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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
CURSO DE MESTRADO EM ECONOMIA
ANA PAULA LOPES DE SOUZA
IMPACTOS DO PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E USO DE
BIODIESEL NA ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO AGRÁRIO
NORDESTINO
JOÃO PESSOA - PB
2009
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2
ANA PAULA LOPES DE SOUZA
IMPACTOS DO PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E USO DE
BIODIESEL NA ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO AGRÁRIO
NORDESTINO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Economia da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB), em cumprimento às
exigências para obtenção do grau de Mestre em
Economia.
Orientador: Prof. Dr. Ivan Targino Moreira
JOÃO PESSOA
2009
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3
S729i Souza, Ana Paula Lopes de.
Impactos do Programa Nacional de Produção e uso de
Biosiesel e a organização do espaço agrário nordestino / Ana
Paula Lopes de Souza. - João Pessoa, 2009.
123f. : il.
Orientador: Ivan Targino Moreira
Dissertação (Mestrado) – UFPB/CCSA
1. Economia do Trabalho. 2. Programa Nacional de
Produção e uso do Biodiesel (PNPB) – Nordeste – Brasil. 3.
Agricultura familiar – aspectos econômicos
Nordeste.
UFPB/BC CDU: 331.101.26(043)
4
ANA PAULA LOPES DE SOUZA
IMPACTOS DO PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E USO DE
BIODIESEL E A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO AGRÁRIO
NORDESTINO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB), em cumprimento às exigências para obtenção do grau de Mestre
em Economia. Área de concentração: Economia do Trabalho.
Aprovada em: _____ / _____ / _____
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Prof. Dr. Ivan Targino Moreira
Universidade Federal da Paraíba - UFPB
(Orientador)
_________________________________________________
Prof. Dr. Guilherme de Albuquerque Cavalcanti
Universidade Federal da Paraíba - UFPB
(Examinador Interno)
_________________________________________________
Prof. Dr. Robério Ferreira dos Santos
Universidade Federal de Campina Grande – UFCG
(Examinador Externo)
5
Ao meu pai, Aprígio Alves (in memorian).
6
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela oportunidade que me foi concedida de frequentar e concluir este curso.
À minha mãe, Rita, que, mesmo diante das dificuldades, não mediu esforços para que
eu pudesse conduzir meus estudos. Pelos ensinamentos, sólida formação e amor
incondicional.
Ao meu pai, Aprígio, pelos ensinamentos que me acompanharão para todo o sempre.
Aos meus irmãos, João Paulo e Erivaldo, pela paciência e companheirismo.
À minha prima-irmã Rilva, pela preocupação sincera, pelos conselhos e incentivo.
Ao meu orientador, Professor Ivan Targino, por me fazer atentar para temas
relevantes. Pela sua característica exigente de arguir as idéias apresentadas, que, de forma
determinante, contribuiu para o alcance dos objetivos propostos e para o meu amadurecimento
acadêmico. Pela paciência, pelas valiosas correções no trabalho e pela compreensão silenciosa
das minhas limitações e dificuldades.
Aos professores do curso do Mestrado em Economia, pelos quais nutro grande
admiração. Faço especial menção ao professor Guilherme Cavalcanti, que teve relevante
contribuição à minha formação acadêmica. Pelos ensinamentos proporcionados ao longo da
graduação, que foram fundamentais à elaboração desta dissertação.
Ao Professor Sinézio Maia e ao Professor Ignácio Tavares, pelo apoio no momento
oportuno.
À Terezinha e Risomar, pelas inúmeras gentilezas.
Aos colegas de turma, Ariela, Augusto, Carol, Elen, Gibran, Isa, Mari, Mayra, Pablo e
Willemberg, que me marcaram através do comportamento ético e responsável. Em especial, à
minha amiga Márcia Cristina pela amizade sincera e pelas palavras de apoio, que tanto me
incentivaram, assim como a Roberto Wagner, pela amizade e conhecimentos compartilhados.
A Tony e Ramailda, pelas informações compartilhadas.
À Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), em especial a Joelson
Matos e Alex Leal, pelo apoio durante a pesquisa de campo no município de Cafarnaum-BA,
e a Ricardo Afonso, presidente da Cooperativa Agroindustrial do Compartimento da
Borborema (COOPAIB), pelo apoio à pesquisa de campo na cidade de Pocinhos-PB.
Aos produtores de mamona dos municípios de Cafarnaum e Pocinhos, que
responderam tão prontamente aos questionamentos.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo
apoio financeiro, fundamental para a conclusão deste trabalho.
7
Deveremos adotar um modo substancialmente
diferente de pensar se quisermos que a humanidade
sobreviva”.
(Albert Einstein)
8
RESUMO
O Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) foi criado, em 2004, com o
objetivo de produzir biodiesel de forma sustentável, bem como promover a inclusão social da
agricultura familiar à cadeia produtiva do biodiesel. O objetivo desta dissertação é investigar
os impactos do PNPB no uso do solo no espaço agrário do Nordeste do Brasil. Para isso, foi
realizado um estudo sobre a política brasileira de produção de biodiesel, mapeando-se a
produção das matérias-primas agroenergéticas (mamona e soja) nas microrregiões do
Nordeste, com aplicação do Modelo de Zockun à área colhida dessas matérias-primas, além
da estimação do número de empregos gerados com o cultivo dessas lavouras. Os resultados
mostram que o PNPB é eficaz no sentido de direcionar o cumprimento da meta proposta no
programa, de adição de 5% de biodiesel ao diesel, a ser alcançada até 2013. No entanto, a
possibilidade de inclusão social não parece ser a tendência principal do programa, pois a
produção de biodiesel está fortemente concentrada na soja como matéria-prima (77%).
Quanto aos seus impactos sobre o uso do solo, constatou-se que a produção de soja do
Nordeste está concentrada no Oeste da Bahia (nas microrregiões de Barreiras e Santa Maria
da Vitória), no Sul do Maranhão (nas microrregiões de Chapadas das Mangabeiras e Gerais de
Balsas) e no Sul do Piauí (nas microrregiões do Alto Parnaíba Piauiense, Alto Médio
Gurguéia e Bertolínea). No caso da mamona, apesar de haver produção em todos os Estados
do Nordeste (com exceção de Sergipe), apenas a Bahia possui produção com
representatividade regional. As principais produtoras de mamona são as microrregiões de
Irecê e Jacobina, seguidas de Senhor do Bonfim e Seabra. A introdução da soja no Nordeste
brasileiro levou à ampliação da utilização do solo evidenciada pela expansão da área cultivada
do sistema e também, embora em menor grau, pela substituição da soja em detrimento das
lavouras de subsistência. A mamona teve um pequeno efeito sobre a expansão da área
cultivada do sistema e sobre a substituição de produtos de subsistência. Verificou-se uma
baixa geração de empregos no cultivo da soja dada a sua alta mecanização. A mamona,
embora possua produção menor, emprega um número maior de pessoas haja vista que é uma
lavoura cultivada manualmente. Os estudos de caso realizados nos municípios de Cafarnaum-
BA e Pocinhos-PB mostraram que os agricultores familiares enfrentam dificuldades, entre as
quais sobressai a falta de apoio do governo e falta de assistência técnica. Apesar disso, a
produção familiar de mamona consegue garantir um nível de receita maior que as lavouras
tradicionais. Daí a sua importância para os agricultores familiares do semi-árido nordestino.
Palavras-chave: Agricultura familiar. Biodiesel. Mamona. Nordeste. Soja.
9
ABSTRACT
The National Program of Biodiesel Production and Use (PNPB) was created in 2004 which
aim is to producing biodiesel in a sustainable way and promote social inclusion of family
agriculture to the production chain of biodiesel. The main of this dissertation is to investigate
the impacts of PNPB for the use of agricultural land Northeast of the area. For this, a studying
was made about the brazilian policy of biodiesel production, mapping the raw materials of
agricultural energy sources (castor bean and soybean) in micro-regions of Northeast Brazil,
applying the Model Zockun, besides the estimation of the number of jobs created with the
cultivation of such crops. The results showed that PNPB is very effective in order to the
proposed target in the program, the addition of 5% biodiesel to diesel to be achieved by 2013.
However, the possibility of social inclusion doesn´t seem to be the main trend of the program,
because the production of biodiesel is heavily concentrated in soybeans as raw material
(77%). As for its impact on the use of soil, it was found that soybean production is
concentrated in the Northeast West Bahia (in micro-regions of Barreiras and Santa Maria da
Vitória), in the South of Maranhão (in micro-regions of Chapadas das Mangabeiras and
Gerais de Balsas), and in the South of Piauí (in micro-regions of Alto Parnaíba in Piaui, Alto
Médio Gurguéia and Bertolínea). In the case of castor, although be production in all states of
the Northeast (with the exception of Sergipe), only Bahia has production with regional
representation. The main producers of castor are the micro-regions of Irecê and Jacobina,
followed by Senhor do Bonfim and Seabra Cities. The introduction of soy in northeastern
Brazil has led to the expansion of use of land as evidenced by expansion of cultivated area of
the system and also, although in a lesser extent, by the substitution of soy at the expense of
subsistence crops. The castor had little effect over the expansion of cultivated area of the
system and on the substitution of products for subsistence. There was low generation of
employment in the soy crop due to its high mechanization. The castor, though has lower
production, employing a larger number of people is seen that is a crop cultivated manually.
The case studies realized in Cafarnaum-BA e Pocinhos-PB districts showed that agriculture
families are facing difficulties, standing out the lack of government support and technical
assistance . Nevertheless, the household production of castor ensures bigger levels of revenue
than traditional crops. So this is the importance of the agriculture families of the semi-arid
region.
Keywords: Family Agriculture. Biodiesel. Castor. Brazil Northeast. Soy.
10
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS.............................................................................................................11
LISTA DE QUADROS...........................................................................................................12
LISTA DE TABELAS............................................................................................................13
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................15
1.1 Definição do tema e problema de pesquisa........................................................................15
1.2 Objetivos.............................................................................................................................17
2 ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS..........................................................18
2.1 Fundamentação teórica.......................................................................................................18
2.1.1 O papel do Estado na economia ..............................................................................18
2.1.2 A questão ambiental e os biocombustíveis..............................................................26
2.1.3 Revisão da literatura................................................................................................29
2.2 Metodologia da pesquisa....................................................................................................32
3 PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E USO DE BIODIESEL (PNPB).........38
3.1 Descrição do PNPB............................................................................................................38
4 IMPACTOS DO PNPB SOBRE O USO DO SOLO E SOBRE O EMPREGO............52
4.1 Impactos sobre o uso do solo ...........................................................................................52
4.1.1 Mapeamento da produção de soja nos estados do Nordeste e em suas microrregiões
e evolução de sua área colhida nas áreas mapeadas.........................................................52
4.1.1.1 Mapeamento da produção de soja ........................................................................52
4.1.1.2 Evolução da área colhida de soja nos estados da Bahia, Piauí e Maranhão, no
período 1990 a 2007.........................................................................................................56
4.1.2 Mapeamento da produção de mamona nos estados do Nordeste e em suas
microrregiões e evolução de sua área colhida nas áreas mapeadas..................................66
4.1.2.1 Mapeamento da produção de mamona.................................................................67
4.1.2.2 Evolução da área colhida de mamona no estado da Bahia, no período 1990 a 2007
..........................................................................................................................................68
4.1.3 Modelo de Zockun...................................................................................................71
4.2 Impactos sobre o emprego..................................................................................................79
4.2.1 Modelo de geração teórica de emprego...................................................................79
5 IMPACTOS DO PNPB SOBRE A AGRICULTURA FAMILIAR DO NORDESTE
DO BRASIL: O CASO DA MAMONA................................................................................87
5.1 Estudo de caso do município de Cafarnaum-BA................................................................87
5.2 Estudo de caso no município de Pocinhos-PB ...................................................................97
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................103
7 REFERÊNCIAS ................................................................................................................107
11
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Evolução da área colhida de algodão no Nordeste, 1990-2007 .............................45
Figura 2 – Evolução da área colhida de mamona no Nordeste, 1990-2007............................46
Figura 3 – Evolução da área colhida de girassol no Nordeste, 1990-2007 .............................46
Figura 4 – Evolução do preço internacional do óleo de soja do primeiro trimestre de 1990 ao
quarto trimestre de 2008........................................................................................50
Figura 5 – Mapeamento da soja no Nordeste, 2007................................................................52
Figura 6 – Mapeamento da soja no estado da Bahia, 2007 .....................................................53
Figura 7 – Mapeamento da soja no estado do Maranhão, 2007..............................................54
Figura 8 – Mapeamento da soja no estado de Piauí, 2007 ......................................................56
Figura 9 – Mapeamento da mamona no Nordeste, 2007.........................................................66
Figura 10 – Mapeamento da mamona no estado da Bahia, 2007.............................................67
Figura 11 – Produção de mamona consorciada com o feijão no município de Cafarnaum .....88
Figura 12 – Evolução do preço da mamona no mercado de Irecê, 1996-2009 ........................91
Figura 13 – Transporte e secagem da mamona no município de Cafarnaum...........................92
Figura 14 – Planta industrial da usina de esmagamento de mamona do município.................95
Figura 15 – Máquina de pré-limpeza da mamona....................................................................96
Figura 16 – Coleta da mamona na propriedade do agricultor em Cafarnaum..........................96
Figura 17 – Produção de mamona consorciada com o sisal no município de Pocinhos ..........97
Figura 18 – Caprinocultura do município de Pocinhos............................................................98
12
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Diretrizes, metas, instrumentos, investimentos necessários e resultados alcançados
pelo PNPB .............................................................................................................39
13
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Principais alterações do percentual obrigatório de compra das matérias-primas da
agricultura familiar ................................................................................................41
Tabela 2 – Distribuição regional das usinas de biodiesel no Brasil, 2009 ..............................42
Tabela 3 – Capacidade e produção de biodiesel, 2005-2008 ..................................................43
Tabela 4 – Produção de biodiesel das usinas do país que possuem o selo combustível social,
2005-2008..............................................................................................................44
Tabela 5 – Participação das matérias-primas na produção de biodiesel (%), janeiro a
dezembro de 2008 e janeiro a maio de 2009 .........................................................47
Tabela 6 – Produção de soja no Brasil e nas suas regiões e a participação da produção
regional de soja em relação à produção nacional, 2007 ........................................48
Tabela 7 – Evolução do preço do biodiesel acordado nos leilões do setor, 2005-2008..........50
Tabela 8 – Área colhida de soja no Nordeste, Bahia, Piauí e Maranhão e participação da área
colhida desses estados na área colhida de soja do Nordeste, 1990-2007 ..............57
Tabela 9 – Áreas e variação das classes de uso e cobertura das terras do Oeste da Bahia, 1985
e 2000.....................................................................................................................61
Tabela 10 – Área colhida de soja na Bahia e nas microrregiões Barreiras e Santa Maria da
Vitória e participação da área colhida das microrregiões em relação à área de
produção de soja do Estado, 1990-2007................................................................62
Tabela 11 – Área colhida de soja no Piauí e nas microrregiões de Alto Parnaíba Piauiense,
Alto Médio Gurguéia e Bertolínea e participação da área colhida das
microrregiões em relação a área colhida de soja do Estado, 1990-2007...............63
Tabela 12 – Área colhida de soja no Maranhão e nas microrregiões de Gerais de Balsas, e
Chapada das Mangabeiras e participação da área colhida das microrregiões em
relação a área colhida de soja do Estado, 1990-2007............................................64
Tabela 13 – Área colhida de mamona no Nordeste e Bahia, 1990-2007 .................................69
Tabela 14 – Área colhida de mamona na Bahia e nas microrregiões de Senhor do Bonfim,
Irecê, Jacobina e Seabra e participação da área colhida das microrregiões em
relação a área colhida de mamona do Estado, 1990-2007.....................................71
Tabela 15 – Modelo de Zockun: resultado para a soja no estado da Bahia..............................72
Tabela 16 – Modelo de Zockun: resultado para a soja no estado do Maranhão.......................75
Tabela 17 – Modelo de Zockun: resultado para a soja no estado do Piauí...............................76
Tabela 18 – Modelo de Zockun: resultado para a mamona no estado da Bahia ......................78
Tabela 19 – Número de empregos gerados com a produção de soja na Bahia e nas
microrregiões de Barreiras e Santa Maria da Vitória, 1990-2007.........................80
Tabela 20 – Número de empregos gerados com a produção de soja no Maranhão e nas
microrregiões de Gerais de Balsas e Chapadas das Mangabeiras, 1990-2007......82
Tabela 21 – Número de empregos gerados com a produção de soja no Piauí e nas
microrregiões do Alto Médio Gurguéia, Alto Médio Piauiense e Bertolínia, 1990-
2007 .......................................................................................................................83
Tabela 22 – Denúncias registradas, denúncias fiscalizadas e trabalhadores escravos libertados
de plantações de soja do Brasil, 2004-2008...........................................................84
Tabela 23 – Casos de trabalho escravo flagrados nas plantações de soja da Bahia, Maranhão e
Piauí, 2008.............................................................................................................84
Tabela 24 – Número de empregos gerados com a produção de mamona nas microrregiões do
estado da Bahia, 1990-2007...................................................................................86
Tabela 25 – Área colhida e área perdida (em decorrência da seca) de feijão e mamona em
Cafarnaum, 1990-2007..........................................................................................89
Tabela 26 – Área colhida de mamona no município de Pocinhos, 2003-2007 ........................99
14
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANP – Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
COAFTI – Cooperativa da Agricultura Familiar do Território de Irecê
COOPAIB – Cooperativa Agroindustrial do Compartimento da Borborema
EBDA – Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola
FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nations
GEE – Gases do Efeito Estufa
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICMS – Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços
INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
MCT – Ministério de Ciência e Tecnologia
MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário
MME – Ministério de Minas e Energia
OECD – Organisation for Economic Co-operation and Development
PAM – Produção Agrícola Municipal
PNPB – Programa Nacional de Produção e uso de biodiesel
15
1 INTRODUÇÃO
1.1 Definição do tema e problema de pesquisa
um forte aumento na procura por petróleo e, ao mesmo tempo, um declínio na
taxa de descobertas de novas reservas mundiais. Reservas estas (1.258 bilhões de barris) que,
segundo informações da British Petroleum (2008), se esgotarão até meados deste século.
Mesmo que a extração mundial cresça nos próximos anos, provavelmente, não será suficiente
para satisfazer a demanda, que é crescente. Some-se a isso o fato de as principais reservas de
petróleo estarem localizadas em áreas de conflito.
A Arábia Saudita possui a maior reserva de petróleo do mundo (264,3 bilhões de
barris), seguida do Irã (137,5 bilhões de barris), Iraque (115,0 bilhões de barris) e Kuwait
(101,5 bilhões de barris), que juntos responderam por quase 50% das reservas mundiais, em
2008. O Brasil ocupa a 16ª posição no ranking, com 12,2 bilhões de barris (BRITISH
PETROLEUM, 2008).
Devido à limitação das reservas mundiais de petróleo, além das preocupações com o
aquecimento global, a agroenergia vem ganhando cada vez mais espaço, gerando um novo
cenário mundial de demanda de energia, o que, por sua vez, tem estimulado a substituição das
fontes de energia fóssil por fontes de energia renovável.
O Brasil é um país atípico no cenário internacional do ponto de vista de sua matriz
energética, pois sua participação nas fontes de energias renováveis é bastante expressiva.
Segundo dados do Ministério de Minas e Energia (MME), o Brasil destaca-se dos países da
Organisation for Economic Cooperation and Development (OECD) e do resto do mundo por
possuir mais de 45,40% do suprimento de suas necessidades energéticas advindas de fontes
renováveis. Isso evidencia o potencial de contribuição do país frente à necessidade de
mudanças na matriz energética mundial. Nos países da OECD, apenas 6,70% de suas fontes
de energia são renováveis. Nos demais países esse percentual é 19,90% (MME, 2009).
De acordo com Paulillo et al. (2007), o Brasil reúne vantagens para o desenvolvimento
da agroenergia, dentre as quais destaca a possibilidade de consorciar múltiplos cultivos
durante o ano e produzir energia renovável em terras agricultáveis sem competição com a
produção de alimentos, ao menos no curto prazo.
Visando a produção de energia renovável, o Governo brasileiro lançou, em 2005, o
Programa Nacional de Agroenergia, tendo como foco quatro vetores: florestas energéticas
16
(lenha, carvão e briquetes), resíduos (da agropecuária e agroindústria), biodiesel e etanol. No
presente trabalho o interesse é estudar o biodiesel.
O programa foi concebido com o intuito de servir como orientação e direcionamento
para as estratégias do governo ligadas à agroenergia e com objetivo de incentivar o aumento
da participação de fontes renováveis na matriz energética nacional; gerar condições para a
regionalização do desenvolvimento; criar oportunidades de expansão do emprego no âmbito
do agronegócio, com participação dos pequenos produtores; permitir ampliação da renda, com
distribuição mais equitativa; e contribuir para reduzir as emissões de gases de efeito estufa
(GEE) (MAPA, 2006).
Paralelamente, foi lançado o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel
(PNPB), com o objetivo inicial de fomentar a produção de um combustível renovável o
biodiesel - a partir de diferentes oleaginosas produzidas em diversas regiões do país.
Secundariamente, com a criação do PNPB, o governo visa o fortalecimento da
agricultura familiar da região semi-árida pela sua integração à cadeia produtiva do biodiesel.
Para isso, estabeleceu, na Lei 11.097/05 (Artigo 2º, inciso 4º), que o biodiesel tem que ser
processado, preferencialmente, a partir de matérias-primas produzidas pela agricultura
familiar, inclusive as resultantes de atividade extrativista (BRASIL, 2005a).
Com isso, o programa do biodiesel, além de ajudar o país a diminuir a dependência do
diesel de petróleo, surgiu como uma possibilidade de contribuir para inclusão social de
pequenos produtores familiares, através da sua integração à cadeia do biodiesel.
Vale salientar o grande número de pequenos produtores familiares no Nordeste
brasileiro. Segundo informações do IBGE (2006), 48,65% dos 12.810.591 agricultores
familiares do país estão no Nordeste, região que possui 6.232.153 pessoas com laços de
parentesco com o produtor, o que representa 81,08% do pessoal ocupado nos
estabelecimentos agropecuários nordestinos.
Dentre as diversas oleaginosas aptas à produção de biodiesel (girassol, dendê, algodão,
soja, mamona etc), o Governo escolheu inicialmente a mamona como carro-chefe do PNPB, o
que gerou uma grande expectativa de geração de emprego e renda para os agricultores
familiares do Nordeste, que têm tradição no cultivo dessa lavoura.
Diante do exposto, o problema de pesquisa que se pretende investigar é: quais são os
possíveis impactos do PNPB na organização do espaço agrário nordestino?
O interesse e a justificativa para este estudo decorrem da relevância do tema no
sentido de investigar os efeitos indiretos na mudança no uso do solo devido a possível
expansão das matérias-primas agroenergéticas; importância crescente, do apoio e incentivo à
17
produção de biocombustíveis no Brasil, bem como à possibilidade de inclusão social e o
desenvolvimento de regiões relativamente atrasadas, como é o caso do Nordeste, uma vez que
o governo estabeleceu articulações entre o PNPB e a agricultura familiar.
1.2 Objetivos
Objetivo geral:
Avaliar os impactos do PNPB na organização do espaço agrário nordestino.
Objetivos específicos:
a) estudar a política brasileira de produção de biodiesel, discutindo a sua consistência
interna;
b) mapear a distribuição da produção das matérias-primas agroenergéticas, mamona e
soja, nas microrregiões do Nordeste, no período 1990-2007;
c) verificar o impacto do programa de biodiesel no tocante à geração de emprego,
substituição de culturas e expansão da área cultivada de mamona e soja no Nordeste; e
d) identificar os possíveis impactos da produção de biodiesel na agricultura familiar.
A dissertação está estruturada da seguinte forma: além dessa introdução, apresenta
mais cinco capítulos. O segundo trata dos aspectos teóricos e metodológicos do estudo. O
terceiro aborda os principais aspectos do PNPB. Nos capítulos 4 e 5 procurou-se identificar os
impactos do PNPB sobre o uso do solo e o emprego e sobre a agricultura familiar nordestina,
com destaque para a mamona como matéria-prima. O capítulo 6 apresenta as considerações
finais acerca do estudo.
18
2 ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS
Neste capítulo será apresentado o embasamento teórico e metodológico necessário ao
desenvolvimento dos objetivos propostos acerca dos impactos do PNPB no uso do solo do
espaço agrário nordestino. Serão abordadas as principais idéias das escolas que versam sobre
o papel do Estado na economia, bem como serão discutidos os problemas relacionados à
utilização das fontes não-renováveis de energia e como a produção de biodiesel pode
contribuir para minimizar tais problemas. Por fim, serão apresentados os procedimentos
metodológicos da pesquisa.
2.1 Fundamentação teórica
2.1.1 O papel do Estado na economia
Bobbio (1979) define o conceito de Estado e o diferencia do conceito de Governo.
Entende o primeiro como sendo o conjunto de órgãos e instituições públicas enquanto que o
segundo corresponde à orientação política de determinada sociedade. Afirma que o Governo
representa o Estado por meio de programas e projetos, que são, por sua vez, implementados
pelo Estado.
Alguns autores defendem que o Estado tem um papel importante como agente
regulador dos interesses da sociedade, enquanto outros, tomando como base as idéias liberais,
defendem a não regulação tanto na economia, quanto na promoção de benefícios sociais.
A discussão acerca da regulação do Estado sempre foi polêmica. Mesmo quando esta
regulação é no sentido da manutenção da ordem social, não há consenso na literatura.
Na opinião de Carnoy (1994), na medida em que as economias se desenvolveram,
cresceu a importância do Estado, principalmente no aspecto político e econômico (produção,
finanças e distribuição). Segundo esse autor, o Estado é responsável pelo desenvolvimento
econômico, segurança social e pela liberdade individual.
Cavalcanti Filho (2001) chama atenção que, embora divergentes, as diferentes
correntes econômicas reconhecem a importância do Estado seja na produção de bens, na
promoção da ordem social ou na intervenção direta no funcionamento da economia. Afirma
que a divergência principal está na intensidade da intervenção estatal, bem como nos seus
efeitos sobre o funcionamento da economia.
19
É bastante ampla a literatura sobre a natureza do Estado quanto à sua intervenção na
economia. Por ora, serão apresentadas as visões clássica, marxista e keynesiana.
Para os clássicos, o Estado não deve intervir na economia, pois o mercado funciona
sobre a atuação da mão-invisível, que, por sua vez, conduz a economia a uma alocação
eficiente dos fatores de produção. As forças endógenas da economia fazem com que se atinja
o nível de máxima eficiência alocativa com pleno emprego. Ou seja, as forças competitivas da
economia se encarregam de fazer os ajustes necessários de modo a corrigir os desequilíbrios
existentes (MOREIRA, 2005).
Argumenta-se que a oferta de bens e serviços cria sua própria demanda (Lei de Say),
sendo, portanto, desnecessário o estímulo à demanda pelo Estado. Não possibilidade de
haver crises de superprodução nem insuficiência de demanda de modo que não há empecilhos
ao pleno emprego.
Para Say (1983), todos os rendimentos gerados no processo de produção são
automaticamente destinados à compra de bens e serviços produzidos pela indústria. Sendo
assim, a renda criada no processo de produção (rendimentos pagos aos fatores) retorna ao
sistema através dos gastos em bens e serviços.
O excedente de renda em relação ao consumo é convertido em investimento, o qual se
iguala à poupança através da taxa de juros. A economia não necessitaria, portanto, de políticas
públicas para atingir o pleno emprego (MOREIRA, 2005).
Considera-se que o vel de emprego é determinado pela oferta e demanda por
trabalho, que, por sua vez, é determinado pelo salário real. O emprego sempre tende para o
nível de pleno emprego, pois caso esteja fora desse nível as forças de mercado conduzi-lo-á
ao equilíbrio. O desemprego é algo transitório e era visto como resultado da redução
voluntária da oferta de trabalho (AMADEO, 1992).
A idéia defendida pelos clássicos baseia-se no pressuposto de que os agentes são
homogêneos, otimizadores e que tomam decisões em mercados competitivos. Além disso,
consideram que não existe nenhuma barreira que impeça que quando a oferta ou a demanda
varie o preço e o salário se ajuste.
