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Regina lia Freitas Vilela
BIOLOGIA REPRODUTIVA E DIVERSIDADE GENÉTICA EM
JABUTICABEIRAS (Myrciaria spp., Myrtaceae)
Salvador/BA
2009
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Regina lia Freitas Vilela
BIOLOGIA REPRODUTIVA E DIVERSIDADE GENÉTICA EM
JABUTICABEIRAS (Myrciaria spp., Myrtaceae)
Dissertação apresentada ao Instituto de
Biologia da Universidade Federal da Bahia,
como parte dos requisitos para a obtenção de
Título de Mestre em Ecologia e
Biomonitoramento.
Orientador: Dr. José Geraldo de Aquino Assis
Co-orientadora: Dra. Blandina Felipe Viana
Salvador/BA
2009
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Vilela, Regina Célia Freitas
Biologia Reprodutiva e
Diversidade Genética de Jabuticabeiras
(Myrciaria spp., Myrtaceae).
84 páginas.
Dissertação de Mestrado -
Instituto de Biologia da Universidade
Federal da Bahia.
1. Myrciaria spp. 2. Ecologia
3.Sistema reprodutivo 4. Polinização
5. RAPD I. Universidade Federal da
Bahia. Instituto de Biologia.
Dedico esta dissertação ao meu filho João Pedro, a quem
tanto amo e que enche meus dias de alegria e novas
descobertas,
e a meu pai, José Aurélio Vilela (in memoriam), agrônomo
apaixonado pelas frutas brasileiras, que durante toda
sua vida coletou sementes de jabuticabeiras por todo o
Brasil e que hoje se tornaram meu objeto de pesquisa.
Por tudo que me ensinou durante toda sua vida e pelo
grande amigo e exemplo que foi para mim,
sempre.
Agradecimentos:
Ao prof. Dr. José Geraldo de Aquino Assis, que desde o primeiro momento
abraçou comigo este projeto, por acreditar no meu trabalho, pela dedicação
e por todo conhecimento que me fez adquirir.
À profª Dra. Blandina Felipe Viana, por aceitar ser co-orientadora neste
projeto e, com isso, enriquecer meu trabalho com seus ensinamentos e
sugestões.
Aos meus amigos da Bahia:
Fernanda Tosta Anjos, pela amizade sincera construída durante todo este
tempo, pelas inúmeras caronas e pelas aulas de “Bahia”.
Maria Cecília de L. e de Alencar Rocha e Camila M. Pigozzo, que me
ajudaram muito nos protocolos de extração de DNA e biologia floral
respectivamente. Sem vocês esta conquista teria sido muito mais difícil.
Não tenho como agradecer todo o carinho e atenção que vocês me deram!
Zafira E. da Rocha Gurgel, pela amizade e ajuda no laboratório no momento
de extração do DNA, a Cyntia Anjos e Anne Moreira Costa pela amizade e
convivência.
Elizabete Alves, João Paulo Loyola e Jaqueline Rosa, pelo companheirismo
demonstrado durante todo o curso e pela inesquecível aula de biologia floral
no Zoobotânico de Salvador.
Deraldo, pelos primeiros ensinamentos em extração de DNA e a todos do
Laboratório de Biologia Molecular da UFBA, pela infra-estrutura fornecida na
primeira fase do projeto.
Jussara, secretária do Programa de Mestrado, por toda a sua dedicação.
Aos meus amigos de Lavras:
Lamartine Nóbrega Filho, responsável pelo Laboratório de Genética
Molecular da UFLA, por todos os desafios que me ajudou a superar e,
principalmente, pela persistência e sabedoria.
Ao tio Walter e tia Beatriz, que me acolheram com carinho em sua casa em
Lavras e às primas Flaviani e Cristiani por todo o carinho recebido durante
essas visitas.
Márcia Ribeiro, por tudo que me ajudou e toda companhia que me fez nos
dias que passei na UFLA.
Silvia e Mariney, pelas longas conversas no laboratório de genética
molecular.
Prof. Dr. João Bosco dos Santos, da UFLA, pela disponibilização de materiais
e equipamentos do laboratório de genética molecular, sem os quais teria
sido impossível a finalização do meu trabalho.
E mais:
Helena e Tonho, que tanto me ajudaram nas coletas dos dados de campo e
por serem os “guardiões” desta linda coleção de jabuticabeiras.
Gleiciani Bürger Patricio, bióloga e doutoranda da Unesp de Rio Claro, que
me ensinou a prática de biologia floral e por toda a disponibilidade em me
ajudar na pesquisa de campo.
Marco Lacerda, profundo conhecedor das jabuticabeiras, pela identificação
das plantas e pelas inúmeras aulas via e-mail que recebi.
Harry Lorenzi, por me mostrar o potencial de pesquisa desta coleção.
Dr. Marco Sobral, taxonomista de Myrtaceae, pela confirmação da
identificação das plantas utilizadas no estudo.
Maria Lúcia R. Mosconi, por todo o apoio que recebi durante a fase de coleta
dos dados de campo.
Natanael Nascimento dos Santos, pelos desenhos, que tanto enriqueceram
meu trabalho.
Ao CNPq pela bolsa concedida durante parte deste trabalho.
E especialmente:
Ao Jorge, meu marido, grande incentivador de meus estudos, por toda
estrutura fornecida durante este período e também pelo carinho e por toda
compreensão que teve nos momentos de ausência.
À Célia, minha e, por estar sempre ao meu lado, por me ajudar tanto e
ser sempre alegre e otimista. Pelo exemplo de profissional que sempre foi
para mim e, principalmente, por ser uma mãe maravilhosa!
Às minhas irmãs Gisele e Lilian, pelo exemplo que são para mim e pelo
incentivo e apoio que recebi de ambas durante todo o tempo de
desenvolvimento desta dissertação, e mais uma vez à Lilian, por todas as
bibliografias que conseguiu para mim na Unicamp.
À Vanessa, minha prima querida, por todo o incentivo que sempre me deu e
à tia Vera por todo carinho que sempre demonstrou.
E a todos que de alguma forma contribuíram para a realização deste
projeto.
ÍNDICE
RESUMO...................................................................................2
ABSTRACT................................................................................4
INTRODUÇÃO GERAL..................................................................6
REVISÃO DE LITERATURA..........................................................10
A jabuticabeira (Myrciaria spp. Berg.).................................10
Isolamento Reprodutivo....................................................12
Marcadores Moleculares tipo RAPD......................................15
Referências Bibliográficas..........................................................18
CAPÍTULO 1 COMPORTAMENTO DA FLORAÇÃO E BIOLOGIA FLORAL
DE JABUTICABEIRAS (Myrciaria spp. - Myrtaceae)........................22
Resumo..................................................................................23
Abstract..................................................................................24
Introdução..............................................................................25
Material e Métodos...................................................................27
Resultados..............................................................................31
Discussão................................................................................34
Referências Bibliográficas..........................................................51
CAPÍTULO 2 - COMPATIBILIDADE DE CRUZAMENTO E DIVERSIDADE
GENÉTICA DE JABUTICABEIRAS (Myrciaria spp., Myrtaceae)..........53
Resumo..................................................................................54
Abstract..................................................................................55
Introdução..............................................................................56
Material e Métodos...................................................................59
Resultados..............................................................................64
Discussão...............................................................................68
Referências Bibliográficas..........................................................74
CONCLUSÃO GERAL..................................................................77
Referências Bibliográficas Gerais................................................78
LISTA DAS FIGURAS
Figura 1.1 - Dados de precipitação (barras) e temperatura média
(linha) mensais coletados de março de 2008 a fevereiro de 2009, na
Estação de Avisos Fitossanitários da Fundação Pró-Café em Boa
Esperança, Minas Gerais. Fonte: www.fundacaoprocafe.com.br
Figura 1.2 - Comparação entre os percentuais de intensidade e de
atividade de floração de Myrciaria cauliflora; Myrciaria coronata;
Myrciaria jaboticaba e Myrciaria trunciflora e 12 táxons e os dados
meteorológicos de precipitação do município de Boa Esperança, Minas
Gerais, no período de março de 2008 a fevereiro de 2009.
Figura 1.3 - Myrciaria coronata: A botão floral; B folhas; C
fruto; Myrciaria jaboticaba: D folhas; E botão floral; F flora
aberta; G corte da flor; H frutos no tronco.
Figura 1.4 - Myrciaria cauliflora: A botão floral e flor; B fruto;
Myrciaria trunciflora: C folhas; D botões florais e flores no tronco;
E botão floral; F flor aberta; G frutos no tronco.
Figura 1.5 Fotos de Myrciaria cauliflora: A Botão floral e flor; B
Fruto; C Folhas com brotações novas; D Árvore.
Figura 1.6 Fotos de Myrciaria jaboticaba: A Botão floral e flor; B
Folhas; C Frutos verdes; D Árvore.
Figura 1.7 Fotos de Myrciaria coronata: A botão floral; B Flor;
C Folhas; D fruto; E árvore.
Figura 1.8 Fotos de Myrciaria trunciflora: A botão floral; B
Flores; C Folhas; D frutos verdes; E frutos maduros.
Figura 1.9 A Myrciaria cauliflora logo após a antese; B Myrciaria
cauliflora 5 horas após a antese
Figura 1.10 Apis mellifera coletando pólen em Myrciaria sp.
Figura 2.1 - Dendrograma de similaridade genética, obtido através do
coeficiente de Jaccard, de 66 genótipos de jabuticabeiras e 1
jambeiro rosa.
Figura 2.2 - Fruto em início de formação referente ao cruzamento
entre Myrciaria coronata x Myrciaria jaboticaba.
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50
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73
LISTA DAS TABELAS
Tabela 1.1 Percentagem de intensidade de floração representados
por 5 categorias com intervalo de 25% cada.
Tabela 1.2 - Números de estames por flor em quatro espécies de
Myrciaria.
Tabela 1.3- Fenograma representando cinco intensidades de floração
de todos os táxons de Myrciaria, entre março de 2008 a fevereiro de
2009, Coqueiral, Minas Gerais.
Tabela 2.1 - Primers utilizados e suas respectivas sequências de
bases arbitrárias.
Tabela 2.2 - Programa de amplificação utilizado no termociclador.
Tabela 2.3. Percentual de frutificação das polinizações experimentais
de apomixia, autopolinização espontânea, autopolinização manual e
polinização aberta natural nas quatro espécies de jabuticabeiras.
Coqueiral, Minas Gerais.
Tabela 2.4 - Percentual de frutificação das polinizações experimentais
interespecíficas em Myciaria spp. Coqueiral, Minas Gerais.
Tabela 2.5 - Percentual de germinação das polinizações
experimentais interespecíficas em Myciaria spp. Coqueiral, Minas
Gerais.
29
39
42
63
63
64
65
65
1
BIOLOGIA REPRODUTIVA E DIVERSIDADE
GENÉTICA EM JABUTICABEIRAS (Myrciaria spp.,
Myrtaceae)
2
RESUMO
Este trabalho teve como objetivos principais investigar os
fatores ecológicos envolvidos no sistema de reprodução de espécies
em simpatria de jabuticabeiras (Myrciaria spp.). Para isso, foram
realizados estudos quanto ao comportamento da floração, biologia
floral e sistema reprodutivo, aliando estes dados aos dados genéticos
obtidos através de marcadores moleculares tipo RAPD. Foram
realizados cruzamentos interespecíficos para avaliar a capacidade de
formação de híbridos e investigar a presença de mecanismos de
isolamento reprodutivo pós-zigóticos existentes. O trabalho foi
conduzido em uma população ex situ de jabuticabeiras de setenta e
uma plantas de dezoito táxons, em Minas Gerais. As espécies
estudadas quanto à biologia floral e sistema reprodutivo foram
Myrciaria cauliflora, Myrciaria jaboticaba, Myrciaria coronata e
Myrciaria trunciflora. Para os dados de comportamento da floração e
diversidade genética foram estudadas todas as plantas da população.
As flores das quatro espécies avaliadas são caulifloras, hermafroditas,
brancas e tetrâmeras. A floração ocorreu principalmente da
quinzena de setembro a 1ª quinzena de outubro, sendo que algumas
plantas apresentaram períodos de floração variáveis e mesmo
florações extemporâneas. A antese ocorre entre 05h00min e
07h00min. Na fase de pré-antese e antese os grãos de pólen se
apresentaram viáveis e os estigmas receptivos. O pólen é o maior
recurso oferecido aos visitantes. O visitante floral mais frequente e
abundante foi a abelha Apis mellifera. A jabuticabeira é uma planta
autocompatível e os cruzamentos bidirecionais de polinização
interespecífica entre M. trunciflora x M. cauliflora e entre M.
jaboticaba x M. coronata, produziram pegamentos de 22 a 27% e
uma proporção de frutos abortados precocemente. O comportamento
da floração foi realizado para os dezoito táxons da população. A
inexistência de períodos distintos de florescimento entre eles e
3
juntamente com a similaridade entre a morfologia floral, horário da
antese e o tipo de polinizador, podemos concluir que não
impedimentos ecológicos para o intercruzamento entre os táxons. O
desenvolvimento de frutos e a germinação das sementes resultantes
dos cruzamentos interespecíficos confirmam o resultado encontrado
na análise genética, onde os genótipos se mostraram próximos entre
si, sem resolução de grupos específicos. Deste modo, podemos
concluir que não barreiras ao cruzamento entre os táxons
estudados e, embora seja indicada a análise com outras ferramentas
genéticas para corroborar os dados obtidos neste trabalho, sugere-se
que este grupo deveria ter sua taxonomia revisada.
