Download PDF
ads:
Antônio Medeiros Júnior
Representação social sobre o acidente de
trabalho na área da saúde
Tese apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Ciências da Saúde,
do Centro de Ciências da Saúde da
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, como requisito para a obtenção
do título de Doutor em Ciências da
Saúde.
Natal-RN
2005
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Antônio Medeiros Júnior
Representação social sobre o acidente de
trabalho na área da saúde
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciências da Saúde, do
Centro de Ciências da Saúde da
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, como requisito para a obtenção do
título de Doutor em Ciências da Saúde.
Orientadora: Prof
a
Dr
a
Íris do Céu Clara
Costa.
Natal-RN
2005
ads:
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Setorial de Odontologia
Medeiros Júnior, Antônio
Representações sociais sobre o acidente de trabalho em saúde/ Antônio Medeiros
Júnior-
Natal, RN, 2005.
Xxx f.
Orientadora: Iris do Céu Clara Costa
Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Programa de
Pós-Graduação em Ciências da Saúde.
1. Representações Sociais- Tese. 2. Acidente de trabalho- Tese 3. Saúde.-Tese 4.
Saúde do trabalhador. Tese I. Iris do Céu Clara Costa. II. Título.
Black D585
RN/UF/BSO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde:
Professor Dr. José Brandão Neto
iii
Antônio Medeiros Júnior
Representação social sobre o acidente de trabalho
na área da saúde
Presidente da Banca: Prof
a
Dra. Iris do Céu Clara Costa
BANCA EXAMINADORA
Prof
a
. Dr
a
. Iris do Céu Clara Costa (UFRN)
Prof
a
. Dr
a
. Maria do Carmo Eulálio Brasileiro (UFPB)
Prof
a
. Dr
a
. Antonia Silva Paredes Moreira (UFPB)
Prof. Dr. Horácio Accioly Júnior (UFRN)
Prof
a
. Dr
a
. Maria do Socorro Costa Feitosa Alves (UFRN)
Prof. Dr. Luiz Gonzaga Pontes Pessoa (UFRN)
Aprovado em: 13 de dezembro de 2005
iv
Dedicatória
Aos meus pais Antônio (In Memoriam) e Helena e irmãos Edna e Adaílton. Juntos
nós vivemos o amor, amizade, esperança e coragem como fundamentos para a
nossa convivência.
À Cristhianne, Marcos, Giselle, Adrielle e Pandora com quem aprendo a cada dia os
significados das palavras e das vozes, vivendo.
Dedico.
Palavras
Palavras são palavras, são fatos, são coisas
Palavras comunicam
Escravizam, libertam
Expressam sentimentos
Idéias ou pensamentos
Emergem no momento
Registram a história
Vivida no tempo.
Palavras são palavras, gigantes, pequenas
São vozes humanas,
Fortes, agressivas, amenas
Sagradas ou profanas
Constroem o mundo
Sementes da vida,
Gênese do destino
Divino mistério profundo.
Palavras são palavras, são crenças, são seres
Tão cheias de sentido
Refletem fazeres
Demarcam nossa história
Paredes da memória
Informam, seduzem
Difundem saberes
Consensuais, coletivos.
Palavras são palavras, poetizam a estrada
Alimentam o caminho, preenchendo vazios
Algumas fazem amigos,
Afagam inimigos
Deliciam sentimentos
Amores, fartura
Universos de candura,
Lamentos e amargura
Palavras são palavras, lágrimas de felicidade e tristeza
Circunda-te de palavras, tesouros, desejos e sorrisos
Ama.
Bebe.
Silencia
Palavras são vida, gemidos, latidos.
Imortalidade
“O mais é nada”
v
Agradecimentos
Ao Criador do Universo, pelo dom da vida.
Aos trabalhadores do hospital da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
muito obrigado por abrirem seus corações e pensamentos durante a pesquisa.
À minha Orientadora, Prof
a
. Dr
a
. Íris do Céu Clara Costa, por seu incentivo,
orientações competentes, compreensão e amizade.
Ao Coordenador do PPGCSA-UFRN, Prof. José Brandão Neto, exemplo de
dedicação à vida acadêmica e por acreditar no potencial dos professores e alunos
do PPGCSA-UFRN.
Ao Professor Kenio Costa Lima pela análise estatística que complementou o
entendimento do fenômeno estudado.
A todos os Professores do Curso de Mestrado em Odontologia Social da UFRN,
especialmente a Maria do Socorro Costa Feitosa Alves, pela grata satisfação de
compartilhar da sua amizade e por minha iniciação nas representações sociais.
Agradeço também a Ângelo Giuseppe Roncalli, pelas valiosas contribuições
prestadas durante a fase inicial da investigação.
Aos Professores do Departamento de Saúde Coletiva, especialmente a Maria Dalva
Araújo e Nilma Maria Costa Leão, por me abrigarem em seu nicho.
Ao Professores Horácio Accioly Júnior e Maria Cleide Ribeiro Dantas de Carvalho
pela contribuição no decorrer da análise dos dados.
Às Professoras e amigas Maria Alice Pimentel Fuscella, Maria de Fátima Jorge e
Lígia Moreno de Moura por me aturarem durante essa fase estressante.
Aos alunos, Márcio Marques dos Santos, Ana Daniela Silva da Silveira, Geórgia
Costa de Araújo Souza, Fábio Andrey da Costa Araújo, Adreildo Neves de Almeida
Santos pela importante contribuição durante a fase de construção do banco de
dados.
À Banca Examinadora desta Tese: Prof
a
. Dra. Íris do Céu Clara Costa, Prof
a
.Dr
a
Maria do Carmo Eulálio Brasileiro, Prof
a
. Dr
a
Antonia Silva Paredes Moreira, Prof. Dr.
Horácio Accioly Júnior, Prof. Dr
a
Maria do Socorro Costa Feitosa Alves e o Prof. Dr.
Luiz Gonzaga Pontes Pessoa.
..
vi
Sumário
Dedicatória...................................................................................................... v
Agradecimentos vi
Lista de Tabelas................................................................................................ ix
Lista de Figuras................................................................................................ x
Lista de quadros............................................................................................... xi
Lista de Abreviaturas........................................................................................ xii
Resumo............................................................................................................. xiii
Apresentação xv
1 INTRODUÇÃO.............................................................................................. 1
1.1 Objetivo....................................................................................................... 7
2 REVISÃO DA LITERATURA........................................................................ 8
2.1. Acidentes de trabalho................................................................................ 8
2.2. As formas de enfrentamento...................................................................... 16
2.2.1. A Medicina do Trabalho.......................................................................... 16
2.2.2. A Saúde Ocupacional............................................................................. 17
2.2.3. A Saúde do Trabalhador......................................................................... 19
2.2.4. A Teoria das Representações Sociais.................................................... 23
2.2.5. A Teoria do Núcleo Central..................................................................... 26
3 MÉTODOS.................................................................................................... 32
3.1. Comitê de Ética em Pesquisa.................................................................... 33
3.2. Local do estudo.......................................................................................... 34
3.3. Definição e seleção da amostra............................................................... 35
3.4. Instrumentos de coleta de informações.................................................... 37
3.5. Análise dos dados...................................................................................... 41
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................... 47
4.1. Dinâmica das tendências entre as variáveis independentes e a
ocorrência de acidentes 47
4.2. A satisfação no trabalho............................................................................ 53
4.3. A jornada de trabalho diária....................................................................... 56
4.4. A idade da força de trabalho...................................................................... 57
4.5 A estrutura da representação social sobre o acidente................................ 58
4.5. A estrutura da representação social sobre o acidente de trabalho............ 59
4.6. O teste de centralidade.............................................................................. 74
4.7. A estrutura da representação social sobre o risco ocupacional................ 75
4.8. A estrutura da representação social sobre o Equipamento de Proteção
Individual
79
4.9. A análise lexicográfica............................................................................... 87
5 CONCLUSÃO............................................................................................... 110
6 ANEXOS....................................................................................................... 117
Anexo1. Autorização da Diretoria Geral do Hospital........................................ 118
Anexo 2.Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.................................... 119
Anexo 3. Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa....................................
vii
121
Anexo 4. Técnica de Associação Livre de Palavras......................................... 123
Anexo 5. Questionário...................................................................................... 124
Anexo 6. Diário de Campo................................................................................ 125
Anexo 7. Entrevista........................................................................................... 126
Anexo 8. Teste de centralidade........................................................................ 127
Anexo 9.Comunicado de Acidente em Serviço................................................. 128
7 REFERÊNCIAS............................................................................................ 131
Abstract
Apêndice
viii
Lista de Tabelas
Tabela 1. Distribuição absoluta e percentual entre as variáveis
independentes e a ocorrência do acidente de trabalho em um hospital
universitário. Natal-RN. 2005
50
Tabela 2. Distribuição percentual das categorias e subcategorias do
corpus “Satisfação no trabalho” em um hospital universitário. Natal-RN.
2005.
53
Tabela 3. Médias, desvios padrões e significância estatística entre a
jornada de trabalho diária em horas e a ocorrência de acidentes de
trabalho em um hospital universitário. Natal-RN. 2005
56
Tabela 4. Mediana, quartis 25 e 75 e significância estatística da idade
dos indivíduos, segundo a ocorrência de acidentes de trabalho em um
hospital universitário. Natal-RN. 2005.
57
Tabela 5. Distribuição absoluta e percentual entre acidente de trabalho
e a centralidade da categoria contaminação em um hospital universitário.
Natal-RN. 2005
74
ix
Lista de Figuras
Esquema figurativo 1. Identificação da provável estrutura da
representação social sobre o acidente para os trabalhadores de um
hospital universitário. Natal-RN. 2005.
58
Esquema figurativo 2. Identificação da provável estrutura da
representação social sobre o acidente de trabalho para os trabalhadores
do grupo de apoio de um hospital universitário. Natal-RN. 2005.
59
Esquema figurativo 3. Identificação da provável estrutura da
representação social sobre o acidente de trabalho para os trabalhadores
de um hospital universitário. Natal-RN. 2005.
60
Esquema figurativo 4. Identificação da provável estrutura da
representação social sobre o risco ocupacional para os trabalhadores do
hospital universitário. Natal-RN. 2005.
75
Esquema figurativo 5. Identificação da provável estrutura da
representação social sobre o equipamento de proteção individual para os
trabalhadores de um hospital universitário. Natal-RN. 2005.
79
x
Lista de Quadros
Quadro 1. Comparativo entre Medicina do Trabalho, Saúde
Ocupacional e Saúde do Trabalhador.
22
Quadro 2. Relatório descritivo resumido produzido pela análise do
corpus referente às representações sociais sobre os acidentes de trabalho
na área da saúde de um hospital universitário. Natal-RN, 2005.
87
Quadro 3. Descrição resumida das classes 1, 2, 3, 4 e 5, segundo a
análise do ALCESTE . Natal-RN, 2005.
88
Quadro 4. Descrição da classe 1, segundo a análise do ALCESTE .
Natal-RN, 2005.
88
Quadro 5. Descrição da classe 2, segundo a análise do ALCESTE.
Natal-RN, 2005.
91
Quadro 6. Descrição da classe 3, segundo a análise do ALCESTE.
Natal-RN, 2005.
96
Quadro 7. Descrição da classe 4, segundo a análise do ALCESTE.
Natal-RN, 2005
101
Quadro 8. Descrição da classe 5, segundo a análise do ALCESTE.
Natal-RN, 2005.
106
xi
Lista de Abreviaturas
UNI-Natal Uma Nova Iniciativa na formação de profissionais de saúde- Natal
CAT Comunicação de Acidentes de Trabalho
INSS Instituto Nacional de Seguridade Social
SAT Seguro de Acidentes de Trabalho
OIT Organização Internacional do Trabalho
PEA População Economicamente Ativa
SUS Sistema Único de Saúde
AIDS/ HIV Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
CLT Consolidação das Leis do Trabalho
NR Norma Regulamentadora
TRS Teoria das Representações Sociais
UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte
TALP Técnica de Associação Livre de Palavras
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UTI Unidade de Terapia Intensiva
UEI-UFRN Unidade Educacional Infantil-UFRN
HU Hospital Universitário
EPI Equipamento de Proteção Individual
OME Ordem Média de Evocação
EPC Equipamento de Proteção Coletiva
ALCESTE Análise Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto
UCI Unidade de Contexto Inicial
MS Ministério da Saúde
CCIH Comissão de Controle das Infecções Hospitalares
IH Infecção Hospitalar
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
GGTES Gerência Geral de Tecnologia em Serviços de Saúde
UCISA Unidade de Controle de Infecção Hospitalar em Serviços de Saúde
GIPEA Gerência de Investigação e Prevenção das Infecções e dos Eventos
Adversos
PPRA Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
CAS Comunicação de Acidente em Serviço
DAS Divisão de Assistência ao Servidor
xii
Resumo
O presente estudo objetivou identificar os elementos representacionais sobre o
acidente de trabalho em saúde, além de investigar os tipos mais freqüentes
ocorridos em um hospital universitário, buscando compreender os elementos
cognitivos, afetivos e sociais, subjacentes ao processo de trabalho em saúde. O foco
de análise foi dirigido para 470 trabalhadores dos níveis de apoio, médio e superior
deste hospital, à luz do suporte teórico-metodológico da Teoria das Representações
Sociais. Para coleta de dados utilizou-se a combinação dos seguintes instrumentos:
um teste de associação livre de palavras, um questionário, uma entrevista e
observações sistemáticas registradas no diário de campo. Na identificação da
estrutura representacional usou-se o software Evoc 2000. Para a verificação da
associação entre as variáveis independentes e a ocorrência de acidentes de
trabalho, realizou-se os testes do qui-quadrado e Mann-Whitney, a um nível de
significância de 5%. Além disso, utilizou-se a análise lexicográfica do software
ALCESTE e a Análise Temática de Conteúdo, para a compreensão do conteúdo
textual. Observou-se que as representações sociais sobre os acidentes de trabalho
em saúde têm um núcleo central alicerçado na categoria contaminação, enquanto no
sistema periférico encontram-se as categorias prevenção e despreparo profissional.
Através do teste qui-quadrado verificou-se associação significativa entre a
existência de múltiplos empregos dos entrevistados, o uso de EPI (Equipamento de
Proteção Individual) durante o trabalho, satisfação com o que faz e a ocorrência de
acidentes de trabalho. As conclusões indicam que os acidentes ocupacionais com
instrumentos pérfuro-cortantes foram os mais frequentes no hospital, e que as
representações
xiii
dos sujeitos se entrelaçam, constituindo um discurso tradicional sobre esses
acidentes de trabalho, fortemente presente na lógica da Saúde Ocupacional. Nessa
perspectiva, sugere-se que alguns aspectos subjetivos relacionados à cultura em
termos de controle dos acidentes de trabalho tais como: gestão, processo,
organização e precarização do trabalho hospitalar, sejam considerados relevantes
na implementação das medidas de intervenção voltadas para a saúde dos
trabalhadores.
Palavras chave: Representações sociais, acidentes de trabalho e saúde dos
trabalhadores.
xiv
Apresentação
Por que as línguas são
focos de resistência?
Porque uma língua não é
só um meio de
comunicação. Uma língua
é visão de mundo”.
Antônio Gramsci
xv
Apresentação
O presente trabalho de investigação científica, surgiu a partir da motivação do
pesquisador em conhecer as representações dos trabalhadores da saúde acerca do
acidente de trabalho, quais as ansiedades e necessidades que ele gera e, que
conseqüências trazem à vida dessas pessoas, numa perspectiva diferente daquela
abordada pela maioria dos trabalhos encontrados na literatura, quando registram
com veemência a sub-notificação e exposição dos trabalhadores, a esses
importantes agravos. Priorizou-se assim, mais do que a voz do trabalhador e suas
bandeiras de luta, quando se procurou conhecer a intimidade do seu poder de
comunicação, situada na fronteira entre o mundo de significados e a realidade,
mesmo reconhecendo as enormes barreiras presentes nesses encontros e
desencontros, quando me dispus a investigar algo, que o outro preferia, às vezes,
calar ou esquecer.
A estrutura desta Tese segue um modelo de apresentação recomendado pelo
Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN), proposto por Rother e Braga (2001)
1
e as Referências
encontram-se dispostas segundo as normas de Vancouver Style.
Na primeira seção - Introdução – São mostradas as incríveis transformações
que estão ocorrendo no mundo do trabalho, algumas ambigüidades do trabalho em
saúde, as principais missões dos trabalhadores e do hospital no mundo
contemporâneo, o objeto da pesquisa e o objetivo dessa investigação.
Na seção seguinte intitulada - Revisão de Literatura – são sistematizadas
resumidamente as citações literárias consideradas relevantes para a compreensão
dos acidentes de trabalho em saúde e da Teoria das Representações Sociais,
enfatizando a opção pelo uso da Teoria do Núcleo Central, dela originada, como
suporte metodológico.
Na seqüência, são apresentados os caminhos plurimetodológicos escolhidos
no percurso investigativo na seção “Métodos”.
Nos resultados e discussão, analisa-se, sintetiza-se, reflete-se sobre os
conteúdos presentes, enfatizando na análise interpretativa as situações concretas e
mensuráveis assim como a dimensão simbólica e mágica também presentes no
cotidiano dos trabalhadores do complexo de saúde estudado.
Nas conclusões, encerra-se a Tese a partir da sinopse geral, vislumbrando
novos caminhos para as próximas investigações.
Rother ET; Braga MER. Como elaborar sua tese: estrutura e referências. São
Paulo: 2001.
xvi
Abstract
The aim of the present study was to identify the representational elements of work-
related accidents in the health field, as well as investigate their most frequent
occurrences at a university hospital, seeking to understand the cognitive, affective
and social elements subjacent to the work process involved in health. The analysis
focused on 470 middle and senior support staff of this hospital, based on the
theoretical-methodological support of the Social Representations Theory. A
combination of the following instruments was used for data collection: a free word-
association test, a questionnaire, an interview and a field journal. Evoc 2000 software
was used to identify representational structure. Chi-square and Mann-Whitney tests,
at a significance level of 5%, were performed to verify the association between the
independent variables and the occurrence of work accidents. In addition, thematic
content analysis and lexicographic analysis by ALCESTE software program were
used to understand textual content. It was observed that social representations of
work-related accidents in the health area are centered in the contamination category,
while the categories of prevention and professional unpreparedness are found
peripherally. There was a significant association between the existence of multiple
employment, the use of personal protective equipment (PPI) during work, job
satisfaction and the occurrence of work accidents. The conclusions indicate that
perforating-cutting occupational accidents predominated in the hospital and that the
representations of the subjects intertwined, with a traditional discourse of work
accidents strongly present in Occupational Health. It is therefore suggested that
certain subjective aspects related to culture, in terms of controlling work accidents,
such as: management, process, organization and the increasing precariousness of
hospital work, be considered relevant when implementing intervention measures
directed at employee health.
Keywords: Social representations, work accidents, and employee health.
1 INTRODUÇÃO
Uma parte de mim
é só vertigem
outra parte linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
que é uma questão
de vida ou morte
será arte?”
Ferreira Gullar
1 INTRODUÇÃO
As inúmeras transformações que estão ocorrendo na esfera da produção, do
mercado e do Estado fazem parte de um mesmo movimento histórico em que o
capitalismo executa diferentes estratégias, em busca da reestruturação produtiva.
Um dos principais fundamentos dessas metamorfoses operadas no mundo do
trabalho, trata-se do deslocamento do eixo dinâmico da acumulação capitalista da
indústria para o setor financeiro, ultrapassando fronteiras e territórios, trazendo
enormes conseqüências para as nações entre as quais, destacam-se, a recessão e
o endividamento externo, notadamente, das principais economias em vias de
desenvolvimento.
Urge compreender entre esses fatores que as novas demandas e suas
implicações na sociedade globalizada, cuja produção e consumo rompem as
fronteiras nacionais, colocam em dúvida o poder e a autonomia de cada Estado. Os
resultados disso são mundializados, tais como: o aumento do desemprego em todos
os países do mundo, atingindo taxas inéditas; a precarização das condições de
trabalho e saúde dos trabalhadores, devido, em primeiro lugar, à violenta
intensificação do trabalho, propiciadas pelas novas tecnologias e pelas políticas de
gestão/organização do trabalho; a precarização dos contratos (flexíveis) de trabalho,
a flexibilização dos direitos trabalhistas e sociais, através de mudanças na
legislação, a fragilização dos sindicatos e das lutas dos trabalhadores, que se
encontram divididos, segmentados, desvalorizados, em função da insegurança
permanente
1,2
.
Na verdade, o foco dessas políticas é essencialmente a defesa intransigente
do livre mercado, da transnacionalização do capital, do seu sistema produtivo e dos
2
fundamentos para o seu reino absoluto, através da aplicação intensiva de tecnologia
ao processo de trabalho, inovando produtos, processos e até mesmo reduzindo a
inserção de pessoas no sistema produtivo. De certa forma, esse movimento exige
uma força de trabalho mais qualificada, que deve ser explorada pelo capital de
maneira mais intensa e sofisticada, notadamente nos ramos produtivos dotados de
maior desenvolvimento tecnológico.
Ao analisar as conseqüências dessas transformações e de que forma elas
afetam o mundo do trabalho, Antunes
3
destaca como as mais importantes: a
diminuição do operariado manual típico do fordismo; o aumento acentuado das
inúmeras formas de precarização do trabalho decorrentes da expansão do trabalho
parcial, temporário, sub-contratado, terceirizado, e que tem se intensificado em
escala mundial até mesmo nos países ricos. Além disso, o aumento expressivo do
trabalho feminino no interior da classe trabalhadora; a enorme expansão dos
assalariados médios, especialmente no setor de serviços, que de início aumentou
em ampla escala, mas que nos últimos anos tem apresentado altos níveis de
desemprego tecnológico. Assim, a exclusão dos trabalhadores jovens e dos
trabalhadores “velhos” (em torno de 45 anos) do mercado de trabalho dos países
ricos e em desenvolvimento; a intensificação e super-exploração do trabalho, com a
utilização da mão de obra dos imigrantes e expansão dos níveis de trabalho infantil,
sob condições criminosas, em tantas partes do mundo, como Ásia, América Latina,
etc; aumentam o processo de desemprego estrutural que, aliado ao trabalho
precarizado, atingem aproximadamente um terço da força de trabalho no mundo.
No sentido oposto aos resultados desfavoráveis acima explicitados, torna-se
importante resgatar a importância do trabalho para o ser humano, caminho pelo qual
se obtém respeito, integração, sociabilidade, reconhecimento e amizade. Para
3
Mielnik
4
, o trabalho humano tem um significado tríplice: material, na medida em que
proporciona a satisfação das necessidades biológicas primordiais (alimentação,
vestuário, habitação, saúde física e mental, recreação e outras); psicológico, quando
se fundamenta no provimento das necessidades de afeto, realização profissional,
novas experiências, entre outras, e por último, destaca a segurança social, através
da qual se conquista a posição no grupo, reconhecidamente também importante,
para a convivência social.
O trabalho também é compreendido enquanto espaço de dominação e
submissão do trabalhador pelo capital, mas, igualmente, de resistência, de
constituição e do fazer histórico dos trabalhadores, que buscam o controle sobre as
condições e os ambientes do trabalho, para torná-las “mais saudáveis”, num
processo lento, contraditório, desigual no conjunto da classe trabalhadora,
dependente da sua inserção no processo produtivo e do contexto sócio-político de
uma determinada sociedade
5
.
Alguns autores reforçam que as mudanças ocorridas no capitalismo mundial
não representam o enfraquecimento do modo de produção capitalista. Ao contrário,
demonstram sua força em nível mundial, trazendo consigo o aumento das
desigualdades sociais. Na verdade, é através da globalização – nome novo para o
antigo processo de internacionalização da economia e exploração de países de
capital periférico – que o capital; determina a mercantilização e a financeirização das
relações econômicas e sociais num nível planetário. Subjacente a tal lógica,
aprofunda-se a divisão social e internacional do trabalho, fraciona-se o globo
terrestre em áreas geopolíticas e de influência econômica, e consequentemente,
impõem-se as políticas de saúde alheias ao interesses coletivos
2,3, 6
.
4
Neste contexto, o nosso papel, enquanto profissionais da área da saúde é
contribuir para elevar os níveis de saúde da população brasileira, buscando sempre
soluções para eventuais problemas, atuando, seja nos espaços comunitários ou na
assistência direta, interagindo em equipe nos serviços de apoio diagnóstico e
terapêutico, na gerência e na produção de tecnologia, em qualquer um dos níveis
hierárquicos do sistema de saúde.
Sendo assim, ao lado da missão de recuperar a força de trabalho e devolvê-la
ao mercado, o hospital contemporâneo reproduz de outro modo, o capital. Ele
também é uma empresa, realiza uma atividade econômica, em que o hospital se
multiplica direta e indiretamente e segue a lógica do avanço científico-tecnológico,
baseado em três pontos: na microeletrônica, na microbiologia e em sua resultante, a
engenharia genética. Desse modo, as mudanças da tecnologia com base
microeletrônica, mediante a informatização e robotização, permitem ampliar a
capacidade intelectual associada à produção e mesmo substituir grande parte das
tarefas do trabalhador. De certa forma, o hospital mesmo estatal também reproduz o
capital, posto que, além de sua missão de recuperar a força de trabalho enferma, é
lugar de venda e consumo de mercadorias, especialmente de um tipo especial de
mercadorias: as tecnologias médicas.
Diante disso, é lícito afirmar que a condição dos trabalhadores em saúde, no
caso brasileiro, é agravada pelo longo contexto de crise econômica e política,
resultando em adoção de medidas de ajuste e cortes financeiros nas políticas
sociais, como educação, saúde, segurança, transporte, moradia e trabalho, entre
outras.
Essa situação traz o signo das ambigüidades características do mundo do
trabalho precarizado atual, no tocante ao setor saúde em Natal-RN, cujos
5
trabalhadores são ao mesmo tempo “cuidadores” e também “cuidados” ou carentes
de cuidados de saúde e de melhores condições de vida. Outro aspecto interessante
apontado nesse estudo, diz respeito à tendência persistente e acentuada da
participação feminina na força de trabalho e os crescentes riscos atuais, que podem
conduzir à vulnerabilidade social
7
.
Nessa perspectiva, enquanto “cuidadores”, os trabalhadores ficam expostos
às poeiras, as substâncias químicas tóxicas, ao ruído, a vibração, ao calor ou ao frio
excessivos, às radiações, aos microorganismos, à tensão, as posturas viciosas do
trabalho, aos movimentos repetitivos, a monotonia e ao sofrimento advindo da
organização do trabalho que, de certa forma, são responsáveis por danos à saúde
dos trabalhadores.
No hospital, “os riscos relacionados a este ambiente estão associados aos
agentes: biológicos, físicos, químicos, psicossociais e ergonômicos”
8
. Os riscos
hospitalares podem ser classificados em ambientais e ergonômicos. Os ambientais
referem-se aos agentes biológicos, físicos, químicos e mecânicos existentes no meio
ambiente. Os ergonômicos podem produzir desequilíbrios no processo de adaptação
do homem ao trabalho, são de natureza psicossocial e têm como base a fisiologia, a
psicologia e a organização do trabalho
9,10
.
Após essas considerações iniciais, julga-se oportuno explicar que o interesse
acerca dessa importante temática decorreu de uma experiência de promoção de
saúde bucal coletiva, calcada na integração ensino-serviço, desenvolvida no hospital
Giselda Trigueiro em Natal-RN, com estudantes do curso de Odontologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Nessa experiência acadêmica, eu
atuava como tutor dos estudantes na Enfermaria pediátrica do referido hospital,
juntamente com a equipe multiprofissional do Projeto Sorriso de Criança, vinculado
6
ao UNI-Natal. Tínhamos como principais objetivos à curto prazo: a compreensão dos
vários determinantes do processo saúde-doença da população usuária desse
hospital, caracterizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) como hospital-referência
para doenças infecto-contagiosas no Estado do Rio Grande do Norte; a atuação
nesse espaço como “educadores em saúde bucal”, desenvolvendo ações
direcionadas à melhoria da higiene dos pacientes e acompanhantes, durante o
período de internamento, além de acompanhar dentro do contexto hospitalar os
elementos subjetivos que compõem a terapêutica de recuperação e reabilitação da
saúde de cada paciente
11
.
Inseridos nesse contexto, juntamente com alguns alunos, presenciamos um
acidente de trabalho ocorrido com um dos membros da equipe, durante o manejo de
uma criança internada. Naquele instante, surgiu a idéia de tentar compreender o
fenômeno a partir da perspectiva do trabalhador da saúde inserido em seu contexto
de vida e trabalho, das suas crenças, opiniões, visões, intuições, simbolismo, além
das prováveis dificuldades inerentes à complexidade do trabalho na área da saúde.
Enfim, um olhar direcionado ao humano mais do que ao objeto, e que fosse um
pouco além da objetividade lógica, linear, quantitativa e pretensiosa, tão propagada
pela ciência tradicional, na eterna busca de explicar a realidade.
Aviso de antemão caro(a) leitor(a) que apenas em parte e com ajuda de
muitos essa idéia foi concretizada, a partir de um trabalho árduo e com a sua
interação talvez se possa, modestamente, ampliar as reflexões sobre esse tema que
pretende-se compartilhar com todos nas próximas páginas.
7
1.1 Objetivos
Neste contexto, julga-se oportuno contribuir para novas reflexões sobre
alguns elementos cognitivos e psicossociais que permeiam a saúde do trabalhador
de um hospital universitário, no sentido de apreender os elementos
representacionais centrais e periféricos sobre o acidente de trabalho, assim como
conhecer as idéias e os sentidos dos pensamentos dessas pessoas, no intuito de
subsidiar projetos de intervenção nessa área, a partir dos seguintes objetivos:
1. Identificar as representações sociais elaboradas por trabalhadores de um hospital
universitário sobre os acidentes de trabalho na área da saúde.
2. Verificar a existência de possíveis consensos, contradições, divergências e
significações nos comportamentos e nas posturas profissionais da força de
trabalho do hospital, frente aos acidentes de trabalho em saúde.
3. Investigar os tipos de acidentes ocupacionais mais freqüentes no hospital e
contribuir, à luz da Teoria das Representações Sociais, para a compreensão dos
elementos cognitivos, afetivos e sociais, subjacentes ao processo de trabalho em
saúde, particularmente no que se refere aos acidentes de trabalho em saúde.
2 REVISÃO DA LITERATURA
“Quem construiu a Tebas
das sete portas?
Nos livros constam os
nomes dos reis.
Os reis arrastaram os
blocos de pedra?
E a Babilônia tantas
vezes destruída.
Quem a ergueu outras
tantas?
Em que casas da Lima
radiante de ouro,
moravam os
construtores?
Para onde foram os
pedreiros na noite em que
ficou pronta a Muralha da
China?
A grande Roma es
cheia de arcos de triunfo.
Quem os levantou?
Sobre quem triunfaram os
Césares?
Felipe de Espanha chorou
quando sua Armada
naufragou.
Ninguém mais chorou?
Uma vitória em cada
página.
Quem cozinha os
banquetes da vitória?
Tantos relatos.
Tantas perguntas”.