Para os clássicos, o trabalho gera desutilidade. O consumo e o lazer geram utilidade.
Desse modo, o trabalhador vai ao mercado vender sua força de trabalho para gerar renda e
assim poder consumir e obter utilidade.
Entende-se que a intervenção do Estado, além de ser desnecessária, é prejudicial ao
funcionamento da economia. Argumenta-se que os interesses individuais levam os indivíduos
a dividir e distribuir o capital de forma eficiente, conduzindo a um maior ganho para a
20
sociedade como um todo. Dessa forma, o mercado, através da mão-invisível, acaba por alocar
os fatores de produção de forma satisfatória entre os diversos setores da sociedade.
Smith (1983, p. 36) destaca que a mola propulsora da sociedade é o egoísmo natural
dos indivíduos, ou seja:
[...] o esforço natural de cada indivíduo para melhorar sua própria condição,
quando se permite que ele atue com liberdade e segurança, constitui um
princípio tão poderoso que, por si só, e sem qualquer outra ajuda, não somente é
capaz de levar a sociedade à riqueza e à prosperidade, como também de superar
uma centena de obstáculos impertinentes com os quais a insensatez das leis
humanas com excessiva freqüência obstrui seu exercício.
Nos anos 1970, a escola novo-clássica recupera esses princípios do liberalismo
clássico, advogando a constituição de um Estado mínimo como forma de superação da crise.
Argumenta-se que a intervenção do Estado inibe a livre iniciativa e a concorrência privada.
Com base nisso, passam a advogar a desregulamentação como uma forma eficiente
(HÖFLING, 2001).
Na corrente novo-clássica o Estado é visto como uma organização dirigida por
políticos e burocratas limitados na capacidade de executar políticas públicas eficientes
(BURLAMAQUI, CASTRO E CHANG, 2000).
Essa corrente caracteriza o Estado como sendo de natureza imperfeita, passível de
falhas como corrupção, busca de vantagens, etc. Tais falhas seriam superiores às falhas de
mercado de modo que ao tentar corrigi-las, o Estado provocaria um resultado ainda pior. O
papel do Estado estaria limitado a algumas funções essenciais como a manutenção da lei, a
ordem, e a propriedade privada (BURLAMAQUI, CASTRO E CHANG, 2000).
Friedman (1980) retoma a idéia de Adam Smith de liberdade natural segundo a qual o
governo tem apenas três deveres a exercer: proteção da sociedade e dos seus membros contra
a opressão e a injustiça, tendo também o dever de proteger obras e instituições públicas. As
forças delegadas ao governante deveriam ficar limitadas a essas três funções, pois numa
sociedade totalmente livre em que foram eliminados todos os sistemas de restrição, a
liberdade natural se estabelece por si mesma.
Friedman (1980) defende o livre mercado como regulador da riqueza e da renda, onde
o Estado tem o papel de promover as condições necessárias à competitividade individual de
modo a fortalecer o capitalismo competitivo. Entende-se a desregulamentação como indutora
21
de um funcionamento mais eficiente, uma vez que a regulação cria um ambiente protegido de
pressões competitivas. Nas palavras do autor:
Em todos os casos em que deparamos grande dose de liberdade individual,
certo grau de progresso nos confortos materiais à disposição do cidadão comum
e esperança geral de mais progresso no futuro, encontramos também atividade
econômica organizada principalmente através do mercado livre. Em todos os
casos em que o Estado tenta controlar, em detalhe, as atividades econômicas de
seus cidadãos, em todos os casos, isto é, em que planejamento econômico
centralizado, o cidadão comum vive em grilhões políticos, tem baixo padrão de
vida e pouco controle exerce sobre seu destino. O Estado pode prosperar e
erigir monumentos impressionantes. O cidadão comum, no entanto, é mero
instrumento a ser usado para os fins do Estado, recebendo não mais do que o
necessário para mantê-lo dócil e razoavelmente produtivo (FRIEDMAN, 1980,
p.66).
Barbosa (1999 apud NDIDO, 2008) afirma que o governo deve evitar a regulação
exagerada que obstrua os interesses privados, pois, tal regulação limita a escolha do
consumidor e sobrecarrega as empresas.
De acordo com Hayek (1997, p. 41), o planejamento centralizado leva à servidão do
indivíduo pelo Estado. Segundo esse autor, os governantes limitam-se a argumentar que o
planejamento é necessário por não haver outra alternativa, haja vista que “circunstâncias fora
do nosso controle nos compelem a substituir a concorrência pelo planejamento”.
Um dos argumentos usados pelos defensores da inevitabilidade do planejamento é que
as transformações técnicas tornaram impossível a concorrência, pois com o progresso técnico,
superioridade das grandes firmas em detrimento das pequenas. As grandes empresas têm
condições de aumentar a produção com custo por unidade de produção cada vez menor, o que
elimina as pequenas empresas do mercado, reduzindo a concorrência. Dessa forma, haveria
apenas duas alternativas: controle da produção por monopólio ou direção pelo Estado
(HAYEK, 1999).
Hayek (1999) argumenta que o surgimento do monopólio em detrimento da livre
concorrência não ocorre devido a transformações técnicas, mas sim devido a processos
fraudulentos ou políticas governamentais intervencionistas.
O autor defende que a concorrência é um modo de tornar as empresas mais
competitivas, excluindo do mercado aquelas empresas menos eficientes, o que teria como
saldo final o aumento da produtividade econômica.
22
A idéia de livre mercado, defendida pelos clássicos e neoclássicos, não apresenta
concordância geral. Para Costa (2006) as demandas sociais por políticas públicas de geração
de emprego, inclusão social, assistência à saúde, à educação etc., não podem ficar à mercê do
mercado.
A autora afirma que “um mundo que se expande sem ser capaz de gerar amplos
processos de inclusão social, esperando que o mercado resolva o problema da pobreza, torna-
se palco de todo tipo de violência” (COSTA, 2006, p. 80).
Para Costa (2006, p. 55), o Estado é inerente ao sistema capitalista, pois, “a ação
independente dos diferentes produtores privados, na ausência da regulação do Estado, coloca
em risco a própria existência do sistema de produção capitalista, ou seja, o próprio
desenvolvimento do sistema de produção exige a criação de instrumentos de regulação por
parte do Estado”.
Os marxistas entendem o Estado como vinculado aos processos sociais, políticos e
ideológicos que, por sua vez, expressa as relações e antagonismos das classes sociais com
tendência a manter o poder hegemônico de uma classe social sobre a outra.
Carnoy (1994) resume o pensamento marxista sobre o estado em quatro aspectos:
i) a forma do Estado e das demais instituições políticas decorre das relações de
produção, não do desenvolvimento das idéias ou vontades humanas;
ii) o Estado é expressão política da dominação de classe e está a serviço da classe
economicamente mais forte, não representando o interesse comum ou a vontade geral;
iii) o Estado tem suas origens na necessidade de controlar os conflitos entre os
diferentes interesses econômicos e conflitos de classe, com vistas a manter a ordem;
iv) visando controlar os conflitos de classe, o Estado exerce função repressiva a
serviço da classe dominante.
A sociedade capitalista é composta pelos proprietários do capital, denominados de
capitalistas, e os que possuem unicamente sua força de trabalho, que é vendida ao capitalista,
para a satisfação de suas necessidades básicas, os trabalhadores assalariados.
1
Marx (1985) defende que o Estado serve aos interesses dos capitalistas ao garantir
condições favoráveis à acumulação do capital e ao desenvolvimento do capitalismo. Além
disso, defende que o Estado é um instrumento de exploração e opressão da classe proletária.
Para a compreensão do papel do Estado, destaca a importância das forças produtivas, em
especial das classes sociais e da classe revolucionária.
1
Nesse processo, do trabalhador é alienada a mais-valia como produto do trabalho expropriado ou não pago.
23
Chang (1996) discute duas abordagens da economia política sobre a intervenção do
Estado. A abordagem “autonomous-state” segundo a qual o objetivo do Estado é diferente do
objetivo da sociedade como um todo, e por isso, ele age seguindo os seus próprios interesses.
A outra abordagem, denominada “interest-group”, defende que a decisão do Estado é
influenciada pelos grupos mais poderosos da sociedade e, assim sendo, as políticas
governamentais estarão voltadas para atender esses grupos de interesses.
Na opinião de Bobbio et al. (1979), Marx entende o Estado como sendo um
instrumento que serve à realização de interesses não gerais, mas particulares (de classes). Isso
fica claro nas palavras de Marx e Engels (1998, p.13), na obra O Manifesto Comunista, ao
afirmarem que o “poder Executivo do Estado moderno não passa de um comitê para gerenciar
os assuntos comuns de toda burguesia”.
Assim, o Estado, independente da forma de governo adotada, sempre é visto a serviço
dos interesses da classe dominante, de modo que, para a classe dominada, o Estado (mesmo o
democrático) é reconhecido como despótico e opressor.
Bobbio et al. (1979) argumentam que, pelo fato de Marx ter uma visão negativa do
Estado, exaure-se a possibilidade de substituição de uma forma de governo considerada
por uma que não o é. Daí, a conseqüência lógica da doutrina do Estado de Marx ser a extinção
do Estado.
A questão central do marxismo no tocante ao papel do Estado refere-se ao fato de que
o Estado é o produto e manifestação do antagonismo inconciliável das classes. O Estado é um
produto do antagonismo das classes no sentido de que surgiu com a divisão da sociedade em
classes cujos interesses econômicos são contraditórios. Posto que os antagonismos das classes
não podem ser conciliados, surge a necessidade do Estado. Por conseguinte, O Estado é uma
manifestação do antagonismo entre as classes no sentido de que o Estado existe devido à
existência de contradições e a luta de classes (LÊNIN, 1987).
O Estado não existiu sempre, mas, com a divisão da sociedade em classes, a classe
exploradora passou a ter a necessidade de uma organização que a represente, de modo a
garantir a posse dos meios de produção e a exploração da classe explorada. Desse modo, o
Estado é entendido como organização da própria classe que representa e não como
representante de toda a sociedade (LENIN, 1987).
“Como o Estado nasceu da necessidade de refrear os antagonismos de classes,
no próprio conflito dessas classes, resulta, em princípio, que o Estado é sempre
o Estado da classe mais poderosa da classe economicamente dominante que,
24
também, graças a ele, se torna a classe politicamente dominante e adquire,
assim, novos meios de oprimir e explorar a classe dominada” (LÊNIN, 1987,
p. 18).
Offe (1984) admite que as decisões do Estado refletem o interesse de determinadas
classes sociais, mas reconhece a sua importância no tocante à promoção de bens públicos para
a sociedade. Defende que os conflitos de classes ocorrem porque no interior do Estado estão
presentes interesses referentes à acumulação do capital e às reivindicações dos trabalhadores.
Caso a conciliação das classes fosse possível, o Estado desapareceria. Isso porque,
segundo Marx, o Estado é um órgão de dominação de classe, que acaba por consolidar a
submissão de uma classe sobre a outra.
Uma vez não existindo classe a reprimir o Estado deixa de ser necessário. Marx
acreditava na dissolução final do Estado e na necessidade de um poder proletário de transição
no qual o Estado seria uma representação temporária de toda a sociedade. O Estado
desapareceria à medida que se desse a conversão dos meios de produção em propriedade
social, extinguindo-se assim a necessidade de alienação da força de trabalho, domínio da
classe dominante e a consequente exploração da classe proletária (HOBSBAWM, 1979).
O proletariado deveria conquistar o poder e, a partir daí, o desaparecimento do Estado
seria uma conseqüência da consolidação da sociedade de classes. O governo teria, portanto,
uma natureza transitória. Com isso, Marx liga o estado à revolução da classe proletária
(CERRONI, 1979).
Portanto, o Estado é visto como um fenômeno de transição destinado a desaparecer.
Os marxistas defendem que, com a vitória do proletariado, o Estado não desapareceria
imediatamente, assumindo, durante o período de transição, a forma temporária de proletariado
organizado como classe dominante (HOBSBAWM, 1979).
Na opinião de Bobbio et al. (1979), esse aspecto da idéia política de Marx merece
especial atenção pela sua originalidade ao unir uma concepção realista do Estado a uma teoria
revolucionária da sociedade. Por outro lado, o autor diz-se cético quanto à perspectiva de
extinção do Estado, defendida pelos marxistas. Destaca ainda que no pensamento marxista
uma teoria política do partido e não uma teoria política do Estado, haja vista que tais
pensadores priorizaram o estudo do tema relacionado com a conquista do poder.
Num contexto de estudos voltados para a estrutura de mercado pautada no sistema de
concorrência perfeita, diversos economistas tentaram mostrar a inconsistência de algumas
hipóteses defendidas pelos Clássicos. Entre os que se opuseram a não intervenção do Estado,
destaca-se John Maynard Keynes.
25
No início do século XX, a economia mundial entra em crise e, a partir de então,
verifica-se que o mercado, agindo sozinho, não é capaz de resolver problemas
macroeconômicos como recessão, desemprego e inflação. Com isso, os economistas passam a
procurar uma solução para o problema dos desequilíbrios de mercado, surgindo a
possibilidade da intervenção do Estado com o intuito de coordenar os ajustes econômicos
necessários.
A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda foi desenvolvida em um período de
alto nível de desemprego e passa a explicar o emprego/desemprego, opondo-se a opinião
clássica de que todos os trabalhadores que querem trabalhar estão empregados. A teoria de
Keynes postula que o nível de emprego poderia ser aumentado se houvesse aumento no nível
de investimento, que por sua vez, deveria ser estimulado pelo Governo.
Passou-se a defender a idéia de que os mercados funcionam numa estrutura de
imperfeição, na qual a racionalidade dos indivíduos não leva, necessariamente, ao melhor
resultado para a sociedade como um todo. Assim sendo, o sistema econômico não teria
condições de se auto-reajustar, contrariando o princípio da mão-invisível clássica.
Nesse sentido, o governo, através das políticas públicas, tinha um importante papel.
Keynes (1936, apud AMADEO,1992, p.35) afirma que “o dever de comandar o volume de
investimento corrente não pode ser deixado nas mãos da iniciativa privada sem risco”.
Segundo Keynes, “a agenda do Estado diz respeito às funções que estão fora do
âmbito individual, àquelas decisões que ninguém adota se o Estado não o faz” (KEYNES,
1926, p. 11). Isso vai de encontro à idéia clássica de que as ações dos indivíduos, agindo em
prol dos seus interesses privados, resultam em benefícios sociais.
Keynes (1985) passa a defender que a economia capitalista é moldada num sistema de
incertezas e marcada pela instabilidade econômica, justificando, assim, a intervenção do
Estado na economia, com o objetivo principal de estimular a demanda agregada e controlar
variáveis importantes como inflação e desemprego.
O Estado, além da função de manter a ordem social, deveria intervir na economia,
visando estabilizar tanto a produção quanto o crescimento dos preços. Defende-se uma
participação ativa do Estado no sentido de interferir nos problemas econômicos e atuar como
um investidor capitalista (SOUSA, 2004).
Keynes não é adepto da idéia marxista de que é necessário substituir o capitalismo
pelo socialismo para resolver os problemas econômicos e sociais. Defende a presença de um
Estado forte e ativo para dirigir a economia, que é de natureza intrinsecamente instável.
26
As recomendações de Keynes em relação aos gastos governamentais passam pelo
orçamento do governo. Em épocas de alto desemprego, o orçamento do governo deveria ser
superavitário de modo que pudesse ser transferido para gastos com investimentos (AMADEO,
1992).
O emprego não era determinado no mercado de trabalho, como postulavam os
Clássicos. Para Keynes, o nível de emprego é determinado pelos custos de produção e pela
demanda esperada pelos produtores (AMADEO, 1992).
Keynes admite que na economia o desemprego involuntário causado por
expectativa de demanda inadequada. Defende que é necessário que haja uma expectativa de
aumento do nível de demanda, pois as firmas contratarão determinada quantidade de mão-de-
obra suficiente para atender uma demanda futura pelo produto.
Os Clássicos propunham uma redução nos salários reais para aumentar o nível de
emprego. Para Keynes, se isso acontecesse, o resultado seria um efeito adverso sobre a
demanda uma vez que a expansão da produção (em virtude da maior quantidade de mão-de-
obra contratada) poderia, desse modo, não encontrar mercado suficiente (AMADEO, 1992).
Além disso, os Clássicos defendiam que a oferta cria sua própria demanda. De acordo
com as idéias de Keynes, é a demanda que determina a oferta da economia e o nível de
emprego (princípio da demanda efetiva).
O presente trabalho foi elaborado tendo como referencial de estudo as escolas
keynesiana e marxista, pois entende-se que o Estado tem um papel crucial no
desenvolvimento do PNPB, atuando como dinamizador do processo de produção de energia
renovável, bem como na geração de emprego e renda no Nordeste brasileiro e inclusão de
pequenos produtores à cadeia produtiva do biodiesel.
2.1.2 A questão ambiental e os biocombustíveis
De acordo com a OECD (2008), o interesse público pelos biocombustíveis advém da
preocupação com a poupança de energia fóssil (recurso cada vez mais escasso), da mudança
climática e da necessidade de redução da emissão dos gases que afetam o efeito estufa.
Comparado ao óleo diesel derivado de petróleo, o biodiesel pode reduzir em 78% as
emissões de gás carbônico, considerando a reabsorção pelas plantas, além de representar
economia de petróleo e contribuir para redução das importações de diesel.
Vale salientar que, apesar de contribuir com a redução das emissões de GEE, o
biodiesel libera CO
2
quando é queimado na combustão do motor (LIMA, 2004).
27
Na literatura diversos registros de fenômenos que estão diretamente relacionados à
queima de combustíveis fósseis. A poluição do ar e o aquecimento global são, provavelmente,
os impactos mais visíveis.
Segundo informações da Petrobras (2008), as mudanças climáticas, os derramamentos
de óleo e a geração de resíduos tóxicos são resultados do uso e da produção desses
combustíveis.
A possibilidade de escassez do petróleo, o aquecimento global e as mudanças
climáticas têm levado a sociedade e as autoridades de todo o mundo a discutir as
conseqüências do crescimento baseado em sistemas poluidores e que degradam o meio
ambiente e as possíveis soluções para esse mal.
Essa, entretanto, não é uma discussão recente. Na década de 70, Meadows et al.
(1972), em um estudo encomendado pelo Clube de Roma, através de cenários de previsão e
modelos matemáticos, chamam atenção para a possibilidade de o crescimento econômico
chegar ao limite tendo em vista o aumento da população mundial, a industrialização com base
em processos poluidores e a utilização indiscriminada dos recursos naturais. A solução
proposta pelo estudo é o crescimento zero da população mundial e do capital industrial.
Destaca, ainda, que a tecnologia poderia adiar o limite do crescimento, mas não seria
suficiente para evitá-lo. Chama atenção para o fato de que a tecnologia poderia, inclusive, ter
conseqüências negativas a médio e longo prazo, a exemplo do uso de técnicas agrícolas que
aumentam a produtividade e o bem-estar social, mas, por outro lado, provocam poluição e
degradação ambiental (MEADOWS et al., 1972).
A Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1987) desenvolveu
um estudo baseado no conceito de desenvolvimento sustentável segundo o qual o
desenvolvimento deve se dar de modo a satisfazer as necessidades das gerações presentes
sem, entretanto, comprometer a satisfação das necessidades das gerações futuras. O estudo é
uma crítica ao modelo de desenvolvimento e consumo dos países industrializados baseado no
uso exaustivo dos recursos naturais.
Propõe uma melhor eficiência na utilização dos recursos naturais de modo a
compatibilizar o crescimento econômico com questões sociais e preservação ambiental. Para
isso, sugere que o aumento da produção industrial se dê com base em tecnologias
ecologicamente adaptadas e com o aproveitamento de fontes renováveis de energia. Entre as
outras medidas sugeridas, destacam-se o controle da urbanização desordenada e do
crescimento da população.
Na opinião de Silverstein (1993, p.30):
28
Não somente o crescimento sustentável baseado nas tradicionais técnicas
poluidoras está chegando ao seu limite, mas também a própria lógica interna do
sistema de mercado está mudando no sentido de favorecer operações que levam
em consideração o meio ambiente.
Lustosa (2003) argumenta que a grande dificuldade de uma mudança de atitude nesse
sentido reside no fato de que tal mudança contraria a lógica do sistema capitalista, havendo,
portanto, um trade off entre os interesses capitalistas e a preservação do meio ambiente.
A autora argumenta que, para que o crescimento econômico possa ser contínuo e, ao
mesmo tempo, caminhe na direção do desenvolvimento sustentável, é necessário induzir
inovações tecnológicas que favoreçam o uso de tecnologias mais limpas, de modo que,
mesmo que haja aumento da produção, os impactos no meio ambiente sejam minimizados.
Embora o capitalista, visando o lucro, não a devida importância às questões
ambientais, pressões, vindas dos diversos setores da sociedade, para que sejam produzidos
combustíveis a partir de fontes renováveis, com respeito ao meio ambiente.
Os países desenvolvidos estão acenando com novas legislações ambientais. A Suíça,
por exemplo, concede exoneração fiscal à importação de biocombustíveis. Mas, para usufruir
de tais benefícios, o país precisa provar que o biocombustível reduz a emissão de GEE em
pelo menos 40% em relação aos combustíveis fósseis, que não ameaça florestas tropicais
através de desmatamentos, nem a biodiversidade (BIODIESELBR, 2008).
Vedana (2008) chama atenção que boa parte dessas leis não se deve à preocupação
ambiental, mas sim, a barreiras comerciais para proteger o mercado interno e os produtos sem
competitividade.
A emissão de alguns GEE, principalmente o dióxido de carbono, é apontada como
uma das principais causas do aquecimento global. A literatura cita várias conseqüências do
efeito estufa, dentre as quais se destacam:
- derretimento de geleiras;
- elevação do nível dos oceanos;
- mudanças nos regimes de chuvas e ventos; e
- perda de áreas agricultáveis (PEREIRA E MAY, 2003, p. 222).
A OECD (2008) sugere que sejam estabelecidos critérios de redução mínima de CO
2
,
tornados mais exigentes ao longo do tempo, para forçar os países a adotarem métodos menos
poluentes, de modo a aumentar suas reduções de emissões gradativamente.
A utilização de fontes renováveis de energia, como o biodiesel, pode gerar inúmeras
externalidades positivas, a exemplo da redução da emissão de GEE. Para isso, é importante
29
que as usinas de biodiesel estejam localizadas próximas às áreas produtoras das matérias-
primas para que o óleo produzido seja aproveitado regionalmente, reduzindo, com isso, a
queima de diesel no transporte do óleo, bem como os custos de logística e distribuição.
Caso as matérias-primas sejam cultivadas em áreas ecologicamente sensíveis, a
produção de biodiesel pode acarretar prejuízos ambientais, gerando externalidades negativas.
Além disso, vale chamar atenção para as mudanças indiretas no uso do solo, merecendo
destaque os deslocamentos e substituição de culturas, bem como a concorrência com a
produção de alimentos.
Mota (2006, p. 129) destaca que “as conseqüências das externalidades negativas, em
decorrência da exploração desenfreada dos recursos naturais, deram origem à formulação de
um conjunto de instrumentos de regulação da atividade econômica, com a finalidade de
proteger os recursos naturais e garantir o seu uso pelas futuras gerações”.
A OECD (1991 apud MOTA 2006, p. 130), destaca que as políticas públicas que
envolvem recursos naturais devem ser pautadas por cinco critérios:
- eficácia ambiental: a política deve ser definida em função de padrões ambientais
almejados;
- eficiência econômica: o instrumento econômico produz eficiência somente se for
capaz de obter a alocação ótima dos recursos;
- princípio de justiça: o instrumento econômico deve ser capaz de gerar justos efeitos
distributivos, acarretando ganhos/perdas para as partes envolvidas (custos para os
degradadores do meio ambiente e benefícios para os usuários);
- viabilidade institucional: a escolha de um instrumento econômico deve levar em
consideração as preocupações ambientais;
- concordância das partes: é de grande importância que as partes envolvidas aceitem de
comum acordo cumprir o instrumento.
Para reduzir as externalidades negativas que porventura possam ocorrer em
conseqüência da produção de biodiesel, a OECD (2008) recomenda que as políticas dos
países produtores de biocombustíveis favoreçam áreas que não sejam destinadas à produção
de alimentos, incentivando, por exemplo, a produção em áreas degradadas e com riscos de
desertificação, como o semi-árido nordestino (OCDE, 2008).
2.1.3 Revisão da literatura
30
Hernández (2008) procurou conhecer as dimensões e os efeitos da produção de etanol
e biodiesel sobre a produção de alimentos, tomando como recorte temporal os anos de 1996 e
2006. Para isso, utilizou o modelo de Zockun para investigar se a produção das matérias-
primas destes dois biocombustíveis concorre com a produção de alimentos. Na composição do
sistema agrícola levou-se em consideração as culturas do arroz, feijão, milho, pastagens e as
matérias-primas agroenergéticas (cana-de-açúcar e soja).
O estudo tomou como referencia as regiões brasileiras, Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e
Centro-Oeste. Os resultados apontaram que a expansão da área de produção de cana-de-
açúcar e de soja não tem gerado efeitos de deslocamentos invasivos nas áreas de produção de
alimentos.
Argumenta que a melhoria da produtividade das lavouras alimentares e seu processo
de especialização regional têm feito com que as lavouras alimentares liberem áreas de cultivo,
sem serem pressionadas pela expansão das matérias-primas agroenergéticas. Argumenta,
ainda, que a expansão da cana-de-açúcar e soja tem acontecido principalmente em áreas de
pastagens, quando comparados os anos de 1996 e 2006.
Sousa (1999) utiliza o modelo de Zockun para verificar o impacto da expansão da
cana-de-açúcar (impulsionada pela implantação do PROÁLCOOL) e da crise da lavoura
canavieira no estado da Paraíba sobre a geração/destruição de empregos da zona canavieira
dos municípios do Litoral e Brejo do Estado. Toma como referência o período de 1975/85 e
1985/95. Na construção do sistema agrícola, levou em consideração as culturas do abacaxi,
algodão, cana-de-açúcar, coco-da-baía, feijão, mandioca, milho e sisal.
Os resultados mostram que houve significativo aumento no número de empregos nas
duas regiões canavieiras consideradas, durante o período 1975/85. Argumenta que tal
expansão pode ser explicada pelo declínio das culturas que cederam terras (principalmente
feijão, mandioca e milho). Para o período 1985/95, os resultados mostram que a crise do setor
canavieiro gerou a destruição de inúmeros postos de trabalho.
Zockun (1978), procura identificar o possível impacto da expansão da soja sobre a
estrutura produtiva da agricultura nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. Os
resultados mostram que a expansão da fronteira de produção da soja e a substituição de outros
produtos do sistema explicam o crescimento de área plantada de soja entre os anos de 1970 e
1973.
Explica que o crescimento da soja foi resultado do deslocamento da fronteira de
produção (efeito escala) e da resposta das variações de preços dos produtos que compõem o
sistema, como resultado do deslocamento de outros produtos pela soja (efeito substituição).
31
Concluiu que, nos três Estados estudados, a expansão da soja deve-se mais ao efeito
substituição que ao efeito escala e que a soja incorporou áreas de produtos como arroz, feijão,
mandioca, batata e leite.
A despeito da expansão da soja, a autora chama atenção para o fato de que essa
cultura, considerando a média dos três estados, deixou de absorver 2,3% do pessoal ocupado
na agropecuária, em 1970. Para chegar a essa constatação, supôs-se que 100% da área
cultivada com essa cultura é totalmente mecanizada. A autora explica que essa hipótese é
correta para os estados do São Paulo e Paraná uma vez que a sojicultura da região é
totalmente tecnificada e é realista para o estado do Paraná tendo em vista que 69% da lavoura
é cultivada de forma mecanizada.
Santos (2008) estudou o impacto da produção de biodiesel sobre o nível de emprego,
renda, saúde e educação no estado do Piauí e no município de Floriano-PI. A pesquisa fez uso
de dados secundários obtidos no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e dados
primários obtidos através de pesquisa de campo. Utilizou o modelo shift-share para identificar
os efeitos sobre o nível de emprego no Estado e no município de Floriano.
