e
a possibilidade de melhorar a sua qualidade.
Após análise dos documentos utilizados na pesquisa e, posteriormente
revistos nas atividades de campo, pode-se verificar e aprofundar o entendimento
com relação às críticas ao referido Programa, especialmente, o que aponta a
utilização de recursos de organismos internacionais para implementação dos
projetos. Constatamos a preocupação com as construções e estruturas físicas das
creches, equipamento este, de acolhimento e cuidado para a Infância pequena,
resultando numa estrutura insuficiente no que tange os Indicadores Nacionais para o
espaço coletivo a ser oferecido. o houve um compromisso com a elaboração de
uma matriz curricular que viesse a atender a Infância pequena daquele município
como garante a LDB.
Esse estudo mostra que os critérios utilizados pelo Poder Público, que herdou
as Creches do PNB, ignoram a conquista recente dos direitos das crianças de 0 a 6
anos, entre eles, os de frequentar creches e pré-escolas, seu lugar conquistado. Isto
ainda é um grande desafio imposto à sociedade e aos movimentos sociais e as
gestões e a docência têm fundamental participação neste processo.
As Unidades de Educação de Infantil de Mesquita o são um equipamento
de favor para as famílias. Os critérios da SEMED do Município de Mesquita
evidenciam a desarticulação pública com a legislação que garante esse direito. Traz
à tona as questões de abandono social e afirma o território de pobreza como, por
exemplo, as crianças portadoras de HIV, filhas de drogaditos, em situações de risco
e necessidades especiais, além das jovens mães que precisam trabalhar fora. Todos
eles têm direito a freqüentar a Creche.
Esse quadro expõe um retrato das condições dadas às crianças, não do
Município estudado, mas de todo o país.
Atribuir à creche um papel também social/assistencial e não meramente
assistencial é redimensionar o caráter educativo que ela possui e buscar a
complementação e cumplicidade destes dois aspectos. É romper com a
dicotomização destes papéis, como se a existência ou permanência de uma
invalidasse a existência ou permanência do outro. É por fim, desenvolver uma
perspectiva de parceria entre as políticas da educação e as políticas de saúde e de
101
assistência social, para que o caráter educativo das creches e pré-escolas seja
consolidado. (MAISTRO, 1997, p.71, grifo do autor)
O o reconhecimento dos direitos de toda criança à Educação Infantil
permitiu confirmar neste estudo, uma atitude de submissão das famílias para obter
um serviço público de direito.
A Educação Infantil, em nosso país, segundo o próprio MEC (1996) nasce
dissociada de uma intencionalidade educativa explicitada num currículo pré-
estabelecido. Embora tenha inicialmente surgido desvinculada da escola, acaba por
se identificar com ela e o processo de “escolarização” parece ser o caminho natural
para a área. A identidade da Educação Infantil ora tende para a
escolarização/preparação para o ensino fundamental ora para o assistencialismo,
entendido como cuidar das crianças desprovidas de atenção e criar hábitos de
civilidade numa contribuição que se estende para a família e para a comunidade.
A discussão hoje emerge nos indicadores para a Educação Infantil, pois “é de
menino que se torce o pepino”, ditado popular, presente em várias citações, textos e
pesquisas da Educação Infantil, por acreditar que essa pessoa de pouca idade não
nasce racista, preconceituosa, elitista ou fascista. As pesquisadoras e os
pesquisadores do Brasil vêm insistindo e acreditando que é na formação docente
que eso caminho da possibilidade de garantir políticas públicas nacionais que
contemplem as histórias e a cultura afro-brasileiras e da África.
O reconhecimento da Infância e o tratamento dado às crianças, o que inclui a
qualificação de profissionais que eduquem e cuidem delas em um espaço coletivo,
considerando não as crianças, mas levando em conta a heterogeneidade e a
pluralidade que constituem essas profissionais, nos obriga a refletir que ...
O mundo vive uma fase complexa no que se refere à intolerância e ao desrespeito
à diferença. A humanidade é marcada por um histórico de dominação e sujeição do
outro. O humano subalterniza o outro ser humano, negando a este sua
humanidade, ou desqualificando-o (TRINDADE, 2008, p.37-38).
Falar e escrever sobre racismo e preconceito implica na apropriação da
história da África e do Brasil pelas instituições, professores(as) e educadores(as),
entendendo-se como sujeitos histórico-sociais, capazes de intervir nos processos de
ensino e de pesquisa que constituem a dinâmica social no cotidiano da escola,
demarcando-se que o território africano é composto da diversidade étnica, cultural e
política. As matrizes culturais características desse povo, originadas e existentes no
102
Continente Africano, delimitam as variadas etnias e suas culturas, ressaltando,
também, a importância de cultuar os ancestrais de um povo excluído das matrizes
curriculares e escondidos em propostas pedagógicas emblemáticas de uma Cultura
eurocêntrica.
