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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
RISCO DE CONTÁGIO DO HIV E AS MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA:
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO CONTEXTO DA FORMAÇÃO DO
PROFISSIONAL DA SAÚDE
VALÉRIA PEIXOTO BEZERRA
Natal - RN
2009
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
RISCO DE CONTÁGIO DO HIV E AS MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA:
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO CONTEXTO DA FORMAÇÃO DO
PROFISSIONAL DA SAÚDE
Tese apresentada à Universidade Federal
do Rio Grande do Norte - Programa de
Pós-Graduação em Ciências da Saúde,
para obtenção do Título de Doutora em
Ciências da Saúde.
Orientadora: Profa. Dra. Maria do Socorro Costa Feitosa Alves
Co-Orientadora: Profa. Dra. Antonia Oliveira Silva
Natal-RN
2009
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
RISCO DE CONTÁGIO DO HIV E AS MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA:
representações sociais no contexto da formação do profissional da saúde
BANCA EXAMINADORA
MEMBROS TITULARES:
Presidente da Banca: Profa. Dra. Maria do Socorro Costa Feitosa Alves
(UFRN/Odontologia )
Profa. Drª Maria Eliete Batista Moura ( UFPI - NOVAPI/Enfermagem)
Profa. Drª Maria Adelaide Paredes Moreira (UESB/Fisioterapia)
Profa. Drª Edna Maria da Silva (UFRN/Odontologia)
Prof. Drª. Eulalia Maria Chaves Maia (UFRN/Psicologia)
iv
Catalogação na Fonte. UFRN/ Departamento de Odontologia
Biblioteca Setorial de Odontologia “Profº Alberto Moreira Campos”.
Bezerra, Valéria Peixoto.
Risco de contágio do HIV e as medidas de biossegurança: representações
sociais no contexto da formação do profissional da saúde / Valéria Peixoto Bezerra.
– Natal, RN, 2009.
ix, 88 f. : il.
Orientador: Profa. Dra. Maria do Socorro Costa Feitosa Alves.
Tese (Doutorado em Ciências da Saúde) – Universidade Federal do Rio Grande
do Norte. Centro de Ciências da Saúde. Programa de Pós-Graduação em Ciências da
Saúde.
Catalogação na Fonte. UFRN/ Departamento de Odontologia
Biblioteca Setorial de Odontologia “Profº Alberto Moreira Campos”.
1. AIDS – Tese. 2. Biossegurança – Tese. 3. Pessoal de saúde – Tese. 4.
Representação social – Tese. I. Alves, Maria do Socorro Costa Feitosa. II. Título.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde:
Profa. Dra. Técia Maria de Oliveira Maranhão
iii
Dedicatória
À DEUS, que sempre me deu a certeza da sua presença nos momentos mais
difíceis e de seu amor por mim;
A minha mãe Vilani (in memorian), que partiu antes de testemunhar esta
conquista;
A meu pai Wills, que com seu jeito especial de ser, sempre me mostra outras
formas de olhar o mundo;
Aos meus filhos, Rodolfo e Renato, razões que me impulsionam a busca de
novos e melhores caminhos;
Aos meus irmãos, Ronaldo, Verônica, Viviane, Rogério e Valuce, por
acreditarem e me incentivarem na concretização de meus projetos de vida.
v
Agradecimentos
Á Profa.Dra.Maria do Socorro Costa Feitosa Alves, pelas orientações, incentivo e
apoio com que me conduziu neste processo;
Á Profa. Dra. Antónia Oliveira Silva, a quem devo a abertura dos caminhos para a
concretização desta realização profissional, meu muito obrigada;
Á Profa. Dra. Maria Filomena Mendes Gaspar, orientadora do Doutorado Sandwiche,
realizado na Escola de Enfermagem Maria Fernanda Resende, atualmente Escola
Superior de Enfermagem de Lisboa, em Portugal, pelo acolhimento e competência
como me conduziu na implementação do estudo;
Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, pelas oportunidades que nos oferece para novas construções
de conhecimentos;
Aos estudantes, professores e funcionários dos cursos de Licenciaturas em
Enfermagem, Medicina e Medicina Dentária da Escola Superior de Enfermagem,
Faculdades de Medicina e Medicina Dentária da Universidade de Lisboa, em
Portugal, pelo apoio incondicional, sem o qual este estudo não poderia ser realizado;
A chefia, na época do meu afastamento, Profa.Dra.Marta Miriam L. Costa, aos
colegas e funcionários do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica e
Administração da Universidade Federal da Paraíba, pelo apoio, amizade e carinho a
mim dispensados;
Á Profa. Iris do u C. Costa e Profa. Lenilma Cristina S. de F. Meirelles, pelos
momentos agradáveis e partilhados por ocasião do Doutoramento em Lisboa,
Portugal e pela certeza que sempre pude contar com vocês;
A todos os meus familiares e amigos, pela constante torcida neste momento tão
singular na minha vida;
vi
Não há pior inimigo do que o pânico.
Digo isso não para fazer baixa filosofia, mas
por experiência pessoal, inclusive porque a
baixaria é uma filosofia em expansão, e eu
tive pela vida afora excelentes relações
pessoais com o medo.
Chamo medo aquilo que te deixa sempre com pelo
menos dois olhos entrefechados, vigiando o
perigo antagonista e te dá a astúcia da
saudável covardia, dita prudência, ou do
heroísmo comedido, dito estratagema. Agora,
por outro lado, o pânico é abertamente o
adesismo fisiológico ao inimigo, porque ele te
magnetiza e te leva com todos os olhos sem
proteção para cima do ferrão do desespero.
Herbert Daniel
Sumário
Dedicatória ……………………………………………………………………………… v
Agradecimentos ………………………………………………………………………….
vi
Resumo ………………………………………………………………………………….. ix
1 INTRODUÇÃO …………………………………………………………………………. 01
2 REVISÃO DA LITERATURA ………………………………………………………….. 07
2.1 Risco de contágio do HIV e biossegurança ………………………………………...07
2.2 HIV, Aids e Representações Sociais ……………………………………………..... 11
3 ANEXAÇÃO DE ARTIGO …………………………………………………………....... 15
3.1 Artigo aceito para publicação …………………………………………………..........16
3.2 Artigos submetidos para publicações……………………………………………… 15
4 COMENTÁRIOS, CRÍTICAS E CONCLUSÕES ………………………………........ 32
5 APÊNDICES …………………………………………………………………………….39
6 REFERÊNCIAS …………………………………………………………………….......72
Abstract
Resumo
Estudo com abordagem qualititativa, teve como objetivo geral, analisar as
representações sociais sobre o risco de contágio do HIV construídas por estudantes
universitários portugueses da área de saúde, apontando-se aspectos psicossociais à
adoção das medidas de biossegurança. A coleta de dados foi realizada no período
de fevereiro a junho de 2007, com a participação total de 486 estudantes da área de
saúde de instituições de ensino superior, em Lisboa (Portugal), distribuídos em 248
de Medicina, 168 de Enfermagem e 70 de Medicina Dentária. Os estudantes
concordaram em participar da primeira etapa da coleta de dados, constituída por um
Teste de Associação Livre de Palavras com seis temas indutores de respostas e um
questionário. Na segunda etapa, caracterizada por uma entrevista semi-estruturada ,
participaram 60 estudantes, sendo 20 de Medicina, 24 de Enfermagem e 16 de
Medicina Dentária. Os dados coletados foram processados pelos sofwares SPAD-T
e ALCESTE e discutidos com suporte teórico da Teoria das Representações Sociais.
Os resultados revelam representações sociais atribuídas ao HIV e aids através das
palavras: vírus, incurável, medo, toxicodependencia, discriminação, sofrimento e
morte. Ao pensar no cuidado para o paciente, os estudantes assinala para um fazer
com dificuldade e inexperiência, que gera nervosismo e medo. Em relação ao risco
de contágio do HIV, os participantes associam a proteção, medo e sangue,
atribuíndo sentidos as medidas de biossegurança pela proteção com luvas e
preservativo, influenciado principalmente por ser uma doença incurável e que causa
sofrimento e discriminação. As conclusões revelam que as representações sociais
atribuídas a aids e ao risco de contágio do HIV fortalece a proteção e o cuidado para
uso de medidas de biossegurança. A compreensão desses significados no processo
ensino-aprendizagem devem ser assumidos como instrumento norteador para a
formação do profissional da saúde pelas instituições responsáveis.
Palavras chaves: AIDS - Risco - Biossegurança - Representação Social
ix
1
1 INTRODUÇÃO
Apesar dos conhecimentos sobre os aspectos clínicos da aids e dos avanços
científicos sobre a terapêutica, ainda se observam idéias errôneas sobre esta
doença, agravadas por adoção de práticas e crenças de cunho estigmatizantes,
capazes de interferir na adoção de comportamentos preventivos para o contágio do
Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV).
Dentre diferentes tipos de comportamento, apontam-se os preventivos, em
que o emprego de medidas de biossegurança constitui um cuidado importante a ser
considerado pelos profissionais da saúde ante as implicações dos riscos de
transmissão ocupacional do vírus
(1)
.
Para tanto, a biossegurança como um conjunto de ações que visa a prevenir,
minimizar e eliminar os riscos provinientes das inúmeras atividades que podem
implicar a saúde do homem e a qualidade das atividades implementadas
(2)
. A
adoção dessas ações exige a tomada de posicionamento dos profissionais da saúde
em situação de contato com sangue e outros fluidos orgânicos.
O risco, considerado como fenômeno dinâmico, objetivo, em constante
construção e como parte integrante da rede de interação social e na formação de
sentidos
( 3 )
, vem permeando a evolução epidemiológica e social da aids.
A preocupação com o ‘modo de proteção’ do profissional da saúde tem sido
tema bastante frequente nos trabalhos atuais. Os dados têm apontado a
desmistificação das formas de proteção no ambiente de trabalho profissional e
acadêmico, que se refere a doenças e doentes como fenômenos universais sem
qualquer diferenciação social, fazendo com que seja necessária a compreensão do
fenômeno contágio de maneira contextual.
2
Embora a possibilidade de risco de um profissional da saúde ser contaminado
pelo HIV por acidente ocupacional possa ser considerada de baixa estimativa (0,1%
e 0,3% para exposição de mucosa e percutânea, respectivamente)
(1)
, não se pode
deixar de valorizar esta estimativa diante de registros na literatura mundial, de
soroconversão para o HIV, após esses acidentes
(4,5,6)
; porquanto se sabe que, para
o profissional da Saúde se proteger de contágio do HIV, não é suficiente a adoção
de medidas de biossegurança, torna-se também importante ser valorizado se tal
adoção está sendo adequada.
Compreender a subjetividade associada ao HIV e sua transmissão, em que
os profissionais da saúde façam uso adequado e efetivo de medidas de
biossegurança na prevenção de acidentes ocupacionais e, consequentemente,
compreender o risco de contágio do HIV envolve aspectos amplos e complexos,
quando permanecem adotando uma prática que os expõe a risco, mesmo após
treinamentos educativos
(7)
.
Estudar as construções de representações sociais sobre o risco de contágio
do HIV, construídas pelos estudantes universitários portugueses, significa articular o
campo individual com o campo social, onde circulam representações e metáforas
sobre a aids e seu contágio.
A importância do conhecimento das medidas de biossegurança vem mudando
a ordem social do risco, surgindo diferentes percepções e importantes na relação
profissional sociedade, visto que muitas vezes é por meio delas que o profissional
atribui significados para experiências, sobre as quais ele ainda não refere
significados pessoais consistentes.
3
Para se conhecer melhor a influência subjetiva na apropriação do risco de
contágio do HIV construída pelos estudantes universitários portugueses, optou-se
pelo aporte teórico da Teoria das Representações Sociais (TRS)
(8)
, a qual possibilita
o conhecimento de teorias do senso comum, capazes de direcionar diferentes
formas de comportamento dos estudantes, para estes lidarem com o fenômeno do
contágio e com a adesão de práticas preventivas o que lhes permite o apenas
apreendê-las como um sistema de cognições, mas destacar o contexto em que elas
são produzidas, em particular no âmbito acadêmico, em interface com o contágio.
A compreensão dessa realidade comum no grupo social estudado
estudantes universitários configura-se como uma maneira de apreender a
realidade social do grupo de estudantes, em relação ao risco de contágio do HIV, a
qual serve de base para a realização de futuras estratégias de prevençao de modo
singular, que visem à melhoria da implementação da política de biossegurança no
país em relação ao grupo estudado.
Neste sentido, a reavaliação das práticas e a atribuição ao risco de contágio,
principalmente o do vírus da aids entre os estudantes universitários, podem ser
influenciadas pelas experiências e interações que eles construíram sobre a doença,
contribuindo para se confrontar com seus medos e preconceitos.
Esses confrontos observados nos estudantes universitários da saúde durante
a sua formação e diante do risco de contágio em assistir um portador do HIV, passa
a representar uma ameaça para eles e a causar medo, sentimento que pode ser
extrapolado para suas práticas profissionais. Esse sentimento geralmente não é
observado quando o estudante desconhece a sorologia, pois o paciente para ele,
não “aparenta ser portador do vírus”, nem por conseguinte lhe provoca insegurança
e ameaça de contágio. Nessa situação, algumas medidas de biossegurança são até
4
negligenciadas pelo estudante, a exemplo de uso de protetor ocular, quando se
expõe ao risco de contaminação da mucosa ocular.
Estudo sobre conhecimentos da aids, atitudes e comportamentos de
adolescentes portugueses ante o portador do HIV, aponta atitudes menos positivas
tomadas por adolescentes da Região Norte do país. Salienta a importância do papel
da escola na discussão a propósito do conhecimento adequado dos modos de
transmissão da doença
(9)
. Diminuir o estigma associado ao HIV é considerado
talvez o maior desafio não aos profissionais de saúde, mas a toda a sociedade
(10)
, podendo o estigma ser minimizado a partir de estudos que explorem aspectos
psicossociológicos presentes à prática profissional e acadêmica.
O estudo das representações sociais pode aproximar tais conhecimentos da
realidade vivenciada de modo singular, tornando-se fundamental para a
compreensão do modo de intervir em situaçoes específicas. Sendo assim, há
condições de intervenção que atendam às especificidades de cada contexto alvo,
além de atender ao princípio da interdisciplinaridade, a qual está presente às ações
multiprofissionais. Assim, as representações sociais constituem […
]
um certo
modelo recorrente e compreensivo de imagens, crenças e comportamentos
simbólicos”
(11:209)
.
A Teoria das Representações Sociais pode dar a sua contribuição à medida que
parte de uma perspectiva que busca a compreensão do ser humano, considerando-o
como sujeito construído a partir de suas determinações evolutivas, históricas,
culturais e sociais e, ao mesmo tempo como construtor de sua realidade social.
Portanto, entende-se que, nesta construção deve-se levar em conta a dimensão
5
psicossocial a que estão presentes os saberes simbólicos produzidos na vida
cotidiana mediante as práticas e as conversações. Assim sendo, questiona-se:
a) Quais as representações sociais sobre risco de contágio do HIV construídas
pelos estudantes universitários portugueses da área da saúde?
b) Quais os aspectos psicossociais associados a adoção de medidas de
biossegurança apreendidos a partir das representações sociais sobre o risco
de contágio do HIV segundo estudantes universitarios portugueses?
c) Qual a influencia das representações sociais na adoção de medidas de
biossegurança pelos estudantes universitários portugueses da área de
saúde?
Para responder tais questionamentos, este estudo tem os seguintes objetivos:
Geral Analisar as representações sociais sobre o risco de contágio do HIV,
construídas por estudantes universitários portugueses da área da saúde, apontando-
se aspectos psicossociais associados à adoção das medidas de biossegurança.
Específicos:
a) Apreender as representações sociais sobre risco de contágio do HIV
construídas pelos estudantes universitários portugueses da área da saúde;
b) Identificar aspectos psicossociais associados às medidas de biossegurança,
consideradas a partir das representações sociais sobre o risco de contágio
pelo HIV segundo estudantes universitarios portugueses;
c) Verificar as representações sociais que influenciam adoção às medidas de
biossegurança entre estudantes universitários portugueses da área da saúde.