Os resultados apontam para uma nova dinâmica produtiva no Piauí em conseqüência
da produção de biodiesel. Destaca a elevação das atividades agrícolas (principalmente
mamona e soja), melhoria nos índices de saúde, educação e habitação nos municípios do
Estado.
Vilar (2006) buscou estudar os possíveis impactos do PNPB no semi-árido nordestino.
Através do custo de implantação e manutenção de um hectare de mamona, levando em
consideração o nível tecnológico utilizado, bem como a partir de indicadores de mão-de-obra
(estimados pelos MDA e MAPA), constatou que, se for adotado um baixo nível tecnológico
no cultivo da mamona, é possível aumentar a quantidade de empregos no semi-árido
nordestino.
Garcia (2007) procurou investigar a organização da produção de biodiesel integrado à
agricultura familiar no Nordeste brasileiro. O estudo teve como base pesquisa bibliográfica,
bem como análise de dados do IBGE. Procurou analisar a cadeia produtiva do biodiesel com
base na agricultura familiar e a organização da produção agrícola para o fornecimento de
matérias-primas do biodiesel no Nordeste.
Na discussão dos resultados, o autor observa que o PNPB vem mantendo a
marginalidade dos agricultores familiares, haja vista que o programa não leva em
consideração as particularidades da região Nordeste e da agricultura familiar.
32
Destaca a possibilidade de escassez de matérias-primas para o biodiesel, especialmente
no âmbito da agricultura familiar, uma vez que não houve expansão da produção de mamona.
Além disso, chama atenção para a tendência à concentração da produção de biodiesel numa
única matéria-prima, a soja.
Garcez (2008), procurou fazer uma discussão acerca das diretrizes e políticas do PNPB
do ponto de vista da sustentabilidade social e ambiental. Para isso, recorreu à pesquisa
bibliográfica e documental, bem como realizou pesquisa de campo em cinco municípios do
estado da Bahia (Morro do Chapéu, América Dourada, Irecê, Ibiraquara e Lapão). Os
resultados mostram que as políticas adotadas no PNPB são ineficientes do ponto de vista da
sustentabilidade social e ambiental.
Souto (2008) estudou a cadeia produtiva da mamona no estado da Paraíba antes e após
o lançamento do PNPB, tomando como referência o Programa Paraibano de Biodiesel. O
estudo baseou-se em pesquisa bibliográfica e pesquisas de campo realizadas nos municípios
paraibanos de Cuité, Picuí, Pocinhos, Sossego, Bananeiras e Remígio. Os resultados mostram
que não houve as mudanças esperadas na estruturação e organização da cadeia produtiva de
mamona no Estado. Constatou que os produtores dos municípios pesquisados não recebem
assistência técnica e que não houve o crescimento esperado na área plantada de mamona do
Estado.
2.2 Metodologia da pesquisa
Esta pesquisa pode ser classificada como bibliográfica e descritiva. Bibliográfica
porque faz uso das contribuições dos diversos autores sobre o tema pesquisado. Descritiva por
ter como finalidade a descrição das principais características do PNPB, bem como seu
impacto no espaço agrário nordestino (GIL, 1994).
Quanto aos meios de investigação, foram utilizados materiais como revistas
especializadas, livros, artigos, jornais, textos disponíveis na internet, relatórios do Ministério
de Desenvolvimento Agrário (MDA), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA) e Ministério de Minas e energia (MME), bem como decretos, leis e instruções
normativas relacionados à produção de biodiesel, disponíveis no site da Agência Nacional de
Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
O ambiente da pesquisa é o Nordeste brasileiro, tendo como unidade espacial de
referência as microrregiões que produzem mamona e soja. O espaço intertemporal é o período
33
de 1990 a 2007, o que permite comparar a evolução da produção das matérias-primas
agroenergéticas entre a década de 1990 e o período que abrange a criação do PNPB.
A justificativa para a escolha da mamona se dá pelo fato de o Governo ter elegido essa
lavoura como carro-chefe do PNPB, tendo o fortalecimento da produção familiar rural como
um dos objetivos importantes a serem alcançados. A soja foi escolhida porque, desde o início
do programa, é a principal matéria-prima utilizada na produção do biodiesel nacional.
Com o intuito de alcançar os objetivos propostos, foram adotados os seguintes
procedimentos:
Na análise dos programas relacionados com a política agroenergética, tomou-se
como referência o programa brasileiro do biodiesel. Procurou-se fazer uma descrição do
programa, discutindo a sua consistência interna. Para isso, foram confrontadas as diretrizes e
metas do programa com os instrumentos de políticas adotados para alcançar tais objetivos.
Para realizar o mapeamento das matérias-primas agroenergéticas, nas microrregiões
do Nordeste, foram coletados dados referentes à quantidade produzida e área colhida de
mamona e soja, na Produção Agrícola Municipal (PAM), disponível no site do IBGE.
A partir do mapeamento, tomou-se como referência a produção de mamona dos
Estados que apresentaram produção, em média, igual ou superior a 5% da produção total de
mamona do Nordeste. Em cada Estado, foram selecionadas as microrregiões produtoras de
mamona que possuem produção, em média, igual ou superior a 5% da produção total de
mamona da microrregião considerada. O mesmo procedimento foi adotado para selecionar os
Estados e suas respectivas microrregiões produtoras de soja.
Para verificar o impacto do PNPB na geração de emprego foi feita uma estimação da
quantidade de pessoas empregadas nas áreas mapeadas, no período 1990 a 2007. Para isso,
utilizou-se o modelo de geração teórica de emprego de Campos e Khan (1989).
O estudo do impacto do PNPB na substituição de culturas e expansão da área
cultivada de mamona e soja foi realizado através do modelo de Zockun (1978), que permite
identificar se houve aumento ou redução da área colhida dessas lavouras (efeito escala) e se
foram substituídas ou substituíram outros produtos (efeito substituição). Para isso, levou-se
em consideração dois períodos para comparação. O período 1 corresponde a média da área
colhida da lavoura no período 1990-1999 e o período 2 corresponde a média da área colhida
no período 2000-2007.
Por fim, com o intuito de identificar os possíveis impactos da produção de biodiesel
na agricultura familiar, foi feito um estudo de caso em dois municípios de realidades distintas
34
(um onde a produção de mamona é expressiva e outro onde a produção é menos
representativa). Procurou-se identificar os municípios com certo grau de envolvimento dos
agricultores familiares com a produção de mamona. Os municípios selecionados foram
Cafarnaum-BA e Pocinhos-PB. A seleção desses dois municípios se deu da seguinte forma:
Primeiro procurou-se identificar o Estado que possui a maior representatividade de
mamona do Nordeste. Constatou-se que o estado da Bahia é o maior produtor. A partir daí,
identificou-se que Cafarnaum é o município que possui maior produção de mamona do
Estado.
Em seguida, procurou-se identificar um Estado com baixa representatividade em
termos de produção de mamona no Nordeste. Dentre os estados que possuem baixa produção
de mamona (Alagoas, Ceará, Maranhão, Paraíba e Rio Grande do Norte), o estado da Paraíba
foi escolhido porque apresentou, em média, o maior crescimento da produção entre 1990 e
2007.
No estado da Paraíba, o município de Pocinhos foi escolhido porque há na região certo
grau de organização dos agricultores familiares, apesar da baixa produção de mamona do
Estado.
A amostra da pesquisa de campo é composta de 10 agricultores familiares do
município de Cafarnaum e oito do município de Pocinhos. Vale mencionar a não
representatividade estatística do número de entrevistados em ambos os municípios. Seguiu-se
o procedimento corrente na etnografia que estabelece que a “saciedade de informações” deve
ser o principal critério para definir o número de pessoas pesquisadas. Entende-se por
saciedade de informações, a não agregação de informações importantes por entrevistados
adicionais.
Foram elaboradas 37 perguntas referentes à produção e comercialização da mamona;
forma de organização da produção; acesso a crédito e assistência técnica; relação dos
produtores com o Estado, atravessadores, usinas de esmagamento de mamona e indústrias de
biodiesel da região; mão-de-obra empregada e nível de renda obtida com a produção de
mamona. Essas questões permitiram identificar como a produção de mamona tem
influenciado na organização agrícola da região.
2
2
Os questionários foram aplicados entre os dias 20 e 24 de março de 2009 no município de Cafarnaum-BA e no
dia 23 de maio de 2009 no município de Pocinhos-PB.
35
2.2.1 Descrição metodológica do modelo de Zockun e do modelo de geração teórica de
emprego
a) Modelo de Zockun
Segundo Zockun (1978), a área destinada ao cultivo de determinado produto agrícola
pode se alterar de um período para outro por dois motivos: devido a alterações no tamanho do
sistema de produção ou devido à substituição entre os produtos cultivados dentro do sistema.
Para elaboração do modelo é necessário identificar, inicialmente, o sistema agrícola
em cada microrregião a ser analisada. O sistema consiste no somatório das áreas colhidas dos
principais produtos agrícolas cultivados em cada microrregião estudada. Assim, tem-se:
A
T1
= A
i1
. Ou seja, o sistema no período 1 é igual ao somatório da área cultivada
com i produtos no ano 1.
A
T2
= A
i2
. Ou seja, o sistema no período 2 é igual ao somatório da área cultivada
com i produtos no ano 2.
O período 1 corresponde a média da área colhida do período 1990-1999 e o período 2
corresponde a média da áreacolhida do período 2000-2007.
Na seleção dos produtos que compõem o sistema de cada microrregião produtora de
soja e mamona foram considerados os produtos que, no período estudado, obtiveram em
média área colhida igual ou superior a 5% da área colhida total da microrregião.
Definido o sistema, pode-se obter os efeitos escala e substituição, que permite
identificar, dentro do sistema considerado, quais os produtos que a mamona e soja
substituíram ou por quais produtos foram substituídos (efeito substituição), bem como se
houve expansão ou retração da cultura agrícola considerada (efeito escala).
Para tal, Zockun levou em consideração um coeficiente, α, que mede a modificação da
área total do sistema entre os períodos 1 e 2. Ou seja, α = (A
T2
/A
T1
).
O modelo é representado da seguinte forma:
(A
i2
– A
i1
) = (αA
i1
– A
i1
) + (A
i2
- αA
i1
)
Em que:
(A
i2
A
i1
) corresponde a variação da área cultivada com determinado produto entre o
período 1 e o período 2.
36
(αA
i1
– A
i1
) corresponde ao efeito escala e (A
i2
- αA
i1
) ao efeito substituição.
O efeito escala mostra a variação da área colhida do produto i, mantida constante a
participação relativa de cada cultura no sistema agrícola. Se o efeito escala for positivo,
significa que houve expansão da cultura i, se for negativo, houve retração.
O efeito substituição indica se houve aumento ou redução da participação do produto i
no sistema agrícola. Se o efeito substituição for negativo, tal produto foi substituído por outro
(s). Se o efeito substituição for positivo, o produto i substituiu outra (s) cultura(s).
Sejam n produtos do sistema, tais que:
i = 1... m-1 produtos com efeito substituição negativo
j = m... n-1 produtos com efeito substituição positivo e o n
ésimo
produto, aquele que se
quer analisar, cujo efeito substituição é positivo.
A variação absoluta de área do n
ésimo
produto é dada por:
A
n2
– A
n1
= (A
T2
- A
i2
- A
j2
) – (A
T1
- A
i1
- A
j1
) (I)
Como A
T2
= αA
T1
, tem-se:
A
n2
– A
n1
= [(α - 1) (A
T1
- A
i1
- A
j1
)] + (αA
i1
+ αA
j1
- A
i2
- A
j2
) (II)
Arrumando a expressão, tem-se:
A
n2
– A
n1
= [(α - 1) A
n1
] + (αA
i1
- A
i2
) – (A
j2 -
αA
j1
) (III)
A parcela (α - 1)A
n1
indica a variação de área do n
ésimo
produto devido à alteração de
escala do sistema (efeito escala). Desconsiderando essa variação da variação total, determina-
se a parcela devida ao efeito substituição. A expressão acima passa a ser escrita da seguinte
forma:
A
n2
αA
n1
= (αA
i1
- A
i2
) – (A
j2 -
αA
j1
) (IV)
É possível definir qual a parcela das áreas cedidas dos produtos i que se destinou à
produção do n
ésimo
produto. Para isso, Zockun parte do pressuposto de que os produtos que
cederam área o fizeram para aqueles produtos que tiveram efeito substituição positivo.
37
Para o n
ésimo
produto, tem-se que:
β = A
n2
- αΑ
n1
(V)
(A
n2
- αΑ
n1
) + (Α
j2
αA
j1
)
Transferindo a última parcela da expressão (IV) para o primeiro membro e
multiplicando ambos os lados por β, obtém-se:
A
n2
αA
n
= β(α A
j1 -
Α
i2
) (VI)
Essa expressão representa o efeito substituição em que se pode destacar de cada
produto i a área cedida para o produto n.
b) Modelo de geração teórica de emprego
O procedimento metodológico de Campos e Khan (1989) consiste em multiplicar o
ciclo produtivo (número de colheitas/ano) de cada cultura agrícola pelo seu respectivo
coeficiente técnico. O valor encontrado na multiplicação divide-se pelo mero de dias úteis
trabalhados no campo de modo a tornar a estimação mais próxima da realidade. Por fim,
multiplica-se a demanda bruta de emprego pela área colhida de cada cultura, obtendo-se,
dessa forma, uma estimação teórica do nível de emprego rural.
Considera-se que o homem do campo dedica em média 245 dias úteis para realizar
atividades como plantio, tratos culturais e colheita da produção.
A mamona possui apenas uma colheita por ano. Para realizar atividades como plantio,
tratos culturais e colheita, essa cultura demanda 36 homens/dia por hectare. Para a soja o
coeficiente técnico é de dois homens dia/ha e possui apenas um ciclo produtivo por ano
(EMBRAPA ALGODÃO, 2007; EMBRAPA, 2008).
É importante destacar as limitações metodológicas do modelo de geração teórica de
emprego. Uma primeira limitação diz respeito à utilização de coeficientes técnicos de
produção, que são mantidos constantes ao longo da série estudada. Além disso, a metodologia
adotada fornece apenas uma estimação do nível de ocupação da mão-de-obra, ou seja, é uma
aproximação teórica da realidade. A despeito dessas limitações, os resultados obtidos
guardam uma estreita relação com a realidade econômica.
38
3 PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E USO DE BIODIESEL (PNPB)
Neste capítulo será apresentada uma análise acerca do PNPB, discutindo-se a sua
consistência interna. Para isso, foram confrontados os objetivos e metas do programa com os
instrumentos de políticas adotadas para alcançar tais diretrizes. Foi feito um confronto com os
dados referentes ao setor de biodiesel como produção, financiamento, etc.
3.1 Descrição do PNPB
De acordo com a Comissão Executiva Interministerial (CEIB), o PNPB foi criado com
o objetivo principal de fomentar a produção de biodiesel, de forma sustentável.
Secundariamente, o programa visa promover a inclusão social e o desenvolvimento regional,
através do fortalecimento da agricultura familiar na região semi-árida, por meio da sua
integração à cadeia produtiva do biodiesel, assim como visa o desenvolvimento regional
através da produção de diversas matérias-primas em diferentes regiões do país, possibilitando
a geração de emprego e renda, principalmente nas regiões mais atrasadas do país (CEIB,
2005).
Com isso, o Governo condicionou a política agroenergética do biodiesel à política
social. Nesse particular, o PNPB ênfase à utilização de matérias-primas produzidas por
agricultores familiares, através do uso de culturas que se adaptem às áreas semi-áridas e que
seja viável a sua exploração em pequenas unidades produtivas.
Para estimular a produção de biodiesel no país, o principal instrumento adotado foi o
compulsório de adição de biodiesel ao diesel mineral. Para isso, no início de 2005, foi
sancionada a Lei 11.097/05 que introduz o biodiesel na matriz energética nacional e fixa em
5% a obrigatoriedade de adição de biodiesel ao diesel (B5), com prazo de oito anos para sua
implementação, a contar da publicação da referida Lei. Foi estabelecida uma meta
intermediária de adição de 2% de biodiesel ao diesel comercializado em todo o país (B2), a
ser cumprida em um período de três anos. Esse foi o instrumento do PNPB que obteve maior
eficácia.
O B2 entrou em vigor em janeiro de 2005. Em julho do mesmo ano foi possível
ampliar a mistura de biodiesel ao óleo diesel de 2% para 3%. Em julho de 2009 entrará em
vigor o B4 e a previsão da ANP é que o B5 passe a vigorar em todo o país a partir de 2010.
No quadro 1, encontram-se as diretrizes, metas e instrumentos do PNPB, bem como os
investimentos necessários e resultados alcançados até o momento.
39
Quadro 1 – Diretrizes, metas, instrumentos, investimentos necessários e resultados
alcançados pelo Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel
DIRETRIZES METAS INSTRUMENTOS INVESTIMENTOS
NECESSÁRIOS
RESULTADOS
ALCANÇADOS
1)
Produzir
biodiesel
a partir de
diferentes
oleaginosas em
diferentes
regiões do país
-Adição de 5%
(B5) de biodiesel
ao óleo diesel, a
ser cumprido até
2013, tendo como
meta
intermediária a
mistura de 2%
(B2) a ser
alcançada até
2007
- Obrigatoriedade da
mistura de biodiesel ao
óleo diesel;
-Leilões de biodiesel;
- Construção de usinas de
biodiesel em todas as
regiões do país.
-R$ 955 milhões, até
2013;
-Construção de pelo
menos 59 usinas de
biodiesel para
produção de mais de
2 bilhões de litros
biodiesel.
-Janeiro de 2005:
entra em vigor o B2.
-Julho de 2005:
passa a vigorar o B3.
-Julho de 2009:
passou a vigorar o
B4.
-Produção em 2008
superou 1,67
milhões de litros de
biodiesel
-produção de
biodiesel
concentrada na soja.
-Foram construídas
47 usinas e estão em
construção mais 14
usinas
2)
Implantar um
programa
sustentável,
promovendo a
inclusão social
-Inserir 250.000
famílias de
pequenos
produtores até
2007
-Lei 11.097 estabelece que
o biodiesel tem que ser
produzido com matérias-
primas da agricultura
familiar;
- Selo combustível social:
alíquotas diferenciadas de
PIS e Cofins para usinas
que comprem matérias-
primas da agricultura
familiar.
-Criação de linhas de
crédito do PRONAF de
R$ 100 milhões voltada
aos pequenos produtores,
com objetivo de incentivar
o plantio de matérias-
primas para a fabricação
de biodiesel.
-Inserção de 85.000
agricultores
familiares;
-Menos de 5% dos
agricultores
familiares contam
com assistência
técnica.
3)
Oferecer preço
competitivo,
garantir
qualidade e
suprimento
-
-Leilões de biodiesel;
-Fiscalização do MDA
-
-Vulnerabilidade do
preço das matérias-
primas, com
elevação do preço da
soja no mercado
internacional.
Fonte: Biodieselbrasil (2005); Diário de Pernambuco (2005); Em questão (2005); MDA
(2007); Repórter Brasil (2009); CEIB (2005).
40
Segundo informações do Diário de Pernambuco (2005), para alcançar a meta de
adição de 2% de biodiesel ao diesel mineral era necessário construir 16 usinas de biodiesel e
produzir 800 milhões de litros de biodiesel, até 2007. Para isso, os investimentos teriam que
alcançar R$ 330 milhões, até 2007.
Para atingir a meta de 5%, é necessário investir mais R$ 625 milhões e construir mais
43 usinas, bem como produzir mais de 2 bilhões de litros de biodiesel, até 2013 (DIÁRIO DE
PERNAMBUCO, 2005).
Até 2005, o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) havia investido R$ 16 milhões
para pesquisas com plantas adequadas a cada região e testes para produção de óleo. Em 2007
e 2008, o MCT investiu R$ 19 milhões e R$ 26 milhões, respectivamente, para apoio a
pesquisas associadas à cadeia produtiva do biodiesel (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 2005;
MCT (2009 apud MASSABKI, 2009).
Os desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) para fontes renováveis de energia foram de R$ 882 milhões, em 2006, dos quais
aproximadamente R$ 172 milhões foram investidos no setor de biodiesel (BNDES, 2006).
No tocante à meta de inserção dos agricultores familiares no PNPB, a Lei 11.097/05
estabelece que o biodiesel nacional, necessário ao atendimento dos percentuais mínimos
obrigatórios, tem que ser processado, preferencialmente, a partir de matérias-primas
produzidas por agricultores familiares, inclusive as resultantes de atividade extrativista.
Um importante instrumento para incentivar a compra de matérias-primas da
agricultura familiar diz respeito à criação do selo combustível social (Decreto 5.297),
segundo o qual o produtor de biodiesel pode obter redução total ou parcial dos tributos
federais incidentes sobre os combustíveis, bem como obter melhores condições de
financiamento (BRASIL, 2004).
Para obter o selo combustível social, o produtor de biodiesel precisa comprar matéria-
prima da agricultura familiar em percentual nimo de 50% no Nordeste, 10% nas regiões
Norte e Centro-Oeste e, 30% nas regiões Sudeste e Sul. Além disso, fica sob a
responsabilidade do produtor de biodiesel prestar assistência técnica aos agricultores
familiares (BRASIL, 2005b).
Em fevereiro de 2009, o selo combustível social foi reformulado e passou a vigorar
com novas regras, com o intuito de estimular uma maior participação do agricultor familiar no
PNPB.
41
As principais mudanças no selo combustível social dizem respeito a alterações nos
percentuais mínimos obrigatórios para compra de matérias-primas da agricultura familiar.
Estas mudanças estão resumidas na tabela 1.
Tabela 1 – Principais alterações do percentual obrigatório de compra das matérias-
primas da agricultura familiar
Antes das alterações Após as alterações
Regiões
Safras 2008 e
anteriores
Safra
2009/2010
Safra
2010/2011
Norte 10% 10% 15%
Centro-Oeste 10% 10% 15%
Nordeste 50% 30% 30%
Sudeste 30% 30% 30%
Sul 30% 30% 30%
Fonte: (BRASIL, 2009)
O percentual nimo obrigatório para compra de matéria-prima do agricultor familiar
provenientes das regiões Norte e Centro-Oeste continuou sendo estipulado em 10% para a
safra 2009/2010, mas a partir da safra 2010/2011 esse percentual aumentará para 15%. O
percentual mínimo obrigatório de compra de matérias-primas do Nordeste (a partir da safra
2010/2011) foi reduzido para 30%, equiparando-se aos percentuais de obrigatoriedade das
regiões Sudeste e Sul.
Além disso, o custo de aquisição de matérias-primas da agricultura familiar ficou
definido como o somatório do valor de aquisição da matéria-prima, das despesas com análises
de solo, das doações de insumos de produção (sementes, mudas, adubos, corretivo de solo,
horas-máquina, combustível etc). Entretanto, a soma dos valores gastos com análise do solo,
doação de insumos e assistência técnica, foi limitada ao valor na aquisição da matéria-prima:
a) ao máximo de 50% para a região Centro-Sul; e b) ao máximo de 100% para as demais
regiões.
Essas alterações refletem as reivindicações das usinas de biodiesel, que alegavam altos
custos com aquisições de matérias-primas da agricultura familiar, de modo que os benefícios
proporcionados pelo selo não compensavam os custos (uma vez que não eram levados em
consideração as despesas das usinas com assistência técnica, distribuição de sementes, etc.).
42
Na atual fase do programa 47 usinas de biodiesel no Brasil (construídas e
funcionando), distribuídas nas cinco regiões do país, das quais 27 possuem o selo combustível
social.
3
Através dos dados da tabela 2 verifica-se que concentração na distribuição regional
das usinas de biodiesel do país. Encontram-se localizadas principalmente na região Centro-
Oeste (21 usinas). No Sudeste oito usinas e no Sul, cinco. No Nordeste e Norte 13
usinas (oito no Nordeste e cinco no Norte).
Tabela 2 – Distribuição regional das usinas de biodiesel no Brasil, 2009
Número de usinas
Região Total
com selo combustível
social
Norte
5 2
TO 2 1
PA 2 1
RO 1 0
Nordeste
8 7
BA 4 3
MA 1 1
CE 2 2
PI 1 1
Sul
5 4
PR 1 0
RS 4 4
Sudeste
8 4
SP 6 4
MG 2 0
Centro-Oeste
21 10
MT 17 7
GO 4 3
Total 47 27
Fonte: ANP (2009a)
Esses números revelam que 44,68% das usinas do país estão na região Centro-Oeste,
17,02% na região Sudeste e 10,64% no Sul. O Nordeste e Norte possuem, respectivamente,
17,02% e 10,64% das usinas de biodiesel do país.
Pelas informações da tabela 3 pode-se observar que as usinas de biodiesel dos Estados
do Sul, Sudeste e Centro-Oeste são responsáveis por 87,84% da atual produção nacional de
3
Estão em construção mais 14 empresas (quatro no Centro-Oeste, oito no Sudeste, uma no Nordeste e uma no
Norte).
43
biodiesel. A produção de biodiesel dessas regiões está localizada nos estados do Paraná, Rio
Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás.
A partir dessas informações é possível inferir que o biodiesel nacional é produzido
pelas regiões que tradicionalmente são grandes produtores de soja, contribuindo para
concentrar terra e renda nas mãos de poucos e grandes sojicultores do país.
As usinas do Nordeste contribuem com 10,79% da produção de biodiesel nacional e
estão concentradas nos estados da Bahia, Ceará, Maranhão e Piauí. As usinas da região Norte
contribuem com apenas 1,37%.
Tabela 3 – Capacidade e produção de biodiesel, 2005-2008
Capacidade Produção (m
3
)
Região de produção 2005
2006 2007 2008
Norte
179.640 510 2.421
26.589 15.987
Tocantins 139.320 0 0
22.773 13.135
Pará 18.000 510 2.421
3.717 2.625
Ronônia 22.320 0 0
99 228
Nordeste
698904 156 34.798
172.200 125.910
Bahia 306.720 0 4.238
70.942 65.982
Maranhão 129.600 0 0
23.509 36.172
Ceará 165.384 0 1.956
47.276 19.208
Piauí 97.200 156 28.604
30.474 4.548
Sul
727801 26 100
42.708 313.350
Paraná 68.400 26 100
12 7.294
Rio Grande do Sul 659.401 0 0
42.696 306.056
Sudeste
673845 44 21.562
37.023 185.594
São Paulo 652.245 0 21.251
36.885 185.594
Minas Gerais 21.600 44 311
138 0
Centro-Oeste
1.492.163 0 10.121
125.808 526.287
Mato Grosso 1.054.423 0 13
15.170 284.923
Goiás 437.740 0 10.108
110.638 241.364
Total 3.772.353 736 69.002
404.329 1.167.128
Fonte: ANP (2009b).
Entre 2005 e 2008, a produção de biodiesel do Nordeste passou de 156 m
3
para
125.910 m
3
. Entretanto, em 2008, a produção de biodiesel do Nordeste caiu 26,88%, em
relação a 2007. Isso é reflexo de problemas enfrentados pelas usinas da Brasil Ecodiesel da
região, como quebra de contratos com os agricultores familiares e aumento do seu
endividamento devido à elevação do preço da soja (principal matéria-prima utilizada pelas
44
usinas de biodiesel) no mercado internacional. No Norte houve redução de 39,89%
(RODRIGUES, 2008).
A produção de biodiesel no Brasil, em 2008, foi de 1.167.128 m
3
(ou 1,16 bilhões de
litros). Isso significa que, em apenas quatro anos de implementação, o Brasil passa a ser o
terceiro maior produtor de biodiesel do mundo (perdendo apenas para os Estados Unidos e
para a Argentina).
Além disso, a produção de biodiesel, em 2008, representou um aumento significativo
frente aos anos anteriores. Em 2005, foram produzidos 736 m
3
. Nos anos de 2006 e 2007, a
produção foi de 69.002 m
3
e 404.328 m
3
, respectivamente.
O aumento da produção de biodiesel no Brasil, em 2008, deve-se, principalmente, ao
aumento da capacidade autorizada da região Centro-Oeste do país, que teve autorização para
o funcionamento de 17 usinas, em 2008. Some-se a isso o aumento da produção de biodiesel
do Sul e Sudeste do país.
De acordo com as informações da tabela 4, das 27 usinas de biodiesel que possuem o
selo combustível social, apenas cinco estão localizadas no Nordeste.