Palavras-chave: jabuticabeira, ecologia, biologia floral, polinização,
isolamento reprodutivo, RAPD.
4
ABSTRACT
One of the main aims of this study was to investigate the
ecological factors involved in breeding systems in sympatric taxons of
jaboticaba trees (Myrciaria spp.). For this aim, we have studied the
blooming behavior and the floral biology of jaboticaba trees
(Myrciaria spp) and evaluated its reproductive system joining these
data to the genetic data obtained through RAPD molecular markers.
Also, interespecific crossings to evaluate the capacity of hybrid
formation and to investigate the presence of mechanism of existing
post-zygotis reproductive isolation were made. The work was
conducted in an ex situ population of 71 jaboticaba trees, in Minas
Gerais. The floral blooming studied species and the reproductive
system were Myrciaria cauliflora, Myrciaria jaboticaba, Myrciaria
coronata and Myrciaria trunciflora. For the blooming behavior data
and genetic diversity, all plants of the population have been studied.
The flowers from the four evaluated species are cauliflorous,
hermaphrodites, whites and tetrameters. The blooming occurred
mainly between the last fifteen days of September and the first
fifteen days of October, but some taxa presented variable blooming
period and even extemporaneous blooming. The anthesis occurs
between 05h00 a.m. and 07h00 a.m. In the pre-anthesis and
anthesis phase, viable pollen grains were found the stigmas were
receptive. The pollen is the biggest resource offered to the visitors.
The most often and plentiful floral visitors were the bee Apis
mellifera. The jaboticaba trees are self-compatible and the
interespecific pollination bidirectional crossing between M. trunciflora
x M. cauliflora and M. jaboticaba x M. coronata produced gluing of
22% and 27% and a proportion of 0% and 39% of precociously
aborted fruits. The non-existence of distinct flowering periods
between the studied taxa and with the similarity among floral
morphology, anthesis schedule and the pollinator type, we can
5
conclude that there are no ecological impediments for the
intercrossing between them. Seeds germination and fruit
development resulted by the interespecific crossings, confirms the
genetic isolation absence. The small genetic differentiation was
confirmed by the RAPD data, not forming well resolved groupings.
This way, we can conclude that there are no genetic and ecological
barriers for the crossing between the studied taxa. This can suggest
a taxonomic revision to the group and, also, can manage genetic
improvement works in jaboticaba.
Keywords: jaboticaba tree, ecology, floral biology, pollination,
reproductive isolation, RAPD.
6
INTRODUÇÃO GERAL
O sistema reprodutivo das plantas é resultado de características
reprodutivas próprias e, também, de suas interações com o meio
ambiente (Dafni et al., 2005). Embora as plantas não possam
escolher seus “parceiros”, elas possuem mecanismos que controlam a
estrutura genética de sua população e seus padrões de evolução
(Richards, 1997). Espécies simpátricas, muitas vezes, apresentam
diferentes estratégias florais que reduzem o fluxo gênico
interespecífico e mantêm a identidade das espécies. Porém,
características florais similares e compartilhamento do mesmo
polinizador podem ocasionar fluxo gênico entre espécies simpátricas,
favorecendo a formação de híbridos (Costa, 2007).
Mecanismos de isolamento reprodutivos, tanto ecológicos
quanto genéticos, podem atuar como barreiras para reduzir a
possibilidade de cruzamento entre estas espécies.
Estudos ecológicos são fundamentais para a compreensão
destes mecanismos de isolamento que estão atuando em espécies
simpátricas e para entender as estratégias reprodutivas que
garantem o sucesso reprodutivo e a identidade genética de cada
espécie (Costa, 2007). Para tanto, é necessário o conhecimento
prévio da biologia floral, fenologia, polinização e comportamento dos
polinizadores, pontos fundamentais para a compreensão da biologia
reprodutiva e na identificação de mecanismos de isolamento
reprodutivos existentes (Kearns & Inouye, 1993 e Maués & Couturier,
2002).
os estudos de biologia reprodutiva são básicos para o
entendimento do sistema reprodutivo das plantas e para o
entendimento da espécie como um todo.
Um dos mecanismos de maior importância no processo de
especiação das angiospermas é a polinização (Richards, 1997).
7
Segundo Faegri & Pijl (1979), pequenas modificações no sistema de
polinização podem iniciar um processo de especiação ou manter
populações cruzáveis separadas, mesmo estando em simpatria.
Este estudo trabalhou com a hipótese de presença de
isolamento reprodutivo entre as espécies estudadas e buscou
identificar a distância genética entre elas, através de marcadores
moleculares tipo RAPD. Para este estudo foi escolhida uma coleção de
jabuticabeiras em simpatria em Minas Gerais. A existência dessas
plantas no mesmo ambiente nos fornece um modelo para estudo de
espécies em simpatria e de quais barreiras ecológicas existem entre
elas e investigar as estratégias para a manutenção da integridade
genética de cada uma delas.
As jabuticabeiras pertencem à família Myrtaceae e ao gênero
Myrciaria. A família Myrtaceae destaca-se como uma das famílias com
maior riqueza de espécies na maioria das formações vegetacionais do
Brasil (Romagnolo & Souza, 2004) e compreende cerca de 100
gêneros e 3.500 espécies de árvores e arbustos que se distribuem
por todos os continentes, com predominância nas regiões tropicais e
subtropicais do mundo (Barroso, 1991 e Marchiori & Sobral, 1997).
Diversos autores têm ressaltado a elevada riqueza específica da
família e a importância fitossociológica de suas espécies para as
florestas do Sul e Sudoeste do Brasil (Mori et al., 1983; Peixoto &
Gentry, 1990; Werneck et al., 2000; Assis et al., 2004; Morellato et
al., 2000; Soares-Silva, 2000; Meira-Neto & Martins, 2002 e Souza et
al., 2003).
As jabuticabeiras possuem importância econômica
principalmente para pequenos produtores e para a agricultura
familiar. Grande parte da produção nacional da fruta é comercializada
em feiras ou por ambulantes, representando uma renda extra para
estas famílias. O conhecimento das estratégias reprodutivas e do
comportamento da floração pode subsidiar mudanças no manejo da
cultura para melhoria na produção e aumento do período produtivo.
8
O gênero Myrciaria possui 31 espécies no Brasil e entre estas,
nove são jabuticabeiras. As jabuticabeiras apresentam sérios
problemas quanto a sua classificação taxonômica, existindo
controvérsias quanto à diferenciação entre as espécies (Mattos, 1983
e Landrum & Kawasaki, 1997). Sobral (1985) elaborou uma proposta
para a alteração de nomenclatura do gênero Myrciaria para o gênero
Plinia, onde as espécies de Myrciaria que possuem inflorescências
caulinares, cálice persistente, bractéolas separadas e sementes de
cotilédones separados, são consideradas espécies de Plinia. Segundo
o mesmo autor, todas as jabuticabas receberiam a denominação de
Plinia. Neste estudo, identificaremos as jabuticabeiras pelo gênero
Myrciaria, conforme utilizado por Lorenzi et al.(2006).
O presente estudo foi realizado entre março de 2008 e fevereiro
de 2009, em população ex situ de jabuticabeiras de
aproximadamente 40 anos, localizado no município de Coqueiral,
Minas Gerais. Esta coleção possui 71 plantas de 18 diferentes táxons
de jabuticabeira originários de vários estados brasileiros. As plantas
foram identificadas taxonomicamente por Marco Lacerda e Marco
Sobral (UFSJ). Para o estudo de biologia floral e sistema reprodutivo
foram utilizadas quatro espécies de jabuticabeiras: Myrciaria
cauliflora (Mart.) O. Berg (jabuticaba paulista ou jabuticaba-açu),
Myrciaria jaboticaba (Vell) Berg (jabuticaba Sabará), Myrciaria
coronata Mattos (coroada) e Myrciaria trunciflora O. Berg (de penca).
Para os estudos de comportamento da floração e diversidade genética
foram utilizadas todas as plantas da coleção.
Desta forma, este trabalho busca preencher lacunas no tocante
à biologia reprodutiva das jabuticabeiras, sua divergência genética e
possíveis mecanismos de isolamento reprodutivo e foi organizado em
dois capítulos. O primeiro relata os seguintes aspectos:
comportamento da floração de todas as plantas da coleção, a
morfologia e a biologia floral de quatro espécies de jabuticabeiras e
identifica os agentes polinizadores, a fim de verificar quais
9
mecanismos ecológicos de isolamento reprodutivo podem ocorrer
entre as diferentes espécies de jabuticabeiras estudadas. O segundo
capítulo tem por objetivo investigar o sistema reprodutivo de
Myrciaria spp., sua capacidade de cruzamento interespecífica e o grau
de diferenciação genética entre os diferentes táxons de Myrciaria
existentes nesta coleção, através da análise das plantas matrizes,
utilizando-se marcadores genéticos de DNA tipo RAPD. Com isso,
pretende-se identificar possíveis mecanismos de isolamento
reprodutivo pós-zigótico entre as plantas estudadas.
10
REVISÃO DE LITERATURA
A jabuticabeira (Myrciaria spp. Berg.)
A jabuticabeira pertence à família Myrtaceae. São nativas
principalmente do Brasil, podendo ser encontradas também na
Bolívia, Peru, Paraguai, Uruguai e Argentina (Morton, 1987). São
encontradas em cultivo desde o Pará até o Rio Grande do Sul e em
estado silvestre, da Bahia ao Rio Grande do Sul. Segundo Lorenzi
(1998), a jabuticabeira ocorre, preferencialmente, em planícies
aluviais e matas abertas do litoral e em submatas do planalto,
principalmente de pinhais, situadas em baixadas e beira de rios.
A família Myrtaceae compreende cerca de 100 gêneros e 3.500
espécies que se distribuem por todos os continentes, com
predominância nas regiões tropicais e subtropicais do mundo
(Barroso, 1991 e Marchiori & Sobral, 1997), sendo que cerca de
1.000 ocorrem no Brasil (Landrum & Kawasaki, 1997). Esta família
compreende as subfamílias Leptospermoideae e Myrtoideae, sendo
que a primeira possui maior concentração na Austlia. A segunda,
que inclui o gênero Myrciaria, distribui-se, principalmente, nas
Américas do Sul e Central (Briggs & Johnson, 1979).
Do ponto de vista econômico, a família Myrtaceae apresenta
muitas espécies que produzem frutos carnosos muito apreciados pela
população, entre os quais podemos destacar além da jabuticaba
(Myrciaria spp.), a pitanga (Eugenia uniflora), a goiaba (Psidium
guajava), a uvaia (Eugenia pyriformis), o cambucá (Plinia edulis), a
grumixama (Eugenia brasiliensis), a guabiroba (Campomanesia
xantocarpa), além de espécies florestais comerciais como o eucalipto
(Eucaliptus spp.), cuja importância econômica é indiscutível.
Cruz (2004), em trabalho sobre o perfil químico e uso popular
de Myrtaceae e Melastomataceae, verificou que cerca de 70% das
citações no levantamento etnomédico correspondem às espécies da
11
família Myrtaceae. Na medicina popular, diversas espécies desta
família são utilizadas de maneira extensiva pela população brasileira
no tratamento de diversos males como diarréias, hemorragias, febre,
cistite, uretrite, reumatismo e hiperglicemia. Além disso, entre as
famílias de Angiospermas citadas para fins medicinais no Brasil, as
Myrtaceae ocupam o terceiro lugar.
Dentre as Myrtaceae, a jabuticabeira se destaca por ser uma
planta extremamente ornamental e muito cultivada em quintais de
todo o país, cujos frutos são consumidos in natura ou utilizados na
fabricação de geléias, licores, vinhos e chás. Seu desenvolvimento é
bastante lento, podendo levar de 8 a 10 anos para iniciar a produção.
É uma fruta extremamente perecível, fato que tem incentivado a sua
comercialização no próprio pé, como tem acontecido nos arredores da
cidade de Goiânia, principalmente em Hidrolândia, onde, segundo a
reportagem da Revista O Sulco (Castro, 2007), 27 propriedades
rurais abrem anualmente suas portas para visitantes que chegam
para chupar a fruta diretamente no pé, no período de setembro a
novembro. Na região são produzidas 6 mil toneladas da fruta, além
de vinho, cachaça, geléias e licores.
A jabuticaba apresenta em sua composição diversos minerais
como ferro, cálcio, fósforo e potássio e teores médios de vitamina C,
com valores que variam de 13 a 20 mg/100g (Oliveira et al., 2003).
Além disso, pesquisadores da Unicamp descobriram altos teores de
antocianinas (314 ml/g da fruta), substância protetora das artérias,
também presente na uva escura (227 ml/g da fruta) (Pereira, 2005).
12
Isolamento Reprodutivo
O conceito de espécie, ainda hoje, é uma questão muito
discutida dentro da biologia, com inúmeras definições. O termo
espécie pode ser referente tanto à categoria taxonômica quanto à
própria espécie biológica (Futuyma, 1992), assim como pode ter uma
definição ecológica, filogenética ou evolutiva. Através desta revisão
de literatura, serão descritos e discutidos os mecanismos de
isolamento, que fazem com que espécies simpátricas existam e
compreender porque a diversidade vem através da especiação.