A pretensão aqui não é desviar o foco marcado pela estrutura excludente da
escola através dos valores impostos à Infância e à Juventude e as tensões da
modernidade invadindo os equipamentos educacionais, mas sim, sugerir a
necessidade de romper com as formas de exclusão social, no que tange à
importância ao tratamento dado às questões de gênero, religião, idade, etnia e raça.
Refletir, recolher, catar, tecer, entrelaçar experiências, estudos e pesquisas
que insiram a prática educativa é responsabilidade dos profissionais da educação,
dos espaços de formação, das propostas político-pedagógicas comprometidas com
a construção da identidade negra com finalidade de humanização.
Os movimentos sociais sempre estiveram mais sensíveis à diversidade do que a
escola e o Estado brasileiro. Podemos dizer que a atuação dos movimentos como o
de Mulheres, dos Negros, dos Povos Indígenas, dos Sem Terra trouxe com
objetividade a questão da diversidade para a sociedade e tem pressionado a escola
brasileira. Mais do isso, a atuação desses movimentos começa a influenciar o nosso
pensamento educacional. (GOMES e SILVA, 2002, p.26)
Nesse momento, percebo que ao atravessarmos a Linha Vermelha
15
, sou
surpreendida com uma rua de mão única e que, para garantirmos uma rua de mão
dupla, é preciso romper com o equívoco recorrente de que este tema pertence ao
Povo Negro e de pele preta. Mas, é necessário que a sociedade se inclua na
pertença da construção da identidade negra e que reconheça que é
responsabilidade política do Estado, considerado em suas diferentes esferas de
atuação, assegurar propostas de reparação, reconhecer valores e princípios
africanos que se diferem de valores e princípios de origem indígena, asiática e
européia.
15
- Via Expressa Presidente João Goulart (RJ-071) conhecida como Linha Vermelha - via expressa que serve
para o deslocamento entre a Baixada Fluminense, o Centro da Cidade do Rio de Janeiro e à Zona Sul, através
do Elevado da Perimetral.
- Outra referência ao termo pode ser encontrada no texto: A linha vermelha do planeta Infância, de Paolo
Nosella, que fala “do pensamento e da prática educativa referente à Infância. Essa linha vermelha ou socialista,
mesmo possuindo raízes históricas muito remotas, definiu-se, com a evidência que conhecemos, a partir da
Revolução Industrial, do Iluminismo e da Revolução Francesa. Trata-se da primeira fase do socialismo, que
gerou os primeiros programas utópicos de educação infantil”. (NOSELLA, 2003).
103
Aqui, percebemos o quanto as professoras e professores e as Instituições de
Educação Infantil são responsáveis pela auto-estima da criança, pelo amparo e
apoio, resguardando a singularidade dos meninos e das meninas, compreendendo e
reconhecendo a diversidade étnico-racial como riqueza, protegendo-a de situações
que a desvalorizam.
As histórias infantis como: As Tranças de Bintou, Branca de Neve, o Menino
Nito, Cinderela, Fadas, Príncipes e Heróis são ícones do universo infantil,
independentemente de sua raça ou etnia, em que a estética ou aparência de uma
menina de pele preta, com cabelos cacheados, enfeitados de laços de fitas, toda
prosa, é avaliada e recebe em seu boletim escolar, no item de boa aparência, a
classificação de “razoável” e que, um menino também de pele preta, não seja
considerado difícil.
Que os meninos e as meninas das creches públicas, comunitárias, privadas,
filantrópicas e confeccionais no Brasil não recebam titulações pela cor e pelo
pertencimento racial. O convite é para conflagrarmos um lugar de luta sutil e natural,
um espaço de mobilização que componha uma pauta de luta contra o racismo e o
preconceito.
104
REFERÊNCIAS
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2005.
_____, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento: fragmentos
filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985.
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Mario de Andrade e as Primeiras Políticas Culturais. CPC Aracy de Almeida. Rio de
Janeiro: RJ, 2006.