Tabela 4 – Produção de biodiesel das usinas do país que possuem o selo combustível
social, 2005-2008
Produção (m
3
)
Regiões
2005 2006 2007 2008
Norte
510 2.421 26.489 12.927
Tocantins 0 0 22.773 10.302
Pará 510 2.421 3.717 2.625
Nordeste
156 34.796 172.200 125.910
Bahia 0 4.238 70.942 65.982
Ceará 0 1.954 47.276 19.208
Maranhão 0 0 23.509 36.172
Piauí 156 28.604 30.474 4.548
Sul
0 0 42.696 306.056
Rio Grande do Sul
0 0 42.696 306.056
Sudeste
0 817 35.684 116.398
São Paulo 0 817 35.684 116.398
Minas Gerais 0 0 0 0
Centro-Oeste
0 10.108 124.587 521.436
Mato Grosso 0 - 13.949 280.072
Goiás 0 10.108 110.638 241.364
Total 666 48.142 401.656 1.082.727
Fonte: ANP (2009b); BIODIESELBR (2009).
45
A produção das usinas do Nordeste, em 2008, foi de 125.910 m
3
, dos quais, 65.982 m
3
corresponde à produção das empresas localizadas na Bahia, 36.172 m
3
às usinas localizadas
no Maranhão, 19.208 m
3
no Ceará, e 4.548 m
3
no Piauí. Em 2007, a produção do Nordeste
havia sido 172.200 m
3
.
As usinas de biodiesel do país que possuem o selo combustível social totalizaram
produção de 1.082.727 m
3
,
em 2008. O Centro-Oeste, com 10 usinas com o selo combustível
social, elevou a produção de biodiesel de 10.108 m
3
, em 2006, para 521.436 m
3
, em 2008.
Foram inseridos na cadeia produtiva do biodiesel 85.000 agricultores familiares
(número bem baixo abaixo da meta inicial do MDA de vincular 200.000 agricultores
familiares ao PNPB).
O instrumento adotado com o intuito de elevar a produção das oleaginosas produzidas
pela agricultura familiar (selo combustível social), mesmo sem o efetivo estímulo do governo,
tem gerado expectativa nos produtores, fazendo com que elevem a produção dessas
oleaginosas.
Pelas informações da figura 1, verifica-se que houve expansão da área colhida de
algodão no Nordeste, após a criação do PNPB. Passou de 143.485 ha, em 2003, para 348.949
ha (crescimento de 143,19%), em 2007, revertendo a trajetória descendente dessa lavoura,
verificada antes da criação do PNPB.
Figura 1 – Evolução da área colhida de algodão no Nordeste, 1990-2007
Fonte: IBGE (2007a)
Em relação à cultura da mamona no Nordeste, também é notória a reversão da
trajetória descendente da cultura, após a criação do PNPB. Na figura 2 observa-se que a área
46
colhida passou de 128.024 ha, em 2003, para 151.821 ha (crescimento de 18,58%), em 2007,
refletindo a expectativa dos produtores em relação ao programa do biodiesel.
A queda da área colhida, em 2006, indica, entretanto, a falta de estímulo do governo e
o descrédito dos agricultores familiares no PNPB, principalmente após as quebras de contrato
com a Brasil Ecodiesel.
Figura 2 – Evolução da área colhida de mamona no Nordeste, 1990-2007
Fonte: IBGE (2007a)
O girassol não é uma cultura típica da agricultura familiar do Nordeste. O IBGE
registra produção apenas em 2005, 2006 e 2007, conforme informações da figura 3.
Figura 3 – Evolução da área colhida de girassol no Nordeste, 1990-2007
Fonte: IBGE (2007a)
47
Em 2005, a área colhida dessa lavoura foi de 502 ha, reduzindo para 60 ha, em 2006.
Chama atenção o aumento da área colhida de girassol do Nordeste, em 2007, que atingiu
3.891 ha. Isso reflete o estímulo da Petrobras a essa cultura com o intuito de utilizá-la como
matéria-prima do biodiesel.
Verifica-se que, apesar da proposta do PNPB de implementação de um programa
sustentável, promovendo a inclusão social e apesar das expectativas de que o biodiesel seria
um impulsor econômico da agricultura familiar no semi-árido, a possibilidade de inclusão
social não tem se mostrado como a tendência principal, haja vista que o biodiesel brasileiro
está fortemente concentrado na soja como matéria-prima, contrariando o princípio de inclusão
social proposto inicialmente no PNPB.
Ao calcular-se a média da participação das matérias na produção do biodiesel, através
das informações da tabela 5, constata-se que, em 2008, em média, 78,02% do biodiesel
nacional foi produzido a partir do óleo de soja, seguido de gordura bovina (19,32%).
Tabela 5 – Participação das matérias-primas na produção de biodiesel (%), janeiro a
dezembro de 2008 e janeiro a maio de 2009
Óleo de Gordura Óleo de Óleo de
Outros
materiais
Soja bovina algodão mamona Graxos
jan/08 78,75 20,50 0,29 0,20 0,26
fev/08 77,28 21,17 1,04 0,00 0,51
mar/08 67,44 25,26 6,79 0,00 0,51
abr/08 77,80 21,44 0,54 0,00 0,23
mai/08 74,33 24,76 0,01 0,00 0,89
jun/08 82,93 16,92 0,07 0,00 0,09
jul/08 80,76 18,00 1,13 0,00 0,11
ago/08 77,53 19,64 2,26 0,00 0,56
set/08 80,20 18,34 1,25 0,00 0,21
out/08 80,81 16,57 2,61 0,00 0,00
nov/08 78,50 16,10 2,54 0,00 2,69
dez/08 82,17 10,70 3,64 0,00 3,49
jan/09 78,44 16,44 2,44 0,00 2,68
fev/09 71,16 24,54 3,25 0,00 1,05
mar/09 73,68 19,25 4,96 0,00 2,11
abr/09 85,37 10,94 1,59 0,00 2,10
mai/09 76,37 19,36 2,04 0,00 2,23
Jun/09 81,33 16,11 0,00 0,00 2,56
Jul
.
/09
78,70 14,62 4,11 0,00 2,77
Fonte: ANP (2009c).
48
Em 2009, a produção de biodiesel continuou concentrada na soja (de janeiro a julho,
77,86% do biodiesel teve a soja como principal matéria-prima, seguido do sebo bovino,
17,32%).
Das matérias-primas produzidas pela agricultura familiar, apenas o algodão tem
registrado participação na produção do biodiesel nacional, mas essa participação ainda é
ínfima (em média 1,73%, em 2008, e 2,63% nos cinco primeiros meses de 2009).
A concentração da soja como principal matéria-prima na produção do biodiesel é um
dos empecilhos à inclusão dos produtores agrícolas do semi-árido, haja vista que apenas
6,76% da soja do país são produzidas no Nordeste e 2,02% no Norte. O Centro-Oeste e Sul
concentram 84,90% da produção de soja nacional. Os 6,33% restantes são produzidas na
região Sudeste (ver tabela 6).
Tabela 6 – Produção de soja no Brasil e nas suas regiões e a participação da produção
regional de soja em relação à produção nacional, 2007
Produção Participação
Regiões (Toneladas) (%)
Brasil
57.857.172 -
Nordeste
3.909.240 6,76
Norte
1.167.287 2,02
Centro-Oeste
26.201.565 45,29
Sudeste
3.661.829 6,33
Sul
22.917.251 39,61
Fonte: IBGE (2007a).
Mesmo na liderança das matérias-primas, a soja não é a oleaginosa mais eficiente para
a produção de biodiesel. Segundo Garcia (2007), o rendimento da planta é de apenas 18%,
considerado baixo se comparado ao de outras culturas como o girassol, que rende até 48% do
peso em óleo e a mamona, que rende até 40%.
Vale salientar que a baixa produção nacional das oleaginosas como a mamona
(113.142 toneladas, em 2007), girassol (104.923 toneladas) e algodão (4.110.882 toneladas),
frente à produção de soja do país (57.857.172 toneladas, em 2007), contribui para que a soja
seja a principal matéria-prima do biodiesel uma vez que é a única oleaginosa no país a
apresentar produção em larga escala (IBGE, 2007a).
Dessa forma, é necessário estimular a produção de mamona e das demais matérias-
primas, bem como pesquisas que elevem a produtividade dessas oleaginosas, para que possam
49
competir de forma mais eqüitativa com a estrutura da cadeia produtiva da soja implantada no
país.
Vale destacar, ainda, que apesar da mamona e outras oleaginosas, como o dendê,
pinhão-manso, girassol e algodão, serem aptas à produção do biodiesel e terem amplas
condições de competitividade, suas viabilidades técnica e econômica ainda passam por
processos de experimentação.
No que diz respeito à diretriz do PNPB que tem como objetivo garantir preços
competitivos, ao optar pelo biodiesel a partir de soja o programa enfrenta algumas
dificuldades, entre elas, a vulnerabilidade do preço dessa matéria-prima, que é determinado no
mercado internacional.
Com o intuito de atender a mistura obrigatória de biodiesel ao diesel mineral, a ANP
realiza leilões de biodiesel aonde é determina o volume de biodiesel necessário para cumprir a
exigência legal de adição de biodiesel ao diesel por um período de três meses, bem como
determina previamente o preço máximo do biodiesel a ser negociado nos leilões.
4
Em seguida, 80% do volume de biodiesel são leiloados para as empresas que são
detentoras do selo combustível social e os 20% restantes são leiloados aos demais produtores
que não detêm o selo (RODRIGUES, 2008).
Cada fornecedor se compromete a fazer entregas do biodiesel no período de três meses
ao preço fixado pela ANP. Caso o preço da soja (principal matéria-prima do biodiesel) tenha
forte elevação, a empresa pode ter perda de receitas. Nesse sentido, as usinas de biodiesel têm
enfrentado custos de produção elevados devido a alta das cotações da soja no mercado
internacional (RODRIGUES, 2008).
De acordo com Instituto de Economia Agrícola (2008) a elevação do preço
internacional de soja deve-se ao aumento da demanda dos países emergentes, nos últimos
anos, em especial a China (que é o maior importador de soja do mundo); recentes reduções
das taxas de juros norte-americana e aumento da aversão ao risco (que tem como
conseqüência a expansão dos mercados financeiros voltados à commodities); e depreciação da
moeda americana.
Desde a criação do PNPB (2004), o preço do óleo de soja tem aumentando no
comércio internacional, chegando a atingir o preço record de US$ 1.345,67/tonelada, no
primeiro semestre de 2008. a partir do segundo semestre houve redução no preço das
commodities agrícolas (ver figura 4).
4
Arremata determinada quantidade de biodiesel aquele produtor que oferecer o menor preço.
50
Figura 4 – Evolução do preço internacional do óleo de soja do primeiro trimestre de
1990 ao quarto trimestre de 2008
Fonte: Ipeadata (2008)
Até o quinto leilão, ocorrido no início de 2007, o preço do litro do biodiesel estava em
torno de R$ 1,90/litro. Com a elevação do preço da soja e, conseqüentemente, elevação dos
custos das usinas, a ANP decidiu elevar o preço de referência do biodiesel, que chegou a R$
2,80/litro, no primeiro semestre de 2008 (ver tabela 7).
Tabela 7 – Evolução do preço do biodiesel acordado nos leilões do setor, 2005-2008
Leilões Data
Preço de
referência (R$)
1º leilão 23/11/2005 1,92
2º leilão 30/03/2006 1,91
3º leilão 11/07/2006 1,90
4º leilão 12/07/2006 1,90
5º leilão 13/02/2007 1,90
6º leilão 13/11/2007 2,40
7º leilão 14/11/2007 2,40
8º leilão 10/04/2008 2,80
9º leilão 11/04/2008 2,80
10º leilão 14/08/2008 2,62
11º leilão 15/08/2008 2,62
Fonte: ANP (2009d).
Essa decisão decorreu do fato de que muitas empresas do setor anunciaram que não
participariam dos leilões de biodiesel ao preço de R$ 1,90, fixado pela ANP até então
(RODRIGUES, 2008).
51
A diferença entre o elevado preço da soja e o baixo preço do biodiesel nos leilões fez
com que muitos produtores tivessem prejuízo, impossibilitando a entrega do produto ao preço
previamente acordado.
Segundo informações de Rodrigues (2008), a diferença entre o preço do biodiesel e o
preço da sua principal matéria-prima fez com que o setor de biodiesel tivesse prejuízo de R$
400 milhões, no primeiro semestre de 2008, além do alto índice de inadimplência, que ficou
em torno de 30%.
5
Pode-se concluir, portanto, que o PNPB tem conseguido alcançar a meta proposta
inicialmente no tocante à elevação da obrigatoriedade da adição de biodiesel ao diesel
mineral, mas, por outro lado, não tem obtido o êxito esperado no tocante à inclusão social,
desenvolvimento regional e garantia de preços competitivos para o biodiesel.
A seguir será apresentado o impacto do PNPB no uso do solo e sobre o emprego.
5
A Brasil Ecodiesel, que possui seis unidades produtivas no país e é uma das maiores produtoras de biodiesel do
país, além de ter um capital de R$ 300 milhões, no primeiro semestre de 2008 teve prejuízo de quase R$ 100
milhões devido a elevação do preço da soja (RODRIGUES, 2008).
52
4 IMPACTOS DO PNPB SOBRE O USO DO SOLO E SOBRE O EMPREGO
Neste capítulo encontra-se o mapeamento da soja e mamona, por microrregião, nos
seus respectivos Estados produtores. Além disso, será apresentada a evolução da área colhida
dessas culturas, nas áreas mapeadas, no período 1990-2007, bem como o resultado do modelo
de Zockun e a evolução do emprego gerado na produção dessas duas culturas.
4.1 Impactos sobre o uso do solo
4.1.1 Mapeamento da produção de soja nos estados do Nordeste e em suas microrregiões
e evolução de sua área colhida nas áreas mapeadas
4.1.1.1 Mapeamento da produção de soja
Dos nove estados do Nordeste, cinco produzem soja: Alagoas, Bahia, Ceará,
Maranhão e Piauí. No entanto, Ceará e Alagoas não possuem produção de soja com
representatividade no Nordeste. Os estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e
Sergipe não cultivam essa lavoura (ver figura 5).
Figura 5 – Mapeamento da soja no Nordeste, 2007
Fonte: IBGE (2007a).
53
Em virtude disso, para a análise que se segue, foram selecionadas as microrregiões
produtoras de soja na Bahia, Maranhão e Piauí.
a) Mapeamento da soja no estado da Bahia
No estado da Bahia, do início ao final da década de 1990, a produção de soja estava
concentrada nas microrregiões de Barreiras e Santa Maria da Vitória. Em 2007, além de ser
produzida nas microrregiões de Barreiras e Santa Maria da Vitória, localizadas no Oeste
baiano (principal fronteira agrícola do Estado), a soja estendeu-se para as microrregiões de
Bom Jesus da Lapa, no Vale do São Francisco, e Cotergipe, no Oeste baiano (ver figura 6).
Entretanto, essas duas últimas microrregiões foram desconsideradas do presente estudo uma
vez que não possuem representatividade em termos de produção de soja no Estado.
Figura 6 – Mapeamento da soja no estado da Bahia, 2007
Fonte: IBGE (2007a).
No período de 1990 a 2007, as microrregiões de Barreiras e Santa Maria da Vitória
foram responsáveis por 99,82% da produção de soja do Estado. A microrregião de Barreiras
contribuiu com 84,62% e Santa Maria da Vitória com 15,20%.
A produção de soja da microrregião de Barreiras é concentrada em cinco municípios,
responsáveis por 98,56% da produção total de soja da microrregião. O maior produtor é o
54
município de São Desidério, responsável por 36,19% da produção total de soja da
microrregião.
6
O segundo maior produtor é o município de Barreiras, responsável por
20,67%. Luís Eduardo Magalhães ocupa o terceiro lugar, com 18,02%. Em seguida tem-se
Formosa do Rio do Preto (13,98%) e Riachão das Neves (9,71%).
Em relação à microrregião de Santa Maria da Vitória, toda produção de soja é
produzida por três municípios: Correntina, responsável por 68,69% da produção da
microrregião, Jaborandi (22,44%) e Cocos (8,87%).
b) Mapeamento da soja no estado do Maranhão
No estado do Maranhão, na década de 1990, a produção de soja concentrava-se nas
microrregiões de Alto Mearim e Grajaú, Chapadas das Mangabeiras, Chapadas do Alto
Itapecuru, Chapadinha, Gerais de Balsas e Porto Franco. A figura 7 ilustra a atual distribuição
de soja no Estado.
Figura 7 – Mapeamento da soja no estado do Maranhão, 2007
Fonte: IBGE (2007a).
6
Em 2007, o município de São Desidério foi o sexto maior produtor nacional de soja além de ser o maior
produtor de algodão do país (12,80% da produção nacional e 46,80% da produção baiana) (IBGE, 2007a).
55
Das 21 microrregiões do Estado, nove produzem soja. Dessas, apenas Gerais de Balsas
e Chapadas das Mangabeiras (localizadas no Sul maranhense) possuem produção com
representatividade no Estado. Essas duas microrregiões de Gerais de Balsas e Chapadas das
Mangabeiras são responsáveis por 93,76% da produção total de soja do Estado (Gerais de
Balsas contribui com 66,34% e Chapada das Mangabeiras com 27,04%).
Os principais municípios produtores de soja da microrregião de Chapadas das
Mangabeiras são: Sambaíba (que produz 34,44% da soja da microrregião) e São Raimundo
das Mangabeiras (produz 24,83%). Têm-se ainda os municípios de Fortaleza dos Nogueiras
(19,13%) e São Domingos do Azeitão (8,85%). Esses quatro municípios são responsáveis por
87,31% da produção de soja da microrregião.
Na microrregião de Gerais de Balsas, o principal município produtor é Balsas,
responsável por 45,22% da produção total de soja da microrregião. Outro importante
município é Tasso Fragoso (35,14%). Também merecem destaque os municípios de Riachão
(11,25%) e Alto Parnaíba (8,37%). Esses municípios são responsáveis por 87,27% da
produção de soja da microrregião.
c) Mapeamento da soja no estado do Piauí
No início da década de 1990, a produção de soja no Piauí estava concentrada na
microrregião do Alto Parnaíba Piauiense (localizado no Sudoeste Piauiense).
No final da década de 1990, a produção de soja passou a ocupar outras áreas do
Sudoeste Piauiense, estendendo-se para as microrregiões do Alto Médio Gurguéia e
Bertolínea. A microrregião do Floriano passa a registrar produção de soja, mas isso não se
mantém nos anos subseqüentes.
Atualmente a produção de soja do Piauí continua concentrada no Sudoeste Piauiense.
A principal microrregião produtora é o Alto Parnaíba Piauiense (responsável por 69,72% da
produção de soja do Estado), seguida do Alto Médio Gurguéia (23,95%) e Bertolínea
(6,21%). Essas três microrregiões são responsáveis por 99,88% da produção de soja do Estado
(ver figura 8).
A microrregião do Litoral Piauiense, localizada no Norte piauiense, apesar de aparecer
no mapa como uma das microrregiões produtoras de soja, não possui produção com
representatividade no Estado.
56
Figura 8 – Mapeamento da soja no estado de Piauí, 2007
Fonte: IBGE (2007a).
A microrregião do Alto Médio Gurgueia possui 11 municípios, dos quais seis
produzem soja. O maior produtor é o município de Bom Jesus, responsável por 45,96% da
atual produção de soja da microrregião. O segundo maior produtor é o município de Currais,
responsável por 16,25%. Em seguida têm-se os municípios de Monte Alegre do Piauí e
Gilbués, que produzem 12,21% e 12,81%, respectivamente. Têm-se, ainda, os municípios de
Palmeira do Piauí (8,00%) e Alvorada do Gurguéia (4,76%).
Na microrregião do Alto Parnaíba Piauiense todos os municípios produzem soja. O
município de Uruçuí é responsável por 37,54% da produção de soja da microrregião. Ribeiro
Gonçalves e Baixa Grande do Ribeiro são responsáveis por 26,28% e 27,91%,
respectivamente. O menor produtor é o município de Santa Filomena (8,27%).
A produção da microrregião de Bertolínea concentra-se em quatro municípios.
Sebastião Leal e Antônio Almeida, juntos, contribuem com 93,76% da quantidade produzida
de soja da microrregião. Os 6,24% restantes são produzidos pelos municípios de Porto Alegre
do Piauí e Manoel Emídeo.
4.1.1.2 Evolução da área colhida de soja nos estados da Bahia, Piauí e Maranhão, no
período 1990 a 2007
57
Desde o início dos anos 1990, a soja vem ganhando espaço no Nordeste. Os estados da
Bahia, Maranhão e Piauí tiverem avanço significativo da sua área colhida de soja nesse
período, conforme pode ser observado na tabela 8.
Tabela 8 – Área colhida de soja no Nordeste, Bahia, Piauí e Maranhão e participação da
área colhida desses estados na área colhida de soja do Nordeste, 1990-2007
Bahia Piauí Maranhão Nordeste
Ano
Área % do Área % do Área % do Área
colhida (ha)
Nordeste
colhida (ha)
Nordeste
colhida (ha)
Nordeste
colhida (ha)
1990
360.015 95,54 1.560 0,41 15.230 4,04 376.814
1991
210.000 97,00 1.900 0,88 4.585 2,12 216.485
1992
320.000 93,37 1.590 0,46 21.122 6,16 342.712
1993
381.049 89,42 1.860 0,44 43.223 10,14 426.132
1994
434.036 86,24 6.345 1,26 62.896 12,50 503.277
1995
470.575 82,40 12.784 2,24 87.690 15,35 571.085
1996
433.263 85,54 9.585 1,89 63.652 12,57 506.520
1997
456.550 78,03 18.780 3,21 109.725 18,75 585.064
1998
553.700 76,14 27.152 3,73 146.345 20,12 727.199
1999
580.000 74,44 32.217 4,13 166.916 21,42 779.133
2000
628.356 74,18 40.004 4,72 178.716 21,10 847.076
2001
690.000 71,48 61.841 6,41 213.436 22,11 965.277
2002
800.000 71,13 86.460 7,69 238.173 21,18 1.124.750
2003
850.000 68,41 116.613 9,39 275.252 22,15 1.242.515
2004
821.270 62,31 155.781 11,82 340.403 25,83 1.318.005
2005
870.000 60,37 198.547 13,78 372.074 25,82 1.441.161
2006
872.600 58,65 232.009 15,59 382.886 25,73 1.487.915
2007
851.000 58,57 217.006 14,94 384.474 26,46 1.452.880
Média
587.912 76,85 67.891 5,72 172.600 17,42 828.556
Fonte: IBGE (2007a).
A área colhida de soja no Nordeste aumentou de 376.814 ha, em 1990, para 1.452.880
ha, em 2007, (crescimento de 285,57%). Nesse período, o estado da Bahia contribuiu com
uma média de 76,85% da área colhida de soja do Nordeste. O estado do Maranhão foi
responsável por 17,42% e Piauí por 5,72%.
No estado da Bahia a área colhida de soja teve um expressivo avanço, passando de
360.015 ha, em 1990, para 851.000 ha, em 2007. A partir de 2004, ano de criação do PNPB, o
aumento na área colhida de soja no Estado (principal produtor de biodiesel do Nordeste) foi
de 3,62%.
Segundo Mendonça (2006) o Oeste baiano está geograficamente inserido na região
mais rica em recursos hídricos do Nordeste Brasileiro. Sua área de cerrado abrange cerca de
58
oito milhões de hectares, dos quais aproximadamente 2 milhões de hectares estão sendo
efetivamente utilizados. A região possui água e clima favoráveis à agricultura, além de
possuir uma bacia hidrográfica de grande suporte (situa-se à margem do Rio São Francisco e
possui 29 rios perenes).
Carneiro et al. (2005) destacam que a produção de soja no estado da Bahia caracteriza-
se por um sistema moderno de produção, com alta tecnologia e sistemas de irrigação, o que
proporciona um ambiente favorável à expansão da soja, além de possibilitar maior
rentabilidade e produtividade à cultura.
Para Mueller e Bustamante (2002), a expansão da soja no estado da Bahia foi
influenciada pelo desenvolvimento em infra-estrutura de transporte e pelas condições naturais
do cerrado baiano.
Repórter Brasil (2008b) chama atenção para a crescente demanda de grupos
estrangeiros por terras produtoras de soja no Nordeste brasileiro. Afirma que, no Oeste da
Bahia, empresas estrangeiras detêm 20% da área plantada de soja da região e disputam
mercado com grandes produtores nacionais.
No estado do Maranhão, a área colhida passou de 15.230 ha, em 1990, para 384.474
ha, em 2007. Após a criação do PNPB, o Estado registrou crescimento de 12,95% na área
colhida de soja.
Um fator importante é o porto de Itaqui, localizado em São Luiz, que apresenta uma
importante via de escoamento do grão para o principal mercado do produto brasileiro, a
Europa. Além disso, o cerrado maranhense, possui maior estabilidade climática que o cerrado
da Bahia e Piauí (CARNEIRO et al., 2005; INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA,
2003).
No estado do Piauí, em 1990, foram colhidos 1.560 ha de soja. Em 2007, a área
colhida desse grão aumentou para 217.006 ha. Analisando o período após a criação do PNPB,
verifica-se que houve crescimento de 39,30% na área colhida de soja do Estado, que passou
de 155.781 ha, em 2004, para 217.006 ha, em 2007.
Cabe mencionar que nos estados do Maranhão e Piauí, a estruturação da área
produtora de soja ganhou impulso com a implantação do Corredor de Exportação Norte,
criado pelo Governo Federal na década de 1990, no qual foram feitos investimentos na
melhoria de infraestrutura dos portos, bem como melhoria e construções de rodovias,
necessários ao desenvolvimento do agronegócio da soja (FERREIRA, 2009; FROTA;
CAMPELO, 1999).
59
A Embrapa Soja (2004) indica os seguintes fatores como causas da expansão da soja
no Nordeste:
incentivos fiscais disponibilizados para a abertura de novas áreas de produção agrícola,
assim como para a aquisição de máquinas e construção de armazéns;
estabelecimento de agroindústrias na região, estimuladas pelos mesmos incentivos fiscais
disponibilizados para a ampliação da fronteira agrícola;
baixo preço da terra na região;
desenvolvimento de um bem sucedido pacote tecnológico para a produção de soja no
cerrado;
topografia favorável à mecanização, favorecendo o uso de máquinas agrícolas, o que
propicia maior rendimento nas operações de preparo do solo, tratos culturais e colheita;
melhorias no sistema de transporte da produção regional, com o estabelecimento de
corredores de exportação;
bom nível econômico e tecnológico dos produtores de soja da região, oriundos, em sua
maioria, da Região Sul, onde já cultivavam soja com sucesso; e
regime pluviométrico da região favorável aos cultivos de verão.
Segundo Repórter Brasil (2008a), a expansão da soja nos estados nordestinos, a partir
do final dos anos 1990, acompanha o movimento ocorrido em todo o país e tem como causas
o aumento da demanda mundial por carnes, que por sua vez aumentou a demanda por farelo
de soja (usado na produção de rações); aumento da demanda chinesa e; elevação do preço
internacional da soja (que tem incentivado o produtor a aumentar sua área plantada).
Vale salientar que a expansão da soja em terras do Cerrado foi possível devido ao
desenvolvimento de pesquisas que adaptaram a soja à região do cerrado nordestino. Até a
década de 1980 a produção de soja brasileira era baseada em cultivares americanos (pesquisas
desenvolvidas nos Estados Unidos) e encontrava condições favoráveis para seu bom
desenvolvimento apenas nos estados do Sul (EMBRAPA SOJA, 2004).
Com o desenvolvimento de novas cultivares adaptadas às regiões do Cerrado, os
estados nordestinos passam a chamar a atenção dos produtores do Sul e Sudeste, fazendo com
que a cultura ganhasse cada vez mais importância na região.
Isso, atrelado ao baixo preço das terras e às condições favoráveis de clima e solos,
fizeram com que muitos produtores de soja do Sul do país migrassem para o Nordeste como
intuito de investir no cultivo da soja. Aumentaram seus investimentos produtivos,
contribuindo para ampliação da área cultivada de soja na região (ECOA, 2009).