6
Desta forma, estudar as representações sociais do risco de contágio do HIV,
construídas por estudantes universitários, torna-se relevante pela possibilidade de
ampliar a compreensão do risco de contágio, ultrapassando-se os limites de sua
dimensão biológica e de conhecer como o sentido atribuído a esse risco pode
influenciar a adoção de medidas de biossegurança no contexto acadêmico.
A autora, ao longo do doutoramento no Programa de Pós-Graduação em Saúde
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, vivenciou a participação no
Projeto de Cooperação Internacional “Migração e Saúde em Contextos Português e
Brasileiro”, financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino
Superior (CAPES) do Ministério da Educação do Brasil. A participação resultou em
possibilidades, experiências e construções permitida pela Teoria da Representação
Social nas interfaces multidisciplinaridade e interdisciplinaridade.
Os principais achados da tese se encontram apresentados em três produções
científicas em anexo, além da Revisão de Literatura com referenciais que
embasaram a análise e interpretação dos dados, distribuída em dois ítens: o
primeiro, denominado Risco de contágio do HIV e biossegurança; o segundo, HIV,
aids e representações sociais. Para encerrar o presente relatório de tese, os
Comentários, críticas e conclusões abordam a trajetória da pesquisa por ocasião do
doutorado “sanduíche” realizado em Lisboa (Portugal), na pespectiva de
desdobramentos para outros estudos.
7
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Risco de contágio do HIV e biossegurança
O risco e a biossegurança têm sido temas que vem despertando a atenção e
discussões em diversas áreas do conhecimento, principalmente no que se refere
aos atuais aspectos ameaçadores das circunstâncias que permeiam a vida cotidiana
do indivíduo em condições da modernidade.
Na área da saúde pública, o advento da aids proporcionou uma valorização
do risco em sua dimensão sóciocultural e nas práticas associadas à promoção da
saúde, principalmente no tocante à importância de reconhecer e desenvolver em
cada indivíduo ou população a percepção do risco e as formas de comportamento a
serem adotadas para se evitar a ocorrência de danos.
A forma de cada indivíduo e população perceberem a probabilidade de
ocorrência do risco e suportarem consequências simbólicas ou não ,
principalmente no caso da aids, deve ser compreendida no âmbito de cada
dimensão de vida. Na saúde pública, o risco é considerado como resultado de
escolhas equivocadas de estilo de vida e associado à culpa, irresponsabilidade,
incompetência e ignorância
(12)
. Quanto à probabilidade de ocorrência da doença
que caracteriza o risco, tal ocorrência envolve principalmente decisões e escolhas,
considerando-se que a possibilidade de contágio do HIV, em algumas situações,
implica a adoção de um comportamento considerado seguro. Haja vista a utilização
de preservativo durante a relação sexual ou uso de medidas de biossegurança em
contato com o sangue ou fluidos corpóreos.
Estudo realizado sobre a utilização de paramentação feita por 79 membros de
equipes cirúrgicas de 14 hospitais do Município de São Paulo (Brasil) revela, que a
maioria dos participantes reconhece sua importância como barreira de proteção;
8
houve porém, destaque entre os resultados, a forma de utilizá-la, a exemplo de
máscaras que não cobriam totalmente o nariz e a boca
(13)
.
O risco envolve o reconhecimento, aceitação e escolhas que são
influenciados por crenças e valores nas relações sociais
(14)
; portanto, torna tudo isso
subjetivo. Assim, a decisão e escolha humana no uso de métodos de prevenção do
contágio do HIV envolve questões amplas, subjetivas e complexas, quando o
profissional se decide a adotar uma medida de biossegurança.
Essas questões são reforçadas diante de estudo realizado com 1.152
estudantes do 10º ao 12º ano de escolaridade do Distrito de Vila Real, em Portugal.
O estudo constatou que os jovens que não utilizavam método de prevenção e
referiram ter tido três ou mais parceiros sexuais apresentaram uma média maior de
conhecimento sobre HIV e aids
(15)
. Sendo assim, podemos afirmar que conhecer ou
reconhecer a importância da adoção de medidas preventivas contra o contágio do
HIV não garante a adoção ou apropriação feita pelo indivíduo. A tomada de
consciência do risco de contágio do HIV abrange pressupostos que extrapolam
aspectos cognitivos e demandam comportamentos diversos de dimensões
profundamente enraizadas ou apreendidas de interações sociais e de valores
culturais.
Freitas
(16)
enfatizando a percepção do risco na abordagem sociológica, atenta
para a importância de ser considerada a dependência dessa percepção a fatores,
como informação, valores, experiências sociais expostas e visão de mundo mantida
por cada pessoa.
Para estudantes portugueses frequentadores do 10º,11º e 12º ano de ensino
secundário de escola urbana e escola não urbana do país, o conhecimento acerca
dos riscos de contágio do HIV foi considerado baixo e apontou a possibilidade de
9
uma relação entre o nível de conhecimento e o meio de inserção desses estudantes,
quando um percentual maior de estudantes do meio urbano não apresentou esse
conhecimento em relação àqueles do meio não urbano
(17)
.
Para Czeresnia
(18)
, o indivíduo na sociedade moderna é movido a evitar as
formas de exposição ao risco, quando monitora e define estratégias para a sua
regulação. Porém, no contexto amplo e dinâmico, em que a aids tem-se
manifestado, os aspectos normativos extrapolam questões mais complexas nas
interfaces entre o indivíduo perceber o risco de contágio do HIV e adotar estratégias
definidas para evitá-lo.
No âmbito das instituições modernas, o risco é criado por formas normativas e
envolve previsões, incertezas, estratégias e resultados de decisões
(19)
. Por
conseguinte, é essa complexidade que se caracterizam essas instituições em que a
busca de compreender o sentido do risco atribuído ao contágio do HIV torna-se um
ponto de partida para também se compreender como esse sentido define práticas
nas diferentes esferas do exercício do profissional da área da saúde.
Quanto ao uso de medidas de biossegurança adotadas pelos profissionais da
saúde, a vivência do risco se traduz em sensações de relativa segurança diante de
valores atribuídos ao risco exposto e na escolha de medidas que o minimizem.
Nesse contexto, a biossegurança como […] o conjunto de medidas relativa
à segurança do trabalhador de saúde, submetido ao risco potencial de acidente com
materiais ou instrumentos contaminados com material biológico”
(20:39)
, implica uma
prática efetiva vinculada à vontade humana. Nem o conhecimento das medidas de
biossegurança, nem a disponibilidade de Equipamento de Proteção Individual (EPI)
e nem o tempo de experiência profissional, garantem a adoção dessas medidas
pelos profissionais da saúde
(20,21)
.
10
O risco em não ser encontrado, mas formulado, não ser identificado, mas
atribuído
(22)
, requer uma ampliação na compreensão dos seus significados, que
extrapolam a dimensão biológica e ao controle de doenças. Assim, podemos
considerar que a valorização do risco de contágio do HIV é variável de uma pessoa
para outra, considerando-se conhecimentos construídos, interações sociais, valores
e crenças, que refletem sobre comportamentos e atitudes diante do paciente com
aids, com a possibilidade da ocorrência desse contágio.
Conforme Paulilo
(23)
, para se compreender o risco, é necessário considerar a
hierarquia que ele assume sobre a pessoa, a intersubjetividade nas tomadas de
decisão e o contexto em que o risco ocorre.
Considerando que os riscos são culturalmente identificados e valorizados
como importantes por uma sociedade
(24)
, diríamos que emerge daquilo que está
enraizado no inconsciente do indivíduo, de tal forma que o tornam consciente, por
influência dos vínculos sociais, e podem ser materializados na tomada de decisão e
na determinação de comportamentos vivenciados no cotidiano do indivíduo e de
grupos, a exemplo da adoção ou da negligência de medidas de biossegurança pelos
profissionais da saúde.
Porto
(25:132)
, afirma que,
[…] a natureza reflexiva dos riscos emerge dos indissociáveis fenômenos de
consciência e percepção, exigindo continuamente negociações, diálogos e
compromissos, que serão efetivos na medida em que reconheçam a
complexidade reflexiva nos fenômenos analisáveis, incorporando valores de
defesa da vida e gerem processos coletivos de aprendizado.
Essa natureza reflexiva do risco aponta um processo dinâmico e renovável
que pode alterá-la. Portanto, as estratégias para minimizar o risco também devem
estar acompanhando esse processo.
11
Sendo assim, o risco de contágio do HIV reflete esse dinamismo, quando
a possibilidade de ocorrência desse contágio se encontra presente a diversos
contextos sócioculturais, de modo que as estratégias estabelecidas para reduzir um
risco em um determinado contexto podem não se aplicar em outro.
2.2. HIV, a Aids e Representações Sociais
Os avanços técnico-científicos, associados aos esforços de pesquisadores e
as estratégias das políticas públicas, abordando o fenômeno da aids, não se têm
mostrado eficazes diante da magnitude doença e do controle da disseminação do
HIV.
Na Europa, como em outros continentes, a doença avança em número de
casos novos. Portugal se destaca como o terceiro país da Europa Ocidental, com
uma prevalência média de 5,1 casos por mil habitantes
(26)
. Em cada indivíduo ou
grupo social que a aids tem acometido, a doença se caracteriza como um estímulo
para a busca de respostas e estratégias adequadas para se compreender o seu
avanço e para ela ser considerada como um fenômeno conflituoso.
A forma preconceituosa e mesclada com conhecimento científico como se
manifestaram os primeiros casos da doença em determinados grupos sociais, e
como foi divulgada pelos meios de comunicação, contribuiu para suas diferentes
representações, que ainda hoje se encontra enraizado no inconsciente coletivo,
influenciando a forma como cada indivíduo e sociedade responde à epidemia.
Estudo divulgado em relatório preliminar e realizado no ano de 2006, em
Portugal, com 4.877 adolescentes de ambos os sexos, estudantes frequentadores
do 6º, e 10º ano de escolaridade, apresentou resultados que refletem atitudes de
preconceitos e rejeição à pessoa infectada pelo HIV. Nesse estudo, um total de
12
30,6% dos estudantes referem não tenho certeza” ou “discordo” que “deve ser
permitido aos jovens infectados frequentar a escola” e um total de 33,5% também
manifestaram as mesmas opiniões, ou seja, disseram não ter certeza ou discordar
de “serem capazes de assistir a uma aula sentados ao lado de um colega infectado”
(27)
.
Para Barros
(28)
, Coordenador Nacional para Infecção VIH/SIDA de Portugal, o
fim da discriminação na vida quotidiana é uma meta considerada mais difícil de
atingir do que na estrutura dos direitos, embora nessa área também ainda se faça
presente.
Rueff
(29)
ao enfatizar os direitos humanos e acesso aos serviços de saúde
dos portadores do HIV, em Portugal, considera a aids uma doença de natureza
diferenciada de outras tidas como infecto-contagiosas, quando uma
responsabilidade comportamental do portador para sua transmissão .
A importância atribuída à aids tem sido demonstrada pelo empenho com que
a sociedade civil e a científica procuram compreender e explicar as atitudes, os
comportamentos e um conhecimento construído, que ultrapassam o processo
biológico da doença que circunda as relações entre indivíduos e configura elementos
simbólicos.
Os diversos sentidos atribuídos à doença e aos portadores do HIV, de
homossexualismo, de prostituição, travestis e doença letal, ainda se encontram
incorporados no imaginário social da população e gerando reações preconceituosas
e medo da morte. Esses sentidos elaborados resultam em um produto de avaliação
social de pessoas e grupos que caracterizam a representação social
(30)
.
Para Moscovici
(11:216)
, representar significa […] trazer presentes as coisas
ausentes e apresentar coisas de tal modo que satisfaçam às condições de uma
13
coerência argumentativa, de uma racionalidade e da integridade normativa do
grupo”.
Na elaboração da Teoria das Representações Sociais, o autor esclarece que
partiu da diferença dos indivíduos, atitudes e fenômenos, com o intuito em verificar
como esses indivíduos constroem um mundo estável e previsível considerando as
diferenças existentes
(33)
. Nesse sentido, a aids se apresenta como um fenômeno
em que as diferenças individuais têm permitido uma ampla elaboração de produtos
de avaliação social, que resultam da imposição de suas consequências sociais e
biológicas, da busca em construir estratégias que associem conhecimentos
científicos e relações sociais, principalmente de aprendizagem em conviver com a
aids ou com aqueles acometidos pela doença.
Estudo realizado com profissionais da saúde de um hospital escola de um
município de São Paulo, no Brasil
(31)
, reforça esses aspectos a que se apresentam
quando o medo do contágio do HIV e o preconceito relacionado aos valores
negativos atribuídos aos portadores do vírus contribuem para influenciar a forma
como cuidam e se relacionam com o paciente.
Em Portugal, o registro no espaço público, através da mídia, de
comportamentos e atitudes discriminatórias de profissionais da saúde, diante a
portadores do HIV, manifestadas por negação na prestação de cuidados e
encaminhamentos a outros serviços
(32)
, se constitui um processo social, refletido por
desdobramentos históricos da evolução da doença em que cabe a análise das
razões de sua produção.
Assim, os produtos elaborados desta avaliação social da aids, encontram-se
permeadas de aspectos simbólicos que determinam condutas, práticas e
comportamentos, podem acompanhar e permanecer enraizados no imaginário social
14
do estudante universitário da área da saúde, durante a sua formação profissional e
posteriormente, caso esses aspectos não sejam valorizados nas propostas
pedagógicas das instituições formadoras.
Paiva e Amâncio
(33)
, em estudo comparativo com estudantes universitários
portugueses e brasileiros, identificaram estruturação de suas representações sobre
a aids a partir de medo e cuidado para os brasileiros e doença e sofrimento para os
portugueses.
Esse estudo reforça a necessidade das instituições de ensino para
demandarem um olhar sobre esses aspectos, quando o medo do contágio do HIV e
o preconceito relacionado com os valores negativos atribuídos aos portadores do
vírus contribuíram para influenciar a forma de cuidar, de se relacionar com o
paciente e de adoção de medidas de biossegurança.
Neste aspecto, Jodelet
(34:49)
usando a TRS aponta uma perpectiva nos
estudos, ao afirmar que […] toda intervenção supõe, necessariamente, a
consideração das representações sociais”.
Portanto, a busca de valorizar os aspectos simbólicos atribuídos à aids na
formação do profissional da área da saúde, devem ser contemplados, na elaboração
dos currículos, pelas instituições formadoras, que se configura como um desafio na
perspectiva que propõe a referida autora.
15
3. ANEXAÇÃO DE ARTIGO
3.1 Artigo aceito para publicação
- Revista Rol de Enfermeria
/Barcelona – Espanha
Riesgo de contagio por el vih: representaciones sociales de estudiantes
universitarios en Lisboa-Portugal.
Publicação: Revista Rol de Enfermería, v.32.n.4.abr.2009
3.2 Artigos submetidos para publicação
- Revista Brasileira de Enfermagem (REBEN) – Apêndice A
Risco de contágio pelo hiv: aspectos simbólicos na adoção de medidas de
biossegurança por estudantes universitários portugueses.