Os mecanismos de isolamento reprodutivos, na maioria de
natureza ecológica, podem ser classificados em pré-zigóticos e pós-
zigóticos (Mettler, 1973).
Os mecanismos de isolamento pré-zigóticos ocorrem impedindo
a fecundação, ou seja, a formação do zigoto. Um dos mecanismos de
isolamento pré-zigótico é o isolamento ecológico ou de habitat e
ocorre quando isolamento entre duas populações em diferentes
habitats dentro de uma mesma área geográfica, resultado de
preferências ecológicas distintas (Grant, 1971). Em um trabalho
realizado na Califórnia, Hodges & Arnold (1994) estudaram se o
sistema de polinização e a preferência por diferentes habitats eram
responsáveis pela barreira ao fluxo gênico entre duas espécies de
Aquilegia. Aquilegia pubescens ocorre em altitudes elevadas, acima
de 2744 metros e em solos secos e Aquilegia formosa ocorre em
altitudes mais baixas e em solos úmidos na mesma região geográfica.
Na estreita faixa de encontro entre os dois habitats ocorre a formação
de híbridos. O estudo concluiu que os fatores ecológicos, como
diferença de habitats e de polinização, são os principais fatores que
limitam o fluxo gênico e mantêm a integridade das espécies.
O isolamento temporal é também outra forma de isolamento
pré-zigótico e ocorre entre espécies de plantas, cuja floração ocorre
em diferentes épocas do ano, ou mesmo em diferentes horas do dia
13
(Grant, 1971), impossibilitando a troca de genes. Costa (2007), em
um trabalho com espécies do gênero Chamaecrista (Leguminosae
Caesalpinioideae) realizado na Chapada Diamantina/BA, encontrou
isolamento temporal entre C. confertiformis e C. rotundifolia var.
grandiflora. Estas espécies ocorrem em simpatria, mas possuem
floração em épocas distintas, sem que haja sobreposição dos
períodos de floração, impedindo o fluxo gênico entre elas.
Isolamento mecânico e o isolamento por diferentes
polinizadores são também classificados como mecanismo de
isolamento pré-zigótico. No isolamento mecânico em plantas, a
fecundação cruzada é impedida devido a diferenças estruturais de
suas flores (Mettler, 1969), pois promove a polinização por agentes
específicos e são essenciais para espécies que vivem em simpatria
(Tang, 2007). A polinização especializada traz uma vantagem clara
para a planta, pois reduz a probabilidade de receber len
incompatível ou ter seu len transferido para um estigma
incompatível (Sargent, 2004).
Algumas espécies de orquídeas alcançaram grande
especialização dos mecanismos de polinização e possuem
polinizadores altamente especializados. Um trabalho realizado no
México por Albores-Ortiz & Sosa (2006) com orquídeas da família
Pleurothallidinae, pode ilustrar esta forma de isolamento. As
orquídeas epífitas Stelis hymenantha e S. immersa foram estudadas
quanto a sua fenologia, preferências ecológicas, polinizadores,
biologia floral e, também, os atrativos e recompensas que oferecem.
Elas ocorrem em simpatria e possuem floração coincidente em uma
época do ano, além de emitirem diferentes fragrâncias. Foram
observados diferentes polinizadores para cada uma delas, mostrando
que a morfologia floral divergente e a emissão de fragrâncias
impedem à hibridação entre estas orquídeas, pois requerem
polinizadores de tamanhos específicos e, também, com preferência
por diferentes fragrâncias.
14
Os mecanismos de isolamento reprodutivo pós-zigóticos
(genéticos) ocorrem após a fecundação, reduzindo a fecundidade ou
causando a inviabilidade do híbrido.
A inviabilidade do híbrido ou viabilidade reduzida ocorre quando
a polinização cruzada interespecífica ocorre, porém falha na formação
de um brido viável, devido a uma série de barreiras de
incompatibilidade (Dobzansky, 1973).
Em trabalho realizado na Chapada Diamantina, Costa et al.
(2007) realizaram cruzamentos entre duas variedades simpátricas de
Chamaecrista desvauxii (var. graminea e var. latistipula) com o
objetivo de analisar os mecanismos de isolamento reprodutivo
existentes. Foram realizados cruzamentos controlados, tanto inter
como intratáxon. Nos cruzamentos intertáxons, houve grande
formação de frutos, porém com produção de sementes não viáveis,
demonstrando a existência de barreiras pós-zigóticas que impedem o
cruzamento entre as variedades. Os autores conclram que se
tratam de espécies biologicamente distintas, devendo ter sua
taxonomia revista.
O que pode ocorrer também e é considerado outro tipo de
isolamento pós-zigótico é a esterilidade do brido (F1). Neste caso o
embrião se desenvolve e pode ou não atingir a idade adulta e, se
atinge, é estéril. É o caso do brido entre Rhizophora mangle e R.
stylosa (ambas com 2n=36), encontrado em área de mangue, no
Pacífico Sul, que apresentou em estudo feito por Tyagi (2002), falha
do pareamento dos cromossomos na meiose e alta porcentagem de
pólen não viável.
A degeneração do brido ocorre, quando os bridos F
2
ou os
provenientes de retrocruzamentos têm viabilidade ou fertilidade
reduzida.
15
Marcadores moleculares tipo RAPD
O surgimento da tecnologia da reação de polimerase em cadeia
(PCR Polymerase Chain Reation), em meados da década de 80 do
século XX, causou uma verdadeira revolução na biologia e tornou-se
uma poderosa ferramenta para pesquisa genética de qualquer ser
vivo. A PCR é um método de amplificação do DNA, que envolve a
síntese de milhões de cópias de um segmento de DNA, na presença
da enzima taq DNA polimerase (Costa, 2003).
Porém esta técnica apresentava um uso limitado, pois dependia
do conhecimento prévio da sequência de nucleotídeos do organismo
(Ferreira & Grattapaglia, 1998).
O grande avanço na área dos marcadores moleculares ocorreu
no início da década de 90, através da técnica de RAPD. Esta
tecnologia é uma derivação da cnica de PCR e consiste na
amplificação simultânea de vários locos do genoma, utilizando
“primers” de sequência arbitrária curtas, em geral, em torno de 10
nucleotídeos, eliminando, assim, a necessidade de conhecimento
prévio da sequência. Esta técnica foi desenvolvida
independentemente por dois grupos (Ferreira & Grattapaglia, 1998).
Em 1990, Williams et al. descreveram a tecnologia com o nome que
se tornou mais comumente utilizado, RAPD (“Random Amplified
Polymorphic DNA” ou DNA amplificado ao acaso). Simultaneamente,
Welsh & McClelland (1990) desenvolveram a técnica que chamaram
de AP-PCR (Arbitrarily Primed PCR), utilizando uma sequência
arbitrária de 20 nucleotídeos, corrida eletroforética em géis de
poliacrilamida e visualização de bandas por auto-radiografia, que
promove maior poder de resolução (Lacerda et al., 2002 e Ferreira &
Grattapaglia, 1998).
A partir daí o uso de marcadores moleculares se tornou uma
poderosa ferramenta com diversas aplicações (Pigato & Lopes, 2001)
e os estudos de genética foram ampliados rapidamente. O avanço
16
nesta área promoveu um aumento significativo de conhecimento em
genética de populações, com diversas aplicações em estudos
evolutivos, permitindo avaliar a diversidade genética de populações,
livres de influências ambientais e independente do estágio de
desenvolvimento do organismo analisado (Lacerda et al., 2002).
A técnica de marcadores moleculares tipo RAPD apresenta
diversas vantagens em relação a outros métodos como simplicidade,
rapidez, baixo custo e tem se mostrado muito eficiente na detecção
de polimorfismo. Além disso, requer uma quantidade mínima de DNA
necessária para a análise genética de um organismo. Segundo
Ferreira & Grattapaglia (1998), esta técnica de PCR utilizando
“primers” de sequência arbitrária abriu uma nova perspectiva para a
análise genômica de indivíduos e populações e “democratizou” a
análise de polimorfismo molecular.
Podemos encontrar diversos trabalhos na literatura envolvendo
o uso de marcadores moleculares na análise da diversidade genética
de plantas.
Barros et al. (2005) desenvolveram um estudo com a coleção
de Stylosanthes macrocephala do banco de germoplasma, da
Embrapa Cerrados, com o objetivo de obter descritores ecológicos,
moleculares e avaliar a variabilidade genética dos indiduos. O
emprego da técnica de RAPD permitiu a diferenciação dos acessos e
evidenciou a alta variabilidade genética da coleção.
Em estudo realizado com acerola (Malpighia emarginata) por
Salla et al. (2002) foi encontrado alto grau de polimorfismo através
da técnica de RAPD, quando comparada com os primers SSR,
demonstrando a alta variabilidade genética entre os acessos da
coleção estudada.
O potencial da técnica de RAPD também se mostrou eficiente na
estimativa da variabilidade genética de uma população de Eucalyptus
urophilla S. T. Blake submetida a um teste de progênies, em trabalho
realizado por Pigato & Lopes (2001). As autoras conseguiram, com os
17
resultados das distâncias genéticas estabelecidas pela análise do
DNA, simular uma seleção genética onde se aliaram dados de
variabilidade genética e silviculturais, evitando perdas excessivas de
variabilidade.
Costa (2003) estudou a variabilidade genética de uma coleção
de jabuticabeiras (Myrciaria spp.) com o objetivo de buscar uma
associação entre marcadores moleculares e marcadores morfológicos.
Além disso, testou diferentes protocolos de extração de DNA para
estas espécies. Foram encontradas algumas divergências quanto à
identificação taxonômica das espécies.
Em estudo realizado com pequi (Caryocar brasiliense Camb.),
Vilela (1998) pesquisou aspectos da fenologia, teor nutricional e
divergência genética entre populações da espécie. Através dos
marcadores moleculares tipo RAPD foi possível detectar a divergência
genética em três populações naturais de Minas Gerais.
Outro estudo utilizando a técnica RAPD foi realizado com 17
acessos de Salvia spp. (Labiatae), por Bruna et al. (2006). Esta
espécie é largamente utilizada para fins ornamentais, culinários e
aromáticos e o gênero compreende cerca de 1000 espécies. A técnica
de RAPD mostrou-se muito promissora na identificação das diferentes
espécies e pode ser útil na elucidação da taxonomia do gênero,
principalmente, em casos onde há dificuldades na distinção das
espécies.
18
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22
Capítulo 1
COMPORTAMENTO DA FLORAÇÃO E BIOLOGIA
FLORAL DE JABUTICABEIRAS (Myrciaria spp.,
Myrtaceae)
23
RESUMO
COMPORTAMENTO DA FLORAÇÃO E BIOLOGIA FLORAL DE
JABUTICABEIRAS (Myrciaria spp., Myrtaceae). Este trabalho teve
como objetivo estudar o comportamento da floração de uma
população ex situ no Sul do estado de Minas Gerais, contendo 18
diferentes táxons e a biologia floral de quatro espécies de
jabuticabeiras (Myrciaria cauliflora, Myrciaria jaboticaba, Myrciaria
coronata e Myrciaria trunciflora) a fim de identificar possíveis
mecanismos de isolamento reprodutivo pré-zigótico. As flores das
quatro espécies são caulifloras, hermafroditas, brancas, tetrâmeras,
sempre com o perianto diferenciado em cálice e corola, ovário ínfero
com dois óvulos por lóculo. Os frutos são globosos e negros. A
floração ocorreu, em Myrciaria coronata e M. trunciflora, na primeira
quinzena de outubro enquanto que M. cauliflora e M. jaboticaba
apresentaram uma maior varião, onde a floração ocorreu de agosto
até a quinzena de outubro e, também, apresentaram pequena
floração extemporânea. As demais plantas tiveram maior floração
também entre setembro e outubro, sendo que algumas apresentaram
floração ao longo do ano. A floração da jabuticabeira acontece em
massa e a antese ocorre entre 05h00min e 07h00min. Na fase de
pré-antese e antese, os grãos de pólen apresentaram alta viabilidade
(95%). Os estigmas encontram-se receptivos desde a fase de pré-
antese até um dia após a abertura da flor. Não foi detectada a
presença de ctar e o pólen é o maior recurso oferecido aos
visitantes. O visitante floral mais frequente e abundante foi a abelha
Apis mellifera. Não houve períodos distintos de florescimento entre os
táxons estudados e juntamente com a morfologia floral, o horário da
antese e o tipo de polinizador, podemos concluir que não
impedimentos pré-zigóticos para o intercruzamento entre os táxons.
Palavras-chave: Myrciaria spp., biologia floral, polinização, isolamento
reprodutivo.
24
ABSTRACT
BLOOMING BEHAVIOR AND FLORAL BIOLOGY OF JABOTICABA TREE
(Myrciaria spp., Myrtaceae). This work aimed to study the Minas
Gerais ex situ population blooming behavior and the floral biology of
four jaboticaba species (Myrciaria spp.) in order to identify possible
prezygotic reproductive isolation. The species studied for the floral
biology were Myrciaria cauliflora, Myrciaria jaboticaba, Myrciaria
coronata and Myrciaria trunciflora. The four species flowers are
similar, cauliflorous, hermaphrodite, and white. The stamens are
numerous. The fruits are rounded and black. The blooming, in these
species and others analyzed taxa, occurs mainly from the last two
weeks of September to the first two weeks of October, but some taxa
showed variable blooming period or even extemporaneous blooming.