AQUINO, Ligia Maria M. L. L. de. [at. alii]. Formação em Ação Oficinas para as
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113
APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA
Creche: ____________________________________________________________
Endereço: __________________________________________________________
Bairro:________________________________ Município:_____________________
Nome da Professora: __________________________________________________
Idade:_______________________________Ano: ___________________________
Cidade onde mora:________________________ Bairro: _____________________
Tempo trabalha na Educação Infantil: ____________________________________
Nessa Creche:_______________________ Carga horária: ___________________
Concursada: ( ) Sim ou ( ) Não Ano: _____________________
Faixa etária das crianças: ___________________ Nº de Crianças: _____________
Data da entrevista:____________________ Tempo: ________________________
Assinatura de permissão de publicação e uso dos dados
___________________________________________________________________
114
ROTEIRO DE ENTREVISTA
1) Questões e Perguntas:
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
1.1 Como foi a sua formação para trabalhar na Educação Infantil?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
1.2 Como você entende a Educação Infantil?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
1.3 Você se sente preparada para trabalhar na educação de crianças pequenas?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
1.4 Quais cursos sobre o tema você freqüentou?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
1.5 Nos cursos para professor de Educação Infantil que você frequentou foram
debatidas questões sobre o preconceito racial?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
115
1.6 Foram trabalhados textos sobre questões raciais no cotidiano escolar?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
1.7 Como você percebe e interpreta as questões Raciais e os Preconceitos no seu
cotidiano escolar?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
1.8 Quais as dificuldades que encontram no que diz respeito às Questões Raciais e
ao Preconceito com as crianças?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
1.9 O PROGRAMA NOVA BAIXADA de Educação Infantil promoveu algum tipo de
formação para você? Qual a concepção de Educação Infantil do programa?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
2.0 Como foi trabalhada a relação preconceito racial e cotidiano escolar?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
116
APÊNDICE B – CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
PROJETO DE PESQUISA: PROGRAMA “NOVA BAIXADA” DE EDUCAÇÃO
INFANTIL”: DIVERSIDADE CULTURAL E FORMAÇÃO DOCENTE.
PESQUISADOR RESPONSÁVEL: YVONE COSTA DE SOUZA
INSTITUIÇÃO RESPONSÁVEL PELA PESQUISA: UNIVERSIDADE DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA BAIXADA FLUMINENSE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO, CULTURA E
COMUNICAÇÃO EM PERIFERIA URBANA.
ENDEREÇO: RUA GENERAL MANOEL RABELO, S/N - VILA SÃO LUIZ - DUQUE
DE CAXIAS - RIO DE JANEIRO – CEP: 25065-050.
TEL.: 21 / 3651-8278.
ORIENTADORES: PROFª. DRª. ISABEL BRASIL PEREIRA
Prezado Sra,
Convidamos a sra a participar voluntariamente de nossa pesquisa visando a
produção de dissertação de mestrado intitulada PROGRAMA “NOVA BAIXADA”
DE EDUCAÇÃO INFANTIL: DIVERSIDADE CULTURAL E FORMAÇÃO
DOCENTE.
Pedimos que leiam as informações abaixo antes de nos fornecer seu consentimento:
1) A dissertação tem como objetivo analisar as concepções e práticas dos
docentes do “Programa Nova Baixada Educação Infantil” em relação às
questões étnico-raciais.
2) Constarão da pesquisa entrevistas com professoras, diretoras, coordenadoras
pedagógicas e as coordenadoras do Programa Educação Infantil. Em que
medida e por que formas e maneiras os docentes do programa trabalham
com as questões étnicas e raciais na sua prática pedagógica com as crianças
das creches implantadas pelo referido programa.
3) As entrevistas serão gravadas e transcritas pela autora da dissertação;
4) As entrevistas serão realizadas em dia, local e horário de sua conveniência;
5) Será mantido o anonimato da entrevistada assim como o das pessoas que
por ventura ela mencione.
6) A entrevistada poderá pedir todos os esclarecimentos que julgar necessários,
antes, durante e depois da realização da pesquisa.
7) A entrevistada poderá se desligar da pesquisa quando desejar, assim como
poderá ter acesso ao material gravado e transcrito, podendo inclusive fazer
modificações que julgue necessárias.
8) O material coletado ficará sob a guarda do pesquisador e será usado apenas
para fins dessa pesquisa.
9) Os resultados serão divulgados com vistas à defesa da dissertação acima
referida, como também poderão ser difundidos em artigos, congressos,
simpósios, reuniões, conferências, mesas redondas e demais meios de
divulgação científica.
117
Eu, _____________________________________________, abaixo assinado (a),
concordo em participar voluntariamente deste estudo. Declaro que li e entendi todas
as informações referentes ao mesmo e que todas as minhas perguntas foram
adequadamente respondidas pelo pesquisador.
Nome do responsável
__________________________________________________________________
Assinatura
__________________________________________________________________
Data da Assinatura
__________________________________________________________________
Nome do pesquisador
__________________________________________________________________
Assinatura
__________________________________________________________________
Data da assinatura
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