Bertolt Brecht
8
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Acidentes de trabalho
Os acidentes do trabalho são oficialmente definidos como aqueles que
ocorrem pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando lesão corporal
ou perturbação funcional que cause morte, perda ou redução, permanente ou
temporária, da capacidade de trabalho. Também são considerados como acidentes
de trabalho: o acidente ocorrido entre a residência e o local de trabalho do segurado;
a doença profissional assim entendida como a produzida ou desencadeada pelo
exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e a doença do trabalho,
adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é
realizado e com ele se relacione. A doença do trabalho refere-se a um conjunto de
danos ou agravos que incidem sobre a saúde dos trabalhadores, causados por
fatores de risco presentes nos locais de trabalho. Tradicionalmente, os riscos
presentes nesses locais capazes de afetar a saúde dos trabalhadores são
classificados como: riscos físicos, químicos, biológicos além daqueles presentes na
organização do trabalho.
Agem, na maioria das vezes, de forma lenta, insidiosa, podendo levar anos
para a manifestação na saúde do trabalhador o que, na prática, tem contribuído para
dificultar a comprovação do estabelecimento da relação entre uma doença sob
investigação e o trabalho. Também são consideradas como doenças do trabalho,
aquelas provenientes de contaminação acidental no exercício do trabalho, e as
doenças endêmicas quando contraídas mediante exposição ou contato direto,
determinado pela natureza do trabalho realizado
12, 13
.
9
Assim, os acidentes de trabalho são eventos de notificação compulsória, o
que é feito por intermédio da Comunicação de Acidentes de Trabalho (CAT),
documento processado pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) para fins
securitários. A emissão da CAT não abrange funcionários públicos civis e militares
estatutários, trabalhadores do setor informal, trabalhadores previdenciários
autônomos, empregados domésticos e proprietários, estando enquadrados, apenas,
os trabalhadores com registro em carteira profissional regulamentados pela
Consolidação das Leis Trabalhistas. Segundo o Plano de Benefícios da Previdência
Social, esses trabalhadores não estão cobertos pelo Seguro de Acidente de
Trabalho (SAT), não se enquadrando na obrigatoriedade da emissão do referido
documento
14
.
Os servidores públicos civis da União, das Autarquias e das Fundações
Públicas Federais assim como militares serão licenciados com remuneração integral
nos casos de acidentes em serviço, conforme estabelece a Lei 8.112 de 11 de
dezembro de 1990, que dispõe sobre o Regime Jurídico Único dos Servidores
Públicos
15
.
São classificados como acidentes típicos quando ocorrem dentro do processo
laboral e como acidentes de trajeto quando atingem o trabalhador no percurso
residência-empresa-residência. O acidente típico, por sua vez, caracteriza-se por
uma interrupção súbita do processo de trabalho, traumática para o acidentado e
seus companheiros de profissão, geralmente sujeitos aos riscos semelhantes
16, 17
.
Tais eventos, na maioria das vezes são tidos como ocorrências que não são
planejadas e, portanto, são estranhas ao andamento normal do trabalho, podem
ocasionar danos físicos e/ou funcionais ou óbitos dos trabalhadores, além de
10
prejuízos econômicos e materiais às empresas. No Brasil os acidentes de trabalho
trazem repercussões epidemiológicas graves, porque atingem principalmente
adultos jovens, causando elevado número de casos de invalidez permanente e de
óbitos.
Segundo estimativa da Organização Internacional do Trabalho (OIT), cerca de
60 milhões de trabalhadores brasileiros estão inseridos no mercado de trabalho
informal e/ou “precarizado”, descobertos da proteção da legislação trabalhista e do
Seguro de Acidentes de Trabalho (SAT). Cumpre ainda assinalar a existência de 5,7
milhões de crianças e adolescentes entre 5 a 17 anos inseridos em atividades
produtivas
18
.
De acordo com Mendes e Dias
5
, a população brasileira contemplada pelo
seguro acidente, corresponde a apenas um terço da População Economicamente
Ativa (PEA), e mais que isso, na literatura registra-se que menos de 30% dos
acidentes ocorridos no Brasil são notificados
19
.
A CAT representa o registro e o reconhecimento oficial do acidente de
trabalho, assegurando direitos ao trabalhador e o seguro acidentário junto ao INSS.
Porém, tal fonte de dados não expressa a realidade da situação nacional, pois a
maioria dos acidentes ocorridos de fato não é notificada, conforme diversos estudos
17,19-21
.
Mesmo sub-notificados, conforme apontam alguns estudos eles constituem
um problema de saúde pública, tendo em vista sua expressiva incidência. Em 2003,
a notificação de 390.180 acidentes e doeas relacionadas ao trabalho no Brasil e
de 2.509 no Rio Grande do Norte, ilustram a magnitude da problemática
12,19
.
11
Cordeiro
22
destaca, entre outros aspectos, na explicação dessa situação que
se repete sistematicamente, às características da legislação acidentária à falta de
uma política eficaz de vigilância e prevenção e às deficiências dos serviços de
atenção à saúde dos trabalhadores.
Por outro lado, de acordo com as diretrizes da Política Nacional de Saúde do
Trabalhador para o Sistema Único de Saúde (SUS), os acidentes de trabalho,
conectam-se intrinsecamente ao problema da violência vivido hoje pela sociedade
brasileira nos centros urbanos. As relações entre trabalho e violência têm sido
enfocadas em múltiplos aspectos, entre os quais se destacam: a violência contra o
trabalhador no seu local de trabalho, traduzida pelos acidentes e doenças do
trabalho; a violência decorrente de relações de trabalho deterioradas, como no
trabalho escravo e envolvendo crianças; a violência ligada às relações de gênero e o
assédio moral, caracterizada pelas agressões entre pares, chefias e subordinados.
Subjacente a tal perspectiva, são considerados trabalhadores em nosso
estudo, os homens e mulheres que exercem atividades para sustento próprio e/ou
de seus dependentes, qualquer que seja sua forma de inserção no mercado de
trabalho, no setor formal ou informal da economia. Estão incluídos nesse grupo
todos os indivíduos que trabalharam ou trabalham como: empregados assalariados;
trabalhadores domésticos; avulsos; rurais; autônomos; temporários, servidores
públicos; trabalhadores em cooperativas e empregadores, particularmente os
proprietários de micro e pequenas unidades de produção e serviços, entre outros.
Também são considerados trabalhadores aqueles que exercem atividades não
remuneradas, participando de atividades econômicas na unidade domiciliar; o
aprendiz ou estagiário e aqueles temporária ou definitivamente afastados do
mercado de trabalho por doença, aposentadoria ou desemprego
18
.
12
Na área da saúde, os acidentes de trabalho são relativamente comuns e
amplamente documentados na literatura científica de várias partes do mundo,
principalmente aqueles ocorridos com objetos pérfuro-cortantes
23-27
. Entretanto,
somente a partir da epidemia da AIDS nos anos 1980, as normas de segurança no
ambiente de trabalho foram aperfeiçoadas.
Rudah et al.,
27
estudando acidentes biológicos em um hospital universitário,
verificaram que os profissionais da saúde estão freqüentemente expostos a este tipo
de problema e identificaram no descumprimento das normas recomendadas, um dos
motivos que possibilitaram o aumento dos riscos ocupacionais desses trabalhadores.
Na visão de Souza
28
, os acidentes em ambiente hospitalar ocorreram, em
geral, após quatro horas trabalhadas nas unidades de internação, não sendo
observadas diferenças significativas entre os turnos de trabalho. Os acidentes com
agulhas foram os mais freqüentes (77,5% dos casos) e, em apenas (46,1% dos
acidentes) os profissionais estavam usando luvas. Para ela, os fatores de risco que
interferiram nos acidentes estavam associados às situações de risco real (falta de
material apropriado, sobrecarga de atividades, responsabilidade do empregador);
risco suposto (falta de conscientização, apesar dos programas de educação
continuada, o empregador supõe que o profissional conhece as normas); e o que ela
denomina de risco residual (falta de observação das medidas de biossegurança,
responsabilidade do(a) profissional). A autora quando comparou os coeficientes de
incidência de acidentes relacionados com materiais pérfuro-cortantes nos cinco
hospitais do município de São Paulo, constatou que os hospitais da rede privada
apresentaram coeficiente de incidência significativamente maior que os hospitais da
rede pública.
13
Brandão Júnior
29
, analisando as dimensões psicossociais do acidente com
material biológico no trabalho em um hospital geral, utilizou a metodologia qualitativa
empregando entrevistas individuais, sigilosas e anônimas realizadas no local de
trabalho, acompanhadas de um diário de campo e de observação participante.
Nesse trabalho, o autor reconhece que as dimensões psicossociais do acidente
ocupacional se mostraram na pesquisa, através de um processo dinâmico e
complexo que envolve a precarização do trabalho profissional, as repercussões
psicossociais pós–acidente no trabalho, na família, na associação imediata ao risco
de adquirir HIV/AIDS e as reações psicossomáticas pós-profilaxia. A partir dessas
considerações, o autor reflete que a visão da medicina do trabalho ainda é
predominante na análise de acidentes em hospitais, individualizando-os e ainda
prevalecendo a concepção de ato inseguro. Um dos problemas apontados nessa
pesquisa é que a dimensão psicossocial não é incorporada na compreensão dos
acidentes de trabalho no âmbito hospitalar.
Abreu e Mauro
30
, na busca dos fatores de risco a que estavam sujeitos os
membros da equipe de enfermagem no setor de emergência de um hospital
municipal do Rio de Janeiro e procurando identificar como foi feita a ocorrência da
comunicação dos acidentes sofridos por esses profissionais, reconheceram a
presença de vários fatores de riscos inerentes ao processo de trabalho hospitalar,
observaram que houve omissão de informações importantes aos trabalhadores
quando acidentavam-se, além da subnotificação desses acidentes.
No estudo realizado em um hospital universitário, Balsamo, Barrientos e
Rossi
31
relatam o perfil dos funcionários que sofreram acidente de trabalho com
exposição a líquidos corporais humanos, no hospital da Universidade de São Paulo.
Além de verificar a incidência dos acidentes de acordo com o tipo, local do corpo
14
atingido, turno, clínica, mês do ano e os principais objetos causadores, as autoras
concluíram afirmando que, “a repercussão econômica e social desses agravos,
permite o repensar das medidas de prevenção já adotadas e um aprofundamento na
identificação de outros determinantes sociais que estejam contribuindo para a
ocorrência de acidentes, priorizando a equipe de enfermagem”.
Segundo afirma Monteiro
32
em sua pesquisa realizada com o pessoal de
enfermagem de um hospital universitário, as regiões do corpo mais atingidas nos
acidentes ocupacionais são os membros superiores, seguidos dos inferiores e região
lombar, nessa ordem. Quanto à natureza da lesão, a maior incidência correspondeu
às contusões, seguidas pelas produzidas pelos instrumentos pérfuro-cortantes e, em
terceiro lugar, as provenientes de quedas, sendo estas últimas, ocorridas tanto no
local de trabalho como no trajeto residência-trabalho-residência. O autor conclui o
estudo, ressaltando que é de primordial importância o uso de equipamentos de
proteção individual no exercício da enfermagem hospitalar e da necessidade de
treinamentos, voltados para o desenvolvimento de técnicas de trabalho adequadas e
o uso correto da mecânica corporal.
Por outro lado, Angerami
33
considera algumas características da organização
do trabalho, como decisivas para a ocorrência dos acidentes ocupacionais, entre as
quais destaca: o estresse; as jornadas prolongadas; os ritmos acelerados de
trabalho; a pressão represssora e autoritária de uma hierarquia vertical; o controle do
modus operandi do trabalho; os riscos ocupacionais e a desqualificação do
trabalhador.
Nesse sentido, compreende-se que a partir do momento em que o trabalhador
não tem mais a posse de sua força de trabalho e do conhecimento total do processo
de trabalho, ele também deixa de produzir apenas para satisfazer às suas
15
necessidades básicas, no entanto, é dominado pela produção, obedecendo ao ritmo
imposto pela demanda de mercado, ao mesmo tempo em que seu trabalho perde
sua função social.
Para Dejours
34
, as condições objetivas do ambiente de trabalho podem
causar desgaste, adoecimento e morte. Entretanto, outro aspecto importante diz
respeito à sua dimensão organizacional, ou seja, a divisão das tarefas e as relações
sociais que se estabelecem entre os sujeitos que trabalham, gerando um conjunto
de pressões psíquicas que, quando bloqueadas, causam sofrimento. Para o autor,
os trabalhadores desenvolvem estratégias defensivas para lidar com o sofrimento e
as suas conseqüências mórbidas, que são construídas, organizadas e gerenciadas
coletivamente, formando-se um programa de ação compartilhada para enfrentar as
condições adversas.
Glina et al
35
consideram que o excesso de trabalho e a pressão por produção,
ocorrem nos diferentes degraus de hierarquia e que, quanto menor a autonomia do
trabalhador na organização de sua atividade, maior a possibilidade de que a
atividade gere transtorno à sua saúde mental.
Lert et al
36
enfatizam que o acidente do trabalho é, por sua própria natureza,
além de uma lesão física, também um fenômeno de natureza econômica, social e
legal, que nos permite examinar os problemas apresentados através de uma
abordagem multidisciplinar na pesquisa da saúde pública. Neste sentido, o estudo
dos acidentes de trabalho e suas repercussões na vida humana, têm raízes no
dinamismo das relações econômicas, sociais e na complexidade do processo de
trabalho, embora possam existir influências diversas, entre as quais, na maioria das
vezes, são destacados os fatores biológicos e ambientais.
16
É interessante enfatizar que as políticas de saúde e os modelos assistenciais
no Brasil, refletem os condicionamentos advindos das sociedades e épocas em que
se desenvolvem, abrangendo diferentes fatores dentre os quais se destacam: os
aspectos políticos, econômicos, sociais, tecnológicos, de conhecimento e culturais,
disponibilizados para enfrentar os problemas de saúde, presentes em cada contexto
histórico. Isso significa que, expressam o paradigma vigente desde as concepções
de saúde-doença no arcabouço técnico e político instituídos até a implementação
das práticas de saúde
37
, explicitados a seguir.
2.2 As formas de enfrentamento
2.2.1 A Medicina do Trabalho
No início do século XIX, no período da Revolução Industrial, quando a fábrica
passa a ser o locus das relações produtivas, a medicina, além dos cuidados com a
saúde da população, passa também a intervir no ambiente de trabalho, em busca de
atenção à saúde dos trabalhadores, para que o seu adoecimento não acarretasse
fraturas nos interesses do capital. Ao médico cabia, entre outras funções, todas as
responsabilidades de “manutenção” e controle da força de trabalho. Surge, assim,
em 1830, o primeiro serviço de Medicina do Trabalho
34,38
.
Em consonância com os modelos taylorista e fordista de administração, o
médico da empresa passa a selecionar os mais aptos, a controlar o absenteísmo e a
gerenciar o retorno ao trabalho, em casos de doenças ou acidentes. O médico passa
então, a exercer também controle sobre a produção como um aliado do capitalista
39
.
O suporte técnico-científico da Medicina do Trabalho é a Teoria Unicausal que
associava às doenças, a presença imediata dos microrganismos no hospedeiro,
buscava atuar unicamente sobre suas conseqüências, isolando riscos laborais
17
específicos e apenas medicalizando os sinais e sintomas diagnosticados na clínica,
ignorando as relações psicossociais que podem trazer sérios agravos para a saúde
dos trabalhadores
40
.
Quando a Medicina do Trabalho direciona seu diagnóstico médico unicamente
ao local de trabalho ou para as ferramentas utilizadas, está se distanciando da
capacidade real de trazer modificações para o diagnóstico apresentado. Estará,
quando muito, formando uma visão individualizada que pouco contribuirá para as
necessárias modificações nas condições e na organização do trabalho
41
. Desse
modo, a Medicina do Trabalho como especialidade médica, volta-se
fundamentalmente para o tratamento da doença e a recuperação da saúde,
desconsiderando as verdadeiras causas inerentes ao adoecer humano.
2.2.2 A Saúde Ocupacional
No período pós-Segunda Guerra, surge a "Saúde Ocupacional" sobretudo,
dentro das grandes empresas, com o traço da multidisciplinaridade e
interdisciplinaridade, a partir da organização de equipes progressivamente
multiprofissionais e da ênfase na higiene "industrial", refletindo a origem histórica dos
serviços médicos e o lugar de destaque da indústria nos países do Primeiro Mundo.
A racionalidade científica da atuação multiprofissional e a estratégia de intervir nos
locais de trabalho com a finalidade de controlar os riscos ambientais refletem a
influência das escolas de saúde pública, nas quais as questões de saúde e trabalho
já vinham sendo estudadas, há algum tempo. Na metade do século XX intensificam-
se o ensino e a pesquisa dos problemas de saúde ocupacional nas escolas de
saúde pública nos Estados Unidos (Harvard, Johns Hopkins, Michigan e Pittsburgh)
com forte matiz ambiental
38
. De certo modo, como vimos acima, a Medicina
18
Ocupacional visava à adaptabilidade do trabalhador à sua função, na maioria das
vezes escolhida mediante as suas aptidões fisio-psicológicas e, por fim, enfatizava a
proteção contra os riscos resultantes de agentes prejudiciais a sua saúde.
No Brasil, apesar das mudanças estabelecidas na legislação trabalhista,
através da regulamentação do Capítulo V da Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), reformada na década de 1970, principalmente nas normas relativas à
obrigatoriedade de equipes técnicas multidisciplinares nos locais de trabalho (atual
Norma Regulamentadora (NR) 4 da Portaria 3214/78); na avaliação quantitativa de
riscos ambientais e adoção de "limites de tolerância" (NRs) 7 e 15), entre outras,
foram mantidas na legislação previdenciária/acidentária as características básicas de
uma prática medicalizada, de cunho individual e voltada exclusivamente para os
trabalhadores engajados no setor formal de trabalho.
Na verdade, o conceito de Saúde Ocupacional apresenta-se como
multidisciplinar, porque envolve profissionais de áreas distintas. Assim, a higiene do
trabalho atua sobre o ambiente; a engenharia de segurança do trabalho está
direcionada para os índices de acidente ou a busca dos agentes patogênicos
existentes no local de trabalho, lidando com os conceitos de riscos físicos, químicos,
biológicos e mecânicos e indicando as medidas de segurança para cada caso; além
disso, há uma medicina do trabalho com enfoque também assistencial
41
.
Sendo assim, o fracasso do modelo da Saúde Ocupacional se dá, segundo a
visão de Mendes e Dias
38
devido as seguintes características: mantém o referencial
da Medicina do Trabalho fundamentado no mecanicismo; não concretiza o apelo à
interdisciplinaridade, isto é, na prática as atividades apenas se justapõem de
maneira desarticulada e são dificultadas pelas lutas corporativas; a capacitação de
recursos humanos, a produção do conhecimento e da tecnologia de intervenção não
19
acompanham o ritmo da transformação dos processos de trabalho; o modelo, apesar
de enfocar a questão no coletivo de trabalhadores, continua a abordá-los como
"objeto" das ações de saúde e, por último, a manutenção da saúde ocupacional no
âmbito do trabalho, em detrimento do setor saúde.
2.2.3 A Saúde do Trabalhador
Paralelamente a este modelo, vem surgindo no cenário internacional a
emergência de novos valores provenientes das lutas dos movimentos sociais
organizados e preocupados com a questão da saúde no trabalho, diante da
incapacidade de obterem respostas da saúde ocupacional para suas demandas.
Esses movimentos, originários de países desenvolvidos, questionam, entre
outros pontos, os valores da vida e da liberdade, o significado do trabalho na vida do
indivíduo e o papel do Estado na regulamentação do valor do trabalho. Tais
movimentos sociais querem, acima de tudo, participação nas questões de saúde e
segurança no trabalho
39
.
Assim, por exemplo, na Itália, a Lei 300, de 20 de maio de 1970 ("Norme per
la libertá e la dignitá dei lavoratori, delia liberta sindicale e dell'attivitá sindícale nei
luoghi di lavoro"), mais conhecida como "Estatuto dos Trabalhadores", incorpora
princípios fundamentais da agenda do movimento de trabalhadores, tais como a não
delegação da vigilância da saúde ao Estado, a não monetização do risco, a
validação do saber dos trabalhadores e a realização de estudos e investigações
independentes, o acompanhamento da fiscalização e o melhoramento das
condições e dos ambientes de trabalho
38,39
.
Toda esta nova legislação tem como alicerces comuns o reconhecimento do
exercício de direitos fundamentais dos trabalhadores, entre eles, o direito à
20
informação sobre a natureza dos riscos, as medidas de controle que estão sendo
adotadas pelo empregador, os resultados de exames médicos e de avaliações
ambientais, e outros; o direito à recusa ao trabalho em condições de risco grave para
a saúde ou a vida; o direito à consulta prévia aos trabalhadores, pelos
empregadores, antes de mudanças de tecnologia, métodos, processos e formas de
organização do trabalho além do estabelecimento de mecanismos de participação,
desde a escolha de tecnologias, até, em alguns países, a escolha dos profissionais
que irão atuar nos serviços de saúde no trabalho
38
.
No Brasil, no início dos anos 1980, a Previdência Social sofreu uma profunda
crise de caráter político, social e econômico, cuja expressão maior traduzia-se na
ausência de recursos financeiros, na sua fragilização diante das constantes
reclamações da população, quanto à qualidade da assistência médica em vários
serviços, reforçada pelas denúncias de fraudes na relação com a iniciativa privada.
Através da abertura política, os movimentos populares embalados pelo advento da
Nova República, apontaram para a defesa de uma política de saúde mais
abrangente, democrática e igualitária.
Nessa perspectiva e de acordo com a visão de Oliveira
42
, a Saúde do
Trabalhador é uma área temática de intervenção, que incorpora uma visão mais
abrangente e interdisciplinar da saúde. Está inserida no âmbito da saúde pública e
pressupõe uma participação de equipe técnica multiprofissional e dos trabalhadores.
De fato essa abordagem é centrada na historicidade do processo de
produção/trabalho, diferindo da Medicina do Trabalho e da Saúde Ocupacional
enquanto campos disciplinares preferentemente situados, no âmbito da Clínica e
Medicina Preventiva.
21
Convém ressaltar, que nessa forma de intervenção, os múltiplos olhares das
diferentes disciplinas não são simples somatórios, mas o surgimento de um novo
olhar. Trata-se, portanto, de um ponto de vista que aponta os enfoques
interdisciplinar e interinstitucional como essenciais para a construção do campo da
Saúde do Trabalhador, além do mais há possibilidades para o avanço em direção à
transdisciplinaridade, aqui compreendida “como algo que lida com o que está ao
mesmo tempo entre as disciplinas, através das disciplinas e além de todas as
disciplinas, na tentativa de compreender o mundo”
43
.
Segundo Porto e Almeida
44
os campos teóricos e operativos que envolvem
simultaneamente diferentes áreas de conhecimento e práticas instrumentais em
torno de problemas complexos, como é o caso área temática Saúde do Trabalhador,
são espaços privilegiados para a formação de equipes multiprofissionais e estudos
interdisciplinares num processo interativo de amadurecimento que pode levar a
produção de conceitos e marcos teóricos transdisciplinares, importantes para a
definição de políticas públicas.
No quadro exposto na próxima página é possível identificar de forma
resumida, as principais características da Medicina do Trabalho, da Saúde
Ocupacional e Saúde do Trabalhador.
22
Quadro 1. Comparativo entre Medicina do Trabalho, Saúde Ocupacional e Saúde
do Trabalhador.
FATORES MEDICINA DO
TRABALHO
SAÚDE OCUPACIONAL SAÚDE DO
TRABALHADOR
OBJETIVOS
Tratamento de
doenças e
recuperação da saúde
Prevenção de doença
e controle dos agentes
ambientais
Promoção da saúde
e controle das
causas
ENFOQUE
Individual Individual e ambiental Coletivo
CARÁTER
DAS AÇÕES
Técnico Técnico Político/conflitivo
CENÁRIO
DAS AÇÕES
Consultório/escritório Ambulatório/serviço Sociedade
ATOR
PRINCIPAL
Médico/engenheiro Médico, ergonomista,
enfermeiro, psicólogo,
higienista, etc.
Todos envolvidos
Trabalhador: sujeito
da ação
FONTE: Ubirajara Mattos no I Congresso de Saúde do Trabalhador Perspectivas do 3
o
Milênio – Universidade do Estado do Rio de Janeiro(UERJ) 28 de junho a 2 de julho de
1999.
Outro aspecto importante no contexto brasileiro é que a configuração da
Saúde do Trabalhador se dá diretamente no âmbito do direito à saúde, previsto
como competência do Sistema Único de Saúde (SUS), através da Lei Orgânica da
Saúde (Lei Federal 8080/90), em seu artigo 6º, parágrafo 3º. Devido à abrangência
de seu campo de ação, apresenta caráter intra-setorial, (envolvendo todos os níveis
de atenção e esferas de governo do SUS), e intersetorial, (envolvendo a Previdência
Social, Trabalho, Meio Ambiente, Justiça, Educação e demais setores relacionados
com as políticas de desenvolvimento), exigindo uma abordagem interdisciplinar
envolvendo também a gestão participativa dos trabalhadores
18
.
Nesse sentido a saúde passa a ser considerada como um processo dinâmico,
uma dimensão da qualidade de vida, recurso para enfrentar e responder aos
desafios da vida, um direito humano fundamental para o desenvolvimento de uma
nação. Dessa forma, os problemas de saúde deixam de ser analisados a partir da
perspectiva unicamente individual para serem abordados de maneira ampla e
integral, na perspectiva da promoção da saúde. Assim, a saúde deixa de ser
23
responsabilidade unicamente das instituições ou profissionais específicos e passa,
por meio de articulações interdisciplinares e parcerias intersetoriais, a aglutinar
diversos setores da sociedade implicados na construção e implantação de políticas
públicas saudáveis, na criação de ambientes saudáveis para todos e na melhoria da
qualidade de vida
45,46
.
Diante da complexidade do objeto de estudo da Saúde do Trabalhador e das
dificuldades teórico-metodológicas ainda presentes nesse campo, torna-se lícito
contribuir com novas reflexões sobre o acidente de trabalho na perspectiva das
representações sociais.
2.2.4 A Teoria das Representações Sociais
A Teoria das Representações Sociais (TRS), formulada no final dos anos 50
do século passado por Serge Moscovici apud Jodelet
47
, se apresenta como
proposição de uma démarche epistemológica de interpretação da realidade cotidiana
da vida moderna. Ela marca uma nova etapa na história da psicologia, a medida que
opera uma ruptura com os modelos funcionalistas e positivistas ainda em vigor
nessa época. É por sua proposição em pensar o homem e os acontecimentos
sociais, invertendo os princípios e a ordem do conhecimento psicológico até então
estabelecidos, que a TRS vai encontrar resistência, notadamente, entre os
paradigmas dos saberes dominantes na época – o behaviorismo e o marxismo do
tipo mecanicista
47
.
Antes do advento da TRS, o pensamento das massas, correntemente
denominado senso comum, era considerado como um corpus de conhecimento
confuso, inconsistente, desarticulado e fragmentado. Em relação ao conhecimento
científico, o senso comum era situado num pólo extremo e oposto: como uma
24
espécie de saber selvagem, profano, ingênuo e, até mesmo, de mentalidade pré-
lógica conforme classificavam a sociologia, a psicologia, a antropologia, entre outras
48
.
Em “A Psicanálise, sua imagem e seu público” Moscovici
49
introduz a TRS,
tomando como objeto de pesquisa, a apropriação da psicanálise pelo grande público
francês dos anos 50, o qual difunde esse saber científico, inédito, transformando-o
numa forma de conhecimento socialmente elaborado e partilhado enquanto saber
prático do senso comum. O que de fato procura Moscovici não é a tradição de um
social pré-estabelecido das sociedades ditas arcaicas, como fizera Durkheim, mas
ele se interessa pela inovação de um social móvel do mundo moderno no qual
predominam mudanças constantes e o pluralismo de idéias e de doutrinas, quer
políticas, religiosas, filosóficas e morais, transformado com a divisão social do
trabalho e a emergência de um novo saber: a ciência
48,50
.
Assim, Moscovici substitui a noção de representações coletivas pelo conceito
de representações sociais. A razão dessa mudança terminológica se justifica, de um
lado, pela diversidade tanto da origem dos indivíduos quanto dos grupos. Por outro
lado, pelo reconhecimento da importância da comunicação enquanto fenômeno que
possibilita convergir os indivíduos (apesar de e por causa da divisão social do
trabalho) numa rede de interações em que, qualquer coisa de individual pode tornar-
se social e vice-versa. Nesse processo de comunicação, as representações sociais
se elaboram na antinomia interativa onde são simultaneamente geradas e
adquiridas. Para ele, as representações sociais não são homogêneas nem
partilhadas enquanto tais, por toda a sociedade. E uma vez forjadas em condições
socialmente desiguais, como resultado da divisão social do trabalho, as
25
representações são, portanto, sociais, já que partilhadas, mas não homogêneas,
porque são partilhadas na heterogeneidade da desigualdade social.
48,49
.
Segundo ele, as representações sociais possuem um caráter socializador e
as idéias, os valores, as crenças comuns são percebidas como um caso particular
da atividade coletiva de um grupo social. O universo de opiniões particulares que
pertence a cada grupo é o produto de uma comunicação na qual a mensagem passa
por uma decodificação, isto é, que a mensagem é construída, diferenciada e mesmo
deformada. A comunicação não se reduz ao fato de transmitir uma mensagem. Ela
deforma, diferencia, traduz, da mesma forma que os grupos criam, deformam ou
traduzem os objetos sociais ou as imagens dos outros grupos. Assim, o pensamento
é socialmente condicionado e o estudo das representações sociais implica na
análise das formas culturais de expressão dos grupos, da organização e da
transformação desta expressão e, finalmente, de sua função mediadora entre os
grupos, ou mais geralmente, entre o homem e seu meio. Desta forma, o
conhecimento social não é a acumulação de conhecimentos individualmente
determinados, ele resulta de condições e de práticas comuns, que realmente ao
mesmo tempo o modelam e o nutrem. O social não é apenas uma tela de fundo, ele
gera as representações sociais.
Por fim, Moscovici considera que as representações sociais encarnam
fenômeno típico das sociedades modernas, poli-religiosas, pluripartidárias,
mediáticas, em que não há mais mitos unificadores como os gregos ou os indígenas,
e sim uma proliferação de conceitos, imagens, que nascem e evoluem sob nossos
olhos, sem terem tempo de se transformarem em tradições. “Elas determinam nossa
visão de mundo e nossa reação às pessoas e coisas. Seu impacto não provém da
26
sua consistência, mas da penetração que tem, da visão que transmitem e da ação
que encorajam”
51,52
.
Por refletirem um esforço incessante de tornar alguma coisa não familiar em
alguma coisa familiar, as representações sociais ocorrem sob dois processos: a
ancoragem e objetivação. A ancoragem esquematiza alguma coisa estranha que
nos intriga, no nosso sistema particular de categorias, classificando ou
categorizando os pensamentos, denominando-os e colocando-lhe um nome. Esta
colocação de nome é destinada ao que tem sido classificado. A objetivação funciona
como um processo de saturação de um conceito não familiar com a realidade,
mudando-o em bloco de construção da realidade de si própria, transformando o
abstrato em concreto, o mental em físico, e o desconhecido em conhecido
53
.
Sob esta ótica, as representações sociais aparecem como um conhecimento,
que não se caracteriza por uma contraposição ao saber científico. Trata-se,
fundamentalmente, de uma forma de saber que, como os outros (mitologia, teologia,
filosofia, ciência, etc.), diferencia-se pelos modos de elaborações a que se destina
cada um, respectivamente
48
.