60
Dickel et al. (2005) destacam que a expansão da soja na Bahia, Maranhão e Piauí se
deu com o uso intensivo da mecanização. Afirma que tal expansão foi motivada por
incentivos do Governo para aquisição de terras, juros baixos, bem como pelas limitações
fundiárias das fronteiras agrícolas da Região Sul.
A intervenção do Estado proporcionou a estruturação da sojicultura no Nordeste
brasileiro, mas, por outro lado, aumentou a concentração de terras nas mãos de grandes
proprietários de terras, bem como modificou as relações de trabalho e de produção em favor
do grande capital e em detrimento das pequenas unidades de produção dirigidas pelo produtor
familiar, que sofreu impactos da mecanização da agricultura, bem como do uso intensivo de
agrotóxicos e adubos químicos (FERREIRA, 2009; FROTA; CAMPELO, 1999). Isso vai ao
encontro das idéias de Marx que defende que o Estado serve ao interesse dos grandes
capitalista, garantindo a hegemonia da classe dos detentores do capital.
A despeito da importância da sojicultura para o agronegócio do país, a agricultura
mecanizada que norteia a produção de soja tem sido apontada como causa da compactação do
solo, degradação ambiental (em razão do uso intensivo de fertilizantes e adubos),
desmatamento, assoreamento de rios etc.
Repórter Brasil (2009) destaca que a pulverização por aviões compromete a qualidade
da água e os cultivos de pequenos produtores que vivem no entorno das plantações de soja.
Destaca ainda a extração desordenada de água para irrigação e comprometimento de
nascentes, em função da destruição da vegetação nativa do cerrado.
Além disso, vale chamar atenção para o fato de que a soja também contribuiu
indiretamente para o desmatamento e destruição do cerrado, tendo em vista que sua expansão
desloca a pecuária para outras áreas. O estudo do Grupo de Trabalho sobre Florestas do
Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para Meio Ambiente (2003) constatou que
tem havido redução do rebanho bovino nos principais municípios produtores de soja, e, ao
mesmo tempo, tem tido aumento do rebanho nas regiões vizinhas.
A Embrapa Monitoramento por Satélite (2000) mapeou a alteração da ocupação das
terras do Oeste da Bahia, entre 1985 e 2000. O mapeamento por satélite mostra claramente as
transformações no uso e cobertura das terras do Oeste baiano, em 1985 e 2000, associadas à
expansão da agropecuária moderna e áreas irrigadas.
7
O estudo mostra o expressivo crescimento da agropecuária moderna (154,41%) e de
áreas irrigadas (625,97%), num intervalo de 15 anos. No caso da agricultura tradicional, o
7
No Oeste da Bahia, nas áreas de agropecuária moderna predomina a agricultura de grãos, principalmente a soja.
61
aumento foi bem menor, de 28,32%, entre 1985 e 2000, conforme dados sintetizados na tabela
9.
Tabela 9 – Áreas e variação das classes de uso e cobertura das terras do Oeste da Bahia,
1985 e 2000
Área Variação
Descrição 1985 2000 Hectare %
Floresta estacional 577.269 510.853 -6.6416 -11,51
Vegetação ciliar 359.263 349.771 -9.492 -2,64
Cerrado 4.197.354 3.315.870 -88.1484 -21,00
Agropecuária moderna 631.175 1.605.762 974.587 154,41
Agricultura tradicional 924.750 1.186.648 261.898 28,32
Áreas irrigadas 17.554 109.883 92.329 525,97
Áreas urbanizadas 4335 9799 5464 126,04
Fonte: Embrapa Monitoramento por Satélite (2000)
A degradação da vegetação natural é evidenciada pela diminuição de 21% nas áreas de
Cerrado, o que significa que 881.484 ha dessa região foram convertidos para o uso
agropecuário e irrigação. Os dados mostram, ainda, que essas transformações foram
acompanhadas por uma expansão de 126% das áreas urbanizadas.
Esse cenário é preocupante uma vez que não existem políticas de conservação do
cerrado que dê sustentabilidade à expansão da agropecuária na região.
Como exemplo de desrespeito às leis ambientais vale citar o que aconteceu, no final de
2008, no Parque Nacional Nascente do Rio Parnaíba, localizado no Oeste da Bahia, no
município Formosa de Rio Preto, onde foram encontradas 700 ha de plantio de soja
8
(
Repórter Brasil, 2008c).
Diante da expansão da soja nos Cerrados nordestinos e do seu uso na produção de um
combustível renovável, urge a necessidade de serem adotadas medidas de conservação do
Cerrado, como a criação de programas de recuperação de áreas degradas; ampliação das áreas
do Cerrado com proteção ambiental; ampliação do programa de monitoramento por satélite;
cobrança dos proprietários a recuperação das áreas degradas; e investimento nas culturas de
subsistência dos pequenos agricultores da região.
8
O fazendeiro responsável pela plantação havia sido multado, em anos anteriores, por plantação ilegal de soja
nos entornos do Parque.
62
a) Evolução da área colhida de soja nas microrregiões do estado da Bahia, Piauí e
Maranhão
Na Bahia, as microrregiões de Barreiras e Santa Maria da Vitória, em conjunto, foram
responsáveis por 99,78% da produção dessa cultura no Estado, entre 1990 e 2007.
A microrregião de Barreira destaca-se como a principal produtora de soja da Bahia,
colhendo, em média, 490.914 ha por ano. Em 1990 a área colhida de soja dessa microrregião
foi de 285.000 ha. Em 2007, esse valor subiu para 702.557 ha, crescimento de 146,51%.Na
microrregião de Santa Maria da Vitória a expansão foi de 96,06%, passando de 75.000 ha, em
1990, para 147.043 ha, em 2007 (ver tabela 10).
Tabela 10 – Área colhida de soja na Bahia e nas microrregiões Barreiras e Santa Maria
da Vitória e participação da área colhida das microrregiões em relação à área de
produção de soja do Estado, 1990-2007
Barreiras Santa Maria da Vitória Bahia
Área colhida
% da Bahia
Área colhida
% da Bahia
Área colhida
1990 285.000 79,16 75.000 20,83 360.015
1991 160.000 76,19 50.000 23,81 210.000
1992 244.179 76,31 72.321 22,60 320.000
1993 284.524 74,67 91.475 24,01 381.049
1994 335.764 77,36 97.172 22,39 434.036
1995 388.597 82,58 80.878 17,19 470.575
1996 356.398 82,26 76.865 17,74 433.263
1997 376.535 82,47 80.015 17,53 456.550
1998 470.698 85,01 83.002 14,99 553.700
1999 494.800 85,31 85.200 14,69 580.000
2000 551.669 87,80 76.687 12,20 628.356
2001 603.475 87,46 865.25 12,54 690.000
2002 699.700 87,46 100.000 12,50 800.000
2003 742.500 87,35 107.500 12,65 850.000
2004 693.260 84,41 127.740 15,55 821.270
2005 721.800 82,97 145.000 16,67 870.000
2006 725.000 83,09 144.600 16,57 872.600
2007 702.557 82,56 147.043 17,28 851.000
Média 490.914 82,47 95.946 17,32 587.912
Fonte: IBGE (2007a).
63
Após a criação do PNPB, na microrregião de Barreiras, o aumento na área colhida de
soja foi de apenas 1,34%. A maior expansão foi registrada na microrregião de Santa Maria da
Vitória (15,11%).
Conforme informações da tabela 11, no estado do Piauí, entre 1990 e 2007, as três
microrregiões do sudoeste piauiense foram responsáveis por 99,76% do total da área colhida
dessa cultura no Estado. A microrregião do Alto Parnaíba Piauiense contribuiu em média com
83,77%, seguida de Alto Médio Gurguéia com 11,72% e Bertolínea com 4,27%.
Tabela 11 – Área colhida de soja no Piauí e nas microrregiões de Alto Parnaíba
Piauiense, Alto Médio Gurguéia e Bertolínea e participação da área colhida das
microrregiões em relação a área colhida de soja do Estado, 1990-2007
Alto Parnaíba
Piauiense Bertolínia
Alto Médio Gurguéia
Piauí
Área % Área % Área % Área
colhida (ha)
do Piauí
colhida (ha)
do Piauí colhida (ha)
do Piauí
colhida (ha)
1990 1.560 100,00 0 0,00 0 0,00 1.560
1991 1.900 100,00 0 0,00 0 0,00 1.900
1992 1.590 100,00 0 0,00 0 0,00 1.590
1993 1.760 94,62 0 0,00 100 5,38 1.860
1994 5.585 88,02 460 7,25 300 4,73 6.345
1995 12.062 94,35 500 3,91 212 1,66 12.784
1996 9.560 99,74 0 0,00 0 0,00 9.585
1997 16.175 86,13 1.780 9,48 295 1,57 18.780
1998 24.672 90,87 620 2,28 1.860 6,85 27.152
1999 27.102 84,12 680 2,11 4.315 13,39 32.217
2000 32.004 80,00 2.895 7,24 4.980 12,45 40.004
2001 44.506 71,97 6.122 9,90 10.893 17,61 61.841
2002 59.893 69,27 7.960 9,21 17.877 20,68 86.460
2003 76.068 65,23 9.930 8,52 30.565 26,21 116.613
2004 101.027 64,85 12.000 7,70 42.754 27,44 155.781
2005 132.524 66,75 15.050 7,58 50.883 25,63 198.547
2006 158.578 68,35 13.250 5,71 60.031 25,87 232.009
2007 147.003 67,74 11.350 5,23 58.563 26,99 217.006
Média 47.421 82,89 4.589 4,78 15.757 12,03 67.891
Fonte: IBGE (2007a).
Na microrregião do Alto Parnaíba Piauiense, a área colhida avançou de 1.560 ha em
1990 para 147.003 ha em 2007. Em Bertolínea, os dados do IBGE registram produção de soja
a partir de 1994 quando a área colhida foi de 460 ha. Em 2007, esse valor passou para 11.350
64
ha. No Alto Médio Gurguéia, o IBGE não registrou valores de produção de soja em 1990,
1991 e 1992. Em 1993, a área colhida foi de apenas 100 ha. Em 2007, passou para 58.563 ha.
Analisando o período após a criação do PNPB, verifica-se que, a microrregião do Alto
Parnaíba Piauiense registrou o maior crescimento, de 45,51%. Aumentou de 101.027 ha, em
2004, para 147.003 ha, em 2007.
Na microrregião de Bertolínia houve queda de 5,42%, passando de 12.000 ha, em
2004, para 11.350 ha, em 2007. No Alto Médio Gurguéia, a área colhida aumentou de 42.754
ha, em 2004, para 58.563 ha, em 2007, registrando crescimento de 36,98%.
A tabela 12 mostra que, no estado do Maranhão, a microrregião de Gerais de Balsas
(região conhecida como a capital da soja no Maranhão) foi responsável, em média, por
67,73% da produção de soja no Estado, entre 1990 e 2007, e Chapada das Mangabeiras por
28,54%.
Tabela 12 – Área colhida de soja no Maranhão e nas microrregiões de Gerais de Balsas,
e Chapada das Mangabeiras e participação da área colhida das microrregiões em
relação a área colhida de soja do Estado, 1990-2007
Gerais de Balsas
Chapadas das
Mangabeiras Maranhão
Área % do Área % do Área
colhida (ha)
Maranhão
colhida (ha)
Maranhão
colhida (ha)
1990 10.900 71,57 4.200 27,58 15.230
1991 4.069 88,75 441 9,62 4.585
1992 15.100 71,49 6.022 28,51 21.122
1993 25.046 57,95 17.409 40,28 43.223
1994 36.176 57,52 25.515 40,57 62.896
1995 53.579 61,10 33.291 37,96 87.690
1996 42.485 66,75 21.017 33,02 63.652
1997 83.800 76,37 25.620 23,35 109.725
1998 110.200 75,30 31.478 21,51 146.345
1999 117.767 70,55 44.391 26,59 166.916
2000 126.370 70,71 46.762 26,17 178.716
2001 150.312 70,42 55.692 26,09 213.436
2002 168.677 70,82 62.446 26,22 238.173
2003 187.101 67,97 74.050 26,90 275.252
2004 216.774 63,68 96.854 28,45 340.403
2005 238.552 64,11 101.946 27,40 372.074
2006 239.050 62,43 100.307 26,20 382.886
2007 239.050 62,18 98.504 25,62 384.474
Média 114.723 68,32 46.997 27,89 172.600
Fonte: IBGE (2007a).
65
No período de 1990 a 2007, houve expansão dessa cultura na microrregiões de Gerais
de Balsas, bem como na microrregião de Chapadas das Mangabeiras. Colheram 10.900 ha e
4.069 ha, em 1990, respectivamente. Em 2007, a área colhida dessas duas microrregiões
passou para 239.050 ha e 98.504 ha, respectivamente.
Após a criação do PNPB, a microrregião de Gerais de Balsas registrou crescimento de
10,28% na área colhida de soja. Na microrregião das Chapadas da Mangabeiras, o
crescimento foi de apenas 1,70%.
Apesar da significativa expansão da soja nas microrregiões da Bahia, Maranhão e
Piauí, vale destacar as reduções na área colhida dessa lavoura, nos anos de 1991, 1996 e 2007.
A queda na safra 1990/1991 ocorreu após a adoção de uma política neoliberal de
menor intervenção do Estado no setor agrícola, iniciada no final da década de 1980 e início da
década de 1990.
9
Os recursos disponíveis para o crédito rural apresentaram uma retração
significativa, diminuindo a presença estatal tanto no financiamento quanto na comercialização
da produção agropecuária. A redução na produção de soja em 1991, insere-se nesse processo
de redução da intervenção governamental e menor efetividade da política agrícola.
(MARQUETTI; SILVEIRA; SILVA, 1992; REZENDE, 2000).
A queda na área colhida de soja, em 1996 em relação a 1995, ocorreu porque os
produtores, após o Plano Real, se endividaram e não conseguiram honrar seus compromissos.
Com isso, gerou-se um elevado índice de inadimplência bancária e os produtores reduziram a
área plantada na safra de 1995/1996 (IPEA, 1996a).
No Plano Safra de 1996/1997, deu-se início ao processo de renegociação da vida
agrícola (securitização, baseada na Lei n. 9.138 de 30/11/95). O produtor teve a possibilidade
de aumentar o prazo de pagamento de suavida (renegociação de sete a 10 anos), bem como
teve a opção de entregar em produto o valor equivalente ao refinanciamento do débito. Isso
possibilitou a recuperação da capacidade de pagamento dos produtores, bem como o aumento
da produção a partir de 1997 (IPEA, 1996b).
A redução da área colhida de soja no estado da Bahia, no ano de 2004, deu-se em
função de uma doença chamada ferrugem asiática, que reduziu sua área colhida de 850.000
9
Em 1990 e 1991 o Governo Collor desativou a política agrícola até então baseada na garantia de preço mínimo e
crédito rural, o que provocou redução da safra 1990/1991. O resultado foi uma queda de 4,5% no PIB
agropecuário, entre 1990 e 1991, aumento no preço dos alimentos e importação de produtos como soja, milho,
arroz, feijão etc (nesse período foram necessários importar 6,5 milhões toneladas de grãos). Diante desse cenário,
o Governo Collor ainda no final de 1991 retomou a política de preço mínimo e crédito rural (MARQUETTI;
SILVEIRA; SILVA, 1992).
66
ha, em 2003, para 821.000 ha, em 2004.
10
A doença, entretanto, foi totalmente controlada em
2004 (PEIXOTO, 2005).
Em 2007, a área colhida de soja no Nordeste acompanhou o movimento de queda na
área colhida nacional e regional. O baixo preço na época da implantação do grão levou muitos
produtores de soja a cederem espaço para o algodão e milho (IBGE, 2007b; OLIVEIRA;
ANJOS, 2007).
4.1.2 Mapeamento da produção de mamona nos estados do Nordeste e em suas
microrregiões e evolução de sua área colhida nas áreas mapeadas
Em relação aos Estados que produzem mamona no Nordeste, apenas Sergipe não o
faz. Dentre os oito estados restantes, apenas Bahia possui produção de mamona com
representatividade no Nordeste.
Figura 9 – Mapeamento da mamona no Nordeste, 2007
Fonte: IBGE (2007a).
10
A ferrugem asiática, provocada por um fungo, foi identificada na Bahia em caráter epidêmico em 2003. A
planta infectada apresenta redução da quantidade e peso dos grãos. A doença foi controlada graças ao
“programa de manejo estratégico da ferrugem asiática da soja”, considerado modelo no país, que utilizou
medidas como o monitoramento das lavouras, treinamento de produtores e técnicos no reconhecimento da
doença (PEIXOTO, 2005).
67
Em 2007, 90,27% da mamona do Nordeste foi produzida pelo estado da Bahia (que é
responsável por 77,09% da produção nacional de mamona).
Dessa forma, o estudo da mamona será focado nas microrregiões do estado da Bahia
em virtude da baixa expressividade da produção dessa lavoura nos demais estados do
Nordeste.
4.1.2.1 Mapeamento da produção de mamona
a) Mapeamento da mamona no estado da Bahia
Pela figura 10, visualiza-se que a atual produção de mamona na Bahia é menos
concentrada que a produção de soja.
Figura 10 – Mapeamento da mamona no estado da Bahia, 2007
Fonte: IBGE (2007a).
68
Em 1990, 20 microrregiões produziam mamona, mas apenas quatro possuíam
representatividade no Estado. Destacavam-se as microrregiões de Juazeiro (localizada no Vale
São-Francisco da Bahia), Jacobina, Irecê e Senhor do Bonfim (localizadas no Centro Norte
Baiano).
Em 1999, mais uma microrregião do Centro Norte Baiano ganha espaço, a
microrregião de Itaberaba. Atualmente, as microrregiões com maior representatividade em
termos de produção de mamona no Estado, continuam sendo as microrregiões de Irecê
(59,42%), Jacobina (10,94%) e Senhor do Bonfim (7,22%), localizadas no Centro Norte
Baiano. Além dessas, ganharam espaço as microrregiões de Seabra (6,02%) e Guanambi
(2,29%), localizadas no Centro Sul Baiano. A microrregião de Guanambi foi desconsiderada
do presente estudo por possuir produção de mamona com baixa representatividade no Estado.
Na microrregião de Irecê, o maior produtor é o município de Cafarnaum (responsável
por 16,92% da produção de mamona da microrregião). O segundo maior produtor é o
município de Mulungu do Morro (11,00%). Merecem destaque, ainda, os municípios de Souto
Soares (7,90%), Ibititá (6,77%), Iraquara (7,61%), Presidente Dutra (7,61%), São Gabriel
(6,77%), América Dourado (6,49%), e Canarana (5,64%). Esses municípios são responsáveis
por 76,71% da produção de mamona da microrregião de Irecê.
Na microrregião de Jacobina, 76,83% da mamona é produzida por quatro municípios.
Morro do Chapéu e Ourolândia são os maiores produtores de mamona, responsáveis por
65,20% da produção de mamona da microrregião. Jacobina e Mirangaba são responsáveis por
11,63%.
Na microrregião de Seabra, os principais municípios produtores de mamona são Nova
Redenção (responsável por 43,22% da produção de mamona da microrregião), Itaeté
(20,74%) e Andaraí (25,93%). Esses três municípios produzem 89,89% da mamona da
microrregião de Seabra.
Na microrregião de Senhor do Bonfim, sete municípios contribuem com 94,99% da
produção de mamona da microrregião. Os maiores produtores são Campo Formoso e
Filadélfia, responsáveis por 28,52% e 14,30% da produção de mamona da microrregião,
respectivamente. Tem-se ainda os municípios de Umburanas (17,40%), Senhor do Bonfim
(12,43%), Itiúba (10,50%), Pindobaçu (6,56%) e Jaguarai (5,26%).
4.1.2.2 Evolução da área colhida de mamona no estado da Bahia, no período 1990 a 2007
69
O Nordeste é responsável por 93,12% da produção nacional de mamona e 79,89% da
mamona do Nordeste é produzida pelo estado da Bahia (responsável por 74,40% da produção
nacional). Houve queda de 43,26% da área colhida de mamona do Nordeste, no período 1990-
2007, passando de 267.581 ha para 127.491 ha, respectivamente (ver tabela 13).
Tabela 13 – Área colhida de mamona no Nordeste e Bahia, 1990-2007
Área colhida (ha)
Anos Bahia
% do
Nordeste Nordeste
1990 204.453
76,41 267.581
1991 162.372
74,50 217.937
1992 128.129
77,71 164.872
1993 128.523
95,00 135.286
1994 85.631
82,75 103.483
1995 60.672
82,45 73.587
1996 109.496
92,58 118.272
1997 143.229
95,52 149.943
1998 58.423
96,94 60.267
1999 97.535
98,28 99.240
2000 172.955
97,51 177.367
2001 148.085
97,67 151.613
2002 109.800
96,82 113.402
2003 125.128
97,73 128.029
2004 147.698
90,06 163.994
2005 182.459
83,04 219.732
2006 108.950
78,67 138.497
2007 121.295
79,89 151.821
Média 127.491
100,00 127.491
Fonte: IBGE (2007).
No estado da Bahia foram colhidos, em média, 127.491 ha de mamona por ano. Na
década de 1990, houve retração da área colhida dessa cultura, passando de 204.453 ha, em
1990, para 97.535 ha, em 1999 (redução de 52,29%). Segundo Repórter Brasil (2008a) isso se
deve à marginalização da cultura na década de 1990, decorrente da falta de investimentos,
deficiências tecnológicas, falta de apoio ao pequeno produtor e compactação do solo.
Segundo informações do IBGE (2005), a decadência da mamona na Bahia passa pela
desorganização do pequeno mercado interno, falta de pesquisas, ausência de incentivos e
linhas de crédito especiais, de assistência técnica e, principalmente, pelos baixos preços pagos
ao produtor.
70
A partir do final da década de 1990, algumas iniciativas no âmbito estadual e nacional
estimularam a produção de mamona. Em 1999, foi lançado o Programa de Recuperação da
Cultura da Mamona do Estado da Bahia, com o objetivo de financiar, através do BNB, a
ampliação da área plantada de mamona, estimular a produção de sementes, garantir
assistência técnica, preço mínimo e compra da mamona em baga.
11
Em 2002, foi lançado o
Programa Brasileiro de Desenvolvimento Tecnológico de Biodiesel (PROBIODIESEL) e, em
2004, foi criado o PNPB.
12
Tais iniciativas elevaram a expectativa dos produtores de mamona, que aumentaram
sua produção de 1999 a 2005, com exceção de 2001 em decorrência da seca que atingiu o
Nordeste no ano 2000.
Na safra 2006/2007, a área colhida dessa cultura reduziu-se para 108.950 ha. Segundo
Prates (2007), a baixa demanda do produto e a queda no seu preço, em 2005, fizeram com que
os agricultores reduzissem a área plantada de mamona em 2006.
a) Evolução da área colhida de mamona nas microrregiões do estado da Bahia
A maior parte da produção de mamona do estado da Bahia é colhida pelas
microrregiões de Irecê (microrregião que possui uma usina de biodiesel), com uma
participação média de 54,91% na colheita anual do Estado, e Jacobina com participação de
9,83%. Em seguida, vem Seabra com 8,12% e Senhor do Bonfim com 7,18%. Essas quatro
microrregiões são responsáveis por 80,04% da área colhida total de mamona do Estado.
Em Irecê a retração da área colhida, na década de 1990, foi de 53,25%. Passou de
122.398 ha, em 1990, para 57.217 ha, em 1999. Na década seguinte, a área colhida de
mamona passou de 105.969 ha em 2000, atingiu 130.820 ha em 2005, reduzindo para 65.820
ha em 2007 (ver tabela 14).
Em Senhor do Bonfim houve queda na área colhida de mamona até meados da década
de 1990. A partir de 1997, verifica-se recuperação na área colhida, chegando a atingir 17.340
ha, em 2001. A partir de então, a mamona inicia um novo ciclo de queda, até 2005,
recuperando-se nos dois anos subseqüentes.
11
O Programa de Recuperação da Mamona do Estado da Bahia baseia-se no Protocolo da Mamona da Secretaria
de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado.
12
O PROBIODIESEL tinha o intuito de produzir biodiesel a partir de óleos vegetais. Estava focado apenas no
desenvolvimento de tecnologias para a viabilidade e competitividade técnica, sócio-ambiental e econômica do
biodiesel sem, entretanto, estabelecer diretrizes sociais (MCT, 2002).
71
Em Seabra a área colhida com mamona registrou expansão quando se compara o
início e final da série estudada, passando de 4.450 ha, em 1990, para 6.426 ha, em 2007
(crescimento de 44,40%).
Tabela 14 – Área colhida de mamona na Bahia e nas microrregiões de Senhor do
Bonfim, Irecê, Jacobina e Seabra e participação da área colhida das microrregiões em
relação a área colhida de mamona do Estado, 1990-2007
Senhor do Bonfim Irecê Jacobina Seabra Bahia
Área % da
Área % da
Área % da
Área % da
Área
colhida (ha)
Bahia colhida (ha)
Bahia
colhida (ha) Bahia
colhida (ha)
Bahia
colhida (ha)
1990 19.600 9,59 122.398 59,87
24.016 11,75 4.450 2,18
20.4453
1991 16.645 10,25 92.597 57,03
17.197 10,59 9.180 5,65
16.2372
1992 15.125 11,80 69.577 54,30
11.191 8,73 9.380 7,32
12.8129
1993 8.650 6,73 75.416 58,68
9.828 7,65 7.755 6,03
12.8523
1994 2.555 2,98 47.905 55,94
10.245 11,96 9.519 11,12
8.5631
1995 1.060 1,75 34.558 56,96
6.453 10,64 4.845 7,99
6.0672
1996 760 0,69 87.833 80,22
4.325 3,95 3.948 3,61
10.9496
1997 12.950 9,04 91.962 64,21
22.744 15,88 5.502 3,84
14.3229
1998 8.410 14,40 23.368 40,00
9.700 16,60 7.498 12,83
5.8423
1999 16.558 16,98 57.217 58,66
8.690 8,91 3.340 3,42
9.7535
2000 14.555 8,42 105.969 61,27
22.530 13,03 4.770 2,76
17.2955
2001 17.340 11,71 90.529 61,13
19.773 13,35 4.620 3,12
14.8085
2002 4.846 4,41 79.870 72,74
5.090 4,64 5.935 5,41
10.9800
2003 7.475 5,97 84.900 67,85
18.890 15,10 5.060 4,04
12.5128
2004 5.335 3,61 109.354 74,04
17.560 11,89 5.620 3,81
14.7698
2005 5.080 2,78 130.820 71,70
20.482 11,23 4.770 2,61
18.2459
2006 7.550 6,93 60.550 55,58
18.579 17,05 5.070 4,65
10.8950
2007 15.790 13,02 65.820 54,26
17.505 14,43 6.426 5,30
12.1295
Média 10.016 7,84 79.480 61,36
14.711 11,52 5.983 5,32
12.7491
Fonte: IBGE (2007a).
Pelos dados até aqui apresentados, constata-se, portanto, a significativa expansão da
soja no Oeste da Bahia, Sul do Maranhão e Sul do Piauí, desde o início do anos 1990. No caso
da mamona, a década de 1990 foi marcada pela decadência dessa cultura havendo
recuperação de sua área colhida após a criação do PNPB.
4.1.3 Modelo de Zockun
A seguir serão apresentados os resultados obtidos pelo modelo de Zockun (1978) para
as microrregiões produtoras de mamona e soja nos esatados da Bahia, Maranhão e Piauí.
72
Levou-se em consideração a área colhida dessas lavouras em dois períodos: o período P
1
corresponde a média da área colhida no período 1990-1999 e o período P
2
corresponde a
média da área colhida no período 2000-2007.
Será analisado se houve expansão ou retração da área colhida de soja e mamona em
cada microrregião considerada (efeito escala), bem como se a cultura em questão substituiu
ou foi substituída pelas demais culturas do sistema (efeito substituição).
4.1.3.1 Modelo de Zockun para a soja
a) Aplicação do modelo de Zockun para a soja nas microrregiões da Bahia
Na composição do sistema agrícola da microrregião de Barreiras foram considerados
os produtos soja, arroz, milho, algodão, feijão e mandioca. Na microrregião de Santa Maria
da Vitória, o sistema considerado é formado pelos mesmos produtos da microrregião de
Barreiras, além da mamona e cana-de-açúcar. Em ambas as microrregiões, houve expansão na
área colhida de soja, milho, algodão e mandioca (ver tabela 15).