- Revista de Saúde Pública da Colombia – Apêndice B
Cuidado ao paciente com aids: significados atribuídos no contexto da
formação do enfermeiro
16
3.1 Artigo aceito para publicação
RIESGO DE CONTAGIO POR EL VIH: REPRESENTACIONES SOCIALES DE
ESTUDIANTES UNIVERSITARIOS EN LISBOA-PORTUGAL
1
Valeria Peixoto Bezerra –Profesora de la Universidad Federal de Paraíba y Doctoranda de la
Universidad Federal de Rio Grande do Norte-Brasil. Estudiante en prácticas de Doctorado en
la Escuela Superior de Enfermería Maria Fernanda Resende-Lisboa-Portugal
Email: [email protected] Telefone: (83) 32264434
Maria Filomena M.Gaspar – Directora y Profesora de la Escuela Superior de Enfermería de
Lisboa-Portugal y Orientadora de la prácticas de Doctorado
Maria do Socorro C.F.Alves – Profesora y Orientadora en el Programa de Postrado de la
Universidad Federal de Río Grande do Norte – Brasil
RESUMEN. OBJETIVO: identificar las representaciones sociales sobre riesgo de contagio por el VIH en los
estudiantes de enfermería comprendiendo la influencia de esas representaciones en el uso de las medidas de
bioseguridad. MATERIAL Y MÉTODO: estudio exploratorio y cualitativo, realizado con 168 estudiantes de
una Escuela Superior de Enfermería en Lisboa (Portugal).Los datos han sido recogidos a través del Test de
Asociación Libre de Palabras que incluye variables socio-demográficas de los participantes. RESULTADOS Y
DISCUSIÓN: De los 168 estudiantes, 90% fueron del sexo femenino y 10% del sexo masculino. La mayoría de
los participantes tiene entre 21 y 25 años (79,2%) y son portugueses (97,6%). En la asociación libre de palabras
referente al estímulo VIH/SIDA, los participantes lo hacen con enfermedad cuyo contagio la caracteriza en el
ámbito clínico y muerte como evolución esperada. La representación sobre “riesgo de contagio cara al enfermo
con SIDA”, las palabras que más frecuentemente indicaron fueron protección contra el contagio, incluyendo el
miedo sobre todo al contacto con sangre, y los guantes como principal protección para la prevención del
contagio. En cuánto al estímulo Medidas de Bioseguridad las palabras más citadas son el guante como medida de
protección en el contexto de la actividad profesional y el preservativo para evitar el contagio en otros contextos
sociales vividos por ellos.CONCLUSIONES: El riesgo del contagio del VIH para los estudiantes está
representado por el miedo y en consecuencia, el sufrimiento y discriminación como experiencias vividas por el
paciente en el contexto de una enfermedad insalvable y determina los significados y la forma cómo los
estudiantes evalúan esos significados y es reflejada en la adopción de medidas de bioseguridad.
Palabras Clave: SIDA-Representación Social-Riesgo de contagio
1
Proyecto de Cooperación Internacional «Migración y Salud en Contextos Portugués y
Brasileño» financiado por la CAPES/ Ministerio de la Educación de Brasil
.
17
1 INTRODUCCIÓN
El Síndrome de Inmunodeficiencia Adquirida-SIDA constituye una preocupación
mundial por no presentar indicios de control como enfermedad por el momento y por sus
impactos en las dimensiones biológicas, sociales, sicológicas, políticas, morales y éticas
continúa siendo tema de debate y de investigaciones científicas, además de objeto de demanda
de políticas públicas.
En Portugal, la enfermedad avanza en número de casos, predominando en adictos y
ascendiendo también en heterosexuales, siendo este uno de los países de Europa con mayor
número de casos de Infección por
VIH
[1] .
A pesar de las políticas públicas para su control y de los avances en el conocimiento
científico sobre los aspectos clínicos y terapéuticos del SIDA, todavía se constata, en algunos
casos, la presencia de mitos y estigmas creados alrededor de la enfermedad entre la población
portuguesa, inclusive en estudiantes del área de salud, lo que puede influenciar o no el uso de
medios preventivos.
Entre los diversos tipos de comportamientos preventivos que pueden ser adoptados
para controlar la diseminación del VIH, enfatizamos el uso de medidas de bioseguridad por
parte de los estudiantes universitarios del área de salud, particularmente en los estudiantes de
enfermería. Esta importancia descansa en la consideración del enfermero como el profesional
que estará más tiempo en contacto con el enfermo y también por el hecho de que la no
adopción de esas medidas implicará riesgo de transmisión ocupacional del virus. Los
estudiantes de enfermería, durante las clases teórico-prácticas, tienden a usar las medidas de
bioseguridad influenciados por la percepción del riesgo de contagio por el VIH en la
prestación de cuidados al enfermo.
Aunque el riesgo de que un profesional de salud sea contaminado por el virus por
accidente ocupacional puede ser considerado bajo, no podemos dejar de considerar esa
posibilidad, a la luz de referencias en la literatura mundial de 46 casos de ese modo de
transmisión [2].
En este sentido, el uso adecuado de medidas de bioseguridad por parte de los
estudiantes de enfermería implica la posibilidad de que el grupo reevalue sus propias acciones
en función de los riesgos atribuidos [3].
18
Esas construcciones tienden a generar diferentes aspectos biopsicosociales que
posibilitan que los estudiantes reflejen sobre sus propios prejuicios al enfrentarse con el riesgo
de contagio del VIH. Los prejuicios son representados como una amenaza y causarán
comportamientos que reflejan miedo.
El estudio realizado en 1994 ya apuntaba los fantasmas creados alrededor del
comportamiento de quien se infecta y el estigma de la enfermedad, influenciando al
profesional al confrontarse con sus miedos y prejuicios [4]. Esa realidad permanece, siendo
observada en otros contextos, cuando se contempla a estudiantes de enfermería manifestando
miedos y conflictos al enfrentarse con pacientes con SIDA, lo que nos estimula a intentar
comprender la dimensión simbólica de la enfermedad que provocará comportamientos y
actitudes en la adopción de medidas de bioseguridad.
En ese contexto, la Teoría de las Representaciones Sociales (TRS) se vuelve un aporte
teórico ideal para identificar qué aspectos se asocian fuertemente al SIDA, como fenómeno y
como productor de conceptos, sobre todo de aquellos considerados conflictivos, como el
pavor, miedo, la amenaza de contagio que acompañan a todas las elaboraciones mentales
asociadas a esta enfermedad [5].
La representación social es “una modalidad de conocimiento particular que tiene por
función la elaboración de comportamientos y la comunicación entre individuos” [6]. La
representación social como fenómeno, está permitiendo un conjunto de diferentes tipos de
objetos de investigación, abordando la enfermedad desde los más diversos planos simbólicos
y significados.
En la complejidad de esas demandas tenemos en mente también los contextos vividos
por los estudiantes de enfermería durante su formación. Esta implica un proceso peculiar con
objetos, conocimientos e instrumentos diversos y propios que pueden determinar
posibilidades y límites en las respuestas a las cuestiones que involucran al VIH y al SIDA.
Estudiar la amenaza simbólica y real del riesgo de contagio de la SIDA, en el ámbito
de las representaciones sociales, en el contexto del estudiante de enfermería modeladas a
partir de sus interacciones con pacientes y profesionales de salud, posibilita conocer
repertorios subyacentes que orientan sus prácticas en la adopción de medidas de bioseguridad,
que reproducen modos de acción o distanciamiento frente al referido riesgo.
19
El identificar y buscar comprender la dimensión simbólica del riesgo de contagio del
VIH mediante el uso de las medidas de bioseguridad, en el contexto de la formación
profesional del enfermero, se vuelve una herramienta necesaria y se le debe dar relevancia en
la formación de nuevos profesionales, de forma que estén preparados para el desafío de dar
las respuestas necesarias, así como para evaluar el impacto de la enfermedad en el proceso de
cuidados sin ser influenciados por percepciones personales.
Considerando los diferentes aspectos biopsicosociales asociados a la interpretaciones
que involucran a la enfermedad, el presente estudio tuvo como objetivos: identificar las
representaciones sociales sobre riesgo de contagio del VIH construidas por los estudiantes de
enfermería y comprender a influencia de esas representaciones en el uso de las medidas de
bioseguridad.
2. MATERIAL Y MÉTODO
Se trata de un estudio exploratorio y cualitativo, fundamentado en la Teoría de las
Representaciones Sociales [6] y tuvo como campo de investigación el Curso de Licenciatura
de una Escuela Superior Pública de Enfermería localizada en Lisboa (Portugal).
La muestra fue constituida por 168 estudiantes de enfermería del 2º al 4º año del curso,
representando el 78% de una población de 215 estudiantes y que atendieron al siguiente
criterio: que estén cursando asignaturas con actividades teórico-prácticas en servicios de salud
y de consientan en participar del presente estudio.
Los datos fueron recogidos durante el periodo de Febrero a Abril de 2007, a través de
un instrumento constituido por variables socio-demográfica de los participantes y un Test de
Asociación Libre de Palabras con tres temas inductores para producción máxima de cinco
respuestas cuanto al VIH/SIDA, riesgo de contagio cara al enfermo con SIDA y medidas de
bioseguridad. Al instrumento fue anexado una Solicitud de Colaboración a los participantes
donde se explicitaba el tema, los objetivos del estudio y el compromiso de garantía de
anonimato y confidencialidad en las respuestas.
La toma de datos fue precedida de una solicitud a la dirección de la escuela para la
realización del estudio. Tras la concesión de la autorización se estableció un contacto directo
con los coordinadores responsables por cada curso, exponiéndoles los objetivos y
20
metodología a utilizar, además de la realización de un levantamiento de los estudiantes
matriculados de cada año del curso, bien como la planificación para la aplicación del
instrumento.
Los datos tomados fueron sometidos al programa informático SPAD-T (Système
Portable pour l’Analyse des Donnes Textuelles) que permitió efectuar el Análisis Factorial de
Correspondencia Simple (AFC) para cada uno de los estímulos. En el análisis de las palabras
y factores fueron consideradas aquellas que presentaron una frecuencia superior la 11 de cada
estímulo, siendo los resultados presentados en los cuadros y gráficos siguientes.
3. RESULTADOS Y DISCUSIÓN
3.1. Caracterización de la muestra
De los estudiantes que constituyeron la muestra, 151 (90%) fueron del sexo femenino
y 17 (10%) del sexo masculino. La mayoría de los participantes perteneció la franja de edad
entre 21 y 25 años representando el 133 (79,2%) de la muestra, seguido de 31 (18,4%) con
menos de 20 años y 4 (2.4%) con más de 26 años. En cuánto a la nacionalidad, 164 (97,6%)
de los participantes declararon ser portugueses y 4 (2,4%) de otras nacionalidades.
3.2-Resultados referentes el Análisis Factorial de Correspondencias Simples (AFC-S)
Como resultante de la asociación libre de palabras referente al primer estímulo
cuando pienso en VIH/SIDA recuerdo…”, fueron producidas 800 palabras por los
participantes, de las cuales 108 (13.5%) son distintas y 631 (22%) retenidas.
Entre las 631 palabras retenidas en el referido estímulo las más evocadas explican el
VIH/SIDA como enfermedad (f=81), siguiendo en importancia el contagio (f=62) en la
propagación del VIH/SIDA y la muerte (f=57) como evolución clínica.
El SIDA es considerado como una enfermedad contagiosa cuyo desenlace es la muerte
y se destaca que a pesar de los progresos científicos en el uso de la terapia antiretroviral que
proporciona un aumento de esperanza de vida de los portadores del VIH, estos no están
contribuyendo a desmitificar una tendencia en atribuir el resultado de óbito anticipado para
aquellos que son contagiados por el virus.
21
En resultado de la AFC-S de las palabras referentes al primer estímulo, los factores
aislados mostrados en el cuadro 1 destacan el Miedo (F1); Trasmisión (F2) y Virus (F3).
Considerando la F1 podemos afirmar que el VIH/SIDA es visado como una enfermedad
donde se manifiesta el miedo (15,5) que causa sufrimiento (12,3) y discriminación (10,1).
En el polo positivo, tenemos la sangre (11,6) que también genera el miedo por ser
considerada una vía de transmisión del virus a la que estudiante se expone frecuentemente en
el ámbito de las clases teórico-prácticas durante su formación.
El miedo a la trasmisión del virus a través de la sangre asociando la enfermedad a
sentimientos como sufrimiento y discriminación, caracterizan al SIDA como enfermedad que
extrapola aspectos clínicos y técnicos, teniendo la muerte como la contingencia al ser una
enfermedad insalvable.
Cuadro 1- AFC – Simple
Estímulo: “cuando pienso en VIH/SIDAlo que me viene a la cabeza es…”. n= 168
Factores
Coordenadas (+)
Contribuciones absolutas
Coordenadas (-)
Contribuciones absolutas
F1
Miedo
Sangre (11,6)
Miedo (15,5)
Sufrimiento (12,3)
Discriminación (10.1)
F2
Transmisión
Miedo (8.3)
Drogodependencia (6,3)
Sufrimento (5,6)
Transmisión (14,5)
Comportamiento (13.0)
Prevención (11,3)
Incurable (10.4)
F3
Vírus
DST(11,3)
Prevención (5,2)
Protección (4,2)
Vírus (27,4)
Transmisión (7,3)
La F2 se explica por la palabra transmisión (14,5) que puede ser asociada al
comportamiento (13,0), que se constituye en uno de los principales factores para la
prevención (11,3) de la enfermedad caracterizada como incurable (10,4). En contra de este
polo tenemos el miedo (8,3), la drogodependencia (6,3) y el sufrimiento (5,6).
En el escenario social en el que hay una tendencia a proyectar hacia el enfermo de
SIDA juicios hacia el comportamiento adoptado en el modo cómo fue contagiado por el VIH,
los estudiantes atribuyeron también un valor simbólico, la adicción, por ser esta la realidad
vivida en contextos portugueses a la vista del predominio del número de casos de la
enfermedad en esa categoría de transmisión [1].
22
El sufrimiento humano al ser atacado por una enfermedad puede evolucionar con
intensidad hasta el punto de provocar que la persona limite la inversión en su futuro [7}. En el
caso de la SIDA, ese sufrimiento se extrapola a una dimensión simbólica más amplia por ser
una enfermedad incurable y por lo tanto esperanza de vida para las personas afectadas se
presenta poco animadora, a pesar de los avances en el pronóstico de vida con el uso de la
terapia antiretroviral.
En relación a la F3 podemos afirmar que un virus (27,4) es el agente etiológico de
transmisión (7,3) del SIDA que se caracteriza por ser una Enfermedad Sexualmente
Transmisible-DST (11,3) siendo la prevención (5,2) y la protección (4.2) las principales
medidas para su control. Los elementos fundamentales para interpretación de los ejes se
encuentran ilustrados en la Figura 1 .
Figura 1- Estímulo 1: Cuando pienso en VIH/SIDA, lo que me viene a la cabeza es…: (ejes 1 y 2)
1.627 ---------------------------------------------------------------------------------------------
1.572 | | |
1.516 | | |
1.186 | | |
1.130 | | |
1.075 | | |
1.020 | | |
..965 | | sexo_desprotegido
. 910 | miedo | |
. 855 | | |
. 744 | sufrimiento | |
. 689 | tristeza | estigmadependencia |
. 579 | | sexo |
. 414 | | |
. 303 | muerte preservativo sangre |
. 248 | |
. 193 | discriminación enfermedad |
. 138 | | |
. 083 | | DST contágio |
. 028 ---------------------------------------------------------+-- ---------------------------
-.028 | | |
-.083 | | |
-.138 | | infección |
-.193 | | |
-.248 | | |
-.303 | | vírus protección |
-.414 | | |
-.579 | | |
-.689 | | |
-.744 | | |
-.855 | | |
-. 910 | | risco |
-.965 | | |
-1.020 | estigma | |
-1.075 | prevención |
-1.130 | incurable |
-1.186 | | |
-1.516 | comportamiento |
-1.572 | transmisión
-1.627 ---------------------------------------------------------------------------------------------------------
-1.705 -1.023 -.341 .341 1.023 1.705
23
En la representación gráfica es interesante observar en el cuadrante superior izquierdo
la proximidad de las expresiones que explican el aspecto social y psicológico de la
enfermedad (miedo, sufrimiento, tristeza, discriminación, muerte). En oposición, en los
cuadrantes inferiores, se encuentran agrupados las expresiones que apuntan para aspectos más
biológicos de la enfermedad como: infección, protección, riesgo, comportamiento,
incurable y transmisión.
La palabra enfermedad ocupa una posición casi central en el gráfico equilibrando los
comportamientos sicológicos y sociales con los aspectos y comportamientos asociados a los
más biológicos de los dos cuadrantes inferiores.