2.2.5 A Teoria do Núcleo Central
A partir da Teoria do Núcleo Central, considerada pelo próprio autor como
complementar à Teoria proposta por Moscovici, Abric
54
, seu criador, se ocupa em
aprofundar a idéia embrionária colocada por Moscovici, quanto à existência de um
núcleo figurativo, a partir do qual é que se pode falar de uma mudança nos estudos
de representações sociais. Ele afirma, “que a representação constitui um universo de
opiniões e de crenças organizadas, em torno de uma significação central e em
relação a um objeto determinado, tendo a estrutura interna de uma representação
27
social como principal característica, o fato de ser organizada em torno de um núcleo
central. Em uma representação, o sistema central fundamenta a sua coerência e a
sua permanência, possibilitando assim o consenso no seio de um grupo social
específico. Já o sistema periférico admite variações interindividuais e intra-
individuais, funcionando como um dispositivo plástico e adaptativo da
representação”.
Assim, segundo Abric, é a identificação do núcleo central que permite o
estudo comparativo das representações. Para que duas representações sejam
diferentes, elas devem ser organizadas em torno de dois núcleos centrais diferentes.
A simples identificação do conteúdo de uma representação não basta para o seu
conhecimento e especificação. No entanto, a organização deste conteúdo é
essencial: duas representações definidas por um mesmo conteúdo podem ser
radicalmente diferentes, caso a organização destes elementos, portanto sua
centralidade, seja diferente. Nesse sentido a Teoria do Núcleo Central é hoje
considerada como uma grande contribuição ao estudo das representações sociais
na medida em que reconhece que essas representações não são construídas em
caráter definitivo e enquanto construções sociais complexas, estão sempre sujeitas a
incessantes desmanchamentos e reconstruções. Porém, uma vez constituídas
apresentam um núcleo central perceptível pela identificação dos elementos que o
compõem, representado pelo conteúdo e a maneira como se organizam em seu
interior.
Nesse sentido o autor destaca as duas principais funções do núcleo central: a
primeira denominada de geradora possibilita a criação ou transformação do sentido
dos outros elementos constituintes da representação; a segunda determina a
natureza dos elos que unem os diferentes elementos representacionais e por isso é
28
chamada de organizadora. Sendo assim, Abric se preocupou em sua abordagem
inicial, em identificar o caráter mais estável, organizador e permanente das
representações sociais, de maneira que todo esforço do seu trabalho foi no sentido
de delinear as razões da centralidade e a importância do núcleo central como parte
da representação vinculada aos sistemas culturais mais amplos, presentes na
memória coletiva e mais vinculada à permanência das representações. Por outro
lado, o sistema periférico reporta-se às expressões mais individualizadas,
respondendo mais diretamente às questões do cotidiano por ser mais ligado ao
contexto imediato, sendo assim mais flexível e voltado a atualizações e mudanças.
Diante disso, os elementos periféricos da representação social respondem a
três funções principais:
Função de concretização: constitui a interface entre o núcleo central e a situação
concreta na qual a realidade é elaborada ou colocada em funcionamento. Eles
permitem a formulação da representação em termos concretos, imediatamente
compreensíveis e transmissíveis
Função de regulação: adaptação das representações às evoluções do contexto,
os elementos periféricos constituem o aspecto móvel e evolutivo da
representação.
Função de defesa: constitui o que Flament
55
chama de pára-choque da
representação. É no sistema periférico que podem ser toleradas as contradições.
Ainda discorrendo sobre a sua Teoria, Abric
54
enfatiza que não é a freqüência
com que um dado elemento aparece que irá definir sua posição em termos de
centralidade ou enquanto elemento periférico, mas sim o fato desse elemento dar
significado a outros elementos mais freqüentes. O conhecimento dos elementos
mais centrais da representação e dos elementos mais flexíveis é que permitirá
29
compreender a interação entre o funcionamento individual e as condições sociais,
nas quais os atores sociais evoluem e, consequentemente, informam sobre qual a
melhor forma de intervir, no sentido de provocar mudanças das representações,
caso estas representem um obstáculo às mudanças desejadas. Desse modo, o autor
brilhantemente indica, de forma clara, que é no sistema semântico periférico o local
onde as modificações de uma representação são possíveis e é para esse espaço
que as políticas públicas devem ser direcionadas.
A Teoria do Núcleo Central a cada dia, adquire mais consistência à medida
que se preocupa, em dar um estatuto mais claro de cientificidade às representações
sociais em resposta às profundas críticas lançadas contra a proposição elaborada
por Moscovici. A acumulação de pesquisas, resultado de uma tendência que limitava
o estudo das representações sociais a uma procura de conteúdos, provocava
insatisfação em vários pesquisadores descontentes com a situação e cientes da
possibilidade de uma afirmação mais convincente das representações sociais do
ponto de vista metodológico.
Rouquette apud Anadon e Machado
50
afirma que para “compreender
verdadeiramente as representações sociais não basta acumular pesquisas ou
observações de casos”. Para ele, é importante identificar as estruturas e não os
conteúdos, as estruturas e não a substância. Dito de outra forma, o conhecimento
não deve ser descrito como uma substância, mas como um acontecimento. Se a
tendência dos conteúdos privilegia a representação social enquanto produto, a
perspectiva estrutural defendida por Abric, opta pelo estudo da representação social
enquanto processo, apoiando-se em duas idéias básicas: “os componentes de uma
representação social estão em interdependência e este tipo de organização interna
30
dos componentes, se coloca na origem da coerência do fenômeno
representacional”
56
.
Autores como Doise, Clemence e Lorenzi-Ciold
57
, defendendo a
experimentação, concebem que é preciso ultrapassar a idéia de objetivação como a
descrição direta e reificada de representações existentes em uma dada população,
incapaz de perceber a variação existente entre indivíduos. Estas variações não se
fazem ao acaso, pois são regidas por princípios organizadores, cuja análise
constitui-se em uma fase indispensável dos estudos sobre representações sociais.
Eles reforçam que se utilizando métodos centrados em fundamentos matemáticos,
clarificação automática, análise fatorial de correspondências, análise de
segmentação e análise discriminante supera-se a crítica feita por alguns, ao estudo
das representações sociais como uma pesquisa incapaz de objetivar as diferenças e
a heterogeneidade da realidade social, atendo-se apenas a uma visão consensual
da realidade. Assim, concluem que técnicas como a análise fatorial de
correspondências permite a identificação de princípios organizadores que ressaltam
as diferenças entre respostas individuais.
Abandonando em parte o terreno da teorização, a análise estrutural procura
identificar os elementos estruturais não variáveis com a finalidade de explicar o
funcionamento interno das representações sociais. A grande diversidade dos
conteúdos é substituída pelo poder preditivo do estudo e pela sua capacidade de
generalização
50
.
Segundo Abric
56
, uma das primeiras contribuições das pesquisas
experimentais é justamente verificar se os comportamentos dos sujeitos ou dos
grupos não são determinados pelas características objetivas da situação, mas pela
representação desta situação. Grade de interpretação e de decodificação da
31
realidade, as representações produzem as antecipações dos atos e dos
comportamentos (seus e dos outros), a interpretação da situação num sentido pré-
estabelecido, graças a um sistema de categorização coerente e estável. Inibidoras
das condutas, elas permitem sua justificação em relação às normas sociais e sua
integração. O funcionamento operatório tanto dos indivíduos quanto dos grupos é
diretamente dependente do funcionamento simbólico. Neste sentido na teoria
proposta por Abric, o núcleo central seria o elemento que demonstra que a memória
prevalece sobre a dedução, o passado sobre o presente, a resposta sobre o
estímulo, as imagens sobre a realidade.
Entretanto, Abric também reconhece que a abordagem experimental pode
trazer apenas algumas respostas, que, embora fundamentais, são limitadas, pois é
no campo que são elaboradas e se transformam as representações sociais. E
ninguém que se interesse por essa temática pode considerar a abordagem
experimental como exclusiva. Os estudos qualitativos constituem instrumentos
indispensáveis e freqüentemente mais ricos em informações, inclusive teóricas, para
o conhecimento e a análise das representações sociais.
Nessa perspectiva, pensar nas questões psicossociais a respeito do acidente
de trabalho em saúde é, sobretudo, ouvir o trabalhador; é refletir sobre o
conhecimento prático a respeito da vivência das relações interpessoais e condições
de trabalho imediatas e historicamente construídas; é tentar identificar uma
dimensão subjetiva-existencial na maioria das vezes desprezadas em estudos
epidemiológicos realizados no campo da Saúde do Trabalhador. Enfim, é fazer uma
releitura dessa temática à luz do suporte teórico da TRS.
3 MÉTODOS
“Agir, viver, conservar o
ser, essas três
expressões significam a
mesma coisa”.
Espinosa
32
3 MÉTODOS
Trata-se de um estudo que tomou como referencial a Teoria das
Representações Sociais em sua abordagem estrutural.
Esta investigação se realizou durante todo o ano de 2004 e meados de 2005,
e o foco de análise dirigiu-se para o conjunto dos trabalhadores de um hospital geral
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), localizado em Natal-RN.
Inicialmente, realizou-se um estudo preliminar de caráter exploratório após a
apresentação do projeto ao Diretor Geral do hospital e mediante o consentimento
obtido (anexo 1), com o objetivo de testar os instrumentos de pesquisa, além da
familiarização do pesquisador com o ambiente hospitalar, bem como, identificar as
dificuldades e facilidades para a operacionalização do estudo. Além disso, os dados
existentes acerca da força de trabalho e as especificidades dos processos de
trabalho presentes nos diferentes setores, também foram conhecidos.
No tocante ao quadro de pessoal, os três grupos de trabalhadores existentes
na estrutura organizacional do hospital são classificados pelo setor de recursos
humanos da UFRN da seguinte forma: o primeiro grupo é formado por
trabalhadores de apoio que exercem suas atividades profissionais como
Armazenistas, Atendentes de consultório, Atendentes de enfermagem, Auxiliares de
cozinha, Auxiliares de laboratório, Auxiliares de nutrição, Copeiros, Cozinheiros,
Despenseiros, Maqueiros, Marceneiros, Operadores de máquina, Passadeiros,
Pintores, Serventes e Vestiaristas.
O segundo, é formado por trabalhadores do grupo médio que atuam
diretamente com os pacientes ou em funções administrativas, de apoio diagnóstico e
terapêutico e de apoio logístico e operacional, tais como: Assistentes
33
administrativos, Auxiliares de enfermagem, Bolsistas, Contínuos, Datilógrafos,
Estagiários, Laboratoristas, Motoristas, Recepcionistas, Técnicos em enfermagem,
Técnicos em nutrição, Técnicos em radiologia, Técnicos em reabilitação e
fisioterapia, Telefonistas e Voluntários.
O terceiro grupo é formado por trabalhadores com grau de instrução superior,
atuando diretamente junto aos pacientes ou em funções administrativas, de apoio
diagnóstico e terapêutico e de apoio logístico e operacional, tais como:
Administradores, Assessores hospitalares, Assistentes sociais, Cirurgiões-dentistas,
Enfermeiros, Engenheiros eletrônicos, Farmacêuticos, Farmacêuticos bioquímicos,
Fisioterapeutas, Fonoaudiólogos, Médicos, Psicólogos, Nutricionistas e Voluntários.
Convém ressaltar que os dados coletados no estudo piloto, obtidos a partir das
entrevistas com dez pessoas de cada grupo, usando a Técnica de Associação Livre
de Palavras (TALP) e entrevista, mediante esclarecimentos prévios acerca dos
objetivos da pesquisa e assinaturas do Termo de Consentimento de Livre e
Esclarecido (TCLE) (Anexo2) não foram utilizados na etapa seguinte do estudo.
3.1 Comitê de Ética em Pesquisa
Previamente à realização da pesquisa e do estudo piloto, o projeto foi
submetido à apreciação e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Anexo 3). Paralelamente, foi
solicitada a autorização da Diretoria Geral do Hospital, para a realização desse
estudo que se manifestou ser inteiramente favorável (Anexo 1). O pesquisador
explicou a todos e a cada um, os objetivos do trabalho, além de garantir o anonimato
e o sigilo profissional. Todos os participantes assinaram o TCLE (Anexo2), com
todas as informações referentes à pesquisa, de acordo com as Diretrizes da
34
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e da Comissão Nacional de Ética
em Pesquisa.
3.2 Local do estudo
A coleta de dados e de informações ocorreu em um Hospital Geral
Universitário, instituição pertencente à UFRN. O referido hospital faz parte do
Sistema Único de Saúde, sendo categorizado como hospital terciário, funcionando
como referência para o Estado do Rio Grande do Norte.
Trata-se de um hospital geral, com cerca de 189 leitos, que possui várias
especialidades relacionadas à atenção a saúde, entre as quais destacam-se as
seguintes: Cirúrgicas, totalizando 90 leitos (Cardiologia, Cirurgia geral,
Gastroenterologia, Nefrologia, Urologia, Neurologia, Oftalmologia, Oncologia,
Ortopedia, Traumatologia, Otorrionolaringologia, Plástica, Torácica, Vascular e
Proctologia); Clínica Médica, totalizando 82 leitos (Cardiologia, doenças crônicas,
Dermatologia,Hematologia, Nefrologia, Neurologia, Oncologia, Pediatria,
Pneumologia, Gastroenterologia, Endocrionologia, Reumatologia e Psiquiatria);
Unidade Semi-intensiva, totalizando 4 leitos (Unidade coronária); Unidade de
Terapia Intensiva, totalizando 10 leitos (UTI, Cardiologia e Neurologia) e Unidade de
transplante, totalizando 3 leitos (Transplante renal) e outras direcionadas à
internação hospitalar assim como também recebe pacientes para atendimentos
ambulatoriais variados.
A sua estrutura também dispõe de uma Unidade de Saúde Familiar
Comunitária, que direciona as suas ações ao nível e Atendimento Primário, um
Centro de Diagnóstico por Imagem com capacidade para a realização de
tomografias, ressonâncias magnéticas, hemodinâmicas, ecocardiogramas, testes
35
ergométricos, endoscopias, broncoscopias, ultrassonografias, eletroencefalogramas,
dentre outros, e uma Unidade Educacional Infantil UEI-UFRN, também conhecida
como creche da saúde, que tem cerca de 70 crianças da pré-escola matriculadas.
Em relação aos recursos humanos, o hospital tem 1.052 trabalhadores, assim
distribuídos: 204 (do grupo de apoio), 570 (do grupo de nível médio) e 278 ( do
grupo de nível superior). A razão para escolha de trabalhadores da área da saúde,
dos grupos de apoio, médio e superior, servidores do Hospital Universitário (HU),
para o desenvolvimento da pesquisa, se deu, dentre outros aspectos, porque é um
local em que as atividades de pesquisa são valorizadas, os dados relacionados com
os recursos humanos estão sempre atualizados e a Comissão Interna de Prevenção
de Acidentes foi constituída desde o ano de 1999, continuando atuante até o
presente momento.
3.3 Definição e seleção da amostra
Tomando como base uma margem de erro de 10%, para uma prevalência de
acidente de trabalho estimada em 58%, utilizou-se como referência aquele realizado
para estudos seccionais cuja variável dependente é qualitativa nominal, (sofreu ou
não acidente de trabalho) ao nível de significância de 5%. Assim, obteve-se um total
de 470 indivíduos a serem entrevistados, sendo 95 do grupo de apoio, 250 do grupo
médio e 125 do grupo com grau de instrução superior, considerando o percentual
dos acidentes de trabalho ocorridos, segundo estudo realizado anteriormente nesse
hospital
58-60
.
Inicialmente, foram selecionados, mediante sorteio, os setores do hospital nos
quais seriam realizadas as entrevistas. O sorteio se deu a partir de uma lista padrão
contendo todos os setores do hospital, fornecida pelo setor de pessoal. Em seguida,
36
o pesquisador dirigiu-se para cada setor sorteado, nos diferentes turnos de trabalho,
e convidava as pessoas presentes dos três grupos a participarem do estudo. Os
indivíduos que estivessem presentes neste momento e que concordassem em
participar do estudo, eram entrevistados, até que se atingisse o total correspondente
ao tamanho da amostra.
Assim, foram entrevistados os trabalhadores que estavam presentes nos
seguintes locais sorteados: almoxarifado, ambulatórios, arquivos geral e médico,
centros cirúrgicos, centro de diagnóstico por imagem, central de esterilização, central
telefônica, comissão de controle de infecção hospitalar, enfermarias, engenharia
clínica, farmácia, faturamento e compras, fisioterapia, higienização, laboratórios,
lavanderia, manutenção, mecanografia, nutrição (produção de alimentos e nutrição
clínica), portarias, radiologia, recepção, pessoal, serviço social, unidade educacional
infantil, unidade de saúde da família, unidade de terapia renal (transplante e
hemodiálise), unidade de terapia intensiva, vigilância epidemiológica. Não ocorreram
perdas de unidades amostrais, apenas foram excluídos do estudo os trabalhadores
ausentes nos setores durante o período determinado para a coleta dos dados e
aqueles que se recusaram a participar da pesquisa.
No presente estudo, utilizou-se as seguintes variáveis independentes: o sexo;
a força de trabalho aqui considerada como uma expressão que advém da economia
política, ligada particularmente à escola clássica dos economistas Smith, Ricardo e
Marx, que nos remete às seguintes questões: produção, emprego/desemprego,
renda, divisão do trabalho, setor de emprego, assalariamento
7
, entre outros; assim
classificada segundo o setor de pessoal do hospital (apoio, médio e superior), o grau
de instrução; o setor de trabalho; o vínculo empregatício; o turno de trabalho; se o
37
trabalhador possui ou não outro emprego; se costuma usar EPI quando trabalha; e
se o trabalhador se sente satisfeito com o trabalho.
Além da variável dependente “acidente de trabalho”, nesse estudo
compreendido segundo o artigo 19 da Lei 8.213 de 24 de julho de 1991 como
“aqueles que ocorrem pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando
lesão corporal ou perturbação funcional que cause morte, perda ou redução,
permanente ou temporária, da capacidade de trabalho”
13
, utilizou-se ainda, outras
variáveis que dizem respeito às circunstâncias em que ocorreram os acidentes de
trabalho, no complexo de saúde, tais como: se o trabalhador sofreu acidente, setor
onde ocorreu o acidente, tipos de acidentes, quando ocorreu o acidente, a parte do
corpo afetada, se estava usando EPI no momento do acidente, motivos do
uso/desuso, se houve afastamento do trabalho após o acidente e o período de
afastamento.
3.4 Instrumentos de coleta de informações
Para a elaboração dos instrumentos de coleta de informações foram utilizados
os referenciais de Abric
61,63
e Campos
62
, através da Técnica de Associação Livre de
Palavras (TALP), usada como estratégia de acesso ao núcleo central de Vergès,
apresentada por Sá
64
, mediante a combinação entre freqüência e ordem média de
evocações. Na primeira fase da pesquisa, utilizou-se para a coleta de dados a
combinação dos seguintes instrumentos: as associações livres dos temas “acidente”,
“acidente de trabalho em saúde”, “risco ocupacional” e “equipamento de proteção
individual”. No intuito de apreender os elementos representacionais centrais e
periféricos sobre esses temas, foram utilizadas as evocações livres, solicitadas
através das seguintes perguntas:
38
1. O que lembra a você a palavra acidente?
2. O que lembra a você a expressão acidente de trabalho em saúde?
3. O que lembra a você a expressão risco ocupacional?
4. O que lembra a você a expressão equipamento de proteção individual?
Cada uma dessas perguntas deveria ser respondida com três palavras
evocadas que eram anotadas pelo pesquisador e pedia-se ao entrevistado que
marcasse, dentre as três palavras citadas a que considerava mais importante (Anexo
4). As palavras evocadas mais freqüentemente e mais prontamente pelos sujeitos,
provavelmente, constituiriam os elementos centrais das representações desses
sujeitos acerca dos temas. A TALP foi aplicada em 470 sujeitos resultando no total
de 4.226 evocações.
Além desse, nesta primeira fase da pesquisa utilizou-se um segundo
instrumento de coleta de dados. Trata-se de um questionário, (Anexo 5) no sentido
de coletar os seguintes dados sócio-profissionais: a escolaridade, considerando que
ensino fundamental, ensino médio e ensino superior, refere-se aos trabalhadores
que concluíram respectivamente a educação básica, o antigo segundo grau, hoje
ensino médio e algum curso de graduação. Torna-se interessante registrar que
nenhum dos participantes da pesquisa era iletrado. Certamente, pela UFRN oferecer
ao seu corpo funcional desde 1997, cursos de educação fundamental e médio.
O setor de trabalho, classificado com o objetivo de agrupá-los segundo a
natureza do processo de trabalho (ambulatorial, internamento, apoio diagnóstico-
terapêutico além do apoio logístico e operacional) refere-se aos diferentes
ambulatórios existentes no complexo de saúde, aos espaços destinados aos
pacientes internados, isto é os leitos das enfermarias, locais específicos para a
coleta, realização de exames, além do suporte terapêutico aos pacientes, locais
39
responsáveis pelos aspectos administrativos e burocráticos, tais como: setor de
pessoal, compras de materiais e equipamentos, manutenção, armazenamento,
informações, etc.
O vínculo empregatício estatutário, diz respeito aos funcionários públicos
ligados diretamente à Universidade e Secretarias Municipal e Estadual de Saúde,
enquanto que o vínculo empregatício terceirizado refere-se aos trabalhadores das
empresas prestadoras de serviços ao hospital. Já os bolsistas e voluntários são
aqueles trabalhadores que exercem suas funções no hospital, geralmente por um
determinado período de tempo.
Quanto aos turnos de trabalho matutino, vespertino, noturno e alternado,
referem-se aos trabalhadores que desenvolvem suas atividades, respectivamente,
entre 07:00 e 13:00 horas, 13:00 e 19:00 horas, 19:00 e 07:00 horas apenas e aos
trabalhadores que em determinados dias trabalham durante o dia, complementando
a carga horária através da escala de plantão noturno com folgas; a jornada de
trabalho diária, onde o trabalhador informava as horas trabalhadas diariamente; se
possui ou não outro emprego (não ou sim); se costuma usar EPI quando trabalha
(não ou sim). No final do questionário havia uma pergunta sobre satisfação com o
trabalho, contemplando as seguintes alternativas: a) Muito Satisfeito(a) b)
Satisfeito(a) e c) Insatisfeito(a) e pedia-se para que os sujeitos justificassem as
respostas.
Ainda com o segundo instrumento de coleta, as variáveis relativas aos
acidentes de trabalho, no complexo de saúde, foram obtidas tais como: se o
trabalhador sofreu acidente (não ou sim), setor onde ocorreu o acidente
(especificação de cada local do complexo de saúde onde ocorreu o acidente), tipo
de acidente (pérfuro-cortante, queda, contusão, exposição a produtos químicos,
40
exposição a material biológico, queimadura, trajeto, dentre outros) quando ocorreu o
acidente (há mais de cinco anos ou há menos de cinco anos), parte do corpo
afetada (membros superiores, membros inferiores, cabeça, tórax), se estava usando
EPI no momento do acidente (não ou sim) e por que motivo, se houve afastamento
do trabalho após o acidente (não ou sim) e o período de afastamento (sim, por
período igual ou menor que 3 dias; sim, por um período superior a 3 dias; não,
continuou trabalhando normalmente).
Efetuou-se também a observação sistemática
65
nos diferentes setores do
hospital, ao longo de toda a pesquisa. As observações foram anotadas em um diário
de campo de onde saíram dados relevantes que ajudaram na análise, tais como: as
principais facilidades e dificuldades vivenciadas durante a operacionalização do
estudo, os hábitos, atitudes, relações pessoais e profissionais vivenciadas em cada
setor, uso/desuso, disponibilidade/indisponibilidade de EPI, de equipamentos de
proteção coletiva bem como os interesses dos trabalhadores em participarem da
pesquisa.
Na segunda fase foram entrevistados apenas quinze trabalhadores
voluntários (cinco de cada grupo) que efetivamente sofreram algum tipo de acidente
de trabalho e ficaram impossibilitados de exercerem as atividades profissionais, por
um período de tempo acima de 3 dias. Utilizou-se desta feita uma entrevista
estruturada elaborada apenas com questões abertas durante as quais os
entrevistados tiveram ampla liberdade de expressão (Anexo 7). As mesmas foram
gravadas em fita áudio cassete e realizadas de modo dialógico, onde o pesquisador
efetivamente disponibilizou-se para uma relação interativa com os pesquisados. O
material coletado a partir dessas entrevistas e após a transcrição, constitui-se num
único e rico corpus
66
compreendido como a reunião da totalidade dos discursos
41
produzidos, contendo uma infinidade de traços importantes para a análise
interpretativa do fenômeno aqui estudado.
3.5 Análise dos dados
Os dados foram digitados utilizando-se a planilha eletrônica Excel for
Windows 2000 e os resultados apresentados com base nos parâmetros da
estatística descritiva, envolvendo as variáveis independentes dessa investigação.
Para a verificação da associação entre as variáveis independentes e o desfecho
desse estudo, realizou-se o teste do qui-quadrado para um nível de significância de
5%.
Posteriormente, utilizou-se o teste t para amostras independentes no intuito
de comparar as médias em horas entre as jornadas de trabalho diárias, as quais
apresentaram distribuição normal e a ocorrência ou não de acidentes de trabalho
naqueles, com 95% de intervalo de confiança. Realizou-se também, o teste Mann-
Whitney, comumente aplicado para dados ordinais no intuito de analisar se havia
significância estatística para um nível de significância de 5% entre a ocorrência ou
não de acidentes de trabalho e a idade do trabalhador no momento da entrevista,
cujos dados não apresentaram distribuição normal
58,59
.
No tocante as respostas sobre a satisfação com o trabalho, foram analisadas
através da análise de conteúdo categorial temática proposta por Bardin
67
, no sentido
de apreender as possíveis contradições e consensos nas posturas profissionais
durante o trabalho. A técnica tem como precursora do seu surgimento, práticas
antigas como a hermenêutica; a arte de interpretar os textos sagrados ou
misteriosos, com o objetivo de desvelar o que há por trás do discurso aparente,
normalmente simbólico, que esconde um sentido aparente. A análise de conteúdo
42
tem sido utilizada de forma crescente na área da saúde e compreendida como um
conjunto de técnicas de análise das comunicações, que usa procedimentos
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens e que, portanto,
são importantes para se estudar motivações, atitudes, valores, crenças e tendências
inerentes ao ser humano, e suas relações individuais, relações com objetos,
relações sociais e com os fenômenos que nos cercam.
Tendo por base os objetivos propostos neste estudo, cumpriram-se as
seguintes etapas operacionais: constituição do corpus a partir de 470 questionários
aplicados aos trabalhadores do hospital universitário, analisados por grupo, sendo o
grupo de apoio constituído por 95 questionários, o grupo médio por 250 e o grupo
superior por 125. Em seguida, foi realizada a leitura flutuante e a composição das
unidades de análise; de onde emergiram três conjuntos categoriais, assim
denominados: Categoria a. Crescimento profissional, convivência e amor à
profissão; Categoria b. Condições de trabalho; Categoria c. Trabalho e reflexões.
Na obtenção dos prováveis núcleo central e sistema periférico, inicialmente as
palavras coletadas foram organizadas através de um processo de agrupamento por
classificação, reunindo as palavras próximas em nível semântico (palavras idênticas
ou sinônimas) e em seguida, foram submetidas a uma classificação por aproximação
de sentido com o objetivo de estabelecer as categorias de análise, conforme
preconiza Bardin
67
. Assim, o processo de estabelecimento dessas categorias foi
realizado concomitantemente por três juízes externos, operando independentemente
e, logo após, o material foi submetido a uma análise quantitativa executada pela
análise lexicográfica do software Evoc 2000
68
. Como foram realizadas várias
evocações de temas diferentes, optou-se por utilizar na categorização letras do
43
alfabeto maiúsculas e minúsculas, algarismos romanos e arábicos, descritos logo a
seguir.
Em relação ao acidente emergiram as seguintes categorias: Categoria A-
Morte. Categoria B- Sofrimento. Categoria C- Risco. Categoria D- Atenção à saúde.
Categoria E- Prejuízo. Categoria F – Trânsito. Categoria G. Doença.
Em relação ao acidente de trabalho emergiram as seguintes categorias:
Categoria H- Falta de atenção. Categoria I- Contaminação. Categoria J- Risco
Categoria K-Prevenção. Categoria L- Pérfuro-cortante. Categoria M- Prejuízo.
Categoria N- Despreparo profissional. Para a comprovação da centralidade da
categoria encontrada no quadrante superior esquerdo do esquema figurativo, obtido
a partir da evocação sobre o acidente de trabalho, foco principal do nosso estudo,
utilizou-se o qui-quadrado, para um nível de significância de 5%.
A categorização para o risco ocupacional, contemplou os seguintes aspectos,
encontrados na literatura
8-9
, acrescidos das características evocadas relativas à
saúde do trabalhador, conforme preconiza Landry
69
.
Categoria I. Riscos de natureza física (ruídos, vibrações provocadas por
maquinários empregados, temperatura, umidade, ventilação, iluminação natural e
artificial). Categoria II. Riscos de natureza química (substâncias químicas presentes
em um determinado tipo de processo de trabalho, pós, poeiras, fumaças, gases,
vapores, pastas ou líquidos). Categoria III. Riscos de natureza orgânica (qualquer
organismo animal ou vegetal que possa determinar danos a saúde do trabalhador
como por exemplo bactérias, vírus, fungos, parasitas e inclusive fibras vegetais).
Categoria IV. Riscos de natureza mecânica (derivados da tecnologia do trabalho seja
devido a sua operação ou manutenção de materiais e equipamentos, entre outros).
Categoria V. Riscos de natureza fisiológica (esforço físico e visual, postura
44
ergonômica, deslocamentos e movimentos, espaço de trabalho disponível, funções
assumidas ou sua execução, horas extras ou intensificação do trabalho, prolongação
da jornada, turnos noturnos e rotativos. Categoria VI. Riscos de natureza psíquica
(fontes de estresse, ritmo e intensidade do trabalho, atenção e responsabilidade que
exige a tarefa, grau de controle e iniciativa na sua execução, intercomunicação dos
trabalhadores durante a jornada, o caráter de supervisão, consciência do risco que a
tarefa impõe e queda da produção com o risco de perda do emprego. Categoria VII.
Proteção no trabalho (palavras relacionadas a saúde do trabalhador).
Em relação ao equipamento de proteção individual emergiram as seguintes
categorias: Categoria 1- Luvas. Categoria 2- Máscara. Categoria 3- Capote.
Categoria 4- Gorro. Categoria 5- Bota. Categoria 6- Proteção. Categoria 7-
Acidente.
A identificação de cada estrutura representacional efetuou-se a partir da
utilização de quadros de quatro casas, estabelecendo um esquema figurativo que
possibilita a distribuição dos termos evocados em função do duplo critério: a
freqüência e a ordem média das evocações. Subjacente a essa perspectiva, o
software Evoc 2000 forneceu o cálculo da Ordem Média de Evocação (OME) e da
Freqüência Intermediária (FI) das palavras, que posteriormente foram agrupadas em
categorias, considerando os caracteres comuns desses elementos. Assim, foi
possível construir os esquemas figurativos de cada tema, segundo o modelo
proposto por Vieira e Beaufils
70,71
que serão apresentados posteriormente. Para a
análise das anotações efetuadas no diário de campo foram observadas as
facilidades e dificuldades encontradas ao longo da pesquisa, nas seguintes
categorias: acesso ao setor sorteado, colaboração da chefia imediata, horário ideal
para a realização das entrevistas por setor, riscos ambientais locais, condições de
45
uso, disponibilidade e uso de EPIs pelos trabalhadores durante o trabalho,
condições de uso e presença de EPCs (Equipamentos de Proteção Coletiva) no
hospital.