In all species, the blooming is massive and the anthesis occurs
between 5:00h a.m. and 7:00h a.m. In the pre-anthesis and
anthesis phases, the pollen grains showed high viability levels (95%).
The stigmas were receptive from the pre-anthesis phase until one day
after the flower opening. The presence of nectar was not detected
and the pollen is the main resource offered to the visitors. The most
frequent visitor was the bee Apis mellifera. There was no distinct
period of blooming among the studied species and with the floral
morphology, the time of anthesis and the type of pollinator, we can
conclude that there is no prezygotic isolation for the intercross
between the taxa.
Keywords: Myrciaria spp., floral biology, pollination, reproductive
isolation.
25
INTRODUÇÃO
O estudo do comportamento da floração contribui para o
entendimento do ciclo reprodutivo das plantas, da organização
temporal dos recursos dentro das comunidades, das interações
planta-animal e da vida dos animais que dependem destes recursos
para alimentação (Morellato & Leitão-Filho, 1996 e Talora &
Morellato, 2000). Os eventos repetitivos de floração são de grande
importância tanto para a ecologia como para a evolução, pois, do
ponto de vista ecológico, as flores são importantes fontes de recursos
alimentares e do ponto de vista evolutivo essas promovem
mecanismos de isolamento reprodutivo ou especiação (Kearns &
Inouye, 1993). Porém, sabemos que espécies relacionadas e
simpátricas nem sempre exibem padrões de floração diferenciados, o
que proporciona, muitas vezes, fluxo gênico e consequente hibridação
(Coyne & Orr, 2004).
Os estudos comparativos de biologia floral e comportamento da
floração de táxons proximamente relacionados permitem esclarecer
sobre os mecanismos de isolamento mecânico ou temporal entre
eles.
Para este estudo foi escolhida uma coleção ex situ, em Minas
Gerais, composta por diversos táxons de jabuticabeiras. A existência
dessas plantas no mesmo ambiente nos fornece um modelo para o
estudo de táxons em simpatria, que busque investigar a existência de
barreiras ecológicas e as estratégias para a manutenção da
integridade genética de cada táxon.
As jabuticabeiras pertencem à família Myrtaceae e ao gênero
Myrciaria. As flores das Myrtaceae brasileiras são hermafroditas,
geralmente de cor branca, com estames numerosos, corola e cálice
4-5-mero (tetrâmero/pentâmero), iguais ou desiguais entre si e
ovário ínfero (Barroso, 1991 e Lughadha & Proença, 1996). Flores
menores são mais comuns, embora o tamanho varie de pequeno
26
(< 1,5 cm de diâmetro), como em Calyptranthes e Myrcia a
relativamente grande (> 2,0 cm), como em Acca e Campomanesia
(Gressler et al., 2006). Os frutos são carnosos, tipo baga, podendo
apresentar diversas formas (Barroso, 1991). Os indivíduos do gênero
Myrciaria estudados são árvores semidecíduas, que podem alcançar
de 3 a 9 metros de altura. Possuem folhas opostas, glabras, com
nervura circundante.
O pólen é o principal recurso oferecido aos polinizadores, sendo
o recurso primário pelo qual as abelhas, provavelmente o grupo mais
importante de polinizadores de Myrtaceae, visitam as flores
(Lughadha & Proença, 1996). Porém não há relatos de estudos
envolvendo a biologia floral de jabuticabeiras e determinação dos
efetivos polinizadores. A maioria dos estudos sobre a polinização de
Myrtaceae brasileiras enfoca alguns poucos aspectos como biologia
floral e a relação de visitantes observados, sendo que poucos
demonstram os efetivos polinizadores da espécie estudada. Espécies
ocorrentes no cerrado foram as mais estudadas e abelhas foi o grupo
mais comum de visitantes florais (Gressler et al., 2006).
Estudos envolvendo a biologia floral do gênero Myrciaria são
raros. Maués & Couturier (2002) estudaram a biologia floral e
aspectos relacionados à polinização e fenologia reprodutiva do camu-
camu (Myrciaria dubia), fruteira nativa do Brasil, que ocorre nas
margens de rios e lagos inundável da Amazônia e está sendo
domesticada, visando o cultivo em terra firme.
Sobre trabalhos envolvendo a biologia reprodutiva de
Myrtaceae podemos destacar o realizado por Proença & Gibbs (1994),
onde foram estudadas oito espécies do cerrado (Eugenia dysenterica,
Siphoneugena densiflora, Blepharocalyx salicifolius, Camponesia
pubescens, Camponesia velutina, Myrcia linearifolia, Myrcia
rhodosepala e Psidium firmum) quanto aos aspectos da fenologia,
polinização, sistema de cruzamento e sucesso reprodutivo. E,
também, de Silva & Pinheiro (2007), realizado em restinga de um
27
Parque Natural em Grumari, no município do Rio de Janeiro, com o
objetivo de conhecer a biologia floral, a polinização e a fenologia de
quatro espécies de Eugenia.
Do ponto de vista ecológico, ainda são desconhecidas as
interações com os visitantes florais tanto autóctones quanto exóticos,
e a importância dessas relações para manutenção da variabilidade
genética da população.
Nesse contexto, as investigações que pretendemos realizar no
presente estudo com as jabuticabeiras, como anteriormente
mencionadas, além de contribuírem para preencher as lacunas de
conhecimentos referidas acima para o gênero em questão, pretendem
esclarecer sobre os mecanismos ecológicos de isolamento reprodutivo
e os sistemas de polinização em espécies tropicais.
MATERIAL E MÉTODOS
ÁREA DE ESTUDO - O trabalho proposto foi conduzido em uma
população ex situ de jabuticabeiras de aproximadamente 40 anos,
localizada no município de Coqueiral, região do sul do Estado de
Minas Gerais, Brasil (45º27‟58” de latitude, 21º14‟74” de longitude e
817m de altitude). Esta coleção conta com 71 plantas e possui
exemplares de vários táxons de jabuticabeiras, originários de
diversos estados brasileiros. O clima da região é do tipo Cwa,
segundo a classificação de Köppen, definido como subtropical, com
inverno seco e verão úmido. Registra temperatura média anual de
19,4ºC e precipitação anual em torno de 1.500mm (Brasil,
1992)(FIGURA 1.1). O entorno da área é formado por matas ciliares e
um grande número de espécies florestais e frutíferas, nativas e
exóticas. Há também área de plantio de café e pastagens.
Os registros de temperatura e precipitação foram
correlacionados com os resultados obtidos.
28
A coleção possui dezoito táxons de jabuticabeiras, sendo que o
status taxonômico de algumas plantas não está devidamente
determinado.
ESPÉCIES ESTUDADAS - Para o estudo de biologia floral foram
utilizadas quatro espécies de jabuticabeiras: Myrciaria cauliflora
(Mart.) O. Berg (jabuticaba paulista ou jabuticaba-açu), Myrciaria
jaboticaba (Vell) Berg (jabuticaba sabará), Myrciaria coronata Mattos
(jabuticaba coroada) e Myrciaria trunciflora O. Berg (jabuticaba-de-
penca), todas devidamente classificadas.
COMPORTAMENTO DA FLORAÇÃO - Para os estudos do
comportamento da floração, foram realizadas visitas semanais à área
e registradas as ocorrências de floração e frutificação. Estes dados
foram coletados para todas as 71 plantas da coleção, entre março de
2008 a fevereiro de 2009. Os padrões de floração foram
determinados, segundo à classificação proposta por Newstrom et al.
(1994).
Para a análise dos dados de comportamento da floração foram
estimadas as porcentagens de intensidade de fenofase e índice de
atividade (FIGURA 1.2), conforme descrito por Bencke & Morellato
(2002), a seguir:
Os valores quantitativos de floração obtidos em campo foram
representados por 5 categorias (0 a 4) com intervalo de 25% entre
cada categoria (TABELA 1.1). Em cada mês, fez-se a soma dos
valores de intensidade da fenofase para todos os indivíduos da
espécie e, então, este valor foi dividido pelo valor máximo possível,
ou seja, número de indivíduos multiplicado por quatro. O resultado
foi, então, multiplicado por 100 para representar percentual. Para a
obtenção dos índices de atividade, foram registradas a presença e
ausência da fenofase no indivíduo. Este todo tem caráter
quantitativo em nível populacional, indicando a porcentagem de
29
indivíduos da população que está manifestando determinado evento
fenológico e a sincronia entre os indivíduos da população. Estes
dados foram correlacionados com os dados de precipitação.
Tabela 1.1 Percentagem de intensidade de floração representados por 5
categorias com intervalo de 25% cada.
Categorias
Ausência de floração
0%
0
MB muito baixa
0,1 a 25%
1
B baixo
26% a 50%
2
M - média
51 a 75%
3
G - grande
76 a 100%
4
MORFOLOGIA FLORAL - Os estudos de biologia floral foram
realizados de agosto a novembro de 2008, época de maior
intensidade da floração e foram executados de acordo com Dafni et
al. (2005). Para o estudo da morfologia, 10 flores e 10 botões florais
de cada uma das 4 espécies (Myrciaria jaboticaba, M. cauliflora, M.
trunciflora e M. coronata), foram observados em campo e
complementados com observações em laboratório e fotografias.
Amostras de flores e botões fixados em álcool etílico a 70% foram
posteriormente examinadas sob microscópio estereoscópico. Foram
feitos, ainda, registros da forma, localização, cor, simetria, emissão
de odor, recursos e quantidade de estames.
A partir das flores coletadas e conservadas em álcool 70% e de
fotografias de todas as partes da planta, foram feitas pranchas
mostrando detalhes morfológicos (FIGURAS 1.3 e 1.4).
O número de estames foi determinado, com contagens em 10
flores recém-abertas de cada espécie, e as médias foram comparadas
pelo teste de Tukey-Kramer, utilizando-se o programa Instat.
30
Para complementar a descrição das espécies, foram também
observados os aspectos das folhas, frutos e planta.
ANTESE - A antese foi observada para as quatro espécies
citadas marcando-se dez botões florais em cada planta e fazendo o
acompanhamento periódico para identificação do horário de abertura
dos botões florais e longevidade da flor.
FUNCIONALIDADE DOS ÓRGÃOS REPRODUTIVOS - O teste de
receptividade do estigma foi realizado em dez flores coletadas de
cada espécie em cada fenofase. O teste foi realizado imergindo-se os
estigmas em placa de petri contendo peróxido de hidrogênio a 10% e
observando a liberação de bolhas nos estigmas receptivos através de
lupa de cabeça.
Para o teste de viabilidade polínica foram retiradas de quatro a
cinco anteras de cada flor nas seguintes fenofases: pré-antese,
antese, cinco horas após a antese, dez horas após a antese e vinte e
quatro horas após a antese. As anteras foram ligeiramente
maceradas sobre uma lâmina, coradas com vermelho neutro a 3% e,
posteriormente, foi colocada uma lamínula e feita observação sob
microscópio. Este teste foi realizado com a espécie Myrciaria
coronata. Para as demais espécies foram feitos teste apenas nas
fenofases de pré-antese e antese. O pólen corado foi considerado
viável.
VISITANTES FLORAIS - As observações quanto aos visitantes
florais e recursos ofertados foram realizadas de agosto a novembro,
período de maior intensidade de floração. Os horários de visita e
comportamento do inseto na flor foram registrados durante todo o
florescimento, nas 4 espécies estudadas (Myrciaria jaboticaba, M.
cauliflora, M. trunciflora e M. coronata). Para verificação da presença
ou ausência de néctar, foram utilizados tubos micro-capilares de 1-5
31
µl graduados, em diferentes fenofases. Os insetos frequentes nas
flores foram coletados com puçá no decorrer do dia e conservados em
álcool 70%, para posterior identificação.
RESULTADOS
COMPORTAMENTO DA FLORAÇÃO - No período de estudo, a
floração das plantas ocorreu com maior intensidade entre a segunda
quinzena de setembro a final de outubro, período com temperaturas
mais altas e maior precipitação na região (FIGURA 1.1). De acordo
com a FIGURA 1.2, podemos classificar o padrão de floração como
anual, ou seja, um ciclo maior de floração por ano, conforme
classificação de Newstrom et al. (1994).
A floração ocorreu, em M. coronata e M. trunciflora, entre
setembro e outubro com maior concentração na segunda quinzena de
outubro enquanto que Myrciaria jaboticaba e Myrciaria cauliflora
apresentaram maior período de florescimento, que se estendeu de
agosto a outubro. Tanto M. cauliflora como M. jaboticaba
apresentaram pequeno florescimento entre abril e junho. Os bridos
existentes na coleção apresentaram floração coincidente com as
quatro espécies citadas. Na TABELA 1.3 são apresentadas as
intensidades de floração de todas as plantas da coleção, inclusive dos
híbridos e outros táxons, e seus respectivos períodos de
florescimento.
A frutificação ocorreu, em média, 40 dias após a floração.