Tabela 15 – Modelo de Zockun: resultado para a soja no estado da Bahia
Área Colhida Variação Efeito Efeito Área cedida ou
Produtos P
1
P
2
Hectare
% escala Substituição
incorporada
Soja 339.650
679.995
340.346
100,20
382.626
-42.281 -15.178
Arroz 34.082
22.685
-11.397
-33,44
-49.792 -17.874
Milho 53.769
116.217
62.449
116,14
1.876 674
Algodão 3331
119.956
116.625
3501,31
112.873 40.518
Feijão 18586
13813
-4.773
-25,68
-25.710 -9.229
mandioca 5792
15351
9.559
165,04
3.034 1.089
Barreiras
Sistema 455.210
968.018
512.809
112,65
-117.783 42.281
Soja 79.193
116.887
37.694
47,6
34.623
3.071 397
Arroz 11.172
4.710
-6.462
-57,84
-11.346 -1.468
Milho 34.776
57.032
22.255
64,00
7.051 912
Algodão 2.524
12.942
10.418
412,75
9.314 1.205
Feijão 14.534
11.123
-3.411
-23,47
-9.765 -1.263
mandioca 7.747
8.506
759
9,80
-2.628 -340
cana
-
de
-
2.811
7.618
4.807
171,01
3.578
463
mamona 98
866
768
784,83
726 94
Santa Maria da Vitória
Sistema 152.854
219.683
66.828
43,72
-23.740 -3.071
Fonte: Elaboração própria.
73
Segundo Mendonça (2006), a explicação do crescimento de grãos no Oeste da Bahia
passa pela consideração de duas variáveis: o estoque de áreas disponíveis para ocupação e a
evolução dos índices de rendimentos agrícolas. A partir de dados do IBGE, estimou a área
potencial de utilização das terras do Oeste da Bahia e concluiu que o total de área para plantio
de lavouras da região é de 4,12 milhões de hectares (de um total de 14 milhões de hectares de
terras do Oeste baiano).
O autor mostra que a tendência do rendimento agrícola é crescente quando se
consideram os diferentes produtos agrícolas do Oeste baiano, o que seria resultado do avanço
da pesquisa agropecuária no tocante à mecanização, manejo do solo, genética e biotecnologia.
Na microrregião de Barreiras, principal produtora de soja do estado da Bahia, o efeito
escala foi positivo, indicando que houve expansão de 382.626 ha de soja entre o período P
1
e
o período P
2
.
Entretanto, a expansão da soja se deu em proporção menor que a expansão do sistema
como um todo, apresentando efeito substituição negativo de -42.281 ha. Isso significa que
42.281 ha dessa cultura foram substituídos por outros produtos do sistema. Da área cedida
pela soja, 40.518 ha foram incorporados pelo algodão, 1.089 ha pela mandioca e 674 ha pelo
milho.
Vale destacar a expressiva área que o algodão substituiu dentro do sistema (112.873
ha), o que corresponde a 95,83% do total da área substituída no sistema como um todo.
Segundo Mendonça (2006), o crescimento da área colhida do algodão na região do Oeste
baiano decorreu da redução do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de
Serviços (ICMS) e do direcionamento de parte desse imposto arrecadado ao financiamento de
pesquisas voltadas à competitividade do algodão da região.
Pode-se dizer ainda que, no período P
2
, o aumento da área colhida do algodão teve
influência do PNPB uma vez que a parcela do algodão que tem sido demandada pela indústria
de biodiesel, mesmo sendo pequena, gera expectativa nos produtores dessa lavoura.
Na microrregião de Santa Maria da Vitória, a área colhida do sistema aumentou
43,72%, passando de 152.854 ha na década de 1990 para 219.683 ha no período seguinte. O
efeito escala da soja foi positivo, indicando que essa cultura se expandiu em 34.623 ha, o que
corresponde a 91,85% da variação da área colhida de soja (37.694 ha) na microrregião. O
efeito substituição também foi positivo, embora em proporção menor (3.071 ha). A soja
ocupou 1.468 ha antes destinados ao cultivo de arroz, 1.263 ha destinados ao feijão e 340 ha
destinados à mandioca.
74
O milho, algodão, cana-de-açúcar e mamona não cederam área, pois tiveram efeito
substituição positivo, de 7.051 ha; 9.314 ha; 3.578 ha; e 726 ha, respectivamente.
Vale destacar a redução de 11.397 ha na área colhida de arroz e 4.773 ha na área
colhida de feijão, na microrregião de Barreiras, e a redução de 6.462 ha de arroz e 3.411 ha de
feijão, na microrregião de Santa Maria da Vitória. Segundo Mendonça (2006), uma das
explicações para tal redução é que muitos produtores da região passaram a fazer a rotação de
culturas com o algodão em detrimento do arroz e feijão.
O feijão e o arroz são os produtos menos resistentes a períodos de veranicos (períodos
secos durante a fase de crescimento da planta). Além disso, a compactação do solo devido ao
uso intensivo de mecanização tem prejudicado essas culturas (CARNEIRO et al., 2005).
Carneiro et al. (2005, p. 17) afirmam que “a baixa liquidez de mercado apresentada
pelo milho e o arroz contribui para o baixo desempenho apresentado por essas culturas no
contexto da produção agrícola dos cerrados”. Destaca que essas culturas não possuem uma
cadeia estruturada e não recebem incentivo do governo.
O autor chama atenção ainda para aspectos fiscais que envolvem a cultura do milho.
Destaca que a base de cálculo utilizada para o ICMS para esse produto é elevada (em torno de
R$ 15,00 por saco de 60 kg, na Bahia, Maranhão e Piauí), o que tem inibido o crescimento
dessa atividade nos cerrados nordestinos.
b) Aplicação do modelo de Zockun para a soja nas microrregiões do Maranhão
Na microrregião de Gerais de Balsas, o sistema é composto pelos produtos soja,
algodão, arroz, feijão, mandioca e milho. Entre o período P
1
e P
2
, o sistema expandiu-se
145.300 ha, o que representa crescimento de 165,41%. A expansão da área colhida de soja
(145.824 ha) foi a principal responsável por essa variação, conforme informações da tabela
16.
A soja aumentou sua área colhida de 49.912 ha para 195.736 ha. Dessa variação,
56,62% corresponde ao efeito escala e 43,38% ao efeito substituição. O efeito escala indica
que dos 145.824 ha de variação de área colhida de soja, 82.561 ha corresponde à expansão de
sua área. Por outro lado, o efeito substituição revela que 63.263 ha dos 145.824 ha de variação
na sua área colhida corresponde à ocupação de áreas destinadas ao cultivo de outros produtos
do sistema.
75
Tabela 16 – Modelo de Zockun: resultado para a soja no estado do Maranhão
Área Colhida Variação Efeito Efeito Área cedida
Produtos
P
1
P
2
Hectare
% escala substituição
ou incorporada
Soja 49.912 195.736
145.824
292,16
82.561
63.263 59.202
Algodão 81 4.555
4.474
5516,83
4.340 4.061
Arroz 28.455 18.983
-9.473
-33,29
-56.541 -52.911
Feijão 1111 2.075
963
86,7
-875 -819
Mandioc
a
1.057 1.040
-16
-1,54
-1.764 -1651
Milho 7.225 10.752
3.527
48,82
-8.424 -7.883
Gerais de Balsas
Sistema
8.7841 23.3141
145.300
165,41
-67.603 -63.264
Soja 20.938 79.570
58.632
280,03
15.334
43.298 43.229
Arroz 30.516 15.859
-14.657
-48,03
-37.005 -37.005
Feijão 1.157 1.284
127
10,96
-721 -721
Mandioc
a
723 746,5
24
3,26
-506 -506
Milho 6.859 6.815
-44
-0,65
-5.067 -5.067
Chapadas das
Mangabeiras
Sistema 60.193 104.274
44.081
73,23
-43.298 -43.299
Fonte: Elaboração própria.
O arroz, que teve 56.541 ha substituídos por outras culturas, cedeu 52.911 ha para a
soja. Da área destinada ao milho, 1.764 ha foram substituídos, dos quais 1.651 ha foram
destinados à área de soja. A mandioca e o feijão tiveram 1.764 ha e 875 ha de área
substituídos por outras culturas (819 ha de feijão e 1.651 ha de mandioca foram incorporados
pela soja). O único produto que não cedeu área foi o algodão que obteve efeito substituição
positivo de 4.340 ha.
Na microrregião de Chapadas das Mangabeiras, o sistema considerado é composto
pelos mesmos produtos da microrregião de Gerais de Balsas, com exceção do algodão. O
sistema expandiu 44.081 ha, passando de 60.193 ha no período P
1
para 104.274 ha no período
P
2
.
Assim como na microrregião de Gerais de Balsas, a soja teve uma significativa
contribuição na variação do sistema como um todo. A área colhida de soja obteve variação de
58.632 ha entre o período P
1
e P
2
, passando de 20.938 ha para 79.570 ha, respectivamente. No
entanto, ao contrário do verificado na microrregião analisada anteriormente, a maior parte
dessa expansão decorreu do efeito substituição (43.298 ha), que, por sua vez, superou o efeito
escala (13.334 ha).
O efeito substituição indica que a expansão da soja na microrregião de Chapadas das
Mangabeiras ocorreu com base na ocupação de áreas dos demais produtos do sistema,
principalmente arroz, que cedeu 37.007 ha de terra para a soja, e milho que cedeu 5.067 ha.
76
Embora em proporção menor, o feijão e a mandioca também cederam espaço para a soja (721
ha e 506 ha, respectivamente).
Vale chamar atenção para a queda de 9.473 ha na área colhida de arroz, na
microrregião de Gerais de Balsas (redução de 33,29%), e de 14.657 ha na microrregião de
Chapadas das Mangabeiras (redução de 48,03%), entre o período 1990-2007.
Como causas dessa redução destacam-se o baixo nível tecnológico, falta de incentivo
do governo, custos elevados, elevada taxação tributária e sementes pouco adaptadas à região
(SOUZA; FERREIRA; CHAGAS, 2006; PEROZI, 2005).
c) Aplicação do modelo de Zockun para a soja nas microrregiões do Piauí
Na microrregião do Alto Parnaíba Piauiense, o sistema considerado é formado pelos
seguintes produtos: soja, arroz, algodão, feijão, mandioca e milho (ver tabela 17).
Tabela 17 Modelo de Zockun: resultado para a soja no estado do Piauí
Área Colhida Variação Efeito Efeito
Área cedida ou
Produtos
P
1
P
2
Hectare
% escala substituição
incorporada
Soja 10.197
93.950 83.754 821,39
13.702 70.052 68.263
Arroz 39.961
32.075 -7.886 -19,74
-61.586 -60.014
Algodão 17
1875 1.858
10802,6
2
1.835 1.788
Feijão 1.561
3.266 1.705 109,24
-392 -382
Mandioca
940
500 -439 -46,77
-1.702 -1.658
Milho 6.289
6.535 245 3,9
-8.206 -7.997
Alto Parnaíba
Piauiense
Sistema 58.965
138.201
79.237 134,38
79.013 -71887 -70.052
Soja 404
9.820 9.416 2330,6
62 9.354 8.619
Arroz 13.564
8.431 -5.133 -37,84
-7.201 -6635
Algodão 2
800 798 49900
798 733
Feijão 3.796
2.866 -930 -24,49
-1.509 -1.390
Mandioca
743
399 -344 -46,29
-457 -421
Milho 6.245
6.212 -33 -0,53
-985 -908
Bertolínia
Sistema 24.753
28.528 3.775 15,25
-10152 -9.354
Soja 708
34.568 33.860 4781,14
1.300 32.560 32.560
Arroz 11.785
17.657 5.872 49,83
-15.758 -15.758
Feijão 4.814
7.714 2.900 60,23
-5.937 -5.937
Mandioca
1010
783,25 -227 -22,45
-2.081 -2.081
Milho 5.971
8.144 2.174 36,41
-8.785 -8.785
Alto Médio
Gurguéia
Sistema 24.288
68.867 44.579 183,54
-32560 -32.560
Fonte: Elaboração própria.
77
Em termos de variação, a área colhida total do sistema obteve aumento de 134,38%,
passando de 58.965 ha, no período P
1,
para 138.201 ha no período P
2
. A soja teve uma
importante contribuição no aumento do sistema. Passou de 10.197 ha na década de 1990 para
93.950 ha no período 2000-2007. Com isso, a soja foi responsável por 17,29% do aumento da
escala do sistema como um todo.
O efeito escala da soja indica expansão de 13.702 ha. Além disso, o efeito substituição
sugere que dos 83.754 ha de variação de sua área colhida, 70.052 ha corresponde à ocupação
de áreas destinadas a produtos de subsistência.
A soja foi o produto que mais ocupou áreas destinadas ao cultivo de outros produtos.
Dos 71.887 ha cedidos, 70.052 ha foram ocupados pela soja, que incorporou cerca de 97,44%
da área colhida do sistema como um todo.
O arroz foi o produto que mais cedeu área dentro do sistema, com efeito substituição
de -61.586 ha. Cedeu área em um percentual de 87,92% para a soja.
Na microrregião de Bertolínea, o sistema é composto pelos mesmos produtos
considerados na microrregião do Alto Parnaíba Piauiense. O sistema obteve variação de 3.775
ha. Houve queda na área colhida das culturas do sistema, com exceção da soja e algodão.
O efeito escala da soja foi de apenas 62 ha. O efeito substituição, entretanto, foi de
9.354 ha. Isto significa que dos 9.416 ha de variação da área colhida de soja, 99,34% decorreu
da ocupação de áreas destinadas a outras culturas do sistema, a saber: arroz (-7.201 ha), feijão
(-1.509 ha), mandioca (-457 ha) e milho (-985 ha).
No Alto Médio Gurguéia, o sistema considerado é composto pelos mesmos produtos
da microrregião do Alto Parnaíba Piauiense, com exceção do algodão. Houve variação de
44.579 ha na área colhida do sistema como um todo, dos quais 75,95% corresponde à
variação da área colhida de soja.
Entre o período P
1
e o período P
2
, houve variação de 33.860 ha na área cultivada com
soja, dos quais 1.300 ha correspondem ao efeito escala e 32.560 ha correspondem ao efeito
substituição. Isso significa que a expansão da soja se deu, principalmente, em detrimento das
áreas ocupadas com os demais produtos do sistema.
Da área cedida à soja, 48,39% corresponde à área destinada ao cultivo do arroz,
18,23% de feijão, 6,39% de mandioca e 26,98% de milho. Em termos de hectare, o arroz
cedeu 15.758 ha e o milho 8.785 ha. O feijão e a mandioca cederam 5.937 ha e 2.081 ha,
respectivamente.
Qual o impacto, portanto, da expansão da soja sobre a organização do solo nordestino?
De uma forma geral, pode-se dizer que a introdução da soja tanto no Oeste da Bahia quanto
78
no Sul do Maranhão e Sul do Piauí levou a uma ampliação da utilização do solo evidenciada
pela expansão da área cultivada do sistema e também, embora em menor grau, pela
substituição da soja em detrimento das lavouras de subsistência.
4.1.3.2 Modelo de Zockun para a mamona
a) Aplicação do modelo de Zockun para a mamona nas microrregiões da Bahia
Na microrregião de Senhor do Bonfim, o sistema considerado é composto pela
mamona, mandioca, milho e feijão. Entre os períodos P
1
e P
2
, o sistema teve variação negativa
de 12,07% na sua área colhida, passando de 14.287 ha para 12.562 ha, respectivamente.
Todos os produtos do sistema tiveram variação negativa de sua área colhida (ver tabela 18).
Tabela 18 – Modelo de Zockun: resultado para a mamona no estado da Bahia
Área colhida Variação Efeito Efeito Área cedida ou
Produtos
P
1
P
2
Hectare
% escala substituição
Incorporada
Mamona
10.231 9.746 -485
-4,74 -1.235 750 -273
Mandioc
10.405
7.377
-
3.028
-
29,1
-
1.771
-
644
Milho 11.165 9.526 -1.640
-14,69 -292 -106
Feijão 25.346 23.598 -1.747
-6,89 1.313 477
Senhor do
Bonfim
Sistema 14.287 12.562 -1.725
-12,07
-2.063 -750
Mamona
70.283 90.977 20.693
29,44 2.941 17.753 7.734
Feijão
157.795
128.853
-
28.942
-
18,34
-
35.545
-
15.486
Milho 60.808 86.348 25.539
42,00 22.995 10.018
Algodão 6.056 1.107 -4.949
-81,72 -5.203 -2.267
Irecê
Sistema
294.942
307.284 12.341
4,18 -40.748 -17.752
Mamona
12.439 17.551 5.112
41,1 -1.159 6.271 4.253
Feijão 36.697 26.580 -10.117
-27,57 -6.700 -4.544
Mandioc
a
9.854 11.912 2.058
20,88 2.976 2.018
Milho 17.629 15.175 -2.454
-13,92 -812 -551
Algodão 2.490 523 -1.966
-78,98 -1.735 -1.176
Jacobina
Sistema 79.108 71.740 -7.368
-9,31 -9.246 -6.271
Mamona
6.542 5.284 -1.258
-19,23 -545 -713 -153
Feijão 13.989 10.671 -3.318
-23,72
-2.152 -463
Mandioc
a
2.904 5.186 2.282
78,58
2.524 543
Milho 6.184 6.458 274
4,42
789 170
Algodão 1.097 557 -540
-49,21
-448 -96
Seabra
Sistema 30.716 28.155 -2.560
-8,34
-3.313 -713
Fonte: Elaboração própria.
79
A mamona teve efeito escala negativo, de -1.235 ha e efeito substituição positivo de
750 ha. A mandioca e o milho cederam 644 ha e 106 ha, respectivamente, para a mamona.
Na microrregião de Irecê, o sistema é composto por feijão, milho e algodão, além da
mamona. Entre os períodos P
1
e P
2
, houve expansão de 12.341 ha na área colhida total do
sistema, que passou de 294.942 ha, na década de 1990, para 307.284 ha, no período 2000-
2007. Dentro do sistema, as culturas que registram aumento na área colhida foram mamona
(29,44%) e milho (42%). O algodão teve redução de 81,72% e o feijão de 18,34%.
O efeito escala da mamona foi positivo, indicando que este produto expandiu área
dentro do sistema. Tal expansão foi de 2.941 ha, o que corresponde a 14,21% da variação da
área colhida de mamona. Os 85,79% restantes correspondem ao efeito substituição, que foi de
17.753 ha. A mamona incorporou 15.486 ha de feijão e 2.267 ha de algodão. O milho não
cedeu área.
Na microrregião de Jacobina, o sistema considerado é composto pelos mesmos
produtos da microrregião de Irecê. Acrescentou-se apenas a mandioca. O sistema apresentou
variação negativa (-7.368 ha), entre os períodos P
1
e o período P
2
. Dentro do sistema, todos os
produtos tiveram variação negativa na área colhida, com exceção da mamona e mandioca.
O efeito escala da mamona indica que houve retração de 1.159 ha na sua área colhida.
Em compensação, a mamona incorporou áreas de outras culturas do sistema. O efeito
substituição foi de 6.271 ha, dos quais, 4.544 ha correspondem a áreas que antes eram
destinadas ao cultivo de feijão, 551 ha destinados ao cultivo do milho e 1.176 ha de algodão.
Na microrregião de Seabra, o sistema é composto pelos mesmos produtos da
microrregião de Jacobina. Houve variação negativa da área colhida do sistema (-2.560 ha).
Contribuíram para este resultado, a mamona, que obteve redução de 1.258 ha na sua área
colhida, o feijão (-3.318 ha) e o algodão (-545 ha).
A variação negativa da área colhida de mamona decorreu tanto do efeito escala (-545
ha) quanto do efeito substituição (-713 ha). A área cedida pela mamona foi incorporada pelo
feijão (463 ha) e algodão (96 ha).
A mamona, diferentemente da soja, teve um pequeno efeito sobre a expansão da área
cultivada do sistema e também um efeito, embora pequeno, sobre a substituição da produção
de subsistência.
4.2 Impactos sobre o emprego
4.2.1 Modelo de geração teórica de emprego
80
A seguir, será apresentado o resultado do modelo de geração teórica de emprego para
as matérias-primas agroenergéticas (mamona e soja) na suas respectivas microrregiões
produtoras.
Recorreu-se à estimação teórica para estudar o número de empregos gerados nessas
duas atividades porque não há estatísticas que mostrem a evolução desse emprego.
4.2.1.1 Modelo de geração teórica de emprego para a soja
a) Modelo de geração teórica de emprego para a soja nas microrregiões do estado da
Bahia
No Estado que é o maior produtor de soja do Nordeste, foram empregadas em média
4.791 pessoas na sojicultura, entre 1990 e 2007 (ver tabela 19).
Tabela 19 – Número de empregos gerados com a produção de soja na Bahia e nas
microrregiões de Barreiras e Santa Maria da Vitória, 1990-2007
Santa Maria
Anos Barreiras da Vitória Bahia
1990 2.327 612 2.939
1991 1.306 408 1.714
1992 1.993 590 2.584
1993 2.323 747 3.069
1994 2.741 793 3.534
1995 3.172 660 3.832
1996 2.909 627 3.537
1997 3.074 653 3.727
1998 3.842 678 4.520
1999 4.039 696 4.735
2000 4.503 626 5.129
2001 4.926 706 5.633
2002 5.712 816 6.528
2003 6.061 878 6.939
2004 5.659 1.043 6.702
2005 5.892 1.184 7.076
2006 5.918 1.180 7.099
2007 5.735 1.200 6.936
Média 4.007 783 4.791
Fonte: Elaboração própria.
81
Em termos absolutos pode parecer um número expressivo, mas torna-se relativamente
baixo ao se levar em consideração a expressiva produção de soja do Estado (2.298.000
toneladas, em 2007).
A soja é uma cultura altamente mecanizada e, por isso, emprega menos trabalhadores
quando comparado à sua expressiva produção e a outras atividades agrícolas.
Na microrregião de Barreiras, responsável por 83,50% da área colhida de soja do
Estado, foram gerados, em média, 4.007 empregos/ano, entre o período 1990-2007. Em 1990,
foram empregadas 2.327 pessoas. Em 2007 esse número passou para 5.735 empregos,
registrando crescimento de 146,51%.
Na microrregião de Santa Maria da Vitória, foram gerados, em média, 783 empregos
por ano. Em 1990 esse número foi de 612. Em 2007, passou para 1.200 empregos.
Após a criação do PNPB foram gerados 234 empregos com a produção de soja no
estado da Bahia. Na microrregião de Santa Maria da Vitória foram gerados 157 empregos e
na microrregião de Barreiras 76 empregos.
b) Modelo de geração teórica de emprego para a soja nas microrregiões do estado do
Maranhão
No estado do Maranhão, a soja é responsável por gerar em média apenas 1.320
empregos por ano. A maior parte dos empregos (937) está concentrada na microrregião de
Gerais de Balsas e 384 na micrrorregião de Chapada das Mangabeiras.
Em 1990, a sojicultura gerou 89 empregos na microrregião de Gerais de Balsas e 34 na
microrregião de Chapada das Mangabeiras. Em 2007, esses números aumentaram para 1.951
e 804, respectivamente.
Após a criação do PNPB, foram gerados 196 empregos com a produção de soja no
estado do Maranhão. Foram empregadas 181 pessoas na microrregião de Gerais de Balsas e
13 pessoas na microrregião de Chapadas das Mangabeiras.
82
Tabela 20 – Número de empregos gerados com a produção de soja no Maranhão e nas
microrregiões de Gerais de Balsas e Chapadas das Mangabeiras, 1990-2007
Gerais de Chapadas das
Anos Balsas Mangabeiras Maranhão
1990 89 34 123
1991 33 4 37
1992 123 49 172
1993 204 142 347
1994 295 208 504
1995 437 272 709
1996 347 172 518
1997 684 209 893
1998 900 257 1.157
1999 961 362 1.324
2000 1.032 382 1.413
2001 1.227 455 1.682
2002 1.377 510 1.887
2003 1.527 604 2.132
2004 1.770 791 2.560
2005 1.947 832 2.780
2006 1.951 819 2.770
2007 1.951 804 2.756
Média 937 384 1.320
Fonte: Elaboração própria.
No estado do Maranhão, portanto, apesar de haver produção significativa de soja
(1.125.094 toneladas, em 2007), os dados de emprego mostram que a soja é responsável por
gerar um baixo número de empregos por ano.
c) Modelo de geração teórica de emprego para a soja nas microrregiões do estado do
Piauí
O estado que menos emprega trabalhadores é o estado do Piauí (em média 553
empregos por ano). A produção de soja deste Estado (484.940 toneladas), em 2007, foi
responsável pela geração de 1.771 empregos (ver tabela 21).
Na microrregião do Alto Parnaíba Piauiense, 587 empregos foram gerados com a
produção de soja e apenas 37 empregos, na microrregião de Bertolínia. Na microrregião do
alto Médio Gurguéia, a soja emprega, em média, 129 trabalhadores por ano.
83
Tabela 21 – Número de empregos gerados com a produção de soja no Piauí e nas
microrregiões do Alto Médio Gurguéia, Alto Médio Piauiense e Bertolínia, 1990-2007
Alto Parnaíba
Alto Médio
Piauiense Bertolínia
Gurguéia Piauí
1990 13 0 0 13
1991 16 0 0 16
1992 13 0 0 13
1993 14 0 1 15
1994 46 4 2 52
1995 98 4 2 104
1996 78 0 0 78
1997 132 15 2 149
1998 201 5 15 222
1999 221 6 35 262
2000 261 24 41 326
2001 363 50 89 502
2002 489 65 146 700
2003 621 81 250 952
2004 825 98 349 1.272
2005 1.082 123 415 1.620
2006 1.295 108 490 1.893
2007 1.200 93 478 1.771
Média 387 37 129 553
Fonte: elaboração própria.
Constata-se, portanto, que um dos impactos da expansão da soja sobre o emprego é,
portanto, a baixa geração de empregos dada pela alta mecanização da lavoura. Além disso, há
outros impactos não evidenciados pela estimação da geração teórica de emprego.
Em lavouras mecanizadas como a soja são comuns acidentes de trabalho relacionados
à operação de máquinas e ao uso intenso de agrotóxicos. No Brasil, o número de empregados
acidentados durante o cultivo da soja aumentou 69,58%, entre 2006 e 2007 (passou de 286
casos para 485, respectivamente).
Segundo informações do relatório Repórter Brasil (2009), são crescentes os números
de trabalhadores das plantações de soja e de comunidades do entorno da lavoura que sentem
os efeitos negativos do uso de defensivos agrícolas da plantação.
13
Além disso, o processo de expansão da soja não tem se dado de forma pacífica, sendo
responsável por conflitos agrários nas regiões produtoras do grão. Isso ocorre porque a
13
De acordo com uma pesquisa feita pela Repórter Brasil (2006) com 116 trabalhadores envolvidos com a
produção de soja no Sul do Piauí, constatou-se que 9,48% dos trabalhadores apresentaram quadro de intoxicação
por agrotóxico, 18% apresentaram alterações hepáticas e 3% alterações nos rins.
84
produção de soja é baseada num modelo de grandes propriedades mecanizadas, o que, por sua
vez, tem como conseqüência a concentração de terra e o êxodo rural.
ainda o impacto sobre as formas/condições de trabalho. Diversos trabalhadores de
fazendas de soja vivem em condições de trabalho degradantes e sua mão-de-obra é submetida
à superexploração pelos donos do capital, chegando a casos extremos de trabalho escravo.
Segundo informações da Comissão Pastoral da Terra (2009 apud REPÓRTER
BRASIL, 2009), no Brasil, em 2004, 133 trabalhadores escravos foram libertados de fazendas
de soja do país. Em 2005, foram 47 trabalhadores libertados (ver tabela 22).
Tabela 22 – Denúncias registradas, denúncias fiscalizadas e trabalhadores escravos
libertados de plantações de soja do Brasil, 2004-2008
2004 2005 2006 2007 2008
Denúncias registradas 14 7 4 4 9
Denúncias fiscalizadas 6 2 2 1 7
Trabalhadores libertados
133 47 0 9 125
Fonte: Comissão Pastoral da Terra (2009 apud REPÓRTER BRASIL, 2009)
Em 2006, apesar das denúncias de trabalho escravo nas plantações de soja, nenhum
trabalhador foi libertado. Em 2007, foram libertados nove trabalhadores e, e 2008, esse
número chegou a 125.