En el segundo estímulo se buscó encontrar la representación del riesgo de contagio
cara al enfermo con SIDA me viene a la cabeza…”, de uno total de 651 palabras evocadas,
107 (16,4 %) se presentaron distintas y 500 (17% ) fueron retenidas. Las palabras con mayor
frecuencia de evocación entre las retenidas (500) apuntaron para la protección (f=89)
incluyendo el miedo (f=54) sobre todo por el contacto con la sangre (41), que representa un
riesgo para los estudiantes durante las clases. El guante (f=37) se vuelve la principal
protección utilizada para la prevención de uno posible contagio.
En el contexto de la formación clínica del estudiante, la sangre representa el principal
riesgo de contagio por ser un fluido corporal potencialmente infeccioso para transmisión del
VIH, siendo la adopción de las medidas de protección influenciadas por el hecho de que la
enfermedad es incurable y que se le asocia la dimensión simbólica de sufrimiento y
discriminación que acarrea en el imaginario compartido por el grupo.
En otros servicios de salud, la valoración del riesgo está asociada al tipo de
procedimientos a ser desarrollados por el enfermero [8]. Siendo así, el tipo de acción pueda
implicar en presencia de sangre es puesto por los estudiantes como un elemento que provoca
miedo y da sentido a la adopción de medidas de bioseguridad como el uso de guantes, por
representar la principal protección para el referido contacto .
De la AFC del vocabulario asociado al segundo estímulo, los elementos fundamentales
para interpretación de los ejes son expuestos en el cuadro 2 presentando la sangre (F1) y sexo
desprotegido (F2) como formas de contagio (F3) del virus.
24
En el factor F1 la palabra sangre (18,9) acompañada de las palabras sexo (16,7) y
aguja (16,5) caracterizan los modos de contagio para el VIH en el polo positivo y en el polo
negativo tenemos el miedo (10,8) que implica en protección (8,6) y el cuidado (8,2).
Cuadro 2 – AFC-Simple
Estímulo “ riesgo de contagio cara al enfermo con SIDA me acuerdo de…”
n=168
Factores
Coordenadas (+)
Contribuciones absolutas
Coordenadas (-)
Contribuciones absolutas
F1
Sangre
Sangre ( 18.9)
Sexo (16.7)
Aguja (16.5)
Miedo (10.8)
Protección (8.6)
Cuidado (8.2)
F2
Sexo
desprotegido
Sexo desprotegido (30.0)
Desinformación ( 29.0)
Comportamiento ( 12.6)
Acidente (10.7)
F3
Contágio
Contágio ( 49.2)
Información (21.3)
Prevención (7.1)
Desinformación (5.3)
El sexo desprotegido (30,0) en la F2 como riesgo de contagio cara al enfermo con
SIDA puede ser derivado de la desinformación (29,0) que genera comportamiento (12,6) y
puede contribuir a la ocurrencia del accidente (10,7).
En la F3 el contagio (49.2) en el polo positivo aliado la información (21.3) refleja en
prevención (7.1) y la existencia de la desinformación (5.3) puede volver inminente el contagio
en sí.
El riesgo de contagio del VIH representado por los estudiantes a través de la sangre,
sexo desprotegido y aguja expresan las formas de contagio que se encuentran en el espacio
social vivido por ellos en el que la información o desinformación tienden a modelar los
comportamientos de protección y de cuidado al valorar el riesgo derivado del miedo atribuido.
El control de la enfermedad no depende sólo de la divulgación de la información
correcta, sino sobre todo de la posibilidad de que los individuos se proyecten en ella y la usen
para su protección, lo que no se concreta independientemente de los diversos contextos
sóciopolíticos y culturales [9].
Al pensar en sexo desprotegido evocado por el estímulo riesgo de contagio cara al
enfermo con SIDA, los estudiantes tienden a pensar en el riesgo por la forma como fue
25
contaminado el paciente, excluyéndose de la posibilidad de ser contagiados y de la
vulnerabilidad en el contexto vivido.
Los elementos fundamentales que caracterizan los factores del segundo estímulo y que
proporcionan la interpretación de los ejes han sido sintetizados en la figura 2.
Figura 2- AFC de las Palabras asociada la “cuando pienso en Peligro de contagio cara al
enfermo con SIDA, recuerdo ” ( ejes 1 y 2 )
1.926 ---------------------------------------------------------------------------------------------------------
1.861 | | |
1.795 | | |
1.730 | | |
1.273 | | |
1.012 | | |
947 | | |
.816 | | sexo
.685 | | |
.620 | información |
.555 | | |
490 | | guante sangre aguja
.424 | | |
.359 | precaución | preservativo |
294 | contágio
.228 | miedo protección |
.163 | | |
.098 | cuidado prevención |
.033 -------------------------------------------------------+-- --------------------------------------------
-.033 | | |
-.098 | peligro |
-.163 | | |
-.228 | | |
-.294 | | |
-.359 | | |
-.424 | | |
-.490 | | |
-.555 | | |
-.620 | | |
-.685 | | |
-.816 | | |
-.947 | | accidente |
-1.012 | | |
-1.273 | | |
-1.730 | | comportamiento |
-1.795 | | |
-1.861 | | desinformación sexo_desprotegido
-1.926 ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
-2.019 -1.211 -.404 .404 1.211 2.019
En el gráfico 2 es muy relevante el hecho de se encuentren agrupados en el cuadrante
superior derecho las palabras sexo, sangre y aguja, como elementos profundamente
contagiantes, que se oponen en el cuadrante inferior derecho a los aspectos asociados a los
comportamientos y a la desinformación como elementos potenciadores de accidente.
26
En el cuadrante superior izquierdo, más cercano de la posición central, están
concentradas las palabras miedo, protección y cuidado que se aproximan a la expresión
prevención como elemento central y agregador de las dimensiones anteriormente descritas.
Del contagio cara a la desinformación y los comportamientos de riesgos
.
En cuanto al tercer estímulo “cuando pienso en Medidas de Bioseguridad, recuerdo
…” las palabras evocadas por los estudiantes presentaron un total de 547 palabras con 123
(22.5%) consideradas distintas y 368 (12%) retenidas.
Las palabras más producidas decurrentes del estímulo y tenidas como retenidas (368)
presentan el guante (f=93) como una medida de protección (f=74) en el contexto de la
formación clínica de los estudiantes y también el preservativo (f=45) para evitar el contagio
en otros contextos sociales vividos por ellos.
El estudio realizado apunta a la importancia atribuida al guante por los cirujanos
dentistas como medida de protección [10]. Para los estudiantes de enfermería, el guante
también simboliza la principal protección entre las medidas de bioseguridad al contacto
frecuente con sangre y la manipulación de agujas durante la formación.
En cuanto a la palabra preservativo como medida de bioseguridad evocada por el
grupo, nos remite al temor considerado alto entre los portugueses, en ser infectado por el VIH
durante el contacto sexual [11]. Sin embargo, entre la valoración dada al preservativo como
medida de protección y la práctica de su uso frente a la posibilidad en ser infectado por el
virus, existe una paradoja, cuando más de la mitad de 3.045 portugueses participantes en un
estudio afirmaron no haberlo usado nunca [12].
El cuadro 3 referente la AFC del mismo estímulo nos dice que las medidas de
bioseguridad implican la información (F1 y F2) como relevante para el cuidado (F3).
Así relativamente a la F1 podemos decir que la información (26.7) es una estrategia
considerada importante para la eficacia de la prevención (14.2) y protección (13.4), lo que
implica cuidado con las agujas (17.0) y sangre (5.1) y requiere el uso de guante (12.8) para
una protección en la prevención del contagio del VIH.
27
Cuadro 3-AFC-Simple
Estímulo: “cuando pienso en Medidas de Bioseguridad, recuerdo …” n=168
Factores
Coordenadas (+)
Contribuciones absolutas
Coordenadas (-)
Contribuciones absolutas
F1
Información
Aguja (17.0)
Guante (12.8)
Sangre (5.1)
Información (26.7)
Prevención (14.2)
Protección (13.4)
F2
Información
Protección (25.7)
Cuidado (6.5)
Información (44.0)
Aguja ( 9.0)
Preservativo ( 9.3)
F3
Cuidado
Protección (15.3)
Sangre (13.4)
Aguja ( 9.8)
Cuidado (28.3)
Bata (14.2)
Máscara (9.2)
La F2 es mayoritariamente representado por la información (44.0) que también
domina en la F1, siendo considerada como una estrategia importante para la adopción de
medidas de bioseguridad cara a la manipulación con aguja (9.0) y al uso del preservativo
(9.3).
La aguja como objeto perforante representa una amenaza que facilita la ocurrencia de
accidentes en el ámbito de la formación clínica. La evidencia apunta a que ese instrumento es
responsable de la mayoría de esas ocurrencias entre profesionales de enfermería [13].
El uso del preservativo refleja una realidad vivida en lo cotidiano por el estudiante,
que sabe que ambos, aguja y preservativo, requieren cuidado e implican protección.
El cuidado (28.3) en la F3 en el polo negativo también se presenta como importante y
conduce al uso de la bata (14.2) y máscara (9.2) como una protección (15.3) anticipada al
contacto con sangre (13.4) ocasionado por la manipulación de aguja (9.8) en algunos
procedimientos.
Las medidas de bioseguridad construidas sobre todo por la información nos remite a
una dimensión simbólica de la representación en la determinación de actitudes [6] reflejadas
en las palabras evocadas en uso de bata, máscara, guantes, preservativo y cuidado con sangre
y aguja. La figura 3 sintetiza gráficamente los ejes 1 y 2 referente al tercer estímulo.
28
Figura 3 – AFC de las Palabras asociadas la “cuando pienso en Medidas de
Bioseguridad, recuerdo…” (ejes 1 y 2)
11.943 --------------------------------------------------------------------------------------------
1.877 | | |
1.811 | | |
1.679 | | |
1.087 | | |
.955 | | |
.889 | protección |
.823 | | |
.757 | | assepsia |
.691 | cuidado |
.626 | | lavar_manos |
.560 | | |
.362 | | mascara |
.296 | | bata |
.230 | prevención | |
.165 | | |
.033 ---------------------------------------------------------+-- --------------------------------
-.033 | | guante sangre |
-.165 | | |
-.230 | | |
-.296 | | |
-.362 | | |
-.560 | | |
-.626 | | preservativo |
-.691 | | |
-.757 | | |
-.823 | | |
-.889 | | |
-.955 | | |
-1.087 | | aguja
-1.679 | | |
-1.811 | información | |
-1.877 | | |
-1.943 ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
-1.955 -1.173 -.391 .391 1.173 1.95
El gráfico 3 presenta de forma clara el conjunto de medidas de bioseguridad adoptadas
por los estudiantes, asociando esta actitud al comportamiento revelador de conocimiento,
representado por la palabra información, en el cuadrante inferior izquierdo y que determina la
adopción de la misma.
Se resaltan además los componentes de riesgo más elevado de contagio en el contexto
de los gráficos, como son, el contacto con la sangre y la manipulación de las agujas. La toma
de consciencia de esos factores de riesgo asociada a la información conducen a la adopción de
medidas de bioseguridad representadas y explicadas por el gráfico.
29
4. CONCLUSIONES
En el contexto vivido por los estudiantes de enfermería, el SIDA es reconocida como
enfermedad sexualmente transmisible y permanece provocando miedo por el sufrimiento
y discriminación que la experiencia vivencial de los portadores refleja hacia la sociedad.
Los estudiantes al pensar en SIDA representan el miedo frente a la sangre y extrapolan
una dimensión de la realidad del portador que abarca un aspecto biológico. En este contexto el
fluido corporal simboliza una amenaza que puede implicar en el desarrollo de habilidades
para su protección.
La amenaza de la trasmisión del virus en contacto con el referido fluido corporal
implica la adopción de comportamientos preventivos con uso de protecciones como
estratégia fundamental, sobre todo por ser una enfermedad incurable.
El miedo generado frente al riesgo de contagio por el VIH, cara al enfermo con SIDA,
fortalece la protección y cuidado sobre todo frente a la presencia de sangre, por ser el
principal vehículo de trasmisión de la enfermedad en realidad vivida y compartida por los
estudiantes, aunque el sexo y la aguja también se encuentran insertados en ese contexto real.
El ambiente vivido por el estudiante durante la formación también es influenciado por
otras interacciones cuando el riesgo de contagio es representado por el sexo desprotegido
atribuido mayoritariamente a la desinformación, como generadora de comportamientos y
que puede resultar en accidente.
En oposición a la palabra desinformación, la percepción del riesgo de contagio cara al
enfermo con SIDA, es influenciada por la información, considerada como un elemento
fundamental para la prevención del contagio en el ámbito de las medidas de bioseguridad.
La prevención del riesgo de contagio por el VIH en la que la protección con el uso de
guante se vuelve esencial al contacto con sangre y manipulación de la aguja, es concebido
por los estudiantes como una prolongación de la información generando un comportamiento
para la adopción de medidas de bioseguridad.
El cuidado aliado a la información involucrando un sentido más amplio em cuanto a
las medidas de bioseguridad en el contexto del SIDA fue representada por el uso de bata y
máscara como protección en el contacto con sangre y aguja y puede reflejar un cuidado
innecesario resultante del miedo que la enfermedad provoca.
30
Se puede referir que esos resultados indican la complejidad de la comprensión del
riesgo del contagio del VIH para los estudiantes, considerandose el carácter constructivo al
que ellos se prestan para el establecimiento de las relaciones con el mundo, representa el
miedo consecuencia del vivido por el paciente en contextos em los que la enfermedad es
considerada como incurable y determina como los estudiantes, evalúan esos significados
reflejándolos en la adopción de medidas de bioseguridad.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Centro de Vigilância Epidemiológica das Doenças Transmissíveis. Situação da SIDA em
Portugal a 30 de Junho de 2007[Internet] Lisboa: INSA[ acesso 13 de setembro de
2007].Disponivel em:htpp://www.insarj.pt/site/insa_artigo_01.asp?artigo_id=840
[2] Benatti MCC, Nishide VM. Elaboração e implantação do mapa de riscos ambientais para
prevenção de acidentes do trabalho em uma unidade de terapia intensiva de um hospital
universitário. Rev. Latino-Americana Enferm. São Paulo 2000; 10 (6) 13:20.
[3] Brevidelli MM, Cianciarullo TI.Aplicação do modelo de crenças em saúde na prevenção
de acidentes com agulha. Rev Saúde Pública 2001;35:193-201.
[4] Sousa, H. Uma proposta mínima para um programa de Aids no Brasil.In: Parker R,Bastos
C,Galvão J, Pedrosa JS.Orgs.A Aids no Brasil. Rio de Janeiro:Relume-Dumará;1994.p.353-8.
[5] Moreira, ASP. A epilepsia e a aids na concepção do conhecimento cotidiano.[tese] São
Paulo: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP;1998.
[6] Moscovici, S. A representação social da psicanálise. Rio de Janeiro: Zarah Editores; 1978.
[7] Gameiro, MH. Sofrimento na doença.Coimbra: Quarteto Editora; 1999.
[8] Altabella, RP. Medidas preventivas exposiciõn accidental a sangre y fluidos corporales (I):
riesgo asociado a maniobras de enfermeria. Rev. ROL Enf 1996; 209: 20-28.
[9} Paiva V, Buchalla CM,Ayres JRCM,Hearst N.Capacitando profissionais e ativistas para
avaliar projetos de prevenção do HIV e de AIDS.Rev.Saúde Pública 2002:36(4 supl) 4-11.
[10] Sobrinho Domingos M, Rodrigues MP, Silva EM. Cirurgiões-dentistas e representações
sociais da biossegurança. In: Coutinho MPL, Lima AS, Oliveira FB, Fortunato ML. Orgs.
Representações Sociais: abordagem interdisciplinar.João Pessoa:Ed.Universitária/UFPB;
2003.p.227-250.
[11] Amaro F, Frazão C, Pereira ME,Teles LC. HIV/AIDS risk perception attitudes and
sexual behaviour in Portugal. International Journal of STD & AIDS 2004;15:56-60.
[12] Não baixar os braços. Teste Saúde, 2004; 47:13-17.