O corpus concebido a partir das entrevistas com os trabalhadores
acidentados foi submetido a análise lexicográfica do software AlCESTE 4,5 (Analyse
Lexicale par Contexte d`um Esemble de Segments de Text)
72,73
, que é uma técnica
computadorizada desenvolvida por Max Reinert para investigar a distribuição de
vocabulário em um conjunto de textos, independente da sua produção, isto é, tanto
podem ser das comunicações verbais e ou escritas quanto das manifestações
discursivas. Ao fazer a análise léxica de um conjunto de dados textuais, o ALCESTE
agrupa as raízes semânticas definindo-as por classes, considerando a função da
palavra dentro de um dado texto. Dessa forma, tanto é possível quantificar, como
inferir sobre a delimitação das classes, que são definidas em função da ocorrência e
co-ocorrência das palavras e da sua função textual
73
. Essa lógica operacional ocorre
independentemente da ação e da vontade do pesquisador, uma vez que o
ALCESTE, foi elaborado com o intuito de preservar o caráter aleatório e intencional
das informações, para evitar que o pesquisador interfira sobre o mesmo, ou seja,
manipule os dados
74,75
.
No presente estudo, o material trabalhado constituiu-se de um corpus obtido a
partir de quinze entrevistas, contido em um único arquivo mediante a definição das
seguintes variáveis, chamadas de Unidade de Contexto Inicial (UCI), lembrando que,
o que define uma UCI é a individualização do texto a partir da escolha das variáveis:
1. Acidente de trabalho: afastamento por mais de 3 dias (acid_trab). 2.Vinculo
empregatício: estatutário (ufrn), firmas prestadoras de serviços (terceir). 3.Sexo:
masculino (m), feminino (f)); 4.Local do acidente: almoxarifado (almox), nutrição
46
(nut), laboratório (laborat), higienização (3_sub), unidade de terapia intensiva (uti),
centro cirúrgico (cent_cirurg.), enfermarias (enf) , ambulatório (amb_card.), centro de
diagnóstico por imagem (anex_im). A partir da identificação das variáveis, obtém-se
um corpus que contém um conjunto de UCI e pode ser rodado em qualquer versão
do Windows for Word.
O programa é considerado um método apropriado para a análise de
conteúdos discursivos por integrar uma grande quantidade de métodos estatísticos e
tem sido largamente utilizado na análise e interpretação de estudos em
representações sociais.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
“Uma palavra tem uma
relação com aquilo que
denota, ou com o que é
muito mais forte que o
mero uso que dela
fazemos. Ela tem o valor
comunicativo e a
qualidade de abertura
(revelação). E esta
qualidade, é claro, tem
sempre naturalmente, um
fundo histórico”.
Hannah Arendt
47
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Dinâmica das tendências entre as variáveis independentes e a
ocorrência de acidentes
Esses resultados iniciais dizem respeito aos dados relativos ao perfil sócio-
profissional da força de trabalho do estudo, a forma de organização do trabalho, a
ocorrência e locais de acidentes de trabalho no hospital universitário.
Quanto ao sexo, 68,4 % da força de trabalho entrevistada foi constituída por
mulheres enquanto apenas 31,6% dos sujeitos eram homens, o que reforça a
feminização da prestação dos serviços de saúde em Natal-RN, também identificada
em estudos anteriores
7-60
. Constatou-se nesse trabalho que 10,3 %, 55,6% e 34,1%
têm o ensino fundamental, médio e superior completo, respectivamente.
Em relação ao local de trabalho, 31,7% da força de trabalho desempenhava
suas atividades, no momento das entrevistas ao nível ambulatorial, 28,6% nos
setores de internamento, 14,7 % no apoio diagnóstico e terapêutico e 25,0% no
apoio logístico e operacional. Quanto ao vínculo empregatício, 73,3% são
estatutários, 21,6% terceirizados e 5,1% bolsistas e voluntários. “No mercado global
e na área da saúde tem sido cada vez mais freqüentes a fragilização desses
vínculos no contexto de trabalho atual, somando-se a isso o enfraquecimento das
entidades sindicais, pelo esvaziamento e falta de poder na garantia de seus direitos
trabalhistas”
7
.Convém lembrar que a maioria dos servidores do grupo de apoio do
hospital é terceirizada.
No tocante ao turno de trabalho, 25,9%, 21,4%, 2,6% e 50,1% deles exercem
suas atividades profissionais respectivamente, nos turnos matutino, vespertino,
48
noturno e em turnos alternados, cumprindo escalas de plantão. Desses, 79%
trabalham apenas no hospital, enquanto 21% possuem outro emprego e a massa de
trabalhadores que nunca sofreu acidentes de trabalho corresponde a 67,3% do total,
enquanto 32,7% deles sofreram algum tipo de acidente de trabalho no hospital.
Em relação aos locais onde ocorreram esses acidentes e tipos de acidentes
mais freqüentes, destacamos que os maiores percentuais, ou seja, 18,2% dos
acidentes de trabalho ocorreram nas enfermarias, 10,6% nos centros cirúrgicos,
6,8% nos laboratórios, 6,8% na UTI e 6,1% nos ambulatórios, dentre outros,
provavelmente indicando que nesses locais, os trabalhadores encontram-se mais
expostos a esses problemas. Os tipos de acidentes de trabalho com instrumentos
pérfuro-cortantes foram os mais freqüentes, totalizando 61,8%, seguidos das quedas
com 15,1%. Destacamos ainda que 56,5% desses acidentes ocorreram no período
de tempo correspondente há menos de cinco anos.
Os membros superiores, entre os quais se destacam as mãos, foram os mais
afetados pelos acidentes de trabalho em 78,0% das ocorrências, seguidos dos
membros inferiores em 13,5%, cabeça em 5,7% , tórax em 2,8% e, 71,9% dos
trabalhadores acidentados continuaram trabalhando logo após o acidente, 15,0%
afastaram-se do trabalho por um período menor que três dias e apenas 13,1% por
um período superior a três dias, mostrando que grande parte desses acidentes,
trouxe pequenas conseqüências para a saúde dessas pessoas.
Quanto ao uso de EPIs durante o trabalho, 47,2% dos sujeitos relatam que
costumam usá-los quando estão trabalhando, 26,9% afirmam que às vezes usam e
25,9% deles não costumam usar proteção individual rotineiramente no exercício
profissional. Para os trabalhadores que sofreram acidentes de trabalho no hospital,
quando perguntados se estavam usando EPI no momento do acidente, 61,2% deles
49
afirmaram que não, e apenas 38,8 % deles disseram que estavam usando esses
equipamentos, mostrando a necessidade de reforço na motivação para o uso
individual e da garantia de disponibilidade desses equipamentos, nos diferentes
locais de trabalho.
No tocante a satisfação com o trabalho 61,7%, 30,2% e 8,1% são satisfeitos
com o trabalho, muito satisfeitos e demonstram insatisfação, respectivamente.
Partindo desse dado, pode-se afirmar que a insatisfação com o trabalho é baixa na
força de trabalho estudada.
A tabela 1 ilustra a dinâmica das tendências entre as variáveis independentes
e a ocorrência de acidentes de trabalho, além de mostrar onde ocorreu associação
significativa entre elas.
50
Tabela 1. Distribuição absoluta e percentual entre as variáveis independentes e a
ocorrência do acidente de trabalho em um hospital universitário. Natal-RN. 2005
Variável dependente
Variáveis independentes Acidente
Não
n (%)
Sim
n (%)
p
SEXO
Masculino 97 (65,5%) 51 (34,5%)
Feminino 218 (68,1%) 102(31,9%)
0,654
FORÇA DE TRABALHO
Apoio 59 (62,1%) 36 (37,9%)
Médio 173 (70,0%) 74 (30,0%)
Superior 83 (65,9%) 43 (34,1%)
0,346
GRAU DE INSTRUÇÃO
Fundamental 27 (56,3%) 21 (43,8%)
Médio 186 (71,8%) 73 (28,2%)
Superior 102 (64,2%) 57 (35,9%)
0,055
SETOR DE TRABALHO
Ambulatorial 99 (66,9%) 49 (33,1%)
Internamento 85 (63,4%) 49 (36,6%)
Apoio diagnóstico e terapêutico 41 (59,4%) 28 (40,6%)
Apoio Logístico e operacional 90 (76,9%) 27(23,1%)
0,050
VÍNCULO EMPREGATÍCIO
Estatutário 222 (65,9%) 115 (34,1%)
Terceirizado 71 (71,7%) 28 (28,3%)
Bolsista /Voluntário 18 (75%) 06 (25%)
0,402
TURNO DE TRABALHO
Matutino 76 (62,8%) 45 (37,2%)
Vespertino 72 (72,0%) 28 (28,2%)
Noturno 7 (58,3%) 5 (41,7%)
Alternado (Plantão) 160 (68,1%) 75 (31,9%)
0,455
OUTRO EMPREGO
Não 259 (70,2%) 110 (29,8%)
Sim 55 (56,1%) 43 (43,9%)
*0,012
COSTUMA USAR EPI QUANDO TRABALHA.
Não 99 (81,8%) 22 (18,2%)
As vezes 83( 65,9%) 43 (34,1%)
Sim 133( 60,2%) 88 (39,5%)
*0,001
SATISFAÇÃO COM O TRABALHO
Insatisfeito 22 (57,9%) 16 (42,1%)
Satisfeito 207 (71,9%) 81(28,1%)
Muito satisfeito 86(61,01%) 55 (39,0%)
*0,033
* Estatisticamente significante (95% de Intervalo de Confiança)
De acordo com a tabela 1, não houve associação significativa entre a
ocorrência de acidentes de trabalho e sexo, força de trabalho, vínculo empregatício
e turno de trabalho. A associação entre o setor de trabalho que os indivíduos
pertencem, o seu grau de instrução e a ocorrência de acidentes de trabalho, esteve
51
no limite de significância estatística e provavelmente com uma amostra maior, se
encontraria associação significativa. O que se pode observar é uma tendência que
os indivíduos cujo grau de instrução é do nível médio e superior, sofram menos
acidentes de trabalho do que aqueles de nível fundamental. No setor de trabalho
ambulatorial a proporção para sofrer acidentes é de (2 vezes), no internamento (1,8
vezes), no apoio diagnóstico e terapêutico (1,5 vezes), enquanto quem trabalha no
apoio logístico e operacional, a proporção para não sofrer acidentes é de 3,3 vezes.
Houve associação significativa entre a existência de outro emprego, uso de
EPI quando durante o trabalho, satisfação com o trabalho e a ocorrência de
acidentes de trabalho. O fato de o trabalhador possuir múltiplos empregos, visto que,
cerca de 19% da força de trabalho possui mais de um vínculo empregatício para
compensar as perdas salariais, parece colocar em cena a discussão sobre a
qualidade do seu trabalho e, encontra-se associado à ocorrência de acidentes de
trabalho no hospital universitário, provavelmente em virtude da sobrecarga de
trabalho, da fadiga decorrente da organização temporal do trabalho em locais
diferentes, da longa exposição às condições de trabalho e do pouco tempo
necessário à sua recuperação, ao estresse e preocupações surgidas da vida
pessoal, tornando-os mais propensos a sofrerem acidentes.
Para Medeiros e Rocha
7
, tecendo considerações sobre a força de trabalho em
saúde em Natal-RN, algumas vezes o tempo livre ou folga remunerada desse
trabalhador é utilizado, obrigatoriamente, em outra ocupação rentável ou investido
na sua qualificação profissional, sendo esta financiada, muitas vezes, com os seus
próprios recursos, em busca de uma colocação melhor ou prevenindo-se contra
futuras demissões. Por outro lado, como 81% da força de trabalho estudada têm
apenas um vínculo empregatício, esse resultado sugere a viabilidade para
52
programas de educação permanente direcionados para a saúde dos trabalhadores,
no complexo de saúde do qual o hospital estudado faz parte.
A associação significativa em relação ao uso do EPI durante o trabalho, se
deu em virtude daquelas pessoas que não fazem uso desse equipamento sofrerem
menos acidentes que aqueles que costumam usá-los às vezes e rotineiramente. Isso
não deve ser compreendido como uma relação de causa-efeito e sim que os
trabalhadores que mais usam EPI, encontram-se mais expostos aos acidentes,
conforme explicitado anteriormente em relação aos trabalhadores do apoio
diagnóstico e terapêutico, que sofrem menos acidentes que os demais, isto é, os
resultados mostram que os trabalhadores quando exercem atividades burocráticas e
trabalham no setor de apoio logístico e operacional usam menos EPI, portanto,
encontram-se provavelmente menos expostos aos riscos ambientais inerentes à
área da saúde e também se acidentam menos.
Constatou-se ainda, que os trabalhadores satisfeitos com o trabalho
proporcionalmente sofreram 2,55 vezes menos acidentes. Buscando-se aprofundar o
conhecimento acerca dessa associação significativa, julga-se oportuno nesse
momento, ilustrar com a tabela 2, alguns elementos subjetivos apreendidos do
discurso de cada grupo estudado e do conjunto dos trabalhadores sobre essa
temática, obtidos a partir da análise de conteúdo categorial temática, proposta por
Bardin
67
.
53
4.2 A satisfação no trabalho
Tabela 2. Distribuição percentual das categorias e subcategorias do corpus
“Satisfação no trabalho” em um hospital universitário. Natal-RN. 2005
Categorias Sub-categorias Grupo
Apoio
Grupo
Médio
Grupo
Superior
Total
n % n % n % %
Crescimento
profissional
1 0,7 101 40,4 9 7,2 48,3
a. Trabalho,
crescimento
profissional e
amor à
profissão
Convivência e amor
à profissão
14 14,7 35 14,0 29 23,2 51.9
Adequadas 9 9,8 56 22,4 10 8,0 40,2 b. Condições
de trabalho
Inadequadas 13 13,7 27 10,8 37 29,6 54,1
Necessidade de
sobrevivência e
sofrimento
30 31,6 20 8,0 19 15,2 55,1 c. Trabalho,
sofrimento e
prazer
Prazer 28 29,5 11 4,4 21 16,8 50,7
Total 95 100 250 100 125 100
De acordo com a tabela 2, percebe-se que a satisfação com o trabalho do
grupo de apoio, advém principalmente de considerar o trabalho importante para a
sua sobrevivência e da sua família, em um contexto de dificuldades para conseguir
empregos melhores (31,6%), do prazer de trabalhar com algo que gosta, de poder
sustentar a família (29,5%) e da chance proporcionada pelo trabalho de fazer
amizades, tanto com funcionários como com pacientes (14,7%). Aparecem como
aspectos negativos nessa representação, as mínimas chances para ascensão
funcional, condições inadequadas de trabalho e a baixa remuneração.
No grupo médio, destaca-se como aspecto importante dessa representação o
fato do grupo encarar o trabalho como possibilidade de crescimento profissional,
através do aperfeiçoamento da formação e da constante atualização profissional,
adquirida no hospital, provavelmente, por se tratar de um espaço reconhecidamente
importante de formação profissional (40,4%). Essas pessoas consideram as
54
condições de trabalho adequadas (22,4%) e encaram o trabalho como um espaço
de convivência e de amor à profissão (14,0%). Aparecem como subcategorias pouco
enfatizadas nesse grupo, o trabalho no hospital como necessidade de sobrevivência,
sofrimento e como fonte de prazer, apesar de alguns trabalhadores, se queixarem
dos baixos salários, talvez porque consideram a remuneração e a função atuais
como algo provisório. É bastante forte nesse grupo a vontade de ascender
profissionalmente, não apenas no hospital, mas em outros possíveis campos de
trabalho.
No grupo superior, aparecem às críticas as condições inadequadas de
trabalho no hospital (29,6%), mostrando que os trabalhadores visualizam pouca
chance de crescimento profissional (7,2%) e também reconhecem o trabalho como
necessidade de sobrevivência, sofrimento e salários defasados (15,2%). As
categorias positivas destacadas nesse grupo, referem-se ao espaço do trabalho
como possibilidade de convivência com colegas e pacientes, trabalho em equipe e
amor à profissão (23,2%), apesar das precárias condições de trabalho. Além disso,
enfatizam o trabalho como fonte de prazer (16,8%).
Na observação das representações dessa totalidade social sobre a satisfação
com o trabalho no hospital, o trabalho, sofrimento e prazer se destaca como
categoria quantitativamente mais importante, na qual o conjunto dos trabalhadores
evidencia a sua importância para a sobrevivência da família e, simultaneamente,
também possibilita sofrimento e prazer.
A análise quali-quantitativa efetuada a partir do material discursivo extenso,
possibilitou ampla exploração dos conteúdos enunciados, onde foi possível captar as
distintas facetas sobre o trabalho no complexo de saúde, reveladas pelos grupos de
apoio, médio e superior. Alguns aspectos subjetivos importantes que, na maioria das
55
vezes, passam desapecerbidos diante da abordagem estatística clássica afloraram,
revelando com intensidade as relações complexas típicas do mundo do trabalho, a
partir das opiniões, crenças, valores e idéias de cada grupo. Foi possível apreender
alguns traços do cotidiano e das especificidades de um processo de trabalho,
permeado por vivências ligadas à dor, sofrimento, angústia, impotência,
desesperança e diferentes tipos de perdas pessoais e profissionais.
É interessante observar, como essa produção simbólica é sempre o resultado
de uma inter-relação dialética entre um contexto, atores e relações sociais que
transcendem o espaço organizacional e continuamente referem-se à sociedade e ao
mundo. No ambiente hospitalar é extremamente desgastante conviver com
limitações técnicas, pessoais e materiais em contraponto ao alto grau de
expectativas e cobranças lançadas sobre este profissional pelos pacientes e
familiares. Da mesma forma que, também é desgastante, conviver cotidianamente
com a morte, torná-la indolor, adiá-la, conviver com pessoas gravemente doentes,
refratárias a ajuda, hostis, dependentes e inseguras.
Por outro lado, o trabalhador da saúde sente satisfação no trabalho porque
ama a profissão, sente-se realizado profissionalmente, sente orgulho do seu papel
na sociedade, gosta do que faz, gosta da convivência e do relacionamento com
colegas e pacientes, gosta da possibilidade de ajudar a salvar vidas, ajudar pessoas
carentes, além da capacidade de aprender trabalhando e crescer profissionalmente.
Desse modo, as políticas de educação permanente acerca da prevenção dos
acidentes de trabalho voltadas para esses sujeitos, deverão contemplar as
especificidades de cada grupo em relação à dinâmica do trabalho, suas aspirações,
desejos, limitações e, sobretudo, abranger ações direcionadas à melhoria da vida do
trabalhador e à organização do trabalho no complexo de saúde estudado.
56
As tabelas 3 e 4 ilustram as médias, desvios padrões e significância
estatística entre a jornada de trabalho diária informada em horas e mediana , quartis
25 e 75 e significância estatística da idade dos indivíduos, segundo a ocorrência de
acidentes de trabalho, respectivamente.
4.3 A jornada de trabalho diária
Tabela 3. Médias, desvios padrões e significância estatística entre a jornada de
trabalho diária em horas e a ocorrência de acidentes de trabalho em um hospital
universitário. Natal-RN. 2005
Sofreu acidente Jornada de trabalho diária p
Média ± dp
IC (95%)
Sim
7,22 ± 2,04 7,27 ± 2,14
Não
6,90 ± 7,55 7,03 ± 7,50
0,831
Conforme se observa na tabela 3, não há diferença significativa entre as
médias da jornada de trabalho diária em horas entre o grupo que sofreu acidente e o
que não sofreu acidente. É bom lembrar, que esses resultados referem-se à jornada
de trabalho prescrita, informada pelos sujeitos do estudo que, no cotidiano do
hospital universitário, difere da jornada de trabalho efetivamente realizada. Através
das observações registradas no diário de campo foi possível captar que a jornada de
trabalho dos profissionais de saúde, notadamente os do grupo superior, a exceção
dos plantonistas, estão mais associadas à realização das tarefas do que
propriamente à carga horária diária. De certa forma, no contexto atual é comum para
alguns profissionais, jornadas de trabalho cada vez mais extensas e, não raro
múltiplas, que exigem deslocamentos de um ponto a outro da cidade, onde se
assumem plantões, enfermarias, ambulatórios, consultórios, clínicas, postos de
saúde quase que simultaneamente.
57
4.4 A idade da força de trabalho
Tabela 4. Mediana, quartis 25 e 75 e significância estatística da idade dos
indivíduos, segundo a ocorrência de acidentes de trabalho em um hospital
universitário. Natal-RN. 2005
Sofreu acidente Idade da força de trabalho p
Mediana Q
25
- Q
75
Sim 40 29,5 - 48
Não 35 24 - 46
0,06
De acordo com a tabela 4, a mediana da idade entre os grupos que sofreu ou
não acidentes foi similar e, portanto, não ocorreu associação significativa entre elas.
Os resultados mostrados a seguir constituem os dados relativos ao Teste de
Associação Livre de Palavras, sobre acidentes, acidentes de trabalho em saúde,
risco ocupacional e equipamento de proteção individual, além disso, também
referem-se a análise das entrevistas e do diário de campo.
Os esquemas figurativos demonstrados abaixo, basearam-se em um gráfico
de dispersão em que o eixo das abcissas (x) corresponde aos valores referentes às
OMEs (ordem média de evocações) e os das ordenadas (y), aos valores das
freqüências. Desse modo, cada evocação corresponde a um ponto no gráfico o que
sugere uma correlação positiva entre as variáveis, segundo o modelo proposto por
Vieira e Beaufils
70,71
. Ao se deslocar o eixo para o ponto que representa o valor das
suas médias, estabelece-se os quatro quadrantes que estão representados em cada
um dos esquemas figurativos enumerados como 1,2,3,4 e 5.
58
4.5 A estrutura da representação social sobre o acidente
Esquema figurativo 1. Identificação da provável estrutura da representação
social sobre o acidente para os trabalhadores de um hospital universitário. Natal-RN.
2005
Freqüência Ordem média de evocação
Inferior a 2,0
Ordem média de evocação
Superior a 2,0
Acima de
215
Morte (224) 1,7 Sofrimento (256) 2,0
Risco (244) 2,0
Atenção à saúde (244) 2,2
Entre 100 e
215
Prejuízo (135) 1,9
Trânsito (132) 1,9
Doença (174 ) 2,2
Categoria A.Morte. Categoria B.Prejuízo Categoria C. Risco Categoria D.Sofrimento
Categoria E. Atenção a Saúde Categoria F. Trânsito Categoria G. Doença
Total de evocações = 1410.
Média das Ordens Médias de Evocações = 2,0
No esquema figurativo 1, são mostrados os elementos centrais e periféricos
da representação do acidente, analisada a partir das evocações do termo acidente.
Neste quadro destaca-se no provável núcleo central (quadrante superior esquerdo),
o elemento “morte”. No quadrante inferior direito encontra-se a “doença” como
elemento provavelmente periférico na estrutura representacional. Nos quadrantes
superior direito e inferior esquerdo, considerados periferia próxima ao núcleo central,
situam-se os elementos positivos (“atenção à saúde”) e negativos (“sofrimento,
“risco”, “prejuízo” e “trânsito”).
Abric
63
, comenta que “se as representações têm um núcleo é porque elas são
uma representação do pensamento social e, em todo pensamento social, uma certa
quantidade de crenças, coletivamente produzidas e historicamente determinadas,
não podem ser questionadas, posto que, elas são o fundamento dos modos de vida
e garantem identidade e a permanência de um grupo social”. Assim, para esse grupo
os acidentes de um modo geral, lembram a morte, como um reflexo social
cristalizado e conseqüência final dos aspectos negativos desse fenômeno, capaz de
59
envolver o acaso, as situações de risco, de sofrimentos físico e psíquico, prejuízos
materiais e simbólicos advindos dos agravos à saúde e diferentes formas de
adoecimento. Lembra também a necessidade da atenção à saúde no contexto de
uma sociedade urbanizada que, no seu cotidiano, convive provavelmente, com
inúmeros problemas provenientes do processo de urbanização acelerada típico de
algumas cidades brasileiras.
A partir dos esquemas figurativos 2 e 3, ilustrados logo abaixo identifica-se
algumas diferenças quando se compara às estruturas representacionais captadas do
grupo de apoio e do conjunto dos trabalhadores, a partir das evocações sobre o
acidente de trabalho em saúde. No presente estudo como foram utilizados vários
instrumentos de coleta, torna-se oportuno durante a discussão usar simultanamente,
alguns desses achados no sentido de melhor consubstanciar a argumentação.
4.6 A estrutura da representação social sobre o acidente de trabalho
Esquema figurativo 2. Identificação da provável estrutura da representação social
sobre o acidente de trabalho para os trabalhadores do grupo de apoio de um
hospital universitário. Natal-RN. 2005
Freqüência Ordem média de evocação
Inferior a 2,0
Ordem média de evocação
Superior a 2,0
Acima de 40
Contaminação (41) 1,7
Pérfuro-cortante (41) 1,7
Prevenção (43) 2,2
Prejuízo (69) 2,1
Entre 20 e 40
Risco (37 ) 2,2
Falta de atenção (31) 2,1
Despreparo profissional (22) 2,1
Categoria H. Falta de atenção. Categoria I. Contaminação Categoria J. Risco
Categoria K. Prevenção Categoria L. Pérfuro-cortante Categoria M. Prejuízo
Categoria N. Despreparo profissional
Total de evocações = 285
Média das Ordens Médias de Evocações = 2,0
60
Esquema figurativo 3. Identificação da provável estrutura da representação social
sobre o acidente de trabalho para os trabalhadores de um hospital universitário.
Natal-RN. 2005
Freqüência Ordem média de evocação
Inferior a 2,0
Ordem média de evocação
Superior a 2,0
Acima de
200
Contaminação (248) 1,8 Prejuízo (322) 2,1
Risco (226) 2,1
Entre 100 e
200
Pérfuros-cortantes (194) 1,8
Falta de atenção (123) 1,9
Prevenção (175) 2,1
Despreparo profissional(128) 2,1
Categoria H- Falta de atenção. Categoria I- Contaminação. Categoria J- Risco
Categoria K.-Prevenção Categoria L- Pérfuro-cortante Categoria M- Prejuízo
Categoria N-Despreparo profissional
Total de evocações = 1410
Média das Ordens Médias de Evocação = 2,0
O esquema figurativo 2 resulta das evocações emitidas apenas por
trabalhadores do grupo de apoio. Neste esquema destacam-se no provável núcleo
central (quadrante superior esquerdo), as categorias “contaminação” e os
instrumentos “pérfuro-contantes” como aspectos negativos inerentes ao processo de
trabalho em saúde e talvez, intrinsecamente relacionados aos acidentes de trabalho,
ocorridos no hospital. Nesse quadrante concentram-se mais freqüentemente as
categorias mais aptas a constituírem o núcleo central. A categoria “contaminação”
evocada pelo grupo denota o que Moscovici
49
denominou de apropriação de uma
teoria científica pelo senso comum que aqui expressa uma condição estrutural de
base, no contexto do processo de trabalho no âmbito da área da saúde.
O grupo evocou categorias positivas e negativas, no que se chama de
“periferia próxima”, localizada nos quadrantes superior direito e inferior esquerdo,
entre as quais destacam-se a necessidade da prevenção dos acidentes no sentido
de evitar os prejuízos pessoais e as faltas ao trabalho. Contrapondo-se a isso e ao
mesmo tempo protegendo o núcleo central, situam-se no quadrante inferior direito, o
risco ocupacional, a falta de atenção e o despreparo profissional enquanto
61
categorias de evocações menos freqüentes e menos imediatas, destacando-se
como os elementos provavelmente mais periféricos na representação.
Na comparação dos resultados acerca do acidente de trabalho encontrados
entre o grupo de apoio e o conjunto dos trabalhadores, percebe-se que apenas a
“contaminação” permanece como cognição central e foi, efetivamente, a categoria
evocada considerada mais importante por essa totalidade social (porque das 248
vezes em que foi evocada 242 vezes foi escolhida a mais importante). As categorias
“prejuízo”, “risco”, “pérfuro-cortantes” e “falta de atenção”, situaram-se na “periferia
próxima” ao núcleo central, enquanto a “prevenção e o “despreparo profissional”
mostraram-se como elementos periféricos mais externos na estrutura
representacional e que dão suporte ao núcleo central.
Esta distinção em relação ao núcleo central com ênfase na “contaminação”
reflete a pluraridade e diversidade que marcam a construção social nos grupos,
durante o processo de atribuição dos sentidos aos objetos dos quais os sujeitos se
apropriam, a partir da relação entre eles, da comunicação e da articulação dos
aspectos psicossociais, históricos e culturais inerentes ao acidente de trabalho na
área da saúde. Assim, o sentido que é atribuído à “contaminação” associada ao
acidente reveste-se de simbolismo. São processos de significação que se referem a
realidades diferentes das pertencentes à experiência da vida cotidiana e, no grupo
de apoio, advém da idéia de contágio socialmente construída, propagada nas
comunicações históricas e nos relatos de experiências sobre as epidemias e
ancoradas no contexto imediato da realidade, através do contato com objetos de
trabalho, líquidos, secreções corporais e instrumentos usados por outros
trabalhadores, que de certa forma, podem indiretamente “contaminá-los”,
62
principalmente aqueles de natureza pérfuro-cortante, porque possibilitam a invasão
dos seus corpos por “algo” externo a eles.
Assim, essa representação não se reduz ou se esgota nos aspectos do
conhecimento científico sobre o objeto, como se fosse uma visão empobrecida do
saber científico, mas agrega outras formas de conhecimentos práticos, socialmente
construídos para dar sentido à realidade construída e, ao mesmo tempo, possibilitar
a comunicação entre os membros de um determinado grupo
47, 49
.
Nessa perspectiva, o próprio processo de trabalho desse grupo que não
presta serviços diretos aos pacientes, acaba formatando conhecimentos associados
ao acidente de trabalho apoiados na memória coletiva e no consenso, muitas vezes
forjados na relação com o outro, que se referem a “contaminação” em cada contexto
do local de trabalho (no sentido de contaminar a si, ou ao produto do trabalho e/ou
ao ambiente), expressos dessa maneira: a preocupação em não contaminar a
comida (na produção de alimentos e nutrição), não contaminar os lençóis e roupas
(lavanderia) e o próprio ambiente imediato de trabalho (corredores, centros
cirúrgicos, enfermarias, etc).
Na visão do grupo, todo o cuidado é pouco, principalmente com os pérfuros-
cortantes que, na história dos acidentes do hospital
60
e em numerosos estudos, são
apontados como os instrumentos mais envolvidos nos acidentes de trabalho,
conforme se observa nos seguimentos de textos abaixo, obtidos a partir da análise
léxica do ALCESTE, aqui colocados no sentido de possibilitar uma visão mais
abrangente do fenômeno estudado, expressos dessa forma por sujeitos do grupo de
apoio.