As brotações foliares ocorreram entre outubro e novembro,
coincidindo, também, com o período de início das chuvas na região.
MORFOLOGIA FLORAL - As flores de todas as espécies
estudadas são caulifloras, hermafroditas, actinomorfas, brancas,
tetrâmeras, sempre com o perianto diferenciado em cálice e corola,
ovário ínfero com dois óvulos por lóculo. O cálice é persistente na
32
antese. As flores são aromáticas e exalam um aroma adocicado. O
estigma é capitado e os estames são numerosos. Esta característica
da morfologia floral pode favorecer a autopolinização, pois nas flores
os estames são voltados para o centro da flor. Os estames variaram
em número de 48, em média, nas flores de Myrciaria trunciflora a
aproximadamente 64 em Myrciaria coronata, com diferenças
estatisticamente significativas (TABELA 1.2).
Abaixo, segue a caracterização geral das quatro espécies,
incluindo os caracteres florais.
Myrciaria cauliflora (DC.) O. Berg
Nome popular: jabuticaba paulista.
As árvores desta espécie podem alcançar 6 m de altura e o
semidecíduas. Possuem folhas finas, longas, glabras, opostas e com
brotações novas arroxeadas. As flores nascem aglomeradas junto ao
caule e ramos, com pedicelos curtíssimos, com cerca de 1 mm de
comprimento. Os frutos são globosos, possuem sépala persistente
enquanto verdes, negros quando maduros e podem alcançar até 3 cm
de diâmetro (FIGURA 1.5).
Myrciaria jaboticaba (Vell.) O. Berg
Nome popular: jabuticaba sabará.
Esta é sem dúvida a jabuticabeira mais cultivada nos pomares
brasileiros devido ao sabor agradável e doce de seus frutos. Árvore
de até 9 m de altura, semidecídua. Possui caule bastante ramificado,
folhas glabras, pequenas, opostas e com brotações novas
esverdeadas. Flores aglomeradas junto ao caule e ramos, com
pedicelos não muito curtos. Seus frutos são globosos, pequenos (2
cm), de casca fina e muito saborosos (FIGURA 1.6).
Myrciaria coronata Mattos
Nome popular: jabuticaba coroada.
33
Árvore não muito grande de até 4 m de altura, semidecídua.
Suas folhas são glabras, opostas e com brotações novas arroxeadas.
As flores são aglomeradas no caule e ramos, em grupos de 1 a 6,
pedicelos curtos, envoltos por quatro filas de brácteas imbricadas
(figura 1.7 - A). Os frutos são grandes, negros, podendo atingir mais
de 3 cm de diâmetro. Possuem o contorno de um disco no ápice, por
isso recebem o nome de “jabuticaba coroada” (FIGURA 1.7).
Myrciaria trunciflora O. Berg
Nome popular: jabuticaba de penca; jabuticaba de cabinho.
Árvore de até 8 m de altura, semidedua. Folhas glabras,
opostas e com brotações levemente arroxeadas. As flores são
aglomeradas sobre o caule e ramos com pedicelos que podem chegar
a 3 cm de comprimento. Seus frutos são globosos, negros e muito
saborosos (FIGURA 1.8).
ANTESE - A antese ocorreu entre 05h00min e 07h00min para
todas as espécies. As jabuticabeiras produzem floradas em massa,
que duram em média de dois a três dias. As flores duram apenas um
dia.
FUNCIONALIDADE DOS ÓRGÃOS REPRODUTIVOS - A maior
quantidade de len permanece nas anteras por quatro a cinco horas
após a antese, sendo que após este período, grande parte dos grãos
de pólen foi levada pelos visitantes florais através do
comportamento pilhador (FIGURA 1.9). Na fase de pré-antese e
antese, os grãos de pólen apresentaram viabilidade alta (em torno de
95%), para todas as espécies, sendo que esta viabilidade foi mantida
alta até cinco horas após a antese. Após este período, além da perda
de viabilidade, que foi de 70% para M. coronata (24 horas após a
antese), foi notável a diminuição da quantidade de pólen nos
preparos citológicos para observação da viabilidade, devido ao
forrageio das abelhas.
34
Os estigmas se encontram receptivos na pré-antese e
permaneceram assim até um dia após a abertura da flor em todas as
espécies estudadas.
Não foi detectada a presença de néctar através dos micro-
capilares e o pólen é o principal recurso oferecido aos visitantes.
VISITANTES FLORAIS - Dentre as quatro espécies de
jabuticabeiras estudadas, não houve variação entre as espécies de
visitantes. A abelha africanizada (Apis mellifera) pode ser considerada
a visitante mais frequente e abundante. As visitas eram iniciadas logo
no início da manhã, iniciando-se logo após a antese e duravam em
torno de quatro a cinco horas, terminando com o aumento da
temperatura e provavelmente devido à diminuição da oferta de pólen.
As abelhas pousavam diretamente sobre as anteras, coletando o
pólen de toda a inflorescência e apresentando comportamento
pilhador (FIGURA 1.10). Com estas observações pode-se notar que as
abelhas promoviam a queda dos grãos de pólen sobre as outras flores
localizadas em planos inferiores dos ramos.
O horário de visita das abelhas foi coincidente com a maior
disponibilidade de alimento no pomar. Foi registrada, também, a
presença da abelha nativa Trigona sp, porém, com frequência de
visitas inferior a de Apis mellifera.
DISCUSSÃO
De maneira geral, padrões temporais no florescimento de
plantas tropicais estão associados a fatores físicos, como fotoperíodo,
temperatura e precipitação e a fatores bióticos, como a
disponibilidade de agentes polinizadores (Bawa, 1983).
As jabuticabeiras estudadas apresentaram padrão de floração
anual (Newstrom et al., 1994).
35
Dentre as demais espécies analisadas quanto ao
comportamento de floração, a grande maioria floresceu entre
setembro e outubro e algumas espécies como Myrciaria aureana
“branca” e Myrciaria sp 1 “vermelha”, tiveram floração
extemporânea, conforme TABELA 1.3. O período de florescimento de
cada planta, entretanto, é bastante curto, durando em média dois a
três dias. O período de maior florescimento na grande maioria dos
táxons coincidiu com o início do aumento da temperatura e da
precipitação na região. Estes resultados corroboram os encontrados
por Proença & Gibbs (1994) e Silva & Pinheiro (2007) para espécies
da família Myrtaceae, em locais com estação seca e úmida distintas,
onde o florescimento ocorre no início da estação chuvosa garantindo,
assim, a germinação das sementes dispersas e pegamento das
plântulas na estação mais adequada para seu desenvolvimento. O
início das chuvas é também a época de maior densidade de
vertebrados dispersores de sementes na floresta atlântica (Taberelli &
Peres, 2002 citado por Benevides, 2006). Segundo Landrum &
Kawasaki (1997), todas as Myrtaceae brasileiras possuem frutos
carnosos e, conforme a revisão realizada por Glessler et al. (2006),
as aves são os principais dispersores das Myrtaceae, porém, neste
mesmo estudo, os macacos e outros mamíferos carnívoros foram
apontados como dispersores de sementes de jabuticabeira (Myrciaria
spp.).
A ocorrência de sobreposição na floração em espécies
simpátricas pode favorecer a ocorrência de fluxo gênico e
consequente hibridação (Coyne & Orr 2004). No presente estudo, não
foi encontrado isolamento reprodutivo temporal representativo entre
as espécies de Myrciaria cauliflora, M. trunciflora, M. jaboticaba e M.
coronata, ou seja, provavelmente, não barreiras pré-zigóticas
atuando de forma a impedir o fluxo gênico. No entanto, os dados
fenológicos foram obtidos apenas durante o período de um ano.
Desse modo, faz-se necessária uma investigação com maior tempo
36
de coleta dos dados a fim de ser avaliada a ocorrência de um padrão
de floração para cada espécie nesta região. Algumas espécies como a
Myrciaria trunciflora e M. jaboticaba não tiveram a floração
coincidente, porém a diferença foi muito pequena, chegando a
apenas alguns dias de intervalo. Como podemos observar na TABELA
1.3, houve variação de florescimento entre as plantas da mesma
espécie, indicando uma variação fenotípica entre elas, possivelmente
por se tratarem de plantas de diferentes origens.
A sobreposição da floração entre os táxons pode indicar que
não diferenciação da floração por pressão dos agentes
polinizadores e este evento pode estar sendo regulado por fatores
abióticos, como temperatura e precipitação.
Todas as espécies de Myrciaria estudadas apresentam flores
brancas, agrupadas e estames numerosos. Os táxons observados
apresentaram estratégias florais semelhantes, sugerindo a
possibilidade de troca de fluxo gênico entre os táxons, pois florescem
na mesma época e compartilham o mesmo visitante floral. As
diferenças morfológicas entre as espécies são muito pequenas e se
mostram como um grande desafio para os taxonomistas. Sabemos
que características florais similares e compartilhamento de
polinizadores podem proporcionar fluxo gênico entre os táxons e
levar à formação de híbridos (Costa, 2007).
A antese ocorre pouco antes do nascer do sol, coincidindo com
o início do período de maior atividade dos visitantes florais. As flores
exalam um aroma adocicado, importante na atração e orientação dos
polinizadores. A presença de fragrância nas flores é um mecanismo
primitivo de comunicação entre as fanerógamas e seus polinizadores
(Raguso, 2001).
De quatro a cinco horas após a antese, as flores entram em
senescência e os estames passam a apresentar coloração marrom
(FIGURA 1.9) e diminuição na quantidade disponível de pólen. A
partir deste momento, a presença dos visitantes florais é
37
extremamente reduzida. Este resultado coincide com o encontrado
por Maués & Couturier (2002) no estudo do camu-camu no Pará e,
também, com o descrito por Ludhagha & Proença (1996) para a sub-
família Myrtoideae e para o gênero Myrciaria, onde é descrito que as
flores deste gênero, dentre outros, duram apenas um dia.
O pólen é o mais importante recurso oferecido aos visitantes, já
que não foi detectada a presença de néctar através de micro-
capilares. As abelhas (Apis mellifera L.), principal visitante floral das
jabuticabeiras, apresentaram o comportamento pilhador (FIGURA
1.10). A produção de len é uma característica de todas as
angiospermas, com função primária no processo da polinização
(Benevides, 2006). Alves & Freitas (2006) sugerem que as visitas em
busca de pólen favorecem a polinização, pois os visitantes carregam
grandes quantidades de pólen aderido ao corpo e ao tocar o estigma,
promovem a polinização. Além disso, o pólen é uma rica fonte de
alimento aos visitantes florais, essencial para a nutrição das abelhas
Apis mellifera, pois fornece proteína para larvas e adultos. É
constituído também por amido, lideos e açúcares (Modro et al.,
2007).
As abelhas, ao pousarem sobre as flores, promovem a liberação
de grãos de pólen, que caem sobre as flores localizadas nas partes
inferiores dos ramos ou da própria inflorescência. Este mecanismo
pode favorecer a ocorrência de geitonogamia, ou seja, fecundação
pelos grãos de pólen de flores da mesma planta. A principal
vantagem deste mecanismo é o aumento do sucesso da polinização.
Em um pomar de jabuticabeiras no interior de São Paulo, Malerbo-
Souza et al. (1991), também encontrou as abelhas Apis mellifera
(africanizada) e as abelhas nativas, Tetragonisca angustula e Trigona
spinipes como as mais frequentes, sendo estas atraídas para coleta
de pólen. Em outro trabalho dos mesmos autores, foram encontradas
as abelhas Apis mellifera, Tetragonisca angustula, Chloralictus sp e
Trigona spinipes como os únicos insetos nas flores de jabuticabeiras,
38
com as frequências de 98,0%, 0,88%, 0,57% e 0,55%,
respectivamente e coletaram exclusivamente pólen (Malerbo-Souza
et al., 2004).
Neste estudo, foi registrada também a presença da abelha
nativa Trigona sp, porém com frequência de visitas inferior a de Apis
mellifera. Estas abelhas nativas iniciam o forrageio após o pico de
visitas de Apis mellifera, sendo assim, pouco provável de realizarem,
efetivamente, à polinização das jabuticabeiras.
Silva & Pinheiro (2007) também encontraram a abelha Apis
mellifera como um dos visitantes mais comuns em quatro espécies de
Eugenia, sendo considerada o polinizador efetivo das espécies
estudadas.
A antese, a morfologia floral e os visitantes florais são
coincidentes para todas as espécies estudadas, portanto, estes
dados, não apresentaram diferenças capazes de identificação de
algum tipo de isolamento pré-zigótico entre as diferentes espécies.
No entanto, existem claras distinções morfológicas entre as espécies,
como evidenciadas nas quatro espécies descritas neste trabalho, que
variam em comprimento de pedicelo em todos os táxons analisados e
número de estames por flor, sendo menor em M. trunciflora, como
mostrado na TABELA 1.2. Na ausência de isolamento pré-zigótico, o
isolamento pós-zigótico ou genético pode ser uma estratégia para
garantir a diferenciação entre as espécies. No capítulo 2, são
apresentados dados referentes a experimentos que testaram a
hipótese de isolamento genético entre alguns táxons.
39
ANEXOS
Tabela 1.2 - Números de estames por flor em quatro espécies de Myrciaria.