31
[13] Brevidelli MM, Cianciarullo TI. Análise dos acidentes com agulhas em um hospital
universitário: situações de ocorrências e tendências. Rev Latino-Americana de Enferm. São
Paulo (SP) 2002;10(44):81-84.
32
4 COMENTÁRIOS, CRÍTICAS E CONCLUSÕES
- Escolha da Teoria das Representações Sociais (TRS)
As inquietações dos pesquisadores com as exigências dos diversos
segmentos sociais em dar respostas para coibir o avanço da epidemia da aids, têm
tornado sempre relevantes as pesquisas com abordagem qualitativa, por esta
permitir permitir uma maior compreensão da complexidade e subjetividade dos
fenômenos que envolvem o comportamento e as relações sociais do homem.
A tendência tradicional positivista de pesquisadores em aplicar princípios e
métodos das ciências naturais aos estudos das ciências humanas permitiu uma
exaltação das abordagens qualitativas. No caso do presente estudo, as
representações sociais, têm-se constituído um aporte teórico de destaque na ciência
social.
Os diversos todos concebidos nas pesquisas que abordam a
representação social, têm-lhe atribuído rito no campo científico, por estar dando
conta dos mais diversos fenômenos, principalmente daqueles considerados
conflituosos, a exemplo da aids, ao mesmo tempo que tem permitido uma demanda
de apreensões de conceitos e idéias de áreas afins.
A oportunidade de desenvolver o estágio de doutoramento em Lisboa,
permitiu para a autora do estudo, extrapolar o percurso de um caminhar de
abstrações científicas e vivenciar circunstâncias enriquecidas de novos olhares, com
que geralmente se depara um pesquisador, na implementação de um método
estabelecido para tornar concreto o seu objeto de estudo. Neste caminhar, definido
por uma subjetividade da vida cotidiana dos sujeitos, foi proporcionado uma maior
33
apreensão da Teoria das Representações Sociais e uma aproximação com
pesquisadores que colaboraram no crescimento da teoria e na edificação de novos
estudos que desvelaram lógicas aplicadas no enfrentamento de problemas. Haja
visto o exemplo de estratégias para desmistificar estigmas e preconceitos atribuídos
a aids.
Nesse aspecto, considera-se que este estudo vem contribuir para reforçar o
mérito atribuído às representações sociais, por explorar aspectos que necessitam
abstrair sentidos da evolução histórica e o modo como a epidemia da aids se
apresentou no mundo.
A seleção dos cursos de licenciatura em Medicina, Enfermagem e Medicina
Dentária, a qual foi prevista pela pesquisadora como campo de investigação, se
explica por ela fazer parte do mesmo contexto acadêmico.
Como pesquisadora, observa que essas interações promovem corporificações
de idéias geradoras de inquietudes e culminam objetos de estudo, em experiências
metodológicas e produção de conhecimentos.
Como sujeito da área da saúde considera que ela abrange significados e
apreensões de realidades distintas. Significados e apreensões que encontram-se
enraizados em comportamentos individuais daqueles por quem tais elementos são
constituídos.
Ainda como sujeito, a autora se relaciona com o universo populacional que
constitui a área da saúde. Como tal, é passível de ser influenciada pelas interações
sociais para transformá-las em realidades e práticas compartilhadas.
34
Na realidade empiríca na interação com estudantes do Curso Graduação em
Enfermagem, nos vários contextos sociais e clínicos, diante do comportamento e
sentidos atribuídos por esses estudantes à doença e ao doente, durante a formação
profissional, foi o que impulsionou a buscar compreender esses sentidos que
influenciam comportamentos, a exemplo da adoção de medidas de biossegurança.
Destarte, a Teoria das Representações Sociais tornou-se um suporte teórico
favorável à apreensão e compreensão desses sentidos. Nessa dinâmica, como
enfatiza o autor da teoria, a representação tem a finalidade de tornar o não-familiar
em familiar (11).
A multidisciplinaridade, a interdisciplinaridade e a possibilidade de articulação
com práticas de intervenção que a teoria oferece a pesquisadora, justificam também
a escolha da teoria para atender à busca dos sentidos atribuídos ao risco de
contágio do HIV e a compreender a influência desses sentidos no emprego das
medidas de biossegurança a ser feito pelos futuros profissionais da saúde.
- Vivência com a pesquisa
O projeto de pesquisa implementado durante o referido doutoramento
tornou-se viável pelo intercâmbio desenvolvido no âmbito do Projeto de Cooperação
Internacional sobre «Migração e Saúde em Contextos Português e Brasileiro»,
financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal Ensino Superior
(CAPES). Ao ser contemplada com uma bolsa para realizar o doutorado sanduíche
na Escola Superior de Enfermagem Maria Fernanda Resende, localizada em Lisboa,
foi proporcionado a construção do relatório final da presente tese.
35
A coleta de dados se concretizou com a participação de 486 estudantes
universitários portugueses da área da saúde (248 do curso de Medicina, 168 de
Enfermagem e 70 de Medicina Dentária), que concordaram em participar da primeira
etapa da pesquisa, respondendo ao Teste de Associação Livre de Palavras
(Apêndice C) e a um questionário (Apêndice D). Dentre eles, 60 estudantes (20 de
Medicina, 24 de Enfermagem e 16 de Medicina Dentária) participaram da segunda
etapa, que se constituiu de uma entrevista semi-estruturada (Apêndice E) subsidiada
pela TRS.
Os dados coletados permitiram a construção de um banco, favorável à
escolha de técnicas de softwares, os quais contribuíram para a compreensão do
fenômeno observado. Para análise desses dados, foram utilizados os programas de
informática SPAD-T e ALCESTE, que favoreceram o confronto de perspectivas
diferentes de análise para entender o real.
A pesquisa gerou textos científicos que foram enviados para publicação em
periódicos de impacto internacional, sendo publicado: Riesgo de contágio por el
VIH: representaciones sociales de estudiantes universitarios en Lisboa-
Portugal. Risco de contágio pelo HIV: aspectos simbólicos na adoção de
medidas de biossegurança por estudantes universitários portugueses
(Apêndice A) e Cuidado para o paciente com aids:significados atribuídos no
contexto da formação do enfermeiro (Apêndice B), se encontram em processo de
avaliação a ser realizada pela equipe editorial do períódico enviado.
Salienta-se a ampla disponibilidade de dados que o banco ainda está a
oferecer à pesquisadora para exploração de outras vertentes de análise
36
metodológica e de novas construções a serem articuladas após conclusão do
doutoramento.
Para a realização desse estudo, algumas dificuldades foram vivenciadas.
Haja vista as limitações com que o pesquisador depara na utilização da técnica de
entrevista
(35)
. Para atender aos objetivos propostos no estudo, a utilização dessa
técnica exigiu condições físicas favoráveis à espontaneidade entre o entrevistador e
o entrevistado, uma vez que se buscava apreender dados subjetivos de sentimentos
e atitudes ante determinados fenômenos conflituosos que envolvem a aids. A
ausência dessa estrutura nos campos de investigação constribuíram para que a
pesquisadora buscasse estratégias possíveis de minimizar fatores externos que
influenciassem distorções na entrevista.
Nesse sentido, vivenciar essa realidade contribuiu para refletir no fato de, nas
pesquisas qualitativas, o pesquisador passar a ser também uma valiosa fonte de
dados.
Merece um registro o importante papel da orientadora estrangeira, que
demandou esforços para conseguir autorização das instituições de ensino superior
para implementação da proposta de pesquisa, além de apoiar à análise dos dados
através do programa de informática SPAD-T e viabilizar na participação da
pesquisadora em eventos científicos.
A inserção nos campos selecionados para a implementação da pesquisa,
proporcionou-lhe a oportunidade de apreender realidades metodológicas em
diferenciados contextos da área de saúde, ou seja, Medicina, Enfermagem e
Medicina Dentária, os quais favoreceram construções e o fortalecimento de suportes
que, presumivelmente, orientarão a sua prática de pesquisadora.
37
Nesse aspecto, a oportunidade de participar de um seminário promovido pelo
Grupo de Imigração e Saúde, em Lisboa, sobre Acessibilidade aos Serviços de
Saúde dos Imigrantes em Portugal, coube a chance de interagir e fazer contato com
pesquisadores, o que motivou integrar nesse grupo de pesquisa.
O Grupo de Imigração e Saúde é reconhecido pela Organização Internacional
das Migrações e Fundação Luso – Americana para o Desenvolvimento e conta
atualmente com 120 membros das diversas áreas do conhecimento de vários
países.
Ao retornar ao Brasil, foi retomada as atividades no Grupo Interdisciplinar de
Estudos e Pesquisas em Representações Sociais e Áreas Afins, o qual é cadastrado
na Universidade Federal da Paraíba, Campus I, em João Pessoa e congrega
pesquisadores e estudantes de graduação e pós-graduação de diversas áreas de
conhecimento (Psicologia, Enfermagem, Medicina, Odontologia, Fisioterapia, entre
outras).
Em relação à tese, considera-se de relevância social, científica e cultural, por
tratar de compreender como os sujeitos sociais elaboram e explicam as
representações sociais, no que tange ao risco de contágio do HIV, que podem
determinar condutas diante da aids, como o uso de medidas de biossegurança na
prestação de cuidados ao paciente com aids.
Essas construções simbólicas reativadas do imaginário social influenciado
pelo modo de vida e valores atribuídos àqueles contaminados pelo vírus, além da
inexistência de cura da doença, o que gera medo e insegurança na adoção ou na
omissão dessas medidas – devem ser ressignificadas para serem quebrados mitos e
crenças.
38
Espera-se que a tese venha a contribuir para que as velhas imagens
simbólicas construídas pelos estudantes universitários da área da saúde, as quais
permanecem cristalizadas nos seus imaginários durante a formação profissional,
sejam valorizadas pelas instituições formadoras e se configurem como um desafio
para repensar essa formação. Além disso, estas podem identificar e implementar
abordagens pedagógicas capazes de dar conta da complexidade e da dimensão
envolvedoras do ser humano que cuida de outro ser humano.
Buscar oportunidades para realizar intervenção na realidade apreendida de
significados atribuídos ao HIV/AIDS pelos estudantes universitários portugueses,
atendendo ao que a Teoria da Representação Social propõe, torna-se um novo
desafio para à pesquisadora e um esforço para novas parcerias e desdobramentos.
39
5 APÊNDICES
- Artigos Submetidos para Publicações
APÊNDICE A
Risco de contágio pelo HIV: aspectos simbólicos na adoção de medidas de
biossegurança por estudantes universitários portugueses
1
Risk of infection with HIV: symbolic aspects in the adoption of
biosecurity measures for students universitários portuguese
1
Riesgo de infección con el VIH: aspectos simbólicos en la adopción de
las medidas de bioseguridad para los estudiantes universitários portugués
1
Valeria Peixoto BEZERRA
2
; Antonia Oliveira SILVA
3
; Maria Filomena Mendes
GASPAR
4
. Maria do Socorro Costa Feitosa ALVES
5
Resumo
Com objetivo de identificar representações sociais sobre risco de contágio pelo HIV
construídas por estudantes universitários portugueses, salientando determinantes na
adoção das medidas de biossegurança e subsidiada pela Teoria das
Representações Sociais, o estudo teve 60 participantes entrevistados, cujo dados
foram analisados pelo software ALCESTE. Os resultados atribuem a aids ser grave,
incurável, discriminatória, comprometer a qualidade de vida e provocar medo
refletindo em cuidado extra no uso de medidas de biossegurança. A compreensão
pela instituição formadora dos significados atribuídos ao HIV e aids, originados das
interaçõe vividas pelos estudantes nos diversos âmbitos sociais e a valorização
desses significados no processo ensino-aprendizagem, devem ser assumidos como
um instrumento norteador para a formação do profissional de saúde.
Descritores: Aids; Representação Social, Biossegurança
Abstract: In order to identify social representations of risk of infection by HIV built by
students of Portuguese health, stressing determinants in the adoption of the
biosecurity measures and subsidized by the Theory of Social Representation, had 60
participants in interviews, whose data were analyzed by the software ALCESTE. The
results give AIDS is serious, incurable, discriminatory, compromising the quality of life
40
and cause fear in reflecting extra caution in the use of bio-security measures. Concui
that the understanding by the trainer of the meanings attributed to HIV and AIDS,
originated from interactions experienced by students in different social spheres and
recovery of these meanings in the teaching-learning process should be taken as a
guiding tool for the professional training of health.
Descriptores: Sida; Social Representation; Biosecurity
Resumen: Con el fin de identificar las representaciones sociales del riesgo de
infección por el VIH construido por estudiantes de portugués de salud, haciendo
hincapié en los factores determinantes de la adopción de las medidas de
bioseguridad y subvencionados por la Teoría de Representación Social, había 60
participantes en las entrevistas, cuyos datos fueron analizados por el software
ALCESTE. Los resultados dan el SIDA es grave, incurable, discriminatorio,
comprometer la calidad de vida y causa temor en el que refleja mucha precaución en
el uso de las medidas de bioseguridad. Concui que la comprensión por parte del
entrenador de los significados atribuidos al VIH y el SIDA, se originó a partir de las
interacciones experimentadas por los estudiantes en las diferentes esferas sociales
y la recuperación de estos significados en el proceso de enseñanza-aprendizaje
debe ser tomado como una herramienta para orientar la formación profesional de los
salud.
Descriptores: El SIDA, la representación social, la bioseguridad
2
Doutoranda da UFRN e docente da UFPB.
3
Doutora, docente da UFPB e coordenadora do projeto
4
Doutora, orientadora do doutorado sandwiche e docente da ESEUL – Lisboa -
Portugal
5
Doutora, orientadora do doutorado e docente da UFRN
1
Projeto de Cooperação Internacional «Migração e Saúde em Contextos Português
e Brasileiro» financiado pela CAPES/ Ministério da Educação do Brasil.
41
1 INTRODUÇÃO
Como refere a literatura, nenhuma doença teve consequências tão
alarmantes no âmbito social, econômico e político para a humanidade como a AIDS
(Síndrome de Imunodeficiência Humana). A ameaça constante que a doença
manifesta ao mundo e a busca de estratégias eficazes para o seu controle
permitiram a ampliar-se o foco da atenção para a sociedade como um todo.
Essa ampliação contudo, pouco contribuiu para a compreensão do contexto
das interações pessoais e dos problemas que os indivíduos acometidos, assim como
a sociedade em geral, apresentam ao longo da evolução da epidemia, além de não
garantir a prevenção da infecção do HIV e aids
(1,2,3)
.
Nesse sentido, a busca de modelos e métodos que permitam compreender a
conduta humana em sua complexidade e fundamentar intervenções eficazes no
contexto da aids, apreendendo-se suas dimensões cognitivas, afetivas e simbólicas,
tem despertado o interesse de pesquisadores das mais diversas áreas do
conhecimento.
A dimensão simbólica que a aids tem apresentado, nos planos individual e
coletivo, permite antever a complexidade da sua prevenção, dos cuidados que os
pacientes acometidos pela doença exigem, além da necessidade de os profissionais
que cuidam desses pacientes serem desprovidos de certos valores que possam
influenciar na interação desse cuidar com o uso de medidas de biossegurança.
Apesar dos conhecimentos construídos e experiências apreendidas ao
decorrer da evolução da epidemia da aids, ainda se percebem perspectivas
complexas que extrapolam conhecimentos da formação específica do profissional, a
exemplo do medo e preconceito impedindo relacionamentos para o cuidar
(3)
.
Para Piot
(4)
, Diretor Executivo em exercício da UNAIDS, “uma grande
frustração é a persistência de elevados níveis de estigma e discriminação para com
as pessoas vivendo com o HIV praticamente em todos os lugares do mundo”.
Em Portugal, a exemplo do Brasil, os primeiros casos da doença causaram
impacto, sobretudo no imaginário coletivo, uma vez que os meios de comunicação
também contribuíram para as mais variadas interpretações e distorções, associando
a doença com homossexualidade, gravidade e morte
(5)
.
A doença em Portugal tem colocado o país em destaque diante dos países
europeus, em razão de um estudo sobre a prevalência do HIV em usuários de
42
drogas injetáveis na Europa Ocidental, durante o período de 2005 a 2006, ter
revelado uma alta prevalência no país, no ano de 2003, de usuários que iniciaram o
tratamento para o HIV
(6)
.