Dos 125 trabalhadores escravos libertados, em 2008, 41 estavam em fazendas do
Nordeste (nos estado da Bahia, Maranhão e Piauí). No estado do Piauí, ocorreu o maior
número de libertações (oito no município de Antonio Almeida e 17 no município de Monte
Alegre), conforme informações da tabela 23.
Tabela 23 – Casos de trabalho escravo flagrados nas plantações de soja da Bahia,
Maranhão e Piauí, 2008
Trabalhadores Indenizações
Municípios Estado Libertados Pagas (R$)
São Desidério Bahia 07 6.054
Balsas Maranhão 09 7.254
Antonio Almeida
Piauí 08 13.431
Monte Alegre Piauí 17 16.460
Total - 41 43.199
Fonte: Comissão Pastoral da Terra (2009 apud REPÓRTER BRASIL, 2009)
85
No Maranhão, foram libertados nove trabalhadores do município de Balsas. No estado
da Bahia, no município de São Desidério, que é o maior produtor de soja do estado da Bahia,
foram libertados sete trabalhadores.
A libertação dos trabalhadores escravos das plantações de soja no Nordeste resultou
em indenizações no valor de R$ 43.199.
Os fazendeiros que submetem os trabalhadores a essas condições de trabalho o fazem
para reduzir custos de produção e ganhar competitividade no mercado. Da importância da
fiscalização e punição dos acusados, de modo que esse tipo de prática ilícita e amoral torne-se
custosa a quem a pratica e sirva de alerta para os outros empregadores que superexploram a
força de trabalho.
Nesse sentido, vale destacar a iniciativa do Ministério do Trabalho em divulgar o
nome dos empregadores que tiveram registros de trabalho escravo em sua propriedade
(conhecida como “lista suja” do trabalho escravo). Esses empregadores passam a ter restrições
de acesso a crédito em bancos e fundos de empréstimos oficiais.
4.2.1.2 Modelo de geração teórica de emprego para a mamona
a) Modelo de geração teórica de emprego para a mamona nas microrregiões do estado
da Bahia
A mamona foi responsável por gerar 16.191 empregos no estado da Bahia, entre os
anos de 1990 e 2007. Ver tabela 24.
Na microrregião de Irecê, em 1990, foram gerados 17.000 empregos. Logo após a
criação do PNPB, esse número atingiu 19.223 empregos. Por falta de incentivo à cultura, em
2007, a geração de empregos reduziu para 9.672 empregos. Apesar da redução, ainda é um
número bem expressivo.
A microrregião de Jacobina foi responsável por empregar, em média 2.162 pessoas.
Na microrregião de Senhor do Bonfim, em 1990, a mamona empregou 2.880 pessoas. Em
2007, esse número reduziu-se para 2.320. Na microrregião de Seabra, a produção de mamona
emprega 879 trabalhadores por ano.
86
Tabela 24 – Número de empregos gerados com a produção de mamona nas
microrregiões do estado da Bahia, 1990-2007
Ano
Senhor do
Bonfim Irecê Jacobina Seabra Bahia
1990 2.880 17.985 3.529 654 25.048
1991 2.446 13.606 2.527 1.349 19.928
1992 2.222 10.224 1.644 1.378 15.469
1993 1.271 11.082 1.444 1.140 14.936
1994 375 7.039 1.505 1.399 10.319
1995 156 5.078 948 712 6.894
1996 112 12906 636 580 14.233
1997 1.903 13.513 3.342 808 19.566
1998 1.236 3.434 1.425 1102 7.196
1999 2.433 8.407 1.277 491 12.608
2000 2.139 15.571 3.311 701 21.721
2001 2.548 13.302 2.905 679 19.434
2002 712 11.736 748 872 14.068
2003 1.098 12.475 2.776 744 17.093
2004 784 16.068 2.580 826 20.258
2005 746 19.223 3.010 701 23.679
2006 1.109 8.897 2.730 745 13.481
2007 2.320 9.672 2.572 944 15.508
Média 1.472 11.679 2.162 879 16.191
Fonte: elaboração própria.
A mamona, embora possua produção (75.660 toneladas) bem menor que a soja e a
despeito da falta de incentivo do governo, emprega um número muito maior de pessoas. É
uma cultura com baixo nível de mecanização e intensiva em mão-de-obra. Daí a sua
importância para os agricultores familiares do semi-árido nordestino.
No próximo capítulo será apresentado o impacto do PNPB na agricultura familiar
através do estudo de caso nos municípios de Cafarnaum-BA e Pocinhos-PB.
87
5 IMPACTOS DO PNPB SOBRE A AGRICULTURA FAMILIAR DO NORDESTE
DO BRASIL: O CASO DA MAMONA
A análise que se segue está baseada em questionários aplicados nos municípios de
Cafarnaum-BA e Pocinhos-PB. As respostas dos agricultores familiares e cnicos que os
assistem servem para ilustrar a realidade do PNPB no município que é o maior produtor de
mamona do estado da Bahia (Cafarnaum) e cujos agricultores cultivam mamona décadas e
no município de Pocinhos, na Paraíba, onde a produção de mamona é pequena e iniciou-se
após a criação do PNPB.
O presente estudo de caso tem como base a produção de mamona porque essa foi a
lavoura eleita pelo Governo como o vetor de inclusão social dos pequenos produtores
familiares no programa do biodiesel.
5.1 Estudo de caso do município de Cafarnaum-BA
A Lei 11.326 considera como agricultor familiar aquele que possui pequena
propriedade agrícola, pratica atividades no meio rural, utiliza predominantemente mão-de-
obra da própria família nas atividades econômicas do seu estabelecimento e tem renda
predominantemente originada de atividades econômicas vinculadas ao próprio
estabelecimento da família (BRASIL, 2006).
A Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) e o Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) definem a agricultura familiar a partir
de três características: a gestão da unidade produtiva e os investimentos nela realizados são
feitos por indivíduos que mantém entre si laços de sangue ou casamento; a maior parte do
trabalho é igualmente fornecida pelos membros da família; e a propriedade dos meios de
produção pertence à família (INCRA; FAO, 1996, p.4).
Chayanov (1979) afirma que a agricultura familiar, diferentemente da empresa
capitalista, não produz para maximizar o lucro, mas sim para garantir o sustento da família.
Além disso, a agricultura familiar não tem como base o trabalho assalariado.
Segundo informações da Cooperativa da Agricultura Familiar do Território de Irecê
(COAFTI), o município de Cafarnaum, responsável por concentrar a maior parte da produção
de mamona (11%) da microrregião de Irecê, possui 2.760 famílias de agricultores familiares.
Os principais produtos agrícolas cultivados no município são mamona, milho e feijão. Tais
produtos formam o tripé de sustentação da agricultura familiar da região (COAFTI, 2009).
88
A produção de mamona do município ocorre predominantemente em pequenas
propriedades (segundo informações dos técnicos que assistem os agricultores de Cafarnaum,
mais de 80% dos produtores de mamona da região são pequenos proprietários de terra).
O tamanho dos estabelecimentos agrícolas dos produtores entrevistados varia de 6 ha a
22 ha. Quatro entrevistados possuem propriedades entre 6 e 15 ha e seis possuem
estabelecimentos agrícolas de 15 ha a 22 ha. O estabelecimento agrícola dos produtores
entrevistados é próprio. Seis agricultores destinam mais de 50% de sua propriedade à
produção de mamona e quatro destinam entre 20% e 50%.
Não foi registrada nenhuma ocorrência de parceria no plantio da mamona. Cinco
agricultores plantam mamona há mais de 20 anos, três iniciaram o plantio há 10 anos e apenas
dois começaram a cultivá-la após o PNPB, há cinco anos.
Os agricultores entrevistados produzem, em média, 550 kg de mamona por hectare e o
plantio geralmente ocorre de forma consorciada com o milho e feijão (apenas dois
agricultores responderam que não fazem plantio consorciado).
Figura 11 – Produção de mamona consorciada com o feijão no município de Cafarnaum
Fonte: foto do autor
O preço de um hectare de terra no município custa em torno de R$ 600,00. Sete
agricultores informaram que houve aumento no preço da terra nos últimos cinco anos. Na
última safra (2008) a renda obtida com a venda de mamona foi de R$ 960,00/ha, renda
superior a obtida com venda de feijão (R$ 330,00/ha) e milho (R$ 250,00/ha).
Quando perguntado o motivo pelo qual plantam mamona, os agricultores responderam
que o fazem porque a mamona é uma planta resistente à seca, bem como é o principal
89
complemento da renda familiar, além de ser fácil de vender. Informaram que a produção de
mamona é responsável por mais de 70% do seu rendimento em relação à produção total de
sua propriedade agrícola.
Além disso, relataram que em períodos de estiagem essa lavoura é muitas vezes a
única fonte de renda agrícola da família, o que evidencia a importância dessa cultura para os
produtores.
Constatou-se que alguns produtores têm deixado de cultivar o feijão devido às
sucessivas perdas de safras em decorrência dos períodos de estiagem e da compactação do
solo da região e o estão substituindo pela mamona, que é mais resistente à seca. Dos 10
agricultores entrevistados, quatro substituíram o plantio de feijão pela mamona.
Em períodos de seca, a perda de área de feijão é geralmente maior que a perda de área
da mamona. Na estiagem de 1993, a área colhida de feijão do município reduziu-se 76,39%
(perda de 12.871 ha) em relação ao ano anterior. A redução na área colhida de mamona foi
relativamente menor, de 9,99%, o que equivale à redução de 1.132 ha (ver tabela 25).
Tabela 25 – Área colhida e área perdida (em decorrência da seca) de feijão e mamona
em Cafarnaum, 1990-2007
Feijão
Mamona
Anos
Área colhida
Área perdida Área colhida
Área perdida
(ha) (%) (ha) (ha) (%) (ha)
1990
5.540 - - 6.500 - -
1991
4.930 -11,01 -610 3.500 -46,15 -3.000
1992
18.500 - - 11.327 - -
1993
16.850 -8,92 -1.650 10.195 -9,99 -1.132
1994
3.979 -76,39
-
12.871 10.500 - -
1995
18.200 - - 10.500 - -
1996
7.280 -60,00
-
10.920 10.500 - -
1997
15.800 - - 9.000 -14,29 -1.500
1998
800 -94,94
-
15.000 900 -90,00 -8.100
1999
8.700 - - 9.000 - -
2000
15.900 - - 10.000 - -
2001
2.560 -83,90
-
13.340 10.000 - -
2002
12.500 - - 10.000 - -
2003
10.500 -16,00 -2.000 10.000 - -
2004
8.500 -19,05 -2.000 10.000 - -
2005
12.000 - - 10.000 - -
2006
2.110 -82,42 -9.890 8.000 -20,00 -2.000
2007
3.000 - - 10.000 - -
Fonte: IBGE (2007a).
90
A seca de 1998 reduziu a produção de feijão em 94,94% (redução de 15.000 ha). A
redução da área colhida de mamona foi de 8.100 ha, o que significa redução de 90% em
relação à safra de 1997.
Na década seguinte, houve redução na precipitação pluviométrica em 2001 (passou de
722 mm, em 2000, para 455 mm, em 2001) e, em 2003 (diminuiu de 781 mm, em 2002, para
331 mm, em 2003). Nos anos de 2005, 2006 e 2007, a precipitação pluviométrica do
município ficou em torno de 580 mm, abaixo da registrada em 2004 (EBDA, 2009).
Em 2001, a queda na precipitação pluviométrica provocou uma diminuição da área
colhida de feijão em 83,90% (perda de 13.340 ha), em relação ao ano anterior. a área de
mamona conseguiu manter-se no mesmo patamar dos anos anteriores. Em 2003, a estiagem
reduziu a área colhida de feijão em 19,09% (perda de 2.000 ha em relação ao ano de 2002).
Para a área colhida de mamona, os dados mostram que não houve perdas.
Em 2006, houve redução de 82,42% na área colhida de feijão (a redução da área de
mamona foi relativamente menor, de 20%). Em 2007, houve recuperação, mas sua área
colhida manteve-se bem abaixo da registrada nas safras anteriores.
A redução da área colhida de mamona, em 2006, ocorreu em decorrência do baixo
preço dessa lavoura que, pelo segundo ano consecutivo, ficou cotado, em média, a R$ 30,00 a
saca.
14
O baixo preço é explicado pelo aumento da oferta de mamona (crescimento de 71,63%
no Nordeste e 45,82% no estado da Bahia, entre 2003 e 2005) em decorrência da propaganda
do programa do biodiesel (O ESTADO DE SÃO PAULO, 2006).
No município de Cafarnaum não cooperativa/associação dos produtores de
mamona. A importância comercial das cooperativas e associações é que os produtores podem
negociar diretamente com a indústria, sem haver necessidade da intermediação do
atravessador.
Com pouco mais de 17.000 habitantes, o município possui mais de 30
pontos/armazéns de atravessadores.
15
Sem apoio do governo e sem a presença da
associação/cooperativa no município, os agricultores de Cafarnaum vendem a produção de
mamona aos atravessadores, que por sua vez a revendem a indústria química.
Nenhum agricultor entrevistado possui acordo (formal ou informal) com os
atravessadores. Geralmente vão à cidade com determinada quantidade de mamona e a vendem
ao atravessador que oferecer o preço mais vantajoso.
14
Em novembro de 2006, os produtores do município de Irecê, revoltados com o baixo preço da mamona,
queimaram o produto em praça pública (O ESTADO DE SÃO PAULO, 2006).
15
Alguns atravessadores do município adquiriram caminhões e passaram a atuar também como distribuidores.
91
Segundo Repórter Brasil (2009, p.52), no município de Cafarnaum, “o atravessador é
quase uma entidade bancária, que recebe qualquer quantia de mamona e faz o pagamento ao
agricultor na hora da compra, ou até adiantado”.
De acordo com informações dos técnicos que assistem os produtores da região, toda
produção do município tem sido destinada à usina ricinoquímica. A maior parte da produção
(cerca de 80%) é comprada pela indústria química Bom Brasil Óleo de Mamona Ltda,
localizada em Salvador, a 450 km de Cafarnaum.
Antes do PNPB o preço da mamona era cotado, em média, a R$ 36,88 (a saca de 60
kg). Após o lançamento do programa, o preço da mamona passou a ser cotado, em média, a
R$ 50,20 (chegou a atingir R$ 73,00 na safra 2007/2008), conforme informações da figura 12.
Figura 12 – Evolução do preço da mamona no mercado de Irecê, 1996-2009
Fonte: EBDA (2009).
Os agricultores entrevistados informaram que na última safra venderam a saca de
mamona (60 kg), em média, a R$ 60,00. Nesse sentido, os agricultores e os técnicos
entrevistados destacaram que a única real melhoria que o biodiesel trouxe aos agricultores da
região foi a elevação dos preços da mamona haja vista que antes do PNPB o mercado dessa
cultura era dominado pela indústria química.
No tocante a forma de organização da produção, não mecanização no cultivo da
mamona. Observou-se que, por ser uma cultura tipicamente familiar, o cultivo dessa lavoura é
totalmente manual e com baixa incidência de uso de agrotóxicos e adubos químicos.
Os agricultores responderam que o plantio é feito a base da enxada e a colheita é
manual. Dentre os agricultores entrevistados, 70% responderam que utilizam enxada para
92
fazer o plantio e 30% utilizam plantadeira manual. A colheita também é feita manualmente,
com o auxílio de uma ferramenta cortante.
Após a colheita, os agricultores transportam a mamona, geralmente em carroças, até as
proximidades de sua casa e a espalham no terreno de sua propriedade. A mamona fica exposta
ao sol por alguns dias para secagem do fruto. Em seguida, o agricultor bate a mamona com o
intuito de separar a semente da casca, conforme ilustra a figura 13.
Figura 13 – Transporte e secagem da mamona no município de Cafarnaum
Fonte: foto cedida pela EBDA.
Oito agricultores declararam que não utilizam herbicida/inseticida na plantação de
mamona e seis produtores não fazem uso de adubação na terra (quatro responderam que
utilizam apenas adubo orgânico).
Seis agricultores disseram que o plantio e a colheita são feitos pela própria família e
quatro contratam mão-de-obra. Os agricultores que contratam mão-de-obra têm um custo em
torno de R$ 15,00 por hectare/dia a cada atividade realizada (plantio, colheita e tratos
culturais). O custo total anual da produção de mamona, informado pelos produtores
entrevistados, é de cerca de R$ 600 /ha/ano.
93
As despesas referentes ao processo produtivo da mamona são de responsabilidade do
agricultor. Todos os entrevistados responderam que não recebem incentivo financeiro do
governo e apenas dois disseram que fizeram empréstimos junto a instituições financeiras
como Banco do Nordeste e Banco do Brasil, para o plantio da mamona.
Na opinião dos agricultores, o governo deveria incentivar a produção de alimentos e a
criação de animais. Mesmo que houvesse incentivo para plantação de alimentos e/ou criação
de animais, 100% dos entrevistados disseram que continuariam a plantar a mamona.
Cinco agricultores responderam que, se houvesse incentivo do governo, plantariam
milho, dois responderam que plantariam mandioca e três disseram que plantariam feijão. Vale
destacar que sete agricultores disseram que, mesmo que houvesse incentivo do governo, não
aumentariam o plantio de feijão, alegando que nos períodos de estiagem os prejuízos com a
perda de safras têm sido elevados.
A semente utilizada pelos agricultores entrevistados é obtida na própria propriedade
do agricultor.
16
Os engenheiros agrônomos da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola
(EBDA) destacaram que isso tem acarretado perdas à cultura da mamona haja vista que, a
cada replantio, as sementes perdem produtividade e o teor de óleo diminui, além de serem
mais suscetíveis a pragas e doenças.
Entretanto, os produtores não têm alternativas uma vez que a quantidade disponível de
sementes certificadas assiste poucos agricultores da região. A EBDA distribui sementes
certificadas, mas o número de agricultores assistido é pequeno. Além da EBDA, a Petrobrás
distribuiu sementes de mamona na última safra (2008), mas vale salientar que muitos
agricultores receberam sementes de baixa qualidade, o que acarretou perdas de safras e de
produtividade da mamona do município.
Além da falta de sementes certificadas, grande parte dos agricultores do município não
recebe assistência técnica. Há apenas um engenheiro agrônomo e um técnico, ambos da
EBDA, que prestam assistência aos agricultores familiares de Cafarnaum (número
insuficiente para atender as 2.760 famílias de produtores agrícolas da região).
Na Bahia, a indústria de biodiesel da Brasil Ecodiesel, localizada no município de
Iraquara (a 71 km de Cafarnaum), em funcionamento desde 2007, com capacidade para
produção de 129.600 m
3
de biodiesel por ano, possui o selo combustível social e deveria
comprar matéria-prima da agricultura familiar, bem como prestar assistência técnica aos
produtores. Entretanto, desde 2007 isso não acontece (ANP, 2009b).
16
A Embrama desenvolveu duas variedades de sementes certificadas e adaptadas à região semi-árida, BRS-
Paraguaçu e BRS-Nordestina.
94
O único contrato celebrado entre a Brasil Ecodiesel e os agricultores do município foi
em 2007, no qual a usina estabeleceu um preço de R$ 38,00 à saca de mamona. A indústria
química, entretanto, oferecia um preço superior a R$ 50,00 e o Governo não garantiu a
compra da mamona. Além disso, a Brasil Ecodiesel fazia o pagamento após 30 dias, enquanto
que a indústria química realizava o pagamento à vista (informação verbal).
17
Diante disso, houve quebra de contrato tanto por parte da usina de biodiesel como por
parte dos agricultores, o que gerou um descrédito no programa do biodiesel na região.
A Brasil Ecodiesel vendeu seus estoques de mamona à indústria química e utilizou a
soja na produção do biodiesel, reforçando a concentração de riquezas no agronegócio da soja
que tem se expandido no Oeste da Bahia, contribuindo para ampliar os níveis de exclusão
social. Desde 2007, não há acordo entre a usina e os agricultores familiares do Estado.
Além da usina de Iraquara, foi inaugurada, em julho de 2008, uma indústria de
biodiesel da Petrobrás no município de Candeias, região metropolitana de Salvador (a 403 km
de Cafarnaum), bem como uma usina de Esmagamento de Mamona no município de Lapão (a
67 km de Cafarnaum) – inaugurada em abril de 2009.
A usina de biodiesel de Candeias tem capacidade para produzir 56.520 m
3
de biodiesel
por ano e previsão para duplicação de sua capacidade nos próximos dois anos. A unidade
de Candeias recebeu investimento de R$ 58 milhões da Petrobras Biocombustíveis e prioriza
matérias-primas da agricultura familiar. A meta é produzir 75 mil hectares de matérias-primas
através da parceria com aproximadamente 29 mil agricultores familiares (PETROBRAS,
2009).
Dada a insegurança e desconfiança dos agricultores da Bahia devido às sucessivas
quebras de contrato com a Brasil Ecodiesel, a Petrobrás ampliou seu período de contratos de
um para cinco anos, além de oferecer como piso um preço mínimo correspondente a média
dos preços dos últimos 36 meses mais 10% e como teto o preço de mercado (REPÓRTER
BRASIL, 2009).
Nos contratos da Petrobrás na Bahia, a estatal se compromete a buscar a produção de
mamona na propriedade do agricultor, prestar assistência técnica, com ênfase na orientação do
manejo do solo (principalmente descompactação da terra), bem como garantir entrega de
sementes de mamona, milho e feijão (REPORTER BRASIL, 2009).
De acordo com os engenheiros agrônomos da EBDA a usina de Candeias não celebrou
contrato com os produtores de Cafarnaum. A Petrobrás apenas tem distribuído sementes a
17
Informações fornecidas por Valfredo Villela, engenheiro agrônomo da EBDA, durante a pesquisa de campo
realizada no município de Cafarnaum-BA.
95
alguns produtores de mamona do município e tem promovido palestras sobre o programa de
biodiesel.
No município de Lapão, a 85 km de Cafarnaum, uma usina de Esmagamento de
Mamona, em fase de pré-operação. Tem capacidade inicial para processar 30 toneladas de
mamona por dia e infraestrutura para 60 toneladas/dia. A usina recebeu investimento de R$
1.450.000 do Ministério de Desenvolvimento Agrário e R$ 300.000 da prefeitura de Lapão. A
gestão da usina será feita pela Cooperativa da Agricultura Familiar do Território de Irecê
(COAFTI) (COAFTI, 2009).
Através da figura 14, é possível visualizar a planta da usina de esmagamento de
mamona de Lapão e entender, de maneira geral, como se o processo de esmagamento da
mamona.
O grão que vem do campo geralmente contém impurezas como terra, pedras, cascas da
mamona etc. Uma peneira (01) faz a limpeza desse grão que em seguida é transportado
através de um elevador (02) até o silo de mamona (03), que é um local de armazenagem do
grão para regular o fluxo do setor, ou seja, para manter uma armazenagem constante para
alimentar o sistema. O silo tem capacidade para armazenar 10 toneladas de grãos.
Figura 14 – Planta industrial da usina de esmagamento de mamona do município
de Lapão-BA
Fonte: COAFTI (2009).
96
O grão é transportado verticalmente pelo elevador e horizontalmente pela rosca
transportadora de mamona (04) até o conjunto de prensas (05 e 06), que servem para aquecer
e prensar o grão. Esse processo extrai o óleo da mamona como produto nobre e a torta como o
subproduto (para cada 100 kg de mamona retira-se 40% de óleo e 60% de torta). O conjunto
de prensas tem capacidade para 30 toneladas/dia de mamona.
A torta segue para o silo (08) e o óleo segue pela canaleta transportadora (09) até o
tanque de óleo bruto prensado (10).
18
O óleo prensado é beneficiado através de
hidratação/purificação (11) e filtragem/limpeza (12), quando, então, é destinado às usinas de
produção de biodiesel. Caso o óleo tenha como uso final a indústria química, o óleo bruto
filtrado terá que passar, ainda, por um processo de clarificação (14).
A usina dispõe de aproximadamente 15 máquinas de coleta/pré-limpeza de mamona.
Os agricultores associados à cooperativa não terão custo para utilizá-la, mas os agricultores
não-cooperados terão que pagar R$ 3,00 por saca de mamona (os agricultores que contratam
mão-de-obra para bater a mamona com o intuito de separar o grão da casca de mamona,
pagam em torno de R$ 15,00/dia).
Figura 15 Máquina de pré-limpeza da
mamona
Fonte: foto do autor
Figura 16 Coleta da mamona na
propriedade do agricultor em Cafarnaum
Fonte: foto cedida pela EBDA
A usina foi inaugurada em maio de 2009, mas funcionou apenas para testes. A
proposta da COAFTI é engajar 2.500 agricultores familiares do território de Irecê, com o
intuito de produzir 7.500 toneladas/ano de mamona em 10.000 hectares (COAFTI, 2009).
18
Segundo informações do engenheiro agrônomo da EBDA, a torta é um excelente adubo orgânico com eficácia
comprovada na melhoria e recuperação de solos degradados.
97
Além disso, a usina pretende contratar técnicos que através da cooperativa assistirão os
agricultores cooperados com sementes certificadas e assistência técnica. 1.500 produtores
cadastrados para atender a demanda da usina, que se responsabilizará pela coleta da mamona
na residência do agricultor (COAFTI, 2009).
A proposta da usina é fazer acordos com a PBIO (Petrobrás) para prestação de
serviços de logística junto aos agricultores familiares, bem como parcerias com o SEBRAE
para organização da produção e estruturação da cooperativa.
De forma geral, pode-se concluir que a produção de mamona dos pequenos produtores
pesquisados no município de Cafarnaum-BA não tem como destino a indústria de biodiesel.
Falta apoio do governo, seja em termos de financiamento seja, em termos de garantia de
assistência técnica e distribuição de sementes.
5.2 Estudo de caso no município de Pocinhos-PB
A produção de mamona do município de Pocinhos ocorre predominantemente em
pequenas propriedades, não ocorre parceria no plantio e o estabelecimento agrícola é do
próprio agricultor.
Os principais produtos cultivados na região são milho, feijão e sisal. Quatro
agricultores responderam que fazem o plantio de mamona consorciado com milho e feijão,
dois plantam a mamona juntamente com o sisal, e dois plantam apenas a mamona.
Figura 17 – Produção de mamona consorciada com o sisal no município de Pocinhos
Fonte: foto do autor.
98
As lavouras de mamona do município ocupam áreas destinadas ao cultivo de
alimentos e criação de animais (apenas dois agricultores responderam que destinaram novas
áreas ao cultivo da mamona).
Figura 18 – Caprinocultura do município de Pocinhos
Fonte: foto do autor.
Dentre os oito agricultores entrevistados, cinco possuem propriedades inferiores a 10
ha e três possuem propriedade entre 10 ha e 22 ha. Os agricultores informaram que destinam,
em média, menos de 10% de sua propriedade ao cultivo da mamona.
No município uma cooperativa dos produtores de mamona, Cooperativa
Agroindustrial do Compartimento da Borborema (COOPAIB), fundada em dezembro de 2007
por 27 pequenos produtores. Atualmente, possui 39 pequenos produtores cooperados.
A cooperativa apóia os produtores do município de Pocinhos desde o processo
produtivo até a comercialização do produto (esse apoio estende-se também aos agricultores do
Sertão), além de distribuir sementes aos produtores e negociar a venda da produção de
mamona diretamente com o setor demandante da matéria-prima, o que dificulta a ação dos
atravessadores.
Não acordos formais entre os produtores entrevistados e a cooperativa. O acordo é
informal e se no sentido de que os agricultores se comprometem a devolver a mesma
quantia de sementes cedidas e a vender sua produção à cooperativa.
99
É o próprio agricultor quem arca com as despesas do plantio, tratos culturais e colheita
da mamona. Os agricultores não recebem apoio do governo, nem assistência técnica.
19
A mamona do município de Pocinhos não é zoneada. Sem o zoneamento, os
produtores têm dificuldade de acesso a crédito, financiamentos e assistência técnica, haja vista
que esses recursos/serviços são distribuídos com base nas indicações das áreas zoneadas.
O IBGE registra produção de mamona no município a partir de 2003. Esses dados
corroboram a informação dos agricultores entrevistados, que responderam que começaram a
cultivá-la após o anuncio do lançamento do PNPB, com o intuito de complementar a renda.
Pelos dados da tabela 26 verifica-se que, entre os anos de 2003 e 2007, foram colhidos
em média 102 ha de mamona no município de Pocinhos. Em 2003, foram colhidos 72 ha. Em
2004, a área colhida aumentou 108,33%, atingindo 150 ha colhidos. O aumento deve-se a
propaganda feita pelo governo que à época elegeu a mamona como o carro-chefe do PNPB e
ao preço atrativo da mamona que estava cotado a R$ 58,00 a saca de 60 kg no mercado de
Irecê.
Em 2005, a área colhida foi de 130 ha. A redução de 20 ha colhidos em relação ao ano
anterior reflete o desestímulo de alguns produtores que, sem incentivo do governo e garantia
de preço mínimo, abandonaram a produção de mamona (na safra 2005/2006, o preço da saca
de mamona estava cotado em torno de R$ 30,00). No ano seguinte, a produção de mamona
caiu para 10 ha.
Tabe
la 26 – Área colhida de mamona no município de Pocinhos, 2003-2007
Ano Área colhida (ha)
2003 72
2004 150
2005 130
2006 10
2007 150
Média 102
Fonte: IBGE (2007).
Na safra 2006/2007, o preço da saca de mamona subiu para R$ 73,00 (ver gráfico 13),
o que estimulou os agricultores a aumentar a produção. Como resultado, a área colhida desse
produto, em 2007, aumentou para 150 ha.
A despeito do aumento da área colhida de mamona em 2007, os agricultores
entrevistados informaram que a área colhida da última safra (2008) não aumentou. Dois
19
A EMBRAPA tem prestado assistência no sentido desenvolver pesquisas voltadas aos cultivares da mamona.
100
agricultores responderam que a atual área de mamona comparada com a inicial é a mesma e
seis agricultores disseram que diminuiu 80%. Informaram que a falta de incentivo à cultura e
o baixo preço foram os principais motivos para redução da área plantada.
20
Os agricultores informaram que o preço de um hectare de terra em Pocinhos custa em
média R$ 350,00. Em um hectare de terra os agricultores colhem em média 550 kg (nove
sacas) de mamona.
Na última safra, a renda obtida com a venda da mamona foi de R$ 850,00/ha. Renda
superior a obtida com a venda de feijão (R$ 600,00/ha) e milho (R$ 250,00/ha).
Os agricultores responderam que não se endividaram com o plantio da mamona.
Apenas um produtor fez empréstimo junto a instituições financeiras para o plantio dessa
cultura.
Na opinião dos agricultores entrevistados, o governo deveria incentivar a produção de
alimentos, de sisal e a caprinocultura, além do plantio de mamona. Informaram que, caso
recebessem incentivo do governo, aumentariam a plantação de sisal, além de milho e feijão.
Mesmo que recebessem incentivos do governo para plantar alimentos e criação de
animais, continuariam a cultivar a mamona (apenas dois agricultores disseram que deixariam
de plantá-la).
O plantio e a colheita são feitos pela família. Apenas dois agricultores contratam mão-
de-obra e, para isso, arcam com um custo em torno de R$ 20,00/dia. A limpeza do terreno é
feita com enxada. O plantio é feito com enxada e cultivador (dois agricultores responderam
que utilizam plantadeira manual). Apenas um produtor utiliza inseticida/herbicida na
plantação de mamona e dois utilizam adubo (adubo orgânico).
No tocante à relação dos produtores familiares com as usinas de biodiesel e de
esmagamento de mamona da região, contatou-se que no Estado há apenas uma usina de
esmagamento de mamona, no município de Pocinhos.
A usina começou a ser instalada em 2003 por um grupo americano. Em 2006, foi
vendida a um grupo de Pernambuco (Óleo Verde) que finalizou a montagem da usina
(informação verbal).
21
20
Segundo informações do presidente da COOBAIB, na safra 2008/2009 o preço da saca de mamona estava
cotado a R$ 60,00 no mercado de Irecê. A usina de esmagamento de mamona do município de Pocinhos
ofereceu R$ 32,00 pela saca de mamona. o houve acordo entre a cooperativa dos produtores de mamona de
Pocinhos e a usina. A indústria química também ofereceu um preço bem abaixo do de mercado, alegando que as
chuvas elevaram o custo de transporte da mamona até o seu destino final (geralmente a Bahia).
21
Informações fornecidas por Ricardo Afonso, presidente da COOPAIB, durante a pesquisa de campo realizada
no município de Pocinhos-PB.
101
A usina funcionou apenas para teste. Ainda não esem operação e não houve acordo
com a COOPAIB. Segundo o presidente da cooperativa, o acordo não ocorreu porque o preço
oferecido pela empresa (R$ 0,32/kg) não é atrativo ao produtor. Além disso, a cooperativa
quer que os produtores possam participar da cadeia produtiva da mamona e não sejam meros
repassadores de matérias-primas (também não houve acordo nesse sentido).
Segundo informações do presidente da COOPAIB, a usina foi financiada com recursos
próprios, com exceção do prédio que teve financiamento da Companhia de Desenvolvimento
da Paraíba (Cinep). Tem capacidade instalada para processar 30 toneladas de mamona por dia
(em dois turnos) e 45 toneladas/dia (em três turnos). A essa capacidade instalada, para cada
1.200 kg de grãos de mamona é possível retirar 50 kg de óleo. A usina empregará cerca de 20
trabalhadores e possui planta e processo produtivo semelhantes à usina de Lapão, ilustrada na
figura 14.
previsão para instalação de uma usina de biodiesel na Paraíba, com capacidade de
produzir 40 milhões de litros de biodiesel por ano. A usina seria instalada na cidade de
Pocinhos, mas por falta de acordo entre a cooperativa e a prefeitura do município, se
instalada no município vizinho, Campina Grande.
Em maio de 2009, foi liberado R$ 1.300.000 referentes à compra dos equipamentos e
R$ 180.000 para construção do galpão e instalação dos equipamentos. Ao todo, o
investimento ultrapassa R$ 2 milhões. Os recursos são do Ministério da Ciência e Tecnologia
(informação verbal).
22
Assim como ocorre no município de Cafarnaum-BA, a produção de mamona de
Pocinhos não tem sido destinada à indústria de biodiesel, mas sim à indústria ricinoquímica
(Bom Brasil, em Salvador).
O último contrato celebrado com o setor de ricinoquímica ocorreu em 2008, com a
indústria Bom Brasil. Na ocasião, a usina pagou R$ 0,85 pelo quilo de mamona. Foram
celebrados contratos com 11 agricultores produtores de Pocinhos, que venderam 55 ha de
mamona à usina.
A mamona foi eleita o carro-chefe” do PNPB, idealizada como o vetor de inclusão
social da agricultura familiar ao programa do biodiesel. Para incentivar a participação da
agricultura familiar no PNPB foi criado o selo combustível social que beneficia as usinas de
biodiesel com isenções ficais e melhores condições de financiamentos caso comprem
determinada quantidade de matéria-prima da agricultura familiar.
22
Informações fornecidas por Ricardo Afonso, presidente da COOPAIB, durante a pesquisa de campo realizada
no município de Pocinhos-PB.
102
No entanto, constatou-se que entre os produtores familiares entrevistados em ambos os
municípios (Pocinhos-PB e Cafarnaum-BA), o PNPB não obteve o êxito proposto
inicialmente. A realidade é que a produção de mamona dos agricultores entrevistados não
encontra mercado no setor de biodiesel e não tem apoio do Governo. A proposta inicial de
inserção dos agricultores familiares do semi-árido ao programa do biodiesel, a partir da
produção de mamona, não deslanchou.
São diversos os problemas mencionados como obstáculos pelos entrevistados para o
cumprimento do papel econômico e social do biodiesel a partir da mamona no semi-árido.
Dentre os gargalos mencionados, destacaram a ausências do Estado no sentido de estimular a
produção de mamona, os baixos preços oferecidos pela indústria de biodiesel e usinas
processadoras de mamona, falta de assistência técnica e falta de sementes certificadas.
A produção de mamona dos dois municípios visitados é nitidamente familiar com
predomínio da pequena produção com cultivos de subsistência, principalmente o milho e
feijão. Além disso, caracteriza-se por ser intensiva em mão-de-obra e por não fazer uso de
adubação química e fertilizantes.
No município de Pocinhos uma maior organização por parte dos produtores de
mamona, mas a comercialização do produto ocorre mais facilmente no município de
Cafarnaum.
A produção familiar de mamona mesmo diante das precariedades de assistência-
técnica, falta de apoio do governo, pouco acesso a crédito e falta de infra-estrutura, garante
um nível de receita maior do que as lavouras tradicionais.
103
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho buscou investigar os possíveis impactos do Programa Nacional de
Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) sobre o uso do solo do espaço agrário nordestino e
sobre o emprego, focando o estudo nas matérias-primas agroenergéticas mamona e soja.
Para isso, estudou-se a política brasileira de produção de biodiesel, discutindo a sua
consistência interna; mapeou-se a distribuição das matérias-primas agroenergéticas no
Nordeste; e procurou-se verificar o impacto do PNPB no tocante à expansão da área cultivada,
substituição de culturas e geração de emprego, bem como foi feita uma pesquisa de campo
nos municípios de Cafarnaum-BA e Pocinhos-PB com o intuito de identificar os possíveis
impactos da produção de biodiesel na agricultura familiar.
O PNPB foi criado no final de 2004 com o intuito de fomentar a produção de biodiesel
no país. Além disso, o programa visa promover a inclusão social dos produtores familiares do
semi-árido à cadeia produtiva do biodiesel, assim como o desenvolvimento regional.
Percebe-se que a política do biodiesel adotada pelo governo brasileiro enquadra-se
como uma política fiscal ativa no sentido de garantir a demanda para o setor, podendo ser
considerada como uma política de sustentação de demanda. Nesse contexto, pode-se entendê-
la como uma política de cunho keynesiano. Por outro lado, ao buscar a inclusão social, ela
também pode ser considerada como uma tentativa de legitimação do Estado, conforme propõe
a teoria marxista do Estado.
Tal política tem sido eficaz no sentido de que o PNPB tem conseguido cumprir a meta
de obrigatoriedade de adição de biodiesel ao diesel mineral, principal instrumento utilizado
pelo PNPB para incentivar a produção de biodiesel no país. A meta inicial de 2% de mistura
de biodiesel ao diesel comercializado em todo país (B2), a ser alcançada até 2007, começou a
vigorar em janeiro de 2005 e em julho do mesmo ano foi possível aumentá-la para 3%. Em
julho de 2009 entrou em vigor a adição obrigatória de 4% e no início de 2010 passará a
vigorar o B5.
Constatou-se que o biodiesel é produzido em todas as regiões do país. Entretanto,
uma forte concentração da produção nos estados do Centro-Oeste, Sudeste e Sul. As regiões
Nordeste e Norte possuem 27% das usinas do país e produzem apenas 12,16% do biodiesel
nacional.
Para incentivar a participação do pequeno produtor na cadeia produtiva do biodiesel, o
instrumento utilizado pelo PNPB foi a criação do selo combustível social que proporciona
104
isenções fiscais e melhores condições de financiamento àquelas usinas que adquirirem
matérias-primas do pequeno produtor.
Os instrumentos adotados no PNPB para estimular a inclusão social e o
desenvolvimento regional se mostraram menos eficazes haja vista que o biodiesel nacional
está fortemente concentrado na soja como matéria-prima (70%), mas apenas 6,76% da soja do
país são produzidas no Nordeste, explorada em grandes e médias propriedades.
A produção e o preço do biodiesel nacional não são determinados no mercado livre,
através dos ajustes entre a oferta e demanda, devido o atual sistema de leilões gerido pela
ANP aonde é fixado um preço e a esse preço é arrematado determinada quantidade de
biodiesel a ser ofertada no mercado. Nesse sentido, a produção de biodiesel tem apresentado
um custo elevado dada as fortes oscilações do preço da soja no mercado internacional, o que,
por sua vez, diminui a competitividade do biodiesel no mercado nacional.
No que diz respeito ao mapeamento das matérias-primas agroenergéticas ficou
constatado que a produção de soja do Nordeste está concentrada no Oeste da Bahia, Sul do
Maranhão e Sul do Piauí, com forte expansão desse grão desde o início da década de 1990.
No Oeste da Bahia, a soja concentra-se nas microrregiões de Barreiras e Santa Maria
da Vitória. No Maranhão, está concentrada em duas microrregiões, Chapadas das
Mangabeiras e Gerais de Balsas, e no estado do Piauí a produção de soja encontra-se nas
microrregiões do Alto Parnaíba Piauiense, Alto Médio Gurguéia e Bertolínea.
No caso da mamona, o resultado do mapeamento mostra que essa cultura é menos
concentrada que a soja, sendo produzida em todos os estados do Nordeste, com exceção de
Sergipe. Entretanto, apenas o estado da Bahia possui representatividade em termos de
produção no Nordeste.
A mamona do estado da Bahia é produzida em 22 microrregiões. A maior produtora
dessa cultura é a microrregião de Irecê, seguida de Jacobina, Senhor do Bonfim e Seabra. As
demais microrregiões não apresentam representatividade de produção em relação à produção
total de soja do Estado. Verificou-se que a maior parte dessa produção não se destina à
produção do biodiesel, mas é adquirida pela indústria química.
O resultado do modelo de Zockun mostra que houve significativa expansão da soja nas
microrregiões do Oeste da Bahia, Sul do Maranhão e Sul do Piauí, entre os anos 1990 e os
anos 2000. Tal expansão foi conseqüência, principalmente, de incentivos fiscais, baixo preço
das terras na região, clima favorável e topografia dos cerrados adequados à mecanização. A
partir de 2004, com a criação do PNPB, a soja no Nordeste passa a ser impulsionada, também,
105
pela demanda por biocombustíveis haja vista que a principal matéria-prima do biodiesel
nacional tem sido o óleo de soja.
Constatou-se que a introdução da soja nos cerrados nordestinos se deu através da
ampliação da utilização do solo através da expansão da área cultivada e, embora em menor
grau, da substituição de culturas de subsistência como milho e feijão. No caso da mamona,
também houve expansão de área (embora em proporção menor que a expansão apresentada
pela soja) e um pequeno efeito substituição de lavouras de subsistência, principalmente o
feijão.
A soja é uma cultura altamente mecanizada e tem trazido impactos sobre as áreas de
cerrado, através da destruição da vegetação nativa e deslocamento da pecuária para outras
regiões. Como é uma cultura produzida por grandes fazendeiros, sua expansão nos cerrados
do Nordeste tem impactos, também, nas disputas de terras, dada o seu modelo concentrador
de terra e renda.
Esses impactos não se verificam no caso da mamona por esta ser uma cultura
tipicamente familiar, com o cultivo sendo feito manualmente e sem a utilização de adubos
químicos e fertilizantes.
No tocante à geração de emprego, um dos impactos da expansão da soja é a baixa
geração de empregos dada pela alta mecanização da lavoura. Além disso, têm sido freqüentes
as denúncias de superexploração da mão-de-obra, com casos extremos de trabalho escravo.
A mamona, embora possua produção bem menor que a soja e a despeito da falta de
incentivo do governo, emprega um número muito maior de trabalhadores. É uma cultura com
baixo nível de mecanização e intensiva em mão-de-obra.
No que diz respeito ao impacto do PNPB na agricultura familiar, os estudos de caso
nos municípios de Cafarnaum-BA e Pocinhos-PB permitem inferir que o programa do
biodiesel a partir da mamona não deslanchou. Constatou-se que a produção de mamona dos
pequenos produtores pesquisados nos dois municípios tem como destino a indústria química.
Falta apoio do governo, seja em termos de financiamento seja em termos de garantia de
assistência técnica e distribuição de sementes.
Apesar das inúmeras dificuldades, a produção de mamona tem garantido rendimento
superior ao proporcionado pelas culturas como feijão e milho. Além disso, como a mamona é
uma lavoura resistente à seca, constitui uma importante fonte de renda para os agricultores
familiares, principalmente em períodos de estiagem. Daí a sua importância para os
agricultores familiares do semi-árido Nordestino.
106
O programa do biodiesel, que surgiu como uma possibilidade de geração de emprego e
renda para a agricultura familiar e de desenvolvimento regional, principalmente do semi-
árido, não tem conseguido alcançar esses objetivos. Ao priorizar, na prática, a soja como
matéria-prima principal para a produção do biodiesel, contribui para aumentar a geração de
riquezas nas regiões produtoras de soja, bem como para a concentração do capital
(investimentos) nessas regiões e deixa à margem do programa os inúmeros produtores
familiares da região semi-árida do Nordeste.
107
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118
APÊNDICE A
– Questionário aplicado junto aos produtores de mamona dos municípios de
Cafarnaum-BA e Pocinhos-PB
Data da entrevista: ___/____/2009.
Duração: _______ minutos
Nome do entrevistado: ______________________________________________
Condição da terra: ( ) Própria
( ) Arrendada
( ) Cedida
Tamanho da terra: __________ hectares.
Bloco 1 - PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO
a) Produção
Q1. O senhor planta quantos hectares de mamona?
1. ( ) Menos de um hectare. 2. ( ) Um a dois hectares.
3. ( ) Dois a menos de quatro hectares. 4. ( ) Quatro a cinco hectares.
5. ( ) Mais de cinco hectares.
Q2. Há quanto tempo (desde quando) o senhor (a) planta mamona?
1. ( ) Um ano 2. ( ) Dois anos 3. ( ) Três anos 4. ( ) Quatro anos
5. ( ) Cinco anos 6. ( ) Mais de cinco anos
Q3. A atual área de mamona comparada com a área do início:
1. ( ) É a mesma 2.( ) Aumentou (vá para Q4) 3. ( ) Diminui (vá para Q5)
Q4. Caso tenha aumentado, quantos hectares a mais?
1. ( ) Até dois. 2. ( ) Dois a quatro hectares
3. ( ) Quatro a cinco hectares. 4. ( ) Mais de cinco hectares.
Q5. Caso tenha diminuído, quanto diminuiu?
1. ( ) Até dois. 2. ( ) Dois a quatro hectares
3. ( ) Quatro a cinco hectares. 4. ( ) Mais de cinco hectares.
Q6. O que o/a Senhor/a produz, além da mamona?
1. ( ) Batata doce 2. ( ) Mandioca 3. ( ) Feijão 4. ( ) Milho 5. ( ) Fava
6. ( ) Hortaliça 7. ( ) Fruteiras 8. ( ) Outros: ________________________.
Q7. A mamona que o/a senhor/a produz é:
1. ( ) Própria. 2. ( ) De meia 3. De terça 4. Outra: _______________.
Q8. Qual motivo levou o/a Sr/a a plantar mamona?
1. ( ) Mercado garantido 2. ( ) Maior facilidade de empréstimo
3. ( ) Complementar a renda 4. ( ) Baixo preço dos outros produtos agrícolas
5. ( ) Não tem apoio para plantar outros cultivos 6. ( ) Outros: _______________________.
Q9. A área com mamona ocupou:
1. ( ) Áreas de lavoura (vá para Q10) 2. ( ) área de criação animal 3. ( ) Novas áreas.
119
Q10 A mamona ocupou áreas de quais produtos?
1. ( ) Batata doce 2. ( ) Mandioca 3. ( ) Feijão 4. ( ) Milho
5. ( ) Fava 6. ( ) Hortaliça 7. ( ) Fruteiras 8. ( ) Outros: _________________.
Q11. Ocorre plantio consorciado?
1. Sim ( ). 2. Não ( ).
Q12 Em caso afirmativo, com quais produtos?
1. ( ) Batata doce 2. ( ) Mandioca 3. ( ) Feijão 4. ( ) Milho 5. ( ) Fava
6. ( ) Hortaliça 7. ( ) Fruteiras 8. ( ) Outros: ________________________.
Q13. Quem arca com as despesas da produção da mamona?
1. ( ) O senhor/a 2. ( ) O atravessador 3. ( ) A usina de beneficiamento
4. ( ) Outros: ____________________.
Q14. A produção ocorre predominantemente em pequenas propriedades?
1. ( ) Sim 2. Não ( )
Q15. Qual o preço de um hectare de terra na região?
R$ ____________.
Q16. Houve aumento no preço da terra nos últimos 5 anos?
1. ( ) Sim 2. ( )Não
b) Comercialização
Q17. A quem o/a senhor/a vende a mamona?
1. ( ) Atravessador 2. ( ) Fornecedor 3.( ) Associação/cooperativa
4. ( ) Outros: __________________________.
Q18. Na última safra, por quanto o senhor vendeu a saca de mamona?
R$ ___________.
Q19. Qual a participação do valor da produção de mamona (renda) no valor da
produção da propriedade?
______________________.
Bloco 2 – CRÉDITO
Q20. O/a senhor/a já tomou algum empréstimo para plantar mamona?
1. ( ) Não 2. ( ) Sim [Credor: ( ) BNB ( ) Banco do Brasil ( ) Banco Privado
( ) Atravessador ( ) Outros: ____________________________.
Q21. Em relação ao plantio de mamona, o/a senhor/a deve a alguém?
1. ( ) Sim [Credor: ( ) BNB ( ) Banco do Brasil ( ) Banco Privado ( ) Atravessador
( ) Outros: ___________________________.
2. Não ( )
Bloco 3 – FORMA DE ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE MAMONA
Q22. Por quem é feito o plantio da mamona?
1. ( ) Pela família 2. ( ) Contrata mão-de-obra 3. Outros: ________________________.
Q23. Por quem é feita a colheita?
1.( ) Pela família 2. ( ) Contrata mão-de-obra 3. ( ) Outros: ______________________.
120
Q24. (Se a mão-de-obra é contratada) Quem contrata a mão-de-obra?
1. ( ) O próprio agricultor 2. ( ) Atravessador 3. Outros: _________________________.
Q25. Como é feito o plantio?
1.( ) Enxada 2. ( ) Trator
Q26. Como e feita a adubação?
1. ( ) Adubo orgânico 2. ( ) Adubo químico 3. ( ) Nenhum
Q.27. O senhor usa herbicida/inseticida na plantação de mamona?
1. ( ) Sim 2. ( )Não
Q28. Como e feita a limpa?
1. ( ) Com a enxada 2. ( ) Com arado
Q29. O/a Senhor/a sabe quantas toneladas de mamona o/a senhor/a produz em um
hectare?
1. ( ) Não 2. ( ) Sim (N° de toneladas: _________________).
Bloco 4 - RELAÇÃO COM O ESTADO, FORNECEDORES E/OU
ATRAVESSADORES
a) Relação com o Estado
Q30. Na opinião do senhor/a, o que o Governo deveria incentivar mais nas áreas
produtoras de mamona?
1 ( ) Produção de alimentos diversificados. 2. Criação de animais 3. ( ) Mamona
4. ( ) Outros: _________________________.
Q31. Se o Governo o/a apoiasse mais na produção de alimentos (milho, inhame,
mandioca, feijão, criação, etc.) o/a senhor/a continuaria a produzir mamona?
1.( ) Nao 2. ( ) Sim
Q32. Se o Sr/a recebesse apoio do Governo o que gostaria de plantar?
1. ( ) Macaxeira 2.( ) Feijão 3. ( ) Milho 4. ( ) Fruteiras
5. ( ) Hortaliças 6. ( ) Outros: ___________________________.
b) Relação com os fornecedores e/ou atravessadores
Q33. Há algum acordo formal (algum papel assinado) entre o Sr/a e os fornecedores e/ou
atravessadores?
1. ( ) Sim 2. ( ) Não
Q34. O senhor recebe algum tipo de assistência técnica na produção de mamona?
1. Sim ( ) [Ir para Q35]. 2. Não ( ).
Q35. De quem o senhor recebe assistência técnica?
___________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
Bloco 5 - CUSTOS DE PRODUÇÃO DE UM HECTARE
121
Q36. Custo de produção para produção de um hectare de mamona, nas seguintes
atividades:
a) Preparação do terreno
1. Custo com trator: ___________________.
2. Custos com mão-de-obra: ___________________.
b) Tratos culturais:
1. Mão-de-obra: ___________________.
2. Produtos químicos: ___________________.
c) Plantio:
1. Custo com trator___________________.
2. Custos com mão-de-obra___________________.
3. Custo de adubação___________________.
4. Custo de sementes___________________.
d) Colheita:
1. Mão-de-obra___________________.
2. Transporte e armazenagem___________________.
122
APÊNDICE A (cont.)
– Questionário aplicado junto aos representantes de Cooperativas
e/ou Associações que assistem os produtores de mamona dos municípios de Pocinhos-PB e
Cafarnaum-BA
Data da entrevista: ___/_____/2009
Duração: _______ minutos
Município:
Nome da cooperativa: ________________________________________________
Data da criação da cooperativa: ____/____/_____.
Nome do entrevistado: _____________________________________________
Q1. Qual a atual capacidade de produção de mamona do município?
_______________ toneladas.
Q2. Qual a capacidade da demanda?
_______________ toneladas.
Q3. Qual o destino da produção de mamona do município?
___________________________________________________________________________.
Q4. Atualmente quantos agricultores estão efetivamente produzindo mamona no
município?
___________________________________________________________________________.
Q5. Quantos agricultores estão associados à cooperativa?
___________________________________________________________________________.
Q6. Quantos agricultores produziam antes do PNPB (antes de 2004)? E após o PNPB?
___________________________________________________________________________.
Q7. Houve aumento na produção de mamona após o PNPB?
1. ( ) Sim (Vá para Q8). 2. ( ) Não.
Q8. Caso tenha aumentado, quantos hectares a mais?
1. ( ) Meio hectare a dois hectares 2. ( ) Dois e meio a quatro hectares
3. ( ) Quatro e meio a seis hectares 4. ( ) Mais de cinco hectares.
Q9. Há organização por parte dos produtores para atender a possível demanda de
mamona por parte da indústria de biodiesel (com previsão para ser instalada em
Pocinhos em 2009/2010)?
1. ( ) Sim 2. ( ) Não.
Q10. Qual a capacidade da (s) usina (s) de biodiesel existente (s) no Estado?
________________________.
Q11. O senhor sabe o valor do investimento para instalar a (s) usina (s)?
__________________________________________________________________________.
Q12. De quem é a usina?_____________________________________________________.
Q13. Quem fornece assistência técnica aos produtores?
____________________________.
123
Q14. Os produtores recebem auxílio de instituições financeiras?
1. ( ) Sim (Vá para Q15) 2. ( ) Não.
Q15. Qual a principal fonte de recurso para investimento na produção?
1. ( ) BNB 2. ( ) Banco do Brasil 3. ( ) Banco Privado 4. ( ) Atravessador
5. ( ) Outros: ___________________________.
Q16. A Paraíba produz óleo de mamona?
1. Sim ( ). 2. ( ) Não (Vá para Q17).
Q17. Caso respondeu Não em Q16, por que não produz?
1. ( ) Não há incentivos 2. ( ) Não há demanda suficiente 3. ( ) Não há indústria de
esmagamento. 4. Outros: ___________________________.
Q18. Quantas usinas de processamento estão instaladas no Estado? Onde estão
localizadas?
Q19. Quantas usinas estão em funcionamento?
Q20. O senhor sabe se alguma parcela da produção estadual de mamona tem como
finalidade a produção de biodiesel?
Q21. Quais as inovações ocorridas no processo de produção nos últimos 5 anos?
1. ( ) Novas variedades de sementes 2. ( ) novas máquinas
3. ( ) Novas técnicas de cultivo 4. ( ) Outras: __________________________.
Q22. Quem são os responsáveis pela introdução destas inovações?
1. ( ) Empresas 2. ( ) Instituições públicas 3. ( ) Outros: ______________________.
Q23. Atualmente, existe alguma política de incentivo aos produtores da mamona?
1. ( ) Política de crédito. 2. ( ) Estimulo à P&D 3. ( ) Fornecimento de sementes
4. ( ) Outros: ___________________________.
Q24. Quais as principais carências, identificadas pela cooperativa, para o
desenvolvimento do setor?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Q25. Quais as sugestões da cooperativa para as políticas de aumento da capacidade
competitiva do setor?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
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