63
60 16 contaminado com #sangue, secreção. É tudo
contaminação. Por isso é arriscado né. #corte com #vidro, #furada
de #agulhas. #acontece né. sempre #acontece. agora depois
desse #acidente eu só #trabalho de luvas, se não tiver luvas eu
não #trabalho. Você tem de #trabalhar de luvas.(grifo nosso)
148 13 depois de um #ano #fiz #novamente e #deu #negativo.
quando a gente #sofre uma exposição com esse #tipo de
material, a gente #sofre, porque você só acha que sua vida
acabou ali. (grifo nosso)
No conjunto de trabalhadores a influência dos grupos médio e superior,
numericamente expressivo desloca o “risco” da “periferia externa” (esquema
figurativo 2) para o “sistema periférico intermediário” (esquema figurativo 3), próximo
ao núcleo central, expressando a diferença de conteúdo, característico desse
sistema a partir das experiências e histórias individuais, que identificam no processo
de trabalho na área da saúde, fatores de riscos mais abrangentes, alguns deles
fundamentados no conhecimento científico, na relação dialética com a sociedade e
com o contexto do acidente no ambiente de trabalho. Em destaque abaixo, os
segmentos de textos, expressos por sujeitos do grupo superior.
247 10 são os #acidentes que #ocorrem durante o período de
#trabalho ou na ida e vinda para o #trabalho. Foi #nessa estante
aqui tinha um #vidro #quebrado e quando fui tentar fechá-la
#cortei a minha #mão.
253 6 #acho que a gente tá sempre #exposto a #riscos. por #exemplo,
ainda ontem aqui nessa construção #do #hospital quando fui
#entrando tinha uma nuvem de poeira, aí me lembrei #do acidente
de trabalho.
Os estudos de vários autores
49,76-78
consideram como indispensáveis ao
estudo das representações sociais três dimensões: primeiro, identificar os pré-
construtos, as referências ou saberes que são comuns ao grupo social. Em segundo
lugar, identificar as diferentes posições assumidas pelos indivíduos enquanto
indivíduos que se situam no seio de um grupo. Dito de outra forma, determinar a
natureza do lugar ocupado pelo indivíduo. Finalmente a terceira dimensão que
64
concerne à definição da ancoragem das diferentes posições bem como suas causas
e origens. Trata-se de determinar de que maneira as pessoas hierarquizam as
diferentes posições segundo, por exemplo, seus valores, crenças, idéias entre
outras.
Assim, no conjunto dos trabalhadores, a “contaminação”, localizada no núcleo
central, provavelmente gera o significado e determina a organização da
representação acerca do acidente de trabalho na área da saúde, na medida em que
se fundamenta, no mundo social, nos pressupostos teórico-práticos da ciência
experimental, construídos ao longo do tempo na microbiologia e suas múltiplas
aplicabilidades, com ênfase na possibilidade da transmissibilidade das doenças,
ainda fortemente presentes no processo de formação dos profissionais da saúde.
Historicamente, a teoria do contágio, desenvolvida por Fracastoro, que se
inspirou no estudo da sífilis, para defender a idéia de contagiosidade, apontava três
formas possíveis dos agentes contagiantes se disseminarem: direto, de pessoa para
pessoa; através de fômites (roupas, objetos, resíduos, etc) e um outro, que é o
contágio à distância
79
. Em 1840, Jacob Henle um dos precursores da Teoria
Unicausal argumentava que no caso das doenças infecciosas, a matéria mórbida
aumentava, aparentemente desde o momento em que entrava no corpo; assim devia
ser de natureza orgânica, pois só os organismos vivos possuem essa faculdade,
além disso, um período de incubação, via de regra, precedia a manifestação dos
sintomas, também apoiando a idéia de uma natureza viva. Até meados do século
XIX, a cirurgia teve duas limitações sérias: uma, a mais importante; era a ocorrência
da infecção da ferida, que resultava amiúde em septicemia fatal e se mostrava
comum nos hospitais, onde os pacientes sucumbiam à “gangrena do hospital”. A
outra, tratava-se da insuficiência dos meios para o controle da dor, sendo a rapidez
65
essencial para reduzir-se o risco de choque e, a presença da dor restringia o alcance
da intervenção cirúrgica
80
.
Nesse sentido, a idéia de contagiosidade para a ciência, também tem como
base o conhecimento do senso comum, transcende a questão do contato próximo e,
do ponto de vista social, trata-se de uma construção da sociedade destinada a
expressar fundamentalmente a prática de regulação das condutas, das ações e das
expectativas no sentido de controlar e manter uma ordem social, justificando a
segregação e discriminação de doentes sempre que houver risco para a
coletividade.
De certa forma, essa lógica poderá ser encontrada nas concepções sobre
doenças, tanto do senso comum como no seio da área da saúde, principalmente
quando as causas das doenças geram controvérsias, não estão suficientemente
esclarecidas e comprovadas cientificamente. Subjacente a tal perspectiva, gera-se
diferentes formas de relacionamento com os doentes, inclusive no ambiente
hospitalar, onde algumas vezes, o diagnóstico da doença é omitido para a própria
equipe, no sentido de não tumultuar a atenção ao paciente.
Reveste-se de importância considerar que a atenção ao paciente na
contemporaneidade é cada vez mais fundamentada no uso indiscriminado das
tecnologias médicas e o sentido da “contaminação” como elemento consensual na
estrutura representacional do acidente de trabalho em saúde, traduz para o conjunto
dos trabalhadores uma “contaminação” ainda mais fragmentada, fruto da divisão do
trabalho, da especialização e da hierarquização típicas dos serviços de saúde, que
consideram o acidente de trabalho como algo “anormal” tal qual a própria doença,
confundindo-o com o perigo e a possibilidade de adoecer e morrer, como algo capaz
de guiar suas práticas, no sentido de não contaminar a si, nem aos equipamentos
66
usados nos diferentes pacientes, nem aos ambientes de trabalho na saúde e nem
aos próprios pacientes.
Voltando aos esquemas 2 e 3, nota-se também “prejuízo” localizado na
periferia próxima (quadrante superior direito) nas duas estruturas representacionais
(esquemas figurativos 2 e 3), referem-se às consequências dos acidentes afetando
os trabalhadores, gerando problemas pessoais e organizacionais, conforme registra-
se logo abaixo, explicitadas nas falas de pessoas do grupos apoio, médio e superior,
respectivamente.
234 17 O outro. aquele do prego no meu #pé, foi porque não #prestei
mesmo #atenção #né, porque tinha muita tábua e aí eu
varrendo muito, esse material do #pessoal #da obra daqui do
hospital que tá construindo aí eles foram #deixando por ai.(grifo
nosso)
284 15 então o risco de transmissibilidade é alto #principalmente em
relação às #doenças infecto #contagiosas. dos #acidentes de
#trabalho que #ocorrem aqui, os mais #freqüentes, a gente tem
verificado, são aqueles com #pérfuro #cortantes e os
profissionais se #acidentam com #material contaminado na
presença de #sangue.(grifo nosso)
268 34 ela me tratou muito bem, # me deu a medicação, me #deu
licença #médica, #fiquei #afastada até me recuperar totalmente. eu
#fiquei com #medo de #ficar com seqüelas porque meus #dedos
secaram, murcharam #ficou só a #pele #preta, mas depois que eu
usei sulfatotiazina de prata, por um #período de cinco #dias,
#comecei a melhorar.(grifo nosso)
235 8 acontece aqui no hospital, muita gente com #problemas de
#coluna, apresentando muitos atestados médicos com
#problemas ósseos, e ninguém sabe se isso #decorre #da
#própria estrutura orgânica ou se é #da atividade laboral que
contribuiu para esses afastamentos.
No conjunto dos trabalhadores (esquema figurativo 3), a “falta de atenção”
encontra-se na periferia intermediária. Para Flament
81
“é dentro da periferia flexível
que se vive uma representação social no cotidiano”, justificando a importância dos
elementos periféricos advindos da experiência cotidiana ativa, enquanto que, no
núcleo central, provavelmente encontram-se os elementos representacionais mais
abstratos, ligados à história coletiva e, por isso, são estáveis, coerentes e rígidos.
67
Assim, para os idealizadores da teoria do núcleo central, as representações sociais
são ao mesmo tempo “estáveis e movediças, rígidas e flexíveis”
61-63, 81
.
Ao formular a questão: o que são os acidentes de trabalho para as pessoas e
por que elas se acidentam? Surgiram alguns contextos de enunciação, mais
facilmente identificados quando os entrevistados falaram em nome do outro, isto é,
quando se utilizou a técnica dos contextos de substituição, uma técnica projetiva
bastante usada na psicologia e conhecida há mais de vinte anos. Dessa forma,
segundo Abric
63
alguns modelos contra-normativos produzidos aparecem na
representação, sendo identificados no presente estudo durante o momento da leitura
flutuante do corpus, visualizados abaixo:
**** *acid_trab *f *uti *ufrn ( Grupo Superior)
Acho que esses acidentes ocorrem devido a nossa prática ser muito mecânica
[pausa] não prestar muita atenção no que está fazendo [pausa] aquela coisa
corriqueira que de tanto fazer, acaba não prestando muita atenção.(grifo nosso)
**** *acid_trab *f *amb_card *ufrn (Grupo Médio)
Às vezes esses acidentes ocorrem porque a gente quer fazer o trabalho de qualquer
jeito, de modo que o paciente não seja prejudicado e no final nós somos prejudicados
[pausa] . Porque a gente quer fazer o trabalho e o hospital não dá condições, na
maioria das vezes. (grifo nosso)
**** *acid_trab *m *nutric *terceir (Grupo Apoio)
Acho que acontece dada a displicência porque tem um colega meu que ficou cheio de
grampos aqui, porque tirou a proteção da máquina de fazer bife, a máquina já vem
com uma proteção, aí ele tirou né....[pausa]. e ele colocou o bife sem proteção e ficou
com os dedos presos, mais aí a culpa foi dele mesmo...[pausa] Quem mandou ele
tirar a proteção da máquina? Tiveram que desmontar a máquina todinha pra poder
tirar os dedos dele de dentro... Bom.... mas isso faz muitos anos e ele não trabalha
mais aqui. ele saiu [pausa] ele quase perdeu a mão. (grifo nosso)
Desse modo, tanto a “falta de atenção” como as “condições inadequadas de
trabalho” e o “despreparo profissional” são verbalizados com mais naturalidade, ao
mesmo tempo em que os sujeitos projetam em outros às suas próprias fragilidades,
às precariedades da estrutura física, administrativa e organizacional do hospital e o
descumprimento explícito das normas relacionadas ao trabalho prescrito.
68
Outro elemento importante apreendido na representação, diz respeito em
associar os acidentes de trabalho aos acontecimentos fortuitos, como se fossem
obras do destino, resultantes da negligência, cansaço ou despreparo do trabalhador,
restringindo-os à esfera individual, tal qual a abordagem focalizada no ponto de vista
casuístico-individual e culpabilizadora das próprias vítimas, defendida pela Medicina
do Trabalho no passado, e explicitadas abaixo:
**** *acid_trab *f *Laboratório *ufrn ( Grupo Apoio)
Eu me #sinto #culpada por esse acidente porque eu #tava sem proteção, não #prestei
#atenção. não verifiquei que eu podia me contaminar. não comuniquei o #fato a
ninguém. eu achava que aquilo ali era simples, nada #ia acontecer. aí só fiz #lavar as
mãos com sabão, aí quando foi com uns dois ou três dias apareceu. (grifo nosso)
**** *acid_trab *f *uti *ufrn (Grupo Médio)
No meu modo de entender por falta de atenção, muitas vezes por sobrecarga de
trabalho, como já falei [pausa] e muitas vezes por fatalidade...A gente procura o
motivo de ter acontecido o acidente e não acha [risos] é quando tem de acontecer
mesmo.... (grifo nosso)
**** *acid_trab *f *Enfermaria *ufrn ( Grupo Superior)
E eu estava olhando um determinado procedimento que estava sendo feito e
justamente não estava gostando porque não #colocaram um biombo para proteger
esse determinado cuidado. E ai #chamou minha #atenção e quando olhei para o
paciente. aí eu falseei, meu #pé dobrou e #sai rolando na #escada e não houve nada
de mais grave, mais a #queda foi realmente feia.(grifo nosso)
A “prevenção” localizada no sistema periférico (quadrante inferior direito) do
esquema figurativo 3, reforça a necessidade de melhorar as condições de trabalho
no hospital como um todo, investir mais na disponibilização dos equipamentos de
proteção individual e realização de treinamentos e atualização para todos os
profissionais em relação às normas de biossegurança e, principalmente para as
equipes cirúrgicas, enfatizando algumas técnicas seguras de passagem de
instrumentos, registradas abaixo.
275 42 tem apenas um #elevador para transportar, #pacientes,
#profissionais, tudo. é muito precária a situação aqui. Isso não é
só aqui, ocorre em todos #os setores. #muita #coisa #poderia ser
feita para #melhorar isso, #acho que #deveria inicialmente
#melhorar as #condições de trabalho. (grifo nosso)
224 17 eu sugiro que para #minimizar essa problemática dos
69
#acidentes se deve #passar por varias ações. Primeiro esse
treinamento da equipe #cirúrgica como um todo. O #cirurgião e a
#instrumentadora. porque como #falei essa #passagem de
#instrumentos é fonte #principal de #acidente de #trabalho. (grifo
nosso)
285 7 são ocorrências comuns, principalmente, com a #equipe de
#enfermagem e ultimamente a gente tem observado que sua
incidência tem crescido no #hospital. #acho que para minimizar
esses problemas #poderia haver mais #treinamentos com o
pessoal, e #maior disponibilização de equipamentos de proteção
individual.(grifo nosso)
O “despreparo profissional” no sistema periférico da representação sobre o
acidente de trabalho reflete em toda plenitude as fragilidades dos processos de
formação dos profissionais na área da saúde fundamentados em concepções
pedagógicas acríticas e conservadoras. Historicamente, a formação profissional em
saúde, tanto nas universidades quanto em outros centros formadores, tem seguido,
via de regra, a conformação de modelos que, obedecendo à abordagem cartesiana,
se limitam a compreender a enorme rede de fenômenos que entremeiam a saúde, a
partir do aspecto meramente biológico, isolando e compartimentalizando o
conhecimento e tornando-o, conseqüentemente, insuficiente às necessidades de
saúde atuais.
Apesar dos enormes avanços teóricos-metodológicos no campo da
aprendizagem, a formação profissional ainda permanece no Brasil, centrada em
propostas tipicamente instrucionistas nas quais, cabe ao professor ensinar, dar aula,
e ao aluno escutar, tomar nota e fazer a prova. São propostas que valorizam
demasiadamente o conjunto das informações que se repassa ao aluno no sentido de
responder às demandas do mercado de trabalho, em detrimento do aprofundamento
necessário para codificar essas informações, transformando-as em conhecimentos
significativos e duradouros.
70
Outra característica fortemente presente nessas propostas aponta para o
desprezo às emoções do educando, “coisificando-o”, isto é, negando a sua
humanidade em nome da racionalidade técnica, da homogeneidade de idéias
mediante regras impostas a todos e, de uma concepção equivocada de qualidade de
ensino. Dessa forma, o “despreparo profissional” encontra-se presente nos
esquemas figurativos 2 e 3, mostrando que tanto os trabalhadores do grupo de apoio
como os profissionais de saúde sentem-se despreparados diante de situações
complexas como os acidentes de trabalho, quando envolvem eles próprios, pensam
em si e na sua saúde.
Assim, “as representações sociais enquanto teorias compartilhadas pelo
grupo são sempre representações de alguma coisa produzida por alguém e servem
como guia para a ação, pois orienta as ações e as relações sociais”
49,76
, apontam
neste estudo para a necessidade de rever os treinamentos para o serviço e todo o
processo de formação profissional em saúde, dos cuidadores da saúde dos outros,
pautados em concepções pedagógicas inovadoras, capazes de acionar além dos
aspectos cognitivos e psicomotores, acionar também e intensamente, as instâncias
emocionais dos estudantes.
Para Maturana
82
, o humano se constitui entre o entrelaçamento do emocional
com o racional. O racional se constitui nas coerências operacionais dos sistemas
argumentativos que construímos na linguagem, para defender ou justificar as nossas
ações. Normalmente, vivemos nossos argumentos racionais sem fazer referência às
emoções em que se fundem, porque não sabemos que eles e todas as nossas
ações têm um fundamento emocional, e acreditamos que tal condição seria uma
limitação ao nosso ser racional.
71
Tal constatação reforça a idéia que não basta informar para educar e
mobilizar. É preciso, sobretudo, também sensibilizar as nossas instâncias
inconscientes e a dos educandos, nossos afetos, receios, dúvidas, medos e os
planos abstratos de intensidade afetiva, fugindo da fragmentação da realidade para
que acionemos nossos corpos em direção à realização dos nossos desejos,
conforme verifica-se abaixo.
291 15 nas outras enfermarias a gente, #vez por outra, sempre ouve
#falar de alguém que se machucou, que se #furou, que se #cortou,
com alguma #lâmina, algum #vidro. #acontece mais a #freqüência
realmente, fica difícil a gente dizer. #acontecem pelos mesmos
motivos que #aconteceu comigo, assim a #falta de #cuidado, uns
com os outros. (grifo nosso)
43 7 A panela #cheia #pode #escorregar e #causar acidente. agora
tem que ver que o pessoal quebra #muita #coisa tem #treinamento
#direto pra gente e o pessoal também fiscaliza mas aí, quando
eles dão as #costas fica tudo #do mesmo jeito. (grifo nosso)
Estudos realizados no Brasil e no exterior, indicam que a informação e a
formação centrada em aspectos técnicos são insuficientes para reduzir a ocorrência
de acidentes de trabalho. Um estudo epidemiológico desenvolvido no Brasil
27
, com
dados registrados em um hospital universitário, concluiu que grande parte dos
acidentes se deve à inobservância das precauções preconizadas, concluindo que a
simples informação não é suficiente para modificar o quadro existente. Outro estudo
mais abrangente, de caráter multicêntrico, realizado em três hospitais norte-
americanos, indicou como fatores mais significativos para o seguimento ou não das
precauções universais, além dos já amplamente reconhecidos em outros trabalhos –
percepção do risco e conhecimento das precauções universais – outros raramente
observados: o “clima organizacional” de respeito à segurança e os conflitos de
interesse entre a segurança do trabalhador em saúde e o atendimento ao doente
83
.
72
Caixeta e Barbosa-Branco
84
em estudo realizado no Distrito Federal, Brasil
mostraram que dentre os profissionais entrevistados, os que afirmaram conhecer
todas as normas de biossegurança foram os que mais se acidentaram. Isso se
devia, em parte, por considerarem ter adquirido um conhecimento que, na prática,
não acontecia, ou por estarem mais expostos aos riscos de transmissão de doenças
do que a parcela que relatou desconhecer ou ter um conhecimento parcial dessas
normas.
Nessa perspectiva, a reforma do ensino na área da saúde depende da
reforma dos saberes e das práticas profissionais no sentido de formar trabalhadores
com alta capacidade de resolver problemas de saúde, com capacidade de se
integrarem em equipes multiprofissionais, com capacidade para reconhecer a
determinação, ao mesmo tempo, social, subjetiva e biológica do processo saúde-
doença e uma vez realizado este reconhecimento, serem capazes de criar projetos
terapêuticos que combinassem recursos destas três esferas conforme o caso e as
possibilidades existentes. Necessita-se formar profissionais capacitados a construir
vínculos e a assumir responsabilidades frente à cura ou reabilitação dos seus
pacientes, superando a tradição contemporânea de concentrar quase toda
responsabilidade apenas na realização, segundo certos preceitos, de alguns
procedimentos técnicos. Reformular a clínica, produzindo uma clínica ampliada –
ampliação do campo de saberes, de responsabilidades e de práticas
85
, para além
do ambiente hospitalar.
Trata-se de buscar uma relação dialógica e dialética entre educadores,
educandos e pacientes, tal como Freire
86
propôs, “centralizada na dimensão do
conhecimento, no pensar crítico, no sentimento de aceitação do outro e na
73
intersubjetividade, como seres inacabados que se fazem e refazem
permanentemente, na contínua interação com o mundo”.
Por outro lado, a abordagem sobre os acidentes de trabalho em hospitais tem
tomado novos rumos quando Osório Machado e Minayo-Gomez
87
propõem um
método de análise coletiva de acidentes de trabalho em hospitais, que tem o duplo
objetivo de analisar os acidentes levando em conta o real da atividade de trabalho e
propiciar um aumento da vitalidade dos ofícios constitutivos do trabalho hospitalar.
Assim, “neste processo, de pesquisa e intervenção, conjuga-se a produção de
conhecimento com a formação dos profissionais de saúde, propiciando a ampliação
da participação do trabalhador na gestão do seu cotidiano. O método consiste em
levar o trabalhador a recriar a situação em que ocorreu o acidente, deslocando-se
para a posição de observador de seu próprio trabalho. Na primeira etapa da análise,
o trabalhador é convidado a mostrar ao analista do trabalho como se deu o acidente;
na segunda, a dupla acidentado/ analista registra, num diagrama, a sucessão de
eventos descrita; na terceira, o registro feito é rediscutido e complementado; na
quarta, são avaliadas e executadas, sempre pela dupla acidentado/analista, ações
destinadas a prevenir a reincidência do acidente analisado”. Os autores finalizam
discutindo as possibilidades e limites do método em ambiente hospitalar
87
.
No presente estudo, os componentes do sistema periférico detectados e
categorizados como “prevenção e despreparo profissional”, dão suporte à estrutura
representacional sobre o acidente de trabalho em saúde e podem ser usados para
interferir no núcleo central, na tentativa de alterar o cerne dessa representação
social.
74
4.7 O teste de centralidade
Após a identificação dos elementos constituintes do núcleo central, realizou-
se o processo de refutação apenas do nosso principal objeto de estudo, os
acidentes de trabalho em saúde, caracterizado por Moliner apud Sá
64
como um
importante indicador para testar a centralidade desses elementos, através do
questionamento de sua participação no núcleo central. Metodologicamente, trata-se
de se colocar em evidência o valor simbólico, e portanto, a centralidade de um
elemento. Dessa forma, a comprovação da centralidade desse elemento foi
realizada através da seguinte pergunta: Eu posso pensar em acidente de trabalho,
pensando em contaminação? As opções de resposta eram: a)Não, não posso;
b)Sim, posso; c) Não, não sei dizer.
Esse teste de centralidade foi aplicado com 90 sujeitos (30 de cada grupo)
dos 470 anteriormente entrevistados, sendo que a abordagem deles ocorreu
aleatoriamente, na portaria que dá acesso ao hospital, durante os turnos matutino,
vespertino e noturno, em dias diferentes (Anexo 8).
Neste sentido, pode-se observar a seguir na tabela 5, os resultados acerca do
teste de centralidade da categoria “contaminação” associada ao acidente de
trabalho, realizado de acordo com os grupos que constituem a força de trabalho
estudada.
Tabela 5. Distribuição absoluta e percentual entre acidente de trabalho e a
centralidade da categoria contaminação em um hospital universitário. Natal-RN.
2005
Força de trabalho Acidente de trabalho = contaminação p
Não Sim
Apoio 1 3,3% 29 96,7%
Médio 2 6,7% 28 93,3%
Superior 2 6,7% 28 93,3%
0,809
Total 5 5,6% 85 94,4% 100,0%
75
De acordo com a tabela 5, não houve associação significativa entre a força de
trabalho e o questionamento da categoria contaminação no núcleo central da
estrutura representacional sobre o acidente de trabalho em saúde, ou seja, 85
(94,4%) dos sujeitos entrevistados quando pensam em acidentes de trabalho,
pensam em contaminação e a tendência dessa afirmativa, mantém-se de modo
similar nos grupos de apoio, médio e superior.
No esquema figurativo 4, visualiza-se a estrutura da representação social
sobre o risco ocupacional também importante em nosso estudo.
4.8 A estrutura da representação social sobre o risco ocupacional
Esquema figurativo 4. Identificação da provável estrutura da representação social
sobre o risco ocupacional para os trabalhadores do hospital universitário. Natal-RN.
2005.
Freqüência Ordem média de
evocação
Inferior a 2,0
Ordem média de evocação
Superior a 2,0
Acima de
200
Riscos de natureza
orgânica (351) 1,9
Proteção no trabalho (648) 2,0
Riscos de natureza psíquica (270) 2,0
Entre 10 e
200
Riscos de natureza física (71) 2,1
Riscos de natureza fisiológica (32) 2,3
Riscos de natureza mecânica (25) 2,2
Riscos de natureza química (11) 2,1
Categoria I. Riscos de natureza física. Categoria II. Riscos de natureza química.
Categoria III. Riscos de natureza orgânica. Categoria IV. Riscos de natureza
mecânica. Categoria V. Riscos de natureza fisiológica. Categoria VI. Riscos de
natureza psíquica. Categoria VII. Proteção no trabalho.
Total de evocações = 1408
Média das Ordens Médias de Evocação= 2,0
A categorização efetuada para a obtenção do esquema figurativo 4, visou
essencialmente facilitar a organização dos dados, no sentido de distinguir, de modo
mais flexível, entre um conjunto de elementos centrais e um conjunto de elementos
periféricos, com base num cruzamento de diversos parâmetros, tais como: a
freqüência com que um conjunto de palavras da categoria foi evocado, a ordem
76
média de evocação da categoria, o número de palavras diferentes que a compõem e
o percentual de palavras mais freqüentes que a integram.
Nesse sentido, a freqüência e ordem de evocação globais, isto é, resultantes
do agrupamento de diversas palavras em uma categoria, é um bom indicador de sua
centralidade (alta freqüência /baixa ordem de evocação) ou de seu caráter periférico
( baixa freqüência /alta ordem de evocação) . A aplicação dos outros dois critérios
serve como um controle da consistência empírica das categorias, neste estudo
construídas logicamente, a partir da classificação existente na literatura acrescida
dos elementos positivos evocados alusivos à proteção e segurança no trabalho,
reforçando ou não a atribuição de caráter central a elas
63,64
.
No esquema figurativo 4, percebe-se que a partir da evocação do “risco
ocupacional”, concentraram-se no quadrante superior esquerdo os “riscos de
natureza orgânica”, considerados os que fazem parte do núcleo central da
representação. Por outro lado, os riscos de “natureza física, fisiológica, mecânica e
química”, localizados no quadrante inferior direito, de evocação menos freqüente e
menos imediata são as categorias mais aptas a constituírem o sistema periférico.
Situados no quadrante superior direito a “proteção no trabalho” e “riscos de natureza
psíquica” têm um papel provavelmente também significativo, porém menos nítido, do
que os elementos consistentemente centrais.
Na literatura, a noção de risco, associada ao perigo, teve sempre um papel
central na configuração dos contornos das epidemias. Os modelos explicativos mais
recentes, na ausência de um agente etiológico identificável, partiram da idéia de
grupos de risco, evoluíram para comportamentos de risco, práticas de risco,
posteriormente para vulnerabilidade, avançando numa progressiva socialização do
conceito a partir da epidemiologia, estilo de vida e ultimamente novas modalidades
77
de preocupações começam a emergir, na medida em que, adentramos mais
profundamente na era genética. Por exemplo, as aplicações das tecnologias do
DNA, acabarão por definir novas formas de risco no plano individual
88
.
Assim, no hospital universitário, o trabalhador da saúde, cuja principal missão
traduz-se na responsabilidade pela vida e bem estar dos pacientes, é
predominantemente, do sexo feminino, 21% assume um projeto de vida de múltiplos
empregos, com risco de prejudicar a qualidade do trabalho e de trazer para si
estresse, fadiga, irritabilidade, ansiedade, nervosismo e esgotamento físico. O
hospital pesquisado dispõe hoje, de 189 leitos e vem, ao longo do tempo, ampliando
sua estrutura física, agregando anexos, onde o velho e o novo convivem
permanentemente. Isso traz dificuldades operacionais, na medida em que é visível o
contraste entre o avanço tecnológico e estrutural de setores como UTI, Unidade de
Transplantes, Terapia Renal e Centros Cirúrgicos, com as Enfermarias antigas, mal
estruturadas, sobrecarregadas de leitos, associados aos outros fatores que geram
insatisfação no trabalho, entre os quais se destacam: os baixos salários; a
desvalorização profissional; os atritos com a chefia imediata, que expõem os
trabalhadores aos diferentes riscos ocupacionais.
Diante disso, a abordagem teórico-metodológica das representações sociais
constitui-se em um fecundo aporte da psicologia social para o conhecimento
humano, quando “as representações sociais são modalidades de pensamento
prático, orientadas para a comunicação, a compreensão e o domínio do ambiente,
social, material e ideal. Elas apresentam, portanto, características específicas no
plano da organização dos conteúdos, das operações mentais e da lógica”
47
.
Subjacente a tal perspectiva, os riscos orgânicos provavelmente constituem o
núcleo central dessa representação, porque na visão do grupo são os que podem
78
trazer prejuízos à integridade física dos trabalhadores e pacientes no contexto
hospitalar, onde permanentemente circulam informações sobre infecções
hospitalares e na sociedade brasileira como um todo, essas informações foram
intensificadas a partir da morte do presidente eleito Tancredo Neves e do
surgimento da AIDS, na década de 1980.
Assim, “o núcleo central é determinado por um lado, pela natureza do objeto
representado; por outro lado, pela relação que o sujeito mantém com esse objeto”
89
.
Neste sentido, os riscos orgânicos para esses sujeitos, ocupam a posição central da
representação porque ao longo do tempo suas práticas profissionais são permeadas
pela exposição permanente aos microorganismos, pelo contato direto e indireto com
enfermos, secreções e/ou líquidos corpóreos passíveis de contaminação.
Por outro lado, convém lembrar, que o processo de formação profissional na
área da saúde ainda é fortemente centrado nos aspectos biológicos do adoecer
humano, também contribuindo para a centralidade dessa representação. Assim, os
riscos orgânicos no contexto hospitalar, alicerçados nas situações de perigo e na
possibilidade da ocorrência de acidentes de trabalho, de entraves burocráticos, infra-
estrutura inadequada, falta de material de consumo, desarticulação intersetorial,
distanciamento entre as ações de ensino-serviço, palco de relações desiguais de
poder, advindas do saber médico ainda hegemônico no modelo assistencial atual,
constituem os elementos mais estáveis da representação, geralmente imutáveis a
curto prazo e, portanto, os mais perenes.
Os componentes do sistema periférico, detectados nesse estudo como: os
riscos de natureza física, de natureza fisiológica, riscos de natureza mecânica e os
riscos de natureza química, refletem a contextualização imediata do risco
ocupacional, de modo que podem ser usados para interferir no núcleo central.
79
O sistema periférico é, diferentemente do central, flexível e evolutivo porque
faz a “interface entre a realidade concreta e o sistema central”
63,89
. É nele, portanto,
que devem se concentrar as estratégias que visem interferir no núcleo das
representações sociais de um grupo. Sob esse prisma, as representações sociais
devem servir como “guias” que podemos utilizar em proveito próprio, na
premeditação estratégica, ou em uma outra fase tática da realização de uma ação
90
.
Assim, torna-se evidente que a questão dos riscos ocupacionais e acidentes
de trabalho no hospital, é algo de natureza política, econômica e ambiental.
Portanto, algo de natureza mais coletiva do que individual e que as ações
preventivas somente terão êxito, em termos de controle e eliminação desses riscos
se forem garantidas melhores condições de trabalho, qualidade, conforto e bem
estar em cada tarefa exercida, nos diferentes setores do hospital. No esquema
figurativo 5, visualiza-se a estrutura da representação social sobre o equipamento de
proteção individual também de suma importância neste estudo.