Em 2005, esse país liderou em número de casos de aids diagnosticados na
União Européia
(7)
e apresentou um grande número de casos acumulados da doença
desde 1983 até 2007, predominando os por transmissão através de relações
heterossexuais e usuários de drogas injetáveis
(8)
, revelando um desafio na
implementação de políticas públicas pelo governo e pela sociedade portuguesas, no
sentido de coibir o seu avanço.
A exigência de respostas integradas e eficazes para o controle desse avanço
em Portugal contribuiu para que a Coordenação Nacional para Infecção VIH/sida
assumisse a responsabilidade de coordenar as atividades para sua prevenção,
quando foi elaborado o Programa Nacional de Prevenção e Controle da Infecção
VIH/sida para o período de 2007 a 2010. Nesse documento, é reconhecida a
escassez de estudos metodológicos sólidos abordando conhecimento, atitudes e
comportamentos diante da infecção pela população geral e vulneráveis
(9)
.
A complexidade dessas demandas tem exigido da formação do profissional
de saúde, o envolvimento de um processo com objetos, saberes e instrumentos dos
mais diversos e particulares, que podem determinar possibilidades e limites de
respostas às questões que envolvem o HIV e aids e nos remetem para realidades
nem sempre visíveis de profissionais qualificados para o contato diário com esses
pacientes.
No contexto dessa formação, o significado atribuído à doença pelos
estudantes da área de saúde pode colocá-los em confronto com seus próprios
medos e preconceitos diante do risco de contágio pelo HIV resultando na
valorização do uso de medidas de biossegurança, refletidos principalmente pelas
representações sociais, e que evoluem para uma dimensão ainda mais enraizada no
exercício profissional.
A representação social como imagem e linguagem, simbolizando atos e
situações
(10)
, destaca-se no contexto da aids, considerando que a forma como os
primeiros casos da doença penetraram na consciência mundial gerou distorções e
comportamentos
(11)
.
Nessa perspectiva, as representações sociais relativas ao HIV e à aids
elaboradas pelos estudantes universitários da área de saúde, podem ser ltiplas e
43
distintas, estando esta diferença relacionada com as vivências, crenças e valores
apreendidas do sistema social e ideológico no qual eles se encontram inseridos e
resultam na atribuição de valores quanto ao uso de medidas de biossegurança
diante da possibilidade de contágio pelo HIV.
Na busca de compreender as dimensões simbólicas sobre o risco de contágio
pelo HIV e sua influência quanto ao uso de medidas de biossegurança na prestação
de cuidados ao paciente, deve-se por considerar que as instituições formadoras do
profissional de saúde não devem ignorar essas dimensões profundamente
enraizadas e geradoras de comportamentos conflituosos nos estudantes
universitários.
Esses comportamentos são passíveis de serem modificados com formulações
de estratégias compreensivas dessa realidade, com perspectivas para o
delineamento de diretrizes acerca da formação de profissionais qualificados para
prestar cuidados ao paciente com aids desprovido das distorções e comportamentos
Nesse sentido, o estudo tem como objetivo: identificar as representações
sociais sobre o risco de contágio do HIV construídas por estudantes universitários da
área de saúde portugueses, salientando diferentes determinantes responsáveis pela
adoção das medidas de biossegurança, e subsididado o estudo pela Teoria das
Representações Sociais.
2. PERCURSO METODOLOGICO
Este artigo constitui um recorte da Tese de Doutorado Sanduiche, envolvendo
a Universidade Federal do Rio Grande do Norte e a Escola Superior de Enfermagem
de Lisboa, em Portugal, no âmbito de um Projeto de Cooperação Internacional
Brasil-Portugal (GRICES/CAPES) «Migração e saúde em contextos brasileiro e
português».
O estudo foi desenvolvido nos Cursos de Licenciaturas da Escola Superior de
Enfermagem, Faculdades de Medicina e Medicina Dentária, vinculadas a
Universidade de Lisboa-Portugal.
Como fatores de inclusão para constituir a população do estudo foram
considerados: estudantes de ambos os sexos, de nacionalidade portuguesa,
regularmente matriculados nos cursos e em períodos que envolvessem a realização
de aulas teórico-práticas em serviços de saúde, que se encontrassem frequentando
44
a instituição de ensino durante o período de fevereiro a junho de 2007 e
concordassem em participar do estudo.
A amostra foi composta por 60 estudantes, que concordaram em participar do
estudo, sendo 24 estudantes de enfermagem, 20 estudantes de medicina e 16
estudantes de medicina dentária.
O projeto de pesquisa atendeu às exigências éticas estabelecidas pelas
diretrizes e normas brasileiras
(12)
, além dos protocolos para autorização de pesquisa
de cada direção administrativa da instituição de ensino envolvida.
A coleta de dados foi concretizada através de um roteiro de entrevista semi-
estruturado, tendo como tópicos: HIV/AIDS, cuidados prestados ao doente com
ênfase em sentimentos e dificuldades, risco de contágio pelo HIV e biossegurança.
A entrevista foi realizada mediante agendamento prévio com cada estudante, sendo
utilizado o gravador, após o seu consentimento, sem estabelecido tempo de
duração.
Os dados armazenados no gravador foram transcritos de forma a constituir
um corpus, que permitiu a Classificação Hierárquica Descendente de Palavras
(CHDP) pelo programa informático ALCESTE (Análise Lexical Contextual de um
Conjunto de Segmentos de Texto) e posteriormente discutidos sob a ótica da Teoria
das Representações Sociais
(10)
.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos 60 estudantes que constituíram a amostra do estudo, 45 (75%) foram do
sexo feminino e 15 (25%) do sexo masculino, pertencentes à faixa etária entre 19 e
25 anos e de nacionalidade portuguesa.
4.2 O campo semântico das representações sociais sobre risco de contágio
pelo HIV e biossegurança
A etapa inicial do tratamento do material pelo software ALCESTE, resultado
das 60 entrevistas, deu origem a 59 UCIs (Unidades de Contexto Inicial) que
constituiram um corpus de análise.
45
As UCIs originadas foram divididas em 1.325 segmentos do texto,
denominados UCEs (Unidades de Contexto Elementar), sendo descartadas do
programa as palavras com frequência inferior a 3 (três).
Dando continuidade à análise e considerando-se as formas reduzidas, as
palavras passaram a representar um total de 20.312, das quais 8.172 foram
consideradas analisáveis; e 49, instrumentais.
Em seguida, a análise hierárquica das palavras reteve 830 UCEs, das 1.325
presentes no corpus, ou seja, foram consideradas para este fim 63% das UCEs
existentes, originando cinco classes de segmentos (UCEs) de texto diferentes entre
si, o que está demonstrado na Figura 1, sob a forma de dendograma.
Classification
----|----|----|----|----|----|----|----|----|----|
Cl. 1 (121 uce) |--------------+
14 |--------------+
Cl. 3 (68 uce) |--------------+ |
18 |----------------+
Cl. 5 (227 uce) |-----------------------------+ |
19 |+
Cl. 2 (178 uce) |-----------------+ |
6.
|----------------------------+
Cl. 4 (236uce) |-----------------+
Fig.1: Dendograma da Classificção Hierárquica Descendente das Palavras.
A classe um compreende palavras de Atitudes e sentimentos frente ao
paciente com aids, que representa 121 UCEs e corresponde a 14.58% das UCEs
retidas, sendo selecionadas 168 palavras.
O perfil que delineia essa classe compreende palavras que nos permitem a
seguinte elaboração: cuidar de um paciente com aids, considerada uma doença
grave, que também pode estar acometido por tuberculose, envolve o fazer com
dificuldades em consequência da inexperiência que gera medo e nervosismo de
se infectar”.
46
A construção dessa classe assinala a participação dos estudantes do Curso
de Licenciatura em Medicina diante das demais áreas participantes. Essa classe
apresenta significados da vivência do estudante durante a formação frente ao
paciente com aids. Observa-se que a dinâmica do fazer para adquirir experiência,
diante da gravidade atribuída à doença, resulta em conflitos nesse fazer,
observados nos exemplos abaixo:
[…] um bocadinho mais nervoso […] assustada
[…] muito aflita […] momento eu sinto dificuldade
[…] sentiria medo […] receio […] não tinha
segurança […] assustada […]
O medo dos estudantes de serem infectados pelo HIV aponta uma
inexperiência diante de paciente com aids, que coloca a percepção do risco
implicando em formas de aprimoramento e/ou crescimento pessoal
(13)
. Esses
sentimentos conflituosos reforçam a relação com a percepção e sensiblidade,
resultante da apreensão de processos vivenciados pelos estudantes nas suas
interações cotidianas e que devem ser valorizadas durante a formação profissional.
Para Miranzi
(14)
, novas estratégias, bem como o ensino formal em medidas
de biossegurança, podem permitir o alargamento do espaço do aprender a partir das
informações oriundas das experiências concretas, em que a prevenção da
exposição ocupacional depende da educação e favorece melhorias em muitos
campos do conhecimento, atitudes e práticas.
A adoção de medidas de biossegurança nas atividades profissionais tem sido
um grande desafio para o trabalho em saúde. Para alguns autores
(15)
, aceitação
entre os profissionais das normas de biossegurança, contudo, as mesmas ainda não
permeiam com a mesma intensidade o exercício clínico, em que diferentes valores
são atribuídos ao risco de contágio, considerando a categoria profissional, a
atividade realizada e o tempo de atendimento a pacientes de risco. Nessa
perspectiva, compreender a subjetividade dos fatos e das pessoas como elementos
construtores e construídos possibilita que profissionais e comunidade possam atuar
na sua configuração.
A classe dois é delineada por palavras de Aspectos clínícos e sociais da
aids
, composta por 178 UCEs, equivalente a 21.45% das UCEs analisadas, com
203 palavras selecionadas.
47
As características das UCEs dessa classe estão vinculadas a um
conhecimento construído sobre a aids como doença causada por vírus, que
afeta o sistema imunitário, podendo evoluir para infecções consideradas
oportunistas e, por não haver cura, compromete a qualidade de vida e outros
aspectos sociais do soropositivo.
O fato de ainda não ter sido descoberta a sua cura de certa forma influencia
significados atribuídos à aids e ao risco de contágio pelo HIV. Devido à característica
da natureza das representações ser passivel de mudanças
(16)
, esses significados
podem ser modificados ao longo dos avanços científicos na descoberta da cura da
doença.
Os significados atribuídos à aids associada ao medo e dificuldades, vêm
sendo manifestados ao longo da evolução da epidemia
(11,17,18)
, reforçando o caráter
histórico da noção de contágio também associado a reações de medo
(19)
.
Os avanços na terapêutica antiretroviral e os conhecimentos científicos sobre
a doença ainda não m se apresentado suficientes para minimizar esses
sentimentos. Esses conflitos permanecem colocando a aids em cenários
epidemiológicos decorrentes dos diferentes significados atribuídos à doença a
despeito de outras consideradas com risco de contágio mais significativo, após
exposição, a exemplo da Hepatite pelo vírus B.
Na classe três caracterizada por Posicionamentos frente a Aids, incluem-
se 125 palavras selecionadas. É composta por 68 UCEs, ou seja, 8.19 % das UCEs
analisadas.
A construção dessa classe representa significados atribuídos pelos três
segmentos da área de saúde contemplados no estudo, com contribuições que
merecem registros dos estudantes do Curso de Licenciatura de Medicina Dentária.
O perfil das palavras que delineiam essa classe permite a construção de que
a aids está sendo considerada como doença crônica e, apesar de indivíduo
contaminado ser visto como pessoa normal, que necessita de ajuda, ainda sofre
discriminação e provoca o medo entre os estudantes das faculdades.
A cronicidade atribuída à doença associada a uma pessoa normal àquela
infectada pelo HIV-pode ser considerada como resposta aos resultados à terapia
antiretroviral que tem contribuído para o aumento do prognóstico e a qualidade de
vida dos portadores do HIV e pacientes com AIDS
(20,21)
.
48
Porém, o normal atribuído pelos estudantes a quem está contaminado pelo
HIV, deixa clara a complexa delimitação da fronteira entre a saúde e doença, uma
vez que envolve flexibilidade de norma estabelecida, que pode ser alterada diante
de avaliações realizadas pelo indivíduo que sofre as consequências de situações
impostas
(22)
.
Ser portador do HIV ou doente com AIDS o situações em que podemos
considerar o normal e o patológico como condições distintas dentro de uma norma
biológica estabelecida, uma vez que ambas podem ser geradoras de situações
sociais impostas para esses indivíduos, diante da discriminação e medo atribuídos à
aids pelos estudantes.
A classe quatro reflete Fatores de risco e concentra 236 UCEs referentes a
28.43% das UCEs, com um total de 197 palavras selecionadas. Trata-se do contexto
temático mais contributivo em relação às demais classes (ver Figura 1) tendo a sua
construção realizada principalmente pelos participantes do Curso de Licenciatura em
Enfermagem.
Esse contexto temático está principalmente associado às “pessoas”, que se
apresentam em contextos distintos onde o risco de contágio envolve dimensões
complexas e específicas, que abrangem sentimentos de invulnerabilidade
apresentados nas falas dos estudantes destacadas a seguir:
[...] pessoas acham que acontece aos outros […]
pessoas que apanham e não têm consciência […]
pessoas não estão informadas […] confiam nas pessoas
com quem estão [...] negligencia das pessoas […].
O risco de contágio pelo HIV, associado às pessoas pelos estudantes,
materializa-se em dimensões mais amplas, quando o comportamento de risco,
atribuído a prostituição, toxicodependência e sexo, que contribuem para o risco
de contágio pelo HIV, no caso da realidade em Portugal, resulta de práticas e
comportamentos que dependem das pessoas” com suas complexidades e
escolhas. Teixeira
(23)
considera que a percepção do risco depende de informações
recebidas e escolha em qual tipo acreditar, além das experiências sociais vividas e a
visão de mundo de cada indivíduo.
49
No contexto da formação profissional vivido pelos estudantes, o sentido de
risco também pode envolver escolhas quanto ao uso ou não de medidas de
biossegurança diante da possibilidade de contágio pelo HIV, principalmente
determinada por aspectos simbólicos atribuídos ao HIV e aids, que podem reforçar
uma valorização na escolha desse uso.
Considerando esse aspecto, estudo realizado em 1999, envolvendo a
população portuguesa, resultou na consideração das principais razões para se temer
a aids: o fato de ser uma doença grave e incurável e por apresentar riscos
significativos no serviço de saúde
(24)
.
A informação, como segundo fator mais contributivo nessa classe referente
ao risco de disseminação do vírus, permite-nos identificar uma ambivalência nas
dimensões das falas dos participantes, quando ora falta de informação”, ora “há
bastante informação”, além de uma “informação que não é captada” e “muitas têm
informação e no entanto se encontram no risco.
Essa ambivalência de significados atribuídos à informação nos remete para o
início da epidemia, quando foi apontada como a responsável por distorções e
contradições dos doentes com aids, tanto na realidade brasileira
(11)
como na
portuguesa
(5)
.
A evolução da epidemia proporcionou que a abordagem da informação sobre
a aids fosse se modificando em Portugal. De uma prática discursiva inicial de caráter
sensacionalista de alarme, medo e discriminação, surge um discurso centrado nas
políticas de prevenção e na informação, como estratégias para impedir a
propagação da doença, além dos discursos oriundos da ciência em desenvolvimento
(25)
.
Embora a informação seja considerada como um instrumento importante para
a prevenção da doença
(26)
, acreditamos que somente em si não garanta mudanças
de comportamento necessárias para a sua prevenção e controle. Definir condutas e
ações para reduzir o risco de contágio pelo HIV, como o uso de medidas de
biossegurança estabelecidas em manuais e estratégias de capacitação de
profissionais, faz-nos inferir que o uso dessas medidas depende também do
contexto em que a percepção do risco está sendo confrontada e manifestada no
estudante e na sua capacidade de articular a sua ação como sujeito social para o
uso dessas medidas.
50
A classe cinco, representada por Medidas de Biossegurança é composta
por 19 UCEs, correspondente a 27.35% UCEs classificadas e 183 palavras
selecionadas, tendo na sua construção a participação significativa dos estudantes do
Curso de Licenciatura em Medicina Dentária.
Nessa classe, o cuidado, o doente e as luvas foram as principais dimensões
atribuídas pelos estudantes. O cuidado direcionado principalmente para agulha e
sangue, além de objetos cortantes, fluidos e feridas que representam os
principais riscos para o contágio do HIV nas dimensões e particularidades
vivenciadas pelos estudantes durante a formação profissional.
O significado atribuído ao cuidado nessa classe envolve a busca de um
autocontrole de movimentos e de valorização da atenção, que se definem nos
segmentos das falas dos estudantes abaixo destacadas:
[…] mais atenta […] com mais precaução […] ter
mais cuidado na manipulação […] temos sempre
atenção […] ter mais atenção com os movimentos
[...] ter mais cuidado quando sabe que é sida […]
quando vamos puncionar temos mais cuidado […]
já sabemos que pode haver contagio, temos que ter
mais cuidado com isso […]
Apreender o significado desse cuidado no contexto da aids é situá-lo em
relação a uma proteção individual de quem cuida, atribuída principalmente ao uso
de luvas, seguido da máscara, avental, óculos e touca.
O cuidado diz respeito à proteção da própria vida de quem cuida, porém o
deve ser desvinculado do cuidado na manutenção da vida do outro que é cuidado;
ambos contextos desse cuidado devem se complementar e se configurar como
objeto que dá sentido à prática de cada profissional a ser formado.
Para Souza
(27)
, os temas vinculados às medidas de biossegurança são
explorados em disciplinas curriculares específicas, por vezes trabalhados
isoladamente, favorecendo que os conteúdos não se configurem como princípio para
as práticas de saúde, de tal forma que o graduando não internaliza que a adoção de
tais medidas promove proteção para os profissionais, o paciente e o ambiente
.
51
Apesar de estudantes considerarem o doente como pessoa normal e se
referirem à aids como doença crônica, o cuidado apresenta dimensões de uma
certa incoerência com esses significados atribuídos, quando o tipo de doente implica
em cuidado extra, como o uso de dois pares de luvas.
A valorização desse cuidado extra envolve o medo de um contágio pelo HIV
durante a prestação de cuidado ao doente, por não haver cura e comprometer a
qualidade de vida das pessoas acometidas, decorrente das infecções
oportunistas e discriminações sofridas. Esse valor pode não ser atribuído ao
cuidado prestado a outros tipos de doentes, uma vez que o lhes é atribuída a
necessidade de um cuidado extra.
A manifestação desse medo nos estudantes portugueses não é uma
realidade diferenciada da brasileira. Estudos apontam a manifestação desse
sentimento em estudantes e profissionais deste país ao longo da evolução da
epidemia
(11,28)
.
Com efeito, para Arruda
(29)
,as representações mostram-se articuladoras de
uma interdisciplinaridade inevitável para permitir aos estudiosos uma aproximação
mais feliz ao seu objeto de estudo” e, assim, pensar os significados atribuídos por
estudantes ao risco de contágio pelo HIV no uso de medidas de biossegurança
torna-se relevante, especialmente ao articular os significados à interdisciplinaridade,
é conhecer o modo amplo em perceber o risco de contágio pelo HIV.
Dessa forma, a possibilidade da realização de uma prática que atenda à
integralidade, reforça o estabelecimento de estratégias de aprendizagem que tragam
o diálogo, a transdisciplinaridade entre os diferentes saberes na perspectiva de
favorecer em nível individual e coletivo, as ações de promoção de saúde
(30)
.
Acreditamos que perseverando na identificação e implementação de
abordagens pedagógicas que valorizem experiências de interações e vivências nos
mais diversos contextos sociais e culturais dos estudantes em relação à aids, poder-
se à contribuir para o aporte de novas informações, novos olhares, experiências e
fundamentações científico-tecnológicas.
5. CONCLUSÕES
As representações atribuídas ao risco de contágio pelo HIV por estudantes
universitários portugueses, que podem refletir no uso das medidas de biossegurança
52
ao cuidar de um paciente com aids, são permeados pelo medo, receio, nervosismo e
dificuldades, emanados de diferentes realidades vividas pelo estudante diante de
uma doença considerada crônica, sem cura e que compromete a qualidade de vida
das pessoas acometidas, em diferentes aspectos: biológicos, sociais e psicológicos.
O medo de um possível contágio pelo HIV, de vivenciar as consequências das
manifestações clínicas e de sentimentos de discriminação que a doença ainda
provoca no imaginário coletivo, além de ainda não ter sido descoberta a sua cura
tornam a aids uma doença que gera uma certa atenção e uma cautela mais
significativa para a proteção a ser adotada pelo uso de medidas de biossegurança.
Essas representações influenciam cada estudante na interação com o paciente e na
valorização dessas medidas, principalmente no uso de luvas.
O uso de medidas de biossegurança no contexto da aids não deve ser
refletido por cuidado extra, atribuído a significados que colocam essa doença em
destaque em relação às demais doenças infecto-contagiosas, desconsiderando os
avanços científicos que retardam a sua evolução.
Os significados atribuídos à doença e os sentimentos de conflitos que
influenciam no uso de medidas de biossegurança nos remetem para a
responsabilidade de instituições formadoras do profissional de saúde de
contemplarem nos seus currículos a subjetividade que permeia essa prática para o
exercício profissional.
A compreensão pela instituição formadora dos significados atribuídos ao HIV
e aids, originados das interações vividas pelos estudantes nos diversos âmbitos
sociais, e a valorização desses significados no processo ensino-aprendizagem
devem ser assumidos como um instrumento norteador para a formação do
profissional de saúde.
A sala de aula é um espaço valioso para discutirem-se esses significados,
porém essas discussões não devem se restringir-se ao propósito de promoção de
níveis altos de conhecimentos técnicos e científicos sobre patologias e desvalorizar
um patrimônio de experiências coletivas gerado no cotidiano de cada estudante. Não
podemos deixar de considerar que, além da formação técnica, existe necessidade
de uma formação política e cultural do profissional para mediar o acesso ao objeto
de sua área de atuação que é o doente – no caso aqui enfatizado, aquele acometido
por aids atribuíndo-lhe significados como pessoa normal, que necessita de ajuda
53
como qualquer ser humano que vivencia contextos de discriminação e de limitações
para qualidade de vida.
Perseverando-se na identificação e implementação de abordagens
pedagógicas que valorizem experiências de interações e de vivências nos mais
diversos contextos sociais e culturais dos estudantes, refletindo sobre o cuidar de
paciente e sobre o uso de medidas de biossegurança, poder-se-á contribuir para o
aporte de novas informações, novos olhares, experiências e fundamentações
científico-tecnológicas em relação a aids.
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em união estável. Rev Saúde Pública 2008;42(2):242-8
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56
APÊNDICE B
CUIDADO PARA O PACIENTE COM AIDS: significados atribuídos no contexto da
formação do enfermeiro
1
Valeria Peixoto BEZERRA, docente da UFPB e doutoranda da UFRN
Maria Filomena Mendes GASPAR, docente e diretora da ESEMFR, Lisboa-Portugal
Antonia Oliveira SILVA, docente da UFPB e coordenadora do projeto
Maria do Socorro Costa Feitosa ALVES, docente da UFRN e orientadora do doutorado
Resumo
Estudo realizado com 168 estudantes universitários portugueses do curso de enfermagem,
tendo como objetivo: identificar as representações sociais da prestação de cuidados ao
paciente com aids, buscando compreender no uso das medidas de biossegurança. Para coleta e
tratamento dos dados foi utilizado um Teste da Associação Livre de Palavras, com um termo
indutor de resposta e submetido ao programa software SPAD-T com AFCS. A maioria dos
participantes são do sexo feminino, com idade entre 21 e 25 anos.As palavras mais evocadas
refletem o cuidado com proteção (94), apoio (43),cuidado (41), prevenção (35) e medo. O F1
explica o cuidado pelo apoio e respeito, embora o medo e discriminação estejam presentes. O
F2 reflete a discriminação, medo e apoio em oposto a não discriminar, cuidado e proteção. Os
resultados apontam para as instituições formadoras contemplarem nos currículos, a
subjetividade própria da prática do cuidar do paciente com aids que caracteriza a essencia da
profissão.
Palavras chaves: Aids,Representação Social, Cuidado
Abstract
Study of 168 portuguese university students of nursing, with the aim: to identify the social
representations of care to patients with AIDS, seeking to understand the use of bio-security
measures. For collection and processing of data was used a test of free association of words
with a word of response inducer and subjected to the software SPAD-T with AFCS. Most
participants were female, aged between 21 and 25 raised more anos.As words reflect the care
with protection (94), support (43), care (41), prevention (35) and fear. The F1 explains the
care the support and respect, but fear and discrimination are present. The F2 reflects the
discrimination, fear and support as opposed to non-discrimination, care and protection. The
results point to the educational institutions included in curricula, the subjectivity of the
practice of caring for the patient with AIDS that characterizes the essence of the profession.
Key Words: Sida; Social Representation; Care
1
Projeto de Cooperação Internacional «Migração e Saúde em Contextos Português e
Brasileiro» financiado pela CAPES/ Ministério da Educação do Brasil.
57
1 INTRODUÇÃO
O advento da aids permanece causando reações individuais, grupos sociais, culturais,
econômicas, políticos e institucionais. Algumas dessas reações são resultantes de
conhecimentos construídos ao longo da evolução da epidemia e envolve atribuição de valores
às pessoas contaminadas pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), que geram
discriminação e estigmas. Os primeiros casos da doença em Portugal e no Brasil causaram
impacto, sobretudo no imaginário coletivo, onde os meios de comunicação contribuíram para
as mais variadas interpretações e distorções, associando a doença com a homossexualidade,
gravidade e morte
1
. A doença avança nesse país em número de casos, com predominância em
usuário de drogas injetáveis
2
, permanecendo um desafio para as autoridades e sociedade
portuguesa, quando os extraordinários avanços do conhecimento científico da infecção o
têm sido efetivos em solucionar os problemas que cada indivíduo e comunidade apresenta e
não têm garantido a prevenção da infecção pelo HIV/AIDS.
A epidemia tem exigido um aprendizado contínuo da sociedade em matéria de
informação, o que também não tem sido suficiente para mudar comportamentos e crenças no
controle da doença e na contribuição para melhorias na qualidade de vida dos soropositivos
do HIV. Entre as diversas contribuições possíveis para mudar realidades vividas, enfatizamos
o cuidar de pacientes com aids como atividade do enfermeiro profissional de saúde que se
encontra inserido em contexto social e pode ser influenciado pelos diferentes meios de
comunicação, seja de senso comum ou técnico-científico.
Prestar cuidados ao paciente com aids significa o enfermeiro descartar-se do medo e
evitar preconceito, crenças e certos valores que podem interferir na sua interação com o
paciente. Porém, ao deparar com esse doente, o enfermeiro tende a apresentar dificuldades em
58
prestar cuidados, quando o medo de ser contaminado pelo vírus pode gerar comportamentos
de rejeição e de insegurança diante do soropositivo, resultando em maior valorização do uso
de medidas de biossegurança adotadas pelo profissional.
Essa valorização se materializa na utilização de dois pares de luvas e em maior
atenção, ao se realizar o cuidar do paciente com aids, comportamentos que geralmente não
são observados diante de outro paciente não portador do vírus.
O cuidar do paciente com aids apresenta perspectivas complexas que extrapolam
conhecimentos da formação específica do profissional, a exemplo do medo e preconceito,
impedindo relacionamentos no cuidar
3
.
No contexto dessa formação, os significados atribuídos à doença pelos estudantes de
Enfermagem, resultando no estabelecimentos de limites na prestação de cuidados para o
paciente, refletidos principalmente pelas representações sociais, podem evoluir para uma
dimensão ainda mais enraizada no exercício profissional e determinar possibilidades e limites
de respostas às questões complexas que envolvem o HIV e a aids.
Nessa perspectiva, as representações sociais relativas ao cuidado, elaboradas pelos
estudantes de Enfermagem, podem ser amplas e distintas, estando esta diferença relacionada
com as vivências, crenças e valores apreendidos do sistema social e ideológico, no qual eles
se encontram inseridos, e podem implicar a eficácia de procedimentos e interações durante o
cuidar.
A representação social destaca-se no contexto da aids como imagem e linguagem que
simboliza atos e situações
4
, se considerarmos a forma como os primeiros casos da doença
penetraram na consciência mundial e geraram distorções e comportamentos que não
contribuíram para diminuir o avanço da doença. Neste sentido, as instituições formadoras do
profissional devem reconhecer as dimensões sociais de comportamentos profundamente
enraizados sobre a aids nos estudantes. Tais comportamentos são passíveis de ser modificados
59
com formulações de estratégias compreensivas dessa realidade, as quais nos remetem às
representações sociais.
Baseado no exposto, o presente estudo possui como objetivo o de identificar as
representações sociais da prestação de cuidados ao paciente com aids, construídas por
estudantes universitários de enfermagem, buscando compreender a sua influência no
desempenho dessa prática subsidiada pela Teoria das Representações Sociais.
2. PERCURSO METODOLOGICO
Estudo exploratório com abordagem qualitativa, teve como campo de investigação o
Curso de Licenciatura de uma Escola Superior de Enfermagem Pública localizada em Lisboa
( Portugal).
A população composta por 215 estudantes de ambos os sexos, matriculados do 2º ao 4º
ano do curso, teve como amostra 168 participantes. Estes representam 78% (168) do total e
atenderam aos critérios de inclusão no estudo, como: ser de nacionalidade portuguesa, estar
cursando disciplinas com atividades teórico-práticas em serviços de saúde e de concordar em
participar do presente estudo.
Os dados foram coletados durante o período de fevereiro a abril de 2007, após
autorização concedida pela Escola mediante o Pedido de Colaboração aos Participantes,
anexado ao instrumento, constituído por dados de variaveis sócio-demográficas e do Teste de
Associação Livre de Palavras. O teste abrangeu um estímulo indutor de resposta, referente:
quando penso na prestação de cuidado ao doente com SIDA, lembro-me de .
Em data agendada com cada coordenador de estudo clínico, a pesquisadora
compareceu à sala de aula e, após a apresentações pessoal, a do tema,a dos objetivos e
metodologia, convidou os estudantes presentes a participarem do estudo. O convite se
consolidou ao responderem e entregarem-lhe diretamente o referido o instrumento.
60
Os dados coletados foram submetidos ao programa informático SPAD-T (Système
Portable pour l’Analyse des Donnés Textuelles), que permitiu a utilização da técnica de
análise qualitativa: Análise Fatorial de Correspondência Simples (AFCS) .
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS
4.1 Caracterização da amostra
Dentre os 168 estudantes que constituíram a amostra do estudo, 151 (90%) foram do
sexo feminino e 17 (10%) do sexo masculino. A maioria (79%) dos participantes pertenceu à
faixa etária entre os 21 e os 25 anos, seguido de 31 participantes (18%) com menos de 20 anos
e 4 (3%) com mais de 26 anos.
4.2 Resultados da Análise Fatorial de Correspondências Simples (AFCS)
O quadro 1 expõe as palavras de maior frequencia de evocação, resultantes do
estímulo apresentado: Quando penso na prestação de cuidado ao doente com aids lembro-me
de. Ocorreram 726 palavras (19 % delas foram distintas) e retiveram-se 504 palavras (18
palavras distintas retidas) com uma frequência mínima de 10 ocorrências. Neste sentido, o
cuidado na visão dos estudantes envolve proteção e apoio implicando em cuidado, sem
negligenciar a prevenção, embora o medo se faça presente.