Espécies
Nº estames (média* ± DP)
M. trunciflora
48 ± 5,3ª
M. cauliflora
54,5 ± 4,4
b
M. coronata
63,9 ± 3,0
b
M. jaboticaba
58,9 ± 4,0
b
1
Médias seguidas de mesma letra não diferem significativamente
pelo teste de Tukey-kramer (p=0,05).
Figura 1.1 - Dados de precipitação (barras) e temperatura média (linha) mensais
coletados de março de 2008 a fevereiro de 2009, na Estação de Avisos
Fitossanitários da Fundação Pró-Café, em Boa Esperança, Minas Gerais. Fonte:
www.fundacaoprocafe.com.br
40
Myrciaria cauliflora
Myrciaria coronata
Myrciaria jaboticaba
Myrciaria trunciflora
41
Figura 1.2 - Comparação entre os percentuais de intensidade e atividade de
floração de Myrciaria cauliflora; Myrciaria coronata; Myrciaria jaboticaba, Myrciaria
trunciflora e 12 táxons e os dados meteorológicos de precipitação do município de
Boa Esperança/MG, no período de março de 2008 a fevereiro de 2009.
Myrciaria spp. (12 táxons de jabuticabeiras)
42
43
44
FIGURA 1.3 - Myrciaria coronata: A botão floral; B folhas; C fruto;
Myrciaria jaboticaba: D folhas; E botão floral; F flora aberta; G corte
da flor; H frutos no tronco.
Myrciaria trunciflora
45
FIGURA 1.4 - Myrciaria cauliflora: A botão floral e flor; B fruto; Myrciaria
trunciflora: C folhas; D botões florais e flores no tronco; E botão
floral; F flor aberta; G frutos no tronco.
46
FIGURA 1.5 Fotos de Myrciaria cauliflora:
A Botão floral e flor; B Fruto; C Folhas
com brotações novas; D Árvore.
B
A
C
D
47
FIGURA 1.6 Fotos de Myrciaria jaboticaba: A Botão floral e flor; B Folhas; C Frutos
verdes;
D Árvore.
A
B
C
D
48
FIGURA 1.7 Fotos de Myrciaria coronata: A botão floral; B Flor; C Folhas; D fruto; E
árvore.
A
B
C
D
E
49
FIGURA 1.8 Fotos de Myrciaria trunciflora:
A botão floral; B Flores; C Folhas; D
frutos verdes; E frutos maduros.
A
C
B
D
B
B
B B
D
E
Foto: Silvestre Silva
50
FIGURA 1.10 Apis mellifera coletando pólen em Myrciaria sp.
FIGURA 1.9 A Flores de Myrciaria cauliflora logo após a antese; B Flores de M. cauliflora
5 horas após a antese.
A
B
51
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53
Capítulo 2
SISTEMA REPRODUTIVO E DIVERSIDADE GENÉTICA
DE JABUTICABEIRAS (Myrciaria spp., Myrtaceae)
54
RESUMO
Este trabalho buscou investigar o sistema reprodutivo de quatro
espécies em simpatria de Myrciaria spp. (Myrciaria cauliflora,
Myrciaria jaboticaba, Myrciaria coronata e Myrciaria trunciflora),
utilizando tratamentos de polinização cruzada interespecíficos e
relacionar a distância genética de uma coleção ex situ de
jabuticabeiras, com o objetivo de identificar possíveis mecanismos de
isolamento reprodutivos pós-zigótico. Foram realizados experimentos
para analisar a biologia reprodutiva e a capacidade de cruzamentos
interespecíficos entre M. trunciflora x M. cauliflora e M. jaboticaba x
M. coronata. A distância genética foi identificada através de
marcadores moleculares tipo RAPD, para todas as 71 plantas
existentes na coleção estudada correspondentes a 18 táxons
distintos, incluído, pelo menos 5 espécies descritas. Os tratamentos
reprodutivos realizados nos mostram que as jabuticabeiras são
plantas autocompatíveis e que não há apomixia. Os cruzamentos
bidirecionais de polinização entre M. trunciflora x M. cauliflora e entre
M. jaboticaba x M. coronata, produziram pegamentos de 22 a 27%
além de frutos abortados precocemente. As sementes resultantes
foram colocadas para germinar logo após à colheita e todos os
cruzamentos produziram plântulas normais evidenciando a falta de
barreiras genéticas entre as espécies testadas. Esta compatibilidade
de intercruzamentos pode ser explorada no melhoramento genético,
visando à transferência de caracteres de interesse em genótipos
agronomicamente superiores. Foi encontrada pouca diferenciação
genética entre os diferentes táxons, sugerindo que a similaridade
genética não é compatível com a similaridade morfológica e os
principais caracteres de valor taxonômico são polimórficos dentro do
gênero.
Palavras-chave: jabuticaba, isolamento reprodutivo, compatibilidade,
RAPD.
55
ABSTRACT
This work intended to investigate the reproductive system of four
sympatric species of Myrciaria spp. (Myrciaria cauliflora, Myrciaria
jaboticaba, Myrciaria coronata and Myrciaria trunciflora) using inter-
yew pollination treatment and to relate the genetic distance of one
jaboticaba tree ex situ population, in order to identify possible pos-
zygote reproductive isolation mechanisms. Reproductive biology
treatments and interspecific crossing were realized between M.
trunciflora x M. cauliflora and M. jaboticaba x M. coronata. The
genetic distance was identified through the molecular markers such
as RAPD. The reproductive treatments performed showed us that the
jabuticaba plants are self-compatible. The bidirectional crossing of
intertaxa pollination between M. trunciflora x M. cauliflora and
between M. jaboticaba x M. coronata, produces gluing of 22% to 27%
and presented also a precociously aborted fruits proportion. The
jaboticaba tree does not presented parthenogenesis formed fruits.
The resultant seeds were placed to germinate just after the picking
and in all the crossings normal plantule were produced becoming
evident the lack of genetic barriers among the tested species. This
characteristic can be explored through genetic improvement, aiming
at transferring the interest characters in agronomical superior
genotype. Genetic difference associated to intertaxa crossing
compatibility was rarely found, suggesting that the genetic similitude
is not compatible with the morphologic similitude and that the
taxonomic value of main characters is polymorphic in the gender.
Keywords: jaboticaba, reproductive isolation, compatibility, RAPD.
56
INTRODUÇÃO
O conhecimento do sistema reprodutivo é essencial para um
entendimento do padrão de fluxo gênico, da relação planta-
polinizador e da diversidade genética dentro e entre populações
(Bawa, 1974), sendo de primordial importância para o entendimento
do processo evolutivo das plantas e sua persistência na natureza
(Bawa, 1974; Richards, 1997 e Kearns & Inouye, 1993). As barreiras
ao fluxo gênico são definidas como mecanismos de isolamento
reprodutivo pré e pós-zigóticos (Grant, 1963; Stebbins, 1970 e
Dobzansky 1973) e são essenciais no processo de especiação.
A aplicação da genética nos estudos de conservação visa o
entendimento da estrutura genética das populações e, para tanto,
são necessárias informações básicas sobre a biologia reprodutiva da
espécie investigada, além de estudos fenotípicos. O sistema
reprodutivo das plantas é consequência de características
reprodutivas próprias e, também, de suas interações com o meio
ambiente (Dafni et al., 2005).
Estudos investigando sistemas reprodutivos dentro de
populações são raros (Ratnayake et al., 2006). Um dos estudos mais
abrangentes sobre sistema reprodutivo de espécies florestais foi
realizado por Bawa (1974) na Costa Rica. Foi considerado um total
estimado de 130 espécies arbóreas, com o seguinte resultado: 14%
autocompatíveis; 54% auto-incompatíveis; 22% dióicas e 10%
monóicas. Foram também investigadas 34 espécies de 88 espécies
hermafroditas que ocorriam na área de estudo, quanto à
autocompatibilidade e à auto-incompatibilidade. Entre estas 34
espécies, 27 eram auto-incompatíveis e 7 auto-compatíveis. O autor
discutiu sobre o significado evolutivo dos sistemas de cruzamento e,
enquanto a prevalência da polinização cruzada em plantas tropicais
mantém a variabilidade genética, o mesmo autor concluiu que a
57
autopolinização pode ocorrer como uma alternativa à pressão de
seleção e uma estratégia eficaz para garantir a reprodução.
O trabalho de Proença & Gibbs (1994) foi o primeiro estudo
mais amplo sobre biologia reprodutiva de Myrtaceae neotropicais
publicado. O estudo foi conduzido no cerrado e foram estudadas oito
espécies de Myrtaceae (Eugenia dysenterica, Siphoneugena
densiflora, Blepharocalyx salicifolius, Camponesia pubescens,
Camponesia velutina, Myrcia linearifolia, Myrcia rhodosepala e
Psidium firmum). Todas as espécies estudadas foram polinizadas por
abelhas e dentre as quatro espécies de árvores três foram
consideradas auto-incompatíveis (Blepharocalyx salicifolius,
Campomanesia velutina e Siphoneugena densiflora), pois não
produziram frutos quando autofecundadas, e apenas uma espécie
(Eugenia dysinterica) produziu o mesmo mero de frutos após
fecundação cruzada ou autofecundação.
A jabuticabeira é uma planta nativa da América do Sul (Morton,
1987) e tem sofrido grande erosão genética devido à expansão da
agricultura e desmatamento. A manutenção de uma coleção de
plantas vivas é uma das estratégias internacionais para deter a
elevada perda de biodiversidade, garantindo-se a conservação de
espécies ameaçadas em ambientes protegidos. Por ser uma frutífera
de ciclo longo e possuir frutos muito perecíveis s-colheita, a
jabuticabeira tem sido uma espécie pouco estudada. Segundo
Donadio (2000), algumas espécies encontram-se restritas a coleções
e correm o risco de extinção, pois possuem ocorrência restrita a
áreas sujeitas ao desmatamento. Os pomares domésticos de
jabuticaba ajudam na manutenção de variedades, porém, a
preferência por espécies produtivas e com boas características para
consumo, também pode causar perda de variabilidade genética.
Lorenzi et al.(2006) nos alertam para o plantio quase exclusivo de
determinadas cultivares mais produtivas em detrimento de outras e
58
observam a valiosa contribuição de colecionadores de frutíferas para
a preservação de nossos recursos genéticos.
Além disso, pouco se conhece sobre a taxonomia das
jabuticabeiras e assim como outras Myrtaceae, uma grande
dificuldade quanto à classificação, devido à semelhança de diversas
características. McVaugh (1968), citado por Barroso (1991),
descreveu como é dicil e tedioso o trabalho de classificação das
Myrtaceae americanas e desde seu trabalho, pouco tem sido feito e
vários gêneros continuam com limites ambíguos (Landrum &
Kawasaki, 1997).
A jabuticabeira é uma planta pouco conhecida geneticamente e
estudos envolvendo marcadores moleculares tipo RAPD podem ser
úteis na identificação de acessos de um banco de germoplasma
(Costa, 2003). Em seu trabalho realizado em Jaboticabal, Costa
(2003), além de testar diferentes protocolos para extração de DNA,
buscou associação entre marcadores genéticos e morfológicos.
Apesar de ter conseguido associação com a maioria dos genótipos,
algumas plantas não conseguiram ser agrupadas, mostrando a
necessidade de definição dos caracteres morfológicos para distinção
entre as espécies.
Os marcadores moleculares têm sido frequentemente utilizados
em estudos sobre diversidade e estrutura genética populacional
(Zucchi, 2002) e, estes dados, associados a dados geográficos e
ecológicos, têm permitido estabelecer relações de grande valor tanto
para a manutenção de bancos de germoplasma ex situ como in situ
(Cansian, 2003).
Morfologia floral similar, compartilhamento dos mesmos
polinizadores e semelhança na época de floração pode ocasionar fluxo
gênico entre as espécies, como foi discutido no capítulo 1, assim
como uma estreita base genética pode levar à formação de bridos
em táxons simpátricos.
59
Neste cotexto, o objetivo deste estudo é investigar o sistema
reprodutivo de espécies em simpatria de Myrciaria spp. utilizando
tratamentos de polinização cruzada, identificar possíveis mecanismos
de isolamento reprodutivo pós-zigótico e identificar as estratégias das
diferentes espécies para manutenção de sua integridade taxonômica.
O trabalho buscou identificar também o grau de distância genética
entre os todos os diferentes táxons da população.
Este estudo utilizou como modelo uma população ex situ de
jabuticabeiras, em Minas Gerais, com 71 plantas de 18 diferentes
táxons de diversos estados brasileiros. Dentre as espécies que serão
abordadas neste estudo, a Myrciaria coronata e M. jaboticaba
ocorrem em simpatria no Vale do Rio Doce, Minas Gerais, enquanto
que no sul do estado ocorrem em simpatria a M. coronata e M.
trunciflora (Marco Lacerda, informação pessoal). A M. cauliflora foi
encontrada em simpatria com outras espécies que não foram
incluídas neste trabalho.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho proposto foi realizado por um ano entre março de
2008 e fevereiro de 2009, em população ex situ de jabuticabeiras de
aproximadamente 40 anos, localizado no município de Coqueiral,
região do Sul de Minas Gerais, Brasil (45º27‟58” de latitude,
21º14‟74” de longitude e 817m de altitude). Esta coleção conta com
71 plantas e possui exemplares de vários táxons de jabuticabeira,
originários de vários estados brasileiros. O clima da região é do tipo
Cwa, segundo a classificação de Köppen, definido como subtropical,
com inverno seco e verão úmido. Registra temperatura média anual
de 19,4ºC e precipitação anual em torno de 1.500mm (Brasil, 1992).