4.9 A estrutura da representação social sobre o equipamento de
proteção individual.
Esquema figurativo 5. Identificação da provável estrutura da representação social
sobre o equipamento de proteção individual para os trabalhadores de um hospital
universitário. Natal-RN. 2005
Freqüência Ordem média de evocação
Inferior a 2,0
Ordem média de evocação
Superior a 2,0
Acima de
200
Luvas (317) 1,6 Proteção (544) 2,0
Máscara (243) 2,0
Entre 50 e
200
Capote (123) 2,5
Gorro (65) 2,3
Bota (62) 2,4
Acidente (54) 2,2
Categoria a- Luvas. Categoria b- Máscara. Categoria c- Capote. Categoria d- Gorro.
Categoria e- Bota. Categoria f- Proteção.Categoria g- Acidente.
Total de evocações = 1408
Média das Ordens Médias de Evocação = 2,0
80
As representações dos equipamentos de proteção individual presentes na
realidade do grupo também são apresentadas como categorias de ordem cognitiva e
simbólica socialmente construídas, constantemente (re)ordenadas e (re)significadas,
na forma em que o homem as apreende em épocas distintas. Segundo Abric
56
, “são
determinadas ao mesmo tempo pelo próprio sujeito (sua história, sua vivência), pelo
sistema social e ideológico no qual ele está inserido e pela natureza dos vínculos
que ele mantém com esse sistema social.”
No quadrante superior esquerdo, mostra-se a unicidade das “luvas”, como a
própria identidade da representação enquanto provável núcleo central. Em torno do
núcleo central e organizados por ele encontram-se os elementos periféricos
distantes (“capote, gorro, bota e acidente”) ou muito próximos (“proteção e
máscara”). Os esquemas periféricos asseguram o funcionamento quase instantâneo
da representação como grade de decodificação de uma situação e permitem à
representação funcionar, sem que seja necessário, a cada instante, analisar a
situação em relação ao princípio organizador, que é o núcleo central. Sendo assim,
os desacordos da realidade são absorvidos pelos sistemas periféricos que
asseguram a estabilidade relativa da representação
55
.
Os aspectos consensuais e de evocação imediata em torno das “luvas”
presentes no grupo de trabalhadores do hospital universitário, provavelmente advém
do uso mais freqüente desse equipamento de proteção na área da saúde, da própria
característica das unidades de ensino, cenários de formação profissional na área da
saúde, onde permanentemente circulam informações acerca da importância das
mãos na transmissão de doenças. Convém lembrar, que no presente estudo as
mãos constituíram-se as partes do corpo mais freqüentemente atingidas nos
acidentes de trabalho no hospital pesquisado.
81
Outro aspecto que deve ser ressaltado diz respeito à comprovação científica
amplamente reiterada de que as luvas funcionam como medidas de proteção no
caso de acidentes com exposição da pele das mãos a sangue e fluidos corporais
91,92
e, no caso de acidentes pérfuro-cortantes foi demonstrado que uma única luva
pode reduzir o volume de sangue injetado por agulhas maciças de sutura, em
70,0%. No caso de agulhas ocas, a luva pode reduzir de 35,0% a 50,0% a
inoculação do sangue, uma vez que uma porção deste permanece na parte interna
da agulha
93
.
Informações remotas, formuladas por Oliver Wendel Holmes em 1847 e Ignaz
Semmelweis (1841 a 1846) na tentativa de explicar a febre puerperal escreveram
que “ a febre puerperal é causada pela condução à mulher grávida de gotículas
pútridas derivadas de organismos vivos, pela mediação dos dedos dos que as
examinam”. No hospital de Viena (1841 a 1847) a mortalidade era alta, porque os
estudantes vinham à enfermaria e examinavam as mulheres logo após realizarem
dissecações na sala de autópsia. Graças às medidas de higiene e desinfecção das
mãos, regime instituído somente no ano de 1847, a taxa de mortalidade diminuiu
para 1,3% no ano de 1848
94
.
Os achados no presente estudo são compatíveis com a Teoria das
Representações Sociais e é possível vislumbrar que, para o grupo de trabalhadores
do hospital universitário a ciência ou concepção científica é utilizada como
legitimadora das suas ações e pensamentos, ao mesmo tempo em que nas suas
práticas diárias, esses mesmos conhecimentos são fragmentados e articulados aos
valores, regras, visões de mundo, anteriormente conhecidos, familiares a todos e a
cada um dos atores sociais envolvidos no estudo.
82
Moscovici
49
lembra que “a familiarização do novo ao antigo, num processo de
ancoragem e objetivação desses conteúdos, nem sempre se faz de forma pacífica”.
Nesse sentido, a objetivação é definida como a transformação dos conteúdos
abstratos em conteúdos concretos e a ancoragem como o processo de incorporação
de novos elementos no pensamento já constituído a partir das pressões do grupo.
Assim, de um lado há os conteúdos que circulam numa dada sociedade e que têm
suas origens tanto nas produções mais remotas quanto nas produções locais e
atuais, que emergem da convivência cotidiana. De outro lado, têm-se as forças
elaboradas a partir do processo de interação social e das pressões para manter e
confirmar identidades coletivas.
A constituição da identidade é aqui entendida como um processo que se
desenvolve ao longo de toda a vida do sujeito e que está vinculada à noção de
alteridade. É a partir do “olhar do outro” que nos constituímos como sujeitos e são as
relações cotidianas que permitem a construção da identidade individual e social, a
partir de trocas materiais e afetivas, fazendo com que os sujeitos, ao longo de todas
as suas vidas, constituam suas singularidades em meio a diferenças.
Subjacente a tal perspectiva, as representações sobre equipamento de
proteção individual dos participantes da pesquisa se constituíram historicamente ao
longo do tempo, elaborando-se simultaneamente, a partir das práticas profissionais
vivenciadas na realidade de cada contexto local de trabalho, influenciadas também
pelo desenvolvimento científico-tecnológico, diante do contato com novas doenças e
novas necessidades de proteção.
A função das representações sociais do saber se cumpre na medida em que
permite a entrada de conhecimentos novos, integrando-os de forma assimilável e
compreensível dentro de um quadro de funcionamento cognitivo e de valores
89
.
83
Sendo assim, para o grupo, as luvas e os equipamentos de proteção individual nem
sempre presentes nos diferentes setores do hospital, simbolicamente evitam o
contato com doentes, sangue, secreções, instrumentos contaminados, lixo hospitalar
em caso de acidente e por isso protegem, cumprindo também as funções cognitivas
de integração da novidade e a de interpretação da realidade.
Ao por em prática o uso dos equipamentos de proteção durante o trabalho na
área da saúde, emerge a terceira função das representações sociais, que “consiste
em servir de guia de comportamentos e ações, na medida em que os trabalhadores
constroem modelos de ação, formas de atuação no mundo social em seus diferentes
contextos”
89
, identificados abaixo nos grupos de apoio, médio e superior
respectivamente:
40 22 #avental. são dadas #as #luvas para a #gente não se queimar e
#usar. mais a touquinhas a #gente #usa. #as #luvas #as vezes a
#gente #usa para descascar cenouras, mas em coisas que melam
é muito ruim de #usar. [grifo nosso]
300 31 agora você não deve se expor, algumas pessoas se #expõem,
outros não. #depende muito de cada um. Existe material sim. não
vou #dizer que é 100%. A #gente não tem tudo mas a #gente tem o
básico. eu estava #usando #luvas. não estava #usando #máscara,
nem #capote porque naquele #momento não havia #necessidade.
[grifo nosso]
264 13 acho que por ignorância, peguei o #ácido vencido no
#ambulatório de dermatologia, ninguém me avisou nada e fui
despejando aquele #ácido, diretamente na pia. A medida que eu ia
despejando, ia inalando aquele odor. #comecei a #ficar sufocada e
os #dedos #começaram a #queimar e quando percebi, calcei uma
luva. [grifo nosso]
No presente estudo, também se pode verificar em relação ao uso/desuso dos
equipamentos de proteção individual as várias contradições entre o dizer e o fazer,
perfeitamente compatíveis com as representações sociais como formas de
conhecimentos às vezes incoerentes, construídas ao nível simbólico, a partir da
inserção concreta do sujeito no espaço e no tempo, que são forjadas nas
84
articulações das informações, noções, concepções, enfim de múltiplos elementos
contraditórios presentes no dia a dia dos sujeitos, denominadas por Moscovici
76
de
“polifasias cognitivas”, quando afirma que as pessoas são capazes de usar
diferentes modos de pensamento, porque são diferentes, agem de acordo com o
grupo específico ao qual pertencem e ao contexto em que estão no momento.
272 25 nos outros #setores onde trabalhei era rotina o #uso dos
#equipamentos de #proteção #individual. #as vezes ocorria a falta
de alguns desses #equipamentos, por exemplo, faltavam #luvas,
mas a #gente #improvisava, #pedia emprestado em outros
#setores e fazia o serviço. [grifo nosso]
36 19 O problema é que #as pessoas não usam, eu mesmo não #uso.
no meu caso foi um caso a parte porque não tinha #bota com meu
número, mais a maioria #compra um tênis diferente porque não
#gosta de #usar, mulher é que não #usa mesmo, não #usa de jeito
nenhum, elas #dizem que #esquentam, que faz calos, que é dura.
[grifo nosso]
87 19 os #equipamentos de #proteção que a #gente #usa é bata. que
a #gente tem que #comprar. #máscara que #praticamente não tem,
a #mascara falta muito. #luvas já chegou a faltar e hoje não falta
mais porque a #gente, #bate o pé e #diz. se não tiver a #gente não
trabalha. então essa parte ai já não é mais problema. [grifo nosso]
138 14 na escada não havia #necessidade do #uso de #equipamento,
havia #necessidade de mais claridade no #setor que eu estava
passando. no caso da vassoura eu não estava #usando o
#equipamento porque não tinha no #setor. se eu estivesse
#usando a #bota, não tinha acontecido esse acidente
comigo..[grifo nosso]
Através da observação direta e dos registros feitos no diário de campo,
verificou-se que é freqüente o descumprimento das normas universais relativas ao
uso de equipamentos de proteção individual durante o trabalho. Os principais
motivos alegados pelos trabalhadores para o descumprimento das normas referem-
se à falta de equipamentos e materiais indispensáveis para a realização das
atividades, autoconfiança, desconforto, perda de sensibilidade tátil, pressa,
esquecimento e que não há necessidade de usá-los em procedimentos simples. Por
outro lado, contraditoriamente, afirmam que os equipamentos de proteção individual
85
devem ser usados para a proteção pessoal e dos pacientes, durante o exercício
profissional.
Evidentemente, esses achados mostram que na análise da atividade do
trabalho, deve-se considerar o que há e além do que é feito, ou seja, os conflitos
vividos pelo trabalhador na sua realização e os recursos subjetivos de que lança
mão para chegar a uma solução, também devem ser considerados. Trata-se de
compreender a tensão existente entre as prescrições técnicas relativas às normas
de biossegurança, o tempo psicológico de cada trabalhador, que é extremamente
subjetivo e, provavelmente, não coincide com o tempo cronológico, além do tempo
da “produção” que domina o ser humano
95
e o sentido atribuído ao trabalho em
saúde, que é focalizado no cuidar do outro, antes de cuidar de si próprio.
Dessa forma, os conflitos, o sofrimento, o prazer e as representações que
emergem em situação de trabalho na área da saúde, são constituídos no contexto
dinâmico da organização do trabalho alicerçados nas dificuldades diárias, na
dinâmica das equipes, nas relações intra e interindivíduos, em “decorrência das
tensões que surgem no confronto entre a situação laboral e as obrigações próprias
da esfera privada”
96
.
28 15 eu quis adiantar o #serviço de todo #jeito e você sabe #né.
quanto mais rápido melhor. eu não me #sinto #culpado não. eu
#sinto que foi negligência de não ter #colocado #uma #pessoa
logo pra me #ajudar, se essas #pessoas tivessem me #ajudado
teria sido mais tranqüilo.
98 13 Porque foi falta de atenção né.... a gente que trabalha na
higienização tem que estar sempre atento e nem sempre é
possível isso. São tantas coisas na vida [pausa] É assim mesmo...
(grifo nosso)
Para Lancman
97
, apreender e compreender as relações de trabalho exige
mais do que a simples observação e, sobretudo, exige uma escuta voltada para
quem executa o trabalho. Para apreender o trabalho em sua complexidade, é
86
necessário entendê-lo e explicá-lo para além do que pode ser visível e mensurável:
torna-se necessário que se considere, também, a qualidade das relações que ele
propicia. A escuta deve ser realizada de forma coletiva e desenvolvida a partir de um
processo de reflexão realizado com o conjunto dos trabalhadores, criando um
espaço público de discussão. Acredita-se que é somente a partir da reflexão que o
sujeito é capaz de se reapropriar da realidade de seu trabalho.
Os componentes do sistema periférico, detectados nesse estudo como:
“capote, gorro, bota e acidente” refletem a contextualização imediata do
equipamento de proteção individual, de modo que podem ser usados para interferir
no núcleo central da representação, a partir da organização do trabalho no hospital
universitário em bases democráticas, calcada na vontade das pessoas trabalharem
juntas e de superarem coletivamente as contradições que surgem da própria
natureza ou da essência da organização do trabalho, reconhecendo os conflitos
característicos da prestação de cuidados aos doentes e a necessidade de
trabalharem protegidos, exercitando incansavelmente, a eterna busca da
emancipação, reapropriação, transformação e reconstrução da realidade, renovando
os recursos subjetivos de que os trabalhadores dispõem para essa reconstrução. No
intuito de aprofundar essas e outras reflexões, a partir do quadro 2, expõe-se a
análise lexicográfica do software ALCESTE.
87
4.10 A análise lexicográfica
Quadro 2. Relatório descritivo resumido produzido pela análise do corpus
referente às representações sociais sobre os acidentes de trabalho na área da
saúde de um hospital universitário. Natal-RN, 2005.
Nome do corpus: Representações sociais sobre o acidente de trabalho na área
da saúde.
Número total de ocorrências: 13214
Formas distintas: 2150
Formas reduzidas das análises:532
Freqüência média de uma forma: 6
Freqüência máxima de uma forma: 534
Qui-quadrado mínimo por palavra: 2
Número de UCIs: 15
Número de UCEs selecionadas:308
Número de classes obtidas: 05
193UCE das 308 UCE/ 05 classes 62,66%
O quadro 3 logo abaixo, mostra, resumidamente, as cinco classes temáticas
resultantes do corpus referente às representações sociais sobre os acidentes de
trabalho na área da saúde de um hospital universitário, as variáveis estatisticamente
associadas e o conteúdo presente em cada uma delas. Nos quadros 4, 5, 6, 7 e 8,
as cinco classes temáticas são descritas em detalhes com suas principais palavras
nomeadas, com seus valores de freqüências nas classes, freqüências totais,
percentuais e qui-quadrados verificados pelo ALCESTE.
88
Quadro 3. Descrição resumida das classes 1, 2, 3, 4 e 5, segundo a análise do
ALCESTE . Natal-RN, 2005
Classes Variáveis associadas Análise do ALCESTE
Classe 1
17,10% do material
analisado
Pessoas que trabalham nos
ambulatórios, laboratórios,
do sexo feminino e
estatutárias.
Acidentes de trabalho e
infecções hospitalares.
Classe 2
16,06% do material
analisado
Pessoas que trabalham na
UTI.
Necessidade do uso de
EPIs (luvas, capotes,
máscaras e óculos).
Classe 3.
32,6% do material
analisado
Pessoas que trabalham na
higienização, almoxarifado,
enfermarias, do sexo
masculino e terceirizados.
Culpabilização pelos
acidentes de trabalho
ocorridos.
Classe 4
12,44% do material
analisado
Pessoas que trabalham nas
enfermarias.
Maiores possibilidades de
ocorrência de AT nas
enfermarias. Relações de
poder no trabalho.
Classe 5
18,13% do material
analisado
Pessoas que trabalham nos
centros cirúrgicos e centro
de diagnóstico por imagem.
Acidentes com pérfuro-
cortantes durante as
cirurgias e exames
realizados.
Quadro 4. Descrição da classe 1, segundo a análise do ALCESTE. Natal-RN,
2005
Identificação
palavra
Freq.
classe
Freq.
total
% X
2
Forma
Reduzida
179 8. 8. 100.00 40.47 Hospitalar+
141 9. 13. 69.23 26.73 Exame+
187 8. 11. 72.73 25.47 Infecc+
95 9. 15. 60.00 21.12 Dedo+
277 4. 4. 100.00 19.80 Pret+
217 10 20 50.00 17.04 Méd+
312 3. 3. 100.00 14.78 Saco
Número de UCEs =33 ou 17,10% do material analisado.
Estão associadas a essa classe as seguintes variáveis: pessoas que
trabalham nos ambulatórios e laboratórios do hospital, pessoas do sexo feminino e
funcionários estatutários (UFRN).
Essa classe trata da relação existente entre os tipos de acidentes sofridos por
pessoas que trabalham nos ambulatórios e nos laboratórios existentes no hospital,
reforça a presença de instrumentos pérfuro-cortantes como elementos importantes
89
no processo de trabalho desses locais, refere-se aos processos infecciosos
associados aos acidentes de trabalho ocorridos nesses locais e suas
conseqüências, além da necessidade de acompanhamento médico e da realização
de diferentes exames complementares para diagnóstico, tratamento e
monitoramento das complicações advindas dos acidentes de trabalho e das
infecções hospitalares deles decorrentes.
No Brasil a preocupação com as infecções hospitalares é recente. Somente
em 1983, a Portaria nº 196 do Ministério da Saúde (MS) determinou a criação e a
normatização das Comissões de Controle das Infecções Hospitalares (CCIH). Já em
1987, a Portaria nº 232 do Ministério da Saúde criou o Programa Nacional de
Controle de Infecção Hospitalar. Posteriormente, em 1992, o Ministério da Saúde
expediu a Portaria nº 930, determinando que todos os hospitais do país, deveriam
manter um Programa de Controle de Infecção Hospitalar, independente da natureza
da entidade mantenedora
98
.
Somente em 1994, o Ministério da Saúde avaliou a magnitude das infecções
hospitalares e a qualidade das ações de controle em 99 hospitais terciários
localizados nas capitais brasileiras vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS). A
taxa de pacientes com Infecção Hospitalar (IH) foi 13,0%. Os maiores índices foram
obtidos nas unidades de terapia intensiva e queimados.
Em 1997, foi criada a Lei Federal n° 9431/ MS que obrigou os hospitais a
manter um Programa de Infecção Hospitalar e estabeleceu a vigilância
epidemiológica para identificar ocorrências, determinar causas e possibilitar a
proposição de medidas administrativas coerentes e oportunas
98
.
De acordo com a Portaria 2.616/98/MS infecção hospitalar. “É qualquer
infecção adquirida após a internação do paciente e que se manifesta durante a
90
internação ou mesmo após a alta, quando puder ser relacionada com a internação
ou procedimentos hospitalares”.
A partir de 2000, foi criada dentro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA), mais especificamente dentro da Gerência Geral de Tecnologia em
Serviços de Saúde (GGTES) a Unidade de Controle de Infecção Hospitalar em
Serviços de Saúde (UCISA) que por meio da Portaria nº 385, de 2003, passou a ser
a Gerência de Investigação e Prevenção das Infecções e dos Eventos Adversos
(GIPEA)
98
.
Atualmente, a GIPEA vem desenvolvendo diversas atividades, entre elas a
investigação de surtos, a confecção de material técnico para consultas, construção
de regulamentações da área, capacitação de profissionais de saúde e técnicos das
vigilâncias sanitárias, incentivando a educação continuada e estimulando a
realização de pesquisas
98
.
Por outro lado, as características do hospital universitário, enquanto unidade
de ensino, onde permanentemente são realizados estudos científicos, possibilitam a
circulação de novas informações que permeiam o processo de trabalho destinado a
toda a população do Estado do Rio Grande do Norte e de parte da Paraíba. Sua
clientela caracteriza-se por ser susceptível a infecção, pois é constituída de
pacientes referenciados com carências nutricionais graves.
De acordo com um estudo realizado no hospital, apenas 20% dos pacientes
cirúrgicos pesquisados ingerem alimentos protéicos diariamente, 17,5% o fazem
duas vezes por semana e 41,7% não se alimentam de proteínas
99
. Em outro
trabalho, Medeiros et al
100
, verificaram uma taxa de 5,99% de infecção hospitalar,
compatível com níveis aceitáveis de infecção em doentes cirúrgicos nessas
condições.
91
Nesse contexto, ao conceder-se a palavra aos sujeitos, aparece nessa classe,
com força, a questão da infecção hospitalar (qui-quadrado alto) associada aos
acidentes de trabalho, identificando o conhecimento deles sobre o objeto, enquanto
senso comum redimensionado na representação da “contaminação”, anteriormente
captada na linguagem de todo grupo, como construtora dos sentidos das suas
representações sobre os acidentes de trabalho em saúde e das suas conseqüências
para os trabalhadores do complexo de saúde.
Vale lembrar, como sublinha Moscovici
76
, que “toda referência dentro do
mundo, representa um conjunto cristalizado de significâncias e tacitamente aceita
nomes; seu silêncio é precisamente o que garante sua importante função
representativa: expressar primeiro a imagem e depois o conceito, como realidade”.
Quadro 5. Descrição da classe 2, segundo a análise do ALCESTE. Natal-RN,
2005
Identificação
palavra
Freq.
classe
Freq.
total
% X
2
Forma
Reduzida
205 15. 23. 65.22 46.80 Luva+
214 7. 7. 100.00 37.96 Máscara
353 6. 6. 100.00 32.36 Usa
356 8. 10. 80.00 31.98 Usando
357 7. 8. 87.50 31.59 Uso
358 8. 11. 72.73 27.78 Usar
239 6. 7. 85.71 26.14 Óculos
35 4. 4. 100.00 21.35 Avent+
184 4. 4. 100.00 21.35 Improvis+
288 10. 19. 52.63 20.90 Proteção
225 8. 15. 53.33 16.76 Momento
193 3. 3. 100.00 15.92 Jaleco
349 3. 3. 100.00 15.92 Tuberculose
Número de UCEs = 31 ou 16,06% do material analisado.
Está associada a essa classe a seguinte variável: pessoas que trabalham na
Unidade de Terapia Intensiva.
Essa classe enfatiza a importância do uso dos equipamentos de proteção
individual durante o exercício profissional, como forma de proteger o trabalhador da
92
saúde contra doenças. A partir da Portaria nº 3.214, de 08 de junho de 1978 que
aprovou as NRs - do Capítulo V do Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho,
relativas à Segurança e Medicina do Trabalho e para fins de aplicação da Norma
Regulamentadora n
0
06
101
, considera-se Equipamento de Proteção Individual (EPI),
“todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à
proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho”. Ela
preconiza, que a empresa está obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente,
equipamento de proteção individual adequado ao risco e em perfeito estado de
conservação e funcionamento, nas seguintes circunstâncias: a) Sempre que as
medidas de proteção coletiva forem tecnicamente inviáveis ou não oferecerem
completa proteção contra os riscos de acidentes do trabalho e/ou doenças
profissionais. b) Enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo
implantadas e para atender a situações de emergência
101
.
Eis alguns dos equipamentos de proteção individual, mais usados em
estabelecimentos de saúde, como por exemplo, aqueles que conferem proteção à
cabeça:
1. Protetores faciais destinados à proteção dos olhos e da face contra lesões
ocasionadas por partículas, respingos, vapores de produtos químicos e radiações
luminosas intensas;
2. Óculos de segurança para trabalhos que possam causar ferimentos nos olhos,
provenientes de impacto de partículas;
3. Óculos de segurança, contra respingos, para trabalhos que possam causar
irritação nos olhos e outras lesões decorrentes da ação de líquidos agressivos; e
para trabalhos que possam causar irritação nos olhos, provenientes de poeiras;
93
4. Óculos de segurança para trabalhos que possam causar irritação nos olhos e
outras lesões decorrentes da ação de radiações perigosas.
Aqueles que conferem proteção para os membros superiores: a) Luvas e/ou
mangas de proteção e/ou cremes protetores devem ser usados em trabalhos em que
haja perigo de lesão provocada por:
1. Materiais ou objetos escoriantes, abrasivos, cortantes ou perfurantes;
2. Produtos químicos corrosivos, cáusticos, tóxicos, alergênicos, oleosos,
graxos, solventes orgânicos e derivados de petróleo;
3. Materiais ou objetos aquecidos;
4. Choque elétrico;
5. Radiações perigosas;
6. Frio
7. Agentes biológicos.
Proteção para os membros inferiores:
1. Calçados impermeáveis para trabalhos realizados em lugares úmidos,
lamacentos ou encharcados;
2. Calçados impermeáveis e resistentes a agentes químicos agressivos;
3. Calçados de proteção contra agentes biológicos agressivos e
4. Calçados de proteção contra riscos de origem elétrica.
Proteção do tronco:
Aventais, capas e outras vestimentas especiais de proteção para trabalhos
em que haja perigo de lesões provocadas por:
94
1. Riscos de origem radioativa;
2. Riscos de origem biológica e
3. Riscos de origem química.
Proteção da pele:
Cremes protetores – só poderão ser postos à venda ou utilizados como EPI,
mediante o Certificado de Aprovação do Ministério do Trabalho e Emprego.
Proteção respiratória:
Para exposição a agentes ambientais em concentrações prejudiciais à saúde do
trabalhador, de acordo com os limites estabelecidos na NR n
0
15
101
:
1. Respiradores contra poeiras, para trabalhos que impliquem produção de
poeiras;
2. Respiradores e máscaras de filtro químico para exposição a agentes químicos
prejudiciais à saúde;
3. Aparelhos de isolamento (autônomo ou de adução de ar), para locais de
trabalho onde o teor de oxigênio seja inferior a 18% em volume.
No presente estudo observou-se que em função das dificuldades típicas de
um hospital público, esses trabalhadores às vezes necessitam improvisar, conforme
está registrado nessa classe, devido à falta desses equipamentos e de condições de
trabalho. Os entrevistados afirmam que há carência de óculos de proteção na UTI e
que usam esses equipamentos apenas em determinados momentos até mesmo
porque, são considerados desconfortáveis, esquentam, embassam com freqüência,
dificultando a visão e a realização das tarefas.
95
Desse modo, os trabalhadores avaliam cada procedimento e julgam a
necessidade de uso/desuso do EPI, não valorizando a sua real importância para a
indispensável proteção durante o trabalho.
Por outro lado, evidenciou-se também uma situação que ocorre,
constantemente, em estabelecimentos de saúde e que expõe outras pessoas a
riscos desnecessários. Trata-se do uso dos EPIs fora do ambiente, no qual o seu
uso está previsto. Esta situação vai de encontro ao preconizado na NR n
o
6 do
Ministério do Trabalho
101
, e é recomendável afixar avisos sobre a proibição e a
permanência, principalmente nos lugares mais freqüentados pelos profissionais,
portando indevidamente seus EPIs.
Algumas situações são previstas pela NR n
o
6, quanto às obrigações dos
empregados, frente aos equipamentos de proteção individual: a) usá-los apenas
para a finalidade a que se destina. b) responsabilizar-se por sua guarda e
conservação. c) não portá-los para fora da área técnica e comunicar ao empregador
qualquer alteração que o torne impróprio para uso. Como o próprio nome já diz,
esses equipamentos conferem proteção a cada profissional individualmente. Para
melhor entendimento, a referida proteção é dada à cabeça, ao tronco, aos membros
superiores, aos membros inferiores, à pele e ao aparelho respiratório do indivíduo
101
.
Disto isto, deve-se registrar, que apesar das dificuldades presentes no
hospital, há trabalhadores que possuem óculos de proteção próprios, só trabalham
protegidos e cumprem efetivamente as normas de biossegurança. De modo que,
nesses mesmos locais também se observou o descumprimento das normas
prescritas no tocante ao uso dos equipamentos de proteção individual e coletivo,
tanto pelos trabalhadores assim como pela própria organização hospitalar.
96
Convém ressaltar ainda, a importância dada às luvas e às máscaras (qui-
quadrado altos) por esses sujeitos, corroborando os achados obtidos anteriormente
na estrutura representacional sobre o equipamento de proteção individual, a partir do
conjunto de trabalhadores. Essa classe também expôs sua preocupação com a
tuberculose (qui-quadrado baixo), provavelmente devido às informações remotas
sobre a doença, ao potencial de contágio do bacilo de Koch e às recentes
preocupações epidemiológicas de toda a área da saúde com esse importante
problema de saúde re-emergente.
Moscovici
76
reforça que o senso comum está continuamente sendo criado e
re-criado em nossas sociedades, especialmente onde o conhecimento científico e
tecnológico está popularizado. Seu conteúdo, as imagens simbólicas derivadas da
ciência em que ele está baseado e que, enraizadas no olho da mente, conformam a
linguagem e o comportamento usual, estão constantemente sendo retocadas. No
processo, a estocagem de representações sociais, sem a qual a sociedade não
pode se comunicar ou se relacionar e definir a realidade, é realimentada.
Quadro 6. Descrição da classe 3, segundo a análise do ALCESTE. Natal-RN,
2005
Identificação
palavra
Freq.
classe
Freq.
total
% X
2
Forma
Reduzida
388 31. 48. 64.58 22.16 Foi
453 31. 48. 64.58 22.16 Me
87 14. 17. 82.35 17.13 Culp+
323 11. 12. 91.67 16.99 Sinto
450 51. 105. 48.67 15.08 Eu
177 7. 7. 100.00 12.76 Hora
247 8. 9. 88.89 11.31
390 18. 28. 64.29 11.12 Fui
30 12. 17. 70.59 9.50 Atenção
15 5. 5. 100.00 9.02 Ajud+
275 4. 4. 100.00 7.18 Prest+
Número de UCEs= 70 ou 36,27% do material analisado.
97
Estão associadas a essa classe as seguintes variáveis: pessoas que
trabalham na higienização, no almoxarifado, nas enfermarias, do sexo masculino e
com vínculo empregatício terceirizado.
Os sujeitos dessa classe sentem-se responsáveis pelos acidentes ocorridos
no passado. Foram acidentes graves que os deixaram impossibilitados ao trabalho.
Além disso, consideram que não estavam prestando atenção ao trabalho no
momento do acidente, sentem-se despreparados diante deles, culpam ainda o
ambiente, os materiais presentes no processo de trabalho e, por vezes, os próprios
pacientes. Relatam ainda, as dificuldades pessoais advindas desses acidentes de
trabalho e da necessidade da ajuda de familiares na realização de atividades
simples na rotina diária, durante o período de afastamento do trabalho.
No hospital universitário há, em relação à força de trabalho, uma linha
demarcatória que coloca de um lado, os trabalhadores qualificados, aqueles que
atuam na assistência direta, nos serviços de apoio diagnóstico e terapêutico, na
gerência e na produção de tecnologia. E, de outro lado, os trabalhadores
terceirizados e em situação de vínculo empregatício precário. Hoje, o grupo de apoio
do hospital é praticamente formado por trabalhadores terceirizados e considera-se
esta dimensão do trabalho no setor saúde semelhante ao processo de
transformações do mundo do trabalho em geral.
