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textos. Um exemplo de tal situação se deu com o escritor franco-americano Julien
Green. A respeito do seu primeiro romance, frei Sinzig faz uma interessante análise:
Figuras apagadas, burgueses medíocres, empregados, criadas, solteironas histéricas,
velhas avarentas ou bisbilhoteiras, professores opacos, eis o mundo cinzento e mesquinho
que o escritor revolve. Almas secas, incolores, egoístas, pútridas, verdadeiros desertos
onde reina sonolentamente o mais bocejante tédio. Mas o sínoco das paixões sopra rijo, e
tudo se agita, freme, grita e morre, sem uma esperança, uma fé, que leve refrigério a tanta
aridez, um aconchego a tanta nudez de alma. Porque o que mais se nota na obra de Julien
Green é essa ausência de Deus. Sem crença, nem esperança, os seus personagens agitam-
se movidos pelos seus instintos e paixões, cegos, desvairados, sobre a atuação infrangível
de um determinismo inexorável. (Sinzig, 1923, p.127)
Julien Green foi o último escritor estrangeiro a entrar no Guia para as
Consciências de frei Pedro Sinzig, já que quando o crítico escreveu essas considerações,
Green só tinha publicado Pamphlet contre les catholiques de France, seu primeiro livro.
Vale lembrar que Julien Green teve formação protestante, contudo, em 1916, após a
morte de sua mãe, converteu-se ao Catolicismo. Toda a sua obra foi profundamente
marcada tanto pela sua homossexualidade como pela sua fé católica, na qual o que mais
se percebe é a eterna luta entre o bem e o mal, o puro e o impuro. Foi eleito para a
Academia Francesa em 3 de Junho de 1971, ocupando a cadeira 22, sucedendo o
também escritor católico François Mauriac. Por razões pessoais e literárias, declarou-se
demissionário da Academia em 1996, mas esta não elegeu nenhum sucessor para o seu
lugar antes da sua morte, em 1998.
Outro aspecto importante de se notar em qualquer texto de crítica religiosa é a
profusão de adjetivos. A adjetivação é sempre farta, positivo ou negativamente, pois ela
ajuda na configuração moral a respeito do objeto analisado, contribuindo na construção
de um valor literário-moral que denigre ou glorifica este mesmo objeto. A este respeito,
Aparecida Paiva fornece uma ótima listagem dessas qualificações:
Para os livros aprovados, os termos utilizados são: inofensivo, decente, proveitoso, útil,
moral, genuinamente católico, aprovado pelas autoridades eclesiásticas, interessante,
sadio, primor de delicadeza, digno de louvor, instrutivo, recomendável e merece um
lugar de honra em todas as bibliotecas.
Para os livros condenados: apaixonados, amorais, atrevido, abjeto, anti-higiênico,
anticlerical, banal, bizarro, baixo, concupiscente, cínico, canalha, deslavado, desonesto,
deplorável, escandaloso, escêntrico, exaltado, erótico, excitante, enervante, escabroso,
frívolo, fatalista, incoveniente, imoral, inenarrável, inverossímil, indigno, infame,
imundíssimo, indecente, ímpio. (Paiva, 1997, p.81), grifos da própria autora.