Quadro 1- Evocações ao estímulo. “…na prestação de cuidados ao doente com SIDA
lembro-me de…” n=168
Palavras Frequência
Proteção
Apoio
Cuidado
Prevenção
Medo
Informação
Compreensão
94
43
41
35
34
31
31
61
Respeito
Contágio
Risco
Precaução
Luva
Igualdade
Empatia
Ajuda
Discriminação
Humanização
Não Discriminar
29
27
25
18
17
17
16
13
12
11
10
A protecão no contexto do cuidar do paciente implica a utilização de Equipamento de
Proteção Individual, ao realizarem-se procedimentos, a exemplo do emprego de luvas,
máscaras e protetores oculares
5
.
A adoção desses equipamentos é recomendada para todos os pacientes, independente
da sua condição sorológica; porém, uma maior tendência em sua valorização feita pelo
profissional no contexto da aids, a exemplo da prática do uso de duas luvas ao realizar certos
procedimentos nesse tipo de paciente, conduta geralmente não adotada para aquele acometido
por outra patologia.
O medo que se faz presente ao contato com esse tipo de usuário, põe o estudante em
confronto com os conhecimentos do senso comum e do técnico-científico, simbolizado pelo
tipo e uso de uma proteção, que pode ser adequada ou inadequada para o cuidado a ser
prestado naquele momento.
O quadro 2 demonstra o resultado isolado dos fatores, quanto ao estímulo dado em que
o F1 caracteriza-se pelo apoio na prestação de cuidado ao doente com aids e a discriminação
no F2 se faz representar.
62
O Fator 1 explica a prestação do cuidado pelo apoio (38,4) e respeito (6,1) com o pólo
negativo, a presença do medo (14,3) e a discriminação (10,2), refletindo sobre precaução
(5,7) e um cuidado (5.1).
Quadro 2 - AFC-Simples
Estímulo “…na prestação de Cuidado ao doente com SIDA lembro-me de…”
n=168
Fatores
Coordenadas (+)
Contribuições
absolutas
Coordenadas (-)
Contribuições absolutas
F1
Apoio
Apoio (38.4)
Respeito (6.1)
Medo (14.3)
Discriminação (10.2)
Precaução (5.7)
Cuidado (5.1)
F2
Discriminação
Discriminação (37.0)
Medo (16.7)
Apoio (5.4)
Não discriminação (13.7)
Cuidado (9.5)
Proteção (6.4)
F3
Apoio
Apoio (25.1)
Cuidado (11.3)
Empatia (7.1)
Informação (18.0)
Igualdade (7.5)
Prevenção (6.8)
Respeito (5.1)
No Fator 2 aponta a palavra discriminação (37,0) fomentada pelo medo (16,7) sem
desvalorizar o apoio (5,4) a ser dado na prestação de cuidado ao paciente. Assim, podemos
dizer que o cuidado para o paciente com aids se caracteriza por conflitos emanados de
diferentes realidades vividas pelo estudante, quando o medo pode influenciar a manifestação
de discriminação ou de um apoio, que dependem da maneira como cada estudante torna
significativo o cuidado, como o medo é vivido e como pode refletir na interação com o
paciente.
A manifestação desse medo nos estudantes portugueses não é uma realidade
diferenciada da brasileira, quando estudos apontam a manifestação desse sentimento em
estudantes e profissionais a qual ocorre desde o início da epidemia e ainda permanece durante
a sua evolução
6-7
.
63
Em oposição ao pólo positivo do F2, temos a não discriminação (13.7) envolvendo
um cuidado (9,5) e uma proteção (6,4), que caracterizam a formação profissional do
estudante, principalmente no contexto da área de doenças infecto-contagiosas. Porém, o medo
de um possível contágio do HIV e o de vir a vivenciar as consequências das manifestações de
sentimento de discriminação que a doença ainda provoca no imaginário coletivo, além de
ainda não ter sido descoberta a sua cura, tornam a aids uma doença que gera uma certa
atenção e uma cautela mais significativa para a proteção a ser adotada pelo estudante.
Em relação ao Fator 3, podemos afirmar que o apoio (25,1) caracteriza um cuidado
(11,3) envolvido pela empatia (7,1). O polo negativo no mesmo fator tem a informação
(18,0) que deve ter igualdade de acesso (7,5) com o intuito de contribuir para a eficácia da
prevenção (6,8) e respeito (5,1) ao doente.
A informação atribuída pelos estudantes para o cuidado, nos faz refletir na sua eficácia
diante da sua inadequação a modelos clássicos em garantir mudanças de comportamento no
contexto da aids
1-8
.
A Figura 1 demonstra a extração dos fatores ou universo semântico das palavras
evocadas enquanto variaveis qualitativas realizadas pela Análise Fatorial de Correspondência
Simples (AFC) referente ao estímulo dado aos estudantes.
Gráfico 1– AFC das palavras associadas: a prestação de cuidado ao doente com SIDA,
lembro-me de ... (eixos 1 e 2)
1.774 ------------------------discriminacao---------------------------------------------------------
1.653 | | |
1.413 | | |
1.353 | | |
1.293 | | |
1.172 | medo | |
.932 | | |
.812 | | |
.752 | | |
.631 | | |
.571 | | apoio
.511 | | respeito |
.451 | | prevencao |
.391 | | |
.331 | | |
.271 | | |
.210 | | empatia |
.150 | | |
.090 | |
.030 ----------------------------contagiorisco-+----------------------------------------------------
64
-.030 | | compreensao |
-.090 | | |
-.150 | | igualdade
-.210 | ajuda humanizacao
-.271 | | informacao |
-.331 | | |
-.391 | proteccao |
-.451 | | |
-.511 | precaucaluva | |
-.571 | | |
-.631 | | |
-.752 | cuidado | |
-.812 | | |
-.932 | | |
-1.172 | | |
-1.293 | | |
-1.353 | | |
-1.473 | | |
-1.653 | | |
-1.774 ----------------------------------------nao_discriminar-----------------------------------------
Na representação do gráfico1, observa-se que o contágio e o risco ocupam uma
posição central na prestação de cuidado ao paciente com aids envolvido por medo e
discriminação.
A noção de contágio historicamente associada à reação de medo
9
, extrapola aspectos
biológicos que caracterizam a epidemia da aids e toma proporções amplas e complexas no
imaginário social. Estas desrespeitam direitos básicos daqueles que são atingidos pela doença.
A atribuição de significados ao cuidado para com esses pacientes, envolvendo
empatia, respeito, apoio, compreensão, igualdade, humanização, sem negligenciar a
prevenção, e valorizando a informação para a não discriminação, demontrados nos quadrantes
direito (superior e inferior), reflete um despontar em mudanças no espaço em que a doença
ainda provoca o medo e não legitima o profissional que cuida.
Como enfermeiros somos chamados a humanizar o cuidado e a ser humanista
10
,
porém, no contexto aids, esse cuidado exige uma profundidade em compreender o processo da
doença e suas implicações em diferentes aspectos biopsicossocial e espiritual, o que faz o
profissional torna-se uma pessoa mais plena. A construção simbólica do cuidado, em
discriminar ou não discriminar o doente com aids, resulta de um processo alicerçado e
65
alimentado nos espaços das vivências e interações ao longo do cotidiano e da formação
profissional de cada estudante.
Estudo realizado com 970 entrevistados na população portuguesa, abordando a opinião
de atitudes sociais a respeito de pessoas com HIV/AIDS, apresentou um resultado de 38% dos
respondentes que concordaram com um total ou algum tipo de isolamento dessas pessoas
11
.
Isolar consiste em afastar do convívio social, conduta que, ao ser adotada para aqueles
portadores ou acometidos pela doença, fortalece uma compreensão de falsas crenças, em
relação ao contágio do HIV. A adesão do profissional ao uso dessas crenças em se relacionar
com o doente, envolve o engajamento de articulações em dimensões psicológicas e sociais
8
.
5. CONCLUSÕES
As representações atribuídas ao cuidado para com o paciente acometido por aids,
como apoio, respeito, empatia, igualdade e humanização, são permeadas por discriminação e
medo, refletindo conflitos e dilemas para quem cuida.
Os sentimentos de antagônismo atribuídos ao cuidado, nos remetem para a
responsabilidade de instituições formadoras do enfermeiro, no sentido de contemplarem nos
seus currículos a subjetividade própria dessa prática que caracteriza a essência da profissão.
O cuidado para com o paciente acometido por essa doença não deve ser munido de
defesa de quem cuida contra um perigo refletido de significados de valores e contagiosidade
atribuídos aquele que é atingido e traduzido por meio de julgamentos, que o tornam
“diferente” daquele acometido por outra doença infecto-contagiosa.
No contexto acadêmico, ainda se observa as instituições formadoras empenhar no
propósito de promover veis altos de conhecimentos técnicos e científicos sobre patologias e
desconsiderar a dimensão subjetiva do ser humano que cuida e daquele que é cuidado,
66
independente da área de conhecimento que o enfermeiro irá atuar no exercício da profissão. A
instituição avançaria na formação de um profissional mais pleno, se acolhesse os
conhecimentos que o estudante traz do seu cotidiano e que são resultados de interações e de
vivências nos mais diversos contextos sociais.
Não queremos enveredar pelos campos da Educação e do currículo da instituição
formadora; porém acreditamos que a oportunidade concedida ao estudante para explorar e
questionar sua própria vida e realidade, experimentando processos de capacitação e
transformação em aspectos sociais e culturais, pode ser um caminhar no sentido de
compreender e contribuir com respostas efetivas à qualidade de vida dos pacientes acometidos
por doenças ainda estigmatizantes, a exemplo da aids.
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1978.
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sentidos.Natal:EDUFRN,1998.p.121-154.
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Representações Sociais: à busca de sentidos. Natal: EDUFRN,1998. p. 17-46
67
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epidemiológico. Rio de Janeiro.FIOCRUZ,1997. 123 p.
(10) Pinto SMF, Silva Flórido ACM da. Cuidar com dignidade. Nursing. Revista de
Formação Continuada em Enfermagem. Lisboa (PT) 2005; 195:20-26.
(11) Fausto A, Carla F, Maria Elizabete P, Louise CT. HIV/AIDS risk perception, attitudes
and sexual behaviour in Portugal. Internacional Journal of STD & AIDS 2004;15:56-60
68
APÊNDICE C
INSTRUÇÕES PARA O TESTE DE ASSOCIAÇÃO LIVRE DE PALAVRAS – TALP
Este teste é constituído por 6 questões em forma de “palavra estímulo”, que visam
obter expressões ou palavras associadas aos mesmos. Assim, para cada um deles
deve escrever 5 respostas que siga o critério estabelecido. Como sabe, o existem
respostas certas ou erradas. O importante é que responda rapidamente a todas as
questões solicitadas e marque com um X a mais importante para si.
Tome como exemplo o seguinte estímulo: quando penso em férias lembro-me de:
Calor
Mar
Sol X
Céu Limpo
Artesanato
a– Quando penso em « HIV/SIDA», lembro – me de:
1. _________________________________
2. __________________________________
3. __________________________________
4. __________________________________
5. __________________________________
Assinale com um X a palavra que considera mais importante
.
B – Para mim o que « as outras pessoas pensam sobre HIV/SIDA»,faz-me lembrar :
1._________________________________
2. __________________________________
3. __________________________________
4. __________________________________
5. __________________________________
Assinale com um X a palavra que considera mais importante
c – Quando penso na prestação de «Cuidados» ao doente com SIDA, lembro-me
de:
1. _________________________________
2. __________________________________
3. __________________________________
69
4. __________________________________
5. __________________________________
Assinale com um X a palavra que considera mais importante
d – Quando penso em «Risco de contágio» face ao doente com SIDA, lembro-me
de:
1._________________________________
2.__________________________________
3.__________________________________
4.__________________________________
5._________________________________
Assinale com um X a palavra que considera mais importante
e –Quando penso em « Medidas de Biossegurança», lembro-me de:
1.________________________________
2.________________________________
3.__________________________________
4.__________________________________
5.__________________________________
Assinale com um X a palavra que considera mais importante
f – Quando penso em «Contágio do HIV», lembro-me de:
1.__________________________________
2.__________________________________
3.__________________________________
4.__________________________________
5.__________________________________
Assinale com um X a palavra que considera mais importante
70
APÊNDICE D
QUESTIONÁRIO
PRIMEIRA PARTE
Idade: Sexo:
Naturalidade:
Curso: Ano do Curso.
SEGUNDA PARTE
1 – No que se refere a seu posicionamento sobre a doença «HIV/AIDS». Assinale
com um (X) a sua opção, por grau de importância:
( ) Nada importante (1) ( ) Pouco importante (2)
( ) Relativamente importante (3) ( ) Muito importante (4)
( ) Muitíssimo importante (5)
2 – No que se refere a «prestação de cuidados ao portador de HIV e pacientes
com AIDS». Assinale com um círculo a sua opção, por grau de importância:
( ) Nada importante (1) ( ) Pouco importante (2)
( ) Relativamente importante (3) ( ) Muito importante (4)
( ) Muitíssimo importante (5)
3 – Relativamente ao «Risco de Contágio para HIV/AIDS». Assinale com um
círculo a sua opção, por grau de importância:
( ) Nada importante (1) ( ) Pouco importante (2)
( ) Relativamente importante (3) ( ) Muito importante (4)
( ) Muitíssimo importante (5)
4 – Relativamente a adopção de «Medidas de Biossegurança». Assinale com um
círculo a sua opção, por grau de importância:
( ) Nada importante (1) ( ) Pouco importante (2)
( ) Relativamente importante (3) ( ) Muito importante (4)
( ) Muitíssimo importante (5)
71
APÊNDICE E
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Introdução
1-Agradecimentos
2- Pedido de autorização para gravar
3- Especificar o objectivo da entrevista
Questões
1 – Gostaria que me falasse sobre HIV e AIDS
2 – O que é para si um portador do HIV
3 – O que pensa que os seus colegas acham sobre o portador do HIV?
4 – Quais as causas que vc atribui a transmissão do HIV/AIDS?
5 O que pensa sobre a prestação de cuidados ao doente com AIDS? (dificuldades,
sentimentos, preparação…)?
6 Que medidas de biossegurança conhece para prestar cuidados ao doente com
AIDS?
Conclusão
Dar oportunidade para que o entrevistado possa fazer algum comentário final
72
6. REFERÊNCIAS
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das Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids. 3 ed. Brasília: Ministério da
Saúde;1999.
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adolescentes infectados e suas famílias. Rev. Fac. Psic. PUCRS 2004;35(1):79-88.
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Petropólis,RJ: Vozes;2004.
12. Spink MJP. Trópicos do discurso sobre risco: risco-aventura como metáfora na
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Representações Sociais. João Pessoa(PB): Editora Universitária UFPB, 2007.p.45-
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2001.224 p.
75
ABSTRACT
it is a qualitative approach study, which had as general objective, to analyze social
representations about the risk of contagion of HIV built by Portuguese university
students from the health area, pointing psychosocial aspects towards the adoption of
biosafety procedures. Data collection was done in the period of February to June
2007, with total participation of 486 medicine students, 168 of nursery and 70 of
Dental medicine. The students agreed in participate of the first phase of data
collection, constituted of a Free Association Test of Words with six inductors of
answers and a questionnaire. In the second phase, featured by a semi-structured
interview, 60 students, 20 of medicine, 24 of nursing and 16 of dental medicine. The
data collected was processed by the software SPAD-T AND ALCESTE and
discussed with theoretical support of the Theory of the Social Representations. The
results reveal social representations attributed to the HIV and aids through the words:
Virus, incurable, fear, toxic dependence, discrimination, suffering and death. When
thinking in the care with the patient, the students sign to do with difficulty and
inexperience, which generates nervousness and fear. Towards the risk of contagion
of the HIV, the participants associate the protection fear and blood, attributing
meaning to the procedures of biosafety by the protection with gloves and
preservative, influenced mainly for being an incurable disease and that causes
suffering and discrimination. The conclusions reveal that the social representation
attributed to the aids and the risk of contagion of the HIV strength the protection and
the care for the use of biosafety procedures. The comprehension of these meanings
in the learning-teaching process might be assumed as guideline instrument for the
formation of the professional of health by the responsible institutions.
Key Words: AIDS – Risk – Biosafety –Social Representation
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