Essa é a marca da exclusão imposta pela Terceira Revolução Industrial e
reproduzida no contexto hospitalar, no qual a força de trabalho é dictomizada em
trabalhadores centrais e periféricos, bolsistas e voluntários, dividindo também a
parcela de apreensão do conhecimento e a utilização de tecnologias, gerando
relações desiguais de poder pelo saber. Assim, o convívio dessas diferentes formas
98
de trabalhadores gera tensões, latentes ou manifestas, que acabam interferindo na
qualidade dos serviços prestados à população.
De certa forma essas inovações organizacionais na gestão do pessoal, visam
alcançar maior eficiência na produção dos serviços, mas refletem em sua essência
as orientações da política neoliberal e de reforma do Estado, direcionadas para uma
desregulação do mercado de trabalho, no quadro de crise da sociedade salarial,
gerando por vezes, alta rotatividade dos trabalhadores terceirizados, despreparo
profissional e insegurança no ambiente hospitalar.
Na perspectiva da Saúde Ocupacional clássica, os acidentes de trabalho são
eventos concebidos como decorrentes da ignorância e negligência dos
trabalhadores e a eles é atribuída à responsabilidade pelos mesmos
39,102
.
Lembram ainda, aspectos relativos ao azar, erro rudimentar, acontecimentos
que ocorrem por obra do acaso ou por causas desconhecidas que, de certa forma,
acabaram sendo incorporados e reproduzidos nas representações emitidas pelos
trabalhadores, no presente estudo.
Essa classe formada por pessoas que sofreram acidentes e trabalham na
higienização, no almoxarifado, nas enfermarias, do sexo masculino e com vínculo
empregatício terceirizado é, do ponto de vista quantitativo a mais importante, porque
corresponde a 36,27 % de todo o material analisado, reforçando a culpabilização
pelos acidentes, seja no sentido de preservar os empregos nas firmas prestadoras
dos serviços ao hospital, seja no sentido de defender a idéia fortemente enraizada
na cultura brasileira, de que os acidentes são causados por atos inseguros ou
condições inseguras simplesmente, esquecendo que na verdade, são frutos do
contexto social e ambiental onde se dá a produção, bem como que a proteção
individual é complementar à proteção coletiva, além de estar esquecendo ou
99
omitindo que no hospital universitário, a questão é essencialmente do ambiente e
aparentemente do indivíduo e, mais do que isso, que a saúde não é uma mercadoria
cambiável, trocável pelos adicionais de insalubridade e periculosidade.
Nesse sentido, cabe enfatizar que a Portaria n° 3.214/78 do Ministério do
Trabalho
101
, ao estabelecer as Normas Regulamentadoras de Medicina e Segurança
do Trabalho, determina a criação, manutenção e desenvolvimento de um Programa
de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), no âmbito da NR 9, especificando
inclusive a obrigatória atuação do empregador no sentido de prevenção e proteção
contra os chamados riscos biológicos, destacados em pequenos trechos da referida
norma, logo abaixo:
"9.1.1. Esta NR n
0
9
101
estabelece a obrigatoriedade da elaboração e
implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que admitam
trabalhadores como empregados, do PPRA, visando à preservação da saúde e da
integridade dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e
conseqüente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham
a existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio
ambiente e dos recursos naturais.
9.1.5. Para efeito desta NR, consideram-se riscos ambientais os agentes físicos,
químicos e biológicos existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua
natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de
causar danos à saúde do trabalhador.
9.1.5.3. Consideram-se “agentes biológicos as bactérias, fungos, bacilos, parasitas,
protozoários, vírus, entre outros".
Dessa forma, pela natureza intrínseca do trabalho desenvolvido no hospital
universitário, os riscos biológicos estão presentes e fazem parte do cotidiano dos
100
seus funcionários (no contato direto com os pacientes, seja nas atividades de apoio
diagnóstico e terapêutico, ou ainda em atividades de suporte e apoio operacional e,
eventualmente, mesmo em áreas e tarefas que deveriam envolver apenas atividades
administrativas, por exposição ambiental e/ou inadvertida).
9.3.5. Das medidas de controle.
9.3.5.1. Deverão ser adotadas as medidas necessárias e suficientes para a
eliminação, a minimização ou o controle dos riscos ambientais sempre que forem
verificadas uma ou mais das seguintes situações:
a) identificação, na fase de antecipação, de risco potencial à saúde;
b) constatação, na fase de reconhecimento de risco evidente à saúde;
c) quando, através do controle médico da saúde, ficar caracterizado o nexo causal
entre danos observados na saúde dos trabalhadores e a situação de trabalho a que
eles ficam expostos.
Não parece haver margem para dúvidas quanto à existência dos riscos
biológicos nos estabelecimentos de saúde, sendo de amplo conhecimento científico
e mesmo leigo, a relação entre o labor nesse tipo de atividade e as chances
aumentadas de adoecimento. A norma legal determina, em caráter geral, a
necessidade da adoção das medidas necessárias e suficientes para a eliminação, à
minimização ou o controle dos riscos ambientais, estabelecendo uma hierarquia, um
grau de prioridade, no elenco de medidas para tal desígnio, destacadas logo a
seguir:
9.3.5.4. Quando comprovado pelo empregador ou instituição, a inviabilidade técnica
da adoção de medidas de proteção coletiva ou quando estas não forem suficientes
ou se encontrarem em fase de estudo, planejamento ou implantação ou ainda em
101
caráter complementar ou emergencial, deverão ser adotadas outras medidas
obedecendo-se à seguinte hierarquia:
a) Medidas de caráter administrativo ou de organização do trabalho;
b) Utilização de Equipamento de Proteção Individual - EPI
Em relação a essa temática, para alguns países desenvolvidos é “decisiva a
compreensão de que saúde não se vende e nocividade se elimina”
103
.
Quadro 7. Descrição da classe 4, segundo a análise do ALCESTE. Natal-RN,
2005
Identificação
palavra
Freq.
classe
Freq.
total
% X
2
Forma
Reduzida
219 7. 10. 70.00 32.09 Melhor+
166 5. 7. 71.43 23.21 Funcionário+
379 15. 46. 32.61 22.57 Tem
284 6. 10. 60.00 21.91 Profission+
71 6. 10. 60.00 21.91 Condiç+
208 5. 9. 55.56 16.12 Maior+
236 3. 4. 7500 14.68 Número
151 3. 4. 7500 14.68 Fator
263 3. 4. 7500 14.68 Poder+
40 3. 4. 7500 14.68 Biológico
142 5. 10. 50.00 13.67 Exemplo
127 4. 7. 57.14 13.33 Enfermaria
347 4. 7. 57.14 13.33 Treinamento+
145 3. 5. 60.00 10.66 Expost+
507 3. 5. 60.00 10,66 Dentro
Número de UCEs= 24 ou 12,44% do material analisado.
Encontra-se associada a essa classe a seguinte variável: pessoas que
trabalham nas enfermarias.
Essa classe trata das maiores possibilidades de ocorrência de acidentes de
trabalho nas enfermarias, devido ao grande número de pacientes e de profissionais
que lá trabalham; a exposição aos diferentes fatores de risco, entre os quais são
enfatizados com mais veemência os riscos biológicos; as condições de trabalho
precárias; a temperatura ambiental quente e inadequada; a escassez de material,
dentre outros. As enfermarias são lembradas como locais em que transitam um
102
grande número de pessoas em treinamento, típicas dos hospitais de ensino, tais
como: universitários dos diferentes cursos da área da saúde, pós-graduandos,
estagiários de cursos profissionalizantes, bolsistas, voluntários, ou seja, há nesses
setores uma alta rotatividade de pessoal. Nessa classe, fica bastante evidente que
nas enfermarias atuam pessoas freqüentemente menos preparadas para a
prestação de cuidados aos pacientes e, por isso, os trabalhadores ficam mais
vulneráveis aos acidentes de trabalho.
Uma outra característica dessa classe, diz respeito aos conflitos advindos
provavelmente das relações de poder que se estabelecem entre os membros da
equipe multiprofissional que atua nas enfermarias, aparecendo com maior
intensidade nesses locais. Notadamente, essas queixas são direcionadas aos
médicos, que segundo essa classe, são profissionais que dificultam o trabalho em
equipe, na medida em que, na relação com os pacientes acabam valorizando
apenas os aspectos biológicos do adoecer humano.
O resgate da história dos hospitais mostra que na segunda metade do século
XVIII, observou-se pioneiramente na Inglaterra, um movimento de fundações de
hospitais e dispensários, abrindo-se um caminho para o movimento importante de
reforma das instituições sociais, preparando-se o nascimento da clínica moderna. A
imagem do hospital como um lugar onde o pobre ia morrer se transformou no lugar
no qual o enfermo ia se curar
104
.
“Até meados do século XVIII quem aí detinha o poder era o pessoal religioso,
destinado a assegurar a vida cotidiana do hospital, a salvação e a assistência
alimentar das pessoas internadas. O médico era chamado para os mais doentes
entre os doentes, era mais uma garantia, uma justificação, do que uma ação real. A
partir do momento em que o hospital é concebido como um instrumento de cura e a
103
distribuição do espaço torna-se um instrumento terapêutico, o médico passa a ser o
principal responsável pela organização hospitalar. Constitui-se, assim, um campo
documental no interior do hospital que não é somente um lugar de cura, mas
também de registro, acúmulo e formação de saber. Nesse sentido, além de ser um
lugar de cura, este é também um lugar de formação de médicos e a clínica aparece
como dimensão essencial do hospital.
Essa inversão das relações hierárquicas no hospital, a tomada de poder pelo
médico, se manifesta no ritual da visita, desfile quase religioso em que o médico, vai
à frente, ao leito de cada doente seguido de toda hierarquia do hospital: assistentes,
alunos, enfermeiras. Essa codificação ritual da visita, que marca o advento do poder
médico, é encontrada nos regulamentos dos hospitais do século XVIII, em que se diz
onde cada pessoa deve estar colocada, que o médico deve ser anunciado por uma
sineta, que a enfermeira deve estar na porta com um caderno nas mãos e deve
acompanhar o médico quando ele entrar, etc.”
105
.
Em recente estudo Carlos
106
resgata a história da enfermagem no hospital
universitário e afirma que no início de 1945 as normas regulamentadoras que
orientavam o exercício da enfermagem, se encontravam em total consonância com o
que registra acima Foucault, sobre o poder da hierarquia do médico. O autor
também relata que as dificuldades em relação à aquisição de material de consumo é
um problema antigo do hospital e existem registros antigos no Arquivo Estadual
neste sentido, feitos pelas religiosas que, naquela época, eram responsáveis pela
organização dos serviços prestados à população.
Retrospectivamente, é possível identificar o processo da instituição da
modernidade médica com o fim do monopólio temporal da Igreja, com seus alicerces
fundamentados na visão do mundo como uma máquina, inspirada na revolução
104
científica capitaneada por Galileu, Descartes e Newton e subsequentemente, com o
nascimento da clínica moderna, o processo de objetivação e mercantilização do
corpo, o desaparecimento da ética médica e, por conseguinte, a banalização do
corpo humano transformado em mercadoria.
Na visão de Pierre Bordieu
107
“esse capitalismo médico se inspira no
neoliberalismo e legitima-se nos seguintes pontos: enfraquecimento do Estado,
desregulamentação das políticas sociais, exaltação do “espírito do capitalismo”, culto
ao individualismo e flexibilização do trabalho”.
Outro aspecto que vale ressaltar é que esse modelo biomédico, apesar de
excludente, tem produzido resultados fantásticos em termos de progressos
científicos, traduzido como necessário para as situações mecânicas, instrumentais e
operacionais da vida. O que o torna problemático, não é sua existência, nem suas
aplicações no hospital, mas pelo fato dele ser visto como único, quando é na
atualidade, crescentemente questionado por setores importantes da opinião pública.
Sendo assim, torna-se urgente construir novas práticas na área da saúde,
fundadas na perspectiva de resgate e de revalorização do homem como totalidade,
refazendo o que foi fragmentado pela penetração do interesse econômico. A idéia de
homem total tanto significa dizer que o ser humano não constitui apenas uma
atividade pensante e separada do resto do corpo, conforme era sugerido pelo
reducionismo cartesiano, “mas também que se trata de um ser vivo integral, formado
por mente, corpo, emoções e que necessita do suporte transdisciplinar no sentido de
que “trans”, quer dizer atravessar, transgredir, ir além das disciplinas. Não se trata,
pois, de abandonar o movimento criador de cada disciplina, mas de agenciar e
interferir. Intercessão para produzir processos de diferenciação, planos de criação de
outros objetos-sujeitos”
108
, visando preencher as lacunas simbólicas, psíquicas e
105
sociais produzidas pelo modelo reducionista anterior. Trata-se de buscar novas
abordagens pedagógicas que integre a formação profissional, a educação geral e o
sentido da cidadania.
Convém lembrar, que no novo modelo certamente haverá um maior espaço
para a aplicabilidade das representações sociais em proveito da humanidade,
enquanto formas evolutivas de conhecimento norteadoras das comunicações e das
condutas, capazes de identificar a persistência de elementos hegemônicos no
processo de trabalho em saúde, profundamente ancorados na história dos hospitais,
no disciplinamento desses locais, agora voltados para a cura, centrados no
individualismo do profissional médico e, mais que isso, enquanto formas de
conhecimento também coerentes, presentes nesse estudo, como frutos da
interpretação e expressão dos sujeitos que trabalham nas enfermarias do hospital
universitário.
Em suma, as representações sociais são aqui consideradas como
decorrentes de um processo histórico e social de uma dada realidade, sendo,
portanto, sempre uma produção discursiva, na qual os processos de significação
estão profundamente ancorados nas relações de poder geradas no campo social.
106
Quadro 8. Descrição da classe 5, segundo a análise do Alceste. Natal-RN, 2005
Identificação
palavra
Freq.
classe
Freq.
total
% X
2
Forma
Reduzida
82 11. 17. 64.71 27.23 Cort+
7 12. 23. 52.17 20.38 Acontec+
164 4. 4. 100.00 18.44 Freqüência
165 5. 6. 83.33 17.73 Freqüente+
255 5. 6. 83.33 17.73 Perfur+
212 6. 9. 66.67 14.98 Mão
279 6. 9. 66.67 14.98 Principal
314 6. 9. 66.67 14.98 Sangue
344 23. 73. 31.51 14.14 Trabalh+
189 3. 3. 100.00 13.76 Instrumentador+
190 3. 3. 100.00 13.76 Instrumento+
197 3. 3. 100.00 13.76 Lâmina
224 3. 3. 100.00 13.76 Modo
57 4. 5. 80,00 13.23 Cirurgia
118 4. 5. 80,00 13.23 Doença
359 4. 5. 80.00 12.23 Vidro
4 20 64 31.25 11.09 Acident+
Número de UCEs= 35 ou 18,13% do material analisado.
Encontram-se associadas a essa classe as seguintes variáveis: pessoas do
sexo masculino que trabalham nos centros cirúrgicos e no centro de diagnóstico por
imagem.
A classe 5 descreve com detalhes os tipos de acidentes de trabalho mais
freqüentes que ocorrem no hospital, advindos do manuseio inadequado dos
instrumentos pérfuro-cortantes durante o preparo dos pacientes, bem como na
realização de exames para diagnóstico e cirurgias, enfatizam as mãos como as
partes do corpo mais atingidas, lembram o estresse decorrente do próprio ambiente
cirúrgico, da sobrecarga de trabalho, das constantes exposições ao sangue e ao
risco de adquirir doenças em casos de acidentes.
De certa forma, essa classe mostra a complexidade do processo de trabalho
no hospital porque nele é visível, em alguns momentos, as características do
trabalho artesão, tal como ocorre em procedimentos cirúrgicos e, em outros locais, a
107
automação eletrônica típica do centro de diagnóstico por imagem e som, trazendo
conseqüências à saúde dos cuidadores no desempenho das atividades
profissionais.
Neste sentido, as representações sociais obtidas por meio da linguagem, a
partir da interação desses sujeitos com as coisas que os cercam no ambiente
hospitalar e com outros sujeitos, expressam a geração de valores e explicações, a
mediação do pensamento, a relação entre falar e fazer do grupo, enfim as próprias
práticas profissionais, diante dos acidentes de trabalho.
Além disso, essa classe relaciona diretamente os acidentes de trabalho
enquanto ocorrências anormais do processo de trabalho, decorrentes da sua
imperícia e desatenção ao lidar com os instrumentos cirúrgicos, sempre associados
às lesões físicas aos trabalhadores. Por outro lado, reforça a necessidade do
aperfeiçoamento profissional mediante treinamentos de atualização como forma de
minimizar os acidentes de trabalho especificamente nesses locais. Nesse sentido,
convém ressaltar a importância dessa representação como sendo capaz de
identificar as necessidades educacionais dos trabalhadores do hospital advindas da
própria experiência profissional e das vivências laborais, que emerge a partir das
reflexões e análises sedimentadas nas práticas profissionais.
Deve-se destacar aqui, o fato de que os sujeitos do estudo parecem
desconhecer a importância da emissão da Comunicação de Acidente em Serviço
(CAS) em casos de acidentes, conforme preconiza a Divisão de Higiene, Segurança
e Medicina do Trabalho da Universidade Federal do Rio Grande do Norte através do
memorando circular n
0
0002 do Departamento de Assistência ao Servidor (DAS)
emitido em 25 de abril de 2005, para os dirigentes universitários, juntamente com o
108
modelo da CAS e o fluxograma a ser seguido, no sentido de trazer benefícios futuros
aos acidentados, de acordo com os artigos 211 e 213, da Lei n
0
8112/90 (Anexo 9).
Na análise das classes 1,2,3,4 e 5, percebe-se a complexidade do sistema de
representações em questão que abrange: os acidentes de trabalho e as infecções
hospitalares; a necessidade do uso de equipamentos de proteção individual como
forma de proteger os trabalhadores no contexto hospitalar (essas duas classes
apresentam os maiores qui-quadrados); a culpabilização diante dos acidentes
assumida pelos trabalhadores; os conflitos existentes na equipe multiprofissional e a
identificação das condições de trabalho inadequadas presentes nas enfermarias e,
por último, as especificidades dos acidentes de trabalho que ocorrem
freqüentemente nos centros cirúrgicos.
Sendo assim, apesar da complexidade e das contradições encontradas a
partir do uso simultâneo de diferentes estratégias metodológicas no presente estudo,
os diferentes elementos se entrelaçam, constituindo um discurso “tradicional” sobre
os acidentes de trabalho, fortemente presente na Medicina do Trabalho e na Saúde
Ocupacional, na medida em que focaliza nos aspectos restritos aos próprios
trabalhadores em seus ambientes de trabalho, quando em sociedades desiguais
como a brasileira, as verdadeiras causas dos acidentes encontram-se no mundo
social, na má distribuição de renda, na miséria e no enfrentamento desses agravos,
deve-se buscar, sobretudo, à melhoria das condições de vida dos trabalhadores.
Moscovici
49
destaca que “a representação social constitui-se numa forma
primordial de conhecimento, envolvendo aspectos objetivos e estruturais da
realidade, mas, também, os aspectos subjetivos, conscientes e inconscientes,
emocionais e afetivos, ajudando a formulação de outras questões à realidade”. A
importância do estudo das representações sociais reside em não tomar os discursos
109
e práticas dos trabalhadores do hospital universitário, até aqui elaborados, como
algo pronto e acabado, mas em permanente processo de construção.
5 CONCLUSÃO
“As tuas palavras são em
tudo verdade desde o
princípio,
E cada um dos seus
justos juízos dura para
sempre”
Salmo 119. v. 160
110
5 CONCLUSÃO
Esse estudo sobre o acidente de trabalho na perspectiva dos sujeitos que
compõem a força de trabalho de um hospital universitário, reveste-se de importância
porque nos permite refletir que as representações sociais são indispensáveis para a
compreensão da dinâmica social pelo seu caráter informativo e explicativo da
natureza das relações sociais, intra e intergrupos, e das relações dos indivíduos com
o ambiente social e de trabalho, tornando-se um elemento essencial para a
abordagem nesse campo, ainda em construção, da Saúde do Trabalhador. Assim, o
estudo fundamenta-se, na realidade simbólica vivenciada pelo protagonista desse
processo, isto é, o próprio trabalhador, além dos aspectos imediatos presentes em
cada contexto de trabalho estudado, importantes para o delineamento das
estratégias de intervenção local.
Desse modo, buscou-se inicialmente, à luz da Teoria do Núcleo Central,
desvelar os elementos estruturantes das representações sobre o acidente de
trabalho em saúde, consubstanciados pelos conteúdos heterogêneos captados a
partir das falas dos trabalhadores acidentados, além das práticas e satisfações nas
relações de trabalho efetivadas pelos sujeitos estudados.
Partiu-se da premissa segundo a qual, para a compreensão de uma dada
realidade é necessário identificar como os sujeitos sociais observam, explicam e
elaboram essa situação. Diante disso foi possível, através da revisão da literatura,
verificar que o ideário da Saúde do Trabalhador pode contribuir para a renovação do
pensamento sanitário contemporâneo, na medida em que resgata, de algum modo,
o papel dos determinantes sociais no processo trabalho/saúde/doença, defendendo
ações que levem em conta a importância da articulação intersetorial, das
111
abordagens inter e transdisciplinares e a participação efetiva dos trabalhadores na
definição das políticas de saúde, mesmo reconhecendo os seus estreitos limites no
tocante aos seus princípios doutrinários, que em nada afetam os valores
preconizados pela hegemonia neoliberal. Dito de outra forma, a Saúde do
Trabalhador, não é necessariamente uma abordagem libertária voltada para a justiça
na relação capital/trabalho, até mesmo porque em sua essência enaltece-se a
importância do trabalho e, simultaneamente, reforçam-se os valores da democracia
neoliberal típica das sociedades desenvolvidas.
Subjacente a tal perspectiva, o desafio para a ação visando à melhoria das
condições de trabalho pressupõe questionar a evolução do sistema produtivo,
tentando compreender as lógicas que originam a precarização do trabalho, a fim de
desvelar as implicações profundas para aqueles que sofrem as conseqüências
dessas lógicas
109
.
Embora se reconheça os limites da Saúde do Trabalhador, são enormes os
avanços na concepção de saúde contida em seus pressupostos, visto que a saúde
não se define apenas pelo monitoramento e controle do que a pode ameaçar,
particularmente nos ambientes de trabalho, mas, sobretudo, por estabelecer
patamares a serem alcançados progressivamente na sociedade brasileira, repleta de
profundas desigualdades, no sentido de lutar por uma boa qualidade de vida do
ponto de vista físico, mental e social.
Outro aspecto interessante digno de registro a partir desse estudo, diz
respeito à necessidade de novas abordagens metodológicas para esse campo,
pautadas no reconhecimento da fragilidade da metodologia científica tradicional
oriunda apenas das ciências exatas e experimentais e sua fundamentação lógico-
matemática. Sendo assim, as novas metodologias também devem ser pautadas na
112
compreensão de que há várias formas de conferir significado ao que se vive no
mundo, na vida e no trabalho. E de que a “compreensão em sua circularidade e
reflexividade, não é apenas um modo de se conhecer o humano, mas o próprio
modo de ser humano. Ser é compreender-se” (Heidegger, 1995)
110
. Nessa
perspectiva é importante registrar que durante o presente estudo o pesquisador mais
do que nunca, esforçou-se em aprender a lidar com o incerto, o descontínuo, o
flexível e o plural, durante um período de quase dois anos, em busca dos sentidos
latentes e da pluraridade dos sentidos, vivenciados pelos sujeitos do estudo, em
cada situação real de trabalho.
Assim, o estudo das representações sociais sobre o acidente de trabalho aqui
apresentado aponta para as seguintes reflexões:
No tocante a satisfação com o trabalho 61,7%, 30,2% e 8,1% dos sujeitos se
sentem satisfeitos com o trabalho, muito satisfeitos e demonstram insatisfação,
respectivamente. Nas representações sociais sobre a satisfação com o trabalho,
destaca-se a categoria necessidade de sobrevivência, sofrimento e prazer como a
mais importante. É interessante observar, como essa produção simbólica é sempre o
resultado de uma inter-relação dialética entre um contexto, atores e relações sociais
que transcendem o espaço organizacional e continuamente referem-se à sociedade
e ao mundo.
As representações sociais sobre os acidentes de trabalho em saúde, têm um
núcleo central alicerçado na categoria contaminação, enquanto o sistema periférico
é formado pelas categorias prevenção e despreparo profissional. De acordo com a
teoria preconizada por Abric, o sistema periférico dá suporte a essa estrutura
representacional e pode ser usado para interferir no núcleo central, principalmente
através de políticas públicas. O acidente de trabalho, obtido a partir da modificação
113
no contexto de enunciação também foi simbolicamente associado à falta de atenção,
às condições inadequadas de trabalho e à fatalidade quando o trabalhador fala com
mais liberdade, em nome do outro. Alguns outros aspectos estruturais consensuais
também foram identificados no presente estudo, relativos aos acidentes, aos riscos
ocupacionais e aos equipamentos de proteção individuais. Sem dúvida, todos eles
dizem respeito, aos aspectos simbólicos também ligados à questão dos acidentes
ocupacionais e, sobretudo, mereceriam maiores reflexões a partir de estudos
posteriores, entre os quais se destacam: a centralidade da morte, dos riscos
ocupacionais de natureza orgânica e das luvas.
O estudo também aponta que o direcionamento a seguir já se encontra
delineado, segundo os princípios da Política Nacional da Saúde do Trabalhador para
o SUS, na tentativa de alterar o cerne dessa representação social. A abrangência de
seu campo de ação, apresenta caráter intra e inter-setorial, exigindo uma abordagem
transdisciplinar e com a gestão participativa dos trabalhadores
18
.
Os trabalhadores também reconhecem os tipos de atividades realizadas e as
condições inadequadas de trabalho no hospital universitário, como capazes de
promover riscos e agravos à sua saúde. Nesse sentido, os tipos de acidentes de
trabalho com instrumentos pérfuro-cortantes foram os mais freqüentes e os
membros superiores, foram os locais do corpo mais atingidos. Ao comparar-se a
distribuição desses acidentes nos diferentes setores de trabalho, destacam-se
quantitativamente aqueles ocorridos nas enfermarias contabilizando 18,2% do total.
As representações sociais dos sujeitos a esse respeito, referem-se às condições de
trabalho inadequadas, ao grande volume de trabalhadores em treinamento, além
das relações de poder que aparecem de forma intensa nesses locais e,
provavelmente, trazem prejuízos a qualidade dos serviços prestados à população.
114
Nas enfermarias do hospital foi possível observar na dinâmica do processo de
trabalho, que o pessoal da enfermagem parece priorizar a dimensão do cuidado na
relação com os pacientes e com o ambiente, quando busca soluções para a falta de
materiais nas enfermarias e responde às reclamações dos usuários e familiares
durante o internamento. Os médicos, no entanto, parecem direcionar seus esforços
no sentido da cura dos enfermos, deixando transparecer uma relação mais
individualizada com os pacientes. Considerando as relações de poder presentes no
trabalho em saúde, como algo que tem historicidade e, portanto, estarão
permanentemente presentes nesse processo, essas observações ainda que
superficiais, parecem apontar para a necessidade de aperfeiçoar o trabalho em
equipe prioritariamente nesses locais, segundo a lógica da integralidade da atenção.
Outro dado interessante, diz respeito ao fato de que apenas 38,8% dos
trabalhadores que sofreram acidentes de trabalho, estavam usando EPI no momento
do acidente, mostrando a necessidade de reforço na motivação para o uso individual
e da garantia de disponibilidade desses equipamentos, nos diferentes locais do
hospital.
Nesse estudo, houve associação significativa apenas entre a existência de
outro emprego, uso de EPI durante o trabalho, satisfação com o trabalho e a
ocorrência de acidentes de trabalho. Provavelmente, devido à fadiga advinda da
superposição de atividades, maior exposição aos riscos ocupacionais inerentes ao
trabalho hospitalar e aos aspectos tanto objetivos como subjetivos que associam o
trabalho às necessidades e possibilidades de sobrevivência, sofrimento e prazer.
Compreendidas como construções complexas, as representações sociais são
marcadas pela dimensão social e cultural, mostrando-se, porém, sensíveis às
mudanças operadas na intersubjetividade do trabalho hospitalar, permeado por
115
vivências ligadas à dor; ao sofrimento; a angústia; a impotência; a desesperança e
diferentes tipos de perdas pessoais e profissionais, ao mesmo tempo, que aparecem
sentimentos de amor à profissão, realização profissional, orgulho do papel exercido
na sociedade, além da possibilidade de aprender trabalhando e crescer
profissionalmente.
Apesar da complexidade e das contradições encontradas ao longo do estudo,
os diferentes elementos representacionais apreendidos a partir dos sujeitos se
entrelaçam, constituindo, contudo, um discurso “tradicional” sobre os acidentes de
trabalho, fortemente presente nas lógicas da Medicina do Trabalho e da Saúde
Ocupacional, posto que, é focalizado nos aspectos restritos aos próprios
trabalhadores e ambientes locais de trabalho, quando em sociedades desiguais
como a nossa, é preciso enfatizar que as verdadeiras causas dos acidentes
encontram-se no mundo social, na má distribuição de renda, na miséria e o
enfrentamento desses agravos, deve buscar, sobretudo, à melhoria das condições
de vida dos trabalhadores.
Assim, na identificação dessas representações da saúde ocupacional no
micro-espaço do hospital universitário, é possível visualizar que as questões
relacionadas aos acidentes de trabalho deveriam ser prioritárias e envolver ações
destinadas a construção de um sistema local de informações, capaz de captar de
maneira mais adequada a ocorrência desses fenômenos e a análise das fontes de
risco para a elaboração de um plano de controle e avaliação do impacto dessas
ações, com a participação efetiva dos trabalhadores.
Poderiam ser priorizadas ações de educação em saúde permanentes,
sistemáticas e criativas fundamentadas em um processo educativo democrático,
construtivista e de natureza multiprofissional e intersetorial.
116
Seria possível capacitar os trabalhadores, compartilhando informações e
experiências, valorizando-os, buscando não apenas a mudança de comportamento,
mas, sobretudo, mudanças contextuais (vida, cultura, ambiente, cidadania, relações
de gênero, entre outras) e nas relações sociais e de poder vivenciadas no hospital.
Desse modo, as políticas de educação permanente acerca da prevenção dos
acidentes de trabalho voltadas para esses sujeitos, deveriam contemplar
simultaneamente, as especificidades de cada trabalhador e de cada grupo de
trabalhadores em relação à dinâmica do trabalho, suas aspirações, desejos,
limitações e, sobretudo, abranger ações direcionadas à melhoria da vida das
pessoas e à organização do trabalho nos locais estudados.
Finalmente, a problemática dos acidentes de trabalho no hospital, deverá ser
compreendida como algo de natureza política, econômica, cultural, organizacional,
ambiental, profissional e também simbólica. Portanto, algo de natureza mais coletiva
do que individual e que as ações preventivas somente terão êxito, em termos de
controle e eliminação dos riscos e acidentes, se forem garantidas melhores
condições de trabalho, qualidade, conforto e bem estar em cada tarefa exercida, nos
diferentes setores do hospital, além da assistência integral e de boa qualidade
quando da ocorrência dos acidentes de trabalho.
