63
Alguns são apenas fragmentos, ou idéias a serem desenvolvidas, ou mesmo antigas que
depois Vinicius de Moraes trabalhou e incluiu em livro. Outros foram publicados em revistas ou
jornais. Outros, ainda, são poemas que o ocuparam de forma obsessiva durante anos, e estão
evidentemente terminados, datilografados, datados, assinados; foram anunciados pelo poeta,
prometidos aos leitores, mas, por algum motivo sobre o qual podemos apenas especular,
Vinicius nunca os publicou – todavia nunca os rasgou.
A família do poeta cedeu este material para a Casa de Rui Barbosa com a finalidade de
fornecer subsídios aos estudiosos e pesquisadores (...).
Portanto, para que tantas e tão valiosas páginas não ficassem restritas aos pesquisadores, fiz
uma seleção subjetiva, aqui apresentada por temas, sem preocupação de ordem cronológica.
Esse volume carrega uma série de problemas, em grande medida compreensíveis
quando o consideramos parte de uma pesquisa complexa que, naquele momento, apenas se
iniciava. Entre os mais eloqüentes, registramos uma tradução incompleta de Vinicius do
poema “Arion, versos sueltos del mar”
60
, de Rafael Alberti (1902-1999), publicado como se
fosse uma composição do poeta brasileiro, intitulada “Versos soltos do mar”, e que, devido
à caligrafia dificultosa do manuscrito, pôs-se ali em versos de tal forma corrompidos a se
tornarem, por vezes, ridículos. Como exemplo, da passagem “Os que morreram / Mar, hoje
não te chamam” (“Los que se murieron, / hoy, mar, no te nombran”) transcreveu-se “Os
que morreram / Maruja, vão te chamar”.
Nosso “O haver” estava entre as complicações. Ao procurarmos as incidências do
poema, encontramo-lo em cinco registros: em dois originais do poeta na AMLB da
Fundação Casa de Rui Barbosa; numa publicação do jornal Diário de Notícias de 15 de
abril de 1962; n’O melhor do Pasquim 1969/70; e recitado, no álbum Antologia poética
61
,
de 1977. Um dos originais presentes na fundação traz em sua margem superior a data em
que o poema será publicado no “DN”. O outro se apresenta incorporando as anotações
60
ALBERTI, Rafael. Poesía Completa. Madrid: Aguilar, 1988, p. 180.
61
Philips, 1977.