O entorno da área é formado por matas ciliares e um grande mero
de espécies florestais e frutíferas, nativas e exóticas. também
área de plantio de café e pastagens próximos.
60
Tratamentos de polinização
Para os estudos de biologia reprodutiva, bem como os
cruzamentos controlados foram escolhidas aleatoriamente de 3 a 6
plantas de cada espécie (Myrciaria cauliflora, M. jaboticaba, M.
coronata e M. trunciflora).
Apomixia: os estames foram retirados antes da abertura da
flor, na fase de pré-antese, com ajuda de uma lupa de cabeça e, em
seguida, a flor foi ensacada para observação da ocorrência do
desenvolvimento do fruto sem fecundação.
Autopolinização manual (autogamia): os grãos de pólen das
anteras foram transferidos para o estigma da mesma flor, com a
utilização de pinças e, posteriormente, ensacadas com copos de
plástico e fixadas com fita crepe ao redor do tronco até o
desenvolvimento dos frutos.
Autopolinização espontânea: os indivíduos foram ensacados em
fase de botão e observados até a frutificação.
Para as flores abertas à visitação foram marcados trechos dos
troncos das árvores, com a utilização de lã colorida, e suas flores
foram contadas e observadas até o desenvolvimento dos frutos.
Polinização cruzada: foram realizados cruzamentos
interespecíficos entre M. trunciflora x M. cauliflora e M. jaboticaba x
M. coronata. Os tratamentos de polinização foram realizados com as
espécies citadas devido à sobreposição de floração destas espécies.
Após a execução dos tratamentos, as flores foram ensacadas em
copos plásticos, identificados e acompanhadas até o desenvolvimento
dos frutos. Os tratamentos de polinização foram realizados no período
da man devido a maior oferta de len. As sementes resultantes
destes cruzamentos foram colocadas para germinar em saquinhos.
61
Material Genético
A análise genética foi realizada nas 71 plantas da coleção, a fim
de verificar a variabilidade genética da população, utilizando-se
marcadores genéticos de DNA tipo RAPD. Uma amostra de jambeiro
rosa (Syzygium malaccense (L.) Merr. & L. M. Perry - Myrtaceae) foi
utilizada como grupo externo. O DNA genômico foi obtido a partir de
folhas jovens. O método de extração utilizado foi o CTAB (Lodhi et
al., 1994) com modificações. O material genético foi coletado em
campo e mantido etiquetado e sob congelamento até o momento da
extração do DNA. As plantas foram devidamente marcadas com
placas de identificação.
Extração de DNA
A extração de DNA foi realizada no Laboratório de Biologia
Molecular (LBM) do Instituto de Biologia da UFBA Campus de
Ondina. As folhas jovens foram maceradas em nitrogênio quido e
transferidas para tubos de micro centrífuga de 2 ml. Em seguida foi
adicionado 1 ml de tampão de extração CTAB (2% de CTAB; 1 M
tris-HCL pH 8,0; 1,4M NaCl; 0,5M EDTA e 1% PVP) e 1% de β-
mercaptoetanol e colocado em banho-maria a 63ºC por 60 min. Após
este período foi adicionado 700 ml de clorofórmio:álcool isoamílico
(24:1), agitando-se lentamente os tubos e centrifugado a 12.000 rpm
por 15min, à temperatura de 30ºC. O sobrenadante (600 µl) foi
transferido para outro tubo, onde, em seguida foi adicionado 2/3 do
volume (350 µl) de isopropanol. O material foi agitado lentamente e
levado ao congelador por 1 hora, para precipitação do DNA. Após
esse tempo, o material foi centrifugado a 10.000 rpm por 15 min, a
uma temperatura de 4ºC. O sobrenadante foi descartado e o pellet
(DNA) foi seco e lavado com etanol a 76% gelado. Após 5 min a
solução foi descartada e as paredes novamente secas. O DNA foi
62
dissolvido em 50 µl de TE (1,0 mM Tris HCl; 0,5 mM EDTA Ph 8,0) e
armazenado em congelador a -20ºC.
Quantificação do DNA genômico
As amostras de DNA foram quantificadas em gel de agarose a
0,8%, com tampão TBE 1X (0,045M tris-borato e 2,0 mM EDTA) e
comparadas a 4 concentrações de DNA de padrões previamente
conhecidos (Low DNA Mass Ladder). Utilizou-se 2µl de DNA, 7µl de
água bidestilada e 3µl de Tampão de Amostra (Ficall 400; EDTA
500mM pH 8,0; Azul de Bromofenol; Xilene Cianole e água).
As amostras a serem utilizadas no RAPD foram diluídas em TE,
de modo a conter 10ng/µl de DNA e armazenadas a -20ºC.
Análise RAPD
Esta etapa do trabalho foi conduzida no Laboratório de Genética
Molecular da Universidade Federal de Lavras (UFLA). Foram utilizados
12 primers de 10 bases de sequência arbitrária, desenvolvidos pela
Operon Tecnologies (TABELA 2.1). As reações de amplificação foram
realizadas em termociclador Eppendorf MasterCycler Gradient 5331,
programado para os ciclos conforme TABELA 2.2.
Para cada reação de PCR foram utilizados 2,25 µl de DNA e
9,76 µl do mix (4,49 µl de água bidestilada; 1,0 µl de tampão; 0,66
µl de dNTP; 2,25 µl de primer; 0,96 µl de Taq diluente e 0,4 µl de
Taq DNA polimerase), obtendo-se 12,01 µl de volume final. Os
fragmentos amplificados foram separados em gel de agarose a 1,4%,
com eletroforese em tampão TBE 1X a uma voltagem de 100 v por
aproximadamente 2,5h. Após este peodo o gel foi corado com
brometo de etídio e visualizado sob luz ultravioleta Fotodyne. O
resultado foi documentado através de fotodocumentador EDAS 290
(Kodak®).
63
TABELA 2.1. Primers utilizados e suas respectivas sequências de bases
arbitrárias.
Iniciadores
Sequências
Operon
AL 01
TGT GAC GAC G
AL 03
CCC ACC CTT G
AL 04
ACA ACG GTC C
AL 05
GAC TGC GCC A
AL 07
CCG TCC ATC C
AL 10
AAG GCC CCT G
AL 15
AGG GGA CAC C
AL 16
CTT TCG AGG G
AL 20
AGG AGT CGG A
AX 05
AGT GCA CAC C
AX 06
AGG CAT CGT G
AX 17
TGG GCT CTG G
TABELA 2.2 - Programa de amplificação utilizado no termociclador.
Passos
Temperatura (ºC)
Tempo
1
94
2 minutos
2
94
15 segundos
3
35
30 segundos
4
72
1 minuto
5
Repetir 39x os passos de 2 a 4
6
72
7 minutos
7
10
finalização
Com os dados obtidos pelas análises do gel de RAPD, foi
montada uma matriz binária, onde as bandas polimórficas foram
analisadas quanto a sua ausência ou presença, utilizando-se o
número “1” para presença de banda e o número “0para ausência de
banda. As amostras que tiveram falha no gel foram identificadas pelo
número -1”. Os dados foram transferidos para o programa Excel e
analisados através do software Past versão 1.81 (Hammer et al.,
2001). Foi obtida uma matriz de similaridade genética, utilizando o
Coeficiente de Similaridade de Jaccard.
64
RESULTADOS
Experimentos de polinização
Os resultados dos experimentos realizados para o estudo do
sistema reprodutivo encontram-se na tabela 2.3.
As jabuticabeiras não apresentaram frutos formados por
apomixia, ou seja, produção de frutos e sementes com embriões
viáveis sem a ocorrência de fecundação em nenhuma das espécies
testadas (TABELA 2.3).
TABELA 2.3 - Percentual de frutificação oriunda das polinizações experimentais de
apomixia, autopolinização espontânea, autopolinização manual e polinização aberta
natural nas quatro espécies de jabuticabeiras. Coqueiral, Minas Gerais.
No tratamento reprodutivo realizado para o teste de
autopolinização espontânea, as flores ensacadas antes de sua
abertura, em todas as quatro espécies, produziram frutos normais,
demonstrando certa autocompatibilidade entre os táxons.
Nos experimentos de autopolinização manual, Myrciaria
coronata obteve resultado de 33% de pegamento. Para as outras
espécies o resultado obtido foi de 0%, provavelmente, devido a
algum erro na execução dos tratamentos.
Os cruzamentos bidirecionais de polinização interespecífica
entre M. trunciflora x M. cauliflora e entre M. jaboticaba x M.
coronata, produziram pegamentos de 22 a 27%, conforme tabela 2.4,
Espécies
% de frutos formados
Apomixia
N
Autopolinização
espontânea
N
Autopoliniza-
ção manual
N
Polinização
aberta
N
M. coronata
0%
12
17%
41
33%
6
-
-
M. jaboticaba
0%
8
45%
101
0%
3
44%
135
M. trunciflora
0%
19
8%
41
0%
20
32%
60
M. cauliflora
0%
10
8,6%
58
0%
5
38,5%
88
65
que apresenta também a proporção de frutos que foram abortados
precocemente.
TABELA 2.4 - Percentual de frutificação oriunda das polinizações experimentais
interespecíficas em Myrciaria spp. Coqueiral, Minas Gerais.
Cruzamentos realizados
Resultados
N
Nº frutos
desenvolvidos
Frutos
abortados
Ñ houve formação
de frutos
M. coronata x M. jaboticaba
8 (22%)
14 (39%)
14 (39%)
36
M. jaboticaba x M. coronata
4 (27%)
0 (0%)
11 (73%)
15
M. trunciflora x M. cauliflora
8 (27%)
7 (23%)
15 (50%)
30
M. cauliflora x M. trunciflora
5 (23%)
2 (9%)
15 (68%)
22
Em todos os cruzamentos realizados houve formação de frutos,
com uma ou mais sementes, não fugindo ao normalmente encontrado
nos frutos destas espécies. As sementes foram colocadas para
germinar logo após à colheita e de todos os cruzamentos foram
produzidas plântulas normais (TABELA 2.5).
TABELA 2.5 - Percentual de germinação das sementes resultantes das polinizações
experimentais interespecíficas em Myrciaria spp. Coqueiral, Minas Gerais.
Cruzamento
Germinou
N
M. coronata x M. jaboticaba
25%
12
M. jaboticaba x M. coronata
100%
6
M. trunciflora x M. cauliflora
92%
13
M. cauliflora x M. trunciflora
63%
11
Marcadores RAPD
Para a análise dos marcadores moleculares foram testados 12
primers, porém, apenas 8 proporcionaram confiabilidade (AL03,
AL04, AL05, AL07, AL13, AL15, AX05 E AX06) e foram analisados,
sendo que os 4 primers que não apresentaram eficiência na
amplificação, não puderam ser analisados. Os 8 primers analisados
geraram 37 bandas polimórficas e apenas as bandas mais intensas
foram consideradas. Na FIGURA 2.1 temos o dendrograma formado.
66
Foram excluídos da análise genética cinco genótipos de jabuticabeira
por não apresentarem uma quantidade suficiente de amplificações,
portanto a análise foi realizada em apenas 66 genótipos de
jabuticabeira e 1 de jambeiro rosa. Os subgrupos formados
apresentaram divergência genética em torno de 50%.
67
FIGURA 2.1 - Dendrograma de similaridade genética, obtido através do
coeficiente de Jaccard, de 66 genótipos de jabuticabeiras e 1 jambeiro rosa.
0 8 16 24 32 40 48 56 64
0
0,12
0,24
0,36
0,48
0,6
0,72
0,84
0,96
Similaridade
Jambo Rosa
M. coronata
M. coronata
M. cauliflora
M. cauliflora
M. x jaboticaba
M. trunciflora
M. cauliflora
M. trunc. "vermelh
M. sp 6
M. coronata
M. sp 2
M. jab. "jambo"
M. jab. "jambo"
M. jaboticaba
M. coronata
M. coronata
M. cauliflora
M. jab. "pintada"
M. cauliflora
M. cauliflora
M. cauliflora
M. coronata
M. cauliflora
M. jab. "pingo de
M. jab. "pingo de
M. jaboticaba
M. jab. "pingo de
M. jab. "sabarazin
M. jab. "sabarazin
M. jab. "sabará"
M. cauliflora
M. jaboticaba
M. jab. x coronata
M. trunciflora
M. sp 6
M. trunciflora
M. coronata
M. trunciflora
M. jabot.x caulifl
M. cauliflora
M. sp 3
M. sp 5 "bicuda"
M. cauliflora
M. trunciflora
M. coronata
M. sp 4
M sp x jaboticaba
M. sp 5 "bicuda"
M. trunciflora
M. sp 5 "bicuda"
M. cauliflora
M. coronata
M. cauliflora
M. coronata
M. cauliflora
M. cauliflora
M. trunciflora
M. sp 1
M. caul. "ponhema"
M sp x jaboticaba
M. sp (vermelha)
M. trunciflora
M. coronata
M. aureana (branca
M. trunc. " Ipuiún
M. trunciflora
Jambo Rosa
Myrciaria coronata
Myrciaria coronata
Myrciaria cauliflora
Myrciaria cauliflora
Myrciaria x jaboticaba
Myrciaria trunciflora
Myrciaria cauliflora
Myrciaria trunciflora “vermelha”
Myrciaria sp 6
Myrciaria coronata
Myrciaria sp 2
Myrciaria jaboticaba “jambo”
Myrciaria jaboticaba “jambo”
Myrciaria jaboticaba
Myrciaria coronata
Myrciaria coronata
Myrciaria cauliflora
Myrciaria jaboticaba “pintada
Myrciaria cauliflora
Myrciaria cauliflora
Myrciaria cauliflora
Myrciaria coronata
Myrciaria cauliflora
Myrciaria jaboticaba “pingo de ouro”
Myrciaria jaboticaba “pingo de ouro”
Myrciaria jaboticaba
Myrciaria jaboticaba “pingo de ouro”
Myrciaria jaboticaba “sabará”
Myrciaria jaboticaba “sabará”
Myrciaria jaboticaba “sabará”
Myrciaria cauliflora
Myrciaria jaboticaba
Myrciaria jaboticaba x M. coronata
Myrciaria trunciflora
Myrciaria sp 6
Myrciaria trunciflora
Myrciaria coronata
Myrciaria trunciflora
Myrciaria jaboticaba x M. cauliflora
Myrciaria cauliflora
Myrciaria sp 3
Myrciaria sp 5 “bicuda”
Myrciaria cauliflora
Myrciaria trunciflora
Myrciaria coronata
Myrciaria sp 4
Myrciaria sp x M. jaboticaba
Myrciaria sp 5 “bicuda”
Myrciaria trunciflora
Myrciaria sp 5 “bicuda”
Myrciaria cauliflora
Myrciaria coronata
Myrciaria cauliflora
Myrciaria coronata
Myrciaria cauliflora
Myrciaria cauliflora
Myrciaria trunciflora
Myrciaria sp 1
Myrciaria cauliflora “ponhema”
Myrciaria sp x M. jaboticaba
Myrciaria sp (vermelha)
Myrciaria trunciflora
Myrciaria coronata
Myrciaria aureana (branca)
Myrciaria trunciflora “Ipuiúna”
Myrciaria trunciflora
68
DISCUSSÃO
O sistema reprodutivo investigado mostrou que as
jabuticabeiras são plantas autocompatíveis, pois as flores produziram
frutos mesmo após terem sido ensacadas em fase de botão e não
produzem frutos por apomixia. Além disso, são comuns em pomares
domésticos, jabuticabeiras plantadas isoladamente e com produção
normal de frutos. Apesar de serem autocompatíveis, como
evidenciado neste trabalho, segundo Morton (1997) as jabuticabeiras
plantadas solitariamente são menos produtivas do que quando
plantadas em grupos, indicando que a polinização cruzada incrementa
a produção de frutos. Isto fica evidenciado, quando comparamos os
resultados dos experimentos de polinização espontânea e polinização
aberta (controle).
A polinização aberta produziu pegamento de 44%, 32% e
38,5% para as espécies Myrciaria jaboticaba, M. trunciflora e M.
cauliflora, respectivamente, enquanto que a autopolinização
espontânea obteve pegamento de 17%, 8% e 8,6% para os táxons,
Myrciaria coronata, M. trunciflora e M. cauliflora respectivamente.
Com exceção de M. jaboticaba, a porcentagem de polinização aberta
foi alta, quando comparada com a polinização espontânea. Este
incremento da produtividade nos experimentos de polinização aberta
evidencia a importância dos polinizadores para esta cultura.
Conforme apresentado no capitulo anterior, as abelhas pousam
diretamente sobre as anteras das flores das jabuticabeiras e
caminham rapidamente sobre as flores, coletando os grãos de pólen
de toda a inflorescência. Este comportamento, além de promover a
autopolinização, pode ser favorável a geitonogamia. Conforme
descrito por Lughadha & Proença (1996), esse fenômeno é comum
em espécies de Myrtaceae, que possuem flores pequenas e com
floração concentrada em poucos dias.
69
A morfologia floral das flores das jabuticabeiras, analisada no
capitulo 1, também se mostrou favorável à autopolinização, pelos
estames numerosos e voltados para o centro da flor. A
autopolinização é uma estratégia eficaz para garantir o sucesso da
polinização e, também, uma grande vantagem em locais com
deficiência de polinizadores (Bawa, 1974). Segundo Lughadha &
Proença (1996), o número de espécies da subfamília Myrtoideae que
são autocompatíveis assemelha-se ao das espécies que são
incompatíveis. Aproximadamente 20% das plantas superiores são
predominantemente autocompatíveis, sendo que a polinização
cruzada ocasional nestas espécies possui consequências importantes
(Kearns & Inouye, 1993), como incremento da produção e
manutenção da variabilidade genética.
Alves & Freitas (2006), em estudo sobre agentes polinizadores
da goiabeira (Psidium guajava L. Myrtaceae), encontraram a abelha
Apis mellifera como a polinizadora mais eficiente para a cultura da
goiabeira, principalmente, devido às visitas mais demoradas e por
promoverem a queda de grãos de pólen no estigma. Além disso, os
autores observaram que o período de pastejo ocorreu durante as
primeiras horas do dia, ou seja, horário de maior disponibilidade de
alimento no pomar.
Neste estudo, as quatro espécies estudadas quanto à biologia
floral, partilham os mesmos polinizadores e a época de florescimento
é coincidente conforme visto no capítulo anterior, podendo também
favorecer a polinização cruzada e aumentando a variabilidade
genética da população. Os tratamentos manipulativos de polinização
mostraram compatibilidade interespecífica existente entre as
jabuticabeiras (TABELA 2.4). Em todos os experimentos realizados,
houve formação de frutos normais e frutos pequenos e mal formados.
Ocorreu variação entre 22 a 27% de formação de frutos normais.
Esta taxa pode ser considerada alta, quando comparada à taxa de
70
pegamento da polinização aberta (controle), que não ultrapassou
44%.
As sementes oriundas dos tratamentos manipulativos
germinaram normalmente, evidenciando a formação de híbridos.
Porém, a não formação de frutos e a formação de frutos não
desenvolvidos completamente podem ser resultado de certo grau de
incompatibilidade genética ou barreiras pós-zigóticas parciais entre as
espécies (FIGURA 2.2).
Entretanto, para assegurar a viabilidade de um híbrido, um
parâmetro importante é a sua fertilidade, uma vez que, muitas vezes,
diferenças no número cromossômico ou a falta de homologia entre
eles acarreta em esterilidade. Os estudos citogenéticos em Myrciaria
são escassos. Em trabalho de caracterização citogenética, Silveira et
al. (2006) encontraram números divergentes para a quantidade de
cromossomos em duas espécies de jabuticabeira. Em Myrciaria
cauliflora foi encontrado 2n=22 e em Myrciaria trunciflora, 2n=48.
Costa (2004), que analisou 19 espécies de três gêneros de Mytaceae,
incluindo se as espécies Myrciaria delicatula, M. dubia, M. tenella,
Myrciaria sp, Plinia cauliflora (= M. cauliflora) e Plinia glomerata,
mostra que o número básico da família é x = 11 e todas as espécies
de Myciaria e Plinia foram diplóides, embora poliplóides tenham sido
encontrados no gênero Eugenia. Assim, o resultado encontrado por
Silveira et al. (2006) para Myrciaria trunciflora foi considerado
surpreendente, com 2n=48. Apesar deste relato, os experimentos de
polinização cruzada entre M. trunciflora e M. cauliflora produziram
frutos normais com sementes viáveis.
Ainda que mecanismos de isolamento pós-zigóticos como
esterilidade ou degenerescência do híbrido sejam confirmados no
futuro, a compatibilidade de cruzamentos mostrada neste trabalho
remete a uma possível pequena diferenciação genética e o isolamento
seria atribuído principalmente ao isolamento geográfico. No entanto,
71
existem espécies ocorrendo em simpatria na natureza e, também, em
cultivos.
Conforme relatado por M. Lacerda (informação pessoal),
Myrciaria jaboticaba e M. coronata ocorrem em simpatria no Vale do
Rio Doce, Minas Gerais. Neste trabalho, estas espécies foram
hibridizadas e houve formação de frutos normais. Dessa forma,
podemos inferir que a inexistência de isolamento pré ou pós-zigóticos
entre eles pode levar a produção de bridos em áreas de ocorrência
natural. Algumas populações podem estar sendo observadas no
caminho para o processo de especiação. Elas são parcialmente
diferenciadas, possuem algum tipo de isolamento e são de difícil
classificação (Frankham et al., 2008).
A diferenciação genética entre as espécies de jabuticabeiras nos
poucos estudos realizados com o gênero, todos utilizando o marcador
de RAPD, mostraram pouca diferencião entre as espécies, uma vez
que formaram clados agrupando poucas plantas (Pereira, 2003),
evidenciando uma base genética comum entre todas as jabuticabeiras
(Costa, 2003).
Neste trabalho, da mesma forma encontramos uma clara falta
de definição dos grupos taxonômicos. Os agrupamentos de diferentes
níveis de similaridade genética entre os táxons estudados, não
correspondem às classificações taxonômicas.
Analisando o dendrograma obtido neste trabalho (FIGURA 2.1),
pode-se notar a grande divergência genética entre os táxons, em
torno de 50%, inclusive nos táxons classificados como semelhantes,
resultado este, semelhante ao apresentado por Costa (2003). Isto
pode ser reflexo da dificuldade de classificação do gênero Myrciaria, e
indica uma necessidade de definição das características morfológicas
efetivamente discriminantes para as espécies. Com base nos
resultados obtidos, podemos sugerir que os principais caracteres de
valor taxonômico são polimórficos dentro do gênero.
72
As plantas utilizadas nos cruzamentos interespecíficos tiveram
resultados diferentes em relação à distância genética, onde tanto
plantas que foram agrupadas e plantas que ficaram em clados
diferentes tiveram resultados semelhantes. Como todos os
cruzamentos tiveram resultados de pegamentos em torno de 25%,
isto significa que a divergência genética não influenciou a capacidade
de cruzamento.
Na análise genética foi utilizada uma amostra de jambeiro rosa
(Syzygium malaccense Myrtaceae) como grupo externo. Como
podemos observar no dendrograma, esta planta aparece distante
geneticamente das demais jabuticabeiras, conforme esperado.
Podemos notar, também, que algumas plantas pertencentes à mesma
espécie, como por exemplo, de Myrciaria jaboticaba (M. jaboticaba
“jambo”, “sabará” e “pingo de mel”) e Myrciaria sp “bicuda” foram
agrupadas num clado comum, indicando que a técnica pode ser útil
na caracterização da variabilidade genética de populações.
Além disso, neste estudo foram realizadas análises de DNA de
71 plantas originadas de vários estados brasileiros e, dentre estas
plantas foram identificados 18 xons diferentes, mostrando assim, a
grande diferença morfológica e diversidade genética desta coleção. A
capacidade de intercruzamento evidenciada neste trabalho pode ser
explorada no melhoramento genético da espécie, visando a
transferência de caracteres de interesse presentes em algum
genótipo agronomicamente superior.
73
FIGURA 2.2 - Fruto em início de formação referente ao cruzamento entre Myrciaria
coronata x Myrciaria jaboticaba.
74
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77
CONCLUSÃO GERAL
Os táxons de jabuticabeira estudados em Minas Gerais
apresentam floração anual e florescem, principalmente, no
início da estação chuvosa. Com exceção de Myrciaria aureana e
Myrciaria sp 1 (Vermelha) que tiveram floração extemporânea.
A morfologia floral se mostrou similar entre as quatro espécies
analisadas: Myrciaria coronata, Myrciaria trunciflora, Myrciaria
cauliflora e Myrciaria jaboticaba.
A abelha Apis mellifera foi considerada a principal polinizadora
da frutífera, apresentando comportamento pilhador e
procurando a planta para coleta de pólen, principal recurso
floral.
As espécies de jabuticabeiras são autocompatíveis, porém com
certa taxa de polinização cruzada, e não produzem frutos por
apomixia. Apesar da autocompatibilidade as flores que
receberam os visitantes florais obtiveram maior sucesso
reprodutivo.
Não foi encontrado isolamento pré-zigótico temporal ou
mecânico entre as espécies Myrciaria coronata, Myrciaria
trunciflora, Myrciaria cauliflora e Myrciaria jaboticaba. Nos
cruzamentos realizados entre M. trunciflora x M. cauliflora e M.
jaboticaba x M. coronata houve formação de frutos com
sementes viáveis, indicando a inexistência de isolamento pós-
zigótico entre eles e, também, frutos pequenos e mal formados,
podendo ser resultado de certa incompatibilidade genética.
Todos os genótipos analisados através dos marcadores
moleculares tipo RAPD demonstraram a estreita base genética
das jabuticabeiras e a necessidade de definição de padrões para
caracterização botânica das espécies. Este limiar estreito se
mostra como um grande desafio para os taxonomistas e indica
que a taxonomia das jabuticabeiras deve ser revista.
78
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