117
6 ANEXOS
“Tenho pensamentos que,
pudesse eu trazê-los à luz e
dar-lhes vida, emprestariam
nova leveza às estrelas, nova
beleza ao mundo, e maior
amor ao coração dos homens
Fernando Pessoa
118
Anexo 1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
Natal, 26 de Julho de 2003.
Ilmo Sr. Prof. Dr. José Ricardo Lagrecca de Sales Cabral
M. D. Diretor do Hospital Universitário Onofre Lopes
Prezado Senhor,
Tem esse o objetivo de solicitar a Vossa Senhoria autorização para que o
Cirurgião-Dentista Antonio Medeiros Júnior possa realizar entrevistas com os
trabalhadores dos níveis de apoio, médio e superior dessa instituição, relacionadas à
Representação Social sobre o Acidente de trabalho na área da Saúde, a fim de
concretizar a sua tese de doutoramento.O período planejado para a coleta de dados
será os meses de janeiro a dezembro de 2004 e certamente o pesquisador será
cuidadoso para não interromper demasiadamente as atividades executadas por
esses trabalhadores.Outrossim informo a Vossa Senhoria, que será mantido total
sigilo em relação ao nome dos trabalhadores do hospital. Solicito ainda a utilização
do nome da instituição no relatório final da investigação científica.
Sendo só o que se apresenta para o momento e no aguardo de uma resposta,
subscrevo-me.
Atenciosamente,
Prof. Dra. Íris do Céu Clara Costa
Orientadora
119
Anexo 2
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
Representação social sobre o acidente de trabalho na área da saúde
Pesquisa Científica
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Voluntário N
0
( ) Iniciais do voluntário ( )
I.Objetivo e Justificativa do estudo
Obrigado pela sua participação como voluntário(a) neste estudo. O presente
trabalho pretende estudar a existência de consensos, contradições, divergências e
significações nos comportamentos e representações sociais de trabalhadores da
saúde em relação aos acidentes de trabalho, ocorridos durante o manejo de
pacientes e/ou líquidos corporais, de equipamentos, instrumentos, técnicas e
materiais utilizados durante o exercício profissional e, as possíveis repercussões
destes acidentes em suas condições de vida e práticas profissionais.
II. Procedimentos que serão realizados na Pesquisa
Neste estudo você poderá responder duas entrevistas individuais: na primeira fase,
será realizada uma entrevista com os trabalhadores da saúde voluntários
independentemente que eles tenham ou não, sido acidentados durante o exercício
profissional ( Anexo 1).Na fase seguinte, serão entrevistados apenas os
trabalhadores voluntários que efetivamente sofreram algum tipo de acidente de
trabalho que os deixaram impossibilitados do exercício das atividades profissionais,
por um período de tempo acima de 3 dias (Anexo 2).Também serão realizadas
fotografias locais das cicatrizes e/ou lesões decorrentes de acidentes de trabalho,
existentes em seu corpo.
III. Desconforto, riscos e benefícios esperados
Não serão realizados exames clínicos e manobras cruentas que possam causar
riscos e danos a sua saúde. O benefício será de que as informações que você dará,
poderão servir para subsidiar o planejamento e a organização dos serviços de
saúde, no tocante a prevenção e controle dos acidentes de trabalho.
IV. Ressarcimento
Não haverá previsão para ressarcimento por sua participação nesta
pesquisa,devendo essa participação se espontânea e voluntária.
V. Forma de acompanhamento e assistência
O estudo será realizado em duas fases com um pequeno intervalo de tempo entre
elas e não prevê a necessidade de acompanhamento de indivíduos. No caso de
120
acontecer um acidente de trabalho durante a coleta de dados, o hospital já dispõe de
uma Comissão Institucional para Prevenção de Acidentes e o servidor será
imediatamente encaminhado para esse setor. Para maiores informações ligue para o
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE/UFRN, no telefone
215-4220, de segunda a sexta das 8;00 às 12 :00 horas.Pesquisadores: Antonio
Medeiros Júnior.Telefones: 215 5136 e 9984 5133. Íris do Céu Clara Costa.
Telefones: 215 5136 e 9998 3759.
VI. Confidencialidade dos dados
Os dados gerados por este estudo serão guardados com absoluta confidencialidade
e não serão disponibilizados para outros fins que não sejam publicações científicas.
Será mantida a privacidade dos sujeitos que terão as suas identidades
resguardadas.
VII.Termo de consentimento
Declaro, que após ter lido e compreendido as informações contidas neste formulário,
concordo em participar desse estudo.E através desse instrumento e da melhor forma
de direito, autorizo o doutorando Antonio Medeiros Júnior, brasileiro, Cirurgião-
dentista, Professor universitário, RG 329.387, CRO 896, a utilizar as informações
obtidas neste estudo para publicação cienfica, de forma escrita podendo utilizar
depoimentos, relatos de vida e fotografias.Concedo também o direito de retenção e
uso para fins de ensino e divulgação em jornais e/ou revistas nacionais e
internacionais, desde que mantido o sigilo sobre minha identidade, podendo usar
peudônimos. Estou ciente que nada tenho a exigir de ressarcimento ou indenização
pela minha participação na pesquisa.
Natal, ____________ de __________ de 2_____
De acordo, __________________________________________________
RG-_______________________________________________________
CPF_______________________________________________________
Endereço:__________________________________________________
121
Anexo 3
122
123
Anexo 4
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
Pesquisa Científica
Representação social sobre o acidente de trabalho na área da saúde
Técnica de Associação Livre de Palavras
Apresentação: Identificação do pesquisador
Objetivos da entrevista
Garantia de anonimato
Obrigado por sua participação nesse estudo. Esta técnica faz parte de um estudo da
representação social sobre o acidente de trabalho na área da saúde e certamente a sua ajuda
enquanto voluntário (a), possibilitará avanços para a compreensão desse tema.
Diga 3 palavras que vêm a sua cabeça quando eu falo a palavra:
Acidente _________________
_________________
_________________
Agora, Marque com um x a palavra que você considera mais importante.
Diga 3 palavras que vêm a sua cabeça quando eu falo a expressão:
Acidente de trabalho em saúde ____________________
____________________
____________________
Agora, Marque com um x a palavra que você considera mais importante.
Diga 3 palavras que vêm a sua cabeça quando eu falo a expressão:
Risco ocupacional: _____________________
______________________
______________________
Agora, Marque com um x a palavra que você considera mais importante.
Diga 3 palavras que vêm a sua cabeça quando eu falo a expressão:
Equipamento de Proteção Individual ______________________
______________________
______________________
Agora, Marque com um x a palavra que você considera mais importante.
124
Anexo 5.
Pesquisa Científica
Representação social sobre o acidente de trabalho na área da saúde
Questionário
Sexo: masculino ( ) feminino ( ) idade: ________ anos
Grau de instrução
( ) Ensino fundamental 1. ( ) Completo 2. ( ) Incompleto
( ) Ensino Médio 1. ( ) Completo 2. ( ) Incompleto
( ) Ensino superior 1. ( ) Completo 2. ( ) Incompleto
Setor de trabalho________________ Função:_________________ Firma___________
Local do trabalho __________________________
6.Turno e jornada de trabalho diário:
Turno de trabalho Manhã Tarde Noite Alternado
Quantas horas?
7.Possui outro emprego: ( )sim ( )não Em caso positivo,qual?_________________
8. Causas mais freqüentes de faltas ao trabalho:
_________________________________________________________________________
9.Você tem o costume de usar os equipamentos de proteção individual quando realiza o seu
trabalho?
a) Sim Justifique____________________________
b) Não
c) As vezes
10.Você já sofreu algum acidente de trabalho neste hospital ou em outro local de trabalho?
a) Sim
b) Não Outro local_________ Tipo de acidente_________ Onde ocorreu?______
Parte do corpo mais afetada:______________
10.1Quando ocorreu o último acidente de trabalho? a) Há mais de cinco anos b)
Há menos de cinco anos
11. Esse acidente o(a) deixou afastado do trabalho?
a)Sim, por um período igual ou menor que 3 dias
b)Sim, por um período de tempo superior a 3 dias
c)Não, continuei trabalhando normalmente sem problemas
12.Você estava usando Equipamentos de Proteção Individual no momento do acidente?
a) Sim
b) Não
13.Você se sente satisfeito com o seu trabalho?
( ) Muito satisfeito ( ) Satisfeito
( ) Insatisfeito
Justifique___________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________
125
Anexo 6
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
Pesquisa Científica
Representação Social sobre o acidente de trabalho em saúde
Diário de Campo
Data:_________Setor do Hospital:________ Turno:__________Acesso:________
Facilidades__________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_________________________________________________________
Dificuldades_________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_____________________________________________________________
Equipamento de Proteção Individual/ Equipamento de Proteção Coletiva
Disponível _______________________________________________________________
Indisponível_______________________________________________________________
Em uso___________________________________________________________________
Não Uso__________________________________________________________________
Motivos (Uso/Desuso)
_________________________________________________________________________
Observações_________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_______________________________________________________
126
Anexo 7
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
Pesquisa Científica
Representação social sobre o acidente de trabalho na área da saúde
Entrevista
Apresentação: Identificação do pesquisador
Objetivos da entrevista
Garantia de anonimato
Obrigado por sua participação nesse estudo. Esta técnica faz parte de um estudo da
representação social sobre o acidente de trabalho na área da saúde e certamente a sua ajuda
enquanto voluntário (a), possibilitará avanços para a compreensão desse tema.
Setor de trabalho________________ Função:_________________ Firma___________
Pseudônimo_____________________
1) O que você entende por acidente de trabalho?
2) Explique quando e como ocorreram o (s) acidente (s) de trabalho com você.
3) No seu modo de entender por que ocorreu (ram) o (s) acidente(s) de trabalho com
você?
4) Você se sente culpado pelo (s) acidente (s) de trabalho ocorrido (s)?
5) Você avisou a alguém do acidente ocorrido? Quais as providências tomadas?
6) De que maneira o acidente de trabalho afetou sua vida profissional e pessoal?
7) O acidente de trabalho é algo freqüente com seus colegas de profissão? Por que eles se
acidentam quando estão trabalhando?
8) No seu modo de entender por que ocorrem os acidentes de trabalho na área da saúde?
9) Você considera o trabalho na área da saúde perigoso?Explique
10) Você acha que está exposto aos riscos no seu trabalho?Quais?
11) Cite os equipamentos de proteção que você utiliza com mais freqüência quando está
trabalhando.
12) No momento do(s) acidente(s) você estava usando equipamentos de proteção? Quais?
13) Apresente sugestões para a melhoria das condições de trabalho no hospital e redução e
controle dos acidentes de trabalho.
127
Anexo 8
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
Pesquisa Científica
Representação social sobre o acidente de trabalho na área da saúde
Teste de Centralidade
1.Eu posso pensar em acidente de trabalho, pensando em contaminação?
Não, não posso
Sim, posso
Não, não sei dizer
Sexo: masculino ( ) feminino ( ) idade: ________ anos
Grau de instrução
( ) Ensino fundamental 1. ( ) Completo 2. ( ) Incompleto
( ) Ensino Médio 1. ( ) Completo 2. ( ) Incompleto
( ) Ensino superior 1. ( ) Completo 2. ( ) Incompleto
Setor de trabalho________________ Função:_________________ Firma___________
128
Anexo 9
129
130
7 REFERÊNCIAS
“Estude a arte da ciência
Estude a ciência da arte
Use todos os sentidos
Relacione tudo com tudo”.
Leonardo da Vinci
131
7 REFERÊNCIAS
1. De Masi D. O futuro do trabalho: fadiga e ócio na sociedade industrial. Rio de
Janeiro: José Olympio; 2001.
2. Druck G, FrancoTA. alca e as principais implicações para o trabalho e a saúde
dos trabalhadores. Ciênc Saúde Coletiva 2003; 8(4): 875-885.
3. Antunes R. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e negação do
trabalho.São Paulo: Biotempo Editorial; 2003.
4. Mielnik I. Higiene mental e do trabalho. São Paulo: Artes Médicas;1986.
5. Mendes R, Dias, EC. Saúde dos trabalhadores. In: Rouquayrol M.Z,Almeida Filho
N. Epidemiologia & Saúde. 5. ed. Rio de Janeiro: Medsi;1999. p.431-456.
6. Paim JS, Almeida filho N. Saúde coletiva: uma “nova saúde pública” ou campo
aberto a novos paradigmas? Rev de Saúde Pública 1998; 32 (4): p. 299-316.
7. Medeiros SM, Rocha SMM. Considerações sobre a terceira revolução industrial e
a força de trabalho em saúde em Natal. Ciênc Saúde Coletiva 2004;9(2): 399-409.
8. Laurell AC, Noriega M. Processo de produção e saúde: trabalho e desgaste
operário. São Paulo: Hucitec;1989.
9. Marziale MHP. Condições ergonômicas da situação de trabalho de trabalho do
pessoal de enfermagem em uma unidade de internação hospitalar [tese].Ribeirão
Preto: Universidade de São Paulo;1995.
10. Bulhões I. Riscos do trabalho de enfermagem. 2. ed.rev. Rio de Janeiro: Folha
Carioca Editora;1998.
11. Medeiros Júnior A; Alves MSCF; Nunes JP; Costa, ICC. Experiência extramural
em hospital público e a promoção da saúde bucal coletiva. Rev de Saúde Pública
2005; 39 (2): 305-310.
132
12. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de
Atenção Básica.Cadernos de Atenção Básica n. 5. Saúde do Trabalhador. Brasília
(DF): Ministério da Saúde; 2001.
13. Brasil. Ministério do Trabalho e Emprego. Anuário Estatístico de Acidentes de
Trabalho 2003. vol 1.(2004). Brasília (DF): Ministério do Trabalho Previdência Social;
2004.
14. Brasil. Ministério da Previdência e Assistência Social. Plano de Benefícios da
Previdência social. Lei 8.213, de 24 de julho de 1991.Diário Oficial da República
Federativa do Brasil, Brasília (DF);1998.Agost.14; Seção 1.
15. Brasil. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei n
0
8.112 de 11 de
dezembro de 1990. Seção VI. [texto na Internet].Brasília(DF).[ capturado 2005 Out.
10]. Disponível em http://www.senado.gov.br/legislação/lista publicações/.
16. Segre M. Breve estudo da legislação e da perícia médica em acidentes do
trabalho. Rev Bras Saúde Ocupacional 1985;13(2):55-62.
17. Medeiros MAT, Gonçalves CGO, Cordeiro R, Vilela RAG. Acidentes de Trabalho
em Piracicaba em 2002. Rev Saúde Piracicaba; 2005; 7(15): 7-13,.
18. Brasil, Ministério da Saúde. Política Nacional de Saúde do Trabalhador para o
SUS. [texto na Internet].Brasília(DF): Ministério da Saúde:2003.[ capturado 2005
Out. 10]. Disponível em http://www.opas .org.br/saudedotrabalhador/ arquivos/.
19. Binder MCP, Cordeiro R. Subnotificação de acidentes do trabalho em localidade
do Estado de São Paulo. Rev Saúde Pública 2003;37(4):409-16.
20. Alves S. Acidentes de trabalho e doenças ocupacionais no Brasil: a precariedade
das informações. Informe Epidem SUS 1992;3:7-20.
21. Carmo JC, Almeida IM, Binder MCP, Settimi MM. Acidentes do trabalho. In:
Mendes R. Patologia do trabalho. Rio de Janeiro: Ateneu; 1995 p.48-53.
133
22. Cordeiro R. Vigilância epidemiológica das doenças ocupacionais: algumas
idéias. Saúde e Sociedade 1995;4:107-10.
23. Yang S, Pai S. An accident with a Gates Glidden Drill in endodontic practice. J.
Endod; 2000.26 (1):49-50
24. D’arco S.H, Hargreaves M. Needlestick injuries: a multidiscilinry concern. Nurs.
Clin North Am 1995; 30(2): 61-76.
25. Lymer U B, Schutz, A A, Isaksson B. A descriptive study of blood exposure
incidents among healthcare workers in a university hospital in Sweden. J Hosp Infect
1997; 35(3): 223-35.
26. Brevidelli MM, Ciacianrullo TI. Aplicação do modelo de crenças em saúde na
prevenção de acidentes com agulha. Rev Saúde Pública 2001; 35 (2)1-15.
27. Rudah J, Poletto M, Alemida A S, Eickhoff C M, Fontana M. Acidentes biológicos
em Hospital Universitário. Rev Med Hosp 2000;11(26): 19-22.
28. Souza M. Acidentes Ocupacionais e Situação de Risco para a Equipe de
Enfermagem: um estudo em cinco hospitais do município de São Paulo (SP)
[tese].São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; Escola Paulista de
Medicina;1999.
29. Brandão Júnior S P. Biossegurança e Aids: as dimensões psicossociais do
acidente com material biológico no trabalho em hospital [dissertação]. Rio de
Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública; 2000.
30. Abreu A M, Mauro MYC. Acidentes de trabalho com a equipe de enfermagem no
setor de emergência de um hospital municipal do Rio de Janeiro. Rev Enferm 2000;
4(1):139-46.
134
31. Balsamo A C, Barrientos D S, Rossi JCB. Acidentes de trabalho com exposição
a líquidos corporais humanos ocorridos nos funcionários do Hospital Universitário da
Universidade de São Paulo. Rev Med Hosp Univ-USP 2000; 10(1): 39-45.
32. Monteiro MS. Acidentes de trabalho entre pessoal de enfermagem de hospital
universitário. Rev Bras Enf 1987; 40(2-3): 89-92.
33. Angerami VA.Crise, trabalho e saúde mental no Brasil. São Paulo:Traço;1998.
34. Dejours C. A banalização da injustiça social. Rio de Janeiro: Editora FGV;1999.
35. Glina DMR, Rocha LE, Batista ML, Mendonça MG. Saúde mental e trabalho:
uma reflexão sobre o nexo com trabalho e o diagnóstico, com base na prática. Cad
Saúde Públ 2001;17(3) 607-16.
36. Lert F, Thebaud A, Goldberg M, Drasse S. A Abordagem multidisciplinar na
pesquisa de saúde pública: o acidente do trabalho e a segurança profissional. Rev
Bras Saúde Ocup 1984; 48(1): p. 36-47.
37. Medeiros Júnior A, Roncalli AG. Políticas de saúde no Brasil. In: Ferreira A,
organizadora. Saúde bucal coletiva: conhecer para atuar. Natal: EDUFRN;
2004.p.249-259
38. Mendes R, Dias EC. Da medicina do trabalho à saúde do trabalhador. Rev
Saúde Pública 1991. 25(5):341-49
39. Silva CT. Saúde do trabalhador: um desafio para a qualidade total no Hemorio
[dissertação]. Rio de Janeiro:Escola Nacional de Saúde Pública; 2000.
40. Gomez-Minayo C, Thedin-Costa, SMF. A construção do campo da saúde do
trabalhador: parceiros e dilemas.Cad. Saúde públ.1997;13(supl 31): 21-32.
41. Porto MFS. Trabalho industrial, saúde e ecologia [tese]. Rio de Janeiro:
Universidade Federal do Rio de Janeiro;1994.
135
42. Oliveira MHB. A política nacional de saúde do trabalhador (1980-1993): uma
análise a partir do Direito e da Legislação Específica [tese]. Rio de janeiro: Escola
Nacional de Saúde Pública;1996.
43. Nicolescu B. La transdisciplinarité-manifeste. França: Éditions du Rocher, 1996.
44. Porto MFS, Almeida GES. Significados e limites de integração disciplinar: uma
reflexão sobre as contribuições da saúde do trabalhador. Ciênc Saúde Coletiva
2002. 7 (2):336-47
45. Costa ICC. O paradigma da Promoção da Saúde e sua interface com a Saúde
Bucal. In: Ferreira A, organizadora. Saúde bucal coletiva: conhecer para atuar. Natal:
EDUFRN; 2004. p.163-174
46. Gonçalves CGO, Penteado RZ, Silvério, KCA. Fonoaudiologia e Saúde do
Trabalhador: a questão da saúde vocal do professor. Rev. Saúde Piracicaba, 2005
7(15): 45-51.
47. Jodelet D. La representación social: fenómenos, concepto y teoria. In: Moscovici
S (editor).Psicologia Social.Buenos Aires: Paidós ;1985 .p.469-494
48. Nóbrega SM. Sobre a teoria das representações sociais. In: Moreira ASP,
organizadora. Representações Sociais: teoria e prática. João Pessoa: Editora da
UFPB; 2001. p.55-87,.
49. Moscovici S. A Representação Social da Psicanálise. Rio de Janeiro: Editora
Zahar; 1978.
50. Anadon M, Machado PB. Reflexões teórico-metodológicas sobre as
representações sociais. Salvador: Editora da UNEB; 2001.
51. Arruda A. Representações sociais: emergência e conflito na Psicologia Social.
In:. Baptista LAS, organizador. Armário do laboratório de Subjetividade e Política.
Niterói: Editora da UFF; 1994. p. 115-132.
136
52. Rouquette M. Introdução ao estudo do conhecimento social. In:. Moreira ASP,
organizadora. Representações Sociais: teoria e prática. João Pessoa: Editora da
UFPB; 2001. p.162-176
53. Moreira ASP, Sousa Filho E. Representações Sociais da Epilepsia: como
percebo....como sou percebido. In: Moreira ASP, organizador Representações
Sociais: teoria e prática. João Pessoa: Editora da UFPB; 2001. p. 126-138.
54. Abric JC. A abordagem estrutural das representações sociais. In: Moreira ASP,
Oliveira D, organizadoras. Estudos Interdisciplinares de Representação Social.
Goiânia: Editora HB.1998. p. 27-38.
55. Flament C. Estrutura e dinâmica das representações sociais. In: Jodelet D,
organizadora.As representações sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ. 2001. p.173-186
56. Abric JC. O Estudo Experimental das Representações Sociais. In: Jodelet D,
organizadora. As Representações Sociais. Rio de Janeiro: Editora da UERJ; 2001. p.
155-169,
57. Doise W, Clemence A, Lorenzi-Ciold F. O discreto charme das atitudes:
discussão de Colin Frazer. In: Moreira ASP, organizador. Representações Sociais:
teoria e prática. João Pessoa: Editora UFPB;2001. p. 187-203.
58. Fonseca LS, Martins G, Curso de estatística. São Paulo: Atlas;1996.
59. Gil A C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas;1987.
60. Nicolete MGP. Acidentes de trabalho: um estudo do conhecimento e ocorrência
acidentária entre trabalhadores de enfermagem de um hospital geral do Rio Grande
do Norte [tese].Ribeirão Preto: Universidade de São Paulo;2001.
61. Abric JC. L’ organisation intern des representations socials: système central et
système périphérique. In: Guimelli G, editor. Structure, dynamique et transformation
dés représentations socials. Neuchâtel: Delachaux et Niestlé; 1994. p.73-84
137
62. Campos PHF. A abordagem estrutural e o estudo das relações entre práticas e
representações sociais. In: Campos PHF,Loureiro MCS, organizador.
Representações sociais e práticas educativas. Goiânia: Ed da UCG; 2003. p.11-36.
63. Abric JC. Abordagem estrutural das representações sociais: desenvolvimentos
recentes. In: Campos PHF; Loureiro MCS, organizador. Representações sociais e
práticas educativas. Goiânia: Ed da UCG; 2003. p.37-57.
64. Sá CP. Núcleo central das representações sociais. Petrópolis:Vozes;1996.
65. Richardson RJ, Peres JAS, Correia LM Peres MHM, Wanderley JCV. Pesquisa
social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas; 1985.
66. Bauer M, Aarts B.A construção do corpus: um princípio para a coleta de dados
qualitativos. In: Bauer M, Gaskell G. Pesquisa qualitativa com texto imagem e som:
um manual prático. Petrópolis: Vozes; 2002. p. 39-63.
67. Bardin L . Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 1977.
68. Vergès P. Ensemble de programmes permettant I ´analyse dês evocationa. Aix-
en-Provence: LAMES-CNRS; 2000
69. Landry R. A Análise de conteúdo. In: Gaulthier B. Investigação social: da
problemática à colheita dos dados.Loures:Lusociência; 2003.p.347-372.
70. Vieira S. Introdução à Bioestatística. Rio de Janeiro: Campus;1980.
71. Beaufils B. Statistiques apliquées à la psychologie: statistiques descriptives.
Paris: Bréal; 1996.
72. Reinert M. Alceste: Une méthologie d´anlyse dês donnéses textuelles et une
aplication. Bulletin de Méthologie Sociologique.1990; 28(2):24-54.
73. Camargo VB. ALCESTE: um programa informático de análise quantitativa de
dados textuais. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina,
mimeografado, 1998.
138
74. Miranda FAN. Contribuições do Alceste em pesquisa de representações sociais.
In: Alves MSCF, Costa ICC, Medeiros Júnior A. organizadores. Representações
Sociais e Saúde: um novo olhar. Natal: UFRN; no prelo 2005.
75. Oliveira DC. A promoção da saúde da criança: análise das práticas cotidianas
através do estudo das representações sociais [tese].São Paulo:Universidade de São
Paulo;1996.
76. Moscovici, S. Representações sociais: investigações em psicologia social;
traduzido por Pedrinho A. Guareschi. Petróppolis: Vozes; 2003.
77. Nascimento JR, Jesuíno JC. Atitudes e Representações Sociais em Saúde. In:
Moreira, ASP,organizadora. Representações Sociais: teoria e prática. João Pessoa:
Ed. UFPB; 2001 p. 147-172.
78. Jodelet D. Representações sociais: um domínio em expansão. In: Jodelet D,
organizadora. As representações sociais. Traduzido por Lilian Ulup. Rio de Janeiro:
EDUERJ; 2001. .p.17-44.
79. Souza ECF, Roncalli AGC. O processo saúde-doença. In: Roncalli, AGC et al.
Odontologia Preventiva e Social: textos selecionados. Natal:EDUFRN; 1997. p.87-
92.
80. Rosen G. Uma história da Saúde Pública. São Paulo: Hucitec; 1994.
81. Flament C. Structure, dynamique et transformation dés représentations socials.
In: Abric JC, editor. Pratiques socials et representations. Paris: Presses
Universitaires de France; 1994. p.35-57.
82. Maturana H. Emoções e linguagem na educação e na política. Belo Horizonte:
Ed. UFMG; 1998.
139
83. Gershon RR, Vlahov D, Felknor SA, Vesley D, Johnson PC, Delclos GL.
Compliance with universal precautions among health care workers at three regional
hospitals. Am J Infect Control 1995; 4(2):225-36.
84. Caixeta R B Barbosa-Branco A.Acidente de trabalho com material biológico, em
hospitais de saúde de hospitais públicos do Distrito Federal, Brasil, 2002/2003. Cad
Saúde Pública 2005; 21(3):737-746.
85. Campos GWS.Reforma da Reforma: repensando a Saúde. São Paulo: Ed.
Hucitec; 1992.
86. Freire P. Educação e mudança. 15 ed. edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra;
1989.
87. Osório C, Machado JMH, Minayo-Gomez C. Proposição de um método de
análise coletiva dos acidentes de trabalho no hospital.Cad Saúde Pública 2005;
21(2):517-524.
88. Spink MJP. Psicologia social e saúde: práticas, saberes e sentidos. Petrópolis:
Vozes; 2003.
89. Abric JC. A abordagem estrutural das representações sociais. In: Moreira ASP,
Oliveira DC, organizadoras Estudos Interdisciplinares de Representação Social. 2
ed.Goiânia:AB; 2000. p.27-38.
90. Rouquette M. Paradoxos da representação e da ação: conjunções sem
coordenação. In: Campos PHF, Loureiro MCS.Representações Sociais e Práticas
Educativas.Goiânia: Ed. da UCG; 2003. p 81-88.
91. Bennet NT, Howard RJ. Quantity of blood inoculated in a needlestick injury from
suture needles. J Am Coll Surg 1994; 178(2):107-110.
140
92. Mast ST, Woolwine JD, Gerberding JL. Efficacy of gloves in reducing blood
volumes transferred during simulated needlestick injury. J Infect Dis 1993;
168(6):1589-92.
93. Rose DA. Usage patterns and perforation rates for 6,396 gloves from intra-
operative procedures at San Francisco General Hospital. Infect Control Hosp
Epidemiol 1994; 15(2):349-59.
94. Pereira MG. Epidemiologia Teoria e Prática. Rio de Janeiro:Guanabara
Koogan;1995.
95. Glezer R Tempo e história. Ciência e cultura 2000.Out/dez;.(1):23.
96. Dejours C. Uma resposta durante o seminário “sofrimento e prazer no trabalho”.
In: Lancman S, Sznelwar LI, organizadores. Christophe Dejours: da psicopatologia à
psicodinâmica do trabalho. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, Brasília: Paralelo 15,
2004. p.157-163.
97. Lancman S. O mundo do trabalho e a psicodinâmica do trabalho. In:Lancman S;
Sznelwar LI (orgs) Christophe Dejours: da psicopatologia à psicodinâmica do
trabalho. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2004. p.23-34
98. Brasil, Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Controle de
Infecção em serviços de saúde. [capturado 2005 Set 27]. Disponível em
http://www.anvisa. gov.br/serviçosaúde/controle/roteiro.htm.
99. Medeiros AC, Dantas Júnior JPD, Rodrigues JM, Ramos CCO, Brito CA.
Deficiência na dieta e incidência do câncer do estômago. Rev Ass Med RN 1997;
3:1-4.
100. Medeiros AC, Aires Neto T, Dantas Filho AM, Pinto Junior FE, Uchoa RAC,
Carvalho MC. Infecção hospitalar em pacientes cirúrgicos do hospital universitário
2003 Acta Cirur Bras 2003; 18 (supl 1):15-16.
141
101. Brasil, Ministério do Trabalho e emprego. Segurança e Saúde no Trabalho.
Normas Regulamentadoras. [capturado2005Set27].Disponível em
http://www.gov.br/empregador /segsau/ legislação/normas/conteúdo.htm.
102. Nishide VM, Benatti MCC, Alexandre NMC. Ocorrência de acidente de trabalho
em uma Unidade de Terapia Intensiva. Rev Latino-Am Enfermagem. 2004;
12(2):204-11
103. Rigotto, RM. Segurança e saúde no trabalho: situação atual das negociações
entre empregadores e trabalhadores e as perspectivas de mudanças no sistema de
relações de trabalho. Cadernos de Textos 2002; p. 109-120.
104. Martins PH. Contra a desumanização da medicina: crítica sociológica das
práticas médicas modernas. Petrópolis: Vozes; 2003.
105. Foucault M. 1979. Microfísica do Poder.Rio de Janeiro:Edições Graal.
106. Carlos DJD. Passado e presente:a enfermagem do hospital universitário
“Onofre Lopes”[dissertação].Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte;
2005.
107. Bourdieu P. Pour sauver le système de santé. In: Pratiques. Lê cahiers de
medicine utopique: La santé n´est pas à vendre. Paris: Editions Indigène.;2000
8(3):31-33
108. Morin E. O paradigma perdido. A natureza humana. Tradução de Hermano
Neves. 4. ed. Lisboa: Europa América;1988.
109. Assunção A A. Uma contribuição ao debate sobre as relações de saúde e
trabalho. Ciênc Saúde Coletiva 2003; 8(4): 1005-1018.
110. Heidegger M. Ser e tempo. Ed. Vozes: Petrópolis; 1995.
142
143
Abstract
Social representations of work-related accidents in the health field
Authors: Antônio Medeiros Júnior, Íris do Céu Clara Costa
Apêndice
144
Apêndice
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo